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Published by Henrique Santos, 2024-01-12 17:20:49

CadernoEO-LCódigosV5_2022

CadernoEO-LCódigosV5_2022

Caro aluno O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores universidades do Brasil. Ao elaborar o seu Sistema de Ensino, o Hexag Medicina considerou como principal diferencial em relação aos concorrentes sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. Você está recebendo o livro Estudo Orientado. Com o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios: Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixação da matéria dada em aula. Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio, buscando a consolidação do aprendizado. Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade. Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais vestibulares do Brasil. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando o aluno para esse tipo de exame. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das universidades públicas de São Paulo. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase das universidades públicas de São Paulo Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj. Uerj (exame discursivo): exercícios dissertativos que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj. Visando a um melhor planejamento dos seus estudos, os livros de Estudo Orientado receberão o encarte Guia de Códigos Hierárquicos, que mostra, com prático e rápido manuseio, a que conteúdo do livro teórico corresponde cada questão. Esse formato vai auxiliá-lo a diagnosticar em quais assuntos você encontra mais dificuldade. Essa é uma inovação do material didático. Sempre moderno e completo, trata-se de um grande aliado para seu sucesso nos vestibulares. Bons estudos!


SUMÁRIO ENTRE LETRAS GRAMÁTICA 3 AULAS 35 E 36: CONCORDÂNCIA VERBAL I 4 AULAS 37 E 38: CONCORDÂNCIA VERBAL II 24 AULAS 39 E 40: CONCORDÂNCIA NOMINAL 42 AULAS 41 E 42: REGÊNCIAS NOMINAL E VERBAL 54 AULAS 43 E 44: CRASE 68 LITERATURA 85 AULAS 35 E 36: MODERNISMO NO BRASIL: 1ª FASE 86 AULAS 37 E 38: MODERNISMO NO BRASIL: 2ª FASE - POESIA 109 AULAS 39 E 40: MODERNISMO NO BRASIL: 2ª FASE - PROSA 131 AULAS 41 E 42: MODERNISMO NO BRASIL: 3ª FASE 148 AULAS 43 E 44: CONCRETISMO, POESIA MARGINAL E TROPICÁLIA (POESIA 60 E 80) 163


LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTRE LETRAS 5 GRAMÁTICA


4 VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Conversar pressupõe um diálogo produtivo entre as pessoas. Significa dizer que conversar é um processo cooperativo entre interlocutores. Leia o texto abaixo, que representa uma conversa. 1. (IFSP) No trecho “a gente pode ter conversas literárias”, substituindo-se o sujeito por outro de primeira pessoa do plural, no tempo pretérito perfeito, o resultado é o seguinte: a) podemos ter conversas literárias. b) podíamos ter conversas literárias. c) poderíamos ter conversas literárias. d) pudemos ter conversas literárias. e) pudéssemos ter conversas literárias. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Por volta de 1928, Henry Ford debatia-se com uma ideia fixa: queria encontrar uma fórmula salvadora para o problema do suprimento da borracha para sua indústria. Estava cansado de aturar os 4 preços que os ingleses de Ceilão 10lhe impunham. Como? 15Plantando borracha na Amazônia. Não havia o súdito 5 inglês Henry 6 Wickham transportado às escondidas para a Inglaterra as mudas da seringueira da Amazônia? Tudo estava em organizar seringais homogêneos em terras 18apropriadas. 16Por conseguinte, rumo ao Brasil, rumo à Amazônia. O Brasil exultou. E 25logo o 26governo brasileiro recebe os 19emissários de 7 Ford como costuma receber os americanos em geral: de braços abertos. Começa o trabalho. A mata resiste, mas 1 ......... 23Ao passo que os tratores 28vão fazendo a 8 derrubada para a clareira, 27já as casas começam a surgir, o hospital, os postos de higiene, as quadras de tênis, as mansões dos diretores. Dentro da floresta amazônica, 12o ianque fizera surgir uma nova cidade. E tudo 2 ........ como 11convinha. Três mil caboclos trabalhavam; um milhão de pés de seringueira eram plantados. A floresta 36arquejava, mas cedia. E 30quando, decorridos 29apenas dois anos, as seringueiras começam a despontar em pelotões, em 37batalhões, em regimentos, ninguém 31mais tem 32dúvida sobre o 20desfecho da luta. Entretanto, Ford ia recebendo e lendo relatórios. E estes contavam histórias diferentes das que figuravam nos frontispícios dos jornais: definhavam as seringueiras pelo excesso de sol e pela falta de umidade e de humo. Estavam murchando ao sol da região. À falta de proteção das sombras da floresta tropical, o 35exército de seringueiras de Mr. Ford 3 ........ ao sol. 38Triunfava o desordenado da selva contra a 39disciplina do seringal. Devemos concluir daí que 9 na Amazônia seja 24de todo impossível 21estabelecer florestas homogêneas ou que o 33grande vale seja de todo impróprio para o florescimento de uma grande 34civilização? 17Ainda não. Por enquanto, a conclusão a tirar é outra. Na verdade, o que se fez nas margens do Tapajós foi transplantar para o trópico a técnica, os métodos e os processos 13de resultados 14comprovados apenas em climas temperados ou frios – a ciência e a técnica do cultivo da terra próprias para os trópicos estão ainda em fase empírica e 22elementar. Adaptado de: MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros; paralelo entre duas culturas. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 27. 2. (UFRGS) A derrubada da mata amazônica e o plantio de seringais são tratados, ao longo do texto, por meio de imagens militares, como em exército de seringueiras (ref. 35). Assinale com M as imagens que se referem à mata e com S aquelas que se aplicam aos seringais. ( ) arquejava (ref. 36) ( ) batalhões (ref. 37) ( ) Triunfava (ref. 38) ( ) disciplina (ref. 39) CONCORDÂNCIA VERBAL I COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 25, 26 e 27 LC AULAS 35 E 36


5VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) S – M – S – S. b) M – S – M – S. c) M – M – S – M. d) M – S – S – M. e) S – M – M – S. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1 Recebi consulta de um amigo que tenta 2 deslindar segredos da língua para estrangeiros que querem aprender português. 3 Seu problema: “se digo em uma sala de aula: ‘Pessoal, leiam o livro X’, como explicar a concordância? 4 Certamente, não se diz 5 ‘Pessoal, leia o livro X’". Pela pergunta, vê-se que não se trata de fornecer regras para corrigir eventuais problemas de padrão. Trata-se de entender um dado que ocorre regularmente, mas que parece oferecer alguma dificuldade de análise. Em primeiro lugar, é óbvio que se trata de um pedido (ou de uma ordem) mais ou 6 menos informal. Caso contrário, não se usaria a expressão “pessoal”, mas talvez “Senhores” ou “Senhores alunos”. Em segundo lugar, não se trata da tal concordância ideológica, nem de silepse (hipóteses previstas pela gramática para explicar concordâncias mais ou menos excepcionais, que se devem menos a fatores sintáticos e mais aos semânticos; 7 exemplos correntes do tipo “A gente fomos” e “o pessoal gostaram” se explicam por esse critério). Como se pode saber que não se trata de concordância ideológica ou de silepse? A resposta é que, 8 nesses casos, o verbo se liga ao sujeito em estrutura sem vocativo, diferentemente do que acontece 9 aqui. E em casos como “Pedro, venha cá”, “venha” não se liga a “Pedro”, 10mesmo que pareça que sim, porque Pedro não é o sujeito. 11Para tentar formular uma hipótese 12mais clara para o problema apresentado, 13talvez 14se deva admitir que o sujeito de um verbo pode estar apagado e, mesmo assim, produzir concordância. O ideal é que se mostre que o fenômeno não ocorre só com ordens ou pedidos, e nem só quando há vocativo. Vamos por partes: a) 15é normal, em português, haver orações sem sujeito expresso e, mesmo assim, haver flexão verbal. 16Exemplos 17correntes são frases como “chegaram e saíram em seguida”, que todos conhecemos das gramáticas; b) sempre que há um vocativo, em princípio, o sujeito pode não aparecer na frase. É o que ocorre em “meninos, saiam daqui”; mas o sujeito pode aparecer, pois 18não seria estranha a sequência “meninos, vocês se comportem”; c) 19se 20forem aceitas as hipóteses a) e b) (diria que são fatos), não 21seria estranho que a frase “Pessoal, leiam o livro X” pudesse ser tratada como se sua estrutura fosse “Pessoal, vocês leiam o livro x”. Se a palavra “vocês” não estivesse apagada, a concordância se explicaria normalmente; d) assim, o problema 22real não é a concordância entre “pessoal” e “leiam”, mas a passagem de “pessoal” a “vocês”, que não aparece na superfície da frase. Este caso é apenas um, dentre tantos outros, que nos obrigariam a considerar na análise elementos que parecem não estar 23na frase, mas que atuam como se 24lá estivessem. Adaptado de: POSSENTI, Sírio. Malcomportadas línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 85-86. 3. (UFRGS 2019) De acordo com o autor do texto, a explicação para a concordância verbal da frase ‘Pessoal, leia o livro X’ (ref. 5) está relacionada ao fato de a concordância verbal se fazer com um sujeito não expresso nem fonética nem ortograficamente. Assinale a alternativa em que se encontra outro exemplo desse mesmo fenômeno gramatical de que trata o autor do texto. a) Meninos, vocês se comportem. b) Chegaram e saíram em seguida esses meninos. c) Gente, chegaram as pizzas! d) Gurizada, já terminaram a prova? e) Guria, tu já leu o livro que o professor indicou? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia atentamente o texto a seguir que servirá de base para a(s) questão(ões) a seguir. As pessoas se ofendem com quem é autêntico Marcel Camargo “Ser autêntico virou ofensa pessoal. Ou a criatura faz parte do rebanho, ou é um metido a besta.” (Martha Medeiros) Uma de nossas características enquanto seres humanos gregários vem a ser a necessidade de interação com o próximo e, para tanto, precisamos ser aceitos. É na comunicação com o mundo que nos rodeia que amadurecemos nossas ideias e nos tornamos capazes de agir frente ao que nos desagrada. Em determinadas situações, é em grupo que nos fortaleceremos e nos motivaremos a continuar. Essa necessidade de aceitação é mais forte entre os adolescentes, que querem se autoafirmar junto àqueles com os quais se identifica, ou mesmo junto aos que julgam descolados. A maturidade vem nos tranquilizar nesse sentido, facilitando nossa conformidade com o que somos e temos, tornando-nos mais aptos a nos aceitar, a sermos o que pulula aqui dentro. Infelizmente, muitos não conseguem encontrar a própria individualidade, incapazes que são de se tornarem seres autônomos, com vontades e desejos próprios, permanecendo dependentes do julgamento alheio enquanto viverem. Passam a vida seguindo o rebanho homogêneo do que é comum, socialmente disseminado como o certo, do que é da maioria, menos de si próprio. Lutam contra si mesmos, deixando adormecidos seus sonhos e aspirações, por medo da censura alheia. Isso porque não é fácil viver as próprias verdades, correr atrás do que faz o nosso coração vibrar, dizer o que sentimos, exprimir o que pensamos, haja vista o policiamento ostensivo de gente que critica agressivamente qualquer um que não siga o rebanho dos ditames e convenções sociais já cristalizadas. Hoje, ser alguém único, autêntico, verdadeiro consigo mesmo, é ofensivo e passível de ataques condenatórios por parte da sociedade.


6 VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Até entendemos a homogeneidade nas vestimentas e linguajares de adolescentes, porém, a vida adulta nos impõe nada menos do que viver o que se é, lutar pelo que se acredita, fazer o que se gosta, sem ferir ninguém, mas agindo de acordo com o que pulsa dentro de cada um de nós. Agradar a maioria, enquanto se vive em desagrado íntimo, equivale a uma tortura diária e injusta. Nascemos livres para sermos nós mesmos, porque não há nada mais belo e prazeroso do que uma vida sem mentiras e frustrações. Fonte: http://www.contioutra.com/pessoas-se-ofendemcom-quem-e-autentico/. 27 abr. 2017. 4. (UTFPR 2018) Assinale a alternativa que reescreve adequadamente o trecho a seguir, retirado do texto, eliminando a inadequação nele presente e preservando o sentido: “Essa necessidade de aceitação é mais forte entre os adolescentes, que querem se autoafirmar junto àqueles com os quais se identifica...” a) Nos adolecentes, que querem se autoafirmar junto aqueles com os quais se identifica, a necessidade de aceitação é mais forte. b) Esta necessidade de aceitação são mais fortes entre os adolescentes, que querem se alto afirmarem junto aqueles quando se identificam. c) Essa necessidade de aceitação é mais forte no adolescente, que quer se autoafirmar junto àqueles com os quais se identifica. d) No adolescente, onde querem se autoafirmar junto àqueles com que se identificam, a necessidade de aceitação é mais forte. e) Esta necessidade de aceitação é mais forte quando adolescentes, porque querem se autoafirmar junto com aqueles em que se identifica. 5. (IFSP) Leia o trecho abaixo para responder à questão. “Tu não percebes o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, teu pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-te.” De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e com a gramática normativa e tradicional, se o pronome tu do trecho acima fosse substituído por Vossa Senhoria, ter-se-ia o disposto em uma das alternativas abaixo. Assinale-a. a) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-lhe. b) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, vosso pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-vos. c) Vossa Senhoria não percebeis o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-lhe. d) Vossa Senhoria não percebeis o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, vosso pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-vos. e) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento voa em outra direção, por isso não vou escrever-te. 6. (Espcex (Aman) 2016) Assinale a alternativa que apresenta uma oração correta quanto à concordância. a) Sobre os palestrantes tem chovido elogios. b) Só um ou outro menino usavam sapatos. c) Mais de um ator criticaram o espetáculo. d) Vossa Excelência agistes com moderação. e) Mais de um deles se entreolharam com espanto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Cientistas americanos apresentaram ontem resultados preliminares de uma vacina contra o fumo. O medicamento impede que a nicotina – componente do tabaco que causa dependência – chegue ao cérebro. Em ratos vacinados, até 64% da nicotina injetada deixou de atingir o sistema nervoso central. O Globo,18/12/99 7. (Ifal) Com relação à concordância verbal no último período do texto, é correto afirmar que a) o verbo teria de ficar no plural concordando com o número percentual, que é núcleo do sujeito e está no plural; b) é admissível a concordância no singular, porque o substantivo que especifica o número está no singular; c) a concordância só é admitida no singular, haja vista “nicotina” ser o núcleo do sujeito; d) a concordância no singular está errada, uma vez que o sujeito é “Em ratos vacinados”; e) o verbo fica necessariamente no plural, independente da flexão do substantivo que o especifique, se o sujeito é um número percentual acima de 1% TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O texto abaixo apresenta inadequações, de acordo com a norma padrão. A(s) questão(ões) a seguir analisa(m) alguns desses problemas. No caminho de Montevideo, dirigindo pela rota beira- -mar obrigatóriamente voce vai passar pelo porto de Montevideo, lá existe um mercado muito sofisticado com ótimos restaurantes. Vale [à pena] uma parada para almoçar no El Palenque, um dos melhores restaurantes do Uruguai para comer carnes, é incrivel lá dentro! Paramos para conhecer, mas não almoçamos no El Palenque dessa vez, pois estavamos com o almoço marcado na Bodega Bousa e depois a visita a vinicola. Seguimos viagem pela rota 5 em direção a Bodega Bousa (fique atento as placas, pois voce pode passar despercebido por elas). (http://cozinhachic.com/diario-de-viagemmontevideovinicolas-e-restaurantes). 8. (UTFPR) A expressão: ... pois você pode passar despercebido por elas, está reescrita, corretamente em: a) pois você pode passar desapercebido por elas. b) pois elas podem passar por você desapercebido. c) pois elas podem passar desapercebido por você. d) pois elas podem passar despercebidas por você. e) pois você pode passar por elas despercebido.


7VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o artigo de opinião a seguir e responda à(s) questão(ões) a seguir. A Lei Bernardo e o assédio moral na família O caso do menino Bernardo Uglione Boldrini chocou o Brasil. Ainda sem julgamento, a história do homicídio do menino de apenas 11 anos de idade, que tem como principais suspeitos o pai, a madrasta e a assistente social amiga da família, trouxe à tona diversos assuntos, em especial, a convivência familiar. As versões dos acusados são diversas e contraditórias, mas a principal questão reside em torno do tratamento interpessoal dentro da entidade familiar. Nesse tocante, surge preocupação com a situação que muitas famílias vivenciam de tratamento cruel ou degradante, que a Lei Bernardo repudia. A Lei Bernardo, antiga Lei Palmada, eterniza o nome de Bernardo Boldrini. Em vida, o menino chegou a reclamar judicialmente dos maus-tratos sofridos no ambiente familiar, demonstrando que, antes de sua morte física noticiada, Bernardo já estava sofrendo o chamado homicídio da alma, também conhecido como assédio moral. O assédio moral é conduta agressiva que gera a degradação da identidade da vítima assediada, enquanto o agressor sente prazer de hostilizar, humilhar, perseguir e tratar de forma cruel o outro. Justamente essa conduta que o Art. 18-A do ECA, trazido pela Lei Bernardo, disciplina na tentativa de proteger a criança e o adolescente de tais práticas. O assédio moral possui várias denominações pelo mundo, como bullying, mobbing, ijime, harassment, e é caracterizado por condutas violentas, sorrateiras, constantes, que algumas vezes são entendidas como inofensivas, mas se propagam insidiosamente. A figura do assédio moral na família surge exatamente quando o afeto deixa de existir dando espaço à desconsideração da dignidade do outro no dia a dia. Demonstrando, assim, que, embora haja necessidade de afetividade para que surja uma entidade familiar, com o desaparecimento do sentimento de afeto surgem situações de violência, inclusive a psíquica. A gravidade é majorada no âmbito da família, eis que ela é principal responsável pelo desenvolvimento da personalidade de seus membros e do afeto, elemento agregador. A morte da alma do menino Bernardo ainda em vida, resultado de tratamento degradante, diário e sorrateiro, que culminou na morte física, faz refletir sobre a importância da família no desenvolvimento da personalidade de seus membros, de modo a valorizar a existência do afeto para que não haja na entidade familiar a figura do assédio moral. O assédio moral na família, ou psicoterror familiar, deve ser amplamente combatido, principalmente pelo papel exercido pela família de atuar no desenvolvimento da criança e do adolescente, de modo que a integridade psíquica deve ser sempre resguardada, no afeto e no respeito à dignidade da pessoa humana, desde seu nascimento. Adaptado de: SENGIK, K. B. Jornal de Londrina. 14 set. 2014. Ponto de vista. ano 26. n. 7.855. p. 2. 9. (Uel) Sobre os recursos linguísticos utilizados no texto, assinale a alternativa correta. a) Em “surge preocupação”, no primeiro parágrafo, mesmo que o substantivo fosse flexionado no plural, o verbo se manteria no singular. b) Em “surge preocupação”, no primeiro parágrafo, o substantivo exerce a função de complemento do verbo. c) Em “sente prazer de hostilizar, humilhar”, no segundo parágrafo, o verbo “humilhar” complementa o sentido de “prazer”. d) Em “tratar de forma cruel o outro”, no segundo parágrafo, o adjetivo se refere tanto à “forma” quanto a “o outro”. e) No terceiro parágrafo, o termo “disciplina” é um substantivo concreto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) a seguir estão relacionada(s) ao texto abaixo. 4 À porta do Grande Hotel, pelas duas da tarde, 14Chagas e Silva 6 postava-se de palito à boca, como 19se tivesse descido do restaurante lá de cima. Poderia parecer, pela estampa, que somente ali se comesse bem em Porto Alegre. 8 Longe 21disso! A Rua da Praia que 23o diga, ou 22melhor, que o dissesse. 24O faz de conta do 7 inefável personagem 5 ligava-se mais à 25importância, à moldura que aquele portal lhe conferia. 15Ele, que tanto marcou a rua, tinha 27franco acesso às poltronas do saguão em que se refestelavam os importantes. Andava 28dentro de um velho fraque, usava gravata, chapéu, bengala sob o braço, barba curta, polainas e 10uns olhinhos apertados na 1 _________ bronzeada. O charuto apagado na boca, para durar bastante, 29era o 9 toque final dessa composição de pardavasco vindo das Alagoas. Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em 1928. 16Fixou-20se na Rua da Praia, que percorria com passos lentos, carregando um ar de 12indecifrável importância, tão ao jeito dos grandes de então. 17Os estudantes tomaram conta dele. Improvisaram comícios na praça, carregando-o nos braços e 11fazendo-o discursar. Dava discretas mordidas 33e consentia em que lhe pagassem o cafezinho. Mandava imprimir sonetos, que "trocava" por dinheiro. Não era de meu propósito 31ocupar-me do "doutor" Chagas 34e, sim, de como se comia bem na Rua da Praia de antigamente. Mas ele como que me puxou pela manga e levou-me a visitar casas por onde sua imaginação de longe esvoaçava. Porto Alegre, sortida por tradicionais armazéns de especialidades, 30dispunha da melhor matéria-prima para


8 VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias as casas de pasto. 18Essas casas punham ao alcance dos gourmets virtuosíssimos "secos e molhados" vindos de Portugal, da Itália, da França e da Alemanha. Daí um longo e 2 ________ período de boa comida, para regalo dos homens de espírito e dos que eram mais estômago que outra coisa. Na arte de comer bem, talvez a 26dificuldade fosse a da escolha. Para qualquer lado que o passante se virasse, encontraria salões ornamentados 3 _________ maiores ou menores, tabernas 35ou simples tascas. A Cidade 32divertia-se também 13pela barriga. Adaptado de: RUSCHEl, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: Editora da Cidade, 2009. p. 110-111. 10. (UFRGS) Se a expressão Os estudantes (ref. 17) fosse substituída por Um estudante, quantas outras alterações seriam necessárias, para fins de concordância, na passagem entre as linhas 19 e 21? a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5. E.O. Fixação 1. (UFPR) Assinale a alternativa que reescreve o texto a seguir de acordo com a norma culta, mantendo-lhe o sentido. Os presídios não é uma forma de mudar o ponto de vista de qualquer pessoa que esteja lá presa, um marginal que já fez de tudo na vida não é que vai preso que ele vai mudar totalmente. a) Os presídios não é uma forma de mudar o ponto de vista de qualquer pessoa que esteje lá preso. Um marginal que já fez de tudo na vida não é porque vai preso que ele vai mudar totalmente. b) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto de vista de qualquer pessoa que esteja lá presa, um marginal que já fez de tudo na vida não é que vão preso que vão mudar totalmente. c) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto de vista de quem esteja lá preso. Não é porque foi preso que um marginal que já fez de tudo na vida vai mudar totalmente. d) Presídio não é uma forma de mudar o ponto de vista das pessoas presas, um marginal não vai mudar totalmente por tudo que já fez na vida e então vai preso. e) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto de vista de qualquer pessoa presa. Um marginal que já fez de tudo na vida vai preso e vai mudar totalmente. 2. (ESPM) Dada uma frase, assinale a continuação cuja CONCORDÂNCIA VERBAL transgrida o que preceitua a norma culta: "Pesquisa Datafolha mostra que perfil conservador do brasileiro continua forte: a) 47% do eleitorado diz ter posição política de direita." b) 47% dos eleitores dizem ter posição política de direita." c) 47% diz ter posição política de direita." d) 47% dizem ter posição política de direita." e) 1% dos eleitores não souberam responder à pesquisa." TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) a seguir está(ão) relacionada(s) ao texto abaixo. Muita gente que ouve a expressão “políticas linguísticas” pela primeira vez pensa em algo 1 solene, formal, oficial, em leis e portarias, em autoridades oficiais, e pode ficar se perguntando o que seriam leis sobre línguas. De fato, há leis sobre línguas, mas as 2 políticas linguísticas também podem ser menos 3 formais – e nem passar por leis propriamente ditas. Em quase todos os casos, figuram no cotidiano, 4 pois envolvem não só a gestão da linguagem, mas também as práticas de linguagem, e as crenças e valores que circulam a respeito 5 delas. Tome, por exemplo, a situação do 6 cidadão das classes confortáveis brasileiras, que quer que a escola ensine a norma culta da língua portuguesa. 7 Ele folga em saber que se vai exigir isso dos candidatos às vagas para o ensino superior, mas nem sempre observa ou exige o mesmo padrão culto, por exemplo, na ata de condomínio, que ele aprova como está, 8 desapegada da ortografia e das regras de concordância verbais e nominais 9 preconizadas pela gramática normativa. Ele acha ótimo que a escola dos filhos faça 10baterias de exercícios para fixar as normas ortográficas, mas pouco se incomoda com os problemas de redação nos enunciados das tarefas dirigidas às crianças ou nos textos de comunicação da escola dirigidos à comunidade escolar. Essas são políticas linguísticas. 11Afinal, onde há gente, há grupos de pessoas que falam línguas. Em cada um desses grupos, há decisões, 12tácitas ou explícitas, sobre como proceder, sobre o que é aceitável ou não, e por aí afora. Vamos chamar essas escolhas – 13assim como 14as discussões que levam até 15elas e as ações que delas resultam – de políticas. Esses grupos, pequenos ou grandes, de pessoas tratam com outros grupos, que por sua vez usam línguas e têm as suas políticas internas. Vivendo imersos em linguagem e tendo constantemente que lidar com outros indivíduos e outros grupos mediante o uso da linguagem, não surpreende que os recursos de linguagem lá pelas tantas se tornem, eles próprios, tema de política e objetos de políticas explícitas. Como 16esses recursos podem ou devem se apresentar? Que funções eles podem ou devem ter? Quem pode ou deve ter acesso a 17eles? Muito do que fazemos, 18portanto, diz respeito às políticas linguísticas. Adaptado de: GARCEZ, P. M.; SCHULZ, L. Do que tratam as políticas linguísticas. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016. 3. (UFRGS) Se a expressão políticas linguísticas (ref. 2) fosse para o singular, quantas outras alterações seriam necessárias no período para manter-se a concordância? a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5.


9VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O acesso 1 à Educação é o ponto de partida Mozart Neves A Educação tem resultados profundos e abrangentes no desenvolvimento de uma sociedade: contribui para o crescimento econômico do país, para a promoção da igualdade e bem-estar social, e também tem impactos decisivos na vida de cada um. Um deles, por exemplo, é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita __________ alguns anos pelo economista Marcelo Neri mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasileiro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo também mostrou que quem completou o Ensino Fundamental tem 35% a mais de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número sobe para 122% na comparação com alguém que tenha o Ensino Médio e 387% com Ensino Superior. Diante disso, o direito do acesso 2 à Educação é o ponto de partida na formação de uma pessoa e, consequentemente, no desenvolvimento e prosperidade de uma nação. 3 Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil nas duas últimas décadas4 , 5 ainda 6 há 7 importantes desafios a superarmos no que tange esse direito. Se 8 por um lado conseguimos universalizar o atendimento escolar no Ensino Fundamental, temos 9 ainda, por outro lado, 2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso corresponde ______ um país do tamanho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos) e do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos). Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam e nem trabalham, a chamada 11“geração nem-nem”, para trazê-12los de volta __________ escola e, posteriormente, 13incluí-los no mundo do trabalho. Isso é essencial para um país que passa por um bônus demográfico que se completará, 14segundo os especialistas, em 2025. O país, para seu crescimento econômico e sua sustentabilidade, não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens. No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matriculados nesse nível de ensino. Em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE), o país precisará dobrar esse percentual nos próximos dez anos, ou seja, chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da complexidade dessa meta, esse era o percentual previsto no PNE que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que haja perda de qualidade com essa expansão – que a educação básica melhore significativamente, tanto em acesso como em qualidade, tomando como referência os atuais índices de aprendizagem escolar. O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir decisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo seu Produto Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mundial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quando o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça, não se conhece nada melhor do que a Educação. Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acessoeducacao-e-o-ponto-de-partida/>. Acesso em: 20 mar. 2017) 4. (IFSUL) Se a palavra desafio (referência 15) fosse flexionada no plural, quantas mais alterações seriam necessárias na frase para manter a correção sintática? a) Uma. b) Duas. c) Três. d) Quatro. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Havia naquele cemitério uma sepultura em torno ....... 4 a imaginação popular tecera lendas. Ficava ao lado da capela, perto dos grandes jazigos, e 8 consistia numa lápide cinzenta, com a inscrição já ........ apagada por baixo duma cruz em alto-relevo. Seus devotos acreditavam que a alma cujo corpo ali jazia tinha o dom de obrar 5 milagres como os de Santo Antônio. Floriano leu a inscrição: Antônia Weber – Toni – 1895-1915. Talvez ali estivesse o ponto de partida de seu próximo romance... Um jovem novelista visita o cemitério de sua terra e fica particularmente interessado numa sepultura singela a que a superstição popular 9 atribui poderes milagrosos. Vem-lhe então o desejo de, 6 através da magia da ficção, trazer de volta à vida aquela morta obscura. 11Sai à procura de habitantes mais antigos e a eles pergunta: “Quem foi Antônia Weber?” Alguns nada sabem. Outros contam o pouco de que 10se lembram. Um teuto- -brasileiro sessentão (Floriano já começava a visualizar as personagens, a inventar a intriga), ao ouvir o nome da defunta, fica perturbado e fecha-se num mutismo ressentido. 12“Aqui há drama”, diz o escritor para si próprio. 13E conclui: “Este homem talvez tenha amado Antônia Weber...”. Ao cabo de várias tentativas, consegue arrancar dele 7 uma história fragmentada, cheia de reticências que, entretanto, o novelista vai preenchendo com trechos de depoimentos de terceiros. Por fim, de posse de várias peças do quebra- cabeça, põe-se a armá-lo e o resultado é o romance duma tal Antônia Weber, natural de Hannover e que emigrou com os pais para o Brasil e estabeleceu-se em Santa Fé, onde... Mas qual! – exclamou Floriano, parando à sombra dum plátano e passando o lenço pela testa úmida. Ia cair de novo nos alçapões que seu temperamento lhe armava. 14Os críticos não negavam mérito a seus romances, mas afirmavam que em suas histórias ........ o cheiro do suor humano e da terra: achavam que, quanto à forma, eram tecnicamente bem escritas; quanto ao conteúdo, porém, tendiam mais para o artifício que para a arte, fugindo


10VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias sempre ao drama essencial. Pouco lhe importaria o que outros pensassem se ele próprio não estivesse de acordo com essas restrições. Chegara à conclusão de que, embora a perícia não devesse ser menosprezada, para fazer bom vinho era necessário antes de mais nada ter uvas, e uvas de boa qualidade. No caso do romance a uva era o tema – o tema legítimo, isto é, algo que o autor pelo menos tivesse sentido, se não propriamente vivido. Adaptado de: VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento: o retrato. v. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 331-333. 5. (UFRGS) Se substituíssemos Os críticos (ref. 14) por A crítica, quantas outras alterações seriam necessárias, no texto, para fins de concordância? a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O menino sentado à minha frente é meu irmão, assim me disseram; e bem pode ser verdade, ele regula pelos dezessete anos, justamente o tempo em que estive solto no mundo, sem contato 5nem notícia. A princípio quero tratá-lo como intruso, mostrar-lhe 1 __________ minha hostilidade, não abertamente para não chocá-lo, 11mas de maneira a não lhe deixar dúvida, como se lhe 6 perguntasse com todas as letras 18: que direito tem você de estar aqui na intimidade de minha família, entrando nos nossos segredos mais íntimos, dormindo na cama onde eu dormi, lendo meus velhos livros, talvez sorrindo das minhas anotações à margem, tratando meu pai com intimidade, talvez discutindo a minha conduta, talvez até criticando-a? 12Mas depois vou notando que ele não é totalmente estranho. De repente fere-me 2 __________ ideia de que o intruso talvez 7 seja eu, que ele 8 tenha mais direito de hostilizar-me do que eu a ele 19, que vive nesta casa há dezessete anos. O intruso sou eu, não ele. Ao pensar nisso vem-me o desejo urgente de entendê-lo e de ficar amigo. Faço-lhe 21perguntas e noto a sua avidez em respondê-las, 13mas logo vejo a inutilidade de prosseguir nesse caminho, 22as perguntas parecem-me formais e 23as respostas forçadas e complacentes. Tenho tanta coisa a dizer, mas não sei como começar, até a minha voz parece ter perdido a naturalidade. Ele me olha 20, e vejo que está me examinando, procurando decidir se devo ser tratado como irmão ou como estranho, e imagino que as suas dificuldades não devem ser menores do que as minhas. 24Ele me pergunta se eu moro em uma casa grande, com muitos quartos, e antes de responder procuro descobrir o motivo da pergunta. 25Por que falar em casa? 14E qual a importância de 9 muitos quartos? Causarei inveja nele se responder que sim? 26Não, não tenho casa, há 10muitos anos que tenho morado em hotel. Ele me olha, parece que fascinado, diz que deve ser bom viver em hotel, 15e conta que, toda vez que faz reparos 3 __________ comida, mamãe diz que ele deve ir para um hotel, onde pode reclamar e exigir. De repente o fascínio se transforma em alarme, 16e ele observa que se eu vivo em hotel não posso ter um cão em minha companhia, o jornal disse uma vez que um homem foi processado por ter um cão em um quarto de hotel. Confirmo 4 __________ proibição. Ele suspira 17e diz que então não viveria em um hotel nem de graça. Adaptado de: VEIGA, José J. Entre irmãos. In: MORICONI, Ítalo M. Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 186-189. 6. (UFRGS) Se as expressões perguntas (ref. 21), as perguntas (ref. 22) e as respostas (ref. 23) fossem substituídas, respectivamente, por uma pergunta, a pergunta e a resposta, quantas outras alterações seriam necessárias no texto, para fins de concordância? a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O texto a seguir foi extraído de uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna, cronista e poeta mineiro. Professor universitário e jornalista, escreveu para os maiores jornais do País. “Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.” Porta de colégio Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa. Primeiro há uma diferença de 1 clima entre 6 aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma 2 atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma 8 redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. 7 Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. 9 Um ou outro já transou droga, e com isso deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Onde estarão 4 esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos? 5 Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esporte, vai se interessar pela informática ou economia; 5 aquela de cabelos louros e crespos vai ser dona de boutique; 5 aquela morena de cabelos lisos quer


11VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente de multinacional; 5 aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e à praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. [...] Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava-lhes as últimas histórias da carochinha antes que o 3 lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano de Sant’Anna: seleção e prefácio de Letícia Malard. Coleção Melhores Crônicas. p. 64-66. 7. (Uece) No trecho, “Primeiro há uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua” existe um caso de concordância verbal curioso. No trecho “aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros”, há um sintagma nominal cujo núcleo é bando, um substantivo coletivo que vem seguido de uma expressão no plural que o especifica: de adolescentes. Observe o que é dito a seguir. I. Em casos como esse, a regra geral da gramática normativa é a seguinte: com o substantivo coletivo, a concordância se faz no singular. Por essa ótica, no texto, deveríamos ter a seguinte estrutura: aquele bando de adolescentes espalhado pela calçada e sentado sobre carros. II. A gramática faculta a seguinte possibilidade: se o coletivo vier seguido de uma expressão no plural que o especifique, o adjetivo ou o particípio que forma essa expressão pode ir para o plural ou ficar no singular: aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros. III. Empregar o singular ou o plural nesses casos fica a critério do usuário da língua. Esses dois tipos de concordância variam livremente, independente de possíveis motivações. Está correto o que se afirma em a) I e II apenas. b) I, II e III. c) I e III apenas. d) II e III apenas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: OS HUMANOS SÃO UMA PARTE IMPORTANTE DA BIOSFERA As maravilhas do mundo natural atraem a nossa curiosidade sobre a vida e tudo que nos cerca. Para muitos de nós, nossa curiosidade sobre a Natureza e os desafios de seu estudo são razões suficientes. 1 Além disso, contudo, nossa necessidade de compreender a Natureza está se tornando mais e mais urgente, 2 à medida que o crescimento da população humana estressa a capacidade dos sistemas naturais em manter sua estrutura e funcionamento. Os ambientes que as atividades humanas dominam ou criaram – incluindo nossas áreas de vida urbanas e suburbanas, nossas terras cultivadas, nossas áreas de recreação, plantações de árvore e pesqueiros – são também ecossistemas. O bem-estar da humanidade depende de manter o funcionamento desses sistemas, sejam eles naturais ou artificiais. Virtualmente toda a superfície da Terra é, ou em breve será, fortemente influenciada por pessoas, se não completamente sob seu controle. 3 Os humanos já usurpam quase metade da produtividade biológica da biosfera. Não podemos assumir essa responsabilidade de forma negligente. 4 A população humana se aproxima da marca de 7 bilhões, e consome energia e recursos, e produz rejeitos muito além do necessário ditado pelo metabolismo biológico. Essas atividades causaram dois problemas relacionados de dimensões globais. O primeiro é o seu impacto nos sistemas naturais, incluindo a interrupção de processos ecológicos e a exterminação de espécies. O segundo é a firme e constante deterioração do próprio ambiente da espécie humana à medida que pressionamos os limites dentro dos quais os ecossistemas podem se sustentar. 5 Compreender os princípios ecológicos é um passo necessário para lidar com esses problemas. RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p. 15. (Adaptado). 8. (Ueg) No trecho “Os humanos já usurpam quase metade da produtividade biológica da biosfera. Não podemos assumir essa responsabilidade de forma negligente” (ref. 3), os períodos apresentam pessoas verbais diferentes. O uso da primeira pessoal do plural, no segundo período, constitui um recurso linguístico por meio do qual o autor a) assume ser parte da comunidade humana e, consequentemente, responsável pelo modo como ela tem explorado os recursos naturais; b) evidencia sua concordância sobre o modo como os humanos usam, de forma desequilibrada e devastadora, os recursos da terra; c) retira de si a responsabilidade sobre o modo como os recursos da biosfera têm sido consumidos pelas sociedades urbanas e suburbanas; d) conclama a humanidade à invenção de tecnologias que possibilitem a descoberta de novos organismos e a criação de novos bens de consumo; 9. (IFSUL) Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbo-nominal. a) Boa parte das pessoas ainda se sentem desconfortáveis com relação aos imigrantes. b) Nem a violência nem o preconceito contribui para o fortalecimento da nação. c) Tanto o opressor quanto o oprimido sofre, embora não consiga se expressar. d) Violência, agressão e preconceito, nada podem demovê-los de seus propósitos.


12VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1 Desenvolveu-se nos Estados Unidos, nos 2 meios intelectuais 3 que defendem as minorias, a ideia do "politicamente correto" - ou seja, a substituição de termos com conotação preconceituosa por outros carregados de positividade. Assim, a própria palavra "negro" não seria desejável, devendo-se preferir "afro-americano". O mesmo vale para 4 várias outras palavras, como "deficiente", "solteirão" - em suma, todo termo que possa dar a entender uma falha, um defeito. E isso se acentua quando comunidades fortes - como os homossexuais da Califórnia - interferem em roteiros de filmes, ou 5 quando 6 figuras históricas são condenadas mediante critérios morais fora de 7sua época (como sucedeu quando um condado da Luisiana resolveu que nenhuma 8 escola 9 pública de 10sua jurisdição deveria ostentar o nome de quem tivesse 11possuído escravos - o que eliminava, por exemplo, Thomas Jefferson). 12Tudo isso parece exagerado e, no Brasil, é apresentado como ridículo ............., há que destacar o que é positivo no chamado politicamente correto: a ideia - óbvia para qualquer linguista, psicólogo ou psicanalista - de que a linguagem não é neutra, mas expressa, produz e reproduz uma visão de mundo. Se a linguagem não se limita a traduzir fatos, mas tende a expressar 13pontos de vista, 14é preciso expô-los e eventualmente combatê- 15los. Aqui 16está o que a zombaria contra 17o politicamente correto dissimula: 18ele reage contra velhas ideias conservadoras. O que dizem ainda hoje nossos livros escolares, a despeito de elogiáveis iniciativas (inclusive oficiais), sobre o negro e o índio? Quantos preconceitos não rodam por 19aí, moldando a mente das crianças assim como moldaram as nossas? Antes de se zombar dos exageros de certos movimentos norte-americanos, não seria preciso romper a cumplicidade que ata nossa opinião pública a quem incita à violência nas rádios matutinas, a quem ridiculariza e humilha a mulher nos programas de humor? Se alguma 20cultura pode dar-se ao luxo de achar 21risível o excesso nos direitos humanos, 22não é 23a nossa, 24certamente. (Adaptado de: RIBEIRO, R.J. A sociedade contra o social. São Paulo: Cia das Letras, 2000.) 10. (UFRGS) Se substituíssemos a expressão "Tudo isso" (ref. 12) por "Esses fatos", quantas outras palavras da frase teriam de sofrer ajustes de concordância? a) Uma. b) Duas. c) Três. d) Quatro. e) Cinco. E.O. Complementar 1. (Acafe 2018) Sobre concordância verbal e concordância nominal, assinale a afirmativa correta. a) Na frase “O governo brasileiro extinguiu a Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados) para que possa ser melhor exploradas nessa área os recursos naturais e outras fontes renováveis de energia”, a falta de concordância será sanada se a expressão “os recursos naturais” for substituída por “jazidas minerais”. b) Na frase “Os fatos apontados pelos órgãos de controle indicam que podem ter havido irregularidades na gestão dos projetos financiados com recursos públicos”, todos os verbos estão flexionados de acordo com a norma padrão da língua portuguesa. c) A frase “Os ingredientes que encomendava era o mesmo semanalmente, razão por que seria de imaginar que fosse suficiente para a fermentação de cinquenta litros de cerveja” apresenta desvios da norma padrão quanto à concordância nominal, mas não há desvios da norma padrão quanto à concordância verbal. d) Na frase “Estima-se que, em Portugal, cerca de dois terços dos cães tenham sido infectados com o parasita denominado Leishmania infantum nos últimos anos, embora muitos deles não manifestem a doença”, os verbos “tenham” e “manifestem” concordam com os respectivos sujeitos na terceira pessoa do plural. 2. (Acafe) Assinale o texto que mais se ajusta à norma-padrão escrita. a) Se eu fosse o prefeito de Floripa, iria criar um espaço novo de lazer e entretimento tipo os que se tem no Parque das Nações, em Lisboa, Portugal, do lado continental da Ilha, onde estão a Capitania dos Portos, o estaleiro Shaefer, uma fábrica de gelo e uma favela. b) Seria cômico não fosse Lula o que incitaria quando havia ostracismo ou crise no governo jogando nordestino contra sulistas, culpando a elites pela crise, mas isentando seus comparsas e agora que roubaram e repassaram para seu filho e nora 2 milhões, todos como inocentes. c) Estão pensando em elaborar outra Lei para que comportamento como este do Conselheiro sejam considerados nobres e ao invés de apontar punições, apontem para reconhecimento e valorização, inclusive com afastamento remunerado em dobro até que esteja apto para aposentadoria. d) Em uma entrevista concedida por Dilma para 4 ou 5 jornalistas da RBS, em resposta a uma pergunta sobre o lazer da Presidente, ela respondeu que gostava de transitar, altas horas da noite, incógnita, pelas ruas quase desertas de Brasília, pilotando uma motocicleta. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto para responder à(s) questão(ões) a seguir. O sequestro das palavras Gregório Duvivier Vamos supor 1 que toda palavra tenha uma vocação primeira. A palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da transformação e da troca, e desde pequena 2 servia para descrever o processo de mutação de uma coisa em outra coisa que não deixou de ser, na essência, a mesma coisa 3 – quando a coisa é trocada por outra coisa, não é mudança, é substituição. A palavra justiça, por exemplo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade


13VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias (sim, foi um ménage): 4 servia para tornar igual aquilo que tinha o direito de ser igual 5 mas não estava sendo tratado como tal. 6 No entanto as palavras cresceram. E, assim como as 7 pessoas, 8 foram sendo contaminadas pelo mundo __________ sua volta. As palavras, 9 coitadas, não sabem escolher amizade, não sabem dizer não. A liberdade, por exemplo, é dessas palavras que só dizem sim. Não nasceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a dependência, o poder, o dinheiro 10– mas não se espante se você vir __________ liberdade vendendo absorvente, desodorante, cartão de crédito, empréstimo de banco. A publicidade vive disso: dobrar as melhores palavras sem pagar direito de imagem. Assim, você 11verá as palavras ecologia e esporte juntarem-12se numa só para criar o EcoSport 13– existe algo menos ecológico ou esportivo que um carro14? Pobres palavras. Não 15tem advogados. Não precisam assinar termos de autorização de imagem. Estão aí, na praça, gratuitas. Nem todos aceitam que as palavras 16sejam sequestradas ao bel-prazer do usuário. A 17política é o campo de guerra onde se 18disputa a posse das palavras. A “ética”, filha do caráter com a moral, transita de um lado para o outro dos conflitos, assim como a Alsácia-Lorena, e não sem guerras sanguinárias. Com um revólver na cabeça, é obrigada __________ endossar os seres mais amorais e sem caráter. A palavra mudança, que sempre andou com __________ esquerdas, foi sequestrada pelos setores mais conservadores da sociedade 19– que fingem querer mudar, quando o que querem é trocar 20(para que não se mude mais). 21A Justiça, coitada, foi cooptada por quem atropela direitos e desconhece a igualdade, confundindo-a o tempo todo com seu primo, o justiçamento, filho do preconceito com o ódio. Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da democracia com a mudança, 22está escondida num porão: 23emprestaram suas 24roupas __________ palavra golpe, que desfila por aí usando seu nome e seus documentos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, agoniza na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso lutar por elas. Texto publicado em 21 mar. 2016. Disponível em: <http://www1. folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170- o-sequestro-das-palavras.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2016. 3. (IFSUL) Quanto à sintaxe de concordância, é correto afirmar que a) a expressão “foram sendo contaminadas” (ref. 8) está na terceira pessoa do plural para concordar com o núcleo do sujeito “pessoas” (ref. 7); b) o verbo “disputar” (ref.18) está na terceira pessoa do singular para concordar com o núcleo do sujeito “política” (ref. 17); c) na referência 15, o verbo “ter” deveria estar grafado com o uso do acento diferencial para marcar a terceira pessoa do plural; d) o verbo “emprestar” (ref. 23) está no plural para estabelecer concordância com roupas (ref. 24), núcleo do sujeito. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto abaixo para responder à(s) quest(ões) a seguir. Os celulares Resolvi optar pela forma de plural, pois vejo tanta gente agora com, pelo menos, dois. O que me pergunto é como se comportaria a maioria das pessoas sem celular, como viver hoje sem ele? Uma epidemia neurótica grave atacaria a população? Certamente! Quem não tem seu celular hoje em dia? Crianças, cada vez mais crianças, lidam, e bem, com ele. Apenas uns poucos retrógrados, avessos ao progresso tecnológico. A força consumista do aparelho foi crescendo com a possibilidade de suas crescentes utilizações. Me poupem de enumerá-las, pois só sei de algumas. De fato, ele faz hoje em dia de um tudo. Diria mesmo que o celular veio a modificar as relações do ser humano com a vida e com as outras pessoas. Até que não custei tanto assim a aderir a este telefoninho! Nem posso deixar de reconhecer que ele tem me quebrado uns galhos importantes no corre-corre da vida. Mas me utilizo dele pouco e apenas para receber e efetuar ligações. Nem lembro que ele marca as horas, possui calendário. É verdade, recebi uns torpedos, e com dificuldade, enviei outros, bem raros. Imagine tirar fotos, conectá-lo à internet, ao Facebook! Não quero passar por um desajustado à vida moderna. Isto não! No computador, por exemplo, além dos e-mails, participo de rede social, digito (mal), é verdade, meus textos, faço lá algumas compras e pesquisas... Fora dele, tenho meus cartões de crédito, efetuo pagamentos nas máquinas bancárias e, muito importante, sei de cabeça todas as minhas senhas, que vão se multiplicando. Haja memória! Mas, no caso dos celulares, o que me chama mesmo a atenção é que as pessoas parecem não se desgrudar dele, em qualquer situação, ou ligando para alguém, ou entrando em contato com a internet, acompanhando o movimento das postagens do face, ou mesmo brincando com seus joguinhos, como procedem alguns taxistas, naqueles instantes em que param nos sinais ou em que o trânsito está emperrado. Não há como negar, contudo, que esta utilização constante do aparelhinho tem causado desconfortos sociais. Comenta a Danuza Leão: “Outro dia fui a um jantar com mais seis pessoas e todas elas seguravam um celular. Pior, duas delas, descobri depois, trocavam torpedos entre elas.” Me sinto muito constrangido quando, num grupo, em torno de uma mesa, tem alguém, do meu lado, falando, sem parar, pelo celular. Pior, bem pior, quando estou só com alguém, e esta pessoa fica atendendo ligações contínuas, algumas delas com aquela voz abafada, sussurrante... Pode? É frequente um casal se sentar a uma mesa colada à minha, em um restaurante e, depois, feitos os pedidos aos garçons, a mulher e o homem tomam, de imediato, os seus respectivos celulares. E ficam neles conversando quase o tempo todo, mesmo após o início da refeição. Se é um casal de certa idade, podem me argumentar, não devia ter mais nada para conversar. Afinal, casados há tanto tempo! Porém, vejo também casais bem mais jovens, com a mesma atitude,


14VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias consultando, logo ao se sentarem, os celulares para ver o movimento nas redes sociais, ou enviando torpedos, a maior parte do tempo. Clima de namoro, de sedução, é que não brotava dali. Talvez, alguém parece ter murmurado, em meu ouvido, assim os casais encontraram uma maneira eficiente de não discutirem. Falando com pessoas não presentes ali. A tecnologia a serviço do bom entendimento, de uma refeição em paz. Mas vivencio sempre outras situações em que o uso do celular me prende a atenção. Entrei em um consultório médico, uma senhora aguardava sua vez na sala de espera. Deu para perceber que ela acabava de desligar seu aparelho. Mas, de imediato, fez outra chamada. Estava sentado próxima a ela, que falava bem alto. A ligação era para uma amiga bem íntima, estava claro pela conversa desenrolada, desenrolada mesmo. Em breves minutos, não é por nada não, fiquei sabendo de alguns “probleminhas” da vida desta senhora. Não, não vou aqui devassar dela, nem a própria me deu autorização para tal... Afinal, sou uma pessoa discreta. Não pude foi evitar escutar o que minha companheira de sala de espera... berrava. Para não dizer, no entanto, que não contei nada, também é discrição demais, só um pequeno detalhe, sem maior surpresa: ela estava a ponto de estrangular o marido. O homem, não posso afiançar, aprontava as suas. Do outro lado, a amigona parecia estimular bem a infortunada senhora. De repente, me impedindo de saber mais fatos, a atendente chama a senhora, chegara a sua hora de adentrar ao consultório do médico. Não sei como ela, bastante exasperada, iria enfrentar um exame, na verdade, delicado. Não deu para vê-la sair pela outra porta. É, os celulares criaram estas situações, propiciando já a formação do que poderá vir a ser chamado de auditeurismo, que ficará, assim, ao lado do antigo voyeurismo. (UCHÔA, Carlos Eduardo Falcão. Os celulares. In: ______. A vida e o tempo em tom de conversa. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Odisseia, 2013. P. 150-153.) 4. (Esc. Naval) Assinale a opção em que a reescritura da frase, flexionada no plural, manteve-se coerente e plenamente de acordo com a modalidade padrão da língua portuguesa. a) “Nem posso deixar de reconhecer que ele tem me quebrado uns galhos importantes [...].” (2º §) / Nem podemos de reconhecermos que eles tem nos quebrado uns galhos importantes... b) “Nem lembro que ele marca as horas, possui calendário.” (2º §) / Nem nos lembramos que eles marcam as horas, possuem calendário. c) “[...] sei de cabeça todas as minhas senhas, que vão se multiplicando. Haja memória!” (2º §) / ...sabemos de cabeça todas as nossas senhas, que vão se multiplicando. Hajam memórias! d) “[...] vivencio sempre outras situações em que o uso do celular me prende a atenção.” (5º §) / ... vivenciamos sempre outras situações em que o uso do celular nos prendem as atenções. e) “Não sei como ela, bastante exasperada, iria enfrentar um exame, na verdade, delicado.” (5º §) / Não sabemos como elas, bastante exasperadas, iriam enfrentar uns exames, na verdade, delicados. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 27Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por muito tempo. 37São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. 34Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade? 41Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. 4 Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, 6 às informações de 29alguma emissora de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito 9 várias vezes do trajeto 20que deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc. 35Quando me vejo em tal situação, 19eu me lembro que 14dirigir, 45após um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestressante. 18O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não 23mais observamos os detalhes, 1 por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei em frente ao computador 44para buscar textos sobre um tema 38e, de repente, 24me dei conta de que estava em 39temas 15que em nada se relacionavam com meu tema primeiro. Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. 16Sofremos de uma tentação permanente de 43pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto. O problema é que 22alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. 5 Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza a um texto? 3 Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. 2 Elas já nasceram neste mundo de 8 profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc. 46Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. 36E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que exigem tratamento etc. 42A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos, 10brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, 21passam horas em uma única atividade de que gostam. 17Mas, nos estudos, queremos que elas prestem 26atenção no que é preciso, e não no que gostam. 28E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.


15VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 32As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, 31boa parte desse trabalho é nosso, e não delas. 12Não basta mandarmos que elas prestem atenção: 33isso de nada as ajuda. 13O que pode ajudar, por exemplo, é 40analisarmos o contexto em que estão 7 quando precisam focar a atenção 25e organizá-lo para que seja favorável a tal exigência. 11E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo: 30o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e gradual. SAYÃO, Rosely. “Profusão de estímulos”. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 – adaptado. 5. (Col. naval) Em “A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim.” (ref. 42) o verbo pode ir para o singular ou para o plural. Em que opção tal situação também se aplica? a) Só um ou outro adulto consegue focar sua atenção em uma única coisa. b) Segundo pesquisa, sessenta por cento da juventude brinca com jogos desafiantes que exigem atenção. c) Qual de vocês sabe usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos? d) É cada vez maior o número de crianças que não presta atenção a uma única coisa. e) Falaram o educador e o pai sobre a profusão de estímulos a que as crianças são submetidas. E.O. Dissertativo 1. (PUC-RJ) Há dois aspectos imprescindíveis a qualquer discurso que queira, hoje, tratar do significado da nação. O primeiro é relativo à dimensão simbólica da ideia de nação, entendida menos como território, mais como repertório de recursos identitários. Sobre o papel de constructo cultural e simbólico que a ideia de nação representa, temos autores que convergem sobre a arbitrariedade de sua gênese (a nação como invenção histórica arbitrária, de Gellner; como invenção da tradição, de Hobsbawm; como comunidade imaginada, de Anderson). Porém, independentemente do reconhecimento de sua função ideológica ou de legitimação política, o que hoje se enfatiza na ideia de nação é a forte carga simbólica e o caráter cultural que carrega. Dizer, então, que os sentimentos de pertencimento são culturalmente construídos não significa necessariamente que eles se fundem em manipulações mistificadoras ou subficções arbitrárias. O acento recai, sobretudo, na sua capacidade de fundar uma comunidade emocional, de agir como conectores de um “nós” nacional. O segundo aspecto é relativo à separação que se verifica, no contexto contemporâneo, dos vínculos que pareciam indissoluvelmente ligar sociedade e estado nacional. A relação identificatória entre estado-nação e sociedade perdeu a obviedade e naturalidade, quando, no contexto da globalização, tornaram-se manifestas diversas formas de socialidade completamente desvinculadas do estado-nação: a “explosão” da complexidade social, no momento em que outras agências de produção de significados (as religiões, o mercado, a indústria cultural, etc.) competem com o estado-nação, o que acaba por minar irreversivelmente sua centralidade e capacidade de integração social. LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Ficção televisiva e identidade cultural da nação. In: Revista Alceu Nº 20. Rio de Janeiro: Editora PUC--Rio, 2010. p. 11-12. Disponível em: <http://revistaalceu.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start. htm?sid=32>. Acesso em: 21 jul. 2015. Adaptado. a) O texto apresenta duas visões distintas que, hoje, encontram-se relacionadas ao conceito de nação. Estabeleça a diferença entre elas. b) Com relação ao trecho abaixo, faça o que é solicitado a seguir. A relação identificatória entre estado-nação e sociedade perdeu a obviedade e naturalidade, quando, no contexto da globalização, tornaram-se manifestas diversas formas de socialidade completamente desvinculadas do estado-nação. i) Justifique o emprego da forma verbal “tornaram-se” na 3ª pessoa do plural. ii) Reescreva o trecho, iniciando-o por “É possível que”. Faça as modificações necessárias. 2. (PUC-RJ) A imaginação A imaginação é provavelmente a maior força a atuar sobre os nossos sentimentos – maior e mais constante do que influências exteriores, como ruídos e visões amedrontadores (relâmpagos e trovões, um caminhão em disparada, um tigre furioso), ou prazer sensual direto, inclusive mesmo os intensos prazeres da excitação sexual. O que esteja realmente acontecendo é, para um ser humano, apenas uma pequena parte da realidade; a maior parte é o que ele imagina em conexão com as vistas e sons do momento. A imaginação constitui o seu mundo. O que não quer dizer que seu mundo seja uma fantasia, sua vida um sonho, nem qualquer outra coisa assim, poética e pseudofilosófica. Isso significa que o seu “mundo” é maior do que os estímulos que o cercam; e a medida deste, o alcance de sua imaginação coerente e equilibrada. O ambiente de um animal consiste das coisas que lhe atuam sobre os sentidos. Coisas ausentes, que ele deseje ou tema, provavelmente não têm substitutos em sua consciência, como as imagens de tais coisas na nossa, mas aparecem, quando por fim o fazem, como satisfações de necessidades imperiosas, ou como crises em seu espreitar e reagir mais ou menos constante. [...] No centro da experiência humana, portanto, existe sempre a atividade de imaginar a realidade, concebendo- -lhe a estrutura através de palavras, imagens ou outros símbolos, e assimilando-lhe percepções reais à medida que surgem – isto é, interpretando-as à luz das ideias gerais, usualmente tácitas. Esse processo de interpre-


16VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias tação é tão natural e constante que sua maior parte decorre de modo inconsciente. LANGER, Suzanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Cultrix, 1971. p.132-133; 135-136. Apud ARANHA, M. L. de Arruda & MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2003. p. 367. a) Segundo o texto, quais são os dois componentes usados pelas pessoas para interpretar o mundo? b) Há dois desvios gramaticais no período abaixo. Reescreva-o, fazendo as devidas correções. Coisas ausentes não interferem no comportamento dos animais, onde eles só temem o que lhes despertam os sentidos. 3. (PUC-RJ) Leia. De um lado, a loucura existe em relação à razão ou, pelo menos, em relação aos “outros” que, em sua generalidade anônima, encarregam-se de representá-la e atribuir-lhe valor de exigência; por outro lado, ela existe para a razão, na medida em que surge ao olhar de uma consciência ideal que a percebe como diferença em relação aos outros. A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é diferença imediata, negatividade pura, aquilo que se denuncia como não-ser, numa evidência irrecusável; é uma ausência total de razão, que logo se percebe como tal, sobre o fundo das estruturas do razoável. Sob o olhar da razão: 1 a loucura é individualidade singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco; em sua particularidade ela se desdobra para uma razão que não é termo de referência mas princípio de julgamento; a loucura é então considerada em suas estruturas do racional. FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. Tradução: José Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. p.203. a) Com relação ao trecho “A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar.”, extraído do texto, faça o que é pedido a seguir: i. identifique o referente de cada um dos pronomes destacados, iniciando a sua resposta da seguinte forma: O referente do pronome ______________________ ___________________________. ii. indique um conectivo que poderia ser empregado no lugar dos dois pontos. b) Comprovando com dados do próprio trecho, explique por que o verbo distinguir foi flexionado na 3ª pessoa do plural em “a loucura é individualidade singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco” (ref. 1). 4. (PUC-RJ) Leia. Platão defendeu, no Banquete, em Fedra e em outros textos, a existência de um espírito místico ou furor enviado pelo céu, através do qual uns poucos eleitos se “inspiravam”: “As maiores bênçãos vêm por intermédio da loucura, aliás, da loucura que é enviada pelo céu.” Possuídas assim por visões transcendentais ou por conhecimentos transcendentais, 1 essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais. A concepção freudiana do gênio era bastante diferente. Não era uma dádiva dos deuses, mas resultado dos processos do inconsciente; não vinha de cima, mas de dentro, das profundezas. [...] A “arte” e a habilidade artística, mais que a inspiração, eram consideradas a marca do artista ou do escritor, e as estruturas de patronagem do mundo das letras tradicional proviam fortes argumentos a favor da conformidade social, em vez de excentricidade do artista. 2 Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos. Mas a teoria clássica, modificada pela psicologia empirista do Iluminismo, insistia que a imaginação não deveria ser obstinada, idiossincrática e visionária, mas residir na sólida formação dos sentidos e ser temperada pelo juízo. O verdadeiro gênio era um impulso orgânico saudável para a combinação das matérias-primas da mente. PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.81-82. a) A palavra que apresenta comportamentos distintos nos trechos em destaque. Estabeleça a diferença entre os dois empregos. i. “essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais” (ref. 1) ii. “Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos.” (ref. 2) b) Mantendo o mesmo sentido, reescreva a passagem em destaque, de acordo com o que é pedido: O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, passou-se a criticar, condenar e massacrar qualquer coisa que fosse considerada irracional. • Use o verbo “efetuar” no lugar do verbo “passar”; • Substitua cada um dos verbos assinalados pela forma nominal correspondente no plural. • Faça outras modificações que julgar necessárias em função das alterações propostas. O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, ________________________ ________________________________.


17VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Geração Canguru Gilberto Dimenstein Ao mapear novas tendências de consumo no Brasil, publicitários acreditam ter detectado a "Geração Canguru". São jovens bem-sucedidos profissionalmente, têm entre 25 e 30 anos de idade e vivem na casa dos pais. O interesse neles é óbvio: compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. Ainda na "bolsa" da mãe, eles mostram que mudaram as fronteiras entre o jovem e o adulto. Até pouquíssimo tempo atrás, um marmanjão de 30 anos, enfiado na casa dos pais, seria visto como uma anomalia, suspeito de algum desequilíbrio emocional que retardou seu crescimento. O efeito "canguru" revela que pais e filhos estão mutuamente mais compreensivos e tolerantes, capazes de lidar com suas diferenças. Para quem se lembra dos conflitos familiares do passado, marcados pelo choque de gerações, os "cangurus" até sugerem um grau de civilidade. Não é tão simples assim. Estudos de publicitários divulgados nas últimas semanas indicam um lado tumultuado – e nem um pouco saudável – dessa relação familiar. Por trás das frias estatísticas sobre tendência do mercado, a pergunta que aparece é a seguinte: até que ponto os brasileiros mais ricos estão paparicando a tal ponto seus filhos que produzem indivíduos com baixa autonomia? Ao investigar uma amostra de 1.500 mães e filhos, no Rio e em São Paulo, a TNS InterScience concluiu que 82% das crianças e dos adolescentes influenciam fortemente as compras das famílias. A pressão é especialmente intensa nas classes A e B, cujas crianças, segundo os pesquisadores, empregam cada vez mais a estratégia das birras públicas para ganhar, na marra, o objeto de desejo. Com medo das birras, as mães tentam, segundo a pesquisa, driblar os filhos e não levá-los às compras, especialmente nos supermercados, mas, muitas vezes, acabam cedendo. Os responsáveis pelo levantamento da InterScience atribuem parte do problema ao sentimento de culpa. Isso porque, devido ao excesso de trabalho, os pais ficam muito tempo longe de casa e querem compensar a ausência com presentes. Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jovem da Abril detectou que muitos dos novos consumidores vivem uma ansiedade tamanha que nem sequer usufruem o que levam para casa. Já estão esperando o produto que vai sair. É ninfomania consumista. Jovens relataram que nunca usaram, nem mesmo uma vez, roupas que adquiriram. Aposentam aparelhos eletrodomésticos comprados recentemente porque já estariam defasados. Psicólogos suspeitam que essa atitude seja uma fuga para aplacar a ansiedade e a carência, provocadas, em parte, pela falta de limite. Imaginando-se modernos, pais tentam ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se a obrigação de dizer não e enfrentar o conflito. O resultado é, no final, uma desconfiança, explicitada pelos entrevistados, ainda maior em relação aos adultos. Outro estudo, desta vez patrocinado pela MTV, detectou um início de tendência entre os jovens de insatisfação diante de pais extremamente permissivos. Estão demandando adultos mais pais do que amigos. Para complicar ainda mais a insegurança das crianças e dos adolescentes, a violência nas grandes cidades leva os pais, compreensivelmente, a pilotar os filhos pelas madrugadas, para saber se não sofreram uma violência. Brincar nas ruas está desaparecendo da paisagem urbana, ajudando a formar seres obesos, presos ao computador. Há pencas de estudo mostrando como a brincadeira, dessas em que nos sujamos, ralamos o joelho na árvore, ajuda a desenvolver a criatividade, o senso de autonomia e de cooperação. É um espaço de estímulo à imaginação. Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração. Muito se estuda sobre a importância da resiliência – a capacidade de levar tombos e levantar como um elemento educativo fundamental. Professores contam, cada vez mais, como os alunos não têm paciência de construir o conhecimento e desistem logo quando as tarefas se complicam um pouco. Por isso, entre outras razões, os alunos decepcionam-se rapidamente na faculdade que exige mais foco em poucos assuntos. Os educadores alertam que muitos jovens têm dificuldade de postergar o prazer e buscam a realização imediata dos desejos; respondem exatamente ao bombardeamento publicitário, inclusive na ingestão de álcool, como vamos testemunhar, mais uma vez, nas propagandas de cerveja neste verão. Daí o risco de termos "cangurus" que fiquem cada vez mais na bolsa (e no bolso) dos pais. P.S. – Em todos esses anos lidando com educação comunitária, posso assegurar que uma das melhores coisas que as escolas de elite podem fazer por seus alunos é estimulá-los ao empreendedorismo social. É um notável treino para enfrentar desafios. Enfrentam-se em asilos, creches e favelas os limites e as carências. Conheci casos e mais casos de alunos problemáticos que mudaram sua cabeça ao desenvolver uma ação comunitária e passaram, até mesmo, a valorizar o aprendizado curricular. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd121205.htm 5. (UFJF) Leia novamente: “Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração.” a) Explique a concordância entre o sujeito e o verbo na parte acima destacada. b) Compare a concordância acima (Todos sabemos) com: “Todos sabem como é difícil...”. Qual é a principal diferença no impacto discursivo produzido pelas duas formas? Justifique sua resposta.


18VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o trecho do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de teteias, balangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro não devia ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se, nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos negros. Por segurança e precaução contra os corsários, contra os excessos demagógicos, contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo, enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos. Os dois fortes motivos das casas-grandes acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de balanço se balançando sozinhas sobre tijolos soltos que de manhã ninguém encontra; com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores; com almas de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias, gemendo lamentações, indicando lugares com botijas de dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos lhes tinham entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu- -me lá alguma cousa para guardar?” Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa- -grande de Maçangana, morreu sem saber que destino tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em algum desvão de parede. […] Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontrado, em demolições ou escavações, botijas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, num recanto de parede, “verdadeira fortuna em moedas de ouro”. Noutras casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, justiçados pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua justiça patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o filho mantinha relações com a mucama de sua predileção, mandou matá-lo pelo irmão mais velho. (In: Silviano Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.) 1. (Unifesp 2019) A forma verbal destacada deve sua flexão ao termo sublinhado em: a) “Deu-me lá alguma cousa para guardar?” (2º parágrafo) b) “Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário.” (2º parágrafo) c) “Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi também banco.” (1º parágrafo) d) “os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo, enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos.” (2º parágrafo) e) “Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado.” (2º parágrafo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para responder à(s) questão(ões) a seguir. Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira. A manteiga tinha o volume aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um carregamento inspecionado, relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; 1 terebintina ao gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para olhar. Não havia praticamente nenhum gênero que não pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smollett, ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, tinham saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”?


19VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O pão era particularmente atingido. Em seu romance de 1771, The expedition of Humphry Clinker, Smollett definiu o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, 2 alume e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destrutivo para a constituição”; mas acusações assim já eram comuns na época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do pão está em um livro chamado Poison detected: or frightful truths, escrito anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. (Em casa, 2011. Adaptado.) 1terebintina: resina extraída de uma planta e usada na fabricação de vernizes, diluição de tintas etc. 2alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc. 2. (Unesp 2018) “O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante” (1º parágrafo) Preservando-se a correção gramatical e o seu sentido original, essa oração pode ser reescrita na forma: a) Adicionava-se o acetato de chumbo às bebidas como adoçante. b) Adiciona-se o acetato de chumbo às bebidas como adoçantes. c) Eram adicionadas às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. d) Adicionam-se às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. e) Adicionavam-se às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: No ensino, como em outras coisas, a liberdade deve ser questão de grau. Há liberdades que não podem ser toleradas. Uma vez conheci uma senhora que afirmava não se dever proibir coisa alguma a uma criança, pois ela deve desenvolver sua natureza de dentro para fora. "E se a sua natureza a levar a engolir alfinetes?" indaguei; lamento dizer que a resposta foi puro vitupério. No entanto, toda criança abandonada a si mesma, mais cedo ou mais tarde engolirá alfinetes, tomará veneno, cairá de uma janela alta ou doutra forma chegará a mau fim. Um pouquinho mais velhos, os meninos, podendo, não se lavam, comem demais, fumam até enjoar, apanham resfriados por molhar os pés, e assim por diante - além do fato de se divertirem importunando anciãos, que nem sempre possuem a capacidade de resposta de Eliseu. Quem advoga a liberdade da educação não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. Deve existir um elemento de disciplina e autoridade: a questão é até que ponto, e como deve ser exercido. (Bertrand Russell, Ensaios céticos.) 3. (Unifesp) "- Quem advoga a liberdade da educação não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta." Substituindo-se "Quem" por "As pessoas que", obtém-se: a) As pessoas que advoga a liberdade da educação não querem dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. b) As pessoas que advogam a liberdade da educação não quer dizerem que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes derem na veneta. c) As pessoas que advogam a liberdade da educação não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. d) As pessoas que advogam a liberdade da educação não querem dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. e) As pessoas que advogam a liberdade da educação não querem dizerem que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes derem na veneta. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: INSTRUÇÃO: As questões seguintes estão relacionadas ao seguinte anúncio de jornal: LOJA DE CALÇADOS FEMININO Vende-se 3 lojas bem montadas tradicionais, nos melhores Pontos da Cidade. Ótima Oportunidade! F: (__) xxx-xxxxxx (O Estado de S.Paulo, 15.08.2002) 4. (Unifesp) De acordo com as normas gramaticais, particularmente no que se refere às regras de concordância, o título deste anúncio deveria ser a) LOJAS DE CALÇADOS FEMININO, porque, na sequência, o texto fala em "3 lojas". b) LOJAS DE CALÇADOS FEMININOS, porque, na sequência, o texto fala em "3 lojas". c) LOJA DE CALÇADOS FEMININOS, porque o título não especifica as outras duas lojas "bem montadas" de calçados, implicitamente, masculinos. d) LOJA FEMININA DE CALÇADOS, porque o título não se relaciona com o restante do anúncio. e) LOJA DE CALÇADOS FEMININO, tal como aparece no anúncio, porque o vocábulo "FEMININO" apenas especifica o tipo de calçado comercializado pelas lojas à venda. 5. (Fuvest) A única frase que NÃO apresenta desvio em relação à concordância verbal recomendada pela norma culta é: a) A lista brasileira de sítios arqueológicos, uma vez aceita pela Unesco, aumenta as chances de preservação e sustentação por meio do ecoturismo. b) Nenhum dos parlamentares que vinham defendendo o colega nos últimos dias inscreveram-se para falar durante os trabalhos de ontem.


20VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) Segundo a assessoria, o problema do atraso foi resolvido em pouco mais de uma hora, e quem faria conexão para outros Estados foram alojados em hotéis de Campinas. d) Eles aprendem a andar com a bengala longa, o equipamento que os auxilia a ir e vir de onde estiver para onde entender. e) Mas foram nas montagens do Kirov que ele conquistou fama, especialmente na cena "Reino das Sombras", o ponto alto desse trabalho. E.O. dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. (Fuvest 2018) Leia o texto. A complicada arte de ver Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto." Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementares", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver". Rubem Alves, Folha de S.Paulo, 26/10/2004. Adaptado. a) Segundo a concepção do autor, como a poesia pode ser entendida? b) Reescreva o trecho “Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”, substituindo o termo sublinhado por “Naquela época” e empregando a primeira pessoa do plural. Faça as adaptações necessárias. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) próxima(s) questão(ões) focaliza(m) um excerto de um comentário de Fernando Pessoa (1888-1935) e um poema de Olegário Mariano (1889-1958). Nota preliminar 1 – Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos consciência dum estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção. 2 – Todo o estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E — mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem — pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser “Há sol nos meus pensamentos”, ninguém compreenderá que os meus pensamentos estão tristes. 3 – Assim tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora essas paisagens fundem-se, interpenetram- se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo – num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva – e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma – é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que “na ausência da amada o sol não brilha”, e outras coisas assim. Obra poética, 1965. Paisagem holandesa Não me sais da memória. És tu, querida amiga, Uma imagem que eu vi numa 1 aguarela antiga. Era na Holanda. Um fim de tarde. Um céu lavado. Frondes abrindo no ar um pálio recortado... Um moinho à beira d’água e imensa e desconforme A pincelada verde-azul de um barco enorme. A casaria além... Perto o cais refletindo Uma barra de sombra entre as águas bulindo... E, debruçada ao cais, olhando a tarde imensa, Uma rapariguinha olha as águas e pensa... É loira e triste. Nos seus olhos claros anda A mesma paz que envolve a paisagem da Holanda. Paira o silêncio... Uma ave passa, 2 arminho e 3 gaza, À flor d’água, acenando adeus com o lenço da asa... É a saudade de Alguém que anda extasiado, a esmo, Com a paisagem da Holanda escondida em si mesmo, Com aquela rapariga a sofrer e a cismar Num pôr de sol que dá vontade de chorar... Ai não ser eu um moinho isolado e tristonho Para viver como na paz de um grande sonho,


21VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A refletir a minha vida singular Na água dormente, na água azul do teu olhar... Toda uma vida de poesia, 1957. 1. aguarela: aquarela. 2. arminho: pele ou pelo do arminho; muito alvo, muito branco, alvura (sentido figurado). 3. gaza: tecido fino, transparente, feito de seda ou algodão. 2. (Unesp) “Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção”. Na oração transcrita, que inicia o comentário de Fernando Pessoa, explique por que, sob o ponto de vista gramatical, a forma verbal “acontece” está flexionada na terceira pessoa do singular. 3. (Fuvest) Leia o texto. Ditadura / Democracia A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar”. Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos. a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta. b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”), pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as modificações necessárias. 4. (Fuvest) Observe este anúncio. a) Na composição do anúncio, qual é a relação de sentido existente entre a imagem e o trecho “quem é e o que pensa”, que faz parte da mensagem verbal? b) Se os sujeitos dos verbos “descubra” e “pensa” estivessem no plural, como deveria ser redigida a frase utilizada no anúncio? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A seguir, poema do repentista cearense Patativa do Assaré (1909-2002) e uma passagem do livro O discípulo de Emaús de Murilo Mendes (1901-1975): Brasi de Cima e Brasi de Baxo [...] Inquanto o Brasi de Cima Fala de transformação, Industra, matéra prima, Descobertas e invenção, No Brasi de Baxo isiste O drama penoso e triste Da negra necissidade; É uma cousa sem jeito E o povo não tem dereito Nem de dizê a verdade. No Brasi de Baxo eu vejo Nas ponta das pobre rua O descontente cortejo De criança quage nua. Vai um grupo de garoto Faminto, doente e roto Mode caçá o que comê Onde os carro põe o lixo, Como se eles fosse bicho Sem direito de vivê. Estas pequenas pessoa, Estes fio do abandono, Que veve vagando à toa Como objeto sem dono, De manêra que horroriza, Deitado pela marquiza, Dromindo aqui e aculá No mais penoso relaxo, É deste Brasi de Baxo A crasse dos marginá. Meu Brasi de Baxo, amigo, Pra onde é que você vai? Nesta vida do mendigo Que não tem mãe nem tem pai? Não se afrija, nem se afobe, O que com o tempo sobe, O tempo mesmo derruba; Tarvez ainda aconteça Que o Brasi de Cima desça E o Brasi de Baxo suba. Sofre o povo privação Mas não pode recramá, Ispondo suas razão Nas coluna do jorná.


22VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Mas, tudo na vida passa, Antes que a grande desgraça Deste povo que padece Se istenda, cresça e redrobe, O Brasi de Baxo sobe E o Brasi de Cima desce. Brasi de Baxo subindo, Vai havê transformação Para os que veve sintindo Abondono e sujeição. Se acaba a dura sentença E a liberdade de imprensa Vai sê legá e comum, Em vez deste grande apuro, Todos vão tê no futuro Um Brasi de cada um. Brasi de paz e prazê, De riqueza todo cheio, Mas, que o dono do podê Respeite o dereito aleio. Um grande e rico país Munto ditoso e feliz, Um Brasi dos brasilêro, Um Brasi de cada quá, Um Brasi nacioná Sem monopolo istrangêro. (Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva). Cante lá que eu canto cá. 6.ª Ed. Crato: Vozes/Fundação Pe. Ibiapina/Instituto Cultural do Cariri. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1986.) O Discípulo de Emaús A harmonia da sociedade somente poderá ser atingida mediante a execução de um código espiritual e moral que atenda, não só ao bem coletivo, como ao bem de cada um. A conciliação da liberdade com a autoridade é, no plano político, um dos mais importantes problemas. A extensão das possibilidades de melhoria a todos os membros da sociedade, sem distinção de raças, credos religiosos, opiniões políticas, é um dos imperativos da justiça social, bem como a apropriação pelo Estado dos instrumentos de trabalho coletivo. (Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.) 5. (Unesp) Como Patativa imita o linguajar do povo, seu discurso poemático incorpora regras gramaticais desse linguajar, que não são as mesmas da norma culta. Estabeleça a diferença entre a concordância verbal utilizada pelo poeta nos versos Onde os carro põe o lixo, / Como se eles fosse bicho e a que se observa na norma culta. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. D 2. B 3. D 4. C 5. A 6. E 7. B 8. D 9. C 10. B E.O. Fixação 1. C 2. C 3. C 4. C 5. C 6. E 7. A 8. A 9. A 10. E E.O. Complementar 1. D 2. D 3. C 4. E 5. E E.O. Dissertativo 1. a) A primeira visão relaciona-se aos aspectos simbólicos e culturais capazes de unir emocionalmente uma comunidade. A outra diz respeito ao fato de que os membros de uma sociedade passam a se organizar a partir de questões específicas, revelando a diversidade de valores sociais. b) i. Ela concorda com o sujeito “diversas formas de socialidade”, cujo núcleo (formas) está no plural. Isto ocorre porque o verbo “tornar-se” é classificado como transitivo direto, o qual, quando empregado na voz passiva sintética, deve concordar com o sujeito. ii. É possível que a relação identificatória entre estado-nação e sociedade tenha perdido a obviedade e naturalidade, quando, no contexto da globalização, tornaram-se manifestas diversas formas de socialidade completamente desvinculadas do estado-nação. 2. a) Segundo o texto, os componentes utilizados para a interpretação do mundo são: a imaginação decorrente de estímulos oriundos da própria realidade e a interpretação dessa realidade. b) Os desvios estão indicados em negrito. Coisas ausentes não interferem no comportamento dos animais, pois eles só temem o que lhes desperta os sentidos. 3. a) i. O referente do pronome se é loucura e o do pronome seu, razão. ii. Pois, porque, já que, visto que, uma vez que. b) O verbo está concordando com características próprias.


23VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 4. a) Em i, a palavra que é um pronome relativo – introduz a oração adjetiva e substitui “loucura divina” nessa oração. Em ii, a palavra que é uma conjunção integrante - serve como elo sintático, ligando as orações. b) O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, efetuaram-se críticas, condenações e massacres a qualquer coisa que fosse considerada irracional. 5. a) O uso da primeira pessoa no termo verbal “sabemos” indica que o pronome indefinido “todos” faz parte de uma locução pronominal indefinida em que o pronome “nós” está subentendido (todos nós), formando uma silepse de pessoa. b) A preferência por esse tipo de concordância permite perceber a inclusão do autor na ideia que apresenta, o que não aconteceria se usasse a forma “todos sabem”, na medida em que o verbo na terceira pessoa do plural conferiria noção vaga e indeterminada a quem compartilha dessa opinião. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. A 3. D 4. B 5. A E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. a) Segundo Rubem Alves, a poesia resulta da intensificação da sensibilidade que estimula a percepção de tudo que nos rodeia, de maneira a conferir novos significados aos seres e objetos: “Os poetas ensinam a ver". b) Substituindo o termo sublinhado por “Naquela época” e empregando a primeira pessoa do plural, a frase poderia apresentar as seguintes configurações: Naquela época, tudo o que vimos nos causou espanto. Ou, naquela época, tudo o que víamos nos causava espanto. 2. A concordância verbal prevê que o verbo seja conjugado conforme o número e pessoa do sujeito. Na oração dada, o sujeito do verbo “acontecer” é “um duplo fenômeno de percepção”, cujo núcleo é o substantivo “fenômeno”; desse modo, sendo o sujeito correspondente à terceira pessoa do singular, o verbo deve concordar com ele. 3. a) A frase “Não posso me queixar” permite duas interpretações: o cidadão não reclama da situação porque está contente com o sistema ou, então, porque ele está sujeito a um regime totalitarista em que a censura o impede de manifestar a sua insatisfação. b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham do seu país, eles respondem sem hesitação: “Não podemos nos queixar”. 4. a) A imagem de um rosto feliz inserida numa impressão digital transmite a ideia da singularidade de pensamento e personalidade de cada morador de São Paulo o qual, provavelmente, expressará as características positivas da cidade ao ser inquirido sobre o assunto. b) Descubram quem são e o que pensam os moradores de São Paulo. 5. A variante popular privilegia a economia vocabular e, frequentemente, como no caso do verso citado, flexiona apenas o artigo e o pronome, por considerá-los suficientes para a compreensão da frase. As regras gramaticais obrigam à concordância do verbo com o seu sujeito (“põem” e “fossem”) ou deste com o seu predicativo (“bichos”), assim como os determinantes com o determinado (“onde os carros põem o lixo”).


24VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (EEAR 2019) Assinale a frase com erro de concordância verbal: a) Que me importavam as questões complexas e extensas? b) Nem a mentira nem o dinheiro o aproximaram de seu pai. c) Não faltará, para a festa de Ana, pessoas que gostem dela. d) Proibiu-se a venda direta e lojas de produtos importados na movimentada avenida. 2. (IFCE) De acordo com a norma culta padrão de concordância verbal, está correta a frase da opção a) Deve existir outras formas de se conquistar um grande amor. b) Aqui, precisam-se de vendedoras. c) Vende-se casas de veraneio em Fortaleza. d) Cada um de nós derramamos o café no vestido de Laura. e) Os Estados Unidos ainda são uma nação poderosa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O padeiro Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento − mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo. Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: – Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou por uma outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém... Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação do jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estavam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi uma lição daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”. E assoviava pelas escadas. (Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado) 3. (IFSP) Assinale a alternativa em que o verbo em destaque está empregado de acordo com a norma padrão. a) A modéstia e a alegria do padeiro surprendia o cronista. b) Fazia dias que os padeiros tinham iniciado “a greve do pão dormido”. c) Era altas horas da madrugada, quando o cronista saía da oficina levando um exemplar do jornal. d) Antigamente haviam padeiros que levavam o pão diretamente à casa dos fregueses. e) Para os profissionais que mantém o bom humor, o trabalho torna-se menos desgastante. 4. (PUC-Campinas 2018) Palavras do texto inspiraram as frases que seguem, que devem, entretanto, ser consideradas independentes dele. A frase que está em concordância com a norma-padrão da língua é: a) Deviam haver, naquele tempo, uns três ou quatro canais, restrito a uma programação de cinco ou seis horas por dia, que passaria, mais tarde a ocupar 24 horas. b) Tendo surgido o celular, o que não tardou foram as mudanças de hábitos, entre eles, bastante notável, a CONCORDÂNCIA VERBAL II COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 25, 26 e 27 LC AULAS 37 E 38


25VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias falta de discrição com que as pessoas conversam, em alta voz, em espaços públicos. c) Muitos jovens que não crêm que existiu um mundo sem TV, dificilmente acreditarão que os celulares podem um dia não existirem. d) Seja quais forem as formas de entretenimento que a TV propicia, todas, possivelmente sem excessão, têm audiência garantida, o que mantém a publicidade que paga os custos da programação. e) Se jovens se entreterem com filmes de qualidade, existe grandes possibilidades que venham a se interessar por outras formas de arte. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia. Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%. A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada. O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia. A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores. Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar. A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança. O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade. A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito. com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/ noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/. Acessado em 17 de março de 2017. 5. (Espcex (Aman) 2018) Assinale a alternativa em que o emprego do verbo "haver" está correto. a) Haverá nove dias que ela visitou os pais. b) Brigavam à toa, sem que houvessem motivos. c) Criaturas infalíveis nunca houve nem haverão. d) Não ligue, caso hajam desavenças entre vocês. e) Morávamos ali há quase cinco anos.


26VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 6. (IFSC) Assinale a única alternativa na qual está correta a concordância verbal, segundo a norma padrão da língua portuguesa. a) Aconteceu alguns fatos muito estranhos no ano passado. b) Nem faziam dois meses que ela se fora. c) A retirada das tropas levariam algum tempo ainda. d) Foi conseguido muitas doações para os desabrigados. e) Se houvesse interessados, ele venderia o barco. 7. (Insper) Na edição 2177, de 11/08/2010, a revista Veja publicou a reportagem Falar e escrever bem: rumo à vitória, com dicas para não “tropeçar” no idioma durante uma entrevista de emprego. Identifique a alternativa que apresenta uma explicação INADEQUADA para a correção feita. a) Houve algumas dificuldades: o verbo “haver”, no sentido de “existir” é impessoal e não admite flexão. b) O chefe bloqueou meu último pagamento: deve-se empregar um sinônimo, pois o verbo “reter” é defectivo. c) Seguem anexos dois trabalhos: é preciso estar atento à concordância verbal e nominal. d) Já faz cinco anos: quando indica tempo decorrido, o verbo “fazer” deve permanecer no singular. e) Se eu dispuser de uma boa equipe: o verbo “dispor” deve seguir a conjugação do verbo “pôr”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Eu acuso Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola) Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!). A coisa não fica apenas por aí. 16Pelo Brasil afora, ameaças constantes (...). O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: 8 ”Não 13reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois 9 ”temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. 14Aliás, 10”prova não prova nada”. Deixe o aluno 11”construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando... 7 E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” 12(Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.” (...) 15Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.


27VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar. Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. 5 A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Émile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca: EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa; (...) EU ACUSO os burocratas da educação (...) EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, (...), 6 cujo boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã; (...) EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição. Uma multidão de filhos tiranos, que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. 1 Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”. A 2 infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. (...) Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. 17Portanto, você pode ser o próximo.” Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada 3 ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e 4 invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade. (Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes – adaptado) Igor Pantuzza Wildmann, Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário. Fonte: Jornal Impacto. 8. (Epcar (Cpcar)) Assinale a alternativa em que a flexão de número proposta NÃO está de acordo com a norma padrão da língua. a) Uma multidão de filhos tiranos será despejada na vida como adultos eternamente infantilizados. b) Tudo isso e muito mais farão parte do devido processo legal. c) Qualquer um de nós podemos ser os próximos por quaisquer motivos. d) Milhares de casos de desrespeito parecia anunciarem fartamente a tragédia. 9. (Acafe) Assinale a frase correta quanto à concordância verbal. a) Como faziam anos que meu marido tinha morrido, contratei três empregados que era suficiente para cuidar da fazenda. b) Compraram-se alguns equipamentos necessários à adequação da nossa indústria às atuais exigências de mercado. c) Talvez possam haver soluções melhores do que estas, mas nenhuma delas foram sugeridas até agora. d) Ainda não havia soado 11 horas da noite, quando bateu à porta: eram três meninos das redondezas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: VELHO MARINHEIRO Homenagem aos marinheiros de sempre... e para sempre. 28Sou marinheiro porque um dia, muito jovem, estendi meu braço diante da bandeira e jurei lhe dar minha vida. Naquele dia de sol a pino, com meu novo uniforme branco, 21senti-me homem de verdade, como se estivesse dando adeus aos tempos de garoto. 29Ao meu lado, as vozes de outros jovens soavam em uníssono com a minha, vibrantes, e terminamos com emoção, de peitos estufados e orgulhosos. 5 Ao final, minha mãe veio em minha direção, apressada em me dar um beijo. 20Acariciou-me o rosto e disse que eu estava lindo de uniforme. 6 O dia acabou com a família em festa; 11eu lembro- -me bem, fiquei de uniforme até de tarde... Sou marinheiro, porque aprendi, naquela Escola, o significado nobre de companheirismo. 7 Juntos no sofrimento e na alegria, um safando o outro, leais e amigos. Aprendi o que é civismo, respeito e disciplina, no princípio, exigidos a cada dia; depois, como parte do meu ser e, assim, para sempre. 23A cada passo havia um novo esforço esperando e, depois dele, um pequeno sucesso. 26Minha vida, agora que olho para trás, foi toda de pequenos sucessos. A soma deles foi a minha carreira. 19No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era novamente aluno. Todos sabiam das coisas mais do que eu havia aprendido. Só que agora me davam tarefas, incumbências, e esperavam que eu as cumprisse bem. 2 Pouco a pouco, passei a ser parte da equipe, a ser chamado para ajudar, a ser necessário. 8 Um dia vi-me ensinando aos novatos 12e dei-me conta de que me tor-


28VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias nara marinheiro, de fato e de direito, um profissional! 32O navio passou a ser minha segunda casa, onde eu permanecia mais tempo, às vezes, do que na primeira. Conhecia todos, alguns mais até do que meus parentes. Sabia de suas manhas, cacoetes, preocupações e de seus sonhos. Sem dar conta, meu mundo acabava no costado do navio. 9 A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo navio, 14é uma das coisas mais belas, que só há entre nós, em mais nenhum outro lugar. 24Por isso sou marinheiro, porque sei o que é espírito de navio. Bons tempos aqueles das viagens, dávamos um duro danado no mar, em serviço, postos de combate, adestramento de guerra, dia e noite. 30O interessante é que em toda nossa vida, 15quando buscamos as boas recordações, elas vêm desse tempo, das viagens e dos navios. 16Até 13as durezas por que passamos são saborosas 1 ao lembrar, talvez porque as vencemos e fomos adiante. É aquela história dos pequenos sucessos. A volta ao porto era um acontecimento gostoso, sempre figurando a mulher. Primeiro a mãe, depois a namorada, a noiva, a esposa. Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de carinho. A comida preferida, o abraço apertado, o beijo quente... e o filho que, na ausência, foi ensinado a dizer papai. 31No início, eu voltava com muitos retratos, principalmente quando vinha do estrangeiro, depois, com o tempo, eram poucos, até que deixei de levar a máquina. 10Engraçado, 22vocês já perceberam que marinheiro velho dificilmente baixa a terra com máquina fotográfica? Foi assim comigo. 34Hoje os navios são outros, os marinheiros são outros - sinto-os mais preparados do que eu era - mas a vida no mar, as viagens, os portos, a volta, estou certo de que são iguais. Sou marinheiro, por isso sei como é. Fico agora em casa, querendo saber das coisas da Marinha. E a cada pedaço que ouço de um amigo, que leio, que vejo, me dá um orgulho que às vezes chega a entalar na garganta. 4 Há pouco tempo, voltei a entrar em um navio. Que coisa linda! 35Sofisticado, limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que só pode ser muito competente para mantê-lo pronto. 33Do que me mostraram eu não sabia muito. Basta dizer que o último navio em que servi já deu baixa. 17Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me para a bandeira, inclinei a cabeça... e, minha garganta entalou outra vez. Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que significa o bem de cada um, protegido à custa do desmerecimento da instituição; mas o puro, que significa o bem da instituição, protegido pelo merecimento de cada um. 27Sou marinheiro e, portanto, sou corporativista. Muitas vezes 25a lembrança me retorna aos dias da ativa e morro de saudades. 18Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir aquele uniforme novinho — até um pouco grande, ainda recordo — Jurar Bandeira, ser beijado pela minha falecida mãe... 3 Sei que, quando minha hora chegar, no último instante, verei, em velocidade desconhecida, o navio com meus amigos, minha mulher, meus filhos, singrando para sempre, indo aonde o mar encontra o céu... e, se São Pedro estiver no portaló, direi: – Sou marinheiro, estou embarcando. Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e produção de texto. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8) Glossário - Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem junto à balaustrada, por onde as pessoas transitam para fora ou para dentro, e por onde se pode movimentar carga leve. 10. (Esc. Naval) Que opção obedece, plenamente, à modalidade padrão da língua portuguesa? a) Já percebeu-se, desde o período de formação marinheira, que eram ingentes as dificuldades enfrentadas no mar pelos jovens nautas. b) Por que infringiram regras internacionais de navegação, alguns navios estrangeiros pagarão multas extraordinárias e serão impedidos de sair do porto. c) Pode existir conceitos de corporativismo, os quais privilegiam ao bem de cada um e podem ser responsáveis pela derrocada da instituição militar. d) Mal se apresentaram à nova comissão, formada por oficiais, os jovens marinheiros passaram por um árduo e acurado treinamento. e) Houveram velhos marinheiros que preferiam permanecer em seus navios, mesmo durante longo tempo, a serem afastados do mar. E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Filosofar para preservar O modelo consumista de produção da atualidade é ecocida em sua natureza e antiecológico em sua finalidade Alfeu Trancoso * Filosofar é fazer pensar, refletir sobre como gerenciar melhor nossas escolhas cotidianas. Essa arte do bem pensar deve orientar nossas emoções e condecorar nossas conquistas. Pensar para não sofrer, eis um dos lemas centrais dessa atividade interrogante que tem por finalidade nos fazer encontrar a sabedoria do feliz. Por ser uma arte, todos a desejam, mas apenas uns poucos a atingem. E esses são os sábios, aqueles que conseguem monitorar com destreza as artimanhas do viver, fugindo das seduções do efêmero e dos negativismos atuais. Sabemos que muita gente não gosta de pensar, mas podemos aprender a gostar dessa atividade, já que todo amor é um aprendizado, fruto de um persistente esforço. Não existe gratuidade na vida. Toda pessoa doadora sabe disso. Ela dá porque recebe, ama porque é amada. Há outro desafio fundamental para a vida que o ser humano teima em não assumir em sua amplitude: as implicações ecológicas da nossa relação com o planeta. Conseguimos avanços significativos na esfera da políti-


29VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ca e da educação, em geral, mas na área dos sistemas econômicos pouca coisa foi conquistada. O sistema global de produção continua agindo como se os objetivos a alcançar fossem os mesmos de 200 anos atrás. O frenesi do crescimento a qualquer custo atinge todos os recantos da Terra. A roda acelerada desde o século XIX não pode parar. Para haver riqueza, é preciso produzir, consumir, obter lucro, criar mais trabalho, produzir e repetir tudo de novo numa ciranda sem fim. Acreditam que, quanto mais consumirmos, mais trabalho criamos,mais o país pode se desenvolver. O modelo consumista de produção da atualidade é ‘ecocida’ em sua natureza e antiecológico em sua finalidade. O planeta não mais suporta tamanha pressão sobre os seus já limitados recursos. Os ecologistas lançam pelos quatro cantos do mundo seus gritos de alarme. Mas os donos do poder industrial tapam os ouvidos a essas lamentações. É impossível pensarmos em crescimento e sustentabilidade num sistema em que a obsolescência é planejada e o desperdício é o motor da reposição. Quase todos agem como se os recursos fossem ilimitados. É lógico que todos nós precisamos consumir, mas consumo para suprir nossas necessidades e não para satisfazer o poço sem fundo dos nossos desejos. Todo o sistema global de produção atual aposta na ideia de que o supérfluo é mais importante do que o necessário. Concluindo, podemos afirmar que a reflexão filosófica nos ajuda a encontrar uma luz no meio do túnel antes que o dique se rompa e a inundação esmague todos. Filosofar é apontar expectativas e, nesse aspecto, todas as pessoas de bom senso devem, com urgência, utilizar a reflexão para propor novos caminhos ou uma saída para o impasse civilizatório em que nos encontramos. Urge lutarmos por uma sociedade mais verde, mais interativa com a natureza. Devemos saber que a luta ecológica não é somente uma luta para a preservação da espécie humana, mas de todas as espécies do planeta, já que somos fios da mesma rede interativa que forma o tecido da vida na Terra. (*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas Disponível em: <http://www.revistaecologico. com.br>. Acesso em: 10 set. 2013. 1. (CFTMG) Se pluralizarmos o termo grifado, o verbo também deverá ir para o plural em: a) Não existe gratuidade na vida. b) Para haver riqueza, é preciso produzir, consumir, obter lucro, criar mais trabalho, (...) c) Há outro desafio fundamental para a vida que o ser humano teima em não assumir em sua amplitude: (...) d) Concluindo, podemos afirmar que a reflexão filosófica nos ajuda a encontrar uma luz no meio do túnel (...) 2. (Espcex (Aman)) Marque a única alternativa em que o emprego do verbo haver está correto. a) Todas as gotas de água havia evaporado. b) Elas se haverão comigo, se mandarem meu primo sair. c) Não houveram quaisquer mudanças no regulamento. d) Amanhã, vão haver aulas de informática durante todo o período de aula. e) Houveram casos significativos de contaminação no hospital da cidade. 3. (IFSP) Assinale a alternativa correta de acordo com a norma padrão: a) Fazem quinze dias que os camponeses não colhem nada. b) Era esperada, na fazenda, vinte toneladas de grãos. c) Houveram, no sítio, fortes chuvas que destruíram a plantação. d) É necessário que todos, inclusive o agricultor, seja favorável à preservação. e) Haviam feito os lavradores o plantio adequado das sementes. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A falácia do mundo justo e a culpabilização das vítimas Por Ana Carolina Prado “É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as mulheres também ficam andando na rua de saia curta e em hora errada!”. “O hacker que roubou as fotos dessas celebridades nuas está errado, mas ninguém mandou tirar as fotos!”. “Se você trabalhar duro vai ser bem-sucedido, não importa quem você seja. Quem morreu pobre é porque não se esforçou o bastante.” Você sabe o que essas afirmações têm em comum? Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas nosso cérebro não nos engana só em relação a como vemos a nós mesmos: temos também a tendência de nos iludir em relação aos outros e à vida em geral. E as frases acima exemplificam uma maneira como isso pode acontecer: por meio da falácia do mundo justo. Por exemplo, embora os estupros raramente tenham qualquer coisa a ver com o comportamento ou vestimenta da vítima e sejam normalmente cometidos por um conhecido e não por um estranho numa rua deserta, a maioria das campanhas de conscientização são voltadas para as mulheres, não para os homens — e trazem a absurda mensagem de “não faça algo que poderia levá-la a ser violentada”. Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na Universidade Linkoping, na Suécia, dos adolescentes culparam a vítima por ser “um alvo fácil”. Para os pesquisadores, esses julgamentos estão relacionados à noção — amplamente difundida na ficção — de que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a quem merece. 1 A tendência a acreditar que o mundo é assim é chamada, na psicologia, de falácia do mundo justo. “Não importa quão liberal ou conservador você seja, alguma noção dela entra na sua reação emocional quando ouve sobre o sofrimento dos outros”, diz o jornalista David McRaney no livro “Você não é tão esper-


30VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias to quanto pensa”. 4 Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditem conscientemente em carma, no fundo ainda acreditam em alguma versão disso, adaptando o conceito para a sua própria cultura. E dá para entender por que somos levados a pensar assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é meio assustador e queremos nos sentir seguros e no controle. 3 O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabundas [...], que mulher de roupa curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um desperdício de dinheiro e uma muleta para preguiçosos. Todas essas crenças são falaciosas porque partem do princípio de que o sistema em que vivemos é justo e cada um tem exatamente o que merece. 2 [...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros outros fatores que influenciam quão bem-sucedida a pessoa vai ser, como o local onde ela nasceu, a situação socioeconômica da sua família, os estímulos e situações pelas quais passou ao longo da vida e o acaso. 5 Programas sociais e ações afirmativas não rompem o equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem crer — pelo contrário, a ideia é justamente minimizar os efeitos da injustiça social. 6 Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona de uma empresa multimilionária, mas o esforço que vai ter de fazer para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido em uma família rica que sempre teve acesso à melhor educação e a bons contatos. “Se olhar os excluídos e se questionar por que eles não conseguem sair da pobreza e ter um bom emprego como você, está cometendo a falácia do mundo justo. Está ignorando as bênçãos não merecidas da sua posição”, diz McRaney. Em casos de abusos contra outras pessoas, como bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca são justificados — e aí a falácia do mundo justo se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O que vem depois do “mas” é quase sempre fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma distorcida só para ele parecer menos injusto. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>. Acesso em: 02 set. 2014 (Adaptado) 4. (CFTMG) “Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos.” Os verbos “haver” e “ter”, em destaque, foram empregados, respectivamente, com o sentido de a) existência/posse. b) posse/existência. c) tempo decorrido/posse. d) tempo decorrido/existência. 5. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa cujo período está de acordo com a norma culta da Língua. a) Precisa-se vendedores. b) Cercou-se as cidades. c) Corrigiu-se o decreto. d) Dominou-se muitos. e) Aclamaram-se a rainha. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Adiante seguiu a Justiça Maria Berenice Dias Durante séculos, ninguém 1 titubeava em responder: família, só tem uma – a 2 constituída pelos sagrados laços do matrimônio. Aos noivos era imposta a obrigação de se multiplicarem até a morte, mesmo na tristeza, na pobreza e na doença. Tanto que se falava em débito conjugal. Esse modelito se manteve, ao menos na 3 aparência, 4 _____ expensas da integridade física e psíquica das mulheres, que se mantinham dentro de casamentos 5 esfacelados, pois assim exigia a sociedade. Tanto que o casamento era indissolúvel. As pessoas até podiam se desquitar6 , mas não podiam se casar de novo. Caso encontrassem um par, 7 tornavam-se 8 concubinos e alvos de punições. As mudanças foram muitas: vagarosas, mas significativas. As causas9 , incontáveis. No entanto, o resultado foi um 10só. O conceito de família mudou, se esgarçou. O casamento perdeu a sacralidade e permanecer dentro dele deixou de ser uma imposição social e uma obrigação legal. Veio o 11divórcio. Antes, porém, o 12purgatório da separação, que exigia que se identificassem causas, 13punindo-se os culpados. A liberdade total de casar e descasar chegou somente no ano de 2006. A lei regulamentava exclusivamente o casamento. Punia com o silêncio toda e qualquer modalidade de estruturas familiares que se afastasse do modelo “oficial”. E foi assumindo a responsabilidade de julgar que os 14juízes começaram a alargar o conceito de família. As mudanças chegaram 15_____ Constituição Federal, que enlaçou no conceito de família, outorgando-lhes especial proteção, outras estruturas de convívio. Além do casamento, trouxe, de forma exemplificativa, a união estável entre um homem e uma mulher e a chamada família parental: um dos pais e seus filhos. Adiante ainda seguiu a Justiça. Reconheceu que o rol constitucional não é exaustivo, e continuou a reconhecer como família outras estruturas familiares. Assim as famílias anaparentais, constituídas somente pelos filhos, sem a presença dos pais; as famílias parentais, decorrentes do convívio de pessoas com vínculo de parentesco; bem como as famílias homoafetivas, que são as formadas por pessoas do mesmo sexo. O reconhecimento da homoafetividade como união estável foi levado 16_____ efeito pelo Supremo Tribunal Federal no ano de 2011, em decisão unânime e histórica. Agora esta é a realidade: 17homossexuais casam18, têm filhos19, ou seja20, podem constituir família.


31VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Ativismo judicial? Não, interpretação da Carta Constitucional segundo um punhado de princípios fundamentais. É a Justiça cumprindo o seu papel de fazer justiça, mesmo diante da lacuna legal. Da inércia, passou o Legislativo21, dominado por autointitulados profetas religiosos22, a reagir. Não foi outro o intuito do Estatuto da Família, que acaba de ser aprovado pela comissão especial na Câmara dos Deputados (PL 6.583/2013). 23Tentar limitar o conceito de família à união entre um homem e uma mulher, além de 24afrontar todos os princípios fundantes do Estado, impõe um retrocesso social que irá retirar direitos de todos aqueles que não se encaixam neste conceito limitante e limitado. Mas 25_____ mais. Proceder ao cadastramento das entidades familiares e criar Conselhos da Família é das formas mais perversas de excluir direito à saúde, à assistência psicossocial, à segurança pública, que são asseguradas somente às entidades familiares reconhecidas como tal. Limitar acesso à Defensoria Pública e à tramitação prioritária dos processos à entidade familiar definida na lei, às claras tem caráter punitivo. O conceito de família mudou. E onde procurar a sua definição atual? Talvez na frase piegas de Saint-Exupéry: na responsabilidade decorrente do afeto. (Fonte: Zero Hora, Caderno PrOA, 27-09-2015 – Adaptação) 6. (Imed) Caso na referência 17, o vocábulo homossexuais fosse passado para o singular, quantas outras alterações deveriam ser feitas a fim de manter a concordância da frase? a) Duas. b) Três. c) Quatro. d) Cinco. e) Seis. 7. (IFSP) Concordância é o mecanismo pelo qual as palavras alteram suas terminações para se adequarem harmonicamente na frase. Considerando o conceito de concordância e a norma padrão da Língua Portuguesa, associe as colunas indicando a alternativa que ordena corretamente as frases e a avaliação dos eventos de concordância: I. Nós nos conhecíamos haviam anos. II. Nós nos conhecíamos havia anos. III. É proibido a entrada. IV. É proibida a entrada. ( ) a concordância verbal está correta. ( ) há um erro de concordância verbal. ( ) há um erro de concordância nominal. ( ) a concordância nominal está correta. a) II, I, III, IV. b) I, II, III, IV. c) II, III, I, IV. d) IV, III, II, I. e) III, IV, I, II. 8. (ESPM) Em uma das opções abaixo, o verbo HAVER é impessoal e, por isso, não deveria estar no plural. Assinale-a: a) Traficantes da Favela do Alemão haviam ordenado o fechamento do comércio local, como represália à morte de um deles. b) Por haverem patrimônio ilegal, muitos políticos foram indiciados na investigação da Operação Lava Jato. c) Até aqueles que estiveram envolvidos em tráfico de influência se haverão com a Polícia Federal. d) Em início de temporada, times grandes da Capital não se houveram bem nos jogos da última rodada. e) Em São Paulo e no Rio, houveram casos de policiais espancados por jovens mascarados nos protestos de rua. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TRABALHO ESCRAVO É AINDA UMA REALIDADE NO BRASIL Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o mantém submisso a uma situação de exploração. O trabalho escravo ainda é uma violação de direitos humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que fez com que se tornasse uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea em seu território. Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana. Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O trabalho escravo não é somente uma violação trabalhista, tampouco se trata daquela escravidão dos períodos colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos humanos não prende mais o indivíduo a correntes, mas compreende outros mecanismos, que acometem a dignidade e a liberdade do trabalhador e o mantêm submisso a uma situação extrema de exploração. Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficiente para configurar uma situação de trabalho escravo: TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica. JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar. SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece sempre devendo ao empregador. CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do traba-


32VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias lho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é submetido, atentando contra a sua dignidade. Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores condições de vida e de sustento para as suas famílias. Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de aliciadores ou migram forçadamente por uma série de motivos, que podem incluir a falta de opção econômica, guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos – como a Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além do Haiti e do Oriente Médio. Essas pessoas podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho. Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação também é verificada em centros urbanos, principalmente na construção civil e na confecção têxtil. No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens. Em geral, as atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens e jovens. Os dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre os trabalhadores libertados, 72,1% são analfabetos ou não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental. Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho escravo consegue fugir da situação de exploração, colocando a sua vida em risco. Quando tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos governamentais ou organizações da sociedade civil para denunciar a violação que sofreu. Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o combate desse crime, especialmente na fiscalização de propriedades e na repressão por meio da punição administrativa e econômica de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava. Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retornar à sua cidade de origem, onde as condições que o levaram a migrar permanecem as mesmas. Diante dessa situação, o indivíduo pode novamente ser aliciado para outro trabalho em que será explorado, perpetuando uma dinâmica que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”. Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são necessárias ações que incidam na vida do trabalhador para além do âmbito da repressão do crime. Por isso, a erradicação do problema passa também pela adoção de políticas públicas de assistência à vítima e prevenção para reverter a situação de pobreza e de vulnerabilidade de comunidades. Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em: <http://www. cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/trabalho-escravoe-ainda-uma-realidade-no-brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017. 9. (IFPE) No que diz respeito à sintaxe de concordância e à de regência, assinale a opção CORRETA. a) Em “Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são necessárias ações que incidam na vida do trabalhador [...]” (9º parágrafo), o verbo sublinhado está corretamente flexionado em concordância ao sujeito posposto. b) Em “[…] mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão[…].” (1º parágrafo), a locução verbal grifada foi pluralizada por concordar o termo “trabalhadores”, mas seria correto flexioná-la no singular em concordância com a expressão de quantidade “mais de”. c) Em “No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens” (6º parágrafo), o verbo sublinhado foi pluralizado para concordar com o substantivo “pessoas”, mas estaria correto flexioná-lo no singular em concordância com a porcentagem. d) Em “Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho escravo consegue fugir da situação de exploração [...].” (7º parágrafo), a regência do termo grifado também estaria correta se exercida pela preposição “com”. e) Em “No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados [...]” (4º parágrafo), houve incorreção no uso da preposição. A fim de respeitar a regência verbal, nesse contexto, deveria ser realizada pela preposição “a”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: POR QUE TODO MUNDO NÃO FALA A MESMA LÍNGUA? Porque as línguas foram surgindo nas várias regiões do mundo de forma independente. Algumas têm a mesma origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português. Elas vieram de uma grande língua comum, chamada proto-indo-europeu, que há milhares de anos era falada na Ásia. Esse idioma deu origem a quase todas as línguas ocidentais e algumas orientais. “Supõe-se que o indo-europeu tenha sido uma língua só, que foi se diferenciando com o tempo”, explica o professor de linguística Paulo Chagas de Souza, da Universidade de São Paulo. É que as línguas são vivas – elas se transformam com o uso. Mesmo as que vieram de uma raiz comum foram sendo modificadas pouco a pouco pela prática de cada grupo falante, que seleciona os termos adequados ao seu ambiente e à sua cultura. Os esquimós, por exemplo, criaram palavras capazes de descrever 40 tons de branco. Esses termos não fazem o menor sentido para um povo que mora no deserto, concorda? O Império Romano teve uma forte função na difusão e na construção de muitas das línguas que são faladas hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim, uma língua derivada do proto-indo-europeu que floresceu na região do Lácio. À medida que o império avançava, conquistando novos territórios, esse idioma foi sendo imposto aos povos dominados, mas não sem sofrer influência das línguas locais, com mudanças de pronúncia e enxertos de palavras. Com o enfraquecimento do domínio dos césares, essas diferenças foram se intensificando e construindo dialetos,


33VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias que se transformaram em idiomas próprios. Foi assim que surgiu o português, o italiano e o francês, por exemplo. Hoje, são faladas 7.099 línguas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, um livro que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a gente não ouve a maioria delas: mais de 90% dessas línguas estão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra. O restante da população mundial usa menos de 400 idiomas. OLIVEIRA, Fábio. Por que todo mundo não fala a mesma língua? Disponível em:http://super.abril.com.br/sociedade/por-que-todomundo-não-fala-a-mesma-lingua/amp/>. Acesso em: 04 maio 2019. 10. (IFPE) As afirmativas a seguir apresentam reflexões sobre a sintaxe de concordância da língua portuguesa. Analise-as e marque a única que faz uma avaliação CORRETA sobre a sintaxe de concordância do texto. a) Em “Mas a gente não ouve a maioria delas” (7º parágrafo), o verbo foi registrado no singular para concordar com a expressão “a gente”, continuaria, portanto, conjugado na terceira pessoa do singular se o sujeito da frase fosse o pronome “nós”. b) Em “Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim” (4º parágrafo), o sujeito do verbo “falar” é indeterminado e o “-se” é índice de indeterminação, por isso o verbo foi corretamente conjugado na terceira pessoa do singular. c) Em “esse idioma foi sendo imposto aos povos dominados” (5º parágrafo), a locução verbal também poderia estar no plural para concordar com o referente “povos dominados”. d) Em “Foi assim que surgiu o português, o italiano e o francês, por exemplo” (6º parágrafo), houve um deslize na concordância, pois o sujeito da oração é composto (“o português, o italiano e o francês”), e o verbo, deveria, portanto, estar no plural para estabelecer concordância. e) Em “há milhares de anos era falada na Ásia” (1º parágrafo), o verbo grifado está conjugado de forma adequada, pois o verbo “haver” indicando tempo passado é impessoal, não devendo ser pluralizado, portanto. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A doença do amor Luiz Felipe Pondé Existe de fato amor romântico? Esta é uma pergunta que ouço quando, em sala de aula, estamos a discutir questões como literatura romântica dos séculos 18 e 19. 1 Quando o público é composto de pessoas mais maduras, a tendência é um certo ceticismo, muitas vezes elegante, apesar de trazer nele a marca eterna do desencanto. Quando o público é mais 2 jovem há uma tendência maior de crença no amor romântico. 3 Alguns diriam que 4 essa crença é típica da idade jovem e inexperiente, assim como crianças creem em Papai Noel. Mas, em matéria de amor romântico, melhor ainda do que ir em busca da literatura dos séculos 18 e 19 é ir 5 à fonte primária 6 : a literatura europeia medieval, verdadeira fonte do amor romântico. A literatura conhecida como amor cortês. Especialistas no assunto, como o suíço Denis de Rougemont, suspeitavam que a literatura medieval criou uma verdadeira expectativa neurótica no Ocidente sobre o que seria o amor romântico em nossas vidas concretas, fazendo com que 7 sonhássemos com algo que, na verdade, nunca existiu como experiência universal. 8 Dos castelos da Provence francesa do século 12 ao cinema de Hollywood, teríamos perdido o verdadeiro sentido do amor medieval, que seria uma doença da qual devemos fugir como o diabo da cruz. Para além dos céticos e crentes, a literatura medieval de amor cortês é marcante pela sua descrição do que seria esse pathos amoroso. Uma doença, uma verdadeira desgraça para quem fosse atingindo em seu coração por tamanha tristeza. André Capelão, autor da época (Tratado do Amor Cortês, ed. Martins Fontes), sintetiza esse amor como sendo uma 9 "doença do pensamento". Doença essa que podemos descrever como uma forma de obsessão em saber o que ela está pensando, o que ela está fazendo nessa exata hora em que penso nela, com o que ela sonha à noite, como é seu corpo por baixo da roupa que a veste, o desejo incontrolável de ouvir sua voz, de sentir seu perfume. Mas a doença avança: sentir o gosto da sua boca, beijá-10la por horas a fio. 11Mas, quando em público, jamais deixe ninguém saber que se amam. Capelão chega a supor que desmaios femininos poderiam ser indicativos de que a infeliz estaria em presença de seu desgraçado objeto de amor inconfessável. A inveja dos outros pelos amantes, apesar de 12condenados a 13tristeza pela interdição sempre presente nas narrativas (casados com outras pessoas, detentores de responsabilidades públicas e privadas), se dá pelo fato que se trata de uma doença encantadora quando correspondida. Nada é mais forte do que o desejo de estar com alguém a quem você se sente ligado, mesmo que a milhares de quilômetros de distância, sem poder trocar um único olhar ou toque com ela. O erro dos modernos românticos teria sido a ilusão de que esses medievais imaginariam o amor romântico numa escala universal e capaz de 14conviver com um apartamento de dois quartos, pago em cem anos. Não, o amor cortês seria algo que deveríamos temer justamente por seu caráter intempestivo e avassalador. Sempre fora do casamento, teria contra ele a condenação da norma social ou religiosa que, aos poucos, 15levaria as suas vítimas à destruição, psicológica ou física. Para os medievais, um homem arrebatado por esse amor tomaria decisões que destruiriam seu patrimônio. A mulher perderia sua reputação. Ambos viriam, necessariamente, a morrer por conta desse amor, fosse ele em batalha, por obrigação de guerreiro, fosse fugindo do horror de trair seu melhor amigo com sua até então fiel esposa. Ela morreria eventualmente de tristeza, vergonha e solidão num convento, buscando a paz de


34VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias espírito há muito perdida. A distância física, social ou moral, proibindo a realização plena desse desejo incessante como tortura cotidiana. O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou alguns textos ao tema, entendia que a literatura medieval descrevia o embate entre virtude e desejo, sendo a desgraça dos apaixonados a maldição de ter que 16pôr medida nesse desejo 17(nesse amor fora do lugar), em meio à insuportável culpa de estar doente de amor. Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de 2016 na Folha de S. Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ luizfelipeponde/2016/05/1771569-a-doenca-doamor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016. 1. (IFSUL) A concordância verbo-nominal correta está presente em: a) Existe muitas obras medievais que retratam o angustiante sofrimento dos amantes apaixonados. b) Desde a Idade Média, fazem séculos que a tradição do amor cortês paira no imaginário ocidental. c) Nos encontros ocasionais, beijavam-se os amantes por horas a fio, desejando a eternidade daquele momento. d) Na literatura medieval, foi descrito os embates entre virtude e desejo que atormentavam os apaixonados. 2. (CPS) A concordância verbal está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa em a) O peão e o agricultor, por motivo de força maior, plantará o milho aqui. b) Falta setenta dias para começar a colheita do café nas encostas. c) O engenheiro ou arquiteto visitará o loteamento amanhã. d) São uma hora e quarenta e nove minutos precisamente. e) Vende-se terras extensas naquelas regiões longínquas. 3. (IFSP) De acordo com a norma padrão da Língua Portuguesa e a gramática normativa, com relação às concordâncias verbal e nominal, observe as placas apresentadas e, em seguida, assinale a alternativa correta. a) b) c) d) e) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões) a seguir. Laivos de memória “... e quando tiverem chegado, vitoriosamente, ao fim dessa primeira etapa, mais ainda se convencerão de que abraçaram uma carreira difícil, árdua, cheia de sacrifícios, mas útil, nobre e, sobretudo bela.” (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964) Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adolescente soube suportar com bravura. Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região serrana fluminense. A motivação que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele momento, suficientemente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara pequeno demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizontes que iam muito além das montanhas que circundam minha terra natal. Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas – e despedidas são sempre dolorosas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade. Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como integrantes de mais uma Turma desse tradicional estabelecimento de ensino da Marinha do Brasil. Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado espaço em nossos corações, era naquele momento substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos. E o sentimento de perda, experimentado por ocasião das despedidas, provara-se equivocado: às nossas caras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família Naval, composta pelos recém-chegados companheiros; e às respectivas cidades de nascimento, como a minha bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra


35VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Villegagnon em meio à sublime baía de Guanabara. Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval. Seis anos de aprendizagem científica, humanística e, sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de aulas, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida, atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais, que deixaram marcas indeléveis. Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimentos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmente distantes, em meio a saudosos devaneios. Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preliminares com a vida de bordo e as primeiras idas para o mar – a razão de ser da carreira naval. Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza! Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonhado embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa! Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, tivemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum- -navegação da Marinha Brasileira. Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o primeiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Tamandaré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67. Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apresentar para servir a bordo de um navio de nossa Esquadra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de instrução como Aspirante e Guarda-Marinha, quando as responsabilidades eram restritas a compromissos curriculares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável escritor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício. Coincide exatamente com a adolescência, primavera da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a despontar as responsabilidades, as agruras de novos cargos, o acúmulo de deveres novos”. E esses novos cargos e deveres novos, que foram se multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, deixariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integrantes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repassar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão intensamente vividos a bordo de inesquecíveis e saudosos navios... E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem aproveitados anos de embarque, de centenas de dias de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar, singrando as extensas massas líquidas que formam os grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que banham os recortados litorais, com passagens, visitas e arribadas em um sem-número de enseadas, baías, barras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis. Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova enseada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial do descobrimento”. (CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado) 4. (Esc. Naval) Assinale a opção em que a concordância do verbo ser justifica-se pela mesma regra observada em: “[...] Tudo são flores e ilusões [...]” (13º parágrafo) a) Dez anos velejando sempre será muito tempo de viagem. b) O que aconteceu de importante na viagem foram os desafios. c) O navio já atracou, o mais seriam especulações sem sentido. d) Eram quase vinte horas quando os tripulantes desembarcaram. e) Durante uma perigosa travessia, todo ele é olhos e ouvidos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Como prevenir a violência dos adolescentes “(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos infracionais graves contra a vida. Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o futuro do país e do mundo.


36VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A construção da paz e a prevenção da violência dependem de como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas ou desestruturadas (...)” “(...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...)” “(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência. A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 municípios do país. O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a contribuição dessa enorme rede de solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” “(...) A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação fundamental e de nível médio, que devem valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a prática da solidariedade humana. As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território nacional. (...)” “(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados e com tratamento multiprofissional, que urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã. (...)” Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.) 5. (Ifal) Tomando como base o mesmo fragmento a seguir, é correto afirmar que: “Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas...” (3º parágrafo). a) o verbo tratar em: “trata-se” poderia estar no plural, indiferentemente, uma vez que é um caso de concordância especial. b) o verbo tratar deveria estar no plural por apresentar um sujeito explícito. c) A 3ª pessoa do singular do verbo referente é que está correto, porque concorda com o sujeito: “uma ação intersetorial”. d) A 3ª pessoa do singular é que está correto, uma vez que o “se” que o acompanha é classificado como pronome apassivador. e) O verbo “tratar” não deve ir para o plural, porque o “se” indica a indeterminação do sujeito. E.O. Dissertativo 1. (FGV) Leia o texto. (...) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia – peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”. Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o


37VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. a) Identifique uma expressão do texto por meio da qual o narrador manifesta sua ironia. Justifique. b) Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Reescreva esse trecho, fazendo as modificações necessárias, de acordo com as seguintes instruções: - substitua “vós” por “vocês”; - mantenha os verbos no mesmo modo e tempo; - substitua as palavras sublinhadas por sinônimos adequados ao contexto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Texto 1 O conceito de Trabalho Decente Trabalho Decente, para a OIT (Organização Internacional do Trabalho), é um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que dependem do seu trabalho para viver. Trata-se, portanto, do trabalho que permite satisfazer às necessidades pessoais e familiares de alimentação, educação, moradia, saúde e segurança. É também o trabalho que garante proteção social nos impedimentos ao exercício do trabalho (desemprego, doença, acidentes, entre outros) e assegura renda ao chegar à época da aposentadoria (Conferencia Internacional del Trabajo, 1999). É um trabalho no qual as relações entre cada trabalhador ou trabalhadora e seus empregadores ou empregadoras estão devidamente regulamentadas por lei, especialmente no que se refere aos direitos fundamentais no trabalho, e autorreguladas através de acordos negociados em um processo de diálogo social em diversos níveis, o que implica o pleno exercício do direito da liberdade sindical, assim como o fortalecimento das diferentes instituições da administração do trabalho e das formas de representação e organização dos atores sociais (MARTINEZ, 2005). A noção de Trabalho Decente integra, portanto, as dimensões quantitativa e qualitativa do emprego. Ela propõe não só medidas de geração de postos de trabalho e de enfrentamento do desemprego, mas também de superação de formas de trabalho que se baseiam em atividades insalubres, perigosas, inseguras e/ou degradantes ou que geram renda insuficiente para que os indivíduos e suas famílias superem situações de pobreza. Tal conceito de trabalho afirma a necessidade de que o emprego esteja também associado à proteção social e à noção de direitos do trabalho, entre eles os de representação, associação, organização sindical e negociação coletiva. A noção de Trabalho Decente é uma tentativa de expressar, numa linguagem cotidiana, a integração de objetivos sociais e econômicos, reunindo as dimensões do emprego, dos direitos no trabalho, da segurança e da representação, em uma unidade com sentido e coerência interna quando considerada na sua totalidade. Qual é a diferença entre o conceito de Trabalho Decente e conceitos mais tradicionais, como o de trabalho de qualidade? Sua principal novidade é ser multidimensional, ou seja, acrescentar à dimensão econômica, representada pelo conceito de um emprego de qualidade, novas dimensões de caráter normativo, de segurança e de participação/representação (MARTINEZ, 2005). É importante assinalar que essa diferença conceitual determina diferentes políticas, ou melhor, uma diferente articulação de políticas em termos de emprego e mercado de trabalho e destas com as políticas econômicas e sociais. A integração e a coerência entre a política sociolaboral e a política econômica são essenciais para a geração de Trabalho Decente. Enquanto a política econômica cria condições para o crescimento e a geração de empregos, a política sociolaboral, integrada com a política econômica, cria as condições para que o emprego gerado incorpore as distintas dimensões do conceito de Trabalho Decente (LEVAGGI, 2006). Ao definir a promoção do Trabalho Decente como o aspecto central e integrador de toda a sua estratégia, a OIT reafirma o seu compromisso com o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras e não apenas com aqueles que têm um emprego regular, estável, protegido – no setor formal ou estruturado da economia. A promoção do Trabalho Decente (ou a redução dos déficits de Trabalho Decente) é um objetivo que deve ser perseguido também em relação ao conjunto das pessoas – homens, mulheres e jovens – que trabalha à margem do mercado de trabalho estruturado: assalariados não regulamentados, tradutores por conta própria, terceirizados ou subcontratados, trabalhadores a domicílio, etc. Todas as pessoas que trabalham têm direitos – assim como níveis mínimos de remuneração, proteção e condições de trabalho –, que devem ser respeitados. Essa noção, portanto, inclui o emprego assalariado, o trabalho autônomo ou por conta própria, o trabalho a domicílio, assim como a ampla gama de atividades realizadas na economia informal e na economia de cuidado (RODGERS, 2002). Existe uma forte relação entre o conceito de Trabalho Decente e a noção da dignidade humana. Com efeito, tal como discutido por Rodgers (2002), o trabalho é o âmbito para o qual confluem os objetivos econômicos e sociais das pessoas. O trabalho supõe produção e rendimentos. Mas significa, também, integração social, identidade e dignidade pessoal. O vocábulo decente expressa algo que é ao mesmo tempo suficiente e desejável. Um Trabalho Decente significa um trabalho no qual o seu rendimento e as condições em que este se exerce estão de acordo com as nossas expectativas e as da comunidade, mas não são exageradas, estão dentro das aspirações razoáveis de pessoas razoáveis. [...] Trata-se do trabalho exercido atualmente e de suas expectativas de futuro; das condições em que este se exer-


38VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ce; do equilíbrio entre a vida doméstica e a vida familiar; de um trabalho que permita manter os filhos na escola, evitando que eles sejam levados ao trabalho infantil. Trata-se da igualdade de gênero e raça/etnia, da igualdade de reconhecimento e da possibilidade de que as mulheres, os negros e outros grupos discriminados possam optar e assumir o controle sobre as suas próprias vidas. Trata-se das capacidades pessoais para competir no mercado, manter-se em dia com as novas tecnologias e preservar a saúde – física e mental. Trata-se de desenvolver as qualificações empresariais, de receber uma parte equitativa da riqueza que se ajuda a criar e de não ser objeto de discriminação. Trata-se de poder expressar-se e ser ouvido no lugar de trabalho e na comunidade. Adaptado de ABRAMO, Laís. Trabalho Decente, informalidade e precarização do trabalho. IN: DAL ROSSO, Sadi e FORTES, José Augusto Abreu Sá (org.). Condições de trabalho no limiar do século XXI. Brasília: Épocca, 2008. p. 40-41. TEXTO 2 Olhou as cédulas arrumadas na palma, os níqueis e as pratas, suspirou, mordeu os beiços. Nem lhe restava o direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocuparia a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e os meninos? Tinha nada! Espalhou a vista pelos quatro cantos. Além dos telhados, que lhe reduziam o horizonte, a campina se estendia, seca e dura. Lembrou-se da marcha penosa que fizera através dela, com a família, todos esmolambados e famintos. Haviam escapado, e isto lhe parecia um milagre. Nem sabia como tinham escapado. Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da Prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa. Um dia um homem faz besteira e se desgraça. Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso? Tinha obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação espantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de Inverno a Verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar látegos - aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias. Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava quase tão bem como as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, procuraria serviço noutra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que não tinha onde cair morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar? RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1986. p.95-97. 2. (PUC-RJ) a) Justifique a concordância de gênero empregada em “autorreguladas”, no 2º parágrafo do Texto 1. b) Transcreva do último parágrafo do Texto 2 o substantivo que revela a opressão exercida sobre Fabiano naquele contexto. c) O verbo haver apresenta comportamentos distintos nas frases a seguir. Explique por quê. i) Haviam escapado, e isto lhe parecia um milagre. (2º parágrafo do Texto 2) ii) Não havia paciência que suportasse tanta coisa. (3º parágrafo do Texto 2) 3. (FGV) Leia a charge. Na fala da personagem, a concordância verbal está em desacordo com a norma-padrão da língua portuguesa. a) Explique por que a concordância na frase está em desacordo com a norma-padrão, esclarecendo o que pode levar os falantes a adotá-la. b) Escreva duas versões da frase da charge: na primeira, substitua a expressão “a gente” por “Nosso clube é um dos que”; na segunda, substitua o verbo “ter” pela locução “deve haver” e passe para o plural a expressão “uma proposta irrecusável”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto para responder à(s) questão(ões). Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes que permitissem que o menino viesse passar as férias em casa. Estes porém, já de posse


39VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias dos segredos da consciência de Eugênio, receando que as seduções do mundo o arredassem do santo propósito em que ia tão bem encaminhado, opuseram-se formalmente, e responderam-lhe, fazendo ver que aquela interrupção na idade em que se achava o menino era extremamente perigosa, e podia ter péssimas consequências, desviando-o para sempre de sua natural vocação. Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmente depois que seu filho andava mofino e adoentado, não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir. (Bernardo Guimarães. O Seminarista, 1995) 4. (FGV) Analise a frase inicial do texto: “Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem visitar sua família.” a) Por que os padres não permitiam que Eugênio visitasse a família? De que argumentos se valeu a mãe dele para conseguir que o liberassem? b) Reescreva a frase, conforme as orientações: inicie-a com “Eugênio”; introduza entre o sujeito e o verbo a oração indicativa de tempo, substituindo o verbo “haver” por “fazer”. Realize os ajustes necessários. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Na Bélgica, presidenta destaca diversidade cultural brasileira Na abertura do Festival 1 Europalia, em Bruxelas, a presidenta Dilma Rousseff fez uma homenagem à diversidade cultural do Brasil, que estará presente em manifestações artísticas e culturais na capital da Bélgica. Segundo ela, são exposições desde a pré-colonização até a “vanguarda mais experimental em mais de 400 atividades envolvendo as mais variadas linguagens artísticas e manifestações regionais do país”. Para a presidenta Dilma, a cultura é a expressão maior da alma de uma sociedade e, no momento em que o mundo precisa reaprender a importância do diálogo, o Brasil e a América do Sul têm a oferecer a capacidade de conviver em paz nessa diversidade. “A diversidade cultural do Brasil integra nossas raízes históricas. 2 Somos um país mestiço, no qual migrantes de todas as regiões do mundo somam-se às três matrizes onde surgiram o povo brasileiro: a indígena, a europeia e a africana. Eis uma mistura que nos orgulha e define. 3 Os brasileiros orgulham-se muito de seu patrimônio cultural e de suas tradições populares, mas também ousam reinventá-los e reinterpretá-los. Mostraremos aqui, na Europalia, 4 um pouco dessa cultura viva em movimento permanente.” 5 A presidenta avaliou ainda que o Festival Europalia poderá contribuir para que a Europa supere “os percalços do momento”. Além disso, acrescentou, “é mais um passo no aprofundamento do conhecimento mútuo, fundamental para a construção do mundo mais democrático, aberto e plural que todos queremos”. (Disponível em blog.planalto.gov.br. Acesso: terça-feira, 4 de outubro de 2011.) 1 Europalia: Festival Internacional de Cultura da Europa, que homenageia, este ano, o Brasil. 5. (Cp2) No terceiro parágrafo do texto, observa-se o uso de uma concordância verbal que não obedece à linguagem formal. a) Transcreva o trecho em que ocorre esse uso. b) Reescreva o trecho transcrito no item anterior de forma que a concordância fique adequada a um contexto formal. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Pegamos os nossos 24.253 km de fronteiras e os esticamos em uma linha reta. Assim, fica possível entender o que acontece em cada canto desse Brasilzão: ______ invasões de terra, ______ de drogas e cenários de tirar o fôlego. (http://super.abril.com.br. Adaptado.) 1. (Unifesp) As lacunas do texto são preenchidas, correta e respectivamente, por: a) ocorre – tráfego. b) há – tráfico. c) existe – tráfego. d) se vê – tráfego. e) acontece – tráfico. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Poetas e tipógrafos Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão, domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.


40VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasileiros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no quintal. O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama- -o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas – 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui- -os aos subscritores (amigos que se comprometeram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros não querem nem saber. Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952), de GuimarãesRosa. E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor. João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu. (Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.) 2. (Unifesp) Na passagem – O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações –, se a expressão editor artesanal for para o plural, a sequência em destaque assume a seguinte redação, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa: a) compõe o texto, diagrama-no, produz as ilustrações. b) compõem o texto, diagrama-lo, produz as ilustrações. c) compõem o texto, diagramam-no, produzem as ilustrações. d) compõe o texto, diagramam-o, produzem as ilustrações. e) compõem o texto, diagramam ele, produz as ilustrações. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: _________ dois meses, a jornalista britânica Rowenna Davis, 25 anos, foi furtada. Só que não levaram sua carteira ou seu carro, mas sua identidade virtual. Um hacker invadiu e tomou conta de seu e-mail e – além de bisbilhotar suas mensagens e ter acesso a seus dados bancários – passou a escrever aos mais de 5 mil contatos de Rowenna dizendo que ela teria sido assaltada em Madri e pedindo ajuda em dinheiro. Quando ela escreveu para seu endereço de e-mail pedindo ao hacker ao menos sua lista de contatos profissionais de volta, Rowenna teve como resposta a cobrança de R$ 1,4 mil. Ela se negou a pagar, a polícia não fez nada. A jornalista só retomou o controle do e-mail porque um amigo conhecia um funcionário do provedor da conta, que desativou o processo de verificação de senha criado pelo invasor. (Galileu, dezembro de 2011. Adaptado.) 3. (Unifesp) A lacuna do início do texto deve ser corretamente preenchida com a) À. b) Há cerca de. c) Fazem. d) Acerca de. e) A. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: NEM MÉDICO COMPREENDE LETRA DE COLEGA "Nem mesmo os médicos conseguem, muitas vezes, entender o diagnóstico escrito pelos colegas durante o atendimento a pacientes. É isso que mostra uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo comparou prontuários médicos e comprovou que a letra ilegível impede que médicos da mesma especialidade cheguem a um diagnóstico igual sobre o quadro clínico do paciente. A pesquisa foi tese de mestrado do fisioterapeuta Maurício Merino Nunes, do Departamento de Informática em Saúde. Ele avaliou o grau de entendimento de prontuários feitos por médicos ortopedistas do grupo de joelho do Cete (Centro de Traumatologia do Esporte) da Unifesp. O prontuário deve ser compreendido por outros profissionais para que seja possível dar continuidade ao tratamento de um paciente. "Se o médico não tem a informação adequada, existe a possibilidade de não fazer o tratamento correto", afirmou Nunes, autor da tese. A legibilidade dos prontuários médicos é exigida no código de ética da profissão. A ilegibilidade da letra do médico pode acarretar uma advertência ao profissional. A necessidade de o prontuário ser compreensível faz parte do Código de Ética Médica e de uma resolução do Conselho Federal de Medicina." (Folha de S. Paulo, 09.07.2005. Adaptado.) 4. (Unifesp) A frase - "Se o médico não tem a informação adequada, existe a possibilidade de não fazer o tratamento correto..." Assinale a frase correta quanto à concordância. a) Existem possibilidades de o médico não fazer o tratamento adequado, caso não tenha informações adequadas. b) É possível que os médicos não façam o tratamento adequado, caso não tenha a informação adequada. c) Sem que hajam informações adequadas, o médico pode não fazer o tratamento correto. d) Como não têm as informações adequadas, existe a possibilidade de o médico não fazer o tratamento correto. e) Vislumbra-se possibilidades de os médicos não fazer o tratamento adequado, se não tiver as informações adequadas.


41VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: INSTRUÇÃO: As questões seguintes estão relacionadas ao seguinte anúncio de jornal: LOJA DE CALÇADOS FEMININO Vende-se 3 lojas bem montadas tradicionais, nos melhores Pontos da Cidade. Ótima Oportunidade! F: (__) xxx-xxxxxx (O Estado de S.Paulo, 15.08.2002) 5. (Unifesp) No corpo do anúncio, a expressão "Vende- -se 3 lojas bem montadas" a) apresenta problema de concordância verbal. Deveria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se" é índice de indeterminação do sujeito, e "lojas" é o sujeito paciente; b) não apresenta problema de concordância verbal porque "se" é índice de indeterminação do sujeito, e "lojas" é o objeto direto; c) apresenta problema de concordância verbal. Deveria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se" é partícula apassivadora, e "lojas" é o sujeito paciente; d) não apresenta problema de concordância verbal, porque "se" é partícula apassivadora, e "lojas" é o sujeito paciente; e) apresenta problema de concordância verbal. Deveria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se" é pronome reflexivo com função sintática de objeto indireto, e "lojas" é o objeto direto. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. E 3. B 4. B 5. A 6. E 7. B 8. C 9. B 10. D E.O. Fixação 1. A 2. B 3. E 4. C 5. C 6. B 7. A 8. E 9. A 10. E E.O. Complementar 1. C 2. C 3. C 4. B 5. E E.O. Dissertativo 1. a) Uma expressão irônica de Brás Cubas é “bom e fiel amigo”, uma vez que tal pessoa, responsável por um discurso à beira do caixão, na verdade era um herdeiro dele, tendo recebido vinte apólices do defunto. b) A reescrita do texto, segundo as instruções, é: “Vocês, que o conheceram, meus senhores, vocês podem dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irrecuperável de um dos mais belos temperamentos que têm honrado a humanidade”. A partir da substituição de “vós” por “vocês”, a concordância dos verbos com tal sujeito deve ser alterada para 3ª pessoa do singular: “conheceram” e “podem”; um sinônimo para “irreparável” é “irrecuperável”; um sinônimo para “caracteres” é “temperamentos”. 2. a) Ao retornarmos ao 2o parágrafo, vemos que “autorreguladas” concorda com o substantivo feminino “relações”. b) A palavra é “extorsão”. c) Em [I], vemos o verbo “haver” na acepção de “ter” (“tinham escapado”) e compondo uma locução verbal com o verbo “escapar”, por isso, ele é pessoal e flexiona-se para concordar com o sujeito. Já em [II], vemos o verbo “haver” impessoal e na acepção de “existir”. 3. a) A expressão “a gente” implica concordância no singular. O motivo de adotar “a gente temos” se dá por silepse de número: há concordância ideológica ao relacionar “a gente” com um grupo de pessoas. b) Nosso clube é um dos que têm uma proposta irrecusável. Deve haver aqui umas propostas irrecusáveis. 4. a) Os padres acreditavam que Eugênio, devido à sua idade, poderia desistir da vida eclesiástica caso visitasse a família, uma vez que seria exposto às tentações mundanas. Sua mãe, no entanto, valeu-se do estado de saúde e de ânimo do garoto para que os padres concordassem com uma visita aos familiares após quatro anos de reclusão. b) Eugênio, fazia já quatro anos, achava-se no seminário sem visitar sua família. A oração indicativa de tempo, intercalada entre sujeito e predicado, mantém o verbo “fazer” no singular por se tratar de verbo impessoal. 5. a) O trecho é “... onde surgiram o povo brasileiro”, pois o verbo está na terceira pessoa do plural “surgiram”, ao passo que o sujo está no singular “o povo brasileiro”, não havendo, assim, concordância. b) O correto seria “onde surgiu o povo brasileiro”, pois desta forma o verbo “surgiu” passa a ficar no singular, concordando com o sujeito “o povo brasileiro”. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. C 3. B 4. A 5. C


42VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1. (IFSUL 2019) Na frase: Mas, com o tempo, algumas coisas acabaram se invertendo. Se colocássemos a palavra sublinhada no singular, quantas outras sofreriam alteração? a) Uma. b) Duas. c) Três. d) Quatro. 2. (IFSC) Assinale a alternativa em que a palavra em destaque está empregada de forma CORRETA na frase considerando-se a norma padrão escrita. a) Frederico recebeu uma carta com as fotos anexa. b) Elas mesmas assumiram a culpa e pagaram o prejuízo. c) Os alunos mesmo disseram à professora que queriam ler mais um livro. d) Todos os formandos estavam quite com a mensalidade da formatura. e) O acidente foi grave. O motorista ficou com o braço e a perna quebradas. 3. (ESPM) Assinale a opção em que há uma transgressão às normas de Concordância (nominal ou verbal): a) Já passava do meio-dia e meia, quando muitas competições já tinham sido iniciadas. b) Valor de bens de candidatos à Prefeitura da Capital superam o declarado à Justiça Eleitoral. c) Segundo a defesa, é necessário existência de crime de responsabilidade. d) Fizeram críticas meio exageradas ao desempenho da política externa. e) Após confrontos, uso de “burquíni”, mistura de burca com biquíni, é proibido em 12 cidades francesas. 4. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do período abaixo. “Informaram aos candidatos que, ___________, seguiam a comunicação oficial, o resultado e a indicação do local do exame médico, e que estariam inteiramente à ________ disposição para verificação.” a) anexo – vossa b) anexos – sua c) anexo – sua d) anexas – vossa e) anexos – vossa TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quem ri por último ri Millôr Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e não via, diante da minha incompetência para com o sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter a situação. Em algum momento entre a oitava série e o primeiro colegial, todos os meus colegas haviam adotado roupas diferentes, gírias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu continuava igual – era como se houvesse faltado na aula em que os estilos foram distribuídos e estivesse condenado a viver para sempre numa espécie de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom. O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razoável meritocracia, havia perdido o sentido: os bons meninos não ganhavam uma coroa de louros – nem ao menos, vá lá, uma loura coroa –, era preciso acordar às 6h15 para estudar química orgânica e os adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida. Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres de calças bege e pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambições maiores do que um carro novo, um requeijão com menos colesterol, o nome na moldura de funcionário do mês e ingressos para o Holiday on Ice no fim de semana. Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o recorde jamaicano de consumo de maconha, mas, em vez de ter abertas as portas da percepção – ou o que quer que fizesse com que meus amigos se divertissem e passassem meia hora rachando o bico, sei lá, de um amendoim –, só via ainda mais escancaradas as portas da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu vi a luz - e a luz veio na forma de um livro; "Trinta anos de mim mesmo", do Millôr Fernandes. A primeira página que eu abri trazia um quadrado em branco, com a seguinte legenda: "Uma gaivota branca, CONCORDÂNCIA NOMINAL COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 25, 26 e 27 LC AULAS 39 E 40


43VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte branco. No céu, nuvens brancas esvoaçam e à direita aparecem duas árvores brancas com as flores brancas da primavera". Logo adiante estava "O abridor de latas", "Pela primeira vez no Brasil um conto inteiramente em câmera lenta" – narrando um piquenique de tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, esta quadra: "Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente/ Por que fazer o mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?". Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jornalístico do Millôr entre 1943 e 1973, compreendi que não estava sozinho em meu estranhamento: a vida era mesmo absurda, mas a resposta mais lógica para a falta de sentido não era o desespero, e sim o riso. Percebi, como se não bastasse, que se agregasse alguma graça aos meus resmungos poderia fazer daquele incômodo uma profissão. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma conta de luz de outra forma. Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, não ter podido apertar sua mão e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais precisava escutar, a única verdade que há debaixo do céu: se Deus não existe, então tudo é divertido. Antonio Prata. Folha de S. Paulo. 04/04/2012. 5. (Insper) Embora se utilize de um registro linguístico coloquial na passagem “se divertissem e passassem meia hora rachando o bico”, o cronista estabelece, no termo destacado, a concordância nominal de acordo com as regras gramaticais. Assinale a alternativa em que o uso da palavra “meia” ou ”meio” NÃO está de acordo com a norma culta da língua. a) É meio-dia e meia. b) Eu estou meia cansada. c) As frutas estão meio caras. d) Acolheu-me com palavras meio ríspidas. e) Não me venha com meias palavras. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Cadê o papel-carbono? 1 Outro dia tive saudade do papel carbono. E tive saudade também do mimeógrafo a álcool. E tive saudade da velha máquina de escrever. E tive saudade de quando, no dizer de 2 Rubem Braga, a geladeira era branca e o telefone era preto. Os mais jovens não sabem nem o que é papel carbono ou mimeógrafo a álcool. Mas tive saudade deles, ou melhor, de um tempo em que eu não dependia eletronicamente de outros para fazer as mínimas tarefas. Uma torneira, por exemplo, era algo simples. Eu sabia abrir uma torneira e fazê-la jorrar água. 3 Hoje tomar um banho é uma peripécia tecnológica. 4 Hoje até para tomar um elevador tenho que inserir um cartão eletrônico para ele se mover. Claro que tem o Google, essa enciclopédia no computador que facilita as pesquisas 5 (para quem não precisa ir fundo nos assuntos), mas muita coisa me intriga: por que cada aparelho de televisão de cada casa, de cada hotel tem um controle remoto diferente e 6 a gente não consegue usá-los sem pedir socorro a alguém? 7 Olha, tanta tecnologia!... Mas além de 8 não terem descoberto como curar uma simples gripe, 9 os elevadores dos hotéis ainda não chegaram a uma conclusão de como assinalar no mostrador que letra deve indicar a portaria. 10Será necessária uma medida provisória do presidente para uniformizar tal diversidade analfabética. 11Outro dia, li que houve uma reunião em Baku, lá no Azerbaijão, congregando cérebros notáveis para decifrarem nosso presente e nosso futuro. Pois Jean Baudrillard 12andou dizendo, com aquela facilidade que os franceses têm para fazer frases que parecem filosóficas, que o que caracteriza essa época que está vindo por aí é que o homem, leia-se corretamente homens e mulheres, ou seja, 13o ser humano, foi descartado pela máquina. 14(Isso a gente já sabe quando tenta ligar para uma firma qualquer e uma voz eletrônica fica mandando a gente discar isto e aquilo e volta tudo a zero e não obtemos a informação necessária.) 15Deste modo estão se cumprindo dois vaticínios. O primeiro era de um vate mesmo – 16Vinícius de Moraes, que naquele poema “Dia da Criação”, fazendo considerações irônicas sobre o dia de “sábado” e os desígnios divinos, diz: “Na verdade, o homem não era necessário”. É isto, já não somos necessários. E a outra frase metida nessa encrenca é aquela da Bíblia, que dizia que o “sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”. Isso foi antigamente. Pois achávamos que a máquina havia sido feita para o homem, mas Baudrillard, as companhias aéreas e as telefônicas mais os servidores de informática nos convenceram de que 17“o homem é que foi feito para a máquina”. 18Ao telefone só se fala com máquinas, e algumas empresas – esses servidores de informática – nem seus telefones disponibilizam. 19Estou, por exemplo, há quatro meses tentando falar com alguém no “hotmail” 20e lá não tem viv’alma, só fantasmas eletrônicos sem rosto e sem voz. 21Permita-me, 22eventual e concreto leitor, lhe fazer uma pergunta indiscreta. Quanto tempo diariamente você está gastando com e-mails? Quanto tempo para apagar o lixo e responder bobagens? Faça a conta, some. 23Drummond certa vez escreveu: “Ao telefone perdeste muito tempo de semear”. Ele é porque não conheceu a internet, que, tanto quanto o celular, usada desregradamente é a grande sorvedora de tempo da pós-modernidade. Por estas e por outras é que estou pensando seriamente em voltar às cartas, quem sabe ao pergaminho. E a primeira medida é reencontrar o papel carbono. – 24Cadê meu papel carbono? (SANT’ANNA, Affonso Romano de. Tempo de delicadeza. Porto Alegre: L&PM, 2009


44VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 6. (Epcar (Cpcar) 2020) Assinale a alternativa em que a alteração proposta para o termo em destaque está de acordo com a norma padrão da Língua. a) “Estou (...) há quatro meses tentando falar com alguém no ‘hotmail’...” (ref. 19) - Estou têm quatro meses tentando falar com alguém no hotmail... b) “Permita-me, eventual e concreto leitor...” (ref. 21) – Me permita, eventual e concreto leitor... c) “...a gente não consegue usá-los sem pedir socorro a alguém?” (ref. 6) - A gente não os consegue usar sem pedir socorro a alguém? d) “Será necessária uma medida provisória do presidente...” (ref. 10) - Do presidente, será necessário uma medida provisória. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) a seguir está(ão) relacionada(s) ao texto abaixo. Nada mais importante para chamar a atenção sobre 1 uma verdade do que exagerá-la. 2 Mas também, nada mais perigoso, _________ um dia vem 3 a 4 reação indispensável e 5 a relega injustamente para a categoria do erro, até que se efetue a operação difícil de 6 chegar a um ponto de vista objetivo, sem desfigurá-7 la de um lado nem de outro. 8 É o que tem ocorrido com o estudo da relação entre a obra e o seu condicionamento social, que a certa altura chegou a ser vista como 9 chave para compreendê-la, depois foi 10rebaixada como falha de visão, — e talvez só agora comece a ser proposta nos devidos termos. 11De fato, antes se procurava mostrar que o valor e o significado de uma obra dependiam de ela 12exprimir ou não certo aspecto da realidade, e que este aspecto constituía o que ela tinha de essencial. Depois, chegou-se à posição oposta, procurando-se mostrar que a matéria de uma obra é secundária, e que a sua importância deriva das operações formais postas em jogo, conferindo-lhe uma peculiaridade que a torna de fato independente de 13quaisquer condicionamentos, sobretudo social, considerado inoperante como elemento de compreensão. 14Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar 15nenhuma dessas visões _________; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação 16dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que 17explicava pelos fatores 18externos, quanto o outro, norteado pela 19convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos 20necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o 21externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha certo papel na constituição da estrutura, tornando-22se, 23portanto, interno. Neste caso, saímos dos aspectos periféricos da sociologia, ou da história sociologicamente orientada, para chegar a uma interpretação estética que assimilou a dimensão social como fator de arte. Quando isto se dá, ocorre o 24paradoxo assinalado inicialmente: o externo se torna interno e a crítica deixa de ser sociológica, para ser apenas crítica. Segundo esta ordem de ideias, o ângulo sociológico adquire uma validade maior do que tinha. Em __________, não pode mais ser imposto como critério único, ou mesmo preferencial, 25pois a importância de cada fator depende do caso a ser analisado. Uma crítica que se queira integral deve 26deixar de ser unilateralmente sociológica, psicológica ou 27linguística, para utilizar livremente os elementos capazes de conduzirem a uma interpretação coerente. Adaptado de: CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. 7. (UFRGS 2018) Considere o trecho abaixo extraído do texto. É o que tem ocorrido com o estudo da relação entre a obra e o seu condicionamento social, que a certa altura chegou a ser vista como chave para compreendê-la, depois foi rebaixada como falha de visão, — e talvez só agora comece a ser proposta nos devidos termos (ref. 8). Se a palavra relação fosse substituída por vínculo, quantas outras palavras no trecho teriam de ser modificadas para fins de correção gramatical? a) Duas. b) Três. c) Quatro. d) Cinco. e) Seis. 8. (EEAR) Assinale a alternativa que não apresenta falha na concordância. a) Ainda que sobre menas coisas para nós, devemos ir. b) As peças não eram bastante para a montagem do veículo. c) Os formulários estão, conforme solicitado, anexo à mensagem. d) Neste contexto de provas em que vocês se encontram, está proibida a tentativa de cola. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto, do qual foram retiradas três palavras, e responda à(s) questão(ões). ACHADO NÃO É ROUBADO Fabrício Carpinejar Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. Eu me virava como dava. Recebia casa, comida e roupa lavada e não havia como miar, latir e __________ mais nada aos pais, só agradecer. As minhas fontes de renda eram praticamente duas: procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para que deixasse alguma nota na pressa da troca dos acessórios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros. A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os pés e


45VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro Petrópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia monetária no outro lado da rua. Levava um saquinho para colher as moedas. Cada tarde rendia o equivalente a três reais. Encontrar correntinhas, colares e __________ salvava o dia. Poderia revender no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em jujubas, bolo inglês e guaraná. Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência o Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava a levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava com a responsabilidade de descer __________ profundezas do lodo. Tirava toda a roupa – a mãe não perdoaria o petróleo do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginando as recompensas. Repartia os lucros com os colegas que me acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto Alegre. Lembro que compramos uma bola de futebol com a arrecadação de duas semanas. Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os professores paravam no meu colégio, acreditava na greve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam dos bolsos para protestar por melhores condições. Sofria para me manter estável, pois nunca pedia dinheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é também trabalhar duro. Disponível em: < http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/ achado-nao-e-roubado.html > Acesso em: 22 jun. 2016. 9. (IFSUL) Há concordância nominal INADEQUADA em: a) É proibida entrada em bueiros. b) O menino achou bastantes moedas no bueiro. c) Ele escolheu mau lugar e hora para fazer a expedição. d) A primeira e a segunda expedições da tarde eram bem sucedidas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: COMPREENDER O BRASIL É DIFÍCIL, MAS NÃO IMPOSSÍVEL Ouvimos muitos comentários de analistas sociais e também do senso comum (sobretudo) de que o grande mal do Brasil é o “jeitinho brasileiro”, que é atrelado à corrupção. Pois bem, a observação não é de todo errada, mas esconde outro truísmo aparente. Os males do Brasil enquanto nação e enquanto Estado assentam-se em dois pilares: o genocídio indígena e a escravidão africana. Advém daí o machismo e a cultura do estupro: as índias foram as primeiras a serem violentadas pelo colonizador europeu, o que acabou naturalizando essa abominável prática de invasão do corpo do outro, tempos depois aplicando-se o mesmo “método” no corpo da mulher negra e da mulher branca. Os escravocratas, em uma sociedade patriarcal, tornaram legítima também a decisão sobre o corpo da mulher, inclusive da sua esposa: bela, recatada e do lar, e da sua ama de leite (a mãe preta), cujo leite afro acalentava seu filho branco. Advém daí o racismo: o colonizador branco, com a chancela da religião cristã e da ciência, arrogou para si a superioridade racial branca, em detrimento do negro, do indígena e do asiático. Nem o questionável 13 de maio nem o estado democrático de direito superou isso. Isso é reproduzido hoje em nível societário. Quem mais morre nas periferias das cidades brasileiras são negros. Alguém cantou num passado recente “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”. Advém daí o paternalismo: transplantamos para nossas relações humanas as antigas relações típicas de senhor escravo, não na acepção nietzschiana (moral do senhor/ moral do escravo), mas na acepção eugênica herdada do darwinismo social de Spencer, que hierarquizou as raças, estando essas associadas ao processo civilizatório de aculturação do indígena, método descrito de forma primorosa por Alfredo Bosi em “As flechas do Sagrado”. Os jesuítas arrogaram para si a responsabilidade por “cuidar do indígena”, inculcando no colonizado a dependência contínua na esteira da “benevolência” mal intencionada. Mal sabiam os colonizadores que as etnias também negociavam, como enunciou Eduardo Viveiros de Castro em “A inconstância da alma selvagem”: os tupinambás jamais abriram mão do que lhes era essencial, a guerra. Advém daí o genocídio negro: desde 1982 até 2014 foram 1,2 milhões de negros mortos pela polícia nas periferias, dados da Anistia Internacional. O negro de hoje é o escravizado de ontem e o corpo reificado de anteontem. Na imprensa de hoje, a morte de um jovem branco de classe média suscita debates em torno da violência, ao passo que a morte de um negro é mais uma estatística. Do mesmo modo que a violência contra a mulher é naturalizada e contra a mulher negra duas vezes mais, pois aprendemos com a “globeleza” que o corpo negro feminino é o veículo do pecado e que o corpo feminino deve ser submetido à vontade do corpo masculino, estando apto desde sempre a servi-lo. Advém daí o genocídio indígena, ainda em curso. Ruralistas e posseiros o fazem à luz do dia no Norte e Centro-Oeste do país. A imprensa fala pouco, o silêncio cemiterial em torno do tema é um crime confesso, típico de quem consente porque se cala. Advém daí a corrupção, pois, no processo colonizatório, legitimou-se a prática de que tudo tem seu preço, quando até mesmo o corpo do outro poderia ser negociado, outrora o escravizado, tempos depois o trabalhador fabril, hoje qualquer alma vulnerável ao consumismo em busca de status. Resumo da ópera: a corrupção é um subciclo de dois ciclos maiores: genocídio e escravidão. Por isso esses dois temas interessam a todos os brasileiros. Enquanto não encararmos isso, não avançaremos como povo ou como nação. Victor Martins. Disponível em: http://www.circulopalmarino. org.br/2016/05/compreender-o-brasil-e-dificil-masnao-impossivel. Acesso em: 14/07/16. Adaptado.


46VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 10. (Upe-ssa 3) No que se refere a alguns aspectos formais presentes no texto, analise as proposições a seguir. I. No trecho: “(...) e da sua ama de leite (a mãe preta), cujo leite afro acalentava seu filho branco.” (2º parágrafo), a substituição da forma verbal ‘acalentava’ por ‘nutria’ acarretará a seguinte alteração na regência: ‘(...) e da sua ama de leite (a mãe preta), em cujo leite afro nutria seu filho branco.’. II. No trecho: “Quem mais morre nas periferias das cidades brasileiras são negros.” (3º parágrafo), a forma verbal destacada está no plural em concordância com o predicativo plural ‘negros’. III. No trecho: “Ouvimos muitos comentários (...) de que o grande mal do Brasil é o ‘jeitinho brasileiro’, que é atrelado à corrupção.” (1º parágrafo), o sinal indicativo de crase é opcional, já que o verbo ‘atrelar’, no contexto em que se insere, pode também ser transitivo direto. IV. O segmento destacado no trecho: “Ruralistas e posseiros o fazem à luz do dia no Norte e Centro-Oeste do país.” (6º parágrafo) exemplifica um caso de próclise; a forma enclítica correspondente é ‘fazem-no’. Estão CORRETAS: a) I e III, apenas. b) II e III, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Encontros e Desencontros Hoje, jantando num pequeno restaurante aqui perto de casa, pude presenciar, ao vivo, uma cena que já me tinham descrito. Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da minha. Feitos os pedidos ao garçom, o homem, bem depressinha, tira o celular do bolso, e não mais o deixa, a merecer sua atenção exclusiva. A mulher, certamente de saber feito, não se faz de rogada e apanha um livro que trazia junto à bolsa. Começa a lê-lo a partir da página assinalada por um marcador. Espichando o meu pescoço inconveniente (nem tanto, afinal as mesas eram coladinhas) deu para ver que era uma obra da Martha Medeiros. Desse modo, os dois iam usufruindo suas gulodices, sem comentários, com algumas reações dele, rindo com ele mesmo com postagens que certamente ocorriam em seu celular. Até dois estranhos, postos nessa situação, talvez acabassem por falar alguma coisa. Pensei: devem estar juntos há algum tempo, sem ter mais o que conversar. Cada um sabia tudo do outro, nada a acrescentar, nada de novo ou surpreendente. E assim caminhava, decerto, a vida daquele casal. O que me choca, mesmo observando esta situação, como outras que o dia a dia me oferece, é a ausência de conversa. Sem conversa eu não vivo, sem sua força agregadora para trocar ideias, para convencer ou ser convencido pelo outro, para manifestar humor, para desabafar sobre o que angustia a alma, em suma, para falar e para ouvir. A conversa não é a base da terapia? Sei não, mas, atualmente, contar com um amigo para jogar conversa fora ou para confessar aquele temor que lhe está roubando o sossego talvez não seja fácil. O tempo também, nesta vida corre-corre, tem lá outras prioridades. Mia Couto é contundente: “Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão.” Até se fala muito, mas ouvir o outro? Falo de conversas entre pessoas no mundo real. Vive-se hoje, parece, mais no mundo digital. Nele, até que se conversa muito; porém, é tão diferente, mesmo quando um está vendo o outro. O compartilhamento do mesmo espaço, diria, é que nos proporciona a abrangência do outro, a captação do seu respirar, as batidas de seu coração, o seu cheiro, o seu humor... Desse diálogo é que tanta gente está sentindo falta. Até por telefone as pessoas conversam, atualmente, bem menos. Pelo WhatsApp fica mais fácil, alega-se. Rapidinho, rapidinho. Mas e a conversa? Conversa-se, sim, replicam. Será? Ou se trocam algumas palavras? Quando falo em conversa, refiro-me àquelas que se esticam, sem tempo marcado, sem caminho reto, a pularem de assunto em assunto. O WhatsApp é de graça, proclamam. Talvez um argumento que pode ser robusto, como se diz hoje, a favor da utilização desse instrumento moderno. Mas será apenas por isso? Um amigo me lembra: no WhatsApp se trocam mensagens por escrito. Eu sei. Entretanto, língua escrita é um outra modalidade, outro modo de ativar a linguagem, a começar pela não copresença física dos interlocutores. No telefone, não há essa copresença física, mas esse meio de comunicação não é impeditivo de falante e ouvinte, a cada passo, trocarem de papéis e até mesmo de falarem ao mesmo tempo, configurando, pois, características próprias da modalidade oral. Contudo, não se respira o mesmo ar, ainda que já se possa ver o outro. As pessoas passaram a valer-se menos do telefone, e as conversas também vão, por isso, tornando-se menos frequentes. Gosto, mesmo, é de conversas, de preferência com poucos companheiros, sem pauta, sem temas censurados, sem se ter de esmerar na linguagem. Conversa sem compromisso, a não ser o de evitar a chatice. Com suas contundências, conflitos de opiniões e momentos de solidariedade. Conversa que é vida, que retrata a vida no seu dia a dia. No grupo maior, há de tudo: o louco, o filósofo, o depressivo, o conquistador de garganta, o saudosista... Nem sempre, é verdade, estou motivado para participar desses grupos. Porém, passado um tempo, a saudade me bate. Aqueles bate-papos intimistas com um amigo tantas afinidades, merecedores que nos tornamos da confiança um do outro, esses não têm nada igual. A apreensão abrangente do amigo, de seu psiquismo, dos seus sentimentos, das dificuldades mais íntimas por que passa, faz-no sentir, fortemente, a nossa natureza humana, a maior valia da vida.


47VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Esses momentos vão se tornando, assim me parece, uma cena menos habitual nestes tempos digitais. A pressa, os problemas a se multiplicarem, as tarefas a se diversificarem, como encontrar uma brecha para aquela conversa, que é entrega, confiança, despojamento? Conversa que exige respeito: um local calminho, sem gritos, vozes esganiçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas estourando de geladas e uns tira-gostos de nosso paladar a exigirem nova pedida. Não queria perder esses encontros. Afinal, a vida está passando tão depressa... Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/. 1. (Col. naval) A concordância do termo destacado em “Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da minha.” (1º parágrafo) está de acordo com a norma-padrão da língua. Em que opção tal fato também ocorre? a) Não é permitida conversa pelo celular neste restaurante. b) A mulher ficou meia chateada, pois o marido não parava de usar o celular. c) Há bastantes pessoas que usam o WhatsApp no Brasil. d) Seguem anexas às mensagens meu perfil no aplicativo. e) Só, sem qualquer amigo mais próximo, muitas pessoas se refugiam no mundo virtual. 2. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que há o correto emprego da palavra sublinhada. a) Tens recursos bastante para as obras? b) Nesta escola, formam-se alunos melhores preparados. c) Nas ocasiões difíceis é onde sobressai o verdadeiro líder. d) O homem foi atendido mais bem do que esperava. e) Ainda não tinha visto redação mais mal escrita. 3. (UFSM) A frase que poderia substituir corretamente a inscrição na placa, mantendo-se o sentido e a adequação à norma-padrão, é: a) Postergada a caça! b) Proibido a caça de árvores! c) Não é permitida caça! d) Caça promulgada! e) É proibido caça! 4. (ESPM) Na frase: “Analfabetismo, saneamento básico e pobreza combinados explicam 62% da taxa de mortalidade das crianças com até cinco anos no Brasil.” (O Estadão), o termo sublinhado: a) transgride as normas de concordância nominal. b) concorda em gênero e número com o elemento mais próximo. c) faz uma concordância ideológica, num caso de silepse de número. d) poderia ser substituído pelo termo “combinadas”. e) concorda com todos os termos a que se refere, prevalecendo o masculino plural. 5. (CPS) Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal e nominal. a) Os rapazes que praticam surf mantêm suas pranchas muito bem cuidadas. b) A nadadora está meia apreensiva, pois a travessia será em mar aberto. c) Em 2011, farão cinco anos que ele venceu o campeonato paulista de judô. d) Elas mesmos foram em busca de patrocínio para a equipe de ginástica. e) Afixada no mural estão as listas dos atletas que participarão da São Silvestre. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando a rede vira um vício Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: "Estou muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso é muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. "Estou na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao computador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: "O viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo paralelo — e completamente virtual". Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas "útil" ou "divertida" e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem


48VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias para a gravidade do que ocorria. "Como a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da frequente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem". Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de "aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num momento em que a própria personalidade está por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável para que eles se expressem livremente". No perfil daquela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamento e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, meio ou fim. Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos especializados por toda parte. "Muita gente que procura ajuda ainda resiste à ideia de que essa é uma doença", conta um psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, "Os pais não devem temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de forma útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados. Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado. 6. (Col. naval) Em qual das opções foi estabelecida a concordância nominal correta no trecho destacado? a) Em casos de dependência em internet, a avaliação psicológica é necessária. b) Um e outro internautas precisa de limites quanto ao uso da Rede. c) Haja visto o grande número de viciados em internet, alguma providência deve ser tomada. d) Dado a dependência na Web, muitos jovens estão comprometendo o convívio social. e) A juventude tem ficado meia prejudicada por causa do uso indevido da Rede. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: FOLHA – Seus estudos mostram que, entre os mais escolarizados, há maior preocupação com a corrupção. O acesso à educação melhorou no país, mas a aversão à corrupção não parece ter aumentado. Não se vê mais mobilizações como nos movimentos pelas Diretas ou no Fora Collor. Como explicar? ALMEIDA – Esta questão foi objeto de grande controvérsia nos Estados Unidos. Quanto maior a escolarização, maior a participação política. Mas a escolaridade também cresceu lá, e não se viu aumento de mobilização. O que se discutiu, a partir da literatura mais recente, é que, para acontecerem grandes mobilizações, é necessária também a participação atuante de uma elite política. No caso das Diretas-Já, por exemplo, essa mobilização de cima para baixo foi fundamental. O governador de São Paulo na época, Franco Montoro, estava à frente da mobilização. No Rio, o governador Leonel Brizola liberou as catracas do metrô e deu ponto facultativo aos servidores. No caso de Collor, foi um fenômeno mais raro, pois a mobilização foi mais espontânea, mas não tão grande quanto nas Diretas. Porém, é preciso lembrar que Collor atravessava um momento econômico difícil. Isso ajuda a explicar por que ele caiu com os escândalos da época, enquanto Lula sobreviveu bem ao mensalão. Collor não tinha o apoio da elite nem da classe média ou pobre. Já Lula perdeu apoio das camadas mais altas, mas a população mais pobre estava satisfeita com o desempenho da economia. Isso fez toda a diferença nos dois casos. A preocupação de uma pessoa muito pobre está muito associada à sobrevivência, ao emprego, à saúde, à própria vida. Para nós, da elite, jornalistas, isso já está resolvido e outras questões aparecem como mais importantes. São dois mundos diferentes. (Adaptado de: GOIS, Antonio. Mais conscientes, menos mobilizados. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br// fsp/mais/fs2607200914.htm>. Acesso em: 26 jul. 2009).


49VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 7. (Uel) Observe o seguinte período: “O que se discutiu, a partir da literatura mais recente, é que, para acontecerem grandes mobilizações, é necessária também a participação atuante de uma elite política.”. a) Do ponto de vista da norma culta, há um problema de concordância, pois a forma correta de se grafar a expressão seria “é necessário”. b) Há um problema de pontuação, pois não se deve usar vírgula para separar o sujeito “grandes mobilizações” do predicado “é necessária também”. c) A expressão grifada destaca um erro de concordância com o sujeito “grandes mobilizações”. d) A expressão grifada aparece flexionada em gênero e número, pois concorda com o sujeito posposto “a participação atuante”. e) Do ponto de vista da norma culta, pode-se dizer que há uma inadequação, pois o autor usou a expressão “é necessária” no lugar da expressão “é precisa”. 8. (IFCE) Marque a alternativa sintaticamente correta. a) Vão anexo os formulários. b) Todos estavam alertas. c) A porta estava meia aberta. d) Eu comi meio tomate. e) Inclusa seguem as notas. 9. (Ifal) Escolha a frase cuja concordância nominal está correta. a) Alguns pseudos-sociólogos se opõem ao Bolsa Família. b) Há partes da floresta que estão menas devastadas que outras. c) Visto a grande destruição, alguma atitude deve ser tomada. d) Seguem anexo os documentos do processo. e) Todos devem ficar alerta para a questão do desmatamento. 10. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que a palavra bastante(s) está empregada corretamente, de acordo com a norma culta da Língua. a) Os rapazes eram bastantes fortes e carregaram a caixa. b) Há provas bastante para condenar o réu. c) Havia alunos bastantes para completar duas salas. d) Temos tido bastante motivos para confiar no chefe. e) Todos os professores estavam bastantes confiantes. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e, sobretudo, as comparar com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem. E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a primeira vez não é um rito que deixe um homem impune. Algo nele vai-se aprofundar. E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado, sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas narinas as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro, destemido e intimidado, tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para enfrentar a hidra que ondeava mil cabeças, e convertendo a arma em caneta ou lápis começou a escrever na areia um texto que não terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que um modo de se postar diante do mar, é uma forma de domar as vagas do presente convertendo-o num cristal passado. Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mostrar aos vizinhos tímidos retidos nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças de um luminoso encontro de amor com o mar. Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da pergunta. Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas a possibilidade de perguntar. Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes revelar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da noite se arrebentam na aurora do sim. Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer a primeira operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos! O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A contem-


50VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias plá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço. O mar é recomeço. (SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez. In:_____. Fizemos bem em resistir: crônicas selecionadas. Rio de Janeiro: Rocco,1994, p.50-52. Texto adaptado.) 1. (Esc. Naval) Que opção obedece, plenamente, à modalidade padrão da língua portuguesa? a) Para muitas pessoas, o barulho das ondas do mar ao mesmo tempo fascinam e assustam. b) Os jovens e os sonhadores, costumam, escrever seus nomes nas areias da praia, indelevelmente. c) É extraordinário a alegria e o medo de uma criança, ao lembrar da primeira vez que viu o mar. d) As pessoas urbanas e apressadas não vêm nada demais nas paisagens marítimas. e) Prudência é necessário quando se entra ao mar, transmutado pela ressaca. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Velho papel pode estar com os anos contados Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu neto lhe perguntando o que era papel? Pois é, alguns pesquisadores já estão trabalhando para que esse dia chegue logo. A suposta ameaça 7 à fibra natural não é o desajeitado e-book, mas o papel eletrônico, uma 'folha' que você carregaria dobrada no bolso. Ela seria capaz de mostrar o jornal do dia – com vídeos, fotos e notícias 8 atualizadas –, o livro que você estivesse lendo ou qualquer informação antes impressa. Tudo ali. Desde os anos 70, está no ar a 5 ideia de papel eletrônico, mas as últimas novidades são de duas semanas atrás. Cientistas holandeses anunciaram que estão perto de criar uma tela com 'quase todas' as propriedades do papel: 3 leveza, flexibilidade, 4 clareza, etc. A novidade que deixa o invento um pouco mais palpável está nos transistores. No papel do futuro, eles não serão de 6 silício, mas de plástico – que é maleável e barato. Os holandeses dizem já ter um protótipo que mostra imagens em movimento em uma tela de duas polegadas, ainda que de qualidade 1 'meia-boca'. 2 Mas não vá celebrando o fim do desmatamento e do peso na mochila. A expectativa é que um papel eletrônico mais ou menos convincente apareça só daqui a cinco anos. Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. Folhateen, p. 10. 2. (IFCE) A forma adjetiva “... atualizadas...” (ref. 8) está concordando com os substantivos “fatos e notícias”. Não se observou a concordância nominal em a) As mulheres disseram muito obrigadas. b) Não somos nenhuns coitados. c) Bastantes pessoas vão usar o papel do futuro. d) As novidades da informática custam caro. e) É proibido a entrada de pessoas estranhas. 3. (Ufpe) Segundo a norma padrão da língua portuguesa, a alternativa em que as regras da concordância nominal e verbal foram respeitadas é: a) O resultado das mais recentes pesquisas, em anexo, mostraram índices preocupantes. Faltou soluções mais decisivas. b) Fiquem alerta: nenhum dos programas apresentados concederam prioridade à produção do texto escrito. c) Minas Gerais desenvolve pesquisas de ponta na área da alfabetização. Um novo grupo assumiram, eles mesmo, a coordenação dessas pesquisas. d) Foi passada uma série de informações infundadas: a maioria dos alunos lê literatura brasileira. Qual das pesquisas já enfatizou isso? e) Os pesquisadores, eles mesmo, em quase sua totalidade, está de acordo em relação à urgência do incentivo à leitura. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O fragmento de texto abaixo, de André Machado, foi adaptado da seção Informática etc., do jornal O Globo, de 30 de junho de 2003, p. 2. A Vida Antes e Depois do Computador e da Internet Professora usa blog2 para informar sobre deficiências. Usar um computador pode de fato dar uma nova dimensão ao dia de um deficiente físico. A professora Marcela Cálamo Vaz Silva, 36, moradora de Guarulhos, SP, é tetraplégica desde os seis anos de idade e conta que a tecnologia mudou sua vida. Ela também cita o Motrix e o Dosvox como exemplos de softwares que ajudam os deficientes, embora seu caso não os exija: - Nunca usei nenhum software específico para portadores de deficiência, pois, mesmo com uma lesão num nível muito alto, que me classifica como tetraplégica, tenho preservados os movimentos de braços, mãos e dedos - explica, por e-mail. Mas posso dizer, com toda segurança, que minha vida se divide em duas fases: antes e depois do computador, sobretudo a Internet. Meu contato com a rede começou há quatro anos, através dos chats3 . A fase do chat durou uns dois anos e meio e foi no final dela que descobri o quanto meu mundo poderia crescer através da Internet. Mesmo sendo paraplégica desde os seis anos de idade, meu contato com outros portadores de deficiências limitara-se aos poucos anos em que frequentei a AACD (Associação de Apoio à Criança Deficiente). Foi através da Internet que retomei o contato com pessoas com necessidades especiais, como eu, e comecei a me interessar por assuntos relativos à deficiência, como luta por direitos, preconceito, acessibilidade. Foi também através de um amigo de chat que Marcela teve o primeiro contato com o mundo dos blogs (em julho, seu blog Maré fará um ano). Hoje, ela é uma blogueira convicta. - No início era apenas um blog com assuntos despretensiosos. Mas, depois, percebi que o estava direcionando para informar meus leitores, a maioria formada por pessoas sem qualquer tipo de deficiência, sobre tudo que


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