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4 Academia Corintiana de Letras 2023 Ficha Catalográfica Florilégio 2 Academia Corintiana de Letras Corinto – 2023 Produção: Sócios Fundadores, Sócios Efetivos, Sócios Beneméritos e Sócios Correspondentes Direitos Reservados Os trabalhos publicados em Florilégio 2 têm autorização expressa de seus autores-participantes 23-163108 CDD-869.906098151 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Florilégio 2 : Academia Corintiana de Letras. -- 2. ed. -- Corinto, MG : Academia Corintiana de Letras, 2023. Vários autores. Vários colaboradores. ISBN 978-65-980733-0-5 1. Academia Corintiana de Letras - História 2. Literatura brasileira - Coletâneas. Índices para catálogo sistemático: 1. Academia Corintiana de Letras : Minas Gerais : História 869.906098151 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
5 Comissão Editorial: Aline dos Santos Venuto José Eustáquio Machado de Paiva Marilene Barbosa dos Santos Venuto Max Marcelo Silva de Oliveira Milton Antônio Lopes Pérola Soares Gandra Revisão: Max Marcelo Silva de Oliveira José Eustáquio Machado de Paiva Revisão Final: José Eustáquio Machado de Paiva Marilene Barbosa dos Santos Venuto Arte da Capa/Frente: Sônia Maria Menezes Almeida “A capa mostra as belezas do nosso sertão, com suas árvores retorcidas pelo calor intenso e pelo sol abrasador, sempre reluzente colorindo nossas manhãs e tardes. Vegetação rasteira às vezes serpenteada por um regato. Essa terra vermelha é sempre tema de nossos poetas e escritores, que a retratam com muita poesia e paixão.” Projeto gráfico e diagramação: G. Simões Diagramação: Roger Simões Arte e montagem da Capa: Paulo Werner Impressão Gráfica Formato
6 In Memoriam Íris Andrade da Fonseca Neidy da Silva Santana Oliveira Cardoso da Silva Raimundo Lima Raulino Floresta Magalhães Yvone Ferreira Marques Ribeiro
7 Sumário Agradecimentos 9 Apresentação 11 Apresentação dos Patronos e Respectivos Acadêmicos da Academia Corintiana de Letras 12 Sócios Honorários, Sócios Beneméritos e Sócios Correspondentes 15 Presidente Emérita 16 Presidentes de Honra 17 Elegias: Acadêmica Aline Barbosa dos Santos Venuto 19 Acadêmica Antônia Rosa de Almeida 26 Acadêmico Jorge Patrício de Medeiros Almeida Filho 34 Acadêmico José Eustáquio Machado de Paiva 40 produção dos acadêmicos: Aline dos Santos Venuto 47 Amarildo Alexandre de Paula Alonso do Carmo 61 Antônia Rosa de Almeida 65 Everaldo Carlos Cruz 75 Fátima Lopes da Silva 85 Jorge Patrício de Medeiros Almeida filho 93 José Eustáquio Machado de Paiva 109 Maria Wanda Mascarenhas Fraga 121 Marilene Barbosa dos Santos Venuto 131 Max Marcelo Silva de Oliveira 141
8 Mercedes Antônia de Paula Alonso do Carmo 149 Milton Antônio Lopes 169 Paulo Celestino Xavier 177 Pérola Soares Gandra 189 Sônia Maria Menezes de Almeida 201 produção dos sócios beneméritos e correspondentes: Consuelo Pagani Vieira Machado 213 Douglas Lima 223 Fábio Telles 227 Geraldo Tadeu de Oliveira Santos 235 Gustavo Adolfo de Paula Alonso do Carmo 247 Henrique Sangiorgi 251 Hyeda de Miranda Campos 257 Laura Alice Boaventura Lima 265 Luciana Pimenta 269 Renato Manoel de Oliveira 279 Silvana Soares Ribeiro Flor 291 Túlio Manoel Leles de Siqueira 301 História da Academia Corintiana de Letras 331 Atividades da Academia Corintiana de Letras 335 Sumário
9 Agradecimentos Florilégio 2 não seria possível sem a participação intensa dos membros da Academia Corintiana de Letras. Desde que foi aprovada a ideia de sua produção, Acadêmicos se movimentaram, entusiasmaram colegas, discutiram diretrizes e formatos, buscaram orçamentos, levantaram recursos e se empenharam em produzir este livro. A esses dedicados Acadêmicos os agradecimentos iniciais. Também aos autores, que, atendendo ao chamado da publicação, se dedicaram a organizar o material que já tinham, ou os refizeram, ou mesmo produziram novos trabalhos que aqui são apresentados, compondo a alma do que aqui se leva para conhecimento do público leitor. Muitas pessoas e entidades também se uniram aos esforços dos Acadêmicos, apoiando a empreitada: a Prefeitura Municipal de Corinto destinou recursos do FUMPAC-Fundo Municipal do Patrimônio Cultural para a editoração; o Sindicato Rural de Corinto empenhou imediatamente o seu apoio financeiro, como também comerciantes e corintianos amigos da cultura. Todo esse movimento reforçou ainda mais a produção cultural em Corinto.
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11 Apresentação É com grande satisfação e muito orgulho que a Academia Corintiana de Letras publica o 2º. volume da sua antologia. O volume inicial, Florilégio, lançado em 2015, marcou os 20 anos da fundação da ACLetras e trouxe uma extensa e variada produção dos seus membros, fazendo um registro, o mais completo possível, de pessoas e fatos notáveis que marcaram a cultura de Corinto e região, além dos trabalhos literários. Por isso, Florilégio não somente se caracterizou como produção literária que é, mas, também, como uma importante referência para a própria história de Corinto e região. Com Florilégio 2 não é diferente. Novamente são trazidos ao público uma gama importante de trabalhos de natureza histórica e literária, traduzindo o grande interesse dos membros da ACLetras pelos temas ligados a Corinto e aos sertões de Minas Gerais. Neles, cerrado e ferrovia são eixos necessários, indispensáveis fontes de história, identidade e poesia, em que o ambiente rude se torna fértil pela passagem do trem. Assim Corinto formou-se, local de passagem, por isso mesmo, lugar de muitos encontros e de se instalar, onde o sertanejo e o ferroviário fundem uma cultura própria e a tradição e as ideias liberais se renovam na alma generosa, na mesa farta e no olhar poético. Florilégio 2 aprofunda-se ainda mais nesse eixo duplo que caracteriza esse miolo de Minas, região central, umbilicalmente alimentada pela mineração, pelo gado e pela ferrovia, simbolizado nas duras condições da vida do cerrado, que resseca e se renova e de cujas entranhas extrai o sertanejo o cristal luminoso – são essas marcas indeléveis que afloram nesta antologia. Assim, ressignificadas, reconstruídas, transcendem essas referências a circunscrição regional e reafirmam seu lugar no mundo. Torna-se universal. Corinto é mesmo um tanto disso. Trata-se, neste caso, de obra em que cuidado histórico e apuro literário perpassam todos os trabalhos, balizam o impulso criador, oferecendo ao leitor registros e manifestações de olhares vivos e acurados, que certamente irão tanto deleitá-lo, como também encaminhá-lo a conhecer um pouco mais dessa região antiga, única e densamente rica do Centro de Minas. A Comissão Editorial
12 Apresentação dos Patronos e Respectivos Acadêmicos da Academia Corintiana de Letras CADEIRA Nº 1 PATRONO: JOSÉ RAIMUNDO DE ARAÚJO 1ª ACADÊMICA: FÁTIMA LOPES DA SILVA CADEIRA Nº 2 PATRONO: JOEL AYRES BEZERRA 1ª ACADÊMICA: MARILENE BARBOSA DOS SANTOS VENUTO CADEIRA Nº 3 PATRONA: OLGA DE ABREU NERY DE ALVARENGA 1º ACADÊMICO: JORGE PATRÍCIO DE MEDEIROS ALMEIDA CADEIRA Nº 4 PATRONO: JOAQUIM VIEIRA MACHADO 1º ACADÊMICO: JOSÉ HIPÓLITO DE SOUZA 2º ACADÊMICO: PAULO CELESTINO XAVIER CADEIRA Nº 5 PATRONO: ANTÔNIO OCTAVIANO DE ALVARENGA 1ª ACADÊMICA: FELICIANA ATHAYDE MORAIS SILVA CADEIRA Nº 6 PATRONO: JOÃO VIANA FRÓIS 1º ACADÊMICO: ADILSON ALVES MOREIRA CADEIRA Nº 7 PATRONA: IRMÃ EMERENCIANA CONCEIÇÃO SOARES 1ª ACADÊMICA: MÁRCIA LÚCIA DINIZ CADEIRA Nº 8 PATRONO: EDÊNIO GODOFREDO GANDRA 1ª ACADÊMICA: PÉROLA SOARES GANDRA CADEIRA Nº 9 PATRONO: FRANCISCO CARDOSO DA SILVA 1º ACADÊMICO: OLIVEIRA CARDOSO DA SILVA 2ª ACADÊMICA: MARIA WANDA MASCARENHAS FRAGA
13 CADEIRA Nº 10 PATRONO: MARIA ISABEL MACHADO LEAL 1ª ACADÊMICA: YVONNE FERREIRA MARQUES RIBEIRO 2ª ACADÊMICA: CLEUZA SOARES DE MOURA CADEIRA Nº 11 PATRONO: JOSÉ ANDRADE 1ª ACADÊMICA: IRIS ANDRADE DA FONSECA 2º ACADÊMICO: MILTON ANTÔNIO LOPES CADEIRA Nº 12 PATRONA: EFIGÊNIA EUGÊNIA DE PAULA 1ª ACADÊMICA: MERCEDES ANTÔNIA DE PAULA ALONSO DO CARMO CADEIRA Nº 13 PATRONO: ANTÔNIO VIEIRA MACHADO 1ª ACADÊMICA: NICE GONÇALVES CADEIRA Nº 14 PATRONO: URSULINO LIMA 1º ACADÊMICO: DR. RAIMUNDO LIMA 2º ACADÊMICO: JOÃO CIRINO DE PAIVA CADEIRA Nº 15 PATRONO: FAUSTO OCTAVIANO DE ALVARENGA 1ª ACADÊMICA: NEIDY DA SILVA SANTANA 2ª ACADÊMICA: SÔNIA MARIA MENEZES DE ALMEIDA CADEIRA Nº 16 PATRONO: MAURO MENDES VILELA 1º ACADÊMICO: RAULINO FLORESTA DE MAGALHÃES 2º ACADÊMICO: ÂNGELO MÁRCIO ANDRADE CADEIRA Nº 17 PATRONO: ARISTIDES ÁLVARES E SILVA 1ª ACADÊMICA: VILMA MARIA ÁLVARES E SILVA CADEIRA Nº 18 PATRONO: RAULINO FLORESTA MAGALHÃES 1ª ACADÊMICA: DAYSE ANDRADE DA FONSECA 2º ACADÊMICO: JOSÉ EUSTÁQUIO MACHADO DE PAIVA
14 CADEIRA Nº 19 PATRONA: MARIA AMÁLIA CAMPOS 1º ACADÊMICO: ALISSON FABRÍCIO DO AMARAL CARVALHO 2º ACADÊMICO: AMARILDO ALEXANDRE DE PAULA ALONSO DO CARMO CADEIRA Nº 20 PATRONA: MARIA TEREZA DA CONCEIÇÃO PEREIRA (D. SINHAZINHA) 1ª ACADÊMICA: SANDRA HELENA MAGALHÃES CAMARGOS 2ª ACADÊMICA: TATIANE FERREIRA DE OLIVEIRA CADEIRA Nº 21 PATRONA: ARLETE VIEIRA MACHADO ROCHA 1º ACADÊMICO: EVERALDO CARLOS CRUZ CADEIRA Nº 22 PATRONA: MESTRA RISOLETA LIMA 1º ACADÊMICO: MAX MARCELO SILVA DE OLIVEIRA CADEIRA Nº 23 PATRONO: RICARDO GREGÓRIO DE SOUZA 1º ACADÊMICO: JORGE PATRÍCIO DE MEDEIROS ALMEIDA FILHO CADEIRA Nº 24 PATRONO: ANTÔNIO MARTHA PERTENCE 1º ACADÊMICA: ANTONIA ROSA DE ALMEIDA CADEIRA Nº 25 PATRONO: ISLAND PEREIRA 1º ACADÊMICO: JOEL AYRES BEZERRA FILHO CADEIRA Nº 26 PATRONO: JOSÉ BRÍGIDO PEREIRA PEDRAS 1º ACADÊMICA: BEATRIZ ÂNGELO LOUREDO CADEIRA Nº 27 PATRONO: RAIMUNDO LIMA 1º ACADÊMICA: ALINE DOS SANTOS VENUTO
15 SÓCIOS HONORÁRIOS: n Antônio Octaviano de Alvarenga Filho n Antônio Geraldo de Almeida n Etevaldo Hipólito de Jesus n Geraldo dos Reis Almeida n João de Deus Nery Bezerra n Ladival Ignácio Pereira n Lídia Octaviano de Alvarenga n Luciana Pereira Pimenta n Maria da Conceição Moura n Maria Helena Boaventura Maia n Mércia Helena de Freitas Maia n Miriam Carvalho n Nira Lima de Aguiar n Paulo Armando Dumont Almeida n Balbina Alves da Silva Pereira (em memória) n Raymundo Wesley n Theolina Villela n Wanderlei Luiz da Silveira SÓCIOS BENEMÉRITOS: n Antônio Vicente Dornas (em memória) n Câmara Municipal de Corinto n Chefe do Estado Maior da Polícia Militar de Minas Gerais n Geraldo de Souza n Gustavo Adolfo Alonso do Carmo n José Carlos de Moura Monteiro n Maria da Conceição Drummond n Pablisson de Medeiros Almeida n Renato Manoel de Oliveira n Roberto Gravito Pereira SÓCIOS CORRESPONDENTES: n Amelina Chaves n Antônio de Fátima Silva (Tinga das Gerais) n Claudionor Rosa (em memória) n Consuelo Pagani Vieira Machado n Douglas de Jesus Lima n Fábio Telles n Geraldo Tadeu de Oliveira Santos n Henrique Sangiorgi n Hyeda de Miranda Campos n Ione Andrade Braz n Laura Alice Boaventura Lima n Mozart de Paiva Viana (em memória) n Newton Vieira n Silvana Soares Ribeiro Flor
16 Presidente Emérita Poeta e escritora, professora, psicopedagoga e palestrante. Portadora do Título Honorífi co “Ad Perpetuum” concedido à primeira Presidente empossada na Academia Corintiana de Letras, como reconhecimento pelo trabalho inicial na caminhada inédita e profícua para a criação desta instituição acadêmica. Pérola Soares Gandra
17 Presidentes de Honra De acordo com o Artigo 35 do Estatuto alterado em 07 de Maio de 2019 da Academia Corintiana de Letras “O presidente eleito e empossado poderá criar, para vigorar durante o seu mandato, a distinção especial de “Presidente de Honra”, como forma de homenagear, mediante aprovação da maioria dos sócios, a quem houver contribuído para o funcionamento da ACL”. Assim, pela ordem, foram estes os Presidentes de Honra... RAIMUNDO LIMA AFONSO VICTOR VIANA DE ANDRADE ROBERTO GRAVITO PEREIRA ITAGIBA LIMA FILHO LUIZ CARLOS FIGUEIREDO FREITAS GERALDO CARDOSO DA SILVA NEIDE ALVES PEREIRA DE JESUS SÔNIA MARIA MENEZES ALMEIDA JOSÉ ANDRADE DA FONSECA MARIA HELENA BOAVENTURA DE OLIVEIRA MAIA MARIA HELENA VIANNA SIMONASSI
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19 ELEGIA AO PATRONO RAMUNDO LIMA CADEIRA Nº 27 Acadêmica Aline dos Santos Venuto Boa Noite a todos. Sempre que tenho a oportunidade de estabelecer um diálogo como o do dia de hoje, escolho por começar, pelo meu lugar de fala, porque é quem sou, onde estou; é o meu corpo presente, as minhas heranças, os meus aprendizados, meu passado, meus “agoras”, minha existência, tudo que pude vivenciar até então. Começar por um começo que não começou agora, aqui, ou comigo, mas bem antes de tudo que eu tenho como “o próprio começo”. E hoje, de forma singular, o momento se faz ainda mais especial. Há em mim uma hipersensibilidade desperta e palatável. E por esta razão, talvez, tudo que tente e possa dizer, não seja capaz de alcançar e descrever o que essencialmente é, como o significante que antecede a existência do próprio significado. Essa múltipla sensação habita em mim como o próprio indizível. O meu lugar de fala é a casa cheia; cheia de muitos livros, repleta de muitas contações de histórias, narrações do outro, invenções, imaginação, um solo sempre fértil, sempre fecundo de amor. Minha Mãe, sempre serena e discreta, respondia sabiamente a todos os contextos que vivíamos com o amor-humano da ficção. Nas suas mãos além do poder de nos curar e abençoar, sempre estava um livro. Foi com e através dela que conheci e me apaixonei, antes mesmo de entender a grandeza de tudo isso, pela Literatura que salva. Nas palavras de Jeferson Tenório: (abro aspas) “Foi a literatura que me permitiu construir instrumentos e mecanismos internos capazes de discordar da vida. É a Literatura que me resgata e me traz de volta ao mundo. Não tenho dúvidas de que será pelo sonho e pela ficção que nos salvaremos todos (fecho aspas) ”. E é este o motivo de estar aqui, hoje! Para além disso, há ainda mais fatores que se aglutinam, e de forma exponencial expandem a alegria do que é o indizível. Ser a partir de agora Membro Efetivo da Academia Corintiana de Letras, e ter como Patrono o Dr. Raimundo Lima, me faz revisitar vários lugares caros à minha própria construção. Explico. Assim como o Dr. Raimundo, Minha Mãe também é Membro Fundadora da ACL, o que me permitiu a benesse de não só conhecê-lo pessoalmente,
20 mas também de ter desfrutado de alguns momentos com ele. Fato este que me toca e comove de forma muito particular. A ACL foi fundada em 1997, tendo então 25 anos de existência. Posso dizer que, desde o início, mesmo muito nova, sempre acompanhava Minha Mãe. Agradeço imensamente e mais uma vez a ela, por ter mesmo que inconscientemente me apresentado a esse mundo fascinante, e as pessoas que seguem nele, que seguem “Sendo” este “corpo de baile”, tão vivo, como o Dr. Raimundo Lima e tantos outros membros fundadores que me ensinaram e ensinam tanto. Além de ser uma honra, é uma alegria infinita partilhar de uma mesa posta como esta: tão farta de cultura, mas também de humanidade. Passando agora a proferir efetivamente a minha elegia: Dr. Raimundo Lima é o filho mais novo do casal Ursulino Lima e Feliciana Alves de Lima, que tiveram 14 filhos: Elfrides, Ataliba, Aldemar, Itagiba, Erotides, Floripes, Ceci, Carmem e Adi. Nasceu em maio de 1919, em Corinto, de onde saiu somente aos 18 anos para ingressar no Exército, possuía somente o primário. E como ele mesmo dizia, como era de família humilde, ingressar no exército, era a única oportunidade de estudar, lá teria comida e onde dormir. Fez o curso supletivo e depois, o curso de Medicina na UFMG, tendo se formado como sanitarista em 1949. Durante este período, trabalhou para o Estado, no diário oficial à noite e estudou durante o dia, foi também professor na Faculdade de Farmacologia. Não pode estar presente no baile da sua formatura, que aconteceu no automóvel clube de Belo Horizonte, porque não teve à época dinheiro para comprar os convites. Casou-se com Ieda Assunção. Tiveram três filhos: Simone e Sérgio falecidos, e Mônica Lima, a filha mais velha, que reside atualmente em Belo Horizonte, é formada em Psicologia pela UFMG, foi Professora na Puc Betim, e atua no Hospital das Clinicas de Belo Horizonte. Dr. Raimundo Lima era um aficionado em estudar e pesquisar sobre todas as religiões. Tinha vários livros sobre as religiões orientais, espiritismo, hinduísmo, budismo, dentre outros. Lia muito a bíblia, e sobre todos os assuntos correlatos. Estudava os livros sobre manuscrito do mar morto, o dicionário das religiões e o Alcorão. Se dedicava também aos estudos e leituras sobre política e história. Tendo construído um legado da história de Corinto único e imensurável. O seu prato favorito era um bom peixe assado e uma taça de vinho. Os estilos musicais que mais gostava eram: Seresta, Música clássica e boleros. Membro Fundador da ACL, ocupou a cadeira de nº 14, Patrono Ursulino
21 Lima, seu pai. Proferiu sua elegia em 21/09/1996. Após o seu falecimento, conforme dispõe o Estatuto da ACL, observados os critérios exigidos para, tornou-se Patrono da Cadeira nº 27. A cadeira que ocupava passou a ter como acadêmico o Dr. João Cirino de Paiva que proferiu sua elegia em 2008. Foi Presidente de Honra da 1ª Diretoria da ACL, que tinha como Presidente a Acadêmica Perola Soares Gandra, de 1995 a 1997. Médico, historiador, político. Homem de pensamento e ação, foi um visionário. Carregava consigo a máxima: DAR-SE O BENEFÍCIO DA DÚVIDA. E assim, tudo que ouvia procura saber a verdade dos fatos, para somente depois, tomar atitudes. Ao pesquisar sobre a vida de Dr. Raimundo Lima fica evidente que para ele, em toda a sua trajetória, não é possível diferenciar e/ou separar mesmo que minimamente: vida política, cultural, pessoal; suas convicções e prioridades como “Ser” Humano, como médico, como historiador. Todas essas esferas encontram-se tecidas numa mesma trama, se misturam, se completam, se fundem e formam o arcabouço vasto e riquíssimo da herança que ele nos deixou. E por este motivo, mesmo que eu tenha tentado separar as informações em temáticas e/ou cronologicamente, ainda assim, elas permanecem fortemente mescladas, arraigadas umas às outras. Dr. Raimundo Lima foi Prefeito de Corinto por 4 (quatro) mandatos, sendo um de seis anos considerado como mandato tampão, de 1983 a 1988. Seu último mandato foi de 1993 a 1996. Sua administração foi marcada por melhorias nas estradas (destaque Estrada do Polocentro), asfaltamento das ruas, perfuração de poços artesianos na zona rural, pelo fomento, viabilização, incentivo, e manutenção da tradição cultural tão forte em Corinto, e ainda zelo e priorização das questões da saúde pública na nossa cidade. Como um breve resumo dos quatro mandatos que exerceu, destaco de forma exemplificativa as importantes realizações em cada mandato. 1º Mandato: 01/02/59 a 31/01/63 Doação de terreno para construção do dispensário do Asilo São Vicente de Paula (Lei 475/62) Construção do Posto de Saúde na Praça JK. (Custeou pessoalmente as despesas de instalação). 2º Mandato: 01/02/72 a 31/01/77 Criação do dia do Corintiano Ausente no sábado mais próximo do dia 20 de julho de cada ano. (Lei 793/73).
22 Gravação do 1º disco do Grupo de Seresta de Corinto, que logo depois receberia o nome: Grupo de Seresta Dr. Raimundo Lima (Lei 808/73, comemorativo dos 50 anos de Corinto). Construção do Prédio Sede da Prefeitura (Atual Colégio Cristo Rei). Construção da Estação Rodoviária Municipal de Corinto, que recebeu o nome de vereador Davi Cesar. (Lei 849/75). 3º Mandato: 01/02/83 a 31/12/88 Criação da Fundação Casa da Cultura Raimundo Lima e construção do prédio para o seu funcionamento. (Lei 1019/88). Ampliação do Posto de Saúde. (Lei 1106/88). Criação da Funapec, construção da Feira de Gado e início das obras do Parque de Exposição. (Lei 1116/88 e Lei 1109/88). 4º Mandato: 01/01/93 a 31/12/96 Criação do Colégio Municipal Cristo Rei, com os cursos profissionalizantes de Magistério e de Técnico em Contabilidade. (Lei 1276/93 e 1320/95). Criação do Clube da Maturidade. Criação e funcionamento da APAE. Criação da Padaria Comunitária no Bairro Maciel. Dr. Raimundo Lima, estava pronto para disputar a sua 5ª eleição no ano de 2000, mas foi acometido por uma enfermidade o que o impediu. A Fundação Casa da Cultura de Corinto foi por ele idealizada e instituída pela Lei Municipal nº 1020 em 1984, que também criou o “Museu Municipal” e “Biblioteca Municipal”. Para elucidar a grandeza e importância desta fundação, cito um trecho da matéria intitulada “A Casa da Cultura: um sonho bom se faz realidade”, da Revista Momentos de Cultura nº 1, publicada em dezembro de 1988. (Abro aspas) “Casa de Cultura de Corinto. Ali tudo se faz sob o sinete da perenidade. Uma realização, de hoje, quer ser verdade no presente e postular os aplausos do futuro (Fecho aspas) ”. Publicou no ano de 1998, o livro: O campo da Garça de João Tavares da Rocha a Ursulino Lima, História de Corinto. Nas palavras da Acadêmica Pérola Soares Gandra: (Abro aspas) “Dr. Raimundo Lima entra nos anais da imortalidade não só por tudo que construiu como homem público, como médico, mas sobretudo através desta obra que deixa à posteridade, numa odisseia contada com sua visão de Historiador, que soube tão bem resgatar a memória do povo corintiano (fecho aspas) ”. Como o próprio autor informa na apresentação do livro, a obra se constitui em três volumes, em homenagem ao povo de Corinto, que está nele representado por todas as classes sociais. Este foi o primeiro
23 volume, o segundo encontra-se pronto e já digitalizado, em poder da família, que ainda definirá sobre a sua publicação. Não poderia deixar de citar e registrar ainda, o apoio e incentivo fornecido pelo Dr. Raimundo Lima ao Grupo de Seresta de Corinto, inclusive na gravação e lançamento dos quatros LPs. O primeiro disco da Seresta de Corinto Dr. Raimundo Lima, foi lançado em comemoração do Centenário de Corinto. Desta forma, gostaria de convidar todos vocês para que de forma afetuosa e atenta, percorramos com saudade e gratidão toda a fundamental trajetória do Dr. Raimundo Lima através das fotos que serão exibidas no telão, que terão como fundo musical, uma das suas músicas favoritas. O nome da música é: Viagem, que foi composta por Paulo César Pinheiro em 1964. Hoje, quem dá a ela corpo, voz e vida, é Querida Nádia Aparecida da Silva, em uma de suas apresentações. Vídeo exibido no telão. Agradeço imensamente a todos que me ajudaram neste mergulho visceral, que chamamos de pesquisa. Vocês foram e seguem sendo, em essência as maiores fontes vivas de pesquisa, memória, história e testemunho do nosso passado, da nossa história, de nós mesmos, e também do nosso presente, como elementos transformadores e mecanismos de um porvir ainda melhor. E como eu não sei “Ser” ou fazer de outra forma, que não seja sorvendo e dilatando a cor, a força e o próprio movimento que somos, através da potência e da sensibilidade da poesia, segue com todo o meu carinho, uma breve poesia. Poema da Gratidão A minha gratidão é uma pessoa Sim, a minha gratidão poderia ser somente uma pessoa e ser integralmente dedicada por exemplo, a quem vida me deu nessa jornada mas a gratidão é algo tão essencial que dever ser compartilhada Então ... Minha gratidão são muitas pessoas Um legado humano de construções empíricas reminiscências líricas Lembranças que ultrapassam Heranças e moradas Verdadeiro tesouro histórico, testemunhos que transcendem Significados que atravessam
24 Aprendizado em forma de amor Recognição A cada um que com sensibilidade foi Um abraço sem braço Um colo fora do chão Manancial Oásis alimento que nutre a própria vida E que conserva uma perpetuação A ação de vocês gravou em mim uma importantíssima lição nesta vida só é feliz quem não faz distinção e que trata todo mundo como irmão abrigando o outro com ternura e agindo sempre com o coração. Esta escrita que fizemos, foi sim feita à muitas mãos Este texto que registramos agora, tem sua forma própria tanto de ser quanto de atuar Instaura e desenvolve nossos afetos, escutas, ecos Cada vida em si uma vinda. Porque o que este texto pretende é exatamente este movimento de resgate que é e existe por não ter fim! E assim, um a um, como se fosse uma ficha catalográfica da vida, listo MEU AGRADECIMENTO, pelos nomes próprios: Marília Lima Fabíola Moreno Nilton Ferreira José Estelito Eupidio Marilene Venuto Tadeu de Oliveira Nádia Aparecida da Silva Mercedes Antônia de Paula Dayse Andrade Jorge Luiz Teixeira Caldeira Mônica Lima Tudo isso que vocês conservam dentro de si, de forma afetuosa e com tamanha riqueza de detalhes, é um relicário coletivo, que refunda nossas existências e reafirma nossas tradições. São os rastros de lutas, conquistas, resistências e vivencias que se encontram no passado, que movem o presente e que fornecem base para o futuro. O futuro que acreditamos, com lugares como este, espaços para falarmos e reconhe-
25 cermos a memória de nosso povo, espaços que transbordem o universo de cultura, educação e arte, da Literatura humana que somos. Um lugar que convoca, denuncia, mas que também acolhe e expande. Obrigada pela partilha. Obrigada por não permitirem que o tempo e as mudanças apaguem por completo a brilhante, humana e essencial “escrevivência” do Dr. Raimundo Lima, e de tantos outros, é através de vocês que ele, que eles, permanecem vivos. Muito obrigada!!
26 Esta elegia intensifica o amor maior de um cidadão para uma terra, que não era a sua de nascimento, mas sim a sua terra de coração. O ano era 1904, quando Antônio Martha Pertence pediu pousada em Curralinho e alcançou notoriedade pelo caráter, respeito e sobretudo pelo seu ofício profissional como tipógrafo e jornalista. Curralinho, terra que desabrochava para o progresso e que representava uma grande figuração para os tempos modernos mostrava uma inquietação ideológica. Era de se notar um sentido promissor na raiz da base econômica do pequeno lugarejo e das pessoas que perambulavam livremente de canto a canto no chão de terra firme para encontrar um novo “El dourado” transformador de uma qualidade de vida segura e digna da sociedade local. Curralinho ontem, hoje Corinto de consagrados nomes, poetas, escritores, profissionais de alto nível, pessoas carismáticas, rico na agropecuária e recursos minerais marca a trajetória do senhor Antônio Martha Pertence, em que esta elegia se baseou em relatos de pessoas que o conheceu. Esta elegia não contou com fotos ou registros pessoais, pois sendo o senhor Antônio Martha Pertence muito reservado, não foi possível dialogar com alguém de sua família, visto que através dos relatos, aqui não reside ou não se conhece mais alguém de sua família. Nestes termos, de acordo com as informações obtidas foi possível fazer um retrato falado do senhor Antônio Martha Pertence. ELEGIA AO PATRONO ANTÔNIO MARTHA PERTENCE CADEIRA Nº 24 Acadêmica Antônia Rosa de Almeida
27 Os agradecimentos para a realização desta elegia vai para estas pessoas que outrora foram jovens esperançosos de uma vida tranquila, com grandes realizações, nesta nossa Corinto de vários talentos. Esses jovens que tenho o prazer de compartilhar estas informações são: Drº Vilma Maria Álvares e Silva, Drº João Cirino de Paiva, Drº Paulo César de Lima, o ferroviário senhor Álvaro Maciel da Rocha, a educadora Nilde Aguiar, a senhora Maria de Lourdes Fernandes Cruz, os irmãos Ademy e Adair Rosa de Almeida. Compartilho também com todas as pessoas, que de certa forma abriga no peito um doce encantamento para este nosso pedacinho de chão, Corinto das Minas Gerais, que deverasmente trouxe um grande e delicioso aconchego para o nosso querido tipógrafo e jornalista, Antônio Martha Pertence. O movimento crescente na história da cidade de Corinto, em Minas Gerais permite focalizar a identificação de cada indivíduo que contribuiu para a criação do lugar denominado como perímetro urbano. Diante do significado da palavra história como fator documentário do passado da humanidade, busco caminhar na trilha do conhecimento e investigar os indícios, por mais escassos que sejam, para conhecer a participação de Antônio Martha Pertence na construção panorâmica de Corinto, cujo nome fora de sua sugestão. Homem laborioso e amante da cultura, influenciou as novas gerações da época, o gosto pela leitura e alimentou os desejos em que o arraial poderia se transformar através da Informação que levou o seu progresso à conscientização da construção da cidadania. Se o progresso e sobretudo a mudança do nome do povoado manifestou como marca triunfal no ano de 1911, percebe- se que a sustentação da generalização urbana, onde a discussão de referência local, que parte do ideológico, onde a formação dos princípios de construção de cidadania, independente de cada indivíduo, mostraram Corinto como o Portal do sertão mineiro, ou centro geográfico de Minas Gerais. Neste sentido, vislumbrando a trajetória de nossos antepassados, ao longo de cada período vivido em tempo de graça, a História se encarregou de mostrar que os fatos comuns de cada tempo se inserem numa discursividade das ações nos usos e costumes na história de um povo. Dessa forma, a representação de cada indivíduo compõe o contexto global no que se desencadeia a relação história, em seu tempo e espaço no mundo polarizado, no que se define o povo brasileiro, em cada canto, nessa imensidão planetária. Em fins de 1904 e entre 1905 e 1910, segundo Drº Raimundo Lima, em seu livro, O Campo da Garça, os trilhos da estrada de Ferro Central
28 do Brasil chegaram em Curralinho e com esse fato notável, o lugarejo já não era mais o mesmo. Um repentino progresso demarcava a alteração na vida social do povoado. Um chegar humano a passos rápidos desencadeava um toque de prosperidade ao local. Nesta ocasião, o aumento da população tornou –se inevitável e a necessidade por aspectos urbanos, levou Curralinho a receber cordialmente comerciantes, professores, farmacêuticos, hoteleiros, carpinteiros, ferroviários, fazendeiros, engenheiros, militares, madeireiros, alfaiate, negociantes, mestre de música, ferreiro e o então tipógrafo e jornalista Antônio Martha Pertence. Desde então, a expectativa progressista fez – se cativa e proporcionou em Curralinho um entrelace da diversidade cultural que veiculou um passo à frente dos outros arraiais vizinhos, conforme relato de Drº Raimundo Lima, em seu livro “O Campo da Garça”. Neste sentido, Antônio Martha Pertence se firma como um grande empreendedor daquela época com uma banca de revistas e jornais, na estação da Estrada de Ferro Central do Brasil e também em sua casa, como descreve as pessoas notáveis dessa cidade, que naquele período eram jovens com padrões de referência para a juventude da época , a saber: Drº Vilma Maria, Drº João Cirino de Paiva, Drº Paulo César de Lima, o ferroviário senhor Álvaro Maciel da Rocha, a educadora Nilde Aguiar, a senhora Maria de Lourdes Fernandes Cruz , os irmãos Ademy e Adair Rosa de Almeida . De acordo com os depoimentos, das referidas pessoas citadas, Antônio Martha Pertence, vivia em companhia de duas irmãs, sendo os três solteiros e sem filhos. O então, jornalista e tipógrafo, era um homem sério, de pouca conversa, tinha bom porte, usava sempre roupas claras, calça e suspensório. Quando era interrogado, dava respostas curtas, embora muito atencioso. Vivia entre jornais, revistas, livros e se sentia bastante à vontade falando de lugares e pontos geográficos. A Grécia era sua paixão. Sendo a vida muito pacata no povoado de Curralinho, o movimento social somente aumentou depois da Estrada de Ferro Central do Brasil naquele lugar e segundo estes jovens notáveis, a estação de Trem de Ferro era o auge do momento, era bastante movimentado o local, era um entra e sai de gente, vindo de todo o lugar, notícias chegando, notícias indo, curiosos aproximando para observarem o circuito ferroviário. Era bonito de se ver o trem parar na estação. O apito ao longe e a fumaça anunciando o chegar da locomotiva. Era uma alegria imensa sem motivos, havia um rir de rir, somente sorrir para alegrar o coração. Verdade, o coração batia mais forte com a chegada do trem. Vale até relembrar essa cantiga da infância, contam os jovens notáveis:
29 “Locomotiva deu um apito dentro do meu coração Vamos todos à estação Que o trem já vai chegando Passa daqui, Passa acolá, Passa daqui, Passa acolá.” E assim, não somente o trabalho evidenciava o agito da Estação de Trem de Ferro, mas o lazer social em Curralinho marcava as proezas da juventude, cheia de sonhos, ilusões e perspectivas para um futuro brilhante. A estação de trem de ferro era o point do momento e a banca de revistas e jornais, de Antônio Martha Pertence fazia reunir no seu entorno, senhores, senhoras, jovens e as moças casamenteiras do pequeno arraial. Fechava- se os olhos e, na imaginação devaneava- se com o apito do trem e a marcha de partida, confabulando com o majestoso poeta Manuel Bandeira e o seu poema Trem de Ferro, a saber: TREM DE FERRO Manuel Bandeira Café com pão Café com pão Café com pão Virgem Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força
30 E assim, seguiam os sonhos de toda a gente nos embalos da locomotiva e o movimento na estação. Uma paradinha para tomar um café preto, forte, para despertar e dar uma espiadinha na banca de revistas e jornais. O senhor Antônio Martha Pertence atendia a todos com esclarecimento de um grande apreciador dos últimos fatos culturais. Sem dúvida, antigamente as notícias chegavam primeiro em suas mãos. Era lá na banca de jornais e revistas que Curralinho passava a ser conhecido do resto do mundo. A juventude se encantava com a fascinante vida dos artistas da época, através das revistas Radiolândia, Cruzeiro, Manchete e se deliciava com a revista O Pato Donald. Antônio Martha Pertence amava aquela vida. Era um homem muito caseiro e dormia cedo, pois deveria estar de pé bem cedinho para atender os fregueses, que frequentavam a banca de jornais e revistas. Tinha que chegar cedo á estação, antes do trem de ferro. O movimento era intenso e a partir das sete da matina era um formigueiro de gente, de um lado e de outro. De acordo com os jovens notáveis, havia dez linhas de trem de ferro, que fazia o itinerário: Belo Horizonte, Diamantina, Montes Claros e Pirapora. Com isso, Antônio Martha Pertence contribuiu com os sonhos dos jovens daquela época, através de sua banca de jornais e revistas, permitindo a fantasia acontecer em meio as fotografias, reportagens das notícias impressas. Neste sentido, a cultura tornou – se mola mestra no povoado do Curralinho, em 1909, quando, segundo Drº Raimundo Lima, surgia como grande acontecimento a primeira tipografia e o primeiro jornal, sob a direção de Antônio Martha Pertence. Desde então, o acesso à informação possibilitava a todos um mosaico cultural acabando com o isolamento social que permitiu ao povoado de Curralinho maior integração com os outros municípios vizinhos e também um pouco mais distante, devido ao grande movimento na Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, que de certa forma caracterizava uma nova ideologia política, pois segundo Drº Raimundo Lima, o arraial de Curralinho era parte integrante do distrito. O cotidiano do pequeno povoado de Curralinho marcava o registro das relações sociais na visibilidade da fantasia, cultura e progresso, onde a mente pode devanear, segundo os jovens notáveis. Devido ao alto índice de conhecimento e cultura, assim aconteceu com Antônio Martha Pertence, buscar na grande história da humanidade, o nome da nossa querida cidade Corinto, inspirado na majestosa Corinto da Grécia, cuja história assim se define: “Corinto, na Grécia, fica a 48km a Oeste de Atenas, onde o comércio imperava e era um famoso ponto de comunicação com a península Itálica em que o apóstolo Paulo lançou a sua semente na atividade missionária, onde viveu dezoito meses.
31 Corinto foi destruída pelos romanos e foi reconstruída como uma cidade romana, sendo a capital da Grécia Romana, porém em 1822 com a independência grega, tornou- se cidade do novo país. Segundo a história, a cidade foi fundada por Corinto, filho de Zeus, e que Étira, filha de Oceano, foi a primeira moradora da região, representando um marco no progresso comercial, de acordo com a sua esfera geográfica. Havia dois templos, um da deusa do amor, Afrodite e o outro do deus da música, canto poesia e beleza masculina, o deus Apolo. De acordo com a História, no templo de Afrodite, as sacerdotisas, ao cair da tarde, iam para a cidade e vendiam seus corpos, cultuando, dessa maneira o sexo. “E, nesta analogia, ao longo desse período, Curralinho intermediava através da comunicação o comércio no curral de gado, em que se formou um pequeno arraial, onde as tropas vindas de outras regiões, operavam para repouso e negociar. Era um Porto seco, cujo comércio crescia entre a população local e as vizinhas, acrescentando grande marco para o progresso e economia local. Foi um período promissor e sem dúvida, houve um aumento da população e, quando em 1904 a Estrada de Ferro Central do Brasil chegou em Curralinho, a tendência era sempre ampliar mais e mais o comércio e a população. Portanto, estava assim reproduzido o Porto localizado no golfo de Corinto, na Grécia, que fazia o movimento da economia do lugar. Neste sentido, Antônio Martha Pertence buscava constantemente nos livros referências sobre o lugar e sempre achou grande semelhança do pequeno povoado de Curralinho com o Porto no golfo de Corinto. Nesse Porto, havia grande movimentação de pessoas chegando de vários lugares e movimentando a economia de Corinto. Dessa forma, Antônio Martha Pertence não se cansava de falar que Curralinho era o Porto de Corinto, devido ao panorama geográfico, que fazia grandes negócios e movimentação da economia. Os jovens notáveis narram que Antônio Martha Pertence era seduzido pelos livros, jornais e revistas garantindo assim seu alto nível intelectual, cultural e criativo. Não se sabe de sua possível viagem ao país grego, antes de sua chegada ao povoado de Curralinho, mas de sua viagem intelectual e imaginária de canto a canto no povoado de Curralinho toda gente sabia. Entre 1905 e 1909, quando Antônio Martha Pertence pisou no solo da tão altaneira região de Curralinho a construção textual do nome Corinto caracterizou- se de forma lúdica em seu pensamento sagaz, que permitiu o viés ideológico, junto ao templo de Afrodite, deusa do amor, também localizado em Corinto, na Grécia, em que as sacerdotisas ao cair da tarde desciam até a cidade para a orgia e os prazeres do sexo.
32 Assim sendo, os prostíbulos, junto com a Estrada de Ferro Central do Brasil chegou em Curralinho e, dessa forma, como no templo de Afrodite, as prostitutas desceram o centro comercial de Curralinho e foram para as imediações ao lado da linha férrea, cujo lugar era conhecido como Rua do Tamanco, o cabaré, hoje Rua Antônio Vieira Machado. Nesse ponto, certamente o pais grego vislumbrava dentro do apogeu mineiro que se alevantava conforme a Lei Estadual nº556, de 30 de agosto de 1911, que entreabra o nome Corinto, cujo sonho em translação favorece a indicação do então tipógrafo e jornalista Antônio Martha Pertence, apoiado por toda a comunidade, como o vento ladino que se guarda num grande amor contemplativo no panorama da História que se inicia. Então, assim Curralinho ficou denominado Corinto, esta nossa terra querida e, marcada por um grande e participativo ideal revolucionário na mente desse povo que a cada dia busca uma nova proposta de vida para intensificar a dignidade de cada cidadão. Corinto se torna assim, uma cidade hospitaleira mostrando a integração de sua gente num trabalho coletivo e engajado no desenvolvimento cultural e social. Antônio Martha Pertence está na totalidade da história da cidade de Corinto. Para anunciar esse novo tempo aqui na nossa cidade vale intensificar a grande contribuição do mesmo na indicação do nome de Corinto. É importante hoje, saber que o reconhecimento do nome Corinto se caracteriza também na construção do conhecimento e transformação na vida das pessoas. Dessa forma, Antônio Martha Pertence passou a oferecer à cidade de Corinto as ações humanas e participação ativa na sociedade, tendo em vista o conceito de cidadania para o bem comum. A totalidade da participação de Antônio Martha Pertence junto ao crescimento ideológico da cidade de Corinto acrescenta um nível mais expressivo de caráter social nas informações culturais desta nossa cidade. Sendo assim, Antônio Martha Pertence se tornou o mediador no processo do conhecimento dialogado em Curralinho como fator gerador de um grande significado motivador ao pressuposto teórico que o nome Corinto permitiu para uma longa reflexão de todos os moradores do lugar. Nestes termos, toda a transformação social depois da indicação do nome Corinto, o jornalista e tipógrafo Antônio Martha Pertence se colocou de maneira eficaz no caminho que a cidade em decorrência dos mais variados fatores, bem como a ideologia política e social permitiu de forma gradativa no amadurecimento das pessoas do lugar. Na aplicação do conhecimento cultural do nome Corinto sugerido por Antônio Martha Pertence ao lugar Curralinho se faz uma abordagem na possibilidade de
33 encontrar no diálogo com as discussões das ideias para a expressividade crítica no que diz respeito aos valores sociais que permeiam a vida de cada um neste lugar. Quando penso em Antônio Martha Pertence, na amplidão do significativo nome Corinto, Minas Gerais, Brasil, mediante ao nome da cidade grega, penso na visibilidade do apóstolo Paulo no seu trabalho missionário: “Primeira Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios,1-10- Rogo-vos, porém irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer”. Sendo assim, que a nossa Corinto permaneça no pensamento da união, para prevalecer o bem comum e que o nome do Patrono Antônio Martha Pertence, cadeira nº24, que agora ocupada por mim Antônia Rosa de Almeida, fique revelado na história da nossa querida cidade desde então.
34 1. Cumprimentos. 2. Considerações iniciais do orador. Ao longo de minha caminhada acadêmica fui infl uenciado pela escola do positivismo e do pós-positivismo jurídico realista. Ao fi m, cheguei ao que pode ser chamado de realismo jurídico procedimental: uma associação do procedimentalismo crítico Frankfurtiano na versão defendida por Jürgen Habermas e do pragmatismo americano de Ronald Dworkin. Neste sentido, o romantismo e a poesia intelectual não são traços marcantes da minha formação intelectual. A função das palavras sempre foi conduzir e servir à verdade. Entretanto, a humanidade a subordinou a dois tipos de devaneios nocivos a humanidade: a corrupção e o romantismo. Sendo assim, acredito e defendo nesta academia que a verdade é única companhia segura para viagem que fazemos por esta vida. Amo os poetas e românticos, mas não suas poesias e romantismos, porque roubam da consciência humana o senso de clareza. Feitas estas considerações iniciais, passo ao tema central desta noite. 1. Possui mestrado em Direito Constitucional e Teoria do Estado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, graduação em Direito pelo Centro Universitário de Sete Lagoas. Participou do curso “Problemas Fundamentais de Direito Penal e Processo Penal” na GEORG AUGUST UNiVERSiTÄT GÖTTiNGEN - Alemanha. É ex-pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico - CNPQ. É revisor Ad Hoc do Conselho Editorial do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG-DE JURE). É Professor de Direito Penal e Direito Tributário na Faculdade de Brumadinho. É Professor na PÓS-GRADUAÇÃO em DiREiTO EDUCACiONAL da Nova Faculdade - Contagem. É ex-docente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MiNAS). Tem experiência na área de Direito Público, com ênfase em Direito Penal e Direito Tributário, Teoria do Estado, introdução ao estudo do Direito, Filosofi a Jurídica e sociologia Jurídica, atuando, sobretudo, no tema racionalidade e legitimidade no Direito moderno. ELEGIA A RICARDO GREGÓRIO DE SOUZA CADEIRA Nº 23 Acadêmico Jorge Patrício de Medeiros Almeida Filho
35 3. Uma Elegia a Coronel Ricardo Gregório de Souza: homem de valores e homem da política. Nesta oportunidade me proponho a reconstruir uma narrativa objetiva, sucinta, contudo, absolutamente incisiva sobre um homem que sobre sua história convergiram fortes marcas da história do Brasil, da história do município de Corinto e dos desafios da vida política e familiar. Sendo assim, seguindo ordem metodológica tópica, passarei por duas dimensões nesta elegia. Primeiro, abordarei a relação entre a vida do Coronel Ricardo e a História do Brasil. Em segundo, abordarei a figura humana do Coronel Ricardo. Observo desde já que estes elogios não se dão apenas em razão da contribuição de Coronel Ricardo ao Município de Corinto, muito antes, muito além, estes elogios são o reconhecimento de uma vida de honra e valor. 3.1. O Coronel Ricardo e a História do Brasil. A história do Brasil é comumente subdividida em quatro períodos. 1. Pré-descobrimento. 2. Colônias (1500 a 1822). 3. Império (1822 a 1889). 4. República (1889 aos dias atuais). Nos importa em especial neste momento o período do império. O primeiro reinado que teve como regente Dom Pedro I teve fim em 7 de abril de 1831 quando este abdicou do seu trono. Seu herdeiro Dom Pedro II contava com apenas 5 anos e quatro meses de Idade e não detinha capacidade para assumir o trono do Brasil. A abdicação de Dom Pedro I e a menoridade de Dom Pedro II resultou na necessidade de um sistema político gerencial de transição: O período de Regência representativa que teve espaço de 1831 a 1840. Neste período o poder central estava sendo colocado em xeque por diversas rebeliões e revoltas: revolta da cabanagem, revolta da Balaiada, revolta da Sabinada, guerra dos farrapos e outras de menores projeção nacional. 1. PAIVA, João Cirino. Crônicas – História de Corinto: O Projeto Cristo Rei. Editora Gráfica Literatura Ltda. Belo Horizonte, 2006. 2. MAIA, Bertha de Souza Porto. Por Trás do Espelho. Gráfica Fraternidade. Belo Horizonte, 1996. 3. LIMA, Raimundo. O Campo da Garça, de João Tavares da Rocha a Ursulino Lima (História de Corinto). Belo Horizonte: Cuatiara, 1998. 4. Entrevista oferecida por Needa Gianna Porto Maia e Rodrigo Souza Fonseca.
36 É neste quadro de instabilidade nacional que uma força militar foi criada: a denominada Guarda Nacional. É preciso considerar que as armas nacionais tinham sua base formada por um contingente qualitativamente precário: homens pobres e sem qualificação intelectual, ao passo que os cargos mais altos eram integrados por estrangeiros. A instabilidade nacional marcada pelas revoltas e a insegurança dos regentes em relação ao exército que poderia se insubordinar e se declinar a volta de Dom Pedro I, impulsionou uma medida republicana emergencial de reduzir drasticamente o número do efetivo das tropas do exército. Mas como garantir a manutenção da ordem e garantia a soberania nacional? A resposta de viés liberal, nacionalista, economicamente viável e civil foi a criação da Guarda Nacional, formada por civis a quem eram dados títulos militares; a exemplo do título de Major ou de Coronel. Estes títulos seriam vendidos a cidadãos eleitores, ou a seus filhos, com renda anual superior a 200 mil Reis nas grandes cidades ou a 100 mil Reis nas demais regiões. Como se percebe, naquele momento a medida foi cirurgicamente precisa já que conseguiu amarrar tensões econômicas, políticas e militares, tudo no interesse da soberania nacional. A função da Guarda Nacional era defender a Constituição (1824), a liberdade, a independência e a integridade do Império, mantendo a obediência às leis e conservando a ordem e a tranquilidade pública. É neste cenário que Ricardo Gregório de Souza, fazendeiro pujante da região, adquire seu titulo militar de Coronel da Guarda Nacional. Daí em diante Ricardo passou a ser um Coronel, passou a ser o Coronel Ricardo. Em 1922 a Guarda Nacional foi desmobilizada tendo em vista os novos ares do período republicano. 3.2. Ricardo Gregório de Souza. Nascido na fazenda da Extrema (como sugere sua neta Bertha) em 21 de maio de 1869, Ricardo Gregório de Souza é filho de Antônio Pedro e Filipa Clara e irmão de Cândida Zulmira, Leopoldina, João, Filipinha, Matilde, Antônio Pedro, Conceição, José Antônio e Maria Cândida. Cresceu em uma família próspera, era de boa saúde e respeitado pelos irmãos e familiares. Tornou-se um homem de comportamento calmo, entretanto, em momentos pontuais, tenso e nervoso. Tinha boa leitura e escrita, sendo a clareza nos diagnósticos e prognósticos uma marca de sua personalidade. Teve as primeiras letras na fazenda e posteriormente foi matriculado no colégio Santo Antônio de Curvelo, concluindo seu curso secundário em 1888, dando a partir daí preferência ao trabalho
37 ao lado do pai. Assistiu a transição do sistema de trabalho nas fazendas após a abolição da escravatura. Teve boa relação com a mãe, com o pai e com todos os irmãos. Em 1894 casou-se com sua esposa Hermogênea. Começou jovem na vida política, com idealismo e ambição, no sentido positivo dessas expressões. Político de notória hombridade, sempre se manteve distante e vigilante no que toca ao nepotismo. Tornou sua fazenda altamente produtiva, com plantio e colheitas mecanizadas, algo realmente incomum na sua região e no seu tempo. Em 1932 Coronel Ricardo Gregório de Souza faleceu na cidade Curvelo. 3.3. A Elegia. O Coronel Ricardo hoje é elogiado nesta academia corintiana de Letras por sete razões que se seguem: 1. Como extraem-se dos registros bibliográficos, documentais e testemunhos familiares, Coronel Ricardo foi um homem que caminhou pela vida como que ladeado pelo senso de justiça e honestidade, servindo de referência e segurança aos que com ele caminhava. 2. Coronel Ricardo soube de forma única aproveitar as oportunidades que a vida lhe ofertou, construindo um patrimônio sólido por meio da exploração de sua fazenda e das operações negociais da pecuária, podendo em razão deste alicerce econômico sustentar e auxiliar familiares e amigos. 3. Coronel Ricardo merece ser elogiado por ter assumido a liderança e a importância política que o contexto lhe exigia. Tornar-se Coronel da Guarda Nacional e assumir o compromisso de defender a Constituição, a liberdade, a independência e a integridade do Império, mantendo a obediência às leis e conservando a ordem e a tranquilidade pública é motivo de orgulho e regozijo para toda família Souza e para todos que de algum modo compartilharam fragmentos de vida com este homem de valores. 4. Coronel Ricardo, apesar de ter sido investido com poder político, soube entender que grandes poderes são seguidos por grandes responsabilidades e que poder e domínio não são sinônimos. Objetivamente, Coronel Ricardo não foi adepto ao nepotismo, nunca indicando para cargos políticos seus familiares, com vistas a satisfação de interesses poucos nobres. Ainda neste ponto, nunca abriu mão da personalidade própria (terno de brim e cigarrinho de palha), mesmo que diante de personalidades de reconhecimento político nacional. Como bem observou Bertha “partidário sim, subalterno jamais”.
38 5. Coronel Ricardo foi um visionário ao ver que Curralinho seria um município. Aqui agradeço a contribuição vinda de Needa Porto Maia e Rodrigo Souza Fonseca que bem compreenderam e descreveram o ocorrido: Coronel Ricardo viu Corinto antes mesmo que ela existisse. Um ato de fé, em seu sentido mais genuíno. Fé é exatamente ver e chamar à existência aquilo que ainda não existe no mundo. 6. Coronel Ricardo também merece ser elogiado por ter feito a doação das terras nas quais a cidade de Corinto se desenvolveu, dando testemunho prático de que a fé sem as obras é uma fé morta. Neste ponto é fundamental destacar que caminho mais acertado não poderia ter seguido o Coronel. Houve quem indagasse porque as doações não foram feitas ao município diretamente. Ricardo foi homem de poder e de política, não cometeria tal erro. De forma cirúrgica, fez as doações se certificando que os possuidores que não tivessem recursos para a compra de seus lotes passariam a ter títulos de direito real de propriedade sobre seus espaços de morada. Conduta nobre, próprias de um homem de visão e estratégia. Realmente, digno de elogio. Mais uma vez sobre este ponto, deve ficar registrado que as terras que doou superam em muito a que separou para si mesmo. 7. Coronel Ricardo foi um chefe de família exemplar. Soube conduzir toda sua descendência aos caminhos seguros, apesar de ter sofrido dolorosa e marcante perda. Pouco romântico, foi protetor, companheiro e amigo de sua esposa Hermogênea. Relata Bertha que nunca viu sua avó Hermogênea chamar seu avô de Ricardo, sempre era Cacá (apelido de infância de Ricardo). Bertha ainda relata que o casal estava sempre juntos e enfatiza, “muito juntos”. Sempre preocupado com os estudos da prole, tanto dos meninos quanto das meninas, o que historicamente também evidencia sua visão de mundo: liberal conservador. Repeti propositalmente e insistentemente o nome de Coronel Ricardo, para que este nome fique sempre encravado na história de Corinto como um dos seus mais nobres e destacados construtores. Muito pensei e refleti sobre quais seriam os verdadeiros motivos pelos quais Coronel Ricardo deveria ser elogiado. Diante de uma vida tão intensa, fincada em um período histórico igualmente intenso no Brasil, restou-me buscar as joias da coroa, ou melhor, restou-me a busca pelos doces frutos produzidos por esta existência. Justifico esta metodologia considerando que os processos cognitivos amadurecidos associados à
39 escassez de tempo e de força provocada pelo processo de envelhecimento produz no homem o senso de seletividade, prioridade e importância. Esse senso é instintivo, natural e matemático. O Coronel Ricardo poderia ter vendido suas terras, ajuntado suas riquezas e se mudado para o Estado de Goiás (como relata sua neta Bertha) para ter uma vida de luxo longe das complicações que o passado às vezes impõe aos homens públicos. Mas o Cacá optou por encerrar seus dias na sua terra, na sua família, na sua natureza. No amadurecer completo de sua vida, o que teria mais valor para aquela alma? De onde poderia vir as joias de sua coroa? Ricardo despiu-se da força física, despiu-se do suntuoso título militar de Coronel e despiu-se da sua grande propriedade. No fim era apenas o Ricardo. Em um dia comum ele saiu para passear com os três netinhos pequenos, entre eles a neta Bertha. Ricardo encontrou uma amiga, de vida sofrida. Ela também havia perdido um filho assassinado e estava deveras abalada. Cacá a confortou, relembrando junto dela que também havia passado pela mesma dor de perder um filho assassinado. Despediramse e a poucos passos Cacá caiu vitimado por um colapso cardíaco em 6 de março de 1932 na cidade de Curvelo, gerando grande comoção social. O Cacá soube vestir armaduras para combater o combate deste mundo e mais ainda soube se despir para caminhar rumo aos campos Elíseos, onde terras, títulos, nomes, sobrenomes, inimizades, burburinhos e boatos não podem entrar. Ricardo Gregório de Souza, por saber o valor da justiça, da família, do trabalho e da verdade é justo merecedor destes sinceros elogios.
40 Incumbido da difícil tarefa de proferir a elegia a Raulino Floresta Magalhães – um dos fundadores desta Casa e Patrono da Cadeira no. 18, que honrosamente passei a ocupar, confesso, inicialmente, minha incompetência de cumprir este rito no seu modo devido, qual seja, redigido em versos livres ou tercetos, como o fizeram os grandes poetas, deste a antiguidade, notadamente Sólon de Lucena - um dos sete sábios da Grécia. Mas, também, aproveito-me da ambiguidade desse gênero lírico para deixar de evocar a Tristeza (a essência da elegia), daí refutando o Lamento e chamando à luz a Simpatia, para, com ela, percorrer caminhos mais promissores, pavimentados pela Paixão e pelo Lirismo, que penso serem mais adequados para falar de Raulino. Não que a Dor deva estar ausente. Afinal, não é ela mesma o terreno fértil em que o Poeta pisa o barro que transforma, ressignificando-a e universalizando seu sentido? Isso fizeram Sófocles, Pessoa e, aqui, em meio a nós, Raulino. Dou-me, assim, licença para transgredir a obrigação da elegia e proceder a um Elogio. UM ELOGIO A RAULINO. Inicialmente, no dever do ofício, sua breve biografia: Filho de pais pernambucanos, Raulino nasceu em Pirapora (MG), onde residia sua família. Seu pai, carteiro, transitava frequentemente para a capital, pousando em Corinto, onde fez amizades, daí, encaminhando o filho, advogado voltado para o direito criminal, a radicar-se nesta cidaELEGIA AO PATRONO RAULINO FLORESTA MAGALHÃES CADEIRA Nº 18 Acadêmico José Eustáquio Machado de Paiva
41 de. Raulino teve, em Corinto e em toda a região, uma atuação profícua, admirada pelas defesas eloquentes, competentes e apaixonadas. Além de Advogado, teve várias outras atuações importantes: Pecuarista, criador de gado Nelore destinado às exposições e aos melhoramentos genéticos, atividade que lhe propiciou incontáveis viagens e contatos por todo o país. Professor, com docência marcada pelo rompimento dos métodos tradicionais, pela militância inovadora, pela quebra da metodologia clássica e introdução de uma abordagem educacional renovada, mais próxima da vida vivida pelo seu alunato. Dedicação que se seguia a renúncia do salário, sendo alimentada pelo gosto, pela ética e pela atitude política em prol do Bem Humano. Ligado à Cultura e promotor das Artes, Raulino sobressaiu-se no trabalho literário, produzindo crônicas, tragédias, poesias, cartas e discursos, muitos deles publicados. De personalidade forte, porém amável, não era dado às atividades da política partidária – essa dos comezinhos do poder. No entanto, é impossível compreender Raulino sem considerá-lo na permanente afirmação da Política, fundada na ética humanista, empenhado na construção permanente de um mundo melhor. Sua alma de ativista, ao mesmo tempo de luta e de sonho, deposita nas letras seus desejos, esperanças e tristezas, expressos numa cadência de tempos múltiplos, de sonhos e realidade, em vislumbres de transcendência que lhe alimentam o Espírito, renovando-lhe. Homem de paixão e ternura, encontrou na bela Naná sua companheira da vida, a quem agradeço o acesso aos arquivos do Patrono. Raulino é homem do trânsito, das transformações. Por isso mesmo, busquei conhecer Raulino no sentir um pouco da sua Alma. (Não é isso mesmo que nos diz Merleau-Ponty, o Mestre da Fenomenologia Existencial? Que só conseguimos acessar a realidade através do sensível?) Para tanto, usei como método: 1) puxar pela minha memória, lembrando-me de quando ainda vivia, criança e adolescente, em Corinto, contemporaneamente a Raulino; 2) conversar com aqueles que conviveram com Raulino; 3) entender suas fotografias, sentir seu olhar e seu semblante; 4) estudar sua produção literária; e 5) me deixar levar pelas suas palavras, sentindo o sentir que ele vivificou nos seus escritos.
42 Mergulhei no trabalho de Raulino, procurando conhecê-lo mais e melhor, tentando tocar-lhe a alma, posta ali, viva, pulsante nos seus escritos, sem nenhum volteio ou meias-palavras, cristalinamente exposta no lirismo do Ser dos seus escritos. Daí, “descobri” que, em Raulino, é o Ser, e não o nome, que importa. É o Viver, e não o ter, que é significante. É o caminhar, que – pés no chão – trabalhando, transforma, agrega e dignifica quem somos: quem – incessantemente - nos tornamos: em Raulino, tudo se movimenta numa teia imbricadamente realizada pelo Amor, na indissociável conexão do Eu com o Outro. Tudo é impermanência e transformação em Raulino. “O meu nome não tem importância. Sou Antônio, sou José, sou Manoel, sou qualquer um. Sou presença do anônimo construindo o mundo [...]. [...] Amo o que faço e há um pouco do meu amor em tudo quando edifica a felicidade dos homens. Na humildade do meu trabalho, ajudo a construir e reconstruir o mundo e todas as suas belezas. Sei que existe, no mais íntimo do meu ser, uma herança irrenunciável: a capacidade de criar e recriar, como se minhas mãos humanas fossem um prolongamento das mãos divinas. Em tudo quanto eu faço com amor há um pedaço do amor. Sou feliz pelo homem que sou e pelo sopro do eterno que, morando em mim, dignifica e dá sentido ao meu esforço para o bem comum: todos dependemos de todos, como se cada um vivesse na vida do semelhante.” (A Presença, s/d) Sensibilidade e paixão transitam na Alma de Raulino. Paixão que comunga, na dor, o chão que pisa e o mundo que aspira, num abraço fraterno e solidário. Assim, Raulino se torna livre e se desdobra ilimitadamente, tornando-se universal: “Meu coração brasileiro não tem fronteiras. Comungo a coragem de todos os ideais e tenho um abraço para todas as cores; Participo na sede de todos os corpos e sofro a fome de todas as bocas; [...] Meu coração brasileiro dá volta ao mundo e recolhe todas as angústias e temores: escorre no meu rosto o sal de todas as lágrimas e fere-me os olhos o pavor de todas as mutilações; aceito as dádivas do transcendental e acredito na conciliação sincera de todas as discórdias; exalto a inteligência criadora e creio no progresso voltado para o bem comum:
43 o homem, semelhança da própria origem, é uma seta de luz no rumo do infinito.” (Profissão de Fé, s/d) Na alma forte de Raulino, enraizada na beleza rude do sertão, a emoção encaminha o afeto, transbordando ternura. E, assim, vai, perscrutando o mundo, transformando-o com o seu olhar, cantando seus valores. O olhar não é só “o espelho da alma”: é – mais que isso – o campo em que a alma se manifesta. “Olhar” é mais que ver, é realizar o mundo, sentindo-o. Mas, é pela dor que o sentimento se expande, purifica e se funde ao que no mais profundo do Ser do outro se passa. (Lembrando que “SIM + PHATOS = juntar as dores”: SIMPATIA é a força que nos une.) Então, olhando assim, com simpatia, é que se consegue tocar a alma do mundo, tocando sua própria alma manifesta no olhar do outro. “Essa é minha filha Eni. Venho vê-la, todos os dias. Todos. A gente gosta sempre de estar ao lado da pessoa amada. É bom sentirlhe o aconchego. Ouvir-lhe a voz. Sondar-lhe o mais recôndido sentimento através do olhar. Sim, do olhar, eu disse, pois a alma da gente também tem suas manifestações silenciosas. [...] Mais de uma vez tentei surpreender minha alma refletida no espelho. Não foi possível, não foi. A alma se esquiva, ninguém vê a própria alma. Ela, entretanto, se revela aos estranhos em múltiplas nuances, nos olhos da gente. Não sei porque eu falo tanto sobre olhos toda vez que vejo, ou melhor, que penso em minha filha Eni. Talvez seja porque os olhos da minha filha se transformaram tanto através dos tempos. Não sei se os senhores têm uma filha, mas não é preciso ter filhos para sentir o que eu sinto.” (Suli, s/d) Porém, é na dor que o poeta se redime, torna-se humano, nivela-se ao outro, afirma-se sujeito. Sujeito que compreende e que, compreendendo, consegue acolher a tragédia das transformações inexoráveis da vida. Pois, pela dor, o Poeta também se transforma, seguindo o fluxo do seu próprio olhar no olhar do outro. “[...] Mas os olhos - Ah! Os olhos de Alice, os olhos não se vão, não se confundem, presentificados na associação de todos os olhos do mundo.
44 Verdes, profundamente verdes e belos, engastados no rosto moreno, a refletir – sim, refletiam – o negro dos cabelos. Que mais sutilezas ficaram? Nada – ou quase nada – além dos olhos verdes. Leu: “O tempo, Átila terrível, Quebra com a pata invisível Sarcófagos e capitel” Desculpasse, o poeta. Havia engano. Tempo não faz violência. Mata devagarinho. Imperceptivelmente. Quando a gente cuida que é, não é mais. Quando se pensa o de outrora, passou. Ele, por exemplo, Marcelo, era outro. Mas nem se vendo ao espelho acode o que foi. O tempo – isto sim – poderia ser um pintor: de traço em traço, vai modificando, sutilmente, a criatura. Pinta um menino. Do menino faz um jovem. Torna-o, depois, adulto, velho... apaga tudo. Quando se lhe dá no capricho, fixa um detalhe qualquer, esquecido o mais. Abstracionismo. Não seria assim a hipótese de Alice? O tempo – artista – criou e recriou, suprimindo detalhes. Ficaram os olhos. Os lindos olhos de Alice. Os olhos verdes de Alice. A vida escreve, a seu modo, a história de cada ser. Um dia encontrei Alice. Irreconhecível, quase – era fato. Mas havia os olhos. Rua. Viela. Um beco, talvez. De vida livre. Ali, no quarto de pobre, ela se vendia.” (Os Olhos, s/d) É a alma do mundo que o poeta vê/toca nos olhos de Alice, que, moribunda, se vai no silêncio.... A morte marca a vida. As faltas, essas vêm, por fim, realçar o essencial que não se vê. O claro-escuro, o antes e o depois: o mundo é transformação e, esta, a possibilidade de o melhor prevalecer. Como nos olhos – verdes – de Alice: o que fica da vida. Esse é o legado, o que de fato importa, pois permanece. Escuta, meu filho: - O que eu tenho para te oferecer, é a serenidade dessa tarde nostálgica e bela, que me antecedeu no tempo. (Testamento para meu Filho, s/d)
45 É esse o legado de Raulino. Seu único Bem, que deixa para quem mais o representa. Deixa-nos o lugar em que sua alma repousa: O “mundo antigo dos avós” A “mesma ponte rústica, nem mais feia, nem mais bela”. (mas com a “mesma solidez”) Austera. O engenho velho O carro de bois O velho arado que continua a sulcar a terra alvissareira. O mundo antigo dos sons do velho engenho que se perdem na distância... Um mundo em que a vida passa, e vemo-la passar, porque continua. Continuar esse que acresce e renova, agregando, transformando os ideais no terreno fértil da Esperança. “O ipê está florido e foi teu pai quem o plantou” ... (Testamento para meu Filho, s/d) Assim, senhoras e senhores, é que procurei traduzir um pouco do que vivi nesse roçar a alma exposta de Raulino, nessa comunhão íntima com o mundo que ele, no seu trabalho, nos deixa eternizado. Muito obrigado.
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47 Bacharel em Direito pela Universidade FUMEC. Pós-graduada em Direito Público pela PUC/Minas. Escritora. Professora do Ensino Médio de Filosofi a e Sociologia. Autora do livro: Olhar Caleidoscópio de mim, publicado em 2019. Pesquisadora no campo Direito e Literatura, com vários artigos publicados na área. Especialista em Processo Judicial Eletrônico – PJe, na Corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Membro do Grupo de Pesquisa Direito e Literatura: um olhar para as questões humanas e sociais a partir da literatura da PUC/Minas. Membro da Rede Direito e Literatura – RDL. Neoacadêmica na Academia Corintiana de Letras, cadeira nº 27, Patrono Dr. Raimundo Lima. Membro da ONG Amigos de Minas. Membro da Ong Ser Tão de Minas. Palhaça Humanitária que dá vida a Dra. Lilica Cor de Rosa. ALINE DOS SANTOS VENUTO sócia Efetiva Cadeira nº 27 patrono: Raimundo Lima
48 Anseios da mocidade O eclipsar da vida num parto naturalizado de planos que somam expectativas duplas num único-novo ser largas reservas expansivas perspectivas elevadas alegrias se corporificam em mãos miúdas e inocentes que alcançam o céu com os pés no chão Testemunho que nos dá a coragem revestida de perpetuação. Para o tempo não há rei e nem reinado, falamos apenas em procriação E assim firmemente se estabelece a equação sempre indispensável e estrondosa Desenha-se com a força da vontade A vontade que nos expulsa do berço e que arremete no solo o véu que outrora usamos Fazendo do mundo o nosso próprio lar E na desordem dos pensamentos Expurgamos nossa origem. Resta-nos a questão: onde queremos habitar? Ou ainda, o que seria habitar? Abismo maior não há! Equilibrando entre o sentir e o pensar Dançamos entre atos falhos sempre a nos permear Mantemo-nos afluentes e a nossa vida segue como vereda pelo (a)mar. A maturação se achega, marcada pelo passar dos anos, visível pela pele a enrugar A mudança vem de súbito e transmuta toda a percepção Grita violentamente ao universo o que antes era silenciado no coração Luas, tempo, ruas, vento Sol, minutos, clarão ... o momento! Quantas mais? A vida segue sendo uma canção infantil E a cada instante Deus nos sorri e pinta sua face de anil E quando aquele pequenino, o olhinho abriu Viu que não haviam castelos, belas ou feras Agora está sem o cordão umbilical que até então o nutriu Tudo tomou formato distinto, o que até então conhecia era quase que pueril
49 Entendeu que tinha chegado ao mundo, quando viu o semblante de quem lhe pariu. Alguns anos depois... Disseram-lhe: viva em comunidade E sussurrando outrem lhe soprou ao ouvido: Tome cuidado! A sociedade esqueceu o que é humanidade! É preciso voltar para casa, retomar a orbe dos anseios que os moviam na mocidade Agora, “Tudo é pra ontem”, só pensam na validade da velocidade Mas assim, deixam passar toda a eternidade. Pequenino, se torne gigante Não em tamanho, mas em sensibilidade, se entregue! Tire a armadura do coração! E despido de si mesmo Sorva do novo canto Salte da alienação da sociedade para a total fruição. Devires ensaísticos Desmemória E o manuscrito continua afixado na parede Ousando manter vivas todas as lembranças Tantos testemunhos Estremeço Meço Peço Miudezas sempre resistem com ternura Reminiscências do mosaico que logo sou Pintam os estados de minha alma Rascunho palavras desconexas num papel amarelado Ensaios e prosas, no curso da palavra todos os meus devires A refração da luz toca os versos sem verbos que ali dançam Sorrio! Sou mar! O vento sopra os meus cabelos Formando um som de doce afago Entendo, preciso continuar... Escrevendo é impossível não sangrar, denuncio Escrevendo é impossível não transbordar, anúncio Mas antes de tudo escuto e acolho, é essencial!
50 Palavras são cura! Como um sentimento superior e supremo Professanda sigo a caminhar É o próprio desejo quem escreve desfiando uma pequena gota de orvalho que brilha na joaninha que caminha sobre a folha da minha omoplata direita Tesouro afetivo, verdadeiro relicário Que tece a rede dos sonhos Em descrições que assinalam atitudes Esta escritura, talvez, nunca possa se dizer pronta. Está sempre sendo escrita nos tantos encontros com a diversidade Bem como com a atuante e latente transformação do próprio escritor Humanos são como os livros, nunca estão prontos! Estão sempre sendo preparados e refeitos É nesta desconstrução que há totalidade, que há formação Que se faz através de um atravessamento deslocante Oferta de acesso a tantos e a todos que habitam em mim Inclusive aqueles que desconheço Circundam e circulam como fragmentos da “teiologia” humana em formação Seja como releitura Seja como hospitalidade Seja como responsabilidade Seja como um simples olhar O que prevalece é ser sempre e necessariamente como puro amor! Arquitetura genética Comunhão que congrega Conexão de duas existências num mesmo cordão Desmaterializando que qualquer vínculo seja em vão Determinante na matriz de toda miscigenação Germina com o cuidado Acende o definitivo no temporário Carrega no regaço suas próprias entranhas No calor da estrutura viva o alcance de toda profundidade Não há apresentações ou representações, muito menos reposições Este amor é carne