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Published by mr.mindcontato, 2016-06-07 21:07:21

ESMIRNA - Dossie Melissa

ESMIRNA - Dossie Melissa

Keywords: Ficção,EbookGospel,JCPuglisiEbook

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ESMIRNA – Dossiê Melissa
Autor João Carlos Puglisi (JCPuglisi)

1. Esmirna, apenas um nome?............................................... 4
2. Um exame misterioso........................................................ 5
3. Trevas e medo ................................................................... 6
4. O assalto.......................................................................... 11
5. O sacrifício humano ........................................................ 12
6. O fogo da morte .............................................................. 20
7. O toque de alerta de Deus ............................................... 21
8. Beto entre drogas, demônios e anjos! ............................. 24
9. Santo Éridro .................................................................... 28
10. Delegada que delega ....................................................... 30
11. Os demônios do moribundo ............................................ 34
12. Zero, zero Éridro ............................................................. 43
13. Sobre as águas da lucidez................................................ 45
14. O passado de Esmirna aflora........................................... 50
15. Melissa ouve seu réquiem ............................................... 54
16. Uma menina indefesa em mãos estranhas....................... 56
17. Ela vem sobre as nuvens? ............................................... 59
18. Um testemunho esclarecedor .......................................... 62
19. A menina preciosa........................................................... 66
20. A serva obediente de satanás .......................................... 68
21. Uma alma vale mais do que o mundo ............................. 73
22. Mais um traslado............................................................. 75
23. Salvação ao som das muitas águas.................................. 77
24. Uma revelação surpreendente ......................................... 79
25. O culto vazio de Mãe Di ................................................. 85
26. A mulher bomba contra os anjos..................................... 89
27. Será vitória ou será derrota?............................................ 95
28. Mais que uma simples prisão .......................................... 97
29. O confronto satânico de Mãe Di ................................... 101

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30. O preço do resgate de Melissa ...................................... 107
31. A fúria do monstro ........................................................ 114
32. Contrastes de mãe e filha .............................................. 118
33. A fúria do monstro II .................................................... 124
34. Diego e Antonio ............................................................ 129
35. O estigma de Esmirna ................................................... 133
36. Melissa na favela........................................................... 135
37. Esmirna na batalha final................................................ 143
38. Uma arma poderosa contra as drogas ........................... 156
39. O dossiê......................................................................... 162
40. Uma mãe de verdade..................................................... 164
41. Surpresas de um culto comemorativo ........................... 167

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1. Esmirna, apenas um nome?

“Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o
diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais
provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a
morte, e dar-te-ei a coroa da vida” Apocalipse 2:10.

Trecho do livro de Apocalipse onde existe uma carta
escrita à igreja que estava na cidade de Esmirna. Hoje em
Esmirna, também chamada de Izmir, encontra-se a maior Igreja
da Turquia Asiática, onde está a maioria dos cristãos mesmo
que em meio a uma sociedade muçulmana. Também a cidade
de Esmirna foi abençoada pela fé e perseverança daqueles
cristãos, e hoje é uma das três maiores cidades da Turquia.

Já no próprio nome, Esmirna, a essência do que aquela
igreja representou para o Senhor Jesus é manifestado. O termo
Esmirna vem etimologicamente de MIRRA que é “uma
substância extraída de uma planta para servir de
perfume”.Perfume sim, porque o apóstolo Paulo diz que somos
“um aroma de Cristo” e “o bom cheiro do conhecimento de
Deus”. (II Cor 2:14-15).

Mirra era um perfume feito de uma planta cujo processo
para extraí-lo era esmagando a planta. E enquanto os nossos
irmãos da cidade de Esmirna eram esmagados, pela pressão do
Império Romano, era o bom perfume de Cristo que era
exalado.

Quanto mais a igreja era perseguida, mais ela crescia.
Este parecia ser também o traçado feito por Deus para
aquela mulher que levava este nome: “Esmirna”. Os elementos,
sofrimento, perseguição, crescimento, perfume, cheiro suave e

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outros se encaixavam perfeitamente em sua vida. Mulher que
Deus em sua misericórdia usa para abençoar vidas.

2. Um exame misterioso

Estamos na grande metrópole chamada São Paulo, por
muitos é denominada de “desvairada”, ou “alucinada”, também
“terra da garoa” ou talvez a “selva de pedra”. Nos seus
contrastes está a seriedade de vidas, que se desgastam num dia
a dia trabalhoso e está também a invasão da violência de quem,
num arroubo de igualdade social tenta nivelar as classes,
querendo assim despertar para a igualdade, conseguindo apenas
uma verdadeira guerra urbana. Cidade onde um mundo próprio,
adequado ao seu desvario, é criado e vivido.

André, um garoto de uns 12 anos saía da escola, num
desses bairros de classe média alta. Em meio aos colegas corria
para a perua que o levaria para casa. Estava mais radiante do
que sempre costumava estar. Trazia nas mãos um documento e
um objeto que o fazia se alegrar. A mulher que dirigia a perua
escolar até notou alguma diferença nele e perguntou:

– Alguma coisa muito boa aconteceu André?
– Sim, certamente, mas é segredo, tia, segredo. Tia, por
favor, liga para meu pai e peça para que você possa me deixar
na casa de meu amigo Éridro!
– Está bem, André, mas liga você mesmo do meu
celular, que eu estou dirigindo e não posso agora.
Em poucos minutos André adentrava a casa de Éridro.
Este, absorto em suas programações informatizadas, estava lá

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com o cabelo caindo na testa, os óculos quase na ponta do nariz
e o nariz quase encostado na tela do computador.

André entra fazendo um estardalhaço entre os
empregados da casa de Éridro, mas a notícia que ele tinha e,
principalmente, o que tinha nas mãos era ainda mais
importante.

– Trouxe, enfim, a amostra de sangue, agora já poderá
ser feito o exame.

– Aleluia! – Éridro se alegra e imediatamente liga para
um laboratório, para que venham buscar a amostra de sangue.

– Será que haverá muita demora em sair o resultado? –
André era só ansiedade.

– Não tenho idéia, mas de agora em diante temos que
orar muito por “ela”. A árvore genealógica se completará e o
dossiê se fechará. O diabo já sabe que estamos descobrindo
coisas que ele não imaginava que descobriríamos. Isso o fará
ainda mais usar a sua perversidade sobre a vida “dela”.

3. Trevas e medo

Nesta grande cidade de São Paulo, a noite quando chega
traz junto não só as trevas da falta do sol, mas também as
trevas de um lugar que evoca a violência, o perigo e o temor. É
hora de recolhimento e de portas fechadas. A grande maioria da
sociedade busca o silêncio, a reclusão em seus lares. É
momento de ver televisão, de preparar para o próximo dia, de ir
dormir tarde sabendo que se tem que acordar cedo. Muitas
igrejas de cidades grandes assim já começam a mudar a rotina
de realizar suas programações religiosas em horários noturnos,

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pois a violência tem sido mais que um teste de fé, uma
constante luta, por vezes com resultados ineficazes.

Esmirna caminhava um tanto quanto preocupada numa
dessas voltas de culto. Afinal esperava tomar o ônibus das
vinte e duas horas para o retorno e não imaginara que a essa
hora ele não estaria mais circulando.

Seus cabelos negros com ondas longas caíam
acompanhando seu corpo, um pouco até o meio das costas, e
um pouco à frente. Vinha com o rosto olhando para baixo,
como quem temesse algo. Suas roupas com vestido longo de
tons escuros faziam com que mais parecesse um espectro
caminhando nas ruelas mal iluminadas do bairro de postes com
pequenas lâmpadas de iluminação fraca penduradas.

Em suas mãos segurava um livro grosso de capa negra e
o abraçava com as mãos cruzando o braço na frente do corpo.
Em sua mente povoava pensamentos que borbulhavam
cuidados, temores e busca de coragem.

– Que imprudência a minha, poderia ter vindo com o
carro! Até aqui já é um teste para mim, mas penso que
sobrevirão outras experiências! Nada acontece por acaso em
minha vida. O que será que está por vir?

Seu passado volta em turbilhão de flashes, pensamentos
que são estimulados pelo cenário tétrico do lugar. Tinha que
parar de pensar e firmar seu pensamento em Deus para ficar
mais forte e protegida.

Dois quarteirões à frente, sentados em uma sarjeta, uma
dupla de drogados de aproximadamente vinte anos cada um
visualizam a figura feminina no escuro.

– Será que estou vendo bem? É uma moça que vem ali?
– Com certeza mano, é nossa noite de sorte.
Levantaram-se, e cada um se escondeu de um lado da
ruela. Esperaram que ela chegasse a uns quinze metros e

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saltaram na frente dela com agilidade para que o susto a fizesse
parar. Cada um deles deu um grito meio abafado para não
acordar os moradores próximos.

A moça levou um grande susto, se encolheu e dobrou as
pernas ficando de joelhos no chão. Os dois então abriram os
braços e caminharam ao seu encontro. Faziam gestos que mais
pareciam monstros prontos a devorar uma vítima. Avançavam
com os braços abertos e semblantes fechados, e demonstravam
total maldade.

Surpreendentemente algo acontece com eles, suas
pernas começam a pesar e seus passos se tornam lentos e
sentem como se seus pés pesassem muito.

A estranha sensação não os assustou muito, pois
acreditaram que poderia ser efeito da droga que usaram há
pouco. Mas tudo ficou ainda pior quando a moça tomou nas
duas mãos aquele objeto que antes ela segurava com os braços
entrecruzados. E o objeto escuro agora ela apontava para os
dois como se fosse uma poderosa arma pronta para destruí-los.

– Ela está armada mano!
– Ih! É fria, e a gente não consegue nem correr, vamos
morrer!!! – o terror se estampara no rosto dos dois.
Quando eles se viraram para tentar correr recebem em
seus olhos uma luz forte que quase os cega. Logo atrás dessa
luz um misto de luzes vermelhas e azuis que rodavam, então
uma voz forte se ouve:
– Parem onde estão, coloquem as mãos nas cabeças! É
a polícia!
– Seu gambé1 aquela moça tentou nos matar, veja ela
com uma arma na mão!
O policial olhou e, lá estava a moça, do mesmo jeito
ajoelhada e com a “arma” apontada para frente. Andou em

1 (Modo chulo dos marginais chamarem os policiais)

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direção a ela e, sem medo, chegou perto. A moça continuou
com as mãos estendidas, porém seu olhar voltou-se para o
policial, olhar calmo, mas profundo. De sua testa escorria suor,
um suor mais de expectativa que de calor. Com um gesto gentil
ajudou-a a se levantar, tomou das suas mãos a “arma” e
mostrou para os dois.

– É essa a arma da qual dizem? Estão com medo disto?
O policial mostrou o livro de capa preta. Era uma
Bíblia. Voltou-se então para a moça e perguntou:
– Esses dois estavam fazendo alguma coisa contra a
senhora, moça?
– Eles apenas me deram um susto, senhor. Nada mais,
mas não se preocupe, eu moro numa casa a três quarteirões
daqui, posso chegar sem problemas. – Respondeu a garota com
voz pausada e segura.
A moça começou a caminhar pela rua. Todos ali
ficaram calados e olhando para seu vulto. Ela caminhava ao
encontro a uma fumaça branca que contrastava com uma luz
que vinha de um poste logo adiante.
Os dois rapazes tinham os olhos arregalados ainda meio
confusos com o que acontecera. Não entendiam como uma
pequena garota os tinha assustado tanto.
Enquanto o policial fazia uma revista nos dois, eles,
com as mãos no muro, continuavam com os olhos fixos na
moça que ia já longe. Um deles, de repente, como que
surpreendido por algo novo, aponta o dedo em direção onde ela
caminhava e balbucia algumas palavras:
– Ela sumiu, ela sumiu no meio daquela fumaça.
Os policiais inicialmente creram que o rapaz estava
mesmo “chapado”, ou seja, totalmente absorvido pelas drogas,
mas resolvem direcionar as luzes para o lugar onde
supostamente a moça caminhava e, nada, ninguém estava lá.

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– Ela deve ter chegado em sua casa, pois ela disse que
morava a três quarteirões.

– Mas, – retrucou um rapaz – ali ainda dá apenas dois
quarteirões. Ela sumiu, eu a vi sumindo no meio da fumaça.

Os policiais não encontraram drogas nos bolsos dos
rapazes, e, mesmo percebendo que eles haviam consumido, os
deixou ir livres. A seguir, retomam suas atividades de policiais
comunitários e seguem com a viatura fazendo uma pequena
patrulha pela rua abaixo. Atentos iam procurando se a moça
ainda estava por ali.

No terceiro quarteirão começaram a observar que a rua
era muito estreita e havia ali algumas lojas comerciais, àquela
hora todas fechadas. Sobre aquelas lojas havia alguns prédios
com apartamentos, mas, no quarteirão, residência mesmo só
havia uma.

– Será que ela mora ali? Só tem esta casa!
Chegando em frente à casa um tanto simples, notaram
garagem e carro. Lá dentro percebia-se pela janela, uma luz
acesa. Após checarem se havia alguém fazendo barulho e não
ouvindo nada resolveram tocar a campainha.
Surpreendentemente, no portão havia um interfone, e uma voz
calma parecendo de pessoa ainda jovem perguntou quem era.
– Somos da polícia, queremos saber se estão esperando
alguém aqui agora à noite.
– Sim, Esmirna saiu para ir à igreja e ainda não voltou.
Os policiais ficaram meio sem saber o que dizer, será
que a moça teria sido sequestrada bem perto deles?
A resposta veio a seguir, a pessoa no interfone
interrompeu a sequência do diálogo para atender alguma coisa
e logo tranquilizou os policiais.

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– Recebi uma comunicação, ela está bem e irá passar a
noite em outro lugar. Agradeço a preocupação de vocês, boa
noite!

Os dois policiais se entreolharam tentando encontrar
alguma palavra para explicar tudo aquilo, mas só fizeram dar
de ombros e retomar sua rotina de trabalho, voltando para a
viatura e saindo em patrulhamento pelo bairro.

Os dois rapazes vigiavam de longe, eles não se
conformavam com o que havia acontecido. Os dois juravam se
vingar da moça agora que ouviram o nome dela e já sabiam
onde ela morava. Precisavam tirar a limpo aquelas “coisas
estranhas” que aconteceram no encontro deles com ela.

4. O assalto

Não muito longe dali três homens se reúnem e estão
praticando um assalto em uma casa. Um deles corta os fios que
ligam o alarme da casa. Haviam estudado bastante para
chegarem àquele momento. Com os fios cortados, conseguem
entrar na casa com uma chave mixa. O carro na garagem não os
assusta, pois segundo seus próprios estudos, a casa estaria sem
ninguém naquela noite. Os moradores haviam viajado e como
foram de avião, não saíram com o carro.

Mesmo sabendo que a casa estivesse sem alguém que a
guardasse, eles entram muito cuidadosos. Preferem manter as
luzes totalmente apagadas e utilizam uma lanterna para
encontrar alguns pertences que sabiam existir ali.

Um deles resolve pegar um quadro no alto de uma
parede. Sobe em uma cadeira e depois sobre um armário.

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Quando já está com o quadro na mão, o armário cede e seu pé
se enfia na parte de cima quebrando alguns bibelôs de louça e
alguns copos.

O barulho, no entanto, foi o suficiente para que eles
entrassem em alerta! Que o diga um homem na calçada
voltando do serviço que, ao ouvir o barulho para assustado e
olha para a casa. Vendo a porta entreaberta e fazendo uma
avaliação que, uma porta entreaberta e um barulho de vidro
quebrado não poderiam ser muito comuns, decide telefonar de
um “orelhão”2 para a polícia.

–Seu idiota, até as pessoas nas ruas podem ter ouvido o
barulho! – Um dos ladrões já tem discernimento de que as
coisas podem piorar.

–Acho bom sermos mais rápidos e sair logo daqui. Esse
incidente estragou todo nosso plano.

Começam então a fazer o saque com toda rapidez
possível. Dividem-se e um deles começa a vasculhar os
quartos.

De repente, as luzes se acendem. É o sinal de que o
assalto estava interrompido.

5. O sacrifício humano

A dupla de policiais já estava patrulhando novamente
com a viatura há quinze minutos. Eles estavam a uns dois

2 (telefone público)2

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quilômetros do local onde havia acontecido o fato com a moça.
Passaram, então, por uma esquina onde um deles visualizou ao
longe aquela mesma figura da moça caminhando solitária.

– Pare! Acabo de ver aquela moça, dê uma ré e vamos
segui-la e ver aonde ela vai.

– Mas como é possível ela estar tão longe do local onde
estava?

O outro pacientemente deu ré no carro. Ao chegar na
esquina olharam curiosos. Realmente viram quando a moça já
dobrava por uma esquina. Tomados de susto e curiosidade a
respeito dela resolveram mesmo ir ao seu encontro e observá-la
de longe. Mesmo que agora ela estivesse a uns duzentos metros
de distância e já havia virado a esquina.

Esmirna, realmente, se viu caminhando por outra rua,
num repente e logo entendeu que fôra trasladada3 Caminhava
em outra rua com elementos semelhantes aos da rua de sua
casa, porém ouvia ao longe uma batucada de tambores. Em sua
lembrança imagens foram se formando como flashes. A
batucada era conhecida por ela e seu passado tinha imprimido
em sua alma os momentos difíceis em que ela teve contato com
as seitas religiosas. À medida que caminhava, a batucada
parecia mais próxima. Ela entendia que sua caminhada era em
direção àquele som que trazia lembranças, e que ali estava o
motivo de sua repentina mudança de rota feita por Deus.
Arrepiava-se ao perceber que teria um novo contato e
envolvimento com uma seita religiosa.

Visualizou logo uma porta onde entendeu ser o lugar de
entrada para a sua missão. Na porta ela viu com ”olhos

3 (trasladada significa; mudar de um lugar para outro, ser transportada)

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espirituais”4 vultos se movendo no ar. Eram vultos escuros que
se moviam como que guardando aquela entrada. Quanto mais
ela se aproximava os vultos sobrevoavam mais rápidos e
tensos, e tentavam fazer alguma ameaça a Esmirna. Ela não
temeu, foi se aproximando e quando chegou no limiar já com
os vultos rangendo seus dentes e mostrando unhas afiadas
apenas levantou sua mão direita e deu uma palavra de ordem:

– Saiam daqui e vão para longe e não voltem para cá!
Suas palavras foram recebidas como uma seta na mosca
de um alvo e eles se viram obrigados a se retirarem de sua
frente, com urros de raiva, pois ela utilizou “dons espirituais
dados por Deus para aquele momento” que faziam com que
eles se submetessem. Era uma ordem que partia do “Todo
Poderoso”.
Esmirna foi entrando no lugar. A porta na verdade dava
para um corredor num quintal com folhagem, tudo muito
escuro. Logo chega a um salão com portas fechadas,
logicamente para que o som dos atabaques não tomasse
maiores proporções e incomodasse os vizinhos com o barulho.
A porta do salão estava destrancada e ela pôde entrar
para o local. Pessoas com roupas brancas, muitas com tecidos
brancos enrolados no alto na cabeça, muita fumaça de charutos.
Uma dança estranha em que mexiam os troncos de seus corpos
ao mesmo tempo em que alguns bebiam líquidos de garrafas
que levavam em suas mãos.
Esmirna não entendia ainda porque estava ali. O que via
era apenas um povo utilizando a fé que tinham em sua religião.
Mas, também, sabia que Deus iria lhe mostrar a razão de tudo.
Nunca foi de sua iniciativa entrar no campo do “inimigo” sem

4 (olhos que vêem o mundo espiritual é uma permissão de Deus para uma
pessoa poder ver o que acontece no mundo espiritual onde habitam anjos,
demônios, etc...)

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uma missão. Sabia que um verdadeiro cristão não poderia
entrar nestes lugares sem ser convidado e atacar o território de
outras religiões ou qualquer local onde havia influência
contrária (maligna). Antes disso teria que receber de Deus uma
missão específica.

No início, sua presença não foi nem notada. Ela
caminhou um pouco tentando perceber algo que pudesse lhe
dar um entendimento sobre sua presença ali. Foi então que
notou que uma das mulheres que dançavam trazia em sua mão
direita uma faca com ponta afiada.

O lugar estava cheio de vultos demoníacos que também
dançavam no ar acima das cabeças. Esmirna podia sentir o mau
cheiro daqueles seres desprezíveis. Ela agora tentava saber o
que é que a mulher iria fazer com aquela faca. Possivelmente,
pensava ela, sacrificar algum animal. À medida que Esmirna
entrava mais para o interior do salão, os seres demoníacos
começavam a olhar para ela como quem já a identificassem.
Observou então que, próximo a ela, havia uma mesa onde os
que cultuavam haviam colocado o objeto de imolação.

Qual não foi sua surpresa ao ver sobre a mesa uma
garota de aproximadamente doze ou treze anos. A menina, que
Esmirna num relance sentia reconhecer suas feições como
alguém que já havia visto antes, estava com os olhos fechados,
parecia ter sido drogada para não ver o que se passava. Havia
ao redor da mesa muitos homens fortes e altos com seus rostos
fechados e carrancudos, todos demonstrando estar em transe.
Um deles olhou para Esmirna como alguém que havia notado
algo estranho nela, então recebeu de volta o olhar um tanto
calmo, fulminante e forte de Esmirna e cedeu um pouco no
modo carrancudo de olhar para ela, como quem sentisse que
algo havia abalado seu corpo, tanto físico como espiritual.

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Porém, logo a seguir voltou ao modo anterior já refeito daquele
pequeno abalo.

Quando Esmirna se postou ao lado da mesa, sua
presença foi totalmente notada e revelada. Os batuques
cessaram de repente... Todos os olhos se voltaram para ela. Até
os vultos demoníacos ficaram paralisados. A mulher com a
faca na mão foi se aproximando do outro lado da mesa frente a
frente com Esmirna. Saindo de seu corpo foram se formando
vultos espirituais com feições terríveis que foram se
avolumando e se movendo. Esta visão de vultos só podia ser
vista por Esmirna e por alguns que ali estavam, pois tinham
recebido este poder. A diferença é que o poder que Esmirna
tinha de ver aquilo fora recebido de Deus. A mulher parou em
frente à Esmirna do outro lado da mesa com a mão que
segurava a faca levantada e disse, com voz rouca e estranha:

– O que você quer?
Esmirna percebera que o ser que dominava a mulher já
a conhecia, assim sabia agora qual era sua missão. Sabia ao
olhar a menina desfalecida ali sobre a mesa e a mulher com a
mão erguida vibrando no ar aquela faca.
– Eu vim buscar a menina – disse Esmirna com voz
segura.
A mulher chegou a dar um rugido como de um animal e
vociferou:
– Ela é minha, foi consagrada a mim desde quando
nasceu!! Eu preciso do sangue dela. Você não pode e não tem
direito de levá-la.
Pôde-se ter certeza então que quem falava não era a
mulher, mas um daqueles vultos que entraram nela. Com
certeza alguma entidade demoníaca pela qual a menina fora
oferecida por pessoas que tinham ascendência sobre ela.

16

– Ela não está mais só, - replicou Esmirna – já existe
muita gente requerendo a sua vida para Deus. Muita gente
orando por ela. Isso quebra sua autoridade sobre esta vida.

– E quem você pensa que é para entrar aqui e salvá-la
da morte. Ela é filha desta mulher, e só ela pode fazer isso.

Deus abre os olhos do entendimento a Esmirna e ao
fixar os olhos na mulher a sua frente pôde saber por
discernimento divino que ela, ou o ser que a dominava, estava
mentindo.

– Não, eu sei que ela não é mãe desta menina –
novamente Esmirna era firme em suas palavras mostrando que
tinha certeza do que dizia – eu tenho mais direitos sobre a
menina do que ela e por isso vou levá-la. – Esmirna abriu os
braços já como quem iria tomar a menina no seu colo.

Foi então que praticamente todos seres, humanos e
demoníacos, que ali estavam resolveram tomar posição contra
a moça. Parecia um grande exército contra uma pessoa apenas.
Esmirna não se conteve, tomou a menina em seus braços e
segurou firme ali na frente da mesa. Seu pensamento estava
firme em Deus. Só Ele poderia guardá-la neste momento.

A mulher estava com a faca no alto pronta para acertar
não só a menina, mas agora ameaçava a própria Esmirna.
Quando as pessoas investiram contra ela para agredi-la algo
aconteceu. Primeiramente, uma forte claridade apareceu sobre
a cabeça de Esmirna. Ela voltou sua face para aquilo e seu
corpo era atingido por luz intensa que chegava a cegar alguns
ali presentes. Estes se assustaram, mas não se intimidaram e
tentaram, mesmo assim, investir sobre Esmirna.

Foi quando o chão começou a tremer e objetos
começam a ser lançados ao chão, pegando todos de surpresa.
Esmirna, que segurava a menina, parecia não receber nenhum
abalo debaixo dela.

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Ainda com o chão tremendo, as pessoas tentaram
atingir Esmirna, mas sobreveio um vento forte que não
permitia que alguém ficasse em pé. O local parecia um
verdadeiro caos com pessoas levantando e caindo, por causa do
vento e do terremoto.

Esmirna segurou a menina sentindo um amor muito
grande por ela, pois percebia o quanto aquela menina era
importante para Deus. Toda aquela manifestação demonstrava
que havia muita importância e propósito de Deus na vida
daquela menina.

Esmirna com a menina passa pela porta do salão. Todos
gritam lá dentro dando ordens para que alguém segurasse
Esmirna, mas ninguém conseguia manter-se em pé. A porta se
fechou tornando ainda mais difícil o acesso às duas. Esmirna
saiu andando calmamente enquanto ouvia os gritos dentro do
salão e os murros na porta tentando derrubá-la.

Saiu na rua e caminhou com a menina nos braços.

*****

Na esquina, Diego e Antonio, que eram os dois
policiais, estavam com o carro parado tentando visualizar a
moça que seguiram. Só agora, depois de alguns minutos, eles a
viram saindo de uma casa com uma pessoa nos braços.

– Que acha, devemos ir até ela e saber o que está
acontecendo? - Disse Antonio, o que era motorista, com ar de
quem estava confuso. Ele batia com os dedos no volante,
tamborilando.

18

– Ora, a gente já chegou até aqui! Lembre-se que ela
sumiu diante dos nossos olhos àquela hora. Tem alguma coisa
misteriosa nisto!

– Ok! Vamos lá então.
Quando se dispunham a segui-la foram surpreendidos
pelas pessoas que saíram nas ruas assustadas e falando alto.
Aproximaram-se e perguntaram o que estava acontecendo.
A mulher que parecia ser líder do grupo se aproximou e
disse:
– Uma moça entrou aqui e sequestrou minha filha.
Precisamos encontrá-la urgentemente!
Os policiais se entreolharam. Imaginaram mil coisas a
respeito daquela moça que parecia ser tão simples e até
religiosa, mas, não titubearam e tomaram posição de seguir
junto com o grupo. Foram para o lugar onde viram ela
caminhar com a menina nos braços.
Uma comunicação via rádio, porém veio a modificar os
planos dos dois. Um assalto estava acontecendo e a polícia
havia recebido um telefonema avisando sobre local, que era
bem perto dali. Saíram então rapidamente para tentar um
flagrante. Viraram três ruas e ficaram defronte à casa onde dois
assaltantes saíam correndo segurando alguns pertences e
armados.
Iniciaram um tiroteio com os policiais. Entraram num
carro e tentaram fugir ao que os policiais seguiram numa
perseguição cinematográfica.

19

6. O fogo da morte

Esmirna percebeu que o grupo de pessoas já conseguia
vê-la. Começou então a pensar no que poderia fazer, já que a
menina pesava muito.

A menina não acordava, continuava com os olhos
fechados. Com certeza estava mesmo sedada. A única reação
que ela tinha era se abraçar ao corpo de Esmirna como alguém
que busca proteção. Parecia intuitivo, mas Esmirna não deixou
de sentir que ela era uma menina carente, e que sentiu, mesmo
no inconsciente em que estava, que Esmirna representava
proteção para sua vida. Viu então uma casa com a porta lateral
parecendo que daria para a copa. A porta estava aberta e correu
para entrar nela. Entrou rapidamente e fechou a porta com
força.

Lá fora um dos rapazes do grupo que corria mais
depressa, o mesmo que havia encarado Esmirna e se abalado,
avisou as pessoas que ela havia entrado naquela casa. A mulher
parou, pensou e finalmente chamou o rapaz ordenando:

– Depressa, Beto procure gasolina, rápido. Hoje eu
entrego a alma da menina Melissa pro “meu chefe” e a outra
que a levou, que arda no fogo!

– Mãe Di, eu me ofereço para ser sacrificado no lugar
da menina!

– Outro dia você se oferece, hoje tem que ser a menina.
Os membros da seita tinham verdadeiro pacto de morte
para se entregarem aos guias.
Esmirna, dentro da casa, deu de cara com um homem
trazendo um revólver na mão, suando muito! O homem parecia
muito assustado e seus olhos estavam muito arregalados.

20

*****

No bairro a perseguição aos assaltantes continuava com
tiros sendo dados de ambos os lados. Logo à frente, porém, o
carro dos assaltantes derrapou numa esquina e perdeu o
controle vindo a se chocar contra um muro.

Os bandidos, abalados com o acidente, se renderam
facilmente entregando as armas e o produto do roubo. O mais
importante é que eles disseram que um assaltante ficou na casa,
e sabiam que lá não havia mais ninguém. A família não estava
na casa, pois eles verificaram que naquele dia iriam viajar. Os
bandidos somente demoraram muito para dar esta notícia, claro
para que o outro pudesse ter tempo de escapar.

Mais que depressa os policiais, quando da informação,
algemaram os bandidos e voltaram para o local do assalto.

7. O toque de alerta de Deus

De um outro bairro da cidade uma família acorda
inquieta, um casal e seu filho André, aquele mesmo que levou
uma amostra de sangue para exame. O menino caminhava
rápido e ofegante saindo de seu quarto e indo ao encontro dos
pais que já desciam da cama. Olharam entre si profundamente
como quem estivesse unido num só pensamento, e realmente
era o que estava acontecendo. André quebra o silêncio:

– Melissa, precisamos orar por ela agora!
Ajoelharam-se ali mesmo, o grupo unido e cada um
com as mãos sobre os ombros do outro e oravam em voz alta,
embora os três orassem ao mesmo tempo, um entendia o que o

21

outro orava e confirmavam concordando com um “amém”. Era
a proteção de oração sobre a menina Melissa.

Em outro local, já num bairro nobre da cidade, um
menino também é despertado, seus olhos abrem-se rapidamente
como quem recebeu um comunicado importante, coloca seus
óculos, joga os cobertores para o lado e com as duas mãos
segura suas próprias pernas que não obedecem ao comando de
seu cérebro.Ergue-se ficando sentado. Logo a seguir já com
movimentos costumeiros, está sentado em sua cadeira de rodas
e célere vai ao telefone. Sem mesmo tirar o fone do gancho,
mas, apertando algumas teclas especiais que tem, ele faz uma
ligação e já sabe que quando alguém receber a ligação ouvirá
uma gravação que ele deu “start”. Virou então sua cadeira de
rodas para um pequeno quartinho ao lado de seu grande quarto
e ali começou a orar! Ele é Éridro e no quartinho havia outro
aparelho telefônico com viva voz, onde ele e seu grupo de
oração poderiam orar em conjunto, cada um do local onde
estava, mas ouvindo a voz um do outro pelo fone.

– Melissa, orem por Melissa, Esmirna está com ela!
Chegou o resultado do exame e foi confirmado tudo.

*****

Neste momento os policiais chegavam no local onde
havia acontecido o assalto. Qual não foi a surpresa dos dois
quando ao chegarem na casa puderam presenciar o local em
chamas, e as labaredas estavam muito altas, sendo praticamente
impossível entrar para averiguar se havia alguém lá dentro.

Os bombeiros foram acionados e logo chegaram. A luta
contra as chamas foi intensa, mas da casa nada se aproveitou e
o mais triste é que encontraram os corpos queimados de um
homem, uma mulher e uma criança de uns doze ou treze anos.

22

*****

A delegada Marjori, uma mulher ainda jovem, iniciou
ali mesmo as investigações sobre o roubo e o incêndio. Havia
um carro na garagem, e alguns visinhos disseram que era o
carro dos moradores, porém um deles disse que a família que
morava ali, um casal e um menino de 12 anos havia viajado de
avião para um estado próximo, por isso não haviam levado o
carro. Intrigou-se então a delegada. Quem então havia morrido
naquele incêndio?

Os dois policiais que trabalharam na captura dos ladrões
viram a mulher da seita onde Esmirna havia seqüestrado a
menina ali, parada, observando o fogo e lembraram-se de
perguntar a ela sobre o que haviam acontecido com Esmirna e
a menina.

– Uma tragédia, senhores, a moça entrou nesta casa e
logo a seguir parece que alguma coisa explodiu lá dentro e a
casa começou a pegar fogo. A moça e minha filhinha que ela
havia roubado, com certeza morreram lá dentro queimadas.

Os policiais então concluíram provisoriamente que o
homem que havia morrido lá dentro era o terceiro assaltante,
além da moça e a menina.

Marjori, a delegada, também pôde constatar
perguntando as pessoas que ali estavam olhando que a família
da casa não tinha parentes em lugares próximos, somente
mesmo em outros estados, e preparou então um início de
investigações precisava saber do paradeiro da família moradora
da casa, saber quem eram as pessoas que morreram naquele
incêndio, e também saber se o incêndio não fora provocado de
maneira criminosa, pois havia um cheiro forte de gasolina perto
da casa.

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A mulher, líder da seita deixou seu nome, endereço e
algumas declarações com a delegada e chamou as pessoas que
participavam com ela da seita para irem para casa. O pequeno
grupo caminhou, havia um certo silêncio entre eles. A mulher,
muito esperta, percebeu que todos estavam um pouco
assustados com a repercussão do que havia ocorrido e passou a
falar com eles tentando acalmá-los e dizendo que aquilo que
havia acontecido era o que os seus chefes espirituais tiveram
que fazer.

– A vida de Melissa aplacou a sede do “chefe” e ele vai
retribuir com nossa fidelidade. Hoje mesmo muitos de nós
teremos recompensas em nossas vidas, vocês verão que nada
foi em vão. Vão para suas casas e durmam tranqüilos como
quem fez o que deveria mesmo ser feito.

O pequeno grupo foi se desfazendo, cada um
caminhando para sua casa. Todos moravam muito próximos
dali.

8. Beto entre drogas, demônios e
anjos!

Beto, o rapaz que havia buscado gasolina e colocado
fogo na casa, quase que totalmente sozinho, apenas com a
ajuda de dois rapazes, era aquele que tinha em sua mente muito
mais palpitações e pensamentos fortes.

Procurava se sentir feliz por ter tido a oportunidade de
servir os guias espirituais, e nesta intenção chegou à sua casa.

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Beto morava em uma verdadeira palafita, muito só e
com poucos pertences. Chegou, sentou-se em um banquinho,
em meio aquelas estatuetas de santos católicos, e personagens
da umbanda. Nem mesmo um altar ele tinha ali, mas uma
grande desorganização onde velas, livros, pratos, garrafas,
vidros de xarope, que era a droga que ele mais usava além da
maconha, e imagens se misturavam.

Sentou-se no chão, que era onde ele dormia, e ficou ali,
um tanto extasiado e com o olhar distante tentando encaixar
seus pensamentos e buscando se sentir bem como quem havia
feito o melhor e tinha o melhor para receber.

Percebeu então que seus pensamentos começaram a
rebater e se digladiar dentro de si. Algo dentro dele trazia uma
preocupação e peso pelo fato de haver tomado a frente no ato
de tirar a vida de pessoas. Pensava no rosto da menina Melissa
envolvida pelo fogo que ele provocara. Percebia, como em uma
visão, anjos e demônios lutando pela vida dela. Aquilo o
deixou perturbado demais. Via então os demônios rodearem a
menina e o rosto dela assustado e medroso.

Sentiu então alguma coisa descendo na sua face, e
aquilo havia saído de seus olhos.

– Não pode ser – ele leva o dedo na maçã de seu rosto e
percebe que estava chorando – que está acontecendo comigo?
Tentou apanhar um cigarro de maconha, mas aquilo para ele
agora parecia fora de hora.

A luta interna foi se tornando mais intensa, como se um
represo estivesse preste a arrebentar. Levantou-se para tentar
parar de pensar, mas a seguir ajoelhou-se diante de suas
estátuas procurando se conter e conseguir uma comunicação
com os guias espirituais. Podia sentir os guias se movendo ali,
mas eles não se comunicavam por que seus pensamentos eram
muitos vagos e contrastantes e não se firmavam quanto ao

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desejo de possessão ou contato.
Tentou, tentou por quase meia hora e num repente se irou com
os guias e com um forte impulso desferiu um golpe com as
mãos sobre aquele monte de estatuetas quebrando algumas e
jogando outras longe.

O choro agora começava a ser mais forte, havia soluços
altos. Ele mesmo não queria chorar, pois gostaria de ser forte
nesta hora e estar se alegrando e dormindo tranqüilo. Mas não
era isso que acontecia e o peso do erro cometido contra a vida
de pessoas agora era enorme. Sua alma podia até sentir dor
pelo fato, seus sentimentos começavam a deixar os desejos de
se alegrar e uma profunda tristeza invadia agora esta alma
perturbada.

Sentiu repentinamente uma presença espiritual forte.
Um ser se formou na penumbra do canto oposto de onde
estava. Tentou levantar, mas caiu para trás diante daquela
visão fantasmagórica. As visões de guias espirituais nunca
foram tão feias, toda vez que antes apareciam para ele eram
visões de seres bonitos, coisa que ele gostava, sendo até um
dos motivos de ele acreditar estar falando com pessoas que
haviam morrido e tinham recebido poderes angelicais
espirituais, transformando-se em belos espíritos e cheios de
poder para ajudar. Mas não era isso que acontecia. A figura à
sua frente era irritantemente horrível.

Beto caído para trás levantou o braço diante do rosto,
como quem não gosta de olhar para alguém e faz a pergunta:

– Quem é você?
O ser não responde a pergunta do rapaz, dá então uma
grunhida demonstrando que está com ódio.
– Maldito, - vociferou – você vai morrer. - O ser foi se
deformando na frente do rapaz e logo desaparece.

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Beto fica ali, um tanto petrificado, sentia dentro de si
como que uma verdadeira implosão, suas paredes de
entendimento e sapiência estavam literalmente sendo
derrubadas. Ouviu então uma voz calma e amiga;

– Não temas que Eu estou contigo!
– Sim, sim, o Senhor está comigo! - Não avaliou, não
pensou, apenas recebeu aquelas palavras como um bálsamo em
meio aquela floresta escura onde sua alma clamava por uma luz
chamada paz. Deu uma volta e deitou de bruços aparado pelo
antebraço com aquelas palavras ecoando em seu ser. Agora,
mesmo com o sono chegando, os soluços de choro pareciam
intermináveis. Enfim, apagou-se tudo, um vácuo se fez,
adormeceu!
Mas eis que, num vislumbre, uma pequena claridade
penetrando em meio às frestas de sua “casa” toca-lhe a retina.
Estava chegando a manhã, um novo dia invadia o lugar, acorda
e seu choro agora se transformou numa expectativa.
– O que vai acontecer comigo? Que significa isso tudo
que aconteceu nesta noite?
Ainda deitado de bruços dirigiu os olhos para a porta
que ele deixara aberta e um susto lhe invadiu a alma. Alguém
estava ali em pé e havia chegado de uma maneira tão silenciosa
que ele não havia percebido, e como ele estava no chão, seus
olhos correram desde os pés até o alto para poder identificar a
pessoa. E a cada detalhe nesta subida de olhar, arrepios
invadiam seu ser. Ao fixar olhar na face da pessoa como um
complemento de identificação, virou-se bruscamente, mas foi
saudado por um sorriso. Ao identificar aqueles cabelos e
maneira de se vestir ficou assustado e até meio paralisado.
Porém não deixou de sentir algo bom lá no seu interior.
– Você!!!!!

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– Vem comigo?! – falou a pessoa em tom meio
perguntando e meio afirmando, com a mão estendida para ele.

Uma frase se formou em seu pensamento, não sabia de
onde vinha, nem mesmo se já ouvira antes, mas a frase era um
novo bálsamo em meio a suas lutas interiores.

“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela
manhã”

Fôra uma noite longa, intensa, não uma noite de doze
horas, mas uma noite vivencial, de anos de escuridão, uma
noite absoluta em seus tentáculos negros, determinantes em
seus envolvimentos cegos. Noite angustiante onde uma vida
fôra encarcerada, represada, onde o horror ditava suas regras e
exigia obediência.

Aquela mão estendida simbolizava a manhã esperada,
uma nova e brilhante manhã, mesmo não sabendo o seu futuro
ele podia se alegrar, sua alma entoava novos cânticos, sua
respiração até apressava se sentindo ofegante. Havia um sol em
seu espírito trazendo a luz de uma manhã que lhe dava a
sensação de sair não só da noite para o dia, mas sim de densas
trevas para uma luz intensa e quente como uma manifestação
de verdadeiro amor.

“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem
pela manhã”

Onde estaria esta frase? De onde viria, quem havia dito
esta frase em seu ouvido?

9. Santo Éridro

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Éridro adormecera sentado em sua cadeira de rodas, ali
naquele pequeno quarto que ele chamava “quarto de escuta”,
estava extenuado, sua luta fora intensa, porém cheia de vigor
espiritual, junto com seus amigos do grupo que oraram durante
parte da noite no “viva voz”.

Súbito um bip, depois mais bips foram trazendo o
garoto de volta de seu descanso e despertando para mais um
dia. A misericórdia de Deus havia dado a ele o começo de mais
um dia, suas esperanças estavam se renovando, passa as mãos
nas pernas, seus pensamentos voam longe no tempo,
acontecimentos tristes vêm à mente, mas também a esperança
que se renova em mais um dia traz também a esperança de um
dia voltar a andar. Os médicos ainda fazem pesquisas para que
a medicina um dia ainda possa tratar do seu caso com mais
entendimento.

E aqueles bips significavam algo mais ainda
confortador

– Oh! A Câmera – e deu um ré na cadeira de rodas já
com o braço estendido em busca do “mouse” de seu
computador – que será que está acontecendo?

Alguns cliques e pode observar que a tela focalizava um
rapaz. Aquela imagem, na verdade eram de quatro câmeras
escondidas dentro de uma perua Van que o motorista acionava
toda vez que achava necessário. A perua pertence à Associação
Cristã da qual Éridro participa e ele, como tem conhecimentos
deste tipo de engenhos eletrônicos, procura sempre diminuir
espaços para poder receber as informações usando a
informática. Dentro da perua estava Beto junto com a mesma
pessoa que foi buscá-lo. Éridro pôde se alegrar ao ouvir as
palavras que Beto dizia, na verdade ele estava fazendo uma
oração onde entregava sua vida a Jesus, arrependendo-se de
seus pecados.

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– Tenho que avisar o André – pegou o telefone e discou
rapidamente, pois se lembrou que nesta hora André estava de
saída para a escola.

Graças a Deus, André atendeu;
– André, chame seu pai e sua mãe, eles precisam ir
imediatamente para a “Arca”. – “Arca” é a Casa de
Recuperação onde são enviadas as pessoas drogadas, viciadas e
dependentes químicos necessitados de ajuda. Os pais de André
eram o Dr. Ângelo e a Dra. Aline, ele médico renomado que
aceitou, como cristão que é, um grande desafio de estar à frente
do projeto Arca, e ela uma psicóloga não menos conhecida que
juntamente com seu esposo entrou no desafio – A primeira
alma do “Dossiê de Resgate Melissa” foi salva. Os anjos estão
fazendo aquela festa nos céus, mas nós temos um grande
desafio pela frente; cuidar e acompanhar este homem. Ele
precisa de muitos cuidados, o inimigo está muito furioso com
ele.

10. Delegada que delega

Dois dias depois...
Eram quatorze horas de um dia calmo sem muito calor e
a Dra. Marjori faz uma pausa, coisa rara em seu trabalho tão
corrido e estressado. Em seu gabinete tenta meditar em
algumas coisas. A violência urbana à qual ela, por força do
trabalho, tem se envolvido a tem afastado de uma vida social
normal, e neste momento de pequena pausa ela parece olhar
para si mesma como num espelho e avaliando sente uma certa

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carência. A vida longe dos parentes que moram em outra
cidade; o apartamento que não tem com quem dividir; nem
mesmo um marido ou filho; sua vida tão envolvida com
questões criminais e o encarar de famílias sendo destruídas
neste labirinto de drogas, violência, sexo, seqüestros,
assassinatos e roubos. Às vezes esquece até que é uma pessoa
com sentimentos comuns, mas parece uma máquina sendo
acionada pela pressão do sistema, quanto mais ainda lembrar-
se de que é uma mulher e ainda jovem.

Seus pensamentos são interrompidos pela entrada de
um jovem da corporação com alguns papéis nas mãos;

– Novidades surpreendentes doutora!
– Oi Nelson, gostaria de saber antes sobre o caso do
assalto com incêndio! Já encontraram a família que havia
viajado?
– Doutora, é exatamente sobre isso que está tudo aí
nestes documentos, foram feitos as autópsias nos três corpos
que apareceram queimados na casa e...
– Vamos, homem, fale sem que eu precise ler tudo isso
aqui!
– A primeira surpresa foi que as três pessoas,
possivelmente, já estavam mortas quando a casa pegou fogo,
todas três haviam sido baleadas com vários tiros na cabeça. O
homem, a mulher e o menino.
– Você disse “menino”?
– Sim a pessoa mais jovem era um menino, e agora vem
a segunda surpresa doutora!
– Vamos Nelson, pare com o suspense, você parece
autor de novela de televisão! Conta logo!
– Bem, as investigações sobre a viajem dos moradores
da casa chegaram a uma definição! Depois de investigar em
aeroportos, inclusive de táxis aéreos, comunicar-se com a

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família das pessoas moradoras da casa, chegou-se a conclusão
de que eles não viajaram, mas, estavam na casa na noite do
assalto.

– Meu Deus, você quer dizer então que...
– Sim doutora. Foram verificados vários indícios, anéis,
documentos em bolsos e outros detalhes e finalmente não há
erro. Quem muito provavelmente morreu naquela casa,
assassinados e não queimados, apesar de que isso acabou
acontecendo no incêndio, foram os próprios moradores da casa.
– Nelson, agora tudo dá uma reviravolta, – replica a
delegada — temos que recolocar as peças deste verdadeiro
quebra-cabeça, chame aqueles dois policiais que faziam ronda
naquele dia. Veja também alguma coisa sobre aquela mulher
que havia denunciado sobre um seqüestro da filha.
Diego e Antonio, os dois policiais que naquela noite
foram envolvidos no episódio estavam quase no horário de
começarem seu turno de trabalho. Um deles, Diego, estava em
casa se preparando para ir até a delegacia, Antonio já estava lá
e estava cuidando da viatura, verificando o combustível, óleo
lubrificante, pneus, etc...
Rapidamente eles chegaram à presença da delegada.
Quando souberam das novidades, ficaram pasmados, se
entreolharam como se tentassem arquitetar pensamentos que
pudessem se encaixar àquela notícia.
Diego, que era mais falador e arrojado, tentou enumerar
tudo que precisaria ser feito;
– Então, a moça e a menina não morreram, onde será
que elas estão? E o terceiro ladrão também, onde foi parar? E
ainda a mulher e seu grupinho religioso. Temos ainda um
seqüestro, um assaltante, uma moça com jeito religiosa, mas
que é seqüestradora e também...

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– Pare Diego – A delegada chegou a levantar a mão
demonstrando que as palavras dele eram uma verdadeira
confusão de acontecimentos – você vai ficar aí tagarelando
sozinho ou vai definir alguns tópicos para que a gente retome
uma nova maneira de investigação sobre o caso?

– Desculpe senhora, foi muita surpresa, quando a gente
já estava pensando que tudo estava normal, quer dizer se é que
se podemos chamar de normal um assalto, três pessoas mortas
e uma casa incendiada.

– Aliás, isso é outra coisa que quero que seja
investigado!

– Isso o que doutora?
– O incêndio, foi ou não foi criminoso, intencional?
Pelo que vejo a “Técnica” não citou nada sobre isso.
Nelson, que trouxera os documentos sobre os resultados
das investigações, fez uma cara de quem havia realmente
esquecido de fazer alguma coisa.
– Outra coisa, rebateu Diego – apontando para Antonio,
seu parceiro de trabalho – a gente ficou de providenciar a
liberação do “corpo” da menina amanhã para a tal de “Mãe Di”
a mulher do grupo religioso para ela enterrar os restos mortais
da filha.
– Que menina, Diego? – Antonio abriu os braços – a
menina está viva, seqüestrada e desaparecida!
– Rapaz! Que coisa heim! Diego chegava a colocar a
mão no queixo, como aqueles detetives de cinema, quando tem
uma grande charada para resolver.
– Opa! Outra coisa, quero que esta tal de “Mãe Di”
apresente documentos provando que esta menina é filha dela –
A delegada estava afiada em sua arguidade. – E quero também
falar com os dois assaltantes que foram presos naquele dia.

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Eles terão que informar a identidade do terceiro homem para
que a gente o procure em hospitais ou outros lugares.

Os dois policiais saíram dali e não conseguiam pensar
nem falar de outra coisa, estavam absortos e envolvidos com
todo aquele emaranhado de situações.

– Bem, a gente tem de começar por alguma coisa, e o
melhor mesmo é ir visitar a tal de “Mãe Di”.

– Hei rapazes, – era a delegada que parecia ter mais
coisas ainda para ordenar a respeito do caso – esperem, preciso
ir a um certo lugar com vocês.

– Que foi agora doutora?
– Na noite do incêndio/assalto eu me lembro de me
relataram algumas coisas que aconteceram naquela casa e acho
melhor a gente ir primeiro dar uma olhada lá. Preciso saber
como foi que a moça com a menina e o assaltante conseguiram
sair do incêndio.

11. Os demônios do
moribundo

Em um grande hospital central, o HMC (Hospital
Médico Central), um homem com o corpo cheio de feridas
provocadas por queimaduras, acorda sentindo muitas dores e
seu primeiro contacto na volta a si era um grito, na verdade um
gemido de dor. Abriu os olhos e olhou o teto, depois olhou a
direita e viu o seu braço direito enfaixado e amarrado. Um
flash veio a sua mente, um flash de uma labareda de fogo.

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Tentou lembrar de alguma coisa, pouca coisa veio à mente.
Somente uma coisa era certa para ele agora.

– Ainda estou vivo! Mas como...
Ao mudar o olhar para o lado esquerdo deparou-se com
aquela figura e arregalou os olhos. Fora a última pessoa que
havia visto viva! O mesmo olhar, os cabelos pretos longos, o
vestido escuro;
– Você, você...
– Esmirna, meu nome é Esmirna!
– Mas como pode ser que nós escapamos? Depois de
tudo aquilo!
– Diga-me, – Esmirna tentava ajudar o homem – de que
você se lembra?
– Lembro-me do fogo instantâneo quando eu ameaçava
você com minha arma! E de como nós corríamos de um lado
para o outro tentando sair e não encontrávamos uma saída. E
depois quando o fogo estava alto, aquele caibro que caiu do
alto trazendo uma parte do que havia no forro. Ele veio sobre
nós três e eu não vi mais nada. Agora ao acordar pensei que só
eu havia escapado.
– Não, na verdade você foi o que mais se feriu e se
queimou. Quando o caibro caiu você perdeu os sentidos, uma
parte dele pegou também na cabeça da menina que já estava
sem sentidos no meu colo, mas eu ainda fiquei em pé. Levei a
menina para os fundos da casa onde a deixei e depois voltei
para te buscar. Um carro de um amigo meu nos trouxe até aqui.
– Mas por que você chamou um carro de um amigo e
não uma ambulância?
– Eu precisava estar incógnita, pelos fatos que estavam
ocorrendo, e você foi envolvido nisso.
– E como está a minha saúde?

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– Você está muito mal. Não posso mentir para você, há
vários médicos tentando cuidar das feridas. Mas tenha fé em
Jesus e você poderá se salvar, a alma em primeiro lugar.

– E a menina?
– Ela está aqui no hospital em outro quarto, está muito
bem, amanhã cedo já irá pra casa. Agora preciso ir, amanhã
venho visitá-lo!
– Espere, que negócio é este de “a alma em primeiro
lugar?”
– Tem uma pessoa que irá falar sobre isso com você
ainda hoje. Fui eu que a enviei, você pode escutá-la. Fique bem
atento, pois amanhã, possivelmente a polícia virá aqui, já estão
te procurando.
Esmirna sai do quarto e antes de ir embora ainda dirige-
se ao quarto da menina para saber como ela estava.
O homem relembra que, dentro daquela casa fez o que
não tinha planejado, quando encontrou numa copa as três
pessoas da família que ele e seus comparsas pensaram que
haviam viajado e num relance atirou nos três descarregando
sua arma. Sentia que aqueles crimes seriam mesmo os últimos
que havia cometido, pois pelo estado de seu corpo não via
possibilidade de se recuperar e voltar à atividade de andar
normalmente como antes mesmo sabendo que corria perigo de
ser preso, pois a polícia, cedo ou tarde iria encontrá-lo ali, não
havia possibilidade alguma de escapar ou se esconder.
Talvez uma hora e meia havia se passado daquele
diálogo com a moça, e ele estava ali tentando por em ordem
algumas coisas em sua mente. As dores pareciam intensificar,
uma enfermeira havia passado neste ínterim e colocado mais
um pouco de remédio antidor no mesmo reservatório onde
estava o soro.

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– Que droga, mesmo com o remédio as dores não
param, parece um inferno isto aqui! Será que chegou a minha
hora? – falou irritado em meio aos gemidos.

Ouviu o som de rodas bem próximo, pensou ser mais
algum medicamento ou uma enfermeira pegando alguma coisa,
mas na realidade era uma cadeira de rodas que se aproximava.
Olhou meio surpreso aquele menino de óculos e cabelo na testa
e um sorriso nos lábios:

– Pode ser que sim! – disse o menino!
– Pode ser que sim o que?
– Ora, que sua hora chegou!
– Quem é você?
– Meu nome é Éridro, sou a pessoa que Esmirna enviou
para falar com você!
– Um garoto? Essa não! – O homem soltava gemidos
altos enquanto falava e olhava para o menino.
Éridro, como sempre precavido com suas armações
eletrônicas trazia no ouvido um “ponto” que nada mais é que
um minúsculo falante e na lapela um pequeníssimo microfone.
Quem estava do outro lado assessorando era a Dra. Aline, que,
como psicóloga poderia dirigir sua conversa com o homem
moribundo.
– Seu tempo de vida aqui na Terra pode ter sido
abreviado com este acontecimento, a gente não sabe, mas, a
tempo ainda de sair dessa e assumir uma vida eterna!
– Éridro, você é muito gentil em tentar me ajudar, mas
na verdade, você não sabe com quem está falando. – O homem
se esforçou muito para tentar também ser gentil com o menino.
– Quem é você, me diga? – Éridro sabia que o homem
estava se condenando e isso seria uma boa base para seu
evangelismo.

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– Para mim não tem saída, sou um caso perdido. Se eu
melhorar e escapar dessa, acho que vou continuar matando e
roubando.

– E Jesus te ama mesmo assim. – Parecia um chavão o
que Éridro disse, mas ele estava impulsionado pelo Espírito
Santo, e essas palavras num momento assim provocam um
grande abalo em pessoas que se julgam não merecedoras de
algum sentimento bom.

– Jesus não pode me amar, não há razão para isso
Éridro! Você não sabe, mas, provavelmente Jesus sabe as
coisas que já fiz.

– Ele sabe sim, mas te ama assim mesmo e quer te
transformar em uma pessoa nova, sem pecados e culpas, mas a
você é necessário se arrepender de tudo!

– Ah! Se fosse fácil assim!
Bem, este diálogo se arrastou por quase uma hora, o
homem parecia irredutível na posição de alguém não
merecedor da graça de Deus. Mas as palavras de Éridro eram
cheias de força e poder do Espírito Santo e penetravam na alma
do moribundo. Por alguns momentos ele até se imaginava
perdoado, mas isso realmente estava ainda longe de ser algo
aceito por ele.
Éridro, um pouco frustrado com o diálogo, mas
consciente de ter feito a sua parte como instrumento nas mãos
de Deus, falou algumas coisas que a Dra. Aline lhe dizia no
ponto eletrônico e fez menção de ir-se:
– Vou embora então, lembre-se, ainda há tempo
enquanto está vivo!
– Obrigado Éridro, eu agradeço sua atenção, me fez
bem falar com você. Talvez ainda haja uma esperança para
mim, eu só preciso ter convicção de algumas coisas.

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O homem gemia cada vez mais forte e Éridro percebeu
que sua saúde parecia piorar a cada minuto e decidiu não mais
falar com ele para que pudesse descansar.

Éridro foi saindo do quarto, e quando estava já na porta
ouviu o homem chamá-lo;

– Éridro!
– Que foi?
– E esses homens que vieram com você, vão ficar aqui?
– Homens? – Éridro, é claro estava sozinho, mas
discerniu rápido que o homem estava vendo demônios e que,
provavelmente estavam ali para levar a alma dele para o
inferno. E se o homem podia vê-los, certamente a morte dele
estava próxima!
– Sim, pensei que eles estivessem com você. São seus
seguranças? – disse o doente.
Os demônios percebem que os olhos espirituais do
homem estavam bem abertos e procuram então assustá-lo
tentando assim levá-lo ao desespero e à morte. Começam então
a ameaçar o doente desfigurando-se na frente dele.
– Não, não são homens, é o diabo que está aqui, ele está
me ameaçando!
Éridro sabe que é momento de orar, pega o celular e
tenta encontrar Esmirna que poderia ainda estar no hospital.
Ela atende, graças a Deus ainda estava no quarto da menina.
– Venha depressa, parece que o homem está mal! Tenho
a impressão que ele está morrendo.
Um dos demônios zombava e falava para o homem que
a hora dele estava muito próxima e eles estavam ali para levá-
lo. Outro demônio subiu em cima do corpo do homem e
sentou-se sobre ele. Aquela cena deixou-o por demais
assustado, cara a cara com o demônio. A seguir o ser mostrou

39

suas longas unhas que ele enfiava no peito do homem dizendo
que estava acabando com ele.

– Não, não!
Naquele momento Esmirna chega à porta e, antes de
qualquer coisa, chama o médico pelo interfone do hospital. A
seguir, com Éridro passa à luta espiritual levantando suas mãos
contra os demônios e orando.
O doente se mexia na cama como alguém que realmente
estava sendo incomodado, gritava de dor e desespero, seu
corpo balançava, chegava até a dar saltos. Algumas faixas se
soltavam, o plástico que tinha o soro foi ao chão. Éridro e
Esmirna encostaram-se na parede do quarto, Esmirna
conseguia ver os demônios saltando sobre o corpo do homem,
suas orações não obtinham ainda respostas efetivas, mas já
visualizava alguns anjos rodeando ao longe o lugar, isso já era
indício que iriam proteger o homem atacando os demônios que
o perturbava. Mas os anjos ainda não atacavam, Esmirna
imaginou que eles precisavam de alguma coisa, alguma ordem
ou palavra para que atacassem. Com certeza era a autoridade
legal que o próprio homem lhes concedeu com sua vida de
crimes pregressa. Algumas enfermeiras entraram ali e tentavam
segurar o homem que às vezes esticava o corpo como quem vai
dar o último suspiro, às vezes escorregava para os lados quase
indo ao chão. O lugar se transformou num verdadeiro campo
de batalha, tanto do ponto de vista médico como do espiritual.
Os demônios não davam tréguas, eles tinham permissão para
fazer aquilo. A própria posição incrédula do homem permitia o
ataque. Foi quando o doente, em meio ao seu pesadelo
lembrou-se das palavras de Éridro e dAquele que poderia lhe
libertar daquilo e enchendo-se de confiança, deu um grito alto
que pareceu abalar o próprio hospital:
– Jesus!!

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Era a palavra de ordem, os demônios pararam de
repente assustados com aquela palavra e com esta reação do
homem.

– Essa não – grunhiu aquele que estava sentado no
tronco do homem, e ficou olhando no vazio assustado.

Ao ecoar esse nome nos lábios do moribundo, Esmirna
sorriu e viu os anjos que estavam à frente dos que rodeavam o
lugar tomarem espadas longas e partirem sobre os demônios
prontos para os fazerem debandar. Era confortador e
maravilhoso para ela poder ver a vitória dos anjos de Deus
sobre os demônios. Os anjos vibravam suas armas com muita
vontade.

O homem não parou, seu grito de socorro agora
penetrava não apenas pelos corredores do grande hospital, mas
a sua própria alma! Em sua visão os demônios estouravam e
desapareciam como bolhas de sabão. A ele não fora permitido
por Deus ver os anjos agindo.

– Jesus!!
Os anjos, agora fortalecidos pelo pedido de socorro do
homem e muito mais ainda com as orações de Esmirna e Éridro
colocaram os demônios para correr. O doente se movia agora
mais lentamente tentando se acalmar. As enfermeiras e um
médico que também havia entrado cuidavam do doente, dando
injeções, recuperando o soro. O homem agora silenciando
parecia fora de si mas com um semblante mais calmo.
– Como ele está? – Esmirna estava preocupada.
– Entrou em coma, temos que levá-lo para a UTI.
O médico agia com rapidez e respondia ainda mais
rápido e com poucas palavras.
– Não sei se ele agüenta essa.
Esmirna volta-se para Éridro e, mesmo estafados pelo
combate a que se entregaram, ela ainda tinha planos para a

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alma do homem que havia entrado na Unidade de Terapia
Intensiva. Intrigada pensa um pouco e;

– Precisamos de alguém aqui para ficar meio de vigia.
Podemos ser chamados a conversar com o homem, nem sei se
ele tem parentes e não temos tempo de investigar isso agora.

Éridro levanta a mão como quem dissesse “calma!” E
mostra a Esmirna sua competência;

– Pedi para um casal, pais de um dos meninos do
“Grupo”, eles estão disponíveis neste horário. Daqui a pouco
eles chegarão e eu os colocarei a par do que está acontecendo.
Esta alma ainda poderá ser salva, e nós vamos lutar por isto.

*”Grupo”, mencionado aqui por Éridro, na verdade é
um trabalho que é feito com pessoas cristãs que se reúnem em
casas em grupos, de 8, 9, 10 até no máximo 12 ou 13 pessoas.
Em algumas igrejas cristãs esse tipo de grupo é chamado de
“Células”, “Grupos familiares” ou “Grupos pequenos”. O
Grupo de Éridro constituía-se de jovens de 12 a 17 anos. Eles
se reuniam semanalmente, e de tempos em tempos nas casas
deles para orar, cantar louvores, conhecerem-se e trocarem
experiências cristãs. Este grupo mantém um vínculo de
amizade e aproximação e passam a formar um grupo unido em
eventos sociais, esportivos além de estar se ajudando e
ajudando uns aos outros, evangelizando e criando estratégias
de evangelização em situações criadas a partir de planos que
Deus lhes concedem através de situações. Vez por outra os pais
dos meninos entram no trabalho quando se trata de algo que
exige presença de adultos, era o que estava acontecendo no
caso do homem que havia tido aquela convulsão e quase ido a
óbito.

– Muito bem Éridro, agora vou até onde está a menina.
– Ah! A Melissa! - Disse Éridro.

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– Como você sabe o nome dela? – Indaga Esmirna. -
Nem eu sabia ainda.

– É uma longa história, você vai saber no tempo certo.
– Loooonga história heim! Esmirna brincou!

12. Zero, zero Éridro

Éridro, era um menino muito precavido, já havia lido
muitas histórias policiais, por isso tinha aquela perspicácia.
Sabia que Melissa era muito importante, pelas investigações
que havia feito sobre a menina. E por saber disso foi até ao
quarto da menina tentar um diálogo.

Quando entrou, Melissa olhou meio como quem não o
conhecia, o que realmente era verdade.

– Oi Melissa, – Éridro tentou o máximo possível ser
gentil com a garota, porém ela não respondia nada. – Sou
amigo de Esmirna, a mulher que te ajudou e te trouxe até aqui.
Nós estamos fazendo o melhor para te proteger daquela mulher
que tentou te matar.

Melissa parecia aceitar as palavras de Éridro, porém
não esboçava nenhuma reação no sentido de falar ou perguntar
alguma coisa. Éridro não sabia se ela não falava mesmo ou
estava ainda sugestionada pelo choque emocional por que
passou e ainda não conseguia se expressar.

Mas ele percebeu que, pelo menos ela demonstrava
entender o que ele falava.

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Éridro havia preparado uma proteção para Melissa, uma
pequena gargantilha que tinha uma pequena peça pendurada.
Ele mostra para ela a gargantilha e explica;

–Melissa aqui tem um aparelhinho que emite um sinal,
e eu, de meu computador posso localizar com mais facilidade
onde você está. Se alguém tentar te levar para algum lugar
estranho eu, pelo sinal deste rastreador posso te encontrar.
Você poderia usá-lo então, é apenas mais uma proteção.

Melissa pegou a gargantilha, parecia mais tranqüila e
segura, e a colocou no pescoço. Éridro se sentiu bem melhor
assim, principalmente por entender que a menina não falava,
mas ouvia e entendia muito bem o que ele explicava a ela.

–Isso será por algum tempo, até a gente resolver os
problemas que você está envolvida, depois eu acredito que não
vai mais precisar disso, está bem?

Melissa olhou para Éridro um pouco séria e olhar fixo,
depois, enfim deu um sorriso, o que deixou Éridro ainda mais
tranqüilo.

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13. Sobre as águas da lucidez

Dra. Marjori, Diego e Antonio descem do carro em
frente ao que anteriormente fôra uma casa. Algumas colunas de
sustentação estavam ainda de pé e sentia-se como se da casa só
ficara o esqueleto. Algumas paredes estavam metade ainda em
pé e metade destroçadas. Os três representantes da lei
caminhavam entre os restos olhando fixamente para tanta
destruição, Marjori tentava se agarrar a algum detalhe que
pudesse dar ênfase aquele tipo de “sexto sentido”, ao qual
chamamos na realidade “discernimento” que sentia em seu
interior. Ouviu então, que vinha do outro lado de uma das
paredes do fundo da casa, vozes de crianças que pareciam
brincar e som de águas.

– A piscina! Isso mesmo, vamos até lá.
No fundo da casa havia uma pequena piscina que
tomava de um lado ao outro do terreno, com apenas pequenas
passagens de cada lado. Meninos de rua pulavam naquelas
águas sujas o que fez com que a delegada, juntamente com os
dois policiais impedissem que eles continuassem nas águas.
Imaginou então, um tanto confusa, como foi que a
mulher saiu da casa em chamas, se por ali era muito difícil,
com aquelas pequenas passagens dos dois lados onde, no
momento do incêndio certamente estavam todas em chamas.
Será que ela passou a nado juntamente com o assaltante?

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Do outro lado do quintal um muro não muito alto onde
dava para perceber uma casa e uma senhora de cabelos brancos
que vez por outra olhava na janela. Havia também um portão e
uma saída num pequeno corredor que levava à outra rua que
ficava em frente da casa desta senhora.

Marjori, acostumada com pessoas arredias, sentiu que a
idosa que ali estava demonstrava um certo temor de ser
abordada pelos policiais, então tomou a decisão de ir até ela
para algumas perguntas, sabia que se fosse cuidadosa poderia
tirar alguma coisa da senhora, pois com uma mulher o diálogo
poderia ser mais aberto.

– Diego, Antonio, vou até ali tentar conversar com
aquela senhora, e enquanto eu estiver com ela vocês não se
aproximem, está bem?

– Pois não doutora – Diego como sempre bem
humorado levantou a mão e tocou a ponta da aba do quepe
como quem fizesse continência.

Marjori se aproxima, a mulher agora varria o quintal e
estava claro que era apenas uma desculpa para se aproximar da
delegada. Essas pessoas costumam ser curiosas. Marjori
pensou se utilizar disto para travar o diálogo.

– Boa tarde dona, que coisa triste aconteceu aqui eim!
– Ééé! – respondeu a mulher sem olhar nos olhos de
Marjori, apenas continuando a varrer.
– Mas a gente já prendeu dois ladrões e o outro, já
estamos procurando. – Marjori deu gratuitamente as notícias
como isca para a mente curiosa da mulher.
– Se ele já não morreu! Não sei não!
Era tudo que Marjori precisava, naquela frase estava
mais que um simples comentário. Demonstrava que a mulher
sabia de alguma coisa a respeito do assaltante.

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– É mesmo né dona – Marjori agora tentava falar a
linguagem popular da senhora idosa – Eu só ainda não entendo
como foi que ele conseguiu sair da casa!?

– Eu sei! – a mulher diz isso colocando a mão esquerda
sobre a ponta do cabo da vassoura e a mão direita na cintura.

– Ah! A senhora viu ele sair? – Seu faro de policial lhe
dizia para perguntar coisas, mas seu faro psicológico dizia para
deixar que a mulher iria contar tudo, sem ser preciso perguntar
muito.

– Eu vi sim, só que nem quero contar, você não vai
acreditar!

– Eu? Ué, porque não?
– É que até eu mesma ainda acho que estava sonhando,
e quando penso em contar para as pessoas acho que vão dizer
que fiquei maluca.
– Ora, a senhora não é maluca, estou vendo que não.
Mas, conta pra mim, talvez isso ajude a gente encontrar o outro
ladrão.
– Você tem certeza que não vai rir de mim? – a mulher
parecia muito séria.
Marjori lamentou não ter ali um gravador, mas, enfim
era a hora do suspense.
– A senhora pode contar sem medo! Eu prometo que
não vou pensar nada errado!
– Bem daqui eu, no dia do incêndio via a piscina com
fogo dos dois lados, parecia impossível alguém sair da casa
pelos fundos. Foi quando aquela porta dos fundos abriu. – ela
aponta para a porta, onde os dois policiais pareciam conversar
animadamente.
– E... !!! – Marjori queria saber.

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– Então saiu uma moça com uma menina nos braços, e
eu pensei que ela iria pular na piscina e nadar até aqui, mas ela
não fez isso!

– E o que ela fez?
– Não sei se eu te digo isso, parece loucura, mas eu juro
que estou dizendo a verdade!
– Diga, Diga! – insistiu Marjori.
– Ela, ela... veio até aqui andando sobre as águas e com
a menina no colo.
– Como assim, ela caminhou em cima das águas, como
se as águas fosse uma calçada de concreto? Marjori agora
realmente não sabia se acreditava na mulher. Essa era muito
boa, andar em cima da águas!
– Isso mesmo, não te disse que parece loucura? Mas a
moça chegou até aqui e tinha só os pés molhados. Então ela me
deu um número de telefone e pediu que eu ligasse e pedisse
que alguém viesse buscá-la.
– E ela voltou para a casa?
– Sim ela voltou correndo do mesmo modo, sobre as
águas, como se debaixo dos pés dela houvesse um solo de
cimento. Telefonei, enquanto ela entrou na casa.
– E a menina?
– A menina estava desmaiada, ela a deixou aqui no
chão enquanto voltou para a casa.
– E aí? – Marjori, já meio desconfiada da história
apenas instigava a mulher a continuar, sem perguntar muitos
detalhes.
– Logo a moça apareceu puxando um homem pela gola
da camisa e arrastando-o no chão. Outra vez ela caminhou por
cima das águas trazendo o homem até aqui. Bem rápido chegou
uma perua Van que levou os três.
– Pra onde? Ela disse?

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– Não, mas acho que deve ter ido pra algum hospital, o
homem se queimou muito.

– A senhora ainda tem o número do telefone que ligou
pra ela?

– Não, estava num cartão que ela pegou de volta.
– Ah! Sim. Diga-me dona, e o incêndio, a senhora tem
alguma idéia de como começou?
– Idéia? Eu vi como foi que começou!
– Nossa, e como foi?
– Eu, eu, não quero me envolver com isso, não quero
dizer!
– Fica tranqüila, não vou contar a ninguém que foi a
senhora que me contou, pode falar sem medo. – Marjori
percebia que a mulher estava mesmo querendo falar. Só faltava
esse empurrãozinho.
– Eu vi três homens com vasilhas, parece que eram
baldes ou latas cheias de gasolina que espalharam e jogaram
todo em volta da casa. Depois tocaram fogo.
– Como eles eram?
– Só sei que eram uns três ou mais, só isso.
– Está bem dona. Como é mesmo o nome da senhora?
– Ana.
– Dona Ana, agradeço pelo que a senhora contou pra
mim, mas quero te pedir uma coisa. Não conte para mais
ninguém esta história tá? Nem mesmo para os visinhos, ou para
seus amigos ou parentes. Eu volto outro dia pra gente
conversar mais.
Na verdade, este outro dia que Marjori falou seria para
pegar um depoimento da mulher.
– Em cima das águas, em cima das águas – Marjori saiu
dali com essas palavras na mente. – Que absurdo!! Nunca vi
uma coisa dessas. Será magia?

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Chegou perto dos dois policiais e ainda sob o impacto
daquela conversa que tivera com a mulher perguntou num tom
meio descrente e irônico.

– Vocês já ouviram falar de alguém que andou em cima
das águas?

Diego, sempre bem humorado levantou as mãos e
mostrou dois dedos dizendo:

– Duas pessoas doutora!
– Não brinque, que pessoas são essas?
– Jesus e o apóstolo Pedro. Não sabe não? Está na
Bíblia.
Marjori ficou meio envergonhada, é claro, Jesus andou
sobre as águas. Seu conhecimento bíblico ficou exposto ali. Era
horrivelmente pequeno!! Mas lembrou-se sim que assistiu a um
filme bíblico onde Jesus caminhou sobre as águas.
– Interessante, muito interessante! Então agora tem
mais gente andando sobre as águas. Bem, vocês dois aí, me
levem a delegacia, depois voltem para dar as notícias para a
mulher e fiquem atentos, desconfio que ela também “tem culpa
no cartório” no meio desses acontecimentos.

14. O passado de Esmirna
aflora

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