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Published by mr.mindcontato, 2016-06-07 21:07:21

ESMIRNA - Dossie Melissa

ESMIRNA - Dossie Melissa

Keywords: Ficção,EbookGospel,JCPuglisiEbook

levantou-se e se dirigiu à mulher. Estendeu sua mão para
ajudá-la a se levantar.

– Me perdoe – Esmirna fala calmamente.
– Quem é você, alguma bruxa? – as mulheres ficam
curiosas.
– Não, sou apenas uma mulher comum. Meu nome é
Esmirna, eu sou cristã.
– Então Deus te protege tão bem assim?
Esmirna sorriu, percebeu que elas ainda tinham um
certo bom humor com as coisas que acontecem, e o diálogo que
se abria parecia ser muito bom para que ela pudesse conhecer
melhor aquelas mulheres e, quem sabe até levar uma palavra de
consolo a elas.
Realmente nada é por acaso, ali estava a resposta de sua
presença naquele lugar. Havia ali almas sofridas e pessoas não
apenas condenadas pela sociedade, mas que se condenam a si
próprias e não dão chances nem a si mesmas para ter uma vida
mais cheia de esperança. Pelo visto a noite não seria perdida
então.

29. O confronto satânico de
Mãe Di

Helena, a Mãe Di, ainda sentada naquela poltrona, entre
as tragadas dos cigarros e goles de bebida, sente o sono
desaparecer e mesmo com aquele cansaço mental, sua normal
curiosidade humana a mantém ali de pensamentos ligados no
que acontecera há pouco no templo daquela igreja.

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Talvez o fato de acreditar que sua filha possa ter
morrido na explosão já não parecia tão normal. De súbito um
sentimento que ela considera estranho vindo do subconsciente
lhe aflora e parece sentir uma pequena dor, como se uma dor de
parto, mesmo em pequenas proporções. Seria um sentimento há
muito hibernando e que desperta um lado que ela não pensava
que existia em si mesma. O fato de ser mãe. Mas, de pronto sua
ideologia de vida, seu apego às forças ocultas e religiosidade
distorcida vem como uma patrola destruindo tal sentimento que
ela pensa não poder surgir neste momento.

Sua avidez por servir aqueles “guias espirituais” e tudo
que acredita receber de benefícios a faz se recompor ainda que
sentindo um certo torpor e estar meio trôpega. Mas a dúvida
das conseqüências do ataque à igreja não a deixa pregar os
olhos. O jeito será mesmo ligar o televisor para saber alguma
notícia. Sua curiosidade foi imediatamente satisfeita. A
televisão dá uma manchete que a faz arregalar os olhos:
“Bomba explode no pátio de igreja evangélica e fere levemente
duas pessoas”

– Fere levemente? – pronuncia repetindo as duas
palavras bem lentamente como quem ao falar visualiza apenas
duas pessoas com algumas escoriações. – Fere levemente?

Sua reação é de apertar o copo na mão, quase
quebrando o mesmo. A seguir levanta-se, sentindo o corpo
arrepiar de tanto ódio.

– Maldita Esmirna, ela me destruiu. Como foi que ela
escapou desta? Ela não pode ser minha filha, ela tem algum
poder e este poder está servindo para me envergonhar, me levar
ao descrédito, a vergonha, a derrota... ! Onde será que ela está?
Tenho que matá-la, ela não pode continuar viva, pois é uma
ameaça para mim. Eu a odeio!

102

Começa a andar de um lado pro outro no escuro, joga o
copo na parede quebrando e derramando a bebida. Sente que
para derrotar Esmirna e Melissa teria que agir com muito mais
organização e preparo. Põe a mão na cabeça e agarra os
próprios cabelos e puxando um pouco tentando sentir o puxão.
Súbito ouve uma voz vindo de um canto da sala:

– De que adianta agora?
– An! Quem está aí? – apressa-se a ir até o interruptor
da luz para clarear a sala. Antes de chegar ao interruptor sente
uma pancada nas costas e cai por sobre a pequena mesa que
fica no meio da sala, esparramando os enfeites que ficam sobre
a mesinha por todo lado.
– O que você pensa que vai fazer?
– Quem está aí? Responde!
Não vem resposta, mas ela sente um mau cheiro da
presença de alguém e seu corpo começa perder peso e levitar,
olha para suas pernas e seus braços e está tudo sendo elevado
ao ar. Poderia ser que tivesse tendo alucinações por causa da
bebida, mas tudo parecia muito real. Já na altura de um metro e
meio ela tentava se mexer e se colocar em pé, mas seu corpo
parecia dominado por um poder invisível que a mantinha no ar,
bem no meio da sala. Começou a rodar então e com três ou
quatro voltas foi arremessada por sobre o seu televisor como se
um saco de batatas houvesse sido arremessado sobre ele. O
resultado foi um estrondo, com o aparelho caindo ao chão e
rolando junto com o seu corpo. Um misto de faíscas dos fios do
aparelho e gritos e gemidos vindo de Helena foi o que se viu e
ouviu.
Agora ela já sabia quem é que estava ali, e o pior de
tudo, sentia que o ser demoníaco estava muito zangado com
ela.
Assustada ela tenta argumentar;

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– Espere – estende os braços com as mãos espalmadas,
tentando conter a fúria do demônio. – não sou eu que errei, o
problema é ela!

– Você é um fracasso...
Na entrada da porta, um vaso de barro com
aproximadamente um metro de altura contendo algumas flores
artificiais dentro dele se eleva ao alto. Helena se arrepia, se
aquele vaso viesse sobre sua cabeça seria sua morte. O vaso
viaja voando dentro da sala, Helena no chão não consegue nem
pensar em alguma maneira de se defender, apenas observa o
vaso voando na sala e levanta o braço sempre em direção a ele
tentando uma defesa. Súbito o vaso se espatifa contra teto e
todos os cacos, juntamente com as flores caem em cima de
Helena arranhando-a toda.
Ela levanta e tenta correr para a porta, já sem pensar em
dialogar com o “bicho”. De repente uma das poltronas se move
diante dela fazendo-a tropeçar e arremessando-a sobre duas
cadeiras. Ao cair já sente o seu corpo sendo levantado
novamente no ar e é novamente arremessado, agora de
encontro a um armário cheio de livros e pequenas estatuetas de
louça. Bate em cheio e cai ao chão.
Já está com o corpo todo ralado, talvez tenha algum
osso quebrado, pois fôra arremessada duas vezes. Olha para
cima e percebe uma forma de monstro ali, postado bem perto
dela. O “guia” não era mais seu amigo, era agora um monstro
irado e com poderes do inferno.
–Pare, é só você me ajudar e eu vou conseguir derrotar
aquela maldita.
O demônio não responde, agora ele faz contato físico e
agarra a mulher pelas roupas da costa e novamente a arremessa
indo seu corpo cair na entrada da cozinha. De repente as
panelas e pratos saem das gavetas e são arremessadas contra o

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corpo da mulher. Ela se levanta e tenta fechar a porta da
cozinha. As facas voam em sua direção, uma delas crava-se em
sua mão esquerda que está aberta frente à porta da cozinha,
prendendo-a na porta. Ela, com a mão direita, ainda consegue
forças para retirar a faca da outra mão o que não impede que
outros objetos pontiagudos existentes em sua casa comecem a
tomar vida e voarem de um lado pro outro, alguns fazendo
cortes pelo seu corpo, outros vindo de encontro para provocar
machucaduras.

Seu corpo é arremessado depois disso várias vezes pela
sua casa, e tudo se torna um imenso campo de destruição.
Helena era a imagem de uma boneca desarticulada sendo
jogada de um lado para o outro. Já não consegue mais forças
para se levantar, uma de suas pernas estava com fratura
exposta, seu corpo sangrava. Literalmente o diabo dava uma
surra pra valer na sua serva inútil. Helena sentia seu fim
próximo, mais algumas vezes que fosse arremessada daquele
jeito e não mais suportaria.

Foi então que o demônio se aquietou. Ela até se
surpreendeu, esperava um golpe de misericórdia que a levasse
definitivamente para o inferno, mas isso não acontecia. O
demônio ficou ali parado olhando com olhar furioso para ela e
dando bufadas homéricas como se estivesse a ponto de cometer
um ato fatal, mas isso não acontecia.

– Que está esperando? Mate-me logo! – ela não tinha
mais esperanças de sair dessa situação viva.

– Não posso! – este “não posso” foi dito em voz rouca e
com ar de imensa ira.

– Não pode por que? Já estou toda arrebentada! O que
te impede?

O demônio parecia não querer dizer, mas enfim
resolveu falar o que o impedia de acabar com a vida de Helena;

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– As malditas orações que estão fazendo por você, isso
me impede.

– Orações, quem está orando por mim? As minhas
meninas que me ajudam na seita?

A resposta foi um grunhido bem forte;
– Suas meninas? Não seja ainda mais tola. As orações
que podem te impedir de morrer por minha mão são as orações
de sua filha e aquela gente da igreja dela.
A surpresa agora toma conta de Helena, nunca poderia
imaginar que aquelas pessoas que ela perseguia estavam
orando por sua vida. E o pior é que as orações faziam efeito a
ponto do demônio testemunhar sobre elas.
Mas tudo isso não a impedia de se sentir quase a beira
da morte ali naquela casa toda quebrada, assim como seu
próprio corpo todo arrebentado no chão. Não conseguia quase
se mexer do lugar. Nem mesmo sabia onde estava o telefone
para ligar para alguém. De repente ouve vozes e gente
mexendo na porta da sua casa, ali na sala. Logo algumas
pessoas acabam por arrombar a porta e se deparam com o caos
em que ficou a casa da Mãe Di. Parecia que nada estava de pé,
e entre tantos móveis, aparelhos, utensílios e tudo o mais que
estavam arrebentados, jazia ali da mesma maneira o corpo com
aparência de desarticulado da mulher.
– Ela precisa de socorro urgente.
Aquela ajuda de pessoas que ela nem mesmo conhecia a
fazia entender a força das orações. Dentro de si o desejo de
morrer e não aceitar que estava sendo ajudada por orações de
Esmirna era grande.

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30. O preço do resgate de
Melissa

Um novo dia se descortina. A delegada Marjori mantém
sua rotina de trabalho, sempre muito cumpridora de seus
deveres, chega à delegacia. Sua imagem traz sempre a idéia de
uma pessoa fina, muito bem vestida, porém sem muitos
acessórios próprios das mulheres, como brincos, pulseiras ou
colares que chamem a atenção. Sempre muito discreta e
elegante. De um lado uma bolsa e de outro uma pasta que ela
traz segura debaixo do braço.

Sua entrada na delegacia é alegre e parece pronta para
toda a agitação de mais um dia da cidade grande. Senta-se
frente a sua mesa e dá aquelas arrumadelas costumeiras,
verificando o que estava por cima dos papéis. Depara-se então
com alguns documentos e sobre eles um telefone celular.
Assusta-se quando percebe que os documentos são de Esmirna
e rapidamente chama um assistente para perguntar sobre a
razão daquilo;

–Nelson, que significa isso? O que faz esses
documentos da Esmirna aqui na minha mesa.

–Ora, doutora, simples, ela foi presa ontem à noite!
–Caramba!
Levanta-se sabendo que havia dado uma mancada com
Esmirna e agora teria que se desculpar. Toma o telefone e os
documentos nas mãos e sai rápida para os fundos onde estão as
celas. Era ainda dois longos corredores para se chegar onde

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Esmirna estava. Não sabia como iria se desculpar.
Repentinamente o telefone celular de Esmirna começa a tocar.
Marjori olha os corredores que ainda teria que percorrer e
decide atender, mesmo que fosse para pedir à pessoa que
fizesse outra ligação.

Quando leva o celular ao ouvido não consegue dar duas
palavras e ouve uma frase que a assusta;

–Só um momento, – diz ela.
–Esmirna, eu estou com Melissa. – a voz parece
disfarçada, mas clara.
–Melissa? Quem está falando? – era um assunto que
lhe interessava.
–Por duzentos mil reais eu a devolvo, vou entrar em
contato hoje à tarde. – e desligou.
–Meu Deus, a menina caiu nas mãos de um
seqüestrador!
A cela onde Esmirna foi colocada estava vazia. Marjori
se assusta, olha para os lados para ver se encontra Esmirna em
outra cela, mas ela não está lá. Nem mesmo as outras seis
mulheres que estavam na cela de Esmirna estavam por ali.
–Carcereiro – Marjori começou a ficar nervosa e fala de
maneira austera – onde estão as mulheres que estavam nesta
cela?
–Foram transferidas.
–O que? Transferidas para onde? Com ordem de quem?
–Foi por ordem do Juiz.
–Mas, para onde elas foram transferidas?
–Eles disseram que era sigilo.
–Sigilo! Eles transferiram uma mulher inocente que
estava no meio daquele grupo!
Marjori sente que precisa voltar à sua mesa e tentar
localizar para onde levaram Esmirna junto com aquelas

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mulheres. Fica sabendo que elas foram enviadas para uma
Penitenciária de mulheres no interior do estado.

A delegada, mais que depressa, percebendo o erro que
se estava cometendo com uma pessoa inocente, não pensa duas
vezes e corre para seu carro. Em sua mente apenas um
pensamento, chegar junto com o camburão na penitenciária,
apesar de ser quase impossível, pois o camburão que levou as
prisioneiras saiu bem de madrugada, e neste momento já
deveriam ter chegado há mais de duas horas no local.

No trajeto ela imaginava no que Esmirna pensaria de
sua falha. Os objetos de Esmirna estavam ali no banco ao seu
lado.

Já havia andado muitos quilômetros quando encontra
um bloqueio na estrada. Um acidente com um veículo que
havia perdido o controle e caído no rio. Ela encosta o carro,
percebe que vai ser obrigada a perder algum tempo e, não
apenas por curiosidade, mas pelo seu sentido de ajuda no que
tange ao trabalho policial, resolve procurar mais informações a
respeito do ocorrido. Sua grande surpresa veio com o maior
susto de sua vida até então, quando visualiza no meio das
águas, meio afundado, o camburão que levava as prisioneiras.

Procura o responsável pelo trabalho de resgate e se
apresenta perguntando o paradeiro das pessoas que estavam no
carro.

–Onde estão as pessoas que estavam no carro?
–O motorista e o segurança foram levados para o
hospital mais próximos. As pessoas que estavam atrás, na parte
que ficam os prisioneiros, eram sete mulheres e não foram
encontradas. Ainda estamos fazendo as buscas, e iremos
continuar.
–Está querendo me dizer que as mulheres que estavam
sendo levadas podem estar todas mortas?

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–Não podemos afirmar, pois a porta de trás se abriu
quando o carro caiu no barranco do rio e capotou e por
coincidência nenhuma das pessoas que estavam lá dentro
apareceu.

Pelo declive do barranco Marjori chega à conclusão de
que as mulheres deveriam estar todas debaixo d´água, pois já
faziam mais de horas que haviam desaparecido.

Marjori sente uma grande frustração e depressão e
caminha até o carro e o desânimo começa a tomar conta dela.
Encosta-se na janela de seu carro e põe a cabeça entre seus
próprios braços, encostados no carro. Fica se perguntando
sobre tudo que acontece com Esmirna. Como pode acontecer
estas coisas com uma pessoa que transmite tanto a presença de
Deus na sua vida?

Ouve um toque de celular, pensa ser o seu, mas quando
pega percebe que não é:

–O celular de Esmirna!
Corre abrir a porta do carro e pula sobre o celular.
Leva-o ao ouvido mas a ligação não se completa. Fica irada,
mas ainda assim tem tempo de anotar o número do telefone de
quem estava ligando. Pega o seu próprio celular e faz a ligação
para aquele número, tem uma surpresa:
–Penitenciária, bom dia!
–Penitenciária? Estou aqui na rodovia onde aconteceu o
acidente com o camburão. Diga-me, acabo de receber um
telefonema daí, mas a ligação não se completou, poderia
verificar se alguém ligou daí para um celular...
–Não é possível verificar isso minha senhora.
–Mas eu sou a delegada Marjori...
–Mesmo assim não posso dar informação, mas a
senhora pode vir até aqui na penitenciária, que não é tão longe
do local onde está e poderá verificar a respeito do telefonema.

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–Boa idéia!
Marjori acha muito estranho alguém ter ligado da
penitenciária no celular de Esmirna. Não consegue imaginar
nada que possa fazer isso acontecer, a não ser que a própria
Esmirna esteja viva e tenha ligado em seu próprio celular.
Corre até a penitenciária. Chegando lá pergunta logo
por Esmirna e as pessoas não dão nenhuma informação. Entra
então no corredor das celas e pergunta a um carcereiro se
chegou alguma mulher nos últimos minutos. O carcereiro
responde que nenhuma mulher chegou, mas aponta para uma
cela e diz:
–Somente aquelas sete mulheres que estão na cela 351,
elas chegaram juntas e estão lá muito tranqüilas.
–Sete mulheres? Meu Deus! – Marjori quase não
acredita.
Quando Marjori chega diante da cela onde Esmirna está
com as mulheres, pensa encontrar ali uma mulher chorosa e
cheia de lamentações. Surpresa encontra Esmirna falante e
tratando as outras prisioneiras como amigas antigas. Por um
momento até achou que não era Esmirna, mas sua maneira de
se vestir e os cabelos negros não deixavam dúvidas.
–Marjori chega em frente à porta da cela e põe as mãos
na cintura;
–Mas, o que está acontecendo aqui?
Esmirna vira-se para Marjori e coloca as mãos nas
grades, sua feição era de uma pessoa satisfeita.
–Foi uma noite muito proveitosa Marjori. Nem precisa
se desculpar. Quero agradecer por ter passado a noite com
essas mulheres.
–Você continua me surpreendendo Esmirna. Só faltava
essa, alguém me agradecer por passar a noite na cadeia, com
acidentes na rodovia e tudo o mais. Mas vamos, saia logo daí.

111

Temos um grande problema pela frente. Você acaba de receber
um telefonema de um seqüestrador que está com Melissa a
menina. Ele exige um resgate pela vida dela.

–Meu Deus! Minha filha!
–Que foi que você disse?
–É isso mesmo que você ouviu, ela é minha filha, nem
eu sabia até ontem.
–Conte-me esta história! Mas antes me diga, você ligou
no seu celular?
–Não!
–E você deu o número de seu celular para alguém
daqui?
–Também não.
–Eu já poderia adivinhar.
–Adivinhar o quê Marjori?
–Nada, quando as coisas acontecem com você o
impossível parece possível.
–De que você está falando?
–Esmirna eu nem vou perguntar como foi que você
chegou até aqui com essas mulheres, pois eu sei que só pode
ser coisa de Deus.
–Realmente doutora.
–E pare de me chamar de doutora!
Marjori passa pela delegacia para apanhar alguns papéis
antes de seguir com a investigação.
Nelson, o investigador interrompe com alguns papéis
nas mãos e fala com Marjori;
–Descobrimos um roubo de gasolina num carro
estacionado em um Posto de Combustível perto do local onde
houve aquele incêndio;
–Houve testemunhas?

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–Sim doutora, disseram que foram três homens com
roupas brancas!

–Era o que eu já imaginava – Marjori conclui – aquela
mulher realmente foi quem comandou aquele incêndio.

–Marjori, por favor, dê-me o celular, preciso telefonar
para Éridro, temos que passar na casa dele, pois ele está com o
aparelho que localiza Melissa. Ela tem um rastreador.

Marjori, enquanto Esmirna tecla o celular, fica ainda
mais fascinada com o mundo de Esmirna. Este negócio de filha
e rastreador parece mais novela e filmes policiais.

–Éridro, onde você está?
–Oi Esmirna, estou no curso de inglês, você sabe, nesta
hora...
–Preciso do aparelho para localizar Melissa.
–Ora amiga, eu já a localizei, tem um dos nossos irmãos
de fé em frente o local onde o rastreador certamente está.
Apenas ele não entrou no local esperando o seu contato. Vou
lhe dar o endereço. Anote aí.
Esmirna anota rápido o endereço e comunica a Marjori
o local. Marjori convoca uma patrulha para verificar o local e
Esmirna vai junto.
Chegando ao local descobriram então que era uma
ourivesaria e que a pessoa que trouxe o objeto era uma mulher.
O homem que os atendeu diz a Marjori que a mulher
voltaria nesta manhã para ter informações sobre o objeto.
Marjori resolve esperar um pouco para ver se a mulher chega,
mas antes pede ao homem o endereço da mulher. Marjori pede
que os policiais que estão na porta e na rua saiam e fiquem a
uma distancia de 50 metros do local para que quando a mulher
chegue não perceba a presença da polícia.
Mal sabia Marjori que era tarde demais. Serena estava
lá fora dentro do carro observando o movimento da polícia no

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local. Entendeu que estava passando por perigo e resolveu
voltar para casa.

Alberto não havia dito a ela a respeito do telefonema
que deu para Esmirna exigindo resgate, porém Serena ao
perceber os policiais já sabia que corria perigo. O melhor era
voltar e sair de casa.

31. A fúria do monstro

Alberto neste momento está olhando um jornal, e da
sala fica observando com o canto dos olhos Melissa que estava
na cozinha tomando café. A casa estava toda trancada e assim
Melissa poderia ir até a cozinha ou banheiro sempre vigiada
por Alberto.

Satanás sabendo que a polícia logo chegaria por ali,
resolve incitar Alberto a atacar Melissa e envia um demônio de
persuasão para lançar setas de pensamentos sobre o homem.

Alberto, como num repente começa a pensar em
mulher, em sensualidades, sexo e erotismos, tudo isso instigado
pelo demônio que está sentado em sua cabeça. Alberto olha
para a menina e começa a ter pensamentos sensuais e seu corpo
começa a arrepiar-se. O demônio continua a atacar a mente de
Alberto incitando mais e mais.

Ele levanta-se e vai caminhando lentamente em direção
a Melissa. Tinha os olhos fixos nela.

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A menina comia um pedaço de pão quando percebe que
o homem vem em sua direção. Pára ainda com um pedaço de
pão na boca e olha assustada para Alberto que vinha se
aproximando. Ela sente o olhar estranho do homem e vai se
levantando devagar ainda sem saber qual reação tomar. Percebe
que vai ser atacada, mas não sabe para onde fugir.

Alberto segura nos antebraços da menina e olhando-a
nos olhos vocifera:

–Antes de te entregar a gente vai ter uns bons
momentos menina! Você não vai escapar desta ilesa!

Melissa, assustada pensa em alguma coisa, sabe que o
homem é muito forte e ele segurava com as duas mãos os seus
antebraços. Resolve então dar um chute. Não consegue acertar
o chute, mas isso já faz com que Alberto, ao se defender
afrouxe as mãos o suficiente para que Melissa se solte. Ela
então sai correndo para a sala, meio tropeçando nas coisas e
tenta abrir a porta. Inútil, pois está fechada. Alberto se
aproxima e agora agarra a menina por trás num abraço forte.
Ela começa a se debater.

Alberto levanta a menina no ar segura por trás e começa
a levá-la para o quarto. Melissa se debate, tenta morder. Tudo
parece inútil, Alberto até ria-se das mordidas dela.

Repentinamente a porta da sala se abre. Era Serena que
voltava ainda assustada com a presença da polícia na
ourivesaria, e depara-se com a cena grotesca de seu marido
atacando a menina.

–O que você está fazendo Alberto? Ficou louco!
–Cala a boca Serena, nem você vai me impedir de fazer
o que eu quero fazer!
–Alberto, seu tarado, como você ousa fazer isso! A
polícia vem vindo aí, vamos sair de casa senão nós seremos
presos!

115

Alberto fica ainda mais irado, segura Melissa com o
braço esquerdo e vai arrastando a menina de encontro a Serena.

–Você estragou tudo Serena, como que você traz a
polícia aqui?

–Mas Alberto, não fui eu quem trouxe...
Alberto chega perto de Serena, levanta a mão direita e
dá um violento murro no rosto de Serena que cai no chão. Pega
a chave do carro e sai trôpego para fora levando Melissa com
ele. Joga-a dentro do carro e parte em alta velocidade.
Na ourivesaria Marjori que já tem um certo
entendimento de tempo de espera, percebe que esperou demais
ali e chama Esmirna e os policiais para ir até o endereço da
pessoa que trouxe o rastreador.
Encontram a casa aberta e Serena ainda desmaiada com
afundamento do malar, aquele osso da face que chamamos de
“maçã do rosto” fora quebrado com o potente soco de Alberto.
Serena não sabe para onde ele levou a menina e ainda
diz sobre o ataque dele em relação à menina. Na realidade não
era só o dinheiro que agora interessava a ele.
Esmirna agora teme muito pela integridade física de sua
filha e fica muito preocupada. Marjori, no entanto dá algumas
direções aos policiais para que sigam algumas pistas, procuram
saber como é o carro, a placa, enfim lugares que Alberto
conhece, essas coisas que policiais já se acostumam a fazer
nestes momentos.
Marjori fica ali ainda com Esmirna e chama o
“Resgate” (Resgate, viatura do Corpo de Bombeiros com
equipamentos de primeiro socorro) para que Serena seja
atendida.
Ainda na calçada Marjori recebe um telefonema e,
enquanto ouve o que dizem, ela volta seu olhar para Esmirna,

116

esta já sente arrepios de susto pensando no que pode estar
acontecendo.

Marjori desliga o celular, olha de um lado para outro.
Nota-se que ela procura tomar alguma decisão e:

– Esmirna, enquanto os policiais procuram pistas do
homem, gostaria que você viesse comigo fazer uma visita a
uma pessoa.

–Quem é essa pessoa Marjori?
–Vem...
Sem dizer nada Marjori sai com Esmirna no carro,
depois de algum tempo Marjori pergunta;
–Aquela tal de Mãe Di é também parente sua? Já que a
menina é sua filha e viveu todo este tempo com ela.
–Aquela mulher é minha mãe, eu soube ontem.
–Misericórdia hein, como você de repente ganhou uma
família! E que família!
–Melissa, na realidade para mim não existia, eu a
imaginava morta ao nascer. Foi uma grande surpresa.
–E o pai de Melissa?
–Só o vi uma vez, quando ele juntamente com uma
gang de rua me estuprou. Talvez seja um drogado a mais pelas
ruas, se estiver vivo. Nem sei como é o rosto dele, a não ser...
–A não ser? Marjori indaga.
–Ele tem o corpo tatuado, lembro-me das tatuagens e
ainda uma diferente que é uma cabeça de águia no pescoço na
parte lateral esquerda.
Marjori dirigia em direção ao Grande Hospital e
Esmirna ainda não sabia o que iria fazer lá, pensou que o
homem assaltante talvez estivesse em agonia de morte.

117

32. Contrastes de mãe e filha

Marjori já sabia em que quarto iria entrar, e foi
seguindo diretamente a ele. No quarto 549 ela pára e antes de
entrar olha para Esmirna com um olhar pensativo. Dá um longo
suspiro e sente que lhe falta alguma palavra.

Entram as duas, era um quarto comum de pessoas
internadas ali, Esmirna nos últimos dias já se acostumara a
visitar este tipo de lugar, mas a surpresa acontece então, elas
deparam com Helena, a Mãe Di estendida sobre uma cama,
cheia de hematomas pelo corpo, uma das pernas engessada.
Seu estado geral não parecia tão mal, apenas muitas
escoriações e arranhões pelo corpo.

Esmirna se aproxima lentamente, neste momento seu
coração acelera. Afinal quem estava ali agora não era apenas
uma mulher adepta de uma seita estranha que tentou fazer um
sacrifício humano aos seus “deuses”, mas ali estava alguém
que em um tempo, durante uma gestação, pode sustentá-la em
seu ventre. Não se lembrou de todas as maldades que ela
cometeu, mas que aquele corpo que ali estava, um dia foi o
canal para que entrasse neste mundo. Sentiu vontade de tocar
na face ou nos cabelos dela como uma filha que de repente
ganhou um presente precioso de ter sua mãe depois de tanto
tempo. Percebeu que Helena estava com os olhos abertos, mas
parecia petrificada, olhando para o teto. Não esboçava
nenhuma reação, nem mesmo piscava.

118

Esmirna levanta uma das mãos parecendo ter vontade
de fazer um carinho na mulher, súbito ela vira o rosto de uma
maneira ríspida e o olhar fulminante fixa nos olhos de Esmirna.
Esmirna pára o gesto que iria fazer, assusta-se com a reação da
mulher. Helena tem o semblante fechado e carrancudo.

–Que você quer aqui, maldita, sai de perto de mim!
As palavras de Helena foram duras e chocaram
Esmirna. Jamais imaginaria ser alvo de ódio de alguém, e ainda
mais daquela que é reconhecidamente sua mãe. Tal foi o susto
que ela dá um passo para traz e fica sem saber o que responder.
–Eu te odeio, te odeio. Você me destruiu, vai embora
daqui.
–Mas eu...
–Não quero saber de você, nem daquela menina, me
deixe em paz, nunca mais chegue perto de mim. Sai daqui!
A mulher tinha forças para gritar ainda, claro que estava
instigada por um espírito demoníaco que dava forças a ela para
dizer aquelas palavras tão duras para Esmirna. Tal era o ódio
que as salivas saltavam de sua boca quando ela tentava levantar
a cabeça enquanto falava.
Esmirna abaixa a cabeça, vira-se lentamente e vai
saindo do quarto.
–Esmirna! – Helena ainda dá um grito.
Ao ouvir ela falar seu nome Esmirna ainda sente uma
ponta de esperança de que alguma coisa poderia ainda ser
recuperado. Voltou-se e respondeu.
–Sim.
–Fala pra sua igreja parar de orar por mim, quero que
me deixem em paz.
Decepção, mais palavras duras. Esmirna nem consegue
entender como é que ela sabia que a igreja orava por ela.

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As duas saem do quarto, Esmirna fecha a porta e
encosta-se com as costas voltada para a porta. Levanta o rosto
para cima, coloca as mãos para trás e parece sentir muito o
peso daquele momento. Marjori sente uma grande impotência
ali ao lado de Esmirna, pessoa a quem ela afeiçoou-se como
uma verdadeira amiga.

–Marjori!
–Sim
–Aqui no hospital tem uma capela?
–Tem sim, só que é uma capela nitidamente católica,
não sei se você...
–Vamos lá. – Esmirna estava pouco preocupada sobre
religiões, o que queria era um momento de silêncio e paz.
–Claro, eu vou com você.
–Se você não quiser, não precisa!
–Eu quero sim. – Marjori, antes de tudo, se solidariza
com a dor da amiga.
Esmirna ajoelha-se e entra num silêncio profundo,
apenas se nota algumas lágrimas rolando pelo seu rosto.
Marjori fica à porta, em pé, com os braços cruzados. Seus
pensamentos viajam e ela fica observando aquela figura de
mulher sofrida. Gostaria de consolar o coração dela com
algumas palavras, porém ainda não sabia como fazer. Sua
cultura parecia muito diferente da cultura tão cristã de Esmirna.
Nunca foi ensinada a agir de maneira assim, com palavras
cristãs. Sempre foi ensinada a ser prática em tudo. Era uma
pessoa muito racional também, o que a impedia de ser mais
sensível. Talvez este contato com o mundo de Esmirna
estivesse abrindo cortinas de entendimento e de
relacionamentos mais amigos.
Esmirna levanta-se e volta-se para Marjori;

120

–Marjori, uma mulher idosa, cabelos brancos e com um
corte na orelha esquerda faltando um pedaço. Você a conhece?
Pode me levar até ela?

–Faltando um pedaço da orelha? Sim, eu conheço, sei
onde ela está.

–Então vamos!
–Mas espere, como você soube dela?
–Enquanto eu estava orando agora tive uma visão e a vi
pedindo ajuda.
–Ela está em um Hospital psiquiátrico não muito longe
daqui. Não sei se vai adiantar ir até lá. Ela não tem lucidez,
vive num mundo todo diferente, desde que teve um problema
cerebral e ocasionou desequilíbrio mental.
Enquanto se dirigiam ao lugar mencionado por Marjori,
Esmirna resolve dizer algumas palavras a Marjori;
–Sabe Marjori, existe um versículo na Bíblia em Isaias
capítulo 35 versículo oito que diz; “E ali haverá uma estrada,
um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não
passará por ele, mas será para os remidos. Os caminhantes, até
mesmo os loucos, nele não errarão.” E, eu creio neste
versículo. O que tenho a fazer é ir até lá onde esta mulher está,
o resto é Deus quem sabe.
O Hospital psiquiátrico é um lugar onde o real se
mistura com o irreal. Quantas pessoas ali, falando de coisas que
não se sabe se é fato ou é apenas invenção ou devaneios de um
cérebro avariado.
A informação sobre aquela senhora era de que ela
estava com um câncer que já a consumia há muito e ela estava
prestes a deixar este mundo. Marjori mostrou saber de tudo o
que acontecia com aquela mulher, tanto que era a pessoa
responsável por ela. Quando chegaram no hospital os médicos
já a reconheceram e vieram falar com ela.

121

–Olá Dona Marjori, chegou em boa hora, Dona
Santinha hoje parece melhor e você pode ir vê-la.

–Olá doutor, eu vim visitá-la e trouxe uma amiga.
Como está a saúde dela?

–Infelizmente mal, creio que está muito perto o
momento de sua partida. Estaremos sempre atentos e lhe
daremos qualquer informação a respeito.

As duas amigas enfim, depois de longo corredor
chegam e entraram no quarto, dona Santina sorriu quando viu
Marjori;

–Oi minha filha, que bom que você veio me visitar.
–Oi mamãe, trouxe uma amiga. – palavras reveladoras
para Esmirna que sente uma certa responsabilidade lhe atingir.
– o nome dela é...
–Esmirna... – diz a idosa, para espanto de todos ali.
–Como a senhora sabe o nome dela?
–Marjori, antes de ela entrar aqui, vieram alguns anjos e
me disseram que ela estava chegando e também o nome dela.
Eu estava precisando de uma pessoa como ela aqui.
–Anjos? – Marjori tenta aceitar aquilo, mas sabe que
sua mãe já há muito não tem firmeza das faculdades mentais e
não se importa muito, apesar de ser uma surpresa ela saber o
nome de Esmirna.
–Sim, filha, essa mulher anda cheia de anjos junto dela.
–Mas, mamãe...
–Calma Marjori, – Esmirna resolve interromper antes
que Marjori recrimine a mulher. – Lembra-se do versículo que
lhe falei?
–Esmirna, – dona Santina se volta para ela. – Por favor,
eu preciso que você fale comigo a respeito da fé em Deus, fale
de Jesus. Eu preciso disso pra poder receber paz e vida eterna.
Fale, por favor, e ore comigo.

122

Esmirna, sabendo que tudo é plano de Deus, desde a
visão que teve na capela do hospital, olha para Marjori, que faz
menção de sair do quarto, mas acaba cedendo e fica ali.

Esmirna se coloca à disposição de Deus para poder falar
palavras de salvação a aquela alma sedenta, e durante quase
meia hora ela ministra à mulher todo o alimento que aquela
alma está necessitada. Enfim dona Santina fala de seu
arrependimento de pecados e confessa que recebe Jesus em sua
vida como Senhor e Salvador de sua alma.

A seguir dona Santina abraça Marjori, pede perdão à
filha. O abraço demora muito tempo, para Esmirna foram cinco
minutos contados, para Marjori pareceu ser anos e anos
abraçada com sua mãe.

Marjori acaba cedendo ao momento e chora muito
sentindo emoção forte. Dona Santina fala já com palavras
amigas, sábias, nunca parecidas com uma pessoa com
problemas mentais. Isso faz Marjori se sentir um pouco
desconfortável, pois foi ela que a colocou naquele lugar por
conta de muitas situações que comprovavam que sua mãe
estava muito enferma mentalmente.

–Filha, não se preocupe, eu estou muito bem. Estou
com a alma tranqüila e em paz. Pode ter certeza que eu nem
doente estou. – Dona Santina percebeu como Marjori se sentia.

–Estou feliz com isso mãe.
–Olha, agora pode ir, não se preocupe comigo. O que eu
mais desejava aconteceu. Tenho paz com Jesus, e você está
aqui e cuidou sempre de mim.
–E vou continuar cuidando mãe!
–Eu sei, filha, eu sei. E você Esmirna, veja se deixa
alguns anjos aqui comigo, quero que eles cantem alguns dos
louvores celestiais.

123

–Só Deus pode fazer isso dona Santina, mas certamente
hoje tem uma grande festa no céu e a senhora sabe disso, Deus
deu à senhora o discernimento de ver os anjos.

Esmirna sabe também que quando uma pessoa começa
a ver anjos pode ser que sua hora de partir esteja muito
próxima, mas não diz nada para dona Santina nem a Marjori,
pois sabe que tudo está sob o controle de Deus.

As duas saem do Hospital e Marjori começa e pensar
até que sua mãe estava melhorando de saúde. Esmirna diz pra
ela esperar notícias do médico, antes de tirar conclusões
apressadas.

33. A fúria do monstro II

Alberto dirigia o carro em alta velocidade e em
verdadeira fúria pelas ruas da cidade. Melissa ao seu lado não
podia sair do carro por causa da velocidade, era prisioneira do
insano. Alberto lembrou-se de um lugar onde havia um grande
matagal e algumas fazendolas abandonadas, e dirige-se para lá.
Está preocupado com a polícia que pode estar a sua procura.

Algumas estradas de terra depois e entra com o carro
numa pequena entrada onde havia uma porteira. Melissa,
quando percebe o carro parando já leva a mão à maçaneta para
sair correndo. Alberto segura no braço dela e não a deixa
escapar. Arrasta-a para fora do carro, sempre preocupado,
olhando para os lados, desconfiado de que alguém possa vê-lo.

124

Melissa esperneia bastante e dá gritos de choro, mas ele
continua a arrastá-la procurando um lugar onde possa amarrar
suas mãos.

–Acho bom você ficar quietinha menina, senão eu vou
te machucar hein!

Alberto percebe que ela não pára de espernear, então
rasga suas roupas e amarra suas mãos e pernas e em seguida a
amarra num tronco de árvore. Senta-se então no chão e
descansa um pouco, pois a menina deu muito trabalho para
chegar até ali. Fica olhando para ela pensativo. O demônio
continua em cima dele fustigando sua mente, o “bicho” é
insistente e o alvo é Melissa e claro Esmirna.

Um toque de sirene de carro policial assusta Alberto. A
sirene parecia estar longe, mas isso poderia significar que
estavam rondando os lugares das chácaras. Lembrou-se de que
o carro estava num lugar descoberto e fácil de se localizar.
Deixa a menina ali e vai até o carro, procura um lugar de matas
fechadas e consegue colocar o carro ali. Depois apaga as
marcas de pneus mais fortes por ali. Sendo assim o local onde
o carro estava já fica bem disfarçado e não seria fácil de
encontrá-lo.

Volta então ao local onde deixara a menina, já de longe
visualiza Melissa amarrada à árvore. Ainda bem que não a
perdeu de vista. Caminha de encontro a ela e já começa a ter
pensamentos terríveis de coisas que deseja fazer com ela.

Percebe que demora a chegar onde ela está por mais que
caminhe em direção a ela, dando a impressão que andava como
que patinando* (patinando aqui quer dizer como carros que
quando estão em um terreno escorregadio e o pneu roda, mas
não sai do lugar) sem sair do lugar. Achou aquilo estranho e
deu um pulo pra frente, olhou e viu o terreno mudando,
parecendo crescer o chão entre ele e a menina.

125

– Essa bruxinha, você vai ver, eu te pego menina!
Deu alguns passos para trás e correu dando um salto
como aqueles atletas olímpicos, conseguindo ganhar um grande
espaço. Foi ao chão, mas levantou dando gargalhada, pois
percebera que havia ganhado espaço assim;
– Eu não disse? Quero ver agora quem é mais forte!
Súbito sentiu as pernas tremerem, mas logo a seguir
percebeu que não era só as suas pernas, mas o chão estava
tremendo.
– Mas, o que está acontecendo?
Ainda resoluto em atacar Melissa, mesmo com o chão
tremendo estranhamente, ele parte em desabalada carreira de
encontro à árvore onde está a menina amarrada. Seu ímpeto foi
impedido por uma grande cratera que se abre em volta da
árvore fazendo um grande estrondo e engolindo o meliante.
Alberto cai dentro do grande buraco batendo cabeça e braços,
como ele não esperava pelo acontecido e foi tragado de
surpresa, mais parecia um objeto desconjuntado batendo nas
paredes do buraco e se alojando no fundo a uns cinco metros de
profundidade. Ele não perde os sentidos e olha para cima
podendo ainda ver Melissa amarrada a árvore. Enche-se de
ódio e quando tenta se movimentar sente uma dor aguda no
ombro e percebe então que está com a clavícula quebrada.
– É uma bruxinha mesmo, mas vou subir assim mesmo
até onde ela está, ninguém me impede.
O tremor de terra havia parado e ainda meio com
dificuldade ele acredita poder subir até onde a menina está.
Não entende ainda que Deus não permitiria ele tocar mais nela,
e tenta subir.
Ato contínuo, ao começar se mexer, também a terra
começa a tremer e seu corpo parece ser tragado mais para o
fundo. Alberto se assusta e dá um grande grito, agora seu corpo

126

estava enterrado até a coxa e não conseguiria mais se mover
dali. Parece chegar o fim. Alberto não consegue divisar uma
maneira de sair a não ser se for retirando a terra que encobre
metade de seu corpo.

Olha pra cima, Melissa está, da mesma maneira que ele,
assustada com o que está acontecendo, pois ainda está ali
amarrada e ilhada naquela árvore. Ao seu redor apenas crateras.
Tenta se desvencilhar das amarras, mas está difícil. Ouve então
barulho de alguém caminhando pela mata, logo um homem
com aparência de vaqueiro, com chapéu de palha, roupas
simples e botinas nos pés aparece. Tem nas mãos um rolo de
cordas e começa a preparar um laço. Logo ele joga o laço que
se prende em um galho cortado da árvore. Amarra então a outra
ponta em uma árvore de seu lado e sobe pendurado na corda
até onde Melissa está. Não diz uma só palavra, apenas
desamarra a menina e segurando em sua cintura desce com ela
até o outro lado pendurado na corda.

Melissa tem traumas de pessoas que se aproximam dela
e enquanto o homem está reavendo a corda ela sai correndo e
chega até a estrada de terra batida. Dali ela vê ao longe
algumas casas e mais longe ainda divisa alguns prédios que
significa que a cidade não está tão longe. Depois de caminhar
muito pela estrada olha para trás, o vaqueiro continua a pegar
as cordas, parece não se preocupar muito com ela.

O tempo começa a escurecer, nuvens negras, trovões e
raios. Melissa começa então a correr tentando se afastar dali o
máximo possível. Depois de longe olha para trás e lá está,
parado naquela entrada onde tem uma porteira, o homem que a
salvou da árvore. Ele parecia tranqüilo, com uma das mãos
segurando a corda e a outra na cintura. Estava parado apenas
observando Melissa se afastar.

127

A chuva chega e Melissa agora fica ainda com mais
dificuldade de se localizar, tudo fica escuro e ela não sabe mais
para que lado caminhar, pois não enxerga quase nada. Caminha
pela estradinha procurando um abrigo da chuva que agora é
muito forte. Encontra, enfim, uma árvore e senta-se ao seu
abrigo. Procura se encolher tentando se abrigar da chuva e do
frio que começa a fazer. Não poderia imaginar que um animal
peçonhento havia também tido a mesma idéia de ficar ali ao
abrigo da chuva. Uma grande serpente, de repente surge a sua
frente deslizando sobre o seu calcanhar. Melissa fica sem
reação, tem medo de se mover e a serpente saltar sobre ela. O
animal percebe a presença da menina e levanta a cabeça quase
meio metro do chão. Melissa sente o perigo e a morte
chegando. Coloca as mãos na cabeça e se encolhe o máximo
possível. O bote é coisa de segundos.

Ouve-se um estalo forte, não sabe o que é, mas a
serpente não a ataca. Então ela abre os olhos e vê um homem
com um chicote nas mãos que ele vibrava com extrema
habilidade em direção a serpente. O homem se parecia com o
outro que a salvou com as cordas, não dizia nada, mas
afugentava a serpente com o chicote. O animal obedeceu ao
comando do homem e foi se retirando como quem entendia que
teria que sair daquele lugar.

Alberto sente a sua situação ainda mais difícil quando a
chuva chega e a água começa a represar em volta dele. Porém
nem tudo é o fim, quando a água começa a represar, a terra que
faz com que ele fique atolado se transforma aos poucos em
barro e ele sente que suas pernas já podem se mexer. Aproveita
então e vai movimentando o corpo tentando sair da incômoda
posição. Em pouco tempo a água já está quase chegando a sua
boca e ele continua se mexendo, mesmo com muitas dores na
clavícula. Após ter que chegar a beber daquela água barrenta

128

ele enfim se solta e vai escalando o lugar até que fica todo fora
do buraco onde estava e pode começar a escalar o pequeno
barranco, mesmo com a clavícula quebrada.

Chega no alto, enfim escapa do perigo premente de
morrer afundado naquela lama e caminha de encontro ao seu
carro. Seu esforço é agora insano, pois a clavícula dói muito,
porém o desejo de encontrar Melissa era um fogo aceso e
intenso dentro dele.

Consegue então dirigir com apenas uma mão. Sai até a
estrada, fica mais tranqüilo quando percebe que a polícia ainda
não passou por ali e segue pela estrada. A chuva começa a dar
trégua o que faz com que a visibilidade melhore. Dirige com
cuidado e em baixa velocidade tentando encontrar a menina,
olha para os campos e vales e pela estrada, mas ainda nada de
encontrá-la.

34. Diego e Antonio

Marjori leva Esmirna na porta da igreja onde seu carro
está, graças a Deus que seu carro não foi atingido pela bomba
da noite passada. Também chove onde elas estão. Antes de
descer do carro o celular de Marjori toca. Esmirna sente que
deve esperar até Marjori receber aquela notícia.

Marjori primeiramente sorri;
– Olá doutor!
A seguir fica apenas ouvindo. Sua face vai se
entristecendo, no início parece engolir seco, a seguir uma

129

lágrima desce de seu rosto. Esmirna já sabe que Dona Santina
está neste momento se ajeitando no colo de Deus. A delegada
pouca coisa falava, apenas respondia com alguns “sim, sim”.

Marjori olha para Esmirna e sente que ela já entendeu o
que está acontecendo.

– Ela estava muito feliz, – diz Marjori enquanto desliga
o telefone celular – disse aos médicos que os anjos que
estavam lá para levá-la eram anjos bonitos, brilhantes e
sorridentes, e mais, cantavam muitos louvores a Deus.

– Posso te afirmar que ela dizia a verdade Marjori.
Esmirna, então pede licença a Marjori e ali mesmo no
carro faz uma oração pedindo a Deus o fortalecimento de
Marjori e consolo de seu coração. A oração é o tesouro que
Esmirna tem a dar a um coração triste pela perda de uma
pessoa querida.
Marjori se despede. Esmirna pede a ela que, ao ter
notícias de Melissa a avise rapidamente.
Marjori sai. Esmirna pega o carro e vai saindo. Quando
chega no portão de saída, onde há um hall coberto, percebe que
um outro carro vem entrando. Luzes acesas por causa da chuva,
mas nota-se que era um carro da polícia. Esmirna pára
subitamente, e os dois carros ficam frente a frente. Quando
nota que saem do carro policial os dois já conhecidos, Diego e
Antonio, ela fica em alerta;
– Será possível que eles vêm me prender de novo?
Os dois caminham até a janela do carro de Esmirna,
sorridentes.
– Olá dona Esmirna! – Diego é o mais falante.
– Bom dia.
– Queremos lhe pedir desculpas por ontem à noite. Não
sabíamos que você estava “limpa”.
– Eu entendo. De maneira nenhuma eu os reprovei.

130

– Mas também gostaríamos de saber uma outra coisa.
– Pois não.
– Quando aquela moça chegou aqui em frente à igreja
ontem à noite, ela ficou assustada. –– – Gostaríamos de saber
porque ela ficou assim.
Esmirna olha para a entrada da igreja, que dali eles
poderiam chegar sem se molhar e tem uma idéia, claro que a
idéia dela partiu de Deus.
– Venham comigo. Vocês dois já entraram em uma
igreja cristã evangélica?
– Não, nenhum de nós dois.
Esmirna ciceroneou os dois e foi mostrando o templo da
igreja para eles.
– Vejam, o que ela viu foi isto, – e mostrou-lhes a
entrada da igreja, as portas e foi caminhando junto com eles.
Mostra então os bancos, os lugares dos músicos, o
púlpito. Enfim não há muito de móveis e equipamentos e
apetrechos a se mostrar em um salão de cultos deste tipo.
Voltam-se então e vêm caminhando curiosos até a porta por
onde eles entraram.
– Onde eles foram? – pergunta de repente Antonio.
– Eles quem? Esmirna pergunta.
– Ora Esmirna. Diego completa. Agora mesmo quando
nós entramos haviam guardas, seguranças ali na porta e agora
saíram tão rápido que a gente nem percebeu.
– Que tipo de seguranças? – Esmirna percebe o que
Deus está fazendo, mas prefere instigar a curiosidade.
– Ora, iguais aqueles ali perto do púlpito. – Diego volta-
se para o púlpito apontando com o dedo e tem uma surpresa.
Não havia ninguém lá.
– Ué, sumiram também.

131

– Agora vocês entendem o que foi que aquela moça viu
aqui?

Os dois se entreolham. Eram pessoas maduras o
suficiente para entenderem o que havia acontecido.

– E vocês crêem que alguém vai acreditar em vocês, se
falarem que viram algumas coisas aqui? Esmirna tenta chamá-
los a realidade humana.

– Como é que vocês conseguem essa proteção de Deus?
– Somente com muita oração, amigos. A intimidade
com Deus nos leva a isso. Ele cuida de nós e nos usa em sua
misericórdia.
Os dois amigos ouvem Esmirna com respeito. Esmirna
aproveita para fazer um convite.
– Daqui a uma semana estará aqui um convidado. Ele é
pastor missionário, e visita as igrejas contando sobre sua vida.
Dizem que ele foi bandido e envolvido com drogas. Ficou
preso durante mais de seis anos. Agora é um homem de Deus,
creio que vocês vão gostar muito.
– Se não estivermos trabalhando no horário, nós
viremos aqui sim.
Diego e Antonio saem dali intrigados. Embora ficassem
satisfeitos com o que viram, eles mesmos começam a discutir
de maneira meio engraçada enquanto dirigem pelas ruas.
– Vou contar pra todo mundo que nós vimos anjos.
– E você acha que alguém vai acreditar?
– Claro, se você confirmar tudo.
– Eu? Imagina, vão dizer que fiquei louco porque ando
muito com você!
– Cuidado com o que fala, e olha pra frente que com
essa chuva a gente não enxerga nada.

132

Para completar a cena hilária, acabam por dar uma
grande freada para não bater em um ônibus que havia parado
repentinamente num ponto.

35. O estigma de Esmirna

Esmirna fica só. Vai saindo com o carro da igreja e, já
na rua se depara com a chuva. Naquele lugar o movimento não
é muito intenso de carros e pessoas, apenas pequeno número de
carros e algumas pessoas caminhando segurando guarda-
chuvas.

Tudo isso dá uma sensação de solidão. Não sabe que
caminho tomar, precisa fazer alguma coisa por Melissa. Ela
está nas mãos de um homem que pode marcá-la para a vida
toda. Mas, o que fazer? Aonde ir? Procurar onde?

Lembra-se de Mãe Di na noite fatal em que vibrava
uma faca no ar tentando matar sua própria neta em sacrifício
aos seus “deuses”. Melissa era agora um bem precioso que ela
precisava resgatar e cuidar. Lembra-se de imagens dos últimos
dias e como Deus trabalhou desde o momento em que teve o
primeiro contato com aquela menina.

Fica com o coração apertado e o celular mais uma vez
chama sua atenção. É momento de cuidar de Melissa e para que
o diabo não consiga levar a termo seus intentos, só mesmo
entrar em oração. Era a arma de guerra mais disponível no
momento. Teria que ter a fé muito provada nestes momentos.
Resolveu então ligar;

133

–Éridro!
–Oi Esmirna, que aconteceu? Onde está a menina?
–Más notícias, ela foi seqüestrada, e neste momento o
seqüestrador está com ela, fugindo da polícia. Não sei o que
poderá acontecer. Apenas preciso de ajuda, e a melhor ajuda
neste momento é a oração.
–Claro, Esmirna, vou avisar todo o grupo e os outros
grupos de oração da igreja. Tenho certeza que muitos vão parar
tudo que estão fazendo e ir para seus “quartos de escuta” orar.
Nosso Deus irá cuidar dela.
–Isso já me conforta Éridro. Eu vou tentar encontrá-la,
apesar de que não tenho pista alguma.
Esmirna desliga o celular e volta a observar a rua e a
chuva. Pensa seguir uma intuição. Marjori no momento não
pode ajudá-la, pois está providenciando o velório de sua
própria mãe.
Sai então sem uma direção a seguir, apenas dirige o
carro e seu pensamento mais uma vez viaja em um passado
muito próximo. Revê em sua mente Helena, sua mãe, olhando
com aqueles olhos cheios de ódio dizendo que a odiava.
Durante sua vida nunca havia se deparado com um coração tão
amargo e cheio de rancor. Consola-se ao lembrar que muito
daquilo, na verdade, não era o próprio ódio da mulher, mas sim
o incitamento de satanás, este sim com verdadeiro ódio por
Esmirna.
Começa a entrar por ruelas e lugares menos habitados
para tentar localizar o bandido, mas a chuva também é um fator
de dificuldade para visualizar alguma coisa.
Pára o carro em baixo de um viaduto, num lugar ermo,
vê ao longe algumas pessoas sentadas em volta de uma
fogueira improvisada. Desce do carro e sem medo, caminha de
encontro às pessoas. Um menino lhe chama a atenção. Ele está

134

com um saco plástico na mão que leva à boca de tempos em
tempos. Ela se aproxima dele, ele percebe sua aproximação e
levanta-se. As roupas finas que Esmirna usa e sua postura ao
caminhar, não os permitiam ter qualquer identificação com
algo dela.

O menino começa a dar passos para trás, Esmirna pára.
Tarde demais, o menino sai correndo e vai para a chuva
desaparecendo. Sabia que isso poderia mesmo acontecer. O
mundo é cruel com pessoas assim, deixa-os desconfiados, e o
que eles têm para se alegrar e se consolar é nada mais que uma
droga dentro de um saco plástico. Gozo pueril, sem um olhar
para o futuro, que parece muito negro para gente assim.

Liga para a polícia tentando saber alguma coisa sobre
Melissa, mas não tem informação de pista do seqüestrador.

Ouve, de repente um rosnar de um cão. Vira-se
assustada, mas nada vê. Sua experiência cristã a faz pensar que
Melissa pode estar passando por muitos problemas neste
momento, e prefere ir até o carro e orar intensamente a Deus
que cuide dela.

36. Melissa na favela

Melissa, alheia ao que acontecia com Alberto, pensando
que ele já poderia até ter morrido naquele buraco, agora
caminha pela estrada. Vê já perto uma pequena favela. Sua
roupa está toda rasgada e ela pensa que pode chegar até aquele

135

lugar, pois pode até nem ser notada. Começa a sentir vontade
de falar alguma coisa, pois ela precisava de ajuda e seu medo
de falar poderia prejudicar ainda mais.

Neste momento, Alberto vê Melissa no meio da rua, já
entrando na pequena favela. Seus olhos se arregalam e depois
se fecham juntamente com uma expressão forte de ódio.
Aquela menina frágil o deixou nesta situação. Não conseguia
entender como é que ela era tão ajudada por Deus ou no
pensamento dele até pensava que ela era uma bruxa. Dirige
então em direção a ela, primeiro pensa em atropelar a menina,
mas muda de idéia e tenta chegar o mais perto possível sem
que ela o perceba.

Melissa, no entanto ouve o ronco do motor do carro e
sai correndo para dentro de um lugar cheio de palafitas.
Alberto não tem como segui-la de carro e ela desaparece, pois
as ruas acabaram por ali, eram só pequenas casas feitas de
papelão e madeiras de caixotes. Pára o carro, e ao descer do
mesmo tem uma triste surpresa. Alguns habitantes do lugar
resolvem assaltá-lo. Juntam vários homens, todos com
maneiras irônicas e ameaçadoras.

– Ô bacana, passa a grana aí!
– Grana? Estou sem dinheiro! E ainda por cima estou
com o ombro quebrado.
– É mesmo? – os assaltantes são irônicos.
– É sim.
– Vamos ver isso. – Chegam perto dele e dão um toque
no ombro machucado. Alberto solta um grito de dor.
A resposta dos meliantes foi muitas gargalhadas.
– Que tal você quebrar a clavícula do outro lado hein!
Já que não tem nada para nos dar mesmo!
– Por favor!

136

Os bandidos não dão nem tempo para ele pensar e dão
uma pancada forte em sua costa. Alberto vai ao chão, sente seu
mundo desabar mais uma vez. Os assaltantes se aproximam
dele e sem dó começam a dar chutes. Alberto tenta se levantar,
mas é difícil e acaba perdendo os sentidos.

Os bandidos começam então a “depenar” o seu carro.
Peça por peça são tiradas e o carro vai ficando somente a
carcaça.

Melissa continua caminhar por entre aquele labirinto de
casas, praticamente sem ruas. Encontra um pequeno cubículo
feito de madeira, parecendo um lugar de guardar alguma coisa,
de mais ou menos um metro de altura e uma pequena porta
faltando uma tábua de uns vinte centímetros de largura. Ali ela
entra e se encolhe o máximo possível. Fecha a portinhola, mas
pela parte que falta dá para vê-la, apesar do lugar ser bem
escuro. Ali, naquela sombra é mais difícil de alguém localizá-
la. Ela olha e à sua frente vê um corredor enorme cheio de
casas dos favelados, todas mal acabadas, algumas feitas com
alguns tijolos e acabadas com madeiras.

Melissa prefere ficar ali escondida um tempo. Acha que
o tempo fará com que as coisas fiquem mais calmas, e aí então
poderá sair do esconderijo. O lugar está silencioso, ouve
apenas alguns rádios ou televisores ligados ao longe, alguns
cães latindo, pessoas conversando. Ela tenta ficar longe
daquele mundo, encolhida como querendo fugir para um lugar
irreal que possa guardá-la da violência deste mundo que tanto a
maltrata.

Naquele silêncio ela quase dorme, tal a tranqüilidade do
esconderijo. Olha para o corredor e não vê nenhum movimento
ao longe.

A polícia chega na favela e encontra Alberto caído e seu
carro depenado. Alberto já recuperou os sentidos, e em vão

137

tenta acusar as pessoas da favela, que fazem um verdadeiro
pacto de silêncio quanto ao que aconteceu com ele.

–Alguém aqui viu quem foi que assaltou este homem e
depenou o carro dele?

As pessoas da favela apenas olham, meneiam a cabeça
respondendo com um não mudo.

Alberto está sem forças para tentar alguma coisa, sente
que perdeu a batalha, agora o que o espera é a cadeia e ainda
um bom período com aquele braço imobilizado.

–Onde está a menina?
Alberto acha melhor que os policiais não saibam que
Melissa está por ali. Quem sabe ainda consegue voltar e
resgatá-la. Ele não perde as esperanças. Então prefere mentir,
ainda mais para que não seja fácil acusá-lo de seqüestro e
tentativa de estupro.
–Não sei de que menina estão falando?
–Não minta para nós, sua esposa já te entregou, diga
logo onde você deixou a menina?
–Não sei de menina nenhuma, não adianta me
pressionar.
–E vocês? Alguém aqui viu a menina?
O povo da favela se comporta da mesma maneira, neste
caso eles tinham uma certa razão, pois nem notaram a presença
da menina quando ela chegou à favela.
Os policiais enfim resolvem levar Alberto, depois de
darem uma pequena busca ali pelas redondezas. Não encontram
Melissa que está há mais de150 metros do local, no seu
esconderijo.
Começa o início da tarde. Melissa sente o corpo
enrijecer e travar passou horas naquela posição. Tenta então se
mover, olha curiosa para os lados e coloca a mão na portinhola.
Ouve passos, mas não humanos, e de repente se assusta com

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um rosnar bem na grande fresta da porta. Um cão abre sua
bocarra e ao mesmo tempo tenta quebrar as tábuas que compõe
a porta. Foi surpreendente e o susto muito grande. Os dentes do
animal quase tocam em seu rosto quando ele enfia a cabeça no
vão da fresta tentando mordê-la. Melissa dá gemidos de medo e
tenta se encolher mais, o cão se debate tentando entrar e
abocanhar a menina, agitando-se como um demônio.

Esmirna que, neste momento está dentro de seu carro
em oração sente o perigo rondando sua filha. Suas orações se
tornam mais intensas, quando ela consegue vislumbrar em
flashes rápidos as mandíbulas do cão que ataca a menina.

Repentinamente uma mão forte agarra a pele do
cachorro no alto do seu pescoço e o puxa para trás sem soltar.
Melissa olha espantada quando um homem segura o animal
fortemente na pele do pescoço e o levanta no ar. O homem era
de alta estatura e muito forte, usava uma roupa toda branca,
inclusive os sapatos. Até parecia um médico, ou um anjo. Sai
andando pelo corredor segurando o animal no ar. O cão se
debate em vão, a mão era muito forte e não o soltava. Era de se
espantar ver aquele animal tão grande sendo carregado de
maneira tão ridícula. Melissa ainda pode perceber quando o
homem joga o animal para cima e em seguida dá um chute
fazendo o cão dar um grande latido de dor e sair voando,
caindo dentro de um dos quintais. O homem em seguida
desaparece virando uma das pequenas galerias existentes ali.

No fim do corredor aparecem dois jovens, um negro e
outro branco, de gorros escuros, camisetas sem mangas,
bermudas e tênis. Eles conversavam e um deles tinha nas mãos
um pacote de alguma coisa branca envolvida com um plástico
transparente.

Foram se aproximando e ao chegar perto do pequeno
cubículo, um deles diz:

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–Guarda logo aí dentro, é o melhor esconderijo. Depois
a gente vai entregar.

O outro então abre a portinhola ainda dialogando
quando se depara com Melissa. O susto parece ser dos três.
Melissa fica sem ação por um instante, depois faz menção de
sair. Um dos rapazes segura no braço dela;

–Quem é você hein menina? Parece que nunca te vi por
aqui.

–Espere aí? Será que ela não é a menina que a polícia
estava procurando?

–Olha aí rapaz!!! Se for ela, hoje é nosso dia.
–Vem com a gente menina.
Melissa se solta do braço do rapaz e tenta correr pelo
corredor. Os dois correm atrás dela e alcançam-na, afinal ela
não tem muita intimidade com o lugar, por isso é lenta em
mover-se.
Os dois agora se sentem os donos do momento, e
enquanto um deles a segura por trás, o outro levanta a mão para
passar no rosto dela;
–E ela é arisca hein!!!
O rapaz que toca a mão no rosto de Melissa aproxima o
seu rosto do rosto dela e encara a moça, enquanto ela começa a
se debater, ele está prestes a tocar o rosto da menina com sua
boca.
Subitamente uma pessoa surge perto dos dois e com voz
muito firme os intercepta;
–Soltem esta menina já!
Um deles olha para o homem que chega e o reconhece.
–Você!!! Mas você não estava preso?
O homem não responde, ao invés disso dá ordens.
–Eu vou levar esta menina, e vocês saiam daqui já!

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Os dois reconhecem o homem e parecem ter muito
medo dele. Saem então e nem sequer olham para trás.

Melissa percebe que parece ter escapado do leão e caído
na mão do urso, mas o homem a segura pelo braço fazendo
com que ela não consiga escapar. Também não sabe mais como
escapar e nem para onde ir. A noite estava se aproximando e
aquele lugar lhe dava muito medo.

–Venha Melissa, vamos jantar e você precisa de um
bom banho e roupas limpas.

Tudo que acabara de ouvir era o que ela nunca
imaginaria ouvir naquele lugar e vindo de uma pessoa estranha.
O homem sabia seu nome e parecia muito gentil, apenas
segurava em seu braço para que ela não corresse para longe
dele. Durante o trajeto de volta à rua principal ou de entrada da
favela, algumas pessoas olhavam para o homem e
demonstravam ter um certo respeito por ele. Afastavam-se e
nada diziam.

Quando chegam na rua, seu carro está estacionado. Ele
observa que está faltando um pneu. Vira-se para as pessoas que
estão por perto e dá uma ordem.

–Eu quero este pneu de volta no meu carro em dois
minutos. Isso é uma ordem!

Todos se calam, inclusive o homem. Melissa arregala os
olhos e olha para um lado e para o outro. Fica meio
constrangida se perguntando quem seria aquele personagem tão
estranho e cheio de autoridade na favela. Durante um minuto
nada se ouve, há um forte suspense no ar e a impressão de que
alguma coisa muito forte iria acontecer. Parece um lugar cheio
de estátuas. O homem olha no relógio;

–Vocês têm somente um minuto, depois disso vão ter
que agüentar as conseqüências!

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De repente um pequeno grupo que estava colocado
como uma barreira na rua, foi se abrindo lentamente e um
menino de uns 10 anos veio rolando o pneu. Alguns
voluntários se ofereceram para colocar o pneu no carro. O
homem escolhe dois deles e os manda colocar o pneu.

Em pouco tempo estão, o homem e Melissa no carro,
em direção à cidade.

–Estou hospedado na casa de uma família, eu e minha
esposa estamos em viagem. Eu só vim aqui na favela para te
buscar.

Aquelas últimas palavras não faziam nexo. Como este
homem soube onde ela estava? E como é que ele a conhecia?
Quem era afinal este homem?

Chegam numa casa de classe média alta e Melissa é
recebida com muito amor pela família que lá estava à porta. Ela
deixa de lado seus medos quando vê que o homem estava
mesmo falando a verdade. Havia ali uma família com um casal
e duas crianças ainda pequeninas e este homem com sua
esposa, que era uma pessoa muito educada e amiga.

Rapidamente Melissa toma um bom banho e coloca
roupas que seus convidados conseguem e que sirvam para ela.
Chamam-na para o jantar, ela senta-se à mesa. Parece um
animal assustado, mas já tenta se sentir mais calma.

O homem que a trouxe tem um semblante muito feliz, e
olha para Melissa como se ela fosse muito preciosa. Antes que
eles começassem a comer ele pede para fazer uma oração. Sua
oração, no entanto, que deveria ser apenas para abençoar a
comida, é um pouco extensa e ele ora abençoando a vida de
Melissa.

Melissa é uma menina anti-social que por força de sua
vida privada, nunca teve contato tão próximo com pessoas
verdadeiramente cristãs assim. Aquelas palavras da oração

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provocam um curto circuito em sua mente e ela tomba a cabeça
de lado ficando sem sentidos.

– Meu Deus, – exclama uma das senhoras, – isso tudo
deve ser demais para ela.

Todos se assustam e a levam para o quarto. O homem
que reside na casa tem conhecimentos médicos e cuida dela.

–Ela não tem nenhuma doença, foi apenas o fator
psicológico e espiritual que a fez reagir assim. Já, já ela estará
bem.

37. Esmirna na batalha final

Esmirna está neste instante parada com o carro em um
monte inabitado, apenas árvores, mato e um vento forte. A
noite já chegou. Sai do carro, dirige seu olhar para as estrelas e
a lua. Cruza os braços colocando as mãos nos ombros. Não
conseguira nenhuma pista de Melissa. Seus olhos estão cheios
de lágrimas de tristeza e decepção por estar tão impossibilitada
de conseguir isso. Deseja muito proteger sua filha, mas não
sabe como, a não ser a verdadeira batalha de oração que faz,
juntamente com seus irmãos de fé.

O celular toca;
– Sim;
– Esmirna é Marjori, como você está?
– Oi Marjori, ainda não encontrei Melissa, estou

muito triste.

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– Tenho algumas notícias a respeito. O homem que a
seqüestrou foi encontrado

– E ela?
– Não foi encontrada ainda. O homem resolveu mentir

e dizer que não a seqüestrou e que não sabe nem de
quem estão falando. É um direito que ele tem, o de
negar.
– Mas, onde este homem foi preso, em que lugar?
– Numa favela chamada “Pé-dois”. É um lugar
perigoso e de difícil acesso. A polícia já fez uma
busca lá, mas ninguém viu a menina por lá ou
alguém parecido.
– Eu preciso ir até lá, quem sabe... – Esmirna fica
ansiosa.
– Esmirna, não se apavore, vai descansar um pouco,
ou vá até sua igreja orar, depois você pensa melhor
no que vai fazer. A polícia está fazendo novas
buscas naquela favela e nas redondezas de lá.
Esmirna fica até meio constrangida por estar sendo
consolada com palavras tão amigas por uma delegada que nem
mesmo cristã é. Sabe que muitas pessoas, mesmo não sendo
cristãs, são amigas e oferecem consolo e apoio, mas o que ela
desejava neste momento era poder consolar Marjori que havia
perdido a mãe neste dia, mas o que acontece é bem o contrário.
Decide então ir até a igreja, pois estava chegando a hora
do culto. Lembra-se que antes deveria ir até sua casa pegar a
bíblia e um outro objeto de uso pessoal.
Nesta noite os dois rapazes que um dia tentaram dar um
susto em Esmirna estavam de plantão tentando conseguir uma
maneira de se vingar dela. Estavam em frente à sua casa,
escondidos, esperando que ela aparecesse qualquer hora dessas.

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Neste momento, Esmirna está chegando, os dois se
posicionam. Sempre que ela chega, o que fica mais difícil é que
ela sempre utiliza o controle remoto e entra na garagem sem
que se possa ter acesso a ela. Nesta noite, porém ela pára o
carro na frente da casa e desce apressada adentrando o portão.

Enquanto ela está dentro da casa, os dois se escondem
atrás do carro, ficando abaixados para que ela não os veja.

Do outro lado da rua uma vizinha que mora num dos
apartamentos, observa a ação dos dois, e preocupada fica com a
mão no telefone. Percebe que estão tramando contra a moça e
fica um pouco hesitante, mas disposta a telefonar para a polícia
ao primeiro movimento de violência que fizerem contra a
moça.

Esmirna sai de casa sem preocupações com sua
segurança, e quando está colocando a chave na porta do carro,
um dos rapazes aparece de um lado;

–Olá moça, lembra-se de mim?
–Quem é você? – Esmirna se assusta com o rapaz e sua
bíblia cai ao chão.
–Ora, não se lembra do susto que você deu em mim e
meu colega? Hoje é o dia de nossa vingança.
A mulher que observava no apartamento do outro lado
verificou que um deles estava conversando e o outro estava
atrás de Esmirna, sem que ela o percebesse. Ainda não haviam
praticado nenhuma violência contra ela, por isso a mulher
hesitava em telefonar.
–Vingança? Porque vingança? Eu não fiz nenhum mal a
vocês.
–Fez sim, você nos humilhou. E agora você vai ser
humilhada até a morte!
O jovem faz menção de atacá-la. Esmirna levanta a mão
e ele parece bater em uma parede e cai para trás. O outro que

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estava atrás de Esmirna não esperou que ela se voltasse para ele
e levantando a mão vibrou uma faca que atingiu o alto das
costas perto da clavícula da moça. Ela cai desmaiada.

A mulher pega o telefone e nervosamente disca o
número da polícia, agora descobre que deveria ter ligado antes,
pode ser tarde demais.

Os dois rapazes pegam a moça e a colocam sentada em
seu próprio banco de motorista, deitam o banco mais um pouco
para que ela fique quase deitada.

–Agora moça, você vai sentir o que é sair do céu e ir
pro inferno! Vai ser a sua maior briga com a morte e temos
certeza que você não vai vencer, porque o sangue que você está
perdendo não é pouco não.

Os rapazes ficam ali observando se Esmirna tem
alguma reação. Acham que a facada pode ter sido fraca, apesar
do sangue jorrar pelo banco e cair na rua.

A mulher enfim consegue telefonar e avisar do ataque
dos rapazes à moça. O problema é, será que chegariam a tempo
de salvar Esmirna da morte?

A polícia tem os policiais comunitários que estão
sempre por ali fazendo a ronda, sendo assim a comunicação é
rápida e eles em alguns minutos já estão se dirigindo ao local
do ataque.

A sirene é colocada em alto som e isso faz com que os
dois não tenham tempo de aplicar a segunda facada, porém o
que fizeram já era suficiente para que ela, em algumas horas
morresse.

Ao ouvirem as sirenes os dois meliantes saem correndo
a toda dali, virando algumas esquinas para despistar a polícia.

Os policiais chegam e encontram Esmirna em gritos de
dor e agonia. Ela não consegue se mover, apenas se debater.

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Percebem o que fizeram com ela e acionam o “Resgate” para
que possam vir o mais rápido possível.

Neste momento, na casa da família que a resgatou,
Melissa está voltando a si do desmaio, e flashes lhe vêm à
mente de uma pessoa em agonia. Ela volta a si e seu semblante
é de preocupação. Ela senta-se repentinamente na cama com os
olhos assustados e pela primeira vez, após tantos anos ela diz
uma palavra;

–Mããee!!!
As pessoas à sua volta tentam abraçá-la e oram muito
para que ela possa se acalmar. O homem que a salvou da favela
procura entender o porque daquele grito. Busca o
discernimento.

Esmirna está sendo já atendida pelos para-médicos. Ela
está muito mal e eles a colocam na ambulância e a estão
levando para o hospital.

A luta de Esmirna agora passa a ser primeiramente
física contra o enfraquecimento pela perda do seu sangue. Seu
corpo de mulher não tem muita defesa natural contra tão forte
inimigo. Porém na área espiritual uma outra batalha tem início
quando a faca toca em seu corpo. Literalmente em espírito ela é
transportada para um reino totalmente espiritual, onde terá que
lutar contra hostes malignas para sobreviver.

Satanás tem um ataque frontal agora com Esmirna. Ela
dependerá da ajuda dos médicos e pessoas de fé que a ajudem
em oração para que seu corpo físico não morra. Dependerá de
sua fé em Deus para vencer a batalha espiritual para onde ela
está sendo transportada neste momento. Nesta batalha ela
conserva ainda a aparência normal do seu corpo físico. Seu
espírito está ali para a guerra e, mesmo que ela vença ali, se seu

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corpo físico não conseguir sobreviver ela não poderá voltar a
ele e sua missão na terra não será completada. Por outro lado se
seu espírito perder a batalha, ela também não poderá voltar ao
corpo físico para continuar o seu trabalho que fora estipulado
na terra.

No livro de I Coríntios temos uma citação sobre os
corpos: I Coríntios 15:44 “Se há corpo animal, há também
corpo espiritual. 49 E, assim como trouxemos a imagem do
terreno, traremos também a imagem do celestial.”

Os para-médicos já entram em ação antes de chegar no
Grande Hospital e entram em contato com o banco de sangue.
Esmirna precisará de muito sangue para repor o que perdeu de
seu corpo. Esta transfusão deverá ser feita a mais rápida
possível, pois só assim haverá esperança de vida.

Em espírito Esmirna está entrando em um corredor
largo, porém o lugar onde ela pisa é uma passarela estreita. Ela
vê a passarela que segue a frente e atrás de si. Ela é estreita e
dos dois lados há fogo, muito fogo crepitando. Não havia
maneira de sair dali por outro meio a não ser caminhar pela
passarela que dos dois lados, havia fogo e um profundo
abismo. Pensou então em ficar parada ali, pois não estava
sendo ameaçada, a não ser pelo fogo que fazia ela se sentir
queimada. Mas sabia que isso era apenas o reflexo da dor que
seu corpo físico estava sentindo no hospital.

De repente ouviu um som de desmoronamento e olhou
para um dos lados e percebeu que a passarela estava
desmoronando, e a destruição caminhava de encontro a ela. A
única saída agora era correr para um dos lados. Corre, enquanto
o desmoronamento vem também competindo com ela. Vê, de
repente, à sua frente um ser demoníaco que parecia um cavalo
com cabeça de gente. Não era como os minotauros descritos
nas fábulas, pois este tinha pescoço como de cavalo, apenas a

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cabeça era com rosto de homem e tinha dentes de leões e
cabelos longos como o cabelo das mulheres. Tinha asas e sua
cauda era composta por ferrões semelhantes aos de escorpiões.
Era como os gafanhotos na descrição de Apocalipse nove ao
toque da trombeta do quinto anjo.

Esmirna sabe que estes seres não têm poder para matar
as pessoas que têm o selo de Deus, porém podem atacar com
seus venenos que atormentam por cinco meses aqueles que
vacilarem na fé, por isso ela precisa evitar o ferrão mantendo
sua fé. A passarela continua a desmoronar atrás dela. Já está
muito perto do demônio. Seus pés ficam no ar quando a
passarela cede debaixo deles, mas ela cai e se segura nas
bordas da passarela que pára de desmoronar. O animal dá
alguns passos para trás, mas Esmirna está pendurada agora com
as suas mãos perto dos pés do animal. Seu corpo balança no ar
quase a se despencar no abismo.

O animal começa seu ataque e sua cauda que é bem
longa e perigosa já chega bem perto das mãos de Esmirna. O
ferrão está quase para traspassar suas mãos que a sustentam ali.
Esmirna não tem nenhuma arma para se defender, nem uma
espada ou qualquer outra coisa. Lembra-se da palavra de
Apocalipse 19:21 “E os demais foram mortos pela espada que
saía da boca daquele que estava montado no cavalo”

A espada que sai da boca é a arma utilizada por Jesus
para vencer a besta e o falso profeta. Então esta era a única
arma que Esmirna poderia usar neste momento. Olhou para o
animal à sua frente e com toda fé possível desferiu;

–Afaste-se!
Quando ela proferiu essas palavras que eram ditas
diretamente ao ser demoníaco, um facho de luz sai de sua boca
e atinge o animal bem em sua cabeça. Ele dá vários passos para

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trás como quem leva um choque. Acaba por cair sentado quase
desabando pelos lados da passarela.

Esmirna reúne forças para subir até a passarela. Já em
pé, ainda tem à sua frente o animal. Ele faz cara de furioso
abrindo as asas e bufando muito soltando fogo pelas narinas
parte pra cima de Esmirna. Ela coloca o joelho esquerdo no
chão, levanta sua mão direita e dá uma palavra de ordem:

–Para o abismo!
Novamente aquela luz forte sai dos lábios da moça,
parecendo mesmo com uma espada, mas em forma de luz.
Aquilo toca o ser como uma grande ducha de água. O ser
parece tropeçar nos próprios cascos e é lançado no fogo e no
abismo do lado da passarela. Esmirna imagina que o inimigo
estava derrotado, esqueceu-se que ele era provido de asas, e
quando ela começa a andar pensando que este inimigo não
mais voltaria, ouve o ruído de suas asas que eram muito
barulhentas. Ela pensa rápido ao tempo de se jogar no chão e
ele passa como um bólide deixando um rastro com cheiro de
enxofre queimado no ar. Lá na frente ele dá uma volta e vem
com sua mira direcionada a Esmirna. Vem para um novo
ataque. Esmirna, ainda no chão sabe que pode destruir o animal
com suas palavras cheias de fé. Então olha para o animal
voando em sua direção, precisa usar palavras que contenham
uma ordem para por fim ao ataque do demônio e faz uso da
“espada que sai da boca”
–Quebrem-se asas!
Tudo se repete, a luz a espada. O impacto desta vez é
mais intenso pelo fato do animal estar em pleno vôo. O ser
parecia um avião que se desintegrou no ar, e cai, rolando pela
passarela. Ele perde o equilíbrio, mas ainda consegue se
segurar nas bordas. Ali continua vociferando, mas como é um

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