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Published by sara.acasio, 2017-09-11 12:09:44

O Tutor

O Tutor

soubesse a identidade da amante de Edward. Se esttvesse em casa, Edward
não devia se inteirar de que ela tinha vindo. Levaria Emma para um passeio
ou caminhar enquanto conversavam.

Uma risada aguda trinou nas escadas.
A risada de uma mulher.
Não pertencia a nenhuma das criadas. Havia Edward trazido sua amante
para casa, agora que sua esposa não vivia com ele?
Aferrando a chave numa mão e sua bolsa na outra fechou com
suavidade a porta de entrada e subiu as escadas, esquivando bem a tempo, da
tábua solta. Colocou o ouvido na porta do dormitório de seu marido... Não se
escutava nenhum ruído dentro, mas podia sentir... Uma energia, uma
presença... Alguma coisa.
Com o retumbar do coração nos ouvidos, abriu a porta com cuidado. Ali
estava seu marido... Vestido com calças e colete, em frente a sua cama, com a
cabeça, virada para baixo e de lado, no que parecia ser um beijo.
Sentindo a vertigem da vitória, Elizabeth empurrou a porta até abri-la
por completo.
Uma mulher com espartilho e calções estava plantada de perfil com
suas mãos penduradas ao redor do pescoço de Edward, sustentando sua
cabeça sobre a dela no que não houvesse dúvida que era um beijo. Tinha o
cabelo varonilmente curto, de cor mogno cinzento. Suas pernas,
surpreendentemente musculosas, careciam de pêlo, como as da condessa.
Elizabeth olhou fixamente o ventre plano da mulher debaixo do espartilho
durante vários segundos até que compreendeu o que estava vendo.
Um pênis se sobressaía de seus calções.
O olhar de Elizabeth saltou para o rosto do homem que vorazmente
beijava seu marido.
O dormitório de repente se inclinou. Não podia ser. Mas... Era.
— Oh! Meu deus!
Seu marido e seu pai se separaram de um salto. Os olhos cor avelã de
Andrew, semelhantes aos de Elizabeth, se abriram horrorizados. Os
castanhos de Edward o fizeram com surpresa. Um terceiro homem... Não, era
só um rapaz, um menino de dezenove anos com o cabelo dourado que ainda
não tinha pêlo no peito, estava de joelhos na cama entre ambos. Nu. Seus
lábios estavam brandos e seus olhos azulados, aturdidos.
Elizabeth tinha visto o menino no baile de beneficência, vestido com o
traje de negro e branco. Parecia mais velho, vestido.

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Incapaz de se frear olhou fixamente o inchado pênis vermelho que se
sobressaía da calça negra aberta de Edward. Ele brilhava de umidade. Da
saliva do menino.

Com razão Edward havia dito que ela tinha seios como úberes e quadris
flácidos. Era difícil competir com um menino, pensou de maneira
incongruente. Era difícil competir com um pai.

De repente, a imobilidade desconcertada dos homens se transformou
num revôo de atividade. Andrew arrancou a colcha da cama. Edward segurou
ao menino de cabelos loiros justo quando saía catapultado para o chão e o
colocou em pé. Não era nem tão alto como o ministro da Economia e
Fazenda nem tão baixo como o primeiro-ministro. Seu pênis estava flácido.
A diferença do de seus mentores.

Aferrando a colcha contra seu corpo nu, o rosto do Andrew se
convulsionou na mesma máscara furiosa que tinha usado quando a ameaçou
matando.
—Saia daqui, Elizabeth.

Elizabeth observou o pudico espartilho branco que aparecia por cima da
colcha verde garrafa. Em sua mente ainda podia ver seu escuro pênis se
sobressaindo da abertura sem costuras dos calções de mulher.

Aquele era o homem que no baile de beneficência tinha alardeado de
seus dois netos... Primeiros futuros ministros e tinha anunciado
orgulhosamente seus planos políticos para seu genro. Um genro que era seu
amante.

Algo passou fugazmente por seu cérebro. Tão escuro e incrível que não
pôde trazê-lo para a mente, imediatamente. O discurso de Edward aquela
noite... Algo a respeito de esposas e filhos... “E agora eu gostaria de
agradecer às duas mulheres de minha vida. Alguém deu a minha esposa e a
outra meus dois filhos, quem prepararei para seguir meus passos, como
Andrew Walters me lecionou para seguir os seus”.

De repente, todas as peças que Ramiel havia dito que veria quando
estivesse preparada para a verdade se colocaram em seu lugar, completando o
quebra-cabeça, mas ela não estava preparada para aquilo. Seu olhar posou
bruscamente nos olhos de Edward.
—Richard. - Sussurrou.
—Temo que de momento nosso filho não mostra nenhum talento para o
poder, Elizabeth. Enquanto que Matt, por outra parte... —Com os olhos
castanhos brilhando de malícia, Edward aproximou deliberadamente do

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jovem dos cabelos loiros a seu lado e rodeou com uma mão enfaixada sua
cintura de tal forma que descansava sobre seu ventre plano a poucos
centímetros do pêlo púbico. - Matt demonstra grandes aptidões. Talvez
Richard ocupe uma posição menos importante na política. Há outros
membros do Parlamento que contemplam sua futura carreira.

Edward tinha usado aquele mesmo tom de voz quando tinha rechaçado
seu oferecimento sexual. Presunçoso e onipotente. Sem prestar atenção à
outra coisa que não fosse sua própria vida.

Toda lógica se fez pedacinhos. Tinha vivido com aquele homem
durante dezesseis anos, mais como colaboradora que como esposa. Tinha
levado as rédeas de seu lar, feito campanha a seu favor, sacrificado suas
próprias necessidades pelas suas. E ele tinha feito aquilo a seu filho.
— Bastardo desprezível! —Gritou, lançando-se para diante, impulsionada
pelo instinto maternal de lhe fazer o mesmo dano que ele tinha feito a seu
filho.

Braços fortes a rodearam e a mantiveram paralisada. Os três homens
estavam frente a ela, pensou irracionalmente, como podiam sustentá-la de
atrás?

Um calor selvagem e familiar se filtrou através de sua capa.
OH, não, não, não. Que não fosse ele... Por favor, que não fosse ele.
“Sabe quem é sua amante, não é verdade? Siba, Elizabeth...”.
A opressão dentro do peito de Ramiel não tinha nada a ver com a
pressão que exercia o corpo de Elizabeth. Ele não queria que ela soubesse.
Não dessa maneira. Alá. Deus. Seu pai vestido de mulher e o pênis de seu
marido pendurando fora de sua calça, enquanto um menino não muito mais
velho que seu filho estava em pé e nu entre eles.
—Me solte. Você é um bastardo. Solte-me agora mesmo!
Ramiel ignorou seu intento de liberar com maior êxito que seus
hirientes palavras. Sim, ele era um bastardo. Em todos os sentidos da palavra.
—O divórcio, Petre. Em silêncio. Com rapidez. Ou jamais chegará a
primeiro-ministro. Isso eu garanto.
—O preço é o silêncio dela, Safyre.
—Assim será.
—Jamais! —O corpo de Elizabeth lutou por afastar dele. – Ele abusou que
meu filho!
Ramiel baixou a cabeça e com seu queixo se afastou para um lado o
chapéu para sussurrar contra sua face:

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—Pense em Richard, Elizabeth. Venha comigo agora e ninguém voltará a
fazer mal a seu filho. Não pode provar nada. Se lutar contra eles, Petre a
enviará a um manicômio e tirará seus filhos.

Elizabeth não ofereceu resistência quando ele a fez retroceder do quarto
e a conduziu caminhando pelo corredor, descendo as escadas e saindo ao sol.
A carruagem de Ramiel esperava na frente da casa. Muhamed estava sentado
no assento do condutor e não olhou nem a direita e nem a esquerda.
—Você sabia. —A voz de Elizabeth era quebradiça. - Todas as vezes que eu
te perguntei quem era a amante de meu marido, você sabia.

Ramiel nem assentiu nem negou. Não ssabia de tudo «todas as vezes».
Mas sim conhecia o segredo de seu marido e de seu pai na última vez que ela
lhe tinha perguntado.
—Deveria ter esperado até que eu despertasse. - Disse impassível.
— Teria me contado isso?
—Agora não saberá nunca.

Nem saberia Ramiel.
Teria contado? Ou teria tentado mantê-la em sua inocência por mais
tempo?
— Onde está minha carruagem?
—Meio soberano é mais suborno que um florín.
Elizabeth resistiu ante aquela última traição. Só que não seria a última,
pensou ele sombrio.
Ramiel abriu a porta da carruagem.
O lábio inferior de Elizabeth tremia:
—Quero minha carruagem.
—Queria a verdade. Terá-a. Toda. Entre.
A Elizabeth não restou alternativas que entrar na carruagem. Sentou-se
no canto mais longínquo, o mais separada possível dele. Ramiel baixou a
cabeça para entrar arás dela. Ao mesmo tempo, viu-a estirar a mão para o
cabo da porta no lado oposto.
Cm reflexos rápidos como um relâmpago, os mesmos que lhe tinham
permitido fechar a gaveta da mesa deetre na mão, jogou para diante e lhe
segurou a mão.
—Já te disse que não adeixaria partir.
Sentando-se com cuidado no assento junto a ela, estendeu o braço,
forçando-a a se inclinar com ele longe de toda possível fuga, e fechou a porta

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do carro. A carruagem cambaleou para diante. Ramiel lhe soltou a mão. O
corpo de Elizabeth permaneceu a seu lado, rígido e inflexível.
— Aonde me leva?

Ao inferno.
—Aonde tudo começou.
— Você sabe onde se tornaram amantes meu marido e meu pai? —Perguntou
amargamente.

Ele não respondeu imediatamente. E observou a parte superior de seu
chapéu.
—Esta é a carruagem no qual suguei seus seios até que alcançou o orgasmo.
Eu sou o homem que ontem à noite penetrou tão profundamente em seu
corpo até que gritou. Logo me tomou em sua boca e me fez gritar. E,
entretanto ainda não confia em mim.
—Ele permitiu que abusasse de meu filho. —Seu temor e comoção se
metamorfosearam em ira. Girou com força sua cabeça para ele. - Por que não
me disse isso?

Ramiel não evitou aquela acusação em seu olhar:
— Teria me acreditado?

Sim. Não. Ramiel podia ler o conflito em seus olhos. Conflito... E
suspeita.
— Como se explica, Lorde Safyre, que você se encontrasse na casa de
Edward nesse preciso instante?
—Muhamed despertou me avisando de que havia saído sem acompanhante.
Sabia que o tinha feito para você voltar com seu marido... Porque eu havia te
causado temor e repugnância... Ou para enfrentá-lo, porque eu tinha medo de
te dizer a verdade. Nenhuma das duas opções era aceitável. Por isso te segui e
não consegui te reter a tempo.

Elizabeth voltou à cabeça e olhou pela janela.
Muhamed e ele tinham falado de algo mais que a partida de Elizabeth
enquanto foram juntos no assento do condutor e corriam pelas ruas de
Londres. Ela se inteiraria muito em breve dos resultados daquela conversa.
Mas não por ele.
Considerou fugazmente a idéia de dizer-lhe e se não o fizesse de
prepará-la de algum jeito.
Mas era impossível prepará-la para o que viria. A única coisa que podia
lhe oferecer era a reafirmação de seu vínculo. E esperar que, ao final, fosse
suficiente. Como era para ele,

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—Que me chame por meu título não apagará o que aconteceu ontem à noite,
Taliba. - Disse brandamente. - Nem amortecerá a dor pelo que viu. Eu a
tomei como os animais e o faria novamente. Não confunda o kebachi com as
atividades de seu pai e seu marido. Os animais não fazem o que você viu

hoje.
Ela não respondeu. Ele sabia que não o faria. Mas queria que o fizesse.

Desejava que se voltasse e lhe dissesse que não o afastaria de sua vida
quando a próxima hora tivesse concluído.

Ramiel a observou olhando as carruagens e os edifícios que passavam.
Sem dúvida, ela reconhecia os sinais e começava a se dar conta de que a
verdade tinha sido arranhada.

Mas talvez não. Evitaria também aquilo, mas sabia que ela não estaria a
salvo até que reconhecesse a última traição,

Quando a carruagem se deteve, Elizabeth o olhou surpreendida.
—Por que paramos aqui?

Abrindo a porta, desceu e lhe estendeu a mão. —Elizabeth pressionou
suas costas contra a almofada de couro.
—Não há necessidade de contar a minha mãe.

Sua ignorância fazia mal a Ramiel:
—Você não tem nada a lhe contar. Ela tem algo que a contar a ti.
— Como sabe? Minha mãe não falaria com alguém como você.

O vermelho escuro manchava suas branca face. A cortesia de Elizabeth

ia além da etiqueta superficial. Não encontrava nenhum prazer em ser
grosseira.
—Venha, Elizabeth. —Ele baixou os cílios, aproveitando sem piedade de sua
ternura. - Ou acaso está envergonhada de seu Sheik Bastardo?

Ela se moveu reticente do outro lado do assento e permitiu que ele a

ajudasse a descer
—Não é meu.

Mas era. Havia sentido seu ventre se contrair contra a palma de sua mão
e soube que ela o aceitava por completo, fosse bastardo, árabe, animal ou

homem.
Elizabeth elevou o queixo confiante. Ainda conservava suficiente

inocência para desafiá-lo:
—Não é necessário que me acompanhe.
—Sim que é.
—Quero estar a sós com minha mãe. - Disse fríamente.

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Mas Ramiel já se dirigia para a mansão de estilo Tudor. A janela em
forma de leque sobre as portas duplas era como um grande olho que não
pestanejava. Pilares brancos idênticos de mármore vigiavam a entrada.

Ramiel tentou imaginar Elizabeth ali quando era menina e não pôde.
Uma criança que deveria ter sido subjugada pela frieza e a corrupção, mas ela
não a tinha sido. Era um desafio a imaginação.
Um homem já velho e curvado, que devia haver se aposentado há tempo
abriu a porta. Entreabriu os olhos leitosos em direção a Ramiel:
—Bom dia, senhor.
—Estamos aqui para ver a senhora Walters.
—Se for tão amável de me entregar seu cartão, senhor verei se ela estiver...
—Está bem, Wilson. — Elizabeth apareceu ao lado de Ramiel. – Ela se
encontra em casa?
O mordomo se inclinou:
—Bom dia, senhorita Elizabeth. Alegro-me em vê-la. A senhora Walters não
me contou que já estava restabelecida. Ela está descansando.

Elizabeth endureceu o gesto ante a referência do mordomo ao rumor
que se propagou não só entre os jornais, mas também entre os criados:
—Obrigado, Wilson. Pode dizer a minha mãe que esperarei na sala.
—Muito bem, senhorita.

Ramiel se afastou em silêncio para que Elizabeth entrasse primeiro. Ele
a seguiu de perto. O vestíbulo era uma estadia pequena e quadrada. Uma
porta idêntica a da entrada, com uma janela semicircular e idênticas colunas
de mármore brancas, dava a um corredor empapelado de seda estampada com
rosas. O salão aonde o levou Elizabeth estava obscuro apesar do sol exterior.
Todas as mesas estavam cobertas, com seus pés ocultas. Em cada canto havia
fotografias familiares emolduradas em ouro ou prata. Um pequeno fogo ardia
na lareira de mármore branco. Sobre o suporte da lareira um relógio de
mármore dourado marcava os segundos que passavam.

Aferrando sua bolsa, Elizabeth se sentou no sofá. Ramiel caminhava
nervoso pela sala.
—Por favor, não diga nada a respeito de... —Ele podia sentir seu olhar
seguindo seus passos. - Não há necessidade. Só lhe causaria dor. Por favor.

Que diferente soava aquela palavra quando uma mulher se encontrava
ao beira do orgasmo.

Ramiel caminhou para a lareira, atrás do sofá onde ela estava sentada,
longe de seus olhos, que o olhavam como se fosse um estranho. Levantou

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uma fotografia de seus filhos emoldurada em prata. Podia adivinhar que era
recente. Phillip, o pirata, sorria a câmara. Richard, o engenheiro, estudava-a.

As portas da sala se abriram bruscamente. Rebecca Walters ainda era
uma formosa mulher, com seu cabelo castanho logo salpicado de fios
prateados e tênues linhas saindo de seus reluzentes olhos cor esmeralda. Não
havia nada dela em Elizabeth. Ramiel se sentiu feliz por isso.

Ao ver Ramiel, Rebecca ficou paralisada no vestíbulo. Durante um
momento fugaz tudo se viu refletido em seu rosto. Escândalo, temor, ira
glacial. O jogo havia se concluído. E ela sabia.
Rapidamente se recuperou.
— O que faz este homem em minha casa? Se não tem consideração pela
reputação de seu marido, Elizabeth, rogo-te que tenha em conta a de seu pai.

Ramiel esperou. O relógio francês, não. O tempo estava acabando.
Elizabeth era uma mulher inteligente. Agora, tinha os olhos abertos.
Não demoraria muito em descobrir a verdade. Ele a tinha ajudado um pouco,
lhe dizendo que não precisava contar nada a sua mãe sobre Petre e Walters.
— Desde quando sabe, mãe? —A pergunta de Elizabeth foi tão apagada
como o ruído da carruagem que passou diante da mansão.
—Não tenho nem idéia a que se refere. - Rebecca devolveu a acusação com
desdém. - Não permitirei que profane meu lar trazendo para este bastardo a
ele. Quando recuperar a prudência, pode vir de visita. De outra forma...
—Perguntava-me por que jamais mencionava os rumores a respeito de que
Edward tinha uma amante. Agora sei. Porque você sabia... Que meu pai e
meu marido eram amantes. Seu marido e seu genro. Vi-os juntos hoje. E
papai gosta de se vestir com roupa de mulher. De quando sabe, mãe?
Rebecca contemplou sua filha como se fosse um cão impertinente que
mordia a mão que lhe dava de comer. Não havia remorso nos glaciais olhos
verdes da mulher. Nenhum rastro de afeto maternal pela filha que tinha
gerado.
—Soube sempre, Elizabeth. Conhecia Edward antes que seu pai o trouxesse
para casa, para convertê-lo em seu marido. É uma desgraça que devemos
suportar as mulheres desta família. Meu pai e meu marido foram amantes.
Minha mãe o suportou. Eu o suportei. Por que não teria que suportar você?
—Você. —As costas de Elizabeth ficaram rígidas de espanto. Os dedos de
Ramiel apertaram com major força o marco de prata. Ele não queria que ela
soubesse. E não saberia, se tivesse acreditado nele. - Emma disse que você

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queria me despertar na quinta-feira pela manhã. Foi você quem sussurrou

meu nome. Você apagou o abajur.

O silêncio impenitente de Rebecca confirmou aquela pergunta
convertida em afirmação.
— Por que? —O sussurro agônico de Elizabeth ricocheteou na coluna

vertebral de Ramiel.
—Você tem o cabelo de cor mogno.

Ramiel ficou imóvel. Aquela não era a resposta que tinha esperado.
Havia outro fator que não tinha considerado. Rebecca Walters estava louca.

E agora Elizabeth também teria que suportar aquilo.

Caminhou ao redor do sofá, pronto para protegê-la se fosse preciso.
Elizabeth, com seu rosto pálido sob a asa do chapéu negro, esforçou

visivelmente para compreender a lógica de sua mãe.
— Teria me matado por ter o cabelo cor mogno?

Os olhos verdes de Rebecca brilharam:
—Teria te matado pelos pecados de seu pai, para que não passassem a sua
descendência. – Ela disse friamente. - Teria te matado porque amei fielmente
a Andrew enquanto que você estava a ponto de arruinar sua carreira e minha
reputação, —acrescentou amargamente. – Teria te matado porque você não

queria suportar o que minha mãe e eu suportamos. Ao pedir o divórcio,
desprezava o sofrimento de todas as esposas e mães cristãs. – Ela concluiu

com maldade.

A postura rígida de Rebecca não convidava a piedade. Nem Ramiel a
ofereceria.

Estendeu a fotografia emoldurada:
— Tentou envenenar seus netos... Pelos pecados de seu avô... Ou porque não
seriam capazes de aceitá-los?

Elizabeth saltou do sofá em meio a um revôo de lã escura:
—Edward o fez. Isto foi muito longe. É hora de ir.

Elizabeth estava fugindo. Mas era muito tarde para fugir.

Os olhos turquesas se encontraram com os de cor esmeralda:
—Não foi Edward quem tentou matar seus filhos, Elizabeth. Foi sua mãe. Ela
o acompanhou nesse dia. Oculta sob um pesado véu. Talvez esperava que

Edward se contentasse assumindo a responsabilidade.
—Não. Minha mãe não conheceria um veneno que... —Transformasse a
carne em desejo líquido. - Não conheceria... Uma necessidade que podia

matar.

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—Mosca da Espanha, Elizabeth. Tem um nome. Um nome que você
conhece, não é assim, senhora Walters?

Rebecca deixou que o silêncio falasse por ela.
Elizabeth pousou o olhar em sua mãe, com crescente horror:
— Sabe sobre a mosca da Espanha?
—Sim. —Rebecca transladou seus brilhantes olhos verdes para Elizabeth.
Um sorriso gélido adornou seus lábios. - Andrew tomou muito quando
estava tentando me deixar grávida novamente. Quase morre. Por isso não tive
mais filhos. —O sorriso se esfumou de repente. - Enquanto que você teve
dois filhos. Teria que ter ficado contente. Eu tentei colocar a droga numa
xícara de chá, mas você se ocultava na cama do Sheik Bastardo. Sempre
criou mal os meninos e eu sabia que a cesta do vestíbulo era para eles.
— Alguma vez quiseste a alguem, mãe?
Ramiel fez uma careta de angústia ante a surda dor no rogo de
Elizabeth. - Alguma vez quis seus netos?
—Não e nunca te quis, Elizabeth. Sempre soube que fosse qual fosse o jovem
que Andrew amasse seria um dia seu marido e eu teria que aceitá-lo em
minha casa. Essas são as regras da irmandade dos Uranianos. Quanto ao amor
para meus netos... Phillip tem o cabelo cor mogno. E Richard se nega a seguir
os rastros de seu pai. Quer tomar um chá?
Ramiel sentiu o impacto da confissão de Rebecca em todo seu corpo. A
ira de Elizabeth ante aquela mulher que tinha respaldado sabendo o abuso de
seus netos. Sua dor, todos aqueles anos de mentiras.
Mentiras Às quais Ramiel tinha contribuído.
Havia-lhe dito que os uranianos eram uma irmandade de poetas
menores. Não lhe havia dito que os assim chamados poetas eram um grupo
de homens educados a maneira grega que tomavam meninos sob seu amparo
com o propósito de guiar suas vidas, promover suas carreiras e sodomizar
seus corpos.
—Não, mãe. Não quero chá.
Elizabeth permitiu que Ramiel a pegasse do braço. Rebecca se afastou
para que pudessem sair. Pegou a fotografia de seus netos de sua mão.
Agachando a cabeça, ela passou os dedos pelo vidro de cima do marco de
prata, como se quisesse tomar forças daqueles retratos.
—Meu pai, sendo um homem culto, permitiu-me estudar grego clássico. As
filosofias árabes, acredito, também estão apoiadas nas tradições gregas.
Ramiel ficou tenso.

310

Rebecca elevou a cabeça. A malevolência brilhava nas profundezas de
seus olhos verdes esmeralda. Faria tudo para destruir a oportunidade que
tinha sua filha de ser feliz. E estava a ponto de consegui-lo. E não havia nada
que Ramiel pudesse fazer para impedi-lo.
—Repugna-te o que descobriu hoje, Elizabeth. Mas a pederastia é uma
tradição antiga. Este bastardo com o qual se deita viveu na Arábia, aonde tais
coisas são vistas de maneira diferente que aqui na Inglaterra. Talvez deveria
lhe perguntar a respeito de suas preferências antes de julgar a seu pai.

Ramiel jamais agredido uma mulher. Teve que empregar toda sua força
agora para não tirar de um golpe a soberba retidão do rosto de Rebecca.

Ramiel colheu com força do braço de Elizabeth e a obrigou a sair
daquela sala e daquela casa que jamais tinha sido seu lar. Sombrio, ajudou-a
a entrar na carruagem e se sentou frente a ela.
— Estiveste com um homem?

Sua pergunta era tão predecivel que provocou lágrimas em seus olhos.
Tinha querido mais dela.
Tinha procurado sua confiança.
Desejava que ela o aceitasse como ele a aceitava.
Tinha querido que ela aceitasse o que ele tinha sido incapaz de aceitar
naqueles últimos nove anos.
—Sim.
Ramiel fechou os olhos, afligido pela lembrança da dor. Tentou se
aferrar isso A dor era boa, a dor era natural. Mas a lembrança do prazer
deslizou entre as frestas do tempo como sempre acontecia. Junto com a falta
de confiança em si mesmo.
Ele estava dormindo. Não era certo?
Não sabia quem o estava manuseando.
— Ou sim?
Tudo o que sabia com certeza era que despertou montado sobre uma
onda de prazer que estalou numa dor perturbadora e aguda. Jamel estava
montando Ramiel como se fosse uma mulher enquanto que os eunucos o
sujeitavam para que seu irmão desfrutasse. Depois, Jamel se limpara sobre
Ramiel enquanto zombava:
— Já não é tão homemzinho, não é, irmão?
Quando Ramiel tinha completado os treze anos, Jamel lhe tinha
ensinado a brigar com uma faca. Jamel não viveu muito tempo para se gabar
do desfloramento de Ramiel.

311

Havia uma palavra árabe para o que lhe tinham feito, a violação de um
homem que está incapacitado pelo sonho ou as drogas. Ramiel não pode
dizer a seu pai que tinha matado seu herdeiro por causa de “dabid”.

A voz de Elizabeth o devolveu bruscamente à presente.
—Então não é tão diferente de meu marido ou de meu pai.

Ramiel tinha pensado que o era, com aquela lembrança enterrada
profundamentna seu interior. Agora não.

L'na. Não seria extorquido por uma mulher para obter sexo. Nem
choraria por causa de uma. Ao menos sobre isso tinha controle.
— Virá comigo para casa? — A pergunta foi arrastada do fundo de sua
alma... Se ainda possuía uma. Era o mais parecido a uma súplica que tinha
expressado em sua vida.

Necessitava-a. Necessitava dela para se sentir completo.
—Não.

Aquela probabilidade não amorteceu a dor pelo rechaço.
—Levarei-a a casa da condessa.

Elizabeth parecia uma estátua. Não, parecia com sua mãe. Uma mulher
que tinha perdido todo vestígio de inocência e de gozo.
—Muito bem.

Levantando-se, Ramiel abriu a escotilha do teto da carruagem e gritou a
Muhamed que os conduzisse a casa da condessa.

O resto da viagem transcorreu num silêncio glacial. Quando a
carruagem se deteve frente à mansão de tijolo branco da mãe de Ramiel,
Elizabeth abriu a porta de seu lado de um puxão.

Rebecca Walters tinha obtido seu propósito. Elizabeth nem sequer
aceitaria que lhe tocasse como simples cortesia para ajudá-la a sair da
carruagem.

Elizabeth tirou um pé, voltou a cabeça e olhou Ramiel com olhos sem
vida e alegria:
—Oxala nunca tivesse te conhecido.

Saltando para fora ela fechou a porta da carruagem com força. O carro
imediatamente começou a mover bruscamente. Ramiel se inclinou para
diante e passou a mão pelo lugar aonde ela se sentara. O couro ainda seguia
morno. Como não estava ele.

Elizabeth havia deixado-o, mas ele ainda podia fazer uma coisa mais
por ela.

312

Podia ajudar seu filho aceitar como menino o que Ramiel não pudera
aceitar como homem.

CAPÍTULO XXV

Em qualquer momento o decano voltaria para levar Richard e Phillip e
ela não podia soltar seus pequenos. Harrow. Eton. Eram palavras diferentes
para instituições similares que tomavam meninos inocentes como reféns para
que homens corruptos os instruíram.

Segurou os braços de couro da cadeira de balanço e olhou fixamente os
escuros painéis de atrás do grande escritório com superfície de cristal que o
decano acabava de deixar. Richard e Phillip estavam em pé um de cada lado
e ligeiramente atrás dela. O primeiro esperando com paciência, o segundo
movendo-se inquieto.
—Não temos que fazer isto. —A voz de Elizabeth ressoou na escuridão
cavernosa. - Contratarei um tutor. Richard, ainda pode fazer seus exames a
tempo para entrar em Oxford no outono próximo. Phillip, comprarei um
pequeno bote. Podemos colocá-lo para que flutue no parque todos os dias
depois de estudar.

Dedos mornos envolveram a mão de Elizabeth. Tinham o tamanho dos
de um homem e a suavidade de um menino ainda. Seu pequeno se partiu
irremediavelmente e ela não podia, não permitiria, expô-lo a mais perigos.

Piscou, com olhou os solenes olhos castanhos. Richard ficou de joelhos
frente a ela. Seu rosto já não estava gasto e seu cabelo negro estava lustroso.

Levantou a mão e roçou sua face com o polegar. Deslizou molhado
sobre sua pele:
—Tudo está bem, mamãe.

A voz de Elizabeth era densa:
— Como?

Como podia algo voltar a estar bem?
De repente, dois pares de olhos castanhos a observaram.
—Agora somos homens, MA. - Declarou Phillip com sabedoria infantil. Seu
cabelo cor mogno reluzia sob a tênue luz. - E os homens não devem ficar em
casa com suas mães. Embora a condessa tenha uma casa espetacular, —
acrescentou com nostalgia.

313

Quando Elizabeth estava a ponto de sair para Eton na manhã depois da
confissão de Rebecca Walters, seus filhos tinham aparecido
misteriosamentna na casa da condessa. Lorde Safyre havia dito
simplesmente, que havia trazido-os porque sua mãe precisava deles.

Elizabeth havia derramado as lágrimas que até então tinha conseguido
conter e suportado a inovadora experiência de que fossem seus dois filhos
quem a consolasse.

Phillip tinha se sintonizado com a condessa como o fogo e a lenha.
Enquanto lhe ensinava o banho turco, Elizabeth tinha falado com Richard
sobre seu pai, sobre a irmandade uraniana e sobre seu amargo
arrependimento por não ter conseguido protegê-lo.

Isso havia acontecido há duas semanas atrás e agora novamente se
encontrava comportando-se como uma menina em lugar de mãe responsável.
Sorveu as lágrimas, soltou a âncora firme da cadeira de couro e limpou a
face.

Richard tirou um grande lenço branco e o aproximou da cara:
—Precisa te assoar o nariz, mãe.

Uma gargalhada afogada escapou de sua tensa garganta. Segurou o
lenço.
—Posso me assoar perfeitamente sozinha, obrigado.
—Não se preocupe, MA. De todas maneiras, eu não queria um navio. —
Phillip apoiou seus afiados cotovelos sobre seu joelho esquerdo. Decidi que
não quero ser um pirata. A condessa nos deu um livro divertido chamado às
noites árabes. Quero ser um gênio. Assim posso viver numa garrafa mágica e
fazer com que os desejos das pessoas se tornem realidade. Geralmente
desejam coisas más, assim será divertido.
—Phillip, vocew é incorrigível. —Elizabeth não pôde reprimir um gemido
úmido de risada. - Suponho que agora que é um homem não irá querer uma
caixa de chocolates.

Phillip mergulhou em sua bolsa:
— Como que não...!
—Eu não rechaçaria uma caixa de caramelos se tivesse uma. —A voz de
Richard se quebrou um pouco. Podia ser um homem ou não, dependendo das
circalgunstâncias.
—Desculpe, senhora Petre. Se deseja ficar alguns minutos mais...
Phillip e Richard se levantaram de um salto, horrorizados por terem sido
surpreendidos numa posição tão indigna. Os homens não se ajoelhavam aos

314

pés de sua mãe. Phillip escondeu rapidamente a caixa de chocolates atrás de
suas costas.

Elizabeth respirou fundo e elevou os ombros. Era momento de deixá-los
partir.
—Não, obrigado, decano Simmeyson. —Ela ficou em pé. - Devo tomar o
trem.
—Que tenha uma boa viagem, senhora Petre. —O decano, mais calvo que
grisalho, inclinou cortesmente. Não temia se relacionar com uma mulher, A
diferencia do decano Whitaker em Eton. - Jovem Richard, jovem Phillip. Se
trouxerem sua bagagem, os jovems Brandon e Lawrence os conduzirão para
acima. Terão tempo para dar uma volta pelo edifício antes que sirva a
comida.

Os dois meninos se voltaram como jovens soldados que partem para o
quartel. Algum dia não muito longínquo a voz de Richard já não oscilaria
entre a infância e a idade adulta. Phillip também cresceria e não a necessitaria
para se fazer de intermediária.
Mas esse dia ainda não tinha chegado.
—Um momento, por favor. – Pediu Elizabeth, rapidamente. - Seu baú está
aberto, Richard. —Pegando a caixa de caramelos da bolsa, inclinou-se para
baixo e a meteu em sua bagagem.

Quando se endireitou, Richard a abraçou com força e afundou a face em
seu pescoço.
—Realmente está tudo bem, mamãe. Falei com alguém e ele me fez
compreender... Certas coisas. Por favor, não chore mais. Já passou. Phillip e
eu estamos contentes de que se divorcie de papai. Se você não for feliz,
preocuparei-me muito quando me puser a estudar para os exames e jamais
entrarei em Oxford.
—Bom. —Elizabeth conteve as lágrimas, concentrando-se no aroma familiar
do cabelo e da pele do Richard e no fôlego quente e úmido de sua respiração.
—Isso não podemos consentir.
- Não, não podemos. —Richard esfregou sua face contra o pescoço dela,
como o tinha feito para limpá-la das lágrimas. Também tinha sido um lenço
útil quando não qusera assoar o nariz.
—Amo você, mamãe. Por favor, não te culpe pelo que aconteceu. Eu não o
faço.

E logo se foi, embora ela seguia obstinada a ele e a uma inocência que
já não existia.

315

*****

A viagem em trem lhe deu uma fugaz visão de um distrito da Grande
Londres ao sudeste do Buckinghamshire. O rítmico som das rodas e o
balanço do carro a relaxaram embora não quisesse seu corpo exausto. Sem se
dar conta, o homem que tinha tentado desesperadamente esquecer naquelas
duas últimas semanas ocupou seus pensamentos num momento de descuido.
“Este é a carruagem no qual suguei seus seios até que alcançou o orgasmo.
Eu sou o homem que ontem à noite penetrou tão profundamente em seu
corpo até que gritou. Logo me tomou em sua boca e me fez gritar. E,
entretanto ainda não confia em mim”.

“Por que não me disse?”.
“Teria me acreditado?”
Talvez tivesse acreditado, pensou, fechando os olhos para impedir as
lembranças. Se lhe tivesse dado a oportunidade.
Ele poderia ter evitado sua dor.
Ele poderia ter lhe dito e ela não teria sofrido o horror de ver seu
marido e seu pai naquele íntimo abraço.
Ele poderia ter lhe dito e não teria sido necessário que sua mãe tentasse
matá-la porque não haveria segredos atrás dos quais se ocultar.
Uma vez que começaram, as lembranças já não a abandonaram.
“Este bastardo com o qual se deitou viveu na Arábia, aonde tais coisas são
consideradas de maneira diferente que aqui na Inglaterra. Talvez deveria lhe
perguntar por suas preferências antes de julgar A seu pai”.
“Por que partiu da Arábia, Lorde Safyre?”
“Porque fui um covarde, senhora Petre”.
“Então não é tão diferente de meu marido ou de meu pai”.
“Sou um homem... Embora os ingleses me chamem de bastardo e os
árabes de infiel, sigo sendo um homem”.
Por que não mentiu Ramiel, como tinham feito seu pai, seu marido e
sua mãe? Ela não queria a verdade.
Ninguém a havia tocado jamais. Ninguém, mas Ramiel sim. Mas o teria
tomado em seu interior na sábado passado. “Usou tudo o que eu havia te
ensinado que me excitava para seduzir outro homem. Não”.
Mas o teria feito.

316

“Por que não veio comigo para casa ontem à noite? Por que se arriscou
a morrer em lugar de vir para mim?” Seus filhos...

Ele tinha levado seus filhos para casa, apesar dela ter dito que eram o
motivo pelo qual não se comprometia com o Sheik Bastardo.

A quem tem você, Lorde Safyre? A ninguém. Por isso sei que em a
algum momento a dor será muito grande para que você a suporte sozinha.

Elizabeth agradeceu o ruído e o aroma da estação de trem. A fuligem e
a névoa caíram sobre seu chapéu quando saiu para chamar um carro de
aluguel e também agradeceu aquilo. Agradeceu algo que separasse de seus
pensamentos o que tinha sido, o que pôde ter sido, mas que agora jamais
seria.

Uma carruagem esperava nas portas da casa de tijolo branco da
condessa. Elizabeth ficou petrificada de terror ao vê-lo.

Seu marido ainda podia enviá-la ao manicômio. Sua mãe ainda podia
matá-la. “Enquanto estivermos juntos, estará a salvo”. Mas já não tinha
Ramiel para ir a ele. Era hora de que aprendesse a valer por si mesmo.

Desceu resolutamente do carro e pagou a viagem. Ao mesmo tempo,
uma mulher vestida de negro desceu da outra carruagem.
Elizabeth não podia controlar seu temor: correu para a casa.
— Senhora Petre! Senhora Petre, por favor, espere!

O som da voz de Emma não a tranqüilizou. Talvez Rebecca Walters
tinha enviado a criada para que se ocupasse de matá-la em seu lugar.

Elizabeth segurou com força a aldaba de bronze.
— Senhora Petre! —Passos apressados subiram as escadas atrás de Elizabeth.
- Não fui eu! Jamais contei a ninguém seus encontros. Não fui eu, senhora
Petre! Não teríamos feito isso!

Mais mentiras. Era evidente que alguém tinha feito.
—Foi Tommie, senhora. —O calor do corpo da criada se filtrou pelas costas
de Elizabeth. - A senhora Walters me perguntou aquela terça-feira pela
manhã quando você... Ficou dormindo... Se tomava láudano freqüentemente.
—Elizabeth tinha mentido sobre o láudano como bem sabia Emma. - Lhe
disse que não, que tinha dificuldades para dormir ultimamente e que na
segunda-feira pela manhã tinha saído para caminhar cedo porque não podia
descansar. A senhora Walters disse ao senhor Petre e ele fez com que
Tommie a seguisse. Eu não quis lhe fazer mal, senhora. Eu não sabia...

Tommie. O cavalariço que supostamente havia adoecido na noite da
neblina. Elizabeth recordava o guardião. Os olhos vigilantes. O temor...

317

Fechou os olhos para não ver seu próprio rosto branco distorcido na
placa de bronze. Com seus enluvados dedos intumescidos, soltou a aldava e
se voltou para olhar a criada de rosto redondo. Só que seu rosto já não era
saudável. Estava gasta... Como estivera Richard duas semanas atrás.

Eram da mesma estatura, notou Elizabeth desapaixonada. Nos dezesseis
anos que tinham estado juntas, nem sequer tinha notado aquele pequeno
detalhe.
—Estive vindo todos os dias a uma semana. Para explicar. - Disse tenaz a
jovem. Sua respiração parecia uma pluma de vapor cinza nos primeiros ares
de março. A umidade perlava seu chapéu negro. - Mas a senhora não
queria...

O mordomo da condessa tinha anunciado simplesmente que uma
mulher queria ver a senhora Petre. Jamais tinha mencionado um nome.
Elizabeth tinha pensado que era sua mãe. Embora não estava segura de que
tivesse sido melhor ver Emma que Rebecca Walters.
E, entretanto...

Se não tivesse ido interrogar a criada, não teria descoberto que seu pai e
seu marido eram amantes. E seus filhos seguiriam em perigo.

Elizabeth elevou o queixo.
—Sabia que minha mãe apagou o abajur de gás.
—Supus, senhora.
—Então, por que não me disse isso?
—A senhora Walters foi quem me contratou.
—Está bem. - Disse Elizabeth. Agora via no que ficavam as afirmações de
Emma dizendo que não a tinha delatado.
—Desculpe-me, senhora, mas não acredito que compreenda. O senhor
Beadles, eu, a cozinheira, a governanta, o chofer... A senhora Walters nos
tirou de um correcional. O senhor Will... Levou a senhor Petre na carruagem
muitas vezes... Viu... E ouviu... Certas coisas. Mas se tivéssemos dito alguma
coisa, nos teriam jogado na rua sem referências. E inclusive se houvéssemos
dito alguma coisa, quem nos teria acreditado? Mas você, senhora... Jamais
quisemos que lhe fizessem mal. Renunciamos a nossos postos. Não me
importa muito... Tenho Johnny agora, mas os outros... Não merecem sofrer.
Por favor, senhora. Por favor, lhes dê referências.

Os correcionais eram instituições penais locais para pessoas condenadas
por faltas menos graves. Mas no mundo real, os criados condenados por
pequenos delitos não tinham maiores possibilidades de encontrar emprego

318

que os sentenciados por crimes graves. Rebecca Walters tinha planejado
cuidadosamente que os pecados de seu marido e de seu genro não se dessem
a conhecer ao público eleitor. Com razão se pôs fora de si quando Elizabeth
tinha alterado seus planos.

Não queria sentir mais dor. Mas ela estava ali, esperando escondida,
como a noite espera que termine o dia.
—Quer referências... - Elizabeth falou com cuidado e voz neutra. — E,
entretanto todos sabiam que Tommie ia fazer me mal.
—Não, senhora. Foi o senhor Petre quem fez com que Tommie a seguisse.
Foi à senhora Walters quem queria que a assustasse. Para que você ficasse
em casa.

E suportasse... O que sua mãe e sua avó tinham suportado.
Que crimes tinham cometido Emma e os outros criados para serem

enviados a uma correcional?
Importava?
Elizabeth já não sabia quem tinha incorrido em falta. Ela, por se negar a

ver o que era evidente. Seus criados, por serem ex-criminosos temerosos de
perder seu emprego. O Sheik Bastardo, por não ser quem ela quisera que

fosse.
Ninguém era o que parecia ser.

—Muito bem. Faça com que venham ver-me amanhã. Darei-lhes referências.
Você também, se o desejar.

Emma fez uma reverência:
—Obrigado, senhora.

De repente, Elizabeth sentiu como se um grande peso tivesse sido
levantado de seus ombros. Os criados não a tinham espiado. Pelo menos, não
aqueles que tinham uma relação mais pessoal com ela. Inclusive no caso da

jovem, tinham secundado suas mentiras.
—Emma? - Disse impulsivamente.
— Senhora Petre?
—Me alegro de que tenha conhecido alguém a quem pode cuidar.

Emma baixou a cabeça:
—Johnny... Não é quem você pensava que era.
—Não. —Era evidente que Johnny não era um lacaio.
—Foi contratado para vigiar o senhor Petre.

A bruma suja se metamorfoseou em chuva exuberante. A água gélida

aguilhoou a cara de Elizabeth.

319

—Por Lorde Safyre. - Disse imperturbável.

Emma levantou a cabeça, olhando ansiosamente o rosto de Elizabeth.
—Ele destroçou a mão do senhor Petre, senhora. —Sem pretender, a imagem
da mão enfaixada de Edward descansando sobre um ninho de pêlo púbico

dourado relampejou na mente de Elizabeth. - Quando lhe contei quem

imaginava que tinha apagado o abajur... Ele se preocupa muito por você. Foi
uma boa senhora. Merece ser feliz. —Colocando as mãos sobre seu chapéu

para protegê-lo, Emma baixou correndo a escada. Um braço masculino abriu
a porta da carruagem para que a criada entrasse.

“Você foste uma boa jovem, pensou Elizabeth. E uma mulher valente
por escolher amar a um desconhecido. ”O que precisa para que sinta alguma
coisa? Eu sinto, Taliba”.

Ramiel havia contratado um homem para que vigiasse seu marido... Um

homem que em última instância lhe tinha salvado a vida. Tinha disposto as
mesmas medidas de segurança para seus filhos em Eton. Tantos segredos.

“Sei que te dói, Elizabeth. Me deixe que te alivie. Me deixe te
amar”.

Elizabeth deu as costas ao passado. O mordomo abriu a porta inclusive

antes que o golpe surdo do bronze fosse atenuado pela queda tenaz da água

suja.
Elizabeth lhe entregou sua capa e seu chapéu, completamente

molhados.
— Onde está a condessa, Anthony?
—Está na sala. —O mordomo segurou as luvas de Elizabeth. - Deveria ter

levado um guarda-chuva, senhora Petre.

Elizabeth deveria ter feito muitas coisas. Um guarda-chuva era o último
item em sua lista de prioridades.

A condessa estava sentada em sua escrivaninha, junto a uma lareira

neoclássica, escrevendo. Seu rosto, banhado pelo crepitante calor, se
iluminou quando Elizabeth entrou naquela sala mais ocidental que oriental,

mais feminina que masculina.

Aquela mulher não tinha perguntado nenhuma só vez a Elizabeth por
que tinha deixado seu marido. Ou por que Elizabeth não ia ver sua própria

mãe.
— Ajudaria-me a seduzir seu filho, condessa?

Uma sobrancelha finamente arqueada se elevou:
— Por que?

320

Porque ele havia aceitado Elizabeth como a mulher que ela era em lugar
da menina que tinha sido.
—Porque ele não merece estar sozinho.

E tampouco merecia ela.
Elizabeth piscou ante o resplendor do sorriso da condessa. Um pouco
mais tarde, protestou:
— Está você segura de que isto o agradará?
Com o corpo resplandecente pelos cuidados da Josefa, Elizabeth
colocou uma capa de veludo forrada de cetim com mangas acampanadas.
Pertencia a condessa, que media dez centímetros mais que ela. Por baixo
estava nua.
Subindo à carruagem que a esperava na escuridão sombria, apertou a
capa com cuidado a seu redor para evitar que o lacaio visse mais do que
devia. Quando Lucy, a criada, abriu a porta a Elizabeth na casa georgiana de
Ramiel e insistiu em tirar a capa, ela quase retornou correndo à carruagem da
condessa. Uma dama, qualquer que fossem suas intenções, não visitava um
homem com aquele traje. Especialmente um homem ao qual ela havia
rechaçado de forma tão cortante e que perfeitamente podia ter encontrado
uma dama menos covarde para reconfortá-lo. Mas o lacaio havia voltado
correndo à carruagem, quando Lucy abriu a porta. Segundos depois um
ranger de couro e madeira acompanharam um « Adiante, cavalos!» e
Elizabeth só podia ir para frente.
—Não se preocupe, Lucy. —Elizabeth reteve a capa contra seu corpo com
ambas as mãos. - Lorde Safyr está em casa?
—Encontra-se na biblioteca, senhora.
—Então eu mesma me anunciarei.
—Como gosto, senhora.
Era agora ou nunca.
—Lucy.
— Senhora?
—Por favor, deixe duas garrafas de champanhe na porta da biblioteca.
Lucy tentou evitar que um sorriso cúmplice se estendesse por sua cara,
mas não conseguiu: —Muito bem, senhora.
Os criados de Ramiel eram tão peritos como os de Elizabeth em casa de
Petre. Com a capa de veludo arrastando-se atrás dela, atravessou o corredor
revestido de mogno e madrepérola. E soube que tinha chegado a seu lar.

321

Bateu levemente, com o coração palpitando. De desejo e de temor.
Conscientemente, possivelmente tivesse se negado a pensar em Ramiel, mas
seus sonhos estiveram ocupados por ele e o êxtase que tinham compartilhado.
Seu corpo o aceitara para sempre. Se só...

Uma voz apagada a convidou a entrar.
Tomando o futuro em suas mãos, ela abriu a porta. Antes que ele
pudesse lhe ordenar que partisse, fechou a porta apoiando-se contra a sólida
madeira.
Ramiel estava sentado em sua escrivaninha. E um livro jazia aberto ante
ele. Um fogo piscava e flamejava na lareira de mogno enquanto a chuva caía
sem trégua contra as enormes janelas envidraçadas que davam ao jardim. A
luz do abajur de gás produzia brilhos dourados sobre seu cabelo loiro e
sombras sobre seu escuro rosto.
Seus olhos turquesas examinaram rapidamente sua capa, o cabelo
úmido recolhido cuidadosamente num coque. Seu olhar não era acolhedor.
Nem tampouco revelava desejo.
— O que faz aqui?
As dúvidas de antigamente estalaram com toda sua fúria. Que fazia ali?
Para aplacar suas paixões, porque uma vez experimentada a satisfação sexual
não podia prescindir dela, como um viciado que deseja o ópio?
Ficou rígida e se separou do apoio da porta:
—Vim te oferecer meu agrado.
Um sorriso brusco se apropriou de seus lábios:
— Não deveria perguntar por acaso quais são minhas preferências?
As lágrimas queimavam seus olhos. Queria chorar pela dor que lhe
tinha causado, mas aquele não era o momento de chorar.
—Não posso mudar o passado.
Ramiel inclinou sua cabeça para trás, como se vê-la somente fosse mais
do que podia suportar:
—Eu tampouco posso mudar o passado.
Mas queria fazê-lo.
Uma pulsação palpitou na base de sua garganta ou talvez fosse uma
piscada da chama de gás.
—Nunca me disse o que significa bahebbik.
Sombras escuras fendiam sua face, seus cílios:
—Você não ficou.

322

Não. Tinha lhe pedido que voltasse para casa mesmo depois de que
havia arrojado acusações imperdoáveis e cruéis e ela o havia rechaçado.
Como Lorde Inchcape. Como Rebecca Walters.

Não devia ser assim.
Com as mãos trêmulas, desabotoou os botões da capa. A seda morna
deslizou sobre suas costas, seus ombros e seus braços, deixando-a arrepiada.
O veludo se amontoou a seus pés. E ele ainda não a olhava.
Uma faísca de fúria enfraqueceu sua pele.
—Não posso te seduzir se não me olhar.
Ramiel baixou a cabeça e abriu os olhos.
Elizabeth recordou o relógio de mármore marcando os segundos sobre o
suporte da lareira na casa de sua mãe. Tinha sido muito menos aterrador
enfrentar sua mãe que fazê-lo agora, em pé nua em frente ao homem que uma
vez tinha tremido de paixão por ela, mas que agora a olhava como se fosse
uma estranha. Ou um cavalo para ser vendido num leilão.
Olhos frios e implacáveis calcularam o peso de seus seios, julgaram a
redondez de seus quadris, cravaram-se em seu púbis, tão desprovido de pêlo
como o dia em que havia nascido... A maneira, tinha-lhe assegurado a
condessa, em que todas as mulheres árabes acolhiam seus homens.
Seus olhos turquesas subiram com brutalidade:
— O que acontece se eu não desejar ser seduzido?
Elizabeth enfrentava a possibilidade real de seu rechaço e sabia que não
podia voltar atrás. Tinha o conhecimento e tinha a coragem... Confiou.
Levantou as mãos... O olhar dele descansou em suas axilas, tão
desprovidas de pêlo como seu púbis... Desatou os alfinetes que sujeitavam
seu coque, deixando-os cair sobre o tapete oriental. O cabelo quente e pesado
caiu como uma cascata sobre suas costas, tão familiar como não era seu papel
de sedutora:
—Então conseguirei que queira ser seduzido. - Prometeu com uma confiança
que estava longe de sentir.
Extremamente consciente do balanço de seus seios e do atrito de suas
coxas pressionando lábios que não estavam feitos para serem tão
descaradamente expostos numa mulher inglesa, tirou os sapatos e se
aproximou dele. Rodeou a maciça mesa de mogno e se ajoelhou no chão,
dissimulando uma careta. O tapete estava frio e áspero sob seus joelhos nus.
Ramiel girou em seu assento, com as pernas ligeiramente separadas e os
olhos velados. Suas mãos descansavam sobre os braços da cadeira, com os

323

dedos curvados para encaixar na madeira e não no corpo dela. Um lado de
seu rosto estava em sombra, o outro iluminado pela chama de gás.
— Acaso não sente curiosidade, Elizabeth? Acaso não quer saber a diferença
entre um homem e uma mulher?

Ele estava tentando afugentá-la... Como ela o havia afugentado duas
semanas atrás.
— Diria me isso se assim fosse?

A escuridão brilhou em seus olhos turquesas:
—A irmandade uraniana já não forma parte do plano de estudos de Eton.
—Disse que guardaria o segredo.

Um sorriso frio voltou a curvar seus lábios:
—E assim o fiz. Richard é muito similar a você. Não foge da verdade.
Contou ao decano sua experiência.
—Mas primeiro contou a você. —Feitos que não havia relatado a Elizabeth,
nem tampouco que tinha informado o decano sobre a irmandade. Deu-se
conta de que Ramiel era aquele alguém que tinha feito que «tudo fosse bem»
para seu filho.

Os lábios de Ramiel se endureceram ante a dura traição:
—Ele não ter lhe dito.
—Não o fez. Foi você.
—Não quero seu agradecimento. – Ele disse áspero.
—Sei o que quer, Ramiel. – Ele queria o mesmo que ela. - E eu lhe darei.

Ramiel não podia ocultar o vulto dentro de sua calça.
— O que acredita que quero, Elizabeth?

O que na realidade estava dizendo ele era: O que podia uma mulher
como ela, saber sobre o que um homem como ele podia querer?

Elizabeth respirou fundo e colocou suas mãos sobre as coxas dele. Seus
músculos debaixo do tecido eram duros como uma pedra... Não lhe resultava
tão indiferente como simulava.
—Acredito... Que quer que te desabotoe a calça e tome seu membro em
minhas mãos.

Os músculos de suas mãos se contraíram ante a lembrança imediata:
—A segunda lição.
—A segunda lição. – Recordou, ela. E lutou com seus botões.

Não foi uma luta digna absolutamente... Despir um homem sentado
como uma estátua era tão difícil como vestir um menino de três anos em

324

constante movimento... Mas foi recompensada... Pêlos dourado escuro
povoou a fenda que se abria.

Contendo a respiração, colocou sua mão dentro da calça e
delicadamente tirou o membro grosso de carne viva e palpitante. Ele estava
duro e quente e ocupava as duas mãos dela. Não teve que manusear o
membro viril para que saísse a coroa sensível do extremo do prepúcio.

Elizabeth o observou com as pálpebras baixadas. Uma gota de umidade
perlava a ponta da avultada cabeça morada.
—Acredito que quer que eu tome-o em minha boca, te lamba e te sugue
como um mamilo. —Ela levantou as pálpebras, presa em seu olhar. - Como
fez com meus clitóris.

A quinta lição.
A inspiração de Ramiel encheu o silêncio. Uma brasa crepitou na
lareira. Seu membro, amorosamente cavado nas mãos dela, estirou. Baixando
a cabeça, ela inalou seu aroma de glândulas com um toque de especiarias
orientais, provou sua essência com a ponta de sua língua antes de colocaá-lo
em cheio na boca.
A condessa havia dito que se relaxasse seus músculos, podia tomá-lo
mais profundamente ainda.
Funcionou.
Um gemido grave e gutural rasgou o peito dele, música pura e natural
para seus ouvidos. Esse era o poder da mulher. A maravilha do sexo... Este
era Ramiel.
Ramiel se arqueou dentro do úmido calor de sua boca. O enorme bulbo
de seu membro palpitava no fundo de sua garganta, uma parte dela. Sentiu
uma pulsação semelhante entre suas coxas.
Elizabeth tomou tanto de Ramiel como pôde, tragando-o uma e outra vez,
lambendo-o como se fora um... Faziam as árabes chupetas? Perguntou. E
logo já não se fez mais perguntas, perdida no aroma, o sabor e a suave textura
sedosa dele. Não havia champanhe para atenuar seu sabor. Ele era,
incrivelmente, o mais delicioso que tinha comido jamais.
Quando sentiu que os tremores se apoderavam de seu corpo, Elizabeth o
soltou com uma pequena explosão e não se preocupou de que não fora digno.
O rosto escuro de Ramiel estava ruborizado pela excitação sexual, seus olhos
brilhavam. Aferrou-se aos braços da cadeira de madeira como se estivesse
tomando as rédeas de um cavalo desgovernado.

325

Com os olhos diretamente nos dele, Elizabeth depositou um suave beijo

sobre a coroa palpitante de seu membro.

A pele dos nódulos de Ramiel ficou branca.
—Acredito, —murmurou ela, espalhando deliberadamente seu hálito morno,
— que você quer que tire sua camisa e te mordisque os mamilos.

A terceira lição.
Seduzir um homem era extranhamente erótico. Elizabeth se esqueceu

que tinha estrias nos quadris ou de que Edward lhe havia dito que possuia
úberes.

Ficou em pé e tirou a camisa dele da cintura de sua calça. Os seios de

Elizabeth, pesados e inchados, balançavam ante seu rosto... E se sentia muito
bem nua e sem vergonha. Atirou a escorregadia seda branca até que ele

levantou os braços, participava com reticência de sua própria sedução.

Seus mamilos estavam duros. Como os dela.
Ela tocou brevemente aquela protuberância de carne firme e logo o

tocou. Ele estava ainda mais duro. Sua pele queimava.

De repente, Ramiel arrancou a camisa de seus dedos. Tirou-a de um
puxão e a jogou para um lado. O desafio masculino e a necessidade selvagem

brilhavam em seu olhar.
— Por que faz isto?

Ela não voltaria atrás. Com o Edward, sim, mas nunca com este

homem.
—Pensei que era bastante óbvio. Acaso não quer que eu te mordisque os
mamilos, Ramiel?
—Quero que me diga o que acha que está fazendo.
—Estou seduzindo meu tutor.
— Por que?

Ela não se amedrontou ante seu olhar:
—Porque menti a você quando disse que me arrependia de ter vindo.
— E quando me disse que eu não era tão diferente de seu marido ou seu pai?

Mentiu-me tambem?

Ramiel não tinha nada a ver com Edward.
—Sim.
—Não posso ser o que você quer que eu seja, Elizabeth.

Ajoelhando-se novamente, Elizabeth colocou suas mãos sobre as coxas
dele. Seu calor lhe enfraquecia os dedos: —Mas é. E agora, se não se

importar, acredito que eu gosto bastante de te seduzir.

326

Inclinando para diante, ela lambeu delicadamente o duro casulo de seu
mamilo esquerdo antes de tomá-lo entre os dentes para mordiscá-lo com
suavidade. O coração de Ramiel palpitava contra os lábios dela. O pêlo de
seu peito fazia cócegas em seu queixo. Umedecendo-o com sua língua,
querendo satisfazê-lo, querendo satisfazer a si mesma, querendo terminar
com a dor e a desconfiança, sugou-o sensivelmente como se pudesse se
alimentar dele.

E podia. Enquanto o tocava, ele se converteu no centro de todo seu
mundo. E tudo estava bem.

O calor subiu a sua cabeça através das mãos dele. Um fogo líquido
percorreu seu corpo. Ela manteve suas coxas abertas com suas mãos,
estreitando-se contra o calor acolhedor que surgia do centro de suas pernas,
até que a úmida coroa do membro palpitou contra seu estômago enquanto
continuava mordiscando seu mamilo, cada vez mais endurecido e ele enredou
suas mãos em seu cabelo puxando sua cabeça para trás. Ramiel contemplou
seus lábios, inchados de sugá-lo. Seus seios, inchados por desejá-lo.
— Que mais acredita que posso desejar? —A voz dele soou escura.
—Acredito que quer que me sente em seu colo, “dok o arz”, para que o tome
em meu corpo tão intensamente que nosso pêlo púbico se entrelace. Tão
profundamente que não possa sair, sequer um centímetro. Acredito que quer
que eu o segure tão forte que seus testículos sofram por se liberar e que a
única coisa que possa investir em meu interior seja sua língua, enquanto
encosta sua pélvis contra a minha.

Os orifícios nasais de Ramiel se abriram:
—Você não tem pêlo púbico.

Elizabeth se deu conta brusca e angustiosamente de que ele estava ainda
vestido com a calça e ela estava nua, de roupa e de pêlo púbico. Mostrara-se
tão decidida a lhe agradar como uma mulher do Oriente, que se esqueceu de
uma simples regra básica da quarta lição. Ele havia dito especificamente que
queria que o pêlo púbico de uma mulher se misturasse com o dele.

Ficou tensa. O que a tinha levado a pensar e acreditar que uma mulher
como ela, uma mulher que não estava na flor da vida pudesse seduzir um
homem como Ramiel?
—Me perdoe.
— Desejas se casar comigo?

Ela tinha esquecido... Tantas coisas.
—Muhamed não concordaria.

327

Os dedos de Ramiel se apertaram em seu cabelo, sem lhe causar dor,
mas sem serem exatamente suaves.
—Muhamed partiu.

Ela nunca quisera se interpor entre os dois.
— Ele voltará?
—Talvez. Foi a Cornualles ver sua família. —A solidão ressoou na voz de
Ramiel. Havia perdido o último vestígio de um país que o exilara. -
Possivelmente encontre por lá alguma forma de paz. Desejas se casar
comigo?

Casar... Com o Sheik Bastardo.
—Será uma honra.

Um forte rangido de madeira estalou no ar e de repente Elizabeth subiu
em seus joelhos, enquanto o úmido calor dela penetrava no tecido da calça.
Aferrou-se em seus ombros.
—Levante suas pernas e as coloque sobre os braços da cadeira.

Elizabeth fechou suas pálpebras para evitar a luz que resplandecia em
seus formosos olhos turquesas.
—Não funcionará, Ramiel.

Frieza.
Elizabeth nunca havia pensado que o calor poderia se converter em gelo
entre um batimento do coração e outro. Apesar de seus braços seguirem
segurando-a com firmeza, pôde sentir como ele retrocedia.
— Por que não, Elizabeth?
Ela se obrigou a abrir os olhos e enfrentar a verdade:
—Os braços de uma cadeira não sãodesenhados para acomodar as pernas de
uma mulher.
A risada brilhou em seus olhos. Sem prévio aviso, Ramiel tomou sua
coxa direita e a elevou, enganchando-a sobre o braço da cadeira. Ela afundou
as unhas em seu ombro.
Uma mulher não nascera para estar sentada nessa posição. Era
incômoda. A madeira cravava em sua suave carne. Forçava os lábios de sua
vulva nua a se abrir de modo que nada ficava oculto.
—Ramiel...
Seus olhos turquesas esperaram, o riso havia desaparecido.
Elizabeth respirou fundo. E levantou sua perna esquerda sobre o
obstáculo de madeira. Estava totalmente aberta, totalmente exposta a seu

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olhar. A longitude de seu membro viril se encontrava entre ambos com sua
coroa apontando para a brilhante vulva rosada.

Afastou o olhar da sedutora perspectiva da paixão de um homem e uma
mulher e encontrou o dele.
—Quero que bata a minha porta. —A voz dela tremia com a força de seu
desejo. - E quando o tiver em meu interior quero que saiba que te aceito por
ser quem e o que é.
— Está segura disso, Elizabeth? —O abajur de gás flamejou, destacando o
nítido relevo do lado direito de sua face.
—Sim, estou. - Disse firmemente. - E você demonstrará que confia em mim
deixando-me que o coloque em meu interior.

A umidade transbordava de seu corpo aberto. Ele olhou para baixo e ela
não teve que segui-lo para saber o que ele via. Sua carne, seu desejo. A
escuridão pareceu envolver de repente ambos os lados de sua face.
—Então, me deixe bater, Taliba.

Antes que ela pudesse adivinhar sua intenção, ele segurou suas nádegas
e a elevou para cima e para dentro até que seus seios ficaram pressionados
sobre a parede ardente de seu peito e seu membro jazia diretamente sob ela.
O ar frio invadiu a carne que não estava feita para ser invadida,
assemelhando-se ao frio que percorria seus pés suspensos.

Mordendo o lábio, ela soltou seu ombro direito e conseguiu introduzir
sua mão entre os dois. Ramiel fez rilhar seus dentes quando os dedos de
Elizabeth se situaram ao redor do calor eletrizante dele. Afundando sua face
no áspero paraíso de seu pescoço, guiou a cabeça com forma de ameixa para
sua entrada úmida e vulnerável para a carne dele, dura e imóvel. Ela apertou
e empurrou até que sentiu dor e soube que ele também devia sentir dor
sustentando-a ali encima. Os braços dele estavam tensos pelo esforço.
Tremiam ou talvez fosse ela que tremia, colocada sobre o membro de uma
nova vida.

Levantando a cabeça, contemplou os olhos turquesas, a poucos
centímetros dos seus e toda resistência desapareceu de seu corpo. Abriu-se e
o tragou em quente acolhida e sim, foi um momento de união. O ar estalou
em seus pulmões.
— Iria a Arábia comigo?

Os músculos dela se convulsionaram protestando, desejando.
— Para viver?

A condessa havia dito que as mulheres valiam menos que um cavalo.

329

—Possivelmente.
—Mas meus filhos...
—Podem nos acompanhar.

Temor. Incerteza. Dele. Dela. De ambos.
—Sim. Iria a Arábia contigo. Phillip disse que queria ser um gênio.

O calor que flamejou em seus olhos quase a deixa cega.
—Ficará muito sensível agora que não tem pêlo para te proteger.

Ela tragou ar.
— É um impedimento?

Seu sorriso foi uma promessa sexual: —Não para mim. – Ele sussurrou.
E lenta, inexoravelmente, a fez descer sobre ele, cada vez mais, até que
o pêlo púbico aninhou em seus clitóris e um botão se enterrou em suas
nádegas.
Ela havia se esquecido do quanto e profundamente pode um homem
ocupar uma mulher. Ou de quão vulnerável era a carne de uma mulher.
Elizabeth respirou com dificuldade, esquecendo-se do botão, e
afundando as unhas em seus ombros enquanto seu corpo se contraía para
impedir uma invasão ainda maior, mas houve mais. Ele deu-lhe sua
respiração, logo tomou a dela quando pendurou seus braços sob suas coxas
estiradas e as elevou mais acima, mais abertas, empurrando os últimos dois
centímetros dentro dela, para poder encontrar o lugar especial de ambos e ela
o tomou.
—Não quis fazer. – Ofegou, ele.
Ela ofegou com ele quando o sentiu em seu interior, presa entre o prazer
e a dor.
-O que?
—Meu meio-irmão. Não me dava conta do quanto havia ficado enciumado
com minha relação com o Sheik. Quando eu... Comprei algo que ele queria...
Entrou às escondidas em meus aposentos enquanto eu dormia... E...
Manuseou-me. Quando despertei, seus eunucos me sustentavam à força
enquanto ele me violava. Matei-o.
Há um mês ela ficaria emocionada, horrorizada. Agora só sentia
compaixão pela dor que ele devia ter padecido.
—Não contou a seu pai.
—Não.
Mas havia contado a ela. Confiança implícita.

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A repugnância que sentia por si mesmo ofuscou a paixão em seus olhos

turquesas:
—Quando a gente dorme, Elizabeth, as carícias de um homem são tão

prazeirosas como as de uma mulher.
—Mas não sentiu nenhum prazer ao despertar.
—Não. —Emoções que ela não podia sequer começar a imaginar ressoaram

dentro daquela simples palavra.

Elizabeth inclinou-se à frente até encontrá-lo.
—Hoje inscrevi a Richard e a Phillip em Harrow. Antes de partir, Richard ele

me disse: Amo-te, mamãe. Por favor, não se culpe pelo que aconteceu. Eu

não o faço. Amo você, Ramiel. Por favor, não se culpe pelo que aconteceu.
Eu não o faço. —Inclinando a cabeça, roçou sua face com a língua, provando
suas lágrimas. – Deixe-me te ajudar a ficar bem. Deixe-me te amar.

Ramiel baixou a cabeça e capturou o fôlego dela em sua boca, logo lhe

deu o seu, quando pressionou sua pélvis contra a dela com o corpo investindo
e a língua dançando. “Dok o arz”, ventre contra ventre, boca contra boca, os

desejos dela, os desejos dele, eram um só.

Ele se moveu dentro dela, dok, até que os dois estiveram escorregadios

de sexo, de suor e o orgasmo dela explodiu dentro de seu corpo enquanto as

palavras estalavam em sua boca.
—Amo-te.

Elizabeth levantou a cabeça, abrindo os olhos:
— O que?
—Bahebbik. Amo-te.

Não.

Não choraria.
— Como diz uma mulher em... Árabe?
—Bahebbak.
—Bahebbak, Ramiel.

E logo, antes de perder a razão em meio a sacudidas e estremecimentos,

perguntou:

- Há uma palavra em árabe para chupeta?

FIM

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NOTA DA AUTORA

A primeira edição inglesa de “O Jardim Perfumado” se publicou em
1886 numa série de pequenos volúmenes. Nela não se mencionava o nome do
tradutor, que era, é obvio, sir Richard Burton. Tampouco figurava seu nome
na segunda edição, aparecida esse mesmo ano na que os sucessivos tomos se
agrupavam num só volume.

É desta segunda edição de onde tirei as entrevistas que figuram em
minha novela. Tomei-me a licença de que, embora O tutor começa em
fevereiro de 1886, o protagonista ensina um exemplar da segunda edição A
sua aluna para que lhe sirva de manual para aprender a arte de dar prazer A
um homem. Entretanto, como já apontei, esta edição apareceu esse mesmo
ano mais tarde.

Quero ressaltar que todos os nomes árabes das genitálias ou referidos ao
ato sexual foram todados exclusivamente de “O Jardim Perfumado”. Como
este tratado erótico tem uma Antigüidade de quatro séculos, alguns nomes ou
expressões podem ter se tornado obsoletos.

Na Inglaterra, as Leis de Enfermidades Contagiosas foram revogadas
em 1886, devido em boa medida Às campanhas do Josephine Butler. Por
incompreensível que agora possa parecemos, um dos principais pontos nos
que a senhora Butler fundamentava seu protesto era que, A seu parecer, a
inspeção (vaginal) obrigatória das prostitutas para determinar se padeciam
alguma enfermidade de transmissão sexual era lhe denigra para as mulheres.

Também existia uma sociedade de poetas menores que se denominavam
«uranianos» e que praticavam a pederastia. Não se sabe com certeza se seus
membros estudaram em Eton.

Qualquer inexatidão na descrição da época vitoriana é unicamente
minha responsabilidade. Fiz quanto esteve em minha mão para as evitar.

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ROBIN SCHONE é uma das autoras de novelas eróticas mais famosas
do momento. Manderley publicará outros dois seus livros ao longo de 2007.
www.robinschone.com

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