Ball & Thomas/Buyenlarge/Getty Images
Kean Collection/Getty Images
Primeira imagem: Urso em Pé, chefe Sioux, trajado com a roupa cerimonial de seu povo c. 1885.
Segunda imagem: jovem marinheiro negro em uma fotografia de corpo inteiro, Ohio, 1863. Terceira
imagem: atriz estadunidense Fanny Davenport, c. 1880. Esses personagens representam grupos
que foram excluídos da cidadania na Constituição feita para reger os Estados Unidos.
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ATIVIDADES
I. Retomando
ESCREVA NO CADERNO.
1. (Unimat-MT – 2013) O movimento filosófico denominado Iluminismo surgiu na Europa do
século XVIII, baseando-se na crença absoluta da razão como forma única de o homem alcançar a tão
sonhada autonomia intelectual, o progresso material, o desenvolvimento das virtudes morais, bem
como o aprofundamento do conhecimento científico. Ademais, os pensadores iluministas
compartilhavam a ideia de que a razão humana alçaria o homem à sublime condição de dominador
absoluto da natureza.
A partir das informações contidas no texto, é possível considerar que:
a) Os pensadores iluministas acreditavam no conhecimento religioso como forma de libertar o
homem do pensamento mágico-mítico, ascendendo, assim, ao conhecimento científico.
b) Os pensadores iluministas depositavam total confiança na capacidade da razão como forma de
contraposição ao conhecimento advindo das concepções teocêntricas e do obscurantismo
característico do senso comum.
c) A confiança depositada pelos iluministas no papel absoluto dos desejos e das vontades humanas
surgia como um contraponto à ditadura imposta pela razão humana.
d) Como figura proeminente do Iluminismo, o pensador francês Immanuel Kant destacou-se como
combatente do pensamento filosófico-científico.
e) Os Iluministas desacreditavam por completo no poder da razão para conduzir o homem à
liberdade e à felicidade.
1. Resposta: b.
2. (Unesp-SP – 2015)
O pensamento iluminista, baseado no racionalismo, individualismo e liberdade absoluta do
homem, ao criticar todos os fundamentos em que se assentava o Antigo Regime, revelava as
suas contradições e as tornava transparentes aos olhos de um número cada vez maior de
pessoas.
Modesto Florenzano. As revoluções burguesas, 1982. Adaptado.
Entre as críticas ao Antigo Regime mencionadas no texto, podemos citar a rejeição iluminista do:
a) princípio da igualdade jurídica.
b) livre comércio.
c) liberalismo econômico.
d) republicanismo.
e) absolutismo monárquico.
2. Resposta: e.
3. (Enem/MEC)
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na
falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem,
no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto
filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.
3. Resposta: a.
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d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.
4. (UFF-RJ) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos
grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância
de manter acesa a chama da razão:
Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra
do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos
devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a
ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a
inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve
mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo
de sermos envenenados.
Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire.
a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco
desnecessário.
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos.
c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o
obscurantismo e o fanatismo.
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais estar
alerta.
e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.
4. Resposta: c.
5. (Enem/MEC – 2013)
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido
pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções
públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da
liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos
poderes concomitantemente.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver
liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-cientificas.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.
5. Resposta: d.
6. (UFES) A Declaração de Independência das 13 Colônias Inglesas da América do Norte, em 4 de
julho de 1776, da qual Thomas Jefferson foi relator, consagrou, em seu texto, o princípio do (a)
a) direito de reação à tirania, inspirado em Locke.
b) negação do contrato social, nos termos expostos por Rousseau.
c) separação da Igreja do Estado, conforme o pensamento de Mably.
d) ilustração monárquica, defendido por Diderot.
e) utilitarismo, preconizado por Benthan, Mill e William James.
6. Resposta: a.
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II. Leitura e escrita em História
Leitura e escrita de textos
PROFESSOR, VER MANUAL.
VOZES DO PRESENTE
O texto a seguir é um trecho do livro O Iluminismo como negócio, do historiador estadunidense
Robert Darnton. Leia-o com atenção e responda às questões.
NOTIMEX
O historiador Robert Darnton estudou o Iluminismo, desde a sua concepção e materialização até a
sua difusão. Fotografia de 2014.
[...] É difícil acreditar que os leitores setecentistas não buscavam informação na Enciclopédia,
mas seria um anacronismo supor que eles a usavam da mesma maneira que os leitores de hoje
em dia consultam as enciclopédias atuais. Diderot e D’Alembert tencionavam informar e ao
mesmo tempo iluminar o espírito. [...] Embora seja impossível penetrar-lhes na mente,
podemos entrar em suas bibliotecas e, ocasionalmente, vislumbrá-los debruçados sobre as
páginas da Enciclopédia. Eis, por exemplo, uma cena extraída da autobiografia de Stendhal:
“Meu pai não me via folhear a Enciclopédia senão com desgosto. Eu tinha a mais inteira
confiança nesse livro em razão do afastamento de meu pai e do ódio decidido que ele inspirava
aos p[adres] que frequentavam a casa. O vigáriogeral e cônego Rey, grande figura
amarfanhada, com cinco p[és] e dez polegadas de altura, fazia uma singular careta ao
pronunciar atravessadamente os nomes de Diderot e de D’Alembert. Essa careta dava -me um
gozo íntimo e profundo.”
Eram essas as sensações de um jovem leitor da Enciclopédia pertencente a uma abastada
família burguesa de Grenoble durante a década de 1790. Outros leitores, em cenários
diferentes, provavelmente viveram experiências diversas, que jamais poderão ser
reconstituídas e catalogadas. Mas seja o que for que sentiram, devem ter sabido que tinham
nas mãos uma das obras mais contestadoras de sua época, que prometia reordenar o universo
cognitivo e com isso fazer rangerem os dentes dos padres locais – se eles também não fossem
assinantes.
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: história da publicação da “Enciclopédia”, 1775-1800. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996. p. 253-254.
a) Qual o significado da palavra anacronismo na primeira frase do texto? Justifique.
b) No texto, Stendhal diz que passou a confiar mais na Enciclopédia quando percebeu que ela
inspirava ódio nos padres. O que explica essa posição dele?
c) Os organizadores da Enciclopédia pretendiam informar e também iluminar o espírito. O que eles
entendiam por “iluminar o espírito”?
d) Em dupla. Comparem a Enciclopédia dos franceses às atuais, apontando as diferenças:
»» quanto ao conteúdo;
»» quanto ao meio usado para acessá-las.
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Capítulo 8 A Revolução Francesa e a
Era Napoleônica
Professor: tanto a imagem quanto o texto são de julho de 2009, e tratam dos desdobramentos da Revolução Francesa na
atualidade. A intenção foi usar duas fontes atuais sobre esse importante episódio histórico para iniciar uma aula dialogada
sobre o assunto. Pode-se lembrar aos alunos que a Revolução Francesa repercutiu fortemente na história do Ocidente.
Animou, por exemplo, os conjurados baianos, em 1799, no Brasil, e a independência das terras do atual Haiti, na América
Central, e, entre tantos outros desdobramentos, influenciou profundamente a Constituição que nos rege, conforme informa o
texto.
Leia o texto a seguir com atenção.
Comemoram-se, hoje (14), 220 anos da Revolução Francesa. Este movimento exerceu grande
influência sobre a liberdade e o respeito dos direitos humanos em todo o mundo. Seus
princípios fundamentais estão, hoje, inscritos nas Constituições de todos os países
democráticos, inclusive na Constituição Federal (CF) brasileira de 1988 [...].
Sob o mote “liberté, égalité, fraternité”! (liberdade, igualdade, fraternidade!), populares
tomaram, em 14 de julho de 1789 [...] a Bastilha [...].
Esses ideais foram absorvidos pelos constituintes brasileiros, que inseriram, na atual
Constituição Federal, um extenso rol de direitos e garantias individuais e coletivas, limitando a
interferência do poder estatal na vida e dignidade do cidadão [...].
Desde os princípios fundamentais – que consagram a separação dos poderes (art. 1º. ao 4º.) –
passando pelos direitos e garantias dos cidadãos no âmbito social, político e econômico (arts.
5º. ao 17), até chegarmos à proteção do meio ambiente e de nossas crianças e adolescentes,
que são o futuro do país (arts. 225 a 230), sente-se a presença da centelha revolucionária.
Supremo Tribunal Federal. A Revolução Francesa de 1789 e seus efeitos no Brasil. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=110843>. Acesso em: 4 mar. 2016.
Bastilha: prisão onde eram encarcerados os adversários do rei.
Loic Venance/AFP Photo/Image Forum
Fotografia da comemoração dos 220 anos da Revolução Francesa, em Paris, França, 2009.
»» O que você sabe sobre a Revolução Francesa?
»» O que a imagem sugere sobre o significado da Revolução para
os franceses?
»» E o texto, o que informa sobre essa Revolução?
»» Você considerou o texto relevante? Por quê?
»» Que importância essa Revolução continua tendo para os
brasileiros e demais latino-americanos?
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O Antigo Regime na França
No fim do século XVIII, o Reino da França possuía cerca de 28 milhões de
habitantes e os franceses viviam sob o Antigo Regime, conceito-chave para se
compreender as sociedades ocidentais entre os séculos XVI e XVIII.
No aspecto econômico, essas sociedades sobreviviam basicamente da agricultura e
do comércio. Como os instrumentos de trabalho eram rudimentares, a produção
agrícola mantinha enorme dependência das condições naturais; assim, chuvas ou
secas prolongadas induziam a más colheitas e facilitavam a ocorrência de fomes e
epidemias.
Socialmente, o clero e a nobreza detinham enormes privilégios e a distinção era tão
ou mais importante que a riqueza. As sociedades se caracterizavam por contrastes.
Contraste entre o pacato ambiente rural e o dinâmico ambiente urbano; contraste
também entre a riqueza dos clérigos e nobres e a pobreza dos camponeses;
contraste, por fim, entre a multidão de analfabetos do meio rural e os acanhados
núcleos letrados citadinos. E mais, estes contrastes todos eram vistos como
naturais, decorrentes da vontade divina. O Antigo Regime desconhecia a ideia de
direitos iguais entre os indivíduos; em vez da noção de direito, baseava-se na de
privilégio. Um deles era o de nascimento, que distinguia pelo sangue a nobreza; o
outro era o de ocupação, que desvalorizava os serviços manuais e elevava aquele
que vivia de rendas.
Politicamente, as sociedades do Antigo Regime eram governadas por reis
absolutistas, que viam a si próprios e eram vistos como representantes de Deus na
Terra (absolutismo de direito divino).
Claude-Guy Halle. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: DEA / G. DAGLI ORTI / Getty
Luís XIV (no canto superior direito) recebendo submissão de um nobre; repare na pose, nos gestos
e na posição dos pés do rei.
A sociedade
A sociedade francesa estava dividida em três ordens ou estados: o Primeiro Estado
(o clero); o Segundo Estado (a nobreza); e o Terceiro Estado (camponeses,
burguesia e trabalhadores das cidades).
O Primeiro Estado – o clero – era composto de cerca de 280 mil pessoas. A
riqueza vinha, sobretudo, das terras que o clero possuía, cobrava dízimo, imposto
nacional e taxas sobre batismo, casamento e sepultamento. Os cardeais, bispos,
arcebispos e abades compunham o alto clero e tinham, geralmente, origem nobre.
O baixo clero – padres, frades e monges – era de origem pobre e vivia insatisfeito
com os privilégios e os desmandos do alto clero e da nobreza.
Dízimo: imposto destinado à prática da caridade, mas usado para sustentar o luxo e a ociosidade do alto
clero. O dízimo – pago com parte da colheita e do rebanho – era um imposto odiado pelos camponeses.
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O Segundo Estado – a nobreza – era composto de cerca de 840 mil indivíduos,
cuja função principal era “defender a nação”; por isso só os nobres portavam
espada. A nobreza era composta de três grupos principais: nobreza cortesã
(sustentada pela realeza, vivia em torno do Palácio de Versalhes, a residência do
rei), nobreza provincial (estabelecida no interior da França, vivia das rendas da
terra onde os camponeses trabalhavam) e nobreza de toga (burgueses que tinham
comprado títulos e cargos públicos vendidos pela realeza). A nobreza como um
todo vivia à sombra da Corte e/ou do trabalho dos camponeses.
O Terceiro Estado – camponeses, trabalhadores urbanos e burguesia – era
composto de 26 milhões e 880 mil pessoas. Os camponeses constituíam cerca de
80% da população francesa e pagavam impostos à Monarquia e a seus senhores
diretos. Entre os trabalhadores urbanos havia artesãos, operários, cocheiros,
carregadores de lenha, entre outros; muitos viviam em Paris e eram conhecidos
como sans-culottes.
Sans-culottes: “sem culote”. Culote era uma calça justa que terminava um pouco abaixo do joelho, usada
pelos nobres. Como os pobres não usavam esse tipo de calça (e nem tinham os privilégios da nobreza),
tornaram-se conhecidos como sans-culottes.
A burguesia francesa era formada pela alta e média burguesias (fabricantes,
grandes comerciantes, banqueiros, agiotas e armadores) e pela pequena burguesia
(profissionais liberais – advogados, médicos, escritores –, funcionários públicos e
lojistas); a pequena burguesia era mais influente politicamente.
Os membros do Terceiro Estado produziam riquezas e eram obrigados a pagar
quase todos os impostos; não possuíam qualquer privilégio. O Primeiro e o
Segundo Estado não produziam riquezas, eram isentos de quase todos os impostos,
ocupavam altos cargos e recebiam ricas pensões.
Séc. XVIII. Óleo sobre tela. Museu Carnavalet, Paris
Representação de um sans-culotte produzida no século XVIII.
A economia e a política
Na França, desde o século XV, o capitalismo vinha se desenvolvendo a passos
largos. A burguesia ganhava importância social e prosperava por meio da
indústria, do empréstimo de dinheiro a juros e do comércio com o Oriente, a
América e a África. Mas o Estado absolutista francês representava um obstáculo
aos negócios da burguesia, pois a carga de impostos encarecia os preços das
mercadorias; as práticas mercantilistas impediam a livre concorrência (a produção
de seda, por exemplo, era monopólio de um pequeno grupo); os diferentes
sistemas de pesos e medidas dificultavam o comércio interno. Com o tempo, essa
situação se agravou e muitas empresas faliram gerando desemprego e fome nas
cidades.
Lesueur Brothers. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta gravura de 1793, ano IV da Revolução Francesa, uma senhora distribui pratos de comida a
populares famintos. A imagem sugere a situação de penúria em que vivia o povo francês antes da
Revolução.
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No campo, o desemprego também atingia os mais pobres; os grandes proprietários
vinham introduzindo a agricultura capitalista: cercavam as terras de uso comum
(campos, matas e pastos) para produzir cereais em larga escala e,
consequentemente, os camponeses que delas sobreviviam ficavam sem terra e sem
trabalho. Em virtude da concentração das terras e dos pesados impostos cobrados
no campo, a oferta de alimentos era pequena e seus preços, elevados. Com as
inundações e secas, frequentes na década de 1780, os preços dos alimentos
disparavam, e, como “estômagos famintos não têm ouvidos” – ditado popular da
época da Revolução Francesa –, explodiram as famosas jacqueries (revoltas
camponesas).
Enquanto isso, a dívida do governo do rei Luís XVI aumentava sob o peso dos
gastos com a Corte e com as guerras movidas ou apoiadas pela monarquia
francesa. Callone, ministro de Luís XVI, chegou a propor que o clero e a nobreza
passassem a pagar impostos, mas sua proposta foi rejeitada.
Diante da gravidade da situação, Luís XVI convocou os Estados Gerais –
assembleia que reunia os três estados: o clero, a nobreza e o Terceiro Estado e que
não era consultada há 175 anos. Nessa assembleia, o voto era “por estado”, ou seja,
cada estado tinha direito a um voto. Assim, a nobreza e o clero, que eram os grupos
dos privilegiados, somavam dois votos contra apenas um do Terceiro Estado.
Nessa Assembleia dos Estados Gerais, o Terceiro Estado conseguiu eleger mais
deputados do que o clero e a nobreza juntos (578 x 561) e lançou então uma
campanha em defesa do voto por cabeça.
Isidore Helman. Séc. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Representação da sessão de abertura da Assembleia dos Estados Gerais. Repare que o pintor
preocupou-se em demonstrar a rígida hierarquia do Antigo Regime: sobre o estrado, em frente da
assembleia, o rei, a família real, os marechais e os duques da França; ao pé do estrado, à mesa, o
conselho do rei; no plenário, à direita da mesa, o clero; diante dele, no mesmo plano, a nobreza; no
lado oposto ao do rei, os deputados do Terceiro Estado; o povo fica atrás e entre as colunas, nas
galerias.
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A Revolução em marcha
FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA
Linha do tempo
De 1789 a 1791: ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE
De 1791 a 1792: MONARQUIA CONSTITUCIONAL
De 1792 a 1794: CONVENÇÃO NACIONAL
De 1794 a 1799: DIRETÓRIO
Editoria de arte
Em 5 de maio de 1789, na sessão de abertura da Assembleia dos Estados Gerais, o
rei, com o apoio do clero e da nobreza, declarou que a reunião deveria ser restrita
ao exame dos problemas financeiros, omitindo, assim, o debate se o voto seria “por
cabeça” ou “por estado”. Assim, a votação continuaria sendo por estado.
Os deputados do Terceiro Estado reagiram a esta decisão do rei declarando-se em
Assembleia Nacional com o objetivo de escrever e aprovar uma constituição. Luís
XVI, por sua vez, mandou fechar a sala em que os deputados se reuniam. Eles,
então, invadiram a sala do Jogo da Pela e lá juraram não se separar enquanto não
tivessem elaborado uma Constituição para a França.
Jogo da Pela: jogo semelhante ao tênis em quadra coberta.
A Assembleia Nacional Constituinte
A tensão entre a Assembleia e o rei aumentou; em 14 de julho de 1789, o povo de
Paris invadiu e tomou a Bastilha, a prisão símbolo do absolutismo francês.
Claude Cholat. Séc. XIX. Guache sobre cartão. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A tomada da Bastilha vista por um de seus participantes, Claude Cholat, dono de uma taberna. A
queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, representou uma vitória popular e marcou o início da
Revolução propriamente dita. O fato mereceu uma infinidade de representações, o que desvela sua
enorme importância.
De Paris, a revolução se alastrou para o interior, e, nos meses de julho e agosto de
1789, os camponeses invadiram castelos, saquearam celeiros e atearam fogo nos
livros de registros de suas dívidas e dos impostos pagos por eles.
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Sob intensa pressão popular, a Assembleia Nacional Constituinte aboliu a servidão,
os dízimos, o direito de mão-morta e a justiça senhorial (todos passavam a
obedecer às mesmas leis). Em 26 de agosto de 1789 a Assembleia Nacional
aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Esse documento
estabelecia o direito à liberdade, à propriedade privada, à segurança, resistência à
opressão e o direito à livre comunicação dos pensamentos e das opiniões.
Mão-morta: pagamento feito pelo servo quando seu pai morria, para manter o direito de utilizar a terra.
Além disso, a Assembleia confiscou os bens da Igreja, colocou-os à venda, e
aprovou a Constituição Civil do Clero, que transformou os membros do clero em
funcionários públicos, obrigando-os a jurar fidelidade à Nação. Os que aceitaram
essa decisão foram chamados de clero juramentado; os que discordaram dela
foram denominados clero refratário. O clero refratário se uniu aos milhares de
nobres que haviam fugido da França com dinheiro e joias e, no exterior, aliaram-se
a monarcas absolutistas para combater a Revolução Francesa.
Para refletir
No dia 5 de outubro de 1789, diante da falta de pão, milhares de mulheres armadas
decidem ir a Versalhes trazer o rei para Paris e garantir com isso o abastecimento
da cidade. Veja o que um observador da época escreveu sobre essa marcha das
mulheres.
As primeiras mulheres chegaram aos portões do castelo às cinco horas [...]. Quiseram obrigar
as sentinelas a arrebentar os portões e abri-los. Estas se recusaram: não se abre a porta a
desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas [...].
OSTERMANN, Nilse Wink; KUNZE, Iole Carretta. Às armas, cidadãos! A França revolucionária (1789-1799). São
Paulo: Atual, 1995. p. 51.
Escola francesa. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: Roger-Viollet/Glow Images
Gravura mostrando mulheres indo a Versalhes em outubro de 1789. O movimento das mulheres foi
vitorioso. O rei e os cortesãos foram obrigados a retornar a Paris e residir no Palácio das Tulherias.
a) Com base no texto é possível afirmar que as mulheres tiveram participação
importante na Revolução Francesa?
a) Sim, as mulheres ajudaram a acelerar o processo revolucionário fazendo uma marcha vitoriosa ao Palácio de Versalhes a
fim de trazer o rei de volta para a capital francesa.
b) No texto há um indício sobre o modo como as mulheres eram vistas na França
do século XVIII. Explique.
b) As mulheres eram vistas como inferiores aos homens. No texto, as sentinelas do castelo estabeleceram uma hierarquia ao
dizer “não se abre a porta a desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas” (grifo nosso).
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A monarquia constitucional
Em setembro de 1791 foi aprovada a primeira Constituição francesa, que:
» limitou o poder do rei, transformando a França em uma monarquia
constitucional;
» liquidou o absolutismo francês, dando à Assembleia o poder de fazer e aprovar
leis;
» confirmou a perda dos privilégios do clero e da nobreza e criou privilégios de
outro tipo, como o voto censitário: os franceses foram divididos em cidadãos
“ativos” (os que possuíam a renda exigida para votar e ser votado) e “passivos”, ou
não votantes (quase 85% da população; pobres, mulheres e não brancos foram
excluídos do direito ao voto);
» proibiu os sindicatos e as greves.
A Constituição desagradou profundamente ao rei da França e aos seus aliados
internos (a alta nobreza e o alto clero) e externos (os governos da Áustria e da
Prússia); unificadas, essas forças montaram um exército e invadiram a França. A
Assembleia Nacional francesa reagiu declarando “a pátria em perigo”; o povo de
Paris, por sua vez, marchou sobre o Palácio das Tulherias e prendeu o rei e sua
família. Com a ajuda de milhares de voluntários, o exército francês revolucionário
venceu o exército estrangeiro na Batalha de Valmy, em 20 de setembro de 1792.
A Convenção Nacional
Vencido o exército invasor, elegeu-se uma nova Assembleia Nacional, denominada
Convenção, que imediatamente extinguiu a Monarquia e proclamou a República.
Abriu-se, então, intensa disputa entre os 750 deputados que compunham a
Convenção e que se encontravam divididos em quatro grandes grupos políticos.
Os girondinos, que representavam a burguesia industrial e comercial, defendiam
o voto censitário, o direito à propriedade privada e eram contrários à participação
política de populares na Convenção.
Os jacobinos, a exemplo de Robespierre, defendiam um governo central forte, o
voto universal e a participação popular na direção do processo revolucionário.
Dica! Documentário sobre Robespierre e seu papel na Revolução. [Duração de 90 minutos].
Acesse: <http://tub.im/k7fpb9>.
Os cordeliers, liderados por Marat e Danton, abraçavam propostas radicais como
o fim da propriedade privada e a reforma agrária. Cordeliers e jacobinos sentavam-
se nos bancos mais altos do plenário; por isso, esses dois grupos políticos eram
conhecidos como montanheses.
DIALOGANDO
Qual dos grupos do Terceiro Estado foi mais beneficiado por essa Constituição?
A burguesia: o voto passou a ser censitário; os sindicatos e as greves foram proibidos. A burguesia passava a conduzir, então,
o processo revolucionário.
Escola francesa. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A proclamação da República na França, em 1792, deu início a novos tempos que passaram a ser
contados por um novo calendário: 1792 passou a ser o Ano I da República Francesa. Na imagem, vê-
se escrito: “Unidade Indivisível da República: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Ou a morte”.
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A planície, que era composta de deputados que agiam conforme seus interesses
imediatos, ora apoiava os jacobinos, ora os girondinos. Sentavam-se ao centro, nos
lugares mais baixos do plenário; daí o nome de “planície”.
O rei foi levado a julgamento pela Convenção, fato que dividiu os deputados: os
girondinos propunham uma solução conciliatória; já os jacobinos desejavam a
execução do rei. A descoberta, no cofre real, do acordo que o rei fizera com
monarcas estrangeiros em favor da invasão da França precipitou os
acontecimentos; após intensos debates, 683 dos 721 deputados presentes (cerca
de 95%) declararam Luís XVI culpado. Em janeiro de 1793, diante de uma multidão
de cerca de 20 mil pessoas, o rei foi guilhotinado e sua cabeça exibida ao povo.
A execução do rei desencadeou uma série de reações internas e externas.
Externamente, várias monarquias europeias, como Áustria, Prússia, Holanda,
Espanha e Inglaterra, uniram-se e formaram a Primeira Coligação contra a
França revolucionária. Internamente, em meio à grave crise econômica, grupos de
sans-culottesarmados cercaram a Assembleia Nacional, depuseram os deputados
girondinos e colocaram os jacobinos no poder (junho de 1793).
O governo jacobino
Os jacobinos organizaram um governo fortemente centralizado, dirigido por
Robespierre, e composto de uma série de órgãos especiais; o principal deles, o
Comitê de Salvação Pública, concentrava enorme poder. Subordinado a esse
órgão, havia o Tribunal Revolucionário, que julgava sumariamente os indivíduos
considerados contrarrevolucionários.
Para enfrentar a situação caótica em que a França se encontrava e a ameaça
externa, o Comitê de Salvação Pública adotou as seguintes medidas:
» decretou o alistamento em massa; todos os jovens de 18 a 25 anos, solteiros ou
viúvos, foram recrutados para a luta contra os inimigos externos (Segunda
Coligação);
» tabelou os gêneros de primeira necessidade e elevou os salários;
» dividiu as terras dos nobres emigrados em pequenos lotes e as vendeu ou doou
aos camponeses;
» aboliu a escravidão nas colônias francesas;
» instituiu a escola primária pública e obrigatória, como um direito fundamental de
todos os franceses, o que permitiu o acesso dos pobres à educação formal.
Na esfera política, as lutas entre os jacobinos e girondinos se acirraram e, nesse
contexto, Jean-Paul Marat, ídolo dos sans-culottes, foi assassinado pela girondina
Charlotte Corday.
Lesueur Brothers. c. 1792. Guache sobre cartão. Museu Carnavalet, Paris
Marat era médico e cientista, mas ficou mais conhecido por sua atuação à frente do jornal O Amigo
do Povo, no qual defendia ardentemente as causas populares.
Página 164
O governo jacobino reagiu aumentando a repressão e baixando a Lei dos Suspeitos,
que suspendia os direitos individuais dos cidadãos, inclusive o direito de defesa, e
intensificando o uso da guilhotina. Até Danton, um líder popular da Revolução, foi
executado a mando de Robespierre. Iniciava-se assim o Período do Terror (de
setembro de 1793 a julho de 1794): milhares de pes soas acusadas de serem
inimigas da revolução foram condenadas e guilhotinadas em praça pública.
Enquanto isso, o exército francês, liderado por Napoleão Bonaparte e fortalecido
pelo ingresso de jovens e de sans-culottes, libertou o porto de Toulon das mãos
inglesas e retomou a região da Vendeia, vencendo os contrarrevolucionários.
Piloty. Séc. XVIII. Gravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A cena mostra um girondino condenado à guilhotina sendo conduzido para o patíbulo; uma
multidão raivosa parece estar acusando o condenado.
Conforme os jacobinos intensificavam o uso da violência, foram perdendo o apoio
popular e dos deputados aliados ao seu governo. Aproveitando-se do
enfraquecimento dos jacobinos, os deputados da planície e os girondinos
desfecharam um golpe em julho de 1794 (9 Termidor pelo novo calendário) e
retomaram o poder. Robespierre, Saint-Just e outros líderes jacobinos foram
presos e guilhotinados sem julgamento.
Encerrava-se, assim, a fase mais popular e radical da revolução, e a burguesia
retomava o poder.
Dica! Animação sobre a Revolução Francesa, enfocando o regime do terror. [Duração de 4
minutos]. Acesse: <http://tub.im/d7tprr>.
O Diretório
Ao assumir o poder, em 1794, o novo governo liberou os preços dos alimentos e
dos aluguéis e restabeleceu a escravidão nas colônias francesas. Além disso,
estimulou o crescimento da indústria do algodão, da metalurgia e da mineração,
intensificando o desenvolvimento do capitalismo francês. Em 1795, aprovou uma
nova Constituição que restabeleceu o voto censitário (que excluía a maioria da
população do direito ao voto) e confiou o poder Executivo a um Diretório,
formado por cinco deputados escolhidos por sorteio.
Página 165
O Diretório combateu duramente seus dois principais adversários: os realistas,
empenhados na volta à monarquia, e os novos jacobinos, apoiados pelos sans-
culottes. Os monarquistas, ajudados pela Inglaterra, promoviam levantes para
levar ao poder o conde de Artois, irmão de Luís XVI; os novos jacobinos faziam
oposição ao governo por meio de seus clubes e jornais. Nesse contexto, um
jornalista de nome Graco Babeuf encabeçou um movimento popular – a
Conspiração dos iguais – que propunha o fim da propriedade privada e a
distribuição equitativa da riqueza.
O Diretório reagiu decretando uma lei que condenava à morte todos os que eram
favoráveis à reforma agrária ou à volta da monarquia (Babeuf e seu grupo foram
presos e executados). A seguir, ordenou a ocupação militar de Paris, anulou as
eleições e fechou a imprensa oposicionista.
Apesar desse esforço para manter a ordem, o Diretório encontrava-se
desmoralizado, pois vários de seus membros estavam envolvidos em atos de
corrupção. Nesse cenário de violência, instabilidade política e falta de ética os
militares ganharam proeminência. Napoleão Bonaparte, conhecido pelo excelente
desempenho no combate aos exércitos estrangeiros, passou a ser visto por muitos
franceses como o “salvador da pátria”, ou seja, o homem que poria fim ao
descalabro em que a França vivia. Em 10 de novembro de 1799 (18 Brumário pelo
calendário republicano), Napoleão Bonaparte, desfechou um golpe de Estado, e,
apoiado por um grupo político-militar, tomou o poder. 1
1. Dica! Documentário abordando as conquistas militares de Napoleão no Egito e seus ataques ao
Oriente Médio. [Duração de 46 minutos]. Acesse: <http://tub.im/36rvph>.
Séc. XIX. Xilogravura. Coleção particular. Foto: Sammlung Rauch/Interfoto/Latinstock
Xilogravura que retrata Graco Babeuf, século XIX.
O significado da Revolução Francesa
Com o 18 Brumário – golpe de Estado desfechado por Bonaparte – a Revolução
Francesa chegou ao fim. Entre suas principais conquistas cabe citar:
»» o Antigo Regime foi substituído pela República, e, juridicamente, os súditos
passaram à condição de cidadãos;
»» a sociedade de ordens cedeu lugar à sociedade de classes;
»» as leis que estabeleciam distinções baseadas no nascimento foram eliminadas;
»» o poder da Igreja diminuiu;
»» o número de camponeses proprietários aumentou;
»» as regulamentações mercantilistas e as relações servis foram suprimidas.
Consolidava-se, assim, o capitalismo na França. 2
2. Dica! Uma revisão para melhor compreender o significado da Revolução Francesa. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/yz5g9p>.
O governo de Napoleão
Uma nova Constituição criou o consulado, órgão do Poder Executivo formado por
três cônsules. O poder de fato, porém, cabia ao primeiro-cônsul, Napoleão
Bonaparte, cujo mandato era de 10 anos.
Página 166
The Bridgeman Art Library/Keystone
Observando essa imagem, publicada em 1902, percebe-se que o olhar determinado e soberano do
primeiro-cônsul, Napoleão Bonaparte, contrasta com a inexpressividade dos dois outros cônsules. A
imagem contribui para reforçar o mito criado em torno de sua figura.
O governo de Bonaparte usou de violência para reprimir seus adversários, fossem
eles monarquistas ou republicanos: efetuou execuções e instituiu uma severa
censura à imprensa. Visando à estabilidade política, confirmou a abolição dos
privilégios da nobreza e do clero, concedeu a 3 milhões de camponeses o título de
propriedade das terras que haviam obtido por doação ou compra na época da
Revolução.
Para reorganizar a economia, em 1800 o governo de Bonaparte criou uma nova
moeda, o franco, e fundou o Banco da França, por meio do qual controlava a
inflação e fazia empréstimos à indústria e ao comércio. Além disso, construiu
estradas e pontes para facilitar o transporte de mercadorias no país. Essas medidas
contribuíram para fortalecer o capitalismo francês. Na área da educação,
incentivou a escola primária gratuita e obrigatória, criou ginásios e liceus nas
grandes cidades e um centro de formação de professores em Paris. Além disso,
promoveu a criação de uma universidade, subordinada ao Estado, que coordenava
as faculdades destinadas a formar quadros técnicos e políticos.
Ginásio: equivalente ao que hoje chamamos de Ensino Fundamental II.
Liceu: internato que, na época, era destinado a formar ocupantes de altos cargos civis ou militares.
Em 1804, o governo promulgou o Código Civil Napoleônico, que serviu de base
para vários outros códigos ocidentais, inclusive o brasileiro. Inspirado no Direito
Romano, esse código estabelecia:
»» a igualdade de todos perante a lei;
»» o direito à propriedade privada;
»» a separação entre Estado e Igreja (a partir daí, o casamento só seria legítimo se
realizado por um juiz de paz);
»» a proibição dos sindicatos e das greves;
»» a formação das sociedades por ações.
Para alguns historiadores, o Código Napoleônico era um instrumento que
favorecia, sobretudo, a burguesia.
Refletindo o imaginário da época, o código atribuía à mulher uma condição inferior
à do marido no tocante à propriedade, ao divórcio e ao adultério. O pai era tutor da
esposa e do filho; para se casar, o filho precisava da licença paterna, ainda que
tivesse mais de 25 anos.
As sucessivas vitórias militares e os progressos na economia e na diplomacia
conferiram grande popularidade a Bonaparte. Valendo-se disso e da intensa
propaganda dos seus feitos patrocinada por seu governo, em 1802, Bonaparte
promoveu um plebiscito por meio do qual se tornou cônsul vitalício. Dois anos
depois, em nova consulta ao povo, foi aclamado imperador por 60% dos eleitores,
e, posteriormente, entronizado com o título de Napoleão I.
Dica! Documentário sobre a ascensão e a história político-militar de Napoleão Bonaparte.
[Duração: 53 minutos]. Acesse: <http://tub.im/mu9cns>.
Página 167
Para saber mais
Napoleão Bonaparte foi coroado no fim de 1804. Durante a cerimônia, Bonaparte
surpreendeu a todos: retirou a coroa das mãos do papa, deu as costas a ele e se
autocoroou “imperador dos franceses”. A seguir, o próprio coroou Josefina, sua
esposa.
Jacques-Louis David (detalhe). 1806-07. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris
Na imagem acima vemos uma tela pintada por Jacques-Louis David por volta de
1806 e intitulada Coroação de Napoleão e Josefina. O pintor procurou destacar o
exato momento em que Napoleão está prestes a coroar a si mesmo. Enquanto isso,
a futura imperatriz aguarda ajoelhada. Com tal gesto, Bonaparte provavelmente
quis dizer que nem mesmo o chefe da Igreja estava acima dele. Na imagem abaixo
(esboço feito em 1804), percebemos melhor a expressão arrogante de Napoleão
durante o evento.
Jacques-Louis David (detalhe). c. 1804. Estudo. Museu do Louvre, Paris
O expansionismo bonapartista
O período do Império foi marcado pelo expansionismo bonapartista que se fez por
meio de guerras consecutivas. No mais das vezes, essas guerras tinham, de um
lado, a França de Napoleão e, de outro, a Grã-Bretanha e três importantes países
absolutistas (a Prússia, a Áustria e a Rússia). Os Estados absolutistas europeus
temiam a propagação das ideias revolucionárias francesas em seus territórios; já a
Grã-Bretanha, maior potência naval e industrial daquela época, temia a
concorrência da França no mercado europeu. As duas nações capitalistas
buscavam ampliar territórios e mercados na Europa e em outros continentes. Isso
ajuda a explicar a participação da Grã-Bretanha em quase todas as coligações
contra a França.
Grã-Bretanha: até 1801, a Grã-Bretanha era constituída por Inglaterra, País de Gales e Escócia. Em 1801
formou-se o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, um reino constituído por Inglaterra, País de Gales, Escócia
e Irlanda. Hoje, o Reino Unido é formado por Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.
Em 1805, na Batalha de Trafalgar ocorrida no mar, a marinha francesa foi
derrotada pela Inglaterra. Mas, por terra, as tropas de Napoleão venceram batalhas
importantes, como a de Austerlitz (1805), contra a Áustria e a Prússia e a seguir,
reuniu áreas conquistadas na Europa e, com elas, formou a Confederação do
Reno.
Para impor sua hegemonia à Europa, a França de Napoleão teria de vencer a
Inglaterra, que, por ficar em uma ilha, só podia ser atacada por mar. Mas como
vencer por mar a “Rainha dos Mares”?
Página 168
A estratégia adotada por Napoleão foi proibir – por decreto – a Europa continental
de comerciar com a Inglaterra. O objetivo desse decreto – conhecido como
Bloqueio Continental – era enfraquecer a economia da Inglaterra para, depois,
conquistá-la. Muitos países europeus aderiram ao bloqueio; alguns, no entanto,
continuaram permitindo a entrada de produtos ingleses em seus territórios e
portos. Um desses países foi Portugal, tradicional aliado da Inglaterra.
Ao saber da continuidade do comércio anglo-português, Napoleão ordenou a
invasão de Portugal, fato que motivou a transferência da família real portuguesa
para o Brasil, em 1808. E, nesse mesmo ano, mandou invadir também a Espanha,
depôs o rei espanhol Fernando VII e coroou como rei seu irmão José Bonaparte.
Adotando a tática de guerrilhas, o povo espanhol ofereceu dura resistência às
forças invasoras. As colônias hispano-americanas aproveitaram-se da ocupação
francesa na Espanha para iniciar a luta armada pela independência. Napoleão, por
sua vez, continuou acumulando vitórias, ao vencer outra coligação contra a França.
Escola inglesa. Séc. XIX. Litogravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge inglesa de 1803, Napoleão é mostrado sobre o Globo e em tamanho muito maior que
seu adversário. A imagem ironiza o comportamento megalomaníaco de Napoleão, sua ânsia
desenfreada de conquistar terras e povos.
No exército sob seu comando, Napoleão adotou o recrutamento obrigatório e a
premiação por mérito e disseminou a confiança na retidão da causa (os
comandantes franceses induziam seus soldados a pensar que cumpriam uma
missão, a de divulgar os ideais da Revolução Francesa). Isso tudo colaborou para
que Napoleão acumulasse conquistas e se tornasse senhor de um grande império.
Por volta de 1812, o Império Napoleônico atingiu sua máxima extensão. Observe o
mapa.
Dica! Documentário abordando a construção do império napoleônico. [Duração: 43 minutos].
Acesse: <http://tub.im/854rg3>.
A Europa Napoleônica e o Bloqueio Continental (1812)
Allmaps
Fontes: ATLAS histórico. Barcelona: Editorial Marin, 1995. p. 139; DUBY, Georges. Atlas Historique Mondial. Paris:
Larousse, 2011, p. 85.
Página 169
A resistência ao militarismo bonapartista
O militarismo bonapartista provocou forte oposição dentro da França e intensa
resistência armada no exterior. Na França, o governo era criticado pela morte de
milhares de soldados franceses, pela censura prévia à imprensa e pelo uso da
educação para a autopromoção do imperador (em cada sala de aula de toda a
França havia um grande retrato de Napoleão, e os alunos eram doutrinados para
enaltecer seus feitos).
No exterior, os povos reagiam à dominação francesa pegando em armas e
erguendo a bandeira do liberalismo e do nacionalismo contra o “estrangeiro”, o
“invasor”. Os Estados Nacionais do centro e do leste europeu, predominantemente
agrários, sofriam prejuízos por não poderem trocar seus gêneros primários por
produtos industrializados ingleses, como faziam antes. A Rússia era um desses
países e, por isso, no fim de 1810, voltou a comerciar regularmente com a
Inglaterra.
Liberalismo: o ideário liberal na época incluía a defesa da liberdade de pensamento, de expressão e de
comércio.
A resposta de Bonaparte foi invadir a Rússia em 1812, com um exército composto
de mais de 600 mil soldados, 180 mil cavalos e centenas de canhões.
Diante do avanço dos franceses, os russos adotaram a tática da “terra arrasada”:
evitavam o confronto, recuando cada vez mais, e, ao mesmo tempo, destruíam as
lavouras e tudo o que pudesse ser útil ao inimigo. Visando conseguir suprimentos,
Napoleão rumou com seus homens para Moscou, onde esperava se reabastecer.
Mas, para sua surpresa, encontrou as casas vazias e a cidade em chamas. Os
próprios moscovitas a haviam incendiado. Um mês depois, o rigorosíssimo inverno
russo chegou, obrigando o exército francês a bater em retirada, com seus efetivos
drasticamente reduzidos por fadiga, doença, fome e deserção.
J.A. Klein. Séc. XIX. Gravura. Academia de Belas Artes, França. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Em dezembro de 1812, o que restava do grande exército francês atravessou a fronteira com a
Prússia de volta para casa. A imagem é uma representação da batalha de Berezina, durante sua
retirada da Rússia, e as dificuldades enfrentadas diante do rigoroso inverno russo. As carroças,
como a que você vê na imagem, atolavam na neve.
A derrota na Rússia quebrou o mito da invencibilidade napoleônica e estimulou a
organização de uma nova coligação, formada por Inglaterra, Prússia, Rússia e
Áustria. O gigantesco exército dessa coligação venceu as forças de Napoleão na
Batalha das Nações, em Leipzig, em outubro de 1813 e, no ano seguinte, invadiu e
ocupou Paris, o coração do Império Francês.
Página 170
Jonathan Weiss/Alamy/Latinstock
A flor-de-lis era símbolo do rei da França e estava presente nas bandeiras do antigo regime.
STILLFX/Shutterstock/Glow Images
Bandeira nacional da França criada durante a Revolução Francesa.
Napoleão teve de abrir mão do trono, mas ganhou plenos poderes sobre a pequena
ilha de Elba, na costa da Península Itálica, para onde foi exilado. O trono da França
foi entregue a Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado durante a Revolução Francesa.
Quando a população francesa viu que Luís XVIII (e toda a Corte) voltava(m) ao país
e ao trono, desfraldando não a bandeira tricolor da Revolução, mas a bandeira com
a flor-de-lis, do Antigo Regime, deu-se conta que precisava retomar a luta para
reenterrá-lo.
Napoleão, por sua vez, surpreendeu novamente seus adversários: no início de
1815 fugiu da ilha de Elba, acompanhado de 800 soldados, e desembarcou no
litoral da França. A imprensa governista quando soube que Napoleão havia
desembarcado no país começou por tratá-lo como monstro e tirano, mas à medida
que ele se aproximava de Paris, ia mudando o tratamento até por fim afirmar que
“Sua majestade estava sendo esperada a qualquer momento na capital”. As forças
enviadas por Luís XVIII para combatê-lo juntaram-se a ele. Napoleão entrou em
Paris como herói e reassumiu o trono, obrigando o rei a fugir. Isto ajuda a explicar
a facilidade com que Napoleão, fugindo da ilha de Elba, recuperou o poder.
Mas, dessa vez, seu governo durou pouco mais de 100 dias.
Uma nova coligação (a sétima), liderada uma vez mais pela Inglaterra, venceu o
exército napoleônico na Batalha de Waterloo (1815). Dessa vez, Bonaparte foi
preso e exilado em Santa Helena, uma ilha minúscula e longínqua sob o domínio
inglês, situada no Atlântico Sul, a mil milhas da costa africana, onde passou os
últimos anos de sua vida.
Escola francesa. Séc. XIX. Gravura. Coleção Particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge de c. 1814, Napoleão é mostrado como um artista que se equilibra entre Madri (a
oeste) e Moscou (a leste); a vareta que liga seus pés a essas duas cidades localizadas em posições
opostas sugere que seu poder sobre a Europa estava se esfacelando, que o seu imenso império
estava desmoronando. Repare que seu cetro – símbolo de poder – e a sua coroa, encimada por uma
cruz, estão caindo, sinal de que seus tempos de glória haviam chegado ao fim.
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O Congresso de Viena e o princípio da
legitimidade
Os principais vencedores das guerras napoleônicas – Inglaterra, Áustria, Prússia e
Rússia – eram agora os novos senhores da Europa. Essas potências, junto com a
França monárquica, reuniram-se no Congresso de Viena, entre 1814 e 1815, com
o objetivo de restaurar a velha ordem (que privilegiava a nobreza e o clero).
Uma das decisões do Congresso de Viena foi a adoção do princípio da
legitimidade, que defendia ser legítima a volta ao poder das famílias que
governavam os Estados europeus antes da expansão napoleônica. Assim, as
famílias reais destituídas foram recolocadas no trono na França, na Espanha, em
Portugal e em vários Estados da Confederação Germânica.
Uma figura de destaque no Congresso foi o diplomata francês Charles Talleyrand,
que, com sua habilidade, conseguiu restringir as perdas impostas ao seu país pelos
vencedores. Apesar disso, a França teve de pagar 700 milhões de francos às
grandes potências e teve suas fronteiras drasticamente reduzidas, voltando a ser
como antes da expansão napoleônica.
Outra figura central no Congresso de Viena foi o príncipe Metternich, da Áustria,
que defendia a necessidade de se manter o equilíbrio europeu, a fim de que
nenhum Estado sobrepujasse o outro, como ocorrera durante a expansão
napoleônica.
Para manter o equilíbrio de forças entre as grandes potências, o príncipe propunha
compensar de forma equitativa as grandes potências pelos prejuízos sofridos nas
guerras napoleônicas (princípio das compensações).
As potências vencedoras – Inglaterra, Áutria, Prússia e Rússia – dividiram entre si
territórios situados na Europa e nas antigas colônias europeias.
Escola francesa. Séc. XIX. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Charge exposta na Biblioteca Nacional de Viena que mostra os representantes das grandes
potências dividindo entre si o continente europeu. No balão de fala, junto à balança sustentada pelo
estadista austríaco Metternich, está escrito: “le prix de sang”, isto é, “o preço do sangue”. Ou seja, o
ganho de territórios que as potências estavam tendo era o pagamento pelo sangue derramado em
razão das guerras napoleônicas.
Página 172
Ao redefinir o mapa da Europa, apossando-se de territórios europeus, as principais
potências obtiveram expressivos ganhos territoriais, mas não respeitaram os
interesses nem a autodeterminação dos povos das áreas divididas. Os territórios
dos povos alemães que formavam a Confederação Germânica, por exemplo, foram
repartidos entre o Império Austríaco e o Reino da Prússia.
A Europa após o Congresso de Viena (1815)
Allmaps
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2001. p. 86.
Na divisão dos territórios coloniais, a principal beneficiada foi a Inglaterra, que
obteve possessões em vários continentes, como a região do Cabo, no sul da África,
o Ceilão (atual Sri Lanka), próximo à Índia, e a Guiana, na América do Sul.
Visando restaurar a antiga ordem, o czar Alexandre I, da Rússia, propôs a criação
da Santa Aliança, uma organização militarizada de defesa mútua. Os países que a
lideravam (Rússia, Áustria e Prússia) julgavam-se com o direito de intervir e
reprimir todo e qualquer movimento liberal, nacionalista ou que objetivasse a
independência.
Apesar de seu empenho, a Santa Aliança não conseguiu impedir a explosão de
movimentos liberais e nacionalistas na Europa e os movimentos de independência
na América de colonização espanhola.
Dica! Vídeo-aula sobre o Congresso de Viena, a Restauração e a Santa Aliança. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/kzpudo>.
Página 173
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UEG-GO – 2016) Leia o texto a seguir.
Socialmente, os sans-culottes representam os citadinos que vivem de seu trabalho, seja como
artesãos, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, se tornam
pequenos proprietários na cidade, e usufruem as rendas de um imóvel.
PÉRONNET, Michel. Revolução Francesa em 50 palavras-chaves. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 248.
A análise do texto demonstra que os interesses sociais dos sans-culottes, importantes personagens
da Revolução Francesa, se confundiam com os
a) da pequena burguesia que, apesar das conquistas econômicas, via-se pressionada pelo aumento
no custo de vida.
b) dos camponeses, já que ambos lutavam pela abolição dos privilégios feudais no campo e posse
de terras coletivas.
c) dos membros do baixo clero, uma vez que lutavam por reformas sociais, mas não eram contra a
liberdade religiosa.
d) da classe dos girondinos, pois apesar das diferenças de classe, ambos os grupos eram
politicamente moderados.
1. Resposta: a.
2. (UERJ – 2015)
Carta de Convocação dos Estados Gerais
Por ordem do Rei.
Temos necessidade de nossos fiéis súditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades
em que nos achamos e para estabelecer uma ordem constante e invariável em todas as partes
do governo que interessam à felicidade dos nossos súditos e à prosperidade de nosso reino.
Esses grandes motivos nos determinaram convocar a assembleia dos Estados de todas as pro-
víncias sob nossa obediência, para que seja achado, o mais rapidamente possível, um remédio
eficaz para os males do Estado e para que os abusos de toda espécie sejam reformados e
prevenidos.
Versalhes, 24 de janeiro de 1789.
Adaptado de MATTOSO, K. de Q. Textos e documentos para o estudo de história contemporânea. São Paulo: Edusp,
1976.
A convocação dos Estados Gerais deu início à Revolução Francesa, ocasionando um conjunto de
mudanças que abalaram não só a França, mas também o mundo ocidental em finais do século XVIII.
a) Cite um motivo para a convocação dos Estados Gerais na França, em 1789.
2. a) O endividamento do Estado francês e a aguda crise econômica e financeira envolvendo o aumento do desemprego, a
carestia e a fome.
b) Apresente duas consequências da Revolução Francesa para as sociedades europeias e
americanas.
2. b) A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabelecia o direito de resistência à opressão, e a
livre comunicação dos pensamentos. O rompimento com o Antigo Regime, vigente ainda em várias partes da Europa, mostra
que é possível a emergência de uma sociedade formada de cidadãos.
3. (Unicamp-SP – 2015)
A igualdade, a universalidade e o caráter natural dos direitos humanos ganharam uma
expressão política direta pela primeira vez na Declaração da Independência americana de
1776 e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Embora se referisse aos
“antigos direitos e liberdades” estabelecidos pela lei inglesa e derivados da história inglesa, a
Bill of Rights inglesa de 1689 não declarava a igualdade, a universalidade ou o caráter natural
dos direitos. Os direitos são humanos não apenas por se oporem a direitos divinos ou de
animais, mas por serem os direitos de humanos em relação uns aos outros.
Adaptado de Lynn Hunt, A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.
19.
Assinale a alternativa correta.
a) A prática jurídica da igualdade foi expressa na Declaração de Independência dos EUA e
assegurada nos países independentes do continente americano após 1776.
Página 174
b) A lei inglesa, ao referir-se aos antigos direitos, preservava a hierarquia, os privilégios exclusivos
da nobreza sobre a propriedade e os castigos corporais como procedimento jurídico.
c) No contexto da Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão significou
o fim do Antigo Regime, ainda que tenham sido mantidos os direitos tradicionais da nobreza.
d) Os direitos do homem, por serem direitos dos humanos em relação uns aos outros, significam
que não pode haver privilégios, nem direitos divinos, mas devem prevalecer os princípios da
igualdade e universalidade dos direitos entre os humanos.
3. Resposta: d.
4. (Enem/MEC)
Em 4 de julho de 1776, as Treze Colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados
Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto
Colonial. Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos
homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca
da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles
direitos, derivava dos governados. Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo
foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.
COSTA, Emília Viotti da. Apresentação da coleção. In: Wladimir Pomar. Revolução Chinesa. São Paulo: Unesp, 2003
(com adaptações).
Considerando o texto, acerca da independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa,
assinale a opção correta.
a) A Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto
histórico, mas se baseavam em princípios e ideais opostos.
b) O processo revolucionário francês identificou-se com o movimento de independência norte-
americana no apoio ao absolutismo esclarecido.
c) Tanto nos Estados Unidos quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo
reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da
independência norte-americana.
e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das
colônias ibéricas situadas na América.
4. Resposta: c.
5. (UFRGS – 2014) O texto abaixo refere-se à Revolução Francesa.
O Terror é doravante um sistema de governo, ou melhor, uma parte essencial do governo
revolucionário. Seu braço. (...) Ele é também um meio de governo omnipresente, através do
qual a ditadura revolucionária de Paris deve fazer sentir sua mão de ferro em todos os lugares,
tanto nas províncias quanto nas forças armadas.
FURET, François ; OZOUF, Mona. Diccionnaire critique de la Révolution française. Événements. Paris: Flammarion,
1992. p. 298-299.
Considere as seguintes afirmações sobre o denominado Terror.
I. O governo jacobino, dirigido por Robespierre, e o Comitê de Salvação Pública foram responsáveis
pelo período do Terror.
II. O Terror foi uma política de extermínio liderada pelos girondinos de origem burguesa.
III. O objetivo dessa política centrava-se na defesa da Revolução contra os inimigos internos e
externos.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.
5. Resposta: e.
Página 175
II. Leitura e escrita em História
Leitura e escrita de textos
PROFESSOR, VER MANUAL.
Vozes do Presente
›› Fonte 1
O texto foi escrito pela historiadora Raquel Stoiani, doutora em História pela Universidade de São
Paulo (USP).
Uma preocupação constante de Napoleão Bonaparte foi a construção de sua imagem pública.
Enquanto esteve no poder (1799-1815), ele estruturou uma complexa máquina de
propaganda. Do homem da paz ao deus da guerra, [...] modificava sua figura pública de acordo
com as necessidades do momento. Seus opositores, por sua vez, buscaram desfigurá-lo com o
mesmo empenho. [...]
Após a morte de Napoleão, o livro Mémorial de Sainte-Helène (1823), de Emmanuel de Las
Cases (1766-1842), teve imensa influência na França. [...]. Começava a surgir a chamada
“Lenda Napoleônica”, [...] Ali ele aparece como o filho da Revolução Francesa, o homem que
consolidou a posse da igualdade de direitos, que tornou possível a saída da França do
feudalismo, glorificando-a com suas vitórias [...].
No início do século XX, Napoleão começa a ser apreciado de forma mais contida, [...] Georges
Lefèbvre (1874-1959), em seu Napoléon (1935), enfatiza as realizações positivas do
imperador e aprecia a grandeza de sua figura, mas não toma partido e evita julgamentos
morais. [...]
Tudo indica que o confronto entre as várias interpretações continuará indefinidamente.
Diversos Napoleões permanecem flutuando entre a “antiga ordem” e a “nova ordem” – ou
entre os valores de antes e depois da Revolução Francesa. [...]
STOIANI, Raquel. Mitos de além-túmulo. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 4 abr. 2010.
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/mitos-de-alem-tumulo>. Acesso em: 4 mar. 2016.
››Fonte 2
David Jacques Louis. C.1797-98. Óleo sobre tela. Museu do Louvre. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Retrato não finalizado de Bonaparte, obra de Jacques Louis David, 1797-1798.
a) Após a morte de Napoleão, teve início a sua transformação em uma lenda. Que argumentos
foram usados para isto?
b) Levando em conta o contexto do processo revolucionário francês iniciado em 1789, interprete a
afirmação: “Diversos Napoleões permanecem flutuando entre a antiga ordem e a nova ordem – ou
entre os valores de antes e depois da Revolução Francesa.”
c) O que se vê na fonte 2?
d) Relacione o debate histórico em torno da figura de Napoleão (fonte 1) ao modo como ele foi
retratado na fonte 2.
Página 176
Capítulo 9 Independências: Haiti e
América espanhola
Professor: com base em elementos materiais, a taça Libertadores da América e a moeda com a efígie de Bolívar, buscou-se
estimular o interesse pelas lutas de independência na América espanhola. O nome da taça e da competição é, como se sabe,
uma homenagem aos “Libertadores da América”, a exemplo de Simón Bolívar, representado na moeda abaixo. A Copa
Libertadores da América começou a ser disputada em 1960 e é a principal competição de futebol da América do Sul. Em
2009, foi anunciada a criação da Copa Libertadores Feminina, e a primeira delas foi disputada no Brasil.
DeAgostini/Getty Images
Luis Vera/LatinContent/Getty Images
» Você conhece a taça mostrada na imagem?
» E do personagem representado na moeda, você já tinha ouvido
falar?
» Qual é a relação entre a taça e o personagem representado na
moeda?
» Você sabia que, em 2009, foi criado um torneio equivalente
disputado por atletas femininas?
Página 177
No final do século XVIII, a população hispano-americana era de cerca de 16
milhões de habitantes, que compunham cinco grupos sociais: chapetones (ou
peninsulares), criollos, mestiços, indígenas e negros escravizados.
As sociedades hispano-americanas
Os chapetones, colonos nascidos na Espanha, desfrutavam de poder e privilégio,
ocupando todos os principais cargos administrativos, militares e religiosos. Os
criollos, filhos de espanhóis nascidos na América, eram ricos fazendeiros, donos
de minas e grandes comerciantes. Alguns possuíam formação universitária. Apesar
de terem projeção econômica e social, eram impedidos de ocupar altos cargos no
governo, no Exército e na Igreja.
Os mestiços eram filhos de espanhóis ou de criollos com indígenas ou africanas.
Nascidos quase sempre de relações extraconjugais, eram vistos como ilegítimos e
proibidos de usar armas, ouro e roupas de seda. Eles trabalhavam, geralmente, em
ocupações de pouco prestígio naquela sociedade: eram pedreiros, carpinteiros,
ferreiros, capatazes de fazenda, soldados e padres.
Os indígenas constituíam a maioria da população e eram duramente explorados
nas minas, fazendas e cidades.
Os africanos escravizados eram em número muito menor e viviam no litoral da
Colômbia, do Equador e da Venezuela, onde trabalhavam principalmente nas
grandes plantações de cacau, e nas Antilhas – ilhas espanholas, francesas, inglesas
e holandesas da América Central –, onde trabalhavam, sobretudo, nas plantações
de cana-de-açúcar. Indígenas, negros e mestiços sofriam discriminação social e
étnica, o que aumentava as tensões no interior das sociedades coloniais hispano-
americanas.