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Published by andreaires, 2019-08-07 10:47:49

Meu_Percurso_Na_Universidade

Meu_Percurso_Na_Universidade

então, estava instalado em prédio da UFC fora do Campus
do Pici, em laboratório que pesquisava assuntos ligados ao
mar. O chefe do Departamento de Engenharia de Pesca
acumulava duas funções: dirigia o Departamento e o pró-
prio Laboratório de Pesquisas do Mar. Essa situação vigo-
rava já há algum tempo. Sendo eu o responsável maior do
Centro de Ciências Agrárias não tinha, portanto, conheci-
mento de como funcionava aquele nosso Departamento de
Engenharia de Pesca. Após conversa e acerto com seu
chefe, decidi transferir as respectivas instalações para o
Campus do Pici. No entanto, após terem sido realizadas
adaptações nas salas, qual não foi a surpresa quando o
chefe (meu ex-professor) comunicou-me que não faria a
mudança. Tive que usar da minha autoridade como dire-
tor, comunicando-lhe que poderia adotar medidas adminis-
trativas adequadas ao cumprimento do que ficara estabele-
cido. Assim, foi feita a referida transferência, em que pe-
sem as ameaças feitas pelo chefe do departamento, ao re-
velar suas ligações com o Centro de Informações da Mari-
nha Brasileira (CENIMAR).

Nessa época, o Reitor em exercício, Professor Pe-
dro Barroso (1975-1979) tinha como uma de suas caracte-
rísticas adotar medidas administrativas com base na visão
de seus assessores mais chegados, muitas vezes de afoga-
dilho, como foi o caso de criar um almoxarifado central da
noite para o dia, desativando todos os outros almoxarifa-
dos existentes nos Centros. Na reunião em que convocou
os diretores de Centros da Universidade, comunicou a
extinção dos almoxarifados das unidades e a retirada de

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todos os materiais na manhã seguinte para o almoxarifado
central. Ponderei ao Reitor que se fizesse de maneira pau-
latina tal mudança, começando com aqueles materiais
mais comuns de uso de todos os Centros, dada a singulari-
dade que tinha, por exemplo, o CCA, de utilizar rações e
vacinas para animais, adubos e inseticidas para plantas,
entre outras, e as dificuldades que teríamos com tal centra-
lização feita de maneira açodada. Como resposta, o Mag-
nífico alteou a voz e disse que sua determinação estava
tomada e era sem volta, ao que argui que, conhecedor das
nossas futuras e imediatas dificuldades operacionais, não
entregaria todos os materiais existentes em nosso almoxa-
rifado em vista de parte dos recursos serem advindos de
convênios. Assim foi feito.

Em visita que realizei à Escola Superior de Agri-
cultura de Mossoró-RN, tive oportunidade de conhecer
uma excelente estrutura destinada às aulas de mecânica
agrícola, montada com recursos financeiros do antigo Ins-
tituto de Desenvolvimento Agrícola (INDA) que depois
seria transformado no INCRA (Instituto Nacional de Co-
lonização e Reforma Agrária). Resolvi formular idêntica
proposta para o CCA junto àquele Instituto. Para isto soli-
citei que o Departamento de Obras da nossa Universidade
elaborasse um projeto detalhado, compreendendo um anfi-
teatro, um galpão de máquinas, salas para guardar ferra-
mentas e sala de professores, assim como a aquisição de
seis diferentes tipos de tratores dotados de seus respectivos
acessórios, tudo destinado a melhorar a qualificação dos
alunos da disciplina de mecânica agrícola. O INDA apro-

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vou a nossa solicitação e enviou um cheque em nome do
Centro de Ciências Agrárias, quando deveria tê-lo feito em
nome da Universidade Federal do Ceará. O Reitor achou
que eu havia passado por cima de sua autoridade e resol-
veu devolver o referido recurso financeiro. Por birra, per-
demos uma grande oportunidade de termos uma moderna
estrutura pedagógica na área da engenharia agrícola.

Outro fato que, na época, consideramos prejudicial
à administração do CCA: funcionários do Centro recebe-
ram um quantitativo atrasado relativo a questões salariais e
muitos deles moravam em casas pertencentes à antiga Es-
cola de Agronomia, situadas na Avenida Perimetral que
passava ao lado de uma das áreas do Campus do Pici. Pro-
curaram eles a Diretoria do Centro no intuito de consegui-
rem permissão para realizarem reformas nas citadas casas.
Existindo na estrutura da Universidade a Prefeitura Uni-
versitária, alertamos aos mesmos que deveriam procurar
aquele setor para obterem as referidas permissões que fu-
giam da alçada da nossa diretoria. Após idas e vindas e
sem obterem uma resposta positiva ou negativa da UFC e
por decisão própria, resolveram os funcionários iniciar as
reformas nas casas. Surpreendentemente, recebemos oficio
do Reitor determinando que o Diretor do CCA passasse
um trator por cima das casas. Em resposta a tal oficio,
alertei que cabia à Prefeitura da Universidade executar a
referida medida. Consequência disto, o Reitor, por meio
da Assessoria de Informações da UFC, dirigida por um
general, solicitou à Policia Federal que adotasse ações de
“guerra psicológica” no âmbito do CCA (presença osten-

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siva de agentes), o que somente cessou com minha ida à
sede da Policia Federal quando foram prestados os devidos
esclarecimentos a respeito da situação.

No mês de março do ano de 1979, fui convidado
pelo Governador Virgílio Távora, ao assumir pela segunda
vez a governança do nosso Estado, para exercer o cargo de
Secretário Estadual da Educação. O Reitor da UFC, em-
bora tenha concordado com o pedido de minha cessão
formulado pelo governo estadual, com uma “canetada”,
rebaixou meu regime de trabalho de dedicação exclusiva
para o de vinte horas, resultando em uma perda de mais de
50% do meu salário, posteriormente corrigida. Despedi-
me da Diretoria do Centro para enfrentar novos desafios,
desta feita mais complexos e mais amplos, pois englobava
todo o Estado do Ceará. Entregava ao vice-diretor um
outro Centro de Ciências Agrárias, com novos cursos de
graduação e pós-graduação, professores e técnicos mais
qualificados, melhores instalações e novos equipamentos,
mais convênios, um programa de pesquisas amplo, ativi-
dades de extensão variadas, crescimento dos corpos dis-
cente e administrativo com a autoestima elevada e tendo a
certeza do dever cumprido.

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A VOLTA

Depois de quase quatro anos fora da UFC, exer-
cendo cargos como o de Secretário Estadual de Educação
do Ceará (março de 1979 a março de 1981) e o de Secretá-
rio de Primeiro e Segundo Graus do Ministério de Educa-
ção, Cultura e Desportes em Brasília (março de 1981 a
fevereiro de 1983), estava eu de volta ao ambiente univer-
sitário, especificamente às dependências do Departamento
de Economia Agrícola/CCA. Voltei a exercer as minhas
atividades de ministrar aulas de Extensão Rural para alu-
nos dos Cursos de Graduação de Agronomia, de Economia
Doméstica e de Engenharia de Pesca. Iniciei outra disci-
plina no Curso de Pós-Graduação (Mestrado) Economia
Rural; fiz parte de uma equipe de pesquisa sobre o uso de
novas tecnologias agrícolas no Nordeste; participei de
bancas examinadoras de defesa de dissertações no nosso
Mestrado e orientei alguns alunos da pós-graduação na
condução de seus trabalhos de conclusão de dissertações.

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Pensando em viver, dali em diante, afastado das ta-
refas administrativas, eis que surge, no final de 1983, o
momento de substituição da chefia do departamento, com
dois candidatos em forte disputa, criando um clima de
inquietação no meio de alguns professores e até apreensão,
por parte dos funcionários administrativos. Na reunião
departamental, foi anunciado que os dois candidatos retira-
riam suas candidaturas se eu aceitasse ser chefe. Ponderei
que só aceitaria tal missão se todos concordassem em co-
laborar nas tarefas departamentais e que voltasse a predo-
minar o clima de companheirismo anteriormente existente
no referido Departamento. Estando todos de pleno acordo,
aceitei o novo desafio.

A primeira providência na chefia foi reunir todo o
Departamento para elaborar um Plano de Desenvolvimen-
to Departamental com duração de quatro anos, detalhando
necessidades e oportunidades, abrangendo aspectos de
recursos humanos, materiais diversos, instalações físicas e
recursos financeiros. Após alguns meses de trabalho com a
participação de todos, findamos o nosso plano que previa a
abertura de novas vagas para docentes, a vinda de mais
funcionários administrativos, a compra de novos livros e
revistas para a Biblioteca do Departamento, alguns gabine-
tes de trabalho para professores, melhorias e ampliações
das salas de aula e construção de salas de estudos para os
alunos do nosso Mestrado.

Após a confecção do nosso Plano Departamental,
com uma apresentável encadernação e plantas anexas das

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novas instalações solicitadas, lista detalhada dos novos
livros e revistas a serem adquiridos e pormenores dos
equipamentos necessários (retroprojetores, telas de proje-
ção, quadros negros etc.) para uso nas salas de aulas, fui
entregá-lo ao Reitor da Universidade, Professor José An-
chieta Esmeraldo Barreto (1983-1987). Na oportunidade,
ele externou que era a primeira vez que recebia na Reitoria
um trabalho daquele tipo e que tentaria apoiar-nos inte-
gralmente, além de enviar cópias aos outros departamentos
da UFC, para servir de modelo. Logo depois, recebemos,
através da Pró-reitoria de Planejamento, um computador
modelo XT para ser instalado nas dependências do DEA
que seria o primeiro Departamento da Universidade a re-
ceber tal equipamento.

Algum tempo depois, começou a campanha anteci-
pada para a escolha do próximo Reitor. As Associações de
Professores e de Funcionários, bem como os Diretórios
Acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes davam
sinais de preferência por candidatos, lançando campanhas
pelas eleições diretas e participação paritária dos três seg-
mentos da Universidade. Surgidos os candidatos, logo
apareceu, como franco favorito o Professor Hélio Leite,
Presidente da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura,
entidade vinculada à UFC como veículo facilitador dos
trâmites da burocracia governamental nas execuções dos
recursos financeiros advindos de convênios. Posteriormen-
te, contou também com o apoio das Associações dos Do-
centes e Administrativos e das entidades estudantis.

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Após consulta feita aos corpos docente, discente e
administrativo em proporção de 60% (docentes), 20%
(discentes) e 20% (administrativos), foi vencedor, com
maioria significativa, o candidato da Administração Supe-
rior da Universidade, que teve seu nome homologado pelo
Colegiado Universitário (Conselho Universitário, Conse-
lho de Ensino, Pesquisa e Extensão, Conselho de Curado-
res). Encaminhado à Presidência da República, teve sua
nomeação consagrada. O novo Reitor, Professor Hélio
Leite (1987-1991), tão logo assumiu a Reitoria, deu início
ao processo de eleição para diretores dos Centros, proce-
dendo à consulta a cada unidade universitária, observando
os mesmos percentuais de proporcionalidade usados na
eleição para os candidatos a Reitor. Meu nome foi o mais
votado pelos segmentos do CCA, sendo depois confirma-
do pelo Conselho Departamental. Encaminhado à consi-
deração do Reitor, fui nomeado Diretor do Centro de Ci-
ências Agrárias a partir de 1987.

Assumi o Centro em um momento difícil para as
universidades brasileiras, que começavam a viver fortes
contenções de recursos financeiros pelo Governo Federal,
vários movimentos grevistas por parte dos professores e
funcionários administrativos reivindicando recomposição
salarial (vivíamos época de alta inflação) e de melhores
condições de trabalho, com apoio das Associações das
Categorias e das lideranças vinculadas a partidos políticos
como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comu-
nista do Brasil (PC do B) dentre outros. Havia forte atua-
ção das novas entidades nacionais de agregação das asso-

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ciações existentes no meio universitário como a Associa-
ção Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES)
e a Federação das Associações dos Servidores Técnico-
administrativos das Universidades Brasileiras (FASU-
BRA), que passavam a estabelecer novos canais de con-
versação com o Governo Federal e a organizar calendários
de greves nacionais além de atuar em campanhas para es-
colha direta dos dirigentes das universidades, por meio de
consultas paritárias, exigindo que não passassem pelos
Colegiados Universitários e sem a chancela das autorida-
des federais.

Na direção do Centro, procuramos melhorar os
equipamentos para as Fazendas Experimentais (Pentecos-
te, Quixadá e São José), onde foram inauguradas as novas
instalações do Centro de Treinamento da Fazenda do Vale
do Curu-Pentecoste. Nas instalações existentes na área do
Campus do Pici, recuperamos estábulos, aviário, constru-
ímos alguns laboratórios e novos ambientes de salas de
aula; pomos em funcionamento pleno a Fábrica de Rações
e da Usina de Beneficiamento de Sementes, atendendo,
neste caso, solicitações do Governo do Estado. O grande
esforço à frente do CCA foi buscar novos recursos finan-
ceiros através de convênios com o BNB, SUDENE, Minis-
térios e Governo Estadual, visando ampliar a pesquisa
como a que estabelecia a implantação, na Fazenda Expe-
rimental do Vale do Curu, de um projeto piloto de uma
pequena fazenda de exploração agropecuária, em condi-
ções semelhantes às existentes no semiárido nordestino,
assentando família de agricultor advindo daquele meio e

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aplicando tecnologias adequadas a sua sobrevivência.
Outro objetivo trabalhado na direção do Centro foi prepa-
rar a estrutura de alguns departamentos para começar a
implantação dos cursos de doutorado, uma vez que conti-
nuávamos a qualificar os nossos docentes com doutora-
mento obtido em universidades brasileiras ou estrangeiras.

O clima político na UFC tornava-se cada vez mais
radicalizado com estudantes invadindo, com frequência, o
gabinete do Reitor. As associações de professores e servi-
dores técnico-administrativos a reivindicarem maior parti-
cipação nas decisões administrativas da Instituição, encon-
trando pela frente a fragilidade de alguns dirigentes que
não sabiam dizer não quando era necessário. Eram as pre-
liminares para escolha do próximo Reitor com potenciais
candidatos já em franca campanha. Tudo somava para
gerar intranquilidade. Como exemplo inesquecível desse
cenário, deu-se um dia em reunião no gabinete do Reitor,
presentes todos os pró-reitores e diretores de Centro para
tratarem de assuntos da maior relevância para a Universi-
dade. Subitamente entra a Presidente do Sindicato (Asso-
ciação) dos Servidores Técnico-administrativos e, de dedo
em riste interroga o Reitor de maneira desrespeitosa, para
espanto de todos os presentes. A Pró-Reitora de Gradua-
ção da Universidade professora Lúcia Dallago, presente à
reunião, retirou-se, dizendo “Não tenho mais idade para
suportar tais coisas”. Logo, em seguida, pediu exoneração
do cargo. Tal fato teria fortes consequências e seria impor-
tante motivação para algumas de minhas futuras decisões.

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2ª PARTE

O REITOR

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A ELEIÇÃO

A campanha para a escolha dos candidatos ao car-
go de Reitor para o período de junho de 1991 a junho de
1995 começou logo depois de um ano de posse do Reitor
Hélio Leite (junho 1987), surgindo o nome do vice-reitor,
Professor Raimundo Holanda, como forte candidato, com
apoio integral da Administração Superior da UFC. O Rei-
tor delegara poderes para o vice ordenar despesas relativas
à aquisição de passagens aéreas, concessões de diárias,
suporte de gastos em relação aos estudantes, assim como
realizações de festivais e participações neles, congressos,
encontros, publicações estudantis, cessão de espaços uni-
versitários para a realização de atividades estudantis e de
outras entidades como as Associações dos Professores e
Servidores Técnico-Administrativos além de compras de
equipamentos para atividades docentes.

Por outro lado, a Associação dos Docentes e, prin-
cipalmente, a dos Servidores Técnico-Administrativos, ao
lado dos Centros Acadêmicos, e o Diretório Central dos

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Estudantes (DCE) ampliavam seus poderes de participação
nas decisões da Universidade com reivindicações por de-
mocracia mais ampla e participativa, lançamento de cam-
panhas pelo voto paritário na escolha dos dirigentes da
Instituição, eleições direta sem ter de encaminhar listas
para as instâncias do Ministério da Educação ou da Presi-
dência da Republica; estabelecimento de calendários de
greves e de datas possíveis de saída das mesmas, escalas
de trabalho (Hospital Universitário e Maternidade Escola)
e a liberdade de serem recebidas, a qualquer momento,
pelas autoridades universitárias sem ter que agendar audi-
ências, até mesmo podendo interromper reuniões em an-
damento quando assim fosse necessário.

Os acordos sobre a sucessão andavam às mil mara-
vilhas até quando, faltando aproximadamente um ano para
as eleições universitárias, ocorreu um rompimento entre o
Reitor e seu vice. A maioria dos poderes delegados ao vice
foram cortados, surgindo outro candidato da Administra-
ção Superior ao cargo de Reitor, o Pró-Reitor de Pesquisa
e Pós-Graduação Professor Flávio Torres. Lançadas as
candidaturas dos dois pretendentes (Vice-Reitor e Pró-
Reitor de Pesquisa), começaram as articulações políticas
junto aos corpos docente, discente e administrativo via
respectivas Associações ou através da abordagem direta às
pessoas da comunidade universitária, com contatos exter-
nos, à procura por apoios políticos.

Os compromissos assumidos pelos candidatos com
seus potenciais eleitores iam desde promessas de cargos na

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Administração Superior da UFC, como pró-reitorias, dire-
torias de centros ou faculdades, chefias dos órgãos suple-
mentares, procuradoria geral, coordenadorias nas pró-
reitorias, departamentos administrativos, setores dos hos-
pitais, da Prefeitura, da Fundação de Pesquisa da UFC, até
a possibilidade de mudanças de regime de trabalho, con-
cessão de passagens aéreas, compra de aparelhos de ar-
condicionado e até mesmo birôs.

Faltando poucos meses para o processo eleitoral,
fui procurado por um grupo de professores das diferentes
unidades da Universidade, sondando a possibilidade da
aceitação do lançamento do meu nome candidato a Reitor,
uma terceira alternativa , vez que os dois nomes lançados
não seriam os mais indicados para mudarem a UFC, dados
os compromissos assumidos com os diferentes segmentos
da Instituição. Alegavam ainda que eu acumulara uma
série de experiências administrativas fora e dentro da Uni-
versidade, necessárias ao pleno desenvolvimento instituci-
onal, principalmente a vivência no Ministério da Educa-
ção. Procurei mostrar aos colegas que a candidatura não
fazia parte de meu plano de vida, além do mais a minha
família também não concordaria com tal decisão. Lembrei
ainda ao grupo a inviabilidade de tal projeto, em função do
curto prazo para uma campanha de candidatura quando a
maioria dos componentes da comunidade universitária já
teriam assumido compromissos com os outros candidatos.

Passados alguns dias, o grupo, acrescido agora de
outros membros, veio insistir na possibilidade do lança-

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mento do meu nome para a disputa eleitoral da Reitoria,
acrescentando que, realizadas algumas sondagens no am-
biente universitário havia uma boa aceitação, inclusive
nos segmentos dos corpos administrativo e discente. A
conversa estendeu-se madrugada adentro, e foram aborda-
dos os quadros considerados negativos, principalmente
pela tendência à radicalização dos compromissos assumi-
dos pelos candidatos já lançados. Por fim considerando
que a cisão ocorrida entre os outros grupos facilitava a
chance de uma terceira candidatura, decidi, então, enfren-
tar mais um desafio, desde que tivesse o apoio incondicio-
nal do grupo para representar essa terceira alternativa.

O ambiente universitário era dominado por grupos
de ideologias variadas, mormente as Associações dos Do-
centes e Servidores, o Diretório Central dos Estudantes e a
maioria dos Centros Acadêmicos, unidos, porém, na rei-
vindicação por eleições paritárias e diretas, pelo aumento
de sua participação nas decisões administrativas da Insti-
tuição e com a exigência de que o mais votado na consulta
a ser realizada na Universidade deveria ser o escolhido
sem consideração dos Colegiados da UFC (Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão- CEPE e Conselho Universi-
tário - CONSUNI) fosse referendado. Exigiam ainda que a
consulta à comunidade universitária a ser realizada deveria
ser supervisionada pelas entidades representantes dos pro-
fessores, administrativos e dos discentes. A pedido do Rei-
tor, a ADUFC (Associação dos Docentes da Universidade
do Ceará) realizou uma enquete entre os docentes para
estabelecer os percentuais de participação dos três seg-

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mentos, docente, discente e administrativo, na consulta a
ser feita para saber a constituição da lista sêxtupla para o
futuro dirigente da Instituição. O resultado foi de 60%
para os docentes, 20% para os discentes e 20% para os
servidores, o que gerou certa revolta por parte dos dois
últimos segmentos após aprovação pelo Conselho Univer-
sitário.

Intensificada a campanha para escolha do próximo
Reitor, cada candidato passou a visitar os Departamentos e
os Órgãos Complementares da Entidade, divulgando suas
visões de universidade e participando dos debates conjun-
tos dos três candidatos, realizados nos principais auditó-
rios dos Campi do Benfica, de Porangabussu e do Pici,
promovidos pela ADUFC. Os debates conjuntos eram di-
vididos em três momentos: no primeiro, cada candidato,
em um tempo determinado, expunha suas ideias; no se-
gundo, havia perguntas de candidato para candidato e no
terceiro, respondiam os candidatos às perguntas formula-
das pelas pessoas presentes nos auditórios. Grupos forma-
dos pelos apoiadores, principalmente da candidatura do
vice-reitor, formavam um grupo maior e mais agressivo,
portando faixas e cartazes, além de bótons. As campanhas
dos dois primeiros candidatos eram ricas em gastos, sobre-
tudo, com material impresso; a minha era a mais pobre,
dada a nossa limitação de recursos financeiros.

Realizada a consulta no meio universitário, o Vice-
Reitor ganhou nos corpos discente e administrativo, o Pró-
reitor de Pesquisa teve maioria dos docentes e eu fiquei

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com 15% do total dos votos, sendo que no Centro de Ci-
ências Agrárias tive mais de 80% dos votos dos professo-
res e servidores e 70% dos alunos. No dia da realização da
consulta, tive oportunidade de dar um giro nos três campi
e flagrei como era exercida a “verdadeira democracia” na
Universidade: na área do Centro de Humanidades vi um
aluno sentado num birô com uma lista com nomes de ou-
tros alunos, votando, assim, por vários, pois a votação se
dava através de cédulas. Em um Departamento da Medi-
cina, vi o Chefe de Departamento sentado com a lista dos
professores que marcavam, na sua frente, as cédulas. Em
algumas entidades suplementares funcionários votavam
abertamente sob a supervisão de seus dirigentes.

Faltando poucos dias para, na reunião dos colegia-
dos da Universidade, elaborarem a lista sêxtupla para a
escolha do futuro dirigente da Instituição, o Reitor promo-
veu, em seu gabinete, um encontro entre os candidatos,
pró-reitores, diretores de centros e faculdades para estabe-
lecerem um acordo a respeito da confecção da lista, fican-
do acertado que ela seria elaborada obedecendo à ordem
nos resultados da consulta realizada, complementando os
seis nomes com os postulantes ao cargo de vice-reitor. O
Colégio Eleitoral tinha sua composição formada pelo rei-
tor em exercício, pelo ex-reitor do mandato anterior, pelo
vice-reitor, pelos pró-reitores de Graduação, Pesquisa e
Pós-Graduação, Extensão, Assuntos Estudantis, Planeja-
mento e Administração, pelos Diretores de Centros e Fa-
culdades, pelos dois representantes dos professores de
cada Centro e Faculdade, pelos representantes dos Estu-

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dantes, pelos três representantes da Comunidade não uni-
versitária das áreas cultural, empresarial e classista e pelos
três representantes dos Curadores, todos reunidos na sala
do Conselho Universitário.

Aconteceu, então, que eu estava indo para a sala de
reunião do Colégio Eleitoral com um dos professores re-
presentantes do Centro de Ciências Agrárias junto ao CE-
PE, Professor Elder Moreira, quando fomos solicitados
por um funcionário, a pedido do Pró-Reitor de Pesquisa e
Pós-Graduação, Professor Flávio Torres, para irmos até o
seu gabinete. Ali chegando, encontramos um representan-
te dos professores do Centro de Tecnologia ,Professor
Eduardo Saboya. O Pró-Reitor de Pesquisa foi direto ao
assunto: “Fomos informados que os eleitores do Vice-
Reitor Professor Raimundo Holanda não cumprirão o es-
tabelecido na elaboração da lista sêxtupla, uma vez que só
votarão num único nome, o do próprio vice-reitor. Como
tal, não deveremos seguir o que foi acordado.” Respondi:
“Como não tenho elementos de comprovação do rompi-
mento do acordo, seguirei o que foi combinado”.

O ambiente na sala do Conselho era tenso, os alu-
nos, muito agitados, muito cochicho entre os votantes e
preocupação daqueles que faziam parte da Administração
Superior da Universidade. Dado inicio à reunião, os repre-
sentantes dos alunos fizeram discursos na defesa da elei-
ção direta e paritária, no respeito aos resultados da consul-
ta realizada e que o mais votado fosse nomeado de imedia-
to. Efetuada a votação e designada comissão apuradora, os

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resultados foram divulgados por ordem de votos recebidos
pelos candidatos. O meu nome foi o mais votado no cole-
giado, seguido do nome do Pró-Reitor de Pesquisa e do
Vice-Reitor em terceiro. A sessão virou ambiente de esta-
do de guerra com os estudantes berrando “Só o Vice-
Reitor tomará posse no cargo de Reitor e nenhum outro”.
Um dos alunos fez um discurso violento e de baixo nível,
gritando que “todos os professores da Universidade são
um lixo e não merecem ser respeitados”. Diante do silên-
cio dos presentes, pedi a palavra e afirmei: ”Fui aluno e
sou professor desta Instituição. Tenho uma história que
exige respeito. Quero afirmar que não vou brigar para ser
reitor, mas se, porventura, for o escolhido, tomarei posse e
antecipadamente aviso que não tenho medo de ninguém”.
A descrição de todos esses eventos deixou de constar da
ata da reunião do Conselho por expresso pedido do Rei-
tor.

Na realidade o que aconteceu na votação para
compor a lista de candidatos a reitor foi que os eleitores do
vice-reitor votaram no seu nome e no meu, exceto os estu-
dantes que votaram unicamente no vice. Os eleitores do
pró-reitor votaram no mesmo e no meu, porque eu não
mantinha disputa acirrada com os outros candidatos. En-
quanto isso, no pátio externo da Reitoria, principalmente
em frente ao auditório principal, estavam reunidas as dife-
rentes torcidas dos dois principais candidatos. Consta que
os apoiadores da candidatura do vice-reitor, certos da vitó-
ria, já teriam alugado um Buffet para comemorarem os
resultados da eleição.

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A partir de então passei a ser perseguido por gru-
pos de estudantes, servidores e professores, principalmente
aqueles ligados a sindicatos e grupos radicais, que passa-
ram a pressionar para obterem a minha desistência e, de-
pois, até mesmo a minha renúncia. Eles haviam esquecido
o que eu dissera no dia da eleição, na sala do Conselho
Universitário.

69

A POSSE

Publicada minha nomeação para Reitor da UFC em
1991, grupos de alunos, de servidores e de professores
passaram a divulgar que eu não assumiria a Reitoria, pois
eles estavam dispostos a qualquer coisa. Fui procurado, no
meu gabinete de Diretor do CCA, pela presidente do Dire-
tório Central dos Estudantes a fim de exercer pressão,
lembrando que todos os candidatos a reitor haviam prome-
tido, nos debates, que respeitariam os resultados da con-
sulta formulada à comunidade universitária. Nada foi dito
a respeito da consulta ter se transformado em uma fraude e
a atuação desrespeitosa da representação estudantil no
Colégio Eleitoral, o que comprometeria qualquer tipo de
acordo. Lembrei, ainda, na oportunidade, que os Conse-
lhos Superiores da Universidade, que formavam o chama-
do Colégio Eleitoral, eram a instância legal para formata-
rem a lista sêxtupla para reitor, etapa final do processo.

Corriam boatos de que estavam sendo convocados
estudantes secundaristas e possivelmente pessoas da peri-

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feria da cidade, com apoio de partidos políticos, para pro-
moverem ato de protesto por ocasião da solenidade de
posse na Concha Acústica da Universidade, local tradicio-
nal para transmissão do cargo. Eu estava muito ocupado
nos dias antecedentes à minha posse com a escolha dos
futuros auxiliares, com a entrega da direção do Centro de
Ciências Agrárias, com a elaboração do discurso de posse
e com outras tarefas. Ao Procurador Geral da Universida-
de, já escolhido para nossa futura administração, entreguei
a tarefa de dialogar com a Administração Superior da
Universidade sainte e acertar os detalhes da solenidade de
minha posse, inclusive as medidas necessárias de seguran-
ça, tendo em vista os boatos existentes e as notícias publi-
cadas em alguns jornais da cidade, confirmando protestos
programados para a solenidade, não se podia tomar posi-
ção alguma por não possuir ainda poder legal sobre o sis-
tema de segurança da Instituição.

No dia da posse, 21 de junho de 1991, à noite, vie-
ram grupos de estudantes secundaristas e universitários,
até de outras instituições, funcionários administrativos e
professores, além de grupos de moradores da periferia de
Fortaleza, estimulados por promessas de que receberiam
terras na área do Campus do Pici para construção de suas
casas. Pessoas ligadas a partidos políticos, contando inclu-
sive com a orientação de um deputado estadual do PC do
B que se fez presente no local da solenidade, direcionando
os manifestantes para ocuparem a Concha Acústica, por-
tando faixas e cartazes contra a minha posse. Os ocupantes
tomaram assento à mesa em que as autoridades presentes

71

deveriam estar, enviando uma comissão para dialogar com
o Reitor em exercício e informar que eles deixariam ocor-
rer a solenidade de posse sob duas condições: a primeira,
que um dos representantes do movimento discursasse e a
segunda, que eles ficassem livres para qualquer manifesta-
ção durante a solenidade. O reitor que estava saindo disse
à comissão que a decisão seria minha e, incontinenti, afir-
mei que não aceitaria tais condições.

O reitor resolveu, que a solenidade de transmissão
do cargo se daria no Salão Nobre da Reitoria, próximo à
Concha Acústica. Tão logo assinei o livro de posse no
cargo de reitor e quando estava para ler o meu discurso, a
referida sala foi invadida pelos manifestantes que passa-
ram a empurrar e a agredir as pessoas presentes, jogando
ovos, areia, pedras e spray de tintas coloridas, bem como
esmurrando pessoas (minha filha levou vários murros nas
costas), e destruindo as dependências da Reitoria. Os diri-
gentes da Administração Superior que estavam saindo,
logo desapareceram e passei a ser seguido e cercado por
grupos de indivíduos mais violentos que, por duas vezes,
tentaram me enforcar, envolvendo uma faixa em meu pes-
coço e apertando-o, da qual não foi fácil me desvencilhar.

Em um determinado momento, alguém armado de
porrete partiu para bater na minha cabeça, vindo por trás,
quando eu circulava pelos corredores da reitoria. Fui salvo
por um professor que segurou a arma no ar. Outro profes-
sor da Universidade colocou-se ao meu lado afirmando
que eu tinha de sair, uma vez que os invasores estavam

72

cada vez mais violentos e não contávamos com seguran-
ças. Ele iria providenciar o seu próprio carro para que eu
pudesse sair. Resisti a tal retirada, pois poderia ser inter-
pretada como uma fuga. Entretanto, outras pessoas mos-
traram-me que aquela era a única solução viável. Final-
mente aceitei, e dirigi-me a um clube da cidade onde gru-
pos de amigos estavam à minha espera para um jantar co-
memorativo.

Passei seis meses sendo alvo de movimentos e pro-
testos contra a minha posse, com cartazes fixados em pos-
tes da cidade, com programas de rádio pagos, com passea-
tas nos Campi e com demonstrações de grupos estudantis
sobretudo nas solenidades da Universidade. Havia, sem
dúvida, dinheiro investido. Muitas vezes recebia telefone-
mas anônimos em minha residência, com ameaças de que
não deveria sair de casa naquela noite, pois poderia não
voltar vivo. Sempre respondia que estaria à espera de
quem telefonava e que sempre saía sozinho, no meu pró-
prio carro. A última e final pressão deu-se no momento da
visita do Ministro da Educação José Goldemberg (Gover-
no Collor) à nossa Reitoria, quando um grupo de estudan-
tes pediu um encontro para que aquela autoridade assinas-
se um ato administrativo de revogação de minha nomea-
ção para Reitor da UFC, naturalmente negado pelo Minis-
tro. O grupo de estudantes ficou, após a audiência com o
Ministro, no gramado existente em frente ao prédio do
auditório principal da Reitoria, aos gritos contra o Minis-
tro e o Reitor. Agentes da Policia Federal e o ajudante de
ordens do Ministro durante sua visita ao nosso Estado,

73

major da Policia Estadual, adentraram o meu gabinete on-
de estava a conversar com o Ministro, muito nervosos e
avisaram que o clima lá fora era tenso e perigoso, dado o
estado emocional de revolta dos estudantes.

Informaram que haveria dois carros para levarem o
Ministro e que eu não deveria descer para acompanhá-lo,
pois eles só poderiam dar cobertura ao Ministro. Respondi
que desceria para acompanhar o Ministro, até mesmo por-
que se não o fizesse, jamais poderia voltar ao meu gabine-
te. Eu próprio cuidaria de minha segurança. Após muita
confusão no embarque do Ministro em um pequeno carro
chapa fria, dirigido por um agente da Policia Federal, fui
cercado pelos alunos aos gritos. Deixei-os gritar bastante,
sempre olhando nos seus olhos. Passados alguns minutos,
disse em voz alta: ”Terminaram? Agora abram a roda que
eu vou passar e quero ver quem vai me empatar”. Em se-
guida parti numa determinada direção. Diante da investi-
da, os alunos abriram a roda e eu passei. Naquele dia,
acabaram as pressões.

Havia dito que, enquanto reitor fosse, meu
gabinete não seria invadido. Em uma determinada tarde,
alguns estudantes, associados também a representantes das
categorias de servidores docentes e administrativos, co-
municaram que, no final da tarde, iriam invadir o meu
gabinete. Não tive dúvidas de tomar medidas de segurança
como o fechamento dos portões da Reitoria, aumento do
número dos seguranças da empresa prestadora de serviços
da Instituição, e solicitei reforço da Policia Militar que

74

deveria ficar numa área reservada para uma eventualidade
maior. Os participantes esbarraram nos portões fechados e
com a utilização de potente sistema de som, passaram a
estimular a derrubada dos portões. Já iam conseguindo seu
intento quando apareceram os soldados da Policia Militar.
Os manifestantes passaram a jogar pedras nos policiais
que reagiram saltando os muros da Reitoria numa verda-
deira batalha campal com ferimentos de ambos os lados.

75

3ª PARTE

O REITORADO

76

AS PRIMEIRAS DECISÕES

A primeira tarefa de qualquer administrador ao as-
sumir um cargo é escolher a equipe de auxiliares que vai
ajudá-lo no cumprimento das metas e dos objetivos para
execução de tarefas. Minhas escolhas foram bastante faci-
litadas, porquanto não tinha compromissos com quaisquer
grupos, inclusive com aqueles que haviam apoiado meu
nome. Entre os pró-reitores escolhidos, dois professores
Pedro Sisnando Leite, Planejamento, e Marcondes Rosa,
Extensão, experientes nas funções, uma vez que já haviam
exercido as mesmas tarefas em reitorados anteriores; dois
outros compromissados com outra candidatura, os profes-
sores Ricardo Thé, Administração e Gil de Aquino Farias,
Graduação; e duas professoras entre as mulheres, conheci-
das por sua capacidade de trabalho e valor acadêmico,
Glauce Socorro de Barros Viana, Pesquisa e Pós- Gradua-
ção e Vera Mota Klein, Assuntos Estudantis. Para a Procu-
radoria Geral, um jovem professor do Curso de Direito,
Alexandre Rodrigues de Albuquerque, a quem não conhe-
cia e de quem tive as melhores informações.

77

Nos Órgãos Suplementares mantive quatro dos en-
tão ocupantes de cargos: Maternidade Escola, Francisco
das Chagas Oliveira; Museu de Artes, Pedro Eymar Bar-
bosa da Costa; Casa José de Alencar, Romeu Prado Cysne
e Casa Amarela, Eusélio Oliveira e depois Wolney Olivei-
ra escolhidos em função do bom trabalho que exerciam.
Todos esses não votaram em mim na disputa sucessória.
Colocamos novos nomes: no Hospital Universitário, Fer-
nando Frota Bezerra; na Biblioteca Universitária, Gabrieli-
ta Carrhá Machado e depois Áurea Costa Maia; na Im-
prensa Universitária, Geraldo Jesuíno da Costa; no Cetre-
de, Faustino de Albuquerque Sobrinho; no Labomar, Ge-
orge Satander Freire; na Superintendência de Recursos
Humanos, Regina Jaguaribe Pontes e na Superintendência
de Planejamento Físico e Operações, Amintas Eugênio de
Sousa. Todos, com experiência em suas áreas ou correla-
tas, substituíam pessoas capazes, mas que ocupavam, há
muitos anos, os respectivos cargos. Na vice-reitoria conta-
ria com um companheiro de longa data, que já fora Diretor
do Centro de Tecnologia da UFC e que acumulava outras
experiências acadêmicas, além de ser possuidor de lealda-
de e caráter ímpares, José Waldez Botelho.

O primeiro levantamento a ser feito era para saber
a realidade da Instituição, principalmente no setor finan-
ceiro e verificou-se estar em déficit. Além das precarieda-
des materiais, baixa autoestima dos que ali trabalhavam. A
orientação aos auxiliares foi de nada divulgar , porque,
além de não ajudar o que teríamos de fazer, atrapalharia
nosso objetivo que seria procurar alternativas, através de

78

outras fontes financiadoras, além do orçamento advindo
do Ministério da Educação. Para tanto, discutimos a possi-
bilidade de montar, junto à Pró-Reitoria de Planejamento,
um grupo com a finalidade de elaborar projetos a fim de
buscar recursos financeiros em outros Ministérios, em
outras entidades dos governos federal, estadual e munici-
pal, em organizações regionais e internacionais e, se pos-
sível, em empresas particulares. Resultante dessa ideia, foi
a elaboração de inúmeros projetos vindos de solicitações
de professores, técnicos e da própria Administração Supe-
rior da Universidade com captação de recursos substanci-
ais que possibilitaram inúmeras realizações na Instituição.
Nenhuma vez saí de Fortaleza, seja para Brasília seja para
outro lugar onde houvesse possibilidade de captar recursos
financeiros, sem levar projetos.

Outra decisão tomada pela Administração Superior
da Universidade foi estabelecer prioridades em termos de
investimentos, uma vez que os recursos eram escassos e
tínhamos que usar racionalidade em sua aplicação. Assim,
a área de informática; as bibliotecas; a recuperação, a me-
lhoria e a ampliação das instalações físicas e dos equipa-
mentos; a abertura de novos Cursos de Graduação e Pós-
Graduação; a continuidade da qualificação dos docentes e
administrativos e ações inovadoras eram as atividades pri-
oritárias. Outra medida adotada com a finalidade de agili-
zar e democratizar a tomada de decisões entre os diferen-
tes escalões administrativos foi o estabelecimento de reu-
niões mensais da Administração Superior com os dirigen-
tes dos Órgãos Suplementares e das Secretarias dos Cen-

79

tros, das Faculdades e dos Órgãos Suplementares, além
das costumeiras reuniões do Reitor, com o Vice-Reitor e
os Pró-Reitores, todas as segundas-feiras pela manhã e
com os Diretores de Centros e Faculdades, à tarde.

Um fator importante a destacar foi que, durante os
debates e as visitas a setores da Universidade por ocasião
da campanha para reitor, fiz uma serie de anotações apon-
tadas pela comunidade universitária que diziam respeito às
necessidades maiores de cada um, adicionando-as às prio-
ridades estabelecidas. Por outro lado, tendo como caracte-
rística pessoal não ficar “sentado” em gabinete, realizei
visitas às diferentes áreas da Instituição para conhecer
melhor as realidades presentes e o andamento dos traba-
lhos em execução. Assim pude acompanhar o trabalho a
ser realizado nos diversos Campi, durante a minha gestão.

O maior desafio da minha administração era a situ-
ação financeira da Universidade. A receita do orçamento
era distribuído nas seguintes categorias econômicas: pes-
soal e encargos sociais, correspondia a 80% das despe-
sas; outras despesas correntes, correspondia a 15% das
despesas em pagamento de água, luz, telefone, combustí-
vel, material de consumo, serviços de segurança e limpeza
e investimentos, correspondia a 5% das despesas em
construção, compra de equipamentos etc. No período
1992-1995, em todos os anos tivemos contenção de des-
pesas determinada pelo Governo Federal. Isso significava
que, na realidade, não sabíamos com que recursos iríamos
contar para o período seguinte. Destaque-se que, no ano

80

de 1994 até o mês de setembro, permanecemos sem saber
qual seria o nosso orçamento uma vez que o Congresso
Nacional deveria ter votado a dotação orçamentária até o
mês de dezembro do ano anterior e não o fez.

Durante o período administrativo 1991-1995, su-
portamos três planos econômicos: Collor 2, Marcílio e
Real; três governos: Fernando Collor de Mello, Itamar
Franco e Fernando Henrique Cardoso; mudanças no Mi-
nistério da Educação, com o rodízio de cinco ministros:
Carlos Chiarelli, José Goldemberg, Eraldo Tinoco Melo
no Governo Collor; Murilo de Aveliar Hingel no Governo
Itamar e Paulo Renato Souza no Governo Fernando Hen-
rique e a nomeação de quatro Secretários de Ensino Supe-
rior do MEC.

Em determinado dia, chegou ao meu gabinete o
Pró-Reitor de Administração acompanhado do Diretor do
Departamento de Contabilidade e Finanças com ar de mui-
ta preocupação, informando que, naquela data, o cofre da
Universidade contava com exatos vinte reais. O que deve-
riam fazer? Sugeriram que imediatamente fosse sustada
qualquer autorização de despesas. Estávamos em um tra-
balho forte de elevação da autoestima do nosso pessoal,
estimulando a todos que tivessem trabalhos científicos
aprovados em seminários ou congressos pudessem obter
passagens e diárias. Naquele momento, qualquer informa-
ção em contrário seria uma ducha de água fria. Eu assu-
miria portanto o risco de não parar nada e imediatamente
iria a Brasília tentar conseguir recursos. No dia seguinte,

81

em Brasília, contatei com diferentes setores do MEC e,
posteriormente, com os do Ministério da Fazenda, que me
informaram a impossibilidade de atender às minhas solici-
tações de recursos financeiros naquele momento. A única
alternativa possível era a política. Imediatamente dirigi-me
ao Congresso Nacional, procurando falar com o Presidente
que, naquele momento, era o Senador Mauro Benevides, o
qual, ciente do quadro difícil que vivíamos na UFC, entrou
em contato direto com o Ministro da Fazenda que, pron-
tamente, atendeu à solicitação do Presidente do Congres-
so. Dois dias depois, pude retornar a Fortaleza, trazendo os
recursos necessários para sanar as nossas prementes ne-
cessidades.

É também inegável que os convênios firmados com
diferentes instituições, que em três anos já passavam de
cinquenta, deram um grande suporte financeiro à nossa
Universidade, permitindo a compra de novos equipamen-
tos, a melhoria da infraestrutura, o treinamento para quali-
ficar os professores e administrativos e a montagem de
empreendimentos inovadores. Com tais aportes, daí em
diante, cabia às equipes estabelecidas sob nossa supervisão
acelerar a execução dos programas prioritários planejados.

82

A INFORMATIZAÇÃO

A informatização da Universidade tinha duas ver-
tentes: a administrativa e a acadêmica. O Ministério da
Educação tinha escolhido a UFC para servir de modelo
num programa de informatização da administração deno-
minado Sistema de Automação Universitária (SAU), o
qual compreendia nove módulos correspondentes a proto-
colo, correio eletrônico, pessoal, material, bibliotecas,
controle acadêmico, pesquisa, pós-graduação e controle do
sistema. Para a execução do referido programa, foi firma-
do Convênio MEC/UNISYS/UFC em que ao Ministério
cabia o suporte financeiro, à UNISYS (empresa americana
de informática), fornecer os equipamentos e à nossa Uni-
versidade, juntamente com os técnicos da empresa
TECHNE- Engenharia de Sistemas, formada por professo-
res aposentados da Universidade Estadual de São Paulo
(UESP), formular e implantar os módulos previstos. Para
tal, a UFC receberia um computador central Unisys A-10,
instalado no Núcleo de Processamento de Dados (NPD) da
Universidade e cinquenta e três terminais que deveriam,

83

no final do projeto, estar distribuídos nos três campi da
Universidade (Benfica, Pici e Porangabussu).

Quando assumi a Reitoria, encontrei implantados
os módulos relativos a protocolo e correio eletrônico fun-
cionando somente na área do Campus do Benfica. Ao
saber que o reitor anterior estava apreensivo com a possí-
vel interrupção do programa, tratei de assegurar-lhe que
daria continuidade e celeridade ao mesmo, por considerá-
lo importante e que outros programas e atividades em an-
damento, desde que importantes, teriam continuidade,
ainda que modificados ou ajustados desde que não esti-
vessem funcionando adequadamente. Continuidade admi-
nistrativa sempre fez parte da minha trajetória quando res-
ponsável pela administração pública. Ao final da nossa
administração, deixamos em funcionamento e ampliados
os módulos de pessoal, material, patrimônio e compras; de
bibliotecas, de controle acadêmico de Graduação e Pós-
Graduação e Extensão; de finanças e de controle do siste-
ma, além dos já encontrados referentes a protocolo e cor-
reio eletrônico e em via de ser implantado o de pesquisa.
Adquirimos mais um computador potente para suportar o
crescimento do programa Unisys A-11 interligado ao anti-
go A-10; 485 terminais foram distribuídos pelos diversos
setores da Universidade, incluindo departamentos acadê-
micos, faculdades e centros situados nos três campi.

Na parte acadêmica, encontrei em toda a Universi-
dade 57 computadores, a maioria XT e alguns 2.86. Na
sede do Núcleo de Processamento de Dados (NPD), cére-

84

bro da informatização da Instituição, existia um computa-
dor central para atender a todos os serviços necessários
que iam desde a folha de pessoal até as atividades de pes-
quisa que era o DEC-10, de potência limitada e do tama-
nho de uma locomotiva de trem, além de alguns micros
mais avançados. Para mudar tal quadro, começamos insta-
lando três laboratórios didáticos de computação, um em
cada Campus com trinta computadores 3.86 e 4.8 (estes a
maioria), os quais, naquela época, eram os mais modernos
e destinados a serem usados fora dos períodos de aulas
pelos alunos que desejassem aprofundar seus conhecimen-
tos em ambiente amplo, com ar- condicionado e adequada
iluminação. Posteriormente, fomos criando, em cada Cen-
tro ou Faculdade, mais laboratórios de informática, desti-
nados aos alunos daquelas unidades. Em um terceiro mo-
mento, instalamos laboratórios junto à maioria dos Depar-
tamentos Acadêmicos dos Centros ou Faculdades, sempre
em torno de vinte a trinta computadores 3.86 e 4.86 (sem-
pre a maioria). No final da Administração, deixamos um
saldo de 1.285 computadores distribuídos em quarenta e
dois laboratórios de informática.

Tivemos a informação de que o Ministério de Ci-
ência e Tecnologia, através de suporte financeiro da Fi-
nanciadora de Estudos e Projetos (FINEP) estava elabo-
rando um projeto denominado Centro Nacional de Proces-
samento de Alto Desempenho que tinha como objetivo
maior criar cinco Centros de Processamento por regiões do
País. Todos dotados de um computador de alto desempe-
nho, cujo potencial desejado somente era encontrado na

85

agência norte-americana NASA. Imediatamente fomos a
Brasília para obter maiores informações e solicitar o apoio
do Deputado Federal Ariosto Holanda, suporte maior da
área de ciência e tecnologia na Câmara de Deputados. Dali
em diante contamos com seu apoio incondicional. O refe-
rido projeto teria a base nas universidades que sediariam
os computadores, e o Estado escolhido daria cobertura a
outros de sua região geográfica. A Universidade que dese-
jasse concorrer ao projeto deveria elaborar uma proposta
substancial com informações sobre infraestrutura, pessoal
qualificado, potencialidade de uso do equipamento, dispo-
nibilidade de recursos financeiros para preparar o ambien-
te para receber o equipamento entre outras solicitações.

Foi uma longa e árdua batalha com várias idas e
vindas a Brasília, modificações da solicitação, além da
disputa na Região Nordeste, onde os Estados da Bahia,
Pernambuco e Ceará lutavam ferrenhamente pela localiza-
ção do referido Centro em suas universidades. A FINEP
(Financiadora de Estudos e Projetos) e o Ministério da
Ciência e Tecnologia já tinham decidido que, na Região
Sul o computador ficaria na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), que daria cobertura aos Estados
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) receberia um
computador para os Estados do Rio de Janeiro e do Espíri-
to Santo. A Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) seria responsável pelos Estados de Minas Gerais,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso Sul e Brasília ficaria
com um computador. A Universidade Estadual de São

86

Paulo (USP) seria responsável por todo o Estado de São
Paulo. A Universidade do Nordeste que fosse escolhida
ficaria dando cobertura a todos os Estados das Regiões
Norte e Nordeste.

Escolhidas as Universidades das outras Regiões, a
do Nordeste ficou em “banho maria” apesar de todo o es-
forço do Deputado Ariosto Holanda. Resolvi ir a Brasília
tentar uma última estratégia junto ao Ministro de Ciência e
Tecnologia José Vargas, do Governo Itamar, em uma au-
diência que havia solicitado. Depois de indagar do Minis-
tro como estava a decisão da escolha da Universidade do
Nordeste para sediar o computador, aquela autoridade,
como bom mineiro, tentou justificar a demora devido à
necessidade de novas informações. Então, resolvi fazer
um lance final dizendo: ”Senhor Ministro, se eu fosse um
reitor de uma universidade rica e de um Estado politica-
mente poderoso, teria neste momento uma resposta positi-
va; como sou de um Estado pobre, querendo se desenvol-
ver e reitor de uma universidade tentando crescer através
de uma oportunidade como a deste projeto, não tenho
vez.” Ele, tomado de brios e batendo na mesa, afirmou
categórico, ”Reitor, o computador irá para sua Universi-
dade.” Assim ganhamos a parada para sediar na UFC, a
representação do Centro Nacional de Processamento de
Alto Desempenho do Nordeste (CENAPAD/NE).

Regressando imediatamente à Fortaleza, começa-
mos a providenciar as reformas necessárias no Núcleo de
Processamento de Dados (NPD), a fim de receber o novo

87

computador central e tomar as providências necessárias
para transferir para a Universidade Federal do Acre o ve-
lho DEC-10 que, até então, estava em uso. O novo compu-
tador era um SP-2 da IBM, do tamanho de uma geladeira.
Recebemos mais 400 computadores 4.86 que seriam dis-
tribuídos aos departamentos acadêmicos para uso indivi-
dual dos professores como suporte dos seus trabalhos de
pesquisa, além de 95 estações de trabalho, 50 terminais, 90
impressoras a jato de tinta colorida e 22 impressoras a
laser. Foi também firmado convênio entre a Secretaria de
Ciência e Tecnologia do Estado/FINEP/Ministério da Ci-
ência e Tecnologia/UFC para envolver instituições do Es-
tado (Universidades, Centros de Pesquisa, Funceme e ou-
tras) no referido projeto. O Centro Nacional de Processa-
mento de Alto Desempenho/Nordeste (CENAPAD/NE)
foi finalmente inaugurado no dia 19/6/1995.

Havia sido criado no País, outro Programa deno-
minado Rede Nacional de Pesquisa (RNP), por parte do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPQ), o ramo nacional da internet que tinha
como objetivo possibilitar a comunicação e a troca de
dados entre os pesquisadores das diferentes universidades
e centros de pesquisa, nacionais ou internacionais. Para
ser conectado à referida rede, era preciso adquirir um “ro-
tor” que deveria estar ligado ao Núcleo de Processamento
de Dados (NPD) e daí sairia a ligação para os diferentes
setores da Universidade. Era, na época, uma máquina de
valor financeiro elevado, que conseguimos adquirir e fo-
mos pioneiros, mais uma vez, na Região Nordeste. Quan-

88

do da instalação na UFC (10/6/1994), a RNP já contava
com mais de 15 milhões de associados em todos os conti-
nentes.

No dia 9 de junho de 1994, no Departamento de
Computação do Centro de Ciências, foi inaugurado o pri-
meiro trecho de 3,5 quilômetros da rede de fibra ótica no
Campus do Pici de um total de 20 km que iriam interligar,
com maior velocidade, os computadores existentes nos
três Campi (Pici, Benfica e Porangabussu) da Universida-
de, num investimento de mais de cem milhões de dólares.
Este sistema de fibra ótica fazia parte do chamado Projeto
Aranha que colocou a UFC entre as quatro principais uni-
versidades do País em teleprocessamento e modernidade
das comunicações. O primeiro trecho da fibra ótica interli-
gava os Departamentos de Engenharia Elétrica, Física,
Química, Fitotecnia, a Pós- Graduação em Recursos Hí-
dricos, a Biblioteca Universitária e o Núcleo de Processa-
mento de Dados (NPD). Na oportunidade, também, foi
inaugurado mais um moderno laboratório de informática
para os alunos do Curso de Computação (4.86), no Depar-
tamento de Computação, além de estações de trabalho
RISC que, no inicio da nossa administração, só possuía,
em seus laboratórios, computadores XT. Tanto a RNP
como a rede de fibra ótica possibilitaram a UFC receber o
Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho
do Nordeste (CENAPAD/NE).

Como suporte de informática para a nossa Univer-
sidade, conseguimos ainda implantar a informatização do

89

sistema de editoração da Imprensa Universitária com seis
micros 3.86 e três 4.86, provenientes de um projeto de
comodato firmado com a IBM do Brasil sem ônus para a
UFC. No final de nossa administração, no setor informáti-
ca deixamos computadores, terminais e outros suportes
com mais de 2.000 aparelhos, a maioria 4.86, na época, os
mais modernos.

90

AS BIBLIOTECAS

Levantamento realizado logo no início da adminis-
tração revelou a situação bastante grave em que se encon-
trava o Sistema de Bibliotecas da UFC, principalmente
considerando que este segmento dava suporte às ativida-
des de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas na Insti-
tuição. Naquela época, o Sistema contava com 19 bibliote-
cas, cuja direção ficava na Biblioteca Universitária (antiga
Biblioteca Central). De forma resumida, o estado das bi-
bliotecas era o seguinte: o acervo de livros e periódicos
estava completamente desatualizado; faltavam títulos fun-
damentais, principalmente para as áreas de ciências puras
e aplicadas; a situação das instalações físicas, a começar
pela Biblioteca Universitária, era caótica: teto caindo em
algumas salas, mesas de estudo e cadeiras quebradas, lâm-
padas queimadas, piso arrancado, iluminação e ventilação
inadequadas e banheiros em estado lastimável. À primeira
vista, o local parecia abandonado. Os estudantes, desesti-
mulados, muitas vezes ficavam ali sem camisa, faziam
barulho e o controle do silêncio era muito difícil. A situa-

91

ção repetia-se em, praticamente, todas as bibliotecas do
sistema.

Uma das primeiras medidas relativas às bibliote-
cas foi a realização do inventário dos acervos que as inte-
gravam (abril de 1992). Embora as bibliotecas existissem
desde o início da Universidade, algumas até antecediam a
sua criação, mas inexistia o inventário, que passou a ser
uma rotina sistemática, com resultados apresentados ao
Patrimônio, o que foi para muitos integrantes das equipes
das bibliotecas, a primeira experiência com este tipo de
trabalho.

A recuperação das bibliotecas foi uma das princi-
pais metas da minha administração e, lembro-me bem,
quando comuniquei a minha intenção, em reunião com as
bibliotecárias, percebi expressões de descrença e de espe-
rança. Foram elaborados pelas próprias equipes das biblio-
tecas, juntamente com os arquitetos da Universidade, pro-
jetos de reformas, objetivando resolver os problemas e
melhorar as instalações físicas. A Biblioteca Universitária,
em cujo prédio funciona, até hoje, a Biblioteca de Ciências
e Tecnologia, foi totalmente reformada, mobiliada e ade-
quadamente decorada. Foram contemplados, também, ou-
tros aspectos como a segurança do acervo, a entrada e a
saída dos usuários. É importante dizer, que após a reforma,
aumentou substancialmente a frequência de estudantes na
biblioteca, que passaram a comportar-se de forma adequa-
da e a observar o silêncio. A partir daí, as demais bibliote-
cas de Ciências e Tecnologia; de Ciências da Saúde, antiga

92

Biblioteca da Faculdade de Medicina; de Humanidades;
de Educação; de Economia; do Centro de Tecnologia; do
CAEN (Pós-Graduação em Economia); da Arquitetura; do
Direito; da Casa José de Alencar; do LABOMAR e da
Economia Agrícola foram reformadas, ampliadas e mobi-
liadas. No final da administração mais de 90% das biblio-
tecas do sistema estavam recuperadas.

O Ministro da Educação Murílio de Avellar Hin-
gel, do Governo Itamar Franco, no seu último período de
gestão, chamou ao seu gabinete um grupo de dez reitores,
eu incluído, e comunicou que o Ministério possuía uma
verba extra que desejava distribuir entre aqueles dirigentes
de universidades que ele julgava que tinham apresentado
melhores resultados em suas administrações. Dirigindo-se
aos contemplados, disse-nos que teríamos liberdade de
escolher em que investir. Imediatamente informei-lhe que
gostaria de construir uma nova biblioteca. Ficou acertado
que, depois que retornei de Brasília, ela seria na área do
Campus do Benfica e que deveria agregar, nas suas insta-
lações, as bibliotecas do Centro de Humanidades, de Edu-
cação e as existentes nas Casas de Cultura Estrangeira.
Quando deixamos a Reitoria, 80% do referido prédio esta-
va em construção e os recursos financeiros assegurados
para sua conclusão.

Vários cursos de reciclagem e treinamentos foram
ofertados ao pessoal que era lotado nas bibliotecas: Curso
de Técnicas Comunicacionais, como parte da preparação
de bibliotecários para treinamento de usuários do Sistema

93

de Bibliotecas; Curso de Preservação, Conservação e Res-
tauração de Documentação Gráfica, promovido pelo SE-
NAI/Associação Brasileira de Encadernação e Restaura-
ção, em nível de especialização, em São Paulo; Curso de
Técnicas Didáticas como preparação para dar treinamento
a usuários de bibliotecas; Treinamento para o PRODA-
SEN, Base de Dados do Congresso Nacional, em Brasília;
Cursos de Introdução à Computação; de Editor de Texto;
de Gestão de Qualidade; de Auxiliar de Biblioteca e de
Inglês Instrumental.

Iniciamos a informatização do Sistema através do
SAU (Sistema de Automação Universitário), visando agi-
lizar os serviços técnicos e administrativos. Até o final da
administração, estavam implantados os serviços de Em-
préstimo, Processamento Técnico de Livros e Aquisição
de material bibliográfico. Através de Convênio com o
IBICT, foi instalado, na Biblioteca Universitária, um Posto
de Serviço, tipo A, do SPA (Serviço Público de Acesso à
Base de Dados), através do qual os usuários tinham acesso
a levantamentos bibliográficos automatizados nas mais
diversas áreas do conhecimento nacionais e internacio-
nais, com seis bases on-line e quatro em CD-ROM, na
época, considerado o que havia da mais moderno na área
de recuperação da informação. Na Biblioteca da Faculdade
de Direito, em 1992, foi incrementada a pesquisa através
do PRODASEN, Base de Dados do Senado, dando acesso
a toda a documentação relativa à legislação e a todo mate-
rial bibliográfico existente na Biblioteca do Congresso
Nacional. Tiveram continuidade os serviços de Comutação

94

Bibliográfica (COMUT) e BIREME, o primeiro, em fun-
cionamento há mais de dez anos e o segundo, desde 1967.

Com investimentos de mais de dois e meio milhões
de dólares foram adquiridos 18.001 novos livros para as
nossas bibliotecas (em 1990 a Universidade havia com-
prado um único livro) e 2.944 assinaturas de títulos de
periódicos. Quando começamos a solicitar aos nossos pro-
fessores e pesquisadores que enviassem listas de livros e
periódicos que deveriam ser adquiridos para seus trabalhos
didáticos e de pesquisa, eles não consideraram as nossas
solicitações, possivelmente descrentes de que fôssemos
atendê-los. Tão logo começaram a chegar os primeiros
livros solicitados, novos pedidos foram feitos e de manei-
ra acentuada, chegando a um total de 26.000 e grande
parte deles deixaram de ser adquiridos por falta de cotação
dos fornecedores. Conseguimos aumentar o quadro de
servidores das bibliotecas, inclusive de bibliotecárias, com
algumas transferências de outras universidades federais e
por concurso público. Foram ainda celebrados convênios
com a Fundação Joaquim Nabuco para acessar todas as
bases de dados disponíveis naquela Instituição nas áreas
de História e Sociologia; com a Fundação Getúlio Vargas,
que colocou a disposição da UFC os serviços da Rede BI-
BLIODATA/CALCO; e o UFC/BIREME-Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informações em Ciências da
Saúde.

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O ENSINO

GRADUAÇÂO

A melhoria da qualidade do ensino de graduação e
pós-graduação da UFC, ao lado da ampliação das ativida-
des de pesquisa e extensão e apoio aos estudantes, sempre
esteve presente nos objetivos e nas ações da nossa admi-
nistração. Há mais de uma década, a nossa Universidade
não criava novos cursos de graduação. Tivemos o cuidado
de viabilizar a criação de alguns, havendo suporte para tal,
visando atender a solicitações da sociedade.

O primeiro curso criado nesse período foi o de Li-
cenciatura em Educação Física (1992), por solicitação de
professores de educação física de escolas públicas e priva-
das que estiveram na Universidade, mostrando a necessi-
dade de uma licenciatura a fim de proporcionar-lhes as-
censão funcional, uma vez que curso idêntico de outra
universidade local e particular oferecia enfoque diferenci-
ado para suas necessidades. O segundo foi o de Ciências
Atuariais (1992), interseção entre Contabilidade e Eco-

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nomia, voltado para atendimento essencialmente àquelas
atividades que envolvem cálculo de valores futuros, pla-
nejamento financeiro e gestão de seguros e previdência ,
muito solicitado nos dias atuais.

No reitorado anterior (1987-1991), a pedido de um
grupo de empresários ligados ao setor de confecções e de
moda, fora criado o Curso de Extensão de Estilismo e
Moda, o qual teve sucesso de busca por uma clientela es-
pecial. Tendo o Estado do Ceará conquistado um grande
destaque em sua economia no setor de confecções de rou-
pas e bordados, exportando para várias localidades do País
e do Exterior, gerando empregos e aumentando a renda
das pessoas que trabalham no setor, a UFC foi novamente
procurada pelo mesmo grupo de empresários, já na minha
gestão, os quais solicitaram transformar o Curso de Exten-
são de Estilismo e Moda em Curso de Graduação, o que
foi realizado com o necessário empenho da Pró-Reitoria
de Graduação. Assim foi criado assim o primeiro Curso de
Graduação na área, no ano de 1993.

Outro curso criado foi o de Bacharelado em Secre-
tariado (1995), devido à aprovação de uma nova legislação
que estabelecia que todo aquele ocupasse cargo de secretá-
rio, teria que ser portador de bacharelado em secretariado.
Isso gerou preocupação para os nossos funcionários que
ocupavam cargos de secretariado. Por não existir, no nosso
Estado nenhum curso que atendesse a referida atividade,
cuidamos de preencher a essa lacuna existente. Finalmen-
te, foi criado o curso de Licenciatura em Agronomia e o

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de Engenharia de Pesca (1995), que visavam atender os
profissionais daquelas áreas do conhecimento que se diri-
giam para exercerem o magistério em escolas secundárias
públicas ou privadas.

Quanto aos cursos noturnos de graduação, a UFC
só tinha dois e, em alguns casos, com oferta de disciplinas
isoladas, oferecidas em alguns cursos como o de Direito.
A procura por cursos noturnos era imensa, pois havia um
público interessado que trabalhava durante o dia. Depois
de vários entendimentos com as diferentes Coordenações e
Diretorias de Centros e Faculdades, foram criados os se-
guintes cursos noturnos: Direito, Ciências Contábeis, Ci-
ências Atuariais, Física, Química, Matemática, Bacharela-
to em Secretariado, Licenciatura em Agronomia e Enge-
nharia de Pesca.

As reformulações dos currículos de vários cursos
de graduação constituíam um desafio para as Coordena-
ções de Cursos e para a Pró-Reitoria de Graduação. Já
vinha sendo solicitado por segmentos da sociedade e por
Conselhos Regionais de classe que fizéssemos os ajustes e
as mudanças necessárias em algumas grades curriculares.
Nos quatro anos de nosso mandato, foram reformulados os
currículos dos cursos de Direito, Engenharia Civil, Enge-
nharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Quími-
ca, Estatística, Letras, Ciências Sociais e Contabilidade.
Deixamos em andamento as reformulações de Farmácia,
Enfermagem, Medicina, Comunicação Social, Adminis-
tração e Geografia. O Centro de Tecnologia com seus dife-

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