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Published by Raquel Maciel, 2020-11-11 16:59:45

PASTA - 07

PASTA - 07

Keywords: GETÚLIO,POLÍTICA,DITADURA,CONSTITUIÇÃO,SUICÍDIO,JÂNIO,QUADROS

• ..... '




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• 1

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.... -...,,,,.

Muriloc•Melo Filho·revisita os caminhos do Presidente

JK estaria comemorando, neste 12 de setembro, nada menos do que
89 anos de uma vida simplesmente extraordinária e inesquecível.
Como foi possível, em 1902, nascer lá na longínqua e pobre

,Diamantina, filho de um mascate e de uma humilde professorinha, um

líder político com dimensão, visão e estatura de um grande estadista?

1

'l• Como foi possível a um modesto telegrafista e médico da· Polícia
Militar ·ser prefeito, deputado federal, governador, senador e
presidente da República?

Como diria sua mãe, D. Júlia, na manhã seguinte à da inauguração ·de

DOCUMENTO Brasília, vendo pela vidraça do Palácio da Alvorada, a silhueta
da nova capital:
- Só mesmo o Nonô.

erto dia, em plena campanha E, quando ele saiu de Jataí, o dos na varanda do Catetinho, com
uma dose de uísque quente na
eleitoral, o candidato Jusceli- Programa de Metas já estava al- mtjo. JK então lamentou:

no Kubitschek acabara de terado, para nele incluir-se a cons- - Eu não bebo. Mas que. seria
bo'!' um gelinho aí nesse uísque, aí
falar num comício na cidade trução de Brasília, como meta-sín- sena.

goiana de Jataí. Como era de cos- tese. Nem bem ele acabou de proferir
aquelas palavras, o céu do Planalto
tume, franqueava depois ao públi- Era preciso "começar do co- se enfaruscou e em poucos minu-
tos desabou ali uma forte chuva de
co presente o direito de fazer-lhe meço" e logo em 19 de abril de granizo. Os pedaços de gelo eram
avidamente apanhados por todos.
perguntas. 1956 foi mandada ao Congresso a diretamente nos copos.

Naquela vez, um popular adian- mensagem c riando a Novacap - Juscelino levou-me a percorrer
.aquele descampado todo:
tou-se e o interpelou: Companhia Urbanizadora da Nova
- Aqui vai ser o Palácio da Al-
- Já que o senhor se declara Capital. Com sua aprovação, o De- vorada. Aqui será construído o edi-
fício do Congresso. Aqui se levan-
disposto a cumprir integralmente a putado Israel Pinheiro renunciou ao tarão os ministérios.

Constituição, desejo saber se irá mandato para ser o presidente da uando voltei ao Rio, disse a
Adolpho Bloch:
pôr em prática aquele dispositivo empresa.
- Vi o entusiasmo do Jus-
da Carta Magna, que determina a Antes de mais nada, tornava-se celino. Ele está determinado
a construir Brasília. E vai construí-la
transferência da capital da Repú- necessário construir uma casa na mesmo.
Semanalmente, eu ia a Brasília
blica para o pla- com o fotógrafo Jáder Neves. Ficá-
vamos hospedados num anexo do
nalto goiano. B rasília Palace Hotel, cheio de
mosquitos. Trazíamos textos e fo-
A pergunta era tos para publicarmos na MANCHE-
TE. Porque à medida que as obras
desconcertante. avançavam, nós raciocinávamos

O candidato, com do seguinte modo:
- Somos hoje 70 milhões de bra-
a ajuda de uma
sileiros. Quantos têm chance de ír a
equipe, já havia Brasília? Mil , dois mil, talvez. Era
difícil viajar até lá e mais difícil
traçado os planos ainda lá permanecer, com aviões
lentos e habitações raras e pre-
de governo, atra- cárias. Então resolvemos mostrar o
andamento das obras de Brasília.
vés das Melas. Em 1
Os leitores queriam saber se a
nenhuma delas, Nova Capital era uma obra real-
mente para valer ou não. Foi aí que
porém, havia qual- MANCHETE cresceu na onda de
Brasília.
quer referência à '
Conclu íam-se os edilícios dos
mudança da capi- ministérios, a Esplarjada, o e.ixo ro-
doviário ·sul; as superquadras. Es-.
tal, cuja idéia sem- lava prevista a inauguração para o
dia 21 de abril de 1960. JK diria
pre lhe parecera t • ~- depois:
um sonho irrea-
lista. ·•·,\.~ . - Se eu não tivesse marcado
essa data e ntio tivesse trabalhado
Mas, naquele ~~,: ,, em função delá, até hoje Brasília
momento, ele se estaria para ser inaugurada.
deparava com o
problema, cara a

cara. A mudança r<-J~.:-:·-· :_• • ' _.': r • ~2· .1- ._
estava prevista na

Constituição. Pen-

sou um pouco e respondeu: Na foto maior: o solidão de Brasília para alojar o

- Acabo de prometer que cum- General Lott foi fazer Presidente Juscelino. Um grupo de

prirei, na íntegra, a Constituição e pipi no mato, mas amigos seus, reunidos no Juca's
não· vejo razão para ignorar esse antes perguntou: Bar, na Rua Senador Dantas, abor-
dispositivo. Durante o meu qüin- "Presidente, o dou o problema e o Comandante
qüênio, farei a mudança da sede Milton Prates sugeriu:
do governo e construirei a nova ca- senhor vai mesmo
pita l. - Vamos dar uma casa ao pre-
construir uma cidade sidente?
O aparteante de Jataí chama- aqui?" EJK: "Não só
va-se Antônio Carvalho Soares. o vou construi-la, Um emissário foi mandado a Belo
Toniquinho. E era coletor estadual. como nela passarei a Horizonte, a fim de descontar a pro-
missória de 500 contos num banco
Aplausos demorados segui- faixa presidencial ao mineiro. Em dez dias, o Catetinho
ficou pronto.
ram-se à declaração enfática do meu sucessor,"
Lembro-me de que. certa noite, ·
candidato. Pela primeira vez, os Acima: foi num extenuados e exaustos após um
dia intenso de trabalho, engenhei-
goianos ouviam de um candidato à com/cio em Jatai, ros e amigos de JK estavam senta-
presidência da República um com-
Goiás, que JK
promisso tão solene.
assumiu o
compromisso de

construir Brasil/a.

• ...
Ao sair, deparando- e -••,

COM JK, OBRASIL se com um crioulinho
ENCONTROU OCAMINHO DA
MODERNIDADE. OPAÍS que, de cócoras, assis-
IDENTIFICOU ECOME OU A
VENCER OS SEUS DE AFIOS tia, apavorado, àquela

o dia da inauguração, publi- cena, JK fez-lhe um
camos uma edição extra,
especial e históric'a da MAN- carinho na cabeça:
CHETE sobre Brasília, com
um milhão de exemplares de tira- - Com o papai aqui
gem, a um preço quatro vezes su-
perior ao preço da edição normal e é f... , né, velhinho?
que se esgotaram em 48 horas. Ha-
via leitores que compravam quatro Brasília já inaugura-
a cinco exemplares para guardar
como lembrança e para mandar a da, a meta de interiori-
parentes no exterior.
Entre o dia da inauguração de zação se ampliou para
Brasília, a 21 de abril, e a data do
seu aniversário nesta semana, a 12 mais longe: a ilha de
de setembro, ele estabeleceu no-
vas metas e prazos. Bananal.
Sabia que estava correndo con-
tra os ponteiros do relógio e que era Reunidos a li, em ••
preciso executar tantas obras que torno de uma mesa
nenhum sucessor seu tivesse a •
tosca, na presença de

Penido, Milton e César

Prates, Oilermando

Reis, Juca Chaves, Ca- •

milinho, Oscar Nie-

meyer e dos três minis-

tros militares (Lott, da

Guerra; Mattoso Maia, ".
da Marinha, e Corrêa

de Mello, da Aeronáu-

tica), JK começou a

traçar os planos para a

colonização da ilha. E

foi advertido para a

falta, ali, de uma pista

de pouso. O Brigadeiro

Corrêa de Meno per-

guntou:

- Como podemos

construir aqui uma
pista de pouso sem as- 1

falto? Oentusiasmo tradicional na saudação a Brasília. Em 20 de janeiro

E Juscelino. rápido:

- Mas brigadeiro, r.iesmo sem A amizade da MANCHETE a Jus-

ser da FAB, eu sempre soube da celino foi posterior ao seu governo,

existência de pára-quedistas. Para porque, durante o mandato presi-

que servem os pára-quedas? dencial, Adolpho Bloch teve ape-

Uma semana depois, toneladas nas dois os três encontros infor-

de asfalto desciam do céu em pára- mais. Mas foi no ostracismo que

quedas, e a pista de pouso ficava mais se aprofundou a fidelidade de

pronta em 20 dias. Adolpho a Juscelino.

Estávamos a 20 de janeiro de Houve um dia, em fevereiro de

1961 - faltavam 11 dias para o 1966, quando Juscelino havia vol-

término do mandato do Presidente tado do exílio em Lisboa e falou:
- Eu nunca fui a um baile de
Juscelino - e a MANCHETE lhe
ofereceu um almoço no Parque In- carnaval no Municipal. Gostaria

dustrial de Parada de Lucas. Os tanto de ir...

convites para o almoço levavam a Adolpho explicou-lhe:

foto do convidado, como se ele fos- - Presidente, a MANCHETE to-

se a capa da revista, no seu próprio dos os anos aluga uma frisa no tea-

form ato . tro para os nossos fotógrafos traba-

Nas páginas interiores do con- lharem. O senhor bem q ue poderia

vite, quando escrevemos o título ir. pois nos daria grande prazer.

"Homenagem da MANCHETE ao

Candango JK pelas suas 30 me- a segunda-feira de carnaval,

Juscelino tas". Adolpho Bloch fez questão de quando JK entrou no Munici-
Kubltschek
desce a escrever na prova, antes da im- pal, a orquestra parou o
escada do
coragem ou a ousadia de paralisá- pressão, e com a sua própria ca- samba que estava tocando
Catelinho, e começou a executar o "Como
las. neta, o sinal matemático + e acres-
que ficou
Estávamos no dia·20 de julho de centou a palavra Democracia. pode o peixe vivo viver fora dágua
pronto em
1960 e ele, na companhia de Sette E quando eu lhe perguntei por fri a". A massa no salão aplaudia JK,
dez dias.
Câmara. então governador da Gua- que esta preocupação. Adolpho que. da nossa frisa, acenava emo-

nabara, inspecionava os trabalhos respondeu:• cionado. agradecendo.

de construção da Plataforma Rodo- - Eu sei por que estou fazendo D. Yolanda Costa e Silva estava

viária de Brasília. Mostrou-se irri- isto. Vocês verão em breve. Vno camarote presidencial, logo
Com sua longa experiência de
tado corn a lentidão das obras. Exi- acima. Tomou aquela manifesta-
vida, Adolpho sabia por que fizera ção como um insulto e uma ofensa.
giu pressa. Chegou a gritar com os
aquele acréscimo . Previa com Estava em companhia do Ministro
engenheiros : _.
aquele + Democracia os_terrívei~ Mário Andreazza, que anos depois
- Se vocês não têm cornpetenc1a
vendavais que se abaterram, dah me confirmou, rindo muito:
para me daren, esta plataform_a no em diante, sobre o regime demo- - Meu caro Murilo, as únicas ~

prazo previsto. então se demitam, crático no Brasil. pessoas no baile que não aplau-

porque eu tenho quem faça melhor.

32 lM1rdli1J 14 DE SETEMBRO DE 1991

.... • ". diram o Juscelino fomos O. Yolanda

• •• • e eu.
De volta ao seu apartamento no
. ·, ~i ~· >~.-.f...:~ ~ '~ • 1
Hotel Glória, onde estava hospe-
~_j,...z,. ' 1 dada, ela ligou para o marido, Pre-

\ttJ:! ' l sidente Costa e Silva, acordando-o
..,t,11!
1 no Alvorada:
"' "'·{· •'I - Imagine você que este Bloch

' ! • '"""":;;?ir H,,11 li' :, alugou 500 smokings na Casa Rol-
las para aplaudir o Juscelino e para
' t>
me humilhar.
1 Na quarta-feira de cinzas, o cré-

1 dito da MANCHETE no Banco do
Brasil e no então Banco do Estado
·• ... •.n ~n7~ ~. __·•· · - ·..1
~ = .,,...,, ....,,J.j. da Guanabara (BEG) estava sim-
... j "'~ ...· -' ...,. ; ....~..._ plesmente encerrado. Nossa em-
~
~ presa estaria fechada numa se-
mana.
de 61, faltando 10 dias para terminar seu governo, JK visitou o Parque Gráfico de MANCHETE, comAdolpho Bloch.
Foi aí que o Ministro Delfim Netto

e o Sr. Carlos Alberto Vieira bo-

taram o dedo na ferida e disseram:
- Esta aqui não se fecha.

Adolpho caminhava todos os
dias às 7 horas da manhã, na Ave-
nida Atlântica, fazendo o cooper,

lado a lado com Juscelino, no sen-
tido contrário ao dos carros que tra-

ziam os generais, naquela mesma
hora, para o Ministério da Guerra.

Muitos deles tomavam aquela fi-

delidade como um ultraje e um

acinte. Alguns procuravam enten-
dê-la. Mas outros nem a entendiam

nem a aceitavam.
Hoje em dia, é fácil e é até um

galardão fazer elogio a Juscelino.
Mas naquela época foi muito duro.

-

l

1

'

- - -~

JK foi apoteoticamente aplaudido no baile de carnaval do Municipal. E fazia o·cooper na Avenida Atlântica, com Ado/pho Bloch, Josué Montei/o e Sra.

~14 OE SETEMBRO DE 1991 33

, .' - Há quem diga que a eleição • ---i
para a Academia é mais difícil do
· JOSUE MONTELLO que a eleição para a Presidência da noite entrada, Osvaldo·,Qrico me ~
República. alerta, em tom preocupado:
Do meu Diário do Entarde- {
Um silêncio. - Estou sentindo no ar uma
cer, agora publicado, des- E Jl,lscelino, logo depois: conspiração contra a candidatura .,<,
do Juscetino. Conspiração qúe
taco aqui as páginas em que - E uma razão a mais para eu vem de cima. E a que vários de
conto, dia a dia, o que foi, na nossos colegas são sensíveis.
hora própria, a legítima as- me candidatar. Estou morrendo de
piração do grande presi- tédio, sem saber o que fazer de E confirmando o seu voto:
mim. Não sou banqueiro, e dirijo um - Haja o que houver, estou com
dente, quando pretendeu a banco. Não sou comerciante, e te- o Juscelino.
nho de comprar e vender. Sou polf-
Academia. J.M. tíco, e a política me mandou em- 19 de junho
bora. A eleição que está no meu
9 de junho de 1975 caminho, agora, é a da Academia. Para opor-se ao Presidente Jus-

Pedro Calmon, com a longa ex- Animo-o, com a intuição do que celino, no pleito da Academia,
periência de quem chegou à Aca- vai significar para ele o convívio
demia muito novo e hoje se inclui acadêmico. Com amigos. Compa- apresentot,J-se um escritor goiano,
entre os mais velhos, costuma dizer nheiros. Confrades. A pequena ro-
que, ali, em toda eleição, fazemos da à mesa do chá. Os debates do Bernardo Elis, também punido pela
tantos inimigos quantos são os can- plenário. A rica biblioteca. O arqui-
didatos derrotados, e um ingrato, Revolução de 64. Brilhante. Boa
que é aquele que ganha o pleito. vo. E a respeitabilidade da institui-
obra. Manobra do General Golbery,
E é ele que me pergunta, no seu ção, que sobreviveu ao tempo e às
telefonema matinal: circunstâncias, com expressão na- no Palácio do Planalto? Parece que
cional.
- É verdade que o Juscelino vai sim. Dizem-me que Golbery ainda
ser candidato à Academia na pró- Parece-me que a eleição de Jus-
xima vaga? celino, nesta hora, ainda no fastígio não perdoou ao ex-presidente ter
do governo militar, terá influência
E quando lhe respondo que, até na legalidade democrática. E já sido preterido por ele na carreira
este momento, o ex-presidente não é sem tempo. A posse do ex-
nada me falou. já que está comple- presidente, cassado de seu man- militar. E como ódio velho não can- cr---
to o quadro da Academia, Calmon, dato de senador por Goiás, desti- sa, parece que Golbery, além de
sempre reservado em matéria de tuído de seus direitos políticos, cor-
voto, não se contém: responderá à reparação nacional não estar aplacado na sua desforra
de todos os dissabores por que
- Se a vaga não for a minha. passou o fundador de Brasília. de bruxo astucioso, tem redobrado
votarei nele nos quatro escrutínios. Além do mais, tem ele a sensibili-
dade da palavra artisticamente de conversas e iniciativas, para não
Passado um silêncio, adianta-
me: concebida. Se não é um escritor, é permitir, com os seus poderes de
líder revolucionário, que Juscelino ~
- Estou sentindo, vinda de cima, um homem de letras, no gosto dos
muita intrigazinha contra ele. livros, no discernimento dos valo- seja acadêmico. A águia estaria de
Parece que o Governo vai atirar-se res literários.
contra a eleição, se ele se candida- olho no colibri.
tar. Foi o que chegou ontem ao n1eu ~ antevendo o que vai acontecer,
ouvido. animo-o: Vamos ver qual vai ser a reação

17 de junho - Sua posse vai ser uma apoteo- da Academia.
se, presidente. Prepare-se. Terá o
A candidatura do Presidente Ku- valor da posse de Alcântara Ma- De tarde, Juscelino vem ao meu
bitschek à Acaden1ia, na vaga de chado, depois da Revolução Pau-
Ivan Lins, é confirmada por ele, no lista de 1932. A consagração da encontro, e confirma: ,
seu telefonema matinal: normalidade política. A resposta da
Academia, em nome do pais, às - De fato, é o Golbery que estó'B
- Eu, que sempre ganhei elei- injustiças que lhe fizeram.
ções. vou me submeter a mais uma. se mexer contra mim.
Vamos ver se Deus me ajuda, como 18 de junho
me ajudou das outras vezes. E confiante:
Juscelino, à tarde, procurou por
E eu. con1 a voz da experiência: mim. E à noi te , p rec isamente - Mas estou sereno. Os votos
quando vou segurar o fone para
tentar falar-lhe, o aparelho soa, e eu que me foram prometidos me asse-
atendo.
guram a·vitória.
E o presidente me diz, assim que
reconhece a minha voz: Como todo candidato à Acade-

- Já me candidatei. Passei pela mia; traz ele no bolso interno do ,
Academia, à tarde, e deixei minha
carta. Muito bem recebido. Athay- paletó. devidamente dobrada, a
de, muito cortês. Tudo bem. Vai ser
um grande pleito. Saí animado. lista dos acadêmicos. com os tele-

E pouco depois, com o entu- fones respectivos, e mais uma cruz, .., .,_
siasmo natural de seu feitio:
como sinal, ao lado dos votos que
- Se tudo continuar assim. será
uma consagração. Uma consagra- lhe foram assegurados.
ção e uma resposta. Mas vou ficar
calado. Só com você e com o Bloch Depois de ler o nome de cada
é que me abro. Com mais ninguém.
acadêmico, dobra a lista, e olha-me e
Entretanto, horas mais tarde, já
de frente, como em dúvida:
- Que é que você acha?

Sem animá-lo demais, trato de

abrandar-lhe a confiança. Convém

ir devagar. E adianto-lhe, com a voz

do testemunho e da experiência:

para ter 20 votos no pleito da Aca-

demia convém contar com uma

boa margem de promessas efeti-

vas. 24 a 26. Darão para cobrir os

equfvocos e as promessas vãs, no

bojo da urna.

E concluo:

- Se o senhor sair vencedor por

20 votos, não se espante com o que

vai acontecer: 20 votos se transfor-

marão em 28 ou 30, na hora em que

os novos colegas o cumprimen-

tarem pela vitória. -~

Juscelino alarma-se:

- É assim?

- Sempre foi.

eE ao abrir-lhe a porta do ele-

vador:

!M.;;l34 1-1 OE SETEMBRO OE 1991

• datura - que surgiu da sugestão No mira mágoa da articulação da can-
autobiográfico didatura de um competidor para
" espontânea e honrosa de muitos Diário do lhe fazer frente :
acadêmicos, amigos dos mais que- Entardecer, o
- Tudo vai dar certo. Sua boa escritor Josué "Em lace da situação surgida, o
estrela está vigilante. ridos. reforçada por um desejo do Montei/o revela acirramento de uma disputa seria
próprio Ivan Lins, e que foi levado os bastidores inevitável, o que jamais desejei ou
Pretendendo pilheriar com ele, da candidatura desejaria. Assim, por que insistir na
sinto que o alarmei, enquanto o ele- ao meu conhecimento - tenho es- do Presidente porta da Academia, dividindo-a de
vador se fecha. E ainda bem que perança, digo mesn:io. quase cer- JK à ABL. modo que a eventualidade de um
tenho tempo de gritar, por trás da êxito tro\)xesse a insatisfação de al-
porta de aço, já cerrada: teza de que estaria eleito. Os sufrá- guns? E certo que, acostumado
gios prometidos dar-me-iam, pelo aos pleitos, sei que a maioria no
- Vá tranqüilo.
menos, esta convicção, sobretudo plano democrático 'é a vitória. Nada
20dejunho considerando que seus eminentes
confrades só podem ter por mim mais precisarei dizer-lhe,' creio eu,
Sem nada me dizer, o Presidente quanto à minha resolução, mas
. Juscelino teria passado à tarde uma simpatia afetuosa. No que de- serei explícito: não me candida-
pela Academia, deixando ali uma pendeu de mim, sempre os distin- tarei."
nova carta a Austregésilo de
Athayde. gui como merecem, na linha da cor- Lida a carta, procurei falar com
dialidade, do respeito e da consi- Kubitschek. Não o encontrei no
A cópia da carta veio ter às mi- Banco Denasa. Não o encontrei em
nhas mãos. deixada num envelope deração. Uma promessa deles a casa. E ali deixei o recado de que
fechado, sem indicação de reme- um homem como eu, afasta00 do eu lhe queria falar.
tente. na portaria de meu prédio.
poder, só poderia ser um compro- Esperei que ele me telefonasse.
Leio-a com tristeza. misso selado pela bondade exclu- Não telefonou. Até tarde o telefone
Logo no início, confessa ao pre- permaneceu mudo, e eu, à espera.
sidente da Academia: "Talvez esta siva de cada um. Depois de ter Por volta das 23,30 tornei a ligar
carta vá surpreendê-lo. Os amigos tanto batalhado, conservo ainda para a casa do presidente. Fora
~~· mais chegados â ignoram. E esta jantar com um amigo. Liguei para
inalterável a atração pela palavra Adolpho Bloch . Também jantara
rreasmola-uoç.ã"o lhe comunico em primei- em todas as suas expressões. Por fora.

E adianta. com a lembrança dos isso, considero uma das aspira- Fui me deitar, desapontado. Que
sufrágios que lhe foram assegura- havia levado Juscelino a tomar uma
dos: "A esta altura de minha candi- ções legítimas para o coroamento resolução radical, relacionada à
de uma existência, em que ao lado Academia, sem me ouvir? Novas
de amarguras e lutas também flori- maquinações contra a sua pessoa
e seu nome? Ou o desapontamento
ram horas de conforto e de glória, a por ver que, de Goiás, vinha o can-
didato hostil, com a determinação
Casa de Machado de Assis." de embargar-lhe a vitória que supu-
E, por fim, sem conseguir repri- nha assegurada?

21 de junho

Pela manhã , por volta das 7h,
quando eu acabava de escrever
meu artigo para o Jornal do Brasil,
ouço a campainha da porta, e te-
nho a intuição de que é o Presi-
dente Kub itschek que me vem
falar.

Interrompo o artigo. abro a porta
do apartamento, e dou efetiva-
mente com ele. Eu, que o supunha
tenso, marcado pela noite maldor-
mida, sinto-o risonho, bem-dispos-
to .

E, antes que eu fale, conta-me:

- O Bloch interceptou a carta
com que eu tinha desistido de mi-
nha candidatura à Academia. Con-
tinuo candidato. Mas candidato de
luta. Porque tenho competidor. Re-
nhida, a luta fará mais sensacional
a vitória. A sorte está lançada.

Faço Juscelino sentar na cadeira
de balanço de meu gabinete e tiro

de uma das estantes à nossa volta

um pequeno livro de Louis Guim-
baud, En cabriole( vers /' Acadé-
mie. E entregando-lhe o volume:

- Leia-o, para distrair-se.
E esclarecendo, com o propósito
de avivar- lhe a curiosidade:
- Éo relato das visitas de Victor

Hugo quando candidato à Acade-

mia Francesa.

IM;;;J14 DE SETEMBRO OE 1991 ~

.' :,;

. • O'utras murmurações·, de m' áior
relevância, fizeram esqúecer a ca~
CAIU-LHE BEM ASUSPEITA deira. E ei-la agora de volta, com
DA LUTA POLITICA: INSTILEI aplausos, com restrições, ao sabor
·NELE ODESAFIO QUE·LHE d.o rendimento político que a candi-
datura pe>ssa suscitar.
'
3 de agosto
1 FAZIA FALTA • •
Procedente de Brasília, com data

de 28 de julho último, recebi hoje

esta carta anônima, em papel ofi-

cial: "Corno seu amigo, .guero lhe

transmitir certas imp(essões e co-

Austregésilo de Athayde, presidente da mentários feitos por alguns mili-
ABL: a garantia, a fogo, do sigilo dos
votos. tares sobre a candidatura de Jus-

4 de julho celino à Academia de Letras. Atri-

Juscelino, enquanto abre o volu- Elmano Cardim, ontem, ao sair- bui-se a você a iniciativa dessa
mos da Academia, segurou-me
me ao acaso, ergue para mim os pelo braço, ainda no elevador, candidatura eo maior apoio que ela
como se me quisesse falar sem tes-
olhos curiosos: temunha. Atravessamos o vestí- está tendo como sendó uma trama
bulo, passamos pelo porteiro. Lá
- A candidatura, no caso dele, fora, já na descida da escada, na sutil contra a Revolução."
Avenida Presidente Wilson, ele me
foi um passeio triunfal. diz, quase num sussurro: No parágrafo seguinte, esta opi-

- Não, não - contesto -; só - A candidatura do teu amigo nião sumária: "Juscelino é apenas
Juscelino é mais perigosa para o
entrou na quinta vez. • Athayde do que para a Academia. polftico; não pode ser considerado

Juscelino se levanta: E rindo, enquanto me afrouxa o um homem de letras. Assim, a sua ~ -
braço:
- Victor Hugo foi derrotado? eleição será um ato político da Aca~ ·
- Lugar de presidente é na pre-
- Quatro vezes. sidência. Se ele for eleito, o Athay- demia, que em nada concorrerá
de que se cuide.
• E Juscelino, de pé, como em dú- para o seu prestígio."
Bde julho
vida: E por fim, para me intimidar, esta
Foi Jorge Amado, felicitando o
- Victor Hugo foi candidato Presidente Kubitschek por sua elei- ameaça: "Tome cuidado, pois as -~
ção para a Academia Mineira, conseqüências para você poderão ~
cinco vezes? · quem o animou a candidatar-se à
Academia Brasileira, ser desagradáveis."
E, quando eu confirmo, contrai as
E Juscelino me confirma: Repasso de memória os ·amigos
sobrancelhas: - Sim, foi ele.
Mas me adianta que, de si para que tenho em. Brasília. Qual deles
- E você, aqui? si, tinha esse velho sonho. Quando
ainda era presidente da Répública. me teria escrito, recorrendo ao ano-
- Eu? Uma vez. Houve, por esse tempo, um epi-
sódio curioso, que suponho ter sido nimato? Penso neste, naquele, na-
E desculpando-me: explorado, na época, por um cro-
nista social. quele outro, e repilo a suspeita. Ne-
- Eu era muito moço. Os velhos A cadeira destinada ao presi-
dente, no Palácio do Catete, não nhum deles me escreveria sem as-
acadêmicos, se não dormiram, se lhe dava o conforto e a comodidade
desejados. E como ali passava ho- sinatura. Por outro lado, não diriam
distraíram, e eu entrei. No primeiro ras sucessivas, despachando pro-
cessos, recebendo políticos, tele- Academia de Letras, mas Acade-
escrutínio. Mas, no seu caso, a vi- fonando, doía-lhe a coluna, dofam-
lhe os quadris, e isso o obrigava a mia Brasileira, corno é corrente,
tória será diferente. Vamos elegê-lo· mudar de posição, em busca de
um alívio para o corpo castigado. desde o tempo de Machado de As-
sem dificuldade. Tendo ido a uma posse na Aca-
demia, Juscelino ajustara-se à pol- sis. Tampouco se socorreriam de
trona em que havia sentado. Dai,
27dejunho no dia seguinte, o seu interesse em uma advertência escrita. Fa-
ter uma poltrona semelhante, no
Palácio do Catete. Isso bastou para lar-me-iam pelo telefone. Ou viriam
que se propalasse que Juscelino, à
Por volta das 18h, telefonema do semelhança de Getúlio Vargas, su- ao Rio e me falariam pessoalmente.
cessor de Alcântara Machado na
Presidente Kubitschek, para me ler Academia. queria também ser aca- Conhecendo meu temperamento,
a nota pérfida, saída' num dos jor- dêmico.
esbarrariam na minha formação ' - '
nais do Rio, contra a sua candida-
protestante, naturalmente afeita a
tura à Academia.
Chega a dizer-me, fora de si: agir com o espírito de luta das mi-

- E demais, é demais. norias militantes, e·que me levaria à
Consigo acalmá-lo. E ele, após
o.· ,intransigência ou à teimosia.
um silêncio. como se ainda preci- De mim para mim, repasso os
amigos da Câmara, do Senado, do
sasse de minha serenidade:
- Vais sair? Não? Então eu vou Palácio do Planalto. Seria Fulano?

ai, dentro de dez minutos. Não, não seria. Beltrano? Também
Já ele devia estar preparado por-
não. Corro o dedo meticuloso pela
que, dez minutos depois, chegava
realmente aqui, com os restos da lista de parlamentares que me dis-

fisionomia carregada. tinguem, ou com a sua amizade, ou

Advirto-o: com o seu apreço, sem que me de-
- Vai ser assim até o dia da elei-
tenha neste ou naquele. Por fim,
ção. Prepare-se. Se não saísse
nada contra o senhor, seria pior. guardo o papel na pasta, como

Ele quase salta da cadeira: uma curiosidade de arquivo, sem

- Como assim? maior significação.

Explico-lhe: E vou ao telefone para falar ao
- A nota hostil é sinal de que o
Presidente Kubitschek. Pergun-
senhor está forte. Se não estivesse:
to-lhe pela candidatura à Acade-
nada sairia. Estou certo de que uma
nota como a de hoje foi inspirada mia. Dá-me boas noticias. Eeu, ani-

pelo Palácio do Planalto. mando-o:
Ele sorri, desanuviando-se. Caiu-
- Vá em frente. Sua vitória-será ,4=,1
lhe bem a suspeita da luta política.
lnstilei nele o desafio que lhe fazia uma festa para o Brasil. · -~

falta. E desligo, confiante, para tornar,

à minha mesa e escrever este re-

gistro, sentindo que a memória de

meu Pai continua comigo, firme, tei- •

mosa e benfazeja. Fiz o que ele

faria, nesta hor~. no meu h.i~a~.

~36 14 DE SETEMBRO DE 1991

. fI j s 1 0 R. i ~ · fgsta._f~.~~_,,-~kf;2~·

Ha 32ano~ oHomem da Vassoura abandonava apresidência.

A

Naquela noite de quarta-feira, dia Retornando ao Rio. logo cedinho, Na noite de 24 de agosto, o Governa-
naquela 1nanhã de quinta-feira. dor Lacerda falou pela televisão. re-
23 d~ agosto de 1961, Jânio havia dia 24, o Governador Lacerda en- velando a sua verslio da conversa com o
trou em contato con1 diretores da TV Ministro Pedroso Horta no 1-Iotel Nacio-
convidado Lacerda para jantar com Tupi. pedindo-lhes u1na hora para falar nal en1 Brasília e o convite que havia
na televisão. E nesse mesn10 dia, à tarde, recusado para entrar na conspiração,
ele no Alvorada. Mas quando lá che- condecorou o líder anticastrista Manuel adiantando que o ministro da Justiça lhe
Antônio Verona. entregando-lhe acha- pedira para convencer o Brigadeiro
gou o governador da Guanabara ve sin1bólica do Estado da Guanabara. Grun1 Moss a apoiar o golpe:
en1 revide à condecoração que Jànio
teve a primeira surpresa: Jânio dis- dera a Che Guevara, dois dias antes, em - Perguntei-lhe se ele não estava
Brasília. maluco. Ele me disse que não. E 1ne
I se-lhe que já havia jantado. acrescentou que falava a respeito por
MEMORIA Mantiveram uma conversa à toa, O Ministro Afonso Arinos estava de- delegação do próprio Jânio. E. dur;inte
durante a qual Lacerda tentava en- missionário do Ita1narati e já se falava 60 minutos, denunciou o presidente da
que o seu substituto era o Prof. San Thia- República como o principal líder de um
can1inhá-la para o.lado sério, mas go Dantas. Os 1ninistros ela Guerra e da golpe contra as instituições nacionais.
Marinha não aprovavam a saída do Sr. (Ouen1 assistiu à fala de Lacerda naque-
Jânio se esquivava, pedindo a um Afonso Arinos. O General Odílio Denys la noite recorda-se hoje que foi uma das
seguiu para Brasília a fin1 de garantir 110 suas melhores performances na tele-
contmuo que ligasse para o Ministro presidente da República que as Forças visão.)
Annadas estavan1 em condições de asse-
Pedroso Horta e voltando do telefone gurar a paz e a orde,n no país. A Cân1ara dos Deputados, que ficara
contra esse golpe, ficou também contra a
com a informação: -
denúncia de La-
- O Horta quer falar co1n você. Afamosa fala cerda. E foi apro-
de Lacerda na vada a proposta para
Mesmo resistindo à idéia, La- ' convocá-lo a depor
TV: um incêndio perante os deputa-
cerda concordou en1 ir à presença do dos. Decidiu-se tam-
O Presidente Jânio Quadros chan1ou bém pela convoca-
e nlinistro da Justiça, mas advertiu o Sr. Quintanilha Ribeiro e pergu,itou- ção do ministro da
que voltaria. lhc onde estava o Vice-Presidente João, Justiça, que, cientifi-
Durante um demorado encontro Goulart naquela tarde, de 24 de agosto. • cado dessa decisão,
Recebeu como resposta a informação de reagiu violenta-
no Hotel Nacional, o 1ninistro pediu que ele se encontrava cm Pequim e co- mente contra ela.
n1eçaria no dia seguinte a sua viagctn ele afirmando que não
Quando visitou a Lacerda a cópia dos artigos que ele volta ao Brasil. atenderia à convoca-
Havana como escrevera durante o governo Café ção, já aprovada
candidato à . Filho, pregando o regime de exce- para aquela tarde do
presidência da ção. Lacerda estranhou aquele pe- dia 25. Horta comu-
.República, em . , nicou sua decisão a
dido e anunciou que pretendia re- Jânio. Os parlamen-
1960, Jânlo nunciar à vida pública, voltando ao tares haviam trans-
entusiasmou-se jornalismo. formado a Câmara e
com a mu,sica o Senado numa
Quando reton1ou ao Palácio da grande comissão de inquérito e não
cubana. E abriam n1ão da presença do 1ninistro da
balançou as Alvorada, teve n1ais un1a surpresa: Justiça.
suas malas estava1n na portaria do
maracas. Tomada a
firnie decisão de
Palácio eo mordon10 João lhe comu- ,_=.,. _l'!~Ci!Lll!JJ!4.~~r__.._,..,.,.)

nicou que o presidente havia reser- ,
Jãnio acordou cedo no dia 25. Tomou
vado un1 apartrunento para ele no ciencia. então. da denúncia de Carlos 1
Lacerda e da resposta que o Ministro
Hotel Nacional. Pedroso Horta dera às acusações do go- 1
vernador da Guanabara.
Lacerda· ficou irritadíssin10 com 1
1
mais es.sa tentativa de desn1oraliz.a-
j
e ção. Pelo telefone, disse ao l\tlinistro
Pedroso Horta que iria regressar ao 1
Rio naquela 1nes111a n1adn1gada e
l
dentu1ciar na televisão o golpe que o
\
governo estava trrunando.
l
·' ,
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...,

[M;;;;;J70 28 DE AGOSTO DE 1993

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1 Levantando-se da mesa do café no Al- minha consciência, que me dita agora o Durante uma nada de anormal fosse acontecer naque-
caminho da renúncia. le dia. O Sr. Jânio Quadros tinha o ar
vorada, ligou para o Sr. Quintanilha Ri- recepção na distante e despreocupado: ouviu a "Or-
•r • dem do Dia" do ministro da Guerra.
beiro, con1unicando-lhe que acabara de residência do cujos tern1os não eram do seu agrado.
Aúltima foto:· Assim que tern1inou o desfile, despe-
1 tlI'"i ton1ar a decisão de renunciar e de regres- Jânio Quadros 1 Embaixador diu-se dos ministros no palanque e se
W sar logo em seguida para São Paulo. c.o-mo- presi~den.te Vasco Leitão da dirigiu para o carro oficial, que o aguar-
dava.
Ao mordomo, ordenou que arrumas- Depois, Jânio compareceu à soleni- Cunha, Fldel
dade crn homenagem ao "Dia do Sol- Castro contou a Muitos fotógrafos desviaram suas má-
se todas as malas. A D. Eloá e D. Leo- dado'', quando condecorou a bandeira quinas, considerando que se tratava de
do 19:' Regimento de Infantaria sediado Jânlo, Junto a um ato rotineiro e habitual, sem qual-
nor, recomendou que estivessem pron- em Brasília. Várias outras autoridades quer interesse jornalístico. Mas o então
foram condecoradas: Ministro Oscar Pe- Che Guevara, fotógrafo da MANCHETE, Jankiel
tas-para viajar, até o meio-dia. droso Horta, General Ernesto Geisel, os Gonczarowska, como que n1ovido por
Srs. Quintanilha Ribeiro, José Bonifá- como renunciara estranho pressentímento, achou que de•
Já no Palácio do Planalto, o Sr. Quin- cio, Almino Afonso, Paulo de Tarso e ao posto de via fotografar aquela cena. Viu Jânio
Dom José Newton, arcebispo de Bra- marchar na direção do carro. Os mili-
tanilha Ribeiro, .com apoio do chefe da sília. primeiro- tares, com a mão nos quepes, presta-
ministro. E ram-lhe continência.
Casa Militar, General Pedro Geraldo, A cerimônia transcorreu como se
como o povo
tentou convencer o presidente a desistir
exigiu sua volta.
da renúncia. Ele, porém, se manteve ir-

~ , redutível e retirou-se para o seu gabi-

,'f .,. neteí l\;fim de redigir de próprio punho a
V proclamação que naquele mesmo dia

seria .conhecida de toda a nação:

- Forças terríveis voltaram-se contra

mim. Não nasci presidente. Nasci com

~28 DE AGOSTO DE 1993· 71

1

!

\.

• l luJ • •
:
• Jânio esperava ..
que o povo •
-...,.
. - exigisse.sua volta. . \. ,. , '•
E perguntavà: ::~r~«J,.i:' ..~),iJJ:ft~:J~r ,-~,• ..
~.~ .,4.f-,..~. ~l, l,r-1 le
·g''.Ouendnea-oesvteámompoevo -- - ·'.- ,.. ''

tiuscar?'' ·-~.
. -.,,- -~~~' t· -
Contornando o veículo. o fotógrafo
Jankiel fixou o flagrante. Mal sa- ~"'· · ri;_- .,. ~ -.
hia ele que estava. naquele ins-
tante. fazendo a últirn,1 foto de Júnio -
con10 presidente da República.
-•• ,.
O renunciante se reuniu no Pahício do
Plannlto conl o General Pedro Geraldo, Fazendo-lhe urn caloroso apelo para /iill:porque Jànio queria ver de perto a bar-
a qucn1 solicitou que fizesse a con1unica- que n,io renundasse, falou inicialmente í ",
çáo de sua decisão aos três nlinistros o Marcrhal Denys. O Alnlirante Heck reira do açude de Orós. que havia ron1-
rnilitares. nito conteve as lágrimas. O Brigadeiro pido. Bebeu-se tanto uísque nessa via- ~
Gru1n Mos~ garantiu que as Forças Ar-
O Marechal Denys, o Almirante 1-leck madas ~•n gcral e a FAB em particular gem que u1n dos cornpanheiros. hoje já
e o Brigadeiro Moss chegaranl ao Pahí- estava1n unidas ern torno do presidente.
cio do Planalto e se anunciaranl ao presi- Jànio ouviu a todos, mas manteve-se ina- morto, desceu en1 l·lavana numa padio-
dente. através do Sr. Quintanilha Ri- balável.
beiro. la. enl estado de conla alcoólico. sendo
Aestranha conversa de Fidel
Antes do rompimento, o marketing. Com multo Castro com Jânio 1 levado para unl h()spital cubano, onde
Interesse, Jânio Quadros vê uma exposição de fotos das
obras do Guandu, mostradas por carlos Lacerda. Para se conhecerem os motivos dessa ficou durante três dias, reincorporando-
carta-renúncia. tenlOSde recuar a maio
~72 28 DE AGOSTO DE 1993 ele 1960- uni ano e três rneses antes-, se então à cOnlitiva.
quando os lideres janistas inventaram
uma viagcn1 de Jli nio a Cuba. justa- O avião brasileiro adiantou uma hora
men1e para neutralizar o esvaziarncnto
de sua candidatura. que se havia enfra- oa sua chegada e por isso Fidel Castro
quecido n1ui10 qua ndo ele renunciara à
sua condiç.io de candidato, deixando os chegou atrasado para receber Jànio.
· Srs. Quintanilha Ribeiro, Oscar Pedroso Abraçannn-se efusivamente. Três run1-
Hona e l\llagalh,ies Pinto na sala de visi-
tas de sua casa e111 Siio Paulo e escapulira beiros saudaram a chegada da delegação
pelos fundos. (Con1 esta sua prirneira
rcnúnda - a segunda aconteceria no brasileira. con1 seus trajes característicos

-ano se~uintc --. encheu-se o balüo de e seu hino de vitória:

JK. conl a inauguraçiio da Belém-Bra- - Que viva Cuba.
sília. da~ pri1n<::iras fiíbricas de automó-
veis. dos pri,neiros navios, da Nova Ca- - Viva Fidel.
pital a 21 de abril.)
- E tQdos los que lucharan conl él.
Nurn Sup..:r-Consleliation fretado à
Varig. e pilo1ado pelo Con,andantc An- Juntos, seguiranl para o Hotel Ha-
tônio Sd1ittini. saíran1 do Rio para Ha-
vana. cntrt' outros: Afonso Arinos. bana Riviera, que era um dos mais lu-
Adaull> Cardoso, Castilho Cabral, Cid
Sanlpaio . Murilo Costa Rego , José xuosos do mundo. construído em plenQ ,, ~
Apan:eido de Oliveira. Fernando Sa-
bino. Augus to Marzagiio. \/ilias-Boas apogeu da era do jogo con1 FulgencicJ•. / ' ,1i;,
Corré,1. Cario~ Castelo Branco. 1-lélio
Fernandes. l\11.ircio l'vtoreira Alves, Jura- Batista. Ali os brasileiros ficaram hospe-~ .J
cy l\1agalhàes JLinior. Joáo Dantas. Pau-
lo de Tarso. Castejon Branco. Seixas dados. 1
Dôria. Ruhcn1 Braga, l\lloniz Bandeira. O crnbaixador dQ Brasil e1n Cuba.
Carhh) McslJUita. Juli.io. J,inio. D. Eloá
e Tutu. Vasco Leitáo da Cunha, qfereceu uma

Na ida. ll avi:io desceu en, Forta leza. rccepçiio em sua residência, que foi mui- l
to tumultuada pela presença de centenas
ele pessoas dentro e fora da embaixada.

A certa altura, Fidel. que viajara 200 I
quilôn1etros para estar presente . teve de
re petir por sete vezes seguidas a sauda- 1 !

ção a urna emissora paulista de televisão, '-

porque se qucin1avam as luzes do opera-

dor da câmera de filmagen1. Ainda che-

gou a responder a unia indagação sobre

se era católico: ..Sou. sim.•· Ao seu lado.

nesse momento exato, estava um sacer-

dote. Enl seu pescoço, exibia urna pe-

quena medalha. que disse ·usar por de-

voçao .

Fidel voltou a aborrecer-se logo em ,

seguida quando deu pela falta de seu ",i 1

revólve r. que havia desaparecido de ~

cirna de unia nlesa onde o deixara, en-

quanto ia a uma sala vizinha conl um

grupo de brasileiros.

Visivelmente contrafeito. explicou

.(

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! i~'[' ITT[l-: i-~ . .

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· ~ que aquele revólver, com cabo de ouro, Recife. para deixar Cid Sampaio e Muri- As últ/mas Imagens e três meses dep'ois, no dia 25 de agosto
lo Costa Rego. de Jânlo Quadros de 1961.
~ ~ra de estimação. pois o acompanhava
O Jânio que foi a Cuba era um Jiinio como presidente da Tanto assinl é que, ao chegar a Cum-
~ esde Sierra Maestra. Recebera-o como pessimista e derrotado. O Jànio que vol- bica, vindo de Brasília, ele perguntava:
tou de Cuba para o Brasil era outra pes- Repúbllca. No Dia do
presente do líder soviético Mikoyan. soa bem diferente: anin1ado e otimistá, Soldado, ele - E o povo? Onde est,í o povo que
certo de que ia ganhar a eleição, fez o n,io venl nle buscar?
1 Tratava-se de uma peça histórica, que primeiro progra1na em ·link, cio Rio para reverencia abandeira
procuraria reaver de qualquer maneira. São Paulo. pela televisão e em apenas Arinos ainda tentou ganhar
quatro meses de campanha levou o Ge- do Brasil e recebe um tempo precijoso
Uma busca mais rigorosa, feita posteri- neral Lott de cambulhada para uma vi-
tória esmagadora. honras protocçlares Voltando à chegada da carta no ple-
ormente. encontrou apenas o coldre. dos mllltares. Ede nário da Cfunara, aconteceu que o De-
Sentado no último banco do avião, lá putado Osnu1r Cunha pegou o 1nicro-
Mas o revólver até hoje deve estar nas atrás, na viagem de volta, Jânio mecha- MANCHETE a foto fone e gritou: ''Que Mazzili assuma irne-
mou para a cadeira ao lado e me pergun- diatamente." A rnuito custo. o Depu-
mãos de algum colecionador brasileiro tou. pensativo: final antes da tado Sérgio Magalhães, na presidência
dos trabalhos, conseguiu garantir a or-
Qde souvenirs. - Você viu. Murilo, o que o Primeiro- renúncia: sorridente, dem para que o Deputado Nestor Jost
Fidel procurou disfarçar ao máximo o Ministro Fidel Castro fez? Ele rl!nunciou Jân/o entra no carro, pudesse discursar sobre a renúncia.
desgosto que o episódio lhe provocara. e o povo veio para a rua exigir a sua
volta. de regresso ao Inutilmente, o Ministro Afonso Ari-
E lá para as tantas, na sala fronteira, nos tentava ganhar tempo e apelou para
Tenho hoje absoluta convicção de que Palácio do Planalto. que a Câmara não tomasse conheci-
narrou o seguinte fato para Jânio. • esse episódio da renúncia de Fidel ficou mento da carta, pois sustentava que sua
trabalhando na cabeça de Jânio e contri- aceitação poderia provocar uma guerra
- Imagine o senhor, Dr. Jânio, que buiu muito para a sua decisão de renun- civil no país. O Governador Leonel Bri-
ciar à presidência da República, um ano zola, de Porto Alegre. advertia que a
logo após a vitória da revolução, nós renúncia não poderia jamais ser aceita
sob pressão.
queríamos nacionalizar uma empresa
O Deputado José Maria Alkmin de-
americana e o Dr. Manuel Urrutía, que fendia a tese segundo a qual a ren úncia .
era um ato unilateral de vontade e, por-
havíamos indicado para presidente da tanto, não dependia de qualquer deli.•
beração do Congresso. Se Jânio que ria
\ ,Reptíblica, era contra. Queríamos en- renunciar à presidência da Repú)Jlica,
não cabia a ninguém opinar sobre a sua
c~mpar uma indústria e~trangeira e o decisão pessoal. Aconselhou, .então, o
Senador Moura Andrade a declarar vaga·
\ Dfr. Urrutía se opunha. O senhor sabe o a presidência da República. O astuto
PSD reconhecia ter chegado o momento
...,ue fizemos, Dr. Jànio? Eu renunciei ao de vingar-se de Jânio.

'...:!~meu cargo de primeiro-ministro. E, como o Vice-Presidente João Gou-
1 Quando o povo tomou conhecimento de lart estava ausente do país, foi convo-
cado o Deputado Ranieri· Mazzili, na
rninha renúncia, veio aqui para a frente , qualidade de presidente da C{lmara,
para assumir a chefia do governo.
nesta praça enorme, e acampou durante
A partir daquele dia 25 de agosto de
l três dias e três noites. exigindo a minha 1961, o Brasil irià entrar..nu.;ma dás mais
volta. Eu então voltei ao meu cargo de turbulentas fases de sua história..
primeiro-ministro, demiti o Dr. Urrutía,

I mandei-o para Miami e nomeei o Dr.

! t(l\Oswaldo Dorticós, que está aqui ao nos-

~ o lado, para a presidência da Repú-

blica.

Como circunstantes e testemunhas,

assistira1n a esta conversa, entre outros:

Raul Roa, Raul Castro, Che Guevara

(aspirando a sua bornba de asmático e •

que me impressionou profundamente), Junto ao então Deputado Paulo de rarso, Murllo Melo FIiho,
de MANCHETE, ouve de Che Guevara, em Havana, a
além do Dr. Oswaldó Dorticós, do lado reconstituição da luta armada em S/erra Maestra.

cubano, e Adauto Cardoso, Vasco Lei- •

tão, Afonso Arinos e Castilho Cabral.

,~ - Ido lado brasileiro.

, ·:I No dia seguinte, Jânio sairia de Ha-

. vana, regressando no mesmo avião da

Varig. Fez duas escalas: uma em Cara-

cas, para conversar com Rómulo Galle-

go e Rómulo Bettencourt; e outra, no

.
~28 OE AGOSTO OE 1993
73'

I



AMATANÇA DOS MENINOS DR. FRITZ EM NI tempo o Brasil já era habitado por

A matança dos oito 1neninos de A propós,ito da reportagem U11u1 pessoas com conhecimentos que ja-
· Br,1si/eir.i E Dr. Fritz e111 Nov;1 Ior- mai.s-supúnhamos que tivesse1n. Er-
rua na Candelária trouxe à opinião nani Teixeira Filho, Rio de Janeiro,
que (MANCHETE n:' 2.154). a RJ
pública questionan1entos, feitos
parapsicologia. ciência ainda pouco
pelo Juiz de Menores Liborni Si-

queira. sobre a importância e·o pa- conhecida do grande público. de- jÁ SE NASCE GAY
pel da•s organizações não governa- n1onstra que n,io existe co1nunica-

.w .1-y·-- ■ ...1.·t:· -... mentais que vêm ção com os n1ortos, reencarnação, Com referência à reportagem J:í
:,. dese1npenhando
~ un1 trabalho para incorporação etc. Os fatos apresen- Se Nusc:e G,1y (MANCI-IETE n."

. solucionar;· 1nini- tados como fruto de intervenção de 2.157), gostaria de parabenizá-los

n1izar e dignificar · espíritos desencarnados resultam de pela seriedade

fenômenos puramente naturais. con1 que o assunto

a questiío do me- produzidos pela mente hu.n1ana. As fo i abordado . j,í

nor abandonado propaladas curas obtidas através de que o mes1110

no Rio de Janei- sessões espíritas ou fazem desapare- ainda é um tabu

ro. As declara- cer apenas os sinton1as de doenças nos ,neios de co-

ções do n1agistra- orgânicas ou curam problemas de municação bra-

d o, de que as origem nervosa, e1n arnbos os casos sileiros. enquanto

ONG s forn1a n1 por auto ou heterossugestão, o que nos países desen-

uma ''indústria do um psicólogo ou hipnotizador tain- volvidos, Europa

menor abando- bém consegue, sem invocar espírito e Estados Unidos.

nado", são simplesmente improce- algun1. Albano Bracht, Cascavel, já se discute o ho-

dentes. As dificuldades que cada um PR mossexual is 1110

tem. a falta de estrutura, sobretudo corno u1na opção
de vida presente na sociedade, que
financeira, os contratempos jurídi- TRAGÉDIA NA BÓSNIA deve ser aceita, já que opiniões e o
opções de comportamento são di-
cos e adntinistrativos que tais ativi- Esta questão da n1enina lrma que ferentes , de indivíduo para indiví-
moveu o mundo a socorrer a Bósnia
dades nos sub1netem, sáo do conhe- 1nostra quanto a ernoção é irnpor-

cimento do Juiz Liborni Siqueira,

por diversas vezes convidado a visi- tante. Todo mundo já sabia da tra- duo. Assim , acho que esta revista
gédia na Bósnia, mas o simples co- acertou em cheio, ao direcionar in-
tar a nossa instituição, mas que. pes-

soalmente. nunca o fez. E1n contra- nhecirnento não bastava para que as formações para esse segmento da so-
pessoas agissem. Agora, as fotos de ciedade. Torço para que mais repor-
partida , enviou Comissários de Me-

nores, que daqui saíram elogiando o lrma agridem os corações e o mundo tagens do gênero venham a ser pu-
parte para a ação. Ainda bem. Evilá- blicadas. Assino apenas o meu pri-
nosso trabalho. Embora contrários sio P. Caranha, São Paulo, SP meiro nome, para preservar minha
condição de não assumido. Fer-
às declarações, colocamo-nos à sua

disposição para discutir o assunto de

forn1a civilizada e mais digna. Uelin• ALINGUAGEM nando, Ferraz de Vasconcelos, SP
DAS ROCHAS
• •

ton Farias Alves, Associação Benefi- AVERDADE DA

cente São l\1artinho, Assessor de Im-

p.-ensa, Rio de Janeiro, RJ A reportagem PROSTITUIÇÃO
sobre arqueolo-
É preciso que os responsáveis pela gia, publicada na A dramática pintura que a MAN-
morte dos n1eninos na Candelária MANCHETE n:•
sejam punidos. Mas. reconheçamos, 2. 158, além de CHETE n:· 2.162 faz sobre a prosti-
isto não vai resolver o problema. Se conter a1nplas in-
as autoridades responsáveis não formações sobre tuição mostra que n, ão se trata de um
cumprirem sua obrigação. dando essa ciência. re- problema moral. E exclusivamente
abrigo. educação, alimento e sobre- vela a importân- social, e. em vez de condenado com
tudo an1or a esses meninos, em insti- cia do trabalho narizes torcidos, devia ser solucio-
tuições adequadas, o problema con- que está sendo nado em sua raiz. que é a miséria. A
tinuará.. E não é só isto. Enquanto executado por própria Bíblia trata da prostituição
houver miséria e fome, h~ perigo de Maria Beltrão, que a cada ano se com este enfoque. Por sinal, o Rei
repetição de desgraças como esta. torna mais cre_dora de todos nós, Davi - e daí Jesus Cristo - é des-
Antônio Albuquerque A. Simões, pelas pesquisas que está efetuando cendente de Raabe, a prostituta de
Belo Horizonte, MG na Bahia. Graças a essa arqueóloga Jericó, que ajudou os espias de Is-
rael a preparar a invasão da cidade.
Isaac Bium, Curitiba, PR

e à equipe que comanda, vamos en-

riquecendo nossos conhecimentos

sobre um passado que julgávamos

mais próximos de nós. As descober-

• tas feitas revelam que há muito mais

!M;;I74 28 DE AGOSTO DE 1993 -·..,, '

,

. .' .' .,' , ,,,, - ~\e.

ENTRE \MAIS, DE UM MILHAO DE CANDIDATOS,
/

VOCE ESTA PREPARADO PARA SE ELEGER?

As eleições estão chegando. Os candidatos estão nas ruas,

disputando eleitores que hoje são muito mais conscientes,

mais exigentes, ,~ querem mais do que simples promessas.

~ OCE SABE o CllUE ElJES mu.EREM?

Você não pode deixar sua candidatura caminhar no escuro,

nem ficar fazendo experiências durante a campanha.

SAIBA D OUJE SE PASSA NA CABEÇA DO ElJEITOR E COMO
F~LAR COM ELE.

VI'DEO-VOTO/ELEIÇO-ES 92 é ~TIS.___,

uma fita de v ídeo com uma Junto com a fita você G
história eleitoral. Nela são recebe um livreto que
apresentadas, de forma objetiva
e clara, técnicas de planejamento facilita o entend1mento
estratégico para o marketing dos conceitos e da'"s
poJítico. Apresenta, de forma
simples e séria, um roteiro para téenrcas, orientando a
organização de sua
o candidato estabelecer a sua campanha eleitoral~

campanha eleitoral. CENTRAL DE INFORMAÇÕES:

PREÇO o •
PROMOCIO·NAL
~Pé....-• •m , ~ • •· tP'r:ádeo .• ,...
$ 410 MIL E•~,als:..
''

Apresentação de 1 • ' 'j S1CIE~\l~I IU~\
PAULO GOULART, COMUNICACAO E PROJETOS
com a participação de ;■ ~..._.- 1
renomados atores. vAlameda Jaú, 1148 - Jardim Paulista
' ---''' CEP 01420. Tel. {011} 288-1359
•-'"-' r ..,, 1 ..!• ' ' São Paulo . SP

1
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1 ~---· 'l- --· --

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A' Scenarium Comunicação e_Projetos

~\).~~ Quero receber a fita VÍDEO-VOTO/ELEIÇÕES 92, que vai me auxiliar a preparar minha .

'-2Y ca11didatura. Fica claro que receberei, sem custo extra, o livreto explicativo "UM GUIA

PRATICO PARA CAMPANHAS ELEITORAIS."

D Estou anexando cheque nominal à Scenarium Comunicação e Projetos, no valor de Cr$ 410.000,00
D Autorizo débito em meu cartão de crédito ( ) Credicard ( ) Diner's

N2 do cartão 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Validade_ _.___ _.__ _

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Assinatura_ _ _ _ __ _ __ _ __ __ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ __ __ _ _ __

. 1

1

Umlivro revela os basti~ores ~a Até urna foto onde Collor aparece das viagens, seu isolamento polí-
de pé troGado motivou charges que tico e pessoa/ acentuou-se em face
do relacionamento difícil que man-
. lembraram a famosa cena onde Jâ- teve com grande parte de seu mi-
nio, no Dia do Soldado, às vésperas

crise ~ue levou um ~resi~ente à da renúncia em 1961, aponta os nistério e com a maioria dos parla-
pés em d ireções impossíveis, mentares do Congresso Nacional.

numa coreografia da crise que vi- Devido ao fato de encontrar-se

renúncia emostra ~ue,em via. Veja se você identifica, no livro alocado em Brasília, os contatos

de Vera Chaia, onde acaba Jânio e com o povo e os comícios empraça
começa a sua reedição revista e pública ficaram inviabilizados. Por

l ~olítica, as semel~an~as não atualizada: "Jânio Quadros surge esse motivo, Jânio Quadros, para
e.amo liderança política em cir- se comunicar com o povo brasilei-
cunstâncias históricas, propícias
para o fenômeno que tem se deno- ro, passou a utilizar os meios de
comunicação de massa: rádio e

são mera coinci~ência minado por populismo: ascensão televisão.
A polftica econômica adotada
das massas urbanas no Brasil, fra-
gilidade dos partidos po/fticos exis- por seu governo recebeu elogio~

A tentes, incipiência das classes so- dos setores empresariais ligados
ciais. No entanto, o significado de ao capital estrangeiro e auxiliou a

Jânio também deve ser atribuído às renegociação da dívida brasileira
suas características pessoais e à com o FMI. Com isso. conseguiu

sua capacidade de manipulação obter verbas adicionais para p ro-

política e ao seu carisma. Em todos mover o desenvolvimento em cer-

os períodos de sua carreira polí- tas áreas da economia. No entanto,

tica, embora sua autoridade fosse por envolver uma achatamento

legalmente instituída por força do salarial e propiciar a internacionali-

sufrágio, pautou-se por uma forma zação da economia brasileira, con-

autoritária de governo. Sob Jânio, quistou inimigos ligados aos se-

vivenciou-se a tensão entre a possi- tores oposicionistas, príncipal-

bilidade do pleno exercício das re- mente os nacio,:,alistas, a esquerda

do PTB e algumas lideranças do

movimento sindical."

Transporte-se dos 60 para os 90

e identifique quem é quem neste
jogo dos sete erros:

"De um lado, os seus antigos ali-

ados começaram a se preocupar

s ponteiros da máquina do gras funcionais e a possibilidade com suas ações políticas e, de ou-
tro, seus antigos opositores se
tempo dão uma volta com- do funcionamento das instituições,
pleta no mostrador da His- conforme regras idiossincráticas identificaram com algumas propos-
tas progressistas de seu governo,
tória. Trinta e um anos de- do governante". Qualquer seme-
lhança... porém não chegaram a aderir total-
pois do forfait de Jànio Quadros, o mente ao seu projeto político, por-
Mas o chamado capítulo-bomba
vocábulo renúncia volta a ser sole- do livro de Vera Chaia é o da renún- que desconfiavam da seriedade de
suas propostas. Jânio Quadros não
DOCUMENTO trado à sombra do concreto funcio- cia. Com informações que lançam
nal dos palácios de Niemeyer. No era confiável nem para a direita
Brasil, os pesquisadores brigam alguma luz no túnel escuro dos dias nem para a esquerda. Na reali-
finais do governo JQ. E aí, mais dade, enquanto governante, es-
por uma legislação mais democrá- tava só, isolado politicamente no
tica que, a exemplo do que acon- uma vez. se você confundir as con- poder.
soantes e, como um miope diante
tece nos Estados Unidos, divulgue Foi nesse contexto que ocorreu a
da tabuleta de um oculista, enxer-
os documentos de governo _num gar um FC, não se assuste: sua vi- renúncia de Jànio Quadros ao man-
prazo útil à memória do pais. E es-
pantoso constatar que alguns pa- são não está tão fora de foco assim. dato de presidente da República.
Confira este trecho: Na ocasião, foram dadas várias ex-
péis da Guerra do Paraguai ainda
"'Como presidente da República, p licações no sentido de entender o
são classificados de secretos, tidos Jânio Quadros vivenciava uma si-
como terríveis ameaças à combali- seu ato. O fato que desencadeou a
tuação bem diferente daquele perí-
da segurança nacional. Na prática, odo em que exerceu os cargos de carta-renúncia de Jânio Quadros
funciona o morreu, liberou. O ates- foi o pronunciamento de Carlos La-
prefeito e de governador de São
tado de óbito de Jânio. por exem- Paulo. Naquela época, conhecia cerda na televisão carioca, no dia
plo, tornou-se uma espécie de se- 24 de agosto."
tudo e a todos, procurando por
meio das visitas surpresas se colo- Na análise da atual crise política

nha que abriu o baú da História. car a par dos problemas vividos do Brasil, alguns jornalistas inves-
Enquanto os famosos bilhetinhos, pelas populações paulistana e tiram na hipótese histórica: se hou-

finalmente ganham um nihil obstai paulista. vesse um Carlos Lacerda, o Presi-
sob a assinatura do seu ex- Para conseguir manter o controle dente Collor há muito estaria de

secretário José Aparecido de Oli- de todas as questões complexas volta ao seu dúplex (ou tríplex?) de
veira, a professora Vera Lúcia Mi- da sociedade brasileira, Jãnio Qua-
dros implantou uma reforma na es- Maceió. O livro de Vera Chaia des-
chalany Chaia, do Departamento taca, precisamente, a participação

de Política e do·Programa de Pós- trutura administrativa do Estado, de Lacerda ao puxar o fio do novelo

Graduação da Pontifícia Universi- promovendo uma maior centraliza- que descosturou Jànio.

dade Católica de São Paulo, lança ção política e estabelecendo con- No pronunciamento em cadeia

o oportuno A Liderança Política de tatos diretos com os governadores estadual de rádio e televisão, Car-

.lànio Quadros (1947-1990). Por fa- dos estados e com os prefeitos dos los Lacerda denunciou as articula-

'.ll$ e atos. o Presidente Fernando municípios. Porém, a despeito da ções do Presidente Jânio Quadros

C1,.. llor tem sido con1parado a Jânio. criação do "governo itinerante" e e de seu ministro da Justiça, Oscar

IM1~J\._,, 72 12 DE SETEMBRO OE 1992

.



1

Pedroso D 'Horta. O governador co-

f~ meçou seu "improviso" relatando
que havia pensado em renunciar
ao governo da Guanabara por uma

série de razões, dentre as quais
destacou a desatenção por parte

do governo federal para com o es-
tado que governava. Porém, essas

divergências com o governo fe-
deral haviam sido sanadas no dia

22 de agosto e, após algumas pon-
derações, Lacerda resolveu conti-

nuarno cargo em nome do povo da
Guanabara que o elegeu. As criti-

cas feitas por Lacerda ao governo
Jânio Quadros compreendiam

desde descontentamentos com a
assessoria do presidente até a polf-

tica externa adotada por seu go-
verno. Em certo momento, passa a

relatar os encontros que manteve
com o ministro da Justiça e, a partir

daí, seu pronunciamento fica mais
contundente.

Segundo Lacerda, Oscar Pedro-
so D'Horta procurou-o para pedir
seu apoio a uma reforma que o pre-

sidente pretendia fazer. Pedroso
D'Horta, no depoimento de La-

cerda, disse-lhe que "considera-
mos necessário preparar o país

para uma 'reforma institucional', na
qual o Congresso, já que deseja

'recesso remunerado' fique real-
mente em recesso remunerado. "

Carlos Lacerda solicitou ao mi-
nistro maiores esclarecimentos so-

bre o significado dessa "reforma
institucional", o que não foi forne-

cido. O povo, segundo o ministro, ·
poderia se manifestar num "re-
ferendo popular", quando solici-

tado. Lacerda, porsua vez, afirmou
que não daria um "cheque em

branco" para o presidente, e o mi-
nistro respondeu-lhe que, caso não

apoiasse Jânio Quadros, as es-
querdas seriam procuradas para

dar o respaldo político ao seu go-
verno.

O ministro da Justiça solicitou
que Lacerda enviasse alguns arti-

gos que ele escrevera durante o
governo Café Filho, pregando um
regime de exceção e defendendo o

adiamento das eleições, além de
propor reformas na lei eleitoral e na

Constituição. Lacerda argumentou
que a situação política era outra e

que Jânio Quadros tinha todas as
condições possíveis para realizar

um bom governo, mudando o pais
sem precisar alterar o regime polf-
tico.

Oscar Pedroso D'Horta também
pediu a Lacerda que conversasse

com o ministro da Aeronáutica, Bri-
gadeiro Grum Moss, sobre o as-

sunto que discutiram, afirmando
que os outros ministros militares co-

nheciam e concordavam com a

proposta do governo.

Diante de tais fatos, Lacerda re-
solveu "desmascarar a trama" que

estava sendo armada em Brasília.

~12 DE SETEMBRO OE 1992 73

Seni apolo no ·1~,;JlÇ,,;,..:l
Congresso, ~,
Jãn/o Imaginou . o

saídas que

conlornavam

as lnslllu/ções.

Chamado a

Brasília,

Lacerda negou

apoio à trama e

denunciou a

armação.

'_'NESTA DATI{, RENUNCIO AO MANDATO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA''

Porém, antes disso, resolveu solici- lhes que iria renunciar à Presi- ves perturbações da ordem, na

tar esclarecimentos ao próprio pre- dência. qualidade ainda de ministro da Jus-, ·

sidente, conseguindo marcar um Logo em seguida, convocou os liça quero comunicar ao governa- '-·

encontro com Jânio em Brasflia, ministros militares e transmitiu-lhes dor do estado a fim de que tome as

por intermédio de D. Eloá, esposa sua decisão de renunciar. Os mi- providência:s necessárias para

do presidente. nistros procuraram dissuadi-lo de manter a ordem no seu estado. "

Segundo o relato de Lacerda, seu intento, tanto que o Marechal O Ministro Pedroso D'Horta en-

durante a conversa Jânio Quadros Denis, segundo depoimento de tregou a carta-renúncia ao presi-

titubeou, se esquivou e "disse que José Aparecido, chegou a decla- dente do Senado, Auro de Moura

voltaria a conversar com ele sobre rar: "Diga o que devemos fazer, Andrade, que imediatamente con-

esse assunto em um prazo de 30 a que será feito." Jânio Quadros su- vocou todos os congressistas para

45 dias. Após o jantar, Lacerda foi geriu que se formasse uma junta a reunião extraordinária em face da

assistir a um filme no Palácio da militar e que tomassem o poder. gravidade do problema. A sessão

Alvorada, em companhia do presi- . De acordo com o pedido de Jâ- do dia 25 de agosto foi interrom- Atx•
pida para que o Deputado Dirceu -,
dente, e nada mais foi mencionado. nio, sua carta-renúncia deveria ser
Nessa mesma noite, Lacerda foi entregue às 15 horas, no Congres- Cardoso lesse a mensagem enca-

.' procurado pelo ministro da Justiça so Nacional. Logo após essa deci- minhada pelo Presidente Jânio
para uma conversa em particular e,
são, Jânio Quadros participou da Quadros, na qual renunciava às

nessa ocasião, Oscar Pedroso Comemoração do Dia do Soldado, suas funções de chefe de Estado:

D'Horta solicitou ao governador como se nada tivesse acontecido. "Ao Congresso Nacional:

que não acompanhasse o presi- · Após a cerimônia, Jânio Quadros Nesta data e por este instru-

dente em sua viagem a Vitória, ar- - partiu para São Paulo acompanha- mento, deixando com o ministro da
gumentando que seria ''inconve- do de sua esposa, Eloá Quadros.
niente" aparecer em público ao fa- Justiça as razões do meu ato, re-
do de Jânio Quadros.
Posteriormente, o Ministro Odilio nuncio ao mandato de presidente,

Denis comunicou a renúncia aos da República. \__j

Carlos Lacerda não entendeu o oficiais-generais, que participaram Brasflia, 25 de agosto de 1961.

motivo daquelas restrições do mi- de uma homenagem ao Dia do Sol- (a) Jânio Quadros."

nistro, visto que havia sido convi- dado, comentando que Jânio Qua- Na época, uma reportagem da

dado pelo próprio presidente. Pos- dros havia dito: "Com este Con- revista Time, citada por Vera Chaia,

teriormente, ao retornar ao Palácio gresso não posso governar. Orga- analisava a ·posição política de Jâ- ,

da Alvorada, encontrou sua mala nizem uma Junta Militar e dirijam o nio na crise. "Eleito virtualmente

no saguão da casa presidencial. país." sem filiação partidária, distanciado

Não era mais hóspede do presi- O ministro da Justiça telefonou dos blocos de apoio nacionalistas,

dente, sendo conduzido pelo mo- para todos os governadores comu- esquerdistas, direitistas militares

torista do palácio a um hotel. nicando a renúncia de Jânio Qua- ou trabalhadores, Jânio Quadros

De volta ao Rio, Lacerda resolveu dros. Segundo o relato de Garfos ·ogoverna só, respondendo às críti-

fazer seu pronunciamento. Jânio, Lacerda, o ministro falou o se- cas: povo está comigo.'" Uma
ao ser informado das denúncias guinte: "O meu telefonema é curto.
frase que, mais de três décadas e ~~

que a televisão havia veiculado, Estou apenas lhe comunicando, muitos percalços políticos depois·,

reu niu-se com seus assessores em nome do presidente da Repú- soa, num velho tape, mais ou me-

mais d iretos, Oscar Pedroso blica, Jânio Quadros, que acabo de nos como o recente: "Não me dei-

D'Horta, Ouintanilha Ribeiro, José entregar ao Congresso a carta de xem só."

Aparecido e o General Pedro renúncia do presidente. E, como _ _....J.O:S,É:.:E.S:M..E:R:;A;L.D;O;=G=O:N.Ç.=AL.V:=ES=.::.....-- •
Geraldo de Almeida, e comunicou- essa decisão pode provocar gra-

~74 12 DE SETEMBRO DE 1992

Dlnossaurinhos • Consta que,

na Idade da Pedra, os

d!nossauros gostavam muito de

. crianças. Steven Spielberg é r
. especialista em filmes para
'
crianças (E.T., Indiana Jones), e

Michael Crichton (foto) escreveu

.. . Jurassic Park, um livro que trata

·•• • • de dinossauros e foi adaptado
por Spielberg. Até um

·, dinossauro adivinharia que vem

aí mais um fantástico filme para

• • crianças, que os adultos
vão adorar.
.1 •


... A musa da angústia • Tinha de
acontecer: um dia, Liv Ullman ia
se tornar diretora, depois de ter
sido atriz durante 20 anos.
Segue a linha de seu ex-diretor
e ex-marido Ingmar Bergman,
ou seja, em Sofie ela junta um
pouco de angústia, muito
sofrimento e nenhuma
esperança para contar a vida de
uma judia que se apaixona por
um não-judeu casado. Liv
declarou que não teme ser
comparada a Bergman.

~16 OE NOVEMBRO OE 1991 81

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OPalácio do Catete foi cercado por tropas do Exército, mas o Deputado Carlos Luz, presidente interino, conseguiu sair a tempo de asilar-se

Murilo Melo Filho relata a ac.,ão de 1Ode novembro de ma semana depois do suicí- R
1955, há 36 anos, deflagrada para garantir a posse de
dio, a 1? de setembro de o
JK, o candidato eleito 1954, tomava posse o novo
ministério: Relações Exterio- zo
O impacto do suicídio de Getúlio , com a
res (Raul Fernandes), Trabalho Pi
dramática leitura daquela Carta-Testamento. (Alencastro Guimarães). Justiça
jµ)
trouxe o povo, revoltado. para as ruas. (Seabra Fagundes), Fazenda (Eu-
gênio Gudin). Agricultura (Costa .1
Apanllado de surpresa. o Vice-Presidente
Porto), Educação (Cândido Mota .
Café Filho. eleito apesar da oposição da LEC Filho), Saúde (Aramys Athayde),
'
- Liga Eleitoral Católica - . Viação e Obras Públicas (Lucas Lo-
pes), Marinha (Amorim do Valle), '
assun11u o governo. no seu
Aeronáutica (Eduardo Gomes},
apartamento de Copacabana .
Exército (Henrique Lott), chefe da
que se encheu rapidan1ente Casa Militar(Juarez Távora). chefe

de pol iticos udenistas e de da Casa Civil (Monteiro de Castro)
e prefeito do Distrito Federal (Alim
lideres da conspiração contra Getulio. A Pedro) .

UDN nunca se conforn1ara con1 a vitória de A escolha do novo n1inistro da

Vargas ern 1950, que derrotara Guerra foi melodramática. Após su-
cessivas reuniões, marchas e con-
esn1agadoran1ente o Brigadeiro Eduardo
tran,archas, o General Juarez Tá-
Gomes. e via agora nesse suicídio a grande vora sugeriu :

chance de conquistar o poder. com a - Precisarnos de um general
apolítico. austero, severo, profis-
ascensão de Café Filho . Seria o governo do
sional e não comprometido. Aqui
udenismo, rnas de efêrnera duração. Como está o almanaque do Exército. Pro-

se verá a seguir · ponho um nome: o do General Hen-
rique Duffles Teixeira Lott.
'
Foi quando o jornalista Carlos La-
DOCUMENTO
cerda começou a defender uma
tese que lhe valeu o título de fas-

cista e de golpista a de que a elei-

ção de outubro do ano seguinte

[M;;;J82 1'3 DE NOVEMBRO DE 19\lt

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no Cruzador Tamandaré, que saiu barra afora na tentativa de estabelecer um governo de resistência em Santos. Mas deu marcha à ré.

não podia ser realizada com a lei pública, em aliança com o PTB, que queriam apoiá-lo e preferiam pres-

eleitoral em vigor. De acordo com indicou o nome do Sr. João Goulart tigiar a solução da união nacional

essa tese, era necessário, antes, para vice. defendida pelo governo.

fazer uma série de reformas que O Sr. Juscelino Kubitschek vinha Juscelino resistiu a todas essas

desintoxicasse o país da propa- de um bem-sucedido governo em pressões. Percorreu como um mas-

ganda getulista. Caso contrário, Minas, com muitas obras realiza- cate quase todo o país, visitando

haveria o retorno dos mesmos ho- das e uma imagem política de ad- diretórios pessedistas e conquis-

mens do passado. ministrador vitorioso, com uma ora- tando um a um os seus votos para a ..•' •
tória fluente e simpática, que cres- Convenção Nacional. Data daí

eia nos palanques e nos comícios. aquela sua célebre frase:

NOVO ENCONTRO DE CARLOS Seu grande problema será in- - Deus poupou-me o senti-
LACERDA ECAFÉ.FILHO terno, no PSD, cujos caciques não mente do medo.

Certo dia, o jornalista Carlos La- ~ r .. "~.r7t7J,.,·' j'\ ~.
cerda foi à presença do Presidente 1 ,. •
Café Filho, autor do famoso Lem- " ":k•<e:.,;/,-{
brai-vos de 37 e que estava muito .,
preocupado com o risco de pare-
cer o homem de um novo golpe de (
estado.

Lacerda tentou demovê-lo des-
·- r-r .', ··..' ·,.-,;,.

•• •

Como presidente .

da Câmara, Carlos .• ·

Luz substituiu· . • , ·•;•
Café Filho na · '
presidência _da · ·.;.t l;

República. E •

tomou posse,

ses escrúpulos, mas em vão. Café { ..''" "\ ladeado pelos
Filho estava obstinado: ' chefes da sua

- Eu vim para aqui a fim de pre- 'l Casa Clvíl (José
sidir as eleições e realizá-las no dia Monteiro de
''

marcado. Não haverá alterações. L Castro) e Casa
Desconhecendo apelos do go- Militar (Coronel

verno em favor da união nacional, Canavarro

além de um manifesto dos três mi- Pereira).
nistros militares , o PSD, em feverei-

ro de 1955, lançou a candidatura

do governador de Minas. Juscelino

Kubitschek, para presidente da Re-

. •"

EM MENOS DE UM ANO E .Prestes e da revolução dos tenen-
MEIO .ENTRE AGOSTO DE tes em 1930, conspirara contra Ge-
1954 EJANEIRO DE 1956 - . túlio em 1945 e, em 1954, tinha uma
O-BRASIL TEVE TRÊS doença crônica que afetava dura-
·PRESIDENTES mente o seu desempenho eleitoral
e ainda por cima usava uma lingua-
Sr. Benedito Valadares, con- gem pouco simpática perante os
eleitores, prometendo-lhes apenas
siderado um dos donos do um governo de dureza e restrições.
Além do mais, costumava dar mur-
PSD, era o líder da oposição ros na mesa diante de perguntas
mais impertinentes dos jornalistas.
a JK dentro do partido. Não fazia nenhuma concessão à
demagogia e concitava o povo a
Achava-o muito irrequieto, quase trabalhar duro cada vez mais.

um doidivanas: DISCURSO DE MAMEDE
PRECIPITA ACRISE MILITAR
- Juscelino quer enforcar-se
O governo Café Filho enreda-
com o pescoço dos outros. va-se numa teia de contradições e -1
conflitos poderosos. Sucessivos
No dia da Convenção, em meio a ministros passaram pelas diversas wCafé Filho foi presidente de 25 de ago~(j
pastas:
enorme entusiasmo, ele foi acla- Ramos ocupou o Catete de 12 de novembro
[D Lucas Lopes renunciava ao
mado candidato do partido, com Ministério da Viação e Obras Públi- Lott, estava presente e tomou o dis-
cas. onde fora substituído pelo Ge- curso como um insulto, passando a
exceção dos votos de três seções neral Rodrigo Octávio Jordão Ra- exigir a punição do oficial orador.
mos, logo depois sucedido pelo en-
estaduais : a catarinense. a per- genheiro Marcondes Ferraz.

nambucana e a (g] O Sr. Prado Kelly substituía o
Sr. Seabra Fagundes no Ministério
gaúcha. da Justiça.

A 21 de março, @l O Sr. José Maria Whitaker era
nomeado para suceder o Sr. Eugê-
o PRP lançava a nio Gudin no Ministério da Fazenda DENYS ELOTT COM AS TROPAS
e logo a seguir era sucedido pelo
candidatura do Sr. Sr. Mário Câmara. MARCHANDO NA RUA

Plínio Salgado. A 8 @) Eo Sr.Costa Porto era substi- O Presidente Café Filho internou- •
tuído pelo Sr. Munhoz da Rocha no se no Hospital dos Servidores, aco-
de abril, a UDN. Ministério da Agricultura. metido de um enfarte, com uma li- u
cença para tratamento de saúde
com apoio em três Chegou-se a pensar na prorro- por tempo indeterminado, assi- o
gação do mandato do Presidente nada entre outros pelos médicos
dissidências do Café Filho, que recusou a idéia, na Aloísio Salles, Aarão Benchimol,
primeira vez em que ela lhe foi pro- Theobaldo Vianna e Raymundo de
PSD - Santa Ca- posta. Britto.

tarina (Nereu Ra- Enquanto isto. o Sr. Juscelino Ku- Como presidente da Câmara, o
bitschek fazia uma campanha leve, Deputado Carlos Luz era o vice-
mos), Pernam- de bom humor, na base do oti- presidente da República e coube-
mismo. prometendo o céu e a felici- lhe assumir a presidência da Repú-
buco (Etelvino dade aos milhões de eleitores. Ven- blica. Recusou-se a punir o General
ceu a batalha no TSE. presidido Mamede, sob o pretexto de que o
Lins) e Rio Grande pelo Ministro Edgard Costa, em oficial estava subordinado à Escola ' ,
torno da cédula oficial. Superior de Guerra e não ao Minis-
do Sul (Walter Jo- tério da Guerra. 1
No dia 3 de outubro, as urnas
vim) -. escqlhia a falaram: Juscelino Kubitschek, do Mais do que essa recusa em con-
PSD-PTB, 3.077.411 votos, ou 36%; cordar com a punição, o Deputado
candidatura Etel- Juarez Távora, da UDN, com Carlos Luz cometeu um erro ainda
2.610.462 votos. ou 30°/o; Adernar maior: deixou o General Lott por
vino Lins. que se de Barros, do PSP, 2.222. 725 votos tempo bastante prolongado (duas
ou 26% e Plínio Salgado, do PRP, horas), na ante-sala do seu gabi-
esvaziou rapida- coi:n 632.848 votos ou 8%. nete no Palácio do Catete e quando
o recebeu foi para aceitar o seu
mente, atirando os A· medida que esses votos iam pedido de demissão.
sendo apurados, crescia a onda
udenistas nos bra- golpista, alimentada pela tese da Nomeou, então, o General Fiúza
maioria absoluta, segundo a qual de Castro, que já estava na reserva,
ços do General ·JK não havia recebido a maioria e para substituí-lo, marcando a pos-
mais um dos votos (50%) e, por- se para o dia seguinte, cometendo,
Juarez Távora, tanto, não podia ser empossado. assim, com essa protelação, outro
erro crasso de estratégia político-
cujo nome fora in- Até que. no dia 31 de outubro de militar. f
1955, morria o General Canrobert
dicado. desde o Pereira da Costa e, no seu enterro, O General Lott recolheu-se à sua
o Coronel Jurandir Mamede fazia residência e lá foi procurado, atra-
começo, pelo go- um discurso altamente provocador vés do telefone de campanha, pelo
contra os políticos e contra o que General Denys, que morava ao la-
vernador de São entendia ser uma grande farsa elei- do, na residência oficial da Rua Ge-
toral. O ministro da Guerra, General neral Canabarro:
Paulo, Sr. Jãnio
- Você, Lott, não pode ficardes-
Quadros. Em fins moralizado neste episódio. Bote a
farda e vamos para o Ministério da
de maio, para

completar o qua-

dro de candida-

tos, o PSP indicou

Generais Fiúza de Castro e o Sr. Adernar de

Jurandir Mamede: dois Barros.

personagens militares muito Juarez não era o
melhor nem era o
importantes na primeira pior dos candida-.
novembrada de 1955. tos. mas apenas o

possível, naquelas circunstâncias,

para ser apoiado pela UDN, em-

bora suas raízes, por uma questão

de princípios. fossem mais vincula-

das aos democrata-cristãos. lidera-

dos ern São Paulo por Franco Mon-

toro, Queiroz Filho, Paulo de Tarso

e, no Paraná, por Ney Braga.

Defendia a participação dos em-

pregados nos lucros das empre-

sas. vinha dos tempos da Coluna

[M;;;J84 16 DE NOVEMBRO DE 1991

destino ao porto de Santos. onde se

esperava instalar o governo. No

. meio do caminho, foi alvejado pelo

Forte de Copacabana, que cum- ·

pria ordens do General Correia Li-

ma, então comandante da Artilharia

de Costa. tendo de dar marcha à ré,

. ,... '"· porque a_guarnição militar de San-

.1/ tos, já estava dominada po_r uma

.,.. ,,,..
-,:.... ofensiva fulminante do General

,, -·,/ Olimpio Falconiere.

. . .~ No dia 13 de novembro, o navio 'AI

retornava ao Rio, tendo subido a I

bordo uma comissão de parlamen-

tares udenistas: Juracy Magalhães,

Mílton Campos, Afonso Arinos. Ga-

briel Passos e Adalto Cardoso. O

Palácio do Catete, que já havia

mandado a bordo, como seu emis-

' ... sário especial, o Deputado Ovídio

'' de Abreu. ofereceu garantias ao
(
. desembarque dos civis, com exce-

1 - - ~- . i ção do Sr. Carlos Lacerda, quepe-

_1%1g1 2 de novembro de 1955. Carlos Luz exerceu a presidência de 2 a.12 de novembro. ENereu diu asilo à Embaixada de Cuba.

de 1955 a 31 de janeiro de 1956. O Sr. Carlos Luz reassumiu logo

em seguida a sua cadeira de depu- •
tado e subiu à tribuna para pronun-
Guerra,. porque as tropas já estão normal, ·para garantir a tranqüili-
indo para a rua. ciar um dramático discurso sobre
dade pública. Enquanto isto. acio-
Reassumiu o seu lugar de minis- nava os comandos militares em toda a crise, em meio a uma tem-
tro da Guerra, recebendo o apoio todo o país.
pestuosa sessão de muitos apartes
de vários generais: Olímpio Falco- Já era de madrugada, quando o
niere, Levy Cardoso, Mendes de e violentos incidentes. O Congres-
Presidente Carlos Luz, tomando
Moraes, Stênio de Albuquerque Li- conhecimento da impossibilidade. so já havia votado o seu impeach-
ma, Arthur da Costa e Silva, Edgar
de reagir ao movimento militar dos ment, considerando-se em lugar in-
do Amaral, Segadas Viana, Coelho Generais Lott e Denys, deixou o
dos Reis, Maurell Filho, Lima Câ- certo e não sabido. O Senador
Palácio do Catete entregue aos Ge-
mara, Augusto Magessi, Nélson de nerais Alcides Etchgoyen e Fiúza Nereu Ramos, como presidente do

Melo, Azambuja Brilhante, Anor de Castro. e refugiou-se a bordo do Senado, era o quarto vice-presi-
Cruzador Tamandaré, juntamente
Teixeira e do Marechal Mascare- com os Ministros Prado Kelly, Mar- dente .da República. Para garantir a
nhas de Moraes.
condes Ferraz, Amorim do Vale, os O Movimento de Retorno aos posse de
Informa-se que o General Fiúza Deputados Carlos Lacerda e Mon-
de Castro chegou a telefonar ao Quadros Constitucionais Vigentes Juscelino e de
teiro de Castro, os Almirantes Pena tornava-se vitorioso e o Senador Jango, o Genéral
General Lott, que ele ainda consi- Boto, Amorim do Vale e Ernesto Nereu Ramos tomava posse no
derava demissionário: Lott saiu da
Araújo, o Brigadeiro Sá Earp, o Ca- Palácio do Catete. Ainda não era
- Estou sabendo que há un:i mo- pitão-de-Mar-e-Guerra Sylvio Heck legalidade com o
vimento de tropas na cidade. E ver- uma vitória total, porque, dez dias Movimento de
(comandante do cruzador), os
dade? Coronéis Jurandir Mamede e Cana- depois, outro golpe deporia 6 pró- Retorno aos
O General Lott reconheceria de- Quadros
varro Pereira, o Major Heitor de prio Presidente Café Filho, a fim de
pois que foi obrigado, senão a uma Caracas Linhares e o Comandante Constitucionais
mentira, pelo menos a uma restri- garantir a posse de Juscelino, o
Baltazar da Silveira, entre vários ou- Vigentes,
ção mental, respondendo-lhe que tros. candidato eleito. ·
enquanto o Sr.
não se preocupasse, pois se tra- O navio saiu barra afora, com Mas este é assunto para outra
tava apenas de uma movimentação Carlos Lacerda
reportagem. A próxima.

liderava a ·

resistência à

MURILO MELO FILHO posse dos

FOTOS MANCHETE eleitos.

~16 D,E NOVEMBRO DE -:1991 '
85

,~'- ~-•.--

'

'
' '~I[ · _',.

;.,l<~ •

1 4~

,f1

'

Brum Negreiros agraciado com US$ 25 milhões: ampliada aoficina Lojas Americanas
o Prêmio Alfred Jurzykowski de motores da Varig homenageadas na

. .. ■ O médico Eleutério Brum Negrei- ■ A Varig inaugurou a ampliação de sua oticin~ d~ motores,_na divulgação do Plano Dame
ros recebeu, na Academia Nacional Ilha do Governador. Foram aplicados US$ 25 mllhoes. A ol1c1na da Golden Cross
r•
de Medicina, o Prêmio Alfred Jurzy- vai atender não apenas a Varig como a aviões dE: outras empre: ■ Lojas Americanas, tradicio-
sas. A Varig ê a única empresa aérea bras1le1ra que_possui nais clientes da Golden Cross, l
kowski de 1991, outorgado a profes- foram homenageadas em encon-
sores indicados pela Academia à instalações próprias para a revisão de motores. A área ho1e ~onta tro para divulgação do Plano
Fundação Alfred Jurzykowski , uma Dame junto aos se·us funcio-
com 24 mil metros quadrados construídos. Em co_mpanh1~ _de
entidade internacional de bene- diretores da empresa, o Sr. Rubel Thomas cortou a fita s1mbohca
merência com sede em Nova da inauguração.

Iorque. nários..Na loto, Lúcia Léia, do Se-

tor de Benefícios das Lojas

i Americanas, e José Eduardo,
gerente de Atendimento ao Cli-

ente da Golden Cross.

1.t.~ - --::--•...,,...••:-';-,-·--~-,·.--,,.,.1 l

~

,

I' º

1

Na Manchete, dirigentes Exposição de Sandra Dardari Hotel Inter-Continental Rio
do Banco Mercantil de na AHebraica de São Paulo tem novo gerente-geral

Descontos ■ A Associação Brasileira A Hebraica, de São Paulo, promoveu ■ Com experiência de trinta anos
o vernissage de Sandra Dardari, que se vê na foto com Sérgio no mercado turístico, o colombia-
■ Estiveram em visita à Manchete, Monte Alegre, Rosa Goldfarb e Abram Szajman. . no Álvaro Rodriguez assume a
onde almoçaram, os Srs. Alcides gerênciá-geral do . Inter-Conti-
Nunes da Costa Filho (à direita), Juazeiro do Norte comemora nental Rio. Economista formado
diretor do Banco Mercantil de Des- 80 anos de sua emancipação pela Universidade de Miami, ho-
contos, e Manfredo Sardinha Silva, mem de marketing e vendas, Ro-
gerente-geral. ■ O Prefeito Carlos Cruz (foto),
de Juazeiro do Norte, no Ceará, driguez ocupou_por cinco anos á
está comemorando os 80 anos
de emancipação política do seu vice-pres1denc1a de marketing
município, com a implantação ~a para os hotéis da cadeia na
cidade da rede de esgotos. Diz Colômbia e Equador.
ele: " Temos um compromisso de
trabalho comuni tário nas áreas
1 de saúde, educação e habitação
popular."

~86 16 OE NOVEMBRO OE 1991

r

CrS 1.500,00

João Havelange condecorado com a COMO LI
Legião de Honra da França DESTE F

■ Ao condecorar o presidente da FIFA, João Have!ang~. com a MAQU
Legião de Honra. o presidente da França, François M,tterrand, SEDUÇ
'['..-;umprimentou o Deputado Paulo Octav10, que, na qualtdade d~
~ ·Tiresidente da Associação Brasília Olimpíada-2000, fora convi- ESPE

dado para estar presente à condecoração. Na _ocasião. <? presi- PON
SAFE
dente francês cumprimentou também Ana Chnst1na Kub,tschek
Pereira. revelando que fora muito amigo do Presidente JK. . IMPO

r CORPO E

l SAúDE

No Recife: o 2? Seminário Brasileiro de Direito Eleitoral • ADIETA DOS SIGNOS

..,.. Promovido pelo TSE e pelo TRE de Pernambuco. realizou-se no • RECEITAS PARA
"'"'' ecife o 2?Seminário Brasileiro de Direito Eleitoral. com a presença
. EMAGRECER
de representantes dos tribunais regionais eleitorais de todo o país. • ÁGUA É BOMREMÉDIO
Foi presidido pelo Ministro Célio Borja, presidente do TSE. O TRE j • '
do Rio de Janeiro foi representado pelo seu vice-presi~ente, D_es.
Nelson Pecegueiro do Amaral e pela Corregedora Ju,za Valena EXERCICIOS
Maron. que entregaram ao Ministro Célio Borja um exemp_lar do
trabalho sobre apuração de votos, de autoria do Juiz Sylv10 Tei- 2 CONTRA n.ACIDEZ
xeira.

Conferênciano Encontro de Produtores de Seguros

■ O Sr. Camilo Giussani (à
esquerda)._ di_retor-geral da
Assicurazz1on1 Generall, foi o
p rimeiro conferencista do
Encontro Internacio nal de
Produtores de Seguros, rea-
lizado no Hotel Nacional-Rio.
À díreila, o Sr. Cláudio Bie-
tolini, diretor-geral da Ge-
nerali do Brasil.

timo. Mesmo

oferecidas muito

abaixo da tabela

(US$ 32,714 ao·

câmbio comer-

cial), com 35% de

desconto.

Em Buenos Aires, a fábrica de

carrocerias especiais Geiser ofere~

ce três opções da série Tronador. E

uma das quatro empresas licencia-

das pela Renault Argentina a pro-

mover transformações estruturais

na Traffic - transformando-a de

veículo de carga em sofisticados

motor-ho1nes (duas opções) e -

numa luxuosa Van executiva. . -.'ti'• f . !A\-

Foi durante o fim de semana da

última etapa da F.3 Sul-Americana

' A Traffic, o furgão diesel que a disputada na Argentina, que tive-
GM-Brasil está importando da Ar- mos a oportunidade de realizar um

gentina - com isenções de taxas test-drivede apenas dois dias. Sufi-
cientes para concluir favoravel-
AUTOMÓVEL do Protocolo 21 -, tem encontrado mente. quanto aos projetos, sua es-
dificuldades de comercialização

em nosso mercado. Principalmente merada qualidade e acabamento.

no Rio. Uma tradicional revenda Em nossas idas e vindas do autó-

tem duas Traffic em estoque desde dromo utilizamos o modelo familiar:

o lançamento realizado em julho úl- - capacidade para até seis pessoas

com o máximo de

conforto. Chamou

atenção o estilo

das janelas la-

terais com grande

visibilidade em to-

dos os ângulos,

luxo e baixo nível

de ruído. O ponto

negativo ficou por

conta da direção

muito pesada nas

manobras de par-

queamento. Na

estrada, em pou-

cas horas foi fácil

acelerar e conhe-

cer melhor a Traf-

fic Tronador. Os

freios a disco (as-

sistidos) demons-

Especificações técnicas traram eficiência
mesmo em piso

Motor: 4 cil./linha 2.068cm3; taxa compressão 21.5:1; combustível molhado. A ala-
diesel* - 44 kw a 4.000 RP (potência máxima); torque máximo vanca de câmbio

mkgf (Nm) 12,2 a 2.000 RPM; velocidade maxima indicada: é suave como
140km/h - real cruzeiros 100km/h; consumo: média estrada/ruas: também a peda-

11 km/litro (meia carqa). leira de embrea-
gem e acelerador.
Câmbio: 5 marchas à frente, sincronizadas.
Embreagem: Monodisco a seco 215mm diâmetro. No show-room

Pneus: Dianteiros e traseiros: 185SR 15 com câmara. do fabricante, co-

Freios: Disco nas rodas dianteiras (servo assistido) tambor nas nhecemos a ver-

traseiras (tem válvulas equalizadoras de ação proporcional à carga são executiva,
nas rodas traseiras).
Direção: Caixa mecânica com redução 24 ,5:1 pinhão-cremalheira. com bancos forra-
Suspensão: Dianteira com braço de articulação inferior
(independente); molas helicoidais, barra estábilizadora e dos de couro em

. amortecedores tefescópicos: capacidade de carga, 1.404kg. Na disposição gira-
traseira, eixo rígido, feixe de molas semi-ellpticas, barra tória, permitindo
estabilizadora e amortecedores telescópicos.
alternar posições
Carroceria furgão: Entre eixos 3.200mm: comp. total 4.880; largura para conversar
total 1.905; largura espelho a espelho, 2.290; altura total, 2.072;
entre os passagei-
altura do assoalho ao teto, 530. ros. Na Van turis-
Na Argentina, disponível com motor a gasolina, direção hidráulica e mo camper, bom-

freios a disco nas quatro rodas. gosto na decora-
Informações oficiais da GM-Brasil, Tronador-Renault-Argentina e ção e racional

Importadora de Ferragens (concessionária GM-Brasil). aproveitamento

de espaço: ca-
mas, mesa de sa-

la de jantar. cozi-

~88 16 DE NOVEMBRO DE 1991

'.

Anna Cristina, ;1 1

Paulo Octávio, '

Anna e i...._. ...
'-- '
Adolpho Bloch

junto a João

Carlos Di
Gênio,

padrinho do

bisneto de JK e
anfitrião da

bela recepção

que reuniu em
Brasília 1.500
convidados.

UMA GRANDIOSA FESTA menos nobres, sempre aplaudiu e não existir. Os brasileiros precisam
LEMBROU JK ECOMEMOROU encorajou seu presidente nos mo- se reencontrar com o seu sonho",
OBATISMO DE SEU BISNETO mentos de luta, para mais tarde so- disse o Governador Roriz.
FELIPE OCTÁVIO frer com ele as horas de injustiça e
glória." Enc~rradas as celebrações, o
batismo foi a primeira ceri- padrinho de Felipe Octávio, João
O último a falar foi o Governador Carlos Oi Gênio, ofereceu a 1.500
mônia dos festejos celebra- Joaquim Roriz, que reforçou o com- convidados uma magnífica recep-
promisso assumido ainda em cam- ção num dos mais belos pavilhões
dos no Memorial JK que panha de manter o Memorial JK, montados em Brasília. A festa foi
transformando-se em "padrinho" embalada pelo violão de Sílvio Cal-
do acervo histórico que cerca a das e pela voz de Maria Lúcia Go-
vida de Juscelino. Citou ainda doy, a cantora lírica a quem JK um
Adolpho Bloch como um dos gran- dia se referiu como "a mais bela,
des amigos de JK. comovente e importante voz do

"Juscelino foi a superação de si Bras1·1 ..."
mesmo e de toda uma nação. Trou-
contaram com a presença xe a capital para o Centro-Oeste e MARCUS ACHILES •:
descobriu um Brasil que parecia _ _ _F_O_To_s_D_E_GE_R_VÁ_S_IO_B_ATI_S_T_A _ _ .• 1"\ .
de ilustres personalidades, como o

Governador Joaquim Roriz, o mi-

nistro da Justiça Jarbas Passari-

nho, Anna e Adolpho Bloch. Paulo

Maluf, parlamentares, embaixa-

dores, empresários. Ao todo, mais

de 500 pessoas lotaram o auditório

do monumento à memória do fun-

dador de Brasília.

Logo após o batismo, Dom Freire

Falcão oficiou no Memorial uma

No auditório do missa em ação de graças, e sinteti-
Memorial, o zou em emocionantes palavras a
cardeal- vida e o trabalho de Juscelino:
arcebispo de
Brasília, Dom "Grandes estadistas têm es-
José Freire perança. JK viveu marcado por
este sentimento e conseguiu des-
pertá-lo na alma de milhares de
Falcão, celebra brasi l eiros." A filha e Vice-
missa em ação Governadora Márcia Kubitschek
de graças
lembrou a obra do pai, citando as
pelos 89 anos próprias palavras do presidente:

de nascimento "Que Brasília cresça sob o signo da 1

de JK. caridade, da justiça e da fé." -1

Com voz embargada e sendo l 1 ...

obrigada a interromper o discurso !~.

várias vezes, Dona Sarah falou:

"Quero associar-me ao homem de

rua, que, destituído de interesses

.\ '

i

---

• •

[ PI tfffll,,.._, - '=•rrCW:h • n

ação de graças pelos 89 anos de nascimento de JK foi celebrado ao son1 da Missa da Coroação, de Mozart. No auditório, Dona Sarah, o Ministro Jarbas Passarinho,

dor Roriz e Sra., Lázaro Brandão e ai/as autoridades. [M,,vnl28 DE SETEMBRO DE 1991

105

. ~lo aniversário do fundador da capital / /;5 \f,o I<. 1'; )

~- - ,.. f I O dia 12 de setembro foi dupla-

T, mente comemorado pela fam ília

Kubitschek. Nesta data, no Me-

morial do fundador de Brasília, fa-

F'1\JOf'n:J, _ n1iliares e amigos de JK relernbra -
::?O-~am seu 89º aniversário d~ nasci-

\..4,/..,j_ l~,~...J.Qento, e feste1aram o batismo de
- - -- - - - - - - - - - -- - - -- - - --'-' seu primeiro bisneto.

1 O Memorial JK foi o palco das J,
celebrações que reuniram quatro
( gerações da farnília Kubitschek: a r'
esposa Dona Sarah. a filha Márcia,
1 ~ f-
a ne ta Anna
Junto à pia batismal, os pais Paulo Octávio e Anna Cristina com Cristina e o ' '•' ( ,, 1
Felipe, e os padrinhos João Carlos Oi Genio e Andréa de Bottom. b isneto Feli- ' '\ .1,.
pe. Coube à
vice-governa- ' •
dora da capi-
tal anunciar a chegada de Felipe t, ':.!
Octávio Kubitschek Barbará Alves
Pereira. Batendo palmas e sempre ____.,,~.,..,!':<•.,.,. :,,..'' r
muito sorridente . Márcia Kubits-
chek anunciou: "O p rinc ipal c onvi- ~ . • l'K .
dado da festa já está aqui."
Acompanhado do pai, o d epu-
tado federal Paulo Octávio. da mãe
Anna Cristina e d a bisavó Dona
Sarah, o pequeno Felipe Octávio foi
levado ao aud itório do Men1orial. lo-
tado com mais de 500 convidados .
O cardeal-arc ebispo de Brasília,
Dom José Freire Falcão, celebrou
uma missa ao som do coral e da
O rquestra Sinfônica do Teatro Na-
c ional.
Anna Cristina e Paulo Octávio

conduzirarn o filho à pia t)atisrnal,

sob os olhares atentos e orgulho-
sos ele Dona Sarah e Márcia Kubits-
cl1ek, e dos padrinhos João Carlos
Oi G énio e Andréa de Bottom.
amiga de infância de Anna Cristina.
A celebração da vid a ernocionou a
to d o s .

Sérgio Vasconcellos e Paulo Maluf entre Anna e

Adolpho Bloch na bela cerimónia do Memorial JK.

,

Dom José Fre

Anna e Adolpho Bloch prestam homenagem ao Oofício de
o Governa
inesquecivel amigo JK no mausoléu do fundador.

104 [Ma. I 28 DE SETEMBRO DE 1991

fY'T'nr-.......;·..:-. ·

... .~ ·
, -t-t,..,.L,., .. .•


O.primeiro golpe'; dado pelos ·ge- · 6·ogo no.dia 12 de novembro,
nerais Lott eDenys, tinha apenas dez
seguinte à deposição do Qe-
putado Carlos Luz,o Senador ·c-~ f
dias de impacto, quando, a 21 de Nereu Ramos, como presi-
novembro, o Presidente Café Filho
Murilo Melo Filho narra como, dez dias depois saiu do Hospital dos Servidores do dente da República interino, corist_i-
do golpe de 11 de.novembro de 1955,
há 36 anos, oCongresso confirmou oSenadot tuiu e empossou o seu Ministério: ;.2:'.'.
Estado e anunciou seu propósito de Guerra (Henrique Lott), Marinha .o
,Nereu Ramos no Catete até aposse de JK (Alves Câmar.a), Aeronáutica_(Al-
reassumir o lugar ocupado pelo Sr.
, Nereu Ramos, presidente do Senado, :ves Seco), Justiça e Negócios lo- ..

teriores (Meneses .f:>imentel), Fa- - ·.__.,
que se.mostrou particul~rmente dis- · ·zenda (Mário Câmara), Educação e ' • .
posto adevolver-lhe a presidência. O Cultura (Abgàr Ren~u10; Agr.icUI-· :;D. .
lura (Eduardo Catalão), Relações ;t _ _
General Lott; inicialmente, também
se di.spunha a isto: Exteriores (José Carlos de Macedo ~1 . ·

• ....:. Afinal de contas, oCarlos Luz se Soa~es), Saúde (Maurício de M~- .·

deiros), Trabalho, Indústria e· Co- ,,
impedira porque se encontrava·em mércio (Nelson Omegna), Viação e

local incerto enão s~bido. Mas o Pre- Ob(as Públicas (Lucas top_es), •
·sidente Café Filho não está impedido, Casa Militar(Floriano de Lima Bray-

pois se encontra na cidade. ner) e Casa Civil (Paulo Lira).
A primeira visita oficial que o Sr.
O Deputado José Maria Nereu Ramos fez, como presidente
•'
Alkmim interveio: da República, foi no dia 13 ao Sr.

- Não está impedido? Pois Café Filho, internado no HSE desde
vamos lá em Copacabana para a madrugada do dia 2, e que po-
ver se éle está impedido ou não.
deria ter alta a qualquer momento
para, se o q'uisesse (em tese), reas-

Em companhia de Alkmim, o G.e- sumir o seu posto no Catete. Estava
presente a essa visita o General ·
neral Lott foi a Copacabana, viu o
apartamento de Café Filho cercado de Floriano Br.ayner, da Casa Militar.
tanqu~s e conformou-se:
·Depois, o Sr. Café Filho •fez. jus-
- E, realmente, está impedido.
Aí o Congresso confirmou o Sr. tiça ao ·sr. Nereu 'Ramos: · -
Nereu Ramos no posto, onde permane-
ceu até 31 de janeiro, quando o trans- - A bem da verdade, devo dizer

que, no momento daquela visita, o

Sr. Nereu Ramos jamais me prome-

.. teu entregar o governo. Limitou-se
..
feriu ao Sr. Juscelino Kubitschek. a conversar sobre a minha doença.

O chefe de sua Casa Milita~ mante-

ve-se sempre -presente, como se

estivesse policiando. Estou con-

•• • • vencido de que, se o Sr. Nereú Ra-

• mos tivesse tentado devolver-me o
goyerno, não o teria conseguido.

A saída daquele encontro, o pre-

• sidente Nereu Ramos despediu-se

-· do médico Raymundo de Britto:

- Cuide bem da saúde desse

homem, porque .ela é muito impor-

tante para o Brasil.

'

...

-.UM ASPERO ,DIALOGO véspera, Capitão Amaral Oliveira,
·· MARCOU OULTIMO
perguntou-lhe por que não fora
ENCONTRO ENTRç O
PRESIDENTE CAFE FILHO sub~tituido, segundo a rotina do

.E·oGENERAL LOTT seNIÇO..

- Está chovendo muito, presi-

dente. O meu substituto deve che-

gar atrasado. (Só depois, viria a sa-

ber que o substituto já não pudera

entrar naquele dia no Palácio do

Catete para fardar-se.)

Mas, pouco a pouco, ele foi colo-

cado ao corrente do que estava

acontecendo. Sua pressão arterial

chegou a 20. Aplicaram-lhe sedati-

vos e medicação vasodilatadora.

• nforma-se que, antes de ir ao Naquele mesmo dia dos tiros
hospital, o Sr. Nereu Ramos
teria declarado a um jornal es- contra o Tamandaré, o Presidente
'trangeiroque o presidente legal
Café Filho chegou a pensar em re-
e verdadeiro era o "enfermo, que
poderia reocupar o posto no mo- assumir, mas foi convencido .de
mento em que o desejasse".
que se arriscaria muito. Segundo
O Senador Alencastro Gui-
marães havia estado no hospital seus médicos, precisava de mais·
• dois dias antes, querendo saber
dos médicos Aarão Benchimol e uma semana, no mínimo, de hospi-
Raymundo de Britto se o presidente
da República tinha condições de talização. ·
reassumir. Mas tanto ele como
vários outros líderes políticos foram Paulatinamente, através dos pri-
solicitados pelos médicos a não en-
trar nos aposentos presidenciais, meiros atos do governo Nereu Ra-
pois o Sr. Café Filho continuava
sem saber bem o que se passava. mos, o Presidente Café Filho foi se

Disse depois o Sr. Raymundo de convencendo de que o movimento
Britto:
chefiado pelo General Lott contra o
- Quem estivesse disposto a as-
sinar um termo de responsabili- Deputado Carlos Luz era também,
dade que entrasse e falasse. Era só
assumir o risco e estaria tudo resol- indiretamente, contra ele.

Por intermédio de outras informa- transferido para a Clínica de Re~
pouso São Vicente, numa mudança
ções chegadas ao seu conheci- apressada por vários motivos, in-
clusive o_de proibir as visitas e o de
mento, também percebia que o ob- apressar a recuperação numa clí-
nica especializada em doenças
jetivo das novas autoridades era o cardíacas, em vez de um hospital
de clínica geral, como o HSE.
de conseguir uma discreta compo-
Essa mudança de hospital, que
sição com ele, de modo a prolongar custou a exoneração do médico
Raymundo de Britto da direção do
sua doença e sua convalescença HSE, levou o Sr. Café Filho a solici- .
tar do mé.dico Genival Londres,
até o dia 31 de janeiro do ano se- diretor da Clínica São Vicente, um
apartamento modesto, à altura de
guinte. suas posses.

Chegou a pensar na hipótese de O médico Genival Londres desti-
nou-lhe um apartamento grande,
uma renúncia, como sinal de pro- com todo o conforto. avocando a si
o pagamento pelas despesas da
•í testo. Mas depois desistiu dela, in- internação.

\ cumbindo ao Ministro Prado Kelly Enquanto isso, em sucessivos e
importantes encontro~ com os Ge-
de redigir uma carta aos presiden- nerais Lott, Falconiêre da Cunha,
Castelo Branco, com o Cardeal
1 tes da Câmara, do Senado e do Dom Jaime Câmara e com o Bispo
Dom José Távora, o General Juarez
Supremo Tribunal Federal para co- Távora tentava encontrar uma fór-
mula que garantisse a volta do Sr.
municar-lhes sua decisão de reas- Café Filho ao Catete.

Assistido por , sumir. Até que, à uma hora da madru-
gada do dia 20, o Geneal Juarez foi
uma : .• Anteriormente, ele havia discor- procurado em casa pelo General
Gélio de Araújo Lima, acompanha-
enfermeira, o dado da decisão do Deputado Car- do de dois majores, para conduzi-
lo preso ao Ministério da Guerra. Lá
Presidente los Luz em demitir o General Lott, chegando, foi encaminhado ao Ge-
Café Filho, neral Saldanha Marza, que mandou
por entender quea mudançade um improvisar uma.cama, onde ele pu-
hospitalizado desse dormir. As 5 horas da 111a-
ministro da Guerra não podia ser nhã, foi acordado pelo General An-
no HSE, gelo Mendes de Moraes, que lhe
feita da forma como o foi. Teve ím- comunicava estar ele preso ali por
aguarda o engano e que poderia voltar para
petos até de solidarizar-se com o casa.
desenrolar da
General Lott. No dia 20 de novembro, o Ge-
crise. neral Lott compareceu à Clínica de
Sr. Nereu Ramos mandou
vido e autorizado. Mas ninguém se restaurar as regalias do Sr.
Café Filho, que tinham sido
animou. suspensas, como as de mo-
Quando o Forte de Copacabana torista e carro oficiais, autorizando
também que as despesas do HSE
disparou seus canhões contra o Ta- com o presidente enfermo fossem
mandaré, o Sr. Café Filho escutou pagas pelo IPASE. Chamou o Dr.
Raymundo de Britto ao Palácio do
os tiros e ficou desconfiado da si- Catete, ouvindo dele a informação
tuação. Interpelou uma enfermeira, de que o estado de saúde do presi-
que o despistou: dente evoluía satisfatoriamente. E

- São foguetões, presidente. d isse-lhe:
Talvez alguma festa de padroeiro. -Triste nação será o Brasil se o

O Sr. Café Filho, pelo menos chefe do seu governo não puder
aparentemente, aceitou a explica- sequer adoecer, sob pena de ser
ção, preferindo admitir a hipótese deposto. Só permanecerei neste
de alguma C?memoração no_bairro Palácio enquanto Café estiver
da Saúde, situado nas prox1m1da-
doente.
des do hospital. No dia 14, o Sr. Café Filho foi
E:stranhando a presença do

mesmo ajudante-de-ordens da

~86 30 DE NOVEMBRO DE 1991

Filho diretamente para o qu/:irtel-

general, onde se reuniu com <?S

seus generais, achando que tena

de começar tudo de novo. • •·

Disse-lhes ele: ••
- Tenho receio de que o presi-

dente reassuma nestas condições.

Vai sofrer muitas pressõês é não

conseguirá resistir-lhes. Este é o

meu temor e o meu cuidado em .:

evitar lutas fratricidas. Eu já tinha ·

violentado toda a .minha carreira •..,

militar, ao dar aquele contragolpe .,,. ·

de dez dias atrás e não posso per-

mitir que tudo volte à situação an- .•.

terior .

O General Lott tinha em seu po- ...,

der alguns laudos e parecere~ mais

fortes e mais eficazes do que o dos

médicos: ao saber que o Sr. Café

Filho se preparava para deixar' a

clínica e reassumir o cargo, man-

dou cercar tanto o apartamento de

Copacabana como o Palácio do

Catete. A cidade foi militarmente

ocupada por tanques e blindac:los.

O Sr. Café Filho conseguiu entrar

em sua residência, mas dali não

conseguiu mais sair, porque estava

Oedlfic/o onde virtualmente prisioneiro.

Repouso, na Gávea, numa visita - CAFÉ: Pode comunicá-la ,nos morava o Câmara voltara a viver mo-

acertada pelo Coronel Canavarro termos em que acabo de falar. E ao Presidente mentos tão tumultuosos e
agitados quanto os de dez
Pereira. meu ministro da Guerra que primei- Café Filho
ficou cercado dias atrás. Com os votos con-
Marcada para as 15 horas, o ge- ro estou informando desta decisão. trários, entre outros, dos Deputa-
por tropas
neral chegou 1Ominutos antes e foi No dia 21, foi divulgado um laudo durante vários dos Neiva Moreira, Eider Varela,
Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, Oscar
imediatamente recebido. Chegou médico assinado por vários profes- dias. Oseu
substituto, Correia, Daniel Faraco, Tarso Ou-
visivelmente contrafeito. E quando sores clínicos e cardiologistas: Ge- tra, Ney Maranhão, Aluísio Alves,
nival Londres, Aloysio de Castro. Nereu Ramos,
comunicou ao Sr. Café Filho a deci- Djalma Marinho, Lufs Garcia, Sei-
Jairo Ramos, Luís Feijó, Aarão Ben- tomou posse xas Dória, Alberto Torres, Frota
são dos chefes militares, que consi- ch imol, Theobaldo Viana, Ray- no Catele,
mundo de Britto e Deolindo Couto: Aguiar, Mário Martins, Guilherme
deravam desaconselhável a sua cercado de Machado, Licurgó Leite, Herbert
- Atualmente - dizia o laudo - seus ministros. Levy, Saldanha Derzi, Konder Reis,
volta ao Catete, travou-se entre am- o Sr. presidente está recuperado
João Agripino e Rondon Pacheco,
bos o segµinte diálogo: . do episódio de insuficiência coro- foi aprovado o Projeto de Resolu-
nariana subaguda que o acometeu,
- CAFE FILHO: Serei submetido ção 21/55, declarando vaga a Pre-
voltando às condições clínicas an-
amanhã ao exame de uma junta sidência da República.
teriores, isto é, cardiopatia hiper-
médica. Se o resultado for no sen- Chegando ao Senado no mesmo
tensiva e coronariana, em estado dia, o projeto sofreu violento com-
tido de que estou em condições de de equilíbrio circulatório.
bate, -entre outros, dos Senadores
exercer o cargo, procurarei reassu- Diz-se que o General Lott saiu Argemiro de Figueiredo, João Vil-
daquele encontro com o Sr. Café
mi-lo sem discutir condições. Só lasboas, Dinarte Mariz, Juraci Ma-
galhães, Coimbra Bueno, Ezequias
compreendo a função de presi- da Rocha, Rui Palmeira, Freitas Ca-

dente da República na plenitude da valcanti, Novais Filho, Atílio Vivac-
qua e Domingos Velasco.
autoridade e da dignidade que lhe
Enquanto isto, os líderes do PSD
são indispensáveis. Ou exerço ·o sustentavam em plenário:

poder na sua integralidade ou não - Quem tiver dúvidas sobre o
impedimento presidencial, basta ir
o exercerei. A não ser assim, prefiro
a Copacabana para ver os tanques·
ser deposto.
e se convencer de que o Sr. Café
- LOTT: Presidente, tudo isto é
Filho está realmente impedido de
profundamente desagradável para
sair de casa.
mim. O senhor não me surpreende E é ele mesmo quem depõe:
- Afinal de contas, eu era o pre-
com esta atitude. Eu bem já espera-
sidente da República até o dia 3·1 .
va por ela, de janeiro de 1956. Não poderia

- CAFE: O que me pode aconte- sujeitar-me à hum.ilhação de sair à
rua com aqueles l!ras todos no meu
l cer? Ser deposto, preso ou morto?
- LOTT: Não, presidente, isto encalço. Seria um vexame grande

i seria uma desgraça, no fim da mi- demais.
nha vida. ,
- CAFE: Minha decisão já está

tomada e não depende senão dos

médicos. A única ponderação que

posso permiti: é a deles. O s~nhor

tem de admitir a responsabilidade

_, ~-- de dar um golpe puro e simples,

pois tudo o que está acontecendo

não passa de uma farsa. Depois de ler deposto q Presidente Carlos Luz e de ter

- LOTT: Não, presidente, não impedido o retorno ao Catele do Presidente Café.f.1/ho,

diga isto. Não foi uma farsa. Posso o Ministro Henrique Lott garantiu a posse do Presidente MURILO MELD FILHO
FOTOS MANCHETE
comunicar aos colegas a sua de- Juscelino l:(ubitschek, do qual foi ministro da Guerra. .

cisão?

~30 DE NOVEMBRO DE 1991 B7



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Dirigentes do Banco Pontual Biblioteca Nacional Em Vila Velha, uma
homenageados na Manchete homenageia Adolpho Bloch fábrica de

■ O presidente José Baia Sobrinho. o diretor Cláudio Mes- ■ A direção da Fundação Biblioteca Nacional beneficiamento da
concedeu o Diploma e a Medalha Biblioteca Na- castanha do caju
sias Ferro e o gerente operacional Alexandre Manfred1. cional 1991 a Adolpho Bloch pelas relevantes
contribuições à cultura brasileira e àquela insti- ■ O empresário lrineu Vas-
todos d o Banco Pontual. foran1 homenageados corn u,n luiçâo. Anna. em norne de Adolpl10, recebeu a concellos vc1l inaug ura r
honraria das mãos do p oeta Affonso Ro,n ano de uma unidade de benelicia -
aln1oço na Manchete e recebidos pelo nosso diretor David Sant'Anna, presidente da instiluição. mento de castanhas de
caju nos próximos 60 dias,
..,Elk1nd. Alcides Tápias: com localização no Municí-
. cz pio de Vila Velha, a 10krn
.. novo presidente de Vitória. Está voltando
sua atenção para novo
da Febraban segmento de matéria-pri-
rna no setor de alimentos,
■ Na loto, o Governador além da industrialização do
Luis Antõnio Fleury Filho coco. que já importa de
cumprimenta o novo presi- quatro países diferentes, a
dente da Febraban (Fe- firn de atender à demanda
deração Brasileira das As- das indústrias de chocola -
sociações de Bancos) Al- te. doces e sorvetes.
c ides Lopes Tâpias. vi-
--~r ~.~.,,---llf.tI c e-presidente do Conse-
•.--~-- ~ lhoSuperiordeAdmi nistra-
J ção do Bradesco. que su-
t cede a Léo Cochrane Ju-
,.,. .,..,_ nior à frente da Febraban

.

A Varig recebe o primeiro Paulina Bloch no Seis e Meia da ABI
MD-11 para integrar sua frota
■ O Projeto Seis e ,\!leia <la ABI apresentou a cantora Paulina Bloch, a~orTipanha-
■ O Sr. Rubet Thomas. presidente ela VARIG. !oi busc ar
ern Lonq Beac l1 . na Call!órn,a. o pri1neiro 1\~D- 11 . da da ao piano por Ká tia Balloussier. nurn p rograma d e canções argentinas, espa:
1\11cOonnell Dougla.s, que nos p róximos c1ias entrará na rota nholas e hebraicas. sendo a segunda parte dedicada à rnúsica brasileira Ela Ja
Rio - Paris- Rio. E o primeiro trqa\o f\~D-1 1 a operar na está gravando programas para a Rádio MEC e a TVE, com recitais no Rio, Buenos
AnH)11ca La tina. todo cornputa clorizndo. c o1T1capacidad e
para transportar 239 µassag eiros. e co1n Lrn:n econoniia ele Aires e México. Paulina Bloch é camerista e canta em 12 idiornas.
35~ó de corTibustivel por assento en1 relaçao ao DC-1 O 1\
soler11ciade cie entrega foi realrzada na secie d a McOonnell.
,0111 .1 µresonça. ent1e outras. do Min1siro S1 clney Sanchez.
prc's1dente do Supren10 Tribun;:il, e do Senador /\ lbnno
F111nc0 Ou tro :ivião f\~0 - 11 vir<1 na p rox11na sernanA ;:ile1n
de' ou tr os quatro Já encon1enci,1lfos.

86 lfirv. i_ê)?j ;10 OE NOVEMBRO DE 19~ 1

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1 -...,

1

Os tanques ocuparam militarmente a cidade.e o
Presidente Café Filho, apesar do sorriso, ficou impedido
de sair do seu apartamento.



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V FESTIVAL INTERNACIONAL DE
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5, 6 E 7 DE DEZE.MBRO DE 1991

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Getúlio: "raposa politica"

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JK, o "desonesto", Jango, o "da perna mecânica", e Jânio, o "amigo de Rockefeller" m

-;

Lindolfo, o "inescrupuloso"

HISTÓRIA

Retrato exportado Estado Novo. Diz que o marechal Cândido
Rondon c_uidou de desbravar a própria
fortuna. "E propriet{irio de enormes exten-

sões de terra no interior, particularmente em

O liv,·o Nitroglicerina Pura fala Goiás e ~1ato Grosso - que adquiriu por
n1eios dúbios e desonestos", assinalou o

de como os e.r;t,·angei,~os viam a elite embaixador. Sobre o fundador dos Diários
do B,~asil das décadas de 30 a 60 Associados, Assis Chateaubriand, o diplo-
n,ata escreveu que era "uma personalidade

perigosa e intrigante''. En1 outro dossiê,

U nl dos benefícios inesperados da era M,uia Tereza, ,nulher de João Goulart, enviado pela etnbaixada inglesa no Rio e,n
Collor foi aguç:u· o interesse das pes- tinha "inadequação mental e educacional" novembro de 1940, pode-se ler que o
soas pelo caráter nacional. Nesta sen,ana para funcion,u· co,no primeira-dai11a.
general Eurico Gaspar Dutm, ,ninistro da

chega às bancas un, livro que traça o perfil Mornes Neto consultou duas fontes par.1 Guerm de Getúlio, en1 "um cão ele guarda ,.

de vários brasileiros ilustres de gerações fazer Nirroglicerina Pura. Em Washington, não 1nuito inteligente" e que Os,valdo Ara- •

anteriores con, unl resultado inter.ess:utte teve acesso aos docu1nentos do Departa- nha. seu chanceler, dava "atenções a mulhe-
para o balanço da geração atual. E Nitro- 1ncn10 de Estado, da CIA, do FBI e da Casa res fora do ambiente do,néstjco".

glicerina Pura, dos jornalisu1s Geneton Branca, guardados

Mon1es Neto e Joel Silveir.1 (Editora Re- na biblioteca do

cord. 235 pi,ginas, 57 900 cn1zeiros). Nu- Congresso. E,n

nla parte, Joel Silveira, de 74 anos, faz Londres, visitou os A polêmica da memória
l11nn análise de sua experiência conlo jor- arquivos do Public

nalista sob o Estado Novo. En1 outra, a Record Office, e O arquiteto Oscar Nie- en1.s ua homenage,n. onde ha-
n1eyer, de 84 anos, e o juris- uma esL,atu~a, u1n pequeno
mais curiosa. está o resultado de wna descobriu u,n dossiê veria

pesquisa de !Vloraes Neto que levou três de 1939 que acaba- ta Miguel Reale, de 81 , es- auditório e unia sala de exposi-

n1eses enl arquivos da Inglaterra e dos ra de ser aberto ao tão engalfinhados num bate- ções sobre a sua vida. Miguel

Estados Unidos. Moraes Neto descobriu o público. depois de boca sobre o líder comunista Reale, integralista na juventude,

que alguns ingleses pensav,u11 elas perso- ,neio século sob si- Luís Carlos Prestes, morto não que,r nem ouvir falar na
en, ,narço de 1990, aos 92 idéia. "E un1a hon1enagem de
nalidades do Bam1nseiln.dcaunraonsteeoscEresvtaedno1n1Noevno1 !!ilo. Nesse dossiê,
e o que os uDos. Principal personalida- un, amigo a um bra-;ileiro ilus-
~

ii11itulado "hnpor-

vi\rüLc; oportunidades sobre figuras desta- tru1tes Personalida- de da esquerda brasileira por tre e decente''. justifica Nie-

cad:L<; do país na época do golpe militar de des no Brasil'', o en- n1ais de meio século, a polê- 1neyer. "Prestes é a image,n

1964. A conclusão é um painel interessan- tão embaixador in- n1ica sobre o papel de Pres- simbólica do totalitarismo so-

te da elite política e econôtnica das déca- glês no Rio de Ja- tes na História do país so- viético, ao qual serviu com

das de 30 a 60. Afinna tm1 docun1ento neiro. Hu!!h Gur- brev iveu à sua própria grande coerência, n1as com in-
n1orte. Con1unista convicto, discuúvel dano panl o país",
-inglês. por exernplo. que o n1inistro do ney, troca lL5 rnesu-

-Tr:1balho de Getúlio Vargas, Líndolfo ras diplon1áticas por Nien,eyer quer construir no afirma Reale.
R.io de Janeiro u1n n1en1orial O n1emorial de Prestes pro-
Collor, avô do presidente Collor. foi un, w11u análise virulen-

ho1ne1n "an1bicioso e inescn1puloso'', e ra de ce11;a ele 100

nun1 registro an,ericano pode-se ler que personalidades do

66 VEJA, 19 DE AGOSTO. 1992

1

i

~ PRECONCEITOS - A~ considerações de • Nas páginas em que são publicados os

l Gumey são variad~L<;. E capaz de regisn·ar documentos americanos, surgem histórias
que o herdeiro do trono brasileiro, Pedro curiosas. Em 1961, um assessor de John
Luís Felipe de Orleans e Bragança, tinha Kennedy visitou Jânio Quadros e viu em

uma atrofia no braço esquerdo, que o ricaço seu gabinete un1a gravura em aço de

Carlos Guinle casou-se com uma ''mulher Abraham Lincoln, assinada pelo próprio

atraente" e que o ex-chanceler Otávio Man- Lincoln. Soube que só existiam três no

gabeira era um baiano mulato. Vale a pena mundo e que Jânio ganhara a sua do

conhecer seus pontos de vista, mas é bom banqueiro Nelson Rockefeller. "Jânio tinha

lembrar que os relatos de diplon1atas esta- · 1nuito cuidado co,n essa peça", recorda

cionados em país estrangeiro José Aparecido de Oliveira,

são inevitavelmente eivados de que foi seu secretário particu-

preconceitos. Não se atribua lar. "Acredito que esteja agora

porém aos diplomatas a totali- num cofre de banco." Outra

dade das opiniões que expres- história dessa época sacode a

l san1. É n1ais comum que emi- propalada aliança entre João
tam conceitos correntes na Goulart e Leonel Brizola. Em
1962, o embaixador ainericano
1 própria sociedade local. Un1 Lincoln Gordon fez un1a visita

l

exemplo disso é a avaliação

que os runericanos faziam de a Jango para pedir que se pro-

Juscelino Kubitschek. nunciasse contra as posições

Num documento de 1956, de antian,ericanas de Brizola, en-

autoria da divisão de infonna- tão gove111ador do Rio Grande

ção biográfica do Departamento de Estado do Sul. Jango respondeu que seu parentes-

an,ericano, JK é considerado "profunda- co com Brizola não era sinônimo de

mente desonesto, capaz de vender a alma alinha1nento político e até sugeriu que

(...) em troca de uma pequena quantia". No Kennedy fosse a Porto Alegre. "Será rece-

final do seu governo, já o tinhatn co1no bido com grande entusia,;mo popular, o

"espirituoso, inteligente e charmoso". São que den1onstrará a falta de apoio à linha

opiniões se,nelhantes às dos brasileiros. JK de Brizola", disse-lhe Jango. "Quem con-

foi criticado como ton·ador de verbas e, viveu co,n Jango sabe que ele jamais se

depois de deixar o governo, passou a ser submete1ia a utn diálogo como esse, ainda

visto co1no líder visionário. mais com Gordon, que não era um e1nbai-

Há no entanto relatos que expressan1 xador, era um agente", reage Brizola. Há

preocupações menos pessoais e mais políti- um equívoco curioso num dos relatórios.

cas. Getúlio Vargas é tido como "a raposa Diz-se que Jango usava "uma perna mecâ-

política ,nais astuta do Hemisfé1io Ociden- nica", quando na verdade tinha um defeito

tal". E Luís Carlos Prestes aparece na ósseo que o fazia 1nancar, esclarece o

. situação de "un, líder revolucionário profis- jornalista Joel Silveira.
• sional", "com grandes dons militares'' e Subtnetidos a uma onda de escândalos, os

cabeça de uma "marcha assombrosa", em brasiJeiros de hoje fazem uma auto-avalia- 24-30

referência à Coluna Prestes. ção cujo único risco é o desânitno. Seria Agosto'92

uma pena estragar a 14-22 hs.

::"::xc:::-=~==~=JUl'::c.:::· ~;:r...,:!1::;Jj"'ii'.:➔::::::.::·:i:;::::.;J.t:::::s,q~;:::e::z::,::=·:;;rrc.::::::::::.;:;;;;:.r;<i:-::;:;,;;:::,;;:;.;::::;.::::::3:;:::;,;,:;:, ti:'l!i:5~•:Jl:!'4::::,:?;>::i:::!•!'.:'::::an oportunidade. Mes- Anhembi
São Paulo
mo diante de índices

voca debates até n1esmo entre Collor compro,neteu-se a de corrupção absur-

seus fa,niliares. Anita Leocáclia. dar isenções fiscais para os dos, como os revela-

filha do pri1neiro casan,ento de empresários que colabora- dos no escândalo

Presres, con1 Olga Benario,, é rem con1 a construção do Pn-aCo Fcaarli.af'>n,oé preciso
contra a ajuda do governo. "E a memorial. "Os adn1iradores equi,vo-

construção ela História oficial de Prestes que dêen1 o di- co de imaginar que

pelos donos do poder em mais nheiro, não o Estado", recla- a deterioração moral

tuna tentativa de descaracterizar ma Reale. Estátuás de políti- dos homens púbb-

a figura de meu pai'', diz ela. A cos brasileiros provocan1 cos seja um destino

viúva. M,u·ia, e os nove filhos confusão há ,nuito te1npo. O e que sua dimensão

pensam o contrário. ''A história Rio tem u1na em homena- revele alguma coisa

do ,neu pai não pode ficar n10- ge,n ao 111arechal Ca,;tello do caráter nacional.
~ Nos documentos

fando e,n um museu qualquer", Branco. ,nas perdeu os bus-

afirma o cineasta Luís Carlos tos de Juscelino KubiL-;chek reunidos no livro de

Prestes Filho. e João Goulart, retirados das Moraes Neto e Sil-

A obra vai custar 300 000 praças en, 1964 por ordem veira há um painel

dólares. A prefeitura do Rio já do Exército e guardados de v[cios e virtudes,

doou o terreno e o presidente num depósito até hoje. . . corno em qualquer

país e em qualquer

• te1npo. ■

VEJA. 19 DE AGOSTO. 1992 67

..

-• ,ua m.orte. O lLA.00 !oi torturode>, p-910, Dr. J.IJCJO(Ccl 4e a~o dai ert l•

lharJa DlUlO LOCJO MmtJS ClRfLo) t seu au.i:111•~• t0TestJsa4or optante da

e•ttnta C.•r o Civil de SÕo p,.u\o, O Dr. t!1L-so- ou aejo '1.A.Lt01'1RO BVE.SO
PIL)I), boJe lo\edo cooo del~godo d~ Pol{c1o ~ E,todo de São ?auto, nró~

concluir 1eu curso de b ach.arelondo na Oniver~idode de ~O&i da, Crui ~, -

(Brae - Cubos) tu.roa bc 1979- DJRtlTO, osora titulor da lo. ?é N~lic~- /

DEJC.,. Que Op6s aua aort~ o HEiZ.OC tot colocado na ccle • ft.:)arrojo e o~

Ull cinto de cou.N> ttu• pcrtenc~ra eo •PtBJCLts• 1Uo Crando do Sul. !

L-.._ -- -• 1

O ex-torturador Antônio Saito, vestindo um uniforme
de coronel numa foto recente, e um trecho da carta
em que fez sua denúncia: num português macarrônico,
ele conta em 26 linhas datilografadas quem matou o
jornalista Vladimir Herzog e livra da acusação o
delegado Pedro Mira Grancieri, principal suspeito

JUSTIÇA

Um mistério por escrito no país. O dado mais consistente da sua
denúncia é o envolvimento do coronel Cy-

rillo corn a violência do porJo. 1-lá 24 ,u1os,

Un1 e.,r-tortit1·c1dor aJJCtrec·e n1orto na Cyrillo ajudou o nutjor Waldir Coelho na

cadeia e dei,ra i,rr1a c·arta ac·i,sa11do i,111 n1i!itar montagen1 da Operação Bandeirantes, ante-
e i,111. cle/egaclo pela n1orte ele Herzog cessora do DOI-Codi. O reverencio Jaitne
\Vright, que guarda o 1naior arquivo sobre

tortura no p,ús, o Brasil: Nunca ftllais,

A n1orte do jon1alista ~ladirnir 1-lerzog. circulou pelos porões como víti1na. Saito catalogou três processos ern que o coronel
en1 outubro de 197:,, ganhou na se- devia n1esmo saber do crime. A ex-n1ilit:u1te aparece con10 torturador. No Comando Mi-
rnana passada um capítulo novo. Na se- do PC do B Maria Amélia de t\ln1eida Teles litar do Sudeste, em São Paulo, onde contro-

-gunda-le ira. o ex-torturador Antônio Saito, reconheceu en1 Saito un1 de seus algozes en1 la o setor administra1ivo, os oficiais estão

de 48 anos e ascendência japonesa. apare- 1972. Quatro outros n1ilitantes que estiver.1111 proibidos ele comentar o envolvin1ento de

ceu enforcado ern sua cela no 91 11 Distrito presos na mesma época en1 que HerLog Cytillo con1 a tortura.

Policial. en1 São Paulo. onde estava preso confi1n1a111 que havia ali u1n japonês que Além da denúncia, Saito deixou outro

por estelionato. Uni dia antes de n1orrer. atendia pela alcunha "Doutor Pauto··. rnistério - a sua própria 1norte, en1 cir-

Saito deixou con1 o seu advogado un1a cunstâncias n1uito estriu1has. Junto con1 ele,

carta con1 u1na denúncia minuciosa. Ali. QUEIMA DE ARQUIVO - Apesar da ap:u'ên- fo i encontrado outro preso enforcado, o

ele acusa o coronel do Exército Daltno cia de verdade, a carta de Saüo tem proble- empresário Masaishi Naka, que deixou un1

Lúcio l\tluniz Cyrillo e o delegado Waldo- n1as. O delegado Bue- bilhete en1 japonês. O
chefe da cadeia. Darci
-111.iro Bueno Filho de tere1n assassinado o no nun<:a loi visto no

jo111alisra nos porões do DOl-Codi. Mais DOl-Codi e Herzog Sassi. 1em un1 areou-
1nento para o duplo sui-
-adiante. conta a que1n pe11encia o cinto n1orreu na n1anhã do

que enforcou 1-lerzog e encem1 explicando dia 25 de outubro de cídio: ''D01ningo foi

que o delegado aposentado Pedro l'vlira 1975, e não na n1adn1- Dia dos Pais e eles es-

Grancieri. o "capitão R,uniro", até agora o gada do 25 para 26. tavam n1uito deprin1i-

principal suspeito de n1atar Herlog. apenas con10 atinnou Saito. • • dos", afinna. A militan-
te cios direitos humanos
:tjudou a silnular o suicídio, colocando o "H.í erros grosseiros no
-corpo do jon1alisra na cela. Suzana Lisboa tem ou-
que esse senhor escre-

-,1\ denúncia de S,úto está datilografada. veu", afinna o jon1alis- tra suspeita. "Quei1na-
ran1 um arquivo··, diz
ic1n 26 linhas e foi escrita nurn português 1a Rodolfo Konder.

rnacarrônico. in1itiu1do o estilo dos inquéri- con1p:u1heiro de prisão .. ela. Suzana acon1panha
o inquérito de Herzog
tos policiais. ·',\. 1011ur..1 foi feira con1 cho- de 1-lerLog. Além disso. na condição de diretont
~

ques elétricos (n1aquine1as de telefone de suspeita-se que a acusa-

<:an1p;u1ha do Exé~ito). sendo an1arrada ção contra o delegado da Con1issão de Fami-

unia das pontas na cabeça de seu pênis e a Bueno seja wn ato der- liares de Presos Políti-

outra no seu ânus•·. descreve. Conta que o radeiro de vingança. cos Mortos e Desapare-

jornalis1a leve '·sua cabeça rnergulhada den- Bueno é o chefe dos cidos de São Paulo. Há

-·tro de un1 r:unoor co111 :iuua e enxofi~ até a policiais que há dois vinte dias. quando de-
pôs nesse inquérito,
sua n1onc" e diz que o cinto de couro que o meses prender.m1 Saito

-enforcou era do agente "Péricles. do Rio por esteliona10. Seu Saito disse ao advoga-
do lclibal Piveta que sa-
Grande do Sul'·. A ca1a é assinada por Sai10 golpe favorito era ves-

e ainda traz seus codinon1es dos ten1pos ele tir-se de coronel do bia n1ui10 sobre a re-

por:io. "Japa" ou ·'Doutor Paulo". Pelos Exército e extorquir es- pressão e. por isso,

-depoi111entos que se recolhern de que111 trangeiros clandestinos Herzog: morte pela manhã temia ser n1orto. ■

VEJ.J.\. 19 DE AGOSTO. 1992

1 ,· -.);;;,' ' •

-· -'

1

1

r COMPORTAMENTO

1

1

Comadres da Fórmula 1 1nulher". Senna teve um ron1ance com
Ca1herine antes do casamento dela com

• Piquet, que tern1inou no ano passado.

1 Prost desme11te a e11trevista enz que EsrAooC1v1t-Ayrton Senna atrai a inve-
!• ja ços outros pilotos pela determinação com
disse que Se,111a é homossexual e a duJJla de que leva sua can-eira e a audácia que exibe
pilotos faz as pazes JJela e11ésin1a ,,ez
i no volante. Fora das pistas, os corredores da . :
l odo mundo conhece um casal assim: reservadas ao piloto brdsileiro. "Senna é Fónnula 1 são os reis da badalação, com
T os dois brigam, annam uma concilia- hoje o melhor con·edor. Mil vezes superior direito a espaço cativo nas colunas sociais e
ção. pegam-se de novo aos tapas e tentan1 a Mansell, mas é um falso. Dizem que ele um intenso assédio feminino. Senna, ao

outra vez segurar as garras. Rivais histó- gosta de hon1em. Em particular de mecâni- contrário dos seus colegas mais afoitos,·

ricos da Fórmula 1, os tricampeões Ayr- cos•·, disse Prost, segundo a reprodução do parece não ter vida particular. Ele · respira

ton Senna e Alain Prost são a versão jon1al italiano. Pode ser que o la Repub- Fórmula I vinte e quatro horas por dia. O .

motorizada desse rnodelo 1norde e asso- blica, num. delírio de sensacionalismo, le- estado civil de Senna tan1bém atiça a,;

pra. Na sexta-feira passada, nun1 interva- nha interpretado livremente as declarações fofoca<;. Os pilotos de Fórmula I trocam de

lo de u1na de suas brigas, a dupla de de Prost ou tenha mesmo inventado o que mulher como quem a,;sina com outra escu-

con1adres fez as pazes pela enésima vez. não ouviu. Tan1bé1n é possível que o piloto deria. Piquei já se casou quatro vezes. Alain

Alain Prost, que está afastado das pistas e francês, desafeto histórico de Senna, tenha Prost já teve outras tantas mulheres (o piloto

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Prost: dose dupla de veneno antes da reconciliação ..""w'' ~

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Senna: solteiro, obstinado e vítima de fofocas ~

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pro,nete voltar na temporada de 1993. se excedido nos comentários rnaldosos francês Jacques Lafitte ficou furioso quando

desmentiu oficiahnente ler afirn1ado que supondo que não serüun publicados pelo sua 1nulher trocou-o por Prost). Senna foi

Senna é ho1nossexual. como consta de jornalista. casado u1na vez há onze anos. com uma

uma entrevista publicada pelo jornal italia- Como esse tipo de 1ofoca não depende de na1noradinha de adolescência, mas a união

no la Repuhbfica. Prost e Senna. nurna con1provação para se propagar. Senna foi durou apenas oito meses e ele não se dispôs

declaração conjunta distribuída durante os punido antes de ter chance de se defender. a repetir a dose. U1n piloto solteiro como u1n

treinos do Grande Prêmio da Hungria. O piloto bntsileiro tem uma atuação brilhan- político solteiro ou um jogador de futebol

anunciaram que irJo processar o jornal. te nas pista<;, mesmo agora que o seu Me solteiro, desde que sej,un também ricos e

"Prost falou exclusivamente sobre sua vida L1ren não rende bem e o campeonato de bem-sucedidos, costumam ser perseguidos

J pessoal e os planos de voltar à Fónnula J. 1992 foi para o vinagre. Como não se por comentários maldosos.

1 Não fez nenhum comentário sobre Senna•·, consegue atingir o piloto, o jeito é atacar o Depois do desmentido da semana passada,

informa a declaração. indivíduo Ayrton Senna. Em março de Senna voltou a se preocupar exclusivamente
A entrevista que Prost agora renega 1988, o tricampeão Nelson Piquer, outro co1n o futuro de sua carreird. E' possível que

pinga veneno. Nela, o fnmcês afinna que o velho inimigo de Senna, inaugurou a tem- abandone a McLaren na próxima te1nporada

piloto Nigel MaoselL da William,;, virtual porada de intrigas. "Senna tem que expli- e assine com a Ferrari, que acaba de contra-

campeão de 1992. é um medíocre. Prost car por que não gost.a de 111ulher'', atacou tar o projetista de seus sonhos: o inglês John

também cont.a (essa parte ele não desmen- Piquet nun1a entrevista. Ayrton, que não Bamard. Prost acert.a os ponteiros com a

tiu) que começou a namorar a princesa precisa explicar nada sobre sua vida priva- WiJJiams. Que ninguém se iluda: a trégua

Stéphanie de Mônaco depois que ela apal- da, posterionnente devolveu no mesmo que Senna e Prost alínhavan1m na semana

pou suas pernas embaixo da mesa de u1n tom: "Piquet que pergunte a sua mulher, passada dura só até a primeira curva em que

restaurante. As doses mais moníferas são Catherine. Ela sabe como eu gosto de as duas comadres se encontrarem. ■

VEJA. 19 DE AGOSTO, 1992 69



·.•...

.. ..





UM NOVO CONCEITO EM JORNAL DE ECONOMIA E NEGÓCIOS.
Os modernos jor11ais de econo1nia e negócios em todo o mu11do têm procurado dar aos seus
leitores u1nét edição si1nples e con1pleta sobre o mercado econômico. O DCI - Diário Comércio &
.Indústria - é o primeiro jor11al especializado do Brasil a adotar esta tendência para um noticiário

abrangente e ao 1nes1no te1npo sintético. ·
MAIS COMPLETO. MAIS PRECISO. MAIS GOSTOSO DE LER.
A info1mação segura, con1pleta e exata nu11ca pode ser descartada, pois o público
toma parte de suas decisões baseado neste noticiário. E isto pode ser feito com objetividade, 11t1ma

leitura gostosa e sem perda de te111po.
UMA PRIMEIRA PÁGINA MAIS COMPLETA.
A primeira pági11a, alé1n de rest1mida, é ágil, rica, com muito mais i11formações e ilustrada co1n

i11dicadores financeiros e econôn1icos.
COLUNA DIÁRIA SOBRE OS BASTIDORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS.
U1n colt1nista eco11ôn1ico be111 relacionado, com trânsito livre e diversificado no mercado, domina

i11fo1111ações·de grande i1nportância. O DCI tem um colu11ista com este perfil, antecipando
not1,Ic1• as que os outros J• ornai• s na- o conteA1n.

UM ECONOMISTA POR DIA, ESCREVENDO SOBRE AS TENDÊNCIAS DO MERCADO.
O DCI abre espaço a diferentes correntes de pensa1nento e interpretações, para ajudar o leitor a

decidir con1 base 11u111a a11álise isenta. Entre estes nomes, Celso Martone (USP), Paulo Rabello de
Castro (FGV - Rio), José Arantes Savazini (USP), Aloísio Mercadante (PUC)
e Luiz Felipe Alencastro (UNICAMP).



DDI

Um golpe no Casal de ... Danielle
alto risco Mitterrand: vida
marketing por um fio
O casal François e
A Corte Suprema da Espa- dos depois da passa-
nha impôs um duro golpe à Danielle Mitterrand, gemdo veículo onde
gigante americana de materi- estavam Daniellee o
al esportivo Nike: a partir do presidente e primei- ministro Bernard
final de julho, a empresa não Kouchner. Os dois
poderá mais fazer publicida- ra-dama da França, saíram ilesos do
atentado, mas ofogo
... sentiu a morte de per- 13 e os pedaços de fer-
ll: ros retorcidos atingi-
~ oa: to nas.últimas sema- ~ ram em cheio o últi-
mo carro da comiti-
...ll. nas. No sábado, 27, va. Sete pessuc:es morreram - entre elas uma
criança de 11 anos - e 19 ficaram feridas. A
' V, François desembar- viagem foi promovida pela Fundação França-
Liberdades, presidida pela primeira-dama. "O
~ cou no aeroporto de ., ... . ataque reforçou nossa solidariedade às famíli-
Sarajevo, capital da as ameaçadas e a esse povo corajoso", disse
;:: ex-república iugos- ' ' . .' Danielle na terça-feira,jácom os pésem terras
a: francesas.
< lava da Bósnia, em meio aos bombardeios dos

~

oD)

D)

sérvios, para tentar abrir caminho parao pouso

, .•d. os aviões com ajuda humanitária na região.
Na manhã da segunda-feira, 6, foi a vez de a

primeira-dama correr risco, enquanto vistori-

ava acampamentos de refugiados curdos no

norte do Iraque. Ao chegar à localidade de

Sulaimânia, um carro-bomba explodiu segun-

de um emblema muito pareci- Telefones
do com a do grupo america-
no. Assim, o investimento de vermelhos

Carl Lewis sem a milhões de dólares para ban- Os dirigentes comunistas
não tiveram dores de cabeça
Nike: prejuízo de •llijlliS car astros como com o caótico sistema telefô-
nico da ex-URSS. Usavam um
US$ 20 milhões Sergei Bubka, sofisticado esquema pararelo
de comunicação oficial, monta-
Michael Jordan

e Carl Lewis fi-
cara, sem retor-

de de seus artigos durante a no. Os advogados da Nike do por Stalin em 1931 e com-

Olimpíada de Barcelona. A acreditam que somente com a posto por satélites, cabos

derrota foi provocada por dois diminuição das vendas du- subterrâneoseondasderádio. A

empresários catalães, que di- rante as competições a em- rede estendia-se por todo im- •

zem ter registrado desde 1932 presa perderá cerca de US$ pério soviético e Europa orien-

o nome Nike na Espanha, além 20 milhões. tal. Mantida por 300 técnicos,

era a prova de falhas: quando

uma das linhas falhava, outra Almeida: nome na Forbes

Terminou na quinta-fei- - •Strasbourg passava automaticamente a mundo. A novidade dessa re-
ra,9, após 11 dias, a funcionar em seu lugar. Agora, lação é o nome do empreiteiro
greve dos caminhonei- Rennes Paris O , esses telefones estão à disposi- Cecílio do Rego Almeida, que
ros franceses. Policiais çãode quem puderpagar50mil possui• um patn♦moAn1• 0 esti• ma-
o ••••~ rublos (US$ 380 no paralelo) do em US$ 1,8 bilhão, forjado
equipadoscom tanques anuaispor umexemplardarede. ao longo de 35 anos pela C.R.
·AMX-30 desmontaram • o .Lyon >'il\ Almeida, empresa sediada em
Outro sócio no Curitiba, Paraná, e que no ano
as 15 barricadas de ca- . ClermotO clube dos bilhões passado assumiu a liderançado
minhões e tratores, ... •• •., dl. Fe!rªnd ..ül . . ranking do setor. O grupo ainda
montadas nas principais O Bordeaux A era dos milionários écoi- reúne uma mineradora no
estradas do norte e no sa do passado. Agora os levan- Amapá e a maior fábrica de
centro do pafs. A greve tamentos sobre as grandes for- explosivos do País, a Britanite.
parou a França e
infernizou a vida de em-
presários, turistas e ve-

ranistas, prejudicou o ... HIii\, • tunas estão à caça dos donos de Além dele, aparecem na lista os

trânsito rodoviário nos ,4Ji .• d l • bilhões de dólares. A edição da empresários brasileiros Sebas-
países vizinhos e expôs revista americana Forbes, que tião Can1argo, Roberto Mari-
a fraqueza do governo . •Tolo~seO ~ ·Marsellle irá para as bancas no próximo nho, Antônio Ermírio de
de François Mitterrand
dia 20, apresenta cinco brasilei- Moraes e a família Andrade
para resolver a crise.
ros entre os 291 bilionários do Gutierrez.
D• Barricadas feitas com ~ Barricadas feitas,
Principais autoplstas º : . : : . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - '
com tratores e vias expressas ~ 59
L------- - - - - - - - -- - - -- - - --J<· caminhões pesados

Pasta Nº

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# epílogo ern 1979, ano da anistia. O cinza da
realidade g~u1hou, no entanto, tons cor-de-
TELEVISAO

rosa. "A minissérie é basica,nente uma his-

Globo não é bobo tória de an1or", afi1ma Braga. Segundo ele,
a política entra corno o elemento que separa
João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), um

Est,·éia Anos rebeldes, a sé,,.ie de Gilbe,,.to Br·aga aluno idealista do Colégio Pedro II que
cujo pano de fu11do é o regime milita,,. acaba na guerrilha, e Maria Lúcia (Malu
Mader), un1a individualista para quem não

vale a pena lutar por ideais.

UNE. CCC. tvtR-8, AI-5, PCdoB, Dops. "Eu era totahnente alienado na juventude", Os livros que serviran1 corno base para
Essas e outras siglas que, à esquerda e à diz Braga. "Jamais poderia escrever sobre o

direita. fi zera1n pa11e da história brasileira tema se1n terao tneu lado alguén1 que conhe- o pano de fundo de Anos rebeldes foram,

nas décadas de 60 e 70 estarão. can1ufladas cesse ben1 a política da época.'' Há 28 anos, principahnente, O que é isso, con1pa11hei-

ou não, na boca das personagens de Anos o futuro autor de novelas de sucesso preferia ro?, de Fen1ando Gabe, ira,, e Os carboná-
rebelcles. idealizada por Gilberto Braga. A os 111usicais do americano Vincent lvlinnelli rios, de AlfredoSirkis. E possível encontrar,

n1inissérie estréia nessa terça-feira, às22h30. aos fihnes do russo Sergei Eisenstein e os aliás. semelhanças entre a trajetória de Sir-

na Rede Globo. Isso n1esn10: aquela contra ron1ances do francês Marcel Proust aos ma- kis, nlilitante da Vanguarda Popular Revo-

aqual todo estudante engajado já gritou que nuaisde gueni lhado argentino CheGuevara. lucionária (VPR), e a do protagonista João

o povo não é bobo e coisas do gênero. Mas, Com esse novo trabalho, Braga fecha Alfredo. Outra personagern inspirada dire-

talvez. não haja razão para espanto. Passa- un,a espécie de trilogia tamente em un1a figura

dos tantos anos. o trinôn1io censura-re- sobre o Brasil. Prin1eiro real é o professor Ave-

pressão-tortura.que seabateu sobre ageração foi a série 1\nos doura- lar (Kadu Molitemo),

subn1etida à ditadura n1ilitar instaurada en1 dos ( 1986). que aborda- decalque de Teresa

1964, transfo1mou-se de equação rnaldita va a década de 50. De- Porciúncula de Mora-

en1 fó1111ula de audiência. Nunca fo,nos tão pois, a novela Vale tudo es, hoje a cineasta Teté

liberais, len1bre-se disso, con1panheiro. (1988), u1n painel sobre Moraes. Noaugedare-

Anos rebeldes terá 20 capítulos ao todo. o País onde in1pera aLei pressão, ela era funcio-

Para escrevê-los, Braga buscou o auxílio de de Gérson. Agora, é a nária do Itamaraty e

Sérgio Marques. seu coetâneo de 46 anos. vez de tratar dos anos de usou, juntamente com

Entre 1964 e 1968. o roteirista foi vice- chun1bo, 1nais precisa- a1nigos , o telex da

presidente do Cenu·o Acadêmico Cândido mente do período que chancelaria brasileira

de Oliveira. urn dos principais pontos de vai de 1964 a 197l. no para transmitir denún-

referênciado 111ovimento estudantil carioca. Rio de Janeiro, com urn Alfredo Sirkis: inspiração cias de abusos cometi-

60 ISTOÉ/1189-15/7/92

duzida, para se verificar até que

ponto vai a estupidez humana:

Censora: S'e eu não estivesse•

de férias, não teriam aprovado

esta sinopse. Porque escra11i•

dão é um tema que não deveria

irao ar.

Galeno: Mas éu,na históriade

amor...

Censora: Não sei, não sei.

Agora a ,noçafugiu. Fugiu e eu

jáfico preocupada, porque da•

qui a pouco você pode querer

,ne vir com quilombos.

Galeno: Mas é a história do

Brasil!

Censora: É uma página que

devia ser arrancada dos com-

pêndios. Olha aq,ui, a ,noça está
perguntando: "Ejusto que ho•

1ne11s seja,11 escravos de outros

ho,nens?" Isto não é bo,n. Pri-

1neiro porque é pergunta e per•

i...0 gunta faz pensar. Pergunta é

.t. pcerarivgaotusora, de,epuen,n.g,onsoodpoogreqruael.cEoms•
g escravatura você pode fazer
i 111uitas ilações. E começar a

ã: comparar. Suponliamos que o

espectador compare o escravo e

dos contra presos políticos a jor- : •. o senhorao operário epatrão dé
nais europeus. Descoberta, foi
torturada. Na minissérie, Avelar • agora...
contará co,n a boa vontade de Cássio e Malu: o guerrilheiro e a indiyidualista
amigos diplomatas para fazer o Os roteiristas da minissérie
mesmo que Tetê e fugir para o
exílio. garantem que a Globo não cen-

Braga tan1bén1 se colocou na surou o trabalho. Mas houve al-
minissérie, na pele de Galeno
(Pedro Cardoso). Ele é o a1nigo guns vetos por parte da VPO.
alienado de João Alfredo e, em-
bora não fosse contra ou a favor, Esta não é a sigla de uma organi-
n1uito pelo contrário, é obrigado
a negociar co1n acensura alibera- zação clandestina sobrevivente,
ção de alguns capítulos da novela
A escrava, de sua lavra. Isso mas da Vice-Presidência de
aconteceu cotn o autor en1 ,nea-
dos da década de70. Os encarre- Operações, o nome pelo qual
gados de fiscalizar a programa-
ção da tevê considerava1n sub- Boni éconhecido nos corredores
versivo o seu folhetÍJn A escrava
Isaura, baseado no romance de da emissora. VPO pediu que fos-
Bernardo Gui,narães, publicado
em 1875, e chegaratn a cortar sem reescritos quatro capítulos e .
diversas passagens. U,n dos diá-
logos que Braga 1nanteve com suprimidas duas cenas: uma na
uma censora é u,n dos pontos
altos de Anos rebeldes. "Ela fez a qual um soldado passava o cas-
gentileza de 1ne entregar a cena
pronta. Façoquestãode dizerisso, setete pelas pernas de Maria Lú-
porque .senão as pessoas podem
começar a achar que eu realmen- cia e outra em que se mostrava
te escrevo bern'', diverte-se o au-
tor. Aconversa merece ser repro- uma reunião de esquerdistas. "O

ISTOÉ/ 1189-15/7/92 Boni achou que os quatro capítu-

los estavam q1açantes para o te-

lespectador. Nós túmamos acen-

tuado,detnais as questões políti-

cas em detrimento da trama", diz

Marques. O. detalhe curioso é

que partiu de VPO a detennina-

ção de que se incluísse na minis-

série o sequestro deumembaixa-

dor estrangeiro, unia prática dos

gruposguenilheirosqueatuavam '

contra a ditadura.

"Eu não tive nenhuma cena
!• ,

d9cument.il censurada parcial ou

tQ, talme, nte", afinna o cineasta
Sflvio Tendler, de .42 anos, dire-

••

61

TELEYJSA• O

Dênis Carvalho (acima) dirige a
sua ex-mulher, Bete Mendes (ao
lado): por intermédio da atriz ele
soube que existia repressão

tor de Os anos JK e Jc1ngo. Ele é o respon- apressa en1 dizer que "usamos o máxin10 de Cássio Gabus Mendes", diz ele. A atriz faz

sável pelos painéis históricos, clipes com ternura possível com as personagens de di- parte do elenco de Anos rebeldes (é Car-

duração de 30 segundos a u1n minuto e reita. Não defendemos nenhum ponto de me1n, mãe de Maria Lúcia) e chorou a cada

meio que, e,n conjunto, consomem 25 vista". Logo em seguida, acrescenta: "Mas, take. Carvalho revela que, iniciadas as gra-

minutos dos 20capítulos. Tendlerexplica é claro, atacamos a ditadura." Alguém, quem vações, ele reuniu, em sua casa, os jovens

que as restrições sofridas foran1 de ordem sabe Marques, precisa explicar ao autor que atores em tomo de Bete. "Ela narrou tudo o

legal. Nem todas as personalidades dos isso significa defender um ponto de vista. que viveu, nos mínimos detalhes. No final,

filmes e vídeos de época permitira1n que todos choravam. Precisava ver os olhinhos

eles fosse1n veiculados na 1ninissérie. O Dênis Carvalho, o diretor de Anos re- deles", lembra o diretor.

cantor João Gilberto é, por exen1plo, uma belcles, acredita que este é o trabalho mais Alguns dos atores que se debulharam em

dessas pessoas. U1na cena do clipe do importante de sua carreira. Em 1964, ano do lágrimas ao ouvir os "causas" de Bete

primeiro capítulo e1n que o arauto da golpe, tinha 17 anos e fazia dublagem para a Mendes tiveram a oportunidade de se sentir

Bossa Nova aparecia teve de ser retirada série Rintintin. A política não ocupava um testemunhas oculares da história graças a

porque a quantia pedida por ele era alta lugar.especial na sua vida - ele to1nou co- un1 artifício técnico. Ceitascenas de passeata

demais. nhecimento da situação do .País somente en1 foram fihnadas em 16 milímetros e preto e

Foi Tendler que1n tomou as dores da 1969, quando começou a namorar a atriz branco, para serem agregadas a trechos de

Globo quando,no iníciodejunJ10,Frei Betto Bete Mendes, hoje com 43 anos, que atuava documentários. O efeito é bonito e as

escreveu um artigo para o .Jornal do Brasil na novela Beto Rockfeller, da TV Tupi. Ela personagens ficcionais parecem invadir a

chamado 1-/istória velada. Nele, o militante era ativista do grupo Var-Palmares e, depois realidade do passado. Um outro instante que

do PT dizia que a censura interna da Globo que os dois se casaran1, Bete sumiu por seis deve chamar a atenção dos nostálgicos é o

es.tava fazendo corn que se omitisse,n, de meses. Carvalho só veio a saber que sua ex- que mostrará a filha da cantora Nara Leão,

Anos reheldes, os "crimes cometidos por mulher, havia sido presa no final desse perí- Isabel, interpretando a sua mãe num shov,1
militares e policiais brasileiros contra os odo. "Eemocionante dirigiressa minissérie. do Teatro Opinião. Aos 21 anos, a jovetn é

direitos humanos". O cineasta rebateu de Vejo a figura de Bete na .personagem de um xerox da musa da Bossa Nova. A recons-

bate-pronto, no dia seguinte. tituição de época gerou, no

"Parece que algum anjo an- entanto, equívocos. Detalhes

dou fazendo revelações a Frei vêm à tona a todo n1omento

Betto, proporcionando-lhe o e algumas vezes beiram a

privilégio de assistir a cenas saturação. Produtos, perso-

em processo de gravação", nalidades, obras e lugares de

escreveu Tendler. quase 30 anos atrás· são

Todos os envolvidos na constantemente citados e

produção da minissérie afir- u1n único diálogo pode

mam que eventuais cortes conter referências ao Tea-
ideológicos não passan1 de ' • tro Oficina, ao artista An-

invenção. Ninguém jura, no \ ..l.l . ..'. tônio Dias, à galeria Rele-
entanto, que a liberdade vá < vo e à Maison de France
~-~~-~ (dois points da juventude
i •perdurar incólume depois - ,J!i;,i ' .

que a série entrar no ar. Tudo ~ intelectualizada do Rio dos

depende de surgirem ou não ~ anos 60). Até os integran-

pressões sobre a e1nissora. tes da chan1ada geração 68 ·

Braga, em todo caso, se Gilberto Braga e Sérgio Marques: ternura com a direita vão achar un1 exagero. e

62 ISTOÉ/1189-15/7Í92



Oon1in go, 25 dr jul ho de 1999 A UNIÃO .ESPECIAL T 11

DOCUMENTO ESPECIAL Côtriô .foi ã t.;:; •'•
·.•. .·tra~Iriáti~â?.:;

·•ge~ta~ãô•<1~:Ai:s
. ./ .· ·:::

Voltamos, porém, à rotina da
quarta-feira, 27. Depois de re
ceber os chefes do Gabinete
Civil, Rondon Pacheco, do Gabine-

te Militar, general Jaime Portela, e

do Serviço NacipnaJ de lnfonna-

ções, general Carlos Alberto Fon-

toura, o presidente despachara corn

Carlos Chagas escreve: • o ministro do Planejamento, Hélio
Beltrão, e com o ministro da Agri -
Bastidores de um drama cultura, Ivo Arzua. Por voltadas 17
!)oras, recebia o governadorde Goi-
acontecido há 30 anos (1)
ás, Otávio Laje. Conversavam so- .--:-:
á tri nta anos o país vivi a tun de seus rnais cruéis dran1as políti-
bre a política do estado quando o
cos. con1 a doença do presidente Costa e Silva. Faltava uma
sernana para o Congresso ser reaberto, depois de meses de governador notou algo estranho.
r,-cesso forçado e de dita dura declarada. Reunidos a partir de
7 de sctcrnbro, dep utados e senadores receberiarn uni anteprojeto de Pareceu, lhe que o presidente, de ..
nova Consti luiçào onde o Ato lnsti lucional núrnero 5 seria considerado
extinto. repente, 1;1ão atinava para o que U1e
O jornalista Carlos Chag.;is, então editor político de O Globo, havi a
assun1ido três n1cses antes a Secretaria de Imprensa da presidcncia estava 5$do colocado. Durante al-
da República, co111 a função de dívulgar a decisão do presidente Costa
guns segµndos pennaneceu com a
e Silva de não passar à História cor no ditador. Até o últi1110 dia de
visão, a yoz e os movimentos ema
agosto de 1969, infom1ou diariarnente aos principais veículos de con1u-
nicação a respei to das del icadas manobras que previam o reton10 do baçados. Logo retomou ao diálogo,
Brasil ao regirne constitucional.
mas, como estívesse sentado numã .. -·
Impedido ~ p;esidente de continuar governando, e111 vez de assu-
cadeira giratória, na cabeceira da ..,,
1nir_o vice-presidente, que daria continuidade à reconstrução de1no-
longa mesa de despachos, para re- •;
crática, _os três n1inis1ros militares 111andaram prender o prof. Pedro
Aleixo e usurpara111 o governo. Seguiram-se lances ainda mais dra,ná- cuperar-se fez uma volta de 360 ·· ·
ticos, como o seqüestro do en1baixador dos Estados Unidos, o primeiro
desde.o tratado de \Vestfália, ern 1642. Depois, a decisão dos chefes graus em tomo de si mesmo. Cons~ ~-:
núlitares de 1nanter o Al-5, corn o rccn1descimcnto da repressão, das
prisões indiscri111inadas e das cassações de mandatos. Finalmente, a trangido, levou Otávio Laje até a.. .
"eleição'' do gt'f1eral Garrastazu, defensor do arbítrio.
porta de seu gabinete, no terceiro· · -
Carlos Chag.;is a tudo assistiu do lado de dentro e publicou uma
série de 22 reportag<.'fls de página inteira ern O Globo, tambén1 divul- andar do Palácio do Planalto, dan-" · :
g,,das pelo O Estado de São Paulo, reportando o esforço dó velho
marechal crn restabelecer o regi111e constitucional. Ganhou o Prêmio do-lhe um tapinha nas costas.
Esso de Jon1alisrno do ano seguinte, ben1 corno o seu prirneiro proces-
so pela Lei de S1.-guranç.a Nacional. As reportagens forarn a1npliadas, Aquele era o primeiro sinal do· ...
e transfonnadas cn1 livro, os 113 Dias de Angústia, que o goven10
lvlédici 111andou apreender e que apenas dez anos depois foi liberado, que se d~sencadearia nos dias se-
pennanecendo 23 sernanas na lista dos n1ais vendidos.
guintes, o que etn medicina se cha-
O jon1.1lista é hoJc diretor da ;\1anchete cn1 Brasília.
mam os insultos, prenunciadores. ~:

da trombose ou derrame cerebral.....

O governador goiano foi ao

quarto andar e comentou com

Rondon Pacheco "ter aconteci-

do algo um pouco estranho com

o chefe".

No começo da noite, depois

de ter recebido também o con-

sultor-geral da República, Adro-

aldo Mesquita da Costa, o "tio

Adroaldo", o pre'sidente despe-

diu-se dos auxiliares, co,no sem-

pre reunidos em sua ante-sala.

Tinha uma palavra para cada um,

ora infonnando o secretário par-

ticular, seu irmão, general Rio-

grandino, sobre o filme que seria

projetado depois dojantar na sala

de cinema do Alvorada, ora in-

dagando do secretàrio de Im-

prensa.o porquê.de al~un1 notici-

ário dos jornais do dia, que lia pela

n1anhã. Tornou o elevador para a

garagern e embarcou no "Gala-

Naquela tarde de 27 de agosto te Ci vi l, Rondon Pacheco, e o rni- xie" para o Alvorada.
de 1969. quarta-fei ra, o Pa nistro do Planeja111ento, Hélio Bel-
lácio do Planalto retomava :i trão, do lado de dentro, haviarn Ninguén1 poderia supor, rnui-
rotina dos 111últiplos despachos e concluido na véspera, terça-feira,
audi ência do presidente da Repú- 26 de agosto, as sugestões para o to menos ele, ser aquela a última
blica. Nas sen1anas anteriores, anteprojeto de nova Constituição
n1cs1110 scn1 deixar de receber rni- que seria, a 7 de sete1nbro, envia- vez que deixava o Planalto. Jan-
nistros, governadores, autoridades da ao Congresso. No dia de n1ais
e até visitantes, ilustres, coino a urna con1en1oração da Indepen- tou em companhia do ajudantc-de-
cornitiva a111ericana chefiada por dência do Brasil, Câmara e Sena-
Nelson Rockefeller, o rna rechal do serian1 reabertos. Estavam e,n ordens, comandante Peixoto. D.
Costa e Silva havia dedicado a recesso forçado desde 13 de de-
zen1bro do ano anterior, quando o Yolanda havia viajado na véspera
n1aior parte de seu ternpo à co- segundo governo da revolução
optara pelo arbítrio, editando o Ato para o Rio. Dispensou a sessão
nlissão de juristas por ele convo- Institucional número 5 e mergu-
cada ern meados de junho. Ternís- lhando o pais em mais uma noite de cinema, alegando cansaço, e
tocles Cavalcanti, tvligucl Reale, de ditadura.
Carlos Medeiros e Silva, do lado foi dormir. Os últimos dois meses
de fora, e o vice-presidente Pe- A fórntula do anteprojeto
dro .AJeixo, o nlinistro da Justiça, elaborado por juristas de reno- o haviam levado quase à estafa.

Garna e Sih:a, o chefe do Gabine- me era de inspiração de Pedro curvaram-se. Na segunda-feira, Souza Mello). Ele veio me dizer Parecia nússão quase impossível
Aleixo e contara com o apoio de 25, daquela semana que se re- que é contra a revogação do Al- girar ao contrário a roda da His-
Costa e Silva. Serviria, aci,na de velaria. unia das mais trágicas da 5, que não existe,n condições nú- tória, contrapondo-se aos radicais
tudo, para acabar com a AI-5, o crônica republicana, durante cultores do arbítrio, mas tinha con-
símbolo maior da exceção. Ti- unia recepção no Clube do Exér-
nha sido grande e reação da cito, o presidente comentara co,n litares para isso. O Lira (gene- seguido, ou, pelo menos, era o que
rnaioria dos chefes militares, o vice-presidente, apontando
rnas diante da palavra de orde,n para o nlinistro da Aeronáutica, ral Aurélio de Li ra Tavares, n1i - pensava. Quando a n1ulher, por
do chefe, mesmo ressentidos, ao longe: "Olha lá o Márcio (de
nistro do Exército) tambén1 me mais de uma vez, sugeriu e exigiu
guém. Antes que eu expusesse o
problcrna, atalhou: "Já falei com o disse que é contra, mas todos que tirassem uns poucos dias de
Garninha." Traduzindo: eu ia dizer
aele que a i111prensa encontrava-se eles cumpren1 ordens e nós va - descanso, reagiu com finneza,

submetida à censura do ministro da mos acabar co,n o Ato". acentuando que depois do dia 7
de setembro faria tudo o que ela
Justiça, niio proprian1cnte uni de-
·Já estava na . .....,, ...,,.-. . . . , ., . . ~ . . .. ........ . .•.', mocrata. Esta va preparado, com quisesse. Antes, de jeito nenhun1.
hora de .". .. ..:• . • ; , . ··• .:••:•:: lodo o respeito, para pedir a sus-
... .........' ·.... . . .• • ::... pensão daquele absurdo, 111as ele já
.. .... .. se tinha antecipado. tvla11dara aca-
. .... . . .C. • '..•,' CCCC ., . . '. " CCC , ,CCCCC bar coni a pressão sobre osjon1ais, Era preciso revogar a exceção e
·1·evogar a > que, aliás, não tinha detenninado.
exceça,.; o ::: · :·' •• • • >. . •••• • • •· Aquela iniciativa, que afinal deveu-
se apenas a Costa e S_ilva, rendeu-
Es~anhei quando, ao chegar, me forte incompatibilidade com o retomar ao leito constitucional,
nao \ 1 os concorrentes e com niinistro, que por sua vez comen-
panhciros de trabalho, como o cendo a nonnalidade institucional mudar de vida: rnorar ern Brasília, taria "estar o Dr. Chagas distribu- ros e, enquanto pôde, pennancceu porque ele, afinal, é que seria
\ 'ilias Boas Correia, do Estad5o, o passar para o outro lado do muro, indo um noticiário infan1e sobre a
Oya ma Tclles, do Correio da l\1a- arravés do fim do Al-5. ser incompreendido e enfrentar refonna do regin1e"... nos limites constitucionais, entre apontado co,no o responsável ..
nhií, os im1ãos Holanda, Haroldo e À medida que o velho falava
Tarcísio, do Jon1al do Brasil, o Be- obstáculos quase definitivos para Não me arrependo até hoje. março de 1967e dezembro de 1968. rnaior pelo caos institucional.
ri lo Dantas. da Última Hora, entre meus olhos se ian1 arregalando. retornar ao jon1alismo diário, uma Poderia ter dado certo. Aliás, qua- Cedeu à pressão dos extremados
outros. lrnaginei ter confundido o Afinal, cu estava recebendo não se deu, não fosse a in1placável na- que fonnavam a maioria de seu rni- ''Não passarei à História corno
horário e chegado n1ais cedo, mas apenas a ,nanchctc de O Globo do vez tcnninada a função. Apenas ra- tureza das coisas. Porque Costa e nistério, mas em poucos meses in-
espantei-me quando u,n ajud3lltc- dia seguinte, mas de toda a próxi- rissimamente esse caminho tem Silva havia se tomado presidenteda surgiu-se contra o seu pano de fun- n1ais u,n' general sul-americano ·
de-ordens pediu-me para entrar no ma semana. intuitivo, o presidente volta, ainda que às vezes conduza República por força de um movi- do. Tomou a decisão de acabar com que sin1plesmeilte golpeou as ins- ··
iniprovisado gabinete presidencial atalhou: "Mas você não vai publi- ex-secretários de Imprensa ao car- mento militar. Como ministro do o Al-5 e acabaria mesmo, porque, tituições", disse-me o presidente ·
da antiga capital. Ele foi direto ao car nada disso, por enquanto". Mi- go de rninistros de tribunais, dire- Exército foi, na época da sucessão, como comandante cm chefe, de- na última sexta-feira de ,naio da-·"
assunto, dizendo estar disposto a nha decepção ficou flagrante e ele tores de estatais ou os transformem 0 chefe da chamada "linha-dura", tinha autoridade e poder para en- qucle ano, quando n1e chamou ao·;
promover ampla abertura política, explicou que n1e havia chamado em adidos culturais de alguma em- ou seja, da oficialidade n1ais radi- quadrar os subordinados. O diabo,
por conta da História. Afi nal, não porque, naquela tentativa de aber- baixada no exterior. Pedi ao presi- ca] _Votos populares,jamais os teve. e a explicação foi dada depois pelo Palácio Laranjeiras, no Rio, onde·:
tinha chegado à presidência da Re- tura, decidiria dar o n1erecido des~ se encontrava.
pública para promover retroces- canso ao Heráclio Salles, que no- dente o fim de semana para deci- Ofenôn1eno é que, uma vez na che- maior neurologista do país, o Dr.
sos, senão para dar passos adi an- mearia ministro do Tribunal de dir, precisava consultar ,ninha Abraão Ackematlll, é que se o seu Eu era editor político de O
te. Não tivera alternativa, meses Contas do Distrito Federal. Pre- mulher e ouvir a opinião de ami- fia do governo, 1nudou. Imaginou- consciente estava decidido a pro- Globo, acompanhara todos os
atrás, mas agora estava na hora de cisava de uni novo secretário de gos. Ele recomendou que não me se presidente de todos os brasilei- 1nover a abertura política, no seu
revogar a exceção. Convocaria uma Imprensa, um jornalista que fos- apresasse, ,nas que não demoras- inconsciente estabeleceu-se o aconteci'mentos que precederam
comissão de juristas, encomendan- se conhecido pelos políticos, no se muito, o _que significativa que conflito. Como poderia posicio-
do wn texto da nova Constituição qual eles acredilassem quando, tinha pressa. nar-se contra aqueles que o ti- o golpe /'nilitar e levaran1 Castello .
e reabriria o Congresso, restabele- passo a passo, a presidência da nham conduzido ao Palácio do Branco, 'e depois, Costa e Silva ao:.
República diwlgasse infom1ações Voltei ao Laranjeiras na segun- Planalto? A saída foi a precipita-
sobre a volta do país ao regin1e da-feira, corn a decisão, e de lá, sen1 ção da trombose, uma espécie de poder. ~sim como o primeiro, o
constitucional. uma sin1ples n1alcta de mão, já fuga do incenseiente. (
embarquei para Brasília no a\~ão
Se alguém já leyou um soco no É preciso recordar os episódi- segundo 1narechal costumava
estômago, saberá o que senti na- presidencial. Costa e Silva chan1ou-
quele momento. Afinal, tratava-se me, durante o vôo, para uni cafe- os que em 13 de dezembro de 1968 chamar um grupo de jornalistas .
trabalhar para um governo que ha- zi1ú10 na sua cabina. Ponderei es- políticos para conversar, de quan- •
via optado pela ditadura, mesmo tar pronto e rnuito satisfeito em ini-
diante da reviravolta que seria a do em quando, mas desde a edi-·
programada extinção do AI-5. Além ciar a divulgação de notícias sobre ção do AI-5, a 13 de dezembro,
disso, aceitar o convite irnplicaria a abertura, mas acrescentei que
havia utn problema. O presidente que as conversas tinham sido in-
não configurava um home,n de lei- terrompidas. Fiquei satisfeito

turas, mas era esperto conio nin· quando o secretário de lntprensa,

Heráclio Salles, telefonou-me por
volta das I8 horas, a pedido do

tinharn levado o presidente a editar presidente. Ao deixar a redação

o Al-5, clín1ax de n1ais uma crise da Rua lrineu Marinho ainda aler-

artificial, iniciada em agosto com o tei o secretário de redação: ''Não

fútil discurso de um jovem deputa- feche a página política porquecer-

do do MDB o partido de oposição, tamente trarei novidades. O pre-

velhacamente aproveitado pela di- sidente parece que voltou a dialo- 1

reita militar e civil. gar com jornalista".

12 T ESPECIAL A UNIÃO Don1íngo, 25 de julho de 1999
DOCUMENTO ESPECIAL


Carlos Chagas escreve: .~ .✓-- ... :..:-:._i~r.~:~ : ;: .:;'.=::·::~:\-ti.;?·:·

Bastidores de um drama :.i.-~,w~-.-'.• . ~-,:,,., l.:,,; -~~. . : .~,~. ,,, .

acontecid:o há 30 anos (1) -r~ . ~ft~./.t :.1-}t.

IVO ARZUA . ~_!t~, ~- iil½t~:,;r~it~tf_
Márcio l\1orcira A.lves. da tri- da prática de crin1es con1uns, se-
bw1a da Cân1ara. num pro- nadores e deputados só podem ser O ministro da ·•·. -~\~t:J;;,}!t~f
lllllcimnento de três n1inu- processados mediante pem1issão Agricultura foi ·· ..'.~. j~};li?lt:t;~p- ~
testemunha de uma ..
.los, ha\Í a concla111ado o povo a dos con1panheiros. No caso, não ......... ........,. .,.-,.......
das primeiras : l
:···· -_·:··;:\J}~l3t~~~-
manifestações da
trombose do · .:::;::. ;;·_:..lX~n'"$".
presidente
. -.. :;~·

não con1parcccr its ruas para as- se tratava de crin1e comun1, nern

sistir aos desfi les niilitares do sete de crin1e nenhum, 111as de opinião

de setembro. Tan1bén1 apelara expressa da tribuna, para a qual

para as donzelas que não dan- ern hipótese algu111a poderia ha -

çassen1 co111 os jovens cadetes ver pun1çao.

e oficiais. nos bailes co1ne111ora-

tivos da Independência . Tudo A conspiração·
para dc111on stra r, como exortou, estava nas ruas ·.
uni protesto nacional contra o

.regi111e 111ilitar. + •••-••· do paIS' · ·...- •
Tão desirnportantes ha,~a111

sido aquelas p:ila\1as que a lide- O,ºZezinho, como era conheci-
rança da Arena, o partido do go- o presidente da Câ1nara,
ven10, 11e111 se dera ao trabalho de também integrava a trama,
responder. Por uma dessas rnági- porque niarcou o dia 12 de dezem-
cas tão frequentes ern ten1pos de bro para a sessão. Nas vésperas,
sufoco, 48 horas depois o discur-

so do l'vlarcito estava mimeogra- com jornalistas de todo o pais e

fado e distribuído por todos os do e>-.'terior reurudos em Brasília,

quartéis e estabelecin1e!ltos cas- o que mais se ou\~a de generais e
trenses do território nacional, chefes indagados era "que nada

com uma introdução que exor- aconteceria caso a Câmara ne-

tava os n1ilitares "a reagir con- gasse licença para processar o de-

tra aquela agressão do Congres- putado carioca". l\1entira pura, já

so às Forças Armadas''. que a conspiração estava na rua

A son1bra da exceção avan- e os próprios conspiradores tra- dava, isto sin1, do guarda da es-

çava inexoraveln1ente . Os três baU1ava1n para a negativa da li- quina. Explicou que em todos os
regírnes autoritários o perigo de
1ni1iistros n1ilitares não eran1 obri- cença - resultado óbvio e n1ais do :i}>- i abusos aun1enta va em cascata;
gados a conhecer a Constituição que previsível, diante da Consti- privilegiando o agente menos in1-
en1 detalhes. ,nas. se ti11han1 as- tuição. A própria Arena, quase ' ponante, aqueles que efetiva1nen-
sessores juridicos, eles estavan1 de ern peso, votou contra o pedido de te ,nandavam.
fêrias. Porque o general Lira Ta- licença. No final da sessão, alguns ~-~
vares, do Exército. o alrnirante excessos por parte da esquerda .-·lS'.-.-.~":-,:,,~p. ;_);~~- Antes da decisão final, que
Augusto Raden1aker, da l\•larinha, leviana, con1 as galerias cantando poderia ter e,~tado, mas não evi-
e o brigadeiro l\·lárcio de Souza o Hino Nacional e n1uita gente gri- tou, Costa e Silva ainda pediu aos
l'vlello. da Aeronáutica. dirigiarn- tando que a ditadura tinha acaba- presentes para meditarem outra
se por escrito ao rnirustro da Jus- do naquele dia. l\1al sabian1 que vez nas razões do dr. Pedro. De-
tiça, Gama e Silva, pedindo que o ela corneçaria no dia seguinte. tenninou a um auxiliar que voltas-
se a fita onde estava sendo gra-
deputado fosse processado por .. . vado e colocasse nos n1icrofones
a fala do vice-presidente. Poucos
ofensa à honra das Forças An11a- Só Pe.dro'Aleixo" prestara,n atenção, e a conseqü-
.. .. ência da postura desabri~ do ve-
-das. hmorararn o instituto consti- ' ·<> lho professor de democracia iria
defendeu a trazer-lhe dissabores, menos de
tucional da in1wiidade parla111en- .'.. .' - ' ''' um ano depois.
tar, que dá a u111 deputado ou se-
nador o direito de dizer o que qui- legalidade.::"; Ainda naqueles dias, suas
pre,1sões viriam a se confirmar,
ser, pelos 111.icrofones do plenário Era o que radicais da direita ha- corno Brasil posto de pernas para
e das co111issões, sen1 que possa viam planejado: dar a impres- o ar após a divulgação do AI-5.
ser processado pelo que disse. são de estar o Congresso in- Seguira,n-se centenas de cassa-
Adotada desde a Revolução Fran- teiro contra o regime. Levanta- ções de ,nandatos e suspensões
cesa no inundo dernocràtico, a in1u- ran1-se os_chefes 111ilitares do pais de direitos políticos, atingindo o
nidade. 111esn10 pemiitindo exces- inteiro, leva'ndo o·prcsidente Cos- MDB em seu cerne. Submeteu-
sos, significa a garantia da liberda- ta e Silva, dia 13, no Rio, a reurur
de congressual. porque se alguén1 o Conselho de Segurança Nacio- se í1 imprensa a férrea censura.
puder ser processado e punido por nal. Todos puderam expriniir sua
opiruões ou denúncias, hesitará opirl.ião, e todos, rnenos u,n, vota- As prisões indiscrim,inadas se
antes de cun,pri r o seu dever. ram pela quebra da legalidade suéedera1n. Bastava ser estudan-
constitucional e a edição de mais te ou jornalista para tomar-se
l\1esmo sem ser wn constitu- uni ato revolucionário, que ganha- suspeito. O Congresso foi posto
cionalista, o professor Gania e Sil- ria o número cinco. Respondiam en1 recesso por tempo indetenni-
va deveria ter e>-.-plicado aos cole- às anteriores passeatàs "estudan- nado, passando o Executivo ale-
gas fardados ser irnpossív.el abri r tis de protesto contra o governo gislar corno se Legislativo fosse.
un1 processo contra o irreverente niilitar. Alguns chegaran1 a se n1a- Deputados e senadores, manda-
deputado, n1as, como ta111bé111 era rufestar como os antigos césares dos para casa, só recebe(iarn a
uni radical, oficiou ao procurador- no Coliseu, como o pqlegar para parte fixa de seus subsídios. Câ-
geral da República para oferecer baixo. mara de Vereadores e Assent-
denúncia contra t\1árcio l'vloreira bléias Legislativas foran1 fecha-
Alves. O professor Henrique Fon- Apenas o ~ce-presidente da das . O habeas-corpus foi sus-·
seca de Araújo, da rnesma fonna, República, o pri111eiro à falar, in- penso e compulsoria,nente apo-
deveria ter n1andado tudo para o surgiu-se contra a perspectiva da sentados alguns ,ninistros do Su-
arquivo, 111as se livrou da batata exceção. Pedro Aleixo reco111en- pre1110 Tribunal -Federal, entre
quente encarninhando-a ao Supre- dou o re111édio constitucional para eles Evandro Lins e Silva. Cada
mo Tribw1al Federal, foro pri,~le- crises politicas, o estado de sítio. general. coronel, major, capitão e
giado dos parlarnentares. Erarn as atétenentejulgava-se detentor de
razões do lobo que progredia111, asDisse, sobre ditaduras, ser fá- uma parcela do poder revolucio-
porque certarnente sentindo de nário, podendo aplicar a exceção,
onde soprava o vento, o miriistro ci I saber con10 con1eçava111, mas pressionar o poder civil e intimi-
Aliomar Baleeiro. relator do pro- irnpossivel prever con10 tennina- dar a sociedade. Tudo isso acon-
cesso, en1 vez de indeferi-lo. diri- rian1 . Foi interrornpido pelo niinis- tecendo ern dezembro e nos me-
giu-se ao presidente da Cân1ara. tro da Justiça, que ,naliciosan1en- ses seguintes levaria Costa e Sil-
José Bonifücio, para que marcas- te indagou se estava desconfian-
se data para sessão especial, onde do das n1ãos honradas do presi- va à decisão de dar uni basta no
o plenário daria ou não licença dente Costa e Silva, a que111 ca-
para o processo. beria aplicar o Al-5, por sinal com arbítrio, porque afinal, n1esnio
um esboço já redigido por ele e sen1 saber da maioria das arbi-
Ora, a canhestra confusão pelos n1inistros rnilitares. "Das trariedades praticadas, era ele o
continuava. Porque a licroça exis- mãos honradas do presidente, ja- responsável maior.
te para os casos de in1unidade, 111ais du\~dei ou duvidarei ", res-
não de inviolabilidade. Acusados pondeu, acrescentando que duvi-

Don1ingo, Ol de agosto de 1999 A UNIÃO CIDADES 9

az intercâm 1• 0 no eT x1e co

Jovem realiza expe,,.iência de um ano promovida pelo Rotary Intern.acional

Damião Lucena eia pode ser classificada em \':Í.• intercan1bista está ligado dire-
rios aspectos, a partir do conhe- t.ameutc a divulgação do seu
Sucurs.a I de P.1tos cimento das culturas, até o apri- pais de origem. Neste aspecto
moramento do cidadão. familia,
CIDA.DE de Patos passou geraln1e11tc de rotarianos, para o enfoque também atinge a ge-
a integrar o rol do intercâm- uma convivência nos moldes fa- ografia, história e a cultura de
bio prorno\ido entre jovens miliar os jovens que conseguem urn modo geral. Apenas dois
· tra\·és do Rotary· lntema- ingressar no referido pr.ojcto, que non1cs representaram a região
cion.al. O primeiro interactíano ser- apresenta como requisito princi- sertanc1.a, os quai.s consegu.iram
tanejo a participar do referido pro- pal urna triagem entre muitos con- a primeira colocação entre os
g rama foi o presidente-fundador correntes.
da unidade ínteractiaaa Norte, Ni- que participaram dos testes re-
gini Abílio Oliveira, que embarcou A entrevista de seleção
corn destino ao Méx.ico cn1 20 de consiste ern explorar conheci- alizados na cidade de Campina
mentos gerais, principaln1ente Grande. Alé1n de Nigini que foi,
agosto de 1998 e chegou recen- relacionados ao Brasil, já que ao tvléxico, está sendo aguar-
urna das rnissões principais do dada a vinda de Sérvio Túlio
temente à Patos. Calixto, que representa o Bra-
Em linhas gerais a expcriên- sil nos Estados Unidos.

Intercambista satisfeito com a integração

A partir de depoimentos leva-

dos a efeito nos Clubes de Rota-

i)', pode-se deduzir a satisfação do Grupo de intercambistas no distrito mexicano, onde Nigini aparece com a bandeira brasileira
intercambista, relacionadaprinci-

palmente à experiência de vida

longe de sua terra natal. Como não A expectativa vivida pelo inlteractiano
poderia deixar de ser, muitos fo-

ram os registros de satisfação,

mas existindo também, algumas di- Na verdadeexistiu, o que pode passaria a absolvê-lo, a não ser ravam no País buscado. A primei-

ficuldades, o que já era de se es- ser classificado até mesmo de te- mera teoria de informações distan- ra familia a receber o intcree,mbis-

perar. mor, levando-se em consideração tes. Conta Nigini que um dos trun- ta foi Veja Abascal, inclusive com

A idéia de participar deste a ell.-pectativa vivida, uma vez que fos na chegada ao aeroporto está uni dos seus integrantes na cidade

programa nasceu a partir do tra- sequer havia o conhecimento das relacionado ao uniforme, que ser- de Caruaru-Pemambuco, na n1es-
balho desenvolvido como interac- pessoas que integram a familia que ve de roteiro para os que o espe- ma condição do brasileiro.

tiano e conseqüentemente os con-

tatos mantidos com outros inter- Nigini com intercambista francês ainda em terras mexicanas O processo de
cambistas. A partir de então pas- adaptação
sou a existir uma luta conjunta en- O apoio dos pais também foi ridos na familia rotária contribuiu
tre os companheiros do Clube em

defesa de uma vaga para a cida- de fundamental importância e o para o convencimento e conse-

de de Patos. fato dos mesmos já estarem inse- qüentemente o apoio necessário. Para o representante patoense

o primeiro momento foi de muitas

Viagem pode fazer parte de projeto surpresas, relacionadas principal-
mente aos costumes, estruturas, lín-
guas, etc. A receptividade, até mes-

Um dos propósitos do inter- Ainda no contato com a re- futuro. Assinala, no entanto, como mo na condição de latino-america- .'
cambista Niginí, inclusivejátrazen- no foi o primeiro passo para o que
portagem o intercambista Nigini principal meta a seguir no presen- pode ser classificado de adaptação.
do consigo o aval da precursora, deixou claro que a satisfação com Muitoconforto, inclusive, em quarto
te, o .ingresso na Universidade,
est4 i:.el!lciçn~dsi.a i11wla11taç~o de os me:s:;,c'a.nos, os '_qu'a1J< ", pºa'ssçu na.'sepárâdo:·durâiite' os 'quatro m;scs
um projeto voltado para a mulher ~i-!.~'~o,nbO ~stá diidc!on:i.do ttS
inserida na terceira idade, a partir tambén1 a considerar comó ver- éiií 'que residiu 'primeira unidirde
dadeiros irmãos, será uma cons- C1enc1.rs da Computaçao e, para-
habitacional, situada na localidade
lelo a isso, sequenciar sua carrei-

da menopausa. O objetivo do Ro- tante e não esconde a vontade de ra de serviços sociais dentro da San Luis Potosí, no Estado de mes-

tary, nesse sentido é incentivar voltar a visitar o referido País no família rotária. mo nome, às 3h e meia da cidade

esse ser para os cuidados neces- r----------------------, do México, visitada no segundo dia Desembarque do jovem patoense no aeroporto de Recife
sanos à uma convivência mais sau- após a sua chegada.
dável, diminuindo consideravel- A com.unicação do interactiano A terceira e última família Gra- tal da alimentação no mill10. A con-
mente o índice de mortalidade. com os seits conterrâneos A segunda família à abrigar o geda Foyo recebeu o intercambis- vivência com relação a língua, so-
Outro ponto também insere a bus- interactiano foi Zarur Carrillo, des- ta em sua companhia por 2 meses mente deixou Nigini à vontade, a
ca incessante dos médicos, para No aspecto da comunicação, havia o contato periódico com cendente de libanês, onde fixou-se e meio, concluindo o período des- partir do quarto mês de conYivên-
que dêcnt a essas pessoas um seu país e integrantes da familia rotária. Contudo levando-se em durante dois meses e meio e em se- tinado a referida experiência. Ain- cia. Não apenas ·os tenuos, n1as
melhor tratamento, em termos de consideração as altas taxas, principalmente da telefonia interna- guida ficou um mês e meio como
assistência e informação. A idéia cional, os limites eram sempre respeitados. O intercambista, além andarilho, cumprindo uma vasta da dentro dos novos costumes, também o sotaque j á era domina-
da senhora Con1pean, Dama da das despesas residenciais bancadas pela família que o recebe, agenda de visitas, para o conheci- não apenas conhecidos, mas cer- do, tanto que mesmo após sua
Casa da Amizade do Clube recep- mento mais aprofundado da cultura tamente inseridos, cita com difi- chegada, algumas confusões pas-
tor, já conseguiu o aval do Rotar)• tem direito, no mínimo, a 50 dólares mensais, doados pelo Rota- daquele País. As pesquisas giraram culdade o grande consumo de tem- sam a ser registradas, com rela-
Internacional e deverá ser divulga- em tomo da história, numa retros- peros picantes e a b'ase fundamen- ção ao Português e Espanhol.
ry receptor. Além dos telefonemas, bancados juntamente com pectiva desde Maias e Astecas até a
da no mundo inteiro, tendo como outras despesas particulares, pela familia, havia como meio de cultura atual de praias como Can
pioneirismo o município de Patos, comunicação carta, Internet, etc. Cún e Acapulco. Levando-se em
que certamente partirá na frente consideração o lado leste esteve vi-
com relação ao Brasil. L----------------------J sitando desde a fronteira com os Es-
tados Unidos (cidade de Matamo-
O estudo e os eventos naquele país ros), até a ponta culnúnantedo Pais,
precisamente no mar do Caribe.

Levando-se em consideração . lTroca de flâmula com Chairman do Distrito 4.130
o fato de ter concluído o segundo
grau, Nigini participou das ativi-
dades letivas apenas con10 tefor-
ço, nurna espécie de revisão, já
que os participantes do referido
programa obedecem essa exigên-
cia do Rotary, relacionada a se-
qüência do processo educacional.
O Instituto Cervantes, foi a uni-
dade de Ensino destinada ao 1nes-
mo, onde apenas ele provinha de
outro país.

Nesse particular aspecto tam·

bém existiu dificuldade com rela-

ção a pane escrita, o que já havia
superado no passar dos dias. As
ati,idades na escola aconteciam

das 07:00 às 14:00 horas e o fuso
com relação a sua terra natal dífu-

renciava em duas horas a menos.
O nome emdestaque participou de
vários eventos, principalmente pro-

n1ovidos pelo Rotai)•, com a parti-
cipação e conseqüentemente o
convívio entreos interc:qmbistas de
várias panes do mundd, A vida re-
ligiosa e conseqüentementeas par-
ticipações foram idênticas a vivên-
cia no Brasil já que o catolicismo
prevalece naquele Pais, valendo
lembrar que México e a Nação
Brasileira são os dois países mais
católicos do mundo.

Pasta Nº CQJ. Ft.~ -·-----

- 10••'•• • • • Domingo, 01 de agosto de 1999

•-· DOCU-MENTO E.SPECIAL - lJ A UNIÃO fotos: Jádcr Neves

Çarlos Chagas escreve

Bastidores de

um drama acontecido
,.

há 30 anos - II

endo sido acon1etido do prin1eiro insulto prenunciador da trom-

bose cerebral na tarde de quana-fcira, 27 de agosto de 1969, '

quando despachava com o governador de Goiás Otávio Laje, o :t

presiden1c Costa e Silva passou u111a noite mais ou menos tranqüi-

la, no Pal:icio da Alvorada. Intranqüilo estava seu médico parti-

cu lar, Hélcio Si111ões Gon1es, que por toda a madrugada não se

afastou da ante-saio. d~ quarto presidencial. Mesmo jovem, mas

competente, percebeu f: u1to bcn1 o que se desenrolava.
••• Pela manhã bcn1 ce o, já de barba feita, banho tornado, paletó

' e gravata, o presidente ebio. café quando o médico entrou de sola:
"O senhor precisa descansar imediatamente, não vai agüentar esse

ritmo. Acho que não deve ir amanhã para o Rio".

A resposta foi curta, mais de um marechal para um capitão do

que de um paciente para o seu médico: "já lhe disse que só depois

do dia 8. A próxima semana será a mais importante do meu gover-

no. Darci um grande presente à nação. Depois, faço o que vocês

quiserem. Posso ir para Caldas Novas com a Yolanda".

Apesar das resistências eiq,licitas dos três ministros militares e de

um monte de generais, ahnirantes e brigadeiros, para não làlar de co-

ronéis, Costa e Silva mostrava-se disposto, ou melhor, estava detenni-

nado a reabrir o Congresso, a partir de 7 de setembro. Enviaria imedi-

atan1ente o anteprojeto de nova Constituição extinguindo o Ato lnstitu·

cional número 5, instrumento que a 13 de dezembro do ano anterior

mergulhara o Brasil na mais profunda ditadura.

O médico sugeriu que o presidente fizesse uns exames naquela
• manhã. Disse-lhe que prccisavarn investigar o que acontecera na

véspera. Propôs, até, a vinda de um neurologista, do Rio, mas a

.- resposta foi igualmente de um comandante para um comandado.

"Estou com alguma coisa no coração, mas, se você quiser, marque •
um neurologista para an1anhã, no Rio. Vou viajar".

Providenciou-se um aparelho de eletrocardiograma. O resuhado fui

bom. Nada no coração. Enquanto o presidente despachava alguns pro-

cessos derotina, o médico aproveitou a folga. Foi ao Palácio do Planalto,

procurando seu superior hierárquico, o general Jaime Portella, chefu do

Gabinete Militar: "O hon1ern está corn problemas. Não parece nada

bem e só o senhor podera convencê-lo a não vir agora de tarde ao

Planalto. Precisa fuzer exan1es, mas decidiu que só os furá no Rio".

Portella seguiu para a residência oficial do presidente e só

.. conseguiu meia vitória. Costa e Silva admitiu não seguir para o

Tentativa desesperada de revogar o Al-5Planalto aquela tarde, mas despacharia, no Alvorada, o expedien-
te do dia. Ao n1édico, iria se queixar: "Não estou satisfeito com o

exa1ne do coração. Eu, sempre chamo os outros de pessimistas, • •
O presidente· guma" . Deita-se e retoma um laçonagravata enãoconsegue.
hoje sou a própria encarnação do pessimismo".

--:-· .- ~ece~-º ias_trucões para ~xo,li~ar í!~S. i<.>.Dlllli~\,,c;!!-Ó_gsos.,Q~~aU:,;,;.;: "'Cam·frãleia-e....,.,._ - ~ ~?Il.Q.incanst:in.te.., · t --...,. ~ 0 .m.édico.insiste,::,P,r~s.is)entf!, o. ..:,
o médico ac{)roa:oc oman- senhor não prefere ficar em Bra-
senc1a do.presidente em seu gabinete ~e trabalho. D1z-~e o ge~eral ·, - ·'
perde aPortella tratar-se.de wna forte gi:ipe. Nao tenho porque nao_acreditar,
VOZ dante Peixoto, que dormia num sília? Vamos parao Hospital das
o tempo em Bras1ha estava dos piores. Sem chuva desde maio, em fins , ,,
de agosto a capital transformara-se num imenso campo de poeira ba- quarto ao lado. ~edequevacha: Forças Armadas _- ,

tido pela Yentania freqüente, com índices de umidade relativa do ar Por volta das 3 horas da maro generalJrumePortella. Sera A resposta foi um gesto ns-

iguais aos do deserto do Saara. Naquele dia, 14 por cento... madrugada de sexta-feira o Dr. avisado também o irmão do pre- pido com a mão esquerda, como

Costa e Silvajanto~ normalmente<:°'."? aju~~-de-or~ns e o rn~- Hélcio tem um sobressalto. Co- sidente, general Riograndino, seu se estivesse sequeixando de uma

coinrocular. Logo depois, enquanto assIStl_a a telev,sao, ~ovo msulto, maior chilando numa poltrona próxi- secretário particular. O chefe do impertinência. A mão direita às
emais agudo. Perde a voz por quase um mmuto, quase naoconsegue mover d d •d , . .. ., -
obraço direito. Volta-se para o Dr. Hélio e, mais pela expressão fucial, pede mo a cama o prest ente, ve Ga_bmete_Milttarc~ega pouC? de- vezes ~~c1ona, as vezes nao.

explicações. É inedicado na hora, com uma injeção de anticoagulante, para que a luz da cabeceira foi ace• pots, num automovel em dispa- Helcto leva o general Porte-

tomar O sangue n1ais leYe. Volta ao normal .O ine\-itáve~ porém, não pode sa e o paciente ilustre, de pé, rada. Está constatado o distúr- lia a um canto e desabafa. Fala
ser e,itado. Deita-se para repousar, atende a um telefonema de D. Yolanda, olha-o espantado. Não conse- bio neurológico-circulatório. que os sintomas da trombose se

mas já n.io fü.la direito. A voz enrolada dá à mulher, no Rio, um quadro gue mais falar e busca urna ex- Acordado, o presidente conse- acentuaram, o mais provável é

• aainntaigrgaocadpoitqaul.eOabcocnecteacdeo. lp\1elaas onbãroigdaeçsãisotededeevstiiacjaarr Onomdaial asoegmuáin1tceimpoarqauae plicação. Caminha, cambalean- gue vest1·I-se, aJ·udado peIos ou- que em poucas horas a doença
puder, de furma a reabrir O Congresso e e:-..1inguir O AI-5 enquanto é tempo. te, até a escrivaninha, e conse- tros. Ao olhar no espelho da pia, se caracterizeporinteiro. Ir para
Indaga do niooioo se está sendo vítima de um derrame. A resposta é propo• gue escrever numa folha de pa- constata a face direita contraída, o Rio seráuma temeridade, dada
•••••• isto é, paralisada. Tenta dar o a descompensação e1n vôo, mes-

>.::··~-\::'· <~:.:~.:·:,..~,::-*;:.~~~~-i~= ·· :.•-, •>( ~,-=:....füt{IIJ:.~J~)Jf~~fifi~i~ii~~i~)j;t~~(t~~~:~: ..._~•••• mo sendo o avião presidencial,
pressun·zado. Sobre o chefie do
,:''
Gab1' neteMil1'tar desabam as ,~.es-
1..,,.,· .' "·~ ,·t'' .:'(,• ponsabiJidades. O presidente
sit..'U!Tle:nte confus..'l. A noite será a pior possível. pel: "Não houve regressão ai- querviaiar.NoRioestãoosme-

. ·· " · .. · .,_~..--·"""¾ · ....., .. , ,.. ··.. · ·¼,,.~...."'" ·• ;J

Jhores neurologistas do país, as-
,
, t: ......_.x..;....:,.~-,.:;,."'.(.,·.,'..:.),.,,....~,. ~·. .. ·· · " ·.: ··~.- . . . .,.• ~==~-~-:w. ..~ ~-,~w~,i,>;;i,,, , -~-.-,;*...!!M•--·:-•f•••,.. simcomoosequipamentosmé- ta e Silva. Pede segredo absolu-
• • ,M·,,..--,'-'."~-·· , ÷·• ·:•, • :• ;•.,._._"•,,' ,•... .i;:~·1" _,~..1 .t•,•'• ,•.•,"""~='~.~.,,.::,e.,:.~"-,r ·:~.1~t~,~.~.'"~~,•~-'~"'@~,•~~~:s"'~¾>...~.,~.'~.Jr."~_ut:t~.'~t·,':··,~«,-,,:,.:;,-t'~;;.,);~·::~·.::~:".:~::~"•'.:.''-:·•;i::·~X-y~:~.,l:,;·r::-•~~-~1,~~:~-~:.-x.•:,\k.:·m;:~,~::·,s~J-Gwf~.~.~-~.·,:. ,i-i"~t•~~,~~~;t~•r'.~kwI...«4v.f~.rf::~f:;~,zi<©,m~.-',mw.ft-•.F~u"~.-~~~~.r¾.,'~}I~~-(':-~,;:<:s'1•--,~>-f,-,~~..~;~X,r»&,:...~Y:..';..,~t":,•~-«=;••~,~~"+'.;::;-.::.,:..::=.,-..,?t..;,,.>:~.:,:=,-i~,--..~~:_:-(,.::,~,:~~·.,L.~d(:.•..::'\.t:.~~.3'.-,.W..--.;X::~-•;;-:,~g,-"t:.,::•=:.":/,-:;-~""-,".:.:..•,.-";·;·.·../-t...'-".:2··~,;~:\,.,.•.f,·;.0..·.'.,.,.,·.,..,:--:·::: to sobre o estado de saúde "do
~·---.-"..- · ··•.· ·~~·...,~, · nosso amigo comum''. Também
·:-.. · . :.··.." --= · h~._::- portelefone, solicita ao ministro
ii..~~::; . da Aeronáutica, Márcio de Sou-
,: ,;,:·' "':, -,~~.: ~~li:: J~:~t!l!lJ:7/~iff~?-:rt':é')!1: Os m1·n·1stros do• 'i, ,<'';,~J; t;:}\t za e .tv1ello, que cancele qualquer
:: i:.. ~-;..•.,....
... ~.,...- ...., ·. '"'>V-·· ,...r.~:

~ ' .'.li><~'·" , · /~tf:)t\;.;:;~'._, X • \;,,•• <'.:,,( I -:_,,-~
~\{ti1ft".'s-l-~ ~~v
..,..,, s.:~ -~~ .;=-~~.:;~~.,~:<'" --:- .,-,.. , §: ,

Exe'rc·ito, Aure'l1·0•
•,. "'·•- ., ~~ -;.2-;:J~:,:;,-;

ill! º'.c)_:f'.:,~ dicos e hospitalares maos mo- cerimôrúa militarno Aeroporto

de Lira Tavares, demos. Lá, Costa e Silva quer do Galeão, mesmo as rotineiras,

.. •ii·~•:,-;:,~u,;.:,:·... ~11~ pôrfim à ditadura. de banda de música, hinos mili-

da Mar"1nha,•• l~,..i:);~-;i-~;-~:?-,.:;l:;f~i~t~\~"\:~-~.f,~®=~::~>i<~»l-r}.~•-3-~~{·<.:,t:-.\~ , MasnoRio,tambe'm,esta-o tares e cumprimentos ao presi-
dente pelas autoridades. Ao ad-
•• ~~¾~tt"'.,;.;W]/"-'t}/ .~~~~~- ~~li:~~·"~""~..:.J~J'~···.).,..-:.,:,,>,:,:,,,:.:-.~;·. 11 os chefes militares mais resis- ministrador do Palácio Laranjei-
tentes a' abertura. Os que a'tn- ras, major Lair de Almeida, de-
Augusto•• •-• ;-,{,¼ ;;1r§~'i!,J~, O, ·da imaginavam pressionar o termina que o Galaxie presiden-
chefe para impedi-lo de reabrir cial vá estacionarna pista, ao lado
·t~iJ~ Rademaker, e da•'''•l :;~ffft-tl(tJ't.-~~ (·!,:::...~~-1t:l.':.:-=~- o Congresso e extinguir o AI- da escada da aeronave, quando
5. Fazer o quê, ele que era o ela aterrissar.
Aeronáutica,'••'• · •,J,,..<;:";".,-t'(";'w'fi,";~,,;, i
Márcio de Souza''••'• mais fiel dos auxiliares, ainda Ainda pelo telefone do Alvo-
que também infenso a qualquer rada, Portella conta a verdade a
e M,e.•. dois de seus colaboradores mais
tipo de abertura.
Portella decide seguir a ori-
•' entação e os desejos do presi- imediatos, os coronéis Covas e

à'•
opunham-se dente. A viagemseriabem cedo, Massa. Pede-lhes que se dirijam
logo à Base Aérea de Brasília e
normalização com a decolagem prevista para
•' 1democrática as 8 horas. Do Alvorada, telefo- promovam as preliminares do
'• na ao ministro da Saúde Leonel mesmo despistamento. O presi-
dente não cumprimentaria as au-
t Miranda, na antiga capital. As toridades que dele se fosse des-
coisas vão tomando um ar de pedir. Seu automóvel iria parar
que Costa conspiração, porque o chefe do também ao pé da escada do
Gabinete Militarpede ao consa- BAC-One Eleven. Toda a comi-
l e Silva tanto

sonhava grado médico que reúne uma tiva, inclusive os ministros Ron-
equipe de especialistas e os leve don Pacheco e Hélio Beltrão,
ao Palácio Laranjeiras, sem que deveria embarcar antes do pre-

ninguém perceba. Deverão estar sidente, contrariando o cerimo-
' no segundo andar antes de Cos- nial e a rotina de mil viagens.

~•' Domingo, 01 de agosto de 1999 A UNIÃO MUNDO T 11

...

DOCUMENTO ESPECIAL

Carlos Chagas escreve Enquanto assistia à

Bastidores de televisão, ànoite, Costa e
um drama acontecido
Silva sofreu um segundo
há 30 anos - II insulto cerebral, maior e
mais agudo. Perdeu a voz
Apesar da A dramática por quase um mm• uto e quase

trombose, ele vi•agem para não conseguia movei· o
braço direito
..•'' ·.--. ainda quer voar o Rio e para o fim

Estão prontos para deixar o A pequena estação de pas-

.·,. Alvorada. Mais uma vez o mé- sageiros da Base Aérea regurgi-

:.':-~•,.:·' dico pergunta ao presidente se ta de autoridades, altos funcio-
não quer mesmo ficar. Com a nários e chefes militares. Apro-

..~;.•.;.•:-;-.:::••' mão esquerda, a que funciona, ximam-se, mesmo avisados de
bem-humorado, ele faz sinal de que não deveriam cumprimentar
que quer voar. Já não fala, e o o presidente, que desembarca
Dr. Hélcio recomenda que não próximo da aeronave. Pedro

~, ~·. se aproxime de ninguém, nos ae- Aleixo, vice-presidente, e Adro-
· roportos, ao sair e ao chegar. aldo Mesquita da Costa, consul-

:~: Qualquer esforçq para falar, tor-geral da República, chegam

: ·: mesmo não conseguindo, seria perto. Estendem as mãos e co-

prejudicial. Deveria fazer com meçam os cumprimentos que o

::: que o seu mal fosse tido éomo general Portella tentou evitar. O

[:; forte gripe, que o deixara afôni• "tio Adroaldo"escreverá depois:
:'.;•.: co. Aparece um cacbeco~ que o
"As instruções por todos rece•
:·· ajudante-de-ordens enrola em bidas eram de que ninguém de-

tomo do pescoço do chefe, co- veria ir ao encontro do presiden-
brindo também boa parte da face te, para poupar-lhe esforço.Ape-
nas descido do auto, ele, contra-
:.:· paralisada.
Vem outra sugestão apressa- riando tudo quanto o médico ha-
da, para que ao sair não utilize a via prescrito, veio na direção de
pequena rampa interna do Alvo- seus auxiliares, para dizer-lhes
rada e não caminhe entre os es- adeus. Ao redordo pescoço tra-
pelhos d'água até o carro que zia um cachecol que lhe cobria a
sempre o esperava do lado de boca, até o nariz. A passos fir-
fora. Seria melhor descer de ele- mes, como que exteriorizando
vador até a garagem, no subso- achar-se bem, ao defrontar-u1c,
lo. Não aceita, com o mestno se1n dizer palavras, apertou-me
gesto iu1paciente. Desce a ram- a 111ão, deu-n1e longo e prolon-
gado abraço, 1no1ne11to em que
pa, con1 dificuldade.
Atravessa o vasto salão de o cachecol desceu até o queixo
entrada, onde pem.ianece incn1s- e pude ver-lhe o rosto repuxado
tada na_parede rrasc de Jusccli- do lado direito, junto à boca.
'.:JlO·Kubitsc;h,ek;-grayada-enr le-·- Reprinlindo a surpresa::e\íieri-.
tras douradas, sobre a solidão do 1nentada: fitet:o o demoradmnen-
Planalto Central e o que Brasilia te, o que ele tambén1 fez e1n re-
representaria para o Brasil. Ne- lação a n1u11, reciprocando, qui-
11bu1n presidente, mesn10 os ge- çá, na tentativa de interpretar o
nerais, teve coragem de extirpá- que ia em nossas almas. Seus
la. Pouco antes de entrar no Ga- olhos estavatn marejados de lá-

laxie, faz o que nwica fazia: vol- . giimas, denwiciando haver cho-

ta-se para contemplar o Alvora- rado. Con1preendi tudo, então.

1ia. Den1ora-se. O ajudante-de- A embolia manifestada na audi-

0rdeus, ao lado, notará duas lá- ência con1 o governador de Goi-

snn1asescorrendo de seus 0Il1os. ásjá lhe tiraram a fala, e, agora,

t A UNIA- O coloca a

-, Paraíba nas

',. comemorações dos
,
J •
500 anos do
.,,
descobrimento ;do •.
·l
Bràsil. Todo domingo
.1 ·X•·. o leitor recebe

..

•••

• ~~ encarte_de qv atro

)"il'

~J~
t~

~ páginas com aftigo -

~.. de autor reconhecido

"

,

• . . ,· - situando a Paraí.ba,

_,,,~ ---...•..~-
através de tema livre, ..•'
.
. .. . ..
,
'f na História do iBrasil.
APARAIBA NOS 500 ANOS DO BRASIL
••

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