dele. Sua casa fica afastada de Sacramento, é grande, arejada e
completamente silenciosa, com paredes brancas, arquitetura
moderna, tão sem vida e calor humano quanto seus olhos safiras
estão agora, olhando para a varanda do quarto.
— Ariel... — chamo por ele, vendo seus ombros enrijecerem
e a pequena repuxada em seu pescoço para a esquerda não me
passa despercebida.
— Por que não me contou sobre meus filhos? — Ele
finalmentevolta sua face para mim, parando seus olhos enigmáticos
nos meus.
— Eu tentei...— respondo baixo, mordendo a lateral dos
meus lábios. — Estava tentando achar o momento certo.
— O momento? — Sua voz é fria, se igualando ao seu olhar,
quando me cortade uma única vez. — E quando exatamente seria
esse momento? Talvez quando lhe perguntei sobre o
anticoncepcional?Ou quando passou mal dentro da firma? Talvez
até nos primeiros dias teria sido interessante.Então me fala, qual
seria a porra do momento perfeito para me contar que está
carregando meus filhos, Cristina?!
— Eu não sei, tá legal?! — Tapo meu rosto, negando com a
cabeça. — Tive medo.
As palavras saem pesadas, igual meu coração se sente
agora. Ergo meu rosto e olho para ele, que se mantém fechado.
— Medo?! Medo de ser mãe? Medo de ter que cuidar de
outras vidas? Defina seu medo. Não queria meus filhos, é isso? —
Sua forma fria me contra-ataac com palavras maldosas, me olhando
como se eu fosse um animal irracional.
— Oh, meu Deus! Como ousa abrir essa sua boca arrogante
de merda para dizer uma banalidade desse tipo?!
— Eu não sei, estou tentando entender porque omitiu a
verdade sobre meus filhos. Talvez não os quisesse, por isso não me
contou. Pretendia abortá-los?
— NÃO! — grito com raiva, negando com a cabeça para ele.
— Por anos da minha vida achei que eu era seca, Ariel, uma mulher
incompletapor não poder gerar uma vida. Renan usou isso para me
tortura,r me culpando por não poder lhe dar um filho. Isso me
destruiu psicologicamente... E quando descobri sobre os bebês e
sobre a mentira de Renan, sobre eu não poder ser mãe, foi o
momento mais assustador e mágico da minha vida. A única certeza
que eu tive, e tenho dentro de mim, é que eu vou protegê-los...
— De mim? — O som rouco sai da sua boca em tom de
ressentimento.
— Se for preciso, sim. — Ergo meus dedos para minha
barriga, abaixando minha face para meu ventre,segurando o choro.
— Eu não quero nada, não vou te obrigar a nada também. — Sinto
as lágrimas quentes escorrerem pela minha face, mesmo eu
tentandoprendê-las. — Mas eu não vou deixar você tirar eles de
mim.
O som dos passos dele atravessando o quarto é tudo que
ouço antes do meu corpo ser arrematado em seus braços, me
apertandoforte. Sintomeu coração voltara batercom força em meu
peito a cada segundo que ele me acalenta.Ariel afasta apenas um
pouco sua face da minha, trazendo uma de suas mãos para frente,
alisando minha bochecha, retirando os óculos, que estão
embaçados pelo choro dos meus olhos.
— Eu apenas precisava ter certeza de que você os quer o
tanto que eu quero.
Fungo baixo, ficando com meus olhos presos aos seus, não
sabendo o que ele quer dizer com isso. Como ele pôde achar que
eu não queria meus filhos?
— Não existelei e poder nesse mundo que me faça renunciar
a eles, Ariel.
Ariel me abraça em silêncio, trazendominha cabeça para seu
peito.Sintoseu queixo no topo dos meus cabelos, com o som calmo
da sua respiração.
— Venha, precisa deitar-se um pouco. — Sua voz rouca, em
tom brando, sussurra para mim.
Girando nossos corpos lentamente,nos leva para a cama.
Ele me deita e se arruma ao meu lado, ficando em silêncio. Fecho
meus olhos, sentindo o toque quente da sua mão sobre minha
barriga, com seu peito arfando para frente a cada respiração
pesada. Estou tão cansada e exausta, que não quero brigar. Não
quero gritos, nem ataque de fúria, apenas quero proteger meus
filhos.
— Gosta?
Desvio meus olhos do grande jardim para Ariel, que entra na
varanda da sala com suas mãos nos bolsos.
— É bem espaçosa. — Volto a olhar o jardim, percorrendo
meus olhos pela piscina. — Para ser franca, achava que você ainda
estava hospedado no hotel.
Ouço a risada baixa dele, enquantodá um passo à frente,se
virando de frente para mim.
— Para ser franco, vim apenas três vezes aqui, ainda durmo
naquele mesmo quartode hotel.— Ariel olha em volta,parando sua
atençãoem mim. — Eu comprei ela temquatrosemanas. Um antigo
clientede Nova York, que é corretorde imóveis, entrou em contato
com alguns conhecidos e conseguiu achar essa casa para mim.
— Ela é linda, muito linda! — Desvio meus olhos dos seus,
abaixando para meus sapatos. Esfrego meu braço com minha mão,
podendo imaginar como as crianças vão ficar felizes aqui, quando
vierem visitar o pai.
— Tem bastante espaço, é distante, gosto disso.
— Sim, tem bastanteespaço, e parece ser muito segura. —
Ergo meu rostopara ele, tentando não me sentirmelancólica. — Vai
ser bom para você tertodoesse espaço com a chegada dos bebês.
Veja se aquele quarto lhe agrada, escolhi ele para ser o quarto de
casal por conta do quarto ao lado, que vai ficar com as crianças.
— Como? — Pisco, confusa, olhando na direção dos
corredores do quarto. — Quarto de casal?
— Não pensou que vou dormir no sofá, não é?
— Não somos um casal, Ariel, a gente apenas...
— Transa e faz filhos no tempo livre?!
Ele arqueia a sobrancelha, me encarando, negando com a
cabeça. Esfrego minha nuca, batendomeu pé no chão, preocupada.
— O que está querendo dizer com quarto de casal, Ariel?
— Estoufalando sobre onde os casais dormem juntosdepois
que se casam.
— VOCÊ QUER CASAR?!
— Esperava pelo menos um anel ou você de joelho, um
pedido romântico.Mas, pedindo assim, tão eufórica... eu aceito!—
Ariel passa por mim e entra na casa, me deixando atrapalhada com
o cinismo dele e com essa mania de distorcer minhas palavras.
— Ariel... Ariel, volte aqui, eu não lhe pedi em casamento,
você sabe muito bem disso! — Caminho rápido atrás dele. — Não
pretendo me casa.r
— Uma pena, porque você já pediu e eu aceitei. — Ele
aponta para a mesa, nem sequer se dando ao trabalho de disfarçar
sua arrogância. — Tem que se alimentar, se sente.
— Não vamos nos casar, doutorMiller! — Puxo a cadeira, me
sentando emburrada, discordando completamente dessa ideia
absurda. — Não existe casamento por conta de filhos, está me
entendendo? Somos dois adultos e podemos agir como tais.
— Preparei torradas, se quiser tem frutas, o que prefere?
— Ariel, pare de me ignorar!
— Não estou lhe ignorando, fiz uma pergunta comum. — Ele
aponta para a torradeira e para as frutas em cima da mesa. — O
que prefere?
Filho da putaprepotente,estáfazendo isso de propósito,nem
sequer dá ouvidos para o que eu falo! Retiro os óculos e esfrego
meu rosto, bufando com raiva pelas minhas narinas.
— Não vou me casar com você...
— Torrada. — Ele pega um prato, indo para a torradeira,
caminhando com preguiça. — Entendauma coisa, Cristina,não vou
ver meus filhos em horários estipulados ou festas de final de ano,
muito menos deixar outro homem criá-los.
— Não funciona assim. Você, melhor do que ninguém,
entendede leis e sabe que podemos tera guarda compartilhada.Eu
já tenho vontade de matar você apenas por trabalharmos juntos,
imagina se for sua esposa?
— Pequenos detalhes matrimoniais que podemos chegar em
comum acordo.
— Casamento não é um acordo. E eu vou deixar claro para
que entenda: não vou me casar com você!
Ariel se vira rápido, depositando o prato à minha frente e o
empurrando para mim. Mesmo sobre seu olhar zangado, não desvio
nem por um centímetro meus olhos dos dele.
— Entenda uma coisa:não vou deixar meus filhos em perigo
por conta da sua teimosia, e muito menos lhe deixar voltar para
aquele apartamento. — Seus punhos se fecham ao lado do corpo,
cerra seu maxilar. — Quem segurou você no colo foi eu, quem teve
que descobrir a existência dos meus filhos enquanto você estava
entrando no pronto-socorro foi eu, não estou inclinado a revogar
minha sentença.
— Não sou uma das suas clientes, doutor Miller! Muito menos
um acordo comercial será feitopela segurança dos meus filhos. Vou
voltar para minha casa...
— PELO AMOR DE DEUS! O FILHA DA PUTA ENTROU NO
SEU APARTAMENTO, CRISTINA!
Me calo, ficando congelada assim que sua voz estouradentro
da cozinha, seguida de um soco forte em cima da mesa. Sinto meu
corpo trêmulo e assustado, meus olhos arregalados, e respiro com
força. Ariel amaldiçoa baixo, recolhendo seu braço, com sua face
vermelha de raiva, virando de costas para mim. Não consigo falar,
nem sequer sei se posso me mexer, me sinto paralisada com seu
rompante.
— Merda! — Vejo suas mãos passarem por seus cabelos,
com ele soltando uma respiração pesada. — Preciso que entenda
que não está segura. Renan entrou dentro daquele apartamento
sem ninguém ver. Ele deve ter entrado no quarto enquanto você
dormia, depois de disparar o alarme do meu carro, o que me obrigou
a descer para o desligar. Ele não tevemedo de ser pego, ele foi frio,
deixando um animal degolado dentro do seu banheiro, Cristina. —
Fecho meus olhos, desejando poder esquecer aquela barbaridade
feita ao pobre animal. — Nossos filhos não estão seguros. Quero
cuidar de vocês.
Ariel gira seu corpo e caminha lento, parando perto de mim.
Observo sua mão tão grande, com os nervos vermelhos, por ter
socado a mesa. Ele poderia me derrubar apenas com um tapa, se
ele quisesse.
— Não me olhe assim, por favor. — A voz rouca dele sai
baixa. Se aproxima mais um pouco de mim, com cautela.— Estou
zangado, isso é visível,mas eu nunca machucaria você. Nunca na
minha vida eu lhe faria mal, Cris.
A verdade é que, no fundo do meu coração, eu desejo poder
acreditarnisso, mas as memórias que me prendem me seguram ao
meu medo. Eu nunca conheci Ariel verdadeiramente, não sei como
era sua vida em Nova York, muito menos como foi sua relação
antiga. As palavras de Max voltam a me assaltar e tudo me
amedronta.
— Só quero cuidar de você. — Ariel estica sua mão para
tocar as minhas em cima da mesa, mas para seus movimentos
assim que eu recolho as minhas, as depositandoem minhas pernas.
— Eu vou ficar aqui atéminha mãe retornarde viagem, Ariel.
Já tem minha resposta sobre sua ideia de casamento, e ela é
irrevogável.
Empurro meu corpo para fora da cadeira e me levanto
apressada. Sinto minhas pernas fraquejarem pelos tremores
enquanto caminho, voltando para o quarto, tentando manter o
controle da minha respiração. Fecho a porta atrás de mim, meu
rosto se inclina para frente, repousando minha testana madeira,
sentindo toda as lembranças me rasgarem de dentro para fora.
Gatilhos, malditos gatilhos sendo disparados dentro da minha
mente!
— Não faznada, absolutamente nada nessa porra de vida, e
a única coisa que te peço, ainda faz errado! — Renan se move
rápido, me deixando encurralada na porta do banheiro. — Tem
alguma coisa aqui dentro? Hein? Sabe usar isso que tem na sua
cabeça? — Seu dedo esmaga com força minha testa, cutucando
com raiva. — O nome dessa porcaria é cérebro, mas acho que você
não tem, é oco aí dentro, vazio igual seu útero!
— Eu não fizde propósito, sinto muito. — Fecho meus olhos,
desejando desaparecer.
— Você sempre sente muito. Sente pelo quê, Cristina? — O
som do punho socando a porta do banheiro, ao lado do meu rosto,
me faz ficar paralisada. — Pelo que sente? Por ser uma
imprestável? — ele grita com raiva, empurrando sua camisa
estragada com força para meu peito.
Continuo petrificada, enquanto ele se afasta, entrando no
chuveiro, me xingando por conta do tecido da sua camisa polo que
diminuiu durante a secagem na máquina de lavar e secar. Me
arrasto de mansinho, saindo do quarto, usando como abrigo a
lavanderia. Tapo meu rosto, chorando por ser tão burra, por não ter
separado as peças de roupas na hora da lavagem. Estou tão
atarefada, que apenas peguei todas as roupas e joguei dentro da
máquina, não conferindoquais estavam misturadas. Nem para lavar
a porcaria de uma muda de roupa eu presto!
— Ei, bonequinha. — A voz baixa falatão lenta perto do meu
ouvido, abraçando meu corpo por trás. — Estou zangado, não
queria te magoar. — Renan beija o topo da minha cabeça,
acariciando sua face em meus cabelos. — Eu nunca machucaria
você, nunca na minha vida eu lhe faria mal, amor. Você é minha
bonequinha de porcelana.
Sinto seu peito úmido pelo banho se colar em minhas costas.
Sua mão empurra meus cabelos para meus ombros, beijando meu
pescoço. Sinto a lágrima escorrer pela minha bochecha, tão
dolorosa, como se seu toque me machucasse.
— Eu cuido de você, protejo você.
O arrepio que percorre meu corpo não é de prazer, e muito
menos de emoção por seus carinhos, é apenas a mais pura
melancolia.
— Eu cuido, não cuido?
Sua mão esmaga meu peito por cima do tecido do vestido,
mordendo minha orelha com força.
— Responda minha pergunta, Cristina! — Sua voz não é
mais baixa, o tom carregado de agressividade escondido em
rouquidão é firme. Ele leva a outra mão para a barra do vestido.
— Sim, sim, você cuida. — Tento segurar sua mão, para ele
não erguer meu vestido, mas isso apenas o instiga. Nos empurra
para perto da máquina e pressiona a frentedo meu corpo nela. —
Renan, por favo.r.. Por favo,r hoje não.
Minhas palavras são apenas um murmúrio em meio ao choro.
Não quero seu toque em meu corpo.
— Cuido de você, lhe dou uma vida de princesa. Sabe que
sem mim, você não seria nada, Cris. — Sua respiração quente
acerta minha nuca, enquanto ele beija minha pele. — É tão
distraída,atrapalhada, delicada como uma bonequinha, por isso eu
lhe protejo.
— Renan, por favo.r..
Sinto o empurrão em minhas costas abruptamente, meu tórax
é inclinado em cima da máquina de lavar, com a lateral do meu rosto
colando ao frio do material de inox do eletrodoméstico.
— E quando eu peço uma coisa, uma única coisa simples,
você ainda fazerrado. Isso me deixa chateado, amor. — Sua mão
joga o vestido para cima das minhas costas, enquanto sua perna
empurra a minha para o lado. Sinto seus dedos puxarem a calcinha
para o lado e ouço o som forte da sua respiração. — Você me deixa
bravo, me fazficarzangado com besteira. Por que fazisso, boneca?
Por que gosta de me deixar chateado? Isso é culpa sua.
Mordo meu pulso com força,abafandoo grito de dor quando
sinto minha boceta ser invada de forma bruta, sem lubrificação
alguma. A mão forte se prende na minha cintura, tendo a outra
sendo posta em meu ombro, sustentando os impactos do seu
quadril em meu traseiro.
— Eu cuido de você, sempre vou cuidar de você, amor.
O som da sua voz em meio aos gemidos sai alta. Me fodendo
com mais rapidez, seus dedos comprimem meu ombro, me fazendo
sentir dor com a forçaque ele deposita no toque. Abro meus olhos,
focando no azulejo branco da lavanderia, tendo apenas o som da
respiração forte de Renan dentro do cômodo.
— Não cuido bem de você?
— Cuida — sussurro, sentindo minha alma morta, tendo as
lágrimas quentes transbordando pelos meus olhos.
Capítulo 18
Lei e ordem
Ariel Miller
— Tem que ter paciência com a moça, Ariel.
Ergo meus olhos para Greg, que me observa sentado na
cadeira do seu quarto de hotel, ouvindo eu contar sobre Cristina.
— Eu tenho paciência, só que assintomática.— Solto a
porcaria da gravata, respirando com desânimo. — Não sei como
fazer ela entender que não vou deixá-la sozinha e muito menos
meus filhos. Não pretendia ser pai, Greg, jamais me imaginava
construindo uma família novamente, mas agora que tenho, não
estou disposto a abdicá-los...
— Já contou isso a ela? Falou sobre Dolly e Silvia com
Cristina?
Nego com a cabeça. Tinha passado a noite dentro do
hospital, sentado ao lado do seu leito, revivendo cada momento do
meu passado em minha mente:as brigas constantesentre Silvia e
eu, o fim do casamento, a trágica forma como perdi minha filha.
Tudo me nocauteava:a misturade emoções, a forma como Cristina
entrouem minha vida, os sentimentosnovos que ela me faz sentir, o
choque pela descoberta da sua gravidez, o pavor que senti ao
segurar essa mulher desmaiada em meus braços, e o ódio
incondicional que estou nutrindo por Renan Pene.r
— Gosta dela? — Levanto meu rosto para Greg, que está
pensativo.
— Aprecio a companhia de Cristina.
— Da mesma maneira que apreciava a companhia de Silva
quando vocês dois se casaram? Porque, se for assim, você já sabe
que não vai funcionar.
— Não! — Minha voz sai firme, negando essa comparação
entre a empolgação que eu e Silvia sentíamosum pelo outro, ao
que Cristina me faz sentir. — Cristina é diferente, ela me desperta
emoções confusas.
Não sei como explicar, nem sei ao certocomo dizer a ele que
aquela mulher me leva do céu ao inferno em questão de segundos,
me desencadeia batidas descompassadas em meu coração na
mesma proporção que a vontade de estrangular seu pescoço fino
por conta da sua teimosia é grande.
— Talvez estejafazendo errado, meu amigo. Sempre admirei
sua inteligêncai e astúcia dentro de um tribunal. Como advogado,
seus atributosintelectuaissão incontestáveis,mas quando se trata
de sentimentos,assuntosdo coração, você é um ser obtuso — Greg
fala, rindo. Se levanta e caminha para o frigoba.r
— Obrigado pela sua franqueza desnecessária, Greg — o
respondo com ironia.
— Qual é, Miller? A garota não tem lembranças nem um
pouco memoráveis do seu antigo matrimônio, passa por uma
situação pavorosa, e você acha que ela iria ir saltitando para os
seus braços, quando você a pediu em casamento?
Desvio meus olhos dos seus, ficando calado. Greg pega uma
garrafa de água do frigobar, o fechando, ficando estático, me
encarando por um segundo.
— Oh, merda! Não me diga que você nem ao menos fez um
pedido decente para a garota.
— Tecnicamente, foi ela quem fez o pedido.
— Usou manobras com ela, não foi?! Filho da puta! — Greg
abre a garrafa de água, a levando aos lábios, enquanto sorri.
— Ela vai aceitar, apenas preciso achar uma forma de induzi-
la a ver que meu ponto de vista é mais assertivo que o dela.
— Assertivoseria você agir como um ser humano e descartar
todos os protocolos que aprendeu em todos esses anos de
advogado. Lidar com uma mulher que deseja ter ao seu lado não é
como um caso jurídico,Ariel, mas sim coração. Use isso, não isso.
— Greg aponta do seu coração para sua cabeça. — Mude a
estratégia, seja paciente e descubra uma forma de conseguir
demonstrar esse lado meigo que você deve ter enterrado em algum
canto bem fundo e escuro da sua alma.
Fecho meus olhos e nego com a cabeça, rindo com a forma
de velha casamenteira que Greg tinha se transformado.
— Obrigado pela sua consultoria amorosa, mas não foi para
isso que eu pedi para que viesse para Sacramento, Greg. — O
encaro sério, finalizando essa conversa de coração. — Como foi a
viagem para cá?
— Foi maçante. Sabe como é. Mas esse hotel que arrumou
para me hospedar é bom. — Ele pisca para mim, sorrindo irônico. —
Então me chamou aqui para eu ser seu padrinho de casamento,ou
uma testemunha a seu favor, caso a moça denuncie o cárcere
privado que você impôs a ela?
— Ela não está em cárcere privado, Greg. — Fecho meu
semblante, negando com a cabeça.
— Não? Jura? Então me conte quantos seguranças ficaram
cuidando da sua casa, com ordem absoluta de não a deixar sair da
sua residência?
— Dois — falo baixo, desviando meus olhos dos seus,
verificando a hora em meu pulso.
— Miller? — Sua impertinência aumenta, com ele me
encarando astutamente.
— Inferno! Foram cinco, ok? Deixei cinco seguranças —
respondo rápido, afrouxando o nó da minha gravata. — Preciso ir
para as montanhas, tenho que garantir a segurança dela.
— Viu, isso para mim se enquadra legalmente em sequestro.
— Não, não se enquadra. Legalmente sou apenas um
homem superprotetorcom a segurança da minha residência e de
quem está dentro dela.
— Seu cretino. — Greg ri e caminha para perto da sacada.
Ele cruza seus braços, me olhando sério. — Disse que vai para as
montanhas, está indo paraGeorgetown, visitar o velho?
— Sim. — Respiro fundo, confirmando com a cabeça para
Greg.
— Já tem quanto tempo que vocês não se falam? Três ou
quatro anos? — Greg coça a nuca, soltando um longo assobio, me
olhando curioso.
— Desde a morte de Dolly.
— Nossa, tem tempo que estão sem se falar. Vai contarpara
o desembargador sobre os netos dele?
Eu não sei ainda. A verdade é que ir visitar meu pai é a última
coisa que eu quero, mas sei que ele é o único a poder me dar
qualquer tipo de informação sobre a família Pener. Seus contatos
antigos sempre lhe devem favores, e não há nada que o
desembargador Ostem Miller não saiba.
— Ele pode saber de algo útil para me auxiliar com o pai de
Renan, afinal, é justamentepor contado velho que esse merda se
garante.
— Durantea viagem analisei os documentosque me mandou
por e-mail, pelo visto vai querer trabalho completo, né, Miller?
Balanço minha cabeça para ele em positivo. Greg é bom no
que faz, o conheço desde que comecei minha carreira de advogado.
Trabalhamos em muitos casos juntos, com ele levantando todas as
informações dos meus clientes, me deixando me antecipar a
qualquer alegação do lado oposto. É o melhor detetiveparticular
que já conheci. A princípio, o chamei para me ajudar com Stano
Brat, mas agora tudo mudou, meu alvo se tornou um só.
— Quero tudo sobre Pener. O que faz, o que fez, quantas
mulheres já passaram pelo mesmo que Cristina passou nas mãos
dele. Se esse filho da puta der um espirro, eu quero saber quem foi
que lhe entregou o lenço.
— Pode deixar, chefe. — Greg balança a cabeça em positivo,
me deixando saber que ele não falhará. — Vou fazer um pente fino
minucioso.
— Mandei o endereço do apartamentodela para seu e-mail
também, quero que vá até lá, converse com os vizinhos, com os
pedintes da rua, qualquer um que o tenha visto. A políciadisse que
não tem nada que prove que foi Renan que entrou no apartamento
dela, que as câmeras de segurança do prédio não pegaram
ninguém, mas eles não procuraram as câmeras dos comércios da
rua. Deve ter alguma, de um poste, banco ou da loja de
conveniência que tem na esquina, pode ser que uma delas o tenha
filmado.
— Depois disso, o que pretende fazer?
— Ele é um predador frio, Greg. Sem medo porque sabe que
temcostasquentescom o cargo políticodo pai dele, mas como todo
predador que se sente inalcançável, está propenso a erros. Ele deve
ter deixado rastro, deve ter caçado durante esse tempo do divórcio.
— Respiro fundo, batendo a ponta do meu sapato no chão. —
Busque pelas mulheres que passaram pela vida dele, antes e
depois de Cristina.
— Se estiver certo em suas suspeitas, não será apenas um
agressor.
— Sim, exatamente isso — respondo baixo.
Se eu realmente estiver certo em minhas suspeitas, Renan
Pener é mais perigoso do que Cristinapensa. Tinha vistosuas fotos,
seus olhos vazios, ele é um predador nato.
— Sei de uma promotora de justiça que vai gostar de saber
que existe um predador sexual à solta em Sacramento.
— Adele?! Jura? — Balanço a cabeça em negativo para ele.
— Ela me odeia desde o caso de Lorax.
— Não tinha como saber o que aquele monstro iria fazer
depois que foi absolvido.
— Sim, eu tinha — falo sério para Greg, me virando,
caminhando para a janela do seu quarto de hotel.
Eu sabia, dentro de mim, que Charles Lorax era um maníaco
filho da puta.Os olhos frios sem alma que me encaravam, quando o
homem sentou-se na cadeira dentro da minha sala na primeira vez
que o vi, confirmavam que ele era culpado. Charles Lorax tinha
espancado aquela mulher com toda força que seu punho pôde
desferir no rosto dela. A garota de programa apenas conseguiu se
salvar porque acertou um chute entre as pernas dele quando ele
tentouestrangular seu pescoço, e aproveitou o segundo de chance,
pulando pela janela da sala, correndo para a rua, gritando incêndio.
Todos os vizinhos saíram para fora, para saber o que tinha
acontecido, mas ela não parou, continuou correndo, até ninguém
mais a ver. Reapareceu duas semanas depois, que foi quando deu
queixa na polícia. Adele se interessou pelo caso de agressão na
mesma hora, ainda mais porque estava de olho em Lorax há muito
tempo. Ele já tinha espancado outras prostitutas,mas nenhuma
delas iam adiante, retiravam a queixa no outro dia.
Eu não me importei. Nunca me importei com quais eram os
motivos que faziam meus clientes passarem por minha porta em
busca do meu serviço. Apenas cumpria meu trabalho, finalizava os
casos e me concentrava no próximo. A garota não errou apenas
porque procurou a polícia duas semanas depois, mas sim porque
especulou sobre quanto ganharia em cima de uma indenização
corporal. Precisei apenas dessa informação para desmerecer o caso
inteiro diante do tribunal. Sem testemunha que reconhecesse que foi
ela que saiu gritando na rua, sem perícia da agressão ou
confirmação que ele tinha solicitado seus serviços aquela noite, se
tornou fácil derrubar o caso. Foi um castelo de cartas frágil e sem
nada sólido, que não ratificavaque foi meu clienteque a espancou.
Charles Lorax foi absolvido pela corte.
Três semanas depois do julgamento, enquanto eu estava
trancado dentro do meu apartamento, sobrevivendo de bebidas
alcoólicas e com uma dor sem fim pelo luto da perda de Dolly,
acompanhei pelo noticiário matinal a prisão de Charles Lorax, pelo
assassinatode uma garotade programa. Livinia Lin tinhavinteanos
e estava se vendendo para pagar a faculdade. Ela foi brutalmente
estuprada e depois teve seu corpo esquartejado, sendo enterrado
no quintal, ao fundo da residência de Lorax. O cachorro do vizinho
apareceu um belo dia roendo o pé de um cadáver e,
automaticamentes,eu dono ligou para a polícia.Adele tinhame dito
no dia do julgamento, quando Charles foi absolvido, que desejava
que eu sofresse muito com a minha consciência quando isso
acontecesse.E ela tinha razão, eu sofri, e não tem um maldito dia
da minha vida que não fecho minhas pálpebras e não pense nos
olhos frios de Charles Lorax, sentando-se à minha frente e me
dizendo que era inocente, mesmo eu sabendo que ele era culpado.
Não vou cometer esse mesmo erro com Pener. Não vou
cometero mesmo erro, o qual eu cometicom Dolly, com meus filhos
e Cristina.
— Quando vai querer que eu comece?
Me viro para Greg, retirando minha mão do bolso. Arranco
meus óculos escuros, que estãoenganchados em minha camisa, os
levando para meu rosto, e digo:
— Agora.
Lhe dou sua resposta e caminho para a porta de saída do
quarto.
Cristina Self
— A senhora precisa de alguma coisa?
— Senhorita — respondo séria, fechando meu semblante
para o gigante homem parado diante da porta. — Preciso que saia
da minha frente.
— As ordens que recebi são para deixá-la dentro da casa,
senhorita — ele fala calmo, esticando seus braços, parando-os à
frente do seu corpo, com seus ombros retos. — Se deseja algo,
apenas precisa me dizer, que peço para um dos meninos ir buscar.
— Ordens... — Respiro fundo, puxando o ar pelo nariz,
esmagando minha bolsa em minha mão, tentandocompreender o
que Ariel aprontou. — E como assim meninos?
Esticomeu pescoço, olhando para o lado, tentandover algo,
me atentando às palavras do grande homem.
— Os outros seguranças, senhorita. Sou o chefe dos
seguranças, estou aqui como seu guarda-costas pessoal...
— Oh, meu Deus! — Ergo a mão para meu coração,
espalmando-a sobre a camisa, esfregando freneticamente,sentindo
minha respiração se acelerar. — Não acredito que ele teve a
audácia de fazer isso...
— Está se sentindo bem? Precisa de um médico? — o
grandão com voz rouca fala, preocupado, dando um passo em
minha direção. O que automaticamentefaz meu corpo dar três
passos para trás, balançando a cabeça em negativo.
— Vou matá-lo... Deus, vou matar aquele homem! — Quero
gritar de ódio.
Apenas queria sair um pouco da casa, já estava cansada de
ficar deitada a tarde toda. Seria uma esticada de pernas, uma
caminhada para tentardescobrir exatamenteonde estou. Mas foi
apenas abrir a porta da casa, para me deparar com o protótipode
Wesley Snipes[25], parado feitouma estátua,me encarando. A face
fechada, com o cabelo curtoem cortemilitar, deixa o homem negro
mais mal-amado, com seus óculos escuros e o grande casaco preto
que ele veste, além do coturno de soldado no pé. Se ele me
dissesse agora que sai caçando vampiros no meio da noite, igual no
filme Blade[26], eu acreditaria.
— Quantos de vocês ele deixou aqui?
— Cinco, senhorita.
— CINCO? — A palavra sai em um grito pelos meus lábios,
com meus olhos se expandindo em espanto.— O que ele acha que
eu sou? Uma criminosa fugitiva? — Nego com a cabeça, não vou
aceitar essa loucura de Ariel. — Olha, não quero ser grossa com
você... — Pisco, confusa, tendo que ficar com o pescoço esticado
para encarar o grande homem. — Qual seu nome, moço?
— Me chamo Brow.
— Brow, eu sou a Cris...
— Cristina, senhorita Cristina Self, doutor Miller me passou
todas as informações sobre a senhorita.
— Claro que ele passou, aquele egocêntrico de merda! —
xingo Ariel com raiva, olhando para dentroda casa. — Olha, eu não
preciso de segurança para sair e comprar uma barra de chocolate
ou dar um passeio. Pode ir embora, sim? Eu não preciso dos seus
serviços.
— A senhorita quer de qual marca?
— O quê? — Olho confusa para ele, que me interrompe,
parecendo não ouvir o que eu acabei de lhe falar.
— O chocolate.
— Eu não sei, gosto de todos. Veja, meu sabor preferido de
chocolatenão vem ao caso, o ponto dessa conversa é o que estou
te falando agora, eu não preciso de um guarda-costas...
Ele se vira, me largando falando sozinha, levando sua mão à
orelha enquanto conversa com alguém. O celular dentro da minha
bolsa começa a toca,r me fazendo abri-la com raiva. O atendo de
forma brusca, levando-o ao meu ouvido.
— Alô — murmuro com ódio.
— COMO ASSIM EU VOU SER AVÓ?
O grito estridentedo outro lado da linha me fez afastar o
aparelho alguns centímetros da minha orelha.
— Graças a Deus! — Me sinto aliviada ao reconhecer os
gritos da minha mãe. — Por que não me atendeu e não retornou
minhas ligações, mãe?
— Eu estava fazendoum tour por Marrocos, deixei o celular
no hotel que estou hospedada, sabe que não mexo muito nele.
— Eu te liguei, só Deus sabe quantas vezes, mãe. Tem ideia
da loucura que está minha vida? — Respiro com urgência,
massageando minha nuca, desejando poder passar pelo outro lado
da linha e esganar essa mulher.
— Eu sinto muito, meu amor, sabe como eu sou. Respire com
calma. Ande, estou ouvindo sua respiração disparada daqui. —
Tento não prestar atenção na voz debochada dela enquanto estou
sofrendo um ataque de raiva. — Não sabia que se eu lhe deixasse
sozinha por um tempo você iria adotar uma criança.
— Mãe, eu não adotei uma criança, eu estou esperando um
bebê — falo rápido.
— Mas, você...
— Renan mentiu, mãe. Aquele resultado não era o meu, e
sim o dele. — Fecho meus olhos, encostandomeu corpo na parede.
— Eu nunca fui estéril, mãe, eu nunca fui uma inútil.
— Deus, vou matar aquele verme nojento! Apenas uma
ligação e você sabe que eu posso achar alguém para dar fim na
vida daquele merdinha!
— Mãe, esquece isso. Meu problema agora não é Renan. —
Abro meus olhos, encarando a grande casa de Ariel. — Preciso que
volte, tem que voltar o quanto antes para Sacramento. Compre a
porcaria de uma passagem e volte para casa. Minha maior dor de
cabeça nesse momento é o pai dos meus bebês.
— BEBÊS? — ela gritaoutravez. Afastoo aparelho da minha
orelha, repuxando meu nariz. Estou com uma agonia nos meus
tímpanos pelos gritos dela. — VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA DE
GÊMEOS? Quem é o pai dessas crianças, Cristina?
— Oh, meu Deus, mãe, eu nem sei como explicar! — Nego
com a cabeça. — O cara apareceu no meu trabalho, nós tomamos
um porre de vodca e eu dormi com ele. Jurava que Ariel era um
garoto de programa que você tinha me mandado, então fui embora
correndo depois que ele dormiu. No meio das férias, passei mal, o
testede gravidez deu positivo, descobri que são gêmeos, e o cara
que eu achava que era o garoto de programa, na verdade, é Ariel
Miller, meu chefe. A gente se encontrou quando voltei ao trabalho.
— Cristina, faledevagar — ela me corta, me deixando saber
que estou falando tudo atropelado, vomitando todas as informações
de uma vez só.
— Mãe, preciso que volte, apenas faça isso por mim.
— Respire com calma e me deixa ver se entendi. Dormiu com
um dos seus chefes?
— Sim.
— E não foi com Max e muito menos Pietro?
— Isso, mãe. Claro que eu nunca iria dormir com Max e
jamais com Pietro. Pelo amor de DEUS! Qual parte do novo chefe
não ouviu?
— Ok, ok, apenas queria ter certeza de que estou
entendendo. Dormiu com o chefenovo? E como não sabia que era
ele seu chefe? Meu Deus!
— Mãe, se lembra do nosso café da manhã no dia do meu
aniversário? Recorda-se de dizer que mandaria meu presente para
o serviço? No momento que ele falou o nome dele, eu tive certeza
de que você mandou um garoto de programa. Nunca me passou
pela cabeça que ele seria o novo sócio da firma.
— Que ideia mais absurda! De onde tirou uma coisa dessas,
Cristina?!
— Mãe — rosno com raiva, esmagando o aparelho com
força. — Vamos ver de onde eu tirei uma ideia absurda dessas. No
meu aniversário de vinte e cinco anos, você me deu um kit de
vibradores;no de vintee seis, um vale-massagem com final feliz em
um local bem suspeito;sem esquecer o presente dos vinte e sete,
que a senhora contratouum stripper para arrancar a roupa no meio
da sala da sua casa, na hora de cantaros parabéns. Me desculpe
se passou pela minha cabeça que você teria coragem de me
mandar a porcaria de um garoto de programa!
— Jamais mandaria um garoto de programa para seu
trabalho...
— Você mandou, tantoque ele também apareceu lá. — Me
recordo do rapaz que ficou com aspecto confuso quando lhe
entreguei o envelope. Cristo, se não tivesse ficado tão eufórica com
o beijo de Ariel dentro daquele escritório, teria visto o imenso
engano que tinha acontecido.
— Lober? Está se referindo ao decorador de interiores?
— Como? — pergunto, pasma, sem entender mais nada
agora.
— Lober Tiler, o rapaz que mandei para seu trabalho. O
serviço dele era seu presente, uma decoração para seu quarto, em
seu apartamento novo. Confesso que tinha esperança de que você
se encantasse com ele, quem sabe saíssem para beber...
— Decorador? — Caminho para perto da mesa da sala de
estar, deixando a bolsa em cima dela, me segurando na cadeira. —
Mãe, eu vi o cartãoda agência de garotosde programa, como agora
está me dizendo que mandou um decorador?
— Cartão? — ela pergunta, perdida, logo caindo na risada,
deixando sua gargalhada ficar estridente.— Oh, meu Deus, Cris! O
cartão da agência de garotos de programa era de Filipe.
— O carinha da semana? — Tento respirar fundo, não
acreditando nas loucuras que ela faz.
— Claro! Como acha que ele sabia usar tão bem aquela
língua? Filipe valeu cada centavo que paguei por ele.
— Meu Deus, a senhora vai me fazer ter um infarto! — A
sombra parando ao meu lado me faz virar o rosto na mesma hora
para Brow, que está com uma sacola estendida para mim.
— Seus chocolates, senhorita Self.
— Isso é a voz de um homem, Cristina? — A voz curiosa da
minha mãe é alta no telefone.
Fico com a boca aberta,olhando perdida para ele, abaixando
meus olhos para a sacola. Dou um passo para perto dele e movo
minha cabeça para ver a sacola cheia de barras de chocolates
variadas, que ele estende para mim.
— Solicitei para trazerem todas as marcas que achassem.
— Oh, meu Deus! — Pego a sacola da sua mão, ainda não
acreditandoque o homem fez isso. Eu dei apenas um exemplo para
ele, não que estivesse indo comprar chocolate.— Obrigada, Brow.
— Sorrio sem graça para ele.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Essa voz é do cretino que enfiou o pau dentro da sua
boceta e te engravidou? — minha mãe grita tão alto, que até Brow
arregala seus olhos com a pergunta descabida dela.
Tapo o celular, fechando meus olhos e balançando a cabeça
em negativo, sussurrando um “sinto muito” para ele.
— Eu preciso... preciso... — falo atrapalhada,apontandopara
a direção do sofá da sala para ele. — Vou me sentar um pouco,
acho que minha pressão subiu.
Brow concorda com sua cabeça. Me viro lentamente e
caminho, indo me sentar no sofá.
— Deus, eu vou infartar antes dos trinta! — resmungo,
chateada. — Mãe, ainda está aí?
— Claro que estou! Quem está no seu apartamento?
— Mãe, não estouno meu apartamento.Ariel me trouxepara
a residência dele, a voz que ouviu é do guarda-costasque ele pôs
na porta de entrada, para eu não sair de dentro dessa casa. Isso é
praticamente um sequestro manipulado.
— Guarda-costas? Ele te levou à força? Machucou você?
— Não, não, Ariel não fez isso. Talvez ele tenhame trazidoa
contragosto, mas não à força. Tive uns problemas com o
apartamento. — Lhe dou uma breve informação, não querendo
entrarem detalhessobre o pobre gatodentrodo meu banheiro, que
me fez parar no hospital. — Preciso que volte. Faça as malas e volte
agora, por favor... Por favor, preciso sair daqui e descobrir uma
forma de me mudar para outra cidade e fazer ele desistir dessa ideia
de casamento.
— Eu já retorno a ligação! — ela fala rápido, antes de deixar
apenas o som da ligação encerrada repercutir no aparelho.
— SÉRIO?
Olho meu celular, não acreditandoque ela desligou na minha
cara, sem cerimônia alguma. Grito com raiva, jogando o celular no
sofá, abrindo a porcaria da sacola e puxando uma barra de
chocolatepara mim. Descontominha ira na embalagem, a rasgando
com o dente e mordendo com o dobro de zanga a guloseima.
— Um suco fresco lhe ajudaria a se acalmar?
Meus cílios batem rapidamente, com meu pescoço girando
para cima do meu ombro. O gigante homem está com um copo de
suco estendido para mim, me dando um sorriso amável, e por um
breve segundo me sinto afeiçoada pelo gentil senhor Brow.
Capítulo 19
O desembargador
Ariel Miller
— Bete me avisou que queria falar comigo, estou de saída
em cinco minutos.
Entro na sala de Pietro depois que bato na porta e ele me
chama para entrar. O vejo sentado em sua cadeira, rindo ao
telefone.
— Claro, claro que entendo. A propósito, falando no diabo,
ele acabou de aparecer. — Pietrori escancarado com algo que ouve
do outro lado da linha. — Não, não se preocupe. Sabe que jamais
mentiria para você.
Respiro fundo, me sentindo estressado por estar perdendo
meu tempo aqui. Estavatentandopôr meus pensamentosem ordem
e focar em meus casos, quando a secretária de Pietro bateu em
minha porta, me interrompendo. É para ser apenas uma passada
rápida no escritório antes de eu ir para o aeroporto.
— Vou passar para ele, depois nos falamos mais.
Arqueio minha sobrancelha, olhando sem entender para ele,
que estica o telefone em minha direção. Notando minha
desconfiança, ele usa sua mão para bloquear a parte inferior do
telefone, inclinando seu corpo para perto da mesa.
— Lhe aconselho a atende,r vai precisar de reforço.
— Quem é? — Estico meu pescoço e olho o aparelho.
— Isso vai depender de você. Se lhe disser o que ela quer
saber com sinceridade, vai ser sua melhor amiga; se mentir, lhe
garanto que vai ser sua carcereira.
Pego o aparelho da mão dele, o vendo se levantar
lentamente da sua mesa, com um sorriso cretino na face,
caminhando para fora da sua sala e fechando a porta atrás de si.
Fico um tempo ainda olhando o telefone, antes de o erguer,
levando-o ao meu ouvido.
— Ariel Miller falando.
— Sei quem é você, doutor! Se não soubesse, não teria
ligado atrás da sua pessoa!
— Desculpe, mas quem está falando?
— A avó dos seus filhos, senhor Miller! — A mulher de voz
séria fala rápido, o que me faz xingar Pietro mentalmente, por não
ter me avisado sobre a identidade de quem estava do outro lado da
linha. — Bom, serei breve e franca, não tomarei muito do seu
tempo. Pietro já me repassou o que precisava saber sobre seu
caráter, então apenas lhe dou um aviso:se realmente pretende ser
um homem bom para Cristina, sugiro que faça isso antes de eu
regressar para Sacramento, pois quando isso acontecer, e eu ir
direto para a porta da sua casa, onde está hospedando minha filha,
e ela ainda desejar querer sair de lá, não vou pensar duas vezes
antes de chutar seu rabo para tão, TÃOOO distante dela. Fui clara,
doutor Miller?!
— Sim. — Rio, balançando a cabeça para frente e para trás,
podendo ver a pequena mulher bater na porta da minha casa,
cumprindo sua promessa. — Não pretendodeixar sua filha longe de
mim, senhora Self, e muito menos não participarda vida dos meus
filhos. Quero cuidar dela...
— A última vez que um homem disse para Cristina que
cuidaria dela, isso quase lhe custou a vida, doutor Miller!
— Eu sei sobre Renan Pener, creio que nós dois dividimos o
mesmo sentimento por ele.
— Não, o senhor não sente nem um décimo do que eu sinto
por esse homem. O desejo de explodir da faceda Terra a existência
de alguém que machucou seu filho. Esse sentimento perpétuo de
ódio contra alguém que feriua parte mais importante do seu corpo
cabe apenas aos pais, doutor Miller. — Meus olhos se fecham ao
ouvir o suspiro melancólico do outro lado da linha. — Eu a segurei
em meus braços, eu vi a monstruosidade que ele feza ela, eu limpei
seus ferimentosenquanto ela chorava amedrontada, com medo de
buscar ajuda, se negando a ir ao hospital e ele ir atrás dela. Foram
os meus joelhos que se dobraram ao chão, segurando sua mão
entre as minhas, enquanto o médico lhe dava os primeiros socorros
dentro da minha casa.
— Posso lhe garantirque sei o que a senhora sentiu,senhora
Self. A única diferença é que um de nós pôde continuar com sua
filha. — Solto o ar dos meus pulmões pela minha boca, abrindo
meus olhos, que ficam presos na janela aberta. — Já nutri
ferozmente por alguém esse mesmo ódio que a senhora sente por
Renan Pener.
— Lamento por sua perda, Ariel. — A voz branda, que
responde baixa, é calma ao telefone. — Quantos anos ela tinha
quando você a perdeu?
— Dois anos, foi em um acidente de carro. — As palavras
pesam ao sair pela minha boca. Não falo sobre Dolly, é um assunto
que evito dizer em voz alta, mesmo pensando nela todo santo dia da
minha vida.
— Cristo...
— Não lhe contei sobre isso para ganhar sua empatia,
senhora Self, mas sim porque quero que entenda o quanto Cristina
é importantepara mim, o quão importantemeus filhos são para
mim. E realmente não pretendo me afastar de nenhum deles.
— Gosto da sua franqueza, senhor Miller, aprecio a
honestidade de um homem e a respeito. E será por isso que vou lhe
retribuir com toda minha franqueza e sinceridade. Se pretende ficar
com minha filhaapenas pelos seus filhosque ela espera, esqueça.
Cristina não vai ficarpresa a um segundo casamento. Isso apenas
farácom que ela queira se afastarde você, e lhe digo, não há nada
mais selvagem para despertar a ira em uma mulher do que o instinto
de proteção pelas suas crias, o qual a maternidade causa.
— Não quero fazer mal a ela, quero cuidar de Cristina.
— Risque essa palavra do seu vocabulário, não a diga para
Cris, pois vai causar o efeito contrário — ela fala rápido, me
deixando pensativo.
— Não compreendi. O que há de errado?
— “Cuidar”, isso é errado. Cuidar, para nós, é proteger,
abrigar, mas para Renan significaa posse, a formadominadora que
ele exercia sobre ela. Eu assisti minha filhase fechardentro de uma
ostra, ficando aprisionada, se afastando de todos à sua volta,
enquanto ele brincava com ela, como se ela fosse uma boneca, a
deixando com medo de ser cuidada, porque Renan ensinou para ela
que cuidar significa dor.
— Cuidar... — repito baixo a palavra, tendo a recordação
entrando em minha mente.
— Só quero cuidar de você. — Estico minha mão, querendo
tocar na dela, sentir seu calor, lhe mostrar que não precisa ter medo
de mim, mas refreiomeus movimentos assim que Cristina tira suas
mãos de cima da mesa, as depositando em suas pernas, como se
meu toque fosse indesejado.
— Merda! — Balanço a cabeça em negativo,compreendendo
o porquê dela responder daquela forma o meu contato.
— Sugiro que ache uma forma de chegar até ela antes que
eu atravesse o Oceano Atlântico, Ariel.
A mulher é breve em sua despedida. Reponho o aparelho ao
gancho e encaro silenciosamente o telefone.
Assim que estaciono o carro esportivo na frente da grande
propriedade, depois de ter encarado seis horas de voo, fico em
silêncio, observando a casa de madeira escondida em meio à mata.
Quem olha a propriedade rústica,talhada toda à mão, não imagina
que o mais temido desembargador da Califórnia está se abrigando
aqui. Minha relação com o velho não é a das melhores, mas se não
fosse por Cristina, eu realmente não o teria procurado. Brow me
contousobre como ela passou o restoda tarde.Não quis informá-la
sobre minha viagem precipitadamente,pois sei que acabaríamos
entrando em outra discussão por conta da sua relutância em
perceber que apenas quero proteger e cuidar dela.
Abro a porta do carro e caminho para fora dele, olhando
pelos arredores e voltandoa olhar para a casa. A fumaça que sai da
chaminé no telhadome garanteque meu pai estáem casa. Respiro
fundo, alinhando as mangas do meu blazer, andando até a casa. A
grande porta de madeira da frente da residência se abre, me dando
um vislumbre do morador, que segura uma caneca em seus dedos,
parado no batenteda porta, dando dois passos para fora. Paro a
três passos da varanda, com as mãos nos bolsos, mantendo meus
olhos fixos aos dele. Meu pai olha para o carro de luxo estacionado
atrás de mim e depois para a minha face com ar aristocrata.
— Estacionou em cima das minhas hortênsias.
Giro meu rosto por cima do meu ombro, olhando para as
porcarias das flores que o pneu da frentedo carro estáamassando.
Repuxo o canto da minha boca e sinto a fisgada em meu ombro.
Retorno meus olhos sérios para ele, o vendo se virar e caminhar
para dentro da casa, deixando a porta aberta. Estalo meu pescoço,
tentandosuavizar a tensão que tem em meus músculos, sabendo
que vou odiar cada segundo que passar dentro dessa casa.
— Não espera que eu estenda um tapetevermelho para você
entrar, correto?
A voz ríspida vem de dentro da casa, com as luzes da
varanda sendo acesas.
— Jamais esperaria algo assim vindo de você, Vossa
Excelência — respondo seco, caminhando para dentro da casa.
Meus olhos param nos porta-retratospregados nas paredes,
indo até as cabeças de cervos que ele ostenta.A espingarda de
caça, destacada sobre a lareira, está lustrada e brilhando, como se
ele tivesse acabado de limpá-la. Puxo a cadeira e me sento em
silêncio, observando o velho caminhar dentro da cozinha, mexendo
em um fogão rústico, feito de barro, que ele mesmo construiu.
Desvio minha atenção dele e olho para o porta-retraots com a
fotografiada minha mãe sobre a mesa de centroda sala. Ela possui
um sorriso amável enquantosegura um buquê de girassol. Chega a
ser de mau gosto saber que por trintae três anos de casamento,
minha mãe sonhou com o dia que meu pai largaria finalmente seu
trabalho e viria morar nas montanhas com ela. Minha mãe tinha
desenhado a arquiteturada casa inteira, seria o chalé dos sonhos
dela, mas ela nunca viu o projeto além das linhas das folhas. O
infartoa levou de forma rápida e fulminantequando a pegou. Depois
que ela morreu, ele finalmente se afastou dos tribunais, ficando
recluso, como se tivesse se penitenciado por não ter vivido esse
momento com ela ao lado dele.
— Ainda gosta de café ou mudou esse gosto também? —
Meu pai empurra uma caneca em cima da mesa, me olhando sério,
cruzando seus braços.
— Nunca deixei de gostar de café, desembargado.r
— Quem foi que teensinou esse gosto?— Ele mantémseus
olhos presos aos meus.
— O senhor, desembargador.
— E o que mais lhe ensinei, além do bom gosto, Miller?
A ser um cretino sem remorso como você, meu cérebro
responde rápido dentro da minha mente, desejando que sejam
essas palavras que saiam dos meus lábios.
— Me ensinou muitas coisas que não vêm ao caso agora. —
Minha resposta polida é completamentereversa ao que penso, mas
me calo, quebrando nosso contato visual.
— A ligar antes de vir à casa de alguém, para saber se ela
quer lhe receber, foi uma delas.
Solto o ar com desgosto, ouvindo a voz dele ríspida me
recriminar de forma cínica.
— Preciso da sua ajuda, Meritíssimo.— Nunca me foi tão
pesado falar uma frase, como está sendo agora. Apenas o fato de
dizer a frase “preciso de ajuda” e ela ser direcionada ao meu pai, já
me parece um martírio.Odeio terque pedir ajuda, ainda mais sendo
ele.
— Que você precisa, eu sei! — ele fala sério, cruzando seus
braços. — Apenas algo muito pertinentefaria você trazer essa sua
bunda arrogante de Nova York para cá. O que eu não sei, é se
quero saber o porquê precisa da minha ajuda.
— Estou tão radiante de felicidade em te ver quanto você
está em me receber, velho. — Levanto e me afasto da cadeira,
socando meus dedos no bolso da calça com raiva, os esmagando
firme.
— Oh, peço desculpa se não fiz uma celebração à altura do
notário cínico doutor Miller, que pensa que toda vez que o vejo,
tenho que dar cinco estrelinhas pelo bom desempenho...
— Qualquer maldito pai me daria cinco estrelas! Eu me fiz
longe de você. Se formei minha fama e minha carreira, foi com meu
próprio esforço, e você nunca teve a capacidade de dizer nada de
agradável para mim.
— Não fez mais que sua obrigação. Lhe dei um teto,comida,
estudos,uma vida em um lar honrado. Se é quem é hoje, não foi por
suas pernas, mas sim pela educação que lhe dei, pelo homem que
aperfeiçoei você para ser. Então, de nada!
— Velho miserável de merda! — rosno enfurecido, odiando
esse maldito homem. — Enche essa sua boca velha e flácida para
falar de honra, mas o que sabe de honra? De um lar honrado? Qual
honra deu à minha mãe enquantovocê se esquentavaem camas de
prostitutas?A única coisa que tenho para lhe agradecer é por eu
não ter puxado nada de você, desembargado.r
— No que você foi melhor do que eu, Miller? Um advogado
de merda cínico,que nunca se importou com nada além do seu
trabalho. Posso não ter sido o mais perfeito marido desse mundo,
mas eu cuidei da minha casa, da minha esposa e do meu filho. Já
você, o que fez, além de casar-se com uma vagabunda siliconada,
que matou sua própria filha?
Chuto a porcaria da cadeira em uma explosão de
agressividade, a fazendo voar, estourando na parede. Minhas mãos
se fecham em punho, com ódio, ao lado do meu corpo, e respiro
rápido, desejando poder chutar esse velho maldito.
— Você devia ter morrido, não minha mãe — sibilo baixo,
esfregando meu rosto. — Deveria saber que seria perda de tempo
ter vindo atrás de você, sua múmia decrépita.
Giro com hostilidade,caminhando para fora da casa dele, me
amaldiçoando por mil vidas por ter vindo nesse lugar. Retiro a porra
das chaves do meu bolso e ando com amargura na direção do
carro. O disparo é alto e acerta o pneu da frente do veículoantes
mesmo que eu possa perceber. Olho com antipatiapara o velho,
que está feito uma estátua, segurando sua espingarda em sua mão.
— SEU LOUCO DE MERDA! — grito com fúria, apontando
para ele. — Essa porra é alugada!
— A janta fica pronta em vinte minutos.
Ele se vira e entra na casa, me largando gritando sozinho,
exasperado. Chuto a porcaria do pneu, que está colado à terra. Abro
a porcaria do porta-malase xingo o dobro, sentindomeu rostoferver
de ira.
— INFERNO!
O maldito carro esporte não possui estepe. Chuto o pneu do
carro outra vez, aborrecido, o que me faz ficar um bom tempo do
lado de fora, extravasando minha ira entre chutes no pneu, antes
que eu tenhaque entrarna casa outravez. Vejo o velho sentadona
cadeira, com uma garrafa de uísque,e em cima da mesa um copo à
sua frente e outro vazio. Caminho na direção da cadeira caídaao
chão, perto da parede, a levanto com brutalidade e a empurro para
perto da mesa, me sentando.
— Eu fui caçar semana passada. — Ouço a voz dele baixa,
enquanto olha para seu copo.
Puxo a garrafa e a destampo, enchendo meu copo, o virando
de uma única vez em meus lábios, olhando com ódio para ele.
— Percebi um rastro diferente e segui para saber do que se
tratava.Eu dei de cara com um urso marrom. Nunca tinha visto um
animal magníficotãode perto,poderoso, grande e selvagem. A mira
estava ajustada para o centro da cabeça dele, entre os olhos,
precisava de apenas um disparo, mas recolhi a espingarda e voltei
lentamente,caminhando de costas, sem desviar meus olhos dos
dele.
— E o que isso me importa? — Encho meu copo outra vez,
bebendo outra dose.
— Suspeito que nada, mas eu fiquei pensando que ele podia
terme matadoda mesma forma que eu a ele. Mas nenhum dos dois
quis o confronto. Você, hoje aqui, é aquele urso, Ariel. Por que veio
até minha porta, se não foi para me confrontar?
Abaixo meus olhos para o copo e o rodo em minha mão. O
desprezo na mesma medida que um dia desejei poder ser motivode
orgulho para ele. Jurei a mim mesmo que jamais viria atrás dele
depois que perdi minha filha. A última vez que o vi foi parado ao
meu lado, diantedo caixão, me olhando com olhos frios, refletindoa
mesma culpa que me corroía.
— O senhor será avô... — sussurro para ele e encho meu
copo e o dele. — Avô de gêmeos, desembargador.
Meu pai fica em silêncio por um breve momento,olhando seu
copo, antes de erguer sua face para mim, com seus olhos se
expandindo.
— Vai ser pai... Por que não trouxeela para me conhecer? É
mais uma daquelas plastificadas de Nova York?
Solto o botão do meu blazer e o empurro para o lado, me
recostando na cadeira.
— Sacramento. Não vivo mais em Nova York já tem três
meses.
— Está me dizendo que está em Sacramentopor todo esse
tempo e só agora resolveu vir me contar que engravidou uma
mulher?
— Não sabia sobre a gravidez, fiquei sabendo no fim de
semana. Mas não foi para lhe dar as boas novas que vim até aqui.
— Estufo meu peito e solto o ar pesado dos meus pulmões.
— Claro que não. — Ele ergue seu copo, tomando sua
bebida, o depositando logo em seguida sobre a mesa. — Do que
precisa?
— Me perguntou o que tinha me ensinado, e o que me
ensinou bem é sempre estar a dois passos diante dos meus
inimigos. Preciso saber tudo sobre Hugo Pener e sua trajetóriana
política.
O desembargador se encostana cadeira e cruza seus braços
acima do peito, me encarando com um sorriso cínico nos lábios.
— Vamos jantar, depois falaremos sobre o lixo!
Capítulo 20
Na companhia do medo
Ariel Miller
A visita ao meu pai me tomou mais tempo do que eu
imaginava, não só pelo transtorno de chamar um guincho para
aquela porcaria de fim de mundo entre as montanhas, mas sim por
ter que achar uma borracharia e trocar o pneu do carro, o que
acabou me tomando dois dias. Brow me manteve informado a
respeito de como ela estava, e sobre seu mau humor e
xingamentos, por não poder sair de dentro da casa. Mas por um
lado foi bom. Meu pai conhece Hugo Pener, e com alguns
telefonemas foi rápido em levantar minhas informações. Pener não
passa de um políticode merda que teve toda sua campanha
financiada por dinheiro vindo da prostituição.Renan tem a quem
puxar, afinal, seu pai não passa de um cafetãorevestidocom ternos
caros, ocupando um cargo importante no governo. Porém, se
misteriosamenteessas informações vierem a público, acho que isso
não deixará o nobre políticoconfortável,já que as investigaçõesque
cairão sobre ele podem destruirsua carreira. Com o pai já sei como
lidar, agora apenas preciso saber o que Greg descobriu sobre
Renan.
Passei no escritório quando aterrissei em Sacramento,
acompanhando o caso de Brat, que está perto de ter o julgamento
final marcado, o que acabou tomando mais tempo do que eu
imaginava. Quando estaciono o carro na frente da minha casa já
passa das 23h da noite. Pensei nela todos os dias. Segurava o
telefone,desejando poder ligar para ela e ouvir sua voz, saber como
estava, mas a imagem dos seus olhos assustados, me encarando
na cozinha, na última vez que a vi, me fez evitar fazer isso. Não
quero que ela me olhe com medo, amedrontada. Desejo seus olhos
brandos e negros, que ela esconde por trás daqueles óculos
grandes de grau, cheios de travessura. Quero apertá-la em meus
braços e dizer que vou condenar todos que tentaremmachucá-la
cruelmente,e que nunca mais ela teráque sentirmedo em sua vida.
— Os dias foram agitados por aqui? — Deixo minha maleta
em cima da mesa, olhando Brow dentro da cozinha.
O vejo deixar o pano de pratosobre o balcão de mármore, ao
lado de um refratário cheio de rosquinha.
— Você não tem ideia. — Ele segura o pote, depositando-o
sobre a mesa, o empurrando na minha direção. — Há mais três
desses dentro da geladeira e outros dois no micro-ondas, fora os
que ela deu para mim e os rapazes comerem e levarem para casa.
Ela quis cozinhar.
Estico meu pescoço e olho em direção à saída da cozinha,
levando minhas mãos aos bolsos da calça.
— Como ela está?
— Ela disse que iria assistir TV depois do jantar, mas ficou
agitada durante todos esses dias, nervosa e com picos emocionais
disparados, oscilando entre a vontade de te matar e a segurança
dos bebês — ele me responde, rindo.
— Devo me preocupar?
— É uma mulher, Ariel, sempre temos que ter preocupação.
— Ele coça sua nuca, balançando seus ombros. — Ela gosta de
cozinhar quando está brava, acho bom deixar sua despensa
abastecida.
— Vou me atentar a isso.
— Boa noite, chefe.
— Obrigado por ter aceitado o trabalho, por ficar cuidando
dela para mim.
— Eu que agradeço. Sabia que estava fora de campo há um
tempo. — Ele pisca, sorrindo, caminhando para fora da cozinha.
— Boa noite, Brow — murmuro e olho para o refratário de
doces. Sabia que Brow tinha sido uma boa escolha para proteger
Cristina na minha ausência.
Tinha ajudado Pietrocom o julgamentodele uma vez, quando
meu amigo me chamou. O caso do ex-pugilista que estava sendo
condenado por assassinato tinha me intrigado. Brow estava com
sua namorada na época, saindo de uma casa noturna, quando dois
indivíduos aliciaram ela. O homem que mexeu com sua namorada
partiupara agressão física,usando um canivete,mas foi muitoidiota
para querer encarar o nocaute de um pugilista. Brow acertou um
soco no cara na mesma hora, o levando ao chão. O impacto da
batida da cabeça do rapaz no chão causou a morte dele
instantaneamente.Consegui a liberdade de Brow e provar sua
inocência, alegando legítimadefesa, mas o estrago já tinha sido
feito na vida dele. Brow perdeu todos os patrocinadores, seu
treinador e a equipe, deixando de ser um boxeador profissional e
virando um segurança de boate,com alguns bicos de guarda-costas
aqui ou ali, apenas para poder sobreviver.
No sábado à noite, quando os policiais saíram do hospital,
me deixando saber que estavam pouco se lixando para o que
Renan fez no apartamentode Cristina, compreendi que teria que
cuidar da segurança dela e dos meus filhos. Pietro me indicou uns
seguranças de uma firma que ele conhecia para cuidar da minha
casa, mas para ficar de segurança dela sabia que teria que ser
alguém em quem eu confiava em seu carátere índole.E foi isso que
me fez ir atrás de Brow, contratando seu serviço.
Caminho para a sala e observo a TV ligada. Não pretendia
voltar tão tarde, queria vê-la, ouvir sua voz raivosa. Me preparei
para os gritos dela, seu ataque de raiva e até mesmo sua bravura,
que me deixa ver um relance da verdadeira Cristina, que se
esconde dentro dela. Mas o que vejo à minha frente é seu rosto
cansado, com cabelos bagunçados e fios soltos sobre sua testa,
completamentetorta, deitada no sofá. Afrouxo o nó da gravata,
retirandoa partede cima do meu terno,os depositandono braço do
sofá. Seu corpo quentese aconchega em meu peitoassim que ergo
ela em meus braços, caminhando para o quarto.Sintoo cheiro bom
que tem em seus cabelos, o que me faz sorrir. Respiro
profundamentepara inalar seu aroma. Brinquei com ela naquele dia,
na frente do seu apartamento,desmerecendo a marca de xampu,
mas a única verdade é que amo o aroma dele nos cabelos dela.
Não vou deixá-la ir para longe de mim. Caminho com Cristina
adormecida em meus braços até nosso quarto, e a deito na cama,
afastando as mechas de seus cabelos coladas em sua bochecha,
admirando seu rosto.Puxo a mantaaos pés da cama e a cubro, lhe
deixando aquecida. Minha mão escorrega por seu pescoço,
descendo até parar sobre seu ventre. Recaio meus olhos para lá
quando sinto o toque da sua mão sobre a minha, me segurando
como se não quisesse que eu me afastasse. Acomodo meu corpo,
deitando-me ao seu lado, me aproximando do seu corpo.
— Ariel... — Um murmúrio tão sonolento quanto ela escapa
dos seus lábios.
Ela se encolhe, tão delicadamente,me permitindo levar meu
outro braço para debaixo da sua cabeça.
— Durma, pequena vênus — sibilo baixo, alisando seu
ventre, ouvindo o som da sua respiração calma, com ela dormindo
em meus braços.
— Você sabia que eu não queria isso.
A mulher brava dentro do quarto anda de um lado ao outro,
empurrando seus cabelos para trás, balançando sua cabeça em
negativo.
— Não vou autorizar o que está me pedindo, Silvia.
— É o meu corpo, minha vontade, e eu não quero isso que
está aqui dentro!
— Isso é o nosso bebê. Não pode achar que vou lhe apoiar a
tirar nosso filho.
Me viro, ficandode costas para ela, não sabendo como lidar
com essa notícia. Silvia me atropelou, indo de uma notícia
maravilhosa para a mais assustadora que já ouvi. Foi friae raivosa
ao me contar que estava grávida, e mais fria ainda ao dizer que
pretendia tirar o bebê.
— Não preciso do seu apoio, é o meu corpo, minha escolha,
e eu não quero ser mãe. Não estou pedindo, estou lhe informando
minha decisão.
Ouço o som da porta do quarto, que é fechada com
brutalidade, enquanto ela sai a passos decididos. Não pensei, nem
cogitei a hipótese de ser a favor disso, não a deixarei tirar nosso
filho. Já estou traçando meu caminho atrás dela, a pegando antes
de chegar perto da porta de entrada do apartamento, segurando
firme seus braços.
— É o seu corpo, mas dentro de você é o meu filho. E não
vou deixar que o tire de mim. — A olho e tento manter minha
paciência, negando com a cabeça. Meus dedos se esticam para
acariciar sua barriga, mas são interrompidos pelo tapa fortedela em
minha mão.
— Não toca em mim! Você pôs isso dentro de mim!
Meus olhos se abrem, ficando focados no tetodo quarto,
ouvindo o som baixo da respiração de Cristina. Sua mão ainda
segura a minha sobre seu ventre, a mantendo lá.
— Medo? Medo de ser mãe? Medo de ter que cuidar de
outras vidas? Definaseu medo. Não queria meus filhos,é isso? —
Mantenho meus olhos presos aos seus, precisando ouvir a verdade
dos seus lábios.
— Oh, meu Deus! Como ousa abrir essa sua boca arrogante
de merda para dizer uma banalidade desse tipo?
— Eu não sei, estou tentando entender porque omitiu a
verdade sobre meus filhos.Talvez não os quisesse, por isso não me
contou. Pretendia abortá-los? — A empurro para a borda, sentindo
todo meu controle se desfazer em minhas mãos.
Não serei benevolente com Cristina se ela cogitar dizer que
não quer esses filhos, não passarei por isso outra vez.
— NÃO! — O som da sua voz gritando com raiva irrompe
pelo cômodo, ela nega com a cabeça para mim. — Por anos da
minha vida achei que eu era seca, Ariel, uma mulher incompleta por
não poder gerar uma vida. Renan usou isso para me torturar, me
culpando por não poder lhe dar um filho. Isso me destruiu
psicologicamente... E quando descobri sobre os bebês e sobre a
mentira de Renan, sobre eu não poder ser mãe, foio momento mais
assustador e mágico da minha vida. A única certeza que eu tive, e
tenho dentro de mim, é que eu vou protegê-los...
— De mim? — pergunto baixo, sentindo meu peito ser
aliviado pelo peso que o prendia.
— Se for preciso, sim. — Ela ergue os dedos para sua
barriga, abaixando seu rosto para o ventre, soluçando baixinho. —
Eu não quero nada, não vou te obrigar a nada também. — Respiro
fundo,sentindo meu mundo todo se ligar a ela de formaurgente. —
Mas eu não vou deixar você tirar eles de mim.
Preciso de dois passos para atravessar o quarto e a prender
em meus braços.
Depois de um banho gelado e ter vestido um pijama para
dormir, adormeço rápido, abraçado à Cristina,quando me deitopara
dormir. Mas os gritos dentro do quarto escuro me fazem despertar
sobressaltado, acendendo o abajur ao lado da cama. Vejo Cristina
se debater na cama e a puxo, tentandocontrolá-la para não se
machucar.
— NÃO... NÃO! — Cristina grita mais alto, querendo se
afastar.
Seguro seus pulsos como contenção, colando seu peito ao
meu, abraçando suas costas rapidamente. Sinto sua pele suada,
com o som da sua respiração alterada.
— Shhh, está tudo bem... — sussurro em seu ouvido,
abraçando-a mais forte. — É só um pesadelo.
— Não... não. — Cristina chora, soluçando, negando com a
cabeça.
— Está segura, vocês estão seguros.
Me afasto apenas o suficiente para segurar sua face entre
meus dedos, e empurro seus cabelos bagunçados, colados em suas
bochechas molhadas de choro.
— Meus bebês... — Suas palavras se cortam com o soluço
de choro, seu corpo trêmulose cola mais ao meu. Sintoseus braços
passarem por meu pescoço, me segurando firme entre eles.
— Estão bem, está tudo bem com eles. — Afago suas costas,
me arrumando na cama, a trazendo comigo, sentando seu corpo
sobre minhas pernas.
— Oh, meu Deus, foi tão real! — Seu rosto busca abrigo em
meu pescoço, choramingando assustada.
Meus dedos espalmam em suas costas, acariciando,
depositando um beijo em seu ombro, a deixando se sentir segura
em volta dos meus braços, que circulam seu corpo.
— Você não foi embora? — A voz quebrada pelo choro,
embargada de dor, cochicha próximo ao meu ouvido.
Empurro meu corpo para trás, apoiando minhas costas na
cabeceira, segurando seu queixo. Cristina me mostra dor em seus
olhos confusos.
— Precisei resolver algumas coisas, não fui embora. Pensou
que tinha te deixado?
Cristina chora com mais urgência, fechando seus olhos,
libertando as lágrimas que escorrem por sua face. Ela volta seu
corpo para o meu, prendendo seus braços em meu pescoço,
escondendo sua face de mim. Me colo em seu corpo, sentindo meu
coração disparar, tão perdido com todas essas emoções que ela
arrebenta dentro de mim. Seu cheiro floral tem o poder de me
acalmar na mesma proporção que tira meu autocontrole.
— Nunca vou deixar vocês, Cristina. — Suas mãos estão
enroscadas em meus cabelos, com ela choramingando em meu
pescoço. — Não posso dizer que vou controlar totalmentemeu
temperamento e meus rompantes, mas juro que nunca vou
machucar você.
O som do seu choro aumenta e a aperto firme em meus
braços, beijando seus cabelos.
— Eu tive medo — ela diz baixinho. — Sei que você não é
como ele, mas eu tive medo e fiquei paralisada. Dentro da minha
mentetudo se repete,é como se estivessevivendo outravez aquela
agonia. — Esfrego meu rosto em seu pescoço, sentindo a quentura
da sua pele, dando graças a Deus por ela não poder ver a vontade
que tenho de causar dor a Renan. — Não sou forte, Ariel, eu sou
uma covarde presa dentro da minha própria mente.
A agonia vai tomando conta de mim, aumentando os
batimentos do meu coração. Quero mostrar a essa mulher que
jamais permitirei que ela se sinta assim. Minhas mãos passam por
suas costas, descendo por sua pele, entrando por baixo da sua
camisa. Beijo seu pescoço, fazendo uma trilha junto com suas
lágrimas até ter sua boca para mim, devorando seus lábios com
uma saudade que me consumia, precisando sentir seu sabor para
aplacar minha raiva. Suas mãos seguram com força meus ombros,
devolvendo com o mesmo ardor o beijo que tomo dela. Subo sua
camisa, libertando sua boca apenas para tirar de vez o tecido do
seu corpo, o descartando para longe.
— Preciso de você, Ariel — ela fala baixo, trazendo seu corpo
para perto do meu outra vez, sussurrando, me beijando mais
desesperada. — Preciso de você agora.
Seu choro em nenhum momento cessa. É dor, paixão, medo
e raiva, tudo de uma vez. Só que ela demonstra isso com seus
toques atrapalhados, retirando minha camisa e a jogando no chão
junto com a dela. Giro na cama, a deitando no colchão, cuidando
para não esmagar seu corpo com o meu. As unhas de Cristina
cravam em minhas costas, ela arfa com seus seios estufados, me
deixando morrer em seus beijos. Passo minhas mãos pelas laterais
do seu corpo, descendo até o quadril, e empurro a calcinha para
baixo, a descartandocom a mesma urgência que usei para tirarsua
camisa. Espalmo minhas mãos em cada lado das suas coxas, a
segurando com posse. Sinto seus dedos apertarem minha pele, com
o corpo quente dela abaixo do meu. Sua boca solta meus lábios,
mordiscando meu queixo. A ponta da sua línguadesliza, lambendo
minha garganta, enquanto suas unhas traçam um percurso por
meus braços, os arranhando. Sua mão para em minha cintura,
empurrando a calça para baixo, usando seu pé como auxíliopara a
descartar de vez do meu corpo. Capturo com minha boca,
prendendo entre meus dentes, um dos bicos dos seus seios, o
sugando com mais força, até ouvir os gemidos escaparem dos
lábios dela. Seu corpo quente se afunda no colchão, empurrando
seu tórax para cima. Ergo uma das minhas mãos, a prendendo em
seus cabelos espalhados no travesseiro. Meu corpo inflama em
desejo puro, implora por tê-la, com uma necessidade de mil vidas.
— Ariel, por favor... — Sua voz abafada entre o choro e o
desejo me pede para possuí-la com urgência.
Liberto seu seio, erguendo minha cabeça para ela. Seus
olhos queimam como chamas, me dizendo com apenas um olhar,
tudo que ela poderia me contar em palavras. Ouço cada batida do
seu coração, que bate rápido em seu peito, no mesmo ritmo que o
meu. Sua mão apressada se move, esbarrando na minha. Soltosua
coxa, prendendo seus dedos entre os meus. Suas pernas cruzam
em volta do meu quadril, minha boca procura pela sua com
urgência, da mesma forma que estimulo minha pélvis para frente,
chocando com a dela. Meu pau invade sua boceta, a tomando por
cada canto, me fazendo arfar com a quentura com a qual sua
cavidade me suga. A beijo com ardor, apertando seus dedos aos
meus, me afundando de uma única vez, profundamente, dentro
dela. Suas coxas raspam minha pele, comprimindo suas pernas em
minha cintura, me dando mais acesso ao seu corpo. Cris desgruda
sua boca da minha, soltando seus gemidos. Minha mão em seu
cabelo se solta,achatando-seà cabeceira da cama, usando-a como
alavanca para impulsionar meu corpo para cima. Voltoa me enterrar
dentro dela, movimento meu corpo em um frenesi desenfreado.
Preciso de cada som, sabor, calor que ela me entrega,
enlouquecendo nessa montanha-russa que ela me jogou,
acelerando a cada estocada forte e rápida, a fodendo.
— Ariel... — Seu grito sai em um rompante. Move seu corpo
de encontro ao meu, fazendo assim meu pau se aprofundar com
mais pressão dentro da sua boceta quente.
Ergo nossas mãos e as deixo paradas próximo à sua cabeça.
Cris ergue seu rosto, com sua mão livre se embrenhando em meus
cabelos, me beijando com luxúria.
— Nunca vou te deixar. Você é minha, Cris — digo, cerrando
meus dentes. A voz grossa está inundada de desejo, olhando no
fundo dos seus olhos.
— Ohhh, Ariel, eu não vou aguentar!— Seus dentesmordem
meus lábios, com sua boceta me sugando forte. Seu corpo febril
treme com força a cada estocada.
Cristina me entrega tudo, me recebendo em abandono. Não
estamosfodendo nem trepando,é uma urgência, e a cada ritmodas
estocada, onde me afundo por completo dentro dela, seu clímaxa
rasga ao meio, com suas pernas suadas travadas ao meu redor.
Suas unhas se cravam no couro da minha cabeça. A cada segundo
sinto meu pau melado com o orgasmo dela, que me lambuza com
seus fluidos quentes.
— Porra! — rosno entre meus dentes, escutando seus
gemidos.
Meu corpo treme todo, com minha mente explodindo junto
com a onda de prazer que me acerta. Seguro sua mão com força
bruta, empurrando meu quadril com impactos latentes, gozando com
euforia dentro dela, que me ordenha, recebendo cada jato de porra
que solto em sua boceta quente. Meu gemido sai rouco, sendo
liberado por minha garganta como um rugido, que se espalha pelo
cômodo. Não a deixo se afastar quando meu corpo tomba ao seu
lado, a seguro em meus braços, arrumando seu corpo sobre o meu.
Ficamos colados um ao outro, com seu coração disparado no
mesmo ritmo que o meu se encontra. As bochechas quentes se
esfregam em meu peito de mansinho, e deixo minha mão em suas
costas,acariciando sua pele nua, respirando rápido, olhando para o
tetodo quarto. Sua mão pousa em cima do meu coração, ouço os
baixos sons da sua respiração, que vai voltando ao normal,
diminuindo seus batimentos cardíacos, enquanto ela suspira,
bocejando. Seguro ela firme, a mantendoem cima de mim, alisando
seus cabelos, sussurrando que jamais a deixarei.