The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.
Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by Raquel Maciel, 2020-11-11 16:59:45

PASTA - 07

PASTA - 07

Keywords: GETÚLIO,POLÍTICA,DITADURA,CONSTITUIÇÃO,SUICÍDIO,JÂNIO,QUADROS



carro - notei do lado de lá da rua

mal ilurninada un1 vulto escuro e de

chapéu, parado na esquina próxi1na.

Habitualn1ente distraído, enquanto

conversava concentrava a vista

naquele vulto, 111as de atenção volta-

da para a conversa de Rubern Vaz.

Afinal quando ·'Sal.lei do carro com

Sérgio, voltei-me para saudar

Rubem, que partia. Ao voltar-me vi o

•• vulto escuro caminhar apressada-

n1ente do ponto em que se colocara,

exatan1ente defronte ao carro, atra-

vessar a passos largos a estreita rua,

postar-se na 1nes1na calçada em que

est,ívamos - sacando uma arrna que

brilhou na meia-luz, ele começou a

atirar. Senti uma dor aguda no alto

do pé, que me atirou no chão, quase.

Firn1ei-111e na ladeira da garagem,

diante do n1uro que separa a calçada

arneaças. Mas o povo, alertado. vela. Gustitvo Borges ia sair con1igo aque- "A dmor• mo,u•tcroon1p0rédsieo.mSeérpgriooteaggeasrsreo,u -se a
la noite. Mas, designado para urn vôo eu o
de serviço, foi substituído pelo Major Universidade
1 Milhares de pessoas, pelo Brasil afo- Vaz. O ódio fez com que acusasse111 o Católica do repeli para livrar-me dele e gritava
Major Vaz, depois de rnorto, de meu Rio foi um
1 ra, corneçam a ouvir o que dizemos. capanga. Se fosse preciso prova de dos locais para que ' fugisse e 1ne deixasse. Mas
Na Avenida Paulo de Frontin1, aonde que não o era. aq ui está: ele andava a onde fui fazer
1neu lado, desannaclo. e rnorreu conferências o menino se agarrava a 1ni1n, cobrin-
desannado. O que ele procurava era em 1954."
fui co1n Letícia visitar Paulo e Mari- dar testen1unho. No fundo, esses do corn o seu corpo o n1eu, até que
n1oços se envergonhavam con1 a inér-
ta, o carro cheio de capangas da cia dos chefes - responsáveis pelo 111e desvencilhei. O vulto descarre-
domínio da oligarquia e a influência,
guarda pessoal de Yargas passa. nos governos. de interesses estranhos gou o revólver, não vi rnais nada

abaixo e acin1a. provocador. aos do povo brasileiro. Os chefes que senão o assassino que fugia, atraves-

No corredor da TV Tupi - então geralmente, com raras exceções, só sando a Rua ·ronclero e1n direção à
se 1nexen1 quando está ern perigo a
na Avenida Venezuela - sou apre- sua inerte chefia ou quando se trata Rua Paula Freitas. Saquei o revólver,
de atender 11s suas ambições ou às
sentado a um pequeno grupo de ofi- suas quizíl ias pessoais. um Smith 38 de cano curto. e con1e-

ciais da Aeronáutica, que ,ili compa- Fon10s juntos, no pequeno carro cei a atirar. Era inú til fazer pontaria.
de Vaz, con1 Sérgio, n1eu fi lho. que
receu, uns com as respectivas espo- tinha então 15 anos. No firn da con- Depois verificou-se que meus tiros
ferência, uns pedidos de autógrafo e
sas, outros sozinhos. À frente deles, o perguntas dos alunos do S. José, nos haviam cruzado o criminoso, pois
atrasaram. Voltarnos para 1neu apara
Major Gustavo de Oliveira Borges, tarnento, na Rua Tonelero 180, ern entrararn na biblioteca do Barão de
Copacabana. Na porta do edifício, ao
con1 Glória, que espera un1a criança. parar o carro, Vaz repetia ainda o que Saavedra, do lado oposto.
sernpre costun1ava dizer:
Com ele, o Major Arnérico Fontenele Ali o assassino parou un11110111ento
- Você deve t.er rnuita calma e
j e 1vários outros, hoje na reserva e estar sempre pronto a compreender e se voltou para
~tros na ativa, todos 111eus an1igos, as razões dos outros, para poder
triunfar na causa pela qual lutamos. nós, de longe.

próximos ou distantes. desde então. Ele era um moço idealista e bom, su1nindo logo
talvez de todos o menos predisposto
Não quero 0111itir nenhun1, e seria f1 exaltação. Era bravo, 111as pruden- depois na rua
te, convicto, mas conciliador. Costu-
longo citar todos esses valorosos con- mávamos conversar lá em casa até transversal. Ao
tarde da noite. e de todos ele era o
cidadãos. Devo lcn1brar, como sírn- vê-lo fugir levei
.mpaaci1.seninc1c.ali.nado a aconselhar cahna e
bolo de todos, aquele que já não está Sérgio para den-
Depois de conversannos u1n pou-
entre nós. Un1 major magrinho, cha- co na porta de casa, no lugar do tro ela garagem,
motorista - Vaz é que dirigia seu
mado Rubem Flo- dei o alarma,

rentino Vaz. dpeoi.sreostsoL.irnroústJi.ld/,.

o \JULlO oEs~ "Decidimos - alertavan1 a rua, e saí. n,e arras-
CARREGOU O .dizem-,ne eles -
ajudá-lo nessa tando, pela porta da írente para perse-

RE\JÓl\lER- . ca1npanha. O guir o assassino. O pé me pesava

oEPO\S, \1\ · rneio que ternos como muitos quilos, e inchava rapida-
O ASSASSINO de ajudá-lo é
acompanh,í-lo. n1ente, o sangue saía pelo cadarço do
QUE fUG\A. Com isto, feito
sapato. A bala 43 pegara o osso do pé

esquerdo, na parte superior. Então,

ostensivamen- defronte da porta da rua, vejo o carro

te, evitaren1os que o de Vaz. Então ele não saíra! Onde

..:'i'~hor seja morto, numa emboscada. estaria? Capengando corri à calçada,

11~s, se isso acontecer, ou de qualquer que corneçava a se encher de gente,

. ,nodo se procurar irnpedi-lo de conti- atraída pelos estampidos. Junto ao
; ,«.~- nua_r, o •~osso teste1nunho basta~á para
asfalto, caído, estava e le.

\Y obngar as Forças Armadas a agirem." Prefiro parar aqui. Seus filhos já
íoran1 n1uito traumatizados pela• des-
Na noite de 4 para 5 de agosto, fui

fazer uma conferência no Externato crição tantas vezes feita, e muitas

• S. José. na Rua Barão de Mesquita. vezes adulterada, dessa cena.



''A carta- louco. até dohrar a esquina da Rua ele pró~rio vítin1a d~ un1 atentado d ~
Paula Freitas.··
testamento nunca outro genero. que visava a des1nora
existiu como "Eu estava a 1111s cinco lll<'tros do
tal. Não foi ri,.-otc:io. Acabava de saltar do carro lizá-lo, tan1bén1 praticado por ele-
estrita por do 1ne11 colega Deodato Maia. que adretiYgoardgeas6,1a~,
vic~javl( co111 outro colega. o Orá,·iu 1nentos da guarda pessoal
Getúlio Vargas'' 801(f'i111 ... en1 1945, intitulou o seu

(... ) "Dois 1nin111os depois do tiro- ele agos'.o: "M,:s<'r<Ível tocaia_.'' ~-as 1;,
teio. 111e11 colega l)eodato Maia cor•
reu até o corpo do A1ajor \faz , que a autoria con11nuava e1n rn1steno. :
ago11i:a1·a. co111 a ca111isa toda e11sa11-
giie11tada. Logo atrás. vindo do .~eu Finahnente, apura,nos que u,n 111010-
edij'ício . chegaPa Carlos, que ao
reconhecer o a111igo quis carr<'gcí-lo rista de táxi havia dado fuga ao cri-
110s braços. Deodato e11tâo po11dero11,
talvez jiJsse 111elhor não le,•ft./o dali 1ninoso. na Rua Paula Freitas. U1n
para q11e a polícia.fizesse a perícia."
guarda da Polícia- de Vigilância,
"Mas. n1e11 Deus. 111e11 a111igo \la:
,•stâ 111,orto!'' -gri1011 Carlos Lacer- Ro1nero, persegui ndo-o, dera uni tiro
da, e 1·ira11do-se para o .filho, <JII<'
d<'.1·cia a escada do edifício: nn mala do táxi. Localizou-se o tâxi.

"Meu .filho. o Vaz j'oi ac('rtado: Que,n o locali zou foi um oficial da
ele 110 peito<' eu 110 pé. T<'hfone para
o pro11to-socorro. cha111<'111 11111 111édi- Polícia Mi)itar. O motorista, detido,

c·o. pelo a111or de Deus!" narrou o itinerário do cri1ninoso.

G/oho teve a ,naldacle de "Na R11a Toneleros, 110 trecho Não vou segu ir todos os passos
entre a Paula Freitas e a Hilário de
Go11reia . sá lia,•ia. 110 1110111(11110 do F
atentado. Carlos Lacerda , .l'<'11 filho.
o A1ajor \ia:. nás três (repórteres do daqueles dias. E longo e é cedo, alé1n

publicar recente,nente unia Diório Carioca) e do nu1is não 1ne co1npete contar e '
11111 casal. <'llcos-
fotografia de Vnz ensnngüen- tado 110 post<' e111 si1n, depor. E Lira~ d~s- fatos, qu: ,
.fl'<'llf<' ao llll'/1
tado pnra condenar o ,neu entendi- conheço, a neccssána hçao. .ft_......
ed((Ício. Fizi11ho
mento, agora, co,n Juscelino Ku bits- ao de Carlos. Desde então, tenho sido alvo õe

LACERDA chek. que nada teve co1n o crilne. /) (': Ili ili li ( OS unu1 campanha de ódios sem prece-
Que pretendeu pnJvar con1 essa ale- dentes, a pretexto de ter sido o culpa- ~
depois hal'ia
gada traição aos ideais pelos quais 50() />l'S,\'O(IS do da n1orte de Vargas. Os acusados
110 local."
n1orreu Rube,n Vaz? O Globo repre- sabe1n , melhor cio que ninguém, que
O que Bor-
senta, -prccisan1ente. tudo aqui lo que ges dissera não fui eu. As razões do suicídio de
co,ncçou a se realizar. Oficiais da
Vaz detestava. Ele era incapaz de Aeronáutica. da Marinha e do Exér- Vargas estão no seu próprio 1empera-
cito rcuni rnn1-se e exigira,n a apura-
odiar e, 1nais do que todos nós. cer1a- ção dos fat os. O delegado de polícia. n1en10. en1 seus antecedentes, com
na delegacia da Rua Hilário Gou-
n1cnte 1nais do que cu. ele não perso- veia, deteve o garngistn do edifício várias refe rências ao suicídio, e1n
en1 que cu n1orava e procurou induzi-
nalizava as suas críticas. Ele era con- lo a •·confessar.. que ouvira u111a dis- 1930. e1n 1932 etc: e na solidão e1n

tra un1 sistcn1a, exatan1entc o sistc1na cussão entre o Major Vaz e eu. O que vivia, no abandono cn1 que se viu
inquérito run1ava para a suspeita de
que faz O Gloho prosperar. que cu havia ,natado o Major Vaz naqueles dias terríveis. Se fosse dar
por desinteligências ,nisteriosas. O
Em depoin1cntos sobre o atcnHtdo delegado teve o c inisn10 de co,nparc- crédito a rumores, a interpretações

d:1 Tone le ro , co- ~ fan tasiosas, seria não acabar 1nais .

111 e I id o a os 4 5 cer ao n1cu aparta1nento pnra o inter- Tl}on1as Ken1per. o n1agna1a de
rogatório. depois dessa tentativa de
n1i11utos da n1adru- coação sobre un1a possível tes1en1u- seguros que veio de e1nbaixador
nha. Ncguei-n1e a depor cn1 tais con-
gada de 5 de agos- dições . Estava tudo preparado para a a1nericano ao Brasil, d isse pouco
farsa. Foi então . só então, que a
10, treA1, rcpo' rteres Aeronáutica exigiu o Inquérito Poli- depois que Osvaldo Aninha lhe
cial-i\1ilitar. presidido pelo Cel. Adil
cio Diário Carioca de Oliveira - porque a anna do cri - garantia que fora suicídio , n1as ele ;
1ne fora un1 revólver 45 . considerado
Dcodato l\1aia. inforn1ara ao Departan1ento de Es~
-arn1a de guerra. José Eduardo de
01:1vio Bonfi1n e do que havia un1a possibilidade de'
i\1accdo Soares. o grande jornalista.
• Annando Nogueira Vargas ter sido assassinado no palá-
~ •
go cio por alguén1 ,nuito próxi,no. Ele ~
- rclatara,n o que
'a8 \
viran1 por acaso. na chegou a dizer o no1ne. Contestei a
"CC - .J '
Rua Tonelero. versão. l\llas Ken1per insistia. ·
"O Major Vaz
era um moço Arinand o. que a Tive sirn. participação intensa, da
Idealista e bom,
talvez de todos cxc1nplo de 1\11.írio qual não n1e arrependo, no ,nov imen-
o menos
predisposto à Filho elevou a crônica esportiva ft to pela sua renúncia. O sentido geral
exaltação. "
categoria de gênero Iitenírio. conta: da carta. poré,n, é válido e atual.
~ ~

..l:11 ,,; o ;ornalisra Carlos Lacer- Conheço hoje, na própria carne. a

da des,·iar-se d<' S<'iS tiros ú porta ele pressão dos grupos a que ela se refe-

seu <'d(fício. 1111 Rua ·ronelero. Aca• re. Pena que o texto fosse usado para

/,a,·a de se despC'dir de 11111 a111Ígo - dividir em vez de unir os brasileiros.

o A1/ajor \1a: - l' já l'Sta1·a e111ra11do Naqueles dias de agosto. a situa-

e111 casa quando 11111 '10111<•111 ,nagro. ção chegou ao ponto de crise em que

111or<•110 , 111eia altura. <' 1rc~jr11ulo ter- o pnís se viu nl1111 "mar de l,una'· - a

110 ci11:a. surgiu por rrâs de 11111 car- expressão é de Getúlio Vargas - ;

ro e . de câcoras di.1·para1·a roda a ele não tinha ,nais condições para

carga do reról,·er, quasç à q11ei111a- governar. A hesitação dc,s chefes

ro11pa: Lac<'rda foi acertado 110 p f ,nilitares. o oportunisn10 e a perP.~/tP'

esquerdo, o 11u~;or atingido 110 peito. xidade dos políticos. com raras extYe.

1110,.,.eu logo depois... ções. levaram o país a unu1 solução ~,
. débil e frouxa. a posse na presidência
..CL deu 1111s saltas na dir<'çào da

garage111. sacou do re1·ríl1·er e: res- do vice, Café Filho. Substituiu-se

po IId e II co111 outros s e is tiros 1ransforn1ação pe la transação.

t•11q11a1110 o capanga corria j"eira 11111 Naquelas condições. Café fora un1

~bil e co1nbativo político de oposi- havia1n rebaixado. De acordo co1n

ção, mas não estava preparado para antecedentes pessoais, ele recorreu

&l:\ governar. Sua concepção de governo ao suicídio co,no uma forma de pro-

W 'limitava-se ~t honestidade pessoal em · testo e ele resgate.

matéria de dinheiro, que é irrepro- A carta-testamento nunca existiu
/ cl1<ível, e a unu1 apregoada tolerância co,no tal. Não foi escrita por ele. 1:-Iá

pessoal, inegável. Mas constituiu u1n 1en1pos, en1 entrevista a Fatos &

governo atoA nl• lo, reac1• on;an• o e i• nerte. Fotos, sua fi lha Alzira Vargas do

Auton1atizou suas reações. Quando, An1aral Peixoto chegou a dizer: "Se

1 em começos de 55, insisti para que Vargas não escreveu a carta, se ape-
adiasse por pouco tempo as eleições, nas ditou ou inspirou a que1n a dati-

a fim de refonnar a Lei Eleitoral e lografou, são pontos que não me

consolidar a revolução que havia fei- cabe esclarecer. Que ele a autenticou

to duas víti,nas. o Major Vaz e Getú- co1n a sua assinatura, está fora de

lio Yargas, ele n1e disse: dúvida." Pelo que sei,· Vargas nunca

''Não vim aqui (1nostrava a cadei- leu a caria-testamento. O texto, em

ra presidencial, numa salinha do três vias chegou às 1nãos de Getúlio

Catete) para dar golpes." para ser assinado, du rante a últi,na

, E con1 n1edo de que eu quisesse reunião do Ministério com o presi-

--{!l~ndar ~o seu governo, todo inundo dente, na ,nadrugada de 24 de agos-
mandava, n1enos ele. Sua formação
to. Vargas assinou o papel sem ler o

popu lar não resistiu ao êxito. Seu texto. O autor do texto da carta-testa-
~ governo, pelo qual começou o do1ní- mento foi o publicista e industrial

- nio de un1a minoria n1ilitar, foi de tal José Maciel Filho. Velho amigo e

,nodo conservador que os trabalhado- conselheiro de Vargas, conhecido

res, mais do que nunca, identificaram por suas opin iões contra o don1ínio

· em Getúlio Vargas o seu único amigo. w econ ôm ic o es trangei ro sobre a
Foi o que cha,naram o ,neu golpis- :tür indústria nacional, clono da fábrica
<z)
n10: reconhecer que tinha havido de tecidos da Cascatinha, e1n Petró-
u1na sol ução violenta, que havia :<:; polis, antigo interventor nos jornais

c0'1neçado u,n processo de transfor- Hélio. na Ilha do Governador, onde "À custa do de Chateaubriand, to,nados pela dita-

1nação do país, que era preciso não fiquei com Letícia durante as horas nosso dura em 1932, redigi u ta,nbéru de
perder aquela crise para começar as da confusão. Não sc,n antes tentar sacriflcio, a boa fé o doc u1nento que veio a se
oligarquia cha1nar de carta-testa111e11to. Maciel
reformas de que a nação carece. Mas, imped i r. do aeroporto Sa nt os ocupavA o estava certo de que se tratava de un1
Dun1ont, por 1elefone1na a diversas poder. Em vez disct1rso que Vargas queria fazer
não. Manteve-se no poder a o ligar-
quia, aperfeiçoada pela tranqüi lidade personagens cio governo Café Filho, a da revolução,

de quem afasta do poder os aliados excitação da cólera cio povo com a a transação." despedindo-se do governo e do povo,

indesejáve is . Em leitura · da car1a-tes1an1enlo de Var- na hipótese de ter de resistir à depo-

Vargas de tes ta- gas, feita co,n fundo n1usical e,n sição e ser morto no

van1 ,nuito 1nenos Iodas as e,nissoras, inclusive na cio palácio do C atete.

o político de ten- governo. A pusilanimidade e a falta Getúlio havia dito

dência autoritá- de con1preensão das realidades sob as que desta vez só

r ia, d o que a quais se instaurava o novo governo n1orto sairia do

inc lin ação re - dominaram todas as preocu pações. O Catcle. Seu dis-

formi sta qu e General Juarez Távora, feito chefe da curso, então. seria

punha cm peri- Casa Militar, só levava un1n preocu- um desafio, não

go os ve lh os pação: sua candiatura à presidência un1 testamento.

privilégios do da República. Ninguém queria a res- O texto redi-

sisten1a do1ni- ponsabilidade de ter deposto Vargus. gido por Maciel

nante. O próprio Café Fil ho foi Todos queria1n ser bons 1noços. Pois Filho teve como·

vítima do siste111a. Por isto, quando ,norto, con1 o gesto de suicídio, como ponto de par-1 ida uma Iinha geral

em 1955, o Exército o depôs, o povo aqsusei.mse san ti fiocsou.,.ngEe,. nousosa,,nnba-icoioqsuoes-, dada por Vargas, nu1n bi lhe te que
ficou indiferente. corno co,neçava co,n u,na frase que é real-

No dia em que Vargas se suicidou , riam perder o seu apoio póstumo. mente da autoria de Getúlio Vargas

24 de agosto de 1954, eu acabava de Fiquei sozinho com essa respon- - a única: ..A' sanha dos 111e11s i11i-

passar a noite celebrando a sua sabilidade. Na realidade, o suicídio n1igos deixo o leiado da 1ni11ha 111or-

renúncia, na casa de amigos. Fui de fo i um meio desesperado pelo qual 1e." Isto era para o caso de morrer

manhã cedo à Igreja de Santo Inácio, Getúlio Vargas procurou libertar-se no palácio, se fosse cercado. Getú-

e ao sair soube, de chofre, na Rua São dos erros acumulados e do grupo que lio não fez qualq uer referência a

Jt,\.emente, a notícia do suicídio. Vol- o cercou, impedindo-o de con1preen- problemas econô,nicos, financeiros
ou de política internacional. Só há
,~i à Igreja, rezei por sua alma, pro- der as nossas duras,' mas úte is adver- queixas e censuras de u1n horne,n
tências. A' sua volta conspirava-se,
fu ndamente chocado co1n aquele

desenlace que não desejaria jamais. roubava-se, pilhava-se o Bras i1. que se sentia inocente dos criines de

O que era celebração mudou-se e,n Quando desses erros e cri111es se pas- q ue era acusado e, ao mesmo te,npo,

perplexidade e luto. Fui à Tribuna da sou ao assassinato, tudo o que havia sentia o peso da traição e da vergo-

ln1pre11sa, passei no aeroporto Santos nele de bom e digno reagiu contra o nha que se abateu sobre o trágico

Dumont e fui pata a casa do Coronel .. aviltamento, a ignomínia a que o fi,n de sua vida triunfal.



''Novas crises nha, meus bons e leais compan- li';\
se repetirão n1ovin1entos ,ni l itares, a nova~•
enqu• anto opaís
heiros, pois estava de 1nule1as. con, o cpraii,ssesn,a-oqueencs e repetiriio enquanto o
não encontrar ontrar seus
seus verdadeiros pé engessado. A an1bos, pedi ao ru1nos, que,..í .-
rumos''
vice-presidente e ao 1ninistro da não pode1n n1ais ser esca1noteados. ~ W

Guerra, que apressassen, o esforço Tais ru111os encontn11n-se nu1na

para obter a renúncia. No ponto e1n síntese das tendências e1n que a)

que se havia chegado, Vargas só nação se dividi u e se entredev'orava.

poderia ficar no governo se voltas:~e Tais tendênc ias são representadas

a ser ditador: e isto era inad1nissível. pelo que poclerían1os cha,nar o

Ambos 1rabalhara1n para o resultado getulisn10 - a reforn1a social: o

final. Mas, logo a seguir, o novo go- desenvolvi1nento econômico, a

verno considerou nonnal a situação. tendência de K ubilschek. con1 a 1nar-

Não reparou que tinha havido. então. cha para o progresso n1aterial e o

a revolução que não houve dez anos esforço de continuidade den1ocrá1ica

de,pois. a 31 de nutrço de 64. E jogou co1110 Iônica de sua presença; pois

fora aquela revolução con10 Castelo ninguén1 pode neg:11: a Kubitschek

Branco traiu a outra. nu,is recente e essas características: e a tendência de

Odocu1ncn10 esl,í escrito nun1 ainda 1nais decepcionante. Pois o pro1nover governos atuantes regidos
pequeno bloco de papel 1i1n-
brado dn presidência da governo de Café, ao tncnos. foi un1 por unia conduta ética. a tendênci·1
República. en1 oito a dez p,íginas. As
prin1eirns páginas fonun fotografadas governo honrado. que cha1naría1nos udenista se a 1nai,J
há três anos. por Fatos & Fotos. Esse
docun1en10, islo é. essas folhas de O novo governo conduziu-se co1no ria dos prúceres udenistas não ht~
bloco. é que es1avan1 no quarto de
LACERDA Vargas. Daí a crença. errada. de ·que se houvesse chegado nom1aln1ente no vesse renegado e traído ao pri111eiro
Vargas o escreveu na hora ela ,norte. ~
aceno de participação espúria no /e
Em rcsu1no: poder. A c:arta•f('S/a111('11fo atribuída a
poder absoluto que - co1no se sabe ~
O Há três cópias ela cnrta - 1c.1·ta- Vargas serviu de instrun1en10 do ódio

111c1110. dntilourafadas. assinadas se1n contra nós. Assin1, u1n hon1en1 cele- - "corron1pe absolutn1nente'·.
~
brado precisa1nente por não guardar A síntese dessas tendências no
ler por Getúlio Vargas. na 1íltin1a
reunião n1inisterial antes do seu rancores. serviu de pretexto a unia que elas tên1 ele convergente. de
suicídio. Aí não há referência nenhu-
onda de rancor que e1n alguns dura seanelhante en, face dos interesses
1n.a a p.rohlc1nas nacionais ou i111crna-
até hoje. O povo dividido. entre os funda1nentais do povo brasileiro. é
CIOIHllS.
que davan, crédito a nossa pregação e que pode gerar. sobre os ódios e pre-
@ l-1,í uni original ele bilhete. do
os que deran, venções, a paz de que a nação carece
próprio punho de Vargas. entregue a
;vtaciel Filho p.tra ser reescrito. e que crédito ;1 cor1a - para ganhar a sua verdadeira guerra,
é a chan1ada carta-rc•sta111c11ro.
1es10111e1110. não aquela pela qual lulou Vargas en,
C, Não ex iste ~i lhcte de despedida
Vi\RGJ\S notou que, cn, seus ,nelhores dias. con10 Kubits-
e 1,in1 o aproveita,ncnto das 1rês MORREU substância, di-
pri1neiras linhas do docun1cn10 do oES\lU0\00 zíainos as n1cs- chck e nós 1an1bén1: a batalha do
próprio punho de Getúlio. que n1as coisas. cn1-
l\llaciel Filho an1pliou e desenvolveu. coMOS desenvolvin1ento integrado, is10 é,
transronnando-o nutn 1nanifesto pós- pOl\t\COS bora nos opu-
1un10 e foi aproveitado par:, servir ele séssen,os deci- do progresso material e 1noral , da
ICSlllll/('1110 políric11.
transfonnação econô1nica e cultural,
Don:i Alzira reconheceu. na cn1rc-
vis1a a Fatos ,~ 1:111os. que a carta- ela afirrnação da existência nacional
1csta111(' il/O não é de \la rgas. Mas,
Ol\GJ\RCJ\S didan1cn1e nos ~1ue_é a fo1:1n,1ção de uma política~
~
n1é1odos e no .1us1tça social e reforn1n pela base.
convencida de quc o .povo precisa
uso dos ins1r'u- No dia 28 de agosto de 1954,
dessa 111ística. acrescentou: ··1t 1n11ito
1ncntos do poder. Vnrgas 1norreu voltando fi Rádio Globo, quatro dias ~
cedo para fazer história e n1uilcl tarde
para retirar do povo a sua Bíblia. que desiludido con1 os políticos oligarcas depois do suicídio de Vargas. disse:
é a cnna-1cs1:11ncn10... O autor ela
rcportagc1n con1 Dona Alzira. jornal- e abalado pelo poderio do don1ínio do ..Não há dúvida que a nossa can1pa-
ista Raul Giudicelli. recebeu desta
unia carta louvando sua lisura e cor- sistc•111a i1npcrialis1a sobre o Brasil. nha foi veen1en1e. Não há dúvida que

reção. Vivo. 1an1bén1 n1e in1pressionaran1 e a nossa can1panha foi forte. Não há
Durante a can1panha pela renúncia
111c in1in1ara111 as 1ne.<;1nas forças. que dúvida que não poupan1os palavras
-ele Vargas avis1c i-n1c co1n n Vice-
i1nproprian1en1 e oulro presidente. rpuapraça-doi zer o que pensáva111os da cor-
Presidente Café FiIho 1111111 aparta- que ro1,a o pai, s.
n1cn10 do 1-lotcl Serrador e c-0111 o Jânio Quadros. chan1ou ocultas.
n1inis1ro da Guerra. General Zcnl'lbio
da Cosia. no gabinete deste 110 Pal.í- quando aí estão. be1n à vista, pois se Pe rgunto: é ou não un1 dever

- -cio da Guerra. Chceuci até l:í apossaran1 escancarada,nente do público o de dizer a verdade? É ou

a1nparadn por dois ofiçiais de i'dari- Brasil pela n1ão cio l\1nrechal Castelo não un1 dever de cristão dizer a ver-

Branco e seus cú1nplices na traição de dade'? Se o que eu disse era verdade.

31 de rnarço ele 1964. não tenho por que n1e arrepender e

Movido por tun n1is10 de rnedo e não posso tolerar que essa verdade se

de piedade o governo que se seguiu transforme. agora. nu1n pretexto para
incrin1innr-me...
ao suicídio de Vargas ind.u ziu o Prc -
~

sidcnte Café Filho a botar tuna pedra "Os respons.íveis pelo suicídio de

cn1 cin1a do inquérito. e convocar as Vargas são os n1es1nos responsáve~} ,,

eleições no prazo ,narcado. se n1 peln fundação da Últin,a Hora. são "Jf"

qualquer alteração na legislação e no Orespons,1veis pela in1punidade da cor-

an1bien1c. tu1nultuado e convulsiona- rupção. Os responsáveis 1ê1n em

do. Era con10 se nada houvesse acon- Gregório Fortunado tnna expressão

tecido. No en1an10. naqueles dias ele atual. l\1as não se li1niran1 a ele. Esten-

não-decisão. decidia-se a sorlc do dem-se. espnlhan1-se por todo u111

Brasil. assin1 condenado a novos grupo a que dei o non1e de Oligarquia.

~! esse grupo que Ela não pareceu rnuito convenci-

pretende sobreviver da. Mas, quando lhe disse: "Estou

& !>. {llravés da adesão vindo do Nordeste. Vi aviões da

9 ·-que prepara ao go- FAB levare1n abacates a granel para

verno do Sr. Café distribuir aos fa1nint'os, n1ahdados

/ Filho e, ·sobrc1udo. pela LBA. ,Aquela gente nunca viu

..da in1riga do povo abacate, não co,ne abacate. Resulln-

contra o povo. do. pouco depois de dese1nbarcados

"Estas palavras do avião da FAB. os abacates

resu Itaan ele 1nna cs1nvan1 sendo vendidos no n1ercado

profunda refl exão e1e MossorÓ... "EJu se.i.,• e,1. sse e1a. " se·1

nestes d ias e1n que que 1nuiias coisas acontecen1··. "Faço

as te1npestades da oposição ao governo do seu 1narido,

ação a1nainara1n e n1as não tenho óclio a ele nen1 a

o coração fala 111a is .w.. ningué1n". disse eu. Ela 1ne olhou
w
.aprlot, por1aciroaza-qo.u~•e a fixan1en1 e, pela prianeira vez
oX
~ esboçou u1n sorriso: " Eu não 111e
::;
n1eto na pol Íl ica cio 1neu 1narido, ne1n
Esse grupo con-

tinua a do1ninar o Brasil. Sobreviveu alguns resultados esparsos, havia a "Samuel na de ninguén1". observou. Houve.

i todos os governos. aden•u a todos, fez den1ons1ração de reconheein1en10 da Wainer uni silêncio: "Co1no eslá calrno isso

n acusava a

1 íYii'1istros ei11 todos. Por isto. Roberto existência do problerna - e isto é nossa aqui!", disse, para djzer algu1na
que era in1por1ante. Ora, a luta entre
' Can1pos, n1inistro da rc>rolução com a LBA e nós só podia ser prejudicial campanha coisa. "Quando eles estão fora isso
tÍl Castelo Branco. pôde 1ne ac usar, na de objetivos
~ TV. ainda cm 1965, de ser responsá- fica un1n casa de fam íl ia". disse ela.

ao povo nordestino. Paulo Celso ocultos, Não entendi. Mais tarde. na cha1nada

vel pela n1orte de Vargas en1 1954. propõe. en1ão: movida, Rep1í/Jlica do Galeâo, o estabeleci-

E1n fevereiro de 1953. quando - Você se encontraria con1 Dona dizia ele, por 1nento 1nilitar no qual se fez o

havia unia seca no Nordeste e órgãos Darci? agentes inquérito que apurou a autoria do

do governo negava1n a existência da - Por que não? de capital crirne de ·ronclero, conheci alguns
Ele telefonou estrangeiro."
seca, con1ecei na Rádio Mayrink ao Palácio cio dos ele111entos a que e la se refe ria.

Veiga e na Trih1111a da /111pre11sa tuna Catete. Dona Darci havia quebrado · U1n deles 1ne contou que Dona

ca1npanha de ajuda que era ta1nbén1 e uni artelho. estava con1 o pé an1arra- Darci, pessoalrnenl'c. expulsou-o do

principaltnente de alerta, cha,nada do, descera de Petrópolis, onde ve- Palác io do Ca 1e1e. Esse era un1

Ajuda teu lrnuío. Esse título. que deu ra neava no Pal.ícit> Rio Negro para estranho ser de vida d upla, unia

origen1a 1núsi1:as e entrou para o fol- se tratar. Concordou e1n n1e receber, curiosa pcrsonal idade, 101 aime nt e

clore ela seca e a gíria brasileira. foi o con10 propunha1n Gilson e Paulo. desprovido de senso 1non1I.

ele tnna bela 1::11npanha. A certa Eu ia subir para Petrópolis, onde U1na vez n1ais ela brincou co1n

altura. pn1c11raran1 intrigar contra ela Letícia n1e esperava e1n nossa casa Sérgio, dizendo: "Seu pai é 1errível.

a presiden te da de San1an1baia. Levava co1nigo veja se você consegue q. ue, ele .1ne-
lh orc". "E fácil.
Legião Brasileira Sérgio. En1ra1nos no Palácio do

de Assistência. Catete, pela porta lateral, devia ser disse cu, basta que

Dona Darci Var- 1Oe meia da noite. Subin1os no ele- UMJ\ BO~ ouçatn o que eu di-
coN\fERSi\ go. A sra. sabe,
gas. O êxito ela vador pintado de branco, nos fundos. quando se 1e1n a

nossa ca1npnn- andatnos por uni passadiço que clava

ha. por ser fe ita para o pátio interno. sustentado por NO certeza de que se
REOUlO
por uni órgão colu nas de fe rro, roçamos u1na \N\M\GO está d.izendo oouqvu1.e-
OESlRÓ\ UMJ\
ela oposição a pequena estante de livros. bate1nos il precisa ser
\NlR\Gi\
Vargas. peri- porta de u111 aposento. ouvi1nos u1na do, e os que po-

gnva. voz fc1ninin a que n1.1ndava entrar. clern ouvir não

Chegara1n Entra1nos. nos ouvc 1n, a

a assinar u1n artigo corno no1nc Dona Darci. recostada na carna. gente co111cça a

ela Dona Darci e publicá-lo. para deu-1ne a anão. E quando n1eu filho a gritar, não é? "Ela sorriu u111a vez

din1inuir os efeitos da nossa can1pan- cu1nprilnentou , perguntou-lhe: mais e disse: "Mas o senhor falou n1al

ha de ajuda ao Nordeste. Ajuda 1<'11 - Então você é o filho desse até de 1ni1n... "Não é exalo, a senhora

l r111ão. U1na noite de fevereiro. no de111ônio que todos pinta1n? foi informada por esses jornais que

Bife de Ouro. encontrei Gílson A1na- - A senhora verá que o demônio 1en1 aí'' (havia , uns jornais espalhados
na sua cama). E o rnal de ler esses jor-
do e Paulo Celso Mou1inho, este n1eu não é tão fe io co1no o pin1a1n. disse eu.

velho companheiro da Casa do Eslu- Convcrsa1nos bastanle. Mostrei- nais. O que eu disse é que o portão da

dante e então secretário da Sra. lhe a vantagean de atacar o problen1a Cidade das Meninas, custou dinheiro

Getúlio Vargas, Disse-lhes da aninha do Nordeste pelos dois lados, o do de1nais e1n vez ele ser aplicado na

,.ii9"tocupação. As vítirnas da seca governo e o da oposição. própria Cidade das Meninas a que a

l!'lYiJda tinhatn co1n as brigas dos políti- - 1-lá uana verdadeira indústria da sra. tem se dedicado tanto." Ela me

cos. Meu in1uito era forçar a atenção seca. disse ela. olhou como se então visse esclarecida

do país par., a ~ituação do Nordeste. - Eu sei. Mas. a senhora 1arn- u1na coisa que a n1agoara. "'renho pela

Estava farto de saber que nem a carn- bén1 sabe que 1nuita gen te que senhora o respeito que devo ter por

panha Ajuda teu lr111âo ne1n a LB1-\ não entrega nada ao goven10 po- urna pessoa que procura fazer o be1n.

podiam dar jeito no Nordeste. Mas. de ajudar através da oposição. E sei quanto é difícil a sua posição." A

alérn da prova de solidariedade e ele não acha? conversa proseguiu. toda nesse 10111.

''Se.me tivessem é-verdade na vida íntima, ainda mais f~-fez de born. O pior que ele fez
·ouvido, Vargas
o é na vida pública; pois é aí, 111ais do deixar nos conten1porâneos a 1nania
estaria vivo
ou teria morrido que e1n qualquer setor, que se pode de i,nitá-lo, não no seu espírit~_,#liiii,
em paz, sem
suicídio'' repetir a palavra de Cristo: que1n público, que ele teve, não na sua1W

pode atirar a primeira pedra? honestidade pessoal, que ele também t

Quase toda vez que se fala de tinha, não nos seus objetivos últi- l

Getúlio Vargas é para celebrar a sua n1os , mas nos seus métodos e no seu

1nansidão, a sua cordura, a sua capa- estilo. Ficaram quase todos com a

cidade de perdoar - e no entanto se 111ania de in1it,i-lo nos seus defeitos,

exercita o ódio, a vindita, a abornina- nos cacoetes e na sua casta política.

ção. Poder-se-ia articular centenas O único que não o imitou nos defei-

ele exen1plos de que ele não era i,nu- tos e seguiu-o nas qualidades foi

ne à injustiça e ao rancor. Alguns dos Kubitscheck - e por isto uma gran-

nulis detestáveis crimes da ditadura de parte do povo o conservava como

fonun praticados à so1nbra do horror urna personificação da idéia do

que Yargas tinha do con1unis1110 - e desenvQlvimento econôn1ico. Regis-

no entanto que111 n1ais explorou o seu trar esta verdade não é apenas ser

D ias depois ela dava tuna decla- cadáver foran1 os co111unistas, e seus justo, é tan1bén1 ser inteligente. Pois
ração favorável à can1panha
Ajuda Teu Jrnuio. Havía111os aliados, os que se . negar a verdade é arriscar-se a vê-hl
inutilizadQ, juntos , con1· aquele
encontro, longe da publicidade e dos arvoravan1 políti- voltar-se contra que1n a nega. ~
interessados na confusão, os esforços
contra a nossa ca,npanha de· n1obi li- cos de Yargas. _Grave erro é querer construir urna
zação nacional e1n favor do Nordeste.
\JI\RGI\S NlO Estranha con- grande nação corn os resíduos do
E:ntão entraran1 os sábios com a ódio e da mesquinha competição dos ~
LACERDA descoberta de que a nossa can1panha \GNORI\\JI\ duta a de alguns
não resolvia os proble1nas do Nor- OQUE fl\1\1\M dos pretensos dias de urna nação pequenina. Êsse é
deste. Ora, a grande novidade! O que OS lORlURI\· discípulos.
queríamos havía1nos conseguido: o .Curiosa fonna oreesr,rpooerr1n. nqcuo1enipnrseiesntesra-noaelg1.unnesxmpeinl.i"et'na--
país todo voltava sua atenção para o DORES 01\
abandono a que estava condenado o de cultuar a cia, e n1uitos políticos por falsa
Nordeste. Isto foi conseguido graças
à superior co1npreensão de D. Darci pOlÍC\I\ n1emória de esperteza e verdadeira ingenuidade.
Vargas, naquele encontro que só un1 111odelo,
hoje conto para que se possa devida- Nunca saí por aí a exibir os nossos
n1ente aprecisar a superioridade e as
qualidades dessa verdadeira senhora. fazer o oposto rnártires. No entanto, quem foi assas-

De certo ,nodo, u111a visão ,nais do que se celebra dele. Na verda- sinado não foi Getúlio Yargas, chefe
urgente do problerna ao Nordeste foi
facilitada pelo encontro entre Dona de, essa contradição é apenas o sinal de Estado e, co1no tal, sujeito a esses
Darci, no seu quarto, no Palácio do
Catete con1 o de,nônio da oposição e da insinceridade e da ainda 111aior contrate,npos. e sin1 um pai de fa1n í-
u111 1nenino que beijou a ,não da
111ulher do político que prendeu seu inco,npreensão. lia desam1ado, cujo crime consistiu
.ivô e seu pai. Tais são os c:.uninhos
de Deus; e tais os prodígios de que é Yargas, a ,neu ver, con1eteu erros en1 acon1panhar, para servir de teste-
capaz a n1elhor qualidade dos brasi-
leiros - que não se deve substituir muito graves contra o Brasil, corno o munha, um jornalista de oposição
por rancor ou ódio.
de não acelerar a obra da educação, o que denunciara erros e crimes e, por
Sobre os ódios que a inco,npreen-
são ali,nenta e a an1bição aproveita. de privar o povo do treina111ento isso, ia ser morto. Rubem Vaz mor-
pairou se,npre, i1npessoal. paciente
até os últin1os linlites da hunlilhação, de1nocrático pelo voto e o uso cons- reu no meu lugar, e desarmado. Exe- .
o n1eu horror ao ódio. Assin1 con10 se cutaram-no à iraição, pelo crirne ~' '
confunde a vee,nência con1 a violên- tante e esclarecedor ela liberdade. O
cia e a ira co1n o ódio. confunde-se
ta.1nbén1 a paciência con1 o cansaço e paternalisn10 não foi assirn tão pater- ser meu a1nigo quando eu denuncia-
a co111preensão que se deve às pes-
soas con1 a co,nplacência que não se nal e cordato, pois rnuita gente éva crünes e erros. Se me tivessem
deve ter para con1 os erros. Abon1ino
o erro, o n1eu e de outros. Mas , assin1 sofreu pela sua ,não, ele não ignora- ouvido, Yargas estaria vivo ou teria
con10 n1e perdõo. devo ainda n1ais
depressa perdoar os outros. Assi111 va o que fazian1 os torturadores da 111orrido e,n paz, sen1 tragédia, se1n
con10 tenho oportunidade de corrigir
os 1neus, devo dar aos outros, a pos- polícia, nern o que sucedia aos seus suicídio. Embriagados pelo poder, os

-sibilidade de corrigir os seus. Se isto adversários vencidos, exilados, per- que o cercavam negaran1-se a deixá-

seguidos, co,no Otávio Mangabeira, lo ouvir as nossas advertências, os

a quen1 o DIP privou até de ganhar a que tentaram não fon,111 atendidos;

vida con10 tradutor da Seleções, os fatos que em vão lhe denunciáva-

an1eaçando a revista an1ericana 111os, a realidade que se abria diante

Reader·s Digest de não consentir a de seus passos não bastou para que

sua entrada rio Brasil en1 edic• ão bra- os seus poucos an1igos verdadeiros
sileira se ela desse trabalho ao ex-
conseguissem se fazer ouvir

111inistro do Exterior, ex ilado en1 Já durou demais a exploração

Nova Iorque. política do suicídio de Vargas para

Os aspectos positivos da obra de servir à ambição de seus falsos discí-

Getúlio Vargas só serão aprofunda- pulos. Os qoe verdadeiramente lhe

dos e terão conseqüências na n1edi- são gratos e queren1 servir a sua

da. precisarnente, en1 que os ódios 1nen1ória devem desn1istificar a su,1

que o don1ínio suscitou seja111 supe- n1en1ória e servii· à ~nião para o futl-,.~

rados pela consciência da responsa- ro. em vez de cultivar os ódios l~

bilidhde de todos na obra de consoli- passado. ~
Quando se anunciou a fonn,\ção
dação de urna afinnação nacional do

Brasil, a que ele procurou servir. da Frente A1npla, muita gente estra-

Afirn1ar que tudo o que ele fez foi nhou e era normal que estranhasse;

born é un1 contra-senso, con10 un1a alguns divergian1, e era norn1al que

inverdade seria garantir que ele nada divergissem. Não me ofenderam

f:;J /estranliando ou te, Ne,n o si1nples relato seria possí-
J• vel, tantas retificaçi5es tenho a fazer
divergindo. Tenho a versões fa~ciosas, a acusações s·e111
fundamento, a in terpretações
tempo para esperar
funambulescas. O que interessa, rio
- embora a Histó- relato sumário da crise de 1954, no
atentado da Toneleros; no suicídio
ria esteja com pres- de Yargas, é 1nostrar que· de tantos

sa, pois já se perdeu sacrifícios, de parte a parte, rem ele,
resultar algo útil para o povo. Não
n1uito te1npo. pode ser a demagogia nem o saudo-
sismo. Não pode tudo isto li1nitar-se
Uma pessoa, a um ençontro de contas do ódio e
do ressentimento. Se alguma •-coisa
poré111, logo n1e pro- pode tudo isto deixar de útil, é na
lição de compreensão, de .união, de.
curou e me disse esforço conjugado para libert.ir o
povo brasileiro da igno.rância e da .
"Eu sei que você 111iséria. É ensinar-nos e ensiná-lo .a
.identificar, sob os nomes que os jor-
não trai. Não enten- nais publ icain, os interesses que sob
tais nomes se escondem, e que
7 di be1n, ainda, 1nas movem tantos acontecin1entos e
espero que você comanda,n tantas omissões.

esteja certo". Hoje, estamos diante de urn regi-
111e 1nili tarizado, criado co111 as
Era uma n1oça 1nelhores intenções, 1nas desviados
de seus ru1110s, pois, feito para garan-
que ficou viúva e tir eleições livres e diretas, reprin1iu

teve de criar quatro a liberdade e a eleição, privando o
povo do direito ele escolher o seu
.4.1,_fmilahroidso porque seu governo.
morreu por
O país sofre, n1ais cio que nunca, a
Íni1n. Por rnim? crise de liderança de,nocrática. Na
falta desta, enca1ninha-se - ainda
o Não, por nossa que na superfície 111uitos não identifi-
intenção de refor- que,n esse ru1no _:_ para a. liderança
1nar de1nocratica- autoritária, nu,na palavra, para urna
ditadura de esquerda, após o 111alogro
1nente o Brasil. Ela, da meia-ditadura de esquerda.

siln, podia odiar a A única esperança do povo está
na pacificação nacional, sob o
Vargas, a 1ni1n, a todos. Pois foi pri- rá quanto temos raz~o, os que reivin- "José Maciel comando dos que representarn legi-
timarncnte - e não por artifícios e
vada do marido, do pai de seus dicamos o entendi1nento, co111eçando Filho recebeu rabulices - a n1aioria do próprio
por dar exe,nplo ele conciliação e de de Vargas povo. Só assi1n o povo poderá con-
filhos, assassinado pelos capangas apenas a fiar e, confiando, participar dos·
frase inicial da sacrifíc ios e dos esforços que ainda
do presidente da República. E nunca co,npreensão. há de fazer para-a prosperidade e a
Se isto não se fizer enquanto é chamada carta paz do Brasil. E' preciso que o povo,
odiou. E sempre conserva, entre à frente do país, veja os líderes nos
quais acredita, nos quais reconhece
esforços e sacrifícios, a esperança de te1npo, terá de ser feito e,n plena cri- te~tasmento: un1 propósito, un1a obra, urna defini-

que seu ,narido não tenha rnorrido se. Pois a crise vem aí. Ne,n u111 "A sanha dos ção nítida.
Não há de ser pela desunião e o
e,n vão. n1aciço auxílio ,nilitar arnericano meus inimigos
ressentin1en10, pelo ódio ar.tificial-
O Brasil tern vivido an1arrado a bastaria para impedi-Ia. Pois ela, virá deixo o legado . n1ente mantido, nem pelo ódio co,n-
nas próprias Forças Annadas. E dos da minha
duas forças negativas, a ambição preensivelrnente gerado, que tal
quartéis que ela vai sair. O governo morte." caminho poderá ser adotado.
1nesquinha e a competição se,n gran-
O esforço a fazer é 1a,nanbo~ tão
deza. Não se queria rebaixar, com reacionário que saiu dos quartéis graves as dificuldades, que não cabe
indagar o que fizeram e sim o que
falsas alegações, a grandeza de nossa será substituído por un1 governo dita- poderão fazer os que quiserem influir
para que o Brasil torne o rumo cer16.
~ uta. Lutei desannaclo, se,n outro torial e esquerdis-
O rurno da prosperidade-e da paz.
· poder senão o da palavra, contra un1 ta, també,n apoia-

grande e poderoso adversário. Ele do na força anna-

caiu, 111enos vencido por mim do que da, se o atual não

pela traição dos seus falsos a111igos. con1 preender, a

Eu ta111bé1n fui traído. pois os que de te,npo, a sua

rnim se servirarn tratan1n1 de se apos- 111issão e a sua

sar do país tão logo ele e eu. e alguns justificação, em

outros con10 nós, fomos arredados do sun1a, a ii lla

ca111inho desses ambiciosos sen1 razão de ser.

grandeza. Tudo isso

Estamos no i111pério da ,necliocri- con1eçou há

dade, no reinado da 1nesquinharia. 111ui10 ten1po, na 1nadrugada de 5

Ou saímos dele ou, nele rnergu- de agosto de 1954, na Rua Tonele-

lhados, va1no's condenar o povo a ros. AI i con1eçou urna verdadeira

procurar a grandeza onde ela se rev,olução.
E por isto que ninguén1 pode rnc
encontre, pagando para consegui-la o

preço da liberdade e da paz. si lenciar. É por isto que tenho auto-

Estou convencido de que é urgen- ridade para dizer que, de tantos

_te sair ela mesquinharia e da medio- sacrifícios, há que aproveitar a
✓,_ ~ridade e promover, co111 urgência,
lição, con1 grandeza, con1 inteligên-·
~"tim entendi1nento nacional para a
eia ,e dedicação.
paz, a den1ocracia e o desenvolvi- E impossível conter nos Iimites

mento integrado. Basta ver o esforço de algumas páginas o relato ele um

dos ,nedíocres para evitar esse enten- episódio que tem orige111 muito

dimento e só com isso j,í se entende- antes e se projeta muitos anos adian-


NO PRÓXIMO CAPÍTULO: ARENÚNCIA OE JÂNIO QUADROS, AS RAZÕES DO SUICÍDIO OE VARGAS ESTÃO NO SEU TEMPERAMENTO

:.:.

-.+

• '1 -•~

◄ ... -
••

.

• .... ,-..

. -. . - -~...•,.•'

.-·~ - '/,414
.·,/l!M.i 1',ri
..- ~
r/1~. PI
. 1 - ~ - :-,,.-:-.

..... ~--....,,.. ..... . . ;to

.•.•

,,::: 11 • 4 , '•

'

,., ,

. ,, ,.



.. "

'.

í2; • t TI}' ==r,

ffiôíU □□ l

''Rosas e Pedras do Meu Caminho'' ®

.

~~!.'. --~k.~~Ji~,~.:,.~i-•--~'v1'~" _:, _,~ .·.: ...
.,~,.........ft":f•~-~ ).j. V• ~' •\\•f-°º1;!1~
.., ·"·~''· 1
, } · ~-
.i,'i ..
l
i~~
';\
,...
'

~ ~T

l-

,w...

:we
üz

:<:;

Apesar do bico nem sempre muito amistoso, aarara do Palácio Guanabara era uma das rosas que ajudavam Lacerda entre as pedras do caminho.

. DOCUMENTO E s1:11nos quase no fi1n deste depoi,nento e, co1n Espero contar, neste penúlti1no capítulo, o que se
todas estas püginas. não contei senão ínfi1na parte passou entre fins de 1954 e ,neados de 1961. Deixei o
do que sei, vi e vivo. E, con10 tudo o que conheço Brasil entregue a Café Filho. ü UDN , ao 1nedo que

é infinita1nente n1enos do que urn pouco do que ignoro. -1nuitos tinhan, de ser acusados da n1orte de Van1as. ao
poderia dizer con10 iVlr. 1-l ibbis, o cientista que 1ne acon1-
panhou, há dias, na visita ao Jet Propulsion Laboralory, governo conservador que então se fonnou, üs acusa-
ções de que "os a,nericanos estão por tnís de tudo
-c1n Los ,\nge)es, onde a Universidade ·récnica da Cali-
isso·•. à exploração do cadáver de Getúlio e a essa
fórnia prepara as viagens intcrplanetúrias e estuda os
seus resultados. Depois de percorrer dois andares de espécie de orfandade a que ficou conden.ida, por sua
con1pu1adores eletrônicos. parei para pensar 1nais deva- ,norte. urna grande parte do povo, a n1<1is necessitada,
a n1ais desan,parada.
-gar. Adivinhando-n1e. o Dr. l·libbis advertiu-n1e:
- Tudo isso corresponde à n1ctadc do s is1e1na A tensão que 1ínhan1os vivido, jtí ,1gora não apenas
nervoso de un1a ,ninhoca. os adullos. 1nas as crianças da fa1n íli,1 e essa espécie
de catarse que é para n1in1 a viagen1 - a constante
Mas acrescentou: renovaçfio, a descoberta do mundo que já niio poderei

- Apenas, o nosso siste1na de con1putação é n1ais contar nessa história - levou-nos a Portugal , no
fl ex ível.
navio \lera Cru::.

Lott vestiu-se rios públicos. Não se acanhe1n, disse, "dlque queria punir o Coronel Mamede 1
de condestável a Inconfidência Mineira também foi
tia legalidade e u1na conspiração de funcionários por quebra da disciplina e da hierar-
deu ogolpe de públicos. Juscelino não se ofendeu e . guia rebelou-se contra o presidente da
riu dos que se consideraram ofendi- 11
11 de novembro dos co1n o 1neu convite. República - e derrubou, alén1 de Car-

·de 1955 Mais uma vez a falta de entendi- los Luz, tambén1 Café Filho. 1
mento entre os homens agravou o
desencontro dos fatos. n1uito mais do A cúpula do governo e1nbarcou no
que das idéias. O governo sustentava
que Ma1nede, um dos expoentes da cruzador Tan1andaré para tentardes-
Escola Superior de Guerra, subordi-
nada direta1nente ao Estado-Maior cer e1n São Paulo, onde se esperava
das Forças Annadas (Marinha, Exér-
cito e Aeronáutica), por sua vez que o Governador Jânio Quadros
dependente direta1nente do presiden-
te da República, não estava sujeito à pudesse resistir. Tudo o que se con- ,'
punição do ministro da Guerra. A
defesa da legalidade, no caso, portan- tou sobre esse episódio é apenas uma
to, era uma exorbitância, u1n abuso
de autoridade. E1n torno desse por- parte ela verdade. Mas o espaço só
menor girou a crise.
consente u1n episódio desse ünenso e
Carlos Luz, na presidência, aceitou,
o pedido de de1nissão do Ministro · desconhecido ca-
Lott. Este foi para a residência oficial,
demissionário. E Carlos Luz foi ao pítulo da história
cine111a. No prédio ao lado do de Lott,
tan1bén1 oficiailnente, residia o contemporânea
co,nandante do I Exército, um general
atuante e inteligente, Odilo Denys. do BrasiL Por or-
Mais tarde, en1 1960, quando fui visi-
S entia quanto Juscelino Kubits- tá-lo para saber se ele garantia a pos- de1n do ministro
c!1ek ti~1ha certeza de sua vitó- se de Jânio Quadros na presidência,
na, pois entre tantos erros de inforn1ação que precisava levar a da Guerra, duas
Jânio e1n Portugal, lembra1nos esse
episódio rnais ou menos neste to1n: fortalezas co-

forrnação política, entre tantas sub- - Nós nos antecipan1os ao golpe meçaram a ati-
que os senhores querian1 dar - dis-
1nissões a que se condenava para se-111e o General Denys. rar .contra o

LACERDA vencer, ele ton1ou a tese certa, a da - Eu não tinha força nenhuma cruzador que
ação para o desenvolviinento - úni- para dar o golpe e Café Filho não que-
• co n1eio de tirar o Brasil do poço e1n ria golpe nenhun1, ne1n queria nada levava o presi- l
con1igo. Os chefes da UDN, se a dente da Repúbli-
n1inha tese desse certo. a adotaria1n
que o n1eteran1 a ignorância e a ca e vários 1ninistros - e eu, que a
co1no sua. Con10 não deu. rcfugiaran1-
1nediocridade. Esse 1nérito ele teve e se. v.irios. nun1 legalisn10 cõrnodo e rigor nada tinha com aquele governo
n1e deixaran1 sozinho. rvlas, no pressu-
ningué1n lhe pode tirar. posto de que o que eu rcco1nendava mas, não tendo onde combater, deci-
era apenas o anúncio do que o gover-
O discurso de Man1ede na sepul- no pretendia realizar. Denys n1obili- di resistir junto ao presidente da
zou Lott. que se vestiu de condestável
tura de Canrobert 111obilizou o Gene- ela legalidade e deu o golpe de 11 ele República. Os oficiais 1natriculados

ral Lott, que insistiu en1 punir -nove1nbro de 1955. Assin1. o !!eneral na Escola do Estado Maior, revolta-

Man1ede en1 no1ne da disciplina e da dos contra esse ato e te1nerosos de

hierarquia. Café Filho adoeceu, pas- que a conseqüência fosse a guerra

sou o governo ao presidente da civil, forarn e1n comissão pedir ao

Cârnara, Carlos Luz, en1 plena crise diretor que apresentasse, em nome

de prende-não-prende Ma1nede. da escola, ao Ministro Lott, o seu

O Brigadeiro Eduardo Gon1es, a protesto contra esse crin1e. E1n nome

quen1 fui visitar no Ministério da dos oficiais-alunos falou o senhor

Aeronáutica, dissc-n1e: "Pode estar Jarbas Passarinho.

descansado. O Dr. Juscelino não O comandante da escola disse: "Os

t<Hnar.1 posse." Publican1ente, o gol- senhores fique1n tranqüilos, os tiros

pista era eu. No entanto, assin1 con10 das ~ortalczas c~?tra o Ta,n~ndaré são C '"i
de polvora seca. Enquanto isso, cons- ~
Juscelino adnlitira a 1ninha participa-

ção no governo se eu apoiasse a sua cientes de seu sacrifício, o Presidente

candidatura. eu não Carlos Luz, o Ahnirante Pena Boto e o

"Entre os estava longe de achni- Co1nandan1c Silvio Heck, con1 todos
que mais se ~
impressionaram os canhões de bordo prontos para ati-
como tir o seu governo, se
fenómeno da rar. para evit,u· o pior, deixavam de
ascensão fosse possível dcsli-
popular de g:t-lo da n1üquina de responder ao fogo das fortalezas. O
Jânio estava do111i11ar o Brasil que
Otávio ele ia levar para o Aln1irante Amorin1 do Vale, n1inistro
Mangabeira... poder e que afinal o
abandonou - e hoje da Marinha, ficou no Ministério, cer-
o acusa. co1no acaba
cado pelo Exército, e foi, até o fi1n,

conto desde a juventude, como tantos

ca111aradas na noite da resistência no

de fazer o polc1nista Palácio Guanabara. en1 1964, de u,na

Roberto Ca1npos. lenldade e bravura co1no nen1 sernpre

Ainda prefei10 de se encontra nos livros. O co1nandante

Belo Hori zo nl c, da Escola de Estado Maior, que assiin

quando o governo brasileiro na1nora- n1en1iu aos seus con1andados era o

va con1 Hi1ler, ele acei1ou presidir a General Hun1bcrto de Ale11car Castelo

Sociedade de Cultura Inglesa. órgão cl'0,Branco. Este episódio só n1e foi conta-

co1npro1netedor, naquela altura. do depois que ele se fez presidente

Nun1 ahnoço dessa sociedade. no República, con1 a nossa participação.

Minas Clube, presidido por Jusceli - pela qual n1e senti obrigado a co1nba-

no. convidei os presen1es a conspirar tê-lo. ao preço de qualquer risco. Pois

contra a di1adura. Eran1 quase todos quen1 te1n responsabilidade na ascen-

intelectuais e quase todos funcioná- são de uni hon1e1n con10 Castelo à pre-

l\ sidência do Brasil ~ 1 .
deve penitenciar-se
f l:fr1n didato da oposição, .ao qu~I Kubits-
{• . chek, lealn1en1e e de1nocratican1ente, ·
1 para o resto da ifft/Di.· •• entregou o poder. Este exen1plo supe-
rou o do Marechal Outra, que passou a
11 vicia. Se1npre a his- ~
presidência ao do seu partido, Jusceli-
1 tória das infcinna- · 1··1.nu; !!: no Kubitschek. Mas este entregou o
ções. Nossos co,n- l poder à oposição. Por n1uito menos
houve gente exclu.ída da lista de cassa-
panheiros 1nilitares ,_~ ·,1111 e ções en·1re 1964 e 1967.

diziam-no o rnais A eleição e posse de Jânio Qua-
dros podia ter sido o começo daque-
capaz, o mais civil, la refonna que en1 54 não foi feiia. E
ela só foi possível porque Juscel ino
o 1nais de1nocrata. foi nutis fiel à sua vocação de1nocrá-
tica do que às tentações e sugestões,
So1nente depois
que não lhe faltaran1.
vien1os a saber que Desen1barquei do cruzador Tan1an-

ele era o 111enos daré, depois que fon1os vencidos pela
quase unanin1idade do Exército.
leal, o 111enos gene- Rcfugiei-1ne na· E1nbaixada de Cuba,
graças à hospital idade de uni velho
roso , o • n1enos a1nigo do Brasil , o Embaixador-
Gabriel Landa, então decano dos
honesto, o n1enos e1nbaixadores. Não queria ir para
en1baixada nenhu1na. Ao voltar o Pre-
capa7. e o 1nenos sidente Luz para o Rio, subiran1 a bor-
do do 1·a111a11daré Juraci Magalhães e
. revolucionário. Afonso Arinos. Levaram a incurnbên-
cia de 1ne fazer aceitar a decisão da
Grande parte do w UDN de rne fazer refugiar n~1n1a
en1baixada, porque o governo dizia,
Exército foi condu- t:üe oficial n1ente, pela boca do General
Flores da Cunha, uni dos arautos pol í: .
zida, até sem saber . (.) ticos do golpe. não se responsabilizar
pela 1ninha vida. Subn1eti a questão
o do que se tratava, a .• z ao exan1e de n1cus con1panheiros a
depor o Presidente bordo cio Ta111a11daré, não só o presi-
< dente e seus 1ninistros, tan1bén1 à ofi-
::; _cial idade. Afonso Arinos explicou as·
razões. Todos os presentes se pronun-
l( Café Filho e o Presidente Carlos Luz posse aos .f'alsos eleitos, e pro1110- A casa de Café cianun no sentido de que eu devia 111e
a 11 de nove1nbro de 55, por conta de Filho é cercada poupar, pois a luta não acabava
1 un1 golpe que não ia haver. .Entre os ver. co111 urgência, a reforn1a das em Copaca• naquele dia en1 que a Câ1nara. cerca-
bana. da pela tropa, entregava a cabeça de
instituições para a nova JJroclan1a- "Grande parte seu presidente, destituindo-o da presi-
do Exército foi
que co1nandan11n tropa para garantir a ção da Repríblica. O regin1e en1 que conduzida dência da.República.
a depor o Gabriel Landa, conservador cheio
posse do Presidente Juscelino Kubits- viven1os é de 11111a insuportál'ef oli- Presidente
Café e o de encanto, virava as noites distraindo
chek estava o con1andan1e de Caçapa- garquia, que desfigura o r<'J:i111e Presidente o seu forçado hóspede. "Ustcdes quie-
Carlos Luz ren acer revolucion sin blindados,
va, em São Paulo, Coronel Arthur da para sobr<'viver. e vai. agora. hus- em 11 de ho1nbre! 1-Jay que tencr los blindados",
novembro." dizia este veterano político de Cuba.
Costa e Silva. car sua base dl' 111assas na e111reg,1 Mas a senhora Landa, con1 convicções
pessoais n1uito nítidas, zangou-se por-
Se ele pôde garantir a posse de dessas 111assas à lrege111011ia do Par- que ele 1ne deu asilo e retirou-se.
Enquanto senhores do Rio lhe manda-
Kubitscheck, então acusado de tudo tido Con1u11ista. van1 uma bandeja de prata con1 un1a
dedicatória cheia de gratidão por ter
o que hoje o acusan,. e até n1ais, para "(...) Açtio co11j1111ta, aç<ío unida dado asilo, ela varejava longe a bande-
ja e ro,npia con1 o marido, saindo de
assegurar a continuidade democráti- para evitar o pior e proporcionar
, sai,- casa até que cu deixasse de ser hóspe-
ca, é claro que pode ad1nitir, pelo ao 11111a de. Faltava mais essa! Ao perceber,
pais por infonnação vinda de fora, a situa-
ção, pedi ao cn1baixador, sob alegação
mes1no n1otivo, o entendi1nento dos da pacífica para be1n diversa, que 111c obtivesse quanto
antes o passa(:?orte para sair da cn1bai-
líderes den1ocráticos do Brasil, para, a crise que o xada e do Brasil.

através da paz atproaslíoti.caa,.1ggnaonrah, nacr1.aa, "O GO"ERNO tortura, é O
guerra contra o 0\1.\1\ NÃO SE
RESPONSI\B\· dever de todos

a pobreza, que são - estes sim - os "'ºl\l.l\R pEll\ nós. E 111ais do

t:'\ inimigos a vencer. O 1neu golpis1110, M\N"I\ I\" que todos, o

~ afinal, define-se nesta síntese que dever das For-

f: transcrevo do artigo que a 3 de ças Aarsn1qaudaai.ss.,
con1
11 nove1nbro de 55, onze dias antes do

jl golpe de Lott. publiquei na Triin111a: · neste n1on1e11-

"De nossa parte te1uos o de1·er de 10, está a derradei-

falar a verdade, que nos proíbe con: ra possibilidade de 11111a solução

te111porizar co111 o e11godo. Te,nos o antes que seja tarde."

dever de dizer à naçüo, aos chefes Era tarde - e era cedo. Exen1plos

,nilitares, inclusive, que a batalha co,no este acaba1n convencendo a

eleitoral é unia j'arsa. da qual nada fuí gente de que pior do que errar é acer-

'1 a esperar senão o tenrpo que o adver- tar quando todos preferc1n o erro.
sário está ganhando para dividir,
Acertar antes da hora é un1 crin1e que

para intrigar, para criar o clima da no Brasil se pune com o ostracisn10.

1 posse e tornar irren1ediável a entrega O~ 1nilítares levaram dez anos para

do poder a unr grupo do qual o Brasil co1npreender, e só entendera1n quando

só se livrará pela guerra civil. tiveran1 de ocupar o poder, e1n 1964.

"A reforn1a de que carece o Estado Paradoxaln1en1e, por sua forn1ação

brasileiro 11ão pern1ite e já ncio se den1ocrática e seu otimismo sistemáti-

beneficia corn as co11ten1porizações e co, Juscelino Kubitschek, realizou

~ as incertezas. Este é 11111 dos 1110,nentos uma parle considerável do que então

na vida das 11ações en1 que, consoante eu esperava que fosse feito pelas For-

a lição de Cícero, os p.rópriosjuristas ças Armadas. Pois o que estas não

deven1 calar e agir co,no os nlilitares fizeram en1 1955, ele praticou e1n

e não os 1nilitares co,110 os juristas. 1960, ao presidir eleições nas quais foi

" Há que negar. s11111arian1e11te, a consagrado, por votação livre, o can-

Jãnio foi eleito
vereador como
um demagogo
de barba grande
e capote
esfiapado

epois de unu, noite en1 Hava- w

D na, na qual trate i de evitar con- t;;
tato corn o governo de Batista,
agradecendo a hospitalidade à nação :X:
cubana através da itnprensa, onde
tinha vários arnig.os. entre eles n1eu ...z(.)
caro Guilherrno Martínez Márquez.
hoje exilado. fui para u1n hotel en1 ::;;
Nova Iorque, esperar a chegada da
LACERDA fa1nília . Só então percebi quanto esta- Adoro visitar o rnundo. 1nas só sei solve. como un1 bolo de recordações
va exausto. a tensão. a ansiedade, que atravancando o coração opresso. E,
não cessava - pois agora não sabia viver no Brasil. Não digo por patrio- afinal , o pior de tudo. o scnti1nento da 1
se deixariarn. ou não. sair a 111inha inuti lidacle, de te1npo perdido, ele vida
fan1ília. Recebi. então, dois cartões e tada, e si111 por força de hábito, tal- desperdiçada. de experiência jogada 1
urnas llores. U1na era ele Olga Pra-
gues Coelho. cujo 111arido, por inter- vez. Sinto-n1e ben1 en1 toda parte. for a . \
1nédio cio José Fa111adas, que n1e ensi-
nou inglês na cadeia, ern 37, 111e deu !Vias, clefinitiva,nente, só aqui. Por Decididamente. só os oportunistas
en1 Nova Iorque tradução de filrnes,
para fazer os letreiros sobrepostos en1 isto n1csn10, de Otávio Mangabeira e podern ser ferozes. So,nente eles são
português. Fi\111es con10 O Monstro in1penneáveis à tolerância. Porque
da Lagoa e alguns 1ttesrer11s foran1 Júlio Mesquita a Juscelino Kubits- perdoar os outros é para eles o n1esn10
assirn traduzidos por n1i1n. sern que que se acusare1n. Só os fracos odeiam.
,neu non1e aparecesse. Ganhava 200 chek e Abelardo Jure1na. cornpreendo E odeia111 tanto 1nais, quanto 111ais ser-
dólares por filrnc. 111as descontando vinun aos que odeia1n.
i,nposto de renda. 111aterial etc.. fica- e me solidarizo con1 a angústia dos
va be1n pouco. Outro cartão e as llo- ~ De volta ao Brasil, fui eleito líder

-res erarn de Guio1nar Novais. a glo- exilados. Os que scrvira111 a todos e da UDN e, depois, líder da oposição
por unia curiosa circunstância. Os
riosa pianista brasileira. repudiam a todos. Quando não 111ais deputados que 1nenos queriarn fazer
Afinal. nas vésperas do Natal. Letí-
precisa111 deles, podc111 ser ferozes. co1p.oons1.i::ç;tãaos, sa1.ostcvne1ra,,tq.1cuoes aqlguuenns.a11o1possei-r
cia chegou a Nova Iorque co111 as
crianças. Dec ididarnente só qucn1 Não são obrigados a entender a ansie- Qlíderes, dis~e~a111: "Se é para a UDN

conhece do sacrifício e do risco, as dade dos que estão longe das cenas e fazer opos,çao de verdade, varnos ~
a111enidadcs e as honrarias. pode dese- votar no Carlos." E co1n isso fícou
jar aos outros. fora do estrit:uncnte personagens da vida. assegur:1da a n1aioria que ,ne deu.
indispens.ívcl à orclcni pública. esse afinal , a unani1nidadc.
tipo de suplício. Aluga111os unia casa Quando ,ne encontrei co1n Kubits-
en1 Nor\valk, Connccticut, obtida por A liderança deu-111c. e certa111ente
nun1a corretora conhecida de n1i11ha chek ern Lisboa. ern 1966. só houve n1e faltava. rnais conhcci111ento da
vida parlarnentar. dessa escola de
-an1iga t-.1adeleine Carrol. então casada u m ,n o n1 en to con1preensão e de convivência na qual
a veen1ência e o choque de opiniões e
con1 1\ndre,v l-le iskell, atual presiden- "EP\SÓD\OS . . ligeiro de cons- de ten1penunentos não exclui, antes
tft~G\COS E·.· . t r a n g i 111 e n t o . obriga a co111preender as razões dos
te do Conselho do Ti111es <.~ LiJc'. Ali outros. até a franq ueza dos outros, e111
~ todo caso a existência dos outros.
· foi n1orar conosco. pouco depois. r'vlinha vida parla111entar não ten1 nada
Rafael de Aln1cida l\1agalhães. que Foi quando uni de excepcional: 11u1s. por isso 1nesn10,
ficou sendo o filho 111ais velho da casa. un1 dia talvez devesse contá-la. Pois
ou n1cu innão niais rnoço; enquanto côM\COS ·· redator do l)iá- n1uita gente aprenderia a co,npreender
S~rgio e Sebastião ia,n parn a escola NA lUll\ .. · e a prezar 111ais a vida pública, particu-
públil·a. e Letícia arrun1ava a ca:sa. 116s r io de Notí- lannente a vida das assernbléias.
passtávan1os por Nova Iorque a nossa PElO
curio:-idade - e a ,ninha allição. MANDAtO .. cias. de Lis- Da luta pelo n1eu n1:1ndato. :1n1eaú
AMEAÇADO,, çuc1o d· e cassaça-o. nu,n ep1.so,c11·0 tra-~ :-
boa. nr1eocreo1.rduonus gicôn1ico, que n1otivou o n1eu livro O
que Ca111i11/Jo da Liberdade. culn1inando
nu cena inesquecível que foi a nossa
n1escs nu1na vitória no plen,írio. con1 o povo e os

casa de São

João de Estoril - a Casa cios

Cedros. Jus<.:clino. tornado de surpre-

sa, perguntou no 111ais puro portu-

-guês-1ninci ro:
- Uai. tan1bé111 1norou e111 Por-

t u g-a l ?
- More i. presidente. quando o

senhor tornou posse.

Olhan10-nos - e não pudcnios dei-

xar de sorrir. Portanto. eu sei o que são

as consolações do exíl io. num país

acolhedor e fratenial. n1as tarn bén1

conheço as frustrações do desterro.

desde Uli:-ses a Gonçalves Dias. quan-

do a saudade se torna p,irtc da vida de

todo dia. nun1a saudade difusa e gene-

ralizad.i. nurna angústia que nada dis-

/ deputados cantando o Hino Nacional, Jânio foi eleito vereador da cidade Lott e Jango, de algo novo, de um hon1em que tinha
de São Paulo con10 um demagogo candidatos a algurna chispa de grandeza dentro de
1' àquele sujeitinho que foi propor ao esquerdizante, de barba grande e presidente e si, ernbora fosse inquietante a sua visí-
capote esfiapado, professor de portu- vice. vel insegurança, disfarçada em um
111eu secretário, Hugo Levi, parte da guês nurn gfruisio público, e uma "Eis Jânio modo categórico, excessiva1nente
extraordinária capacidade de comuni- candidato. categórico, de falar. Parecia pensar
subvenção da entidade filantrópica cação co1n o público, falando por síla- muito antes de cada palavra ou sílaba..
bas 111artelaclas corn urn sotaque para- Sua Pensaria rnes1no, ou era sestro, um tru-
que representava, para a 1ninha ca1n- naense exagerado con10 o de u1n mau que de apresentação, para i1npressio-
ator tentando i1nitar-se a si 1nesn10. capacidade de nar? Não era u111 homern qualquer.
panha de reeleição, se eu lhe desti- São Paulo estava farto de corrupção e comunicação Seus começos na Prefeitu ra demons-
de incompetência. O surto de prospe- com o povo travan1 que vinha disposto a atuar com
nasse uma nova subvenção no orça- ridade do es1aclo relegara a funç ão mais uma energia, servindo ao povo se1n con-
pública para os que não se sentiam vez se descendência ne1n bo1n-mocisn10.
mento. forarn anos de aprendizado, capazes de triunfar nas atividades pri- confirmou. "
vadas. rnais lucrativas e rnenos precá- Quando estava em plena campanha
de exercício espiritual ainda mais do rias. A crise da oligarquia cafeeira • contra a corrup9ão, representada no
provocara a queda de seus orçamentos caso do .jornal Ulti111a Hora, ch,ocou-
1 - e nenhuma elite substituíra a que me a visita ele Jânio Quadros à Ulti111a
caiu entre 1929 e a prisão e exíl io de Hora de São Paulo, aco1npanhacla de
\ que intelectual, de conheci,nento dos Arn1ando de Sales Oliveira. louvores ao jornal. Telefonei-lhe, da
redação da Tribuna, estranhando. Ele
1 homens. Amigos discretos, sólidos, Havia no ar urna reivindicação por disse se111 hesitar:
1nelhores governos. Jânio Quadros
dignos, pitorescos e desinteressados, veio bem a tempo e se elegeu prefeito - Tome urn lápis e un1 papel.
E ditou palavra por palavra, um
súbitos e derramados, falsos e dúpli- 1.nn,ue,rrnc1.ran,o.av1inmcoen1ntopedte,e.n.c_r1e. abeeliaãcoocrorunptçraa-oa,
desn1entido, no qual acentuava sua
ces, estabanados e hun1ildes, brigas que to1nou o nome no dia ern que foi solidariedade con1 a n1inha can1pa-
consagrado: 22 de 111arço. Ao ganhar a nha, esclarecendo que apenas fizera
se111 razão de ser e outras que, deven- Prefeitura. Jânio foi o printeiro cida- uma visita de rotina a todos o, s jor-
dão eleito para um cargo executivo sob nais. No dia imediato , a Ulti111ci
do haver, não houve, histórias que intensas esperanças populares, crn /-fora publicava un1 des1nentido ao
muitos anos. Pelo insólito de sua elei- desrnentido - tarnbém autorizado
alguns conhece1n, co1no a do deputa- ção genuinamente popular, pelo estilo por Jânio Quadros.
novo de sua apresentação, pela lingua-
do que queria me matar no plenário, e gem audaciosa que usava, ele uniu o Enlre os que se in1pressionara1n
voto das ,nassas trabalhadoras ao das ,nais corn o fenô111eno de ascensão
não acabava mais de tirar da pasta un1 classes médias. Poderia, assim, ser o popular de Jânio Quadros estava Otá-
agente catalítico da fu são do getulisrno vio Mangabeira. O velho político
o revólver que não queria sair; acabou trabalhista com o udenisn10 brigadei- procurava contatos co111 o povo e jul-
preso, no Cairo, como traficante de rista, ou rnais amplamente, da nova gava haver encontrado en1 Jânio Qua-
1naconha; nesse Cairo que não conhe- realidade das rnassas operárias corn a dros esse intérprete do povo, esse
realidade, crescente, da classe n1édia
ci e faz parte elas n1inhas viagens, interessada nos valores de democracia. líder popular que
em vão buscava
num relato que não posso fazer aqui Conheci-o quando se elegeu prefei- na sua luta, de
to. Fui visitá-lo. Dava urna sensação tantos anos, con-
porque já é tempo de parar.
tra a oligarquia e
E as nh1.insgtóurei,1ans a tendência dita-
que toriai no Brasil.
Fo111os conver-
conhece, o dorní-
sar com Jânio
nio do cronista Quadros, em

pol ítico sobre casa do publi-
cista Paulo Duarte, velho amigo
certos deputados. do exílio de Mangabeira e perpéluo
nan1orado da esquerda intelectual.
que diante dele Ali ficou acertado que se promoveria,
na cidade de São Paulo, u1n grande
se dcs111anchan1, co1nício popular ern protesto contra a
corrupção e de esperança numa refor-
e vice-versa, a ma geral do país. O cornício seria de
frente tão a111pla que abrangia o
corrupção cio Governador Lucas Nogueira Garcez,
engenheiro e professor eleito por
jornalista pela Aden1ar de Barros. n1as já c1n con1e-
ços de rebeldia contra o seu pai polí-
freqiientação dos tico: o próprio Mangabeira. o Prefei-
to Jânio Quadros, alguns governado-
meios superiores ao ·seu ordenado, res do Nordeste e personalidades do
Rio Grande do Sul.
tudo isso ficará para outro dia, ou nun-

ca. O Brasil já é tão importante que

precisa um Balzac bossa-nova.

Hoje tenho que contar o que hou-

ve co1n Jânio Quadros. E só isso

basta para mai s do que o espaço que

1ne resta.

Jãnio podia áo povo e inspirava profunda descon- t•
·ter assomos
de loucura, fiançi1aos grupos que do1ninam o Bra- desmoralizar un1 velho por causa da ,t
mas para obem,
pois era um grande sil, ele me olhou, melancolican1ente, e ea~n~ição de tim den1agogo. ~iga ao lj
administrador
con10 se se conforn1asse, disse: "A Jan10 Quadros que ou ele vai a esse
co,nício hoje•, com povo ou se1n
presidência está destinada a Jânio
povo, ou eu o desn1oralizo no Brasil
Quadros, porque o povo acha que ele inteiro e dedicarei n1inha vida a des-
1nascarar esse vagabundo. Diga a
vai contra os poderosos e os poderosos esse 1niserável que ele não enganará .
mais o povo. Ou vai ao co1nício,
acha1n que ele engana ,nuito ben1 o con10 se comprometeu, ao 1nenos
para salvar as aparências, ou estará
povo." Naquela tarde do con1ício, en1 perdido e1n todas as suas a1nbições, .
pois não o deixarei 111ais um 111 inuto
São Paulo, já eu havia notado nenhu- sossegado, engan~ndo o povo!

1na propaganda nas ruas, ne1n u1n car- Mangabeira saiu do elevador.
Seguin1os juntos, calados. Que dizer?
taz dos pro111etidos; liguei o rádio e Fo1nós para o 1nonun1ento cio lpiran-
ga. A garoa caía, o povo foi chegando,
não havia un1 anúncio. Co1no fazer u1n pouco a pouco, de guarda-chuva aber-
to. Eram 8 da noite, o asfalto luzidio
grande con1ício, de repercussão nacio- foi-se povoando. Não n1uita gente,

nal, nu1n arrabalde de São Paulo, sen1 ,nas o suficiente para uma fotografia a .- ,!

propaganda nem organização'? favor n1ostrar que havia povo e u111a (iO /

Mangabeira 1ne recebeu e disse: fotografia contra 1nostrar, pelos claros 1'
no auditório, que não havia povo. Era
Jânio se incun1biu de escolher o "O Paulo Duarte acaba de n1e dizer o que na língua dos vendedores de ele- !
local - e solenizou a escolha: troclo1néstico se cha1na opcional.
seria junto ao n1onu1nento ela que Jânio não vai ao co1nício." li
lndepei1dência. no lpiranga. "Tão Os oradores con1eçara111, na 111elhor
longe do Centro?", perguniei. Jânio "C01110?. " "Nen1 Garcez''• d1' sse M an- tradição udenista, a sentar o pau no l
esclareceu que se incun1biria de con- governo. Comício da UDN geralmen-
vidar a 1nassa popular para aquele gabeira. Era a des,noralização do te era u1na fila intern1inável de orado- 1
local. Marcou a data, de propósito, lá res, tudo roncando o pau no governo, 1
para o fi1n do n1ês, a fi1n de dar te111- velho Iíder de,nocrático, assin1 muita paulada, pouca idéia. Cosíu1na-
po à propaganda. Mangabeira exulta- va dizer que o popular que ia a u111 1,
LACERDA va. Finalmente encontrava u1n líder exposto à irrisão. E u,n triunfo para desses con1ícios, ao voltar, às tantas,
popular disposto à luta. para casa, quando a n1ulher pergunta- í
• todas as forças que nós co1nbatía- va: "Que tal?" diria: "Ótiino.'' "Que
No dia n1arcado para o con1ício foi que dissenun?" pergunta ela. "Não i
voltei apressadatnente do Nordeste, 1nos. Telefonan1os a Jânio, ningtié111 sei". diz o 1narido. "Só sei que senta-
nun1 avião que se sacudia nas nuvens nun a ripa no governo." r
con10 um cachorro 1nolhado. Vinha o encontrou. Na hora do co111ício
con1 febre alta, ,nas vi1n assi,n 1nes- De repente, pelos fundos do . ...
1110. Ao chegar ao Hotel Con1odoro, desci o hall do hotel. Ali chegaram
telefonei ao quarto de Mangabeira e 'l•monumento, chega de capote cinzen- 1
estranhei a voz desanhnada do incan- dois amigos, un1 dos quais servia no
sável baiano, que à sua n1oda tentou to e grosso cachecol o Prefeito Jânio r ,f '") 1
11111 ensaio de frente arnpla, procuran- gabinete do Prefeito Jânio Quadros: Quadros. Abraça den1oradamente
do juntar a UDN ao governo do Mangabeira. Volta-se para 1nim, me l
Marechal Outra, que tendo u1n chefe - Jânio não vai ao comício, anun- aperta a n1ão e cai nos meus braços:
honesto fo i, no entanto, 11111 dos 111ais "Carlos, aqui estou." O povo o reco-
corro1npidos governos da República ciou-me ele. nhece, co1neçan1 as palmas. Ele vai
- o que não i1npediu o marechal de para a frente e começa o discurso
vir a ser un1 áugure que todos consul- - .Con10? En- exatamente co1n estas palavras:
ta,nos nas horas graves e, co,no certa
vez n1e pern1iti dizer-lhe, 11111 grande "GR\lE\: tão u111 con1ício "Doente ernbora, não quis deixar",
ex~presidente. Subi ao seu.quar10. 1narcado por ele, etc. Quando dou por 1nim, ele está

Mangabeira passara tantos anos 'OU OJÃN\0 para reunir todas mandando brasa no Governador .Gar-
vivendo en1 hotéis, no seu exílio sen1- as forças políti- cez, porque - pelo 1nesmo motivo,
pre contrafeito. que qualquer hotel era VAI AO cas, e ·populares, segundo se dizia no Ipiranga - não
o seu habitat. Un1 ,non~g·e não seria COMÍCIO OU 1111111 .protesto comparecera. "Não fiz co1110 aqueles
1nais desprendido dos bens deste 111un- EU ODESMO- conjunto, ele que, por 1nedo de desagradar aos pode-
<lo do que esse antigo 1ninistro do rosos, e para não con1pro111eterem suas
Exterior que, convidado para a inespe- RAl\10' ·" não torna as ambições, evitararn este encontro com
ri1da pasta por Washington Luís. en1 o povo de São Paulo, o sofrido povo
providências brasileiro" - continuou Jãnio.
1926, co1ne111ou: ''Não esperava ir
que pron1eteu, Essas e outras n1e levaran1 a escre-
parar no ltan1arati. Mas. se o presiden- ver, sobre Jânio Quadros, algu,nas das
te pensou que eu recusava, enganou- faz gorar o co1nício, e agora, ainda palavras mais duras·da língua portu-
se. Serei 1ninis1ro!'' A adversidade, o guesa. Con10 sen1pre n1e te,n aconteci-
por cin1a. nern sequer con1parece? do, isto me é debitado con10 contradi-
exílio, a cadeia, ensinaran1-lhe o des-
prezo aos bens do inundo - e fez da - Não pode, Carlos, porque pare- ção e poucos se dão ao trabalho de ver
política o seu apostolado. Quando. •
u,na noite, no Rio. ho Restaurante ce que não vai povo e ele se des1no-
Albamar. disse-lhe que ele jamais che-
garia à presidência da República, por- raliza se for a un1 co,nício sem 111a,s-
que não inspirava suficiente confiança sa. Afinal, ele te1n de zelar pela can-

didatura presidencial no futuro, não

pode se expor a un1 fiasco.

- tvlas não vai ningué1n porque

ningué111 sabe! E ninguérn sabe porque

ele sabotou a propaganda do co1nício!

A esta altura já estávarnos aos gri-

tos, no saguão do Con1odoro. Parava

gente e111 volta. E1n voz baixa esse

auxiliar de Jânio 111e disse:

- hnagine, a candidatura dele à

presidência estará liquidada se ele

for con1 vocês, adversários, jurados

cio governo, a un1 con1ício!

Falando-lhe como se fosse ao pró-

prio Jânio. disse:

- Não, Jânio não fará isto a u1n

ho1ne1n que deu grande parte da vida

pela liberdade de todos nós corno

Otávio Mangabeira. Você não vai

,! precisa abolir e o atraso de tudo o que
o Brasil precisa ~~ltnitir. Não s·eria
/ u1na aliança em torno das qualjdaéles
das forças aliadas e sim, exatamente.,
1' em torno dos seus defeitos. E ainda
havia ,nais o perigo de Jânio ganhar a
!
eleição só co1n o povo, contra essa
li coligação política, aparentemeryte
invencível. Neste caso, só uma dita-
\o . ,., dura populista poderia resultar daque-
le desafio e dessa vitória. 'Muito
,1/. •; - melhor era dar a Jânio un1 instrumen-
to político e fazê-lo vencer dentro do~
~·.' "o quadros normais do processo demo-
crático, não apenas na hora de votar,
l se não é contradição dos outros. Dão- ele não acreditava. Poucos políticos mas iguahnente na hora de governar:
se alguns ao trabalho de transcrever acredita1n que se tenha a política
como um instrumento e não como Juntei explorou n1uito bem tudo o
1 trechos de algun1 dos nlilhares de arti- um fin1 em si mesrno. O político bra- que de n1al dizia1n sobre Jânio Qua-
sileiro, com as exceções de costume, dros os nossos correligionários da
gos que escrevi, contendo críticas a faz co1n a política o que o avarento UDN de São Paulo. Certo ·dia, na
faz com o dinheiro: transfonna-a Bahia, interpelou o Deputado Her-
1 personalidades que, noutras oportuni- nun1 deus inútil, mas insaciiível. U,n bert Levy na frente cios membros do
dia, de surpresa, visitou-111e e1n diretório estadual da UDN :
, dades, elogiei ou reco1nendei. Petrópolis e disse: "Tenho o apoio de
Juscelino e Jango; se você n1e apoiar - Herbert, diga aqui aos co1npa- ·,
í Em 1960 estávamos diante de uma na UDN eu ganho a eleição." nheiros reunidos o que você me tem
sucessão presidencial decisiva e peri- dito da loucura do Jânio.
Ante o 111eu espanto, ele acrescen-
gosa para as nossas idéias. Juscelino tou: "Você be1n sabe que serií o que E Herbert Levy, como Âbreu
quiser, no meu governo." E acredito,
Kubitschek havia acu1nulado um capi- até hoje, que seria verdade - por Sodré e tantos outros, garantindo que
que não?! A frente a111pla pre1natura Jânio tinha asson1os de loucura, asse- ,
tal de popularidade praticamente seria assiin a perpetuação, co,n Jura- guravã que era unia loucura para be1n,
ci, da oligarquia e dos seus erros e pois era u1n grande adn1inistrador. .
invencível, culminando. na apoteótica vícios. A vitória da Ul)N em tais
condições, naquela fase , co,n aquela A faina do seu governo en1 São
inauguração de Brasília. Juraci Maga- relação de forças, seria a derrota de Paulo espalhou-se pelo Brasil intei- :
tudo o que eu considerava e conside- ro. Ele ia ganhar as eleições, fora de
lhães procurava se impor à UDN ro necessário ao Brasil. dúvida. Antes ganhá-las con1 clernoa
cratas do que contra eles.
co1no o único udenista que podia ser Telefonei a Roberto Abreu Soclré,
em São Paulo, e fui vê-lo, autorizan- Nosso encontro, e111 Santos, foi
apoiado pelo Presidente Juscelino e do-o a promover lllll encontro com longo e cordial. Roberto Abreu Sodré
Jânio Quadros, no seu apartamento exultava. Fon1os direto ao assunto.
pelo Vice-Presidente Jofto Goulart. e1n Santos. Depois ele tudo o que eu
dissera de Jânio, parecia rcahnente Jânio me disse o que
o Co1no presidente da UDN, havia-me estranho encontrar-1ne de novo 00111 contava fazer no
recrutado para as carai•anas da liber- ele. Mas a a1neaça que Juraci repre- governo; era certo e
dcule, 110111c sob o qual percorremos sentava, de manutenção da oligar- necessário. Pergun-
juntos todo o Brasil, e1n experiência quia, só podia ser conjurada co,n
aquela aliança, que eu sabia insólita. tou-111e sobre 1nuiut
n1e1norável que hunento não poder gente cio Rio e do
Qual o perigo da candidatura Jura- reslo do país, que
evocar aqui. Do território do Rio ci? .A UDN oficial , os políticos da • visivehnente conhe-
UDN, iriam adorá-la. Juscel ino, ins- cia pouco, tant~
Branco (que 1nudou de nome, o que tado por Juraci, poderia apoiá-la. Jan-
go, sem saída, talvez a reco,nendasse, quanto na pàhna da
,ne levou ao erro de dizer, e1n artigo 1não conhecia São
se não preferisse apoiar Jânio e Paulo, seus hon1ens,
anterior, que ainda não o conhecia) ganhar com Jânio , contra nós. O
resultado dessa conjunção seria a seus · proble1nas. Mostrou, en.tão, o
onde corre1nos perigo de vida, até n,anutenção de tudo o que o Brasil que sen1pre 1ne cha1nou a atenção, a.
sua assombrosa capacidade de definir
Santa Maria da Boca do Monte, onde as pessoas nu111 relance. Quando 1ne
perguntou. por exen1plo, sobre Fer-
o Exército, con1andado por Osvino nando Ferrari, o 111oço que surgia,
ambicioso, nun1a tentai iv.a de renovar
' Alves, dispôs soldados para evitar o o trabalhis1no gelui ista, preferi que
ele desse suas in1pre~sões. Eu convi-
r choque con1 os hon1ens do Governa- vera con1 Ferrari no~ últi1nos anos, na
dor Leonel Brizola, a quen1 se atribuía Câ,nara. Julgava conhecê-lo bcn1.
.1,, a promessa de que eu não sairia com Jânio est ivera con1 ele apenas vinte

1 vida do Rio Grande do Sul, fizen1os n1inuto - e afinal viria ,i se utilizar
con1ício e1n todos os estados.
dele para den:otar o seu co,npanheiro
1. No avião, mais de unia vez, ele ,ne de chapa, candidato da UDN à vic.e-
dizia: "Esta é a sua vez, não pretendo presidência, Milloo Can1pos.
l

mais nada. você se prepare para dis-

putar a presidência." Várias vezes

lhe disse que isto para 1nin1 não era o

essencial, não quero,ser presidente

para dizer que sou e si1n, unicamen-

te, para realizar un1a obra que não

depende só de nlin1. J'vlas be,n via que

Os.comunistas A esquerda festiva condicionava o lhe. "Vou-me e1nbora desmascarar ,f
preferiam oLott
.e contribuíram seu apoio a u1na sér'ie de concessões essa farsa." Mo1nentos depois fui cha- j(ra:,,.
·para a
candidatura verbais, que Jânio fazia de bom gra- ,nado ao telefone e 111na voz bem 'li,/
do general n1inha conhecida n1e dizia: "Não diga
do. Mas os co1nunistas preferian1 o a ningué1n, ,nas ele est,í aqui na casa
em que estou." E me deu o endereço.
General Lott, e contribuíram decisi- Minutos depois entrei na casa do
industrial Seltni Dei, onde Jânio se
van1ente para a candidatura do gene- escondera para o capítulo que faltou a
Agatha Christie. Jânio mostrou-se
ral, o 1nenos co1nunista dos ho1nens, cheio de surpresa por ter sido locali-
zado. Levou-nos à cabeceira de Dona
e - diga-se e1n ten1po - hornem Elo~í, insinuando na escada que ela
estava com urna doença incurável, o
que teve a coragetn de dizer a un1 que felizmente era uma inverdade; e
afinal reto1nou a candidatura.
deputado baiano que lhe pedia o que
A' quela altura não havia outro
obteve de todos esses presidentes, ren1édio senão acompanhá-lo e tentar
ver se ele seria capaz de vencer os
inclusive de Castelo: "O senhor, para seus defeitos e corresponder à imensa
esperança que o povo teve na sua
votar em n1im, n1e pede que lhe eleição. Os nossos amigos de São
Paulo, Abreu Sodré e outros, insis-
entregue u1n pedaço do território tia1n: "Ele é assi1n mesn10, n1as só ele
pode consertar o Brasil." Os que não
nacional?" Um dia o Brasil julgará
conseguian1 inspirar confiança à
na devida perspectiva o General Lott n1aioria do povo via,n em Jânio o
intennediário para conseguir essa
- sobretudo depois de ter conhecido n1aioria. Ei-lo presidente, por n1aioria
esrnagadora. Estou convencido, até
P ensou uni pouco e en1 n1eia o General Castelo Branco. hoje, de que ele se elegeria conosco
dúzia ele palavras traçou u1n ou contra nós. E se fosse contra nós,
retrato fidelíssirno de Fernan- A UDN. unia vez assegurado o seu seria ditador do Brasil. O único que
então poderia, com o 1nesmo progra-
apoio a Jfinio, pôs-se a negociar com 1na, disputar con1 ele, era eu. Mas eu
não teria n1aioria, ne1n de longe, com
do Ferrari , concluindo assi1n: ele na fonna en1 que se compraz a o povo dividido. Son1ente Jânio unia
o povo, quase todo o povo.
- Está ainda verde. Te1n n1uito maioria dos 'polí-
A participação que tive,nos e,n
..' LACERDA de escote iro. Gostaria de ver o que ticos brasileiros:
sua vitória foi unia condicionante,
vai dar esse 111oço, no futuro. ,,0 I\MB\EtllE ton1a-lá-dá-cá. uni freio que pude fazer funcionar
EM 101\tlO Jânio , COlll , na hora própria. Mas esse risco cal-
Não viu, porque o pobre Ferrari OE JÃ.N\0 ERI\ desenvoltura culado revelou-se be1n maior do que
ben1 1nerecida
1norreu nun1 acidente de aviação no todo o cálculo.
Logo que começou a governar -
Rio Grande, con10 Salgado Filho.
se é que chegou a co1neçar - , Jfinio
outro que quis renovar o trabalhis- MENOS P\10· por que,n
RESCO QUE assn• n se con1- tinha tudo na mão. O apoio maciço
1110 e ta1nbé1n 1norreu nun1 acidente S\N\S11\0''
portava. pro- das Forças Arn1adas, o apoio imensa-
de aviação no Rio Grande. n1ente majoritário do povo, o apoio
n1etia tudo, a ainda que contrafeito de muitos polí-
Naquela longa tarde santista, 1icos e alvoroçado de outros. Unia
expectativa internacional favorável,
Jfinio acertou con1igo as providên- todos. Não se lnn vendaval de esperanças no Brasil

cias para que a sua candidatura fos- podia. pois, 1nedir a sua inteiro. Suas pritneiras 1nedidas
encontraram cotnpreensão, aceita-
se aceita pela UDN. insinceridade. pois en11n alguns dos
ção, obediência. Mesrno as mais insó-
Foi unia batalha dura. ajudada puros, dos n1oralistas, que obrigavan1 litas. No Ministério da Fazenda, Cle-
mente Mariani ia dando resultados: o
pe la vontade evide nte do eleitorado il barganha. à 1nentira, à pron1essa
esforço contra a inflação se fazia sem
udenista e por alguns líderes n1ais co1no condição de apoio político, sen1 prejudicar o desenvolvimento, se1n

ligados ao povo. Juraci nunca n1c o qu,al o apoio popular não basta. G,encolher o país. Mas Jãnio não pàre-

perdoou essa derrota. Desforrou-se O a1nbiente en1 torno de Jfinio era o cia saber o que tinha a fazer no gover-
no. Não conhecia o Brasil, seus
dela aderindo 11 revo/11çâo no de u1n romance policial cheio de tru-
ho1nens. seus assuntos - e1nbora
Governo Castelo. Não podendo ser ques, surpresas e suspense. Era n1ais tenha sen1pre mo.strado 1nais prefe-
rências para discutir problemas cio
presidente, acabou con1 a eleição. A pitoresco do que sinistro. Mas era, que pessoas, fato raro entre políticos

essa vindita o Exército, iludido por sobretudo, cansativo. O episódio da

Castelo. en1prestou sua austeridade! sua renúncia à candidatura presiden-

f\té quando? cial, por si só. encheria un1 capítulo.

Eis Jfinio candidato. Sua capaci- E,n casa de Oscar Horta, e1n São Pau-

dn1a:1d1.es de con1unicação con1 o pnouv1o1.s, lo, junt:unente con1 Napoleão Alen-
11111a vez posta a' prova,
castro Guin1arães, que desinteressa-

unia vez se confirn1ou. Seus discur- dan1ente se ofereceu para n1e aco1npa-

sos, extraordinaria1nente 1nedíocres, nhur, na tentativa de dissuadir Jfinio,

faltosos de idéias. esquivos a qualquer farto da co,nédia que estava sendo

rurno definido. eran1 no entanto cer- representada. apertei o Sr. Quintani-

tos para o fin1 que se propunha: catar lha Ribeiro. u1n cios raros an1igos de l

votos. O único discurso. e111 toda a Jânio que eu gostaria ele tç:r corno

ca111panha. en1 que disse algu1na coi- a1nigo. Jânio se escondeu e toda a
~
sa i1nportante. foi 1111111 al111oço nos
gente o procurava e111 vão. Disse a

Diários Associados. no qual leu lnna Quintanilha: ·'Você sabe onde ele está

peça redigida por Oscar Pedroso e não vai continuar essa cotnédia. Ou

Horta, e1n que há lnna frase digna de fico sabendo i1nediata111ente ou des-

regis1ro: "Nosso te rnpo, é 11111 cren1a- 1nascaro esse palhaço... Qual não foi
16rio de ideologias... E unu1 alusão
n1inha surpresa quando vi Quintani-

certa e ben1 construída à futilidade da lha. cada vez 1nais sério, chorar, cho-

luta ideológica nun1 ten1po en1 que as rar con10 aquelas figuras de Picasso.

ideologias do século XIX desn1oro- Poi s cachos de hígrin1as, grossas. aos
~
~

na1n e novos horizontes, não-sectá- punhos, pulava111-lhe dos olhos. ·'Sei

rios. an1plos e ainda indevassados. se onde ele est,í, nu1s pron1eti não dizer.''

abren1 :1 inte ligência política. ·'Pois seja o que Deus quiser", disse-

'

espera de alguém se afogar na pjscina

para tratar do.enterro.

- Eis con10 levam a vida os. líde-

res do trabalhismo - · comentou

Jfinio, sorrindo. Depois, olhando·· o

n1ar azul pelo 'qual passava um navi·o

,'

branco, ele disse: "E uni barco sue-

co." (Ti1nbrava e,n conhecer toda a

sorte de navios mercantes.)

Olhando-rne fixo, disse: "Qual-

quer dia largo tudo e vou para a chá-

cara de uns. amigos, ria Itália, esére- .

ver ro1nances." "Contanto que os

rneus romances sejan1 n1elhores do

que os seus sonetos", disse-lhe. Ele

1ne olhou de novo: "Não brinque!

Estou te falando com franqueza!"

"Seria uma loucura e uma traição

ta1nanha, Jânio - a sós chan1ava-lhe

assim, na frente dos outros sempre

lhe dei o non1e de presidente-, que

. ~':t:Ntife;a,-. nunca 1nais perdoaria." "Pois olhe,, é
o que farei qualquer destes dias...'''
do Brasil, entre os quais predonlina1n sujeitos iludem, anos a fios, e o povo "Numa
os mexeriqueiros e personalistas, pau- conferência de Dias depois, sou cluunado a Brasí-
pérrimos de idéias tanto quanto que ne1n sequer acredita quando os governadores, lia, confonne pedi a Dona Eloá. Pre-
empanzinados de atnbição. Dentro de desn1ascara1nos. Mas, co1n tudo isto, perguntou-me: cisava ter co1n o presidente u,na con-
suas extravagâncias e quizílias, Jfinio e con1 a ajuda de uns poucos, conse- 'Consegue versa decisiva. Cheguei num jatinho
tinha certa grandeza. Unia grandeza gu1, an10s o necess.,tn' o para governar. governar Paris, fui recebido pelo General Pedro
que não depende do seu lado histrião Jânio insistiu: "O Magalhães Pinto, com esta Geraldo, chefe da Casa Militar.
e sim de sua inteligência, tanto é ver- Assembléia'?"
dade que a inteligência por vezes ~ No automóvel ele ,ne diz, com o .ar ··
co1npensa a ausência de várias virtu-
des; enquanto a falta ele inteligência en1 t\1inas, consegue? O Juraci, na
freqüente1nente se transforma nu1n
defeito mortal. Uma tarde, no Palácio Bahia, consegue? Eu , não. Eu não 1nais natural possível, não muito pos-
Laranjeiras, quando veio para a c ·on-
fe.rência de Governadores, en1 vez de consigo. Co1n esse Congresso, ,neu sível. "O presidente condecorou hoje
corneçar a conversa pelos problen1as
que ían10s discutir, perguntou: caro, é impossível governar. Procuro o Che. Guevara." "Ah, sirn!" Não

- Você consegue governar na fazer todo o possível para fazer fun- ccnnentan1os 1nais. Pedi ao n1eu assis-

o Guanabara com esta Assembléia? cionar o regi1ne dcn1ocrático, n1as tente, Co1n. Wilson
- Co1n dificuldade, mas consigo.
Realmente a Assembléia era de não há jeito." ''OEPO\S OE Machado, que reser-
amargar. Para se obter u1n voto favo- Foi a pri,neira vez que 1ne falou CI\I\Ml\00 OE vasse quarto no
rável ao interesse público. era preci- hotel. Ao chegar ao
so negociar, transa- assi1n. Dias depois, levou-me para o
cionar. satisfazer
1nesquinharias. Os apartamento de uns seus prin1os, no fl\tS~R\0, Palácio Jânio rece-
bons eran1 1nuito mesmo prédio etn que ,norava o beu-1ne :e disse:
poucos, por bons Vice-Presidente João Goulart, eleito SEI\\I\ "Você hoje per-
entendo os de - dizia Jãnio - porqu~ Magalhiíes CI\I\Ml\00 noita aqui." O
l espírito público. Pinto havia abandonado, em Minas, OE lftl\\001\" João, seu 1nordo-

No te - se , n e ,n a candidatura vice-presidencial de mo, hoje engaja-

se1npre os cafa- Mílton Campos. Na realidade, Jânio do de novo no
jestes eratn os
piores. Piores favoreceu todos os candidatos a Palácio Campos Elí-
1nesmo eram os hipócri-
tas, que se fazem de honestos por vice, desde Ferrari; que dividiu a sios pelo Governador Abreu Sodré,
fora e, por dentro, são inesquinhos,
intrigantes, carreiristas. Não roubam votação contra Jango, até o próprio levou minha valise, uma valise preta
dinheiro - mas trapaceiam com a
integridade que simulam. Chego a Jango, cujos co1nitês Jan-Jan fora1n que cornprei em Florença, para o
pensar que há pessoas que .não rou-
bam por falta de imaginaçã.o . Pois patrocinados por financiadores ela quarto que 1ne estava destinado. Fiz a
são muito piores do que ladrões, são
fariseus. Dá pena ver como esses candidatura Jfinio. toalete no banheiro contiguo, fui para

Por engano, ou por malícia, ele me a sala quase fronteira, onde estava

levou até a'porta do apartamento de posta a mesa para dois. Conversa1nos

João Goulart. Um criado veio abrir, assuntos diversos, nos quais, de vez

verificou-se o engano. Na descida do em quando, repassava o seu p'essin1is-

elevador Jânio disse rindo: "Só assim mo, o seu desalento, a .sua insistente

você visita o Jango." E subimos o preocupação co1n a possibilidade de

outro elevador. No aparta1nento fize- funcionar o regi1ne de1nocrático. Dis-

ram-nos participar do almoço, que ia se que estava profunda1nente desilu-

e1n meio. Depois, ficamos sozinhos dido. As promessas cio seu governo

na sala, que de esguelha dá para o n1ar para co1n o povo da Guanabara não

e de frente para a piscina do Copaca- eram cumpridas, o seu go,verno ton1a-

bana. Lá ernbaixo, à beira da piscina, va rumos opostos aos que havíamos

Jango, de roupa escura, de colarinho e prometido ao povo, nessas condições

gravata, com seuS' a1nigos também eu sentia que devia dar ,satisfação ao

'assi1n vestidos, dava a impressão de povo, perante o qual estava coo1pro-

um comitê de agentes funerários, à meddo, ~<lin-do da vida p-ública.

, tvlinutos depois, levantou-se no falou?" " Insinuou", disse eu. "Mas
escuro, foi ao telefone no canto
Ali estava um esquerdo superior, voltou pouco nunca pensei que passasse de u1na p.
golpe de estado depois, dizendo-me: "O Horta quer
para oqual o lhe falar." Ao telefone, o n1inislro da queixa essa insinuação." Horta insis-
presidente Justiça pediu-me para ir ao seu apar- tiu, dizendo que Jânio o incumbira de
esperava ta1nento. Disse-o a Jânio, que já n1e falar clanunente, e por isto eu fora
minha adesão esperava, visivelmente - pois fora chan1ado. "Preciso falar con1 Jânio",
ele que chamara Horta ao telefone. disse-lhe eu. "Isto é tuna loucura e é
1J P erguntou pela tninha vida. Dis- inadn1issível."
se-lhe que ta1nbé1n ela ,ne preo- Ao chegar ao apartamento, estava
LACERDA cupava. Não podia cuidar, ao Santiago Dantas, que ia seguir para a Saí, 1nal falei
1nesn10 ten1po, da Tribuna e do gover- ONU con10 delegado do Brasil. Hor- con1 os presenles,
"Pedroso ta Ievou-1ne para u,n quarto e ali dis- alén1 de Santia-
Horta, no da Guanabara, e não queria que ,neu se que precisava dos recortes dos go, se não 1ne
advogado meus artigos de 1954/55, recomen-
de Matarazzo filho con1eçasse a vida con1 o ônus ele dando uma refonna do regime, o que engano, o Depu-
ryo caso foi chamado de Regin1e de Exceçcío, tado José Apa-
Ultima Hora, dirigir u1n jornal que não podia pros- en1 su1na, o que chamaram de n1eu recido de Oli-
propôs um golpismo, então. Horta disse: "O que veira. To,nei o
regime de perar sen1 que o dissessen1 ligado ao hií a fazer, agora, é exata1nente o que
exceção." você recon1endou e1n 54." Olhei-o carro e voltei
n1eu governo, e não podia endividar- espan1ado. Agora, por quê? Precisa- para o Palácio,
mente quando o povo dera a 1naioria onde estava
n1e se1n destruir a vida do ,neu filho. ao novo governo e este contava co1n hospedado. Precisava falar
o apoio esperançoso de Ioda a nação? con1 Jânio, evitar a todo custo a n1ar-
Foi a esse trecho da con- Por que adotar agora a solução extre- cha daquele ato de insânia. No
saguão, o bon1 1nordo1no João me
versa que o 1nalicioso ma de 54, se agora a situação era pre- esperava:
cisamente oposta àquela?
Horla - advogado de - O presidente ,nanda pedirdes-
Os dois 1ninis1ros n1ilitares en1 culpas, estava muito cansado, foi
M, atarazzo no caso da Brasília. Denys e Heck, já estavam
Ulti111a Hora - aludiu, convencidos da necessidade dessa dorn1ir, e n1e disse para
reforn,a do regime. Faltava conven- lhe entregar a valise, con-
trocando todo o sentido vém o senhor ir para o
~ hotel.
das palavras para dizer,
cer o n1inistro da Aeronáutica, Briga- Be,n se, que correran1
1nais tarde, que eu fora deiro Gru1n Moss. 1-lona pediu-,ne versões atribuindo a oulros
que !ratasse de preparií-lo. 1notivos essa espécie de
pedir auxílio do governo despejo. Jânio não queria
"i\1as vocês eslão loucos?", per- hóspede netn. teste,nunha
de Jânio para a Trihuna. gunlei. "Por que isso?" " O Jânio lhe naquela noite, é o que 1nui-
tos dize1n, não sei. O que
Não. Disse apenas, res- sei é que ali estava1n o
bon, mordon10 João, a
pondendo a unia pergun- minha valise preta e u1n

ta de orden1 pessoal, que golpe de estado para o qual
o presidente da República
não podia cuidar da esperava a 1ninha adesão.
Tudo de n1odo a não
,ninha vida e a do estado deixar traço. Se cu dis-
sesse algun,a coisa pode-
ao n1es1no ten1po. Desde ria ser desmentido, seria a
,ninha palavra contra a
que a vida só n1e dava do presidenle da Repúbli-
ca e a de seu 01 in islro
decepções, pretendia da Justiça.

cuidar da n1inha Nenhtnna testernunha a
1neu favor. O crirne perfei-
vida. Afinal. to. E se eu pussesse a boca
no n1undo. a acusação do costurne -
tive que fazer o que alé hoje serve aos re1ardatários:
"Ele é in1possível , é con1ra 1odos, é um
inverso. i\1as c1 > ambicioso, furioso! ...'' llma espécíe de
revolução de pânico se apossou de ,niin. Co,no
essas cenas de que1n vê urna ,norte e
1964 n1e quando volta co,n a polícia o 1nor10
su,niu, eu tinha certeza do que estavam
devolveu a
lrarnando e não poderia evitar a mar-
liberdade de cha inexorável da 1ran1a; ne1n provar o
que alegasse111.
cuidar da

n1inha vida.

Acabado o jantar, des-

cernos, a seu convite, para o cine-

n1a. Na grande sala ele in1ensas pohro-

nas retilíneas, forradas de branco,

havia n1esinhas con1 pipocas. cubos

de queijo, cerveja e uísque. Levara,n

u1n filme de Jerry Le\vis. a certa altu-

ra inte1To1npido pelo presidente. que

n1andou n1udá-lo, depois mudou unia

vez 1nais, até projetare,n unia fita de

faroesle.

No próximo número, capítulo final: A renúncia de Jânio Quadros

~I

o~...

2o

·.

ª;la

.

''Rosas e Pedras do Meu Caminho''@

"Oque tornou impopular o governo Castelo Branco não foi o que ele fez de revolucionário, mas ter usado o arbítrio e o poder discricionário."

DOCUMENTO T 0111<:i o carro do palácio e ,nande i tocar para o opri1niu o peito. con10 se o peso da noite de Brasília
ho1el. depois de ,ne despedir de João . o n10rclo- deserta rne esn1agasse .
1110 de .lftnio Quadros. A noi1c fre sca e n1ansa
de Brasília. co,n suas luzes frias e azui s. parece u-111e Os poucos dispostos a rne ajudar scrian1 f.1c ilmcn1c
i111 enni11iíve l. 110 percurso do pal;ício ao hotel. ()s inutilizados. Conhecia rnuilo bern os pol íticos. a csla
pos1es sucedian1-sc e . lú atrús. fechad o. s ilenci oso. o hora a1non1oados cn1 torno de Jfinio para receber favo-
palúc io guardava o segredo. ;\li dor111ia o.filt11ro dila- res. e,nprcgos. vanlagcns. progresso na irnpícdosa
dor do Urasil - e e11 era setr c/Í111plice.1 ·r oda t1111a Carreira que não rcspeila caras ne,n corações. No fun-
vida de esforço. de luta. enrolada naquela traição. do. duas tentações n1c puxararn : a de não dar o braço a
Que fa ze r agora'! Quantas vez..:s t:ssa pergunta se torcer e a de concordar que, realn1ente. o Brasil não
planlou diante de 1nin1 quando ludo pan.:cc acabado e saía do que é corn urn governo con1un1.
1en1 de reco,neçar'! Con1 Castelo. tão parecido co111
Júnio Quadros. só que este n1ais in1..:l igen1e e n1ais Si111. ,nas a diladura. rurno ao desconhecido. co1n
l(1ciclo. foi quase o 111esn10 .. Aquclc n101nento. porén1. aqueles antccedcn1es... O diúlogo segu ia . scn1 voz.
foi úni co. Nada a fazer. Nada. O sentin1cn10 da 1ninha n1as e xigente. prcn1e111e . dentro de ,nini. Aquele pa<.:Í·
sn lidão para enfrcnlar a a111eaça encheu a noite e n1c fico Willys preto transforn1ou-se nun,a ciin,ara de 1or-
1ura an1bulan1e. na noite de Brasília. Havia. si,n ,
ho111cns públicos capazes de resistir - e hav ia n povo.

'~Os chefes
t -•

~ªs Forças
A)imadas não
se... prepararam
p~ra as surpresas

de Jânio''

LACERDA M as este, quando soubesse. Não agian1 quando podian1 netn
acreditaria? Os outros eran1
detnasiado individualistas. " En1barco esta 111anhã para o Rio e quando devian1, e si1n quando não
não quererian1 n1c ajudar. senão a vou contar na televisão tudo isto que
contragosto e forçados pela opinião vocês estão tra,nando. tvleu últi,no tinharn outro re111édio. En1 sun1a a
ptíblica. O carro cortava a noite recurso é este.'' "Você está louco?
i1ne nsa, o can1 inho niio acabava Vou para aí." '"Não adianta... " Vou reserva 111oral, que sen1pre n1e dis-
n1ais. As fr ias luzes azuis varara111 a assi111 1nes1110... (Estou resun1indo
n1inha retina e se alojanun na cabeça tinguiu con1 a sua a111izade, ,nas sen1-
co1110 balas de u,na rajada. Se ao un1a longa insistência.)
n1cnos não fosse verdade! Se ao l'vlinutos depois o 1ninistro da Jus- pre 111e considerou con10 maluco útil.
111cnos cu estivesse enganado! Agar-
rava-111e a essa esperança. 111as logo tiça chegava ao 111eu quarto no Hotel O que a in1pressiona é o chato falan-
recapitulava os fatos. as palavras e. Nacional. Mandou buscar u111a garra-
sobretudo, o 10111 das palavras e as fa de uísque e até o an1anheccr tentou te, o pon1poso, o autoritürio re1u1n-
c1• rcuns1aA nc1• as que 111arcavan1 os den1ovcr-n1c. A certa altura, já con1 a
fatos. Era i111possí1•el a dú,·ida. Esta- 1nanhã nos olhos insones, n1ostrci-lhe bante, disfarçado de salvador da
1·e1 tudo pronto para tran.~fortnar o
go,·cr110 apoiado pelo f)O\'O 1111111a o absurdo daquela situação, un1 pátria. Expus-lhes o que se estava
diladura de r111nos de.1"<:011/,ecidos. n11n1 s tro e un1
governador, nurn passando e,n Brasília. Entreolhararn-
Ao che gar ao hotel. contei ao quarto de hotel,
~ en1 que tudo se sc, uns talvez incrédulos, outros atô-
o uve pe las
con1anclantc Wilson S. Machado, paredes, discu- nitos. Poucos con1e1)tários, nenhun1
n1cu assistente e depois piloto do ti retn niaclru-
avião Esperança. o que se passava. gacla adentro desejo de se n1eter. Era eon10 se fos-
\.Vi lson era n1c11 an1 igo do ten1po en1 se te1n ou não
que ,nc levava notícias. quando 111orci cabin1ento sen1 de outro país, ou de outro plane-
dar uni golpe
-cn1 Lisbo,1. e da greve da Panair. Sua e)ta. Gente de prin1eira ordcn1, 111as
de Estado no Brasil.
discrição é tfio grande quanto a sua COlll a vocação da inércia. Rescrvan1-
lealdade. Os que íalan1 que niio tenho Nun1 país do tan1anho e da in1portân- se para julgar os que agen,. Nesse ✓
an1igos não sabe,n o que perden1 e,n cia cio Brasi l! Era tuna situação gro-
não ter an1igo:; co,no cu. Ele foi 11111 tesc,1. Nlas recordava cenas de 1-litler, julga111ento, são inflexíveis. ex igen-

~ de ditaduras soturnas. pois toda dita- tes e duros. Absolve,n todas as omis-
dura ten1 o seu lado grotesco.
dos hon1ens que. jun1an1ente co,n o sões, a con1eçar elas suas.
Ccl. Borges. deu 11111 jeito na seguran- -Ao chegar ao Rio. reuni c1n casa
ça do General Costa e Silva, quando -. Viaje i a São Paulo. Nesse período,
este anelou pelo Br,1sil antes de ser
efetivada pelo Congresso a sua ind i- alguns can1peões da chatnada reser- u111 progran1a de tevê que fui fazer ali
cação para a presidência d,1 Repúbl i- i·a 111oral, senhores forn1icláveis. que
ca para evitar a continuação nu a não se expõe n1 , de 111odo que nunca foi interron1pido por assuadas e pro-
dcposiçiio de Castelo Branco. Pcr- chegan1 a gastar o crédito que acu-
guntou-n1c o que achava. quando o 111ulan1 con1 as suas virtuosas on1is- testos de un1 auditório repleto de pro-
Cel. ;.\ndrcazza. depois da bo,nba no sões. Não quero ser injusto e reco-
nheço o grande ,nérito deles na solu- vocadores, que escandia,n: - "Jâ-
aeroporto de Recife. pediu-lhe que ção de algunias crises. Continuo a
organizasse a segurança ele vôo do lhes querer 11111 grande ben1 , pessoal- nio, si,n. Lacerda, não. Guevara, sin1,
rnente. e siio todos excelentes con-
-general. ''Fai 1nuito ben1 en1 aten- sultadores jurídicos. Estadistas, não. i• anque, 11-110·•1, etc.. procurei• no seu 1
palácio o Governador Carvalho Pin-
der··. disse. "Senão n1ata111 esse
hon1e111 nu1n acidente de avião e 1ere- to. Expus-lhe o que apurei e111 Brasí-

1nos o Castl·lo - ou o caos; e não sei lia. Ele ficou preocupado, 1nas não
o que é pior." 'vVilson ouvi u en1 silên-
c io. Pouco depois o 1ninistro da Jus- disse unia palavra. "O que vi,n lhe

ti<;a, l·lona. telefonou. Disse-lhe: propor é o seguinte, governador: o

Jânio diz que não consegue nada do

Congresso, e con1 esse pretexto quer

edar un1 golpe para fazer-se ditador.

Pois bcn1: ele VClll agora a São Pau-
lo. O Sr. reúne aqui os governadores

dns correntes que elegeran1 Jânio e

nós o convidan1os a dizer o que quer

do Congresso, nos compron1ete1nos a

ajudá-lo a obter o que precisa - e

tira111os todo pretexto para ditadura."

às autoridades militares a desimpor-

tância pessoal de Bahia e, por esta ou

outra razão, ele não foi preso. Por

indicação de Golberi, no Governo

Castelo, foi feito chefe ela Casa Civil

do Governador Negrão de Lima,

onde sua principal atividade consiste

em caluniar o governo passado, isto

é, o governo que chefiei; e todos

ficaram grandes a,nigos do respons:í-

vel pela censura- o Sr. Golberi, fei-

to chefe do Serviço Ni1cional de

Inforinações no Governo Castelo,

Bahia acumulando a chefia da Casa

Civil de Negrão e o posto de redator-

chefe da revista Visão. Golberi nun-

ca teve ocasião, parece, de explicar

que nos pediu a censura e,n no1ne da

segurança nacional - e foi censura

mn11i.nli1t,arn, ufmeiatacpn.esleo Exército, não 1.prnoor
en1 que o m1; n

que arriscávan1os era a guerra civi l.

Pois, na crise da renúncia de Jânio,

se hornens como Abreu Sodré na pre-

-O Governador Carvalho Pinto afastá-lo de Jânio para ficar sozinho "Até hoje sidência ela Assembléia paulista ex i-
perdura o
olhou-111e, quieto, pensando. "Não con10 candidato ri sucessão deste. falso místério giatn a posse de João Goulart na pre-
da renúncia
posso 111e n1eter nisso", disse afinal. Raras vezes tenho conseguido de de Jânio. sidência, com a legalidade a qual-
ho1nens públicos que pensen1 publi- Instabilidade
"Não fui falado pelo Jânio, nem pelo can1ente - e irnpessoalmente. Aea- emocional, quer risco, outros, como o Deputado
ban1 escravos de suas sin1patias ou despeito, tudo
Horta, sobre esse assunto." idiossincrasias, de suas pretensões Sérgio Magalhães, diziam: "A posse

"Eu sei porque não fo i", disse-lhe. de Jango ou a guerra civi l. "

Eles achan1 que o Sr. vai ruminar o Ne1n para defende r a censura

assunto uns seis 1neses. E estão co111 ou decepções. O fato é que esse recu- foi tentado naque la en1ergência os responsáveis
sou-se a ajudar a conter Jânio - e eu. para explícar
pressa. Posso lhe afi nnar. co111 abso- fiquei sozinho nesse esforço. Por ter o mistério." se acusaram. Tive de

luta certeza, que só lhe tocarão nesse justificá-la e rne defen-

assunto quando tudo estiver pronto, revelado os propósitos de -Jânio tor- der nun1a assembléia

irreversivelmente, e o Sr. tiver de nei-me alvo do ódio de ho,nens como da SJP e1n Nova Ior-

concordar ou sair. Então será tarde. o General Golberi do Couto e Silva, que, perante a qual fui

Afinal, foran1 os Srs. que inventanun janista i,npenitente, sincero adepto denunciado pelo .!or-

o Jânio, nós de,nos essa oportunida- de un1 neofascis,no subdesenvolvi- nai do Brasil. Isto

de a São Paulo de voltar a governar o do, diretor da espionagem e provoca- não 1ne i1npcde de

Brasil, os Srs. vão deixar que se ção interna no triênio do Marechal reconhecer os n1éri-

implante unia ditadura no Brasil , Castelo. Golberi era secretário do tos e serviços desse

como prê1nio?". Disse-lhe ,nais, Conselho de Segurança. Foi ele que, jornal. Serü assi111

porém o essencial aqui resu,no. Car- na saída de Jânio, pediu ao General tão difícil de enten-

valho Pinto olhou-me, cheio ele inde- Siseno Sannento, então 111eu secretá- der a Frente An1pla, então?

cisão, ,nais do que d, e rio de Segurança, que instaurasse Mas estamos naqueles dias finais
incredulidade. "E,
censura à irnprensa. O governo do da tragicomédia de Jânio. A quem

mas não posso ton1ar Estado, atendendo o pedido do Con- recorrer? Chan1e i o Brigadeiro Grun1

a 1• n1• c1• a1•1va., j selho de Segurança, deu cobertura à Moss, ministro da Aeronáutica, que

Até a expressão ação deste. Por isso o Jornal do Bra- ia naquele dia para Brasília. "O Sr. se

l r11111•111ar era. auteA nt1• - sil, ·em editorial, reclamou a ,ninha prepare para ser convidado a partici-

ca. Jánio me dissera expulsão da Sociedade Inten11nerica- par de um golpe de Estado." Ele n1e

no Palácio Laran- na de Imprensa. E o Correio da olhou, tomado de surpresa. Expli-

jeiras, quando pri- J\1anhci, pela mão do seu então reda- _ quei-lhe do que se tratava. " E se e u

1neiro insinuou a · tor, de no,ne Bahia, que passou a 111e recusar?" "Sua exoneração já está

~-~ . solução _dital?r!al odiar desde que recuperei judicial- pronta'\ disse. "Mas, os outros

·para uma cnse que nao ex1s11a: mente u111a propriedade do Estado 1ninistros 1nilitares?" "Eles dizem

''A você eu posso falar porque você explorada por sua família - a Pedra que os seus colegas já estão de acor-

entende. O Carvalh<? Pinto é u111 da Moreninha, em Paquetá -, che- do, mas é possível que digam isso de

ruminante, vai levar seis meses até gou a todos os extren1os. No dia cada tun, a cada um, a cada outro."

{._; entender o que eu quero. Na hora seguinte ao da vitória da revolução, o Grun1 Moss é um ho1nern fino e int.c-

' própria, eu lhe falarei." diretor do J ornal do Brasil, Nasci- ligente, mas francamente não sei se

Tudo isso eu disse a Carvalho Pin- 1nento Brito, telefonou-1ne solicitan- acreditou inteiramente no que então

to con10 coisa ,ninha, pois queria ser- do interferência junto ao Exército, lhe disse. O fato é que os chefes das

vir ao país, não fazer urna intriga. para evitar que este prendesse Bahia, Forças Armadas não se prepararam

O mais provável é que Carvalho então seu redator também. Recomen- para as surpresas que o Presidente

Pinto tenha pensado que eu queria dei ao General Siseno que explicasse Jânio Quadros lhes reservava.

''Jânio a aparência daquilo que un1 ho1ne1n Ampla es_tava entre 1o~ que exig_iran1
.desperdiçou o a posse de João Goulart na presi.dên-
entusiasmo do que não ,se especializou e111 assun1ir cia ela República. De parte a parte
povo e opreparou houve uma espécie de ilusão, por-
para aceitar responsabilidades, o IYJinistro Hélio . tanto recíproca. Os que se julgava1n
refonnistas não distinguira1n os rea-
hu.~ilhações'' Beltrão, chan1a de 11orn-1alidade. cionários autênticos daqueles que
julgavan1 reacionários porque
Os fatos posteriores a .esses que, a adversários de sua·permanência no
poder. Resultado: uniran1 todos e
título de exemplo, narrei são talvez fora1n .co1n essa união derrubados.
Os que se consideravan1 defensores
n1ais i1nportantes. Mas ainda não da de1noé:racia, contra os demago-
gos e corruptos, não separara1n o
chegantn1 ao seu tenno natural. Os que havia de de1nagogia e corrupcão
do que correspondia a u,n autêntico
fatos políticos, creio, descreve1n u1na interesse pela reforn1a e o desenvol-
vin1ento do Brasil. Resultado: aca-
parábola, ao tenno da qual se ligan1 a bara1n servindo mais aos interessa-
dos na estagnação, nun1 Brasil n1ar-
unia nova, e assim sucessiva1nente. canclo passo, n1ofino, imbecilizado

Esta1nos em pleno desenvolvi,nento (t,pelas bolinhas dialéticas servidas

da parábola. O que chanuunos de por perversos exibicionistas da cul-
tura e da técnica, transviados da
revolução ainda não chegou ao apo- inteligência e virtuoses da subinis-
são, que fazen1 o Brasil retroagir a
geu. A 1naior crise se aproxiina a 11111 te1npo que nunca houve, u1n
silêncio entrecortado de portarias,
olhos vistos, quase se pode. tocá-la Lnna dobadoura sobre o acessório e
Lnna desolante inércia, no principal.
antes de vê-la, pois ela ven1 silencio-
Resultado: as boas idéias fonun
i n1al não foi ter saído o presiden- sa, enonne, pesada con10 unu1 nuvern deturpadas pelos seus ,naus adeptos
e as 1nás idéias entronizadas pelos
LACERDA O te. Foi que ele, co1n 1111 saída, de ten1pestade, ainda que pareça dis- seus bons paladirios. Noutra oportu-
desbaratou a esperança do nidade que1n sabe poderei prestar
"... um hornem povo, desperdiçou o seu entusiasn10, tante - porque está no espaço e não 1neu teste1nunho sobre esta última
que nao se preparou-o, pelo desalento e a des- fase da vida nacional? Deixo e111
especializou crença, a aceitar todas as hu1nilhações, ao alcance de nossa ,não. branco Ioda unia experiência ines-
em assumir quecível - a de cinco anos do meu
responsabili- -desde as crises co.nvulsivas do regi1ne Não se faz revolução en1 vão. As governo no Estado da Guanabara.
dades, o Quanto mais alguns tenta1n negar a
Ministro Hélío Goulart até a vergonha, a hu1nilhação forças sociais não são de brincadeira.
Beltrão... " ••
nacional do regi1ne Castelo Branco, O processo ele expurgo adotado pelo
que continua nessa a,nputação de que
o Brasil foi vítin1a, privado que foi do Exército, sobre ser injusto, é incon1-
direito de escolher o seu governo.
pleto. Pois, se de 11111 lado e liminou
E privado por qLiê? Porque não
alguns políticos e alguns 1nilitares,
foran1 capazes de substituir Getúlio
Vargas na sua gratidão, Juscelino de outro consagr.ou a 1náquina, o sis-
Kubitschek no seu entusiasn10 pela
ação? O povo se enganou con1 Jânio? ten1a, a 1nentalidade e os instru1nen-
E nós todos, não nos enganan1os
tan1bé1n? O que se. ten1 feito de bo1n, tos que fazen1 não so1ncnte da cor-
con1 u1n governo eleito pelo povo se
faria 1ne lhor. O que se te1n feito de rupção, 111as da rotina e da n1ediocri-
ruirn, t11n governo eleito pelo povo
teria evitado. Não faço dessa con- dade, a razão de ser da vida pública.
vicção L11na superstição. ,\credito
até que se possan1 ad1nitir en1 certas E1n vez de atenuar o conflito ai ician-
e,nergências. soluções sen1clhantes a
essa que est.í durando de1nais. Mas, do o povo através ele seus líderes
para nada? Para a ARENA. a rotina,
o trivial, a 11or111alidade'? Não, a nor- reconhecidos con10 tais, ai ienou o
rnalidade é o voto, a liberdade, a
espontaneidade. Creio que se est,1 povo - e incorporou falsos líderes,
confundindo norn1 ai idad e con1
1n ediocridad e. inclusive os traidores daqueles que o

Leio no .lór11al do Brasil que 111n povo reconhece con10 verdadeiros.
p rofessor an1ericano. Wiscousin,
considera a renúncia de Jânio e o Consagrou-se
governo de Castelo duas desgraças
para o Brasil. De pleno acordo. a ,nediocridade
Fora,n esses dois fatos políticos os
que atordo,u·a1n o povo. deixando a con10 o supre,no
opinião pública en1 estado de cho-
que. Esse aturdin1ento, essa ausência instru1nento da

1cn1por:íria é que est:í dando a alguns transforn1ação
políticos carreiristas. e alguns ,nilita-
rcs in1provisados e1n estadistas, a fal- de urna nação
sa noção de que a opinião pública
grande en1
- -não rea!!iní. Quando reagir. ser;í tar-
. grande nação.

de, para ela e para eles. Corno esse Entoan1-se
c:incer que progride sen1 se anunciar.
a crise ca111inha debaixo da pele, sob loas à 1neclio-

c ri d ade. Há

un1a conforn1idade con1

a falta de in1aginação, a falta de gran-
~ ~

deza, ainda n1enos do que a perplexi-

dade - pois esta pelo 1nenos traduz

asso1nbro con1 algu1na coisa. Não,

-ninguén1 se asson1bra con1 absoluta-

1nentc nada. Há unia disponibilidade

na qual viceja1n apenas as a1nbições

pessoais. todo n1undo quer ser presi-

dente, governador, senador, deputa-

do, ningué1n se prepara aclequada-

1nente para nada disso. todo inundo

se con1porta en1 relação às tarefas

rnais difíceis con10 se dissesse: estou

do lado dos que n1andan1. portanto

tenho condições para n1andar.

A n1aior parte dos re,·ol11cio11á-

rios que resisten1 à idéia da Frente

Out~o trecho .é de anotações de

Lorde Moran; o médico.-a.u.tor, ten-

tando entende_r a máquin~• de pensar

e agir.que se cha1nou Winston Chura

chili e o perigo dessa máquinír liqui-

dar com a sua vida: "Se acontecer a

11111 ho111e1n de ação, e;J:ercendo o

poder, ser tan1bér11 un-1 artista, Deus .

. tenha Jiiedade dei~. Terá de 111udar a

sua natureza para sobreviver."

Estes dois trechos vê1n ~o encontro

do que preciso dize(daqui a .pouco.

Lamentaria que este testemunho

interro1npesse o atual idílio com a

..., 1nediocridade, e1n que se ç:ngol fou o
Brasil, e chegasse a perturbar, o que

.não creio, as noções que alguns tê111,

n1uito firn1es, acerca da inconveoiên~

. eia de i1npregnar de bravura a vicia
w pública e de imaginação a ad1ninis-

lii tração. Noções pobres e honestas,.
:i:
1
' ()
z
-l más profundamente errada~: ·
:<:;
Se 1norresse antes da hora e tives-

validade dessa intensa e variada fase, e1npreiteiros faltosos. É um esplên- ."A capacidade se que deixar urna receita para
aci1na de tudo de experiência hu1na- dido colaborador de un1 governo de promoção
na, mais a afinnam na vã tentativa de que sabe o que quer; que sabe 1nan- do Sr. Ena/do outros aplicarem melhor do que eu ,.
empregar antigos colaboradores dar, con10 dizia n1inha avó. Dão-lhe Cravo Peixoto esta seria dividida e1n duas parres,
meus para lhes dar postos de respon- agora a SUNAB, o que chegaria a fê-lo parecer como os ren1édios dos quais se torna
sabilidade e1n outras administrações. ser u1na perversidade se não fosse um puro ,primeiro a pílula branca e clepóis a
homem cor-de-rosa. Ao povo diria: "Des-

Falta-lhes, poré1n, quaisquer que antes u1n equívoco. Não se veji1 nes- de ação." confie do democrata que -não se prc- .

sejan1 as diferenças entre eles, uns ses dois exe1nplos qualquer propósi- para para a responsabilidade de

1nais capazes, outros 1nenos, um to de diminuir o valor de cada un1. gover'nar. Ou é demagogo ou inca-
comando, unidade de direção, 1noti- Mesmo porque são 1neros exen1plos.. ,

paz; ou ne1n sequer é democrata. "

vação impessoahnente dcsa1nbicio- Trata-se apenas de situar o pro- Para qu, e não haja equívocos, aores-

sa; ao mes1no te1npo un1 sentido de blema nos devidos termos. Urna centaria: e desconfie ainda ,nais dos

distribuição de tarefas na qual ades- obra de governo é antes ele tudo, ditadores nas mesmas condições.

centralização ganha sentido comple- uma obra de inspiração. O que se Pois estes, se chegarem a ser, nunca

to co1n as unidade de pensamento. cha1na de equipe não existe se1n passarão de ditadores. Aos que pre-

Exagera-se, por exen1plo, o papel co1nando. E o co1nando exige intui- tendem governar,

que teve em meu governo a ação des- ção ou, se quisere1n lhe dar esse diria: "Não se
centralizadora, de que foi u1n dos no1né,. tão barateado, visão.. Visão do '

esqueça1n de -levar

pron1ulgadores o atual Ministro conjunto e do ·pormenor. Presença. na bagage1n a
Hélio Beltrão. Na realidade, con1 Contato. Dedicação integral. Alta;
in1aginação; e ·de

esse bom amigo e pura, válida, necessária ambição. combinar o senso

colaborador, co- Ainda agora, lendo o grosso mas de autoridade do

1neça1nos a des- i1nportante volume que Lorde Moran cargo com ·a

centralização e a dedicou à vida de seu cliente Wins- humildade da

idéia, anterior ao ton Churchill, desde a guerra até pessoa que o

nosso governo e 1965, encontro alguns trechos que exerce."

nele desenvolvi- vê1n ao caso. U1n deles é a referência Há dias ta1nbé1n um jor-

da, não chegou a do próprio Churchill ao Presidente nalista reproduzia o que disse ter sido

ser aplicada Roosevelt, quando discutian1 a aber- a observação de u1n político anôni-

l pelo Secretário tura ou não da Segunda Frente, o mo, segund<> o qual o Brasil está tão
Hélio Beltrão, dese1nbarque na França, que Roose- rui,n que, por exemplo, "o Lacerda,

que deixou o governo velt queria logo e Churchill queda que podia há algurn te1npo passado

logo depois para assumir u,n cargo adiar para depois do dese1nbarque na ter fundado uma·religião, agora te1n

na direção do Magazine Mesbla. Itália. Começou Roosevelt a decair dificuldades para fundar um partido".
A extraordinária capacidade de e1n suas forças físicas e mentais, até De passagem devo notar que o

promoção e de fazer atuar os seus a penúltima queda, a desastrosa con- Brasil ten1 sido vítima de frases
con10 a França, e está, co1no a Fran-.
auxiliares, característica do Sr. ferência de falta. ça, com excesso de datas históricas.
Quase nenhuma dessas frases fiêa.
Enaldo Cravo Peixoto, fez com que, No dia 25 de ,naio de J943, de Quase . nenhuma dessas datas será
len1brada. Mas as datas atravessam a
visto. de fora, ele parecesse 11111 puro volta de uma conferência co1n Roo-

ho1nem de ação. No entanto, nesse sevelt, Churchill disse ao 1nédico:

• homem de ação se esconde un1 tími- "Já notou con10 o .presidente está História, as frases dificultam a com-
preensão e assim impedem o fluxo
• do, ao qual é préciso aniri1ar até à cansado? Parece ter a 1nente fechada.
invectiva, para que tenha coragem Parece ter perdido aquela sua mara-

de atuar contra fatores adversos ou - vilhosa• elasticidade." natural dos acontecimentos..

''.Creio·poder .ele fez de revolucion,írio e si,n o fato volv_imento. E quanto ao ponto de
afi·rmar que de ter usado. o arbítrio e o poder dis-
cricionário para consagrar, na direção chegada: a expansão de un1a cultura ..--\
oBrasil se den1ocrática para dar ao Bntsil as ~
.aproxima de sua do país, exatan1ente as forças 111ais
mais grave crise. dimensões de u,na nação.
Eninguém vê'' anti-revolucionárias, rnai.s reacioná-.
rias, para usar o termo. Nada rnais A única dificuldade que encontro f
f,ícil do que fazer j,í u,n partido polí-
tico. A questão precisan1ente está e111 para formar um grande partido é a
que, en1bora seja,ele necessiírio, não
1nes1na que todos encontra1n para for-
é o bastanté. Precisamos n1ais do
1nar um grande governo. Enquanto o
que de urn partido apenas para
fazer oposição ou apoiar o governo. Brasil esticava, a
Precisa,nos é de un1 senti,nenio
capaz de unir os brasileiros; não sua elite dirigente
apenas em torno de vagas e ilusórias
frases, nem ,nesmo para abrigar-se encolheu. Existe,
sob as garantias den1ocráticas que
lhes fonun parcialn1ente arrebatadas, 1nas insuficiente.
E de urna união atuante e en1polgan-
te, capaz de n1obilizar verdadeira- O povo está
rnente os brasileiros em torno de uma
obra de governo que, necessariamen- melhor do que a
te, terá que ser positiva e negativa,
terá que encarar prioridades e não sua elite? Penso
sair deste critério a ser previa,nente
definido. Un1a obra que não pode que sin1. Mas o
que e, certo e,
fazer ao n1esn10 ten1po a Ponte Rio-
essa frase, por exe1nplo. há que a elite resi-
dois erros fonnando un1 erro Niterói e a deflação. E que não pode
n1aior. Eu poderia ter fundado, fazer, ao rnesn10 tempo, deflação e dual não en-
não un1a religião, n1as u1na seita 1:iolí- desenvolvi1nento. Portanto, não se
tica baseada nu,n culto pessoal e pode jogar con1 as palavras. Te,n que tende n111is o Brasil,
intransferível. Ora, não sendo un1 se definir, fixar prioridades e rnetas, e
seétürio, não queria fundar lnna seita, agir de acordo eorn as linhas-rnestras estou a dizer que não o conhece mais.
l11na estreita facção, n1eio fanática que fore,n assim definidas. Depende
talvez, n1as sobretudo esterilizante. de un1 esforço que te,n de ser conju- E a elite nascente não é elite, é uma
E, não sendo um doutrinário, ta1nbérn gado e não apenas individualizado
LACERDA não n_1e interessa un1 partido que se segundo a pior ou 111elhor disposição sofisticação, unu1 improvisação, u1na
distinga 1neran1ente pela boniteza de de cada ,ninistro ou diretor de autar-
"Por ter un1.1 doutrina bacana. A isso rne recu- qúia. Assenta nu111a filosofia básica e enfatuação. A elite se descalcifica,
revelado os sei. Não tenho dificuldades ern for- con1un1 a todos, uni princípio diretor
propósitos 111ar u111 partido, senão aquelas da lei no qual poden1 conviver até as rnais culturahnente.
de Jânio, que foi feita para in1pedir a sua for- sérias divergências, desde que enten-
tornei-me n1ação. A 1naioria do povo, desiludi- didas quanto ao ponto de partida; a Há urna desordem nas idéias e un1
alvo do ódio da desde a renúncia de Jânio Quadros mobilização nacional para o desen-
de homens e brutalmente chocada con1 o run10 correspondente tumulto nas ambi-
como o que ton1ou o Governo Castelo Bran- ,u..J,
General co. ne111 por isto deseja voltar ao pas- ções que põen1 em perigo já não ape-
Golberi. " sado. O choque que esses dois bons uJ
governos, de gente considerada :i: nas pan.odepna1i,,,socer1ancisauabsracsailreaicrtae,n,s.mt1a.csaso,
honesta e razoável, defensora da civi- pro,.
lização cristã, dera1n nos brasileiros, ü
atordoou-os. Agora é que está pa~- e1n sua personalidade nacional.
sando. Então se cornpreenderá, de :€
todos os lados, o Quando un1 an1igo muito querido
alcance e a iinpor- ::;
tânc ia do e ntendi- bateu à nossa porta, certa madruga-
rnento que fizen1os,
Kubit sc hek e e u, da de 1956, para me avisar que
desannando o que
poderia ser o re1•a11- Haroldo Veloso havia levantado
c li is1110 e ta1nbén1
desarmando a estu- vôo do Galeão, com vários compa-
pidez de u,na revolu-
ção encarada co,110 nheiros nossos , e eu tive de decidir
,nera ex ped ição
punitiva. Esse ato de entre ir juntar-n1e a ele, para a bela
uni novo Brasil só
produzirá todos os e desesperada aventura de seu vôo
seus efeitos quando
os ru1ninantes de rebelde, ou assistir, com a sua der-
sen1pre o deglutire,n
- ou a sua espécie rota. àu, nd,.ocsasnopsessossoaisdpeaairsa; e, tendo
se ext inguir. O que con10 me acon-
tornou i,npopular o
Governo de Castelo selharem Letícia e esse amigo -
Branco não fo i o que
cuja identidade prefiro não revelar

- adotei o conselho de não ir com

Veloso, mas achei necessário ir

alén1; depois de dar te1npo para que

ganhassem distância, já de manhã

clara, chan1ei dois deputados, un1 do

lado do governo, outro o secretário

da Câmara, José Bonifácio; ao pri-

n1eiro pedi que prevenis'se o minis-

tro da Guerra, General Lott, ao

segundo que fosse abrir a Cân1ara,

para onde nie dirigi - a fin1 de

in1pedir que no prin1eiro impulso de

repressão a fechasse1n. Um dos títu-

los de Haroldo Veloso e seus compa-

nheiros ao rneu respeito e admiração

é teren1 con1preendido o motivo da

rninha decisão, a despeito de todas

-as intrigas, alén1 da natural inco1n-

preensão. E un1 dos motivos que n1e

levara,n a uni entendimento com

Juscelino Kubitschek, agora, está no

fato de ter sido, como presidente, o

prin1eiro a propor a anistia para os

rebeldes de Jacareacanga - talvez estupenda de afirmar sua presença
numa c9ntribuiçâo'ê ficaz à paz ,nun; ·
o,._~ porque de algun1 n1odo seniisse dia! na 'crise do Oriente Médio. Con1
a n1inha incapacidade de me 01nitir,
V que eu sentia e sei. que a revolta·era n1anifestei~me sobre isso no devido
tempo; talvez não seja oportuno ..
muito mais contra os chefes omrs- divulgar aqui essa rnanifestação.

1 sos e oportunistas do que contra ele. Tenho por vezes a in1pressão de ·
que o ,nal maior está ern que,; nesta
Pois foram esses chefes que falta- fase, predornina quase se1npre o cri-
tério da coriten1porização, da h<1bi-
ram, durante anos, aos seus compro- lidade .que não choca ningué!il , do
desejo ele agradar aos ,nilitares sem
rnissos, para não dizer ~1 sua missão. escandalizar os civis, de ganhar
lernpo até que os civis voltem ao
Quando fui ·alertado, no governo .'\. . '. poder sern. provocar os 1nilitares..
Ern su1na, o critério do deixa di.1-.~o,
da Guanabara, sobre u,na rebelião . .."... \ do deixa estar, do 11c1111os ver, de
unia indefinição vagamente otin1is-
no presídio, é lá fui encontrar o .: " "~ ta e de un1 ten1or cerlamente pess·i-

estranho espet,ículo da prisão ern .. . .. n1ista. Scrn uma coisa nen1 outra,
isto é, com toda a experiência que
cha,nas, ' o b<1tecum dos presos, -' · acu1nulei entre êxitos e erros nestes
tantos anos de vida pública, creio
pulando e sambando sobre os des- \ poder afinnar que o Brasil se apro-
xin1<1 de sua n1ais grave crise. E o
troços, dois guardas chuçados con1 que torna rnais certa a crise, e ,nais
grave, é o fato de que bern poucos
punhais; os cadáveres deforn1ados se aperceben1 disto. E os que a per-
cebern não a queren1 anunciar, por
pela violência que arro1nbou a pri- 111edo de lhes ser atribuída a pater-
nidade. As crises nunca têm pai
são; e tive de entrar, para ev itar o nern 1nãe. Mas seus filhos. no seu
seio, crescen1. Lançan1os, no e pisó-
pior, entre os a,notinados, doi s dos -
dio de luta de 64, até aqui , a nossa
quais me levara,n até u1na das torres ./ .-
últi,na reserva, que é a força anna-
Q onde estava um guarda retido con10 . ~- . ,, cla. Ela agora está quase toda enga-
refé,n, e dali o retirei com duas ou " jada no d(~n1ínio político do país.
.
..•,•,,''•'. . Se ,ne perguntarem porque pre-
lrês frases finnes e a firme decisão vejo essa crise terei de escrever
. ..•.• o~tro capítuló que esta história não
cornporta n1ais nern entra nos propó-
de n1orrer rnas não deixar que conti- ,:1' ...~ ~
sitos que. n1c leva1n a escrevê-la.
~,. ...-$) ~-
Creio que se poderia definir o pro-
nuasse,n aqu_elas n1ortes do abando- dia, à luz das baionetas que o an1ea- "Certa blen1a, à luz de uma experiência sin-
cera, dizendo que o Brasil cresceu
no , do desco,npasso entre a lei madrugada de rnais do que os hornens que o diri-
1956, um amigo ge1n e estes há muito tcn1po . corn
penal utópica do país ideal e o çar:un ern vão e agora se perfilan1 me avisou que raras exceções, pcrdera1n essa n1edi-
Haroldo Veloso da. Quando o Brasil era pequeno,
1 retrato sórdido do país real; quando quando ele passa. uns poucos grandes hornens lhe bas-
Quando, ao chegar de viagern, vi tavan1; quando não os havia, fazia- ·.
tais coisas acontecerarn, n1ais
se de conta, co1no se fossern.
f nun1erosas do que posso aqui narrá- que estava tran1ada e decidida a pror-· levantara vôo 1-fouve u1n mon1cnto, recente, cm
las, a exigir decisão pronta, opção
rogação do n1a11dato do Marechal do Galeão." que o Brasil foi governado con10 a
Argélia; e não sei se não haverá até
sen1 vacilação, co,no a de resistir no Castelo Branco - e assi,n dado o pri- hoje, neste ou naquele adepto do Sr.
Jo~o Goulart. u1n quê de argel ino
Guanabara, contra os apelos de 1neiro passo para descurnprir o con1- convencido de que vai proclamar u,n
novo Sete de Setembro 11s margens ·
Castelo Branco que, de 1~• para 2 de pro1nisso das Forças Annadas: elei- plácidas do Jaguarão, rio onde espe-
ro novamente churra~quear cm paz
abril, 1ne aconselhava a sair da sede ção livre e honesta - e ouvi da ,nais no relvüdo deslumbrante do can1po
gaúcho. (Um dia rnudo .de novo de
do meu governo, alegando que não alta autoridade n1ilitar esta pergunta: profissão e vou ser guia de u,risla,
para ~nsinar ,nuita gente a ver o Bra-
tinha u1n soldado ne,n u,na arn1a "O Sr. pode nos garantir que ganha a sil como cu o vi. Que grande país!)

para nos n1andar - e assim por eleição?" - tudo isto e muito rnais

diante. Lan1ento não poder transn1i- fica para contar no dia en1 que, ern

tir. e,n tão poucos exe,nplos. a vez de ajudar a fazer História, eu

Q\' experiência e os exe1nplos que ,ne tiver a pretensão de escrevê-la.

1 levara,n a estas conclusões. Mas , Se ainda houvesse espaço para as

como viram, não forarn vãs, ne,n anotações que

fúteis, nem estéreis. tenho rela1iva-

Recebo, corno a terra recebe a n1ente aos últi-

chuva, a lição exaltante ou pacifica- ,n os anos de

dora dessas experiências que se pro- vida nacional ,

longarn pela vida adentro. Quando â desde a posse

tive de enfrentar a realidade da der- l' de João Gou-

rota eleitoral do nosso candidato na \ lart à posse de

Guanabara e sabia que isto era o fi,n, !. Costa e Silva,

pelo menos 1emporaria1nente, do creio quç tudo

voto popular no Brasil; e ainda ,nais. ,......, concorreria
~ ;;i;.-
1 sabia que o candidato eleito pela para 111ostrar a

oposição e por Castelo Branco, a conveniência e a urgência de um

Light, o jogo do bicho e outras insti- entendimento que transcende os mais

tuições nacionais, tomaria posse, sérios agravos e exige realn1ente

nunca tive ilusões, nem urn rninuto aquela contraditória dupla de quali-

sobre o resultado de todos os apelos dades a que aludi: a hun1ildade pes-

, e an1eaças que muitos ingenuamente soal e o senso de grandeza.

V1 fazia,n para evit.á-la, portanto, o que Por vezes penso que se trocou a
esperava os canocas nesse governo
rnedida das proporções no Brasil.

\ gerahnente acusado de inerte. Menos l\.1uitas pessoas que governam o Bra-

inerte do que corrupto, pois corrorn- sil têm excessivo senso da sua impor-

pe até os críticos da sua inércia; e, tância e nenhuma noção da importân-

-·neste·sentido, é um eoverno dinâmi- cia do Brasi 1. Ainda agora nós vin1os •
o Brasil perder urna opor1unidade
co, pois corTornpe desde o prin1eiro

''Não me senti do Rio Preto - a 1noda que logo se crassa, o essencial , que a n1eu ver 11•
ferido quando espalha e veste tantas n1oças lindas, a
ânsia de aprender de uma juventude consiste no seguinte: o Brasil é hoje ~
minha candidatura desviada de seu run10 por toda sorte
foi esmagada de equívocos, mas e1n todo caso um dos países n1ais importantes do
existente, esse formi ga1nento de
pelo movimento n1ocidade que quer ir, ,nas não sabe inundo dirigido por alguns dos 1
militar'' para onde, clama, mas não te1n pro-
priamente o que dizer, e por isso 1
repete slogans de propaganda na
1nedida em que procuran1 reduzi-la ho1nens 1nenos importantes do Bra-
ao silêncio.
sil. Por i,nportantes, é claro que não
Que há de fazer o jovem se não
lhe dão aquilo de que mais carece, a quero dizer ilustres. Só depois as
única anna que ele te111; porque só
esta é capaz de convencê-lo: o pessoas se torna1n ilustres. Nunca
exen1plo? Querian1 que os jovens no
Brasil fossem con10 os que os estão antes. D1. migpoorptae1sns,oqaus equsa-eov, earodcaodneitrraa,--
querendo silenciar? Outro dia falei n1ente
co,n un1 líder universitário que está
rio do que julgou o chefe do finado
sendo processsa-
do con10 co1nu- Governo Castelo Branco, insubsti-
nisra e con10 tal
proibido de an- tuível. As que parecem nascidas
dar na rua de-
para a função, embora, em vez de
pois de 10 da
no ite - parece trazê-la do berço, a conquiste1n
que confundi-
ra,n co1nun ista numa lenta e penosa formação. Essa
co1n lobi s o-
preparação, esse esforço de con-
n1em (não sa-
U ltimamente foi governado por quista são necessários. É só essa a 1
uni certo tipo de 1nentalidade be1n que assin1
diante da qual o Brasi I conti- terão impedido o jovem de namo- superioridade da den1ocracia, que •
rar, n1as não de conspirar) - e o que
111ais o i1npres.sionou no que eu lhe no resto é um regi,ne difícil e confu- 1
disse, parece, foi a n1inha convicção
nua a ser pequeno e débil a ponto de de que é .inútil falar e1n diálogo com so. Mas viva a superioridade! ~( f \
os estudantes quando o interlocutor Se algum regime exige liderança,
não poder se n1over por seus pró- não ten1 o que dizer.

LACERDA prios pés. Não conseguindo voltar Que tê1n a dizer aos n1oços os é exatan1ente a den1ocracia. Se algu-
dirigentes do Brasil, hoje? Que
ao Tejo para e,nbarcar ali u1n novo foram be1n-succdidos nas suas a1nbi- n1a exigência se te1n a fazer para
ções? Que através de n1anobras
D0111 João VI, esse tipo de 111entali- diversas deixara,n de cu1nprir os definir a liderança, é exatamente
seus deveres e,n te1npo e que só os
dade voa para o Potomaque, e às cumpre,n quando serven1 a seus pro- unia depuração de qualidades que
pósitos pessoais e se,n nenhu1n ris-
suas margens procla1na o seu horror co? Que a sua fúria contra os corrup- surgen1 e se afinnarn através da pro-
tos e subversivos não in1pede sua
à independência. convivência con1 os subversivos e vação, da privação, da formação, da
corruptos que colaboran1 con1 a nova
Agora dir-se-ia que o Brasil se ordem e os ajudan1 a explorar os deformação, da transformação - e
aspectos honoríficos e burgueses do
sente independenre mas não sabe o poder boquiaberto'? Que em vez de assim por di ante. Inspirar confiança
pacificar a nação a quere,n em guer-
que fazer con1 esse sentin1ento. ra. não contra o atraso, a ignorância, ao povo é mais difícil na den1ocra-
a dependência, ,nas uns brasileiros
Deseja afirn1ar-se, n1as não sabe ben1 contra outros, já não en1 non1e de cia; mas é ainda 1nais necessário do
princípios e sin1 de rancores? Que-
o que diga. Pretende crescer, mas rem recrut.1r a 1nocidade para o que na ditadura.
apostolado do bon1-n1ocis1no - e se
te1n certeza de que o crescin1ento não espantan1 con1 o seu repúdio a esse Supreendentemente não n1e senti
blandicioso convite à n1ediocridade.
será aco1npanhado pelas calças e ferido ou 1nagoado quando a minha
Receio que os próprios intérpre-
continua preocupado en1 que não lhe tes da realidade nacional se deixen1 candidatura f1 Presidência da Repúbli-
confundir por certas aparências e
apareçan1 as canelas. Fez unia revo- não vejan1, alguns por ignorância ca, irnposta pelas bases e por alguns

lucão, n1as tcn1 rece io de dizer que a líderes da UDN a outros líderes con-

fez e a entrega à guarda dos que ne1n trafeitos, foi esmagada pelo 1novi-

a fizeran1, netn a entendera1n, nen1 111ento .n1ilitar que, depois de errar

saben1o que ela vir.í a ser. Defencle111 com o Sr. Castelo Branco, resolveu ,~~ 1
dar outra saída com o Sr. Costa e Si!-
o adjetivo, entreg:un o substantivo,

desperdiçan1 o verbo. va. Por nuliS que vasculhe a aln1a,

Ao longo desses anos todos, 1nais nela não encontro sinal de rancor ou

de 30, da forn1ação de tuna cons- decepção. Para evitá-los é que tratei

c iência de n1ocnítica, n1ais do que de organizar em outras bases a minha

isto, d e unia cnoonçsa-coiêennc1ia1n1s.1inrnpclreess-- vida, como nunca antes pudera fazê-
n1ente. so, unia
lo. Graças à ajuda de alguns amigos

ceu sen1 desfaleci1nento nen1 contra- e à experiência que adquiri, posso

diç~o: a confiança que tenho no hoje dizer, com uma ponta de orgulho,

cresci1nen10 do n1eu país. que e1n dois anos de atividade parti-

Não ignoro nen1 desprezo a possi- cular aprendi mais do que em muitos

-bilidade de esse cresci1nento degene- de vida pública. E não me senti

rar en1 algo 1nonstruoso: surpreendo- n1enos realizado, pois estou comple-

tne, ils v~zes, olhando a n1uhidão na tando a n1inha fonnação con1 1nuito

rua, con1 esse ar de entregador de n1enos trabalho, decepção e angústia

en1brulhos que está to111ando o povo - e entendendo o outro lado das

na Avenida Rio Branco.. a legião dos questões, a face que fica oculta aos
~

hon1ens da terra se1n terra, e n1e políticos profissionais e aqueles

ponho profundan1ente a pensar nun1a ®n1ilitares que, constrangidos uns,

nova Índia - n1uita gente e problc- outros alvoroçados, se in1provisam

n1as ainda n1ais 11un1erosos, alguns e1n políticos. Quando de mim eu

até insolúveis. Mas logo unia sim- indago por que razão 1neus sonhos
~
presidenciais desfeitos não ·1ne dei-
pies viagen1 ao interior ressuscita a
esperança. ate, nos ponnenores, na xaram n1ágoa, porque a própria

paisage,n e nas pessoas. Con10 a via- injustiça de que fui vítima, em vez de

ge,n que ainda há dias fiz a São José me dar revolta, me deu um certo des-



o me deixou esta lição: "A vida pública
é uma d.oação." .

Por isto é que nunca soube recla-

1 mar nada para mim, como um direi -

to, nem ficar an1uado por não ter

vez. Mas cotn isto posso reclamar,

dos que tomam ·a vez, que sejam

ntelhores do que eu. Para ac~1bar

este n1onólogo, diria que estranho o

n1edo - si1n, o medo - com que

n1e vêe1n os poderosos. Como é frá-

gil, então, o seu poder!

1-loje sinto-me un1 hon1em prepa-

rado e disponível, mas não pressuro-

so e solícito. Quando vejo a notícia

da criação de uni 1101•0 país, tenho

ganas de pagar ali 11111 pequeno ·

1 .. a111íncio dizendo:
"ALUGA-SE POR ALGUNS

.. !l ANOS PESSOA COM

. .- . ' J:,--X.PERIÊNCIA DE GO, VERNO,
~..
.1 ' TREINO DE VIDA PUBLICA,

SUFICIENTEMENTE IDEALISTA

PARA NÃO CAIR NO RAMERÃO

..UJ E RNEA-AOLISSETADEBIAXSATRANILTUEDPIARRA

!;; POR DOUTRINAS. CARTAS
ozX
A CL, NESTA REDAÇÃO."
:;

prezo, que não é generoso confessar, cada vez que o carrinho despenca Praia do Leme, Mas não posso anunciar isto aqui,

porque é sobretudo irônico, creio que dessa niinia1ura de abis1no. janeiro de 66. ficaria mal. Temos tantos estadistas

a resposta deve ser 1nesmo esta que À 1nedida que passa o te1npo Depois da dando sopa, não quero lhes tirar o
sempre 1ne ocorre: "Meu caro, te devo confessar que já não n1e inco- en1prego, façam bo1n proveito. Con-
livraram de tuna prebenda." 1noda tanto a idéia ele que perdi uma revolução,
oportunidade, apenas, de me ator- tanto que não seja muito tarde. Poises-
O desafio 1ne agrada, a tarefa 1ne tempo para o
mar-e para pero não perder o senso de oportuni-

não guardar

fascinava, ainda agora ao ,ne apro- n1entar. Se, por un1 lado, temo que rancores dos dade. Ne1n cedo a ponto de parecer que

ximar de Juscelino Kubitschek o se isso ,ne vier acontecer depois, que fecharam me fazem algum favor n1e aproveitan-
que ,nais 1ne impressionou foi ver pode vir, desde que então não 1ne seu caminho
do. Não preciso ser aproveitado. Te-
que esse homem acu,nulou unia. falte aquela elasticidade que Roo- para o Planalto. nho horror a emprego de pistolão. Não
••
11

'' experiência de governo e1n período sevelt já ia perdendo, na observação tenho vocação de Juraci; paz à sua alma.

tão decisivo e conseguiu n1anter a de Churchill; ou aquela 1nelancólica Sei que chega um momento e,n que é

naturalidade, a espontaneidade cor- observação de Ru i Barbosa, de que tarde den,ais para fazer o que não se

dial do seu sperro;va1.tnéc1s. aentoorcn1onua,1. sduignai.-- este é um país que só recorre a teve oportunidade de fazer antes.
,nos, menos ·quem lhe quer servir quando já não Num país que perde tantas oportuni-

versalizado, ou seja, um hon1em que tem mais condições de prestar os dades, não há que cscranhar que os

sem perder as raízes da bela Dia- serviços que podia, por outro, con- homens também percam algu1nas.

mantina de cada um, servando intata uma experiência Se não for convocado, desconfio

projeta na maturida- vivida e uma capacidade de acres- que ainda assin1 o serei de outro .

de a fronde à luz de cê-la , por novos dados desse emba- modo, já então con10 teste1nunha da

outro sol e de te entre a realidade e sonho, este História. Pois as forças capazes de

outras estrelas. si1n, o dilílogo indispensável ao -impedir a minha con-
A ansiedade homen1 público, parece-me que per-
vocaçao ne1n por aca-

corn que alguns di algo precioso, a oportunidade de so são aquelas 1nes-

a,nigos ou desafe- deixar - como se diz no final dos mas que levarão e.ste
tos políticos discursos - aos nossos fi lhos e pai, s a
urna crise

cavam, a todo netos uma pátria melhor. diante da qual todas

custo, lugar entre Não queria encerrar estas páginas as que vivemos até

os pretendentes à num tom de jactância. De meus maio- aqui foram ensaios.

futura Presidência, 1nantendo o jogo res inimigos aprendi lições, como esta Julgar que um país

das cartas 1narcadas, da fidelidade à de um que me disse: "Ouça todo -p1. nossps1.araçvaivo-ere se,n
re,·olução que não houve e da resis- mundo até tomar a sua decisão, mas que

tência à revolução que precisa haver, quando to1ná-la, toque adiante sen1 esta se confunda com a lura

e outros truques 1nais ou menos ouvir ,nais ninguém." E outro que me contra a inflação ou a Ponte

constitucionais. me dá a impressão disse: "Nunca tenha 1nedo de corrigir Rio-Niterói é pensar muito pouco ~o

desses meninos que anseiam por um erro, inclusive o seu; o que você seu povo e do seu tempo, numa época

entrar na montanha russa até a hora hoje perde con1 isso, ganha a partir do em que a História se acelera e o povo

em que estão den1ro dela e aí dispa- dia seguinte." E aquele a1nigo com o se agiganta como principal, embora

ram a gritar e querern sair depressa qual tão pouco pude conviver, mas não único, senhor do seu destino.

Não nasci para papel de seda. Valoriza hun1ilcles obje- pois o medo não 1ne sufocava a curio-
me poupar nem tos indefinidos, que arvorava con10
para ser poupado. broches sobre o busto n1irrado; e assin1, sidade de vê-la, o afetuoso interesse de
no pano sujo, faiscava111 cacos de
Não é questão vidraça azul, vennelha, verde e a111are- lhe acon,panhar os progressos na des-
la, co1110 1nanifestos, discursos. Certa
de gostar. E 111anhã trazia, à guisa de cinturão. três coberta de novidades - hoje ela trou-
que na- o se,■ fios de anune farpado protegidos por
uns grossos papelões cinzentos; outra xe tnna lima de unhas, uma estrela ele
n1anhã. nos 111eus cabelos csgrouvi-
nhados, pendia,n berloques catados no latão no alto da testa roliça co1110 un1
lixo das casas, pedaços de pente, Ien,-
branças de festival, prendas, bordados joelho, dois pregos entrelaçados entre
desfeitos, restos de novelo. cadarços,
resíduos de passa111anaria, pon1pons de os seios pequenos
anninho. penduricalhos desfeitos. gló-
rias de u1n dia reavivadas no seu corpo e murchos, ama-
duro e 1nanso. Era un1a silenciosa e
p:ílida n1edusa, na calçada do hotel. As nhã que novida-
pessoas não ria111 dela. con10 de outros
idiotas e visionários ele todas as cida- des apresentará?
des. a velha Jacaré na Rua das Laran-
jeiras, por exe1nplo. ou aquela que, Era por volta
dcstan1pando os ouvidos. escutava
insullos terríveis, e dela zon1bavarn a1é das dez da
os loucos do Hospício Nacional ele
Alienados, onde a conheci na con1pa- n1anhã que ela
nhia de un1 estudante de Medicina que
n:ío queria se fonnar para não perder o surgia. lenta-
en1prcgo. A tnedusa parava, eu n1e
escondia. ,nas não podia deixar e vê-la. mente , os
Às vezes ousava abrir o portão para
olhos diva-
~
uando eu er:1 111cnino. ir1eu avô gantes. ali iva
cisn1ou de fa zer estaç:ío de -.-.... .. ~
águas. Escolheu Caxa,nbu. e só, parava, olhava, via
Vagan1os de hotel para hotel. o Bra- ..
gança. o Glória, chegan1os ao Palac:c. con10 se não visse, e depois, infini1a-
que era de luxo. até que alugou tuna enxerg;í-la de corpo inteiro, inventaria
casa junto do hotel e depois c:omprou aquela opulência de restos, aqueles n1en1e triste, n1urmurava não sei que
un1 chalé na avenida que leva ao par- sobejos que ela engrandecia, incorpo-
que, exa1a111en1e na ponta oposta. rando-os ft sua veste tnarcada de c:ica- palavras que somente ela sabia, conti-
vendido quando e le n1orrcu. Ali lrizcs co1110 u111 corpo de herói. T inha-
LACERDA fon1os , avô e neto e parentad,1, alguns lhe medo, n1as de 111i111 não Linha ela, nuava o seu ca1ninho vagaroso. nas
pois ,ne sorria, vaga1nenlc. u111 sorriso ~
"Ao me anos a fio. 1\li fiz. nu111 :írabe 1nuito apenas esboçudo no rosto triste e lon-
aproximar de paciente e an1:ível. a fotografiu co,n o gínquo, perdido nu,na distância que calçadas de Caxan,bu.
Kubitschek, o violino. Saí de olhos fechados, ele não se pode 1nedir. con10 uni fim de
que mais me retocou a chapa, abriu os olhos, o que linha no horizonle liso. A louca de De tarde, voltava de não sei onde
impressionou 1nc deu un1 ar ainda n1ais Caxa1nbu 111e deixava olhar peça por
foi ver que espan tad o, con10 se o peça a sua coleção ambulante. o seu para não sei aonde. Nunca fatigada
esse homem inundo 111e asson1brassc. 111useu de cacos. fantasia de esp,1111os.
acumulou uma Éra,nos cú1nplic:es. tan1bé111. ela e eu, nen1 decepcionada, pois nunca lhe
experiência de Ali conheci a louca de
governo e Caxan1bu. Era unia n1ulher faltou o que recolhesse no can1inho.
manteve a desgrenhada e solit,íria.
naturalidade. " Não quero escrever 111e n16rias,
~
senão apenas depoi111enlos, para não
que niio sei de onde vinha
e não sabia para onde ia. ficar tal qual a louca de Caxan1bu,
Vestia-se con1 un1 ca,niso-
pendurando no espírito o que o 111eu
lão branco e sujo. da cor
do pó das ruas. Parava nâs 1en1po vai deixando pe la

calçadas cada vez rua, objetos destroçados,
que encontrava
un1 objeto inte- ho1nens d es 111 e 111 brados,
ressante, reco-
idéias desperdiçadas ,
lhia-o na.s 111ãos,
esforços perdidos. ilusões
ex a 111 1n a v a - o
con1 111 ui ta seriedad e. desfei las. Prefiro , c:01110 o
at en ta e n1 e t icu Ios a ,
depois a,narrava-o. por .,il p e r s o n a g e 111 d e J 1í I i o
César , apresentar-me
artifícios de un1.i técnica ·, / "con10 u1n alvo, na direção ,
apurada, pendurav,1-0 o u
fisgava-o na túnica que - 1 do relân1pago".
lhe cobria o corpo anguloso.
Trazia. assin1, arcos de barril. latas nasPcoi. rpnar1aaisn1qe ue faça, não
de sardinha con1 a ta,npa enrolada. às poupar ne,n
vezes ainda co111 o ferro de abrir atra-
vessado no canudo cintilante. Grudava para ser poupado. Gostaria
pedaços de papel crepo,n. a111arrava
c:0111 coto de barbante branco restos de de passar desperce bido.
papagaio das crianças. as llechas qua-
bradas e ,is cores 111ais vibrantes cn1 Não. Não é questão de gos-

tar. É que n:ío sei. Faço co,n

naturalidade o que algué111

precisa fazer. Digo eon1 insistência o

que 1nui1os preferen1 não ouvir.

Quando 111e escu1an1, dizem que falo

n1uito alto. Quando não n1e ouven1,

será por que não falei? Quando silen-

cio. a1ribue111 a algu1n proptísito o

1neu silêncio. Nunca tive outras

intenções senão as que declaro. Mui-

to visto e pouco conhecido, creio que

assin1 ficare i até morrer. Mas nunca

passarei en1 silêncio pela vida catan-

do, para arvorar con10 insígnia os

sin,1is da alienação.

FIM

uMA SEGUIR: JOSÉ LOUZEIRO - LH ERES ASSAS SI NADAS

.Pu ;t;;;zo '~--'¼. .'.

,.

· f--J - Amanhã, tão logo haja comunicado esta decisão ao meu
~ LlnêJÚÍle~DOCUMENTOMurilo MeloFilho recompõe oepisódioda carta
secretariado, retira r-me-ei do governo da Guanabara e da vida

pública. Eu saio amanhã, para nunca mais. Afinal. tenho o direito
de me afastar, sem que me chamem desertor. Basta que mecha-

® enviada pelo governadorda Guanabara ao mem vencido.

Com estas palavras, o então governador da Guanabara, Sr.

General Costa eSilva Carlos Lacerda, escreveu uma carta de renúncia ao General
Costa e Silva, datada de 5 de abril de 1964. Essa carta, cuja exis-

tência o autor tentou inicialmente negar. está reproduzida no livro
Minhas Memórias Provisórias escrito pelo Ministro Juracy Maga-
lhães, com a seguinte referência:

- Numa primeira reunião dos governadores rio Ministério da

Guerra, houve um grave incidente ent~e Lacerda e Costa e Silva,
resultando do episód io uma carta de renúncia do governador da
Guanabara, que não chegou a ser entregue, mas cujo o rig inal -

Carlos depois negou sua existência - ficou em meu poder.

existência

dessa carta

foi confir-

e mada pos-
o
teriormente pelo

próp rio Governa-

d o r Carlo s La-

cerd a no Depoi-

mento de 34 ho-

ras que p restou

no S i tio d o AI e-

c rim. em Petró-

polis. aos jornalis-

tas Ayrton Baffa,

Cláudio Lacerda

Paiva. Melchia-

des da Cunha Jú-

nior. Ruy Mesqui-

ta Filho, Ruy Porti-

lho. Antônio Cu-

nha e Antero Luiz.

Nela. o Governa-

dor Lparco.eprnd' oa , do
seu pu-

n ho . em papel

timbrado do seu

gabinete, com

data de 5 de abril

d e 1964 . diz, en-

tre outras coisas,

o seguinte, diri-

gindo-se a Costa

e Silva:

- A sugestão

que esta noite os

governadores lhe

fo ram levar era

inspirada nos melhores propósitos: OGovernador pois tratou-n,e como se eu fosse um Mazzili. Esta fórn1ula. Sr. General, é
político visando fins pa rticulares e ben, pior e nem sequer é original.
e leições, já, de um g e neral à presi - Carlos Lacerda não os mesmos que motiva ram o
desce as escadas movimento militar. Preciso lembrar - Amanhã, tão logo haja comu-
dência da Repú blica. V. Ex:' rece- do Palácio da
Guanabara, após a V. Ex:' q ue. enquanto o Exérc ito nicado esta decisão ao meu secre-
beu-a corn hostilidade, consideran- não pod ia agir. suportei a responsa- tariado, retirar-me-ei do governo da
ter dito em carta ao bilidade e o peso da corrupção e do Guanabara e da vida pública. Peço
do-a capa z de d ividir o Exército e a Deus que V.Ex~tenha razão e leve
Ministro Costa e con,unismo. e às vezes quase só.
julga que a presidência como está e - Não desejo d ividir o Exército. a bom termo a tarefa que se p ropôs.
Silva que iria de limpar o Brasil do comunismo e
como ficará daqui a vinte e poucos retirar-se do íll1uito ao contrário. E pelo v isto, da corrupção. Não há de ser com
neste ponto. V. Ex~tem razão. Mas
d ias. qu ando o Congresso eleger governo e da vida quem vai d ivid ir o Exército é V. Ex~. políticos que se prestam a ser man-
dad os, para ficar no poder. si-
outro . é melhor para o Exército. pública. Ainda no E, com ele. a Nação. Mas também mulando poder. que V.Ex~ conse-
não quero pa rticipar de urna dita-
Nun,a palavra. V. Ex~ prefere ser di- Guanabara, ele se g uirá atingir esse objetivo.
dura não declarada, exercida p or
tador por interméd io do Dr. Mazzili a reúne com seus V. Ex•, por interm édio do Presidente

ter o comando revolucionário na secretários e

presidência da República. auxiliares.

- Creio na sinceridade e patrio-

!ismo de sua intenção, aind.a que

V .Ex?pelo visto, não creia no meu .

~12 DE OUTUBRO DE 1991 83

JURACY,NA COMPANHIA DE

CORDEIRO DE FARIAS,DISSE

ALACERDA: ''NÃO PODEMOS

PRESCINDIR DA SUA

1 COLABORAÇÃO''

'

aderíamos consegui-lo
• sem ditadura. V. Ex~.

' • sem dizer à nação, tor-
nou-se ditador. Não o

aceito como ditador. Fui falar ao li-
bertador, não ao usurpador.

- Mas não serei eu a dividir o

Exército e desgraçar a pátria, le-
vando a desilusão e o desespero a

milhões de brasileiros. V. Ex? as-
suma essa responsabilidade.

- Eu saio, amanhã, para nunca

mais. Afinal, tenho o direito de me
àfastar sem que me chamem de-
sertor. Basta que me chamem ven-

cido.
O então governador da Guana-

bara mandou entregar essa carta

ao General Sizeno, que tinha sido

que Juracy não lhe devolveu. Re- enorme fidelidade os diálogos en-

velou depois a sua íntegra no livro tão travados:

de memórias. COSTA E S!LVA: -Os senhores
Quais os motivos que teriam le-
não pensem qu~ a rev<?lução já

vado o Governador Lacerda a es- acabou. Ainda existe perigo de lu-

crevê-la? Qual foi o "grave inci- ta. Estou acabando de receber d~

dente", referido pelo Ministro Jura- Porto Alegre a notícia de que o Bn~

cy Magalhães? gadeiro Lavanê~e-Wanderley foi

Usando um uniforme de pára- ferido com um tiro. Casos como

quedista em campanha, o General este podem se repetir pelo país

!) Muniz de Aragão havia chegado ao afora.
LACERDA: - Bem, general, de
• Palácio Guanabara, onde estavam
qualquer forma, _quan_to mai_s cedo
reunidos vários governadores de
se normalizar a s1tuaçao, mais cedo
estado, para escolher o subs~ituto
termina o perigo de incidentes
do Presidente João Goulart. Disse-
como este.
lhes que tinham de escol~er u_m o
COSTA E SILVA: - Concordo
nome capaz de sanear a s1tuaçao
em termos.
nacional, normalizar tudo e colocar
MAGALHÃES PINTO: - Esta-
ordem nas coisas brasileiras:
mos um pouco preocupados com a
- Esse nome é o do General
situação de alguns colegas no~-
Castelo Branco, por suas qualida-
sos. A mulher do Governador Sei-
des intelectuais, por ter sido o pr_~-
xas Dória procurou-me apavorada,
seu secretário de Segurança. pe- fessor de várias gerações de mili-
dindo-lhe que a levasse ao Mi~istro porque não sabe onde está o seu
O então tares. por ser um homem honr~do e
marido.
Governador Costa e Silva, mas o General S,zeno por ter também os comprom1ss~s
COSTA E SILVA: -Já começou
Magalhães interceptou o documento, ~hamou mais firmes com a ordem democra-
a velha história. O Governador Sei-
Pinto, de o Ministro Juracy Magalhaes e o tica. .
O Governador Carlos Lacerda in- xas Dória está preso e continuará
Minas, incumbiu de ir lá na casa do gover-
terrompeu : preso. Não estou aqui para dar es-
participou da nador para convencê-lo a retirar a - Creio, General, que o senhor
sas informações. , ,.
tumultuada caortaM. inistro .
reunião de Juracy Magalhães to1 está chovendo no molhado. Porque NEI BRAGA: - Realmente, ha si-

Lacerda com juntamente com o Gene~al Cordeiro todos nós. aqui reunidos. acaba- tuações difíceis. Por exemplo, o
Costa e Silva,
de Farias. que tocou direto no as- mos de escolher unanimemente o Paraná.
no QG do COSTA E SILVA: - O senhor já
sunto: nome do General Castelo Branco,
Ministério da - É um absurdo. Nós não pode- me vem com essas coisas do Para-
que vamos indicá-lo também ao
Guerra. ná. Por isso mesmo é que nunca se
mos prescindir da sua colabora- General Costa e Silva. ..
:ivraram daquele Moisés Lupion.
ção. Afinal de contas, estamos to- Dali rumaram todos para o M1n1s-
MAGALHÃES PINTO: - Há o
dos nós de acordo, os governa- tério da Guerra, onde o General
problema do fechamento dos ban-
dores e os militares. Em vez de ven- Costa e Silva estava recebendo o
cos. Segunda-feira, os ban~os
cido, você deve julgar-se um Governador Adernar de Barros,
abrirão e é preciso saber que _tipo
grande vitorioso. com o qual se demorou por mais de
de providências o g~verno vai _to-
Lacerda concordou com as pon- 30 minutos.
mar para que não h?Jcl_~!:!1~ ~o~nqa
derações de Cordeiro e de Juracy e No seu Depoimento, o ~overna- aos guichês. · ·· ..

pediu que esquecessem a carta. dor Lacerda reproduziu com

~84 ' 12 DE OUTUBRO DE 1991 ..

COSTA E SILVA:-0 senhor, na vernador da terra, a incumbência - Mas tínhamos o compromis- O Ministro
sua qualidade de banqueiro, é jus- de transmitir ao senhor o nome... so de nenhum de nós aceitar. Juracy
tamente a pessoas mais indicada
- Ainda não cheguei lá. - Este é um problema dos se- Magalhães foi
para nos ajudar a encontrar a res- - Mas eu já cheguei. nhores. Eu não sabia desse com- encarregado de
posta à sua pergunta. promisso e, creio, nenhum de nós convencer
-:- Acho muito cedo para essas sabia. Não temos a obrigação de Lacerda a não
CARLOS LACERDA: - Estamos coisas. respeitar esse compromisso, que é
aqui porque entendemos qúe é ne- enviar a
cessário normalizar rapidamente a - Pois para nós está ficando entre os senhores. Se ele não qui- carta-renúncia a
situação e, unanimemente, trouxe- tarde. ser aceitar, é outro problema. A sua Costa e SIiva. Ela
presença no Ministério da Guerra
mos a indicação de um camarada JUAREZ TÁVORA interveio no lhe assegura, evidentemente, fora interceptada
seu para a presidência da Repú- diálogo, com um murro na mesa: grande influência sobre o governo,
..,,- blica. pelo General
- Costa, deixa o Governador porque seus méritos com a revolu- Sizeno,
COSTA E SILVA: - Alto lá! Um Lacerda falar. ção são evidentemente reconheci- ex-secretário de
momento! Pelo menos, por en- dos e a nós nos tranqüiliza em torno Segurança do
- Juarez, você continua um do compromisso das eleições li-
quanto, o presidente é o Dr. Mazzili. eterno adolescente. vres a que temos direito. governador. O
. Aliás, eu não fui bem nomeado por
ele. Sou um dos chefes da revolu- CARLOS LACERDA - Bem, ge- - Mas, nesse caso, o Castelo Ministro Costa e
{)) ção e me nomeei ministro da Guer- neral, eu não sei onde o senhores- tem, primeiro, que se reformar.
ra. Ele apenas ratificou o ato. tava em 1954, quando o Presidente SIiva
Vargas se suicidou. Mas sei onde o - Também este é um problema
CARLOS LACERDA : - Bem, senhor estava no 11 de novembro: dos senhores e não nosso. cumprimenta a
mais o Dr. Mazzili é um homem do
PSD. Estranhamos que ele, de ao lado do General Lati. Agora, eu - Mas os senhores já consul- junta militar que
sei onde eu estava. De modo que taram o Castelo? o sucederia após
quem sou amigo pessoal, tenha não preciso pedir licença ao senhor o derrame:
acabado de nomear para a chefia para lhe falar aqui no Palácio da - Não. Não íamos cometer a in-
do seu gabinete o Deputado Israel Guerra. Quer o senhor queira, quer delicadeza de consultá-lo sem an- Brigadeiro
Pinheiro, um homem do PSD e um não, tenho de dar o recado que tes comunicar ao senhor. Até logo, Márcio Melo,
trouxemos. passar bem, prazer em vê-lo. General Lyra
dos principais auxiliares do go-
verno Juscelino Kubitschek. COSTA E SILVA-O senhor me O governador da Guanabara Tavares e
desculpe, governador, mas eu nã9 saiu do Ministério da Guerra em
COSTA E SILVA - Se nomeou, queria magoá-lo absolutamente. E companhia dos Governadores Almirante
vai desnomear. que estou muito nervoso e can-
Adernar de Barros, Magalhães Augusto
CARLOS LACERDA - Mas o se- sado. O senhor bem pode imaginar Pinto, Nei Braga, Fernando Correia Rademaker.
nhor já tem uma idéia do resto do o estado de tensão em que tenho da Costa, entre outros, e dirigiu-se
vivido estes dias. ao Palácio Guanabara, onde escre-
ministério? veu a carta de renúncia, dirigida ao
COSTA E SILVA - Tenho, por- - Posso. Imagino o seu nervo-
sismo pelo meu, que deve estar General Costa e Silva, mas que foi
~ ' que sou eu que vou indicar o minis- interceptada pelo Ministro Juracy
tério. Aliás, já está nomeado o Dr. sendo muito maior. Em suma, ge- Magalhães.
neral, o problema é o seguinte: por
Gama e Silva, revolucionário da pri- E assim foi o dia em que Carlos
meira hora, que será ministro da unanimidade, indicamos ao se- Lacerda renunciou ao governo da
nhor, como chefe atual do Exército Guanabara.
G Justiça e acumulará com a pasta e um dos comandantes da revolu-
da Educação. ção, o nome do General Castelo MURILO MELO ALHO
- Mas, ministro, queria lhe lem- Branco. FOTOS MANCHETE

brar que estou aqui falando em COSTA E SILVA, dando um mur-
nome dos meus colegas, que me ro na mesa:
delega·ram; pelo·fato de eu ser go-
12 DE OUTUBRO DE 1991
.. .. .



D.EFENSORES DA NATUREZA NO

JANTAR DOS PESCADORES o g,al'de to<tialdOS m,ne.,os

i.


;.,.; -~t

I .,
•~'ij"·
~l "'- i;'.1 >:
~{_ YII
1r \ i .:..
Jomallsta Onofre Miranda, o prefeito Eduardo Azeredo, Antônio Ermlrfo de Moraes recebe das mllos do

o governador Hélio Garcia, Antônio Errnfrlo de Moraes governador Hélio Garcia e do prefdlo Eduardo Azeredo
o troftu espeâal de "Defensor Nadonal da Natureza"
e Camllo Teúcelra da Cosia, Diretor Executivo do

ESTADO DE MINAS

~



~- < ~-~,- ,j,.$ !

Edgard Melo e o prefeito de Betlm, Carlos Eloy, presidente do Cemlg e Eduardo Borges Andrade, superintendente da
lvalr Nogueira do Pinho o representante da Braspelc,o
Mlneraçllo Rio Novo e José Carlos Carvalho, diretor
geral do lnstttu1o Estadual de Florestas

, - ::-r

*~

1

'

.- •

O vice-governador de Minas, Arlindo Porto e Gllson Maurldo Campos e Vicente de Paula Concelçllo,
Soares de Maltos, o pescador do ano da Pepsl Cola

--......

~ • .t"-"l: --~~~'~ '
~
Õ scaetárfo de'Turismo, João Pinto Ribeiro e Sllvlo 1 ~ •,. !.. ~=--=--
Antônio Chamone, da Brahma e Edlson Zenóblo
Dlnlz Ferreira, presidente da Cedro e Cachoeira o deputado Wanderley Ávlla e o presidente da

Cooperativa Garimpeira de Diamantina, Francisco

Xavier de Ara(iJo

,

~I . ....,d;,.;i \ ' ..! ..-
Diretor de Redaç<>es do ESTADO DE MINAS e Diário
~f'-~ ~,,.>,:;º...--- '
da Tarde, Roberto Ellslo de Castro SIiva, Camilo Teixeira
Dirceu Cardoso e José Fellpe de Paiva Chiara, da Costa e Antônio Errnlrfo de Moraes. rJ ·: Àr/~
da White Martins
1 ·1/ ",.
O Industrial Antõnlo Errnlrlo de Moraes foi o grande hornenagado no Jantar dos Pescadores, promoçllo da oo-
luna "No Mundo da Pesca", editada h4 25 all0$ no ESTADO DE MINAS - O Grande Jornal dos Mineiros. . l•

Com a presença do governador Hélio Garcia e do prettlto Eduardo Azeredo, do dlretor-exewttvo da S/A Estado ·f
de Minas, Camilo Tdxeira da Costa, pescadores e convidados, o empr~rlo recebeu o tro!N especial "Defensor
Nacional da Naturua", pela polltlca de proteção ambiental que vem Implantando nas empresas do grupo Votoran• .. -. ...
fim. Foram, ainda, homenageadas empresas que, protegendo florestas e rios, ttm contrlbuldo para que~ consiga
harmonia entre o progresso e o melo-amblen1e. Entrf> essas homenagens dlam-se: White Martins, Cooperativa Ga·

rlmpelra de Diamantina, Mineração Rio Novo, Brahma, lnd. Tb!!I Cedro e Cachoeira, Centro de Conservaç1o da

Natureza, Braspek:o, AMDA,jomal ESTADO DE MINAS (equipe do melo-ambiente), Fablo Marton, deputado fede-
ral Mauriclo Campo$, deputado estadual Anderson AdaU1o, Samltrl e FEAM.COPAM.

.• ,
..

· Você também po_de ser um_herói dessa hi·stória.

· ·Colabo_re có_m -a çampanha pata a_-edição da cartilha
'.
• •• •••
••

.' .

e ajude as crianças a dizerem .

as.

.. . • •

Nossa meta é·publicar 1.300."000 cartilhas,. .

pa·ra:atender-a-todos-os estu·dantes d·a.red·e pública

municipal e estadual do ·Rio de Janeiro.



.

Pretendemos levar às crianças

o conhecimento didático dos males e das
conseqüências irreparáveis que a droga
provoca na vida das pessoas, atingindo
toda a sociedade. Com os fundos .

-arrecadados nesta campanha, a ANSEF -
ASSOCIAÇAO NACIONAL 00S
FUNCIONÁRIOS .DA POLÍCIA FEDERAL

editará e distribuirá a cartilha

O Brasileirinho em escolas, igrejas, praças

e onde quer que seja possível, através

dos órgãos competentes, federais, l.-

estaduais e municipais, que agirão

através de acordos de cooperação e

destinarão o restante da verba apurada às

.• institu ições médicas especializadas na recuperação de drogados.
• ..
-
Não vacile. Diga você também Não às Drogas. .

Ligue para (Oxx21) 257-1134 ou envie um- .• :

e-mail: [email protected] ....1 ~ ' ,,., - V,~+\

~,Nx-..:.~r-,"""'"' .. ' _Jolj....

Em outubro, no Rio Centro: 1FONAD - Fórum Nacional Antidrogas. Prevenção e Rec!Jperação de Crianças e Adoles.centes

· ~- APROVADO POR: CONAO - CONSELHO NACIONAL ANTIDROGAS - ANSEF -ASSOCIAÇÃO l
~ SWHAIUlllCDW ri GOVERNO NACIONAL DÓS FUNCIONÁRIOS
Brasil A111111CAS U FEDERAL
DA POÚCIA FEDERAL
POÚCIA FEDERAL BLOCH EDITORES

,.

MÍRIAM MALINA investir em outra tática de re- peitas de que a morte de Jusce- Juscelino teria feito naquele

pressão. dirigida contra os mo- líno Kubitschek tenha sido hotel-fazenda?

ois anos após o golpe de vimentos de massas. A vitória provocada. O ex-presidente vi- As hipóteses são de que ele

64, o deposto presidente do MDB (Movimento Demo- nha de São Paulo para o Rio. teria parado para um lanche

João Goulart, o tambérn crático Brasileiro) nas eleições No can1inho, fez unta estranha ou s ido atraído ao local para

ex-presidente JusceUno de 1974, ao derrotar a Arena, parada de mais de uma hora uma reunião com pessoas da

Kubitschek e o ex-gover- partido do regime. pode ter sido no !-lotei Fazenda Villa-Forte, comunidade de informações.

nador do Rio de Janeiro. Carlos o fa tordetenninante do destino às n1argens da Via Dutra. Bem Outro fato intrigante: u1n anti-

Lacerda, se unian1 para formar trágico das três principais lide- próximo dali sofreria o aciden- go dos militares, o médico

a Frente A111pla, união de forças ranças da Frente An1pla. Ou, na te fatal. O hotel era proprieda- Guilherme Romano, coinci- ,.

contra a recém-instalada dita- 1nelhor das hipóteses. un1a de do brigadeiro da reserva dente1nente ou não, apareceu /!·•

dura militar brasileira. A Frente gi.1erra de nervos ou psicológica ivlilton Junqueira Villa-Forte. no local do acidente logo de- \•

não iria adia11te, rnas os três lí- pode ter antecipado o fin, de Já falecido, Villa-Forte foi u1n pois da colisão do carro de JK

deres podern ter pagado co1n a Juscelino, Jango e Lacerda, no dos militares que estruturaram com uni ônibus. A preocupa-

vida pela oposição ao regin1e. intervalo de poucos n1eses. O o SNI. Ex-professor do general ção do n1édico, mais do que

E1n 1976, quando a lu ta annada pri1neiro a rnorrer foi Kubits- Figueiredo, era arnigo do gene- atender ao ex-presidente, foi

já tinha sido e:-..'tenninada, o chek. no dia 22 de agosto de 76, ral Golbery. O filho do briga- recolher seu diário pessoal -

Brasil aderiu oficialn1ente à cn, acidente de carro na via Ou - deiro. Gabriel Vi!Ja-Forte, reve- encaminhado depois ao gene-

Operação Condor. Segi.u1do pa- tra. Nlenos de quatro rneses de- lou ao jornalista que o pai seria ral Golbery.

péis da CIA. até entiio essa cen- pois, em 6 de dezembro. Gou- também un1 dos responsáveis 1\ssim como a morte de Ku-

tral de repressão e ex1ern1ínio lart morreu dorn1indo. na Ar- pela estruturação do serviço bitschek, a do ex-presidente

sisten1,1tico de políticos era co- gentina. E Lacerda faleceu no secreto da Aeronáutica. Ga- Goulart é cercada de misté-

nhecida apenas por alguns mi- Rio, en121 de tnaio de 77. briel chegou a dizer ao jorna- rios. Jango morreu em Bue-

• litares da alta cúpula e por seu Há fatos ine:-..-plicados sufi - lista Ivo Patarra: "l\1eu pai pe- nos Aires, Argentin a, em de-

serviço secreto. Foi a hora de se cientes para alin1entar as sus- gou con1unista a tapa." O que ze,nbro de 1976, onde vivia



exilado. Agora, que vem à to- pode ter sido envenenado à caso retornasse ao Brasil, e sidratado, como conta o filho, o
editor Sebastião Lacerda.
na un1a série de documentos noite, em um jantar. Não mantido em "rigorosa inco-
Na manhã de 20 de maio, por
sigilosos e o pedido de in- houve realização de autóp- municabilidade". volta de meio-dia, o ex-governa-
dor foi internado numa casa de
. ··estigação do deputado fe- sia {o atestado de óbito fala, Acausa apontada para a mor- saúde e tomou soro intraveno-
so. Às seis da tarde, já hidratado,
L eral Miro Tixeira (ver en - prosaicamente, em enfern1e- te de Carlos Lacerda foi infa rto iria apenas dorn1ir no hospital e
voltar para casa na manhã se-
trevista na página seguinte), dad). Um fato é certo: três do miocárdio. A família diz que guinte. Às dez da noite, o clínico
percebeu indícios de problema
as garras da Condor, nova- meses antes de sua morte, o ex-governador sofria de uma cardíaco, chamou o cardiologis-
ta e o cirurgião, sendo aplicada
1nente, devem aparecer. em dezembro de 1976, o mi- infecção, que provocava incha- mais uma dose de soro. "Os mé-
dicos tentaram salvá-lo, mas o
Aparentemente, Jango mor- nistro do Exército, general ção nas juntas e febre alta. To- infarto se instalou. Ele morreu
às duas da madrugada. Para
reu vítirna de um a taque car- Sylvio Frota, determinou mou aspirina para baixar a fe- mim, é fantasiosa a idéia de que
sua morte tenha sido provoca-
díaco, de madrugada. Mas que Jango deveria ser preso, bre e em un1a semana ficou de- da", diz o editor, que tinha 36
anos quando o pai morreu. Com
------------------~--------- a morte de Lacerda desaparecia
o terceiro e último lider da Fren-
te Ampla. Por onde voaria a
Condor naquele dia? ■

, 832111.JJO 20CO llLun

►DEPUTADO quer que corpo de ►VÁRIAS PESSOAS estão
ex-presidente seja exumado para procurando o partido com novos
comprovar envenenamento dados, diz o líder do PDT

HAROLDO HOLLANDA Miro revela que o filho de Jango, dente Goulart ou se tinha ca-
João Vicente, ten1 cartas escritas ráter mais amplo.

deputado Miro Teixeira por seu pai nas quais revela in- A coincidência da morte, quase

(PDT-RJ) está en1penhado quietações na sua fase de exílio. no mesmo período, de três das

em esclarecer as nebulo- MANCHETE: Osenhor julga que po- mais destacadas figuras da opo-

sas circunstâncias da n1or- de haver alguma conexão entre a sição brasileira - os ex-presi-

te do ex-presidente João morte do ex-presidente João dentes João Goulart e Juscelino

Goulart. 1\li1nenta suspeitas de Goulart e a Operação Condor? Kubitschek e o ex-governador

que o ex-presidente tenha sido Co1n a revelação, no exterior, Carlos Lacerda -, vai ser objeto

assassinado, através de enve- de docu1nentos relativos à de investigaçãoda comissão?

nenan1ento. não descartando a Operação Condor, havia dados Alérn de advogado, sou jorna-

hipótese de que isso tenha ocor- que tornavarn suspeita a 1norte lista. Mantenho o vírus da dúvi-

rido no curso da cha1nada Ope- do ex-presidente. Pessoas co- da. Acho que todo fato suspeito

ração Condor. O objetivo seria n1eçaran1 a procurar a direção ten1 de ser apurado. Não pode-

eli1ninar as lideranças políticas do PDT, colocando-se à dispo- 1nos descartar qualquer hipóte-

mais i1nportantes da oposição sição para falar. Estou seguro se, nem assumir como verdadei-

no Cone Sul. Ele duvida que nos de que conseguiremos esclare- ra qualquer versão, antes da in-

arquivos das três forças 1nilita- cer a ,norte do ex-presidente. vestigação. As n1ortes dos três lí-

res não haja sequer deres são muito coin-

un1 relatório sobre a cidentes e ,nuito es-
''No Rio Grande do Sul, tranhas. Foram quase
n1orte de Jango.

i\lliro revela por o caixão foi aberto. ao 1nesn10 ten1po. E
eles erarn as n1ais i1n-
que acredita que a

i.nvesligação sobre o Um médico, cujo nome portantes lideranças
ex-presidente não estamos mantendo civis do país. i\llas não
seria tão difíci.l. O tenho até agora base

corpo de Jango che- em sigilo, viu o corpo para un1a afirn1açfto
gou ao Rio Grande definitiva. Digo que

do Sul. vindo do exí- e se propõe a depor'' não acredito em bru-
lio. ntun caixão fe- xas. 1nas que ela exis-

chado. O que pou- tem, existen1.

cas pessoas sabern, Se fosse descoberta

segundo 1vliro, é que no Rio Militares ligados à Operação uma conspiração, os envolvidos -."~,.'
Grande o caixão foi aberro. E estariam protegidos pela Lei da
entre as pessoas que ,·iran1 o Condor contribuíram para a mor- Ani stia? g-\=,/
corpo de Goularr se encontra\'a te de João Goulart?
ALei da Anistia prevê o esquc-
Eu acho isso. Só não díspo-

un1 1nédico, que se dispõe a fa - rnos ainda de docun1entos . E cimen to. não se aplicando pe- ~

lar na con1issáo. Seu no1ne, por 111ais: ele foi assassinado e n1 nas a quern tiver cornelido cri-

enquanto, é 1nantido e,n sigilo. circunsràncias que conhece- 1nes. i\1as não i1npede a investi-

O deputado observa que é per- 1110s. Pretende1nos esclarecer gação. Tanto que. depois da Lei veis, 1nas no reconhecin1ento

feitan1ente possível saber. atra- se a 1norte de Goulart fez par- da Anistia, o estado brasileiro re- dos direitos das famílias dos de-

vés de exa,nes. se o ex-presiden- te de un1 plano de liquidar di - conheceu a sua responsabilida- saparecidos políticos. Temos de

te foi envenenado. \'árias pes- rigentes la! ino-a n1ericanos de no desaparecin1ento de di- esclarecer um fato histórico nL

soas. daqui e do exterior. ta1n- de oposição. se essa opera- versas pessoas. Isso não redun- buloso. E evitar que, no futur0 ,

bén1 se dispõem a falar. Por fin1. ção esteve restrita ao presi - dou na punição dos responsá- casos graves. inclusive con1 a

84lh,am :1 /.IAlO '/OCO 1

1

1

. . ·~~- velando a combinação para eli- co de vida naquele pais, não po-
nlinação de pessoas.
- .. 1 ~-~· .,., deria ser revelador?
Então vai ser mais difícil do que o
'' . senhor acredita apurar a verdade. Ogovernador Brizola vai dar o
...'...,, seu depoi1nento à nossa cornis-
Se fosse fácil não precisaria são. Evai revelar fatos novos.
r.:- ~/ ..•·t"'h,':v>,:-7.,'_:1" ~~.-.·•-....'..-~ sequer con1issão do Parlarnen-
'~ to. É difícil, siln, 1nuito difícil. De que natureza?
- Mas o caso de João Goulart é
n1enos difícil. Ele 1ne disse que só vai revelar
participação de agentes estran- a respeito da Operação Condor? na co1nissão.
geiros, volten1 a ocorrer. Porquê?
Acredito,siln. O que não acre- Muitos documentos sigilosos
Osenhor acredita realmente dito é que assassinos tenham Você ten1 o corpo que foi visto dos Estados Unidos estão sendo
deixado, por escrito, uma con- por algumas pessoas. O corpo liberados, em parte ou total-
l ue os três ministérios fissão. Não tenho a ilusão de veio da Argentina fechado num mente, pelo governo americano,
fuilitares venham a abrir seus achar qualquer documento re- caixão. Mas quando chegou ao
arquivos e revelar documentos Rio Grande do Sul o caixão foi não é verdade?
aberto. Pouca gente sabe disso. Confio mujto que consiga-
Un1 médico viu o corpo. E esse
médico se dispõe a depor. mos. nos Estados Unidos. botar
a mão e1n documentos relevan-
Quem é esse médico? tes para o esclarecin1ento dessa
história. Aqtú no Brasil, estive
Isso tudo vai aparecer na co- com o general Alberto Cardoso
missão da Câmara. (chefe do Gabinete de Seguran-
Esse médico é otrunfo com oqual ça Institucional da Presidência
da República), que me disse ter
osenhor conta para esclarecer a
questão? mandado a ABIN procurar os

Utn deles. documentos existentes. Co1n -
partilha da minha opinião de
Ooutro seria a exumação... que dificilmente vai ser encon-
trado un1 docun1ento incrimi-
Claro. Co1n a exumação você natório. No caso da morte de
dispõe hoje de tecnologia para. João Goulart, eu acho, no en-
rnediante exan1es, chegar a uma tanto, pouco provável que o
conclusão sobre se houve ou não serviço de inteligência das For-
envenena1nento. Se você pode ças Annadas não tenha feito se-
restabelecer a verdade sobre a quer relatórios. Va1nos procurar
causa rnortis de Napoleão Bona- o ministro da Defesa.
parte, no caso do ex-presidente é
possível i1naginar que seria ben1 Alguns militares sobre os quais
rnais fácil. Se foi utilizado veneno recaiam suspeitas poderão ser
ou aquele gás sarin1, utilizado ouvidos pela comissão?
pela Dina, o serviço secreto de
Pinochet. O arqtúvo secreto des- Va1nos trabalhar co1n docu-
se gás foi queimado, porque o in- 1nentos. llnaginar que alguérn
ventor do sarim foi assassinado. vai se autoflagelar diante da
Tenho recebido depoin1entos de comissão para confessar seus
pessoas que, por enquanto, vão crimes deslustraria a inteli-
se preservar. Eoutras pessoas es- gência dos deputados.
tão se dispondo a depor - aqui e
no exterior. Afamília do ex-presidente se dis-
põe a colaborar?
Asúbita retirada de Brizola do
Tenho conversado 1nuito com
Uruguai para os Estados Unidos, o João Vicente Goulart, fiJho do
ex-presidente. Ele, inclusive, se
com cobertura do Departamento ofereceu para me dar as cartas
enviadas pelo pai do exílio. Car-
de Estado norte-americano, sob a tas cheias de inquietações. ■

justificativa de que ele corria ris-

1 8511 11.llO 2000 Ml'ltlll1

1

1

-•

Agora, o Corriere delta Sera e o La Gaz.zetta dello Sport
saem ao mesmo tempo na Itália e no Brasil. ·

La coounitá A colônia
ital.i.ere ncn italiana n!io
precisa rrnis
d:,,râ piú
lsJft, e il ler C6

mggior quotidiano pciJcipns
jamais da Itália
itali!lro a:n cliwxsi
gia:ni. oan vários
dias de atraso.
di :ó.taro:>.
o Estadão traz
n Esta:á:> c•é
diaria!lente
Wl'e:;tiZ iav? edições
especiais,
5{FriaJe, in ital Íêl'O,
an italiano, à:>
d?l am:ietP à!1la a:nriern 001Ja sera

sera e de ta e do La Gazzetta
dello Spart. OJ
Gazzetú' deJJo srja:

~êP=rt· Q;sia, as ootícias
que eles léan
l.e stesse rot.i:zie Já, ,,o::i, lê aqui, na
che si leggcno
in Italia, leite mesma hora.

qri. in BraSiJe o preço

a11a s=a ora. também é u~
m ilprezzoe
6tirm not.tc,aw
un'altra ottiJTe
Estadiio +
Estadiio +
Corriere e La
Corriere
Gazzetta =
& Gazzetta = R$2,00°,
r$ 2,00~,
de segunda a
dll. hrsli al
sabato. sábado;

Estadiio + Estadiio +

Corriere Corriere e La

& Gazzetta = Gazzetta =

r$ 3,SO, R$3,SO,
laó:nenica,
~ al:txnarti, no domingo.
chiara alio
Para ossinar,
0800.149000
(nunero verde), l.i.gue p:ixa
0800-14 -9000,
o 858.0222 per chi cu para 858--0222,

e 9iá se já for
assinante do
abbonato a
EStadão. EStadão.
EStadiio,
EStadào,
0:lrriere e GaZZetta Cl:>rriere e La

.irsime, tutti i Gazzetta

9Í=Ú-· ~ juntosI toclos

ese C31:tiva la C6 dias. # ")

pi=~ Potq11e, se ~
gi.om:l priml, pizza

fitµ'atevi requentada já

l'i.nfoi:naz.i,:r. é ru.im, .i.nagine
informsção.

- """"'old,) l.MçA'N:lnto.

Ora il Corriere della Sera e La Gazzetta dello Sport ESTADÃO
saranno allo stesso orario it1 Italia e Brasile.
Êmuiro mais jornal.

.,

DATAS

MORRERAM:· Almiro Viviani raalho, co-

nhecido con10 Alex Viany, aos 74 anos,

cineasta, jon1~1lista. historiador e crítico de

cinema carioca. Viany foi co1Tespondente

da revista O Cruzeiro en1 Holly,vood. En1 Oferecemos oportunidades para todo tipo de desenvolvimen-
to, a curtoou a longo prazo. São terrenos de todos os tamanhos
1948, depois de assistir ao declínio da era e formas em muitas dasáreasde maior crescimentodo Estado,
assim como naquelas que vão se desenvolver no futuro. Pro-
de ouro do cinerna a1nericano, Viany vol- priedadesclassificadasatualmentecomo residenciais, comer-
ciais, industriais e agrícolas. Desde uma ilha de 40 acres,
tou ao Brasil marxista, antia1nericano e fã
pronta para investimentoa curtoprazo, até terrenosde maisde
do neo-realismo italiano. As influências
8.000 acres para compradores com planos para o futuro.
desse estilo aparecen1 en1 seu prin1eiro Como profissionais na área de imóveis,

fihue, Agulha 110 Palheiro, de 1952, inspi- sabemos o que é necessário fazer para que

rador do cinema novo. Seu livro Introdu- um projeto funcione nos dias de hoje, pois avaliamos
os terrenos corretamente. ·
ção ao Ci11e1na Brasileiro foi dur.1nte anos Atendemos e fornecemos irúormações úteis com
toda agilidade.
única fonte de consulta sobre o cinen1a
Para maiores informações
nacional. Dia 16. de derran1e cerebral, no ligue para nosso Departamento Comercial
Tel: 305-859-4121. Ext 656 Fax: 305-859-4457
Rio de Janeiro.
ATLANTIC ÜULF
■ Dorothy Walker Bush, aos 91 anos, n1ãe
COMMUNITIES
do presidente an1ericano George Bush.
2601 South Bayshore Dr., Dept. 656, Miami, Florida 33133
Casada com o senador Prescott Sheldon
•atn1• con • ua •
Bush. teve cinco filhos.
Algumas semanas ayós o furacão Andrew ter atingido
Bush costuma afirn1ar
-----a cidade, a industria do turismo está em alta.
que sua 1nãe lhe ensi- __..,.~-~

~ nou tanto o espírito de

; competição quanto a

5 hun1ildade, 1nas nu·a-

º~ n1ente foi visto con1
~~ ela, já doente, durante

f seu mandato. Dia 19.

e"~ de enfarte, en1 Green-

:l ,vich, Connecticut.

Viany: fonte ■ O feto da joven1 ale-

n1ã Marion P., 18 anos.

que teve sua 111orte cerebral declarada ern 8

de outubro. depois de sofrer um acidente.

A grJvidez da n1ãe n1orta, objeto de intensa

polêmica na AJcrnanha. era mantida por

aparelhos que fora1n desligados após o

abo110 natural. Dia 16. e1n Erlangen.

INTERNADA: a atriz Brigitte Bardol, 58
anos. depois de ton1ar unia overdose de
tJ·anqüilizantes. BB. que teve uma crise
nervosa ao saber da n1one de u111 rebanho
de can1ciros perto ele sua casa. ficou inter-
nada por três horas para lllna lavagen1
esto1nacal. Dia 14. ern Saint-Tropez.

PROCESSADO: Daniel Ducruet, con1pa- O que você já viu em Miami continua igual:
Art Deco, Discotecas, Ballet, Prajas. Compras, Surf, Sol e Areia.
nheiro da princesa Stéphanie, de l\11ônaco.

por agredir o 1nédico Jean-Christian Ray-

1nond. O n1édico denunciou que foi espan- Assiin con10 a jovial e elástica Pahneira convidativas do que nunca. 90% dos
Real que se dobra con1 a te1npescade, aparcarnentos nos hotéis de i\1ia1ni e
cado durante un1a briga de.trânsito. Há dois Mia1ni e Mia1ni Beach estão brilhando. Miami Beach pern1anecem intocados.
~ A 40 quilômetros ao sul do centro de
Poucas horas após a passage,n do Miami a reconstrução já começou e em
n1eses. o ex-guarda-costas foi processado furacão o que se observava era o espíri- frente aos bistrôs, restaurantes e lojas
to rejuvenescedor. você encontrará o tapete de boas-vindas
pelo pastor Francis Clary pelo 1nes1no para o n1ais importante visitante de
Enquanto você lê essas linhas. os Miami.
11101ivo. Dia 19. en1 Nice. na França. cafés ao longo da pitoresca Ocean Drive
estão fervilhando, repletos de turistas. Não é à toa que Mian1i é chamada
OPERADO: o judoca Aurélio Miguel, 1ne- /\s praias lin1pas pelos ventos e reno- "A cidade que tem um ritmo todo seu".
vadas com areia branca estão 1nais
dalha de ouro na Olimpíada de Seul. Os

médicos descobriram um problen1a ósseo

no 0111bro esquerdo do judoca, que lhe

c.1usou a ruptura do tendão. Dia 16, em São MIAMI ESTÁ AQUI PARA VOCÊ.

Paulo. ■ Informações Hgue 000814-550- l 276

VEJA. 25 DE N OVEMBRO, 1992 97

.:

HISTÓRIA

Dono do barulho

Na biografia de Carlos
Lacer·cla, poitcas idéias e it111

estilo ir1,co11fi,ndível

ANDRÉ PETRY

e arlos Frederico Werneck de Lacerda cerda se colocar no centro
foi lHll ho1ne111 alto. bonito, culto e cios fatos políticos 1nais rele-
boê1nio. Era capaz de telefonar para sua vantes de sua época.

1nulher avisando que teria un1a reunião à

noite e que, portanto, não o esperasse e1n MARCA SOMBRIA - A lição

casa nas próxi111as 48 horas. Teve casos está na 1nais exen1plar e radi-

a1norosos durante o casa1nento e chegou cal trajetória do conservado-
~

a apaixonar-se pela atriz l'vlaria Fernanda. ris1no político brasileiro. La-

filha de Cecília Meireles e. na época. cerda fez seu batisrno nas

1::strela de tuna peça que ele próprio fileiras do velho PCB <los

escreveu. O Rio. que Graciliano R:unos anos 30. atravessou urna dé-

disst! que poderia ser tudo, n1enos teatro. cada liderando os bach..u·éis
da UDN enu~ravatacla e aca- :'õ":;
-Aos 12 anos. uanhou ele un1 tio o 1\BC do bou atrás de baionetas de gol- ~
pes rnilitares. Corno desenho. ~
c·o,111111i.,·111v. de Bukharin. dirigente <lo
~

Partido Bolchevique russo. tornou-se

lluente cn1 francês e inglês e viajou por é t1111a linha con1un1 a boa §

boa pane do planeta. co,nprando coisas parte dos políticos brasileiros Lacerda, em 1936: comunista e clandestino

con1 con1pulsão de pri1neira-darna. ;.\ fa- do pós-gue1Ta. Mas nern to- •

1nília tinha no1ne. ,nas ele era pobre. /\os dos chcuaran1 a tantos extren1os. Lacerda 1939. ao ser expulso do PCB, sem nunca
~

8 anos. intcrro1npeu as aulas de violino foi do co1nunis1110 insurrecional que inspi- ter pe11encido de fato ao partido, to1nou

por falta ele! dinheiro. St!us estudos secun- rou os levtu1tes de 1935 para a den1ocrucia unu1 bebedeira. chorava dormindo e !!en1ia
dários forarn pagos por tuna ordern 1naçô- liberal e. dali. para a ditadura pura e ~
11ica à qual pertencia seu pai e. na juven- si1nples. Não é tuna n1udança de curso
tude, andava con1 sapatos furados. Carlos dizendo-se órfão. sen1 "mãe". em referên-
(de Karl wlarx) Frederico (de Fricdrich co1no a do ex-n1inistro Severo Go1nes,
,u11ige1ulis1a en1 1930. no golpe nlilitar en1 cia ao Partidão. Anos mais tarde, tomou-se
caixeiro-viajante de golpes militares, sen1-
pre con1 o argu1nento astucioso de que
-Enuels) era t1111 ho111en1 honesto. Pai de 1964 e aJiado de Ulysses Gui1narâes na pretendia alcançar a "verdadeira democra-

tr~s filhos. 1norreu e,n 1977. aos 63 anos. abertura. Ne111 u111 acerto conveniente! do cia". Na condição de urn dos melhores

se,n fa zer fortuna. Por esse perfil pessoal. pós-tantas-coisas tropical. con10 o c:on1u- quadros que a direita civil no Brasil teve

Lacerda não é 111ais do que:! tuna boa 110-n1alufisn10 e o con1uno-quercis1110. A en1 rneio século. talvez o n1ais ben1 prepa-

curiosidade. i'vlas por sua biografia políti- bioirrafia de Lacerda é urna reviravolta tão rado, e segura,nente o n1ais ruidoso depois
~

c,1. é un1 fenô,ncno didütico. radical con10 in1aginar que. antes de se de Jânio Quadros. Lacerda acabou por

Sua tr.tietô1ia política est.í 1ninuc:iosa- ton1ar o n1inistro cio Exército que tentou emprestar ao conservadorisrno nativo urna

111entc dl:'.scrita no pri1nciro volun1e de ernparedar a dt!n1ocratizaçào. o general n1arca son1bria e até hoje não apagada - a

Carlos Lacerda - A Vitla de 11111 luta- Sylvio Frota tivesse sido colega de Luís de u1na visão interesseira da democracia.

dor, obra de pesquisa do historiador arneri- Carlos Prestes no Co1ni1ê Central do PCB. planta delicada que só deveria ser preser-

cano John Foster Dulles (a·aduçào de Van- \Vinston Churchill. o prin1eiro-1ninistro vada quando o jogo está a fa1vor.

da i'vlcna Ban't!to de f\ndrade: Nova inglês que tenninou sua carreira despa- Co,n a n1esn1a vaidade con1 que chegou

Fronteira: 568 páginas: 260 000 c:n1zeiros). chando c:0111 un1 pass:uinho na cabeça, a fazer pose p,u·a tirar fotografia na clan-

Li1ni1udo ao período que vai ele! seu nasci- dizia que só não é socialista aos 20 anos destinidade. en1 que ficou até 1937, depois

111ento a 1960. quando Lacerda quern não te1n coração. e só do levante de 1935, Lacerda pron1ovia

é eleito para o ,nais alto posto CARLOS não vira liberal aos 40 quen1 crises en1 11on1e próprio. Sern L, acerda, não
LACEPDJ\ haveria a CP! sobre o jornal Ulri111a Hora,
-de sua can-eira. o de uovc111a- . não ten1 cabeçu. A vida de que revelou ao país a tenebrosa conexão
. Lacerda é isso. 1nas tun1bé1n é financeira que pennitiu ao seu ex-anúgo
dor do cnt:io Estado da Guana- ' 1nais. Ern sua fase con1unista. Samuel Wainc!r criar un1 sucesso jornalísti-
bara. o p1i ,neiro volun1e traz encerrada aos 30 ,u1os. ele che-

unia diversão e unu1 lição. A

diversão é u1n passeio. ora por gou a lançar Prestes à presidên- co. Sen1 ele. quem sabe não haveria tan1-

tnís. ora pela frente das co11inas cia da Aliança Na1:ional Liber- bé1n uquele agosto de 1954. quando foi

na política brasileiru d<l'- déca- j tadora e a elaborar un1 roteiro baleado no ton1ozelo no atentado da Rua

das de 30 a 50. provocado pela de leituras edificantes. pela or- Tont!lero e Getúlio Vargas se suicidou no

inigualável capacidade de La- den1: i'Vlarx. Lenin. Stalin. Ern pahício. Co1110 con1unista, não criou ne-

98 VEJA. 25 DE NQ\i Ei'vfBRO. 1992

1

-,~' -1Yi.J\J!:l1i ~
J ' '' -,
\
1"



No atentado, em 1954: no antipovo Em 1960: cruzando seu destino e a sorte do país - ambos perderam

nhu1na crise. Corno pregador de golpes, país, acusava de defensores do "nacionalis- ria. Girando sua n1etralhadora verbal, La-
várias. Na eleição presidencial de 1951, n10 bananeiro". Na televisão. un1a novida-
disse que se Vargas fosse eleito não pode- cerda ora falava en1 de1nocracia, ora en1
ria assun1ir. Na eleição seguinte. ern 1955. de na década de 50, tornou-se logo o
tomou a 1nesma posição contra os eleitos ditadura. Defendia o capital estrangeiro,
Juscelino Kubitschek e João Goulart. "Es- político mais popular e didático. Tanto que
ses homens não podem 101nar posse, não amargou ten1pos proibido de falar no rádio depois bancava um aliado do 1nonopólio
devem tomar posse, não to,narão posse", ou na TV. Na Câ,nara dos Deputados, foi
escreveu Lacerda nun1 editori~ú de prin1ei- um tribuno se,n concorrente. Certa vez, estatal. Nu1n 1no1nento, os a1nericanos
ra página na sua 1i·ib1111a tfa h11pre11sa. un1 colega lhe pediu um aparte e o acusou
Defendeu um regime de exceção, escanda- de ser "ladrão da honra alheia", pela fre- era111 in1perialistas, en1 outro era111 a úni-
lizou platéias nos Estados Unidos com qüência com que fazia críticas ácidas aos
esse ponto de vista e avançou até pedir ini,nigos. Lacerda retrucou que seu acusa- ca allernativa para salvar o Brasil dos
urna ''ditadura militar pura e sin1ples". dor podia ficar tranqüilo porque nada linha
para roubar dele. soviéticos - a "miragc111 moscovita'',
NACIONALISMO BANANEIRO - Visto com
os olhos de hoje, custa acreditar que Lacer- Com sua oratória brilhante, Lacerda co1no escreveu.
da pudesse ter algu1n sucesso com posi- abusou da palavra para fazer prevalecer
ções tão an1iden1ocníticas e tão antipovo. seus pontos de vista. Usava a mesn1a Co1n seu vício de transitar na cena
Dizia que o voto universal era a ''ditadurd virulência para atacar aliados e adversá-
da ignorância e da irresponsabilidade''. rios, e tinha u1na facilidade i1nensa para política co1n aliados mutantes e posições
Sua<; opiniões, no entanto, era1n populares. reparar críticas com elogios, quando lhe
Porque sua palavra, escrita ou f~tlada. tinha parecia conveniente. Jânio Quadros, a dúbias, Lacerda na verdade controlava
u1n poder co1Tosivo. Na Tribuna ela bn- "virtuose da felonia". foi seu candidato à
pre11sa, redigia artigos duríssimos, com Presidência da República cm 1960. Dizia sen1pre a bússola de sua 1naior ambição, a
uma enorme clareza. C1iou a expressão que Juscelino Kubitschek era "pessoal-
"mar de lruna·•. para designar a corrupção 111ente desonesto'', •·o candidato da infla- de ser presidente da República. Era um
no oovemo Vargas. Valendo-se do sucesso ção que ne1n a própria fortuna explica".
do efilme Rebec-a, a Mulher /11esq11ecível, Classificou o atual deputado Roberto lacerdista. Fanático por si próprio, foi un1
passou a chamar Vargas de ·'Rebeco, o Campos, seu aliado na derrubada de João
ditador inesquecível''. Aos que se opu- Goulart, de ''entreguista fanático". Ata- gigante da política de seu ten1po, surpreen-
nhatn à entrada do capital estrangeiro no cou até a1nigos da Tribuna, u1n grupo
solícito que, às vésperas da eleição para o deu até os an1igos con1 un1a adn1inis1ração
governo da Guanabara, o presenteou com
uma edição "extra" anunciando sua vitó- dinâ1nica e construtiva na Guanabara e

criou o mito do "lacerdismo". Como he-

rança, no entanto, Lacerda não deixou tuna

idéia sólida, n,as un1 estilo - o canibalis-

1no. Acabou por autodestruir-se, calado, a

partir de 1964, pelas mesmas baionetas

que tanto cortejou na esperança de que elas

faci li1asse1n seus sonhos presidenciais.

Co1n seu estilo, fazia questão de confundir

seu destino pessoal con1 a sorte dao;; insti-

tuições. Acabou derrotando ambos, com a

diferença de que as instituições duram

mais do que uma geração de ho1nens. E,

no fim, Lacerda não passou de uma fabu-

losa tragédia. ■

VEJA. 25 DE NOVEtvJBRO, 1992 99

CINEMA

Depois do vendaval interpretação sensualíssi1na da atriz Patrí-
cia Pillar. Nu1na dessas viagens, a dupla

de salafrários resolve passar a perna no

AJJoiados JJOr i1111a estc1tal chefe e en1bolsa tuna pedra avaliada en1
carioca, três .fil111es brc1silei,~o!i 111ais de 200 000 dólares. A tra1na uanha

G"f1egc1111 ao 111e1·cado ~

fôlego e htnnor con1 o envolvin1ento de
urn pacato poeta (Felipe Camargo). alça-

do de surpresa à condição de bandido.

F alar 1nal do cinen1a brasileiro é co- contrabandear pedras preciosas. Ele conta
rno atirar nurn ani1nal e1n extinção. co1n o auxílio de uni capanga que atende ■ SUA EXCELÊNCIA, O CANDIDATO - 0
Depois que o governo Collor fechou a pela alcunha de "Gafanhoto" (Roberto cineasta paulista Ricardo Pinto e Silva.

En1brafihne, a rnaioria dos cineastas fo i 80111ten1po). 801n1en1po faz tuna versão de 31 anos. que jü foi assistente de

obrigada a n1udar de profissão. Alguns atual do n1alandro carioca. cheio de tre- direção de fil1nes cotno f\ Da111a do Ci11e

deles partiran1 para a publicidade. l'izu- jeitos. expressões e hábitos típicos de Shangai e O Ho111e111 da Capa Preta.

ka lan1asaki tornou-se diretora de nove- que1n trocou a boe111ia e a roda de san1ba decidiu apostar no apelo de tnna peça de

las e Arnaldo Jabor virou jornalista. Sen1 pelo tráfico de drogas e a contravenção. teatro de sucesso e1n seu pri1neiro longa-
a estatal federal que garantia recursos A quadrilha conta ainda con1 tuna aero-
para o lançan1cnto de fihnes. 1ncs1no rnoça do tipo leva-e-traz. Cris. nu1na -n1etragen1. A versão que chega às telas é
quern j,í estava con1 a obra ~

unia chanchada en1 urande estilo, con1
~
direito a personagens ca1ica-

tenninada não dispunha de tos que circulan1 por 1nansões

n1cios de coloc.í-la no n1erca- suntuosas. Na1Ta a tr,\jetória

clo. Con1 a criação do Riofi l- de u111 pol ícico (l{enato Bor-

1ne. há qu.ise un1 n1ês. unia ghiJ que topa qualquer parada

espécie de E1nbrafiln1e ligada para chegar ao poder. A foto-

à prefeitura do Rio de Janei- grafia e a direção são cornpe-

ro, surgiu tnna solução. 1\- tentes. n1as a história parece

estacai !?.arante a con1erciali- hoje u111 conto de fadas. se
~ con1parada aos desatinos da

zação e a pron1oção das fitas

e cobre as despesas con1 urna era Collor.

parte da bilheteria. Co1n isso.

foran1 resg,ltadas das pratelei- ■ CONTERRÂNEOS VELHOS DE
ras três produções finali zadas
oGUERRA - roteirista Yladi-

entre 1990 e 1991. U,n tios 1nir Carvalho uastou dezenove •
fihncs e,n cartaz é bo1n. o ~
l
anos colhendo depoin1entos
•.
outro é u,na co,nédia que pro- sobre os principais persona-
1
voca n1cnos gar!!alhadas do gens envolvidos na construção
~ ~ de Brasília - de Oscar Nie- l

que poderia e o terceiro é u,n l

docu 1ncnt,írio an1bicioso. n1cyer. Lúcio Costa e Jusceli- l

no Kubitschek a dezenas de 1

■ A MALDIÇÃO DO SANPAKU - Patrícia Pillar em A Maldição do Sanpaku: policial candangos que lotavan1 o can-

É o n1elhor dos tr~s lanc:•11nc11- teiro de obras do Planalto. O
tos. O espectador pode ir sen1 resultado é uni painel de con-

-n1edo ao cinen1:1. Alguns dos tradições in1pressionante. que
põe e111 foco a falência do
fihnes 1 1u1cionais que n1ais novo Distrito Federal con10
lt!tTa pron1etida dos in1igran-
-agradanun nos últi1nos 1c1n-

pos. con10 /~1ca cl<' Dois G11-

111c•s e 1\ Grande ,\rre. têrn tes. Carvalho abre sua cân1ara

tnna caracten•stt•ca e,n co1nun1: para unia seqüência de depoi-

suo policiais. ,4 /vlaldiçcio ,lo .n1entos indignados de ex-can-
!ia111Jak11 pertence i't 1nes1na li- ~

nluu:!e1n. en1bora niio tenha n dangos. A certa altura. o doeu-
~ ~

pretensão de ser nenhu1na 1nenta•11• 0 rnostra cenas estar-

recedoras gravadas logo após

obra-prinu1. Dirigido pelo ca- -un1 !?rave acidente nu111a obra,
rioca José Joffily. de 46 anos.
cujo saldo deixou dezenas de

o filn1e tcn1 bo1n ritino. clin1a rnortos e que foi ocultado pelo

envolvente e const•guc pntn• governo da época. Apesar de

der a atenção da platéia até o o sua longuíssi1na duração -
5-
úllin10 111inuto. ~ 175 1ninutos -. o docu1nent.í-
i"«' _rio não aborrece e consegue
t-\ história se passa no eixo
e;º-;; levar à retlex·ào sobre os con-
Mia,ni-Rio dt! Janeiro. onde rrastes do país.
urn 1n il io n,írio negociante

(Sérgio Brillo) se ocupa e1n Mamberti e Martins em Sua Excelência...: chanchada SILVIO GIANNINI

100 VEJ A. 25 DE NOVEMBRO. 1992



''O QUE FAZER COM MEU DINHEIRO AGORA?''

CITI-HEDGE~ •

Aplique no Citi-Hedge.Um fundo baseado na variaçãocambial,concentrado em "export notes'',que por sua vez são
atreladasao dólar comercial,com liquidezdiáriaapósos 30 primeirosdiasdecadaaplicação.

''O QUE FAZER COM MEU DINHEIRO AGORA?''

CITI-COMMODITY.*

Invista no Citi-Commodity. Um fundo diversificado concentrado em papéisde renda fixa com ótimas
expectativasde rentabilidade, também com liquidez diária apósos30 primeirosdiasde cada aplicação.

''O QUE FAZER COM MEU DINHEIRO AGORA?''

CITI-COMMODITY-01~

l Venhapara oCiti-Commodity-DI. Um fundo concentrado em papéisde rendafixa,contando com
operaçõesdehedge emtaxas de juros comliqúidez diária após os30primeirosdias de cada aplicação.

Citi-Hedge, Citi-Commodity eCiti-Commodity-DI. Maisuma vez oCitibank lança novasopçõesdeinvestimentos
para responder com segurança aqualquer dúvida que você tenha nahorade aplicar seu dinheiro.

'Jv.do\ ru,•lll>i6:>I C11m b>1t n,C11C11hr ••2lllS do lb~ Ccr.11d dO B,i,,1.

CenlraÍ5 de lnnstimcntos Pessoa Física: CtTilB· Jl ~•~o
I J !NI.Y,
Belo Horizonte.(031) 273-3331 ■ Sal'aui {031) 219-1811 / 219-1816 / 219-1641 ■ Brciwia (061 )225-9244 ■ Blumcnau (0173) 26-5611 ■ Campinas(0192) 32-9033
■ Curitioo (Oll} 322-46t5 1Campo Grande (067)721-1466 ■ Fotuk?l(085) 244-9.188 ■ Goiãnia(062) 2294255 ■ Porto Akgre(05I) 228-9811 ■ Moinoos de Vrn10 Distribuidorade Titulose Valores Mooüiórips
(051) 221-4166 R. 411 ■ R(cife (081)424-2214 ■ Boa Viagem (08ll 424-2214 ■ Ribciião Preto(016)636-0738 ■ Rio de Jantiro (021)291-1232 ■ Sah'ador (071) 243-6622
1 Barra-Salrm(07I) 3Jó.J986/3Jó.1944 ■ SãoP-4ulo (011) 283-4466 ■ FariaLima (OII) 210-01!99 ■ lpinnp (011) 235-3109 ■ M0rnlil(Ol1)573-96I1/576-1074

■ Lapa(OII) 262-5593 ■ Santos(Ol32) 3+4817 ■ Santo Amaro (OII) 521-7088 ■ Sa!ltoAndré 1011)2834l66 ■ SJ. Rio Prcto(Ol72)32-3188

CenlraÍ5 de lnvestimtntos !'moaJurídica:

BeloHoriron!c(031 )219-1600 ■ Blumenau(Ol73} 26-80'.2 ■ Campinas(0192) 59-22001 Curitiba(Ol1) 221-6681 ■ Pooo Alegre (051) 221-43661R(cife (081J216-1265

1 RibeifJO Pmo (016)625-5241 ■ Rio de Janeiro (021) 276-3005 ■ Sall'arlor(07ll254-54401 São Paulo (OIli 576-2821/576-1933 / 576-29401576-1955

LIVROS

Entre dois amores - nun1a fascinante profusão de in,agens.
Pa11teros te1n n1uito do espírito do Bil-
E,n Panteras, seit pri,neiro
ro111arice, Décio Pign.cttar·i .fala do e11ibate d1111gsru111a11, jargão literário que define os
ro1n ances que investen1 nos ''ritos de pas-
qite opõe lite1·atitra e viela sagenl'', ou seja, na transformação do

RINALDO GAMA adolescente en1 adulto. No início da tran1a,
Miro está na casa dos 15 anos e no final
cotnpleta 2 1. Panteras aco111panha este
an1adurcci1nento concentrando-se ern dois

grandes planos. que se 1nantên1 em pen11a-
nente conflito: o do sentin1ento e o da

O que pode haver ele 1nais banal do i --- - - - - -------· .. - -- - - - - -- -- -
que o an1or entre dois adolescentes? o
,:,. ~---.,..\
Nada, exceto un1 rornance que o tenha . .- 1
9 .
por ten1a. Pa11teros (Editora 34; 15 l 1 ,,,, . 1,

páginas: 147 000 cruzeiros), o novo li- 1 •

vro do poeta paulista Décio Pignatari, é ,l

u1n ro1nance cuja trarna se tece e1n torno

da abrasadora paixão que conson1c os

adolescentes Miro e Yara na cidade ope-

rária de Osasco (periferia de Süo Paulo)

cios anos 40. O livro. no entanto, nada

te n1 de banal. O prodígio estü na forn1a

que o autor adotou para contar esta

história de tintas autobiogrüficas. En1

sua estriia no gênero. Pignatari, de 65

anos. escreveu u111 ron1ance que cl.i lra-

balho para ler. tltna obra estranha dentro

do cenário ela literatura brasile ira. t:nibo-

ra se fili e a urna tradição que ven1 do

início do século, o ron1ance-invenção.

Quern se dispuser a ler Panteros _precisa-

rá ter paciência até aprender a dançar no

ritn10 da n1úsica literária de Pignatari. •f

No início, haverá tropeções, passos eni a:
.:::,õ • •
falso, tal vez quedas. tvlas quando se der
g
conla. o leitor perceberá que já aco1npa-
;::
nha o rornancc sc,n problcn1as e aí 1erá _.__ _.
Q'

§-

ow"' ,__ _ __

assegurado u1n tipo de enioçJo que só os Pignatari: narrativa fragmentada e paixão juvenil de tintas autobiográficas

grandes n1on1c ntos des1c gênero são ca-
~ ~

pazes de proporcionar.

• pri,neira vista, Pa11- confonna cn1 falar de algo. Ele quer ser razão. No prinieiro se situa o arnor incan-
esse algo. Pigna!ari costurna brincar dizen- descente de 1\•1iro por Yara e as perturba-
F IM NA METADE- A do que seu livro é "unia aurobiografia não ções que lhe são inerentes nun1a sociedade
autori zada'·, ou seja, possui fortes traços de cinqüenta anos atrás. Na esfera cultu-
teros - palavra que resulta da junção de nicn1orial ísticos. Con10 a n1e1nória funcio- ral-racional aparece uni J\.1iro que con1eça
na en1 jorTos espontâneos. "que estão lon- a descobrir a literatura 1noderna, o cine1na
pantera e eros - ate! parece un1 livro ge de obedecer ao percurso passado-pre-
sente-funrro. o rornance 11ata ele se -- as referências cinen1atogrüficas de
artificial , zeloso do cornpliquês. atraído organizar do n1esn10 1noclo. ;\ssirn. o que
poderia ser un1a nru1·ati va linear. con1 Panteras vão do título dos capítulos, ver-
pelo antigo fascínio vangu~trdciro do her- con1eço. nieio e fini. vira un1 conjunto sos da n1úsica-terna de Casablanca, ao
eslilhaçado de len,branças. cacos que o uso do zoorn no interior do próprio texto
rnetis1no. Passo en1 falso. E certo que en1 leitor precisa ir colando no interior de seu - . a ,netn5pole, o n1undo para alén1 de
próprio cérebro. Sen1 a nienor ceri1nônia, Osasco. O choque entre urn e outro plano
1986 o rnesrno Pignata,i publicou u,n a nan11tiva pa,sa. por exen1plo. de uni se dá à rnedida que Miro vai crescendo
reu1uo do Brasil no início da li Guerra. intelectualniente, o que o faz repelir cada
livro de contos. () Rusro da !vle111ôria, que gasogênio, falta de pão, para o rnodo de vez niais as convenções que lhe cercani,
dançar de Yara. unu1 página do di,írio de enquanto Yara pennanece estacionada.
ele próprio considera ".ilegível e ininteligí- Miro, u1na cena de voyerisn10. unia festa ''Eu não sei o que cu vi en1 você", diz
de fa111ília e daí para frente, ou para trás Y,u·a, irritada consigo n1es111a. a un1 Miro
vel''. Nlas J)cuueros se situa exatarnente na encurralado entre a vida e a literatura.

1nargeni oposta da liten11íce. Todo o esfor- A fiJn de tomar palpável a dicotonlia

ço de Pignatari est:'Í na tentativa de abre-

viar a cjist:1ncia que separa. corno ele

1nesn10 diz, ..a sensibilidade da vida da

insensibilidade da literatura. urna vez que

a palavra ·anior· . por exen,plo. nüo é o

·an1or· propria1nenre dito". Para realizar

e.ssa proez:l. ele recorre ao expediente da .

"i1nitação''. O texto de J'anreras não se 1

102 VEJA, 25 DE NOVEMBRO. 1992 I.

i

,. rnaré. Foi assin1 con1 o con- da 111usa que aparece no li vro
cretis1no. atacado prin1eiro
que atorn1enta o herói. Pignatari dispôs pelos conservadores e depois é verdadeira. "Depois que eu
os C'â'pín,los do romance de u1na forn1a pela esquerda, que o acusava
especial. Os de numeração ín1par devem de alienação. Foi assin1 tan1- saí de Osasco, onde meu pai
ser lidos de forma convencional, ou seja, bén1 quando Pignatari, contra-
do início do livro em diante. Já os capítu- riando o coro de apocalípticos trabalhava como cera1nista,
los pares corneça1n no final da obra e, que torcian1 o nariz para a TV
portanto, devem ser lidos de trás para brasileira, decidiu integrá-la Yara se apai xonou por un1
frente do volu111e. Co,no é hicil deduzir,
haverá um 1non1ento e1n que os dois aos seus estudos, passando a colega meu, casou-se, consti-
fluxos de leitura se encontrarão. Isso se
dará no capítulo 21. o últirno do livro, escrever sobre ela en, colunas tuiu fan1ília, mudou-se de lá;
localizado no 1neio do volu1ne. Noutras fixas na imprensa.
palavras, Pa11teros é um romance que eu tarnbé1n 1ne casei, tive três
acaba literalmente na 1netade. Dono de um talento 1nulti1nídia, o
advogado Décio Pignatari, alé1n da lite- filhos e nunca n1ais a vi'', ele
- -~·- - - - - -·- - ---·-- ~------- ratura e do jornalisn10, atuou 1an1bé1n no
1neio publicitário - a n1arca "Lubrax", conta. Pignatari esclarece,
Trecho por exe,nplo, foi criada por ele. Profes-
sor titular da ·Faculdade de Arquitetura e porém, que fez chegar à anti-
, , O ímpeto de ir, o prazer de Urbanisn,o da Universidade de São Pau-
voltar, poucos estudantes no trem lo, onde leciona A,nbiente e Con1unica- ga namorada e a se'u marido sua inten-
das treze. Calcadas de um lado só,
ção é Sen1iótica do Design, Pignatari ção de contar a história e publicar a foto.
>
avisa que daqui a dois anos se aposenta- "Soube por terceiros que da parte deles
números ímpares nas casas. Al- rá. "Aí então vou encarar ,neu últin10
moço, rádio, música americana, desafio na prosa de ficção - quero não haveria problen1as, afinal , tudo isso
"Ecos da Broadway" (...) De ama- escrever uni romance épico sobre o Bra-
relo-ouro, tafetá, domingo de ne- sif', conta ele com invejüvel vigor. se passou há ,neio século", infonna o
bliluz, saltava poças pela rua bar- "U1na hora eu teria que enfrentar esse
renta da matriz, jeito de sinhá n1011stro", diverte-se o escritor, que con- escritor. Sua atual con1panheira, urna ex-
rodeada de aias invisíveis. O carro tinua se dizendo rn arxista, e1nbora não
já era um símbolo evanescente, tolere '·a esquerda brasi leira, que ainda aluna con, quem o bem-humorado Pig-
mudara-se da Várzea para o lado fala ern itnperiali srno ianque."
sul da ferrovia, Osasco, propria- natari rnantérn · um relacionamento que
mente, casa de estilo mexicano, MusA - Pignatari explica que escre-
rua sendo asfaltada. Durante a veu Panteros - um parto de "meio define corno "esquema Ita1nar" para ex-
missa, Miro buscava entre vultos século e qu inze meses" - para tentar
de pé, de joelhos, sentados, aque- con1preender 111elhor o próprio rito de plicar que reside,n en1 casas separadas,
le nome que começava a ressoar passagen1, especialmente no que se refe-
na cúpula de todos os seus senti- ria à paixão avassaladora por Yara, no- ta1nbé111 não se abalou quando ele anun-
mentos, enquanto o padre, inces- 1ne fic tício de seu prin1eiro grande an1or.
santemente, italianava réstias de O nome pode ser fal so, mas a fotografia ciou que iria tnexer no seu passado
luz. Vara se abaixou para um mis-
sal caído, voltou em câmera lenta a,noroso.
os olhos para ele e sorriu-lhe no
coração uma fatal ferida feliz. , , Na hora em que sentar para escrever o

- - -- -----·-- -----··--· épico do país, Pignatari, de certa 1nanei-

ra. estará outra vez tent,u1do entender

melhor algo que nunca compreendeu

muito betn. Certan1ente não é por acaso

que Miro; no final de Panteras, diz para

Yara: "Eu não me caso con1 a sua

fan1ília, ne111 con1 a 01i nha; não me caso

com Osasco ou São Paulo... e não 1ne

caso com o Brasil". O que importa para

o leitor é que, revolvendo suas próprias

chagas, con10 fez em F'anteros, Pignatari

consiga de novo transfonnar o pessoal

e1n universal , a banalidade em .invenção,

a literatura num a·rremedo que enriquece

a vida. ■

BANDEIRA DO Novo - Ao contrário do 1- ASJ ValkíriasJ 1- Na Sala com Danuza,
que se poderia supor. Pignatari. que há Paulo Coelho (1-14)
quarenta anos ajudou a criar a poesia Danuza Leão (1-11)
concreta brasileira, ao lado dos irn1ãos 2- Escrito nas Estrelas,
Augusto e Haroldo de Ca,npos, diz que · 2- OSucesso Não Ocorre por Acaso,
Sidney Sheldon (2-2)
~ 3- 0 AlqU(!lliSla, Lair Ribeiro (2-18)

o seu interesse. no con1eco da carreira, Paolo Cloelho (5·112•) 3- Comunicação Global,
•>
· 4- Humor nos Tempos de Collor, Lair Ribeiro (4-3)
era escrever urn romance, e não poemas.
Só isso já bastaria para aco1nodar Pa111e- Jô Soares,M711ôr Fernandes eL.F. Verissimo (6·6 •) . 4- OAnjoPornográfico -A Vida de Nelson Rodrigues~
ros, se111 nenhun1 trauma. no conjunto de 5- Brida.,
sua obra. Mas há pelo n1enos mais unia Buy Castro (3-3)
Paulo Coelho (7-120)
razão para tanto - a autenticidade do 5- Rola 66, •
livro. Pi!!natari não é o velho poeta que 6- OAmor Natural,
Caoo Barcellos (6-6) '
~ Carlos Drumíl]of}d de Andrade (3·2)
6- BaúdoRaul,
passou a vida rin1ando an1or corn dor e 7- Noite sobre as AgUJIS,
de repente resolveu virar ron1ancista es- Raul Seixas (5-3) ..
'Ken Follett (28 •)
crevendo un1a narrativa "avançadinha" 8- Hifda Furacão, 7- Você Pode Curar Sua Vida,
para dar prova de juventude. Ern mais de
quatro décadas de atividade literária, sua Roberto Drummond (9-33 •) Louise Hay (7-84 ·)

9- Diário de um Mago, 8,. ACarícia Essencial,
Paulo Coelho (d50' )
Roberto Shinyashiki (60•)
10- Zoya,
9- Amar Pode Dar Certo,
Danielle Sfeel (5')
. Roberto Shinyashiki eEliane Dumêl (78•)

10- OPoder Dentro de Você,

Louise Hay (30')

bandeira se1npre foi a do novo, ainda

. que isso sign ificasse, corno significou,
1 na maior parte das vezes, ren1ar contra a

VEJA. 25 DE NOYErvlBRO, 1992 103

.

1

SHOW



1

Daniela Mercury, desde já a voz deste
verão aqiti, põe o pé na estrada para_talvez ser a

voz do verão lá, ,ia Côte d'Azitr de 1993

GERALDO MAYRINK

Agora que até a aflitiva 29 - atingido na últin,a quinta-feira uma solitária testen1unha descia aos dois
questão de quetn vai ser a diante dos 3 000 espectadores do Cane- andares inferiores do prédio. Era Belita
voz do verão já está re- cão carioca, Daniela l'vlercury, a que es- Meirelles, coordenadora de atendi1nento do
solvida, u1n 1nês antes da tourou no norte, enconn·a-se instalada no 1nuseu, que não gostou nada do que viu e
abertura oficial da ..sai- sul co1no rainha con1 direito a corte e ouviu. Não era un1a questão de gosto. As
son'' tropical. não ten1 respeito*. Para quen1 chegou à região há paredes do subsolo, onde estão auditório,
rnais jeito n1esn10. Quen1 apenas cinco 1neses, é un1 espanto. A data restaurante e biblioteca, balançava1n.
quiser que aproveite, co- histórica n1erece ser le1nbrada.
1110 estão fazendo 1nulti- Acirna da cabeça de Belita, e dos fãs
dões ruidosas e felizes de l'vlanaus a Belo Foi unia entrada em cena digna dos que pulava1n ao som de Daniela Mercury
Horizonte, entre as pri1neiras cidades 111aiores den1olidores da arte n1oden1a. Ao e sua banda, todos ao mesn19 te1npo,
conte1npladas con1 un1 fenô1neno que, 111eio-dia de un1a sexta-feira, 5 de junho, cerca de 1 bilhão de dólares tremia con1 a
in1itando as n1assas quentes de ar, ve1n quando unias 20 000 pessoas se espre1ne-
soprando no Brasil do norte para o sul. ra1n debaixo do vão livre do Museu de ''' E111 se.1111ida: Siio José dos Ca111pos (3 de deze111-
nun1a tntjetória inexor,ível. Con, seu 1110- Arte de São Paulo, !'vlasp, para mais u1n
n1ento top - que se estenderá até o dia dos tradicionais sho\VS de n1úsica que ele- bro). Barra 1l;fa11sa (4). Rio de Janeiro (5 e 6),
trifican, a pl.itéia e paralisan1 o trânsito,
Ca11111i11a.1· ( /0). Stio Pa11fo ( 11 e 12). C11ri1iba ( 18) e

Porto Alegre ( /9)

104 VEJA. 25 DE NOVEivIBRO, 1992

ressonância. Eram obras de Renoir, De-

gas e Van Gogh, entre outras estrelas da

pinacoteca do Masp, que vibravam no

,nau sentido. Feitos os cálculos de resso-

. nância e de resistência de materiais, con-

{ cluiu-se que Daniela e sua turn1a deve-

ria1n ir pular e cantar en1outro terreiro -

, mais exata1nente o campus da Universi-

t. dade de São Paulo, onde no dia seguinte

30 000 pessoas compareceram para assis-

tir ao show pouco divulgado de uma

cantora desconhecida. Em matéria de

"cheguei", foi a sensação do ano.

ESTALANDO os DEDOS - Assim, em ape-
nas 150 dias desde que abalou mesrno as
estruturas do Masp, Daniela Mercury de
Aln1eida Povoac;, baiana de 27 anos, che-
gou ao auge de un1a carreira começada
onze anos antes. aos 16, quando cantava

no bar de u,n francês nutna rua sem saída
da Barra, en1 Salvador, e se escondia
entre panelas e temperos da cozinha
quando chegava o Juizado de Menores.
1 Tão Bahia, tão trópico, tão Brasil, seu

sucesso fuln1 inante parecia iluminado pe-
t los relâmpagos de tuna tempestade de

verão, fulgurantes e fugazes. Mas alguns
via1n muito além disso. "Se quiser con-
quistar o mundo. vai ter a máquina Sony
à disposição. Depende dela", diz o presi-
dente da Sony Music (ex-CBS), Roberto

Augusto. estalando os dedos: 5 500 có-

pias do segundo LP de Daniela, Canto ela

Ciclade, vendidas na segunda-feira dia
16; 16 000 no dia seguinte 176 518 na
quarta. Nesse ritmo, antes do fim do mês
passará dos 250 000 discos vendidos - e
será o quarto artista do ano a conquistar
um disco de platina, depois de Zezé di
Camargo e Luciano (535 000), Leandro e

Leonardo e Xuxa (400 000 cada).
"Temos um plano audacioso para ela.

Em trinta anos de trabalho nunca vi um
fenômeno co1n a força de Daniela",
acrescenta o e1npresário Manoel Pola-
dian, da Poladian Promoções, do alto de

sua carreira de promotor de 4 000 shows.
Com Poladian acertando datas para
shows em Nova York, no ano que ve1n, e
Jorge Sampaio, empresário pessoal de
Daniela, estabelecendo o roteiro de
shows no plano interno, Daniela já tem

seus três homens de ouro trabalhando a
todo o vapor (veja quadro à pág. 106).
No palco, porém, cercada da banda que já
a aco1npanha há três anos, ela está sozi-

nha. Costu1na rezar nessas ocasiões. E
roer unha.

També1n, pudera. Com 55 quilos imu-

As estruturas do Masp balançam com
a energia combinada de 20 000 fãs
de Daniela: sinal de redenção contra
os recentes·"anos de lama"

VEJA, 25 DE NOVEMBRO, 1992 105

táveis mesn10 depois de quase duas horas "Buiuzinho", "Lourinho" e "Buiú", os Meninos do Pelô: o palco só para eles
de canto e dança en1 cada show, 1,62
vislu111brou nos shows de Daniela mais lê lê lê lê a ô u ô II ô /Uô ô /Eu so11 i/ê",
111etro de altura a111pliado pelos saltos de que uma redenção - serian1 ta1nbé1n con1entaria a platéia, atordoada con1 tanta
seus tan1ancos ta1nanho 36, Daniela ten1 unia vingança contra os anos de lan1a. •·a teorização, balançando a cabeça. batendo
protagonizado nesses últin1os n1eses un1a 111ais perfeita oposição ao atnbiente 111usi- os pés e pedindo bis.
cal jeca-ron1f1ntico ainda vigente, depres-
espécie de Dlilagre da n1ultiplicação - de MOÇA DE FAMILIA - A entronização
público pagante, de fãs atrás de autógrafo sivo, dedicado a histórias de dor-de-corno quase instantânea de Daniela não a assus-
e sentilnentalis1no pra baixo, pra dentro, ta. Len1bra que na Bahia co1nandava
e da aprovação da in1prensa eletrônica, de pra trás". Jogada na linha de fogo da sho\vs para até IO000 pessoas e por isso
1nineirinhos e can,ecões já são para ela
Jô Soares e Marília Gabriela ao Fantásti- riquíssin1a caipirada sonora, a nova baia- espaços íntin10s. "E en1ocionante ver essa
co. Na irnprensa escrita, onde nunca há resposta imediata ao n1eu trabalho. n1as
unanimidade, seu no1ne ven1 servindo na reagiu con1 cintura e diplo,nacia de não é novidade não'', diz nu111 sotaque
para atiçar a 1ivalidade entre grupos. O
rebanho espetacular an1ealhado por Da- veterana: reconheceu todo respeito a Nel-
son Moua e à n1úsica sertaneja, "que te1n
niela - 60 000 pessoas e,n catorze apre- a ver cullural,nente con1 o brasileiro''. ''E
sentações no palco do Olyn1pia, en1 São
Paulo, 7 000 nun1 único shov,1 no Ginásio
Rio Vermelho, en1 Goiânia, n1ais 12 000

en1 outra noitada no Mineir.inho, en1 Belo
Horizonte - ve1n sendo usado con10
prova de que.. 1nais un1a vez, há algo de
novo no ar. No caso, platéias adolescen-
tes, c,u·inhosas. vibrantes con10 aquelas
que saíram às ruas con1 as caras pintadas.
Un1 sinal dos te1npos, portanto.

rv1as que te1npos? Nu1n a1tigo que pro-

vocou resposta i1nediata dos atingidos.
en1 O Globo. o con1positor e jornalista
Nelson l'vlotta arrisca a tese ele que a
n1iséria 01a1erial e espiritual constrói sua

própria trilha sonora, refletindo un1 te1n-
po, un1a política e u1n con1portan1ento.
Por isso nasceran1 a bossa nova nos anos
JK. o tropicalisn10 nos anos rebeldes, o

charnado rock-Brasil no fin1 da ditadura.
a lan1bada no ternpo de Sarney e os
sertanejos na ten1porada Collor. l'vlotta

Os loteadores do planeta Mercury Enquanto isso. no Rio de
Janeiro, Roberto Augusto.

U,r, trio q1te ve,zcle discos, s/1o}vs e /J1·e.s·tígio presidente ela Sony Music.

n1andava cartas para o ntundo

Ne1n os ouvidos de l\tla- Daniela l\tlerc.ury gravando repertório à cenografia". diz . e fa zia contas. As cartas ian1

noe.1Poladian. afi nados c1n nun1 estúdio. fo i sua vez de Jorge. Ponderou ta1nbén1 que para os presidentes ele todas

tri nra anos de carreira co- ficar ele olhos e ouvidos arre- a 111aré estava boa. pois nos as Sony. anexando vídeos

1110 pron1otor de sho,vs. galados. ·'Quero exclusivida- 130 sho\VS que fi zeran1 no cios shO\VS de Daniela e per-

sintonizara1n t.:0111 o préc.liu de nacional... propôs .ele a Carnaval do ano anter~or a l)S guntando pelo possíve l inte-

do l'vlasp nu turcle e1n que Jorge Sa1npaio. u e1npresário, não soti·eu un1 únic:o calote. resse. O Japão jü havia dito

-seu carro t>ngarrafou lú en1 a1nig0 e sócio de Daniela na U111 recorde. Poladian sai u de ·•si1n". a Espanha tan1bén1.
frcn 1e. " Vui lú na Cidade · firrna cios dois. a DS. lá co1n o 1naior pê-

Un ivcrsir-.1ria ver o que é Jorge, ucln1 inistrador de cn1- claço do 1napa cio
~
isso. Co nv1ae.is ta d ens1.cno!!nuhe; ernç.i,-. Brasil sob sua res-
te r presas. ex-dono dê restaurante
-da. oao ponsabilidade. Jor-
-re' .comendou n un1 de seus e proprietârio dê un1 dos tr~s
grandes trios elitricos de Sal- -ge guardou para si
o lhe iros. Ele voltou con1 vador. o Eva. anotou e ficou
~

Bahia. Ceará, Per-

os o lho-: arrega lados e urn de pensar. Trabalhava con1 i1a 111 buco e Ri o

crilc:u lo de 30 000 pessoas Daniela hâ oiro anos, reunira Grande do Nortê.

na platé ia . Pol::idian foi à os ntelliores protissionais da

Bahia, interessado en1con- Bahia e sentia qu<: estava chc- Jorge Sampaio,

tratar u1na ll'll~ia dúzia de <•ando a hora. ··con10 ela d.i o empresar10:
"Ela ouve muito
~

sho,vs só para São Paulo. 1nu ira i1nporrância ao que falo.

n1as. depois de ver e ouv ir posso ponderar en1 rudo. do o que falo"

106



canta, teria dó. Ela namorou o marido, o

hoje engenheiro eletrônico Zalter Povoas,
aos 12 anos, aos 15 e aos 17, casou aos
19 e teve o pri111eiro filho, Gabriel, aos
20. Depois veio Giovana, hoje com 5
anos.

Zalter diz boje que não houve noitada

ou excursão capaz de separá-los. "Pinta
un1 ciún1e norn1al que todo am9r consoli-
dado tem", conta. "Mas nunca brigamos

Jp. ª·"or1. 1c1a1uags.1anadvaa coarqrueeirasedr.eialav. i.Qveurancodomcuamseai

cantora", conforma-se. Viver com uma
cantora quer dizer que marido e filhos
vão sempre bater palmas para ela nos
shows baianos, n1as raramente fora dali.

DOMANDO 'o PÚBLICO - Antes de amea-

çar un1 abalo sísmico en1 São Paulo,

Daniela teve que aprender a domar sua

própria terra. Uma le1nbrança dela regis-

Fila no Canecão na véspera da estréia do show: até 3 000 pessoas na platéia tra um mon1ento de pânico en1 Feira de

Santana durante a Micareta - espécie de

baiano-light quase inconcebível e1n quem autorização do Juizado. "Sabia1n que co- carnaval fora de época - quando o

nasceu en1 Salvador, vive lá con1 pais, 111igo não ia adiantar mesn10 proibir", titular do trio elétrico, que atendia pelo

1 quatro innãos, 1narido e dois filhos e que len1bra Daniela, conhecida desde menina espetacular nome de Marcionílio, manda-
! ele lá não pretende sair - faça o sucesso pelo apelido "Pinga-Fogo", por ser 1nuito va a platéia levantar as mãos e todos
que fizer. "A família é importante den1ais danada. obecleciain. "Na minha vez de dar a

1
para 1nim", diz Daniela, filha de dona Quem a vê hoje não diria. A exuberân- orde1n eu falava e não acontecia nada.

1 LiHana Mercury de Aln1eida, assistente cia e o foguetório ficaran1 todos concen- Demorei um ano para conseguir dominar

social e vice-reitora da Universidade Ca- trados nos palcos coalhados de efeitos de o público", diz.

tólica de Salvador, e do corretor Antônio luz, envoltos e1n bru1nas ele gelo-seco. A Trabalhou duro em blocos afro, como

Fernando de Ah11eida. Os pais fora1n n1enina que foi aprender dança aos IO Olodun1 e Muzenza, co1n o trio elétrico

socorrer a filha na noite em que o Juizado anos e casou quando já cantava na noite Eva, de seu amigo e futuro empresário

esteve no barzinho da Barra. Apesar da exibe un1a biografia pessoal da qual Ma- Jorge Sampaio, e fundou com outros

oposição deles, acabou conseguindo uma donna, por exemplo, que tan1bén1 dança e n1úsicos a Companhia Clic, que gravou

As contas era1n ani1nacloras expressiva. R.obeno Augusto senta teatros con1 o seu no- la Mercury, jorge vai to-
111e. De lá seguiria para Nova
- ainda n1ais nas atuais cir- deu !~!rac, as aos céus e bateu York e para outra reunião, cando a OS; que ~1nprega
cunstâncias. Depois de ven- na 1nadeira. ··Pega111os un1a desta vez con1 David Zedéck, dezenove ·pessoas e quan-
der 44 1nilhões de discos en1 da agência Fa1nous A1tists.
1991, o 1nerc:ado fonográfico artista pronta", diz. ani1nan- do se. j\1nta ao pessoal de
estava e1nagrecendo para no Ele foi acertar o pri1neiro
n1úxin10 29 111ilhões e1n 1992, do-se a t11na co1nparação lite- shov., internacional de Danie- Polnd.ían recebe outras tré-
nu1na queda ele 34%. A saída
rahnente grandiosa. "Unia la, para I QOO convidados e ze, totalizando 32. Contl'a-
de O Conto do Cidatfe. nun1 tada por P<.1ladian, Daniela
rit1no de pãozinho ele fônna. ·rransan1azônica se1n bura- 1 000 pagantes no Carnegie inscreveu Séu nonie nun1a
parecia portanto ainda 1nais Hall, coincidindo com o lan- liStél que tem ou já rev~
cos, sent índios e se1n ponte çamento de 0 Ca1110 ,la Ci- quase todo mundo da 111ú-
ch1de no 1nercado a,ne~icano sica brasileira, de Elis Re-
caindo." _
dia IO de fevereiro. B coisa gina a Roberto Carlos, de
Na sexta-f~ira passada, de- Simone a Caetano Velos0.
séria, dizen1 PoJadiao e Ro-
pois de ter cuidado ela ih11ni- • Ai;sinando com a 'SOn}'..

nac, ão do show de berto. "Nada de show p,ar,a à entrou no time dos dois
colônia . brasileira e depois 1naiofes vendedores de
Daniela no Cane- voltar para casa'', exige o pri~ dísco:s do 111.undo, Michael
n1eiro. ··Nada de esp,et;1culo Jackson e, JuliQ lglesías.
cã o. Poladian
para 200 pessoas, 195 da.e; Co1n a Famous, pas. ou a
voou para Dallas. ·quais brasileiras··, acrescenta ter co1no colegas nfonna-

, ".~, onde t'inha encon- o segundo. tion S,ociet.y_, Ncw Kids on
tro con1 John Ne- Con1 o Brasil e o n1untlo
º~ therlands. donó de thc Block. Tíffany. Vanilla
sendo loteados para o gue
~ un1a cadeia de ses- poderá ser o territ6río Danie- lee e 2 Live Crew. entre

Manoel Poladian, outros. Ax:é!

o promotor: "Em

trinta anos nu11ca
vi nad,a igual"

107

,

gosto por moqueca de can1arão,

cerveja e brigadeiro, que votou

e1n Covas e Lula, pintou a cara

numa passeata no Rio e que sua

-;:..., grande musa musical chama-se

- ~,r . Elis Regina. Não recebeu nada

• \ .•1 ao assinar seu contrato com a

• Sony e ganha 10% do preço de

cada disco ou fita vendidos.

Com um cachê de IO000 dóla-

res, 1netade por exemplo do que

ganhrun Leandro e Leonardo,

pilota um Gol 1989 e está com-

prando uma casa de três quartos,

"com um tanque no quintal e a

prestação", .como diz. Na região

escolhida por ela, a Praia de

Piatã, em Salvador, uma casa

dessac; vale cerca de 200 mi-

!\! lhões de cruzeiros. Diz que não

~ está rica e não entende por que
o~ as pessoas se interessam tanto
~
ffi por isso, já que quando trocou a

~~ dança pela 1núsica já estava

ê acostumada a não ganhar nada.

Com o trio elétrico na Bahia: no Carnaval, fôlego para cantar 160 músicas rvtas poderia estar alguns milha-

res de dólares mais rica se tives-

dois discos pelo selo Eldorado e um A bolsa de Daniela está recheada de se aceitado vários convites para fazer comí-

terceiro, só de Daniela e co1n o nome papéis, pois ta1nbém escreve "u1nas coi- cios. "Tive oferta de até 40 000 dólares", diz

dela. Quando chegou a São Paulo para os sas". Uma delas, rabiscada numa mesa de Jorge Srunpaio. "Recusei.porque não quero

seus concorridíssimos espetáculos no bar: ver meu nome vinculado a político algum.

Olyn1pia, acumulara cacife para dizer o Mulher é a 1nistura do pe,feito Meu rumo é outro", decidiu Daniela.

que disse: "Tenho a intenção de ficar". E do e/efeito

. Filhos a1na, gera e cria Os PRÓXIMOS ABALOS - Mas poucos sa-
É a rnetade do conzpleto
A Voz DA DONA - A vocação descoberta bem que, por ser tão nova, ela se conside-

aos 13 anos, debaixo de un1 chuveiro e ao A parte inteira do certo. ra parte de uma geração que chama ·de

som de Negue, obra-prima da dor-de-coto- Sua intuição tern juízo "nula", não pelo que fez, mas pelo que

velo descabelada de Adelino Moreira, ama- Sua traição tern um gosto não pôde fazer. Sem lembranças políticas,

dureceu, ficou e deu frutos. E também Sua arnza é 1una ousadia. diz que viu en1 casa a trajetória da ditadu-

algtuna confusão. Enquanto se interroga se a Sendo tantas ao mesmo tempo, não sur- ra, no relato dos pais, e se angustia até

música de Daniela é samba-duro, axé 1nusic, preende que Daniela Mercury tenha se hoje com isso. Mas não faz esse tipo de

samba-reggae ou n1e.smo uma lambada de transfonnado num ímã. Só em Salvador já confidência ao público, ao qual apenas

maquilagem nova, ela faz figurinos, coreo- tem nove fãs-clube.'5. Dela se sabe hoje incentiva a dançar e cantar com ela, sem-

grafia e a direção geral do espetáculo. Todo quase tudo, da preterência por calcinhas de pre em doses prodigiosas. A quem gosta

inundo pode peruar, mas quem ,manda é ela. lycra e pelos textos de Clarice Lispector, do de maratonas, de corpo-a-corpo e decibéis

Daniela não é de conceituar. E de arrepiar, aponta o lugar e a

de fazer. Por exemplo: esvazia o hora: Salvador, no Carnaval.

palco para que entre um triç Ela vai puxar o trio elétrico

mi1im de percussionistas, os Internacionais, o mais antigo

Meninos do Pelô - o núnúscu- de lá, durante quatro dias, sete

lo Valdinilson França,, o ''Buiu- - horas por dia. Quem for que
zinho", de 9 anos e boné verde-
esteja preparado: Daniela já

amarelo, seu irmão Waldemar decorou as 160 músicas que

França, o "Bliiú", de l l , e Már- vai c.antar nesse futuro abalo

cio Lopes, o "Lourinho", de 12. ,

SISIDICO.

São idéias dela os rodopios. os Outros possíveis abalos fi-

guarda-chuvas coloridos que as cam para depois do Carnaval.

três bailarinas rodan1 e1n cena, Por isso Daniela deixa aos

as pernas cruzadas ou abertas seus estrategistas a. tarefa de

quando Daniela canta, sentada e resolver a aflitiva questão de

um pouco escrachada, uma ou- quem será a voz do próximo

tra obra-prima, esta de Caetano verão - só que na Côte d'A-

Veloso e sobre a 1nediocridade zur ou nas praias australianas.

doméstica, Você Nc7o Entende Tão bonito, tão verão, tão

Nada. A mãe, Liliana, que salvava a filha do Juizado Brasil. ■

108 VEJA, 25 DE NOVEMBRO, 1992


Click to View FlipBook Version