251 Fazia noite no Gerais o silêncio se impunha era lua das folhas caídas Galhos nus cobriam o chão de folhagens suas outrora descidas ao léu Henrique Campos Sangiorgi, nasceu em Belo Horizonte fi lho de Conceição Campos Sangiorgi e Ernani Ivis Sangiorgi, morou alguns anos em Corinto, onde mantém uma propriedade rural desde 1974. Publicou três livros de poesia, sendo: “Espelho de Sentimentos” (1983), “Ser de Luz” (1985) e “Coração em Palavras” (2021). É acadêmico correspondente da Academia Corintiana de Letras e co-autor da quintologia poética SOU... (MW Mundo Cultural World - 2022). HENRIQUE SANGIORGI sócio correspondente
252 Flores do Pau D’arco ansiosas por eclodirem recatadas se guardavam E o vento sorrateiro nas folhas caídas gemia precipitando o outono De estrelas do sertão seu caminho ponteio em noite alta de lua mansa Quando madrugada chegar vindo eu dos Gerais trago-te das Minas jóias raras no coração E a ti, donzela, toadas e promessas no chão da poesia à semear, estradeiro eu, em noite estrelada, a ti ofereço... Abençoados Pequizeiros generosamente florescem no chão vermelho onde cristais eclodem Onde pisam Campeiros Pintadas, Quem-quens límpidas fontes dentre rochas nascem
253 Pisam seresteiros, Santos Reis, foliões de viola encarnada No grande Gerais cerne das Minas desenhos rupestres histórias contam Saracurinha Três Potes bem cedinho acordou o dia A clarear a estrada despindo as sombras inda que preguiçoso, ergueu-se E Três Potes a cantar continuava... e o dia a se erguer bocejava... O rio esperançoso outrora morrente breve se animou vem chuva na certa!
254 Dos Gerais Inconfidentes de amada Minas romanceiro fiz-me Lapidado o coração q’então se agita e andante a vasculhar travessas do Arraial Descompassado lamenta q’inda tardia tão sonhada liberdade... busca em vão, quiçá no horizonte, a igualdade, nos homens a fraternidade Olho d’água nascido dentre rochas das Andorinhas desliza o Velhas nos cafundós de Vila Rica E na Cabral agiganta-se trazendo n’águas barcarolas guaicuyanas Que sobre leito navegam carregadas de esperança das margens, apartadas Levando em si incontidos desejos d’alma do rio Quiça purificá-lo na infinitude celeste de eternas nascentes
255 Nas quebradas do cerrado densa neblina ao dia desperta Sonolento q’inda a buscar luz preguiçoso, espreguiça-se Embaçadas sombras aventuram-se nuas a desnudar caminhos Misteriosos acordes de escondidos pássaros toadas mágicas festeiros tecem E a requinta à ecoar nos versos dessa folia acordes peregrinos cantorias de um novo dia... Na cumeeira do avarandado desperta o dia Currupião cantador ilustre Renomado sertanista em campesino orquestrar o amanhecer abrilhanta Enche o ar de melodia e a beleza boquiaberta qual coral em louvação De mãos dadas com a mata em refrão envolvente respira olor de esperança
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257 Hyeda de Miranda Campos, nascida em 18 de julho de 1974. Quinta fi lha do casal Peres de Miranda Campos e Neuza de Aguiar Miranda. Aluna da Escola Estadual Dr. Afonso Pena Junior, desde o pré-escolar até o Ensino Médio. Ainda como estudante lançou em 1993 seu primeiro trabalho poético intitulado Sombras do Rio. Em 1997, lançou o conto Marginais e em 1998 o esperado livro Rosa que reúne poemas de todas as fases da autora. Em 2003 aconteceu o lançamento em dose dupla das obras Terra (poemas regionais) e Zé Maurício (prosa poética) Em 2006 integrou ao grupo de autores da Litteris Editora com o lançamento do livro Mestria do Olhar na Bienal Internacional do Rio de Janeiro. Em 2009, a maternidade! Nasce Lavigne Aguiar Viana, única fi lha. Em 2010 é verbete no Dicionário Biobibliográfi co de Escritores Mineiros. Em 2011 lançou a novela Laços com prefácio de Carlos Herculano Lopes. Em 2013 a autora lançou o romance Camila, a Dama do Vale. Em 2016 o livro Ave Poesia ganha espaço na Bienal Internacional do Livro dando origem ao projeto de Poesia Itinerante dirigido pela autora e então Produtora Cultural. Em 2021 Torna-se sócio correspondente da Academia Corintiana de Letras. HYEDA DE MIRANDA CAMPOS sócia correspondente
258 SOU Sou céu, chuva e sol. Uma noite Um dia Amor e ódio Tristeza e alegria Sou vida Corpo e alma Sou sangue Luz e breu Sou tudo Sou nada Sou meu mundo Sou eu. Do livro SOMBRAS DO RIO – 1993 MARGINAIS Como num sonho, vi o futuro do mundo... Mudado pela corrida dos ponteiros do relógio. Tudo permanecerá igual... NÃO!!! Tudo permanecerá tão desigual quanto agora. O futuro não será brilhante nem promissor Mas a crença sobreviverá! Haverá entre nós os que não se rendem e não se corrompem Não compactuam com a destruição. Haverá entre nós os cheios de luz que saberão o que fazer Capazes de sorrir em meio à dor Capazes de ser sol em meio à noite De ser água fresca no deserto E descanso em meio à tribulação. Serão gostosos como o sábado Macios como um sonho e fortes como o aço. E farão brotar alegria
259 Farão canções, contarão lindas histórias, E darão asas aos corações Haverá na terra poetas e sonhadores colorindo o mundo Recuperando o azul do céu e a claridade das águas A pureza do ar e acima de tudo A brancura da alma! (Do conto MARGINAIS – 1997) JARDIM VAZIO Era uma vez um jardim vazio Onde o vento soprava esperança Mas ninguém se arriscava a ouvir E os minúsculos seres se arrastavam De um lado para o outro Sem ter aonde ir Queriam enxergar a beleza Mas temiam o desconhecido E escondiam seus sonhos Em um lugar inacessível. Tomados pela revolta Cada um se isolou num mundo escuro e frio E ficaram ali Procurando por si mesmos. Mas a procura era longa E os minúsculos seres adormeceram na inutilidade Enquanto o vento continuava soprando... E veio sobre o jardim um furacão brando Despertando as criaturas Que em vez de rastejar Puderam bater asas e contemplar Enfim O que havia de belo Uma ROSA Habitando num jardim cheio de vida E de espaço pra voar. (Do livro ROSA -1998)
260 RIO ABAIXO São Paulo, dezembro de 1998. Zé Maurício É morrendo de saudade que te escrevo agora. A história de que homem não chora, é apenas mais uma mentira cultivada na roça. Choro de saudade quando volto do trabalho. Quando olho tantos barracos e não conheço ninguém. Não tem prosa pra esperar a noite, não tem venda pra sentar à porta e ouvir moda de viola. O trabalho é duro, Zé! O ônibus vai sempre cheio de gente que reclama. E abre suas portas em frente à fábrica despejando gente que trabalha. Enquanto aí se mistura gente e bicho, aqui se confunde gente e máquina. Máquina que passa direto por outra máquina e até passa por cima quando é preciso. A vida é dura, Zé! Mas a gente luta, a gente sonha e a gente pensa. Também a gente tem saudade e chora. Como agora. Ass. José Francisco Coutinho (Do livro ZÉ MAURÍCIO – 2003) (Do livro TERRA- 2003) São de versos pequeninos Que se faz uma canção Na canoa rio abaixo Pra pescar inspiração O azul do céu sumiu Onde será que ele está? Hoje a chuva caiu Pro nosso canto ajudar Rio Vermelho terra linda Que aprendemos a amar Nosso pranto é da partida Até a hora de voltar. Quem conhece Rio Vermelho Sabe o ouro desse chão Cada fruto dessa terra Brota no meu coração Minha terra tem amor Do nascer ao pôr do sol Minha terra tem valor Cada filho a faz maior Minha voz é a semente Dessa terra grandiosa Canta a vida dessa gente De forma altiva e orgulhosa
261 MESTRIA DO OLHAR Era apenas um homem Antes que seus olhos cruzassem os meus E seria bela parte de uma constelação Se meu peito Não se abrisse em desejo naquele momento. Eram olhos lindos. Tristes, mas lindos! Tinham um brilho Que meus olhos Nunca haviam visto antes Em outros olhos. E me atravessavam Como nada Nunca havia feito comigo. O amor me encontrara ali Quando tudo parecia perdido Olhos de anjo me viam agora Sabendo Que a vida se transformara E nada seria como antes. Mestria do olhar Como estrela cintilante Que apagando as luzes Vela por todos os amantes. (Do livro MESTRIA DO OLHAR – 2006) LAÇOS Sentado à beira do caminho Pra contar histórias Escritas na poeira Estão suas memórias De um cowboy sem carinho Sem vitória Que vai levando a vida Enquanto a vida Não o leva embora Sentiu-se no céu Em dia de rodeio Caiu no laço da paixão Hoje é um prisioneiro De um amor tão grande De um amor vazio Enquanto queima o coração O corpo sente frio Sentado à beira do caminho Pra ouvir histórias Parou aquele viajante Com sua viola Botas de peão Sem medo da estrada Levou com ele a solidão Numa canção apaixonada (Do livro LAÇOS – 2011)
262 CAMILA EM INTERVALO DE SONHOS Hora de voltar para casa. E parece tão longe esse lugar! Quando encerrada a porta do quarto parece me separar do mundo. No espelho nova viagem dos olhos perdidos que por milagre têm a ilusão de cruzar os teus. Tua imagem se espalha pelo quarto. Teus olhos perfeitos, tão fortes, tão fartos de brilho raro de magia e cores. Teus lábios perfeitos, vivos, minuciosamente traçados para abrirme em sorriso o portal do amor. Teus cabelos, todo meu ouro reluzindo ali ao simples toque dos teus dedos. Cores contornam teu pescoço como em um abraço. Joias reluzem refletindo tuas escolhas e realçam sua personalidade. A perfeita simetria do teu corpo desafia a realidade e em um leve movimento teu, estou cativa. Pedaços de vidro no chão não podem agora dizer quem sou. O vento atravessa a janela, faz dançar a vela, faz brilhar a luz dos olhos teus. Espalha no ar o perfume do encontro, o som da tua voz e o sorriso meu. Também dançamos com ela, corpos, almas, sombra, calor de amor e vela. Nossos lábios têm sede do suave veneno do amor, mas provamos o chá dos sonhadores, para adormecer e separar sem se lembrar, sem sentir dor. Desperto para a normalidade. Para a rotina. Para a lógica e triste lucidez da vida. Despertar para mais um dia, em um mundo desconhecido, onde ficaremos esperando o amor. (Do livro Camila, a Dama do Vale – 2013)
263 AVESSO DE MIM Planejo ser o avesso do que sou Floresço quando me seco Emudeço quando posso sussurrar E quando as feridas estão expostas Eu bailo Enquanto deveria me esconder Retiro a máscara em meio à festa Limpo a maquiagem antes da foto E o sorriso Que a mim não mais pertence Ecoa Como gargalhadas por entre as carpideiras imbecis Que sobre o berço da recém-nascida poesia Respiram e espalham as cinzas de Fénix Ave Avesso de mim (Do livro AVE POESIA – 2016)
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265 Filha de Corinto! Filha de meus pais que foram professores que nos fi zeram ler. Formada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, residência médica em clínica médica e após me formei neurologista... Amo escrever: já escrevi peças teatro que foram encenadas, ganhei alguns festivais de canção, entre outros... LAURA ALICE BOAVENTURA LIMA sócia correspondente Céu e Sou Não sou deste mundo... Eu sou o céu enquanto a maioria é a terra. Eu voo sem limites Grandes ideias. Lindas. Não tenho preço, mas ter dinheiro é importante Ajudo quem me pede Pois o universo ou Deus conspiram a favor de quem sabe pedir
266 Meu tempo não existe Simplesmente porque para a física não existe o tempo. Tenho desejos pequenos. Desejos grandes. Eu prefiro SER Sou questionadora! Com muito orgulho. São os questionadores que mudam o mudo! Convido a todos viver no meu céu! Ruas de ouro...Paz...Caridade Alegria e Amor Amar: eu quero amar... Está faltando amor.... É invisível... Nos últimos anos vejo ele morrendo... As pessoas estão cada vez mais egoístas, fria; na minha opinião, vazias. O verbo da maioria das pessoas é ter mais e mais. Onde está o SER? O ser bondoso, compassivo, amoroso. Um ser pleno e consciente em si mesmo. Hoje em dia são raras de encontrar pessoas assim cheias de amor, que vivem o amor e o transmite ao mundo que está mais e muito mais necessitado. A realidade é que as pessoas estão se distanciando. Andam na rua de cabeça baixa: estão no celular o tempo inteiro. Ninguém faz telefonemas normais. Conversam somente entre aplicativos no celular. Ninguém escreve cartas mais. Vejo poucos atos de amor ao próximo. Até servir um copo de água deveria haver alegria. Fiz um teste várias vezes onde moro e onde trabalho. Teste do “bom dia”. Deixei de dar bom dia! Conclusão: as pessoas passaram por mim- e foram muitas- e nem me deram bom dia. Cara fechada; tristes; mal-humorados; com uma pressa surreal. Quando dei bom dia as pessoas responderam. Algumas quase rosnando. O que estas pessoas carregam dentro de si? Como é a vida delas? Ele pensam no próximo? Em buscar melhorar como ser humano amoroso? A resposta é o que disse acima: não foram amados de forma correta. Será que elas tiveram exemplo de amor em casa? Pois cada um oferta o que tem!
267 Dois colegas adoeceram. Eu liguei para eles. Eles ficaram assustados. Ou seja, não estão acostumados com gestos de amor, carinho e presença. As pessoas estão se acostumando com falta de amor. Cada vez mais infelizes! Vivem em tempestades mentais! Não podemos aceitar isso! Temos de nos tornar nobres. Mudar. Procurar o outro. Perdoar. Ter compaixão e entendimento. Enfim: ``amar, eu quero amar perdidamente``. Poema de Florbela Espanca. Faço um convite: vamos florbelar a vida inteira! Viver assim é estar no céu Com amor, Laura Alice Boaventura Lima.
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269 Profa. Direito PUC Minas e Poeta. Doutora em Direito, PUC Minas; Mestre em Filosofi a Social e Política, UFMG; Pesquisadora em Direito, Literatura, Filosofi a e Psicanálise; Colíder do Grupo de Pesquisa Direito e Literatura: Um olhar para as questões humanas e sociais a partir da literatura (LEGENTES PUC Minas/CNPq); Membro do Grupo de Pesquisa Mulheres em Letras (FALE/UFMG/CNPq); Membro da RDL (Rede Brasileira de Direito e Literatura) Luciana Pimenta: foi assim que dei de assinar a poesia que me fez gente. Tudo gestado no verso do corpo, na planta dos pés da palavra. Poeta de ouvido, olhos e mãos que muito trabalham; professora por ofício de fé, sempre além dos muros da universidade, inventando lugares entre fi losofi as, direitos, literaturas e psicanálises, percursos de vozes e leituras que se misturam, a cada vez e todas as vi(n)das. Foi andando nas entrelinhas de lugares inventados que Aprendizagem no espelho (2000), Heranças (2016) e Morada (2018) vieram ao mundo – livros de poesia que nasceram na boca do leitor. Nunca sem leitores livros seriam. A eles sempre o próximo alimento, a trama, a transa e o parto de cada palavra e todos os silêncios. E assim seguem o poema por vir, as mãos abertas e os pés descalços, deslizes, verbos, ventos e rasuras de tempos-mundos poeticamente tecidos, deslocantes e descabidos... escrevendo o desejo de outras vozes e outros mundos. A condição para começar é não estarmos prontos. LUCIANA PIMENTA sócia correspondente
270 Aline, querida, segue um pouco de mim. Isso da gente escrever e ser, ser e escrever... E esse desejo infinito de seguir lendo o mundo, na palavra e além. Beijo carinhoso. Habitar-se Me desculpe o mundo Tem coisas que só são celebração. Me desculpem as máscaras, este rosto é meu. A epígrafe do meu corpo Escrever um poema com palavras por vir tramadas por mãos habitadas e despossuídas Dar ao poema sua própria língua sem qualquer sentido apenas esse cheiro colhido no útero do tempo Devolver o poema ao que é seu não-ser poema para que seja, sem que o saiba, - o corpo da palavra Dar ao poema a consistência de poema um ponto sem ponto, tecido em pele desdobrada
271 Ouvir o poema quando toca a música anterior à palavra e celebrar, em silêncio, o voo dos pássaros Deixar que voem e acenem não se sabe d’onde chamar ao sol o lugar do sol - seu céu e sua dádiva Sonhar o poema e seus novelos: fios, nós, seus tantos nomes tão próprios, como se fossem a epígrafe do meu corpo Compreender que o mundo é sempre outro, a cada poema amar o verbo, o fogo em chamas, e o mar em movimento. Procura da poesia Ontem, quando já o dia era uma promessa de hoje, depois do amor acontecido de incontáveis formas por entre riso e choro, prece e alegria, fomos à caça, ao tesouro. Aniversários, dia das crianças páscoas e alguns inomináveis dias guardarão essa marca da infância, o aprendizado de um gosto único o mais inusitado que se pode aprender e cultivar, ao longo de toda vida: o gosto da procura. Pratico antiversos à procura da poesia
272 e meus olhos se riem, diante da tela, tanto quanto rio – esse rio que me corre dentro e além – no altar da alegria que segue crescendo estampada no rosto, fazendo curvas e acenos que desdobram o canto da própria vida. Que nada tem de própria. Sempre do outro é o canto, este e esta que amamos, os que nos ensinam todo dia amar. Ontem era o anúncio do nascer do sol que eu veria hoje, renovadamente perplexa diante das nascentes que do amor emergem. Ontem era páscoa e hoje seguimos honrando esta promessa: perdoe-nos, Drummond, o corpo é poesia. Registro Mulher, você escreve? Não. Assina seu nome? Não. Tem documento? Não. Como faço seu registo? Pela boca dos meus filhos. Nelas estão meus seios, as linhas das minhas mãos, o cheiro do meu suor, a íris dos meus olhos e o eco de todos os meus cantos.
273 Quais são as palavras que ainda não cabem na sua boca? Quais são as tiranias que você engole dia após dia, até adoecer e morrer? A transformação do silêncio em linguagem e ação está sempre carregada de perigo Audre Lorde nos contou seus medos e a palavra recebida de sua filha: “fale para elas sobre como você jamais é realmente inteira se ficar em silêncio”. Enquanto leio, escuto na voz das duas, outras tantas vozes e letras silenciosas e fraturadas – uma a uma, esse nó s – torção e grito na garganta à procura das palavras que nos obrigaram a esquecer e – para que fosse maldita a língua da coragem – engolir sem mastigar – para desabitar a boca das alegrias e prazeres – que ainda nos custam a vida e a morte. Correspondência sobre a vi(n)da 07 de março de 2021 Querido amigo Eduardo, Ainda não lhe contei como cheguei à palavra vi (n)da É que não estou certa de que seja eu quem tenha chegado Suponho que seja ela quem tenha chegado até mim e que o que eu esteja fazendo é espalha-la como se semeia em campos onde se quer ver nascer a vida Você me contou que se aproxima a data de depósito de sua tese e não sei se uma carta poderá ajuda-lo, diante das exigências da academia Escrevo-lhe, de alguma forma, sem essa preocupação, talvez porque eu deseje pertencer à categoria de escritores que jogam fora a cópia passada a limpo e guardam
274 o rascunho, para guardar a verdadeira vi(n)da das palavras O que sei, sem muito saber, enquanto as letras vão preenchendo o papel, é que as palavras nascem das palavras que se entrecruzam, fecundam, procriam e vão povoando o mundo de nascenças Não porque tudo seja palavra Antes porque a palavra é um modo de vi(n)da Talvez o único possível, até quando se silencia Porque sem elas nada sabemos sobre a própria vida, que só se dá a saber na vi(n)da: pro-vindo, vindo, acontecendo, nascendo, sendo; “N” vezes eu lhe diga e haverá outras tantas “n” por vir e dizer Essa letra indeterminada, infinita que carrega a vida a cada vi(n) da, a cada vez, incalculáveis vi (n)das Mire só Abro o dicionário de sinônimos do Nascentes, na 4ª edição revista e ampliada, com mais de doze mil sinônimos, e me deparo com a ausência do verbete vida Não é fabuloso? Não poderia mesmo estar lá Qual sinonímia possível, fora do verbo conjugado? Os dicionários que a dizem criam uma clausura Não há limite possível Nenhum acabamento Nada está fora dela Nem mesmo a morte, que carrega um tanto mais de cada vi(n)da, o que ainda não se sabe, o que não veio, a noite escura, o outro de nós Sem limite de extensão e profundezas, vida a priori não há Não se pode sabe-la fora e antes de cada vi(n)da, como Rosa fez ensinação nas veredas do grande sertão: “Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo” Não há pedagogia que não faça uso das mãos, não pegue no laço do boiadeiro, não cave a terra para plantar, não lance a linha, a vara, a isca e a espera a caminho A vida se pega é pela raiz da vi (n)da No peito onde se escuta uma alegria ou uma dor Na boca cantante do pulso No ar que inspira e naquele que falta Na alvura dos cabelos que contam a verdade de uma vida sem enganação Que a verdade está na vi(n)da É ela que a traz Ela é que faz chegar Sonha, profere, semeia, germina e se achega, feito esta carta que desejo fazer chegar para que a vida se conjugue, se pratique, se partilhe e aconteça, como o mundo por vir Vir a vi(n)da, venire, transportar-se de um lugar a outro Está também em venida, o golpe de espada contra o inimigo A palavra espada empunhada, ativa Alegria vindoura Salve, salve! A-venida, lugar onde a vida se movimenta A vida ávida das ruas Esse desejo incessante de encontramentros, bifurcações, abraços e carnavais, que esse ano não tivemos Mas a vida segue chamando nas esquinas, nos olhos que vêm, nos corpos por vir reunidos na praça, na ginga dos que jogam, na prosa dos que colhem o tempo As ruas, meu amigo, guardam a vi(n)da das vozes, a alma dos bares, os colóquios e assembleias em ação As ruas dentro e fora As rugas, os rios, os risos, as cartas e cartões postais Não nos cabe sumariar a vida pela
275 biologia Não há genética que explique Tudo vem a reboque de cada vi(n)da (A)ventura e mu(n)dança Vê bem! Não tem e não há de ter fim De palavra em palavra o mundo rodopia, a vida vai se bem aventurando sem que se possa domesticá-la Mesmo que queiram Mesmo que queiram tanto, colocando máscaras sobre suas faces, fazendo-a morrer de asfixia Matando a poética do riso, sujeitando-a às guerras, aos campos de concentração antes e depois de Auschwitz Mas tudo há de movimentar o esforço da vi(n)da O desejo de super -ar, de super-ação Desejo de chegar, atuar e transformar, como chego e me achego aí, tirando as sandálias e pedindo que receba estas palavras Elas não têm ponto final E sei que há nisso muitas suspeitas Inclusive a suspeita das correspondências Mas, sem estar certa de nada, eu lhe asseguro que é disso que se faz o mundo: de corações em diálogos e vi(n)das, com ou sem aprovação, qualquer que seja o argumento de autoridade Talvez aí esteja o verdadeiro espírito da revolução, como algo verdadeiramente novo, a vi (n)da de uma libertação que possa refundar nossos modos de vida, um revolução, quem sabe, onde caiba a palavra amor fora das ruínas ou alguma outra que possamos inventar para dizer e, pois, construir, o que ainda não conseguimos Tal vez aí, uma tal vez, a palavra vi (n)da Daqui, nesses tempos difíceis, um lugar que tem outros nomes, mas em mim se nomeia sertão: “lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos” Luciana Lendo o poema de Leonardo Gandolfi sobre a caneca de sua avó . . . - não. sobre a poesia de sua avó. - não. sobre sua infância. - não. sobre toda infância e todas as avós que servem café dentro dos poemas - não. sobre cada morte. - não. sobre todas as mortes. - não. sobre a morte dos que não morrem
276 e aparecem sentados aqui nos goles do poema assoprando a caneca que nos deixaram de herança ou sobre todas essas coisas servidas dentro do poema dos outros que nos deixam de herança os poemas outros a quem deixaremos . . . fui engolida pelo poema. Porquês - Mamãe, o tato é mesmo seu sentido favorito? - Sim, filha. - Por que? - Porque é ele que escreve O outro em nós. - E depois? - O olfato. - Por que? - Porque é ele que assina.
277 Não sei o dirão quando eu morrer mas suponho que dirão alguma coisa em torno dessa perplexidade diante da vida Esse jeito de colocar as mãos no corpo a partir do próprio corpo Da vida dirão, eu sei. E dirão das escavações e dos caminhos que levam ao corpo O lugar donde nunca saí dirão, eu sei E dirão que eram seis horas manhã ou tarde nunca exatamente quando ela escreveu não se sabe se pela última vez o primeiro e último poema que seguiu escrevendo No eco do corpo dirão, eu sei.
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279 Natural de Corinto, fi lho de Brasilino João de Oliveira e Rita Barbosa de Oliveira. Irmãos: Rounaldo, Geraldo, Rosemary e Ângelo. Casado com Simone Costa Marques Oliveira, tem uma fi lha, Bruna Costa Marques Oliveira, casada com Diego Barbosa Almeida Filho, e um neto, João Pedro Barbosa Almeida. Carreira Profi ssional: Músico, Radialista (Locutor, Apresentador, Animador – Registro Profi ssional 2.835). Trabalhou na Cristal Agroindústria, Diretor da Rádio Cidade de Corinto, Assessoria de Comunicação Prefeitura Municipal de Corinto. Editor Geral: Jornal O Trem (Corinto) Correspondente: Jornal Edição da História (BH) Artigos publicados: Jornal O Trem (Corinto), Jornal O Panorama (Corinto), Jornal de Corinto, Jornal Arprodic (Conselheiro Mata/Diamantina) – maio/junho/1999, página 6, Jornal Edição da História (BH), Jornal Estado de Minas (BH). Cinegrafi sta Amador: Bemtivídio Filmagens Fotógrafo: Foto do Jacarandá do Campo (Local exato do Centro Geográfi co de Minas) – Publicada na primeira página do Jornal Estado de Minas – 30 de janeiro 2001 e na página 26. Primeira página Jornal de Corinto – 26/04/1997, Revista do Jornal Estado de Minas – Paisagens Mineiras, dezembro/2003, página 20. Primeira página Jornal O Panorama – Edição 41, julho/2007. RENATO MANOEL DE OLIVEIRA sócio benemérito
280 Produção em shows – Corinto: RPM e Paulo Ricardo, Skank, Kid Abelha, Belchior, Terra Samba, Copacabana Beat, Easy Rider, João Mineiro e Mariano, Moacyr Franco, 14 Bis, Molejo, Só Pra Contrariar, Sambô, Naiara Azevedo, Trio Parada Dura, Gigantes do Brasil. Orgulho de ser um dos idealizadores do Festival da Canção de Corinto. Cristal é minério, cristal é mineiro. “No meio do caminho tinha uma pedra...”. No meio de Corinto tem umas pedras. Ter uma pedra no meio do caminho poderia significar um obstáculo, um empecilho. Como diz o ditado: “ter uma pedra no sapato”. Mas será que uma pedra no caminho, na nossa vida, é sinônimo de problema? “com as pedras que me atiras, construirei um castelo”. Toda pedra no caminho você pode retirar. Ela não é obstáculo. É preciso com ela sobreviver. É possível com ela saber viver. Ter uma pedra no meio do caminho é POSSIBILIDADE. Sendo cristal, que ostenta o título de semiprecioso, terás encontrado um dos mais misteriosos e versáteis minérios. Misterioso porque traz energia e inacreditavelmente, indiferente do tamanho, possui o mesmo ângulo, da base à pirâmide. É ver para crer! Versátil porque agrega a diversos produtos. Cristal é minério, cristal é mineiro. Minas é minério. Minas é mineiro. E Corinto é a terra das pedras. Quartzo é o filho ilustre: O Cristal. Corinto é o Centro de Minas. Corinto é o Centro das Gerais. Foi utilizado trechos de poesias de Carlos Drummond de Andrade (no meio do caminho) e de Roberto Carlos e Erasmo Carlos (É preciso saber viver). Dedicado a todos os cristaleiros. “Cristal é a lágrima de Deus que brota na terra”. Publicado no Jornal O Panorama – Março de 2009 – Edição 60
281 Pelos bailes da vida... Embalados pelos ritmos do samba, bolero, rock, marchas carnavalescas, entre vários outros, tocados por uma legião de maravilhosos músicos em que as noites se tornavam tão melhores, proporcionando encontros amorosos, novas amizades e entretenimento inesquecíveis. Numa seleção de músicos corintianos, destacamos alguns. Os nomes foram colocados como são lembrados ou conhecidos: Bandinha (sax tenor), Valdir Barbeiro (guitarra), Geraldinho de Olegário (violão 7 cordas), Osmar de Beijo (pistom), Maurílio Viana (Pistom), Odimar (bateria e cantor), Paulinho Leal (guitarra e cantor), Décio Alvarenga (guitarra), Mário Hayden (bateria), Tião (sax), Orlando (bateria e acordeom), Dico (teclado), Salvador (sax alto), César (sax alto), José Maria (sax tenor), Pitucha (bateria), Dino (bateria), Antônio barbeiro (contrabaixo), Joãozinho (guitarra e teclado), Raimundo (bateria), Welton Ribeiro (guitarra, teclado, cantor), Toninho Rocha (contra baixo), Renato Oliveira (teclado e guitarra), Zito Saraiva (bateria), Taquinho Leal (bateria e contrabaixo), Leonardo (pistom), Brício Mendes (cantor), Fábio (percussão), Edinho (bateria), Valquiria (cantora), Weltinho (teclado e guitarra), Bruno Viana (cantor), Dener (teclado), Pedrinho de Alú (cantor e guitarra base), Carlinhos Assumpção (cantor), Zé Catarino (trombone de vara), Ari Alonso (pistom), Wellington (contra baixo), Ademir Rosa (guitarra solo), Nego (acordeom), Piaza (percussão), Luiz Mandraka (acordeom), Zé Milo (cantor), Nonô Mosquito (bateria e tarol), Toninho da Sacol (surdo), Juca (pistom), Inocêncio (trombone de vara), Carlos da banda (tarol), Geraldo carrapato (trombone de vara), Vicente Fonseca (tarol), Renatinho (tarol), Noé (sax alto), Cleuson Ferreira (cantor), Alan (bateria), Beto de Negrete (guitarra solo e base), Adão de Negrete (vocal), Marcelo (cantor), Dete (bandolim), Israel Maestro, são alguns deles. Quem não se lembra dos Corintians Boys, San Remo, Toque de Classe, Opus 3, Pendulum, Hijos de La Madre, Sandallus, Conexão WR, Os Águias, Brazil Exportação, Factus Artuose, Bagdás e outros? Também como participante, marcou-me aquela inesquecível noite do saudoso Baile da Saudade, no Clube Ferroviário, quando fui convidado pelo Lions Clube de Corinto para trabalhar na mesa de som. Os músicos convidados para abrilhantar o espetáculo da noite foi uma seleção do que havia de melhor na época de Corinto – no sopro Maurílio Viana (pistom), Tião (sax), Zé Catarino (trombone de vara). Na bateria Orlando, percussão Taquinho Leal. No teclado Dico e no acordeom Nego. No violão de 7 cordas e cantor Geraldinho de Olegário e finalmente Valdir Barbeiro
282 na guitarra solo. Acho que não é preciso dizer algo mais. Só lamento não ter gravado aquele espetáculo tão exclusivo que tive a oportunidade de proporcionar quanto dele usufruir. Nomes consagrados como Flávio Venturini, Rogério Flausino, Alexandre Pires, Milton Nascimento, foram músicos de bailes, iguais aos conterrâneos aqui lembrados, só que aqueles, a sorte fez a sua própria escolha e os colocou no patamar mais alto do Hit Parade, ficando os nossos artistas conterrâneos na nossa lembrança tão cheia de gratidão e de tantas saudades. Publicado Jornal O Panorama – setembro/outubro 2010 – Edição 77 Discurso escrito por Renato Oliveira, em 2003, na reforma da Praça dos Ferroviários. “A Cidade. Ao Ferroviário de Corinto, propulsor do seu progresso”. Com estas palavras um pernambucano, natural do Recife, inaugurou no dia 10 de Setembro de 1966, esta Praça: Joel Ayres Bezerra. Era o último ano de seu primeiro mandato (1963/1966 – 1971/1972) e nossos Ferroviários ganham esta justa homenagem. Joel Bezerra, como era chamado, faleceu em 25 de Maio de 1988. Era casado com D. Orminda de Abreu Nery Bezerra e deixaram três filhos, Joel Ayres Bezerra Filho (advogado) e João de Deus Nery Bezerra – Jony, (jornalista), Marco Antônio Nery Bezerra, netos e bisnetos. Felizes são aqueles que, por onde passam deixam sementes de amor, ajuda mútua, solidariedade e união. É necessário ser homem público para conhecer perfeitamente a natureza do povo e pertencer ao povo para conhecer a natureza do homem público. Hoje estamos aqui para repetir um gesto feito há 37 anos. A restauração desta Praça se fez necessária, pois a ação do tempo, o descaso de anos de abandono do poder público municipal, e até a natureza conspiraram para a destruição deste patrimônio público. Uma gameleira plantada incorretamente neste local, abrigando marginais e suas raízes colocando em risco as residências, levou a comunidade a se manifestar através de abaixo assinado, denúncias e uma perícia técnica nos obrigaram a retirar esta árvore.
283 Na administração pública, não basta fazer. De igual importância é preciso conservar e se necessário reconstruir os bens públicos. A Praça Ferroviária, como é chamada, abriga hoje objetos pertencentes à Rede Ferroviária, e tem como peça principal em seu centro a engrenagem simbolizando o trabalho coletivo realizado por esta classe que ajudou e ajuda a movimentar a nossa economia e a formar a sociedade corintiana. Tudo começou em 1904 com a chegada dos trilhos da Central do Brasil, imprimindo um rápido desenvolvimento, superando, em progresso, todos os arraiais vizinhos. Os primeiros ferroviários foram: Os engenheiros Dr. Catarino Mota, Dr. Simâo Tam, os funcionários Francisco Lopes, Manoel João de Oliveira, Adrião Machado, Manoel Luiz, Francisco de Carvalho, Joaquim Dias Correia, Joanes Cardoso de Sá, Sebastião Marques Castilho, Bernardo de Abreu, Francisco Vieira Machado, João de Abreu, Alfredo Davi, José Ogando Audian, Sebastião de Paula, entre outros. Neste tempo o povoado de Curralinho fazia parte do território de Pilar, município de Curvelo. Mas o distrito só foi instalado em 1908. A instalação que deveria ser no Pilar acabou sendo no Curralinho, isto porque, após a chegada da ferrovia, o desenvolvimento atingido forçou as autoridades a realizar a cerimônia aqui. Do arraial a Curralinho e, depois, Corinto, emancipado em 20 de julho de 1924, a classe ferroviária sempre esteve presente e atuante no desenvolvimento socioeconômico do município. Por isso, esta Praça é um marco de orgulho dos ferroviários e de toda a comunidade corintiana. Alguns feitos dos ferroviários: Onde hoje abriga a Câmara Municipal antes foi um Grupo Escolar construído com a ajuda dos ferroviários, Igreja de São Sebastião, construída em 20 de março de 1911, juntamente com o padre Joaquim José da Silveira. Clube Ferroviário, Ginásio Ferroviário (hoje Colégio Cristo Rei), todo o conjunto arquitetônico composto pela Estação Ferroviária, inaugurada em 1906, Ferraria, Seletivo, Oficina, prédio da Tração (hoje casa paroquial Santo Antônio), complexo com estádio Moacyr Luiz de Siqueira (Siqueirão), diversas construções que hoje abrigam casas particulares, doação de um acervo histórico que inclui uma locomotiva e outros objetos e o mais importante: a paixão pela ferrovia.
284 Carta de Corinto Caríssimos filhos, Nasci com o nome de Curralinho, entre 1800 a 1900. Era um povoado para pouso de tropeiros e adotado por Curvelo. A partir de 1904, com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil, começou o meu desenvolvimento. No dia 20 de julho de 1924, emancipei, fui registrado. Tornei-me uma cidade. De Corintho passei a chamar Corinto. O meu crescimento era surpreendente. Fábricas de macarrão, pisos, farinha, tecidos, entre outras. Grandes atacadistas, comércio forte, prestações de serviços invejáveis. A zona rural produtiva e até com colheita mecanizada, uma novidade para a época. Aeroporto, aeroclube, eu tinha até avião. Para o escoamento da produção os entroncamentos ferroviários e rodoviários eram a solução. Ligavam-me a Belo Horizonte, Diamantina, Montes Claros, Pirapora e o distrito de Três Marias. Qual a cidade que tem uma vantagem assim? Ah! Três Marias me pertencia. Eu estava em pleno vapor. Mas, infelizmente, a partir daí, fui perdendo quase tudo que conquistei. Uma das perdas mais significante foi a paralização definitiva da Rede Ferroviária, fábricas, Cooperativas e outras. Curiosamente não houve manifestações da comunidade. Onde estavam vocês que lamentam a desfiguração da Igreja Matriz, demolição dos antigos patrimônios importantes que retratavam a nossa história? E nada fizeram? Não adianta chorar o leite derramado. Não adianta falar mal de mim. Sou apenas uma cidade que te acolheu. Quem faz a minha história ser feia ou bonita é você. Apesar de tudo que aconteceu, estou vivendo uma nova época, você já percebeu? Estou caminhando para um novo futuro, talvez melhor que o passado. Vou me apresentar: Corinto ano 2010 Sou o Centro Geográfico de Minas Gerais. Continuo sendo entroncamento ferroviário e rodoviário. Perdi o ramal ferroviário para Diamantina, uma pena, mas ganhei asfalto até Monjolos e segundo cogitam a estrada que liga Três Marias a Diamantina, MG 220, será totalmente pavimentada. Tenho uma Subestação de Energia Elétrica da Cemig. Que venham as indústrias. Duas estações de captação de água da Copasa, sendo uma através de poços artesianos e outra abastecida pelo Rio Bicudo. Se você não conhece esta ETA (Estação de Tratamento de Água), saiba que é uma obra magnífica, distante 12 quilômetros, aproximadamente. Sou uma das primeiras, entre as poucas cidades, servida de ETE (Estação
285 de Tratamento de Esgoto), no País. Aqui até o esgoto é bem tratado. É uma obra gigantesca que poucos corintianos conhecem. Vai lá, faça uma visita, sentirás orgulho. Todo o esgoto da cidade é tratado. Uma lição de respeito ao meio ambiente. Você andando pelas ruas da cidade percebeu a melhoria do nosso comércio? Grandes redes se instalaram aqui e o nossos tradicionais comércios estão melhorando a cada dia. As instalações melhoraram. As variedades de produtos e o atendimento também. É preciso que vocês deem apoio comprando em nossa cidade. Isto gera empregos e desenvolvimento através do crescimento nas arrecadações. E quem ganha com isso? Eu e você. Há empresários corintianos investindo alto na construção civil. Prédios imponentes estão surgindo. Esses estão acreditando em mim. Na segurança pública estamos muito bem estruturados. Novas viaturas, aumento do efetivo policial, instalações excelentes da Polícia Militar e Civil. Os serviços públicos como Fórum, Promotoria, Cartório Eleitoral, IEF, Emater, IMA, Prefeitura, Câmara, Correios, entre outros, muito bem instalados. Na comunicação, duas emissoras de rádio e um jornal. Telefonia fixa e celular, todas as operadoras. Temos cinco instituições financeiras e diversos postos de recebimento de pagamentos, isto diminui as filas. Na zona rural os produtores lutam a cada dia, mesmo com as dificuldades, continuam sendo uma das principais fontes de renda do município. No setor político, mesmo com as deficiências que não podemos ignorar, as conquistas são uma realidade. Estou falando das administrações passadas e presente. O que falta é unir as forças em favor do desenvolvimento. A disputa é na eleição. Terminando este processo tem que ser uma só corrente. Na saúde, o nosso problema mais iminente e a reabertura definitivamente do hospital. Com a chegada da Coopergac (Cooperativa dos Garimpeiros), esse setor poderá produzir ainda mais e com respeito a esses profissionais e agredir menos o meio ambiente. Estou ganhando um Centro Vocacional Tecnológico para o Desenvolvimento Territorial (será na Escola Agrícola Milton Campos, antiga Febem) e também um Polo de Inovação Tecnológico. Com tudo isso é preciso que você acredite em mim. Estou com 86 anos. Sou ainda uma cidade jovem. Tenho tudo para
286 continuar crescendo. Mas é preciso a participação de todos. Propagar o negativismo é prejudicial ao desenvolvimento. Depois deste relato, espero ser mais respeitado e amado. Daqui tiras o seu sustento. Aqui estão seus melhores amigos. Aqui estão seus entes queridos. Aqui está o Cristo de braços abertos para abençoá-lo. Assinado: Corinto. Escrito em 2010. Tenho QI Quando eu sair pelo mundo Prá ver mais de perto Se tudo está certo Não vou ficar quieto Se eu achar tudo Um tudo tão bom E pelas ruas De Belo Horizonte Cruzando avenidas Andando em passeios Olhando vitrines Que levam ao lado de lá Vida Que me surgiu De manhã Que me tirou Do divã Me fez vagar por aí Vida Mesmo que o sonho adormeça Não quero que você esqueça Acorde ele outra vez.
287 Iris, a borboleta diurna (o sol, na liberdade do amanhã). Eu sou da América do Sul, Do galope firme, Dente-por-dente, Punhal: dor na ferida de um tempo. Êta diacho de vida, De um cavaleiro errante, De uma ave ferida. Sangue que desce do peito, Molhando a rosa sem vida, Numa estrada deserta. Dorme paisagem sem cor. O porto vazio E um canto de dor, Acorde! Nasceu uma flor. No coração um solto dilema, Um barco perdido nas ondas do tempo. Meu violão, jogado ao relento, A mala fechada E adeus minha gente. Fui atingido por um raio Nós temos algo em comum Porque vivo por você Temos algo em comum Nas mesmas datas Nos mesmos anseios
288 Nós temos algo em comum Porque te dou minhas horas vagas E você? As outras também. Nós temos algo em comum No varar da noite No raiar do dia Na saudade que fica Nós temos algo em comum Porque quero que você durma Debaixo do meu teto Para ouvir as minhas velhas histórias. América do Sol Quando parto e voo em retirada A saudade me domina E na solidão deste abandono, Olho agora nas vitrines. E neste “canto”, O sol termina, Morrem os sonhos, Fecham as cortinas. Um nó no peito e abafa, Como um punhal que cala E as certezas, sopram as cinzas. Vou voltando e trago o que me resta, No vazio dos meus planos. E no cais do porto, barcos velam, O retorno apaga os danos.
289 Sons, violeiros, crescem, Uma saudade minha, O sol que brilha, nestas campinas. E na janela, afora, Vou ver passar a vida, No longo curso, desta avenida. Coração Tirano O nosso amor é moderno Como na ausência de um bolero. Tem nos versos erros de caligrafia E louças que chocalham na pia. Um aluguel que come no mesmo prato E tua mão que se fere neste frasco. E eu que ignoro seu cansaço, Da janela pinto um quadro abstrato. E ai me toca neste gesto displicente E vejo que você sente, Mas o tempo já estancou o problema Ligo o vídeo e já estou no cinema Mudo o canal num horário nobre Mas o que eu vejo é pobre. E a única alternativa, dorme. E logo amanhece e a gente esquece. E para meu espanto? Tu varres os cacos “prum” canto. Te olho com uma cara de santo E pra não quebrar o encanto Filtro suas palavras ásperas E abranda meu coração tirano.
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291 Silvana Soares Ribeiro Flor, Cordelista, escritora e contadora de histórias e declamadora. Nasceu no dia 23 de junho do ano de 1983, veio ao mundo pelas mãos de uma parteira e sendo o primeiro suspiro no Sítio Lagoa do Cipoal município da cidade de Passa e Fica no Rio Grande do Norte, local ao qual nasceu e se criou. Hoje residente a cidade de Barueri no Estado de São Paulo. Filha do Senhor Elias Soares Ribeiro e da Senhora Jubelita Domingos Ribeiro. Tendo como obras 10 livros em parceria com o escritor Edilson Ribeiro, onde conta a história de um imigrante Português que deixou um rico legado e um Distrito fundado por ele por nome de Barra do Geraldo, o então imigrante Tenente Manoel Geraldo Soares. E os dois últimos livros completando o décimo segundo trabalho está totalmente voltado para os tributos aos Passafi quenses, pessoas que deixaram um legado na história do município de Passa e Fica no Rio Grande do Norte. É sócia Fundadora da Associação Artística-Cultural Mãos que Tecem Histórias da Ilha de Santa Catarina, também é integrante do grupo de Contadores de Histórias do ENCONTRÃO DO ESPÍRITO SANTO, GRUPO GWAYA DE GOIÁS, GRUPO POESIA E CULTURA POPULAR DE SERGIPE. SILVANA SOARES RIBEIRO FLOR sócia correspondente
292 NOITE Noite chega Mais que chegada hora Ensoberbece o que fazes Por ser satisfatória A sensação que deixa Vai e desapareça Sensação mais que gostosa... Nada faça que esqueça Quando a noite vem Despeço de tudo E espero por meu bem Na noite absoluta Faremos dela loucura Desalinhando o além... A existência deixa de existir Onde só eu e você Na noite estrelas perdidas Se entregando ao querer No plano da sensatez Não existe uma só vez Que eu não queira te ter.... Noite termina Termina o prazer Mas ainda suspiro quietinha Sem nem ao menos perceber A noite terminou Tudo já acabou E eu ainda sinto você... E fora dos meus limites Esses que nem sei Ah! meu querido anjo Vem mais uma vez Fica e não se vai E uma noite a mais Eu fugi da sensatez...
293 ROMANCE Só além de um sentir Um sentimento especial Fora do ser comum Mas sempre primordial Gostoso e necessário Romance inesperado Essência ao essencial... Se ao acaso encontrar A entrega prazerosa Ao romance milenário Trafega misteriosa A sensação eficaz Desata o querer mais Das linhas mais preciosas... Perder às razões Nas vielas do linear Cada traço pincelado Com a tinta do sonhar Se envolve ao renascer O romance vem reviver E ao ser sublime se entregar... Embora quisera ser menina Para ter como o primeiro Amor inocente e cadente Mistério passageiro Cartinhas pontilhadas E para ti endereçada Meu amor mais verdadeiro... Romance inesperado Recheado de um perigo Se devo ou não devo Se posso ou proibido Eu só quero viver E por um minuto ter O momento lindo vivido...
294 NECESSITO Venho necessitar De um sentimento verdadeiro Esse que seja intenso Que nos deixe primeiro Amor e satisfação Experiência da paixão Gravada bem lá no peito... Não necessito de aventura Pois isso não me preenche Quero algo bem intenso Que venha assim e me prende E me faça esquecer Dos medos que venho ter E respire bem livremente... Sem medo da distância Fechar os olhos e pular Necessito deste alguém Para compartilhar Do meu incontido afeto Ah como eu quero Poder um dia te encontrar... Necessito eu Daquele brilho imensurável Dos olhos misteriosos Do jeito inegável Do amor puro e sereno Límpido e esplêndido Melindroso deve estar... Necessito de mais De fôlego para prosseguir De teu corpo em meu corpo E poder assim unir Amor fogo e explosão Mistura louca da paixão E vamos nos explodir...
295 SOLIDÃO Sussurrei baixinho Teu nome meu amor Teu nome é solidão Que me traz tanta dor Lágrimas caíram sem cessar Como assim segurar Se me traz angústia e ardor... A noite tão nublada E a escuridão se forma E meu Coração apertado Luta e se esforça Para não se perder Nessa escuridão que vê E que tanto apavora... Solidão tenebrosa Com trevas do sofrer Porque estou vivendo isso Se só amor eu vim ter Há solidão Extermina meu coração Que já está a padecer... Solidão que já estás em mim E não me deixas viver Estou certa então Que não posso querer Meus dias serão iguais Longe dos essenciais Que possa estabelecer... É surreal tudo isto Pois vem do saber Que nessa minha angústia Irei até morrer Por esta tal solidão Morada do coração O que eu posso fazer...
296 DE ONDE VENS Estou eu aqui Triste a me perguntar De onde vens O que posso pensar Indagando eu vou Onde encontrar o amor Meu ego não pode falar... De onde vens Tu, ó estranho Que penetrastes em meu viver E eu aqui te amando Sem nenhuma autorização Entrastes no meu coração Que forte está pulsando... Fizestes o que bem pensara Mas não pensasses em mim Logo eu que tão singela Te quis perto assim Daí deixaste-me Fostes e me abonasses Eu fiquei por um fim... De onde vens De ti nada sei A única certeza É que este trauma viverei Por o longo da minha vida Que dor sem guarida Quando me levantarei... Deixaste em êxito total O meu mundo abalado E fugistes sem ter dó Como um ser malvado Quem és tu tão cruel Desconhecedor do fiel Homem bom e amado... Um lobo sem rumo À procura de outra caça Nem ao menos se importa
297 Nem ao menos disfarça A sua satisfação De trazer desilusão Daquelas que não acaba... Estás longe de ser Um Deus mitológico Ou um servo do amor És tão contraditório De romance nada sabes Pois a ti se condenastes A ser somente ilusório... QUERIA EU Queria eu Se pudesse ter O poder do encanto A te envolver Embriagar na magia Que há na energia Cósmica do teu ser Energia liberada Dos beijos que me toma Na mais intensa adrenalina Sou tua única dona Quando envolve no calor Dos corpos com ardor Que chega e assim me doma... O desejo incontestável Queria eu podar De maneira mais simples Aos poucos te moldar De forma graciosa E tão mais carinhosa No teu universo chegar... Queria eu Ai como queria Estar com você Na mais sincera alegria
298 Me entregar de corpo e alma Não de forma imaginária Mas real isso de noite e dia... Nesta linha imaginária Transitório é o pensar Transgredir o incalculável No submisso jeito de amar Queria eu Queria seu Corpo inteiro abraçar... Tocar tua face E levemente beijar Queria eu um minuto Se pudesse te amar E o mundo esquecer Seria só eu e você No intenso absorver o pensar... MELODIA DA LITERATURA Nesta noite de luar A melodia do amor Literatura da paixão Nas telas entrelaçou Encontra a lua e às estrelas Doce mel da cereja Que nos meus lábios beijou... Teu olhar de magnitude Que alcançam minha alma Num brilho que reluz Ao meu corpo fez chegada Trêmula e sem ação Meu elo só de paixão Imagem tão venerada... Ombro amigo e fiel Que tens o intenso poder Se me tocas já me ganha Na melodia do bem querer Baila sonhos e magia
299 Infinito assim contagia Na literatura do viver... Nas rimas da existência Nos versos da inovação Mistura amor e amizade Meiguice e muita paixão Me fazes o teu bem Se me queres já tem Minha toda contemplação... Um homem destemido Que fica e não vai Mesmo na ausência Tatuado estás Permaneces a atar Como as ondas do mar Que levam e traz... Salteando na escrita Na literatura do amor Na melodia inexplorável Assim caminhado vou No teu eu mais presente Te quero aqui sempre O sonho que se realizou...
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