Paulo Fridman/Pulsar Imagens
Aspecto de uma usina situada em Piracicaba (SP), 2006.
As imagens mostram a colheita e o transporte de açúcar da cana em usinas; a
imagem superior é de uma usina de Alagoas e a outra de uma usina paulista.
»» Você já viu uma usina de açúcar e de álcool em funcionamento?
»» Como é chamado o trabalhador mostrado na figura menor?
»» No Brasil, o açúcar é um cultivo recente ou antigo?
»» Como se obtinha o açúcar antes de sua produção em usinas?
»» Quais derivados de cana o Brasil produz atualmente? Quem
trabalha na sua produção?
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No primeiro contato com as terras americanas, os portugueses não encontraram os
metais preciosos que tanto cobiçavam, conforme informou Pero Vaz de Caminha
em carta ao rei de Portugal, e tampouco especiarias com grande aceitação na
Europa, como as africanas e as orientais.
Do escambo à colonização
Para melhor conhecer a Nova Terra, a Coroa portuguesa enviou para cá expedições
exploradoras e de reconhecimento que confirmaram a existência de pau-brasil,
árvore típica da Mata Atlântica. E, ao perceber seu valor comercial, a Coroa logo
arrendou a exploração da valiosa madeira a um grupo de mercadores que, em
troca, se comprometiam a erguer no litoral do Brasil uma feitoria – armazém
fortificado no qual era guardada a madeira até que as naus chegassem para buscá-
la.
Dica! Vídeo apresentando o pau-brasil e o local onde foi fundada a primeira feitoria. [Duração: 28
minutos]. Acesse: <http://tub.im/hkjmrg>.
Inicialmente, os mercadores portugueses obtinham o pau-brasil mediante o
escambo (comércio feito sem o uso de dinheiro) com os Tupiniquim. Estes
forneciam a madeira, que eles próprios haviam cortado e transportado por vários
quilômetros até o litoral e, em troca, recebiam dos portugueses machados, facas,
canivetes, espelhos e outros produtos úteis a eles.
Giovani Battista Ramusio. 1556. Xilogravura. Coleção particular
Representação de 1556 do escambo entre portugueses e indígenas. Um português vestido de azul
oferece uma espécie de cálice a um indígena que traz no ombro uma tora de pau-brasil. Ao centro,
outros indígenas trabalham no corte e transporte da madeira, usando machados que obtinham no
escambo. Note que há navios a vela chegando para buscar o pau-brasil. O desenho é raro, mas a
cena é típica das primeiras décadas da presença portuguesa no Brasil.
Os franceses também praticavam o escambo do pau-brasil no litoral do Brasil; seus
aliados eram os Tupinambá (rivais dos Tupiniquim). Reagindo à concorrência
francesa, o governo português enviou duas expedições policiadoras (em 1516 e em
1526), comandadas por Cristóvão Jacques, que combateram os franceses em vários
pontos do litoral do Brasil. Mas logo percebeu que era quase impossível policiar
um litoral com a extensão do brasileiro.
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Além do perigo representado pela ameaça francesa, havia também o interesse dos
portugueses nas riquezas desta parte da América. Por isso, a monarquia
portuguesa encabeçada por D. João III enviou para cá, em 1530, a expedição de
Martim Afonso de Souza, que combateu os franceses, explorou o litoral do Brasil
até o Rio da Prata, fundou São Vicente, em 1532 (a primeira vila), e ergueu o
primeiro engenho destinado à produção de açúcar. Teve início, assim, a
colonização portuguesa na América. 1
Engenho: unidade de produção colonial especializada na elaboração de derivados da cana-de-açúcar, como o
próprio açúcar, o melado e a aguardente.
1. Dica! Vídeo abordando as relações entre portugueses e indígenas em 1530. [Duração: 24
minutos]. Acesse: <http://tub.im/i9gq5z>.
Administração colonial
Durante sua longa história, o Império Português – que abrangia terras como
Macau, na China; Goa, na Índia; Angola, na África; e Brasil, na América – adotou
diferentes formas de administração nas suas colônias. A primeira delas foi o
sistema de capitanias hereditárias, utilizado inicialmente nas ilhas portuguesas do
oceano Atlântico e, depois, no Brasil e em Angola. 2
2. Dica! Documentário sobre os primeiros tempos da colonização portuguesa. [Duração: 27
minutos]. Acesse: <http://tub.im/8ksvyz>.
As capitanias hereditárias
Esse sistema consistia na doação a particulares (os capitães donatários) do direito
de administrar e tirar proveito econômico de imensos lotes de terra na costa
brasileira. Eram 15 capitanias e 12 donatários, isso porque alguns deles, como
Martim Afonso de Souza e seu irmão, Pero Lopes de Souza, receberam mais de uma
capitania. As primeiras foram doadas por Dom João III, em 1534, a homens que
tinham prestado serviços ao Império Português na África, no Oriente ou em
Portugal.
Dois documentos básicos organizavam juridicamente o sistema de capitanias: a
carta de doação e o foral. A carta regulamentava a doação do cargo de donatário
e o foral fixava seus direitos e deveres.
Os deveres do donatário eram:
»» promover a economia e a ocupação da terra;
»» organizar a defesa militar;
»» divulgar a fé cristã em sua capitania.
E os direitos do donatário eram:
»» administrar todas as marinhas de sal, moendas d’água e quaisquer outros
engenhos, que se levantassem na capitania, não podendo pessoa alguma fazê-lo
sem licença sua, e sem lhe pagar imposto;
»» utilizar escravos em número indeterminado, podendo enviar cada ano 39 para
Lisboa e dispor deles livremente, sem pagar imposto algum;
»» retirar para si a vintena (5%) de que render o pau-brasil, assim como toda
espécie de drogas e especiarias;
»» cobrar impostos sobre os engenhos de açúcar;
»» julgar os habitantes da capitania, podendo, inclusive, condenar à morte
indígenas, negros e homens livres pobres, e impor degredo de até 10 anos aos
“homens de cabedal”;
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»doar sesmarias (terras do tamanho de uma fazenda) a quem tivesse recursos
para produzir. A sesmaria era propriedade privada do sesmeiro e local onde o
engenho era erguido. O donatário (administrador) também tinha direito a uma
sesmaria. Apesar de conceder direitos aos donatários, o rei procurava manter o
controle sobre eles.
Em pouco tempo, porém, o sistema de capitanias deu sinais de crise. Excetuando-
se Pernambuco (Nova Lusitânia), Bahia e São Vicente, que progrediram embaladas
pela produção de açúcar, as demais fracassaram por razões como: falta de dinheiro
para o progresso e a defesa da capitania; grande extensão das terras; falta de
comunicação entre as capitanias; resistência indígena à escravização e à ocupação
de seu território; ataques de corsários.
Diante desse malogro (sistema descentralizado), a Coroa decidiu implantar, em
1548, um sistema centralizado: o Governo-geral. As capitanias continuaram
existindo, mas passaram a ser subordinadas ao Governo-Geral, principal
representante do rei de Portugal no Brasil. Para cargos de governador-geral eram
escolhidos homens que tinham servido o Império Português na África ou no
Oriente, parentes de poderosos ou os que mantinham negócios com eles. Assim,
foram se formando no interior do império redes de poder baseadas no favor, no
parentesco e em interesses privados.
Capitanias hereditárias (1534-1536)
Allmaps
Fonte: REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. ano 10, n. 108, set. 2014, p. 12.
Uma pesquisa recente feita pelo engenheiro Jorge Cintra, professor de Informações Espaciais na
USP, descobriu que as capitanias do norte foram divididas de forma vertical e não horizontal, como
até pouco tempo se pensava. Essa pesquisa muda a maneira de se ver a configuração do Brasil nas
primeiras décadas.
O Governo-Geral
Por sua posição geográfica estratégica, o rei Dom João III escolheu a Bahia para
sede do Governo-Geral. Para o cargo de primeiro governador do Brasil nomeou
Tomé de Souza, que recebeu do rei parte dos poderes pertencentes aos
donatários; era ele agora o chefe da administração e o comandante militar da
Colônia. Tomé de Souza chegou à Bahia, em 1549, acompanhado de três auxiliares:
o capitão-mor, que cuidava da defesa, o ouvidor-mor, encarregado da justiça, e o
provedor-mor, responsável pelas finanças. Com ele vieram também cerca de mil
pessoas: um arquiteto, vários pedreiros, carpinteiros, degredados, funcionários,
soldados e jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega.
Degredado: pessoa expulsa de Portugal sob a acusação de pequenos furtos, promessas de casamento não
cumpridas, adultério, feitiçaria. Conforme afirmou o historiador Ronaldo Vainfas: “[...] A imagem dos
degredados como grandes assassinos ou perigosos ladrões não resiste, assim, às evidências da documentação”.
(VAINFAS, 2000, p. 181)
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Tão logo chegaram, Tomé de Souza e seus homens iniciaram a disputa da terra
com os indígenas, destruindo várias de suas aldeias e escravizando-os. Nas terras
tomadas dos indígenas deram início à construção da cidade de São Salvador,
primeira capital do Brasil, fundada em 1549. O primeiro governador e seus
auxiliares incentivaram a construção de engenhos e introduziram o gado bovino
trazido de Cabo Verde e distribuído aos colonos como retribuição por serviços
prestados.
Ubirajara Machado/Olhar Imagem
Autor desconhecido. Biblioteca Municipal Mario de Andrade, São Paulo
Igreja de Nossa Senhora d’ Ajuda, Porto Seguro (BA). A imagem de Nossa Senhora d’ Ajuda foi
trazida pelos jesuítas que acompanharam Tomé de Souza. Para acomodar a imagem foi erguida, em
1550, uma construção simples feita de madeira e coberta com folhas de palma. Em 1772, a capela
foi reconstruída com pedra e cal. Depois disso, passou por diversas reformas até assumir o desenho
atual, como se vê nesta fotografia de 2015.
DIALOGANDO
a) Como o indígena que está de frente para Tomé de Souza foi representado
a) O indígena foi representado com barba, roupa e traços europeus.
b) Qual o significado de seu gesto?
b) Seu gesto é de quem está rendendo homenagem ao governador português. Na vida real, os indígenas disputaram Salvador
palmo a palmo com Tomé de Souza e seus soldados.
c) Há indícios na imagem da religião dos portugueses?
c) Sim, à direita, vê-se um bispo da Igreja Católica com uma cruz alta nas mãos.
d) O que a imagem sugere sobre o encontro entre indígenas e portugueses?
d) A imagem sugere que os indígenas se renderam aos portugueses e, com isto, constrói uma representação enviesada do
encontro entre eles.
Duarte da Costa (1553-1558), o segundo governador do Brasil, veio com a missão
de solidificar o domínio português sobre a Nova Terra, combater os franceses e
catequizar os indígenas e/ou esmagar sua resistência. Para o trabalho de
catequese, trouxe com ele outro grupo de jesuítas, entre os quais estava José de
Anchieta. Com a ajuda de indígenas, cujos filhos estudavam no colégio jesuíta de
São Vicente, José de Anchieta e Manuel da Nóbrega ergueram no planalto de
Piratininga uma construção rústica para abrigar uma escola. Essa escola, o Colégio
de São Paulo, deu origem à vila e, depois, à cidade de São Paulo.
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Planta de Piratininga (1560)
Vespúcio Cartografia
Delfim Martins/Pulsar Imagens
Fonte: ROSS, Jurandyr. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 441.
Acima, na primeira imagem, vê-se a planta de Piratininga, embrião da vila e, depois, cidade de São
Paulo. Abaixo, fotografia de 2014 do Pátio e da Igreja do Colégio, reconstruídos no século XX com
base em documentos iconográficos do século XVII. Em frente à Igreja do Colégio vê-se um
monumento chamado “Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo”, obra de Amadeo Zani. Ele é
composto de um pedestal e uma coluna em granito, encimada por uma figura feminina em bronze,
que representa a cidade de São Paulo coroando seus fundadores.
O governo de Duarte da Costa foi bastante tumultuado por conflitos entre colonos
e jesuítas (estes se opunham à escravidão indígena) e pela invasão da baía da
Guanabara. Ali, em 1555, um grupo de huguenotes (calvinistas franceses), que
tinham o apoio do rei da França, fundou uma colônia comercial, de nome França
Antártica. Aliando-se aos Tupinambá, os franceses ganharam força para enfrentar
os portugueses, que, por sua vez, eram aliados dos tupiniquins. Com a ajuda dos
Tupinambá, os franceses permaneceram no local por 12 anos. O incentivo às
rivalidades e disputas entre os povos indígenas foi uma estratégia muito usada
pelos europeus com o objetivo de dominação e ocupação do território americano.
O terceiro governador, Mem de Sá (1558-1572), também usou dessa estratégia e,
aliando-se a grupos como os Guainá e os Temiminó, venceu a Confederação dos
Tamoios, organização dos nativos revoltados com a dominação portuguesa.
Mem de Sá empenhou-se também em apoiar os jesuítas nas tarefas de aldear e
converter os indígenas e pediu à metrópole reforços para combater a colônia
francesa instalada no Rio de Janeiro. No transcorrer da luta contra os franceses,
Estácio de Sá, comandante das tropas enviadas de Portugal e sobrinho do
governador, fundou um forte, próximo ao Pão de Açúcar, embrião da cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro (1565).
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Dois anos depois da fundação do Rio de Janeiro, a França Antártica foi vencida e os
franceses foram expulsos. Mem de Sá conseguiu, assim, equacionar os problemas
herdados do governo anterior e, quando morreu, em 1572, na Bahia, era um
homem rico e prestigiado. Naquele mesmo ano, visando facilitar o controle e a
defesa do Brasil, o rei de Portugal dividiu o território colonial em dois governos:
Governo do Norte, com capital em Salvador, e Governo do Sul, com capital no Rio
de Janeiro. Em 1578, não atingindo o objetivo desejado, o rei voltou atrás,
reunificando a Colônia e mantendo Salvador como capital.
Mais tarde, em 1621, a Coroa voltou a dividir o território colonial em duas áreas
administrativas: Estado do Maranhão, com capital em São Luís (que, em 1751,
passaria a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão, com capital em Belém), e
Estado do Brasil, com capital em Salvador.
Luís do Santos Vilhena. 1775. Biblioteca Nacional do Brasil Autor desconhecido. Séc. XIX. Coleção particular
Este mapa é uma representação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e foi feito por Luís dos
Santos Vilhena (1744- 1814), que morava em Salvador, onde trabalhava como professor de grego e
latim.
Câmaras Municipais
A monarquia portuguesa criou também órgãos locais de administração nas
principais vilas e cidades brasileiras: as Câmaras Municipais, sendo a primeira a
da cidade de Salvador. Geralmente, as câmaras eram compostas de três ou quatro
vereadores: um procurador, um escrivão e um tesoureiro, além de funcionários
nomeados conforme a necessidade. Estudando as câmaras municipais de Salvador,
São Paulo e Rio de Janeiro, descobriu-se que essas câmaras eram formadas não só
por proprietários de terras, mas também por comerciantes.
Descobriu-se também que, para um indivíduo ser vereador era preciso ter “pureza
de sangue”, ou seja, não podia descender de negros, judeus ou mouros. As câmaras
tinham poder de decisão sobre diversos setores da vida pública: administravam o
espaço urbano e a área rural; realizavam obras públicas (estradas, pontes,
calçadas); cuidavam da conservação das ruas, da limpeza e da arborização da
cidade; cobravam impostos; e eram responsáveis pelo abastecimento de gêneros e
cultivos da terra.
A partir de 1711, assistiu-se ao declínio da autonomia das Câmaras, pois a Coroa
começou a enviar funcionários para gerir os assuntos fiscais das cidades.
Jorge Araújo/Folhapress
Nessa fotografia de 2000, vemos o edifício da Câmara de Salvador, que foi restaurado e conservou
suas características coloniais. Observe no detalhe o mesmo edifício em fotografia do século XIX.
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A economia colonial
Ao se decidir pela colonização do Brasil, iniciada por volta de 1530, a Coroa
portuguesa tinha pela frente três desafios: escolher o produto que seria usado
para impulsionar o aproveitamento econômico da terra; buscar capital para
financiar a produção; e conseguir mão de obra adequada ao trabalho.
Frans Post e G. Marcgraf. C. 1643. Coleção particular
Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, de 1643, que representa um engenho de
açúcar e a divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias. O trabalho de arte é do pintor
e gravurista Frans Post.
O produto
O produto escolhido para dar início à colonização foi o açúcar de cana, especiaria
de elevado valor na Europa. Os portugueses tinham experiência anterior com o
açúcar nas suas possessões atlânticas: Ilha da Madeira, de Cabo Verde e ilhas de
São Tomé e Príncipe. Os engenhos dessas regiões já empregavam a mão de obra
africana escravizada. Da Ilha da Madeira vieram as mudas e os profissionais
capacitados para trabalhar no Engenho do Governador, de Martim Afonso de
Souza, em São Vicente (SP). A partir daí construíram-se vários engenhos,
especialmente no Nordeste, onde a cana encontrou solo e clima favoráveis ao seu
cultivo.
Dica! Documentário sobre as condições atuais de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar do
interior paulista. [Duração: 30 minutos]. Acesse: <http://tub.im/z7xaog>.
O capital
O custo de instalação de um engenho era elevado, pois implicava a aquisição de
moenda, bois e trabalhadores. O dinheiro aplicado nos primeiros engenhos do
Brasil foi emprestado por comerciantes portugueses, holandeses e/ou italianos. Já
a partir do século XVII, os capitais investidos na economia canavieira foram
obtidos na própria Colônia.
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No caso da Bahia, os empréstimos para a montagem de engenhos foram
concedidos, em sua maior parte, pela Santa Casa de Misericórdia local, formada
pela elite da região. Em busca de prestígio social, os membros dessa elite faziam
doações à Santa Casa, que acumulava, assim, uma volumosa poupança. De posse
desse dinheiro, a Santa Casa concedia empréstimos a quem pretendesse montar
um engenho. Os favorecidos eram sempre os amigos ou parentes dos senhores de
terras ou dos grandes comerciantes da localidade. 1
1. Dica! Documentário sobre a produção de açúcar e a presença holandesa no Nordeste.
[Duração: 26 minutos]. Acesse: <http://tub.im/o7wvh5>.
A mão de obra
Durante a maior parte do século XVI, os engenhos usaram como escravos os
indígenas capturados por meio das chamadas guerras justas. Em fins do século
XVI e início do XVII, no entanto, os indígenas foram sendo substituídos por
africanos escravizados.
Guerra justa: nome que os colonos davam à guerra que faziam aos indígenas com o objetivo de escravizá-
los.
Entre as principais razões da substituição da mão de obra indígena pela africana
estão:
»» a escassez de mão de obra devido à alta mortalidade da população indígena e a
dificuldade crescente em obter novos cativos;
»» a habilidade dos africanos em funções como mestre de açúcar, purgador,
ferreiro, caldeireiro etc. Os portugueses já tinham se utilizado dos seus serviços
nos engenhos da Ilha da Madeira e de Cabo Verde.
Alguns historiadores apontam também a alta lucratividade do tráfico de africanos.
O tráfico atlântico dava lucros aos envolvidos no negócio, fossem eles traficantes
europeus, chefes africanos, mercadores do Brasil ou reis de Portugal (que
cobravam impostos sobre esse comércio). 2
2. Dica! Documentário sobre a produção e a cultura do açúcar em Pernambuco. [Duração: 26
minutos]. Acesse: <http://tub.im/j2kfsq>.
Hercule Florence. Séc. XIX. Aquarela. Coleção particular
Imagem de um líder indígena Munduruku feita por Hercule Florence durante a Expedição
Langsdorff, no século XIX.
Debret. Séc. XIX. Litogravura. Coleção particular
Detalhe de uma obra de Jean Baptiste Debret, século XIX.
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Para refletir
A economia colonial não era só plantation
Durante muito tempo se disse que a economia colonial baseava-se exclusivamente
na plantation, isto é, na grande propriedade escravista e monocultora, cuja
produção se destinava ao mercado externo. Estudos recentes, no entanto, trazem
novas contribuições. Se, por um lado, a lavoura canavieira foi o principal setor da
economia colonial brasileira, o tamanho dos engenhos e o número de escravos por
engenho variaram muito. Houve pequenas, médias e grandes unidades de
produção de açúcar, e a maioria delas possuía menos de 20 escravos. Esses novos
estudos chamam também a atenção para a importância da produção de alimentos
e do mercado interno na economia colonial brasileira.
Leia o que dizem sobre o assunto os pesquisadores João Fragoso, Manolo
Florentino e Sheila de Castro Faria.
[...] Apesar da ênfase dada à agroexportação, a economia colonial não se esgotava nas
plantações de açúcar voltadas para o mercado europeu. [...] Assim, por exemplo, no Recôncavo
Baiano, ao lado da atividade açucareira, havia os pequenos e médios produtores de alimentos
que, utilizando o trabalho familiar e/ou escravo, abasteciam os engenhos e as cidades. Algo
semelhante ocorria no Rio de Janeiro do século XVII. Além da produção de mantimentos nas
próprias áreas açucareiras, ao longo do século XVII e no seguinte, [...] os agricultores de São
Paulo, do sul da Bahia, do Espírito Santo e, posteriormente, os do Maranhão passariam a
orientar as suas atividades para um comércio intercapitanias, esboço de um incipiente
mercado interno colonial.
FRAGOSO, João et al. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). São Paulo: Atual, 1998. p. 49. (Discutindo a
História do Brasil).
a) O texto acima pode ser classificado como jornalístico, historiográfico, filosófico
ou literário?
a) O texto é historiográfico e foi escrito por dois especialistas em história econômica (João Fragoso e Manolo Florentino) e
uma especialista em história da família, a professora Sheila de Castro Faria.
b) Quais são as principais ideias contidas no texto?
b) O texto é uma contribuição de três historiadores à análise da economia colonial. Eles afirmam que o tamanho dos
engenhos e o número de escravos por engenho variaram muito. De fato, houve pequenas, médias e grandes unidades de
produção de açúcar, e a maioria delas possuía menos de 20 escravos. Esses novos estudos chamam também a atenção para a
importância da produção de alimentos e do mercado interno na economia colonial brasileira.
c) Em dupla. Como os autores do texto podem ter feito essas descobertas?
Expliquem.
c) Com base em pesquisas em arquivos públicos, museus e em um farto material bibliográfico, que abrange desde
dissertações e teses até monografias e obras nacionais e estrangeiras sobre o assunto.
d) Você já deve ter descoberto algo importante por meio de pesquisa. Conte de
modo resumido como foi essa sua experiência.
d) Resposta pessoal. Professor: a intenção aqui é estimular o gosto pela pesquisa e enfatizar a importância dela na vida
profissional.
Diversificação agrícola: fumo, aguardente, pecuária,
algodão e cacau
A lavoura canavieira foi, como se sabe, o principal setor da economia colonial. Mas
no Brasil se produziam também outros gêneros, como fumo, aguardente, carne,
couro, farinha, algodão, além de cacau, castanha-do-pará e salsa, que serviam tanto
à exportação quanto ao mercado interno colonial.
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Fabio Colombini
Algodão
Inacio Teixeira/Pulsar Imagens
Cacau
Fabio Colombini
Mandioca
Fernando Bueno/Pulsar Imagens
Milho.
O tabaco (ou fumo), planta domesticada pelos indígenas da América e usada por
eles em determinados rituais, logo se tornou um produto de grande aceitação no
território colonial. No século XVII, era o segundo colocado na pauta das
exportações brasileiras, sobretudo por sua estreita vinculação com o tráfico de
africanos. Enquanto o fumo de primeira e de segunda qualidade era consumido
internamente ou vendido para a Europa, o fumo de terceira era a moeda que os
traficantes usavam para conseguir escravos na África. Por ser mais simples e
menos onerosa do que a lavoura de cana-de-açúcar, a lavoura fumageira se
difundiu rapidamente pela Bahia e por Sergipe (então comarca baiana), Espírito
Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Tal como o fumo, a cachaça produzida em engenhos ou engenhocas também era
um produto muito consumido na colônia. O algodão, o cacau e o anil, por sua vez,
ganharam importância como produtos de exportação na segunda metade do século
XVIII. Na época, com a Revolução Industrial, as indústrias inglesas de tecidos
passaram a comprar grandes quantidades de algodão das áreas correspondentes
hoje aos estados do Maranhão, Pernambuco, Ceará e Pará.
No Brasil colonial, a falta de alimentos e o seu elevado preço incentivou pequenos
lavradores a se dedicarem às plantações de mandioca, milho e feijão, entre outros.
Por vezes, propriedades que utilizavam escravos como mão de obra também
produziam alimentos destinados à venda. Esses eram vendidos tanto para a
população dos engenhos quanto para a das cidades brasileiras; seu destino,
portanto, era o mercado interno.
A pecuária colonial, por sua vez, foi responsável pela ocupação de boa parte do
sertão do Brasil e se constituiu num setor decisivo da economia colonial.
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Para saber mais
Durante muito tempo se acreditou na vigência do Pacto Colonial, ou seja, que o
Brasil colonial só vendia para sua metrópole Portugal e comprava somente dela
aquilo de que necessitava. O texto a seguir, da professora Sheila de Castro Faria,
traz novidades sobre o assunto. Leia-o com atenção.
Colônia sem pacto colonial
[...] No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, vem à tona um grande
dinamismo nas relações comerciais dos principais portos do Brasil com o rio da Prata, no sul
da América, com Costa da Mina, Angola e Moçambique, na África e com Índia, Goa e Macau na
Ásia. [...] Colonos do Brasil, portanto, comercializavam diretamente com outras regiões,
furando a ideia de “pacto colonial”.
Por outro lado, os comerciantes que forneciam escravos para o Brasil no século XVIII
negociavam diretamente com traficantes e chefes locais da África. Eram esses comerciantes,
residentes no Brasil, que [...] detinham o monopólio do lucrativo tráfico negreiro — e não a
metrópole.
FARIA, Sheila de Castro. Colônia sem pacto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p.
71, jul. 2008.
Monopólio: exclusividade.
Sociedades coloniais
No Brasil colonial existiram várias regiões econômicas, em torno das quais se
formaram múltiplas sociedades com características próprias: a paulista do século
XVII (com seus bandeirantes e indígenas) era, por exemplo, muito diferente da
açucareira nordestina. Embora diferentes e espalhadas por todo o território, elas
tinham pelo menos duas características comuns: a escravidão, presente em quase
todo o território colonial, e uma hierarquia excludente que garantia direitos, poder
e prestígio a poucos.
A sociedade colonial açucareira
Mesmo sendo essencialmente escravista, a sociedade colonial açucareira possuía
certa complexidade: os senhores de engenho eram livres e brancos e os
trabalhadores das plantações eram, geralmente, negros escravizados, quase
sempre africanos. Mas, entre os administradores, técnicos e artesãos, havia
indivíduos escravos, libertos, livres, brancos, mestiços e negros.
Dica! Vídeo baseado na obra Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre. [Duração: 9 minutos].
Acesse: <http://tub.im/3kjnir>.
Os senhores de engenho
Donos da cana e das terras, os senhores de engenho faziam parte do grupo
dominante da sociedade açucareira e se consideravam a “nobreza da terra”,
conforme palavras do historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello.
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No início do século XVII, eles já constituíam um grupo social razoavelmente
estruturado e unido por casamentos entre seus membros. Esses proprietários
exerciam o poder localmente, tanto na esfera pública (ocupando alguns cargos nas
Câmaras Municipais) quanto na esfera privada, na qual buscavam impor sua
vontade a todos os habitantes do engenho. Daí dizer-se que a família senhorial no
Brasil daqueles tempos era patriarcal.
Havia ainda homens livres que arrendavam terras do senhor de engenho para
cultivar a cana; mas, por falta de recursos, eram obrigados a moê-la no engenho do
proprietário, por isso, eram chamados de “lavradores obrigados”. Em troca, eles
entregavam ao senhor parte do açúcar obtido e ainda pagavam a ele o aluguel pelo
uso da terra.
Os comerciantes
Se a propriedade da terra dava poder e prestígio ao seu possuidor, o comércio
possibilitava riqueza. Grandes comerciantes enriqueciam ao vender produtos
locais, como açúcar, tabaco e algodão, para a Europa e revender produtos chegados
de Portugal, como vinho, queijos e doces. Outros comercializavam a produção
colonial destinada ao mercado interno, como bois, mulas, cachaças, farinha, milho,
marmelada, entre outros.
Mas muitas fortunas foram feitas com o comércio de africanos. Enriquecidos por
meio do tráfico atlântico, comerciantes estabelecidos em cidades como Rio de
Janeiro, Salvador e Recife usavam navios próprios e forneciam empréstimos aos
senhores de engenho para a compra de escravos e/ou equipamentos. Dessa forma,
alguns conseguiam comprar terras e montar engenhos; outros casavam com filhas
de senhores de engenho e, com isso, passavam a pertencer à nobreza da terra.
Os escravizados
Na célebre frase do padre Antonil, os africanos escravizados eram “as mãos e os
pés dos senhores de engenho”. Apesar disso, na sociedade colonial açucareira, seus
direitos eram praticamente inexistentes, como afirma um historiador:
[...] Incapazes de firmar contratos, dispor de suas vidas e possuir bens, defender-se e à sua
família dos maus-tratos do proprietário, testemunhar contra homens livres, escolher seu
trabalho e empregador, e limitados pela lei e pelos costumes de inúmeros outros modos, os
cativos permaneceram [...] em situação mais desvantajosa na sociedade.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial – 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 214.
Editora Nova Fronteira
O mercador de escravos Francisco Félix de Souza era filho de português com uma indígena. Ainda
jovem, viajou para a África onde construiu uma fortuna com a venda de escravizados para o Brasil.
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Com base no estudo de um grande engenho colonial, Stuart B. Schwartz concluiu
que a população escravizada estava assim distribuída: escravos do campo
(agricultores, criadores e condutores de boiadas, pescadores, caçadores,
carroceiros etc.) constituíam 80% do total; trabalhadores dedicados à fabricação e
ao beneficiamento do açúcar correspondiam a 10%; os domésticos (cozinheiras,
faxineiras, camareiras etc.) e artesãos (oleiros, pedreiros, ferreiros), juntos,
compunham os outros 10%. É importante lembrar, porém, que os escravos de
campo e os domésticos também trabalhavam na fabricação do açúcar. De dia, eles
faziam as tarefas costumeiras. À noite carregavam cana e lenha, transportavam
formas, purificavam, trituravam e encaixotavam o açúcar.
Dica! Documentário abordando a riqueza e a complexidade da sociedade açucareira nordestina.
[Duração: 26 minutos]. Acesse: <http://tub.im/93oaaw>.
Editora Cia. das Letras
Fac-símile da capa do livro Segredos internos, de Stuart B. Schwartz.
Debret. Séc. XIX. Litogravura. Coleção particular
Debret. Séc. XIX. Litogravura. Coleção particular
Os negros escravizados trabalhavam também construindo casas e chafarizes, transportando
mercadorias e/ou pessoas, comerciando pelas estradas e vilas.
Os trabalhadores assalariados
Desde o início, os senhores de engenho contrataram assalariados para dividir com
os escravos a tarefa no engenho, para trabalhar em funções especializadas, como a
de mestre de açúcar (responsável pela qualidade do açúcar) ou a de carpinteiro,
pedreiro, ferreiro, entre outros. Ou ainda para realizar tarefas que os donos de
engenho não confiavam a escravos, como o de feitor (encarregado de vigiar e punir
os escravos). Por isso se diz que o conhecimento e o serviço dos trabalhadores
assalariados eram decisivos para o funcionamento dos engenhos.
Página 66
Dentre eles, os feitores e os especialistas no fabrico do açúcar eram os mais bem
remunerados e respeitados. O salário desses trabalhadores era anual e, quando
pago em dinheiro, chamava-se soldada seca. Geralmente, o alojamento e a
alimentação eram descontados do salário dos trabalhadores livres, o que limitava
significativamente seus ganhos.
Georg Marcgraf. 1648. Gravura. Coleção particular
Nesta obra de 1648, vê-se o mestre de açúcar trabalhando enquanto é observado por um feitor.
Holandeses no Nordeste
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste açucareiro por duas vezes.
Para compreendermos as razões dessas invasões, precisamos relacioná-las ao
contexto europeu do século anterior.
No início do século XVI, a região onde é hoje a Holanda pertencia ao Império
Espanhol e fazia parte dos chamados Países Baixos espanhóis; a região era
próspera e se destacava por suas manufaturas, sua indústria naval e sua marinha
mercante.
Países Baixos espanhóis: nome que se dava ao território ocupado hoje por Holanda e Bélgica.
O Império Espanhol, que, à época, era imenso, ficou ainda maior em 1580; naquele
ano, o rei português D. Henrique morreu sem deixar herdeiros. Abriu-se, então,
uma disputa pelo trono português; o vencedor foi um parente do rei morto de
nome Felipe II, rei da Espanha que, com isso, tornou-se também rei de Portugal. O
controle da Espanha sobre Portugal e suas colônias ficou conhecido como União
das Coroas Ibéricas e durou até 1640. Os domínios de Felipe II eram tão vastos
que na época se dizia que neles “o sol nunca se punha”.
Durante esse período, os adversários da Espanha tornaram-se também adversários
de Portugal; foi este o caso, por exemplo, dos Países Baixos espanhóis.
Dica! Vídeo sobre a União Ibérica e a conquista do Nordeste brasileiro pelos holandeses.
[Duração: 14 minutos]. Acesse: <http://tub.im/emhgf5>.
Os holandeses conquistam a independência
Para custear suas guerras na Europa, Felipe II da Espanha aumentou os impostos
cobrados nos Países Baixos espanhóis e lançou violenta campanha de perseguição
aos protestantes ali residentes. Os habitantes de sete províncias do norte dos
Países Baixos – protestantes em sua imensa maioria – reagiram entrando em
guerra contra a Espanha. Em 1581, proclamaram a independência, constituindo a
República das Províncias Unidas – ou simplesmente Holanda.
Página 67
A guerra pelo açúcar e pelo tráfico atlântico
Após a independência, os mercadores holandeses continuaram minando o poderio
espanhol e, em 1602, criaram a Companhia das Índias Orientais, que visava à
conquista dos domínios luso-espanhóis na Ásia. Diante disso, Felipe II reagiu
proibindo os holandeses de comerciar com Portugal e suas colônias.
Os holandeses, então, decidiram invadir as colônias portuguesas na África e na
América. Para isso criaram, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais, que
tinha como principais alvos o controle sobre o açúcar do Nordeste do Brasil –
maior produtor mundial de açúcar, na época – e os postos de fornecimento de
escravos no território africano.
Invasão da Bahia
A primeira invasão dos holandeses ocorreu na Bahia, que, além de possuir muitos
engenhos em pleno funcionamento, era o centro político do Brasil. Eles chegaram a
Salvador em maio de 1624 com 3 300 homens, uma frota de 26 navios e 450
canhões. Prenderam o governador português e o substituíram pelo holandês Van
Dorth. A população luso-brasileira, por sua vez, retirou-se para o interior e lá
organizou a resistência.
O líder dessa resistência, o bispo Dom Marcos Teixeira, apresentava a luta contra
os holandeses como uma cruzada contra os hereges, uma vez que, como vimos, os
invasores eram protestantes. Uma das táticas da resistência foi a guerra de
emboscadas: divididos em pequenos grupos, os combatentes saíam das matas e se
lançavam sobre o inimigo de surpresa, impedindo assim seu avanço rumo à região
dos engenhos.
A Espanha, por sua vez, enviou ao Nordeste do Brasil uma esquadra com 52 navios
e 12 mil homens, comandados por Dom Fradique de Toledo Osório, que forçou os
holandeses a bater em retirada, em 1625. Dois anos depois, no entanto, eles
voltaram a atacar: liderados por Pieter Heyn, saquearam o porto de Salvador
levando consigo açúcar, fumo, algodão e pau-brasil. E, na volta para a Holanda,
capturaram a frota de prata espanhola, que transportava a produção anual desse
metal do vice-reinado do Peru para a Espanha.
Sergio Pedreira/Pulsar Imagens
Imagem de 2014 do Forte de Santo Antônio da Barra, construído no século XVII e conhecido hoje
como Farol da Barra. O forte foi erguido para defender a cidade de Salvador da invasão holandesa
em 1624.
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Frans Post (detalhe). 1661. Óleo sobre madeira. Coleção particular
Engenho de açúcar, óleo sobre madeira do artista holandês Frans Post, mostra escravizados
trabalhando no transporte e na moagem da cana em um engenho real. Na época, as capitanias do
Nordeste possuíam, juntas, cerca de 150 engenhos, que produziam por volta de 700 mil arrobas de
açúcar ao ano.
Invasão de Pernambuco
Com os saques realizados, os holandeses reuniram recursos e invadiram
novamente o Nordeste açucareiro, mas dessa vez o alvo foi Pernambuco.
Em fevereiro de 1630, desembarcaram no litoral pernambucano e conquistaram
Olinda e Recife com relativa facilidade. Sob a liderança de Matias de Albuquerque,
a população local destruiu tudo o que pudesse ser útil aos invasores (armazéns,
navios, construções) e se retirou para o interior. Lá, ergueu o Arraial do Bom Jesus,
quartel-general de onde deviam partir os ataques aos holandeses.
A tática da resistência luso-brasileira foi, uma vez mais, a guerra de emboscadas;
composta de um grande número de indígenas, negros e brancos pobres, essa
resistência empenhou-se em controlar o interior, onde estavam os engenhos, e
isolar os invasores no litoral. De acordo com os documentos portugueses, os
invasores foram ajudados por moradores locais, entre os quais Domingos
Fernandes Calabar. Exímio conhecedor da região, como tantos outros mamelucos,
negros e ameríndios, Calabar colaborou com os holandeses como guia.
Nos combates que se seguiram os holandeses foram conseguindo vitórias:
conquistaram o Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte; a cidade de Filipeia
(hoje João Pessoa), na Paraíba; e, em 1635, o Arraial do Bom Jesus, no interior
pernambucano. Diante disso, Matias de Albuquerque ordenou a queima dos
canaviais e retirou-se com suas tropas para Alagoas. Antes, porém, conseguiu
prender Calabar e mandou executá-lo. Segundo o historiador pernambucano
Evaldo Cabral de Mello, um especialista no assunto, o motivo da execução de
Calabar foi “queima de arquivo”, pois ele “sabia demais”.
Os holandeses passaram a ser os novos donos do Nordeste. Na região onde se deu
a guerra do açúcar, a situação era desoladora: plantações queimadas, gado morto,
engenhos destruídos e escravos em fuga; muitos deles haviam se refugiado no
Quilombo dos Palmares, em terras do atual estado de Alagoas. Para voltar a lucrar
com o açúcar do Brasil, os holandeses precisavam reativar a produção e organizar
a administração nas áreas conquistadas. Para isso, em 1637, o conde João Maurício
de Nassau-Siegen foi nomeado governador dos domínios da Holanda na região.
DIALOGANDO
a) Você conhece a expressão “queima de arquivo”?
a) Resposta pessoal.
b) Já ouviu falar de algum crime mais recente que tenha ocorrido por esse motivo?
b) Suspeita-se que o assassinato do empresário Paulo Cesar Farias, homem forte do governo de Fernando Collor de Mello,
tenha sido “queima de arquivo”.
O governo de Nassau
Adotando uma política de conciliação de interesses, Maurício de Nassau tomou três
medidas decisivas para a sua administração: forneceu aos senhores
Página 69
de engenho empréstimos e crédito para a compra de equipamentos e de escravos,
conseguindo assim o apoio de boa parte desses senhores; defendeu a tolerância
religiosa: Nassau era protestante, mas permitiu que católicos e judeus praticassem
suas religiões livremente, animando-os a colaborar com os holandeses; ordenou a
tomada de importantes entrepostos de escravos do litoral africano.
Em 1641, os domínios holandeses abrangiam territórios que iam de Sergipe ao
Maranhão e incluíam os mais importantes entrepostos de escravos africanos no
século XVII. Negociando escravos e açúcar, os holandeses ampliaram enormemente
seus lucros. 1 e 2
1. Dica! Documentário sobre o domínio holandês no Nordeste. Acesse: <http://tub.im/x52d6p>.
2. Dica! Vídeo sobre Maurício de Nassau e as transformações artísticas e culturais do Brasil
holandês. Acesse: <http://tub.im/wrhkgf>.
Artistas e cientistas do Brasil holandês
Nassau empenhou-se também em incentivar a produção cultural, trazendo para o
país pintores, como os paisagistas Albert Eckhout e Frans Post, que retrataram
plantas, animais, pessoas e edificações do Nordeste do Brasil.
Além de pintores, ele trouxe cientistas que se dedicaram ao estudo da região, como
Georg Marcgraf, que documentou a flora e a fauna, e o médico Willem Piso, que
pesquisou doenças características da região. Trouxe também letrados, como Elias
Herckman, que escreveu um precioso relato sobre a Capitania da Paraíba.
O governo de Nassau instalou sua capital em Recife e ali realizou uma série de
importantes obras: calçou ruas; abriu canais por onde transitavam barcas,
mercadorias e pessoas; drenou áreas alagadiças; construiu pontes que ligavam o
antigo porto à Ilha de Antônio Vaz e esta ao continente. Nessa ilha, criou um jardim
botânico, um zoológico e construiu o Palácio das Torres (Palácio de Friburgo),
residência oficial e sede do governo. A esse conjunto de obras deu-se o nome de
Cidade Maurícia (atualmente bairro de Santo Antônio).
Albert Eckhout. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular
Retrato de mestiço, do artista holandês Albert Eckhout.
Hans Von Manteuffel/Opção Brasil Imagens
Vista aérea do bairro de SantoAntônio em Recife (PE). Nela vemos, em primeiro plano, o Palácio do
Governo rodeado por grandes árvores e, atrás dele, o prédio do Teatro Santa Isabel. Fotografia de
2013.
Página 70
A Restauração em Portugal
Enquanto os holandeses lucravam com o açúcar do Brasil, Portugal encontrava-se
exaurido economicamente e responsabilizava a União Ibérica por essa situação.
Diante disso, os portugueses promoveram uma revolta separatista, em 1640, e se
libertaram da Espanha no episódio conhecido como Restauração. Dom João IV, da
dinastia de Bragança, ocupou o trono de Portugal e, no ano seguinte, firmou com a
Holanda um acordo de paz por 10 anos.
No Brasil, em busca de lucros, a Companhia das Índias Ocidentais retirou Nassau
do governo em 1644 e enviou novos governantes para cá com a missão de cobrar o
dinheiro emprestado aos senhores de engenho e restringir o crédito dado a eles.
A luta contra os holandeses
Os novos governantes do Brasil holandês mostraram-se intolerantes. Confiscaram
terras dos senhores de engenho endividados e proibiram a livre prática da religião
católica. Reagindo a isso, os senhores luso-brasileiros engajaram-se, em 1645,
numa guerra contra os holandeses: a Insurreição Pernambucana.
Nos confrontos que se seguiram, os luso-brasileiros conseguiram vitórias
surpreendentes, entre elas a Primeira Batalha de Guararapes, em 1648. No
mesmo ano, a esquadra de Salvador Correia de Sá, organizada com recursos de
mercadores cariocas, partiu do Rio de Janeiro e conseguiu retomar os entrepostos
de escravos da Ilha de São Tomé e de Luanda e Benguela, em Angola. No ano
seguinte, uma nova vitória: a Segunda Batalha de Guararapes, que foi decisiva no
curso da luta. A guerra se prolongou até 1654, quando os luso-brasileiros
venceram os holandeses na Campina da Taborda (Pernambuco), forçando-os a
deixar o país.
Vitor Meirelles. 1879. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
O negro liberto Henrique Dias, líder de um batalhão de negros, o índio de etnia potiguar Felipe
Camarão, líder dos índios potiguares, e André Vidal de Negreiros, filho de um senhor de engenho
nascido na Paraíba, lutaram lado a lado na guerra contra os holandeses. Esse fato foi usado para a
construção da falsa ideia de que o Brasil é o resultado da “união das três raças”. Essa ideia foi
veiculada ao longo do tempo em livros, revistas, jornais e pinturas, como A Batalha de Guararapes,
feita por Vitor Meirelles (1832-1903) em 1879, em que os três personagens citados aparecem
combatendo juntos. Tudo isso ajudou a forjar a ideia de que a convivência entre brancos, negros e
índios foi pacífica, o que não corresponde aos fatos. Apesar de ter havido momentos de colaboração,
a convivência entre esses grupos humanos em território colonial foi tensa e pontilhada de conflitos.
Página 71
Os holandeses nas Antilhas
Em 1661, Holanda e Portugal assinaram a Paz de Haia. Por esse acordo, Portugal
teria de pagar à Holanda a vultosa indenização de 4 milhões de cruzados. No ano
seguinte, a Inglaterra cobrou a ajuda militar e diplomática dada a Portugal, que foi
obrigado a lhe ceder duas de suas possessões: Tânger, no norte da África, e
Bombaim, na Índia. A Holanda perdeu o Brasil, mas não desistiu do negócio do
açúcar: os holandeses levaram seus capitais e suas técnicas de produção para as
Antilhas (Suriname e Curaçao), onde montaram engenhos bem-sucedidos e
passaram a concorrer com os produtores do Brasil.
A Guerra dos Mascates
Em razão da queda nos preços do açúcar do Brasil no exterior e dos prolongados
anos de guerra contra os holandeses, os senhores de engenho de Olinda
contraíram dívidas com os grandes comerciantes portugueses. Estes, por sua vez,
cobravam juros extorsivos e tomavam terras dos devedores e, assim, faziam
fortuna. Com o passar do tempo, as tensões entre os devedores, de um lado, e os
credores, de outro, transformaram-se em rivalidade declarada. Com a intenção de
ridicularizar os comerciantes de Recife, os senhores de engenho de Olinda os
apelidaram de mascates.
Mascate: vendedor ambulante que comercializa mercadorias de baixo valor.
Embora viessem enriquecendo, esses comerciantes tinham pouco poder político,
pois, em Pernambuco, havia uma só Câmara Municipal, a de Olinda, que era
controlada pelos senhores de engenho locais. Em busca de poder e prestígio,
pediram ao rei de Portugal que seu povoado fosse elevado à vila, ganhando assim
uma Câmara Municipal própria. Com sua solicitação atendida em 1710, ergueram
durante a noite um pelourinho no centro de Recife.
Pelourinho: uma coluna de pedra ou madeira erguida em praça pública; era símbolo de autonomia
administrativa e, ao mesmo tempo, lembrava a escravidão (os escravos eram amarrados a ele para serem
castigados publicamente).
Os senhores de engenho olindenses reagiram invadindo Recife e destruindo o
pelourinho. Alguns deles, como Bernardo Vieira de Melo, clamavam por um
governo autônomo para Pernambuco. Mas a maioria dos senhores de engenho
queria apenas garantir sua participação no governo da Capitania.
Como resposta a isso, os comerciantes de Recife partiram para a guerra – a Guerra
dos Mascates –, que se desenrolou entre 1710 e 1711. A metrópole interveio no
conflito enviando um novo governador a Pernambuco, Felix José Machado, que
anunciou o perdão geral aos envolvidos. Quando os proprietários olindenses se
desarmaram, o novo governador perseguiu seus líderes, a começar por Bernardo
Vieira de Melo, que foi preso e condenado pelo crime de lesa-majestade. Foi a
primeira vez que a Coroa portuguesa contrariou de forma explícita os interesses
dos senhores de engenho, conhecidos como “nobreza da terra”.
Frans Post. c. 1650-1655. Óleo sobre tela. Coleção particular
Vista panorâmica de Olinda, de Frans Post, c. 1650-1655.
Página 72
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2013)
De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro,
nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito
bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta
gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São
Paulo: Contexto, 2001.
A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse
trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo:
a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.
b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa.
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente.
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superioridade europeia.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.
1. Resposta: a.
2. (Uespi-PI – 2014)
A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de dezembro de 1531,
vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expedições anteriores, mas tinha
como finalidade principal desenvolver a exploração e limpeza da costa, infestada, ainda e cada
vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. As Primeiras Expedições. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. (org). História Geral da
Civilização Brasileira. Tomo I, Volume 1. São Paulo: DIFEL, 1960. p. 93.
Com base nesta citação, assinale a opção que indica corretamente os principais objetivos das
primeiras expedições portuguesas às novas terras descobertas na América:
a) expulsar os contrabandistas de pau-brasil e combater os holandeses instalados em Pernambuco.
b) garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e expulsar os
invasores estrangeiros.
c) instalar núcleos de colonização estável, baseados na pequena propriedade familiar, e escravizar
os indígenas.
d) estabelecer contatos com as civilizações indígenas locais e combater os invasores franceses na
Bahia.
e) nenhuma das opções está correta.
2. Resposta: b.
3. (UFF-RJ)
Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é
possível fazer, conservar e aumentar fazenda.
Antonil, Cultura e Opulência do Brasil, 1711, livro 1, Capítulo IX.
Assinale a opção que, baseada na citação do jesuíta Antonil, justifica corretamente os fundamentos
da sociedade colonial.
a) A sociedade colonial se resumia ao mundo da casa-grande e da senzala, espaços fundamentais de
um mundo rural mediado pelos engenhos açucareiros.
b) O ideal de sociedade colonial, segundo os inacianos, era o de uma sociedade de missões, o que
explica a crítica do jesuíta Antonil à escravidão.
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c) A estrutura social do Brasil Colônia era fundamentalmente escravista, uma vez que os setores
essenciais da economia colonial, a exemplo da agro-manufatura do açúcar, dependiam do trabalho
escravo, sobretudo dos africanos.
d) A sociedade escravista erigida na Colônia sempre foi condenada pelos jesuítas que, a exemplo de
Antonil, desejavam ardorosamente que índios e africanos se dedicassem ao mundo de Deus.
e) A sociedade colonial possuía duas classes, senhores e escravos, polos antagônicos do latifúndio
ou da “fazenda” mencionada por Antonil.
3. Resposta: c.
4. (Enem/MEC)
Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito
semelhante o que o mesmo Salvador padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as
canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez, servindo para o cetro de escárnio, e
outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem
dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo
despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós
maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo
isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá
merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & irmão. 1951 – Adaptado.
O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
5. (Fuvest-SP – 2015)
4. Resposta: e.
Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer a todos os reinos e províncias da Europa, o tabaco
o tem feito muito afamado em todas as quatro partes do mundo, em as quais hoje tanto se
deseja e com tantas diligências e por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem anos que
esta folha se começou a plantar e beneficiar na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes
desprezada e quase desconhecida tem dado e dá atualmente grandes cabedais aos moradores
do Brasil e incríveis emolumentos aos Erários dos príncipes.
André João Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado.
O texto acima, escrito por um padre italiano em 1711, revela que
a) o ciclo econômico do tabaco, que foi anterior ao do ouro, sucedeu o da cana-de-açúcar.
b) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que ocorria com outros produtos, era direcionado à
metrópole.
c) não se pode exagerar quanto à lucratividade propiciada pela cana-de-açúcar, já que a do tabaco,
desde seu início, era maior.
d) os europeus, naquele ano, já conheciam plenamente o potencial econômico de suas colônias
americanas.
e) a economia colonial foi marcada pela simultaneidade de produtos, cuja lucratividade se
relacionava com sua inserção em mercados internacionais.
5. Resposta: e.
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6. (UPE – 2015) A primeira metade do século XVII em Pernambuco foi marcada pela invasão
holandesa à capitania. A presença holandesa em Pernambuco durou 24 anos, de 1630 a 1654. A
invasão foi motivada por vários fatores, dos quais podemos destacar
a) o sucesso da colonização holandesa no sul da América, especialmente nas possessões
espanholas, e a vontade da Holanda em expandir seus domínios no Novo Mundo.
b) a necessidade do algodão, produto amplamente produzido na capitania de Pernambuco, desde o
século XVI, por parte das indústrias têxteis holandesas.
c) o bloqueio do acesso holandês pela Coroa Espanhola ao comércio do açúcar produzido em
Pernambuco, durante a União Ibérica.
d) a presença maciça de tropas holandesas na Bahia, desde 1625.
e) os interesses dos comerciantes e senhores de engenho locais em comercializar com os
holandeses, em detrimento dos portugueses.
6. Resposta: c.
II. Leitura e escrita em História
Leitura e escrita de textos
PROFESSOR, VER MANUAL.
VOZES DO PRESENTE
A escravidão dificultou o amor entre os escravos, mas não foi forte o suficiente para impedir os
sentimentos que brotavam no coração deles. Muitas vezes, depois de um dia de trabalho exaustivo,
eles fugiam e andavam horas para visitar a namorada ou outras pessoas queridas sem se importar
se seriam ou não castigados por isso. Além disso, geralmente, os escravizados constituíam família.
Veja o que uma historiadora diz sobre esse assunto.
Amor e família
Durante muitos anos, os historiadores acharam que o sistema escravista havia massacrado de
tal forma homens e mulheres escravos que eles se tornaram um grupo absolutamente
dominado e sem vontade própria. Para esses historiadores, não havia sido dada ao escravo
nem mesmo a oportunidade de constituir família, organização básica de apoio e de identidade
social para todos os seres humanos. Os senhores não teriam permitido que escravos casassem.
Em suma, os historiadores acreditavam que eles eram tratados como “coisa” ou, no máximo,
como animais para quem só valia a vontade do dono.
Diversos estudos atuais, entretanto, vêm demonstrando que a situação não era bem assim. Boa
parte dos escravos constituía família, sendo essa importantíssima para suas vidas. Concluíram
ainda que aos senhores interessava que eles se unissem em família para melhor se adequar à
vida no cativeiro. Revelaram também que separar filhos pequenos de seus pais era atitude
rara. Crianças de até doze anos de idade, na quase totalidade dos casos, viviam com seus pais
ou, pelo menos, com suas mães.
FARIA, Sheila de Castro. Viver e morrer no Brasil Colônia. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999. p. 16. (Desafios).
a) Explique as diferenças entre as duas visões sobre os escravizados citadas no texto.
b) O que se descobriu recentemente sobre a vida pessoal dos escravizados?
c) Em dupla. Segundo a autora, a família é uma organização básica de apoio e identidade social
para todos os seres humanos. Vocês concordam com essa afirmação? O que a família é para vocês?
Página 75
III. Você cidadão!
O conhecimento e a contribuição indígena à cultura brasileira
As principais plantas de que se alimenta, ou que utiliza industrialmente a humanidade, foram
descobertas e domesticadas pelos ameríndios. Tais são, entre as alimentícias:
a batata [...], originária do Peru, erroneamente chamada inglesa; a mandioca [...]; o milho [...]; a
batata-doce [...]; o tomate [...]; feijões e favas, como o amendoim [...]; fruteiras como o cacau [...],
o abacaxi [...], o caju [...], o mamão [...]; amêndoas como a castanha-do-pará [...].
Inúmeras espécies vegetais, objeto de coleta por parte dos índios, foram adotadas pelos
colonizadores europeus, passando a ser cultivadas, algumas em larga escala, desempenhando
hoje relevante papel na economia mundial. [...]
A borracha [...], dentre todas, inicia o ciclo industrial moderno. Conhecida pelos índios, que a
utilizavam para fazer bolas, seringas e impermeabilizar objetos, a borracha só foi realmente
“descoberta” pela civilização ocidental na segunda metade do século XIX.
RIBEIRO, Berta G. A contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira. In: GRUPIONI, Luís Donizete Benzi. A
temática indígena na escola. 2. ed. Brasília: MEC/Unesco, 1998. p. 199-203.
Edson Sato/Pulsar Imagens
Criança ianomâmi carregando cacho de pupunha madura na Aldeia do Kona, Santa Isabel do Rio
Negro (AM), 2011.
a) Em sua opinião, a autora do texto conseguiu comprovar o que afirma?
b) Em que trecho do texto fica evidente a existência de trocas culturais entre indígenas e europeus?
c) Na segunda metade do século XIX surgiram na Europa novos tipos de indústrias, que tinham a
borracha como matéria-prima essencial. Que indústrias eram essas?
d) Reflita e elabore um comentário sintético sobre a ideia defendida pela autora no texto.
e) Em grupo. A demarcação das terras indígenas tem ocasionado conflitos violentos: de um lado
estão os povos indígenas e seus aliados; eles argumentam ter direito à terra que tradicionalmente
ocupam e que esse direito é garantido por lei. De outro lado estão indivíduos e grupos interessados
nas terras reivindicadas pelos indígenas; eles argumentam que “tem terra demais para pouco
índio”. Debatam, reflitam e opinem sobre essa disputa e justifiquem a posição tomada por vocês.
Postem o resultado do debate no blog da turma.
Página 76
2UNIDADE Diversidade e
pluralismo cultural
Delfim Martins/Pulsar Imagens
O Boi Garantido no Festival de Parintins (AM), 2010.
Rogério Reis/Olhar Imagem
Maracatu Rural de Nazaré da Mata (PE), 2013.
Delfim Martins/Pulsar Imagens
Cavalhada em Pirenópolis (GO), 1999.
Página 77
Gabriel Santos/Tyba
Desfile da Escola de SambaBeija-Flor de Nilópolis. O desfile abordou a história contada por um
griot. Rio de Janeiro (RJ), 2015.
G. Evangelista/Opção Brasil/Imagens
Dança típica alemã, Gramado (RS), 2012.
Professor: segundo um historiador: “Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as formas de
organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas etc.”. (BEZERRA,
Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro. História na sala de aula:
conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 46)
»» As fotografias destas páginas são de festas tradicionais. Cada
uma delas é típica de uma região do Brasil; você sabe qual?
»» Ora, sabendo que festas são formas de expressão de um
determinado povo/ lugar e, portanto, pertencem ao campo da
cultura, é possível concluir que o Brasil possui enorme
diversidade cultural?