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Published by andreaires, 2018-08-20 14:51:20

Textos_e_Contextos

Textos_e_Contextos

Textos e contextos
atração turística desse porte. Além da multidão de pedintes que
costuma cercar os visitantes, há falta de pessoal qualificado para
prestar informações turísticas. Tudo isto foi possível constatar
quando ali estivemos recentemente.

Outros locais na região apropriados à exploração turística, com
vistas belíssimas do Vale do Cariri, estão dando a impressão de
abandono como é o caso de um parque municipal em Caririaçu.
Também concorre para frustrar o turismo regional a deficiência da
limpeza pública das principais cidades da região, a pavimentação
precária das ruas e avenidas, a deficiência na sinalização dos locais
para visitação e o aumento da criminalidade.

Algumas áreas privilegiadas existentes dentro e fora das sedes
municipais precisam ser mais bem exploradas como o Parque de
Exposições da Cidade do Crato. Acreditamos plenamente no
potencial turístico do Cariri, mas para realizá-lo é preciso que fique
clara a necessidade de qualificar melhor os recursos humanos e
conscientizar as autoridades locais e as lideranças comunitárias
para a importância econômica, social e, principalmente, para a
geração de empregos e melhora da renda pessoal das pessoas nele
envolvidas.

O Povo, de 19/08/20001.

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Textos e contextos

TURISMO IMPROVISADO

A Chapada de Baturité tem todas as condições básicas para ser
um grande e importante polo turístico do Estado do Ceará:
proximidade de Fortaleza, clima agradável, vegetação exuberante
(Mata Atlântica), infraestrutura adequada de estradas, energia
elétrica e telefonia, fontes de água e número razoável de pousadas.

No entanto, podemos constatar que ainda existe muita
improvisação nas atividades relacionadas com o turismo local. O
serviço nos restaurantes caracteriza-se pela demora no atendimento,
oferta irregular de opções no cardápio e treinamento inadequado
dos atendentes (o Hotel-escola está inclusive fechado), além de
preços elevados.

A cidade de Guaramiranga, considerada ponto central da
concentração turística, está suja, com pavimentação maltratada,
faltando atrativos nos pontos turísticos mais frequentados. Não há
uma feira permanente com oferta de produtos locais (artesanato,
doces, flores etc.), mas encontramos a venda de carne fresca em
plena rua central, tudo sem a menor condição de higiene.

Quanto aos pontos de visitação, apresentam-se fechados
(igrejas) ou estão com suas vias de acesso comprometidas e mal
sinalizadas, ou simplesmente desativados. A qualidade dos

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Textos e contextos
produtos de artesanato, ressalvadas exceções como a de Pedro
Alves, artista do distrito de Pernambuquinho, ainda deixa muito a
desejar (veja-se, por exemplo, o caso de Viçosa do Ceará na Região
da Ibiapaba, onde foram feitos investimentos na qualificação do seu
artesanato).

Novos atrativos para o turismo precisam ser descobertos para
multiplicar oportunidades, como acontece alhures, onde se
exploram visitas a fazendas e casas de famílias tradicionais da
localidade, tanto mais que a região tem um potencial humano
valioso, traduzido através do desenvolvimento dos festivais de
teatro, música e culinária locais.

O turismo de qualidade faz-se hoje com planejamento; muita
qualificação do pessoal envolvido; boa infraestrutura de serviços;
preços adequados; bom marketing e, principalmente, tratamento
primoroso aos visitantes. Por que não fazê-lo também na Chapada
de Baturité?

Diário Do Nordeste, de 06/02/2003.

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Textos e contextos

CAMOCIM
DE MEU TEMPO

A Cidade de Camocim é hoje um local turístico importante do
Estado do Ceará que impressiona por suas belezas naturais. Tive a
felicidade de ali viver no período de 1940-1946, graças às
atividades funcionais de meu pai, coletor estadual. Àquela época, a
cidade era marcada pela existência da linha férrea Sobral-Fortaleza,
pertencente à Rede de Viação Cearense (RVC), dotada de uma bela
estação de trem, com oficinas bem equipadas e amplas,
empregando mais de 800 funcionários.

O porto de Camocim tinha uma movimentação significativa
devido à exportação da cera de carnaúba de municípios adjacentes
e do sal produzido em grande escala na região. A Segunda Guerra
mundial tornou a cidade um ponto estratégico importante, atraindo
a vinda de soldados norte-americanos, com a instalação de uma
base militar, onde chegaram a atracar os “Zepelins”.

A cidade, apesar de pequena, era muito movimentada pela
chegada dos trens de passageiros e pelos comícios realizados pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB), cuja maioria de seus membros

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Textos e contextos

eram os funcionários da estrada de ferro e dos ligados ao
Movimento Integralista, chamados de “galinhas verdes”.

Havia um cinema na cidade, com filmes (a maioria eram de
faroeste) anunciados nas tabuletas espalhadas em diferentes locais,
quase sempre fixadas em postes de iluminação. Circos visitavam a
cidade, especialmente o Circo Nerino (lembro-me de que certa vez
um dos seus trapezistas caiu durante um dos ensaios, sendo
enterrado em Camocim). Os carnavais eram animados com blocos
carnavalescos entrando nas casas (onde se dormia com janelas
abertas), para buscarem as pessoas para participar dos cordões
carnavalescos de rua.

Tinha Camocim, como toda cidade do interior que se preza, uma
Igreja Matriz, situada em uma praça de quadrado amplo, em cujo
extremo oposto situava-se o prédio da Prefeitura, em cujo subsolo
funcionava uma escola pública, onde comecei meus estudos. Por
trás da Prefeitura estava o prédio da cadeia pública.

Na zona litorânea da cidade, havia o chamado paredão que se
estendia a partir do porto, onde os garotos faziam piruetas de
bicicleta. Logo mais à frente, ficavam os barcos de pesca, na área
próxima ao encontro do Rio Coreaú e o oceano, que sempre
regressavam do mar com muito peixe (especialmente camurupim e
cavala), camarões e caranguejos, estes capturados nos mangues do
Rio Coreaú.

Os prédios mais bonitos e importantes da cidade na época eram
o da Estação de Trem, o dos Correios, o da Coletoria Estadual e o
da Prefeitura. O coreto da cidade localizava-se em frente à casa do
Chico Serrote. Havia as hospedagens chamadas de pensões, entre
elas a do Seu Saldanha, onde as pessoas se encontravam para
conversar. Existia a farmácia do Antônio Passos numa esquina; as
famílias Aguiar e Veras; o juiz de direito era o Dr. Amauri; o chefe
da estrada de ferro era o Dr. Feijó; Dona Sinhá Trévia era nossa

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Textos e contextos
vizinha e empolgada membro do Movimento Integralista; o tenente
Saldanha, da Polícia Militar, que prendia os bêbados perturbadores
da vida pacata da cidade.

Aos sábados, da estação de trem, um comboio puxado por uma
locomotiva “Maria Fumaça”, saia pela manhã e retornando à tarde,
levando passageiros para a feira de Granja, onde comprávamos
“pão doce”. Novidade na parte de alimentação na cidade eram as
saladas de frutas enlatadas que os soldados americanos
presenteavam a algumas famílias locais (como a nossa) que
retribuíam com os bolos feitos em casa.

Os navios maiores não atracavam no porto local, devido ao
baixo calado. Um rebocador saía para o mar aberto com as barcas
chamadas de “alvarengas”, carregadas de produtos da região (cera
de carnaúba, sal etc.) destinados à exportação e trazendo, na volta,
produtos importados da Europa e dos grandes centros do País, que
eram destinados a muitos outros municípios circunvizinhos como
Granja, Sobral, Viçosa do Ceará, entre outros.

Portanto, no Camocim do meu tempo, as pessoas se davam bem,
ajudavam umas às outras e, arrisco dizer, viviam felizes.

O Estado de 12/12/2005 e Diário do Nordeste de 01/03/2006.

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Textos e contextos

FORTALEZA:
CIDADE TURÍSTICA?

As cidades turísticas, de maneira geral, oferecem uma série de
atrativos para seus visitantes e moradores. Dentre outros,
destacamos museus amplos, com acervo rico e variado; shows e
teatros com apresentações artísticas variadas; monumentos
históricos, geralmente situados em praças amplas, bem ajardinadas
e com bastante espaço para lazer. Para isto, há que se contar com
parques em bom número, com variada cobertura de vegetais e
espaço recreativo para crianças e adolescentes, além da valorização
e conservação de centros históricos. Naturalmente que não pode
faltar a preservação de prédios públicos, bem como as belezas
naturais (rios, lagoas, elevações etc.), adaptando-os a uma
infraestrutura compatível com o uso racional do espaço público.

Lamentavelmente os pontos turísticos de nossa cidade estão em
completa decadência. Um dos primeiros locais de visitação pública,
pela vista panorâmica que oferece e presença de restaurantes
típicos seria o Morro de Santa Teresinha, no Mucuripe, hoje
invadido por barracos improvisados e cercado de um ambiente de

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Textos e contextos

insegurança tal que tornou inviável a atividade de bares e
restaurantes e o próprio afluxo das famílias ao local.

Por sua vez, a Praia de Iracema, local bucólico e boêmio, onde
sempre estiveram presentes restaurantes de qualidade, cenário de
várias histórias guardadas na memória das diferentes gerações da
cidade, hoje é dominada pela prostituição, drogas e desmanche de
sua infraestrutura existente (calçadas, monumentos e fachadas
típicas das antigas casas).

Também a Avenida Beira-Mar, cartão de visita de Fortaleza,
onde estão os melhores hotéis, apresenta seu calçadão esburacado,
invadido por camelôs e bicicletas, exibindo o triste quadro da
prostituição infantil.

Se voltarmos os olhos para o Centro da cidade, vemos
novamente um cenário de descaso, com obras incompletas
(exemplo: reforma da Praça José de Alencar); prédios abandonados
ou transformados em estacionamento e ausência de segurança
pública. O Mercado Central, com sua fachada deteriorada e parte
interna necessitando de manutenção, apresenta má distribuição de
espaço que acaba por comprometer a circulação do público. No que
se refere ao Parque da Cidade da Criança e a outras praças, não
existem trabalhos de manutenção, faltando jardins adequados, com
flores e árvores suficientes e áreas para o lazer familiar. A
pavimentação de ruas e avenidas é de péssima qualidade, com
calçadas estreitas, piso não padronizado; a sinalização é deficiente;
assim como a iluminação pública, apresentando os cabos de fiação
externos, oferecendo perigo para os pedestres, além de provocar a
feiura da cidade.

Poderíamos ainda apontar uma série de outras mazelas, já
conhecida de todos: a situação da Praia do Futuro; o entorno do
Centro Cultural Dragão do Mar; o desaparecimento de lojas
tradicionais, o domínio dos shoppings e o encolhimento do número

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Textos e contextos
de restaurantes típicos etc. O que fazer pela cidade? Acreditamos
que falta um planejamento, estabelecendo metas de curto, médio e
longos prazos, de modo a contemplar o incentivo e crescimento do
turismo de forma harmônica com o interesse e a defesa do nosso
público local. Este plano só será viável, porém, através de uma
parceria público-privada e uma perfeita harmonia entre as entidades
federal, estadual e municipal, ligadas ao desenvolvimento do
turismo. Afinal, os habitantes de Fortaleza e seus visitantes
merecem uma cidade turística de respeito.

Diário do Nordeste e O Estado, de 06/12/2005.

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Textos e contextos

REDENÇÃO:
A LIBERTAÇÃO INCOMPLETA.

O Estado de São Paulo do dia 07 de maio de 2006 publicou uma
reportagem sobre a cidade de Redenção, no Ceará, primeiro
município a abolir a escravidão no País. Ali chama-se a atenção
atualmente para alguns números absurdos, ostentados pelo
município: 1) a população de mais de 15 anos apresenta índices de
analfabetismo de 30,5%; 2) apenas 53% das casas dispõem de água
canalizada; 3) 80% dos domicílios não têm ligação de esgoto. Além
disto, doenças dos tempos da escravidão ainda apresentam alta
incidência, como a tuberculose (15,27%), a hanseníase (11,29%) e
a doença de chagas (8 casos notificados em março).

Ainda segundo o jornal, a economia da região continua baseada
na cana-de-açúcar para a produção de aguardentes, culturas de
subsistência e algumas espécies de frutas. O grosso do poder de
compras é representado pelas aposentadorias do Funrural. Por outro
lado, no que se refere ao item segurança pública, o cenário não
difere muito daquele da vasta maioria das cidades brasileiras: a

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Textos e contextos

partir das 18 horas as pessoas de Redenção ficam presas em suas
casas, temendo sair pela insegurança reinante.

O quadro diz bem a respeito do que é o subdesenvolvimento,
isto em um município que fica distante apenas 66 km da capital,
localizado ao longo de um roteiro turístico dos mais movimentados
do Estado (Maciço de Baturité) e que conta com vasta
infraestrutura energética, hídrica, de telecomunicações e de
estradas. Em meio a esse cenário, cortado pelo Vale do Rio Pacoti,
com solos ricos e abundância de água, seus rios ainda ostentam a
vergonhosa presença de agentes parasitários, o que poderia ser
facilmente combatido por uma ação coordenada dos poderes
público e privado.

O que está faltando: Planos de desenvolvimento? Determinação
política? Continuidade de ações governamentais? Conscientização
da população? Uma educação diferenciada e de qualidade? Talvez
um pouco de cada coisa. O fato é que não é mais aceitável, em uma
época em que a informação é veiculada e facilmente
disponibilizada por meios eletrônicos de comunicação, aceitar
passivamente tal realidade que, por sinal, não é exclusiva de
Redenção.

Se não há uma “receita” para se sair do subdesenvolvimento,
pelo menos uma e fundamental para nele não se permanecer
indefinidamente à recusa a conformar-se com a pobreza da vida
coletiva e a superação do espírito imediatista, incapaz de alcançar o
bem comum por meio da criação de novas oportunidades.

O Povo, de 13/05/2006.

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Textos e contextos

VISITA “TURÍSTICA” A QUIXADÁ

Ao final de fevereiro/2006, estivemos com amigos do sul do
País, a passeio, em Quixadá. Seguimos pela BR-116 cuja
duplicação continua, vergonhosamente, inconclusa há mais de onze
anos, até o denominado triângulo de Quixadá, seguindo pela CE-
359, esta, parecendo um verdadeiro “tapete”.

Perto da chegada, observando as primeiras formações rochosas,
tivemos o choque de ver monólitos cobertos de tinta e cheios de
inscrições comerciais. Já na entrada da cidade, notamos uma
sinalização falha, sem indicação dos pontos turísticos, como a
barragem do Açude Cedro, o Santuário Rainha do Sertão, o Chalé
sobre a pedra e outros.

No Açude do Cedro, tampouco consta qualquer informação ou
dados sobre a barragem (altura, extensão, modelo, bacia
hidrográfica, história de sua construção etc.). Encontramos
somente bares com músicas estridentes, poluição do açude e
ausência de instalações sanitárias adequadas.

Por sua vez, o Chalé de Pedra, situado numa praça mal cuidada,
encontra-se com portas cerradas, bem indicativo de sua utilização.

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Textos e contextos
Houvesse uma mentalidade turística, estaria então com iluminação
especial e dotado de recepcionistas treinadas para relatarem acerca
de histórias a seu respeito.

O Santuário de Nossa do Sertão, obra fabulosa de Dom Adélio,
Bispo de Quixadá, representa o bom exemplo de estrutura
adequada, juntamente com a Faculdade do Sertão. O Santuário
oferece vista belíssima do sertão e seu acesso é emoldurado por
uma via sacra com estátuas em tamanho natural. Estranho é que
nem o governo estadual, nem o municipal tenham tomado a
iniciativa de pavimentar a estrada de terra que dá acesso à via de
entrada do Santuário.

A visita serviu assim para concluir como é difícil fazer turismo
fora do eixo Fortaleza e praias adjacentes e que, mais do que nunca,
necessitamos urgentemente de iniciativas e uma nova mentalidade
em Quixadá e em outros tantos lugares de potencial turístico em
nosso Estado.

Diário do Nordeste, de 28/06/2006.

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Textos e contextos

VIÇOSA DO CEARÁ
- APOIO DA INFORMÁTICA

Viçosa do Ceará, distante 350 km da capital, vem dando notável
exemplo de desenvolvimento com apoio da informática. Foi
pioneira no uso de unidade móvel de informática, equipada com 16
computadores ligados à Internet, a percorrer todo o município. As
escolas de seus sete distritos de mais cinco vilas e todas as da sede
foram dotadas de um laboratório de informática com doze
computadores cada conectados à internet.

No dia 8 de abril de 2007, foi inaugurado o telecentro de
educação e inclusão digital Maria Luiza Fontenelle da Silveira
Mello, com 43 computadores, equipado com material didático
produzido por seus jovens coordenadores de curso, da mesma
localidade.

Dá gosto observar, a partir da praça principal Clóvis Beviláqua,
a chegada, durante todo dia, de ônibus trazendo e levando jovens
do meio rural para complementar os seus estudos nas escolas da
sede municipal.

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Textos e contextos
O Centro Administrativo, construção moderna, que abriga a

maioria de suas secretarias municipais, além de oficina mecânica,
serviço de emissão de medicamentos e amplo refeitório, encontra-
se todo informatizado, o que permite uma visão conjunta dos dados
municipais.

O Hospital Municipal ampliado também está informatizado. Um
total de mais de 400 computadores está ajudando a modernizar a
administração municipal.

Viçosa está se transformando em atração turística do Estado,
dadas as suas praças bem tratadas, ruas limpas, polos de lazer (com
o do Morro do Céu e Lagoa D. Pedro II). Com sua histórica Igreja
Matriz (a mais antiga do Estado do Ceará), onde pregou o Padre
Antônio Vieira, totalmente recuperada, retoma traços históricos que
a caracterizam na memória das gerações, preservando sua
identidade.

Certo que o município necessita ainda concluir muitas obras
importantes (o mercado público, por exemplo), mas não se pode
negar o seu desenvolvimento movido pelo suporte da informática.

Que este destacado exemplo possa servir de inspiração a outros
municípios de nosso Estado.

Diário do Nordeste, de 15/05/2007.

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Textos e contextos

VIÇOSA DO CEARÁ
: CONQUISTAS E DESAFIOS

Viçosa do Ceará dista 350 km de Fortaleza e está situada a 740
m. de altitude na Chapada da Ibiapaba. Conta com uma vegetação
exuberante, clima agradável e um povo hospitaleiro e alegre.

É um dos municípios cearenses com maior potencial para o
turismo, com uma rede de estradas rodoviárias, entre elas a
panorâmica que liga à cidade de Granja (CE-311), permitindo aos
turistas que estejam em Jeri, usufruindo da praia de Jericoacoara,
possam ter acesso à cidade. Da mesma forma, quem quiser
conhecer o Delta do Parnaíba poderá seguir pela CE-240 que liga a
cidade de Parnaíba, no Piauí.

Seguindo na direção de Tianguá, há opção pela CE-187 de
conhecer o Parque da Ibiapaba, no Município de Ubajara, o cultivo
de flores em São Benedito e a Bica do Ipu. Também em Tianguá,
pode-se chegar, via BR-222, ao Parque de Sete Cidades, no Piauí.

No próprio município de Viçosa, constam atrações como o Polo
de Lazer do Morro do Céu, as pedras de Itagurussu, Itacaranha e do
Machado, a Cascata do Pirangi, a Lagoa de Dom Pedro II e o

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Textos e contextos

Castelo de Pedras, dentre outras. No item de cozinha regional,
temos a destacar as petas da de Jesus, os doces de D. Zilmar, a
cachaça de Dom Chiquinho e os licores de Alfredo Miranda.

A cidade muita limpa, com praças bem cuidadas, oferece três
festivais de destaque, realizados regularmente com muito sucesso:
do Mel, do Chorinho e da Cachaça (maio); da Música da Ibiapaba
(julho) e do Samba e Chopp (novembro).

Por outro lado, tendo em vista essa expansão turística, a cidade
necessitará de mais pousadas e restaurantes, bem como referências
importantes, tais como um museu histórico, um mini zoológico e
um polo esportivo, que compreenda uma pista de atletismo, uma
quadra de esporte polivalente e coberta, uma piscina e um campo
de futebol social. Faz-se necessário recuperar ao público a antiga
Praça Prefeito Honório Passos, ocupada por um “monstrengo”
ginásio de esportes bem como “limpar” o impacto visual negativo
no centro histórico da cidade, representado pelos fios elétricos e de
telefones aparentes, tornando-os subterrâneos. Padronizar as
calçadas também teria um grande efeito nesse processo de
qualificação da cidade.

Valem registrar merecidos elogios às iniciativas atuais como a
recuperação do Teatro D. Pedro II; a construção da Escola
Profissionalizante Professor Juca Fontenele; os serviços de
conclusão do Mercado Público e a chegada do Ronda do Quarteirão
da Policia Militar.

Restam como desafios permanentes à capacidade de colaboração
mútua dos poderes públicos e o envolvimento da sociedade visando
à geração de novos empregos para os jovens; o combate à expansão
de drogas como o crack; mais melhorias na área da saúde e
qualidade de vida de sua população (especialmente, os mais
idosos); mais controle sobre os abusos dos carros de som que
circulam na cidade e melhor ordenamento do trânsito local.

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Textos e contextos
Tendo em vista as conquistas já realizadas, os desafios por

virem certamente não serão impossíveis para uma cidade de largos
horizontes e tão próxima do céu, como lembra a estátua do Cristo
de braços aberto sobre o vale.

Diário do Nordeste, de 05/12/2010.

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Textos e contextos

O NOVO CARIRI

Estive recentemente no Cariri (Crato, Juazeiro e Barbalha), onde
várias mudanças ocorrem. Conversando com técnicos, indaguei
quais fatores estão determinando o progresso, enfatizaram a
chegada de cursos superiores, principalmente Medicina, ofertados
por diferentes instituições, com exigência de novas moradias para
estudantes. Não somente as construções se multiplicam, mas
também o comércio oferece produtos novos e mais sofisticados, o
lazer amplia alternativas, surgem novos bares, restaurantes e hotéis,
cresce a oferta de transporte coletivo e individual e de serviços
médico e odontológico. Completam tais fatores a chegada de novas
indústrias, principalmente, a de calçados; o turismo religioso e a
migração de outros Estados, tudo contribuindo para uma visão
empreendedora, a par de investimentos estatais existentes.

Juazeiro lidera pela localização das sedes de várias Instituições
(inclusive a Universidade Federal do Cariri), o aeroporto regional
(com voos diários), o Hospital Regional, comércio moderno e
variado (um grande Shopping e outro em construção, revendedoras
de automóveis e grandes supermercados), indústrias de calçados e

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Textos e contextos

ourivesarias, grandes distribuidoras (principalmente de alimentos) e
brevemente instâncias administrativas do Estado.

Barbalha é a grande surpresa, com indústrias de porte
significativo como a de medicamentos, cimento, calçados, vagões;
distribuidoras de alimentos, parques ecológicos e de lazer com
estruturas modernas, Buffet capaz de receber milhares de usuários.
É a área urbana mais bem cuidada, com novo hotel de qualidade na
saída para Juazeiro, dois hospitais de alto desempenho, aptos a
realizar transplantes e operações do coração, bem como sedia a
Central de Abastecimento Regional (CEASA).

Crato parece estar parado no tempo: perdeu a sede do SENAI,
da nova universidade, as revendedoras de veículos mudaram-se
para Juazeiro. O governo do Estado está concluindo ali um Centro
de Convenções (com dimensão que deixa a desejar), uma Escola
Profissionalizante, um ginásio esportivo e realizou reforma urbana
no centro. Consta que não houve apoio para construir um novo
parque de exposição animal por resistência local. Lamentavelmente
tudo indica que o Crato vai ser reduzido a “cidade dormitório”.

A região tem duas emissoras de TV, cinco jornais, metrô de
superfície, emissoras de radio, artesanato rico e variado, folclore
característico e forte espirito religioso. Existem ainda gargalos,
como: manutenção do calçamento, limpeza publica, saneamento
das vias publicas, iluminação publica e encargos com educação e
saúde; apresenta deficiências com a segurança; o aeroporto
encontra-se subdimensionado, apesar da ampliação em curso e o
trânsito precisa ser mais bem organizado.

O Estado do dia 11|07|2013.

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Textos e contextos

A VEZ da IBIAPABA

Situada a 300 km de Fortaleza, a Região da Ibiapaba é composta
por oito municípios muito próximos: Viçosa do Ceará, Tianguá,
Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Guaraciaba do Norte, Carnaubal e
Croatá dotados de uma infraestrutura de estradas rodoviárias,
energia elétrica, comunicações, água, com cerca de 300 mil
habitantes.

Produz frutas, verduras, flores, café, pimenta do reino, mel de
abelha, cachaça, rapadura e outros itens da agroindústria, entre eles
doces regionais, que abastecem os mercados da Região Norte do
Estado do Ceará e as capitais de Fortaleza, Teresina e São Luís.

É uma região que apresenta forte potencial turístico pelo clima
ameno, propiciado pela vegetação e altitudes que variam entre 700
a 900 metros, cercado de belezas naturais como a Gruta de Ubajara;
as Cachoeiras do Boi Morto e do Frade; as Pedras do Itagurussu e
do Machado; o Castelo de Pedras; sítios com atrações típicas;
Igrejas antigas (como a de Viçosa) e casarões históricos e tombados
da Praça Clóvis Beviláqua, em Viçosa do Ceará.

A Ibiapaba já teve no passado significativos investimentos
governamentais: asfaltamento da CE-187, a montagem do

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Textos e contextos
bondinho da Gruta de Ubajara e incentivos para a construção de
hotéis e pousadas (Governo César Cals); a construção do açude
Jaburu (Governo Virgílio Távora); a adutora da Ibiapaba (Governo
Ciro Gomes); incentivo ao plantio de Flores (Governo Tasso
Jereissati). O Governo de Lúcio Alcântara asfaltou a estrada
Viçosa-Cocal (fronteira com o Estado do Piauí) e o de Cid Gomes a
estrada Viçosa- Granja e construiu Escolas Profissionalizantes.

Em que pese terem sido iniciadas a construção da Policlínica de
Tianguá e a ampliação do aeroporto de São Benedito, falta ao
governo estadual ampliar ações que envolvam a coletividade, tais
como: promover a construção do açude Lontras (dado o
esgotamento da capacidade do Jaburu); a duplicação da CE-187; as
novas obras para ampliar o saneamento na região, principalmente,
nas sedes municipais; a construção de um Hospital Regional; a
instalação de um Campus Universitário; a elaboração de um Plano
de Desenvolvimento Integral com metas de média e longo prazo e a
construção de estradas vicinais, de fundamental importância para o
escoamento da produção local.

É, portanto, urgente que os naturais da região que se destacaram
nas mais diversas profissões e áreas de atuação possam contribuir
para superar uma lacuna que em muito parece se dever à falta de
lideranças políticas, que trabalhem além de visões paroquiais, com
atitudes empreendedoras e proativas.

O Estado, de 27/08/2013.

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Textos e contextos
DESENVOLVIMENTO
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Textos e contextos

AS ALTERNATIVAS
PARA OS MICROS E PEQUENOS

As pequenas e micro empresas tão importantes na geração de
empregos (60% no Brasil) e renda (42% no País), assim como ágeis
nos ajustes econômicos necessários e na adoção de novas
tecnologias visando adequar-se às novas demandas de seus clientes,
têm, infelizmente, sido tratadas com desconfiança e abundantes
exigências burocráticas e creditícias similares às aplicadas às
grandes e médias empresas em nosso País.

A recente Medida Provisória (nº 1526, de 05/11/1996), emanada
da Presidência da República que institui o sistema entregado de
pagamentos de impostos e contribuições relativas às
microempresas e das empresas de pequeno porte (com a sigla
Simples), aborda também a questão de um mais apropriado
tratamento tributário e administrativo das mesmas; mas, por outro
lado, em muitos aspectos, apresenta-se como inferior às propostas
já contidas nas Leis nº 2.210 e nº 2.211 de 29/07/1996,
denominadas respectivamente de Novo Sistema Tributário e Novo

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Textos e contextos

Estatuto da Pequena e Microempresa, aprovadas no Senado Federal
e, atualmente, em discussão na Câmara de Deputados em Brasília.

O Governo Federal com a edição da Medida Provisória (M.P.)
tenta alcançar dois objetivos explícitos: 1) uma alegada perda
tributária da ordem de R$ 4,5 bilhões de reais, em troca de sua
redução para o montante de 1 bilhão de reais; 2) ocupar, no cenário
político, o espaço que estava sendo capitalizado pelo Senador José
Sarney, Presidente do Congresso e que patrocinou a proposição das
Leis nº 2.210 e nº 2.211, relativa aos novos tratamentos
dispensados às pequenas e microempresas.

Deve-se, porém, enfatizar, também, outros aspectos positivos da
aludida M.P., destacando-se os seguintes pontos: redução
significativa dos encargos burocráticos, assim como das excessivas
exigências legais que entravam o setor (Dart-Simples); a facilitação
do processo de pagamento dos débitos das referidas empresas junto
à Fazenda Nacional e ao INSS, podendo fazê-lo em 72 parcelas
mensais e sucessivas; a possibilidade de junção no pagamento de
impostos federais, estaduais (ICMS) e municipais (ISS); uma taxa
máxima de impostos de 6,5% (microempresa) e de 10% (pequenas
empresas); a sugestão de novos conceitos para a definição de
microempresa (faturamento anual 120 mil reais) e pequena empresa
(faturamento anual entre 120 mil e 720 mil reais); dispensa de
escrituração comercial; a centralização da arrecadação, cobrança,
fiscalização e tributação das acima citadas empresas pela Secretaria
da Receita Federal; a proibição das Sociedades por Ações (S.A),
imobiliárias, construtoras civis, entidades estatais, empresas
profissionais, entre outras , de participar das facilidades do Sistema
Simples, alertando as empresas do sistema que, caso as mesmas
ofereçam embaraços ou resistências à fiscalização e que,
porventura, venham a comercializar mercadorias objetos de
contrabando, serão excluídas das aludidas vantagens mencionadas.

124

Textos e contextos
A referida Medida Provisória entra em vigor a partir do dia 1º de

janeiro de 1997.
As novas leis do Sistema Tributário e o novo Estatuto das

Pequenas e Microempresas em votação na Câmara de Deputados
são mais amplas na conceituação das microempresas (204 mil
reais); isentam as referidas empresas de mais impostos e taxas;
estabelecem facilidades na importação de máquinas e
equipamentos; cuidam do regime previdenciário, trabalhista e do
devido apoio creditício; e, por fim, igualam-se à M.P. no que diz
respeito ao tratamento aos excluídos das vantagens do tratamento
às pequenas e microempresas.

Qual a melhor alternativa para as pequenas e microempresas?
Acreditamos que o ideal seria agregar às Leis 2.210 e 2.211,
atualmente em fase de discussão na Câmara de Deputados, vários
outros itens contidos na nova M. P., resultando daí formas e
mecanismos inovadores para o apoio necessário e amplo que é
requerido para uma desejada expansão de tão importante setor, o
das pequenas e microempresas, na economia brasileira.

O Povo, de 12/11/1996.

125

Textos e contextos

A IMPORTÂNCIA E AS DIFICULDADES
DAS PEQUENAS EMPRESAS

Uma recente pesquisa publicada em periódico de circular
nacional aponta, segundo 71% de brasileiros, que pequenos
empresários são os que mais contribuem para o desenvolvimento
do País, à frente de outros possíveis impulsionadores como
governo, políticos, Igreja, Forças Armadas, mídia e outros.

Foram divulgados pelo IBGE/PNAD dados relativos à
população economicamente ativa (PEA) do Brasil, de 1990 a 1996,
da qual 59% dos que trabalham estão vinculados às unidades
produtivas de até 10 empregados, sendo que destes, 86,8% estão
localizados em setores de prestação de serviços.

Considerando-se a importância econômica das pequenas
empresas para o País, torna-se imprescindível e urgente que sejam
revistas as políticas adotadas em relação às mesmas. As exigências
de financiamento bancários não podem ser praticamente as mesmas
que se impõem para as grandes empresas. As garantias exigidas, a
demora da análise das propostas e os cortes nos valores solicitados

126

Textos e contextos

levam o pretendente, muitas vezes, a desistir da proposta ou utilizar
o cheque especial ou ainda a buscar apoio de agiotas.

Quando o pequeno empresário pretende exportar seus produtos
ou serviços, enfrenta outras dificuldades: prazos reduzidos para a
aquisição de matéria prima, o que se torna muitas vezes,
impeditivo, em face do capital de giro de que dispõe; falta de
acesso aos financiamentos e antecipação de contrato de câmbio
(ACC).

Na importação, a aquisição de insumos exige a garantia de
130% do valor da carta de crédito em depósito bancário (CDB).

A aplicação da “Lei do Simples” que visa simplificar
pagamentos de impostos pelas pequenas empresas está encontrando
obstáculos na sua aplicabilidade em virtude da não adesão por parte
da maioria dos estados e municípios.

O novo Estatuto das Pequenas e Microempresas está hibernando
no Congresso Nacional à espera da vontade política dos
parlamentares.

As pequenas empresas necessitam de mais estímulos fiscais por
parte dos governos, de mais suporte tecnológico por parte das
universidades e centros tecnológicos e de mais recursos financeiros
das agências ou organizações internacionais, a juros compatíveis
com a realidade econômica.

Ao mesmo tempo, as pequenas empresas devem acelerar o seu
aperfeiçoamento gerencial, a formação de associações ou
cooperativas, a qualificação dos recursos humanos como um todo,
através de treinamentos permanentes, visando oferecer processos e
produtos de qualidade inovadores e a preços competitivos que
satisfaçam a clientela.

O Sistema SEBRAE tem, como objetivo maior, oferecer apoio
às pequenas e microempresas e pretende continuar buscando, de

127

Textos e contextos
forma cada vez mais efetiva, a solução dos problemas que
entravam o crescimento pleno do que já é considerado como o setor
economicamente mais produtivo do País.
Gazeta Mercantil de 03/04/1998.

128

Textos e contextos

CULTURA COMO
AÇÃO POLÍTICA

A maioria das nossas prefeituras não dá valor nem atenção
devida à instalação de bibliotecas públicas, museus, teatros ou
centros culturais. Isto pode ser constatado facilmente, com raras e
honrosas exceções, como os municípios de Sobral e Russas, por
exemplo.

Quando nos referimos a bibliotecas, não pensamos em um
“amontoado de livros”, situados em qualquer instalação e
“supervisionados” por pessoas desqualificadas para tanto. As
bibliotecas públicas têm, antes de tudo, de ser bem localizadas, de
preferência em pontos centrais da cidade ou em locais de fácil
acesso, em prédios adequados com diferentes ambientes para a
leitura individual ou em grupo. O acervo deve ser variado e
atualizado (revistas, jornais, dicionários, mapas, livros de história,
geografia, economia, literatura, ciências, línguas estrangeiras etc.),
além de haver ligação com a internet. Não por último, a biblioteca

129

Textos e contextos

deve ser acessível ao público, tanto durante o dia como à noite.
Pesquisas recentes indicam que a existência de boas bibliotecas
implica em uma melhoria de até de 80% no processo de
aprendizagem dos alunos.

Os museus, por sua vez, contribuem para estimular o
desenvolvimento de diferentes habilidades (pintura, artesanato
etc.), além de contribuírem para gerar uma consciência histórica
acerca dos costumes, modas, estilos de vida e história das famílias
locais, conhecimento a respeito das culturas de outros povos e
nações. Neste sentido, poder-se-ia aproveitar a experiência dos
países desenvolvidos que se valem de diferentes espaços e locais
considerados relevantes para a história da comunidade, integrando-
os como parte de um processo educativo e de reforço de uma
“identidade coletiva”.

O teatro, por sua vez, tem sido sempre o encontro dos indivíduos
com o entretenimento, a critica a costumes e valores da sociedade,
à fantasia e à livre expressão, principalmente como estímulo à
criatividade e desinibição das pessoas. Assim as prefeituras
deveriam levar em consideração, como fez a Prefeitura de
Guaramiranga que promoveu as atividades teatrais como uma
forma bastante eficaz de envolver sua juventude em projetos mais
amplos de participação.

Os Centros Culturais devem ser considerados pontos de
encontro, de exposições de diversas modalidades (folclore, danças,
jogos etc.) da expressão da cultura local e de intercâmbio com
outras produções das diferentes regiões do Estado ou do País.

Feiras locais, estaduais, nacionais e internacionais; amostra de
criação dos artistas locais, festivais de música e de produtos
regionais tudo isto pode despertar uma dinâmica que, sem dúvida,
irá repercutir na geração de um ambiente de estímulo a novos
talentos, inclusive movimentando a economia local, gerando novos

130

Textos e contextos
empregos, melhorando a renda, sobretudo para os jovens, os mais
carentes de oportunidades socioeconômicas.

As bibliotecas, os museus, os teatros e os centros culturais são
muito mais do que meros instrumentos de uma politica transitória
que se dá no intervalo entre uma eleição e outra, a cada quatro
anos. Representa antes de qualquer coisa, um poderoso meio para
conferir autoestima aos indivíduos, promover a cidadania e
defender os valores superiores da comunidade. Promovê-los, só
poderá engrandecer as administrações e os políticos que tenham
uma visão de futuro. Noutras palavras, incluir cultura é trazer um
desenvolvimento socioeconômico equilibrado e permanente.

Diário do Nordeste, de 28/03/2006.

131

Textos e contextos

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Uma importante etapa na formação universitária é a vivência da
realidade externa aos campi universitários, através de estágios e
residências. Surgido em 1967, o Projeto Rondon criou
oportunidade ímpar, possibilitando estágios em regiões geográficas
diferentes da localização originária dos estudantes, baseado no
princípio nacionalista de “integrar para não entregar.” Deste modo,
estudantes das Regiões Sul, Sudeste e Nordeste puderam conhecer
a realidade amazônica brasileira e, também, aproximar-se do
contexto socioeconômico das comunidades do interior de seus
próprios estados.

A implantação do projeto, que envolveu mais de 400 mil
universitários de 200 instituições universitárias (Universidades,
Centros, Faculdades), distribuídos em 4 mil municípios, contou
com apoio logístico das Forças Armadas brasileiras e o suporte dos
governos estaduais e municipais, e das comunidades locais.

O sucesso do Projeto Rondon pode ser medido pelo fato de que
muitos dos estudantes universitários que participaram do mesmo,
uma vez concluídos seus cursos superiores, tomaram a decisão de

132

Textos e contextos

irem trabalhar nos locais onde haviam estagiado, principalmente,
na Região Norte do País.

O Projeto Rondon funciona na base do trabalho voluntário dos
universitários que, uma vez selecionados, são treinados para
exercerem suas tarefas junto às comunidades locais onde vão atuar
e são supervisionados por professores universitários (também
voluntários) das áreas de conhecimento específico de atuação
(dentistas, agrônomos, engenheiros, médicos etc.) e acompanhados
por um representante da coordenação geral do Projeto Rondon
estadual.

O Projeto Rondon foi desativo em 1989, lamentavelmente, em
razão de uma estreita concepção comum à cultura nacional de não
dar continuidade aos projetos e programas que, por ventura, tenham
sido criados por governos ou administrações anteriores.

No ano de 1990, foi criada uma entidade particular denominada
Associação Nacional dos Rondonistas-Projeto Rondon como uma
ONG que, com muito sacrifício, vem mantendo acessa a chama do
Projeto. A partir do ano de 2003, o Governo do Presidente Lula,
reativou oficialmente o projeto, vinculado ao Ministério da Defesa.
No Ceará, o Projeto Rondon vem atuando em vários municípios
com o apoio de prefeituras e do governo do Estado, com boa
colhida de seu trabalho por comunidades locais.

O Projeto Rondon tem demonstrado, nas áreas onde atuou que é
um fator, a mais, importante para o desenvolvimento e integração
do País e, principalmente para melhor qualificar os universitários e
motivá-los para contribuir com base nas realidades vivenciadas,
para mudar as condições adversas de nosso subdesenvolvimento.

O Povo, de 14/07/2007.

133

Textos e contextos

O EXEMPLO PERNAMBUCANO

O grande desafio da educação básica é a qualidade e não mais a
quantidade. O “gargalo” da educação básica começa na 1ª série, na
falha da alfabetização do aluno, que passa para as séries seguintes
sem os conhecimentos necessários. Faltam professores
adequadamente qualificados para saberem lidar com públicos
socioeconomicamente carentes, pais analfabetos e ambientes
desestimulantes para a aprendizagem.

Um segundo fator é o tempo que o aluno permanece na escola,
geralmente, entre três e quatro horas, incluindo os intervalos, num
único turno (manhã, tarde ou noite). Falta uma escola de tempo
integral.

As condições de infraestrutura das escolas são deficientes:
faltam bibliotecas, laboratórios, salas de aula suficientemente
ventiladas e iluminadas, livros didáticos em número adequado ao
número de alunos matriculados etc.

Os professores são mal renumerados, sem estímulos para o
aperfeiçoamento profissional e, muitas vezes, sem o
reconhecimento da comunidade. Os diretores das escolas, por sua

134

Textos e contextos

vez, não possuem qualificação suficiente para coordenar e liderar o
seus colegas de trabalho: são inseguros, falta-lhes uma visão
empreendedora e estão facilmente dispostos para atender interesses
político-partidários.

A ausência de estudantes da classe média nas escolas públicas,
bem como a dificuldade dos pais em acompanharem junto à escola,
o processo de aprendizagem de seus filhos, são também fatores que
contribuem para a baixa qualidade do ensino público.

No Estado de Pernambuco um grupo de empresários resolveu
mudar essa situação. Começou a experiência pelo Ginásio
Pernambucano, em Recife, realizando a recuperação física da
escola, incluindo a instalação de laboratórios de biologia, física,
química, informática e ampliação da biblioteca. Com apoio do
Governo do Estado foram selecionados e treinados professores e
diretores para exercerem o magistério em tempo integral, dobrando
os salários e criando um bônus de 30% por resultados alcançados
no processo de aprendizado dos alunos acima da média.

A escola hoje é de tempo integral (7.30 h às 17.00 h),
oferecendo café da manhã, almoço e lanche para os alunos; livros
suficientes para a quantidade de alunos matriculados e os que
necessitam recebem ajuda para o transporte público. Os pais dos
alunos foram treinados para serem coeducadores familiares. Todo
esse processo ao custo anual por aluno de R$ 2.500,00.

O Governo de Pernambuco expandiu essa experiência para mais
20 escolas públicas, sendo 16 no interior do Estado e a denominou
de Projeto Procentro - Programa de Centros de Ensino
Suplementar. Atualmente cerca de 60% dos alunos egressos dessas
escolas são aprovados nos vestibulares dos cursos mais procurados
(como Medicina e Direito) e o restante não encontra a menor
dificuldade no mercado de trabalho. E a classe média já começa a

135

Textos e contextos
olhar, com simpatia, essas escolas, querendo nelas matricular seus
filhos, havendo para estes casos, uma “quota social” de 15%.

Tudo isso só foi possível graças ao espírito de comunidade e à
decisão política de suas lideranças classistas e administradores
públicos lúcidos. Isto ajuda entender por que aquele Estado
continua à frente do Ceará em termos econômicos e culturais.

O Povo, de 29/07/2007.

136

Textos e contextos

PRODUTOS DO CEARÀ

O turista que chega ao Ceará e visita o nosso principal centro de
artesanato, o Mercado Central, por exemplo, procura adquirir, além
de confecções, artigos produzidos pelo setor agropecuário:
derivados do caju (principalmente a castanha), queijo de coalho,
farinha de mandioca, rapadura, aguardente e doces caseiros.

Por conta disto, o SEBRAE-CE, nos anos de 1997-1998,
contratou especialistas para estudar a qualidade desses produtos,
através de pesquisas, em todo o Estado do Ceará, visando à
melhoria da qualidade e para criar uma padronização através de
“selos específicos”.

O professor Francisco Teles, do Departamento de Tecnologia de
Alimentos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal
do Ceará (UFC), com doutorado em laticínios na França,
encarregou-se dos estudos relativo ao queijo de coalho. Por
intermédio de equipes de pesquisadores percorreu as regiões
produtoras do queijo, identificando, como os fatores de baixa
qualidade dos produtos, não somente a ausência de pasteurização
do leite, comprovada pela presença de coliformes fecais, mas

137

Textos e contextos
também o armazenamento inadequado e as embalagens fora do
padrão, dentre outros.

O professor Renato Casimiro, do mesmo Departamento e Centro
da UFC, com doutorado em bebidas destiladas na Inglaterra,
analisou a produção artesanal da aguardente (cachaça) local,
encontrando alto teor de cobre (componente que é poderoso
causador do câncer hepático), bem como resíduos de metanol,
adição de caramelos de amido de milho, visando alterar a coloração
da bebida, além da presença de traços de detergentes líquidos para
aumentar artificialmente a durabilidade da bebida.

O engenheiro agrônomo Raimundo Antônio, da EMATER-CE,
fez levantamento completo sobre a farinha de mandioca, a qual, por
ser cozida em fornos de lajotas de tijolos, apresenta várias
impurezas. Estados como Minas Gerais, Pernambuco e Paraná têm
realizado ações para a melhoria desses produtos.

Apesar de todo esse esforço de estudo e pesquisa realizado e dos
recursos investidos, até agora os órgãos responsáveis parecem
solenemente ignorar a questão, deixando de reconhecer que o Ceará
precisa urgentemente promover mudanças na fabricação de tais
produtos de modo a garantir a sua qualidade. Esta meta constitui
um desafio para o SEBRAE-CE, visando criar um selo de
qualidade para os referidos produtos e espera o envolvimento de
outras entidades privadas e governamentais ligadas à melhoria do
queijo de coalho, da cachaça e da farinha de mandioca.

Diário do Nordeste, de 18/11/2007.

138

Textos e contextos

DESENVOLVIMENTO CAPENGA

O desenvolvimento do Ceará tem se dado com ênfase no
segmento econômico, em seu sentido mais estrito, como demonstra
o patamar atingido na melhoria da infraestrutura (estradas, energia,
telefonia fixa e móvel, portos e aeroportos), a implantação de
indústrias e alternativas do agronegócio. A esse desenvolvimento
falta, porém, o adequado equilíbrio do desenvolvimento
socioambiental (educação, saúde, moradia, melhoria da renda, meio
ambiente) e as necessárias mudanças culturais. Nossa mentalidade
continua voltada aos modos e às formas de fazer e vícios do
passado.

Em recente viagem pela BR-222, no trecho Fortaleza-Tianguá,
seguindo depois pela Rodovia CE-187, no sentido Tianguá-Viçosa
do Ceará, constatamos como nossa vegetação está cada vez mais
rala, com sinais dramáticos de avanço da desertificação. Os rios e
os riachos, em sua quase totalidade, estão secos, apresentando
assoreamento em suas margens e elevações próximas a morros,
onde a erosão produz sua obra contínua e progressiva de
devastação dos nossos solos. O mais gritante é a queima das
margens das estradas, provocada por pontas de cigarro dos que

139

Textos e contextos
passam de carro ou a pé e, principalmente, a presença de inúmeros
sacos plásticos lançados pela população no meio ambiente que se
estendem indefinidamente formando um cenário deprimente.

Nos banheiros das paradas de restaurantes e postos de
combustíveis, imperam a sujeira e o desleixo, dando uma mostra
visual do nível de nossa educação. A qualidade e o grau de
conservação dos alimentos oferecidos para os usuários dos
restaurantes, ao longo das estradas, representam um verdadeiro
desafio à segurança alimentar e à saúde dos seus comensais e ao
desejo do turista de algum dia vir a repetir o citado percurso.

Na cidade de Viçosa do Ceará, como em tantas outras, vigora a
ditadura das muralhas de som advindas dos sons dos veículos
circulantes ou parados nos locais de maior movimento de pessoas
cujos proprietários, parecem disputar um prêmio para quem produz
o som mais estridente e o pior repertório musical com letras bregas
e termos imorais em total desrespeito pela presença alheia.

Estes detalhes revelam a qualidade de vida coletiva que temos e
a grande falta que faz ao nosso desenvolvimento equilibrado do
fator da educação plena, da presença mínima dos cuidados com a
saúde, da importância a ser dado a conservação do meio ambiente e
do cultivar o respeito aos direito dos outros.

Se continuarmos a trilhar os caminhos de um desenvolvimento
capenga como atual, vamos pagar um preço elevado para o futuro
das novas gerações.

O Estado, de 20/11/2007.

140

Textos e contextos

DESENVOLVIMENTO
E PESQUISA CIENTÍFICA

O desenvolvimento socioeconômico de um país decorre dos
conhecimentos técnico-científicos, de novas tecnologias, tendo
como elementos fundamentais a figura do pesquisador e de
instituições de pesquisas permanentes.

Para qualificar adequadamente um pesquisador são necessárias
algumas premissas básicas: oportunizar treinamentos diferenciados
e cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado; criar suportes em
forma de laboratórios, dotados de equipamentos e instalações
apropriadas; alocar recursos financeiros suficientes e contínuos ao
andamento das pesquisas; disponibilizar bolsas de pesquisa para o
pessoal de apoio; possibilitar salários condizentes com o nível de
qualificação do pesquisador e importância da pesquisa; criar
oportunidades para estabelecer convênios com outras entidades a
fim de estabelecer troca de informações e estágios; minimizar os
entraves burocráticos; favorecer a publicação dos resultados
alcançados e a utilização por parte da sociedade dos trabalhos das
pesquisas concluídas, tendo-se sempre em vista uma política de
continuidade em prol do desenvolvimento da ciência e da
tecnologia.

141

Textos e contextos

Pesquisas exigem do pesquisador amadurecimento profissional;
anos de vivência na área específica a ser estudada; elaboração de
bons projetos e a busca de recursos financeiros; escolha adequada
dos auxiliares; sabedoria política para ultrapassar obstáculos;
exercer liderança e preocupação com a formação de uma equipe de
sucessores.

As instituições de pesquisa devem ter presentes os seguintes
elementos fundamentais: ser permanente; ter com clareza a sua
missão e objetivos; contar com pessoal qualificado; ser dotada de
recursos financeiros suficientes para atender os seus objetivos e
localizada no seu habitat adequado; ter continuidade de suas
pesquisas e respaldo politico-administrativo; estabelecer convênios
com entidades nacionais e estrangeiras e divulgar os resultados de
suas pesquisas.

O Estado do Ceará conta, como entidades de pesquisa, as
Universidades (Federais e Estaduais), órgãos dos governos federal
e estadual (EMBRAPA, DNOCS, FUNCEME, entre outros) que
são dotados de um bom número de pesquisadores portadores de
titulação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) e qualificados para
produzirem bons resultados de pesquisa nas diferentes áreas de
conhecimento (agronomia, engenharia, medicina, física, química
matemática e recursos naturais etc.).

O que falta? Mais recursos financeiros; maior número de bolsas
de pesquisa; melhores laboratórios; menos burocracia; contínua
renovação do quadro de pessoal e uma politica continuada de
ciência e tecnologia.

Que as nossas lideranças políticas e de classe despertem para
identificar na C&T um fator essencial ao pleno desenvolvimento
socioeconômico do nosso Estado.

20/04/2000.

142

Textos e contextos

DESENVOLVIMENTO NO INTERIOR

O jornal O Povo está publicando uma série de reportagens sobre
o desenvolvimento do Estado, dentre as quais recente contribuição
do economista Cláudio Lima. Trazemos reflexão vinda de
experiência recente, quando conversamos com ex-prefeito de um
município do Sertão Central. Indagamos sobre o que havia
acontecido em termos de desenvolvimento, nos últimos 40 anos em
seu município.

Como resposta, fez referência à chegada da energia elétrica, do
asfalto, da água, do celular, da droga e da insegurança. Afirmou
mais que indústria não existe, a agricultura empobreceu (acabou a
cultura do algodão), o comércio baseia-se em pequenos negócios
(predominância de mercearias), faltam empregos (principalmente
para os jovens), a população tem sua renda baseada na Bolsa
Família e nas aposentadorias dos idosos.

A população está migrando do meio rural por falta de
oportunidades de emprego e de melhoria da renda, para a periferia
da sede do município.

A educação foi ampliada, em termos quantitativos, mas a
qualidade ainda é baixa; a saúde está ruim, falta hospital e pessoal

143

Textos e contextos
qualificado na área e o lazer baseia-se quase exclusivamente em
bares e jogos de sinuca.

A realidade exposta no depoimento acima confirma que não é
este um caso isolado, mas existente em muitos outros municípios
cearenses. O interior do Ceará ainda é marcado pela falta de um
planejamento de desenvolvimento sustentável de longo prazo, que
possa trazer mudanças significativas às condições de vida das
pessoas, que ali vivem.

Para contribuir com as mudanças necessárias e urgentes
precisamos mobilizar agentes com ideias inovadoras. As
administrações municipais sucedem-se fazendo as mesmíssimas
coisas, com raras exceções. Esse quadro mental faz com que
predomine um desânimo antes mesmo de tentar-se qualquer
inovação, o que representa um enorme desperdício de recursos
financeiros, materiais e humanos.

A administração de pequenas obras, modelo predominante do
fazer do poder público municipal, perde-se no cotidiano das sedes
municipais, sem enfrentar os problemas estruturais importantes e
incapazes de estabelecer pontes de contato com os objetivos
maiores e necessários para melhorarem as perspectivas de vida de
seus habitantes.

Resta o desafio de quebrar o círculo vicioso de práticas e
mentalidades que imobilizam nossa sociedade e a prendem ao
horizonte medíocre do subdesenvolvimento.

O Povo, de 04/06/2010.

144

Textos e contextos

DESCAMINHOS DO CEARÁ

Recentemente tivemos oportunidade de percorrer o trecho da
BR-222, no sentido Fortaleza-Sobral e, assim, constatar que a parte
entre Itapajé-Forquilha está em estado deplorável, recheada de
buracos e remendos mal feitos, transformando a viagem em um
“chacoalhar e suspense” constantes.

Em tais trechos, as distâncias ao invés de encurtar aumentam e o
investimento público degrada-se de forma absurda, transformando-
se em gastos despropositados e esforços despendidos.

De uma maneira geral as estradas federais (BRS) no Ceará são
péssimas em comparação com as BRS existentes nos estados
vizinhos como o Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e
Pernambuco, o que pode ser constatado pelos seguintes fatores:
qualidade do asfalto, margens de pista, desenho de trajeto,
preparação do solo, sinalização, dentre outros. Além disso, não
apresentam trechos duplicados de longa distância como ocorre
entre Natal-João Pessoa-Recife (BR-101). Existem também trechos
duplicados entre João Pessoa-Campina Grande, Recife-Caruaru,
por exemplo.

145

Textos e contextos

É inconcebível que trechos da BR-222, entre Fortaleza-Sobral,
não sejam duplicados, por sua importância econômica e por
demandarem sua ligação aos Estados do Piauí, Maranhão e Pará.
Igualmente cabe a mesma observação, em relação à duplicação
Fortaleza-Cariri Cearense, via BR-116, região riquíssima de nosso
Estado e polo de desenvolvimento industrial e cultural, que liga o
aos Estados de Pernambuco e Paraíba. Tudo isso prova o desprezo
e a falta de poder político de nossas lideranças junto ao Governo
Central.

Deve-se destacar que as péssimas condições de conservação das
BRS no nosso Estado, que trazem uma série de prejuízos
econômicos por encarecerem o transporte dos produtos produzidos
pelos setores da agricultura e indústria; inviabilizarem a urgência e
a necessidades de entrega dos referidos produtos para a venda do
comércio; atrasarem a execução de obras públicas; e,
principalmente, pela aplicação desperdiçada de recursos financeiros
do poder pública nos eternos remendos, tipo “sonrisal,” das
referidas estradas.

Não podemos esquecer os prejuízos de recursos humanos nas
citadas estradas, em termos de perdas de vidas, graves imobilidades
pessoais decorrentes de acidentes e ampliação de gastos com a
saúde pública.

A grande pergunta que fica no ar: Até quando esse quadro vai
permanecer nas estradas federais em nosso Estado? A resposta
cabe à administração federal, às nossas lideranças políticas e das
entidades de classe ligadas aos setores econômicos do Ceará.

Espero que não demore muito, porque vamos ter mais prejuízos
em termos de perdas econômicas e de recursos humanos.

O Povo, de 29/07/2010.

146

Textos e contextos

SECA E AÇÃO GOVERNAMENTAL

Recentemente a Presidenta Dilma esteve no Ceará anunciando
pacotes de ações governamentais relativas à seca do Nordeste.
Entre elas um de fornecimento de máquinas que trairiam mais
benefícios a nossa região e que, também, estariam sendo estendidos
a outras regiões do País.

A escassez de água em consequência da baixa recarga dos
açudes da região, a insuficiência de chuvas, a evaporação intensa
dada às altas temperaturas, o uso inadequado e/ou abusivo de água
por parte da população são os fatores determinantes de que nossa
prioridade maior hoje no Nordeste seja a de resolver o problema do
abastecimento de água, ao tempo em que indicam a prioridade do
estabelecimento de outras ações governamentais. Além das já
anunciadas, vale mencionar a necessidade de acelerar a
transposição das águas do Rio São Francisco, com uso de recursos
semelhantes aos mesmos mecanismos legais e administrativos
utilizados para agilizarem as obras da Copa do Mundo de Futebol.
E ainda, a construção de novos açudes como o “Lontras” na região
da Ibiapaba-Ce; a compra de equipamentos para a dessalinização
das águas oriundas dos poços perfurados de águas salobras; o apoio
aos Estados nos projetos de transferência de águas (adutoras); a

147

Textos e contextos

ampliação dos trabalhos de construção ”cinturão das águas” no
nosso Estado; o estímulo de retorno das ações e pesquisas das
chuvas artificias através do bombardeio das nuvens (o Ceará foi
pioneiro nesse campo, tendo sido sua estrutura desmontada) e o
estímulo a novas alternativas de abastecimento como a do uso da
água do mar (alguns países árabes já a usam).

Precisamos modificar os sistemas de irrigação para técnicas
economizadoras de água como a de gotejamento eliminando o uso
da inundação; ampliando e modernizando os chamados perímetros
irrigados; tentar substituir culturas agrícolas (como a do arroz) por
outras que utilizem menor quantidade de água; apoiar pesquisas de
alternativas de exploração agropecuária por parte das
Universidades e da Embrapa; recriar empresas estaduais de
pesquisa dotadas de estruturas mais adequadas e criar um projeto
de reflorestamento para a região.

Nas nossas escolas (municipais, estaduais e federais)
poderíamos ministrar informações de como convivermos com as
secas, de forma semelhante a outras regiões que convivem com
adversidades mais rigorosas. A seca é também um momento
propício para aumentar os investimentos governamentais no
Nordeste tais como duplicar estradas, construir novos programas de
estradas vicinais, melhorar e ampliar escolas e hospitais, implantar
novos sistemas de saneamento, intensificar a construção de casas,
gerar mais empregos e melhorar rendas.

Finalmente é esperar do Governo Federal que não realize
contenção dos recursos financeiros destinados ao Nordeste e que os
nossos lideres políticos estejam à altura para cobrar as promessas
feitas e atuar de forma proativa no jogo político, em benefício da
causa pública.

O Povo, de 9/4/2013.

148

Textos e contextos

CIÊNCIA, TECNOLOGIA
E AGRICULTURA.

A Academia Cearense de Ciências promoveu uma palestra do
Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Professor Renê
Barreira, que abordou as diferentes metas de sua pasta. Na ocasião,
aproveitamos para levantar a questão da ausência de criação de um
Instituto de Pesquisa Agropecuária do Estado.

O Ceará parece ser um Estado rico e esbanjador: já tivemos
uma Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (EPACE) além
de outros órgãos ligados ao suporte da agricultura que foram
extintos. Seus acervos foram jogados fora e os recursos humanos
(muitos com mestrado e doutorado) dispensados. Poderíamos
acrescentar ainda desperdício de projetos e programas de vultosos
recursos financeiros com resultados não concluídos ou
interrompidos por caprichos pessoais e/ou interferências politicas.

A agricultura dominante no nosso Estado - principalmente
no semiárido - é a secular da prática de queimada, do plantio morro
acima, da falta de tratos culturais adequados, do uso excessivo e
irracional de agrotóxicos, da ineficiência na utilização de água e de

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