The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.
Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by sara.acasio, 2017-09-11 12:09:44

O Tutor

O Tutor

Jamais tinha imaginado... Que podia haver tanta variedade num ato ao
que se referiram toda sua vida como «o dever de uma mulher para o
homem». Enumerava tudo, qualquer posição em que podiam realizar o coito
entre um homem e uma mulher. “Lebeuss o djoureb”. Um homem sentado
entre as pernas estendidas da mulher e esfregando seu membro contra sua
vulva até que ela se umedecia pelo atrito e as penetrações pouco profundas
que se alternavam. “O kebachi”, uma mulher ajoelhada sobre suas mãos e
joelhos como as feras. “O dok o arz”, ventre contra ventre, boca contra boca.

Deitados sobre as costas, o ventre, os flancos, parados, estava tudo ali,
de forma detalhada, como o livro de texto de uma criança. As posturas e os
movimentos mútuos de um homem e uma mulher uma vez que havia
penetração... “Quem busca o prazer que uma mulher pode dar, deve satisfazer
seu desejo amoroso de ardentes carícias, como se descreve. A verá
desfalecendo de ardor, a vulva úmida, o ventre estirado para diante e os dois
espermas unidos”.

Sentindo-se como uma drogada, Elizabeth afastou o olhar do último
parágrafo e contemplou a pluma entre seus dedos, comparando-a
involuntariamente com a descrição que fazia o Sheik, do membro de um
homem, «grande como o braço de uma virgem... Com uma cabeça redonda...
Medindo uma largura e meia de comprimento».

A prática pluma de bronze não era nem remotamente tão grossa como a
preciosa pluma de ouro do Sheik Bastardo. Durante um momento que
pareceu eterno, pensou em como poderia usar para aliviar o desejo úmido e a
carne vazia. Com repugnância, atirou a pluma de bronze longe. Dormir.
Tinha passado por um calvário e dormir devolveria o controle que tanto
necessitava. Apagou o abajur de gás e se inundou sob a colcha contra a bolsa
de gelo. Mas o gelo se derreteu e o rítmico batimento do coração dentro de
seu corpo seguia. Voltou-se e tentou girar os quadris. Os batimentos
amortecidos entre suas pernas se aguçaram, tornaram-se mais profundos.

Essa tarde poderia ter morrido... Por que Edward não se ficara com ela,
para reconfortá-la? Por que havia ido em busca de sua amante quando ela
desejava que estivesse ali? “Se um homem sentir rechaço pela sexualidade de
uma mulher, Taliba, então não é um homem”. Seus quadris se empurraram e
se esfregaram como se tivesse vontade própria contra o colchão. “Siga,
Taliba”.

O colchão se transformou num homem que respondia ao ulular de seus
quadris investindo dentro de seu corpo até que sua vulva úmida e seu ventre

101

se inclinavam para diante. “O amor é uma árdua tarefa”. Elizabeth se
esfregou mais rápido e mais forte, desejando necessitando... Que seus
mamilos fossem sugados e mordidos, que um homem elevasse suas pernas
por cima de seus ombros, investindo-a tão profundamente, que seu ventre se
contraísse ao redor do membro viril.

Uma suave explosão interior fez com que as lágrimas brotassem em
seus olhos. Enterrou o rosto no travesseiro. Como podia enfrentar ao Sheik
Bastardo sabendo o que agora sabia?

CAPÍTULO IX

Elizabeth fixou o olhar no escuro brilho do mogno e na fumaça quente
que subia da pequena xícara de delicadas nervuras azuladas. Algo como não
olhar aqueles olhos que sabiam tudo.
—Você praticou o giro em pélvis contra o colchão.

Não era uma pergunta.
Elizabeth inclinou sua xícara e bebeu de um gole, o amargo café. O
líquido fervente que deslizou por sua garganta não serviu para rebater o fogo
abrasador que acendia em seu rosto. Deixou a xícara vazia sobre o pires e
com cuidadosa precisão o colocou sobre a sólida mesa. Com determinação,
elevou a cabeça e se encontrou com seu olhar.
—Sim, fiz.
Os olhos do Sheik Bastardo brilhavam a luz do abajur de gás.
—O prazer é muito maior quando uma mulher está com um homem.
Ela se negou a sucumbir ante sua vergonha. - Como sabe, Lorde
Safyre?
—Porque o prazer é muito maior quando um homem está com uma mulher.
—Então os homens também praticam rodando os quadris contra o colchão?
—Perguntou de maneira cortês.
—Não, Taliba. Os homens praticam com suas mãos
Ela ficou sem fôlego. Era inconcebível que ele estivesse sugerindo o
que ela pensava. Parecia-lhe inaudito que um homem como ele tivesse
necessidade de...
— Você o faz?
A pergunta escapou antes de poder conter.

102

Ele não fingiu a interpretar errado.
—Sim.
— Por que?
—Solidão. Necessidade. Todos queremos ser tocados, embora seja por nossa
própria mão.
—Mas você pode ter todas as mulheres que deseja, a qualquer momento. Não
precisa depender de... —Suas mandíbulas se fecharam com força.
—Recorde o que lhe disse, Taliba. – Ele murmurou com suavidade. - Aqui,
em minha casa, você pode dizer o que quiser.

Elizabeth já tinha falado muito. Mas, em lugar de se retorcer de
vergonha, sentia extranhamente liberada. Aquele homem sabia mais a
respeito dela que qualquer outra pessoa... E não a julgava por conhecer suas
necessidades. Provavelmente inclusive as compartilhasse, querendo tocar, ser
tocado... Impossível. Uma mulher como ela não tinha nada em comum com
um homem como ele. Se ela queria alguma coisa, analisava-o. Se ele queria,
pegava-o.
Elizabeth trocou de assunto, para o mais inofensivo do capítulo seis.
—O Sheik dá grande importância ao beijo.
—Ferame.
— Desculpe?
—O Sheik dá grande importância a um tipo específico de beijo, senhora
Petre. O beijo para excitar um homem ou uma mulher se chama, ferame.

O beijo no qual se usavam a língua e os dentes.
—Custa-me acreditar que um homem morda a língua de uma mulher, Lorde
Safyre. – Ela disse de maneira contida.

Mas podia imaginar.
Sombras desiguais atravessavam sua face.
—A língua de uma mulher é como um mamilo, pode mordiscar e sugar. Sua
boca é como a vulva, para ser lambida e penetrada. Alguma vez teve a língua
de um homem em sua boca?
Um relâmpago estalou entre as coxas de Elizabeth. Imaginou a face
morena de Ramiel inclinando-se para a dela, beijando, lambendo e
penetrando sua boca com a língua. Imediatamente, a imagem foi substituída
por sua face morena colocada entre suas pernas, beijando, lambendo e
penetrando sua vulva com sua língua.

103

Era uma visão fascinante. Estremecedora. Provocou que sua respiração se
acelerasse e seu coração se lançasse no galope. Edward era um homem
suscetível. Não realizaria tal ato nem com uma amante jovem e formosa.
— Alguma vez teve a língua de uma mulher em sua boca?
— Você está evitando a questão, senhora Petre? – Ramiel perguntou,
languidamente.
—Sim. – Ela respirou fundo. - Não, jamais tive a língua de um homem em
minha boca. - Nem em nenhum outro... – Você está evitando minha
pergunta?
- Você já conhece a resposta.

Sim, conhecia a resposta. Provavelmente tinha tido línguas em sua
boca, que sua cozinheira tinha preparado para o jantar. Estudou as luzes e
sombras que marcavam as altas maçãs do rosto e seu nariz, tentando evitar
seus olhos e o magnetismo erótico de seus lábios.
—Se um homem fosse suscetível... E reticente a usar este tipo de beijo, como
recomenda que uma mulher... Aborde o assunto?
—Fazendo isto. —O Sheik Bastardo levantou um longo e experiente dedo e
tocou o canto de sua própria boca.

Os lábios de Elizabeth responderam com um tremor. Umedeceu-os. —
Quer dizer tocar sua boca? Mas onde?
—Toque, senhora Petre.
—Prefiro que você me mostre em que lugar seus lábios são mais sensíveis,
Lorde Safyre.
—Isto é um experimento, senhora Petre. Há um motivo pelo qual lhe sugiro
que faça isto.
—Então, se for um experimento, talvez seja eu quem deva explorar seus
lábios.

O abajur de gás piscou e flamejou vivamente.
Ela não podia acreditar no que acabava de dizer e que seguia, soando
em seus ouvidos.
Ele semicerrou os olhos, como se tampouco pudesse acreditar no que
tinha ouvido.
Um repentino rangido de madeira rasgou o silêncio. Elizabeth desviou o
olhar dos olhos turquesas para um botão de marfim. Ele rodeou a mesa com
passos silenciosos, enquanto ela continuava olhando fixamente o lugar onde,
se não fosse por aquele arrebatamento, ele seguiria sentado.

104

Ramiel se colocou diante dela, bloqueando a luz do abajur. Elizabeth
podia sentir o roçar de sua calça marrons de camurça contra o vestido de
veludo cinza escuro que cobria seus joelhos. O tecido que cobria seu sexo
estava avultado, como se estivesse estirada sobre algo muito grande e muito
duro.

Elizabeth jogou a cabeça para trás. A luz que resplandecia atrás do
Sheik Bastardo delineava seu cabelo como se tivesse um halo de ouro
brilhante sobre sua cabeça. Lúcifer, momentos antes da queda.
—Estou a seu dispor, Taliba.

Sinos de alarme chocaram e repicaram dentro de sua cabeça.
Jamais tinha visto um homem e queria vê-lo. Jamais tinha beijado um homem
e também queria beijá-lo.
—Você prometeu que não me tocaria. —Quase não podia reconhecer sua
própria voz.
—Nesta sala, sim.

Sua voz era perfeitamente reconhecível.
Elizabeth recordou o pânico que havia sentido algumas horas antes,
frente a um homem que tinha ameaçado mata-la com um revólver. Também
se lembrou do medo que tinha passado quando atravessava as ruas de
Londres, tropeçando a cada instante com as luzes. Rememorou igualmente o
temor que havia sentido desafiando seu marido depois de que tivesse
chamado o delegado porque lhe tinha causado um desconforto.
Não queria morrer sem tocar alguém que não fosse a si mesmo.
Empurrando para trás a cadeira de pele, se levantou. Sua cabeça chegava ao
ombro de Ramiel. Ele estava muito perto. Podia sentir o calor de seu corpo e
quase o batimento de seu coração.
—Você... Você é muito alto.
Imediatamente ele se apoiou na beirada da mesa.
Seus olhos alcançaram quase a mesma altura que os dela e seu olhar
permaneceu imperturbável. Seus joelhos estavam abertos de modo que
Elizabeth podia dar um passo e ficar entre eles... Se se atrevia.
E ela se atreveu.
O espaço entre suas pernas emanava calor. Elizabeth observou sua
boca, agradecida de ter uma desculpa para escapar a intensidade de seus
olhos. Jamais tinha examinado os lábios de um homem. Nunca se tinha dado
conta do quanto se assemelhavam a uma obra de escultura, como se
estivessem cinzelados na carne, o lábio superior marcado e pequeno, o

105

inferior mais carnudo e suave. Lentamente e vacilando, estendeu um dedo e
tocou o lábio inferior, sensualmente arredondado.
Uma descarga elétrica percorreu seu corpo.

Ramiel jogou a cabeça para trás. Rapidamente, ela retirou sua mão.
—Sinto muito. Sinto-o muito. Não queria...
—Não me machucou, Taliba. —Sua respiração cheirava a café e a açúcar.
Aromas familiares, quentes e exóticos, como ele mesmo. Uma mecha de
cabelo loiro como o trigo caiu sobre sua testa. - Os lábios de um homem são
tão sensíveis como os de uma mulher.
—Mas se forem tão sensíveis, —tentou que sua respiração fosse regular, mas
não conseguiu. - Como podem duas pessoas suportar seus beijos mútuos?

O rosto escuro se tranqüilizou. O halo dourado que iluminava seu
cabelo ardia e minguava de maneira alternativa.
—Seu marido jamais a beijou. – Ele disse sem inflexão em sua voz.

Elizabeth mordeu o lábio inferior, tentando manter a relação com seu
marido em segredo. O que pensaria o Sheik Bastardo se soubesse que
Edward tinha tido nem o mínimo desejo de beijá-la?
Nem valsa, nem sexo e nem beijos. Nem união.
—A verdade, senhora Petre.

Já não sabia o que era a verdade. Elevou seu queixo.
— Uma vez. Beijou-me quando o pastor nos declarou marido e mulher.

A brincadeira que esperava não chegou.
—Passe a língua pelos lábios.
-O que?
—O propósito de um beijo é o mesmo que o do coito, provocar umidade para
que os lábios se movam com maior fluidez sem irritar, assim como as carícias
do homem estimulam a umidade na vulva de uma mulher, para que seu
membro possa entrar e sair mais facilmente de seu corpo.

Elizabeth não estava úmida quande Edward a levara até sua cama.
Os longos e escuros cílios do Sheik Bastardo se agrupavam. Ela se
concentrou nisso em vez de pensar no úmido calor que estava acumulando
entre suas coxas.
— É doloroso para um homem que uma mulher não esteja... Úmida?
—Sim, embora talvez não seja tão doloroso para o homem como para a
mulher. Uma vagina pode danificar facilmente, como um pedaço de fruta
amadurecida. Deve-se tomar cuidado ao possuí-la, acariciá-la...

106

Instintivamente, Elizabeth passou a língua pelos lábios, com sua saliva
quente e fluída.

Os olhos de Ramiel brilhavam de satisfação.
—Agora, toque os lábios... Passe seu dedo por deles... Com suavidade.

Os lábios de Elizabeth estavam úmidos e brilhantes. As delicadas
malhas dentro de sua boca pulsavam ao ritmo da pulsação que palpitava na
ponta de seu dedo. Olhou fixamente os olhos, azuis ou verdes. Quanto mais
olhava em seu interior, melhor podia distinguir diminutas faíscas de distintas
cores.
—Passe se a língua pelo dedo.

Obedeceu-lhe sem vacilar.
- Agora toque meus lábios.

Lenta, muito lentamente, ela voltou a estender seu dedo. Desta vez a
sensação foi menos elétrica, mais sensual, como se tocasse seda molhada. O
calor subiu a superfície, estimulado pela tersura escorregadia de seu dedo.
—Seu lábio superior não é tão sensível como o inferior. —Sua voz era
apagada. - Acontece o mesmo em todos os homens?
—Talvez. —Sua voz soou quente e úmida, abrasando todo seu dedo.

Ela elevou sua mão esquerda e tocou seu próprio lábio superior
enquanto tocava o dele, deslizando e acariciando os cantos. O lábio de
Ramiel tremeu e o dela também, sensíveis. Jamais tinha pensado que os
lábios podiam ser tão sensíveis.

Com curiosidade, tentando controlar a respiração, explorou a face
interna da boca dele. Nunca havia sentido algo tão suave ou terso. Ao mesmo
tempo, examinou a beirada interior de sua própria boca, perdida na sensação,
na textura das peles, no calor espinhoso que percorria seus lábios e as pontas
de seus...

Um calor molhado brotou de repente entre suas pernas e com a ponta de
seu dedo roçou a língua dele.

Retirou a mão com força. O que estava fazendo?
— Homens e mulheres beijam do mesmo modo? — Perguntou bruscamente,
fechando suas mãos e colocando-as dos lados de seu corpo. Ele tinha
prometido não tocá-la. Talvez ele devesse ter exigido o mesmo de Elizabeth.
- Quero dizer... Existem coisas que um homem pode fazer e uma mulher não
e viceversa?
—Essa é a beleza do sexo, senhora Petre. Um homem e uma mulher são
livres de fazer tudo que dê prazer um ao outro.

107

Seus lábios brilhavam com a saliva. Pareciam inchados, como se
Elizabeth os tivesse machucado. Eva maltratando o fruto proibido. Elizabeth
deu um passo para trás e tropeçou com a cadeira de couro, que saiu disparada
para trás.

Mortificada, segurou rapidamente suas luvas e sua bolsa, que tinham
caído no tapete.
—Por favor, desculpe-me. Parece que hoje estou especialmente torpe.
Deveria voltar para casa...

A sombra do Sheik Bastardo se projetou atrás dela. Algo tocou a parte
de atrás de suas pernas... A cadeira.
—Sente-se, senhora Petre.

Elizabeth se sentou e um ruído opaco e desgracioso soou pelo efeito do
roçar do couro e suas anquinhas.

Como se não tivesse acontecido nada indecoroso, Ramiel voltou para
sua posição atrás da mesa de mogno.
—O Sheik descreve quarenta posturas favoráveis ao ato do coito.
—Sim. —Podia sentir os batimentos de seu coração... Em seus lábios, entre
suas pernas, em seus mamilos.
— Você tomou nota?
—Não. —Estivera muito ocupada lendo e palpitando de desejo.

Ramiel abriu a gaveta superiora da mesa e tirou a pluma de ouro. Não
teve mais opção que agarrá-la... E recordar como tinha comparado sua
própria pluma com a dele. E como tinha desejado aquele pequeno consolo.

O Sheik Bastardo empurrou uma grossa pilha de papel branco sobre a
mesa, reluzente como um espelho, junto com o tinteiro de bronze.
—Tome notas, senhora Petre.

Em outro momento ela se ofenderia ante aquela ordem, mas agora
estava agradecida de ter outra coisa em que se ocupar que não fossem os
batimentos do coração e de desejo que percorriam todo seu corpo.
—A menos que a gente tenha afeição pela acrobacia, só há seis posturas que
um homem e uma mulher podem empregar. Uma mulher pode deitar sobre
suas costas com suas pernas levantadas vários níveis ou não. Pode deitar de
lado. Pode deitar sobre o estômago ou ajoelhar com as nádegas para o alto...

Nádegas para o alto... Como os animais.
—Ela pode estar em pé, pode sentar e o homem pode deitar de costas ou se
sentar também.

Ventre com ventre, boca com boca.

108

Ela apertou a grossa pluma de ouro entre seus dedos e olhou para a tinta
negra que deslizava pelo branco papel.
— Qual é a posição mais cômoda para um homem?
—Se um homem está cansado, preferirá deitar sobre suas costas e deixar que
a mulher monte sobre seus quadris.

“Rekeud o air, a carreira do membro”, como se o homem fosse um
corcel.

Tentou imaginar Edward recostado enquanto ela montava sobre ele... E
não pôde.
— Você já possuiu uma mulher em todas as posturas, Lorde Safyre?
— Nas quarenta, senhora Petre.

As quarenta posturas vibraram nas profundezas de seu corpo. Como se
tivesse vida própria, a ponta de metal rabiscava uma linha escura de palavras
sobre o papel.
— Qual é sua posição favorita?

Um súbito suspiro se ouviu acima do batimento do coração de
Elizabeth. Não sabia se provinha dele... Ou dela.
—Sou partidário de várias. —A voz do Sheik Bastardo se tornou mais
profunda. - Minhas posturas favoritas são aquelas nas quais posso tocar os
seios e a vulva de uma mulher. ,

Beijando. Chupando. Lambendo. Tocando. Possuindo.
— E a que menos gosta?
—Aquela que não satisfaça a mulher.

Elizabeth elevou a cabeça súbitamente. - Por que não teria que ficar
satisfeita uma mulher com você?

O Sheik Bastardo jogou a cabeça para trás e fixou o olhar no teto, como
se não pudesse suportar vê-la. Por que não teria que ficar satisfeita uma
mulher com você ressoou dentro de sua cabeça?

Elizabeth endireitou as costas sem a ajuda do espartilho. Que mulher
tola e impudica ele devia considerá-la!
—Talvez a penetre muito profundamente. —As duras palavras foram
dirigidas ao teto—. Ou talvez não a invista com suficiente profundidade.
Uma mulher que não está acostumada ao jogo sexual ou qual se absteve
durante algum tempo, sentirá dor se elevar suas pernas sobre meus ombros.

Elizabeth se esqueceu de tomar notas. Esqueceu-se de que ele era um
bastardo e ela a esposa do ministro da Economia e Fazenda. esqueceu de tudo

109

exceto do fato de que ele era um homem que estava compartilhando com ela

suas reflexões mais íntimas.

Baixou a cabeça. Em seu rosto se formou uma composição de luzes e

sombras.
—Por outro lado, uma mulher que deu a luz A dois filhos requererá uma

maior penetração para obter o climax. Sentirá prazer quando pressionar e

impulsionar contra seu ventre, golpeando para entrar. Não lhe importará que

eu seja um bastardo árabe. Só alcançará verdadeira satisfação sob minhas

carícias.

Elizabeth tinha dado A luz A dois filhos.

Evidentemente, a fumaça da madeira e os gases do abajur lhe tinham

nublado a mente. Um homem como ele não teria interesse numa mulher

como ela.
—Por que partiu da Arábia, Lorde Safyre?

As nítidas linhas de seu rosto se endureceram
—Porque fui um covarde, senhora Petre.

Elizabeth tinha ouvido muitos rumores sobre o Sheik Bastardo, mas a

covardia não estava entre eles.
—Não acredito.

Ele ignorou sua resistência em acreditar.
—Você não é uma mulher covarde. Você não fugiu da dor da traição. Você

está tomando o controle de sua vida. Eu não o fiz.

Um Sheik bastardo não devia sentir tanta dor.
—Você teve a coragem de deixar a Arábia e começar uma nova vida.
—Não saí da Arábia. Meu pai me desterrou.

Elizabeth jamais tinha visto tanto abatimento nos olhos de um homem.
—O mais seguro é que você não lhe entendesse bem.
—Asseguro-lhe, senhora Petre, que não houve nenhum mal-entendido.
— Como sabe? Alguma vez voltou...?
—Jamais voltarei.

Mas desejava. Podia ver em seus olhos, sentir como ressoava em seu

corpo.
—Você não é um covarde. - Repetiu ela com firmeza.

Um sorriso iluminou seu rosto, apagando as sombras, enchendo-o de

luz.
—Talvez não o seja, senhora Petre. Ao menos, não neste momento.
— São formosas as mulheres do harém?

110

—Eu estava acostumado a acreditar que sim.
— Como elas desfrutam?
—Com o que o homem desfrute.

Não podia ser. —Acaso não têm preferências pessoais?
—Como você, senhora Petre, seu principal interesse é satisfazer... A um

homem.

Dava a impressão de que a idéia lhe resultava intolerável. Se um

homem como o Sheik Bastardo não podia ser seduzido por seu próprio

desejo, como poderia tentar a seu marido alguma vez?
— Acaso não é isso o que quer um homem...? Que uma mulher coloque o

desejo masculino antes do seu próprio?
—Alguns homens. Às vezes.
— Não é isso o que você deseja?
—Direi-lhe o que desejo, Taliba. – Ele dsse com voz rouca.

Ela tinha ido muito longe.
—Já me há disse o que você deseja, Lorde Safyre. Uma mulher.
—Uma mulher quente, úmida e voluptuosa, que não tenha medo de sua

sexualidade e nem vergonha de satisfazer suas necessidades.

Inclinando-se, ela colocou a pluma de ouro sobre a fria madeira da

mesa... Mas ele a segurou de entre seus dedos. O Sheik Bastardo se tornou

para diante na cadeira, com a pluma estirada entre suas duas mãos

brandamente morenas. Doze centímetros de ouro puro.

Elizabeth voltou a se endireitar, mas foi muito tarde. Seus olhos se

encontraram com os de Ramiel.
—O Sheik escreve a respeito de seis movimentos que um homem e uma
mulher praticam durante o coito. O sexto movimento se chama “tachik o
heub, encerrar o amor”. O Sheik assegura que é o melhor para uma mulher...

Mas é difícil de obter. Um homem deve investir com seu membro tão

profundamente dentro do corpo dela que o pêlo púbico de ambos se unem.

Ele não pode sair nem um centímetro, sequer quando a mulher o segura mais

forte que com um punho e seus testículos sofrem por se liberar. O único

membro que pode introduzir é sua língua dentro e fora de sua boca, enquanto
esmaga sua pélvis contra a dela. “Dok”. Comprimindo repetidamente contra

seus clitóris até que ela alcança o climax uma e outra vez

Da mesma forma que ela tinha apertado sua pélvis contra o colchão.

Um líquido quente umedeceu suas coxas. Ela observou, fascinada, como ele

fechava o punho da mão esquerda e deslizava a pluma dentro de um

111

envoltório formado por seus dedos até que só sobressaía entre sua pele escura
a ponta dourada arredondada.

Ela a viu lhe examinando. Elizabeth sabia que ele se dera conta e,
entretanto, não podia olhar para outro lado.
—Ao permitir que a mulher alcance o orgasmo, — ele rodou a pluma de ouro
em círculos dentro de seu punho, - propício que ela faça o mesmo comigo.
— Alguma vez realizou este... — Ela soava como se tivesse subido as
escadas correndo. – O sexto movimento?

O grosso cilindro de ouro deslizou fora de seus dedos, lentamente,
centímetro a centímetro, como se a vagina da mulher estivesse lutando por
atraí-lo novamente em seu interior.

Elizabeth apertou suas coxas com força, sentindo a atração no mais
íntimo de sua própria carne.
— Alguma vez viu um homem, senhora Petre?

Elizabeth afastou seu olhar bruscamente do ímã da pluma de ouro. Seus
olhos estavam esperando os dela, quentes e brilhantes, sabendo exatamente o
que estava fazendo-a sentir.
—Não.
— Gostaria de fazê-lo?

O oxigênio do salão não foi suficiente para encher seus pulmões.
Qual era exatamente sua pergunta? Gostaria de ver um homem? Ou
gostaria de vê-lo?
Elizabeth passou a língua pelos lábios. Ele também se deu conta disso.
—Sim, Lorde Safyre, eu gostaria de ver um homem.
Ramiel ficou em pé.
O olhar de Elizabeth pousou no centro de suas coxas. A calça de
camurça marrom estava armada, como se dentro se erigisse uma carpa de
circo.
Aproximou-se um pouco mais...
—É hora de partir, senhora Petre.
Elizabeth recordou o desprezo do baile dos Whitfield e se perguntou se
ele teria sentido uma espetada de dor por aquele rechaço, tal como ela sentia
agora. Sentiu que a vergonha a consumia. Ele tinha compartilhado com ela
seus conhecimentos e ela o tinha rechaçado. Endireitou os ombros e se
levantou, apertando os papéis, sua bolsa e suas luvas.
—Espero que possa desculpar minha conduta no baile, Lorde Safyre.

112

Suas desculpas foram recebidas com frieza. — De que conduta fala,
senhora Petre?
—Não quis... —Sim, sua intenção tinha sido desprezá-lo. Tinha visto a
desaprovação no olhar de sua mãe e tinha atuado automaticamente para evitá-
la. – Deixei-o plantado.
— Dançaria de novo comigo?

Dançar com um bastardo. Seus seios contra seu peito, suas coxas contra
suas coxas, girando e dando voltas, imune às boas maneiras e as realidades
feias e odiosas. Ele era um homem que não pertencia nem ao Oriente e nem
ao Ocidente e ela era a esposa de um homem que preferia a cama de sua
amante à dela.
Seria uma honra.

Um sorriso torceu sua boca. - Pergunto-me, senhora Petre, onde está seu
marido?

Sua coluna ficou rígida.
—Em casa. - Mentiu. Ou talvez não. - Em sua cama.

Aonde ela deveria estar.
— Está segura, senhora Petre?
—Você me mentiu, Lorde Safyre. – Ela repôs. - Você sabe quem é sua
amante.
—Eu não menti, Taliba. Não sei. Simplesmente queria comprovar se você
sabia.
—Você não acredita que eu seja capaz de seduzir meu marido, não é certo?

Por fim. Havia dito.
—Não sei.

Elizabeth elevou a cabeça. Não sei era melhor que não. — Talvez você
subestime suas habilidades como tutor?
—Talvez você subestime seu marido.

Todo o desejo contido explorou em furiosa frustração. —Isto não é um
jogo, Lorde Safyre. Você me disse que embora o chamem bastardo ou infiel
você segue sendo um homem. Pois eu sou uma mulher e minhas opções são
poucas. Devo fazer com que meu matrimônio funcione porque é tudo o que
tenho.

Encheram-lhe os olhos de lágrimas.
Ramiel odiava as lágrimas. Durante trinta e três anos tinham sido sua
única forma de protesto, afogando sua solidão num travesseiro.

113

—Vá A casa, senhora Petre. —Seus olhos turquesas eram inescrutáveis. –
Você tem olheiras. Durma um pouco. Amanhã discutiremos os capítulos sete
e oito.
—Está bem.

O papel era dele. Colocou-o quase sem dar conta sobre a mesa e se
voltou, procurando não bater na cadeira e tentando ocultar as emoções que
pareciam se apoiar frágilmente sobre seus ombros.
—Senhora Petre.

Por um instante, Elizabeth pensou em abrir a porta, sair e voltar a ser a
pessoa segura e livre de culpa que tinha sido na semana anterior. Não tinha
coragem e estava desesperada.
—O que?
—Regra número cinco. Toque seu corpo e encontre os lugares mais
sensíveis. Deite-se sobre suas costas, dobre seus joelhos e pratique as
mesmas rotações que praticou contra o colchão.
— Aprenderei com isso a agradar a meu marido, Lorde Safyre? —Perguntou
com dureza.
—Aprenderá a agradar um homem, senhora Petre.

Por que ele separava os dois, como se Edward não fosse um homem?
Ou como se não acreditasse que Elizabeth fosse capaz de satisfazer seu
marido... Uma vez?
—Muito bem.
—MA'A e-salemma, Taliba.
—MA'A e-salemma, Lorde Safyre.

Elizabeth abriu a porta e se encontrou de frente com o mordomo árabe.

CAPÍTULO IX

A cabeça de Muhamed se sobressaía acima do cabelo de Elizabeth. Um
capuz negro escurecia seu rosto.

Todos os músculos do corpo de Ramiel se esticaram, preparando-se...
Para arrastar A Elizabeth de volta e terminar o que haviam começando... Para
protegê-la do homem que ela acreditava ser árabe.

Seu membro inchado palpitava num ritmo doloroso dentro de sua calça.
Ela tinha desejado lhe ver. Ele tinha desejado lhe mostrar... Ele ainda

114

desejava lhe mostrar... Como era, como podia lhe agradar, como ela tomar
seu membro em sua boca, para alcançar ambos o gozo máximo.

Olhando fixamente para Ramiel, Muhamed inclinou a cabeça numa
pequena reverência.
—Sabah o kheer.
—Sabah o kheer, Muhamed. - Respondeu Elizabeth.

A resposta era incorreta, mas sua pronúncia impecável.
A imperturbabilidade de Muhamed se transformou em surpresa. Afastou-se
para um lado para deixá-la passar.
—Obrigado. —Elizabeth assentiu com a cabeça enquanto reflexos
avermelhados resplandeciam na trança de seu cabelo, que formava um grosso
coque. - MA'A e-salemma.

Um intenso orgulho se apoderou de Ramiel. Elizabeth era realmente

uma mulher meritória.
Ramiel observou como Muhamed seguia Elizabeth com o olhar

enquanto se retirava. Sabia o momento exato em que ela saía de sua casa. O
homem de Cornualles se voltou com um redemoinho de lã negra misturado
com o thobs branco que levava sob sua capa.
—Ibn.

Ramiel não se deixou enganar pela reverência de Muhamed. Esperou a
que o homem de Cornualles desse um passo para diante e fechasse a porta da
biblioteca.
— Estava nos espiando, Muhamed?
—Não preciso te espiar, Ibn. Podia cheirar seu desejo através da porta.

Ramiel reprimiu como um relâmpago, uma réplica fulminante. Não
sabia que um eunuco tinha o sentido do olfato tão agudo. Em troca, disse:
—Não tolerarei sua intromissão.
—O Sheik me ordena que o vigie.
—Já não é seu escravo. – Quão furiosa se pôs Elizabeth quando se dirigiu a
ela por seu nome diante da jovem criada. - Sei de boa fonte que os ingleses
não aprovam a escravidão.
—Uma moça morreu Ibn, porque não pôde resistir o haraam, o que está
proibido.

A concubina que tinha arrebatado a virgindade de Ramiel quando ele
tinha doze anos.

O ardente desejo se converteu em gélida fúria, sua cortesia inglesa em

selvageria árabe. Muhamed tinha que compreender de uma vez por todas

115

quão importante era Elizabeth Petre para ele. Só lhe ocorria uma maneira de
convencê-lo.
—Estiveste comigo vinte e seis anos, Muhamed. Aprecio sua lealdade e sua
amizade. Mas te matarei se de alguma forma fazer mal a senhora Petre. E
segundo o método árabe, o matarei muito, muito lentamente.
—Eu nunca machucaria uma mulher. - Disse Muhamed, rigidamente e
afastou seu olhar de Ramiel e o fixou sobre a parede atrás dele.

Ramiel relaxou.
—Bem.
—Não serei eu quem lhe faça mal.

O temor acelerou o sangue de Ramiel.
Edward Petre.
Acaso a pegaria? Estaria a par das aulas?
—Se explique.
—O marido dela foi ao Clube das Cem Guineas.
As aletas do nariz de Ramiel se dilataram de surpresa. O Clube das Cem
Guineas era célebre por obrigar seus membros homossexuais a assumir um
rol feminino.
— Continua lá?
O rosto envolto em sombras de Muhamed mostrava sua aversão.
—Não. Saiu do clube com um homem vestido de mulher.
A mulher com a qual supostamente o tinham visto. Só que não era uma
mulher. —Seguiste-os.
- A uma loja vazia de Oxford Street.
- Quem era o homem?
—Não posso dizer. – Ele não disse, não sei.
— Não o reconheceu? — Perguntou bruscamente, Ramiel.
- Pediste-me provas, Ibn e a única que tenho são meus próprios olhos.
—Nunca me mentiste, Muhamed. Sua palavra é prova suficiente.
—Não Ibn, não o é. Não nisto. Não me acreditará. Levarei-o até a loja e o
verá por ti mesmo.
Ramiel pressentiu um perigo iminente que fez com que seus sentidos se
aguçassem como não tinham feito nove anos antes. Quem era o amante do
Petre para que o homem de Cornualles se negasse a revelá-lo, por temor a
não ser acreditado?
Nada podia escandalizar A Ramiel, nem o sexo, nem a morte. Mas que...

116

—Elizabeth estava aqui, comigo. - L'na, maldita seja, parecia com a
defensiva. Elizabeth não era responsável pelos atos de seu marido. Nem
conhecia os jogos sexuais que se praticavam num inferno como o Clube das
Cem Guineas.

Muhamed continuou olhando fixamente à parede, com seu rosto
impassível.

Ramiel dirigiu o olhar para a mesa, para a pluma de ouro que momentos
antes tinha obstinado entre seus dedos, como se fosse seu membro e o oco de
sua mão, a vagina de Elizabeth.

O branco papel se agitava na beirada da mesa de mogno, sulcado pela
tinta negra.

Inclinando-se, segurou-o.
—“O kebachi”. Nádegas levantadas, como os animais. – Leu. – “Dok o arz”.
Ventre com ventre, boca com boca. “Rekeud o air”. Montar um corcel.

Eram as notas de Elizabeth, as palavras que tinha escrito enquanto ele
recitava as seis posturas mais importantes para o coito. Não eram as palavras
que ele tinha usado, nem sequer as posições básicas que ele tinha
mencionado. Ela havia enumerado formas alternativas... E o fizera com seus
nomes árabes. Ou tinha memorizado o capítulo seis por completo ou aquelas
eram as posturas que mais a excitavam. Ser possuída por atrás enquanto
estava ajoelhada apoiada sobre suas mãos. Sentar sobre os joelhos de um
homem com as pernas ao redor de sua cintura. Montar sobre o sexo de um
homem enquanto ele se deitava sobre suas costas com as pernas em alto.

Os testículos de Ramiel se endureceram. Imaginou-se possuindo
Elizabeth enquanto ela ficava de joelhos. Deixando que ela se sentasse sobre
ele enquanto estava recostado. “Dok o arz”. Ambos gozando, ambos
golpeando, sentados um frente ao outro, ventre com ventre, boca com boca.
Podia apostar que sua única experiência tinha sido a primeira posição, uma
que não se incomodou em registrar, a de uma mulher passivamente deitada
sobre suas costas cumprindo com seu dever.

A última frase rabiscada atraiu sua atenção. Ramiel a olhou com
atenção, subjugado. O pulso nas pontas de seus dedos martelava contra o
papel. Quarenta maneiras de amar. “Lebeuss o djoureb”. “Por favor, Deus,
me deixe amar embora seja uma vez”.
Uma dor aguda lhe atravessou o peito. Tinha gozado nas quarenta posturas e
nenhuma delas tinha sido considerada por nenhuma mulher, um ato de amor.
Passou a língua pelos lábios, Elizabeth Petre, uma mulher de trinta e três anos

117

que tinha dado a luz a dois filhos, mas jamais tinha sido beijada
apaixonadamente.

Ela o havia tocado. Tinha chupado seu dedo e explorado seus lábios
com o assombro inocente de uma mulher empenhada no descobrimento
sexual. “Lebeuss o djoureb”. Poderia lhe dar aquilo. Poderia afastar suas
pernas, acariciar sua vulva e seus clitóris até que cada vez que deslizasse e
colocasse seu pênis dentro dela, sentisse tanta umidade que ela se abrisse
tomando-o todo, sua língua e seu membro, seu êxtase, seu orgulho inglês e
sua sexualidade árabe.

Ramiel estirou a mão e abriu a gaveta superiora da mesa, deixando o
papel dentro com cuidado e sobre este a pluma de ouro.
Elizabeth não tinha compreendido quando, na pista de dança, lhe recordou a
história do Dorerame e o rei. Havia lhe dito que a liberaria de seu marido.
Agora era o momento de agir.
— Yalla nimshee. - Disse bruscamente A Muhamed. - Vamos.

Uma carruagem ligeira esperava fora, no amanhecer cinza. Um quente
bafo saía do cavalo, como uma bruma pálida e prateada. O pequeno calesín
rangeu, primeiro ao subir Ramiel e logo quando Muhamed o seguiu,
recolhendo habilmente sua ampla capa negra e sua roupa árabe. Sem fazer
comentários, Ramiel permitiu que Muhamed tomasse as rédeas. O homem de
Cornualles assobiou uma vez e deu uma ordem suave e aguda para que o
cavalo começasse a se mover. Ramiel se preparou para o puxão da
carruagem.

O ar frio e úmido molhava sua face. O rítmico trote dos cascos do
cavalo e o chiar das rodas do veículo ressoavam em toda a rua. Acima dos
altos edifícios, uma luz rosada começava a tingir o céu. Não fez mais
pergunta a Muhamed. Não havia nenhuma necessidade. Ramiel veria em
seguida quem era o que tinha empurrado a Elizabeth para ele, sem propor-
lhe.

Ela estava com olheiras. O que a tinha mantido acordada? Sua vida
social? Seu matrimônio? “O Jardim Perfumado”? Em quem estivera
pensando quando esfregava sua pélvis contra o colchão... Em Edward Petre...
Ou nele?

O calesín se cambaleou ao dobrar uma esquina.
Naquela altura, tão longe do Regent Street, Oxford Street deixava de ser
respeitável. As ruas estreitas e os edifícios estavam abandonados. Ramiel
pôde ver a sombra escura de um homem com uma prostituta num portal. Na

118

esquina, um mascate com seu carrinho, estava se dirigindo a um bairro mais
rico.
—Ibn. Estamos nos aproximando da loja.

Ramiel se baixou o chapéu, cobrindo suas orelhas e colocou um
cachecol de lã escura ao redor do pescoço.

Muhamed estalou brandamente a língua, deteve o cavalo e assinalou:
—É ali.

A primeira vista o edifício parecia igual às demais pequenas lojas de
tijolo. Gradualmente, pôde ver que a fachada era mais escura que as outras e
as janelas haviam sido toldadas. Em cima da loja brilhava um tênue raio de
luz... Havia uma casa em cima do local. E alguém estava dentro dela.

Ramiel desceu brandamente do calesín sobre a rua empedrada. A
madeira rangeu e o cavalo deu um passo atrás nervosamente. Ramiel o
tranqüilizou de forma distraída e logo continuou avançando enquanto seus
passos ressoavam nas primeiras luzes da alvorada.

A porta da loja estava fechada com pranchas e a madeira coberta com
papéis... Não se podia entrar por ali. Outra porta lateral levava sem dúvida a
casa. Estava fechada com chave. Frustrado, voltou a olhar a pálida luz que
saía da janela, a somente quatro metros de altura. Teria que esperar até que
Petre e sua amante baixassem.

Olhou a seu redor procurando um lugar onde se esconder, ocultando-se
no oco da entrada. Cobriu nariz com o cachecol de lã para evitar os aromas
de urina e lixo podre. O rítmico trote de um cavalo solitário e o retinido das
rodas anunciou a chegada de uma carruagem leve. Um carro de aluguel se
deteve em frente à loja fechada, a poucos metros de onde se ocultava Ramiel.
O abajur lateral da carruagem emitia um círculo de luz amarela, deixando
entrever o lombo de um pangaré negro e branco. O chofer, com um chapéu
de feltro que lhe cobria parte dos olhos permaneceu sentado olhando à frente.

A porta fechada que conduzia a casa se abriu. Um homem saiu, mas seu
perfil lhe resultou irreconhecível. Um típico cavalheiro vestido com uma
jaqueta clássica e uma cartola. Sua respiração se condensou no cinza ar frio.
Sem dar conta de que estava sendo observado, o homem se voltou e fechou a
porta com tranqüilidade. Ramiel voltou a se esconder no portal, com seus
músculos tensos, a espera. “l'na, maldita seja”, não era possível estar tão
perto e ser incapaz de identificar alguém... Era Edward Petre ou o homem
que Muhamed se negava a nomear?

119

Um homem e um menino, agasalhados contra o frio, passaram apurados
ao lado de Ramiel com suas cabeças inclinadas para conseguir um pouco de
calor e possivelmente para evitar ser eles mesmos testemunhas involuntárias.
O som de passos apagados alertou Ramiel de que sua presa estava
caminhando para a carruagem. Inclinou-se para diante, tratando de ver algo
por trás do tijolo.

O abajur lateral do carro iluminou o homem com sua luz amarelada
quando ele abriu a porta da carruagem, enquanto tirava a cartola antes de
entrar. A cor de seu cabelo lhe resultou vagamente familiar, mas não era
negro... Devia ser o amante do Petre. Como se percebesse que estava sendo
observado, o homem se voltou. A luz do abajur da carruagem delineou suas
fisionomia com claridade.

*****

Elizabeth fechou a mão sobre o pomo da porta que conectava o quarto
de Edward com o seu. Ele estaria em casa? Não. Podia sentir o vazio
filtrando por debaixo da porta, como se a solidão fosse invisível, mas não por
isso menos tangível. “A língua de uma mulher é como um mamilo, pode-se
mordiscar e sugar. Sua boca é como a vulva, para ser lambida e penetrada.
Alguma vez teve a língua de um homem em sua boca?”. Colocaria Edward
sua língua na boca de sua amante? Estava fazendo naquele momento?
Colocaria ele a língua dentro de sua boca quando o seduzira? Fechou os
olhos e se apoiou na porta, invadida por uma incompreensível onda de
rechaço. O negrume atrás de suas pálpebras se tornou marrom, num vulto de
camurça estendido apertadamente sobre a carne masculina. Meu deus! Não
sabia o que estava lhe acontecendo. O que teria feito se o Sheik Bastardo
desabotoasse a parte dianteira da calça? E logo, contrariamente, perguntou se
seria maior que a pluma de ouro. Mais largo? Mais grosso?

Ele havia dito que uma mulher inexperiente ante as formas do amor ou
uma que tinha passado por uma longa abstinência, necessitava uma
penetração pouco profunda. Enquanto que uma mulher que tinha dado a luz a
dois meninos precisaria toda a longitude do homem dentro dela para
conseguir maior satisfação. Os músculos do estômago de Elizabeth se
contraíram ao pensar em suas pálidas pernas elevadas sobre os ombros
morenos e musculosos do Sheik Bastardo.

120

Suas pálpebras se abriram de repente. Edward era seu marido e o Sheik
Bastardo era seu tutor. Deveria estar imaginando suas pernas elevadas sobre
os ombros de seu marido.

Endireitando, observou fixamente o tênue brilho de sua lamparita de
noite. O Sheik Bastardo se dera conta de suas olheiras. Um ridículo
sentimento de gratidão a embargou. Depois lhe seguiu o desgosto. Tinha que
estar realmente se desesperada por um pouco de atenção se sentia agradecida
com um homem que se precavia de suas olheiras.

De maneira impulsiva, cruzou o grosso tapete e aumentou a chama no
abajur de gás o mais intensamente que pôde. Luzes e sombras atravessaram
aquele quarto familiar, devolvendo a cor azul ao tapete obscurecido pela
alvorada e desenhando com claridade os contornos retangulares da mesa de
carvalho e de seu espelho ovalado.

Depois de guardar as luvas e tirar da bolsa “O Jardim Perfumado”, que
levava religiosamente a todas as lições, como se a biblioteca do Sheik
Bastardo fosse realmente uma escola e o livro de erotismo, um manual,
pendurou a capa e o chapéu. Logo tirou o pequeno relógio de prata e o meteu
numa gaveta no fundo do armário. Desabotoou o sutiã de veludo do vestido e
o pendurou também no armário. Aliviada, despojou das pesadas anquinhas.

Uma fugaz olhada em seu pálido corpo atraiu sua atenção, voltou-se e
contemplou a mulher refletida no espelho. Estava vestida com uma singela
regata branca e anáguas. Sua pele era quase da mesma cor que seus objetos
íntimos. “Você tem um corpo bem proporcionado... Deve se sentir orgulhosa
dele...”

Com o olhar fixo, Elizabeth desatou a primeira anágua, que se deslizou
sobre seus quadris contornados e caiu ao redor de seus pés. Seguiram-lhe as
outras duas e Elizabeth elevou os braços. A mulher do espelho também
elevou os braços e logo ficou oculta pelo tecido branco antes de voltar a
aparecer novamente sem a regata, vestida só com calções, meias e sapatos.
Seus seios eram pálidos globos de cor alabastro, cheios e plenos. Os mamilos
estavam escuros, apertados.

De maneira atrevida, Elizabeth desatou os singelos calções brancos e
deslizou suas mãos dentro do algodão enfraquecido pelo corpo. Inclinando-
se, desenganchou as meias que chegavam até as coxas e as baixou junto aos
calções. Resistindo o instinto de não olhar e se afastar, endireitou-se e
examinou o corpo nu no espelho.

121

Sua cintura não estava alargada depois das gestações. Seus quadris se
arredondaram de maneira proporcional e o triângulo de pêlo no centro de
suas coxas era de um vermelho escuro. Tinha sido sempre tão... Exuberante?
Ou era que a maturidade havia... Realçado seu corpo?

As sombras delineavam sua clavícula e desenhavam pequenas covinhas
em seus joelhos. Elevou os braços e passou as mãos por detrás para afrouxar
os alfinetes da trança, sujeita num coque. Os seios no espelho se elevaram,
sobressaindo-se do corpo da mulher.
Soltando as presilhas sobre o tapete, Elizabeth afrouxou a trança, usando as
mãos para sacudir o cabelo que, brandamente sedoso, deslizou por suas
costas, por seus ombros e por seus seios, como uma manta de cor mogno
espalhado sobre seu corpo. Logo, deslizando as mãos para sua nuca elevou os
braços, sustentou seu cabelo no alto e para trás para que caíssem em cascata
sobre suas mãos e seus cotovelos enquanto seus seios se elevavam, inchando
e realçando.

Elizabeth olhou fixamente a mulher nua do espelho como se estivesse
enfeitiçada. Era... Voluptuosa. Uma mulher que tinha dado A luz e
amamentado dois meninos. Uma mulher digna de amor.

Passou a língua por seus lábios, nos quais cintilou sua pálida língua
rosada. Pareciam mais avultados que de costume. Para ser beijado...
“Toque...” Como se tivessem vida própria, seus dedos se separaram de sua
nuca, deixando cair à morna cabeleira de seda. Timidamente, cavou as mãos
para sustentar seus seios. Aquelas pequenas mãos femininas que no espelho
atuavam em sintonia com os movimentos de Elizabeth.

A pele era suave, avultada, ligeiramente úmida na parte inferior.
Elizabeth podia sentir a dura espetada de seus mamilos nas palmas de suas
mãos. Endurececiam os mamilos de um homem quando uma mulher os
tocava? “Realmente gosta que uma mulher mordisque seus mamilos? Sim,
senhora Petre”. Um ardor líquido estalou em sua vulva. Arrastou as mãos por
suas costelas, no contorno arredondado de seu estômago.

“Todos desejamos que nos toquem...”
Tocou-se abertamente, observando-se. Seu cabelo se enroscava ao redor
da mão branca do espelho, por baixo estava a morna e úmida carne como
lábios umedecidos pela saliva. “Táchik o heub”. Elizabeth imaginou um
homem investindo seu corpo tão profundamente que o pêlo púbico de ambos
se misturava, mogno escuro e dourado brilhante. Lábios firmes e suaves
cobriam os dela. Uma língua penetrava em sua boca, enchendo-a, enquanto

122

que ele enchia seu corpo com seu membro viril. Seus tenros lábios inferiores
se incharam sob a ponta de seus dedos, como fruta amadurecida, pedindo ser
tomada, acariciada...

O suave clique de uma porta que se fechava soou sobre o bater forte do
coração de Elizabeth e a agitação de sua respiração.

Edward. Tinha voltado para casa.
Ficou imóvel, com os dedos presos a sua pele, incapaz de se mover. Ele
devia ter visto que sua luz estava acesa. Viria a seu quarto e a encontraria
assim, nua tocando suas partes íntimas, ardente...
Um ruído surdo transpassou a porta fechada que separava seus
aposentos. Um homem que se preparava para dormir, um homem deslizando-
se para dentro da cama... Um homem deixando a uma mulher sozinha.
O Sheik Bastardo havia dito que ela não era uma mulher covarde.
Então, por que não cruzava seu quarto e abria a porta que a separava de
Edward? Por que não ia até seu marido, nua e lhe mostrava que podia lhe dar
tanto prazer como sua amante?
As lágrimas derramaram por face, lágrimas odiadas, lágrimas de
covarde. Colheu com fúria a camisola da cama e a colocou pela cabeça.
Eliminou rapidamente todos os sinais de sua debilidade, os alfinetes, as
roupas íntimas e os sapatos. Havia sentido tanta urgência em se tocar, que
nem sequer tirara os sapatos. Apagou o abajur de gás e se escondeu sob a
colcha.
A voz do Sheik Bastardo a perseguiu em seus sonhos. “Uma mulher
que deu a luz a dois filhos... Não se importará que eu seja um bastardo árabe.
Só alcançará verdadeira satisfação sob minhas carícias...”

CAPÍTULO X

Os mamilos de Elizabeth estavam duros sob o suave sutiã de veludo
negro. Tão duros como a carne masculina que palpitava contra a coxa direita
de Ramiel.

Queria excitá-la. Queria ligá-la a ele de maneira tão férrea que jamais
ela pensaria em agradar a outro homem. Ramiel tinha planejado aquela aula
com muito cuidado, para obter seu objetivo.

123

— O que é mais sensível, senhora Petre? Seus lábios, seus mamilos ou seus
clitóris?

Durante um segundo longo ela sustentou no ar a xícara de café perto de
seus lábios enquanto seu nariz desaparecia entre a nuvem de fumaça. Ramiel
viu surpresa em seus olhos cor avelã e imediatamente excitação, depois só
pôde apreciar o leque de seus cílios e a porcelana azulada enquanto ela
inclinava a xícara e tomava gole com parcimônia. Quando voltou a deixar a
xícara sobre o pires, seu rosto estava sereno.
- Estou segura de que você sabe quais são as partes mais sensíveis de uma
mulher.
—Mas eu não a conheço você, Taliba. – Ainda. - Cada mulher possui um
corpo diferente. Algumas mulheres gozam com um tipo de carícias, outras
não.

Elizabeth elevou o queixo.
—Provavelmente, Lorde Safyre, algumas mulheres desfrutam sendo
acariciadas... Em qualquer parte.

Ramiel não queria que ela se conformasse com qualquer carícia em
qualquer lugar. Queria que exigisse os direitos que lhe correspondiam como
mulher, plena e absoluta satisfação.
— Quanto tempo aconteceu desde que seu marido visitou seu leito?
O ruído estrepitoso da xícara ao se chocar contra o prato afugentou suas
palavras. Os lábios de Elizabeth se endureceram.
—Concordamos que não daria detalhes sobre meu matrimônio.

Como ele pôde ter pensado que ela ficaria impassível? Seus lábios
revelavam tudo, tremendo sensivelmente e apertando-se para reprimir suas
emoções. Raiva, medo e dor. Paixão.

Os olhos de Ramiel se semicerraram. —Concordei não difamar seu
marido.
— Quanto tempo faz que você esteve com uma mulher, Lorde Safyre?
—Seis dias.
—Uma enorme quantidade de tempo.

Seu tom foi sarcástico. Mas os fatos eram indiscutíveis. Não tinha
estado com uma mulher desde que ela tinha intimidado seu criado para entrar
em sua casa.
—Sim, senhora Petre. É muito tempo. - Disse Ramiel intencionalmente. - Até
agora, o máximo de tempo que tinha ficado sem uma mulher tinha sido três
dias. Quanto tempo faz de que você copulou?

124

—É suficiente dizendo que faz mais de seis dias... - Replicou ela contida. —
Ramiel pensou em Edward Petre. Pensou no dano que devia causar a

ela naqueles dezesseis anos.
—Mais de seis meses? —Especulou-a.

Ela concentrou seu olhar na xícara de café. As sombras sob seus olhos
eram mais escuras que no dia anterior.

Outro ponto contra Edward Petre.
Se Elizabeth fosse sua esposa, ele a faria chegar ao orgasmo tantas
vezes que ela cairia rendida no sono todas as noites.
Ramiel endureceu a voz.
—Você me prometeu não mentir. Há quanto tempo, senhora Petre?
A mulher elevou a xícara, sorvendo, ocultando, tentando manter a
verdade a raia. Estava casada com um homem que jamais lhe daria prazer.
Deixou com cuidado a xícara no prato e a entregou a Ramiel.
—Foram mais de seis meses, Lorde Safyre. Foram mais de seis anos. Posso
tomar um pouco mais de café?
Ramiel suspirou bruscamente.
Estava preparado para ouvir aquela resposta, mas não para o torvelinho
dnaoções que iria desencadear.
Mais de seis anos. L'na. Maldita seja. Ela estaria mais apertada que uma
virgem. Uma tensa fúria se sobrepôs ao agudo desejo de averiguar até que
ponto ela estaria apertada. Fúria contra Edward Petre. Fúria contra Elizabeth.
Ele a tinha utilizado. Ela o tinha permitido. Ramiel não permitiria. Hoje ela
veria um homem. Muito em breve ela sentiria a um homem. E esse homem
não seria Edward Petre.
Elevou a cafeteira de prata, que descansava junto a seu cotovelo direito,
e lhe serviu mais café. A fumaça quente embaçou o ar entre ambos.
—No capítulo oito, o Sheik enumera vários nomes para o órgão sexual de um
homem.
—Trinta e nove. —Ela esperou a que ele adicionasse o esperado toque de
água fria para assentar o café moído antes de retirar sua xícara. Como se
fosse habitual que uma mulher admitisse que não se deitara com seu marido
durante mais de seis anos, balançou o pires e a xícara sobre sua saia. - Como
certo, uma quantidade exagerada.
—Contou-as.
—Acreditei que essa era a idéia.

125

A idéia era que ela se familiarizasse com as diferentes etapas pelas que

passava um homem ao excitar.
— Quais são seus nomes preferidos?

Elizabeth elevou o queixo.
—É difícil de dizer, Lorde Safyre. Tenho certa preferência pelo pombinho,

entretanto, a cascavel, o de um só olho e o expectorante andam perto.
Risos e luxúria. Ramiel podia sentir as duas emoções separadas

enlaçando dentro das profundezas de seu corpo.
—Não seja tão severa, senhora Petre. As traduções inglesas das palavras

árabes não fazem justiça nem a cultura e nem à linguagem. Quando um

homem ejacula, seu membro se rende e aninha sobre seu testículo, daí o
símile com o «pombinho». Quando uma mulher está lubrificada, existe uma

sucção quando o homem a investe de dentro para fora de seu corpo. Se ele

fosse sair dela, criaria um som de cascavel. O de um só olho é bastante
evidente... Quanto ao expectorante, chama assim porque o homem segrega

umidade quando é excitado, como a mulher.

Ela olhou para baixo, como se pudesse ver através da mesa, para
comprovar por si mesmo se o que ele dizia era certo.
— Todos os homens... Segregam líquidos... Antes de ejacular?

Uma auréola de calor úmido penetrou nas calças de Ramiel, ali onde a
coroa de seu membro se esticava contra o tecido negro.
—Sim.

Seu olhar se dirigiu da mesa para cima, pousou fora de perigo sobre a
xícara situada frente a Ramiel.
— Quanto?
—O suficiente para lubrificar os lábios menores da mulher para que possa se
deslizar entre eles. —Ramiel molhou seu longo dedo no café e o fez girar ao

redor da xícara. - O suficiente para molhar seus dedos, poder acariciar seus

clitóris e que ela alcance o climax.
Elizabeth desviou o olhar de sua xícara e se encontrou com a dele. —

Que termos árabes prefere você, Lorde Safyre?

O membro de Ramiel endureceu. Ele moveu-se na cadeira, estirando as
pernas para ficar mais cômodo.
—Keur... Kamera... Zeub.
—Membro viril, pênis e membro. – Ela traduziu, brandamente.

Ramiel baixou os cílios, velando seus olhos.
—Você tem uma memória extraordinária, senhora Petre.

126

Ela não afastou o olhar.
Tomei notas. Mas ela não estava olhando suas notas.
- Então você recordará que “mochefi o redil”, o extintor de paixão, é o que
melhor satisfaz uma mulher. É grande, forte e lento em ejacular. Não parte
até que terminou de excitar por completo o ventre de uma mulher, indo e
vindo, arremetendo de acima embaixo e movendo-se da direita para a
esquerda. Quer ver como é um homem?
Uma rosa escura floresceu em suas pálida face. Ela apertou o pires tão
forte que Ramiel pensou que iria romper se.
—Você me perguntou isso ontem pela manhã.
E logo lhe disse a ela que fosse embora. Porque era um imbecil.
—Estou perguntando outra vez.
O desafio brilhou em seus olhos. Desafio... E desejo.
—Sim. — Ela levantou repentinamente o pires em seu joelho e o pousou na
beirada da mesa. Um golpe seco retumbou na biblioteca e uma onda de
líquido negro se fez sobre a mesa. - Sim, quero ver como é um homem. Está
disposto a me mostrar um, senhor?
Ramiel se inclinou para trás e abriu a gaveta superior de sua
escrivaninha. Podia sentir seus olhos sobre ele. Seu membro palpitava no
ritmo dos seios dela, que subiam e desciam sob o suave sutiã de veludo. Ela
estava esperando que ele se mostrasse e ele queria mostrar para ela. Queria
satisfazer toda sua curiosidade. L'na, maldita seja, o que pudesse passar os
próximos minutos. Tomou com ímpeto uma caixa retangular e a empurrou
para o outro lado da mesa.
—Pegue-a.
Era evidente que aquilo não era o que esperava. Ela inclinou-se para
diante e segurou a caixa branca.
— O que é?
—Abra-a.
E ela abriu-a... Em seguida deixou cair à tampa. O sopro de ar foi mais
forte que o vaio do abajur de gás e o crepitar dos lenhos ardendo na lareira.
Os olhos cor avelã, escandalizados, elevaram-se para se encontrar com o
olhar turquesa.
—Tire-o daí. - Disse ele bruscamente.
Uma língua rosada roçou rapidamente o lábio inferior.
Ramiel se segurou na beirada da mesa para evitar saltar por cima dela e
lhe dar seu primeiro beijo. Ferame, o beijo entre um homem e uma mulher.

127

Mais de seis anos.
Queria lhe dar tudo o que lhe tinha negade Edward Petre. Queria dar-
lhe agora.
Baixando a vista, Elizabeth estudou o objeto de couro pousado sobre

um leito de veludo vermelho. Estava desenhado de tal forma que nem sequer
uma mulher como ela, de experiência limitada, podia equivocar com respeito
ao que representava.

A tensão sexual palpitava no ir e vir da luz e a sombra. O abajur de gás
absorveu o oxigênio dentro da biblioteca. Ramiel não podia respirar,
esperando sua reação, esperando sua aceitação...

Se fosse agora... Que Alá e Deus os amparasse.
Com cautela ela o tirou da caixa.
—Não tem a cabeça vermelha.
—É de couro trabalhado.
—Está frio.
—Pegue-o e esquente com suas mãos.
— Está tentando me envergonhar.
—Estou tentando lhe ensinar.

Elizabeth evitou seu olhar.
—Lorde Safyre...
- Você queria ver um homem, senhora Petre. Assim é um homem. Você
queria aprender como agradar um homem. Eu lhe ensinarei.

Elizabeth fechou os olhos lutando em seu interior.
Era evidente que ela queria seguir suas instruções, pegar o objeto como
faria como um homem, como o pegaria quando chegasse o momento. Era
igualmente evidente que ainda estava presa por trinta e três anos de fortes
prejuízos. Lutou consigo mesmo para não ter que decidir por ela e tomar suas

mãos entre as suas e as fechar ao redor do couro.
Abrindo os olhos, Elizabeth pegou o objeto com a mão esquerda. As

pontas de seus dedos roçaram seu polegar encontrando-se na parte inferior do
objeto. Sua circunferência era grande, mas não tão grande para intimidá-la.
— Qual é seu nome? —Ele se esforçou por ouvi-la, acima do sangue que
golpeava em suas têmporas.
—Há muitas palavras. O chamarenos falo artificial.
—Está circuncidado.

A diferencia de Ramiel.

As mulheres árabes deviam tê-lo achado fascinante.

128

—Você viu seus dois filhos quando eram pequenos. —Sua voz fazia um
esforço para sair da garganta.
—Sim.
—Um homem circuncidado e um que não é não diferem muito quando têm
uma ereção.

Elizabeth passou a ponta de seu dedo brandamente por cima da coroa de
couro.
—Os homens que têm uma ereção... Têm a forma de uma ameixa... Como
isto?

Ramiel apertou os dentes, sentindo a carícia em seu testículo.
—Alguns homens.
— E você?

Ramiel se inclinou na cadeira, provocando um rangido na madeira
enquanto seu coração batia forte.
—Sim.
—Pouco depois de contrair matrimônio eu fiquei grávida. —Olhou fixamente
o falo. - Fui a um museu de arte. Havia uma estátua lá, uma estátua de um
homem nu. Salvo que tinha uma folha.

Ramiel não teve que perguntar que parte da estátua cobria aquela folha.
—Tinha dezessete anos e ia ter um bebê. Queria ver como tinha acontecido
aquilo. Mas a folha não se movia.

Os músculos de seu peito se esticaram ante aquela confidência
inesperada. Ante a jovem que alguma vez ela havia sido e que procurava a
iluminação numa obra de arte coberta a propósito, para seguir mantendo a
ignorância da mulher.

Quando ela tinha dezessete anos, ele já tinha completos vinte e dois e
com dez anos de experiência sexual em seu haver. Ela tinha conhecido a dor
e a frustração, ele só tinha conhecido o prazer.

Naquele tempo.Tempo.
A dor veio depois.
Pela primeira vez em nove anos, Ramiel quase se reconcilia com as
circalgunstâncias que o tinham condenado a viver na Inglaterra durante o
resto de sua vida. Já que não podia mudar o passado, podia dar a Elizabeth
um futuro.
—Sua curiosidade é natural, Taliba.
—O vigilante do museu não pensou o mesmo.

129

Os lábios de Ramiel desenharam um sorriso. A idéia de Elizabeth

tentando levantar com determinação a folha de mármore que não se movia

enquanto um guarda britânico lutava por impedir era tão vivida que ele quase
sorriu. Pensar em sua humilhação o fez ficar sério imediatamente.

- Alguns homens têm medo das comparações. - Disse com ligeireza.
—Mas você não.

As palavras saíram de sua boca sem que ela se desse conta.
- Tenho meus próprios temores. – Ele levantou-a a cabeça.
—O que tem a temer um homem como você?

Que não sou um homem. Que jamais voltarei a ser homem.

- Mas há coisas que um homem não confessa por temor que as palavras às
convertam em realidade.

Não poderia viver consigo mesmo, sabendo que era verdade. Não

poderia viver consigo mesmo não sabendo que era verdade. Como podia
esperar que uma mulher vivesse aquilo que ele não podia?
— A que teme, Elizabeth Petre?

Seus lábios se abriram... Lábios suaves, rosados. Imediatamente, ela
echou a boca numa linha fina e firme e voltou sua atenção ao falo.
— É este um membro meritório?

Ele se perguntou o que ocultava agora. Tinha medo de que seu marido
alguma vez lhe desse prazer? Ou tinha medo de encontrá-lo num Sheik

bastardo?
—Conhece a fórmula. Meça-o.

Ramiel observou com o fôlego contido, como ela colocava o couro

através da largura da palma de sua mão.
—O largo de uma mão e meia... —Ela elevou as pálpebras, seus olhos
brilhavam. - Segundo minhas mãos. Você não respondeu a minha pergunta,

Lorde Safyre.

A boca de Ramiel estava seca, como se tivesse mastigado areia do
deserto.
—É o suficientemente meritório.
— Um homem fica assim quando está ereto?

Ramiel aspirou fundo. —Um homem está mais flexível.

- Na quinta-feira pela manhã você me disse que gostava que uma mulher o

agitasse e apertasse. De que outra maneira se pode dar prazer a um homem?
—Pode tomá-lo em sua boca, lambê-lo e sugá-lo. - Disse com audácia.

As palavras eram perturbadoras, para ela e também para ele.

130

—Como a um mamilo.
Não lhe moveu nem um fio de cabelo.

—Ou um clitóris.
—As mulheres...

Sua voz era rouca. Teria a mesma voz, pensou Ramiel, quando ele
estivesse agasalhado dentro dela.
- Colocam o pênis em suas bocas?

Ramiel fechou os olhos, sofrendo uma aguda dor física, imaginando a
boca de Elizabeth, o cabelo de Elizabeth, o prazer de Elizabeth.
—Sim, senhora Petre. As mulheres o fazem.
— Que sabor tem?
L'na. Maldita seja. Ela não podia ignorá-lo.

Abriu os olhos, observando-a com curiosa fascinação. Não, ela não
sabia. Chorou interiormente a morte daquela inocência que ele se
encarregaria de destruir.
—Temo que seja algo que terá que comprovar por si mesma. - Disse
impassível.
— O que sabe uma mulher?

O que saberia Elizabeth.
—Doce. Salgada. Como... Uma mulher. Suave, quente, úmida e apaixonada.

A chama de gás do abajur se dilatou com o calor, incitando e
advertindo. A paixão podia queimar, e muito.

Até onde chegaria ela antes que seu pudor ocidental a contivesse? Até
onde chegaria ele antes de perder o controle?
— O que pensou você quando viu uma mulher pela primeira vez?

O que havia ele pensado aos treze anos, quando a perita concubina que
seu pai lhe tinha proporcionado se deitara de barriga para cima com as pernas
abertas? Que a vulva de uma mulher era a coisa mais fascinante que jamais
tinha visto. Como um lírio rosado.

Quando se toca, umedece. Quando se excita, suas pétalas se abrem para
desvelar um pequeno casulo secreto. Era o brinquedo por excelência.

O olhar de Elizabeth se separou da sua, inclinando sua cabeça.
—Sem dúvida, é impossível que uma mulher introduza a totalidade do
membro masculino em sua boca.

Mas ela o tentaria. Quando chegasse o momento, lhe daria tudo e mais
do que ele jamais tivesse desejado.

131

—Não é necessário que uma mulher o introduza por completo, só a coroa e
os primeiros centímetros. Pode apertá-lo e acariciá-lo enquanto o beija e o
chupa.

As palavras beija e chupa vibraram no ar entre ambos.
Como um mamilo.
Como um clitóris.
— Alguma vez uma mulher introduziu todo o seu na boca?
Ramiel recordou o prazer dos lábios e a língua de uma mulher. As
lembranças se acrescentaram pelo interesse manifesto dela em realizar uma
fellatio. O calor sexual alagou sua face.
—Não.
— Gostaria que o fizesse?
Só se poderá fazê-lo sem machucar a si mesma, Taliba. Ele pensou.
—Prefiro que uma mulher me receba por completo em sua vagina.
Uma brasa saltou dentro da lareira. O corpo de Ramiel ficou tenso,
aguardando a seguinte pergunta. Tinha-lhe dado às rédeas, se lançaria
Elizabeth a correr com elas?
- Já aconteceu de alguma mulher não poder colocá-lo inteiramente dentro da
vagina?
- Sim. – A palavra teve que ser arrancada de seu peito.
- Uma virgem.
- Sim.
- Mulheres que tenham se abstenido durante muito tempo.
- Sim.
- Porem, não uma mulher que tenha dado a luz a dois filhos.
- Não. – Concordou ele, enfáticamente. – Uma mulher que tenha dado a luz a
dois filhos me aceitará por inteiro.
Não seria capaz de viver se ela não o tomasse todo.
Ramiel olhou fixamente a cabeça inclinada, esperando. Observando o
escuro jogo das luzes que brincavam com o cabelo dela.
- Que coisas pode fazer um homem com uma mulher de seios grandes e que
não seja bem proporcionada?
Ramiel respirou fundo, porem não o suficiente. A necessidade de
respirar queimava seus pulmões. Olhou para os seios cobertos pelo veludo
negro, recordando-os brancos e suaves, deliciosamente turgentes, que haviam
se sobresaído sob o decote de seu vestido quando haviam dançado.

132

- Pode-se tambem colococar o membro entre os seios e apertá-lo, para ficar
entre eles... Como se fosse a vulva.

Imediatamente, Elizabeth ergueu os ombros, pressionando-os para
protegê-los do olhar dele... Ou para imitar a pressão de suas mãos.
— O que é isto?

Ramiel deu uma olhada para o falo embalado em sua mão.
Um relâmpago de calor ardente percorreu todo seu membro, como se
ela tivesse seus dedos a seu redor e não no couro insensível. Esforçou-se por
se concentrar nela, que estava acariciando o falo e não em seu próprio corpo.
—Isso se chama glande. Junto à coroa, a cabeça com forma de ameixa, estão
as partes mais sensíveis do corpo de um homem.
Elizabeth elevou a cabeça bruscamente. — Mais sensível que os lábios
de um homem?
A simples vista, seus olhos cor avelã refletiam a lembrança, o tremor
elétrico das sensações que tinham percorrido seus corpos quando ela havia
tocado seu lábio inferior.
Ele imaginou o que aconteceria se os dedos dela roçassem ligeiramente
a coroa de seu membro. E não duvidou o mínimo ao responder.
—Sim.
— Treme... Como aconteceu com seu lábio?
Tremia por apenas ela falar dele.
—Chame-o por seu nome, Taliba. - Ordenou.
—“O lesas”. - Respondeu ela, obediente.
«O unionista». Chamado assim porque uma vez dentro de uma mulher,
empurra e força até que o pêlo púbico se encontra com o dela e segue adiante,
empurrando como se tentasse inclusive forçar os testículoa a entrar nela.
O sexto movimento.
A dor da virilha se transladou até seu peito.
Os desejos dela... Os desejos dele... Estava tornando cada vez mais
difícil mantê-los, separados. E acima de ambos se elevava a ameaça de seu
marido.
De todas as pessoas que podia escolher como amante, por que teria
escolhido a que Ramiel tinha visto a noite anterior?
— Quanto tempo mais pensa permanecer celibatária, senhora Petre?
Elizabeth apertou o falo artificial com tanta força que os nós de seus
dedos empalideceram.
Ramiel fez uma careta de dor.

133

— Quanto tempo mais pensa permanecer celibatário, Lorde Safyre?
—O tempro que for necessário.
—O mesmo digo.

Ele observou-a intensamente.
—Todo mundo merece ser amado pelo menos uma vez, senhora Petre.

Inclusive um Sheik bastardo.
A confusão brilhou em seus olhos claros. Imediatamente se deu conta

do que tinha mostrado no seu rosto se refletira num horror absoluto.
Tentando escapar o antes possível dele na manhã anterior, ela esqueceu

do que havia escrito no papel que ele tinha dado, quando lhe ordenou que

tomasse notas.
Elizabeth se recordava agora. Recordou o que tinha escrito... E que

tinha atirado o papel sobre a mesa. Ali o tinha deixado... E ele havia visto.
“Quarenta maneiras de amar. Lebeuss o djoureb. Por favor, Deus, me deixe
amar embora seja uma vez”.

Sem prévio aviso, ela soltou o falo dentro da caixa forrada de veludo e a

depositou com força sobre a mesa, deixando-a junto a sua xícara.
—Devo partir.
—A necessidade de ser amado não é algo do qual se deva envergonhar,

Taliba.
Ela segurou as luvas e a bolsa e se levantou.

Ramiel estirou a mão e pegou o falo da caixa. Ainda estava morno, pelo

calor das mãos dela. Balançou-o em sua palma. Ao largo da mão, como ela
havia feito.

Elizabeth cravou o olhar naquela mão que sujeitava o falo artificial. O

couro duro e a carne viva e morna. Seus pensamentos eram tão evidentes que
Ramiel sentiu como se estivesse violando sua privacidade em apenas fitá-la.
—Objetos como estes são os preferidos num harém.

Elizabeth endireitou suas costas. Olhou para cima com um brilho de
repulsão em seus olhos... .E muitas coisas mais —Você quer dizer que... As

mulheres os usam...
—Sim. —Sugestivamente ele fechou seus dedos ao redor do couro, formando
com eles uma espécie de vagina. - Há muitas mulheres e um só homem.

Ela deu um passo para trás. A poltrona de couro vermelha saiu

despedida pelo tapete.
—Comprei este ontem numa loja. Há tanta demanda na Inglaterra como na

Arábia.

134

Elizabeth girou e fugiu para a porta.
—Uma mulher sempre tem alternativas, senhora Petre. —Lançou as palavras
atrás dela, sabendo que ela as compreenderia.

No dia anterior pela manhã, ela havia dito que era uma mulher e que
suas opções eram poucas, que devia fazer com que seu matrimônio
funcionasse porque era o único tinha.

Elizabeth estava equivocada.
Teria outras alternativas. Se tivesse coragem de decidir por elas.

CAPÍTULO XII

Elizabeth sentiu a pele tirante como uma fruta a ponto de estalar. Os
batimentos de seu coração estavam ao mesmo tempo em que aquela
carruagem com aroma rançoso.

Havia desejado-o. Havia segurado o falo em suas mãos e imaginado a
cabeça com forma de ameixa investindo no lugar onde sua carne era mais
sensível, empurrando até penetrar em seu corpo e enchê-la como sabia que o
Sheik Bastardo o faria.

“Mochefi o relil”. Seu membro seria assim, grande e forte, disposto a
satisfazer por completo os desejos ardentes de uma mulher. Fechou os olhos
com força. Por que lhe tinha contado sobre a estátua? Agora ele saberia que
seus desejos antinaturais não eram provocados pela surpresa de descobrir que
seu marido tinha uma amante, tinha-os tido sempre.

Oh! Ele tinha lido suas notas. Palavras que davam conta de seus desejos
sexuais mais secretos, que a penetrassem de por trás, que a penetrassem e
ponto. Que classe de mulher era? Que classe de homem podia chegar a querer
uma mulher com uma luxúria tão descontrolada? Como os animais...

Como podia estar casada com um homem e desejar outro?
Quando a carruagem se deteve com estrépito, desceu e lançou ao chofer
uma moeda qualquer. Uma moeda de quatro penes, uma de seis, um florín
uma meia coroa, uma coroa... Não importava enquanto fosse livre para
alcançar o santuário de sua casa. Correu para os retalhos nebulosos de bruma
biliosa querendo escapar da mulher em que se transformara.
— E o que fazemos amanhã? Tenho que... - A voz do chofer se perdeu no
frio crepuscular.

135

Os diminutos pontos de luz cinza que começavam a aparecer ante
Elizabeth através de seu véu negro ficaram velados por suas lágrimas. “Uma
mulher sempre tem alternativas, senhora Petre”. Procurou atenta a chave da
entrada, sem sentir seus dedos... O pedaço de metal quase caiu, mas
conseguiu apanhá-lo e encaixá-lo na fechadura com força.

Arrumando a capa ao redor do corpo, correu pelas escadas, pisando
numa tábua mal colocada. Sabia que não devia pisar naquele lugar. Estava
acostumada a se deitar na cama e ouvir Richard e Phillip enquanto eles
desciam as escadas sigilosamente para procurar um lanche noturno. Um
surdo shh! Sempre acompanhava o rangido daquela tabela. Só que desta vez
era Elizabeth que subia atenta a escada, e tinha assaltado algo mais que um
pote de bolachas.

Aquela noite se celebrara o baile de beneficência. Edward tinha que
estar em casa. “Por favor, Deus”. Que ele estivesse em casa. Precisava ver
seu rosto, substituir aquela imagem de pele morna e escura e olhos turquesas,
com a fria e pálida pele e olhos castanhos de Edward. Precisava ver seu
corpo em lugar do falo artificial balançado pela mão do Sheik Bastardo.

As cortinas estavam fechadas e seu quarto escuro e silencioso. Vazio
uma vez mais... Não. Um som a alertou de sua presença, o sussurro regular
de sua respiração. Uma ânsia lhe revolveu o estômago. Não haveria quarenta
posições de amor no leito de Edward. Há seis dias saber disto não a teria
incomodado. Há seis dias não possuía tal conhecimento. Agora era preciso
que Edward eliminasse esse conhecimento. Precisava saber que podia achar
prazer em seu matrimônio.

Após deixar a bolsa sobre a sombra de uma escura cômoda, tirou as
luvas e deixou cair à capa ao chão. Podia ouvir cada botão enquanto
desabotoava o vestido de veludo, convencida de que Edward despertaria a
qualquer momento.

O que ocorreria se o fizesse? Perguntou quase a beira da histeria. Eram
marido e mulher. Por que ele não poderia vê-la nua?
Por que não poderia ela vê-lo nu?

Sentiu o ar gelado em seus braços. O quarto de Edward estava tão frio
como tinha estado a biblioteca do Sheik Bastardo, naquela primeira manhã.
Ninguém havia acendido o fogo para lhe dar as boas vindas, nem então e nem
agora.

Suas anáguas desapareceram como a pele de uma serpente. Seguiu-lhes
a regata, deixando seus seios a descoberto, expostos, mas não tão vulneráveis

136

como se sentiram seus quadris e coxas ao liberar-se do amparo dos calções de
algodão. As meias se ajustavam na parte superior das coxas. Considerou
deixar-lhes, momentaneamente. Mas por alguma razão lhe parecia mais
decadente se aproximar com as meio postas, que sem vestir absolutamente
nada.

Começou descê-las, embora não fosse um processo elegante. Deu-se
conta muito tarde de que devia ter tirado a roupa em seu quarto.

Em pé, completamente nua na escuridão, sentia mais nervosa do que
estivera em sua noite de bodas. Há uma hora antes se sentira quente e úmida,
cativada pela voz rouca de Ramiel e o descobrimento do corpo de um
homem, mas agora estava seca e fria.

O tapete sob seus pés nus era grosso e suave e amortecia suas pegadas.
Deitou-se na cama em silêncio. A colcha, um suspiro mudo de veludo, a
manta e o lençol superior, um gemido áspero.

A camisa de noite de Edward era ainda mais branca que o lençol. Ele
estava deitado de costas, quieto como um cadáver, com seus membros
cuidadosamente dispostos. Parecia controlar seus sonhos tão bem como sua
vida diurna. Com as mãos trêmulas e o coração acelerado, Elizabeth estirou a
mão para encontrar o frio algodão e um temor ainda mais glacial.

As coisas não deveriam ser assim. Seu marido em estado comatoso e
ela tentando seduzi-lo. O Sheik Bastardo não ficaria deitado com semelhante
insensibilidade. Tentaria receber com agrado as necessidades de uma mulher.

Com cuidado e lentidão, levantou a camisa de Edward, mostrando as
carnes masculinas proibidas. Um joelho, uma coxa. Suas pernas eram mais
escuras que as dela. O cabelo encaracolado roçou seus dedos... Quem
pensaria que um homem podia ser tão peludo? Ou tão morno...

Dedos como paus seguraram sua mão. Elizabeth deu um grito sufocado.
— O que está fazendo, Elizabeth?

Ela reprimiu uma gargalhada e falou com tranqüila firmeza:
— O que acha que estou fazendo, Edward?
—Acredito que vamos morrer congelados.

Sua voz era igualmente tranqüila e muito mais razoável. E nada
sedutora.

Elizabeth não tirou a mão e ele não a soltou. —Estou tentando te
seduzir, Edward.
— Entrando às escondidas em meu quarto e me manuseando enquanto
durmo?

137

Ela retrocedeu, sentindo-se de repente ramplona e vulgar. Não devia ser

assim. Durante suas lições, o Sheik Bastardo a tinha enfurecido,

escandalizado e excitado, mas jamais a tinha feito se sentir suja.
—Alguns homens apreciariam o interesse.
—Eu não sou qualquer homem, Elizabeth. Sou seu marido. O que quer?

A situação tinha adquirido a jeito de uma farsa. Como ele poderia saber
o que ela desejava?

Talvez enxergasse mal à noite. Possivelmente não podia ver que ela não
vestia camisola.
—Quero... —Acelerou seu coração. Como diria uma mulher respeitável a seu

marido, que queria fazer o amor? Ela pensou. E logo, ressentidamente, por
que tinha que explicar suas intenções quando estava sentada nua sobre sua

cama?

- Quero que tenhamos relações sexuais.
—Você tem dois filhos. Cumpri com meu dever.

Elizabeth sentiu como se tivesse entrado nas páginas de uma história de

terror. Por Deus, Edward tinha uma amante. O sexo não era um dever. Tinha
que saber o que ela queria.
—Não venho para que cumpra com seu dever, Edward.
—Então volte para seus aposentos e esqueçamos desta visita.

Elizabeth sentiu dor na garganta. Sentise ridícula, torpe e paralisada de

frio, sem outra coisa que sua luxúria. A raiva veio em seu resgate. Se podia

pedir ao Sheik bastardo que lhe ensinasse a agradar um homem, era inegável
que podia lhe pedir a seu marido que lhe permitisse agradá-lo.
—Edward, sei que você tem uma amante. Por favor, me deixe satisfazer suas

necessidades.
Os dedos de seu marido se endureceram ao redor de sua mão. —Não

tenho uma amante, Elizabeth e você já satisfaz minhas necessidades.

Ele estava mentindo.
Ela lutou por manter a voz firme.
— Que necessidades satisfaço, Edward?
—É a esposa perfeita para um político.
—Quer dizer, devido a meu pai.
—Sim.

Sabia. Sempre soubera que Edward se casara com ela por ser quem era
e não pelo que era. Dar-se conta devia ter contribuído para mitigar a dor de

confirmar.

138

—Quero ser mais que isso, Edward. – “Quero experimentar o momento de
união quando uma mulher acolhe A um homem dentro de seu corpo”.
—Eu não necessito de mais.
—Nossos filhos necessitam que tenha algo mais entre nós.
—Seus filhos Elizabeth. Dei-te filhos para que ficasse contente.

Deus! Não precisava ouvir tudo aquilo. Apesar da falta de ccompromiso

de Edward com o leito conjugal, eram a família perfeita... Ou não?
— E o que acontece se eu não estou satisfeita com este acordo? - Não vem a

minha cama em mais de doze anos.
—Uma mulher respeitável não deseja que seu marido a satisfaça fisicamente.

- Se deseja mais filhos, discutiremos o assunto no café da manhã.

A histeria arranhou sua garganta. Queria rir. Queria chorar.

Nem em seus piores sonhos tinha imaginado semelhante resposta por parte de

seu marido. Uma sensação gelada que não tinha nada a ver com o frio

ambiente se apoderou dela. O Sheik Bastardo tinha sabido.
—Quero discutir isto agora, Edward.
—O que tenho que dizer não vai ser de seu agrado.
—Já não está sendo de meu agrado agora. Não acredito que me entusiasme

mais quando estiver tomando chá com pão-doce!
—Está ficando histérica.
—Não.
—Sim.

Elizabeth respirou fundo para se acalmar. - Estou tentando compreender

nosso matrimônio. Você diz que não tem uma amante e são muitos os

rumores que o confirmam. Phillip briga para proteger sua reputação. Richard

está doente de tristeza. Se puder fazer algo para te agradar, eu farei. Me diga

o que quer, Edward.

Ele soltou sua mão.
—Muito bem. Cubra-se.

Elizabeth procurou torpemente a colcha de veludo e a envolveu ao

redor do corpo. Edward baixou o lençol e a colcha até que lhe chegaram a

cintura, como se tivesse medo de que ela o atacasse.
—Não quero seu corpo, Elizabeth. Você tem seios enormes como úberes e

quadris flácidos. Foi um sacrifício ter que me deitar contigo as vezes que o

fiz para te deixar grávida. Richard e Phillip são sadios. Não me darei o

trabalho de ir pata cama contigo de novo, somente para que possa se deitar

com um homem. Está claro?

139

A dor começou na parte baixa de seu peito e foi subindo até a garganta.
Não podia respirar, não podia engolir. Mal podia falar.
Mas sim podia pensar. E deduzir. E recordar.
—Disse que os meninos eram para mim, mas isso não é verdade, não é assim,
Edward? Eram para ti, para que pudesse aumentar sua popularidade entre os
eleitores.
—A classe média prefere um candidato com família

Seu marido tinha ido até seu leito para semear as bases de sua carreira
política.
— Quantos meninos são necessários para satisfazer seus eleitores?

Ele caiu em sua armadilha. — Um é suficiente.
A voz de Elizabeth na escuridão era extranhamente tranqüila:
—A última vez que foi a minha cama foi quando Richard estava doente de
difteria. O doutor disse que ele estava morrendo.
E quase morrera. Seu bebê de quatro anos ardia por causa da febre. Mas
Elizabeth se resistiu a deixá-lo ir. Banhara-o com água pura e o havia
sustenido enquanto lhe cantava até cair num exausto torpor.
E Edward a tinha levado até sua cama e se uniu a ela. Naquele
momento, tinha acreditado que o fazia o amor, para consolá-la.
—Então me deu outro menino para substituir Richard, no caso do doutor ter
razão e você perder a popularidade entre os eleitores.
—Mas Richard se recuperou e veio Phillip.
Sua voz na escuridão era tão razoável. Era a mesma voz que ele usava
quando respondia perguntas dos opositores depois de um discurso.
—Você tm dois filhos, Elizabeth. Nenhuma mulher respeitável poderia pedir
mais.
— E você o que tem, Edward? —Perguntou Elizabeth com voz quebrada.
—Eu serei primeiro-ministro.
Enquanto ela continuaria vivendo uma vida que não era vida, desejando
o amor de um homem.
A fúria descarnada se sobrepôs à dor.
— Onde passas as noites quando não está em casa, Edward? Quem é a
mulher com a qual o viram?
—Já lhe disse que não há nenhuma mulher. A política tem suas exigências.
Seu pai já foi primeiro-ministro duas vezes. Farei tudo por substituí-lo.
Menos se deitar com ela.

140

Elizabeth olhou fixamente a negrume apagado do cabelo e do bigode de
Edward, o único que se via contra o travesseiro branco.
—Estas queixas tuas não beneficiam a ti e nem me agradam. Voltarei-me
agora para que não siga se humilhando, me mostrando seu corpo nu quando
deixar meus aposentos. Hoje te espera um dia muito intenso. Espero que vá
ao leilão de beneficência esta noite e mais tarde ao baile.

E tal como acabava de dizer, Edward se girou afastando-se dela.
Elizabeth já não podia sentir o ar frio de fevereiro que a invadia.
—Não serei uma boneca, Edward.
—Já é, Elizabeth.
As lágrimas lhe queimavam nos olhos. A derrota era uma emoção
horrorosa. Muito pior que a frustração com a qual tinha vivido durante os
últimos dezesseis anos.
Desceu da cama bruscamente, torcendo o tornozelo. Uma dor aguda a
sobressaltou. Recolheu os objetos dos que se despojara e segurou a bolsa da
cômoda. A porta que conectava os dois aposentos se fechou a suas costas
com um clique.
Dentro de seu aposento as cortinas estavam fechadas, bloqueando um
mundo que rechaçava a necessidade de satisfação sexual que tinha uma
mulher. Seios enormes como úberes. Como se atrevia! Como se atrevia
alguém humilhar outra pessoa, de semelhante modo!
Atirou o monte de roupa o mais longe possível e elevou a chama do
abajur de gás que havia junto a sua cama. Nua frente em espelho, estudou-se
com um olhar despojado de fantasias ilusórias ou desejos lascivos. De
maneira desumana avaliou o peso de seus abundantes seios e as tênues estrias
que atravessavam seus quadris contornados. Uma figura de mulher havia dito
o Sheik Bastardo. Devia sentir-se orgulhosa de seu corpo, tinha agregado. “O
Jardim Perfumado” exaltava os seios e os quadris de uma mulher.
Que coisas podia fazer um homem com uma mulher de seios grandes
que não pode fazer com uma de proporções menos generosas? “Pode colocar
seu membro entre seus seios e pressioná-los... para ficar enterrado entre
eles... como se fosse numa vulva”. Elizabeth jogou a cabeça para trás e
fechou os olhos com força. Inclusive enquanto tremia de raiva e de dor
recordava a sensação do falo artificial e a atração hipnótica dos olhos
turqueses. Ela o desejara. Um homem com sua experiência saberia.
Provavelmente o Sheik Bastardo estaria rindo dela. Como estaria seu marido.
Edward tinha se afastado dela para não voltar ver seu corpo de mulher.

141

Então deu uma volta sobre si, completamente. Seus seios se sacudiram
enquanto saltava para a roupa espalhada pelo quarto. Desenterrou a bolsa
debaixo das anquinhas de crina.

O livro tinha mentido. O Sheik Bastardo tinha mentido. Não havia
satisfação possível para uma mulher de trinta e três anos que mostrava os
primeiros fios de prata em seu cabelo e os efeitos deixados por duas
gestaçãos em seu corpo. Abriu de um golpe a tampa de sua escrivaninha,
pegou uma pluma, tinta e papel.

A letra saiu rabiscada, diferente das linhas claras e precisas que seu
instrutor a tinha obrigado a praticar durante toda sua infância. Como sem
dúvida tinham sido rabiscadas as notas que tinha deixado sobre a mesa do
Sheik Bastardo. Quarenta maneiras de amar. Malditas fossem todas elas.

****

Ramiel releu a nota.

Obrigado por me emprestar o livro. Embora me pareceu interessante,
não me resultou de nenhuma utilidade.

Atentamente

As palavras que Elizabeth tinha pronunciado há poucas horas antes
encheram sua mente. Palavras comovedoras, palavras cheias de dor. Tinha
dezessete anos, ia ter um bebê e queria saber como tinha acontecido aquilo.
Mas a folha não se movia.

Ramiel sentiu que o coração lhe oprimia.
Partículas de pó dançavam na líquida luz do meio-dia. Tinha dormindo
quatro horas, sonhando com a boca de Elizabeth, seus seios, seu urgente
desejo.
Amassou a nota.
Muhamed estava esperando na porta do dormitório. Não se sentia
perturbado ante a nudez de Ramiel.
—É o melhor, Ibn.
Os olhos de Ramiel brilhavam. – Lê minha correspondência,
Muhamed?
A cabeça do homem de Cornualles, coberta com turbante, se elevou
bruscamente.

142

—Sabe que não.
— Então como diabos sabe o que diz? – Fustigou-o Ramiel.
—O livro, Ibn. Ela devolveu o livro.

Ramiel cravou o olhar no pacote simplesmente envolto nas mãos de
Muhamed. “ O Jardim Perfumado” do Sheik Nefzawi. Uma autêntica
celebração árabe de amor e loucura, sexo e humanidade, o absurdo e o
sagrado.
— Como sabe que livro ela me enviou?
—Porque sei, Ibn. Ânsias com que uma mulher capta a parte árabe que há em
ti. O papel que havia sobre sua escrivaninha na sexta-feira pela manhã,
continha informação do livro do Sheik. E a letra não era tua.

Ramiel sentiu como contraditórias emoções lhe revolviam as entranhas.
Raiva ao inteirar de que Muhamed tinha lido palavras que só Ramiel deveria
ter visto. Dor ao comprovar que Elizabeth o considerava tão insignificante
que tinha decidido terminar suas lições com uma nota em lugar de com um
encontro cara a cara.
Por que lhe havia devolvido o livro?

Voltou a abrir a nota que acabava de amassar em sua mão. Cheirava a
ela, a doçura natural da carne de uma mulher, acima estava o fresco aroma de
tinta e pergaminho. As palavras se apertavam umas contra outras, como se
fossem escritas a grande velocidade.

Ou sob uma grande pressão.
Ramiel releu a última parte da nota: “Embora me pareceu interessante,
não me resultou que nenhuma utilidade”, Então se deu conta do que a tinha
empurrado a fazer.
Ela havia tentado aplacar a paixão que ele tinha avivado
deliberadamente, seduzindo seu marido.
O que tinha feito para atrair Edward Petre? Tinha-lhe feito àquelas
coisas que Ramiel queria que fizesse com ele? Tinha-o tomado em suas
mãos, apertado e agitado? Tinha-o metido em sua boca?
Talvez Edward tivesse gostado, pensou Ramiel, enquanto uma onda de
ciúmes estalava em seu interior. Se Edward ficasse com os olhos fechados, a
boca de Elizabeth teria sido igual à boca de um homem. L'na. Maldito seja.
Elizabeth era inexperiente, insegura e vulnerável. Não compreenderia que era
seu sexo e não seu corpo o que não agradava a seu marido.
O punho que envolvia o coração de Ramiel se convulsionou com força.
Ela o havia tocado... Com suas palavras, sua paixão, sua curiosidade, sua

143

honestidade e seu dedo escorregadio de saliva. Como podia ter ido a outro
homem? O que tinha feito Edward Petre com ela, para que terminasse suas
aulas tão repentinamente? Ramiel olhou A Muhamed.
— Onde está Petre agora?
—No Salão da Rainha.
— por que?
—Há um leilão Beneficente.
— E aonde irá esta noite?
—Depois do leilão haverá um baile. Era onde Edward Petre aproveitava para
fazer política... Seguiria sua esposa. Possivelmente, há nove anos tivesse
perdido o direito de ser amado, mas Ramiel não perderia Elizabeth agora. As
mulheres lhe rogavam que se deitasse com elas na escuridão da noite e o
desprezavam a luz do dia e isso não lhe tinha importado até que lhe mostrou
que uma mulher inglesa necessitava de um bastardo árabe para algo mais que
o sexo selvagem.

Se realmente ela queria terminar com sua relação, devia fazê-lo cara a
cara. Aquela noite.

E logo a convenceria de que não o fizesse.

CAPÍTULO XIII

As aranhas resplandecentes alagavam de luz muito fraques negros e
trajes de cores brilhantes. Tecidos de seda, tule e veludo despediam numa
mistura de benzeno, perfume concentrado e suor corporal. Elizabeth
cambaleou, ligeiramente enjoada pela falta de ar e de sonho.
—Como todos sabemos, os recursos que se arrecadem neste leilão
alimentarão e vestirão mulheres e crianças sem lar cujos valentes e heróicos
maridos e filhos perderam suas vidas na África, lutando para proteger a
liberdade da Commonwealth.

Aplausos entusiastas acompanharam a estratégica pausa do primeiro-
ministro. Elizabeth se concentrou no homem que estava em pé no palco
colocado frente aos músicos, que esperavam pacientemente com seus
instrumentos, desviando sua atenção da massa sufocante de corpos que se
formavam a seu redor.

144

O cabelo do Andrew Walters era mais prateado que mogno, seus olhos
cor avelã brilhavam com aquela fascinação que sempre exercia ante o
público. Não tinha mais para ver a si mesmo vinte e sete anos mais tarde.

De maneira desenvolvida e perita, levantou suas pequenas e magras
mãos para pedir silêncio.
—Para lhes agradecer suas contribuições humanitárias, organizamos um
jantar e um baile. Mas primeiro me permitam abrir um parêntese. Como
vocês sabem minha filha me deu dois maravilhosos netos: primeiros futuros
ministros.

Gargalhadas masculinas e risinhos femininas flutuaram no ar em torno
de Elizabeth.
—Be... Não riam. Agora são jovens, mas logo crescerão e ocuparão seus
postos. Mas como é óbvio tenho a meu genro. Senhoras e senhores, me
permitam lhes apresentar seu próximo primeiro-ministro, Edward Petre,
ministro da Economia e Fazenda!

O aplauso foi ensurdecedor. Edward saltou com flexibilidade a tribuna
colocando-se junto a Andrew e levantou ambos os braços. Elizabeth jamais o
tinha visto tão bonito. Seu pálido rosto estava ruborizado e seus olhos
brilhavam. Era como se os acontecimentos daquela manhã jamais tivessem
acontecido.
—Meu sogro se precipita um pouco. Ainda restam muitos anos atpe chegar
como primeiro-ministro. Mas minha maior ambição é seguir seus passos.
Quando chegar o momento, e se Deus o permitir, unicamente espero ser
digno de semelhante cargo. - Mais aplausos enquanto Edward os dirigia
habilmente, acrescentando-os ou diminuindo-os.
—E agora eu gostaria de agradecer as duas mulheres de minha vida. Uma
deu-me minha esposa e a outra meus dois filhos, a quem prepararei para
seguir meus passos como Andrew Walters me lecionou para seguir os seus.
Senhoras e senhores, apresento-lhes À senhora Rebecca Walters, minha
sogra, e a senhora Elizabeth Petre, minha esposa. Sem o trabalho e a devoção
de ambas, o leilão e baile de hoje não teriam sido possíveis!

Elizabeth sentiu que lhe contraía o estômago. Edward era um
mentiroso e um hipócrita e não tinha nenhum interesse em seus dois filhos.
Sentiu que não podia fazer o que ele pedira. Ele não podia pretender que ela
subisse e falasse a seu favor, depois de tudo o que havia lhe dito.

Mas no fim, não teve opção. Mãos bem-intencionadas a empurraram
para diante. Rebecca subiu pela esquerda de Andrew e Elizabeth se situou

145

entre seu pai e Edward com reticência, quem com cada palavra, com cada
movimento estrategicamente planejado, procuravam obter apoio político.

Rebecca deu seu discurso. Suas palavras, ligeiramente trocadas para
obter maior espontaneidade, tinham o mesmo significado, que seu maior
prazer era ser a mão direita de seu marido e que esperava poder dedicar
muitos anos mais ao serviço da comunidade. Seguiu-lhe um aplauso cortês e
comedido.

Elizabeth passou a língua pelos lábios, de repente mais secos que o pó
de arroz e olhou para as centenas de pares de olhos que a observavam
espectadores. Todas as palavras que tinha praticado se apagaram de sua
mente. Ela riu. Uma risada nervosa, quebrada, que não podia confundir com
outra coisa que o que fosse.
—Pois... Minha família é muito difícil de seguir.

Algumas gargalhadas, logo risadas nervosas.
—Não estou segura de que meus dois filhos sejam conscientes de que os
espera o cargo de primeiros futuros ministros, mas lhes asseguro que lhes
será comunicado. Possivelmente o decano seja menos estrito a próxima vez
que façam mal um exame, sabendo que o futuro da Inglaterra está em suas
mãos.

Mais gargalhadas, mais risinhos nervosas, aplausos aqui e ali. Elizabeth
podia sentir as ondas ameaçadoras de desaprovação que emanavam de seu
pai e de seu marido. Ou talvez fosse o calor que surgia dos abajures
resplandecentes. E devia dizer que pensava que quando chegasse o momento
Edward seria um fantástico primeiro-ministro e que estaria encantada de estar
a seu lado. Não podia fazê-lo.
—Obrigado por vosso apoio. E obrigado por suas generosas contribuições.

Os dedos de Edward, cobertos por uma luva de seda branca, aferraram
dolorosamente a mão direita de Elizabeth. Os dedos de seu pai, igualmente
frios através da luva, pegaram sua esquerda. A mão direita de sua mãe sabia
por experiência, estaria sujeitando a esquerda de Andrew, uma família unida
aos olhos do eleitorado. Elizabeth e Rebecca fizeram uma reverência. Edward
e Andrew se inclinaram.

Perguntou o que diriam os eleitores se soubessem que seu querido
ministro da Economia e Fazenda tinha engendrado fríamente uma família
para contar com seus votos. Também se perguntou se seus pais a teriam
concebido pela mesma razão. E não duvidou nem por um instante de que
tinha sido assim. Endireitando-se, deu conta de que era a primeira vez que

146

tinha feito uma reverência em frente ao público sem temor de tropeçar com a
barra de seu vestido. O ligeiro sentimento de satisfação que sentiu em pensar,
paralisou-se sob a visão de um par de olhos turquesas.

O pânico cresceu dentro de seu peito. O pânico... E a lembrança do falo
de couro duro no oco dos dedos fortes e escuros.

Elizabeth fez o que sempre tinha temido que acontecesse ao soltar as
mãos e perder o equilíbrio. Tropeçou. Imediatamente, a cadeia de mãos se
rompeu. O primeiro-ministro desceu do tablado para dar a mão a seus
eleitores, enquanto Edward ajudava Elizabeth com dissimulação.

Sua estupidez foi camuflada com tanta graça que pareceu ter sido
deliberada. Ninguém se inteirou de que tinha tropeçado, salvo seu pai, seu
marido... E o Sheik Bastardo.
— Você está bem, Elizabeth? —A voz de Edward soava extranhamente
solícita. Seus olhos castanhos eram da cor do rio Tâmisa quando se
congelava na metade de seu curso.
Elizabeth se separou dele.
—Sim, obrigado, Edward. Por favor, não quero que se descuide de seus
eleitores.

Ele sorriu.
—Não o farei.

Os músicos se moveram impacientes. Estavam ansiosos por começar a
tocar e terminar quanto antes com a conversa. Também estava Elizabeth.
Levantando a cauda de seu vestido para evitar maiores contratempos, desceu
da pequena plataforma de madeira.
O público de eleitores de classe média se separou. O Sheik Bastardo não
estava em nenhum lado.

Teria imaginado-o?
—Esperava algo melhor de ti, Elizabeth.

O som de um violino afinando ressoou estridente atrás de seus ombros
nus. Elizabeth se voltou por completo. O Sheik Bastardo estava tão perto que
seus seios roçavam as lapelas de seu traje negro.

O calor lhe ferveu o sangue.
— O que está fazendo aqui?

Um halito quente chegou a seu rosto. O rosto escuro que a olhava era
hermético, o dourado de seu cabelo, um halo brilhante.
- Vim por ti.

147

Elizabeth sentiu que o ar ficava preso em seu peito. Aquela manhã ele
havia dito que não se deitara com uma mulher em seis dias.

Por um minuto pareceu que...
Tolices. Sequer seu próprio marido a desejava
—Imagino que terá recebido meu pacote. Se tiver alterado o livro de alguma
forma, estou disposta a lhe pagar o que corresponda.
Os olhos turquesas eram tão duros como a pedra da mesma cor.
— O que lhe fez seu marido?
Uma escala de teclas no piano introduziu uma valsa popular. Uma onda
de calor aflorou em suas costas. Eram homens e mulheres que tomavam suas
posições sobre a pista de baile.
Ele não podia saber o que tinha acontecido entre ela e Edward.
Ninguém conhecia sua humilhação exceto ela... E seu marido.
Seus lábios estavam frios e duros.
— A que se refere?
—Você saiu de minha casa quente. E foi a seu marido para satisfazer seu
desejo. Até onde chegou antes que ele a rechaçasse?
Úberes. Quentura.
Edward a tinha comparado com uma vaca e o Sheik Bastardo falava de
sua paixão como se fosse um cão.
O que tinha acontecido naquela manhã com seu marido havia resultado
ser uma trágica farsa. Agora isto era um pesadelo. O Sheik Bastardo não só
se deu conta de quão forte tinha sido sua excitação quando manipulava o falo
artificial, mas também, além disso, sabia que seu marido a tinha rechaçado.
Sorriu como se estivessem falando do leilão, do baile, da música ou
qualquer outra coisa menos do animal com o qual a tinha comparado e de
quão ruim Edward a tinha feito se sentir.
—Não sei do que está falando, Lorde Safyre. Se me desculpar, preciso ver se
falta algo no bufê.
Ela se voltou sem deixar de sorrir.
Ele fez o mesmo.
—Então a acompanharei. E você me dirá que coisas das quais te ensinei
tentaste fazer com seu marido.
Elizabeth continuou caminhando, sorrindo aos grandes contribuintes,
mas assegurando-se também de não discriminar as pessoas menos
enriquecidas que não estavam em condições de fazer grandes doações.
— Beijou-o?

148

—Desculpem-me... – Ela murmurou enquanto tentava passar pelo meio de
um casal mais velho, que cheirava a naftalina.
— Colocou sua língua dentro de sua boca?

Ela perguntou-se quanto tempo mais podia continuar sorrindo.
— Agitou e apertou seu membro?
—Olá, senhor Bidley, senhora Bidley.

O casal de meia idade, não menos conservador que a anterior, não ouviu
Elizabeth. Ela desejou compartilhar sua surdez.

Um vapor quente roçou a parte superior de sua cabeça.
— Colocou seu membro em sua boca?

Como se tivessem vida própria, seus pés se detiveram em seco. Fechou
os olhos ante as imagens e sensações que aquelas palavras invocavam. A
língua de um homem dentro de sua boca, o membro do Sheik Bastardo, uma
cabeça em forma de ameixa que pedia a gritos um beijo.

Não sabia que um homem se umedecia com a excitação, mesmo como a
mulher. A Edward não tinha acontecido.
— Como sabe que meu marido me rechaçou, Lorde Safyre?
—Por sua nota, Elizabeth.

Edward pronunciava seu nome com uma cortesia distante. Rebecca
pronunciava seu nome com fria autoridade. O Sheik Bastardo pronunciava
seu nome como se tivessem compartilhado uma intimidade física e verbal.
—Não lhe dei permissão para dirigir a mim por meu nome. —As lágrimas
lhe aguilhoavam as pálpebras. - —Não lhe pedi que me faltasse com respeito.
—Jamais te faltei com respeito.

Elizabeth piscou para evitar que as lágrimas caíssem e levantou os
olhos para encontrar com seu olhar turquesa.
—Então como chamaria, Lorde Safyre, indagar sobre minhas atividades
sexuais com meu marido?

Seu olhar duro e implacável não se alterou.
—Só está respondendo a minha pergunta.
—Não, não beijei meu marido. Não agitei nem apertei seu membro. Não
tomei sua língua nem nenhuma outra coisa em minha boca. Ele não me
deseja, o qual deveria deixar você satisfeito. Minha humilhação foi completa.
Não era o que você queria, me humilhar por tê-lo chantageado para entrar em
sua casa? Pois o obteve. Desejo-lhe o melhor, senhor.

Dor. Por um segundo ficou refletido nos olhos de Ramiel.

149

Ela não ficou para ver se era uma ilusão. Sua própria dor era o bastante
real para os dois.

Desta vez o Sheik Bastardo não a seguiu.
Os homens e as mulheres estavam dando voltas ao redor da mesa do
bufê, conversando enquanto comiam camarões. Srriam enquanto saboreavam
o caviar, satisfeitos com a saborosa comida e a moralidade sem sexo.
Elizabeth sorriu, saudou, falou, mas não pôde recordar nenhuma só coisa do
que se disse aquela noite.
Sua mãe falava com o encarregado do serviço... Estavam juntos em pé.
Rebecca, régia com seu traje de veludo azul real, o atento encarregado
vestido de seda marrom, adequado a sua função. Quando Rebecca viu
Elizabeth, fez-lhe um gesto para que se aproximasse. Elizabeth se voltou e
distraídamente sorriu a pessoa que tinha mais perto.
Seu sorriso se paralisou.
—Dançe comigo.
Imediatamente ela pensou em negar. Ele era um bastardo. Um exótico
pavão, de pele escura e cabelos dourados, rodeado do tipo de pessoas que não
perdoavam, a classe média. Sua filiação poderia ser passada acima entre a
élite. Mas não num baile de beneficência.
Elizabeth podia sentir que alguns gélidos olhos verdes estavam
observando-a, julgando-a e não precisava se voltar para saber que quem a
observava era sua mãe.
O olhar turquesa do Sheik Bastardo era velado. Ele esperava que ela o
rechaçasse. Que o julgasse e condenasse como o tinha feito Lorde Inchcape.
Como faria Rebecca Walters.
—Dançaria comigo outra vez?
—Será uma honra, Lorde Safyre.
Uma chama azul faiscou naqueles olhos. Ramiel também recordava as
aulas e as confidências compartilhadas. Em silêncio, conduziu-a até a pista.
Tampouco ela disse alguma palavra. Limitou-se a estirar o braço e apoiar a
mão esquerda sobre seu ombro.
O calor da mão enluvada de Ramiel ardia através de sua própria luva.
Ele sustentou-a bem mais perto que os quarenta e cinco centímetros
regulamentares. Ela sentiu gostou.
Um morno hálito soprava em sua orelha. Aquilo também era
prazenteiro. Quente, íntimo. Sensações que jamais sentiria. “Não terei o
trabalho de ir para a cama contigo de novo somente para que possa te deitar

150


Click to View FlipBook Version