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Published by andreaires, 2019-09-05 08:34:43

O_Presente_do_Passado

O_Presente_do_Passado

Revisão: Antônio Cajuaz
Projeto gráfico e capa: Geraldo Jesuino



Copyright© 2018 y Antônio de Albuquerque Sousa Filho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária: Regina Célia Paiva da Silva CRB – 1051

S725p Sousa Filho, Antônio de Albuquerque

O Presente do Passado / Antônio de Albu-
querque Sousa Filho. – Fortaleza: IMprece, 2018.

184p. 14 cm x 21 cm.

Inclui fotos.

ISBN: 978-85-8126-171-3
1. Sousa Filho, Antônio de Albuquerque – Me-
mórias. 2. Militares – Biografia. I. Título.

CDD. 923.5

Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................7
ONDE TUDO COMEÇOU....................................................22
TRANSFERÊNCIA PARA FORTALEZA ............................41
RUA PINTO MADEIRA ........................................................68
COLÉGIO CASTELO BRANCO ...........................................80
MUDANDO DE ENDEREÇO................................................86
DEPARTAMENTO DE SANEAMENTO E OBRAS
PÚBLICAS (DSOP)................................................................94
Centro De Preparação De Oficiais Da Reserva (CPOR)
Exército Brasileiro.................................................................103
Estórias Pitorescas da Caserna .............................................114
VESTIBULAR E FORMATURA.........................................120
Brincadeiras Alegres do Tempo da Escola: ..........................143
IDAS E VINDAS DE VIÇOSA DO CEARÁ ......................149
CHEGO AOS 80 ANOS .......................................................166
BIOGRAFIA: ........................................................................ 176
Agradecimentos Especiais....................................................184

DEDICATÓRIA

Aos meus familiares, mestres, amigos

e superiores, cujos exemplos me leva-
ram a abraçar oportunidades, aceitar de-
safios, tomar decisões e persistir em
busca de meus objetivos.

INTRODUÇÃO

Chegando aos 80 anos, senti necessidade de regis-
trar fatos passados, vivenciados em minha juventude. Con-
tei para isso, com a colaboração de amigos e familiares, os
quais confirmaram detalhes e relembraram episódios qua-
se esquecidos, complementando com leituras de alguns
livros e com minha memória.

O percurso deste livro começa pelo Município de
Camocim, situado no litoral Norte do Ceará, onde mora-
mos por seis anos, devido à vida funcional de meu pai
Antônio de Albuquerque que, embora formado na primeira
turma de Agronomia (1921) da antiga Escola de Agrono-
mia do Ceará, nunca exerceu a profissão. Formou-se já
casado e com filhos. Por ser servidor da Receita Estadual,
vivia sendo transferido de um local para outro de trabalho.
Quando lotado em Camocim, além de ter trabalhado na

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Coletoria Estadual, exerceu, por alguns meses, o cargo de
Prefeito Municipal no início dos anos 40.

Camocim era pequena e de vida tranquila. Povo
prestativo e alegre. Como toda cidade situada no litoral,
havia farta oferta de peixes das mais variadas espécies. A
economia do Município tinha dois suportes: o porto e a
estrada de ferro. Havia, na época, a presença de tropas do
Exército Americano, como base de suas ações militares,
durante a Segunda Guerra Mundial. Cheguei a assistir à
chegada de zepelim no campo de aviação local, controlado
pelos americanos. A política local era externada pelos co-
mícios dos simpatizantes do Partido Comunista e dos Inte-
gralistas. Camocim tinha como atrações maiores, o banho
de mar, assistir filmes de faroeste exibidos no único cine-
ma da cidade, as festas no Camocim Clube e os espetácu-
los do Circo Cirino, nas suas estadas na cidade.

Havia em Camocim poucas horas com energia elé-
trica. Não existia serviço de abastecimento de água e nem
de esgoto. As ruas não tinham calçamento. A educação era
ministrada no Grupo Municipal José de Barcelos e nas
casas das professoras de ensino particular. Os cuidados de
saúde ficavam a cargo de farmacêuticos, rezadeiras e par-
teiras leigas. As atividades comercias eram realizadas no
mercado municipal e nas bodegas.

Para contar fatos ligados a Camocim, revigorei a
memória com a leitura de alguns livros, apoio de amigos
como o jornalista Vicente Alencar, Margarida Freitas de
Alencar, Francisco Freitas, Joaquim Parente, Marília Coe-

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lho, Deputado Estadual Sérgio Aguiar e seu assessor par-
lamentar Rômulo Trévia Veras.

Na transferência de meu pai da Coletoria Estadual
de Camocim, em 1947, para exercer o cargo de Diretor
Geral da Recebedoria Estadual do Ceará, em Fortaleza,
fomos morar na Rua Pinto Madeira, nº 683, no Bairro Al-
deota. Fortaleza era uma cidade bem provinciana, com os
serviços bancários e de correios, as principais lojas de co-
mércio, cinemas e consultórios de dentistas e de médicos,
todos situados no centro da cidade.

O bom de Fortaleza era possível andar nas ruas e
avenidas com total segurança. Andava-se muito a pé, as
pessoas não tinham tanta pressa, o trânsito era rarefeito.
Os produtos perecíveis, comprados e entregues nas portas
das casas (carnes, leite, frutas etc.). As pessoas se conhe-
ciam, se cumprimentavam e se ajudavam mutuamente. Os
nomes das principais famílias eram conhecidos. Havia
cadeiras colocadas nas calçadas para as descontraídas
conversas de vizinhos e amigos. As notícias chegavam
pelas emissoras de rádio, pelos jornais locais e pela comu-
nicação boca a boca.

O lazer consistia em assistir a filmes, tomar banho
de mar, dançar nas festas ao som do rádio ou discoteca nas
casas de famílias ou nos clubes, frequentar as quermesses,
participar das festas, jogar bola nas ruas e praças, assistir a
partidas de futebol, jogar damas ou gamão nas calçadas,
beber cerveja ou cachaça nas mercearias ou bares existen-
tes.

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A Rua Pinto Madeira começa no centro da cidade,
nas proximidades com o Parque das Crianças, terminando
onde tem início a Rua Torres Câmara, Aldeota. Foi onde
viemos morar, no quarteirão entre as Ruas D. Leopoldina
e J. da Penha nas proximidades da Igreja do Cristo Rei e
da Escola Preparatória de Fortaleza. Passamos a morar em
casa própria. A maioria dos habitantes de Fortaleza mora-
vam em casas, pois havia poucos edifícios residências,
todos localizados no centro. A infraestrutura era deficiente
com a pavimentação das ruas de pedra tosca, pouca ilumi-
nação pública, inexpressiva rede de abastecimento de água
e esgotos.

Na rua em que morávamos, havia muita aproxima-
ção com os vizinhos, existindo, muitas vezes, o surgimen-
to de compadrio entre os mesmos, como pedir empresta-
das porções de açúcar ou café. Jogava-se bola na via pú-
blica. Sentava-se na calçada para os papos corriqueiros.
Dormia-se e acordava-se cedo para se ir para os colégios
ou trabalhar. As compras eram feitas no centro da cidade.
Andava-se muito a pé. Existiam os chamados “ladrões de
galinhas” que roubavam para comer e não andavam arma-
dos.

A maioria das casas não possuía geladeira, liquidi-
ficador, telefone. Entretanto, com as facilidades do crediá-
rio muitas delas tinham fogões a gás e a maioria possuía
rádio para ouvir os noticiários e as músicas interpretadas
pelos seus cantores favoritos.

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Sobre as narrativas da Rua Pinto Madeira, contei
com o apoio das primas Ilka de Albuquerque Marques,
Alba de Albuquerque Campos, Diva de Albuquerque
Mendes, meu irmão Albi de Albuquerque, os amigos José
Cajuaz Filho, Marcelo Cajuaz, Consuelo Cajuaz, Tarquí-
nio Prisco e José Gerardo Bezerra, dentre outros.

Saindo da Rua Pinto Madeira, após a morte de meu
pai, fomos residir na Avenida 13 de Maio, no Bairro do
Benfica, no trecho mais conhecido por Gentilândia. Os
vizinhos não tinham tanta aproximação como os da Rua
Pinto Madeira, exceção para nós, por parte da família de
meu pai que residia naquele bairro. As casas já possuíam
geladeiras, liquidificadores, fogão a gás, telefones, rádios
e televisão. Havia um movimento mais intenso de veícu-
los motores e, em consequência, não se colocavam cadei-
ras nas calçadas. O lazer dominante no Bairro era assistir
as partidas de futebol no Estádio Getúlio Vargas, situado
nas proximidades e participar das atividades sociais do
Clube Maguary, na Rua Barão do Rio Branco, próximo à
Avenida 13 de Maio, onde ainda está localizado o 23º Ba-
talhão de Caçadores do Exército.

As compras domésticas eram feitas na feira livre da
Gentilândia que acontecia aos sábados e domingos. Os
atos religiosos se realizavam na Igreja de Nossa Senhora
dos Remédios, na Avenida da Universidade-Benfica.

Vários eventos culturais promovidos na Concha
Acústica da Universidade Federal do Ceará eram abertos à
comunidade do bairro.

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Durante o período em que residíamos na Gentilân-
dia, tive meu primeiro emprego junto ao Departamento de
Saneamento e Obras Públicas (DSOP). Nesse período
prestei o serviço militar no Centro de Preparação de Ofici-
ais da Reserva (CPOR) do Exército. Outro fato importante
desse período foi a minha entrada na Universidade Federal
do Ceará para cursar a minha graduação em Agronomia,
na Escola de Agronomia.

As informações complementares sobre o tempo de
residência na Gentilândia contaram com o apoio dos ami-
gos Marta Sampaio, Luiz Gonzaga Mota e Luiz Sérgio
Gadelha Vieira.

Estudei no período de 1950 a 1957, no Colégio
Castelo Branco, na Avenida D. Manoel, cuja parte de suas
instalações fazia esquina com a Rua Costa Barros, no Cen-
tro. Pertencia à Arquidiocese de Fortaleza. Entrei no refe-
rido Colégio para cursar a quarta série do Curso Primário e
fazer o exame de admissão ao Curso Ginasial. Ali concluí
o Curso Cientifico. Na época, o ensino era dividido em
primário (quatro anos), ginasial (quatro anos) e científico
ou clássico (três anos).

O que ficou mais na lembrança desse período esco-
lar foram os procedimentos didáticos usados nas salas de
aula e as figuras dos professores. No Curso Primário, era
comum, durante as aulas de português, afixar na parede
um quadro (tipo banner) com desenhos do meio rural
(animais, plantas equipamentos etc.), de cidades ou paisa-
gens para que os estudantes elaborassem suas redações.

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No Curso Ginasial, mapas dos continentes ou do Brasil,
durante as aulas de geografia para ilustrarem determinados
assuntos. Nas aulas de português, as figuras dos professo-
res Antônio Soares com seu sotaque forte e Joel Linhares,
trajando sempre paletó branco de linho, eram mais respei-
tadas. Luiz Barros, professor de História sempre de paletó
e colarinho frouxo, fumando, constantemente, cigarro e
demonstrando conhecimento profundo da matéria que en-
sinava. Os conselhos sempre lembrados do professor Tito,
de Ciências, de não se esquecer de escovar os dentes após
as refeições ou, na impossibilidade, sempre passar água na
boca; os estímulos do professor de Geografia João Hipóli-
to para que os alunos escrevessem artigos, ajudando-os na
sua publicação em jornais locais e as aulas magistrais de
Matemática, Física e Desenho do professor Valdo Rios.

O Colégio Castelo Branco da Arquidiocese de For-
taleza, depois de mais de 100 anos de relevantes serviços
prestados a educação cearense, foi extinto.

O primeiro emprego marca muito a história de vida
das pessoas. No meu caso, foi no Departamento de Sane-
amento e Obras Públicas (DSOP), do Governo Estadual,
onde conheci pessoas que muito me ensinaram, fiz amiza-
des duradouras, aprendi a observar diferentes formas de
administrar, preservando o melhor dessa vivência.

O DSOP era responsável por serviços de água e
saneamento; elaboração dos projetos de construção civil
do Estado e sua fiscalização; recuperação mecânica dos
carros oficiais do Governo Estadual; fundição de placas de

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bronze, relativas aos atos governamentais. O Departamen-
to tinha uma frota de caminhões, camionetas, carros e ji-
pes para executar suas tarefas de ligação de água e esgotos
para os seus solicitantes privados e públicos e os consertos
dos mesmos.

A água para o abastecimento de Fortaleza vinha do
Açude Acarape do Meio situado no Município de Reden-
ção. As águas eram armazenadas nas caixas d’água, situa-
das atrás do prédio da Faculdade de Direito e distribuídas
pela rede de tubulação de ferro fundido para o consumo na
Capital. A rede de esgoto era pouco extensa e jogava seus
resíduos num poço perto do prédio da Secretaria da Fa-
zenda Estadual seguindo para o mar, sem grandes trata-
mentos.

Contei com o apoio dos amigos Lauro Vinhas Lo-
pes, Pedro Alcântara e Nelson Cruz, ao lembrar fatos rela-
tivos àquele Departamento.

A prestação do serviço militar foi uma fase de vida,
da qual guardo boas recordações pela aprendizagem que
tive e pelas amizades construídas. A minha participação
no serviço militar deu-se no Centro de Preparação de Ofi-
ciais da Reserva (CPOR) – Exército, cujo quartel, na épo-
ca, ficava na Avenida Bezerra de Menezes, Bairro de São
Gerardo.

O funcionamento do CPOR dava-se no período
normal de aula (março-junho e agosto-novembro) nos dias
de sábados, domingos e feriados. Nos demais meses, (de-

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zembro, janeiro, fevereiro e julho) as atividades eram diá-
rias. Na época, tínhamos três cursos: Infantaria e Inten-
dência, cursados em dois anos e depois dos quais, conclu-
dentes saiam como aspirantes e o de Saúde, com a duração
de um ano, cujos concludentes saíam como sargentos. Os
alunos que cursavam a Saúde deviam ser acadêmicos uni-
versitários de Medicina, Odontologia, Farmácia e Enfer-
magem e que depois de formados, voltavam aos quarteis
do Exército (principalmente aos Hospitais Militares), a fim
de complementar o período do serviço militar.

Os alunos dos cursos do CPOR levavam trotes (pe-
sados) ao entrar, estudavam matérias relacionadas com
seus respectivos cursos, faziam provas escritas e práticas e
aqueles que não atingiam determinado conceito poderiam
ser excluídos, indo terminar o seu serviço militar como
soldado raso, junto a um quartel do Exército.

O amigo e companheiro do CPOR José Weidson
de Oliveira ajudou-me bastante nas lembranças do tempo
que ali passamos.

A vida universitária para os que conviveram por
anos, com a mesma turma desde o primeiro ano como
universitário até o final do curso, não esquece as estórias,
os colegas, os professores e o diretor de Faculdade ou
Escola.

Quando fiz o vestibular para o Curso de Agrono-
mia (1959) na antiga Escola de Agronomia da Universida-
de Federal do Ceará, não havia vestibular unificado, ou

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seja, cada unidade universitária fazia sua própria seleção
de entrada de seus futuros alunos.

O vestibular da Agronomia tinha provas escritas,
orais e práticas (todas eliminatórias) de Física, Química e
Biologia. Nas provas orais e práticas havia uma banca
examinadora constituída por três professores. O candidato
sorteava o assunto para ser examinado por cada professor
e tinha que obter um conceito final necessário à sua apro-
vação.

No vestibular de 1959, passaram 58 candidatos,
dois desistiram e concluíram o curso 49. O Curso de
Agronomia tinha a duração de quatro anos, tendo aulas
teóricas e práticas de segunda- feira a sábado pela manhã
(7.00h às 11.00h) e terças e quintas-feiras no período da
tarde (13.00h às 15.00h). A Escola de Agronomia, na épo-
ca, ocupava toda a área que atualmente corresponde ao
Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará.

A infraestrutura da escola, em termos de laborató-
rios, salas de aula, biblioteca e equipamentos era deficien-
te. No entanto, as deficiências apresentadas eram supridas
pelo trabalho dedicado, competente e entusiasmado de
seus professores e funcionários técnico-administrativos.
Os livros existentes na biblioteca eram escritos em línguas
estrangeiras, principalmente em francês e espanhol. Al-
guns professores escreviam apostilas de suas disciplinas
para compensar as carências existentes.

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A nossa turma ao concluir o curso de agronomia
(1962), tinha inúmeras oportunidade de empregos, por
parte de entidades públicas e privadas. Começávamos a
vida profissional, sem preocupação de falta de empregos,
ofertados por entidades como SUDENE, DNOCS, Secre-
tarias de Agricultura, Ministério da Agricultura, Serviços
de Extensão Rural (ANCAR), Universidades e empresas
privadas. Foi um ano de “ouro”.

O engenheiro agrônomo Jackson de Albuquerque
Lima, concludente da turma de 1960, ajudou-me bastante
com suas informações sobre o currículo do nosso tempo
no Curso de Agronomia.

Viçosa do Ceará era a terra da família de minha
mãe (Beatriz Fontenelle da Silveira Albuquerque) onde
passamos períodos de férias escolares desde nossa infân-
cia. Uma cidade pequena, situada na Chapada da Ibiapaba,
altitude de 740 metros, de clima frio, povo simpático, ale-
gre e festeiro, cercada por florestas, com muito verde e
florida.

Ali ficávamos nas casas de tios, casas que iam de
uma rua à outra, espaçosas e acolhedoras. Uma das carac-
terísticas da nossa temporada das férias escolar era a fartu-
ra da refeição: seis refeições por dia, começando pelo café
da manhã com variedades de frutas (mamão, banana, la-
ranjas, tangerinas, mangas) vindas dos sítios da família,
acompanhadas de cuscuz, tapiocas, bolos, roscas, pão e o
café torrado em casa. Na metade da manhã tínhamos a
merenda, geralmente frutas e sucos naturais. Entre onze

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horas e meio-dia, havia o almoço na base de arroz, macar-
rão, feijão, farofa, diferentes tipos de carne (galinha, por-
co, gado) e temperadas com pimentas. As sobremesas
eram diferentes tipos de doces (banana, mamão, manga,
buriti) feitos em casa, no fogão à lenha e em tachos de
cobre. Na época (anos 1940 e início 1960), não se falava
em verduras na alimentação. Às três da tarde havia me-
renda de frutas e café acompanhado de bolos e roscas fei-
tos na hora. À noite, em torno das dezoito horas, tínhamos
uma sopa de galinha ou carne, acompanhada por pães e
roscas, seguindo-se de doces e café com bolos. Às nove
horas da noite, tinha o famoso caldo de galinha ou carne,
para reforçar o sono da noite e esperar a chegada do novo
dia para repetir o ritual da comilança.

Mantinham-se os costumes tradicionais de cadeiras
nas calçadas como forma de socialização com amigos e
familiares, para início de novas amizades e observar o
movimento das ruas. Fazer visitas também era parte dos
hábitos locais.

Frequentar as missas, as procissões e as orações
eram obrigações observadas pela população religiosa. O
padre, o juiz, o promotor, o prefeito, o delegado de policia
e o farmacêutico eram as pessoas mais respeitadas. O dono
do cartório e os chefes políticos também eram considera-
dos autoridades e estavam à frente dos movimentos sociais
junto às autoridades locais, estaduais e nacionais.

Os partidos políticos com representação forte na
cidade eram a UDN (União Democrática Nacional) e o

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PSD (Partido Social Democrático) possuíam diferentes
sedes de clubes sociais.

A cidade não possuía hospital nem maternidade,
sendo o atendimento de saúde feito por farmacêutico e
prático. Os partos eram realizados nas casas, por parteiras
leigas. Os remédios mais usuais nas doenças eram os ca-
seiros (chás, compressas, purgantes) e as orações das reza-
deiras.

A educação era em sua maioria realizada na casa
da professora ou nos poucos grupos escolares existentes.
As professoras eram leigas, mas deram valiosa contribui-
ção para a educação daquela gente.

A economia local tinha, na agricultura, a sua prin-
cipal base, sendo o café e a pimenta do reino seus produtos
mais importantes. Seguiam-se as frutas, com destaque
para bananas, mangas, jacas, tangerinas, laranjas, abacate
e buritis.

O maior lazer da cidade era assistir a filmes de fa-
roeste no cinema- teatro D. Pedro II, frequentar a feira
semanal aos sábados, dançar nos clubes locais, principal-
mente, no conhecido “Gabinete” e frequentar as suas pra-
ças.

Ronald Fontenele e Francisco (Chiquinho) de
Souza reavivaram minhas recordações da cidade e as
complementaram.

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Finalmente, chego ao final do livro abordando o
que vivi e presenciei ao longo de 80 anos de vida. Tive
oportunidade de viver em dois séculos (XX e XXI), assis-
tir a várias mudanças de costumes e de valores, a chegada
de novas tecnologias e inúmeras inovações.

Vi os meus filhos e netos nascerem e crescerem,
plantei árvores, escrevi livros, ocupei funções profissio-
nais e públicas que me permitiram dar uma parcela de con-
tribuição, na formação de recursos humanos, no desenvol-
vimento do meu Estado e do Brasil. Sempre tentei dar o
melhor de mim, evitar erros e prejuízos. Espero e torço
muito, para que o futuro seja melhor para todos.

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Com os seus pais Antônio de Albuquerque e Beatriz,
e seu irmão Albi.

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ONDE TUDO
COMEÇOU

Minhas mais remotas recordações começam a par-
tir dos cinco anos quando morávamos na cidade de Camo-
cim, microrregião do litoral de Camocim e Acaraú, do
Estado do Ceará, no período 1940-1946, quando meu pai
Antônio de Albuquerque ali trabalhava como funcionário
público estadual, no prédio existente da Coletoria Estadu-
al, na Rua Engenheiro Privat.

Camocim do meu tempo sua população era de
27.641habitantes, 13.321 na sede (segundo o Censo de
1940-IBGE), ruas sem calçamento, dominadas por areias
quartzosas, com resquícios de pedrinhas oriundas das
praias e localizada na margem esquerda do Rio Coreaú,
estendendo-se até sua embocadura, no encontro com o
Oceano Atlântico.

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Os postes de iluminação da cidade eram de trilhos,
também usados na estrada de ferro. A energia era forneci-
da por um motor a diesel, existente num prédio, de propri-
edade de Fernando Cela, situado na Rua Vinte e Quatro de
Maio, nas proximidades da Estação Ferroviária. Tinha
como encarregado de seu funcionamento José Mota e fun-
cionava das 18.00 h. às 22.00 h. Faltando quinze minutos
para as 22.00 h. a luz dava um sinal, diminuindo a potên-
cia da energia, como aviso da proximidade do corte total
de energia. A ideia e determinação de trazer energia elétri-
ca para Camocim foi do pintor Raimundo Cela que, em
1932, reunindo-se à comunidade, fundou a Companhia de
Força e Luz de Camocim. Como administrador da Com-
panhia, mandou buscar na Alemanha, um motor que fun-
cionava a gasogênio.

Não existia água encanada na cidade que utilizava
água das cacimbas existentes nos quintais das casas. Tam-
bém não existia serviço de esgoto. Eram construídas fos-
sas nas residências.

A segurança na cidade era total, podíamos dormir
com as janelas e as portas abertas ou encostadas, no perí-
odo de calor. Os poucos presos existentes na cadeia eram,
em grande parte, por excesso de bebidas alcóolicas.

Existia uma única escola na cidade, o Grupo Esco-
lar José de Barcelos, cuja diretora era a professora Odete
Mota. Funcionava no subsolo do prédio da Prefeitura Mu-
nicipal. Aulas particulares eram ministradas por professo-
ras, em suas residências. Não estou lembrado de ter, na

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Cidade, posto de saúde. Os farmacêuticos aí existentes
faziam as vezes de médicos.

O lazer consistia nas sessões de filmes de cowboy,
e o único cinema existente era o Cine João Veras, na Rua
Engenheiro Privat, cuja propaganda das sessões cinemato-
gráficas era feita através de tabuletas de madeira amarra-
das nas esquinas das ruas, com papel colorido, pregados
com grude (goma com água, cozinhada no fogo) nas tabu-
letas e escritas à mão, usando tintas de diferentes cores
fortes como o vermelho e o azul. O Circo Nerino era mon-
tado para temporadas na cidade e, quando tinha espetácu-
los, o palhaço percorria as ruas, usando megafone: “Hoje
tem espetáculo?” seguido do coro de crianças: “tem, sim
senhor.” O Circo Nerino deixou de frequentar a cidade
devido à morte de um seu trapezista, num treinamento
antes da apresentação do espetáculo público..

A cidade contava, também, com um clube social, o
Camocim Club, na Rua Engenheiro Privat, do lado es-
querdo do cinema e depois mudou-se para a esquina das
ruas Engenheiro Privat e José de Alencar, passando a ficar
do lado direito do cinema. Ali aconteciam as reuniões so-
ciais, as festas e os bailes da cidade.

Havia dois suportes à economia do Município: o
porto e a estrada de ferro. O porto estava localizado nas
proximidades da Estação Ferroviária, margem esquerda do
Rio Coreaú, próximo à embocadura no Oceano Atlântico.
O seu trapiche era de madeira, de pouca profundidade e só
permitia atracar navios de pequeno calado e barcos, quan-

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do havia maré alta. Os navios de calado maior, pertencen-
tes ao Lloyd Brasileiro, a Companhia Comércio e Navega-
ção, ao Lloyd Nacional e de outras empresas particulares
ficavam ancorados no oceano, nas proximidades da embo-
cadura do rio, chamada entrada da barra. Os produtos que
eram exportados ou que chegavam de fora e que eram tra-
zidos por navios maiores para serem desembarcados no
porto, vinham através de um comboio de barcas com ca-
pacidade de transportar 100 toneladas cada, cobertas com
pesadas lonas amarradas, chamadas “alvarengas”, perten-
centes à firma inglesa Booth Line e puxadas por um rebo-
cador. No porto, havia dois rebocadores, o Mero e o Gua-
rani. Os rebocadores, também, transportavam os passagei-
ros que iam embarcar ou desembarcar dos navios maiores.
Na época, pelo porto eram exportados como produtos
principais o sal e a cera de carnaúba e, importados varia-
dos produtos (tecidos finos, sapatos, porcelana, cerveja,
cimento, farinha de trigo, açúcar, arroz, elementos quími-
cos para manipulação de medicamentos e outros), destina-
dos ao comércio de Camocim, de toda zona norte do Ceará
e do Estado do Piauí.

A estrada de ferro, chamada de Sobral-Camocim,
era ramal da linha que começava em Fortaleza e era vincu-
lada à Rede de Viação Cearense (RVC). A viagem desti-
nada a Camocim iniciava-se em Fortaleza, na Estação Jo-
ão Felipe, cujo trem saía às 05h00min, diariamente, com
destino a Crateús e a Camocim, onde havia a “baldeação”
em Sobral. O trem que partia de Fortaleza tinha em sua
composição uma locomotiva (Maria Fumaça), vagão do

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Chefe de Trem e Correio, vagões de carga, vagões de pas-
sageiros de 2ª e 1ª classe (estes eram posicionados no final
da composição para reduzir o efeito das fagulhas expelidas
da câmara de combustão da locomotiva). Como a compo-
sição do trem tinha dois destinos-Crateús e Camocim-
havia vagões de carga e de passageiros (1ª classe) especí-
ficos para cada destino. Quando a composição de trem,
vindo de Fortaleza, chegava a Sobral, ali já estava a espe-
rar a composição de Camocim bem como a composição de
Crateús/Fortaleza, então ocorria a “baldeação” que consis-
tia o desengate e engate dos vagões, rearrumando os de
carga e de 1ª classe para seus destinos específicos. Os pas-
sageiros embarcados na 2ª classe, que fizessem, por conta
própria, baldeação, incluídas aí suas bagagens. Às
13h00min partiam as composições com destino a Fortale-
za e Crateús e, às 14h00min, a composição do ramal Ca-
mocim, com previsão de chegada para as 19h10min.

A Estação Ferroviária de Camocim era um impo-
nente prédio com sua fachada voltada para uma praça.
Compunha-se de dois pisos, tendo uma área coberta com
trilhos para a chegada dos trens e duas calçadas laterais,
onde a população esperava sua chegada que ocorria diari-
amente. Era uma verdadeira festa, trazendo passageiros,
cargas, novidades de outras cidades, jornais vindos da Ca-
pital e o Correio da Semana de Sobral, pertencente à Dio-
cese de Sobral, que circulava aos sábados, além do con-
corrido picolé fabricado em Sobral.

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A estrada de ferro era o maior empregador do Mu-
nicípio. Segundo informações, no auge de sua importân-
cia, chegou a ter 600 funcionários. Ela possuía grande
oficina que recuperava vagões, fazia a manutenção das
máquinas de trens (Maria Fumaça), das linhas de trens e
prestava serviços outros às necessidades da comunidade
local. O diretor da estrada, um engenheiro, tinha uma resi-
dência especial, bem como havia uma vila de casas para
engenheiros e trabalhadores. Tivemos, em determinado
momento, um movimento para evitar a transferência das
oficinas de Camocim para Sobral, havendo uma verdadei-
ra revolta popular, arrancando trilhos e colocando obstácu-
los variados (pedras, madeiras etc.) sobre os trilhos. Fi-
nalmente, as oficinas permaneceram na Cidade, dado o
forte apoio do Governador da época, Faustino de Albu-
querque, que foi o primeiro juiz de direito de Camocim.

Aos sábados pela manhã, cedo, e retornando ao
meio dia, saía de Camocim em direção a Granja, um com-
boio de trem formado por uma máquina “Maria Fumaça” e
por dois carros de passageiros para frequentarem a feira
dos sábados em Granja. O trem levava produtores rurais e
comerciantes que iam realizar a venda e a compra de pro-
dutos. Muitas vezes eu, meu irmão e papai, participáva-
mos da agradável viagem. À volta, trazíamos pão-doce
para casa.

Vivenciamos, em Camocim, o período da Segunda
Guerra Mundial, quando foi instalado na cidade um desta-
camento militar, formado por militares das Forças Arma-

27

das Americanas, no campo de aviação. O Nordeste Brasi-
leiro era ponto estratégico para as forças militares ocupa-
rem regiões da África, dada a nossa proximidade com
aquele continente. O Presidente americano Franklin Roo-
sevelt veio ao Brasil ao encontro do Presidente Getúlio
Vargas, para viabilizar um acordo que possibilitou a insta-
lação, na cidade de Natal-RN, de uma grande base militar
americana.

O objetivo dos americanos em Camocim era dar
suporte a outros grupos de militares americanos existentes
no Nordeste Brasileiro, realizando testes de sondagens da
atmosfera com balões, mantendo rádio transmissora de
informações e dando suportes a descidas de aviões e zepe-
lins que chegavam a aterrissar na cidade.

Aterrissavam, também, na Cidade, os hidroaviões
da Panair do Brasil, nas águas do Rio Coreaú. Eram abas-
tecidos com gasolina armazenada em latas. Pinto Martins,
piloto famoso e um dos filhos mais ilustres de Camocim,
pioneiro na travessia aérea entre os Estados Unidos e o
Brasil, desceu em seu hidroavião batizado de Sampaio
Corrêa, em homenagem ao Senador e Presidente do Aero-
clube do Rio de Janeiro, no Rio Coreaú, no dia 19 de de-
zembro de 1922, em voo histórico.

A pesca sempre foi uma atividade de importância
econômica para o Município de Camocim, existindo frota
de pequenos e médios barcos pesqueiros, além da pesca
individual feita com redes e anzóis. Os peixes predomi-
nantes na época eram o camurupim, a cavala, os bagres, o

28

coró “cuja lenda diz que aqueles que tomarem do caldo da
cabeça desse peixe, sempre voltavam ao paraíso encantado
de Camocim, para viverem um grande sonho,” o serra,
entre outros, além do caranguejos, camarões e lagostas.
Eram vendidos nas praias por ocasião das chegadas dos
barcos, nas portas das casas e no mercado público.

No meu tempo de Camocim, eram poucas as ruas
da cidade. Hoje, o traçado das ruas ainda tem como orien-
tação a beira-mar, com várias ruas paralelas à mesma e
outras perpendiculares e algumas transversais. As princi-
pais ruas paralelas entre outras são: Engenheiro Privat,
General Sampaio, José Maria Veras, Vinte e Quadro de
Maio, Santos Dumont, Humaitá, Paissandú, Riachuelo,
Joaquim Távora, João Pessoa e Antônio Zeferino Veras.

As principais ruas perpendiculares são: Tiradentes,
General Tibúrcio Cavalcante, Dr. João Tomé, José de
Alencar, da Independência, Zeferino Veras, da República,
Marechal Floriano Peixoto, Marechal Deodoro, Benjamin
Constant e Quintino Bocaiúva. Entre as ruas transversais,
destacamos a Rua Dom Pedro II. Deve-se ainda fazer refe-
rência a Rua Esplanada do Porto como continuidade da
Rua Beira-Mar e ao lado do Porto de Camocim.

Antigamente, havia uma quadra imensa, sem de-
nominação na época, onde estavam localizados os prédios
da Igreja Matriz, de frente para o prédio da Prefeitura Mu-
nicipal, com piso elevado, pois no seu subsolo funcionava
o Grupo Escolar José de Barcelos e, por trás da Prefeitura,
existia outro prédio que era a Cadeia Pública, além das

29

ruinas do Sport Club, destruído por incêndio em 1931.
Hoje, esta área está bem diferente com a construção de
novos prédios e de uma praça.

Havia, também, a Praça do Quadro que tinha esta
denominação por ser cortada por quatro ruas. Duas ruas
paralelas à beira-mar, a General Sampaio e a José Maria
Veras e duas ruas perpendiculares à beira-mar, a da Inde-
pendência e a Zeferino Veras, onde existiam várias resi-
dências e um coreto no centro.

Os principais prédios, na época, eram a Agência
dos Correios, a Estação Ferroviária, a Prefeitura Munici-
pal, a Igreja Matriz do Bom Jesus dos Navegantes, a Casa
do Engenheiro da Ferrovia, o Mercado Central, o Cinema,
a Coletoria Estadual, o Banco do Brasil e o Camocim
Club.

Era costume da população colocar cadeiras nas
calçadas para conversar e sentir a brisa vinda do mar; rea-
lizar visitas às casas familiares; ir à estação ferroviária
para as chegadas dos trens; trocar presentes, entre as famí-
lias, de bolos, doces, pratos de peixe ou frutas; frequentar
a igreja aos domingos para assistir às missas e participar
das festas religiosas, principalmente do Padroeiro da Ci-
dade, Bom Jesus dos Navegantes (novembro) e brincar o
carnaval.

No carnaval era comum as pessoas, fantasiadas ou
não, acompanhadas por conjunto musical, saírem às ruas e
entrarem nas residências, retirando os familiares, para

30

fazerem parte do cordão carnavalesco que percorria as
principais vias da cidade. Havia verdadeira harmonia entre
os familiares.

A ação politica partidária em Camocim ocorria na
disputa entre os chamados comunistas, dominados pelos
trabalhadores do Porto e da Estrada de Ferro e os integra-
listas, denominados de galinhas verdes. Havia passeatas e
comícios dos dois grupos defendendo seus pontos de vista
e enaltecendo os seus lideres maiores Carlos Prestes (co-
munistas) e Plinio Salgado (integralistas).

A casa onde morávamos (meus pais e um irmão)
ficava na Rua Engenheiro Privat, nº 159, tendo como vizi-
nha do lado esquerdo a Sinhá Trévia. No quarteirão, entre
as ruas Dr. João Tomé e José de Alencar, do mesmo lado
de nossa casa, havia um armazém (esquina da Rua Dr.
João Tomé), seguido da farmácia do Antônio Passos, de-
pois vendida a Manuel Augusto de Sousa, uma residência
(suponho que fosse do promotor de justiça), a nossa casa,
a da Sinhá Trévia, o prédio da Coletoria Estadual, a Pen-
são da Ceci (onde os militares americanos ficavam hospe-
dados), a casa do Senhor Pintor Tavares, a do José Tercei-
ro, a do Fernando Cela e a da professora Mimi Carvalho.
Do lado oposto, a mercearia do Senhor Brisamor (esquina
da Rua Dr. João Tomé), seguido do armazém do Hinden-
burge Aguiar, da Agência do Banco do Brasil, de duas
pequenas barbearias, da mercearia do João Maia, do Ca-
mocim Club com um terreno ao seu lado a quadra de vô-
lei, do Cine João Veras e, posteriormente, com a mudança

31

de posição, do novo local do Camocim Club (esquina da
Rua José de Alencar).

Na Praça do Quadro, moravam várias famílias, en-
tre as quais as de Chico Serrote, Alfredo Coelho, José Ma-
ria Veras e Mariazinha Morel.

Na continuidade da Rua Engenheiro Privat, proxi-
midade da Estação Ferroviária, havia a Pensão do Neco
Saldanha, que tinha um filho oficial da Policia Militar do
Ceará, Valdir Saldanha e que, num determinado dia, levou
preso um bêbado, que provocava arruaças na rua, juntan-
do muita gente para presenciar o referido fato.

Meu pai e o Juiz de Direito da cidade Dr. Amauri
Gurgel gostavam muito de pescar e resolveram comprar
um pequeno barco à vela para, aos sábados de madrugada,
saírem a pescar no Rio Coreaú. Comentava-se na cidade
que os dois persistentes pescadores, quase sempre retorna-
vam da pescaria sem êxito e, para manterem a fama de
grandes pescadores, compravam peixes de outros pescado-
res, para mostrarem o sucesso de suas jornadas. Depois de
certo tempo, por questões de ordem prática, os dois pesca-
dores resolveram vender o barco.

Na alimentação das famílias de Camocim, o peixe
fresco com pirão de farinha acompanhado pelo arroz bran-
co foi sempre prato dominante. Sendo a cavala e o camu-
rupim, as espécies de peixes predominantes.

32

No período em que moramos em Camocim, o Mu-
nicípio viveu o final da ditadura de Getúlio Vargas no País
e o tempo de transição para a volta ao regime democrático
(1945). Tivemos vários prefeitos, dentre eles os seguintes:
João da Silva Ramos (1937-1943); Tenente João Batista
Brandão (1944); Horácio Pessoa (março de 1945); Antô-
nio Alcindo Rocha (julho de 1945); Antônio de Albuquer-
que e Sousa (novembro de 1945)- meu pai; Francisco Ot-
toni Coelho (dezembro de 1945); Tenente Luiz Marques
de Souza (1946) e José Pinheiro Pessoa (1947). Atualmen-
te, existe na sede da Prefeitura de Camocim que ocupa o
prédio da antiga Estação Ferroviária, a galeria de todos os
ex-prefeitos do Município.

O vigário da Igreja Matriz era, na época, o Padre e
depois Monsenhor Inácio de Loiola Magalhães. O Juiz de
Direito, o Dr. Amauri Barbosa Gurgel. O Delegado de
Polícia, Vicente Morel (1943 o primeiro delegado de Ca-
mocim), depois Inácio Prado. O Chefe da Estrada de Fer-
ro, o Engenheiro Afonso Feijó da Costa Ribeiro.

A casa onde morávamos na Rua Engenheiro Privat
tinha um corredor longo que começava na porta de entra-
da, passando pelos quartos, o primeiro deles, na frente,
com três janelas. No meio da casa existia a sala de jantar,
que servia também como sala de visita, seguida pela cozi-
nha e banheiros. O quintal era grande, com criação de ga-
linhas e patos, algumas árvores e a cacimba. Recebíamos
frequentemente familiares, vindos de Fortaleza e de Viço-
sa do Ceará, município circunvizinho, terra da família de

33

minha mãe-Beatriz, ramificação dos Fontenelle-Caldas-
Silveira. Lembro-me bastante das visitas dos primos de
Fortaleza Maria Luiza da Silveira Jereissati e seu irmão
José Jereissati (o Zé Baum), que faziam piruetas de bici-
cleta em cima do paredão de pedras, com a cobertura ci-
mentada, na beira-mar e também de seus arremessos de
pedras nas tabuletas de propaganda do cinema local.

Eu e meu irmão Albi estudávamos no Grupo Esco-
lar José de Barcelos, no subsolo do prédio da Prefeitura.
No caminho da escola, encontrávamos árvores chamadas
mongubeiras, que davam um fruto monguba, de forma
oblonga onde espetávamos palitos para servirem de patas,
como se fossem vacas de brinquedo. Certa vez, ao retor-
narmos das aulas do grupo escolar, resolvemos chamar um
doido, que perambulava pela cidade, por seu apelido.
Consequência tivemos que correr por muitas ruas, perse-
guidos por ele e chegamos a nossa casa pálidos e excessi-
vamente cansados.

Os brinquedos das crianças do Camocim de meu
tempo, eram feitos de madeira, flandres, pano, búzios e
conchas do mar, das árvores existentes (frutos e galhos),
de latas e papel. Os principais brinquedos eram o pião de
madeira; os caminhões com carroçarias de madeiras e bo-
leias de flandres; os barcos e jangadas de madeiras; a ar-
raia (pipa) feita de talhos de coqueiros, amarradas com
linhas e cobertas com papel de seda e cauda de pedaços de
tecidos, elevada ao espaço pela força dos ventos e segura
por um rolo de linha branca; a bola de futebol era feita de

34

meias recheadas de pano ou papel. Latas secas de goiaba-
da, furadas e enfiadas por cordões para servirem de carro;
o jogo de bila; os búzios e as conchas encontrados nas
praias e os bichos feitos dos galhos e frutos das árvores,
dentre outros. O divertimento das crianças era jogar fute-
bol; brincar de bonecas de pano (meninas); pular cordas;
soltar pipa (arraia); jogar bila e cabra-cega; tomar banhos
nos rios ou no mar; brincar de esconde - esconde; jogar
pião; subir e esconder-se nas árvores; assistir aos filmes de
cowboy no cinema e os espetáculos do Circo Nerino,
quando de suas temporadas na cidade, nas matinês.

As crianças da época pediam a bênção dos pais an-
tes de dormir e ao acordar, faziam orações e, às vezes,
ouviam estórias de trancoso. As crianças acreditavam no
Papai Noel, na vinda das bruxas, no homem que levava
crianças, tinham medo do escuro e da aparição de almas,
esperavam pelos presentes do Natal, acompanhavam os
pais nas visitas aos parentes e amigos, sentavam nas cal-
çadas junto com os adultos até a hora de irem dormir,
dormiam cedo, iam às missas e aos festejos religiosos e se
vestiam de acordo com o gosto dos pais ou dos recursos
financeiros existentes.

Em 2016, a população de Camocim era de 62.734
habitantes e no Censo de 2010, de 59.958, com uma popu-
lação urbana de 44.657, caracterizando o domínio do ur-
bano sobre o rural. O perfil de sua economia mudou bas-
tante, conforme dados de 2013, destacando-se os Serviços,

35

com 35,03% do Produto Interno Bruto (PIB), seguido da
Indústria com 19,02% e da Agropecuária com 12,09%.

Na indústria, havia a fábrica Democrata Calçados,
gerava 400 empregos; a de conservas de caju; a de fu-
bá/farinha de milho; a de sucos de caju; a de artigos de
vestuário, roupas pessoais e agasalhos; a de perfumaria; a
de sabão e velas; as extrativas minerais; a editorial e grá-
fica; a de artigos de couro e peles; a de produtos de pada-
ria, confeitaria e pastelaria, dentre outros.

Na agropecuária, destacam-se as culturas do caju,
da mandioca, de frutas e hortaliças. A pesca continua im-
portante, com dominância da artesanal. Atualmente, o por-
to funciona como terminal pesqueiro, com o seu píer re-
formado e ampliado, instalado uma fábrica de gelos. Bar-
cos maiores de pesca, ligados a importantes empresas pes-
queiras, passaram a atuar na área, cuja produção é destina-
da a exportação para os mercados de Fortaleza, municípios
circunvizinhos e outros Estados.

Merece destacar a presença econômica do artesana-
to na economia do Município, principalmente os produtos
de argila, areia, corda, palha, couro e material cerâmico.

O turismo é, atualmente, a alternativa mais desta-
cada no cenário econômico do Município, determinado
pela beleza de suas praias mais visitadas como a Praia do
Maceió (onde existe Área de Proteção Ambiental-APA),
Praia das Barreiras, Ilha do Amor e a Vila da Tatajuba.
Ainda destacamos o Estuário do Rio Coreaú, a Barra do

36

Guriú; as Lagoas da Torta, do Boqueirão e o Lago Seco. O
Município de Camocim faz fronteira com a famosa Praia
de Jericoacoara (Município de Jijoca). Deve-se, ainda,
destacar a realização do Camofolia – Carnaval fora de
época, realizado no mês de outubro e que leva grande nú-
mero de turistas a Camocim.

Estão presentes, na cidade, agências do Banco do
Brasil, da Caixa Econômica (correspondente bancário e
lotérica), do Bradesco, Banco Postal, Bradesco Expresso e
do Banco Santander (correspondente bancário).

A infraestrutura está bem modificada: a energia
elétrica é fornecida pela Barragem de Boa Esperança (Pi-
auí), que atinge quase a totalidade das áreas urbana e rural;
o abastecimento de água atende (2014) a 41.980 residên-
cias urbanas e 3.682 localidades do meio rural; o esgota-
mento sanitário urbano (2014) chega a 12.560 prédios e as
linhas telefônicas fixas (jan. 2016) chegam a 6.076, afora a
presença de diversas empresas prestadoras de serviço de
telefonia móvel. Atualmente, a maioria de suas ruas é as-
faltada.

Os meios de comunicação social na cidade tiveram
grande progresso: uma rádio comunitária, uma rádio FM,
três rádios AM e três retransmissoras de TV.

No aspecto cultural temos um teatro, um centro
cultural e uma biblioteca. Em termos de evento cultural,
destacamos o carnaval, com participação de pessoas vin-
das da Capital, cidades circunvizinhas e outros Estados.

37

Também, deve-se destacar a festa do padroeiro do Muni-
cípio, Bom Jesus dos Navegantes, realizada no mês de
novembro, quando os filhos do município, residentes fora,
retornam para participar dos festejos.

A educação possui 40 Escolas de Ensino Funda-
mental (2014); 5 Escolas de Ensino Médio (2014); 1 Esco-
la de Ensino Profissional (2014); no ensino superior, a
Universidade Estadual do Vale do Ceará do Acaraú
(UVA); o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecno-
logia do Ceará (IFCE); UNIDERP e UNIP. Estavam ma-
triculados no Ensino Fundamental 10.668 (2014) e no En-
sino Médio 3.368 alunos (2014).

Na área da saúde, o Município conta com o Hospi-
tal e Maternidade Murilo Aguiar, uma Policlínica, um
Centro de Especialidades Odontológicas (CEOS) e vários
consultórios particulares de médicos e dentistas.

Camocim dista 347 km de Fortaleza. A ela se che-
ga pelas rodovias BR-222, BR-402, CE-085 e CE-362,
todas asfaltadas. A estrada de ferro Sobral-Camocim foi
desativada, em agosto de 1977, quando tinha 300 operá-
rios e 150 funcionários administrativos em atividade. O
seu campo de pouso de aviões é asfaltado, mas sem opera-
ção.

38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. ARTIGOS:

WIKIPÉDIA. Camocim. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/camocim>. Acesso:
16.03.2017

SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Camocim e os nú-
meros do censo. Disponível em:
<http://camocimpotedehistorias.blogspot.com.br/2011
/04 /camocim-e-os-numeros-do-censo.html>. Acesso:
16.03.2017

Jornal miolo de pote. História de Camocim. Disponível
em: <http:// blogmiolodepo-
te.blogspot.com.br/p/historia-de-camocim07.html>

2. LIVROS E FOLHETOS:

ALENCAR, Margarida Maria de Freitas. Discurso de pos-
se. Academia Camocinense de Letras. Camocim,
2003. 26 p.

MONTEIRO, Tobias de Melo, organizador. Camocim
1879-1979: centenário. Apresentação 1984. 157 p.

XAVIER, Régia Maria. O Porto de Camocim na memória
popular. Fortaleza, Academia Camocinense de Ciên-
cias, Artes e Letras, 2015. 118 p.

39

Com seu irmão Albi.
40

TRANSFERÊNCIA
PARA FORTALEZA

No inicio do ano de 1947, meu pai Antônio de Al-
buquerque foi transferido de Camocim para Fortaleza para
ocupar o cargo de Diretor da Recebedoria do Estado, ór-
gão da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará. Fomos
morar na Rua Pinto Madeira, 683, quarteirão situado entre
as Ruas D. Leopoldina e J. da Penha, proximidades da
Praça da Igreja de Cristo Rei, Bairro Aldeota.

Fortaleza, nesse ano, tinha uma população em tor-
no de 240 mil habitantes (Censo de 1940 - 180.901 habi-
tantes). Era, como nos anos de 1950 e começo dos anos
60, uma cidade provinciana em que as principais ativida-
des estavam concentradas no Centro da Cidade.

As agências do Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal, Banco London and South América, Banco Frota
Gentil, Banco de Crédito Comercial, Banco dos Proprietá-

41

rios, Banco União (os quatros últimos são bancos cearen-
ses), além da Cooperativa de Crédito de Fortaleza (depois
Banco de Fortaleza- BANFORT), eram situadas no Cen-
tro. A única agência dos Correios e Telegráficos estavam
também ali localizada, bem como as principais lojas da
cidade que ofereciam produtos de armarinhos a roupas,
sapatos, meias, utensílios domésticos, joias, medicamen-
tos, depósitos de material de construção, lojas de ferragens
e de fotografias.

Os principais cinemas da cidade, como o Diogo, o
Moderno, o Majestic, o Rex, o União, o Samburá e o São
Luiz estavam no Centro. O footing de Fortaleza estava
concretado na Praça do Ferreira, chamada o “Coração da
Cidade”.

Existia no Centro uma construção térrea, chamada
“Abrigo Central”, com vãos abertos, cobertura de concre-
to, piso de cerâmicas avermelhadas, situado entre as Ruas
Major Facundo e Floriano Peixoto, ao lado da Travessa
Pará. O abrigo separava a Praça do Ferreira da Travessa
Pará tendo ao redor e acima de sua cobertura propagandas
(algumas luminosas) da Coca-Cola, Martini, Cinzano e
Manteiga Itacolomy. Ali estavam situados pequenos negó-
cios como Alaor- Revistas e Jornais; Café Expresso (as
pessoas tomavam café em pequenas xícaras e em pé, em
todos os cafés ali existentes); Tabacaria Sargento; Café
Embaixador; cadeiras dos engraxates; Café Presidente;
Lanchonete “Pedão da Bananada”, com o seu famoso san-
duíche de carne conhecido como “Jesus me espera no

42

céu”; Bodinho - banca de jornal (a mais antiga); Discolân-
dia – venda de discos; Café Wal-Can e parada de ônibus
(linhas 24 e 25, da Empresa São Jorge). Era o ponto de
encontro das pessoas das diferentes categorias sociais, que
ia desde o Governador do Estado ao tipo mais popular. As
fofocas sociais, as discussões políticas e desportivas e as
soluções para resolverem os problemas econômicos e so-
ciais da cidade, aconteciam também no Abrigo, construído
em 1949, arrendado por Edson Queiroz e demolido em
1966.

No centro da Praça do Ferreira, havia a Coluna da
Hora, construída de alvenaria, de cor cimentada, rodeada
por batentes, possuindo relógio de quatro faces que bada-
lava a cada hora e que determinava o horário de saída das
pessoas que ali se encontravam, de acordo com os seus
diversos compromissos e interesses. Existiam grupos em
bancos, diferenciados por idade e assuntos de seus interes-
ses que iam desde politica, o esporte e a simples fofocas.
Os batentes da Coluna da Hora serviram, muitas vezes,
como palanque para discursos políticos e protestos diver-
sos. Em determinado dia, foi dada, uma sonora vaia no sol,
que surgiu após alguns dias encobertos por nuvens escuras
de chuva. O piso da praça era de mosaico e as pistas de
rolamento de veículos em seu entorno, eram de concreto.

Ao redor da Praça do Ferreira, havia várias lojas,
entre elas: as Lojas de Variedades (com uma galeria que
ligava a Rua Major Facundo à Rua Barão do Rio Branco),
as Lojas Brasileiras (Lobrás); a Flama; a Torre Eiffel; a

43

Broadway; a Rotisserie; o famoso suco do Pega-Pinto
(diurético) do Mundico; o pastel com caldo de cana gelado
da Leão do Sul; a Ceará Chic; as Farmácias Pasteur e Os-
valdo Cruz; as Padarias Lisbonense e Estrela e a Livraria
Edésio. Algumas linhas de ônibus também saíam das
alamedas laterais da Praça. Entre a Rua Floriano Peixoto
e a Praça dos Leões, na Rua Guilherme Rocha, ficava o
primeiro ponto de táxi da cidade, o Posto Vitória. A esqui-
na da Rua Guilherme Rocha com a Rua Major Facunda
era chamada a “Broadway” também conhecida por “Es-
quina do Pecado”, em decorrência da ventania ali existente
que levantava as saias das mulheres que passavam. As
mais visadas eram as alunas da Escola Normal.

Nas proximidades da Praça do Ferreira, o Palácio
da Luz, sede do Governo Estadual (atual Academia Cea-
rense de Letras); o prédio da Assembleia Legislativa (atual
Museu do Ceará), tendo ao lado a Praça dos Leões (Praça
General Tibúrcio), onde estavam situados alguns dos mais
frequentados bares da cidade, principalmente, nos fins de
semana.

No chamado “Quarteirão do Sucesso”, formado
pela Rua Barão do Rio Branco, entre as Ruas Liberato
Barroso e Guilherme Rocha, estavam situadas lojas famo-
sas como A Cruzeiro (de produtos variados para casa); A
Cearense (de tecidos finos); Relojoaria Ômega; Aba-Film
(fotografias) que expunha em suas vitrines fotos dos famo-
sos, entre outros as das misses. O Edifício Diogo, na épo-
ca, o mais alto de Fortaleza (o primeiro construído de con-

44

creto armado), onde estava situado o cinema mais famoso
da cidade o Cine Diogo, posteriormente superado pelo
Cine São Luiz, inaugurado em 1958 e também a Ceará
Rádio Clube – PRE 9, com seu auditório para shows; a
Casa das Máquinas; a Casa Parente; a Ótica Sansão; a Sa-
pataria Grã-Fina e, na esquina da Guilherme Rocha, no
edifício Vitória, funcionava a Rádio Iracema (segunda
emissora de Fortaleza). Um dos lazeres da cidade, na épo-
ca, era, à noite, percorrer o Centro da Cidade para ver as
vitrines iluminadas das lojas.

No Centro ainda estavam situados os melhores ho-
téis. Entre eles o Excelsior Hotel (primeiro edifício cons-
truído de alvenaria), as redações dos principais jornais
Unitário, Gazeta de Notícias, O Estado, O Diário do Povo,
todos matutinos. O Correio do Ceará, O Povo, O Nordeste,
O Democrata e O Diário da Tarde, vespertinos. O Unitá-
rio e O Correio do Ceará pertenciam à cadeia dos Diários
Associados. As emissoras de rádio (A Ceará Rádio Clube -
PRE-9, Iracema), as igrejas católicas (Rosário, Patrocínio,
Carmo e São Bernardo) e a Igreja Presbiteriana, o Quartel
da 10ª Região Militar, consultórios de dentistas e médicos,
escritórios de advogados e casas de prostituição (chama-
das de Pensões Alegres) ocupavam a parte de cima das
antigas residências existentes nas Ruas Barão do Rio
Branco, Floriano Peixoto e Major Facundo.

A passagem pelo Centro dos desfiles de Sete de
Setembro, passeatas dos calouros universitários e de pro-

45

testos políticos, os corsos carnavalescos, dentre outros, era
obrigatória.

No Centro estava situado o Teatro José de Alencar,
as Faculdades de Farmácia e Odontologia (na Rua Barão
do Rio Branco), a Faculdade de Medicina (na Praça José
de Alencar, ao lado do Teatro), o Hospital e Maternidade
César Cals, a Estação Ferroviária, a Cadeia Pública, o
Hospital da Santa Casa, o Mercado Municipal, o Prédio da
Associação Comercial, a sede da Secretaria de Segurança
Pública, as principais praças da Cidade (do Ferreira, José
de Alencar, da Catedral, o Passeio Público, dos Leões, dos
Voluntários, do Carmo e da Estação) e o prédio da Maço-
naria.

A origem das principais notícias da cidade, a efer-
vescência da vida noturna (nos cinemas, nos prostíbulos,
nas rodas de conversas nas praças até o horário final de
saída dos transportes coletivos-24h.), o desfile em auto-
móveis, sem capota, das misses (como de Marta Rocha-
Miss Brasil, passando pela Praça do Ferreira), as grandes
procissões católicas, a presença constante dos políticos, a
passagem obrigatória também dos carros de som, com
suas propagandas comerciais ou políticas, tudo isso acon-
tecia no Centro.

Os bairros de Fortaleza, nos anos 40 e princípios
dos 60, não tinham vida própria, com exceção de alguns
cinemas, como o Cine Dioguinho (Santos Dumont), na
Praça da Igreja do Cristo Rei. O comércio eram as mercea-
rias, mais conhecidas por bodegas, que ofereciam produtos

46


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