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Published by cleysongama05, 2022-01-09 20:01:15

Ariel - Do Céu ao Inferno

Ariel - Do Céu ao Inferno

horrível por ter finalmente conseguido ela para ficar como minha
secretária, mas não me sinto. Quando dei a ideia que seria mais
vantajoso cada advogado ter uma secretáriaparticula,r ao invés de
sobrecarregá-las os três juntos, sendo que cada um trabalha em
uma área de Direitodiferente,eu já pensava em tera senhoritaSelf
para mim. Max saiu na frente, solicitandoela, enquanto Bete ficaria
com Pietro. Odiei todas as estagiárias, sempre reclamava de algo.
Eram sem competência,risonhas demais, desastradas, mas o que
me incomodava é que nenhuma delas era a atrapalhada babá
McPhee. Recusei todas elas. A última estagiária não chegou a ficar
nem meio período antes de pegar sua bolsa e ir embora. Pietro
reconsiderou a divisão e designou a senhorita Self para mim. E
agora percebo a armadilha que eu mesmo me fiz. Estoucom ela em
minha frente, desejando quebrar o curtoespaço que tem entre nós
dois, apenas para sentir outra vez o sabor dos seus beijos e saciar
essa malditavontadeque me corroeu por todosesses dias, desde a
noite que meus olhos se encantarampela atrapalhada mulher com
olhos de coruja.

— Ariel. — Sua voz nervosa é baixa, enquanto olha para a
portaabertaatrásdela. — Sobre aquela noite.Bom, foi um engano.
— A encaro, levando meus dedos para o bolso da calça, para
mantê-los longe dela. — Eu não sou, bom... eu não sou aquilo.

— Atenha-se ao seu lado profissional, senhorita Self! — As
palavras duras saem da minha boca, cortandosuas desculpas. Não
quero ouvir seus arrependimentos. — A menos que queira seu
dinheiro de volta. — Um sorriso amargo estampa minha face. — A
propósito, confesso que fique insultado por valer tão pouco no seu
ponto de vista.

Ela nega com a cabeça, mordendo seus lábios
nervosamente.

— Ariel, preciso lhe conta.r..

Dou um passo à frente de forma pesada, respirando com
força, cerrando meu maxilar, parando à sua frente.

— Limite-se ao seu trabalho! — falo frio, com firmeza, com
um tom de voz alto, para ela parar com o assunto.

Minha mão sai do bolso da calça e se ergue abruptamente,
com força, rumo a ela, apontando na direção da sua mesa, mas
congelo no ar meu braço quando vejo seu corpo se encolher à
minha frente, como se fosse se afundar ao chão. Seus olhos
assustados estão presos em minha mão aberta, estagnada no ar, e
seu peito sobe e desce rapidamente. Dou um passo para trás, me
distanciando dela, balançando minha cabeça em negativo, com a
forma petrificada que ela ficou apenas por um gesto abrupto da
minha parte.

— Não precisa dar uma de vítima,Cristina— digo com raiva,
passando as mãos nos cabelos, a encarando. — Se toda vez que
eu gritar dentro dessa sala, você ficar assim, estarei perdido, com
uma secretária inútil. — Respiro fundo e pego minha maleta sobre
minha mesa. — Foi um inesquecívelengano, como você bem sabe.
Digamos que adorei o presentede boas-vindas da empresa. Só que
agora acabou, quero que faça um favor a nós dois e deixe esta
história para lá. — Aponto para a mesa dela, olhando a hora no
relógio que está meu pulso. — Preciso estar no fórum, volto ao fim
da tarde. Aconselho que vá se sentar e faça seu trabalho, senhorita
Self. Pelo tantode elogios que ganhou, creio que não precisa da
minha presença para direcioná-la ao que fazer.

Abandono a sala, precisando achar meu controle outra vez.
Não imaginei que reencontrar essa mulher me deixaria tão
desestabilizado.Repuxo o nó da minha gravata,aliviando um pouco
o aperto sobre o colarinho do meu pescoço, caminhando a passos
duros para o elevador. Aperto o botão para ele subir no meu andar,
e assim que as portas são abertas, me encaminho para dentro,
respirando profundamente, fechando meus olhos.

— Quase perdi ele. — A voz ansiosa de Max é alta. Ele ri,
entrando no elevador.

Abro minhas pálpebras e observo Maximiliano olhar
atentamente para seu aparelho de celula. r

— Se perdesse o elevador, tinha grandes chances de chegar
ao fórum da famíliaatrasado. Pietro me contouque você está com
um caso grande. — Ele ergue seus olhos para mim, enquanto
balanço a cabeça, confirmando.

— Caso Brat.

— Acho que vi alguma coisa sobre isso. Foi corajoso em
pegar esse caso, ouvi boatos na comarca que há bastanteprovas
contra o sr. Brat, o deixando como principal suspeito da morte da
esposa e do amante dela.

— Até que se prove o contrário, meu cliente é inocente —
falo calmo. Sei que será fácil retirar a acusação do Estado de cima
do meu cliente.

— Bom, eu esbarrei na advogada da tia do enteado dele, a
guarda do adolescente vai ficar com o Estado até que o caso
finalize.

— Estavapensando em encaminhar essa partedo caso para
você, não trabalho com a área da família — falo sereno, olhando
sério para ele.

— Realmente não sei se é um caso que eu quero me
intromete.r Por mais que seja bom para chamar a atenção dos
repórteres que estão cobrindo esse caso para nossa firma, ainda
assim repasso educadamente. — Ele respira fundo, me dando um
olhar atento,fechando seu semblante. — Optei pela carreira de
Direito para fazer a diferença, ser um profissional honrado, não me
vejo como um advogado cínico, sem nenhum respeito pela lei.

Troco minha pastade mãos, levando a outramão ao bolso do
terno, compreendendo o comentário mordaz.

— Devo presumir que esse segundo tipo de advogado sou
eu. — Rio, sarcástico, respirando calmo. — Eu respeito a lei,
apenas não a venero, não me sintooprimido por ela. Se o estadoda
Califórnia não puder arcar com um bônus culpado, e eu livrar meu
cliente, a culpa não é minha, e sim da promotoria, com seus
profissionais honrados e incompetentes.Argumento que gostei do

seu pontode vista,Max... — Retiroa mão do bolso, olhando para a
tela do meu celular. — Mas, da próxima vez que desejar falar sobre
as índoles profissionais, sugiro marcarmos um almoço.

Ele fecha mais ainda sua face, cerrando seu maxilar, me
olhando acusadoramente.

— Como consegue dormir à noite, Miller? Apenas me tire
essa curiosidade. Como se sente sendo um advogado renomado,
com grandes casos, um dos mais caros atualmente?— Ele balança
a cabeça em negativo, rangendo entre seus dentes. — Como se
sente sabendo que todas as pessoas que você representa são
culpadas?

— Simples, eu não ligo. E você mesmo respondeu sua
pergunta. Como disse, eu sou caro. Inocentes não têm como me
pagar.

Finalizo a conversa e volto minha atenção para as portas do
elevador, quando elas se abrem.

Eu poderia ter optado por exercer minha profissão na área
cível, da família, até mesmo trabalhista, mas havia um certo
magnetismo na criminalista, esse é meu habitat natural:refutar,
desmoronar como um castelo de cartas cada argumento contra
meus clientes, olhar para os jurados e os fisgar em minha rede, em
cada palavra, as quais sei usar bem ao meu favor, invertendoo pior
réu em vítimaaos olhos do júri. Esse é meu mundo, meu jogo, meu
tabuleiro de xadrez, o qual sempre termina comigo dando xeque-
mate e meu cliente saindo inocentado. E o caso Brat não foge à
regra. A promotoria pode ter muitas provas, mas todas são vagas,
sem estruturaspara se manterem.Eles alegam que Bratassassinou
a sangue frio a esposa e seu amante, mas há muitas controvérsias.
Nenhuma câmara da residência comprova a entrada dele dentro da
casa, muito menos acharam a arma do crime, e não há uma única
testemunha. Consegui seu habeas corpus[15] com uma fiança
estipuladaem cem mil dólares, a qual ele pagou imediatamente.Um
homem íntegro diante da sociedade, com uma grande fortuna
avaliada em mais de dois bilhões de dólares.

Respiro fundo enquanto ando pelo hall do edifício,sabendo
que Max está caminhando ao meu lado, com seus olhos presos na
porta. Dou uma olhada de lado para ele, ainda sem compreender o
que ele quer. Nossa amistosa conversa no elevador, pelo visto, não
foi o suficiente.Não que eu não tivesseboa convivência profissional
com Maximiliano, mas minha amizade é com Pietro. Raramente
troco algumas palavras com Max, nossas ideias não são
compatíveis.Max é um idealista que ainda acredita na bondade
humana, e sei que ele condena minha forma de trabalha.r

— Quer me dizer alguma coisa, Max? Ou apenas está
emocionado com nosso momento dentro do elevador?

— Na verdade, eu quero. — Max para na saída do edifício,
gira seu rosto para mim e abre a porta, apontando para fora.

Caminho a passos lentos para a calçada, me virando com
calma, confrontandoseu olhar, me sentindoenfadonho com sua fala
maçante.

— Como meu irmão falou, Self foi designada para ser sua
secretária. Confesso que preferia ela sendo minha secretária, pois
trabalhamos bem juntos.

Ouço a voz de Max e o encaro sério, travandomeu maxilar a
cada palavra que sai dos seus lábios.

— Compreendo. Me parou na saída do prédio para reivindicar
sua pupila?

— Poderia não ser sempre tão cínico,Ariel — ele fala com a
voz contrariada. Na sequência, esfrega seu rostoe respira fundo. —
Não estou aqui para pedir que troque de secretária comigo. Até
acho que vai ser bom para vocês dois trabalharem juntos,
principalmente para Self. Ela é uma pessoa esforçada, o que ela
não souber, ela vai dar um jeitode aprender, para poder ser útilpara
você...

— Mas? — o indago, querendo saber onde ele quer chegar
com essa conversa.

— Apenas não seja um babaca com ela, como foi com as
estagiárias, sim?

Sorrio friamente para ele, retirando a chave do meu carro de
dentrodo bolso do ternoe olhando para ela, a balançando em meus
dedos.

— Noto que se preocupa muito com a senhorita Self. —
Arqueio minhas sobrancelhas, mantendo meu olhar sério quando
encaro sua face. — Algum interesse específico, Maximiliano?

— Cris é uma boa amiga, tenho um carinho especial por ela.
Conheço sua fama carrasca, Miller. Cristina não precisa de um
otário egocêntrico a diminuindo. Pode ter certeza de que eu vou
estar com meus olhos em você!

— Uma via de mão dupla, Maximiliano. Lembre-se que
também te conheço. Assim nós dois podemos ficar um de olho no
outro. Se me recordo bem do que seu irmão me contou, sua fama
conquistadora ainda continua a mesma da época da faculdade —
falo sério, esmagando a chave em minha mão. — Se conhece tão
bem assim minha fama, como diz, sabe que não costumo ser
complacente com distrações da minha equipe de trabalho.

Me afasto dele e caminho para meu carro, desejando poder
ter socado sua boca. Max ter me parado, apenas para me confrontar
dessa forma, só mostra que os boatos de como a senhorita Self
conseguiu esse emprego são verdadeiros.

Passo o resto do dia dentro dos fóruns e em reuniões com
juízes, trabalhando em cima dos meus casos. Poderia dizer que
realmente gosto dessa burocracia, e não que estou protelando meu
tempo, para não ter que voltar para o escritórioe me sentir atraído
pelos olhos de coruja da doce vênus que me virou do avesso, mas
eu estaria mentindo, pois tive certeza que foi exatamentepor isso
quando retornei ao fim da tarde e me senti agitado ao olhá-la, a
encontrandodentro da sala, arrumando os documentosem cima da
minha mesa. Se eu não tivessevistocom meus próprios olhos suas
curvas suaves, moldadas por sua pele macia, tão quente, que se
encaixou tão perfeitamente em mim, jamais acreditaria que por

baixo da saia comprida atésuas canelas e da blusa sem vida, existe
uma mulher apaixonante. Ela se vira, distraída, se assustando
quando me vê parado dentro da sala, atrás dela.

— Eu não o ouvi. — Seus dedos vão ao rostoe arruma seus
óculos, endireitando-ossobre seu nariz. Prefiro seus cabelos soltos,
moldando sua face, salientando as covinhas que tem em suas
bochechas quando ela ri.

— Como foi seu retorno? — Tento respirar o mínimo que
posso, para não ser traídopelo meu próprio corpo a cada segundo
que inalo seu perfume.

— Foi bom, senhor. Consegui ficar a par dos meus novos
afazeres, também gostei de poder rever meus colegas de trabalho.

Sugo as paredes internas da minha bochecha, mordiscando-
as com meus dentes, balançando minha cabeça em confirmação
para ela.

— Analisei seu histórico aqui na empresa e achei
interessante ter uma advogada desempenhando a função de
secretária— falo sereno, caminhando para minha mesa, escorando
minha bunda nela, olhando para a senhorita Self. — Está correta
essa informação, minha cara colega de profissão?

— Na verdade, em partes, doutor. — Os movimentos dos
seus ombros, os encolhendo, me faz ficar atentoem seus braços,
que vão para trás das costas, negando com um movimento de
cabeça. — Me formei em Direito, mas não cheguei a ter meu
registro diante da Ordem dos Advogados.

— Reprovou ou apenas se formou e desistiu da carreira?
Posso saber o motivopara ter abdicado de anos de estudos em sua
formação acadêmica?

— Para ser franca, não pode. — Sua voz não falha quando
ela me responde rápido, respirando com força.

— Que seja! A única coisa que me importa é que sua
formação será útil para mim. Ter alguém que saiba o que quero é

melhor do que ficar me estressando com as estagiárias
temporárias...

— Na verdade, se não abrisse sua boca para despejar todas
essas palavras pomposas do seu vocabulário, elas poderiam
entender... — Ouço seu resmungo, me provocando, o que me faz ter
apenas um leve deslumbre da mulher de língua felina que me
encantou.

— Está me recriminando, senhorita Self, por não ter
paciência com jovens acadêmicas? — Me afasto da mesa, dando a
volta nela com passos lentos.

Sento em minha cadeira e olho para minha mesa organizada
cuidadosamente.

— Eu tomei a liberdade de fazer uma agenda dos seus
compromissos da semana, senhor Miller. — Balanço minha cabeça
em positivo, olhando para ela, que ignora minha pergunta.

Seu rosto ficou gravado em minha mente e me assombrou
por muitas noites, me fazendo ver o brilho dos seus olhos negros
em cada face que enxergava. Não me recordo de ter passado por
isso em toda minha vida, nem com Silvia foi assim. Mas a
atrapalhada senhorita Self tem, de alguma forma, se esgueirado
para dentro de mim, me fazendo ficar condicionado a ela, me
levando do céu ao inferno em uma única noite.

— O senhor recebeu três ligações de clientes antigos de
Nova York, marquei os recados e deixei à esquerda, no bloco
amarelo em cima da sua mesa. Também agendei novos clientes
para semana que vem...

— Como foram suas férias? — pergunto, ansioso, desejando
ouvir qualquer disparateda sua boca atrevida,testandoatéonde ela
se mantém nesse papel de funcionária exempla.r

Quero enxergar a Cris daquela noite, que me encantou,não
essa forma robótica,que repassa seus afazeres e os meus como se
fosse uma inteligência artificial.

— Como?

— Suas férias, relaxou? — Pego uma caneta sobre a mesa, a
rodando em meus dedos. — Bateu em alguém com sua bolsa
estranha e pesada?

Quero ouvir qualquer coisa, um grito,uma risada, algo natural
e espontâneo, qualquer sinal de calor daquela mulher que ela
esconde dentrodela a setechaves. Seu lábio superior suga o canto
do inferior, mordiscando sua boca lentamente.Seus olhos piscam,
com ela desviando-os de mim, olhando para a janela do escritório,
respirando fundo, batendo seus pés no chão.

— Ariel, eu estou...

— Você voltou, Miller. — O som da voz estridenteda mulher
parada na porta da sala silencia as palavras de Self.

Ergo meus olhos para Malvina. Nunca odiei tantoela como
estou nutrindo esse sentimento agora.

— Passei o dia no fórum, agora a senhorita Self está
passando minha agenda para mim. Gostaria de esperar lá fora até
nós dois terminarmos nossa conversa? — falo sério para a
advogada trabalhistado segundo andar, que estáa me infernizar há
vários dias.

— Na verdade, já terminamos, senhor — Self fala rápido,
quase como se estivesse aliviada pela intrusão de Malvina.

— Mas eu não. — Olho para Malvina, a deixando
compreender que desejo que ela saia.

Mas, ao invés de sair, ela apenas se mantém na porta, com
seus braços cruzados.

— Precisa de mais alguma coisa, senhor Miller? — Voltomeu
olhar para a senhorita Self e a vejo se encaminhar para sua mesa.

— Amanhã terei uma audiência de apresentação de provas,
você vai me acompanhar. — Solto a caneta, falando sério para ela.

— Mas eu sou funcionária interna, não faço serviço de
campo. Max nunca me pediu para acompanhá-lo.

— Como pode ver, não sou Maximiliano.

— Mas não vejo necessidade de precisar de uma secretária
nos tribunais... — Ela se cala, notando pela minha expressão facial
que não estou nem um pouco inclinado a mudar de ideia. — Como
desejar... — O som baixo da voz de Self sai em tom bravo, me
dando um pequeno sinal de zanga. — Já estou no meu horário,
posso ir ou deseja mais alguma coisa?

Arqueio minha sobrancelha, lhe dando um sorriso malicioso.
Nego com a cabeça, erguendo minha mão, a dispensando.

— Excelente, isso quer dizer que não preciso ficar lá fora. —
Malvina se desencostada porta, caminhando pela sala, puxando a
cadeira que fica de frentepara minha mesa. — Bom descanso, meu
anjo!

Acompanho o andar apressado de Cris para fora da sala,
mantendo seus olhos ao chão.

— Passei três vezes por aqui hoje, para saber se já tinha
chegado.

— Estava ocupado, trabalhando — respondo seco, me
levantando e caminhando para a porta da minha sala, segurando a
maçaneta dela.

— Imagino, ainda mais agora com esse caso que pegou...

Minha mente se desliga do que Malvina tagarela dentro da
sala, me concentrandoapenas na imagem de Cris caminhando para
o elevador, deixando um sorriso largo em sua face se abrir, o
mesmo sorriso que eu desejo ver, mas que não é direcionado a
mim, e sim a Max, que se aproxima, conversando e entrando no
elevador junto com ela.

— Vai quebrar desse jeito. — A risada de Malvina me faz
virar para ela, sem entender o que ela fala.

— Desculpe, mas o que disse?

— A maçaneta. Está segurando-a tão forte, que cheguei a
ouvir o estalo do metal, então disse que vai quebrar. — Movo meus
olhos para lá, vendo os nervos dos meus dedos vermelhos pela
pressão que faço.

Solto a maçaneta, esfregando minha mão, olhando apenas
uma vez na direção do elevador, onde os dois partiram.

— Estava pensando, o que acha de irmos jantar juntos essa
noite?

— Tenho trabalho a fazer, mas agradeço seu convite,
Malvina. — Caminho para minha mesa, me sento na cadeira e olho
para o pequeno bloco, com as anotaçõesque Cristinadeixou. — Se
recorda sobre aquele boatoque me contousobre Max e a senhorita
Self?

— Oh, aquilo nunca foi comprovado! Max sempre alega que
só a vê como uma irmã caçula. Sabe como são os funcionários,
adoram aumentar — ela fala, rindo, olhando para mim. — Mas,
como diz o ditado,onde há fumaça, há fogo, e Max nunca escondeu
a superproteção que tem com ela. Pelo que me recordo, acho que
Cristina foi uma cliente dele... Tem certeza de que não quer ir
jantar?

Nego com a cabeça, repousando meu olhar na cadeira vazia
da mesa ao canto da sala.

Capítulo 09

Gatilhos

Cristina Self

Me sinto tola e humilhada com a forma que Ariel vem me
tratandono decorrer das duas semanas, piorando gradativamentea
cada dia que se segue. Ariel faz de tudo para fazer eu me sentir
mal, sendo grosseiro e tirano com suas demandas e perfeccionismo.
Ele faz questão de ser estúpido e desagradável, e cada vez mais
vou desistindo de lhe contar sobre a gravidez. Mas não é apenas
com seu mau humor que tenho que lidar, estou há três dias sem
dormir, sem pregar o olho, me sentindo aterrorizada com o pavor
que me assola.

Começou com dois telefonemasduranteo dia, um de manhã,
antesde eu sair para trabalhar;e outroà noite,quando já estavaem
casa. Ninguém fala nada, fica apenas a respiração pesada do outro
lado da linha, fria e apavorante,como se ele quisesse me avisar que
está se aproximando. Então a quantidade de telefonemas
aumentou. Renan liga constantemente, toda noite, seja no celular ou
no telefone fixo, me aterrorizando apenas com sua respiração
pesada do outro lado da linha. Cheguei ao ponto de desligar todos
os aparelhos e me trancar dentro do meu quarto. À noite, fico
olhando para fora da janela do meu apartamento,escondida pela
cortina, tendo a certeza que ele está em algum lugar me vigiando.
Já deixei uma enxurrada de ligações no celular da minha mãe,
comuniquei à polícia, mas eles não me ajudam, não fazem
absolutamentenada, já que o número que me liga está codificado
como desconhecido. Não tenho como provar que é o Renan, mas
eu sei, tenho certeza de que é ele. Não tive nem tempo de
conversar com Max sobre isso, pois ando tãosoterradade trabalho,
tendo que andar de um lado ao outro atrás de Ariel, entre fóruns e
audiências.

Antes, raramente eu tinha que sair do escritório, agora,
depois que fiquei designada a ser a secretária particular dele, o
acompanho por todosos lados, o auxiliando em tudoque precisa. É
quase como se ele quisesse me manter longe do escritórioquando

não está aqui. E quando está, ele consegue ser terrivelmente
egocêntrico,pairando como um gavião ao meu redor, cuidando para
que eu faça meu trabalho,o qual eu nunca deixei de fazer. Em meio
a todo caos que está me pegando, sou obrigada a ficar na sala,
olhando para Malvina, que vem como uma cadela no cio atrás dele.
Porém, de tudo que ele me faz, minha maior raiva se tornou o
maldito café. Ariel se nega a tomar o café do refeitório. Todos os
advogados tomam o café da maquininha, Max vive lá, se entupindo
de cafeína, e nunca morreu, mas Ariel não. Ele simplesmente tem
aversão de passar pertoda sala de café. Sendo assim, tenhoque ir
buscar o café dele e o meu, em uma cafeteriaque fica uma quadra
acima do nosso prédio. Subo e desço todos os lances de escada,
pois só de imaginar me aproximar do elevador, já passo mal. Invento
todo tipo de desculpa quando ele se encaminha para o elevador, e
já cheguei a dizer que estou optando pela escadaria porque só
assim pratico algum exercício.

Ariel me faz trabalhar como uma escrava, me mantendo
sempre ocupada. Apenas me vejo presa mais e mais em meu
segredo. Se ele já me trataassim apenas porque dormimos juntos,
imagina como ficará ao saber dos bebês? Mas uma coisa eu tenho
que admitir:Ariel é um advogado brilhante, diabolicamente astuto,
que manuseia suas palavras, brincando com os jurados como se
fosse uma criança em um dia ensolarado no parque. Ele tem como
causa ganha o caso Brat, e o álibi é que Stano Brat estava em seu
escritório,com sua assistentepessoal, mantendo seu caso secreto,
na hora que sua esposa foi assassinada junto com seu personal
trainer[16], o suposto amante da vítima.Isso deu a Ariel mais uma
carta na manga. Suponho que por conta de toda minha carga
emocional e da minha destruidora relação com Renan, não consigo
acreditarem Stano Brat, mas prefiro não expor minha opinião para
Ariel. Fico em silêncio, sentadano segundo andar, na primeira fileira
de bancos ao canto do tribunal, acompanhando a audiência,
enquanto o promotor de justiça conversa com os jurados.

— E quando as provas forem apresentadase todasas peças
estiverem encaixadas, os senhores concluirão — o homem calvo,

franzino e de estaturamediana diz, caminhando diante da bancada,
de uma ponta a outra, sem desviar os olhos dos jurados — que
Stano Brat matou duas pessoas a sangue frio, calculadamente e
com intensão premeditada — o promotor finaliza seu argumento
apontandopara o acusado, que estáao lado de Ariel. Seus olhos se
voltam para os jurados, que o encaram complacente. — Obrigado.

Observo as safiras, que brilham em tédio puro na face de
Ariel. Vejo seus dedos, que batem na mesa, cessarem seus
movimentos. Ele ergue seu pulso, verificando o horário em seu
relógio. Ariel se levanta de forma dominante, como o jogador
atacante que entra em campo, segurando os olhares de todos
dentro do tribunal. O magnetismo natural que exala dele dá mais
autoconfiança,tão belo quanto brutal. Seus dedos param em frente
ao blazer do terno, o fechando, caminhando para a banca dos
jurados.

— Senhoras e senhores do júri, sei que passaram a manhã
toda ouvindo o senhor Black falar. — Ele aponta para o promotor,
deixando um olhar ardiloso em sua face quando retorna sua atenção
para os jurados. — Sei que estão com fome, cansados de estarem
há tantotempo sentados nessas cadeiras, mas prometo que serei
breve no que tenho a lhes dizer.

Ariel sorri manso para eles, ganhando a simpatiados jurados.
As mãos dele se prendem na grade de madeira, dando leves toques
com a ponta dos seus dedos, ficando sério quando se silencia.

— Serei breve e direto. Eu não aprecio Stano Brat, não creio
que seja um ser humano de boa índole. — Os murmúrios se
espalham pelo tribunal assim que Ariel começa seu discurso. — E
realmente não espero que gostem dele.

A face de Stano Brat está carrancuda, se fechando como
uma máscara de ferro. Meus olhos ficam atentosaos gestos de
Ariel, que se vira, caminhando casualmente, como se divagasse
seus pensamentos de forma natural, e não como alguém que está
desmerecendo a credibilidade do seu cliente diante dos jurados.

— Foi um péssimo cônjuge para suas antigas esposas, as
duas que ele teve antes do terceiro casamento. — O tom de voz
rouco aumenta, deixando todos calados, apenas concentradosem
suas palavras. — É uma horrívelinfluência para seus filhos e seus
enteados. Renega suas obrigações com o Estado, burlando os
pagamentos fiscais da sua empresa, usando de manobras para
continuarempurrando seus impostospara debaixo do tapete.E sim,
eu volto a afirmar, eu não gosto nem um pouco dele.

Solto minha bolsa no banco vazio do meu lado, arrastando
minha bunda para a ponta da cadeira, debruçando meus braços no
parapeito de madeira, admirando o diabólico advogado Mille.r

— Posso garantir que até o final desse caso, estarão
repudiando o senhor Brattantoquantoeu. — Seu corpo gira rápido,
olhando os jurados, caminhando em linha reta para eles. — Mas
não estamos aqui para fazer laços fraternos com ele, e sim para
julgá-lo. E o fato incontestáveldesse julgamento, é que meu cliente
estava em outro local quando esses crimes bárbaros aconteceram.

Suas manobras com as palavras vão desfazendo as faces
cansadas dos jurados. Eles o olham com interesse, não perdendo
uma palavra sequer que sai dos lábios do advogado calculista.

— Nosso promotor não está medindo esforços. Rebuscando,
recorrendo a fatos não pertinentes ao caso. — Ariel respira fundo,
erguendo seu indicador. — Mas da minha parte, vou pedir apenas
uma coisa, apenas uma, meus caros jurados. — Suas mãos voltam
a segurar a viga de madeira próxima à banca do júri, olhando sério
para a face de cada um, pouco a pouco. — Perguntema si mesmo:
não sentirempatiapor StanoBlat,por ele ser um homem baixo, que
mantinharelação sexual com outrasmulheres, e por ser portadorde
grandes falhas de caráte,r é aceitável para culpá-lo por assassinato?

Ele os ganha apenas com um olhar. Ariel tem os jurados na
palma da sua mão, de forma astutae fria, distorcendosuas próprias
palavras para ganhar a atenção da banca do júri, os cativando em
sua argumentação desmerecida da péssima índole de Stano Blat.

Ele dá um passo atrás, levando as mãos ao bolso, mantendo
contato visual com eles.

— Desejo um bom almoço a todos vocês! — Ariel fala firme,
se virando e voltando para sua mesa. Seus olhos se erguem
repentinamente, parando em mim, me flagrando o admirando.

Eu achava que o advogado que o pai de Renan tinha
contratadoera cruel, mas ele não passaria de um benfeitorpuritano,
de portade igreja, pertodo impiedoso e diabólico Ariel Miller. Abaixo
meus olhos, me sentindo angustiada dentro do tribunal, revivendo
em minha mente todas as lembranças daquele julgamento, no qual
fui desmerecida, silenciada, anulada diantede um monstroque saiu
impune pelo mal que me causou. Me afasto do parapeito, pego
minha bolsa, me levanto lentamente e fujo pela porta atrás da
arquibancada superior. Preciso de vinte minutos dentro do banheiro
para ficar apresentável outra vez, depois de ter tido uma crise de
choro e vomitado todo meu café da manhã. Saio do banheiro a
passos lentos, respirando fundo, arrumando meus óculos em minha
face, a cabeça abaixada, com a mesma forma apáticae melindrosa
que saí há quatro anos atrás de dentro desse tribunal.

— Achei que teria que chamar o segurança para entrar lá
dentro e saber se estava viva. — Ergo meu rosto e me deparo com
o grande homem parado à minha frente, me olhando sério.

— Eu acabei sujando minha blusa, precisei limpar. — Aliso
minha roupa, escondendo a barra da camisa dentro do cós da saia.
— Pensei que demoraria mais um pouco, por isso demorei no
toalete.

As safiras gélidas recaem para minha blusa de lã com
desdém, soltando o ar pelas narinas.

— Tenho certeza que deve ter mais umas trinta desse modelo
de mau gosto, uma para cada dia do mês, dentro do seu guarda-
roupa. — Sua voz mordaz é fria, e ele trocasua maletade uma mão
para a outra. — Venha, a audiência já terminou, temos que almoçar
antes de trabalharmos em cima do álibi de Brat.

Ele gira seu corpo, me deixando para trás, caminhando a
passos duros. Antes que possa lhe mandar à merda e dizer que
minhas camisas não são de mau gosto, Stano Brat passa por mim
como um tratordesgovernado, me empurrando para a parede. Meu
braço se esmaga no concretoe a bolsa desliza dos meus dedos, me
fazendo soltar um baixo som de dor. Quando Ariel se vira, seus
olhos passam de mim para seu cliente.Me abaixo para pegar minha
bolsa, esfregando meu ombro, deparando-me com a face vermelha
enraivecida de Ariel encarando Stano.

— Seu filho da puta engomadinho! Que porra foi essa que
fez?! — A voz baixa de Stano, em tom zangado, sai carregada de
ira ao confrontar Ariel. — Eles vão me odiar por culpa sua!

Ariel é ágil. Em segundos engancha sua mão no braço de
Stano, pegando-o de surpresa e puxando-o para a porta de uma das
salas abertas.

— Self, entre e feche a porta. — Ariel respira rápido, me
ordenando a ir atrás deles.

Fecho a porta da sala com rapidez, e ao me virar vejo o corpo
de Stanosendo empurrado contaa parede por Ariel. Os dedos dele,
presos à lapela do terno, forçam o homem a ficar contido.Fico com
meus olhos arregalados, sem ação, não sabendo o que fazer.

— Tenha mais respeitoao se dirigir a mim, e respeitea minha
secretária.Não está lidando com suas vadias de rua, Stano! — Ele
bate outra vez o corpo de Stano na parede, fazendo o homem se
alarmar, com a voz rouca carregada de cólera.

Ariel o solta, dá dois passos para trás, passa as mãos em
seus cabelos e endireita as mangas do blazer do seu terno.

— Agora presteatençãonas minhas palavras. Muitaatenção,
Stano. — Ariel não quebra seu contato de visão com Stano,
apontandopara o meio da cara dele com raiva. — Eu vou dar o meu
melhor para que eles odeiem você, que não suportem olhar para
você, porque enquanto estava com seu pau afundado dentro da
boceta larga da sua assistente,seu dedo não estava na porra do

gatilho da arma que matou duas pessoas dentro da sua casa, seu
grande cretino de merda!

Ariel se vira para mim, parando suas safiras em minha face
amedrontada.Sintomeu coração acelerar, baterfortedentrodo meu
peito. Atentaà sua face raivosa, vejo-o suavizar suas expressões,
respirando fundo.

— Por que simplesmente não me contou seus planos, não
conversou comigo? — O senhor Brat se desencosta da parede,
endireitandoseu terno,tendoum sorriso maléfico nos lábios quando
compreende a estratégia de Ariel.

— Porque você não me paga para conversar, e sim para tirar
seu rabo da reta de uma cena de crime. — Ariel se abaixa, pega sua
maleta, que ele havia jogado no chão, a deixa pendurada em uma
das mãos e leva a outra ao bolso. — Agora peça desculpa para
minha secretária, pelo seu comportamento grosseiro, senhor Brat.

Não me atrevo a falar que não precisa de uma retratação,
não quando a voz de Ariel sai mais rouca que o normal, parecendo
um rosnado altode um lobo alfa. Stanose move nervoso em minha
direção, com a respiração alterada.Me resigno a abaixar meu olhar,
segurando firme minha bolsa em meus dedos, olhando para as
pontas do meu sapato.

— Claro, onde estão meus modos... Eu lamento pela
grosseria. — A voz tãofalsa como uma cobra, fala de forma branda.

Balanço minha cabeça em positivo para ele, me sentindo
sufocada quando ele se aproxima ainda mais de mim, ao ponto de
eu poder sentir o ar da sua respiração. Não consigo explicar, não
consigo terpoder sobre meu corpo quando ele se aproxima de mim,
invadindo meu espaço pessoal, esticando sua mão. Meu corpo se
encolhe de medo, como se eu estivessediantede um predador. É a
mesma sensação que eu tinha quando Renan se aproximava de
mim, falando com uma voz mansa. Sinto a fisgada em meu
pescoço, a transpiraçãoque aumentaem minhas mãos. O medo me
engole, a dor em minha cabeça é grande, como se fosse explodir.
Estar dentro desse tribunal, e ter esse homem frio e cruel perto de

mim, desencadeia lembranças dolorosas. Sinto as memórias me
sufocarem, como se estivesse revivendo todoo abuso que sofri com
Renan.

— Está tudo bem, senhor Brat. — Balanço minha cabeça
outra vez em positivo, me afastando da porta, abrindo-a o mais
rápido que posso, precisando sair de dentro desse cômodo.

E é apenas quando saio para fora do prédio do tribunal de
justiça, que consigo respirar com alívio. Retiro os óculos e esfrego
minha face, intercalandoentre respiradas longas pela minha boca e
dispersão do ar pelas narinas, atémeu coração desacelerar. Recolo
meus óculos e fecho meus olhos.

— Me dê sua mão! — A voz enérgica me deixa sobressaltada
quando seus dedos puxam minha mão para as suas, fazendo minha
respiração voltar a ficar desregula.r

— O que pensa que está fazendo? — Ele gira minha mão,
sentindo a pele suada, logo erguendo seu dedo, esfregando em
cima da veia do meu pulso. — Oh, meus Deus!

Ariel segura minhas costas,espalmando uma de suas mãos
abertasnela, sua outramão vai para meu rosto,baixando os óculos,
como se estivesse analisando minhas pupilas.

— Oh, céus, dá para parar? Está chamando a atenção das
pessoas. — Tento me afastar de Ariel, mas isso apenas o faz me
prender mais, colando seu corpo ao meu.

— Há quanto tempo está sofrendo com esse transtorno?—
Ele entrega meus óculos para mim e ergue sua mão para meu
pescoço, passando seu dedo na veia que pulsa rápido em minha
pele.

— Não tenho transtorno algum, Sherlock Holmes —
resmungo brava, não compreendendo o que ele está fazendo. Levo
meus óculos para minha face, o estapeandoquando ele tentavoltar
seus dedos curiosos para minha garganta.

— A transpiração na sua mão, seu batimento cardíaco
acelerado, o sangue que pulsa em sua veia... — ele fala sério,

pensativo, olhando para minha boca. — Seu corpo se retraiu com a
aproximação explosiva do senhor Brat, da mesma forma que se
encolheu de medo quando eu me alterei dentro da minha sala. E
você se esquivou do apertode mão dele agora há pouco, por medo.

— Para. — Forço meu corpo para trás, apertando minhas
mãos em seu peito, tentando me afastar dele. — Por fav,omr e solte,
doutor Miller.

— O que desencadeou esse transtorno de estresse pós-
traumático[17], Cristina? — Pisco, confusa, sendo esmagada de
dentro para fora por seu olhar penetrante.

— Já pedi para me soltar. Não sofro com transtornoalgum...
— falo brava, virando meu rosto para o lado, não suportando ter
mais o peso do seu olhar inquisidor em cima de mim. — E mesmo
se sofresse, você seria a última pessoa a saber os motivos, então
me solte, doutor Miller! Não sabia que a Ordem dos Advogados
agora está carecendo de graduação de psicanálise para seus
pomposos doutores.

Seu toque em minha face é brando. Respira profundamente,
relaxando o aperto, apenas me mantendo junto a ele.

— Não seja obtusa, Cristina. Tenho anos de prática como
advogado criminalista, sei ler bem o comportamentohumano... —
Se cala, ficando em silêncio por um breve tempo,olhando para meu
rosto,repuxando o cantodos lábios. — Achou que eu iria lhe agredir
aquele dia, dentro do meu escritório, não foi?

— Ariel, por favor... — Minha voz baixa sai envergonhada,
não quero lhe confessar que meu corpo paralisou de medo com o
repentino ataque de fúria dele. — Me solte, por favo. r

Ariel tirasua mão das minhas costas,mas ainda posso sentir
seu olhar em cima de mim. Fecho meus olhos, respirando fundo,
esfregando minha nuca para amenizar a dor latente que sinto nela.

— Não procurou ajuda médica? — A voz dele mantém o tom
autoritário,mesmo soando baixa. — Não, óbvio que não procurou.

Seu trauma está ligado ao motivo que a fez desistir da carreira em
Direito?

Voltomeus olhos aos seus, me odiando por ficar à sua frente
como um livro aberto.Me sentitãohumilhada ao terminha sanidade
mental testadadentro desse tribunal, sendo vista como uma mulher
desequilibrada, que não tive coragem de procurar ajuda médica
quando os ataques de estresse pós-traumáticocomeçaram. Minha
memória se recordava dos chutes, murros, gritos, e eu revivia o
episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, com a
mesma sensação de dor e sofrimento que senti no brutal dia. E
conforme comecei a reconhecer os gatilhosque me acionam, com o
tempo apenas os evitei. Porém, não posso contar para Ariel sobre
como sofro com o estado medroso e tão frágil que me tornei. Estou
andando entre a cruz e a espada, sem saber qual predador vai me
machucar primeiro. Se será Renan com sua perseguição, ou Ariel
quando descobrir sobre a gravidez. Ele pode ser tão brutal quanto
Renan, não me refiro fisicamente,mas tirando meus filhos de mim.
Eu o vi por todos esses dias em ação dentro do tribunal, e o que
seria de mim diante da sua astúcia? Renan já me tirou tanto,me
destruindo de todas as formas, mas Ariel me mataria se arrancasse
meus bebês de mim. Eu passei anos da minha vida me
amargurando, me amaldiçoando por acreditar que eu não poderia
ser mãe, e agora que eu tenho meus tesouros,vou protegê-loscom
todas as minhas forças.

— Eu estou bem, ok? — Mordo meus lábios, o encarando.
Ariel mantém seu olhar severo, não comprando minha mentira. —
Não gostode Stanoe muitomenos confio nele, foi por isso que não
apertei a mão dele. Sinto muito se ofendi o cliente.

— Foda-se o Stano!— Ariel gira seu corpo, caminhando duro
pela calçada. — Caminhe, babá McPhee, não tenhoo dia todopara
lhe esperar para o almoço.

Respiro fundo, me sentindo aliviada por esse breve momento,
sabendo que ele está voltando sua mente para o caso Brat.

Relaxo meu corpo na minha cadeira, no escritório de Ariel,
enquanto ele repassa o álibi com a assistentepessoal de Stano
Brat.

— Senhorita Violet, confirma que na segunda-feira do dia 02
de julho de 2021, passou do seu horário de expediente porque
estava esperando o escritórioestar vazio para ter relações sexuais
com o acusado?

— Sim.

— Então o senhor Stano não é apenas seu patrão, mas
também seu amante?

— Sim, está correto, estamos juntos há um...

— Pare! — A voz rouca de Ariel silencia a mulher sentada à
minha frente, enquanto ele anda de um lado ao outro da sala, com
as mãos nas costas. — Não se engane com o promotor, senhorita
Violet,ele não vai ser brando e muitomenos fácil, pelo contrário,irá
fazer perguntasardilosas, que vão lhe deixar abstraída.O ritmodele
consiste em arrancar muito mais da senhorita do que apenas seu
testemunho.Se obtenha apenas em dizer “não” e “sim”. — Ariel se
vira, a olhando sério. — Compreendeu?

— Sim, senhor Miller, eu entendi...

Ariel arqueia as sobrancelhas, a fazendo se calar com
apenas um olhar de advertência.

— Sim — ela responde baixo, cruzando suas pernas,
deixando as coxas aparecerem.

Fico em silêncio, observando a mulher que alega ser o álibi
de Stano. Alta, esbelta, com os cabelos vermelhos de fogo
compridos, unhas bem-feitas e maquiagem impecável. Entretanto,
não sei o motivo de não conseguir vê-la se deitando com o senhor
Brat,não porque ele seja um velho gordo ordinário, mas sim porque

Stano é reservado. Nenhuma das suas amantes anteriores, que
estão nos relatórios, têm o perfil da senhoritaioVlet.

— Pode confirmar, senhorita Violet, que das 19h30 até as
20h56 estava tendo relações sexuais com o acusado dentro do
escritório dele?

— Sim.

— E no decorrer dessas horas, onde comungava a ligação
carnal, não se distanciou do senhor Brat em momento algum?

— Não, não perdi nenhuma das bolas dele de vista! — ela
fala, rindo de forma vulgar, olhando para mim.

— Ele precisou ir ao banheiro?

Demoro um segundo para compreender o que ela falou,
enquanto Ariel mantém o ritmo do interrogatório com a testemunha.

— Uma bola... — sussurro, pensativa.

— O quê? — A moça ri, olhando de mim para Ariel, confusa.

— Self? — Giro meu rostopara Ariel, que caminha e para ao
meu lado.

Me levanto e caminho para a mesa dele, puxando o arquivo
perto do computado,r procurando pela informação que tinha
levantado.Eu tiveque estudar a vida de StanoBrat,partepor parte,
na terça à noite. Ariel investigou de nota fiscal de banca de jornal
até o último fio de cabelo que cai da cabeça daquele verme do
Stano quando se deita para dormir no travesseiro. Acho minha
informação, confirmando meu pensamento.

— Disse bolas, não foi? — Ergo meu rosto,perguntandopara
Violet. — No sentido plural.

— Sim, disse.

— Quantos sacos o senhor Brat tem, senhorita Violet? —
Caminho para ela, parando na frente da mulher.

— O que isso tem a ver? Achei que quem me interrogaria
seria o advogado...

— Responda-a! — Ariel fala firme, a encarando. — Está
fodendo com seu patrão há mais de cinco meses, não tem como
errar uma pergunta dessa!

A face dela fica vermelha, e quase posso sentir pena pela
forma como o olhar de gelo de Ariel a incrimina.

— Ele tem dois, como todo homem!

— Senhor Brat sofreu um acidentede bicicletaquando tinha
seis anos, colidiu contra um automóvel. — Solto a pasta aberta
sobre minha mesa, virando meu rosto para Ariel. — Ele perdeu um
dos testículosno acidente.Os médicos removeram o saco escrotal
inutilizado, ele tem apenas um.

— Filho da puta!

Ariel entende imediatamenteque ela está mentindo. O álibi
de Stano Brat é tão falso quanto ele.

Capítulo 10

Terror noturno

Cristina Self

O som dos rosnados de fúria na outra mesa, próxima à
janela, me faz olhar para o homem bravo, que esmaga uma bola de
tênis em sua mão, enquanto grita no telefone.

— Já lhe disse que não vou levar Violetpara testemunhar no
tribunal! — Ariel está quase espumando de raiva, enquanto
conversa com Stano.— Quer saber o motivo?Entãovou lhe dizer o
porquê, seu cretinode merda! Sua assistentevadia está mentindo,
assim como você, Brat! E vou lhe falar mais uma vez, sou a única
pessoa em quem você pode confiar para livrar seu rabo da pena
máxima! Se não me contar a verdade do que aconteceu aquela
noite, pode procurar outro advogado!

Ariel desliga o telefonecom raiva, jogando a bola que temem
seus dedos na lixeira, a qual ele estava usando como cesto. Ele se
arruma de frente para a tela do computador e pega a caneta em
cima da mesa, erguendo seus olhos para mim. Desvio meu olhar
dele na mesma hora, voltandopara meus relatórios.Não precisa ser
um gênio para saber que a mentira do álibi da senhorita Violet
desestabilizou o caso. Ariel vai ter que usar outras manobras e
estudar o caso por completonovamente. Eu não disse a ele o que
penso, que dentro de mim tenho quase certeza de que Brat
realmente cometeu o assassinato a sangue frio da esposa e do
personal trainer, todavia, no fundo, desconfio que Ariel saiba disso
desde o começo, no segundo que Stano passou pela porta do
escritóriosolicitando seus serviços. E isso apenas diminui cada vez
mais minha vontade de contarpara ele sobre os bebês. Ele retira o
aparelho do gancho e disca rapidamente, cerrando o maxila.r

— Tenho um serviço para você, preciso que venha para a
Califórnia! — Sua voz enérgica é séria. Aperta o aparelho em suas
mãos e desliga logo em seguida.

O som da porta da sala sendo aberta me faz olhar para a
face risonha de Max, que bate lentamente na madeira, me olhando.

— Poderia roubar sua secretária por uma hora, Miller?

Max invade a sala, rindo para mim. Me sintofeliz, pelo menos
há um pouco de compaixão nesse escritório.Finalmentetereitempo
para conversar com Max sobre o que vem acontecendo:as ligações
insistentesfora de hora, o aparecimentode Renan no meu prédio, e
se tiverum pouco que seja de coragem, lhe confidenciar sobre estar
grávida. Retiro meus óculos, sorrindo animada para Max, que desvia
seus olhos de mim para o homem carrancudo sentado na outra
mesa. Ariel quebra sua atenção de Max, repousando sua carranca
em mim, e vejo seus dedos se esmagarem em volta da canetaque
há em seus dedos, respirando fundo.

— Creio que teráque ficar para outromomento.— Ele me dá
um balde de água fria no instanteque sua boca cretinase abre. O
vejo ficar de pé e estufar seu peito, sorrindo falsamente para mim.
— A senhorita Self tem um compromisso agora — ele diz sem um
pingo de compaixão, dando de ombros.

— Mas agora? — Max olha para seu pulso, negando com a
cabeça. — Está quase no horário do almoço.

— Ela almoçará aqui. Preciso de Self, estoufechando o caso
Brat, estamos a poucos dias da próxima audiência. Ela vai me
ajudar a rever alguns pontos que possam ter ficado em aberto.

— Bom, se é assim, fica para próxima então, meu anjo. —
Max me dá um sorriso triste, piscando para mim. Retribuo seu
carinho apenas com um sorriso amarelo, não disfarçando minha
tristeza por não poder conversar com ele. — Depois nos falamos.

— Claro... — sussurro em resposta, levando meus óculos de
volta para meu rosto.

Volto meu olhar para as porcarias dos documentos, me
afundando na cadeira, ficando chateada. Assim que Max parte, ouço
os passos pesados de Ariel andando rumo à porta, a batendo com
força demasiada, tão forte que faz os quadros da parede
balançarem. Fico parada, sem saber o que dizer com o estranho
rompante de agressividade que ele tem. Não consigo evitar o

encolher dos meus ombros. Me sinto amedrontada toda vez que
algum homem se altera próximo a mim, e isso me tira da minha
zona de conforto.E apenas para piorar, como ando com os nervos à
flor da pele, só o som da sua respiração enérgica já é o suficiente
para me engatilhar todas as lembranças ruins do que Renan fez
comigo. Permaneço olhando para os documentos, com minha
cabeça abaixada, voltando a digitar os processos pendentes, nos
quais eu trabalhava.

— Me diga, deu o mesmo tratamentopara Max, Cristina? —
Sua voz amarga infestaa sala feitoveneno, saindo ríspidapor seus
lábios.

Levanto meu olhar para a face endurecida de Ariel,
compreendendo o que ele está insinuando. Não preciso ser um
gênio para saber que os malditos boatos sobre eu ter dormido com
Max já chegaram em seus ouvidos. E como posso me defender
diantedo seu olhar acusador, o qual me julga impiedosamente,se já
me condenou como culpada?

— Qual é o meu compromisso urgente, senhor Miller? —
pergunto baixo para ele, tentandonão ficar mais nervosa do que já
estou, para não prejudicar meus bebês.

Sua boca se esmaga. Passa seus olhos pela sala e abre um
sorriso gélido em seus lábios.

— Tão prestativa, babá McPhee. — Sua voz zomba de mim
de forma malvada, caminhando para perto da minha mesa. —
Responda minha pergunta.

— Não me chame assim — falo brava, odiando-o com todas
as minhas forças por estar me julgando dessa maneira. — Já
separei alguns documentos sobre o caso Brat, senhor. Está na
minha hora de almoço... — Me levanto, querendo fugir dessa sala,
não suportando mais a forma fria que ele me olha.

Sua mão se fecha com força em meu braço, me assustando
quando ele me puxa, me fazendo ir de encontroa ele. Ergo minha
face e encontro seu olhar frio próximo ao meu rosto, com sua boca

esmagada, puxando o ar pelo nariz, como se fosse um touro bravo
que apenas enxerga vermelho à sua frente.

— Responda a porra da pergunta, Cristina! Trepou com Max
igual fez comigo? — ele rosna perto do meu rosto, espumando de
ódio por sua boca. — Ou manteve essa forma fria e distante,o
deixando iludido, sem saber a verdadeira mulher selvagem que se
esconde por trás desses óculos?

— Me acusa como se dormir com você fosse algo
premeditado. Do que o nobríssimo advogado Miller se esquece tão
facilmente, é que quem sabia a verdade aquela noite era você! —
Soco com raiva o ombro dele, querendo que me solte.— Você, seu
cretino! Você sabia que eu tinha me enganado e mesmo assim se
divertiu, brincando comigo, manipulando minha mente como se eu
fosse mais uma da sua banca de jurados burros!

— Não seja ingênua, Self. — Sua mão me aperta com o
dobro de força, me fazendo encará-lo. — Em nenhum momento eu
afirmei ser um garoto de programa, todos os pensamentos e
certezas foram apenas seus.

— Seu bastardo!Você tambémnão negou, preferiu continuar
brincando comigo, então não ouse abrir essa sua boca arrogante
para me fazer acusações com sua forma desagradável!

— Forma desagradável para mim é ver a porra do
Maximiliano entrando nessa sala feito um cachorrinho, abanando o
rabo toda vez que você olha para ele... — Sua voz escorre veneno
por sua boca, me deixando presa por suas mãos, enquanto destila
sua raiva. — Ansioso para ver a mulher sedutora de lingeries sexys
e provocativas que se esconde por baixo dessa carapuça mórbida
em que você se fechou.

— Você não tem o direito de me falar isso! — Tento me
afastar dele, mas isso apenas o faz me puxar para mais perto,
prendendo sua outra mão em minha cintura.

— Não se engane, meu bem, tenho todo o direito. — Ariel é
rápido, soltando meu braço, me mantendo presa pela cintura,

arrancando os óculos da minha face. Ele os joga sobre minha mesa,
me empurrando para trás, fazendo minha bunda ficar esmagada na
mesa. — Tenho todo o maldito direito desde o momento que meu
pau se afundou dentro da sua boceta.

— Seu cretinode merda! — Tento o estapear com ódio, mas
sinto sua grande mão soltar o coque dos meus cabelos. — Filho de
uma puta depravado, não tem direito algum de falar assim comigo
apenas porque se meteu no meio das minhas pernas!

— Aqui está!— Ele range seus dentes,me olhando eufórico,
com suas safiras brilhando zangadas. — A pequena vênus, a
provocadora de boca ligeira, é essa mulher que Max conhece? É
essa versão que ele vê o rosto se torcer tão lindamente quando
chega ao clímax?

Minha mão estoura em sua face, a deixando vermelha,
enquanto meu corpo todo treme de medo, raiva e ódio, encarando
esse homem malditoque virou minha vida de pernas para o ar. Ariel
esfrega seu rosto onde minha mão o acertou,estou assustada com
a explosão agressiva que acabei de ter. Meus olhos ficam
arregalados quando sua mão se prende firme em meus cabelos, os
puxando para trás, mantendo minha cabeça parada.

— Vou tomar esse seu pequeno ato de bravura como um
não, doce vênus. — Sua voz rouca fala raivosa, rosnando com ira.
— Max, com toda certeza, não teve nem um minúsculo vislumbre
dela. — Ariel abaixa seu olhar para minha boca, me deixando ver as
safiras ficando claras como um céu ensolarado. — Não, ele não a
viu, muito menos ouviu os gemidos suaves que escapam dos seus
lábios, fazendo o homem que a fode se sentirum malditoimperador,
por ser o responsável pelo prazer que floresce dentro do seu corpo.

É um bote rápido, como o de um predador selvagem sem
piedade, que o faz massacrar meus lábios com um beijo duro e
perverso, cheio de turbulência. Meus dedos se achatam em seu
braço e me seguro no terno dele, enquanto me pressiona contra a
mesa. Sintomeu corpo sendo aceso entrea raiva e a saudade pelo
sabor dos seus lábios colados aos meus. Mesmo de forma dura e

ríspida, obrigando minha boca a se abrir para dar passagem para
sua língua felina, sua mão em minha cintura sobe lenta, afagando
minhas costas, me fazendo ronronar em seus braços, me
desfazendo pouco a pouco.

Não existenada lá fora, nem aqui dentrodessa sala. Não tem
mais Renan, nem os terrores noturnos, apenas a emoção de estar
sendo aplacada por seu beijo devasso e cruel. Notosuas pernas se
infiltrando entre as minhas, afastando minhas coxas, esfregando seu
joelho no centro do meu quadril. Gemo com mais luxúria com o
raspar dos tecidossobre minha boceta.Meus dedos se desprendem
dos seus braços, enlaçando seu pescoço, me deixando presa a ele.
Sintodor quando seus dentesmordem meu lábio inferior, o sugando
dentro da sua boca. A mão firme arrasta minha saia para cima,
apalpando minha coxa com posse. Ariel solta meus lábios, beija
meu queixo e escorrega sua boca para minha garganta. Fico
perdida em um estado lascivo, no qual ele me consome. Minha
cabeça tombapara tráse mordo minha boca, gemendo baixo assim
que seus dedos tocam o tecido da calcinha, o que o faz soltar um
ruídorouco da gargantaao sentira renda molhada, o deixando mais
dominador. Seguro em seus ombros, navegando em um mar
perigoso, ao qual o grande tubarão me leva, infiltrando seu dedo
dentro da calcinha, inflamando minha bocetaapenas com um único
toque escorregadio para dentro dela.

— Ariel... Ohhh!

— Preciso ouvir dos seus lábios, pequena. — Sua face se
ergue, me beijando com luxúria, retirando mais gemidos dos meus
lábios com seu beijo bruto. — Dormiu com Max?

Eu quero abominá-lo, quero me desvencilhar do seu toque e
tomar o controle do meu corpo, mas não consigo, não quando ele
me castiga, me fodendo com seu dedo, o empurrando duro dentro
de mim, e ao mesmo tempome acalentacom beijos quentes.Fecho
meus olhos, cravejando minhas unhas em seu ombro,
choramingando baixo a cada sensação que se desperta dentro de
mim. Nunca foi assim, Renan nunca me tocou dessa maneira tão

possessiva, nenhum homem jamais tinha me tocado dessa forma,
silenciando meus pensamentos. Seu polegar para em cima do meu
clitóris, o achatando enquanto o massageia. Estou sendo empurrada
à deriva, a línguaquentemarca meu pescoço, pairando sobre a veia
da minha garganta com sua boca se fechando, me chupando com
pressão. Ariel introduz outro dedo, aumentando o ritmo das
estocadas.

— Diga-me, Cris. — Ouço sua voz próxima ao meu ouvido
trazerarrepios para meu corpo, mantendoseus dedos perversos me
fodendo.

— Não... Oh, Deus, não... — Minha cabeça se inclina para
frente, tombando meu rosto em seu peito. Meus dentes se cravam
em sua camisa, para abafar meus gemidos.

Meu corpo implora por mais, como se reconhecesse cada
toque dele, o cheiro, o calor, me condicionando apenas a Ariel.
Poderia lhe confessar todos os meus temores apenas para que ele
não me abandonasse justo agora. O som das batidas na porta da
sua sala nos tira desse momento de loucura no qual nos
encontramos. Ariel grunhe com ódio, retirando os dedos de dentro
do meu corpo, e eu quero chorar, quero segurar seu pulso para que
ele não se afaste. Ele mantém seus olhos aos meus, levando seus
dedos para sua boca, os sugando sem resquício algum de
acanhamento.Territorialista,ama o estadoem que me abandonou e
a resposta que ouviu. Minhas mãos trêmulas abaixam minha saia e
puxo o ar com força. Sinto meu peito bater acelerado e me
desencosto da mesa com minhas pernas bambas.

— Pode entrar! — Sua voz rouca é brava, com a insistência
das batidas na porta aumentando.

Ariel se vira e caminha silencioso para sua mesa, com sua
face sombria.

— Queria saber se poderia me tirar algumas dúvidas... Cris
ainda não foi almoçar? — Olho para o chão, não tendo coragem de
encarar doutor Pietro, apenas negando com a cabeça. — Estão
trabalhando? Não queria interrompe.r..

— Não, está tudo bem, senhor. Eu estava indo buscar nosso
almoço... — Me viro rápido, pegando minha bolsa pendurada em
minha cadeira, não olhando para nenhum dos dois homens dentro
da sala.

Saio da sala feito um furacão, nem olho para trás, apenas
caminho depressa. Vou direto para as escadas, respirando com
força quando me encontro sozinha, longe dos olhos dos outros
funcionários. Me encosto na parede e esfrego meu rosto, sentindo
meus lábios inchados e doloridos por conta da forma bruta como
Ariel me beijou. Arrumo minha calcinha e a sintomelada pela minha
boceta. Eu perdi completamentea lucidez. Como me deixei levar
por seu toqueoutravez? Se Pietronão tivessebatidonaquela porta,
eu teria me entregado outra vez para Ariel, com tantaurgência e
necessidade, que seria até maior do que quando me entreguei na
primeira vez que estive em seus braços.

Ergo meus cabelos, os arrumando no coque outra vez,
usando as pontas dos cabelos para prendê-lo, sentindo minhas
pernas fracas. Consigo me movimentar outra vez, sem perigo que
eu desmorone no chão. Tento pôr meus pensamentos em ordem,
não querendo cair nessa armadilha a qual meu coração está me
puxando. Desço as escadas lentamente, querendo poder correr
para meu apartamentoe ficar trancadalá dentro.Assim que saio do
prédio, ando até o restaurante da esquina, rezando para que ele não
esteja cheio, para que eu possa ficar o menor tempo possível lá
dentro. Ao chegar lá, para meu prazer, fico grata por não ver tantas
pessoas. Faço meu pedido e fico próxima à janela, o que diminui
meu mal-estar, causado pelos cheiros misturados de comida que
invadem o local. Depois de pagar pelo almoço e pegá-lo, bato em
retirada para fora do restaurante, pois o cheiro da comida está
embrulhando meu estômago a cada segundo que passo dentro do
local. Porém, ao passar pelas portas apressadamente, saindo do
restaurante, de cabeça baixa, esbarro em uma pessoa na calçada.

— Oh, eu sinto muito! — me desculpo, trocando as sacolas
de mão.

Meu corpo gela, meu coração bate acelerado em puro terror
assim que levanto a cabeça para olhar para o estranho em quem
colidi. Fico com as pernas moles, meus dedos transpiram em pavor
ao ver Renan parado, me olhando em silêncio.

Capítulo 11

Eu também não sei o que fazer
comigo

Cristina Self

Fico com a respiração acelerada e um medo puro me
domina. A sensação que tenhoé que estoude frentepara o mal que
havia me destruído,e que agora voltoupara me machucar de novo.
Ele sorri para mim, um sorriso doentio, deixando à mostra seus
dentes brancos. É apavorante olhar para a face que um dia eu já
amei tanto e que agora a única coisa que desencadeia em mim é o
mais perverso horror.

— Cris, que saudade estou de você! — Ele tenta se
aproximar de mim, mas dou um passo para trás, sentindo meu suor
frio escorrer por minha testa. Renan para na mesma hora,
abaixando seus olhos para meu peito, sorrindo melancólico. — Eu
queria tever, apenas tever. Você sumiu, eu não sabia onde estava,
faz tempo que não te vejo.

— Renan, não pode estar aqui. — Sinto meus olhos
encherem de lágrimas, choro de medo e angústia. Olho para ele e
fico paralisada quando sua mão se ergue, alisando minha face. —
Por favor, se afasta, sabe que não pode chegar perto de mim,
Renan. Estou atrasada, se me der licença, gostaria de passa. r

As lágrimas escorrem por minha face, que está quente e
amedrontada. A cada segundo que sinto seu toque frio em minha
pele, mais paralisada vou ficando. Seus olhos vazios ficam perdidos,
olhando para minha boca, como se não escutasseas palavras que
saem dos meus lábios.

— Renan, eu vou chamar a polícia...— balbucio, com a voz
embargada de choro.

Sua face se fecha em uma máscara fria e recolhe sua mão
para o lado do seu corpo. Me obrigo a me mexer, para me afastar
dele, em uma tentativade fuga, mas antes de dar um passo que
seja, sinto seus dedos em meus braços, me mantendo presa.

— Espera, me deixa te olhar mais um pouco.

Fecho meus olhos quando ele aproxima sua face, cheirando
meu pescoço.

— Renan, por favor, por favor... — Choro com medo,
balançando minha cabeça em negativo.

Meu corpo se encolhe quando ele volta a erguer sua mão
para meu rosto, alisando minhas bochechas, que estão úmidas
pelas lágrimas.

— Você sempre fica tão linda quando chora... — A voz fria
dele sussurra, como se sentisse prazer em ver meu pranto.

Meu Deus, eu quero gritar de medo e nojo, por sentir seu
toque outra vez em mim!

— Por favor, Renan, me deixa ir embora... Para de ficar me
ligando, me deixa ser livre...

— Eu pensei tanto no que iria lhe dizer quando encontrasse
você, Cris. — Ele aumenta a força da sua mão em meu braço, me
segurando com força, não querendo ouvir minhas súplicas. — Cris,
eu quero você de volta, amor. Eu perdi a cabeça, todos perdem a
cabeça, me perdoa. Eu ainda te amo, mais do que tudo. Você é a
única mulher que eu quero.

Tento me desvencilhar dele quando seu rosto volta a se
enterrarem meu pescoço, me cheirando. Olho desesperada para os
lados, vendo as pessoas passarem. Todos estão ocupados demais
com suas conversas, que nem notam o meu completo desespero
diante desse homem que sente prazer em me aterroriza. r

— Renan, me larga ou vou gritar por socorro — digo
desesperada, puxando meu braço para que ele solte. — Já nos
separamos, Renan. Nossa história acabou. Acabou, Renan! —
Torço meu braço e consigo me livrar do seu toque frio sobre minha
pele.

Saio de perto dele, correndo desesperada o mais rápido que
posso, porém, ao chegar na esquina, antesde atravessara rua para
ir para a outra calçada, Renan me segura de volta, usando de mais

força bruta. Ouço a sua respiração de raiva, enquanto seus olhos
estão brilhando com ódio.

— Por quê? — Ele está com seus olhos semicerrados, com
sua boca comprimida, chacoalhando meus ombros com raiva. —
Por que não pode voltar para mim? Sempre me jurou amor eterno,
ou vai me dizer que aquele amor todo acabou?

— Meu amor por você acabou, porque você me espancou,
Renan. Quebrou duas costelas minhas e deixou meu rosto
completamentemachucado. — Estou quase desmaiando, sentindo
minhas pernas moles a cada chacoalhada bruta que ele impulsiona
em meu corpo.

— Eu pedi perdão, eu disse que errei. Por que não pode me
perdoar? Por que não quis dar uma chance para o nosso
casamento? Você é a culpada dele ter terminado...

— A única chance que lhe daria seria de me matar se eu
tivesse continuado casada com você. Por favor, me solta — digo,
sentindo meu rosto molhado, chorando, apavorada. — Oh, meu
Deus, por favor, me solta...

— Não voltou para mim porque não quis. Deve ter descoberto
como é ser como a sua mãe, não é, Cris? Ser a vagabunda imunda
que sempre foi — ele fala com raiva, ficando mais agressivo a cada
segundo.

— Renan, por favor...

— Cristina? — A voz de Max atrás de mim me dá um alívio
imediato quando a ouço.

Renan me solta na mesma hora, olhando para trás de mim
com raiva. Sinto as mãos de Max passarem por meus ombros,
parando ao meu lado, e ele me puxa, me levando para perto dele.
Max passa seus braços pela minha cinturae dou graças a Deus por
isso, porque já não sintomais minhas pernas. Estoua um passo de
desabar no chão, de tão fraca que estou.

— A gente não terminou nossa conversa. — Renan me olha
com nojo, cuspindo no chão. — Faça bom proveito dessa puta! —

ele diz com raiva para Max, virando as costas, se misturando no
meio dos pedestres que passam pela rua. Max tentair atrás dele,
mas o seguro, me mantendo presa ao lado dele.

— Não, por favor, deixa para lá, Max. Não sei se consigo ficar
de pé se você me largar agora.

Vejo sua boca semicerrando enquanto ele olha com ódio na
direção por onde Renan foi.

— Você devia me deixar ir atrás dele e dar uma surra naquele
bosta! — ele fala, nervoso. — Esse filho da puta não está
respeitando a medida protetiva! Ele voltou a lhe incomod,anr ão foi?

Balanço minha cabeça positivamente.Sinto vergonha e olho
para o chão.

— Queria apenas poder ter cinco minutos com esse bosta, e
deixar essa cara de filhinho de papai dele duas vezes pior do que
ele fez com você!

Ergo minha mão, tapando minha boca, abafando o soluço do
choro. Max tinha revisado todo o meu processo de agressão, ele
tinhavistotodas as fotosdo meu rostomachucado e sangrando. Eu
odeio tanto essa forma melindrosa na qual Renan me transformou.
Mas eu sinto tudo, ainda acordo no meio na noite com o corpo
suado, como se estivesse dentro daquele quarto outra vez.

— Um dia ainda vou ver esse filho da puta preso — ele fala
baixo, me virando lentamente. — Um dia ele não vai ter como
escapar.

— A família dele tem dinheiro, Max. Você se lembra do que
fizeram comigo dentro daquele tribunal. Foi a palavra de uma
mulher negra contra a de um homem de classe alta da sociedade,
de família nobre — digo triste para ele, relembrando o julgamento
horrível, do qual saí com fama de mulher desequilibrada. Os
advogados alegaram que eu tinha me machucado de propósito.

— Ele machucou você? — ele pergunta, me avaliando,
limpando meu rosto.

— Eu estou bem, foi mais o psicológico mesmo...

Minhas palavras são interrompidas pelo mal-estar que vem
com força, só me dando tempode abaixar meu rostoe vomitartodo
o meu café da manhã na rua. Max segura minha cinturapara que eu
não caia, retirando as sacolas da minha mão, me olhando
assustado, esperando a vertigem passa.r

— Vem, Cris, vamos voltarpara a empresa! Vou avisar a Ariel
que você precisa ir para casa.

Max nos conduz pela calçada, até chegarmos na frente do
edifícioda empresa, mantendoseus braços sustentandomeu corpo.
Estou tão fraca e pálida, que nem vejo o momento que ele me leva
para o elevador. Quando a grande máquina se movimenta, seguro
seu braço com força e fecho meus olhos, por contada tonturaque
me dá.

— Vendo você assim, me lembrei do dia que peguei o
elevador com a Ângela — diz, alisando minhas costas, afagando
meu ombro. — Só que no caso dela, os enjoos e o mal-estar de
elevador eram por causa da grav...

Max para de falar, segurando meu rosto, me fazendo olhar
para ele. Sua face tombapara meu ventre,voltandopara meu rosto
em seguida.

— Cris?

Apenas balanço minha cabeça em confirmação, com os olhos
cheios de lágrimas, não conseguindo segurar mais o choro. Max me
puxa para seus braços outra vez e eu me escondo em seu peito,
chorando, sendo acolhida por ele. Estou exausta, assustada com
tantasemoções novas me pegando. A gravidez, Ariel, o retorno de
Renan, tudo me levou ao limite.

— Por favor, não diga a ninguém, Max — sussurro para ele
em meio ao choro.

— Oh, Cris, me diz que você não se envolveu com nenhum
cliente idiota!

— Não, foi pior, eu engravidei de um dos sócios da firma. —
Max puxa o ar com força, ficando em silêncio, entendendo minhas

palavras.

— Bom, sei que não foi o Pietro,pois ele ama a Ângela, e sei
que também não fui eu, pois não esqueceria de ter tido uma noite de
amor com você. Mas fora nós dois, só sobra... Puta merda! Meu
Deus, Cris! Me diz que não é quem estou pensando...

— Eu não sabia, Max, tejuro. Não sabia que Ariel era o novo
sócio na noiteque nos conhecemos, foi um engano. — Meu rostose
esconde em seu ombro e volto a chora,r melancólica.

Max alisa meus cabelos e deposita um beijo na minha
cabeça, dizendo que tudo acabará bem, como se eu realmente
pudesse acreditar nisso. Não vai acabar bem.

— Já contou a ele sobre a gravidez?

— Não. Eu nem sei como contar a ele, Max. — Fungo,
soluçando em meio ao choro, negando com a cabeça.

— Ariel não é o tipo de homem que vai querer se envolver,
Cris. Não tem ideia do que ele fez com Silvia. Ele vai lhe
estraçalhar... — Max fala, nervoso, no mesmo momento que as
portas do elevador são abertas.

Não me mexo, não consigo mover um músculo sequer. Meu
corpo sente sua presença só pelo aroma do perfume que invade o
elevador, me avisando que Ariel está aqui. Me afasto de Max,
ficando de costaspara as portasabertasdo elevador, limpando meu
rosto,não tendocoragem para confrontarAriel agora, não depois de
ter acabado de ver Renan.

— Achei que tinha deixado claro que o encontro de vocês
dois poderia esperar. — A voz amarga de Ariel é altiva, mostrando
sua raiva.

— EncontreiCristinapor acaso na rua. Ela passou mal, então
ajudei-a a voltar para a empresa — Max diz de modo proteto,r
alisando meu ombro. — Vou levá-la para casa.

— Senhorita Self! — A voz de Ariel sai baixa, com um
rosnado rouco.

Me viro com pouca coragem, pegando as sacolas da mão de
Max, tendo mais força para encarar Ariel. Bete, que aparenta estar
nervosa, com seu rosto vermelho, fica séria, me olhando.

— Me desculpe pela demora, senhor Miller — digo baixo,
saindo do elevador, ouvindo o som pesado da sua respiração. Viro
meu rosto, olhando para Max, observando suas írisapreensivas. —
Eu estou melhor, Max, muito obrigada pela ajuda.

Volto minha atenção para Ariel, o vendo olhar para mim e
para a sacola com raiva, voltando a encarar Max.

— Vamos para a minha sala — ele fala zangado, respirando
com força.

Justo nesta hora, em meu estado mais frágil, chega Malvina,
com seu perfume adocicado, parando à minha frente. Não posso
controla,r e antes que me dê conta, meu corpo se inclina para a
frente e vomito outra vez, em cima do sapato de grife dela. Meus
joelhos falham, não sustentandomeu corpo, se flexionando para
tocar o chão. As mãos grandes de Ariel me seguram pela cintura,
me amparando. Ele tiraas sacolas da minha mão e as entregapara
Max. Meus dedos tocam seu ombro, me dando apoio para me
manter de pé, forçando meus joelhos a ficarem eretos. Ariel leva
uma das suas mãos à minha testa,puxa o lenço da lapela do terno,
o ergue e limpa minha boca.

— Você está bem? — ele diz, preocupado, com a voz baixa.

— Se ela estábem? — Malvina grita,enraivecida, apontando
para o pé, me olhando com ódio. — Esse sapato é um Prada[18],
um Prada! E ela acabou com meu sapato! DESTRUIU ELE! —
Malvina grita, dando um passo em minha direção.

Ela é bloqueada pela grande sombra que fica entrenós duas.
Não sei o que ela iria fazer, se queria me bater ou me xingar por
conta do sapato caro dela, estou tão enjoada que não consigo
pensar, apenas fecho meus olhos, encolhendo meu corpo, me
sentindo como um balão que se esvazia pouco a pouco.

— Vá atéporra da loja e compre outro,Malvina! — A voz fria
como aço é de Ariel, que rosna com raiva. — Se não vai fazer nada
para ajudar, sugiro que suma da minha frente!

Ele gira sua cabeça de volta para mim. Sua feição está
zangada, seus olhos safiras se prendem aos meus, enquantoele se
abaixa manso, passando um braço pelo meu joelho e outro em
minhas costas. Facilmente me ergue no colo, me assustando com
seus movimentos rápidos. Seguro forte seu ombro, fechando meus
olhos para diminuir a tontura.

— Pode deixar que cuido da minha secretária agora,
Maximiliano. Obrigado! Bete, chame o pessoal da limpeza. — Ariel
me endireita em seus braços, me segurando firme. — O SHOW
ACABOU, VOLTEM AO TRABALHO!

Ariel sai andando comigo pelo escritório,rumo à sua sala, e
escondo meu rosto em seu terno negro, conseguindo imaginar todo
os olhares maldosos dos funcionários em nossa direção.

— Deveria ter me dito que estava com mal-estar, Cristina —
ele sussurra próximo ao meu ouvido quando entrana sala, fechando
a porta atrás de si.

Ariel me aperta forte em seus braços, e nessa hora uma dor
imensa me atinge. Antes que perceba estou soluçando alto, com o
rosto coberto em lágrimas outra vez. Fico me sentindo sem futuro,
sem saída, acuada, com medo de Renan machucar meus filhos.
Não sei o que fazer, nem como vou fugir dele. Choro por não saber
como vou contar sobre a gravidez para Ariel, visto que ele é frio e
calculista,não se importando em ser rude com as pessoas se for
para conseguir afirmar seus objetivos.Imagino o que fará se souber
dos meus bebês! Ele pode me dizer que fiz aquilo de propósito,para
pescar um peixe grande, e tirará meus filhos de mim. Sinto quando
ele desce meu corpo devagar no sofá do escritório, me deitando
como se eu fosse um filhotinho ferido. Ariel se levanta e tira a parte
de cima do seu terno, usando-o para cobrir minhas pernas. Retira os
óculos da minha face e os deixa no braço do sofá. Seus dedos
alisam meus cabelos, descendo para minha face, acariciando meu

rosto, e aqui me perco, em meio ao choro, sendo presa em seus
olhos, que estão me encarando como da primeira vez que o vi, tão
belos e quentes.

— O que eu faço com você, minha doce vênus? — ele diz
mais para si mesmo, com sua voz rouca sussurrando, tão confuso
quanto eu me encontro agora.

E não sei por que, mas isso só me faz chorar com mais
sofrimento.Sei que meu coração se prendeu ao seu dentro daquele
quarto de hotel, quando me encantei por suas safiras. Eu o amei
antes mesmo de querer aceita.r Amo este anjo perverso que me
levou ao céu e me largou no inferno em um curtoespaço de tempo,
e isso só me faz desabar mais em choro. Eu não sei se Ariel é meu
anjo ou o meu diabo, que vai me arrastar para a dor.

— Eu também não sei o que fazer comigo, Ariel! — digo,
soluçando com dor, desfazendo-me em lágrimas.

Muita carga emocional em tão pouco espaço de tempo me
afunda, como uma avalanche de sentimentos.É demais para mim.
Mantenho o choro sofrido, não consigo ter controlesobre mim. Ariel
continuame acariciando, para me acalmar, e a única coisa que me
lembro vagamente depois que a crise de choro passa, é de sentir
um beijo gelado em meus lábios antes de eu cair no sono, exausta.

Capítulo 12

Anjo sombrio


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