The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.
Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by andreaires, 2018-08-20 14:51:20

Textos_e_Contextos

Textos_e_Contextos

Textos e contextos

A primeira grande mudança ocorreu quando a comunidade
universitária passou acreditar que ações concretas, tais como a
aquisição de novos livros e equipamentos, a recuperação e a
construção de instalações físicas (laboratórios, salas de aula,
gabinetes, bibliotecas etc.) poderiam ocorrer em nossa
Universidade. Ressalte-se a criação de novos cursos de graduação e
pós-graduação e o empenho desenvolvido desde início, na área de
recursos humanos, atualmente com 542 docentes realizando
estudos de pós-graduação (dos quais 300 realizando doutoramento
no País e no exterior) e 2.367 funcionários técnico-administrativos
tendo recebido treinamentos.

Durante o período de nossa gestão, sentimos que um número
cada vez maior de pessoas acreditava que a política partidária, o
corporativismo e as ideologias poderiam existir na Universidade
sem, necessariamente, interferirem na condução de suas funções
básicas.

Novos recursos financeiros foram conseguidos através de bons
projetos e do sistema de parcerias com instituições governamentais
e não governamentais.

Estabelecidas às prioridades, trabalhamos incansavelmente para
atingir os objetivos e as metas propostas, chegando ao final de
nossa administração com mais de 200 obras concluídas, deixando a
Universidade Federal do Ceará totalmente informatizada, tendo
sido comtemplada, recentemente, com um computador científico de
grande porte. A UFC está, portanto, em plenas condições de dar o
salto de qualidade que lhe está a exigir o novo milênio.

Entendemos que a falta de continuidade seria um equívoco não
apenas contra a Instituição que tem sido um marco na história mais
recente do desenvolvimento de nosso Estado, mas também contra o
povo que a subvenciona e que dela espera solução para os seus
graves problemas.

O Povo de 21/06/1995.

50

Textos e contextos

OS RECURSOS FINANCEIROS DA UFC

Decorridos mais de cem dias que deixamos a Reitoria da
Universidade Federal do Ceará, é com desagrado que vimos a
público, em face de assuntos que vêm sendo noticiado, com
insistência, pela imprensa local, sobre a crise do Hospital
Universitário Walter Cantídio. Sentimo-nos na obrigação de prestar
esclarecimentos ao público em geral e à comunidade universitária
em particular.

É por demais conhecida a escassez de recursos nas
Universidades Públicas Federais nos últimos anos. Durante o
período que passamos à frente da UFC (junho de 1991 a junho de
1995), não tivemos um único exercício orçamentário regular. O
orçamento de 1994 foi aprovado pelo Congresso apenas em
novembro.

Para quem desconhece o assunto, o Orçamento Público Federal
é elaborado pelos técnicos do Ministério do Planejamento no mês
de agosto com valores de abril do ano anterior ao exercício, sendo
encaminhado, posteriormente, à consideração do Exmo. Senhor
Presidente da República e ao Congresso Nacional.

O Orçamento do Ano Fiscal de 1995, em decorrência do Plano
de Estabilização Econômica, não teve seus valores corrigidos pelo
índice de correção da inflação, sendo a dotação orçamentária

51

Textos e contextos

esgotada logo no primeiro semestre. Há anos este problema tem
sido contornado por créditos suplementares. Quem já ocupou o
cargo de Reitor ou de Pró-Reitor de Planejamento deve saber que é
indispensável muito trabalho e muita habilidade política junto ao
Ministério da Educação e a outros setores governamentais para
resolver tais problemas.

Durante o ano de 1994, o Ministério da Educação também
deixou de repassar recursos totais necessários para pagamento de
pessoal durante alguns meses, o que forçou a Administração
Superior da UFC a transferir, temporariamente, recursos próprios
para cobrir essas necessidades, sendo, no final do ano, submetido a
um acerto de contas junto ao Ministério da Educação.

Ao repassar as diferenças, o Ministério da Educação incluiu
recursos adicionais excedentes, os quais, após correções, tiveram
de ser devolvidos pela Universidade Federal do Ceará. No processo
de devolução, ficou acertado com o setor competente do MEC que
faríamos ajustes de elementos financeiros, tais como elementos de
Despesa de Capital, uma vez que os citados recursos haviam sido
aplicados na construção de salas de aula, gabinetes de professores,
laboratórios, setores de treinamento, clínicas, compra de
equipamentos, entre outros, utilizados para a melhoria das
condições de trabalho da UFC.

As despesas de investimento realizadas em 1995 na UFC
somaram o total de R$ 6,3 milhões. Este quantitativo foi coberto
com recursos de antecipação da receita do Tesouro da rubrica
Capital (R$ 2,8 milhões); saldo de exercício anterior (R$ 1,4
milhão) e de recursos próprios (R$ 2,1 milhões). Ao sairmos da
Universidade Federal do Ceará, deixamos em caixa a importância
de R$ 7,7 milhões que dariam cobrir plenamente a importância de
R$ 7 milhões referidos pela imprensa local. O problema é que
houve, posteriormente, mudanças na condução do processo junto

52

Textos e contextos

ao Ministério da Educação, alterando o que já havíamos deixado
solucionado.

Torna-se oportuno esclarecer também que, ao sairmos da
Reitoria, deixamos garantidos os recursos financeiros para a
conclusão das obras iniciadas. Deve-se ressaltar que verbas
adicionais são sempre necessárias face aos indispensáveis ajustes,
sendo a sua consecução uma atividade constante na ação
administrativa.

É verdade que cada administrador tem o seu estilo e adota as
estratégias que julgar mais convenientes, também não é menos
verdade que, segundo conhecido provérbio, deve assumir “tanto o
bônus quanto o ônus”.

Foi o que fizemos durante quatro anos, assumindo a Reitoria da
Universidade Federal do Ceará em um quadro bem mais difícil em
termos materiais, financeiros, políticos, de recursos humanos e com
o ânimo da comunidade acadêmica muito baixa.

O compromisso com a resolução dos graves problemas
existentes no Estado e na Região Nordestina requer da
Universidade atos concretos que os viabilizem e que, por sua vez,
exigem do administrador uma boa dose de criatividade e
determinação. Afinal, a tão almejada democratização da
Universidade não pode resumir-se a uma retórica vazia ou de atos
populistas.

Desde o início, até o último dia da nossa administração frente à
Reitoria da UFC, batalhamos incansavelmente por mais recursos
financeiros, levando continuamente projetos a Brasília, o que nos
possibilitou dar uma contribuição considerada satisfatória pela
comunidade interna e externa da instituição.

A crise do Hospital Universitário Walter Cantídio origina-se,
principalmente, dos baixos preços dos serviços prestados à

53

Textos e contextos
comunidade e pagos pelo Sistema SUS, agravados pelo atraso no
repasse dos pagamentos e pela dependência do Hospital a uma
única fonte de recursos financeiros.

Acreditamos que o tempo seja capaz de conduzir a UFC a ações
determinadas e inovadoras como as circunstâncias estão a exigir,
adotando cada vez mais o regime de parceria com outras
instituições. De nada valerão para isto, as críticas fáceis e as
lamentações, mas a prática do bom senso e da tão falada e pouco
exercitada ética.

O Povo de 15/10/1995.

54

Textos e contextos

A RESPEITO DE DENÚNCIAS

É comum, em nosso País, denunciar o administrador público
mesmo sem provas, na estranha concepção de que todos são
corruptos desde que provem o contrário, principalmente se tiver
realizado um trabalho construtivo e de mudanças.

Nos últimos dias, os jornais e a televisão vêm divulgando
manchetes relativas a pretensas irregularidades na UFC, ocorridas
durante o período de nossa gestão (junho de 1991 a junho de 1995).

A bem da verdade e em respeito ao público que deve ser bem
informado, ao meu próprio nome e as das pessoas que comigo
trabalharam, cujas reputações foram construídas ao longo de uma
vida de dedicação e trabalho, sentimo-nos na obrigação de informar
fatos que não tivemos nem a oportunidade de esclarecer
anteriormente nem o mesmo espaço dedicado às acusações a nós
dirigidas, o que seria nosso direito.

1º) A Comissão Coordenadora do Vestibular (CCV), durante o
nosso período administrativo, realizou única e exclusivamente 9
(nove) concursos vestibulares, 5 (cinco) outros concursos públicos
para seleção de servidores técnico-administrativos da Universidade

55

Textos e contextos

e 7 (sete) concursos para admissão às Casas de Cultura da UFC,
totalizando 571 provas, correspondentes a 11.732 questões,
equivalendo a elaboração de uma prova diferente a cada 2 dias.

Isto demonstra a complexidade e intensidade dos trabalhos ali
realizados, exigindo horas-extras dos funcionários técnico-
administrativos e professores, incluindo sábados, domingos e
feriados.

2º) As pessoas envolvidas com os trabalhos da CCV foram
pagas por suas atividades de acordo com as leis em vigor,
consubstanciadas em pareceres da Procuradoria Jurídica da UFC. O
chamado “desvio de recursos públicos,” num total de R$
320.000,00 (trezentos e vinte mil reais), relacionados a folhas de
pagamentos existentes no Setor de Finanças da Universidade e na
agência da Reitoria do Banco do Brasil, está à disposição de quem
possa se interessar.

3º) A pedido de algumas instituições como Petrobras, Polícia
Federal, FUNCEME, DNER, CPRN, entre outras, a Universidade
Federal do Ceará cedeu suas instalações físicas para a realização de
concursos públicos das mesmas, sem nenhum envolvimento da
CCV. Em alguns casos, houve a participação de pessoas da CCV,
mas apenas na condição de pessoas físicas, sem ligação com a
Comissão Coordenadora do Vestibular. Nestes casos, o pagamento
a referidas pessoas pelos serviços prestados era única e
exclusivamente da competência das referidas instituições
solicitantes.

4º) Também, a pedido, o CETREDE coordenou os concursos
realizados pela CPRN e FUNCEME, tendo todas as exigências
contábeis encaminhadas às autoridades competentes, encontrando-
se as mesmas à disposição do público interessado.

56

Textos e contextos

5º) A CCV, usando de atribuições previstas nos editais, durante
o vestibular 94.2 e em decorrência de defeito na leitora automática
de notas em relação à prova de redação, tomou a deliberação de
considerar a primeira nota dos candidatos. Foi uma medida
aplicada a todos os candidatos indistintamente.

6º) A nossa administração nunca realizou obras ou adquiriu
equipamentos de forma superfaturada e mas dentro do que
especificava a legislação em vigor, sendo todos os esclarecimentos
exigidos pelo Tribunal de Contas da União satisfatoriamente
respondidos.

7º) A participação do ex-funcionário da CCV nas acusações
infundadas e distorcidas em questão originam-se de interesses
pessoais frustrados, uma vez que o mesmo é novato na UFC e
pretendia, já, ocupar cargo na Secretaria da CCV, e ainda por achar
que deveria receber mais que outros em concursos realizados por
outras instituições que não a UFC dos quais participava. O referido
funcionário jamais apresentou por escrito, conforme exige o artigo
144 da lei 8.112 de 11/12/1990, as denúncias de possíveis fraudes
ocorridas na CCV, impossibilitando desta forma, a instalação de
qualquer inquérito administrativo. É oportuno informar que o
funcionário em questão encontra-se há quase um ano à disposição
do Gabinete do Procurador da República, responsável pelas
acusações à nossa administração, com a função específica de
“selecionar e orientar” os depoimentos das pessoas, principalmente
dos alunos que participaram como fiscais dos concursos realizados
pela CCV e por outras instituições.

Infelizmente tais expedientes encontram um terreno fértil na
ânsia com que a mídia busca elevados índices de audiência e de
venda de jornais. Tudo parece justificar este objetivo. Enxovalham-
se reputações com a mesma facilidade que se descartam papéis em
uma lixeira. As razões podem ser as mais mesquinhas, desde

57

Textos e contextos
frustações e antipatias pessoais a projetos políticos
maquiavelicamente urdidos e alimentados por promoções pessoais.
Tudo perfeitamente acobertado por cargos intocáveis. E ficamos
nós à mercê de pretensos semideuses e de seus humores.

Agradecemos os inúmeros telefonemas, telegramas e as visitas
de apoio de pessoas e de representantes de instituições, repudiando
os fatos e atitudes aqui mencionados. Certos de que a verdade não
se coaduna com procedimentos levianos e estrepitosos, podemos
afirmar que nos manteremos dignos deste apoio e desta
consideração.

O Povo e Diário do Nordeste, de 22/03/1996.

58

Textos e contextos

REVENDO O SISTEMA SEBRAE

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
(SEBRAE), criado em 1991, em substituição ao antigo CEBRAE,
surgiu como uma entidade social, mantida por 0,3% do total das
contribuições das grandes empresas para o chamado “Sistema S”-
SENAI, SESC, SENAR, SESI e SEBRAE. Este percentual é
recolhido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e
transferido ao SEBRAE-Nacional, com sede em Brasília, que gere
os recursos financeiros recebidos e os distribui, segundo
parâmetros estabelecidos, aos SEBRAE Estaduais. É a chamada
contribuição social que, ao contrário de que possa parecer, é de
ordem bastante limitada. Cabe a cada SEBRAE Estadual contribuir
com o mínimo de 10% de seu próprio orçamento, como
contrapartida, gerado através da ações com a realização de cursos,
feiras, elaboração de projetos, prestações de consultorias, venda de
publicações etc.

O Sistema SEBRAE possui, em sua estrutura de funcionamento,
um Conselho Deliberativo, formado por 13 representantes de
entidades de classe, órgãos governamentais e bancos oficiais,
constando, entre os mesmos, a figura do Presidente do Conselho,

59

Textos e contextos

eleito por este mesmo colegiado para um mandato de dois anos,
podendo ser reconduzido por mais um período. O Conselho
Deliberativo escolhe uma Diretoria Executiva, composta pelos
cargos de um Diretor-Superintendente, um Diretor-Técnico e de
um Diretor-Administrativo para mandatos bienais, com
possibilidade de recondução por vários períodos.

As dificuldades do Sistema SEBRAE começam por sua falta de
vinculação definida, como acontece com as demais entidades do
chamado ‘Sistema S” como o SESI e o SENAI (subordinadas à
Confederação Nacional da Indústria); o SESC (a Confederação
Nacional do Comércio) e o SENAR (a Confederação Nacional da
Agricultura). Não sendo uma entidade governamental, o SEBRAE
tem em seu Conselho uma forte representação dos interesses
governamentais, em detrimento de uma maior representatividade
das pequenas e micros empresas, das ONGs e dos sindicatos. Ao
lado destes fatos, a Presidência do Conselho, que não participa das
atividades cotidianas da entidade, reveste-se de função executiva,
tomando deliberações que seriam da competência da Diretoria
Executiva. Esta discrepância seria prontamente corrigida,
agilizando sobremaneira as ações gerenciais, se as funções de
Presidente do Conselho e as de Superintendente fossem exercidas
pela mesma pessoa, como ocorre em outros órgãos e instituições.

Indefinições, quanto a abrangência ou não das atividades dos
SEBRAE Estaduais, prejudicam sensivelmente o Sistema. As
condições socioeconômicas do País não deixam dúvidas sobre o
papel atual e futuro das pequenas e micros empresas como
geradoras de empregos e melhoria de renda, o que projeta e amplia
o leque de sua representatividade nos processos de melhorias de
suas gerências em termos modernos e eficazes, visando à
consecução de seus objetivos.

60

Textos e contextos
Consideramos o Sistema SEBRAE como uma “Universidade

das Micros e Pequenas Empresas”, distribuindo informações
importantes, qualificando pessoal, apresentando alternativas de
negócios nos setores do comércio, da indústria, dos serviços e da
agricultura.

É importante que as lideranças políticas, classistas e intelectuais
possam conhecer, avaliar e dar maior suporte ao Sistema SEBRAE
a fim de torná-lo mais ágil, garantindo melhor qualidade, eficácia e
eficiência na prestação de seus serviços, trazendo, sempre, as
inovações necessárias ao pleno desenvolvimento das pequenas e
micros empresas.

O Povo, de 15/06/1998.

61

Textos e contextos

EM DEFESA DO PIAMARTA

A mídia tem divulgado a difícil situação por que passa o Centro
Educacional João Piamarta: redução de repasses por parte da
Secretaria Estadual da Ação Social (SAS), de 80 mil reais para 22
mil, ocasionando um estado “pré-falimentar” do estabelecimento, o
que levou o Diretor Padre Luís Rebuffini a optar pela medida
radical de uma greve de fome, sem obter solução até o persente
momento.

Tivemos a oportunidade, como Secretário de Educação do
Estado do segundo governo de Virgílio Távora, de acompanhar e
apoiar a extraordinária ação educacional de Rebuffini. O governo
da época (1979-1982) pose-lhe à disposição galpões deixados por
construtora do açude Pacoti, de modo a possibilitar àquele religioso
a instalação de uma experiência educacional com garotos e garotas
que até então estavam abandonadas pelas ruas e periferia de
Fortaleza, vivendo sob a influência degradante da marginalização,
da ameaça das drogas e da prostituição.

Ao longo dos anos, o Padre Rebuffini foi transformando e
ampliando aquela estrutura inicial, dando abrigo a um maior
número de crianças e possibilitando-lhes um processo de

62

Textos e contextos

socialização saudável e educação continuada, inclusive com cursos
agrícolas graças à existência de uma Escola Agrícola anexa.

O Piamarta veio a criar, posteriormente, uma escola para
meninas no Eusébio, à margem da estrada que faz a ligação com a
cidade de Fortaleza. O Piamarta ampliou sua atuação em Fortaleza
agregando oficinas diversas de trabalho destinadas ao preparo de
jovens para o mercado e a vida profissionais.

No “Sistema Educacional Piamarta,” já são mais de cinco mil
pessoas envolvidas com atividades em tempo integral, com três mil
refeições servidas diariamente, materiais escolares e enxovais
distribuídos a seus alunos. É um trabalho de qualidade, com apoio
de organizações internacionais e nacionais, dotado de uma visão
social, preventiva e integrada, repercutindo diretamente na
formação e qualificação dos mais carentes, desempenhando função
social reconhecida por todos.

É lamentável que o trabalho de tão grande importância como o
que é desenvolvido pelo Padre Luis Rebuffini e seus auxiliares no
Piamarta e por outros abnegados que militam em outras entidades
como o IPREDE, sofram tensões e incertezas para obterem
recursos que lhes são devidos por direito e pelo papel que
desempenham em nossa sociedade.

Surpreende a indiferença, por parte do governo municipal,
estadual e federal, frente a tamanho retrocesso, como se a falência
ou o fechamento de uma instituição de tal envergadura não tivesse
consequências na economia e no desenvolvimento do Estado como
um todo, como não fosse uma omissão ou um crime contra o povo
mais carente e contra o País.

10/03/2005.

63

Textos e contextos

S.O.S. UECE

A Universidade Estadual do Ceará (UECE) está vivendo uma
crise extremamente grave. Os recursos financeiros para os gastos
de manutenção (despesas de luz, telefone, água, material de
expediente etc.) estão reduzidos a menos da metade de suas reais
necessidades. Falta pessoal docente e administrativo,
principalmente técnicos de laboratórios, impossibilitando o
funcionamento básico da Instituição.

A situação chegou a um ponto tal que professores e
pesquisadores estão pagando os serviços necessários com o
dinheiro do próprio bolso. Recentemente um professor da área da
medicina teve de pagar, por conta própria, combustível, diárias e
alimentação de motorista e auxiliar, a fim de que fosse possível
coletar material no interior do Estado, necessário a sua pesquisa.
Outro pesquisador, de renome nacional, está sendo obrigado a
pagar, com recursos próprios, os servidores da estação ecológica de
Pacoti, para evitar que a mesma seja fechada.

Prédios de vários campi do interior estão sem vigilantes e sem
pessoal de limpeza, com o patrimônio público sendo degradado a
cada dia que passa. Construções estão paralisadas, apesar de já
terem sido licitadas e iniciadas, tais como o Hospital Veterinário
em Fortaleza, a ampliação da Biblioteca Central, a construção do

64

Textos e contextos

novo Restaurante Universitário, o novo complexo poliesportivo,
além de várias salas de aula e ampliações no interior do Estado. O
nível salarial de professores e funcionários da UECE está defasado,
gerando um clima de inquietação. Isto apesar de, nos últimos anos,
a Universidade ter realizado um esforço de qualificação de seu
corpo docente, contando hoje com 262 doutores, 23 pós-doutores,
509 mestres e 150 especialistas.

O número de seus cursos e de alunos foi ampliado, atendendo
assim à função social da Universidade: são 61 cursos de graduação
(32 em Fortaleza), 3 cursos sequenciais (Itapipoca, Tauá e Russas),
num total de 17.064 alunos; cursos de pós-graduação-
especialização, mestrado (profissional e acadêmico) e doutorado
com 3.029 alunos. São cursos de qualidade comprovada em
diversas avaliações por órgãos especializados a nível nacional
(CAPES, CNPQ), como os de veterinária, administração de
empresas, nutrição, enfermagem, medicina, serviço social,
geografia e licenciaturas.

Todo o investimento financeiro, material e humano já realizado
até agora está em risco. Nunca é demais lembrar que o trabalho de
pesquisa exige a formação de longo prazo de seus pesquisadores e
uma continuidade na obtenção de seus resultados, sob o risco de
perda dos trabalhos em execução, com custos elevados e muitas
vezes irreversíveis. Não é possível assistirmos inertes a esse
processo que diz respeito a toda a sociedade cearense. Chega de
promessas vazias e discursos divorciados da ação. Necessitamos de
ações urgentes e imediatas, para recuperar o sentido do patrimônio
coletivo cearense que a UECE representa, inestimável para
qualquer projeto de futuro responsável.

O Povo, de 05/05/2007.

65

Textos e contextos
66

Textos e contextos

S. O. S. EMATER-CE

Leio no jornal O Povo de 14/06/2015, relativo ao Munícipio de
Canindé: “No pátio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural, a EMATER-CE, seis carros e duas motos esperam, há
meses, por combustível. Também estão avariados ou com
documentação irregular. E tem mais: além de denúncia de
corrupção, a empresa padece com o corte no quadro de pessoal. Em
janeiro passado, o Governo do Estado demitiu 450 técnicos, oito
dos quais do escritório de Canindé.” A verdade é que desde
governos anteriores, a EMATER-CE vem sofrendo um
esvaziamento no seu quadro de pessoal, desvirtuamento de suas
funções e predominância da política partidária na escolha de seus
técnicos e administradores.

É importante recordar que a função primordial da extensão rural
é exercer uma educação informal junto aos produtores agrícolas e
suas famílias, principalmente pequenos e médios proprietários
rurais. Todos os países desenvolvidos em agricultura têm ou
tiveram, como suporte significativo, a pesquisa agropecuária e a
extensão rural. Deve estar sempre presente o fato de que não
faremos mudanças e desenvolvimento socioeconômico equilibrado

67

Textos e contextos
sem educação de qualidade em todos os níveis e formas, inclusive
no meio rural. No passado, a seleção de técnicos do Serviço de
Extensão Rural era feita tendo por base seus currículos e
entrevistas. Nem todo técnico da extensão tem tendência para
educador, exigência esta essencial para os chamados extensionistas
agrícolas.

O Estado do Ceará já eliminou a sua Empresa de Pesquisa
Agropecuária e corre o risco de fazer o mesmo com sua entidade de
extensão rural, caso não haja reação por parte da classe agronômica
e dos homens públicos lúcidos e interessados no progresso do
nosso Estado. Espero que o Governador Camilo Santana, como
engenheiro agrônomo, faça a sua parte para mudar a situação da
EMATER-CE.

O Povo, de 16/06/2015.

68

Textos e contextos
AGRONOMIA
69

Textos e contextos

O AGRÔNOMO
EMPREENDEDOR

A formação do engenheiro agrônomo precisa corresponder aos
avanços da ciência, das inovações tecnológicas, das mudanças
sociais e econômicas da sociedade e, consequentemente, ao
surgimento de oportunidades para novas atividades profissionais.

Ao mesmo tempo em que permanece a necessidade de uma
formação generalista, impõem-se as especializações, por meio de
cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).

Na análise do ajuste curricular da formação do engenheiro
agrônomo, há que se minimizar a visão puramente acadêmica,
estabelecendo-se o novo curriculum não apenas com a participação
de professores e representação estudantil, mas auscultando também
outros profissionais da área, envolvidos com diferentes entidades e
práticas e com clientes ou serviços a serem atendidos pelos futuros
agrônomos.

Outro equívoco presente na formação dos profissionais de
agronomia consiste na visão de que os mesmos deverão preparar-se
para atuarem principalmente no serviço público ou em empresas
privadas. Urge que àqueles profissionais seja ministrado um ensino

70

Textos e contextos

que amplie e desenvolva uma “cultura empreendedora” de forma
que eles possam, individualmente ou através de cooperativas ou
associações, montar e gerir os seus próprios negócios. É o que
chamamos de “agrônomo empreendedor”.

O curriculum do profissional de agronomia deve ser acrescido
de um maior número de disciplinas vinculadas à economia,
sociologia, antropologia e, principalmente, à área de administração.
Assuntos relativos à motivação, liderança, tomada de decisão,
inovação, planejamento estratégico, acompanhamento e avaliação,
estudo de cenários, organização empresarial, dentre outros, são
imprescindíveis diante das perspectivas que são ditadas pelo
mercado de emprego.

A prática no manuseio do computador, o conhecimento de
línguas estrangeiras, mormente o inglês e o espanhol, a vivência de
montagens e experiências com empresas Juniors, além da
realização de estágios obrigatórios fora dos campi universitários,
complementariam o curriculum do engenheiro agrônomo para
enfrentar os novos desafios. Sem esquecer-se de salientar a
importância de outras experiências que permitam uma ampliação e
complementação da formação dos profissionais de agronomia com
visitas a empresas, participação em seminários, palestras fora ou
dentro do ambiente universitário. A instigação ao hábito de leitura
sobre temas de literatura sobre a formação econômica e social do
Brasil, da Região Nordeste e do Estado do Ceará, assim como a
respeito de experiências empresariais bem sucedidas e que
contribuíram para o desenvolvimento do País, da Região e do
Estado. É o que devem permear o conhecimento do profissional de
agronomia moderno e atuante.

A sociedade do conhecimento é a nova realidade do milênio que
se aproxima. Os profissionais que não estiverem atentos às
mudanças na velocidade adequada aos novos tempos serão

71

Textos e contextos
ultrapassados por outros novos profissionais que estarão a surgir. É
necessário, portanto, que o profissional de agronomia empreenda
um verdadeiro salto de qualidade e atualização em seu atual
processo de formação, redimensionando suas perspectivas perante
as mudanças da sociedade e suas novas demandas.

O Povo, de 02/02/1999.

72

Textos e contextos

MUDANÇAS
NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Nos anos de cinquenta e sessenta, os profissionais que
prestavam assistência técnica ao setor da agricultura brasileira eram
constituídos, principalmente, por engenheiros agrônomos e
veterinários. Os agrônomos tinham uma formação eclética, com
forte acento tecnológico, influenciado pelas escolas europeias,
principalmente a França e a Alemanha, com perfil para atuarem
dominantemente nos órgãos públicos.

No caso específico da Região Nordeste, a partir do surgimento
da SUDENE (1959) e sob forte influência de Celso Furtado, vindo
da CEPAL, as escolas de agronomia mudaram muito de seus
conteúdos programáticos, enfatizando uma visão social de atuação
dos futuros profissionais. Daí surgiram disciplinas como sociologia
rural e extensão rural, uma maior ênfase na economia agrícola e a
preocupação maior com os recursos naturais, tendo em vista a
perspectiva de sua escassez.

Nos anos de setenta e oitenta, começam mudanças significativas
relativas à formação dos engenheiros agrônomos com o
desdobramento da carreira em novas modalidades profissionais,

73

Textos e contextos

tais como as de engenheiros florestais, de pesca e agrícola, de
engenharia de alimentos e de zootecnista. O agrônomo passa a ter
formação especializada em fitotecnia, zootecnia, recursos naturais,
economia agrícola. Em outras palavras, retrai-se a influência
europeia e predomina a norte-americana.

Na década de noventa, retoma-se a análise crítica da formação
dos profissionais de agronomia a partir das vertentes generalista e
aprofundamento da especialização, ambas marcadas pela
necessidade de uma ação profissional voltada para a empresa
privada, as cooperativas e as ONGs e capazes de atuarem no
serviço público como ação complementar.

Nos anos seguintes, dados as complexas necessidades
socioeconômicas e o surgimento de novas tecnologias como a
biotecnologia, iremos precisar de agrônomos com boa base técnico-
científica e acentuado espírito analítico das condições sociais e
econômicas do meio em que terão de atuar, sempre sendo a ética,
orientadora de suas ações junto à comunidade. Uma visão
empreendedora e inovadora, aliada a um espírito de liderança
também se impõe como modo de atingir uma flexibilidade para
trabalhar tanto em entidades privadas como públicas.

Em nosso entendimento, o futuro profissional de agronomia será
um generalista formado pela integração interdisciplinar das áreas
de conhecimento técnico-científico e social, diferenciando-se pelas
experiências adquiridas ao longo de estágios, viagens específicas e
leituras diferenciadas acerca do meio rural. Atingir-se-á assim uma
nova e diferenciada contribuição do profissional da agronomia para
a sociedade em que vive.

O Povo , de 11/01/2003.

74

Textos e contextos
75

Textos e contextos

VISÃO E PIONEIRISMO

A Escola de Agronomia do Ceará, atualmente Centro de
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, tem uma bela
trajetória histórica na evolução e consolidação do ensino superior
do Estado do Ceará, bem como no esforço de superação do nosso
subdesenvolvimento. Tudo isto não teria sido possível sem a
presença de pioneiros e homens de visão como Humberto de
Andrade, Renato Braga e Prisco Bezerra. Humberto de Andrade foi
seu fundador, Renato Braga consegiu sua consolidação e Prisco
Bezerra, dirigiu sua modernização.

Tendo começado em 1918 como entidade privada, a Escola foi
incorporada depois pelo governo estadual e, em seguida,
federalizada, na condição de subordinada a Superintendência do
Ensino Agrícola e Veterinário (SEAV) do Ministério da
Agricultura. Finalmente, em 1954, foi integrada à Universidade
Federal do Ceará (UFC), quando da instalação desta.

Como terceira entidade mais antiga do ensino superior do Ceará
(depois da Faculdade de Direito, de 1903 e da Faculdade de
Farmácia e Odontologia, de 1913), manteve, em meio a ciclos de
crise e sua superação, um crescimento constante. O grande

76

Textos e contextos

destaque das lutas em prol do desenvolvimento da Escola foi o seu
corpo de professores e funcionários técnico-administrativos,
juntamente com os seus alunos. Dentre as figuras mais destacadas
do seu quadro docente, estava o professor Renato de Almeida
Braga, cujo centenário de nascimento foi comemorado em
dezembro de 2005.

Quando diretor da antiga Secretaria de Agricultura do Ceará,
Renato Braga foi responsável pela cessão de uma fazenda estadual
situada no Bairro do Alagadiço, hoje São Gerardo, em favor da
Escola de Agronomia, terreno que hoje integra a área do Campus
do Pici, pertencente a UFC.

À época do processo de estadualização, os professores da Escola
tiveram de optar entre continuar na Agronomia ou ir para a
Secretaria de Agricultura, pois não poderiam acumular cargos. Esta
situação acabou por gerar uma carência de docentes, o que obrigou
muitos que permaneceram a ministrarem mais de uma disciplina.
Diretor da Escola de Agronomia à época, Renato Braga foi
fundamental, com sua capacidade de liderança e orientação, para
superar essa difícil fase criando a estrutura de departamentos e
possibilitando a entrada de novos professores.

O Professor Renato Braga transmitiu aos seus alunos, entre os
quais tive o prazer de ser incluído, além dos seus conhecimentos
técnicos, uma ampla visão humanística de nossa sociedade. Deu-
nos inúmeros exemplos de sua capacidade de observação
inteligente e perspicaz. Dizia, por exemplo, que “no Ceará, em
qualquer roda de pessoas em que estivermos, nunca devemos falar
mal de alguém, pois todo mundo é parente um do outro” ou,
então,” quando vocês ocuparem cargos de chefia, nunca tentem
rebaixar ou retirar salários de ninguém (mexer no bolso), porque
terão um inimigo para toda vida”.

77

Textos e contextos
Renato Braga foi um dos fundadores e depois Presidente da

Sociedade Cearense de Agronomia, posteriormente denominada
Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará, tendo também
fundado a Sociedade Cearense de Geografia e História. Foi eleito
Deputado Estadual constituinte de 1946 e ocupou os cargos de
secretario estadual da Agricultura e Fazenda. Exerceu o cargo de
Diretor da Escola de Agronomia por vários anos e em mandatos
diferentes; fundou e foi o primeiro Diretor do Instituto de
Zootecnia da UFC e Vice-reitor da Universidade Federal do Ceará.

Renato Braga pertenceu a várias instituições e associações
culturais do Estado do Ceará, dentre elas a Academia Cearense de
Letras e o Instituto do Ceará.

Publicou inúmeros artigos e livros, dos quais gostaríamos de
destacar: Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará (Imprensa
Oficial do Ceará, 1953); História da Comissão Científica de
Exploração (Imprensa Universitária da UFC, 1962); Dicionário
Geográfico e Histórico do Ceará (Imprensa Universitária da
UFC,1964) Todas essas obras são essências ao conhecimento de
nossa realidade local.

Por essas e muitas razões é que não podemos deixar de
homenagear o mestre Renato Braga neste seu centenário, com a
certeza de que seu nome, sinônimo de muitas realizações, deixou
uma marca inconfundível na História do Ceará.

Diário do Nordeste, de 13/02/2006.

78

Textos e contextos

DESAFIOS AGRONÕMICOS

A antiga Sociedade Cearense de Agronomia, hoje Associação de
Engenheiros Agrônomos do Ceará (AEAC), primeira entidade
cearense a promover publicação científica na área das ciências
agrárias no Estado, foi fundada no dia 19/09/1942 por uma plêiade
de idealistas profissionais tendo à frente Guimarães Duque, Rui
Simões de Menezes, Renato Braga, Davi Felínto e Francisco Alves
de Andrade, entre outros, tendo por objetivo não somente a defesa
de classe, mas também a discussão sobre o desenvolvimento da
agropecuária no Ceará.

No decorrer do período de sua fundação até os dias atuais, várias
mudanças ocorreram no perfil da profissão e no desenvolvimento
da agricultura, trazendo novos desafios. A carreira agronômica foi
“fatiada” pelo surgimento de novas profissões na área das ciências
agrárias: a silvicultura passou para o domínio dos engenheiros
florestais; a piscicultura ficou a cargo dos engenheiros de pesca; a
tecnologia de alimentos é setor controlado pelos engenheiros de
alimentos; as máquinas e implementos agrícolas passaram à
responsabilidade dos engenheiros agrícolas e, finalmente, a

79

Textos e contextos

alimentação e manejo dos animais foram incorporados pelos
profissionais de zootecnia.

O outro lado dessas mudanças é que os profissionais de
agronomia perderam a visão integrada do setor da agropecuária,
influência europeia de sua formação, em favor da setorialização
(especialização), baseado no modelo norte-americano.

A atuação profissional dos engenheiros agrônomos dava-se
predominantemente no serviço público (Ministério da Agricultura,
Secretarias de Agricultura, Serviços de Extensão, Centros de
Pesquisa, Universidades, Órgãos de desenvolvimento regionais
etc.). Estas entidades, na sua maioria, foram, de uma maneira geral,
esvaziadas e alteradas nos seus objetivos, quando não extintas (caso
da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária do Ceará-EPACE).
Por sua vez, as políticas de desenvolvimento rural passaram a ser
determinadas por visões e diretrizes dos bancos oficiais,
Ministérios da Fazenda e do Planejamento e de suas congêneres
estaduais.

Observa-se, além disso, que o desenvolvimento da agricultura
tem sido determinado, quase que exclusivamente, pelo “mercado”,
principalmente o externo, pela influência da chamada
“globalização” e pelos grandes interesses financeiros e empresarias
que visam ao lucro acima de qualquer outro objetivo. Em
consequência, a preocupação com o meio ambiente, principalmente
o reflorestamento, a conservação do solo e dos mananciais de água,
finda por ser considerada de menor importância, o que leva à
proliferação de sistemas de irrigação inadequados e ao uso
indiscriminado de agrotóxicos.

Diante desse quadro, parece ser evidente que a própria formação
dos profissionais de agronomia precisa ser mudada urgentemente, a
partir de currículos voltados para as contribuições da ecologia,
genética, química, informática, administração e inovação, entre

80

Textos e contextos
outros campos disciplinares. Importante reconhecer, ainda, que as
novas oportunidades profissionais estão mais baseadas em negócios
próprios ou de terceiros, não sendo mais representativa a oferta de
empregos da parte da administração (serviço) pública.

Cabe à Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará
(AEAC) estar atenta para promover uma nova consciência
profissional da classe até agora aparentemente acomodada e
dispersa pelas perspectivas limitadas do mercado de trabalho.
Trata-se de levar os profissionais de agronomia a enfrentarem os
desafios do presente, como foram capazes de fazê-lo, a seu tempo,
os fundadores de nossa entidade.

O Povo, de 15/09/2007.

81

Textos e contextos

AGRONOMIA-90 ANOS

No dia 30 de março do corrente ano, o Curso de Agronomia da
Universidade Federal do Ceará (UFC) completou 90 anos, criado
que foi na mesma data, em 1918. Começou a funcionar como
entidade particular, sem dinheiro, sem sede própria, sem um quadro
de professores e mesmo sem uma ideia mais exata da
potencialidade dos seus futuros alunos. Apesar dessas dificuldades,
no entanto, a plêiade de seus fundadores, forjada no binômio
idealismo e determinação, foi capaz de criar as condições mínimas
de funcionamento, utilizando-se das instalações do Liceu do Ceará,
situado então na Praça dos Voluntários, de uma área agrícola junto
ao esquadrão da Policia Militar do Ceará no Alagadiço, doado pelo
governo João Tomé (vizinho à outra fazenda, que, posteriormente,
seria cedido pelo Estado-atual Campus do Pici) e de equipamentos
agrícolas emprestados pela firma Torquato Ferreira.

Ao longo de sua existência, a Agronomia contou sempre com
figuras fundamentais para o seu desenvolvimento, como Humberto
de Andrade (um dos fundadores da escola), Renato Braga e Prisco
Bezerra que contribuíram com ideias inovadoras, decisões
administrativas sábias e liderança adequada às diferentes situações

82

Textos e contextos
vivenciadas. Como exemplos do pioneirismo do curso no âmbito
do ensino superior pode-se citar: a implantação da estrutura
departamental (1938); um massivo programa de qualificação
(mestrado e doutorado) de seus professores, através de convênios
com instituições internacionais como as Universidades do Arizona
(1964) e de Michigan (1970), com a Fundação Ford (1970) e com a
francesa OSTOM (1975); a instalação de coordenações de
graduação, de pesquisa e pós-graduação, de extensão e de assuntos
estudantis junto à diretoria do curso (1965); os primeiros cursos de
mestrado da UFC-Economia Agrícola e Fitotecnia (1971); bem
como o fato de ter sido um dos primeiros cursos a utilizar
computadores em seu trabalho de rotina (1983).

Muito deve o Estado às pesquisas agropecuárias da
Agronomia: algodão mocó, sorgo, mamona, culturas alimentares,
melhoramento de forrageiras e de animais domésticos, tecnologia
de alimentos. Mais de 900 espécies de feijão e 500 de forrageiras
estão catalogadas e armazenadas nos laboratórios do Curso. Todas
essas conquistas, e inúmeros engenheiros agrônomos aqui
formados, espalhados por todo o Brasil e exterior, nas mais
diversas atividades, são uma demonstração cabal de que o
idealismo e a determinação continuam a orientar, nos dias atuais, os
que fazem a Agronomia em nosso Estado.

O Povo, de31/03/2008.

83

Textos e contextos

A FORMAÇÃO
DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO

No passado, algumas profissões, como o advogado, o
engenheiro civil e o agrônomo, ofereciam um leque de
possibilidades de atuação. Com o passar do tempo surgiram
formações outras nesses campos profissionais devido à
especificação do conhecimento e à correspondente especialização
das atividades.

No caso específico da Agronomia, surgiram, como novos
campos, as diversas modalidades de Engenharia: florestal, de
pesca, de máquinas e equipamentos agrícolas, de tecnologia de
alimentos, além da própria Zootecnia. Restou ao engenheiro
agrônomo estreitar o seu campo de atuação profissional,
aprofundando-o. Assim deve ele, atualmente, ter uma boa base de
conhecimento em solos, culturas agrícolas, genética vegetal,
administração rural e empreendedorismo.

No que se refere à ciência de solos, envolve essa subárea um
grande investimento cognitivo em física, química e geologia, bem
como conhecimentos fundamentais ao uso adequados de máquinas

84

Textos e contextos

e equipamentos agrícolas, a fim de evitar mudar muito a estrutura
do solo.

Já no campo das culturas agrícolas, há forte ênfase no
embasamento da genética, assim como no estudo aprofundado dos
recursos e condições do meio ambiente, no uso adequado da água
por meio dos diferentes sistemas de irrigação e do combate a
pragas e doenças vegetais. A genética vegetal, por sua vez, é
essencial para a geração de novas culturas agrícolas e adaptação de
outras, visando ao aumento da produção e produtividade agrícolas,
bem como do armazenamento de sementes.

Quanto à administração rural, exige conhecimentos sobre
economia, sociologia, recursos humanos, transferência tecnológica
de novos conhecimentos e adequação dos recursos naturais.

Por fim, o empreendedorismo é essencial para abertura das
mentes à inovação, surgimento de novas iniciativas e,
principalmente, para enfrentar os desafios existentes e os novos por
virem.

Acompanhando os recursos tecnológicos existentes e
complementando-os o embasamento do novo profissional de
agronomia exigirá do mesmo usar adequadamente os recursos da
computação, assim como manejar adequadamente uma língua
estrangeira, de preferência o inglês. Como todo bom profissional,
recomenda-se, além disso, uma disposição de aprendizagem
permanente e exercícios de criatividade, o que pode ser estimulado
pelo cultivo da leitura de assuntos variados, com destaque para os
relativos ao desenvolvimento socioeconômico e cultural, ao meio
ambiente, a políticas públicas e privadas, sem esquecer a própria
literatura, fundamental, como síntese de todas as experiências e
possibilidades humanas.

O Povo, de 10/10/2010.

85

Textos e contextos

70 ANOS DA AEAC

A Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará (AEAC) foi
fundada em 19 de setembro de 1942, com a denominação inicial
como Sociedade Cearense de Agronomia, por um grupo de
profissionais, liderados por Guimarães Duque, seu primeiro
presidente, e que, atualmente, dá nome à medalha de maior
distinção e reconhecimento aos profissionais da área. Em seus 70
anos de existência a AEAC, empenhou-se continuamente na defesa
dos seus associados, bem como na realização de seminários, cursos,
encontros regionais e estímulos à participação em congressos
nacionais e internacionais.

Dentre as lutas em prol da classe, destacam-se a
representatividade no Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA); a preservação de instituições públicas ligadas
ao setor da agropecuária; o debate de temas como meio ambiente,
reforma agrária, uso de novas tecnologias agrícolas adequadas ao
semiárido, agrotóxicos, melhoria de sementes, inclusive a
conveniência dos transgênicos dentre outros. A AEAC foi também
pioneira na publicação da primeira revista do Estado do Ceará de
artigos científicos na área das Ciências Agrárias, denominada

86

Textos e contextos

Boletim Cearense de Agronomia, com temas relativos à
piscicultura, zootecnia, agricultura, ecologia, economia agrícola
resultantes de trabalhos de pesquisa e estudos de seus associados.
Hoje são mais de 1200 profissionais associados à entidade e ela
continua a empenhar esforços para ampliar o seu quadro, através da
implantação dos “núcleos regionais”, nos diferentes municípios do
Estado.

Ao longo de sua existência, a AEAC teve 28 presidentes,
chegando, inclusive, a ter sede própria no Edifício Progresso,
posteriormente, vendida. Daí o desafio aos novos dirigentes de
retomar a ideia. Foi reconhecida como entidade de utilidade pública
pelos governos do Estado do Ceará e do Município de Fortaleza,
respectivamente através das Leis 1872 de 3 de julho de 1953 e 622
de 4 de maio de 1953. Em 23 de janeiro de 1969, filiou-se à
Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil
(FAEAB), estando, também, vinculada à Confederação das
Associações dos Engenheiros Agrônomos do Brasil
(CONFAEAB).

Ao alcançar seus 70 anos de existência, a AEAC tem muito a
comemorar por suas contribuições à sociedade cearense, externadas
através de ações diretas e indiretas e pelo destaque de muitos de
seus associados, os quais exerceram funções e cargos públicos de
secretários de estado, reitores, chefes de entidades de
desenvolvimento regional, estadual, municipal e de empresas
privadas.

Revista da AEAC, de 12/10/2012.

87

Textos e contextos
REGIÕES
88

Textos e contextos

CARIRI:
ONTEM, HOJE E AMANHÃ

Estivemos recentemente, na Região do Cariri Cearense, a
convite da Universidade Regional do Cariri (URCA). Nessa
ocasião tivemos oportunidade de contatar com lideranças
universitárias, políticas e empresarias que nos transmitiram o difícil
quadro que atravessa aquela região do nosso estado.

Nos anos 60, as condições eram mais promissoras, pois a região
contava com uma agricultura sólida, uma indústria e um setor
empresarial em desenvolvimento.

A cultura do algodão era significativa com usinas de
beneficiamento e agroindústrias de óleos vegetais. A cana-de-
açúcar tinha também papel de destaque, com vários engenhos
produzindo aguardente e rapadura. O abacaxi era cultivado na
Serra do Araripe; a laranja consumida era oriunda do Vale do
Salamanca; o arroz produzido em Várzea Alegre e no Vale dos
Carás. Produzia-se, também, milho, feijão e agave na Serra de São
Pedro.

89

Textos e contextos

A pecuária, principalmente a leiteira, ia bem, estimulada por
financiamentos a juros baixos pelos bancos oficiais e por suportes
governamentais. As exposições agropecuárias constituíam um
grande acontecimento não só para o Estado do Ceará, como para a
Região Nordeste.

Hoje, a situação é bem diferente: a Região do Cariri importa
abacaxi da Paraíba; laranjas e verduras de Petrolina-Pernambuco; a
cultura do algodão praticamente desapareceu da região e a cana-de
açúcar está também em crise juntamente com a usina e os
engenhos. Não está havendo nenhum incentivo para a produção da
farinha de mandioca, motivo pelo qual os produtores estão se
recusando produzi-la. A produção do leite está sendo suplementada
por regiões vizinhas.

A vegetação nativa da Chapada do Araripe continua sendo,
criminosamente, destruída, com sérios riscos para o abastecimento
de água da região.

As indústrias surgidas através do Projeto Morris Asimov, por
intermédio do convênio estabelecido pelas Universidades Federal
do Ceará e da Califórnia, ou foram desativadas (cerâmica, rádio,
produtos do milho etc.) ou estão em via de serem desativadas
(fábrica de cimento de Barbalha). Outras resistem com grandes
dificuldades, como é o caso das fábricas de sandálias de borracha.

Enquanto isso, as cidades crescem assim como o comércio e o
setor de serviços, surgindo novas agências de bancos, revendedoras
de carros, hospitais, restaurantes e projetos modernos para a
construção de shoppings centers.

O número de escolas e faculdades aumentou na região, sendo
instalada a Universidade Regional do Cariri na cidade do Crato e
seu Centro de Tecnológico e a Escola Técnica, em Juazeiro do
Norte. No entanto, principalmente, no caso da URCA, faltam

90

Textos e contextos
professores, equipamentos, melhorias e ampliação de salas de aula
e laboratórios, livros e incentivos funcionais para o seu pleno
funcionamento, na busca de uma educação essencialmente de
qualidade, como suporte fundamental ao desenvolvimento regional.

Uma região rica em solos, vegetação, água, com uma razoável
infraestrutura de estradas, energia, comunicações e transportes e
com uma cultura tão significativa e um potencial turístico dos
melhores, possuindo ainda filhos ilustres e influentes politicamente,
vive hoje uma grave crise econômica, social, tecnológica e política
sem precedentes. Qual a saída?

Antes de qualquer coisa, trata-se de uma decisão política a ser
tomada por uma comunidade consciente de que o pleno
desenvolvimento da região depende, principalmente, do esforço
coletivo para mudar a realidade existente.

É importante ressaltar que as pequenas disputas municipais
devem ser esquecidas em prol do desenvolvimento regional. Nos
tempos atuais, de mudanças rápidas e inovações nas áreas
científicas e tecnológicas e novas tendências de globalização da
economia, não há muitas alternativas além da busca incessante do
desenvolvimento ou a estagnação permanente com sérias
consequências para a região.

Diário do Nordeste, de 05/12/1995.

91

Textos e contextos

O OUTRO LADO DE JERI

Tivemos a oportunidade de, recentemente, visitar algumas praias
do litoral cearense, entre elas a de Jericoacoara, acompanhando
amigos de São Paulo. À primeira vista, chama a atenção à beleza
natural do lugar, a hospitalidade e simpatia de seus moradores, e a
grande movimentação de turistas nacionais e estrangeiros.

Entretanto, existe outro lado de Jericoacoara que pode passar
despercebido: os grandes negócios gerados pelo turismo tais como
pousadas, restaurantes e o controle da maior parte da frota de
“bugres” estão, hoje, nas mãos dos que não são nativos (nacionais e
estrangeiros), cabendo aos nativos papéis secundários (empregados
domésticos das pousadas, atendentes de restaurantes e motoristas,
dentre outros).

Nas principais lojas comerciais já não se ouve o sotaque
regional, mas sim o “carioquês” e os termos ingleses. Os nativos,
segundo informações que nos foram prestadas, estão vendendo suas
casas e terrenos para os de “fora” e mudando-se para outros locais
(praia do Preá, Cruz, Jijoca e Camocim). O Conselho Comunitário
local é formado, em sua quase totalidade, de pessoas não nativas,
com exceção de um membro nativo.

92

Textos e contextos
Dado o grande movimento turístico, o lixo e as novas

necessidades da saúde representam dois grandes desafios. A falta
de separação entre os espaços nas praias destinados aos banhistas e
a circulação de carros e animais são inadequadas (fato, aliás,
comum verificado em várias praias cearenses).

Deste modo, pudemos verificar nos diferentes lugares visitados,
que o turismo no Estado do Ceará, apesar da boa vontade de
muitos, continua a ser feito ainda na base da improvisação e com
muita falta de qualificação de pessoal.

O Povo, de 03/02/2001.

93

Textos e contextos

DESENVOLVER O EUSÉBIO

O município de Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza,
tem características peculiares por reunir interfaces de um povoado
pequeno e nuanças de cidade grande devido à instalação de várias
indústrias no eixo da BR-116, desde a fábrica Fortaleza até as
proximidades da sede municipal e do funcionamento de vários
pontos comerciais na CE-040, além do surgimento de inúmeros
conjuntos habitacionais.

Entre os fatores negativos no entorno da sede municipal,
destacamos as casas de forró com suas músicas tocadas à altura
máxima provocando insônias para os moradores circunvizinhos; o
crescimento de assaltos violentos aos pontos comerciais, às
residências e aos sítios demonstrando o crescimento geométrico da
marginalidade, frente à ação meramente aritmética dos órgãos
competentes para o seu combate.

Verificamos, ainda, no município, um grande número de jovens
desempregados e sem perspectivas o que pode ser constatado, por
exemplo, no núcleo habitacional Parque Havaí, onde as gangues
cooptam novos membros para assaltos e consumo de drogas.

94

Textos e contextos
O caso do Eusébio expõe o modelo de desenvolvimento no qual

estamos apostando para a Região Metropolitana de Fortaleza,
baseado na industrialização e no comércio. Será que não é chegado
o momento de encontrarmos alternativas tais como agricultura
(hortigranjeiro), piscicultura; aumento e diversificação dos serviços
(limpeza pública, construção, saneamento etc.); suporte e
implantação de micros e pequenas empresas; apoio maior às
demonstrações da cultura popular e o turismo rural?

Esperamos que as autoridades municipais, estaduais e lideranças
comunitárias consigam visualizar, em tempo breve, as
oportunidades de soluções que ofereçam superar o lado negativo do
seu desenvolvimento. Que o desenvolvimento sustentável possa
ser estabelecido no município para servir de modelo para os demais
municípios que integram a Região Metropolitana de Fortaleza.

O Povo, de 09/03/20001.

95

Textos e contextos

REFLEXÕES
SOBRE A REGIÃO DO CARIRI

O Rotary Clube do Crato promoveu, no período de 21 a 22 de
abril, deste ano uma reunião interclubes do Cariri, quando tivemos
a oportunidade de tratar do tema “O ensino superior na Região do
Cariri Cearense”.

Para situar o tema foi necessário verificamos dados estatísticos
recentes sobre a região, principalmente os do IBGE (Censo de
2000), BNDES e Previdência Social. Dentre outros,
competentemente ordenados pelo engenheiro agrônomo Aníbal
Couto, bem como a tese de mestrado de Wellington Justo,
informações complementares de lideranças locais (universitárias e
empresariais), além de visitar alguns locais, o que permitiu
fazermos algumas reflexões.

A Região do Cariri Cearense é hoje predominantemente urbana
(taxa de urbanização de 63,99%, sendo de 95,32% no Município de
Juazeiro do Norte), o que constitui uma tendência que pode ser
observada mesmo nos pequenos povoados rurais, como os do Vale
dos Carás. Isto implica que qualquer política de desenvolvimento

96

Textos e contextos

municipal e/ou regional terá de levar em conta ações destinadas à
habitação, ao saneamento (rede de água e esgoto), à coleta de lixo,
os serviços básicos de saúde, à educação e à geração de novas
oportunidades de trabalho.

Nos últimos anos, no entanto, o desenvolvimento da região tem
apresentado muitos desequilíbrios, representados, entre outros,
pelos seguintes fatores: desigualdade no crescimento espacial,
centrado no eixo “CRAJUBAR”, formado pelos municípios de
Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha; concentração da renda, com
34,1% dos recursos financeiros estão nas mãos dos que ganham
entre 12 a 35 salários mínimos; destruição dos recursos naturais
(vegetação e solos), principalmente nas encostas da Chapada e nos
vales; elevação dos índices de desemprego, com destaque entre os
jovens; aumento significativo da economia informal com várias
sequelas; dependência de outras regiões, como de Petrolina-PE
para a alimentação da população; diminuição das atividades do
comércio e da indústria e permanência de elevado percentual de
analfabetismo com consequências diretas na qualidade de suas
lideranças políticas. Apesar disto, temos a existência de pontos
importantes e decisivos ao desenvolvimento regional, como o
crescimento do consumo de energia elétrica; a expansão dos meios
de comunicação (telefonia, rádio, televisão.); melhorias na
infraestrutura; aumento do atendimento da educação escolar básica
(em torno de 90%), bem como as novas oportunidades do ensino
superior e a diminuição da mortalidade infantil.

O que é talvez mais lamentável na região é verificar, ainda nos
dias atuais, a falta de coordenação entre as administrações
municipais no trato de interesses comuns como no caso da coleta
de lixo, notadamente no eixo do CRAJUBAR; na omissão da
conservação de fontes de água (no município de Jardim várias
fontes já desapareceram, conforme verificaram estudos realizados
pela Universidade Regional do Cariri). No caso do Vale dos Carás,

97

Textos e contextos
tal destruição é representada pela produção indiscriminada de
cerâmica (tijolos, telhas), quando tais solos sempre foram
tradicionalmente destinados às culturas do arroz, do algodão, do
milho, da fruticultura e das forrageiras. Além da falta de apoio às
instituições regionais importantes como a Universidade Regional
do Cariri (URCA), tolhendo consideravelmente as possibilidades
de provocar as mudanças socioeconômicas desse estado de coisas.

Observa-se ainda um dado de grande significado: os recursos
financeiros transferidos pelo sistema previdenciário oficial (INSS)
para a região são maiores do que os recursos provenientes do
Fundo de Participação dos Munícipios (FPM) e da maioria da
arrecadação própria dos municípios juntos, o que prova que a
chamada “pensão dos velhinhos” não só sustenta a maioria das
famílias (inclusive os jovens) como é capaz de sustentar o
movimento do comércio nos quinze primeiros dias da cada mês.

Frente a esse cenário, concluímos que verdadeiramente falta à
Região do Cariri um plano de desenvolvimento integrado com
metas de curto, médio e longo prazo, de permanente execução
assegurada pela disponibilidade regular de recursos financeiros,
constituído por ações capazes de combinar esforços
governamentais com as iniciativas privadas e locais.

Diário do Nordeste, de 13/05/2001.

98

Textos e contextos

O TURISMO NO CARIRI

A Região do Cariri Cearense oferece todas as condições
necessárias ao pleno desenvolvimento do turismo, devido a fatores
como povo hospitaleiro, belezas naturais, folclore variado, pratos
regionais, rico e variado artesanato, locais históricos, museus
diferenciados, infraestrutura adequada de estradas intermunicipais,
energia elétrica, sistemas de comunicação, novos hotéis, contando
ainda com a disponibilidade de instituições de ensino superior.

Entretanto, quem tenta realizar turismo naquela região, saindo
das capitais próximas do Nordeste, enfrenta inúmeros obstáculos
relativos à má conservação das estradas federais (o trecho Farias
Brito-Várzea Alegre é um descalabro); a ausência de trens de
passageiros e mesmo o único voo aéreo existente funciona em
horário inadequado (ida 5h45min, volta às 22 horas).

O ponto principal do turismo regional, situado no Município de
Juazeiro do Norte é o Horto do Padre Cícero com sua estátua
monumental, o qual se encontra sujo com muito lixo espalhado nas
suas redondezas e barracas de venda de lembranças, feitas de
parede e teto de zinco ou lonas de plástico e o respectivo museu
fechado durante a hora do almoço, algo inconcebível para uma

99


Click to View FlipBook Version