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Published by andreaires, 2018-08-20 14:51:20

Textos_e_Contextos

Textos_e_Contextos

Textos e contextos
variedades de culturas agrícolas (incluindo forrageiras) de longo
ciclo para produzir.

Precisamos, com urgência, de um Instituto de Pesquisa
Agropecuária com pessoal bem qualificado, salário condizente,
estrutura moderna e enxuta, localizado no interior, capaz de manter
convênios com entidades nacionais e internacionais de renome,
dotado de bom suporte financeiro (certos recursos do Governo
Federal e de entidades internacionais só são liberados para pesquisa
com existência de devida estrutura estadual) e dirigentes com visão
empreendedora, pois ciência e tecnologia em qualquer área do
conhecimento só tem qualidade se a meritocracia dominar acima de
apadrinhamentos políticos e interesses pessoais.

O Povo, no dia 23/05/2013.

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Textos e contextos

A IMPORTÂNCIA
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

A educação superior está penetrando o interior do Estado do
Ceará, com forte presença em alguns municípios como Juazeiro do
Norte, Crato, Barbalha, Sobral, Quixadá e Iguatu. Os cursos
superiores no interior começaram através de Faculdades, sobretudo
as Católicas (Crato e Sobral), depois incorporadas pelas
Universidades Estaduais do Cariri (URCA) e do Vale do Acaraú
(UVA).

Fator importante foi à expansão da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), através dos Campi de Iguatu, Quixadá, Limoeiro do
Norte, Crateús. Itapipoca e Tauá. Nos últimos anos, a Universidade
Federal do Ceará (UFC) também expandiu suas ações através dos
Campi de Sobral, Quixadá e Cariri que foi absorvido pela nova
Universidade Federal do Cariri (UFCA). Por sua vez, o Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), de
ensino superior (antiga Escola Técnica Federal) está presente em
22 municípios das nossas diversas regiões geográficas do Estado.
Foi criada a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB), localizada em Redenção, e mais
inúmeras Faculdades particulares.

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Textos e contextos

Gostaríamos de destacar ainda a Faculdade Católica de Quixadá,
criada pelo anterior bispo da cidade, Dom Adélio, hoje dirigida,
com grande eficiência pelo Professor Manoel Messias. Ali estão
matriculados 2.300 alunos, em 17 Cursos de Graduação, vindos de
150 diferentes municípios do Ceará, com 78% dos seus professores
pós-graduados, tendo formado 1.500 ex-alunos com o índice de
90% já empregados. Chama atenção a infraestrutura existente:
amplas salas de aula, vários laboratórios bem equipados, excelente
biblioteca, inúmeros computadores com finalidade didática e todos
os procedimentos que vão desde matricula, retirada de livros, até os
administrativos, informatizados, situação financeira equilibrada e
com ampla programação de novos investimentos. Os Cursos de
Odontologia, Fisioterapia e Educação Física têm equipamentos
modernos os quais, muitas vezes, faltam nos mesmos cursos de
Universidades maiores, prestando valioso serviço à população da
região.

A presença da educação superior nos municípios tem gerado
mais empregos e rendas, vez que a construção civil cresce para
atender as necessidades de moradia para alunos, professores e
funcionários que vêm de fora. Novos restaurantes, bares e hotéis
(Quixadá tem um hotel 4 estrelas), surgem prestadoras de serviços
para atender às novas solicitações. Novos profissionais são
requeridos, pincipalmente, na área da saúde. Linhas alternativas de
transporte público são abertas e o comércio tende a diversificar-se,
oferecendo novos produtos.

Vê-se, assim, a demonstração prática de como a educação
superior forma recursos humanos qualificados, capazes de fixá-los
e de torná-los potenciais modificadores das suas realidades
socioeconômicas.

O Povo, de 21/09/2013.

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Textos e contextos

SANGRANDO O NORDESTE

Os países que conseguiram eliminar as diferenças regionais
tomaram duas medidas da maior importância: estabeleceram um
planejamento e criaram instituições fortes para executar objetivos e
metas estabelecidas pelos diversos projetos e programas.

O Nordeste brasileiro foi, ao longo do tempo, objeto de
propostas para tirá-lo do subdesenvolvimento através de criação de
instituições e de programas. A primeira das instituições criadas
com esse objetivo foi à antiga Inspetoria Federal Obras Contra as
Secas, em 1909 e atualmente denominada de Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas. O DNOCS construiu grandes e
pequenos açudes, estradas e portos; gerou energia elétrica;
estabeleceu núcleos de colonização; implantou sistemas de
irrigação; trouxe a piscicultura moderna e inovadora para os
açudes, mantém o Centro Internacional de Pesquisa de Piscicultura,
em Pentecoste-CE; criou núcleos de pesquisa agropecuária nos
perímetros irrigados, com destaque para o antigo Instituto José
Augusto Trindade, especializado em solos e irrigação, em São
Gonçalo-Paraíba; prestou assessoria técnica nas suas diversas áreas

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Textos e contextos

de atuação e publicou os primeiros estudos sobre a problemática do
nordeste, tendo um acervo riquíssimo nesta área.

A segunda entidade criada destinada a ser uma agência de
desenvolvimento econômico, foi o Banco do Nordeste (1952),
fornecendo suporte para as transformações da agricultura do
semiárido e a implantação da industrialização na região.
Selecionou servidores através de concurso público, possibilitando
treinamento para os mesmos no exterior, trazendo assessorias de
técnicos de renome internacional de diferentes países, promovendo
inúmeras pesquisas sobre a realidade nordestina e publicando os
seus resultados. Implantou diversos projetos e programas
inovadores, principalmente na área do crédito rural e ajudou a criar
o Serviço de Extensão Rural na região.

A terceira instituição foi a SUDENE (1959), cujo objetivo maior
era realizar o planejamento integrado do Nordeste e coordenar as
ações das diferentes entidades atuantes no desenvolvimento da
região. A seleção de seu quadro técnico foi rigorosa, com
treinamento especifico nas diferentes áreas do conhecimento. A
SUDENE, entre outras ações, atuava na introdução de mudanças no
setor agrícola, desenvolvimento da industrialização, melhoria da
infraestrutura, educação e estimulação de novas lideranças.

Atualmente assistimos a um verdadeiro sangramento dessas
instituições. Com a aposentadoria de seus servidores, não há
reposição de pessoal ou são contratados terceirizados sem
treinamentos e experiências, muito dos quais com apadriamento
politico; recursos financeiros são cortados ou transferidos para
entidades correlatas; tarefas funcionais são extintas, por falta de
qualificação dos servidores; chefias são ocupadas pelas indicações
partidárias, sem nenhum compromisso com as instituições e sua
história; divulgações são feitas pelos meios de comunicação de
massa, mostrando suas ineficiências e estruturas ultrapassadas,

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Textos e contextos
dando como única alternativa a extinção das mesmas. A prova
mais concreta do esvaziamento das referidas instituições é a PEC-
87, encaminhado pelo Governo Federal ao Congresso Nacional que
trata da retirada de 30% dos recursos do Fundo Constitucional do
Nordeste, provocando uma perda de R$ 2,2 bilhões somente este
ano e de quase R$ 20 bilhões em nove anos. É o que faltava para
extinguir o DNOCS, a SUDENE e reduzir o BNB.

Complementando o quadro, o Governo Federal planeja abarcar
30% dos recursos financeiros do Sistema S, que através do SENAI,
SESI, SESC, SENAR e SEBRAE, que qualifica e treina pessoal
para o desenvolvimento da indústria, do comércio, dos serviços e
da agricultura do nordeste brasileiro. Uma tragédia anunciada?

Informativo Quinzenal do Pacto de Cooperação da Agricultura
Cearense de 17/11/2015 e no APESC (Associação dos Professores
do Ensino Superior do Ceará)-Notícias do mês de dezembro de
2015.

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Textos e contextos

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL

No ano de 1978, estando como diretor do Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal do Ceará fui convidado pelo
Governo Francês para participar de um Programa de
Desenvolvimento Rural na França.

Fui surpreendido ao constatar que eu era a única pessoa, naquela
ocasião, a participar do referido programa, sendo, também, a minha
primeira viagem ao continente europeu.

O Centro de Ciências Agrárias da UFC mantinha, na época,
vários convênios com entidades internacionais, dentre elas a
instituição francesa OSTOM (Office de la Recherche Cientifique et
Technique d’Outre-Mer), cujo objetivo era qualificar os professores
e pesquisadores do Centro em agricultura tropical nas unidades de
pesquisa da referida entidade situadas na África e em seus
laboratórios na França.

Ao chegar a Paris e após passar pelo moderno e complexo
Aeroporto Charles de Gaulle, encontrei uma portuguesa com uma
placa indicativa do meu nome, apresentando-se como tradutora que
seria minha acompanhante no programa.

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Textos e contextos

Tiveram início as visitas a laboratórios de pesquisas de
diferentes instituições francesas dedicadas ao desenvolvimento da
agricultura: estudos de solo, desenvolvimento genético de plantas,
doenças de plantas entre outras. Todos os laboratórios estavam
situados na cidade de Paris e em seus arredores.

Após alguns dias, saímos em direção ao sul da França,
precisamente a Nîmes e Montpellier com o intuito de visitar
programas de desenvolvimento rural. Naquela época, havia uma
movimentação grande na região em função do assentamento de
franceses expatriados da Argélia, decorrentes da independência
deste país, até então colônia francesa.

O Governo do Presidente Charles de Gaulle havia desapropriado
grandes propriedades rurais existentes na região, dividindo-as em
lotes ou parcelas de cinco hectares para os novos agricultores
chegados da Argélia e uma parcela maior de terra ficaria para os
proprietários expropriados, a fim de darem continuidade às suas
atividades de exploração agrícola.

Como os novos agricultores não tinham conhecimento e nem
experiências das culturas agrícolas a serem exploradas no setor da
fruticultura (maçãs e peras), estações de pesquisa agronômicas
foram instaladas na área com a finalidade de fornecer informações
técnicas e assessorias aos novos produtores.

O Governo Francês construíra toda a infraestrutura necessária ao
pleno funcionamento e êxito do empreendimento, compreendendo:
construção de barragens de rios, canais de irrigação e caixas de
águas (chamadas de castelos d’água) situadas ao longo dos canais,
a fim de permitir que, através do bombeamento as águas fossem
elevadas para as caixas e daí descessem por gravidade e chegassem
as tubulações que levavam ao abastecimento das propriedades
agrícolas; instalação de medidores de consumo individual de água
em cada propriedade agrícola que pagaria uma conta conforme o

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Textos e contextos

seu consumo. Ainda foram construídas casas residências e
armazéns, linhas de energia elétrica e estradas vicinais para
escoamento da produção agrícola.

O importante foi à criação de uma empresa de suporte ao
desenvolvimento do projeto, uma similar da nossa SUDENE em
menor dimensão, que proporcionou estímulos para alocar novas
indústrias na região. As indústrias existentes na época eram todas
direcionadas para o suporte das atividades agrícolas, tais como a
produção de adubos e defensivos agrícolas; a fabricação de caixas
para embalagens de frutas para exportação; a fabricação de
implementos agrícolas e a fabricação de equipamentos para
irrigação etc.

O sistema de irrigação usado era o de gotejamento, visando ao
mínimo consumo de água, cuja quantidade a ser usada por cada
cultura agrícola era estabelecido pelos resultados advindos da
pesquisa agronômica e também determinada pela diferença entre
custos e perspectiva de lucro da comercialização da produção
agrícola.

Depois de alguns dias de estadia em Nîmes e Montpellier,
retornamos a Paris para fecharmos o programa. Faltava despedir-
me e agradecer aos dirigentes das instituições visitadas e relatar os
objetivos alcançados. Em contato com o presidente da OSTOM,
perguntou-me o que eu havia achado das visitas realizadas.
Externei a minha decepção por não ter visto nada relativo à
agricultura tropical. Ele explicou que as atividades da sua
instituição relativa à agricultura tropical estavam todas situadas na
África e perguntou-me a queima roupa: “Você topa ir conhecer os
nossos trabalhos na África?”. Eu aceitei o convite.

Dois dias depois, após ter conseguido o visto com o apoio da
cicerone portuguesa junto às embaixadas de Costa do Marfim e

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Textos e contextos

Senegal, eu viajava para a África. Também seria minha primeira
vez naquele continente.

Durante o voo entre Paris-Abidjan, foi-me entregue um cartão
de desembarque para preenchimento com várias informações,
dentre elas o local de hospedagem em Abidjan do qual eu não fora
informado. Ao passar pela alfandega do aeroporto, fiquei retido e
um guarda ficou com o meu passaporte. Para onde o guarda se
deslocava eu o seguia, solicitando a devolução do meu passaporte,
no que não era atendido. Depois de longo tempo, pedi a ficha de
desembarque e acrescentei o local de hospedagem OSTOM.
Finalmente fui liberado e no hall do aeroporto encontrei um grupo
de técnicos da OSTOM à minha espera, já preocupados com a
minha demora.

A capital de Costa do Marfim, a cidade de Abidjan, possuía, na
época, em torno de 1.200 mil habitantes, com vários prédios altos e
sedes governamentais pomposas, apresentava uma periferia de
casebres, algumas ruas e avenidas largas, asfaltadas e um bom
movimento nas ruas comerciais. Fiquei hospedado num Centro de
Pesquisa da OSTOM situado a pouca distância do centro da cidade.

O negro dominante na população não se destacava pela beleza:
boca grande, nariz achatado, predominantemente gordo, vestia uma
indumentária tipo camisolão até os pés (sem nenhuma vestimenta
intima por baixo), que tinham o costume de parar em certos locais
públicos para fazer suas necessidades fisiológicas. Certa vez, ao
passar de carro por uma via pública, assisti a uma cena típica: um
comboio militar do exército, constituído por um jipe e dois
caminhões conduzindo soldados, parou na rua e o oficial desceu do
jipe para urinar na frente de toda tropa como, ali, fosse mictório
público.

Embora a Costa do Marfim já fosse um país independente, como
antiga colônia francesa ainda mantinha forte dependência política e

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Textos e contextos

econômica em relação à França, tendo, grande parte de seus
ministros, cidadania francesa. A moeda do país era o franco CFA
(Comunidade Francesa Africana).

A predominância econômica do país era da agricultura (mais de
95% do PIB), que empregava mais de 90% de sua população e
cujos produtos principais eram o café, o cacau, o algodão, a
banana, o abacaxi, o óleo de palma, dentre outros. A maioria destes
produtos, classificados como de primeira qualidade, eram
exportados para a França, ficando para o consumo da população
local os de baixa qualidade. A grande produção agrícola do país
dava-se através de grandes propriedades rurais que pertenciam a
empresários franceses, dirigidos por técnicos franceses, cabendo
aos nativos trabalhos secundários (técnicos agrícolas e
trabalhadores de campo).

Fiquei hospedado num Centro da OSTOM que oferecia vários
apartamentos destinados aos pesquisadores e visitantes. No café da
manhã, havia depósitos com várias pílulas que deveriam ser
consumidas diariamente para evitar a febre amarela. Durante as
refeições, verifiquei que os franceses consumiam muita folhagem e,
ao fazê-lo, adquiri um tipo de ameba resistente às medicações mais
tradicionais, o que demandou tempo para me recuperar.

Depois de alguns dias em Abidjan, fui informado de que seria

deslocado para a cidade de Bouaké, onde estavam em andamento

várias pesquisas relativas à cultura de algodão. O meu

deslocamento seria de avião, mas solicitei trocar por transporte

terrestre para conhecer melhor o país. A distância entre Abidjan-

Bouaké era de 343,9 km, percorrendo uma estrada asfaltada e

estreita. A viagem seria acompanhada por um técnico da OSTOM e

um motorista nativo que não falava francês, apenas o seu dialeto. O

técnico ficaria em Bouaké, devendo eu voltar na companhia do

motorista nativo. Paramos, no caminho para visitar as

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Textos e contextos

construções da cidade de Yamoussoukro (miniatura de Brasília)
que seria a futura sede administrativa da Costa do Marfim.

Bouaké era a segunda cidade mais populosa (aproximadamente
200 mil habitantes) e importante centro econômico de Costa de
Marfim. Havia uma feira diária de produtos que compreendiam
cereais, folhagens, carne e artesanato. Era polo produtor de
algodão. Ali estava sediado o Institut de Recherches du Coton et
des Textiles Exotique (IRCT), que tinha em andamento importantes
pesquisas sobre o algodão: criação de novas variedades;
cruzamentos entre espécies; formação de híbridos; identificação de
novos genomas avançados de genética; banco de germoplasma; no
plantio verificar a competição de variedades, espaçamento,
adubação e consórcio, dentre outros. Existia excelente coleção de
algodoeiros de todas as partes do mundo.

Foi na Costa do Marfim que encontrei um tipo de solo que
chamamos de Paul e que existe no Rio Grande do Norte. Aliás,
gostaria de enfatizar que os países que visitei na época- Costa do
Marfim e Senegal - apresentam semelhanças com o Nordeste
brasileiro, em termos de tipos de solo, vegetação e produtos
agrícolas, corroborando com a tese da separação do Continente
Africano da América do Sul.

Após alguns dias em Bouaké, era tempo de voltar a Abidjan, na
companhia do motorista nativo, o qual, antes da nossa volta pediu a
um técnico da OSTOM que gostaria de passar na sua tribo. Eu
concordei. Após certo tempo de viagem, o motorista murmurava
algo como “uuur!uur!uuur” virando a cabeça para o lado esquerdo.
Compreendi que era para ir até sua tribo e acenei com a cabeça.
Entramos numa estrada estreita de areia em meio à mata fechada.
Depois de certo tempo chegamos a uma vila de casebres (tendas).

Ali, fomos recebidos com muita alegria. Os nativos usavam
tangas, muito enfeitados nos braços, nas pernas e no pescoço. As

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Textos e contextos

tendas eram construídas com folhagens existentes no seu habitat
natural e falavam no seu dialeto. Trouxeram duas cadeiras comuns
de assento de couro para mim e o motorista e sentaram em volta em
pedaços de madeira quadrados que tinham um pequeno cabo. Logo
depois trouxeram bananas assadas, alguns ossos com pedaços de
carne e garrafas de refrigerantes, cujas tampas abriam com os
dentes.

Conversaram longamente com o motorista nos seus dialetos. Em
determinado momento, o motorista levantou-se da sua cadeira e
segurando o cotovelo de seu braço direito com a sua mão esquerda,
saiu circulando e apertando com sua mão direita as mãos dos outros
nativos ali sentados. Todos riram e olhavam para mim. Pensei:
“Acho que deveria fazer o mesmo.” Assim o fiz o que provocou
grandes risadas por parte dos nativos.

Dei sinal ao motorista para continuar nossa viagem, o que foi
feito para minha tranquilidade. Eu já começava a imaginar o que
poderia acontecer-me, naquela estranha circunstância, em meio a
nativos na selva africana e sem saber com eles me comunicar.

Depois de alguns dias na Costa do Marfim, dei continuidade à
programação. Parti para o Senegal.

Ao chegar a Dakar, pude observar que o tipo físico do negro era
bem diferente ao que encontrara em Costa do Marfim. As mulheres
eram belas: altas, elegantes, rosto perfeito, nariz afilado, boca
pequena e postura imponente.

Dakar era uma cidade em torno de 1.500 mil habitantes,
apresentando aspectos de cidade europeia, com maior
movimentação de pessoas nas ruas centrais, com bons hotéis, com
cafés e modelo de vestir nos modos parisienses. O Presidente do
Senegal da época era um intelectual de muito prestigio Léopold
Sédar Segnhor. Havia vários voos internacionais chegando e

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Textos e contextos

partindo de Dakar. A língua oficial era o francês e a moeda
nacional era o Franco CFA (Comunidade Financeira Africana).

Como estava havendo um grande Congresso Internacional,
todos os hotéis da cidade estavam lotados e os franceses da
OSTOM, arranjaram-me um apartamento que estava desocupado
por um francês. O apartamento era situado numa área próxima ao
centro da cidade, tinha na sua porta de entrada três grandes
ferrolhos e duas fechaduras em função dos riscos de segurança que
a cidade oferecia. Fui alertado que não deveria sair só. Ao resolver
andar só pela cidade, logo fui seguro por dois jovens que tentaram
me imobilizar. Não me intimidei e segurei-os pelas “bitacas” como
se diz no Ceará. Ficamos os três a pular no meio da rua, enquanto
pessoas se achegavam para ver o acontecido. Em meio à multidão,
um senhor bem vestido deu uns grito e os jovens pareceram
desistir. Alguns metros à frente, surgiram novamente na minha
direção. O único objeto de valor que eu conduzia era uma caneta
Parker. Retirei-a do bolso da camisa e nada mais aconteceu.

A base da economia do Senegal era a pesca, principalmente do
atum exportado para a França, seguindo-se do fosfato. Na
agricultura eram destaque o amendoim e o algodão. Visitei alguns
campos de pesquisa da OSTOM sobre a cultura do algodão, sem
outras novidades, além do que havia visto em Bouaké- Costa do
Marfim.

Em voo Dakar-Rio de Janeiro, depois de alguns dias, regressei
ao Brasil.

20/11/2015.

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Textos e contextos

UM CURSO COMO REFERÊNCIA

Em 1986, participei do 14º Curso Internacional de Extensão
Rural realizado na Universidade de Agricultura da Holanda, na
cidade de Wageningen, patrocinado pela FAO/Nações Unidas/
Ministério da Agricultura e Pesca da Holanda e Universidade de
Agricultura da Holanda.

A cidade de Wageningen tinha, na época, 10.000 habitantes.
Como toda cidade holandesa, era bem cuidada e florida, ruas
limpas, boa pavimentação, perfeita sinalização, bom e variado
comércio, muita segurança, excelentes e modernos meios de
transporte, grande número de bicicletas, boa iluminação, perfeito
sistema de coleta de lixo, rede de saneamento com cobertura total,
excelente nível educacional da população, eficientes programas de
serviços de saúde, modernas formas de comunicação e, acima de
tudo, um povo muito simpático.

O grande destaque da cidade era a Universidade de Agricultura
que, segundo informações da época, era a única existente na
Holanda (na mesma época o país possuía sete universidades),
ofertando cursos de graduação, pós-graduação (mestrado e

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Textos e contextos

doutorado), especialização e extensão para estudantes de vários
países o que movimentava a economia local.

Na Universidade em Wageningen havia o Instituto Internacional
de Agricultura ofertando diferentes cursos na área do setor rural,
entre eles o de Extensão Rural, do qual participei e que qualifico
como um curso de referência.

O Instituto Internacional de Agricultura (IIA) estava sediado
num prédio moderno de oito andares, assim distribuídos: no térreo,
havia um hall com balcão de recepção, tendo, ao lado esquerdo, um
grande salão que servia como refeitório e ao lado direito, outro
salão destinado ao lazer com variados tipos de jogos; no primeiro e
no segundo andares havia salas de aula e alguns auditórios, todos
bem equipados com aparelhos de televisão, projetores,
computadores, armários com diferentes tipos e cores de papéis,
pincéis e carteiras escolares que se deslocavam; do terceiro ao
sétimo andar, estavam os alojamentos (quartos individuais e alguns
duplos destinados a estudantes casados), equipados com mesa
simples, cadeira, cama, armário e banheiro com descarga a vácuo.
No oitavo andar havia um bar, com todos os tipos de bebida, as
quais, naturalmente eram pagas e os estudantes podiam consumir
livremente.

O curso do qual participei teve quatro semanas de duração, era
constituído por módulos, com aulas teóricas de segunda a sexta-
feira, no horário de 8.00 h as 12.00 h e de 13.00 às 16.00 horas,
com o almoço no restaurante do próprio Instituto ao meio dia,
tendo o horário das 1700 às 1800 h. livre. O jantar era servido às
18.00 h.. Após o jantar, os estudantes poderiam optar por
permanecerem em seus aposentos estudando ou frequentarem o
salão de jogos ou irem para o bar beber e conversar com outros
alunos. A escolha era de sua inteira responsabilidade. Todos os
sábados havia uma excursão programada. Saí às 8.00 h e

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Textos e contextos

regressava pontualmente às 16.00 h, oportunidade em que
visitávamos diferentes regiões e projetos importantes da Holanda.
Os domingos eram livres.

Na segunda-feira, recebíamos as apostilas com os conteúdos a
serem tratados na semana, de forma a permitir aos alunos sua
leitura antecipada. O curso era ministrado em inglês, assim como o
material impresso. A metodologia consistia de aulas participativas,
envolvendo trabalhos de dinâmica de grupos, uso de muito material
audiovisual e excursões. Os 100 alunos do nosso curso eram
constituídos por profissionais de 47 diferentes países, divididos em
duas turmas de 50. Eu era o único brasileiro.

Dentre as excursões realizadas, gostaria de destacar as obras do
chamado Projeto Delta. Referido projeto era um sistema de defesa
contra a subida do nível do mar para a região do delta (Zelândia e
sul da Holanda) e surgiu porque o Mar do Norte invadiu a Holanda,
em 1953, provocando a morte de 1.853 pessoas, forçando a
evacuação de outras 70.000, destruindo 4.500 edificações, dentre
elas muitas propriedades rurais, liquidando a produção local e
matando vários animais. Para evitar nova catástrofe foi elaborado o
ambicioso Projeto Delta, reunindo as desembocaduras do Reno e
Mosa.

A Holanda é um país totalmente plano, tendo o seu monte mais
elevado com 321 metros (Vaalserberg), com metade de seu
território abaixo do nível do mar. É constante a luta para aumentar
sua área física, conquistando terras do mar. Não possui pedras, em
seu território, tendo de importá-las de outros países.

Para construir o paredão (dique) do Projeto Delta, a Holanda
importou pedras da Inglaterra que misturadas ao cimento formavam
grandes blocos que eram transportados por grandes barcos e
jogados ao mar em linha reta, através de cabos de aço que se
ligavam entre dois barcos. O grande paredão construído frente ao

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Textos e contextos

mar foi realizado durante vários anos de continuo trabalho, sem
nenhuma interrupção.

Na parte central do paredão, foi construído um largo e longo
vertedouro (sangradouro) todo concretado, com a finalidade de
evitar a pressão das águas do mar sobre o paredão, por ocasião de
grandes elevações (enchentes) do mar, aberto e fechado por
comportas construídas de material especial e acionadas por
potentes motores, permitindo a entrada de águas a certa distância,
dentro do sangradouro. Depois de percorrer trecho do sangradouro
adentro, as águas do mar são devolvidas através do mesmo
sangradouro por outro potente sistema de bombeamento.

Na parte correspondente à jusante havia uma estrutura em forma
de degraus, dotada de aparelhos meteorológicos para captar
informações do tempo. Os produtores agrícolas das redondezas
eram treinados para fugirem em caso de acidentes e todos tinham
barcos. No coroamento do paredão (dique) havia uma cabine que
funcionava 24 horas para acompanhar a movimentação das ondas
do mar e a abertura de comportas, quando necessário.

Após três semanas de aulas teóricas, quarta e última foram
destinadas para a elaboração de um plano de desenvolvimento de
determinada região da Holanda. Recebemos um sumário
informático da região que iríamos trabalhar e que deveríamos ler
antes do deslocamento. O grupo de participantes foi dividido em
várias equipes de 10 pessoas, constituídas de profissionais com
experiências diversas e supervisionadas por professores.

Iríamos aplicar, na elaboração do plano de desenvolvimento, a
chamada “técnica de sondagem” que consistia das seguintes etapas:

1. No primeiro dia, percorrer um determinado trecho da região
visitada para identificar o que havia visto como
infraestrutura, casas, armazéns ou depósitos, atividades

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Textos e contextos

econômicas, pessoas em atividades na área percorrida,
animais etc. Cada equipe visitava trechos diferentes da área
e cada participante estava com uma prancheta e papel para
anotar as suas observações.
2. À noite, as equipes reuniam-se separadamente com o seu
professor- supervisor, para descrever o que cada um,
individualmente, havia observado no trecho percorrido. Era
muito interessante, como cada participante havia anotado
aspectos diferenciados ao lado de pontos comuns.
3. No segundo dia de visitas, as equipes iriam novamente fazer
o mesmo percurso do dia anterior, com a finalidade de
confirmar o que haviam identificado anteriormente e à noite,
em nova reunião com o seu professor supervisor, analisar os
dados coletados. Já havia uma maior uniformização das
observações realizadas.
4. No terceiro dia, cada participante de equipe iria visitar dois
produtores rurais, sendo uma visita realizada pela manhã e
outra à tarde. Na propriedade visitada, deveriam ser
anotados dados relativos à área total, à parte destinada à
produção, tipos de culturas agrícolas, atividades de
exploração de animais, tecnologias usadas, produtividade,
renda, nível de educação, condições de saúde e habitação,
estrutura familiar e necessidades sentidas, dentre outros. À
noite, nova reunião para análise dos dados coletados.
5. O quarto dia, foi destinado a entrevistar diretores de
cooperativas agrícolas, técnicos agrícolas, lideranças
políticas e educadores. Como de praxe, à noite cotejamos os
dados coletados.
6. No quinto dia, houve reunião geral das equipes pela manhã
para conhecer outros dados existentes na região e iniciar a
comparação, correlacionando os dados coletados pelas
diversas equipes. Na parte da tarde, cada equipe elaboraria,

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Textos e contextos
em cima da realidade identificada, um plano de
desenvolvimento para a região.

7. No sexto e último dia, as equipes, em conjunto e
coordenadas pelos professores- supervisores, chegaram à
elaboração de um Plano de Desenvolvimento para uma
região da Holanda, sobre a qual, até então não tínhamos
nenhum conhecimento.

O 14º Curso Internacional de Extensão Rural foi da maior
importância para a minha vida profissional. A imagem daquele País
que ficou nas nossas lembranças foi a de seus moinhos, campos de
tulipas, vacas pastando, queijos maravilhosos, navios passando em
canais acima de suas terras baixas, suas inúmeras bicicletas, seu
povo acolhedor e simpático que formam um quadro imorredoiro.

23/11/2015.

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Textos e contextos

VIAGEM A ISRAEL

A convite do Instituto Cultural Israel-Ibero-América, no período
de 12 a 22 de junho de 1994, juntamente com outros reitores de
universidades públicas e privadas da América Latina e Portugal,
participei de uma viagem de estudos a Israel.

Os trechos iniciais foram do Rio- Roma e de Roma-Tel Aviv.
No embarque em Roma, começaram os cuidados com a segurança
por parte da Policia Italiana. Nossa bagagem foi revisada
meticulosamente. Ao chegar ao Aeroporto Ben Gurion, em Tel
Aviv, fomos recebidos na escada do avião pelo Senhor Josef Arad,
Coronel do Exército Israelense e Diretor de Programas Especiais
do Instituto Cultural. Passamos sem nenhuma revisão por parte da
Policia uma vez que Josef garantiu a nossa condição especial de
participante do programa. Josef era judeu do Uruguai e seria nosso
acompanhante durante toda a viagem. O total de participantes era
de 18 reitores, sendo eu o único brasileiro.

A programação da viagem constou de visitas a diferentes regiões
geográficas de Israel, a instituições universitárias e de pesquisa,
para conhecer as diferentes formas de organização e uso de
tecnologias de explorações agrícolas. Estivemos nas principais
cidades do país, em regiões de fronteiras e nos lugares santos (do
Judaísmo, do Islamismo e do Catolicismo). Visitamos o
parlamento israelense (Knesset) e tivemos palestras do Ministro das
Relações Exteriores Shimon Peres, da Ministra de Ciência e

171

Textos e contextos

Tecnologia de Israel, de presidentes de Universidades, de
pesquisadores e de especialistas em Judaísmo e relações entre
judeus e árabes. Toda a viagem seria realizada em micro-ônibus
com 20 lugares (18 reitores, Josef e o motorista).

O que chamou a atenção dos participantes foi saber que Israel
tinha um projeto nacional que sempre teve continuidade, mesmo
com mudanças de governo. O nível educacional do povo foi outro
destaque verificado, com altíssima qualidade desde o infantil (as
crianças já utilizavam modernas tecnologias) até a pós-graduação,
com ênfase nas ciências básicas. O suporte financeiro externo, a
seletividade das atividades econômicas e o desenvolvimento de
tecnologias possíveis de competir internacionalmente eram outros
fatores do sucesso israelense.

O País tem sido autossustentável em alimentos, em que pesem
às adversidades do meio ambiente (85% das terras são desérticas,
baixa pluviosidade e escassez de água) e utiliza técnicas
agronômicas inovadoras baseadas na genética, na adubação e no
sistema adequado de irrigação (gotejamento), evitando a
salinização e a exaustão dos solos.

Israel possui o melhor programa mundial de aproveitamento de
água. As duas principais fontes de águas do país são o Rio Jordão e
o Lago Kineret que, a partir delas, são conduzidas através de dutos
para todas as regiões geográficas (a condução de águas através de
canais a céu aberto provoca grandes perdas por evaporação e riscos
de contaminação). Utiliza-se também o armazenamento e o
aproveitamento da água de chuvas, a reciclagem das águas dos
esgotos, a dessalinização das águas marítimas, a perfuração de
poços e há um controle permanente (gestão) dos desperdícios.

A indústria israelense é seletiva quanto às oportunidades de
competição no mercado econômico internacional. As três principais
indústrias de forte atuação são a aeroespacial (satélites, veículos
lançadores de satélites, aviões não tripulados, radares avançados),

172

Textos e contextos

informática (principalmente no desenvolvimento de softwares) e
biotecnologias (produção de frutas sem sementes, criação de
variedades de plantas adaptáveis ao uso de água salobra etc.),
baseadas no desenvolvimento de estudos genéticos. Merece
destaque a indústria química fina e farmacêutica, em grande parte
baseada nos recursos naturais das jazidas salinas do Mar Morto. No
setor da indústria mineral, destaca-se a produção de potássio e
fosfato. Possui também as indústrias solar e geotérmica, além da
indústria bélica que produzem, principalmente, submetralhadoras e
fuzis.

O fato politico que chamava atenção por ocasião de nossa visita
era a aproximação com os países árabes vizinhos e o constante
estado de alerta (segurança armada), nos diferentes locais visitados.
Em Israel, os homens e as mulheres têm o dever de servir o
exército (serviço militar obrigatório). Todos têm fardas, armas em
casa, uma patente militar determinada para qualquer emergência
(guerra, por exemplo).

Outro aspecto que se destacava era o apego às tradições
históricas, aos lugares sagrados e à preservação da memória
histórica, como o Holocausto.

O ponto alto de nossa visita foi conhecer as Universidades e os
Institutos de Pesquisa existentes em Israel. O Governo Israelense
enfatiza o suporte às suas entidades universitárias e de pesquisa.
Todas as instituições visitadas apresentavam características
comuns, tais como excelente qualificação dos seus professores e
pesquisadores, sendo exigido o titulo de doutorado para suas
admissões; infraestrutura de bom nível, traduzida por instalações
adequadas e modernas, laboratórios bem equipados, presença
destacada da informática e excelentes bibliotecas; estágio
probatório de cinco anos para o corpo docente e sua promoção por
produção científica; entrosamento das universidades e instituições
de pesquisa com empresas privadas que buscam nelas

173

Textos e contextos

(principalmente nas Universidades) suporte para o
desenvolvimento de seus produtos; amplo relacionamento com
instituições internacionais, redes de informação e de pesquisa;
escolha de seus dirigentes (presidente, no caso das universidades)
através do Bureau Governativo, o qual pode escolher pessoas de
dentro ou de fora do quadro dos professores ou pesquisadores das
universidades ou institutos de pesquisa; a seletividade dos alunos
baseia-se no seu histórico escolar e em teste nacional, assegurando-
se a entrada dos melhores; predominância de uma área única de
Campus Universitário com dimensões variadas; os recursos
financeiros são divididos entre o Governo (55%) e os restantes, de
taxas pagas pelos estudantes (variável), doações da comunidade
judaica principalmente, do exterior.

O objetivo maior das universidades e instituições de pesquisa
era colaborar para o pleno desenvolvimento do país, criando novos
softwares, novas variedades de plantas, novos equipamentos e
programas para os diferentes setores da indústria e da agricultura.
As referidas instituições ainda desempenham importante papel no
esforço governamental de ajustamento social dos novos judeus
recém-chegados a Israel vindos de diferentes países. Quando ali
estivemos, Israel recebia uma grande quantidade de judeus vindos
da Rússia.

Foram visitadas as seguintes universidades e institutos de
pesquisa: 1. Região do Deserto de Neguev: Universidade Ben
Gurion e o Instituto Jacob Blaustein; 2. Rojovot: Instituto
Científico Weizmann e o Instituto de Desenvolvimento Rural; 3.
Tel Aviv: Universidade de Tel Aviv; 4. Haifa: Instituto
Tecnológico de Israel (Technion) e a Universidade de Haifa; 5.
Jerusalém: Universidade Hebraica de Jerusalém.

Outro ponto importante de nossa visita foi visitar alguns
Kibutzim que, inicialmente, eram modelos de assentamentos de
judeus recém-chegados ao território israelense. O kibutz era

174

Textos e contextos

destinado à produção agrícola e servia como ponto militar de apoio
à defesa da área em que estava situado. Os Kibutzim visitados
estavam na região do semiárido, com uma área de 13 hectares,
cercadas por arames e com uma distribuição espacial entre
concentração das residências, escola, refeitório, administração,
hotel, pequenas indústrias e área destinada às atividades da
agricultura. A exploração agrícola era irrigada pelo sistema de
gotejamento, uso intensivo de mecanização, sendo as principais
culturas de tâmara e citros (laranja, limões, tangerina, kiwi).

O kibutz é uma comunidade coletiva em que os meios de
produção, responsabilidade e lucros são de propriedade geral. Pela
manhã cedo, as mães deixam seus filhos na escola, indo buscá-los
no final do dia. Seguem depois para diferentes tarefas coletivas
com rodízios diários nas diversas dependências do kibutz: na
cozinha; na lavagem de roupas; nos serviços de limpeza ou, ainda,
nos trabalhos agrícolas. Os homens cuidam das tarefas agrícolas,
ajudam na cozinha, fazem a segurança da área do kibutz.

Entre outras características da vida comunitária do kibutz,
podemos destacar: não há circulação de moeda internamente;
distribuição da produção para a comunidade; prioridade à educação
das crianças com 100 horas anuais de ensino, em que aprendem
diversas atividades, entre elas as técnicas agrícolas; meios de
produção próprios e o funcionamento da economia por meio de
oficinas com diversas especialidades.

Israel tem um programa de reflorestamento atuante e
diferenciado. O reflorestamento se dá em áreas montanhosas com
solos pedregosos, pântanos até regiões desérticas, sendo
considerado como uma obrigação sagrada. Há um dia dedicado ao
reflorestamento chamado “Dia do plantio de árvores”. Os recursos
financeiros para o programa de reflorestamento são bancados pelo
Fundo Nacional Judaico (KKL).Todos os reitores da nossa

175

Textos e contextos

comitiva plantaram árvores nos arredores de Jerusalém, ocasião em
que receberam um boton e um diploma.

Entre os locais religiosos visitados, destacamos: a Via Sacra, A
Basílica do Santo Sepulcro, onde está localizado a Tumba de
Cristo, o Monte das Oliveiras, o Muro das Lamentações e a
Mesquita Domo da Rocha, todos em Jerusalém; um santuário, onde
o Arcanjo Gabriel fez a Anunciação à Virgem Maria, em Nazaré; a
Basílica da Natividade, local do nascimento de Jesus, situada na
cidade de Belém (território palestino); Igreja da Multiplicação dos
Pães e dos Peixes (Igreja Bizantina), localizada em Tabgha, a
noroeste do mar de Galileia- Israel; Monte das Bem-Aventuranças
ou Monte Eremos ou, simplesmente, Sermão da Montanha de
Jesus, localizado entre Cafarnaum e Genesaré, margem noroeste do
Mar Galileia próximo ao local da multiplicação dos pães e peixes
(Tabgha)- Israel; Mar da Galileia ou Mar de Tiberíades ou Lago
Genesaré, onde Jesus realizou milagres como alimentar cinco mil
pessoas, caminhar pela água, acalmar uma tempestade (Palestina);
Rio Jordão que faz a fronteira de Israel/Jordânia, principal afluente
do Mar da Galileia e desemboca no Mar Morto, aonde chega com
alta salinidade. Num determinado ponto de suas margens, Jesus foi
batizado, local de peregrinação de cristãos para ali serem batizados,
em território Palestino. O turismo religioso é parte importante do
PIB israelense.

Dentre outros locais visitados, destacamos: 1) Mar Morto, que é
na realidade um lago de água salgada, fazendo fronteira entre
Jordânia e Israel, com comprimento de 50 km e largura máxima de
18 km, abastecido pelas águas do Rio Jordão. Do lado israelense,
temos praias em suas margens, com pessoas tomando banho no
mar, boiando uma vez que a alta quantidade de sal não favorece
risco de afogamento. Nas areias das praias, as pessoas passam, em
seus corpos, uma lama escura com propriedades terapêuticas.
Existiam também algumas lojas para venderem cremes e pílulas,

176

Textos e contextos

tendo por base de suas formulações, os vários tipos de sais e algas
encontradas no Mar Morto. 2) Massada (Parque Nacional de
Massada) é uma fortaleza natural, com penhascos íngremes e
terreno acidentado, que se eleva a 400 metros acima de uma
planície situada no litoral sudeste do Mar Morto. Ali são visitados
restos do complexo de muralhas, salas, casa de banho da fortaleza
erguida pelos judeus zelotes, aonde foram se refugiar depois que os
romanos (70 D.C.) destruíram o Segundo Templo de Jerusalém.
Cercados pelas tropas romanos resolveram cometer suicídio em
massa para não serem capturados. 3) Colinas de Golan ou Montes
Golan, anteriormente conhecidas como Colinas Sírias, situada na
Região do Levante. Dois terços de sua área foram conquistados por
Israel da Síria na Guerra de Seis Dias no ano de 1967 e
oficialmente anexadas a Israel em 1981. Desde então existe uma
chamada “Linha Roxa,” que limita as novas fronteiras naquela área
ente Israel e Síria. As colinas são importantes por serem
militarmente estratégicas em razão de sua altitude e também fonte
de água numa região seca. Notamos, ali, forte aparato militar com
soldados em casamatas, postos de observação e voos de aviões
militares. A nossa visita foi rápida e repleta de cuidados militares
usávamos capacete militar e colete à prova de balas.

Finalizada a visita a Israel, dirigimo-nos ao Aeroporto Ben
Gurion, em Tele Aviv, sem a presença do Josef Arad, transportados
em camionetas. Eu estava acompanhado dos reitores das
Universidades da Colômbia, do México e do Peru. Ali chegando,
dispersei-me para os procedimentos de embarque. A revista a que
fomos submetidos foi muito rigorosa, abrindo as malas, as pastas
de mão, as sacolas, interrogando a mesma coisa de diferentes
formas, indagando quem eram os nossos acompanhantes, se
havíamos tido contatos com árabes, os lugares visitados e o motivo
de nossa visita, em busca de possível contradição. É o estado de
alerta permanente.

177

Textos e contextos
26/11/2015.

178

Textos e contextos

VISITA AO PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO
DO RIO SÃO FRANCISCO

1. INTRODUÇÃO:

Comitiva da Academia Cearense de Engenharia (ACE), e
representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
do Ceará (CREA-CE) estiveram no período de 26/10 a 29/10/2016,
em visita ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco,
oficialmente denominado Projeto de Integração do Rio São
Francisco, nos Municípios de Mauriti, Brejo Santo e Jati, no Ceará
e Cabrobó e Salgueiro, em Pernambuco, no trecho chamado Eixo
Norte.

A história da transposição começa em 1847, no período do
Império Brasileiro de Pedro II, tendo em consideração a sugestão
do Dr. Marco Antônio de Macedo que imaginou um canal ligando
o São Francisco até o Rio Salgado no Ceará, por meio de
gravidade, visando solucionar a seca no Nordeste. Não foi adiante
por falta de conhecimento e equipamentos da engenharia
inexistentes na época. No Governo do Presidente Getúlio Vargas, a
discussão foi retomada sem qualquer avanço. Durante o Governo

179

Textos e contextos

do Presidente João Batista Figueiredo, quando ocupava o
Ministério do Interior Mário Andreazza, foi elaborado o primeiro
projeto consistente a cargo do extinto Departamento Nacional de
Obras e Saneamento (DNOS).

No Governo de Itamar Franco, foi nomeado Ministro da
Integração Nacional o Deputado Aluízio Alves, do Rio Grande do
Norte, para realizar estudos sobre o potencial hídrico das bacias
semiáridas dos Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do
Norte e Paraíba. Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu seu
primeiro governo, assinou o documento ¨Compromisso pela Vida
do São Francisco¨ com objetivos de revitalização do rio e a
construção de canais de transposição: Eixo Norte, Eixo Leste,
Sertão e Remanso e previa ainda a transposição do Rio Tocantins
para o Rio São Francisco. Através de Decretos Governamentais
foram criados os projetos Comitê da Bacia Hidrográfica do São
Francisco (CBHSF) e o Projeto de Conservação e Revitalização da
Bacia Hidrográfica do São Francisco (PCRBHSF). Em decorrência
de tais projetos surgiu a Lei das Águas e os Comitês das Bacias,
formados por representantes dos Estados e Municípios cujos
territórios fazem parte da bacia, dos usuários das águas e entidades
civis de recursos hídricos que atuem na bacia.

No primeiro governo do Presidente Lula, foram contratadas as
empresas Ecology and Environment do Brasil, Agrar Consultoria e
Estudos Técnicos e JP Meio Ambiente para reformularem e
continuarem os estudos ambientais da transposição do rio e
conseguir o licenciamento junto ao IBAMA. Também foram
realizados estudos sobre Inserção Regional, relativas à demanda e
disponibilidade de água no Nordeste Setentrional e de viabilidade
técnico-econômica, considerando o melhor traçado dos canais,
planejamento, custo da obra e sua viabilidade econômica. Os
estudos finais foram concluídos em julho de 2004, com a versão
atual do projeto que passou oficialmente a ser chamado de Projeto

180

Textos e contextos

de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas
do Nordeste Setentrional.

Depois de muita polêmica e resistências por parte dos Estados
da Bahia, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais, setores da Igreja
Católica (com bispo realizando protesto de fome), ecologistas,
indianistas e setores governamentais do poder central e graças à
habilidade do Vice-presidente da época, José de Alencar, designado
pelo Presidente Lula c mediador dos conflitos existentes e a
determinação do Ministro de Integração Nacional, na época Ciro
Gomes, as obras tiveram início em julho de 2007, através do
Exército Brasileiro.

2. O PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO

O projeto em execução consta da construção de dois eixos
(Leste e Norte), compreendendo canais, túneis, aquedutos, estações
de bombeamento e reservatórios, envolvendo os Estados de
Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, beneficiando
uma população de 12 milhões de habitantes em 390 comunidades.

O modelo adotado de construção foi de licitação, dividido em
seis trechos de obras (Metas 1N, 2 N, 3 N, 1 L, 2 L, e 3 L).

A meta 1N compreende 140 km. de canais que vão da captação
do Rio São Francisco, no Município de Cabrobó (PE) até o
reservatório de Jati (CE). A obra passa pelos Municípios de
Cabrobó, Salgueiro, Terra Nova e Verdejante em Pernambuco e
Penaforte, no Ceará, estando 90% concluída. Falta a construção de
10 km. de canais, a conclusão do túnel em Jati e outro na fronteira
com o Estado de Pernambuco.

A meta 2N tem 40 km de extensão. Começa no reservatório Jati
(CE) e termina no de Boi II, em Brejo Santo. Este trecho passa
pelos Municípios de Jati, Brejo Santo e Mauriti, no Ceará. No
referido trecho, todos os canais estão concluídos, bem como os

181

Textos e contextos

aquedutos e o túnel de 15 km. de comprimento, 9 metros de altura
e largura, que liga o Ceará à Paraíba. Estão em conclusão (equipes
trabalham 24 horas), as barragens Boi I, Boi II, Cipó, Cana Brava,
Porcos e Atalho (já concluída).

A meta 3N com 81 km, que vai do reservatório Boi II Município
de Brejo Santo até o reservatório Engenheiro Ávidos, no Município
de Cajazeiras (PB), está com 60% concluída. Este trecho passa
pelos Municípios de Brejo Santo, Mauriti e Barro, no Ceará; Monte
Horebe, São José de Piranhas e Cajazeiras, na Paraíba.

A meta 1L com 16 km, compreende a captação no reservatório
de Itaparica até o reservatório de Areia, ambos no Município de
Floresta, em Pernambuco, com 93% concluída.

A meta 2L com 167 km, vai da saída do reservatório Areias, em
Floresta (PE) até o de Barro Branco, em Custódia (PE), passando
pelos Municípios de Floresta, Custódia e Betânia, todos em
Pernambuco, estando com 70% concluída.

A meta 3L com 34 km, compreende o trecho entre o reservatório
Barro Branco (PE) e o de Poções, em Monteiro (PB). A obra passa
pelos Municípios de Custódia e Sertânia (PE) e Monteiro (PB),
estando 25% concluída.

A obra da transposição do Rio São Francisco engloba a
construção de 4 túneis, 14 aquedutos, 9 estações de bombeamento,
27 reservatórios que funcionarão como pulmões de água e visa
deslocar 1.4 % de água da vazão média do rio, tendo 38 programas
ambientais e sociais (saúde, educação). Segundo informa o
Ministério de Integração Nacional, a obra, em termos de
engenharia, no final de outubro de 2016, 86,3 % estará concluída.

3. A VISITA AO PROJETO

A visita da comissão da ACE ao Projeto de Transposição ao Rio
São Francisco começou com deslocamento via a Empresa Aérea

182

Textos e contextos

Avianca, no trecho Fortaleza- Juazeiro do Norte, no dia 26/10/16,
voo 6378 que saiu às 18:17 h. chegando às 19:15 e hospedagem no
Hotel Verdes Vales em Juazeiro do Norte.

No dia 27/10, às 7:30 h. o grupo, acrescido por dois conselheiros
do CREA-CE e um engenheiro do Cariri Cearense, deslocou-se, via
micro-ônibus da Empresa Pernambucana, rumo a Mauriti (CE),
com parada inicial no Município de Barbalha para uma visita ao
CENTEC, onde foi instalada uma unidade fabril denominada
Fabrica Escola de Rapadura e Aguardente.

Ao chegar ao Município de Mauriti fomos recebidos pelo
engenheiro Alexandre de Sousa Fontenelle, do Ministério de
Integração Nacional, que levou a comissão a percorrer 40 km. de
canais, a maior parte revestido com placas de concreto, tendo, em
sua base, manta asfáltica revestida de concreto e outros com lençóis
subterrâneos de água elevados, com suas bases e taludes revestidos
por pedras, todos prontos, passando por três aquedutos, dentre eles
o de Pinga; o túnel de 15 km. de cumprimento, com 9 metros de
altura e largura, sendo metade no Ceará e o restante na Paraíba, já
concluído; a construção das barragens de Boi I, Boi II, Porcos,
Cana Brava, Cipó e Atalho (já concluída), estas situadas no
Município de Brejo Santo, cujas conclusões são previstas para
dezembro/2016. Após as visitas, deslocamo-nos para o canteiro de
obras da Empresa SERVANG, onde almoçamos.

Após o almoço, a comissão deslocou-se para o Município de
Jati, visitando in loco a construção da barragem e de um túnel que
levará água para o restante do projeto nos Estados do Ceará e da
Paraíba A obra é complexa, de dimensão significativa, com muitas
máquinas e operários trabalhando, mas exigirá no mínimo de
quatro a seis meses de obra.

Antes de chegarmos às obras da barragem de Jati, demos uma
parada ao lado da BR-116 para verificarmos andamento da
construção de um trecho do Cinturão das Águas, que levará de Jati

183

Textos e contextos

ao Cariri Cearense, as águas da transposição do São Francisco, a
cargo do Governo Estadual.

Depois da visita à Barragem de Jati, fomos direto ao Município
de Salgueiro (PE) para o pernoite, onde o grupo foi hospedado em
dois hotéis: Salgueiro Plaza Hotel e Hotel Imperial.

No dia 28/10, acompanhado pelo engenheiro João Edinaldo, do
Ministério de Integração Nacional, fomos visitar o local de
captação da água do Rio São Francisco, do Eixo Norte, próximo à
Ilha de Assunção (tribo indígena dos Trukas), no Município de
Cabrobó, onde começa o canal de aproximação, construído pelo 2º
Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro de,
aproximadamente 2 km. até a Primeira Estação de Bombeamento I-
1, das 3 existentes no Eixo Norte. O canal de aproximação é
revestido de pedras, cuja tecnologia é o tipo caixa, obra executada
pela Empresa Mendes Júnior.

Em seguida, estivemos visitando a primeira Estação de
Bombeamento de águas, trecho 1N, onde está prevista a instalação
de oito bombas (já todas no local), duas instaladas, da marca
SULZER (suíça). O prédio da primeira Estação de bombeamento
tem 42 metros de altura, sendo 15 metros abaixo de seu piso (27
metros do piso ao teto) e elevando a água do canal de aproximação
para os primeiros canais de concreto a 36 metros. As bombas são
enormes. Segundo informações do técnico, tem mais de 3 mil
peças. A construção do prédio da Estação de Bombeamento, bem
como a instalação das bombas foram executadas pela Construtora
Mendes Júnior. Ao lado dos prédios das Bombas de Elevação
existem Estações Abaixadoras de energia elétrica.

Depois, fomos a ver a Barragem de Tucutu, seguindo até
Salgueiro ao lado de canais já prontos e de alguns aquedutos,
parando em Salgueiro para almoço.

Após o almoço, seguimos para visitar a Estação de
Bombeamento I-2, cujo prédio, montagem das bombas e

184

Textos e contextos

construção dos canais de concreto foram construídos pela Mendes
Júnior. Da Estação de Bombeamento 1 até a Estação de
Bombeamento 2, existe água nos canais construídos. Na Estação 2,
estão montadas 2 bombas marca ALSTOM (francesa) e outras seis
já estão no local. A elevação das águas entre o canal que traz água
da Estação 1 para a que passa para os canais a partir da Estação 2 é
de 55 metros.

Depois seguimos para visitar a Estação de Bombeamento I-3,
cuja construção parcial de seu prédio, dos canais e a montagem das
máquinas estão paralisadas, devido o abandono das obras por parte
da Construtora Mendes Júnior. Faltam concluir 10 km. de canais,
montagem das bombas e abertura de um pequeno túnel entre
Pernambuco e Ceará. Este é o grande obstáculo para as águas do
São Francisco chegar ao Ceará.

Em seguida, rumamos para Juazeiro do Norte, onde pernoitamos
no Hotel Verdes Vales e, no dia seguinte (29/10/16), retornamos a
Fortaleza pela Empresa Avianca, Voo 6376, às 7:25 h.

4, CONCLUSÂO

A visita proporcionou aos associados da nossa Academia um
conhecimento real do andamento da construção do Eixo Norte, do
Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Ela vai permitir
uma tomada de posição dos nossos acadêmicos diante um tema dos
mais importantes para o desenvolvimento do Estado do Ceará,
tendo em vista a escassez de águas decorrente de cinco anos de
seca, provocando queda da produção agrícola, industrial e riscos de
sobrevivência humana.

O projeto de transposição é a maior obra de infraestrutura
hídrica do País e figura entre as 50 maiores construções de
infraestrutura em execução no mundo. É orgulho para a engenharia

185

Textos e contextos
brasileira e, principalmente, é a redenção do Nordeste Brasileiro na
parte relacionada com a sua região do semiárido.

Agradecemos a todos aqueles que possibilitaram a nossa visita
principalmente ao confrade Francisco José Coelho Teixeira
(Secretário de Recursos Hídricos do Ceará), que facilitou o nosso
contato com a Secretaria de Infraestrutura Hídrica, do Ministério da
Integração Nacional; ao Dr. Frederico Meira, Coordenador de
Obras do Projeto de Transposição; aos engenheiros Alexandre
Fontenelle e João Edinaldo do Ministério da Integração Nacional
que acompanharam com muita competência e cortesia as diferentes
etapas de nossa visita. A todos os nossos sinceros agradecimentos.

REFERÊNCIAS:

Aveiro, Carolina. A Transposição do Rio São Francisco:
Aspectos polêmicos e Jurídicos.Justbrasil.com.br, 29 de Outubro de
2016.

Portal Brasil, de 29/10/2016. Obras do Projeto São
Francisco continuam, garante governo.

Wikipédia, Transposição do rio São Francisco, 30/10/2016.
Revista Super Interessante. Por que a transposição do rio
São Francisco é tão polêmico. 6/12/2005 e atualizado em
19/10/2016.

(Relatório apresentado a Academia Cearense de
Engenharia).
02/11/2016.

186

Textos e contextos

A VERDADE SÔBRE
O PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO

O Projeto de Transposição do Rio São Francisco que atenderá os
Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte,
beneficiando uma população de 12 milhões de habitantes, em 390
comunidades, é a maior obra de infraestrutura hídrica do País e
figura entre as 50 maiores construções de infraestrutura em
execução no mundo. O Projeto tem dois eixos (LESTE E NORTE)
que conduzirão as águas captadas nas margens do Rio São
Francisco aos Estados beneficiados.

Estivemos, recentemente, de 26 a 29/10/16, juntamente com
associados da Academia Cearense de Engenharia e representantes
do CREA-CE, visitando o EIXO NORTE do referido projeto.
Começamos a visita nas proximidades da Ilha de Assunção na
margem do Rio São Francisco (Município de Cabrobó-PE), onde se
inicia a captação das águas que entram num canal de aproximação
de 2 km. de extensão até a Estação de Bombeamento I-1, onde
estão montadas duas, das oito bombas Sulzer (suíças) para

187

Textos e contextos

elevarem águas até os primeiros canais de concreto, numa altura de
36 metros. São três estações de bombeamento existentes no Eixo
Norte (EBI-1, EBI-2 e EBI-3). Já esta pronto o canal de concreto
entre as Estações (1 e 2), inclusive com águas em seu trajeto, tendo
duas bombas ALSTOM (francesas) montadas das oito programadas
também na EBI-2, elevando as águas a 55 metros. Entre a Estação
2 e 3 (ambas situadas no Município de Salgueiro-PE), os canais
estão parados, bem como a montagem das bombas da Estação 3
(oito bombas ALSTOM), que elevarão a 90 metros as águas,
devido ao abandono das obras por parte da Construtora Mendes
Júnior. O Ministério da Integração Nacional está providenciando
nova licitação para selecionar construtora para completar o referido
trecho, as obras suplementares e a montagem das bombas
elevatórias (3 mil peças cada uma).

No Município de Jati (CE) estão trabalhando na construção de
uma barragem de 28 milhões de metros³ e grandes túneis de
concreto para a condução das águas. Falta ainda a construção de
um túnel entre os Estados do CE e PE. As construções em Jati são
complexas e grandiosas, exigindo um prazo de 4 a 6 meses para sua
conclusão. Nos Municípios de Brejo Santo e Mauriti (CE),
percorremos 40 km. de canais totalmente prontos e um túnel de 15
km. de cumprimento por 9 metros de largura e altura (concluído)
entre os Estados do CE e PB, bem como aquedutos. Estão em
construção as barragens de Boi I, Boi II, Porcos, Cana Brava, Cipó
(estão trabalhando 24 horas) e Atalho (concluída) com previsão de
conclusão total para dezembro de 2016.

O Eixo Norte está com 90% das obras concluídas, incluindo a
construção de canais, barragens, aquedutos, estações elevatórias,
túneis, estações abaixadoras de energia, estradas secundárias e a
previsão da chegada das águas ao Ceará, no final de 2017.

O atraso das obras deve-se a complexidades das obras de
engenharia, compreendendo, inclusive, a montagem das bombas

188

Textos e contextos
elevatórias (3.000 peças); licitações a serem realizadas; instalações
do canteiro de obras da nova empresa licitada e manutenção dos
recursos financeiros (segundo informações que nos foram dadas, no
momento não faltam recursos). O alerta à sociedade é termos um
novo ano de seca, o esgotamento das fontes hídricas principais do
Ceará (Orós e Castanhão) e as obras de transposição não chegarem
a tempo, conforme previsão dos técnicos. Outra grande
preocupação que a Academia Cearense de Engenharia e o CREA-
CE externam diz respeito ao gerenciamento e à manutenção do
projeto dado a sua complexidade.

06/11/2016.

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Textos e contextos
OUTROS ASSUNTOS
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Textos e contextos

A LÓGICA DOS “JUSTICEIROS”

A respeito da reportagem veiculada pelo jornal O Povo de
14/07/2002, na qual fui citado, venho prestar esclarecimentos à
opinião pública. É notório que os governos passaram os últimos
anos tentando denegrir a imagem dos servidores públicos, fazendo
uma espécie de “tábula rasa” entre quem cumpria seus deveres e
agia corretamente de um lado, e os casos de manipulação e abuso
de outro. Para esse objetivo, contou-se com o apoio de poderosos
interesses econômicos e financeiros. Tudo seria justificável para
esse mister: desobedecer à Constituição, não concedendo reajustes
salariais nem respeitando direitos adquiridos; retardar o
cumprimento de ordens judiciais e até alterar folhas de pagamento
para simular aumento de despesas com pessoal de modo a
constranger o exercício legítimo de direitos.

O “outro lado” dessa história é que a ânsia de produzir
sensacionalismo e de perene sede de escândalo que brotou nesse
terreno fértil não prejudicou “apenas” os indivíduos atingidos e,
muitas vezes, injustamente acusados. No uso de “informações” de
modo surpreendentemente eficiente, “esqueceram” o necessário
trabalho de verificação objetiva de dados (ainda mais quando se
sabe que os processos jurídicos são públicos, estando os autos

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Textos e contextos

disponíveis para consulta). Criou-se assim a figura sui generis do
“crime de suspeita”, gerada por irregularidades do se “ouviu dizer”,
em contradição gritante ao princípio de que todos são inocentes até
prova em contrário.

Nesse festival grotesco, perdem as instituições e perdemos todos
nós. Perdemos quando, no ritual caricato de imitação de justiça,
antes dos juízes decidirem se uma acusação procede ou não, a
imposição de uma “justiça informal” que atropela tudo e a todos,
servindo a objetivos circunstanciais (qual a diferença substancial
entre tal prática e o que fazem os bandidos traficantes, quando
prendem, julgam e executam suas vítimas?). Curiosa deformação
essa. Em nome do interesse público, decide-se arbitrariamente.
Verifica-se a perene atualidade do mito do “homem cordial” e sua
relação particularista com a vida pública, tudo em nome do
interesse público, da democracia e do zelo.

No caso específico dos salários dos professores da Universidade
Federal do Ceará, principalmente dos aposentados, é conveniente
que o público atente para o fato de que existem diferenças salariais
entre os docentes, em decorrência dos seguintes mecanismos
funcionais: três regimes de trabalho (20 horas, 40 e dedicação
exclusiva); qualificações acadêmicas diferenciadas (graduação,
especialização, mestrado e doutorado); ocupações acadêmico-
administrativas variadas (coordenadores de cursos, chefes de
departamentos, diretores de faculdades ou centros, pró-reitores,
vice-reitor e reitor), de acordo com a legislação específica, mais
vantagens pessoais como quinquênios e diferenças relativas aos
níveis de carreiras dos professores (que começam como auxiliar de
ensino, progredindo ao longo de tempo de serviço e qualificação
para assistentes de 1 a 4, adjuntos de 1 a 4 e, finalmente, titular).

Deste modo, um professor que seja doutor/titular, sob o regime
de dedicação exclusiva e que tenha ocupado chefias durante o seu

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Textos e contextos

tempo de permanência na ativa, ganhará mais do que outro
professor que seja auxiliar de ensino e portador somente do curso
de graduação, trabalhe num regime de 20 horas, não tenha ainda
ocupado cargos de chefia e tenha menor tempo de serviço na
instituição. Isto sem levar em consideração outros ganhos
decorrentes de decisões judiciais, obtidos por determinados grupos
de professores, como os 84% do chamado Plano Collor.

No meu caso especifico, conforme divulgou o jornal, esclareço:
1) Não recebo os 84% do citado “Plano Collor”; 2) O pagamento
dessa vantagem na UFC começou a ser feito a partir de setembro
de 1996, após o encerramento de meu mandato como Reitor da
Universidade Federal do Ceará (21 de junho de 1991 a 21 de junho
de 1995).

Gostaria de esclarecer ainda que o valor divulgado na
reportagem não corresponde à verdade. Para isto é importante
esclarecer que todo salário público (o termo correto é vencimento)
é dividido em duas partes: o bruto ou total (no qual se detalham as
rubricas de pagamento) e o liquido (no qual incidem as
deduções). Ocorre que, desde o ano passado, os técnicos do setor
financeiro vêm “enxertando” valores, de modo totalmente
arbitrário, no salário bruto de um grupo de servidores da
Universidade, alterando, por meios contábeis, o valor total dos
ganhos sem que este valor sequer chegue a ser depositado na conta
dos servidores, pois é deduzido imediatamente no mesmo
contracheque. Parece ser evidente que isso tem como objetivo
conseguir, de outra forma, o que a Justiça não permitiu que o
Governo e seus agentes fizessem. De modo ardiloso, cria-se
constrangimento no meio dos servidores.

É sintomático que, agora, se fale de uma suposta “punição”, que
corresponde justamente ao quadro inquisitorial que acabamos de
analisar. O que é de se estranhar, porém, é que se esquece de que o

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Textos e contextos
Tribunal de Contas da União ainda não se pronunciou sobre a
questão, não tendo ocorrido ainda nenhuma espécie de
pronunciamento técnico (do próprio TCU), nem, muito menos, o
propriamente dito julgamento judicial por parte da Justiça Federal.
Pelo contrário, por várias vezes, em diversas ações, os ganhos
foram confirmados, sem que isto fosse divulgado do mesmo modo
e intensidade. Faltaria um departamento jurídico de apoio para os
órgãos da imprensa?

Talvez nada disto importe, afinal, para quem se sente ungido por
direito divino ou por pertencer a uma casta superior da humanidade
a cumprir uma “missão justiceira” e despreze tudo o mais, inclusive
a própria possibilidade de erro como mero detalhe. Desconheço a
motivação pessoal dos que agem dessa forma, mas o que
certamente é válido afirmar, como alguém com mais de 40 anos de
serviço público, dos quais 30 dedicados exclusivamente à UFC se
vê envolvido por tais tramas. Esse comportamento está longe de
corresponder à lealdade de diálogo e à racionalidade que compõem
a dimensão da cidadania.

.
O Povo, de 15/07/2002.

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CIDADE SEM LEI

Fortaleza torna-se um território sem lei, onde mínimos aspectos
da vida coletiva são, a toda hora, desafiados. Espaços públicos são
invadidos, feiras livres e construções fecham ruas e ocupam áreas
de preservação ambiental, calçadas desaparecem, ruas são
privatizadas e proprietários de bares e carros ignoram a “lei do
silêncio”.

Abrem-se bares em zonas residenciais sem restrição alguma,
fazendo da vida da vizinhança um verdadeiro inferno. Por toda
parte há exemplos dessa “bar-bárie”: shows diários vibrando
decibéis ensurdecedores, ignorando qualquer limite. Quando por
fim a autoridade policial comparece, faz-se, no máximo, uma breve
“homenagem” à civilidade, baixando o volume, mas somente por
alguns minutos. Logo que os policiais saem, retorna-se à lógica da
autoconfiança a qualquer custo.

Tão preocupante quanto esse tipo de selvageria é a surdez física
e moral com que tais fatos são recebidos e vistos da parte de
determinados concidadãos e de autoridades competentes. Investe-se
a própria lógica: os que se sentem agredidos por essa situação é que
são vistos como “intolerantes”, pelo fato de pretenderem ter o

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Textos e contextos
direito ao repouso e ao sossego, ou, simplesmente, por não
partilharem do gosto/mau gosto predominante. A quem apelar?

Enquanto não recuperamos a educação e o espírito de vida
coletivo, degrada-se a qualidade de vida nesta “loura desposada de
sol”. Se nada for feito, estaremos entregues a tais formas de
violências, de total desrespeito aos direitos dos outros, alimentadas
por personalidades que não veem, além da satisfação de seus
próprios caprichos, vaidades e vontades individuais.

Só resta então esperar que o Poder Judiciário possa ouvir o apelo
de todos os cidadãos da cidade que pagam impostos e são
portadores do desejo de uma vida social com harmonia entre os
interesses individuais e coletivos, através de medidas saneadores
que tais fatos merecem. Desejamos do Judiciário urgência para
restaurar a noção de que a cidade é de todos e não somente de
alguns transgressores da lei.

O Povo, de 14/03/2009.

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NO RITMO DO FAZ-DE-CONTA

Quando a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle
Urbano (SEMAN) iniciou o chamado “regime de tolerância zero”
contra a poluição sonora, em junho último, criou uma expectativa
de otimismo e confiança da parte dos fortalezenses que, há muito,
vêm sofrendo os efeitos da omissão das autoridades competentes
diante do problema.

Entretanto, passados já alguns meses, tem-se a impressão de que
voltamos à estaca zero, quem sabe, já por conta dos ares eleitorais
que se anunciam para o ano que vem.

Exemplo de uma aberração desse tipo é o “Bar Bier Haus”, na
Avenida Padre Antonio Tomás o qual, encravado em zona
residencial e próximo de uma instituição hospitalar, agride
simultaneamente várias normas que disciplinam o uso do espaço
urbano, a civilidade e o respeito à vizinhança.

Não se trata somente do avanço na área correspondente à
calçada e do cerceamento do espaço de passagem dos pedestres.
Além desse abuso que vem se tornando trivial em Fortaleza, o
estabelecimento não apresenta barreiras para contenção sonora

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Textos e contextos
estridente de suas músicas repetitivas e de gosto musical aberrante,
sem demonstrar a mínima intenção de cumprir as várias promessas
que fez às autoridades que já foram acionadas. Referidos shows
musicais varam a madrugada adentro e começam nas tardes de
sábados e aos domingos até o anoitecer, estando longe de diminuir
o efeito do incômodo sonoro que provocam aos que moram em sua
vizinhança, quer sejam crianças, idosos e os que precisam acordar
cedo para trabalhar.

Após inúmeros protestos, pedidos à Polícia, ao Ministério
Público e um abaixo assinado de cerca de cem pessoas que moram
nas proximidades contra o tolhimento do direito elementar ao
descanso e à tranquilidade, houve uma promessa de técnico da
SEMAN de que o caso seria resolvido, e depois o silêncio
operacional e ficou-se somente na promessa.

Os ouvidos dos cidadãos que trabalham e pagam impostos
continuaram a ser castigados pela arrogância dos que buscam o
lucro acima de qualquer limite.

Episódios desse tipo mostram que muito falta para fazermos o
mais elementar “dever de casa” da cidadania e do estado de direito
em nosso País.

Um bom começo seria afastar o véu do individualismo hipócrita
com que esses “donos da noite” tentam esconder a violência que
praticam, sob o disfarce de promoção de uma alegria coletiva e
industrializada.

O Povo, de 03/11/2009.

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50 ANOS DE FORMATURA

Nós, os Engenheiros Agrônomos formados pela antiga Escola de
Agronomia (atual Centro de Ciências Agrárias) da Universidade
Federal do Ceará no ano de 1962 comemoramos 50 anos de
formatura nos dias 11 e 12 de janeiro de 2013.

Entramos na Universidade através de exame vestibular não
unificado, realizado pela própria Escola de Agronomia, que
constava de provas escritas, orais e práticas de Química, Física e
Biologia para depois frequentar um regime anual de aulas,
ministradas de segunda-feira a sábado, no turno da manhã e às
terças e quintas-feiras no turno da tarde, em um período total de
quatro anos de formação.

Eram disciplinas básicas e profissionais através das aulas

teóricas e práticas ministradas nas dependências da Escola, na área

do atual Campus do Pici, então ocupada somente pela Agronomia,

possibilitando várias práticas agropecuárias. Excursões e visitas a

outras instituições e empresas privadas ligadas ao setor da

agropecuária no Estado do Ceará ou em outros Estados da Região

Nordeste complementavam os novos conhecimentos técnicos

necessários aos formandos.

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