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Published by mr.mindcontato, 2016-06-07 21:07:21

ESMIRNA - Dossie Melissa

ESMIRNA - Dossie Melissa

Keywords: Ficção,EbookGospel,JCPuglisiEbook

tanto desajeitado, não consegue, agora sem o poder das asas,
subir para a passarela.

Esmirna fica em pé e caminha lentamente até o lugar
onde o animal está vociferando. Olha nos olhos do demônio e
usa do atributo que Deus lhe dá para vencer.

–Vai para o abismo demônio e não volte mais.
Os olhos do ser demoníaco parecem branquear de ódio,
ele solta um rugido ensurdecedor quando as palavras da moça
se transformam naquela luz forte que atinge sua cabeça, e cai
no fogo e no abismo. É o fim!

No hospital os médicos começam a trabalhar na
preparação da transfusão. Esmirna geme muito, seu corpo se
debate bastante. A dor é imensa e insuportável e se reflete nas
dificuldades que ela enfrenta no lugar espiritual.

O hospital tem pouco estoque do sangue do tipo de
Esmirna e não dá para uma transfusão como é preciso. É
necessário se fazer uma busca por outros hospitais.

Tudo parece muito difícil para Esmirna, se o sangue não
for conseguido, sua falta será fatal. Sua vida está por um fio,
mas ela consegue algumas vitórias por conta de sua vontade de
se recuperar e voltar à saúde plena.

Ela sabe que precisa encontrar, no mundo espiritual,
uma porta, uma saída que pode significar a força necessária
para que seu corpo tenha recuperação. Então ela começa a
correr na passarela de fogo. Quanto mais anda mais aumenta o
cheiro de enxofre, mas isso para ela não importa, pois não tem
mesmo outro lugar para ir, somente aquela longa passarela que
mais lembrava a fornalha de fogo dos três amigos de Daniel.
(História vivida por Sadraque, Mesaque e Abdenego, no livro
de Daniel, capitulo três, quando foram lançados na fornalha

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de fogo por não terem se curvado diante da estátua erigida a
mando do rei Nabucodonosur).

Enfim chega até uma grande porta fechada, cheia de
desenhos satânicos. A porta tem uma maçaneta em forma de
alavanca, e Esmirna agarra-se a ela e tenta puxar para baixo,
mas está muito dura e ela não consegue movê-la. Atrás dela o
inesperado começa a acontecer. A passarela, outra vez está
desmoronando toda, e vem rapidamente para chegar ao lugar
onde Esmirna está. Esmirna esforça-se para mover a alavanca,
olhando para trás nervosamente. O momento é de desespero e
ela coloca toda sua força para puxar a alavanca. Ao mesmo
tempo em que consegue puxar, o chão se desmancha debaixo
de seus pés. Esmirna agarra-se a alavanca, agora com a porta se
abrindo, e um cheiro insuportável de enxofre saindo do lugar
de acesso da porta.

Pendurada ali ela se debate e tenta alcançar o batente da
porta, mas a porta não volta, suas mãos começam a ficar lisas
por causa do suor. Atrás dela alguns vultos demoníacos
começam a voar e a zombar. Ela chega a sentir o vento das asas
dos anjos caídos ao seu redor.

Esmirna procura manter a calma, embora sente que
pode cair dentro de alguns segundos. Lembra-se da Palavra de
Deus. Quando seu pensamento vai até a Palavra, ela discerne
que Deus está lhe dando uma estratégia para sair daquela
posição. Procura um versículo que possa ser invocado ou
reinvidicado neste momento e logo lhe vem à mente.

–“Quando passares pelas águas, eu serei contigo;
quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares
pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque
eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador,”
Isaias 43:2 – e “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da
morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo” Salmo

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23:4 – Quando ela falou esses dois versículos, sem titubear
soltou as mãos da alavanca onde se segurava para não cair.
Soltou seu corpo no ar, esperando para ver o que Deus faria.

Sem dúvida, Deus resgata seus servos, ela não foi para
o abismo. Seu corpo flutuou como se ela estivesse pisando
sobre um caminho invisível. Passado o susto ela percebe que
pode andar, mesmo não tendo algo visível embaixo de seus
pés. Caminha até o vão da porta. O cheiro é forte demais.
Ouve, ao longe, gritos de pessoas que ela não consegue
discernir muito bem, mas parece que são pessoas gritando de
dor. O lugar era muito tétrico, ela pára um instante ali na porta
e olha. Há muita fumaça e um chão vermelho. Ao longe
percebe algumas luzes que mais parecem tochas de fogo que se
movem. Para ela avançar terá que descer, pois o solo é
inclinado para frente. Isso a preocupa, mas outra vez está sem
saída. Só existe mesmo este lugar para caminhar. Dá o primeiro
passo e quando seu pé tenta se firmar acontece o imprevisto. O
solo é totalmente escorregadio ela vai ao chão tentando parar,
ou caminhar segurando-se no chão. O solo é por demais
escorregadio e Esmirna começa a se debater para, pelo menos,
escorregar mais devagar e perceber onde estava indo. Seu
corpo escorrega vagarosamente, mesmo com ela se debatendo.
Aos poucos ela percebe para onde está indo, lá em baixo há
fogo e enxofre num grande lago sem fim, e dentro deste lago
pode perceber as pessoas que estavam gritando de dor e
desespero.

No hospital está tudo preparado para que o sangue
comece a entrar em suas veias. O lugar do ferimento já estava
cuidado. Nos corredores do hospital, agora chegava pessoas
ligadas por afeto de fé a Esmirna. Eles andavam de um lado
para o outro e oravam fazendo com que suas vozes ecoassem
alto pelos corredores.

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Os médicos estavam preocupados, pois Esmirna
ameaçara várias vezes de ter parada cardíaca. Eles sabiam que
o sangue não era suficiente, seu corpo estava muito debilitado e
havia necessidade de uma dose maior do sangue. A busca por
mais sangue ainda não era frutífera, pois o sangue de Esmirna
era difícil de se encontrar em bancos de sangue. Procuraram
então pelos pacientes e parentes de pacientes que estavam neste
momento no hospital.

Esmirna está prestes a cair no lago, está a um passo
apenas. Vê já de bem perto pessoas todas deformadas e loucas
de pavor, medo e dor naquele lugar. Ela está já tão perto que
algumas das pessoas saltavam tentando segurar seu pé para
puxar para o lago ou quem sabe tentavam sair dali. Esmirna se
debatia muito tentando se segurar e subir, mas conseguia muito
pouco.

Quando o sangue começa a penetrar em sua veia lá no
hospital, Esmirna sente forças lhe chegando, ela dá um grito
que é mais um versículo dado por Deus como testificação do
momento que está passando.

– “A vida da carne está no sangue!” Lev. 17:11
Com tanta agilidade e força ela agarra-se ao solo que
seus dedos enfia-se como se ela tivesse garras, e começa então
a subir o caminho de volta. Muitos demônios passam ao lado
dela, mas não têm permissão de atacá-la. O cheiro ainda é o
fator mais apavorante, pois parece penetrar o estômago e criar
ali gases ácidos. Agora ela sobe lentamente, sente cansaço, mas
ela vai recobrando as forças aos poucos e subindo, já não
escorrega mais. Dá até tempo de pensar naquelas pessoas lá em
baixo, no lago de fogo e enxofre. Aquilo era muito apavorante
e triste. Quantas almas que não aceitaram viver uma vida pia
com Deus, e agora estão ali sem descanso para sempre.

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No hospital as coisas não estão boas. Os médicos não
encontraram pessoas com o mesmo tipo de sangue, e a
transfusão do que tinham já estava acabando. Eles começavam
a entrar em desespero. Se nada acontecesse, em poucos
momentos Esmirna poderia entrar em coma. Era necessário um
milagre agora.

Os médicos, por um momento se entreolharam. Era
como se eles dissessem um para o outro “agora, só Deus”.
Estavam extenuados, e se sentiam derrotados. Um colocou a
mão na cabeça, sentia vontade de chorar. Tanto foi feito e
agora o tudo parecia nada. Ali estava uma moça tão lutadora, à
mercê de um milagre.

No mundo espiritual, Esmirna está chegando no limiar
da porta, mas quando a transfusão está chegando ao fim ela
parece perder forças e não consegue mais subir, apenas
consegue parar ali. Olha para o vão da porta e vê chegando ali
um vulto gigantesco de um demônio que era mistura de dragão
e homem. Ele ficou ali parado na porta olhando para Esmirna
que estava deitada no chão, agarrada ao solo. Esmirna tenta
orar, falar com Deus, buscando um alento, ou uma solução,
mas nada lhe vêm. Aquele momento de paralisação dá-lhe um
suspense assustador. Não sabe o que lhe espera. Não tem
controle nenhum da situação.

As portas do centro cirúrgico de repente se abrem,
como se um carro houvesse batido nelas. Na verdade era uma
cadeira de rodas. A luz que vinha de fora da sala ofuscava a
figura da pessoa que estava sentada na cadeira. A cadeira foi se
aproximando, e quando foi possível visualizar a pessoa, os
médicos assustaram-se, pois eles não sabiam de quem se
tratava. Era uma senhora com o corpo cheio de escoriações e
uma das pernas engessada. Seu cabelo estava todo solto e dava
a ela uma aparência meio que assustadora. Sem dizer nada ela

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levantou o braço mostrando que desejava doar seu sangue para
ajudar Esmirna.

–Mas, senhora, precisamos saber se seu sangue é o
mesmo da moça!

–É claro que é, eu sou a mãe dela!
O espanto é geral, nem mesmo os médicos sabiam que a
mãe de Esmirna estivesse tão perto assim. Era o milagre
acontecendo.
Esmirna em seu momento difícil no mundo espiritual
olha para cima e o demônio que está na porta começa a se
contorcer como se estivesse sendo atacado por um enxame de
abelhas. Parecia que ele literalmente queimava por dentro.
Acabou por fim caindo para trás no abismo.
Imediatamente a paisagem que estava depois da porta
vai se transformando. Nuvens claras sobre um azul celeste
muito claro, árvores verdejantes, caminhos de flores, gramados
etc
Esmirna corre para a porta e entra naquele lugar muito
aprazível e confortante. Ela sabia agora que estava saindo do
vale da morte mesmo. Sentia que Deus estava presente ali, e
que caminhava com ela por aqueles belos caminhos.

38. Uma arma poderosa
contra as drogas

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Os dois policiais fazem perguntas aos vizinhos de
Esmirna para saber se alguém viu quem foi que tentou matar a
moça. Desta vez eles não encontraram ninguém na casa dela.
Falaram com a senhora que telefonou para a polícia:

–Senhora, Esmirna não mora com outra pessoa? Outro
dia conversamos com alguém pelo interfone da casa
dela.
–Que eu saiba, Esmirna mora sozinha, nunca vi alguém
passar sequer um dia na casa dela.
Diego e Antonio, os policiais, se entreolham. Parece
que falaram com um anjo e nem perceberam naquele dia.
–Bem, a senhora viu quem foi que tentou matá-la?
–Vi sim, foram dois rapazes que sempre andam pelas
ruas se drogando. Eles há muito ficam em frente à casa
dela. Parece que eles planejavam isso já há muito
tempo.
–A senhora poderia descrever como é que eles estavam
vestidos na hora do ataque?
A mulher dá a descrição dos dois, e Antonio e Diego se
lembram dos dois que atacaram Esmirna naquele dia. A
descrição batia com a aparência deles. O jeito era sair à procura
dos dois agora.
O homem que salvou Melissa resolve, juntamente com
sua esposa, levá-la até a casa de Esmirna. Aquele homem
continuava a demonstrar algum conhecimento de tudo que
acontecia com Melissa e Esmirna, mas tudo estava envolto em
algum mistério.
Melissa já estava mais calma, e sabendo que poderia
encontrar com Esmirna seu coração acelerava de emoção.
Na ruela escura eles percebem que há algumas pessoas
em frente à casa dela. O fato já havia acontecido há algumas

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horas, mas muitos estavam por ali conversando sobre o
acontecido.

As pessoas contam o que aconteceu e isso faz com que
Melissa volte a se sentir nervosa. Ela sente dentro de si um
desejo muito grande de ir ver Esmirna. Um dos homens ali
presentes chama a menina:

– Olha, vejo que você é amiga da mulher que foi
atacada aqui. Eu escondi uma coisa que eu acredito ser muito
importante pra ela. Acho bom que você, já que vai até onde ela
está, leve isso pra ela.

Os dois rapazes que esfaquearam Esmirna estão numa
esquina se drogando. Para eles foi uma grande vingança e estão
comemorando no estilo que lhes é peculiar.

–Eu não disse que ela não era assim tão poderosa?
–É verdade!
Eles olham para a rua e apenas as luzes fracas dos
postes dão um sentido de vida ao deserto que se transforma um
bairro assim.
Um deles levanta a mão e indica o primeiro poste:
–Lembra quando ela sumiu diante dos nossos olhos?
Foi como daqui até ali.
–É mesmo, e o tempo estava quase igual ao de hoje.
Súbito eles vêm uma pessoa caminhando ao longe.
–Olha lá, naquela noite foi desse jeito, ela vinha
caminhando da mesma maneira que aquela pessoa.
– Como?
O outro se levanta e olha para a pessoa que vinha
caminhando, bem no meio da rua. Seu corpo se arrepia quando
ele percebe a semelhança da pessoa que vinha caminhando com
Esmirna no dia em que eles a encontraram. O outro não tarda a
perceber também a semelhança e de zombeteiros passam a
assustados.

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–Rapaz, como parece com ela. Mas é claro que não
pode ser. Nesta hora ela já deve ter morrido. Só se ela
se transformou em fantasma!
Eles dão algumas risadas, mas rapidamente fecham o
semblante quando a pessoa está chegando cada vez mais perto.
Os dois caminham até o meio da rua curiosos.
O vestido longo e escuro, os cabelos pretos muito
longos caindo sobre a face, os braços cruzados em frente do
corpo segurando a bíblia. Não há mais dúvidas. Esmirna estava
ali. Eles não poderiam dizer que era alucinação por causa das
drogas, pois os dois viam a mesma pessoa, participavam da
mesma “alucinação”.
A moça chegou até uns dois metros e meio de distância.
Parou como se fosse um soldado, colocando os pés a uma certa
distância um do outro, pegou a Bíblia como se empunhasse
uma arma e apontou para os dois.
Neste momento eles, apesar do susto, tentam agir com a
razão e reagem com palavras;
–E aí garota? Vai querer nos matar com um tiro da
Bíblia?
–Você é louca ou o quê?
Ela levanta mais a “arma” já pronta para “atirar”. Eles
resolvem zombar dela, ridicularizam a posição que ela tomou
achando que a Bíblia é uma poderosa arma.
–Este truque não nos assusta mais. Não sei como você
escapou daquela facada, mas acho bom se preparar. Agora
vamos fazer piores coisas com você.
Súbito, sem que a garota dissesse uma só palavra, a
Bíblia na mão da moça é usada como uma metralhadora.
Estampidos seguidos são ouvidos e clarões de fogo saem da
“arma”.

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Os dois se sentem atingidos e o impacto das balas em
seus corpos os joga longe. Eles caem aterrorizados e vêm o
sangue escorrendo. Não podem acreditar no que vêm. Aquilo
na mão da moça era uma Bíblia sim, eles podiam ver
claramente, mas ela atirou como metralhadora.

Os dois caem um do lado do outro agonizando em meio
a uma poça de sangue.

Esmirna vira-se de costas para eles e sai caminhando
calmamente. Em sua mão direita a “arma” que eles puderam
ver ainda fumegante. Em segundos ela desaparece como da
outra vez, no meio da fumaça.

Em meio às dores os dois agonizam e um tenta olhar
para o outro, mas o que vêm é sangue. Desmaiam ali mesmo.

Diego e Antonio estão na patrulha de busca dos dois
bandidos. Ao longe eles vêm os dois homens caídos no chão.
Chegam perto e percebem que estão totalmente drogados.
Diego, o mais ativo dá um toque com o pé nas costas de um
deles.

–Hei, acorda!
O rapaz acorda e vê o policial. Sua reação é gritar.
–Socorro “gambé”, a moça atirou em nós. Ajude-nos,
leva a gente pro hospital.
–Quem atirou em vocês?
–A moça, aquela da Bíblia.
–Vocês estão loucos? Ela está no hospital se
recuperando da facada que um de vocês deu nela.
–Não, ela esteve aqui, veja os ferimento no nosso
corpo!
–Que ferimentos? Não vejo nada em vocês.
–Ãn!!!

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O rapaz olha para si e não vê, realmente, nenhum
ferimento. O sangue sumiu e não há sinal nenhum do que eles
haviam visto e vivido.

–Ela é uma bruxa, só pode ser.
–Não falem isso daquela moça. Ela é uma pessoa muito
honrada. – Diego sai em defesa de Esmirna. – E agora
levantem que a cadeia está esperando por vocês. Vamos!!!
Melissa chega no hospital. A polícia vem até ela, pois a
reconhecem.
Tudo é esclarecido quando o homem que a salvou (seu
nome é Élson) explica o que aconteceu. A delegada é avisada
que a menina já fora encontrada.
O problema é que Esmirna, que recebera as transfusões
de sangue, estava no momento impedida de receber qualquer
visita. Ela estava dormindo sedada pelos médicos. Precisava se
recuperar de todo o acontecido.
A menina implora sem palavras, apenas com gestos, às
pessoas para passar o resto da noite ali ao lado de Esmirna. Os
médicos vêm nisto uma parte da cura emocional da menina que
também passou por momentos muito difíceis nas últimas horas.
Resolvem então permitir que Melissa durma ao lado numa
cama que improvisam no quarto.
Melissa fica ali sozinha. Seus olhos não se desviam de
Esmirna. Sentada na cama ela imagina uma vida mais tranqüila
ao lado de uma pessoa tão boa. Aos poucos vai se acomodando
e acaba por dormir. Seu rosto agora tem um semblante calmo,
tranqüilo e feliz.

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39. O dossiê

O relógio desperta. São seis da manhã. Éridro acorda e
faz aqueles mesmos movimentos necessários para quem tem a
sua deficiência. Antes de ir dormir soube das últimas notícias o
que alegrou muito: Melissa encontrada e Esmirna fora de
perigo. A batalha de oração chegou até a uma hora da
madrugada.

Sentia paz em seu coração. Enquanto caminhava com
sua cadeira de rodas pelos cômodos, lavando o rosto,
escovando os dentes, alguns flashes dos momentos de tensão
envolvendo Melissa e Esmirna lhe vinham à mente. Com um
controle remoto liga seu computador enquanto passa de um
lado para o outro.

Em alguns segundos ele está olhando para a tela do
equipamento e sorri quando coloca a foto de Melissa na árvore
genealógica de Esmirna. Era uma árvore muito pequena,
interrompida. Mas as pessoas que compunham aquele dossiê
traziam uma grande carga de histórias. Havia naquele dossiê,
lutas intensas, grandes vitórias e milagres de vidas
transformadas.

Lembra de Beto na Arca, que se recupera do ataque da
Mãe Di. O rapaz está muito consciente de sua nova vida. O
assaltante que estava no hospital e que também se convertera e
agora estava sendo acompanhado. Lembra de dona Ana, a
senhora idosa que mora no fundo da casa que fora queimada, e
da conversão maravilhosa dela. Lembra-se da mulher bomba
que recebera seu maior impacto quando a palavra de Deus fora
pregada, e agora tem decisões importantes para tomar. A
delegada Marjori que também era uma pessoa que se

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aproximara muito de Esmirna e sua vida cristã tão intensa.
Muitas frentes de trabalho ainda estavam por ser tomadas, tudo
por conta do Dossiê Melissa.

Ele olha para a tela e ao mesmo tempo, coloca a mão
esquerda na perna. Em seus pensamentos vêm os dias em que
andava ainda. Sabe que Deus é poderoso para fazer o milagre
que ele mais espera, mas espera significa calma, sem muitas
ansiedades. Sabe que o momento é de euforia e o seu maior
desejo agora é encontrar Esmirna e todas as pessoas da igreja.

Súbito, sente um pequeno formigamento na ponta do
maior dedo do pé direito. Há muito isso não acontecia, desde o
acidente. Olha para os pés e sente seu cérebro dar um comando
e o mesmo dedo responder movendo-se. Uma grande esperança
invade sua alma e sua vontade é de levantar e andar. Será que o
esperado momento chegou?

Coloca as duas mãos nas laterais da cadeira, levanta o
corpo e tenta ficar em pé. Quando solta as mãos da cadeira,
esperando que Deus vai mantê-lo em pé, acontece o que não
espera. Vai de encontro ao chão, caindo e batendo a cabeça na
lateral da mesa.

–Puts grilo!! – É uma expressão até meio estranha para
um cristão, mas reflete que ele, mesmo não recebendo o
milagre, estava consciente de que tudo não passara de
manifestação de uma esperança que ainda está ali, muito viva.

Ele vira-se e começa a sorrir de sua ansiedade por um
milagre. Sabe muito bem que tudo tem seu tempo. E Deus tem
reservado para ele ainda algum tempo sobre aquela cadeira de
rodas. Não se perturba com isso, pois sabe que pode ser útil
mesmo atrelado aquela cadeira. O único probleminha que
arranjou agora foi ter que fazer um curativo na testa.

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40. Uma mãe de verdade

Esmirna acorda, tem os olhos fechados ainda. Lembra
dos últimos momentos de lutas e a saída para aquele local
bonito onde a presença de Deus era muito forte. Uma dor
aguda sente ainda nas costas, na altura da clavícula que ainda
faz com que ela não se mexa muito.

Começa a forçar para abrir os olhos, e vai abrindo aos
poucos. Vê formando-se à cabeceira de sua cama a figura da
filha que tanto procurou. Seria uma visão de Deus, ou a menina
estava bem ali na sua frente agora? Realmente, Melissa estava
ali ansiosa para que Esmirna a visse. Já havia levantado, se
arrumado. Seus cabelos estavam bem penteados e caindo sobre
os ombros, e havia um belo sorriso nos lábios da menina.

Esmirna, quando vê Melissa se emociona e chora, ao
mesmo tempo em que levanta seu braço esquerdo tentando
tocar na menina. Melissa se aproxima e deixa-se acolher pelo
abraço da pessoa que a ama.

A menina a abraça e diz a mesma palavra que disse
quando estava na casa das pessoas que a acolheram.

–Mãe!
–Você sabe? Você sabe que sou sua mãe? – Esmirna se
alegra com a reação de Melissa.
–Sim, – responde Melissa, apenas isso – sim, sim,
mamãe!
–Melissa, minha filha querida, você está aqui mesmo?
As duas choram juntas. Há muito tempo a ser
recuperado, tempo de carinho, cuidado e afeição perdidos nesta
vida tão atribulada e sofrida das duas.

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Melissa lembra-se de algo e levanta-se. Esmirna
observa os olhos vivos da menina como quem deseja dar um
presente.

Melissa pega um embrulho que estava sobre a cama e
entrega a sua mãe. Esmirna pede que Melissa mesma abra o
embrulho. Foi aquilo que um homem entregou a ela em frente a
sua casa. A sua Bíblia, agora manchada com o seu próprio
sangue, pois quando foi ferida ela a deixou cair no chão.

Melissa abre em um versículo e mostra para Esmirna:
–Provérbios 23:25 “Alegrem-se teu pai e tua mãe, e
regozije-se aquela que te deu à luz”.
Esmirna se alegra com a primeira manifestação cristã de
sua filha. Este momento nunca lhe passou pela cabeça, pois
nem mesmo sabia que sua filha vivia. Era um presente muito
valioso dado por Deus.
Chega um médico que conta a Esmirna todo o momento
de perigo e tensão com o cuidado de sua vida. O problema da
falta de sangue.
O que mais surpreendeu Esmirna foi o fato de sua mãe
ter aparecido para salvar sua vida. Depois daquele momento
em que ela demonstrou tanto ódio, por fim agiu como uma mãe
verdadeiramente.
Esmirna senta-se na cama sem a autorização do médico.
Porém ela demonstra ter força o suficiente para se levantar. Seu
braço direito estava enfaixado junto ao corpo para que os
movimentos não fizessem com que abrisse o ferimento. Era
uma pessoa muito cheia de vida, de coragem. Pede a Melissa
que a ajude a andar e as duas começam a andar abraçadas. Era
emocionante ver as duas como se fossem mãe e filhas há mais
de séculos. Esmirna passa a mão no cabelo de Melissa
carinhosamente e muitas lágrimas se juntam à emoção de ter
uma filha ali bem juntinha e abraçada.

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Esmirna queria ver Helena e lhe agradecer por ter lhe
salvo a vida doando o sangue. Este era o momento certo, não
podia esperar nem mais um segundo.

À porta do quarto, Esmirna faz uma oração mental.
Tem ainda um certo temor da reação daquela mulher de ações
surpreendentes. Abre a porta do quarto e tem uma triste
surpresa. Ela não estava lá. Apenas duas enfermeiras estavam
arrumando o quarto, trocando lençóis e travesseiros.

–Onde está a mulher? – Esmirna pergunta assustada. –
Ela já foi para a casa? Trocou de quarto?

As enfermeiras param o que estão fazendo e olham para
Esmirna que está ansiosa para saber notícias de Helena.

–Ela desapareceu!
–Mas como assim, desapareceu? Ela estava com uma
perna quebrada!
–Sim, mas mesmo assim, quando chegamos hoje cedo
no quarto não a encontramos. Ninguém a viu sair, apesar de
termos tantos seguranças nas portas do hospital. Já fizemos
uma busca no hospital e não a encontramos.
–Precisamos avisar a polícia... – Esmirna vira-se
bruscamente e dá de cara com a doutora Marjori.
–Não precisa avisar. Já fomos avisados e estamos
fazendo buscas. E você como está? Já saindo da cama assim
tão rápido?
–Oi Marjori. É primeiro de você que quero saber como
está? Eu estou alegre porque ganhei uma filha e uma mãe,
embora uma mãe desaparecida.
–Estou bem amiga, minha mãe está “dormindo” em paz
com Deus. Mas eu não perdi muito nestes últimos dias, ao
contrário, ganhei amigas como vocês. Isso é um grande tesouro
para mim.

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–Marjori, gostaria de convidar você para um culto onde
haverá um testemunho de um homem que hoje é missionário de
Deus, mas antes teve uma vida bem conturbada. Será neste
sábado e gostaria que você estivesse presente.

–Claro Esmirna, é um bom estímulo para a minha vida
social tão insólita. – Sorri Marjori querendo demonstrar que
aquele convite agradava a ela e que ao mesmo tempo o desejo
dela era de agradar as novas amigas.

41. Surpresas de um culto
comemorativo

Esmirna se reúne no sábado com seus irmãos de fé.
Ainda com o braço na tipóia ela não se cansa de apresentar a
todos aquela menina muito linda que a acompanha.

Melissa sente que um novo mundo está radiante, é
como um novo nascimento surgindo ali à sua frente. Quantos
sorrisos amigos, que era fácil de se identificar e confiar.

A igreja estava cheia, todos os grupos pequenos
reunidos. O grupo de Éridro e seus adolescentes batalhadores
estavam ali, misturados no meio do povo multiplicando suas
maneiras amigas e humildes.

Deus reservava ainda uma surpresa para Esmirna.
Quando o homem que daria seu testemunho de vida subiu no
alto onde estava o púlpito, Melissa pegou no braço da mãe e

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puxou forte. Esmirna até se assustou com a reação da menina
ao ver o homem.

–Que está acontecendo filha?
–Mãe, mãe é ele!
–Ele quem?
–Ele me salvou. – Melissa reconhece no pregador,
Élson, o mesmo homem que a buscou na favela, e que tinha
muita autoridade e irradiava um temor grande no lugar.
Esmirna ouviu com respeito e interesse a história do
homem. Já ouviu muitas histórias assim, de pessoas que foram
transformadas por Deus. Este homem despertou uma certa
curiosidade nela pelo fato do que Melissa disse. Ela não sabia o
que havia acontecido em detalhes, pois a própria Melissa não
falava muito, apenas algumas palavras.
Ao término do culto, quando as pessoas travavam seus
diálogos amigos, Esmirna se aproximou do homem junto com
Melissa para tentar saber alguns detalhes do resgate.
Melissa foi muito receptiva e abraçou o homem com
carinho. Esmirna não deixou de sentir um certo primeiro
“ciúme maternal” com o gesto da menina, mas nada que a
abalasse.
Élson contou como buscara Melissa, pois como
conhecia as favelas e os seus habitantes por causa de seu
envolvimento no passado, logo que soube do que estava
acontecendo resolveu ajudar. Não deixou de tentar dar algumas
recomendações um tanto paternal com respeito à saúde e
formação da menina. Ele mostrava ter um coração de pastor.
Daquele que se interessa pelo crescimento e saúde de sua
ovelha.
Mesmo com Élson contando o resgate, Esmirna não
deixou de perceber alguns pontos estranhos na história do

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resgate, e como é que aquele homem sabia tão bem sobre a
vida das duas.

Esmirna deixa tudo por conta da multiplicação da
ciência e da comunicação. Claro que, hoje em dia não é difícil
alguém saber como é que vive uma pessoa e quais as
ramificações de sua vida. Éridro vem à sua memória. Quem
sabe este homem não é um dos contatos dele. Só não sabe
porque Élson teve aquele interesse por ela e por Melissa.

Alguns minutos depois as duas chegam em casa e antes
de irem dormir Esmirna arrisca um diálogo com a filha.

–Interessante a história do homem não é mesmo filha?
–Sim – Melissa sorria e tentava falar para poder se abrir
mais com a mãe.
–Só não entendi porque ele usava aquela manta, tipo
cachecol no pescoço o tempo todo, afinal estava calor!
–Era para esconder! – Melissa tenta explicar algo que
ela viu quando estava na casa do casal que a acolheu.
–Esconder o que filha?
–Uma tatuagem.
–Ta, tatuagem? Que tatuagem?
–Era uma cabeça de águia no pescoço.

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