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Published by andreaires, 2019-06-19 08:00:11

Vivências_de_um_profissional

Vivências_de_um_profissional

ocasião da Expocrato e nos papos dos bancos da Praça
Siqueira Campos.

Nos dias atuais, a cidade do Crato faz parte da
Região Metropolitana do Cariri, sedia a Universidade
Regional do Cariri (URCA), é a sexta cidade mais
populosa do Estado com 126.591 habitantes (2013), o
nono maior PIB do Ceará, o terceiro Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), composto
por índices de longevidade, educação e renda. A cidade
conta atualmente com 26 bairros.

Continua ainda a ser a cidade considerada como a
melhor para morar na Microrregião do Cariri com o
comércio e os serviços dominando a economia local. Tem
um entroncamento rodoviário que a interliga aos Estados
de Pernambuco, Piauí e Paraíba.

O turismo é hoje a grande oportunidade para um
maior desenvolvimento da cidade que conta com bons
hotéis, restaurantes, clubes serranos como Clube
Recreativo Granjeiro, Serrano Atlético Clube, Itaytera
Clube, balneários naturais como a Nascente e a Cascata e
a proximidade das belezas naturais da Serra do Araripe
com destaque para o Geopark-Cariri.

Na parte da cultura, além do Instituto Cultural do
Cariri e Sociedade Artística do Crato, a existência do
Teatro Raquel de Queiroz, a banda Cabaçal dos Irmãos
Aniceto, o Centro Cultural (Antiga Estação de Trem), o
Museu Paleontológico e a Escola Lírica do Padre Ágio

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Moreira, no distrito de Belmonte, próximo à sede
municipal.

Os desafios maiores, para o futuro serão o
crescimento desordenado da cidade, a oferta de melhores
transportes públicos, a luta para evitar a saída de entidades
representativas para municípios vizinhos (o Centro Social
da Indústria-SESI e a sede da Universidade Federal do
Cariri foram para Juazeiro do Norte). Alguns outros
serviços também deixaram a cidade como restaurantes,
revendedoras de carros e profissionais especializados
como os médicos.

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PESSOAS PROATIVAS

Durante o período que passei no Crato, pude
identificar algumas pessoas proativas, em cargos formais
ou não. Eram aquelas que trabalhavam para realizar
mudanças, trazer o progresso para o município e, muitas
vezes, com ressonância em toda Região do Cariri
Cearense. Em suas lutas idealistas, não eram
compreendidas, porém nunca desistiram e, tempos depois,
tiveram o devido reconhecimento. Lutaram contra
preconceitos, grupos políticos e econômicos,
principalmente contra a visão retrógrada dos pessimistas.

Sem querer estabelecer uma hierarquia de
importância quero mencioná-las e homenagear os
verdadeiros combatentes do desenvolvimento
socioeconômico do Crato.

1) Dom Vicente de Araújo Matos
Bispo diocesano que foi meu diretor no Colégio

Castelo Branco (extinto) em Fortaleza, quando ali estudei.
Teve grandes preocupações com a educação, a liderança e
o sindicalismo rural.

Na educação criou o Ginásio e a Escola Normal
Madre Ana Couto, destinada a educar as jovens
desafortunadas e de boa vontade; o Colégio Pequeno
Príncipe, desdobramento do Colégio Santa Tereza de
Jesus, modelar e tradicional estabelecimento educacional
do Crato; as Escolas Radiofônicas objetivando darem

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combate ao analfabetismo e difundirem conhecimentos
úteis; o Centro de Treinamento do Crato, atualmente
denominado Centro de Expansão Dom Vicente Matos,
possibilitou treinamentos, encontros e seminários,
desempenhando as funções de um Centro de Convenções,
ainda inexistente na região; a Faculdade de Filosofia do
Crato, a primeira instituição de ensino superior no Cariri,
atendendo estudantes vindos de vários municípios do
Ceará e Estados vizinhos, principalmente de Pernambuco.
Foi à semente lançada para o surgimento da Universidade
Regional do Cariri (URCA), que qualificou um bom
número de profissionais que atuaram nas mudanças
ocorridas na Região do Cariri.

Para poder executar os objetivos programados por
Dom Vicente, era necessária a criação de veículos de
comunicação de massa. Ele criou então a Rádio Educadora
e o jornal A Ação, juntamente com a Empresa Gráfica
Ltda. Através da Rádio Educadora, criou os programas de
alfabetização e uma programação especifica para
formação de líderes rurais, o que possibilitou o surgimento
do sindicalismo rural. Em cada sítio havia um pequeno
rádio ligado privativamente à programação específica da
Rádio Educadora.

Na área da saúde, Dom Vicente modernizou o
Hospital Maternidade São Francisco de Assis, pertencente
à Diocese. Criou as Unidades Distribuidoras de
Assistência Sanitária (UDAS) para exercerem a Medicina

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Preventiva, principalmente no combate à terrível endemia
do tracoma, grande foco na região.

A Ação Social da Diocese do Crato estava a cargo
da Fundação Padre Ibiapina (FPI), entidade
sócioeducacional, de caráter filantrópico. Dentre as várias
ações da Fundação, podemos citar a Organização
Diocesana de Escolas Radiofônicas (ODER), a Escola de
Líderes Rurais (ELIRUR), a estruturação do Centro de
Treinamento do Crato. A Fundação criou também o
Centro de Documentação, Estudos e Pesquisas
(CENDEP).

2) José Alves de Figueiredo Filho
Era farmacêutico de formação, escritor de grandes

qualidades, historiador, professor, folclorista, jornalista e,
principalmente, amante de sua terra, sua história, sua
cultura e seus costumes. Escreveu vários livros
importantes com enfoque especial sobre o Cariri Cearense,
dos quais destacamos: Meu Mundo é uma Farmácia
(1940), Engenhos de Rapadura do Cariri (1958), O
Folclore no Cariri (1962), Folguedos Infantis Caririenses
(1966) e História do Cariri (1964-1968) em quatro
volumes. Exerceu o magistério na Faculdade de Filosofia
do Crato. Foi durante muitos anos, Presidente do Instituto
Cultural do Cariri e editor responsável de sua Revista
Itaytera.

Personalidade muito solicitada na cidade do Crato,
recebia visitantes em sua residência quase em frente à
Praça Siqueira Campos, ao lado de sua esposa D. Zuleika

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Pequeno. Era um papo agradável, inteligente e instrutivo
sobre as coisas do Cariri.

3) Pedro Felício Cavalcante
Prefeito municipal (dois mandatos), professor,

economista e poeta. Fundou o Banco Caixeiral, a
Faculdade de Ciências Econômicas, idealizou e construiu
a Faculdade de Direito, o Colégio Municipal Pedro Felício
Cavalcante, o Externato Cinco de Julho e batalhou pela
criação da Universidade Regional do Cariri. Exerceu, por
muitos anos, a presidência da Associação dos Empregados
do Comércio e a direção da Escola Técnica do Comércio
do Crato. Foi criador das raças zebuínas, introduzindo, na
Região do Cariri, as raças Nelore, Gir, InduBrasil, além de
criar cavalos de puro sangue inglês, caprinos e ovinos.
Como prefeito construiu a Estação Rodoviária, o Mercado
Central, a estrada do Granjeiro, a Quadra Bicentenária e
cobriu o canal que passa na Rua Tristão Gonçalves (Rua
da Vala).

4) Jefferson de Albuquerque e Sousa
Advogado, artista plástico, poeta e funcionário da

Carteira Agrícola do Banco do Brasil, agência do Crato.
Exerceu papéis diferenciados na comunidade como
educador informal, percorrendo várias propriedades rurais
no seu papel de fiscal do Banco, nos diversos municípios
da Região do Cariri, orientando os produtores rurais no
uso de novas tecnologias agrícolas e melhorias no criatório
de animais. Foi coordenador da comissão encarregada de
reivindicar a vinda da energia de Paulo Afonso para a

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Região, incentivador durante muitos anos junto ao Rotary
do Crato, na realização do Seminário sobre o
Desenvolvimento do Sul do Ceará, juntamente com outras
entidades. Foi criador de gado leiteiro mestiço e puro da
raça holandesa, membro, por vários anos, da Comissão
Organizadora da Exposição Agropecuária do Crato. Por
sua vez, foi pioneiro na ocupação da região do triângulo
Crato-Juazeiro-Barbalha, quando instalou ali uma
propriedade rural entre Juazeiro-Barbalha, denominando-a
de CRAJUBAR (o primeiro a usar a sigla). Presidiu o
Instituto Cultural do Cariri, fundou e foi presidente do
Rotary Clube do Crato, chegando a exercer o cargo de
Governador do Rotary, na Região do Nordeste Brasileiro
(na época 26° Distrito); presidente da Associação Atlética
do Banco do Brasil e do Sindicato dos Bancários; vice-
presidente da Confederação Norte-Nordeste dos
Funcionários em Estabelecimentos Bancários e do
Instituto de Ensino Superior do Cariri. Era possuidor dos
títulos de Cidadão Honorário das cidades do Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha.

5) João Lindemberg de Aquino
Jornalista brilhante, escrevia sobre a movimentação

social, econômica e política da região. Estudioso da
Região do Cariri, publicou vários artigos sobre o seu
potencial econômico. Tinha uma preocupação muito
grande com a Serra do Araripe, quanto à destruição de
seus recursos naturais, mormente pela ação predatória do
homem com a queima e o desmatamento florestal. Era um
batalhador pela exterminação da saúva e do cupim na

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serra. Fez parte do Instituto Cultural do Cariri, como seu
secretário por muitos anos, e do Rotary Clube do Crato e
presença obrigatória nos debates relativos ao
desenvolvimento do Cariri. Escreveu o livro “Roteiro
Biográfico das Ruas do Crato.”

6) Humberto Macário de Brito
Médico e diretor do Hospital-Maternidade São

Francisco de Assis, o único existente na época, no Crato.
Tinha reputação como profissional competente (clínico,
cirurgião e urologista). Acessível ao atendimento aos
anseios da comunidade, principalmente dos mais pobres,
era chamado médico humanitário. Constava sempre como
presença necessária nas discussões do desenvolvimento da
região. Posteriormente seria prefeito municipal, deputado
estadual, secretário de saúde do Estado (segundo Governo
Virgílio Távora) e superintendente da Superintendência de
Desenvolvimento do Ceará (SUDEC). Foi professor da
Faculdade de Filosofia do Crato.

7) José Newton Alves de Sousa
Professor e diretor da Faculdade de Filosofia do

Crato. Cratense ilustre, exercia a docência no Estado da
Bahia, quando foi convidado pelo Bispo Dom Vicente
Matos, para implantar e dirigir a Faculdade do Crato. Ali
criou os cursos de Línguas Neolatinas (Latim, Francês,
Espanhol), Pedagogia, História, Geografia e Ciências.
Promoveu grandes eventos como o I Seminário de Estudos
Caririenses (1965). Criou a coleção Estudos e Pesquisas
sobre a Região do Cariri. Assinou vários convênios com a

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Universidade Federal do Ceará, visando ao intercâmbio de
professores, técnicos e à promoção de eventos culturais. A
Faculdade de Filosofia do Crato foi o embrião da futura
Universidade Regional do Cariri (URCA).

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O VALE DOS CARÁS

Ao chegar à cidade do Crato para assumir a
Coordenação da Comissão de Desenvolvimento do Vale
dos Carás, imaginava encontrar uma comissão numerosa,
formada por representantes de outras entidades, com
suporte de um secretário administrativo e auxiliares, uma
sede apropriada, transporte adequado para deslocamento
nas áreas do vale e material escrito com todas as
informações possíveis a respeito da comissão e os
resultados dos trabalhos já executados. Na realidade,
encontrei um Jeep velho, um motorista, poucas
informações do acervo da Comissão e nada mais. Noutros
termos, a comissão era eu, um motorista (que trabalhava
na praça de carros da cidade do Crato) e um Jeep.

A comissão do Vale dos Carás foi criada pelo
Decreto Presidencial n° 46.366 de 7 de julho de 1959.
Seria coordenada pelo representante do Departamento de
Produção Vegetal do Ministério da Agricultura e teria
representantes das seguintes entidades: Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), destinado a
construir barragens, abertura de poços artesianos,
construção de estradas, pontes, colocação de bueiros e
irrigação; Companhia Hidroelétrica do São Francisco
(CHESF), por intermédio de sua subsidiária no Cariri a
Companhia de Eletrificação do Cariri (CELCA), com
trabalhos relativos à eletrificação rural; Superintendência
do Ensino Agrícola e Veterinário (SEAV)-Ministério da

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Agricultura (M. A) com a tarefa de construir Escolas
Rurais e direcionar o seu funcionamento e, finalmente,
Departamento de Promoção Agropecuária-M.A., no
sentido de prestar assistência técnica agrícola. Este era o
esboço da Comissão que, na realidade, não existia.

O Vale dos Carás está situado na Região do Cariri
Cearense e compreende os municípios do Crato, Juazeiro
do Norte e Missão Velha. O vale compreende as margens
do rio Carás, seus riachos formadores e seu encontro final
com o rio Salgado, afluente do rio Jaguaribe. O rio Carás,
no seu início, é formado pelos riachos Correntino e
Jardim, próximo à sede da Fazenda Palmeirinha, no
distrito de Ponta da Serra, no município de Crato. A partir
de seu nascedouro, o rio Carás recebe outros afluentes
como o Mata, Batateira, o Pedrinhas da margem direita e o
Jaburu, o Imburana, o Cotia, o Carneiros, o Inferno, o
Chupador e o São Gonçalo da margem esquerda. No
município de Juazeiro do Norte, o rio Carás junta-se com
o rio Salgadinho, formando a Lagoa dos Torrões. Daí em
diante correm juntos (Carás e Salgadinho), passam pela
Cachoeira de Missão Velha, formando o rio Salgado que
despeja água como um dos afluentes na formação do rio
Jaguaribe. O rio Carás tem uma trajetória serpenteada,
inicialmente, na direção oeste para leste, em seguida do
leste para o sul e termina voltado para o oeste. O Carás é
um rio periódico, apresentando enchentes no período
invernoso (dezembro-maio) necessitando de construção de
barragens ao longo de seu percurso.

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A respeito da área do Vale dos Carás, na época,
havia duas informações. A Companhia Hidroelétrica de
São Francisco (CHESF), quando elaborou o Plano de
Eletrificação do Cariri, descreveu-o da seguinte forma “O
Vale dos Carás que apresenta em suas margens uma faixa
de aluvião fértil, onde se cultivam cereais, com uma
extensão de 3,595 km² e 178.746 habitantes”. A
publicação do Escritório Técnico de Estudos Econômicos
do Nordeste (ETENE), do Banco do Nordeste do Brasil
afirma que “Observações preliminares sobre a
Hidrogeologia da Chapada do Araripe e do Vale dos Carás
consideram a área do Vale, grosso modo, em 150 km²,
tomando por base um comprimento médio de 50 km por
uma largura de 3 km, desde o ponto em que se forma
(confluência dos riachos Jardim e Correntino) até o riacho
dos Porcos, no local denominado de Quimami - Município
de Missão Velha, onde o Rio Carás é chamado de Rio
Salgado”.

A primeira providência que tive de tomar tão logo
assumi a Coordenação da Comissão do Vale dos Carás foi
estabelecer um roteiro para conhecer toda a sua área. Para
isso procurei o auxílio de uma pessoa que conhecesse bem
o Vale, a fim que pudesse acompanhar-me no referido
estudo da situação. Encontrei, na pessoa de Antônio
Correia Coelho, funcionário aposentado do IBGE-Crato,
grande conhecedor do Vale, que demonstrou boa vontade
para ficar disponível nos dias necessários ao levantamento
a ser realizado. A segunda foi chamar o motorista
funcionário do Ministério da Agricultura e subordinado à

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Comissão do Vale, o Menezes, para retornar ao trabalho,
pois estava trabalhando num táxi na cidade do Crato. Para
percorrer o Vale era necessário que o transporte da
comissão (o Jeep), estivesse funcionando bem e tivesse
combustível.

Aqui começam as dificuldades relativas aos gastos
necessários ao trabalho, pois que a chefia do Ministério da
Agricultura em Fortaleza comunicara não haver recursos
financeiros nem para consertar o veículo ou tampouco
para gasolina, devido à contenção de recursos. Eu tinha
duas alternativas: ou ficar acomodado ou tentar encontrar
uma solução. Procurei a oficina do Maru (próxima ao
cemitério) e o posto de combustível de propriedade de
Antônio Primo (na entrada da cidade), com a finalidade de
consertar o Jeep e poder contar com abastecimento de
gasolina. Ambos aceitaram atender as minhas
reivindicações com o seguinte acordo: caso o Ministério
da Agricultura não enviasse recursos financeiros, eu
pagaria as despesas do meu próprio bolso. Aceitei assumir
o risco e comecei o trabalho.

Elaborei uma ficha a ser preenchida, durante o
levantamento da situação do Vale, relativa a cada
propriedade rural. A ficha continha os seguintes dados:
nome do proprietário, tamanho da propriedade, principais
atividades agropecuárias (culturas agrícolas e pecuária),
tecnologias usadas, infraestrutura da propriedade (cercas,
galpões, estábulos, água disponível, eletricidade etc.),
meios de transporte, condições de habitação, sistemas de

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produção (diária, meia, empreita), liderança, educação,
saúde e necessidades principais.

De modo geral, o Vale tinha uma topografia
apresentando trechos planos e elevações. No município do
Crato apresentava topografia mais irregular, com
predominância de trechos levadiços (ressonância da Serra
do Araripe), principalmente nas proximidades do
nascedouro do rio Carás, compreendendo as localidades de
Monte Alverne, Poço D’Anta, Cabaceiras, Umari,
Boqueirão, Inchu, Pai Mané e Ponta da Serra. Daí em
diante, o Vale apresenta trechos planos, embora existam
algumas elevações nas localidades de Palmeirinha dos
Britos, Malhada, Caboclo, Araçás, Macapá. Segue com
dominância de trechos planos, mas, nas proximidades do
Município de Juazeiro do Norte, apresenta pequenas
elevações nas localidades de Retiro, Lagoa dos Sapos,
Palmeirinha do Padre Cícero, Cabeça de Vaca, Taquari,
Amaro Coelho e Carás do Espinho.

O solo do Vale, como o dos demais da Região do
Cariri, origina-se dos arenitos da Chapada do Araripe,
provocados, principalmente, pela erosão das encostas. Os
solos mais férteis estão nas partes baixas do Vale, os
chamados aluviões, complexo argilo- sílico-humoso,
semicompactos, de difícil cultivabilidade, pois, em geral,
são duros, empelotados e empastam-se, quando molhados,
e absorvem a água lentamente. Nas partes altas, os solos
são mais arenosos. O húmus encontrado no leito do rio
Carás é o que vem carreado das partes mais altas do Vale.

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A pluviosidade na área do Vale é em torno de 1.000
milímetros (a média da Região do Cariri gira em torno de
920 mm). No ano de 1965, no “Sitio João Grande”, de
propriedade de Edmilson Machado, situado no Vale dos
Carás, um posto de controle pluviométrico indicava que,
no período de janeiro-abril, havia chovido 789,8 mm e, de
acordo com o Boletim Pluviométrico do Grupo Executivo
Misto de Hidrologia SUDENE/DNOCS, levando em
consideração os anos de 1961, 1962, 1963, 1964 a média
de chuvas no Vale era de 1.009,3 mm. A temperatura
média girava em torno de 30°.

Num levantamento feito no Vale dos Carás a partir
de abril de 1964, a situação encontrada foi a seguinte: a
principal cultura agrícola era a do algodão (713,3 ha e
290.310 quilos de produção), seguida da do milho (238,3
ha e 4.409 sacos), da do feijão (236,9 ha e 2.395 sacos) e
da do arroz (112,5 ha e 4.540 sacos). Como culturas
secundárias, predominavam a fava, a mandioca e a batata
doce. Na parte de fruticultura, aparecia a banana (51,7 ha),
a laranja (300 pés), o coco (300 pés) e a manga (90 pés).
Quanto às hortas, havia o tomate, o pimentão, o quiabo e a
alface.

Relativamente à pecuária, o criatório dominante era
o de bovinos (bovinocultura) com a presença de 533
cabeças, sendo a maioria composta de raças mestiças zebu
+ crioulo, zebu + holandês, zebu + crioulo + holandês. O
regime de criação majoritário era o extensivo, seguido do
semiextensivo. Nota-se ainda, em pequena escala, a

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presença de aves (avicultura), de suínos (suinocultura) e a
exploração, ainda rústica, de abelhas (apicultura).

Os animais eram alimentados principalmente com as
seguintes forrageiras: capim touceira (3,4 ha), palma
gigante (1,0 ha), capim elefante (0,9 ha), capim de planta
(0,9 ha), capim guatemala (0,4 ha) e capim favorito (0,2
ha).

No que diz respeito ao uso de tecnologias agrícolas,
a maioria dos agricultores fazia uso da enxada no trato das
culturas agrícolas, com alguns utilizando cultivadores,
sulcadores, grades de tração animal e pulverizadores no
combate às pragas. Alguns produtores usavam sementes
selecionadas no plantio do arroz (Barbalha) e do algodão
arbóreo. Quanto ao restante das culturas, usavam sementes
comuns, armazenadas em vidros e latas. Também era
tradição o plantio em consórcio como milho+ feijão, milho
+ feijão+ algodão, milho+ algodão, algodão + arroz, milho
+ feijão + fava + algodão, tomate + banana. A maioria dos
produtores não tinha recebido orientação técnica e todos
gostariam de recebê-la.

Nos aspectos sociais, as principais doenças presentes
no Vale eram gripe, tracoma, infecções intestinais, varíola
e sarampo. As Escolas Rurais estavam presentes em
quinze locais, necessitando de mais em cinco e as
existentes eram quase todas municipais com exceção de
uma particular. Convém destacar o funcionamento ainda
de quatro escolas radiofônicas, ligadas à programação da
Rádio Educadora da Diocese. As habitações eram, na

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maioria, casas de taipa com telhas de argila (barro) e sem
piso, seguidas das de tijolo com telhas de barro e sem piso,
vindo depois as de tijolo com telhas com piso de tijolo ou
cimentado. Em quase sua totalidade, não possuíam
sanitários.

O regime de exploração agrícola dava-se através do
pagamento de diárias, seguido da meia, empreita,
arrendamento ou por conta própria. A maioria das
propriedades eram de pequenas e médias dimensões,
havendo algumas grandes. Os produtores indicavam um
ou dois ou três líderes, em certas localidades.

Quanto à infraestrutura, informaram os moradores a
necessidade de recuperação de estradas, a construção de
pontes (Imburana, Malhada, Araçás-Crato; Retiro, Sítio
Novo-Juazeiro do Norte), a colocação de bueiros (Sitio
Novo e São José-Juazeiro do Norte) e a perenização do rio
Carás, com a construção de barragens.

Após o levantamento realizado, constata-se que o
Vale dos Carás era uma potencialidade na produção de
cereais, algodão e frutas dos municípios do Crato e
Juazeiro do Norte (50-60%). Fazia-se necessária a
construção de uma grande barragem na localidade de
Umari (Crato), dotada de uma comporta para regular o rio
Carás; a locação de pequenas barragens mistas
(subterrâneas e superficiais) na propriedade Malhada, de
Raimundo Macário de Brito, próxima ao riacho Macapá
(Crato), na localidade de Palmeirinha dos Brito (Crato), na
propriedade Lagoa dos Sapos de Antônio Alves de Souza

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(Juazeiro do Norte) e Sítio Coité de Joaquim Bezerra
Monteiro (Juazeiro do Norte); a abertura de poços
artesianos às margens do Vale e próximos às maiores
densidades populacionais; a construção de algumas pontes
de Malhada para Araçás, de Caboclo para Imburana
(Crato) e de Retiro para Sítio Novo (Juazeiro do Norte); a
colocação de bueiros no riacho do Inferno (Crato) e na
passagem de Sítio Novo para São José (Juazeiro do
Norte); construção de mais Escolas Rurais; a ampliação da
eletrificação rural para suportar o surgimento de
agroindústria; a atuação permanente da assistência técnica
via Serviço de Extensão Rural e a formação de
cooperativas.

Atualmente o Vale dos Carás dispõe do açude
federal Thomaz Osterne, situado no Crato, com um
sistema de comportas possibilitando a perenização do Rio
Carás; outro açude estadual, Manual Balbino, foi
construído no vizinho município de Caririaçu, que joga
água no Riacho dos Carneiros, afluente do Rio Carás. Ao
longo do vale foram construídas dezesseis barragens,
cinco de alvenaria e onze de terra e mais canais de
derivação que têm gerado atritos na área, porque alguns
proprietários não abrem as comportas para as outras
propriedades em suas jusantes.

O Vale hoje é dominado pela pecuária,
principalmente a leiteira, com grandes plantios de capim
braquiária, com irrigação por aspersão, provocando,

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algumas vezes, a inundação de grandes áreas e uso
intensivo da mecanização.

Existem, na área do Vale, grandes olarias para a
produção de tijolos e telhas, deixando crateras no solo para
a retirada de argila como matéria prima. Muitas olarias
ainda utilizam madeiras para queima de seus fornos,
incrementando o desmatamento da região.

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UM PROJETO INOVADOR

No período em que estive na Região do Cariri (início
do ano de1964 até julho de 1965), o assunto mais debatido
era a viabilidade econômica, do chamado Projeto Morris
Asimov, decorrente de um convênio firmado no ano de
1961 entre a Universidade Federal do Ceará e a
Universidade da Califórnia/Estados Unidos, com dois
objetivos principais: qualificar recursos humanos e
implantar pequenas e médias indústrias no Cariri.

O convênio surgiu, segundo o Professor Antônio
Martins Filho, Reitor da UFC, de uma correspondência
enviada pelo economista Rubens Vaz da Costa, então
funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) em Washington, para o presidente do Banco do
Nordeste do Brasil (BNB) e ex-governador do Ceará Raul
Barbosa, informando que o Professor Morris Asimov,
chefe do Departamento Industrial da Universidade da
Califórnia, Campus de Los Angeles, estava planejando
implantar na Índia, um projeto da instalação de pequenas e
médias indústrias. O projeto visava transformar uma zona-
problema numa região industrializada.

Imediatamente o Reitor da UFC e o Dr. Raul
Barbosa convidaram o Professor Morris Asimov a vir ao
Ceará, que prontamente concordou. Depois de reuniões
realizadas em Fortaleza, o Professor Morris Asimov
juntamente com o Dr. Raul Barbosa e o Professor Dário
Soares, Diretor do Instituto de Tecnologia Rural da UFC

119

visitaram as cidades de Crato, Juazeiro do Norte e
Barbalha, conhecendo a realidade e as possibilidades da
Região do Cariri, o que convenceu o professor americano
a vir implantar seu projeto na região sul do Ceará em vez
da Índia.

A qualificação de recursos humanos, primeiro
objetivo do projeto, visava ao aperfeiçoamento de novos
professores universitários e à formação de técnicos da
UFC nos estudos de viabilidade de indústrias, “layout” de
fábricas e fluxogramas para fábricas e treinamento em
engenharia e administração industrial, inclusive a
elaboração de perfis de indústrias, treinamento de
estudantes universitários relativos à administração e
engenharia industrial no contexto do desenvolvimento
regional, à formação e ao aperfeiçoamento de gerentes e
diretores para as pequenas e médias empresas. O pessoal
envolvido da Universidade da Califórnia eram professores
de engenharia, economia e alunos de pós-graduação e da
Universidade Federal do Ceará professores e técnicos das
áreas de economia, agronomia e engenharia. Na realização
dos trabalhos do projeto, os técnicos americanos e
brasileiros sempre atuavam através de equipes mistas.

O segundo objetivo era a implantação de novas
indústrias no interior nordestino, começando pelo Cariri
Cearense, com a finalidade de melhorar o nível de renda,
criar mais oportunidades de emprego, diversificar a
produção regional, estimular a poupança, oferecer maior e

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melhor oferta de bens industrializados e aproveitar os
recursos naturais.

Após estudos gerais, levantamentos, estudos de
exequibilidade, projetos preliminares e detalhados
elaborados para a região, os técnicos do Projeto Asimov
previram inicialmente a implantação de cinco pequenas e
médias indústrias: Cerâmica do Cariri S/A-CECASA,
fábrica em Barbalha; Eletromáquina S/A-IESA, sede em
Juazeiro do Norte, para a fabricação de máquinas de
costura, motores elétricos e de rádios; Politex - Comércio
e Industrial S/A, em Juazeiro do Norte, para a produção de
prensados de madeira; Indústria e Moagens do Cariri S/A-
IMOCASA, em Crato, para a industrialização do milho
(farinha, óleo comestível e farelo de torta); Indústria
Barbalhense de Cimento Portland-IBACIP, em Barbalha.
Depois acrescentaram a Fábrica de Calçados de Couro e
Artefatos Luna S/A- LUNASA, em Juazeiro do Norte e a
Companhia Industrial de Mandioca S/A-CIMASA,
produção de farinha e polvilhos de mandioca, em Crato.

Na parte executiva do Projeto Asimov, a Reitoria da
UFC delegou a tarefa ao Instituto de Pesquisas
Econômicas (IPE), dirigido, na época, pelo economista
Paulo Roberto Pinto que indicou para a coordenação do
Projeto os professores João José de Sá Parente e Murilo
Perdigão. Para conseguir recursos financeiros para o
Projeto, um convênio foi firmado em 5 de abril de 1963
entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) / a
Universidade Federal do Ceará (UFC) / a SUDENE e a

121

Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID),
vigorando até 30 de julho de 1966. Posteriormente,
recursos financeiros foram agregados através da
cooperação financeira da Fundação Ford/Banco do
Nordeste do Brasil (BNB) / Governo do Estado do Ceará.
Depois a UFC resolveu institucionalizar o Projeto que
passou a ser denominado Programa Universitário de
Desenvolvimento Industrial (PUDINE), a ter sede própria
e autonomia administrativa sob a direção do Professor
João Parente.

Dada a experiência da UFC com o Projeto Asimov,
as demais Universidades do Nordeste (Bahia,
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas)
criaram, no ano de 1964, programas universitários de
desenvolvimento industrial com a denominação de RITA
(Rural and Industrial Tecnical Assistance), usando os
mesmos métodos, processos e objetivos, através do
convênio USAID-NORDESTE / FUNDAÇÃO FORD /
SUDENE/BNB.

A UFC, depois da experiência do Cariri, levou para
o município de Sobral a concepção do Projeto Asimov,
tendo então a direção total dos nossos professores e
técnicos lotados no PUDINE, já treinados na elaboração
de projetos industriais. Daí surgiram, naquele município,
algumas indústrias entre elas a Laticínios de Sobral S/A,
conhecida como LASSA.

O projeto Morris Asimov era, na época, um enfoque
diferenciado de industrialização (pequenas e médias

122

empresas), provocando uma repercussão muito grande no
Nordeste com a vinda de técnicos do Exterior e de outras
regiões do País para conhecerem seus resultados. Dois
ministros do Governo Castelo Branco, o de Educação
(Júlio Furquim Sambaquy) e o de Planejamento (Roberto
Campos), também, estiveram visitando as indústrias
instaladas.

Após alguns anos de funcionamento das fábricas
instaladas, atualmente resta a Fábrica de Cimento em
Barbalha, sendo que a de cerâmica esteve em atividades
por alguns anos em Barbalha, antes de fechar. As outras
foram todas desativadas, restando à semente lançada para
o porvir de outras indústrias ajustadas aos novos tempos e
incentivos.

Ficou, no entanto uma grande pergunta: por que teria
falhado o Projeto Asimov? As respostas são apresentadas
por vários estudiosos do assunto, conforme suas visões e
intepretações. Vamos enumerá-las sem estabelecer, na
ordem descrita abaixo, nenhuma prioridade de
importância:

1) Os administradores e os gerentes escolhidos para
dirigirem as indústrias selecionadas não possuíam
características de pessoas empreendedoras. Tinham
experiências nas atividades ligadas à agropecuária, ao
comércio e à contabilidade e nenhuma no setor industrial.

2) Os técnicos americanos que participavam do
Projeto tinham pouco conhecimento da realidade do nosso
meio e da cultura brasileira, não conseguindo ajustar seus

123

conhecimentos aos valores locais. Muitos dos alunos de
pós-graduação americanos estavam preocupados com a
confecção de seus trabalhos acadêmicos (teses de
doutorado), que tinham prazo determinado de conclusão.
Por outro lado, os técnicos brasileiros precisavam de mais
treinamento em engenharia industrial.

3) Nos levantamentos preliminares, realizados para a
elaboração dos projetos industriais, teria havido
superdimensionamento das fontes supridoras das matérias
primas na região, necessárias às indústrias, a exemplo da
industrialização do milho.

4) Havia, na época, uma concepção por parte de
muitos técnicos de que o desenvolvimento industrial não
se faria através das pequenas e médias indústrias,
principalmente se estivessem localizadas no interior. O
processo de industrialização teria dinamismo por meio de
grandes indústrias que deveriam estar localizadas nos
grandes centros populacionais e econômicos, porque aí se
encontravam as economias externas que iam proporcionar
seu êxito. Isso gerou um pessimismo em relação ao
Projeto.

5) Na realidade, o que faltou foi o necessário
financiamento às empresas integrantes do Projeto. Sem
financiamento não se pode viabilizar a implantação e o
funcionamento pleno de empresas industriais.

No mês de julho de 1965, recebi um convite para ser
professor da Universidade Federal do Ceará, para
ministrar aulas no Departamento de Economia Agrícola,
do Centro de Ciências Agrárias. Estava tendo muitas

124

dificuldades para trabalhar no Ministério da Agricultura,
entre outros fatores, pela escassez de recursos financeiros,
falta de uma supervisão para fiscalizar e dar sugestões no
trabalho que exercia no Vale dos Carás, além da demora
no atendimento às solicitações que eu fazia relativas ao
fornecimento de insumos agrícolas (sementes, adubos) e
equipamentos. Principalmente sentia a falta de estímulos
para participar de cursos técnicos de qualificação
profissional, além dos baixos salários recebidos. Percebia
a Universidade como o local para crescimento
profissional, com oportunidade de realizar cursos de pós-
graduação (mestrado e doutorado), de participar de
seminários, congressos e encontros técnicos e de ter um
ambiente mais apropriado para convivência intelectual e
um salário digno.

Decidido a vir para a Universidade, comuniquei
minha saída à comunidade onde trabalhava. A maior
surpresa e um grande prêmio para mim foi receber em
minha casa a visita de um grupo de produtores rurais do
Vale dos Carás, propondo se cotizariam para oferecer-me
uma complementação salarial, desde que ficasse. Foi
assim que deixei a Região do Cariri em agosto de 1965.

125

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. MORAIS, Antonio. Pedro Felício Cavalcanti;
honra e glória do Crato. Disponível em:
blogdosanharol.blogspot.com.br Acesso:21
fev. 2015.

2. CRATO. Prefeitura Municipal. O Crato hoje.
Disponível em www.blogdocrato.com Acesso:
26 jan. 2015.

3. COELHO, Antônio Correia. Panorama da vida
econômica do Cariri. In: Seminário de Estudos
Caririenses, 1°. Crato, jun. 1965. Faculdade de
Filosofia do Crato/Instituto Cultural do Cariri.

4. COLOQUIO SOCIEDADE, POLITICAS

PPÚBLICAS, CULTURA E

DESENVOLVIMENTO, 2°. Crato, 5-9 nov.

2012 Gestão do território, politicas locais e

desenvolvimento sustentável. Crato,

Universidade Regional do Cariri, 2012.

5. JUAZEIRO do NORTE. Prefeitura Municipal.
Juazeiro anos 60, Disponível em:
blogdojuazeiro.blogspot.com.br Acesso: 25
Mar 2015.

126

6. MARTINS FILHO, Antônio. UFC & BNB;
educação para o desenvolvimento. Fortaleza,
UFC. Casa José de Alencar, 1990. 224 p.

7. MONTENEGRO, Francisco Holanda. Os quatros
Luzeiros. Juazeiro do Norte, graf.
Universitária, pref. 1999. 225 p.

8. PINHEIRO, Maria Inês Teixeira [e outros].
Conflitos pelo uso da água no estado do Ceará:
o estudo de caso do Vale do Rio Carás.
Fortaleza, Secretaria de Recursos Hídricos;
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos,
2004. s. p. Digitalizado.

9. PINTO, Paulo Roberto Coelho. Projeto Asimov
(Planejamento e Pesquisa Social e Econômica-
Treinamento da Tecnologia Rural e Industrial)
In: Estudos econômicos no Ceará; evolução
histórica. Fortaleza, Imprensa Universitária,
2010. P. 124-127.

10. SOUSA FILHO, Antônio de Albuquerque. O
Vale dos Carás; aspectos gerais e
socioeconômico. In: Seminário de Estudos
Caririenses, 1°. Crato, jun. 1965, Faculdade de
Filosofia do Crato/ Instituto Cultural do Cariri.

11. VIDA E OBRA de JEFFERSON DE
ALBUQUERQUE E SOUSA, Cavaleiro

127

renascentista do Cariri. Crato, ESG, 2010, 285
p.
12. CRATO (CEARÁ). Disponível em htts:
//pt.wikipedia.org/wiki Acesso: 9 fev. 2015.

128

3ª PARTE:

A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
E

A EDUCAÇÃO NO CEARÁ

129

ESCOLHA PARA SECRETÁRIO DE ESTADO

Pessoalmente não conhecia o político Virgílio
Távora, então ventilado para exercer segundo mandato
como Governador do Ceará. O primeiro foi de 1963 a
1966. Em julho de 1978, esteve nas dependências do
Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade
Federal do Ceará (UFC), para participar do descerramento
de placa da turma de concludentes do Curso de
Engenharia de Pesca, da qual era patrono, e eu, diretor do
Centro, estava presente. Foi a oportunidade do primeiro
contato pessoal.

Nesse mesmo ano de 1978, a antiga Escola de
Agronomia (atual Centro de Ciências Agrárias-CCA) da
UFC estava completando 60 anos de criação. A Diretoria
do CCA havia estabelecido uma programação festiva para
todo aquele ano, incluindo a visita de autoridades para
conhecerem melhor as atividades acadêmicas do Centro.
Por intermédio do Professor Jaime Verçosa do Curso de
Engenharia Civil da UFC, com quem eu tinha amizade
antiga e era pessoa da intimidade de Virgílio Távora, fiz-
lhe uma solicitação para que o convidasse para conhecer o
CCA. Aceito o convite, ele esteve reunido na sala do
Conselho Departamental do Centro por mais de duas
horas, anotando todas as informações prestadas, quando a
previsão anunciada é que seria de, no máximo, trinta
minutos. Foi o nosso segundo contato pessoal.

Virgílio Távora foi eleito para exercer o cargo de
Governador do Ceará para o período de março de 1979 a

130

março de 1982.Não havia tido contato com ele desde
nosso último encontro no ano de 1978. Num determinado
dia do mês de fevereiro de 1979, atendi, no final da tarde,
em meu gabinete de trabalho, a um telefonema de Dona
Luíza Távora, esposa do Governador Virgílio, solicitando
a minha ida a sua residência, vez que o governador
desejava discutir assunto ligado ao Estado. Ali chegando,
fui conduzido por D. Luíza ao gabinete do Governador
que foi logo direto ao assunto: “Mandei chamá-lo porque
estou elaborando listas para escolha de Secretários de
Estado. Gostaria de ter a sua aquiescência para colocar o
seu nome para os cargos de secretário de agricultura
porque é agrônomo e de secretário de educação porque é
professor universitário”. Agradeci ao Governador e
argumentei que não poderia aceitar nenhum cargo no
Estado, porquanto tinha meus compromissos com a UFC.
Ele então esclareceu “O Senhor não está entendendo que
eu estou elaborando somente uma lista de nomes e não
estou afirmando nenhuma indicação definitiva”.
Respondi-lhe que havia entendido e que reiterava a minha
resposta. Ao sair de seu gabinete, o Governador observou
“A nossa conversa, o Senhor não deve contar para
ninguém, nem para sua esposa”. Assim o fiz, exceto para
a minha esposa, naturalmente.

O Governador Virgílio retornou de Brasília no dia
14/02/1979, às 14 h, e no dia seguinte (15/02/79), às 10 h
faria, no auditório do Conselho Estadual de Educação o
anúncio dos nomes de seu futuro secretariado. Os jornais,
as estações de televisão e o mundo político já especulavam

131

nomes e o meu nunca apareceu, em nenhum momento. Às
22 h do dia da chegada do Governador recebi, em minha
casa um telefonema do Deputado Estadual Francisco
(Chico) Figueiredo, indagando se eu confirmava a minha
indicação para Secretaria de Educação do Estado. Afirmei-
lhe que, até aquele momento, nada sabia e que só poderia
ser pilhéria, pois nenhum jornal publicou o meu nome. Ele
desligou o telefone e mais tarde retornou dizendo que era
verdade a minha indicação e que eu não iria dormir
naquela noite. No dia em que seriam anunciados os nomes
dos secretários, recebi às 6 h da manhã, telefonema da
residência do Governador solicitando que fosse tomar café
com ele. Ali chegando, e tendo várias pessoas na
residência, logo fui chamado pelo Governador a uma área
aberta de sua casa e afirmou: “Esteja no Auditório do
Conselho Estadual de Educação que o Senhor vai assumir
a Secretária de Educação”. Tentei contra argumentar,
mostrando a forma repentina da minha escolha e suas
consequências na viabilidade de um trabalho consistente e
ele concluiu: “Se o Senhor não for, vai me criar enorme
problema. A sua situação funcional na UFC vamos
resolver e estamos conversados.” Assim, eu estava na sala,
por ocasião do anúncio dos novos secretários, totalmente
despercebido, após anunciado o meu nome para a
Secretaria de Educação, fui cercado por vários jornalistas
perguntando quais eram os meus planos para a educação
do Estado do Ceará. Respondia que os meus planos
seriam os planos do Governo Virgílio Távora.

132

Os Secretários de Estado anunciados foram os
seguintes: Lúcio Gonçalo de Alcântara, médico e
professor da UFC para a Prefeitura de Fortaleza (na época
o Prefeito era indicado pelo Governador); Luiz Gonzaga
Fonseca Mota, economista, técnico do BNB e professor da
UFC- Secretaria do Planejamento; Osias Monteiro
Rodrigues, economista e técnico em planejamento e
pesquisa do IPEA- Secretaria da Fazenda; Francisco de
Assis Araújo Bezerra, General R/2 do Exército- Secretaria
de Segurança Pública do Estado; Liberato Moacyr de
Aguiar, advogado, professor da UECE, conselheiro
aposentado do Tribunal de Contas do Estado- Secretaria
de Administração; Antônio de Albuquerque Sousa Filho,
engenheiro agrônomo e professor da UFC- Secretaria de
Educação; João Viana de Araújo, advogado e deputado
estadual- Secretaria do Interior; José Otomar de Carvalho,
engenheiro agrônomo, economista, técnico do Ministério
do Interior- Secretaria de Agricultura e Abastecimento;
Manuel Eduardo Pinheiro Campos, bacharel em direito,
jornalista, escritor, teatrólogo e dramaturgo, diretor do
Grupo Diários Associados no Ceará- Secretaria da
Cultura; Francisco Cláudio de Almeida Santos, advogado
e professor da UECE- Casa Civil; José Firmo de Castro,
economista e técnico do BNB- Secretaria da Indústria e
Comércio; Francisco Humberto Macário de Brito, médico,
diretor do Hospital Maternidade São Francisco de Assis e
ex-prefeito do Crato- Secretaria da Saúde; Alceu Vieira
Coutinho, ex-prefeito de Independência, ex-deputado
estadual, ex-deputado Federal e conselheiro do Tribunal
de Contas dos Municípios- Secretaria para Assuntos

133

Municipais; Aluísio Cavalcante, advogado e professor da
UECE- Procuradoria Geral do Estado; Geórgia Gomes de
Aguiar, advogada- Chefia do Ministério Público do Ceará;
Olavo Egydio Silva, coronel de engenharia do Exército e
economista- Comando da Polícia Militar do Ceará; Luiz
Gonzaga Nogueira Marques, engenheiro, professor da
UFC e ex-prefeito de Fortaleza- Secretaria de Obras;
Antônio Bayma Kert, coronel de artilharia do Exército-
Chefia do Serviço Estadual de Informação; José
Nicodemos de Araújo, coronel da Polícia Militar do
Ceará- Chefia da Casa Militar; José Rangel de Araújo
Cavalcante, bacharel em direito, jornalista- Chefia da
Assessoria de Imprensa do Governo, depois transformada
em Secretaria de Comunicação Social. Foram indicados
também Mauro Mendes Rangel, economista, técnico do
BNB- Presidente do Banco do Desenvolvimento do
Estado do Ceará (BANDECE) e Luiz Furtado de Andrade,
economista, técnico do Banco do Estado do Ceará (BEC),
para ser seu presidente.

Depois foi criada a Secretaria para Assuntos
Extraordinários, sendo ocupada por Alfredo de Almeida
Machado, ex-prefeito de Quixeramobim e deputado
estadual. Existia uma Assessoria Especial equivalendo a
Secretaria de Estado ocupada por Aécio de Borba
Vasconcelos, advogado e empresário. Depois de um ano
no cargo de Secretario de Agricultura, Otomar de
Carvalho deixou o cargo, sendo substituído pelo
engenheiro agrônomo e técnico da SUDENE, Francisco
Ésio de Souza.

134

O segundo governo de Virgílio Távora, assim como
procedeu no seu primeiro mandato estabeleceu o II Plano
de Metas Governamentais (II PLAMEG) que previa entre
outras ações principais:

1) Montagem econômico-financeira do Projeto Ceará
via financiamento do Banco Mundial, visando estabelecer
audacioso Programa de Desenvolvimento Rural Integrado
(PDRI), beneficiando 65 mil pequenos produtores rurais
com investimentos totais de 200 milhões de dólares;

2) Implantação do III Polo Industrial do Nordeste
num investimento total de 100 milhões de dólares;

3) Investimentos nos setores de recursos hídricos,
eletrificação rural, conservação e expansão de estradas e
ação social, totalizando 70 milhões de dólares;

4) Estabelecimento de um substancial Programa de
Emergência, tendo em vista a seca já existente no Estado,
compreendendo a construção de pequenos açudes e
barreiros, cacimbões, canais de irrigação, cisternas, poços
profundos, poços amazonas, construções rurais, silos etc.

135

TOMANDO CONHECIMENTO DA SECRETARIA

Após o anúncio do secretariado, no Auditório do
Conselho Estadual da Educação, tive o primeiro encontro
com o então Secretário de Educação do Estado Adelino
Alcântara, que colocou o seu grupo de assessores à minha
disposição para qualquer informação necessária. De
imediato, solicitei que, na noite daquele mesmo dia,
tivéssemos uma reunião preliminar com seus auxiliares, no
seu gabinete de trabalho.

Começamos a reunião solicitada por volta das 19.30
horas, com a presença dos principais chefes dos
departamentos e coordenações da Secretaria, para uma
apresentação a respeito da sua estrutura, dos seus
programas e dos seus recursos. Após a explanação de cada
assessor, pedi que cada um enumerasse os principais
problemas da secretaria, com seus pontos positivos e
negativos. A partir daí, foi uma série interminável de
coisas negativas devido, entre outros fatores, à
interferência política. Elencando problemas como carência
de pessoal, deficiências estruturais das escolas,
insuficiente suprimento de equipamentos, desde carteiras
até papel para atividades didáticas; baixos salários,
descrença do pessoal (baixa autoestima) e principalmente,
recursos financeiros insuficientes. Noutros termos, tive um
retrato do grande “pepino” que estava assumindo e o
enorme desafio a ser enfrentado.

136

Acertei com o Secretário Adelino que precisava de
outras reuniões por área específica, como Primeiro Grau,
Segundo Grau, Supletivo, com entrega de documentos
detalhando ações educacionais em andamento, relação das
equipes técnicas com suas qualificações e sugestões sobre
possibilidades futuras de projetos visando à melhoria da
educação. Foram reuniões muito produtivas. Tive
oportunidade de conhecer os técnicos e fazer indagações
diversas. No final, levava as pastas de documentos e
publicações recebidos e detalhados sobre a educação do
Estado e passava noites lendo o material.

A etapa seguinte foi conversar com o Governador
Virgílio em relação à equipe que teria de trabalhar comigo
na Secretaria, tendo em vista os compromissos políticos
do governo. Ficou acertado que eu teria a liberdade de
escolher o chefe e os assessores do gabinete. Quanto aos
demais cargos, ficou acertado que Sua Excelência
apresentaria uma lista, formada por três nomes com
respaldo político e eu poderia indicar um dos nomes
listados. A Secretaria de Educação, na época, atuava em
todos os municípios do Estado, contando com 1.323
estabelecimentos de ensino, um quadro de mais de 30.000
funcionários (professores e administrativos), o mais
numeroso do Estado. A supervisão da educação no interior
dava-se através das Delegacias Regionais de Educação,
em número de treze, localizadas nos municípios de
Fortaleza (1ª DERE), Crateús (2ª DERE), Crato (3ª
DERE), Iguatu (4ª DERE), Juazeiro do Norte (5ª DERE),
Limoeiro do Norte (6ª DERE), Quixadá (7ª DERE),

137

Russas (8ª DERE), Senador Pompeu (9ª DERE), Sobral
(10ª DERE), Tauá (11ª DERE), Tianguá (12ª DERE) e
Itapipoca (13ª DERE). A estrutura administrativa contava
com chefia de gabinete, assessoria de planejamento e
coordenação, três grandes departamentos (apoio
administrativo, apoio técnico, de ensino), com várias
divisões e coordenações, além dos centros de informações,
de material escolar-aprendizagem e de recursos humanos.
O Conselho Estadual de Educação, na época, era
vinculado à Secretaria de Educação.

A equipe de servidores que comigo trabalhou na
Secretaria de Educação do Estado, era formada pelos
seguintes auxiliares:

Chefe de Gabinete - José Humberto Tavares de
Oliveira.

Assessores – Noêmia Vitorino Leite / Cleide Pagels
Barbosa / Dionê de Albuquerque e
Sousa / Francis Mary Leitão de
Evaristo / Irene Arruda.

Assessoria de Planejamento e Coordenação -
Maria Liduína Corrêa Leite.

Departamento de Apoio Administrativo (DAA) -
Raul Loiola de Alencar.

Divisão de Pessoal (DIPES) –

Luís Alves Leite.

138

Divisão de Material (DIMAT) –

Francisco Tavares Bezerra.
Divisão de Patrimônio (DIPAT) –

Maria Célia Torres Sá Benevides.
Divisão de Finanças (DIFIN) –

Maria Nerci Nogueira de Sá
Cavalcante.

Divisão de Conservação e Reparos (DCR) –

Valdir Parente Machado.
Divisão de Serviços Gerais (DISEGE) –

Maria Celeste Arruda de Moura.

Departamento de Apoio Técnico (DAT) -
Francisco Oscar Rodrigues.

Coordenação de Supervisão Pedagógica -
Therezinha de Jesus Mesquita Ciríaco.

Coordenação de Currículo e Programa (CCP) -
Maria Laís Souza de Paula Pessoa.

Coordenação de Orientação Educacional (COE)-
Eneida Maria de Saboia Campos.

Coordenação de Estudos e Pesquisas (CEP) -
Jairo Ferreira da Silva.

139

Coordenação de Inspeção Escolar (CIE) -
Hilda Ponciano de Oliveira Lima.

Departamento de Ensino (DEN)-
Benedito Rodrigues Veloso.

Coordenação de Ensino Pré-Escolar (CPE) -
Francisca Adelaíde Marques
Cavalcante Strobel.

Coordenação do Primeiro Grau (CPG) -
Maria José Gurgel Herbster.

Coordenação do Segundo Grau (CSG) -
Francisca Bezerra e Silva.

Coordenação do Ensino Supletivo (CESU) –
Vicente Gomes de Oliveira.

Coordenação do Ensino Especial (CEES) –
Maristela Lage Alencar.

Coordenação de Educação Física e Desporto (CEF)
Eduardo Humberto Garcia Ellery.

Coordenação de Assistência ao Estudante (CAE)
Maria Paes Diógenes Nogueira.

Coordenação das Delegacias Regionais (CODERE)
Elísio Gentil Aguiar.

Delegacias Regionais de Educação:
140

1ª Região – Maria José Bomfim.
2ª Região – Sérgio Andrade Morais.
3ª Região – Maria Isa Barreto Morais.
4ª Região – Maria Benildes Mendonça Machado.
5ª Região – Maria Alacoque Bezerra de Figueiredo.
6ª Região – Egisa Mendes Remígio Osterne.
7ª Região – Regina Maria Holanda Amorim.
8ª Região – Maria de Lourdes Bezerra Nunes.
9ª Região – Albanita Figueiredo Sales.
10ª Região– Maria Leilah Cabral de Araújo Coelho.
11ª Região – Liberato Gomes Aguiar.
12ª Região – Maria Zenilda Nunes Aguiar.
13ª Região – Maria de Jesus Araújo.

Centro de Material de Ensino-Aprendizagem
(CEMEA) –

Raimunda Jaborandy de Mattos
Dourado.
Centro de Recursos Humanos (CRH) –
Maria Edelvita de Carvalho Girão
Maia.

141

Centro de Informações (CEDIN) –
Miriam Pontes Jucá.

Assessor de Imprensa –
Vicente Alencar.

Conselho Estadual de Educação (vinculado à
Secretaria de Educação) –
Presidente Cláudio Martins.

A posse coletiva dos secretários de estado ocorreu
no salão nobre do Palácio da Abolição, numa solenidade
presidida pelo Governador Virgílio Távora, no dia 16 de
março de 1979, às 10.00 h. Na parte da tarde, às 17.00 h.
do mesmo dia, foi realizada a transmissão do cargo de
Secretário de Educação por parte de Adelino Alcântara, na
sede da Secretaria situada, na época, na Rua Tenente
Benévolo num prédio destinado a uma Escola de 2° Grau,
cujas instalações eram precárias e com poucos espaços
condizentes para abrigar o corpo funcional. A solenidade
de transmissão foi muito concorrida e a maioria dos
presentes eram professores do Estado.

142

QUADRO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO

Quando assumi a Secretaria Estadual de Educação
(março de 1979), a educação do Estado do Ceará era
ministrada por estabelecimentos municipais, estaduais,
federais e particulares num total de 18.281, distribuídos
em 143 municípios, para uma população estadual de
5.294.876 habitantes, compreendendo os níveis de pré-
escolar, 1° grau e 2°grau. Do total de 18.281 unidades de
ensino elas eram distribuídas em termos de vinculação
administrativas 14 federais (Escolas Técnicas e
Agrícolas), 16.178 municipais, 1.323 estaduais e 766
particulares.

A infraestrutura das escolas públicas municipais e
estaduais era, em grande parte, deficiente. Escolas com
uma sala de aula, com duas ou com mais salas de aula
(três, quatro); algumas onde só ministravam as primeiras
séries do 1° Grau; outras ofereciam até a última série do
1°Grau, principalmente as municipais. As estaduais
ensinavam o 1° Grau completo, tendo escolas que
ofertavam o primeiro e segundo graus completos e outras
somente o 2° Grau. O Ensino Pré-escolar era ministrado
nas escolas municipais e em algumas estaduais. As
particulares, na época, dominavam o Ensino Pré-escolar.
Existiam algumas em que o seu leque de oportunidades
partia do Pré-escolar, seguia para o 1°Grau, indo até e 2°.
O Ensino de 2°Grau preparava os estudantes para as
universidades ou dava uma formação profissionalizante.
Havia ainda um bom número de professores leigos,
principalmente nas escolas municipais e em algumas

143

estaduais. Os prédios escolares públicos, de maneira geral,

não apresentavam uma planta adequada quanto a espaços

(salas de aula, de professores, da diretoria), a iluminação e

a ventilação. Os sanitários inadequados, as cantinas sem

equipamentos para elaboração da merenda escolar,

inclusive sem local para armazenar alimentos, ausência de

quadra para práticas de esporte, falta de bebedouros e de

adequado sistema de abastecimento de água.

A situação salarial dos professores dos municípios

e do próprio Estado era vexatória, com baixos salários,

atrasos nos pagamentos e sem perspectiva de melhoria dos

seus vencimentos, em curto prazo. Faltavam estímulos

para realizar cursos de qualificação que pudessem servir

para a ascensão funcional e remuneradora. Além do mais,

os cursos ofertados, geralmente, eram na Capital ou nos

centros maiores do Estado e do País com auxílio

financeiro insuficiente, que mal dava para cobrir as

despesas com alimentação e transporte. Outro fator que

dificultava a saída para o treinamento era encontrar um

substituto para cobrir as aulas do professor a ser treinado.

Algumas vezes, a interferência política também

dificultava. Se o candidato ao curso fosse contrário à

politica dos prefeitos, vereadores ou deputados de

determinados municípios, havia problema para o professor

participar de treinamentos. Os professores não

dispunham de tempo adequado para realizarem seus

planejamentos didáticos, o que acarretava desestímulo

para a participação de cursos, além de não contarem com

pessoal administrativo mínimo para puder auxiliá-los.

144

O material didático utilizado nas escolas públicas
municipais e estaduais geralmente era elaborado e editado
noutras regiões do País, com linguajar e figuras não
relacionadas com a nossa realidade nordestina, distribuído
pelo Ministério da Educação e Cultura, e que chegava
sempre com atraso. A quantidade recebida era insuficiente
para o total dos alunos matriculados, “kits” incompletos e
muitas escolas, principalmente as mais distantes, ficavam
sem receber os materiais.

O Plano Estadual de Educação (1979-1983)
constatou que o ensino regular do Ceará havia crescido
55,7% no período de 1970 a 1975 e a previsão do
crescimento global até o ano de 1983 seria de 154,3%. A
rede estadual do ensino regular concentrava em 1979 cerca
de 86,5% de matrículas no Ensino de 1° Grau, seguindo-se
as do 2° Grau com 9,7%. A rede particular dominava a
representatividade de matrículas no Pré-escolar e no 2°
Grau e a rede federal com um atendimento mais voltado
para o ensino profissionalizante (2° Grau). Quanto à
distribuição de matriculados no ensino regular, 30,4%
localizavam-se em Fortaleza e 69,6% restantes por todo o
interior do Estado. O Estado iria precisar, em 1983, para
atender à demanda na zona urbana, de 221.073 novas
vagas do 1° Grau da 1ª a 8ª série e para a zona rural de
484.012. O Plano Estadual previa ainda que no 2° Grau
seriam necessárias em 1983, 52.183 novas vagas e no Pré-
Escolar 52.183 (1983).

A Educação Pré-Escolar tinha matriculado, em
1975, vinte mil alunos, apresentando um incremento de
81% no período de 1970 a 1975, com predominância de

145

matrículas na rede particular. A previsão de crescimento
até o ano de 1983 era de 285,5% de acordo com o
planejamento da educação estadual como decorrência da
consolidação das metas governamentais. As matrículas a
serem ofertadas no Jardim de Infância deveriam totalizar
92,9% e os restantes 7,1% para o maternal.

O Ensino de 1° Grau cresceu 533% no período de
1970-1975, sendo matriculados 84,1% dos alunos na rede
municipal, 24,3% na estadual e 37,3% na particular. Para
1983, as escolas municipais deveriam crescer 300,9%, as
estaduais 25,7% e as particulares 19,8%. Quanto à
distribuição espacial em 1983, 247,6% na zona urbana e
271,8% no meio rural.

O Ensino de 2°Grau cresceu 92,7% no período de
1970 a 1975 conforme o Plano Estadual de Educação, de
1979-1983, com predominância das escolas particulares de
48,2% do total de matrículas, seguidos da estadual de
42,8% e das redes municipais e federais com 9%. Até
1983, a previsão de crescimento era de 275,0%, com um
incremento de 384,9 da rede estadual e com a maior oferta
de vagas no 2° Grau a se dá em Fortaleza.

O Ensino Supletivo seria dinamizado por diferentes
métodos massais e modernos de comunicação como o
rádio, a televisão, o audiovisual e as técnicas de educação
personalizada, além dos meios tradicionais. O Curso
Supletivo João da Silva, que abrangia as séries iniciais,
teria continuidade através da TV-Educativa do Estado. O
Supletivo para televisão que cobria 120 municípios e
atingia dez mil participantes, seria ampliado. O Projeto
Minerva, importante instrumento educativo e cultural que

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utilizava o rádio, já alcançando mais de 70 municípios,
também seria ampliado, além da continuidade dos Cursos
Regulares Supletivos de 1° e 2° Graus ministrados à noite
junto a determinadas escolas do Estado.

O Ensino Profissionalizante, em nível médio, fazia-
se em estabelecimentos de 2° Grau, como a Escola
Técnica Federal do Ceará, dos Colégios Agrícolas
Federais de Crato e Iguatu, dos Colégios Agrícolas
Estaduais de Pacatuba, Mombaça e Lavras da Mangabeira,
as Escolas Normais, o SESI, o SESC e o SENAI. Eram
oferecidas (1977) 30 habilitações profissionais diferentes,
sendo 50% correspondentes aos cursos: de magistério
(18%), de auxiliar de administração (14%) e de técnico em
contabilidade (18%).

A taxa de analfabetismo da população de mais 15
anos , em 1970, era de 35% na zona urbana, enquanto a do
Estado era de 55%. A previsão era de que em 1983, a taxa
poderia chegar a 10%.

As escolas estaduais estavam presentes nas sedes
de todos os 143 municípios existentes na época, além de
em alguns importantes distritos municipais. Os prédios
escolares representavam, muitas vezes, o local mais
apropriado das localidades para as realizações de eventos
culturais, sociais e até políticos. A figura da diretora das
escolas era também muito disputada, pela
representatividade do Estado nos locais das escolas, pelo
poder de mando, pelas possibilidades de atender aos
pedidos de matrícula e remoção de estudantes e de
servidores escolares. Os prefeitos e deputados estaduais ou
federais faziam questão de indicar as diretoras e de contar

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com seus respaldos nas campanhas políticas. Muitas
vezes, elas faziam o papel de cabo eleitoral e criavam
choques de ponto de vista com professores e funcionários
administrativos. Sua força aparecia mais ainda quando
contavam com o respaldo do Secretário de Educação,
quando eram recebidas em seu gabinete acompanhadas,
quase sempre, por políticos ou tinham relacionamento de
ordem familiar ou político com o Governador do Estado.
Algumas vezes, as diretoras eram esposas, filhas ou noras
de chefes políticos e queriam fazer valer o seu prestígio
pessoal.

A nomeação dos professores e funcionários
administrativos dava-se com respaldos políticos que
acarretavam, muitas vezes, a indicação de pessoas sem a
devida qualificação desejada. Em muitos casos, essas
pessoas conseguiam, logo após a nomeação, ficar à
disposição de prefeituras ou outros órgãos públicos. Às
vezes, havia excesso de lotação em determinadas
localidades e carências em outras.

Os recursos financeiros não eram suficientes às
necessidades da área da educação, pois mais de 80% eram
destinados ao custeio, principalmente de pessoal e pouco
para investimento. Além do mais os recursos eram
liberados tardiamente para as necessidades da educação e
em parcelas mínimas. O Secretário de Educação deveria
ter muita força política junto ao Governador do Estado e
ao Secretário da Fazenda para atingir suas metas. O
Secretário de Educação deveria ter sempre condições,
junto ao Ministério da Educação para obter mais recursos
financeiros e conseguir a inclusão de seu Estado nos

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programas e projetos nacionais do Ministério. Além do
mais, havia disputa política à nível estadual e nacional
junto a outras fontes financeiras, pois nem sempre a
educação era vista como investimento pelos seus
administradores.

Era necessário obter o apoio dos governos estadual
e federal, dos professores e administrativos da Secretaria
de Educação do Estado, para realizar o meu trabalho.
Havia desconfiança, por ali chegar um engenheiro
agrônomo, como secretário. Por outro lado, não vinha eu
com nenhum respaldo político, a não ser o convite pessoal
do Governador Virgílio Távora. Para a comunidade
política e os meios jornalísticos, eu era uma incógnita,
conforme escreveu o jornalista Egídio Serpa, conhecido da
cidade de Fortaleza, logo depois do anúncio dos nomes do
Secretariado do Governador: “Que Padre Sadoc, que nada,
pessoal. Esse daí é o professor Albuquerque de Souza
Filho, futuro Secretário de Educação. Bem, pode até ser,
mas a pose dele é de Chefe de Cerimonial. O Homem é
todo enquadrado, parece até que saiu do banho há poucos
instantes. Veja a elegância do seu terno, o corte elegante
do seu cabelo, veja o bigode. Esse homem não pode ser o
Secretário de Educação. Já pensou um homem desses
visitando Parambu para ver as obras de um grupo escolar?
O pessoal de lá vai pensar que nem do Brasil ele é” (Jornal
Tribuna do Ceará, página 3, de 17/02/1979).

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