101 Alberto Knux No mundo de Sofia, Alberto Knux é a pessoa incumbida, pelo Major, de conduzir o processo por meio do qual Sofia se tornaria uma pessoa melhor. Sofia compreendeu rapidamente com Alberto que o interesse sobre as questões essenciais sobre o sentido da vida humana não é uma questão que se coloca no mesmo nível das outras questões casuais e cotidianas, como por exemplo o interesse por colecionar selos. Por certo, é mais fácil fazer as perguntas fundamentais do que respondê-las. Mas, a busca por estas respostas tem permitido aos homens encontrarem sua verdadeira forma, seu verdadeiro propósito. No mundo de Sófia, Alberto apresenta o Coelho Branco comparando-o com o Universo e compara os homens com bichinhos que vivem na base de seus pelos. Perseguindo as questões fundamentais da vida, Alberto quer levar Sofia a subir por estes finos pelos para vislumbrar o grande sentido original de quem somos nós e de onde viemos. Alberto Knox levou Sofia em uma jornada incrível, atravessando uma vastidão de premissas que apontam para a grande ordem do todo. Com a Natureza Sofia compreendeu que nada pode surgir do nada, com Demócrito descobriu que os mesmos elementos combinados de formas diferentes criaram toda diversidade do nosso planeta, com Sócrates reconheceu que mais inteligente é aquele que sabe que não sabe, com Platão desenvolveu o anseio de voltar a verdadeira morada da alma, com Aristóteles se tornou uma grande organizadora, com Descartes encontrou no pensamento uma prova de sua existência autônoma, com Spinoza entendeu que Deus não é um manipulador de fantoches, com Hume tomou coragem para atirar as fantasias ao fogo, com Kant conseguiu sentir o céu estrelado sobre si e a lei moral pulsando dentro de si, com Hegel aceitou que só o que é racional é viável e em Marx viu um perigoso fantasma rondando a Europa. Com a grande explosão Sofia conseguiu compreender que nós também somos poeira estelar. Alberto Knox é o grande anfitrião e guardião que o Major Albert Knag (O Grande Major) incumbiu de cuidar, orientar e conduzir Sofia em sua jornada pelo mundo real, que é dela e que também é de todos nós. 18 CARROLL, Lewis. Alice Através do Espelho. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 86.
102 o papel das letras entre dois mundos A gênesis dos homens veio acompanhada da gênesis das Letras. O surgimento das primeiras e desarranjadas fonações (choros, gritos, risos, urros, e demais sons indicativos de expressões intersubjetivas) foi o surgimento dos primeiros significantes. Significante é o som de uma comunicação e a sua correspondente imagem mental.19 As identificações nestes significantes (“uenn, uenn”, “aaaa, a-a-a, u-u -u”, “rararara”, “uuuuuu”) dos seus respectivos padrões de sentidos comunicacionais (fome/medo/dor, atenção/apontamento, felicidade/alegria, expressão de emoção) quando compartilhados, representaram as primeiras formações de significados. Significado, portanto, é o conceito e sentido atribuído ao significante. Por exemplo, “Compartimento físico de tamanhos e formas variadas onde pessoas geralmente fixam habitação e moradia” é o significado (conceito) dado ao fonema ou ideia mental (significante) de “casa”. Por sua vez, os primeiros riscos e formas escritas destinadas a expressar os significantes foram também os primeiros signos, as primeiras centelhas das letras e das Letras. Signo é o símbolo escrito, “a”, “b”, “c”, “+”, “%”, “2”. Quando os signos básicos/simples são combinados de forma específica e diferencial, por exemplo “c”+ “a”+ “s” + “a”, são formados os signos complexos, ou seja, as palavras, como “casa”, por exemplo.20 As chamadas “Letras”, em seu sentido comum, são a representação do universo da comunicação humana expresso por meio dos signos, funcionando estes como pontos de ligação e estabilização entre os significantes e os significados. Neste sentido, quando são combinados signos de modo que formem uma frase, por exemplo “minha barriga está roncando”, esta estrutura tem por função conectar o som verbalizado pelo sujeito falante (significante) a um conceito/sentido atribuído aquela combinação linguística verbalizada (significado). Som do ato de fala >>> “minha barriga está roncando” <<< Estou com fome Significante Signo Significado Entretanto, a questão mais relevante na compreensão das Letras está em compreender que a questão fundamental não está na própria linguagem, está fora dela, fora das Letras. 19 Os significantes são as projeções mentais ou fonéticas dos signos. Quando imaginamos uma pessoa gritando em alto tom “aaaaaaaaaaaa”, esta imagem mental e este som são exatamente o significante do signo “a”.
103 O Significante, o Significado e o Signo, não são os elementos fundamentais na comunicação, porque as próprias Letras são um recurso meramente instrumental, ou seja, de importância secundária. O fundamental é o que chamamos de REFERENTE. O Referente, por sua vez, é a coisa do mundo que existe independentemente das Letras, da linguagem e da comunicação. O referente não é um elemento linguístico, não é um componente da linguagem ou “Das Letras”. Conhecemos os referentes por meio dos sentidos (vendo, tocando, ouvindo) ou por meio da abstração lógico racional. A palavra e o conceito de “elefante” são coisas diferentes do seu Referente, ou seja, do elefante em si mesmo, que está lá na savana africana e pesa toneladas. Em conclusão, signo, significante e significado, são elementos exclusivamente linguísticos, são as matérias originais do mundo exclusivo das Letras. As figuras, linguísticas literárias (a palavra elefante e o conceito de elefante, por exemplo), não têm qualquer relevância em si mesmas. Sua relevância só se revela se pudermos tomar em conta que “elefante”, enquanto palavra, realmente corresponde a algo do mundo das coisas e que este algo fora suficientemente bem representado no significante, no signo e no significado. Quando os homens desenvolveram as habilidades linguísticas necessárias para vocalizar “cuidado, o leão está vindo”, a questão fundamental envolvida era fazer com que a linguagem pudesse conduzir até o interlocutor uma situação real do mundo das coisas; algo do tipo: um felino feroz de porte grande está se aproximando, fique atento. Portanto, não são as palavras ou a fonética que importam mais. O que importa mais são os referentes, ou seja, o animal real que está no mundo concreto. Quando os homens desenvolveram as habilidades necessárias para manejarem com alta complexidade as Letras (a linguística), escrevendo livros, enciclopédias, cartas e avisos, o fundamental se manteve o mesmo, bem representar os referentes. 19 Signos não possuem significado próprio. Eles possuem apenas significantes, ou seja, sons e imagens mentais. Quando combinados formam palavras, que por sua vez, também são signos, só que complexos. O signo “casa” é uma mera palavra, com uma fonética própria, nada além disso. As combinações são criadas de formas específicas exatamente para estabelecerem diferenças: casa, caça, casca, acaso, caso, cama, cada, cava, etc. As combinações diferenciais das letras criam signos complexos distintos, palavras distintas com significantes distintos. Tudo isso para que cada uma destas combinações específicas possa ter um significado (conceito) também específico. Em escala avançada, a proliferação das combinações diferenciais é o que permite a expansão da linguagem e do vocabulário da linguagem humana.
104 Em conclusão, o fundamental para as Letras é produzir comunicação organizada, segura, eficiente e entendimento, retratando com fidelidade o mundo das coisas reais. Como vimos no País das Maravilhas, no Mundo de Alice e de Humpty Dumpty, a quase totalidade dos seres naquela nação encantada, ou melhor, enfeitiçada, subverteram a função das Letras. Para Humpty Dumpty, as Letras estão vinculadas às suas artimanhas e malícias e não aos seus correspondentes referentes, ficando assim desconectadas do mundo, de sua relação com o real. Neste mundo, a linguística (signos, significantes e significados) passou a ser, ela mesma, tratada como sendo o mais importante na comunicação, transformando-se em uma espécie de devaneio. As poesias, os contos, as narrativas, as teorias, os conceitos, os ideais, as teses, os discursos, as reportagens, as leis, as decisões judiciais, as aulas, as academias literárias e as propagandas, enfim, todo o vasto e profundo universo das Letras naquele País das Maravilhas encontra-se absolutamente desprovido de referente. No País das Maravilhas, as Letras falam de coisas que nunca existiram, que não existem e que nunca existirão, ignorando que o mundo das coisas tem seu modo próprio de definir o que existe e também o que não existe, de forma absolutamente independentemente do que é criado linguisticamente ou literariamente. As Letras que originariamente representaram a mais virtuosa, sofisticada e relevante aquisição civilizatória da humanidade, possibilitando avanços antes inimagináveis, vistas como o grande instrumento que carregava a verdade, o conhecimento, as mensagens mais seguras e precisas, transformou-se em uma terrível maldição. As mentiras (Letras sem referentes) são as grandes armas contra os cidadãos do País das Maravilhas. Estes se afogam nas tormentosas águas dos oceanos das Letras, agitadas por aqueles que aprenderam a lição “para nós o real, para eles as prazerosas, mas instantâneas, alucinações das fantasias e maravilhas”. Cada vez mais as Letras tomam gosto por permanecerem sentadas sobre um alto e estreito muro, orgulhosas de si mesmas, contudo, mais frágeis e dispensáveis do que nunca, bem ao gosto de Humpty Dumpty. No Mundo de Alice, Humpty Dumpty defende fervorosamente a enganosa ideia de que as Letras pertencem aos seus autores e, posteriormente, aos seus receptores interpretes que as consomem conforme mandam seus desejos e prazeres. No Mundo de Sofia, Alberto Knox
105 rejeita fortemente esta premissa, claramente enganosa. No nosso mundo, Brasil, esta forma de compreender as Letras e seus usos, agrada principalmente aos poetas, aos produtores de literatura abstrata, literatura política, aos egoístas, aos inseguros, aos mentirosos e aos políticos, que usam as Letras sempre engatilhadas em armadilhas arquitetadas com tramas linguísticas. Todos eles, cada um seu modo, buscam enganar, entorpecer, encobrir, desinformar, dominar, seduzir, roubar e matar. Os poetas acreditam que expressões imprecisas, arranjos gramaticais sincréticos e figuras de linguagem fantasiosas são formas de dar vazão aos sentimentos aprisionados na alma humana, os produtores de literatura abstrata, a exemplo dos romancistas, brincam com a imaginação, os hormônios e as carências de públicos altamente específicos, sempre em busca mercado e reconhecimento, já os egoístas retiram das Letras todos os sentidos que não se adequem a sua autoimagem e a forma que gostam de ver o mundo, no fim das constas mesmo todas as Letras juntas são incapazes de transcender ao “eu” do egoísta. Em todos estes casos, a ideia de que a linguagem escrita é algo como “uma zona livre” esconde uma persistente negação do fato de que o manuseio das Letras demanda, para todos, sérios deveres e responsabilidades. Os irresponsáveis comumente preferem o muro de Humpty Dumpty. Em aberto diagnóstico crítico, as academias de Letras brasileiras perderam, em absoluto, suas relevâncias quando se sentaram no muro ao lado de Humpty Dumpty. Quando aceitei com alegria o convite para ingressar na Academia de Letras da cidade de Corinto, no Estado de Minas Gerais, comuniquei de forma clara e induvidosa, que aquela academia estaria recebendo um membro devoto das Letras advindas do Mundo de Sofia, não do Mundo de Alice e que não reconhecia nas produções poéticas deste tempo, qualquer valor civilizatório para o Brasil que temos e para o Brasil que queremos. Sendo claro, portanto, resgatei da profundíssima obra literária Alice Através do Espelho a figura do ovo Humpty Dumpty como forma de ilustrar minha crítica e inconformidade em relação ao modo como as Letras vem sendo tratada no Brasil do século XIX e XX. Este tratamento despendido às Letras, irresponsável e livre de sentido, se disseminou por todos os cantos, nas produções jornalísticas, literárias, artísticas, legislativas, judiciais, jurídicas e políticas.
106 Sem um forte senso de responsabilidade e vinculação aos referentes, as Letras se tornam todas desnecessárias e prejudiciais, mais silenciando do que comunicando, mais apagando do que ascendendo. Todos nós vivemos em meio a esta tensão criada pela dualidade potencial das Letras, entre a sua virtude e a sua maldição. Isso porque o muro no qual Humpty Dumpty se equilibra é também, na verdade, o muro da alma humana, e suas risadas irônicas continuarão sendo eternamente ouvidas sempre que um homem manipular as Letras como meio de enganar ou entorpecer um semelhante seu. As letras maquiadas demais merecem a desconfiança, geralmente são belas por fora e mortas por dentro. O mal que elas podem causar são imensuráveis. “Afinal, o fato de o mar aparentar calma e tranquilidade em sua superfície não quer dizer que não esteja acontecendo nada em suas profundezas.”21 Nosso mundo paralelo, mundo das maravilhas onde milhões e milhões estão vivendo, está no facebook e no instagram, está nas propagandas midiáticas, nas narrativas políticas e nas doutrinas que submetem seus consumidores às suas fantasias, maravilhas e também aos seus perdimentos e a sua infantilidade e ignorância eternas. Tudo isso garantido pelo uso prostituído das Letras. Por outro lado, no Mundo de Sofia as Letras se mantem na posição onde seu valor inestimável e sua relevância única permanecem preservados: subordinadas aos seus correspondentes Referentes. As Letras no Mundo de Sofia seguem como fieis admiradoras de tudo que é real, verdadeiro e justo, servindo com segurança ao seu propósito de comunicar, orientar, informar, ensinar, educar, explicar, tornar compreensível, produzir entendimento, produzir consenso, convencer sobre a paz, sobre o bem na conciliação, sobre a misericórdia, sobre a sabedoria, sobre a natureza em sua multiforma química, biológica e física, sobre a razão e sobre as inteligências acumuladas durante nossa história neste planeta, sobre o valor do próximo na compreensão de quem nós somos, sobre a supremacia de Deus e da matemática sobre todos os povos e, principalmente, sobre o amor ao próximo. No Mundo de Sofia é assim, e isso é tudo!
107 “-É como se a gente estivesse na pontinha dos finos pelos do coelho branco. -Fico pensando se não há alguém lá longe, na imensidão do ano-luz. -O bote se soltou!”22 Corinto/Nova Lima, Minas Gerais, verão de 2023 21 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 335. 22 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 547.
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109 Nascido em Corinto, em 1956, onde frequentou o Grupo Escolar Desembargador Canedo e o Colégio Cristo Rei, tendo sido aluno de importantes professores que lhe marcaram a formação, como Eulina de Andrade Ferreira, Altemir dos Santos, Joaquim Vieira Machado, Pérola Soares Gandra, Maria Izabel Machado Leal, entre outros. Mudou-se para Belo Horizonte em 1973, continuando os estudos no Colégio Champagnat. Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1980), fez Mestrado em Educação Tecnológica (CEFET/Minas) e Doutorado em Análise da Informação Espacial (UNESP/Rio Claro-SP). Fez carreira docente na UFMG, tendo atuado nas áreas de graduação e pós-graduação, pesquisa, extensão e administração acadêmica. Foi Diretor da Escola de Arquitetura/UFMG, integrando também diversos órgãos da administração superior da Universidade. Aposentado em 2012, reabriu seu escritório de Arquitetura e Urbanismo em Belo Horizonte, onde atua nas áreas de projeto e construção de edifícios, planejamento urbano, paisagismo, patrimônio cultural e meio ambiente. Foi conselheiro titular do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de MG e integra ONGs e instituições ligadas ao meio ambiente e à fi lantropia, atuando na causa da preservação ambiental e da melhoria das condições de vida das pessoas (e das crianças, em particular, em situação de vulnerabilidade social). Além de publicações técnicas e científi cas, dedica-se também às letras, tendo na poesia seu principal interesse. JOSÉ EUSTÁQUIO MACHADO DE PAIVA sócio Efetivo Cadeira nº. 18 patrono: Raulino Floresta Magalhães
110 I Apresento-me concorrente da vida disposto a viver, ao menos, um momento fugaz. Apresento-me Inconfidente, qual Prometeu acorrentado pela minha herança. (esta se constitui na questão mais solene que trato desde o nascimento). ................................ Chego, como quem retorna forasteiro de lugar sem terra deambulando velhas rotas embrenhando sertões antanhos por onde, na terra gasta, cedeu a mata o lugar à capoeira. Faço da minha vida um caminho que percorro entre montanhas. Meus pés palmilham a pedra áspera E meu olhar repousa na imensidão agreste do cerrado. ................................ Nasci cerrado adentro filho do pequizeiro pelos dias ensolarados de outubro: sou libriano. Nasci serrado na geografia e na identidade, pois que, de um lado, pai, sou das Minas e do outro, mãe, de Montes Claros. Nasci e me criei em Corinto algo assim como o meio do caminho. Conservo, entretanto, minha alma mineira melancólica e depressiva, temperada pelo perfil silencioso
111 amplo do horizonte sertanejo. .................................................... Trago em mim, bem cá dentro, o fascínio pelas gretas misteriosas e pela instabilidade das cumeadas eriçadas das cordilheiras - Sou o claro-escuro da montanha ao sol do fim da tarde. Trago também entranhado o cheiro das éguas e da urina misturada à poeira de bosta de boi que o gado no curral levanta ao entardecer. Sou o milagre redivivo da cagaiteira ressequida que desabrocha - alvi-noiva antecedendo às chuvas. ............................ Do meu pai herdei o nome e o profundo gozo pelo mistério que encarna os homens das Minas. Da minha mãe, o gládio das mulheres atrevidas meio-homens, dos Gerais. Sou, por um lado, dura canga minerária escorreita que destila pela fenda água cristalina; por outro, sou água límpida do córrego calcário pesada e cáustica, amargamente salobra. .......................... Penso que, daí, minha inquietude essa profunda insatisfação por cada momento que vivo. II Não sou formado em literatura. Não sou versado em poesia. Não conheço muitos poetas. Conheço, aliás, bem poucos, e, ainda assim, muito pouco deles e de sua poesia. Entretanto, sinto e percebo a vida
112 pelo fundo da minha alma, pelos corredores da minha sensibilidade. Essa corrente que passa Pelo vazio ardente Em que forjo o verso Que canto. Sou o reverso do tempo, A afirmação da existência: O passo que segue reconstruindo o momento. - Trilha de transcendência ou sublime realidade? III Sou o que resta ao fim de cada jornada e após abandonar todos os ganhos. Pois que nesse caminhar não há perdas e os ganhos sou eu que determino. O resto é muito mais que tudo que ganhei e está para muito além de qualquer palavra. IV Quando brinco com minha dor faço poesia e me torno algo mais humano e tolerante. Quando brinco com minha dor trato a bálsamo as feridas que durante a vida recolhi. Quando brinco com minha dor acaricio minha alma convalescente comovida.
113 V À maçã, prefiro a manga com aquele sabor travoso e adocicado, que trai em mim a marca forte de infante retraído. Ao pinheiro, prefiro a arnica retorcida perfilando as estrias da pedra escura abrasada ao sol abrigando ao seu pé a Laelia achameada sinabarina. VI Gosto dos sinais de trânsito quando me param: assim posso escrever poesia e me descobrir vivendo o ritmo subjacente ao caos urbano. VII Detesto essa eficiência sincronizada dos sinais de trânsito que não me deixa parar e escrever poesia me colocando, assim, na contramão da vida. VIII Quem me dirige a vida: se sou eu, ou o ritmo frenético
114 morto-vivo em que estou? Não sei. Procuro nesse invisível governo separar o indivisível (?) sujeito, eu, do lugar. Tento aí traçar linha divisa para preservar esta outra parte cara de ser - anjo (?) roto, resfolegado. O trânsito, porém, não para. Flui eficientemente cumprindo as metas já traçadas para ser o que é para fazer de nós o que somos sem mais alternativa. Resta-me apenas o acostamento para me colocar marginal e escrever poesia, me reintegrando, assim, ao fluxo da vida. IX Vi Lúcia pela rua em meio ao trânsito tumultuoso. Preferia vê-la atravessando um campo de sempre-vivas esvoaçante de borboletas e abelhas. X Para chegar à minha terra pelo caminho mais lindo toma-se a estrada rude que sobe quase caindo
115 pelas altas serranias recortadas de pedreiras em meio à pradaria do Espinhaço mineiro. Para chegar à minha terra pelo caminho mais rico só passando nas gargantas por onde descem sombrios riachos tumultuosos que deságuam noutros rios e que formam lá embaixo o rio que é o meu rio. Para chegar à minha terra pelo caminho mais farto segue-se por aquelas rotas donde antanho conformaram aqueles arraiais modorrentos entrecortados de causos casas velhas coloridas fantasmas já sossegados. Para chegar à minha terra pelo caminho mais raro desce-se as escarpas fundas por trilhas resfolegadas daí atingindo em cheio bem abaixo, o amplo vale permeado de verdura que o meu rio corre em meio. Para chegar à minha terra melhor o caminho mais longo: por ele acontece a vida que vai se pronunciando a cada passo da trilha. Assim chego à minha terra que é onde eu me recrio, onde minha alma, em segredo
116 se refaz das ingresias e adormece em paz. XI Na minha terra não se vê o casario só mangueiras emoldurando a paisagem rasgada ao meio pela ferrovia fragmentada em dois pedaços. Na minha terra não se veem árvores nas ruas só muros altos recortando o espaço realçando a aridez de vidas isoladas emurchecidas. Na minha terra não se vê a alegria só aquele riso reticente, emudecido consolidado na cautela amedrontada do julgamento alheio. Da minha terra tenho uma parte oculta que me nego a ver para não macular a imagem dela minha romantizada que insisto em preservar para esconder minha tristeza. XII Saímos, João e eu, a buscar o mundo esquecido nos caminhos empoeirados de Minas.
117 Saímos, João e eu, a recuperar o mundo sufocado nos caminhos empoeirados de nossas almas. Saímos, cada um de nós, a refazer pelos caminhos empoeirados a poesia que, dia a dia, longe da poeira, se asfixia. XIII Tão cedo me apaixonei, criança ainda. Meu amor primeiro, acobertado nas mangueiras densas que sombreavam a rua. ... o beijo único, marcado pela vida inteira. Meu amor primeiro, logo perdido. Deixou-me o meu amor, não mais quis ter-me. Rasgou-me o sofrimento sangrando-me os olhos ferido o meu ser rompendo-me a inocência. Meu amor primeiro abriu-me à vida e, fugindo, largou-me à sorte própria inundado por dor e abandono. Esvaiu-se-me até mesmo a esperança que se foi com o amor que me fugia. O meu amor se foi, não mais existe. Só existe aqui, nessa lembrança, transbordando minha dor em poesia. XIV Percorri, amor, os altos morros da minha serra (desviando os pés, como sempre faço, das orquídeas floridas
118 e dos liquens que crescem junto às arnicas) para chegar até o cimo e descerrar o céu azul, o vale amplo e deixar o meu amor por ti inundar todo o espaço que nos separa. (ansiando esvaziar-me e ficar mais leve e menos dolorido). Porém, enchi-me, ainda mais, do desejo de contigo estar de afagar no meu peito teu rosto inconsolado de aplacar nos meus lábios teu murmúrio incerto de afundar-me no teu corpo esse meu vazio e contigo dividir tanta ternura. XV Disseste que pensaste em mim naquele dia e isso inflamou-me o peito, sequioso. Afogueou-me a paixão e ficou-me a alma infinitamente desejosa. Só pude, no momento, agradecer-te. O que não te disse, entretanto, é que, o tempo todo, só penso em ti. XVI Para e mira o vazio pois é aí que eu habito. Moro no descanso do meu lamento. Ouve o som delirante do silêncio e encontrarás minha voz chamando por ti em cada um momento a cada novo dia. Busca pelo nada - melhor, não me busques! Espera... pois que eu chego a ti devagarinho e me entrelaço contigo
119 revisitando teu corpo reacendendo o fogo ardente dessa nossa busca. XVII Não digas nada pois as palavras são pobres para falar do infinito e do eterno. De nada valem para dizer do que somos do que vivemos do que sentimos ou pelo que chamamos. As palavras são pobres ante o silêncio (profundo) que ouvimos e maculam a beleza dessa outra estética divina. XVIII Em Rio Claro falta-me um corguinho aonde mirar meu caboclo ingênuo. XIX MIRIAM Na minha casa tem uma pérola escondidinha numa concha.
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121 Eu sou Maria Wanda Mascarenhas, fi lha de Athayde Dorothéo Mascarenhas e Nair Lisboa Mascarenhas. Nasci na Santa Casa de Caridade em Diamantina no dia 7 de junho de 1944. Meu nome, sugerido por uma freira, seria Heloísa de Marilac Mascarenhas. Entretanto, meu pai ao registrar-me optou por Maria Wanda Mascarenhas. Cresci em Rodeador num ambiente calmo, tranquilo. Nossa casa simples era rodeada de árvores frutíferas e era debaixo de mangueiras e laranjeiras onde inventávamos mil brincadeiras. Nossos pais sempre se esforçaram para que participássemos de quase todos os eventos da comunidade. Portanto, fui criada obedecendo aos princípios religiosos sendo batizada numa pequena capela. Pois ainda não existia a igreja Imaculada Conceição. Meus padrinhos foram Nilton de Moura Matos e Astrogilda Ângelo da Silva. Minha madrinha de crisma foi minha primeira professora, Maria Elza Teixeira de Oliveira. Meus avós paternos foram Manoel Domingues e Raimunda Conegundes Mascarenhas. Meus avós maternos foram Antônio Lisboa e Francisca Alves Lisboa. Meus bisavós paternos foram Francisco Xavier Vasco e Delfi na Cândida Mascarenhas. Meus bisavós maternos foram Manoel Ilário Alves e Virgínia Eugênia Alves. MARIA WANDA MASCARENHAS FRAGA sócia Efetiva Cadeira nº. 9 patrono: Francisco Cardoso da Silva
122 ESCOLARIDADE Curso Primário: 1º ao 4º ano na EE Fortunata Vieira Ramos, Rodeador. Tenho gratas recordações das minhas três primeiras professoras, Maria Argentina da Silva, Maria Luiza de Oliveira e Maria Elza Teixeira de Oliveira. Curso de Admissão ao ginásio: Instituto Antônio Vieira Machado, Corinto. Dirigido por dona Arlete Vieira Machado Rocha. Ensino Fundamental: 5ª a 8ª série no Colégio Dom Serafim. Ensino Médio: Curso de Magistério no Colégio Dom Serafim. Participei de vários cursinhos de aperfeiçoamento do Ensino Fundamental. Lecionei em Rodeador na EE Fortunata Vieira Ramos. Em Corinto, lecionei da EE Major Clarindo de Paiva, EE Antônio Vieira Machado e EE Desembargador Canedo, onde me aposentei. Atualmente, estou cursando Licenciatura em Letras Português/Inglês pela UNIFRAN – Universidade de Franca. Sou casada com João Antônio Pereira Fraga, ferroviário aposentado. Foi funcionário do antigo Banco da Lavoura em Montes Claros, Secretário da Associação dos Agentes da Rede Ferroviária, Agente de telégrafo, tendo ministrado aulas para os funcionários novatos. Finalmente, foi Chefe da Estação Ferroviária de Corinto. É membro da Maçonaria Fraternidade Corintiana, onde é querido e respeitado. Tenho três filhos, os quais considero bênção de Deus. Fabrício Andrey Mascarenhas Fraga, pós-graduado em língua Inglesa pela UnigranRio – Duque de Caxias – Rio de Janeiro. Graduado em Letras Português/Inglês pela Facic de Curvelo. Atualmente trabalha na EE Professora Ayna Torres em Diamantina, onde leciona Inglês. Soraia Cristine Mascarenhas Fraga, pós-graduada em Gestão de Pessoas, graduada em Matemática pela FACIC, graduada em Pedagogia pela UNIFRAN. Atualmente faz o curso de Assistência Social. Ana Paula Mascarenhas Fraga, pós-graduada em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Gama Filho, graduada em Fisioterapia pelo Uni-BH. Atualmente cursando Direito pela Faculdade Arquidiocesana de Curvelo. Tenho dois netos que chegaram para encher nossa vida de felicidade. João Augusto Maia Mascarenhas Fraga. Estudante do 3º ano do Ensino Médio no Colégio Diamantinense. É um adolescente discreto, educado, inteligente e de um coração muito bondoso. Maria Vitoria Maia Mascarenhas Fraga, estudante do 4º ano do Ensino Fundamental no Colégio Diamantinense. É uma garotinha alegre, inteligente. Sapequinha como ela só. Vive a nos surpreender com suas criações. Ama pintar e desenhar. Agradeço ao meu filho Fabricio e à minha nora Gisele por nos dar estes presentes, benção de Deus. MEUS IRMÃOS Geralda do Amparo Mascarenhas Machado, mãe de Nivaldo, Geraldo, Jeferson (in memoriam), e Uenderson. Maria Jose Mascarenhas Silva, mãe de João Carlos, Monica, Livia Vania. Delfina da Consolação Mascarenhas Campos, mãe de Daniel e Daniela. Neusa da Graças Mascarenhas Reis, mãe de Rafael, Tiago e Camila. Eliana Maria Mascarenhas Maia, mãe de Marfran, Patrick e Liliane. Wilson Adão Mascarenhas, pais de Cristiano, Frederico, Ana Luiza e Guilherme. Adilson Antonio Mascarenhas, pai de Madelon e Cleston. Gilson de Fátima Mascarenhas (in memoriam), pai de Vitor e Celton. Maria Aparecida Mascarenhas Souza, mãe de Felipe e Mariana. Manoel Carlos Mascarenhas (in memoriam), pai de Rodrigo e Roseana. Adalton Luis Mascarenhas, pai de Noely, Nathalia, Gustavo e Artur. Erisson Cicero Mascarenhas, pai de Altair Atayde. Raimunda Doroteia Mascarenhas Pinheiro, mãe de João Mateus e Laise.
123 PESSOAS MEMORÁVEIS CHIQUINHO DO BREJO Francisco Pedro Mascarenhas era o seu verdadeiro nome. Mas quem não conheceu o senhor Chiquinho do Brejo? O seu apelido veio por seus pais terem sido proprietários da Fazenda do Brejo. Padrinho Chiquinho, como nós o chamávamos, foi um homem que viveu além do seu tempo. Farmacêutico prático, sua instrução veio dos livros. Era calmo, bom, instruído e generoso. Tio do meu pai, foi um verdadeiro pai para ele. Foi ele quem o ensinou as primeiras letras e cuidou da sua educação, fazendo dele um homem honrado. Nós o chamávamos de Padrinho Chiquinho, mas na realidade, era como nosso avô, nosso pai. Tinha o hábito de ir à estação ferroviária de manhã e à tarde, onde recebia o jornal “Estrela Polar” de Diamantina e várias caixas contendo as substâncias que eram manipuladas em grandes almofarizes de porcelana branca. Aquelas substâncias, depois de manipuladas, se transformavam em um pó branco que era pesado em miligramas nas balancinhas de todos os tamanhos. Era muito dedicado a tudo que fazia. Na verdade, era um farmacêutico prático que se debruçava em extensos livros para adquirir mais conhecimento. Sua casa, situada à rua que leva seu nome, rua Francisco Pedro Mascarenhas, era como se fosse hotel, hospital, igreja. A primeira missa celebrada em Rodeador foi em sua casa. E até casamentos foram feitos lá. Sua esposa, Maria Medeiros Mascarenhas, a nossa querida dindinha Maria recebia os padres que iam de Diamantina e também os freis franciscanos que iam de Corinto. Padrinho era uma pessoa muito querida, seu círculo de amizade se estendia pela redondeza e cidades vizinhas. Tinha vários amigos em Diamantina, Sr. Carlos Diniz, Família Couto, Sr. Sampaio e Dr. Laumelindo, dentre outros. O Dr. Laumelindo, que era médico, sempre vinha à sua casa e vendo o quarto de manipulação e as técnicas usadas por ele, dizia: - pode continuar a cuidar dos seus pacientes. Eles estão em boas mãos. Sua casa era grande, sem ostentação. Porém, confortável. Padrinho construiu várias casinhas contíguas à sua, onde moravam várias pessoas. Em uma delas, morava um senhor muito sério, discreto, de poucas palavras. Tinha a profissão de “guarda-livros”. Eu não sabia o que fazia o guarda-livros, que atualmente, exerce a função de contador ou consultor.
124 O Sr. Nelson, como apareceu, um dia também se foi. Lembro-me também do Dr. Rubens, que era dentista. Esse montou seu gabinete num cômodo da casa de Padrinho. Padrinho gostava de nos surpreender com alguma coisa desconhecida por nós. Certo dia, à tardinha, quando o trem subia as montanhas rumo a Diamantina, Padrinho chega em casa acompanhado de um rapaz que carregava uma enorme caixa. Nós ficamos ansiosos para ver o que continha dentro daquela caixa. Padrinho, pacientemente, desfez o embrulho e retirou de dentro um aparelho nunca visto por nós. Possuía uma corneta em forma de uma corola de lírio. Perguntamos o que era. Padrinho sorrindo disse: - isto é um gramofone. Eu pensei...para que serve o gramofone? Padrinho então nos disse: - querem ver como ele funciona? Foi então que ele colocou um disco e pegando uma manivela fez tocar o gramofone. Ainda me lembro da primeira música que ouvimos: “Es a minha linda curitibana Es da cor da fauna Es tão formosa igual à rosa Ainda em botão” Bem, se fosse descrever a vida de Padrinho, preencheria várias páginas. Assim, encerro, dizendo: - Francisco Pedro Mascarenhas, homem de caráter incontestável, nos deixou um legado de sabedoria, honradez, simplicidade e abnegação. Seu corpo físico descansou no dia 14 de fevereiro de 1975. Sendo sepultado no Cemitério das Palmeiras, em Curvelo – Minas Gerais. Sua esposa, Maria Medeiros Mascarenhas, seus filhos Eduardo Medeiros Mascarenhas e Carlos José Medeiros Mascarenhas, seus netos Flávia Fernanda Pinto Mascarenhas, Juliana Pinto Mascarenhas, Sérgio Marley Pinto Mascarenhas, Fabiane Pinto Mascarenhas, Carlos José Soares Mascarenhas, Ricardo Soares Mascarenhas, Vagner Roberto Soares Mascarenhas, suas noras Luzia Maria Pinto Mascarenhas e Zenilde Soares Mascarenhas. Padrinho, Sei que está em outra esfera do universo, além, muito além, onde não temos condições de avaliar. Porém, sei que está num lugar iluminado, onde só espíritos evoluídos estão.
125 OS ANJOS DA TERRA Os anjos celestiais são seres iluminados que vivem a louvar o Criador com hinos inefáveis que são ouvidos somente na esfera celestial. Eles, quando invocados por nós, descem à Terra para nos livrar dos perigos e nos proteger. Entretanto, na Terra, também existem anjos. Porque Deus, que é todo poder e bondade, envia à Terra pessoas que são verdadeiros anjos que atuam no meio de nós espalhando o bem através de seus atos. Eu conheci um desses anjos, e afirmo com toda convicção que ele abriu caminhos para que eu descobrisse a minha tendência profissional Sua intenção em minha vida se repercute positivamente até hoje. Esse anjo foi a minha primeira professora e madrinha de crisma. Seu nome é Maria Elza Teixeira de Oliveira. A ela, o meu profundo sentimento de gratidão. Obrigada, madrinha Elza. MEU PAI Athayde Dorothéo Mascarenhas, homem forte, mulato, robusto, possuía uma força incomum. Empregado na Estrada de Ferro Central do Brasil, muito dedicado ao trabalho, ocupava um escritório perto da estação onde fazia a escrita registrando os espaços da linha férrea que precisavam ser conservados. Os engenheiros ferroviários tinham por ele grande apresso. Uma das pessoas que o valorizou aumentando o seu nível foi o Dr. Lindolfo Mansur, o criador da passarela que liga a antiga rua dos hotéis com a rua Dr. Alvarenga. Meu pai era muito dedicado à família e ao trabalho Sempre se esforçava para nos dar de tudo dentro de suas limitações financeiras. Orgulhava-se em ver seus filhos concluindo os estudos. Durante a nossa infância, quando éramos convidadas para participar de eventos na comunidade, minha mãe ponderava: - tudo é quando pode. Fica para outra vez. Da próxima, vocês participarão. Ele, entretanto, entrava na conversa dando um jeitinho para que pudéssemos participar. Assim fomos criadas sempre participando dos eventos da comunidade. Que alegria ele sentia ao nos ver com aqueles vestidos cheios de rendas e babados subindo ao palco de apresentações de peças teatrais lá na pensão do meu padrinho Dionísio Ângelo, pai de Beatriz.
126 Como eu estava dizendo, meu pai era muito responsável com o trabalho. Aos sábados ele subia a linha férrea para observar onde os trilhos precisavam de reformas. Às vezes nos surpreendia com frutos silvestres que colhia ao longo da estrada. Fazia questão que nossa mãe providenciasse alguma comemoração no aniversário de cada filha. Nós formávamos um grupo só de irmãs antes do nascimento de nossos irmãos. Então, cada vez que alguma de nós estivesse fazendo aniversário mãe preparava docinhos em pedaços coloridos com anilina, doce de mamão e laranja. O licor era só para os adultos que eram os nossos padrinhos. A gente ficava feliz ao ver nossa mãe preparando tudo. Quanta saudades do meu pai e da minha mãe. MINHA MÃE Nair Lisboa Mascarenhas, filha de Antônio Lisboa e Francisca Alves Lisboa. Casada com Atayde Dorotheo Mascarenhas. Apesar de haver casado muito nova, com apenas 16 anos, sempre foi uma esposa dedicada, zelosa, mãe afetuosa e protetora. Avó carinhosa e dona de casa exemplar. Mulher forte, trabalhadora e religiosa. Criou todos nós rezando o terço todos os dias e aos sábados, o ofício a Nossa Senhora. Minha mãe era um ser humano fantástico. Dedicava-se a ajudar ao próximo com grande disponibilidade e o fazia com amor se sentindo recompensada em praticar o bem. As pessoas sentiam por ela muito respeito e admiração. Muitas vezes era chamada para dar assistência religiosa aos doentes no último momento de vida. Podia ser altas horas, que ela saía levando terço e vela. Possuía vários dons artísticos. Costurava, bordava à máquina com perfeição o bordado richelieu e outras formas de bordado. Quando participávamos de coroações era ela que confeccionava nossas asas e coroas. Ainda trago na lembrança como era lindo o seu trabalho. Minha mãe era discreta, humilde e bondosa. Agradeço a Deus pela mãe que Ele nos deu.
127 DOIS OLHARES O meu olhar contempla o olhar da noite Deslumbre calmo de um tíbio luar São dois olhares que sempre se cruzam O olhar da noite e o meu olhar Me apaixono pela noite calma Que me inspira sempre a versejar Olhando a esmo pelo infinito Momento raro que quero eternizar Meus olhos brilham com o clarão da lua Que as estrelas ajudam a alumiar Qual dos olhares é o mais brilhante? O olhar da noite ou o meu olhar? Quisera eu que o meu olhar pudesse O universo inteiro poder iluminar E nas noites de céu enegrecido Aparecer e a Terra deslumbrar Queria abraçar a noite clara Guardá-la só prá mim escondidinha E quando a névoa envolver a Terra Deixá-la aparecer só por um pouquinho NÓS SOMOS UM Eu tenho muito de você Você tem um pouco de mim Quando eu vim de lá Tinha cheiro de mato Eu era grão de areia, Células de folhas Pedaços de flores E você gostava do cheiro da natureza Que eu trazia em mim
128 Eu tenho muito de você Você tem um pouco de mim Quando eu vim de lá Trazia sons de músicas de noites enluaradas Com o céu cheinho de estrelas Você sons de músicas clássicas E então passei a gostar delas também Você falava em tenores e sopranos Eu de Cascatinha e Inhana Veja o quanto eu tenho de você Temos um filho com voz de tenor E duas filhas com voz de soprano Eu tenho muito de você Você um pouquinho de mim MEU SONHO COLORIDO Enxuguei as lágrimas, levantei minha cabeça e saí Eu corria, corria atrás do meu sonho A chuva e o vento fustigavam os meus cabelos Mas eu determinada corri Eu o sentia bem pertinho Estendia a mão para alcançá-lo Mas ele fugia de mim Mesmo assim continuei a segui-lo O meu sonho era tão lindo Tinha as cores do arco-íris Eu o via voando tocado pelo vento Ele brilhava em meio a nevasca Que impedia meus olhos de o distinguir
129 De repente o meu sonho se transformou Virou uma grande bola colorida levada pelo vento Então eu corri, corri tanto! Que o vi despencar-se no abismo da minha imaginação Tentei empurrar o vento Pra trazê-lo de volta pra mim Mas foi em vão Via de longe meu sonho colorido Ele rolava entre flores Flores de todas as cores Como era colorido, eu o perdi no emaranhado de flores Despertei, abri os olhos e olhei ao redor Estava em meu quarto Era apenas um sonho POEMA PARA MARIA VICTÓRIA Tu és tão bela menina! E tens perfume de flor Tua boca vermelha e pequena Transmite saúde e vigor Tens ares de princesinha Demonstram que és sábia menina Quando Deus te criou Ele estava sonhando com as flores E é por isso que és esse botão de rosa Que ao sorrir nos encanta Maria Victória, enchestes nossa vida De imensa felicidade Obrigada minha pequena Sonho almejado e concretizado Tu és nosso sonho de amor
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131 DESVELo DuPLo Constância, foi assim que a nomeei quando descobri que mora na periferia de uma cidade de médio porte, num quartículo ora branqueado pela lua, ora iluminado pelo sol. Vive feito ave de arribação: mora lá, mas é no meio das gentes que anda, vive, observa e ajuda a quem ela vê que necessita. Marilene Barbosa dos Santos Venuto, Corintiana. Mestre em Ciências da Educação (UPAP –ASSUNÇÃO). Licenciatura Plena em Letras (PUC-MINAS). Pós-graduada em: O Processo do Ensino Aprendizagem em Língua Portuguesa (Faculdade de Educação São Luís); Docência do Ensino Superior (FUNORTE); Coordenação Pedagógica (FUNORTE); Supervisão Pedagógica (FUNORTE); Aperfeiçoamento em Educação em Direitos Humanos Fundamentais (UFMG); Membro Fundador da ACL (Academia Corintiana de Letras); Professora de Língua Portuguesa e Produção de Texto. MARILENE BARBOSA DOS SANTOS VENUTO sócia Fundadora Cadeira nº. 2 patrono: Joel Ayres Bezerra
132 Parece que o hábito de vivenciar as dores alheias, tomando-as para si e tentando minorá-las, suga-lhe os dias que seriam enfadonhos se assim não fossem: servindo ao próximo. Outro dia, como de costume andava, quando se deparou com um quadro que, ao mesmo tempo que assustou-a, fê-la estremecer de contentamento. Saiu cedo do seu “apart hotel” e no meio do caminho encontrou uma pérola. Era uma senhora que parecia ter mais de cinco arrobas de idade que no penúltimo degrau da escadaria de uma igreja, tentava colocar em pé um rapaz raquítico que teimava em ficar deitado, após uma queda. Essa judiciosa observação foi feita por mim. Observou que apesar das feridas que sangravam, ele estava bem. Então, cravou-lhe as mãos nos braços, as quais não escorregavam pelo suor que detinham, porque a aspereza das mesmas impedia que isso acontecesse. Pude perceber que Constância, nome que lhe dera após o que vivenciei, nem pestanejou. Atravessou o adro da Igreja e, cingindo-lhe a cintura com os braços, levantou o rapaz num minuto. Arrumou-lhe as calças no lugar, fechou-lhe a camisa e disse: - Vamos? Não é que o esquálido a obedeceu? Seguiu-a em silêncio, titubeante, mediante os olhos assustados da senhora de cinco arrobas de idade e dos meus que observavam a cena. Chegados ao seu “apart-hotel”, vi, através da janela que ela abrira que Constância curou-lhe as feridas, deitando-lhes água, sal e vinagre e alimentou-o e à senhora com um líquido que considerei quente, pela fumaça que subia da caneca azul que ela servira. Em seguida, ouvi a voz firme de Constância aconselhando o rapaz a obedecer a mãe, que já era idosa sem muita força para superar infortúnios e ainda, que evitasse bebida alcoólica pois é uma droga que destrói a vida. Sugeriu que tratasse com desvelo aquela que lhe dera a vida e que naquela situação, cuidava-lhe da vida. O esquálido a ouviu com olhos arregalados e explicou, com muita dificuldade, que iria atendê-la sim porque sentira importante: duas senhoras desconhecidas não vacilaram em ajudá-la a colocar-se em pé. ACORDO DE CAVALHEIROS O silêncio da madrugada nos dá liberdade para perceber os sons mais sutis. Nesse instante é possível escutar a voz das coisas; é possível compreender os mais sérios, raros, e estranhos diálogos.
133 A ausência, do bulício das ruas, da zoeira das pessoas e do rumor dos veículos deixa-nos apreender e valorizar o diálogo das árvores, a conversa da agulha com a linha e até a voz do coração. Foi num destes momentos fluidos e tênues que tive a oportunidade de presenciar um verdadeiro acordo entre cavalheiros. Pude ouvir, de importantes órgãos do corpo humano, revelações fantásticas. E lá estavam a conversar: - Bom dia, Sr. Prudente Seguro! - Bom dia, Sr. Rinovaldo! - Dormiu bem? - Mais ou menos. Esta noite estive pensando em como a Engenharia Genética tem realizado proezas, e, enquanto a Medicina tem avançado. Veja bem: _ sou a bomba humana, órgão importantíssimo e me sinto atônito com as inúmeras experiências a que a Ciência me tem submetido - Ora, ora, Sr. Prudente! Não posso vê-lo, entretanto gostaria de que se autodescrevesse para conhecê-lo melhor. - Claro! Eu sou o coração: órgão muscular oco, com a forma de um cone truncado, do tamanho aproximado do punho de cada indivíduo. Você pode ter urna ideia, agora? - Sim, mas... qual é a sua função? - Minha função e bombear o sangue para todo o corpo humano, esta casa que nos abriga. Com tantos avanços, posso ser transportado, de urna casa sem vida cerebral para outra cuja vida depende de mim, com sucesso. - É Prudente Seguro, o Sr. está seguro, mas eu também tenho história. Eu não, nós porque somos dois, e de suma importância para os seres. - Não consigo imaginar sua feição, Sr. Rinovaldo! Como será? - Somos os rins: dois órgãos em forma de grãos de feijão, de cor vermelho -escura, localizados no abdome, ao lado da coluna vertebral. Nossa função é filtrar o sangue que o Sr. bombeia. É do rim que sai a veia renal, a que conduz sangue para o coração. Trabalho de extrema importância, como pode ver. - Compreendo isso, Rinovaldo! “Eu não sou tão frívolo, tão exterior, quanto se cuida! Há em mim mais que um assombro fisiológico: um prodígio moral. Sou o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal. Vejo, por isso, com os olhos da alma o que não veem os do corpo. Vejo ao longe, vejo na ausência, vejo no universal, e até no infinito, vejo”. Que revelação fantástica, Sr. Prudente! Sinto que é um grande coração e agora, acredito que ‘o coração tem razão que a própria razão desconhece”. Percebo que estamos íntima e visceralmente ligados, até no modo de pensar. Façamos, pois, um acordo para que esta casa que nos abriga seja sempre saudável.
134 - Como, amigo, se isto não depende exclusivamente de nós? O bom funcionamento desta máquina aqui, depende, quase sempre, de uma dieta racional e de uma vida disciplinada. As medidas preventivas contra o Enfarte, o combate ao barbeiro -transmissor da Doença de Chagas- são de responsabilidade do ser humano, exceto A Doença Azul — causada pelo não fechamento do canal que liga as duas aurículas, e que ocorre à criança em fase de gestação. Reparou que não tenho como controlar minhas próprias doenças? - Ah, e eu, agora? Apesar de a Ciência ter evoluído a ponto de criar um aparelho que me substitui, na hemodiálise, existem muitas doenças que me molestam: a Cistite e os Cálculos Renais, por exemplo. - Continuo pensando, Rinovaldo, no quanto e como a Ciência tem evoluído e enquanto ela terá que evoluir ainda para erradicar doenças que outrora teriam sido erradicadas e descobrir fórmulas para combater as incuráveis. Você crê na Ciência, amigo? - Não apenas acredito como, do meu íntimo, faço a maior torcida para que o homem progrida nas suas descobertas. Fico, de bandeira nas mãos, acenando aos que passam, dizendo: _ olha aí, olhe aí! Tome bastante água! Tenha uma alimentação saudável! - É, amigo Rinovaldo, temos de fazer nossa torcida para que estejamos bem. Estou até meio inspirado; sinto vontade de fazer uns versos e transmiti-los aos homens. Quem sabe? As “coisas” do coração os agradam muito. - Tem boa ideia. Faça, pois, seus versos. Coração Sonho De ver Tudo lindo Branco – límpido Muito branco Muito límpido Abnegação! Ilusão De ser De estar De prosperar Tresvario! Inspiração! Paixão Pode crer Crer em Deus Crer na dor Crer no amor Certeza De descobrir De resolver De progredir Emoção!
135 - Parabéns, Coração! Vamos agora selar um pacto, um pacto de cavalheiros: cada um de nós deverá realizar seu trabalho da melhor forma possível. Cada um no seu lugar, deverá reconhecer o valioso trabalho que faz e o também tão valioso trabalho que cada órgão – companheiro desempenha, em cada um dos aparelhos e cuja missão foi designada pelo todo – Poderoso. - Concordo, amigo Rinovaldo! Entretanto, agora, quero aquietar-me um pouco no peito. Até breve, Sr. Rinovaldo! - Até breve, Sr. Prudente Seguro! PRECE DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA Senhor Deus das Criaturas, que promoves a comunicação, dai-nos sabedoria para escolher as palavras com que escrevemos a história de nossas vidas. Que a nossa riqueza não seja um vocabulário farto mas o respeito pela variante linguística do outro. Que o nosso caminho não seja a eloquência fútil mas o diálogo transparente. Que a nossa força não seja a violência mas a palavra que anima, sensibiliza e constrói. Que no nosso caminho não haja exagero de palavras mas a prática de uma interlocução saudável. Sensibilizados pelos recursos expressivos que a Língua Pátria nos oferece, queremos nos comprometer em fazer uma comunicação eficiente, pautada pela coerência e pela coesão. Assim sendo, Senhor Deus da Palavra unge a nossa boca para que, ao invés de filetes pontiagudos, ela jorre amor no coração do educando... Amém
136 DE OUTRO PLANETA Elliot era uma moça diferente: alta, magrela, de olhos meio esbugalhados, cabelos “negros como a asa da graúna”, franja lisa espetadinha e olhar perdido. Era muito calada e vivia sozinha numa casinhola que ficava próxima a um pequeno povoado. Todos os dias, à noitinha, sentava-se – se num tronco de árvore que ficava na porta do casebre para olhar as estrelas. Assim estava na boquinha de uma noite de céu escuro, mas pintado de estrelas, quando ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Apurou os ouvidos e foi ver o que era. Assustou-se! Bem no meio das plantações estava um homenzinho verde coma cabeça em forma de pá. Tremendo, Elliot perguntou: – Quem é você? – O que quer? Aproximando-se dela e tomando-a pela mão, o ser estranho explicou: – Vim te buscar! Elliot, encantada, acompanhou-o e os dois sumiram naquele céu azul, cheio de pontinhos luminosos. COTEJO A flor existe: é o anúncio do fruto. A dor existe: é o choro da alma. O fruto sazonado é doce. A dor envelhecida é brasa. Não existe fruto sem flor, Mas existe em grande quantia, experiência na dor. A flor mudar-se em fruto. É trabalho da natureza. A dor mudar-se em alegria, só cantiga de acalanto.
137 É IMPORTANTE TER OPINIÃO E muito importante ter opinião sobre os diversos assuntos e aprender, para ser sujeito de sua própria história e ser capaz de lutar por suas ideias. A opinião é um modo de ver, de pensar e para emiti-la é necessário ler muito, ouvir muito. Estar bem informado para saber sobre de que se está falando ou escrevendo. Não basta, entretanto, apenas ter opinião. É mister saber justificá-la, defendê-la e apontar sua aplicação. Ter segurança, ter argumentos e provas de que sabe sobre o que está opinando são fatores essenciais para assegurar credibilidade à opinião. Esse gênero de texto, o de opinião, é escrito com o objetivo primordial de manifestar um ponto de vista sobre algum fato ou algum pensamento e apresenta uma tese, isto é, a ideia principal defendida pelo autor. A tese, nada mais é - então, do que o argumento que o autor usa para convencer o leitor ou ouvinte do seu ponto de vista. A Língua Portuguesa dispõe de diversos recursos que marcam o texto de opinião, entre eles os argumentos baseados em dados científicos e os de senso comum. Não existem fórmulas para se escrever um texto de opinião, entretanto deve estar claro o seu interlocutor, ser a favor ou contra o tema apresentado, apresentar os argumentos e a conclusão que, sendo o fechamento, precisa ser coerente com o restante do texto. É também de suma importância nesse gênero textual a forma como as frases são organizadas para defender o ponto de vista do autor, ou seja, a coesão textual. Esse elemento de textualidade consiste no emprego das palavras que ligam as ideias umas às outras, de modo que haja uma sequência lógica de raciocínio. Pode-se concluir que um bom texto de opinião apresenta argumentos claros que a sustentam e, cujo fundamento, convence o leitor ou ouvinte. FRIO, FOGUEIRA E FESTA Mês de junho, começo do frio, tempo bom de fogueiras, canjica e quadrilha. Tempo da celebração cujo ritual anima a vida e alegra o coração. Consideradas como um dos melhores estímulos para a integração das pessoas as Festas Juninas oferecem amplo espaço para troca de informações e experiências de socialização, raízes da cultura brasileira que enriquecem sobremaneira nosso cotidiano.
138 Esse ritual folclórico que nos atrai e seduz perdeu muito do doce e extraordinário encantamento de outrora. As fogueiras imensas que eram acesas nas portas ou nos quintais das casas José Teodoro Maria; Pedro Tolentino de Souza; Alencar Osório da Silva, desapareceram com o tempo. O som das toadas caipiras, dobrado pelo choro da sanfona foi paulatinamente substituído por sons estrídulos que, às vezes ordenam que fique “cada um no seu quadrado”. O cheiro doce do quentão e o paladar cheiroso e quente da canjica acabaram exarados na memória daqueles que costumeiramente sentavam-se ao redor das fogueiras, ou a pulavam; contavam causos ou faziam simpatias para casar; marcavam ou dançavam quadrilha e ou rezavam o terço. As chamas do fogo junino crepitavam e as fagulhas caminhavam rumo ao céu como forma de homenagear aos três santos que eram invocados para atender aos pedidos dos devotos, que muitas vezes assim se manifestavam: “Quem sempre faz Santo Antônio ajuda e traz.” “Terás a amizade de São João Se agires com o coração.” “Boa vida vai ganhar Se em São Pedro confiar.” Tempo bom esse, o de fogueiras, em cuja brasa assavam-se batatas e, no entorno das quais se teciam conversas entremeadas de brincadeiras. Época de alegria essa. Época de que se rememoram tradições culturais que ao longo do tempo foram modificadas e ou esquecidas. SIMPLES HOMENAGEM A NOSSA SENHORA DA ROSA MÍSTICA Nossa Senhora Rosa Mística É a mesma mãe de Deus Pura, Imaculada, Intercessora No céu, nossa advogada e promovedora Na sua primeira aparição Senhora muito bonita e simples vestida Aparentava tristeza profunda Três espadas no coração, encrudescidas.
139 Mostrou o trio de salvação: Oração, expiação e penitência Caminhos da santa ciência Vozes que soam em oblação Espadas transformam – se em rosas Nas cores branca, vermelha e dourada Quando na segunda aparição Solicita para os sacerdotes, oração Criou uma forte devoção mariana E Crença nova para as vocações A reza do terço Ela sugere Para o bem de todas as nações. Apresenta a dinâmica para a graça universal E pede que no dia 8 de dezembro Justamente na oração do meio-dia Seja à Imaculada consagrada As rosas, as vestes e as cores São vivos e puros sinais O capuz da Rosa Mística representa o recolhimento As mãos juntas e o terço, a oração, menos sofrimento. As coisas divinas e espirituais Inspiram uma intensa devoção Coroam o projeto de Deus De sermos sempre irmãos Maria Rosa Mística, um dos títulos de Nossa Senhora Virgem pura e excelsa no céu Padroeira das vocações sacerdotais e religiosas Mãe de Deus e também nossa, gloriosa Saudamos – vos Nossa Senhora Rosa Mística Depositando a vós todo penhor Pedimos copiosas bênçãos para Madre Hidegardis Serva fervorosa, exemplo de dedicação e amor.
140 PATRONO INSIGNE JOEL AYRES BEZERRA Paraibano Prudente Pertinaz Profissional Polido Ponderado Personalidade Pública Pacificador Prócere Prodigioso Peremptório Político Paradigmático Patriota Prefeito Popular Progressista Personalidade Pública PATRONO
141 Max Marcelo Silva de Oliveira nasceu em 29/06/1979. É fi lho de Maria Aparecida Silva de Oliveira e Dimas Gonçalves de Oliveira. Casado com Marlene de Jesus Pinto Oliveira, tem dois fi lhos – Antônio Max Pinto de Oliveira e Arthur Felipe Pinto de Oliveira. Formado em Letras pela Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo é professor nas Escolas Antônio Maldini e Waldemar Araújo ambas dos distritos de Beltrão e Contria. Sua primeira participação literária foi no livro Amor ontem, hoje e sempre da Editora Litteris em 2012, com o poema “A força de um Amor”, ano que ingressa na Academia Corintiana de Letras. Em 2015 foi Orientador do aluno Jhony Heberth que teve a história “Dona Josefa e suas fofocas” publicada no livro As melhores histórias dos projetos de leitura Volume 7 Editora EcoArte. No mesmo ano, participou do livro Florilégio, publicado pelo Centro Gráfi co Artes Gráfi cas. Em 2017 participou com o poema “Hora Comprada” no livro Amor, paixão, loucura também da Editora Litteris e com o poema “Experimente” na Agenda: Livro Diário do Escritor 2017, da mesma editora. Já em 2020, participa da coletânea do livro Enquanto Espero – poesia em tempos difíceis, da Editora Courier Brasil, com a poesia Do Isolamento à Refl exão. E, desde 2020 espera a publicação de seu livro Cartas em branco e MAX MARCELO SILVA DE OLIVEIRA sócio Efetivo Cadeira nº 22 patrono: Mestra Risoleta Lima
142 outros poemas da Editora Quártica Premium. Além de acadêmico, Max está Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística, participa da Liga Católica Jesus, Maria e José e do Terço dos Homens da Igreja Imaculada Conceição de Corinto. Além disso, gosta de tocar acordeon e violão nas horas vagas. Saudades de Corinto Ai que saudades de Corinto! Da época que não volta mais Do trem de passageiros, rodando nestas Minas Gerais Ai que saudades do apito da Rede Ferroviária e de nossos ancestrais Do leiteiro chegando da roça e de nossos Carnavais Ai, que saudades do Armazém do Peg Pag, da venda de Belford e d. Anália Da Drogaria Regina e de todas as vendinhas que hoje não existem mais Festas tradicionais: semana santa, queima dos judas, forró da cidade, dos clubes E de todos os festivais E a fonte luminosa, onde estais? A minha recordação era andar de velotrol por suas vicinais Morava na travessia Canabrava Onde a Maria Fumaça era imagem de que me lembrava Minha vó sentada no alpendre com seu xale nos ombros descansava Daquele lugar, escola profissional, saindo naquela hora avistava Naquele tempo na calçada eu muito pequeno brincava Amarelinha, pegador, peteca, andar de bicicleta, eu tentava Hoje só me restam o cheiro e o gosto das páginas recontadas pela caneta dos poetas, Vó Lili, Tita, Maria Camargo, Seu Aleluia, D. Elza, Volúzia, Seu Redelvim e D. Zarinha, as Aparecidas do meio e da esquina, ai que saudades suas Das pessoas que eram personalidades da minha rua. E da vendinha de Seu Raimundo que ainda continua na vizinhança Não vai se apagar do resto de minha lembrança Comprando balas, chicletes, quando criança Da primeira professora, Tia Ilza, do jardim de infância
143 Hoje me recordo de tudo com extrema confiança De Corinto, Centro das Gerais, a ti meu mais extremo amor que tenho por herança Tempos que não voltam mais do recordar da minha lembrança. Ai que saudades de Corinto! Rio Vermelho Naquele cantinho alegre e sorrateiro Está a cidade de Rio Vermelho Cidade que não se vê tal cena Padroeira Nossa Senhora da Pena Santa das Artes e das Ciências Ali sabe com minúcias das devidas exigências Nossa Senhora do Rosário Lá se vê a beleza de seu Santuário Vizinha da Cidade de Guanhães Um pouquinho distante está a vila Magalhães Saudades eu tenho de lecionar na Escola Afonso Pena, Estrelinha do saber, CESEC: onde vejo tal cena Rio Vermelho não se resume numa só palavra Saudades é o que sinto nesta lavra Da Choperia e do Bar de Arlene Daí vem minha esposa Marlene Rio Vermelho de água tão cristalina Vizinha de Serra Azul, aconchegante e tão pequenina De gente boa, hospitaleira, te rendo louvores por inteiro Da seresta do violão, minha querida Rio Vermelho. Curimataí O silêncio rompe ao término do anoitecer As pessoas todas amigas de você O ar puro ronda todo arraial De beleza singela, pura e imparcial Cavalos à rua a cavalgar Simplicidade de luz sempre a brilhar
144 As árvores, as águas, A fonte de águas quentes Sempre corre através de suas vertentes A cachoeira, o riozinho Das casas bonitas de sapê Talvez a singeleza desta gente Que há de contaminar você Distrito tranquilo da Escolinha Mestra Rosinha Da tranquilidade, da igreja sozinha Lugar de gente boa e bonito tá aí Quem diria que escreveria sobre Curimataí! Teorema da Sintaxe Era um sujeito inexistente, numa Oração sem Sujeito Era um verbo sem transitividade, sem um predicado verbal ou nominal Nem uma Oração Subordinada dependente da principal Nem do tipo daquela reduzida que no final é maior na complexidade Adjuntos? Que adjuntos... Ninguém se interessava por acompanhar este ermitão Ou quem sabe dar um predicativo a um relacionamento sério Complementos... nenhum O objeto não era nem direto ou indireto Não havia objeto que pudesse para completar este verbo sem transitividade Era sim, um vocativo mudo Um aposto que não fazia parte da Oração Um sujeito sem ação Uma Oração Coordenada Assindética, Uma Oração Principal sem a Subordinada Um ninguém sem ter função Sem ter nexo Sem ter sintaxe...
145 Um poema Começo a escrever este poema da cama que está no meu quarto Meu quarto, que está na casa onde moro Casa, que está situada à rua Celestina Andrade, Rua que começa pela Travessia dos Canabrava Esta rua e esta travessia estão situadas em um bairro Este bairro é o Centro da Cidade de Corinto Corinto é uma cidade situada no Centro de Minas Gerais Minas Gerais se encontra na Região Sudeste Sudeste do país – Brasil Brasil é um país da América do Sul, Que está situado no continente Americano Este continente fica no Planeta Terra Que está num sistema solar de oito planetas Este sistema solar está situado numa Galáxia Assim esta Galáxia está no Universo Universo situado na amplitude do vácuo Do vácuo infinito Do infinito da palavra “pequeno” Pequeno da escritura de um poema. Lamúria Sozinho, gozo da lamúria resplandecente Que perto do coração está oculta e firme nestas horas paradas Quisera desfrutar de tanta diversão naquele momento de ação Sonhara com o mais lindo dos castelos Era belo, e tão belo quanto o dia mais belo dos belos Até então vivera iludido, iludido com tamanha felicidade temporária Será que tens arrependido? Será que foi um sonho ou um pesadelo ofuscante daquele momento? Sozinho, Sozinho mais uma vez a comtemplar o vazio da felicidade O gozo desta sua identidade mórbida
146 De sua zombeteira imagem carnavalesca em seu semblante Pensara que fosse belo, lindo, maravilhoso Então – por hora... viva tão fremente solidão! Conversa entre amigos Cara, queria te dizer algo importante Conversar contigo saudavelmente, algo firme, sem dúvidas, olho no olho Queria te perguntar se a Concordância Verbal É igual a Circunferência e o Ponto entre A e B Mas se quatro mais dois é igual a Regência do verbo Ser Isto interferirá na Concordância Nominal. Mas sendo o Genótipo do Substantivo Igual aos catetos do triângulo da hipotenusa Do verbo Amar A diferença entre y e x se dará através da Revolução Francesa Napoleônica Mas e aí? O que você acha disso cara? O que você me responde? Eu te responderei ao questionamento sem entendimento que você disse Esta multiplicação inventada por Pedro Álvares Cabral Veio nas caravelas quando a CPI havia sido instaurada na divisão da palavra “eu” Que é igual a zero da Semântica da soma Que daria as condições climáticas do grau do adjetivo Se não entrassem no meio as rochas magmáticas Daí o minuendo ser inversamente proporcional ao multiplicando Das parcelas do hibridismo serem iguais Aos versos decassílabos da mesma proporção Quando Hitler descobriu este plano Jesus Cristo saiu da fórmula de Bhaskara Contraindo a velocidade do hidrogênio balanceada no Substantivo Da Oração Coordenada Principal de Getúlio Vargas... Entendeu? Sei lá....
147 Homenagem aos amigos Na rua onde morei, quando criança brincava como um louco A rua era a extensão do quintal de casa um pouco E os amigos? E os amigos? Eram vários, vários... hoje antigos... Na peteca os meninos de Celita e Iraci sempre vinham Digão – Rodrigo, Adriano, Marcinha, Leandra não se continham Silvano depois que ficou mais velho veio o time a completar Meu pai – Dico – no fio do poste de luz, a peteca, sempre ia parar Algumas vezes brincávamos de rouba-bandeira E o jogo de botões que fazíamos na calçada inteira, No fundo do quintal brincávamos Igor de Mercês, Roberta de Rosângela e Cristhyano de Neide toda vez De vez em quando brincávamos com Patrick de Glória e com os meninos de Valtinho Leo – Leonardo, Leandro, Juninho e depois Morgana, amarelinha, carrinho... Minha irmã Érica, sempre no meio de todas as brincadeiras Corria no pegador, corria no rouba-bandeira Envolvíamos Rose e Paulinho de D. Geralda, de toda maneira E eu com a cabeça do dedão sempre arrancada no trilho da linha do trem Era muita dor, mas muita brincadeira naquele vai e vem E como dizia a música que tenho na lembrança Nós éramos felizes e não sabíamos, das recordações da minha infância Tempos bons aqueles, tempos de recordação Tempos que me lembro com certa emoção. Menino Menino, por que estais aí? Olhos, perdidos no chão Se há tanta vida para ser vivida Sentado à beira da rua Menino, por que estais aí? Pensando no hoje, no ontem
148 Sendo que o ontem já passou E no hoje só há lágrimas de dor Menino, por que assobia uma canção tão triste Se há tantas canções alegres Em vista para o futuro Por que estais a suspirar pela vida Veja o horizonte e o que virá Menino, por que estais aí? Te amo em línguas Eu te amo Je t’aime Amo porque és minha Amo porque eu amo Ich liebe dich Porque é minha vida É minha expressividade Amo-te porque és... Inspiração poética, deusa Io ti amo Porque tu adentras o meu coração Yo te amo Porque você é meu perfume É minha canção Eu te amo, minha vida, meu tudo Amo em qualquer lugar estando tu I love you.
149 Nasceu em Corinto, fi lha de Alexandre de Paula e Efi gênia Eugênia de Paula. Teve três irmãs: Maria Flor de Maio, Elizabeth Dramans e Valéria Cristina. Fez a 1ª Comunhão aos sete anos de idade e cursou o Primário e o Ginasial no Educandário Frei Luiz, atual Colégio Dom Serafi m, fundado e dirigido pelas Irmãs Clarissas Franciscanas, localizado na Avenida Getúlio Vargas, 595, em Corinto. Formou-se professora na Escola Normal Ofi cial Leopoldo Miranda, em Diamantina, e cursou Administração Escolar no tradicional Instituto da Educação em Belo Horizonte. Após sua formação, dedicou-se intensamente à profi ssão de educadora nas seguintes instituições educacionais: Grupo Escolar Desembargador Canedo, Escola Agrícola Milton, Ginásio Dom Serafi m, Escola Normal Dom Serafi m, Colégio Cristo Rei, Colégio Paulo VI, todos em Corinto. Exerceu os seguintes cargos: Orientadora Educacional no Grupo Escolar Desembargador Canedo e Diretora Técnica na E.E. Professora Maria Amália Campos, durante muitos anos. MERCEDES ANTÔNIA DE PAULA ALONSO DO CARMO sócia Efetiva Cadeira nº 12 patrono: Efi gênia Eugênia de Paula
150 Sempre participou de movimentos, entidades e eventos culturais, assistenciais e religiosos. É membro da Ordem Franciscana Secular, onde exerceu o cargo de Ministra da entidade. Casou-se com Adirson Alonso do Carmo e é mãe de Adilson César, Amarildo Alexandre, Lívio Leandro, Gustavo Adolfo, Rodrigo Albano, Juliana Roberta e Cláudia Beatriz. Tem oito netos: Adilson César, Mateus Adonai, Rosemary Vitória, João Vitor, Ana Gabriela, Luiza Matos, Sarah Efigênia e Luiz Miguel. Aprecia romance e poesias, mas não descarta a diversidade. Tem sempre curiosidade e vontade de aprender e entender algo novo. ACABOU Acabou a casinha da esquina, Que tantos do meu povo abrigou. Ela já estava mesmo em ruínas, Mas o habitante, ali eternamente ficou. Todos se lembram dessa gente fina, Que um dia essa casa ocupou. A casa era extensa e baixinha Do jeito que o morador primeiro criou. Uma família morava, depois outra vinha, E durante uma vida ali se alojou. Não sei como a altura continha Tanta gente grande que ali morou. Os nomes? Você se lembra? Você me ensina Você me mostre a família linda que ai ficou. Lembro-me de Vital, D. Nica e Aurinha Lindaura, Joel, gente que depois se mudou. E então surgiu Lúcio Rosa, Ordália e Tininha A família que pra sempre ai se fixou. A família era maior e ainda tinha O primeiro filho chamado Claudionor. Um trio de homens depois vinha: Célio, Sérgio e Pedro, que de Bidoca se apelidou. Depois Arubatina e o caçula Lucinho. Arubatina, a menina, a família enfeitou.