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Published by rogersimoes44, 2023-07-10 11:55:30

Florilégio 2

Literatura Brasileira

Keywords: Florilégio 2

151 E agora quero saber qual o destino Desse povo bom que aqui morou? Onde está Lúcio Rosa e Lucinho? Que fim a dupla pai e filho levou? Pra onde foi Ordália e Serginho? E a família de Vital, debandou? A resposta de repente vem vindo: O tempo, a vida se encarregou De mostrar o lugar e o caminho Que essa gente linda tomou: Mudaram PR longe uns queridos vizinhos. Outros, em sono eterno, Deus os colocou. AUTO DO PRESÉPIO Desenvolvimento da peça: Pessoas caracterizadas repartidas em 18 grupos, encenando cada um o seu papel e entonando a voz característica de cada um. Personagens Reis Magos: Gaspar, Belchior, Baltazar. 1 - Guardas 2 - Herodes 3 - Mulheres do campo 4 - Mulheres viúvas 5 - Homens numa roda de conversa 6 - Estudiosos 7 - Operários 8 - Poeta 9 - Ciganas 10- Família 11 - Professor 12 - Parteira 13 - Rapazinhos 14 - Anjos 15 - Cantores 16 - Declamadores 17 - Coral 18 - Pastores


152 NARRADOR – O mês de dezembro chegou. Com ele os ventos, o sol escaldante, o verão. No Oriente os reis BALTAZAR, BELCHIOR e GASPAR, estudam os astros, consultando as estrelas, para confirmação da profecia. (Os reis se apresentam). 1 - GASPAR – Sou o Rei da Índia, trago incenso, símbolo da fé que devemos ter em Deus e nos irmãos. Eu sou Gaspar, Rei Mago do Oriente. Recebi a incumbência de procurar esse reizinho e sei que ele chegou para abençoar e iluminar o mundo. Junto com meus companheiros, vamos cumprir a missão. 2 – BELCHIOR – Sou o Rei da Pérsia, o Rei da Luz. Trago ouro, símbolo da realeza do menino que procuro. Eu sou Belchior, o Rei Mago. Estudando as estrelas vi um menino cheio de luz. Senti o chamado para vir procurá-lo. 3 – BALTAZAR – Sou o Rei da Arábia, o senhor dos tesouros e trago a mirra, símbolo da pureza do menino que venho visitar. Sou Baltazar, o rei mago que recebeu do Criador o dom de ler as estrelas e saber o que vai acontecer. Estou vindo do Oriente para visitar o menino. NARRADOR – Um menino nasceria de uma virgem. Esse menino seria o DEUS humanizado. Com todas as virtudes e qualidades de um perfeitíssimo, viria mostrar aos homens os modos de agir e de viver, espalhando a paz, a concórdia, o amor e a alegria no mundo. O sinal de sua chegada seria mostrado por uma estrela, que apareceria no céu mais brilhante que todas as outras, apontando o lugar onde o Menino DEUS estaria nascidinho de há pouco. E a estrela fulgurante clareou os céus e apontava o caminho! E os reis magos juntaram seus presentes e, montados em seus camelos, puseramse a caminho, seguindo o rumo que a estrela indicava. (Chegaram ao palácio real). 1) Rei Gaspar - Ó guardas do palácio real! Estamos aqui para visitar o menino e trazer-lhe presentes. Guardas - (Gargalhando) – Que menino? Olha só! Que menino? Não sabemos de nenhum menino. Rei Gaspar - O menino que será o novo rei. O rei que trará paz ao mundo e mostrará que todos somos irmãos. Guardas - (Gargalhando) Quem lhes disse tamanha novidade? Vocês


153 vieram de tão longe para ver um novo rei? Ra´, rá, rá, rá, rá. Venham ver o rei! 2) Rei Belchior – Majestade! Rei Herodes! Viemos visitar o menino. Vossa Majestade deve estar alegre com a sua chegada! Herodes (Amavelmente) – O menino? Ah! Ele não está aqui! Rei Belchior - Não está? Para onde ele foi então? Onde nasceu? Herodes (Amedrontado e fingindo) - Eu também estou a procurá-lo. Por isso quero pedir-lhes um favor: quando o encontrarem, passem por aqui e me digam onde ele está, porque eu também quero encontra-lo e levar-lhe minhas boas vindas e meu presente. Espero tanto, por este rei! Narrador – E os reis prosseguiram sua jornada seguindo o rumo indicado pela estrela. No caminho foram encontrando pessoas e perguntavam a elas: 3) Rei Baltazar – Vocês sabem onde está o menino? Vocês sabem camponeses? Na nossa visão ele nasceu no campo. Mulheres do campo (Cantando cantiga de roda Ó que noite tão bonita) - Que menino ó majestades, vós estais a procurar. Dizei-nos quem é o menino e nós vamos encontrar. Rei Baltazar – O menino que veio iluminar o mundo. Mulheres do campo (Cantando ritmo de Nesta Rua) – Nunca ouvimos falar deste menino. Pois o mundo já está iluminado! 4) Rei Gaspar – Minhas amigas onde está o menino? Falem conosco por favor! Mulher viúva - (Chorando) - Qual o menino? Aquele que morreu? Oh! meu Deus! Rei Gaspar – Não. O menino Salvador do Mundo. O menino prometido nas escrituras. Mulher viúva – (Chorando) - Nunca soubemos desse menino. Ainda mais com o nome de Salvador. 5) Rei Belchior – E aí companheiros precisamos de uma informação. Vocês já viram o menino? Homem da roda de conversa– (Gaguejando) - Menino? Que, que, que que, me me nino? Rei Belchior – Sim. O menino que trará a paz ao mundo. O Messias prometido. Homem da roda de conversa (gaguejando): - Vocês estão caçoando de nós? Não há nenhum menino!


154 6) Rei Baltazar – Nobres senhores, vocês já viram o menino? Nós estamos ansiosos para vê-lo Estudioso – (Fazendo discurso) – Há muitos meninos por aqui! Meninos grandes, pequenos em toda casa há. Rei Baltazar – Mas há um que estamos a procurar. O Messias prometido. Estudioso – Ó reis do Oriente! Vossas Majestades, tão sábios, tão poderosos acreditando em lendas e vindo atrás delas? 7) Rei Gaspar – Queremos ver o menino. Foi aqui que ele nasce? Operários (Cantando) – Que menino é esse? Nunca ouvimos falar. Rei Gaspar – Um menino Salvador! O Messias prometido! O filho de uma Virgem. Operários (Cantando) - Ninguém nos disse que há um menino Salvador. A quem ele vem salvar? 8) Rei Belchior – Ô bem amados, vocês que moram por aqui nos digam: Onde encontraremos o menino? Poeta (Fazendo teatro) – Que menino gente? Por aqui ele não está. Deus! Oh Deus, de que menino estão falando? Rei Belchior – O menino da profecia. Vocês sabem da profecia não é? Ele foi anunciado pelos profetas. Sua hora chegou. Poeta (Fazendo teatro) – Ó todos aqui presentes! Ouviram o que os reis estão dizendo? Como podem ser tão ingênuos, sendo tão importantes? Nunca houve menino nenhum! Profecia é balela! 9) Rei Baltazar – Ó lindas ciganas, alegres e faceiras. Estão felizes porque já viram o menino? Ciganas – Não! Só ouvimos falar Nele. Será que ele existe mesmo? Rei Baltazar – Existe sim! Estamos a procurá-lo, pois Ele será a luz do mundo! Ciganas – (Cantando e dançando) – Somos ciganas do Egito/ das montanha de Belém. Queremos ver o menino/ que nasceu para o nosso bem. Hê lê lê lê pastoras! São horas meus senhores. / São horas divinas. / São horas de amor! 10) Rei Gaspar - Querido, estamos procurando um menino! O menino que os profetas anunciaram. Família (Caçoando) – Um menino? Meninos aqui tem demais! Mas nenhum foi especialmente anunciado.


155 Rei Gaspar - Sim. Sim! Um menino que será o redentor do mundo! Este foi anunciado como Redentor. Família (Caçoando) – Redentor? O que quer dizer redentor do mundo? Re- den- tor. 11) Rei Belchior – Gostaram do menino? Já o visitaram? Professor (Com voz e tom de professor) – De que menino vocês estão falando? Hoje não chegou novato nenhum para estudar. Rei Belchior – Do menino que os profetas falaram que viria. Professor (Com voz e tom de professor) – Muitos meninos vem ao mundo todos os dias. Os nascimentos são todos iguais! Sempre nascem meninos pobres, meninos ricos, meninos esperados e meninos indesejados. 12) Rei Baltazar - Oi senhora! Com essa malinha na mão, com certeza é parteira! Acertamos? Foi a senhora que aparou o menino? Que felicidade a sua, hein? A senhora foi a escolhida? Parteira (Falando alto e bravo) – Menino? Que menino? Hoje nem me chamaram. Rei Baltazar – O menino abençoado, o menino Salvador. A senhora, por favor, mostre-nos o caminho de onde ele está! Seremos agradecidos pelo grande favor. Parteira (Falando alto e bravo) – Vocês estão me repelindo? Eu não sei de nada não! Deus! Tem piedade de mim! Eu não sei de menino nenhum! Eu não sei e nem escondi ninguém. 13) Rei Gaspar – Olá rapaziada, alegre e despreocupada! Com certeza estão alegres porque já viram o menino! Rapazes (Com voz e tom de boy moderno) – Qual é tios? Que menino? Pirou coroas? Rei Gaspar - O menino prometido pela sabedoria dos profetas. Vamos! Levem-nos até o menino nascidinho de novo. Estamos loucos para vê-lo. Rapazes (Com voz e tom de boy moderno) – Qual é tios! Cês tão nos tirando? Queremos não, saber de menino nascidinho de novo! Nosso papo é as minas crescidinhas, polpudas e rombudas! Tão ligados!... 14) Rei Belchior – Ó anjos celestes, que a Deus adorais. Vinde aqui e agora e nos auxiliai. Dizei-nos bem aventurados, aonde acharemos o menino?


156 Anjos – Nós também estamos esperando esse menino tão anunciado. Rei Belchior – Então ouviram falar dele? Anjos – É o bem aventurado que salvará a humanidade. (Cantando com a música do Ofício de Nossa Senhora). 15) Rei Baltazar – Onde nasceu o menino? Falem senhores. Vocês festejam, porque o viram? Cantores - (Cantando -Sole mio) Que menino é esse? Não sabemos do que estão falando! Rei Baltazar – O menino que virá salvar a humanidade, virá redimir os homens e mostrar que todos que quiserem podem ser bons. Cantores (Cantando- Sole mio) – Então esse menino é mesmo diferente dos outros. Se ele existe mesmo, vai crescer e o mundo vai melhorar. 16) Rei Gaspar – Vocês já encontraram o menino? Ele está aqui por perto. A estrela nos mostra. Declamadores – (Declamando) – Quem é esse menino? Estamos curiosos! Rei Gaspar – Um menino luz, que chegou no dia 25 de dezembro, quando a estrela apareceu. Declamadores - (Declamando) – Então nós vamos com vocês, conhecer esse menino. Queremos ver para crer se ele é mesmo diferente. Se ele é mesmo o Salvador, se ele é mesmo o Menino-Luz! 17) Rei Belchior – Então vamos seguir a estrela e procurar, procurar, até achar o menino. Coral - (Todos cantam juntos). Quando virá Senhor o dia Em que apareça o Salvador E se efetue a profecia Nasceu no mundo o redentor! Olhai para o céu Vereis a estrela guia Que serve de sinal Ao verbo encarnado E este menin É o verbo encarnado Ensinará o mundo A livrar-se do pecado! Quem viu esse menino. Será abençoado E o seu caminho Será Iluminado.


157 18) Rei Belchior – Oh pastores, por que todos estão alegres e felizes? Por que todos cantam? Por que os sinos badalam festivos? Porque até os animais, com suas vozes estão conseguindo nos apresentar uma sinfonia tão agradável aos nossos ouvidos? Pastores – (Falando em coro, sorrindo) – É que nós achamos o menino e estamos cantando para ele. Venham cantar conosco. Todos - Vamos cantar com os pastores Junto ao presépio de Belém Venham vocês, caros senhores, Cantar um hino ao nenê. Gló ó ó ó ó ó ó ó ó ria In excelsis Deo. Foi nesta noite venturosa Em que nasceu o Salvador E os anjos com voz amorosa Deram no céu este clamor Gló ó ó ó ó ó ó ó ó ria. A Deus nas alturas. Ó Deus menino esperado Para você todo louvor Traz para nós mundo melhorado Mostra-nos como é viver o amor. Gló ó ó ó ó ó ó ó ó ria. A Deus nas alturas Narrador – E todos que riram, que choraram, que caçaram, que gaguejaram, que ensinaram, que dançaram, que ironizaram, que cantaram, que esbravejaram, que discursaram que encenaram, que declamaram com vênia, adoraram a Deus Menino. Os membros da festa são convidados a serem padrinhos do Menino. Os pais do Menino Jesus pediram que os padrinhos apresentem-se uns aos outros e entregue os presentes. Dêem um abraço no Deus Menino que existe dentro do coração de cada um. Mercêdes Antônia de Paula Alonso do Carmo – Dez/2012.


158 HINO À ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA MARIA AMÁLIA CAMPOS Hoje nós todos vamos cantar A ti escola Maria Amália, exaltar Pois do saber tu és o templo E da virtude tu é o exemplo. Queremos, a ti, escola, celebrar E em ti sabedoria e cultura proclamar. Que tu sejas da verdade, sempre, o templo Que tu sejas da educação o exemplo. Tu eras o antigo Grupo escolar. Escola Estadual hoje vieste a chamar Professora Maria Amália Campos, Que vens instruindo e educando tantos. Tu muitas honras com teu nome A classe nobre dos educadores Pois, recebeste com grande honra O nome de uma antiga professora. Assim teu nome é bem honrado Por sábia e eximia educadora, Que foi mestra, pioneira dedicada, Que trouxe luz a essa terra promissora. Todos que por ti passaram Em apenas um ideal pensaram: Educa, com amor, toda criança, A cada um, dando saber e esperança. Os que em ti chegam logo deparam Com o que, os de antes conquistaram. Encher-se de estímulo e confiança, Tomaram impulso à perseverança. Arlete, Olga e Maria Pinto iniciaram. Divina, Nira e Elza continuaram.


159 Mercêdes está e outras virão Todas comprometidas com a Educação. E todos nós que em ti saciamos Do saber, a fonte de água viva, Com garbo, a ti, escola, louvamos E te exaltaremos por toda vida. Para sempre tu, escola tão querida, Farás parte da historia de nossa vida, Das nossas conquistas, progressos e avanços, Da nossa firmeza, alegria e esperança. Salve! Salve! Escola amada e singular! Tu habitas e iluminas o coração de todos, Que em teus bancos, um dia, com denodo, Tiveram a honra e glória de assentar. Aqui no Centro dessas Gerais, És Escola Maria Amália, o relicário, E, meio a tantos e tantos cristais Fulguras, ó Escola, com um lampadário. HOMENAGEM Professoras tão queridas Vimos hoje a saudar Sua importância em nossa vida É vital e salutar. Você que todos os dias Vem aqui pra trabalhar Vão moldando nossa alma Despertando o dom de amar. Amar as pequenas coisas As Pessoas e a Deus Amar o trabalho honesto E a vida que Ele nos deu.


160 Nós as vemos todos dias Ao claro sol da manhã Vir pro trabalho sorrindo Cada qual com mais afã. E com a mesma alegria Recebem e nos transmitem Sua grande sabedoria Preparam nosso amanhã. Professores tão queridos, Vimos hoje os saudar Sua importância em nossa vida É tão grande é sem par. Vocês que todos os dias À noite, à tarde ou manhã Vem pro trabalho sorrindo Preparar nosso amanhã. Neste 15 de outubro O Deus Pai da criação De muitas bênçãos os cubra E lhes dê paz no coração. Recebam muito carinho Bolso cheio todo dia E redobre o dinheirinho Na sua aposentadoria. INSPIRADO EM MILLOR Não podemos continuar a ser: Abafados pelos abonados Anulados pelos aristocratas Banidos pelos bem nascidos Caçoados pelos caixa alta Depreciados pelos despóticos


161 Enfraquecidos pelos endinheirados Fatigados pelo favoritismo Galhofados pelos graúdos Horrorizados pelas hecatombes Ignorados pelos imperiosos Julgados pela jactância Ludibriados pelos leva e traz Ladeados pelos ladinos Melados pelos morde e sopra Nulificados pelos nobres Ofendidos pelos poderosos Qualificados pelas quantias Radicalizados pelas raposas Satirizados pelos coletores Tocaiados pelos tubarões Ultrajados pelas urnas Vencidos pela vitória anunciada W w w zados pela web Xeretados pelos xaroposos Ypsilonizados pelos yupples Tombados por causa do zumzum. MINHA TERRA Imagine uma localidade onde todos se conhecem, todos se encontram e se estimam. A maioria trabalha em uma mesma empresa desde médicos, engenheiros, dentistas, até trabalhadores braçais. Há uma hierarquia, há uma rigidez em relação ao cumprimento do dever e até a família cumpre um regime severo de horários nesta comunidade. Mas o interesse é que todos se sentem felizes com esse equilíbrio, pois conseguem conduzir bem a vida familiar e os limites são respeitados pelo representante da família. Os valores são vivenciados e de modo especial o amor e o respeito são cultivados. A 6h 45mim e 11h 45mim as ruas são povoadas de trabalhadores que convergem de todos os lados buscando a área do complexo ferroviário para, cada um, no seu setor, ocupar os níveis, cada um no seu trecho, no seu setor ou repartição. O trabalho é sério e a militância fiel. E a ferrovia é um movimento só, a cidade é alegrada com os apitos das máquinas com os toq2ues das sirenes com o badalar das horas do relógio da oficina do


162 depósito: é movimentada com o transitar, nas horas certas, de milhares de trabalhadores, que se aprimoram na profissão de ferreiros, de mecânicos, de artífices, de metalúrgicos, de carpinteiros, de escriturários, de professores, de agentes de estação, de feitores, de encarregados, de, de braçais, de chefes de estação, de chefes de escritório, de chefes de oficina, de mestres de obras, de manobradores, de guarda-fios, de guarda-chaves, troleiros, de maquinistas, de telegrafistas, de eletricistas e de tantas outras especialidades, ao mesmo tempo em que servem à empresa e dali tiram seu sustento e a sobrevivência da família. Ninguém se queixa de ociosidade, nem inventa moda, por essa causa. As famílias se visitam, os companheiros de trabalho se ajudam, fazendo mutirão, para cercar o lote e construir a casa. Todas as casas são ocupadas, os hotéis, pensões e restaurantes são concorridos e lotados. Os chefes de família dão conta de sustentar esposa e numerosa prole, mas, em compensação as prendas domésticas são realizadas com esmero pela dona da casa e filhos. O comércio é dos mais progressistas, pois há armazéns ligados à empresa e os outros que vendem no atacado. O povo é bem alegre, solidário e se sente como uma só família ferroviária. Até instituto próprio, com plano de saúde específico esse povo tem. Os jovens têm, na própria empresa, seu ensino profissionalizante, e posteriormente seu emprego. Para o momento esta cidade tem tudo para ser um local bom para morar e de se viver. A estação ferroviária é entroncamento de 4 ramais e liga esta cidade a Belo Horizonte, Montes Claros, Diamantina e Pirapora e todas as cidades nos seus entremeios. Há então intercâmbio de amizade entre os povos destes ramais e consequentemente mais entrelaçamento e respeito. Só que essa descrição de Corinto faz parte do passado e, dessa realidade, resta: a ruína de muitos prédios, a desativação de mais alguns, o desfazimento de linhas férreas e demolição de casas. Restam também corações saudosos e gente agradecida. Mas, o mais importante: resta gente que herdou dos antepassados ferroviários essa vontade e coragem de lutar para que suas aspirações de cidadãos sejam realidade. NÓS Nossa rua chamava-se Rua São Paulo. Mudou de nome e de formato. Tornou-se mais larga e mais extensa. Seu nome poderia ser mudado para “Rua de Nós”. Nós, solidariedade; nós amizade; nós, vínculo perpetuo de


163 conversa amável, de comunhão de ideias, de confraternização, de mãos dadas, uns com os outros. O que acontece a um afeta a todos nós, seja alegria ou tristeza. Existe um elo perene de amizade que nos reúne, nos fixa aqui e nos conduz todos a ser suporte uns dos outros. Há uma cumplicidade solidária que impele todos a se ajudarem, a se amarem e a se respeitarem mutuamente. Se alguém é amigo sincero, nesta rua, é amigo de todos nós. A presença dos antigos moradores garante e reforça essa ligação mágica, que faz bem-estar a todos. Os que aqui residiram e que se mudaram, mudaram apenas de endereço, pois continuaram a fazer parte desta corrente de amizade perpétua. Cada vez que morre um de nós, perdemos, todos, um pouco da nossa alegria e silenciamos, pois perdemos um irmão. Nesta rua, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, somos capazes e costumamos entabular um papo sobre assuntos variados; homens de todas as idades (de 7 a 66 anos) se juntam numa partida de futebol; mulheres, homens e crianças nos reunimos nas casas dos irmãos, em determinados dias para rezar. Quando Deus chama e um parte, parte de nós; o ambiente fica mais vazio e mudo. Muitos de nós já partiram: Januária, Antônio Pena, D. Neném, Ninico, Lucio Rosa, Urubatan Lúcio, Joaquim Teodoro, Juca do Piston, Eurico, D. Zaita, Sr. Luiz Alves, Marcelo Mendes, Alcides Careca, Nego Alonso, Beto, e Roberto Alonso, Adir Ferreira, o Dilão, Efigênia, Elizabeth, Maria Flor de Maio, Sr. Durval, Sr. Januário, D. Maria, Nelsília, D. Djanira, Geraldo Soares, Ana Dias, Noeme, D. Alda, Gerson Joanes (Gersinho), Tarcisio Cunha, Wilson de Souza, Maria Exupério, D. Xandu, Sebastião de Paula, Cecília Lúcia, Luiz santos, Chicão, Maria da Conceição, Maria de Jesus, Maria José, Sr. Regino, D. Maria, Sr. Vani, D. Célia e Mexicano. Mas o elo continua, pois os que chegam e os mais novos se juntam a nós e a corrente revestida de saudade cria animo, se revigora e não morre. Há coisa de 20 dias, fomos surpreendidos por um fato triste, destes que só ao cabo dos anos é que podemos avaliar o peso. Morreu um de nós. Morreu um nosso irmão com quem, por longo período, partilhamos o mesmo tempo e espaço. Morreu Marcelo Lemos. De repente, assim, de modo inesperado, nos demos conta de sua ausência e da importância de sua presença entre nós. Emudecemos. Sentimos coletivamente a dor de uma perda que nos irmana a todos nós. Expressamos nestas sinceras palavras nosso respeito, nossa amizade e nossa solidariedade por esse ser humano que vimos crescer e se tornar homem generoso, alegre e solitário que foi.


164 SERESTA Esse trabalho foi realizado por um grupo de três acadêmicos que se reuniram para pesquisar, estudar e reconhecer pessoas que se tornaram protagonistas da história Corintiana e que mostram que esta terra tem uma bela memória que será perpetuada através dos relatos que se seguem. O primeiro, acadêmico Oliveira Cardoso da Silva foi um dos protagonistas dessa história, e relator de acontecimentos que vivenciou como artista partícipe do grupo de seresta juntamente com seus familiares, todos artistas e seresteiros. Marilene Barbosa dos Santos Venuto, Mestra em Língua Portuguesa, estudiosa da Cultura Popular Corintiana é sobrinha de um dos seresteiros. Mercêdes Antônia de Paula Alonso do Carmo também professora, amante da cultura quis também aprofundar-se no histórico que mostra tantos talentos corintianos. SERENATAS, SERESTA, SERENO A serenata é uma composição musical, gênero em que os amorosos cantavam da rua, canções de caráter sentimental debaixo das janelas das noivas, namoradas ou mulheres desejadas. Essa canção noturna fora narrada por Gil Vicente em 1505, em Portugal. No nosso país, segurando alguns autores, essa prática referia-se geralmente às pessoas simples, trabalhadores que repetiam cantigas populares enternecedoras que emocionavam a todos que as ouvia. O Romantismo inaugurou, em todo o Brasil, uma mudança dessa modinha em canto sentimental, cujos poetas românticos foram compositores, outros tiveram seus versos musicados, tal tipo de canto, transformando desde o séc. XVIII quase em canção de câmara volta a popularizar-se com a voga das serenatas acompanhadas por músicos de choro, a base de flauta, violão e cavaquinho. Os cantadores de serenatas são chamados de serenatistas e serenateiros. O flautista brasileiro Carlos Poyares – explica que no passado, grupos de músicos, saindo das festas, detinham-se às janelas de suas pretendidas, para tocar e cantar madrugada a dentro, constituindo um costume boêmio que nós herdamos, como tantos outros, da Península Ibérica. Passando a denominar-se seresta, serenata ou sereno, essas primeiras manifestações, no Brasil, fizeram-se muito antes do lampião de gás... à luz da lua. Seresta foi um nome surgido no século XX, no Rio de Janeiro,


165 para rebatizar a mais antiga tradição de cantoria popular das cidades: a serenata. O dia de Seresta é 12 de setembro data de aniversário do Ex -Presidente Juscelino Kubitschek. O dia resgata a tradição de música e poesia que caracterizam uma cidade. Lembrando o Presidente Juscelino Kubitschek ressaltamos o fato de ele ter vindo a Corinto em 1978 na Fazenda São José. Ele pediu aos amigos que levassem para lá o Grupo de Seresta de Corinto, pois ele queria se deleitar com as canções que tanto gostava de ouvir e cantar. A Seresta de Negrete foi para lá e eles passaram a noite cantando e valsando, libertando assim, o querido Ex-Presidente das tristezas passadas longe da terra natal. A história da música em Corinto começou na época de 1910, ainda no Arraial do Curralinho, com a fundação, por Ursulino Lima e Antônio Pertence, de duas bandas rivais, que exerceram suas atividades por muitos anos. Mas a seresta nasceu com Francisco Cardoso da Silva (Chico Fogueteiro) e um grupo de companheiros músicos e seresteiros: Celso Barbosa, José Efigênio, Paulino Barbosa e Josafá Angelino Custódio. Francisco Cardoso da Silva veio do Serro a chamado e um irmão que trabalhava na Estrada de Ferro Central do Brasil. Ele veio para também trabalhar aqui e juntar dinheiro para se casar com sua noiva Angélica, lá no Serro. Dotado de fino talento musical não pode se calar nas noites enluaradas desse Centro das Gerais. E então, Corinto, ouviu com admiração o toque e o cantar desse menestrel. As mocinhas também se elevavam com tão maviosa apresentação e até suspiravam ao ouvi-lo. E Chico Fogueteiro fazia muitas serenatas. Amigo ficou da família de Maria Honória e lá encontrou uma musa inspiradora de suas canções. Encontrou a mocinha Raimunda (carinhosamente Naná) que também cantava, e se encantou com a sua beleza e juventude. Ela também já era noiva de Gentil Ramos. Mas o gosto pelas melodias atraiu esses dois seres e Francisco passou a namorar Naná; depois se casaram, cantaram juntos e geraram um grupo enorme de filhos talentosos na música, no canto e na seresta. Oliveira, Geraldo Cardoso (Negrete), Divino (Bidi), Mário, Rosa, Araci, Maria da Cruz (Nina), Edson, agora o grupo de Seresta Raimundo Lima, lembra esse seresteiro cantando sua canção preferida: ERAM 10h; da autoria de Francisco Cardoso da Silva. Também acompanhava as serestas o professor Celso Barbosa, dando a elas um toque romântico, declamando poemas de amor. Para comemorar esse momento mágico da seresta a acadêmica Nice


166 declamará a poesia de que mais Celso Barbosa gostava. Esse professor foi embora para Uberaba não se teve mais notícias dele. Registrar aqui a poesia: Orgulhosa cujo autor é José Efigênio Pereira foi mais um dos apaixonados pela seresta e em Corinto cantava e encantava a quem o ouvia pela voz firme e sua habilidade em tocar violão. Apreciador de Vicente Celestino, Orlando Silva entre outros, cantou em muitas janelas e também em reuniões que aconteciam no Centro Operário. Os filhos de José Efigênio herdaram dele a tendência musical e alguns a expandiram: Neide, formando corais com seus alunos em cada turma que passou, ensinando-os a entoar e harmonizar os sons e José Maria desempenhando com perfeição o papel de saxofonista e maestro da Sociedade Musical de Corinto. Em homenagem aos seus familiares: D. Carmelita, Edgard, Neide, Neusa, Dalva, Lourdes, Ângela e José Maria a seresta de Corinto cantará uma linda canção de que ele muito gostava: Romper de Aurora. Paulino Barbosa é um dos 11 filhos de Antonio Barbosa da Mata e Mari Frinet de Oliveira Campos é irmão de Joana Barbosa, Margarida Barbosa, Tonico, Terezinha, Célia, Sebastiana. Homem calmo, apaixonado pelas serestas tinha alma de boêmio. Tocava violão e cantava com o coração. Vamos ouvir umas de suas canções preferidas. “E a ti Flor do Céu”. Fazinho chamava-se Josafá Angelino Custódio. Era irmão de Arzelino Angelino Custódio e de Jose Alonso do Carmo, todos vindos da cidade de Moeda na época da construção da Estrada de Ferro em Corinto. Josafá era casado com Elvira, Arzelino com Clotilde e José Alonso do Carmo com Aristida Cirina do Carmo. Todos tinham talento musical e tocavam instrumentos, incluindo neles o violão. José Alonso era mestre da banda musical, daí seu pseudônimo de Mestre Alonso. Mestre Alonso instalou-se na Rua Presidente Bernardes, que até hoje é rua da família Alonso, pois lá mora sua filha Elza Alonso, moravam os outros filhos e suas famílias: João Alonso, Raymundo Alonso, Ari Alonso, Mary Alonso, Maria José (Marião), na rua próxima, José Alonso Filho e agora moram os netos Adriane, Deyse, Yvonne, Gislene, Roseli e na rua próxima Maria Alonso. Os filhos de Mestre Alonso eram ferroviários, músicos e todos pertenceram à banda de música. Fazinho era da banda e tocava baixo. Era também exímio no violão. Nos sábados e domingos reuniram-se os irmãos e amigos no boteco do Mestre Alonso, ao lado de sua residência e lá faziam uma linda roda de música. Tinham os irmãos o dom e a ale-


167 gria de cantar e de também tocar músicas soladas no violão. Todos eram excelentes solistas. Aí as cantigas e música de seresta tomavam conta do ambiente e faziam os corações se sentirem enlevados e apaixonados. Foi Fazinho um grande seresteiro. Seus filhos também herdaram talento musical: João Angelino Custodio, Wilson Angelino Custodio (Pingo), Paulo Angelino Custodio, Irani Angelina Balsamão. Fazinho e seus irmãos deixaram em Corinto seus herdeiros musicais que mostraram e mostram seu talento e competência no tocar violão, nos instrumentos de percussão, no canto e como vocalistas e na seresta: Ailton Alonso do Carmo, Geraldo Augusto dos Santos (O Geraldinho de Olegário), e seus irmãos; Antonio, Maria Helena, Osvaldo, Dayse e Edna, Maria Cristina dos Santos, e seus irmãos: César, Ângela, Elvira, Jussara e a sobrinha Sabrina. Ouçamos uma canção muito e apreciada por Fazinho. Chuá, Chuá. Os Fogueteiros também cantaram Folia e música caipira. Oliveira compõe poesias caboclas que revelam histórias de amor, culto à natureza, admiração pela terra natal, e exaltação ao belo e histórias do povo. Geraldo Cardoso da Silva (Negrete) e Oliveira Cardoso herdaram totalmente o dom do pai e em sua juventude saíram, nas noites de lua a alegrar os corações das mocinhas sonhadoras, e faziam-nas adormecer sorrindo com seu cantar belíssimo e apaixonado. Ouçamos uma de suas canções: Sertanejo, Carinhoso. Filhos e noras de Chico Fogueteiro integraram e formaram a maior parte do Coral Sacro “Santa Cecília”, organizado em 1959 pela Irmã Emereciana, Superiora do Instituto “Dom Serafim”. Com elementos desse coral foi constituído o grupo de Seresta “Raimundo Lima”, nome de um de seus incentivadores, tendo com diretor artístico Geraldo Cardoso da Silva (Negrete). Por ocasião do cinquentenário de emancipação do município, a Prefeitura patrocinou a gravação do seu primeiro disco, “Corinto em Serenata” que teve grande aceitação e aplausos gerais. O Grupo de Seresta, sempre solícito e animado, desenvolve suas atividades, apresentando-se como atração em festivais, reuniões, aniversários, etc. e hoje constitui o mais amado patrimônio artístico de nossa Cidade. Já gravaram cinco discos. Componentes do Grupo de Seresta, cantores e instrumentistas: Geraldo Cardoso da Silva, Maria Amélia Prado da Silva, Adão Eustáquio da Silva, Valéria Maria da Silva, Carmem Ligia de Abreu Silva, Terezinha Lourenço da Rocha, João Malaquias, Avacir Malaquias Martins, Geralda


168 Marlene de Castro, Irene Gonçalves, Jussara Aparecida dos Santos, Divino Cardoso da Silva, Mario Cardoso da Silva, Edson Cardoso da Silva, Iodete Pereira- Bandolim, Ailton, Alonso- Violão, Zeca Careca-Violão e Nego-Acordeon. Oliveira Cardoso da Silva, Orlando da Silva, acordeon. Queridos seresteiros de Corinto Vocês são mestres que sabem evocar o belo, o sonho o amor com suas vozes afinadas e maravilhosas, formando um conjunto celestial. Mestres, não deixem nunca esse grupo acabar. Ensinem a geração de hoje a cantar, levem os jovens e adolescentes a descobrir a magia, a paz, a alegria e o encantamento que o canto traz aos corações. Contamos com vocês para tornarem essa nossa Corinto sempre mais alegre e festiva. Queremos homenagear todos os seresteiros que por aqui passaram e todos os apreciadores do belo, oferecendo-lhes uma sequência de canções.


169 apresentação Professor Milton Antônio, Milton Lopes Filho de Paulo e também de Maria Dos 9 irmãos de 7 cuidou. Sou alma rebelde, de coração apaziguador. Da Matemática caminhos encontrei. Na Administração, negócios de valor. O desafi o da Educação quanto vivenciei. Passos sobre passos, a família, Incontroverso às vezes, entre eles chorei. Dos pais e parentes quantas lições, Mas, pelo Direito me encantei. Três fi lhos entre eles a mãe dos dois netos. Quantos alunos, colegas, tantos amigos. Paixões recebidas 3 cursos no Superior. Pelo gosto das letras de artigos e contos, Livros e palavras em devaneios, na Academia entrei. MILTON ANTÔNIO LOPES sócio Efetivo Cadeira nº 11 patrono: José Andrade


170 Marcado eternamente e sempre presente, O glorioso e ad immortaliten Jose Andrade, Também Zé Canela, o sonhador Para mim, sua cadeira de n. 11 deixou. V E R S O AVE FUMAÇA MARIA (Tributo ao Ferroviário) De comum a tantos, luminosamente, Nesse imenso gigante chegou. Subindo terras e descendo montes; Sofreu risos, mas faísca soltou. Tiisssshh... Tiissssshhh ... Tiiisssssshh...Tuuiiiiiiiiii! Do norte do nordeste pro sudeste Do oeste deste sul pro leste Do sudeste pr’oeste do nordeste Do sudeste pro sul: Brasil!! Tuuuiiiii... Tuuuiiii... Tuuuiiiiiiii! Fincou marcos profundos Tantas e coloridas marcas Que olhadas bem a fundo Deixaram veias nos mapas Dias de frio, de fogo; encharcados! Enfraquecidos e dentro dos rios, o compadrio seguiu. Mesmo sem forças levou graças; Que em tantas mudanças marcaram datas! Tac-tac-tac ... tactactac Tac-tac-tac Tactactac Cavou estradas e cidade plantou; cana-de-açúcar e madeira levou. Cacau, gado, milho e café. Comeu carne seca e na seca dançou.


171 Tuuuuuuuuiiiiiiiiiii Tuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Companheiros inseparáveis... Ferro aço dos trilhos e pontes, calor, madeira e carvão. Que nos outros eram bondes, só bondes. Mas em Minas é “TREM” e “bão”! Toucinho, arroz, café-da-rapadura. Farofa do feijão (ficara forte o fulano)! Jagunços! Tiros!! Tempestades, indo e voltando. Doenças! Morreria... Mas o TREM sairia andando! Quão difícil os anos do ontem Que se juntaram ao hoje em comunhão. Era, pois, necessário crescer e crescer. Sempre! Para o bem dessa nação. Foooooommmmm... FoOmMmMmmmm... Inúmeras verrinas negociadas. Quantas brutalidades improdutivas. O tempo contrário aos trilhos Mas, arrastado!! o TREM segue andando! Um potencial aviltado, esquecido pela ferrugem das espertezas. Despido e mutilado nas entrelinhas dos porões indecorosos. Tiiiissssssshhhhh. Fooooommmmm... Tictactictac, tictatactactac. Engasgados, viandantes enxergam Manchas escuras nos dormentes. São lagrimas das locomotivas Que choram tanto por este país descrente. Inculpado, a passos trôpegos, ora curvo, ora reto, Vestes um tanto rasgadas, mas o corpo amando. De visão fixa em horizontes, Zé Ferrovia Agora, segue... O trem empurrando!!


172 V E R S O E M B R A N C O


173 CRESCENÇAS (Tributo às crianças) Criança, um dia sonhei. No sonho vi você Chorar só de manha e mamãe com colo atender. Ao lhe ver engatinhar foi pura alegria. Deixou tão feliz papais e família. De repente, mamãe com sono pede. Papai, cansado, também pede. “Amanhã criança, amanhã.” Você não entende, claro! “Buuuuaáááááááá´...” É criança e mesmo tão tarde, só brincar! “Cuidado isto machuca!” Depois lhe pediram deixe o peito e a “xuca.” “Para com isto, para, não mexa, para de mexer!” Lembra-se? E você pensava de dedo na tomada: “Deixa mamãe, quero aprender!” Da casa à rua muita criança vizinha. Às vezes eram 5, eram 10. Mamãe menos preocupada, Quase sempre lhe deixou sozinha. De repente... “Num vô, num vô!” Gritava de raiva! “Criança ô criança... Na escolinha Têm gravuras, tintas; tem pula-pula E 1000 coleguinhas!” Chorando, chegou. “Num é minha tia. Num quero ficar.”. Lembra-se? “Paciência, paciência.” Como foi duro aguentar.


174 Depois de 360... Mais 800 e outros dias... Até que... ... “Mamãe, papai.” Surpresa!, diria você. “Olhe meu livrinho que bonito Eu já consigo ler!” “Veja os desenhos que fiz. Aqui mamãe, aqui papai aqui meu irmão. Neste a escola bonita, tão grande, tão cheia. Nem quero crescer mais não!” MAIS UM RETRATO NA PAREDE Menino homem. O caçula mais três mulheres de atitudes. Um desavisado e merecedor dos muitos beliscões das irmãs. Desambientado do jogo de gude e rodas dos palavrões. Também impedido pela mãe do bate-papo dos grandes, pequenos e inúmeros vizinhos. Porque o “tema” eram as boazudas da região. Incluindo suas duas irmãs. Moravam todos, filhos e pai com mãe, numa casa confortável do centro de Corinto, estado de Minas Gerais. Tendo nascido por último, e como diziam na região “rapa do tacho” não crescera muito e franzino era também. Um jovem cuja mãe tinha ausências garantidas na casa, derivadas do exercício regular de professora primaria, prioridade das manhãs e das tardes, já que o pai, bancário, desempregado estava. Sem compreender a vida, cresceu entre o céu e a terra. Pior, ainda não descobrira o motivo dos dois casamentos da mãe e, claro, não conhecia a “Armadilha do Messias”. Um solitário, improvidente e adverso. No último sábado de carnaval perdera o pai. Entristecido e imobilizado vira-o fugir com a empregada da casa. Mas possuía seu tesouro, seu jardim secreto e para lá se mudou. Imbuiu-se, mas o tempo curador ajudou. Cansado do quarto fechado, veio-lhe o desejo de frequentar grupos. Socializar-se! Para isso a internet de todas as horas abandonada foi. As roupas de grife relegadas e o novo celular, presente da tia, não saíra da embalagem. Ficaria com o antigo. 14 anos! Mas o olhar e o jeito dos vinte e cinco, talvez mais. Cansado das pornografias, Fake News e desinformação no WhatsApp ou Facebook. Feitas pelos “doutores” de educação duvidosa. Queria amigos. Pessoas! As brincadeiras impedidas de quando criança. Precisava disso e não


175 mais das ferramentas tapa-buraco, dos presentes e das desculpas esfarrapadas! Fortalecido, tentou os vizinhos. “Estranho?!” Não conhecia as roupas que usavam e o que falavam! A escola?! Veio-lhe o desejo de voltar. Dar alegrias para os professores e também para sua mãe que tanto lhe insistira - ausente em 2 anos - por vê-lo retornar! Seus colegas do último ano do Fundamental ajudariam, claro! Decepção... Não sabia o e-mail de nenhum deles! Mas porque sabia do Supremo, da ONU, da OMS? Inclusive enviara um questionamento em Inglês sobre a corrupção e o negacionismo das vacinas da Covid no Brasil... Outra ideia: o campo de pelada no lote vago da rua de cima. Crescera ouvindo os gritos de “goool!” e das brigas no local. Queria, queria!, mas algo antes lhe prendia. Esperto, e com a ajuda da irmã preferida, usou a mesada para comprar uma bola. “kkkkkkkkkk. Para garantir sua participação...” Resultado: devolveram sua bola aos risos e um pica-pau suas pernas bicou! Aí, a lembrança do Clube Campestre. “Sim, mas não poderia ser na piscina...” Um dos meninos dali quase o afogara, tempos atrás! Ainda que menor em tamanho. Aproveitara o fato da área pouco rasa e lhe dera um tremendo “caldo”! Nunca mais nela entrou! “Ahh, o tênis, lembrou.” A raquete do Guga não era problema. Seria um prazer para suas irmãs mais velhas. Dessa forma se livrariam dele. Mesmo que por pouco tempo, ou, quem sabe, por muito tempo! Isto também não surtira o efeito desejado e o aprendizado da sinuca o deixara entortado! Sem jeito. Era destino, pensou. Determinado, saiu do Clube e resolveu não deixar que suas irmãs fossem buscá-lo. Como sempre faziam, depois de vê-lo ausentar-se. Andaria um pouco para distrair-se e quem sabe ter alguma ideia diferente de enclausurar-se no seu “jardim secreto”, de voltar para os braços pega-bobo da internet. Desceu a grande avenida e em alguns instantes observara a bela estátua de Cristo no alto do morro. Braços abertos! Abençoando a cidade abaixo. Movimentando-se passo-a-passo imaginou aquele imenso terreno improdutivo, próximo dali e, caso poderes tivesse, construiria no lugar casas para quem não tinha. Perto do Cemitério da Cidade lembrou-se do sepultamento da avó tão querida e que imensa falta lhe fazia; em frente ao campo de futebol do Corinto Esporte Clube estremeceu ao lembrar-se da “bicada” do pica-pau e sorri sem querer. Ainda descendo a avenida, chegou próximo a linda Igreja de Nossa Senhora da Conceição e entrou à direita, depois à esquerda, chegando à famosa “Rua do Footing”. Lugar


176 onde tudo aconteceu e quase tudo ainda acontecia. Percebeu um aglomerado de pessoas logo abaixo e curioso ficou com a enorme fila na porta. Todos de máscara. Notou. Aproximou-se mais e, em uma faixa, leu: “Megassena acumulada em R$40.000.000 de reais. Faça sua posta e realize seus sonhos.” Resolvido, entra na fila e espera sua vez. Sem se importar com os olhares curiosos das pessoas que estavam ali ao ver seu tamanho espigado e a falta da máscara de proteção contra a Covid que esquecera em casa. Com o dinheiro que sua irmã mais nova lhe deu, marcou seis números de forma aleatória e sai da Casa Lotérica revendo os números da sua sorte. Observa-os atentamente e fica indeciso: “Ihh, e se eu ganhar? Tenho 14 anos e não posso receber o prêmio. Darei pra minha mãe? Não?! Pra minhas irmãs? Pra meu pai, jamais!! Meu padrinho não conheço... Também não tenho amigos...” Diz: - Ahh, um cara azarado como eu não ganha nada! De volta para casa e com o comprovante do jogo ainda nas mãos, chega à bela e tranquila Fonte Luminosa. Observa o grupo de aposentados entretidos com o baralho. Entre eles está seu tio Magela, Dodô, Edson “Cachacinha”, “Piru” e “Marreta”, o grande alfaiate. Ali, passa perto de uma caminhonete bem antiga e carroceria bastante enferrujada. Vê os pneus: bastante “carecas”, e, de súbito tem uma ideia. Pega o papel e joga dentro da cabine de portas abertas. Continua seu trajeto. Chega a sua casa sorrindo e feliz com a decisão tomada. Entra em seu quarto e tranca a porta. Na segunda feira todos os jornais do país noticiam: “Houve um só ganhador da Mega Sena acumulada. O felizardo é da cidade de Corinto, em Minas Gerais, e vai levar uma “bolada” de 40 milhões de reais para casa.”


177 Paulo Celestino Xavier, nascido em 25 de janeiro de 1960 na Fazenda Jataí, município de Corinto. Filho de José Ailton Xavier e Geralda Coelho de Oliveira, desde criança já mostrava seus trejeitos de artista, extensão do veio artístico-cultural de seu que na região era um propagador da cultura folclórica. Aos nove anos, Paulo sai de sua casa paterna na Fazenda Lagoa Seca, município de Corinto, em direção a cidade para a casa de seus irmãos Francisco Ivo e João. Estudou na Escolas “Mestra Risoleta Lima” “José Brígido Pereira Pedras”, “Colégio Cristo Rei” e “Colégio Dom Serafi m”. Como cantor, compositor, humorista, poeta e folião, este último herança de seu pai, passou a apresentar-se na TV Itacolomi no Programa Show da tarde, Programa do Bolinha entre outros. Paulo é técnico em Contabilidade e empreendedor na área de serralheria e hoje além da serralheria ainda é apresentador do Buteco do Celestino no Facebook todos os sábados trazendo talentos musicais da terra. PAULO CELESTINO XAVIER sócio Efetivo Cadeira nº 4 patrono: Joaquim Vieira Machado


178 SEM RUMO NESSA ESTRADA... Um brilho se acendeu Na escuridão do meu ser As fagulhas que riscam O pensamento leva a você Se materializam na minha alma Como uma presença exata Que faz enlouquecer... Os sonhos que d’antes Me pareciam impossíveis Povoam meu coração Com os atos flexíveis Perco o tino e o rumo O fôlego e até no mundo Ficaram imprevisíveis... Ao me lembrar de ti Sou sem rumo nessa estrada Sou parafuso sem porca Sozinha fica minha alma Sem destino Sem desatino Sou como milho sem brasa... Como noite sem ter luz E o esperar do amanhã me traz Um pouco de esperança Quem sabe assim se faz Noutra vida poderei viver Esse amor com você Que felicidade me traz... TEXTO: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR


179 A FILA DA ESPERANÇA Quando o medo chegou E tomou conta do coração De todo o ser humano A esperança assim então Passou a ser E também exercer Como o alvo da vida em ação... Desespero e frustação E depressão também Passaram a fazer parte Das nossas vidas porém Hoje me vejo em uma fila Na esperança que trilha Como um grito do além... Em breve todas as pessoas Teram essa oportunidade Sensação boa Que me trás felicidade Tudo vai dar certo Deus é pai e o venero E vejo o sopro da capacidade... Obrigado meu Deus Em ter a oportunidade Na fila da esperança Renovo só de verdade Me encho de viver Esse momento posso dizer Aprendizado de qualidade... Vidas importam, e como importam... POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR


180 SEM AMOR NÃO É VIVER O amor é tudo na vida Sem amor não é viver Se for amar sem ser amado Isso não é amor é sofrer Para ser feliz na vida O sentimento é partilha E juntos vão florescer... É preciso ter amor Uma coisa mais sublime Que nos deu nosso senhor E assim eu imagino O amor nos fortalece E também nos enriquece Nos faz ser de novo menino... Quem não ama padece Cheio de desilusão O amor nos dá prazer E muita contemplação Dá motivo prá voar Sorri e também cantar E fortalece o coração... POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR O SEGREDO DAS ALMAS O segredo das Almas É a porta-voz do amor O suspiro do coração Que o tempo levou Caminho que escureceu A luz se escondeu


181 Caminho que tinha flor... Tinha fragrância e ternura Agora começa a mostrar Alguns espinhos tortuosos Os olhos deixam de brilhar Ora via uma luz E algo que nos conduz E hoje tudo veio finalizar... Mostra uma penumbra Um vulto sem extensão Mas seu sorriso continua Doce inspiração Chama do amor Será que o tempo apagou Essa imagem do coração... Segredo das Almas Começa perder o brilho Como uma água que se esvai Entre os dedos sumindo Vejo a distância fazer diferença Forte insistência Que vem me seguindo... Invade meu viver Sem toque, sem aconchego Sem ilusão tudo para Será que eu mereço O que resta são memórias Saudades ilusórias Vontades é que eu percebo... O tempo passa Junto com o vento E levam nossos rastros E nossos pensamentos Sonhos e desengano Vão se aprofundando Em todo os fundamentos...


182 Sou água sem rio Madrugada sem lua Me calo no teu silêncio Minha boca procura a tua Silêncio do corpo me acalma Ah silêncio das almas Fica, permanece e continua... POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR NOSSO POEMA Na escuridão da noite Meus olhos se perdem No brilho das estrelas Que o corpo estremece Vejo a imensidão do espaço Procuro e não acho E isso me enlouquece... Me perco na velocidade Na mais arredia do vento Esse que me deixa sem rumo E que me atira ao relento De um jeito que não consigo Luto e até brigo Com os meus pensamentos... Só queria encontrar uma saída Para minha insignificância Diante desse belo mundo Oque era em relevância Perdeu o brilho Não sei se consigo Ainda ter esperança...


183 E eu começo a ver o brilho Em coisas que nunca imaginei Falo de amor, falo de paixão Esse que tanto precisei Falo de coisas inacreditáveis De coisas não palpáveis Que nos sonhos eu abracei... E assim vem um alento Cada dia que amanhece Vem o sopro desse amor Vejo que o milagre acontece Sentir-se amado e cortejado E tão bem admirado E meu coração se aquece... Faz quebrar estruturas banais E nos faz assim acreditar Todo sonho assim perfeito Foi feito para sonhar Deixa acontecer Esse amor te envolver E um dia realizar... Se não sonhar sei que padeço Se padecer os anseios partirão Junto a um coração sofrido Que não quer viver de ilusão Atado pela insegurança Pelo medo e desesperança De não conseguir a realização... Medo de amar e se entregar Mas esse sonho me pegou Esse que veio com o vento Outro amor, ah esse amor Que me prende com palavras E eu que não achava Capaz de sentir amor...


184 Ele não me deixa escapar Me fazes preso e me consome Um sentimento que dilacera Amor que vem e some Amor que quero sonhar E irei realizar Esse sonho que faz que ame... POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR COM VOCÊ MEU DIA É SUAVE... O meu dia tão suave Como uma brisa levemente Que acontece ao seu lado Me faz esquecer amplamente De qualquer problema que há Que queira me perturbar E me faz inconsciente... Você é o alicerce Para minha construção O meu maior impulso O pilar de sustentação Você pode assim ser O som do meu querer Minha doce inspiração... O grito do meu silencio O ecoar da minha voz. A dona da minha sabedoria O meu pensar mais veloz O remédio da minha ignorância Amor na primeira estância Não mais um eu e sim um nós...


185 Estar bem ao seu lado É viajar sem se mover É se perder no caminho certo E ficar feliz por se perder É se vestir sem sentir frio É o suave assovio És meu único bem-querer... É ser manso ou arredio Mas sempre com pés no chão Sentir sua doce presença É ter um pulsante coração Uma mente ávida de amor É sentir que a hora chegou És minha contemplação... Até pareço um animal Como pássaro voando Em perfeita harmonia Assim vivo amando Assim se passa o tempo E o dia mais pleno Me faz segui levando. POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR SEI QUE VOCÊ EXISTE... Sei que você existe Mas não é palpável Para mim isso é triste Triste sim e inexplorável Seria melhor se não fosse Sentido você me trouxe Mesmo assim inexplicável...


186 Se fosses audível Também sim Mas e daí? Ainda permaneceria em mim Será que consigo ser feliz O que você me diz Não me deixes assim... Melhor seria ao vivo Te vendo e ouvindo Palpando Sentindo Me deliciando E também te amando Assim imagino... Sentir falta do toque Sentir falta do cheiro Do carinho gostoso Isso é verdadeiro Da balada das mãos Do pulsar do coração Do sabor do seu beijo... Beijo qual o sabor Abraço sem aperto Imaginação que alegra Ao mesmo tempo percebo Isso me faz sofrer E venho entender Esse amor é alheio... Conversas “calientes” Escritas com emoção Mas ao mesmo solitárias E deixam um grande vão Dilacera assim o peito Machuca sempre primeiro E às marcas desaparecerão?...


187 A ausência machuca Mas o amor é lindo Mas ele é proibido E vai assim dividindo A vontade de te dizer Eu amo você E não estou fingindo... Vai e fala mais alto Embora não vou mudar As linhas da história Que tento calar Mas é inútil de mais Sei que não vais Pois sempre irei te amar... POEMA: PAULO CELESTINO XAVIER RELEITURA EM CORDEL: SILVANA FLOR1 ¹Silvana Soares Ribeiro Flor, nascida em Passa e Fica Rio Grande do Norte Residente em Barueri-SP Obras: 11 livros cordelizados pela Amazon.com contando a história de um imigrante português. “Memórias de um Tenente “


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189 Natural de Diamantina, corintiana de coração, Cidadã Honorária de Corinto/ MG, onde reside. Poetisa, educadora, psicopedagoga. Autora dos Livros: Caleidoscópio, Coração de Latão, Menino, Arquivo Morto, Verso e Reverso (coautoria com o poeta Jorge Patrício de Medeiros Almeida). Presidente Emérita da Academia Corintiana de Letras - MG; Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Sócio correspondente da Academia Curvelana de Letras, da Academia Mineira de Leonismo e presidente da Sociedade dos Poetas Vivos. Membro vitalício Academia Internacional de Literatura e Artes – AILAP. É detentora de vários prêmios e menções honrosas no ramo da Poesia. Foi a idealizadora da criação da Academia Corintiana de Letras, juntamente com o poeta Jorge Patrício de Medeiros Almeida. contato: [email protected] PÉROLA SOARES GANDRA sócia Fundadora Cadeira nº 8 patrono: Edênio Godofredo Gandra


190 SAUDADE No ritual das idas ao passado Caminho a visitar meu outro mundo À procura de fantasmas lá deixados Encantados em seu sono profundo. É sempre assim. Coração flagelado. Volta e meia revivo este tormento, Onde os sonhos me seguem lado a lado Cortando as ruelas do meu pensamento. Amores, beijos, mãos, olhos diversos Empedernidos na imaginação, Nos cantos obscuros dos meus versos. ADOLESCER Toma a vida nas mãos. É toda tua! Segue teus passos. Ali há muitas flores Que, contemplando esta beleza tua, Se multiplicam em variadas cores. O sonho aflora e bailam as ilusões Na cadência das meras fantasias. No supremo sabor das emoções Os castelos de amor encantam os dias. Misturam-se mil sonhos, mil encantos Na musicalidade dos teus cantos No ritual que o momento requer. Toda a beleza contigo se afina Vai a sonhar teus sonhos de Menina, Mas não te esqueças que já és Mulher.


191 E volto ao mundo da realidade. Desperto com o bater do coração Abraçado ao espectro da saudade. JOGO DE SEDUÇÃO Põe teu olhar no meu, assim tão perto Com a emoção maior de que és capaz. Do sonho o linguajar virá, por certo, A sufocar nossa expressão falaz. Põe tua boca junto à minha boca Num gesto de paixão, o mais perfeito Deixemos transbordar essa ânsia louca. Eu sou tua amada. Tu és meu eleito. Fiquemos bem assim, tão despojados Com os corpos abrasados de calor _Gesto tão próprio dos apaixonados. Não nos importa o murmurar da rua. Faz de conta que o mundo é só de amor Pois neste instante és meu e eu sou tua.


192 VISÃO DE MINHA MÃE Estava ela junto à minha bem rente... Fisionomia terna e compassiva. Estagnei-me a mirar avidamente Sua doce visão contemplativa. Era ela mesma, de brancos cabelos, Pele alva, tão fina, de cetim... A imagem que povoa meus desvelos Tão bela e pura. Uma santa enfim. Eu a vi, sim, eu a vi na realidade. Não foi loucura nem alucinação. Era a minha mãezinha de verdade Que veio acalentar meu coração. Quis sair a abraçá-la loucamente, Mas meus braços não saíram do lugar. O chão embaraçou-se à minha frente. Faltou-me a voz sentindo o peito arfar. Intensa luz cobriu-a, de repente, Quando ela, erguendo a pequenina mão, Acariciou meu rosto levemente, Sussurrando no tom de uma canção: _O teu nome repito a toda hora! Caminho junto a ti, filha querida, Pedindo à Grande Mãe, Nossa Senhora Que te abençoe na estrada desta Vida!


193 A natureza acorda de mansinho ILuminando em estampas coloridas, Na voz dos compassos alternados Do sonoro cantar dos passarinhos. É a hora de despertar as borboletas, E colher flores e acordar o mundo! Chego a cismar e indago ao grande Deus: _ Que pincel tu usaste, Meu Senhor, Em um cenário tão encantador?!


194 Mato de todo a tua ilusão Ao passar por ti indiferente Trazendo ares de quem nada sente A mostrar a maior felicidade Rasgando em tiras o teu coração. Eu por ti morro de amor. Por mim, de amor tu morres. Matas meu ser também quando fingindo Ostentas um prazer inexistente. Ris ao passar por mim alegremente Retratando uma falsa realidade. Então num só olhar desfaz-se a trama: Realmente sou eu que te amo. E és tu que me amas.


195 Minha terra colorida É ornada de ouro e cristais Uma beleza tal que encanta a vida. Brancos, pretos, pardos, amarelos, Ricos, pobres, nobres, lutadores, Andam apressados, por este imenso chão. Sorvem uns o ar puro das florestas, Incham outros, seus pulmões de ar poluído Lavam-se à noite em músicas de festas. Brasil, coberto de pálio brilhante Riscado de garatujas cintilantes A contornar os vultos de sua história Sua luta escrita na memória Incrustada de sangue, amor e glória, Lavrando seu potencial de grandeza, Emblema de sua natureza Ilumina seu céu de ímpar azul Radiante, por certo, a abençoar-lhe O esplendor do Cruzeiro do Sul.


196 PANDEMIA Nostalgia. Melancolia. Onde andam os laços? Os abraços? Os encontros? Os encantos? Onde está o pão, o agasalho E a féria do trabalho? O que fazem os pequeninos Que não podem brincar de roda Nem visitar os parques, nem encontrar seus amigos? O mundo é virtual. É cibernético e frio. Contente-se. Até chega a ser natural. Mas...E o escutar do coração a batida, Os pais de família buscando a lida? As caras escondem-se nas máscaras Para que o inimigo invisível Não as reconheça, nem veja seu sorriso. Muita gente morrendo nos hospitais. Médicos e enfermeiros Limpando as lágrimas, na ponta do avental. Meu Deus, Deus do céu Que mundo é esse? Resgatai vosso povo, ó Santo Deus! Não nos deixeis sucumbir assim. Realizai vossa obra, ó Grande Deus! Só vós podeis nos fazer Voltar a sorrir, a sonhar, E assim voltar a viver.


197 CONFITEOR Sozinha apago a luz do quarto E busco a cama. Relembro meu dia. Como sempre, faço um balanço: O que fiz? O que deixei de fazer? Cresci? Me estagnei? Reflexão... Procuro justificar minhas faltas. Não. Isso não cabe a mim. O fiel da balança é Deus. Só ele tem o dever e direito de julgar. Fecho os olhos. Mais escuridão. Amanhã... Amanhã... Não. O amanhã não me pertence. Deus, não sei como está tua contagem. Juro que melhorarei se o amanhã chegar. Se não houver amanhã, Se meus olhos fecharem-se para sempre, Perdoa-me, Senhor! E inclui-me nos eleitos do teu Reino.


198 ADOECIMENTO DA ALMA Meus olhos perderam o brilho. Minhas mãos perderam a força. Minha boca perdeu a cor vermelha de rubi. Não vejo o azul do céu Tudo está cinzento. O sol não me aquece. Estou doente. Meus amigos estão sumidos... Cada vez mais distantes. Nem encontros... nem paradas. Desaglomeração. Eu estou longe. Tu estás longe. Nós estamos longe. Distanciamento. Recorro às minhas pílulas, Aquelas que julgava ser a panaceia de mim Elas não têm mais efeito. Olho-me no espelho. Esta sou eu? Mas, eu não tenho estas rugas, Estes cabelos sem viço, esta cor sem cor. Meu Deus! Preciso me tratar. Minha voz já não sabe cantarolar. Os ruídos das ruas são apelos à destruição. Desligo o som. Fecho a cortina. Apago a luz. Fecho a porta do quarto. Cubro a cabeça. Só quero dormir. Mas no lugar de sonhos só vejo pesadelos. Não me reconheço no lugar onde estou. O que fiz eu de mim?


199 Porque eu sou Mulher De desbravar as ondas dos mares, De atravessar os oceanos de prazer e de amargura Eu sou capaz de traduzir olhares, De abraçar o mundo com apenas meus dois braços. Porque eu sou mulher Sou capaz de ser mãe, Sei sofrer as dores todas da vida, Sei chorar e sorrir a um só tempo Parindo um filho que gerei em minhas entranhas Ainda contorcidas de dor, E depois sou capaz de lamber meu sangue Como faz qualquer fêmea E secar o pranto de minha cria. Porque eu sou mulher Sou capaz de amar intensamente, infinitamente. Sou capaz de passar noites a fio, embalando berços Sussurrando cantigas, ninando, acalentando. Eu sou capaz de enlouquecer de prazer, De cantar, de bailar, louvando a vida Que às vezes me pesa tanto, Porque eu sou mulher. Não pensem que sou uma joiazinha miúda. Sou pedra de jaça, sou poderosa, empoderada. Não me acariciem com ar de proteção. Não! Não preciso! Não tenho anseios, nem esperanças, Nem risos, nem brilho. Sou só um fantasma do que fui. Não. Meu mundo não era este. Preciso acordar. Estou doente. Preciso voltar a ser gente.


200 Sou tão forte como a tempestade, Como o calor devastador do sol. Sou mulher de verdade. Ama-me enquanto me tens! Porque, se eu quiser, posso bater as asas Como casulos que viram borboletas E alçar voos tão grandes, tão altos, Assim tão maior que o voo das águias. Sou assim. Dominadora. Assim, presente e castigo. Sei ser doce e sei ser fel. Não te enganes com a minha fragilidade. Não sou sexo frágil. Não sou nem que tu queiras Porque mesmo que ninguém acredite Sou a ação do mundo, Sou sonho, sou abrigo, Sou céu e abismo na pequenez do meu ser. Eu sou mãe, esposa, namorada, amante, amada. E tu me queres cada vez mais para amparar teus braços, Para abrir teus olhos. Afinal, sou eu quem marca Na dança, o compasso de tua vida. Porque eu sou forte. Porque sou mulher!


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