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Published by mr.mindcontato, 2016-06-07 21:07:21

ESMIRNA - Dossie Melissa

ESMIRNA - Dossie Melissa

Keywords: Ficção,EbookGospel,JCPuglisiEbook

Esmirna, enfim já quase noite, chega em casa, depois de
um bom banho senta-se em uma cadeira confortável e começa
a meditar sobre aqueles últimos acontecimentos. Dá uma
olhada no computador que está desligado. Lembra-se do seu
trabalho. Esmirna trabalha como tradutora e tem contratos com
várias editoras. Mas sua vida neste momento estava muito
agitada. Sabia que estava correndo riscos pois era ainda vista
como uma seqüestradora por ter invadido um lugar e levado
uma pessoa. O difícil é ela provar para a polícia que a menina
seria sacrificada se ela não entrasse naquele lugar.

E a menina, que até agora não havia dito uma só
palavra, apenas abria os olhos e olhava calmamente para ela. E
não entendia por que o rosto da menina lhe parecia familiar, ou
talvez alguém que já havia visto antes, o mesmo acontecia com
aquela mulher que era a líder da seita religiosa.

Muita coisa sem resposta. Lembrou-se que Éridro
pareceu deixar escapar que sabia o nome da menina. Será então
que havia algum plano em todo esse seu envolvimento?

Melissa, Melissa, esse nome enfim veio a sua mente e
trazia algumas lembranças tristes de quando ainda era uma
jovem saindo da adolescência.

Lembrou-se que crescera adotada por uma pequena
família de apenas um casal, e que não se lembrava de sua mãe,
pois o casal dizia que ela era uma prostituta, por isso a rejeitou
quando nasceu, embora a criasse até os quatro anos. Tenta
lembrar-se da face de sua mãe, que conhecera durante esses
quatro anos, mas era muito vago.

E quando chegara à idade de dezessete anos, uma
fatalidade aconteceu. Os pais adotivos morreram em um
acidente de carro fazendo com que ela viesse a ficar só. A
herança deixada pelo casal fôra toda requisitada pela família e
Esmirna não pôde nem mesmo ter um teto para se abrigar.

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Foram dias de terror em que muitas pessoas fecharam
as portas para ela, chegando à humilhação de ter que dormir na
rua por falta de apoio.

Esmirna pára e dá um suspiro forte, nem sabe porque
está relembrando de tudo isso agora. Mas como um desenrolar
histórico, tudo volta agora à sua mente e ela revê seu drama.

Relembra a noite em que foi cercada por bandidos, uma
verdadeira gang de rua. Havia quatro rapazes, dois sem
camisas e dois com camisetas “regata”, todos eles cheios de
tatuagens. Lembra-se do momento terrível em que foi
estuprada por um deles, um que tinha uma tatuagem de um
dragão em seu peito e a tatuagem de uma cabeça de águia no
pescoço. Aqueles homens com aquelas tatuagens foram um
trauma muito grande em sua vida. Naquele dia, tamanho foi o
trauma que ela ficou desmaiada até o dia seguinte na calçada.
Só voltou a si quando abriu os olhos e percebeu que uma
associação que cuidava de pessoas de rua a amparou e cuidou
dela. O pior de tudo foi que ficou grávida em virtude do
estupro.

Durante o tempo de gravidez ela teve problemas de
saúde, sendo que no último mês precisou estar internada no
hospital pois sua saúde era muito ruim e a criança acabou
nascendo num destes dias difíceis deste mesmo mês. A
associação que cuidava dela, vez por outra a visitava no
hospital, porém não davam uma ajuda legal quanto ao cuidado
da criança. Dias depois apareceu em seu quarto uma mulher
dizendo que era assistente social e que a direção do hospital a
tinha mandado para ajudá-la. Perguntou a ela sobre a criança.
Esmirna sabia que era uma menina e que desejava por o nome
de “Melissa”, por isso a lembrança agora. A assistente social
anotou o nome e todos os outros nomes necessários e disse que
iria fazer a ela o favor de ir ao cartório para registrar a menina.

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No outro dia a assistente social chegou com uma notícia
muito triste dizendo que a criança morrera, e que Esmirna
estava de alta. A mulher, mesmo com Esmirna se sentindo mal,
saiu com ela levando-a numa cadeira de rodas e a colocou num
táxi dando um endereço para o motorista, dizendo que era o
endereço dela.

Esmirna abalada e sem forças para andar ou esboçar
qualquer reação foi levada para o endereço dado pela
Assistente Social. O pior de tudo é que o endereço não existia.
O motorista de táxi a deixou ali mesmo, na calçada.

Lembra-se o quanto chorou ali, sentada sem forças para
sequer levantar. Olhava para os lados, tentava divisar algum
socorro, mas as pessoas passavam sem mesmo perceber sua
presença ali no chão. Quase ao anoitecer uma moça jovem com
vestidos longos e com um sorriso nos lábios chegou perto dela
e perguntou:

– Posso fazer alguma coisa por você?
– Sim, por favor, socorro, preciso de socorro urgente.
A moça era uma cristã muito autêntica e ajudou
Esmirna, levando-a para um pequeno quarto no fundo de uma
igreja, e ali cuidou dela e a amparou juntamente com a
comunidade cristã.
Quando Esmirna pode voltar a tomar contacto com o
hospital onde havia tido o bebê, ficou sabendo que, na verdade
ela fôra dada como fugitiva e o hospital havia anotado na ficha
que realmente seu bebê havia morrido.
Esmirna lembra um fato curioso, ao olhar a ficha ficou
sabendo que sua mãe esteve lá e que havia doado sangue para
ela, pois o seu tipo era difícil de encontrar. Não encontrou a
assistente social que havia feito o contacto com ela.

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Enfim, tristes memórias que de repente voltam e faz
com que se entristeça.

Voltou ao presente e começou a perscrutar sobre os
acontecimentos atuais e chegou a uma assustadora conclusão;

– Êpa, se a polícia encontrar o terceiro assaltante lá no
hospital, também encontrará a menina, e a mulher da seita
poderá levá-la para outra vez tentar matá-la. E, é claro, ficará
mais fácil encontrar a mim. É melhor eu tentar levar a menina
para o hospital da Arca, quem sabe eu ganho algum tempo para
buscar provas de que a vida da menina corre risco com aquela
mulher.

Levanta-se e se prepara apressadamente para voltar ao
hospital.

15. Melissa ouve seu réquiem

Melissa, sentada na cama, parecia desejosa de que o dia
seguinte chegasse para ir embora com Esmirna. Ela sentia que,
com Esmirna estava protegida. Depois de tudo que se passara o
medo de falar com pessoas, de ter contacto com gente estranha
a deixava muito preocupada.

Estava ela observando na grande janela de vidro, atrás
da cortina, que havia no seu quarto o movimento naquele
grande hospital. Médicos, enfermeiras, pessoas doentes em
cadeiras de rodas e macas. Aquilo era novidade para ela e a
fascinava.

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De repente seus olhos se abriram muito assustados. No
balcão de informações à distância visualiza a figura de uma
pessoa que ela não queria nunca mais ver, “Mãe Di”. Abaixou-
se e ficou olhando de soslaio e quando a pessoa do balcão de
informações apontou o seu quarto mostrando para “Mãe Di”,
seu coração palpitou aceleradamente. Mesmo com as roupas
próprias das pessoas que ficam internadas, na verdade um
roupão, sai dali andando no meio das pessoas sem correr paras
não chamar a atenção. Quando vira para um outro corredor
então dá uma corrida tentando encontrar uma outra saída do
hospital. Põe a mão no pescoço e pára, a gargantilha, ela havia
tirado para tomar banho e esquecera sobre a cama. E agora não
sabia se voltava para pegar, pois era o momento certo que
deveria usar a gargantilha, mas também a “mãe Di” estava bem
ali onde a gargantilha com o rastreador estava.

“Mãe Di” se irrita quando entra no quarto de Melissa e
não a encontra, joga os lençóis, abre a porta do banheiro e por
fim dá um tapa numa garrafa de água sobre o criado-mudo
jogando-a ao chão. Esbraveja e irrita-se com os médicos e
enfermeiras do hospital. Em seguida sai fazendo algumas
ameaças, dessas que as pessoas fazem meio sem profundidade,
tipo “vocês vão pagar por isso” “Se não encontrarem minha
filha eu acabo com este hospital” e foi saindo chamando a
atenção com seus gritos.

Melissa agora, voltando, entra no quarto ao lado do seu
e fecha a porta, duas pessoas, uma senhora idosa doente e uma
jovem, estavam ali e perceberam que ela estava assustada, uma
delas, a jovem conhecia Melissa de passagem, pois a via toda
vez que passava pela porta do quarto e observava seu jeito
simples. Quando Melissa entra assustada, a jovem abre a porta
e põe somente a cabeça para fora e vê indo ao longe a mulher

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gritando e fazendo o escândalo. Olha então para Melissa e
percebe que ela não quer voltar para o quarto, pergunta então;

– Você precisa de alguma coisa?
– Melissa não fala mas mostra seu pescoço e tenta
explicar que precisava da gargantilha.
A jovem não entendeu, mas se dispôs a entrar no quarto
e procurar alguma coisa que se relacionasse ao pescoço da
menina. Sai e logo volta com a gargantilha na mão.
Melissa dá um largo sorriso, coloca a gargantilha e num
repente abre a porta do quarto e sai em desabalada carreira. A
jovem se assusta com o gesto brusco da menina, mas não toma
nenhuma iniciativa.
A direção do hospital imediatamente aciona a polícia
para fazer uma busca a fim de tentar encontrar a menina.

16. Uma menina indefesa em
mãos estranhas

Melissa corre para fora do hospital. Agora está
chegando na rua, descalça, apenas usando meias soquete e com
o roupão que os doentes internados naquele hospital usam, era
uma figura fácil de ser reconhecida, ela caminhava meio
assustada entre os carros no trânsito, querendo atravessar a
grande avenida em frente o hospital. Em sua cabeça, na
verdade ela não sabia para onde ir, tentava encontrar alguma
coisa mais familiar, mas tudo aquilo era um grande labirinto.

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Dentro de um dos carros, Serena e Alberto um casal
voltava de uma visita que fizeram a um advogado, estavam
nervosos porque tentavam negociar uma dívida muito grande e
muitos de seus pertences já haviam sido penhorados por causa
da dívida.

– Alberto, veja aquela menina no meio do trânsito! Meu
Deus, ela parece perdida, pode ser atropelada a qualquer
momento.

Apesar do trânsito rufante tentam se aproximar o
máximo da menina. Conseguem e Serena abre a porta do carro
e chama Melissa para entrar. Ela olha, não reconhece a mulher
nem o homem que dirigia o carro, mas acreditou que era a
melhor oportunidade de fugir para longe dali, e entrou no carro.

A mulher percebeu que a menina estava muito
assustada e a abraçou e disse palavras amigas;

– Não tenha medo, fica tranqüila que aqui não vai te
acontecer nada.

Melissa olha pela janela do carro e vê o hospital ir se
distanciando e vai se acalmando. Chegando até a adormecer
com o rosto recostado no corpo da mulher.

– Que vamos fazer Serena? – o homem estava
preocupado.

– Ora Alberto, vamos pra casa.
– Mas, essa menina deve estar doente e escapou do
hospital!
– Depois que chegarmos em casa a gente procura saber,
vamos.

*****

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Esmirna quando chega a alguns metros do hospital,
visualiza várias viaturas de polícia e os policiais um pouco
mais agitados que o normal e teme que estejam já sabendo que
a menina e o assaltante estavam internados lá. Prefere então
não chegar até o hospital, mas apenas procurar notícias depois
utilizando Éridro ou as pessoas da igreja. Prefere também
desligar o celular, pois a polícia poderia investigar no hospital
e encontrá-la fazendo um telefonema. Ela não sabia que
Melissa havia fugido do hospital. A sua preocupação era com
respeito à vida da menina se a mulher da seita religiosa a
levasse. Mas também não acreditava que a mulher matasse a
menina agora que a polícia estava sempre em contacto com ela.

A noite já estava chegando e precisava ter uma pequena
conversa com Beto, o rapaz que foi levado para a Arca e que
estava em processo de recuperação. Lembrou-se que ele
poderia testemunhar em seu favor no caso da menina, pois ele
sabia que a menina corria perigo de vida quando ela a
seqüestrou. Pegou o celular e ligou para o Dr. Ângelo, mas ele
já não estava na Arca, apenas algumas pessoas encarregadas de
plantão noturno. E para decepção dela não poderia mais fazer
visitas naquele horário.

Decidiu então voltar para casa, no outro dia voltaria a
Arca para tentar falar com o rapaz.

Em sua casa havia uma grande garagem com portão que
se abre um controle remoto, e ela não precisava descer do carro
para entrar, embora sua casa fosse pequena, tomava certos
cuidados.

Quem não gostava disso eram os dois rapazes que um
dia haviam levado um grande susto com ela, quando eles
estavam drogados. Eles se sentiam humilhados e planejavam
ainda uma vingança. Só não sabiam como é que fariam isso,
apenas observavam de longe seus movimentos.

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17. Ela vem sobre as nuvens?

Marjori acorda bem cedo, mas não porque queria, era o
toque do telefone que irritantemente continuava a chamar.
Atende e ouve a voz conhecida de Nelson, o investigador.

– Isso são horas de me telefonar, não podia esperar até
eu chegar aí? – irrita-se com ele.

– Doutora, me perdoe, mas é urgente. Encontramos o
terceiro assaltante do caso da casa incendiada, e acho bom a
senhora ir logo visitá-lo, pois ele está na UTI e pode morrer a
qualquer momento, e tem outra coisa, a menina também estava
lá no hospital, mas ela fugiu quando viu a tal da mulher “Mãe
Di” chegando lá.

– Mas, essa mulher não é a mãe dela?
– É o que a mulher diz, mas a menina não quer nem que
ela chegue perto. Temos o nome da pessoa que trouxe ela no
hospital e seu telefone celular, mas parece que está desligado.
Marjori agora já se levantava e se preparava para sair
enquanto falava com o investigador no telefone.
A diretoria do hospital já acionou a polícia do Distrito
Central e eles estão fazendo busca nas redondezas para ver se
encontram a menina.
– Está bem, Nelson, já estou indo pro hospital.
Depois de um rápido banho e pegar algumas coisas
usuais, Marjori sai até a rua dando um ré em seu carro. De

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repente, um susto, duas mãos na janela do carro no banco ao
lado, um rosto que ela decifra rapidamente. Não se lembrava de
ter deixado o vidro da janela do carro aberto, e sua reação foi a
de pegar uma arma e apontar para a pessoa que estava ali, mas
quem ali estava era aquela mulher, longos cabelos negros com
grandes ondas, roupas sérias e escuras, sorriso nos lábios,
aproximadamente trinta anos e de uma beleza rara.

– Posso falar com você? – perguntou Esmirna
ignorando a arma que estava apontada para sua cabeça.

– Marjori abaixa a arma e fixa os olhos em Esmirna.
– Ah! A mulher que anda sobre as águas heim! Qual é a
mágica que tem escondida na manga hoje? Abrir o vidro de
meu carro? Entre!
Esmirna fica um pouco constrangida com o comentário
de Marjori, mas entra no carro, precisava falar urgentemente
com ela, pois havia tanto procurado saber quem era a pessoa
responsável pelas investigações a respeito do caso Melissa, e
agora tinha a oportunidade de explicar alguma coisa.
– A minha “mágica” se chama “verdade” doutora.
– É mesmo? Você sabe muito bem que a minha verdade
é que posso te levar agora mesmo para a cadeia. Você está
sendo procurada como uma seqüestradora.
– Eu sei, mas antes de me levar quero que me faça um
favor!
– Favor, não me diga que é pra comprar cigarros! Na
prisão...
– Por favor, – Esmirna interrompe a delegada, se
mostrando chateada com suas ironias – é sério o que eu te
peço.
– Desculpe, mas diga lá o que quer, pois eu também
estou com pressa, tenho que ver o homem que você salvou, o
assaltante que está no hospital, lembra dele?

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– Sim, sim, mas o que te peço é que passe antes por um
lugar chamado Arca, que é um Centro de recuperação de
drogados e viciados.

– Tudo bem, só não tenha idéias de seqüestrar uma
delegada, pode se dar ainda muito mal eim!

Marjori concordou e Esmirna se calou, apenas mostrava
por onde ela teria que ir com o carro. Marjori ficou um pouco
desconcertada, imaginou que Esmirna fosse uma pessoa de
maneiras mais rudes, pelo fato de ela ter sido envolvida em um
seqüestro, mas percebia que ela era uma mulher forte e até
formal mas com maneiras simples e firmes. Havia falado com
ela da mesma maneira corriqueira com que trata alguns
bandidos e estava arrependida.

– Bem Delegada, o lugar é aqui, mas quero falar algo
antes! – Esmirna começa tentar explicar alguma coisa antes de
entrar no lugar.

– Marjori, pode me chamar de Marjori.
– Pois bem, Marjori. Neste lugar está em tratamento de
recuperação e purificação de drogas, um dos rapazes que fazia
parte da seita religiosa da Mãe Di. Ele é conhecido como
Beto.Naquela noite ele se sentiu mal e nós fizemos contacto
com ele e o trouxemos para cá. Aqui ele passa a fazer parte de
um projeto criado por uma igreja cristã. A igreja da qual eu
participo. Trabalhamos com a reconstituição de sua vida em
geral, isso somente com o consentimento dele mesmo, sendo
que um dos quesitos principais para sua recuperação é o fator
espiritual religioso. Ele deve aceitar o trabalho que é feito aqui
com respeito ao seu relacionamento com Deus e a partir daí
toda a sua vida é tratada, incluindo o lado psicológico. Eu hoje
já estive aqui e pedi a ele permissão para trazer a delegada aqui
e falar com ele. Ele ainda está em início de tratamento, mas
para aquilo que é necessário hoje ele foi liberado, por isso o

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doutor não o liberou para dar longos depoimentos. Eu te peço
que, se possível você mais ouça do que fale ou pergunte.
Quando o médico der autorização nós falaremos com ele, e
assim tudo poderá ser melhor esclarecido.

– Só uma coisa, se você já esteve aqui hoje, então que
horas você chegou? Ainda é menos de oito da manhã!

– Eu costumo vir de madrugada para orar junto com um
grupo de mulheres. Todo nosso trabalho é embalado por
orações. Mesmo durante o dia quando alguém está em ação,
outras pessoas estão orando por elas. É uma verdadeira troca de
forças.

– Quer dizer que neste momento tem gente orando por
você e por mim?

– Pode ter toda a certeza, Marjori.
Marjori não pode deixar de sentir um certo bem estar
por saber que alguém ali se importava com a vida dela.

18. Um testemunho
esclarecedor

Chegaram ao local, Marjori se sentia uma estranha no
ninho. Nunca entrara em um lugar que era freqüentado somente
por cristãos evangélicos e não imaginava como seria. Mas logo
percebeu que era um lugar como outro qualquer e as pessoas
eram tão comuns como as mais comuns. Toda sua estranheza

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fica por conta de histórias tolas que ouvira durante a sua vida.
Na verdade aquele lugar irradiava muita paz e tranqüilidade.

Chegaram diante da porta de um dos quartos e Esmirna
não bate mas diz uma frase;

– O choro pode durar uma noite...
A porta se abre e um rapaz sorridente aparece e
completa a frase;
– ... mas a alegria vem pela manhã!
Beto, aqui está a mulher de que lhe falei. Por favor
quero que diga algumas coisas para que ela fique sabendo.
Diga apenas a verdade.
– Que frase é esta que vocês disseram, – Marjori ao
mesmo tempo em que se intrigou, achou aquela frase um
provérbio consolador para uma pessoa de alma cansada – sobre
noite e manhã?
– É uma frase do salmo número trinta e versículo cinco.
Beto, no dia em que teve um momento difícil em que Deus
entrou na vida dele, sentiu que essas palavras foram ditas
dentro de seu ser e isso o confortou muito. Depois que estava
aqui ele descobriu que eram palavras deste salmo.
– Em primeiro lugar Beto, diga quanto tempo faz que
você estava nesta seita? Esmirna começa o interrogatório.
– Quase dez anos.
– E a menina Melissa é mesmo filha da mulher?
– Não sei, me parece que não, pois a mulher sempre a
tratou muito mal, nunca permitiu que a menina a chamasse de
mãe, mas somente pelo codinome Mãe Di, apenas cuidava
muito bem da sua alimentação. A menina era tão traumatizada
com o maltrato que nem falava direito, quando era pequena
ainda falava, depois foi ficando muda, pois a mulher sempre a
insultava e a ofendia toda vez que ela se expressava.

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– Que aconteceu na noite em que ela foi seqüestrada por
mim?

– Bem, naquela noite a Mãe Di nos surpreendeu até.
Nós sempre praticamos nossa religião com danças e
incorporações de espíritos, às vezes até se matava algumas
galinhas que nós oferecíamos para eles. Ela sempre falava de
sacrifícios humanos que talvez um dia os espíritos exigiriam de
nós. Creio que muitos dos membros já aceitavam serem
sacrificados para serem “beneficiados” pelos espíritos. Porém
nunca havia de fato acontecido.

– Que surpresa ela deu a vocês? Marjori estava em
suspense.

– Ela disse que o chefão dela estava precisando de um
algo mais, e naquela noite ela iria dar a ele uma oferta que ela
preparava há muito tempo.

– Não me diga que...
– A menina. Foi tudo preparado para matar a menina
ali. Se você for até lá eu te digo aonde iriam enterrá-la, depois
de esgotar todo o sangue do corpo e oferecê-lo ao “chefe”.
– Tem certeza que Mãe Di nunca havia sacrificado
pessoas ali?
– Sim, nunca vimos nada disso, como já disse somente
algumas galinhas, e uma vez um bode. Pessoas não. Mas
aquela seria a noite em que o ”chefe” teria sua sêde aplacada.
Mas Esmirna apareceu, não sabemos como, nem de que jeito e
pegou a menina no colo e saiu de lá com ela.
– Mas, – e vocês não fizeram nada contra ela? Marjori
questionou.
– Bem...
– Pára Beto. – Esmirna sentia Beto já ofegante e
começando a suar. – Já deu o tempo necessário para seu

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depoimento. Outro dia, com a autorização do médico
continuaremos com o relato.

– Mas, mas, – Marjori queria saber mais.
– Por favor Marjori, lembre-se que são ordens médicas.
O que ele disse já pode ajudar você a me liberar não é? É do
que eu preciso no momento.
– Marjori não responde. Saíram e já na calçada Marjori
pergunta;
– Você quer que eu a leve a algum lugar?
– Não, meu carro está aqui.
– Aqui? Mas como você chegou em minha casa tão
rápido? Nem táxi chega rápido assim.
– Talvez andando sobre as nuvens – é a vez de Esmirna
também brincar ironizando.
– Ah! Você também pode deixar de ser tão séria e
formal eim! Mas preciso ir até o hospital agora. Fique em
contacto comigo, precisamos conversar mais para resolver tudo
isso. Você ainda continua sob suspeita, mas fique tranqüila,
somente não perca o contato.
– Ok!
– Ah! Você sabia que a menina fugiu do hospital?
– Melissa? Não me diga! – Esmirna quase entra em
pânico. – Marjori, daqui a pouco estarei lá no hospital.
Marjori foi se distanciando e olhou pelo retrovisor e viu
Esmirna com o celular na mão fazendo uma ligação. Ao
mesmo tempo em que se perguntava, “para quem será que ela
vai ligar” não deixou de meditar sobre aquela mulher, de
presença tão tranqüila e humilde mas que tinha em suas ações
tanto mistério escondido.

*****

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– Éridro, preciso falar com você, é urgente. – Esmirna
estava assustada com o paradeiro de Melissa.

– Oi Esmirna, agora não posso, estou no meio de uma
aula do curso de inglês.

– Melissa desapareceu.
Éridro quase deixa o celular cair, tal o susto, mas se
refaz e tenta tranqüilizar Esmirna.
– Daqui a vinte minutos eu irei para casa, lá eu tenho o
controle no computador do rastreador que coloquei na
gargantilha dela, será fácil encontrá-la.
– Por favor, seja rápido então, ela pode estar correndo
perigo. Precisamos de muita oração agora por ela.

19. A menina preciosa

Na casa de Serena e Alberto, o casal estava na porta do
quarto onde colocaram Melissa para dormir. Serena era mais
esperta e ficava imaginando como poderiam tirar proveito da
vida da menina. Trazia nas mãos a gargantilha que Melissa
deixou cair quando dormiu no colo dela, dentro do carro.
Alberto notou o objeto nas mãos de Serena.

– Que peça estranha é essa?
– Não sei, talvez seja um objeto valioso. Dê-me a chave
do carro, vou até uma ourivesaria tentar avaliar isso. Pode ser
de ajuda para nós.
– Mas, eu vou ficar aqui sozinho? E se essa menina
acordar?

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– Ora, dê-lhe café, ligue a televisão para ela assistir,
faça alguma coisa.

Serena sai e Alberto fica ali meio sem jeito com as
mãos na cintura olhando pela porta entreaberta do quarto.
Observava Melissa dormindo, cabelos longos, corpo de
menina-mulher, tão indefesa, tão simples.

– Indefesa? – essa palavra pipocou em sua mente. Abriu
a porta do quarto, pensou um monte besteiras e por um instante
ficou ali, parado observando.

Sua mente foi acionada por satanás neste momento e ele
aos poucos foi tomando coragem para chegar perto da menina e
aumentou o desejo de tentar atacá-la. Deu mais um passo em
direção a ela. Quando já ia levantar suas mãos para tocar em
Melissa, que continuava dormindo, um estrondo na sala o
assustou. Melissa não acorda mas ele sente um calafrio. Parecia
barulho da porta batendo forte.

O susto fez com que ele saísse do quarto, imaginando
que poderia ser Serena que havia esquecido alguma coisa e
voltado. Chegou na sala e ela não estava lá. Olhou para um
lado, para outro e nada, ali não havia ninguém. Checou a porta
da sala e Serena a havia deixado trancada, pois os dois tinham
as chaves.

Passou a mão na cabeça meio assustado, quando já ia se
acalmando, outro barulho no banheiro, a porta se moveu
fazendo um rangido. Imaginou então que, realmente alguém
havia entrado lá. Mesmo com um certo medo se aproximou do
banheiro e abriu a porta, mas lá não havia ninguém.

Voltou para a copa e a porta do quarto de Melissa
estava fechada e ele não se lembra de ter trancado a porta.
Chegou perto e tentou abrir a porta. Estava trancada por dentro.

– Caramba! – desabafou, – essa menina deve ter parte
com o diabo!

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Mal sabia ele que ela tinha parte sim com as orações
que neste momento eram dirigidas a Deus em favor dela.
Decidiu então não atacá-la por enquanto, mas olhou pela janela
de casa e teve uma idéia quando viu o telefone público, mais
popularmente chamado de orelhão.

Depois de procurar na lista telefônica anotou um
número e desceu até o “orelhão”. Teclou o número, meio
nervoso, pensando o que iria falar, do outro lado uma voz
feminina formal atende;

Hospital Médico Central, bom dia!
– Por favor, encontrei uma menina que dizem que fugiu
daí do hospital, preciso saber o nome e o telefone da pessoa
responsável por ela. Ela pediu pra falar com a pessoa, pois está
com muito medo.
– Pois não, senhor, o nome da pessoa responsável é
Esmirna e vou te dar o número do celular dela.
Alberto anotou o número. Era a primeira etapa daquilo
que estava planejando. E parecia mais fácil do que imaginara.
Um resgate agora seria ideal para ele e Serena, pois as dívidas
eram muitas e Melissa entrara na vida deles como um presente.

20. A serva obediente de
satanás

Era quase hora do almoço e Beto já estava sentado em
frente ao prato ali naquele pequeno quarto, ao lado um copo

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com suco de laranja e mais uma pequena jarra com mais um
pouco do suco preparado pelo hospital.

Beto estava cada vez mais fascinado com a nova vida
que estava levando, mesmo sabendo do que poderia vir em
virtude do seu envolvimento com a seita, principalmente
naquela noite onde ele cometera delitos graves. Participou de
uma cerimônia onde uma vida humana estava sendo ameaçada
e ele era uma das pessoas que aprovava e ajudava no culto.
Também seu envolvimento no incêndio criminoso quando
ajudou a por fogo na casa com intenção de matar pessoas
queimadas.

Aos poucos sentia a coragem para enfrentar tudo que
poderia vir pela frente, estava encorajado por Deus e um novo
mundo de conquistas estava se divisando em sua vida.

Pegou a Bíblia como uma pessoa faminta pega um prato
de refeição. Várias vezes naqueles poucos dias sentiu Deus
confortando-o e falando lá no profundo do seu ser e se sentia
maravilhado com tudo. Novamente Deus fala em Isaias 41:10,
“Não temas, pois eu estou contigo, eu te ajudo e te sustento...”

Uma voz do outro lado da porta chamou sua atenção;
– O choro pode durar uma noite...
Sorriu e levantou-se correndo, em sua mente se formava
o rosto belo de Esmirna, a pessoa que ele passou a admirar por
seu amor cristão e apoio. Abriu a porta rápido e com o restante
da frase já nos lábios e começou a dizer;
– ...mas a alegria... – seus olhos arregalaram, não era
Esmirna. De repente uma tempestade de pensamentos lhe
invadem a alma por causa da pessoa que estava a sua frente.
– “Mãe Di”!!!
– Oi meu filho!
– Filho?

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– Sim, eu disse lá na portaria que era sua mãe! Posso
entrar e falar com você?

– Não sei. O que você quer?
– Ora Beto, não me diga que está com medo de uma
simples mulher! Afinal não estou armada e não sou nenhum
bicho.
– Está bem. Entre.
– A mulher entra e passa uma vista d´olhos no lugar,
sempre com um sorriso nos lábios, sorriso esse que Beto não
acreditava ser real e sincero, mas sim um sorriso um tanto
sarcástico e zombeteiro. Toda atitude da mulher era fiscalizada
por Beto e cada expressão do rosto dela e as suas palavras eram
colocadas em prova pelos seus pensamentos desconfiados.
– Sabe, Beto, não vim aqui te recriminar.
– Não mesmo! Então como entrou aqui com mentiras?
– Ora, é melhor para não ficar gerando desconfianças e
suspeitas. Afinal quero só ver se você está bem!
– Eu estou muito bem, encontrei um novo caminho.
– Fico muito feliz com isso Beto, a vida é assim
mesmo, de vez em quando a gente aprende algo novo e com
coragem muda o traçado da vida não é mesmo? Vejo você
muito bem, confiante.
– É assim que estou. – Beto tentava ser o máximo
possível reticente para acabar logo aquela inconveniente visita.
– Gostaria apenas de pedir algum favor a você, pois eu
sei que você está procurando falar sempre a verdade.
– Diga.
– Você sabe, naquela noite muitas coisas aconteceram e
se você começar a falar tudo que aconteceu pode envolver
muita gente. Eu apenas gostaria de te pedir para tomar muito
cuidado quando for citar nomes e pessoas.

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– Se acontecer de eu ter que depor, eu direi somente a
verdade!

– Eu sei, querido, mas posso contar com sua discrição?
– Discrição, olha Mãe Di, não vou envolver pessoas
gratuitamente, apenas quando for indagado eu falarei a
verdade. Prometo não falar de nada que não me
perguntarem.Está bem assim?
– Sim, querido, está ótimo. Sabia que você era muito
inteligente. Que tal então a gente brindar a uma nova vida para
você?
– Não tenho como brindar, só tem um copo de suco
aqui.
– Ora será que não tem algum copo, mesmo que seja
descartável aí no armário?
Beto virou-se para procurar, não queria brindar, mas só
para se ver livre logo dela por uns segundos desviou o olhar da
malévola ao para encontrar um copo. Isso pode significar
perigo e ele nem pensou nisso.
Encontrou um copo de plástico descartável.
– Muito bem Beto, vamos brindar sim a sua nova vida,
desejo que você seja uma pessoa muito vitoriosa, está bem?
– Obrigado. – Beto despeja um pouco do suco no copo
plástico e o dá a mulher e levantam os copos para um brinde,
que Beto não acreditou ser de coração por parte dela, mas...
– Bem, querido, você sempre foi meu melhor
cooperador, eu sinto muito sua falta, mas, tudo bem. A gente
continua o trabalho. Adeus!
– Adeus.
Mãe Di saiu, Beto sente um arrepio. Sua presença traz
um ar carregado e sombrio. Sentou-se na cama tentando fazer
um balanço do que falaram levantou as mãos e amparou a
cabeça e ficou imaginando que ela foi muito calma até, pois as

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palavras dele trazia perigo de envolvê-la nas coisas que
aconteceram.

Fixou os olhos na mesa com o prato feito já começando
a esfriar, a seguir olhou a jarra com um resto de suco de
laranja. Por um momento olhou para o chão com um olhar
meio evasivo, mas voltou o olhar correndo para a jarra, quando
notou que na jarra havia suco de cor vermelha e a cor não
deveria ser vermelha, pois era suco de laranja.

Assustou-se, pois a cor do suco agora era vermelha sim
e parecia mover-se dentro da jarra, mais parecia sangue.
Pensou estar tendo delírios e na realidade estava mesmo, o
suco começou a crescer dentro da jarra e o pequeno resto de
suco que estava no copo também foi tomando as mesmas
proporções. Seu corpo arrepiou-se, levantou e tentou levar as
mãos até o suco, que agora parecia sair e expandir-se no ar
formando vultos horrendos de demônios, mas começou a
tremer e o melhor que pode fazer foi amparar-se na pequena
mesa, tentou permanecer de pé, tudo começou a rodar, ânsias
fazia seu estômago revirar e em segundos já estava vomitando
aquele suco esquisito que mais parecia um tipo de sangue.
Havia dores em todo corpo.

– Serva do Diabo, ela me envenenou e nem vi. –
conclusão assustadora.

Caiu para traz, sentado na cama e sua cabeça foi para
traz batendo violentamente na parede. Ali ele perde os
sentidos.

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21. Uma alma vale mais do
que o mundo

Na UTI do hospital, um casal que escalado pelo Grupo,
estava do lado do doente. O homem com o corpo todo cheio de
feridas pelas queimaduras estava ainda com aqueles tubos no
nariz e também na boca, impossibilitado de falar e com
dificuldades para respirar sendo que os aparelhos o ajudavam
na respiração. Estava, no entanto bem lúcido, e, neste momento
ele olhava para o casal, e de seus olhos muitas lágrimas
rolavam. Sua mão direita apertava a mão da mulher e estava
totalmente envolvido por emoções. Algo estava acontecendo
ali.

Marjori e Esmirna, como se tivessem combinado
chegam juntas a porta do quarto e se surpreendem com aquela
cena, Esmirna, mais experimentada já imagina o que estava
acontecendo, porém nem ela nem Marjori deixam de perguntar
o que se deveria perguntar naquele momento.

– O que está acontecendo? – as duas perguntam quase
ao mesmo tempo.

A mulher olha para Esmirna e depois de um pouco de
silêncio explica.

– Resolvemos dialogar com ele, e como ele não podia
responder por causa dos aparelhos, pedimos que nos desse
sinais com as mãos, apertando uma vez para “sim” e duas
vezes rápidos para “não”.

– E aí?

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– Bem falamos a ele sobre a fé em Jesus e o
arrependimento dos pecados. Ele aceitou e orou conosco,
fazendo uma entrega de sua vida na mão de Deus,
arrependendo-se de seus pecados. Ele sabe que mesmo
arrependendo dos pecados não implica que fica livre das penas
impostas pela lei e até pelas conseqüências que seus pecados
criou.

Marjori, pessoa mais ligada à parte legal, não se
importa muito com aquela explicação e já aciona seu “modus
operandis”:

– Preciso saber quando posso interrogá-lo, isso sim.
– Pelo que dizem os médicos, será preciso esperar ele
sair da UTI, a não ser que tenha algo tão importante trazendo
como conseqüência o risco de morte de alguma pessoa.
– É, pelo visto, Deus tem prioridade para falar com ele
aqui. – Marjori se torna irônica, mas de certa forma dá um
parecer de quem já começa a se acostumar com a presença de
Deus naquele meio de pessoas.
Esmirna e Marjori fazem menção de sair, foi quando o
doente geme e aperta a mão da mulher como quem gostaria de
falar alguma coisa.
– Esmirna, espere, – a mulher chama. – parece que ele
quer dizer alguma coisa para você.
Esmirna se aproxima, os olhos do homem se fixam nos
olhos de Esmirna que chega até a ficar desconcertada, mas as
mãos dele tomam as mãos dela e toda expressão de seu corpo
neste momento é de agradecimento a ela, e todos ali puderam
entender o que ele queria dizer.
– Deus te abençoe. – Esmirna diz com calma – Este é o
meu trabalho, amar o meu próximo como eu amo a mim
mesmo. Agora, comece a pedir a Deus para você melhorar e

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sair deste lugar vivo. Tem um novo mundo aí fora pra você
viver, novos caminhos a percorrer. Está bem?

Marjori e Esmirna saem e ficam sabendo do telefonema
anônimo perguntando sobre a pessoa responsável pela menina
Melissa. Sabendo que a qualquer momento o homem iria
telefonar para Esmirna, Marjori dá veementes recomendações a
ela que logo que receber a ligação que se comunique
rapidamente para que possam levar a efeito a busca a menina
desaparecida.

Esmirna pede licença a Marjori para sair, ela tinha
intenção de falar com Éridro e precisava ir até a casa dele.

22. Mais um traslado

Porém ao sair de perto da delegada Esmirna tem
pensamentos com visões. Beto o rapaz lá na Arca aparecia em
seu pensamento. Entendeu que Deus fazia aquilo e decidiu
rapidamente telefonar para a Arca. Enquanto caminhava pelo
corredor fazia a ligação, mas ao virar uma esquina de corredor
deparou-se não mais com o corredor, mas com uma porta de
quarto, e porta que ela conhecia bem. Era a porta do quarto de
Beto, ela já não estava mais no hospital, Deus a havia
trasladado até a Arca.

Sem pensar mais um instante abriu a porta e lá estava o
rapaz caído. Chamou então a atenção das pessoas que
trabalham no lugar e pediu a presença do doutor Ângelo. Beto

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estava já caído com o corpo sobre a cama e a cabeça
encostando-se ao chão e movia o seu corpo tendo espasmos e
convulsões.

Pediu para que uma das enfermeiras ligasse para alguns
grupos de oração para uma verdadeira batalha em favor
daquela alma. Realmente o diabo apenas havia começado sua
perseguição ao rapaz.

O doutor Ângelo vem e nem se espanta com a presença
de Esmirna lá dentro do hospital e diz;

– Mas ele apenas recebeu a visita da mãe dele!
– Mãe? – Esmirna faz uma cara de estranheza – Ele não
tem mãe, ela morreu quando ele tinha cinco anos. Foi o que ele
me disse.
Esmirna, esperta, já imagina quem teria estado ali com
o rapaz, é claro, só poderia ser a tal de “Mãe Di”. O socorro a
Beto é rápido e Esmirna fica ali ao lado orando e
acompanhando para ver se ele se recupera.
Beto recupera um pouco sua razão e aproveita para
tentar ajudar;
– Veneno, veneno, no estômago e intestino! – olhou e
percebeu Esmirna ali e apenas disse aquilo que ela já havia
decifrado. – “Mãe Di”!
Esmirna sente Beto melhorar e se afasta um pouco,
lembra de Melissa e pega no celular para ligar. Abaixa o olhar
para ligar e quando levanta o olhar leva um susto, já não estava
na Arca e sim dentro de seu carro, já pronta para sair do lugar
em frente ao hospital.
Éridro atende e pede pra ela vir até a casa dele.

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23. Salvação ao som das
muitas águas

Dona Ana, a idosa que mora no fundo da casa que fôra
queimada observava a piscina onde Esmirna havia caminhado
sobre as águas. Solitária ela ali tentava entender o que
acontecera e seus olhos pareciam distantes, assim como seus
pensamentos que visualizavam aquela noite que se tornara
inesquecível. Sua vida tão só e distante dos três filhos, que
vinham semanalmente fazer uma visita a ela e verificar suas
necessidades, agora estava preenchida com aquele momento de
visão sobrenatural. Por um momento ela teve um relance de
lucidez e se perguntou se tudo aquilo não era uma maneira de
Deus lhe falar alguma coisa.Sim, sim, poderia ser, mas o que?

Ainda nestes pensamentos se lembra que a televisão
estava ligada e a noite estava chegando. Entrou então já com os
ouvidos direcionados para o aparelho televisor. Notou que
estava começando um programa cristão e que um pastor estava
falando da Bíblia e de Jesus. Para ela poderia ser uma
coincidência que naquele mesmo instante havia pensado em
Deus e agora estava diante de um pastor na TV falando de
Jesus.

Coincidência ou não decidiu prestar um pouco de
atenção ao que o pastor pregava, e ele dizia;

– Os discípulos de Jesus viram-no se aproximando
andando sobre as águas do mar e se assustaram pensando que
era um fantasma, mas Pedro disse; “Mestre se é você mesmo
diga para que eu vá até aí por sobre o mar” e Jesus lhe
respondeu “vem Pedro” e ele foi sobre as águas, mas sentindo

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o vento e as ondas, começou a afundar. O vento e as ondas
simbolizam que quando você está com Jesus, mesmo que você
ande sobre as águas haverá ventos e ondas de dificuldades, mas
se você não se abalar, o seu lugar é sobre as águas, isso quer
dizer, vencer sobre as ondas e ventos. E não pense que andar
sobre as águas não é possível, pois Jesus disse “Aquele que me
ama fará as coisas que eu faço e as fará maiores ainda”.

– Meu Deus, Jesus está me chamando, só pode ser! –
Dona Ana pôde ser convencida da presença de Deus
chamando-a para pertencer ao seu reino de amor.

Cada palavra que o pastor dava a partir daí eram
flechadas diretas no coração da mulher que agora se ajoelhara
diante do televisor chorando e agradecendo a Deus por ter se
lembrado dela, uma viúva tão só e quase abandonada e
esquecida pelo mundo.

Envolta no momento mais importante de sua vida, ouve
bater palmas no portão de sua casa, levanta-se meio trôpega,
pega um lenço, enxuga as lágrimas e quando chega à porta,
leva um novo choque, no portão havia um casal e a moça tinha
o mesmo aspecto de Esmirna. Seu coração deu um sobressalto,
mas quando foi caminhando para mais perto do casal percebeu
aos poucos que a moça não era Esmirna, mas uma mulher que
tinha uma certa aparência com ela.

Sorridente o casal se apresentou, dizendo os nomes da
cada um. A mulher, que se chamava Elidia tomou a frente na
conversa para explicar a razão de sua visita:

– Esmirna nos enviou aqui para que conversássemos
com a senhora, pois no dia em que esteve aqui ela deixou
muitas dúvidas, e quer também que agradeçamos a senhora
pela ajuda que deu naquela noite. Viemos trazer-lhe uma Bíblia
como recompensa e se a senhora puder nos receber,
gostaríamos de conversar um pouco.

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– Entrem, entrem, Deus hoje se lembrou que tem uma
mulher aqui que se chama Ana e que precisa muito de seu
amor, seu perdão, seu cuidado...

O casal percebeu que os caminhos que Deus usou para
ganhar aquela alma já haviam sido percorridos e que agora só
mesmo faltava um trabalho de apoio para que a mulher pudesse
crescer como uma verdadeira cristã.

Foi mais uma alma salva durante o resgate da menina,
exatamente como Deus havia prometido a Éridro, que muitas
vidas haveriam de ser salvas assim.

24. Uma revelação
surpreendente

Éridro recebe Esmirna, ele é um menino de muitas
posses. Seus pais são executivos, sua mãe uma juíza de direito
que tinha ainda o cargo de corregedora e seu pai um político na
área federal. Ambos eram pessoas que dificilmente estavam em
casa, por isso Éridro mais parecia um garoto só e cuidado pelos
empregados da casa. Ele, porém tinha um QI bem alto para um
menino de sua idade e fazia uso disso em seu trabalho cristão.

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Esmirna já conhecia sua casa e sua parafernália de
informática. Entrou tranqüilamente e esperou as notícias.

– Esmirna, o rastreador que coloquei na gargantilha de
Melissa não é dos mais sofisticados, como num filme de
cinema, onde o computador contém um mapa e um círculo vai
se fechando e mostra exatamente onde está o aparelho.

– Está bem Éridro, nem tudo é perfeito como
gostaríamos que fosse.

Veja, o aparelho emite sinais que aqui no computador
consigo captar o local aproximado. No caso dá para discernir
que o sinal vem da zona leste da cidade. Precisamos ir até lá,
levar um aparelho captador dos sinais e assim a gente aos
poucos, com a força dos sinais vai encontrar o local.

– Que estamos esperando então, Éridro, vamos lá!
– Um momento Esmirna!
– Que foi agora?
– Antes eu gostaria de falar com você a respeito de um
Dossiê!
– Dossiê? Que dossiê?
– O Dossiê Melissa.
– Ah! Então quando essa menina entrou em nossas
vidas não foi por acaso!
– Não! Na verdade ela é alvo de uma investigação
minuciosa que fizemos. Ela é uma menina que foi raptada de
um hospital quando ainda tinha poucos dias de vida.
– Sim, muito interessante, mas e daí?
– Tudo começou quando André, um de nossos
participantes do grupo, precisou entrar na sala da secretaria da
escola onde ele estuda para solucionar um problema com os
documentos dele e ele cometeu um pequeno ato indiscreto de
curioso. Enquanto esperava uma pessoa que iria falar com ele
olhou um armário que era um grande arquivo de papéis. Uma

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das gavetas estava aberta e ali estava a cópia dos registros de
nascimento de todos os alunos da escola. E a coincidência, que
agora a gente já sabe que não é coincidência, mas foi um ato de
Deus, foi que quando ele põe a mão no arquivo e tenta olhar
um registro qualquer, ele dá de cara com o registro de
nascimento desta tal Melissa. Ao olhar ele percebe que alguns
nomes ali pareciam familiares. Eram familiares porque já há
algum tempo orientados por Deus, estamos levantando
informações sobre árvores genealógicas de algumas pessoas
conhecidas para darmos como presente. Este menino tem
ajudado na pesquisa e ali ele pensou ter encontrado alguma
coisa inesperada na vida de uma certa pessoa, embora havia a
possibilidade de ter muitas Melissas e muitas coincidências de
nomes. – Outro fato curioso na vida dela é que ela era uma
menina totalmente anti-social. Não conversava com ninguém,
às vezes apenas um “sim” ou “não”, andava sempre parecendo
ter medo de alguma coisa. Ela não tinha colega alguma ou
pessoa que houvesse trocado mais que duas palavras com ela.

– A única coisa que pudemos fazer seria seguí-la para
ver onde morava e com quem morava. Descobrimos então o
meio em que ela estava envolvida que você já sabe, a mulher
(que na verdade não é mesmo mãe dela), a seita os maus tratos
etc...

– Eu sabia!!! Disse Esmirna como quem se alegrasse
com a confirmação daquilo que ela sentiu no dia em que salvou
a menina da morte por sacrifício.

– Pois é, Esmirna, mas havia ainda outros fatos a
respeito dela. Onde estariam os pais e os avós, já que, como te
disse, o menino que viu o registro havia encontrado nomes
muito coincidentemente conhecidos. Pedi então para minha
mãe solicitar uma cópia do registro de Melissa no cartório, e de
posse deste documento já podíamos saber em qual cartório foi

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feito o registro na época do nascimento e em qual hospital ela
havia nascido.

– Precisamos utilizar o trabalho de alguns casais para
isso. Descobrimos algumas irregularidades nos dias em que ela
nasceu. Uma criança morreu, uma outra desapareceu e as duas
haviam nascido no mesmo dia.

– Pôxa, – Esmirna estava envolvida e fascinada com a
história.

– E o mais interessante era o seguinte, para a criança
que morreu o hospital ajudou no enterro que foi acompanhado
pela avó e o hospital emitiu um atestado sobre a morte da
criança para ser feito o Certificado de Óbito no cartório, mas o
estranho é que no cartório não foi feito certificado de óbito e a
outra criança desapareceu e não foi encontrada mesmo até hoje.

– Encontramos então a avó que estava lá naquele dia e
agora cuidando de uma menina, Melissa, que na realidade
pelos fatos ocorridos parecia não ser a verdadeira neta dela,
pois quem havia desaparecido era a filha de outra mulher no
hospital.

– Então, é possível que esta mulher tenha seqüestrado
Melissa da verdadeira mãe. Esmirna completa.

– Mas ainda falta um detalhe, o mais importante de
todos. Falei com meus pais e surgiu algumas dúvidas, pois,
segundo o hospital a criança que havia morrido se chamava
Melissa, então como foi que a mulher colocou o mesmo nome
na outra criança, então resolvemos fazer um exame de DNA de
Melissa e da filha desta mulher que é avó. Na escola foi fácil
de conseguir um exame de sangue da menina. Aqui na nossa
comunidade, que é onde se encontra a suposta mãe de Melissa
também foi fácil conseguir amostra do sangue, pois ela de vez
em quando doa sangue no hospital da Arca.

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– Ah! Sim, eu mesmo, de vez em quando dôo sangue lá
na Arca. – Depois de dizer esta frase, Esmirna sente um arrepio
forte no corpo. Lembrou-se do seu passado e de como o nome
Melissa era o que gostaria que sua filha se chamasse, isso a
assustou. Seu refúgio foi olhar para um espelho grande ao lado
do lugar onde estava sentada. Ficou em pé olhando para o
espelho, não sabia de onde vinha uma sensação forte, mas
começou a suar e pediu que Éridro concluísse a história.

– Constatou-se que, na verdade a mulher é mesmo a avó
da menina, ela apenas disse a filha dela que a menina estava
morta para que não a procurasse mais. Pelo fato da outra
menina ter morrido ela aproveitou e fez as trocas.

– Meu Deus! Diga Éridro, como é o nome da mãe de
Melissa e da avó!

– A avó se chama Helena, é claro mais conhecida como
“Mãe Di” que na realidade quer dizer “Mãe Divina” e a mãe da
menina se chama... – Éridro dá uma pausa, olha para Esmirna
parecendo temer falar o nome.

– Se chama...???
– E, E, Esmirna...
Esmirna explode em choro e soluços, coloca as mãos no
espelho. Como olhando para si mesma;
– Por isso ela era tão familiar, ela se parece comigo
mesmo, vejo os traços dela em mim. E aquela mulher, eu a
conheço também, ela era a assistente social que apareceu no
hospital, agora me lembro do rosto dela. Minha filha, minha
filha. Onde está minha filha, eu a tive nos meus braços.
Esmirna não sabia, mas de repente do quartinho de
oração de Éridro saem algumas pessoas, todas amigas de
Esmirna que estavam ali orando para que ela pudesse receber a
notícia e ser forte e abraçaram e a consolaram.

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Lembrou-se do momento em que viu a menina sobre
um altar para ser sacrificada e das palavras que disse para a
mulher. Mesmo sem saber do que estava acontecendo por trás
de tudo ela enfrentou a mulher como alguém que tinha direitos
sobre a menina. Lembra-se que Deus deu discernimento a ela
para perceber que a mulher não era a mãe da menina. Lembra-
se claramente que disse “Eu tenho mais direito que você sobre
a menina”, mesmo sem saber que a menina era sua filha.

Foi um momento de muita emoção para todos, mas
principalmente para Esmirna que agora tinha uma nova
perspectiva para trilhar em sua vida. Melissa, tão acuada, tão
maltratada, onde estaria? Sentia desejos de abraçá-la, de cuidar
dela de ensinar coisas para ela e de caminharem juntas. Pobre
criança, foram treze anos de sofrimento, de maus tratos.
Somente Deus mesmo poderia trazer de volta um fruto tão
precioso para embalar a vida desta mulher tão dedicada, mas
também tão só.

– Éridro, vamos, vamos, precisamos encontrar essa
menina. Preciso vê-la!

Esmirna pegava sua bolsa e celular nervosamente e
parecendo ter perdido o equilíbrio do corpo, falava com voz
trêmula, todos ao mesmo tempo em que a consolavam se
solidarizavam com o sofrimento por que ela estava passando
naquele momento. Esmirna não conseguia manter-se de pé, era
necessário alguns momentos para que ela se refizesse do
choque. E o que todos puderam fazer de melhor para que ela se
recompusesse foi ficar em silêncio em volta dela, alguns a
abraçando e chorando junto. Isso era mais reconfortante que
palavras ou orações. No silêncio sentia-se mais a presença de
Deus ali, bem juntinho, e o “coração de Pai” de Nosso Criador
parecia também sentir o mesmo que todos ali sentiam. Era uma

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união do céu e da Terra, como diz a oração do Pai Nosso “Seja
feita a sua vontade assim na terra como no céu”.

Dava para sentir que a vontade de Deus era de estar ali
com Esmirna, como um pai ou uma mãe que toma a filha no
colo e a embala e limpa suas lágrimas.

Combinam então passar na igreja e participar do culto
que estaria acontecendo dentro uma hora e depois disso iriam
avisar a delegada Marjori e se dirigirem para o lugar onde a
menina estaria com a gargantilha que emitia os sinais.

25. O culto vazio de Mãe Di

O que está acontecendo? Onde estão os outros? – Mãe
Di estava indignada com a ausência de muitas pessoas naquele
momento em que ela costumeiramente fazia suas cerimônias de
culto a seus deuses.

– Não sabemos Mãe Di, parece que estão com medo por
causa do que aconteceu na ultima “sessão”! – falou com olhos
no chão uma das moças que sempre a acompanha nos rituais.

– Medo! Nosso “guia espiritual” não aceita pessoas com
medo. Ele sempre dá coragem para todos.

Mãe Di olha para cima de um balcão e vê a faca que
usava naquela noite inesquecível. Sua face se contrai, por
dentro de si sente um ódio invadir sua alma.

– Aquela mulher, aquela igreja! É uma igreja maldita do
diabo!

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– Mãe Di, se a senhora precisar de nós estamos
dispostas a tudo para te ajudar. Entendemos que nosso “Guia”
é de Deus e aquela mulher é do diabo e a igreja dela também.
Pode contar com nossa ajuda.

– Mãe Di, esperta percebe a dedicação da moças e
entende muito bem a inversão de valores que conseguiu
colocar na cabeça delas. Aproveita então para sugestionar mais
ainda a alma aberta das suas “colaboradoras”.

– Isso mesmo meninas, precisamos estar dispostas a
tudo pelo nosso “Guia”. Eu estou pronta a ir até a morte por
ele. Nós fomos envergonhadas por aquela igreja e aquela
mulher. Eu irei até lá e colocarei minha vida em jogo, pois eu
sei que se morrer lutando pela nossa causa o nosso “guia”, na
outra vida tem preparado um lugar de delícias no paraíso.
Melissa deveria ser sacrificada. O “nosso Guia” ainda pede um
sacrifício, mas eu mesma me oferecerei em sacrifício a ele.

– Iá, Iá, – as moças soltam gritos de guerra e alegria de
poder participar de alguma coisa tão importante para a alma
delas e para o “guia”, que elas pensam ser algum ser muito
próximo de Deus. – colocamos nossas vidas em jogo também
por nosso “guia”.

– Lá no oriente, muitas pessoas alcançam o paraíso
entregando-se na batalha e se transformando em homens e
“mulheres-bomba”*. Nosso “profeta” tem esta linha e acesso
ao paraíso também e nós podemos receber este presente dele.

*Os homens-bomba são muçulmanos radicais, que são
ensinados (desde a mais tenra infância) que, quem morrer
numa ““jihad”(guerra santa) contra os infiéis (nós ou os
judeus, para eles) vai direto para o Paraíso de Alá, onde pode
beber toda a bebida que quiser (em vida, toda bebida alcoólica
é proibida para um muçulmano) e onde é servido (em todos os
sentidos) por setenta virgens (que permanecem virgens para

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sempre). O corão diz que, depois da morte, haverá um juízo
por Alá e os justos irão para o paraíso e os maus queimarão
no inferno; só que os imãs ensinam que os "mártires” não
serão julgados - vão direto para o paraíso!”.

Mãe Di abre um grande armário e pega um colete, um
dos artefatos que ela sempre guarda, instigada por satanás, para
destruir vidas em massa, e mostra as pessoas, neste momento
ela faz com que a sua “sessão” fique bem formal. E começa a
dizer coisas para persuadir seus ouvintes.

– Eu tenho permissão do “nosso mestre” para destruir
aquela igreja, neste colete tem uma bomba que destruirá quase
o salão do templo todo, juntamente com as pessoas. Será a
grande vitória, depois disso só alegria e paz no paraíso. Eu irei
e me entregarei nesta grande missão!

Os que ali estavam, apenas meia dúzia de pessoas
estavam totalmente envoltos em verdadeiro transe pelas
palavras da mulher. Todos levantavam as mãos em adoração,
alguns já até se deitavam no chão e rolavam rindo muito de
alegria.

Mãe Di faz então a “grande jogada” para tentar
transferir aquela “importante missão” a uma de suas
assistentes.

– Um momento, – ela dá uma pausa, levanta a cabeça
como se estivesse olhando para o alto e, em seguida fala; –
Nosso “guia” disse que precisa de mim para novas missões
aqui na terra ainda, eu gostaria muito de ir lá para o paraíso,
mas ele me quer aqui ainda por um tempo. E neste momento
ele está falando no coração de uma das pessoas que está aqui
para que ela possa ter a grande responsabilidade de realizar tão
grande feito.

Mãe Di espera que a própria mente sugestionada de
uma das moças pense que o tal “guia” está falando com ela e

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ela se apresente para a missão suicida. Durante algum tempo
ela tem sugestionado as mentes dos membros de sua seita para
uma provável morte sacrificial. Ela se lembra que algumas das
moças que ali estavam eram pessoas muito sofridas e com
pensamentos suicidas, o que facilitaria a sugestão. E,
realmente, é o que acontece, para alívio da maldosa.

Uma das moças levanta a mão e, de olhos fechados fala
como se realmente tivesse recebido a incumbência da missão;

– Sou eu a pessoa Mãe Di!! Ele falou comigo.
– Ufa, – pensou a Mãe Di, quase chegou a pensar em
outra saída, mas, enfim ali estava um grande trunfo em que ela
poderia se vingar da mulher que ela curtia um grande ódio,
embora fosse sua filha e ela sabia disso, mas não se importava,
tal era o engano em que estava, embriagada por satanás.
– Muito bem filha, coloque este colete, você é uma
pessoa escolhida mesmo. Hoje mesmo estará no paraíso. A
igreja não fica muito longe daqui, quero que todos estejam
possuídos pelos “espíritos bons” *
*(espíritos bons, “argumento” de pessoas que se
utilizam possessões espirituais e dizem haver espíritos do bem
e do mal).
– Hoje será a nossa grande vitória!
Saem à rua e o carro de Mãe Di, um carro tipo perua, é
suficiente para que todos possam ir ao mesmo tempo. Em
pouco tempo ela para, estão há quatro quarteirões da igreja.
Param e Mãe Di dá instruções de como a moça teria que
acionar os explosivos e a envia a pé. Seria mais prudente o
grupo não chegar perto, pois poderiam suspeitar de
envolvimento. E lá foi a moça com um vestido largo e uma
manta que trazia por baixo o colete onde levava a morte.

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26. A mulher bomba contra
os anjos

O culto já havia começado, neste momento havia
cânticos de adoração a Deus, ao lado do templo existe um
grande pátio que serve de estacionamento, e muitos carros
estavam lá.

Do lado de fora um carro de polícia e em pé encostados
na viatura os dois conhecidos policiais, Diego e Antonio, que
não haviam recebido da Delegada Marjori ainda qualquer
comunicação com respeito a liberação “vigiada” de Esmirna, e
assim continuavam sua busca para capturar a moça.

Já haviam olhado no estacionamento e reconheceram o
carro de Esmirna. Ficaram então ali do lado de fora, na rua,
esperando o culto acabar para fazerem aquilo que eles
pensavam ser a grande façanha deles: Prender a seqüestradora
da menina!

Apenas Esmirna, lá dentro da igreja não sabia que a
morte, o inferno e a prisão estavam jogando muito próximo
contra ela. Sua vida agora estava praticamente sendo
derramada em amor a Deus pelo presente que recebera. Sua
filha estava viva.

Lá fora os dois soldados estavam conversando
tranqüilos até que notaram aquela moça parada na calçada em
frente à igreja. Ela olhava para um lado e para outro e parecia
não saber ou não conseguir entrar no templo.

– Hei moça, algum problema? – resolvem oferecer
ajuda!

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A moça quase não falava, estava nervosa, ela havia
parado ali e o que ela estava vendo os policiais com certeza não
viam.

Em frente à igreja alguns homens fardados com roupas
prateadas reluzentes andavam de um lado para o outro e
formavam colunas em volta da igreja. Nas portas outros
soldados ainda mais fortes e altos guardavam a entrada. Sem
entender ainda o que era aquilo que ela via, a moça começou a
se preocupar pensando;

– Quantos soldados! Será que tem alguém importante aí
na igreja? Só se for o Presidente da República!

Um dos policiais toma a moça por uma das mãos e a
ajuda a entrar na igreja. Os “soldados” permitiram que ela
entrasse, a partir do momento em que ela foi ajudada pelos
policiais. O policial volta para a rua fazendo gracejos com
respeito ao medo da garota.

Mas para aquela moça as coisas pareciam piorar mais
ainda. Ela havia planejado caminhar pelo vão central do templo
e quando chegasse no meio iria acionar os explosivos. E agora
ela estava ali, bem em frente ao corredor. Olhou para os
bancos, e viu que havia uma superlotação na igreja, embora a
maioria das pessoas se parecia muito umas com as outras, eram
pessoas claras e cabelos claros e roupas, também reluzentes
como prata. Estranhou muito, pois nunca havia visto tantas
pessoas com roupas assim. Elas até pareciam “anjos”. Mal
sabia que esta realmente era a própria verdade. Os anjos
completavam os bancos onde faltavam pessoas.

Outra coisa assustadora também foi que ela viu o pastor
lá na frente falando de Deus e de cada lado do pastor um
”soldado”, estes soldados já mais parecidos com anjos e
usavam roupas longas e escudos e tinham espada na mão, e o
mais impressionante era que eram muito altos.

90

Ela fica ali meio sem ação, impressionada com a visão
daquelas pessoas. A igreja parecia muito mais estranha agora
com aquelas visões. Havia aprendido que essa igreja era do
diabo, mas ela mais parecia uma igreja de Deus e ainda aquele
pastor que falava de Deus tão bem que sua pregação parecia vir
como flechas para a cabeça dela e batia com força. Eram
palavras fortes e a atingiam como se estivesse sendo atingida
por um jato de águas que a desarmasse.

A luta interna da moça era muito grande, nunca
imaginava que iria enfrentar como inimigo uma pregação de
um pastor. Pois era o que acontecia, a cada vontade de dar um
passo ela ouvia uma palavra que vinha com muito poder e a
atingia como um raio.

Tomou muita coragem e deu um passo no meio do
corredor. Neste momento alguns dos anjos que estavam
sentados nos bancos da frente se levantam olhando para ela, e
que mais a assustou foi que os anjos quando se levantaram
ficaram de um certo tamanho, mas depois eles cresceram mais
e continuavam a olhar para ela, e o olhar deles era muito sério.

Então ela pode realmente perceber que o lugar estava
mesmo cheio de anjos. Sua alma fica transtornada, ao mesmo
tempo em que aquelas palavras que vinham do púlpito eram
palavras de amor e a atraía para o verdadeiro Deus, ela se
lembrava das palavras de Mãe Di, que o paraíso estava muito
próximo de ser alcançado, se ela cumprisse o que havia sido
destinado para ela.

Esta confusão entre o que era de Deus e o que era do
Diabo faz ela vacilar, mas enfim toma coragem e dá mais dois
passos. Olha para trás e percebe que outros anjos também estão
atrás dela com aquele olhar. Ali, no meio do corredor, vendo
anjos por todos os lados, a pressão sobre sua vida chega a um
ápice, ela sente que é o momento mais importante de sua vida.

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Dá um suspiro bem forte. Neste momento até mesmo as
pessoas da igreja param de prestar atenção nas palavras do
pastor e olham para a moça.

Ela leva a mão ao colete, olha para trás, e depois para
frente, seus olhos estão arregalados, assustados, e deles saem
lágrimas em profusão. Então dá um grito!!

– Amor! – e começa a repetir – amor, amor de Deus!
O pastor que pregava exatamente sobre isso, “o amor de
Deus”, então também pára e olha para a moça naquele meio de
salão;
A moça então joga uma manta que tem sobre o seu
corpo e fica o colete exposto. Grita alto sem expressar qualquer
palavra e sai correndo por uma porta lateral da igreja.
Lá fora os policiais olham assustados e percebem a
mesma moça que eles ajudaram a entrar na igreja saindo
correndo pela porta lateral e entrando no meio dos carros do
estacionamento. A seguir Esmirna vem atrás dela.
Um olha pro outro e ficam meio sem ação, pensando
que poderia ser que a moça estava endemoninhada como às
vezes eles vêem na televisão em que as pessoas ficam assim e
aprontam todas.
A moça pára de repente vira-se para Esmirna e diz;
– Eu não posso fazer isso, veja.. – ela mostra para
Esmirna o colete com a bomba – vai embora, quero morrer
sozinha aqui!
– Não vou, – Esmirna responde firme – se você morrer
eu morro com você!
– Porquê?
– Amor, – Esmirna sente que é assim que Deus quer
alcançar aquela vida.
– Não, amor não... – a moça está transtornada, e de
repente puxa um fio que aciona a bomba no colete.

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– Esmirna salta sobre ela e arranca o colete...
De repente a explosão no meio do estacionamento, uma
bola de fogo sobe para o ar e junto com ela alguns carros
também chegam a voar e caírem sobre os outros. Os próprios
policiais vão ao chão com a pressão da explosão. O fogo toma
conta de alguns carros, o que faz com que todos corram para
tentar debelar.
Algumas pessoas correm pegar os extintores dos carros
e começam a dominar o fogo, enquanto outras imaginam que a
explosão pode ter matado não só a moça, mas também Esmirna
que saiu em busca da tresloucada mulher bomba. O fogo dos
carros fazia barulho, alguns carros ainda se moviam e caiam.
Os dois soldados ficaram ali tentando ajudar em alguma
coisa, e o mais que faziam era correr de um lado para o outro,
tentavam encontrar as duas mulheres que haviam saído
correndo para o meio do pátio agora envolvido naquele caos. O
incêndio foi sendo debelado e nem sinal das duas. Devido à
explosão, agora o lugar estava sem energia elétrica e algumas
lanternas eram usadas no meio da fumaça, alguns ainda
chamavam Esmirna, para ver se ela ainda estava por ali, mas
nada de resposta.
Depois de alguns minutos então se ouve um gemido
vindo de debaixo de um dos carros que tinha ainda outro carro
em cima. Correm e se abaixam, Antonio então vê as duas, a
moça deitada no colo de Esmirna com um dos pés preso pelas
ferragens do carro. Esmirna parecia desacordada. O local era de
difícil acesso, haviam chamado o Corpo de Bombeiros, mas
ainda não haviam chegado.
A moça chorava muito e se agarrava ao corpo de
Esmirna como se isso fosse para ela uma segurança, mas não
podia sair por causa do pé que estava preso.

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Esmirna aos poucos recupera os sentidos e percebe a
situação em que está, com o corpo da moça sobre o seu e a
dificuldade para sair dali.

Os soldados temeram pelo pé da moça que parecia
esmagado debaixo daqueles ferros e segundo o que viam
dificilmente ela teria os movimentos dele novamente.

Antonio, então que era o único que conseguia ver
melhor as duas pôde presenciar uma cena para marcar sua vida.
Esmirna notando o pé da moça esmagado debaixo do carro
então, num esforço segura o pé dela com uma das mãos e puxa.
O pé vem como se não estivesse preso em alguma coisa. Em
seguida faz uma massagem no pé ferido e pede para a moça
mexer com o pé.

Antonio não pôde acreditar no que viu, aquelas
ferragens eram de um peso imenso, como foi que Esmirna
puxou o pé e ele não ficou preso? E ainda o pé que parecia
esmagado volta ao normal.

Esmirna olha então para Antonio e ele percebe os olhos
claros dela direcionados para o facho de luz que sai da lanterna.
Ela parecia sofrida, mas com um rosto de quem sofria com
coragem. Seus conceitos sobre Deus são avaliados naquele
gesto e no olhar de Esmirna.

– Ninguém me contou! – pensa – eu estou vendo um
milagre de Deus! Um Deus bem diferente do Deus que eu
conheço. Não é esse Deus irado que vive vigiando nossos
passos e impondo situações difíceis como disciplina por nossos
erros. É um Deus que ama as vidas que ele criou, que cuida e
usa aqueles que o buscam mais proximamente.

Antonio se absorve nestes pensamentos, Esmirna e a
moça estavam com algumas escoriações e não poderiam sair
dali sem que os bombeiros fizessem alguns trabalhos, e

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Antonio nem percebeu que ali perto dele os “homens do fogo”
já se preparavam para o resgate das duas moças.

27. Será vitória ou será
derrota?

Mãe Di, de longe observara a bola de fogo subindo ao
ar clareando a noite, a seguir o agito todo de carros, gente,
Polícia, Corpo de Bombeiros. Estava satisfeita acreditando que
a missão fora cumprida pela moça. Preferiu então voltar para
sua casa, levando a trupe dominada por ela. Suas
colaboradoras, no entanto faziam um silêncio sepulcral, aquilo
era por demais grande novidade para elas e estavam muito
chocadas.

Pela primeira vez Mãe Di não encontra palavras para
persuadir mais uma vez o entendimento delas. Sente que seu
vocabulário cheio de sedução da cartilha satânica está meio
esgotado. Leva então as moças para suas casas sem dizer
palavra alguma, mas ao mesmo tempo tentando dentro de si
articular algo para ganhar novamente a confiança delas. Sentia
que o laço que as prendia estava muito tênue.

Foi então para casa, só queria saber as notícias no outro
dia, pois agora tentaria descansar deste dia tão agitado. Ainda
teria que encontrar Melissa e depois já planejava desaparecer
do mapa da cidade. Quem sabe até ir pro exterior, já que sua
seita estava praticamente destruída.

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Helena, a Mãe Di estava quase que totalmente
dominada por espíritos demoníacos e seus sentimentos eram
sempre dirigidos para o mal, tal era o domínio que eles
exerciam nela. Dificilmente ela se sentia “ela mesma”, era mais
uma boneca articulada, uma personagem que não conseguia se
desfazer do tipo. Voltar a ser uma pessoa comum, com
sentimentos lhe parecia uma missão quase impossível e muito
distante. Seus pensamentos sempre eram invadidos por um
torpor espiritual que não permitia que ela concluísse qualquer
idéia boa.

Na sua pequena casa, ela não conseguia dormir, seus
nervos estavam agitados, ela acendia cigarros e mais cigarros,
jogava-os enquanto ainda estavam grandes e acendia outros.
Avaliando bem ela percebia que suas vitórias e derrotas nestes
últimos dias não agradavam ao seu “guia”, nem a si mesmo.
Senta-se no escuro, e somente uma pequena luz vindo de uma
fresta da janela atingia seu perfil espectral. Numa poltrona,
com a cabeça baixa, o cabelo caindo sobre o rosto, vestido
longo e as pernas abertas, os braços sobre os braços da poltrona
e as mãos penduradas nas extremidades, em uma mão o cigarro
e na outra um copo com um pouco de bebida. Revelava a
figura de uma pessoa derrotada, embora dentro de si ainda
tinha o entendimento de que havia destruído a igreja onde
Esmirna estava e com certeza muitas pessoas havia morrido
naquela explosão. Isso deveria bastar e lhe convencer, mas
interiormente não sentia esse convencimento.

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28. Mais que uma simples
prisão

Os bombeiros enfim conseguem retirar Esmirna e a
moça do lugar difícil que elas estavam. Esmirna respira um
pouco o oxigênio que eles lhes dão e se recupera melhor. A
moça precisa ser encaminhada para um hospital. Ela dá
informações sobre sua família para que possam ser
comunicados. Enfim tudo começa a se resolver e os maiores
prejuízos ficam por conta dos carros que foram atingidos.

Esmirna limpa as mãos com uma toalha cedida por uma
das mulheres da igreja, e a sua frente os dois policiais
observam. Quando ela entrega a toalha e dirige o olhar para os
dois, tem a surpresa. Um deles estende uma algema pra ela e a
coloca em seus pulsos;

– Sinto muito, mas temos que te levar presa porque
você ainda é procurada por seqüestro.

– Mas, a delegada Marjori não disse a vocês...? –
Esmirna se espanta com a atitude deles, imaginava que a
delegada Marjori já os havia avisado do testemunho do rapaz
que a livrou.

– A delegada está dormindo numa hora dessa moça,
amanhã você falará com ela. Vamos, – os policiais acreditavam
que estavam apenas cumprindo a lei.

Esmirna sente que tem pela frente uma noite
possivelmente perdida, já que dificilmente eles iriam ligar para
a delegada. Sabe muito bem que com apenas suas palavras eles
não a soltariam, então prefere ficar quieta e acompanhar os
homens da lei. As pessoas da igreja são instruídas por Esmirna

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a não se envolverem e irem para suas casas e apenas ficando de
prontidão nas orações.

Colocaram Esmirna em uma cela em companhia de
algumas outras seis mulheres. O contraste de situações que
passou neste dia se reflete naqueles olhares, alguns surpresos,
outros assustados, outros de recriminação.

Sua mente busca respostas para tantas indagações de
sua alma. Os porquês insistem em borbulhar e pipocar e trazer
À tona reações humanas tão clássicas.

Já havia passado por tantas dificuldades, e este era um
momento que teria que manter a calma. Suas experiências
devem ser detonadoras de reações humanas rebeldes. Há que se
confiar na direção e na mão de uma pessoa magnífica que faz a
ferida, mas depois a cura. É um novo momento em que a fé é
provada, após tantas experiências.

Deus nada faz sem um propósito definido, e a pessoa
que se dispõe a segui-lo tem que estar pronta para caminhar por
labirintos escuros, onde haverá indagações e dificuldades. É
muitas vezes dentro destes vales sombrios é que Deus atua,
para que sua graça e misericórdia sejam percebidas, exaltadas e
possam ser exercitadas.

Esmirna senta-se em um canto e tenta encolher-se,
gostaria de passar despercebida até o amanhecer, quando sabe
que será solta. Algumas das mulheres ali dentro, porém têm um
espírito odioso em que o desejo delas é sempre de irritar novas
pessoas que entram ali e de imediato implicam com Esmirna,
dizendo que aquele cantinho onde ela sentou e se encolheu era
o lugar preferido de uma delas.

Esmirna faz o possível para não responder, apenas
procura trocar de lugar. Em sua mente ela tenta arquitetar
alguma oração para poder se fortalecer. Sabe que tem gente

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passando a noite em claro orando por ela. Isso é conforto e
fortalecimento.

Sua mente, porém está povoada por informações de
situações que mexem muito com sua pessoa a ponto de ela não
conseguir orar. Lembrou-se então de que quando a gente não
consegue orar com o entendimento, podemos orar em espírito.
Isto, segundo aprendeu em sua igreja, está na Bíblia na
Primeira Carta aos Corintios, capítulo 14 e versículos 14, 15 e
16, onde o apóstolo Paulo ensina que podemos orar em uma
língua que não entendemos apenas abrindo a boca e dizendo
palavras não conhecidas do nosso entendimento, mas com
certeza conhecida do nosso espírito.

Ela não se importou de pensar se iriam se assustar, mas
de uma maneira bem sutil e voz baixa começa sua oração em
línguas estranhas.

No começo as outras não percebem, apenas pensam que
ela está chorando, mas aos poucos todas vão ficando em
silêncio e então já podem notar que Esmirna está falando
alguma coisa.

Esmirna, porém orava de cabeça baixa, ainda com voz
quase sussurrante, mas sua oração era ininterrupta e bem
constante.

– Deve ser louca – comenta uma delas.
– Ou está bêbada, – a outra fala com deboche!
Esmirna não pára sua oração estranha e fica ali sentada,
encolhida orando aquelas palavras tão estranhas. Uma das
prisioneiras resolve implicar com ela.
– Ô garota, quer parar com isso! – fala em tom de
censura. Mas Esmirna parece nem ouvir.
– Deixe-a, – já sai em defesa uma delas – está quieta e
não está importunando a nós.

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– Ela está fazendo pouco caso de nós, acho que pensa
ser uma pessoa especial. Olha ô dona, aqui somos todas
prisioneiras, somos a ralé do mundo entende! Se você está aqui
é a mesma coisa que nós. Está me ouvindo?

Esmirna ainda orando levanta a cabeça devagar e acena
com um mover da cabeça dizendo que sim. Mas isso não é o
bastante, a mulher parece mesmo instigada pelo diabo, e está a
fim de aprontar com Esmirna.

– Acho bom você me tratar com mais respeito viu! Não
é só me responder com a cabeça, quero ouvir você falando
comigo! Agora levanta daí! Vamos!

A mulher começa a se alterar com Esmirna, as outras
pedem a ela que fique calma, mas isso não acontece.

Esmirna volta a ficar com a cabeça baixa, quando havia
olhado para cima percebeu um demônio sentado nos ombros da
mulher e ele dava murros na cabeça dela para instigá-la contra
Esmirna. O reino das trevas parecia não querer dar sossego a
Esmirna nem mesmo ali naquele cantinho onde estava.

– Vamos, levanta que quero te mostrar como se respeita
uma pessoa. – A mulher não parava os insultos. – se você não
levantar eu faço você levantar “à força”.

A mulher então já espumando de raiva resolveu partir
pra cima de Esmirna. Quando se avolumou sobre ela e suas
mãos se dirigiam ao alto e pronta a desferir um golpe sobre
corpo de Esmirna quando algo estranho aconteceu. A mulher
não conseguia desferir o golpe, e apenas olhava para Esmirna
ali sentada e de cabeça baixa. Esmirna não esboçava reação
alguma. A mulher foi aos poucos abaixando as mãos como se
não houvesse mais forças para agredir.

Esmirna olha e percebe que o demônio havia saído de
cima da mulher e tinha ido embora. Aproveitou então e

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