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Published by robersons900, 2022-03-17 09:47:51

LIVRO DE HISTORIA

LIVRO DE HISTORIA

»» O que é cultura para você? E diversidade cultural, o que é?
»» Em grupo. Pesquisem sobre uma festa importante do seu
estado e elaborem um pequeno vídeo acompanhado de um texto
explicativo sobre ela. Postem o trabalho no blog da turma.

Página 78

Capítulo 4 Africanos no Brasil:
dominação e resistência

Observe estas fotografias.

Professor: Fig. 1: Milton Santos (1926-2001), geógrafo, cientista e professor universitário com uma enorme contribuição no
campo da Geografia e da reflexão sobre cidadania. Fig. 2: Ludmilla, cantora e compositora de funk melody, durante
apresentação na edição 2014 da festa junina beneficente no Retiro dos Artistas no Rio de Janeiro (RJ), cujo objetivo é
arrecadar fundos para a manutenção da casa que hoje abriga 62 artistas em idade avançada. Fig. 3: Hugo Pessanha, judoca
representante do Brasil numa final com Kirill Denisov, da Rússia, durante Grand Slam de Judô realizado no Ginásio do
Maracanãzinho, 2010, no Rio de Janeiro (RJ). Fig. 4: Emicida, rapper e compositor, em um show no Hard Rock Café, em
Curitiba (PR), 2015.

1

Flávio Florido/Folhapress

2

Glaucon Fernandes/AE

3

Celso Pupo/Fotoarena

4

Hamilton Zambiancki/Futura Press

Dois elementos são comuns a todas essas pessoas: são afrodescendentes e
alcançaram reconhecimento social e prestígio nas suas respectivas áreas de
atuação profissional.

»» Você conhece essas personalidades?
»» Sabe em que áreas elas atuam?
»» O que você sabe sobre os ancestrais desses brasileiros?

Página 79

Hoje, os estudiosos da história da África e dos afro-brasileiros concordam que
a escravidão era praticada na África antes da chegada dos europeus ao litoral do
continente, no século XV.

Estudiosos da história da África e dos afro-brasileiros: Alberto da Costa e Silva, José Rivair Macedo,
Marina de Mello e Souza, Leila Leite Hernandez, Nei Lopes, entre outros.

Segundo a historiadora Leila Leite Hernandez, na África o indivíduo podia ser
escravizado por quatro motivos principais:
»» guerra: essas guerras se davam entre diferentes povos envolvidos em disputas
por terra, poder e/ou prestígio. Os vencidos eram escravizados ou vendidos pelos
vencedores.
»» fome: quando a fome se abatia sobre um grupo, ocorria de famílias inteiras
oferecerem a si mesmas como escravas em troca de alimentos e moradia.
»» punição judicial: em algumas sociedades tradicionais africanas, os criminosos
eram condenados à escravidão.
»» penhora humana: o indivíduo era escravizado como uma espécie de garantia
para o pagamento de débito.
Mas é consenso também entre os estudiosos da África que a escravidão africana
possuía características próprias.
Observa o historiador José Rivair Macedo que, diferentemente do que ocorria na
Grécia e na Roma Antiga, nas sociedades tradicionais africanas, os escravizados
eram minoria; além disso, a escravidão africana tinha características próprias: a
perda da liberdade pessoal não era completa, e os cativos eram integrados ao
grupo dos vencedores em posições subalternas. Em muitos casos podiam casar-se
com pessoas livres e, com o tempo, ascender socialmente tornando-se
comerciantes, ministros ou funcionários da Corte de um poderoso. Nas sociedades
tradicionais africanas, os descendentes de escravizados tinham os mesmos direitos
das pessoas livres, podendo, inclusive, comprar e herdar bens.

Editora Contexto

Fac-símile da capa do livro História da África, de José Rivair Macedo.

Para refletir

O texto a seguir foi escrito pelo africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com
atenção.

Os africanos escravizavam africanos?

Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se
viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que
falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. Eram, ainda
que pudessem ignorar estes nomes – que muitas vezes lhes eram dados por vizinhos ou
adversários –, mandingas, fulas, bijagós, axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, lundas,

Página 80

niamuézis, macuas, xonas – e escravizavam os inimigos e os estranhos. Quando um chefe
efique de Velho Calabar vendia a um navio europeu um grupo de cativos ibos, não estava
vendendo africanos nem negros, mas ibos, uma gente que, por ser considerada por ele inimiga
e bárbara, podia ser escravizada. E quando negociava um efique condenado por crime, vendia
quem, por força da sentença, deixara de pertencer ao grupo.
O comércio transatlântico de escravos era controlado pelos grandes da terra, pelos poderosos
da Europa, da África e das Américas. Fazia parte de um processo de integração econômica do
Atlântico, que envolvia a produção e a comercialização, em grande escala, de açúcar, algodão,
tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as
Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é, com a mão de obra cativa.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 88-89.

Editora AGIR

Fac-símile da capa do livro A África explicada aos meus filhos, de Alberto da Costa e Silva.

a) Com base no texto é correto afirmar que “africanos” escravizavam “africanos”
para vendê-los como escravos? Justifique.

a) Não; os africanos não se reconheciam como africanos. Eles se viam como membros de um determinado povo (iorubá, ibo,
daomeano ou congo), uma determinada comunidade, linhagem, grupo linguístico ou reino; e assim sendo eles escravizavam
seus adversários ou os estranhos. Professor: os africanos passaram a adquirir consciência de sua africanidade durante as
lutas pela independência de seus países, ou seja, durante o processo de sua emancipação política frente aos Estados
europeus.

b) Em que contexto o autor insere o tráfico atlântico?

b) Ele o insere no processo de integração econômica do Atlântico Sul, que envolvia a produção e a venda de gêneros
tropicais, como açúcar, algodão e café, além de crianças, homens e mulheres escravizados.

c) Interprete: o comércio transatlântico era controlado pelos “grandes da terra”.

c) O autor está se referindo aos grupos com riqueza e poder, a exemplo dos comerciantes de escravos da Europa, do Rio de
Janeiro e de Salvador ou os chefes de linhagens africanas, que se envolviam em guerras para obter e vender os adversários.

O início da roedura

Na África, a dinâmica e a intensidade da escravidão mudaram radicalmente depois
da chegada dos europeus ao litoral africano. Em 1443, os portugueses ergueram
uma feitoria em Arguim, na costa ocidental, que funcionou como um ponto de
comércio de africanos escravizados. Posteriormente, foram erguidos outros
entrepostos de escravizados perto dos rios Senegal e Gâmbia (1456), e em São
Jorge da Mina (1482), no Golfo da Guiné.

Dica! Vídeo sobre a história dos africanos e seus descendentes. [Duração: 12 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/j54vfn>.

Guerra e escravidão

Inicialmente, europeus armados obtinham escravos no litoral da África por meio
do sequestro. Mas logo a captura e a venda de africanos passaram a ser um negócio
grande e rentável, envolvendo europeus, americanos e africanos e as duas margens
do oceano Atlântico. Entenda o seu funcionamento acompanhando o roteiro:

Página 81

»» Passo 1: traficantes europeus ou americanos forneciam manufaturados
europeus (armas de fogo, pólvora) ou americanos (tabaco e aguardente) a chefes
africanos. Em troca, exigiam prisioneiros de guerra.

»» Passo 2: de posse de armas/pólvora, os chefes africanos provocavam guerras a
fim de ampliar seu poder e obter mais prisioneiros.

»» Passo 3: os novos prisioneiros eram trocados por mais armas/pólvora trazidas
pelos traficantes, as quais alimentavam novas guerras. Os prisioneiros de guerra
serviam como moeda de troca para os chefes africanos e como mercadoria para os
traficantes.

Por várias vezes, a Coroa portuguesa interveio militarmente em disputas e
conflitos entre africanos para manter no governo autoridades africanas coniventes
com o tráfico e a escravidão; tanto no Reino do Ndongo (Angola) quanto no Reino
do Congo, os portugueses auxiliaram na imposição de monarcas dóceis ligados aos
interesses do tráfico atlântico.

Conforme os europeus foram dominando a América, a partir do século XVI, a
demanda por escravos cresceu muito. Diante disso, europeus, americanos
(inclusive brasileiros) e africanos organizaram dos dois lados do oceano um
enorme e lucrativo empreendimento envolvendo a obtenção, o transporte e o
comércio de africanos pelo Atlântico. Com o tráfico atlântico teve início o processo
de roedura do continente africano.

Tráfico atlântico: nome dado ao comércio de homens e mulheres pelo Atlântico entre os séculos XVI e XIX.

Processo de roedura: expressão de Joseph Ki-Zerbo, professor de metodologia da História da África, para
caracterizar a penetração e a exploração colonialista na África.

Portos de embarque de africanos (séculos XVI a XIX)

Allmaps

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. p. 86.

Boa parte dos povos africanos entrados no Brasil saiu dos portos de Benguela, Luanda e Cabinda, no
Centro-Oeste da África. Outra parte saiu da África ocidental, pelos portos de Lagos, Ajudá e São
Jorge da Mina. E um número menor, pelo porto de Moçambique, no sudeste africano. Os africanos
trazidos do Congo, do Ndongo (Angola) e de Moçambique eram de origem banto e desembarcaram
principalmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Da África ocidental, entre a Nigéria e o Senegal
atuais, saíram os sudaneses, entre os quais se destacam os iorubás, entrados no Brasil por Salvador
e conhecidos como “nagôs”, na Bahia, e os jejes, que desembarcaram nas costas do Maranhão.

Página 82

A travessia

Aglomerados nas feitorias em barracões de madeira ou pedra, os escravizados
aguardavam a chegada dos navios negreiros, que só partiam depois de completada
a carga, para garantir a lucratividade da viagem. Amontoados em seus porões,
eram mal alimentados e tinham de respirar um ar viciado que favorecia a
ocorrência de doenças e o contágio. A sede também era comum nesses navios, que
carregavam poucas pipas de água para não ocupar espaço e evitar excesso de peso.

Robert Walsh e T. Kelly. 1830. Litogravura. Coleção particular

Ilustração mostrando como os escravizados viajavam: amontoados em porões e com poucas
condições de sobrevivência. Até o Rio de Janeiro, as viagens duravam cerca de 45 dias a partir da
Costa da Mina; de 33 a 40 dias a partir da região congo-angolana; cerca de 75 dias a partir de
Moçambique.

Essas péssimas condições de viagem ocasionavam mortes por inanição e
desidratação. Mesmo assim, os lucros dos traficantes eram altos. Chegando às
costas brasileiras, os escravos eram examinados, avaliados e negociados. Um
adulto do sexo masculino valia o dobro de um do sexo feminino e três vezes mais
que uma criança ou um idoso.

A dança dos números

Com base em pesquisa rigorosa, os historiadores estadunidenses Hebert Klein, da
Universidade de Columbia, e David Eltis, da Universidade Emory, afirmam que
cerca de 12,5 milhões de africanos deixaram a costa da África rumo à América
entre 1500 e 1867. Destes, 4,9 milhões desembarcaram no Brasil. Segundo esses
especialistas, as regiões de origem dos quase 5 milhões de africanos
desembarcados no Brasil eram três:

»» A África ocidental – região que vai do Senegal à Nigéria atuais que forneceu
10% do total de africanos entrados no Brasil.
»» O Centro-Oeste africano – onde estava situada a colônia portuguesa de Angola,
73% desse total.
»» O Sudeste africano – onde estava situada a colônia portuguesa de Moçambique,
17% restantes.
Mas com o auxílio de geneticistas, esses historiadores estão revendo seus dados.
Analisando o material genético compartilhado por brasileiros e africanos, os
geneticistas Sérgio Danilo Pena (UFMG) e

Página 83

Maria Cátira Bortolini (UFRGS) descobriram que a proporção de africanos
oriundos da África ocidental pode ter sido de duas a quatro vezes maior que o
contabilizado até o momento. Pena e sua equipe analisaram amostras de sangue de
120 paulistas que se autoclassificaram como negros e descobriram que, quatro de
cada dez deles, apresentavam material genético típico da África ocidental.
Maria Cátira e Tábita Hünemeier (UFRGS), por sua vez, analisaram 94 negros
cariocas; desses, 31% eram originários da África ocidental, sendo que a maioria,
como já se sabia, veio mesmo do Centro-Oeste, região congo-angolana. Essa é
também a região de origem da maioria dos 107 negros gaúchos analisados por
elas; apenas 18% deles eram da África ocidental.
Independentemente da sua região de origem, esses milhões de africanos que aqui
chegaram trouxeram, além de sua força de trabalho, suas ricas culturas e seus
modos de viver e de expressar sentimentos.

Dica! Vídeo que aborda a história do comércio de seres humanos sendo contada através das vozes
de escravizados. [Duração: 34 minutos]. Acesse: <http://tub.im/95qvmz>.

Marco Antônio Sá/Pulsar Imagens

Manifestação da cultura banto: Grupo Jongo de Piquete – dança de roda de origem africana com
acompanhamento de tambores e solista. Piquete (SP), 2007.

Christian Knepper/Opção Brasil Imagens

Tambor de Crioula, manifestação da cultura jeje no Maranhão, 2008.

Antonio Queiros/A Tarde/Futura Press

Manifestação da cultura de origem iorubá, em 2003: dançarinas do Ilê Aiyê, bloco afro que nasceu
no Curuzu, no bairro da Liberdade, em Salvador (BA). O Ilê Aiyê preserva e recria importantes
elementos da cultura iorubá e desenvolve um trabalho social reconhecido nacionalmente.

Página 84

O trabalho escravo

A escravidão existiu em todo o território colonial e os escravizados trabalhavam
nas mais diferentes ocupações. No engenho eram eles que realizavam a maioria
das tarefas, desde semear a cana até controlar a qualidade do açúcar. Na época do
plantio, os escravos trabalhavam geralmente das 5 da manhã às 6 da tarde; na
época da safra (corte e beneficiamento da cana) chegavam a trabalhar 18 horas por
dia.
A mulher ajudava o homem no cultivo da terra, na colheita e no transporte da cana;
além disso, fazia serviços domésticos, cuidava dos doentes, realizava partos e
servia como ama de leite. Nas cidades, homens e mulheres vendiam os mais
diversos tipos de mercadoria: quitutes, cestos, lenha. Muitas delas eram originárias
de regiões da África com grande número de comerciantes do sexo feminino.
Obtido mediante coação, o trabalho escravo incluía, por vezes, as manhãs dos
domingos e feriados, usadas para serviços gerais, como reparo de edificações e
conserto de cercas e estradas. No Brasil, a intensa utilização de escravos levou a
uma inversão de valores: o trabalho passou a ser visto pelas pessoas livres como
desonroso; como coisa de escravo.

J. C. Guillobel. 1812-1816. Aquarela. Acervo Coleção Geyer, Museu Imperial

Vendedoras ambulantes, aquarela de J. C. Guillobel, c. 1814.

Para saber mais

Alimentação
A comida servida aos escravos era, geralmente, escassa e pobre em proteínas.
Recebiam diariamente uma cuia de feijão com gordura ou toucinho e uma porção

de farinha de mandioca ou de milho; e só raramente rapadura e charque. Quase
não tinham acesso a frutas, apesar de ser um alimento abundante em boa parte do
território colonial. Havia propriedades, no entanto, em que os escravizados
cultivavam seus próprios alimentos e, até mesmo, negociavam as sobras. Dessa
maneira, o proprietário economizava na alimentação e diminuía as tensões entre
ele e seus cativos. O excesso de trabalho, somado a uma alimentação precária e aos
maus-tratos, acarretava sérios problemas de saúde como anemias, diabetes,
hipertensão e envelhecimento precoce.

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A violência

Onde houve escravidão, houve violência. Os castigos aplicados eram muitos e
variados; incluíam os rotineiros, como a palmatória, até os mais especializados,
como a máscara de flandres.

Outros tipos de violência impostos ao escravo, como os xingamentos e a repressão
às suas manifestações religiosas e às suas festas, certamente contribuíram para o
alto índice de mortalidade e a baixa expectativa de vida verificados entre os
cativos.

Dica! Documentário sobre a memória dos descendentes de escravos no Brasil. [Duração: 8
minutos]. Acesse: <http://tub.im/2g8kac>.

A resistência

O trabalho estafante, a violência física e psicológica, a liberdade negada quando os
escravizados conseguiam juntar dinheiro para comprá-la, tudo isso provocou
respostas. Eles reagiam fisicamente fazendo “corpo mole” no trabalho, quebrando
ferramentas, incendiando plantações, agredindo feitores e senhores. Chegaram,
inclusive, a praticar o suicídio. Os escravizados resistiram também, culturalmente,
fundando irmandades, praticando religiões de matriz afro e a capoeira ou
promovendo festejos como o congado.

Irmandades: associações organizadas por leigos e sediadas em igrejas católicas; para que uma irmandade
funcionasse, era necessário que fosse acolhida por uma igreja e tivesse seus estatutos aprovados por uma
autoridade eclesiástica.

Bertrand Gardel/Hemis/Alamy/Glow Images

Demonstração de capoeira em praia de Salvador (BA), 2005. A capoeira, uma manifestação cultural
em que os jogadores dançam e lutam ao mesmo tempo, foi um meio de resistência dos negros
escravizados. Nela, a malícia é mais importante do que a força física. Na capoeira, mandingueiro é
aquele que tem maior capacidade de enganar o adversário.

Página 86

Entre as irmandades criadas pelos negros no tempo da escravidão estão a de São
Benedito, a do Rosário dos Pretos e a de Nossa Senhora da Boa Morte, que continua
em atividade até hoje. Essa irmandade recebe gente de todo lugar no mês de
agosto, quando homenageia Nossa Senhora da Boa Morte, com festejos e rituais
que se prolongam por vários dias. No passado, ao mesmo tempo em que cultuavam
orixás e santos católicos, as irmandades se empenhavam em arrecadar dinheiro
para a compra de alforrias.

Ricardo Teles/Pulsar Imagens

Festejo da Assunção de Nossa Senhora, promovido pela Irmandade da Boa Morte, na Bahia, 2010.
Essa irmandade é formada exclusivamente por mulheres negras com mais de 40 anos e está
estabelecida na cidade de Cachoeira. Estima-se que tenha sido fundada por volta de 1820.

Os escravizados reagiam também coletivamente, fugindo e formando quilombos. 1

1. Dica! Trailer do filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/tsi26c>.

Os quilombos

Os quilombos não foram um fenômeno isolado; proliferaram por toda a América
escravista. Na América espanhola, receberam o nome de palenques; na inglesa,
maroons; na francesa, grand marronage; na América portuguesa, quilombos ou
mocambos.
Situados, geralmente, em lugares de difícil acesso, os mocambos mantinham
relações ambíguas com a sociedade: às vezes faziam comércio com ela; outras
vezes, negavam-se a realizar qualquer tipo de contato. Existiram muitos quilombos
pelo Brasil todo. A maioria deles é ainda pouco conhecida. O historiador Carlos
Magno definiu quilombo como “negação da ordem escravista”. Daí o enorme
empenho das autoridades coloniais em combatê-lo permanentemente. 2

2. Dica! Vídeo sobre a dominação e a resistência dos escravizados. [Duração: 14 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/wz3qkp>.

O Quilombo dos Palmares

Palmares é considerado o maior, mais importante e mais duradouro quilombo da
América colonial: durou cerca de 100 anos (1597-1694).

Ele nasceu de escravizados fugidos de engenhos nordestinos que se estabeleceram
na Zona da Mata, cerca de 70 quilômetros do litoral, entre o fim do século XVI e
início do XVII; a região pertence atualmente ao estado de Alagoas. 3

3. Dica! Vídeo sobre a história do Quilombo dos Palmares. [Duração: 7 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/6vffod>.

Página 87

Principais sítios palmarinos (século XVII)

Allmaps

Fonte: REIS, João José; SANTOS, Flávio. Liberdade por um fio. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 30.

No mapa, vê-se representado o mocambo de Macaco, capital do Quilombo dos Palmares.

Uma pesquisa importante sobre Palmares é a da professora Yeda Pessoa de Castro,
para quem a maioria dos negros palmarinos era de origem banto. Leia o que ela
diz:

[...] os empréstimos léxicos africanos no português do Brasil, associados ao regime de
escravatura, são em geral étimos bantos (quilombo, senzala, mucama, por exemplo); depois
Zumbi, Ganga-Zumba, nomes dos líderes de Palmares, são títulos tradicionalmente atribuídos a
chefes locais no domínio banto.

CASTRO, Yeda Pessoa de. In: MOURA, Clóvis. Quilombos: resistência ao escravismo. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989. p.
45. (Série Princípios).

A população palmarina aumentou consideravelmente com as invasões holandesas
no Nordeste (1624-1654), durante as quais muitos aproveitaram para fugir da
escravidão. Segundo João José Reis, nesse período Palmares chegou a ter 15 mil
habitantes. Lá havia casas, ruas, capelas, paliçadas e grandes construções
reservadas às autoridades. Os palmarinos praticavam a policultura, possuíam
oficinas e fundições e, além de ferramentas, produziam também peças de cerâmica
e de madeira. Geralmente, a produção de cada povoação era distribuída entre seus
membros. As sobras eram guardadas para épocas de guerra, má colheita, ou para
serem comercializadas nos lugares mais próximos, como Porto Calvo, Serinhaém e
Alagoas.

Maira Vilela/Futura Press

Casa de quilombo no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas,
2010. Arqueólogos que trabalham na Serra da Barriga descobriram um grande vaso cerâmico, que,
segundo o professor Pedro Paulo Funari, pode ter sido feito pelos palmarinos para armazenar
comida, conforme costume banto, ou pelos indígenas que habitavam o quilombo.

Página 88

A guerra

Os senhores de engenho e as autoridades locais consideravam Palmares um “sério
perigo” e enviaram diversas expedições contra o quilombo. A maioria dessas
expedições foi rechaçada pelos palmarinos. Em uma delas, a de 1675, o sobrinho
do rei de Palmares Ganga-Zumba – um jovem guerreiro chamado Zumbi –
demonstrou pela primeira vez sua capacidade de liderança e disposição de luta, e
pouco tempo depois foi proclamado rei de Palmares.

Zumbi: nome derivado de Nzumbi, título banto concedido a um chefe militar e religioso.
Dica! Zumbi, canção de Jorge Ben Jor. Acesse: <http://tub.im/hpig3y>.

Diante do fracasso repetido das expedições enviadas contra Palmares, as
autoridades contrataram o bandeirante Domingos Jorge Velho, conhecido caçador
de indígenas, para comandar a destruição do grande quilombo. Em troca, Jorge
Velho exigiu prisioneiros de guerra, tecidos, dinheiro e o perdão pelos crimes que
havia cometido. Esse tipo de negócio entre bandeirantes e poderosos era chamado
de sertanismo de contrato.
Em fevereiro de 1694, depois de 42 dias de cerco, os mercenários conseguiram
romper com balas de canhão a muralha de madeira que protegia a capital. Macaco
foi incendiada, muitos quilombolas morreram sob o fogo cerrado do inimigo,
alguns se lançaram de precipícios e 500 foram capturados e vendidos. Zumbi
conseguiu escapar com outros quilombolas e resistiu por vários meses. Mas, no dia
20 de novembro de 1695, traído por um homem de sua confiança, foi capturado e
executado; sua cabeça foi exposta em local público para lembrar a punição
reservada aos que ousassem desafiar o poder escravista e monárquico.

Cesar Diniz/Pulsar Imagens

Festa em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Escola Municipal Pastor Alcebíades Ferreira
de Mendonça, no Quilombo de Sobara, município de Araruama (RJ), 2015. Em primeiro plano,
veem-se crianças vestidas com trajes que lembram os de alguns povos africanos e um cartaz com a
figura de Zumbi. Em 1978, os diversos movimentos negros do país proclamaram o 20 de novembro
– dia da morte de Zumbi – como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data serve como reflexão a
respeito do racismo à brasileira e das possíveis soluções para esse problema nacional.

Página 89

Remanescentes de quilombos

Para muitos, os quilombos só existem nos livros de História. Mas a realidade é
outra. Atualmente, por todo o território nacional, existem comunidades formadas
predominantemente por descendentes de escravos, conhecidas como
remanescentes de quilombos.
As terras dessas comunidades foram obtidas como herança de quilombolas, por
meio da compra efetuada por ex-escravos, da doação de um senhor (em vida ou
por testamento), ou como prêmio por serviços prestados em lutas oficiais (como a
Guerra do Paraguai). Essas terras, chamadas tradicionalmente de “terras de
pretos”, são denominadas hoje de remanescentes de quilombos. Estima-se que a
população total dessas comunidades seja de 80 mil pessoas; em algumas delas, a
língua falada conserva termos africanos.
Em 1988, diante da pressão dos movimentos negros brasileiros e das
comemorações pelo centenário da Abolição, o artigo 68 da Constituição brasileira
reconheceu a propriedade definitiva das terras ocupadas por comunidades
quilombolas afirmando:

Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 11 mar. 2016.

No entanto, apesar da existência da lei, poucos remanescentes de quilombos
receberam títulos de propriedade do Estado brasileiro. E hoje lutam para
conseguir documentos que comprovem sua ascendência escrava e seu direito
hereditário à terra. Em sua luta, porém, têm enfrentado vários obstáculos, como a
cobiça de fazendeiros e grileiros por suas propriedades, a lentidão da Justiça
brasileira e a carência de recursos e de acesso a profissionais competentes para
representá-los juridicamente. 1 e 2

1. Dica! Reportagem abordando os ecos da escravidão no Brasil. [Duração: 54 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/28b5zt>.
2. Dica! Documentário sobre os cinco quilombos remanescentes no Brasil. [Duração: 19 minutos].
Acesse: <http://tub.im/92ek7s>.

João Prudente/Pulsar Imagens

Acima, loja de artesanato do Povoado Engenho II, na comunidade quilombola Kalunga, em
Cavalcante (GO), 2015.

Cesar Diniz/Pulsar Imagens

Crianças brincam com bola de pano no Quilombo Soledade, em Caxias (MA), 2014.

Página 90

ATIVIDADES

ESCREVA NO CADERNO.

I. Retomando

1. (Fuvest-SP – 2014) O tráfico de escravos africanos para o Brasil
a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas nas
Minas Gerais.
b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi
extinto, de vez, no início do século XIX.
c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século XIX.
d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões
auríferas.
e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e, por
isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século XVIII.

1. Resposta: c.

2. (Olimpíadas da Unicamp-SP) A revista Ciência Hoje publicou a seguinte notícia:

O Brasil no Atlântico Sul

O historiador Luis Felipe de Alencastro defende que, nos séculos XVI e XVII, o Brasil foi um
polo de produção escravista dependente e organicamente ligado a Angola, um outro polo
produtor de mão de obra escrava para a agricultura brasileira. A formação do Brasil, portanto,
seria um resultado da relação entre esses dois países.
“A nossa História não está restrita ao nosso território”, afirma o autor. Tendo o Atlântico Sul
como ligação, a trajetória do Brasil dos séculos XVI e XVII está intimamente ligada à de Angola.
Com uma ocupação portuguesa efetiva, esse país teve seus reinos independentes dizimados e
limitou-se a desenvolver uma economia complementar à brasileira. A prioridade era o
fornecimento de escravos para o mercado brasileiro, e atividades que pudessem concorrer
com a agroindústria exportadora do Brasil não eram incentivadas. Sob esse aspecto, Alencastro
sustenta que o Brasil, tradicionalmente visto como um país explorado, também explorou.
“Angola foi pilhada pelos brasileiros, ou pelos colonos deste enclave lusitano”, afirma o
historiador. Isso ocorreu por meio de guerras com o intuito de aumentar o tráfico de escravos.
Baseado nesta reportagem, pode-se pensar sobre o Brasil colônia:
a) o Atlântico sul relacionava a América e a África, logo a formação do Brasil não se restringiu
apenas ao binômio Brasil-Portugal.
b) o tráfico de escravos foi um negócio formador do território brasileiro.

c) Angola foi explorada e colonizada por brasileiros.
d) o trabalho compulsório no Brasil colônia foi formado pelo tráfico de escravos africanos e
também por “negros da terra”.

2. Resposta: a.

3. (Fuvest-SP – 2015) Uma observação comparada dos regimes de trabalho adotados nas
Américas de colonização ibérica permite afirmar corretamente que, entre os séculos XVI e XVIII,
a) a servidão foi dominante em todo o mundo português, enquanto, no espanhol, a mão de obra
principal foi assalariada.
b) a liberdade foi conseguida plenamente pelas populações indígenas da América espanhola e da
América portuguesa, enquanto a dos escravos africanos jamais o foi.
c) a escravidão de origem africana, embora presente em várias regiões da América espanhola,
esteve mais generalizada na América portuguesa.

Página 91

d) não houve escravidão africana nos territórios espanhóis, pois estes dispunham de farta oferta de
mão de obra indígena.
e) o Brasil forneceu escravos africanos aos territórios espanhóis, que, em contrapartida, traficavam
escravos indígenas para o Brasil.

3. Resposta: c.

4. (Enem/MEC – 2013)

A recuperação da herança cultural africana deve levar em conta o que é próprio do processo
cultural: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não se trata, portanto, do resgate
ingênuo do passado nem do seu cultivo nostálgico, mas de procurar perceber o próprio rosto
cultural brasileiro. O que se quer é captar seu movimento para melhor compreendê-lo
historicamente.

MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidão em Minas Gerais. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1988.

Com base no texto, a análise de manifestações culturais de origem africana, como a capoeira ou o
candomblé, deve considerar que elas
a) permanecem como reprodução dos valores e costumes africanos.
b) perderam a relação com o seu passado histórico.
c) derivam da interação entre valores africanos
e a experiência histórica brasileira.
d) contribuem para o distanciamento cultural entre negros e brancos no Brasil atual.
e) demonstram a maior complexidade cultural dos africanos em relação aos europeus.

4. Resposta: c.

5. (Enem/MEC)

Torna-se claro que quem descobriu a África no Brasil, muito antes dos europeus, foram os
próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta não se restringia apenas ao reino
linguístico, estendia-se também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. Há razões para
pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em
perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos.

(SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92 –
Adaptado).

Com base no texto, ao favorecer o contato de indivíduos de diferentes partes da África, a
experiência da escravidão no Brasil tornou possível a
a) formação de uma identidade cultural afro-brasileira.

b) superação de aspectos culturais africanos por antigas tradições europeias.
c) reprodução de conflitos entre grupos étnicos africanos.
d) manutenção das características culturais específicas de cada etnia.
e) resistência à incorporação de elementos culturais indígenas.

5. Resposta: a.

6. (Fuvest-SP) No Brasil, os escravos:
1. trabalhavam tanto no campo quanto na cidade, em atividades econômicas variadas;
2. sofriam castigos físicos, em praça pública, determinados por seus senhores;
3. resistiam de diversas formas, seja praticando o suicídio, seja organizando rebeliões;
4. tinham a mesma cultura e religião, já que eram todos provenientes de Angola;
5. estavam proibidos pela legislação de efetuar pagamento por sua alforria.
Das afirmações acima, são verdadeiras apenas:
a) 1, 2 e 4;
b) 3, 4 e 5;
c) 1, 3 e 5;
d) 1, 2 e 3;
e) 2, 3 e 5.

6. Resposta: d.

Página 92

II. Leitura e escrita em História

Leitura e escrita de textos

PROFESSOR, VER MANUAL.

VOZES DO PASSADO

Observe as fontes 1 e 2 e responda.

›› Fonte 1

Mahommah Gardo Baquaqua. Séc. XIX. Coleção particular

Livro escrito por Mahommah Gardo Baquaqua.
O trecho a seguir foi escrito por Mahommah Gardo Baquaqua, um africano nascido onde hoje é o
Benin e trazido para Pernambuco como escravo, em 1847. Depois de conseguir a liberdade, ele
escreveu um livro do qual retiramos o trecho a seguir:
Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado, e as mulheres de
outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar de pé, éramos obrigados a nos agachar ou
nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao
confinamento de nossos corpos.
Comida e bebida eram escassos na viagem, havendo dias em que os escravos não ingeriam
absolutamente nada. Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela sede que
tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais
soube o que lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar.

VIEIRA, Leonardo. Historiadores traduzem única autobiografia escrita por ex-excravo que viveu no Brasil. O Globo,
Rio de Janeiro, 27 nov. 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/historiadores-traduzem-

unica-autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795#ixzz3Kja8UxlC>. Acesso em: 11 mar.
2016.

››Fonte 2

Observe com atenção o desenho de um navio de 1830 especializado no tráfico de escravos
reproduzido na página 82.

a) Qual é o assunto do texto?

b) Segundo o autor, como era o tratamento dispensado aos escravizados no navio negreiro?

c) Reflita e opine: o fato de o autor ter viajado em um navio negreiro como escravo torna o seu
relato mais confiável? Justifique.

d) Agora observe a imagem (fonte 2) com atenção; ela reforça ou nega a descrição feita por
Baquaqua na fonte 1? Justifique.

Página 93

III. Integrando com Língua Portuguesa

Os provérbios a seguir são africanos (região do Golfo da Guiné) e foram recolhidos pelo escritor,
pesquisador e compositor Nei Lopes, um dos maiores conhecedores das culturas e das histórias da
África e dos afro-brasileiros. Leia-os com atenção.
1. A chuva lava a pele do leopardo, mas não remove as pintas. [...]
2. Uma mentira [...] estraga mil verdades. [...]
3. Se a floresta te abriga, não a chame de “selva”.
4. A fome tanto dá no escravo quanto no rei. [...]
5. A ruína de uma nação começa nas casas do seu povo. [...]
6. O ódio é uma doença sem remédio. [...]
7. O rio de águas tranquilas, esse é que é mais perigoso. [...]
8. O dinheiro é traiçoeiro feito espada de dois gumes. [...]
9. Quem fala sem parar fala besteira. [...]
10. Chuva fina, mas constante, faz o rio transbordar. [...]
11. Quem vai nos ombros dos outros não sente a longa distância. [...]
12. Não saber é ruim; não querer saber é pior. [...]
13. Tentar e falhar não é preguiça.

LOPES, Nei. Kitábu: O livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2005. p. 187-
190.

a) Encontre no dicionário o significado do termo provérbio e verifique em que sentido ele se aplica
ao provérbio número 9.
b) Os provérbios são transmitidos, geralmente, de boca a boca e integram o conjunto de saberes de
um povo. Reflita e opine sobre o provérbio de número 6.
c) Em dupla. O provérbio de número 5 relaciona a situação de uma nação às condições do povo que
nela vive. Vocês consideram essa relação pertinente? Justifique sua resposta com base nos seus
conhecimentos de História.
d) Interprete o provérbio de número 11 e justifique a sua interpretação.
e) Em grupo. Parte do que sabemos deve-se ao que aprendemos com os mais velhos. Registrem
por escrito os contos, adivinhas, receitas e provérbios que vocês aprenderam com eles; postem o
resultado do trabalho no blog da turma.

f) Em dupla. A música do compositor e cantor cearense Antonio Belchior, Como os nossos pais, se
tornou famosa na voz de Elis Regina. Pesquisem a letra dessa canção e respondam: até que ponto
vocês agem de modo diferente do de seus pais, e até que ponto agem como eles?

Página 94

Capítulo 5 Expansão e ouro na
América portuguesa

Professor: o autor das cartas chama de “louco chefe” o governador das Minas, Luís da Cunha Menezes, o “Fanfarrão
Minésio”. Nesta sua obra, Gonzaga critica a exploração e o sofrimento dos presos utilizados na construção da cadeia (hoje
abrigando o Museu da Inconfidência de Ouro Preto) vista na fotografia à esquerda. Note que o autor considera a construção
inteiramente dispensável em sua magnitude, com mão de obra constituída por prisioneiros sem culpa formada e forçados a
trabalhar a mando do despótico governador. Por terem sido feitos com base na vivência do autor e conjurado Tomás Antônio
Gonzaga, esses versos podem ajudar o alunado a formar uma ideia do viver mineiro no século XVIII.

O trecho a seguir foi extraído de Cartas chilenas, obra que apresenta três
personagens principais: Critilo, pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga, o autor
da obra; Doroteu, pseudônimo do escritor Cláudio Manuel da Costa, o destinatário
da carta; e o fictício governador chileno Fanfarrão Minésio, pseudônimo de Luís
da Cunha Menezes, que governou Minas Gerais de 1783 a 1788. Leia-o com
atenção.

Ora pois, louco chefe, vai seguindo
a tua pretensão, trabalha embora
por fazer imortal a tua fama:
levanta um edifício em tudo grande,
um soberbo edifício, que desperte
a dura emulação na própria Roma.
Em cima das janelas e das portas
põe sábias inscrições, põe grandes bustos,
que eu lhe porei, por baixo, os tristes nomes
dos pobres inocentes que gemeram
ao peso dos grilhões, porei os ossos
daqueles que os seus dias acabaram,
sem Cristo e sem remédios, no trabalho. [...]

RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as Minas setecentistas. Belo
Horizonte: Autêntica/Companhia do Tempo, 2007. v. 2, p. 331.

Emulação: competição, disputa, concorrência.

Grilhões: argolas de ferro ligadas entre si e usadas para prender a vítima.

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Museu da Inconfidência, no alto da fotografia, inaugurado em 1944 na antiga Casa de Câmara e
Cadeia de Vila Rica. Ouro Preto (MG), 2007.

»» Interprete: a quem o autor das Cartas chilenas se refere quando
diz: “louco chefe”? O que ele critica nesse trecho?

»» A obra diz respeito à vida em Ouro Preto colonial; o que ela
desvela sobre a sociedade do ouro no século XVIII? O que você
sabe sobre aqueles tempos?

Página 95

Até o fim do século XVI, a colonização portuguesa da América restringiu-se ao
litoral, seja pela dificuldade de se avançar pelo interior (febres, animais
peçonhentos, mata fechada), seja pela resistência que os povos indígenas
ofereciam à ocupação de suas terras. Nos séculos seguintes, porém, a colonização
portuguesa ganhou o sertão e outros pontos do litoral. Esse grande movimento
colonizador está associado à ação dos soldados, dos jesuítas, dos bandeirantes e
dos criadores de gado.

Os soldados

Desde o início do século XVI, piratas e corsários europeus assaltavam a costa da
América, em busca de riquezas. Com a União das Coroas Ibéricas, a partir de 1580,
a pirataria no litoral brasileiro se intensificou, pois, estando sob domínio espanhol,
o Brasil passou a atrair também os inimigos da Espanha. O governo luso-espanhol,
por sua vez, reagia enviando expedições e erguendo fortes em pontos estratégicos
do território colonial.

Conheça os principais fortes:

»» Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves (agosto de 1585), em torno do
qual se formou um povoado que deu origem à atual cidade de João Pessoa, capital
da Paraíba.

»» Forte dos Reis Magos (1598), localizado em uma posição que possibilitava
observar o mar, o rio Potengi e as matas vizinhas. Erguido sobre arrecifes para
firmar a construção, o forte está na origem da cidade de Natal, fundada dois anos
depois.

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Vista aérea do Forte dos Reis Magos, em Natal (RN), 2014.

Página 96

»» Forte de São Luís (1612), que está na origem da cidade de São Luís, capital do
Maranhão. O forte foi fundado por calvinistas franceses que, interessados no
açúcar nordestino, tentavam estabelecer aqui uma colônia comercial (a França
Equinocial). Para essa empreitada, eles tiveram o apoio do rei da França e
contaram com o auxílio dos Tupinambá, inimigos dos portugueses. A França
Equinocial, no entanto, durou pouco tempo; três anos depois, forças luso-
espanholas já tinham conseguido expulsar os franceses do Maranhão.

David Ferreira/ Futura Press

Em primeiro plano vemos os muros do forte em torno do qual se formou a cidade de São Luís; ao
fundo, o Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão, 2014.

»» A origem da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, é alvo de debate entre os
historiadores. Para uns, ela teria nascido em torno do Forte de São Tiago, fundado
em 1604, na Barra do Ceará. Para outros, sua origem é o Forte de Schoonenborch,
fundado pelos holandeses em 1649. Quando os holandeses foram expulsos do
Nordeste, os luso-brasileiros mudaram o nome do forte para Fortaleza de Nossa
Senhora de Assunção. Daí o nome de Fortaleza.
»» Forte do Presépio de Santa Maria de Belém (1616), localizado na Baía do
Guajará. Ele deveria proteger o pequeno povoado português, a Feliz Lusitânia, que
deu origem à cidade de Belém, capital do Pará. Desde cedo, Belém comandou uma
ampla rede que deveria se estender para o interior, controlando todo o movimento
de entrada e saída de produtos da região.
»» Outro marco decisivo da conquista portuguesa da Amazônia foi o Forte de São
José do Rio Negro, que começou a ser construído em 1669 e deu origem à cidade
de Manaus, capital do Amazonas. O nome Manaus é uma referência aos indígenas
Manaó, habitantes do local.

Os jesuítas

Os jesuítas vieram dispostos a difundir o cristianismo nas terras americanas,
converter indígenas e integrá-los à civilização ocidental; para isso atravessaram o
oceano Atlântico.

Inicialmente, concentraram-se no litoral, onde fundaram colégios nas principais
vilas e cidades brasileiras. Mas, conforme os indígenas foram sendo vencidos no
litoral e se refugiaram no sertão, os jesuítas também se deslocaram para lá com
suas missões. As principais se localizavam no interior da Amazônia e da região sul,
áreas densamente povoadas por populações indígenas.

Página 97

As missões jesuíticas no território colonial

Allmaps

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.

Nas missões, os jesuítas e os indígenas se comunicavam pela língua geral baseada
no tupi. Os indígenas realizavam trabalhos na agricultura, no artesanato e na
pecuária. Cultivavam cereais, frutas, erva-mate; extraíam drogas do sertão como
cacau, baunilha, guaraná, plantas medicinais, madeiras e óleos; e produziam
mobílias, objetos de couro e esculturas em madeira. Muitos desses produtos eram
exportados para a Europa com grande lucro, o que permitiu aos jesuítas
acumularem grande patrimônio.
Por serem contrários à escravidão do indígena, os soldados de Cristo entraram
em atrito com os colonos em vários pontos do território; no Maranhão esse atrito
foi a principal razão da Revolta de Beckman.

Soldados de Cristo: denominação dada aos jesuítas pelo fato de se pautarem por hierarquia e disciplina
rígida que lembra a dos militares.

Gerson Sobreira/Terrastock

Escultura em madeira policromada representando Jesus Cristo, trabalho feito por indígenas de São
Miguel das Missões (RS). Fotografia de 2010.

A Revolta de Beckman

Constituído em 1621, o estado do Grão-Pará e Maranhão compreendia, na época,
todas as terras situadas entre o Rio Grande do Norte e o Pará.

No estado do Grão-Pará e Maranhão, o indígena era a principal força de trabalho na
agricultura, no pastoreio, no transporte e na coleta das drogas do sertão: cacau,
baunilha, salsaparrilha, castanha-do-pará, guaraná, além de plantas aromáticas e
medicinais.

O trabalho de extração e transporte dessas riquezas era feito principalmente por
indígenas. Em 1680, os jesuítas, liderados pelo padre Antônio Vieira, conseguiram
a aprovação, pela Coroa portuguesa, de uma lei proibindo a escravização de
indígenas. Contrariados, os colonos reagiram exigindo da Coroa uma solução para
o problema da mão de obra.

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Johannes Vingboons. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Arquivo Nacional, Holanda

Maranhão, obra do pintor holandês Johannes Vingboons (1616-1670); a obra mostra uma vista de
São Luís e foi produzida em 1665.

O governo português, então, concedeu o monopólio do comércio regional à
Companhia de Comércio do Maranhão (1682), que, em troca, assumia o
compromisso de trazer 10 mil escravos africanos para a região, à razão de 500 por
ano, e de vendê-los a preços reduzidos. A Companhia, porém, além de não trazer os
africanos para o Maranhão, vendia mercadorias de má qualidade a preços
exorbitantes, usava medidas e pesos falsificados e pagava preços baixos pelos
produtos que comprava.
Em fevereiro de 1684, os colonos maranhenses, liderados por um rico senhor de
engenho, Manuel Beckman, destituíram o governador e invadiram o Colégio dos
Jesuítas e os armazéns da Companhia de Comércio, ambos localizados em São Luís;
o episódio deu início à Revolta de Beckman.

Dica! Vídeo sobre a Revolta de Beckman. [Duração: 5 minutos]. Acesse: <http://tub.im/n8ggpk>.

Portugal reagiu enviando soldados que sufocaram o movimento e executaram
Manuel Beckman. Mas, ao mesmo tempo, atendeu aos interesses dos colonos:
extinguiu a Companhia de Comércio do Maranhão e suspendeu a proibição de se
escravizar indígenas. Sabendo, no entanto, que essas medidas desagradariam aos
jesuítas, o governo português concedeu-lhes garantias legais para continuarem
atuando na região.

Os bandeirantes

Enquanto na capitania de Pernambuco os engenhos de produção de açúcar
progrediam a olhos vistos, na capitania de São Vicente eles vinham declinando. Por
isso, boa parte da população vicentina subiu a Serra do Mar e se estabeleceu no
planalto paulista. Lá, liderados pelo padre José de Anchieta, inauguraram um
colégio e deram início a um povoado, São Paulo do Campo de Piratininga.

São Paulo, capital bandeirante

Na passagem do século XVI para o XVII, São Paulo era uma vila relativamente
pobre, que produzia para a subsistência e não tinha como importar aquilo de que
necessitava. A população era, em sua maioria, formada de mamelucos (mestiço de
branco com índio) e assimilara muito da cultura tupi. Os paulistas deslocavam-se a
pé ou de canoa (até por volta de 1630, o cavalo ainda não tinha sido introduzido no
planalto paulista); andavam descalços; dormiam em redes e falavam o tupi,

Página 99

língua predominante na região até o século XVIII. Além disso, cultivavam seus
alimentos, costuravam suas roupas e fabricavam seus artefatos de caça e de pesca.
Muito do que sabiam aprenderam em contato com os indígenas.

Sendo homens rudes, resolveram à sua maneira o problema da falta de mão de
obra: desde muito cedo organizaram bandeiras para buscar no sertão um “remédio
para seus males”, como se dizia na época.

As bandeiras

As bandeiras eram expedições com organização e disciplina militar, que partiam
geralmente de São Paulo, a fim de capturar indígenas e encontrar metais preciosos.
Essas expedições eram lideradas por jovens paulistas. Eram os pais ou sogros
desses jovens que custeavam as bandeiras e forneciam o chumbo e a pólvora,
esperando receber, em troca, metade dos indígenas aprisionados.

A caça ao indígena

Desde o século XVI, os paulistas aprisionavam indígenas para utilizá-los em suas
lavouras. A partir de 1620, porém, com o crescimento das plantações de trigo na
região, intensificou-se a procura por mão de obra. Os paulistas organizaram, então,
grandes bandeiras em direção ao Sul, onde estavam localizadas as missões –
amplos aldeamentos indígenas, relativamente isolados dos núcleos urbanos,
administrados pelos padres jesuítas. Nesses aldeamentos, era grande o número de
indígenas da nação Guarani – exímios agricultores, e, por isso, muito cobiçados
desde o início da colonização.

As principais bandeiras de caça ao índio, chefiadas por Manuel Preto e Antônio
Raposo Tavares, destruíram em apenas 10 anos (1628-1638) as missões de
Guairá (Paraná), Itatim (Mato Grosso do Sul) e Tape (Rio Grande do Sul).
Milhares de guaranis foram aprisionados, e o gado se dispersou pelas campinas do
Sul. Guairá era uma região de acesso relativamente fácil – distante de São Paulo
por volta de 50 dias de viagem.

Dica! Vídeo sobre Raposo Tavares, um dos bandeirantes famosos de nossa história. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/u7j4mp>.

Com a expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro e da África, regularizou-se a
importação de trigo português, o que abalou a produção paulista desse cereal.
Além disso, os indígenas, munidos de armas de fogo cedidas pelos jesuítas,
venceram duas batalhas importantes contra os paulistas: a de Caasapaguaçu
(1638) e a Mbororé (1641). Outros povos indígenas como os guaianazes e os
guarulhos, habitantes do planalto paulista, também ofereceram dura resistência
aos bandeirantes; a força dessas resistências contribuiu para o declínio do
bandeirismo de caça ao índio.

J. Washt Rodrigues. Séc. XIX. Aquarela. Coleção particular

Acampamento bandeirante para plantio de roças, aquarela de Ivan Washt Rodrigues. As alianças
entre paulistas e índios ajudam a explicar a formação econômica e social do interior da Colônia.

Página 100

Para refletir

Renato Soares/Pulsar Imagens

Criança Pataxó da aldeia Velha, Caraíva (BA), 2014.

As bandeiras que desbravaram os sertões mineiros estavam interessadas em ouro,
pedras preciosas e terra para cultivo de alimentos, como feijão, milho e mandioca.
Os povos indígenas da região foram vistos pelos colonos como invasores
violentos. Na verdade, Coroado, Puri, Botocudo, Kamakã, Pataxó, Panhame,
Maxakali, entre outros, reagiam à escravização e à ocupação de suas terras. Veja o
que a historiadora Maria Leônia Chaves de Rezende diz sobre o assunto.
O ouro vermelho de Minas Gerais

Primeiro nome das terras de MinasGerais, no início do século XVIII, foi Minas dos Cataguases,
uma referência ao grupo indígena de procedência Jê que habitava vastas regiões dos sertões.
[...] Se a história de Minas é relacionada à busca de riquezas minerais e à Inconfidência Mineira,
ela também esteve essencialmente associada aos índios – o “ouro vermelho”, como a eles se
referiam os colonizadores. Afinal, a história de Minas é também uma crônica de uma guerra
silenciosa e de incontáveis embates entre colonos e índios nos sertões e nas vilas.
[...] Durante a segunda metade do século XVIII, dezenas de bandeiras devassaram todo o
território, em uma guerra não declarada que afugentou, exterminou, aprisionou e escravizou
populações indígenas de diversas procedências étnicas. Criavam-se, assim, condições para a
apropriação e a exploração das terras que se tornaram uma das maiores benesses para
participantes dessas campanhas. A violência contra os índios não ocorreu apenas no início da
corrida do ouro, como imaginaram alguns, mas persistiu ao longo de todo o século XVIII.
É verdade que os diversos povos nativos da região – incluindo Coroado, Puri, Botocudo,
Kamakã, Pataxó, Maxakali, Caiapó, entre outros – encontraram-se, no fim, em minoria de armas
e homens, atacados por doenças e obrigados a se deslocarem continuamente, em face da
diminuição da terra e dos recursos naturais. Mesmo assim, eles lutaram tenazmente,

sobretudo no caso dos caiapós no oeste e dos botocudos no leste da capitania, em territórios
de grande interesse do poder colonial.

RESENDE, Maria L. Chaves de; LANFER, Hal. O ouro vermelho de Minas Gerais. Revista de História da Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, p. 58-60, maio/jun. 2006.

Página 101

a) O que movia as expedições militares aos sertões de Minas?

a) Ouro e pedras preciosas; terra e índios.

b) Como os grupos indígenas foram vistos pelos bandeirantes que lideravam essas
expedições?

b) Os indígenas foram vistos como “invasores”, quando, na verdade, eles reagiam à ocupação de suas terras.

c) De que formas essas expedições aos sertões de Minas afetaram os indígenas que
lá viviam?

c) Muitos deles foram mortos em razão das armas de fogo e das doenças contraídas no contato com os integrantes dessas
expedições; além disso, esses grupos perderam a maior parte de seu território.

d) Reflita e opine: a contribuição dos povos indígenas foi decisiva para a a
formação da sociedade colonial das regiões auríferas?

d) Sim. Professor: perseguidos em uma guerra não declarada nos sertões e arraiais, os índios resistiram e contribuíram
para a formação das sociedades coloniais do Centro-Oeste brasileiro.

O sertanismo de contrato

Nos séculos XVII e XVIII, os bandeirantes também foram contratados por
fazendeiros e autoridades para combater índios ou negros rebelados contra a
escravidão. Esse tipo de bandeirismo voltado à repressão de revoltas indígenas e
quilombos é chamado de sertanismo de contrato. Uma conhecida bandeira de
sertanismo de contrato foi a que destruiu o Quilombo dos Palmares, em 1694.

A busca de ouro e de diamantes

A notícia de que os espanhóis haviam achado prata e ouro em Potosí (atual Bolívia)
e Zacatecas (atual México) animou os habitantes do Brasil colonial, que reviraram
terras e rios em busca de metais preciosos. O governo português, por sua vez,
também incentivou essa busca financiandoentradas – expedições que partiam do
litoral brasileiro em busca de riquezas no sertão. Mas foi somente no fim do século
XVII, depois de várias incursões sertão adentro, que os paulistas encontraram ouro
em grandes quantidades. 1

1. Dica! Vídeo sobre as entradas e bandeiras. [Duração: 26 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/hknocc>.

As principais bandeiras mineradoras foram três: a de Antônio Arzão, que
encontrou ouro em Sabará (Minas Gerais), em 1693; a de Pascoal Moreira Cabral,
em Cuiabá (Mato Grosso), em 1719; e a de Bartolomeu Bueno da Silva, em Vila
Boa, no atual estado de Goiás, por volta de 1725. 2

2. Dica! Vídeo sobre os bandeirantes e a busca pelo ouro. [Duração: 28 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/e3w74f>.

Principais bandeiras

Allmaps

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.

Página 102

A população das regiões auríferas passou a demandar produtos para sua
sobrevivência. Para suprir essa demanda, os paulistas organizaram as monções –
expedições comerciais que seguiam de canoa pelos leitos dos rios, para vender
alimentos, roupas e instrumentos de trabalho nas regiões mineradoras.

Ouro e fome

Assim que a notícia da descoberta do ouro se espalhou, afluíram para os sertões
mineiros pessoas das mais diversas origens e condições sociais; vinham de várias
partes da colônia (de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia), e também de
Portugal, onde as autoridades chegaram a fazer leis restringindo a emigração para
o Brasil. Contra sua vontade, milhares de africanos escravizados foram trazidos
para trabalhar nas minas de ouro.
Segundo a historiadora Laura de Mello e Souza, nos primeiros anos da mineração
ninguém se preocupava em plantar ou criar animais. Todos se ocupavam apenas
com o ouro e, por isso, nos primeiros anos do século XVIII, a região passou por três
crises de fome; alimentos como a carne, o milho, a farinha, o sal ou bebidas eram
raros e alcançavam preços exorbitantes. A partir de 1720, no entanto, graças à
prática da agricultura (milho, feijão, mandioca etc.), da pecuária (porcos, galinhas)
e à compra de alimentos de outras regiões brasileiras, a situação começou a
melhorar.

Oscar Pereira da Silva. c. 1920. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo

A tela representa pessoas se dirigindo para a região das minas. Repare que algumas delas estão
calçadas, outras não, o que mostra que eram de diferentes estratos sociais, pois, na época, estar
calçado era um sinal de distinção.

A disputa pelas minas

A desorganização, o autoritarismo e a cobiça por ouro geraram inúmeros conflitos
nas Minas Gerais. Um deles opôs os paulistas (que, por terem descoberto esse


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