The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.
Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by Raquel Maciel, 2020-11-11 16:59:45

PASTA - 07

PASTA - 07

Keywords: GETÚLIO,POLÍTICA,DITADURA,CONSTITUIÇÃO,SUICÍDIO,JÂNIO,QUADROS

soas cenas, porrnenores; 111as textos, lio César Borges, estava para ,o
colégio corno Barnurn para o cir.có.
creio que a n1en1ória se distrai corn Digo con1 todo o: respeito, pois era
um educador por vocação, tinha o
eles ,iinda rnais do que eu e passa a gosto da espetaculosidade da rnis-
são de educar, cornpunha hinos, um
colaborar ern vez de decorar. Deve dos quais de repente encontrei e111
Eça de Queiroz: "Trabalhai, Jtl<'IIS
ser isso. Datas, por exernplo, As cir- ir111ãos, que o trabalho é riq11eza, é
virtude, é vigor" , etc. Regia o coro
cunstâncias unern ,nais do q ue a cro- dos ,neninos no p,ítio. tinha sernpre
u111a palavra boa para cada uni, era
nologia. entusiasmado e cordial. Depois em
Paquetá. mais tarde em Friburgo, já
U1n prin10 professor de Maten1áti- cego, ele era .um crente no valor da
juventude; quando aparecia inspira-
ca teve a infeliz idéia de sugerir a va confiança e tinha uma boa pala-
vra para cada uni. Seu companheiro
n1inha n1ãe que rne pusesse no inter- de diretoria, o Doutor Mário. Mário
de Toledo Fonseca, ajudado por
nato. Ela cedeu. O prirneiro dia do Dona Débor,a, que até há pouco ain-
da lecionava no Instituto Lafayette
internato correu ben1. Só urn temor que o n1arido passou a dirigir n1ais
tarde, era tambérn urn hon1e111 sério.
me assaltava: a noite. dedicado, com essa qualidade que
nonnalmente os pais esperam do
Na prirneira noite no internato. professor sern dar ao professor. ern
troca, as qualidades que ele deve
ah! Pais e responsáveis, naquele exigir dos pais. Mas nada disto nor-
rnaln1ente se dá, porque os pais cos-
in1e11so donn itório. frio. ilun1 inado, tu111a111 entregar toda a tarefa ao
professor e este, geraln1ente mal
con10 a afirn1ar desde logo a indigni- r pago. não 1e1n ten1po de hurnanizar
dade da natureza hurnana. um meni- o ensino, de conviver corn o aluno.
no que rnal ou bern vivera quase só, que acaba se incorporando não ao
grupo, n1as à horda. que só se une
de repente era atirado nurn n1undo de pelos instintos.

<Ú roncos. resrnungos. uns que reza- Não é, pois, urna crítica pessoal,
varn. uns que se levantavan1 para ir
n, ern individu.alizada, a u111 colégio.
hí dentro. outros que conversavan1
E a instituição. crn si. que sofre de
en1 segredo, pois era falta grave não males muito graves , tornando a
escola - con1 as exceções que
ter sono e conversar, tudo isso era facilrnente se rcconhecern - uma
raridade. A pri~ão de ventre, por
nada. perto da noite lá de fora. ern exernplo. era parte da pedagogia, A
conversa no pátio era: "/-lá quantos
que havia urna lua batendo nos dias? Quatro, s6? Fulano , já bateu
o recorde: 11111a se,nana!'' Para
1elhados da Rua Esteves Júnior. en1 fun1ar, era preciso trancar-se na
infecta privada. Para ler, era preci-
São Cristóvão. Olhava para fora. so enganar o bedel que 101nava con-
ta do estudo. Não i111porta o que se
pensava em voar dali , realrnente lesse, o , essencial era somente ler
urn livro q ue tivesse cara de didáti-
voar. isto é, sair pela varanda, sus- co. Importante não era saber, era ir,

penso nos ares, sern outras asas que à aula. N11 aula, tudo se passava
como se a finalidade do estudante
não as da vontade de sumir. de dor- fosse passar no exa1ne. É o que

n1ir na n1inha cama, acender a minha táculos de sadisrno moral a que Em Caxambu, todos exigem do estudante quando
lârnpada. ouvir a voz da n1inha gen- exigem algo: passar. O espírito de
te. Os auton16veis que aqui buzinarn assisti, contra o qual se rebelavarn os Lacerda
não buzina,n con10· lá. Era urna can- menino e iniciativa não era bern .visto, a for-
ção do exílio. en1pensamento. O que n1ais fortes, corno o irmão 1nais
mais doía era a proxi rnidade da casa, o cachorro mação da pe,rsonalidade não conta-
moço de Osvaldo Aranha. Euclides, va, A con1ida, pouca e rui1n. era
a desnecessidade do in ternato. Mignon. , con1pletada po,r urnas quitandas que
já de barba à cara, que rolou pelo Desta época, se co1npravam a dínheiro - e nun-
í , Depois. en1 poucos dias. fonnarnos ca havia dinheiro que chegasse.
'-,./ urna espécie de solidariedade que pátio en1 luta com um inspetor. Lacerda Chan1ava-se o rnata-forne.
guarda multas
rne deu amigos para a vida toda. uns. O culto da simulação. o rito da
outros perdidos de vist,1, n1as pre- lembranças
sentes na le1nbrança. Mas, nesse hipocrisia, a n1asturbação como ins- amargas
colégio , que era tão bon1 co1no os (epoucas
n1elhores - por qut; não têrn os tituição, sujeita a concursos e a
fi lhos coragen1 de contar aos pais. e boas) de
os professores não contarn entre si o cornpetições, isto não é 1nal de un1, um internato.
que ocorre. de fato? Por que não
falarn. por exen1plo, daquele pobre é de quase todos. senão todos os
n1cnino franzino. que cedeu a uni
rnaior e foi, então. brutalizado por internatos. Pessoalmente, não tenho
toda urna fileira que lhe pôs, a
seguir. a alcunha de Perereca? Cada do que rne queixar, senão da con1i-
vez que alguén1 o encarava, ele des-
viava os olhos. baixava a cabeça e da. que era infa-
seguia pelo pátio afora. pela vida
afora, rnarcado. A lei do internato, rne. e sen1pre pre-

"GERl\l· ·. · fi ro passar fon1e
a conier n1al,
MENlE . · digo 111al. não é
MAl PAGO, luxo. é feijão
o pl\OfESSOI\ ben1 feito e não

NÃO PODE · aguado, arroz
11uMANIIAI\ solto e não bor-
rachudo. café
·oENSINO" con1 café e

não com 111 iIho

torrado. À fren1e do Ginásio Pio

con10 a da penitenciária. proíbe, A1nericano havia um dístico latino:

(.- con10 o n1aior dos crirnes. a delação, Hic A11i1na Pobul11111 Haheatis, nós
~1 como tal chan1ada a simples referên- traduzía1nos: Aqui Jaz o Pcío do
Es'pírito. Era injusto. João de
cia a um crime dessa ordem. E basta Carnargo, que tinha muito do Aris-
que u1n bedel , dos muitos professo-

res frustrados que têm de se conten- tarco, desse grande livro. O Ate-

tar de ser fiscais. desenvolva a sua neu . cujo modelo Raul Po1npéia foi
avidez de violência. e 1e1nos os espe- buscar no Barão de Macaúbas, Abí-

''Fiquei havia. Fiquei vacinado contra tuna do que decorar 11111 livro hostil. inós- i'l1
vacinado contra porção de in1previstos. sobretudo, e
para sen1prc, contra a intriga. adula- pito, exalan1ente porque não é con1- ~
a hipocrisia. ção e a hipocrisia, já que o egoísn10 panheiro, é un1 atestado de solidão.
Oegoísmo, foi coisa que cedo desaprendi. O
desaprendi'' melhor ensino que se dá no internato Ben1 sei, ben1 sei que pode parecer ,
é de duas disciplinas, a hipocrisia e a
bajulação. Adn1ira. então, que sejan1 de,nais essa dcscriçfio: creia,n , no
esses dois crescentes rnalcs da classe
dirigente nacional? entanto, que ela ni\o é senão uni

Será que estou dizendo algunu1 clepoin1e1110 desap,1ixonado de que,n
novidade? Es1eja1n certos de que nflo.
À 1nedida que passa o 1c111po, projeta- conserva 1nu ito boas recordações,
se no adulto tuna in1agen1 parcial das
lcn1branças. coíno as gravuras de 1nuitos a1nigos, gratidão pelo que
várias cores enquanto lhe faltan1
algun1as. No caso é o oposto, as cores pôde :iprencler ctc. Mlls é a instituição
vão saindo. unia após outni. fica ape-
nas na len1brança a idealização da en1 si. e são seus 1nétodos de ensinar
infância. a saudade do te1npo ele guri.
o claro-escuro das an1izadcs que per- sob coação. n1 utando a curiosidade e
clura1n. de tal ou qual proícssor, ele
alguns n10111entos ele gcnuínll e passa- cultivando a subn1issfio.
geira :ilegria. Isto facilita a ilusflo
coletiv,1. acentuada pela nflo n1enos Diria que o internato é co1nprccnsí-
coletiva hipocrisia. as pessoas nflo
• gostan1 de falar cio que Ihcs desagra- ve l nt11na escola e111 que os professo-
cl,1. Ncn1 se pode deixar ele reconhe-
' D e 1nanhãzinha. ainda escuro. cer que. c,11 1nuitos casos, o internato res tan1bé111 seja111 in1ernos, e111 que
desc ia-se os três andares e é inevit:ívcl. 11c111 1an1pouco que n1u í-
LACERDA can1inhava-sc para o pavilhão suas fa1nílias subs1ituan1. supnun.
dos banheiros. De u111 lado quatro, do 10 do que ocorre
outro n1ais quatro chuveiros. Tudo no internato 1a111- aquel.1s de que fica111 privados os alu-
enfileirado. alguns ia111 para baixo do hé111 se d:í c n1
chuveiro. Bastava que o 1nanobreiro qualquer parte. nos. A convivência, a presenç,1 do
cio chuveiro, por algun1 n101i vo n1iste-
rioso. que ele não se dignava dii.cr e Mas o que adu lto, a 1nobilidaclc social da crilln-
tínha111os de adivinhar. quisesse sig- p r e c is a 111 e 111 e
nificar o seu desagrado a gesto, atitu- quero dizer é ça, que exige c co1nporta variedade de
de. conversa cios b,111histas proibidos que o internato
de fal.1r. o chuveiro nu nca n1ais ran1izacles sc1nprc renova~as. tudo isto
fechava: enquanto ele niio fizesse o não faz estudar
gesto que libera, o seguinte niio podia no internato se congela. E unia con111~}'
suceder ao que saía. Então ficav a o n1.11g11c1' 11 p or
desgraçado. ou antes. os quatro des- nidade fechada. O convento, 1arnbén1 ,
graçados ricavan1 tiritantes. até que estar interna-
uni percebia que era por ter deixaclo do ne1n h,í qual- 111as o convento é ele adultos e repre-
cai r o sabão. ou coisa assin1. cnliio quer razão ccluc:lliva para internar
corrigia o seu CITO e os seguintes uni fi lho. con10 fazc111 pessoas que senta tu na renúncia. u,n despojan1en-
en1rava1n. allitos. olhando c1n torno e111 vez de se dedicar ao filho que te1n
para ver se algu,na coisa estava erra- problcn1as livran1-se de le. 111uitos to - e ,iinda assi1n é 11111 dos sacrifí-
da. Todos. não. pois 1nuitos confor- sinceran1cnte certos de que é para
1nllvan1-se co1n essa tortura de sus- seu bc111. transferindo-o para outras c ios cio reiigioso, precísa1nente. ven-
pense e de terror psico16gico. passa- 1nflos e condenando-o a bracejar.
van1 a so1nbras de crianças. 1ne1iculo- desde cedo. sozinho. nu111111ar grosso cer as dificuldad es da vida conven-
san1cn1e atentos a todo ruído quando de au10111.ítica indiferença e i11con1-
razi:1111 algo proibido. a todo passo prccnsão. As razücs são g.eraln1cntc tual. O quartel ta111bén1 o é, ,nas ten1
adulto. a todo pigarro fora de hora. as cio~ país. não as dos fi lhos. Dos
Rcnuneiava 1n ü espon ta ne idade, pais ou de 4ue111 quer que seja, ,nas 1neios j,í experín.1cn1aclos e utilizados
rcves1ian1-sc de u111 10111 baço. por elas crianças, não.
dentro. proibia-se tudo o que acaso O internato é. alén1 cio n1ais. unia regu lanncnte para obviar esse incon-
pudesse desagradar. Cu ltivava,n-sc o csl·ola ele confon11is1110. não de adap-
egoísn10 e a hipocrisia. conHJ vi rt u- tação social. n1as de rcbcliflo contida. veniente: ainda assin1. q11cn1 não qui-
des de convívio social. ()utros rcbcla- Não 1: scí o sis1cn1.t 111uscular que de ve
v:1111-se. tinha1n repentes de gênio. de exercitar-se 1111111 futcbnl de recreio. ser ser hipócril,l facihnente reconhc-
fúri a. co1no o capixaba Ari Garcia quando h:í. Existe u111 exercício do
Rosa - tnn dos 111cninos 111ais gcnio- espírito. u111a g.in:ís1ica da inte ligên- ccr.í a desvantagcn1 de fonnar o espí-
cia. que não se faz con1 as horas pre-
~ fi !!li radas de cstudo. sonolentas e rito cxclusíva111ente 1111111a co111unida-

sos que j.í vi. Pois havia con1t1ele os ~ dc fechada: se não é pior. é por ser o
que fazia1n da braveza uni escudo e
se fazian1 rcspcilar por 1ncdo de suas vazias. 011 ;1fli1as e irritantes. en1 que quartel freqüen1en1cn1c aberto. corno
explosões. Não cilarci l'olegas. pois a gente pre feri~ficar olhando o fio da
daria a estas 1101as 11111 ar de livro de l;i1npacla. cheio ele cncô ele n1oscas. u1na rcpartiçiio pública, uni cn1prcgo
1ne111Í>rias. e111 certos casos de i11
111e11111ri<1111. Niio se pense que trago qualquer. Se h.í uni 1en1a perturbador
do i111crna10 queixas pessoais. Não as
1cnho. 11cn1 das cn11ras prisões e111 4uc para o psicólogo. é exatarnentc o das
andl!i 1nais tarde. Seja dito cn1 1cn1 po.
tudo o que ali n1c horrori7.0U n1c ins- ~01nu_nidadcs fechadas. ln1a?ine o queAr\
truiu. talvez 1an10 qua111n as aulas de
alguns cxcelentl!s proi'essorcs que l;í isto e quando essa con1u111dadc fer-~ '"

~ 111en1a e ferve . incendiada no excesso

ele calor acu111 ulado de unia juventude

que não 1cn1con10 descarregar a ener-

gia que se desprende de todo o seu ser

tu1n11lluado e allito.

Letícia COSlllllla dizer que ten1 n1ui-

1a pena da juventude. de suas indccí-

sües e perplexidades. Não sei se é

caso de pena. 111,1s certa1ncnte niio há 1•
111aior estupidez do que invejar a ado-

lescência, essa n1aravilhosa idade da

vida en1 que as pessoas sofre1n a infe-

licidade de não saber o que são.

Dizen1 que conselho niio se d,í nen,

a qucn1 pede. Eu dou porque vivo

recebendo ou1ros. Sc não 1c1n urna

razão irrc111ccliável para internar

algué1n que dependa de si. não inter-

ne. Menino ou 111cnina. se pode deixar Ã1 1
de ser interno. faça con10 cu: podendo ~
livrar-se. nflo v,í, não podendo, fuja.

Foi o que cu fi z. ín1itando uni lon-

gínquo cxcn1pln. o de rneu pai. No

in1erna10 do Colégio Paula Freitas.

órfão de rnãe e educado por unia.tia tá - depois a Rua da Carioca a pé e "Letícia (com va na ladeira, e no Largo ela Cancela,
severa, a que1n 1neu avô o confiara.
. n1eu pai decidiu-se, arruinou peque- o bonde São Januário na Praça Tira- o filho, Sérgio) onde con1eçava o inundo da liberdade.
na trouxa. n1e1cu-a ao 01nbro e veio costuma Passei debaixo ela sala do chefe de dis-
dentes. a Ladeira ele Esteves Júnior, dizer que tem ciplina - ele que n1e perdoe, ,nas
anda ndo, lá ele era como u,n caminho de calvário
onde é ainda esse muita pena deve ter dado um
antigo colégio. sernanal. Nen1 a saída para casa era da juventude, bom 1néclico, pois
pela Avenida cio boa, já era con1eço da hora ele voltar. de suas con10 chefe de dís-
ciplina era um caso
Mangue abaixo, Gente grande, porén1, por ,nelhor que indecisões e de livro de psicopa-
e rn b u sca d a
casa ela Rua do seja, para co1npreender unia criança é perplexidades." tologia, nunca vi
Leão. nas La- u111 caso tão evi-
difíc il. Gerahnente a criança entende dente de sadismo,
ranjciras. Pou- as lutas con1 n1aio-
ca sorte, passa melhor o adulto do que a ela. Adulto res, certas prote-
de tílburi 111eu
avô n1 inistro é burro, não 1cn1 dúvida. Talvez por- ções a certos n1e-
da Viação. salta e prende o
garoto de trouxa no on1bro. que tenha n1ais 1en1po ele estudar o nores, tudo isto
Pensei n1uitas vezes en1 ir e1nbora. aco,npanhei e vi, corno viran1 os tneus
Convidei André Faria Ferreira Filho adulto, a criança o entende ntelhor e é conte,nporâneos. 1nu itos dos quais.
e seu irmão Décio, para iren1 con1igo con10 eu, nada tê1n a dizer de pessoal
para a fazenda de n1inha tia, cujas 1nais indulgente. Tentei, tentei. e1n contra ele, senão que era uni doente, e
os pais pagavam para educar seus
diversões , c. acho.eiras , caval.os. vão, explicar que não agüentava n1ais filhos. rnuito n1ais do que pelos pro-
fessores. que apenas davarn aula, por
pon1ar. passeios, pnn1as, n1eu pnn10 aq uele exílio do 111eu inundo. Só não un1 doente 1nen1al. Quantos existe1n
Heitor. que vinha de lá, acabava de assin1? J;í viu? Já soube? Ao 111enos já
evocar. Os dois a1nigos, a princípio revelei qual seria a minha alternativa. indagou? Ele tarnbén1 era a1nável,
tentados, riran1 e não deran1 crédito tinha dias de grande cordialidade, con-
ao n1eu projeto. Nen1 eu. No sábado Voltei na triste segunda ele 1nanhã versava. era inteligente. fez un1 curso
de Medicina. era uni preto lin1píssirno.
(b; fui par~ casa e hones1an1ent~ fiz to~o cedo, para novas noites olhando os vestia-se con1 con·eção. falava baixo,
tinha boas 111aneiras. Mas corro1npia
o poss1vel para den1over 1n1nha 1nae telhados de São Cristóvão. o cocô de 1ncninos. sujeitava rnenores aos seus
da idéia de n1e manter no internato. caprichos, ele noite nós vía,nos o favo-
Na segunda de 111anhã, no bonde de mosca no fio na sala do estudo. o rito da temporada no seu quarto, ou
sair do estudo para ficar con1 ele,
~ grande bule de leite aguado e café horas a fio, sentado a seu lado. quieti-
nho con10 un1 cordeiro pascal; e de tal
Botafogo - já es1áva1nos no 506 da ralo, aquele ar ele casa ele detenção. n1oclo era constituído o -sisten1a
Rua São Cle1nente. Largo de Hurnai- que 11inguén1 protestava, não só por
de refonnatório pago que 1en1 todo niio ousar. coisa pior, ninguém mais
estranhava , e isto só surgia nos
internato que conheço. salvo quando co1nenlários 111aliciosos de esguel ha
ou aos gritos. quando alguén1 se rebe-
os professores - repito - la1nbén1 lava e saía aos n1urros, aos pinchos,
aos bofetões.
se ínternan1 con, suas fa111íl ias e o
Diga isto ern casa. diga. e veja se
internato substitui. t,s vezes con1 acredi tan1. A geração de hoje é
n1elhor, p_rimeiro porque é ntai s
vantagen1. a família dispersa ou des- capaz de d izer o que sente - embo-
ra nen1 os adultos ncn1 os governos
truída. Tal corno previsto, foi inútil. queiran1 ouvi-la.

Então saí. Sirnples1nente. Ass int Fui a un1 sobrado da f{ua Uru-
guaiana, onde n1orava um dos cole-
co1110 estou dizendo. gas. Rui Costa, que ·depois, co1n o
non1e de J. Rui, fez a ,narcha For1110-
Havia un1 túnel que dava para o jar- sa e outros sucessos populares. Sua
1nãe tinha ali u111 ateliê de costura.
dinzinho ela frente. e este clese1nboca- Subi a escada, es1ava1n as n1oças
todas costurando. n1orenas e n1agri-
nhas, entre n101Hes ele retalhos, tra-
pos, peças. fitas, carretéis. etiquetas.
A n1ãe do Rui 1ne levou ao quarto
onde ele estava lendo; era u1na espé-
cie de filósofo precoce. En1prestou-
n1c dinheiro. Fui à Rua da Carioca,
con1prei u,n cachin1bo, furn o, urna
navalha e fui para a Estação Pedro li.

''Forrei-me fazendo que sin1 con1 a cabeça encar- ficar até 1nais tarde, jogando pin-
da hipocrisia nada pela Casa Sucena. Agora, não.
necessária Havia t1111a an1eaça de 1en1pestade. gue-pongue ou discutindo; en1
para não ficar dentro de casa. lv!eu pai desceu. À
preso sábado prirneira censura. di sse-lhe exata- su111a. vegetei até que passei a aluno
e domingo'' 1nente o que ele talvez te1nesse: " O
senhor ta1nbé111 não agüentou e fugiu. externo. e depois saí para un1 curso
Ninguén1 agüenta! "
na cidade. onde ata111anquci o resto
Mas aquele hon1e1n tão intcl igen-
te perdeu a cabeça e. portanto. a dos exan1es e caí no inundo.
inteligência não funcionou. Fo111os
duros. finnes. eu não cedia. ele não Encerrarnos o assunto. quero ;ipe-
co1nprecndi,1. Uma pal,1vra de cari-
nho teria provaveltnentc resolvido nas n1ostrar con10 se pode levar a erro

ludo. Mas se carinho eu buscava. a un1 hon,en1 excepcionahnente inteli-

energia naquele n1on1ento era a sua gente e un1 rnenino sensível e altivo.
negação. Enfrentei-o con10 un1
ho111cnzinho. ele se sabia em falt,1. E con10 o internato exaspera os que
era bastante ~cnsível para is10, e
preci~amen1e por ter essa certeza. têrn algu1na coisa aproveitável dentro
timbrava en1 p.irecer que não. Disse
a n1eu innão: "Ligue para o Juiz de de si e os faz sofrer. cnqu,1nto confor-
lvlenores!" lv!eu innão fingiu que
111a. quando não defonna, os tínlidos.
-ligou. E eu: "É n1elhor 111es1no!
os sub1nissos, os
Quero ir para o Juiz de t\1enores!"
Finaln1ente celebran,os un1 acor- .. ' , : ' ,..:>_·.' \' ' ap,íticos. Insisto:
não se trata de
do contrafeito. no qual 1ninha 111ãe - - . ,, aberrações. isto
foi intenneµiária e creio que autora pode haver ern
' t11nar. não fazia questão, a das cláusulas do armistício. Voltei "MU\10S ,· . ·
navalha não seria para fazer a para o internato ten1poraria.mente, f01\AM SE ': .·.
LACERDA barba na idade e1n que o pró- toda parle, não é
prio buço ainda era 111ais pro1nessa do . ~'~ .ENCOlHENDO~ só etn internato
que a1neaça. Não sei para que com- que existe e que
prei esses objetos. senão para uma Y. ~: MUI\C~ANDO ,·· se vê. É a COlllU- 1
afinnação de ad ulteza. Co1nprei tuna ENCAI\AMU;. ,..
passagern de 2:' e fui bater ern Con1ér- nidade fechada
cio. O adn1inistr;1dor da chácara ficou JA. N' DO.·SE' ''' . .. ·.· o que se deve
n1uito espan1ado. expliquei-lhe por .
alio a situação. o suficiente par.1 não ·
1nentir e para não esclarecer. Dois
dias depois. não sei corno n1e locali- evitar; a criança

deve ter. quanto possível. uma vida

de co1nunidade aberta. tal con10 deve

ter u111a vida de ar livre.

-Len,bf.Õ-n1e co1n gratidão de

n1uitos dos professores, pratica-

1nente todos., Fui a,nigo de João de

Can1argo. de lvlúrio ele Toledo Fon-

seca. d~ sua dedicada D. Débora.

que se dedic~1ra111 a urna tarefa

heróica, a de exercer, contra a reali-

dade. u111a vocação verdadeira nurn

an1biente falso. Não se veja, no que

digo. despeito, ren1orso de algun1

malfeito grave. Nada que un1 meni-

no dessa idade não faça.

A que111 não sabe o que significa.

o que vou dizer é difícil de enten~

der. O que falta no internato é tudo

"Quando da revolução do Gen. Isidoro Dias Lopes, eu, com dez o que se ten1 cá fora. O 111al se
anos de idade, levantei-me no meio da aula e li o seu manifesto.
encontra cá fora, é exata1nente o
Dona Madalena, a professora, sorriu e foi extremamente tolerante."
que no internato te1n den1ais.

Mas até pela fonna negativa se

zou. chegou telegnuna de tneu pai: para salvar ,1 face da autoridade, afirn1a urna personalidade con1 ten-
aflitos etc. La fui eu. de 2~. de novo.
desta vez con1 o adrninistrador. Ao ,nas con1 direito a levar ovos. cho- dência a se afirn1ar. Foi o caso de

-chegar. n1inha mãe colale, s.iir uma vez extr.i na se1nana n1uitos colegas, que aí estão, triun-

rne esperava. como -npaoraadneontissetaguoi.un outra ocupação; e fantes. vitoriosos e. se calhar.
no dia e,n que des- te - v e r ,, a r n o s .
cobriu que lhe rou- achando que exagero a condenação.
bei. várias vezes.
dinheiro na car- Virnos: passei a externo. !vias desde Posso di zer 4ue estou nesse caso

teira vennelha que então foi melhor: passava de 2:' a 4 :' ta1nbén1. Mas levo ern conta aquc_les
el.i guardava no
esperando chegar a tarde de 5:', e na 1nuitos que foram encolhendo,
-arn1ário· grande
6~ de ,nanhii con1eçava a esperar o cncaramujados, 1nurch.1ndo para
defronte do ora-
tório. !vias, na- sübado. Era a 111inha principal ocu- não sere,n vistos. arrastando-se
quele dia, olhan-
do o s:11110 com a larnparina. tivera a1é pação: contar as horas. Forrei-rne da corno les,nas. aprendendo a fingir, a
a in1pressão de que o santo aprovara.
hipocrisia e do confonnis1no estrita- enganar, a esconder. .i intrigar. a

1ncn1c nccessiírios para não ficar tripudiar, a abusar do 1nais fraco, a

preso súbado e don1ingo. Passava os sub1ne1er-sc ao 1nais forte. lal como

d ias n1cio sonolento. porque en1 vez os bichos no inato. Co111 a diferença

de dorrnir cedo ia ler no Grêmio. que os bichos não pagan1 para seus

onde os sócios tinha1n licença de filhos sere1n o que são.

No próximo número, 5~ capítulo: As dificuldades da grandeza

·o

~-• Cí
o
~-
~
'

,•

''Rosas e Pedras do Meu Caminho''®

. .

' ,~.·,- .

A
.

·=•--·'
.


1 . ..f •.;

1 I

• t :ij

• t . ? f~

\ • J ,;

·/J!

Lembranças que fazem a vida. Lacerda volta aos tempos da criação do Estado de Israel, quando viajou ao Oriente Médio para fazer reportagens.

DOCUMENTO E ntão, saio da sociedade. - E saí. Junto, e1n /111igrantes . Na Pro-Arte, celebrou-se a série de con-

• fileira , saíra1n todos os sócios judeus. A ferências e concertos con1e n1orativos do centenário
Pro-Arte fora acupada pelos nazistas. Esta
de Goethe. Ali promovemos , pela revi sta R111110, que
é a história de urna sociedade cultural. criada por
l 'codoro Heuberger. que tinha urna galeria no antigo Ana Arnél ia de Queirós Carneiro de Mendonça n1e
prédio da Associação dos Ernpregados do Con1ércio.
deixou fazer na Casa do Estudante, a conferência de
1\venida Rio Branco. Ex posições. conferências.
un1 pequeno restaurante. o local das exposições, a Mário de Andrade sobre 111úsica. A Dona Ausente,
Pro-;,\rte foi un1 clube. u,na galeria. e. sobretudo. un1 enquanto a Ate11ea Polí1ica, de Alfonso Reyes, que
age nte de cultura. Ali foi a prin1eira exposição do
e ra e,nbaixado r do i\1éx ico, nós a fi zc.rr1os no Itarna-
pintor Lasar Segai! , no Rio , quando, cn1 1933 , ousei
rati . Era un1a associação da ,ne lhor qualidade. As
falar sobre a sua pintura. nLnn discurso pretensioso. ,nuitas publicações. promoções. entrevistas, que
cuja única virtude foi ser curto. E assin1 co,neçou
sobre ela publicava na página de educação do Diário
n1inha an1izade con1 o grande pintor do .Nal'io de de Notícias, valera1n-111e o título de sócio honorári o

da sociedade teuto-brasilcira, que hoje existe depois
de passado o pesadelo do nazisrno.

''Çomeçara o do todo ano. Afinal, explicou-se o pegado no Jornal do Brasil, na
expurgo dos que havia. A Pro-Arte vivia de lnna Avenida Rio Branco. Os judeus iri-
·judeus nas subvenção da e1nbaixada alemã. A a1n ser expulsos da Pro-Arte, que
en1baixada acabuva de ser controlada eles havia1n prestigiado co1n o seu
instituições de pelos nazistas que havian1 subido ao culto da inteligência, sua curiosi-
influência alemã poder na Aletnanha. Co1ncçara a dade, sua vocação 1netafísica. de
operação de expurgo dos judeus de indagação das causas últi1nas, de
nó Brasil'' todas as instituições de influência exame da essência das coisas. O ve-
alemã no Brasil. A Pro-Arte estava lho Max Fleiuss, to1nado de surpresa,
as naquela tarde de 1933, cheia de sócios judeus, ale1nães, pois certa1nente de nada sabia, acres- 'I
brasileiros e de outras nacionali- centou que se se desse o que eu
' Alexandre Altberg. arquiteto dades. n1as judeus. la-se fazer agora acabava de dizer, ele próprio se reti- \
e decorador, apareceu na raria. Denunciei a ocupação da Pro-
redação, muito preocupado, para a eleição da nova diretoria. Para a Arte pelo n,1zismo. A manobra den- r
tro de lnna sociedade registrada no
falar con1igo con1 urgência. Altberg presidência. indicava-se o ilustre Brasil, para expurgar os judeus. " É ,,
Max Fleiuss, 01as o significado da lnna vergonha e um a afronta!'',
LACERDA dava unias festas pitorescas. un1a fo i eleição era o domínio da embaixada excla1nei. O nazista da e,nbaixada 1
na construção de l1tna casa no ouvia imperturb,1vel. Já tinha ga-
nazista. Os que votassen1 pela chapa nhado a parada. Acabei de falar e saí. 1
Leblon. na qual se subia pela escada Atrás de mim, con10 se houvéssemos
estavan1 votando pela sobrevivência 1
de pedreiro, e se dançava no cimento da Pro-Arte. Qualquer decisão e1n O ifeito algun1a cornbinação, e não
1
entre tijolos e andain1es. Veio n1e contnírio seria a havia nenhu1na, saíran1 Altberg,
extinção da so- Eichner, muitos, muitos outros. tvlas
pedir que não deixasse de compare- ciedade, com o éramos rninoria. ;\quilo acabava de
corte da sub- acontecer aqui. Aos 19 anos , cu via o
cer à assembléia da Pro-Arte. porque nazismo em ação dentro do Brasil.
venção.
os nazistas ian, ocupá-la. Un1 uno Max Fleiuss, Ten1pos depois, e1n novc1nbro de
1947, quando a delegação brasileira,
antes. Hitler subira ao poder. Mas. já idoso. ho- contrariando instruções do Ita,narati
n1em cuja re- para se abster de votar a partilha da
no Rio, co1no teriam a audácia? putação de dig- Palestina, seguiu a liderança de Osval-
nidade e patri- do Aranha, que ocupava a presidência
De noite, subi à sede da Pro-Arte. otisn10 estava da Assembléia da ONU e favoreceu a
acin1a de qual- criação do Estado de Israel. viajei ao
Lá estavarn. na vasta sala. as mesas quer suspeita. estava serido usado Oriente Médio para o Correio da
para cobrir a ocupação nazista da Manhã e outros jornais. A decisão
cobertas de toalhas verdes. forn1ando Pro-Arte. Precisava denunciar essa provocava a guerra no Oriente Médio.
ocupação. Levantei-111e e perguntei Sustentei. certo ou errada1nente, o que
um longo U quadrado. E scrviarn se entender'.\ bem o que se acabava pensava: que o Brasil devia ter-se
de dizer. Resu1ni o que havia ouvido abstido de votar a partilha. Por quê?
chope. na n1ais cordial sin1patia. Mas do orador. Heuberger, de cabeça Porque o Brasil, com uma grande
baixa, confinnou. Levantou-se urn
havia u1na tensão indisfarçável. De alemão 1nagrinho e sutil e expl icou a
necessidade de contar com a en1bai-
un1 ludo das 1nesas sentava1n-se os xada. a impossibilidade de ni.lnter

sócios, para a asse1nbléia decisiva. aquela sociedade tão útil. de inter-
cân1bio e promoção cultural etc., sen1
Falava-se. de vez en1 quando. a suvençiio da en1baixada.

alen1ào. Pedi que passassen1 a falar Senti uni.1 espécie de vertig<;n1.
niio sei ben1 con10 descrever. O que
português, pois havia lia nos jornais, sobre o nazisn10 na
Europa. estava acontecendo ali. no
sócios que não co- últin10 andar do edifício da Associ-
ação dos En1pregados do Con1ércio.
nhecia1n a outra lín-

gua. Era o co,neço

das hosti lidades.

Osvaldo Heuberger, u1n ho-
Aranha, n1en1 fino e an1abilís-

Pantaleào, si1no - dizian1 que

Teles, Lindo/to era conde - , criador

Collor e outros da associação. saiu
revolucionários do seu lugar e
de 1936:-
"Naqueles dias, abaixou-se junto a
uni sujeito de cabeça
parecia que os
lenentes tinham quadrada. que estava
pouco alén1. Enquan-
vencido. ''

to conversavarn, comunidade árabe (síria e libanesa), e
uma nu,nerosa comunidade judia, ao
olhei en1 volta. Nluitos conhecidos. contrário dos Estados Unidos, onde o
voto judeu obriga os candidatos a
No lugar de honra. tvlax Fleiuss. o tomaren1 partido. e da Inglaterra, que
estava co1n um mandato para dirigir a
sec retá rio perpétuo do Instituto Palestina até o fi1n , deveria ficar, a
n1eu ver.' como um intermediário para
Histórico e Geográfico Brasileiro. a hora da crise, que forçosan1ente

descendente de ale1niies. E n1uitos

cujos no,ncs não sabia, outros que

perdi ·de vista, uns poucos que vejo

sen1pre. co1no Erich Eichncr, o dono

da Livraria Kosn1os, onde 1ne endivi-

viria. As crônicas que acenava1n . Do , portaló ela dizia
adeus. As lágri1nas corrian1 pelos
n1andei sobre isso olhos da velha. os ralos cabelos
grisalhos. o rosto moreno encovado,
estão publicadas num a boca metida entre duas rugas pro-
fundas. 'Dizia uma porção de coisas
livro intitulado O que não entendi, mas eram súplicas.
Sandbank, membro de uma organiza-
Brasil ê o Mundo ção de ajuda aos refugiados israeli-
tas, estava desesperado. O Ministério
Ai·al,e. Procurei dar
da Justiça restringia ao máxirno a
acloi notra,proi.noto a de vista
q ue o entrada de judeus. Havia quem nego-
ciasse a permissão de· entrada de
Brasil tomasse par- refugiados, visto em passaporte, o
tráfico mais infame. ~las um diretor
tido, pois entendia que da In1igração, incorr\Jptível, pelo
menos era o que constava, foi o pior
o ,nel hor interesse do de todos, porque era anti-semita.

país era se abster para Era mulato, mas racista. Em
desespero {ie causa, lembrei-me que
ser usado, eventual- conhecia um n1édico da Saúde do
porto, cha1nado Fábio Carneiro de
mente, como n1edi- Mendonça. Fui ao seu consultorio•
no Edifício Rex. Nada mais podia
ador no conflito entre fazer. O navio estava de partida.
Mas telefonou a seu colega de San-
árabes e judeus. Isto .' tos, que deu autorização para desem-
fqi em 1948 - 15 barque da velha judia de Berlim . Daí
veio a tninha amizade con1 o Dr.
,~~~~;.:anos depois da cena Fábio, depois colaborador da Tri-
I\n.t Pro-Arte. Anuncia- 'f"' : ~~. .• • ,: buna e, no meu governo, diretor do
Hospital dos Servidores do Estado,
.A • - 'f;.~, homem sincero, capaz, íntegro, leal
vá a formação de um t" .,, ..- e com um raro espírito público.
r
poderoso núcleo de ' Governador. em começo do meu
mandato, em 1961, fui recebido no
nações árabes. que clube israelita da Rua Barata Ribei-
ro e ali me foi entregue um cheque
o/ ""'; não podíamos ignorar. •♦ com o equivalente à terça parte do
'-...,/ Na co1nunidade .J_ que então custava u1na escola de

israelita, então, fez- ~-r cinco salas. O
se circular a infârnia presiden te do clu-
t be perguntou-n1e
,~.de que eu era contra se me importava
1 os judeus. Não, eu ~ '~~J\_7,,-.... ':,.\ ~ de dar o nome
era contra a partici-
pàção do Brasil no ' -~ \ • > de Osvaldo
conflito. para que ele Aranha a uma
- - : _.. ' :'\.'4 ;..- l, • ,• - escola pública.
Rompera rela-
·~ • ~,.._~. -· - ~~~ - ;o,: ~ ções pessoais .
-. o,- ~ "'."'>
~ •• ~. . _. . _ - con1 Osvaldo
--"- - •"''""-' C.t... ._ _ Aranha em segui-
- da a uma decepção que ele me deu.
Foi no tem, po da campanha que fiz
pudesse vir a ser o mediador na crise, A maioria dos judeus to1nou co- contra a Ultif!lª Hora, jornal então
custeado pelo Banco do Brasil; dessa
que se ia abrir. Naquela altura. nhccin1ento da intriga. Mas, não co- campanha resultaria, co1no se verá, o
atentado da Rua Tonelcro e a queda
e por n1uito tempo, essa opinião foi nhecia os antecedentes. Nem sabe, Miguel Costa, de Vargas. Osvaldo, feito ministro do
explorada junto aos judeus, contra até hoje, do que houve no caís do novo GovcrnÓ Vargas. garantiu-me
mnn. porto. Eu trabalhava na lnter-A1neri- Góis Monteiro que denunciaria o convl.:nio celebrado
cana de Propaganda, a agência de e Vargas: "Todo por Ricardo Jafet, na presidência do
Poucos se le1nbrai·a1n e muitos não publicidade de Artnando d 'Almeida. Banco, do Brasil, com a ernpresa edi-
sabiam o que tinha havido naquela Irving Sandbank. israelita e diretor mundo fardado, tora Erica, de Samuel Wainer e Baby
chegando para Bocaiúva Cunha, que garantia papel à
noite da Pro-Arte. vontade a esse jornal, crn desfavor
tomar opoder." dos outros jornais.

Só o tato e a in- da Cia. Gillette no Brasil, pediu a

teligência do em- ajuda da agência de que era cliente

baixador de Israel. para un1 caso particular: uma velha

no começo do judia. vinda da Alen,anha, estava

meu governo na presa a bordo, se1n poder descer a

Guana bara, pôs terra. Fotnos à Praça Mauá. A bordo,

t ermo a e ss a lá estava a· velhinha. Vinha de

intriga infa1n e, Berli1n. através da Rússia. do Japão.

que os comu- dos Estados Un idos. Atr, avessara
nistas exp lo- metade da Europa, toda a Asia, todo

rara1n à vontade. o continente norte-arnericano e

A sua amizade, .a do Grão-Rabino descera de Nova Jorque ao Rio de

Henrique Len1le e da Dra. Regina Fei- navio, para chegar ao Brasil. Ao

gl trouxeram-me alento. Ao chegar ao aportar aqui, o visto do seu pass-

governo, transformei a antiga Casa da aporte, dado no consulado brasileiro

Guarda do Palácio Guanabara em ém Berlirn, estava com o prazo esgo-

escola. Dei-lhe o nome de Anne tado. T ivemos um· acidente de

Frank, a menina judia que os nazistas coração a bordo; o médico do navio

1nataram na 1-lolanda, e que deixou dizia que ela poderia morrer na

um D_iário famoso. Depois de inaugu- viagem. O médico da Saúde do por-

rada a escola, dei-me conta da gaffe. to, seguindo instruções do Ministério

Ficou bem defronte da embaixada da Justiça. disse que ela não tinha

alemã. Mas, ac·redito que o embai- doença nenhuma. Devia seguir

xador não_ tenha to1nado como acinte viagem. até Buenos Aires, voltar aos

esse nome. pois . os heróis .não tên1 Estados Unidos, arranjar-se, cm

pátria: nem os carrascos. E ficamos suma. No Brasil não poderia descer

bons anligos; o embaixador me indi- sem outro visto. No cais, seu filho, a

cou o meu professor de alen1ão. nora, os netos que nem conhecia,

''levantei-me, ra nte esvaziou-se. Ficaran1 apenas os ..

contendores - e un1 grupo de anti- Rua da Assernbléia, uni revólver exa-
taniente igual a Euclides Aranha, que
l111ta1m@s, gos dos Aranha, entre os quais os gostava ,nuito de annas.

1neus, que tan1bén1 o era1n da fa1níl ia Co,n tais antecedentes, não n1e . _
agradava a idéia de dar a unia esco-
então poderosa. O Ministro João la pública, no 1neu governo. o no111e

est?)<ID~\raou~se a Cleofas foi f,ilur no telefone e não de Osvaldo Aranha. Mas. a posição
que ele to1nou durante a guerra, a
voltou, razão pela qual ron1pi com
contribuição decisivo que teve para
roda, ele recuou ele nuni artigo feroz; e ;;ó nos recon- tirar o Brasil do lado nazista para o
lado dos aliados, e ·a letnbrança ela •
cilia111os quando seu filho morreu sua 1nocidade de líder entusiasta e
talentoso, apesar de várias contra-
num acidente e eu procurei, receben- indicações, levan11n-111e a concordar
co1n o pedido do presidente do clu-
e tentou tirar do, nunt abraço, o reconhecimento be israelita. Acrescenta1nos a verba
. da família Aranha. O ódio perdura-
de tninha boa-fé - e da sua. va, e até hoje. Ainda assini, inaugu-
rei a escola, pois as crianças nada
um revólver'' O Procurador Eduardo Bahout, tênt con1 os ódios dos adultos. Ne,n
a 1-listória con1 as estórias.
amigo íntin10 cjos Aranha, veio à
Já que falei nisto, conto tanibém a
111inha 1nesa - na qual a custo eu história do incidente coni o filho de l ,
un1 Soares Sa,npaio. Quando o grupo '-.,/1
contia o bife que esfriou e estava difí- Soares San1paio, no governo do
Marechal Outra, obteve o privilégio
' ' ão há dúvidas, levo-os à cil de engolir - e nie aconselhou a que só foi dado a dois grupos - o
falência". disse Osvaldo outro foi o de Drault Ernany e Válter
'. sair. "Con10 sair agora - perguntei- Moreira Sales - de niontar refina-
rias de petróleo no Brasil, u1n dos
LACERDA lhe - deixando o Quica Aranha 111:us extraordinários negócios do
niunclo, duas concessões dadas de
• Aranha e,n sua casa. con10 o dono ela briga, no salão'?? 1não . beijada a dois grupos, n1eu
segundo artigo sobre o assunto não
Inauguração da Conversar con1 esse hon1em, que Não sou valentão, mas daqui não foi publicado pelo Correio da
Escola Anne 1\1anlui. Paulo Bittencourt, dono do
Frank, a fazia do charn1e un1 ponto de honra. saio. Vou acabar o 111eu jantar." jornal. estava ctn Araxá. Costa Rego,
pequena mártír redator-chefe, disse-nte que fora
judia: "Depois era u1n privilégio e tnn encanto. Dias Euclides, nun1 canto, junto ,1os vidros orclent de Paulo, pelo telefone. Insis-
da cerimónia, ti na J?Ublicação, não entreguei artigo
dei-me conta depois. não só Osvaldo faltou ao da porta que dá para o terraço. exalta- novo·. O artigo vetado não saiu.
da gafe. Ficou
bem defronte co1npron1isso espontâneo assu1nido do. me insultava, cercado de aniigos. Que,n saiu fui eu. Pois, a despeito
da embaixada
alemã." co1110 passou a proteger o grupo da Continuei o jantar, sabe Deus co,no, ode n1uitas pressões, nunca Paulo se

Últi1na Hora , no Governo Vargas até o fin1 ~ e sem óculos. A polícia havia deixado convencer a censurar
ou suprintir os n1eus artigos. Recla-
eleito cn1 1951 . Então. etn alguns cercou o res taurante, não entrou, ne1n 1nei. Então Paulo 1ne disse que tinha
unia a,nizade de adolescência coni os
artigos, tracei o perfil, severo. talvez interferiu. Afinal, com a intervenção Soares Sanipaio. e não podia penni-
tir que o seu jornal os criticasse, coni
parcial, queni sabe injusto, 1nas j us- de Bahout, Jorge a niinha assinat ura ou seni ela. Disse
a Paulo que nie achava com direito
tante rrte indignado, do gaúcho Jabour e outros de esperar que o Correio ao nienos
explicasse aos leitores a ntinha saída.
encantador. Dias depois, jantando no a1nigos dos Ara- Coni aquele traço de cavalheiris1110
que foi senipre o seu encanto, Paulo
Bife de Ouro, o restaurante do Copa- nha, Euclides publicou a seguinte nota:

cabana Palace. saiu de uni lado "A1â notícia: Carlos Lacerda dei-
xo11 de colaborar neste jornal. Que
co1n o Depu- e. .qu and o e le nos.fará falta sua colaboraçâo arden-
s:11, ta1n- te, pessoal, 11111 pouco ro1Í1ântica e
tado Edilbcrto s:11u , subje1i1·a. 1nas se111pre corajosa e
honesta - não há d1íl'ida. Que fará
de Castro e bén1, aliviado.
'-.,i}'alta esfa Tribuna de ln1pre11sa, 110
o então ntinis- P a r c c i a - n1e
1v1e11l1hpoouCcoorrreoi1o11.ad1a1t.1lcvof.anclol{ria,J.ohsooneqsutoane-
tro da Agricul- u1na estupidez
do as circunstâncias o exige111 - ta111-
tura, 111e1nbro o incidente e.
. bén1 não tenho d1íl'ida. Mas criou-se
da UDN. João no fundo, de .

Clcofas e uni uni ridículo pasnioso, arruaça

smeu.ig joveni a -. nunt lugar daqueles. por críticas fei-
o. OUV
I tas a um hornent públicQ. que se tinha

alguént. de pé, qualidades - e as tinha - tarnbént

a 111cu lado. tinha graves defeitos. Senti-nie abso:

n1urn1u r ar lutan1ente ridículo, o Copacabana

unias palavras. teve un1 prej uízo de alguns pratos e

Voltei-nic. Era copos quebrados.

Euclides Ara- Ao levantar ela niesa, vi uni objeto

nha, filho de Osvaldo. que ,ne desa- no chão. Abaixei-nte para ver, era

fiava: "Levante-se para apanhar". uni revólver Srnith & Wesson, cali-
Pensei que era para valer.' Lcvantei-
bre 38. cano curto. desses que a polí-

nie. lutantos. espalhou-se a roda. ele . eia usa. Celso Mendonça. n1eu aniigo

recuou e tentou tirar urn revólver: de 1nuitos anos. 1ne havia dado esse

sua niulhcr. que então esperava uni revólver dias antes. e eu o trazia no

filho. passou entre nós dois. Agarrei- bolso da calça. Apanh~i-o. coloquei-

1nc a ele. toniei-lhe o revólver. Meus o no niesnio bolso. '

óculos. conto de costunie. l(lgo pula- ?vias já havia no niesnio bolso outro

ra,n longe. fiquei 1ncio seni ver. revólver. exatantente igual àquele.

Antigos contivcrani-no. Voltei para a Percebi então que a anna que apanhei

nicsa. conl inuei a jantar. Chegaran1 no chão era de Euclides. Havia caído

dois desconhecido:- e dissera,n: de sua 1não durante a luta. Entreguei o

"Quercn1os ficar ao seu lado''. Hoje segundo revólver a un1 garçoni.

sào 1ncu antigos. Unia senhora anie- dizendo que depois o devolvesse ao
~
proprietário. Celso dera tanibétn, dias
ricana. que nunca vira an1es. neni vi

depois. nte aper1ou a niào. O restau- antes, con1prado na n1esn1a loja da

• do governo, custearam ali um almoço

• oficioso, ofe.recido ao presidente da

o1 j empresa americana de petróleo Gulf,

·! ligada à Refinaria de Cubatão, · em
1\
visita ao Brasil. Os chefes da Gulf

prometeram-me, na ocasião, destinar

uma parte do dinheiro que estavam

levantando, para a Universidade de

Stanford, à expansão da Universidade

do Estado da Guanabara. Nunca cum-

priram a promessa. Mas o ahnoço foi

pago por eles.

Os Soares Sampaio são pessoas

\' encantadoras, co1no são os Aranha.

r Não lhes tenho qualquer rancor e

1 deploro que, ao contrário daqueles, ,

estes conservem contra mim uma

espécie de ódio de família. Mas, con-

tinuo a considerar que foi utn escânda-

entre nós u111 caso. Van1os ao caso. te, faço deles . .Justo? Injusto? Não Os gaúchos lo do Governo Outra a entrega do pri-
sei e não in1porta. Carlos Lacerda amarraram
Estava eu en1 Araxá quando o Sr. Her- 111agoou-se con1igo. e dentro do seu cavalos no vilégio de ter refinarias - o melhor
ponto de vista, não lhe nego razão. Obelfsco da
111es de Li111a abriu a discussão sobre Ele, poré1n , 110 111e11 lugar faria o Avenida Rio negócio do mundo - a dois grupos
111es1no. Perden1os a1nbos, creio eu. Branco, em
as refinarias de petróleo. Ne11h11111jor- /vias ne1n ele nen, eu de1'e111os estar 1938, e privados, unicamente; e entendo que
descol1ertos." Lacerda
l 11al discutiu o assunto co111 111aior relembra: elas deven1 ser nacionalizadas, como
Daí a frase sobre Paulo, que lhe "Andavam
i11depe11dê11cia, se,n 111ais espírito disse e o fez rir muito: ."Você só se heróis de todo o negócio de petróleo. Pois não
vende por um jantar pago por você." melenas, barba
p1íhlico. E111ra111os afundo 110 proble- grande e botas vejo razão para dar em concessão, a
Dias depois, estava no Vogue - de campanha."
n1a. e111 diversos editoriais, artigos 011 aquela boate que pegou fogo mais tar- dois grupos, um negócio desse vulto,
de - na Avenida Princesa Isabel, em •
tópicos, que 111arca1•a1n clarc11ne11te o Copacabana, co111 n1eu velho e queri- que não comporta concorrência legíti-
do amigo Fernando Veloso, Fernando
ponto de vista deste jornal e que - Ferreira e outras pessoas. Entrou um ma nem se pode chamar de iniciativa
grupo numeroso, no qual estavam
espera111os - de1•er11 ter influído de vários membros da fatnília Soares privada. Pois não
Sanipaio. Continuan1os tranqüilos,
111odo decisivo sobre a atitude futura cada qual na sua 1nesa, a noite de con- existe possibilidade
versa e uísque. Tarde, quando ia sain-
do go,•erno. Esse era o dever de 11111 do, um tnoço 1ne abordou, interpelou- de outro grupo
me e ameaçou sacar unt revólver.
jornal que se fez por não saber calar: Abracei-1ne a ele, pus a nião no seu independente mon-
revólver, que trazia junto à barriga -
a preocupação do interesse público. Osvaldo Aranha me havia ensinado a tna.ar s novas refina-
nunca levar revólver do lado oposto no pat,s.
Nâo é necessário explicar 011 exal- ao ela mão que atira. Lutamos um pou-
co, fo1n os separados, saí com o seu
tar essa nossa atitude. Acontece revólver na tnão, chamei o garçom e Um dos últi-
entreguei a arma: "Leve isto para den-
poré111, que 1111111 gr11po de concessio- tro", disse. E tive de continuar na boa- 1110s atos do
te até de manhã, para não dar pane de
nários das refinarias se enco11tra111 fraco; são coisas da vida. No dia Governo Gou-
seguinte Fernando Ferreira foi buscar
a111igos 111e11s. An1igos velhos. bons o revólver para devolvê-lo ao n1oço lart foi naciona-
Sa,npaio. Tinha uma bala picotada.
antigos dos te111pos de 111ocidade. O Na luta, um de nós acionara o gatilho, lizar as refina-
ainda na cinta do moço. U~1 de nós
1e111po passa, o destino l'Oi criando esc~pou porque a bala não d~tonou. rias em mãos desses gru-
Escrevi ao pai do rapaz urna carta
vácuos. organizando e abrindo os dura, ele tne respondeu cotn outra. pos. U111 dos pri n1eiros atos do
Anos depois, já governador, tive o
claros que pregava111 a dura. a in1ole- prazer de receber na residência ofi- governo revolucíonário de 64 foi
cial, na ilha.de Brocoió, os chefes do
rá1•el solidâo. Vai. diga111os assi1n, grupo Soares Sampaio, que, por não devolver-lhes as refinarias. En1 nome
haver verba de recepção no gabinete
,•alorizando a111izades... E aí está o de uma iniciativa privada que, na

caso. Só na quarta-feira tive ocasião verdade, não existe, e constitui privi-

de ler e111 Araxá a Tribuna da lnipren- légio odioso.

1 sa da véspera, terça-feira: "Uni grupo Há un1a diferença entre a braveza
aguando o Brasil."
na sustentação dos princípios em que

"Assi111 co,no 111e co11111nicara co,n acreditamos e a intransigência. E ain-

ared,.oireçpãaordao Cor- da n1elhor, entre a intransigência nos
reco-
princípios e a intolerância com as pes-

111endar a Jir,neza soas. Maior, porém, do que tudo, é a

de orientação ·110 diferença entre a convicção e o fana-

caso dessas refi- tisn10. Desde cedo aprendi todas essas

narias, assi111 diferenças, à própria custa. Mas creio

detern1inei a que nunca teria aprendido, apesar de

squusep1e1n1espcaiorecdi.oa todas as lições que a vida ,ne deu, às

vezes beni cruantente, se não tivesse

11111a série de povoado de imaginação os 111eus prin-

artigos que cípios, de sonhos, as minhas idéias.

ferian1 pessoal- Por isto tenho 111edo dos que se intitu-

1nente, que nu: parecia,n prejudicar lan1 realistas a ponto de não deixar

pessoaltnente . an1igos 111e11s que lugar à itnaginação. Pois, à força de

era111 descritos nas colunas do 111eu sercn1 realistas, acabam cínicos. E por

jornal de 11111 111odo i11teira111e111e se tornarem cínicos, destroe111 a força

oposto ao juízo que eu, pessoaltnen- dos princípios qu<; julgam defender.

Amorte de Ouro, hoje Assembléia Estadual: ta solitária. Qu,u1do alçou vôo, fui '
João Pessoa
"Que beleza, esse 1nánnore!" co1n ela. Vi-a descrever um senlicfr-
desencadeou
Os discursos de ambos vinham culo sobre um rebocador onde con- & ''\
uma revolução
_que há muito prontos da direção do partido, que não versavam dois e1nbarcadiços. Depois ~...J
estava madura
queria correr o risco de algu1na inter- ousou mais e foi longe até perder-se

pretação pessoal de suas palavras-de- na direção da Ilha Fiscal. Só voltei
para casa por pe• na _do meu pessoal;
orde111·. Na primeira parte, os dircur-

sos dos dois co1nunistas atacava1n pois na imaginação vi,~ei durante

Júlio Prestes, candidato do governo à dias, cm 1nares desconhecidos, apor-
tei a terras ignotas, descobri o n1undo
sucessão presidencial. acusando-o de que os livros apenas anunciavam. !

instrumento do in1perialis1no inglês. Agora, porém, estávamos na Praça '

Na segunda parte atacava1n Getúlio

Vargas, candidato oposicionista pela Mauá para fins diferentes. Era 1930,

Aliança Liberal, acusando-o de i11s- esperávamos dese1nbarcar de Per-

• trun1ento do in1pe- narnbuco o corpo do governador da

rialismo america- Paraíba, João Pessoa, candidato à

no. Durante um vice-presidência na chapa da Aliança·

7 as não aprendi só isto. Cedo JOÃO' PESSOI\ . desses discursos Liberal, que juntou todo mundo con-
1\Nftl\ S\00 ..•, iguais, o inten-
LACERDA aprendi a arte de n1atar aula, tra o governo. João Pessoa tinha sido

• assistindo às sessões da .I\SSI\SS\Nl\00.. d enre Correia assassinado nun1a confeitaria do
Câmara Municipal. Havia dois verea-
"Conversar dores con1unistas, Otávio Brandão e NUMI\ . Dutra, gordo e Recife e vinha para o cen1itério de
com Osvaldo MincrvinQ de Oliveira, eleitos pelo
Aranha, que Bloco Operário e Ca1nponês, legenda '&ONfE\11\R\l jsouvni1a1. lç,o deu São João Batista. A massa de povo
fazia do eleitoral do Partido Comunista. nas oEREC\fE _.·. na
charme um alturas de 1928/29. Seus n1andatos deslocou-se pela Avenida, atrás da r . 11
ponto de estavan1 a1neaçados. Meu pai e o Pro- ',,• . vcarreta que levava o féretro. Na esqui- •
honra, era fessor Raul Leitão da Cunha, eleito segunda parte
um privilégio." pelo Partido Den1ocrático, defende-
ran1 no Plenário, co1n outros vereado- do discurso de na da Marechal Floriano, a cavalaria
res - então chan1ados i11tende11tes
- . o n1andato de a111bos. Otávio ·Minervino. E o ora- da Polícia Militar está fonnada para
Brandão era um intelectual alagoano
que chegou ao con1unis1no no impul- dor concluiu: "Sr. Presidente, não i1npedir que o povo continue pela Rio
so de un1a convicção Iibertária,
genuina1n ente posso agora acusar as ligações do Branco. A 1nuHidão se adensa. Ouço
s e n t i 111 e n t a 1•
Ele e a 1nulher, Getúlio Vargas ~0111 o i1nperiali.smo o toque de avançar do corneteiro da
Laura da Fon-
seca e Silva a1nericano porque 111e roubara1n a cavalaria. Ela vai carregar sobre o

sBaranpdaãron,aps1o. aentia- segunda parte do 1neu discurso." povo. Meu pai sobe na carreta e fala à

tocada pela Mas a gazeta que cu fazia na n1ultidão. Se1n n1icrofone, os ora9ores
chan1a da re-
v o1ta socia l. Cântara às vezes era ntonótona. Boa do te1npo projetavan1 a voz, rara1nen-
Era un1 hon1cn1
bo1n e idealista. era a da Praça Mauá. Ia ver o n1ovi- te enrouqueciam - e o povo ouvia.
Mais tarde vol-
tou à Cântara 1nento dos navios, dcixava-n1e ton1ar Ouvia 1nes1no? Tenho 1notivos
1oca I . e e 111
1947 fon1o s pela sedução do para supor que mais adivinhava; pela
colegas. junto
cont o poeta Jorge de Li1na. Otávio, mar largo, dos con11111hão dos sentimentos, cada qual
que vinha da Rússia, falava co1no uni
ron1ântico - e o era. Seu gosto era horizonte aber- entendia o que intcrionnente lhe dizia
conversar con1 o poeta da l•.'l1p,a Fulâ · a entoção do mo1nento. A sintonia. a
sobre a poesia e as 1nassas, já que as tos. Depois ..
n1ass:1s era1n o seu assunto obrigat6-
vinha andando identificação da n1assa dos ouvintes,
~
pela Avenida, faz com que perceba111 algumas pala-
rio: 111:ts a poesia l.'ra o seu assunto
preferido. lvlinervino era 1nannorista. entrava nas vras, algu1nas frases escondidas, e
Enquanto dcfendiant o ,nandato
popular. que o governo n1andava a agências de Qunam o que ouve1n com o que queren1
1naioria dos i11tcndt•11tes cancelar,
nu1n canto do plenário ele se concen- turis1no. colhia ouvir, dando ern resultado o que jul- '--"
truva. con1 o interesse de uni conhe-
cedor. no exa1ne da qualidade dos folhetos de via- ga1n ter percebido. Rui Barbosa fala-
ntánnores alvos e róseos da Gaiola de
gens. exa1n1na- va difícil e no entanto o povo enten-

va os cartazes dia; dava n1uitos sinônin10s, de modo

dos navios, a que aun1entava a possibilidade de

Mala Real alguns deles seren1 conhecidos; tinha .
como contrapeso a voz fanhosa e o
~ Inglesa, a Mes-
sagerics Mariti- sotaque leve1nente aportuguesado, o q
~~:;;::~:::~,f
n1es, a Naviga-
suspenso em vez do quê brasileiro ou

zione Generale. o Taj-Mahal, a Torre o carioquíssi1no qui. No entanto, o

Eiffel. a ponte sobre a Tâ1nisa, os povo entendia, por adivinhação poéti-

arranha-céus de Nova Iorque. a Praça ca: quando a palavra era obscura, cla-

ele São Pedro. en1 Ro1na. E ,ne pro1ne- reava-se pela afinidade do sentido

tia ver tudo. tudo o que os hon1ens oral. A meu· lado eu vi n1cu pai agi-

poden1 ver, aquilo que as 1nãos dos gantar-se naquele dia, do1nar a n1ulti-

hon1ens. a inteligência e o esforço dos dão con1 a voz cortante, que parecia

hontens andan1 a fazer neste n1undo. uni outro clarim na confluência das

Certa tarde dourada fiquei un1· tc1n- avenidas. Obediente ao seu co1nando,

po scrn conta. diante do n1ar oleoso para neãvoit•aancediotarsaacprriofívcoiocsaçãinoúdteaips ol"íe-
eia,
en1 que boiavan1 cascas de banana e

caixotes vazios. de olhos presos nu1na pren1aturos", disse ele, o povo dobrou

bóia de ferro, dessas q~ie tên1 em cin1a :.. Rua Visconde de Inhaúma e -seguiu

urna argola para :unarrar en1barca- pela 1? de Março. deixando a PM en1 •

ções: e sobre ela pousava unH1 gaivo- paz. Assin1 foi o cortejo popular do

governador que des nomes militares, para dar ganho

· disse Ne'go ao de ca.usa~ ao vencedor. O Presiden-

poder central. A te Washington, convidado a renun-

º revolução - que1n ciar, não cedia, mantinha~·se no Palá-
não via? :_ já esta-
cio Guanabara, firme. Os generais da

va descendo à rua. Junta eonvocaran1, ou aceitaram -
) A morte de João
pessoa, nun1 pai,s varian1 as versões - a intervenção

!' em que só ·os fatos do Cardeal Sebastião Leme.
inesperados têm as
Na 1nanhã desse dia, 24 de outubro

de 1930, dia da pacificação, isto é, de

'\ conseqüências ; deposição do governo já vencido, as

' esperadas, desen- notícias nos invadiram a casa no La•r-
go .do Humaitá. O povo varejou reda-
1
•t cadeou a revolução
l que estava prepara-
ções e oficinas dos jornais governa-

da ,nas ninguém mentais, foi esperar a saída dos poli-

dava a partida. Un1 ciais na Central da Rua da Relação,

1norto despertou os vivos. Começou a bandeiras dos Reghnentos. Mas, con; Paulo para malhá-los. Meu innão . decidiu
tra a própria bandeira da Pátria, isso Bittencourt
3 de outubro o movin1ento no Rio nunca! Esconder-nos da Pátria · na no Correio sair e eu fui atrás. Corri ao nosso
Guerra para a defesa da nossa terra, da Manhã:
Grande do Sul. Logo nteu pai, junta- seria ·,11na vergonha para vós e 11111a Adespeito quarto debaixo da escada, vesti o que
dor para o nosso coração, de 111ães, de muitas
mente com outros deputados, era pre- esposas e de filhas. Mas, apresentar- pressões, · tinha de mais parecido con1 uma far-
nunca Paulo
so, recolhido ao Quartel do Corpo de -vos para servir aos Políticos e111 l11ta, havia se da, o velho unifonne do Ginásio Pio
deixado
Bombeiros, onde estivera algum tem- e, o que o nosso coraça-o nao suporta, convencera Americano, não sei como arranjei um
porq11e s6 por covardia 011 por 111edo censurar
( · po no Gove1110 Bernardes, calorosa- de uni Governo que está co111 n1edo de meus artigos." talabarte, deran1-me logo depois um
vós q11e sois o Povo, podeis justificar
''---''mente bem tratado pelo pessoal. O o vosso aro de vos 11:ansforn1ar e,n • fuzil, e1nbarcamos nu1n carninhão não
111etcenários dos hon1ens q11e nunca se
presidente da Cãn1ara, Rego Ba1Tos, le111brara111 de vós sináo para pedir- sei de quem, surgido não sei de onde
vos o voto que os levou ao pode,: e
mandou lá e1n casa seu secretário agora a ·vida que os n1a11terá planta- - e saímos. Logo na Rua São Cle-
dos nelle. Não , vos apresenteis nos
saber do que precisáva1nos. O advoga- batalhões desses Políticos. A Pátria mente havia o quartel da PM ent que
precisa de vós para libertá-la 111ais
do Claudino Vítor do Espírito Santo depressa do seu nefasto do111ínio. Náo n1eu pai estivera preso no tempo do
vos apresenteis! é o grito da 111ãe. da
requereu um habeas-corpus, o gover- nutlher brasileira. E si vos recrutare,11 Bernardes. Nas imediações, fardos de
para o leito da ,norte na guerra c:it•il.
no respondeu ao Supremo Tlibunàl então e111 vez de n1orrer co1110 escra- alfafa dos cavalos servia111 de parapei-
vos da Política, ,narando ir111ãos
que os presos já estavan1 cm liberda- revoltados contra e/la, revoltai-vos to a uma hipotética luta de rua.
co,110 Soldados Nacionaes, para liber-
de, o pedido ficou prejudicado. Mas tar a Pátria do jugo assassino dos Já tudo era revolucionário, porém,
profissionais-da olygarc:hia!!!l!!!!!!!
nesse intervalo mamãe pediu a meu segundo ordens da Junta de Pacifica-
NÃO VOS APRESENTEIS! SOL-
pai que redigisse un1 n1anifesto curto, DADOS DO BRASIL, NAO SOIS ção. No estribo do cantinhão, un1
SOLDADOS DO CAITETE!!! (Si és
concitando os reservistas a não se patriota e desejas co11trib11ir para vereador que até a
que não sejan1 rnortos os rapazes que
apresentaren1 à C<?nvocação do gover- nada t?n1 que ver co111 os cri111es do véspera era exal-
Governo, passa adiante esse appel-
no para co1nbater os l"evoltosos. Junta- lo. Si puderes, tirp varias copias)." OE REPENlE, · tado governista,

mos um bando de garotos e, a tinta, ou O trecho entre parênteses e o chor- 1RuEo'JoOElURCl\0·· . rso1.uacsno10deC,IeVn.ICtuO-,
rilho de pontos de excla1nação fora1n a
a máquina, copiamos centenas de N~R\0, ~lÉ . di stribuía, en1
n1inha contribuição ao texto do bole- cada esquina,
vezes, a procla1nação, que ía1nos pela ti111 que um bandó de 1neninos da nos- MESMO OS inesgotiíveis
sa idade, mobilizado às pressas, saiu c liarutos que
rua colocando nas caixas do correio. GO'JERN\S1lS
espalhando pelas caixas do correio. tirava dos bol-
Era nada, mas era a nossa maneira de Afinal, como costuma acontecer,

e participar. Guardo uma cópia: ao ver que os revolucionários iam
"Brazileiros! Rezervistas! vencer, depois de poucos dias de
luta, un1 grupo de generais .resolveu
O Governo que agoniza está con- pacificar, isto é,:depor o governo e sos conto un1
negociar com os revoltosos. Fizeram
vocando as rezer1•as, para que n1aior uma Junta de Pacificação, c·om gran- . prestidigitador.

ainda seja a onda de sangue ir,não já Na Rua Evaristo da Veiga, fizc1nos

derrà,nado,· a fi111 sinais às sentinelas do QG da Polícia

... . ' de que os políticos Militar. Não se sabia de que lado

MEN\NOS .:.:- . use111 e goze,n a estari.am. Mas já estava.m do nosso

' lado. Prosseguirnos até o Estácio,

ESP~lRI\M - > Pátria co1110.11111a onde o quartel de cavalaria tarnbé1n
BOlEl\NS ·. .' . propriedade, 11111
latifundio, u,n aderiu. Vollamos até a Avenida Rio
' feudo dos seus

coNlRi\ O. ..' ~ .' Branco, onde encontrei 1neu pai num

OERR~MI\- ·.·. <: . grupos. Nós, as auto1nóvel verde, creio que de un1

i~MENlO DE 11uies brazilei- fabricante de chocolate, seu amigo,

s~NGUE ·.· .,, ras , 110,vas, apinhado de gente con10 nu1n corso

filhinhas dos d.e c.arnaval. Todos davam vivas, a

l rezervistas, pedin1os a tudo, e i:norras, ao resto. En1barquci a

cada' u,n que não to111e ar1nas para custo no carró aberto, que levava un1

defender esses Polít_icos à custa de cacho de pingentes.

sangue e da vidà de outros brazileiros Segui1nos pela Rua Paissandu até

que os cri1!1es e abusos desses gozado- defronte ao Palácio Guanabara, que

- res do Poder Público le1•arq111 à luta tinha·grades junto à rua e estava de

ar111ada. Si o estrangeiro nos a111ea- portões fechados. Lá dentro, o presi-

çasse a Independência e a Pátria, 11ós dente deposto, os generais pacifica-

serían1os as pri111eiras a levar-vos às dores. um vaivé1n de fardas.

''Sobral Pinto vura em disponibilidade pelas calça- Os excessos da oligarquia política
deu-me um abraço das da Avenida. Nunca vi tanto herói que dominava a nação, a submissão a
emocionado passeando. Nu1na tarde ameaçando interesses estrangeiros, que n1anda- ~
e segredou: te1npestade chegou do Nordeste, nun1 vam fiscais das contas nacionais, o ~
'Seja g~neroso daqueles aviões que parecian1 feitos perigo da Alfândega ter suas rendas
de lata de biscoito, o vencedor daque- penhoradas como garantia de paga-
na vitória''' la região, Juarez Távora. aureolado mento de dívidas externas, tudo ia
pela 1narcha· legendária da Coluna desaparecer. As eleições sob coação,
' eu pai falou aos soldados, do Prestes. Fui vê-lo chegar ao Palácio nunca mais. Minha mãe juntou-se a
lado de fora do portão, conci- do Catete, sob um céu de chumbo e uma porção de 1noças que percorriam
LACERDA tando-os a baixar os fuzis faíscas de meter medo, co1no nun1a as ruas com latas como pequenos
que estavam apontados para o povo. tempestade de teatro. Depois, em cofres, recolhendo esmolas para
Chamaram-no lá dentro. Ele voltou casa de seu sogro e tio, o tabelião pagar a dívida externa do Brasil, sob
logo. Ruma1nos, juntos, para o Forte Belisário Távora, apertei a sua mão e o patrocínio do Diário de Notfcias.
Copacabana, onde minha n1ãe foi conheci sua noiva, Dona Nair. Pare- Co1neçou a corrida aos cargos. Cada
parar. Recebeu-nos, na Casa da Guar- ceu-me enonne, pernalta, o belo ros- um que assumia levava uma nuve1n
da, o Comandante Honorato Pradel. to de ídolo pré-colombiano talhado de gafanhotos, digo, de revolucioná-
Meu pai apresentou-nos. Pradel aper- em pedra dura, um lenço vermelho na rios. Alguns ficaram a distância, por
tou-me a 1não e eu tive a impressão gola do comprido dólmã cáqui, des- pudor daquela correria. Entre eles,
de que entrava, naquela hora, na His- cendo quase até os seus magros joe- meu pai. Bastou correr na cidade que
tória do Brasil de João Ribeiro. A lhos. O Tenente-Coronel Pedro Auré- ia ser ministro da Viação do Governo
essa altura apareceu um soldado, per- lio de Góis Monteiro estava parado Provisório. nossa casa no Largo do
filou-se e disse: "Pronto. seu coman- com as tropas na fronteira do Paraná, Humaitá se encheu a ponto de umac
dante. o homen1 chegou." Quise1nos com Getúlio Vargas fardado, Assis pessoa que passava no bonde pergun-·
correr para a rua, para ver entrar o Chateaubriand fardado, Pedro Ernes- tar - uma parenta que chegava con-
presidente deposto. Meu pai nos con- to na frente ,nineira, fardado, todo tou - se ali era algutn centro espíri-
teve e disse rápido, a 1neia-voz: mundo fardado, todo mundo chegan- ta. Eu acompanhava, nos jornais e
- Não se humilha unl vencido. do para tomar conta do poder. nas conversas, o andamento da nor-
Contentei-n1e e1n ver, por trás da malização dos costun1es políticos.
veneziana as pernas do Presidente Quando a junta de generais paci-
Washington, nutn terno escuro, e a ficadores depôs o Presidente Wa- Mas no dia 24 tive uma missão,
batina ondulante de Dom Le1ne. cami- pior ainda porque voluntária, que até
nhando juntos pela faixa de cinlento. shington. estava hoje me envergonha e maravilha.
Esta cena n1e bateu de chofre, iminente a bata- Como foi possível! Fui à redação do
quando Sobral Pinto entrou no Palá- lha de Itararé, Diário de Norícias e ali encontrei,
cio Guanabara, no dia 1? de abril de pela posse de num alvoroço, o Nasci1nento, o exce-
1964, na hora em que parecia que eu São Pau lo, na lente paraense Nascinlento, magri-
havia vencido uma revolução. Deu- nho, moreninho, arquivista do jornal.
nle un1 abraço enlocionado e, be1n fronteira. Mas Então já era noite e a cidade estava
junto ao ouvido, me segredou: com a pacifica- em fest a - a festa da revolução.
- Seja generoso na vitória. ção, no Rio, a Nasci1nento estava esplêndido de
Niio importa que a vitória não batalha não se fúria· revolucionária, co1n um lenço
tenha sido ,ninha, nenl que a genero- vermelho dando um nó no pescoço,
sidade tenha sido 1naterial escasso. deu. Muri lo sobre o gogó saliente. Recrutou-me. ,C'\
depois. Nu 1nesquinharia triunfante, Mendes, poe- Fui sua ordenança. Arranjou, não sei ~
pude recordar a lição que recebi. Não ta en1 Juiz de como, dois bon1beiros e um automó-
quero ser hábil. Quero ser assin1. Fora, celebrou o feito com o poe- vel dessa corporação, e sahnos para
n1a-piada famoso: A 111aior batalha fazer justiça. Primeiro procurou um
A Junta Pacificadora, e1n 1930. ao da A1nérica do Sul/ Ncío ho111•e. prócer político paraense que ele abo-
E o jornalista Nóbrega da Cunha, 1ninava. Dionísio Bentes, pelo mal
que parece, quereria continuar a paci- no I Salão dos Humoristas, no que tinha feito aos seus a1nigos em
firação, isto é, continuar no governo saguão do Teatro Trianon, hoje Belén1, en1 episódios que contava
ou encontrar unla solução que frus- Cineac. pintou uma i1nensa tela, toda amamentando o rancor com palavras,
trasse a revolução. M11s co1neçaran1 a ela caprichosa1nente branca, conl enquanto o automóvel corria. O polí-
chegar os revolucionários. cobrando unla bela moldura dourada e o nome tico paraense não foi . encontrado,
a entrega do poder. As tropas. que do quadro: Batalha de Itararé. estava não sei se fugido ou detido -
não chegara1n a conlba1er de verdade. Mas. naqueles dias, parecia que os e que1n saberia, naquela confusão?
vieranl de tre111 para o Rio. Andavanl re11e11res tinha1n vencido. Começara a
heróis de n1elenas, barba grande e República Nova. Os carcon1idos. Passavam automóveis pela rua.
botas de ca1npanha. estadenndo a bra- conlo foram cha1nados os vencidos, agora sim, era um corso de segunda-
estavatn no chão. As lutas qu~ feira gorda. Surgiam cavaquinhos,
Pinheiro Machado estimulou quando violões. charangas inteiras. As bobi-
nasci, as matanças no Ceará, o bom- nas de papel da Crítica, de Mário
bardeio da Bahia. a guerra do Contes- Rodrigues, e de O País. cujo prédio
tado, os degolamentos no Rio Grande
do Sul - Dona Lélia Catnpelo, que (Qestava s.endo incendiado na esquina
nós cha1návan1os de tia. contava
con10 de u,na vez perdeu o pai e de Rio Branco e Sete de Setembro,
vários irmãos - , tudo cedia lugar a era1n desenroladas no asfalto, como
urna esperança nova en1 torno da qual serpentinas de um carnaval de gigan-
se unia1n adversários e até ininligos. tes, empurradas a custo por foliões

1nenos compreensível. Mas prendê-lo · •
por voltar à sua t•erra? Esta".ª conspi-

rando, agitando,•em suma, praticando

um ato capitulado etn algum artigo de

lei? Não, seu crime era voltar ao Bra-

sil. Prenderam-no primeiro em São

Paulo. Mas·o general Golberi do Cou-

to e Silva, /:hefe do Serviço Nacional

de Infonnações, n1andou trazê-lo para

o Rio, e aqui entregá-lo à polícia do

Estado da Guanabara. Tinha o gover-

no federal polícia própria. Esta foi

nlobilizada pelo Sr. Marcondes Fer-

raz, presidente da Eletrobrás dó

Governo Castelo Branco, por exem-

plo, para garanti-lo contra mi1n quan- ·

do fui representar o governo da Gua-

nabara na assembléia etn que ele dis-

solveu a CHEVAP e entregou à Light

o controle 'total do abastecimento de

energia do Rio de Janéiro. Foi na sede

da Cia. Hidrelétrica do Vale do Para-

naíba (CHEVAP), que o Governo

Castelo Branco exiinguiu, incorporan-

do-a à AMFORP, que o Bnisil com-

prou com empréstimo do governo

an1ericano para pagar a um grupo pri-

. vado a1nericano. Tive de exigir a saída

liliputianos. Afinal, por volta das 11 1nais etc. Minha vontade, para falar Carlos da polícia federal para que se realizas-

da noite, Nascilnento encontrou um com franqueza, era dar un1 jeito do Lacerda 'pres ta se a assembléia da sociedade anôninla,
alvo para a sua cólera justiceira. Não ho111en1 sair daquele aperto. Mas o depoimento
no inquérito na qual o Estado era acionista, que ia •
parlamentar
• sem antes procurar, até dentro dos carro chegou à polícia, na Rua da construir a usina termelétrica de Santa
a1mários de sua casa, Dionísio Bentes Relação. Subinlos, naquele vaivém que apurou Cruz e a hidrelétrica em Resende,
que era a sua obsessão. Depois fo1nos começando a nos livrar do n1onopólio
de gente. Estava lá o Tenente João suas denúncias
ao hotel e,n cinla do Cinema Pathé Cabanas, fan10s0 pelo troço armado sobre ojornal da Light. No entanto, no episódio da

Palace, na Cinelândia, procurar o que comandou, a que deu o título Ultima Hora. prisão do Sr. Elói Outra, o SNJ não
Senador Sousa Castro, do Pará.
aterrorizador de Coluna da Morte. Dessa usava a polí/:ia fede-
Foi fácil encon- Cabanas assumira, por conta própria, campanha
trar o senador. resultaria ral e atribu ía ao
Estava no seu
apartan1ento - ~ uma delegacia. Todo mundo prendia. a quedade "QUEI\\I\M governo da Guana-
dornlia. Nasci- ninguém sabia con10 relaxar as pri- Vargas. OE\XI\I\ MEU bara a função de
carcereiro do ex-
mento, solene , sões. Recebeu o preso, 1nandou reco-
deu-lhe voz de
pri sã o, en1 lhê-lo, Nascimento deu por encerrada GO'JEI\NO _v ice-governador
nome da revo- do Estado.
1uçã o. Pare- sua tarefa revolucionária, eu voltei SOi
susPElll\ Elói Ângelo
para casa, nu1na encabulação que OE 'J\NGI\NÇI\ Coutinho Dutra
fez a sua carreira
dura à vida toda. Pelas ruas a festa pESSOI\\." política na base

noturna prosseguia, transeuntes que

haviam tomado umas e outras enta-

ceu-me u1na bulavam discursos. Engrolava,n do antilacerdis-

cena da Revo- perorações pastosas, todo mundo nlo militante. Deram-lhe o ,nicro-

1ução Francesa, no cotneço. confraternizava, era utn desabafo fone das rádios, ele usou-os conl inte-

Depois co1necei ·a enjoar daquele confuso n1as esplêndido, etnbora ligência e brilho; e se irritou ,nuito os

rigor. a desconfiar que havia qual- vaga,nente assustador. meus partidários, deliciava os 1neus

quer coisa de errado naquela busca. Poucas coisas tne enfurecenl. mas adversários. que lhe dera111 a vitória

O senador, con1 un1a serenidáde u1na é, na certa, a mesquinharia. nas urnas. Elegeu-se deputado assi1n,

que me fez instantaneamente respei- Quando o oficial-de-gabinete, Geral- especializado enl a11rilacerdis1110.

tá-lo. pediu un1 minuto para trocar o do Monerat, hoje deputado estadual. Beneficiado pela impopularidade cal-
pijama, pegou uma escova de dentes, 1ne telefonou durante o almoço e,n culada do Governo Castelo Branco,

desceu conosco, entrou no auto1nó- casa, em 1964, comunicando que che- que a cultivou para justificar o regin1c

vel. Fotnos meio apertados no carro, gara ao palácio a notícia da prisão do de tutela e a supressão das eleições

os dois bon~beiros. o nlotorista, o Vicç-Govenlador Elói Outra, senti a diretas, elegeu-se vice-governador.
senador, Nascimento, que deblatera- mesquinharia e n1e índig!'lei. Ele havia derrotando Lopo Coelho. Fazer conl

va, e eu. Foi-me dando u1na grande sido cassado, isto é. privado pelo gol- que a sua prisão parecesse de minha
pena do senador, que ia silenci?SO, pe de 1964. sem defesa netn processo. responsabiIidade, era deixar o n1cu

seu perfil de nariz adunco parecia un1 dos direitos que todo n1undo tem. Exi- governo sob a suspeita de urna vingan-
papagaio encorujado, muito quieto, lara-se, vollava agora ao Brasil para ça pessoal, mesquinha, sórdida. Inter-
enquan10 Nascimento dizia que a ficar co1n sua mãe e ganhar a vida. Se rompi o ahnoço, chan1ei ao telefone o
revolução seria implacável, nunca o prendesse1n por ten1ar fugir, seria ao secretário de Segurança.

''Os militares ton1ada depressa, ,nas sern· precipi- por ele, n1as por todos nós. O gover-
mandaram tação, pois era justa e prudente.
prender Elói no da Guanabara não servia de ins-
Outra no Rio. Ele já ia sair quando ,ne ocorreu
Fui soltá-lo urna hipótese diabólica. E se o SNI o trumento ao ódio de ningué1n. Aper-
prendesse na esquina e lhe desse
pessoalmente'' surniço, con10 ficaria o governo da tamos as ,nãos. Ele entrou e,n casa,
' Guanabara? Unia encenação e urna
• inffl1nia, era o que se diria. Mandei na Avenida São Sebastião.
buscá-lo e lhe disse que ele iria
comigo, no carro oficial. Desce,nos, A reação foi, ern certos círculos, a
o ajudante-de-ordens, Major Osório.
Elói Dutra e eu. Urn funcionário da pior. "Assim, 1an1bém, é demais!",
polícia e o 1notorista Alrnir abrira,n
a inala do carro para colocar a do dissenun 1nuitos. "O Lacerda está
vice-governador cassado. No co,ne-
ço fomos silenciosos. Ao passarn1os fazendo demagogia eleitoral à custa
pela Cinelândia, achei que seria
desu1nano litnitar-se à fonnal idade da revolução." A ,ninha decisão dei-
do ato e não lhe dar uma palavra.
"- Deve ser bon1", disse-lhe, "voltar xou perplexos muitos amigos e serviu
à sua terra". Ele disse que sin1, que
não suportava n1ais o exílio. "Para de anna a rnuitos pseudoa,nigos. A
onde quer que o leve?", perguntei.•
"- Para a Urca, onde mora a rninha dificuldade de ter grandeza não está
mãe." Fomos até l,í. Deixei-o à por-
ta, pri1neiro paran1os nun1a porta em tê-la, nu1s e1n fazê-la entendida
errada, depois acertamos o nútnero
que ele dera. O major tocou a cam- pelos que , não a
painha, uma sen.hora apareceu em possuem. E como
ci1na, tomada de surpresa. O Sr. Elói
tentar descrever o
.. .
' 1 Cel. Borges. retido por outros '•- "0 Mi\\S amor a un1 eunu-
deveres, não pôde chegar com co, ou as cataratas
LACERDA a pressa que desejava. Fui ·jl TrR ·Bi\\XO DOS · do Iguaçu a um
direto à Chefatura de Polícia. SENl\MENlOS hidrófobo. Pas-
Encontrei os imediatos do secretário Outra disse que me queria dizer uma
e lhes dei ordem de soltar imediata- palavra a sós. O tvlajor Osório era de ÉODE . sou por mera
mente o antigo vice-governador do uma discrição absoluta. Mas atendi oESfORl\i\" demagogia.
Estado. Urn velho investigador, que ao desejo do ex-vice-governador. para muitos, '
vira n1orrer dias antes o detetive Le Disse-me então que estava, não ago-
Coq, assassinado no cumprimento ra, mas há muito, revendo conceitos esse ato de jus-
do dever. por u,n facínora, e fora e posições. Não era aquele mo1ncnto
insultado e arneaçado pela turba, próprio para fazer tais afirn1ações, tiça e, ta1nbém,
nos dias que precedera1n o golpe mesmo porque era uma atitude ·sua,
anterior à sua prisão. Disse-lhe que de prudência política.
oportunarnente poderíarnos trocar
idéias sobre isso. mas que realmente A orden1 de ·prisão fora dada por
não era o momento. Não o soltava
u1n telefonema de um coronel do

[ Exército, mandando prender Elói

Outra assim que dese,nbarcasse no

Rio, vindo de São Paulo, onde o

governo da rel'olução tivera o cui-

dado de não prendê-lo, deixando a

meu cargo esse triste mister. A

ordem era conservá-lo preso pela e

na polícia da Guanabara. Sem pro-

cesso, sem acusação nenhurna, sal-

vo um inquérito na Caixa Econômi-

Elói Outra ca, que não chegou ao fim por moti-
desembarca
vos nunca revelados.
para aprisão.
A um que n1anifestou sua estra-
"Mas
prendê-lo nheza, perguntei: " Desde quando,
por voltar à
sua terra? nun1 tempo norrnal, se,n · baderna

Não,seu nas ruas e sem suspensão de garan-
crime era
tias elen1entares, se prende u,n
voltar ao
Brasil. homem público com simples telefo-

Ordenei nema de um coronel q ue nem
que o
libertassem." sequer se identificou?"

A rnesquinharia pode agradar ao

mais baixo dos sentimentos, que é o

de desforra. Em geral, quem mais

,nilitar, perdeu a cabeça. abraçou-se quer desforrar-se é quem tem n1enos
a mim, numa crise de ernoção edis-
se: - ''Governador. o senhor vai sol- contas a cobrar. Pode saciar certos
tar esse hornem, que o insultava,
que ia prender a todos nós, se ven- gostos, pelo contágio da indignida-
cesse?" Entrou o Sr. Elói Outra,
con1 a mala de papelão que trouxera, de, que pega mais do que caxumba.
corno toda bagagem do desterro en1
Montevidéu. Apertei~lhe a mão e Mas o que fica é a grandeza, de que
disse que estava solto. Uns pensa-
rarn que era de,nagogia n1inha. alguém deve se1npre ser capaz, sem-
Outros. que era um in1pulso de
n1omento. Era. sin1. unu, decisão pre que os seus irnpulsos forem

,nelhores do que as suas conveniên-

cias. Na-da mais perigoso para uma

nação do que hotnens públicos que

se porta,n em relação a ela corno se

não temessem o julgamento dos

seus próprios filhos.

No-próximo número, 6~ capítulo: "Não sou o reacionárip que eles descreveram."

''Rosas e Pedras do Meu Caminho'' ®

unca pertenci ao Partido •

nem à Juventude Con1u- Com o neto
Carlos Eduardo,
nista. Deixei que durante a alegria, que
em algumas
tantos anos amigos e inimigos ocasiões foi
intensa.
repetissem essa inforn1ação erra-

da, apenas por amor à idéià geral

e horror à covardia. Para ser

comunista só rne faltou. precisa-

mente, ser membro do Partido ou

de un1a de suas organizações

autorizadas. Portanto, não havia

o que desmentir senão por amor à

informação exata. E quem se

importa corn a informação exata?

Quando ser co,nunista tornou-se

prova de inteligência, ter sido, e

não ser mais, converteu-se ern

den1onstração de reacionarisrno e

traição. Deixei que o dissessern

aqueles rnuitos con1unistas que

me conheceran1 e que por força

do artigo I3 do pri1nitivo estatuto

do Partido no Brasil era1n proibi-

dos de falar con1 os renegados.

De tudo o que me aconteceu na

vida, o que n1ais coragern exigiu

foi precisa,nente afrontar a injus-

tiça desse terrorismo n1oral com

o qual se quis liquidar-me. Esse

terrorismo neuiraliza o tnedo da

política ou de qualgu~r instru-

rnento repressivo. E a coação

moral, o cerco da inteligência.

Num livro de André Malraux

que teve considerável influência

sobre o rneu espírito, n1aís do que

a Condição H11n1a11a, O Te1npo

do Desprezo, novela da prisão e

tortura de lim homem pelos

nazistas, está dito algo que n1e

ficou na consciência. '"S11a cora-

ge111, co1110 toda coragen1, era

11111ito 111ais eficaz contra o perigo

do que contra a angústia."

Desde cedo, conheci o

comunismo, por assim dizer,

en1 casa. Depóis, na escola. Fui

preso na porta do Lóide Brasi-

leiro, a o sum-17coamn1o,cs1.,0.q u an d o ia
começ a r

~'·E~- ntre os gas. O Major Costa Leite, veterano zado. Propôs que se
cõmunistas organizassen1 fren-
Havia competição revolucionário, co111 sua extraordin.í- tes populares.
e·'rivalidade. E a1npliando. livran-
ria n1ulher, Rosa. innã de Ilvo e Silo do os organismos
tâmbém dedicação partidários do sec-
Meireles, dois outros revolucionários tarisn10 que faci li-
e sacrifício'' tou a ascensão cio
desde n1uitos anos, cha1nou-n1e edis- nazisn10. En1 conse-
qüência, foi dissol-
se: "Você quererá apresentar no seu vida a Juventude
Con1unista no inun-
discurso (eu devia falar con10 estu- do, inclusive no
Brasil. E assi1n. não
dante) o no1ne do Prestes co1no presi- entrei pnra a Juven-
tude Con1unis1a.
dente de honra da Aliança?" Fiquei Ficamos. co1n mui-
tos outros jovens.
suman1ente honrado. Quando fa lei no organizando o Con-
gresso da Juventude
non1e de Luís Carlos Prestes, de sur- Popular, onde havia
de tudo - 1nenos. é
presa. a platéia aplaudiu entusiastica-
eclaro. os anticomunistas.
n1ente e de citna das galerias, de todu Convivi muito corn os con1unistas.

parte, desdobraram-se cartazes e ban- conheci os seus 1nétodos, a luta feroz

deiras que dizian1: "Prestes. Presi- entre os grupos pela posse do poder de
decisão, as con1petições e rivalidades.
dente' de Honra." A surpresa tinha que chegan1 às n1aiores 1nesquinha-
rias: e tan1bén1 os exen1plos de dedica-
sido cu idadosa1nente preparada. ção, de sacrifício, de desprendin1ento
c de heroístno de que são capazes.
' Ochefe da turma ele captura cha- Na Faculdade de Direito, estava
1nava-se Cecil Borer. Fui no En1 1938. pleno Estado Novo, tra-
LAC ERDA tintureiro. fui fichnclo. fiquei pronto a entrar para a Juventude balhava no Ohser1•ador Ec:011â111ico e
Financeiro. do qual era diretor Olí1n-
"Capanema, C Om li ll iSta , e 111 pio Gu ilhenne e proprietário Valen-
Intelectual titn F. Bouças, que depois se tornou
que se no porão da polícia. entre 111alan- 1933. quando foi n1eu an1igo. Durante todo o te1npo
extraviou en1 que l.í trabalhei. mal cheguei a
numa dros, ladrões, assassinos e, n1eus PORQUE vencedora, no conhecê-lo. O ant igo representante
politicagem cotnpanheiros de co1nício. Enunos ll\CEROI\ Congresso da Jn- da Hollerith no Brasil (hoje estabele-
bem inferior NUNCI\ tern.icional Co- cida aqui d ireta1nente co,n o nome de
uni grupo de rapazes, entre os quais n1un ista, a tese IBM) era íntimo de Getú lio Vargas.
à sua
Tobias \Varcha,vchik. n1ais tarde ecom o qual jogava golfe freqüen1e-
inteligência."
1norto pelos con1unistas. acusado de ENlROU de Dimitroff. 1nente. O Departan1ento de ltnprensa
• Preso e proces- e Propaganda (DIP), dirigido por
trabalhar para a polícia n1as. segun- pl\RI\ 1\ sado con10 uni Lourival Fontes, contratou com o
JUVENtUOE dos in1plica- Obser,·ador a publicação paga de
do os co1nunistas, torturado e n1orto dos no incên- unta série de reportagens sobre a
coMUN\Sll\ Exposição das Realizações do Esta-
pela polícia. Tenho certeza n1oral de do Novo. co1nen1orativa do primeiro
ano de instauração da ditadura.
que foratn o~ co1nunistas que o Recebi a incun1bência de entrevistar
o n1inistro da Educação. Gustavo
n1a1aran1, atirando o cadáver na ílo- dio do Parla- Capane1na. e foi quando o conheci.

resta da Gávea. con10 n1ataran1. 1nais n1cnto (Reichstag) ale1não. que os Ton1ava notas do que ele dizia, ele
tarde, 'o Capitão Medeiros. 1nen1bro
nazistas inccndiaran1 em 1933 para -gostou de 1ne ver tomar notas e do

da Aliança Nacional Libertadora. dar con1eço ao terror, servindo-se de n1eio para o fin1, olhando o papel en1
que eu escrevia. já ditava: rírgula.
atribuindo o critnc f1 polícia. Esta já uni débil n1ental, Van den Lubbe. o ponro e 1·írg11la. co1no se assim tivesse
n1ais certeza de que o seu pensa1nenro
1en1 bastantes crin1cs. não precisa líder búlgaro Dimitroff fora para a era fieln1ente reproduzido. Esse inte-
lectual que se extraviou nun1a politi-
que lhe atribua1n os alheios. Rússia cotn uma experiência nova cagen1 inferior [1 sua inteligência tinha
A' pritneira prisão segu 1ra1n-se a n1ística do poder. tvlas, por isto mes-
do n1ovin1ento fora do país sovieti- n10. queria urn poder modernizado,
con1 painéis de Portinari e arquitetura
outras. ~las, sobretu- de Oscar Nien1eyer. Encon1endou a

d o . segui u -t.as e unia
.~ . u 111 a
c o n c
v I v e~ n

c:11naradagen1 q uc

leve fases de intensa

alegria. de realização •

na ação. de esperança

finne. Mais tarde.

governador. divertiu-

1nc ver a long:1 ficha

dl' n1inhas prisões e

principais :11ividadcs.

segundo a polícia.

Fal1avan1 nn1itas. n:1

ficha.

No palcl1 do Tca-

tro João Caetano

estava arn1acla en1

co1neços de 1935 a

f\1lesa que ia presidir

a assen1bléia de ins-

talação desse n1ovi-

1ncnto, por trás do

qual. con10 única for-

ça organizada. estava

o Partido Con1unis1a.

Estava presente u1n

reprc~en1ante do Pre-

sidente Gc1ülio Yar-

vam;· entre eles, o elemento de liga-

ção entre o Partido Comunista e

aquela revista, que era sustentada

cotn uma subvenção da Light ao jor-

nalista Azevedo Amaral.

Ve lho e cego, foi o veterano

publicista utilizado para canalizar a

subvenção da Light e, assim, em últi-

tn a análise, era a A,nerican Foreígn

Po\ver, através de sua subsidiária

brasileira, a Light & Po,ver, que sus-

tentava a revista comunista etn que

colaborávamos.

"Achamos que você deve aceitar a

incumbência. Evidenten1ente o DIP

quer fazer uma provocação à custa

dessa História do Con11111isn10. Se

você não aceitar, quem irá fazê-lo?"

Olímpio Guilherme me havia dito

que iria encomendá-la a Heitor

Muniz, que escrevia freqüentes arti-

gos anticomunistas por conta do DJPl

Celso Antônio a est.ítua representativa ondulando no desfile monun1ental. Vargas decreta e por conta própria. "Não, decidida-

do ho1ne1n brasileiro. Um dia, dos "Uns três mil", disse o 1ninistro. O o Estado Novo e n1ente você deve aceitar a incumbên-
1nuitos e1n que foi visitar a estátua no hon1em, a lápis, fez rapida1nente a Lacerda cia, porque assim retira todo veneno
ateliê do escultor, o ban·o em que conta. Era muito caro, com os veludos e impede a provocação."
estava sendo n1odelada, apoiado nu1na e cetins. E o governo dava pouco relembra
complicada estrutura ele 1nadeira, caiu dinheiro ao Ministério da Educação. Aceitei a sugestão com infinito
os tempos cuidado, sem citar um só nome, não

agitados que ser o de Luís Carlos Prestes e rry

viveu então:

diante de seus olhos espantados. O Capanema pensou e decidiu: "Não, "Eu já havia

ho1nen1 brasileiro desfez-se aos olhos faça três. Uma para a frente do corte- superado o Berger, que já estavam condenad se

do seu criador, con10 se rejeitasse a jo. outra para o· pavilhão do presiden- encantamento presos, e cuja chefia no Partio,, era
pelo notória, concluía afirmando que o
idéia de se transfonnar en1 mito de te, outra para ficar no tneu gabinete." comunismo." Estado Novo havia acabado con1 o
unia ideologia. Sua técnica de exposição era

Outra ocasião. resolveu escolher o peculiar. Ele tinha o que se costuma comunismo no Brasil, que agora a

símbolo da J uventude Bras ileira, chamar de pseuclométodo. Ditava a questão era se unir todo mundo etc.

organização cn1 moldes fascistas que sua entrevista: etc. O Estado Novo queria gabar-se

o Estado Novo quis instaurar. As "O sistema de Bibliotecas Nacio- d isto. Aos comunistas era isto que

legiões juvenis. isto é, a garotada das nais, tendo como órgão central a convinha. Mostrei a

escolas, deviam Biblioteca Nacional do Rio de Janei- reportage1n ao ele-

desfilar diante de ro, deve ser: a) Cotnpleto: b) sis- mento de ligação

Vargas na parada temático; c) primoroso." da revista Diretri-

de 7 de seten1bro. A palavra pri111oroso estava no seu zes com o Partido

• O Ministro Capa- vocabulário, então, como preferida. Con1unista. Foi
ne1na quena um Registrei 12 a 15 vezes, no curso de achado confor-

sí1nbolo d as unia conversa de hora e meia, a pala- me. Entreguei os

legiões. O fabri- vra pri111oroso. Fiz a entrevista sobre" originais à dire-

cante de bandei- as realizações do Ministério da Edu- ção do Obserl'a-

ras e galharde- cação no Estado Novo. As estatísti- dor Econô111ico:

tes. convocado cas eratn improvisadas. O diretor do Olímpio alterou duas

1 pelo ministro. ensino secundário trazia o que cons- ou três expressões. A tese central

1 esperava a decisão. Capanema hesi- tava. o ministro e seus colaboradores ficou de pé: o comunismo estava

tava. Águia? Não serve, a águia bra- examinavatn, Capanema exclamava: liquidado, não havia mais perigo

•' sileira parece uma galinha. O tapir? "É 1nuito pouco! Não, assim não, algum, o Estado Novo, etc.
É uni bicho feio e ne1n sequer é car- assim não é possível!" E cotn a n1aior Essa reportage,n-história procura-

nívoro. O tatu? Imagine, a juventude fidelidade, os diretores au1nentava1n va tratar o assunto em linhas gerais,

( não pode ser representada por um a estatística de alunos matriculados sem referências pessoais. Seu su1ná-
tatu. Afinal desistiu de animais e se no curso secundário em todo o país. rio era este - "1919/20: auge de efer-
l

1

concentrou num losango dentro de para não envergonhar o regime. vescência nessa fase de ascensão do

u,n 1riânguló ou triângulo dentro de Em dezembro de 1938, Olímpio tnovimento operário. Surge uma ban-

um losango. rodeado por um círculo, Guilherme propôs-me, a propósito deira em torno da qual trabalhadores e

cada qual de uma cor. da parte da exposição do DIP, que se intelectuais poderiam propor seus

O n1aterial devia ser nobre, veludos ocupava da luta contra o con1unisn10, problemas e discutir soluções. Era o

e cetins de várias cores. "Quanto cus- que eu fizesse uma História do começo. O Congresso Sindical de

ta? Depende do número de bandeiras · Comunismo no Brasil. Recusei. · 11920 demonstrou a força crescente

que V.Exa. queira", disse o fabricante, Depois, na redação de utna revis- dos radicais; embora minoria, eles

1 prelibando a vasta encomenda. O ta, a Diretrizes, na Rua Senador Dan- • tinham ascendência intectual e força

1 1ninistro via n1ilhares de galhardetes tas, falei no assunto aos que lá esta- de convicção.''
l

''Omanifesto de mes da Fonseca houve lutas sangren- um partido e siln um movimento de

tas. En1 1927, vencido, exausta a ação coordenada contra todas as for-

Prestestinha até Coluna, depois de andanças que mas de reação, contra o fase ismo e o
fora1n até o Piauí e o Maranhão,
Prestes pede asilo à Argentina. itnperialis1110 contra a guen:a". (Não l'nl

En1 1928 fonna-se no Rio o Bloco interessava aos co1nunistas a fonna- W
Operário e Camponês, para concorrer
um apelo aos às eleições. A Nação (jornal fundado ção de u1n partido no qual eles
por meu pai e· Leônidas de Resende.
depois fechado e então reaberto co1n serian1 111inoria, por associ~ção ou
outra direção vinculada ao Partido
Comunista) ressurge co1no jornal de por infiltração, e sin1 uma Frente
agitação, não só entre os militares,
índios para co1no era o caso da Classe Operária, Popular, de forças disparatadas e
n1as no n1eio do povo en1 geral. En1
dezembro desse ano. realiza-se o 3~ desunidas na realidade, na qual
Congresso do Partido. En1 Guayra,
Lufs Carlos Prestes aproxi1na-se do somente eles teria1n unidade de
Partido Con1unista, declarando. ao
participarem comando e de objetivos definidos.)
joven1 jornalista
Barreto Leite En1 1934/35, já como aplicação
Filho, que o foi
da insurreição'' entrevistar para dessa política, surge no Brasil a

os Diários Asso- Aliança Nacional Libertadora, em
ciados:. "Não há
111 ais so l ução cuja fonnação o Partido Comunista
para o Brasil
,, o a_narquis~o che~ava a~ contribui decisivamente. (O que não
fim con10 1deolog1a don11-: dentro dos qua-
dros lçgais." contei na reportagem, embora fosse

Em 1930, a notório: seu presidente era o
revolução da
nante, pelo caráter deli- Aliança Liberal ia contar co1n o Co1nandante Hercolino Cascardo.
apoio dos con1unistas. Mas houve
rante. utópico de un1a sociedade sen1 contra-ordem e Prestes não. entrou. que chefiou a revolta do encouraça-
Cria-se o Ministério do Trabalho,
goven10. En1 1923, o Cotnitê Central aprofunda-se a legislação social, do São Paulo; e eu, um dos mais

LACERDA do Partido Co1nunista teve à sua dis- w,- Qentusiásticos propagandistas dessa
posição, durante 1nais de utn ano, lnna
- :ozwe Aliança, que encheu de sonho os
:<:.
página inteira de O P_a(s, do Comen- n1eus 21 anos. Por quê? Porque a
tirando n1uitos pretextos de subver-
dador João Lage. o grande jornal são. Divulga-se o Anteprojeto de realidade do Brasil era mesquinha e
Constituição Con1unista. Dizia A
governista da época. para con1bater o Classe Operária: "Luís Carlos Pres- acabrunhante, a·oposição liberal era
tes declara que a Liga deve ser un1a
refon11isn10 expresso pelo 1novitnento frente única de todos os revolucioná- uma ficção, o governis1no era un1a

dos 1e11e11tes e da oposição liberal, tra- rios; 1nas na realidade ela será un1 forma de carreirismo, o don1ínio de

• duzido na revolta do Forte de Copaca- partido confusionista." Prestes que- interesses estranhos ao Brasil era
bana en\ 1922. Daí até o 5 de julho de · ria u1na frente, o Partido Co1nunista,
não. e custava a aceitá-lo, conside- pern1anente, a falta de uma causa
. rando-o un1 den1agogo pequeno bur-
l 929. con1 a revolta 1nilitar e1n São guês. Multiplican1-se os jornais ile- para a juventude lutar e se afinnar
_gais, União de Ferro, S()/c/ado \1er-
Paulo. abre-se un1 período de conspi- 111elho. .lol'en, Proletário etc. levava naturalmente todo joven1 que

rações e ali:1nças. A característica que E111 1935. reunido en1 Bruxelas o não fosse um tolo a uma opção:
Congresso da Frente Popular, deci-
os con1unistas in1roduzira1n no movi- co1nunismo ou fascisn10. Si1npatizar
.. de-se criar através do n1undo "não
n1ento soei.\! e político foi a seriedade. com un1 ou com outro era a alterna-

A ironia desapare- tiva. O 1nais. era a morna rotina, a
ceu; o ccticis1no,
"No longo este foi liquidado. 1pna.1sns,e1ra1. cae, i ra eataracsoon, foarm1. gidnoadra..e..ncc1o.am, a
aprendizado o a
desta vida,
Eratn todos de u1na injustiça. a corrupção intelectual e
conheci
exemplos de seriedade n1ortal. n1oral, maior do que todas as demais

dedicação e Etn abril de 1925. forn1as de corrupção.)
de idealismo. realiza-se o 2~ Con-
ÇContinuava a reportagem. A 13 de
Como -dgore.sBsroasiCl.ojná1ucnonis1t0a
Astrogildo n1aio de 35, a pretexto de come1norar
Pereira, um dos
a Abolição, realiza-se no estádio da

fundadores do :-eção reconhecida Feira de Amostras grande co1nício.

Partido pela Internacional no qual é lido o manifesto de Prestes

Comunista Co1nunista con1 concitando à união para a luta contra

em 22. " sede en1 l'vtoscou. A eo regin1e. A 5 de julho, lido o n1ani-

1? de 1naio de 1925 festo decisivo de Prestes: "Todo

circulou A Classe Operária, órgão do poder à Aliança Nacional Libertado-

•• Partido. con1 30 1nil exe1nplares. E ra." (O que eu não contava: esse

foran1 criadas as células do partido 1nanifçsto n1e foi entregue, para ler

nos portos. E1n 1925 o Partido, peqt{e- no dia seguinte na sede da Aliança,

no, era no entanto estruturado com na Avenida Almirante Barroso, l?

con1itês regionais e células. andar, perto da Agência Havas e do

Etn 1924. fOnl o con1eço da 1nar- outro lado do prédio de O Globo,

chà da Coluna Prestes (28 e 29 de pertencente ao Liceu de Artes e Ofí-

outubro, datas do levante de Santo cios, depois à Caixa·Econôtnica. Fui

Ângelo). Prestes. aos 26 anos, ron1pe dormir na casa de un1 anligo, para

a 27 de deze111bro "o círculo de ferro evitar que pegassen1 o n1anifesto,

-da legalidade". A 3 de janeiro vence pois, diziam os dirigentes da ANL, a

as forças annadas do governo no polícia de Filinto Müller estava /\":,
ansiosa por saber o que ele continha. ~
con1bate da Ranu1da. Um 1nês depois
Prestes datava-o de Barcelona. Na
transpõe o rio Uruguai en1 Porto
realidade. já estava no Brasil. O
Feliz e invade a rcgif10 cha111ada do
n1anifes10 tinha toques de profunda
Contestado, onde no Governo Her-

cio seu apoio, se se criasse o a1nbien-

te necessário às suas 1n anobras.

envolventes . _l\ll as,.'no reg i1ne ati.1al,

co1n a cent'ralização do poder. o

prestígio do seu chefe (Vargas) e a

união nacional de todos os esforços

..•• • para un1a obra de progresso e de .

~~: paz. não é provável que o co1nunis-

. ..f. .~. 1no ,possa novamente desenvolver-
,J se. A eficiência da repressão pol i-

cia l vem juntar-se, agora, algo

menos fundamental, talvez, 1nas

n1ais duradouro: :i existência de um

programa que tende a ser estável,

funda1nentando un1 verdadeiro tra-

balho construtivo. Todas as possibi-

lidades estão contidas nesse progra-

1na. E con10 ex íste esse ponto de

condensação de esforços, u1n novo

rpuorlníoticasegeirmalprdiornBe raàsio~rise,onota•ção da

Assin1 procurava a )t?'~ftage111

anônima de que fui incun1bido, tran-

'5, ') 1. ngenu1ºd ade, co1110 o ape 1o aos qüilizar o governo acerca das reais

efeito de repressão tnilitar, à invasão Em 1934/35, possibilidades dos co111unistas. M,1s.
1nilitar. "a co1noção grave c perturba-
índios para participaren1 da insurrei- dora da orde1n social e política''. surgiu a os co1nunistas, pelo visto. não que-
Deterrnina ''a suspensão d,1s garantias Aliança
ção. A linha insurrecional fora o constitucionais que possarn prejudi - Nacional ria1n tanto. Pois a direção do Partido
car, direta ou i11diretan1ente, a segu- Libertadora.
resultado de infornH1ções defeituosas rança nacional". (Era o pai da aluai Após seu queria o entendimento con1 Vargas e
Lei de Segurança, que está e1n vigor.) fechamento,
dos olheiros da Rússia.) ocorreria o não. corno os 1ro1skistas. o d<'Sl/10ro-
Transfere-se para São Paulo .i levan te
A 11 de julho de 35 o Governo sede do Partido Co1nunis1a. que no comunista 11c1111e11to de Var~as.
Rio foi desbaratada. A IOde novern- (na seta,
Vargas decreta o fecharnento da bro de 37. instaura-se o Estado Agi/do Barata). Neste ponto há

ANL. O ex-deputado co1nunista ale- Novo. Aqui a reportagen1 concluía, • UN\10 DE ele se entender por
opostos: que, con1 essa e
n1ão Harry Berger, que veio con1 con10 desejado pelo agente do Parti- outras experiên-
do, dando a certeza de que não havia oQUE OS cias, ao ajudar a
outros agentes preparar o 1novin1en- rnais perigo graças ao Estado Novo."
Textuahnente:
to, escreve - estava no seu arquivo,
"Na Correspo11da11ce /11ter11atio-
l encontrado pela polícia e exibi,do na 11ale. órgão teórico da Internacional. coMUN\SlJ\S pron1over a Fren-
un1 chefe co1nunista bras ileiro afir- \J\RJ\M J\tttES te Atnpla insisto
• exposição do Estado Novo: ..E 111110 1nava, en1 contraposição à lese trots- na fonnação de
kista ( 18.6.38): e os cornunistas bra- oos outROS un1 grande par-
revolução 11acio11al a11tii111peria/ista. s ilei ros denunc ian1 a palavra de
orde1n trotskista de des1norona1ne n-
A finalidade desta etapa é a criaçâo to i1nediato do Governo Vargas. lan-
çada atualtnenle pe lo trotskista.
da 111ais a111pla frente popular." como 1nanobra para favorecer o fas- iido autentica-
cisrno, e lança, con1 a 111aior energia
A 14 de n1arço de 37, já criado o a palavra de orde1n apregoada desde n1ente popular e democrá-
1narço de 37: só a união nacional de
Tribunal de Segurança Naciona l, todo o povo brasileiro e1n defesa da tico, para conquista do poder pelo
democracia poderá i1npeclir a do1ni-
declara o Ministro-Coronel Costa nação fascista ... voto e a realização de un1 progra1na

Neto, desse tribunal. depois ad111inis- "Assi1n pretendia o corn11nisn10 de ·desenvolvi n1en10.
traduzir. e1n tennos nacionais. as
trador da Rádio Naciona l e das diretivas da lnlcrnacionul relativa- A lática de n1era frente única. ou
1nente ao sentido atual da sua ação
empresas francesas que Vargas incor- pol Íl ica. Mas, poderão rea lrncnte frente popular. juntando adversários
contar con1 forças capazes de las-
porou ao patrimônio nacional: "Exis- trear a sua arrogante proposta? (...) n1on1entanearnente, para efeito de
A verdade é ·que o con1unis1no pode-
tia1n (en1 35) duas revoluções parale- ria ainda levantar a cabeça para cornbate episódico· a 11111 in in1igo
negociar abenarnen_le as cn11diçiies
las, unu1 articulada por elementos con1un1, é a que convén1 aos grupos
j políticos e alguns 1nilitares descon-
mais sectários do comunis1no, porque

tentes, outra de só a eles beneficia, un1a vez que são

caráter nitida- eles os que 1nantêrn, alé1n de un1a

.,.I mente co1nunista. organização en1brionária, 1nas ex1re-
chefiada por
1na1nente disciplinada. u1n objetivo

Prestes ... pennanente a atingir, c(>nl irnplacável

Co111 os n10- decisão. Os objetivos ocasionais que

vi1nentos de 23 poden1 fazer os políticos ln1rg11eses

de noven1bro ou social-reforn1istas juntare1n-se,

etn Natal e dispersa1n-se. dissolve1n-se con1 faci-

Recife e 27 de lidade pelo can1inho. Os seus, não,

novembro no estes prosscguern. Daí a conclusão

Rio ; n1alogra a que se iinpõe; e pasrna corno ainda é

6. ' . revolução 1nilitar da Aliança Liberta- i1na1uro o pens,11nento político brasi-

~ dora. A 18 de dczen1bro. o governo leiro. en1 1967, a ponto de não veren1.

faz aprovar pelo Congresso a emenda no sentido de1noerático. o que os

número I'.' à Constituição, que cria o co1nunistas já vian1, no seu próprio

estado de guerra e equipara, para sentido. há 32 anos passados.

''O PC classificou- · realidade, o máximo que se podia to de quarto e sala, no primeiro andar ..
aventurar em matéria de improvisa-
do edifício do Cinema Roxy, defronte

me de agente ção é que o brasileiro comia, em ( fde um geleiro e um bicheiro da Rua
média, menos de um quilo de doce
por ano. Com isto o instituto não foi Bolívar, em Copacabana. Uma tarde,
pouco depois daquele encontro no

_provocador, criado e eu ganhei um emprego na carnaval, entraram no apartamento
redação do Observador, onde publi-
dois amigos, o diretor de Diretrizes e

espião da quei uma série de estudos, como O um outro. Vinham com a cara compri-

Rio São Francisco, ultima.mente edi- da, sentaram-se, não sabiam por onde
tado no livro Desafio e Prornessa.
começar. Afinal, sem mais palavras,

Gestapo a serviço Mas a publicação de janeiro de 39, estenderam-me uma folha de papel
sobre a história do comunismo no
Brasil, ainda me reservava surpresas •mimeografado. Olhei primeiro o fim:

do nazismo'' era uma decisão do Comitê Regional

e desgostos, que duravam 20 anos. do Partido Comunista do Brasil,
Dias depois de
seção da Internacional Comunista. Li

. .·, publicada a edição o papel. Ali eu era classificado de
agente provocador, espião da1Gesta-
' A Frente Amplà é uma necessi- "fU\ . · . do Observador, o
dade para restaurar o poder
• civil, as garantias cívicas, pre- ººEXPUI.S0 . .· •. agente de ligação po, elemento a serviço do nazismo, do
pç ..· .. ·. entre o Partido e a
revista Diretrizes imperialismo americano e desagrega-
~oMO -.·. : .. me disse que um
• , ..,parar o país para eleições livres e dor trotskista. E era expulso do Parti-

diretas, assegurar u,n programa de 11\0lSK\SlA·· elemento da do Comunista como inimigo do prole-

desenvolvimento com democracia e i:~~~~~. • · direção central tariado. Nenhum elemento ligado ao
paz em liberdade, não a paz forçada do Partido ql,!e-
LACERDA . Partido ou simpatizante deste poderia
mais ter relações de amizade comigo. ~, 1
do medo que as armas impõem.
ria falar comi- Pouco falamos. Eles saíram. Olhei

A Frente Ampla como um mero go. Marcou encon- para Letícia. Sabia o que me espera-

ajuntamento ocasional de descon- tro numa leiteria em Madureira. Era va. E ela viu nos meus olhos. Come-

tentes e de idealistas não conduziria fevereiro e carnaval. Fui a Madureira. çou o vazio em redor de nós. Amigos

a coisa alguma senão ao controle Na leiteria ele me reconheceu, troca- de todo dia, de chope no Alcazar e de

pelo grupo mais consistente, mais mos os sinais convencionais, sentamo- café nos locais de reunião de artistas

organizado, mais disciplinado e nos, ele encomendou um copo de leite e intelectuais, voltavam-me o rosto.

con1 niais firmes e permanentes e me perguntou: Amigos de infância não só deixaram

objetivos. Esse grupo só existe em - Você foi membro do Partido, ou de falar comigo, como alegavam o

função de uma çia-doe oaluotgoina.t t no.taa.l i t á r i a da Juventude Comunista? conhecimento que tinham de nossa
.e un1a org ant.za. a, - Não, disse eu.
intimidade, da nossa casa, para

Se não se formar no Brasil a Fren- - Bem, isto melhora a situação. inventar a meu respeito, de Letícia,

te Ampla, ela será fonnada como - Que situação? de nossa vida, tudo o que lhes inte-

frente popular, com as características - É que a direção do Partido está ressava para desacreditar-me.

de un1 movimento de protesto in- furiosa corn a História do Con1unis- Mudamo-nos para as Laranjeiras,

coercível. que só seria vencido pela 1110 no Brasil, que você redigiu para o e logo fui a São Paulo. De volta,

brutalidade das armas e pelo terror Observador. bateram-me à porta dois investigado-

ditatorial, o que. na conjuntura mun- - Como? Não foram vocês que ,~.res; um delês tinha sido meu colega

dial, além de indesejável, é inviável. me recomendaram aceitar a incum- de faculdade. "Temos ordem de levá-
lo para esclarecimentos." Peguei a 'e::.
Portanto, ao for mar a Frente bência?

Ampla, estan1os prestando um serviço - Bem, mas você exagerou, mos- bagagem do costume, e saí. Na polí-

à democracia no Brasil, estamos trando que o Partido não tem mais cia fiquei uns 15 dias. Ao fim desse

abrindo as portas a todos quantos nenhuma importância e que não deve prazo, o comissário de Ç)rdem

queiran1 dela participar honestaniente, interessar à oposição burguesa .o nos- Social, Serafim Braga, mandou me

m:1s sabendo que ela se destina a for- so apoio. chamar da sala de detidos ao seu

mar uni partido e não a servir de ins- - E daí? Não era o que vocês gabinete. Subi aquelas complicadas

trun1ento a qualquer dos grupos exis- · queriam? escadinhas e corredores estreitos que

tentes, inclusive ao grupo comunista. - Não. E a direção do Partido ajudam a dar ao velho prédio da che-

Isto é uma conclusão, agora; a est,í furiosa. fatura um ar de mistério pobre. •
- A denúncia que recebe!JlOS dessa
propósito de um texto escrito cm - E eu com isso?

1938. Volte1nos a janeiro de 1939. Separamo-nos cordialmente. vez é a de que você agora é trotskista.

O meu eniprego no Obser,·ador Antes, ele n1e perguntou se eu pode- - É mentira. Nãó sou trotskista.

con1cçou por urna análise de um pro- ria preparar uns pontos de História do - Então ainda é comunista?

jeto nialuco, o da criação de un1 l11s- Brasil para o curso de capacitação de - Os 15 dias não deram para você·

1it1110 Nacional de Doces. A tanto n1ilitantcs con1unistas na classe ope- apurar, Serafim?

chegava o delírio do;; institutos. níria, que estavam fazendo naquela - Estou falando sério, fui infor-

Olimpio Guilherme deu-me o projeto fase. Voltei para o Café An1arelinho, mado de que você rompeu com os

para estudar. Provei, nc hú,nero de na Cinelândia, onde n1eus compa- stalinistas e está trabalhando com os

agosto de 38, que a alegada superpro- nheiros de então. quase tudo simpati- trotskistas. · L~1
- Quem lhe deu a informação?
dução de doces, em que se baseava a zan1e, esquerdizante ou praticante de

idéia de criar uni instituto para regu- intelectual, brincavan1 o carnaval. - Não interessa. ·Você foi visto

lar a produção de goiabada, pessega- Morava. neste tempo, com Letícia distribuindo boletins trotskistas

da etc., era urna ilusão estatística. Na e Sérgio pe_quenino, num apartamen- Cinelândia.

uma pesquisa permanente,.o rev'olu-

cionário dos que desdenhâm a liber-

dade, o .rebelde dqs confonnistas, :de

um novo conforn1ismo, que substitui

o egoísmo pela utopia e por isto atrai,

mas faz da utopja um pretexto para a

opressão da inteligêricia. P<>r isto

mesmo, a Rússia avança na medida

em que ultrapassa o marxismo e este

não conseguiu firmar-se senão em

países atrasados, exatamente onde a

classe operária era escassa - ou,

então, pela invasão militar.

A perseguição aos comunistas,

porém, de 35 a 45, aprisionou-nos, a

mim e a n1uitos, no dever de não nos

deixarmos confundir com os covar-

des e os traidores. E a opção que nos

ofereciam, a do fascismo, nos repug-

nava. Fora daí, era a mediocridade, a

mesquinharia, esse mes·!llo xarope

político que, ainda hoje, a oligarquia

• oferece à juventude: Arena e MDB .
Haverá algum jovem q_ue aceite
- Ora, Serafim. Você bem sabe me enojou a subserviência dos que Populares

que, a esta altura, já passei da idade querem ser revolucionários sem ris- assistem entrar numa coisa dessas?

de distribuir boletins. Agora não dis- co, intelectuais sern inteligência, ao fim dos Depois de um mês escondido na
tribuo, redijo. recebendo o diplo,na de avançados combates casa de Adalberto João Pinheiro, eni
em troca de sua submissão às teses e na Praia 1~35, como a polícia já havia varejado
Ele sorriu, com seu rosto gordo linhas de ação dos coniunistas. Vermelha, o apartamento de minha mãe e vascu-
picado de bexigas. Conhecia-medes- em 1935, lhado até a caixa da privada da empre-
de as noites e,n que eu saía com u1n Na verdade, há muito tempo já durante a gada, atrás de papéis inexistentes ~
motorista espanhol e o Pedro· Luís, estava ficando farto do marxismo, de insurreição

que morreu no desastre ·de uni avião suas concepções primárias, de sua da ANL. nlinha mãe estava morando com o gen-
pobreza ideológica, de seu caráter Prestes havia ro e minha irmã num apartamento na
francês no Uruguai, e éran1os desta- meramente polêmico. O que ,ne fasci- .declarado: esquina do Lido corn Copacabana, em
nara no marxis,no era precisamente o "Não há
cados para pichar muros e estátuas. que a partir de certa altura da vida me solução para cin1a da padaria - ,
deu náusea. O seu primarismo, as suas o país dentro ela se mudou para
Certa madrugada, na hora em que as explicações sumárias - dogmáticas, dos quadros uni apartamento
legais." que compr•ou, n• o
luzes apaga1n e ainda não an1anhe-

ceu, pichan1os o Cpeadbersatla, lcodma oesqtuáteu'ma·
de Pedro A, lvares

realiza uma proeza: Abaixo a Guerra mas vazias, atraentes, mas que não • Edifício Tietê, na

e o Fascisn10 - e voltamos triun- resistem à análise séria - das suas praia do Leme.

fantes, deixando o pobre Cabral todo conclusões de ordem .política. É • No carnaval,

borrado de tinta. impressionante corno Karl Marx - e fantasiei-me ,

Serafim n1e mandou embora. A um pouco menos Frederico Engels, mudei a cor do

denúncia evidentemente partira do espírito mais ágil e mais despreocupa- cabelo, saí ·

próprio Partido Comunista, expul- . do com a miséria negra da vida de com um de

sando-me publica,nente de utn Parti- Marx - viu o horror das injustiças e meus primos e

do a que nunc:a pertencera, como sofrimentos da Revolução Industrial · fui até o Lido ver gente, andar,

trotskista, que eu na primeira _metade do século I9, mas desenferrujar. Estava há seis meses·

não era; destina- não percebeu que estava a um passo dentro de um quarto, do qual só saía

1 va-se a desmora- de transformações técnicas que iam à noite, evitando ser visto·pelas visi-

1iza r- me junto alterar completamente o esquema tas, para conversar com aquela gente
aos simpatizan- político que ele armou. A partir das
querida que.me abrigou. Ali fazia a

• tes e a entregar- nebulosas concepções filosóficas de • contida quando havia gente de fora
me à polícia Hegel, que é o avô filósofo do comu- na casa de minha tia para não dar na

pelas mãos dos nis1n. o e do nazismo, netos da mesma vista co1n bandejas indo ao quart.o:
pro, pn.os comu- família espiritual, Marx fez uma críti- ali estudava e pensava e via o tempo

nistas. ca, em muitos pontos válida e admira- passar, dia após dia. Na frente da

Durou anos velmente precisa e feroz, dos erros do janela única, meu horizonte, o muro

essa perseguição, seu tempo. Mas considerou esse tem- • coberto de hera, atrás do qual mora-

essa marginalização de uma cons- po parado, imutável, intransformável va a família do Almirante 'Pedro

ciência que, por isto mesmo, se forta- senão pela violência e pelas fonnas Lynch, · com sua irmã Celeste, até

leceu no sofrimento, no sentimento simplistas que propôs, em 1848-49, hoje nossá boa e dedicada amiga, e a

da injustiça e no conhecimento da no Manifesto Comunista. Tudo o que família de Mário Rodrigues, pai de

abjeção a que o fanatismo pode · veio depois ele não foi capaz de pre- NéJson e Mário Filho. Não sei comQ

levar. Mais do que o ódio dos verda- \'.er. Ficou sendo o filósofo dos que me reconheceram na rua1 recebi notí,-

deiros coniunistas, os que se arris- não conhecern filosofia, o sociológo cia de .dentro da polícia, d~ que fora

cam, doeu-nie no co1neço e depois dos que encaram a sociologia como visto fantasiado no carnayal. •

''Com hedionda Depois. já na Baixada Flun1inense, cedera à polícia por 1nedo, tudo isso
voltei para junto da n1oça. Ela não
ao 1nesn10 ten1po que n1ostrava a

repressão, o falava nada de português - tinha aca- hedionda repressão a que se entregou
bado de chegar quando o portugês a
apanhou; ele nada entendia de francês. o Estado Novo - que nadu ficou a

dever ao nazisn10. nos processos e

Estado Novo nada Assin1. a tudo o que ela dizia ele dava 1nétodos adotados, o que não irnpede
ficou a dever, em 111na interpretação facciosa, geralmen-
que hoje esteja1n todos juntos na \•
te obscena. E ria. ria, ria. o volante na
1não, o pé no acelerador. Foi-n1e dan- Arena ou no MDB - ta1nbé1n 1ne
do unia pena da pobrezinha. que não
ilustrava acerca da exata natureza do
COn)Un•tsmo.

.métodos, tinha direito de andar sozinha nem de Resurno dizendo que 1nuito antes
falar para ser entendida e tornada a
de tudo aquilo ocorrer já eu havia
sério. Co1necei a recear que ele inter-
superado os encantamentos da juven-

ao nazismo'' pretasse co1no urna traição a que1n 111e tude pelo con1unisn)o. Mas estava
prestava aquele serviço. aprofundar a
conversa. quando a n1oça. afinal, preso a ele por un) sentitnento de hon-

ra, na hora de sua desgraça. e de anü-

encontrou algué1n, con1 quen1 podia zade. tantos era1n os amigos que nele

M udei-n)e, iJ noite. para o apar- falar sério. Queixou-se ela da 1nonoto- possuía. Prisões. riscos ern con1un1.
ta1nento de 111inha 111ãe. no nia dos seus dias. no quarto do hotel à
Le1ne. Ali fiquei uns três espera do contrabandista. E ele, no tudo nos 1nantinha entrelaçados.

Agora, porérn. estava livre. Sofria

1nescs n)ais. Passava as noites na volante. disparado na Rio-Petrópo- cada ve7. que alguén), urn dos vários

pequena varnnda. ouvindo o ruído elas lis. ria. ria ria. gênios da literatura ou si1nples1nente

LACERDA ondas na praia e vendo a 111archa ela Depressa c hegan1os a Corrê:ts. un1 fraco, 1nas atn igo de todo dia, n1e
luz sobre o céu noturno. As cores da
Perto de onde há u1n castelo. ele voltava a cara; ou vinha a saber que ,o. '

" ' - ,·

-1nadrugada batian)-n1e e1n cheio no tinha alugado t11na casa, ern cujo se referira a 1nin1 con) desprezo.
porão guardava :is sacas de café. tr:t-
rosto. e os olhos. insones. ardian). Desde então. até hoje, quando me

Fechava os olhos e ficava pensando zidas de c:1111inhão de Três Rios. O queren1 insultar. dizern que denun-

nos n1undos que perdia. nas i1nagens saguão da casa era de ni.ínnore preto ciei con1panheiros. que por 1ninha

que não via. o rosto das 111eninas. a e branco. con10 e1n [,ali de .palacete causa foram presos con1unistas e ino-

• beleza das criaturas ondulantes na de cinen1a. Despedi-111e a custo da centes. Isto é repetido igualtnente

calçada. o bonde que tilintava e ran- · créole rnartini- por jornais con1unistas e por reacio-

gia. os auto111óveis e1n disparada. a quense; e lá se foi nários e n)erceniírios. O 1Ve1v York

serra e as ârvorcs. o rio lluindo cor de "PRISÕES, . ela con1 o bon1 Hera/d Trib1111 e publicou un1a colu-
barro. aquele navio fu111acento que contrabandista
partia. horizontes de gosto salgado. o a,scos EM que ria. ria. ria. na, assinada por u,n dos viírios creti-
lábio gret:1do da n1arci-ia. do vento do coMUM, l'cn)pos depois
n1ar. o sol escurecendo a vista e a nos que escreven1 sobre a Lati11 A111e-
pele. o que via e o que i1naginava. 1uno 10s a polícia pegou-
Sentia-1ne enfraquecer. corno defi- rica na in1prensa a1nericana. em con-
nhar. na cadeira de vin1e da pequena MAMl\MI\A º· ele decaiu , o
varanda. sob a luz crua que vinha do E.MlRElA· traste con1 gente séria e bem infor-
ÇAOOS" contrabando
de café en1 111ada que lá existe. sob o seguinte
fundo fal so
título: Tire Brar.ilian Gold1vater. O

Gold,vater. senador e candidato à

presidência contra Johnson e fan1oso

-1nar. na 1nadrugada do Len1e. deixou de ren- corno reacionário. no Brasil seria eu.
Afinal. n1eu prin10 Nestor arran- der. a polícia apreendeu a baratinha;
ª '.segundo esse irnbccil. O Ne1v York \
jou, co1n uni português que fa1.ia nurna crise de neurastenia ele ton1ou
Ti1111:s tinha no Rio un1 correspon- '-
-contrabando de café. uni lugar no fonnicida e 1norreu.
ciente si1npático e furão. Tad Szulc,
fundo fa lso de sua baratinlu1. Tra1.er -Na rnanhã segu inte à noite de Cor-
café do Estado do Rio para o Rio era entusiástico partidário do governo de
rêas. bcn1 cedo. n1eu pri 1110 veio n1e
Kubitschek e. co,no tal. refratârio ao

de tal ,nodo proibido pelo ONC - buscar e fui parar na chácara da líder da oposição. que era eu. Achou

pai do IBC - que o contrabando 111inh;1 inf:1ncia. no Con1ércio. Era o pouco. SubstitOiu-o por u111 corres-

entre os llun1inenses e os cariocas lugar Cll) que a polícia não contaria pônd<:nte 111uito 1nais tendencioso, -

era alt:unentc lucrati vo. que eu estivesse. Par;1 lá fui. portanto. que apresentava o governo da Gua-

Esse an1igo do n1eu pri,no n1andou Naquela altura. já não havia n1uito nabara con10 ultra-reacionário. e a

fazer u,n fundo fals<> na sua baratinha. interesse e rn prender 111ais gente do n1inha resistência ao comunisn10

subia v.'irias vezes por dia a Corrêas. lado esquerdo. Os arquivos do Parti- coino un1a rnanifestação de fascis1no.

onde alue.ou un111 casa. e de lá tr:11.ia do Co111unista. apret'ndidos e1n c:isa No n1eu últi1no dia de governo. en1
~ do ex-deputado alen1ão Artur Ernst
1965. fui inaugurar unia escola na
seis sacas d1..i café de cada vez. Fa1.ia

-.11111 dinheirão. Tinhi1 unia garota. tira- E,vcrt. aqui chegado con1 o pscudô- Vila Kennedy e ele lá estava para n1e
nin10 de Harry Berger. torturado até
da de u1n re1ulC'-::,-1·011s. 111estiça de pedir un1as declarações para o Ne1v

!'rances co1n n1artiniqucn!-e. 1í111ida e a loucura no quartel da Polícia Espe- York Ti111es. Disse-lhe que n1e fosse

suave. que ficava presa no quarto. dias cial. sua n1ulher con1 os seios des- esperar no Guanabara. Ao chegar ao

inteiros. no Hotel l'vlcn1 de Sá. à espe- truídos a fogo. objetos de toda sorte alto da escada do pátio interno do

ra de chegar o a1nantc. !'vias. naquela introduzidos en1 seu sexo. na frente pal.'icio. cansado e confuso. apresen-

noite. para disfarçar n1clhor. levou a do n1nrido. para forçá-lo a confessar: tei-o ao Secretário Salvador Mandi1n,

francesa no carro. Ela foi entre nós a prisão de Pr..:stcs no Nléier. o crin1e que chegava: "Conhece o correspon-

dois. Na barreira. onde a polícia costu- hediondo que ele ordenou na pessoa dente da United Press?'' Ele retificou:

n1ava t'X:tn1inar os 1..'.:trros. passei para da 111ocinha Elza Fernandes, an1ante '"Não se len1bra de 1nim. governador?
~
o fundo falso na n1ala da baratinha. do secrcuírio-geral do Panido e que
Sou fulano. do /1/e11• York Ti111es.''

I ,,. ·: f,. Mas o que tinha de sofrer com tais
Jtl1 inco,npreensões, e outras piores, já
••••• •· · - sofri. Hoje, deixo aos progressistas o
~.-M ~~;... •. ...... f trabalho de e ntender que não sou o ·
reacionário que eles descreveram, e
-,.. --~' ~ aos reacionários que não sou um
co1nunista disfarçado, e si1n apenas ·
-• u1n home1n capaz de procurar, sem

,.........i,

temor nen1 preconceitos, o melhor

caminho para realizar o seu sonho de

justiça e de progresso.

No longo aprendizado desta vida,

conheci exemplos de dedicação, de

coragem e, e1nbora os comunistas

. 1nilitantes não gostem desta palavra,

pelo que tem de não-1naterialista, de

idealismo.

· Um dos casos exen1plares que

conheci foi o <le Astrogildo Pereira.

Cito-o porque é típico e porque, a seu

respeito, tenho tun fato a contar.

Astrogi'ldo foi urn dos fundadores do

UJ Partido Comunista do Brasil, em
tii
1922. Por volta de 1930, defendeu
oJz: uma posição rnais arnpla, menos sec-
:<z( tária, para os comunistas, pretendendo
Então, sen1 alterar a voz, disse-lhe o seus antagoni.stas s1. stema"t1. cos. que No final do forn)ar uma frente revolucionária de

seguinte - e1n versão expurgada: são também meus adversários. Toda seu govern o renovação do Brasil, à qual os comu-
- Há cinco anos espero a oportu- na Guanabara, nistas deverian1 dar o seu apoio. Por
vez que sustento u1na posição que isto foi expulso do Partido, acusado
nidade de fa1.er ao Ti111es de Nova Ior- lhes não convenha, os comunistas me em 1965, dos piores crimes e dos 1nais graves
que esta declaração. Não a fiz antes Lacerda .
chan1am de reacion.írio e os reacio- intensificou
para não prejudicar o ,neu estado e o nários, de ex-comunista. O terror a inauguração erros, vendido, agente disto e daquilo.

n1eu país, enquanto era governador. . moral, a coação psicológica são os de escolas. E111 1945, quando o Partido Co1nunis0

Agora estou livre. Posso dizer que o mais eficazes instrumentos do seu ta conquistou o direito de existir legal-

papel do seu jornal com os democra- domínio sobre a inteligência dos mente; graças à nossa luta contra a

tas do Brasil, há 111uitos anos, desde o tí1nidos. Não é todo inundo que se ditadura e à vitória aliada na guerra

te1npo·da ditadura, é infame. A decla- dispõe a afrontar a máquina de des- 1nundial, Astrogildo

ração que tenho a 1noralização que eles n1aneja1n com ~ fez un1a autocrítica

lhe fazer, não mesma fria e eficiente técnica dos na qual se humilhou

eret• o que voceA a grupos capitalistas mais en1pederni- como urn cristão
111ande; e. se man- dos - pois nisto se parecen1, no seu •

dos primeiros tem-

dar, não creio realis1110 e no processo que têm de pos, pa(a 111erecer

que o Ne1v York destruir quem se opõe ao seu do1ní- o direito de voltar

Ti111es a publi- nio. Tanto n1ais quanto, nun1 caso a servir ao Partido

que, apesar da co1110 no outro, ser a favor do pro- que encarnou a

gabolice de que gresso e da justiça social, con10 ser sua fé.

pub lica 1, cto1.daass. contra o comunisn)o, expõe a desa- . E 1n 1964,
as not gradáveis e compron1etedoras con1- depois do golpe,

Quero dizer panhias. Há muito tempo n1e habi- ele foi preso e processado en) São

apenas que desejo a vocês, ao tuei, por isto mesrno, com o argu- Paulo, num inquérito policia_l-1nilitar.

diretor do Ne1v York Ti111es, a quantos mento costumeiro. "Corno? Você de Ficou preso no Rio, entregue à polí-

têm tratado com tanta indignidade e acordo com Fulano?'' Na últi1na vez cia da Guanabara, à disposição da
, incorreção o esforço dos democratas foi em Paris, co1n um coronel brasi- autoridade rnilitar pa•ulista. Governa-

brasileiros, que ton1em a volun1osa leiro, meu arnigo, mas ainda 1nais dor, então, horrorizou-me a idéia de

edição dominical do Ne1v York Ti111es. amigo do Marechal Castelo Branco. ver aquele velho lutador morrer, por

com todas as colunas e suplementos, e A televisão francesa, que 111e 111altra- assim dizer, nas n)inhas mãos. Fiz ao

a enfiem no lugar mais apropriado, tou bastante quando, em 64, ern Orly, Juiz-Auditor José Tinoco Barreto, da

<ligamos. no lixo. disse o que penso sobre o n1odo pelo Justiça Militar, u1na caria q~e aqui

O General Mandim, to1nado de sur- qual se analisou facciosan1ente a divulgo pela pri111eira vez. Publico-a

pres_a, olhava atônito, para mifr1 e para nossa posição no Brasil, procurou- hoje porque ela conta,, ao 1nesmo

o correspondente. O sujeitinho i;aiu e me e tne abriu seu rnicrofone. "Me tempo, a história de um veterano

não publicou a declaração que pedira. ad111ira você transfonnado ern estrela idealista do comunisn10 e, um pouco,

Ourou anos o equívoco monstruo- da tevê francesa, Carlos. Franca,nen- a 1ninha própria história:

so, alimentado pelo sectarismo te, não esper' ava isto." "É.fáci I", res- "Rio, 30 de deze1nbro de 1964. Sr.
cornunista, que teve a seu serviço Juiz-Auditor Tinoco Barreto. Não
pondi. "Você obtenha de seus anli-

todos os rancores contra 1nim susci- gos que me abratn a tevê brasileira. e tenho por hábito interferir e1n ques-

tados e é ajudado exata111ente pelos eu não precisarei falar na de Paris._'· tões que não são da ,ninha alçada.

Aos 74 anos, rneios de escapar à justiça. senão do 'poder por infiltração, usando

fis ica,nente. o que é menos. novas t,í.ticas para atingi r seus objeti-
"Conheci Astrogildo Pere ira.
Astrogildo vos, Astrogildo Pereira veio a ser
con10 u1n dos fundadores do Partido
rnenos uni autor do que u1na vítirna.
Con1unista do Brasi 1, isto é. u,n
Fez tuna deplorável au tocrítica, e1n
daqueles idealistas que. descontentes
Pereira ia co111 a justiça burguesa e entusias,na- que censurava tudo o que era nobre e
dos por un1a nova fé, lançara1n-se a
111na vida de clandestinidade e sacrifí- valoroso em sua vida.
cios pelo que lhes parecia ser a justi-
ça e o progresso sociais. Foi u,n dos ·"E se hu,nilhava con10 um n1ísti-
pri1neiros brasileiros a visitaren1 a
morrer na prisão. co que é. para alcançar a graça de
Rússia depois da revolução de 1917 e
voltar ao Partido de que fora em boa
ali. pelo que sei, portou-se co,n a
Uma carta de ingenuidade de un1 n1 ístico e o entu- hora expulso. Usararn -no. desde
siasrno de un1 hon1em de bern. De tal
,nodo descreveu as lutas no setor então, con10 un1 cartaz. Hoje, enve-
operário das fábricas de tecido do
lhecido e doente. não seria justo que
bairro da Gávea no Rio de Janeiro. a
Lacerda osalvou os con1unistas ai"nda urna vez pudes-
que cha,nou de Gâ1•ea Ver1ne/lta, que
os ho1nens do Komintern (Internacio- se 111 usá - lo e
nal Con1unista). então desinforrnados
' '1guahnente ~espeito os n1o~i- sobre o Brasil, julgara111 tratar-se de cxplorassern a sua
vos s uperiores que terao urna região já sovietizada. (E chega-
ran1 a propor o envio de alguns trato- boa fé e o seu

ditado a sua decisão. que res. corno contribuição aos trabalha- JUSt\ÇI\ n1isticismo para
dores agrícolas da "Gávea Yerrne- desrnoralizar a
equivale à decretação da prisão pre- lha...) Tal era o ingênuo Astrogi ldo SE fEl: nossa revolução.
Pereira, idealista e hon1em de bern. J\Stl\OG\tDO,
ventiva de Astrogildo Pereira. que se "Estou con-
" Em 1930. e daí por diante, ele S0\.10, vencido de que
LACERDA encontra, por isso. recolhido ao Hos- propôs u,na aliança dos cornunistas f O\ MORREI\ ele não repre-
pital da Polícia Militar da Guanaba- con1 os liberais. certo de que este
era o interesse dos que defendia,n, EM CJ\SI\ senta perigo
ra. segundo con1unicação oficial fei- algum para as

ta ao secretário de Segurança do instituições -

estado. à ordem de V. Exa.. respon- inforn1ação que ele. certa1nente, não

dendo a processo regu l:1r de sua me perdoará. Mais do que isto. tenho

autoridade. Peço. por isso, desculpas a in1pressão de que o tínico perigo

ao quebrar unu1 nonna e rogo que· que ele representa é o fato de estar

não leve a ,nal ne,n interprete co,no preso, o de ser vítin1a, o de poder ser-

intronlissão ou fraqueza esta inter- vir de tes temunho de desapreço nos-

venção. que se deve a duas causas: so pela inteligência. equiparando-a à

~o;....·--; ~~-==··~=-- l' solércia com que o utros serven1,
,---,...
consciente,nente. e eficaz,nente, ao

totalitarismo cornunista.

''En1 resun10: se o ,neu depoimen-

to pode ser de algurna valia, rogo-

lhe que revogue a prisão preventiva

de Astrogildo Pereira e nos pennita

1nandar para casa esse velho escri-

tor, que é a ínaior vítima do envene-

na,nento das idéias. Caso não lhe

seja possível, peço-lhe que não me

reduza a uma situação con1 a qual

não ,ne confonnaria: a de ser. na

Guanabara, carcereiro de urn homem

que aprecio, que respeito e cujo c ri-

w me em nenhu,n caso dói 1nais do que

t;; .o crime q ue con1cteríarnos se o dei-
:ozr
~ xa, ssernos ,norrer na prrsa~ o.

" Ainda unul vez, queira descul-

par a interferência. que espero não

JK e uni sentin1en10 de hu,nanidade e u1n con10 ele julgava fazê- lo, a liberda- torne por mal nem co,no sinal de
Lacerda nas profundo respeito pela inteligência.
negociações de e o progresso social. Por isto, foi fraqueza ou complacência. Não
da Frente "N ingué,n rne so Iici tou coisa
Ampla. algu111a e acredito ta1nbé1n que nin- expulso do Partido Co,nunista con10 tenho com ele qualquer traço de
Lacerda gué1n ,ne agradecerá. Mas obedeço a
escreveu: un1 dever de consciência. Vejo un1 traidor. Por isto. sub,netera,n-no às amizade pessoal. Nada lhe devo.
hon1ern de 74 anos de idade, já víti-
"A Frente n1a de um enfarte. subn1etido a prisão 1nais terrívei s acusações. às mais ne1n a troca de idéias, pois as suas
é uma preventiva que. con1 a devida licen-
necessidade ça. ,ne pern1ito considerar desneces- infa,nantes calúnias. Foi cha111ado eu já conheço e as n1inhas ele não
para restaurar sária: pois ele não ten1. a esta altura
da vida. ncn1 periculosidade. nen1 de vendido, de delator. de tudo entende.
o poder
civil." quant ocr. rocuvnosctaa' nbcu1.laásr.i o reserva para "Peço-lhe o obséquio de unia res-
essas
posta, pela qual desde já lhe agrade-

"Em 1945. quando os con1unistas ço. Saudações atenciosas.''

procurara1n aliciar tudo que podiam A resposta não se fez tardar: Astro-

para unia nova tentativa de ton1ada gildo foi solto e ,norreu en1 casa.

No próximo número , 7º Capítulo: "Sozinho na Multidão"

\.

''Rosas e Pedras do Meu Caminho'' (J)

J?. - ~ :"-~ T ~ 'f~~ "r' ~ ·• f

~ :.,1. •

',. :,-

-~1 ~·'
'

,.,..

OOCUMENTO O Presidente João Goulart to1nou o avião do Rio Banana Podre, o Conjunto Residencial Pio XII. a obra
para Brasíl_ia i\s seis da 1nanhã de 4 de outubro de transfonnação do edifício da Escola de Serviço
de 1963. A 1nes n1a hora fui para o Hospital Público, por desapropriação de urn e1npreitciro deso-
Miguel Couto fi scalizar as obrns da nova ala. O presi- nesto. S. í'v1anela. a obra do Parque do Fla1nengo.
dente levou no avião. para o Congresso. a 1nensage1n onde Lota Macedo Soares nos esperava con1 o chan1a-
do que pre tendia decretar naquelas horas - o estado
de sítio. Co,n os Secret.írios Flexa Ribeiro. Enaldo do Grupo do Aterro. o terreno destinado à sede nova
Cravo Peixoto e Sandra Cavalcan,ti, tínharnos uni pro-
gran1a de trabalho para o dia. hunos ver o terreno do Banco do Estado. con1 Alrneida Braga, na esquina
escolhido para a construção da Escola Nonnal Azeve- da Rua México co1n Nilo Peçanha; e a Secretaria de
do Arnaral. na Lagoa. visitar o Parque Proletário da Finanças, onde ian1 conieçar a fu ncionar, naqueles
Gávea. a obra do Túnel Rebouc, as, as obras da Rua dias. os con1pu1aclores eletrônicos sob o con1ando do
i\1ena Barreto. de canalização dos rios Berquó e jove,n servidor r=ernando Ewerton Fernandez. Ele era
filho do secretário de Finanças, ,nas tirou o pri 1neiro
lugar no c urso de con1putadores.

'~-Jlguns chefes

lriilitares estavam

põssuídos

p_81a idéia de
uma 111 Guerra

Mundial''

'• 1 segredo do bo,n governo é
fazer de conta que tudo que é
LACERDA do governo é seu. desde que

• 1".uN1,zaepso, snsuemdos se1nprc le1nbr.1do de que nada cio

discurso, governo lhe pertence. O progra1na
mandei um
recado aos do dia ia continuar na SUNDf\P.
mandantes do
atentado: 'Os e1n prcsa financiada pela COPEG e111
homens duram
pouco, mas a Bonsuccsso. Devia passar na Livra-
reivindicação
de justiça ria Kos1nos. na hora do alinoço. para
dura enquanto
existir a raça. '" procurar uns livros. Depois. visitar

o annazén1 de abastecin1enlo da Passava a saber do que se trata. as vação social da revolução de 1930,
dificuldades. e as soluções ficavan1 achavan1 que j:í estavan1 a un1 passo
COCE1-\. recuperado por nós do n1ais claras. do domínio do poder - e arneaça-
varn a realização de eleições presi-
l PEG. que estávan1os concluindo. A situação política era ben1 escu-
ra. apertava o cerco federal contra o denciais em outubro de 65. O ex-
con1 Nélson Mufarrej. Ían1os fiscali- governo d o estado c1n funcão da
radical ização ideológica do pri n1c i- Presidente Kubitschek dificilmente
zar a dragage1n do Canal do Man- ro e da nossa resistência. acusada de contaria com o apoio do seu antigo
~~ radical ização oposta. ou da d ireita. Vice-Presidente João Goulart, retri-
Por baixo de tudo isto. u,n colossal b uindo o q ue lhe dera para ganhar a
gue. prevendo a chegada das chu- equ ívoco dividia .is principais for- e leição presidencial - dois n1inis-
ças populares do país. de ixando-o à térios e v:írias posições, a Previdên-
vas. 1-\ tarde. ainda, devia con1pare- rnercê da n1inoria q ue o explorava e. cia Social e tc. A aliança PSD-PTB
hoje. o controla. Mas os con1unistas. estava an1eaçada pela radicalização
cer à posse de 22 juízes substitutos con10 sernpre ten1 acontecido no do governo, ultrapassado pela agita-
Brasil. e a facção n1era1nente sibari-
no 1ribun;1I. Depois. ainda. estava la do getu lis1no. isto é, da linha ção que desencadeou se1n propósit9,~,

progra,nada para o resto da tarde e à ~ definido. O governador de São PauV

noite a visita às o bras da Escola reforçada baseada na obra de reno- lo. Aden1ar de Barros, nova,nente ~l
candidato à presidência, contava
Orsina <la Fonseca. d o Hospital

Alberto Borgcrth. e n1 l\iladureira. do

novo n1ercado da COCEA. e i'I nova

praça de Cascadu ra.

A a1ncaça do estado de sítio 111obi-

lizava o país. As n1anche1es eran1:

ARRAES. governador de Perna1n-

buco: ··A111c>aça de

g11<•rra cil·il:·

ADEl\ilAR. d e

S.Paulo: ··s11,Vf.lloio. "" hâ

ra:a-o par a

M r\GALHÃES.
d e 1\1 inas: ..Co11rra-

ria a ,·ocaçiio dc1110- 1

CJ'C#'lfl'C'U. ·~ 1
1
LACERDA. da
j
Guanabara: ..Sô 111e

e11fl•c•go ú jusriça. ••

'K U B 1·r SC HE K •

ex-presidente e candi-

dato:\ eleição: ..Libt•r-

tlad<' a11rcs de f11(/0."

As visitas a serv i-

~·os t obras. scn1 o

,nau 1:ar.íter das

illC('J'((IS nen1 a po1n-

pa das C'spo11râ11ea.1-.

n1e cnsinaran1 n1uito.

com a i,nensa votação paulista para \ "O presidente d o go vernador, nad~ favo reciq o,
levou no avião, com aque les risc os e pontos d as coi-
estar presente ao prélio. O governa- avaliando possibilidades. Cada dia para o sas automáticas, e imprimiu ta1n bém .
de relativa paz era um dia ganho Congresso, a
dor da Guanabara tinha o apoio das para conseguir a realização de elei- mensagem do os d o is golfinhos
ções e o prosseguimento da conti- estado de sítio. que fig u ra1n n ó
bases do seu partido, a UDN, mais a nuidade de formação de governos Com alpuns escudo do éstado. ·
pelo voto do povo, assegurada pela secretarias, O ar refrigerado
reticente e constrangida concordân- visitamos as que garante o fun -
deposição da ditadura em 1945, pela
cia de certas áreas da pol ítica profis- obras do Túnel cionamento da
eleição do sucessor do Marechal Rebouças. "
sional, que engoliam a custo urna D utra e pela entrega do poder, por ,.
Juscelino Kubitschek, no dia marca-
liderança baseada numa concepção do, ao seu sucessor Jânio Quadros, maquina compen-
1 de governo opos ta ao tradi- eleito pela oposição. A renúncia de sava o calor do
Jânio Quadros havia desencadeado ajuntamento.
1 cional parasitismo e inércia da oli- a crise que visivelmente iria chegar
garquia que, desde os pri,neiros ao auge das eleições, apesar de nos- De repente o
sos esforços para resolyê-la por via secretário de
li , anos da República, do voto popular. Segurança, o coronel- aviador
da reserva Gustavo Borges, me cha-
~i se apossou d o s Nada indicava, na superfície, ·a ma para o corredor, onde rapida-
~jiOJE SE comandos. iminência de um acontecimento gra- mente me informa que uma tropa de
(~ EOA O país aproxi- ve. A visita ~o governador da G ua- pára-quedistas do Exército está sol-
nabara às suas obras e serviços e ra ta na cidade para 1ne prender, com
PARllCIPA· mou-se - era um fato de rotina. De roupa escura e ordem de rnatar se houver resistên-
ÇÃO M\L\lAI\ evidente -:- do camisa sem gravata, ele afinal che- cia. O inspetor da Orde1n Social,
choque que iria Ceei! Borer, exatamente o autor da
gou à Rua da Alfândega, à sede do minha primeira prisão no tempo de
AMERICANA levar à ·decisão estudante, trouxe a informação.
NO GOLPE pelas armas, antigo Banco Ale1não Transatlânti- "Como souberam?", perguntei. Um
OE 64" acarr etando, co, tomado pelo governo brasileiro oficial dos pára-quedistas, dizendo
desta vez, a na guerra mundial e que agora o que só cun1priria a ordem do seu
governo alemão pedia de volta, superior se fosse dada por escrito,
posse do poder como sinal de pacificação. Era ali a resol veu avisar o governador.
Secretaria de Finanças, onde os "Onde estão agora?" Não se sabia
pelos militares; o que se previa era o computadores começariam a funcio- ao certo. Sabia-se apenas que a pri-
nar com pequeno atraso, causado por são deveria ser efetuada na visita ao
us~ do poder por grupos financeiros um grupo de colegiais que fez parar Hospital Miguel Couto. Devia ter
o governador para assinar autógra- havido algum contratempo, ,nas a
1 americanos, através de assessores de fos. Num andar superior do prédio, tropa estava a caminho , para cum-
apinhado de servidores das Finan- prir a ordem recebida.
1 alguns chefes militares possuídos ças, o computador fez algumas gra- Encurtei a cerin1ônia. No eleva-
dor, coloquei os secretários quedes-
1 pela idéia de uma terceira guerra cinhas, tocou o hino Cidade Maravi- ciam a par do assunto, recomendan-
lhosa por meio de sinais eletrônicos, do que fossem ass umir seus pos tos.
mundial, da liderança forçosa dos O Major Carlos Osório, da Polícia
Ílnpr1m1u eletronicamente o retrato Militar, meu ajudante-de-ordens,
Estados Unidos, sem contraste, sem inexcedível de dedicação e serieda-
de no cumprimento de seus deveres,
alternativa senão a da Rússia comu- modesto, cônscio de sua capaci ta-
ção profissi onal , não er a ,neu
nista. Hoje se sabe da participação conhecido antes ; agora e ra 1neu
mais assíduo interlocutor, pois não
milit,u· americana no golpe de 64. n1e largava. Nos ajuntan1entos, ele
se colocava atrás de 1nin1 como uma
Muitos 1nilitares e civis que partici- sombra. Ao chegar ao automóvel, na
?alçada, alguns populares reconhe-
·(.~?ara1n do golpe não sabiam. Mas o ceram o governadof!', uns saudavam,
outros olhavam curiosos. outros fin-
Presidente João Goulart, por exem- giam que não via1n, alguns desvia-
vam o rosto. Ao entrar no automó-
plo, soube de tudo. vel, o Major Osório encaminhou-se
para o lugar ao lado do motorista
Aquele dia p·arecia como os Almir do Carmo, que estava de dia.
A custo fiz com que saísse; ele se
outros, de tensão política, de provo- recusava, mas afinal curvou-se à
ordem. Não queria ninguém a meu
cações' recíprocas, medindo forças, lado, e tinha a esperança de que este
nada sofresse. Pedi um revólver.
Alguém - não me lembro quem -
cedeu-me o seu.

''Tinha certeza infonnar e a exigir que a orde1n fosse dos pelo Fernando Veloso, n1eu co1r-
de que oatentado dada por escrito, que adiantava tele-
seria ofim do tonar. por exe1nplo. ao n1inistro da padre. Não precisáva1nos dizer niu1- •
governo que Guerra? T alvez, quen1 sabe? O instin-
to de conservação segredava telefo- to. então. Agora pode parecer até
Goulart não ne1nas. Mas tudo o que ficou e1n
controlava'' n1ini, do que aprendi, repeliu essas ridículo esse papel que o Cl.íl}lio

fraquezas. co1no guardou. Co1no ridícula deve parecer
unia inoportuna
tentação de a frase que escrevi depois, guardei
viver. Apalpei o
nu1na gaveta da minha n1esa e dali só
revólver no boi-
s o e pensei: saiu no dia e1n que saí do governo.
"Pelo n1enos
uns dois levo Era uni recado a Deus, que te1n boa
con1igo." Não
1ne1nória, e a mini n1esmo, que a
havia te1npo
para pieguices tenho 1ná. Convé1n repeti-lo: "Peço
nem para escrever testa-
1nentos. E,n ci1na da n1esa, uni ofício a Deus que 111e 111a11de a ,norte dC'
qualquer, cuja segunda folha tinha a
,netade e1n branco. Rasguei essa repente. 111as eu esteja se111pre pr<•pa-
1ne1ade e nela escrevi:
rado para recel>ê -la."
..Ao 111e11os servia para libertar o
Brasil do co111u11is1110, da de111ago- O Coronel Borges obteve novas
gia e da corrupção. Deixo aos 111eus
11111 110111e li111po e, espero. u111a infonnações . O grupo de pára-que-
pátria livre."
distas saíra da Vila Militar e1n viatu-
Assinei e datei: 4.10.63.
' E stava decidido a nào me deixar Chan1ei o Professor Cláudio Soa- ras do Exército, para chegar à Gávea
prender e a nào fugir. A 1norte res, meu velho an1igo e antigo colega
LAC ER DA nessas condições 1e1n de .ser de redação na TriÍn111a da /111pre11sa através da Avenida Ni~n1eyer. Mas

"Depois de e. no gabinete, o hon1eni das ligações tinha havido tuna pane no caminho,
uma noite telefônicas e outras. o paciente n1ar-
de conversa, encarada con10 acidente no trabalho. cador da n1inha agenda. sen1pre alte- que Borges atribuiu à sabotagem dos
na manhã rada pelo in1previsto ou pelo tédio de
· seguinte fui Tinha a certeza ou, pelo 1nenos, a perder tenipo con1 conversas fiadas nossos amigos entre os pára-quedis-J;f?\
ver o Dr. Júlio, quando se 1en1 tanto que fazer. Entre-
lendo com olho forte esperança de que, a exen1plo do guei ao Cláudio esse rrapo de papel. las. O Coronel Francisco Boavenlu-•
fiscal o seu
grande jornal sucedido en1 1954. o atentado seria o ~ ra, dos pára-quedistas. recusara-se a
O Estado de
fi1n da an1eaça de ditadura e a derru- Ele n1c olhou sen1 dizer nada. Son1os cun1prir a ordem. transn1itida por u1n
S. Paulo." a,nigos h:.í quase 20 anos. apresenta-
bada do governo que o Presidente superior que tinha a alcunha de Faz.

Goulart já não controlava. Mas que Tudo , pois se prestava a qualquer

viria depois? Quando o carro arran- papel. A tensão nos pára-quedistas

cou pela Rua Prin1eiro de Março, era forte. U1na reunião, de 1nadruga-

pensava isso. O Exército só age da, servira para con1unicar a ordem

sobre fatos consu111ados. nias prova- panida do Palácio Laranjeiras, alta

veln1cnte não teria idéia do que hora da noite. Então ficou claro: o

fazer. Ditadura pedido de esta-

111 i Ii t a r . c o rn do de sítio visa-

quen1? Ele i- va a dar ao dis-

ções. de que1n? positivo 1nilitar

Não tinha res- do presidente a

posta a n1e dar. força necessária

Senti-n1e nliv"0'eeri - para evitar as
ran1ente -
e repercussões do

gonhado de não atentado contra

~ o governador chW,'")
Guanabara. ~
ter pensado eni

Letícia. nos

nieus fi lhos. e A pane na

nes se ,ne u v i atura do

pequeno niundo Exército retar-

à parte nie con- dou a chegada

centrei. enquan- da tropa ao hos-

tvooaova.Chacvcarno1le1.-t pita l e deu tern-

po a que come-

11 ho do Palá- çasse1n a os,uprrg1i.•r0,
no pr
cio Guanabara.

Ali era o lugar Exército, rea-
~

do governador ções tão expres-
~

niorrer. w sivas que foi
t:i
Entrei no ga- l dada a con1ra-
:ui: orden1. Fui sal-
~ • vo, material-

binele depressa ~

e calado. l\1an- :;

dei lin1par os sapatos sujos de !.una. n1ente, por u1n enguiço numa válvu-

'Estav:ltn u,nas poucas pessoas. entre la ou nu,na vela; até hoje não sei se

as quais o Deputado An1aral Neto e foi real1nente sabotagem de gente

u,n d~tctive. Fiz entrar o deputado. nossa ou o precário estado das viaÇ

Quanto 1e111po ,ne restaria? Devia ou turas n1i l itares , cedidas pelos

não avisar· algué1n? E a quen1'? Se governos nor1e-an1ericanos para J

-vinha do Exército o cri1ne. se aluuns conter a expansão do con1unis1no na

es1avan1 dispostos a con1e1ê-lo e os Aniérica Latina. Os canhões que

que resistian1 li1nitavan1-se a n1e visarani ao cruzador Tan1a11darf

Prossegui nas visitas, no carro ofi-

1
eia!, co1n o motorista e o revólver.

Ao passar pela porta da fábrica q' ue

devia visitar, lá estavani 1neus co1n-

. l panheiros Fernando

,~...~.' Dela1nare e Carlos

~-- ,· r' j
Eduardo Correa -
gk;i .' ' 1' outro que hoje rra-

,... Ir balha co1nigo na

i Novo Rio. Fi z-

lhes um aceno,
significando que

. -' não ia parar ali.
r· -,

Almocei uni

sanduíche que

1nandei pôr no

auto1nóvel. Avisei Rafael de

Almeida Magalhães para ficar atento

à marcha do pedido do estado de sítio

e1n Brasília.

Na posse dos juízes, presidida

pelo Desembargador Vicente Faria

Coelho, num breve discurso, 1nandei

um recado aos mandantes do atenta-

do e aos seus passivos cúmplices:

"Os ho1nens duran1 pouco, 1nas a rei-

vindicação de justiça dura enquanto

existir a raça hu,nana."

Tenho uma granja en1 Petrópolis.

inicialmente co1nprada com o dinhei-

w ro da casa que vendi na San1anibaia.
1w-
A ela tenho acrescido terrenos coni-
:uzi: prados a prestação. perfazendo hoje

..:
::; cerca de dois alqueires. Ali comecei
não acertara1n o alvo, em bora a últi- E o preço foi acabar con1 a eleição "Foi assimque a criar galinhas e a vender ovos. H,í
ma bala tenha feito bem perto da livre e direta no Brasil - garantida Castelo tomou
dois meses conseguimos, com a aju-
proa o seu splash, levan1ando uma um heHcóptero
pequena coluna de água, na manhã pelo sacrifício do Major-Aviador comigo e foi da do meu ant igo auxiliar, hoje
de 11 de noven1bro de 1955. Desta • Rube1n Vaz no atentado da Rua visitar uma de bacharel e companheiro de trabalho,
vez era de algu1n an1igo ou, nova- Tannay de Farias, equilibrar receita e
Tonelero em 54 - , pela entrega do nossas obras." despesa, afora o investirnento e as
poder aos seus sucessores por dois

mente, imperícia? Não sei. homens que tivera1n erros, nias dívidas residuais...

,;::,,., Sei que estou aqui. O Coronel Boa- deram exemplos de grandeza: o Petrópol is len1 para 1ni1n encan-

~entura, depois do golpe de 64, foi Marechal Outra, respeitado por tos inefáveis. Adoro o seu clitna, a

servir no gabinete do Presidente Cas- todos, e o Sr. Juscelino Kubitschek, 1non1anha que descansa do 1nar,

telo Branco. Quando Roberto Mari- privado de di rei tos políticos rnas cada árvore que planto é uma festa,

nho, dono de O Globo, se excedeu, o podendo entrar no país. contanto cada pedaço de terra - nesta al1na

Coronel Boaventura fez- lhe uma car- que seja para ser processado por de labrego - é u,na consolação.

ta dura. O marechal dispensou-o da aqueles que servira,n ao seu gover- Um dia vou contar niinha experiên-

Casa Militar e o ren1oveu para Natal. no e nunca pro testara,n , enquanto o cia de tei1noso, tentando plantar e

Depois o Coronel Boaventura fez con1 batíamos. criar, nun1 país organizado para evi-

uma carta ao pró- Conseguin10s manter o segredo 1.ar tais loucuras. Em Petrópolis.

prio Marechal sobre o fato. Os jornais do dia para onde subi co1n Letícia, s.enti,

PARA l\RAR Castelo, eni no,ne seguinte não dão uma Iinha. Segre- não sei como, cha1nem a isto premo-

CASlElO, dos seus co1npa- do, por quê? O alarma n1e interessa- nição ou dedução paralógica, que o
ACABARAM nheiros. Estes va politic111nente, pois capitalizava perigo nova1nente 1ne cercava. Pedi
decidiran1 não para o nosso lado. Interessava pes- que ela descesse para o Rio e decidi

coMA se solidarizar soalmente, pois a niinha única, pelo ir para São Paulo. Precisava conver-

ELEIÇÃO co,n ele para 1nenos, a melhor garantia, era preci- sar com o Dr. Júlio Mesquita Filho,

l\"RE E evitare1n pro- samente a publicidade do fato. M,1s, a quem respeito como a u1n pai, do
OIRElA vocações. O co1n o presidente inclinado a decre- qual divirjo às vezes como um
importante era tar o estado de sítio, o alanna pode- innão e a que1n venero co1no cida-

& \ substituir Castelo, ria dar pretexto. E o Exército, dão. Ia direto à sua fazenda de Lou-
~ o único jeito, então, foi impor-lhe a naquela allura, poderia apoiar a
veira - onde eu estava no dia 29 de

J candidatura de outro militar, o minis- idéia do estado de sítio para "evitar outu. bro de 1945, quando afinal caiu
a ditadura. A' saída do sítio, a que
tro da Guerra, Costa e Silva. agitação". Preferi continuar e1n ris-

A hábil manobra política foi ado- co i1ninente de repetição da i1n·ensa dei o no1ne de Estância do Alecrim '
tac!.J pelos que têtn horror à política. leviandade. chegara1n dois repórteres.

''Os.militares hu,nor; ,nas desta vez era a sério do seu dever para con1 o Brasil - qlre
não estavam ,nes,no. Seu rosto de ho1ne1n sofrido.
preparados para talhado como o de tnn varão portu- é o de ajudar a ação irnediata, pois te..
as ta.refas dos guês antigo, no qual a idade não des-
homens de • trói urn certo olhar ele n1oço, corno se não se pode n1ais '4i,.,I 1
Estado'' a adolescência ainda lhe pairasse conten1porizi~.
nuns cantos da alrna cultivada con10
defesa contra as decepções e as expe- "NlO Tentei expli-
riênc ias, ele disse: cotOQUE A car-lhe o ,neu
te,nor de que ,
- Doutor Carlos Lacerda, quero
lhe dizer, con1 toda a franqueza. SUA CI\Nlll· urna vez no
peço-lhe que não tome por 111al. pois
lhe tenho 1nuita amizade . considero-o oAtURA poder, os que
o 1nais capacitado, o mais preparado ACIMA Ili\ dele se apos-
para assun1ir a presidência da Repú- sasse,n não o
blica e realizar un1a grande obra. RE\JO\.UÇlO" e ntregasse111 .
Mas. a esta allura da vida, não posso
lhe dizer senão isto: rneus filhos estão Sabia o grau
prontos para a vida. n1eu jornal. tudo
o que posso ter está à disposição d o profundo de decep-
Brasil. Nadu rne interessa mais do
. que ver o Brasil consertado, enca1ni- ção dos n1ilitares ,nais atuantes e
nhado. redimido. Arrisco tudo·o que
for necess,írio. j.í não direi a vida, que rnais conscientes, ern relação aos po-
bern pouco vale, mas a de tudo o que
pre7.o rnais, para que se faça no Bra- líticos. Conhecia a idiossincrasia do
si I o que é necessário.
' U rn deles. o Donlingues, born grupo chamado da Sorbonne pela
profissional de O D!a e A No1í- - Estou convencido de que as
LAC ERDA cia. queria saber oride eu ia, o Forças Arn,adas acabarão agindo. O UDN e seus bacharéis.
que pretendia. e n1 sun1a. a~ perguntas senhor tern todos os rnotivos para
"... os anos cio costurne. Letícia. de)ipreve nicla. suspeitar que elas não o façan1, senão Par1icipava das restrições fe itas a
de elaboração perguntou alto: "A que horas você tarde e 1nal. Mas eu creio que só con1
espiritual e a vai chegar a São Paulo?" O Don1in- e las podere,nos contar para agir. outros grupos políticos da oligarquia.
intervenção de Considero a revolução indispens:ível.
espíritos como - -gues não chegou a ouvir. olhei-a sen1 Mas sabia que não estavarn os milita:_,L11'1
Alceu ,w..
Amoroso responder. há 1nuito ten1po nos enten- res preparados para as tarefas que--.V
Lima.·· clernos (ou nos desentendcrnos) con1 o:zwe
un, olhar. Ela desceu para o Rio. os :<::( co,npetern aos homens de Estado; e
repórteres ta1nbé111. e saí para São
Paulo. por Três Rios e Volta Redon- Receio que a sua siluação de candida- ainda n,enos, para executá-las respei-
da. Ao passar :10 largo de Massa,nba- 10 à Presidência, c:orn todas as possi-
r.í. onde n1eu avô aprendeu a ler. len1- bilidades de vi1ória. o esteja inclinan- tando as regras b,ísicas, indispensá-
brei-n1e do dia e111 que lá fornos, n,eu do a C()nlen1porizar. a considerar que
prin10 e cu , ton1an1os 1nui to conhaque a crise con1por1a urna solução políti- • . veis. do jogo de,nocrático. Estava,
na venda e. na volta. nos cavalos en1 ca. Não creia nisto. Não deixe que o
disparacl,1. feri a orelha nun1 arranha- seu êxito pessoal. que é da n1aior sig- porén1. diante de urn ho,ne,n - talvez
gatn: en1 su111a. o passado ,ne voltou nificação para o Brasil. passe f1 frente
de chofre. corno acontece - dize,n o único. hoje, no Brasil - ao qual
- aos que cs1ão, se afogand().
dou o direito de errar; pois é um err().
Chcga,nos a São Paulo carde ela
noite. co111orna111os a cidade e torna- quando exista. baseado só e unica-
,nos a eslrada de Can, pinas. A' entra-
da de Louvei ra. e:-:1ava111 o Luís Car- rnente no sofrin,ento e no patriotis,110.
los iVlcsquila. essa fl or do gênero
hurnano. e o fi el e leal coordenador Quantos anos perdeu de sua vida, se a
de n1inh,1 ca,npanha presidencia l.
isto se cha,na perder. na prisão e no
-a gora go vernador de São Paulo.
~ exílio, para salvar a honra. e com ela,

Roben o Abreu Sodré. No dia in1e- o que ficou da pátria sob a ditadura?
dia10 apareceran1 repór1crcs, o de le-
gado de polícia local. lodos n1uito Seu cunhado Annando de Saltes Oli- !I
a,n.íveis. Evi 1ei recebê-los. Depois veira e ntregou-lhe a execução da
de urna 11oi1c ele conversa por vezes sugestão que lhe dera. e no governo 1
1
-difícil. na rnanhã seguin1c fui ver o
de São Paulo ele lançou as bases da
Dr. Júlio tll) seu quarco. lendo. con1
0lho fis<:al. o seu grande jornal. O universidade - o ,naior serviço até
c.,·[(l(IO de S. Paulo. que n:io 1: só Ulll
jornal. é unia universidade. hoje pres1ado ao Brasil, em n1atéria clfr"'\

Por urna rc,nin iscência por1uguc- forn,ação séria de um corpo dirigente~
sa. ele 1e1n o costurnc de chan,ar as
pessoas pcl() no,ne inteiro e a rnirn . e cuja existência fez con1 que o surto
não h(I jeit() de rne !irar o clo111or. que
sinto con10 uni apelido. A cerca al1u- industrial do governo Kubitschek

ra da conversa. quando eu insis1ia cn1 pudesse ter apoio e não ser apenas
que dcvían1os a iodo cus10 chegar :1s
elc i~·ões pres idenciais. e le ficou rnui- urna transplantação de dinheiro. téc-
to sério - ao contr(irio de tanras apa-
rências. ele 1cn1 rnuito senso de nica e pessoal de fora para cá.

Olhei-o longan1ente. ele u,n pouco

encabulado corn o seu surto de elo-

qüência. pois não gosta dela e a evita

eo,n o pudor de quen1 a detestasse:

esse in1pulsivo controlado hes ita

antes de cada palavra. para escolher

aquela única que lhe lraduz co111 exa-

tidão o pensan,ento. Ele reton1ou o

jornal. afastou a bandeja do café. Lá

fora. no pátio interno da casa, a pas-

sarinhada brincava nas árvores e o 1
sol trazia. ilurninado. o cheiro dos

eucaliptos. "O senhor acha que vão l

n1esn10 agir?" "Sen1 dúvida. e só lhQ •

peço que não coloque a sua candida- l,.
tura acirna da revolução."
1
Mais tarde. em 1965. quando o
~residente Castelo Branco, no 'gover- .• .1. •
no. c:orneçava a sua obra de 1raição e
]• J

,:
•• l

1 tar, se Castelo pudesse iludir o Exér-
cito, d izendo-se impedido por mim de
todos os 111eus esforços eram destruí- Roberto Sodré, creio que Rafael de ,w.. realizar "a obra da revolução", isto é,
dos pelo grupo que o empolgou e ao o programa que, de surpresa, o grupo
qual serviu, veio o Dr. Júlio Mesquita Almeida Magalhães, Marcelo Garcia w que o empresou levou para o poder.
ao Palácio Guanabara. E ali, num torn
que 1ne comoveu, mostrou a minha - velho amigo da família Mesquita, :ozI: Entre os nossos
parte de responsabilidade se o ron1pi-• :<::( melhores amigos
sua mulher Dulcina é prima dessa m i Ii tar es, e.oro
n1ento se desse naquele momento. Já a",.r•v. ocraedqaue raras exce_ções ,
estava. então, escandalizado com o outra admirável criatura que se cha- planto é uma ainda havia mui-
que haviam fe ito da revolução - festa, cada
n1enos na política econômico-finan- ma Dona Marina Mesquita - assisti- pedaço de tas il usões.
ceira, na qual ele acreditou e eu não. terra é uma Alguns tenta-
Era a política geral que ele condenava. ram à conversa. Não reproduzo, com consolação vam neutralizar
para a alma."
Porém, disse-me então: "Se o certeza, as exatas palavras, n1as o que chama-
• vam "as intri-
o senhor romper agora, ficarnos sem garanto que o sentido foi esse. gas", na reali-
e solução de un1a ditadura militar. O
Levantei-me. fui sentar à mesa de dade muito mais graves
senhor é o líder do que isso, pois não eran1 intrigas,
civil , não tem o trabalho, rascunhei urna carta ao eram um propósito deliberado e frio
direito de jogar de destruição de todas as lideranças
fora a_sua respon- Marechal Castelo Branco. Não quero populares autênticas, para impor ao
Brasil uma tutela pela força, capaz
sabilidade, desli- publicá-la aqui. Fi-la pelo Dr. Júlio e, de garantir a política de atraso, de
gar-se da revolu- subn1issão e de reacionarismo alvar,
ção e deixá-la de acordo com o seu apelo, pelo Bra- pela qual se prepara, como· contra-
entregue a essa partida inevitável , agora sim, a sub-
sil - para evitar a ditadura militar versão completa e revolucionária, se
gente, que nem não houver uma revisão dos erros
que o Castelo obteria n,Jquela altura, cometidos por todos, em todos os
sabe o que lados, e uma decidida e ampla união
fazer com ela. • se alegasse o desmorona1nento do sis- para a reconquista da liberdade, da
Veja como pode evi- independência e do progresso que
tar o rornpimento. Sei que é difícil, tema político-militar da revolução. foram sufocados.
sei que isto requer um gesto, um pas-
so que vai lhe custar muito. Mas vim Nessa carta, em todo caso, dizia reco- Ainda assim, entreguei a carta e
de São Paulo para lhe pedir isto; pedi-lhe que fosse o portador. ''Pois
mais, para exigir isco, em nome da nhecer que a direção da política só a escrevi", disse, "por sua causa".
confiança que tenho no senhor e do Ele foi ao Palácio Laranjeiras.
seu an1or ao Brasil. Evite o ron1p1- nacional competia ao chefe cio gover- Depois me disse que o Marechal
rnento,' a qualquer preço." Castelo, ao lê-la, fico u muito grato e
no, que a orientação dos seus minis- comovido e disse: "Como poderei
pagar tamanha prova de confiança?"
tros era sua e não pretendia interferir O Dr. Júlio, a quem eu dera como
exemplo, entre muitos, o de que
nela. Pesei cada palavra, mas as pala-
Castelo já fora até ina~gurar o palá-
vras me pesaram muito mais. Li-as ao c io de verão do Governador Adernar
em Campos de Jordão e nunca visi-
Doutor Júlio. Não me gabo dizendo tara a obra de água do G uandu, res-
pondeu-lhe: "Visitando a obra do
que elé se comoveu, porque tarnbém Guandu." Foi assirn que Castelo
tomou, dias depois. u1n hei icóptero
eu fiquei calado, sem poder articular comigo e foi fazer uma visita a um
de nossos trabalhos na Guanabara.
1nais uma palavra. Não era a dificul- Do ar, mostrei-lhe alguma coisa do
que estávamos fazendo. Lembrei-lhe
dade de me humilhar que me custava. que o Guandu já fora visitado por
três chefes de Estado estrangeiros,
Era a certeza de que seria inú1il e aJt.éá só faltava o do Brasil. Cada vez
contraproducente. A' quela altura que me saía alguma frase mais
bern achada, ele ficava encantado.
sabia o que estava no governo. Já não Mas, ao contrário do que fez constar,
se foi meu admirador, foi antes
tinha qualquer ilusão. Reconheci que d e chegar ao poder, poi s no
poder me encarou sempre como um
.havia o perigo de uma ditadura mili- rival, logo como um inimigo. Quan-
do disse, mais tarde, que o vorni-
tei. alguns acharam axageracla
a expressão.

''Minha conversão n1orte seria - csperavant os dois ra, cujas qual idades
e minha volta
lados - talvez o cs1opin1. Pois os aprecio e cujos
à Igreja foi
rcvolu<.:ionários do Exército não defeitos deploro, a
penosa e difícil.
agiant, à espera de aconteci111en1os. ntinha convivência
Hoje, estou
perplexo'' Fixarant ntctas para o Ii111 ite do cont os dont inicanos

suporl:ível. e ,n Sã o Pau Io, e

.Na realidade. só agirant quando os sobretudo a ,ninha

conselheiros do Presidente Goulan -- --.entrada no Mosteiro--···-- . ..

co1ne1era111 a irnpruclência fatal de de São Bento, onde
entre outros aniigos
levar a clesordcnt para dentro dos

navios e quartéis. Foi quando se sen- encontrei uni confes-

1ira1n dire1an1e111e a1neaçados que os sor. que frcqiíenlo

líderes do 11111ro concorclarant ent pouco, rnuito 1ncnos

secundar. co1n a condição de cltef'iá- do que devo, e u1n

los, os bravos 1nas pouco resistentes, antigo qu e cstinto •

os que h:í longos anos sofrian1, na cont lodos os 1nclho-

Aeronáutica, no Exército e na Mari- rcs senlin1cn1os de

' P or onde. então. podia devol- nha, todas as provocações e todas as que for cap:iz. 00111

LACERDA ver o que. por an1or a es te ansiedades. O preço dessa liderança Lourenço ele Alntei-

país. engoli? • cios que nunc.i Corarn revolucionários da Prado, paulista de

Novarncnte crn Petrópolis. chega- e só se dccidira111 para ocupar o Jaú, rnédico no sécu-

r:nn-111c notícias vagas ele que a gran- poder. privando o povo de votar. foi a lo, 111onge na eterni-

ja seria cercada c invadida. Co1n o derrota ela revolução no pr6prio dia dade. O Moslciro ele 1 •
São Bento, e1n cujo
n1e11 velho antigo Celso l'vlcnclonça e de sua vi16ria.

o rnotorista Fabiano da Conceição O aviso cio atentado nos foi dado colégio n1c11s filhos cs1udara1n. anlcs

Silva saín1os nu,na Kontbi particular. por u,n oficial de pára-quedistas. Não de irent para o Andrews, coni unta

à noite. sern luz. pela estrada pcclren- lhe direi o nontc. Nunca se sabe, anta- bela passagern no Rczendc. é urn des-

la que passa pelo lotea,nento da nhã pode ser 11ova1ne111e punido. Jun- ses lugares nos quais unt grupo de

Fazenda Inglesa. S11bin1os unt pedaço to cont o Coronel Boaventura, resis- pessoas rcalizarn a obra, extraorclina-

ele serra. be,n longe. que não vou tiu à ordcn1 o Major Monções. O ri:unentc eficiente e útil, de rezar pela

dizer onde é - porque nunca :-:e sabe Marechal Castelo salvação de todos.

quando se pode precisar de novo: Branco transfe- A ccrla altura, Gustavo Corção

quanto rnais no BrHsil se fala e1n nor- , riu-o da guarni- aparcccu-nte corno 11111 guia fraternal.
ção rnili tar do
rnalidadc. rint da era dos golpes etc.. "S0 SE Rio para o inte- No, dia cnt que escrevi estas linhas:
I\E\JOlll\RI\M rior. c1n bora o "/:,' dij'ícil ,·oirar :aí::i11lto, co111 os pés
1nais peno fica1nos deles. 1-\ un ião
QUI\NOO rnajor não tenha
nacional ele que se fa la. corno i111ita- coMEÇl\1\1\M escrito ncnhu- sangrando, para a casa de D('11S. Se111
111 a car ia a
çilo barata e fisiológ ica da Frente 1\ lEI\ MEOO Robcno Mari- apoio. Se111 a c:0111pa11ltia dos a11a11ça-
OE MORREI\"
Antpla que fize1nos. o Presidente dos". Corção replicou: "Eu quero

Kubitschek e eu. só nilo le1n unta coi- dizer que aquelas rrês linltas 111c' a/Ja-

sa: povo. Enquanto se fizer as pazes lara,11 co1110 11111 soco ( ...) Ficantos

scnt o povo. é porque se est:í faze ndo nho. assi1n conto dois co1nbatcntcs, quase

as pazes à custa cio povo. Não digo. O inq uérito. co1no dois ininiigos. Desconfiados.

pois. onde rui pernoitar. n1csn10 depois da revolução. lin1i- Ceri1noniosos. Ad1nir:H ivos. Circuns-

·rudo apurado. não era 11111. boato à 1ou-sc aos que c un1pria1n ordens pectos. Cavalheiros. Corno antigos

toa. O 1:· Batalhão ele Caçadores de superiores. Alguns for:1111 indiciados: co1nba1en1cs, que de longe ficant a
Petnípolis. sob o con11111Clo de uni ofi-•
os subalternos. Rccusci-nte a depor deci frar as cores e os sí1nbolos dos

cial charnado Kcrenski. recebeu contra eles. depois da revolução. Que brasões antes de se dccidirent pelo
bo1n co,nbate.
orde1n de assaltar a granja. Depois de sentido faz persegu ir os que cun1-

v:írias visi tas escondidas. intensa pri:11n ordens para rnc 1na1ar, se os Então 1nc tirava ilusões sobre a

1novin1en1:1ç:io e planejantcntos con- que con1andavan1 s6 se rcvoltanun facilidade da Igreja. a sopa da con-

sider:íveis. baterant l;í naquela noite quando con1eçar:11n a ter ntcdo de versão, a cachaça do n1is1icis1no. Da

ern que segui para Silo Paulo. Sabiant rnorrcr? crença de que a religião é o ópio do

q11c cu dorrnia às vezes sozinho ali. l 'enho sobre a vicia e a ,norte 111nas povo f1 crença de que a religião é unta

-Na !!ran.ja ficavarn o caseiro. 11111 idéias que gostaria de explicar. à luz panacéia que cura tudo, inclusive a
-n101oris1a e 111n !!liareia da Polícia de
de ntinha paixão pela vida e n1cus preguiça da alnta, vai unt passo; e
Vigilância que foi da rcsidí:ncia ofi-
na,noros cont a ,norte. este é difícil de dar. O difícil é ter

cial ele Brocoió para l:L Bateran1 - Minha conversão. ,ninha volta à urna religião corno 111na luta. "A lp,re-

,nas cu não estava. O co1nandan1c Igreja. não foi fácil nc1n súbita. Seria ja é cidade e deserto-escreveu Cor-

ntanclou unt n'ltlio. não sei dizer se longo de1nais contar esses anos de ção. - A ,·ida é. ora 11111a }'esta de
~
c ifrado ou aberto. ao l\1inistério da a111igos, ora 11111a 11oifl! escura. (... )
elaboração espiritual. Longo e difícil.

Guerra. dizendo: "O p,íssaro voou... Abrange, na parte final. a intervenção Para 111il11. renlto f/11<' a civili::açiio

Nl) dia scg11in1c. o p,íssaro voltou decisiva de espíritos con10 Alceu desahrida111e11re coletil'isra. c111 que a

para o Pal:ício Guanabara. onde rl·to- An1oroso Lin,a. Sobral Pinto, Gusta- gente nâo pode .ficar so::inlto. é o

n1011 () seu 1raballto. no rncio da ten- vo Corção, a tolerante e paternal :uni- i11Jc!r110 na ferra. Creio ra111hé111 que a

são q11e aurnentava a cada dia. Estava zadc de Dont Jaintc Ciin1ara, as pior solidcio é aquela ruidosa e opa-

furad o o baliio cio estado de sitio. Ev i- ex pressivas ilusões e expressivas rea- ca, do ho111e111 que l'il'e entre lio111e11s,

tava•Sl' o l>ogora::o. no qual a ntinha ções cnt relação a Do,n 1-lélder Ci11na- co1110 1111111 haile .f<111rásric:o e111 que

rodos re11lu1111os deixado a al111a 110 A descoberla ela vaidade no sacri- "Na granja Janeiro. 1'cnho respeito pelo seu ésfor-
ço. entenda-se bent, corno coo:;idero
1·esriário. guardando. dela <' do cl,a- fício, do orgulho na hu1nildadc, a que de Petrópo/1s as chamadas encíclicas sociais, c1n seu
ficavam o cncadcan1cn10, cn1,sua seqUl!ncia his-
pé11. 11111a Ji'cl,a." se refere Gcorgcs IJernanos. no Diá- tórica, perfe itas. Ncn, pretendo co,n
logo das Car111eliras, foi urna dura caseiro, um
Era ben1 escrito dentais, 111as era revelação para n1i1n. Revol1ou-1ne a estas palavras dar qualquer tipo c'.le
sincero. Co,nccci a freqüentar as idéia de que cristãos possa1n ser motorista e es1ín1ulo · aos reacionários para os
quais a Igreja deve confinar-se às suas
aulas de religião que ele dava, a um 9uarda da tarefas espirituais, adn1 in istrar os
Poltcia de sacrantcntos e, no ntais, a pretexto de
tornar notas. apon1an1cn1os, a fazer assirn. Eni 18 de abril ele 1949. Alceu Vigilância, que siio rodos filhos de Deus, ajudar a
perguntas. Casci-,ne na igreja. batizei 1nan1cr o escravo a serviço ele seu
rncus filhos. co1nunguci de novo. ,nc escrevia: "Gostaria de co111·ersar que foi da senhor na !erra.
Não ,ne fallarant desapontan1entos.
,nas os ntaiores fora,n causados rnais 11111 pouco co111 11ocl, sohre esle 1111111- residência Mas iguahncntc não entendo que a
pelo excesso de oti1nisn10 na perfei- oficial da Ilha Igreja se substitua à Escola de Sociolo-
ção das criaturas do que pelas obscu- do e o 011tro . sohrer11do... o outro." de Broco/ó gia, ao Partido Político, ao lnstitutb de
Ou Dont Lourenço: "E a segurança. pra lá." Geografia e Es1a1ís1ica, ao Observató-
ridades da fé . A fé rio de Meteorologia, para dizer quais
é algo que acende 11111 po11co pre1·ipirada. nas suas opi- os lances políticos n1ais c1nocionnntcs,
e apaga. que ilu- quais as preferências da juventude cnt
ntina e obscure- niôes. o leva a perder a própria gene- · rnatéria de danças 1nodernas, quantos
ce . I·I á u nt barracos dcve1n ser lransfonnaclos,
rosidade. q11e é a 111C'l/1or 11u1rca do quantos dentolidos. ou qual <> 1c111po
111 o 111 e n I o e 111 que vai fazer arnanhã. Entendo que há
que o 111ais dou- seu caráter, e o senso de reciprocida - u1n csvazi:11ncn10 da Igreja no que ela
to dos teólogos tent de insubstituível , quero dizer, da
deve sen ti r de, ( ... ) Os antigos filú.w~fo.,· chl'ga- Igreja Católica, exata1nen1e il ,nedida
que ela substitui outros órgiios faltosos
i1nensan1cn1c o ra111. partindo da sc>d(' i11rra11qiiila de da sociedade te1nporal; enquanto cres-
seu dcs:unpa- ccnt outras religiões, seitas e crenças
ro, e então l'oraçâo /11111u1110. a ajir11u1r a exigên- diversas, precisan1enle à 1ncdicla que
Clara, a ntinha bab:í, con1 sua
1nedalha 111i lagrosa, teria ntais apoio cia de 11111ti 1·ida futura. Seria 11111a ni.11an1 a fornc espiritual, .i sede de
para a sua fé pura e si111ples do que o
erudito con1entaclor dos evangelhos. ,·i<la .1·e111 os e111/Jaraços <' di111i111tições Absoluto que leva o hon1cn1 a pensar
Esse salto no escuro, que é o úllirno nesse assunto. Terei dito,algun,1a toli-
passo. quando não tenha sido o pri- que pesa111 sohrl' o lio111e111 11a l'ida cc? Urna heresia, por acaso? E possí-
1neiro, é que é o ato de fé. Não saberei vel. Mas é o que sinto.
jantais quanto devo a tantas pessoas terrena. 111a.1· ncio deixaria de .l'C'r 11111a
que ,ne ajudarant, urnas até sen1 saber, Recebo con1 cn1usias1no a idéia de
outras co1n a plena consciência de sua vida 11a111ral. Seria, sohrerudo, 11111a urna Igreja atuante no c:unpo social e
contribuição, a encontrar a a fé perdi-
da. Por cxcn1plo. csla carta de 25 de vida J11r11ra, e1u111t111ro que 11ás ajir- político. Mas vejo
novcntbro de 45, de Heitor da Silva co,n apreensão a
Costa: "Sei de suas idéias que sâo 111t1111os 11111<1 1•ida crer11a", diz ia ainda crescente auscA nc1• a
da Igreja Católica
c:011rrárias às 111i11J,as, 111as. hasra11re D0111 Lourenço, nun1a carta de 26 de
no cantpo cm que
jo1•c•111, ainda, espero que a /)i 11i11a nove1nbro de 48. nós, os leigos. não
podc1nos subst i-
Pro1·idc111cia o esC"lareça 110 C'(t111i11/,o Hoje, devo dizer que n1e encontro tuí-la senão nos

da J'.l'rdade .1·e111 e11gct11os." c,n certa perplexidade. Minha fé não lint itcs do laicato.
Viver cristãn1en-
di1ninuiu. Apenas - corno dizer? - 1e a vicia social é
i1npor1antíssi-
parece que hibernou. A Igreja ntilitan- 1110. Mas. viver crist1i1nc11te a vida

te, pari icipante, engajada, parccc-,nc •

necessária e n1csn10 indispens:ível. pessoal. que1n nos ajudará? N1io falta
tanto assini. é claro, e não jogo sobre
Ela dá o testentunho de sua inconfor- ninguérn as culpas que nesse cantpo
cu tenha. Mas. scria1nen1c. franca-
1nidade con1 a injustiça, da necessida- ntenle, sinccran1en1e. a fé ganha ou
nilo cnt ser procurada. c,n ser con-
de de rcfonnar o inundo. Mas até que quistada, cn1 vez de tão oferecida
corno 111n artigo cio dia? Observo que
ponlo essa tarefa está di1ninuindo o a 1naior parte das pessoas que aplau-
de1n en1 usias1 iean1cnte as encíclicas
vulto e o alcance da outra? Vi o Padre dos Papas João XXII ! e Paulo VI ou
nunca tinhani lido as dos seus ante-
Lebre! - o ho1ncn1 da /;co1111111ia &
cessores ou aplaudent igualntente a
/-/11111a11is1110 - de ben1 perto, desde infftntia ntontada e,n teatro contra Pio

que ele chegou ao Rio a printcira vez XII, acusando-o de colaborador da
perseguição nazista aos judeus.
até que numa se1nana pretendeu traçar

linhas para a rentodelação do Rio de

' ria1nente todo religioso en1 econo- angústia ta1nbé1n existe e não respeiia
1nista, sociólogo e refonnador a1na- o Produto Nacional Bruto, ne1n a
''Acima das
clor. Co1nprcendo o papel de uma Renda Anual per capita. A anglÍstia
razões lógicas vanguarda, de renovação pcnnanen- não é un1 senti1nen10 reacionári~ a
te e de cxperin1cntação audaciosa. busca de Deus pela sua criatura não é

e das provas Mas tan1bé1n vejo o nú1nero de unia aspiração capitalista ou socialis-
tangíveis, a fé apostilas que essa convivência con1 ta, é uma aventura arriscada e perigo-
a tentação, se1n preparação para sa, na qual o que n1enos se arrisca é a
resistir-lhe , está provocando. E a danação c ao que 1nais se pode aspirar
falta de vocações para o serviço não é nada cio que se pode ter neste

é um grande re ligioso não parace encorajar a inundo. Gostaria que os que se alvo-
idé ia de fi1zer do religioso un1 soció- roça1n tanto corn a 111e11sagen1 social
salto no escuro'' logo que tan1bén1, nas horas vagas, não csqueccssen1 de pensar tarnbén1
clá co1nunhão e ieza n1issa. no seu conteúdo pessoal e intransferí-
' tuna palavra, a n1aior parle dos
que aplnude1n a posição social Não pretendo - é o caso - ensi- vel, COlllO Ulll con-
LACERDA e política das últi1nas encícli- nar o padre-nosso ao vigário. Pre- vite para uma festa.
cas não acredita e1n Deus e só acredi- tendo é que o vigário não nos deixe A festa da fé, que
ta no papa à 1nedida que julga que ele esquecer de rezá-lo. Sei que o pão anda rneio perdida
est,í confinnando a te ndência que de cada dia é i1nportantíssin10, mas nesse turnulto de
cada qual ten, para acreditar na uto- ta111bé1n sei que a hóstia é un1 pão
pia. en1 vez de acreditar no que a rnui- que nen1 todos pode1n ter, que rnui- quem1esse soc1' 0-.
tos parece tão difícil, e é bcn1 n1ais tos não tên, quando queren1 e outros econoAn11• ca, nes-
r.ícil ele crer: na vida eterna. não queren1 quando deve1n. A evan- sa catequese
Pois é rnais fácil acreditar na vicia geliz.ição está sendo feita por prega- n1oderna na qual
eterna fora daqui do que na perfeição dores de várias religiões, n1uito alguns Anchie-
aqui. E1n su1na, tenho às vezes a rnais do que pelos da Igreja a que
pertenço, onde reina certa confusão, tas conte1npo-
fecunda, se1n dúvida, animadora sob râneos, ao con-
n1tiitos aspectos, indicadora de um trário de seu antecessor, em vez de
pern1anente desejo e vocação de ser- ensinarem o gentio a não comer carne
vir aos homens. hun1ana, voltam la1nbendo os beiços e
convertidos à antropofagia.
Mas este é o ponto, no serviço dos A fé, penso que não me engano ao
hornens é preciso não esquecer a Pes- dizê-lo, é tão íntin1a e Ião individua-
soa de cada criatura, pois esta é que lizada que não se confunde com as
está sozinha, esta é que é 1naís triste e rn anifestações coletivas, que podem
chegar à histeria e à 1nistifícação. E a

pobre, esta é que perde o sentido da fé tern u1n mistério que não está
vida e a compreensão da morte. Não
se trata de su focar a revolta dos somente no ritual, mas na essência
pobres contra os ricos sen1 cs1i1nular a
ostentação dos ricos sobre os pobres. n1esma. Pois, acima das razões lógi-
Contudo, ricos e pobres viven1 nu1na
solidão, nun1a carência espiritual que cas, das provas tangíveis ou racio-
tan1bén1 procupa o papa, nias não
parece preocupar tanto os que tanto se na is, existe o salto no escuro, o
preocupam con1 os tópicos socioeco-
nôn1icos de suas encíclicas. 1nomento entre todos supremo en1

Se tivesse medo da inteligência que a gente crê ou não crê. Por isso é
não escreveria estas palavras; pois
nada será mais fácil a um in1becil do que, u1n d ia, Paulo Bittencourt (per-
que se fazer de inteligente torcendo-
as, interpretando-as num sentido que sonagem que escapou a Proust) e
lhe convenha, 1nas não à sinceridade
e autenticidade do meu pensarn·ento. Nio1nar Moniz Sodré convidaram-
Mas espero que o leitor inteligente
n1c compreenda. n1e co1n Letícia para jantar no Bin-

Sei o que é u1na pessoa sentir-se gcn, e1n Petrópolis; e passaram todo
sozinha no 111eio da multidão. Sei o
que é precisar do an1paro e da conso- o tempo nessa curiosidade dos que

UJ lnção. Não consola a angústia hu1nana têm a nostalgia da fé, dos que resis-
saber que há países desenvolvidos,
t;; outros e,n desenvolvimento e putros ten1 tenninantemente a se entregar a
subdesenvolvidos, porém é preciso
.o:ze etc., etc. Isto saben10s, temos de cui- ela, a me perguntar por que eu me
dar disto, estarnos cuidando disto, o
::; papa faz 1nuito be1n de le,nbrar. Mas a convertera. Seria u1na forn1a de can-

"A esta altura, irnpressão ele que a parte do ensina- saço, um instrumento ele a1nbição,
Gustavo n1cnto e da n1ilitância da Igreja Católi-
Corção ca para reconquistar as n1assas e se uma arma de comunicação, urna pre-
apareceu-me pôr. corno sempre, no espírito do te111-
como um guia po. sofra excessivan1ente a influência tensiosa idéia de perfeição? A todas
fraternal. No do \le1110 da His1ória. O tempo é
dia em que 1. 1nportant1;ss•11no, mas na- o o. e,; n1enos, c as perguntas, com que longa1nente
escrevi e~tas
linhas: 'E sin1 rnais. a e1en1idade. parecia Paulo estar procurando as
O ensinan1ento dos papas desti-
dcoifmíciol vsopleta.sr, respostas que não encontrava em si
na-se... a congregá-los e mobiliz.:í-
sangrando, mes1no, acabei por dar esta, única
para a casa los para viver cristã1nente a vicia
de Deus'. ·· social co1no a pessoal. Não se desti- verdadeira e completa:
na. penso eu, a transforn1ar necessa-
- Não sei .

E tive vergonha de acrescentar o

resto da verdade:

- Mas tenho certeza de que uni

dia hei de saber. ··

,

No próximo número, 8º capítulo: A briga com .Manuel Bandeira

''Rosas e Pedras do Meu Caminho'' @



'•

DOCUMENTO

esuntei as 1nãos de

fuligern, no fundo

ele u1n pires, sobre a

chan1a da vela. ln1prin1i a ,,..-.'• ~ :1, -
\ ~.
· palma da 111ão nu1n papel - . ? -~ .

branco. M~dei-o para o ... -

. ~....•
~
.~- ~;~ ..
Rio, à casá do Alvaro

Moreira, que o entregou a

u1n quiro1n an_te. Naquele

ten1po; con10 hoje e sem-

pre , 1nuita gente recorria

aos adivinhos, videntes,

especialistas de segredos e

n1istérios. Getúl io Yargas

tinha no persa Sana Khan

o seu consultor. Ultin1a-

n1ente, dize1n-1ne q ue o

Marechal Castelo Branco

foi a São Pa ulo especial-

1nente con1unicar-se con1

o Alé,1n , nu,na casa d iscre-
ta. AIvaro Moreira, con1

fun1aças de n1arxista, sen-

sível de1nais para o ser,

apaixonou-se pelo n1isté-

rio e adotou, à vera, o qu i-

ron1ante Raggy Basile.

Era 1936, sob o estado-de-

-guerra, i.sto e, , suspensao

dtuec1.toondaa1.ss.gparr1.asn-oteias s consti-
a... vonta-

de, perseguições, destrui-

ção dos efeitos do movi-

1nento co,nunista de 1935

e preparação do golpe de

estado do ·rascisn10 subde-

senvolvido, de l937.

'~Por enquanto, Co111batit•o e de r esol11çcio det('r1ni-
c.ontentemo-nos
eÍn ser intuitivos 11ada quando pro1•ocado. Te,u i11te11-
p81o menos tanto
quanto lógicos'' çôes de chefiar os outros.··

Aqui. Uffla dcrrapage,n ou urna

pron1essa?

"PendQ{ para as ciênc ias lógi cas

011 111ecâ11icas. 'Terá riqueza de pro-

priedades e gostará (/(' se 111ostrar

rico e opulento."

Reton1a a descrição:

"S0111e11t(' aceita as ciê11cias 011 os

./'aros por ele co11hC'ci(/os. lV/11i10 des-

co11,fiado e dij1cil de ser co111·e11cido.'·

A nota a seguir parece absurda. Mas

' aí da Casa de Correção no eu. que 111e conheço. sei que não é:
Natal. Na polícia fui notificado
LACERDA de que seria en1barcaclo para a ''Eco11l!111ico, 111es1110 110 jc1lar.
Ch,ícara do Co,nén:io. onde ficaria
confinado con1 n1eu pai . Deran1-n1e C<J/ll'('rsa co111 atençâo e r espeiro ...
licença de passar o Natal con1 n1inha
n1ãe. e,n lpancrna. Na chácara. Un1 erro de dois anos a ,nais:
depois. onde n1eu pai tan1bérn estava
sob suspeita, após a sua absolvição "Hcí ho111 sinal dC' casa111ei110 co111
pelo Tribunal de Segurança N,,cional.
depois ele n1ais ele uni ano de prisão. a idade de 26 a11os. Fará 11111i1os
en1 1936. con1ecei a traduzir Ríologia
e lvlarxis1110 . do professor francês eJjc1rços. por,é111. 1·enc('râ e terâ s11r-
Marcel Prcnant. Chegou-,ne o recado presas i11espC'radas. Mais tarde será
ele Álvaro Moreira. para n1andar a
n1inh;1 ,não i111prcssa ern fu ligen,. ao 11111ito atí1•0 ,, ocupará lugar de dire-
n1cnos por curiosidade. para o quiro-
n1antc analisar. ção. Proj·1111d11111('llte se11til11(•111al.
Assegurara111-n1e que Raggy Basi-
le nen1 sabia de qucn1 era,n aq ue las caloroso ,, c•11111sia.1·111ado nas 1101·r1s
nHtltrataclas ,nãos. in1prcssas no
papel branco. O quiro,nante escreveu rel(lçôes. 011110s 1101·os princípios 011
esta an,ílise. que data de 22 de julho
de 1936. quando eu tinha 22 anos: ideais. Reser1·ado. paciente e ci11- natural se entrelaça con1 o preternatu-
ral e o que, por rncra si,npli ficação.
"PC'rsona!idade de idéias liberais, ll1C'1/lo 110 ,1111or. P('11dor para S('r1·ir chan1an1os o natural, só agora co,ne-
1•ol1í1·c•I //() /J<'IISClr C' 1/() Sl'lltir. COI//
a co/eti1•idade e• ,uio o i11divíd110 ... ~
alg11111a indC'cisão 110 agir. 111etódico
dc•1·ido a SC'r aprc•,•11sh·o. 11/CIS por (Aqui ele coincide co,n a descrição ça,n a furar a crosta de resistência que
a ciência oficial lhe criou, no século
11at11re::a é l'Xaltado ... de ou1ro árabe. David Nasser. nun1
X IX. Daí a i~11poili1nci!1 que atribuo.
A descrição t: severa. n1as perfe i- artigo n1agis1ral en1 que disse a n1es- cada vez n1a1s, ao escandalo de ser-
ta. A segui r. pron1etia: n1os governados e orientados. no
1na coisa. se,n ,ne n1undo pós-aristotélico, pós-bergso-
"1\!fais tarde'. t('rcÍ 11111ita .forçC1 de niano e pós-freudiano, apenas por
1·011tade <' 111ais ação... ter lido a n1iio.) unia dessas linhas. a do pensan1ento
lógico forrnal. A lógica dialética. que
Este papel ficou guardado desde "I\SS\M ço-e"sT1e11a11s co11 t r a di -
então. Nunca ,nais o vi. niio n1c lc,n- DESCOBRI O suas pro, - - opern1itiu a Marx e Engels incursões na
brava n1ais cxatan1cntc o que dizia.
Volto a encontrá-lo agora. Não se RI\DI\R nos prias forças. às fi losofia e até na psicologia social
pode dizer que o vaticíni,, niio se tenha ciência ainda sen1 den1es - , serviu ao
realizado... A seguir. an1abilidades ve::es se haseia n1enos para ,nostrar que a natureza cl;í
saltos. que o pensa,nento se faz co,n
~ MORCEGOS 11a lógica (' 111ergulhos nas sensações e na n1en1ó-
outras ,·e::es na ria guardada nas células. Mas para
quiron1anciais ou quiroscópicas: NO PÉ no i11r11içâo... que serven1 duas terças partes do
cérebro? - perguntan1 os sensacio-
"Poss11i 1·iracidade 111(•11101 e cla- SI\POll" Eis urna nais autores do Despertar dos Mâgi-
cos. Louis Pauwels e Jacques Bergier.
ri1·id<111cia co111 asc('11si:io progrcssh·t1 obse r v ação Só se conhece,n até agora as funções
de u,na terça parte do cérebro hun1a-
das .lac11 lclades 111e11tnis. ~/(' te11dê11- rigorosa111ente exata. creia- no. E o resto feito da ,nes,na n1atéria.
para que serve? Para nada - ou ape-
cias a S('r .fi11111·a111c•11tc n1111lítico . se ou não no valor da quiro,nancia.
,
ol>S<'ITador (' psicol<Ígico. E tc111 1·i1·a Lcopolcl Senddar Senghor, o poe-
nas ainda não sabemos? E 111ais cien-
i11r11iç<io. t:i-presidente do Senegal. nun1a con- . tífico dizer que ainda não saben1os.
A11u1 os prn::eres ,, acha-os ll('ces-
ferênc ia ern Beirute, en1 66. salientou Vi os golfinhos nun1 i,nenso tan-
súrios. 1\iâo é se111pre de (tC·orclo co111 que, no Havaí. dançare,n ern diferen-
que a cultura negra é instintivan1entc
os c11111pa11heiro.1· 011 co111 as ,·0111·e11- etes ritn1os, confom1e a música. Vi
unia síntese do que representa,n, no
çtics sociais. religiosas 011 políticas. esses n1an1íferos do mar obedecerem à
tlllJndo branco ocidental e cris1ão, a bela nativa que lhes dava ordens, e vi
esses anirnais hidrodinâmicos reali2a-
i11tcli~0' <111cia l6~°ica • que o ~ore.o::>o ren1 proezas, sob sin1ples con1ando da
Aristóteles n1ontou. a i11t11içâo. cujo voz hun1ana. O seu cérebro parece que
é o n1ais desenvolvido do n1undo ani-
papel o francês Henri Bergson pôs

en1 re levo. e o s11hco11scie11te, que o

austríaco Sign1und Freud investigou.
~~
A lóg ica sen1 :i intuição não é gran-

de coisa e não leva nen1 até a esquina,

quanto n1ais a descobrir a An1érica. A

intuição e o papel que dese1npenha na

sua gestação o gigantesco co111pu1a-

clor eletrônico, que cha1nan1os de

cérebro. ben1 con10 o es1ado de graça

e ou1ros fenô,nenos en1 que o sobre-

economia divina, uma força - QS

homens a representam à sua imagem e

sen1elhança, para traduzi~las nesma-o_te- r-
ua compree
mos acess1,;ve1.s a. s

que regula a mecânica .e a dinâmica
cio Universo. A' imagem e semelhança

de Deus, o homem

recebeu muitos .dos

seus poderes; a

questão e saber

quantos, e quais.

Ei s aonde se

pode chegar, ou

de onde se pode

começar, com

uma simples e

despretensiosa

transcrição das revelações

do quiromante. Maiores seriam as

lucubrações, e mais fecundas, se

pudéssemos discutir abertamente o

que vem ela ciência propriamente dita;

maiores, ainda, o que vem dos ritos

rei igiosos, a começar por esse difícil

ato de afirmação que é a confissão.

Certo dia de 1958, exausto de cor-

mal. En1 ,nenino, no alto do n1orro do transbordam no home1n, enquanto "Aos 52 po e alma, ameaçado de estafa, li que
Mundo Novo, punha un1 ban1bu a elas as recolhem - e aí vai uma anos, após a na Suíça já se fazem curas de sonote-
zunir e os morcegos do sapotizeiro observação válida tan1bém para as convenção de rapia em fim de semana. Ern vez de
vinharn ,norrer debaixo do zumbido teorias de Freud, que Jung ilu1ninou, São Paulo, fui esperar que a doença dos nervos, seja
da vara. Assim descobri o radar dos libertando-as da pri,nitiva estreiteza candidato à qual for, o arrase, o camarada se
morcegos no pé do sapoti. Que dize,n s.exual. obsessiva e exagerada, dan- presidência da recolhe a um estabelecimento espe-
as fonnigas quando se encontram e do-lhe din1ensões maiores, com a República. Três cializado e, mediante certas drogas,
troca,n in1pressões como lavadeiras na teoria dos itnpulsos. prof;ssões me sob controle médico, reduz o esforço
foram preditas. de viver ao mínimo; durante algum
beira do tanque? En1 suma, sou un, lógico-intuitivo, Hoje sou tempo, sÍlnplesmente, vegeta. Com-
Se se quisesse construir uni con,pu- ou um intuitivo-lógico. Daí certas escritor, binei com Marcelo Garcia, fascinado
tador para reprodu- aparentes adivinhações, que Chur- banqueiro, por todas as manifestações da inteli-
zir uma parte ,n íni- chill chan1ava, como meu pai, a estre• corretor, editor
e avicultor."

rn a do que é capaz la. a famosa estrela em que acredita- geA nc1o a, • p n• m e ,• r o s s1• na1• s acom-

CUJOS

r de fazer o cérebro vam homens como Júlio César, Sha- panha nas crianças, e com meu vizi-

1 humano, ter-se-ia kespeare, Napoleão e outros menos nho, o clínico Otávio Dreux, um

muito que inven- votados. Um simples carteiro, na sua homem tímido, dedicadíssimo e de

tar - e provavel- modéstia, ou o entregador do pão, no rara capacidade, U!lJª cura de sonote-

mente seria con- tetnpo e,n que ·se entregava pão, um rapia. Mais tarde, querendo me humi-

siderado antie- biscateiro ou um servente de pedreiro lhar, na Câmara, o Deputado Arman-

c o n ô m ico. O podem ter as mesmas facilidades, do Falcão, então líder da maioria sen-

lugar da intui- li1nitadas pelas condições do seu ins- do eu o da oposição, jogou-me em

ção na civilização do tru,nental para o raciocínio. A instru- rosto a sonoterapia co,no um labéu,

fu tu ro, o papel do subconsciente na ção, dando vocabulário e trabalho às um sinônin10 de coisa feia; tal co,no o

refonna do mundo, suas instituições, células, uma espécie de ginástica das ministro da Fazenda, José Maria

suas apserpsrpo,exc,.tmivaass gceornasçto-iteuse.1n desafios células, prepara atletas cio pensamen- Alkimin, me acusou de contrabandis-
para to - a imagem é de mau-gosto, rnas é ta, da tribuna da Câmara, por ter tra-

"Por enquanto, contentemo-nos justa. O ponto de fusão entre o sobre- zido para o Brasil , após dez meses de

en1 ser intuitivos, pelo menos tanto natural e esses fenômenos, que apenas exílio, o automóvel que usei durante
quanto lógicos. E u,n processo bár- con1eçam a ser estudados, depois ele esse tempo, trazido con1 autorização

baro, isto é , nãq-siste,natizado, mas adivinhados desde a mais alta antigui- escrita do Ministério do Exterior e

muito eficaz, de viver. Por isto é que dade, rne fascina. Em cada uma des- retido na Alfândega durante ,nais de

penso que as ,nulheres realtnente sas estradas que se abrem ao espírito um ano. Quando volta,nos a ter rela-

têrn, não o que se costuma chamar em cada dessas cabriolas do pensa- ções pessoais, que espero não mais se

um sexto sentido, mas uma capacida- n1ento lógico, no esforço de aprender interro,npam, mesmo desaprovando

de ma.ior, por n1ais longamente trei- as suas forças indevassadas e até mes- sua conduta política, estive para

nadas, de usar a intuição. Durante mo indefinidas, encontro uma prova a explicar ao Deputado Falcão o valor

séculos elas guardaram mais suas rnais da existência de uma perfeição da sonoterapia como distensor e

observações e experiências, que absoluta, que cornanda tudo isso, u,na refrescante cio espírito.

'•

''Conservo dessa Ele tinha razão, mas o ·bichinho, se nem verbo, pois, alén1 das palavras,
experiência, havia, não me agüentou. Mas inte1Tom-
a sonoterapia, pi o sono para curar a pleurisia. Depois eram sensações inexprimíveis pela~
uma impressão reton1ei a sonoterapia e fui convalescer
nítida e en1 casa de un1a suave tirana, flor do linguagem hun1ana. 11
deslumbrante'' gênero humano, insolente como se fos-
se dona do inundo, dedicada como se Foi uma sensação transumana e no
fosse a serva da humanidade, Maria do
Carmo Melo Franco Nabuco. entanto. me sentia viver plenamente,

Mas conservo dessa experiência, a sem ligação necessária co1n nenhum
sonoterapia, uma in1pressão nítida e
deslu1nbrante. A' noite acordava, ten- objeto ou pessoa. Era como u1na pri-
tava folhear tnn livro de gravuras, as
cores multiplicavam-se e a letras pare- mavera em mim, brotavam idéias,
ciam quebrar-se sob meus olhos, cada
palavra era três, era trezentas e cin- balsâmicas, ligeirámente oleosas,
qüenta. A enfermeira, alternando com
Letíc•ia, n1e atendia. Mansamente, como a leve goma de um envelope.
con10 quem 1nergulha no esquecimen-
to, adormecia de novo, desligado do Sentia-me extremamente lúcido,
mundo. Até que certa madrugada, de
repente, acordei como se estivesse capaz de con1preender tudo o que me
num mundo todo feito de novo, com
uma sensação de felicidade absoluta, fosse proposto, mais iguahnente
independente de qualquer fator exter-
no. Os lençóis pareciam feitos de separado de tudo, pela inutilidade de
folha nova de árvores veludosas. Um
bem-estar completo, uma força muito tudo, só viver era bom, só interessava
leve, mas muito poderosa. O q~arto
banal tinha uma amplitude desconhe- sentir-me viver
cida, o bnmco de parede impressiona-
' D eitei-n1e, ton1ei os remédios pró- va 1nais, assim branco, do que o qua- aqueles momen-
prios. con1ecei a do1mir. Acor- dro mais colorido. Nunca pensei que o
LACERDA dava sen1 apetite, provava um branco fosse tão nuançado e tão vivo, tos inefáveis,
alimento ligeiro, cun1pria os preceitos tão feito de tantos azuis. Um bem-
"Após longo de higiene e dormia de novo. Un1 dia, estar co,npleto, unia força muito leve tudo completa-
rompimento porén1, acordei con1 un1a punhalada no mas muito pod~rosa parecia sustentar-
com Prestes, flrmco, unia dor lancin~mte. Na confu- mente feliz, sem
que o insultara, são, niiquela espécie de lusco-fusco do me acin1a das contingências. Tudo
Maurício de espírito en1 que se fica nessas circuns- estava em niim, o poder de me abstr,úr necessidade de { )
Lacerda tâncias, fiquei certo de que era câncer. co1npletan1ente. Não precisava pensar
estendia-lhe Fernando Paulino, antigo vizinho de para concluir e as conclusões se enca- qualquer razão.
a mão." infância na Rua Alice, meu difícil e deavan1 com total indiferença pela
rnuito querido im1igo, veio 1ne exami- lógica. Era um pensan1ento abstrato Seria preciso
nar. Ouviu o diabo, esse médico conhe- puro, sen1 objeto direto, se111 forn1ar
cido por sua braveza, e que teve comi- oração. quase posso dizer sem sujeito inventar pala-
go un1a paciência exernplar, esse admi-
rável doutor, cuja severidade só não vras para des-
con1preendem, ou não perdoam, os que
não dão valor à sua obra de escravo do crever a sen-
seu ofício. O Dr. Dreux fez unia coniu-
nicação científica sobre o caso. creio, o . sação que experimen-
pri1neiro.ocorrido no Brasil de acidente
111ecânico durante a sonoterapia. Eu tei: transbondade, translucidez, diá-
tivera uma pleurisia, uni derranie de
líquido da pleura. Marcelo trouxe un1 fano-dinâmico, repousante onipre-
tisiologista famoso, doublé de intelec-
tual e ariista, que n1e falou do enterro sença estática, sonhar sem dormir,
do pintor Pancetti, que havia aconipa-
nhado naquela ,nanhii, o que 1ne aca- dormir sem acordar, viver e se ver
brunhou bastante - pois os doentes
preferem falar de sua doença a ouvir viver, traduzir tud9~0.que se aprendeu
sobre a ,norte alheia. Em seguida.
ouvindo-rne os puhnões pelas costas. numa linguage,n nunca ouvida ne,n
consolou-n1e: Não é nada. você acaba
de entrar pará a confraria dos ex- dita, mas límpida e perfeita. Aquelas
tuberculosos ilustres: Ma1111el Bandei-
ra. Afonso Ari11os. tantos outros. Isso horas do despertar da sonoterapia
passa logo. Lá se foi a sonoterapia.
Tinha emagrecido 0ito quilos en1 oito valeram-me como uma provisão de
dias. Mas, ainda reagi. Na nebulosa da
consciência. reuni forças para exigir primavera que guardo no meu celeiro
provas. Onde os exan1es? Que indícios
o autoriza,n a essa conclusão? No fin1 de sensações.
não era tuberculose nenhun1a. Era uma
polê1nica. A literatura passara antes da Voltemos ao quiromante de 1936:
Medicina. O tisiologista se deixara
donlinar pelo seu pendor artístico. A "Muitó progresso: outros o aju- (:-'\
sua si,npatia quase 1ne vale un1 susto.
darão a subir. Tendências ·para 'l.;;;J

adquirir 1naior faculdade analítica,

1n11ita reserva, ,nais 111e/a11colia e

sabedoria e111 desviar ou encobrir

seus segredos 011 pe11sa1ne11tos.

Parece que quando era pequeno seus

pais tiveram grandes prej_uízos

111ora1• s ou n1ater1•a, 1•s. H

Segue-se um exan1e de ocorrên-

cias e,n cada idade que 1nenciona. É

curioso fazer a comparação. 1

"Houl'e 111110 ,nudança na sua vida

con1 18 para 19 anos."

1932/1933 - Iniciação no comu-

nismo, através da Faculdade de

Direito.

"Aos 21 anos, contrariedades.

Aos 22, há sinal de doença."

olnterro,npido o curso dê Direito,

refugiado da polícia. Passo a insub-
misso no Exército.

''Aos 23, grande 111elhora."

Volto à tona, entre um estado de

guerra e outro, o do golpe do Estado

1 Engano de região, talvez. O peri-
go houve , foi o atentado na porta da
- -t e Rádio Mayrink Veiga, no qual quase
perdi a vista esquerda.
< -••
"Aos 37 anos. subida n1oral 011
.-..,,~ 111aterial."

,Lo Nasce Maria Cristina.
"Aos 40 anos, grave perigo."
e' • •
Atentado da Rua
. .J,/) -)tl Tonelero, no qual
fui feri do , 1n eu
Novo. Conheci Letícia, decidin1os "Trinta anos. Perigo por desastre "Defendi o fi lho quase morto
(água). Ano dijYcif. idéias desespera- meu mandato
que havíamos de nos casar. Estréia das. queda." de deputado e 1norreu por mtm
num o Major-Aviador
da minha peça O Rio, no Teatro Boa Acompanho co,nboio de guerra da depoimento . Rubem Fl orenti-
Marinha. Na série de reportagens que durou no Vaz.
Vista, e,n São Paulo, pela co1npanhia sobre as bases an1ericanas no Brasil, cerca de 16
devo tomar um avião 1nilitar Grum- horas, na "Aos42 anos,
de Álvaro Moreira, escrita com o man, no A,napá, 1ninha prioridade é 5; Comissão de con trariedades ,
passageiros n1ais in1portantes, um Justiça da esforços."
pseudônimo de Júlio Tavares. con1andante canadense e outras perso- Câmara. " Nessa idade, em que
nal idades, to1nan1 o Gru1nman. No dia co1necei coni a vida an1eaçada e no
Viage,n pelo São Francisco até à imediato, voan1os noutro avião para • exílio, desde o golpe de novembro do
Belém; vejo embarcarem socorros e ano anterior, 1955. só voltei ao Brasi l
Bahia, grandes esperanças. sobrevoamos den1orada1nente Marajó, etn outubro, para lutar pelo 1neu man-
abaixo e acin1a. Afinal, percebo do que dato de deputado, que n1e queria111
"Aos 23 e ,neio. 11111da11ça de se tratava. Lá está o Grumman enterra- cassar para processar-me como trai-
do no brejo, com a .cauda azul para dor da pátria. É o ano que começa sob
a111bie11te 011 profissão - 011 viagen,." cima. Era o avião e1n que eu devia ter o regime do General Lott (novembro
viajado. Saio dos Diários Associados, de 55) e o primeiro do Governo
Preso, novamente refugiado, caso- desen1pregado. Tento, e1n vão, alistar- Kubitschek. A denúncia que fiz da
me na FEB. Des1nancha1nos a casa, ligação entre o Vice-Presidente João
1ne, abraço definitiva,nente à profis- Letícia vai com os-dois n1eninos para Goulart e o governo de Juan Péron na
Valença, tento seguir para a Itália con1 Argentina, revelando telegrama secre-
são de jornalista, viajo muito, por a Força Expedicionária. to do Itamarati, valeu-me a acusação
de ter revelado o código secreto do
quase todo o Brasil. "Aos 32 anos, grande 111elhora Ministério do Exterior, conhecido ·no
mundo inteiro, e até hoje em vigor; e
ú "Aos 27 anos, ascensão 110 vida, repe11t1.11a, por acaso. " por isto me quiseram entregar à Justi-
co111 segurança no co11j1111to dos ça Militar por crime de traição à
Fazendo crônica da Constituinte pátria. Defendi o n1eu rn andato de
sinais. talvez e111 cargo ad111i11istrati- para o Correio da Manhã, inespera- deputado nuni depoimento que figura
da1nente sou 1nandado cobrir a Con- no livro O Ca111inho da Liberdade e
vo 011 etnpresa, e c:0111 destaque." ferência da Paz, em Paris. Priineira que durou cerca de 16 horas, na
viagem à Europa. O Observador Comissão de Justiça d<\ Cfunara.
Inesperadamente sou contratado Econôn1ico me co1nissiona para estu- "Aos 46 anos, 111e/hora notável,
dar o 1novi1nento cooperativista na talvez a n1aior da vida, oc11pa11do
pela e1npresa de publicidade Unidas, Suécia, na Holanda e na Inglaterra. duas posições."
Conheço a Itália. Preparo o livro 1960: líder da oposição na Câmara
para organizar o Boleti1n Sen1anal Co,no Foi Perdida a Paz. dos Deputados;-eleito primeiro gover-
nador da Guanabara pelo voto direto.
da Associação Con1ercial de São "Aos 34 anos. pC'rit:o de doença Até aqui, palavra por palavra ,
d1.netneisot1r.1a10d.a,,.. talvez de fígado 011 transcrevi o que o Raggy Basile escre-
Paulo, que fundei e praticamente veu, comparando con1 o que se deu.
Daí por diante, seria indiscreto
dirigi. Nesse 1nes- demais ousar comparação. Mesmo
porque o quiro1n~nte previne, no
mo ano, por inter- final: "Para a reafizaçâo dos aco11-
teci111e11tos ou projetos ji,turos é
1 médio de Leão i111prescindível guardá-los en1 abso-
Gondim, Assis luto segredo. Nossos segredos são
forças reais e nunca deve111os entre-
Chateaubriand gá-los a 11ing11é111."
Pelo sim, pelo não, portanto, boca
cpoarnavriedoarg-amni.e- de siri...

zar e dirigir a

Agência Meri-

dional , dos

Diários Asso-

ciados, no Rio.

"Dos 28 aos 29, continua ben1."

Passo a secretariar também O Jor-

nal, que reorganizo. Nasce Sebas-

tião. Nossa vida melhora.

., nlia a1nl1dora ,ninha querida a1niga dade. Esta, en1hora ainda não legali-

''Emais difícil Elza Barroso, n1ostra o tempera1nento, zada pelo registro ~-ivil e eleiu,ral. que •
acreditar no
mero acaso do as preocupações dominantes, de modo se pron,ove todavia con1 as de111oras •\
que no que os processuais do cost111ne, já ten1-se
gregos chamam a não pern1itir zon1baria. Haverá algu-
a fatalidade''
nu1 validade nas linhas ela n1ão? En1 n1a11(festado e cooperado e1n reuniões

todo caso, o tneu caro Dr. Jai,ne e atos relativos aos se11sfi11s cardeais.

Rodrigues 1ne ensinou que os dern1a- Procurando desenvolver a ação da

tóglij'os re.velan1, pelas linhas da n1ão, FPL de acordo con1 as necessidades

diagnóstico de doenças ou anon1alias da presente luta por un1 go1•er110

heredic,írias. E agora, doutores? nacional e popular, tudo e111penflan1os

Em algurna parle do mundo, conhe- 110 sentido de fortalecer as forças con-

cido ou ignoto, estará traçado o run10 gregadas para esse Jin, en1 torno de

que as pessoas va- o segui• r, as ocorreA n- seu 110111e. A nossa passada separa{·ão

cias de sua rota, entonrra, assín1, 11111 ponto de concilia-

con10 nun1 aero- ção nacioncif dos nossos esforços do

"CI\DA D\I\, porto en1 que se hern do Brasil. Aperto-lhe a nuio. Rio
traçam as dos
' ão h,1 inconveniente e,n con- os DOIS 15.11.935. Maurfcio de Lacerda."
PANGI\RÉS aviões? E- rnais
LACER DA cluir quanto ao que já se pas- ARfAVI\M Esca simples carta, guardada nu1n
NOS GAlOPf.S difícil acreditar
sou: as nn1danças nott~rias na no mero acaso. arquivo pelos con1unistas, valeu a
na série infinita
vida acontecen1aos 23 anos (casan1en- Qdemissão surnária ele n1eu pai do car-

to). 27 (prin1eiro posto de direção), 32 go de proe11rador do Distrito Federal,

(prin1eira eleição, na vida pública, para MAIS de coincidên- no qual defendeu para a Cidade cio ,
DO\DOS" cia, do que no
a Cârnara de Vereadores). 38 (prin1ei- que os gregos Rio o Morro de Sanco Antônio , cuja

ra grande viage,n con1 Letícia). 46 propriedade era alegada por 111na

(eleição de governador) e 52 ( 1966/67. chan1ara1n a fatalidade, o con1panhia de terrenos. Nova prisão

candidato à Presidência da República. sentido do destino, e os cristãos cha- por humano; e julga1nento pelo Tri-

condenado ao os1r.1cisn10 político pelo nu11n a Providência. bunal de exceção, instituído para

111ilitarisn10 reacion:írio e pelos grupos En1 1937. saído da prisão, onde decidir sobre política.

cconôn1 icos an1ericanos até que o 111 iIi- aprendi algun1 português co1n José Confinado 1'1 chácara, ele onde não

1arisn10 de esqucrdu o substi tua). Oiticica e inglês con1 José Fa,nadas, podia sair se,n autorização da polícia,

"T<'r<Í três profiss6<'.s dij,•r<'llf<'S." (1-lojc para 1natar as horas in find,íveis da aquela iinensidão de ,irvores cedo se

sou jornalista e c·scritor. banqueiro e segunda galeria da Casa ele Correção, tornou co,no 11111a ilha estreita. Cerco

corretor. eclitoc e avicultor. Teria acer- fui para aquela chácara da 1neninice, dia tive notícia, por um primo que lá

lado se dissesse três. no 1níni1no...J en1 Con1ércio. onde escava meu pai, foi passar uns tempos, da existência

··Poderá f<'r 11111a grare questão depois de absolvido pelo Tribunal de de duas professorinhas de Valença

í11ti111a (<' q11c111 n<io tc•111?). l'<Írias Segurança Nacional por ter reatado, que lecionavam na escola aberta na

co11t<'1ulas ,, será <'111·ol1·i<lo 111C•s1110 nu,na carta prudente e séria. relações sede da Fazenda · da Forquilha, que

11111110 luta ar111ada." ( Isto foi escrito co111 Luís Carlos Prestes. fora de minha tia. Tinha co,nprado

Clll 1936.) "A carta, guardada no arquivo cio Opor 80 cruzeiros u,n pangaré ruço a

"fiá quatro sinais c/C' 1·iagc111 (dê Partido Co111unista e encontrada, ne,n que dei o misterioso non1e de Bere-

trenraai,.s.prhco'1)1.111e.1,. n:1osel1e11Doreau1.ss!)o.u111111111ua1tere1/.ce1l1a.ss. por ac.1so, pela polícia, junta111ente re111z. Co,n outro cavaló en1prestado, -=-

co111 docurnentos que con1pron1etü1n1 saí1nos os dois para a fazenda, por

Tercí e/ois (c•ri111,•11tos •r:randes na cal><'- n1u itas outras pessoas, con10 o Prefei- n1ontes e vales, costeando o Paraíba,


.ça. ·· (Uni .j:í tive. no atcncnclo da Rádio to Pedro Ernesto. valeu-lhe 1nais de infletindo en1 diagonal pela serra,

!Vlayrink \1eiga. Falta o outro. Mas 11111 ai10 de prisão pelo goven10 de debaixo de bambuzais sobre atoleiros.

não é obrigatório.) Getúlio Vargas e uni processo no Tri- Passan1os as Fazendas do Guarit.i e do

Não ton1<1 con10 arli!!O de fé essas bunal de Segurança. A carta fora Oriente. Chegamos à Fazenda da For-
~
escrita a pedido dos próprios dirigen- quilha, ainda habitada por velhos
notas. Não descjo·cstin1ular nen1 negar

a validade dessas tencacivas de conhe- tes co,nunistas. Depois de un1 longo a,nigos de infância, meu bon1 an1igo

cer o destino: pela linhas da ,não ou ron1pi1ncnto co,n Prestes, que o insul- Manuel Pinheiro. que descende de

por outros n1eios. Não julgo. apenas cara e o caluniarà de todos os n1odos. príncipes africanos. Entramos na sala

anoto. Se n1e dissesse1n que algu111as Maurício de Lacerda estendia-lhe a de jantar, transformada em sala de

dessas previsões se confinnarian1 . 111ão aceitando a idéia. de que fui o aula. Das duas professoras. escolhi a

riria rnuito. 1-loje, não rio,• observo. intern1ediário, de fom1ar unia aliança n1inha. Era unia moça que se vestia

Ficaria postun1:11nen1e envergonhado popular para co,nbater a reação e o para parecer rnais velha, tinha as

se vier a con1provar, no outro n111ndo, fascisn10. Eis a cana, que figura no rnaçãs do rosto salientes, uns olhos

sinais que pe1111itcn1 ao hon1en1 conhe- processo do Tribunal de Segurança - líquidos, que· se· mostravan, e se

cer-se 111clhor e até antecipar o que lhe para cuja instalação o governo fechou eescondia1n co111 a·mesma facilidade e

vai ocorrer. confonne o curso da vida. urna escola pública, a Escola Alberto o n1esmo 1nistério. Providenciamos a

Sincer:1111entc. não creio que unu1 vida Banh. na Avenida Osvaldo Cruz: ida das crianças para uni recreio extra· __'

toda de incer-relações possa ser estu- "Luís Carlos Pre.s.. tes: Saúde. e começan10s a conversar. Disse-lhe
Cahe-,ne co1111111icar a rocê que .fui
dada. con1 tan1anha antecipação, só que me haviam falado de sua beleza,

pela ,não de tuna pessoa. !'vias o estu- dl'signado. pelos co111pa11heiros. pre- · ,nas não era lá essas coisas; e que era

do da lecra. a grafologia. e,n que é exí- . side11te da Frente Popular pela Liher- extren1an1ente convencida.

Bahia. U1n a .um foram presos. Um

deles es'tava noutro ponto da ilha de

ltaparica, do lado oposto, sem os

conhecermos, disfarçados de enfer-

meiros. Era Lauro k.ago, que foi chefe

do curto governo comunista de Natal,

na revo!ução de 35 .

A polícia de Juraci 1nanclou saber

do Major Filinto Müller se interessava

a minha remessa para o Rio. Já que

estava preso, interessava. E assini

vim, num ita qualquer, junto com um

ex-sargento e um ex-cabo, condena-

dos pelo Tribunal de Segurança, e dois

investigadores condenados a um pas-

seio ao Rio para acompanhar os pre-

. sos. Em Vitc.5ria vi a cidade pela vigia

1 Caiu a tarde, pouco depois. Fon1os das moquecas e peixe-de-coco medis- "Em 19601 de bordo. No Rio, tivemos honras de
f passear no antigo terreiro de café, ele se. "Ten1 dois 111oços aí." Eram dois aos 46 anos
investigadores da polícia do Governa- de idade, fui fotografia nos jornais. O Globo dava
dor ,,Juntei Magalhães, cujo irmão, empossado
e onde subia, como o calor do sol na Japi, me havia indicado aquel~ lugar no cargo de que tinha desembarcado preso urna
fresca tarde, Ulll t~rbilhão de lembran- como refúgio seguro contra a ação do governador.
estado-de-guerra. Os dois 1noços Em 1936, o leva de vern1elhos, entre outros, o
revistaram a casa pobre, onde eu dor- quiromante
ças. Pareceu-me tao bela, contra o sol, 1nia no embalo da fede e da onda cha- Raggy Basile estudante Carlos Lacerda. Fomos para
pinhando na areia; levaran1 Os Ser- escreveu:
sorrindo. Mas era tan1bé1n triste e soli- 'Aos46 anos, a sala dos detidos, onde pes~oaln1ente
tões, a máquina de escrever <: umas melhora
tária, con10 eu. Seu riso claro não bas- notável, nunca sofri nada além da prisão. Mas
notas que eu tomava para fazer com o talvez a
tou para 1ne esconder a solidão, pois livro de Euclides da Cunha un1a peça maior'." vi o que nunca olhos de gente podem
de teatro. Tudo isso tomou tempo, era
os solitários se reconhecen1 à primeira noite quando entramos num saveiro • esquecer. Vi um mulato gordo e forte,
para seguir a.Salvador, lá defronte. O
vista. Desde então, cada dia, ou quase, mar engrossou, subia, o saveiro entra- cabo eleitoral do Prefeito Pedro
va fundo no dorso da vaga, as luzes da
os dois pangarés arfava,n nos galopes Cidade Alta sumiam, depois reapare- Ernesto, entrar desempenado, enorme,
ciam lumiavan1 na escuridão do céu,
,nais doidos, de serra aci1na. E as no negru,ne do mar. Passei uma noite ser cha1nado durante a noite e voltar
na delegacia, vários dias no quartel da
crianças da escolinha nunca tiveram Guarda Civil. Fui chamado à presença transfonnado em outra pessoa, en-
do delegado ele Ordem Política do
tanto recreio, tanta folga. Na sala de Coronel Juraci Magalhães. "Con10 é colhido, encurtado, o peito uma cha-
seu 11011,e?" - "Ora, doutor, o senhor
visitas, que guardava os móveis de está farto de saber, não vou lhe dizer ga só, o nariz quebrado e os olhos, os
norne suposto, pois sefoi o senhor que
antigamente, no jardim, que tinha os deu o passaporte a Chico Mangabeira inesquecíveis olhos, como du-
para ele seguir para a Europa, e o
jasn1ineiros de outrora. alguns postos Japi Magalhães que n1e arranjou esse as postas de san-
refiígio na ilha de ltaparica!" Depois
nos seus cabelos, faláva1nos de nós, ele disse: "\locê foi falar isso 11a fren- "fOMOS gue, a implorar
te do i11vestigador, ele é espião dopes- PARA 1\SAlA como um bicho
um ao outro. fe rido.
nos oEllDOS'
Suspenso o estado-de-guerra, saí De vez e,n

cio confinamento e pensei: Ben1,

,O1 va,nos ver. Claro, disse que não, que ONDE PES· quando, para
era tudo sério, ,nas não estava ben1 soAlMENlE desmora li zar
aqueles homens
certo. Fui a São Paulo, desci o rio São NUNCA ai i amontoados,
• sofRI NADA"
Francisco, de Pirapora a Juazeiro, pas- em camas pos-

sei da Petrolina a Bonfim, a Serrinha e

Salvador, voltou o tas três a três,

estado de guerra, u,nas sobre as outras, a polícia detinha

'-'PASSE\ .UMA me escondi nun1a na rua pobres homossexuais de calça-
casa de Mar
NOllE NA Grande, onde da que faziam ronda, deixava-os por
OElEGACII\, fiquei como fal-
ali e de manhã, depois que faziam a

"ÃRIOS D\AS so estudante de faxina em troca de um café ralo, solta-

f NOQUARlEl Medicina, às va,n de novo na ca~çada. Eles se csbal-

davam, co111 risatlinhas que duravam a

DA GUARDA voltas com soal da Conlissão do .Estado-dc-Guer- noite toda, contando uns aos outros
seus míseros segredos, chamando-se
&\Vil" pedidos d~ ra, agora está perdido, não te,n co1110 pelos apelidos. Madame Satã, Marlene
mezinhas e se· livrar." O Governador Juraci não Dietrich, Fifi, Susy, Manon. Olhavam
l
infusões curativos. deve ter recebido, n1as, nessa ocasião,

Numa noite e1~ que voltava do mar, .·... sem conhecê-lo, escrevi-lhe uma carta para os presos políticos com certa sur-

da praia imensa e branca onde cada que· assim concluía: "De recuo en1 presa, como se quisesse1n significar o

alga, concha ou marisco era u1n recuo o se11hor chegará, en1 face da espanto de ver ali pessoas que não

,, pequeno mistério de hannonia a deci- ditadura que se prepara, ao último , tinha,n qualificação para serem presas.
,:ecu_o - que se cha111a capitulação." pois para ser preso é preciso ser
-'\....., frar, a cozinheira - contratada pelo Dias depois foi destituído pelo Estado alguém. Mário Martins, Benjamin
Profes.sor Alvaro Dória, na casa de Novo. Fiados na sua luta contra o inte- Soares Cabello, muitos outros, olháva-
praia do Professor Estácio de Lima, gralis1no, 1nuitos comunistas ou pseu- mos aqueles seres com piedade e certa
este na Europq, aquele só n1ais tarde

vi1n a conhecer - , a boa cozinheira docon1unistas procuraram refúgio na curiosidade também.



''Casa, comida, .ralização, gue a polícia fa:zia, acaba- ~-
roupa lavada. va na caluniosa tentativa de desn10-
Haverá muitos ralizar u1n personagem da História confie na minha e·scolha, que est,í n~
casai■s com do Brasil, de 1930 até então. Benja-
tudo isso ' min Soares Cabello, preso como parecendo óti1na. O essencial est~
garantido?'' co,nunista pelo Estado Novo, depois
diretor da COFAP (hoje SUNAB) no conseguindo: não co1nplicar essa coi - 't
governo constitucional de Vargas,
ern 51 , tornou nas niãos o caso, o sa tão simples que é a união de duas
sangue gaúcho ferveu, cresceu para
os rapazes e queria bater, furioso, pessoas que se gosta1n. A co,nplicação
para punir o leviano por aquela calú-
nia tão evidente. Acalmamos o gau- é gue ~trapalha tudo. Por minha vonta-
chão bravio, rech11na1nos da polícia,
desde então cessou a pro1niscuidade de seria ainda este mês. Mas h,, algu-
da política co1n outras atividades
igualmente niarginais. nias pequenas co,nplicações ineYitá-

Solto. mas confinado novamente i\ veis. A principal é a formalidade legal,
Chácara do Co,nércio, voltei a encon-
etc. Que fazer? A menina vale be1n
trar a professorinha a quern eu cha-
mava a Italiana, por ser seu pai abru- uma pequena chateação, como essa de
esperar que se consumem as cer1•111•0-
ze• s, u,n agn•niensor que morreu quan-
do ela tinha dois anos. mas que dei- nias cio protocolo.(...) Mando-te um
xou a le1nbrança da península e1n seu
rosto. em todo seu ser tão sensível retrato dela, do ano passado. Ela é
que parecia transparecer, como se
uma lâ111pada suave vinda de dentro a 1nais bonita do que o retrato, e muito
ilurninasse. na sua pele, no seu riso
claro. nas suas súbitas melancolias. mais simpática. Peço-lhe que exclua

' as An1adeu An1aral Júnior, o Dia 19 de janei- das suas cornunicações os chatos, os
gigante, que tinha uni riso ro de 1938 escrevi
LACERDA largo e solto, que entornava o amigos-ursos e as pessoas desagradá-
chope no Danúbio Azul e por tudo à minha mãe: .
neste n1undo não largava aquela gar- veis. Porém, ao nosso pessoal a1nigo,
galhada que sacudia o i1nenso corpo "Minha ma-
que foi para o hospício e a morte e,n ediga que se prepare,n para adquirir
plena juventude. tinha tnais cio que 1nãe: de propósi-
piedade e curiosidade. Debruçava-se to retardei desta uma nova an1iga."
sobre aquelas almas feridas pelo des- vez a resposta a' E no dia seguinte:
prezo e a crueldade do n1unclo e inter- sua carta para
rogava aquelas pobres crianças sobre esperar amadu- "Minha resolução é absoluti11nente
suas vidas. suas origens. o que fazian,
nas noites de chuva, no beiral das por- recer unia no- séria. E nen1 um pouco alucinada.(...)
tas. Con1 as suas perguntas. debruça- tícia que tenho
das sobre as ahnas pueris alvoroça- para lhe dar. Agora não quero pas- Quanto ao seu ten,or de que seja unu1
das, u,na revoada de 111cntiras. de pro- sar mais se1n lhe dizer. Marnãe. resol-
sápia. de fantásticas histórias enchia a vi casar• con, aquela meni•na de Valen- resolução intempestiva e impensada,
sórdida sala dos detidos, onde dois ça. Aliás. ela é de Valença con10 podia
presos. rneticulosos, inquietantes, não ser de outro lugar; por acaso. deve desfazer-se. Justamente o que nie
parava111 de jogar damas. co,n as Ela veio aqui no sábado e vai voltar
pedras sebentas. à espera de sere,n no outro siíbado. Tem n1uita vontade preocupa é ter de pensar: tanto para ter
cha1nados. Uni deles só dizia. cada de te conhecer. Resolvemos casar no
vez que arruinava as pedras para nova conieço de ,narço. Faltam algun1as chegado a essa resolução. Mas é que aí
pari ida: "Daqui a pouco i11terro111pe- pequenas e chatas fonnalidades. Para
111os. eu vou ser cha111ado, nu! disse- preenchê-las, danios u1n niês e tanto o prilneiro í1npeto coincide co,n a
ra111 qut• era só para a1·,•rig11aç<3es, de prazo. Mais do que isso seria absur-
isto acaba logo." Ainda o deixei hí. do. Vamos ficar n1orando aqui até as resolução refletida. s(u..a.)oFpi1.qnu1·e-aio ccoon,.ntecn,.--
Mas A,nadeu interrogava e os ,neni- coisas _melhorare1n. Ela topou ficar t1,; ss1. mo ao ver que
aqui con1igo, e isso ,nostra be,n que
~ ela é disposta e capaz de ser unia boa de co,n a minha, e que o famoso boni
e firn1e con1panheira.(...) Escrevo-lhe
nos contavan1 vantage1n . Mada,ne não só para co1nunicar con10 tambén1 senso não atrapalhou a razão hu,nana
~ para pedir a sua opinião. No sábado
que ven1, ela estaní de novo aqui. da sua aprovação ao meu desejo. J:í
Satã contou de un1 fan,oso persona- Estan,os nos dando 1nuito be,n, nós
geni que o perseguia na sua baratinha dois. Quero que vocês sej::un bern anli- que a sra. me citou em francês, devol-
e o pegava na Galeria Cruzeiro v,írias gas. Sen1 essa condição, eu nada pode-
noites. Para longos passeios de auto- ria resolver.(...) Até lá. peço-lhe que vo-lhe na 1nes1na língua:...le bon se11s,
rnóvel. À n1edida que contava. enchia
de despeito u,n outro, ~ Marlcne. que 1 guide tres peu sur et presque to1tjo11rs
pelo visto não tinha histórias tão ilus-
tres a contar. Aniadeu perguntando, i11s11jfisa11t, dizia Puhkins, o poeta. E
não de longe, csp'iando. uni contando
e outro se contendo. enquanto os depois, 1naniãe, a coisa não é tão negQ,
den1ai~ faziani uni contracanto de
risos e renioques. Afinal, o outro. ver- assi1n. Casa, cornida, roupa lavada.
de e cinzento. não se conteve ,nais e
resolveu tan1bé1n contar sua prosa: Haverá muitos casais con1 tudo isso

- E o Osrafdo Aranha. ent<io? adiantada,nente garantido? Casar e,n
Neste n10111en10. o absurdo, a
n1onstruosidade da história gelou março. Por que e,n março? A quen1
todo qs risos. A tentativa de desn10-
perguntar, pergunte ta1nbé1n: e por

que não em março? (...) Neste sábado

co,nbinaremos o dia do pedido (horrí-

vel). Papai se ofereceu para ir a· Valen-

ça (eu não posso ir). Só quero impedir

que façam desses preparativos uma

solenidade. Tenho horror a essa exibi-

ção de sentimentos íntin1os. Aprovo

plenan,ente o processo romano aplica-

do às Sabinas. rápido, econôniico,

higiênico, romântico, sugestivo, sirn-

bólico, tendo apenas a desvantagem

de ser indiscreto.(...) De qualquer for-

ma, não tenho ilusões. Vai dar mesmo

é para comer e donnir. Já será mui() _,

se der para um rádio. (Isto é sonhoY

Minha pequena não vem iludida. Mos-

trei toda a situação e até exagerei,

pois, afinal, estan1os comendo galinha

no aln1oço e no jantar (n,etade em

cada refeição)... Ela espera deste começo de agosto q4e -

topa assim mesmo e trai:á vocês ·de volta, você e o senhor
ainda tem o descara- meu filho, pedacinho do nosso circo

mento de mandar familiar. Sinto desesperadamente
dizer - numa carta 'falta de vocês, vago como um idiota
chegada hoje - que
go•stou da casa! .E• pela rua, nas horas
que, além disso, há o
do. anoitec. er. O. n-
amor que n:iove o sol tem fui a três cine-

e. outras estrelas". mas."

Num P.S. dizia: Rara , porém,.
era a manifes'tação
l "Pede à Verinha
(minha innã) para do sentiJnento do
qual me envergo-
trazer dois cabides
nhava, pôrq,ue
bons e o vinho Pelu-
re d'Oigno que se era feio ser sen-
timental. Letícia
encomendou à Deo-
o era e neste ponto não
linda. Esse vinho é
cedia, fazia questão de o ser, com
precioso e indispen-
sável." todas as letras. Mas não vou contar
aqui a nossa vida. O que. tenho em
Estava longe
vista é contar como estas vidas se
daquela carta de 3 de junho de 37, em qüentava a Livraria Jaraguá, onde "Tive então a
encaminharam, como se alguém as
que pedia a minha mãe na Bahia: conheci Alfredo Mesquita, habitado briga de que
"Veja se descobre aí na Bahia uma mais me houvesse guiado, para o novo senti-
morena que me sirva." envergonho,
pelo demônio do teatro, e para ele uma briga com· do. Já disse o que foi o meu sofrimen-
Com 200 cruzeiros que 1neu pai me · escrevi uma farsa, A Bailarina Solta
deu, comprei sabão de barba, um pija- to com o isolamento a que me conde-

no Mundo, representada por gente Manuel tni.as'mraom, os comunistas, com seu fana-
que hoje é i~portante até no teatro, e Bandeira. e os burgueses, com sua des-

ma, pincel, lâminas de barbear, pasta Rui Mesquita, diretor de O Estado e Nessa altura, confiança. Tive ·de abrir caminho a
de dentes, sobraram 20 cruzeiros - e Mário de machadinha, como um mateiro no
com eles me casei, na casa de meu do Jornal de São Paulo. And;ade meio da selva, cortando os cipós, me
concunhado Osvaldo, de onde vim Da pequena casa da Rua Jardim ·me foi ao espetando nos. espinhos, para 1ne
para a Chácara, há 20 anos passados. 1ivrar da solidão a que fomos conde-
Carval!,o, que era Santa Ernestina, mesmo tempo
atrás de onde é hóje a Sears, no fun- extremamente
Nasceram dois filhos, fomos morar do, vimos partir Sérgio para .o colé- útil."
nados. ~cucos amigos nos procura-
en1 São Paulo, onde conhecemos gio pré-primário, na mão da profes-
vam, a não ser os velhos familiares,
Aparecida e Paulo Mendes de Almei- sora, nossa vizinha. E, quando ele
Murilo Miranda e leda, uns p~ucos
da, que foram nossos anfitriões, nos- saiu, confiante e vagamente orgulho-
mais. Foi então que declarei guerra
sos companheiros so, olhei para Letícia: ela chorava
ao que chamei de desconversa dos
mais assíduos.
''NAOA Com ele fiz o como se o filho estivesse se alistando intelectuais, pois entendia que tudo
1• , IMPEDIA na guerra. Sebastião teve otite, quase devia ser engajado. A inteligência só
• uma pneumonia. A dificuldade de se modificava a serviço do social.
AQUElA empregados, a luta de cada dia, nada
Teatro dos 1.000 Tive então a briga de que mais me
Contos, na Rádio

VIOAUM Gazeta, que impedia aquela vida um pouco solta envergonho, uma.briga com Manuel
entãp começa- e destravada, que continuaria no Rio, Bandeira, o poeta, que defendia o
pouco va, adaptando utna vida de boêmia a dois, a quatro, direito de ser poeta sem mais nada,
contos dos a quarenta, na qual todos se preocu- sem engajamento necessariamente,
SOLlAE - mais variados pavam muito mais em viver do que sem compromisso obrigatório com a
OESlRAVAOA"

a utores, de em saber para que se vivia. salvação da humanidade ou a ques-

Balzac (O Carrasco) a So1nerset La Bruyere, que traduzi mal e mal, tão social. Brigamos feio, ele me

Maugham (A Mulher-Canhão). E com tinha esta observação maliciosa: charnou de energúmeno, eu de aca-

Edgar Cavalheiro, em cuja casa conhe- "Un1 autor procura en1 vão fazer-se dêmico e coisas piores do que acadê-

ci Monteiro Lobato, com suas assusta- adn1irar por sua obra. Os tolos adnli- 1nico. No Primeiro Congresso Brasi- .

doras sobrancelhas, .obtivemos a auto- ra,11 à.s: vezes, mas são tolos. As pes- leira de Escritores, reunido em São

rização deste para usar seus persona- soas inteligentes têni em. si a semente ·Paulo, no bar de hotel na Avenida

gens infantis noutro programa ·de rádio de todas as verdades e de todos os se11- Ipiranga, naquela·atmosfera de con-

que criamos na mesma emissora. O tin1entos, nada é novo para elas. Admi- fraternização para democratizar o

Sítio do Pica-Pau An1arelo. ran1 pouco, apenas aprovanz." Brasil, fizemos as pazes. fyíai s do

Fazia de um tudo, Brasílio Macha- Por isto é que uma vez, de Porto que as grandes palavras, como

do Neto duvidou que houvesse Alegre, escrevi a Letícia no Rio: democratização, foi o ambiente de

assunto pára uma revista semanal da "Você é a única pessoa diante da cordial idade, que havia e a radicali-

Associação Comercial, tomei um qual não preciso ser modesto nem zação comunista depois fechou.

vidro de Pervitin - pela primeira e cabotino." E em 1940: "E-stou te Demos, se,n vergonha nenhuma, um

derradeira vez - e preparei cinco escrevendo do escritório, no fim da grande abraço, E começou o .que

números, varando alguns dias e noi- tarde honesta. (...) Anda no ar um Bandeira, nun1 verso único·, chamou

tes. Com isto ganhei o emprego; fre- pouco de angústia negra. ,Estou à o lado cabaré da vida con1u11ista.

''Eu quer:ia ser repleta de cartas e papéis, entre as sobre as águas ... Felizes os que
humano como quais a de Mário de Andrade. Mas
Bandeira é, como algu1nas sobrara1n, ne1n todas inte- suportan1 a adversidade porque co1n-
um pardal ressando a este texto. U1na delas é
g_ue ve~ um . ioda a explicação da poética de Mário preende1n a grandeza deste instante
t1ê-sangue voar'' de Andrade, quando 1ne deixou o seu
poen1a O Café, destinado a ser u1n único. E con1preender o que agora é
libreto para Francisco Mignone fazer
u1na ópera n1odernii. A influência de un1a nebulosa significa a,nar o que
Mário de Andrade foi, no Brasil,
aprofundada pela que sob1:e 1nirn viní depois."
exerceu tuna figura solitária, depois
de engajada na política, 111as sempre Naqueles dias anotei , de urn pen-
singular, Romain Rollancl. Traduzi-
lhe a extraordinária Vida de J\tfiguel sador brasileiro que se suicidou, e
Auge/o, o Pedro e Lúcia, e devorava
seus artigos, suas cartas. Nas horas de deixou obra pouco divulgada, mas
prisão e de exílio, co1no naquelas ain-
da 1nais duras do esconderijo, quando n1uito i1nportante, Vicente Licínio
por vezes a única alegria é o prazer
esquisito de burlar a vi gi lância Cardoso, este trecho que coincidia
alheia , há dias en1 que o te1npo -
corno disse Churchill quando foi fei- então, e até hoje, com o que penso:
to prisioneiro na guerra cio bôeres -
se transfonna " nun1a centopéia para- ..O prazer de 11111a peque11a casta
lítica". Nurna dessas horas, n1andei o
n1eu exen1plar de Pierre et Luc:e a de letrados deve
1ninha n1ãe, con1 esta nota que lá está,
con1 desculpável grandiloqiiência, ser sacrificado
1nas sincerarnente:
pelo serviço pres-
"Guarda este livro e guarda o teu
7 E outros nudiciosos cha1naran1 o fi lho: nestes dias de te,npcstade é tado a unia niaio-
!ougo 1veek-e11d, tnna a11nosfe- bon1 ouvir falar de amor para que o
LAC ER DA ra de férias prolongadas de ódio dos infa1nes não perturbe a ria a educar, a
pureza da nossa vida. Viva a vida,
Na fazenda que quere1nos fazê-la digna de ser instruir, a socia-
de Tarsila do
Amaral, em todo o con1pro1nisso n1oral. Minha w lizar 011 a 11acio-
São Paulo,
Carlos ad1niração pelo poeta só não é 1naior t:; 11alizar. (.. ,) Não ,
Lacerda, ozX
sua mulher do que 1ninha ternura pela sua pessoa. deixes 111111ct1 de
Letícia, a :<.(
amiga sua grande val iosa pessoa; eu queria fazer o que de ti
Aparecida a1nada. U1n novo n1undo está nascen-
Mendes de ser humano como ele é, con10 un1 par- do. Ai dos que pretendem esmagá-lo. exigir a tua
Almeida Ele traz nas mãos poderosas o casti-
ea irmã de dal que vê u1n tiê-sangue voar. Não é go para os ,naus e a felicidade para co11sci<711cia, 111es1110
Zora Se/jan. os que souberen1 compreendê-lo,
inveja. é boquiabrir o coração de toda como você. Felicidade .que se traduz quâ11do foreni 111uitos e poderosos os
e1n Alegria e An1or... No princípio
obrigação perante o espírito. Dizia era ódio e o instinto do amor pairava ho111e11s que pretenderein contrariar e

Stendhal que tudo que é é1ico. quando en1haraçar a tua açâo. Le111bra-te de

atravessa a fronteira da Itália se trans- que, quando a consci<1ncia de 11111

fo nna e1n estético. A, ética se confun- hon1e1u fala en1 voz alta e quando
di u con1 a estética. En1n1os os trânsfu-
para ohedecê-/a é 111ister o sacrifício

gas dos nossos próprios sent in1entos. de si 111es1110, é chegado o 1no111e11to

tínha,nos o preconce ito de não os ter. peregrino dos homens, vivendo enr

afrontáva1nos nossas próprias con- sociedade, adquirindo o co11heci111e11-

venções, intencionaln1entc exagera- to de a!gu,na grande verdade 1101°a. A

das pela e,noção de as desafiar. 1•erdade é sen1pre d11plan1e11te dura e

Nessa altura M,irio de Andrade 1ne trabalhosa: para aqueles ,nuitos que

foi ao n1esn10 te1npo extren1an1entc a esc11tan1 co111 descrédito zo111beteiro

ú1il e. creio. por incrível que pareça. e para aqueles poucos que a profere,n

ta1nbén1 eu a esse ho1ne1n ,núltiplo, co111 sin~eridade, pela pri111eir<:. vez,~

que sen1 nunca ter ido a un1 1nuseu aos 0111·1dos dos outros lunnens.

fora do Brasil. adivinhou a crítica de Se1n saber, quase sem sentir, esta-

arte. foi musicólogo. poeta, ro,nan- va preparado para a conversão. O

cista, erudi10 e improvisador, farrista meu catolicisn10 de 1nen ino não resis-

e 111etód ico. perpetua1nente interessa- tira às prirneiras leituras e às primei-

do na con1panhia dos que con1eçavan1 ras pretensões. A desannada fé dos

e tornando-os a sério, quer para an i- si1nples era pouca e se acabou. A

1ná-los. quer para brigar coni eles. po1npa dos complicados, com sua

Tivemos discussões intermináveis. arn1adura de argu1nentos e seu orgu-

na sua casa r\a Rua Lopes Chaves, lho de transfonnadores do ,nundo

onde uma noite atroei a vizinhança ("os filósofos tê111 tentado exp/ic:ar o

1c1o1n.0111.1o0s sons todqeusceo.i nccohmav ados do har- 111undo, trata-se agora de tra11sfor111á-
que os pe.;s e as
1fnoe"1).0, tomou o nluag, armdea.ioquealuatodmeva;to1.çcãao,
n1ãos. desabalada1nente. As discus- 1nono, to

sões continuaran1 quando ele veio nu,s constante e pura, com que che-

1norar na esquina de Santo Amaro guei à pri1neira co1:11unhão. Desapren-

con1 a Rua do Catete, na Taberna da di de ajoelhar. la percorrer um longo

Glória. diante de pilhas de pires de e difícil caminho para reaprender este

chope. Tinha cartas dele às dezenas, gesto si1nples - em que doem os joe-

pois era un1 correspondente pontual e lhos desabituados, 1nas ainda mais a•-rffl.

incessante. Quando a polícia 1ne alma a que negamos o direito de exis-

catou. em 1935. no edifício Olinda. tir e clarna e1n nós, do fundo do porão

alguém quei1nou uma inala inteira e1n que a deixamos prisioneira.

No próximo número, o nono capítulo: " Oatentado da To neleros, o suicídio de Vargas e uma tempestade de ódio"

21

ff

• /t,

~-

T~

''Rosas e Pedras do Meu Caminho'' @)

...

J

J.

.! ·

OCUMENTO 1ávio Mangabeira discutia com Virgílio de l\1elo w

1 Franco e ou1ros a ,noção que ia apresentar no t;:;
-dia seguin1e à Assen1bléia Cons1i1uintc, eleita :ozX,

depois da queda da ditadura de Getúlio Vargas. e111 ,e
1945. O ex-ditador ia 10111ar posse na cadeira de sena-
dor e 111e111bro da Assernbléia, para a qual foi eleito por Mangabeira 1emia essa reação. Mas Virgílio, que
votação consagradora. A n1oção era de aplauso às For- fora o grande articulador civil. co111 Osvaldo Aranha,
ças Annadas por tere111 derrubado a ditadura. Seria
apresentada no insta111e en1 que Getúlio acabasse de João Neves e outros, da revolução de 30, que levou
tomar posse. !vias havia sen1pre o perigo de Vargas
tomar a palavra e dizer: "Corno? Aplaudern as Forças Getúlio ao poder, dizia, co,n aquele sarcas,no Ião seu,
Arn1adas quando derrubararn a ditadura e não ns cen- o cigarro na boca deixando cair cinza na roupa:
s uran1 quando ,ne fizeran1 ditador? Não teria havido
ditadura sen1 o apoio das Forças Arrnadas!" - Conheço o ho1ne1n . To,nado de surpresa, é capaz
alé de votar a favor da 1noção.

No dia seguin1e, 4 de junho de 1946, o pres idenlc da
Assc111bléia, Melo Viana, anunciou ao plenário a presen-
ça do "nobre rcpresenlante pelo Rio Grande do Sul. Sr.
Senador Gc1úlio Vargas" e o convidou a 1omar posse.
Levan1ou-se Otávio Mangabeira e leu dois docun1cntos,
subscrilos por rnais de cen1 <.:onstituinles. No primeiro,
recordava o golpe de 10 de novembro de 1937.

~,rgas·tinha lados, transit6ria. .Só a liberdade é ft ~Forças Annadas peh~ ação que dern,1' ~
eterna e só dc111ocracia é o reino da
1iberdade. " bou a ditadura, aplaudia e agradecia '

um elemento Passou a ler a 1noção de " aplauso e Üpelo cu1npri111e nto do deve r "en1
agradecin1ento às Forças Annadas ela
República, terrestres, navais e aéreas, todos os 1novi1nentos republicanos~.
pelo n1odo co1no, unidas, a 29 de
outubro, nun1 1novi1nento pacífict1, Prado Kelly mostra que a n,oção de
e1n torno dos seus chefes e sem outra
que a oligarquia a1nbiçiio. pro1·a1•cf111e11te, do que a de Mangabeira não tinha sentido políti-t
servir ao país. cu1nprinun dignan1en-
te o seu dever, de fidelidade à coe sinl patri6tico. Não cabia a alte-
pátria" (é assi111 que está nos anais
d·etestava: da Constituinte: prova1•eh11e111e). ração para aplaudir "todos os n1ovi-

Era o apluuso pela derrubada de n1entos republicanos". Con,o Sousa
Vargas e este. 110 plen:írio, teria de
a idéia de votar contra ou a favor. A 1noção, Costa declarou que votaria a 1noção. '
assinada en1 prin1eiro lugnr por Man- por que votá-la
gabeira, que voltava de un1 longo exí- '
lio, da privação de direitos políticos.
de prisões e vexa1nes e hu1n ilhações, como estava? -
era ta1nbén1 assinada por Artur Ber-
nardes. Flores da Cunhn, Prado Kelly pergunta Kelly.
e n,uitos outros. Sousa Costa pede a
·renovação do país palavra e diz acreditar ser unânin,e o Representan-
ap'lauso às Forçi1s Armadas pela "sua
ntitude de que resultou ,1 instalação te do Partido
da den1ocracia no Brasil; e as 1nes1nas
,, Esta 1nes1n_a Casa. onde_o~-a razões que levar:11n, e1n 37, o Sr. Ccununista. Car-
nos reun 1n10s (o Palac10 Getúlio Vargas. con1 apoio das clas-
Tiradentes) foi cerca- ses arn1adas, a instituir u1n regin1e los Marighela,
da(...) por uni contingente de cavala- novo de governo, hoje, inspiraran, o
ria da Polícia Militar, o Palácio Mon- 1novi111ento que leva esta Asse1nbléia a seguir sobe ;1
roe (Senado) igualtnente cercado e a apoh1r as nossas Forças Arn,adas".
ocupado pela força." tri buna e de-
Alude. então, ao desejo de paz do
1 Por isto. ao ton1ar posse o novo Sr. Getúlio Vargas e ao "gesto tão clara que paru,
senador, disse Mangabeira: "Quere- en1 desacordo con1 a e legância de sua
LACERDA n10s deixar consignado e1n ata, con1 educação p:1rla1nentar" de Manga- os co1nunisfÍK---:
o intuito, n1enos de reviver o passado beira ao apresentar a nloção. Conclui
do que de preservar o futuro, esta dizendo que apenas deseja registrar os golpes de IO
declaração. alta e solene. que a His- as atitudes. Nereu Ra1nos. adiante,
tória. mais unia vez, repetirá para pergunta da tribuna: "Quem pode, de novernbro e de 29 de outubro
ed ificação das gerações: as ditaduras neste país. atirar a prin1eira pedra?"
passan,. os ditadores declinam. elas e Então se corri ge o texto: en, vez de estão nas n1es1nas condições. "Trata-
eles deixan1 atrás de si para que
seja1n a todo tempo le1nbrados. o sul- ~ se'' diz ele, " de divergências qe poli-

co de sua passagem. Mas a e las pro1·a1·ef111e11te lê-se pr<n·ada111e111e. ticagem. O Partido Co,nunista deseja
o que sig nifica que os redatores da
sobreviven1. certas e seguras de si n1oção quiseran1 d izer que pro1•ada- frisar que não est.í a favor de uma
1nes1nas. as instituições livres. os sis- 111e111e e não prora1·<•l111e11te as Forças
ternas que tên1 por base a vontade do Annadas agiran1 scn1 an1bição e só moção nen, de outra porque nossa
povo expressa pelo voto. e1n sun,a. a por patrioti s1no . Nereu conclui
dizendo que sen1 as Forças Arn1adas posição é contra golpes annados.....
não se teria reali zado o 15 de
Nove111hro (República) n,as tan1bén1 "E o golpe de 1935'?" - pergunta o
não se teria concretizado o IO de
Nove1nbro (ditadura de Vargas), Deputado João Mendes. Finalmente.
con10 ainda o 29 de Outubro (queda
da ditadura de Vargas). Tudo con1 depois de muita questão de ordem, o

~ presidente põe en1 votação a moção

grande civisn10. ,nas pouca 16giea. Nereu Rarnos. que aplaude as Forças
Enquanto durava o debate, da
Arn1adas por todos os movirncntos
n1inha cadeira de cronista da Consti-
tuinte não tirei os olhos de Getúlio, e,n que to1nou parle decisiva. " E

sentado. pouco antes do 1ncio cio ple- -aprovada unani1ne1nente." En1 segui-
n.írio. pequenino ao lado de Sousa
Costa. enonnc. O partido n1ajoritário, da, põe em votação a ,noção Manga-

que apoiava Outra. eleito con1 apoio beira. que aplaude as Forças Arn1adas
de Vargas. n1odificava a n1oção de por terem derrubado a d itadura cJp, ~
Mangabeira. En1 vez de aplaudir as
1945. Todos olhan1 para Getú lio~

otvlelo Viana anuncia: "Os senhores

que aprova1n a n1oção subscrita pelos

Srs. Otávio Mangabeira e outros.

queiran1 levantar-se." Vejo. então.

Getúlio con1eçar a levantar-se junto

co,n os outros. Sousa Costa, o n1ais

d iscreta,nente que pode, põe-lhe a

n1ão no 01nbro e o faz ficar sentado.

.w.. Tinha razão Virgílio: tornado de sur-

w presa, quase vota a favor da n1oção
:e
contra o seu governo.
(z<.)
Este e outros episód ios não costu-
~
ma1n ser contados, nas litanias todos
"Gregório
Fortunato dernocracia fora da qual não existe os anos publicadas a propósito de
recebeu do senão o rnaior dos cri1nes de que
ministro da podcn1 ser vítin1as os povo:-: por par- Getúlio Vargas. Ton1ada de surpresa
Guerra, te dos que os governa,n: a usurpnção
Zenóbio da do poder... pelo drarna do seu suicídio. a nação
Costa, a
medalha de Da bancada da irnprensa. onde absolveu-o de culpas: e foi born. Nin-
Caxias. " estava. fixei. no n1eio do plenário.
baixinho. ao lado de seu ex-,ninistro guén1 cobrou ao Exército a curnplici-
da Fazenda. alto e gordo, Artur de
Sousa Costn. o novo Senador Getúlio dade dos seus chefes e a passividadp~
Vargas. Ele ouvia in1passível. Man-
gabe ira continuou: "A tirania. sendo geral na instauração da ditadura. SeriáY

~ bon,, por isto n1esn10, que o Exército
não perdesse a lição de Caxias - que (v.,,.,'.·,
o pior dos flage los. é. con10 os tlage-
levava "a conciliação na ponta da '
espada". l'vlas. contrariamente à gene-

rosidade dos que calan, diante do

adversário vencido. os aproveitadores

' w •

1 0w- soai, o seu Anjo Negro, havio sido o
mandante imediato do· atentado. Ele
~e seu sacrifício passara1n a explora! :oze
o seu cacl.íver, a viver de sua rnorte. E havia confessado, ,antes que a mais
tcrnpo de deixar ;1 História o julga- <(
ningué1n, ao próprio presidente, ino-
ri"'I n1ento de u1na obra que tern aspectos ::; cente nesse cri rne, mas irremediavel-
~ negativos e posit ivos. Não posso con- rnente co,nprometido ne le por gente
consciência, pelas classes dirigentes, "A hesitação de sua imediata confiança. Depondo
tar, nun, capítulo, todos os fatos da existência e da i1nportância do dos chefes no Galeão, per-ante a Co,nissão de
importantes e os ponnenores signifi- milítares, o Inquérito Policial-Militar presidida
cativos de unia fase que representa ho1ne.1n comum, do homem sern oportunismo e
u1na reviravolta definitiva da História a perplexidade pelo Coronel Adi! de Oliveira, alguns
do Brasil. Tenho de n1e contentar en1 in,portãncia, do homem no rneio da dos políticos dos implicados no crime denunciaram·
s ituar alguns fatos e e1nitir um juízo, o massa. Foi esse o fato novo que na era levaramo país
1nais i1npessoal possível. sobre essa de Vargas. como na de Perón ou na de a uma solução seu filho, Lutero Vargas, como um
fase ela evolução nacional. Mussolini , assornbrou a oligarquia frouxa, aposse dos mandantes. Depois verificou-se
política e acabou por inquietar os gru- do vice que era utna alegação falsa d~ alguns
Formado' na tradição da ditadura pos privilegiados, que com ela se con- Café Filho." cúmplices. Gregório, afinal, contou
republicana, de orige1n positiv ista, - fundira1n. Fossem outras a sua fom1a- pelo tnenos un,a parte da verdade.
forrado de ceticismo da geração que Mas apontou como instigadores do
leu Renan. e soprado por un, gosto ção e a sua vocação, teria prestado ao atentado o General Mendes ele Morais
irresistível pelo poder, de origem cau- e Euvaldo Lodi, presidente da Confe-
dilhesca, Gelúl io Vargas foi. ao n,es- Brasil o inesti1nável serviço de fazê-lo deração Nacional da Indústria,
1110 tempo. a expressão de unt recuo empreiteiro e industrial. Benjamin
t ,;JJolítie? e o instru1nen_10 de un, avan- avançar no ca1ninho da reforma de1no- Vargas co1nunicou ao irmão presiden-
ço social. Fez o Brasil recuar a u,na te a triste verdade: o atentado fora 1ra-
ditadura pela qual nunca hRvia passa- crática. Não sendo democrática a sua 1nado no Palácio do Catete e executa-
do antes. ani1nada pelos "ventos da do por aquela subumanidade que,
1-listória'', que sopravam na vela do vocação, nem a sua forrnação, mante- atnís da guarda pessonl, vivia nos des-
nazi fascisn,o, que parecia invencível. vãos do palácio presidencial; de
Ao n1es1no te1npo, en, bora turvado ve o povo na ignorância e, rnercê de envolta con, funcionários regulares da
pela mancha do paternalismo, que pol_ícia, facínoras, foragidos da Justi-
impediu então e até hoje i111pede a for- sua extraordinária sin,patia pessoal, ça e aventureiros desclassificados.
rnação de un1 movi,nento sindical
livre e autêntico, fez o Brasil avançar de seu agudo oportunisn,o, usou a pre- Assin, começou a queda de Var-
sociahnenle. A oligarquia, que o gas. Deposto, e1n 1945, como dita-
gerou, não lhe perdoou essa traição ao sença do povo no fato político para dor, ele foi cha,nado a apoiar a candi-
domínio das minorias. Mas, em vez
• de pôr no lugar da oligarquia a vonta- construir sobre ele o domínio do seu datura presidenc ial
de livre do povo, substituiu-a por uma de seu ministro da
facção, a sua facção, e deu início a grupo. Assi1n se converteu, aqui como Gue rra, Eurico
outra oligarquia. Para isto usou, con1 Outra, que com seu
urna desenyoltura e un1 tato político na Argentina e noutras partes do inun-
absolutamente incon1un1. a omissão e apoio venceu o can-
...__ja submissão das Forças Armadas. a do, o fato social da presença do povo, didato das forças
~incapacidade da casta política, cujos antiditadoriais,
elen1entos ele foi usando un1 a um, e onde antes só un1a elite -;tecidida, num Brigadeiro Eduar-
desdenhosa1nen1e desmoralizando à
medida que já não lhe servia1n. reforço do regime de tutela sobre o do Gomes.
Retirou-se para
' De seu longo período de governo, povo, que constituiu o instrurnento de
de 1930 a 1945, ficaram sinais positi- a sua estaAnc1• a em
vos, o maior dos quais é a ton1ada de domínio de uma nova oligarquia. São Borja. onde ficou
pratica1nentc abandonado, durante
Quando, pois. hoje se fala contra o alguns anos, até que a sucessão do
Presidente Outra novamente ensinou
perigo do dornínio militar, convém aos políticos o caminho de São Borja.
Vargas não contava ser candidato e
deixar claro que não se trata de vol- voltar ao poder. Se a UDN não tives-
se tão radicais e intransponíveis difi-
tar ao passado, a un1 fal so civilis1no culdades ern se enlender com ele,
teria obtido uma solução aceitável
que, garantido pela passividade 1nili- para ele e conveniente à nação. Uma
frente a111pla, então a ser tentada.
tar, dispunha do Brasil como coisa Mas, era tarde. Os ódios eram muito
fortes. Muitos anos de luta~, rivalida-
sua e substituía no povo a consciên- des, sofrimentos e perseguições sepa-
rava1n aqueles homens. E havia, na
cia pela n1istificação. popularidade de Vargas, un1 elemento
que a oligarquia detestava: a idéia de
Em 1954, a crise, inev.itável. tão uma renovação geral do país. A UDN
cometeu, é verdade que a contraiosto,
inevitável quanto a de 64 e essa que o erro de repetir a candidatura do Bri-
gadeiro Eduardo Gomes, que não
visivelmente se aproxima, chegou a tinha condições popu' lares de.vitória.

un1 desfecho trágico. Ne1n assin1 os

políticos aprenderarn ; o tnediatisi:no

e a mediocridade desperdiçaran1 o

sacrifício e o exemplo.

"Agora, só há um jeito: a renúncia

cio presidente que não ten1 mais con-

diões para governar."

Naquele dia de agosto de 1954,

Getúlio Vargas já sabia que Gregório ·

Fortunato, o chefe de sua guarda pes-

Uma guerra final dos Irens, pois - diziam - era e usando a sua incontestável sitnpati;~
entre jornais
começa a a última em circulação na imprensa pessoal, baseada na sin1plicidade,

acender os ódios carioca. Esse pequeno jornal derru- esclareceu: sim,l ,~1;;-,,
que levaram - Não sou
bou o governo do homem que don1i- peronista. Sou,
Vargas à morte
nou o Brasil durante 15 anos. grande amigo do General Perón, que ,

Abandonando a pregação renova- me manda buscar da Argentina no ) ,

dora, capitaneada por · Virgílio de seu avião particular; e sou admira-

Melo Franco, dor, pela organização que ele deu à

assassinado em Argentina. Ele aperta um botão e

condições até desencadeia uma greve geral. Aperta

hoje não esclare- outro botão, faz pa1:ar a greve. 1(

cidas, depois de Olhei-o enquanto falava. Àquela 1

vigiado e pro- altura, era inútil insistir. Antes de 1

curado durante encerrar a conversa ele concordou '

dias por capan- que o Partido Trabalhista não pode- 1

gas do gover- ria viver sempre do prestígio de um

t no, de 1945 a homem e perguntou se eu aceitaria

\ E ntão Vargas se animou e acei- 46, a UDN se a incumbência de formular o pro-
tou a sua candidatura. Voltou
LACERDA em 1950, nu1na vitória popular . acon1odava com o gover- grama doutrinário do PTB. "Não~'
irresistível, ajudada pela manutenção
da 111áquina da oligarquia, que Dutra no Dutra. A vitória eleitoral de Getú- disse-lhe - . porque a formaçr~ ..,
fez permanecer como condição de
seu governo e,ninentemente conser- lio Vargas representou uma reação paternalista e,n que se assenta o se'u '
vador, do qual participou a própria
UDN. Assim, paradoxalmente, con- popular contra a permanência do partido não lhe permite ser um (?,
servadores e refonnistas se uniram
para derrotar as forças chamadas Brasil nas mãos de uma oligarquia. autêntico partido popular."
den1ocráticas, às quais não faltava1n
belas palavras, mas careciam do "O povo votou certo no candidato Pouco depois despedíamo-nos na
essencial para serem de fato de,no-
cráticas: o apoio da rnaioria do povo. errado". escrevi então. Toda gente, calçada da Rua Voluntários da
Duas gerações criadas sob a ditadu-
ra, séculos de escravidão e de igno- inclusive entre nós, esperou que Var- Pátria. Ele foi para o seu carro e eu
rância don1inavam o país. E Vargas
descobrira, con1 a inspiração de um gas trouxesse uma mensagem nova. para o meu.
pioneiro, que o povo é o que há de
n1ais importante numa democracia Mas cedo tudo caiu na rotina, De longe acenei-lhe, dizendo:
- verificação que até. hoje muitos
de111ocratas não aceitam... agravada agora pela idade do velho "Felicidades." Pouco depois ele era

No poder, em 1951, Vargas já não estadista, que nada aprendera e nada no,neado ,ninistro do Trabalho, de
tinha aquela n1es,na capacidade de
ação que o fez notabilizar-se como esquecera. O sonho renovador da onde saiu por pressão militar, com um
un1 político realtnente excepcional.
Cada vez n1ais ficou na dependência revolução de 30, que popularizou 1nanifesto assinado por nu,nerosos
de diferentes grupos que disputavam
essa influência no seu governo. Entre Vargas através de uma obra social coronéis do Exército. A prin,eira assi-
eles, un1 grupo tinha duas preocupa-
ções don1inantes: un1a formu lação reformista a um impulso de indus- natura era do Coronel An1auri Kruel.
esquerdista e un1:1 ação corruptora.
Órgão e s,í1nbolo desse grupo foi o trialização que tem na Siderúrgica de Vargas mantinha um atributo no
jornal Ultit11a Hora, criado com
dinheiro do Banco do Brasil, do Con- Volta Redonda o seu marco, era ago- qual .ningué,n o excedeu: a capacida-
de Francisco Matarazzo - este leva-
do a contribuir por intermédio de ra retido, enquanto predominava a de de seduzir o adversár~o. corrom-
Lutero Vargas - e de várias agên-
cias oficiais. Na Tribu11a da /111pre11- rotina, a cobiça dos que estavam fora pendo os corruptos, conquistando os
sa, o jornal que fundei com a partici-
pação de alguns ,nilhares de brasilei- do poder e a ele retornavam ciosos de que se deixassem vencer pela sua
ros que. ton1ando ações, 1omaran1 suas prerrogati•vas e vantagens.
possível a sua publicação, comecei sin1patia irresistível e por certos tra
un,a luta contra a corrupção e a
Foi então que P!!la prin1eira e últi- ço bem marcados, de honestidade
in1postura. A princípio ninguém,
entre os poderosos, deu i1nportância n1a vez me encontrei com João Gou- pessoal e de apreço pela inteligência.
ao nosso esforço. Chamavan1 a Tri-
hu11a "a lanterninha", con1parando-a lart, jovem político em ascensão, às QNoutras circunstâncias, acredito que

con1 a lanterna que se pendura no vésperas de sua nomeação para 1ninis- teria sido possível um entendimento.

tro dao1nT1. gio'abcaolhmou.,nN,ocoanpvaretrasmamenotso de Mas havia no Brasil muito sofrimen-
um ate,
to, ,nuita decepção, muitas traições e

tarde. A certa altura lhe disse: tragédias. A volta do ex-ditador não

- Se algu,n hon1em público, no tranqüilizava ninguém, mu ito ao

Brasil, deve ser grato à den1ocracia, é contrário. E com ele já não vinham

você, Jango. Nunca fez nada na vida apenas os seus melhores colaborado-

pública, e está vitorioso graças ao res, n1as uma fauna irrequieta e

voto popular. Só porque fez compa- an1biciosa, dotada de uma enorme

nhia ao velho Vargas na estância de voracidade e de u,n espírito de aven-

São Borja, quando ele foi deposto e tura que havia de lhe ser fatal.

abandonado por tantos amigos, você Convenceram-no a estirnular a for-

se elegeu no Rio Grande con, uma mação de un1a imprensa própria, para

in1ensa votação, dada pela gratidão fazer frente à resistência de jon1ais

do povo a Getúlio Vargas. Na Cân,a- acusados de se colocarem a serviço de

ra 1an1bén1 não chegou a fazer nada e interesses escusos, às vezes disfarça-

agora é hóspede do palácio presiden- dos en1 interesse público. À frente,\?.

cial e vai ser nomeado ministro do dessa in1prensa própria colocou-se urr/f'

Trabalho. Tudo isto você teve por- repórter que conhecera Vargas quan-

que a den1ocracia permitiu. Então, do os Diários Associados o mandaram

por que você é peronista? a São Borja acompanhar a volta do ex-

O n1oço esticou un1a perna para ditador. Esse repórter; ignorante mas

descansar o joelho duro, baixou os improvisador e talentoso, com a bossa

olhos, numa atitude muito' freqüente, do jornalismo de sensação, foi o mes-

portanto há que considerar que eia

n1uilo di oheíro1 na época. Escrevi u,n
artigo, logo a segu ir., intitulado:

''Estourou a Filípeta da In1pre11sa."

Cerca de Cr$ 200 mi lhões - quantia

de antes da inflação - havia1n sido

empregados pelo Banco do Brasil, por

orden, do ioverno, no financian1ento

do grupo Ultin1a flora. A 27 de maio,

vencendo resistência e omissões, o

1 1 Deputado Armando Falcão conseguiu

nú1nero legal para a constituição de

u111a Comissão Parl amentar de -Inqué-

' w w rito: 112 assinaturas. Oliveira Brito.
1w- 1w-
deputado, a pedido de· Simões Filho,.
:oi: oz:i:
diretor de A Tarde, da Bahia, n1inistro
~ :<:;
da E.ducação de Varg,as e sogro do
::;

mo que em 1938 deu um jeito de n1an- ocasião com a in1prensa o que Caste- Moção de sócio de Wainer na Ultin,a Hora, o
Otávio
ter uma revista, Diretrizes. a serviço lo Branco garantiu. de 1964 para cá, a Mangabeira jovem Baby Bocaiúva Cunha, para -
do Partido Co1nunista e custeada con, aplaude as 1un1ultuar essa cornissão, pediu outra
~ma subvenção da Light & Power. E, Roberto Marinho e ao grupo america- Forças para investigar a vida "de todos os
sendo judeu, foi subvencionado pela no que é dono da TV Globo, com o Armadas jornais" nos últin1os IOanos. A 27 de
rádio e a televisão.

embaixada ale,nã, durante a guerra de U1n dia, um novato no jornal trou- por terem n1aio de 53, na Tribuna, escrevi:

Hitler, para defender a tese de que o xe uma entrevista co1n u,n S r. Heró- derrubado a "O que está e,n foco. o que consti-

Brasil devia ser neutro, isto é, indife- filo Azan1buja, que fora - segundo ditadura de 45. tuiu escâ11dalo. o que despertou a
rente à agressão nazista. Agora, fun- o repórter - nomeado intervent,or do "Va rgas foi a atenção da Cân1ara, 11ão é o <'t11présti•
dava um jornal e recebia de presente Banco do Brasil na e1npresa Erica, um tempo a n10 a en,presas jornalísticas. é a inter-
uma estação de rádio, con1 dinheiro do gnífica que administrava o conjunto expressão de venção do poder eco11ôr11ico do Esta-
Banco do Brasil e do Conde Francisco d,e e,npresas jornalísticas do grupo um re cuo do na in1pre11sa e 110 rádio, ron1pendo
Matarazzo, que foi levado a contribuir Ulti111a Hora-Rád io Clube (este últi - polftíco e o o equilíhrio da concorrência legíti111a.
instrumento

por intermédio de Lutero Vargas. A 1no passou depois para Alziro Zarur de um avanço Jai•orecendo, discritni11adan1e11te.
articulação dos fundos necessários foi e foi por este vendido, co1n o bene- social."
alén1 de toda expectativa, a detern1i-

fei ta por Walter Moreira Sales, que. plácito do Marechal-Ditador Castelo nadn jornal e acuando. eco11on1ica-

no governo Outra, por influência de Branco, ao grupo Roberto Marinho- r11e11te, os de111ais."

Assis Chateaubríand, foi feito d iretor Ti,ne&Life , e,n cujas n1ãos continua O governo havia

de uma carteira do Banco do Brasil - até hoje cotn o non1e de Rádio Mun- emprestado a Wai-

de onde partiu para se tornar uma figu- dial). ner "tanto dinhei-

ra internacional como embaixador e A entrevista atribuída ao interven- ro quanto en1pres-

ministro de vários governos diferen- tor Herpfilo Azambuja saiu na Trihu - 1ou a todas as

J ,!es, sendo hoje o principal instrumen- na com os títulos: Eshanjaran1 o cooperativas do

V to de interesses estranhos. Walter ser- Dinheiro do Banco do Brasil e,Inter- país, a n1etade do
viu-se de todos os governos e -abando- venção na En1presa que Edita Ultin1a que e111presto11

nou todos eles, de Vargas a Castelo Hora. Azarn buja estava no Rio ,Gran- aos produtores
Branco - e agora prepara, com um de do Sul, de onde telefonou à Ulrhna de gêneros ali-

banquete de admiradores, pago por ele Hora. desmentindo a entrevista. Lou- 111e11tícios, cerca de 70 por cen-

1 próprio. a sua rentrée no Governo reiro da Silva, ex-prefeito de Porto to do que en1presto11 para i111•esti-
Costa e Silva. Alegre e d iretor do Banco do Brasi l, 111e1110 e111 todo o Brasil".

Ricardo Jaffet. que obtivera a pre- disse que havia nomeado u,n simples Wainer acusava a nossa campanha
sidência do Banco do Brasil, assegu- • de '·'objetivos ocultos", ,novicia -

fiscal. A Tribuna havia sido ludibria-

rou o papel para o jornal. A subser- da. O repórter que a en, ganou teve dizia ele - por agentes do capital'
estrangeiro. O-Centro XI de Agosto.
viência nacional depois um emprego na Ultin1a !-fora. de São Paulo, foi o primeiro organis-
mo estudantil a se interessar pelo
1 conferiu todos os Um dos meus co1npanheiros da Trihu-

' privilégios e na. com o des,nentido na 1não, entrou

garantias de êxi- na 1ninha sala na redação e disse: assunto. Por proposta do estudante

to ao jornal. de "Estamos perdidos." "Não, agora é Darci Passos, a assen1bléia do XI de

resto muito bem que começamos", disse-lhe. Dessa Agosto condenou o fin, ancian,ento e
feito profissio- falsa inforn1ação, até hoje não sei se o favoritismo no caso Ultirna flora, a

nalmente, por trazida à Trihuna por má-fé ou inge- 8 de junho. A 9 de junho escrevi:

uma excelente nuidade, surgiu todo o resto. "Jor11alis1110 Capão foi c:01110 Rui

equipe. Os Forçados pela necessidade de pro- Barbosa chan1ou a esse j or11alis1110

empres,ários var que se não tinha havido interven- q11e se enfeif(I, que te,n pena de galo.
do grupo Ultima ção do Banco, devia haver, começa- crista de galo e canta - co,110 canta!

!-{ora tornaram-se personagens obri- mos a divulgar uma série de fatos e - porq11e é PªRº para cantar. Mas

gatórios ·das decisões nacionais. A documentos sobre o financia1nenlo do não é gdlo." A 19 de junho, Vargas

Trihuna da !111pre11sa. de vida precá- grupo de imprensa e rádio alin1entado substitui Horácio Láfer por Osvaldo

ria, ia afundar-se. Seguir-se-iam os pelos novos amigos de Vargas. Os Aranha, na Fazenda, e Segadas Viana

outros. Em surna. fazia -se aquela .. algarismos são anteriores à infl.ição. por João Goulart. no Trabalho.
1

Os rancores se Bilac Pinto, então líder da UDN na sil." A 17 de dezembro Tancredo.}~.
multiplicam. E Câmara, declara a 5 de agosto de
1953: "O Presidente Getúlio Vargas Neves lança, e1n Minas, a candidatura
a primeira vítima deve reparar o erro, fechando a U' ltirna
f-lora.'' O 10111 de 111eus artigos aurnen- do Governador Juscelino Kubitschek l ~ 'l
é oMajor Rubem· ta de intensidade até atingir _lirnites
reahnente inquietantes. Referindo-rne à presidência da República. O PSD • WI
Vaz, na Rua a João Goulart, escrevo: ''Joãozini,o
Tonelero Boa Pinta deve sair do Ministério e não quer. Mas o terrível rnineiro, un1
voltar ao cabaré. que é a sua universi-
dade, a sua caserna e o seu santuário misto de habilidade e audácia, vence a )
(.. .) O Brasil não es1á n,ais e111 idade
de aturar as i111per1i11ê11cias de 11111 resistência do PSD e afirn1a a sua
irresponsável(. .. ) Ser 111inis1ro não é o
n1esr110 que dançar 1ango." liderança sobre os oligarcas, que o

As arneaças au1nenta1n. No Con- engolern, ruas não o digeren1. Tal qual
gresso dos pelegos sindicais, no Tea-
tro João Caetano. articula-se aberta- os oligarcas da UDN fizeran1 con1igo,
n1ente o assalto à Tribuna. Meu arti-
go. então, te1n o título: Não ceder. entre 1964 e 1965, sob as ordens dos
não recuar. não silenciar. "Fazernos
da lanter,na, termo depreciativo usa- grupos de pressão que controlaram o
do pela Ulti111a flora para dizer que a
Trihuna não podia cornpetir corn ela, governo do Marechal Castelo Branco.
o sín1bolo do jornal. Em seguida,
An1aral Neto. então redator da Tribu- A 15 de fevereiro de 1954 escrevo

na, funda o Clube uma carta aberta ao Presidente Getú-
da Lanterna.
Alguns rnilhares lio Vargas, advertindo-o dos perigos

<olergpaens1s.zoaarsans1e que corre e dos rurnos a que pode

U m dia antes José An1érico vai para ajudar a levar o país a turn1a que o cerca. Nes-
para a Viação e João Neves da nossa resr• ste• n-
Fontoura é substituído, devido à cia. O Conde se 111ês, ferve a agitação con1o Men10- .
sua resistência à influência das rela- f\.1atarazzo,
ções entre Pcrón e o regime brasileiro, depondo na rial dos Coronéis contra João Goula:~
por Pirnentel Brandão. diplomata de
carreira. no ltan1arati. A 23 de junho Con1issão Par- no governo. O Ministro General Ciro
co111eça111 os depoin1entos de Wainer larnentar. diz: "Diante
LACERDA na Comissão Parlarnentar de Inquérito. do idealisn10 de Wainer torne i-me Espírito Santo Cardoso não pune os
1a1nbé1n idealista."
Esta é un1a longa, instrutiva e sob Walter Moreira Sales, superinten- coronéis. Anuncia-se que Zenóbio da lJ;
certos a!-pectos se111pre atual história, dente da SU.f\.10C, começo de sua car-
que guardo ben1 clocu1nentada. Mas, reira de agente de interesses estranhos. Costa, que vai ser norneado n1inistro
do que interessa no 1110111en10 conser- 111eteu dinheiro no grupo. para con1-
varei o essencial: a lei brasileira exi- prar a sua ascensão junto a Vargas. da Guerra. vai puni-los. A 22 de rnar-
gia que a prioridade de órgãos de que assi1n era vendido no varejo dos
in1prensa. e r:idio. fosse de brasileiros seus falsos amigos. ço de 54. Jango demite-se do Ministé-
natos. (Recente111ente. feita a prova de A prova da falsificação de naciona-
que o verdadeiro proprietário da TV lidade de Wainer iria determinar o rio do Trabalho. A anunciada greve
Globo é un1 grupo an1ericano, Castelo cancelan1ento do registro do jornal e
expulsão do diretor, se Wainer não se geral de apoio a Goulart não se reali-
Branco passou por cin1a da Constitui- houvesse in1cdiata1nente casado co1n
ção para assegurar esse privilégio a un1a brasileira, tornando-se logo pai za. Escrevo: "\Ião-se os anéis de .la11-
uni só grupo, do qual é instrun1ento de filho brasileiro. A rigor. o proces-
privilegiado o dono de O Globo.) so podia prosseguir. Mas Falcão e cu go,fican1 os dedos de \largas...
deixarnos cair os prazos do processo,
E' então que. juntarnente con1 David ante o expediente de que \.Vainer lan- Getúlio Vargas. que até então foi
Nasser, fizcn10s a prova de que Wainer çou n1ão. Osvaldo Aranha co1npron1e-
havia ratsificado a sua nacionalidade. teu-se cn1 público e en1 particular a urn prodígio de habilidade na conci-
No Departarncnto de ln1igração encon- executar a dívida da U'lti111a Hora.
tran1os a ficha do dcsernbarque de seus Mas conveniências diversas levaran1- liação e convivência de tendências as
pais. no Brasil. rasurada e adullerada. no a rnudar de decisão. Rompe-se.
para sirnular que Waincr nascera no então. o últirno elo que podia susten- mais variadas. é visivelmente supe-
Brasil e não na Bcssarábia. na Ro1nê-
nia. de onde veio con1 os pais para o -tar o governo Vargas. o de Osvaldo rado por un1 grupo que empolga o
Rio. Co111provou-:-e que os órgãos dos ~
pelegos patronais. con10 a Confedera- seu governo e domina os setores
ção da Indústria. subvcncionavan1 Aranha. Odilon Braga, a 24 de
1a1nbé111 o d11111pi11g da in1prcnsa. para ~ rnais moderados e politicamente
destruir a liberdade de infonnação e de
opinião. Roberto Marinho e Assis noven1bro de 1953. adverte: "Gover- capazes. A polícia espanca, por moti-
Chatcaubriand abrc1n-1ne as suas no de tipo peronista. breve. no Bra-
r.1clios para expor o assunto en1 progra- vos estranhos à política, un1 repórter ,
111as que alcançarn repercussão nacio-
nal. No dia 3 de agosto de 53. o Minis- estirnado de A Noile, Nestor Moreira~.
tro José 1\1nérico assinou decreto rnan-
e o mat!I de pancadas. Lutero Vargas
danclo cancelar a concessão de canal à
Rtidio Clube. do grupo U'/1i111a f-Jora, 111ove um processo contra rnirn en1
hoje do Grupo O Globo-Ti111e e L(fe. ju'nho. Etn frente ao Forum, na Rua ~
l'rês dias depois. três indivíduos não
identificados tentan1 entrar no n1eu D. Manuel, junta-se povo e, discur-
apartarnento para roubar urna pasta de
sando, d igo: "Aqui neste Pretório,
-clocun1entos. scrn conscuuir. ·
hoje, a oligarquia con1eça a rnorrer,

aos pedaços." Escrevo. então. un1

artigo sob, o título: "Carta ao Pai de
Lutero.'' E u111a nova advertência,

rnuito severa, nu1s rnuito sincera. Ali

está previsto, de n1odo que até hoje

rne espanta, o que iria acontecer. Na

Càn1ara há quen1 tente votar o impe-

din1ento constitucional de Yargas.

n1as o seu n1andato é n1antido por

136 a 35 votos. Arnauri Kruel, pro-

rnovido a general, oferece um chur-

rasco a Vargas no Alto da Boa Vista.

O Exército volta atrás, mas recebe a

ansiedade, a tensão. 1\,,J

Cada noite que saio da R,idio Glo-·f""
ir: .bo son1os seguidos. no carro dirigido

pelo repórter Paulo Vida) Leite \Bli

Ribeiro. 1neu companheiro da Trihu-

na. por urn automóvel do Palácio do

Catete. com chapa fria. Os capangas

apertam o cerco. Já não disfarçarn as


Click to View FlipBook Version