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Published by DCL Play, 2016-01-28 16:06:37

Concursos, Vestibulares & ENEM

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM 42. (PUCCamp) Selecione a alternativa que preenche cor- b) Eles foram se acalmando na medida em que a tempes-
retamente as lacunas. tade passava.

deseducadamente caso não a mim com respeito. c) Eu não lembrava se você tinha solicitado-me um ou dois
Já cheguei a disso. convites para o espetáculo.

a) Responderei a ele – dirija-se – o avisar d) O casal estava encontrando-se diariamente às 19h.
b) Eu lhe responderei – se dirija – avisá-lo e) Será que ela tinha se sentado na primeira fila por não
c) Responder-lhe-ei – dirija-se – avisá-lo
d) Lhe responderei – se dirija – avisá-lo enxergar bem?
e) Responderei-lhe – se dirija – o avisar
44. (UECE) Segue a gramática normativa a colocação do
43. (UDESC) Assinale a alternativa gramaticalmente IN- pronome átono da opção:
CORRETA em relação à colocação do pronome oblíquo
nas locuções verbais e tempos compostos. a) O amor não está deteriorando-SE.
b) Seu amor não tinha acabado-SE?
c) Comunicaremos-LHE tudo sobre o amor.
d) LHE provem que o amor é digno.

a) Quero-lhe explicar porque não cumpri o prazo combinado.

Respostas do Bloco 3
Ficha 2: 1 - d; 2 - e; 3 - b; 4 - b, d; 5 - e; 6 - a; 7 - d; 8 - b; 9 - e; 10 - b; 11 - e; 12 - a; 13 - d 14 - a.
Ficha 3: 1 - a; 2 - e; 3 - c; 4 - e; 5 - c.
Ficha 4: 1 - a; 2 - b; 3 - a; 4 - a; 5 - e; 6 - e; 7 - e; 8 - d.
Ficha 5: 1 - c; 2 - b; 3 - a; 4 - e; 5 - a; 6 - d; 7 - a; 8 - c; 9 - c; 10 - d; 11 - d; 12 - d.
Ficha 6: 1 - c; 2 - a; 3 - e; 4 - e; 5 - b; 6 - b; 7 - b; 8 - a; 9 - e; 10 - d; 11 - a; 12 - c; 13 - a; 14 - e; 15 - d; 16 - e; 17 - b;
18 - e; 19 - c; 20 - d; 21 - d; 22 - e; 23 - c; 24 - e; 25 - b; 26 - d; 27 - b; 28 - b; 29 - e; 30 - e; 31 - d; 32 - b; 33 - a; 34 - d;
35 - e; 36 - a; 37 - a – 1, b – 3, c – 1, d – 2, e – 2; 38 - b; 39 - e; 40 - c; 41 - e; 42 - b; 43 - c; 44 - a.

150

LÍNGUA PORTUGUESA

BLOCO 4
LITERATURA

FICHA 1 – INTRODUÇÃO À LITERATURA

Tela 1 – Estudo para uma odalisca, por Jean-Auguste- Tela 2 – Ao Piano, de Pierre-Auguste Renoir, 1892. Tela 3 – Retrato de Jeanne Hébuterne, por Amedeo
Dominique, 1814. Modigliani, 1918.

Como foi possível observar, as três te- Leia o que Miguel de Cervantes, es- Nesse tipo de gênero vigora a exal-
las representam mulheres. Além dessa critor espanhol, escreveu sobre o texto tação do “eu”, no qual o autor fala do
representação em comum, os três ar- literário: amor, da saudade, da morte, da solidão,
tistas utilizam a linguagem não verbal, despertando o lado emocional do leitor.
por meio da pintura. Mesmo com essas Uma coisa é escrever como poeta,
semelhanças, cada um dos artistas outra como historiador: o poeta Esse gênero manifesta-se por meio
criou obras bastante diferentes entre pode contar ou cantar coisas, não da poesia (ou poema) e da prosa. Os
si: a primeira tela apresenta um traço como foram, mas como deveriam poemas dividem-se quanto ao conteú-
clássico. Na segunda obra temos uma ter sido, enquanto o historiador do e estrutura em:
representação mais relacionada ao deve relatá-las não como deveriam • Ode: poesia de exaltação.
imaginário e às impressões. A terceira ter sido, mas como foram, sem • Elegia: fala de fatos tristes.
tela apresenta uma mulher com traços acrescentar nem subtrair da verda- • Idílio: poesias pastoris.
bastante característicos e alongados. de o que quer que seja. • Sátira: poesia que ridiculariza ca-

A forma de apresentar a mulher, as (Dom Quixote de La Mancha) racterísticas do comportamento
cores e os materiais selecionados, en- humano.
tre outros fatores, indicam o modo pes- A forma de escrever um texto não • Soneto: composição de 14 versos
soal de cada artista, ou seja, o estilo possui regras fixas, o autor manipula distribuídos em 2 quartetos e 2 ter-
individual. as palavras buscando explorar os sen- cetos, rica em métrica.
tidos dos leitores. • Canção: pequeno poema, popular,
Na literatura, é muito comum o mes- simples, de teor variado.
mo tema ser tratado de diferentes for- O escritor, quanto ao conteúdo e à • Acalanto: canto destinado a emba-
mas, de acordo com o momento histó- estrutura, pode variar o gênero. Alguns lar o sono.
rico e com o estilo de cada escritor. autores classificam em três ou quatro • Acróstico: verso cujas letras iniciais
os gêneros literários, que, por sua vez, formam o nome de uma pessoa ou
Diferentemente da pintura – e das se subdividem também conforme o uma palavra.
artes plásticas em geral – na qual se conteúdo. Dramático
utiliza, prioritariamente, linguagem não É o texto para ser encenado. Os ato-
verbal, a literatura utiliza a linguagem Lírico res representam pessoas comuns ou
verbal, ou seja, as palavras. heróis e seus feitos. Nesse gênero te-
Essa palavra vem do grego “lira”, um mos:
Literatura é a forma de expressar instrumento musical de cordas muito • Tragédia: descreve ações huma-
e recriar uma realidade por meio das utilizado durante a Idade Média, quan- nas que geram medo ou piedade,
palavras. A combinação dessas pala- do o poeta-escritor contava ou cantava
vras e a forma de organização do texto suas obras. 151
compõem o estilo individual de cada
escritor. Além disso, revelam a inter-
pretação do autor acerca da realidade.

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM levando o espectador a refletir so- vista estético (formal) e do ponto de Didaticamente, as escolas literárias
bre seus atos. vista do conteúdo (pensamentos e portuguesas são divididas da seguinte
• Comédia: é a criação de um texto ideias). forma:

crítico que leva o espectador a rir Caracterização geral das escolas Trovadorismo
pelo ridículo das ações cometidas Cumpre lembrar que essa linha perió-
pelo homem na sociedade. dica é simplesmente uma convenção Primeira época literária da Literatura
• Auto: um texto também pequeno, para facilitar a compreensão. Os pe- Portuguesa. O texto poético mais antigo
mas de cunho religioso, no qual ríodos não são precisos, são apenas datado dessa época, de 1198, que mar-
os atores representam entidades convenções. ca o início do Trovadorismo, é de autoria
simbólicas (a hipocrisia, a virtude, Todo movimento literário é fruto de do trovador Paio Soares de Taveirós, que
a avareza etc.). uma transformação lenta e gradual e é o dedicou à dona Maria Pais Ribeiro,
influenciado pelo movimento anterior e amante de D. Sancho I. O texto chama-
Épico por tendências novas; portanto, os mo- -se “Cantiga da Ribeirinha”.
vimentos literários não aparecem isola-
Nesse gênero o autor descreve, na dos uns dos outros, mas interligam-se Cantiga da Ribeirinha
epopeia, fatos históricos heroicos rea- às vezes de modo tão intenso que não "No mundo non me sei parelha,
lizados pelos seres humanos. podemos distingui-los. Por isso, deve- mentre me for como me vai,
mos ter sempre em mente dois con- ca já moiro por vós – e ai
Narrativa mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
ceitos bem definidos para comprender- quando vos eu vi en saia!
mos a literatura: Mau dia que me levantei,
Nesse tipo de literatura, o autor • Um movimento literário é sempre que vos enton non vi fea!
pode ser um simples narrador da his- E, mia senhor, dês aquel dia’ ai!
tória ou um narrador-personagem. ele mesmo, somado ao movimen- me foi a mim mui mal,
Nesse gênero, o escritor conta uma to anterior e ao movimento pos- e vós, filha de don Paai
história de ficção em que há perso- terior. Moniz, e ben vos semelha
nagens que atuam em local e tempo • Cada período literário se relaciona d’haver eu por vós guarvaia,
determinados. com as características (políticas, pois eu, mia senhor, d’alfaia
econômicas, sociais, filosóficas, re- nunca de vós houve nen hei
As formas da narrativa são: ligiosas, geográficas, morais.) con- valia d’ua correa".
• Romance: é uma trama que se de- temporâneas a ele. O idioma utilizado nessa época era
o galego-português (derivação de um
senvolve conforme a ênfase dada FICHA 2 – LITERATURA dialeto latino, o romanço). O texto escri-
pelo escritor – policial, aventureiro, PORTUGUESA to era menos comum que o texto oral,
de comportamentos psicológicos e daí vem a importância da poesia, que
ou sociais. ESCOLAS LITERÁRIAS versificava e ritmava a fala, produzindo
• Novela: uma narração mais curta, canções (cantigas) ou trovas.
seriada num foco de conflito.
• Conto: uma narrativa mais breve {
que a novela, porém não seriada Predomínio da subjetividade ou emoção
e também com um foco de con-
flito.

ESTILOS LITERÁRIOS, ESCOLAS LITERÁ- (1580)

RIAS OU ESCOLAS DE ÉPOCA (1198) (1825) (1896)
Trovadorismo Barroco Romantismo Simbolismo

A literatura reflete e revela os valores,
costumes e realizações de um deter-
minado período histórico, à medida
que os homens que escreveram essas
obras viveram esses determinados
períodos. Em outras palavras, o escri-
tor é, também, um observador de seu Antecedentes (1418) (1915)
tempo, e o seu texto é um testemunho Humanismo Modernismo
dessa observação. Como a História, (rompe com o passado)
a Literatura (intimamente ligada à pri- 1º texto literário escrito
meira) sofreu (e sofre) mudanças: de em português (séc.XI)

valores, de opiniões, de fatos. E esses
diferentes estágios determinam dife-
rentes características. (1527)
{ (1756) (1865)
Isso é o que, em Literatura, chama- Classicismo Arcadismo Realismo

mos de Escolas Literárias: um período
(dentro da história) com determinadas
152 características próprias do ponto de Predomínio da objetividade ou razão

Escolas Literárias

• Poesia à modernização incorporada por ela, dimittimus qualquer error LÍNGUA PORTUGUESA
Garcia de Resende ou seja, a admissão de novos recursos aos nosso devedores.
estilísticos, novas formas poéticas e Et ne nos, Deus, te pedimos,
Nasceu em meados de 1470 e mor- novos temas, que a afastaram do for- inducas, per
reu em 1536. Organizou O Cancioneiro malismo trovadoresco. nenhum modo
Geral, em torno de 1516. Escreveu as in tentationem: caímos
seguintes obras: O texto O Velho da Horta, por exem- porque fracos nos sentimos,
• Miscelânea (1554) plo, enquadra-se no Humanismo literá- formados de triste lodo.
• Vida e Feitos de D. João II rio. A farsa conta a história de um velho Sed libera nossa fraqueza,
que, passeando um dia por sua horta, nos a malo nesta vida.
Colaborou também em O Cancioneiro encontra uma moça que viera buscar Amém, por tua grandeza,
Geral, escrevendo as “Trovas à morte hortaliças com o seu hortelão. O velho, e nos livre tua alteza
de D. Inês de Castro”: encantado com a beleza da moça, ena- da tristeza sem medida.
mora-se dela. Por intermédio de uma
"Eu era moça, menina, alcoviteira, o velho tenta obter suces- 2ª cena: Entra a Moça na horta e
por nome dona Inês so, mas só consegue gastar todo o seu diz:
de Castro, e de tal doutrina dinheiro. No fim, a alcoviteira é presa e
e virtudes, que era dina açoitada, e a moça se casa com outro Vel. Senhora, benza-vos Deus,
de meu mal ser o revés. homem. Moç Deus vos mantenha, Senhor.
Vivia sem me lembrar Vel. Onde se criou tal flor?
que paixão podia dar O Velho da Horta Eu diria que nos céus.
nem dá-la ninguém a mim: "Figuras: um Velho, uma Moça, um Moç. Mas no chão.
foi-me o príncipe olhar, Parvo (criado do Velho), a Mulher Vel. Pois damas se acharão
por seu nojo e minha fim. do Velho, Branca Gil, uma Mocinha, que não são vosso sapato!
um Alcaide, Beleguins. Moç. Ai! Como isso é tão vão,
Começou-me a desejar A seguinte farsa é o seu argumen- e como as lisonjas são
trabalhou por me servir, to que um homem honrado e muito de barato!
Fortuna foi ordenar rico, já velho, tinha uma horta; e Vel. Que buscais vós cá, donzela,
dous corações conformar andando uma manhã por ela espai- senhora, meu coração?
e a vontade vir. recendo, sendo o seu hortelão fora, Moç. Vinha ao vosso hortelão,
Conheceu-me, conheci-o, veio uma moça de muito bom pare- por cheiros pera a panela.
quis-me bem e eu a ele, cer buscar hortaliça, e o velho em Vel. E a isso
perdeu-me, também perdi-o; tanta maneira se enamorou dela vinde vós, meu paraíso,
nunca até a morte foi frio que, per via de uma alcoviteira, minha senhora, e não a al?
o bem que, triste, pus nele. gastou toda a sua fazenda. A alco- Moç. Vistes vós! Segundo isso,
viteira foi açoitada, e a moça casou nenhum velho não tem siso
Dei-lhe minha liberdade, honradamente. Foi apresentada natural.
não senti perda de fama; ao mui sereníssimo rei D. Manuel, Vel. Ó meus olhinhos garridos!
pus nele minha verdade, o primeiro desse nome. Era do Se- minha rosa, meu arminho!
quis fazer sua vontade, nhor de 1512. Moç. Onde é vosso ratinho?
sendo mui formosa dama". Não tem os cheiros colhidos?
1ª cena: Entra logo o velho pela Vel. Tão depressa
• Teatro horta, rezando. vinde vós, minha condensa,
Gil Vicente meu amor, meu coração!
Vel. Pater noster criador, Moç. Jesus! Jesus! Que cousa é
Nasceu em 1465 e morreu entre qui es in coelis, poderoso, essa?
1536 e 1540. Iniciou, em 1502, a sua santificetur, Senhor, E que prática tão avessa
obra de teatro, com o Monólogo do Va- nomen tuam vencedor, da razão!
queiro, declamado na câmara da rai- nos céus e terra, piedoso. Falai, falai d’outra maneira!"
nha D. Maria de Castela. Adveniat a tua graça, regnum tuum
sem mais guerra; Renascimento (ou
Seu teatro é de caráter claramente voluntas tua se faça, Classicismo)
popular. Escreveu 46 peças, entre as sicut in coelo et in terra.
quais se destacam: Panem nostrum, que comemos, Entre os anos de 1450 e 1600 sur-
• Farsa de Inês Pereira quotidianum teu é. giu na Europa um movimento chama-
• Auto da Fé Escusá-lo não podemos; do Renascimento, que tinha por base
• Auto da Índia inda que o não merecemos, a valorização da Antiguidade Clássica
• Auto da Lusitânia tu da nobis, hodie. (greco-romana). Daí advém o nome
• Trilogia das Barcas Dimitte nobis, Senhor, dessa escola.
debita nostra, errores,
A poesia na época do Humanismo dis- sicut et nos, por teu amor, 153
tinguiu-se da do Trovadorismo graças

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM O Renascimento, fundamentado nos poesia lírica, épica e clássica, da qual Destemperada e a voz enrouquecida,
conceitos de antiguidade, humanidade Os Lusíadas é o exemplo mais famoso, E não do canto, mas de ver que
e universalidade, apoiava-se na razão, além de teatro (popular e clássico). venho
na valorização do homem e na busca de
novas terras (leia-se navegação) para Soneto Cantar a gente surda e endurecida.
instaurar sua nova visão de mundo. Em "Tanto de meu estado me acho in- O favor com que mais se acende o
Portugal, iniciou-se em 1527, ano em certo, engenho
que Sá de Miranda retornou da Itália e Que em vivo ardor tremendo estou Não no dá a Pátria, não, que está
divulgou as ideias renascentistas. de frio; metida"
Sem causa, justamente choro e rio; No gosto da cobiça e na rudeza
O Renascimento possibilitou o exer-
cício da poesia, da historiografia, da O mundo todo abarco e nada
literatura de viagens, da novelística, da aperto. Romantismo

prosa doutrinária e do teatro clássico. É tudo quanto sinto um desconcerto; Foi introduzido em Portugal por Almei-
O maior autor português desse período Da alma um fogo me sai, da vista da Garrett, em 1825, com a publicação
é Luís Vaz de Camões, destacando-se um rio; do poema Camões. É considerado um
ainda: Agora espero, agora desconfio, dos movimentos mais revolucionários
• Sá de Miranda Agora desvario, agora acerto. da história da literatura, pois represen-
• Antônio Ferreira (teatro) Estando em terra, chego ao Céu tou um rompimento no uso dos aspec-
• Diogo Bernardes e Cristóvão Falcão voando; tos formais e estruturais.
Numa hora acho mil anos, e é de
(poesia) jeito Acompanhando as mudanças polí-
• João de Barros e Damião de Góis Que em mil anos não posso achar ticas, econômicas e sociais (geradas
uma hora. pelas transformações advindas da Re-
(historiografia) volução Francesa), a literatura rompeu
• Fernão Mendes Pinto (literatura de com as regras formais que atravessa-
ram séculos: uso de rima e métrica
viagens)
• Bernadim Ribeiro
• Francisco de Moraes
• Gonçalo Fernandes Truncoso (no- Se me pergunta alguém por que as- e de formas poéticas estabelecidas,
sim ando, como o soneto, a ode e a canção. Não
vela) Respondo que não sei; porém sus- havia modelos a serem seguidos. Com
• Frei Amador Arrais e Samuel Usque peito a abolição das regras, abriu-se espaço
Que só porque vos vi, minha Se- para a demonstração da emoção.
(prosa doutrinária) nhora".
O Renascimento terminou aproxima- O artista romântico é, na verdade,
damente em 1580, ano da morte de Os Lusíadas um idealista, pois deseja um mundo
Camões e em que Portugal caiu sob Trata-se de uma obra que fala sobre melhor para os homens. Como tem
domínio espanhol. a história de Portugal, desde os primór- consciência de sua limitação, o ho-
dios, passando pela viagem de Vasco mem romântico esquiva-se, procu-
Luís Vaz de Camões da Gama à Índia, até o reinado de D. rando escapar desse choque entre
Nascido provavelmente em Lisboa, Sebastião. o ideal e a realidade. Desse modo,
em 1524 (não se sabe ao certo), mor- Inicia-se com a “Proposição”, que ex- o Romantismo caracteriza-se pela
reu em 1580. Estudou em Coimbra, põe o assunto sobre o qual se vai falar: tendência ao escapismo, pela sub-
travando contato com escritores da jetividade e pelo sonho, pelo senti-
Antiguidade Clássica. De família fidal- "As armas e os Barões assinalados mentalismo, pelo lirismo, pelo amor
ga, frequentou a Corte até 1549, quan- Que da Ocidental praia Lusitana, à natureza, pelo nacionalismo e pela
do partiu para Ceuta, para servir como Por mares nunca de antes navega- ilogicidade.
soldado. dos,
Perdeu uma vista numa das batalhas Passaram ainda além da Taprobana, O Romantismo durou aproximada-
de que participou, e em seu regresso mente quarenta anos. Nesse período,
a Lisboa, em 1552, feriu um servidor podemos dizer que teve três fases di-
ferentes:

do Paço, Gonçalo Borges, sendo preso Em perigos e guerras esforçados, • de 1825 a 1838: ainda com influ-
por isso. Foi libertado mediante a pro- Mais do que prometia a força hu- ências neoclássicas. Nesse perío-
messa de servir como militar no Orien- mana, do, destacam-se:
te. Partindo para a Índia, em 1553, E entre gente remota edificaram – Almeida Garrett
tornou-se “provedor dos defuntos e Novo Reino, que tanto sublimaram; – Alexandre Herculano
ausentes”. Numa viagem a Goa, nau- (...) – Castilho
fragou na foz do rio Mecon, onde, diz
a lenda, salvou os manuscritos de Os A “Narração” fala dos grandes feitos
Lusíadas, deixando morrer sua com- do heróis portugueses, ao passo que • de 1838 a 1860: ultrarromantis-
panheira Dinamene. Viveu ainda em o “Epílogo” remete à decadência pela mo, fase em que os valores român-
Málaga e nas ilhas da Malásia. qual passava o país: ticos atingiram seu apogeu. Repre-
sentado por:
Voltando para Lisboa em 1569, pu- "Não mais, Musa, não mais, que a – Camilo Castelo Branco
blicou Os Lusíadas, em 1572. Empo- Lira tenho – Soares de Passos
brecido, morreu na miséria. Escreveu
154

• de 1860 a 1865: fase de transição Eu não sei, não me lembra: o pas- Madalena está só na câmara, sen- LÍNGUA PORTUGUESA
para o Realismo. Representada sado, tada junto à banca; com um livro
por: A outra vida que dantes vivi sobe o colo, medita sobre o que
– Júlio Dinis Era um sonho talvez... – foi um so- estava lendo.
– João de Deus nho Cena 2
Em que paz tão serena dormi! Entra Telmo Pais, o criado, e os
O Romantismo chegou ao fim com a Oh! Que doce era aquele sonhar... dois conversam sobre Maria. Fa-
instalação da reforma realista, por vol- Quem me veio, ai de mim! despertar? lam também do primeiro marido de
ta de 1865. Madalena, D. João de Portugal, e
Só me lembra que um dia formoso do que aconteceu a ele.
Almeida Garrett eu passei... dava o Sol tanta luz! Cena 3
Nasceu em 1799, no Porto, e morreu E os meus olhos, que vagos giravam, Entra Maria; os três conversam. Ao
em 1854. Introdutor do Romantismo Em seus olhos ardentes os pus. final da cena, sai Telmo.
em Portugal, com a publicação do po- Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei; Cena 4
ema Camões; advogado, político e jor- Mas nessa hora a viver comecei... Ficam Madalena e Maria; conver-
nalista, João Batista Leitão de Almeida sam sobre os pais de Maria e esta
Garrett era um homem dinâmico e ad- Camões se queixa por não ser um filho ho-
quiriu fama de escandaloso por suas Canto Primeiro mem, com capacidade de levar os
ideias liberais, que o forçaram a se negócios do pai adiante.
exilar na Inglaterra, onde conheceu o V Cena 5
Romantismo. Garrett produziu poesia, Chega Jorge, cunhado de Mada-
teatro, prosa de ficção e prosa doutri- Terra, e terra da pátria! Debuxada lena, trazendo de Lisboa notícias
nária. Publicou: Se vê pulando a mágica alegria para Manuel de Sousa, sobre a vin-
Nos semblantes de todos. Já con- da dos governadores de Portugal
Poesia tentes, para a sua casa.
• O Retrato de Vénus (1821 ) Um se afigura surpreender o amigo, Cena 6
• Camões (1825) Outro à esposa fiel cair nos braços; Entra Miranda, um dos criados,
• Dona Branca (1826) Este da velha mãe, que há tanto o avisando que Manuel de Sousa
• Adozinda (1828) chora, chegou.
• Lírica de João Mínimo (1829) Ir enxugar as lágrimas aflitas; Cena 7
• Romanceiro (1843) Aquele, entre alvoroços e receios, Entra Manuel de Sousa, com vários
• Flores sem Fruto (1845) Não ousa de pensar se ao pai en- criados, a quem dá ordens. Depois,
• Folhas Caídas (1853) fermo conta a Madalena, Maria e Jorge
Na descarnada mão rugosa e seca que vai deixar a casa, e que eles
Teatro Ósculo filial lhe é dado ainda devem ir à antiga casa de Madale-
• Catão (1822) Respeitoso imprimir – ou se a ter- na. Saem Jorge e Maria.
• Mérope (1841) nura, Cena 8
• Um Auto de Gil Vicente (1838) Se o amor de filho sobre a laje avara Madalena e Manuel conversam so-
• D. Filipa de Vilhena (1846) Se irá quebrar de gélido sepulcro bre os planos. Madalena conta ao
• O Alfageme de Santarém (1842) Que em sua ausência – tão longa – marido que não pode suportar a
• Frei Luís de Sousa (1844) lho roubasse. ideia de voltar a viver naquela casa.
Qual da amada, que sempre foi Cena 9
Prosa de ficção constante, Entram Miranda e outros criados, e
• O Arco de Sant’Ana (1845-1850) – Ou sempre, ao menos lha pintou também Telmo, que diz que os gover-
• Viagens Na Minha Terra (1846) de longe nadores chegaram. Manuel chama
A namorada ideia – perto agora Jorge e Maria e apressa a todos.
Prosa doutrinária Começa de temer que tal distância,
• Da Educação (1829) Separação tamanha e tão comprida, 155
• Portugal na Balança da Europa Novo amante mais perto... – Mas
quem sabe?
(1830) Talvez... E esse talvez é de esperança
Sempre querida, sempre lisonjeira.
Este Inferno de Amar De que a ideia da Pátria o desper-
"Este inferno de amar – como eu tara.
amo! –
Quem mo pôs aqui n’ alma... quem Frei Luís de Sousa
foi?
Esta chama que alenta e consome, Primeiro Ato
Que é a vida – e que a vida destrói
Como é que se veio a atear, Cena 1
Quando – ai quando se há de apa-
gar?

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM Cena 10 até sem esperança, ainda defen- • Onde Está a Felicidade? (1856)
dem uma nação conquistada – as • Amor de Perdição (1856)
Jorge e Maria entram. Manuel pede mulheres e os templos. Teodomiro • Amor de Salvação (1864)
a Telmo e Jorge que acompanhem pagava bem caro o procedimento
as mulheres. Saem todos, exceto que o desejo de salvar os seus súdi- Amor de Perdição
Manuel, Miranda e os criados. tos o movera a seguir. O pacto feito Esta mansidão do fidalgo, cujo natu-
por ele com os árabes não tardou a ral era bravio, tem a sua explicação
Cena 11 ser por mil modos violado, e o ilus- no projeto de casar em breve a filha
Manuel recusa-se a receber os go- tre guerreiro teve de se arrepender, com seu primo Baltasar Coutinho,
vernadores e diz isso aos criados. mas já debalde, por haver deposto a de Castro-d’Aire, senhor de casa, e
Depois, ateia fogo na casa. espada aos pés dos infiéis, em vez igualmente nobre da mesma prosá-
de pelejar até a morte pela liberda- pia. Cuidava o velho, presunçoso co-
Cena 12 de. Fora isto o que Pelágio preferira, nhecedor do coração das mulheres,
Voltam todos para acudir Madale- e a vitória coroou o seu confiar no que a brandura seria o mais seguro
na, que pede que lhe salvem o re- esforço dos verdadeiros godos e na expediente para levar a filha ao es-
trato de Manuel, mas não é possí- piedade de Deus. quecimento daquele pueril amor a
vel. Todos fogem." Os que têm lido a história daquela Simão. Era máxima sua que o amor,
(resumo das 12 primeiras cenas do época sabem que a batalha de Can- aos quinze anos, carece de consis-
primeiro ato de Frei Luís de Sousa.) gas de Onis foi o primeiro elo dessa tência para sobreviver a uma au-
cadeia de combates que, prolon- sência de seis meses. Não pensava
Alexandre Herculano gando-se através de quase oito sé- errado o fidalgo, mas o erro existia.
culos, fez recuar o Alcorão para as As exceções têm sido o ludíbrio dos
Nasceu em 1810, em Lisboa, e mor- praias de África e restituir ao evan- mais assisados pensadores, tanto
reu em 1877. Sua obra tem um caráter gelho esta boa terra de Espanha, no especulativo como no experi-
histórico e filosófico, na qual desenvol- terra, mais que nenhuma, de már- mental. Não era muito que Tadeu
veu poesias, romances, contos e histo- tires. Na batalha de junto do Ause- de Albuquerque fosse enganado
riografias. Suas obras: ba foram vingados os valentes que em coisas de amor e coração de
pereceram nas margens do Críssus; mulher, cujas variantes são tantas e
Romance porque mais de vinte mil sarracenos tão caprichosas, que eu não sei se
• Eurico, o Presbítero (1844) viram pela última vez a luz do sol na- alguma máxima pode ser-nos guia,
• O Monge de Císter (1848) quelas tristes solidões. Mas, nesse a não ser esta: “Em cada mulher,
• O Bobo (1866) dia de punição, esta devia abranger quatro mulheres incompreensíveis,
assim os infiéis, como os que lhes pensando alternadamente como
Conto haviam vendido a pátria e que ain- se hão de desmentir umas às ou-
• Lendas e Narrativas (1851) da vinham disputar a seus irmãos a tras”. Isto é o mais seguro; mas não
dura liberdade de que gozavam nas é infalível. Aí está Teresa que pare-
brenhas intratáveis das Astúrias. ce ser única em si. Dir-se-á que as

Historiografia Camilo Castelo Branco três da conta, que diz a sentença,
• História de Portugal (1846-1853) Nasceu em Lisboa, em 1825, e suici- não podem coexistir com a quarta
• História da Origem e Estabelecimen- dou-se em 1890. Órfão aos 10 anos, foi aos quinze anos? Também o penso
criado por uma tia e uma irmã em Trás- assim, posto que a fixidez, a cons-
to da Inquisição em Portugal (1854- os-Montes. Casou-se aos 16 anos, mas tância daquele amor, funda em
1859) logo abandonou a mulher e a filha para causa independente do coração: é
cursar Medicina em Coimbra. Deixou o porque Teresa não vai à sociedade,
Ensaio curso pelo meio e, em 1843, foi morar não tem um altar em cada noite na
• Opúsculos (1873-1908) no Porto, onde se envolveu com uma sala, não provou o incenso doutros
mulher casada, Ana Plácido. Ambos fo- galãs, nem teve ainda uma hora de
Eurico, o Presbítero ram processados por adultério, mas de- comparar a imagem amada, deslu-
A aventura das armas muçulmanas pois absolvidos. Entre suas obras, estão: zida pela ausência, com a imagem
tinha chegado ao apogeu, e a sua amante, amor nos olhos que a fi-
declinação começava, finalmente. Romance tam, e amor nas palavras que a con-
E na verdade, a ira celeste contra • A Corja (1880) vencem de que há um coração para
os godos parecia dever estar satis- • Eusébio Macário (1879) cada homem, e uma só mocidade
feita. O solo da Espanha era como • A Brasileira de Prazins (1882) para cada mulher. Quem me diz a
uma ara imensa, onde as chamas • Vulcões de Lama (1886) mim que Teresa teria em si as qua-
das cidades incendiadas serviam tro mulheres da máxima, se o vapor
de fogo sagrado para consumir aos Poesia de quatro incensórios lhe estonteas-
milhares as vítimas humanas. O si- • Nas trevas (1890) se o espírito? Não é fácil, nem preci-
lêncio do desalento reinava por toda so decidir. E vamos ao conto.
a parte, e os cristãos viam com apa- Novela Acerca de Simão Botelho, nunca
rente indiferença os seus vencedo- • A Doida do Candal (1867) diante de sua filha Tadeu de Albu-
res poluírem as últimas coisas que, querque proferiu palavra, nem antes

156

nem depois do disparate do correge- – Muito bem... Posso eu saber – Conto LÍNGUA PORTUGUESA
dor. O que ele fez logo foi chamar a tornou com refalsado sorriso o • Serões de Província (1870)
Viseu o sobrinho de Castro-d’Aire, e primo – quem é que me disputa o
preveni-lo do seu desígnio, para que coração de minha prima? Romance
ele, em face de Teresa, procedesse – Que lucra em o saber? • As Pupilas do Senhor Reitor (1867)
como convinha a um enamorado de – Lucro saber, pelo menos, que a • A Morgadinha dos Canaviais (1868)
feição, e mutuamente se apaixonas- minha prima ama outro homem... É • Uma Família Inglesa (1868)
sem e prometessem auspicioso fu- exato? • Os Fidalgos da Casa Mourisca (1872)
turo ao casamento. – É.
Por parte de Baltasar Coutinho, a – E com tamanha paixão que deso- A Morgadinha dos Canaviais
paixão inflamou-se tão depressa, bedece a seu pai? Ao romper da manhã, quando a
quanto o coração de Teresa se – Não desobedeço: o coração é consciência principia, pouco a pou-
congelou de terror e repugnância. mais forte que a submissa vonta- co, a acudir aos sentidos, até então
O morgado de Castro-d’Aire, atri- de duma filha. Desobedeceria, se tomados pelo torpor de um sono
buindo a frieza de sua prima a mo- casasse contra a vontade de meu profundo, Henrique de Souselas
déstia, inocência e acanhamento, pai; mas eu não disse ao primo Bal- sonhava-se comodamente sentado
lisonjeou-se do virginal melindre tasar que casava; disse-lhe unica- em uma cadeira de S. Carlos, dis-
daquela alma, e saboreou de ante- mente que amava. posto a assistir ao desempenho de
mão o prazer de uma lenta, mas se- – Sabe a prima que eu estou es- uma ópera favorita.
gura conquista. Verdade é que Bal- pantado do seu modo de falar!... Moviam-se os arcos nas cordas dos
tazar nunca se explicara de modo Quem pensaria que os seus dezes- violinos, violoncelos e contrabaixos;
que Teresa lhe desse resposta de- seis anos estavam tão abundantes sopravam, a plena boca, os tocado-
cisiva. Um dia, porém, instigado por de palavras!... res dos instrumentos de vento; agi-
seu tio, afoitou-se o ditoso noivo a – Não são só palavras, primo – re- tavam descompostamente os bra-
falar assim à melancólica menina: torquiu Teresa com gravidade – são ços os ruidosos timbaleiros; dedos
– É tempo de lhe abrir o meu co- sentimentos que merecem a sua amestrados faziam vibrar as cordas
ração, prima. Está bem disposta a estima, por serem verdadeiros. Se da harpa; a batuta do mestre fendia
ouvir-me? eu lhe mentisse, ficaria mais bem airosamente os ares, e contudo não
– Eu estou sempre bem disposta a vista de meu primo? chegava aos ouvidos de Henrique,
ouvi-lo, primo Baltasar. – Não, prima Teresa; fez bem em de toda esta riqueza de instrumen-
O desdém aborrecido desta res- dizer a verdade, e de a dizer em tação, mais do que uma nota única,
posta abalou algum tanto as con- tudo. Ora, olhe: não duvida decla- arrastada, contínua, plangente, bai-
vicções do fidalgo, respeito à ino- rar quem é o ditoso mortal da sua xando e subindo na escala dos tons,
cência, modéstia e acanhamento preferência? e sem formular uma só frase musi-
de sua prima. Ainda assim, quis – Que lhe faz saber isso? cal.
ele no momento persuadir-se que a – Muito, prima: todos temos a nos- Era de desesperar um diletante
boa vontade não poderia exprimir- sa vaidade, e eu folgaria muito de como ele; torcia-se na cadeira, in-
-se doutro modo, e continuou: me ver vencido por quem tivesse clinava convenientemente a cabe-
– Os nossos corações, penso eu, merecimentos que eu não tenho ça, fazia das mãos cometas acústi-
que estão unidos; agora é preciso aos seus olhos. Tem a bondade de cas, e sempre o mesmo resultado!
que as nossas casas se unam. me dizer o seu segredo, como o di- Este violento estado de atenção, este
Teresa empalideceu, e baixou os ria a seu primo Baltasar, se o tives- esforço do sensório, principiou nele
olhos. se em conta de seu amigo íntimo? a obra do despertar; principiou pois
– Acaso lhe diria eu alguma coisa pelos ouvidos, mas cedo se transmi-
desagradável?! – prosseguiu Balta- Júlio Dinis tiu a todos os outros órgãos.
sar, rebatido pela desfiguração de Nasceu em 1839, no Porto, e morreu Antes de dar a si próprio conta do
Teresa. em 1871. Médico, foi vitimado ainda que era aquele som e quase esque-
– Disse-me o que é impossível fazer- cedo pela tuberculose. Júlio Dinis é o cido ainda do lugar em que estava,
se – respondeu ela sem turvação. pseudônimo de Joaquim Guilherme Go- Henrique abriu os olhos.
– O primo engana-se: os nossos co- mes Coelho. Seus romances retratam A luz do dia penetrava já pelas
rações não estão unidos. Sou muito ambientes rurais, e as aldeias repro- frestas mal vedadas das janelas e
sua amiga, mas nunca pensei em duzidas são verdadeiras; seu texto é espalhava no aposento uma tênue
ser sua esposa, nem me lembrou exato e simples, o que talvez explique claridade.
que o primo pensasse em tal. o fato de Júlio Dinis ser considerado o Veio então a Henrique a consciência
– Quer dizer que me aborrece, pri- grande precursor do Realismo em Por- do lugar em que estava, e uma ale-
ma Teresa? – atalhou, corrido, o tugal. Suas obras são: gria profunda lhe dilatou o coração.
morgado. Poesia O leitor, se ainda não padeceu de
– Não, senhor: já lhe disse que o • Poesias (1873- 1874) insônias, de pesadelos, ou de so-
estimava muito, e por isso mesmo Teatro nhos febris, não avalia por certo
não devo ser esposa dum amigo a • Teatro Inédito (1946-1947) – três o contentamento íntimo, que se
quem não posso amar. A infelicida- apossa das desgraçadas vítimas
de não seria só minha... volumes
157

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM desses demônios noturnos, quando • na prosa: Eça de Queirós, Fialho de Aesguiadifusãodosvossosreverberos,
por exceção eles as deixam em Almeida e Ramalho Ortigão. E a vossa palidez romântica e lunar!
paz, e lhes respeitam o sono de
uma noite completa. Acordar só Cesário Verde
aos raios da aurora é um dos mais Nasceu em 1855, em Lisboa, e mor- Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
inefáveis prazeres, a que eles aspi- reu em 1886. Dono de uma sensibi- Que espartilhada escolhe uns xales
ram na vida. lidade requintada, enquadrou à sua
Penetra-lhes então os membros poesia temas cotidianos que nunca com debuxo!
um insólito vigor; a arca do peito haviam sido trabalhados até então, Sua excelência atrai, magnética,
expande-se-lhes mais livre e as como o povo e o trabalho. Sua obra foi
sombras do espírito dissipam-se- reunida por Silva Pinto num volume in- entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno

se amontoa.

lhes com aquele clarão matinal. titulado O Livro de Cesário Verde, um E aquela velha, de bandós! Por
Foi o que sucedeu a Henrique. Pela ano após sua precoce morte. vezes,
primeira vez, depois de muitos me-
ses, dormira de um sono a noite in- III A sua traîne imita um leque antigo,
teira. Ao Gás aberto,
Sentia-se com isso tão bom, tão vi-
goroso, tão contente, que teve von- E saio. A noite pesa, esmaga. Nos Nas barras verticais, a duas tintas.
tade de cantar. Passeios de lajedo arrastam-se as Perto,

impuras. Escarvam, à vitória, os seus meck-
Ó moles hospitais! Sai das emboca- lemburgueses.
duras
Realismo Desdobram-se tecidos estrangeiros;

O Realismo foi instaurado em Por- Um sopro que arrepia os ombros Plantas ornamentais secam nos
tugal com a “Questão Coimbrã”, em quase nus. mostradores;
1865.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu Flocos de pós-de-arroz pairam sufo-
A segunda metade do século XIX as- penso cadores,
sistiu a um grande desenvolvimento
científico em todos os campos (biolo- Ver círios laterais, ver filas de capelas, E em nuvens de cetins requebram-se
Com santos e fiéis, andores, ramos, os caixeiros.

gia, física, matemática, filosofia, políti- velas, Mas tudo cansa! Apagam-se nas
ca). O Empirismo (filosofia que baseia Em uma catedral de um comprimen- frentes
suas verdades no resultado das ex-
periências concretas) levou ao auge o to imenso. Os candelabros, como estrelas,
progresso científico. Baseados nessas As burguesinhas do Catolicismo pouco a pouco;
ideias, os autores realistas passaram Resvalam pelo chão minado pelos
a agir como cientistas: eram observa- Da solidão regouga um cauteleiro
dores da realidade e deveriam relatá-la canos; rouco;
fielmente, sem interferir com sua sub- E lembram-me, ao chorar doente
jetividade naquilo que descreviam. Tornam-se mausoléus as armações
dos pianos, fulgentes.
O Realismo foi um período literário As freiras que os jejuns matavam de
inspirado nas leis naturais e que teve o “Dó da miséria!... Compaixão de
histerismo. mim!...”

compromisso de retratar a vida em sua Num cutileiro, de avental, ao torno, E, nas esquinas, calvo, eterno, sem
verdade. A realidade é explicada pelas Um forjador maneja um malho, repouso,
leis naturais.
rubramente; Pede-me sempre esmola um homen-
Nota: O Naturalismo não é uma es- zinho idoso,
cola literária, mas sim uma faceta do E de uma padaria exala-se, inda
Realismo, que tem como base uma vi- quente, Meu velho professor nas aulas de
são patológica do homem. O Natura- Um cheiro salutar e honesto a pão Latim!
lismo é amoral e representa o Realis-
mo levado às últimas consequências. no forno. Antero de Quental
O Realismo dispersou-se por volta de E eu que medito um livro que exa- Nasceu em 1842, em Ponta Delgada,
1890, quando surgiu a estética simbo- Açores, e faleceu em 1891. Formado
lista, mas nunca deixou de ser atuante, cerbe, em Direito, confrontou sua formação
pelo menos até 1915, pois, em várias Quisera que o real e a análise mo- tradicionalista (católica) com as ideias
obras posteriores a 1890, ainda pode- realistas que circulavam no meio aca-
mos encontrar características realistas. dessem; dêmico português. Foi uma espécie
Os autores portugueses de maior Casas de confecções e modas de guia e líder de sua geração, partici-
destaque no Realismo são: pando da polêmica “Questão Coimbrã”
• na poesia: Guerra Junqueiro, Go- resplandecem; (1865) e das “Conferências do Casino
Pelas vitrines olha um ratoneiro Lisbonense” (1871). Socialista convic-
mes Leal, Cesário Verde e Antero to desde a época da faculdade, desilu-
de Quental. imberbe. diu-se com a doutrina e com a vida e,
Longas descidas! Não poder pintar

Com versos
magistrais, salubres e sinceros,

158

deprimido, com um pessimismo acen- já influenciada pelo Simbolismo, procu- dução literária e a intenção é sugerir, LÍNGUA PORTUGUESA
tuado, suicidou-se em sua terra natal. ra retomar o pessimismo realista, mas e não somente descrever. A larga utili-
Suas obras são: com valores diferentes. Suas obras são: zação do símbolo dá nome ao período.
• Odes Modernas (1865) • O Mistério da Estrada de Sintra
• Primaveras Românticas (1871) Os temas são místicos e espirituais.
• Sonetos Completos (1886) (1871) Abusa-se da sinestesia (sensações
• Raios de Extinta Luz (1892) • O Crime do Padre Amaro (1875) produzidas pelos diversos órgãos sen-
• Prosas (1923, 1926 e 1931) – três • O Primo Basílio (1878) soriais), das aliterações (repetição de
• O Mandarim (1879) letras e sílabas numa mesma oração) e
volumes • A Relíquia (1887) das assonâncias (aproximação fônica
• Os Maias (1888) entre as vogais tônicas das palavras),
Oceano Nox • A Ilustre Casa de Ramires (1900) tornando os textos poéticos simbolis-
(A A. de Azevedo Castelo Branco) • A Correspondência de Fradique tas profundamente musicais.

Junto do mar, que erguia gravemente Mendes (1900) O Simbolismo em Portugal liga-se às
A trágica voz rouca, enquanto o • A Cidade e as Serras (1901) atividades da revistas Os Insubmissos e
• A Capital (1925) Boêmia Nova, fundadas por estudantes
vento de Coimbra, entre eles Eugênio de Cas-
Passava como o voo do pensamento O Primo Basílio tro, que, ao publicar um volume de ver-
Que busca e hesita, inquieto e Juliana lisonjeava sempre a cozi- sos intitulado Oaristos, instaurou essa
nheira; dependia dela: Joana dava- nova estética em Portugal. O movimento
intermitente, lhe caldinhos às horas de debilidade simbolista durou até 1915. aproximada-
ou, quando ela estava mais adoen- mente quando se iniciou o Modernismo.
Junto do mar sentei-me tristemente, tada, fazia-lhe um bife às escondi-
Olhando o céu pesado e nevoento, das da senhora. Juliana tinha um Os nomes de maior destaque no Sim-
E interroguei, cismando, esse la- grande medo de “cair em fraqueza”, bolismo português são:
e a cada momento precisava tomar • Eugênio de Castro
mento a “sustância”. De certo, como feia e • Antônio Nobre
Que saía das coisas, vagamente… solteirona, detestava aquele “escân- • Camilo Pessanha
dalo do carpinteiro”; mas protegia-o, • Augusto Gil
Que inquieto desejo vos tortura, porque ele valia muitos regalos aos • Alfonso Lopes Vieira
Seres elementares, força obscura? seus fracos de gulosa. • Antônio Patrício
Em volta de que ideia gravitais? – Fosse eu! – repetiu – dava-lhe o • Manuel Laranjeira (poesia)
melhor da panela! Se a gente ia ter • Raul Brandão (prosa)
Mas na imensa extensão, onde se escrúpulos por causa dos amos,
esconde boa! Olha quem! Veem uma pessoa Eugênio de Castro
a morrer e é como se fosse um cão. Nasceu em 1869 e morreu em 1944.
O Inconsciente imortal, só me Seu primeiro livro foi Oaristos (1890),
responde Simbolismo que introduziu a estética simbolista
em Portugal. Fundador do Simbolismo
Um bramido, um queixume, e nada Surgido na França, o Simbolismo foi português, foi professor da Faculdade
mais… um movimento de reação contra o Re- de Letras de Coimbra e liderou o grupo
alismo, pois procurou combater a ob- de Os Insubmissos (1889). Produziu,
Eça de Queirós sessão cientificista dos realistas, por entre outras obras:
José Maria Eça de Queirós nasceu em meio da retomada do subjetivismo e • Horas (1891)
1845 e morreu em 1900. Advogado, do espiritualismo (banidos da literatura • Interlúnio (1894)
iniciou sua carreira como escritor, pu- pelo objetivismo realista). • Silva (1894)
blicando uma série de folhetins, que, • Belkiss (1894)
posteriormente, foram reunidos no vo- O Simbolismo tem como principal • Tirésias (1895)
lume Prosas Bárbaras (1905). Integrou característica o predomínio do sonho. • Sagramor (1895)
o grupo “Cenáculo”, em 1868, e par- Para os autores simbolistas, a vida de- • Salomé e Outros Poemas (1896)
ticipou das Conferências do Cassino veria ser retratada como algo misterio- • Constança (1900)
Lisbonense. so e inexplicável. Daí advém o uso de • Canções Desta Negra Vida (1922)
Sua obra examina a sociedade bur- uma linguagem imprecisa e obscura, • Últimos Versos (1938)
guesa portuguesa sob vários aspectos: que caracteriza a atmosfera de sonho
a família, a religião, a política, destrin- e fantasia presente na literatura sim- Um Sonho
chando os costumes e criticando as bolista. Na messe, que enlourece, estreme-
imperfeições de uma sociedade hipó- ce a quermesse...
crita e mesquinha. A produção literária simbolista, in- O sol, celestial girassol, esmorece...
Pode-se dizer que sua produção lite- fluenciada pela psicanálise de Sig- E as cantilenas de serenos sons
rária divide-se em três fases distintas: mund Freud, vê o homem como um amenos
a primeira realista de forma extrema, ser regido pelo seu inconsciente, pelo Fogem fluidas, fluindo a fina flor
em que procura, acima de tudo, criticar sonho. O sonho é matéria para a pro- dos fenos...
a sociedade. A segunda fase assume
uma postura mais esperançosa e po- 159
sitiva, ainda que crítica. A última fase,

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM As estrelas em seus halos satisfeitos com os métodos e formas gou a cursar a Faculdade de Letras
Brilham com brilhos sinistros... literárias e que propunha “o inconfor- de Lisboa, mas abandonou o curso,
Cornamusas e crotalos, mismo e a deificação do ato poético” indo trabalhar como correspondente
Cítolas, cítaras, sistros, (Jorge Miguel). comercial. Liderou o grupo da revista
Soam suaves, sonolentos, Orpheu e colaborou em várias outras
Sonolentos e suaves, O Modernismo pode ser subdividido revistas, como Centauro, Athena,
Em suaves, em várias fases: Contemporânea e Presença. Pessoa
Suaves, lentos lamentos • de 1915 a 1927 – Influências futu- é considerado o maior poeta portu-
De acentos guês depois de Camões. Desenvol-
Graves ristas e baseado na revista Orpheu. veu o processo de “heteronímia” de
Suaves... • de 1927 a 1940 – Baseado na re- sua personalidade, criando três ou-
Flor! enquanto na messe estremece tros escritores diferentes dele mes-
vista Presença, que propunha uma mo e entre si: Alberto Caeiro, Ricar-
a quermesse continuidade e uma renovação do do Reis e Álvaro de Campos. Os três
E o sol, o celestial girassol, esmorece, pensamento órfico. possuem, inclusive, uma complexa
Deixemos estes sons tão serenos e • de 1940 a 1947 – Neorrealismo, biografia e história de vida. O estilo
com uma literatura socialmente de cada heterônimo é diferente do
amenos, empenhada. estilo do próprio Fernando Pessoa,
Fujamos, Flor! à flor destes floridos • de 1947 a 1974 – Surrealismo. também chamado Fernando Pessoa
• de 1974 até hoje – Período con- – ele mesmo. Sua obra é composta
fenos... temporâneo, após a revolução que dos seguintes livros:
Soam vesperais as Vêsperas... deu fim ao período salazarista, com
Uns com brilhos de alabastros, destaque principalmente para a Poesia
Outros louros como nêsperas, prosa. • Mensagem (1934)
No céu pardo ardem os astros... • Poesias de Fernando Pessoa
Como aqui se está bem! Além freme Os modernistas não tinham um obje-
tivo concreto, com um programa esté- (1942)
a quermesse... tico estabelecido. A intenção era a de • Poesias de Álvaro de Campos
– Não sentes um gemer dolente que derrubar formas artísticas convencio-
nais pelo escândalo. (1944)
esmorece? • Poemas de Alberto Caeiro (1946)
São os amantes delirantes que em Alguns dos autores mais importantes • Odes de Ricardo Reis (1946)
do Modernismo em Portugal são: • Poemas Dramáticos (1952)
amenos • Fernando Pessoa • Poesias Inéditas (1955-1956)
Beijos se beijam, Flor! à flor dos • Mário de Sá Carneiro • Quadras ao Gosto Popular (1965)
• Almada-Negreiros • Antinous (1918)
frescos fenos... • Florbela Espanca • 35 Sonnets (1918)
As estrelas em seus halos • Aquilino Ribeiro • Inscriptions (1920): estes opús-
Brilham com brilhos sinistros... • José Régio
Cornamusas e crotalos, • Miguel Jorge culos de poemas ingleses foram
Cítolas, cítaras, sistros, • Antônio Botto reunidos sob o nome de English
Soam suaves, sonolentos, • Irene Lisboa Poems.
Sonolentos e suaves, • Ferreira de Castro
Em suaves, • Manuel da Fonseca Prosa
Suaves, lentos lamentos • José Saramago
De acentos • Lídia de Castro • Páginas de Doutrina Estética
Graves, (1946)
Suaves... O Modernismo, por sua quase con-
Esmaece na messe o rumor da temporaneidade, abrange muitos au- • A Nova Poesia Portuguesa (1944)
tores e, por esse motivo, seria pratica- • Análise da Vida Mental Portuguesa
quermesse... mente impossível expô-los todos aqui
– Não ouves este ai que esmaece e com a devida consideração. Desse (1966)
modo selecionamos apenas três auto- • Apologia do Paganismo (1966)
esmorece? res, com obras bastante significativas • Páginas Íntimas (1966)
É um noivo a quem fugiu a Flor de dentro da literatura portuguesa mo- • Autointerpretação (1966)
derna, para exemplificar o que se tem • Páginas de Estética (1966)
olhos amenos, produzido em Portugal desde 1915 até • Teoria e Crítica e Literária (1966)
E chora a sua morta, absorto, à flor hoje. • Textos Filosóficos (1968) – dois vo-

dos fenos... lumes

Modernismo Fernando Pessoa Fernando Pessoa – ele mesmo
Nasceu em 1888, em Lisboa, e fa- O Menino da sua Mãe
leceu em 1935. Foi criado na África
Iniciou-se, propriamente, em 1915, do Sul, onde fez os cursos primário e "No plaino abandonado
com a publicação da revista Orpheu, secundário. De volta a Portugal, che- Que a morna brisa aquece,
organizada por jovens escritores in- De balas traspassado

160

– Duas, de lado a lado xões que levantam a voz, Cumpras por própria. Manda no LÍNGUA PORTUGUESA
Jaz morto, e arrefece. Nem invejas que dão movimentos que fazes,
demais aos olhos, Nem de ti mesmo servo.
Raia-lhe a farda o sangue Nem cuidados, porque se os tives- Ninguém te dá que és. Nada te
De braços estendidos, se o rio sempre correria, mude.
Alvo, louro, exangue, E sempre iria ter ao mar. Teu íntimo destino involuntário
Fita com olhar langue Cumpre alto. Sê teu filho.
E cego os céus perdidos. Amemo-nos tranquilamente, pen-
sando que podíamos, Alberto Caeiro
Tão jovem! Que jovem era! Se quiséssemos, trocar beijos e
(Agora que idade tem?) abraços e carícias, IX
Filho único, a mãe lhe dera Mas que mais vale estarmos senta- Sou um guardador de rebanhos.
Um nome e o mantivera: dos ao pé um do outro O rebanho é os meus pensamentos
“O menino da sua mãe”. Ouvindo correr o rio e vendo-o. E os meus pensamentos são todos
sensações.
Caiu-lhe da algibeira Colhamos flores, pega tu nelas e Penso com os olhos e com os ou-
A cigarreira breve. deixa-as vidos
Dera-lhe a mãe. Está inteira No colo, e que o seu perfume suavi- E com as mãos e os pés
É boa a cigarreira, ze o momento – E com o nariz e a boca.
Ele é que já não serve. Este momento em que sossegada- Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
mente não cremos em nada, E comer um fruto é saber-lhe o sen-
De outra algibeira, alada Pagãos inocentes da decadência. tido.
Ponta a roçar o solo, Ao menos, se for sombra antes, Por isso quando num dia de calor
A brancura embainhada lembrar-te-ás de mim depois Me sinto triste de gozá-lo tanto.
De um lenço... Deu-lhe a criada Sem que a minha lembrança te E me deito ao comprido na erva,
Velha que o trouxe ao colo. arda ou te fira ou te mova, E fecho os olhos quentes,
Porque nunca enlaçamos as mãos, Sinto todo o meu corpo deitado na
Lá longe, em casa, há a prece: nem nos beijamos realidade,
“Que volte cedo, e bem!” Nem fomos mais do que crianças. Sei a verdade e sou feliz.
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece, E se antes do que eu levares o óbo- X
O menino da sua mãe. lo ao barqueiro sombrio, Olá, guardador de rebanhos,
Eu nada terei que sofrer ao lem- Aí à beira da estrada,
Ricardo Reis brar-me de ti. Que te diz o vento que passa?
12 - 6 - 1914 Ser-me-ás suave à memória lem- “Que é vento, e que passa,
Vem sentar-te comigo, Lídia, à bei- brando-te assim – à beira-rio, E que já passou antes,
ra do rio. Pagã triste e com flores no regaço. E que passará depois.
Sossegadamente fitemos o seu E a ti o que te diz?”
curso e aprendamos 16 - 10 - 1914 Muita cousa mais do que isso.
Que a vida passa, e não estamos "Acima da verdade estão os deuses Fala-me de muitas outras cousas.
de mãos enlaçadas. A nossa ciência é uma falhada có- De memórias e de saudades
(Enlacemos as mãos). pia E de cousas que nunca foram.
Da certeza com que eles Nunca ouviste passar o vento.
Depois pensemos, crianças adul- Sabem que há o Universo. O vento só fala do vento.
tas, que a vida O que lhe ouviste foi mentira,
Passa e não fica, nada deixa e nun- Tudo é tudo, e mais alto estão os E a mentira está em ti.
ca regressa, deuses,
Vai para um mar muito longe, para Não pertence à ciência conhe- Álvaro de Campos
ao pé do Fado, cê-los,
Mais longe que os deuses. Mas adorar devemos Não: Não quero nada.
Desenlacemos as mãos, porque Seus vultos como as flores, Já disse que não quero nada.
não vale a pena cansarmo-nos. Não me venham com conclusões!
Quer gozemos, quer não gozemos, Porque visíveis à nossa alta vista, A única conclusão é morrer.
passamos como o rio. São tão reais como reais as flores Não me tragam estéticas!
Mais vale saber passar silenciosa- E no seu calmo Olimpo Não me falem em moral!
mente São outra Natureza. Tirem-me daqui a metafísica!
E sem desassossegos grandes. Não me apregoem sistemas comple-
19 - 1 - 1930 tos, não me enfileirem conquistas
Sem amores, nem ódios, nem pai- Nunca a alheia vontade, inda que
grata, 161

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM Das ciências (das ciências, Deus lhar como crítico de arte, pintor e de- romance Levantando do Chão, que se
meu, das ciências!) – senhista. Sua extensa obra é formada firmou como um dos maiores nomes
Das ciências, das artes, da civiliza- pelas seguintes publicações: da literatura portuguesa contemporâ-
• O Moinho (1913) nea. Em 1998, tornou-se o primeiro
ção moderna! • Os Outros (1914) autor em língua portuguesa a receber
Que mal fiz eu aos deuses todos? • 23, 2º Andar (1914) o Prêmio Nobel. Suas obras:
Se têm a verdade, guardem-na!
• Manifesto Anti-Dantas e por Exten-
Sou um técnico, mas tenho técnica so (1915) Poesia
só dentro da técnica. • Os Poemas Possíveis (1966)
Fora disso sou doido, com todo o • K4, O Quadrado Azul (1917) • Provavelmente Alegria (1970)
direito a sê-lo. • Litoral (1917) • O Ano de 1993 (1975)
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? • A Engomadeira (1917)

Não me macem, por amor de Deus! • Invenção do Dia Claro (1921) Crônica
Queriam-me casado, fútil, quotidia- • Pierrot e Arlequim (1924)
no e tributável? • Deste Mundo e do Outro (1971)
• Deseja-se Mulher (1928) • A Bagagem do Viajante (1973)
Queriam-me o contrário disto, o • As Opiniões que o D.L. Teve (1974)
contrário de qualquer coisa? • S.O.S. (1929) • Os Apontamentos (1976)
Se eu fosse outra pessoa, fazia- • Portugal, Direção Única (1932) • Viagem a Portugal (1981)
lhes, a todos, a vontade. • Elogio de Ingenuidade (1936)
Assim, como sou, tenham paciên- • Nome de Guerra (1938) Teatro
cia! • Mito – Alegoria – Símbolo (1948) • À Noite (1979)
Vão para o diabo sem mim, • Orpheu (1965) • Que Farei com Este Livro? (1980)

Ou deixem-me ir sozinho para o Nome de Guerra • A Segunda Vida de Francisco de As-
diabo! sis (1987)
• In Nomine Dei (1993)
Para que havemos de ir juntos? IV
Não me peguem no braço! Às vezes o dia começa à noite Conto
Não gosto que me peguem no bra- Chamam-se clubes a umas casas • Objecto Quase (1978)
ço. Quero ser sozinho. abertas toda noite e nas quais a • Política dos Cinco Sentidos (1979)
Já disse que sou sozinho! razão mais forte é o jogo.
Dessas casas saem grossas quan-
Ah, que maçada quererem que eu tias, extraordinariamente superio- Romance
seja da companhia! res às correspondentes licenças e • Terra do Pecado (1947)
Ó céu azul – o mesmo da minha impostos, o que justifica momen- • Manual de Pintura e Caligrafia
infância – taneamente a tolerância dos pode-
Eterna verdade vazia e perfeita! res civis, transformados por esse (1977)
Ó macio Tejo ancestral e mudo, facto em bem feitores da miséria • Levantando do Chão (1980)
Pequena verdade onde o céu se pública. Isso é apenas para dizer • Memorial do Convento (1982)
reflete! que corre por essas casas tanto di- • O Ano da Morte de Ricardo Reis
Ó mágoa revisitada, Lisboa de ou- nheiro que dá por vezes a ilusão da
trora de hoje! abundância e do bem-estar. Umas (1984)
Nada me dais, nada me tirais, nada vezes ganha a banca, e outras ve- • A Jangada de Pedra (1986)
sois que eu me sinta. zes os pontos, de modo que o azar • História do Cerco de Lisboa (1989)
Deixem-me em paz! Não tardo, que e a fortuna estão sempre nestas • O Evangelho Segundo Jesus Cristo
eu nunca tardo...
(1991)
• Ensaio sobre a Cegueira (1995)
• Todos os Nomes (1997)
casas.
E enquanto tarda o Abismo e o Si- Quem inventou o jogo talvez acre- • A Caverna (2000)
lêncio quero estar sozinho! ditasse em milagres, mas pensava • O Homem Duplicado (2002)
seguramente nos que acreditam • Ensaio sobre a Lucidez (2004)
Almada-Negreiros em milagres. • Intermitências da Morte (2005)
As expressões mais desastradas
José Sobral de Almada-Negreiros de nossa humanidade ficam em O Ano da Morte de Ricardo Reis
nasceu em 1893, em Lisboa, e fale- O besouro tem um som mais rouco,
ceu em 1970. Integrou o grupo de redor de uma mesa de jogo. A es- ou foi a memória que se transviou
perança está toda no verde do jogo desde então.
Orpheu, pois era contrário a qual- da mesa. O fumo iguala tudo, e ní- O pajem levanta o seu globo apa-
quer academicismo. Tentou colocar gado, afinal em França também
Portugal no mesmo nível das demais tidos só os números. Três dúzias e havia pajens assim, não chegará
um zero." a saber-se, de certeza certa, don-
nações europeias, divulgando corren- de este veio, o tempo não deu para
tes estéticas, como o Futurismo e o tudo. Ao cimo da escada aparece o
Cubismo. Estudando artes plásticas, José Saramago Pimenta, vai para descer julgando
visitou Paris e a Espanha, e foi um dos Nasceu em 1922, em Azinhaga. Ini- que é um cliente com bagagem.
maiores divulgadores das vanguardas ciou a carreira literária publicando
em Portugal. Transitou entre a poesia, poesias, crônicas, teatro, romances e
o romance e o teatro, além de traba- contos. Mas foi a partir de 1980, com o

162

Então ficou à espera, ainda não a cama com a criada, e se calhar FICHA 3 – LITERATURA LÍNGUA PORTUGUESA
reconheceu quem sobe, pode-se ainda vai. Agora aparece-me aqui, BRASILEIRA
ter esquecido, são tantas as caras feito inocente. Se ele julga que me
que entram e saem da vida de um engana, muito enganado está. _ A Literatura Brasileira esteve atrelada
mandarete de hotel, e há o contra- Sabe aonde é que ela terá ido, per- ao desenvolvimento da Literatura Por-
luz; devemos sempre contar com guntou Ricardo Reis. Andará por aí, tuguesa, pelo fato de que o Brasil foi
o contraluz nestas ocasiões, mas capaz de estar no Ministério da Ma- colônia de Portugal desde o seu des-
agora está tão perto, mesmo vindo rinha, ou em casa da mãe, ou na cobrimento; ou seja, permaneceu sob
de cabeça baixa que se acabam as polícia, que este caso deve meter a influência portuguesa do século XVI
dúvidas. É o senhor doutor Reis, polícia. É mais do que certo, mas até o final do século XIX, época da Pro-
como está, senhor doutor, Bons fique o senhor doutor descansado clamação da República.
dias, Pimenta, aquela criada como que eu digo-lhe que o senhor dou-
é que ela se chama, a Lídia, está. tor esteve cá, ela depois procura-o. Entretanto, a Literatura Brasileira
_ Ah, não, senhor doutor, não está, E o Salvador tornava a sorrir, como muitas vezes se diferenciou da litera-
saiu e ainda não voltou. Acho que quem acaba de armar um laço e já tura de Portugal, adquirindo contornos
o irmão estava metido na revolta; vê a caça presa pelo jarrete, mas (e méritos) próprios. De modo geral,
ainda bem não tinha Pimenta, aca- Ricardo Reis responde. _ Sim, ela a Literatura Brasileira acompanhou o
bado a última palavra, apareceu que me procure, tem aqui a minha auge e o declínio de diversos estilos
Salvador no patamar. Fez-se de no- morada, e escreveu num papel a literários, de acordo (aproximadamen-
vas. _Oh, senhor doutor, que gran- inútil indicação. Salvador desfez te) com o desenvolvimento desses es-
de alegria vê-lo por cá. E o Pimenta o sorriso, despeitado pela respos- tilos em Portugal. Cumpre lembrar que
disse o que ele já sabia. _ O senhor ta pronta. Não se chegou a saber era a Metrópole que trazia as novas
doutor queria falar com a Lídia. _ que palavras iria dizer, do segundo (e velhas) tendências literárias para o
Ah, a Lídia não está, mas se eu andar desciam dois espanhóis em Brasil. Assim, podemos estabelecer da
puder ser útil? _ Queria apenas sa- acalorada conversa. Um deles per- seguinte forma (didaticamente) os pe-
ber o que se passou com o irmão, guntou, Senor Salvador, los ha leva- ríodos literários no Brasil, lembrando
coitada da rapariga. Ela tinha-me do el diablo a los marineros, Si, don que, por ter sido descoberto somente
falado de um irmão que estava na Camilo, los ha levado el diablo. Bue- em 1500, o Brasil não conheceu as
marinha de guerra, vim só para aju- no, entonces es hora de decir arriba tendências literárias do Trovadorismo
dar em alguma coisa, como médi- Espana viva Portugal. _ Arriba, don e do Renascimento.
co. _ Compreendo, senhor doutor, Camilo. E o Pimenta acrescentou,
mas a Lídia não está, saiu assim por conta da pátria, Viva. Ricardo Obs.: As datas do gráfico são refe-
que começaram os tiros e não vol- Reis desceu a escada, o besouro rências e não determinam o ano exa-
tou. E Salvador sorria. Sempre sorri zumbiu. Em tempos tinha havido to para o fim de um período e o início
quando dá informações, é um bom aqui uma sineta, mas os hóspedes de outro. As tendências coexistem
gerente, digamo-lo pela última vez, de então protestaram, diziam que entre si.
mesmo tendo razões de queixa parecia portão de cemitério.
deste antigo hóspede que ia para

Literatura Barroco Arcadismo Romantismo Realismo Modernismo
de Informação Naturalismo
Parnasianismo Simbolismo Pré-Modernismo

Anos

1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922

SÉCULO XVI Corte portuguesa sobre as caracte- A literatura jesuítica é fruto da tare-
rísticas da terra e os costumes dos fa dos padres jesuítas, enviados por
A produção literária brasileira no habitantes nativos (indígenas). Por Portugal ao Brasil com o objetivo de
século XVI resumiu-se à literatura de esse motivo, essa literatura é chama- catequizar os indígenas e instalar o
viagem jesuítica de caráter missio- da de informativa. ensino público na colônia (as primei-
nário. Esta literatura diz respeito às ras missões datam de 1549). Nesse
cartas e textos (não-literários) que Nesse tipo de literatura se destacam período, os jesuítas produziram poe-
procuravam descrever as recém-des- os autores: mas e peças teatrais, entre outros
cobertas terras da colônia. O objetivo • Pero Vaz de Caminha textos, com finalidade catequética.
desses textos era o de informar a • Pero de Magalhães Gândavo Destacam-se:

163

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM • Padre Manuel da Nóbrega Reparada a quilha, descansamos No Brasil, destacam- se os seguintes
• Padre José de Anchieta em estreitos canais entrincheira- autores:
dos por montes de areia, por onde
Padre Manuel da Nóbrega se costuma navegar. • Gregório de Matos
Autor de Diálogo sobre a Conversão No dia seguinte, reunidos, feliz- • Padre Antonio Vieira (ver em Litera-
dos Gentios, obra em que fala sobre a mente, por todos, à tarde, os ma-
catequese dos indígenas. rinheiros, julgando-se já livres do tura Portuguesa)
perigo, tranquilizaram-se e não Gregório de Matos
Carta aos seus superiores sobre apensaram mais e tal, quando de
sua viagem e chegada à Bahia repente, sem ninguém esperar, Gregório de Matos Guerra nasceu em
... por uma parte, como corrido, de o leme salta fora do eixo e que- 1633, em Salvador, Bahia, e faleceu
achar-me, com tão pouco segado- bra-se o navio. Veio, ao mesmo em 1696. Formou-se advogado pela
res, em tão grande seara; e, por tempo, seguida de ventos, e de Universidade de Coimbra, foi tesourei-
outra, não cabia mais do prazer, aguaceiros, que nos atirou para ro da catedral e vigário-geral da Dioce-
porque via, com os meus olhos, perigosos estreitos. O navio era se, na Bahia.
campo estendido em que fartasse arrastado, sulcando areias e, por
o meu coração. Alegrava-me com a causa de frequentes solavancos, Sua obra é formada por poesias líri-
esperança que havia de convertê- temíamos se fizesse todo em pe- cas, religiosas e satíricas. Por causa
lo a Deus; entristecia-me com a daços. Porquanto levados para dessa última, foi forçado a exilar-se
lembrança dos que já se lhes re- um lugar próximo e inclinando-se em Angola e ganhou o apelido de
presentavam perdidos. a nave para outro lado, exposta as “Boca do Inferno”. Seus trabalhos
... Chegamos a esta Bahia a 29 do relíquias dos Santos que conosco foram publicados postumamente, so-
mês de março de 1549. Andamos trazíamos para implorar o socor- mente em 1822.
na viagem oito semanas. Acha- ro Divino, voltamos e lançando às
mos a terra de paz e quarenta ondas o Cordeiro de Deus, aplaca- Contemplando nas cousas do
ou cincoenta moradores. Rece- da a tempestade, caímos em um mundo desde o seu retiro, lhe atira
beram-nos com grande alegria e pego mais fundo, onde, deitada com o seu apage, como quem a nado
achamos uma maneira de Igreja, a âncora, e colocado o leme em
justo, da qual logo nos apresenta- seu lugar próprio, com pequeno escapou da tormenta.
mos em umas casas, a par dela, trabalho e com grande admiração Soneto
que não pouca consolação, para de todos nós, esperávamos ficar
nós, para dizermos missa e con- tranquilos até o romper da aurora. Neste mundo é mais rico o que
fessarmos... mais rapa:
Barroco (1601-1768)
Padre José de Anchieta Quem mais limpo se faz, tem mais
Padre jesuíta que veio ao Brasil com Introduzido no Brasil pelos portugue- carepa;
o objetivo de catequizar os indígenas. ses, foi um estilo apenas absorvido,
Merece destaque sua obra poética pois não foi desenvolvido dentro do Com sua língua, ao nobre o viu
não catequética que escrita em latim Brasil, pelo simples fato de que nessa decepa:
(como o seu poema mais famoso, Po- época ainda não havia uma produção
ema à Virgem Maria), espanhol e por- literária escrita significativa no País. O velhaco maior sempre tem capa.
tuguês, a obra inclui Do Santíssimo Refletindo a Literatura Portuguesa, Mostra o patife da nobreza o
Sacramento e A Santa Inês. Anchieta não pode ser considerado como um
foi o primeiro poeta “brasileiro” e sua período de produção literária nacional, mapa:
produção literária tem grande valor salvo raras exceções. Quem tem mão de agarrar, ligeiro
histórico.
Caracteriza-se por expressar a soli- trepa:
dão e o sentimento de agonia de um Quem menos falar pode, mais in-
homem dividido entre a razão e a fé,
crepa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se enculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem
garlopa:
Carta sobre o Brasil por meio de elementos que priorizam Mais isento se mostra o que mais
o não-objetivo, o inconsistente e o não- chupa.
Havendo eu e quatro irmãos saído palpável.
da cidade do Salvador, que também Para a tropa do trapo vazo a tripa,
é chamada Bahia de Todos os San- Há na produção literária barroca uma Mais não digo, porque a Musa
tos, depois de fazermos duzentos e larga utilização de figuras de lingua-
quarenta milhas, por mar tranquilo gem como a metáfora, a antítese, o pa- topa
e à feição do vento, chegamos a radoxo e a sinestesia. A linguagem é re- Em apa, epa, ipa, opa, upa."
uns bancos de areia – (que esten- buscada e ambígua, representando a
dendo-se para o mar, na distância contradição e as tentativas de se con- Arcadismo (1768-1836)
de noventa milhas de todas as par- ciliar duas vertentes tão diferentes e
tes, por um curso reto, por um gran- oposicionistas, como o teocentrismo Em decorrência do grande desenvol-
de precipício, tornam a navegação (herança medieval) e o antropocen- vimento científico do início do século
difícil) – onde, abaixando-se a cada trismo (herança renascentista).
passo o meteoro, passamos o dia.
164

XVIII, a visão de mundo do homem trabalhou com todos os elementos E a irmã, por entre as sombras do LÍNGUA PORTUGUESA
passa a ser mais racional. O Iluminis- arcádicos característicos: campos, arvoredo,
mo determina que a razão e a ciência pastos, natureza idealizada, entre
são as chaves para a compreensão do outros. Busca co’a vista e teme encontrá-la!
mundo. Entram, enfim, na mais remota e
Da prisão envia à Marília os
Desse modo, o estilo Barroco tor- seguintes versos: interna,
na-se superado como expressão de Parte do antigo bosque, escuro e
pensamento, pois não espelha mais "Tu, Marília, se ouvires,
a realidade do homem; e o Arcadis- Que, ante teu rosto aflito, negro,
mo surge em cena como uma reação O meu nome se ultraja, Onde, ao pé de uma lapa, caver-
contra o exagero barroco, visando a Co’o suposto delito, dize, severa,
um estilo mais simples e objetivo de assim, em meu abono nosa,
literatura. – Não toma as armas contra o Cobre uma rouca fonte, que mur-

No Brasil, o deslocamento do cen- cetro justo mura,
tro econômico para a região de Minas Alma digna de um trono!" Curva latada de jasmins e rosas!
Gerais, em virtude da atividade mine- Este lugar delicioso e triste,
radora, permite o aparecimento de Cláudio Manuel da Costa Cansada de viver, tinha escolhido
um grupo de intelectuais que começa Nasceu em 1729, em Mariana, Mi- Para morrer a mísera Lindoia!
a produzir uma literatura que se pode nas Gerais. Formou-se advogado na Lá, reclinada, como que dormia,
considerar como brasileira, dirigida a Universidade de Coimbra, e é consi- Na branda seva e nas mimosas
um público brasileiro. derado o instaurador do Arcadismo
no Brasil, com a publicação de Obras flores!
Influenciada pelo Iluminismo, a lite- Poéticas (1768). Escreveu sob o Tinha a face na mão e a mão no
ratura árcade (também chamada de pseudônimo árcade de Glauceste Sa-
neoclássica, pois procurava imitar túrnio. Escreveu também um poema tronco
os escritores clássicos) caracteriza- heroico sobre a descoberta de ouro De um fúnebre cipreste, que espa-
se pela objetividade e valorização do em Minas Gerais, que se intitula Vila
homem, da razão, da logicidade de Rica. Foi preso por participar da In- lhava
pensamento e da natureza. Esta, to- confidência Mineira e suicidou-se na Melancólica sombra. Mais de
mada como modelo ideal, deveria ser prisão.
imitada, pois era considerada como a perto
própria perfeição. Silva Alvarenga Descobrem que se enrola em seu
Manuel Inácio da Silva Alvarenga nas-
Os traços característicos que a litera- ceu em 1749, em Ouro Preto (Minas corpo
tura árcade apresenta são o bucolismo Gerais) e faleceu em 1814. Formou- Verde serpente, lhe passeia e
(vida pastoril), a exaltação da natureza, se em Direito em Coimbra (Portugal)
o equilíbrio, a universalidade (temas e exerceu as carreiras de advogado e cinge
comuns a todos os homens), o predo- professor. Sob o pseudônimo árcade Pescoço e braços e lhe lambe o
mínio da lógica e a presença de entida- de Alcino Palmireno, escreveu O De-
des mitológicas sertor e Glaura. seio.
Fogem de a ver, assim sobressal-
Destacam-se nesse período: Basílio da Gama
• Tomás Antônio Gonzaga José Basílio da Gama nasceu em tados,
• Cláudio Manuel da Costa 1740, em Minas Gerais, e faleceu E param, cheios de temor, ao longe;
• Silva Alvarenga em 1795. Faz parte da Arcádia Ro- E nem se atrevem a chamá-la e
• Basílio da Gama mana, sob o pseudônimo de Termin-
• Frei José de Santa Rita Durão do Sipílio. Foi preso no Brasil por temem
suspeita de ligação com a Compa- Que desperte assustada e irrite o
Tomás Antônio Gonzaga nhia de Jesus e enviado a Angola.
Nasceu em 1744, no Porto (Portugal), Um epitalâmio (versos que celebram monstro
e faleceu em 1810. Filho de pai brasi- bodas e núpcias) à filha do Marquês E fuja e apresse no fugir a morte!
leiro, veio para o Brasil aos oito anos de de Pombal salvou-o do degredo, e
idade. Formado em Direito, trabalhou sua obra mais significativa é o poe- Frei José de Santa Rita Durão
como magistrado em Vila Rica (Minas ma épico O Uraguai. Nasceu em 1722, em Cata Preta
Gerais) e envolveu-se na Inconfidência (Minas Gerais), e faleceu em 1784. In-
Mineira, fato que o forçou a exilar-se O Uraguai gressou na Ordem de Santo Agostinho,
em Moçambique. (trecho) em Portugal, onde estudou Teologia e
Suas obras são: Filosofia. Escreveu Caramuru (1781),
• Cartas Chilenas (1788-1789) Um frio corre pelas veias poema épico que fala sobre o desco-
• Marília de Dirceu (1789) De Caitutu, que deixa os seus no brimento da Bahia.

Tomás Antônio Gonzaga mostrou- campo; Romantismo (1836-1881)
-se um autor claramente árcade, pois
O período literário conhecido como
Romantismo associa-se à ascensão
da burguesia como classe dominante
após à Revolução Francesa.

No Romantismo temos como valores
correntes o cristianismo medieval, a
valorização da emoção e do coração,
o culto à individualidade e a libertação
das normas.

165

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM Com os progressos políticos, sociais No terreno da poesia, destacam-se o quarto ano da faculdade. Conta-se
e econômicos proporcionados pela os seguintes escritores: Gonçalves que teve uma vida boêmia e perver-
Revolução Francesa, e a burguesia as- Dias, Álvares de Azevedo, Castro Al- tida (inspirada na vida do poeta Lord
cendente ocupando o lugar da aristo- ves, Gonçalves de Magalhães, Jun- Byron). Sua obra é pontuada pelo
cracia, observa-se uma crescente va- queira Freire, Casimiro de Abreu, Fa- pessimismo característico do Roman-
lorização da iniciativa e da capacidade gundes Varela. tismo, como se pode observar no se-
criadora de cada indivíduo. É o período guinte texto:
da individualidade e da originalidade. O Prosa:
Romantismo é o período literário cen- Se eu morresse amanhã, viria ao
trado no “eu”. • romance urbano (ou romance de menos
costumes): crítica aos costumes
No Brasil, o Romantismo coincide da sociedade; Fechar meus olhos minha triste
com o processo de independência polí- irmã;
tica; por isso, assume aqui um caráter • romance indianista: nacionalida-
nacionalista e de valorização do patri- de, volta-se para a época do des- Minha mãe de saudades morreria
mônio cultural brasileiro. cobrimento; Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu
O processo de independência permi- • romance regionalista: procurava
tiu a ascensão da burguesia no país, caracterizar a cultura de uma de- futuro!
graças ao desenvolvimento econômi- terminada região; Que aurora de porvir e que manhã!
co do período, e transformou o Rio de Eu perdera chorando essas coroas
Janeiro numa grande capital cultural, • romance histórico: tinha como Se eu morresse amanhã!
colocando o Brasil em contato com pano de fundo os acontecimentos
os grandes centros europeus, e facili- históricos brasileiros.
tando o crescimento e aprimoramento
da literatura. Vale lembrar que o apa- Na prosa, merecem destaque: José Que sol! que céu azul! que doce
recimento da imprensa, a fundação de de Alencar, Joaquim Manuel de Mace- n’alva
do, Manuel Antônio de Almeida, Ber-
Acorda a natureza mais louçã!
cursos jurídicos de nível superior e a di- nardo Guimarães, Franklin Távora, Vis- Não me batera tanto amor no peito
vulgação dos ideais do liberalismo pela conde de Taunay, Gonçalves Dias. Se eu morresse amanhã!
maçonaria contribuíram muito para o
aprimoramento da produção literária
nacional. Gonçalves Dias Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
O Romantismo tem como princi- Antônio Gonçalves Dias nasceu em A dor no peito emudecera ao menos
pais características o subjetivismo, 1823, em Caxias (Maranhão), e fale- Se eu morresse amanhã!
o idealismo, a liberdade de criação, ceu em 1864, no naufrágio do navio
o sentimentalismo, a valorização do Ville de Boulogne. Estudou Direito em Álvares de Azevedo escreveu:
amor, o nacionalismo, a religiosida- Coimbra, mas não chegou a se formar;
de, a evasão (tentativa de fuga), o trabalhou na imprensa carioca, parti- Poesia
mal do século (gosto pelo sofrimento cipando também de várias atividades • Lira dos Vinte Anos (1853)
e pela melancolia, causado por um culturais e científicas. • O Conde Lopo (1866)
sentimento de desajuste em relação
ao mundo) e a valorização do índio É considerado o primeiro grande po- Prosa
(indianismo, que está vinculado ao eta nacional. Escreveu prosa, teatro, • Noite na Taverna (1855)
nacionalismo) e do sertanejo (serta- historiografia, mas o que mais se des- • Livro do Fra Gondicário
nismo). taca em sua obra é a poesia, tanto a in-
dianista quanto a lírico-amorosa. Suas
Desse modo, a produção de cada obras:

autor pode ser encaixada dentro de Poesia Teatro
uma determinada vertente, de acordo • Macário (1855)
com o aspecto abordado com maior • Primeiros Cantos (1846)
evidência. • Segundos Cantos (1848)
• Sextilhas de Frei Antão (1848) Castro Alves
Poesia: • Últimos Cantos (1851) Antônio Frederico Casto Alves nasceu
• poesia indianista: buscava repre- • Os Timbiras (1857) em 1847, em Curralinho (atual Castro
Alves), Bahia, e faleceu em 1871. Estu-
sentar o típico homem brasileiro Teatro dou Direito no Recife e em São Paulo,
(índio); • Leonor de Mendonça (1847) sem concluir o curso. Revolucionário,
• poesia mal do século: caracterizada • Beatriz Cenci (1843) destacou-se como um dos maiores
pelo pessimismo extremado; poetas brasileiros românticos. Teve
• poesia social: retratava os proble- Álvares de Azevedo uma vida boêmia, cheia de aventuras
mas sociais produzidos pala deca- Manuel Antônio Álvares de Azevedo e morreu aos 24 anos, de tuberculose.
dência da monarquia, pela cam- nasceu em 1831, em São Paulo, e fa- Sua poesia tem um caráter social, de
panha da República e pela crise leceu em 1852. Estudou Direito em denúncia das desigualdades. Destaca-
abolicionista; São Paulo e morreu quando cursava se também sua poesia lírico-amorosa.
• poesia lírico-amorosa: dedicada Suas obras:
ao amor.
166

Poesia de Deus, da morte e da natureza. Senhora LÍNGUA PORTUGUESA
• Espumas Flutuantes (1870) Morreu de tuberculose, e escreveu Um mascate de quinquilharias ar-
• A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) Primaveras (1859) e Camões e o Jau reara na calçada a caixa que tra-
• Os Escravos (1883) (1856). zia a tiracolo, e sentado no chão,
com as costas apoiadas ao muro,
Teatro Fagundes Varela fazia suas contas e dava balan-
• Gonzaga ou a Revolução de Minas Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu ço à mercadoria. Ou madrugara
em 1841, em Rio Claro (Rio de Janei- com intenção de estender o giro,
(1875) ro), e faleceu em 1875. Estudou Direito ou apanhado pela noite longe da
em São Paulo e no Recife, sem concluir casa, a passara em alguma esta-
O Sol do Povo o curso. Levou uma vida boêmia, sua lagem, e ia agora recolhendo-se,
O sol, do espaço Briaru gigante, poesia teve inspiração byroniana e, o que parecia mais provável. Na
pra escalar a montanha do infinito, posteriormente, apresentou traços de tampa emborcada da caixa, viam-
banha em sangue as campinas do denúncia social. Suas obras: se presos de cadarços, pregados
• Noturnas (1863) vários objetos, que atraíram es-
levante. • O Estandarte Auriverde (1863) pecialmente a atenção de Seixas.
Então em meio dos Saaras – o Egito • Vozes da América (1864) Fez ele um movimento para diante,
humilde curva a fronte e um grito • Cantos Meridionais (1869) como se quisesse chamar o mas-
• Cantos Religiosos (1878) cate. Retraiu-se porém com certo
errante vexame; dir-se-ia que estivera a
vai despertar a Esfinge de granito. José de Alencar praticar uma leviandade, da qual o
O povo é como o sol! Da treva José Martiniano de Alencar nasceu advertira em tempo sua razão.
em 1829, em Mecejana (Ceará), e Como quer que fosse, ao cabo de
escura faleceu em 1877. Estudou Direito em alguma hesitação, venceu a pri-
rompe um dia c’a destra iluminada, São Paulo e Olinda. Trabalhou como meira repugnância, mas não ao
como o Lázaro, estala a sepultura!... redator chefe do Diário do Rio de Ja- pejo do ato que ia praticar. Lançou
Oh! temei-vos da turba esfarra- neiro. Foi deputado (pelo Ceará) e pelos arredores um olhar pers-
ministro da Justiça. É considerado o crutador e verificando que a rua
pada, maior escritor do Romantismo bra- estava deserta, estendeu o braço
Que salva o berço à geração fu- sileiro. Sua obra abordou todos os fora da grade e bateu no ombro do
aspectos da literatura romântica: o mascate:
tura, indianismo, o romance histórico, o ro- – Chi va... exclamou o mascate vol-
Que vinga a campa à geração mance regionalista e o romance urba- tando-se.
no. Suas obras são: Não viu as feições de Seixas que se
passada. afastara da grade, e escondia-se
Romance urbano por trás da folhagem; mas perce-
Gonçalves de Magalhães • Cinco Minutos (1856) beu uma nota de dois mil-réis que
Nasceu em 1811, no Rio de Janeiro, • A Viuvinha (1860) flutuava acima da cabeça, e tinha
e faleceu em 1882. Foi médico, pro- • Lucíola (1862) para ele decerto mais encanto do
fessor e diplomata. Iniciou o roman- • Diva (1864) que a fisionomia do freguês.
tismo no Brasil, com o livro Suspiros • A Pata da Gazela (1870)
Poéticos e Saudades (1836), que, • Sonhos d’Ouro (1872) Joaquim Manuel de Macedo
apesar de conter os germes do ideá- • Senhora (1875) Nasceu em 1820, em Itaboraí (Rio
rio romântico, ainda se prendia ao Ar- • Encarnação (1893) de Janeiro), e faleceu em 1882. For-
cadismo. mou-se médico pela Faculdade do
Romance regionalista Rio de Janeiro, mas trabalhou como
Junqueira Freire • O Gaúcho (1870) professor de História do Brasil. Escre-
Luís José Junqueira Freire nasceu • O Tronco do Ipê (1871) veu ficção urbana, iniciando esse es-
em 1832, em Salvador, Bahia, e fale- • Til (1872) tilo no Brasil com A Moreninha. Suas
ceu em 1855. Estudou Humanidades • O Sertanejo (1875) obras:
em Salvador, ingressando depois na
ordem beneditina do Mosteiro de São Romance histórico Romance
Bento de Salvador. Abandonou o hábi- • As Minas de Prata (1865) • A Moreninha (1844)
to um ano depois e passou a produzir • A Guerra dos Mascates (1873)
poesia de meditação religiosa e filo- • O Moço Loiro (1845)
sófica. Sua obra demonstra o conflito Romance indianista
entre fé e razão e foi influenciada pelo • O Guarani (1857) • Dois Amores (1848)
mal do século, de herança byronia- • Iracema (1865)
na. Escreveu Inspirações do Claustro • Ubirajara (1874) • A Luneta Mágica (1869)
(1855).
Teatro
Casimiro de Abreu • O Cego (1849)
Casimiro José Marques de Abreu • O Fantasma Branco (1856)
nasceu em 1839, em Barra de São • O Primo da Califórnia (1858)
João (Rio de Janeiro), e faleceu em
1860. Além da literatura, desenvolveu 167
atividades de comércio. Sua obra fala

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM A Moreninha costumes dos homens do Nordeste – fidelidade à realidade;
Um moço e uma moça, po- brasileiro. Publicou O Cabeleira (1876) – preferência pela descrição;
rém, andavam, como se costuma e O Matuto (1878). – linguagem simples;
dizer, solteiros; cem vezes dela se
aproximava o sujeito, mas a bela, Visconde de Taunay – detalhismo;
quando mais perto o via, saltava, Alfredo d’Escragnolle Taunay nas- – foco narrativo em seu próprio tem-
corria, voava como um beija-flor, ceu em 1843, no Rio de Janeiro, e po e espaço histórico.
como uma abelha ou, melhor, faleceu em 1899. Militar, participou Obs.: O Naturalismo é uma tendência
como uma doudinha. Eram eles D. da Guerra do Paraguai e de diversas radicalizada do Realismo, que condi-
Carolina e Augusto. outras atividades militares. Escreveu ciona o homem ao meio ambiente que
A Retirada da Laguna (1871) e Ino- o cerca. Para um escritor naturalista,
Augusto passeava só, contra cência (1872). o homem submete-se às forças bioló-
a vontade; D. Carolina, por assim gicas ou sociais e age de acordo com
o querer. Augusto viu de repente Realismo/Naturalismo/Par- elas.
todos os braços engajados. Duas nasianismo (1881-1902)
senhoras, a quem se dirigiu, fingi- No Realismo de tendência realista
ram não ouvi-lo, ou se desculpa- Com a evolução da ciência na segun- destacam-se os escritores:
ram. O inconstante não lhes fazia da metade do século XIX, as tendên- • Machado de Assis
conta, ou, antes, queriam, tornan- cias espiritualistas do período român- • Raul Pompeia
do-se difíceis, vê-lo requestando- tico foram substituídas por uma visão
as; porque, desde o programa de científica e materialista do mundo. A in- No Realismo de tendência naturalista
Augusto, cada uma delas enten- fluência de filósofos, biólogos, físicos e destacam-se:
deu lá consigo que seria grande políticos determinaria uma nova forma • Aluísio Azevedo
glória para qualquer, o prender de pensar, que, na literatura, se carac- • Inglês de Souza
com inquebráveis cadeias aquele terizou como uma tentativa de ser fiel
capoeira do amor, e que o melhor à realidade. Machado de Assis
meio de o conseguir era fingir des- Joaquim Maria Machado de Assis
prezá-lo e mostrar não fazer conta A literatura realista queria ser obje- nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, e
com ele. Exatamente intentavam tiva e científica; descrever a realidade faleceu em 1908. De origem modesta,
batê-lo por meio dessa tática po- minuciosamente, de modo impessoal, começou a trabalhar como tipógrafo.
derosa, com que quase sempre se como um cientista que analisa o objeto Posteriormente, tornou-se revisor, re-
triunfa da mulher, isto é, pouco a de seu estudo. dator e colaborador do Correio Mer-
pouco. cantil.
O Realismo foi muito influenciado Iniciou sua produção literária com
Manuel Antônio de Almeida pelo Positivismo (corrente filosófica crônicas e obras de teatro e atingiu o
Nasceu em 1831, no Rio de Janeiro, baseada no método das ciências natu- posto de maior escritor brasileiro com
e faleceu em 1861, no naufrágio do rais) de Augusto Comte, que explicava os romances da segunda fase de sua
vapor Hermes, ocorrido no litoral flu- os fenômenos sociais e psíquicos por obra. Ele também participou da funda-
minense. Estudou Medicina e Belas intermédio da ciência. ção da Academia Brasileira de Letras
Artes e trabalhou no Correio Mercan- em 1896. Suas obras são:
til, como redator e revisor. Sua única No Brasil, o desenvolvimento da
obra, Memórias de um Sargento de lavoura cafeeira, a abolição da es- Poesia
Milícias (1852), é considerada um li- cravidão, a imigração e a publicação • Crisálidas (1864)
vro de transição do Romantismo para dos primeiros jornais contribuíram • Falenas (1870)
o Realismo. para a acolhida do pensamento • Americanas (1875)
positivista por parte da burguesia.
Grupos literários formados em torno • Poesias Completas (1901)
desse tipo de pensamento utiliza-
Bernardo Guimarães vam jornais e revistas para divulgar Romance
Nasceu em 1825, em Ouro Preto suas ideias. • Ressurreição (1872)
(Minas Gerais), e faleceu em 1884. • A Mão e a Luva (1874)
Foi advogado, professor e jornalis- As obras realistas eram pensadas • Helena (1876)
ta. Retratou os costumes do homem como instrumento de denúncia e com- • Iaiá Garcia (1878)
sertanejo e, por isso, é considerado bate, na medida em que trabalhavam • Memórias Póstumas de Brás Cubas
o pioneiro do regionalismo brasileiro. com temas sociais, procurando de-
Escreveu: nunciar as desigualdades sociais. (1881)
• Quincas Borba (1891)
• O Ermitão de Muquém (1865) As características mais importantes • Dom Casmurro (1900)
do Realismo são:
• O Seminarista (1872)
– a atitude científica do artista em re-
• A Escrava Isaura (1875) lação à realidade;

Franklin Távora – objetividade; • Memorial de Aires (1908)
Nasceu em 1842, no Ceará, e fale- – personagens retratados a partir de Machado de Assis escreveu também
ceu em 1888. Considerado o fundador comportamento exteriores (tendência
do regionalismo do Norte, registrou os naturalista) ou interiores (tendência uma série notável de contos e crôni-
realista); cas, além de peças de teatro.
168

Memórias Póstumas de Brás Cubas um altar, sendo uma das faces a fingia acreditar no improviso e, LÍNGUA PORTUGUESA
Ocorre-me uma reflexão imoral, Epístola e a outra o Evangelho. A indiferente, deixava cair o agua-
que é ao mesmo tempo uma corre- boca podia ser o cálix, os lábios a ceiro. As abas do chapéu de pa-
ção de estilo. Cuido haver dito, no patena. Faltava dizer a missa nova, lha murchavam-lhe ao redor da
capítulo XIV, que Marcela morria de por um latim que ninguém aprende cabeça, o rodaque branco desen-
amores por Xavier. Não morria, vi- e é a língua católica dos homens. gomava-se em pregas verticais
via. Viver não é a mesma coisa que Não me tenhas por sacrilégio, lei- gotejantes.
morrer; assim o afirmam todos os tora minha devota, a limpeza da
joalheiros desse mundo, gente mui- intenção lava o que puder haver Para os rapazes a chuva foi
to vista na gramática. Bons joalhei- menos curial no estilo. Estávamos novo sinal de desordem. Deixou-se
ros, o que seria do amor se não fos- ali com o céu em nossas mãos, o poeta com a sua inspiração arre-
sem vosso dixes e fiados? Um terço unindo os nervos, faziam das duas batadora de bom tempo; recome-
ou um quinto do universal comércio criaturas uma só, uma só criatu- çou a investida aos pratos.
dos corações. Esta é a reflexão mo- ra seráfica. Os olhos continuaram
ral, porque não se entende bem o a dizer cousas infinitas, as pala- Aluísio Azevedo
que eu quero dizer. O que eu que- vras de boca é que nem tentavam Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo
ro dizer é que a mais bela testa do sair, tornavam ao coração caladas nasceu em 1857, em São Luís (Ma-
mundo não fica menos bela, se a como vinham... ranhão), e faleceu em 1913. Autor de
cingir um diadema de pedras finas; obras românticas e realista-naturalis-
nem menos bela, nem menos ama- Raul Pompeia tas, seu romance O Mulato (1881) é
da. Marcela, por exemplo, que era Raul D’Ávila Pompeia nasceu em considerado o primeiro romance natu-
bem bonita, Marcela amou-me... 1863, em Angra dos Reis (Rio de ralista do Brasil. Suas obras considera-
Dom Casmurro Janeiro), e suicidou-se em 1895. Foi das românticas são:
Capítulo XIV – A Inscrição advogado, jornalista e participou da • Uma Lágrima de Mulher (1880)
Tudo o que contei no fim do outro campanha abolicionista. Foi tam- • Mistérios da Tijuca ou Girândola de
capítulo foi obra de um instante. bém ativista da causa republicana.
O que se lhe seguiu foi ainda mais Escreveu: Amores (1882)
rápido. Dei um pulo, e antes que • Uma Tragédia no Amazonas (1880) • A Condessa Vésper (1882)
ela raspasse o muro, li estes dois • O Ateneu (1888) • Filomena Borges (1884)
nomes, abertos ao prego, e assim • A Mortalha de Alzira (1894)
dispostos: O Ateneu
BENTO No fim do piquenique Naturalistas:
CAPITOLINA Sustou-se em toda a linha • O Mulato (1881)
Voltei-me para ela; Capitu tinha os o furor gastronômico dos rapa- • Casa de Pensão (1884)
olhos no chão. Ergueu-os logo, de- zes. Ficamos a ouvir, surpresos. • O Coruja (1885)
vagar, e ficamos a olhar um para o Murmuraram as brisas; as fontes • O Homem (1887)
outro... Confissão de crianças, tu correram; tomaram a palavra os • O Cortiço (1880)
valias bem duas ou três páginas, sabiás; surgiram palmeiras em • O Livro de uma Sogra (1895)
mas quero ser poupado. Em verda- repuxo; houve revoadas de juritis,
de, não falamos nada; o muro fa- de beija-flores; todas essas coi- O Cortiço
lou por nós. Não nos movemos, as sas, de que se alimentam versos Eram cinco horas da manhã
mãos é que se estenderam pouco comuns e de que morrem à fome e o cortiço acordava, abrindo, não
a pouco, todas quatro, pegando-se, os versejadores. Súbito, no melhor os olhos, mas a sua infinidade de
apertando-se, fundindo-se. Não das quadras, exatamente quando portas e janelas alinhadas.
marquei a hora exata daquele ges- o poeta apostrofava o dia sereno Um acordar alegre e farto de
to. Devia tê-la marcado; sinto a e o sol, comparando a alegria dos quem dormiu de uma assentada
falta de uma nota escrita naquela discípulos com o brilho dos pra- sete horas de chumbo. Como que
mesma noite, e que eu poria aqui dos, e a presença do Mestre com se sentiam ainda na indolência de
com os erros de ortografia que o astro supremo, mal dos improvi- neblina as derradeiras notas da úl-
trouxesse, mas não traria nenhum, sos prévios! Desata-se das nuvens tima guitarra da noite antecedente,
tal era a diferença entre o estudan- espessadas uma carga-d’água dissolvendo-se à luz loura e tenra
te e o adolescente. Conhecia as re- diluvial, única, sobre o banquete, da aurora, que nem um suspiro de
gras do escrever, sem suspeitar as sobre o poeta, sobre a miseranda saudade perdido em terra alheia.
do amar; tinha orgias de latim e era apóstrofe sem culpa. A roupa lavada, que ficara de
virgem de mulheres. Venâncio não se perturbou. véspera nos coradouros, umede-
Não soltamos as mãos, nem elas Abriu um guarda-chuva para não cia o ar e punha-lhe um farto acre
se deixaram cair de cansadas ou ser inteiramente desmentido pelas de sabão ordinário. As pedras do
de esquecidas. Os olhos fitavam-se goteiras e continuou, na guarita, a chão, esbranquiçadas no lugar da
e desfitavam-se, e depois de vaga- falar entusiasticamente ao sol, a lavagem e em alguns pontos azu-
rem ao perto, tornavam a meter-se limpidez do azul. ladas pelo anil, mostravam uma
uns pelos outros... Padre futuro, Não querendo desprestigiar palidez grisalha e triste, feita de
estava assim diante dela como de o estimável subalterno, Aristarco acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas sur-
giam cabeças congestionadas de
sono; ouviam-se amplos bocejos,

169

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM fortes como o marulhar das on- Parnasianismo (1882-1893) progresso e conforto. Entretanto, a
das; pigarreava-se grosso por toda Primeira Guerra Mundial frustrou os
a parte; começavam as xícaras O Parnasianismo é, na poesia, o cor- planos e otimismo da humanidade.
a tilintar; o cheiro quente do café respondente ao Realismo na prosa. Nesse período começaram a surgir
aquecia, suplantando todos os ou- Em oposição ao estilo romântico, o na Europa tendências artísticas cha-
tros; trocavam-se de janela para Parnasianismo buscava a perfeição madas vanguardas, que eram movi-
janela as primeiras palavras, os na forma e trabalhava temas univer- mentos culturais artísticos e científi-
bons-dias; reatavam-se conversas sais. As poesias parnasianas cultua- cos pioneiros.
interrompidas à noite; a pequenada vam a forma, valorizando o vocabulá-
cá fora traquinava já, e lá dentro rio correto, a clareza verbal, as rimas No Brasil, era época da política do
das casas vinham choros abafados perfeitas, a metrificação e o ritmo. Era café-com-leite. Rebeliões (como a
de crianças que ainda não andam. uma poesia de cunho descritivista, Revolta da Chibata), movimentos
No confuso rumor que se formava, que detalhava objetos e utilizava mo- grevistas, a Guerra de Canudos e o
destacavam-se risos, sons de vo- tivos clássicos. cangaço no Nordeste sacudiam o
zes que altercavam, sem se saber país. Havia uma nítida divisão entre
onde, grasnar de marrecos, cantar Os poetas parnasianos despreza- a classe dominante (aristocracia) e a
de galos, cacarejar de galinhas. De vam os temas individuais e faziam a classe média (profissionais liberais,
alguns quartos saíam mulheres “arte pela arte”, o que justificava sua comerciantes, funcionários públicos).
que vinham pendurar cá fora, na impassibilidade e frieza no poetar, Esse distanciamento se fazia sen-
parede, a gaiola do papagaio, e os concentrando suas atenções na for- tir também no terreno das artes, no
louros, à semelhança dos donos, ma. Os autores parnasianos de maior qual a elite seguia as tendências eu-
cumprimentavam-se ruidosamente, destaque são: ropeias, e o povo, as manifestações
espanejando-se à luz nova do dia. • Olavo Bilac populares.
• Raimundo Correia
Daí a pouco, em volta das bi- • Alberto de Oliveira Essa desigualdade social começou a
cas era um zunzum crescente; uma provocar uma grande inquietação na
aglomeração tumultuosa de ma- Olavo Bilac população, o que culminaria num an-
chos e fêmeas. Uns, após outros, Olavo Brás Martins dos Guimarães sioso desejo de se retratar a sociedade
lavavam a cara, incomodamente, Bilac nasceu em 1865, no Rio de Ja- e os problemas nela existentes.
debaixo do fio de água que escor- neiro, e faleceu em 1918. Estudou
ria da altura de uns cinco palmos. Medicina e Direito, mas trabalhou Sendo assim, o Pré-Modernismo
O chão inundava-se. As mulheres como jornalista. Elem quem fundou desponta como um momento que
precisavam já prender as saias en- a Academia Brasileira de Letras com funcionaria como alavanca do Mo-
tre as coxas para não as molhar; outros escritores, em 1896. Autor da dernismo. É encarado pelos críticos
via-se-lhes a tostada nudez dos letra do Hino à Bandeira, ele é consi- como a literatura de um período de
braços e do pescoço, que elas des- derado “o príncipe dos poetas brasi- transição e, como tal, possui um ca-
piam, suspendendo o cabelo todo leiros”. Suas obras são: ráter ambíguo; de um lado, vinculado
para o alto do casco; os homens, • Poesias (1888) ao passado e, de outro, com olhos no
esses não se preocupavam em não • Sagres (1898) futuro.
molhar o pelo, ao contrário metiam • Poesias Infantis (1904)
a cabeça bem debaixo da água e • Tarde (1919) Basicamente, o Pré-Modernismo
esfregavam com força as ventas abrange a continuidade das produ-
e as barbas, fossando e fungando Os pobres ções literárias de caráter crítico.
contra as palmas da mão. As portas Aí vêm pelos caminhos, Principalmente na prosa, os autores
das latrinas não descansavam, era Descalços, de pés no chão, procuravam trabalhar com temas de
um abrir e fechar de cada instante, Os pobres que andam sozinhos, denúncia social, buscando apontar
um entrar e sair sem tréguas. Não Implorando compaixão. as falhas de uma sociedade dividida.
se demoravam lá dentro e vinham Vivem sem cama e sem teto, Na poesia, o modelo ainda é o Parna-
ainda amarrando as calças ou as Na fome e na solidão: siano (com exceção do poeta Augusto
saias; as crianças não se davam ao Pedem um pouco de afeto, dos Anjos, que transita entre o Parna-
trabalho de lá ir, despachavam-se Pedem um pouco de pão. sianismo e o Simbolismo).
ali mesmo, no capinzal dos fundos, São tímidos? São covardes?
por detrás da estalagem ou no re- (...) A prosa pré-modernista apresenta
canto das hortas. como tema a realidade da vida brasilei-
O rumor crescia, condensando-se; Pré-Modernismo (1902-1922) ra e seus problemas por meio da aná-
o zunzum de todos os dias acen- lise da situação de diversas persona-
tuava-se; já se não destacavam O início do século XX prometia ser gens tipicamente brasileiras: o caipira,
vozes dispersas, mas um só ruído brilhante, pois a ciência desenvol- o sertanejo, representantes da classe
compacto que enchia todo o corti- via-se sem parar e proporcionava média, entre outros.
ço. Começavam a fazer compras
na venda; ensarilhavam-se discus- Destacam-se nesse período:
sões e resingas; ouviam-se garga-
lhadas e pragas; já se não falava, Prosa
gritava-se. • Lima Barreto
• Euclides da Cunha
• Graça Aranha
• Monteiro Lobato

170

Na poesia, o já referido poeta Au- fronte, manchada de uma escara oferecer uma nova visão e interpre- LÍNGUA PORTUGUESA
gusto Anjos é o que detém alguma preta. E ao enterrar se, dias depois, tação da realidade, alguns jovens ar-
importância. os mortos, não fora percebido. Não tistas organizaram um movimento de
compartira, por isto, à vala comum renovação cultural, conhecido como
Lima Barreto de menos de um côvado de fundo Semana de Arte Moderna. Realizado
Afonso Henriques de Lima Barreto em que eram jogados, formando em 1922, causou grande alvoroço no
nasceu em 1881, no Rio de Janeiro, pela última vez juntos os compa- meio artístico e evidenciou uma nova
e faleceu em 1922. Ingressou na fa- nheiros abatidos na batalha. O forma de pensamento dentro do pano-
culdade de Engenharia, mas abando- destino que o removera do lar des- rama cultural.
nou o curso por ter de trabalhar para protegido fizera lhe afinal uma con-
sustentar a família. Foi jornalista e cessão: livrara o da promiscuidade O objetivo dos modernistas de 1922
trabalhou na Secretaria de Guerra. lúgubre de um fosso repugnante; e era analisar o Brasil e criticar as anti-
Escreveu: deixara o ali há três meses – bra- gas estruturas existentes aqui, criando
ços largamente abertos, rosto vol- uma arte tipicamente brasileira.
Romance tado para os céus, para os sóis ar-
• Recordações do Escrivão Isaías Ca- dentes, para os luares claros, para O Modernismo costuma ser dividido
as estrelas fulgurantes... em três fases, cada uma com seus
minha (1909) próprios traços:
• Triste Fim de Policarpo Quaresma Monteiro Lobato
José Bento Monteiro Lobato nasceu • primeira fase (1922-1930): mo-
(1915) em 1882, em Taubaté (São Paulo), e fa- dernismo radical;
• Vida e Morte de M. J. Gonzaga de leceu em 1948. Formou-se em Direito
e trabalhou como promotor no interior • segunda fase (1930-1945): regio-
Sá (1919) do Estado de São Paulo. Iniciou o mo- nalistas;
• Clara dos Anjos (1922) vimento editorial brasileiro, fundando a
Editora Monteiro Lobato e Cia. Foi ár- • terceira fase (1945-1980): pós-
Contos duo defensor dos interesses nacionais -modernistas.
• Histórias e Sonhos (1920) e chegou a liderar uma campanha em
favor da exploração do petróleo em A primeira fase do Modernismo é
Euclides da Cunha território nacional. Suas obras mais im- considerada a mais radical do perío-
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha portantes são: do. Foi a fase de divulgação de novas
nasceu em 1866, em Cantagalo (Rio • Urupês (1918) ideias e centrava-se em torno dos vá-
de Janeiro), e faleceu, assassinado, em • Cidades Mortas (1919) rios grupos modernistas que foram
1909. Realizou a abertura jornalística formados.
da Guerra de Canudos, em 1897, o que Na literatura infantil, destacam-se as
o inspirou a escrever sua obra mais co- obras ambientadas no “Sitio do Pica- As revistas e manifestos organizados
nhecida, Os Sertões (1902). Participou Pau Amarelo”. por esses grupos eram o veículo de di-
de inúmeras manifestações artísticas vulgação do movimento. Entre eles, os
e culturais no Brasil e foi eleito para Augusto dos Anjos mais importantes foram:
a Academia Brasileira de Letras, em Augusto de Carvalho Rodrigues dos • as revistas Klaxon, A Revista e
1903. Suas obras são: Anjos nasceu em 1884, na Paraíba,
• Os Sertões (1902) e faleceu em 1914. Formou-se em Di- Festa;
• Peru versus Bolívia (1907) reito, mas foi professor de Literatura. • os manifestos: “Pau-Brasil”, “Mani-
• Contrastes e Confrontos (1907) Escreveu:
• À Margem da História (1909) Poesia festo Nhenguaçu Verde-Amarelo” e
• Canudos (Diário de uma Expedi- • Eu (1902) “Manifesto de Antropofagia”.

ção) (1939) Obs.: Foi lançada, em 1920, a obra As principais características da pro-
póstuma Eu e Outras Poesias dução literária desse momento são:
Soldado Insepulto
O sol poente desatava, longa, Modernismo Na poesia:
a sua sombra pelo chão, e prote-
gido por ela – braços largamente Movimento considerado o mais revo- • verso livre;
abertos, face volvida para os céus, lucionário de toda a Literatura Brasi- • livre associação de ideias;
– um soldado descansava. leira, o Modernismo procurou romper • valorização do cotidiano;
Descansava... havia três meses. com todas as regras existentes até en- • irreverência e humor;
Morrera no assalto de 18 de julho. tão na arte. • aproximação com a prosa;
A coronha da mannlicher estronda- • uso de linguagem simples;
da, o cinturão e o boné jogados a Influenciados pelos movimentos de • nacionalismo.
uma banda, e a farda em tiras, di- vanguarda europeus, que buscavam
ziam que sucumbira em luta corpo Na prosa:
a corpo com adversário possante. • linguagem simples;
Caíra, certo, derreando se à vio- • utilização de períodos curtos (o que
lenta pancada que lhe sulcara a
a aproxima da poesia).

Nessa primeira fase do Modernismo,
destacam-se os seguintes autores:
• Manuel Bandeira

• Mário de Andrade 171

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM • Oswald de Andrade • Prosa urbana: caracteriza-se por Eu vi uma rosa
retratar as relações humanas em
• Alcântara Machado centros urbanos. O principal autor Eu vi uma rosa
• Cassiano Ricardo dessa tendência é Dalton Trevisan. – Uma rosa branca –
• Guilherme de Almeida Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
A segunda fase do Modernismo, mais • Prosa regionalista: diferentemen- No jardim, na rua.
amadurecida e equilibrada, apresen- te da prosa regionalista anterior, Sozinha no mundo.
tou uma grande aceitação por parte renova a temática e a linguagem. Em torno, no entanto,
do público. Na poesia, ampliaram-se Principais autores: Ao sol de meio-dia,
os temas da primeira fase, acrescen- Toda a natureza
tando a eles tendências sociais e polí- – João Guimarães Rosa Em formas e cores
ticas, bem como religiosas ou místicas, – Mário Palmério E sons esplendia.
destacando-se os seguintes escritores: – Herberto Sales Tudo isso era excesso.
• Carlos Drummond de Andrade – Bernardo Elis A graça essencial,
• Murilo Mendes Mistério inefável
• Jorge de Lima Na poesia, a autodenominada “Ge- – Sobrenatural –
• Cecília Meireles ração de 45” rejeitava os valores mo- Da vida e do mundo,
• Vinicius de Moraes dernistas da primeira fase, procurando Estava ali na rosa
apoiar-se no rigor formal e nas regras Sozinha no galho.
Na prosa, temos o desenvolvimento e princípios de versificação. Por esse Sozinha no tempo.
dos chamados romances regionalistas, motivo, esse grupo de poetas é tam- Tão pura e modesta,
em que os autores tentavam retratar a bém chamado de “neoparnasiano”. O Tão perto do chão,
realidade brasileira nas mais diversas escritor de maior destaque dessa fase Tão longe na glória,
regiões do país. Podemos agrupar os é João Cabral de Melo Neto. Da mística altura,
escritores de maior destaque na prosa Dir-se-ia que ouvisse
de acordo com as regiões enfocadas Manuel Bandeira Do arcanjo invisível
em suas obras: Manuel Carneiro de Sousa Bandei- As palavras santas
• Nordeste: ra Filho nasceu em 1881, no Recife De outra Anunciação.
(Pernambuco), e faleceu em 1968.
– Graciliano Ramos Abandonou o curso da Escola Poli- Mário de Andrade
– José Lins do Rego técnica, em São Paulo, por causa da Mario Raul Moraes de Andrade nas-
– Raquel de Queirós tuberculose. Iniciou-se como simbo- ceu em 1893, em São Paulo, e faleceu
– José Américo de Almeida lista, mas, ao entrar em contato com em 1945. Foi crítico de arte. Seu pri-
– Jorge Amado os modernistas paulistas, diversificou meiro livro é Há uma Gota de Sangue
• Sudeste: sua obra e, tomando outro caminho, em cada Poema (1917). Organizou e
– Cornélio Pena tornou-se um dos mais reconhecidos participou da Semana de Arte Moder-
– Octávio de Faria poetas brasileiros. Sua obra é bastan- na (1922) e publicou Pauliceia Desvai-
– Cyro dos Anjos te extensa. rada (1922), o primeiro livro de poe-
• Sul: mas do Modernismo. Suas obras são:
– Érico Veríssimo Poesia

– Dionélio Machado • Cinza das Horas (1917) Poesia
A terceira fase modernista caracteri- • Carnaval (1919) • Há uma Gota de Sangue em cada
zou-se por mostrar várias tendências • Ritmo Dissoluto (1924)
diversificadas na prosa e uma poesia • Libertinagem (1930) Poema (1917)
voltada para um maior rigor formal, • Estrela da Manhã (1936) • Pauliceia Desvairada (1922)
apoiada nas regras de versificação • Lira dos Cinquent’anos (1944) • Losango Cáqui (1926)
que tinham sido abandonadas na pri- • Belo Belo (1948) • Clã do Jabuti (1927)
meira fase do Modernismo. A prosa • Mafuá do Malungo (1948) • Remate de Males (1930)
subdivide-se em três tendências de • Opus 10 (1952) • Poesias (1941)
escrita: • Estrela da Tarde (1963) • Lira Paulistana (1946)
• Prosa de abordagem psicológica: • Estrela da Vida Inteira (1966) • O Carro da Miséria (1946)

caracteriza-se por tentar analisar Prosa Prosa – contos
complexamente o homem. Os prin- • Primeiro Andar (1926)
cipais autores dessa tendência • Crônicas da Província do Brasil • Belazarte (1934)
são: (1937) • Contos Novos (1946)
– Clarice Lispector
– Lygia Fagundes Telles • Guia do Ouro Preto (1938) Prosa – romance
– Carlos Heitor Cony • Itinerário de Parságada (1954) • Amar, Verbo Intransitivo (1927)
– Antônio Olavo Pereira • Andorinha, Andorinha (1966) • Macunaíma (1928)

172

Oswald de Andrade Alcântara Machado • Versiprosa (1967) LÍNGUA PORTUGUESA
José Oswald de Sousa Andrade nas- Antônio Castilho de Alcântara Macha- • Boitempo (1968)
ceu em 1890, em São Paulo, e faleceu do d’Oliveira nasceu em 1901, em São • Menino Antigo (1973)
em 1953. Ele formou-se em Direito e, Paulo, e faleceu em 1935. Formou-se • As Impurezas do Branco (1973)
de família abastada, viajou muito à Eu- advogado e trabalhou como jornalista. • Discurso de Primavera e Outras
ropa, de onde trouxe os movimentos Tomou contato com o movimento mo-
de vanguarda. Fundou o jornal O Pirra- dernista em 1925. Escreveu apenas Sobras (1978)
lho, onde começou a produzir literatu- duas obras: • A Paixão Medida (1980)
ra, e idealizou o Manifesto Pau-Brasil e • Corpo (1984)
o Movimento Antropófago. Contos • Amar se Aprende Amando (1985)
• Brás, Bexiga e Barra Funda (1927)
Poesia Prosa
• Pau-Brasil (1925) Romance • Confissões de Minas (1944) – en-
• Primeiro Caderno de Poesia do Alu- • Mana Maria (1936) – inacabado
saios e crônicas
no Oswald de Andrade (1927) Obs.: Esses contos e o romance fo- • Contos de Aprendiz (1951)
ram reunidos no livro Novelas Paulista- • Passeios na Ilha (1952) – ensaios
Romance nas, em 1961.
• Os Condenados (1922) e crônicas
• Memórias Sentimentais de João Cassiano Ricardo • Fala, Amendoeira (1957) – crônicas
Cassiano Ricardo Leite nasceu em • A Bolsa & a Vida (1962) – crônicas
Miramar (1924) 1895, em São José dos Campos (São
• Estrela de Absinto (1927) Paulo), e faleceu em 1975. Foi um dos e poemas
• Serafim Ponte Grande (1933) líderes do Movimento Verde-Amarelo. • Cadeira de Balanço (1970) – crôni-
• Marco Zero I – A Revolução Melan- Publicou:
• Dentro da Noite (1915) cas e poemas
cólica (1943) • A Frauta de Pã (1917) • O Poder Ultrajovem e Mais 79 Tex-
• Marco Zero II – Chão (1946) • Vamos Caçar Papagaios (1926)
• Martim-Cererê (1928) tos em Prosa e Verso (1972) – crô-
Teatro • O Sangue das Horas (1943) nicas
• O Homem e o Cavalo (1934) • Um Dia Depois do Outro (1947) • Boca de Lua (1984)
• A Morta (1937) • Jeremias sem Chorar (1963) • O Observador no Escritório (1985)
• O Rei da Vela (1937) • Os Sobreviventes (1971) • Tempo Vida Poesia (1986)

Manifesto da Poesia Pau-Brasil Carlos Drummond de Andrade Áporo
Carlos Drummond de Andrade nas-
A poesia existe nos fatos. Os case- ceu em 1902, em Itabira (Minas Ge- "Um inseto cava
bres de açafrão e de ocre nos ver- rais), e faleceu em 1987. Formado em cava sem alarme
des da Favela, sob o azul cabrali- Farmácia, não exerceu a profissão. perfurando a terra
no, são fatos estéticos. O Carnaval Trabalhou como jornalista em Minas sem achar escape.
no Rio é o acontecimento religioso Gerais e no Rio de Janeiro, sendo Que fazer, exausto,
da raça. Pau-Brasil. Wagner sub- dono de extensa e densa obra poéti- em país bloqueado,
merge ante os cordões de Botafo- ca.Escreveu: enlace de noite
go. Bárbaro e nosso. A formação raiz e minério?
étnica rica. Riqueza vegetal. O mi- Poesia Eis que o labirinto
nério. A cozinha. O vatapá, o ouro • Alguma Poesia (1930) (oh razão, mistério)
e a dança. • Brejo das Almas (1934) presto se desata:
Toda a história bandeirante e a • Sentimento do Mundo (1940) em verde, sozinha,
história comercial do Brasil. O lado • Poesias (1942) antieuclidiana,
doutor, o lado citações, o lado au- • A Rosa do Povo (1945) uma orquídea forma-se."
tores conhecidos. Comovente. Rui • Poesia até Agora (1948)
Barbosa: uma cartola na Senegâm- • Claro Enigma (1951) Murilo Mendes
bia. Tudo revertendo em riqueza. A • Viola de Bolso (1952) Murilo Mendes nasceu em 1901, em
riqueza dos bailes e das frases fei- • Fazendeiro do Ar e Poesia até Ago- Juiz de Fora (Minas Gerais), e faleceu
tas. Negras de Jockey. Odaliscas no em 1975. Estudou Direito, sem che-
Catumbi. Falar difícil. ra (1953) gar a terminar o curso. Trabalhou em
O lado doutor. Fatalidade do primei- • Viola de Bolso Novamente Encor- diversas áreas profissionais, das quais
ro branco aportado e dominando se destaca a carreira de professor de
politicamente as selvas selvagens. doada (1955) Literatura Brasileira em Roma.
O bacharel. Não podemos deixar de • Poemas (1959)
ser doutos. Doutores. País de dores • A vida Passada a Limpo (1959) Poesia
anônimas, de doutores anônimos. • Lição de Coisas (1962) • Poemas (1930)
O Império foi assim. Eruditamos • História do Brasil (1932)
tudo. Esquecemos o gavião de pe- • Tempo e Eternidade (1935) – em
nacho.
colaboração com Jorge de Lima

173

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM • A Poesia em Pânico (1938) • Pequeno Oratório de Santa Clara José Lins do Rego
• O Visionário (1941) (1955 )
• As Metamorfoses (1944) Nasceu em 1901, em Pilar (Paraíba),
• Mundo Enigma (1945) • Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro e faleceu em 1957. Formou-se em Di-
• Poesia Liberdade (1947) (1955) reito, exercendo o cargo de promotor
• Janela do Caos (1949) público. Fez parte da Academia Bra-
• Contemplação de Ouro Preto (1954) Graciliano Ramos sileira de Letras e foi criado num en-
• Poesias (1959) Nasceu em 1892, em Quebrangulo genho, fato que influenciou toda sua
• Siciliana (1959) (Alagoas), e faleceu em 1953. Traba- obra. Escreveu:
• Tempo Espanhol (1959) lhou como revisor de jornais no Rio de • Menino de Engenho (1932)
• Poliedro (1962) Janeiro e elegeu-se prefeito em Palmei- • Doidinho (1933)
• Convergência (1970) ra dos Índios (Alagoas). Tinha ligações • Banguê (1934)
com o Partido Comunista Brasileiro, o • O Moleque Ricardo (1935)
Prosa que ocasionou sua prisão, em 1936. • Usina (1936)
• O Discípulo de Emaús (1944) Suas obras são: • Pureza (1937)
• A Idade do Serrote (1968) • Riacho Doce (1937)
Romance • Pedra Bonita (1938)
Cecília Meireles • Caetés (1933) • Água-Mãe (1941)
Nasceu em 1901, no Rio de Janeiro, e • São Bernardo (1934) • Fogo Morto (1943)
faleceu em 1955. Professora, recebeu • Angústia (1936) • Eurídice (1947)
o prêmio da Academia Brasileira de Le- • Vidas Secas (1938) • Cangaceiros (1953)
tras por seu livro Viagem.
Conto José Américo de Almeida
Poesia • Insônia (1947)
• Espectros (1919 ) Nasceu em 1887, em Areia (Paraíba), e
• Nunca mais... e Poema dos Poe- Memórias faleceu em 1980. Formou-se em Direito,
• Infância (1945) no Recife, e exerceu atividade política e
mas (1923 ) • Memórias do Cárcere (1953) pública (foi procurador geral do Estado,
• Baladas para El-Rei (1925 ) • Viagem (1954) – obra póstuma deputado federal, ministro e senador).
• Viagem (1939 ) Publicou os seguintes romances:
• Vaga Música (1942) Crônicas • Reflexões de um Cabra (1922)
• Mar Absoluto (1945) • Linhas Tortas (1962) • A Paraíba e seus Problemas (1923)
• Retrato Natural (1949) • Viventes das Alagoas (1962) – • A Bagaceira (1928)
• Amor em Leonoreta (1952) • O Boqueirão (1925)
• Doze Noturnos de Holanda e o Ae- obras póstumas • Antes que Eu me Esqueça (1976)

ronauta (1952) Literatura infantil
• Romanceiro da Inconfidência (1953) • Histórias de Alexandre (1944)
• Histórias Incompletas (1946)

174

LÍNGUA PORTUGUESA

BLOCO 4
EXERCÍCIOS

FICHA 1 2. (Mackenzie) No início do século XX, várias tendências
estéticas surgiram na Europa e influenciaram o Moder-
Texto para a próxima questão nismo brasileiro.

(PUC-SP) Não faz parte delas o:

MONA LISA DE DA VINCI SEM MOTIVOS PARA SORRIR a) Dadaísmo
A obra-prima de Leonardo da Vinci é uma das mais
admiradas telas já pintadas, devido, em parte, ao sor- b) Expressionismo
riso enigmático da moça retratada, Mona Lisa, está se
deteriorando. O grito de alarme foi dado pelo Museu do c) Futurismo

Louvre, em Paris, que anunciou que o quadro passará d) Cubismo
por uma detalhada avaliação técnica com o objetivo de
determinar o porquê do estrago. e) Determinismo

O fino suporte de madeira sobre o qual o retrato foi
pintado sofreu uma deformação desde que especialis-
tas em conservação examinaram a pintura pela última 3. (G1 – CFT-MG) Com relação aos gêneros literários, é
vez, diz o Museu do Louvre numa declaração por escrito. INCORRETO afirmar que, no gênero

O museu não diz quando essa última avaliação ocorreu.
O estudo será feito pelo Centro de Pesquisa e Restaura-
ção dos Museus da França e vai determinar os materiais a) lírico o artista retrata criticamente a realidade.
usados na tela e avaliar sua vulnerabilidade a mudan- b) épico, o autor se apega à objetividade e à impessoali-
ças climáticas.
dade.

O Museu do Louvre recebe cerca de seis milhões de c) lírico, a tendência do escritor é revelar as emoções que
visitantes por ano, e todos, praticamente, veem a Mona o mundo causou nele.
Lisa, uma tela de 77 centímetros de altura por 55 de lar-
gura, protegida por uma caixa de vidro, com temperatura d) dramático, há ausência de narrador, apresentando um
controlada. A tela será mantida no mesmo local, exposta conflito através do discurso direto.

ao público, enquanto for realizado o estudo.
(Fonte:http://www.italiaoggi.com.br/not04_0604/ital_no-
t20040427a.htm. Acessado em 13/11/2007) 4. (ITA) Dadas as afirmações:

I. O Romantismo no Brasil se caracteriza por iniciar de
modo consciente a busca da nossa autonomia literária,
1. Há um conjunto de regularidades relativamente está- a qual, segundo os românticos, deveria ser consegui-
veis no que diz respeito à função social, produção, cir- da através da busca da chamada “cor local”, mediante
culação e consumo de um texto, bem como aos seus descrição criteriosa da paisagem e da observação críti-
aspectos composicionais e linguísticos, que se dá o ca da natureza física e social do Brasil.
nome de gênero textual. É por razões assim que um lei- II. Os poetas parnasianos, embora fossem impessoais e
tor proficiente não confunde uma receita de bolo com cultuadores da forma, interessavam-se pelo passado
uma carta, em uma passagem de ônibus com uma histórico – particularmente a antiguidade greco-ro-
nota fiscal, por exemplo. mana – porque lá encontravam os termos e as ima-
gens que lhes permitiam denunciar as mazelas de sua
Considerando para o texto esses mesmos aspectos, é pos- época.
sível afirmar que ele pertence ao gênero:

a) relatório III. O movimento modernista, que se tornaria conhecido a
b) editorial partir da “Semana de Arte Moderna”, caracterizou-se
c) notícia por ser essencialmente uma transposição, para o Bra-
d) resenha sil, das novas tendências que se formaram na Europa:
futurismo, desvairismo, impressionismo, concretismo
etc.

e) artigo Está (ão) correta(s): 175

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM a) Nenhuma Texto 3
b) Apenas I Cidadezinha qualquer
c) Apenas II Casas entre bananeiras
d) Apenas III Mulheres entre laranjeiras
e) Todas Pomar amor cantar

5. (ITA) Leia os seguintes textos, observando que eles des- Um homem vai devagar.
crevem o ambiente natural de acordo com a época a Um cachorro vai devagar.
que correspondem, fazendo predominar os aspectos Um burro vai devagar.
bucólico, cotidiano e irônico, respectivamente: Devagar... as janelas olham.
Texto 1

Marília de Dirceu Eta vida besta, meu Deus.

Enquanto pasta, alegre, o manso gado, (ANDRADE, Carlos Drummond. Obra Completa. Rio de
minha bela Marília, nos sentemos Janeiro: José Aguilar Editora; 1967. p. 67.)
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos Assinale a alternativa referente aos respectivos momentos
Na regular beleza, literários a que correspondem os três textos:
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia Natureza. a) Romântico, contemporâneo, modernista.
b) Barroco, romântico, modernista.

Atende como aquela vaca preta c) Romântico, modernista, contemporâneo.
O novilhinho seu dos mais separa, d) Árcade, contemporâneo, modernista.
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. e) Árcade, romântico, contemporâneo.
Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela, 6. (PUC-MG)
Suporta que lhe morda o filho o corpo,
E salte em cima dela.

(GONZAGA, Tomás Antônio. “Marília de Dirceu.” In: Proença Cidade de Ironia e da Beleza,
Filho, Domício. (Org.) A Poesia dos Inconfidentes. Rio de Janeiro: Fica na dobra azul de um golfo pensativo,
Entre cintas de praias cristalinas,
Nova Aguilar; 1996. p. 605.) Rasgando iluminuras de colinas,
Com a graça ornamental de um cromo vivo.
Texto 2 O trecho anterior pertence ao estilo de época:

Bucólica nostálgica a) Barroco, porque mostra a cidade antiteticamente.
b) Arcadismo, porque apresenta ideias de rejeição ao que
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés de manjericão e cravo-santo, é urbano.
aparece dourada. Dentro dela, agachados, c) Romantismo, porque a visão apresentada é negativa.
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo, d) Simbolismo, porque sugere impressões através dos sen-
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis, tidos.
muitas vezes abóbora. e) Modernismo, porque prenuncia mudanças radicais de
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar, estilo.
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
7. (PUC-MG)

(PRADO, Adélia. Poesia Reunida. 2ª ed. São Paulo: Sicilia- Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
no; 1992. p. 42.) Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.”

176

O trecho do poema anterior é parnasiano. Ele revela um a) opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora. LÍNGUA PORTUGUESA
poeta: b) anular a realidade concreta para superar contradições

a) distanciado da realidade aparentes.
b) engajado c) construir uma aparência de realidade para expressar
c) crítico
d) rônico dado sentido.
e) informal d) buscar uma parcela representativa do real para contes-

tar sua validade.

10. (UFU) Assinale a afirmativa INCORRETA.

8. (UERJ) “Comenta-se, um pouco rápido demais, que a a) Enquanto a linguagem do historiador e do cientista se
predileção que nós leitores sentimos por um ou outro define como denotativa, a linguagem do autor literário
personagem vem da facilidade com que nos identifica- se define como conotativa.
mos com eles. Esta formulação exige algumas pontu-
ações: não é que nos identifiquemos com o persona- b) A literatura não existe fora de um contexto social, já que
gem, mas sim que este nos identifica, nos aclara e se cada autor tem uma vivência social.
define frente a nós mesmos; algo em nós se identifica
com essa individualidade imaginária, algo contraditó- c) A obra literária não permite aos leitores gerar várias
rio com outras ‘identificações semelhantes’, algo que ideias e interpretações, pois trabalha a linguagem de
de outro modo apenas em sonhos haveria logrado es- forma exclusivamente objetiva.
tatuto de natureza. A paixão pela literatura é também
uma maneira de reconhecer que cada um somos mui- d) A linguagem poética é constituída por uma estrutura
tos, e que dessa raiz, oposta ao senso comum em que complexa, pois acrescenta ao discurso linguístico um
vivemos, brota o prazer literário.” significado novo, surpreendente.
(Traduzido de SAVATER, Fernando. Criaturas del
Aire. Barcelona: Ediciones Destino; 1989.) e) Para o entendimento de um texto literário, é necessário
o conhecimento do código linguístico e de uma plura-
Este texto trata de um conceito importante na teoria da lidade de códigos: retóricos, míticos, culturais, que se
literatura: o conceito de catarse. encontram na base da estrutura artístico-ideológica do
De acordo com o autor, pode-se definir catarse como o texto.
processo que afeta o leitor no sentido de:
11. (UFU) Sobre linguagem literária e estilos literários, in-
dique a alternativa INCORRETA.

a) valorizar o imaginário. a) A linguagem da poesia simbolista tende a ser mais vaga
b) superar o senso comum. e imprecisa, e vem cercada por musicalidade, a exemplo
c) construir a personalidade. do verso: “Véus neblinosos, longos véus de viúvas”.
d) liberar emoções reprimidas.
b) Os poetas românticos fizeram uso de uma linguagem ex-
9. (UERJ) Observe atentamente os dois trechos transcri- cessivamente adjetivada, cujo objetivo era a expressão
tos a seguir. dos estados de alma do poeta, como no verso: “A tarde
“... o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) está tão bela, e tão serena”.
não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato
aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode aconte- c) A poesia parnasiana ficou marcada por uma linguagem
cer, considerado na sua universalidade.” espontânea, cujas palavras ornamentais ampliavam o
(SILVA,Vítor M. de A. Teoria de Literatura. Coimbra: significado, como no verso: “Purpúreas velas de real trir-
Almedina; 1982.) reme”.
Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece ver-
dadeiro. 2. Que não repugna à verdade, provável. d) A partir do Modernismo a poesia passou a se expressar
(FERREIRA. A. B. de Holanda. Novo Dicionário Au- em uma linguagem menos clássica e mais voltada para
rélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Frontei- o cotidiano, como no verso: “Estes cães da roça pare-
ra; 1986.) cem homens de negócio”.

A partir da leitura de ambos os fragmentos, pode-se dedu- 12. (Fuvest) 177
zir que a obra literária tem o seguinte objetivo:
I.
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM A catedral ebúrnea do meu sonho Foi a coisa de maneira,
Aparece, na paz do céu risonho, tal friúra e tal canseira,
Toda branca de sol. que trago as tripas maçadas;
assim me fadem boas fadas
II. que me soltou caganeira ...
Quando em meu peito rebentar-se a fibra, para vossa mercê ver
Que o espírito enlaça a dor vivente, o que nos encomendou.
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente. friúra: frieza, estado de quem está frio
maçadas: surradas
III. fadem: predizem
Por um lado te vejo como um seio murcho
pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende (VICENTE, Gil. Farsa de Inês Pereira. 22ª ed. São Paulo: Brasilien-
ainda o cordão placentário. se; 1989. p. 95.)
És vermelha como o amor divino
Dentro de ti em pequenas pevides Sobre o trecho, é correto afirmar:
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente. a) Privilegia a visão racionalista da realidade por Gil Vicen-
te, empregada pelo autor para atender às necessidades
do homem do Classicismo.

IV. b) É escrito com perfeição formal e clareza de raciocínio,
pelas quais Gil Vicente é considerado um mestre renas-
Transforma-se o amador na cousa amada, centista.
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar, c) Retrata uma cena grotesca em que se notam traços da
Pois em mim tenho a parte desejada. cultura popular, o que não invalida a inclusão de Gil Vi-
cente entre os autores do Humanismo.

Na ordem em que estão transcritos, os fragmentos se d) Sua linguagem é característica de um período já marca-
enquadram respectivamente nos seguintes movimen- do pelo Renascimento, o que se evidencia pela referên-
tos literários: cia de Gil Vicente a figuras mitológicas clássicas, como
as “boas fadas”.

a) I. Simbolismo, II. Romantismo, III. Modernismo, IV. Clas- e) Revela em Gil Vicente uma visão positiva do homem de
fé que se liberta da doença pelo recurso à divindade.
sicismo

b) I. Modernismo, II. Simbolismo, III Classicismo, IV. Roman- 2. (Mackenzie) Em meados do século XIV, a poesia tro-
tismo vadoresca entra em decadência, surgindo, em seu
lugar, uma nova forma de poesia, totalmente dis-
c) I. Romantismo, II. Modernismo, III. Simbolismo, IV. Clas- tanciada da música, apresentando amadurecimen-
sicismo to técnico, com novos recursos estilísticos e novas
formas poemáticas, como a trova, a esparsa e o vi-
d) I. Classicismo, II. Romantismo, III. Modernismo, IV. Sim- lancete.
bolismo Assinale a alternativa em que há um trecho representa-
tivo de tal tendência.
e) I. Simbolismo, II. Classicismo, III. Romantismo, IV. Mo-
dernismo

FICHA 2 a) Non chegou, madre, o meu amigo,
e oje est o prazo saido!
Ai, madre, moiro d’amor!

1. (UEL) Em Farsa de Inês Pereira (1523), Gil Vicente b) Êstes olhos nunca perderán,
apresenta uma donzela casadoura que se lamen- senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr;
ta das canseiras do trabalho doméstico e imagina e direi-vos fremosa, mia senhor,
casar-se com um homem discreto e elegante. O tre- dêstes meus olhos a coita que han:
cho a seguir é a fala de Latão, um dos judeus que choran e cegan, quand’alguém non veen,
foi em busca do marido ideal para Inês, dirigindo- e ora cegan por alguen que veen.
-se a ela:

178

c) Meu amor, tanto vos amo, 5. (Fuvest) LÍNGUA PORTUGUESA
que meu desejo não ousa I. Autor que levava no palco a sociedade portuguesa da pri-
desejar nehua cousa.
Porque, se a desejasse, meira metade do século XVI, vivenciando, na expressão
logo a esperaria, e se eu a esperasse, de Antônio José Saraiva, o reflexo da crise.
sei que vós anojaria: II. Atuou na linha do teatro de costumes, associou o bur-
mil vezes a morte chamo lesco e o cômico em dramas e comédias ao retratar
e meu desejo não ousa flagrantes da vida brasileira, do campo à cidade.
desejar-me outra cousa. Os enunciados referem-se, respectivamente, aos tea-
trólogos:

d) Amigos, non poss’eu negar a) Camilo Castelo Branco e José de Alencar
a gran coita que d’amor hei, b) Machado de Assis e Miguel Torga
ca me vejo sandeu andar, c) Gil Vicente e Nélson Rodrigues
e con sandece o direi: d) Gil Vicente e Martins Pena
os olhos verdes que eu vi e) Camilo Castelo Branco e Nélson Rodrigues
me fazen ora andar assi.

e) Ai! dona fea, foste-vos queixar 6. (Fuvest) Indique a afirmação correta sobre o Auto da
por (que) vos nunca louv’em meu cantar; Barca do Inferno, de Gil Vicente:
mais ora quero fazer um cantar,
em que vos loarei toda via; a) É intrincada a estruturação de suas cenas, que surpreen-
e vedes como vos quero loar. dem o público com o inesperado de cada situação.
dona fea, velha e sandia!
b) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas institui-
3. (Mackenzie) Assinale a alternativa INCORRETA a res- ções, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.
peito das cantigas de amor.
c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o
a) O ambiente é rural ou familiar. autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o Bem e
b) O trovador assume o eu-lírico masculino: é o homem o Mal.

quem fala. d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens po-
c) Têm origem provençal. pulares, as mais ridicularizadas e as mais severamente
d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar uma punidas.

dama inacessível. e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo
e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencen- referência a qualquer exemplo de valor positivo.

te a uma categoria social mais elevada que a do tro- 7. (Fuvest) Considere as seguintes afirmações sobre o
vador. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:

4. (Mackenzie) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, I. O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, persona-
é INCORRETO afirmar que: gem que reúne em si os vícios das diferentes catego-
rias sociais anteriormente representadas.
a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teo-
centrismo, o feudalismo e valores altamente mora- II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter
listas. didático do auto, pois facilita o distanciamento do es-
pectador.
b) representou um claro apelo popular à arte, que pas-
sou a ser representada por setores mais baixos da III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é
sociedade. gratuita nem artificial, mas resulta da acentuação de
traços típicos.
c) pode ser dividida em lírica e satírica.
d) em boa parte de sua realização teve influência pro- Está correto apenas o que se afirma em:

vençal. a) I
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, b) II
c) II e III
expressam o eu-lírico feminino. d) I e II
e) I e III

179

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM FICHA 3 Texto para a próxima questão:

Texto para a próxima questão: “Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas pala-
Oh! Que saudades que eu tenho vras, especialmente nas que eram ditas com fé. No
Da aurora da minha vida, entanto, todas as palavras que ele dissera, nos púlpi-
Da minha infância querida, tos, nas salas de aula, nas reuniões, nas catequeses,
Que os anos não trazem mais! nos corredores, nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisi-
Que amor, que sonhos, que flores dores, duques, marqueses, ouvidores, governadores,
Naquelas tardes fagueiras ministros, presidentes, rainhas, príncipes, indígenas,
À sombra das bananeiras desses milhões de palavras ditas com esforço de pen-
Debaixo dos laranjais! samento, poucas – ou nenhuma delas – haviam surtido
efeito. O mundo continuava exatamente o de sempre. O
homem, igual a si mesmo.

(Ana Miranda, em Boca do Inferno)

1. (PUC-MG) Todas as alternativas apresentam caracterís- 3. (Fatec) “... milhões de palavras ditas com esforço de
ticas românticas do texto, EXCETO: pensamento.”
Essa passagem do texto faz referência a um traço da lin-
a) O eu lírico foge da realidade presente para um passado guagem barroca presente na obra de Vieira; trata-se do:
idealizado.
a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de ideias.
b) O eu poético expressa suas emoções. b) cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade
c) O autor dissocia os aspectos formais dos emocionais.
d) A voz poética revela-se saudosista. das palavras.
e) O autor apresenta elementos de brasilidade. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão.
d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário preciosista
Texto para a próxima questão:
“Não é o homem um mundo pequeno que está dentro e pela exploração de aliterações.
do mundo grande, mas é um mundo grande que está e) conceptismo, caracterizado pela exploração das rela-
dentro do pequeno. Basta por prova o coração humano,
que sendo uma pequena parte do homem, excede na ções lógicas, da argumentação.
capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar,
com ser um monstro indômito, chegando às areias, Texto para a próxima questão:
para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os Depois da Lua se segue a noite escura,
outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, Em tristes sombras morre a formosura,
monstro ou quimera de todos os elementos, em ne- Em contínuas tristezas a alegria.
nhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta,
nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
como é maior que o mundo, não cabe nele.” Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

2. (FEI) Podemos reconhecer nesse trecho do Padre Antô- Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
nio Vieira: Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
a) O caráter argumentativo típico do estilo barroco (século Começa o mundo enfim pela ignorância,
XVII). E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
b) A pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor
árcade (século XVIII). (Gregório de Matos)

c) Uma visão de mundo centrada no homem, própria da 4. (Fatec) Sobre as características barrocas desse soneto,
época romântica (princípio do século XIX). considere as afirmações a seguir:

d) O racionalismo comum dos escritores da escola realista I. Há nele um jogo simétrico de contrastes, expresso por
(final do século XIX). pares antagônicos como Sol/Lua, dia/noite, luz/som-
bra, tristeza/alegria etc., que compõe a figura da an-
e) A consciência da destruição da natureza pelo homem, títese.
típica de um escritor moderno (século XX).

180

II. Este é um soneto oitocentista, que cumpre os padrões 6. “A natureza representou a afirmação do nacionalismo LÍNGUA PORTUGUESA
da forma fixa, quais sejam, rimas ricas, interpoladas brasileiro, nos períodos romântico e modernista.”
nas quadras (“A-B-A-B”) e alternadas nos tercetos (“A- Partindo deste pressuposto, assinale a alternativa in-
B-B-A”). correta.

III. O tema do eterno combate entre elementos munda- a) “O exotismo e a exuberância da natureza brasileira tan-
nos e forças sagradas é indicado ali, por “ignorância to inspiraram os autores românticos quanto os moder-
do mundo” e “qualquer dos bens”, por um lado, e por nistas.”
“constância”, “alegria” e “firmeza”, de outro.
b) “O ufanismo nacionalista foi explorado no Romantismo,
A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que: enquanto no Modernismo havia, para o nacionalismo,
uma perspectiva crítica.”
a) somente I está correta.
b) somente II está correta. c) “Para os românticos, a natureza exerceu profundo fas-
c) somente III está correta. cínio; nela eles viam a antítese da civilização que os
d) somente I e III estão corretas. oprimia.”
e) todas estão corretas.
d) “No Modernismo, os princípios nacionalistas defendidos
Texto para as próximas quatro questões: por seus representantes incluíam o culto à natureza,
(UFPE) comprometido com a visão europeia de mundo.”

Além do horizonte, deve ter e) “Nas várias tendências do movimento modernista, a na-
Algum lugar bonito para viver em paz tureza não se apresenta transfigurada, mas real. Os mo-
Onde eu possa encontrar a natureza dernistas não se consideravam nacionalistas exaltados
Alegria e felicidade com certeza. só pelo simples fato de serem brasileiros. Antes de mais
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo nada, não tinham medo de falar dos males do Brasil.”
com flores festejando mais um dia que vem vindo
Onde a gente possa se deitar no campo 7. É incorreto afirmar que no Parnasianismo:
Se amar na selva, escutando o canto dos pássaros.
a) a natureza é apresentada objetivamente.
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar b) a disposição dos elementos naturais (árvores, estrelas,
ideal, de um ambiente campestre, calmo.
céu, rios) é importante por obedecer a uma ordenação
5. Em Literatura, um grupo de escritores, no século XVIII, lógica.
defendeu o bucolismo, a necessidade de revalorização c) a valorização dos elementos naturais torna-se mais im-
da vida simples, em contato com a natureza. Estamos portante que a valorização da forma do poema.
fazendo referência aos escritores do: d) a natureza despe-se da exagerada carga emocional com
que foi explorada em outros períodos literários.
a) ROMANTISMO, para quem encontrar-se com a natureza e) as inúmeras descrições da natureza são feitas dentro
significava alargar a sensibilidade. do mito da objetividade absoluta, porém os melhores
textos estão permeados de conotações subjetivas.
b) ARCADISMO, propondo um retorno à ordem natural,
como na literatura clássica, na medida em que a nature- 8. Nos poemas, contos e romances cuja temática é nor-
za adquire um sentido de simplicidade, harmonia e ver- destina, a literatura moderna apresenta a NATUREZA
dade. quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmen-
tos não justifica esta afirmação?
c) REALISMO, fugindo às exibições subjetivas e mantendo
a neutralidade diante daquilo que era narrado; as refe- a) “Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, fica-
rências à natureza eram feitas em terceira pessoa. riam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente
para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes,
d) BARROCO, movimento que valorizava a tensão de ele- brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos.”
mentos contrários, celebrando Deus ou as delícias da
vida nas formas da natureza. (Graciliano Ramos, em Vidas Secas)

e) SIMBOLISMO quando estes escritores se mostravam b) “Há uma miséria maior do que morrer de fome no deser-
mais emotivos, transformando as palavras em símbolos to: é não ter o que comer na terra de Canaã.”
dos segredos da alma. A natureza era puro mistério.
(José Américo de Almeida, em A Bagaceira)

c) “Tirei mandioca de chãs
que o vento vive a esfolar
e de outras escalavradas
pela seca faca solar”

(João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina)

181

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM d) “Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de re- 10. (Unitau) “Brás, Bexiga e Barra Funda tenta fixar tão-so-
tirantes se arranchara (...) Em toda a extensão da vista, mente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e
nem uma outra árvore surgia. Só aquele velho juazeiro, cotidiana desses novos mestiços nacionais e naciona-
devastado e espinhento, verdejaria a copa hospitaleira listas.”
na desolação cor de cinza da paisagem.” É dessa forma que Antônio de Alcântara Machado ex-
plica sua obra. Indique a alternativa que responde cor-
(Rachel de Queiroz, em O Quinze) retamente à nacionalidade referida pelo autor:

e) “Este açúcar veio a) aos ingleses.
de uma usina de açúcar em Pernambuco (...) b) aos italianos.
Este açúcar era cana c) aos alemães.
e veio dos canaviais extensos d) aos portugueses.
que não nascem por acaso e) aos índios.
no regaço do vale.”
(Ferreira Gullar, em O Açúcar)

Texto para a próxima questão: 11. (UFSM) Leia a estrofe de Gregório de Matos:

AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊN- Ardor em firme coração nascido;
CIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM pranto por belos olhos derramado;
SONETO incêndio em mares de água disfarçado;
Ardor em firme coração nascido; rio de neve em fogo convertido.
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de águas disfarçado; Assinale a alternativa em que os dois versos indicados
Rio de neve em fogo convertido: apresentam metáforas de lágrimas.

Tu, que em um peito abrasas escondido; a) Versos 1 e 2
Tu, que em um rosto corres desatado; b) Versos 2 e 4
Quando fogo, em cristais aprisionado; c) Versos 2 e 3
Quando cristal em chamas derretido. d) Versos 3 e 4
Se és fogo como passas brandamente, e) Versos 1 e 3
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente! 12. (UEL) A chamada atividade literária das primeiras dé-
cadas de nossa formação histórica caracterizou-se
Pois para temperar a tirania, por seu cunho pragmático estrito, seja a circunscrita
Como quis que aqui fosse a neve ardente, ao parâmetro jesuítico, seja a decorrente de viagens
Permitiu parecesse a chama fria. de reconhecimento e informação da terra.

9. (PUC-SP) Considere atentamente as seguintes afirma- São representantes dos dois tipos de atividade literária
ções sobre o poema de Gregório de Matos: referidos no excerto acima:

I. O par fogo e água, que figura amor e contentação, pas- a) Gregório de Matos e Cláudio Manuel da Costa
sa por variações contrastantes até evoluir para o oxí- b) Antônio Vieira e Tomás Antônio Gonzaga
moro. c) José de Anchieta e Gabriel Soares de Sousa
d) Bento Teixeira e Gonçalves de Magalhães
II. O poema evidencia a “fórmula da ordem barroca” ditada e) Basílio da Gama e Gonçalves Dias
por Gérard Genette: diferença transforma- -se em oposi-
ção, oposição em simetria e simetria em identidade.

III. O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito
vivido pelo homem do século XVII.

De acordo com o poema, pode-se concluir que: 13. (UEL) À curiosidade geográfica e humana e ao desejo
de conquista e domínio, corresponde, inicialmente, o
a) são corretas todas as afirmações. deslumbramento diante da paisagem exótica e exube-
b) são corretas apenas as afirmações I e II. rante da terra recém-descoberta, testemunhado pelos
c) são corretas apenas as afirmações I e III. cronistas portugueses
d) é correta apenas a afirmação II.
e) é correta apenas a afirmação III. a) Gonçalves de Magalhães e José de Anchieta.
b) Pero de Magalhães Gândavo e Gabriel Soares de Sousa.
182

c) Botelho de Oliveira e José de Anchieta. c) Na poesia lírica encontram-se suas mais belas composi- LÍNGUA PORTUGUESA
d) Gabriel Soares de Sousa e Gonçalves de Magalhães. ções, expressivas de uma fé profunda.
e) Botelho de Oliveira e Pero de Magalhães Gândavo.
d) Apesar de pautada na língua e na cultura do índio, sua
14. (Uflavras) Todas as alternativas são corretas sobre o produção literária não se caracteriza como literatura já
Padre José de Anchieta, EXCETO: tipicamente brasileira.

e) Sua obra teatral, marcadamente alegórica e antirreligio-
sa, moldou-se nos padrões renascentistas.

a) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do 17. (G1 – CFT-CE) No período compreendido entre o des-
século XVI. cobrimento do Brasil e o ano de 1601, produziu-se, no
Brasil, a literatura informativa, cuja temática está re-
b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com sumida na opção:
seus sermões barrocos.
a) a vida dos habitantes nativos.
c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a b) o perfil físico, étnico e cultural da nova terra.
gramática da língua dos nativos. c) o modelo de catequese adotado pelos jesuítas.
d) as aventuras do europeu descobridor.
d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo e) a política predatória de Portugal em relação ao Brasil.
como de caráter pedagógico.

e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e
diabos.

15. (UFRS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afir- 18. (G1–CFT-MG) São características do Barroco, EXCETO:
mações a seguir sobre a Literatura de Informação no
Brasil. a) sentimento repleto de contradições.
b) soberania da razão em detrimento do conflito.
( ) A carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Ma- c) linguagem obscura e expressão indireta das ideias.
nuel I, circulou amplamente entre a nobreza e o povo d) tempo interligado ao fim da beleza e ao tema da morte.
português da época.
19. (ITA) Leia o texto abaixo e as afirmações que se seguem.
( ) Os textos informativos apresentavam, em geral, uma
estrutura narrativa, pois esta se adaptava melhor aos
objetivos dos autores de falar das coisas que viam.

( ) Os textos que informavam sobre o Novo Mundo des- Que falta nesta cidade? Verdade.
pertavam grande curiosidade entre o público europeu, Que mais por sua desonra? Honra.
estando os de Américo Vespúcio entre os mais divulga- Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
dos no início do século XVI. O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
( ) Pero de Magalhães Gândavo é o autor dos textos “Tra- Numa cidade onde falta
tado da Terra do Brasil” e “História da Província Santa Verdade, honra, vergonha.
Cruz a que Vulgarmente chamamos de Brasil”.
(Matos, Gregório de. Os Melhores Poemas de Gregório de Matos
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, Guerra. Rio de Janeiro: Record; 1990.)
de cima para baixo, é

a) V – F – V – V I. Mantém uma estrutura formal e rítmica regular.
b) V – F – F – F II. Enfatiza as ideias opostas.
c) F – V – V – V III. Emprega a ordem direta.
d) F – F – V – V IV. Refere-se à cidade de São Paulo.
e) V – V – F – F V. Emprega a gradação.

16. (UFV) Sobre José de Anchieta é INCORRETO afirmar Pode-se dizer que são verdadeiras:
que:
a) apenas I, II, IV
a) Cultivou especialmente os autos, buscando, na alegoria, b) apenas I, II, V
tornar mais acessíveis às mentes indígenas os concei- c) apenas I, III, V
tos e os dogmas do cristianismo. d) apenas I, IV, V
e) todas
b) No teatro, o “Auto de São Lourenço” destaca-se como
obra catequética de influência medieval.

183

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM 20. (Mackenzie) O soneto a seguir é representativo da es- c) da Bahia do século XVII – Gregório de Matos
tética: d) do ciclo da cana-de-açúcar – Antônio Vieira
Não vira em minha vida a formosura, e) da exploração do ouro em Minas – Cláudio Manuel da
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia Costa.
A querer ver tão bela arquitetura:
23. (UEL) Identifique a afirmação que se refere a GREGÓ-
Ontem a vi por minha desventura RIO DE MATOS.
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em anjo se mentia; a) No seu esforço de criação da comédia brasileira, realiza
De um sol, que se trajava em criatura: um trabalho de crítica que encontra seguidores no Ro-
mantismo e mesmo no restante do século XIX.
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
Se esta cousa não é, que encarecer-me b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o pre-
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me! sente: ainda tem os torneios verbais do quinhentismo
português, mas combina-os com a paixão das imagens
Olhos meus, disse então por defender-me, pré-românticas.
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais
liberal, o que mais claramente manifestou as ideias da
a) Barroca ilustração francesa.
b) Simbolista
c) Romântica d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios,
d) Parnasiana os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se
e) Árcade para isso do engenho artificioso que caracterizava o es-
tilo da época.

e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do
chamado ciclo do ouro é prova de que seu talento não se
restringia ao lirismo amoroso.

21. (UEL) O século XVI deve ser reconhecido, na história da 24. (UEL)
literatura brasileira, como um período de:
“Incêndio em mares-d’água disfarçado,
a) manifestações literárias voltadas basicamente para a Rio de neve em fogo convertido.”
informação sobre a colônia e para a catequese dos nati-
vos. a) a imitação direta dos elementos naturais.
b) a submissão da sintaxe às regras da clareza.
b) amadurecimento dos sentimentos nacionalistas que c) a interpenetração de elementos contrastantes.
logo viriam a se expressar no Romantismo. d) a ordem casual e descontrolada das palavras.
e) a exaltação da paisagem nativa.
c) exaltação da cultura indígena, tema central dos poemas
épicos de Basílio da Gama e Santa Rita Durão. 25. (UEL) O Barroco manifesta-se entre os séculos XVI e XVII,
momento em que os ideais da Reforma entram em con-
d) esgotamento do estilo e dos temas barrocos, superados fronto com a Contrarreforma católica, ocasionando no
pelos ideais estéticos do Arcadismo. plano das artes uma difícil conciliação entre o teocen-
trismo e o antropocentrismo. A alternativa que contém
e) valorização dos textos cômicos e satíricos, em que foi os versos que melhor expressam este conflito é:
mestre Gregório de Matos.
a) Um paiá de Monal, bonzo bramá,
22. (UEL) Assinale a alternativa cujos termos preenchem Primaz da Cafraria do Pegu,
corretamente as lacunas do texto inicial. Que sem ser do Pequim, por ser do Açu,
Como bom barroco e oportunista que era, este poeta Quer ser filho do sol, nascendo cá.”
de um lado lisonjeia a vaidade dos fidalgos e podero- (Gregório de Matos)
sos, de outro investe contra os governadores, os “falsos
fidalgos”. O fato é que seus poemas satíricos consti- b) Temerária, soberba, confiada,
tuem um vasto painel ...................., que ................. com- Por altiva, por densa, por lustrosa,
pôs com rancor e engenho ainda hoje admirados pela A exaltação, a névoa, a mariposa,
expressividade. Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada.”
(Botelho de Oliveira)
a) do Brasil do século XIX – Gregório de Matos
b) da sociedade mineira do século XVIII – Cláudio Manuel

da Costa

184

c) Fábio, que pouco entendes de finezas! c) a escravidão é denunciada como instituição perversa e LÍNGUA PORTUGUESA
Quem faz só o que pode a pouco obriga: desnecessária.
Quem contra os impossíveis se afadiga,
A esse cede amor em mil ternezas.” d) o elogio da mulher amada está inserido em um quadro
(Gregório de Matos) bucólico e pastoril.

d) Luzes qual sol entre astros brilhadores, e) o ideal de racionalidade resulta na sintaxe simples e na
ordem direta das frases.
Se bem rei mais propício, e mais amado;
29. (UFRS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afir-
Que ele estrelas desterra em régio estado, mações abaixo sobre os dois grandes nomes do barro-
co brasileiro.
Em régio estado não desterras flores.”

(Botelho de Oliveira)

e) Pequei Senhor; mas não porque hei pecado, ( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os
Da vossa alta clemência me despido; valores transcendentais e os valores mundanos, exem-
Porque quanto mais tenho delinquido, plificando as tensões do seu tempo.
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma
construção de imagens desdobradas em numerosos
26. (UFLAVRAS) Assinale a alternativa CORRETA a respei- exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pre-
to do Padre Antônio Vieira: gação.

a) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para ( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas
justificar todos os acontecimentos políticos e sociais. e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrió-
ticos expressos em linguagem barroca.
b) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse
por assuntos mundanos. ( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos
sermões do Padre Vieira representam duas faces da
c) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de alma barroca no Brasil.
que tratava.
( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para
d) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos. o desvio operado pela retórica retumbante e vazia.
e) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana,
A sequência correta de preenchimento dos parênteses,
não se ocupou de problemas locais. de cima para baixo, é

27. (UFLAVRAS) a) V – F – F – F – F
“Nasce o sol, e não dura mais que um dia, b) V – V – V – V – F
Depois da luz se segue a noite escura, c) V – V – F – V – F
Em tristes sombras morre a formosura, d) F – F – V – V – V
Em contínuas tristezas, a alegria.” e) F – F – F – V – V

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos, 30. (UFRS) Quanto ao período Barroco e seus representan-
a principal característica do Barroco é: tes na literatura colonial brasileira, é correto afirmar que

a) a forte presença de antíteses.

b) o culto do amor cortês. a) os sermões de Antônio Vieira apresentam uma retórica
c) o uso de aliterações. complexa pela exuberância de imagens e pelos postula-
d) o culto da natureza. dos morais e religiosos.
e) a utilização de rimas alternadas.
b) a obra de Gregório de Matos se distingue pela sua unida-
de temática, expressa por um tom satírico.

28. (UFRS) Sobre a obra de Gregório de Matos é correto c) a poesia irreverente de Gregório de Matos satiriza dife-
rentes tipos sociais, exceção feita aos representantes
afirmar que da Igreja.

a) os vícios da colônia são criticados e as autoridades pú- d) o predomínio dos valores transcendentais, motivados
blicas são ridicularizadas. pela Reforma, marca o estilo barroco da obra de Vieira.

b) sua infância e sua família são temas recorrentes em e) Gregório de Matos se ateve ao uso da língua culta da
seus poemas. Metrópole, ao contrário de Vieira, que utilizou termos in-
dígenas, africanos e populares.

185

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM 31. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre o pa- Quais estão corretas?
dre Antônio Vieira:
a) Apenas I
I. Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracteriza- b) Apenas II
do pela clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico. c) Apenas I e III
d) Apenas II e III
II. Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transfor- e) I, II e III
mando-o em mero instrumento de convencimento dos
fiéis.

III. Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que
as vincula às ideias que quer expressar, explorando a
analogia.

Respostas do Bloco 4:

Ficha 1 Ficha 2 0 16 - e 29 - c
01 - c 01 - c 3-e 17 - b 30 - a
02 - e 02 - c 18 - b 31 - c
03 - a 03 - a 04 - a 19 - b
04 - a 04 - b 05 - b 20 - a
05 - d 05 - d 06 - d 21 - a
06 - d 06 - b 07 - c 22 - c
07 - a 07 - c 08 - e 23 - d
08 - c 09 - a 24 - c
09 - c Ficha 3 10 - b 25 - e
10 - c 01 - c 11 - d 26 - c
11 - c 02 - a 12 - d 27 - a
12 - a 13 - b 28 - a
14 - b
186 15 - d

REDAÇÃO

BLOCO 5
REDAÇÃO

INTRODUÇÃO Consiste em trazer para o leitor, como qualifica) para reproduzir a impressão
se fosse vivos, coisas, seres, situações causada pela coisa descrita.
Redação é um texto por meio do qual ou pessoas. É evocar aquilo que se vê
expressamos pensamentos, opiniões, e sente, ou criar o que é percebido e O autor capta a realidade por meio
emoções, entre outros. Escrever ade- imaginado. A descrição não é uma có- dos sentidos e, usando os recursos da
quadamente é transformar um amontoa- pia fria, mas o enriquecimento do que linguagem, a transmite, enriquecida,
do de letras e sinais num conjunto coe- se viu ou imaginou. O mais importante ao leitor. Os adjetivos são muito impor-
so, coerente e convincente de ideias. na descrição não é o número de deta- tantes, visto que uma boa caracteriza-
“Texto” vem do latim textum (trama, lhes, mas a intensidade do que é trans- ção é fundamental.
tecido), portanto texto é uma trama mitido.
de palavras bem combinadas. O texto A descrição é atemporal e ao mesmo
escrito se diferencia da fala; enquanto A descrição é estática e não possui tempo espacial. O verbo é capítulo à
no discurso oral estamos em contato ação. parte na descrição: os verbos conju-
direto com o interlocutor e podemos gados são quase totalmente despre-
explicar o pensamento em detalhes, e Por se ocupar de seres, objetos ou si- zados e o uso das formas nominais é
reexplicar, se necessário, o texto escri- tuações, o substantivo e o adjetivo têm grande, além dos verbos de ligação.
to tem de ser planejado e bem escrito, lugar destacado na descrição. Isso faz da descrição um tipo muito es-
ou não será entendido. pecial de redação.
Uma redação descritiva é mais inte-
Normalmente, ao lermos um texto, ressante ao leitor, quanto mais intensa Tipos de Descrição
não temos o autor ao lado para escla- é a impressão provocada nele. E nada Observe a imagem a seguir:
recer dúvidas. A conclusão a que che- mais eficiente que o substantivo (que
gamos é que compreender um texto nomeia os seres) e o adjetivo (que os
não é algo inteiramente pessoal, mas
sim resultado da interlocução entre naturespicsonline.com/Nature32/_mg_6571a.htm
texto e leitor.

Muitas pessoas confundem o escre-
ver adequadamente com uso de pala-
vras difíceis ou períodos e frases com-
plicadas. Escrever de forma adequada
é produzir um texto em que as partes
estejam articuladas entre si e que pro-
voque uma reação no leitor.

Nos vestibulares e concursos, geral-
mente é solicitada a escrita de um tex-
to com trama narrativa, descritiva ou
argumentativa. De acordo com o gêne-
ro textual selecionado, será utilizada,
prioritariamente, uma dessas tramas.

Neste módulo abordamos os aspec-
tos mais importantes acerca de cada
uma dessas tramas textuais.

FICHA 1
OS TIPOS DE REDAÇÃO

DESCRIÇÃO

Descrever é representar por meio de Ursos polares 187
palavras um objeto ou uma imagem.

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM A descrição dessa imagem pode ser funde o verde-mar em rosa-pálido. • Tempo de duração dos fatos.
realizada de diferentes formas. Duas grandes janelas por onde se • Foco narrativo: enfoque narrativo
perspectiva a baixa e um largo tre-
Descrição denotativa cho do rio. A parede do sul cortada presente no texto.
Uma possibilidade de descrever essa por três arcos envidraçados que A trama narrativa apresenta um en-
imagem é a seguinte: dão para uma espécie de estufa redo, normalmente construído com a
“Fotografia em que há dois ursos po- rescendente. seguinte estrutura:
lares, de pelo esbranquiçado, brincan- • Situação inicial
do. O ambiente é cercado por muito (Teixeira Gomes) • Conflito ou situação problema
gelo e está muito frio”. • Desenvolvimento dos fatos
Esta descrição se atém aos elemen- 3. Iracema, a virgem dos lábios de • Desfecho
tos explícitos presentes na foto. Nes- mel, que tinha os cabelos mais ne- Na redação narrativa, o fato é o nú-
se caso, temos uma descrição deno- gros que a asa da graúna e mais cleo, e o verbo, o elemento mais valio-
tativa. longos que seu talhe de palmeira so do texto. Na narração é importante
Denotativo é tudo aquilo que é ob- (...). que a situação centralize e envolva as
jetivo, direto e sem uso de figuras de Mais rápida que a ema selvagem... personagens. Deve haver um enredo e
linguagem. A descrição denotativa faz O pé grácil e nu, mal roçando, ali- um conflito central. A narração ordena
uso da palavra no sentido literal. Exem- sava apenas a verde pelúcia que e distingue os fatos.
plos clássicos são as descrições dos vestia a terra com as primeiras A narração é eminentemente tempo-
livros didáticos. águas. ral e espacial. Envolve a ação, que é
Um dia, ao pino do sol, ela re- aquilo que realiza a personagem, agen-
Descrição Conotativa pousava em um claro da floresta. te do processo narrativo. A narração
Uma outra possibilidade de descrever Banhava-lhe o corpo a sombra da é constituída por um fio condutor que
a foto apresentada é a seguinte: oiticica, mais fresca do que o orva- leva a uma situação limite, chamada
“Beleza e companheirismo por meio lho da noite. Os ramos da acácia de “clímax” ou nó. O sucesso da nar-
de gestos, carinhos e afeição. Olhar sua- silvestre esparziam flores sobre os rativa depende, entre outras coisas, do
ve e amoroso, cada urso transborda úmidos cabelos. Escondidos na fo- grau de suspense criado, bem como do
humanidade e sentimentos positivos. lhagem os pássaros ameigavam o desfecho, muitas vezes, surpreenden-
Os gestos espelham toda a alegria canto (...) te.
de viver e descobrir o mundo. Pêlos Diante dela e todo a contemplá-la, Exemplos de Narração
quentes e aconchegantes como os co- está um guerreiro estranho, se é
rações pulsantes dessas animais tão guerreiro e não algum mau espírito 1. Quando cheguei hoje à cidade,
inspiradores”. da floresta. Tem nas faces o bran- eram duas horas, e ia a sair do bon-
Essa descrição utiliza elementos co- co das areias que bordam o mar, de, chegou-se a ele a bela Fidélia,
notativos, nos quais há uso criativo nos olhos o azul triste das águas com seu gracioso e austero meio
das palavras. profundas. Ignotas armas e tecidos luto de viúva. Vinha de compras, na-
A conotação visa retratar uma reali- ignotos cobrem-lhe o corpo. turalmente. Cumprimentamo-nos,
dade a partir de uma percepção indi- dei-lhe a mão para subir. Perguntou-
vidual e, muitas vezes, inédita. Dado, (José de Alencar) me pela mana, eu pelo tio, ambos
por exemplo, um objeto a ser descrito, por nós, e ainda houve tempo de
como uma cadeira, o autor da redação Narração trocar meia dúzia de palavras. Ela:
escreveria as reações psicológicas da - Ainda agora?
cadeira aos diferentes tipos de pesso- Narrar é contar, relatar episódios e - A minha preguiça de aposentado
as que sentassem sobre ela, fazendo acontecimentos. A narração é o opos- não me permite sair mais cedo, dis-
uma descrição conotativa. to da descrição, pois é essencialmente se eu rindo, e afastei-me.
dinâmica. Predominam nela os verbos.
Exemplos de Descrição O centro da narração é o que aconte- O bonde partiu. Na esquina
ceu, é o fato, o evento. A narrativa é a estava não menos que o dr. Osório
1. O planalto central do Brasil essência da ficção. sem olhos, porque ela os levava
desce, no litoral do sul, em es- arrastado no bonde em que ia; foi
carpas inteiriças, altas e abrup- Os elementos da narrativa são os se- o que concluí da cegueira com que
tas. Assoberba os mares; e de- guintes: não me viu passar por ele... Ai, re-
sata-se em chapadões nivelados • Personagens que participam da quinte de estilo!
pelos visos das cordilheiras ma-
rítimas, distendidas do Rio Gran- trama: Entrei nesta dúvida – se te-
de a Minas. - Protagonista: personagem principal riam estado juntos na rua ou na
loja a que ela veio, ou no banco, ou
(Euclides da Cunha) da trama no inferno, que também é lugar de
- Antagonista: personagem que se namorados, é certo que de namo-
2. Sala de prédio novo no pátio do rados viciosos, Del mal perverso.
torel. Ornamentações “Liberty” na opõe ao protagonista
sua clara tonalidade preferida, que - Personagens secundários: participam Achei que não, e compreendi

188 do desenvolvimento da trama.
• Espaço(s) onde os fatos ocorrem.

que ele, se acaso a cumprimentou foco narrativo é o da terceira pessoa: borracha... Havendo precisão, que REDAÇÃO
na rua, não ousou falar-lhe, apenas Dispôs os manos nas esperas, bo- jeito? Dá pra tudo...
a acompanhou de longe, até que a tou fogo no bosque e ficou também Ela lembrou:
viu meter-se no bonde e partir. amoitado esperando que saísse – Olhe, todo dia, você ou a coma-
algum viado mateiro pra ele caçar. dre apareçam ppor aqui, e o que
Também achei outra coisa; é Porém não tinha nenhum viado lá nós juntarmos, em vez de se dar
que a paixão antiga e recusada não e quando queimada acabou jacaré aos outros, guarda-se só pra você.
estava morta nele, ou revivia com a saiu? Pois nem viado mateiro nem E eu vou ver se arranjo alguma coi-
vista nova pessoa. Não, ele é bom, viado catingueiro, saíram só dois sa que lhe sirva... Assim uma vendi-
e o próprio Aguiar afirma que os ratos chamuscados, comeu-os e nha de água, hein, Mãe Nácia?
dois se merecem. sem chamar os manos voltou pra
pensão. (QUEIRÓZ, Raquel de. 3 Romances, Rio de Janeiro: José
Ia nessas conjeturas, em dire- Olympio, 1957, p. 76-78)
ção à Escola Politécnica, e vi-o pas- (ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum
sar por mim, cabisbaixo, não sei se caráter. Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1984, 19ª Discurso Indireto
triste ou alegre; não pude ver-lhe a edição, p. 94.) No discurso indireto o autor transmite
cara. indiretamente a fala da personagem,
• Narrador onisciente sem usar as palavras exatas dela.
(ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. Ministério da Narrador onisciente é aquele que do-
Cultura: Fundação Biblioteca Nacional, Departamento Um dos vizinhos disse-lhe serem as
mina o psíquico das personagens, ele autoridades do Cachoeiro.
Nacional do Livro, 1888) conhece suas ações antecipadamente.
Clarice Lispector é talvez o maior desta- (Graça Aranha. Obra Completa, Rio de Janeiro, MEC —
2. Daí, deu um sutil trovão. Tro- que da Literatura Brasileira nesse tipo de Instituto Nacional do Livro, 1969)
vejou-se, outro. As tanajuras re- narração, como no fragmento a seguir:
voaram. Bateu o primeiro toró de Discurso Indireto Livre
chuva. Cortamos paus, folhagens Na rua vazia as pedras vibravam de Sendo fusão dos tipos anteriores do
de coqueiros, aumentamos o ran- calor - a cabeça da menina flameja. discurso, aproxima narrador e perso-
cho. E viera, uns campeiros, rever o Sentada nos degraus da sua casa, nagem, dando a impressão de que são
gado da tapera Nhã , no renovame. ela suportava. Ninguém na rua, só um só, por meio do chamado monólogo
Levaram as novilhas em quadra uma pessoa esperando inutilmen- interior:
de produzir. (...) Os dias de chover te, no ponto de bonde. E como se
cheio foram se emendando. (...) As não bastasse seu olhar submisso Que vontade de voar lhe veio agora!
garças é que praziam de gritar, o e paciente, o soluço a interrompia Correu outra vez com a respiração
garcejo delas, e o socóboi range de momento a momento, abalando presa. Já nem podia mais, Estava
cincerros, e o socó latindo sucinto. o queixo que se apoiava compa- desanimado. Que pena! Houve um
nheiro na mão... Na rua deserta momento em que esteve quase...
(Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa) nenhum sinal de bonde. Numa ter- quase!
ra de morenos, ser ruiva era uma Retirou as asas e estraçalhou-as.
Foco narrativo: as formas de revolta involuntária. Só tinham beleza. Entretanto, qual-
narrar: Se num dia futuro sua marca ia fa- quer urubu... que raiva!...
zê-la erguer insolente sua cabeça
A relação entre os interlocutores de mulher? (Ana Maria Machado)
realiza-se mediante o chamado dis- Por enquanto ela estava sentada
curso, recurso usado pela narrativa num degrau faiscante da porta, às Dissertação
para efetivar o ponto de vista ou foco duas horas. O que a salvara era
narrativo. uma bolsa velha de senhora, com Dissertar consiste em desenvolver
alça partida. Segurava-a com um uma argumentação, expor ideias em
Tipos de foco narrativo amor conjugal já habituado, aper- torno de uma situação ou problema.
• Narrador-personagem tando-a contra os joelhos.
Dissertar é expor um assunto, esclare-
Quando o narrador participa do en- (Clarice Lispector. A Legião Estrangeira. cer fatos, suposições que o envolvem,
redo, diz-se que é um narrador-perso- São Paulo: Ática, 1990, p. 59) ao mesmo tempo em que se toma posi-
nagem ou participante. Isto constitui o ção e se defende pontos de vista.
foco narrativo da 1ª pessoa: TIPOS DE DISCURSO
As características do texto com tra-
Levanto-me, procuro uma vela, Discurso Direto ma dissertativa são a análise objetiva
que a luz vai apagar-se. Não tenho Consiste no diálogo. O autor dá voz de um assunto, a sequência lógica de
sono. Deitar-me, rolar no colchão à personagem, que é chamada a di- ideias e a clareza e coerência na expo-
até a madrugada, é uma tortura. zer as próprias palavras. Normalmen- sição delas.
Prefiro ficar sentado, concluindo te é precedida por dois pontos e tra-
isto. Amanhã não terei com que me vessão. A dissertação também é conhecida
entreter. Ponho a vela no castiçal, como redação expositiva. Exige sele-
risco um fósforo e acendo-a. Ele alargou os braços, tristemente: ção e reflexão de ideias, além de um
– A natureza da gente é que nem plano de desenvolvimento, um plane-
(RAMOS, Graciliano. S. Bernardo. Distribuidora Record. jamento acerca do texto a ser elabo-
Livraria Martins Editora, São Paulo, SP. p. 168) rado.

• Narrador-observador 189
É o narrador que faz de intermediário

entre o acontecimento e o leitor. Seu

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM Após refletir bem sobre o tema da re- xadores) de arguição. É o próprio Uma das estratégias utilizadas em
dação, deve-se estabelecer a ordem Senado que fixa a duração dos textos com enfoque subjetivo é a ten-
dos pensamentos e estabelecer a se- processos de escolha. Ao determi- tativa de despertar a simpatia do leitor
quência e importância destes. nar o voto secreto, a intenção dos para com o assunto exposto, pois se
constituintes de 1988 foi a de evi- baseia essencialmente em suas opini-
Algum conhecimento do assunto tra- tar pressões sobre os senadores. ões, em um tom confessional. Nesses
tado, cultura abrangente e domínio das As sessões públicas se destinam a textos, há predomínio de verbo na 1ª
estruturas sintáticas mais complexas que os brasileiros tomem conheci- pessoa do singular.
são importantes para a escrita de tex- mento do que pensam os indicados
tos com trama dissertativa. para os cargos e quais as suas ca- É importante observar que dificil-
pacitações. E a ausência de prazo mente as tramas descritiva, narrativa
Esse tipo de texto é bastante solici- pressupõe que os senadores pos- e dissertativa estão em estado puro. É
tado em vestibulares e concursos no sam arguir a fundo os postulantes comum que um texto misture caracte-
Brasil. a cargos. Tudo muito sensato, na rísticas delas, como um texto em que
Constituição. há predominância de trama dissertati-
Geralmente, apresenta a seguinte es- Na prática, é tudo diferente. va apresente trechos com breves nar-
trutura: rações.
• Introdução – Parte em que se apre- As indicações de embaixa-
dores são sempre rápidas. Na Texto objetivo:
senta o assunto a ser tratado, onde semana passada, o Senado foi A família do Conselheiro compu-
o tema será apresentado ao leitor. de uma rapidez ímpar: aprovou, nha-se de duas pessoas: um fi-
• Desenvolvimento – trata-se do des- a toque de caixa, o nome de um lho, o Dr. Estácio, e uma irmã, D.
dobramento do assunto, no qual novo integrante do Supremo Tribu- Úrsula. Contava esta cinquenta e
são apresentados dados, exemplos nal Federal. Não houve arguição poucos anos; era solteira. Vivera
e comparações etc, a fim de validar alguma, nenhum debate, nenhu- sempre com o irmão (...). Está-
determinado ponto de vista. ma pergunta. Em algumas horas, cio tinha vinte e sete anos, e era
• Conclusão – É o fechamento do tex- nomeou-se um Juiz do Supremo formado em matemática. O con-
to, no qual a ideia exposta na intro- sem que se soubesse nada do seu selheiro tentara encarreirá-lo na
dução é retomada e toma-se uma pensamento jurídico. Com esses política, depois na diplomacia;
posição a respeito dela, de forma a procedimentos céleres, o Senado mas nenhum desses projetos teve
explicitar e fundamentar um deter- se auto-imola e abdica de suas ta- começo de execução.
minado ponto de vista. refas constitucionais para se tor-
Exemplo de Dissertação nar um mero carimbo do Executi- (ASSIS, Machado de. Helena.
vo. Quem perde com a pressa e a São Paulo: Ática, 14a ed., 1990, p.11.)
É a constituição que define as ta- superficialidade dos senadores é
refas do Senado. Entre elas está a o Brasil, que vê indicadas para al- Texto subjetivo:
de processar e julgar o presidente tos cargos da República pessoas Pois ali está, no meio da noite, a
e o vice, ministros de Estado, de que não se sabe se são talhadas Lua. É mesmo um lago de prata,
tribunais superiores, o procurador- para as funções que deverão de- com vagas sombras inzentas –
geral da República e o advogado sempenhar. sombras de árvores, de barcos, de
geral da União em casos de crime aves aquáticas...
de responsabilidade. Foi o que fi- (Revista Veja, 2/11/94) O céu está muito límpido, e é puro
zeram os 81 senadores no impe- o brilho das estrelas. Mas em breve
achment de Fernando Collor. Tam- Objetividade e Subjetividade se produzirá o eclipse.
bém cabe ao Senado autorizar E então, pouco a pouco, o lumino-
empréstimos externos e emissão Ao tratar por escrito um tema, po- so contorno vai sendo perturbado
de títulos de dívidas da União, dos demos escrever de forma objetiva ou pela escuridão. A Terra, esta nossa
Estados, municípios e do Distrito subjetiva. misteriosa morada, vai projetando
Federal. Outra tarefa do Senado • Objetiva – quando a exposição e sua forma naquele redondo espe-
é votar propostas que diga respei- lho. Muito lentamente sobe aquela
to à política externa brasileira, tal tratamento do assunto é impesso- mancha negra sobre aquela cinti-
como o restabelecimento ou rom- al. Muitos textos com escrita obje- lante claridade. É mesmo um dra-
pimento de relações diplomáticas tiva tem como finalidade instruir e/ gão de trevas que vai calmamente
e acordos de dívida externa. Por ou convencer o leitor. É comum a bebendo aquela água tão clara; de-
fim, os senadores devem aprovar utilização de verbos em 3ª pessoa vorando, pétala por pétala, aquela
as escolhas do Executivo para in- e/ou 1ª do plural na redação obje- flor tranqüila.
tegrantes de tribunais superiores, tiva. E o globo da Lua, num dado momen-
presidentes e diretores do Banco • Subjetiva – predomina a visão par- to, parece roxo, sanguíneo, como um
Central, o procurador-geral da Re- ticular das coisas e do mundo. O vaso de sangue. Que singular meta-
pública e embaixadores. autor segue seu modo de observar morfose, e que triste símbolo! Ali
e compreender a realidade. Para vemos a Terra, melancolicamente
As aprovações para todos es- tanto, o tema deve estar próximo reproduzida na apagada limpidez
ses cargos devem ser por voto se- da subjetividade. da Lua. Ali estamos, com estas
creto, depois de sessões públicas
(ou secretas, no caso de embai-

190

lutas, estes males, ambições, có- O excesso de argumentos cansa o cial, em crises de desemprego, em REDAÇÃO
leras, sangue. Ali estamos proje- leitor, além de constituir um pro- apuros financeiros e num fracasso
tados! E poderíamos pensar, um blema muito comum nas redações: quanto à utilização dos recursos do
momento, na sombra amarga que períodos longos, maçantes e mal mundo da maneira mais completa
somos. Sombra imensa. Mancha arranjados entre si. e eficiente.
sanguínea. (Por que insistimos em Fora de uma atitude mútua de co-
ser assim?) • Conclusão – Dissemos que a laboração social e da produção vol-
Ah! – mas o eclipse passa. Recu- conclusão é o fechamento do tex- tada e planejada para o consumo,
pera-se a Lua, mais brilhante do to. Deve-se ter um fim elegante não há solução para tais dificulda-
que nunca. Parece até purificada. para o texto, não deve ser abrup- des. Enquanto se mantiverem as
(Brilharemos um dia também com to. A conclusão resume tudo que condições atuais, o homem sentir-
o maior brilho? Perderemos para foi apresentado anteriormente e se-á agressivo e estará preparado
sempre este peso de treva?) toma uma posição sobre o pro- para assegurar seu próprio bem-
blema apresentado. Ela é o posi- estar à custa do próximo.
(MEIRELES, Cecília. Escolha o Seu Sonho. cionamento do autor ante o tema Esta, contudo, não é natureza do
Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.) proposto na introdução, levando homem, e sim a natureza do ho-
em conta o que foi apresentado mem em nível subumano. Se o co-
FICHA 2 no desenvolvimento. Tal como a locarmos em condições de traba-
AS PARTES DE UMA introdução, a conclusão não deve lho realmente humanas, tendo em
REDAÇÃO ser longa, tendo, geralmente, um vista o bem comum, sua natureza
parágrafo. É fundamental obser- tornar-se-á mais humana, mais co-
ESTRUTURA var que a conclusão do texto operativa, e seu futuro estará as-
deve ser coerente com as ideias, segurado. Se fracassarmos neste
O que foi exposto sobre a estrutura dadose exemplos apresentados propósito, seu futuro será a guerra
da dissertação é igualmente válido na introdução e no desenvolvi- e a destruição.
para qualquer redação exigida em mento.
concursos públicos e vestibulares. Por- (John Lewis – O homem e a evolução)
tanto, a estrutura clássica da redação Em contos e crônicas, a conclusão
em vestibular é introdução, desenvolvi- pode ser imprevista, inesperada. Em Note que o tema é desenvolvido a
mento e conclusão. textos com trama dissertativa não partir de uma ideia-núcleo expres-
• Introdução – Além do que já foi deve haver mudanças bruscas e inu- sa no trecho “No entanto (...) baixo
sitadas, pois estas provocam incoe- nível de luta animal”. A ideia-núcleo
dito, cumpre acrescentar que a in- rência textual. traduz o pensamento do autor em
trodução deve despertar o interes- face do tema, além de discordar do
se do leitor pelo assunto, sendo, A seguir, temos um exemplo de texto apresentado na discussão. Nos pa-
portanto, objetiva e atraente. Pode com trama dissertativa e análise de rágrafos seguintes, o autor confir-
apresentar-se de diversos modos: suas respectivas partes, acompanha- ma e justifica os princípios de sua
uma declaração, uma citação, um das de comentários. tese, usando o recurso dos exem-
questionamento. Devem-se evitar plos para reforçar a ideia defendida
divagações, pois tendem a ser obs- A paz e a Guerra e apresentar soluções. Próximo ao
curas, A introdução deve ser breve, Há ideologias que pressupõem que fim do texto, o autor faz um retorno
geralmente constituída de um ou o homem seja um ser naturalmente à introdução, e no fim propriamente
dois períodos. inclinado à guerra, essencialmente dito (último parágrafo), ele sintetiza
• Desenvolvimento – Como já foi ex- agressivo. Suas ideias fundamen- a ideia-núcleo e encerra o texto de
posto, é o desdobramento da re- tadas na teoria da evolução, nos forma enfática.
dação, ou seja, é o corpo do texto, conceitos de luta pela existência,
sua parte principal. No desenvolvi- em que o mais forte ocupa as altas CARACTERÍSTICAS DA BOA
mento, o autor mostra suas ideias, posições econômicas e políticas. REDAÇÃO
sua originalidade e habilidade para No entanto, estas concepções são
tratar com as palavras. O desen- completamente contrárias à ten- Unidade, Coerência e Ênfase
volvimento é o debate das ideias dência evolucionária humana, que O texto A paz e a Guerra também ser-
apresentadas. É sempre a parte retrocede não só até a evolução ve para destacarmos três qualidades
mais extensa da redação e resulta em nível animal, mas também ao fundamentais para um texto escrito:
na parte mais confusa quando o mais baixo nível de luta animal. unidade, coerência e ênfase.
trabalho de ordenação das ideias Nem mesmo os carnívoros se ali- A unidade se apoia no fato de que o
não foi realizado. Não é necessário, mentam uns dos outros, como o autor se fixou somente numa ideia no
(e geralmente não é possível) usar homem competitivo devora os ri- decorrer da argumentação; as ideias
de muitas informações, o impor- vais. Nenhum futuro evolucionário se sucedem de forma lógica, sempre
tante é clareza na sua exposição. espera o homem que segue esse completando a ideia- núcleo. Não há
caminho. A luta competitiva não redundância nem pormenores desne-
deixará sobreviventes. Mesmo que cessários.
se limite a uma guerra econômica,
só pode acabar em contenda so- 191

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM A coerência consiste na associação 3. Entre o título e o texto deve ser dei- Procure o sujeito de cada verbo e
e correta correlação das ideias apre- xada uma linha de espaço. veja se eles se correspondem. Tenha
sentadas dentro de cada parágrafo e especial cuidado com a partícula SE,
de cada parágrafo a outro. É a organi- 4. Os parágrafos devem adentrar a li- e verbos impessoais (HAVER, FAZER).
zação do pensamento, refletida pelas nha dois centímetros e iniciarem- É muito comum haver erros de con-
palavras que expressam e unem as -se sempre à mesma altura. Tal or- cordância em períodos longos ou ao
informações. ganização é fundamental para uma utilizar ordem inversa, de forma que
boa redação, pois a paragrafação devem ser evitados.
A ênfase é o fato da ideia-núcleo marca a divisão do texto nas três
estar em destaque (ocupa todo um partes obrigatórias de um texto dis- 2. Regência:
parágrafo) e aparecer reforçada em sertativo. Preste muita atenção ao utilizar ver-
outros parágrafos (terceiro e quarto),
além do destaque na conclusão. A O número de parágrafos varia se- bos de regência mais complicada. Se
ênfase é conseguida por meio do uso gundo a extensão da redação. Numa não estiver seguro sobre a utilização
de frases e expressões como “homem dissertação, o mínimo obrigatório é de determinado verbo, substitua-o por
competitivo devora os rivais”, “nível de três parágrafos. Uma extensão re- outro de sentido semelhante.
subumano”, “a guerra e a destruição”, comendável para um parágrafo é de
e outras. cinco linhas. Um problema de regência muito co-
mum relaciona-se ao uso das formas
FICHA 3 5. Separe as ideias distintas em pará- oblíquas O e LHE. Essas formas são
MONTANDO A REDAÇÃO grafos distintos, preservando a co- regidas pelas seguintes regras:
nexão. As mais próximas entre si • “O” só é usado para objeto direto,
A ESTÉTICA devem ficar no mesmo parágrafo.
Toda vez que a linha de raciocínio com verbo transitivo direto.
O impacto causado pelo visual pode mudar, ou seja, sempre que se pas- • “LHE” é utilizado como objeto indi-
despertar o interesse pelo texto, ou sa a uma ideia que não tenha re-
motivar desprezo. Preste muita aten- lação muito direta com a anterior, reto ou tendo valor de possessivo.
ção aos elementos que compõem a deve-se iniciar novo parágrafo.
estética de um texto. Abaixo, os prin- 3. Colocação pronominal
cipais aspectos no que diz respeito à 6. Apenas o primeiro parágrafo pode • Não iniciamos frases com prono-
estética: ser constituído de um só período;
os demais devem ser compostos mes oblíquos átonos:
1. Normalmente o título tem todas as por vários períodos. Me disseram que você se atrasou.
palavras iniciadas com letras mai- Te vejo por aí!
úsculas, com exceção de palavras 7. Não rasure a redação. Uma redação
pouco expressivas (artigo, prepo- com rabiscos e rasuras dará ao • Não, nunca, que, porque, quando,
sição, conjunção) ou apenas a pri- avaliador uma impressão negativa. enquanto, se, para que sempre exi-
meira palavra. Seja qual for sua A maioria dos vestibulares ofere- gem oblíquo antes do verbo.
categoria, a primeira palavra do ce oportunidade e meios para se
título é sempre escrita com letra fazer um rascunho da redação. • Não coloque pronome oblíquo de-
maiúscula: Portanto, evite a rasura na versão pois de qualquer pontuação, princi-
definitiva. palmente depois de vírgula.
• Festa na Aldeia Global
• O Mundo Cão da TV Brasileira 8. A letra deverá ser legível. 4. Grafia:
Erro ortográfico não é aceitável, prin-
ou Correção: adequação à variedade
• Festa na aldeia global padrão da língua cipalmente em palavras de uso corri-
• O mundo cão na TV brasileira queiro. Se tiver dúvida sobre como se
Texto em linguagem padrão significa escreve uma palavra, use um sinôni-
Obs.: o título é colocado apenas nas texto que segue as normas da gramá- mo! E atenção especial aos acentos.
folhas de redação em que ele não este- tica. Algumas inadequações à lingua-
ja previamente grafado, ou nas folhas gem padrão pesam mais que outros na Clareza
em que haja numeração prévia. O lugar avaliação de um texto. Veja as princi- A clareza consiste em expressar uma
do título é duas ou três linhas deixadas pais ocorrências de desvio da norma ideia do modo mais compreensível
em branco antes do parágrafo, não são padrão. possível. Para obter clareza, siga esses
contadas como parte da redação, pois 1. Concordância: procedimentos:
o começo da redação é na linha um do Sujeito no plural e verbo no singular
primeiro parágrafo. 1. Reflita sobre o tema: antes de iniciar
a escrita, pense sobre o tema, junte
2. Use ponto final no título somente se as ideias que ocorrem, organize-as,
o mesmo for frase ou citação. planeje. Comece a escrever após o
planejamento, de forma a saber de
192 onde partir e em que ponto se quer
chegar. Para tanto, faça uso do ras-
cunho.

2. Use frases curtas: geralmente, os Originalidade • Uso de dado geográfico precisando REDAÇÃO
períodos longos resultam confu- Originalidade é apresentar os fatos um fato
sos. de modo diferenciado, criativo, sem Em Criciúma, no Sul de Santa Ca-
recorrer a recurso e processos des- tarina, oito mil homens vivem uma
3. Empregue palavras precisas. gastados. E como se consegue ser ori- aventura todos os dias. A aventura
ginal? Originalidade exige criativida- do carvão. São os mineiros, ho-
4. Evite a ambiguidade: ambiguidade de, habilidade e conhecimento sobre mens que quase nunca vêem o sol.
é a possibilidade de mais de um um tema.
sentido. • Utilização de dados estatísticos
Elegância Numa típica cidade brasileira, que
Ex.: Carlos encontrou sua irmã em Entendemos por elegância, em uma tenha, digamos, ... habitantes, cer-
Santos. produção textual a limpeza, a letra le- ca de... não possuem escolaridade
gível e parágrafos ordenados. Isso é o completa até o 2º grau, o que deno-
A irmã de quem? De Carlos ou do suficiente para uma redação ser consi- ta o desprestígio do ensino perante
ouvinte. Não dá para saber de quem derada elegante. a classe dirigente.
a garota citada é irmã. Portanto, te-
mos uma ambigüidade, o que pode FICHA 4 • Utilização de trecho com trama nar-
gerar dificuldade para a compreen- PARA INICIAR A REDAÇÃO rativa
são textual. Em Abril de 1964 foi deposto o
O início da redação, para a maioria presidente João Goulart e dado
Concisão dos alunos, é um das tarefa mais início à ditadura militar, que gover-
Concisão é a qualidade de expres- complicadas e por vezes parece ser nou o país durante mais de vinte
sar um fato, uma opinião ou um senti- impossível de ser realizada. Não é anos.
mento com o menor número possível raro um sentimento de pavor dian-
de frases e palavras. Devemos usar te da folha de papel em branco. As • Utilização de linguagem figurada
apenas as palavras indispensáveis à orientações até aqui apresentadas, O jornaleiro, filho das madrugadas
compreensão do que queremos trans- aliadas a escrita e reescrita, podem frias do Sul, quebra o gelo das ma-
mitir. auxiliar a diminuir essa inibição. Veja nhãs gaúchas com sua voz cortan-
Novamente o rascunho se faz neces- algumas sugestões para iniciar a pro- te e queixosa como o minuano nos
sário. Primeiro escrevemos livremen- dução textual: pampas.
te, sem grandes preocupações com a
concisão. Logo depois submetemos o • Utilização de dados retrospectivos • Utilização de frase declarativa
rascunho a uma leitura criteriosa, de As primeiras manifestações de co- Diante da complexidade da reali-
forma a retirar os excessos. municação humana, nas eras mais dade atual, o artista sente-se mui-
No texto a seguir o que está em des- primitivas, foram traduzidas por tas vezes incapaz de conseguir
taque pode ser retirado sem prejuízo sons que expressavam dor, alegria, captá-la.
para a compreensão do texto: espanto. Mais tarde...
• Utilização de ideias contrastantes
Há algumas ocasiões em que • Utilização de citação Ex.: Enquanto nos restaurantes
é melhor ficar calado do que fa- A partir das palavras de “...” pode- caros pessoas elegantes gastam
lar besteira. Eu posso contar um mos afirmar que “...” até duzentos reais numa refeição
caso recente que me aconteceu que segue cozinhas renomadas, os
há pouco. Eu saí de casa rumo ao • Apresentação de cena descritiva marginais da sociedade morrem de
bar para beber alguma coisa. Per- Edifícios altíssimos e cinzentos co- fome na rua.
cebam vocês que não tinha nada brem a metrópole. Cinzas também
planejado, apenas queria beber são as nuvens que quase diaria- Seja qual for o recurso usado na in-
um pouco e ficar a observar os ha- mente cobrem o céu e despejam trodução da dissertação, o importan-
bitantes da noite, os boêmios. Foi uma torrente que logo traz caos à te é que apareça o tema, o ponto de
então que algo totalmente inespe- cidade. Uma insuportável sinfonia vista, uma referência ao assunto sobre
rado aconteceu... de buzinas inunda o ar. É mais um o qual o texto trata. Portanto, é plena-
Um recurso muito útil para se obter dia em São Paulo. mente aceitável que o título apareça
a concisão é a elipse, que consiste na novamente na introdução.
omissão de palavras que são facilmen- • Uso de pergunta
te entendidas. Será o futebol brasileiro realmente Quanto ao desenvolvimento do tema,
Ex.: Você não sabe ler? o melhor do mundo, se os melhores podemos usar citação, dados estatísti-
Não sabe ler? jogadores do país não disputam os cos, justificativas, exemplos, compara-
Nós batemos. Não havia ninguém campeonatos locais, pois partem ções, entre outros.
na casa. para os clubes europeus assim que
Batemos. Não havia ninguém na possível? Tratando-se de assunto polêmico,
casa. deve-se examinar todos os prós e con-
tras que o envolvem, concluindo com
uma frase que expresse sua posição
sobre ele.

193

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM FICHA 5 namoros se concretizavam por A felicidade acaba sendo medida
PROPOSTAS DE REDAÇÃO cartas. Inicialmente, as pessoas não pelo que temos, mas pelo que
se isolam na sala diante de um o vizinho tem. As pesquisas podem
PROPOSTA 1 computador, mas há uma busca trazer resultados surpreendentes.
do outro. Segundo o Ibope-Mídia, no Brasil,
Internet Fonte: http://www.portrasdasletras.com.br/ são as pessoas mais pobres que se
pdtl2/sub.php?op=redacao/temas/ declaram mais felizes. Entre as que
Leia o trecho de entrevista repro- docs/internet têm renda familiar de até R$ 379
duzido abaixo e desenvolva um por mês, 41% se dizem felizes.
texto dissertativo, em prosa, de 30 PROPOSTA 2 (Economista Eduardo Giannetti da
linhas, sobre o papel da Internet
na sociedade moderna. Proposta de redação Fonseca,
Globo Repórter).
1) Pergunta: – O e-mail aproxima as Utilizando o texto a seguir apenas
pessoas? para motivar sua reflexão, elabore Mas quanto dinheiro é preciso ter
Resposta: – Isso é ilusão. uma dissertação. para ser feliz? A faxineira Delma
Marcel Proust escreveu 21 volu- As técnicas de clonagem usadas até Felippe é dona de uma casinha
mes de cartas. Você as lê e percebe agora em plantas e animais podem em Nova Iguaçu, na Baixada Flu-
que ele as escrevia para manter ser, a qualquer momento, aplicadas minense. ‘Acho que se espanta a
as pessoas à distância. Ele não aos seres humanos. Produzir gente tristeza dando umas boas garga-
queria se aproximar. Com o e-mail em série esbarra numa das leis lhadas’, ela diz.
acontece a mesma coisa. Acho até mais fascinantes da reprodução hu-
que ele potencializa esse aspecto. mana, que é o seu caráter aleatório (Globo Repórter)
Essa história de comunidade glo- e imprevisível. Só por isso os seres
bal, com todo mundo falando com humanos são tão variados nas suas E quem disse que miséria é só aqui
todo mundo, é lixo ideológico. Em virtudes e defeitos. Quem foi que disse que a miséria não
vez de o sujeito estar num bar, (Revista Veja – Editora Abril)
conversando com seus amigos, ri
ele passa horas no computador, PROPOSTA 3 Quem tá pensando que não se chora
mandando mensagens eletrôni-
cas para pessoas que, em muitos Dinheiro traz felicidade? miséria no Japão
casos, nem conhece. Essa é uma Quem tá falando que não existem te-
forma de solidão. Não houve apro- Leia os textos abaixo:
ximação. A pessoa que tem o dinheiro souros na favela
como objetivo na vida não é feliz. (Música Miséria no Japão de, Pedro
(Walnice Nogueira Galvão, entrevis- Ela fica presa a isso, fica sendo
ta a Elio Gaspari, Folha de S. Paulo, escrava do dinheiro. O dinheiro Luís,
é um instrumento inegavelmente cantada por Ney Matogrosso.)
27/08/2000, p. A 15.) útil, facilita a vida, mas há um Redija um texto dissertativo de
limite do que você precisa de di- aproximadamente 20 linhas, três
2) Depoimento de um professor nheiro para viver confortavelmen- parágrafos, sobre o tema: Dinheiro
O e-mail, o chat e o ICQ recupera- te e não precisa ter mais. traz felicidade?
ram a vontade de escrever nos jo- (Empresário José Mindlin, Globo Pôr título (não pode ser o tema), ane-
vens, embora a linguagem usada Repórter). xar rascunho.
seja toda cifrada, com erros de Fonte: http://www.portrasdasletras.com.br/
português. Volta o tempo em que pdtl2/sub.php?op=redacao/temas/
docs/internet

194

LÍNGUA PORTUGUESA

BLOCO 6
ANÁLISE DE TEXTO

INTRODUÇÃO Narração: textos com trama narrati- Pode-se desenvolver textos com tra-
va relatam as mudanças progressivas ma dissertativa utilizando diversas téc-
Deve-se partir da ideia de que o tex- de estado, que vão se processando nicas, como:
to não é um aglomerado de frases, e no decorrer do tempo. Nas narrativas • Enumeração: o autor enumera as
que desse modo não se pode isolar as sempre ocorrerá o elemento tempo-
frases. O texto está sempre inserido ral de anterioridade e de posterida- ações gradativamente e explica
em um contexto e a boa leitura (inter- de. Exemplo: “No ano que nasci, em cada item de seu segmento. Exem-
pretação) ocorrerá se houver relação 1980, as coisas com minha família plo: “- Para o aluno sentir-se moti-
entre as informações presentes no não andavam bem. Meu pai desem- vado no estudo, a escola deve ofe-
texto e o conhecimento de mundo do pregado batalhava para manter-nos. recer condições favoráveis, como
leitor. Com o passar do tempo, os filhos um prédio amplo e espaçoso para
cresceram e passaram a fazer parte criar um conforto físico; atividades
Esse relato serve para alertar a das soluções para o problema. Hoje constantes e diversificadas para
respeito dos tipos de leitura que a família, fortalecida e com muitas quebrar a monotonia; relaciona-
pode apresentar um texto e o signi- experiências de vida, venceu as difi- mento amistoso entre diretoria,
ficado distinto que uma frase pode culdades”. professores e alunos para propor-
representar fora de um contexto lin- cionar um clima favorável...”
guístico. Existem diversos gêneros de texto • Causa/Consequência: o autor de-
nos quais predomina a trama narrati- fende os argumentos com causa e
FICHA 1 – TRAMA TEXTUAL va. Veja alguns exemplos: consequência. Exemplo: “Grande
• Crônica parte da população não confia nos
E GÊNERO DE TEXTO • Fábula políticos, pois a maioria vive discu-
• Lenda tindo meios que os favorecem e es-
Existem múltiplas possibilidades de • Conto quecem do povo”.
categorizarmos os diferentes textos. • Novela • Exemplificação: como o nome diz,
Uma dessas possibilidades acontece • História em quadrinhos o autor utiliza-se de exemplos para
por meio das tramas textuais: narrati- defender seu ponto de vista.
va, descritiva e dissertativa. Descrição: apresenta as caracterís- • Confronto: utiliza-se de duas ideias
ticas da pessoa, objeto ou situação para defender a ideia central.
Utilizando-se dessas tramas textuais, qualquer, no momento estático do tem- São exemplos de gêneros textuais
os textos são construídos e passam po, isto é, no momento em que há uma nos quais predomina a trama disser-
a ter existência. Ao elaborar um texto visão ou percepção do fato. Pode-se tativa:
utiliza-se determinada trama e vários relacionar a descrição com a fotogra- • Artigo de opinião
recursos linguísticos com finalidade de fia, pois o ato de fotografar e registrar • Editoriais
convencer, sensibilizar e provocar hu- aquele momento é semelhante ao ato
mor, entre outras. de produzir um texto descritivo. Ambos FICHA 2 - TEXTO LITERÁRIO
registram o momento sem progressão
Ao tomar forma, os textos passam temporal. Um exemplo de texto no qual E TEXTO NÃO LITERÁRIO
a existir como gêneros textuais. Gê- predomina a trama descritiva é um
nero textual é a denominação dada anúncio classificado. Algumas características devem ser
ao conjunto de textos cujo conteú- observadas para que o aluno saiba
do, forma e estilo, são semelhantes, Dissertação: textos com trama dis- a diferença do texto literário e não
de modo a ter uma intencionalidade sertativa analisam, interpretam, apre- literário.
mais ou menos comum aos textos re- sentam e defendem pontos de vista
lativos a cada um dos gêneros. Exis- sobre dados da realidade. Normalmen-
tem gêneros de texto em que há pre- te, esse tipo de texto é utilizado para
dominância de trama narrativa, em dados estatísticos, citações jurídicas,
outros predomina a trama descritiva científicas, políticas etc., a fim de legi-
e há aqueles cuja trama com maior timar o ponto de vista apresentado e/
evidência é a dissertativa. ou defendido.

Veja as diferentes tramas e alguns gê-
neros textuais:

195

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM Texto Literário Texto não literário O título: componente importante da
• Não há conteúdo exclusivo mensagem, pois é um fator estratégico
• Normalmente, é um texto ficcional • Não é ficcional na articulação. O título pode apresentar
• Função estética • Função utilitária (informar) duas funções – a poética ou expressi-
• O texto é conotativo e cria signifi- va, e a factual ou de chamada. A com-
• O texto é denotativo
cados novos • Não há preocupação com forma, preensão dessas funções pode ajudar
• Plurissignificação apenas conteúdo uma análise textual, pois a forma e os
• Há preocupação com a forma procedimentos que o aluno utilizar para
sua leitura o levará à identificação de
(sons e ritmos) uma das funções que resumem as li-
nhas fundamentais do texto. No âmbito
FICHA 3 - NÍVEIS DE poético ou expressivo, o título da obra li-
LEITURA DE UM TEXTO OU entre os animais. Lobo e cordeiro, terária também se integra, resumindo-a
INTELECÇÃO gavião e pinto, raposa e galinha, e explicando-a, oferecendo uma chave
todos os bichos andam agora aos para a leitura interpretativa.
Qualquer texto, por mais simples que beijos, como namorados.
seja, pode trazer ao leitor dificuldades O parágrafo: está intrinsicamente li-
em encontrar uma unidade por trás gado ao raciocínio do autor. Ele ajuda
de tantos significados. Desse modo, Num primeiro nível de leitura, que é o desenvolvimento da argumentação e
pode-se imaginar que o texto admita a estrutura superficial, podem-se apre- na coesão do texto. O parágrafo nada
dois planos distintos na sua estrutura, sentar os significados: mais é do que o desenvolvimento das
que são:
• O galo espertalhão, consciente de ideias do autor, as quais seguem uma
Estrutura superficial ou difusa: o que a raposa é inimiga, coloca-se sequência lógica, ordenadas em come-
esquema de compreensão textual sob proteção. ço, meio e fim.
do leitor seleciona e dá prioridade às
partes que constituem as relações • A raposa tenta convencer o galo de O início e o fim: existe uma relação
lógicas do texto. Este é o nível em que não são mais inimigos. mútua entre o início e o fim do texto. A
que o narrador, os personagens, os ideia final não deve contradizer o apre-
cenários, o tempo e as ações se ins- Num segundo nível de leitura, que é sentado inicialmente. Muitas vezes, a
talam. a estrutura profunda, podem-se apre- ideia inicial e a ideia final complemen-
sentar os significados: tam-se, proporcionando coesão e coe-
Estrutura compacta: o esquema de • Afirmação da inimizade entre rapo- rência textuais.
compreensão textual do leitor tenderá a
reproduzir a estrutura original do texto, sa e galo.
isto é, buscar significados ligados mais
profundamente à mensagem do texto. • Esperteza da raposa em tentar con- FICHA 5 - TEMAS E
vencer o galo sobre algo não verda-
Para exemplificar o que acabamos deiro. FIGURAS
de relatar, segue um pequeno tre-
cho da fábula de Monteiro Lobato na • Intenção da raposa em prejudicar Temas: são palavras ou expressões
tentativa de demonstrar que, a partir o galo. que não correspondem a algo perceptí-
da observação dos dados concretos, vel no mundo natural. O tema trabalha
pode-se chegar à compreensão de Conclui-se que os significados para muito com substantivos abstratos, ver-
significados relacionados à intencio- uma boa interpretação partem das bos relacionados ao mundo interior e
nalidade do texto. estruturas difusas para atingirem as adjetivos não físicos.
mais compactas. Em outras palavras,
O galo e raposa partem do geral (o que está explícito no O texto temático é aquele no qual pre-
texto) para o específico (em geral não dominam os temas.
explícito no texto, mas possível de ser
deduzido). ... A vaidade e beleza aparente que
se exibe, brilha e seduz; é vigor,
FICHA 4 - PARTES DO arrojo, orgulho que creem tudo
poder; é a presunção de perpetui-
TEXTO E SUA INTEGRAÇÃO dade que valoriza os brilhos exte-
riores e momentâneos.

Um velho galo matreiro, perceben- Como já comentado, um texto é orga- Figuras: são palavras ou expressões
do a aproximação da raposa, em- nizado ou articulado com vários seg- que correspondem a algo perceptível
poleirou numa árvore. A raposa, mentos, para que possamos chegar no mundo. A figura trabalha muito
desapontada, murmurou consigo: à sua intelecção. No capítulo anterior, com substantivos concretos, verbos
Deixe estar, seu malandro, que já foram descritos os elementos estrutu- relacionados às atividades físicas, e
te curo!...” E em voz alta: rais; agora serão assinalados os ele- adjetivos que expressam qualidades
– Amigo, venho contar uma gran- mentos temáticos que ajudam a redu- perceptíveis pelos sentidos (cores,
de novidade... acabou-se a guerra zir o texto em partes: formas etc.)

196

LÍNGUA PORTUGUESA

BLOCO 6

EXERCÍCIOS

1. (MACK–SP) Aponte a figura: “ Naquela terrível luta, mui- c) hipérbato
tos adormeceram para sempre.”
d) polissíndeto

a) antítese e) elipse

b) eufemismo 5. (Supletivo-SP) Na frase “O rato roeu a roupa do rei de
c) anacoluto Roma”, há exemplo de uma figura de linguagem deno-
d) prosopopeia minada:

e) pleonasmo a) aliteração

2. (Supletivo-SP) Assinale a alternativa em que há um b) metonímia
exemplo de antítese. c) antítese

a) “E da angústia de amar-te, te esperando.” d) metáfora

b) “Imagem tua que eu compus serena.” 6. (PUC-SP) Em: “Passavam cestas para a feira do Lar-
c) “Pelo martírio da memória imensa.” go do Arouche” e “O violão e a flauta recolhendo de
d) “Para esquecer o que vivi lembrando.” farra emudeceram...”, a expres sividade é alcançada
por:

3. (Epcar-MG) a) metáfora/ metonímia
Com a enxada, ou espada, ou verbo ardente, b) silepse/ elipse
Todos temos um sulco a abrir na terra c) metonímia/ metonímia
E mãos para espalhar qualquer semente! d) anáfora/ metonímia
e) contiguidade/ metáfora
No texto está evidente uma figura de sintaxe:

a) anacoluto 7. (U.Taubaté) No sintagma “Uma palavra branca e fria”,
b) silepse de pessoa encontramos a figura denominada:
c) pleonasmo

d) silepse de número a) sinestesia
e) hipérbato b) eufemismo

4. (AMAN-RJ) c) onomatopeia

...como de encontro a uma represa, embatia, e parava, d) antonomásia

adunava-se, avolumando, e recuava e partia-se a onda
rugidora dos jagunços.
8. (FAU-Santos) Nos versos:

A repetição da conjunção “e” constitui uma figura de
linguagem:
Bomba atômica que aterra

a) metáfora Pomba atônita da paz 197
b) assíndeto Pomba tonta, bomba atômica...

CONCURSOS, VESTIBULARES & ENEM A repetição de determinados elementos cônicos é um a) Narrativo-descritivo, com predominância do disserta-
recurso estilístico denominado: tivo.

a) hiperbibasmo b) Dissertativo-descritivo, com predominância do disserta-
tivo.

b) sinédoque c) Descritivo-narrativo, com predominância do narrativo.
c) metonímia d) Descritivo-dissertativo, com predominância do disserta-
d) aliteração
e) metáfora tivo.
e) Narrativo-dissertativo, com predominância do narra-

tivo.

9. (Fuvest) Identifique as figuras de linguagem emprega- 11 . (Fuvest ) Leia o texto e responda à questão:
das nos versos destacados:
No tempo de meu Pai, sob estes galhos, Das vãs sutilezas
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs
De inexorabilíssimos trabalhos! para atrair nossa atenção. (...) Aprovo a atitude daque-
le personagem a quem apresentaram um homem que
a) antítese com tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que
b) anacoluto o fazia passar pelo buraco de uma agulha sem jamais
c) hipérbole errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma
d) litotes recompensa por essa habilidade excepcional, atendo
e) paragoge o solicitado, de maneira prazenteira e justa a meu ver,
mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de
10. Leia o texto abaixo e responda: que pudesse continuar a exercer tão nobre arte. É pro-
va irrefutável da fraqueza de nosso julgamento apaixo-
narmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas,
ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito
embora não sejam nem boas nem úteis em si.

Montaigne, Ensaios.

Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel arbo- O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte es-
rizado das avenidas marinhas sem sol. Losangos tênues trutura:
de ouro bandeiranacionalizavam os verdes montes in-
teriores. No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos
serrava. Barcos. E o passado voltava na brisa de bafo- a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio
radas gostosas. Rolah ia vinha derrapava em túneis. Co- b) de uma narrativa; reiteração e expansão da tese inicial.
pabacana era um veludo arrepiado na luminosa noite formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio
varada pelas frestas da cidade.” de uma narrativa; formulação de uma nova tese, inspira-
da pela narrativa.
(Oswald de Andrade)
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese
Didaticamente, costuma-se dizer que, em relação à d) inspirada nos fatos dessa narrativa; demonstração des-
sua organização, os textos podem ser compostos por: sa tese.
descrição, narração e dissertação; no entanto é difícil segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da
encontrar-se um trecho que seja só descritivo, apenas narrativa; formulação de uma hipótese inspirada nos fa-
narrativo, somente dissertativo. tos narrados.

Levando-se em conta tal afirmação, selecione uma das e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento de
alternativas abaixo para classificar o texto de Oswald uma descrição; rejeição da tese introdutória.
de Andrade:

Respostas: 5 - a 0
1 - b 6 - c 9 - c
2 - d 7 - a 10 - c
3 - b 8 - d 11 - a
4 - d

198

INGLÊS


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