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Published by robersons900, 2022-03-17 09:47:51

LIVRO DE HISTORIA

LIVRO DE HISTORIA

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Sistema Atlas - conversor DOCX linearizado PNLD2018 - Copyright © 2017 Editorial 5

História sociedade & cidadania, 2º ano

Alfredo Boulos Júnior
FTD

Página 1

História

Sociedade & Cidadania

2

ENSINO MÉDIO
COMPONENTE CURRICULAR
HISTÓRIA

Alfredo Boulos Júnior

Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação) pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade
de São Paulo. Lecionou na rede pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares. É autor de
coleções paradidáticas. Assessorou a Diretoria Técnica da Fundação para o Desenvolvimento da
Educação – São Paulo.

2ª edição
São Paulo – 2016
FTD

MANUAL DO PROFESSOR

Página 2

FTD
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2016
Diretor editorial Lauri Cericato
Gerente editorial Flávia Renata P. A. Fugita
Editores assistentes João Carlos Ribeiro Jr., Maiza Garcia Barrientos Agunzi
Assistente editorial Carolina Bussolaro
Assessoria Juliana Marques Morais, Leslie Sandes, Suélen Rocha M. Marques
Gerente de produção editorial Mariana Milani
Coordenadora de arte Daniela Maximo
Projeto gráfico Juliana Carvalho
Projeto de capa Bruno Attili
Foto de capa Gerson Gerloff/Pulsar
Editor de arte Felipe Borba
Diagramação Anderson Sunakozawa, Carolina Ferreira, Dayane Martins, Débora Jóia, Claritas Comunicação, Helena Mariko,
Ponto Inicial
Tratamento de imagens Eziquiel Racheti
Ilustrações e cartografia
Ilustradores: Alex Argozino, Getulio Delphim, Ilustra Cartoon, Luis Moura, Manzi, Mário Pita, Mozart Couto, Rmatias, Roberto
Melo
Cartografia: Alexandre Bueno, Carlos Vespucio, Renato Bassani
Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin
Supervisora de preparação e revisão Viviam Moreira
Revisão Aline Araújo, Carina de Luca, Claudia Anazawa, Felipe Bio, Fernando Cardoso, Lívia Perran, Lucila Segóvia, Marcella
Arruda, Pedro Fandi, Sônia Cervantes, Veridiana Maenaka
Coordenador de iconografia e licenciamento de textos Expedito Arantes
Supervisora de licenciamento de textos Elaine Bueno
Iconografia Daniel Cymbalista, Graciela Naliati
Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
História sociedade & cidadania, 2º ano / Alfredo Boulos Júnior. — 2. ed. — São Paulo : FTD, 2016. — (Coleção história
sociedade & cidadania)
Componente curricular: História

ISBN 978-85-96-00354-4 (aluno)
ISBN 978-85-96-00355-1 (professor)
1. História (Ensino médio) I. Título. II. Série.
16-03477
CDD-907
Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino médio 907

Aspecto de uma apresentação do grupo Jongo de Piquete (SP), em 2007. O Jongo é uma manifestação cultural de raiz banto que se
desenvolveu durante a expansão da cafeicultura pelo Vale do Paraíba, no interior paulista. Ele inclui canto, dança e percussão de
tambores. Em 2005, foi registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial do
Brasil.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo-SP
CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970
www.ftd.com.br
E-mail: [email protected]
Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.
Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD S.A.
CNPJ 61.186.490/0016-33
Avenida Antonio Bardella, 300
Guarulhos-SP – CEP 07220-020
Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

Página 3

APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a),

Um dia desses coloquei-me no seu lugar e fiquei pensando em como você iria se sentir
no primeiro contato com este livro de História.

Imaginei, então, algumas perguntas que você faria: “Será que esse livro é chato?”; “Será
que é bacana?”; “Será que vou começar a gostar de História?”; “Será que vou continuar
gostando de História?”; “Será que tem o que eu preciso aprender para passar no Enem
e/ou Vestibular?” Isto sem contar aquelas perguntas de sempre, que alguns
certamente farão: “mas para que serve a História?”; “Pra que eu tenho de saber ‘o que
já passou’?”.

Olha, vamos imaginar que você esteja debatendo com os seus colegas sobre um
assunto do seu gosto, seja qual for: amor, saúde, esporte, viagem, festa, um show que
vai estrear, ou outro assunto qualquer. Pois bem, se você quiser compreender melhor
qualquer um desses assuntos (e argumentar com mais segurança) é só lembrar que
todos eles possuem uma história, que faz parte de outras tantas histórias, passadas e
presentes. Ou seja, a História lhe dá o privilégio de debater qualquer assunto em uma
perspectiva temporal; e isto a distingue das demais disciplinas.

Aprender a pensar historicamente vai ajudá-lo(a) a se compreender melhor, a
entender o seu meio social e o mundo em que você vive. Vai ajudá-lo(a) também a
perceber as mudanças em um mundo em que elas ocorrem numa velocidade jamais
imaginada; e, ao mesmo tempo, a captar aquilo que continua parecido ao que era no
tempo em que nossos avós eram crianças. Assim, aos poucos, você vai ganhar
condições de enfrentar esse mundo ligado em rede, no qual, e por isso mesmo, temos
de estar o tempo todo “conectados”.

Em resumo: a História vai ajudá-lo a compreender em vez (ou antes) de julgar.

Mas, então, eu devo estudar História somente porque ela é útil?

Também; mas não só. O estudo da História nos permite ainda conhecer a aventura
humana sobre a Terra. E isto é uma fonte de prazer.

Bem, já falei demais para uma apresentação (nós, professores, geralmente nos
entusiasmamos quando temos a palavra).

Agora eu quero convidá-lo a folhear e, depois, a ler o livro que fizemos com carinho e
para você!

O Autor

Página 4

COMO ESTÁ ORGANIZADO SEU LIVRO?

ABERTURA DE UNIDADE
Cada unidade é iniciada com uma abertura em página dupla. Nessas aberturas são apresentados, por meio de
imagens e textos, os temas que serão trabalhados.

ABERTURA DE CAPÍTULO
As aberturas dos capítulos propõem a discussão dos temas que serão trabalhados nas páginas seguintes.

GLOSSÁRIO
Explicação de um termo-chave ou conceito.
DIALOGANDO
Desafios propostos ao longo do texto para discutir imagens, gráficos, tabelas e textos.

PARA REFLETIR
Uma seção que traz textos estimulantes sobre os conteúdos estudados e propõe a discussão sobre esses temas.

PARA SABER MAIS
Um quadro que apresenta informações extras sobre os conteúdos dos capítulos trabalhados.

Página 5

ATIVIDADES

Retomando
Questões variadas sobre os conteúdos dos capítulos para serem realizadas individualmente ou em grupo. Uma forma
de rever aquilo que foi estudado.

Leitura e escrita em História

» Leitura de imagem

Seção que permite o estudo de imagens relacionadas aos temas dos capítulos.

»Leitura e escrita de textos

Interpretação de diferentes gêneros textuais. Para completar o estudo dos temas, são propostas atividades de
pesquisa ou escrita de um texto.
Integrando com...
Nesta seção, a História e outras áreas do conhecimento se encontram, o que permite ampliar ou complementar o que
foi visto no capítulo.

» Cruzando fontes

Uma seção que permitirá a você se aproximar do trabalho de um historiador, por meio da análise e da comparação de
diferentes fontes.

Você cidadão!
Reflexão sobre temas como meio ambiente, ética e solidariedade. As atividades visam estimular o exercício da
cidadania. Esta seção encerra o estudo da unidade.

Página 6

SUMÁRIO

UNIDADE 1 NÓS E OS OUTROS: A QUESTÃO DO
ETNOCENTRISMO 10

Capítulo 1 – América indígena 12

Povos americanos 13
Os astecas 13
A sociedade asteca 14
Os maias 15
As cidades-Estado maias 16
Sociedade, economia e arte 17
Os incas 18
Economia inca 19
O ayllu e a mita 20
A sociedade incaica 20
Indígenas nas terras onde hoje é o Brasil 22
Diferenças entre os indígenas 22
As línguas indígenas 23
As artes indígenas 24
Semelhanças entre os indígenas 24
Encontro e desencontro: os portugueses e os tupiniquins 25
Demografia e terra 26
Problemas dos indígenas hoje 27
As lutas dos povos indígenas 27
Atividades 29
I. Retomando 29
II. Leitura e escrita em História 31

Capítulo 2 – Colonizações: espanhóis e ingleses na América 32

A Conquista 33
A conquista das terras astecas 33
A conquista das terras incas 34
As razões da conquista: um novo olhar 36
A economia colonial 38
O trabalho forçado dos ameríndios 38
A mineração 39
A agropecuária 40
Manufatura, artesanato e mercado interno 41
O controle sobre o comércio colonial 41
A administração colonial 42
A sociedade colonial 43
A ocupação da América inglesa 43
Os primeiros colonos 44
As Treze Colônias 46
As colônias do Centro-Norte 47
As colônias do Sul 48
A organização política das Treze Colônias 48
Atividades 49
I. Retomando 49
II. Leitura e escrita em História 51

Capítulo 3 – A América portuguesa e a presença holandesa 52

Do escambo à colonização 53
Administração colonial 54
As capitanias hereditárias 54
O Governo-Geral 55
Câmaras Municipais 58
A economia colonial 59
O produto 59
O capital 59
A mão de obra 60
Diversificação agrícola: fumo, aguardente, pecuária, algodão e cacau 61
Sociedades coloniais 63
A sociedade colonial açucareira 63
Os trabalhadores assalariados 65
Holandeses no Nordeste 66
Os holandeses conquistam a independência 66
A guerra pelo açúcar e pelo tráfico atlântico 67
Invasão da Bahia 67
Invasão de Pernambuco 68
O governo de Nassau 68
A Restauração em Portugal 70
A luta contra os holandeses 70
Os holandeses nas Antilhas 71
A Guerra dos Mascates 71
Atividades 72
I. Retomando 72
II. Leitura e escrita em História 74
III. Você cidadão! 75

Renato Soares/Pulsar Imagens

Palê Zuppani/Pulsar

Renato Soares/ Pulsar Imagens

Página 7

UNIDADE 2 DIVERSIDADE E PLURALISMO CULTURAL 76

Capítulo 4 – Africanos no Brasil: dominação e resistência 78

O início da roedura 80
Guerra e escravidão 80
A travessia 82
A dança dos números 82
O trabalho escravo 84
A violência 85
A resistência 85
Os quilombos 86
Atividades 90
I. Retomando 90
II. Leitura e escrita em História 92
III. Integrando com Língua Portuguesa 93

Capítulo 5 – Expansão e ouro na América portuguesa 94

Os soldados 95
Os jesuítas 96
A Revolta de Beckman 97
Os bandeirantes 98
São Paulo, capital bandeirante 98
As bandeiras 99
A caça ao indígena 99
O sertanismo de contrato 101
A busca de ouro e de diamantes 101
Diamantes: descoberta e controle 104
Os caminhos do ouro e dos diamantes 106
Mudanças no território colonial 107
A sociedade do ouro 108
Os potentados 108
As camadas médias 108
Os escravizados 109
Os homens livres pobres 109
A pecuária colonial 110
O gado no Sul 111
As novas fronteiras 112
Atividades 114
I. Retomando 114
II. Leitura e escrita em História 116

Capítulo 6 – A Revolução Inglesa e a Industrial 117

O processo revolucionário inglês 118
Mudanças na sociedade inglesa 118
O absolutismo dos Stuart 119
Revolução Puritana 120
A República de Cromwell 122
A restauração da monarquia 123
A Revolução Gloriosa 123
A Revolução Industrial 125
Por que a Inglaterra foi a primeira a se industrializar? 125
Máquinas industriais e sistema fabril 125
A vida dos trabalhadores no interior das fábricas 128

A vida dos trabalhadores fora das fábricas 129
Os trabalhadores vão à luta 129
Atividades 131
I. Retomando 131
II. Leitura e escrita em História 133
III. Integrando com Biologia 134
IV. Você cidadão! 135

Bertrand Gardel/Hemis/ Alamy/Glow Images

Página 8

UNIDADE 3 CIDADANIA: PASSADO E PRESENTE 136

Capítulo 7 – O Iluminismo e a formação dos Estados Unidos 138

A Ilustração 139
Progresso, otimismo e ciência 139
Pensadores iluministas 140
Voltaire e a liberdade de pensamento 140
Montesquieu e a teoria dos três poderes 141
Rousseau e a vontade geral 141
A Enciclopédia 142
Iluminismo e economia 143
Adam Smith e o liberalismo econômico 144
O despotismo esclarecido 144
As relações entre a Inglaterra e as Treze Colônias da América do Norte 146
O movimento de independência 148
A guerra pela independência 150
Os primeiros anos dos Estados Unidos 150
Repercussões da independência 151
Atividades 153
I. Retomando 153
II. Leitura e escrita em História 155

Capítulo 8 – A Revolução Francesa e a Era Napoleônica 156

O Antigo Regime na França 157
A sociedade 157
A economia e a política 158
A Revolução em marcha 160
A Assembleia Nacional Constituinte 160
A monarquia constitucional 162
A Convenção Nacional 162
O governo jacobino 163
O Diretório 164
O significado da Revolução Francesa 165
O governo de Napoleão 165
O expansionismo bonapartista 167
A resistência ao militarismo bonapartista 169
O Congresso de Viena e o princípio da legitimidade 171
Atividades 173
I. Retomando 173
II. Leitura e escrita em História 175

Capítulo 9 – Independências: Haiti e América espanhola 176

As sociedades hispano-americanas 177
As lutas sociais na América 178
A Revolta de Túpac Amaru 178
A Revolta dos Comuneros 179
O caso do Haiti: América francesa 180
A crise nos domínios espanhóis da América...181
As tropas de Napoleão invadem a Espanha 183
As guerras da independência na América 184
San Martín e Bolívar 184
O caso do México 187
Independências e fragmentação 188

Atividades 190
I. Retomando 190
II. Leitura e escrita em História 192

Capítulo 10 – Emancipação política do Brasil 194

A administração de Pombal 195
Revoltas na Colônia 196
A Conjuração Mineira 196
A Conjuração Baiana 198
A família real no Brasil e a interiorização da metrópole 200
A abertura dos portos brasileiros e seus desdobramentos 201
Administração joanina 201
O Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarve 202
A Insurreição Pernambucana 203
A Revolução do Porto e o Brasil 204
A regência de Dom Pedro 206
A ruptura com Portugal 207
Atividades 208
I. Retomando 208
II. Leitura e escrita em História 210

Capítulo 11 – O reinado de Dom Pedro I: uma cidadania limitada 211

As lutas pela independência 212
O reconhecimento da independência 214
A formação do Estado brasileiro 215
A Constituição do Império 216
A Confederação do Equador 218
Dom Pedro perde apoio e popularidade 220
Oposição na Câmara e na imprensa 221
Atividades 223
I. Retomando 223
II. Leitura e escrita em História 224
III. Você cidadão! 225

Marco Ugarte/AP Photo/Glow Images

Página 9

UNIDADE 4 TERRA E LIBERDADE 226

Capítulo 12 – Regências: a unidade ameaçada 228

O avanço liberal 229
O Ato Adicional de 1834 230
As rebeliões nas províncias 233
A Cabanagem 233
A Guerra dos Farrapos 234
A Revolta dos Malês 238
A Sabinada 239
A Balaiada 240
Atividades 242
I. Retomando 242
II. Integrando com Língua Portuguesa 243

Capítulo 13 – Modernização, mão de obra e guerra no Segundo Reinado 245

O golpe da maioridade 246
Eleições: violência e fraude 246
As revoltas liberais de 1842 247
A Rebelião Praieira 247
O poder do monarca no Império Brasileiro 248
Os partidos do Império: diferenças e semelhanças 249
Economia do Segundo Reinado 249
O café assume a liderança 249
Açúcar, algodão e borracha 252
Modernização no Império 252
Café e ferrovias 253
A Tarifa Alves Branco e a Lei Eusébio de Queirós 254
A questão da mão de obra no Império 255
A Lei Eusébio de Queirós e a Lei de Terras 255
O tráfico interno e o debate sobre o trabalhador nacional 256
Imigrantes no Brasil 257
O sistema de parceria idealizado pelo Senador Vergueiro 258
Colonos nas fazendas de café 259
Alemães, italianos e poloneses no Sul 259
Um começo difícil 260
Guerras entre os sul-americanos 260
Atividades 264
I. Retomando 264
II. Leitura e escrita em História 266

Capítulo 14 – Abolição e República 267

O processo de abolição 268
A resistência negra 268
O abolicionismo 269
A vida dos recém-libertos 273
O processo que conduziu à República 274
O republicanismo 274
A Questão Religiosa 275
A Questão Militar 275
A proclamação da República 277
O governo de Deodoro da Fonseca 279
Constituição e cidadania na jovem República 280

O governo de Floriano Peixoto 281
A Revolução Federalista 281
Atividades 282
I. Retomando 282
II. Leitura e escrita em História 283
III. Você cidadão! 285

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 287

Pedro Ladeira/SambaPhoto

Página 10 Nós e os outros: a

1UNIDADE
questão do etnocentrismo

Professor: nesta abertura de unidade buscamos pensar as relações entre “nós” e os “outros”, extraindo exemplos do
presente. Imagens de curiosidade, estranhamento e de violência física (em um estádio de futebol do Brasil) podem despertar
os estudantes para a reflexão sobre o outro; a alteridade é um tema complexo, escorregadio, mas indispensável quando o
que se quer é a construção de uma sociedade cidadã e pacífica. Ao longo da unidade, o aluno terá a oportunidade de estudar
essas relações no passado, com destaque para os encontros/desencontros entre europeus e ameríndios no século XVI.
Lembrar que a conquista europeia da América foi recheada de violência e desdobrou-se em um dos maiores genocídios
ocorridos na história da humanidade.

Os grupos humanos sempre reagiram (e reagem) das formas mais variadas às
diferenças que percebiam (e percebem) entre eles e os outros; desde a curiosidade
e a admiração (fonte 1), o estranhamento e o riso diante do diferente (fonte 2), até
a rivalidade e a violência física e psicológica (fonte 3). A reação mais frequente de
cada grupo humano em sociedade tem sido a de valorizar ao máximo suas formas
de pensar e agir coletivamente e, ao mesmo tempo, desvalorizar as do outro. A esse
comportamento damos o nome de etnocentrismo.

››Fonte 1

DavidEnglish Photos/Alamy/Latinstock

O Pensador, escultura de Auguste Rodin; note que a menina olha para ela com admiração e
encantamento. Museu de Belas Artes Legion of Honor, Califórnia, Estados Unidos, 2007.

››Fonte 2

Gonzalo Azumendi/Easypix

Visão infantil, escultura de John Davies; note que a estátua provoca o estranhamento e o riso nos
garotos. Museu de Belas Artes de Bilbao, Espanha, 2010.

››Fonte 3

Acervo Folhapress

A fotografia retrata uma briga entre torcidas organizadas, fato cada vez mais comum nos estádios
de todo o país. Essas brigas, combinadas, por vezes, pela internet, têm resultado em mutilações e
mortes de jovens torcedores. Apesar das penalidades impostas aos agressores, a intolerância, a
hostilidade e a violência continuam fazendo vítimas, disseminando o medo e inibindo a ida aos
estádios. São Paulo (SP), 2014.

Página 11

Leia o texto a seguir em que especialistas escrevem sobre o etnocentrismo.
›› Fonte 4

Além da fome, [...] das doenças, da desigualdade, um dos graves problemas que o mundo
contemporâneo enfrenta é a intolerância entre os povos. A dificuldade em encarar a
diversidade humana conduz à negação dos valores culturais alheios e supervalorização do
“grupo do eu”, visão e atitude que chamamos de etnocentrismo [...].
Uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os
outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições
do que é existência. [...]
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta
de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa
igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados
em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos
deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz as coisas
como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais
grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo
e, ainda que diferente, também existe. [...]
O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a
melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro”, o grupo do diferente fica, nessa
lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. (ROCHA, Everardo. O que é

etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 7-9.)

Essa visão do outro produz distorções, preconceitos, agressividades, equívocos, hostilidades,
intolerância e, inclusive, xenofobia. A história contemporânea nos revela inúmeros
acontecimentos cruéis que foram motivados por esta impossibilidade de respeito à diferença.

ASSIS, Cássia Lobão; NEPOMUCENO, Cristiane Maria. Estudos contemporâneos de cultura. Campina Grande:
UEPB/UFRN, 2008. Disponível em:
<http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-
%20Material/Estudos_Contemporaneos_Cultura/Est_C_C_A15_J_GR_260508.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.

Xenofobia: é o medo do “outro” levado ao extremo. O que veio de fora, o estranho ou o estrangeiro é alguém
capaz de contaminar, destruir o lugar em que se vive. Esta fobia produz um medo que induz à intolerância, ao
crime, à agressão e inclusive às guerras.

»» Você já ouviu expressões etnocêntricas como, por exemplo,
“programa de índio” ou “o brasileiro é um bicho preguiçoso”, e
outras do gênero? Já viu alguém fazendo “cara de nojo” ao ver
uma pessoa comer algo que ele jamais comeria? Já presenciou um
gesto de desprezo diante de um determinado gênero de música?
Você já foi vítima de uma atitude etnocêntrica? Já praticou o
etnocentrismo ao se referir a uma pessoa ou povo?

Página 12

Professor: a intenção, aqui, é evidenciar e valorizar as permanências de indivíduos e culturas indígenas nas sociedades
latino-americanas atuais, a fim de motivar o aluno ao estudo do passado e do presente dos povos indígenas da América.

Capítulo 1 América indígena

Os povos ameríndios possuem culturas próprias e diferentes umas das outras. Essa
diversidade pode ser melhor aprendida observando-se o mapa.
América – séc. XVI

Allmaps
Patrick Frilet/Hemis/Corbis/Latinstock
Bill Schildge/Age Fotostock/Easypix
Justin Setterfield/Getty Images
Fabio Colombini
Luis Salvatore/Pulsar Imagens

» As imagens são recentes e retratam indivíduos pertencentes a
diferentes povos ameríndios; quais as diferenças entre eles?
» O que esses povos têm em comum? Que línguas falam?
» Como viviam antes da chegada de Colombo na América (1492)?
» Que problemas têm enfrentado no relacionamento com a
sociedade envolvente?

Página 13

Povos americanos

Sabe-se que os povos ameríndios eram numerosos. Mas, sobre o total da população
na época do contato com o europeu em 1492, temos apenas uma estimativa.
Observe a tabela.

POPULAÇÃO AMERÍNDIA (EM MILHÕES)

Região População estimada Percentualda população
América do Norte 4 400 000 7,7
México 21 400 000 37,3
América Central 5 650 000 9,9
Caribe 5 850 000 10,2
Andes 11 500 000 20,1
Planícies da América do Sul 8 500 000 14,8
Total 57 300 000
100,0

Fonte de pesquisa: LOCKHART, James; STUART, B. Schwartz. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002. p. 57.

Entre todos os povos que viviam na América antes de Colombo, daremos especial
atenção aos astecas, maias, incas e tupis.

Os astecas

Os astecas viveram em Aztlán (daí o seu nome), no norte da América, até por volta
do século XII, quando deixaram sua região de origem em busca de terras férteis. No
início do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à
beira do lago Texcoco, e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán.

Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os astecas subjugaram
diversos povos da região. Assim, a cidade de Tenochtitlán passou a ser a cabeça do
que se convencionou chamar de Império Asteca.

Império Asteca: nunca foi uma unidade política; era, na verdade, um conjunto de povos com diferentes
graus de subordinação aos astecas. Alguns pagavam tributos, mas tinham uma relativa autonomia; outros
eram apenas governados e, outros, ainda, só pagavam tributos à força, quando eram vítimas de expedições
punitivas promovidas pelos astecas.

Dica! Tour virtual tridimensional por Tenochtitlán. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/fwvhqa>.

Diego Rivera. 1945-1952. Afresco. Palácio Nacional, Cidade do México. Foto: Art Archive/Otherimages

Detalhe de A grande cidade de Tenochtitlán, afresco do muralista mexicano Diego Rivera (1886-
1957). Rivera inovou ao valorizar a matriz indígena na história do México, numa época em que os
livros de História daquele país mostravam os espanhóis como “os únicos construtores” da nação. O
movimento das pessoas, o tipo de trabalho e a existência de mercadorias expostas à venda
mostradas em primeiro plano indicam tratar-se de um mercado. O detalhe mostra os canteiros
flutuantes, as chinampas, ilhas artificiais feitas sobre estacas fixas no fundo do lago. A fertilidade
dessas terras pantanosas garantia a produção de alimentos para os habitantes da cidade lacustre.
Cortada por canais e aquedutos, ruas largas e retas, Tenochtitlán provocou enorme admiração nos
conquistadores espanhóis nascidos em cidades relativamente menores, de ruas tortas e estreitas.

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A dominação e os tributos exigidos pelos astecas geravam revolta. Além disso, no coração do
Império Asteca havia a cidade de Tlaxcala, inimiga ferrenha dos astecas.

Império Asteca (início do século XVI)

Allmaps

Fonte: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina colonial. São Paulo: Edusp, 2004. v. 1. p. 56.

Os povos submetidos aos astecas tinham de cultuar o deus Huitzilopochtli – deus
da guerra, das tempestades e do Sol. E eram obrigados também a pagar tributos
tais como: penas raras (do pássaro Quetzal, por exemplo), pedras preciosas (como
o jade), tecidos de algodão, madeira, mantos, esteiras, colares e cacau, com o qual
faziam o tão apreciado xocoatl (chocolate).
Caso se recusassem a pagar os tributos eram castigados com expedições punitivas
– que incluíam saques e rapto de pessoas para oferecer em sacrifício aos deuses.
Isto explica por que os povos sob o domínio asteca se rebelavam com frequência. O
povo de Cuctlaxtlan, por exemplo, chegou a aprisionar os coletores de impostos
astecas em uma casa à qual atearam fogo.

Menoza Code. Séc. XVI. Universidade de Oxford. Foto: De Agostini/Getty Images

Lista de tributos pagos pelos povos submetidos aos astecas, século XVI.

A sociedade asteca

O Império Asteca apresentava uma sociedade complexa e estratificada. O
imperador, considerado um ser semidivino, concentrava enorme poder e riqueza.
Essa riqueza provinha, sobretudo, dos impostos (na forma de pedras preciosas,
tecidos, cereais e outros), que se acumulavam no palácio imperial, onde eram
registrados pelos escribas. Em tempo de escassez, os celeiros imperiais eram
abertos para que se distribuíssem alimentos e roupas ao povo. Pelo fato de o
imperador ser o comandante do exército e, ao mesmo tempo, o mais alto
sacerdote, alguns historiadores afirmam que o Império Asteca era uma monarquia
militar teocrática.

Dica! Documentário sobre a formação do império asteca e as invenções desse povo. [Duração: 44
minutos]. Acesse: <http://tub.im/uiuagf>.

Os nobres ocupavam as funções administrativas, militares e religiosas e,
geralmente, levavam uma vida regrada e sem vícios. A bebida, bem como o luxo e a
ostentação, eram reprovados socialmente e punidos com rigor. Os nobres com
funções administrativas no governo eram isentos de impostos e seus filhos

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tinham direito a uma educação diferenciada. Suas residências eram construídas e
mantidas pelo governo. Parte da nobreza se dedicava à guerra; os guerreiros que
conseguiam se destacar ingressavam em prestigiadas ordens militares, como a dos
águias e a dos jaguar, que serviam ao deus Sol. Parte dos sacerdotes também saía
da nobreza. Sua principal função era organizar e conduzir o culto aos deuses e
interpretar suas vontades. Tal como os sacerdotes do Egito antigo, os astecas
acumulavam riquezas em terras e joias doadas pelo imperador ou por particulares.
Outra camada social era a dos comerciantes, chamados de pochtecas; eles
enriqueciam por meio de trabalho mas procuravam dissimular a riqueza, pois se
demonstrassem ser ricos eram perseguidos pela nobreza. Eles transmitiam sua
profissão de pai para filho.
Havia ainda os artesãos que desempenhavam atividades como a ourivesaria, a
joalheria e o trabalho com plumas. Eles estavam agrupados em corporações e cada
uma delas tinha um conjunto de tradições e um deus próprio. Eles trabalhavam
tanto em suas casas quanto nos palácios e residências da nobreza. E, assim como
os comerciantes, transmitiam seu ofício aos filhos.
Já os camponeses eram o grupo mais numeroso da sociedade asteca. Ao se
casarem, recebiam um lote de terra onde construíam uma casa e passavam a
cultivar milho, feijão, pimenta, abóbora, cacau, tomate, entre outros. No entanto,
eram obrigados a pagar pesados impostos, prestar o serviço militar e trabalhar
gratuitamente na conservação de estradas e canais e na construção de diques e
monumentos. Com poucas chances de ascensão social, os camponeses podiam
passar a vida no mesmo pedaço de terra, saindo apenas quando chamados ao
serviço das armas. Na base da pirâmide social estavam os escravos, que eram
geralmente prisioneiros de guerra.

Bernardino de Sahagun. Séc. XVI. Codex/The Field Museum Library

Códice Florentino, Bernardino de Sahagun, c. 1540- 1585. O primeiro e o terceiro guerreiros
pertenciam à ordem dos águias e o do meio integrava a ordem do jaguar; todos eles serviam ao
deus Sol.
Dica! Documentário analisando o encontro de culturas entre os astecas e os espanhóis. [Duração:
44 minutos]. Acesse: <http://tub.im/n2ktnv>.

Os maias

Os maias estão entre as civilizações mais antigas da América. Seus ancestrais
viviam nas montanhas da atual Guatemala desde 2500 a.C.
A civilização maia se desenvolveu na confluência entre a América do Norte e a
América Central, mais precisamente na Península de Yucatán, numa área em que se
encontram cinco estados do México atual, quase toda a Guatemala, parte de El
Salvador, parte de Honduras e Belize. Observe o mapa abaixo.
Principais cidades maias

Allmaps

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 236.

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Habitando um meio inóspito, esses povos se deslocavam pela selva em busca de
alimentos (caça, pesca e colheita). Posteriormente, domesticaram plantas como o
milho, a pimenta e o feijão, e se estabeleceram na Península de Yucatán, local em
que os arqueólogos descobriram, em meio à floresta tropical, as cidades de Tikal e
Copán. Depois, os maias ocuparam também cidades já existentes, como Uxmal e
Chichén-Itzá, situadas ao norte.

The Granger Collection/Glow Images

Estela maia de cerca de 732 a.C. encontrada na cidade de Copán, atual Honduras. A estela é uma
coluna com inscrições e figuras de deuses ou personagens históricos usada para adornar urnas
mortuárias.

As cidades-Estado maias

Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-Estado, ou seja, cidades
com governo, leis e costumes próprios. Em caso de guerra contra um inimigo
comum, as cidades maias se organizavam em confederações, mas nunca chegaram
a constituir um império, a exemplo das astecas e das incas.
As grandes e sofisticadas construções maias e o deslocamento de enormes blocos
de pedra revelam seus conhecimentos de engenharia e cálculo. As pirâmides
serviam de esteio para os templos religiosos aos quais se chegava por meio de uma

escadaria íngreme. Algumas pirâmides, como a de Tikal, tinham mais de 60 m de
altura. Muitas cidades maias surgiram em torno dos centros cerimoniais. 1

1. Dica! Documentário sobre a civilização maia. [Duração: 43 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/kd382p>.

Marcelo Lambert

Vista geral do centro cerimonial da cidade maia de Palenque, 2011. Note que o conjunto
arquitetônico emerge da exuberante floresta tropical. O centro cerimonial era destinado ao culto
dos deuses, à prática do comércio (troca de bens agrícolas, artesanais e sagrados) e também à
celebração das festas maias. Fotografia de Marcelo Lambert, estudioso da história e da cultura dos
povos astecas, incas e maias. 2
2. Dica! Documentário sobre a construção da cidade maia de Palenque. [Duração: 43 minutos].
Acesse: <http://tub.im/vtw2yj>.

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Sociedade, economia e arte

A sociedade maia era hierarquizada. Os grupos sociais mais favorecidos
(governantes, sacerdotes e comerciantes) viviam em palácios e templos suntuosos
situados em torno dos centros cerimoniais e eram sustentados pelas famílias de
agricultores e artesãos espalhadas pelas aldeias existentes na floresta. Esses
habitantes das florestas só se dirigiam aos centros cerimoniais para a prática da
religião, do comércio, ou em dias de festa.
A agricultura tinha grande importância na vida dos maias. A maioria da população
trabalhava no cultivo de feijão, abóbora, algodão, cacau, abacate e milho. Este
último era a base de sua alimentação.
Por volta do século IX, os maias abandonaram suas cidades subitamente. Para
alguns, as razões do abandono foram flagelos naturais, como epidemias, secas
prolongadas, inundações, terremotos, furacões. Para outros, as causas do
abandono das cidades maias foram tragédias provocadas pelo próprio ser humano,
tais como invasões violentas, pressão de grupos periféricos, insurreições
populares.
Os conhecimentos e práticas dos maias foram incorporados pelos astecas e outros
povos do Vale do México, que conquistaram as cidades maias por volta de 1400.

Dica! Documentário sobre as profecias dos maias. [Duração: 46 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/7ri9ma>.

Para saber mais

Os povos da Mesoamérica, particularmente os maias, conseguiram atingir uma
precisão extraordinária em seus cálculos astronômicos. Veja o que diz um
especialista.
A astronomia e o calendário

Todos os grandes povos da Mesoamérica sentiram-se poderosamente fascinados pelo mistério
do cosmo: a recorrência [...] dos fenômenos celestes, o ritmo infatigável das estações e a
influência destas nas diversas fases da cultura do milho; o próprio ciclo da vida e da morte, do
dia e da noite em sua alternância [...] necessária. [...] Desde os primeiros séculos de nossa era
(talvez mesmo a partir do grande desenvolvimento olmeca) esses povos possuíram [...] dois
calendários dos quais se serviam simultaneamente; um calendário ritual de 260 dias divididos
em 13 grupos de 20 dias; e um calendário solar, [...] civil, de 365 dias mais uma fração [...]
comportando 18 grupos de 20 dias mais cinco dias adicionais, geralmente considerados
nefastos. Os dias de cada um desses calendários, permutando-se de forma cíclica segundo uma
ordem determinada, terminavam por fazer os dois calendários se reencontrarem no mesmo
ponto de partida a cada 52 anos, quando recomeçava o ciclo. [...].

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Para administrar esses cálculos, foi concebido um sistema simples e engenhoso – tendo por
base o número 20 – reduzindo-se ao emprego de dois símbolos: o ponto para a unidade, a
barra para o cinco, mais um signo em forma de concha alongada equivalente a “zero”, ou
melhor, significando ausência de valor. Esses signos prestavam-se facilmente à composição de
números inteiros, podendo ultrapassar o milhar. Segundo esse sistema mesoamericano, o valor
de posição crescia progressivamente, nas colunas verticais, de baixo para cima. [...]

GENDROP, Paul. A civilização maia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 36-37.

Paul Steeger/age fotostock/Easypix

O observatório El Caracol, em Chichén Itzá, no México, foi construído por volta de 1050. Esse sólido
edifício de pedra com argamassa e plataformas nos quatro lados era usado como observatório de
astronomia. Fotografia de 2013.

Os incas

Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas
chegaram ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII. Naquelas
terras altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram a
cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos
povos da região ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve
Pachakuti como primeiro imperador. No processo de formação do seu império, os
incas assimilaram elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que
mais tarde espalhariam pelos Andes.

O Império Inca expandiu-se consideravelmente graças às sucessivas conquistas.
Ele era dividido em várias regiões administrativas, cujos governadores deviam
prestar contas de seus atos ao imperador. A interligação entre as regiões do
império era feita por uma eficiente rede de estradas construídas nas encostas das
montanhas. Jovens eram treinados desde a infância para correr por elas, levando e
trazendo informações e produtos por longas distâncias. As principais estradas
incas ligavam o interior a Cuzco, uma cidade planejada que servia como capital do
império incaico. Veja o que disse sobre ela um cronista espanhol do século XVI:

DIALOGANDO

Os incas justificavam a dominação sobre outros povos dizendo que o objetivo era tirá-los da
barbárie e levar-lhes a “civilização”. Você conhece outros povos que usaram esse mesmo
argumento, antes ou depois, para justificar suas conquistas?

Os romanos na Antiguidade e os europeus no século XIX.

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Era grande e majestosa e deve ter sido fundada por gente capaz e inteligente. Tem ruas muito
boas, embora estreitas, e as casas estão construídas de maciças pedras, belamente unidas [...]
Cuzco era a cidade mais rica das Índias, pelo grande acúmulo de riquezas que chegavam a ela
com frequência, para incrementar a grandeza dos nobres.

LEÓN, Pedro Cieza de, 1553 apud NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flávia R. Os povos da América: dos
primeiros habitantes às primeiras civilizações urbanas. São Paulo: Atual, 1996. p. 77-80. (História geral em
documentos).

Antes de começar uma construção, os incas produziam uma maquete de argila e
pedra que os ajudava a formar uma ideia da obra depois de pronta. Na construção,
usavam grandes blocos de pedra, que eram cortados e encaixados uns nos outros
sem a necessidade de uma substância colante.
Restam, ainda hoje, construções incas intactas e um número grande de vestígios
delas em cidades como Cuzco, Lima e Quito. Em Machu Picchu existem edificações
em que se pode ver o modo de organização dos bairros de uma cidade inca. 1 e 2

Índias ocidentais: nome dado à parte americana do Império espanhol.
Maquete: representação em escala reduzida de uma obra de arquitetura ou engenharia a ser executada.
1. Dica! Documentário sobre a cidade de Machu Picchu. [Duração: 52 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/qtc5sy>.
2. Dica! Documentário analisando a arquitetura da cidade de Machu Picchu no Peru. [Duração: 46
minutos]. Acesse: <http://tub.im/kjz2rs>.

Economia inca

Habitando regiões montanhosas, os incas adotavam a irrigação sistemática e
construíam terraços na forma de uma imensa escada para a prática da agricultura.
Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes ao frio, como a
batata; nos do meio, milho, abóbora e feijão; nos mais baixos, semeavam as árvores
frutíferas. Com isso, conseguiam colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas
se dedicavam também ao pastoreio: criavam a lhama, animal de carga com grande
resistência, além da alpaca e do guanaco, dos quais obtinham a lã e o leite.

Abaixo, vista dos terraços e construções de Machu Picchu, 2012. À esquerda, uma lhama, no mesmo
local, em 2013.

HEMIS.FR/Image Forum

Uma lhama, nas ruinas de Machu Pichu, em 2013.

Alex Robinson/JAI/Corbis/Latinstock

Acima, vista dos terraços e construções de Machu Picchu, 2012.

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O ayllu e a mita

A maioria da população inca era composta de famílias camponesas que
trabalhavam na agricultura ou no pastoreio. Um conjunto de famílias unidas por
laços de parentesco ou aliança formava o ayllu, unidade social básica, cujo chefe
chamava-se kuraka. As terras de cada ayllu eram divididas em três partes: uma
pertencia ao imperador, outra aos deuses (isto é, aos sacerdotes) e uma terceira
parte, aos camponeses que ali viviam.
Além de trabalhar na agropecuária, as famílias do ayllu eram obrigadas à mita –
prestação de serviços gratuitos para o governo, como semear, plantar e beneficiar
frutos, construir e consertar estradas e templos, entre outros. Além da mita, os
camponeses pagavam um tributo em espécie e tinham de fazer vestimentas,
calçados e armas para serem usados em tempos de guerra. Os produtos iam para
os armazéns do Estado e eram distribuídos quando invernos rigorosos, epidemias
ou inundações provocavam a falta de alimentos.
Apogeu do Império Inca – 1532

Allmaps

Fonte: KINDER, Hermann; HERGT, Manfred; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros
días. 22. ed. Madrid: Akal, 2007. p. 234.

Situado ao longo da Cordilheira dos Andes, o Império Inca abrangia terras hoje pertencentes ao
Equador, ao Peru, à Bolívia, ao Chile e ao norte da Argentina.

A sociedade incaica

No topo da sociedade incaica estava o imperador, intitulado Inca, o “filho do Sol”,
reverenciado e respeitado por todos. Abaixo dele, a nobreza, da qual saíam os
governantes, os sacerdotes e os chefes militares.

Entre os grupos intermediários estavam os médicos, os contabilistas, os
projetistas, os guerreiros, os artesãos (tecelões, tapeceiros, ceramistas, ourives).
Esses grupos profissionais – além do imperador e dos nobres – viviam em cidades
e eram ajudados pelo governo. Já os camponeses, que constituíam a maioria da
população, moravam em aldeias rodeadas por campos de cultivo e de pastoreio e
viviam oprimidos por diferentes tributos. No Império Inca, a religião – que tinha
como principal cerimônia o culto ao deus Sol – e a língua oficial, o quíchua, eram
obrigatórias.

Dica! Vídeo sobre os astecas, os maias e os incas. [Duração: 49 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/sk24na>.

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Para refletir

Leia o texto a seguir com atenção.
As línguas da América Latina

Muita gente pensa que nos países da América Latina são faladas apenas duas línguas, espanhol e
português. Mas na realidade há centenas, ainda que um grande número delas esteja em risco de
extinção.
[...]
Há dois países onde não só o castelhano, mas também certas línguas indígenas têm estatuto
oficial: Peru e Paraguai. No Peru, o quéchua e o aimara são reconhecidos como oficiais pela
Constituição, mas num papel secundário: na prática, são reconhecidas apenas para serem
usadas e ensinadas dentro das respectivas comunidades indígenas e não há nenhuma tentativa
séria de tratá-las como línguas nacionais. Já no Paraguai, o guarani é realmente a segunda
língua nacional, ensinada em todas as escolas. [...]
Existe um curioso preconceito segundo o qual as línguas indígenas são “afetivas”,
“sentimentais”, ao passo que as línguas europeias são “lógicas”, “racionais”. Isso nada tem a ver
com as línguas em si, mas com a forma como são aprendidas e usadas pelos bilíngues. O índio
“ladino” (isto é, que fala uma língua latina) e o mestiço latino-americano geralmente aprendem
a língua indígena com a mãe e com seus companheiros de infância e a usam em contextos
íntimos, familiares ou de amizade [...]. Pelo contrário, uma língua como o castelhano (ou outra
europeia qualquer) é aprendida na escola [...] e o [indivíduo] bilíngue o continua usando em
esferas relacionadas com a racionalidade e a impessoalidade: as repartições públicas, a relação
com os superiores, o comércio nas grandes cidades [...]. São raras as [...] tentativas de traduzir
textos científicos modernos para essas línguas [...].

COSTA, Antonio Luiz Monteiro Coelho da. As línguas da América Latina. Como é a América Latina, 24 maio 2012.
Blogue. Disponível em: <http://www.comoaamericalatina.blogspot.com.br/2012/05/as-linguas-da-america-
latina.html>. Acesso em: 6 abr. 2016.

Keith Levit/Age Fotostock/Easypix

Mulher inca falante do idioma quíchua, Peru, 2010.

a) O texto acima pode ser classificado como jornalístico, literário, historiográfico
ou filosófico? a) O texto é jornalístico. Professor: comentar que ele possui um lead (abertura por meio da qual se

apresenta o assunto de modo resumido) e um corpo no qual o autor desenvolve o conteúdo veiculado na abertura.

b) O autor se dirige a um público especializado ou a um público em geral?
Justifique. b) O autor se dirige ao público em geral; por isso seu texto é fluente e utiliza uma linguagem simples e

objetiva.

c) Em dupla. De acordo com o texto, podemos afirmar que no Peru a língua
indígena reconhecida como oficial possui o mesmo prestígio que o espanhol?
Justifique.c) Não; como informa o autor, a língua indígena é reconhecida para ser ensinada apenas nas comunidades

indígenas e não há empenho por parte das autoridades para que ela seja considerada língua nacional.

d) Segundo o autor, as línguas indígenas são “naturalmente” afetivas?d) Não; isto deriva

do modo como as línguas indígenas são aprendidas e usadas pelos falantes bilíngues. Eles geralmente aprendem a falar a
língua indígena com a mãe e a utilizam em ambientes íntimos. Já a língua europeia é aprendida na escola e usada em
ambientes que exigem certa formalidade, a exemplo das repartições públicas.

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Indígenas nas terras onde hoje é o Brasil

O conhecimento acumulado sobre os indígenas do Brasil é pouco disseminado
entre nós, o que leva muitas pessoas a reproduzir juízos extraídos do senso
comum. Um equívoco, por exemplo, é ver os povos indígenas como parados no
tempo, como muitas vezes vemos em noticiários, jornais e revistas. As sociedades
indígenas passaram por mudanças significativas. São histórias de milhares de anos,
marcadas por confrontos e alianças, deslocamentos, conquistas e perdas; enfim
uma história tão movimentada e interessante quanto a de outros povos.

Dica! Documentário produzido pelo Museu do Índio sobre os indígenas brasileiros. [Duração: 24
minutos]. Acesse: <http://tub.im/rge3nm>.

Os dados sobre a população indígena em 1500, quando os portugueses aqui
chegaram, são divergentes. Alguns dizem que havia de 2 a 4 milhões de indígenas.
Outros afirmam que poderia variar de 6 a 10 milhões. Outros, ainda, mais
ponderados, acham que seria de 3,5 a 6 milhões. De uma forma ou de outra, eram
milhões de índios, agrupados em centenas de povos falantes de cerca de 1 300
línguas.

Diferenças entre os indígenas

Os povos indígenas são diferentes entre si, como se pode notar comparando a
aparência física de cada grupo, as línguas que falam, as artes que praticam, seus
modos de construir casas e seus rituais.

Francis Castelnau. 1850-1859. Gravura. Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, São Paulo

Hércules Florence. 1828. Aquarela. Academia de Ciências da Rússia, Moscou

Repare nas diferenças físicas entre os indígenas representados nesta página. As representações que
os pintores europeus fizeram desses povos são quase sempre idealizadas, mas suficientes para
marcar as diferenças entre eles. Cortes de cabelo, adornos, pintura corporal e arte plumária
expressam uma grande diversidade sociocultural. As pinturas são do século XIX e foram feitas por
Francis Castelnau (primeira imagem, superior) e Hércules Florence (segunda imagem).

Página 23

As línguas indígenas

Um elemento importante da cultura de um povo é a língua; as línguas são
agrupadas em famílias e estas, em troncos. As línguas latinas, celtas, germânicas e
eslavas, por exemplo, originaram-se todas de um mesmo tronco, o indo-europeu. O
quadro a seguir é uma representação de línguas e famílias pertencentes ao tronco
indo-europeu.

Cultura: modo de um povo viver e interagir com o seu meio. Cada povo possui uma cultura própria, e
nenhuma é superior a outra.

TRONCO INDO-EUROPEU

Latim Celta Germânico Eslávico
espanhol russo
português bretão inglês
francês etc. polonês
irlandês holandês tcheco etc.

gaulês etc. alemão

sueco

norueguês etc.

Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.

DIALOGANDO

Você sabe por que a língua portuguesa é chamada de neolatina?

Porque deriva do latim, que era falado pelo povo da Roma antiga.

Usando esse mesmo tipo de classificação para as línguas indígenas, a estudiosa
Raquel F. Teixeira afirma que no Brasil há dois troncos linguísticos principais: o
Tupi (o mais conhecido) e o Macro-jê. O tronco Tupi tem cerca de 10 famílias, e o
Macro-jê, aproximadamente 12. Observe o esquema relativo ao tronco Tupi.

TRONCO TUPI

Tupi-guarani Arikém Juruna Mondé
akwáwa aruá
amanayé karitiana juruna
anambé cinta-larga
xipáya gavião

Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.

Ao chegar às terras onde hoje é o Brasil, os portugueses encontraram povos
falantes de línguas do tronco Tupi. Veja no quadro abaixo a semelhança de algumas
palavras faladas ainda hoje e pertencentes a essas línguas.

LÍNGUA LÍNGUA LÍNGUA LÍNGUA
TUPINAMBÁ PARINTINTIN TAPIRAPÉ GUARANI

Pedra Itá Itá Itã Itá
Fogo Tatá Tatá Tãtã Tatá
Onça Jáguareté Djágwára Txãwãrã Jágwareté
Jacaré Jacaré Djakaré Txãkãré Djakaré

Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 299.

DIALOGANDO

No nosso dia a dia, usamos, sem perceber, muitas palavras de origem Tupi. Jacaré, por
exemplo, é uma delas. Diga quais das palavras a seguir são de origem indígena: abacaxi, açaí,
amendoim, arara, babaçu, bacurau, beiju, caju e curumim.

Todas elas. As espécies frutíferas citadas (abacaxi, açaí e caju) foram domesticadas por indígenas.

Página 24

As artes indígenas

Além da língua, outro elemento de diferenciação entre os povos indígenas são as
artes praticadas por eles. Segundo um estudo sobre o assunto:

[...] As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros
materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental,
assim como da produção africana ou asiática. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e
sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se
expressar e de conferir sentido às suas produções. [...]

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-
de-vida/artes>. Acesso em: 7 fev. 2016.

Renato Soares/Pulsar Imagens

Arte plumária Kayapó em fotografia de 2008.

Renato Soares/Pulsar Imagens

Pintura corporal no rosto de uma menina Kayapó da aldeia Moykarakô, São Felix do Xingu (PA),
2015.

Semelhanças entre os indígenas

Entre os povos indígenas há também semelhanças acentuadas:

» Cada grupo indígena se identifica como uma sociedade específica (kaiapó,
guarani, ianomâmi, botocudo, kalapalo e outras);

» A posse da terra e dos recursos nela existentes é coletiva. Nas sociedades
indígenas a terra é de quem trabalha nela. Enquanto um grupo estiver plantando,
colhendo, caçando e pescando numa determinada área, seus recursos e frutos lhe
pertencem. Depois, outro grupo pode vir a ocupar essa mesma área e se beneficiar
dela;

» A divisão do trabalho é feita por sexo e idade. Isto é, há tarefas que são
masculinas, como derrubar a mata e preparar a terra para o plantio, cuidar da
segurança do grupo, caçar, pescar, construir moradias; e outras que são femininas,
como plantar, colher, transportar, fazer farinha, cestos, redes, cozinhar e cuidar das
crianças. As crianças ajudam os adultos em tarefas compatíveis com sua idade;

» Todos os indivíduos de um povo têm acesso às condições e aos conhecimentos
necessários à sua realização pessoal e sobrevivência, ou seja, nas sociedades
indígenas, o conhecimento é socializado.

Página 25

1

Ricardo Teles/Pulsar Imagens

Fig. 1: construção de oca, Aldeia Kamayurá, Parque do Xingu, Mato Grosso, 2014.

2

Fabio Colombini

Fig. 2: colheita da mandioca, povo indígena barasano, Manaus (AM), 2014.

3

Fabio Colombini

Fig. 3: mulher Kalapalo preparando beiju, Aldeia Aiha, também no Parque do Xingu, 2011.

Encontro e desencontro: os portugueses e os
tupiniquins

Os primeiros contatos entre os tupiniquins e os portugueses nas terras onde hoje é
Porto Seguro, na Bahia, em 1500, foram mediados pelo estranhamento. Segundo o
escrivão da armada de Cabral, Pero Vaz de Caminha, esses habitantes eram pardos,
não usavam qualquer vestimenta e traziam consigo arcos e setas.

Os tupiniquins, certamente, também estranharam o modo de se vestir e de falar
dos portugueses.

Nas primeiras décadas do século XVI, os contatos entre os tupis e os portugueses
foram sobretudo amistosos; os indígenas foram parceiros comerciais dos lusos
trocando com eles pau-brasil, uma madeira abundante no litoral brasileiro, por
objetos úteis a eles, como machados, pás, foices, facas, espelhos. Outra forma de
relacionamento amigável foram os casamentos de portugueses com mulheres
tupis. Ocorreu, ainda, a aliança dos europeus com alguns grupos indígenas para
guerrear contra outros; os portugueses, por exemplo, aliaram-se aos tupiniquins
para guerrear contra os tupinambás, fazê-los prisioneiros e escravizá-los.

A partir de 1532, e sobretudo após a instalação do Governo Geral, em 1549, porém,
os portugueses passaram a capturar os índios para empregá-los como escravos nos
engenhos de produção de açúcar e nos afazeres domésticos. Daí a violência passou
a predominar nas relações entre os colonizadores e os povos indígenas.

Esses povos, por sua vez, reagiram à escravização por meio de revoltas coletivas,
da violência individual, do saque e da fuga para o Sertão. Mas os colonizadores
acabaram vencendo pela força e conquistando para si as terras indígenas. As
guerras de apresamento, as grandes fomes que geralmente acompanhavam essas
guerras, a escravização e, sobretudo, doenças, como gripe, sarampo, tuberculose e
varíola, causaram a morte de dezenas de milhares de indígenas.

Pau-brasil: espécie de madeira nativa da Mata Atlântica: tem o tronco recoberto de espinhos, o interior
avermelhado, e pode atingir até 30 m de altura e 1,5 m de diâmetro.

Tuberculose: infecção que se manifesta nos pulmões, sistema nervoso, intestino e rins. É transmitida por
leite contaminado, pela saliva e pela manipulação de objetos. Os sintomas são emagrecimento e tosse.

Varíola: doença infecciosa caracterizada por febre alta e erupções na pele, com formação de bolhas com pus.
Costuma deixar marcas.

DIALOGANDO

Você sabe por que, no caso dos indígenas, as doenças mataram mais do que as armas de
fogo?

Os indígenas não tinham defesas naturais (imunidade) contra as doenças. Além disso, elas se manifestavam como epidemias,
atingindo muitas pessoas de uma só vez. Não havendo quem cuidasse dos doentes, muitos morriam por inanição, como
explicou a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha.

Página 26

Demografia e terra

Contrariando previsões fatalistas segundo as quais os povos indígenas estariam em
extinção, a população indígena vem crescendo em um ritmo acelerado. Observe a
tabela.

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO INDÍGENA (1991-2010)

Ano População % sobre o total

1991 294 000 0,2

2000 734 000 0,4

2010 817 000 ± 0,42

Fonte: CIMI. Brasília, 2011.

O número de pessoas que se declararam indígenas em 2010 foi 11% maior que o registrado no
Censo de 2000.

Dica! Documentário baseado na obra do sociólogo Darcy Ribeiro sobre o povo brasileiro, com
foco nos indígenas. [Duração: 26 minutos]. Acesse: <http://tub.im/fois4r>.

Em 2010, os cerca de 817 mil índios contabilizados pelo censo do IBGE no país
estavam distribuídos em mais de 305 etnias, que falam 274 línguas, das quais
apenas metade foi estudada e é, de fato, conhecida. Com relação às terras
indígenas, mais de 80% delas encontram-se na região Norte. Segundo o Instituto
Socioambiental havia no Brasil, em 2016, 700 terras indígenas (TIs), a maior parte
dela na Amazônia Legal. Conheça a situação dessas terras observando a tabela:

SITUAÇÃO JURÍDICA DAS TIS NO BRASIL (2016)

SITUAÇÃO NÚMERO DE TIS EXTENSÃO (HECTARES)

Em Identificação/Com 121 1 088 744
restrição de uso a não

índios*

Identificada 36 5 506 314

Declarada 67 3 831 830

Homologada 476 106 800 598

Total geral 700 117 227 486

*A extensão neste grupo refere-se às TIs em revisão ou às com restrição de uso. Fonte de pesquisa: INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL (ISA). Povos indígenas no Brasil. Disponível em:
<http://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/situacao-juridica-das-tis-hoje>. Acesso em: 2 maio 2016.

DIALOGANDO

As terras indígenas correspondem hoje a cerca de 14% do território nacional. Para alguns
grupos, no Brasil “há terra demais para pouco índio”. Para outros, os índios devem possuir
as terras que tradicionalmente ocupam. E você, o que pensa sobre o assunto?

Resposta pessoal.

Em identificação: é quando a Funai, que é o órgão indigenista federal, inicia estudos para definir se
a terra é, de fato, tradicionalmente ocupada por um ou mais povos indígenas. Identificada: é
aquela terra sobre a qual já se possui estudo realizado pela Funai e publicado no Diário Oficial da
União. Declarada: são as terras aprovadas pelo Ministro da Justiça, que autoriza a sua demarcação
por meio de uma Portaria. Homologada: terras cuja demarcação foi homologada por meio de um
decreto assinado pelo presidente da República.

Página 27

Problemas dos indígenas hoje

Um dos principais problemas dos povos indígenas na atualidade é conseguir o
reconhecimento do seu direito às terras em que habitam. O reconhecimento dessas
terras pelo Estado tem ocasionado disputas acirradas, o que contribui para
aumentar violência e as mortes no campo. De um lado, estão os indígenas e seus
aliados; de outro, os fazendeiros, grileiros, madeireiros, posseiros e garimpeiros
que não reconhecem os territórios de ocupação tradicional como terra indígena. 1

1. Dica! Documentário sobre a aldeia indígena Ribeirão Silveira, em Bertioga (SP). [Duração: 27
minutos]. Acesse: <http://tub.im/gjq2e4>.

Outro problema é a invasão das áreas indígenas (já delimitadas) por fazendeiros,
posseiros, madeireiros e garimpeiros desejosos de explorar as riquezas nelas
existentes. Mais um problema, ainda, é que os povos indígenas são numerosos,
falam línguas diferentes e estão espalhados por áreas distantes umas das outras, o
que dificulta a luta deles por direitos. 2

2. Dica! Vídeo produzido pela ONU abordando os suicídios e o desespero de indígenas Tupi
-Guarani no Brasil. [Duração: 9 minutos]. Acesse: <http://tub.im/pta6nc>.

Palê Zuppani/Pulsar

Cacique Tafukumã, da nação Kalapalo, na Aldeia Aiha, em Querência (MT), 2009.

As lutas dos povos indígenas


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