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Published by , 2016-09-02 12:09:47

Livro José Giorgi__SAIDA.compressed

Livro José Giorgi__SAIDA.compressed

Em uma solução bem acertada, foi decidido pelos especialistas da Soro-
cabana que os túneis fossem designados em grupos, já que os serviços nessa
empreitada eram de natureza complexa, exigindo pessoal habilitado e aparelha-
mento grande e custoso, devendo naturalmente serem entregues a um limitado
número de empreiteiros com capacidade técnica para tanto.

Nesse sentido, além de realizar obras diversas na empreitada, José Giorgi
teve como destaque os trabalhos de perfuração de 3 túneis, demandando pessoal
qualificado e investimento em aparelhamento moderno.

Os túneis construídos pela Empresa de José Giorgi na região da Serra do
Chiqueiro foram os de número 30 ao túnel 32, entre as estacas extremas 2.372 e
2.225 da locação, ambas com o estaqueamento tendo início em Mayrink.

Em 1931, foi inaugurada a variante do túnel n.º 32, passando por Caucaia
próximo à Serra do Chiqueiro.

A linha férrea foi projetada pensando no futuro, e os túneis construídos por
José Giorgi foram abertos de modo a possibilitar a duplicação da via quando fosse
assim necessário, o que de fato ocorreu mais tarde.

Foi a mais bela aventura técnica dada a um engenheiro empreender e que
se caracterizou por uma revolução nos processos ferroviários de construção de
pontes e túneis.

Durante longos anos, José Giorgi ali esteve à frente de sua empresa, junta-
mente com inúmeros engenheiros e outros empreiteiros na construção das pesadas
obras de túneis, viadutos, cortes, aterros, bueiros e pontes. Também mais de 20
mil operários, tarefeiros, empreiteiros, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fer-
reiros, motoristas, carpinteiros etc., prestaram seus relevantes serviços, a fim de
verem concluído esse importante empreendimento, que acabou sendo finalizado
por seus filhos.

Enfim, foram quase dez anos de obras até que a Linha Mairinque-Santos
fosse finalizada, com 155 quilômetros de extensão, sendo oficialmente inaugurada
em 2 de Dezembro de1937, ligando a cidade de Santos com a cidade de Mairinque,
passando por Embu Guaçu e pela estação Evangelista de Souza.

Esta foi a realização mais importante da Sorocabana nesse período (1927
-1937), que encerrou definitivamente o monopólio da São Paulo Railway, no
tocante ao acesso ao porto de Santos.

A ferrovia Mairinque-Santos é obra projetada e executada por brasileiros,
orgulho da engenharia nacional, e José Giorgi faz parte da história dessa cons-
trução magnífica.

Ele foi o mais valoroso colaborador para que a a estrada de Ferro Sorocabana
viesse a extrapolar em demasia seus objetivos iniciais interligando a região Sul
do Estado de São Paulo, pela linha tronco, até Presidente Epitácio (porto fluvial
do Rio Paraná) e integrar o norte do Paraná, conectando-se com a Estrada de São
Paulo-Paraná em Ourinhos. Além disso, através de Bauru, viabilizou conexão
direta com a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ligando o estado de São Paulo
á região sul do Mato Grosso e Bolívia, e finalizou seus trabalhos na realização
da Linha Mairinque Santos, desafiando todos os conhecimentos tecnológicos
da época, em que tinha suas locomotivas movidas a vapor, por meio de muita
queima de lenha e carvão.

101

Equipamentos usados pela Empresa José Giorgi, durante as obras da Mairinque-Santos.
Acima, as caldeiras movidas a vapor, que movimentavam o britador de pedras, abaixo.

102

Obras Mairinque-Santos - Tunel 30 - I boca

Obras Mairinque-Santos - Tunel 30 - II boca 103

Obras Mairinque-Santos - Tunel 31 - I boca

104 Obras Mairinque-Santos - Tunel 31 - II boca

Tunel 32

Foto tirada em 12 de outubro de 1929 por ocasião da visita do Rotary Clube de São Paulo, na localidade onde

estava sendo realizadas as obras da Empresa José Giorgi para construção da linha Mairinque-Santos 105

Homenagem à Alfredo Maia

José Giorgi sempre manteve ótimo relacionamento com os dirigentes da
Estrada de Ferro Sorocabana e, foi assim que durante os trabalhos de prolon-
gamentos da ferrovia, teve a oportunidade de conhecer o engenheiro Alfredo
Maia, homem dinâmico que participou da reorganização da EFS, sendo seu
superintendente entre 1903 e 1907, durante a intervenção federal. Foi um dos
responsáveis pelo projeto de prolongamento da ferrovia até o rio Paraná, reali-
zado por Giorgi, possibilitando o progresso de regiões até então inóspitas. Após
deixar a direção da Sorocabana, Maia se tornou representante das empresas Rio
de Janeiro Tramway, São Paulo Tramway, Light and Power Company, vindo a
falecer em 1915.

Em sua homenagem as ferrovias Sorocabana e Central do Brasil batizaram
duas estações com o nome de Engenheiro Maia e Alfredo Maia. No rol dessas
homenagens a Sorocabana erigiu, nos anos 20, um suntuoso monumento ao
engenheiro, na praça em frente à Estação Júlio Prestes, antiga praça General
Ozório, em São Paulo, SP, hoje em frente à Sala São Paulo. Para José Giorgi,
idealizador da homenagem, esse monumento era um tributo por aquele que
tanto fez pela Estrada de Ferro Sorocabana, símbolo de um dos mais ilustres
engenheiros brasileiros.

José Giorgi foi A escultura possuia
o idealizador do duas placas de
monumento em identificação, em bronze,
homenagem a sendo que uma delas
Alfredo Maia. continha o nome de
José Giorgi,
Escultor: entre outros.
Amadeo Zani
Período: 1920 Nos dias atuais estas
placas não mais existem,
pois infelizmente,
junto com os
ornamentos em bronze,
que representavam
ramos de café, a placa
original foi furtada, e no
seu lugar foi colocada
outra em granito polido
contando a trajetória de
Alfredo Maia.

Na placa da frente da
escultura, foram
escritos os dizeres:
“O homem passa,
as conquistas do
progresso ficam”.

106

Cerimônia de inauguração do monumento em homenagem a Alfredo Maia com a presença de
José Giorgi, dirigentes da Estrada de Ferro Sorocabana e diversas autoridades do governo Paulista.

Antiga Praça General Ozório, nos anos 20, atual Praça Júlio Prestes, em São Paulo, capital. 107

Empresas de Eletricidade

Durante seu trabalho referente à construção de ferrovias iniciado em 1890,
José Giorgi visualizou o futuro planejando um novo tipo de investimento: o
negócio de energia elétrica, posto logo em prática devido a suas possibilidades
e condições de perceber a demanda crescente que se fazia sentir.

Com o tempo, os contratos de algumas construções ferroviárias, firmados
por Giorgi e o Governo do Estado, incluíam todas as fases, desde a abertura
do picadão entre as florestas até a entrega da via férrea pronta para ser aberta
ao tráfego.

À medida em que matas iam sendo derrubadas e que a construção pro-
gredia avançando a golpes de machado, picareta e explosões de dinamite, e
finalmente os trilhos e dormentes assentados, novos horizontes iam sendo des-
cortinados à iniciativa particular, atraindo numerosos núcleos de colonização
que, esperançosos, se estabeleciam às margens da ferrovia, acompanhando a
marcha dos trilhos e desbravando corajosamente as imponentes matas ainda
habitada por alguns índios selvagens.

O serviço público de “luz elétrica” surgiu junto aos acampamentos cen-
trais que a Empresa de José Giorgi criava ao longo das picadas que cortavam
os sertões para locação da linha férrea.

Nesses acampamentos a iluminação a gás utilizada no começo foi logo
substituída pela “luz elétrica”, produzindo-se a corrente com alternadores
acionados por locomóveis a vapor e caldeiras à lenha.

Desse serviço pioneiro valeram-se também os colonizadores que se
estabeleciam com seus ranchos nas imediações dos acampamentos centrais,
todos agradecidos a Giorgi que não lhes sabia negar o fornecimento de favor
da “luz noturna” e da “luz da vigília do amanhecer”. Cresceram as populações
e intensificaram-se os pedidos de “luz elétrica” e assim José Giorgi decidiu se
organizar visando à prestação desse serviço público.

Os vários núcleos urbanos que estavam surgindo em decorrência das
construções ferroviárias eram uma demonstração clara de que o negócio de
fornecimento de energia elétrica contaria com um mercado promissor.

Então, José Giorgi fundou suas empresas de eletricidade, criando várias
usinas termo-elétricas, construindo redes e estendendo linhas, ganhando con-
cessões e assinando contratos com Comarcas e Municípios surgidos ao longo
das vias férreas.

Assim, foi nesse segmento de fornecimento de energia elétrica que
o empreendedor José Giorgi criou a Empresa de Eletricidade Sul Paulista,
juntamente com Manfredo Costa, na região do município de Itapetininga, e a
Empresa de Eletricidade Vale Paranapanema na região do município de Assis,
ambas no estado de São Paulo. Essas empresas foram preponderantes para
o desenvolvimento social e econômico dos municípios por elas atendidos,
trazendo qualidade de vida aos usuários.

108

Acima, caldeira à lenha, e abaixo Locomóvel a vapor, usados de dia na construção da
ferrovia, e à noite utilizados para gerar energia nos acampamentos da Empresa José Giorgi

109

110 Empresa de Eletricidade

Sul Paulista

Ainstalação das primeiras usinas Hidroelétricas no estado de São Paulo ocorreu
numa sociedade de base agrária ancorada no café, posteriormente, migrando para a
indústria. Essas iniciativas pioneiras, na sua maioria, foram dirigidas à iluminação
pública.

Nessa época, eram elevados os custos de investimentos necessários à implanta-
ção de grandes unidades geradoras, que ainda apresentavam problemas de funciona-
mento, por ser uma tecnologia em desenvolvimento. Entretanto, a localização de usinas
junto às quedas de água acabou direcionando para a utilização da força hidráulica e,
gradativamente, a energia hidro elétrica foi se expandindo.

Assim como na capital, diversas concessionárias privadas surgiram em várias
cidades do interior paulista.

Inicialmente o Estado não intervinha na produção e distribuição de energia,
apenas conferia autorizações para o funcionamento das concessionárias pois não havia
legislação específica para a energia elétrica e recursos hídricos.

Dessa forma, nos termos da constituição de 1891, os municípios gozavam de
autonomia para estabelecer contratos e autorizações para as empresas privadas de
eletricidade, cabendo aos governos estaduais o poder concedente no que dizia respeito
ao aproveitamento e à exploração das quedas de água.

Tendo conhecimento disso tudo, delineou-se na mente de José Giorgi investir
no que seria sua primeira empreitada no ramo de fornecimento de energia elétrica.

Dessa forma em 1910 fundava a “Empresa de Eletricidade Sul Paulista”, ini-
ciando a construção da usina hidroelétrica de Turvinho, no rio do mesmo nome, com
o intuito de abastecer o município de Itapetininga, que incluía o então povoado de
São Miguel Arcanjo, no Estado de São Paulo.

Obtendo a concessão da administração municipal de Itapetininga para forne-
cer energia elétrica destinada à iluminação pública residencial e, também para fins
industriais e comerciais, José Giorgi, fundador e diretor proprietário dessa empresa,
planejou instalar a usina aparelhada com os modernos equipamentos da época.

Foi um verdadeiro pioneirismo em um tempo onde os investimentos eram
muito difíceis e dispendiosos.

Ali foi desenvolvido moderno projeto arquitetônico, iniciado com as obras
de terraplanagem. Logo após foi construída a represa, que formava um grande lago
de três quilômetros de comprimento e, na seqüência a barragem com uma queda de
água de 23 metros de altura. Realizaram-se no local diversas obras hidráulicas sendo
que o sistema de água represada e utilizada era de aproximadamente 585.000 metros
cúbicos.

Já o prédio da usina foi construído de alvenaria, tijolos e cimento, situado às
margens do rio, a cerca de 400 metros abaixo da barragem, compreendendo um salão
de máquinas e anexos.

Enfim, a usina estava pronta para o início de seu funcionamento com um grupo
de geradores e demais equipamentos destacando-se uma Turbina Hidráulica “Amme
Giesecke & Konegem S/A”, Brunswick - Alemanha, de 480 cavalos, instalada por
José Giorgi.

Anexas à usina foram feitas obras de benfeitorias para os funcionários e tran-
seuntes, como casas modernas e confortáveis, poços de alvenaria, tanques, depósitos,
armazéns, instalação de para-raios no solo, abertura de estradas, construção de pontes
de madeira e de concreto, assim como ranchos e estrebarias para os animais.Até então
eram estes o único meio de transporte local, tanto que o primeiro transformador da
usina teve que ser transportado em carro de boi, por estrada de terra, de Itapetininga
até o Turvinho em São Miguel Arcanjo. Outras épocas. Dificuldades impensáveis.

Mais tarde foram instaladas as linhas telefônicas e tempos depois, construídas
garagens e oficinas para sua frota de veículos.

Com a finalização das linhas e estações transmissoras, passaria a fornecer
inicialmente 1.500 HP de força àquela região.

A Empresa de Eletricidade Sul Paulista assinou contrato de fornecimento de
energia elétrica com a cidade de Itapetiniga em 3 de maio de 1910 e com São Miguel
Arcanjo em 2 de outubro de 1911.

Festividades com deslumbramento e euforia popular marcaram a inauguração
da empresa de eletricidade tida como a representação do moderno, do futuro e do
progresso.

Logo em 1914, dentro do processo de melhoramentos, a empresa já tinha de-
sejo de dotar a cidade com uma rede telefônica para comunicação com a estação da
Central da Companhia Telefônica Bragantina, de Itapetininga.

Foi nesse ano que José Giorgi resolveu também construir um edifício na cidade,
onde seria a sede da empresa, na antiga Rua Nova, que depois passou a chamar-se
Rua Aurora, hoje Rua Manoel Fogaça.

O edifício em Itapetininga compreendia o escritório e a estação transformadora
de alta voltagem, de 20.000 volts, contento um grupo de geradores térmicos.

Nas adjacências, foram construidas 5 casas de moradia para os funcionários
da empresa.

Aimportante inauguração do serviço elétrico enriqueceu a região de numerosos
estabelecimentos e grandes indústrias, tanto que em pouco tempo a central de geração
de energia de “Turvinho” foi melhorada e modernizada.

A energia elétrica trazida pela Empresa de Eletricidade Sul Paulista aparece
como um divisor de águas na trajetória do crescimento regional, desempenhando
importante papel na vida social cotidiana, provocando positiva mudança de hábitos
e de práticas sociais, tanto públicas quanto privadas, colaborando com o desenvol-
vimento.

Durante décadas a empresa permaneceu sob a direção da família Giorgi, sempre
investindo e ampliando sua capacidade geradora para que a mesma atuasse da melhor
forma possível.

Em 1978, a Sul Paulista foi incorporada pela Companhia Paulista de Energia
Elétrica (CPEE), um tradicional conglomerado de empresas de eletricidade.

Em 1999, a Companhia Paulista de Energia Elétrica e suas afiliadas no interior
de São Paulo foram compradas pelo grupo estadunidense CMS Energy Brasil.

Em 2007, a CPFL comprou da CMS Energy Brasil o conjunto de empresas
pertencentes à antiga CPEE, que passaram a integrar a holding CPFL Energia.

Sob a nova direção, a operação da Empresa de Eletricidade Sul Paulista, que
atendia cinco municípios na região de Itapetininga, tornou-se a CPFL Sul Paulista.

111

112

113

114

Sede da empresa em Itapetininga,
compreendendo o escritório
e a estação transformadora.

Itapetininga, nos anos 20, vendo-se à direita os postes de iluminação da Empresa Sul Paulista. 115

Contrato de fornecimento de energia para a
cidade de Itapetininga - 03 de maio de 1910

Contrato com a Prefeitura de São Miguel Arcanjo, Documento de constituição de Sociedade
datado de 2 de outubro de 1911. Anônima da Empresa de Eletricidade
Sul Paulista, datado de 12 de julho de 1934
116

Empresa de Eletricidade 117

Vale do Paranapanema

Tendo sua origem em meados de 1912, a Empresa de Eletricidade Vale
do Paranapanema é outro importante empreendimento de José Giorgi, tendo
sua fundação ligada a Empresa José Giorgi, então contratada pelo governo do
Estado de São Paulo para a construção do prolongamento da Estrada de Ferro
Sorocabana, de Salto Grande ao Porto Tibiriçá.

AVale Paranapanema foi a primeira que atuou na região da Alta Sorocabana
gerando e distribuindo energia elétrica, setor que já se encontrava em expansão
em outras regiões do estado.

Havendo obtido o privilégio para o fornecimento da energia e da luz elétri-
ca nas cidades de Assis, Cândido Mota, Palmital e Platina, sobre a Sorocabana,
no prolongamento de Salto Grande a Porto Tibiriçá, o proprietário exclusivo da
empresa José Giorgi, organizou a documentação exigida pelas autoridades ao
intento de explorar esta concessão e distribuição de energia elétrica em toda a
região.

O primeiro contrato formal estabelecido pela empresa foi com a prefeitura
do município de Assis, resultante de acertos ocorridos entre os meses de janeiro
e fevereiro do ano de 1920.

Nesse mesmo ano, foi instalada a rede elétrica que se limitava a alguns
pontos da cidade, expandindo-se com o decorrer dos anos. A energia fornecida
era gerada por uma usina termoelétrica situada na própria cidade de Assis.

Já inaugurado o fornecimento da luz elétrica em Assis no dia 26 de setembro
de 1922, Giorgi pôs em curso de execução o projeto visando as instalações em
outras cidades da concessão.

Logo, foi projetada e dada execução às obras da central hidroelétrica para o
fornecimento geral de luz e energia à região. Esta central foi montada em Cardoso
de Almeida, utilizando-se do Salto do Rio Capivara, com uma potencialidade
de cerca de 2000 H.P.

José Giorgi expandiu o fornecimento de energia elétrica para outras cidades
e vilas que surgiam em conseqüência da chegada das linhas ferroviárias. Desta
forma, além de Assis, a referida empresa forneceu, de início, energia elétrica
para Salto Grande, Pau d’Alho (Ibirarema), Palmital, Cândido Mota, Paraguaçu
Paulista, Conceição de Monte Alegre, Sapezal, Fazenda Santa Lina, Quatá, João
Ramalho e Rancharia.

A energia elétrica produzida era destinada, num primeiro momento, a
iluminar os locais públicos das cidades, passando depois a atender as casas e
estabelecimentos comerciais e, somente mais tarde, as áreas rurais.

A chegada de eletricidade à região assinalava um novo ritmo de vida à
população. Tal novidade gerava certa euforia por parte da população que marcava
presença nas festas realizadas para inaugurar a iluminação das cidades, sempre
com a presença de políticos e representantes da elite regional.

Desde 1920, a então chamada Empresa José Giorgi de Eletricidade Vale
Paranapanema, operava sob a forma de sociedade limitada, sendo que em de-
zembro de 1934 organizou-se em sociedade anônima.

118 No ano de 1924, em pleno período revolucionário, fez-se a inauguração
do serviço elétrico da cidade de Salto Grande; no mesmo ano, a inauguração do
serviço de Conceição de Monte Alegre e de Paraguaçu, seu distrito.

Em junho de 1926 foi iniciado o fornecimento em Palmital e em março
de 1928 o de Quatá.

Depois das centrais termo-elétricas, chegou o momento das usinas hidráuli-
cas. A Usina H.E. do Pari, 1.630 kva, equipamento Voith-AEG, entrou em serviço
em 1937, após doloroso combate com a malária e duros esforços despendidos
na sua construção no Rio Pari Veado, região de Palmital.

Dadas as dificuldades para obter novas concessões de aproveitamento
hidráulico, a Empresa foi levada a construir importante centro de geração diesel-
elétrica, na Fazenda Santa Lina, em Quatá, que chegou a operar com 4.000 kva
e funcionando em paralelo com as Usinas H.E. do Pari e de Piraju.

Sucessivamente, a partir de 1933, foram ligadas Sapezal, Rancharia, Ma-
racaí e Roseta.

Em 1940, já com a denominação de Empresa de Eletricidade Vale Para-
napanema S/A, adquiriu a Companhia Elétrica da família Gantus, que servia as
cidades da Alta Paulista, Tupã, Bastos e Rinópolis.

Pelo Decreto Lei nº 5.016, de 04 de Dezembro de 1958, a Empresa foi
autorizada a construir a Estação Transformadora-Recebedora-Retransmissora
de Santa Lina, 9.000 kva e 88/40kv, interligando assim, nesse mesmo ano, seu
sistema com o da USELPA que acabava de construir a primeira grande hidroe-
létrica da Bacia do Rio Paranapanema e a linha de transmissão de Salto Grande
a Presidente Prudente.

Em 1961, as linhas alcançaram o Município de lepê e foi consolidada a
Zona de Concessão em uma área de 11.557 km2 , abrangendo 23 Municípios:
Salto Grande, Ibirarema, Ribeirão do Sul, Palmital, Platina, Candido Mota,
Assis, Maracaí, Florínea, Echaporã, Paraguaçu Paulista, Cruzália, Quatá, Borá,
João Ramalho, Rancharia, lepê, Lutecia, Oscar Bressane, Tupã, Bastos, lacrí,
Rinópolis e servindo 43 localidades.

Conscientemente a Empresa acompanhou o desenvolvimento da Região,
ampliando a área de atendimento nas cidades e na zona rural, utilizando a evo-
lução da técnica para dar aos seus serviços sempre melhores características,
desempenhando as próprias obrigações.

Destaca-se que a atuação dessa empresa nos primórdios foi essencial
para o progresso dos municípios por ela atendidos, tanto é que ainda hoje, a
Vale Paranapanema, fundada e consolidada por José Giorgi, continua atuando,
oferecendo os serviços de geração e distribuição de energia elétrica na região
do Vale do Paranapanema.

A partir do ano de 2014, esta história de sucesso passa a ser escrita pelo
Grupo Energisa.

Contribuindo para o desenvolvimento do Estado de São Paulo, na distribui-
ção de energia elétrica, atualmente, a Vale Paranapanema atende 27 municípios
localizados nas regiões da Alta Sorocabana e Alta Paulista. Possui uma área de
concessão de 11.790 km², beneficiando os municípios de: Arco-Íris, Assis, Bastos,
Borá, Cândido Mota, Cruzália, Echaporã, Florínea, Iacri, Ibirarema, Iepê, João
Ramalho, Lutécia, Maracai, Nantes, Oscar Bressane, Palmital, Paraguaçu Pau-
lista, Platina, Pedrinhas Paulista, Quatá, Rancharia, Ribeirão do Sul, Rinópolis,
Salto Grande, Tarumã, Tupã.

Instalações da
Central Termo
Elétrica da Vale
Paranapanema,
onde ficava a
Turbina que gerava
energia para Assis,
nos anos 20.

Avenida Rui Barbosa em Assis, em 1921. À direita, os postes de iluminação da Vale Paranapanema. 119

Equipamento da empresa de energia em Conceição de Monte Alegre, puxado por carros de boi, nos anos 20.
Construção da barragem da Usina Pary, nos anos 20

120

Acima, a construção da Usina Pary, e abaixo as instalações praticamente concluidas, no final dos anos 30.

121

Instalação de postes de energia
elétrica na travessa da Estrada de
Ferro Sorocabana em Palmital.
À esquerda, início da instalação
do transformador, em 1929.

Turbina AEG - 1934

122

Logotipo antigo da
Empresa de Eletricidade

Vale Paranapanema
Estatuto da Vale Paranapanema
Sede da Vale Paranapanema
em Assis - anos 40

123

Propriedades agrícolas

Fazendas Cardoso de Almeida, Santa Lina,
Cabanas “Moinho Velho” e Santa Elide

O empresário José Giorgi atuou em diversificados setores em crescimento
na região da Alta Sorocabana. Simultaneamente à expansão dos trilhos, ele foi
adquirindo terras nessa região, onde tornou-se um expressivo latifundiário.

Conseqüentemente, além de investir na produção agrícola, atuou na
comercialização de terras, um mercado altamente lucrativo na época, impul-
sionado, principalmente, com a expansão da ferrovia.

Possuidor de cerca de mais de 1.000 quilômetros quadrados de terras que
adquiriu entre os anos de 1910 e 1930, completamente incultivadas, bem rápido
fez surgir importantes centros agrícolas na região da Alta Sorocabana.

José Giorgi ainda iria investir em terras no Norte do Paraná e Mato
Grosso e também em propriedades próximas a capital paulista. Em todas elas
formou produtivas lavouras para o cultivo de café entre outras.

124 No início, em suas propriedades, prevaleceu a monocultura do café
e a mão de obra era, na sua maioria, de imigrantes italianos, entre outros

Fazenda Cardoso de Almeida

Sede da Fazenda Cardoso de Almeida 125

A Fazenda Cardoso de Almeida, situada entre os municípios de Assis e
Paraguaçu Paulista, foi formada em 1915, data próxima à da inauguração da
estação de mesmo nome, sobre a Ferrovia Sorocabana, com uma área de cerca
de 5.000 hectares, em terras adquidas da antiga fazenda Retiro Formoso.

No ano de 1916, dentro dessa fazenda, foi fundada a vila Cardoso de Al-
meida, também conhecida na época como “Villa Giorgi”, onde logo José Giorgi
instalou o escritório central de sua empresa, então encarregada da construção
de obras ferroviárias.

Entre a construção também de acomodações para os empregados da
empresa, e depois casas para os funcionários da fazenda, Giorgi construiu um
belíssimo palacete onde se hospedava, sendo que ali também recebia visitas
ilustres, tanto do Brasil como da Itália.

Desenvolvendo na fazenda grande cultura cafeeira, ao lado de lavouras
tradicionais e de sobrevivência como feijão, arroz, batata, milho, etc, Giorgi
também procurava cultivar nas suas terras diversos produtos típicos da Itália.

No local havia um vasto vinhedo e extenso pomar rico em frutas estrangei-
ras, de modo especial as italianas, cujas mudas de plantas foram na sua maioria
importadas diretamente da Europa.

Ali, construiu ainda um dos maiores viveiros de pássaros do Estado de
São Paulo, com espécies brasileiras e de diversos outros países.

Além disso, havia uma importante criação de bovinos, eqüinos e suínos,
todos selecionados com o maior cuidado dispondo de reprodutores de puro
sangue importados.

Em meados dos anos 20, começava a delinear-se em Cardoso de Almeida
as primeiras imagens de uma futura cidade, que já se adornava com uma bela
igreja, benfeitorias como padaria e açougue, modernas acomodações com ins-
talações higiênicas, ou seja, água, esgoto e iluminação elétrica, além da estação
ferroviária.

A intenção de José Giorgi era que a localidade, ao passo que se desen-
volvia, tivesse sua emancipação político administrativa, tornando-se uma cidade
próspera, já que ali se encontravam os elementos necessários para isso se realizar,
aliados ao ótimo clima e localização privilegiada.

Vista parcial da “Villa Giorgi”, nos anos 20,
fundos da residência.
À direita o grande aviário e à esquerda,
a estrada com a imensidão de plantação
de uvas nas adjacências.

126

Vista da “Villa Giorgi”, mostrando parte da vinícola, a sede e o aviário

A belíssima igreja
de estilo neo clássico,
construída por José Giorgi,
nos anos 20

127

Vista parcial de Cardoso de Almeida, em 1924, mostrando uma pequena
parte dos enormes estragos feitos pelos soldados revolucionários

128 Infelizmente, isso tudo foi interrompido e somente não se tornou realidade
devido a um fato ocorrido no local em 1924.

Durante a Revolução de 1924, os revoltosos da “Coluna da Morte” co-
mandada pelo Tenente João da Cabanas que fugiram da Capital pelos trens
da Paulista chegaram a Bauru e dali tomaram os da Sorocabana no sentido de
Botucatu e do Rio Paraná.

Assaltaram inúmeros caixas de estações ferroviárias - o que significa que
ordenaram que o trem parasse em cada uma delas.

No dia 5 de agosto, começaram a passar pela estrada de ferro as primeiras
forças revoltosas do Cel. Miguel Costa chamado de “Comboio da Morte”. Che-
gando na Estação de Cardoso de Almeida, num episódio pouco explicado, foram
até a sede da fazenda, muito próxima à estação, e ali a invadiram e a saquearam
por completo levando todo tipo de mantimento.

Os colunistas, em seguida e estupidamente, mataram animais e atearam
fogo nas dependências da Empresa José Giorgi, armazéns, aos cercados, aos
estábulos, às casas de moradia e arreios, ao aviário com aves, e principalmente
no palacete, sede da bela fazenda, destruindo-o completamente. Todo o vinhedo
e milhares de pés da café também foram destruídos. O sonho virou cinza.

A gratuidade de tamanho vandalismo ocorrido em Cardoso machucou o
âmago de José Giorgi, porque ali era um lugar especial onde ele estava desen-
volvendo tudo, para que se tornasse uma “verdadeira Itália no Brasil”.

Além disso, nessa época foram requeridos diversos bens da fazenda pelas
forças do governo, como carroças, carros de boi, selaria, mantimentos, bois de
carro, cavalos, muares, entre outros.

José Giorgi fez um levantamento de tudo, e requereu junto as autoridades
estaduais competentes o ressarcimento dos prejuízos o que nunca foi feito por
parte do governo, mesmo depois de anos se arrastando judicialmente.

Todos esses acontecimentos o desanimaram de tal modo, que nosso perso-
nagem não mais investiria no local, em nenhum seguimento de negócios.

Hoje Cardoso de Almeida pertence ainda aos seus descendentes, a família
Giorgi Leuzzi.

129

130

Diversos jornais da capital noticiaram
os acontecimentos vividos no interior
do Estado, durante a Revolução de
1924, principalmente os ocorridos em
Cardoso de Almeida e região.

Ao lado e acima,
Fac-símile
de documentos
levando a escrita
de Giorgi, nas cores
azul e vermelha.

131

Fazenda Santa Lina

Em 1915, José Giorgi adquiriu uma grande área de terras de D. Idalina
de Barros Oliveira e outros e do Cap. José de Barros Camargo, antiga Fazenda
Fortuna, que nominou de Santa Lina, em homenagem a sua filha Lina. Foi
incontestavelmente a maior e mais importante fazenda da Alta Sorocabana.

Toda esta imensa área de terras, em 1916, era recoberta por uma majestosa
floresta virgem, habitada ainda por silvícolas cujas aldeias ficavam localizadas
nas margens do Rio do Peixe, extremo limite norte da Fazenda.

No início, José Giorgi montou ali uma grande Cerâmica, localizada nas
proximidades do Espigão divisor com as vertentes do Ribeirão Sapé, para fa-
bricar o material necessário à construção das obras de arte do prolongamento da
Estrada de Ferro Sorocabana.

Com uma área de aproximadamente oito mil alqueires, foi a pioneira a
produzir café na região da Alta Sorocabana com lavoura inicial de 50.000 pés
de café até atingir 500.000 pés.

Posteriormente foram plantadas mais áreas de café de diversas variedades,
então organizadas em talhões distintos, permitindo calcular a produção média
anual de cada espécie.

A mão-de-obra empregada nessa lavoura era de imigrantes, muitos deles
italianos.

132 Santa Lina, outubro de 1925

José Giorgi na Santa Lina nos anos 20, com assessores e funcionários da fazenda

Colônia da Grama em outubro de 1925 133

Grupo de casas ao redor da sede, fevereiro de 1926

Na fazenda foram construidas casas coloniais providas de luz elétrica e
dependências para as criações pertencentes aos colonos. Logo, instaladas em
amplos salões passaram a funcionar as “Escolas Reunidas”, beneficiando os
filhos dos funcionários locais. Em sequência foi construida ainda uma igreja
para a comunidade católica.

O terreiro com uma área de 24.444 metros quadrados para a secagem do
café foi construído num só plano e obedecia sua orientação ao rumo do alinha-
mento solar. Ao lado inferior existiam três grandes tulhas revestidas com paredes
de tijolos. O café era distribuido no terreirão por vagonetes que corriam em
pequenos ramais férreis com a bitola de 0,60 metros.

Na época era um negócio grande demais para uma região longe dos
grandes centros.

Sabendo que uma unidade de produção desse porte só seria possível dar
certo se contasse com um moderno sistema de transporte para escoamento do
produto, José Giorgi construiu uma estrada de ferro dentro da propriedade,
transportando o café beneficiado até a estação de Santa Lina que dali, seguia
para São Paulo e depois até o Porto de Santos.

134

A Revolução de 1924

A Santa Lina, a exemplo de Cardoso de Almeida, sofreu durante a Reso-
lução de 1924, com saques, roubos e agressões de todos os tipos aos colonos.

No dia 10 de agosto de 1924, um contingente revolucionário composto
por cerca de 100 homens, comandado por um tenente de nome Rafael, ficou
acampado na Cerâmica, na proximidade da estação ferroviária de Santa Lina.
Já no dia 13, as forças do Cel. Miguel Costa, que foi o célebre autor do saque
da fazenda Cardoso de Almeida, chegaram pela madrugada e no dia seguinte
invadiram a sede da fazenda, realizaram diversos atos de vandalismo e roubos.

Por conta disto, muitas famílias fugiram das próprias casas refugiando-se
em ranchos nas proximidades do Rio do Peixe.

Somente no dia 19, as forças do Cel. Miguel Costa deixaram a fazenda
Santa Lina. O local foi totalmente saqueado e somente não foi arrasado e incen-
diado, como era da vontade do Tenente Cabanas, que havia chegado em Quatá,
porque o Padre Landell de Moura, que o acompanhava, aconselhou que não
cometesse tamanho crime. O vigário concitou os revolucionários a agirem, na
busca de seus ideais, sob os princípios da moral cristã.

A Santa Lina se recuperou aos poucos desse acontecimento, sobrevivendo
das plantações de café. A vida seguia e no início dos anos 30, foi instalado na
Fazenda um Clube Recreativo para os funcionários e familiares.

135

12 34 5 67 9
8

Na foto, o Engenheiro Bruno Giovanetti em almoço festivo na Santa Lina, em 06 de janeiro de 1925
1 - Alberto Borromei, 2 - Vergílio Dalla Pria, 3 - José Gaghiardi, 4 - Luigi Somaghia, 5 - Dom Giovani Barsocchi,
6 - Bruno Giovannetti, 7 - Luiz Gaghiardi, 8 - Inêz Araujo, 9 - Eurico Araujo.

136 Alunos e professores das Escolas Reunidas da Santa Lina, nos anos 20.

Élide Contrucci Giorgi, esposa de José Giorgi, com os filhos Rodolfo, Jorge e Dante, junho de 1932

Terreiro - 1932 137

Terreiro de café - 1940

Terreiro de café - 1940

138 Terreiro de café - 1940

Igreja de Santa Lina - 1952

12

Primeira Comunhão em Santa Lina - 20 de novembro de 1952. 139
1 - Dr. Luiz Pinto Lima, 2 - Maria de Lourdes Pinto Lima Giorgi

Vista da Usina Açucareira da Santa Lina, nos anos 50

140 Colheita de cana, em 1973

Usina Açucareira

Nos anos 50, o Estado de S. Paulo, já ocupava a liderança da produção de
açúcar. De fato a cultura da cana havia progredido num ritmo avassalador, e a
“Empresa José Giorgi Ltda”, não queria ficar na retaguarda, num empreendimento
de tão gigantesca envergadura.

Assim, em 1951, foi concluída em Santa Lina a montagem de uma usi-
na para fabricação de açúcar e destilação de álcool, cuja obra se destacava na
região.

O prédio foi construído em concreto armado, ocupando uma área de 5.000
m2 e possuindo os equipamentos necessários como moendas, caldeiras, evapo-
radeiras, vácuos, turbinas, filtros, etc.

Quando inaugurada em 1951, a açucareira tinha capacidade produtiva de
aproximadamente 1.000 sacos de açúcar e 8.000 litros de álcool por dia, arma-
zenados em tanques de 350.000 litros.

Inicialmente a área plantada com cana era de 700 alqueires, sendo triplicada
em curto espaço de tempo.

Ainda nos anos 50, diversas e cômodas casas foram construídas, servidas
de água encanada e luz elétrica, assim como um prédio moderno destinado ao
“Grupo Escolar”, para atender os operários e seus filhos, com todas as dependên-
cias exigidas pela pedagogia da época. Lina Giorgi, filha de José Giorgi, viveu
no local com o marido Miguel Leuzzi, e os filhos.

Tendo praticamente uma vida própria, Santa Lina foi a principal força
motriz para a cidade de Quatá. Com centenas de famílias, uma bela sede com
clubes, casa dos colonos, a fazenda acabou construindo sua própria história como
uma pequena cidade.

Atualmente na Fazenda Santa Lina, sob o comando das empresas Zillo-
Lorenzetti, continua funcionando a usina, verdadeiro polo de pesquisa na pro-
dução de açúcar e álcool, utilizando técnicas modernas e pesquisas na área de
biotecnologia, dentre outras atividades.

A Fazenda Santa Lina foi mais que uma fazenda, mais que um lugar, foi
um estilo de vida. Dali ainda brotam as lembranças e a profunda saudade de um
povo que era também, uma extenção da grande família José Giorgi.

Uma importante via na cidade de Quatá homenageia aquele que lhe trouxe
o progresso: Avenida Comendador José Giorgi.

141

142 Fazenda Cabanas

“Moinho Velho”

Uma das várias fazendas fundadas por José Giorgi, foi a Fazenda Cabanas,
conhecida também como “Moinho Velho”, no Município de Cotia, SP.

Em seus primórdios, nos anos 20, nesta fazenda havia criação de gado, granja,
cultivo de frutas, plantação de abóboras, entre outros, destacando-se uma extensa
área destinada ao plantio de Eucalipto para reflorestamento.

A então chamada “Vila Cotia”, era um núcleo de imigrantes japoneses, que
em 1913, alugaram as terras do “Moinho Velho” que pertenciam a uma igreja nos
arredores do município paulista.

Ali se dedicaram ao cultivo da terra e, com o tempo, muitas outras famílias
da colônia japonesa foram se fixando em Cotia.

Nos arredores, os japoneses que já possuíam suas propriedades, trabalhavam
no cultivo de verduras, legumes destacando-se vasta área de plantação de batatas,
produtos destinados aos mercados da capital.

Os imigrantes que não possuíam terras, trabalhavam na fazenda de José Giorgi
na plantação de Eucaliptos. Árvores de crescimento rápido, de alta rotatividade
natural e comercial, os eucaliptos haviam chamado a atenção dele, que se tornou
também um grande silvicultor nessa área.

No começo do século XX, com o avanço das grandes áreas cafeeiras e con-
sequentemente a diminuição das florestas, o reflorestamento torna-se necessário,
para gerar madeira para os dormentes do assentamento dos trilhos e para a queima
das caldeiras. Tomando conhecimento das vantagens da recente introdução do
eucalípito australiano no país pelo cientista e agrônomo Navarro de Andrade, José
Giorgi dá início à sua plantação, sendo um dos pioneiros deste cultivo no Brasil e
fazendo desta atividade um grande sucesso econômico.

Além de fornecer madeira para a Estrada de Ferro Sorocabana, parte consi-
derável era destinada ao Estado de São Paulo para suprir a crescente demanda de
postes para iluminação e telefonia e parte ainda foi destinada a grandes sementeiras
e campo de cultura de mudas comerciais para o reflorestamento.

O sucesso desse negócio de José Giorgi, em empreender em larga escala a
cultura de eucaliptos, somente foi possível devido ao emprego de mão de obra de
colonos do “Moinho Velho”, a Colônia Japonesa de Cotia.

A cadeia produtiva que tem por base as florestas plantadas, gerava muitos
empregos aos japoneses e até para alguns Húngaros ali residentes nesse tempo.

Em sua convivência com os japoneses Giorgi se mostrou preocupado na
questão da educação dos filhos dos colonos, na época, desprovidos de qualquer
benefício nesse sentido.

Face a tal problema ali enfrentado pelos trabalhadores, José Giorgi resolveu
construir e instalar em suas terras da Fazenda Cabanas, a Escola Mista Moinho
Velho, que por muito tempo ilustrou os filhos da emigração nipônica.

Esta escola foi muito importante para a Colônia Nipo brasileira, pois haviam
poucas na região e essa dificuldade era ainda maior para as famílias japonesas.

Foi ele que também conseguiu autorização da Secretaria da Educação para
funcionamento e contratação de docentes, e se responsabilizava pelo pagamento
dos professores.

Família de imigrantes
Japoneses em Cotia,
na década de 10

Retirada de Eucalípito e “descascamento”, para ser encaminhado as serraria 143

Essa escola no início também seria o local de referência dessa comunidade,
ponto de reunião para a discussão de tudo que dissesse respeito à vida daquele
grupo de japoneses.

Assim, o local ainda atendeu um objetivo básico: a confraternização, o de-
senvolvimento e progresso do núcleo.

A educação era dada de acordo com os moldes japoneses, prevalecendo sua
língua, mas tinha o diferencial de aprendizado da língua portuguesa, não muito
comum nessa época nas colônias japonesas. Assim, além do ensino das línguas,
a escola era rigorosa na formação de “bons cidadãos japoneses”, com ênfase à
educação moral.

Ao lado da escola, surgiu ainda um campo para as atividades esportivas (dos
alunos e da comunidade).

Muitos festejos uniam a comunidade. Durante o acontecimento, as pessoas
se entrosavam, casamentos eram arranjados, negócios eram fechados, formavam-se
parcerias para os mutirões e um ajudava o outro em caso de necessidade. Falava-se
muito mais japonês que português.

Ao contrário da realidade precária enfrentada por muitos outros trabalhadores
japoneses em diversas fazendas, ali na Fazenda Cabanas, recebiam todo tipo de
auxílio e todas as condições para desenvolverem seus trabalhos e viver em comu-
nidade com dignidade, como era do feitio de José Giorgi nas demais propriedades
que possuía.

Os imigrantes trabalhavam em grupo, e morar no “Moinho Velho” represen-
tava tranqüilidade, vamos dizer, cultural e social, pela possibilidade de convivência
com outros que mantinham os mesmos costumes.

Também neste núcleo de colonização foi criada uma cooperativa agrícola, a
Cooperativa Agrícola de Cotia, que se desenvolveu durante os anos e transformou-
se numa multinacional levando o nome de Cotia a todo o mundo.

No local foi criada a Associação de Moços do Moinho Velho, uma escola
técnica de plantio, que antecedeu e com certeza deve ter influenciado a fundação
da Cooperativa Agrícola de Cotia.

Os imigrantes japoneses tiveram muita dificuldade em se adaptar ao Brasil.
Idioma, hábitos alimentares, modo de vida e diferenças climáticas acarretaram um
forte choque cultural, e o idioma foi um dos principais problemas enfrentados.

Durante muito tempo, morando na cidade de São Paulo, José Giorgi e sua
família visitavam a fazenda com freqüência, e ali conviviam com os imigrantes
japoneses residentes do local.

144

Capa e contra capa de livro de associado, do Centro Cultural José Giorgi,
escrito metade em português e metade na língua japonêsa.

Parte do estatuto do Centro Cultural José Giorgi 145

146 Fazenda Santa Élide

Atraído pela fertilidade e disponibilidade das terras no Norte do Paraná,
José Giorgi resolveu investir na cultura cafeeira, também naquele estado, adqui-
rindo grande extensão de terras, localizada nas proximidades do Rio Laranjinha,
no atual município de Santa Mariana.

A população regional era composta de caboclos com sua agricultura iti-
nerante. Inclusive nos arredores, o território onde fica atualmente a cidade de
Bandeirantes, então localidade conhecida como “Invernada”, ainda era habitado
pelos índios caingangues.

Nessas terras fundou a Fazenda Santa Élide, assim denominada em
homenagem a sua esposa, Élide Contrucci Giorgi. Essa fazenda teve na sua
formação e montagem, o maior capricho do proprietário que ali construiu uma
bela sede e casas de colonos, além de outras benfeitorias para a sobrevivência
dos funcionários.

No princípio era difícil para José Giorgi o desenvolvimento da cultura
cafeeira na Santa Élide devido a falta de infra estrutura de transportes, sendo
muito árduo até para se chegar ao local.

Se lembrar que a cafeicultura é uma atividade quase que exclusivamente
voltada para o mercado externo e que sua exportação se dava, por essa época,
principalmente pelo Porto de Santos, pode-se perceber, imediatamente, que a
falta de comunicações era um problema a ser superado.

Afastada de grandes centros e não havendo outros meios de transporte, o
melhor caminho para José Giorgi chegar ao local era de trem, partindo de São
Paulo a Ourinhos. Depois disso, tudo era feito em carros de boi e lombos de
mulas. As estradas eram, até então, intransitáveis para automóveis que, quando
utilizados, ficavam atolados. A fértil terra roxa tinha suas desvantagens.

Nesse tempo, ainda estavam se iniciando os estudos para a conexão ferro-
viária com a Sorocabana, ligando o Paraná a São Paulo, cujos trilhos já haviam
atingido Ourinhos. Somente no período de 1922/1925, foram estes estendendidos
até Cambará e Andirá, sendo que dali em diante, continuavam os problemas de
locomoção.

As primeira colheitas faziam o mesmo trajeto inverso e tudo era feito através
de carroções puxados por bois, enfrentando os problemas já mencionados das
precárias estradas de terra.

A situação da região só começou a mudar com a criação da Cia. Ferro-
viária São Paulo-Paraná em 1928, que deu novo ritmo à ampliação da ferrovia,
chegando finalmente em Santa Mariana nos anos 30, um meio de transporte
eficiente e rápido para aquele tempo, capaz de transportar grandes volumes de
carga e pessoas.

Santa Mariana com o desenvolvimento da cultura do café aliada à che-
gada da ferrovia, viria a se transformar em marco regional. A Santa Élide, nas
proximidades, que também colaborou para esse desenvolvimento já podia então
utilizar desse recurso para o transporte do café.

Mais tarde, Santa Mariana, que até meados dos anos 30 era um pequeno
povoado, passou de Distrito e foi elevada à categoria de Município em 1947.

Como em outras fazendas de propriedade de José Giorgi no Estado de São
Paulo, durante muito tempo, a Santa Élide, empregou colonos de várias etnias.

Os contratos antigamente eram feitos em regime da colonato, onde os
gastos com transporte e as demais despesas não constituíam dívida da família
imigrante e o sistema de remuneração era misto, composto por uma parte dos
ganhos com a venda do café e por um salário fixo anual. As famílias de colonos
se comprometiam com os fazendeiros a cuidar da colheita de determinado número
de pés de café. Além disso, eles ganhavam uma certa área onde podiam plantar e
manter as suas criações. Quando não era época da colheita de café, eles ganha-
vam por dia para fazer outros serviços na fazenda. Nesse sistema de trabalho,
José Giorgi cedia casas para as famílias enquanto estas estivessem trabalhando
em sua propriedade.

No caso específico do Norte do Paraná, os colonos eram trazidos por
sociedades de imigração ou companhias de colonização, sendo eles japoneses,
italianos, russos, poloneses, ucranianos, suíços, alemães, entre outros.

Já no final dos anos 40, a Fazenda estava em plena força de produção com
sua lavoura implantada sem falhas, sem trepadeiras e quase imune à broca do
café. Também uma criação de porcos em larga escala ali se processou, com os
melhores resultados, tornando-se mais uma fonte de renda da localidade.

A plantação de Café impulsionou o desenvolvimento do norte pioneiro e a
Fazenda Santa Élide era considerada uma das mais estruturadas da região.

Cabe menção especial ao casal Nicolau Vengrus e sua esposa Anastácia
Koluchuka Vengrus, imigrantes com origem em Tiguina - Russia, sendo ele
administrador da propriedade durante anos e, que muito colaborou para sua
produtividade.

A Fazenda Santa Elide tem atualmente na agricultura a sua principal ati-
vidade econômica, destacando-se a cultura da soja, mantendo ainda uma grande
área de plantação de Eucalipto, milho, trigo, além de atividade pecuária.

Grande parte desta propriedade ainda continua de posse dos descendentes
de José Giorgi.

Molde da telha usada com as iniciais da propriedade 147

Funcionários da Santa Élide, no terreiro, em frente as tulhas de café, em 1929.

148

Vista parcial do escritório, tulhas e máquina de benefício de café - Anos 40

149

Recibo de pagamento Parte do contrato de colonato da Santa Elide.
de parcela do valor das
terras, onde se formou
a Fazenda Santa Elide,
datado de 1917.

150


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