Cristina Self
A claridade do sol acerta meu rosto, me fazendo comprimir
meus olhos fechados, me virando na cama. O aroma fresco
amadeirado invade minhas narinas de forma agradável. A primeira
lufada de ar quente acertaa ponta do meu nariz, como um assopro
provocativo, me fazendo abrir as pálpebras com preguiça. Pisco,
confusa, demorando apenas um segundo para me chocar com as
duas esferas claras me encarando serenamente. O rosto de Ariel
está tão perto do meu, que posso acompanhar o delinear da sua
sobrancelha e cada espaço que suas narinas dão quando são
alargadas para respirar.
— Você ronca terrivelmente,babá McPhee. — Sua voz cínica
é baixa, trazendoum tomprovocador, com a mesma travessuraque
brilha em seus olhos. — Dormiu bem?
Quero odiá-lo, puxar o travesseiroe lhe dar uma surra por me
fazer me sentir tão tola e fora da minha zona de conforto depois dele
me deixar sem saber onde ele estava, se voltaria. Mas Ariel é isso,
esse estranhoser humano egocêntrico,que consegue ser arrogante
e gentilcom a mesma porcentagempara ambos os lados. E isso me
dificulta a ser fiel ao meu ódio por ele.
— Eu não ronco — murmuro preguiçosamente, levando
minha mão para baixo da minha bochecha, não conseguindo
controlar meus olhos, que desbravam seu corpo despido ao meu
lado. — O que está fazendo dentro desse quarto, doutor Miller?
— Seu traseiro empinado, se aconchegando em minha
cinturaenquanto ficou de conchinha comigo, quando te reboquei do
sofá para a cama, foi algo tentadordemais, tantoque me fez desistir
do quarto de hóspede. — Ele dá de ombros, fechando seus olhos,
soltando o ar lentamente.
— Ariel, isso não vai funcionar — suspiro com acalento,
olhando seu rosto, aproveitando o breve segundo da pequena paz
que vejo em seus traços.
— Seja mais precisa, sim? O que não vai funcionar?
Transarmos à noite e acordarmos juntos na mesma cama, ou seu
ronco quando entra em sono profundo?
Ele abre seus olhos, erguendo sua mão para o lençol, em
cima dos meus seios, circulando lentamenteminha mama por cima
do tecido com a ponta do seu dedo.
Depois do telefonema da minha mãe, passei todos esses dias
sentindo raiva por ela ter desligado na minha cara, e por ele
simplesmente ter desaparecido. O pobre Brow foi quem ficou como
vítima, suportando meus momentos de desabafo. Entendo que
agora, mais do que nunca, não posso lidar com Renan, mas isso
não é motivo para que eu me case com Ariel.
— Não vou me casar, preciso que entendaisso. Vamos achar
uma forma de lidar com a gravidez e tudo que acarretaa chegada
dos bebês à nossa vida, mas eu não posso passar por um
casamento outra vez.
Ariel afasta sua mão do meu seio, a levando para minha
cintura,fechando seus olhos, apenas me deixando ver seu peito se
estufar com a respiração profunda que ele inala.
— Eu me casei por amor uma vez e foi com esse amor que
eu quase perdi minha vida. Não posso embarcar novamenteem um
relacionamento, ainda mais com todos esses gatilhos que tenho,
seríamos infelizes...
— Ok!
Apenas uma palavra sai dos seus lábios, de forma calma e
rápida, cortandomeu discurso, que tinha ensaiado por todos esses
dias, sobre o que diria a esse homem quando nos encontrássemos
novamente, todos os motivos pelos quais não daria certo nosso
casamento. Com uma única palavra de uma sílaba, ele causa um
turbilhão de confusão, jogando meu discurso no lixo.
— Ok?
— Sim. — Ele abre seus olhos, me sugando para a
impetuosidade profunda das suas íris. — Se é o que quer, não
falaremos mais sobre casamento, mas com uma condição.
— Claro que temuma condição. — Fecho meus olhos e cerro
meus lábios. Seria muita ingenuidade da minha parte pensar que o
trapaceiro Miller não teria alguma condição para ter aceitado tão
bem minha resposta. — Diga logo, seu cretino astuto.
Sua mão grande escorrega para minha bunda, me pegando
de surpresa e me fazendo abrir meus olhos, atentaaos seus, que
me encaram.
— Me deixe proteger vocês, Cris. — Ariel não pisca, muito
menos demonstra alguma emoção, apenas abaixa seus olhos para
meu ventre, ficando em silêncio, olhando-o. — Não estou lhe
impondo um casamento, nem mantendo você aqui como capricho,
estou protegendo vocês, pedindo uma chance para conseguir fazer
você me ouvir.
— Ariel...
— Eu já fui casado, Cristina.— As palavras dele, sendo ditas
de forma tãopesada, me fazem calar. — Um casamentoaceitopela
empolgação do momento. Ela engravidou no nosso primeiro ano
morando juntos. No dia que ela me contou sobre a gravidez, eu
explodi de alegria, apenas para segundos depois ser atropelado
pela decisão que ela tomou em abortar a criança.
— Ariel, eu sinto muito... — murmuro com dor. Vejo à minha
frenteo homem impertinentese desnudando por completo. Ariel não
me mostra sua pele, mas sua alma, e, pela primeira vez, desde
nosso atrapalhado engano, Ariel me mostra um pouco dele. Quase
como por instinto,minha mão se ergue, segurando seu braço. —
Lamento...
— Eu não a deixei tiraro bebê — ele fala sério, mantendoos
olhos em meu ventre. — Dolly nasceu em uma manhã de primavera.
Acho que foi a primeira vez que tomei noção que teria alguém tão
pequeno e indefeso dependendo de mim. Silvia nunca quis ser mãe.
Eu me iludia, achando que ela mudaria de ideia quando nossa filha
nascesse, mas não mudou. Ela cuidava, fazia suas obrigações
maternas a contragosto,mas fazia. Quando Dolly completou dois
anos, descobri que Silvia estava me traindo com um amigo antigo
dela.
Não sei o que dizer, nem sequer o que posso falar para
amenizar a escuridão que está dentro do seu olhar, se escondendo
atrás das suas palavras ditas em tom calmo.
— Pedi o divórcio, já estava saturado há muito tempo com
nossa relação. Acho que a traição foi a última gota, tanto que não
sofri por saber do caso dela, me senti aliviado, em certo ponto. —
Ariel sorri sem um pingo de alegria, negando com a cabeça. — Saí
de casa, fui para um hotelqualquer, entreicom o pedido de divórcio
e a guarda integral da minha filha. Silvia foi para uma festa e levou
nossa filha junto. Ela dispensou o motoristana hora de voltar para
casa, deixando nossa filha adormecida no banco de trás, sem a
proteção da cadeirinha...
É estranho, como se mesmo antes das palavras saírempela
boca dele, eu pudesse sentir toda a dor que as acompanhará.
Talvez o olhar vazio dele tenha me alertado, ou o aperto em meu
coração, ou seus dedos que me esmagam com mais força. Não sei
ao certo dizer, mas dentro de mim sinto toda a melancolia que Ariel
soterra dentro dele.
— Dolly foi enterrada em uma manhã de primavera florida e
cheia de cor, igual a que ela nasceu.
Meus olhos se fecham, não consigo segurar a lágrima que
escorre por minha face.
— Muitas vezes me questiono se teria sido melhor ter
deixado Silvia ter feito o que ela queria desde o princípio,quando
soube da gravidez, isso teria causado menos sofrimento.
— Ariel, eu nem posso imaginar o que sentiu...
— Não vou lhe impor minha vontade,babá McPhee, mas vou
fazer de tudo para proteger vocês. — Sinto o toque quente da sua
mão, que se espalma em minha bochecha, a afagando com carinho,
e ouço o som pesado da sua respiração. — Não me afaste,Cristina.
Por favor, não me afaste.
Meus olhos se abrem e enxergo o mundo de promessas que
brilham em seus olhos. Tudo tão nítidoe vivo, despertando um
sonho antigo, há muito tempo adormecido dentro de mim. Mas o
medo é um companheiro perigoso para se conviver por muito
tempo,ele se entranhadentrode você, acorrentasua vontade,suas
ambições. Os desejos de outrora, que pareciam tão certos, na
companhia dele se tornam assustadores e aterrorizantes. Meu
mundo, que construípara mim, tijolo por tijolo, que era tão seguro
alguns meses atrás, porém depois do desastroso engano dentro do
escritório,que me levou atéaquele quartode hotelcom Ariel, agora
me parece frágil. E, lentamente, o cínico homem arrogante se
infiltrou dentro dele, se apossando de cada canto.
Capítulo 21
Argumentos válidos
Ariel Miller
Passo a esponja por seus braços, fazendo-a rir para mim,
relaxando seu corpo dentro da banheira. Ela descansa sua cabeça
em meu peito e empurro seus cabelos para o lado, assoprando a
espuma que tem em cima da sua cabeça. Esfrego demoradamente
cada partedo seu corpo, apreciando esse momentodela abaixando
sua guarda, me permitindo cuidar dela. Solto um beijo em seu
ombro, e seu corpo se aninha mais ao meu, suspirando baixinho.
Meus braços contornamsua cintura,trazendo-amais a mim, ficando
com minhas mãos em cima do seu ventre.Suas pequenas mãos se
encaixam por cima dos meus braços. Aliso sua barriga com uma
das mãos, que a abraça por debaixo da água quente. Me vejo
sentindo um grande desejo de vê-la crescendo com nossos filhos.
— Como pode tercertezade que isso vai funcionar? — A voz
baixa de Self pergunta calma.
— Não possuo vícios, você compreende o que eu falo,
aprecio sua companhia e gosto de ficar com meu pau enterrado
dentro da sua boceta.
— Oh, meu Deus, sua boca cretinasó fala merda! — Ela me
dá um tapa, o que acarretaem água transbordando pela banheira.
Mordo a ponta da sua orelha, fazendo seu corpo se encolhe.r
— O que foi? Apontei a lógica, temos pontos compatíveis.
— Cale-se, Ariel! — Cris esfrega seu rosto em meu braço,
suspirando com preguiça. — Acho que devo me sentirhonrada pelo
traste do doutor Miller apreciar minha companhia.
— Gosto do seu aroma, assim como de quando fica irritada,
com os olhos espremidos, parecendo que vai soltar um raio de
energia em minha direção. — Ela molha meu braço, o esfregando,
soltando o ar dos pulmões. — Ainda estou pensando o que vamos
fazer sobre o som cavernoso e áspero que sai dos seus lábios
quando dorme...
— Idiota! — Cristina joga água por cima do seu ombro,
acertando meu rosto, rindo quando eu belisco sua coxa.
— Fique quieta, estou elaborando meus argumentos.
— Seus argumentos são falhos, doutor Miller. Gostar de
boceta,do meu cheiro e da forma como eu teolho quando você me
irrita, não são motivos para fazer um casamento dar certo.
— Muitos casamentos não têm nem isso — falo sério,
assoprando seus cabelos. — Acho muito válido. Boceta,perfume e
olhares.
— Seu advogado pervertido.
Belisco sua coxa de volta, a fazendo rir, gargalhando dentro
do banheiro.
— Para seu governo, a secretária pervertida, que assiste
vídeos pornográficos no serviço, é você. Eu, pelo menos, quando
quero ver algum vírus, faço isso sozinho, em um lugar discreto,
como uma pessoa normal.
— Oh, meu Deus, eu já falei que não foi culpa minha! — Seu
corpo se vira para mim, com seus olhos brilhando em divertimento.
A calo, segurando seu queixo, beijando seus lábios, os
sugando lentamente, absorvendo seu sabor conforme aprofundo o
beijo.
— Quais são seus argumentos, babá McPhee?
Olho sua face com seus olhos fechados e boca inchada
quando solto seus lábios, afastando apenas um pouco minha
cabeça de perto da sua para poder admirá-la.
— Seu pau — ela sussurra, deixando um pequeno sorriso ao
lado dos seus lábios.
— E?
Cris abre seus olhos, os deixando fixos em um ponto
aleatório do banheiro, como se estivesse pensando profundamente
sobre isso. Sua cabeça balança para os lados em negativo, rindo,
voltando a olhar para mim.
— Não! Apenas seu pau é meu argumento. Não consigo
pensar em mais nada.
— Me torneiapenas um brinquedo sexual para você. — Solto
seu queixo, mantendo minha atenção em seu sorriso.
— Não seja tão cínico,Ariel, acabou de dizer que gosta da
minha boceta também.
— Mas ainda tive mais argumentos que você.
— Sua boca cretina é irrevogavelmente impertinente,assim
como seu humor ácido é terrívelde lidar. Sem falar quando tem
aquela expressão neandertal no semblante, sabe? — Ela ergue
suas mãos, movendo seu dedo na direção do meu rosto,
gesticulando. — Igual essa que está fazendo agora, doutor Mille. r
Seus lindos olhos negros risonhos me deixam em transe e
me sinto sendo sugado por ela, repercutindoapenas o som da sua
risada dentro do banheiro. Suas pequenas mãos se erguem,
repousando em meu peito, me fazendo sentir diversas emoções.
Mas meu mundo para, quando, sem que eu espere, seu rosto se
levanta e seus lábios repousam nos meus de forma tão terna,
espontânea, e sinto como se tudo em minha vida voltasse a fazer
sentido.Não sou mais a metadede um homem amargo, que odeia a
vida, e nem o difamado advogado sem caráte.r Aqui, com ela em
meus braços, me beijando de mansinho, eu estou inteiro. Meus
lábios forçam mais os seus, e logo a puxo para colar seu corpo ao
meu, não me importando com a água que cai para fora da banheira.
Sua pequena forma se encaixa tãoperfeitaa mim enquantoa
arrumo em meus braços, a deixando totalmentede frentepara mim.
Suas mãos se enroscam em meus cabelos, apertando seus dedos
entre eles, e antes que Cris perceba, estou a erguendo em meu
colo, me levantando firme dentro da banheira. Suas pernas travam
em minha cintura, me fazendo sentir mais seu corpo quente e
molhado colado ao meu. Ela arfa, respirando fundo quando minhas
mãos, em sua bunda, apertam sua carne. Saio da banheira e
caminho a passos firmes, a segurando com proteção,colada a mim.
Cris está com suas mãos agarradas ao meu cabelo, e as minhas
estão presas à sua bunda, a massageando. Sinto a pele tão macia
sobre meus dedos. Não possuo mais minha vontade, apenas
obedeço ao desejo de sentir ela cada vez mais.
— Ariel... — Escutar meu nome em seus lábios é algo tão
paradisíaco, que desejo passar o resto da minha vida ouvindo.
Deitoseu corpo, que arfa, na cama, me afastandoapenas um
pouco para ter uma visão privilegiada das suas mamas molhadas.
Minha boca vai para elas, abocanhando um seio com pura luxúria. A
fome que me invade pelo seu pequeno corpo, me faz sentir uma
necessidade animal. Não me prendo mais, apenas libero essa
necessidade que Cris despertou dentro de mim pelo corpo dela.
— Ariel... Oh, Deus! — ela geme alto,segurando meu ombro.
Solto seu seio, repetindo a mesma sucção no outro antes de
libertá-los. Cris está com seus lindos olhos brilhantes me fitando
com luxúria, com a mesma liberdade com que a vi a primeira vez.
Desço meu corpo lentamente sobre o seu. Meu pau, como um
caminho que ele aprendeu bem, já se encaixa entre os lábios
molhados e inchados da sua boceta, que o deixa entrar devagar,
com meu quadril se empurrando contrasua pélvis. Ela segura mais
forte meus ombros, fazendo assim suas unhas marcarem minha
pele.
— Cristo! Vai me fazer virar uma viciada... — Ela fecha seus
olhos e morde sua boca. Minhas mãos estão paradas ao lado do
seu corpo, sustentando meu peso para não a machuca.r
E apenas me deleito, saboreando cada expressão de
lascividade que tem em sua face.
— Seu argumento, doce vênus. — Inclino meu rosto,
lambendo sua garganta,sugando a lateralda pele, onde a veia dela
pulsa com força.
Usarei tudo que tiver em meu poder para mantê-la ao meu
lado. Poderia apenas ter me levantado e ido embora naquele dia,
quando a vi pela primeira vez, enquanto observava a pequena
atrapalhada falando sem parar, mas ela me acorrentou, me
capturando com seus olhos, e agora, nem que minha vida
dependesse disso, eu me afastarei de Cristina. Ainda mais quando
ela se entrega tão bela assim para mim.
Seus lábios se colam aos meus, com suas pernas cruzando
atrásdo meu quadril, me deixando preso a ela. O gostodo seu beijo
me rouba cada pensamento e a linha tênue que eu possa ter, e
então a fodo com mais urgência. Seu grito é abafado pelos nossos
beijos, e cada vez mais nossos corpos se prendem em um só. Ela
se aperta mais a mim, engolindo meu pau dentro da sua boceta.
Seu corpo treme junto ao meu quando ergo meu troncopara cima,
aumentando minhas estocadas.A luz do sol que entra pela janela,
brilha em cima do seu corpo, e tenhoa perfeitavisão dele. Observo
seus olhos, que se fecham. Sua boca morde o cantodos lábios, e o
som que ela solta quando chega ao seu orgasmo é lindo. Continuo
acelerando dentro dela, sua vagina aperta meu pau, fazendo assim
a sensação ser três vezes mais forte no seu interior escaldante. A
fodo mais forte, aumentando as investidas, me perdendo no sorriso
sacana que ela abre em seu rosto. O gozo vem certeiro, e jorro
dentro dela minha porra. Meu cérebro explode por completo,meus
pulmões voltama se encher de ar aos poucos, minha respiração vai
desacelerando e meu corpo cai ao seu lado.
— Definitivamente, seu pau, sempre seu pau — ela fala,
fadigada, rindo.
— Suspeito que posso viver com seus roncos também. —
Viro meu rostono travesseiro, esticandominha mão e alisando suas
bochechas.
— Vai chegar atrasado para o trabalho, doutor Miller — ela
fala baixo, suspirando.
— Talvez possa tirar a manhã de folga. — Olho para sua
boca, gostando de como seus lábios ficam inchados depois dos
meus beijos.
— Não, não pode. Se bem me recordo, sua agenda estábem
atarefada para hoje. Amanhã será o julgamento de Brat, precisa
rever seus argumentos e tudo que envolve o caso.
— Alguns pontos negativos de engravidar a secretária.
— Cale essa boca cretina,Miller. — Cristinari, se levantando
e se afastando da cama. — Já decidiu o que vai fazer com aquela
assistente mentirosa de Stano?
Ela vai para o banheiro e pega uma toalha para ela e outra
para mim.
— Não me decidi ainda se a levo diante do júri ou não. Se
não levar, Bratvai preso. Se a levar, vai ser perjúrio. Se eu contara
alguém sobre a mentira dela, será quebra de confiança entre
advogado e cliente. De todas as formas, estou amarrado a esse
caso.
— Você realmente acredita na inocência dele, Ariel?
— Stano não matou sua mulher e muito menos aquele
preparador físico.
Seus olhos desviam dos meus, mordendo o canto dos seus
lábios, batendo lentamente seu pé no chão.
— Bom, eu vou dar um jeito nessa bagunça de quarto
molhado. Já que meu atestadotermina hoje, amanhã estarei com
você no tribunal.
Me sentona cama, pego a tolhano ar, quando ela me joga, e
fico em silêncio, observando-a secar seus cabelos.
— Estava pensando que talvez não precise voltar para a
firma.
Ela para seus gestos, olha para o chão e volta sua face na
mesma hora para mim, negando veementemente com a cabeça.
— Não, nem pense em abrir sua boca para continua.r
— Cristina, me ouça. — Me levanto e jogo a tolha em cima da
cama. — Não estou dizendo para largar o serviço, apenas que por
esse momento poderia se afasta,raté ser seguro.
Ela caminha para o armário, o abre e pega uma regatae uma
bermuda, com um sutiã e uma calcinha, se vestindo às pressas.
— Vou preparar algo para tomarmos café, e não vamos mais
falar sobre isso.
A vejo sair a passos rápidos para fora do quarto,me largando
sozinho. Esfrego meu rosto e respiro fundo.
— Mulher teimosa!
— Como assim não achou nada? — rosno com raiva,
encarando Greg dentro da minha sala no escritório.
— Não encontrei nada que incrimine e ligue Renan Pener à
invasão do apartamentoda sua garota e a morte do gato, mas
consegui outras informações — Greg fala sério, respirando pesado.
Ele estci a suas pernas quando se senta na cadeira de frente
para minha mesa, abaixando sua mochila.
— O que descobriu sobre esse verme, Greg? — pergunto
sério, esmagando meus dedos, sentindo raiva por saber que não
temnada ainda que prove que Renan fez aquela barbaridade com o
animal, com o intuito de acuar Cristina.
— Me pediu para fazer um pentefino, não foi? Bom, eu fiz. —
Ele retira uma pasta de dentro da mochila, arremessando em cima
da mesa.
A puxo em minhas mãos, a virando, abrindo apressado a
pasta de documentos.
— Renan Pener, categoricamente,é doente pela ex-esposa.
Pode ver pelas mulheres que ele se envolveu depois do casamento,
desde as trepadas rápidas, namoradas de curto prazo ou as
prostitutas, todas se...
— Parecem com a Cristina — termino por ele, olhando as
fotos das meninas dentro do documento. Cabelos pretos, pele
negra, estatura baixa, fisionomia volumosa do corpo, todas têm
algum traço de Cristina. — Filho da puta!
— De onze meninas que rastreei, ele espancou oito, mas
nenhuma delas quis falar comigo. — Greg respira fundo. — O cara é
um usuário contínuodo pozinho mágico, o nariz dele é praticamente
um aspirador de pó portátil,consegue cheirar cinco carreiras de
cocaína em uma noite, brincando.
— Se droga há quanto tempo?
— Ao que parece, desde a época da faculdade, mas eu chuto
um pouco mais, pelo tanto de grama que ele consome.
— Homem patético.
— Bom, em relação às meninas anteriores a ela, todas são
mistas,cores, tamanhos,peitudas,com peitospequenos. A primeira
agressão dele foi em uma empregada que trabalhava na casa dele,
na época da adolescência. O pai abafou o caso e pagou uma boa
quantiapara a garotasumir do mapa. Na faculdade, ele se acalmou,
até conhece.r..
— Cristina.— Balanço minha cabeça em positivo,já sabendo
o que ele dirá.
— É, a sua garota. Ele se encantoupor ela. — Greg puxa o
ar com força para seus pulmões, respirando fundo. — Pener é
agressor de mulheres, isso é incontestável, não passa de um
merdinha escroto!
— Alguma prova concreta,que ele agrediu essas mulheres?
Depoimento, procura em hospitais? Não achou nada contra esse
puto que possa incriminá-lo?! — pergunto para ele, o vendo negar
com a cabeça.
— São garotasde programa, Miller. Ele soltaum dinheiro alto
nas mãos delas, as fazendo se calar.
Aperto meus olhos e respiro fundo, fechando a pasta com
força e sentindo tudo dentro de mim me puxar para ela.
— O medo foi aumentando gradativamente, a cada vez que
ele descobria meu endereço novo e aparecia. No começo, achei que
estava louca, por achar que ele me seguia.
Seus olhos amedrontados ficamexpressivos, com o brilho de
lágrimas em suas esferas negras. Seguro sua face em minhas
mãos, beijando sua testa e limpando as lágrimas do seu rosto em
seguida.
— Mas não estava louca. Eu sabia, podia sentir os olhos de
alguém cuidando de cada passo que eu dava. No mercado, nas
lojas, qualquer lugar que eu fosse,eu sentia a presença de alguma
pessoa me vigiando.
— Contou à polícia quando foi registrar as queixas?
— Eu contei, disse para eles que alguém me seguia, e que
eu sabia que era Renan. Mas eles me disseram que sem provas
não poderiam fazer nada. — Ela sorri, triste, negando com a
cabeça. — Um policial me perguntou se eu estava tomando algum
remédio controlado. Eles me acharam louca, mas eu não estava...
não estava.
Quero tirar sua dor, abraçar ela tão forte,abrigá-la em meus
braços para sempre, ao ver o sofrimento que ela carrega.
— Um dia eu estava voltando do trabalho, já era tarde, estava
cansada, então parei perto de um aglomerado de pedestres,
esperando o sinal abrir. Eu o senti, Ariel, senti o momento exato que
os dedos tocaram em meus cabelos. As pessoas começaram a
andar e eu corri, corri o mais rápido que pude, atravessando a rua.
Quando me virei, avistei apenas a sombra do homem virando a
esquina.
Ela se cala e respira fundo. Vira seu rosto para a janela do
quarto.
— Mas eu sabia que era ele.
— Aconteceu outras vezes? — pergunto sério, trazendo seu
rosto para frente, segurando a ponta do seu queixo.
— Uma noite acordei quando o telefone começou a tocar.
Atendi ainda sonolenta, e apenas a respiração alta se fazia do outro
lado da linha. — Cristina fechaos olhos, apertando seus dedos em
meus braços. — Ele estava do outro lado da rua, eu o vi distante,
com o capuz da jaqueta cobrindo sua cabeça e seu rosto, mas ele
estava lá, me vigiando. E depois disso...
— Não abriu mais as cortinas.
— Exatamente isso, porque eu sabia que ele estaria me
olhando em algum lugar.
Abro meus olhos, ainda podendo ver sua face amedrontada,
de quando me relatou tudo pelo que estava passando desde o
divórcio, sobre a sensação constante de estar sendo vigiada.
Naquele momento que olhei para ela, apenas disse a mim mesmo
que ninguém a machucaria. Eu destruirei qualquer um que tente
fazer mal a ela ou aos meus filhos.
— Há um assunto que eu quero falar com você. — A voz
baixa de Greg sai preocupada, com ele batendo seus dedos no
encosto da cadeira.
— Diga — falo sério para Greg, que não contou tudo ainda.
— Eu fui até o endereço dela, falei com o tal do Bobe, como
me passou no e-mail. Ele me deixou entrar no apartamentoquando
eu citeio seu nome. Pelo que eu analisei, não teve arrombamento
algum. Precisa conversar com ela, pedir para lhe contartudo o que
aconteceunaquele sábado, do normal ao mais diferente que possa
ter sido.
As memórias do sábado de manhã me acertam
precisamente.
Estico meu braço e seguro seu ombro antes que ela trombe
em mim, o que a faz soltar um grito, derrubando suas sacolas.
— Oh, meu Deus! — Sua face se ergue para mim, ficando
com a respiração pesada, puxando o ar fortepara suas narinas. —
Ariel, quer me matar do coração?
Ela se afasta, abaixando para pegar as coisas que caíram
das sacolas. Olho no rumo de onde ela vinha, mas não enxergo
ninguém caminhando atrás dela. Me abaixo e auxilio Cristina a
pegar suas compras, repousando meu olhar em sua face. Sua veia
está saltada na lateral da sua garganta, os olhos arregalados. Seu
coque bagunçado, com fios soltos, cai na lateral do seu rosto.
— Do que estava fugindo?— Cristina ergue seus olhos para
mim, se levantando lentamente.
— Nada, apenas estava distraída...
Ela estava assustada. Cristina não estava distraída,mas sim
amedrontada. Algo ou alguém a tinha assustado. Estava tão
agitado, me sentindo elétrico por estar com ela perto de mim, que
não me atentei a isso como deveria.
— Continue buscando por algo, volte outra vez ao edifício,
converse de portaem portase for preciso, Greg. E eu vou conversar
com Cristina, descobrir mais algumas informações.
Depois que Greg parte, ainda espero uns dez minutos, antes
de me levantar e caminhar para a porta, a abrindo e encarando
StanoBrat,que estána sala de espera. Apontominha sala para ele,
esperando-o entrar, fechando a porta atrás de nós. Ele se senta
calmo, olhando em volta, cruzando suas pernas, balançado seu pé
de forma impaciente. A respiração eufórica aumenta o som dentro
da sala, o que apenas me faz sentar em minha própria cadeira, o
encarando por um tempo antes do confronto.
— Não estou no meu melhor momento de paciência, Brat, e
serei ríspidoe franco. Ou me contaa verdade de onde estava, e o
porquê mentiu sobre sua assistente,ou pode se retirar da minha
sala e procurar outroadvogado para lhe representaramanhã, diante
do grande júri.
— Não pode fazer isso comigo, Miller.
— Posso, e irei fazer sem um pingo de remorso, a escolha
será sua! — Me encosto na cadeira, segurando minha caneta, a
rodando em meus dedos. — Tenho dez minutos antes de ter que ir
ao fórum, então sugiro que fale rápido.
Ele esfrega seu rosto, negando com a cabeça, me
amaldiçoando baixinho.
— Nove minutos — falo sério, erguendo meu pulso, olhando
para meu relógio.
— Estavaem um motel— Stanovomitaas palavras de forma
rápida, desviando seu rosto para o chão.
— Se abrir sua boca para me dizer que estavana companhia
da sua assistente, vou te chutar para fora da minha sala.
— Era Deem, meu enteado, que estava comigo, por isso eu
não lhe falei. E é por isso que eu não posso contar para ninguém
com quem eu estava.
Solto a caneta dos meus dedos sobre a mesa, respirando
fundo, querendo passar por cima da porra da madeira e socar a
cara escrota de Stano Brat.
— Está me dizendo que no momento que sua esposa foi
morta, você estava na porra de um motel comendo seu enteado?
— Não foi algo planejado, eu não pretendia ter nada com
ele...
— Pare! — Ergo minha mão, o silenciando. — Onde estava
com a cabeça, Stano? Tem ideia de que isso é crime de todas as
formas? Estamos falando de um menor de idade.
— Miller, é minha vida que está em jogo, acha que eu não
sei? Tudo que eu construí,minha empresa, meu nome, um império
todo irá desmoronar se isso vier a público. Aconteceu...
— Aconteceu?!— Balanço minha cabeça em ironia por suas
palavras. — Será isso que vai dizer ao juiz quando ele lhe perguntar
o que passou na sua cabeça quando teve a brilhante ideia de pedir
para seu enteado chupar seu pau?
— Deem fará dezoito anos mês que vem, não será mais
crime.
— Inacreditável!
Respiro fundo, o encarando com nojo, não pelo fato de
manter uma relação sexual com um homem, mas pelo fato de ser
uma criança. E ele parece não ouvir o que sai da boca dele. O fato
do menino estar prestes a completara maior idade, não anula que
foi com idade insuficienteque os dois começaram a teruma relação
sexual.
— Precisa levar Violet ao tribunal, eu não posso trazer esse
assuntoa público. Não mateiminha mulher e nem aquele bostaque
estava com ela. Porra, eu não matei, preciso que me ajude!
— Saia da minha sala, Brat!
— Não pode me abandonar. — Ele ergue seu rostopara mim,
balançando sua cabeça para os lados. — Tem a obrigação de me
defender, é o meu advogado!
— Minha única obrigação nesse momento é não quebrar sua
cara escrota depravada. Agora, saia da porra da minha sala! — A
voz carregada de raiva sai da minha boca, enquanto o fuzilo de ira
com meu olhar.
— Estará no tribunal amanhã, não é?
Ele se levanta e caminha para a porta do escritório.
Mantenho meus olhos em sua cadeira vazia, não o respondendo,
ficando em silêncio, e apenas quando ouço o som da porta sendo
fechada, é que chuto com repúdio a porcaria da mesa.
— Doente de merda!
Capítulo 22
Apelação
Cristina Self
Suspiro com prazer ao sentiro aroma da tortade banana que
acabei de tirar do forno. A deposito em cima da ilha da cozinha.
— Acho que me empolguei. — Coço minha testae me viro
para o fogão, vendo as panelas de comidas que fiz.
Eu tinha me esquecido de como era preparar uma refeição
para outrapessoa, como eu amo essa demonstraçãode afetoque é
alimentar o outro, dedicar-se ao tempo de preparar algo saboroso.
Eu evitava cozinhar depois do divórcio, apenas fazia isso quando
estava nervosa e precisava silenciar meus pensamentos. Hoje
comecei com pequenas bolachas caseiras no começo da tarde, para
poder distrairminha mente,e, quando vi, já me encontravadispersa
dentro da cozinha, atarefada entre o frango assado, o macarrão
caseiro, o creme de milho, o arroz, a batatafritae a tortade banana.
Brow tinha ficado comigo a tarde toda, sentado na cozinha,
conversando e experimentando o que eu ia fazendo. Sei que, no
fundo, ele apenas está fazendo isso para me distrair, me
perguntando sobre as receitas,mas fico feliz pela presença dele. E
é tão bom, tão prazeroso esse momento de paz que sempre tenho
quando cozinho, que nem vejo a hora passar. Me familiarizei rápido
demais com a cozinha de Ariel, que é o local da casa onde mais
passo tempo desde o dia que ele me trouxe para cá. Corro meus
olhos pela mesa e a vejo arrumada, com os copos e talhares
dispostos corretamenteao lado dos pratos. Transfiro as comidas
para as travessase as levo para a mesa, olhando para a janela, que
já mostra a noite.
— O que você está esquecendo? — Bato meu pé no chão,
conferindo tudo disposto na mesa. Alinho os óculos em meu rosto,
confirmando minhas suspeitas ao não avistar a jarra de suco. — O
suco!
Giro rápido, com intensão de ir para a geladeira, mas sou
bloqueada pelo corpo revestido em seu terno sob medida, que tem
seu dono silencioso me encarando.
— Deus, eu não tenhosuficiência cardíacapara levar sustos!
— Esfrego meu peito, olhando assustada para ele.
Ariel desvia seus olhos de mim para a mesa, a olhando com
estranheza.
— Isso seria?
— Nossa refeição — falo orgulhosa, olhando para a mesa
que eu arrumei, estufando meu peito. — Bom, não é nenhuma
receita de massa italiana, mas me saí bem.
A grande mão dele se estica, me pegando de surpresa
quando espalma em meu rosto, me fazendo olhar para ele.
— Percebo! — Ariel mantém sua concentração em meus
cabelos, erguendo sua outra mão e tirando algo da minha mecha,
abaixando a ponta do seu dedo para que eu possa ver o farelo de
trigo. — Isso é alguma hidratação para o cabelo?
Assopro a sujeira de trigoda pontado seu dedo, repuxo meu
nariz e aliso minha camisa, tentando me endireita. r
— Largue de ser chato, Ariel.
— Não estou sendo chato, gostei desse seu aspecto
desmazelado, completamentedesarrumada, digo que é até melhor
que aquele saiotee blusa de gola altaque você compra em quantia
absurda. — Ele abaixa seus olhos para a regata, sorrindo
cinicamente, enganchando seu dedo no decote e puxando-o de
mansinho. — É, com toda certeza prefiro essa vista.
Estapeioseu dedo, tirandosua mão de pertodos meus seios.
— Não há nada de errado com as minhas roupas —
respondo baixo, forçando um sorriso, inclinando meu corpo para
trás, tentandome afastar um pouquinho da força que emana dos
seus olhos. — Pare de ficar me constrangendo.
— Cozinhou especialmente para mim?
— Óbvio que não, cozinhei porque estava com fome.
Desvio meus olhos dos seus, a mão dele ainda está em meu
rosto, o segurando para si. Foi para ele, a verdade é essa.
Conscientemente,eu sabia que queria fazer um jantar para nós
dois, e isso me deixou feliz, silenciou os temores e medos dessa
manhã.
— Devo julgar que sua fome é de uma leoa, pela quantidade
de comida que fez. Ainda bem que trouxevocê para cá, assim meus
filhos param de ficar se nutrindo de porcaria açucarada. — Ariel
estende sua mão para meu ventre, a espalmando, sorrindo.
— Cale essa boca cretina, Miller! Eu não como apenas
besteira.
— Sim, eu sei. Estouaqui para comprovar seu bom gosto.—
Entendo sua piada banal com o trocadilho,o que me faz rir de sua
forma descarada.
— Nojento, presunçoso! — Me afasto dele, o contornando,
indo para a geladeira. — Vá se limpar, antesque eu mude de ideia e
não o deixe comer a comida que fiz.
É o tempode Ariel ir para o quartose limpar e tirarseu blazer
do terno, para que eu finalize o suco, levando a jarra para a mesa. O
vejo sentar na ponta, onde arrumei um dos lugares, enquanto puxo
a cadeira do lado direito, me sentando também. Ele tem sua face
enigmática, olhando para as travessas de comida.
— Ficou sabendo de algo? — Seguro meu copo e me sirvo
de suco, voltando a olhar para ele.
— Stano está transando com o enteado dele — Ariel fala
rápido, de forma simples, me dando a notíciade uma única vez.
Minha mão aperta o copo de suco em meus dedos, o deixando
parado no meio do caminho, suspenso no ar, próximo à minha boca.
— Nossa! — sussurro, espantada, piscando confusa. — Não
era bem a isso que me referi, mas... NOSSA!
— Não tem com o que se preocupar, lhe disse que estaria
investigando sobre o que aconteceu no seu apartamento.
Ariel estica seu braço e pega meu prato de forma ágil, e
antes que eu possa fazer algum protesto,já está empanturrando o
prato de comida e devolvendo à minha frente. Olho para a comida,
ainda incrédula com a notícia que recebi.
— Stano não matou mesmo a esposa dele.
— Não, ele estava com o garoto no motel. — Ariel faz seu
prato, o deixando duas vezes mais farto do que o meu.
— Isso... isso é nojentoem todosos aspectosda moralidade.
Ele criou o menino como se fosse filho dele por sete anos. E é
crime, Ariel, o menino tem o quê? Quinze anos?
— Dezessete anos, vai completar a maior idade mês que
vem.
— Sabia que Stanoé um medíocre,mas nojentoa esse grau
de se envolver com o filho da esposa dele, isso não esperava.
— Por isso ele comprou o álibi falso, está tentandoesconder
sua relação extraconjugalcom seu enteado, Deem. — Ariel cortao
frango e pega a coxa, a levando para seu prato e fatiando outro
pedaço imenso do peito para mim. — Está com uma cara boa.
— Oh, meu Deus, não precisa ser esse exagero todo...
— Está comendo por três agora, precisa se alimentar. Nessa
fase sente muita fome.
Meu sorriso morre pouco a pouco em meus lábios, imaginado
se ele cuidava da sua esposa assim também.
— Como era...
— O quê? A relação de Stano, eu não sei, não pedi para ele
entrar em detalhes. — Ele leva uma garfada de comida à boca,
mastigando, dando de ombros para mim.
— Não. — Nego com a cabeça, enrolando o macarrão em
meu garfo. — Digo, como era sua relação com Silvia?
Não olho para ele quando finalizo a pergunta, mantenho
minha atenção nos cordões de macarrão que levo à boca, como se
fosse o ápice da minha noite e merecesse toda minha concentração.
Escutoo som rouco da sua gargantaquando ele pigarreia, limpando
sua boca com o guardanapo.
— Minha relação com Silvia foi uma cadeia de erros seguida
de arrependimento, Cristina.
Dou uma rápida olhada pelo canto dos meus olhos nele,
enxergando sua face abaixada, encarando seu prato de comida.
— Entendo.— Bebo o suco, tentandodisfarçar o desconforto
que sinto, imaginado como devia ser a vida dele com outra mulhe.r
— Creio que não entende. Silvia é uma mulher linda, como
um belo carro de colecionador, custa caro manter a manutenção
dele, mas o interioré frio e vazio, se igualando à sua lataria brilhosa.
— Uauuu, isso realmentefoi uma comparação única. — Volto
a me alimentar, preferindo ficar em silêncio e esperar ele falar mais
alguma coisa ou apenas deixar o assunto morre.r
Ariel opta pelo silêncio, não dizendo uma única palavra que
seja sobre sua ex-esposa. E, por incrível que pareça, de resto é
agradável, ficar apenas nós dois saboreando o jantar, sem briga,
gritos ou pratos voando, sendo arremessados com raiva na parede.
É familiar, o que acaba me fazendo levar meus olhos para as
cadeiras vazias, imaginando qual será a probabilidade dessa
relação dar certo. Após o jantar, o deixo partir em silêncio, indo
conversar com Brow, que está fazendo a ronda com os outros
seguranças. Limpo a mesa, guardo tudo que sobrou em potes,
armazeno na geladeira, recolho a louça suja e as coloco na pia,
para lavá-las.
O som baixo da música tocandono aparelho de som da sala,
quebra meu silêncio, me distraindo de manterminha atençãofocada
entre talheres e espumas da esponja. O ar quente da respiração
calma acertaminha nuca, fazendo meu coração parar de bater por
apenas um segundo, sendo disparado por batidas violentas quando
ele inclina sua face, encostando a ponta do seu nariz em meus
cabelos. Os longos braços, com as mangas da camisa dobrada até
os cotovelos, se infiltram pela lateral do meu corpo, repousando
suas mãos, uma em cima da outra, sobre meu ventre. Sua cabeça
se mexe, apoiando seu queixo no topo da minha cabeça,
embalando nossos corpos em um balançar calmo, pouco a pouco.
Enxáguo os talhares, os deixando no escorredor de louça, sentindo
seu coração colado em minhas costas,batendodesalinhado como o
meu, enquanto ele puxa fundo o ar para seus pulmões. Suas mãos
massageiam meu ventre, circulando seus dedos pelo meu umbigo,
por cima da camisa. Inclino minha cabeça para trás,tendoseu peito
como um encosto macio e aconchegante.
— Era uma relação agressiva, onde eu me sentia mais
estressado dentro de casa do que no trabalho. Não digo agressiva
fisicamente,mas mentalmente.Brigas, discussões, o que apenas foi
desgastando tudo rapidamente. Foi um amor venenoso e violento.
Ergo minha cabeça para a janela e olho a imagem dele
refletida atrás de mim, com seus olhos presos ao meu rosto.
— Não tínhamos maturidade, eu não tinha paciência,
principalmente,e nem estava disposto a tentarcompreender Silvia.
Assim como ela não estava inclinada a melhora.r
— Eu aprendi muitas coisas com a forma tóxica que Renan
julgava erroneamente ser amor. — Mantenho meus olhos presos
aos seus através do reflexo. — E uma delas é saber que o amor é
bonito, brando, proteto,r quente e acolhedor. Mas se tem uma coisa
que o amor não é, é doloroso e violento.
Baixo minha cabeça, puxando o pano de prato e secando
minhas mãos, desviando meus olhos dos seus. As grandes mãos
em minha barriga se separam, ficando cada uma de um lado do
meu quadril. O giro calmo em meu corpo me faz ficar de frentepara
ele. Respiro fundo e ergo meus olhos aos seus, me perdendo no
azul mais limpo e calmo que transmite em seu olha.r
— Aprecio sua companhia, babá McPhee. — Ariel tem sua
voz rouca. Ergue sua mão para o meu queixo, o segurando com
seus dedos, passando seus olhos por minha face. Ele solta meu
queixo e retiraos óculos dos meus olhos, o deixando no cantinhoda
pia. — Aprecio muito sua companhia.
Minhas pálpebras se fecham e sinto a fraqueza que sempre
me pega quando fico dessa forma, tão íntima diante dele. O
escorregar dos seus dedos por minha bochecha, se embrenhando
no coque do meu cabelo, me mantém presa à sua delicada carícia.
— Aprecio muito sua companhia, doutor Miller — sussurro,
abrindo meus olhos e colidindo com as íris mais cintilantes que já
me encararam.
E eu caio de cabeça, escorregando sem apoio algum em
meio ao turbilhão de emoções que me acarretaquando seus lábios
se apossam dos meus. Envolvo meus braços em seu pescoço,
usando seu corpo como meu apoio, para me garantir um ponto de
equilíbrio nessa tempestadechamada Ariel que entrou em minha
vida. Não me sinto como se estivesse perdendo a direção, mas sim
a encontrando.
O amor pode ser tudo.A loucura, a queimadura e a exatidão.
Mas o amor nunca será violento.
Meus dedos circulam seus joelhos, que estão flexionados ao
lado do meu quadril. Me sinto preguiçosa, com meu corpo lânguido
deitado na cama, entre as pernas de Ariel, apoiando minha cabeça
em seu peito. A janela aberta deixa uma brisa fresca entrar para
apaziguar o calor no qual tínhamos nos queimado, bagunçando o
quartopor completo.Rio ao sentira pontados seus dedos correrem
por meus braços, fazendo pequenas cócegas quando toca meu
cotovelo.O movimento do seu peito, respirando calmo, me faz ficar
mais dengosa, aproveitando as suaves carícias dele.
— Por que não seguiu em frente com o caso contra Renan?
Ariel inclina sua cabeça e beija meu ombro, dando uma leve
mordida, sussurrando próximo ao meu ouvido. Suas mãos passam
por debaixo do meu braço, alisando meus seios nus.
— É muito cansativo e doloroso para uma mulher passar por
um momentocruel, como foi o meu, e ainda ser julgada duplamente,
com perguntas que não são ditas e palavras que mascaram o
julgamento.
— Podia ter recorrido.
— Eu recorri a mim, Ariel, recorri à minha autoproteção.Foi
tudouma distorção vulgar e doentiados fatos,ao pontode me fazer
questionar minha sanidade mental, se eu realmente estava louca e
se foi tudo coisa da minha cabeça, mesmo eu trazendo em cada
canto do meu corpo as provas da agressão que sofri.
Fecho meus olhos e respiro fundo, balançando minha cabeça
em negativo.
— A mulher, quando é agredida pelo seu parceiro, não
encara apenas a dor física e a humilhação, mas ela também lida
com os julgamentos de terceiros.— Esmago minha boca e sinto o
gostoamargo das frases horríveisque tiveque ouvir. — Na certa,se
apanhou, foi porque fez alguma coisa para merecer a surra. Ou, se
estava tão ruim assim, por que continuou com ele?
Sorrio sem um pingo de felicidade, me recordando de toda
humilhação que passei dentro da delegacia, quando fui registrar a
queixa, e dos meus antigos vizinhos, quando me encontraram no
tribunal. Tudo tão feio e cruel.
— Não importa qual o seu grau de estudo, sua condição
financeira, quando uma mulher é agredida, ela se torna uma vítima.
E ninguém nos olha como víitma, somos apenas uma consequência
das nossas escolhas. — As lágrimas queimam minha visão,
enquanto nego com a cabeça. — Mas ninguém escolhe sofrer na
mão de quem julga amar, ficamos frágeis, acorrentadas àquela
situação, psicologicamente abaladas, fisicamente molestadas pelo
parceiro, que força o corpo dele ao nosso. Somos incapazes de
enxergar nossa própria força, porque nos julgamos inúteis, pois
ficamos condicionadas ao fracasso, à incapacidade de quebrar o
vínculo.
O som da sua respiração pesa, enquanto ele me abriga forte
em seus braços, me enjaulando em seu abraço, movendo nossos
corpos, me fazendo ficar de frente para seu rosto. Seu maxilar está
apertado, com seus olhos semicerrados confrontando os meus.
— Renan te molestou? — Ariel pergunta seco, me deixando
ouvir o som rouco da sua voz sair de forma grave.
Levo meus dedos para frente do meu rosto, tapando minha
face, abafando o soluço do choro, que me rasga por dentro.Balanço
minha cabeça, confirmando sua pergunta.
— Sim... — digo baixo, fechando meus olhos.
Dizer isso em voz alta, pela primeira vez, é o mesmo que
quebrar uma barricada de um lago. O choro vem fortee violento.Sai
para fora toda dor que tranquei dentro de mim por anos. Os braços
fortes que me têm sobre seu domínio, se mantêm firmes, apenas
me deixando me sentir segura, sem julgamento, sem repúdio. Me
presenteiacom seu silêncio, sabendo que de alguma forma isso me
corroeu por dentro durante esses últimos quatro anos.
— O pior disso tudo é ter que compreender e admitir que se
não tivesse chegado ao ponto extremo da agressão, provavelmente
eu ainda estaria presa naquela relação doente — digo, chorando
com melancolia. — Estava tão condicionada psicologicamente
àquela situação doentia, me sentindo covarde, inferior e inútil, que
eu mesma não me achava digna e capaz de conseguir sair dela por
conta própria. E isso é humilhante.
Sua mão se ergue e segura meu rosto, puxando minha face
para seu peito, me acolhendo em seus braços. O choro me domina
com uma força possessiva, saindo de dentrodas minhas entranhas,
rasgando minha alma a cada soluço que escapa dos meus lábios. E
tenho de Ariel a única coisa que preciso:um abrigo seguro que me
sustenta,me garantindo desmoronar em seus braços. Suas mãos
alisam meus cabelos, sussurrando palavras ternas em tom brando,
não se importando se demorará uma hora ou a noite inteira para
cessar as lágrimas. Com sua forma silenciosa e gestos calmos, me
diz sem palavras que ele continuaráexatamenteaqui. Depois que o
choro passa, pelo que me parece um longo tempo, me livro do
desespero antigo, que finalmente foi libertado do meu coração. Me
sinto em paz.
— Gentil — sussurro, fungando e erguendo meus olhos para
ele. Ariel se demora em minha face, levando sua mão para minhas
bochechas, as limpando.
— Gentil não é palavra que eu ousaria aderir para descrever
meu estado de espírito nesse momento, minha doce vênus.
— Mas eu sim. Essa manhã usou seus argumentosválidos, e
agora eu estou usando de apelação, doutor Miller. — Sorrio para
ele, escorregando meu dedo pela sua sobrancelha, a contornando
lentamente.— É a pessoa mais arrogante que eu conheço, mas
também a mais gentil.
Colo minha testaà sua, esfregando meu rostona pele quente
dele, suspirando com calma. As mãos de Ariel escorregam por
minhas costas,parando em minha cintura,segurando firme. Não sei
ao certo dizer como faremos isso funciona,r se tem grandes chances
de erros muito mais do que acertos, mas a verdade é uma só: eu
me sinto segura em seus braços, me sinto viva. Ariel nos gira na
cama, depositando minhas costas no travesseiro. Sua mão alisa
meu rosto com seus gestos dominantes, se arrumando sobre mim,
se apossando com poder da minha boca, com seus beijos apagando
todas as lembranças ruins.
— Ohhh, Ariel! — A minha virilha inflama em desejo,
enquanto estico minhas pernas, as empurrando para os lados,
quase me torcendo de dor com toda a luxúria que ele desencadeia
em mim.
Meus braços se erguem, parando perto da minha cabeça,
esmagando meus dedos no travesseiro. A língua de Ariel desliza
curiosa pela minha garganta, entre beijos e mordidas, até chegar
aos meus seios, que arrepiam a pele quando a quentura da sua
respiração paira sobre eles. Meu peito sobe e desce rapidamente,
aumentando as batidas do meu coração. Arqueio meu tórax para
cima, com o bico ereto da mama praticamente implorando por
atenção.
— Apelação aceita,senhorita Self — Ariel fala rouco, com a
respiração acelerada, erguendo meu pulso para cima da minha
cabeça, levando o outro junto logo em seguida, os segurando
unidos, me deixando com eles imobilizados.
Minha boca se abre em um perfeito “O” quando sinto o hálito
quente dos lábios de Ariel se fechando sobre meu seio, mamando
com força, circulando sua língua em volta da auréola. Choramingo
de prazer, o que o incita a sugar mais forte meu seio com pura
vontade.
— Ohhh... — Mordo meus lábios, fechando meus olhos,
sendo arrastada para a sedução tão crua a qual ele me tem.
Ele desliza mais sua língua, brincando apenas com o bico
entreseus dentes,dando pequenas pinceladas apenas para voltara
sugar como se tivesse pretensão de me aplicar essa tortura a noite
toda. Seu pau pulsa entre minhas pernas, raspando na entrada da
minha boceta molhada, que parece apenas precisar tê-lo por perto
para estar pronta para recebê-lo. Ariel segura meu quadril,
investindo-ode forma lasciva contrao meu. O leve toqueda cabeça
grossa do seu pau, raspando em minha boceta,como provocação, é
o suficientepara me fazer querer chorar, em uma mistura de ódio e
desejo. Sua grande boca curiosa solta meu seio apenas para pegar
o outro, o torturando da mesma forma que fez com o primeiro.
Gemo, com os olhos fechados em abandono, me sentindo ser
empurrada para a borda, quando finalmente Ariel começa a
empurrar seu pau dentro de mim, encaixando nossos quadris. Minha
vagina se expande para receber seu pau latentedentro do meu
interior.
Ariel entra pouco a pouco, se afundando lentamente, me
torturando enquanto sua boca continua a sugar meu seio, o
chupando com pressão, o deixando tão firme entre seus lábios. E
como um perfeito quebra-cabeça, nossos corpos se completam. O
gemido escapa dos meus lábios e desejo apenas estar com as
mãos livres, para me segurar a ele, pois posso jurar que estou
caindo em um precipício.Sinto o sangue que corre como fogo em
minhas veias, me levando a respirar duas vezes mais rápido,
enquanto meu mundo é sugado para o dele. O quarto escuro se
torna minha cela preferida, me prendendo em meio ao misto de
paixão que Ariel estáme levando. Meu cérebro latejaforte,como se
explodisse em mil partículas.Meus dedos se fecham em punho e
sinto as mãos fortes dele segurando com brutalidade meu quadril.
Meu coração bate acelerado, como se pudesse sair explodindo de
dentrodo meu peito.A boca de Ariel suga com mais força meu seio,
tendo seu pau pressionando dentro de mim. Em leves movimentos,
sai e entra, tomando cada cantodo meu ser. Ele me marca quando
seus dentes se forçam sobre a pele sensível com tantaforça, me
fodendo fundo, nos colando um ao outro.
— Ohhh, Ariel! — Minha cabeça vira para o lado, abafando
meu grito na pele grossa do braço dele, que se mantém esticado,
segurando meus pulsos.
E, por impulso, meu corpo se arqueia para cima. Tentomexer
meu quadril, querendo mais, implorando por tudo que ele me faz
sentir.
— Mais rápido... Por favor. — É como se fogo puro
percorresse minhas veias agora, a lava mais pura e quente de um
vulcão que entrou em erupção depois de muito tempo adormecido,
me incendiando, queimando meu corpo por inteiro.
Não sei ao certo se sinto alívio, abandono ou perdição
quando ele soltameu seio, trazendosuas mãos para o lado do meu
corpo, libertando meus pulsos, deixando as grandes mãos dele
espalmadas no colchão, movendo com pressão o corpo contra o
meu. Minha vagina o recebe com alegria descarada a cada
estocadabruta, que vai aumentando conforme a batida forte da sua
pélvis contra a minha. As mãos, que estão livres agora, me fazem
matarminha vontade,e deslizo-as por seus braços, apertandomeus
dedos à carne. Meus olhos se abrem e gemo enquanto chamo seu
nome, sendo fisgada pela sua intensidade. Vejo os olhos brilhantes
em azul, que me absorvem. Ergo minha mão e seguro em sua nuca,
abrindo ao limite minhas pernas, as deixando esparramadas na
cama. Meu braço se prende em suas costas, cravando minhas
unhas em sua bunda, gemendo com seu pau tão fundo, que me
toma por completo. Tudo vira uma eterna montanha-russa de
emoções.
— Mais! Deus... Mais, mais... — imploro sem vergonha
alguma a ele, pois é a única coisa que consegue sair com algum
nexo dos meus lábios.
Meus dedos espalmam em seu rosto, e o vejo tão perdido
quanto eu em sua queda livre, na qual nós dois nos encontramos.
— Nunca vou deixar você, Cris.
Sua cabeça se abaixa, tomando meus lábios em toques
desesperados, e o gosto do seu beijo é como um vício,liberando
todas as químicasque disparam dentro de mim, me deixando em
perdição por vontade de nunca o deixar ir para longe de mim. Os
corpos se unindo, a dor, a agonia, tudo misturado ao beijo, a cada
penetração profunda. Minha vagina se aperta mais, se colando em
volta do seu pau, o sugando para mim, o recebendo entre o desejo
e a euforia. Meus dedos param em seus ombros, e me agarro a
eles. O som rouco que sai pelos lábios de Ariel entrenossos beijos,
entra em meus ouvidos e se espalha por todo meu corpo, que vibra
juntoao dele. E entrebatidaslatentese rápidas, vejo tudoexplodir à
minha volta em milhões de partículas,com o orgasmo forte que
corre por todomeu corpo. Ele separa nossos lábios e geme alto,me
deixando tão cheia e quente a cada jato que solta dentro de mim,
gozando junto comigo.
Ariel deixa novos sons roucos escaparem dos seus lábios,
travando seus olhos com os meus, se arrematando fundo entre as
últimasestocadas. Seu grande corpo tombasobre o meu, mantendo
seus cotovelos presos ao colchão, segurando parte do seu peso,
enquanto nossos corações batem com força desesperada, como
dois náufragos que chegam à terra firme. Minha boceta se retrai,
assim que a curiosa língua dele desliza em minha garganta,
parando em cima da veia, circulando a pele. Ele respira fundo,
esfregando seu rosto em meus cabelos.
— Somos bons nisso. — Minha voz trêmula sussurra.
Escondo meu rosto em seu pescoço, abafando um gemidinho
quando ele empurra seu quadril contra o meu.
— Somos muito bons nisso, babá McPhee.
Meus braços se apertam em suas costas e solto o ar
lentamentedos meus pulmões, relaxando os músculos das minhas
pernas.
— Podemos tentar — murmuro, abrindo meus olhos e
encarando o teto do quarto.
A respiração de Ariel se acalma enquanto ele se afasta, se
retirando lentamente de dentro do meu corpo. E é muito a
contragostoque meus braços o soltam. O vejo em seus joelhos
quando ele se senta entre minhas pernas, olhando para meu corpo
nu e suado à sua frente.Seu olhar recai sobre minha barriga. Estica
sua mão, parando-a em cima dela, a deixando achatada com os
dedos abertos.
— Somos bons juntos. — Sorrio para ele, arrumando meus
cotovelosno colchão, inclinando a partesuperior do meu corpo para
cima, olhando sua mão sobre o meu ventre. — Talvez dê certo.
E mesmo em meio à escuridão, com a pouca luz que entra
pela janela do quarto, eu posso jurar que vejo, por uma fração de
segundos, uma centelhade tristezabrilhar em seus olhos, o que me
faz ficar com a guarda erguida. E se o homem se arrependeu da
ideia de querer realmente formar uma família?
— O que... O que foi? — Ariel desvia seus olhos dos meus,
voltando a olhar para o meu ventre. — Se arrependeu?
Uma vergonha tão grande vai me consumindo, e estar nua e
exposta diante dele nunca me pareceu uma cena tão horrível quanto
agora. O deixei ver muitoalém do meu corpo, tinhamostrado a Ariel
minha alma. Tento puxar as pernas, procurando uma maneira de
esconder meu corpo, para me afastar dele, mas suas mãos são
mais rápidas quando ele segura meus joelhos, mantendo minhas
pernas quietas, as deixando exatamentecomo estavam. Ele volta
sua atenção para meu corpo, passando seu olhar por cada cantode
mim, e a grande mão que estava em meu ventre, desliza livre por
minha pele, me fazendo observar atentao contrastedas nossas
peles, alisando de mansinho, deixando meu corpo relaxado.
— Não sou gentil, Cristina — Ariel fala baixo com sua voz
rouca, tombando sua face para o lado, com seus cabelos
bagunçados, tendo sua pele brilhando pelo suor.
Ele para sua mão sobre meu seio, onde sinto a pele tão
sensível e acompanho seu olhar, enxergando a marca da sua
arcada dentária. É visível a pressão que ele usou para morder
minha pele. Estava tão dopada com toda a luxúria, que nem notei a
força com que ele tinha me mordido.
— Não foi com cavalheirismo que eu a fodi, foi com posse.
— Está tudo bem. — Volto meus olhos para os seus. — Não
foi ruim. Na cama eu posso lidar com seu controle.
Sorrio, me deitando no colchão e alisando seu braço,
suspirando com calma.
— Não posso garantir que minha necessidade por controle
não falará mais alto em alguns momentos fora da cama.
— Quando isso acontece,r eu vou lhe informar, doutor Miller.
Vejo seus olhos brilharem de forma quente enquanto ele se
deita lentamentesobre meu corpo novamente. Deixo meus dedos
voltarem para seus braços, acompanhando as linhas dos seus
músculos, indo para seus ombros, percorrendo suas costas,
fechando meus braços em sua volta em um abraço assim que seu
corpo volta para mim outra vez. Sinto a ponta do seu nariz passar
por minha bochecha, alisando meu pescoço como se estivesse me
farejando. Sua respiração pesada retorna e viro meu rosto para o
lado, o tombandono travesseiro,procurando por seus lábios. Posso
sentir aquela emoção que me aquece, o coração me tomando outra
vez quando nossos lábios se encontram.Não é mais a loucura ou o
desejo desenfreado que me consome, é algo brando, acolhedor, de
forma terna, o que nunca senti por ninguém. E de repente não me
vejo mais amedrontada ou assustada com todos os rumos que
nosso futuropode tomar. Sua mão forteafaga meu corpo, apertando
cada canto que toca. Felicidade e paz me assaltam com seus
toques. Afasto novamente minhas pernas, o deixando confortável
entremim, sentindoseu pau voltara ficar duro, se encaixando entre
os lábios da minha bocetainchada. Ariel entra,mesmo não estando
tão duro como antes, mas posso sentir como ele cresce em meu
interior, quando seu corpo começa a se mover lentamente.
— Somos fodidamente bons juntos.
Sua voz baixa geme rouca entre meus cabelos, me
apertando mais a ele, enquanto nos conduz de volta ao precipício,
só que dessa vez de uma forma que me rouba muito mais que
gemidos, rouba a minha alma, a deixando presa a ele.
Sim, somos bons juntos.
— Mas, senhorita Self...
Ergo minha mão, negando ao ouvir seu discurso outra vez.
— Não vai entrar comigo, Brow — falo rápida, pegando
minha bolsa. — Imagina o que as pessoas do escritóriovão dizer se
eu entrarcom um homem de dois metrosde alturame escoltandoa
cada passo dentro do meu trabalho?
— Foi ordem direta do Ariel, Cristina.
— Deixa que me viro com ele. Eu cumpri minha parte, não
foi? Aceitei você me trazer e me levar para casa quando ele não
puder, e me acompanhar quando eu precisar, mas nada de querer
entrar junto comigo na firma.
— Ele vai ficar bravo. — Os olhos de Brow me encaram pelo
retrovisor interno do carro.
— Ariel sempre está bravo, Brow. — Repuxo meu nariz e
olho para o prédio.
— Não quer mesmo que eu suba com você?
Não posso mentirque não estoutentadaa aceitarsua oferta,
pois posso imaginar o olhar gélido que o notório criminalista vai me
dar assim que me ver entrando em seu escritório.
— Creio que consigo dar conta do mau humor dele.
— Qualquer coisa vou estar aqui na frente do prédio, lhe
aguardando.
Pisco para ele em concordância, abrindo a porta do carro e
saindo feito uma bala disparada para dentro do prédio. Passo pelas
portasdo edifícioe me deparo com Bete,que estátagarelandocom
duas assistentes do primeiro anda.r
— Cris, bom dia!
— Merda! — murmuro baixo quando ela me avista, deixando
as assistentes de lado e caminhando para mim. — Bom dia, Bete.
— Menina, fiquei preocupada com você, sumiu todos esses
dias, fiquei assustada. A última vez que lhe vi, foi sendo carregada
nos braços daquele demônio.
Desconfio que a preocupação de Bete não seja com a minha
saúde e nem com as minhas faltas. Ela apenas quer especular
porque um dos sócios me pegou no colo.
— Pois é, acabei precisando de mais alguns dias para minha
saúde estabilizar.
— Ainda bem que teve ajuda rápida do doutor Miller. —
Esmago minha boca, balançando a cabeça em positivo para ela. —
Todos nós ficamos sem reação com a forma grosseira como ele
falou com Malvina. Dizem que ela estátãoressentidapor ele não ter
se desculpado, que nem olha na cara dele...
Atravesso o hall do prédio, indo direto para as escadarias,
tentando-a fazer desistir de me acompanhar. Mas, para meu
desânimo, Bete não só abriu a porta para que eu pudesse passar,
como ela também começou a subir os degraus à minha frente.
— Na verdade, estava tão desligada com a minha queda de
pressão, que não reparei — falo séria, tentandosoar calma, mas
dentro de mim admito que estou feliz por saber que aquela vadia
está afastada dele.
— Pois foi só você. De resto, todos repararam. Malvina saiu
com os olhos marejados de lágrimas, soluçando baixo. — Bete ri,
me contando sobre Malvina, o que me faz ficar mais preocupada
com os rumores. — Não que eu tenha sofrido por ela, para ser
franca, gostei de ver alguém colocando aquela megera no lugar
dela, mas eu ainda continuoachando aquele homem pavoroso. Não
sei por que não pede para o doutor Pietro lhe remanejar para Max.
Ele ainda não arrumou uma secretária...
Ela não para. Bete tem um dom peculiar de falar diversas
asneiras pela sua boca como se estivesse palestrando, e o pobre
desavisado que cai no seu momento de discurso apenas se torna
um ouvinteentediado,que cortariaos próprios pulsos para poder se
matar e parar de escutar sua voz irritante.Avisto a porta do meu
andar e me sinto feliz por saber que logo meu momento tortuoso
terminará.
— Estou agradecida por sua preocupação, Bete, mas não
penso em pedir remanejamento para trabalhar com Maximiliano. —
Passo à sua frente, quando ela para, se virando para me encara.r
Subo mais quatro degraus, usando meu cotovelo para
empurrar a porta. Antes mesmo de dar dois passos para dentro do
escritório,sou confrontadapelo diabo em pessoa em seu terno sob
medida, completamente negro, me encarando severo.
— Para minha sala agora! — Ariel estica sua mão, a
espalmando em minhas costas, levando sua atenção para Bete
tagarela,que finalmenteentope sua grande boca ao encarar o olhar
bravo de Ariel.
— Como? — Olho perdida para ele, sem entender como ele
sabia que eu estava subindo, mas então me lembro do linguarudo
do Brow. — Bom dia, doutor Miller... — Minha voz, com altivez
fajuta,usa uma mixaria de coragem, que raspo do meio das minhas
entranhas. Mantenho meus olhos fixos aos seus.
E quem me olhar aqui, o encarando, não notaráque passei a
noite toda dormindo feito um bebê, aconchegada em seus braços,
com sua grande mão espalmada em meu ventre.
— Vamos. — Ele dispensa Bete com um olhar bravo, se
virando e caminhando rabugento rumo à porta da sua sala,
mantendo sua mão em minhas costas, de forma íntima.
Sorrio apáticapara alguns dos funcionários bisbilhoteirosque
nos acompanham com seus olhares curiosos. Ariel abre a porta do
escritórioe nos leva para dentro dele, fechando a porta atrás de si
de forma bruta, a chaveando.
— Vou ser obrigado a te amarrar na cama?
— Oh, deixe de bobagem, doutor Miller. — Solto a bolsa em
cima da mesa e me viro para encarar meu sexy carcereiro zangado.
Ariel me surpreende, parando à minha frente,com suas mãos
ligeiras e terríveispuxando minha camisa para cima, espalmando
sua mão em minha barriga.
— Devia estardescansando, como o médico recomendou. —
Ele tomba sua cabeça para o lado em seu ombro, com um leve
brilho nos olhos azuis ao contemplar meu ventre. — Por que tem
que ser tão teimosa, Cristina?
— Ariel, estou bem, o atestado não duraria para sempre.
— Posso arrumar isso, se for o caso.
— Não... Não pode! — Tento estapear seus dedos, para que
ele se afaste de mim, mas isso é quase o mesmo que tentar
empurrar uma parede. — Ariel... Ariel, o que pensa que está
fazendo?
Ele não me responde, apenas mantém o ritmo das suas
carícias em minha barriga, me fazendo ter cosquinhas quando a
ponta do seu dedo contorna meu umbigo.
— Quando será a próxima consulta com a obstetra?
— Semana que vem. — Ele balança sua cabeça em positivo
e ergue seus olhos para mim. — Vou ter que arrumar uma brecha
na sua agenda — digo.
— Daremos um jeito. — Suas mãos escorregam por minha
pele, enlaçando minha cintura, apertando seus braços em minhas
costas, tirando meus pés lentamentedo chão. — Bom dia, babá
McPhee.
— Bom dia, doutor Miller. Como foi sua noite? — Meus
braços param ao lado do seu pescoço, abaixando meus olhos para
seus lábios.
— Muito boa, deliciosamente boa.
— Descarado! — murmuro, sorrindo, me agarrando em seus
ombros.
Solto de vez minha vontade de sentir a texturados seus
lábios nos meus, o capturando lentamente,me derretendo com a
forma esmagadora como Ariel me tira o ar. Sinto minha bunda
aterrissar em cima da minha mesa, com os dedos curiosos dele
puxando a barra da grande saia para cima, resmungando entre
nosso beijo.
— Não pode ser tão pervertido, de querer ficar de amasso
com a secretáriadentro da sua sala — sussurro, mordiscando seus
lábios.
Não preciso de muito para ele me incita.r Meu corpo queima
como uma chama forte sempre que seu toque repousa em mim.
Minhas mãos imploram por sentirsua pele entrandoem contatocom
a minha, e essa fome apenas me desencadeia tanto vontades
quanto urgências. O som das coisas caindo ao chão enquanto ele
me empurra para trás não me incomoda, nem o fato de Ariel estar
prestes a me tomar aqui dentro dessa sala de escritório. Ele sabe
como deixar uma mulher viciada por seu sexo. Seus beijos marcam
minha pele, sendo depositados em um caminho tortuoso,do meu
queixo ao pescoço, passando por cima do tecidoda camisa atésua
cabeça ficar posicionada entre minhas pernas. E é assim que me
sinto eufórica. Meus hormônios descontrolados pedem mais dele,
sendo disparados desenfreados dentro de mim com apenas um
beijo. E eu me queimo feliz assim que sua respiração quente
assopra em cima do tecidofino da calcinha, apenas a empurrando
para o lado, me sugando entre seus lábios.
— Oh, merda! — Mordo minha boca, segurando um gemido,
tentando abafar os sons que escapam dos meus lábios.
As pinceladas da sua língua aumentam como uma chibata
certeira, que me pune, me levando ao prazer pleno. O som do
telefone,que começa a tocardentroda sala, me faz rir, e o empurro
para longe de mim. Ariel segura minha cinturae me ajuda a descer
da mesa, abaixando a minha saia.
— Não pense em sair dessa sala. — Ele caminha para sua
mesa e retirao telefonedo gancho, levando-o à sua orelha. — Miller
falando. — Assim que estou devidamente alinhada outra vez,
arrumo meus óculos tortosem minha face e olho para ele. — Sim,
sim. Diga que já estou chegando.
Ele deposita o aparelho no gancho e encerra rapidamente a
ligação, olhando para o relógio em seu pulso.
— Eu tenho que ir para o tribunal.
— Claro, só vou pegar sua agenda.
— Não, Cristina. Disse que eu tenho que ir para o tribunal.
Você fica e me aguarda aqui, até o fim do julgamento.
— Mas, Ariel... — Nego com a cabeça. Não entendo por que
ele temque ser tãoteimoso.— Estoubem, eu quero acompanhar o
final do caso Brat.
— Preciso saber que você está segura, para que eu possa
me concentrar — ele me corta de uma única vez, sério, com sua
face fechada. — Já que não posso teamarrar de vez na cama, pelo
menos fique dentro da minha sala. Brow trará seu almoço, não sei
quanto tempo o julgamento pode demora. r
— Está legal — respondo a contragosto,sabendo que se eu
tentarargumentar, será pior. — Mas não precisa pedir para Brow
trazermeu almoço, eu posso pedir para o restauranteentregar aqui.
— Brow vai trazer seu almoço e você vai ficar dentro dessa
sala, me esperando. — Ele não me deixa falar, tapa minha boca
com a sua em um bote sorrateiro e rápido, me beijando com força.
— Por favor, eu preciso que faça isso para que possa me concentrar
nesse julgamento.
Estou pronta para brigar, discutir até o último argumento, se
for o caso, mas seu olhar preocupado me desarma. Mais uma das
diversas facetasdo notório infame doutor Miller, que mais uma vez
me desestabiliza, me deixando ver uma de suas faces. E o que ela
me mostraé medo, não apenas sua mania de me controla,r mas sim
uma preocupação alarmante. Posso compreender um pouco da
egocentricidadede Ariel e a sua forma amarga de lidar com a vida
depois que ele me contou sobre Dolly. Isso deve ter abrangido
bastante essa sua persistência de ser autoritário.
— Já que não temremédio, fazer o quê, né?! — Lhe dou um
sorriso calmo, recebendo dele um beijo em minha testa.
O vejo partir e me largar dentro da sala, a fechando atrás
dele. Solto o ar pelos meus lábios, esfregando meu cenho franzido.
Ainda não acreditoque ele não me deixou acompanhá-lo. Depois de
arrumar a bagunça que fizemos em minha mesa, pegar o que caiu
no chão, guardando em seu devido lugar, me sento e puxo os
relatórios para cima da mesa. Vou deixar em ordem toda a
documentação que eu perdi nesses dias, já que é o que me resta
para fazer. Entre novos casos que deixei digitalizados, e
telefonemas marcando os recados para Ariel, cumpro minha parte,
ficando dentro do escritório pela manhã toda, apenas matando
minha curiosidade uma hora ou outra, buscando por informação do
andamento do caso de Brat pela internet.Mas nada de notíciado
resultadoda audiência ainda. Provavelmentelevará grande partedo
dia até sair o veredito final. Não sei se Ariel irá levar Violet para o
banco das testemunhas ou a descartará.
— Fiquei sabendo que alguém voltou e nem foi me ver. — O
som da voz de Max, falando dentroda sala, me tirada concentração
do meu trabalho, me fazendo sorrir ao olhar para ele, que segura
um copo de café, deixando sobre minha mesa. Me levanto e afasto
a cadeira, lhe dando um abraço.
— Oh, Max, perdão, eu devia ter ido na sua sala!
— Imagino que deva estarcheia de trabalho,por isso lhe dou
um desconto. — Ele se afasta, sorrindo, alisando meu rosto. —
Como está a futura mamãe?
Automaticamenteolho na direção da porta aberta e caminho
para lá, a fechando, sorrindo sem graça para ele.
— Estou bem — sussurro, olhando meu ventre.
— Quis ir te visitar, mas Pietro não achou que seria de bom
tom, ainda mais agora, que Ariel está tão superprotetor em relação a
você.
— Ele exagera, eu sei. — Coço minha cabeça e a tombo para
o lado. — Devia terme ligado, mandado uma mensagem, eu o teria
recebido de qualquer jeito.
— Eu sei que sim, e é por isso que teamo. — Ele pisca para
mim, levando seu olhar para meu ventre. — Mãe de gêmeos?!
— Sim, dá para acredita,r Max? — Tapo meu rostoe encolho
meus ombros. — Às vezes tenhomedo de que seja um sonho, mas
então olho para minha barriga e sei que é verdade. — Retiro meus
dedos do meu rosto, olhando sua face risonha. — É uma sensação
única, saber que estou gerando duas vidas dentro de mim.
— Você merece, Cris, merece toda felicidade desse mundo.
E eu estou muito feliz por você. — Max caminha para mim,
segurando meus ombros. — Vai ser uma mãe maravilhosa.
O abraço com carinho, dividindo com ele esse momento tão
feliz que estou. Max, melhor do que ninguém, sabe o quantoeu sofri
nessa minha trajetória.Sinto seu beijo terno em cima da minha
cabeça, com ele respirando fundo.
— Sabe que pode contar comigo no que precisar, não vai
estar sozinha.
— Eu sei, meu amigo. — Me afasto dele, mordendo meus
lábios, decidindo se converso com ele ou não sobre minhas
decisões sobre o futuro. — Ariel quer se casa,r Max.
O vejo dar um passo para trás, levando suas mãos aos
bolsos da calça, olhando surpreso para mim, dando um comprido
assobio.
— Uau! Sério? Miller quer se casar por causa dos filhos?
— Bom, não é exatamentepor conta dos filhos. — Desvio
meus olhos dos seus, sentindo minhas bochechas queimarem de
vergonha.
— Estão se entendendo? — Max me pergunta de uma vez
só.
— Digamos que sim. Ariel pode ser muito difícilde lidar em
alguns momentos, mas ele é, ele é...
— Está apaixonada por ele, Cris? — ele pergunta, intrigado,
estreitando seus olhos, me analisando.
Cruzo meus braços em cima do meu peito, batendo
lentamente a ponta do meu sapato no chão.
— Estou... Acha que isso é ruim, Max? — Elevo meus olhos
aos seus, que estão pensativos. — Que estou fazendo outra
burrada, como foi com Renan?
O som das batidas na porta nos interrompe, e Bete entra,
chamando por ele. Max retirasua mão do bolso da calça, ergue seu
dedo indicador e endireita meus óculos.
— Vou ficar com meus olhos em você, ok?!
— Ok!
Sorrio para ele e o vejo se retirar da sala. Os olhos curiosos
de Bete estão parados em mim, bisbilhotando, e ela morde o canto
lateral da sua boca.
— O que foi? — Descruzo meus braços e a olho.
— Já que voltou, poderia me dar uma ajuda com alguns
documentosque estão pendentes? Meio que cuidar de Pietro, Max
e do doutor Miller foi muita coisa para uma só durante esses dias,
acabei acumulando trabalho.
Seu sorriso se expande, com ela batendo seus cílios para
mim, com cara de pedinte. Sou obrigada a rir e caminho para perto
dela, para lhe ajudar.
— Vamos lá, me mostre no que está precisando de ajuda.
Fingir que não vejo os olhares estranhos em minha direção,
quando Brow entrano escritório, me trazendoo almoço, não é nada
comparado ao desconforto de ter que encarar Malvina na sala de
café, que não esconde um segundo sequer sua antipatiapor mim.
Acho que a mulher nasce com um faro natural para saber quando
outra chutou o rabo dela para fora da jogada, pois a rivalidade que
ela mantémno seu olhar de rapina é gritante,o que me faz perder o
apetitepor completo, descartando meu almoço na lata de lixo, o
deixando pela metade. Saio de lá o mais rápido que posso, para não
ouvir os murmúrios. Passo no banheiro, me limpo e escovo meus
dentes, indo na direção da sala de Ariel em seguida.
Encontro um entregador, parado no meio da sala da
recepção, e não há ninguém para recebê-lo. Ele segura uma imensa
caixa em suas mãos, e é o responsável por me fazer mudar minha
rota. Certeza que Bete saiu para almoçar, sem esperar que o meu
horário de almoço terminasse, e a outra menina também não tinha
voltado.
— Pois não? Em quem posso te ajudar?
— Senhorita Self? — ele pergunta, puxando uma prancheta
pendurada na lateral do seu corpo.
— Sim, sou eu.
— Entrega para a senhorita.
Olho confusa para a caixa branca com o laço negro
aveludado, sem entender o que seria isso.
— Poderia assinar aqui, por favor? — O rapaz estica a
prancheta para mim.
Pego a caneta em cima da minha antiga mesa, onde eu
trabalhavana recepção, e assino o documento.Assim que a folha é
rubricada, o entregador estende a caixa para mim.
— De quem é? Veio algum cartão?
— Veio sim, só um momento. — Ele leva a mão para trás da
calça, puxando o envelope negro com ele. — Mas não está
assinado. Só tinhaa caixa lá no balcão da firma, com o endereço de
entrega para a senhorita, quando fui pegar minha rota.
— Claro, obrigada.
O vejo se afastar, enquanto me viro, voltando para a sala de
Ariel. Deixo a caixa em cima da minha mesa e solto o laço negro.
Assim que meus dedos vão para a tampa, o telefone começa a tocar
com insistência. Esticomeu braço e o tiro do gancho, atendendo a
ligação.
— Escritóriode advocacia. — Abro o cartãoe puxo o bilhete,
que contém letras digitadas.
O som grave de uma respiração pesada do outro lado da
linha me faz ficar alarmada.
— Alô?
“Ainda se lembra de quando nos conhecemos?”
O som baixo de uma puxada forte de ar, do outro lado, me faz
gelar. Ouço a respiração alterada dele enquanto leio o cartão.
“Eu sim. Me lembro de tudo, de cada segundo. E se eu fechar meus
olhos, posso me ver diante de você agora.”
— Renan... — Fecho meus olhos e seguro o aparelho,
sentindo meus dedos trêmulos, compreendendo as palavras do
bilhete. — Por que fica fazendo isso?
Abro meus olhos e sintoas lágrimas os queimarem, enquanto
ele mantém suas lufadas de ar fortes e roucas no telefone.
“Me recordo que olhei você e a vi de cabeça baixa, desprotegida,
tão frágil... E a única coisa que pensei foi em como seria a esposa
mais linda, como eu queria ser o pai dos seus filhos. Mas eu não
sou, não é, Cristina? Você foi rápida em achar um pau para meter
em suas pernas, para lhe engravidar. Espero que aproveite seu
presente, meu amor. Servirá tanto para você como para o que
cresce dentro do seu ventre.”
— Oh, meu Deus! — Tapo minha boca, sentindo meus olhos
queimarem. — Como... — Seguro o choro, olhando a mesa de Ariel.
— Renan, como soube? Quem te contou?
Meus olhos se voltam para a caixa em cima da mesa e
respiro com força. Esticomeus dedos e empurro a tampa.Meu rosto
está queimando, com o ar sendo puxado rápido para meus pulmões,
com meu coração acelerado. A coroa de flores negra, com uma
faixa de condolências a cobrindo, tranca por completo minha fala.
Mas é o que tem no meio dela, que fraqueja de vez minhas pernas.
O telefone escorrega pelos meus dedos, caindo ao chão, ficando
pendurado ao fio, enquanto meus olhos estão presos ao pequeno
feto envolto no cordão umbilical. Minha mão vai ao meu ventre e
solto o bilhete. Tento me mover, mas minhas pernas parecem ter
petrificado, ficando pesadas, com toda a sala rodando à minha volta.
Um breu horripilante me puxa para dentro dele, me engolindo
enquanto meu corpo vai ao chão.
Capítulo 23