As organizações em defesa da causa indígena têm crescido em importância e
representatividade.
Parte delas são organizações indigenistas, como o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), órgão oficial da Igreja católica, e o Instituto Socioambiental
(ISA), uma organização da sociedade civil de interesse público. Outra parte é
formada por organizações lideradas pelos próprios indígenas.
Organizações indigenistas: organizações voltadas à causa indígena.
Algumas dessas organizações estão ligadas a uma só aldeia, como a Associação
Xavante de Pimentel Barbosa, no estado do Mato Grosso; outras reúnem vários
povos localizados ao longo de determinado rio ou região, como a Federação das
Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn); outras ainda possuem uma
representação maior e mais variada, como a Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), formada por mais de uma centena de
povos. Em nível nacional, foi constituída a Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (Apib), que reúne representantes de organizações indígenas de todo o país e
que, nos últimos anos, vem liderando manifestações em defesa dos direitos
indígenas.
Página 28
As lutas dos povos indígenas têm rendido frutos. Sua participação ativa nos
trabalhos que deram origem à Constituição de 5 de outubro de 1988 foi importante
para a aprovação de várias leis de seu interesse.
Uma das principais conquistas dessa Constituição foi o reconhecimento de seu
direito à diferença, ou seja, o direito de ser índio e de permanecer como tal. Outra
conquista foi o reconhecimento de seu direito à terra.
Dica! Documentário sobre a luta dos povos indígenas do rio Xingu contra a construção da usina
de Belo Monte. [Duração: 10 minutos]. Acesse: <http://tub.im/zdkxnk>.
O caput do artigo 231 da Constituição de 1988 afirma que “são reconhecidos aos
índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições [...]”. Diz ainda
o mesmo artigo: “São reconhecidos aos índios [...] os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens”.
Além disso, o parágrafo 2º do artigo 210, dessa mesma Constituição, assegura aos
povos indígenas um Ensino Fundamental regular em língua portuguesa,
respeitando a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem, incentivando, assim, a educação escolar indígena.
A Constituição de 1988 estimulou também a capacitação de professores indígenas
para atuar junto às suas populações. Em 1991, a responsabilidade pela educação
escolar indígena passou para as secretarias estaduais e municipais de educação.
Em 1999, o MEC estabeleceu normas de funcionamento das escolas indígenas e as
diretrizes curriculares destinadas ao ensino bilíngue da história e da ciência desses
povos.
Enfim, mobilizados e atuantes, os povos indígenas têm conquistado espaços
importantes no cenário político local e nacional. Por meio de suas próprias
organizações, e do apoio de seus aliados, avançam na conquista de sua cidadania.
Uma cidadania da qual estiveram excluídos por séculos.
Como observado em um texto do Ministério da Educação:
Já se foi o tempo de missionários, juristas e políticos decidirem o destino dos índios. Isso cabe a
eles. A eles cabe o direito de decidir seu futuro, resolver o que querem mudar e o que
pretendem manter. A nós, cabe lutar por uma sociedade que saiba respeitar a diferença e
conviver com ela, possibilitando a todos o acesso à plena cidadania.
MEC/Seed/SEF. Cadernos da TV Escola: Índios no Brasil 3. Brasília, 2001. p. 40.
Fabio Colombini
Escola indígena com estudantes do povo saterê-maué, em Manaus (AM), 2014. Atualmente vêm
sendo desenvolvidos métodos de ensino e aprendizagem, conteúdos e materiais didáticos
adequados à educação escolar indígena. A educação oferecida por estas escolas quer ajudar o aluno
a consolidar sua identidade étnica, valorizar o conhecimento tradicional, sua língua e a história do
grupo ao qual pertence. Note que a professora mostrada na imagem também é indígena.
Página 29
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Unemat-MT – 2015)
Tenochtitlán, uma cidade de canais, praças e mercados, pirâmides, templos, palácios, lojas e
residências, que começou numa ilha no lago Texcoco e estendeu-se para as praias mais
próximas com as quais se comunicava por estradas. Na época da conquista espanhola, ela era
uma orgulhosa metrópole de 200 mil habitantes, tão soberba que o conquistador Bernal Diaz
del Castillo registrou que mesmo “aqueles que estiveram em Roma ou Constantinopla dizem
que em termo de conforto, regularidade e população nunca viram algo semelhante”.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. Adaptado.
A cidade de Tenochtitlán era o centro de qual Império?
a) Inca.
b) Asteca.
c) Maia.
d) Tolteca.
e) Tupinambá.
1. Resposta: b.
2. (UEL-PR – 2014) As cidades antigas, construídas por diversas sociedades, expressaram através
do tempo sua cultura, arquitetura, ciência e modo de vida. Muitas se tornaram monumentos ao ar
livre, nos quais se desenvolveram pesquisas arqueológicas que abasteceram de objetos históricos
as maiores coleções museográficas europeias. Relacione as cidades, na coluna da esquerda, com as
suas respectivas sociedades, na coluna da direita.
(I) Biblos (a) Suméria
(II) Chichén-Itza (b) Persa
(III) Lagash (c) Maia
(IV) Machu-Picchu (d) Inca
(V) Pasárgada (e) Fenícia
Assinale a alternativa que contém a associação correta.
a) I-b, II-d, III-e, IV-a, V-c.
b) I-c, II-a, III-d, IV-e, V-b.
c) I-c, II-d, III-e, IV-b, V-a.
d) I-e, II-a, III-d, IV-b, V-c.
e) I-e, II-c, III-a, IV-d, V-b.
2. Resposta: e.
3. (UFSM-RS) A população inca vivia em pequenas coletividades agropastoris, as aldeias. Essas
aldeias eram de vários tamanhos e habitadas por famílias unidas por laços de parentesco ou
aliança, formando um conjunto denominado:
a) Curaca.
b) Ayllu.
c) Calpulli.
d) Halach Uinic.
e) Batab.
3. Resposta: b.
4. (UFRGS-RS – 2012) O decréscimo populacional dos povos indígenas instalados no litoral da
América portuguesa durante o século XVI resultou, entre outros fatores, de surtos epidêmicos.
Considere as afirmações a seguir, relativas a essa catástrofe demográfica.
I. A dizimação da população indígena gerou uma crise demográfica e ocasionou o desaparecimento
de grupos ameríndios.
II. Houve inúmeros movimentos migratórios indígenas, forçados ou voluntários, para o interior do
Brasil; para fugirem das epidemias e da escravização.
III. O despovoamento do litoral brasileiro durante o primeiro século de ocupação conferiu uma
dimensão trágica à colonização.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
4. Resposta: e.
Página 30
5. (Enem/MEC – 2015)
A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela
F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa
maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
GÂNDAVO, P. M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).
A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das
letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a
a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.
b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização.
c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena.
d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses.
e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da língua nativa.
5. Resposta: d.
6. (Enem/MEC)
Em geral, os nossos tupinambá ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países
longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez
um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e perós
(franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em
vossa terra?”
(LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974)
O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um
ancião tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no
sentido
a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.
b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.
c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.
d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.
6. Resposta: a.
7. (Vunesp-SP) Leia os textos seguintes.
››Texto 1
Etnocentrismo: tendência para considerar a cultura de seu próprio povo como a medida para
todas as outras.
(Novo Dicionário Aurélio.)
››Texto 2
[Os índios] não têm fé, nem lei, nem rei (...). são mui desumanos e cruéis, (...) são mui
desonestos e dados à sensualidade (...). Todos comem carne humana e têm-na pela melhor
iguaria de quantas pode haver (...). Vivem mui descansados, não têm cuidado de cousa alguma
se não de comer e beber e matar gente.
(Pero de Magalhães Gandavo. Tratado da Terra do Brasil, século XVI.)
a) O texto nº 2 pode ser considerado etnocêntrico? Justifique sua resposta.
7. a) Sim, porque o autor expressa a visão de mundo dominante no Ocidente cristão daquela época e julga o “outro”, no caso
os indígenas, tomando por bases suas próprias crenças e valores. Seu etnocentrismo fica evidente quando ele os acusa de
desonestos, preguiçosos (“mui descansados”), relapsos (“não têm cuidado de cousa alguma”) e de só se dedicarem a comer,
beber e matar gente.
b) Comente algumas das consequências, para as populações indígenas, da chegada dos portugueses
à América.
7. b) Os indígenas foram vítimas das guerras de conquista e apresamento; das grandes fomes que geralmente acompanham
as guerras; da desestruturação social; da escravização, e, sobretudo, das doenças, como gripe, sarampo, tuberculose, varíola
e malária, que provocaram a morte de dezenas de milhares de pessoas.
Página 31
II. Leitura e escrita em História
PROFESSOR, VER MANUAL.
Leitura e escrita de textos
VOZES DO PRESENTE
O texto a seguir é de um historiador especializado no tema; leia-o com atenção.
O império do Sol
Muito longe [...] na Cordilheira e nas costas do Pacífico, estendia-se um outro mundo, o
Tahuantinsuyu [...]. Era um império repleto de cidades imponentes – enormes cidadelas, onde
circulava um exército de funcionários –, cortado por estradas que passavam por cristas e
abismos graças a inúmeras pontes de cipós e milhares de escadarias de pedra. Por todo lado
havia postos de parada, que eram ao mesmo tempo albergues e depósitos, à beira desses
itinerários trilhados pelos correios oficiais ou chasqui, enviados pelos representantes do Inca.
Todas as estradas terminavam na capital do império, Cuzco.
Cristas: elevações.
Albergues: lugares de hospedagem.
Esse outro mundo era o dos incas e dos povos a eles submetidos. [...]
[...] O império inca era composto por um mosaico de povos e de paisagens naturais, dispersos
num quadro montanhoso que dificultava a comunicação. Sua expansão encontrava obstáculos.
“Enquanto no norte e no sul o império dominava imensas regiões, era detido a oeste e a leste
por duas fronteiras: uma, oceânica [...], outra, geopolítica, onde elementos naturais e pessoas
resistiam melhor que em outro lugar à política expansionista imperial. [...]
A força dos incas é primeiramente o império de uma língua, o quéchua, imposta às populações
tributárias e ensinada aos chefes dos grupos derrotados. É também o resultado de um
centralismo estatal e de uma política de deportação que fixava nas regiões controladas pelo
Império Inca as etnias oriundas das regiões insubmissas. É a eficácia de uma rede viária de
vinte mil quilômetros que cobria a maior parte do país. Por fim, é um laço ideológico e
religioso, o culto ao Sol Inti, que não parava de reafirmar a superioridade do Inca.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 76-78. (Virando séculos).
JTB Photo/UIG via Getty Images
Vista de Machu Picchu, em Cuzco, 2013. Situadas no Peru, a 2 560 m de altitude, as ruínas são hoje
um dos mais instigantes sítios arqueológicos do mundo.
a) O texto é literário, filosófico, jornalístico ou historiográfico?
b) Como o autor descreve o Império Inca?
c) Como o autor do texto explica o poder dos incas?
d) Em dupla. Na visão de vocês, quais dessas razões têm maior potencial explicativo?
Página 32
Capítulo 2 Colonizações: espanhóis e
ingleses na América
A fonte 1 é texto da historiadora Janice Theodoro; já a fonte 2 é uma imagem atual
da Igreja e Convento de Santo Domingo, localizados em Cuzco, cidade que um dia
foi capital dos incas.
››Fonte 1
O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que havia imaginado.
Destruía pirâmide para construir igrejas, derrubava habitações para obter o desenho da praça
ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras nos canais para que os cavalos pudessem
circular melhor na cidade. Reconstituía-se tudo o que era possível para que o núcleo urbano
lembrasse a Europa.
THEODORO, Janice. Descobrimentos e renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. p. 63.
››Fonte 2
Professor: o texto confirma a imagem e ambos se complementam. Como disse o historiador Cleber Cristiano Prodanov: “Os
espanhóis pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que não fosse a imagem da Europa.
Portanto, além de obterem riquezas, os europeus consideravam importante destruir as formas de representação dos
americanos, mostrar sua fragilidade, humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá-los também moralmente [...].”
(THEODORO, Janice. Descobrimentos e renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. p. 46)
Hemis/Alamy/Glow Images
Igreja e Convento de Santo Domingo del Cuzco, Cuzco, Peru, 2014.
Observando a imagem percebe-se que os espanhóis construíram a Igreja e
Convento de Santo Domingo sobre os três primeiros e resistentes degraus de um
monumento inca: o Templo do Sol, que tinha a forma de uma pirâmide e era
dedicado ao deus Sol.
»» Com que intenção os espanhóis teriam feito isso?
»» Que relação se pode estabelecer entre o texto e a imagem?
»» O que essas fontes informam sobre a conquista espanhola da
América?
Página 33
A Conquista
Os espanhóis iniciaram a ocupação das terras da América pelas ilhas chamadas de
Guanaani pelos nativos e renomeadas pelos espanhóis como São Salvador. Mas os
metais preciosos encontrados nesses locais eram insuficientes para saciar a “sede
de ouro e prata” que moveu aqueles europeus a virem para a América.
A conquista das terras astecas
Em 1519, o oficial espanhol Hernán Cortez desembarcou no litoral do México com
508 soldados, 16 cavalos e 14 canhões. Logo que estabeleceram contatos com os
ameríndios, Cortez e seus homens descobriram que o Império Asteca oprimia e
explorava os povos submetidos ao seu domínio. E que, por conta disso, os astecas
tinham muitos inimigos, entre os quais estavam os tlaxcaltecas, aguerridos
habitantes da cidade-Estado de Tlaxcala. De sua parte, os espanhóis buscaram
aliar-se aos povos insatisfeitos com os astecas. Os tlaxcaltecas, por sua vez,
também viram na aliança com os espanhóis uma possibilidade de destruir o
Império Asteca. Foi assim que espanhóis, tlaxcaltecas e muitos outros adversários
dos astecas marcharam sobre Tenochtitlán, a capital do Império Asteca, a fim de
conquistá-la.
Movidos pela crença de que tinham direito às terras americanas e contando com a
ajuda de milhares de aliados indígenas, Cortez e suas forças venceram os homens
de Montezuma (governante asteca) e conquistaram Tenochtitlán (1521). Não se
sabe ao certo o número de indígenas que auxiliou Cortez a tomar a capital asteca;
historiadores especializados acreditam que na primeira investida espanhola esse
número tenha sido de 6 mil homens; e que na investida final contra a capital asteca
tenha chegado a 200 mil aliados indígenas, que nada receberam em troca.
SPL/Latinstock /Coleção particular
Batalha de Tepexic. Esta imagem é uma cópia de um dos 80 desenhos que constam do Lienzo de
Tlaxcala, obra extraordinária feita por artistas indígenas da cidade de Tlaxcala no século XVI. Note
que Hernán Cortez é desenhado a cavalo enquanto seus aliados batalham a pé.
Escola espanhola. Séc. XVII. Óleo sobre painel. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Esta pintura do século XVII representa a conquista de Tenochtitlán pelos espanhóis. Como a
imagem sugere, a aliança dos espanhóis com dezenas de milhares de nativos foi importante fator da
Conquista. Note que o autor da obra destaca os espanhóis mostrando-os em primeiro plano e numa
posição superior a de seus aliados indígenas.
Página 34
A conquista das terras incas
Animado pela descoberta de ouro e prata nas terras astecas, Francisco Pizarro
partiu do Panamá e chegou à cidade inca de Tumbez, em 1532. Dali, ele e seus
homens se deslocaram para Cajamarca, onde aprisionaram o imperador inca
Atahualpa. A seguir, Pizarro prometeu libertar o imperador inca em troca de todo o
ouro que coubesse no quarto onde ele estava preso. Os incas pagaram o resgate,
mas Pizarro não cumpriu o prometido e ordenou a morte de Atahualpa na fogueira.
DIALOGANDO
Qual terá sido a reação dos incas diante da atitude de Pizarro?
Resposta pessoal. Professor: comentar que os incas estranharam que um líder pudesse mentir. Entre eles o líder era visto
como um ser semidivino e que, portanto, só falava a verdade.
Pizarro e seus homens se aproveitaram também da desunião entre os próprios
incas motivada pela disputa do trono inca entre os irmãos Atahualpa e Huáscar,
cujo pai havia morrido acometido por varíola. Além disso, Pizarro, à semelhança de
Cortez, também se aliou a povos nativos insatisfeitos com a dominação exercida
sobre eles. Os wankas, um povo guerreiro do sul do atual Peru, e vários outros
povos indígenas ajudaram na conquista espanhola de Cuzco, a capital inca, em
1533. Dois anos depois, Pizarro fundou a Ciudad de los Reyes, atual Lima, que veio a
ser capital do novo domínio espanhol.
Os auxiliares de Pizarro projetaram Lima seguindo o modelo das cidades
espanholas. Na praça central ergueram a igreja, os prédios públicos e, a partir dela,
construíram ruas retas e casas que lembravam as da Espanha. Quanto mais
próximo da praça residia uma família, maior era o seu prestígio. Ou seja, a
localização da residência em relação à praça simbolizava o status social de cada
família. Próxima à costa do oceano Pacífico e distante de Cuzco, Lima contava
inclusive com uma instituição de ensino superior, a Universidade de São Marcos,
fundada em 1551, e existente até hoje. 1 e 2
1. Dica! Documentário sobre a conquista do México liderada por Cortez. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/x5i7g5>.
2. Dica! Documentário sobre a conquista do Império Inca pelos espanhóis. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/bdx59u>.
Christian Vinces/Shutterstock
Igreja e Convento de São Francisco na principal praça do Centro Histórico de Lima, cuja construção
se iniciou no século XVI. Fotografia de 2012.
Página 35
Para refletir
A resistência indígena
Ao contrário do que se disse durante muito tempo, os ameríndios reagiram ao
domínio espanhol de diversas formas: praticando o suicídio, revoltando-se,
fugindo para a mata sozinhos ou em grandes grupos, e também por meio das
armas.
A resistência inca no sul do Peru, por exemplo, durou quase 40 anos. Protegidos
pela muralha de neve da Cordilheira dos Andes, eles resistiram aos espanhóis de
1532 a 1572. Só com muito esforço e com a ajuda de efetivos vindos da Espanha foi
que os espanhóis conseguiram vencer os incas. Na ocasião, o lendário Túpac
Amaru, considerado o último líder da resistência inca, foi aprisionado e decapitado
pelos espanhóis.
Lynn Johnson/National Geographic/Getty Images
Homens, mulheres e crianças indígenas se reúnem para homenagear seus ancestrais em Cuzco, no
Peru, 1989. As pedras nas quais eles se apoiam são restos de uma muralha erguida pela resistência
inca aos espanhóis.
a) Escolha a alternativa correta e responda oralmente. O texto apresenta uma
crítica à ideia presente no mito:
1. da democracia racial;
2. da cordialidade espanhola;
3. do indígena receptivo;
4. do pacifismo indígena diante do europeu;
5. da miscigenação entre espanhóis e indígenas.
a) Alternativa 4.
b) A imagem nega, reforça ou relativiza o afirmado pelo texto?
b) A imagem reforça e documenta o afirmado no texto, pois descendentes de indígenas assistem a uma celebração
acomodados ou apoiados em pedras que faziam parte de uma muralha erguida pelos incas para lutar contra os
conquistadores espanhóis.
c) Tente responder: por que, durante muito tempo, a resistência indígena durante
a conquista europeia da América esteve ausente dos livros escolares?
c) Essa atitude de negação do indígena como sujeito de sua história deveu-se a uma multiplicidade de fatores, entre os quais
cabe destacar:
•durante muito tempo a história de viés positivista apoiou-se em documentos escritos; os povos ágrafos eram considerados
povos parados no tempo, sem história;
• a historiografia de filiação positivista produziu uma história eurocêntrica, apresentando os indígenas sempre como
coadjuvantes; além disso, postulou que, mais cedo ou mais tarde, o processo civilizatório levaria à completa integração dos
indígenas a nossa sociedade, ou ao seu desaparecimento.
Página 36
Para saber mais
O texto a seguir é do historiador Matthew Restall, leia-o com atenção.
Editora Civilização Brasileira
Fac-símile da capa do livro Sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall. O livro desfaz
mitos e lança luz sobre uma questão que sempre preocupou historiadores: o que explica a
conquista espanhola da América?
Uma declaração clássica é a de [...] que “a história da Conquista do México foi concluída com a
rendição da capital”. Embora a frase esteja de acordo com a vasta maioria do que foi escrito
sobre a Conquista, desde o século XVI até o presente, após a destruição de Tenochtitlán os
espanhóis não haviam conquistado o México; haviam tão somente desmembrado o Império
Asteca. [...]
[...] Enquanto isso, a presença hispânica no restante da região coberta pelo Império Asteca era
mínima – e seu controle sobre a área mais ampla que viria a ser o México moderno,
praticamente nulo. Na verdade, os espanhóis sequer haviam posto os pés na maioria dos
territórios do que seria a Nova Espanha colonial [...]. No início da década de 1520, Cortés
aparentemente acreditava [...] que Michoacán fora subjugada e encontrava-se sob o domínio
hispânico – muito embora [...] a população nativa considerasse seu império a potência
dominante da região. [...] Portanto, ao mesmo tempo em que 1521 representou o fim da guerra
[...] contra o Império Asteca, assinalou também o princípio das guerras de conquista na maior
parte do México e Mesoamérica [...].
[...] De par com o tênue domínio do México central pelos espanhóis em 1521, o controle do
Peru era quase inexistente em 1532 (não obstante a captura e execução de Atahuallpa) [...]. O
Estado inca independente subsistiu até seu governante, Túpac Amaru, ser executado pelos
hispânicos em 1572 – e, mesmo depois disso, porções significativas dos Andes continuaram
fora do controle colonial direto.
RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 136-137.
As razões da conquista: um novo olhar
Como se viu, a conquista de Tenochtitlán, em 1521, e de Cuzco, em 1533, não
significou a conquista dos impérios asteca e inca como um todo. A ideia de que a
tomada das capitais asteca e inca significou a queda desses impérios não condiz
com a realidade; é o que o historiador Matthew Restall chama de “mito da
completude”. A conquista espanhola da América indígena foi lenta e parcial,
prolongando-se por dezenas de anos e até mesmo séculos. Em várias regiões da
América, os espanhóis enfrentaram uma dura resistência indígena; a conquista
espanhola do Chile, por exemplo, só se consolidou no século XIX.
Mito da completude: para o historiador Matthew Restall, a ideia de que a conquista foi imediata e total é
um mito ao qual ele dá o nome de mito da completude.
Página 37
A Conquista espanhola da América pode ser explicada por um conjunto de fatores
interdependentes, entre os quais cabe citar:
»» as doenças trazidas pelos europeus. Os vírus e as bactérias trazidos pelos
espanhóis mataram mais indígenas do que as armas de fogo. Os corpos dos
ameríndios não possuíam defesas contra doenças como varíola, sarampo, gripe,
entre outras. O imperador inca Huayna Capac e, em seguida, seu sucessor,
morreram por terem contraído varíola antes da chegada de Pizarro a Cuzco.
Lembre-se também de que essas doenças se manifestavam na forma de pandemia,
acometendo milhares de pessoas ao mesmo tempo, o que provocava muitos óbitos
por inanição. As pandemias de varíola e de sarampo foram responsáveis pela
morte de milhões de indígenas ainda nas primeiras décadas do século XVI.
»» o proveito que os espanhóis tiraram da desunião entre os diferentes
grupos de ameríndios. Lembre-se aqui de que os indígenas não se viam como
“índios” ou “nativos” e sim como membros de um grupo específico, seja ele asteca,
inca, tlaxcalteca ou wanka. E que também travavam guerras uns com os outros.
Essa desunião entre os nativos foi incentivada e manipulada pelos invasores. Dois
exemplos de como a desunião dos nativos favorecia os espanhóis foram a atuação
dos intérpretes nativos e a colaboração de alguns governantes indígenas que, com
isso, esperavam beneficiar suas próprias linhagens e comunidades, em prejuízo
das demais.
»» a tecnologia bélica dos espanhóis. As armaduras de ferro dos espanhóis
protegiam o corpo inteiro e contra elas as flechas indígenas se mostravam inúteis.
As espadas de aço eram mais eficientes do que as armas de obsidiana dos
guerreiros nativos. Com elas os espanhóis lutavam por horas e matavam muitos
nativos. Os espanhóis chegados com Cortez dominavam também o uso da pólvora
para fins militares e combatiam com arcabuzes e canhões. Lembre-se, no entanto,
de que a superioridade bélica proporcionada pelas armas dos espanhóis foi
decrescendo ao longo da Conquista, à medida que os indígenas se apossavam da
mesma tecnologia. O cavalo, por exemplo, era desconhecido dos nativos da
América, mas em pouco tempo seu uso foi assimilado por grupos indígenas entre
os quais se destacaram os araucanos, que logo se tornaram conhecidos como
exímios cavaleiros.
»» as visões de mundo dos astecas e incas eram muito diferentes das dos
espanhóis. A guerra para os astecas incluía a realização de cerimônias que
antecediam as batalhas – que eliminavam a possibilidade de ataques de surpresa –
e a captura de inimigos para posterior execução ritual, em vez de matá-los no ato.
Pedro Subercaseaux. Sem data. Coleção particular
Detalhe de O jovem Lautaro, obra do século XIX. O líder araucano Lautaro continua presente no
imaginário popular chileno. Nas terras onde hoje é o Chile, os indígenas araucanos ofereceram dura
e longa resistência aos espanhóis. Os araucanos aprenderam com os espanhóis a usar o cavalo como
arma de guerra e ficaram conhecidos pela maestria com que utilizavam esse animal em diversas
situações.
Página 38
Os conquistadores ficavam indignados com o aparente desprezo dos indígenas
pela vida humana, contido nos rituais de “sacrifício” humano; para os astecas,
porém, o desrespeito era dos espanhóis, que assassinavam nativos em massa e
abatiam não combatentes. Além disso, o mundo indígena era cheio de regras, como
a de um líder não poder mentir. Atahualpa estranhou ter continuado prisioneiro de
Pizarro após ter pago o ouro que resgataria a sua liberdade.
»» os espanhóis sabiam muito mais sobre os nativos da América do que estes
sobre eles. Os espanhóis procuraram se informar a respeito das desavenças e
disputas entre os indígenas e estimularam a guerra entre eles, aliando-se a um dos
grupos. Vencida a guerra, se apossavam de tudo e subjugavam, inclusive, seus
aliados.
A economia colonial
A colonização da América espanhola foi impulsionada por nobres sem fortuna,
comerciantes, aventureiros e pelos reis da Espanha, ou seja, por interesses
públicos e privados, e se insere no contexto do mercantilismo. A crença no
metalismo, por exemplo, ajuda a explicar por que os espanhóis daquele tempo
manifestavam tanta sede de ouro.
A mineração – sobretudo a da prata e a do ouro – foi a principal atividade
econômica em boa parte da América espanhola. Concorreu para isso a forte
capacidade da mineração de provocar efeitos multiplicadores sobre os outros
setores da economia, como a agricultura, a pecuária, a manufatura e o comércio.
O trabalho forçado dos ameríndios
Na América espanhola, predominou o trabalho forçado dos indígenas sob duas
formas: a mita e a encomienda.
A mita, hábito inca adaptado pelos espanhóis, era a obrigação que os indígenas
tinham de trabalhar durante 4 meses por ano em troca de baixos salários. Esses
trabalhadores (os mitayos) recebiam por seu trabalho cerca de um terço do salário
de um trabalhador livre daquela época. Parte do salário era paga em moeda (ou
metal) e parte, em alimentos, tecidos e bebidas. Muitos deles se viciavam no
consumo de álcool e acabavam morrendo.
Já a encomienda era o direito dado a um colono espanhol de exigir do indígena
trabalho forçado ou tributos em gênero por certo período. Com o correr do tempo,
esse privilégio passou a ser hereditário. Em troca do direito sobre a mão de obra
indígena, o encomendero devia pagar tributos à metrópole e dar aos índios
assistência material e religiosa, isto é, cristianizá-los. Mas, na prática, milhares de
índios morriam de fome e sem ter aprendido uma única oração cristã. Originária
da Espanha, a encomienda foi nervo e vida na América de colonização espanhola.
Página 39
A mineração
Na América, os espanhóis iniciaram a extração de metais preciosos pela ilha de
Hispaniola (atuais Haiti e República Dominicana). O ouro ali encontrado, no
entanto, era ouro de aluvião e se esgotou rapidamente. Foi somente em 1545,
com a descoberta das minas de prata de Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte,
das de Zacatecas (atual México), que a mineração veio a ser o setor mais dinâmico
da economia colonial.
Ouro de aluvião: ouro depositado nas margens ou no leito dos rios e de fácil extração.
Na exploração e no transporte da prata, os espanhóis utilizavam os mitayos (índios
obrigados ao cumprimento da mita). O trabalho consistia na extração e também na
fundição do minério, em fornos de elevadíssima temperatura. Para a tarefa de
refinar a prata, se recorria à mão de obra de africanos escravizados, que utilizavam
técnicas de fundição trazidas de suas terras de origem. Embora em menor
proporção, o uso de africanos escravizados subsistiu no Peru já independente até
meados do século XIX. As riquezas minerais de Potosí fizeram das elites da região,
por algum tempo, as pessoas mais ricas das Américas, com renda anual de milhares
de pesos.
O subsolo da América espanhola era considerado propriedade da Espanha: os
mineradores obtinham apenas concessões de exploração. As obras de perfuração e
beneficiamento do minério e o elevado custo do mercúrio exigiam elevados
capitais, o que acabou restringindo o número de mineradores e facilitando o
controle sobre essa atividade.
Theodor de Bry. Sec. XVI. Coleção particular. Foto: Akg-Images/Latinstock
Esta gravura de Théodore de Bry (1590) mostra pessoas conduzindo lhamas carregadas de prata.
Elas deixavam as terras altas da cordilheira andina depois de um longo percurso e chegavam ao
litoral da América banhado pelo Atlântico. De lá a prata era embarcada para o porto de Sevilha, na
Espanha.
Página 40
A agropecuária
A agropecuária foi praticada em extensas áreas do território americano. A unidade
produtora básica nos campos coloniais foi a fazenda (hacienda), grande
propriedade rural voltada para a policultura. Entre as plantas mais cultivadas
estavam o milho, a batata, o cacau, e o tabaco (nativas da América) e a cana-de-
açúcar (introduzida na América pelos europeus); além disso, criava-se gado de
corte e de transporte (como mulas e cavalos).
Sua produção destinava-se ao mercado local, intercolonial ou à exportação para a
Espanha. Os trabalhadores dessas fazendas eram obrigados a comprar no
armazém da propriedade (tienda de raya) aquilo de que necessitavam (roupas,
calçados, alimentos), e, assim, se tornavam prisioneiros por dívida. A fazenda
exigia pouco capital para seu funcionamento, e se inseria em circuitos mercantis
que abrangiam extensas áreas do território colonial. Era a fazenda hispano-
americana, por exemplo, que abastecia as minas situadas no México e em Potosí.
Com o declínio da mineração, no século XVIII, a agropecuária se desenvolveu ainda
mais e as regiões dedicadas a essas atividades tornaram-se mais dependentes das
vendas para a Europa.
Na América colonial espanhola, desenvolveu-se também a plantation, grande
propriedade rural monocultora voltada para o mercado externo. Existiu um grande
número de plantations em áreas como Santo Domingo e Cuba (açúcar, tabaco), e
Venezuela (cacau). A mão de obra das plantationsera formada basicamente por
africanos escravizados. Sua produção era quase toda destinada a comércio
atlântico. Estudos recentes indicam que a produção de alimentos pelos
escravizados e o comércio desses alimentos foram importantes no conjunto da
economia colonial da América hispânica.
Séc. XVIII. Gravura. Coleção particular. Foto: The Granger Collection/Glow Images
Engenho de produção de açúcar na região das Antilhas em uma gravura do século XVIII. No canto
superior direito, vê-se a casa do fazendeiro; no canto inferior direito, as habitações dos escravos; ao
centro, as plantações de cana e, no canto inferior esquerdo, a casa onde se fabricava o açúcar.
Página 41
Manufatura, artesanato e mercado interno
O elevado preço dos fretes marítimos e a lentidão dos transportes terrestres
acabaram estimulando o florescimento do artesanato e da manufatura chamada na
América espanhola de obraje. As principais obrajes produziam tecidos de lã
(cobertores, ponchos, xales) e eram instaladas próximas a mercados
consumidores, como Quito, que vendia às minas de Nova Granada (Colômbia), e
Tucumán (no noroeste da atual Argentina), que destinava seus tecidos a Potosí.
Assim, se desenvolveu desde cedo na América colonial espanhola um mercado
interno próspero.
Obraje: oficina que utiliza o trabalho manual para produzir tecidos, artigos de couro, cigarros, charutos,
entre outros.
Já o artesanato era praticado por trabalhadores reunidos em corporações de ofício
e por artesãos independentes. As corporações com maior prestígio, como a dos
tecelões e ferreiros, só admitiam brancos ou mestiços; outros ramos menos
valorizados socialmente, como o dos pedreiros ou carpinteiros, admitiam índios e
negros.
O controle sobre o comércio colonial
O comércio e a navegação entre a Espanha e suas colônias americanas eram
controlados pela Casa de Contratação, com sede em Sevilha, na Espanha, desde
1503. Esse órgão administrava o comércio com a América pelo sistema de portos
únicos. Os navios que faziam a rota Espanha-América só podiam entrar ou sair do
território espanhol por um único porto, o de Sevilha. Na América, os únicos portos
autorizados a fazer comércio com a Espanha eram os de Havana (Cuba), Vera Cruz
(México), Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá).
O controle do comércio colonial era feito também pelo sistema de frotas e
galeões. Os navios que iam da América para a Espanha ou que vinham de lá para
cá tinham de viajar juntos (frotas), protegidos por outros navios fortemente
armados (galeões). As frotas e os galeões vinham e voltavam carregados de
mercadorias duas vezes por ano. Assim, a Espanha mercantilista conseguia
controlar tanto o que entrava nas suas colônias quanto o que saía delas, auferindo
lucro sextraordinários.
Alonso Sanchez Coello. Séc. XVI. Óleo sobre tela (detalhe). Museo de America, Madrid. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
O porto de Sevilha, c. 1580, detalhe da obra de Sanchez Coello (1531- 1589). A imagem desse porto
ajuda a imaginar o que pode ter sido o movimentado comércio entre a Espanha e suas colônias na
América.
Página 42
Esse monopólio do comércio colonial acabou provocando uma reação esperada: o
contrabando, muito praticado em toda a América espanhola.
A administração colonial
O principal órgão da administração espanhola na América foi o Conselho Real e
Supremo das Índias, criado por Carlos V, em 1524. Com sede na Espanha, esse
órgão era encarregado de todas as questões coloniais de ordem legislativa,
eclesiástica, militar ou jurídica.
Inicialmente, com o objetivo de economizar recursos, a Coroa espanhola transferiu
a particulares o direito de administração dos territórios conquistados. O indivíduo
que recebia o benefício era chamado de adelantado (adiantado) e tinha amplos
poderes civis e militares. Cortez e Pizarro, por exemplo, eram adelantados. Com a
adoção desse sistema, a Coroa transferiu para particulares o ônus da colonização e
estimulou a conquista de terras e povos. Eles tinham de enviar para a Espanha um
quinto de toda a riqueza das terras conquistadas por eles.
Com o avanço da colonização, as riquezas americanas foram sendo reveladas. A
metrópole decidiu, então, anular as concessões feitas aos adelantados e ampliar
seu poder de controle sobre o território americano. Isso ajuda a explicar por que
no decorrer do tempo a Espanha criou quatro vice-reinos: o de Nova Espanha, o
do Peru, o de Nova Granada e o do Rio da Prata. E criou também as Capitanias
Gerais. As principais foram: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile, todas situadas em
áreas militarmente estratégicas. Observe o mapa ao lado.
Nas principais cidades havia ainda as Câmaras Municipais. Essas câmaras –
chamadas de cabildos ou ayuntamientos – eram responsáveis pela segurança
interna e pela administração local. Os vereadores eram quase sempre os filhos de
espanhóis nascidos na América, que no final do período colonial passaram a ser
chamados de criollos.
América Espanhola (séculos XVI a XVIII)
Allmaps
Fonte: THE TIMES Atlas of the World History. Londres: Times Books, 1990. p. 161.
Página 43
A sociedade colonial
A sociedade colonial hispano-americana era formada basicamente por:
chapetones ou peninsulares (colonos nascidos na Espanha), criollos (filhos de
espanhóis nascidos na América), mestiços (filhos de peninsulares ou de criollos
com indígenas ou africanas), indígenas (maioria da população) e negros
escravizados. Essa sociedade possuía hierarquia rígida e pouca mobilidade social
(a dificuldade de ascensão social era grande).
Os brancos, nascidos na Espanha ou na América, eram minoria e concentravam em
suas mãos poder, riqueza e privilégios. Possuíam os melhores cargos na
administração pública, na Igreja, nas forças militares e na Justiça. Eram também os
donos das fazendas, minas e manufaturas.
Os índios, negros e mestiços eram maioria e sobreviviam do trabalho forçado, mal
remunerado ou escravo. Na hierarquia social, um indivíduo era visto segundo seu
maior ou menor grau de semelhança física com o espanhol, e a discriminação
contra índios e negros era acentuada.
Martinez. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Real, Madri. Foto: Album/Oronoz/Latinstock
Espanhol a cavalo na América, século XVIII. Códice Trujillo del Perú.
A ocupação da América inglesa
Durante quase todo o século XVI, os ingleses demonstraram pouco interesse pela
América do Norte. A primeira experiência de colonização se deu no reinado de
Elizabeth I, da dinastia Tudor. Ele concedeu permissão a sir Walter Raleigh para
que iniciasse a colonização da América. A primeira expedição foi liderada por ele e
aportou em 1584 na costa leste da América, em uma terra que batizou de Virgínia,
em homenagem a Elizabeth, a rainha virgem. À semelhança do que ocorreu na
América espanhola, a Coroa delegou a particulares os encargos da colonização,
reservando para si uma parte de eventuais descobertas de ouro e prata.
O início da vida desses primeiros colonos que vieram para a América inglesa não
foi fácil, pois tiveram de enfrentar a fome, o frio, as doenças e a resistência dos
indígenas à ocupação de suas terras. Esses fatores levaram ao fracasso a primeira
experiência de colonização inglesa em terras americanas.
No século XVII, porém, a Inglaterra e sua crescente burguesia decidiram ativar os
negócios coloniais. Assim, para ocupar efetivamente a costa atlântica da América, o
rei inglês Jaime I criou, em 1601, duas Companhias de Comércio: a Companhia de
Londres, que ocuparia a região Sul, e a Companhia de Plymouth, que ficaria com o
Norte. Essas companhias eram formadas por capitalistas interessados em lucrar
com o transporte de pessoas e mercadorias.
Companhia de Comércio: empresa capitalista voltada ao transporte de pessoas e mercadorias, composta,
majoritariamente, de membros da burguesia inglesa.
Página 44
E, por isso, lançaram uma propaganda prometendo terras férteis e uma nova vida
àqueles que embarcassem para a América.
O primeiro povoado permanente na América do Norte foi Jamestown (1607), na
Virgínia. Posteriormente foram criadas outras colônias, formando as Treze
Colônias, que deram origem aos Estados Unidos da América.
Dica! Documentário sobre os primeiros ingleses que chegaram à América do Norte. [Duração: 43
minutos]. Acesse: <http://tub.im/i9nsvj>.
Os primeiros colonos
As pessoas atraídas pela propaganda das Companhias de Comércio eram de
diversas origens e condições sociais: aventureiros, degredados, mulheres para
serem leiloadas como esposas, órfãos e crianças raptadas... Havia também:
»» Camponeses sem terra – trabalhadores pobres seduzidos pelas promessas
feitas pelas Companhias de Comércio de terras férteis e abundantes àqueles que
embarcassem para a América. Sem ter como pagar a passagem, os camponeses
aceitavam embarcar como servos temporários. A servidão temporária
(indenturent servant) consistia em trabalhar gratuitamente por quatro ou cinco
anos na propriedade americana de quem havia pago a passagem do imigrante.
»» Grupos religiosos protestantes – puritanos, batistas, quakers, fugidos da
perseguição que a monarquia inglesa movia a todos os que contrariavam sua
religião (o anglicanismo) e sua política absolutista. Em 1620, um grupo de
puritanos ingleses deixou a Inglaterra a bordo do Mayflower e desembarcou no
litoral de Massachusetts, onde fundou um núcleo próspero de colonização: New
Plymouth. Eram pouco mais de 100 pessoas com alto grau de instrução. Os “pais
peregrinos” (Pilgrim Fathers) viam a si próprios como um grupo eleito por Deus
para colonizar a América. A crença religiosa colaborou para manter a identidade e
a coesão do grupo, ajudando-o a superar os obstáculos iniciais de adaptação à nova
terra. Ao contrário dos colonos portugueses da América, que viam o trabalho como
uma atividade a ser exercida por etnias consideradas inferiores (indígenas e
negros), grande parte dos colonos ingleses encarava o trabalho como algo
edificante. Entre os puritanos, por exemplo, predominou a visão do reformador
João Calvino, para quem o ócio é pecado e enriquecer trabalhando é indício de que
o indivíduo será salvo. Outra característica do grupo dos puritanos foi seu
interesse pela educação. Foram eles que criaram, em 1636, a Universidade de
Robert Walter. 1857. Óleo sobre tela. Brooklyn Museum of Art. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Peregrinos deixando a Inglaterra rumo à América. Nessa obra de 1857, o pintor Robert Walter Weir
os representa portando a Bíblia e orando.
DIALOGANDO
Por que os “pais peregrinos” do Mayflower foram considerados os únicos fundadores da
nação norte-americana?
Professor: comentar que ocorreu uma apropriação da memória da colonização: só a parte wasp (em inglês, branco, anglo-
saxão e protestante) da população foi valorizada, enquanto os indígenas, os africanos e os vários grupos europeus foram
mantidos no esquecimento.
Página 45
Harvard, em Cambridge, Massachusetts, para formar futuros dirigentes de suas
igrejas nas colônias.
»» Outras populações – além dos ingleses, milhares de outros europeus –
alemães, escoceses, irlandeses e franceses – também se mudaram para a América
do Norte na esperança de uma vida melhor. Além desses grupos europeus vindos
por vontade própria, foram trazidos da África Ocidental milhares de africanos
escravizados. Isso ajuda a explicar por que, entre 1620 e 1720, a população das
Treze Colônias passou de 2500 pessoas para cerca de 3 milhões, sem contar a
população indígena.
Para saber mais
Indígenas na vida real e no cinema
A América inglesa, do Atlântico até o Pacífico era habitada por centenas de grupos
indígenas, como os Cherokees, iroqueses, algonquinos, comanches e apaches. A
história desses povos foi profundamente afetada pela chegada dos europeus.
Dentre os grupos indígenas com os quais os colonos tiveram mais contato
inicialmente, podemos destacar os iroqueses e os algonquinos. Ambos viviam nas
florestas temperadas das Colônias do Norte e também onde é hoje o Canadá. Esses
e outros grupos indígenas nunca foram integrados à colonização inglesa.
Na América portuguesa, a escassez de mulheres brancas estimulou a união entre
colonos e mulheres indígenas. Já no caso da América do Norte essa união não era
estimulada. Houve miscigenação, mas em muito menor grau do que na América
portuguesa. Por isso, os historiadores atuais apontam a falta de um projeto de
integração dos indígenas norte-americanos no processo de colonização da América
inglesa.
Os indígenas resistiram ao avanço dos colonos europeus sobre suas terras por
meio de violentos ataques a eles. Durante a colonização, esses conflitos se
intensificaram e alguns deles culminaram em acordos de demarcação de terras. Em
decorrência desses acordos surgiram, também, as reservas indígenas, áreas
destinadas exclusivamente a indígenas. No entanto, muitos desses acordos foram
violados, e as áreas das reservas indígenas, desrespeitadas.
Edward S. Curtis/Corbis/Latinstock
Indígena da nação Apache, 1904.
Hulton Archive/Getty Images
Quanah Parker, indígena da nação Comanche, em fotografia do fim do século XIX.
Página 46
As Treze Colônias
Nome COLÔNIAS ORIGINAIS Ano
Virgínia Fundada por 1607
New Hampshire 1623
Massachusetts Companhia de Londres 1620- 1630
(Plymouth) Companhia de Londres
Maryland John Mason e outros separatistas 1634
Connecticut 1635
Rhode lsland puritanos 1636
Carolina do Norte Lord Baltimore 1653
Nova York Emigrantes de Mass 1613
Nova Jersey Roger Williams 1664
Carolina do Sul Emigrantes da Virgínia 1670
Pensilvânia 1681
Delaware Holanda 1638
Geórgia Barkeley Carteret 1733
Nobres ingleses
William Penn
Suécia
George Oglethorpe
Fonte: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p.
44.
Apesar de estarem submetidas às leis inglesas e pagarem impostos à metrópole, as
Treze Colônias da América do Norte viveram, durante o século XVII, uma relativa
autonomia; isso possibilitou, por exemplo, desenvolverem a prática de se reunir
em assembleias para tomarem decisões que envolviam seus interesses.
Mas, apesar das semelhanças, as Treze Colônias apresentavam acentuadas
diferenças socioeconômicas entre si, o que permite aos historiadores dividi-las em
três grupos: colônias do Norte (ou Nova Inglaterra), colônias do Centro e colônias
do Sul.
As Treze Colônias (século XVIII)
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 62.
O mapa mostra as Treze Colônias que deram origem aos Estados Unidos da América. Dez delas
foram fundadas por britânicos. Nova York, cujo primeiro nome foi Nova Amsterdã, era
originalmente holandesa. Delaware foi colonizada por suecos. Todas elas passaram depois ao
domínio britânico.
Página 47
As colônias do Centro-Norte
As colônias do Centro-Norte da costa Atlântica, área de clima temperado,
semelhante ao europeu, desenvolveram-se com base na policultura (trigo, maçã,
batata, milho), na pequena propriedade e na mão de obra familiar ou servil. Além
disso, produziram também manufaturas feitas de lã, couro, ferro e madeira. Esses
produtos eram exportados para diferentes lugares; era o chamado comércio
triangular. Veja como esse lucrativo comércio funcionava:
» Passo 1 – usando navios próprios, os colonos do Norte compravam melaço das
Antilhas e o transformavam em rum.
» Passo 2 – essa bebida era levada para a costa ocidental da África e trocada,
usualmente, por africanos escravizados.
» Passo 3 – os escravizados eram vendidos para o Sul da América do Norte e para
as Antilhas, de onde os navios voltavam carregados com mais melaço.
Donas de uma economia diversificada e de um comércio exterior lucrativo, as
colônias do Norte (também chamadas de Nova Inglaterra) mantinham certa
autonomia em relação à metrópole. Observe o mapa.
Dica! Vídeo sobre o comércio triangular na colonização inglesa. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/ka2nmk>.
O comércio triangular (século XVIII)
Allmaps
Fonte: NARO, Nancy P. S. A formação dos Estados Unidos. 3. ed. São Paulo/Campinas: Atual/Editora da Unicamp,
1987. p. 15. (Discutindo a História).
O comércio triangular enriqueceu as colônias do Centro-Norte e fortaleceu-as diante da metrópole
inglesa; além disso, contribuiu também para que ganhassem capacidade de decidir com autonomia.
Página 48
As colônias do Sul
O Sul – região de clima quente e planícies extensas – produziu, desde cedo, gêneros
agrícolas de larga aceitação na Europa, como o fumo, o algodão e o anil. Desde cedo
também os fazendeiros sulistas trouxeram escravizados da África Ocidental para
trabalharem nas suas plantações. Assim, o Sul foi sendo ocupado por plantations
(grandes propriedades escravistas que cultivavam um único produto, como o
algodão, por exemplo). Com isso, formou-se na região uma sociedade aristocrática
e caracterizada por grande desigualdade social. Os sulistas vendiam fumo, algodão
e anil para a Inglaterra e compravam dela quase tudo de que necessitavam: desde
ferramentas e livros até garfos, facas, entre outros. Essa dependência econômica
em relação à metrópole inibia o afloramento de ideias de independência política.
Currier and Ives. 1884. Coleção particular. Foto: PhotoQuest/Getty Images
Litogravura de 1884 representando uma plantação de algodão no Mississippi. A imagem mostra os
dois principais grupos sociais do sul das Treze Colônias: os fazendeiros e os negros escravizados
trabalhando em diversas ocupações.
A organização política das Treze Colônias
Se no plano socioeconômico as Treze Colônias possuíam diferenças acentuadas
entre si, no aspecto político-administrativo tinham mais semelhanças do que
diferenças. Cada colônia tinha uma assembleia encarregada de fixar os impostos
locais, votar o orçamento do governo colonial e elaborar leis, que eram submetidas
ao governador. Participando intensamente da vida política, os colonos foram
desenvolvendo sentimentos de autonomia em relação à metrópole e hábitos de
autogoverno, decisivos nas lutas pela Independência.
Assembleia: órgão eleito pelos homens livres, os únicos com direito de votar e de ser votados.
Governador: em algumas colônias os governadores eram nomeados pela monarquia inglesa e tinham o
poder de anular (vetar) as leis contrárias aos interesses metropolitanos; em outras eram eleitos pelos próprios
colonos e não tinham direito de veto.
Página 49
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Interprete a seguinte afirmação:
Os espanhóis pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que não
fosse a imagem da Europa. Portanto, além de obterem riqueza, os europeus consideravam
importante destruir as formas de representação dos americanos, mostrar sua fragilidade,
humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá-los também moralmente [...]
PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América. São Paulo: Contexto, 2001. p. 46. (Repensando a História
Geral).
1. Com essa afirmação o historiador Prodanov quer chamar a atenção para outro móvel da Conquista, além da busca
obsessiva por ouro e prata: o desejo europeu de impor aos ameríndios seu modo de vida, valores e crenças. Um exemplo
disso é que as estátuas de deuses indígenas levadas para a Europa eram rapidamente derretidas e transformadas em
moedas de ouro ou prata, com a efígie do rei da Espanha.
2. (UFPel-RS)
Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça [...].
Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram. De
fato, por mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do
Velho Mundo foram mais frequentemente mortais nas Américas do que na Europa. O
missionário alemão chegou inclusive a escrever no finalzinho do século XVIII que os índios
morrem tão facilmente que só a visão ou o cheiro de um espanhol os fazem passar deste para
outro mundo. Umas quinze epidemias dizimaram a população do México e do Peru.
FERRO, Marc. História das colonizações - das conquistas às independências - séculos XIII a XIX. São Paulo: Cia. das
Letras, 1996.
Codex Florentino. C. 1540. Litogravura. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Os documentos denunciam as doenças provocadas pelos agentes do
a) Colonialismo espanhol que dizimaram populações nativas na América, na Idade Moderna.
b) Colonialismo português em suas possessões, entre os séculos XVI e XVIII.
c) Imperialismo ibérico e dos Países Baixos exterminando as populações incas, maias e astecas, na
Idade Contemporânea.
d) Mercantilismo europeu nas colônias anglo-saxônicas, desde o final da Idade Média.
e) Colonialismo lusitano no México e no Peru, a partir do século XVI.
2. Resposta: a.
3. (Unesp-SP)
[...] como puder, direi algumas coisas das que vi, que, ainda que mal ditas, bem sei que serão de
tanta admiração que não se poderão crer, porque os que cá com nossos próprios olhos as
vemos não as podemos com o entendimento compreender.
Hernán Cortés. Cartas de Relación de la Conquista de Mexico, escrituras de 1519 a 1526.
O processo de conquista do México por Cortés estendeu-se de 1519 a 1521. A passagem acima
manifesta a reação de Hernán Cortés diante das maravilhas de Tenochtitlán, capital da
Confederação Mexica. A reação dos europeus face ao novo mundo teve, no entanto, muitos aspectos,
compondo admiração com estranhamento e repúdio. Tal fato decorre:
Página 50
a) do desinteresse dos conquistadores pelas riquezas dos Astecas.
b) do desconhecimento pelos europeus das línguas dos índios.
c) do encontro de padrões culturais diferentes.
d) das semelhanças culturais existentes entre os povos do mundo.
e) do espírito guerreiro e aventureiro das nações europeias.
3. Resposta: c.
4. (Unesp-SP) A mineração foi a atividade econômica mais importante da América Espanhola
durante o período colonial. Múltiplos fatores condicionaram a formação e a decadência dos
complexos mineradores do altiplano andino e do planalto mexicano. Assinale a modalidade de mão
de obra que predominou nas minas de prata dos referidos complexos, durante os séculos XVI e XVII.
a) Indígena, submetida ao trabalho compulsório.
b) Negra, submetida ao trabalho escravo.
c) Europeia, no regime de trabalho assalariado.
d) Indígena, adaptada ao trabalho livre.
e) Indígena, no regime de trabalho voluntário.
4. Resposta: a.
5. (UFMG) Leia estes trechos em que se trata das relações de trabalho nas colônias espanholas da
América:
I. As aldeias eram distribuídas entre os conquistadores, “que passavam a explorar-lhes o
sobretrabalho sem, contudo, escravizar os índios. [...] podiam exigir tributos em gêneros[...] ou
prestações de trabalho...” Os colonizadores deveriam, em contrapartida, defender as aldeias e
evangelizar os índios.
II. “Cada comunidade deveria fornecer, periodicamente, uma quantidade de trabalhadores para as
atividades coloniais [principalmente nas minas]. [...] Pelo trabalho[...], os índios deveriam receber
um salário, parte do qual obrigatoriamente em moeda (ou metal), a fim que pudessem pagar o
tributo régio.”
III. “Na hacienda praticou-se, largamente, o sistema de endividamento de trabalhadores, a fim de
retê-los na propriedade. [...] o trabalhador recebia como salário um crédito na tienda de raya (onde
retirava alimentos, roupas, etc.), além de um lote mínimo de subsistência.”
VAINFAS, Ronaldo. Economia e sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 61-4.
Considerando-se as formas de exploração do trabalho indígena neles descritas, os trechos I, II e III
referem-se, respectivamente,
a) peonaje, ejidos e plantation;
b) ayllu, plantation e obrajes;
c) encomienda, mita e peonaje;
d) obrajes, ayllu e ejidos.
5. Resposta: c.
6. (FGV-SP) A conquista colonial inglesa resultou no estabelecimento de três áreas com
características diversas na América do Norte. Com relação às chamadas “colônias do sul” é correto
afirmar:
a) Baseava-se, sobretudo, na economia familiar e desenvolveu uma ampla rede de relações
comerciais com as colônias do Norte e com o Caribe.
b) Baseava-se numa forma de servidão temporária que submetia os colonos pobres a um conjunto
de obrigações em relação aos grandes proprietários de terras.
c) Baseava-se numa economia escravista voltada principalmente para o mercado externo de
produtos, como o tabaco e o algodão.
d) Consolidou-se como o primeiro grande polo industrial da América com a transferência de
diversos produtores de tecidos vindos da região de Manchester.
e) Caracterizou-se pelo emprego de mão de obra assalariada e pela presença da grande
propriedade agrícola monocultora.
6. Resposta: c.
Página 51
II. Leitura e escrita em História
a. Leitura de imagem
A imagem abaixo é uma pintura em tecido que integra um conjunto formado de 80 cenas, chamado
Lienzo de Tlaxcala. Esse trabalho foi elaborado por artistas da cidade de Tlaxcala, no século XVI,
em comemoração à vitória dos tlaxcaltecas e espanhóis sobre os astecas.
Lienzo of Tlascala. Coleção particular. Foto: Akg-Images/Latinstock
a) Observe o vestuário, a postura e os acompanhantes dos líderes mostrados na pintura. Quem são
eles?
a) À esquerda, vê-se o chefe asteca, Montezuma; em sua frente, à direita, está o líder espanhol Hernán Cortez. Repare que o
líder indígena e seus acompanhantes vestem-se com trajes tradicionais dos astecas: tangas, mantos sobre os ombros e
sandálias; Cortez, por sua vez, aparece vestido à moda da nobreza espanhola do século XVI. Tanto Montezuma quanto Cortez
aparecem sentados em cadeiras bem trabalhadas, mas o último encontra-se sobre um tablado.
b) A índia que se vê ao lado de Cortez é Malinche, uma jovem que tinha sido aprisionada pelos
astecas e presenteada aos espanhóis logo que eles chegaram à América. Por isso, Malinche
guardava um forte ressentimento dos astecas. No decorrer do tempo, ela decidiu trocar o nome
para Marina, adotou o cristianismo e tornou-se mulher de Cortez, seu braço direito, intérprete, guia
e conselheira. O que Malinche parece estar fazendo?
b) Na cena ela tem o dedo indicador apontado para os indígenas e, ao que parece, está traduzindo o que eles dizem para
Cortez. Ela sabia falar o nahuatl, língua oficial do Império Asteca e logo aprendeu a falar também o espanhol. Para muitos
mexicanos, Malinche foi uma traidora, pois passou para o lado dos espanhóis. Até hoje, no México, quando se quer dizer que
alguém é antimexicano, diz-se que é “malinchista”.
c) Com base nessa pintura é possível concluir se o primeiro encontro formal entre astecas e
espanhóis foi violento ou amistoso? Explique.
c) A pintura informa que o primeiro encontro formal entre espanhóis e ameríndios foi amistoso, como se pode ver pelos
presentes que os astecas estão oferecendo aos espanhóis. O cocar, ao centro e no alto, destinado a Cortez, juntamente com
outros presentes que se encontram no chão: pedras preciosas, aves típicas daquela região da América, gaiolas com pássaros
(provavelmente desconhecidos dos espanhóis) e uma outra gaiola, no canto inferior esquerdo, com um animal de maior
estatura.
d) Qual a importância para a História dessa e de outras pinturas do Lienzo de Tlaxcala?
d) Essas pinturas expressam sensibilidades e técnicas de artistas indígenas, bem como as rivalidades entre os próprios
ameríndios no interior do Império Asteca à época da Conquista.
b. Leitura e escrita de textos
VOZES DO PRESENTE
O texto a seguir é historiográfico e foi escrito pelo professor Leandro Karnal. Leia-o com atenção.
[...] Mais de uma vez os autores empregaram a expressão “genocídio” para caracterizar o
massacre que as populações indígenas sofreram na América do Norte. Isto não é incorreto nem
diferente do que ocorria em todo o resto da América. A ideia europeia de colonização
significou uma mortandade imensa por todo o território da América.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da colônia à independência, 5. ed. São Paulo: Contexto, 1999. p. 44. (Repensando a
História geral).
a) Dê o significado de “genocídio”.
b) Construa um período aplicando esse termo ao contexto da colonização da América.
PROFESSOR, VER MANUAL.
Página 52
Capítulo 3 A América portuguesa e a
presença holandesa
Professor: o Brasil é hoje o produtor de açúcar mais competitivo do mundo, responsável por cerca de 40% do produto
comercializado no mercado internacional. Além disso, está entre os maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar,
matéria-prima usada também para fazer rapadura, cachaça, álcool combustível e, mais recentemente, biodiesel.
Diferentemente do que ocorria no Nordeste colonial, em que a produção de açúcar contava apenas com a força humana,
animal ou da água, boa parte da produção atual é mecanizada. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 85% da produção de
cana-de-açúcar já é feita por colheitadeiras. Isso significa menos empregos para boias-frias, trabalhadores agrícolas
contratados apenas na época da safra e cujo trabalho é considerado extenuante. Fontes para os dados:
<https://www.fao.org.br/download/PA20142015CB.pdf> e
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13601>. Acessos em: 17 mar. 2016.
Paula Simas/Olhar Imagem
Colheita de cana na Usina Serra Grande, em Alagoas, 1993.