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Published by , 2016-09-02 12:09:47

Livro José Giorgi__SAIDA.compressed

Livro José Giorgi__SAIDA.compressed

História & Memória

Luiz Carlos de Barros I José Alberto Artigas Giorgi 1

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José Giorgi
História & Memória
Luiz Carlos de Barros

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Sumário 09
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190
202

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Luiz Carlos de Barros, Historiador e Publicitário

8

Apresentação 9

Quando se fala sobre o desenvolvimento econômico de um estado e de
um país, é impossível negar a participação de empreendedores que, mais do que
homens de negócio, souberam vislumbrar grandes oportunidades de gerar trabalho
e negociar com sua época, exercendo forte liderança sobre toda a sociedade.

Sem dúvida nenhuma, o sucesso empresarial dessas iniciativas pertence a
um contexto histórico e econômico diferente do que existe hoje. A experiência
desses desbravadores de mercado deixa como herança uma fonte de inspiração
rica em ideais, ousadia e determinação.

Entretanto, o perfil de empreendedores pioneiros aparece na historiografia
nacional sob perspectivas diversas, de maneira fragmentada, sem constituir área de
grande acúmulo de pesquisas e as publicações históricas sobre eles são raras.

Porém, o fazer historiográfico sobre esses homens é importante, visto que
muitos foram viabilizadores do progresso brasileiro.

Assim sendo, como historiador, qual não foi minha alegria e satisfação ao
ser convidado para escrever sobre a vida de um desses homens: o Engenheiro
italiano Comendador José Giorgi, trabalho o qual abracei com entusiasmo, por
ser ele, sem dúvida alguma, um dos precursores do desenvolvimento paulista.

Nascido no século XIX, foi um homem à frente do seu tempo, um em-
preendedor nato. Verdadeiro visionário, no sentido da palavra, com grandes ideais,
sonhando, mas realizando. Profissional inovador, se dedicando às atividades de
organização, administração e execução; construiu ferrovias, fundou empresas de
energia elétrica e fazendas agro-pecuárias, gerou emprego e renda, ajudou enti-
dades e construiu tudo a duras custas, criando o que ainda não existia.

Esse trabalho, portanto, traz a narrativa de uma história rica de elementos
que nos faz viajar no tempo, rumo a uma saga de trabalhalho, vitórias e conquistas,
com o nome de José Giorgi devendo figurar assim entre as grandes personalidades
ligadas a um passado de grandiosidade.

No entanto, realizar a edição do presente livro “José Giorgi - História e
Memória”, somente foi possível devido à existência de um rico arquivo ico-
nográfico, formado durante anos pelos seus netos José Alberto Artigas Giorgi e
Paulo Leuzzi, o qual nos proporcionou elementos para pesquisa e produção desta
narrativa ilustrada.

Esse arquivo se deve ao fato do profundo carinho, respeito e a admiração
que José Alberto e Paulo Leuzzi tem para com a memória de seu avô, o que os
levaram a colecionar de tudo que lhe dizia respeito.

Com verdadeiro espírito de historiador, José Alberto foi coletando fotos,
cartas, documentos, artigos de jornais antigos do Brasil e da Itália, etc, guardando
tudo em caixas, procurando sempre manter sua conservação.

Resgatando a história de seu avô, foi buscar também informações sobre
a genealogia da família, montando uma Árvore Genealógica, ainda que parcial,
sendo importante sua publicação nessa obra.

Tem colecionado ainda ao longo de sua vida, diversos objetos pessoais
interessantes de José Giorgi.

Para ele, tudo relacionado ao seu avô tem valor sentimental.

Tendo em mãos esse arquivo iconográfico inédito, constituido de importante
documentação, resolveu retratar a vida de seu avô, onde em uma grata parceria,
juntamente com Paulo Leuzzi, pudemos concluir este livro.

Salienta-se que sua finalidade não é outra, senão, prestigiar a memória de
José Giorgi e de toda a família, que tanto fizeram para o crescimento desta grande
nação que os acolheu como filhos.

Assim sendo, esse arquivo serviu de base para a obtenção das características
gerais do perfil do grande empreendedor italiano, que foi José Giorgi.

Em um processo de investigação e identificação iconográfica, pudemos
elaborar a narrativa a seguir. Depois, após a digitalização, restauração, separação
e escolha de fotos e documentos a serem publicados, elaboramos a diagramação
do livro seguindo um percurso histórico.

Os vários temas estão dispostos nesse trabalho, ilustrado com documentos
e fotos históricas legendadas, onde a memória de lugares, instituições e pessoas
se mantêm preservada, ganhando em cada fração de tempo um sentido e magia
própria.Toda iconografia mostra uma linha evolutiva, servindo como prova do-
cumentária dos acontecimentos.

Certamante, esta obra se constitui num raro arquivo público, contando
um pouco da vida de José Giorgi, engenheiro e empresário italiano que liderou
uma bandeira de penetração territorial, mediante atividades infra-estruturais e
agropecuárias, abrindo caminho para a cidade e para o campo. Isso primeiro em
São Paulo, a seguir no Espírito Santo, donde retomou depois, incorporando-se
definitivamente à marcha paulista para o Oeste, por meio de três vias: o trem de
ferro, a energia elétrica e a agricultura, sem se descuidar da parte da pecuária.

Nesse livro, destacaremos a promoção de seus trabalhos na expansão dos
trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana no estado de São Paulo, assim como as
linhas telegráficas, a partir da segunda metade do século XIX, esta intimamente
ligada ao incremento da cultura cafeeira.

Promoção esta, de vital importância para oferecer bases significativas para
a industrialização do Estado como um todo sendo ainda fator de integração do
território, no sistema transporte de cargas e passageiros, ocasionando a transfor-
mação de sua paisagem natural e construída, gerando mudanças significativas
na emancipação de muitas cidades e a fundação de outras.

Outro fator importante no desenvolvimento social e econômico dos mu-
nicípios e qualidade de vida das populações, foi a ação desse empresário, na
implantação e implementação progressiva de uma consistente rede de energia
elétrica, primeiro nos acampamentos centrais durante a construção da ferrovia e,
depois ante as solicitações múltiplas de instalação de redes energéticas no Sudoeste
Paulista, o que foi possível com a construção de potentes usinas hidroelétricas.

Através das suas ações implementadas, o Oeste Paulista pode dar seu pri-
meiro “arranque” de desenvolvimento, recordando-se que, no Brasil do final do
século XIX às primeiras décadas do século XX, faltavam estruturas básicas, seja
de transporte, seja de comunicações e de energia elétrica.

Na sua biografia também merece destaque o fato de ter sido interlocutor
das autoridades italianas no Brasil, colaborando com as mesmas em diversas ati-
vidades neste país, merecendo ainda várias homenagens com honrarias advindas
do governo italiano.

10

Na brilhante trajetória de empreendedor, sua vitoriosa peregrinação ao 11
longo do tempo, foi marcada por qualidades que revelam um caráter de vontade,
determinação, trabalho e solidariedade, a grande síntese dos melhores predicados
na escala dos valores humanos.

Assim como muitos imigrantes italianos, esse empreendedor deixou para
os brasileiros, um legado de muito trabalho, cultura e sensibilidade. Seu nome
deve sim ser sempre lembrado na nossa história, como um dos viabilizadores do
progresso, capaz de transformar e conduzir toda uma sociedade.

Sendo importante para a memória cultural, esse livro se propõe a levar ao
conhecimento dos paulistas e brasileiros quem foi o Comendador José Giorgi
e qual sua contribuição para o desenvolvimento do estado de São Paulo e do
Brasil.

Acredito, ao concluir essa obra histórica, ter cumprido aquilo a que se
propunha, sendo esse somente o momento de fazer os agradecimentos, pois esse
trabalho não se realizaria sem o envolvimento, direto ou indireto, voluntário ou
não, de pessoas com quem convivemos.

A José Alberto Artigas Giorgi, em especial, pela confiança depositada em
minha pessoa, em meu trabalho e pela grata parceria nessa realização.

Às pessoas que fazem parte de minha vida e contribuem para que eu en-
contre forças e continue a caminhada correta.

A meus pais Celso e Idalina e aos meus irmãos Angêla e Ivo e em especial
ao meu tio Antônio Campos.

A minha família, esposa Vera Lúcia e meus filhos Igor Matheus e Sarah
Ellen, pela certeza de que através de vocês a vida tem mais sentido, meus maiores
tesouros, bênçãos de Deus pelos quais vale a pena viver.

A meu bom amigo e compadre, Antônio Carlos Antoniel, o “Tonico”, e
toda sua maravilhosa família, que sempre torcem pelo nosso sucesso. Isso é
recíproco amigo.

A Paulo Leuzzi, o qual a vida me deu o prazer de conhecer e de poder
contar com sua amizade. Obrigado por tudo que nos tem proporcionado com seu
companheirismo, afeto e consideração. Deus lhe abençoe sempre.

Com a graça de Deus, a força da família e o apoio dos verdadeiros amigos,
conseguimos atingir nossos objetivos na vida.

Sobretudo a Deus, pela vida e as bênçãos recebidas. Peço que Ele dê a
TODOS, muita paz, saúde de corpo e espírito, e prosperidade sempre.

Chegamos, enfim, ao final deste trabalho sem, entretanto, colocar um
ponto final na história de José Giorgi, pois sua memória se faz presente na vida
dos seus descendentes que orgulhosos de ter o sangue de um legítimo italiano
de nascença, mas brasileiro de coração, atuaram e atuam com competência em
diversos setores, também a exemplo dele, desempenhando assim papel relevante
na construção do progresso do país.

Luiz Carlos de Barros

“É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa.
Mas graça das graças é não desistir nunca e com a graça de Deus realizar”

12

Prefácio

José Alberto Artigas Giorgi e Ruth Maria de O. Giorgi 13

Esse livro foi nascendo aos poucos.

Sempre tive grande apreço às tradições e coisas de família, interessan-
do-me sobremaneira por nossas raízes, que tenho preservado com o intui-
to de tornar conhecidas e transmitir seus valores às próximas gerações. Só o
“Museu da Roça” que mantenho na fazenda não bastava. Queria algo mais.
Foi a partir da intensificação da convivência com tio José, após 1980 e até o
fim de sua vida em 2002, que fui tomando gosto, cada vez mais, pelas histó-
rias da família que ele narrava durante as muitas viagens que fizemos junto.

Acrescentem-se as informações obtidas através das conversas com meu pai e tios,
que conviveram com meu avô, e ainda as cartas e diversos artigos de jornais do Brasil e
da Itália, que falavam sobre ele. Foi-se delineando na minha cabeça a figura do Nono
e hoje me permito compartilhar com vocês o que apurei sobre a vida de José Giorgi.

Falar do Comendador José Giorgi é um grande desafio. Tão próxi-
mo por ser meu avô, mas ao mesmo tempo tão distante por ter falecido mui-
to antes de meu nascimento. Sendo eu um apreciador da nossa história e tam-
bém das estórias de nossa família fui buscar em diários, jornais antigos,
livros, cartas e documentos, detalhes da vida desse grande empreendedor. Assim
a minha geração e as próximas vão poder conhecer um pouco mais sobre esse
italiano de nascença e brasileiro de coração cujo legado permanece entre nós.

Através de meu primo Paulo Leuzzi, também colaborador dessa obra, conheci
Luiz Carlos de Barros, historiador e escritor, com obras publicadas principalmente
sobre a cidade de Assis e região. Confiei-lhe todo meu arquivo. Luiz soube exami-
nar a complexa documentação para decifrar, entrelaçar e articular as informações
encontradas e finalmente traduzi-las em textos históricos. O resultado está aqui.

Em uma parceria de perseverança e dedicação, pudemos contar um pou-
co da história desse imigrante italiano que se tornou um grande brasileiro e
valoroso paulista. Procuramos descrever a vida de meu avô em função dos dife-
rentes empreendimentos por ele desenvolvidos, citando os acontecimentos que
julgamos mais importantes e sobre os quais dispúnhamos de material. Não é
uma biografia fechada. Quero que mais pessoas partam daqui para pesquisas
mais aprofundadas.

José Giorgi foi um verdadeiro pioneiro que em sua marcha abriu caminho
para o desbravamento e desenvolvimento do sertão paulista, em esforço compa-
rável ao daqueles antigos bandeirantes, pois também ele foi adentrando as terras
inóspitas do oeste ainda não cartografadas e habitadas por silvícolas e animais
desconhecidos.

Meu avô, engenheiro por formação, dedicou-se inicialmente às constru-
ções ferroviárias, tornando-se um grande especialista e conhecedor profundo
dos problemas ferroviários nacionais. Investiu também em empresas de for-
necimento de energia elétrica e propriedades para agricultura e pecuária, entre
outras. Homem visionário, batalhador, de grande tenacidade, tinha as caracterís-
ticas necessárias do empreendedorismo.

Construir ferrovias, usinas elétricas e implantar fazendas em uma época e
regiões em que prevalecia o trabalho braçal e o transporte eram feito através de
lombos de burros e carros de boi, convenhamos, não era pouca coisa!

Para a conquista de zonas desconhecidas, lutando irresistivelmente contra
inúmeros fatores adversos, levando a cabo um verdadeiro “trabalho de Hércu-
les”, José Giorgi contou com uma equipe de grandes e fiéis colaboradores. Um
deles, Bruno Givannetti, assim escreve: “...sua figura majestosa ainda está à mi-
nha frente e posso dizer que não conheci seu igual... Ele trouxe como bagagem
as características dos grandes pioneiros e triunfadores; uma vontade férrea de
lutar para vencer e um amor à terra onde expandiu seu trabalho de edificação
econômica. Eu ainda vejo, no cinema das memórias, o duelo gigantesco travado
entre o homem e a natureza... estendendo as fitas de aço de uma civilização que
ia rumando em direção ao por do sol”.

No terreno ferroviário, participou, a partir de 1890, das obras da Estrada
de Ferro Sorocabana, no trecho entre Botucatu e Avaré e no ramal de ltararé.

No período de 1894 a 1895 trabalhou no ramal da Imperatriz, braço sul
do Espírito Santo, construindo túneis, pontes e trilhos na ligação ferroviária do
Estado capixaba no rumo do Rio de Janeiro, então Capital da República. Vol-
tando a São Paulo, desenvolveu a construção de trilhos da estrada de ferro no
chamado “Ramal Santos Dumont”, assim como no entrelaçamento ferroviário
de Mairinque a Santos, e na ligação de Boituva a Porto Feliz.

A partir de 1905, é contratado pelo governo paulista para realizar a cons-
trução da “Linha Tronco Tibaji”, sendo que nesse trabalho, ergueu uma obra
fantástica para a época: uma ponte metálica de 100 metros de extensão sobre o
rio Pardo, no ramal de Piraju. Entre 1908 e 1910 voltou a fazer obras no ramal
de Itararé sendo que em 12/12/1909 o Presidente do Estado, Dr. Albuquerque
Lins, inaugura a estação de Salto Grande.

Em São Paulo, sua maior obra foi iniciada em 1912, quando a empresa
com o seu nome e direção assinou contrato para construir 400 km de uma linha
férrea para unir Salto Grande ao Porto Tibiriçá onde, abrindo caminhos no mato,

14 estendeu trilhos e linhas telegráficas, construiu estações, pontes e adutoras de

água, entre outros. Deflagrada a I Guerra Mundial, o governo do Estado propôs, 15
para economia de seus orçamentos, a paralisação dos trabalhos, mas José Giorgi
não aceitou e continuou, às suas próprias custas, com tenacidade incansável até
o término das obras, vindo a ser reembolsado após o final da guerra.

Em 1922 construiu a ligação de Ourinhos no Estado de São Paulo a Jaca-
rezinho no Estado do Paraná e logo mais, no final dos anos 20, mais precisamen-
te de 1927 a 1937, desenvolveu vários trabalhos na construção da linha férrea de
Mairinque a Santos, destacando as obras de três grandes e modernos túneis que
ainda hoje fazem parte da malha ferroviária.

Nesta obra já pode contar com a colaboração de seus filhos engenheiros,
que a finalizaram, pois faleceu um ano antes.

Na realização de diversas obras ferroviárias admite-se que José Giorgi
tenha trabalhado por um total de 1.000 km de ferrovias no conjunto nacional.

Seus empreendimentos não se limitaram a estender as vias do transporte
ferroviário sertões adentro.

A empresa de José Giorgi gerava energia para seus próprios acampamen-
tos montados para construção das linhas férreas, sendo que no começo a luz
era produzida por locomóveis a vapor e caldeiras. Ao redor dos acampamentos
desenvolveram-se vilas e cidades e o benefício da energia foi sendo estendido
às populações locais. Com os trilhos sendo assentados, os acampamentos iam
adentrando o interior, deixando para trás todas as obras de infraestrutura, in-
cluindo a energia elétrica e serviços de telégrafo, favorecendo o desenvolvimen-
to daquelas regiões.

E o trem de ferro ia iluminando os caminhos, criando emprego para bra-
sileiros e imigrantes.

Investindo no setor de fornecimento de energia elétrica, José Giorgi fun-
dou as Empresas de Eletricidade Sul Paulista, na região de Itapetininga, e a Vale
Paranapanema, na região de Salto Grande.

Um verdadeiro pioneirismo! Na época os investimentos eram dispendio-
sos e muito difíceis, indo desde a construção das usinas com os equipamentos,
à geração, transmissão e distribuição nas cidades, que até então tinham sua ilu-
minação bastante precária, à base de lampiões a querosene e bico de carbureto.
As empresas de energia elétrica que fundou foram se modernizando no tempo e
permanecem em atividade até os dias atuais.

Adquiriu terras na região da Sorocabana onde implantou produtivas fa-
zendas, no início dedicadas à lavoura de café e pecuária. Estas propriedades se
localizavam em pontos estratégicos, ou seja, próximas às estações ferroviárias,
facilitando assim o escoamento de seus produtos para os centros comercializa-
dores e porto de Santos.

Conservava em suas terras vastas áreas de florestas virgens acreditando
que, com o desmatamento total das mesmas para instalação de novas lavouras,
poderiam ocorrer mudanças no regime de chuvas, o que provocaria alterações
climáticas desfavoráveis.

Com o tempo outras culturas foram introduzidas e, como sempre pensava
na verticalização, foi da uva ao vinho, do boi ao charque, da madeira à serraria,
buscando produzir tudo o que necessitasse e sempre expandindo suas áreas de
atuação.

Conhecido por seu capricho, nas fazendas construiu belas sedes e ben-
feitorias modernamente equipadas, e colônias com residências confortáveis.

Sempre preocupado com o bem estar dos funcionários e suas famílias, edificou
hospitais e escolas. Deu acolhida e trabalho aos imigrantes, especialmente os
italianos, russos e japoneses, muitos dos quais ainda hoje em contato com a
nossa família.

O Nono tinha verdadeira paixão por suas fazendas, mas nenhuma superou
a de Cardoso de Almeida, onde construiu uma verdadeira “Itália no Brasil”. Em
sua sede teve o privilégio de hospedar personagens ilustres como o Príncipe
Italiano Aimone Di Savóia e diversos embaixadores, entre outros.

Foi em Cardoso, porém que teve sua maior desilusão à época da Revolu-
ção de 1924 quando os revoltosos da “Coluna da Morte” em fuga para o Mato
Grosso usando a via férrea, invadiram, saquearam e atearam fogo na conhecida
“Villa Giorgi”. Se o prejuízo foi incomensurável, a dor da alma foi maior ainda.
Apesar de tudo ainda teve muito fôlego para continuar, mas nunca mais pisou
naquela fazenda que ainda hoje está na família.

Sempre entusiasmado pelas novas tecnologias, colabora na implantação
do cabo submarino telegráfico ligando o Brasil à Europa. Foi o presidente da
comissão Executiva da ITALCABLE - Companhia Italiana de Cabos Telegráfi-
cos Submarinos, nos anos 20, e participou de sua inauguração na Itália, com a
presença do então primeiro Ministro Mussolini.

Natural de Lucca, meu avô nunca se afastou de sua pátria de origem, man-
tendo sempre contato com seus governantes. Por seus feitos empresariais em
diversos setores e por seu trabalho em prol dos italianos no Brasil, recebeu da
coroa italiana os títulos de Comendador e de Grande Oficial.

Na Capital e no interior do Estado de São Paulo, em homenagem por sua
atuação pioneira José Giorgi tem seu nome perpetuado em ruas e avenidas, dan-
do nominação ainda a prédios de associações culturais, esportivas e recreativas
e educacionais.

Nas observações sobre sua personalidade podemos intuir que ele foi um
homem com um grande coração, reconhecidamente caridoso e amoroso em rela-
ção à família com a qual, apesar do trabalho, estava sempre em São Paulo.

Deu a melhor formação a seus os seus filhos, entendendo ser essa a mais
consistente maneira de ajudá-los a ter um futuro próspero.

Como homem de negócios era considerado grande empreendedor que bus-
cava muito mais que o lucro, elevar a condição social dos seus colaboradores.

Podemos definir sua pessoa como um homem de gênio forte, rude, ríspi-
do, ao mesmo tempo caridoso pelas obras que realizou no campo da beneficên-
cia, fazendo doações para diversas entidades filantrópicas, creches, seminários,
colônias de imigrantes, igrejas, hospitais e escolas.

Com sua personalidade carismática e profundo conhecimento de relações
humanas, José Giorgi era respeitado e admirado pela sociedade ítalo-brasileira
assim como pelas autoridades que viam nele o empresário de pulso firme e gran-
de visão de mundo.

Era homem de campo. Sempre à frente das empreitadas, auxiliado por
seu cunhado César Contrucci, por diversas vezes ia abrindo a passagem através
da mata, acampando em regiões nas quais o homem civilizado não havia nunca
penetrado, percorrendo a cavalo caminhos longínquos, lutando contra a malária
e insetos, devendo sempre estar alerta contra as tribos de selvagens. Durante

16 todo o tempo de dedicação aos empreendimentos ferroviários, José Giorgi este-

ve lado a lado com seus colaboradores, sendo por estes muito admirado.
Era visto como um líder genuíno, motivando as pessoas, sendo considera-

do fonte de inspiração para todos, gerando assim uma força motriz que impul-
sionava o agir dos trabalhadores, resultando em maior comprometimento com
suas funções.

Trabalhadores estes, em sua maioria, modestos operários italianos, que
em grandíssimo número participaram daquelas construções ferroviárias em sua
execução, e que viam em Giorgi, não um patrão, e mais um amigo conterrâneo,
que convivia com eles no dia-a-dia e os liderava com o espírito empreendedor,
audaz e vigoroso.

No comando de seus empreendimentos, criados por ele mesmo a partir de
sua criatividade e visão de futuro, mesmo em meio às matas, sempre se trajava
bem.

Nas negociações com as autoridades constituídas, sabia defender suas
ideias e opiniões, apresentando os argumentos de forma clara, objetiva e envol-
vente, convencendo-as do que deveria ser feito para alcançarem o resultado por
todos esperado.

Uma das características de seu modo de ser era nunca deixar alguém sem
resposta. Recebia inúmeras cartas e telegramas, lia-os todos, anotava e respon-
dia pessoalmente, não fazendo distinção se vinham de um grande político, de
afamado empresário ou do colaborador de trabalho.

Algumas de suas missivas eram copiadas em gelatina e arquivadas com
anotações de próprio punho, no seu diário pessoal. Às vezes eram notas con-
cisas e enérgicas para as quais usava a cor vermelha, outras, frases delicadas
misturadas a exclamações de ironia, usando a cor azul. Em todas elas, notava-se
o espírito de ação do homem de luta e de força, que foram as armas com as quais
venceu na vida.

Mansueto, seu pai, nunca sonhou pequeno. Homem decidido trouxe da
Itália, em sua bagagem, a vontade de vencer e educou todos os filhos para se-
rem valentes e empreendedores. Os irmãos José, Pedro e Guilherme herdaram
e desenvolveram as características necessárias aos pioneiros e desbravadores,
destacando-se cada qual em sua área.

Generosidade, altruísmo, dedicação e competência o capacitavam a fazer
as coisas acontecerem. Sabendo colocar os seus interesses a serviço do bem
comum, foi considerado um empreendedor de grande otimismo por aqueles que
com ele conviveram.

O que segue nesse livro é a afirmação de que José Giorgi foi um empre-
endedor sem fronteiras, de grande valor moral e intelectual, que contribuiu para
o progresso brasileiro, apoiado na vontade férrea de vencer, transpondo sempre
com otimismo e perseverança os maiores obstáculos, e demonstrando, nas mais
incríveis adversidades, sua grande visão de futuro.

Com os empreendimentos andando bem, José Giorgi chegou a fazer algu-
mas viagens de lazer pela Itália com a família.

Depois, já nos seus últimos tempos, adoentado, viaja para a Itália para se
recuperar, lá permanecendo por dois anos. Na volta ao Brasil, abatido pela idade
e cansaço de muitos anos de trabalho intenso, teve alento no maior convívio com
a família, vindo a falecer em 1936, deixando um grande legado.

17

18

Agradecimentos 19

Agradeço a todos que foram importantes no desenvolvimento dessa obra.
Inicialmente, e não poderia ser diferente, agradeço a Deus, sempre presente, me
iluminando, aconselhando e abençoando, nos momentos difíceis, nos momentos felizes,
em toda a minha história e que me concedeu esta família;
Ao meu avô, José Giorgi, exemplo de grande relevância para minha vida, mas
não só para mim, quanto para toda família Giorgi. Através da sua história descobri que
é possível ir além e que a perseverança é sempre mais forte que o desânimo. Ele deixou
um legado de grandes realizações sendo a família a mais importante e significativa.
Se meu avô pode empreender e construir sua história que se mescla com a história
do empreendedorismo no Brasil no começo do século XX, é porque teve ao seu lado
como companheira fidedigna, uma esposa forte e mãe exemplar, que soube orientar
a família, imprimindo-lhe os valores cristãos, e possibilitando-lhe as condições para
edificar sua obra;
Agradeço a tão querida Nona, que foi Élide Contrucci Giorgi, a grande mulher
de pequena estatura, que sobreviveu ao Nono por muitas décadas e teve o papel pre-
ponderante das grandes matriarcas. Paciente, sábia, profundamente religiosa foi a res-
ponsável por manter a unidade familiar através de seu amor e atitudes cristãs. Exemplo
de cidadania e civismo engajou-se como voluntária em várias frentes em momentos
cruciais de nossa História que presenciou por mais de 90 anos. As condecorações re-
cebidas são pequenas manifestações públicas de seus feitos que humildemente preferia
não ver exaltados;
Agradeço à minha família, com quem sempre contei nesse longo percurso:
Aos meus pais, Dante Giorgi e Maristella de GóesArtigas Giorgi, que me condu-
ziram na vida e me amaram, não medindo esforços para educar a mim e meus 8 irmãos
com base nos valores familiares, ensinando-me a valorizar as minhas raízes;
Aos meus irmãosAna Luiza,Antônio Eugênio, Cláudia, Dante Marcelo, Fernan-
do, Luis Otávio, Suzana e “in memoriam” Maria Marta, copartícipes desta história;
À minha esposa Ruth, meu grande amor, escolhida por Deus para fazer da minha
vida uma vida de felicidade, apoio em todos os momentos, porto seguro nas minhas
incertezas e amiga fiel de todas as horas;
Às nossas tão queridas filhas Ana Cecília, Thereza Cristina e Maria Elisa, que
carinhosamente chamamos de Chincha, Kiki e Isa, razões das nossas vidas e maiores
presentes com que Deus nos agraciou; aos genros, acolhidos e amados como filhos, Luiz
Virgílio P. P. Manente e Filipe Montovanello de Araújo que nos enriqueceram com os
netos Felipe, Mateus, Giovanna, Rafaella, Maria Luisa e Pedro, deixo este breve relato
do que pude compilar sobre a trajetória do Nono para que, conhecendo um pouco da
história da nossa família, possam valorizar e fazer memória;
Ao tio José, Pepito, que nos últimos anos de sua vida foi identificando as pessoas
nas fotografias antigas e comentando comigo sobre aqueles acontecimentos. Com ele
me tornei íntimo dos nomes familiares;
Nessa oportunidade, um agradecimento especial ao Paulo Leuzzi, primo e amigo,
que acreditou no meu sonho, compartilhou do ideal e apoiou sua realização. Ao Paulo,
reconhecimento e apreço;
Agradeço também ao Luiz Barros pela atenção e dedicação com que conduziu
esse trabalho a quatro mãos.
Dedico esta obra a toda Família Giorgi. Vocês fazem parte dessa história!

José Alberto Artigas Giorgi

Brasão de Mansueto Giorgi

20

Família - breve histórico

Filho de Mansueto e Paradisa Domenici Giorgi, José Giorgi nasceu em Lucca,
cidade da região da Toscana, na Itália, no dia 13 de dezembro de 1866.

A família Giorgi, originária de Lucca, é grande em toda Toscana e desde ime-
moriáveis tempos enche uma longa genealogia de nomes ilustres.

De Lucca, lembramos o nome do Prof. Giorgio Giorgi, que foi Senador do
Reino, Membro do Conselho do Estado e jurista afamado. Sua obra “As Teorias
das Obrigações” em 9 volumes é conhecida pelos cultores de Direito no mundo
inteiro.

Luiz Giorgi, também Luquez, foi incisor de grande valor e cravou várias
medalhas de Garibaldi, Giusti, Leão VIII, Mazzini, etc., que foram premiadas em
várias exposições de arte. Lucca é também a terra natal do famoso compositor de
ópera, Giacomo Puccini e do grande jesuita PadreAndreoni, entre outros personagens
famosos da história.

O Luquez sempre foi imigrante por temperamento e tradição, satisfazendo a
um princípio de expansão; quer comerciantes, artistas, industriais ou fazendeiros,
foram ocupando posições destacadas no comércio e nas finanças de vários países.
Amantes da aventura substituíram os antigos e intrépidos mercadores florentinos nas
viagens “por mares nunca dantes navegados”. Gente robusta, arguta e astuta, sempre
soube trabalhar e vencer, por um inato espírito de iniciativa e uma ação paciente,
organizada e audaciosa.

José Giorgi nasceu em um contexto histórico importante para a Itália, pois
foi em 1866, que, durante a guerra entre Prússia e Áustria, o governo italiano se
alia à Prússia. Com a Áustria derrotada, Veneza é incorporada ao território italiano.
Faltavam apenas os Estados Papais.

Veneza tinha tradições republicanas de cidade livre, não se submeteu sequer
ao Papa, na Idade Média. Lombardia tinha forte tradição religiosa. Ambas são sub-
metidas à coroa da Sabóia, que reinava em Piemonte-Sardenha. O rei Vítor Emanuel
concluiu o processo de unificação italiana submetendo todos os estados feudais,
estados pontifícios e repúblicas livres.

Durante anos a Itália passou por forte crise onde a vida não era fácil. Logo,
assim como aconteceu com muitos italianos, a idéia de que o Novo Mundo poderia
oferecer uma vida melhor, motivou os Giorgi a migrarem para outro pais.

Então, em 1877, Mansueto e Paradisa Giorgi, resolvem vir para o Brasil, jun-
tamente com seus 5 filhos: Celestina, José, Thereza, Pedro e Guilherme, em busca
de melhores oportunidades.

Assim, aos 11 anos, José Giorgi, chega ao Brasil com a família, se estabele-
cendo em São Paulo, capital.

Chegaram atraídos pelas novas oportunidades em um país promissor, que então
contava com uma imperatriz de origem napolitana, Maria Tereza Cristina, casada
com o imperador D. Pedro II.

Nessa época, a cidade passava por profundas transformações econômicas e
sociais decorrentes da expansão da lavoura cafeeira em várias regiões paulistas, da
construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí e do afluxo de muitos outros imigran-
tes europeus, que logo, assim como a família Giorgi, ajudariam a cidade a ter um
crescimento vertiginoso na virada do século.

21

Os Giorgi vieram com uma expectativa muito clara de “fazer a América”,
assim como vários outros imigrantes italianos.

Aqui pelo fato da cultura luso-brasileira e a cultura italiana serem muito pró-
ximas, a integração da família foi mais fácil que o esperado.

Adotando o Brasil como segunda pátria, Mansueto e Paradisa criaram seus
filhos e aqui a família Giorgi ganha mais um membro: a menina Brasilina, a mais
nova integrante que recebe este nome por ter nascido no Brasil. Em pouco tempo já
tinham estabelecido contatos importantes junto à comunidade local passando assim
a fazer parte da vida social paulista. Mesmo procurando se adaptar a uma nova rea-
lidade, a família mantinha contato e acompanhava os acontecimentos na Itália.

Os Giorgi sempre ocuparam posição de destaque na sociedade, ou seja, eram
bem sucedidos econômica e socialmente, não atuando, como a grande maioria dos
imigrantes italianos que para cá vieram, nas fazendas de café.

Celestina, casou-se e viúva retorna para a Itália, onde atualmente possui uma
descendente.

Guilherme foi um empreendedor em São Paulo como industrial de tece-
lagem, sendo também proprietário de uma usina produtora de açúcar e álcool
em Oriente, SP.

Pedro foi industrial em São Paulo em diversos setores produtivos como
sabão de côco, tampas e rolhas, etc, tudo vinculado a engarrafamento de bebidas
alcoólicas.

Thereza sempre solteira , viveu na companhia de José Giorgi e família.
Brasilina casou-se em São Paulo e atualmente tem família na capital.
José Giorgi, nosso personagem em destaque, viveu sua adolescência em São
Paulo, onde estudou e se formou em Engenharia.
Já na sua juventude ingressou no trabalho ferroviário que só foi interrompido
quando precisou voltar à sua pátria a fim de cumprir o seu dever de italiano, servindo
o exército naquele pais.
Serviu por cerca de três anos no 19° regimento da artilharia de guerra, opor-
tunidade em que o capitão no comando era o próprio Duca D’Aosta, Príncipe de
Savoia.Tão logo cumpriu o serviço militar retornou ao Brasil, fundando a então
conhecida Empresa José Giorgi, que realizaria importantes trabalhos, atuando em
setores em expansão no Estado de São Paulo, principalmente na área de construções
ferroviárias.
Mais tarde, em 14 de abril de 1907, já com muitas atividades como engenheiro
e empreiteiro de obras, José Giorgi casa-se com Élide Contrucci, também imigrante
italiana da região de Lucca, então residente em Avaré.
Élide era filha de Pedro (Pietro) Contrucci e Raquel Pierotti (Rachelle) e irmã
de José, Amos, César, João, Alfredo, Ercílio e Elena, todos italianos, originários de
Bagni de Lucca. A família Contrucci se estabeleceu em Avaré-SP, para onde Élide
retorna por ocasião do nascimento de seu primeiro filho, José Giorgi Junior.
José e Elide tiveram 6 filhos: José Jr, Lina Leuzzi, Orlando Lillo, Rodolpho
Sebastião, Jorge Francisco e Dante Robusto Giorgi.
O tempo passou, os descendentes aqui se multiplicaram e conseguiram enfren-
tar as dificuldades e vencer. Atuam hoje nas mais variadas atividades, tornando-se
industriais, profissionais liberais etc, dando sequência a essa linha empreendedora
nos mais variados ramos de negócios, continuando a dar sua colaboração ao cres-
cimento do pais.

22

Filhos de Mansueto e Paradisa.
Da esquerda para a direita:
Celestina, José, Thereza,
Pedro e Guilherme (bebê)

Paradisa Giorgi
e a filha Brasilina
que nasceu no Brasil

23

24

José Giorgi quando serviu o Exécito na Itália

25

Participação do casamento

Certidão de casamento

26

José Giorgi
Élide Contrucci Giorgi

27

Em pé: Mário Augusto, Thereza, Jorge, Pedro (Mimi), José Giorgi Júnior, Mansueto e Élide.
Sentados: Paradisa, Orlando, Lina, César Contrucci, José Giorgi e Dante

Em pé: Élide, Gino, Pedro (Mimi), Mansueto, Paradisa e Thereza.
Sentados: José Giorgi e César Contrucci.
Crianças: Dante, Jorge, Lina e José

28

Filhos de José Giorgi e Élide Contrucci Giorgi.
Em pé, da esquerda para a direita: Dante, Jorge e Rodolfo.
Sentados, da esquerda para a direita: José, Lina e Orlando

29

Dante, Rodolfo, Jorge, tia Thereza e Orlando

30 Rodolfo, Lina, José, José Giorgi, Dante em seu colo, Orlando, Élide e Jorge

Os filhos de José e Élide, na residência da famíla em São Paulo, em 08 de Julho de 1925.
Da esquerda para a direita: Rodolfo, José na direção, Lina, Orlando, Dante e Jorge, mais acima.

Orlando, Dante, José, Élide, José Giorgi, Lina, Jorge e Rodolfo 31

Breve Histórico das Ferrovias

As ferrovias têm origem no século XIX, quando a máquina a vapor co-
meçou a ser utilizada para movimentar composições por cima de trilhos. Pouco
depois, passaram a ser desenvolvidas para o transporte de passageiros e definiram
um novo padrão de locomoção por via terrestre.

Desde seu surgimento em 1802 com a invenção do primeiro trem de ferro,
a ferrovia é considerada o maior feito tecnológico do século XIX, sendo uma
das maiores conquistas da era industrial. Seguido da invenção do telégrafo, do
telefone, da lâmpada elétrica e do cinema, ocorridas no mesmo séc (XIX), o
trem veio para “futurizar” o cotidiano, marcando uma época de velocidade e
movimento se contrapondo aos estagnados séculos passados.

No Brasil, a existência de ferrovias tem como marco inicial o ano de 1854,
data de inauguração da estação que ligava Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro.

Foi da conjugação de investimento e incentivos públicos com grande parte
de recursos do café que se tornou possível a construção de Estradas de Ferro
inicialmente destinadas à substituição da tração animal no transporte de merca-
dorias - outrora realizado por mulas -, que onerava o preço do produto.

Estradas de Ferro - mapa de 1885

32

O café em São Paulo

É sabido que os dois fatores que fizeram a potência de São Paulo foram o
café e as estradas de ferro. A rápida criação de uma rede ferroviária, em forma de
leque, tendo a capital como ponto de convergência, foi decorrente da demanda
da economia cafeeira por um sistema de transportes eficiente que possibilitasse o
fácil escoamento da produção rumo ao porto exportador de Santos. A economia
cafeeira viveu seu apogeu durante a segunda metade do século XIX e início do
século XX. O acúmulo de capital gerado com a exportação do café e viabilizado
pela infra-estrutura ferroviária possibilitou, numa etapa seguinte, a industrializa-
ção da cidade e fizeram dela o maior centro econômico da América Latina.

Colheita de café em fazenda do oeste Paulista, nos anos 20 33

Vista parcial do cais do porto de Santos, em 1910, destino das sacas de café para exportação oriundas das
fazendas do interior paulista.

34

A Ferrovia Paulista

No Estado de São Paulo, a era ferroviária tem início em 1867, com a
inauguração do ramal Santos-Jundiaí pela Companhia São Paulo Railway, im-
pulsionada pela explosão da era do café.

A malha ferroviária e sua posterior expansão no decorrer do século XIX
e início do século XX, aliada à expansão do plantio do café, impulsionou o po-
voamento do noroeste paulista.

Se até certo momento foram construídas visando ao escoamento das la-
vouras existentes, a partir de 1890, as ferrovias passaram a ser utilizadas como
indutoras do plantio em novas áreas, com vistas à expansão agrícola cafeicultora
em direção ao interior paulista.

As ferrovias construídas, acabaram por delinear um traçado razoavelmente
objetivo, ocupando os pontos cardeais do estado num caminho que invariavel-
mente desembocava no porto de Santos, tendo sido, assim, fundamentais para o
escoamento da produção agrícola paulista rumo ao mercado externo.

Em medos do século XIX, no estado de São Paulo, com o crescimento
da cultura cafeeira e também da cultura algodoeira, houve a necessidade de
expandir a malha da São Paulo Railway, ainda mais para o interior. No entanto,
essa empresa, que teria o direito de explorar o potencial ferroviário na província
paulista, não se interessaria na expansão, ficando tal feito a cargo dos fazendeiros
interessados.

O primeiro exemplo deste fato é a Companhia Paulista de Estrada de
Ferro. Porém, os fazendeiros de outras regiões de São Paulo idealizariam suas
próprias ferrovias que os ligassem à capital sem a necessidade da utilização da
linha tronco da Paulista.

Surgiam nesse contexto outras três importantes ferrovias, a Estrada de
Ferro Mogiana, a Estrada de Ferro Ituana e a Estrada de Ferro Sorocabana, fer-
rovia com a qual José Giorgi trabalharia no período compreendido entre finais
do século XIX, até início do século XX, na expansão da malha ferroviária pelo
interior paulista.

Estação da Luz, em São Paulo, em 1900,
construída pela Companhia São Paulo Railway

35

Estrada de Ferro Sorocabana

Idealizada por Luis Mateus Maylasky, a Estrada de Ferro Sorocabana, foi
criada no ano de 1870, por empresários sorocabanos, surgindo do interesse em
se ligar a região de Sorocaba ao porto de Santos. O objetivo era construir uma
ligação entre São Paulo e Ipanema, onde havia uma importante fundição, passando
por Sorocaba. Tendo seu primeiro trecho da linha aberto em 1875, da Capital
Paulista até Sorocaba, a empresa tinha ainda como objetivo inicial viabilizar o
transporte das safras de algodão, principal comércio da cidade de Sorocaba.

No entanto, as receitas geradas pelo transporte desse produto logo se
revelaram insuficientes, levando a ferrovia a enfrentar sérias dificuldades fi-
nanceiras mas, seus dirigentes convencidos de que o sucesso da ferrovia estava
condicionado ao transporte do café, expandem seus trilhos em finais do século
XIX, com certa dificuldade, atingindo Botucatu em 1889, mesmo ano da pro-
clamação da República do Brasil.

A estação de Sorocaba era o ponto final da linha original da Sorocabana, que não por acaso tem esse nome

36

A Estrada de Ferro Sorocabana, inaugurada em 1875, veio a falir em 1902,
e após um período de breve encampação, foi vendida em 1907, a um grupo
norte-americano, retornando ao controle do Estado de São Paulo em 1919.
Com todas as variadas administrações que se alternaram ao longo do tempo,
José Giorgi mantinha um relacionamento de imputada confiança com os
seus dirigentes, atestado pelos importantes serviços de qualidade
realizados por sua empresa em diversas empreitadas.

A Estação “Júlio Prestes”,
antiga Estação São Paulo,
marco zero da Estrada
de Ferro Sorocabana,
na capital paulista.

37

18 9 0 Construções ferroviárias no Brasil
O Plano Geral de Viação

Fac-síle do
Mapa do Plano
da Comissão
de 1890.

O Plano Geral de Viação foi concebido em conexão com
o projeto de imigração à americana - atração de milhões
de colonos europeus pela oferta de terra, direitos civis,
cidadania, liberdade religiosa, liberdade de empreendimento.

Com o advento da República, foi elaborado no Brasil, o Plano da Comissão
de 1890, que estabelecia as competências federais e estaduais no transporte ferro-
viário e fluvial, prevendo futuras ligações destes modais.

Esse plano, também conhecido como Plano Geral de Viação do Governo
Provisório, respondia às necessidades da época em termos de integração nacional,
associado a questões de política interna e internacional, além de possuir caracterís-
ticas estratégicas importantes, pois proporcionava condições a operações militares
na fronteira, desde a Bolívia, passando pelo Paraguai, até o Uruguai.

Assim, uma fase inteiramente diferente do que se passava sob o antigo regi-
me desvendou-se à nação. Sobreveio o movimento da Bolsa de 1890 a 1892, em
que uma febril agitação de negócios mercantis dominou o espírito de quase todas
as classes da sociedade brasileira. Via-se diariamente a organização de empresas
industriais planejarem-se de uma forma extraordinária, inclusive as que se desti-
navam a obter concessões para construir estradas de ferro.

Nessa época, tanto o governo federal, como o governo de São Paulo fez
concessões a favor da Companhia Sorocabana para construir várias linhas férreas
e estabelecer a comunicação entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso.

Foi contratada a já organizada Empresa de José Giorgi para ajudar nessa
empreitada, oportunidade em que realizou seu primeiro grande empreendimento
no segmento de construção ferroviária.

38

Estrada de Ferro Sorocabana

Prolongamento de Botucatu a Avaré

Entre 1890 e 1892, José Giorgi firmou contrato com a Companhia Estrada
de Ferro Sorocabana para construir uma linha férrea sobre o prolongamento de
Botucatu situada no alto da Serra de Santo Ignácio até a atual cidade de Avaré,
SP, zona cafeeira conhecida então como Vila do Rio Novo.

A citada linha férrea foi um marco do progresso local, trazendo desenvol-
vimento econômico e social, sendo, a Vila do Rio Novo elevada à categoria de
cidade com o nome de Avaré em 1891.

Esses trabalhos de prolongamento foram essenciais para a Sorocabana pois
era o marco inicial da formação de uma grande linha-tronco que viria a transfor-
mar essa ferrovia, no estado de São Paulo, em uma radial de suma importância
para a penetração e o desenvolvimento das áreas a oeste do estado.

39

Estação Ferroviária de Botucatu
Trem Maria Fumaça em Botucatu

A Estação de Avaré, ponta de linha da Sorocabana

40

Mapa das linhas féreas do Estado de São Paulo -1892 41

Em 1892 ocorreu a fusão entre a Estrada de Ferro Sorocabana e a Estrada
de Ferro Ituana que até então atuavam na mesma zona de interesse. A nova em-
presa passa a se chamar Companhia União Sorocabana e Ituana (CUSI) tendo em
vista entre outros projetos da Sorocabana a construção de uma linha alternativa a
da São Paulo Railway, partindo do interior para o porto de Santos, com grandes
vantagens comerciais para ambas.

Com a integração ferroviária das regiões de Sorocaba, Itu, Jundiaí, Cam-
pinas, Piracicaba e Botucatu formou-se uma grande linha-tronco, que viria a
transformar a Sorocabana, em uma radial de suma importância para a penetração
e o desenvolvimento das áreas a sudoeste do estado.

Nos percursos iam sendo formados os povoados mas, fora do território
do Sertão do Paranapanema. Anos antes, por meio do Decreto 10.090, de 24 de
novembro de 1888, o Governo da Província de São Paulo havia concedido à
Companhia Sorocabana, o uso e gozo de dois novos ramais. Um, de Tatuí até a
divisa com o Estado do Paraná, e outro, de Botucatu à confluência do Rio Tibagi,
no Paranapanema. Essas linhas foram batizadas respectivamente como Ramal
de Itararé e Ramal do Tibagi.

No Itararé foi construído o trecho até Itapetininga, e no Tibagi, até Cer-
queira César. O ponto inicial do Ramal do Tibagi, que era Botucatu, foi alterado
para Capão Bonito e mais tarde para Rubião Júnior.

Em 1892 em contrato cebrado entre o governo do Estado, por seu vice-
presidente em exercício, José Alves de Cerqueira Cesar e o representante da
diretoria da Sorocabana, George Oetterer, José Giorgi dá início á construção de
uma linha sobre o ramal de Itararé, na cidade de Itapetininga às margens do Rio
Paranapanema. A obra foi finalizada em 1893, trazendo à luz, os princípios de
trabalho de José Giorgi: precisão, qualidade e rapidez.

O ramal de Itararé havia sido iniciado em 1888 partindo da estação de
Boituva, mas somente em 1895 chegou a Itapetininga, com extensão de 65 km.
Em 1905 as obras seriam retomadas e, em abril de 1909 a estrada chegaria fi-
nalmente a Itararé, graças aos trabalhos da Empresa de José Giorgi.

Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo

Ligação de Porto de Argolas a Vianna

No ano de 1893, já sob a pressão dos acontecimentos da 2ª revolta de uma
parte da Armada Nacional, o Estado de São Paulo sentiu-se também ameaçado
pelo movimento revolucionário que projetou atacar o porto de Santos, fazendo
ali sua base para adentrar no estado. Assim como outras ferrovias, a Sorocabana
entrou em pânico, havendo completa estagnação, paralisando os trabalhos que
estavam sendo realizados de construção da linha do prolongamento de Itú à
cidade de Santos, entre outros ramais.

Em março de 1894 a rebelião estava vencida.
Foi somente no espaço de tempo entre o início de 1894 e meados de 1898
que José Giorgi não realizaria trabalhos para a Sorocabana, com sua empresa
desenvolvendo serviços ferrovários para a Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo
e da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro.
Entre os anos de 1894 a 1895, José Giorgi realizou a construção de uma
importante linha ferroviária, agora de propriedade do governo do Estado do
Espírito Santo, denominada “Braço Sul do Espírito Santo”.
Giorgi foi contratado pelo próprio governador Muniz Freire que tinha
ótimas referências de sua Empresa em São Paulo.
Esta empreitada, desenvolvida numa região que ainda possuía vestígios
de habitações da tribo indígena dos Puris, foi muito complexa dada as dificul-
dades encontradas no trajeto, a inacessibilidade do lugar, a falta de mão de
obra braçal, de meios de comunicação e a difícil execução devido à acidentada
configuração do terreno muito montanhoso sendo que, na maior parte, a ferrovia
se desenvolveu sobre a Serra do Mar, através das montanhas.
Ao término dessa obra feita por José Giorgi, foi inaugurado o primeiro
trecho da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo entre Porto de Argolas e Vianna
(Jabaeté), cuja estação ferroviária foi aberta em 12 de julho de 1895, sendo um
marco para o trecho ferroviário, uma vez que foi a primeira a ser construída, ao
longo da via que ligava Vitória a Cachoeiro de Itapemirim.
Com a realização dessa obra houve maiores investimentos agrícolas por
parte do governo do Espírito Santo, que favoreceu a expanção da lavoura cafeeira
dando novo impulso ao Estado.
José Giorgi realizou esse empreendimento em uma época considerada o
início do processo de industrialização e desenvolvimento do Espírito Santo, em
que o então governador, percebendo que os maiores problemas que afligiam
o Estado eram a precariedade das vias de comunicações, projetou e fundou a
Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo para o escoamento da produção, costruiu
linhas férreas e viabilizou o povoamento do solo. Foi com seu incentivo que
muitos imigrantes italianos se estabeleceram no Espírito Santo.

Mais tarde, a ligação desta linha com a de Santo Eduardo ao Cachoeiro
de Itapemirim foi realizada pela Companhia Leopoldina que posteriormente
adquiriu a Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, vindo desse modo a capital
Vitória ser ligada à cidade do Rio de Janeiro.

42

Vistoria dos trilhos recém colocados na região

Antiga Estação de Vianna, nos seus primeiros tempos. O local teve também um porto fluvial bastante 43
movimentado, chamado Porto da Igreja, localizado ao Sul da cidade, às margens do Rio Santo Agostinho.

Composição ferroviária
no Ramal Santos Dumont

Cia. Mogiana de Estradas de Ferro

Ligação do Ramal Santos Dumont

Em contrato firmado com a Cia. Mogiana de Estradas de Ferro no início de
1898, José Giorgi desenvolveu a construção da primeira parte dos trabalhos dos
trilhos daquela estrada de ferro ligando a estação de Glória, hoje Santos Dumont,
a Santa Rosa de Viterbo, na vila Mogyana (Mariana), no chamado “Ramal Santos
Dumont”. A Cia. Mogyana foi criada em 1872 para construção e exploração da
linha férrea entre Campinas e Mogi-Mirim. Obtendo depois novas concessões,
atingiu Ribeirão Preto em 1887.

Ao longo da Linha tronco que partia de Campinas, passando por Mogi -
Mirim, Casa Branca, São Simão, Ribeirão Preto e adentrando o Estado de Minas
Gerais, foram construídos vários ramais ferroviários que ligados à linha tronco
demandavam outras localidades. Um desses ramais era o “Santos Dumont”.

A estação, aberta em 1898 como Glória, foi construída para servir de en-
troncamento para uma pequena ferrovia particular. Por um acordo com a Mogiana,
ela levava à fazenda London, hoje Fazenda Amália, então pertencente à família
Santos Dumont e, seguia até o Rio Pardo.

Antigo Ramal Santos Dumont

44

Mapa de 1898, das ferrovias da Companhia União Sorocabana
e Ituana; e da São Paulo Railway Comp. (Santos a Jundiaí),
do “Indicador Geral da Viação do Brasil”. A fase hidro-ferroviária
ainda estava bem marcada na presença de inúmeros portos fluviais,
vários deles ponta dos trilhos da Sorocabana / Ituana.

Prolongamento da Sorocabana entre Mairinque e Itu

José Giorgi retomou os trabalhos junto à Companhia União Sorocabana
e Ituana no ano de 1898 quando desenvolveu diversos trabalhos nas linhas de
ligação entre Mairinque e Itu inaugurada pela Sorocabana em 1897.

O trecho ligando Mairinque a Itu fora construído com bitola estreita e
Giorgi ampliou abitola para 1 metro, vindo assim ficar Itu com duas vias de
comunicação para São Paulo, uma por Jundiaí e outra por Mairinque.

Nesse tempo muitos capitalistas desejavam levar a Santos mais uma via
férrea pois a Inglesa, com o seu “funil ferroviário”, controlava o escoamento das
mercadorias, secos e molhados, que se destinavam aos mercados de São Paulo
e Interior do Estado.

Imagem mostrando
o trecho da Sorocabana
(destaque em vermelho)

entre Mairinque e Itu.

Esse trecho foi
posteriormente
prolongado até

Campinas
(destaque em verde)
dando origem ao ramal
de Campinas, na época,

enorme fator
de progresso
para aquela região.

45

Antiga Estação de Mairinque

A antiga Estação de
Itu datada de 1873,
foi ponto final da
Ituana, até que a
Sorocabana, em 1897,
prolongou a linha
até Mairinque.

Em 1900 a rede ferroviária paulista media 3.393 quilômetros, dos quais 86
pertenciam à “Paulista”, sendo que nesse ano, José Giorgi tinha ajudado a Soroca-
bana a atingir a marca de 905 quilômetros de trilhos.A“União Sorocabana e Ituana”,
cobria ainda uma extensão de vias fluviais nos rios Piracicaba e Tietê.

Devido a uma grave crise econômica e financeira, em 1900 a companhia
paraliza a construção de suas linhas férreas, por insuficiência de recursos, havendo
uma estagnação nessa área.

46

Mapa do Estado de São Paulo - 1905

O território de São Paulo se dividia em duas partes distintas. Uma ia do litoral ao
centro do estado em uma linha imáginária de São José do Rio Preto, passando por
Jaú e Avaré e era cheia de vida e atividade pelo desenvolvimento das lavouras,
impelidas pela contínua chegada de imigrantes e pelo prolongamento das estradas
de ferro. A outra parte, ia do centro do estado às barrancas do Rio Paraná, onde
desaguam os rios Tietê, Peixe e Feio, e os divisórios Paraná, já conhecidos dos paulistas,
e o Paranapanema. Campos Novos do Paranapanema e Conceição de Monte Alegre, até
o final do século XIX, e Assis, no início do século XX, eram os últimos locais povoados
antes dos “terrenos desconhecidos” do oeste paulista, habitado por indígenas.

47

48 José Giorgi e trabalhadores no início no Ramal Tibaji.

49

Linha tronco do Tibagi

Com a Sorocabana nas mãos do Governo paulista a partir de 1907, o mes-
mo resolve investir pesado nos prolongamentos da linha, objetivando chegar até
as barrancas do Rio Paraná.

Nesta época, com início da atividade agro-pastoril no Mato Grosso, a
“Estrada Boiadeira” já estava em plena construção a cargo da Companhia de
Viação São Paulo Mato Grosso, o que leva a Sorocabana a criar a “Comissão dos
Prolongamentos e Desenvolvimentos da Estrada de Ferro Sorocabana”, tendo
como engenheiro chefe Joaquim Huet de Bacellar e engenheiro de campo, João
Carlos Fairbanks.

A Comissão considerou de grande importância a construção dos ramais
de Itararé e do Tibagi, pois além do escoamento das produções agro-pastoris
do Sudoeste do Estado, os ramais possuíam um caráter estratégico do ponto de
vista político-militar.

Assim sendo, essa Comissão decide sub-empreitar a construção da chamada
“Linha Tronco Tibaji” e o leito da estrada à Empresa José Giorgi, estabelecendo
como meta alcançar a margem esquerda do Rio Paraná, passando pelo espigão
divisor de águas entre o Rio Santo Anastácio e o Rio do Peixe.

Giorgi então atirou-se a penetrações ousadas no sertão chamado Alta So-
rocabana, possibilitando o desenvolvimento daquela extensa região que estava
aguardando o momento oportuno para ser desbravada.

A famosa e antiga Estrada Boiadeira no sertão do Paranapanema, no início da Década de 10

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