51VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias minha experiência como "cadeirante" permitia. Percebi o quanto as pessoas são mal informadas a respeito de como um portador de deficiência vive e que essa ignorância se deve à falta de convivência ou de alguém que possa dizer a elas como as coisas realmente são. Decidi que faria isso em meu blog. NOTA: 2 blog: é uma página web atualizada frequentemente, composta por pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica. É como uma página de notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo, com um fato após o outro. O conteúdo e tema dos blogs abrangem uma infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, notícias até poesia, fotografias. 3 chats: salas virtuais de bate-papo. 4. (UFJF) No fragmento "(...) tenho PRESERVADOS os movimentos de braços, mãos e dedos (...)." (20. parágrafo), o ajuste de flexões em "preservados" se explica por um processo de: a) concordância nominal com "braços". b) concordância verbal com "movimentos". c) concordância nominal com "movimentos". d) concordância verbal com "braços, mãos e dedos". e) concordância nominal com "dedos". TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Antes de mais nada, é preciso esclarecer que há uma diferença bastante significativa entre responsabilidade social e ação social. Enquanto o primeiro compreende uma série de itens nos quais a empresa deve ter comprometimento ético, com fornecedores, acionistas, empregados e o meio ambiente, por exemplo, o segundo se dá exclusivamente na relação da empresa com a comunidade. Entender essas definições é de fundamental importância para as empresas que já desenvolveram, vêm desenvolvendo ou querem desenvolver alguma atividade na área social. (...) Há várias explicações para esse processo de conversão de pensamento das empresas. A mais difundida delas é justamente a mais simples e também a mais lógica: com a redemocratização, as relações tomaram-se mais transparentes. E, na era das comunicações, com a sociedade tomando conhecimento de movimentos como "Ação pela Cidadania Contra a Fome e a Miséria", de eventos como a "Rio 92" e com o crescimento de ONGs, ao redor do Brasil, nasceu uma cobrança de postura. Cobrança essa que é de todos e recai na área social, pela percepção dos problemas, como pobreza, fome, violência. Logo, ficaria difícil criar "ilhas de prosperidade" no meio dos problemas. (Jornal do Commercio: 21/07/2002. Fragmento) 5. (Ufpe) A concordância verbal e a nominal estão de acordo com a norma padrão em: a) Houveram implicações boas e más naquelas atitudes dos empresários de Pernambuco. b) Propostas, o mais adequadas possíveis, em termos de qualidade, foi apresentada aos trabalhadores. c) Quaisquer deslizes perante o consumidor, nessa área, provoca problemas para a empresa. d) É necessário paciência para poderem os trabalhadores conseguirem seus plenos direitos. e) A ação social, um dos temas mais discutidos atualmente, faz os interessados repensarem a política fiscal. E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: VAGABUNDO Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou 1 ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. (...) Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora!... Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta, E a preguiça a mulher por quem suspiro. Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno a rua; Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. (...) Ora, se por aí alguma bela Bem doirada e amante da preguiça Quiser a 2 nívea mão unir à minha, Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa. Álvares de Azevedo Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. 1 ditoso − feliz 2 nívea − branca 1. (Uerj) Oito dias lá vão que ando cismado (v. 9) Justifique a flexão do verbo na terceira pessoa do plural. Em seguida, reescreva o verso, de acordo com a norma-padrão, substituindo o verbo “ir” pelo verbo “fazer”.
52VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. (IFSP) Leia as charges. a) Explique como se dá o efeito de humor pela linguagem verbal nas duas charges. b) Reescreva as frases de cada charge, substituindo, na primeira, o termo “guerra” por “guerras” e, na segunda, substituindo “Quem” por “Que pessoas” e fazendo a correção ortográfica. 3. (Ufmg) Leia estes cartazes: a) Explique, do ponto de vista da gramática normativa, o problema que ocorre na frase apresentada em cada um desses cartazes. b) Reescreva a frase apresentada em cada um desses cartazes, de modo a adequá-la às regras do português padrão. 4. (UFV) Reescreva o texto abaixo, passando MUDANÇA para o plural e substituindo PROBLEMA por IRREGULARIDADES. Faça as alterações estritamente necessárias para que o texto continue adequado ao uso culto da língua. Uma vez que nesta semana deverá ser providenciada a MUDANÇA que se fizer necessária na portaria do prédio, pedimos aos senhores condôminos que, quando ocorrer qualquer PROBLEMA relacionado ao recebimento de suas correspondências, comuniquem o fato ao síndico. 5. (G1 1996) Explique por que as frases de cada par seguinte têm "comportamento" diferentes quanto a concordância nominal: a) Comida é bom. Uma comida sem gordura é boa à saúde. b) É proibido entrada. É proibida a entrada de estranhos. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. B 2. B 3. B 4. B 5. B 6. C 7. C 8. D 9. A 10. D E.O. Fixação 1. C 2. E 3. E 4. E 5. A 6. A 7. D 8. D 9. E 10. C E.O. Complementar 1. E 2. E 3. D 4. C 5. E E.O. Dissertativo 1. Justificativa: a forma verbal “vão” concorda com o sujeito “oito dias”. Reescritura: Oito dias lá faz que ando cismado. O verbo fazer quando se refere a tempo é impessoal, portanto, deve ser usado sempre no singular. 2. a) A charge ilustra as disputas judiciais que envolvem os grupos que dominam as tecnologias de comunicação e os detentores de propriedade intelectual que potencialmente prejudicam os interesses desses grupos. Como consequência, essas contendas afetam diretamente a educação por dificultarem a inclusão digital e contribuem para o baixo grau de escolarização de grande parte da população. b) “Iniciadas as guerras das patentes foram”; “Que pessoas vêm lá? Qual a senha?”; “Analfabeto!”. 3. a) No primeiro quadro, o termo “meio”, em negrito, é inadequado, pois o adjetivo deveria concordar com o substantivo implícito a que se refere (hora) e deveria ser substituído por meia para respeitar as regras da gramática normativa. No segundo, o pronome oblíquo “mim” deveria ser substituído por eu, pronome
53VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias pessoal reto, sujeito do verbo “fazer”. No terceiro, a expressão “incluir fora” gera uma contradição, pois “incluir” significa inserir e o advérbio “fora” apresenta noção de exclusão, o que poderia ser evitado com a sua substituição por pode me excluir dessa. b) As frases deveriam ser substituídas por: “já é meio- -dia e meia”, “isto é para eu fazer” e “pode me excluir dessa”, respectivamente. 4. Uma vez que nesta semana deverão ser providenciadas as MUDANÇAS que se fizerem necessárias na portaria do prédio, pedimos aos senhores condôminos que, quando ocorrerem quaisquer IRREGULARIDADES relacionadas ao recebimento de suas correspondências, comuniquem o fato ao síndico. 5. a) No primeiro caso, o sujeito não está determinado por artigo e a expressão "é bom" fica invariável. A presença do artigo na segunda frase faz a expressão ficar variável. b) A mesma explicação do item anterior.
54VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (EEAR) Leia: I. Encontrei a pessoa certa. II. Falei sobre os olhos dela. Ao unir as duas orações, subordinando a II a I, mantendo o mesmo sentido que cada uma apresenta e usando adequadamente os pronomes relativos, tem-se: a) Encontrei a pessoa certa sobre cujos os olhos dela falei. b) Encontrei a pessoa certa sobre os olhos dela falei. c) Encontrei a pessoa certa sobre cujos olhos falei. d) Encontrei a pessoa certa cujos olhos falei. 2. (IFAL) Assinale a alternativa em que há erro de regência verbal. a) Marta sempre preferiu azul a vermelho. b) Por ter muitos anos na empresa, Augusto visava à ascensão a presidente. c) Há anos, Felipe namora com Júlia. d) Os candidatos ao exame não podem se esquecer dos seus documentos pessoais. e) Nas férias, costumo assistir a uma série de filmes de terror. 3. (IFSP) De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e com a gramática normativa e tradicional, quanto à regência verbal, assinale a alternativa incorreta. a) Aspiramos o ar poluído da carvoaria. b) Apenas um sorvete não apetece o menino. c) Custava-me lutar contra a ideia do trabalho infantil. d) Lembro-me de que vimos os meninos encarapitados nas alimárias. e) Não pagaram o salário ao carvoeiro? 4. (IFAL) Assinale a opção em que o verbo visar foi usado em desconformidade com as regras de regência. a) Com aquele dinheiro visava a compra de um automóvel. b) Sua campanha visou a conquistar os eleitores indecisos. c) Visava àquela nomeação havia anos. d) O professor visou as provas de seus alunos. e) O atirador visara bem o alvo sobre o muro. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A épica narrativa de nosso caminho até aqui Quando viajamos para o exterior, muitas vezes passamos pela experiência de aprender mais sobre o nosso país. Ao nos depararmos com uma realidade diferente 1 daquela em que estamos imersos cotidianamente, o estranhamento serve de alerta: deve haver uma razão, um motivo, para que as coisas funcionem em cada lugar de um jeito. Presentes diferentes só podem resultar de passados diferentes. Essa constatação pode ser um poderoso impulso para conhecer melhor a nossa história. Algo assim vem ocorrendo no campo de estudos sobre o Sistema Solar. O florescimento da busca de planetas extrassolares – aqueles que orbitam em torno de outras estrelas – equivaleu a dar uma espiadinha no país vizinho, para ver como vivem “seus habitantes”. Os resultados são surpreendentes. Em certos sistemas, os planetas estão tão perto de suas estrelas que completam uma órbita em poucos dias. Muitos são gigantes feitos de gás, e alguns chegam a possuir mais de seis vezes a massa e quase sete vezes o raio de Júpiter, o grandalhão do nosso sistema. Já os nossos planetas rochosos, classe em que se enquadram Terra, Mercúrio, Vênus e Marte, parecem ser mais bem raros do que imaginávamos a princípio. A constatação de que somos quase um ponto fora da curva (pelo menos no que tange ao nosso atual estágio de conhecimento de sistemas planetários) provocou os astrônomos a formular novas teorias para explicar como o Sistema Solar adquiriu sua atual configuração. 2 Isso implica responder perguntas tais como quando se formaram os planetas gasosos, por que estão nas órbitas em que estão hoje, de que forma os planetas rochosos surgiram etc. Nosso artigo de capa traz algumas das respostas que foram formuladas nos últimos 15 a 20 anos. Embora não sejam consensuais, teorias como o Grand Tack, o Grande Ataque e o Modelo de Nice têm desfrutado de grande prestígio na comunidade astronômica e oferecem uma fascinante narrativa da cadeia de eventos que pode ter permitido o surgimento da Terra e, em última instância, da vida por aqui. [...] (Paulo Nogueira, editorial de Scientific American – Brasil – nº 168, junho 2016.) 5. (UFPR) Considere a estrutura “daquela em que estamos imersos” (ref. 1) e compare-a com as seguintes: REGÊNCIAS NOMINAL E VERBAL COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 25, 26 e 27 LC AULAS 41 E 42
55VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 1. o espaço __________ que moramos... 2. a organização _________ que confiamos... 3. a cidade __________ que almejamos... 4. os problemas __________ que constatamos nos relatórios... Tendo em vista as normas da língua culta, a preposição “em” deveria preencher a lacuna em: a) 1 apenas. b) 1 e 2 apenas. c) 2 e 3 apenas. d) 1, 3 e 4 apenas. e) 2, 3 e 4 apenas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A doença do amor Luiz Felipe Pondé Existe de fato amor romântico? Esta é uma pergunta que ouço quando, em sala de aula, estamos a discutir questões como literatura romântica dos séculos 18 e 19. 1 Quando o público é composto de pessoas mais maduras, a tendência é um certo ceticismo, muitas vezes elegante, apesar de trazer nele a marca eterna do desencanto. Quando o público é mais 2 jovem há uma tendência maior de crença no amor romântico. 3 Alguns diriam que 4 essa crença é típica da idade jovem e inexperiente, assim como crianças creem em Papai Noel. Mas, em matéria de amor romântico, melhor ainda do que ir em busca da literatura dos séculos 18 e 19 é ir 5 à fonte primária 6 : a literatura europeia medieval, verdadeira fonte do amor romântico. A literatura conhecida como amor cortês. Especialistas no assunto, como o suíço Denis de Rougemont, suspeitavam que a literatura medieval criou uma verdadeira expectativa neurótica no Ocidente sobre o que seria o amor romântico em nossas vidas concretas, fazendo com que 7 sonhássemos com algo que, na verdade, nunca existiu como experiência universal. 8 Dos castelos da Provence francesa do século 12 ao cinema de Hollywood, teríamos perdido o verdadeiro sentido do amor medieval, que seria uma doença da qual devemos fugir como o diabo da cruz. Para além dos céticos e crentes, a literatura medieval de amor cortês é marcante pela sua descrição do que seria esse pathos amoroso. Uma doença, uma verdadeira desgraça para quem fosse atingindo em seu coração por tamanha tristeza. André Capelão, autor da época (Tratado do Amor Cortês, ed. Martins Fontes), sintetiza esse amor como sendo uma 9 "doença do pensamento". Doença essa que podemos descrever como uma forma de obsessão em saber o que ela está pensando, o que ela está fazendo nessa exata hora em que penso nela, com o que ela sonha à noite, como é seu corpo por baixo da roupa que a veste, o desejo incontrolável de ouvir sua voz, de sentir seu perfume. Mas a doença avança: sentir o gosto da sua boca, beijá-10la por horas a fio. 11Mas, quando em público, jamais deixe ninguém saber que se amam. Capelão chega a supor que desmaios femininos poderiam ser indicativos de que a infeliz estaria em presença de seu desgraçado objeto de amor inconfessável. A inveja dos outros pelos amantes, apesar de 12condenados a 13tristeza pela interdição sempre presente nas narrativas (casados com outras pessoas, detentores de responsabilidades públicas e privadas), se dá pelo fato que se trata de uma doença encantadora quando correspondida. Nada é mais forte do que o desejo de estar com alguém a quem você se sente ligado, mesmo que a milhares de quilômetros de distância, sem poder trocar um único olhar ou toque com ela. O erro dos modernos românticos teria sido a ilusão de que esses medievais imaginariam o amor romântico numa escala universal e capaz de 14conviver com um apartamento de dois quartos, pago em cem anos. Não, o amor cortês seria algo que deveríamos temer justamente por seu caráter intempestivo e avassalador. Sempre fora do casamento, teria contra ele a condenação da norma social ou religiosa que, aos poucos, 15levaria as suas vítimas à destruição, psicológica ou física. Para os medievais, um homem arrebatado por esse amor tomaria decisões que destruiriam seu patrimônio. A mulher perderia sua reputação. Ambos viriam, necessariamente, a morrer por conta desse amor, fosse ele em batalha, por obrigação de guerreiro, fosse fugindo do horror de trair seu melhor amigo com sua até então fiel esposa. Ela morreria eventualmente de tristeza, vergonha e solidão num convento, buscando a paz de espírito há muito perdida. A distância física, social ou moral, proibindo a realização plena desse desejo incessante como tortura cotidiana. O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou alguns textos ao tema, entendia que a literatura medieval descrevia o embate entre virtude e desejo, sendo a desgraça dos apaixonados a maldição de ter que 16pôr medida nesse desejo 17(nesse amor fora do lugar), em meio à insuportável culpa de estar doente de amor. Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de 2016 na Folha de S. Paulo. Disponível em: <http://www1.folha. uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/05/1771569-adoenca-do-amor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016. 6. (IFSUL) Em relação à regência verbo-nominal, é correto afirmar que: a) A expressão à fonte primária (ref. 5) exerce a função sintática de objeto indireto, complementando o sentido do verbo ir. b) O pronome oblíquo la (ref. 10) complementa o sentido do verbo beijar, exercendo a função sintática de objeto indireto. c) Diante da palavra tristeza (ref. 13) deveria haver crase uma vez que o termo condenados (ref. 12) exige a preposição a para introduzir o complemento nominal. d) O verbo levar (ref. 15) é transitivo direto, sendo a expressão as suas vítimas o objeto direto que completa o seu sentido.
56VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 7. (Unisinos) (Disponível em: http://edu-infantu.blogspot.com.br/2011/11/tirinhascalvin-haroldo-e-seus-amigos.html. Acesso em: 05 out. 2015) Considerando o conteúdo do texto, o encadeamento entre as ideias e o vocabulário, assinale V nas afirmações verdadeiras e F nas falsas. ( ) Por meio dessa tira, o cartunista defende a tese de que a autopromoção é fundamental para que as pessoas sejam bem-sucedidas profissionalmente. ( ) As frases do segundo quadrinho poderiam ser assim organizadas num único período: Eu não preciso estudar, nem aprender coisas nem desenvolver habilidades, porque isso dá muito trabalho. ( ) Na frase interrogativa do terceiro quadrinho, observa-se uma relação de condicionalidade: saber algo e ter algum talento (condição) ser bem-sucedido (ideia consequente). ( ) No último quadrinho, a regência do verbo “vou” não está de acordo com a norma culta; no entanto, a variedade linguística empregada é coerente com o gênero textual em que está inserida. A sequência correta, de cima para baixo, é: a) V – F – V – F. b) F – F – V – F. c) V – V – F – F. d) V – F – F – V. e) F – V – V – V. 8. (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina) [...] Um exemplo da permanência de arcaísmos na fala atual é o uso de “aonde” e “donde” com sentido estático, isto é, significando “onde”. [...]. No Renascimento, mesmo clássicos como João de Barros empregavam as três formas como equivalentes, e isso não era considerado erro. Mais tarde, com a normatização gramatical, decidiu-se que “aonde” só se emprega com verbos que rejam a preposição “a” e “donde” só com verbos que rejam “de”. Por sinal, os brasileiros da atualidade usam preferentemente “de onde” a “donde”, mas a confusão entre “onde” e “aonde” continua e, longe de ser mero indício de ignorância, é resquício de um uso ancestral, que na oralidade popular tem passado incólume pelas reformas gramaticais. Revista Língua Portuguesa, n.º 114, p. 18, abril de 2015. Considerando a exposição feita no texto anterior, é de uso eminentemente popular e contrário às normas gramaticais o período: a) Aonde eu devo levar as meninas amanhã? b) Onde moram aqueles funcionários? c) De onde provêm esses andarilhos? d) Aonde você quer chegar com essa argumentação? e) Onde você pensa que vai com esse vaso? 9. (IFCE) A regência verbal está incorreta em: a) Obedeça à sinalização. b) As enfermeiras assistiram irrepreensivelmente o doente. c) Paguei todos os trabalhadores. d) Todos nós carecemos de afeto. e) Costumo obedecer a preceitos éticos. 10. (FGV-RJ) Levando-se em conta a norma-padrão escrita da língua portuguesa, das frases abaixo, a única correta do ponto de vista da regência verbal é: a) A cidade tem características que a rendem, ao mesmo tempo, críticas e elogios. b) Para você evitar o estresse, é imprescindível seguir o estilo de vida que mais o interesse. c) É importante prezar não só a ordem mas também a liberdade. d) Sua distração acarretou em grandes prejuízos para todo o grupo. e) Alguém precisa se responsabilizar sobre a abertura do prédio na hora combinada. E.O. Fixação 1. (IFSP) Analise o texto abaixo. O pai da Fernanda virá __________ mais cedo hoje. Devo __________ a respeito da nota em sua última avaliação? É melhor que __________ informemos o quanto antes, para que haja tempo hábil para ___________. Levando em consideração o uso e a colocação pronominal, de acordo com a norma padrão da Língua Portuguesa, os termos que melhor preenchem, respectivamente, as lacunas são: a) buscar-lhe – conta-lo – o – ajudá-la. b) buscar-lhe – contar-lhe – lhe – ajudar-lhe. c) buscá-lhe – conta-lhe – lhe – ajuda-lhe. d) buscar-lhe – conta-lo – o – ajuda-lhe. e) buscá-la – contar-lhe – o – ajudá-la.
57VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Fico Assim Sem Você Avião sem asa Fogueira sem brasa Sou eu assim sem você Futebol sem bola Piu-Piu sem Frajola Sou eu assim sem você Por que é que tem que ser assim? Se o meu desejo não tem fim Eu te quero a todo instante Nem mil alto-falantes Vão poder falar por mim (...) Tô louco pra te ver chegar, Tô louco pra te ter nas mãos. Deitar no teu abraço, Retomar o pedaço que falta no meu coração Eu não existo longe de você E a solidão é o meu pior castigo Eu conto as horas pra poder te ver Mas o relógio tá de mal comigo Claudinho e Buchecha 2. (IFPE) A regência do verbo “faltar” que aparece no verso “Retomar o pedaço que falta no meu coração” não está de acordo com o que é indicado pela gramática normativa padrão que, nesse caso, indica a utilização da preposição “a”. Sendo assim, o verso ficaria “...que falta ao meu coração”. Desvios como esse são muito comuns no falar cotidiano. Sabendo disso, assinale a única alternativa cuja regência verbal segue o que preceitua a norma padrão. a) Estou indo no banheiro, depois te ligo. b) Sai daí, menino! Que eu já aspirei ao pó do tapete. c) Não posso falar agora, estou assistindo o jogo. d) Eu acabei de pagar aquela conta a costureira. e) Pedro namora a vizinha da cunhada de Isabela. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: André Devinne procura cultivar a ingenuidade – uma defesa contra tudo 1 o que 2 não entende. 3 Pressente: há alguma coisa irresolvida que 4 está em parte alguma, mas os nervos sentem-1. Quem sabe seja uma espécie de vergonha. Quem sabe o medo enigmático dos quarenta anos. Certamente não é a angústia de se ver lavando o carro numa tarde de sábado5 , um homem de sua posição. É até com delicadeza que se entrega ao sol das três da tarde, agachado, sem camisa, esfregando o pano sujo no pneu, num ritual disfarçado em que evita formular seu tranquilo desespero. Assim: ele está numa guerra, mas por acaso6 ; de onde está, submerso na ingenuidade, 7 à qual 8 se agarra sem saber, não consegue ver o inimigo. 9 Talvez não haja nenhum. 10– Filha, não fique aí no sol sem camisa. A menina recuou até a sombra. Agachou-se, olhos negros no pai. 11– Você vai pra praia hoje? André Devinne contemplou o pneu lavado: um bom trabalho. 12– Não sei. Falou com a mãe? – Ela está pintando. A filha tem o mesmo olhar da mãe, 13quando Laura, da janela do ateliê, observa o mar da Barra, transformando aquela estreita faixa de azul acima da Lagoa, numa outra faixa, de outra cor, mas igualmente suave, na tela em branco. Um olhar que investiga sem ferir – que parece, de fato, ver o que está lá. Devinne espreguiçou-se esticando as pernas14. Largou o pano imundo no balde, sentou-se e olhou o céu, o horizonte, as duas faixas de mar, o azul da Lagoa, vivendo momentaneamente o prazer de proprietário. Lembrou- -se da lição de inglês – It’s a nice day, isn’t it? – e tentou 2 de imediato, mas era tarde: o corpo inteiro se povoou de lembrança e ansiedade, exigindo explicações. Estava indo bem, a professora era uma mulher competente, agradável, independente. Talvez justo por isso, ele tenha cometido aquela estupidez. Sem pensar, voltou a cabeça e acenou para Laura, que do janelão do ateliê respondeu-3 com um gesto. A filha insistiu: – Pai, você vai pra praia? Mudar todos os assuntos. – Julinha, o que é, o que é? Vive casando 15e está sempre solteiro? Ela riu. – Ah, pai. Essa é fácil. O padre! TEZZA, C. O fantasma da infância. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2007. p. 9-10. 3. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas 1, 2 e 3, nessa ordem. a) lhe – esquecê-la – lhe. b) na – esquecer-lhe – lhe. c) na – esquecê-la – o. d) lhe – esquecer-lhe – o. e) na – esquecê-la – lhe. 4. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre propostas de alteração de frases do texto. I. Se não entende (ref. 2) fosse substituído por desconfia, seria necessário substituir o que (ref. 1) por que. II. Se está (ref. 4) fosse substituído por ele não localiza, nenhuma outra alteração seria necessária à frase. III. Se se agarra (ref. 8) fosse substituído por ele se protege, seria necessário substituir à qual (ref. 7) por com a qual. Sem considerar alterações de sentido, quais afirmações mantêm a correção da frase? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.
58VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: LITERATURA INDÍGENA Ainda não há consenso sobre o uso da expressão Literatura Indígena. Afinal, sob o conceito de “indígena” reconhecem-se, atualmente, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 305 grupos étnicos, com culturas e histórias próprias, falando 274 línguas. Portanto, encontrar uma denominação de referência geral não é muito simples. Outras expressões, embora menos usadas, vêm se apresentando na tentativa de caracterizar esse campo de interesse, como Literatura Nativa, Literatura das Origens, Literatura Ameríndia e Literatura Indígena de Tradição Oral. Próxima a 1 essas, mas já com significado e alcance próprio, ainda contamos com Literatura Indianista, para se referir à produção do Romantismo brasileiro do século XIX de 2 temática indígena, como os versos de Primeiros Cantos (1846) e de Os Timbiras (1857), de Gonçalves Dias, e os romances O Guarani (1857) e Iracema (1865), de José de Alencar. Diante desse quadro, quando usamos, hoje, a expressão Literatura Indígena, uma questão, necessariamente, ainda se apresenta: quais objetos 3 ela incorpora ou para quais aponta ou tem apontado? Em perspectiva ampla, diríamos que essa produção cultural 4 assinala 5 textos criativos em geral (orais ou escritos) produzidos pelos diversos grupos indígenas, 6 editados ou não, incluindo 7 aqueles que não se apresentam, em um primeiro momento, como 8 constituídos a partir de um desejo 9 especificamente estético-literário intencional, como as narrativas, os grafismos e os cantos em contextos próprios, ritualísticos e 10cerimoniais. Parte dessa produção ganha visibilidade com os registros realizados por antropólogos e pesquisadores em geral. Outra 11parte surge por meio de levantamentos realizados por professores atuantes em cursos de licenciatura indígena e dos próprios alunos desses cursos, oriundos de várias etnias. Estima-se que 1564 professores indígenas estavam em formação no ano de 2010, em cursos financiados pelo Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND), do Ministério da Educação. Em perspectiva 12restrita, a expressão Literatura Indígena tem sido utilizada para designar 13aqueles textos editados e reconhecidos pelo chamado sistema literário (autores, público, 14críticos, mercado editorial, escolas, programas governamentais, legislação), como sendo de autoria indígena. Um marco importante se dá em 1980, ano de publicação do considerado 15primeiro livro de autoria indígena com tais características, intitulado Antes o Mundo não Existia, de Umúsin Panlõn & Tolamãn Kenhíri, pertencentes ao povo Desâna, do Alto Rio Negro/AM. A partir das licenciaturas indígenas, 16assistimos, na década de 1990, ao incremento dessa produção editorial. Carlos Augusto Novais. Universidade Federal de Minas GeraisUFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE. Acessado em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/verbetes/literatura-indigena, 14/03/2016. 5. (IFCE) O verbo assistimos, na referência 16, apresenta exatamente a mesma regência e, portanto, o mesmo sentido que em: a) O agravo de seu estado aconteceu, dizem, pois o médico não o assistiu em tempo hábil. b) Antes da mudança para o nordeste, ela assistiu em Santos por dez anos. c) O atendente assistiu a senhora primeiro, por ser prioridade. d) A torcida assistiu à partida com muita paixão. e) Apesar de torcer para o adversário, nossa torcida assistiu o ferido prontamente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A ondomotriz é uma forma de energia renovável que se aproveita da energia das ondas oceânicas. Além de poder fornecer energia, as ondas também serviram de inspiração para Manuel Bandeira compor o poema “A onda”. A onda a onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda 6. (CPS) No poema, há o emprego do advérbio aonde. Segundo as gramáticas normativas, esse advérbio deve ser utilizado para indicar o local ou destino para o qual se vai, ou seja, expressa a ideia de movimento. Assinale a alternativa em que o emprego do advérbio aonde está de acordo com as gramáticas normativas. a) Nunca sei aonde te achar. b) Esta é a casa aonde eu moro. c) Informe aonde você está agora. d) Não sei aonde o avião aterrissou. e) Aonde você pretende levar sua amiga. 7. (UFU ) Como dizemos concordo com as ideias, devemos dizer: "as ideias com que concordo são sempre as menos radicais". As ideias que concordo são sempre as menos radicais. MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Menas: o certo do errado, o errado do certo. São Paulo, 2010. Catálogo de exposição. p. 29. A ocorrência de frases como “As ideias que concordo são sempre as menos radicais” é comum na conversa espontânea de falantes do português brasileiro. Considerando as informações do quadro, assinale a alternativa em que
59VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias o emprego do pronome relativo esteja adequado à modalidade escrita formal da língua portuguesa. a) O livro o qual a autora foi premiada está esgotado. b) Este é o livro que eu falei dele ontem. c) O livro cujo o autor foi premiado está esgotado. d) O livro do qual falamos ontem está esgotado. 8. (CPS) De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, está correta a alternativa: a) Naquela região, muitos assinantes preferem o rádio à TV. b) À partir das vinte e três horas, ninguém entrava no teatro. c) Os funcionários do museu obedeceram os regulamentos. d) Lembrou-se que levaria a mãe à Bienal na cidade de São Paulo. e) Assistimos à diversos documentários sobre a Primeira Guerra. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Viagens, cofres mágicos com promessas sonhadoras, não mais 5 revelareis 6 vossos tesouros intactos! Hoje, quando ilhas polinésias afogadas em concreto se transformam em porta-aviões ancorados nos mares do Sul, quando as favelas corroem a África, quando a aviação 9 avilta a floresta americana antes mesmo de poder 7 destruir-lhe a virgindade, de que modo poderia a pretensa 10evasão da viagem conseguir outra coisa que não 14confrontar-nos 15com as formas mais miseráveis de nossa existência histórica? 18Ainda 22assim, compreendo a paixão, a loucura, o equívoco das narrativas de viagem. Elas 16criam a ilusão daquilo 1 __________ não existe mais, mas 2 __________ ainda deveria existir. Trariam nossos modernos Marcos Polos, das mesmas terras distantes, desta vez em forma de fotografias e relatos, as especiarias morais 3 _________ nossa sociedade experimenta uma necessidade aguda ao se sentir 11soçobrar no tédio? É assim que me identifico, viajante procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e de destroços. 19Então, 26insidiosamente, a ilusão começa a tecer suas armadilhas. Gostaria de ter vivido no tempo das verdadeiras viagens, quando um espetáculo ainda não estragado, contaminado e maldito se oferecia em todo o seu esplendor. 20Uma vez 12encetado, o jogo de conjecturas não tem mais fim: quando se deveria visitar a Índia, em que época o estudo dos selvagens brasileiros poderia levar a conhecê-los na forma menos alterada? Teria sido melhor chegar ao Rio no século XVIII? Cada década para 23trás 29permite 27salvar um costume, 28ganhar uma festa, 17partilhar uma crença suplementar. 21Mas conheço bem demais os textos do passado para não saber que, me privando de um século, renuncio a perguntas dignas de enriquecer minha reflexão. E eis, diante de mim, o círculo intransponível: quanto menos as culturas tinham condições de se comunicar entre si, menos também os emissários 8 respectivos eram capazes de perceber a riqueza e o significado da diversidade. No final das contas, sou prisioneiro de uma 32alternativa: 30ora viajante antigo, confrontado com um prodigioso espetáculo do qual quase tudo lhe escapava 24— ainda pior, inspirava troça ou desprezo 25—, 31ora viajante moderno, correndo atrás dos vestígios de uma realidade desaparecida. Nessas duas situações, sou perdedor, pois eu, que me lamento diante das sombras, talvez seja impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste instante, mas 4 __________ observação, meu grau de humanidade ainda 13carece da sensibilidade necessária. 33Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou. Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44. 9. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente as lacunas indicadas pelas referências 1, 2, 3 e 4 do texto. a) que – que – de que – para cuja. b) que – de que – de que – cuja. c) de que – de que – de que – para cuja. d) que – que – que – cuja. e) de que – que – que – cuja. 10. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre regência. I. Caso a forma verbal confrontar-nos (ref. 14) fosse substituída por colocar-nos diante, seria necessário substituir a preposição com (ref. 15) pelo emprego de crase nesse contexto. II. A substituição da forma verbal criam (ref. 16) por dão origem tornaria obrigatório o emprego de crase nesse contexto. III. A substituição da forma verbal partilhar (ref. 17) pelo segmento ter acesso tornaria necessário o emprego de crase nesse contexto. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. E.O. Complementar 1. (IFPE) Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/ discovirtual/galerias/imagem/0000000065/0000025206.jpg>. Acesso em: 22 set. 2015
60VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O verbo “assistir” no sentido de “presenciar” ou “ver” é transitivo indireto, ou seja, ele exige a preposição “a” para que possa receber um complemento. Outros verbos da língua portuguesa também possuem mais de uma regência a depender do sentido que assumem no contexto. Sabendo disso, analise, nas frases a seguir, a adequação da regência verbal ao que concerne à norma culta da língua portuguesa. I. Aspiro a uma vaga na equipe titular. II. Depois de empossado, o governo assistirá na capital. III. Ele está namorando com a prima. IV. Esqueci-me o que havíamos combinado. V. Sempre ansiamos a dias melhores. Estão corretas apenas as frases: a) II e III. b) I e II. c) I e III. d) III e V. e) II e V. 2. (Col. Naval) Assinale a opção na qual a regência do verbo destacado foi utilizada de acordo com a modalidade padrão. a) Eu custo a acreditar que existem pessoas desprezando livros em troca de computadores. b) O professor sempre lembrava de comentar as notícias internacionais após a aula. c) Dedicar-se ao trabalho implica, sempre, resultados eficazes, profícuos e confiáveis. d) Todos dizem que este menino puxou o pai quando o assunto é esportes aquáticos. e) Pessoas sensatas preferem muito mais uma boa conversa do que um programa de TV. 3. (PUC-PR) Leia as sentenças abaixo e assinale a alternativa que preencha adequadamente as lacunas. I. Questões sobre virtude e honra são óbvias demais para ser negadas. Considere-se o debate sobre __________ seria merecedor da medalha “Coração Púrpura”. Desde 1932, o exército dos Estados Unidos outorga essa honraria a soldados feridos ou mortos pelo inimigo durante um combate. (SANDEL, M. Justiça. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, p. 18). II. Indivíduos __________ recebem vacinas fazem __________ haja diminuição da circulação do agente infeccioso na comunidade. Ao diminuir o número de pessoas suscetíveis, diminui também a chance de transmissão da doença para todos. (Superinteressante, São Paulo: Abril, p. 44-45, set. 2015). III. No mês anterior ao ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, o FBI e a CIA receberam diversos indicativos __________ algo grande estava sendo tramado, mas não conseguiram conectar as pistas e prever o atentado. (Superinteressante, São Paulo: Abril, p. 35, ago. 2015). IV. Algumas celebrações regionais, como o Vinte de Setembro, no Rio Grande do Sul, ou o Nove de Julho, em São Paulo, exaltam confrontos históricos __________ nem todos os brasileiros conhecem, porém, __________ a população local fortemente se identifica. (GOMES, L. 1889. São Paulo: Globo, 2013. p. 17. Adaptado). V. Recostado na confortável poltrona, Luís Bernardo via desfilar a paisagem através da janela do trem, observando como aos poucos o céu de chuva __________ deixara em Lisboa ia timidamente abrindo clareiras __________ espreitava um reconfortante sol de inverno. (TAVARES, M.S. Equador. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 13. Adaptado). a) o que, os quais, que, que, os quais, com que, o qual, em que. b) o que, que, que, que, os quais, com os quais, o qual, com que. c) quem, os quais, que, que, os quais, dos quais, com que, que. d) que, que, de que, com que, que, de que, que, pelas quais. e) quem, que, com que, de que, que, com os quais, que, pelas quais. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto de referência abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir. Geração fast-food Falar em persistência é quase como lembrar dos conselhos de nossos avós: “Dê duro agora, meu filho, para poder descansar depois. Quem planta, colhe”. Nas conversas de bar, nas correntes de e-mail e propagandas de TV, a mensagem é bem outra: a vida é agora, aproveite cada instante, só o que existe é o presente. De repente, parece que ficou difícil escolher uma carreira para toda a vida, permanecer com o mesmo celular ou corte de cabelo por muito tempo, acreditar em casamento que dure. “Vivemos numa sociedade de consumo, que promove um impulso à satisfação de desejos imediatos”, diz a psicóloga Maria Sara Dias. (...) Mas se estivermos apenas aproveitando o hoje e mudando de objetivos mais rapidamente, qual é o problema? Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti, em seu livro O Valor do amanhã, o risco é levar uma vida sem sentido maior. “Isso reduz nossa existência a uma espécie de corrida de obstáculos veloz e tecnicamente sofisticada, mas rumo a lugar nenhum”, diz. (Revista Sorria, jun/jul 2009). 4. (UTFPR) Analise os itens a seguir retirados do texto, quanto à regência verbal. I. É quase como lembrar dos conselhos. II. Uma carreira para toda a vida. III. Acreditar em casamento que dure. IV. Um impulso à satisfação de desejos.
61VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias É(são) inadequado(s), segundo a norma padrão: a) apenas IV. b) apenas II. c) apenas I. d) I e IV. e) II e III. 5. (IFPE) Analise os itens abaixo. I. Já foram comprados todos os remédios de que ele necessita. II. O médico assistiu, cuidadosamente, ao paciente. III. Nós chegamos à conclusão de que devemos expor nossa indignação. IV. Todos ficaram abalados com a notícia do acidente. V. As cópias dos documentos foram anexadas no contrato. Respeitam as normas de regência nominal e verbal, apenas as orações correspondentes aos itens: a) I, II e III. b) I, II, III e IV. c) I, III e IV. d) II, III e V. e) I, III, IV e V. E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir. Por que ler os clássicos? Comecemos com algumas propostas de definição: 1.“Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: ‘Estou relendo...’ e nunca ‘Estou lendo...’”. Isso acontece pelo menos com aquelas pessoas que se consideram “grandes leitores”; não vale para a juventude, idade em que o encontro com o mundo e com os clássicos como parte do mundo vale exatamente como primeiro encontro. O prefixo reiterativo antes do verbo “ler” pode ser uma 1 pequena hipocrisia por parte dos que se envergonham de admitir não ter lido um livro famoso. Para tranquilizá-los, bastará observar que, por maiores que possam ser as leituras de “formação” de um indivíduo, resta sempre um número enorme de obras que ele não leu. (...) 2. “Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.” De fato, as leituras da juventude podem ser pouco profícuas pela impaciência, distração, inexperiência das instruções para o uso, inexperiência da vida. Podem ser (talvez ao mesmo tempo) formativas no sentido de que dão uma forma às experiências futuras, fornecendo modelos, recipientes, termos de comparação, esquemas de classificação, escalas de valores, paradigmas de beleza: todas, coisas que continuam a valer mesmo que nos recordemos pouco ou nada do livro lido na juventude. Relendo o livro na idade madura, acontece reencontrar aquelas constantes que já fazem parte de nossos mecanismos interiores e 2 cuja origem havíamos esquecido. Existe uma força particular da obra que consegue fazer- -se esquecer enquanto tal, mas que deixa sua semente. A definição que dela podemos dar então será: 3. “Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, 3 mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.” Por isso, deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais importantes da juventude. Se os livros permaneceram os mesmos (mas também eles mudam, à luz de uma perspectiva histórica diferente), nós com certeza mudamos, e o encontro é um acontecimento totalmente novo. Portanto, usar o verbo ler ou o verbo reler não tem muita importância. De fato, poderíamos dizer: 4. “Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.” 5. “Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.” A definição 3 pode ser considerada 4 corolário desta: 6. “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.” Italo Calvino, Por que ler os clássicos. 1. (FGV) Responda ao que se pede. a) A que tipo de comportamento de alguns leitores de clássicos se refere o autor por meio da expressão “pequena hipocrisia”? (ref. 1) b) Reescreva a frase “e cuja origem havíamos esquecido” (ref. 2), fazendo as modificações necessárias de acordo com as seguintes instruções: § use a forma pronominal do verbo “esquecer” (“esquecer-se”); § substitua a forma composta do mesmo verbo pela forma simples correspondente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Os enunciados de uma obra científica e, na maioria dos casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc., constituem juízos, isto é, as objectualidades puramente intencionais pretendem corresponder, adequar-se exatamente aos seres reais (ou ideias, quando se trata de objetos matemáticos, valores, essências, leis etc.) referidos. Fala-se então de “adequatio orationis ad rem”*. Há nestes enunciados a intenção séria de verdade. Precisamente por isso pode-se falar, nestes casos, de enunciados errados ou falsos e mesmo de mentira e fraude, quando se trata de uma notícia ou reportagem em que se pressupõe intenção séria.
62VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O termo “verdade”, quando usado com referência a obras de arte ou de ficção, tem significado diverso. Designa com frequência qualquer coisa como a genuinidade, sinceridade ou autenticidade (termos que, em geral, visam à atitude subjetiva do autor); ou a verossimilhança, isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que poderia ter acontecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo imaginário das personagens e situações miméticas; ou mesmo a visão profunda – de ordem filosófica, psicológica ou sociológica – da realidade. Até neste último caso, porém, não se pode falar de juízos no sentido preciso. Seria incorreto aplicar aos enunciados fictícios critérios de veracidade cognoscitiva. [...] Os mesmos padrões que funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do conto de fadas revelam-se falsos e caricatos quando aplicados à representação do universo profano da nossa sociedade atual [...]. “Falso” seria também um prédio com portal e átrio de mármore que encobrissem apartamentos miseráveis. É esta incoerência que é “falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico conto de fadas, apesar de o seu mundo imaginário corresponder muito menos à realidade empírica do que o de qualquer romance de entretenimento. Anatol Rosenfeld, literatura e personagem. In: A. Candido et. al. A personagem de ficção. * adequatio orationis ad rem: adequação da linguagem ao assunto. 2. (FGV) Reescreva as seguintes frases do texto, conforme a instrução entre parênteses que acompanha cada uma delas: a) “termos que, em geral, visam à atitude subjetiva do autor” (substitua o verbo “visar” por “ter como foco”, fazendo as alterações necessárias); b) “apesar de o seu mundo imaginário corresponder muito menos à realidade empírica” (substitua “apesar de” por “embora”, fazendo as alterações necessárias). 3. (CP2) (Tirinha postada no blog mulheresqueamamerrado.blogspot.com) Na tirinha, tem-se no último balão: “Esqueci minha jaqueta.” Reescreva o período acima, substituindo o verbo esquecer por esquecer-se, segundo a norma padrão, mantendo o tempo e o modo da frase acima. 4. (FGV) 80% dos professores são mestres e doutores - ÍNDICE SIMILAR ÀS MELHORES FACULDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. (Texto de anúncio publicitário.) O trecho em destaque nesse texto é marcado por quebra de paralelismo entre os termos relacionados pela noção de similaridade. a) Explique em que consiste essa quebra de paralelismo no contexto dado. b) Reescreva o trecho, eliminando essa impropriedade. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país. Seu sentido de inovação tanto em temas como em materiais que elege é sempre de uma sensação extraordinária para o espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos rodeam e lhes da vida com uma naturalidade impressionante, encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Picasso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos. Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h. 5. (FGV) O primeiro parágrafo do texto deve ser reescrito, para apresentar maior clareza. Além disso, a regência do verbo "chegar" contraria a norma culta. Reescreva o parágrafo, com o objetivo de torná-lo mais claro e adequar a regência do verbo referido. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A sensível Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado, insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria. Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de doença, escolheu um domingo em que o marido
63VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias viajava para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou- se a bordar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexidade diante da liberdade da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade. (Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.) 1. (Unifesp) A alternativa em que o enunciado está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa e coerente com o sentido do texto é: a) A senhora, pensando na recusa da bordadeira, não sabia se a perdoaria, mas achava melhor esquecer daquilo. b) Ao descer pela rua cheia de lama, a senhora se perguntava aonde é que estava, confusa no lugar que caminhava. c) Era comum de que a senhora, distraída com sua sensibilidade, fosse roubada, o que lhe fazia levar as mãos ao peito em sinal de inquietação. d) A senhora, quando se dispôs a ir à bordadeira, esperava que esta não lhe recusasse o trabalho solicitado. e) A senhora gostava muito de passear, embora tivesse ainda a impressão que era menina passeando pela calçada. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: As questões a seguir tomam por base um fragmento do livro Comunicação e folclore, de Luiz Beltrão (1918- 1986). O Bumba-Meu-Boi Entre os autos populares conhecidos e praticados no Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, congada, etc. – aquele em que melhor o povo exprime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico, é, realmente, o bumba-meu-boi, ou simplesmente boi. Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação estética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu turno, observou a sua superioridade porque “enquanto os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o bumba-meu-boi é sempre atual, incluindo soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sensação, percepção contemporânea. Na época da escravidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo- -os cantar versinhos que eram confissões estertóricas. O capitão-do-mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê- -los é trazido amarrado, humilhado, tremendo de medo. O valentão mestiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrastada com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, metido a entender de tudo, o delegado autoritário, valente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoetes, olhada por uma assistência onde estavam muitas vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela virulência do desabafo”. Como algumas outras manifestações folclóricas, o bumba-meu-boi utiliza uma forma antiga, tradicional; entretanto, fá-la revestir-se de novos aspectos, atualiza o entrecho, recompõe a trama. Daí “o interesse do tipo solidário que desperta nas camadas populares”, como o assinala Édison Carneiro. Interesse que só pode manter-se porque o que no auto se apresenta não reflete apenas situações do passado, “mas porque têm importância para o futuro”. Com efeito, tendo por tema central a morte e a ressurreição do boi, “cerca-se de episódios acessórios, não essenciais, muito desligados da ação principal, que variam de região para região... em cada lugar, novos personagens são enxertados, aparentemente sem outro objetivo senão o de prolongar e variar a brincadeira”. Contudo, dentre esses personagens, os que representam as classes superiores são caricaturados, cobrindo-se de ridículo, o que torna “o folguedo, em si mesmo, uma reivindicação”. Sílvio Romero recolheu os versos de um bumba-meu- -boi, através dos quais se constata a intenção caricaturesca nos personagens do folguedo. Como o Padre, que recita: Não sou padre, não sou nada “Quem me ver estar dançando Não julgue que estou louco; Secular sou como os outros”. Ou como o Capitão-do-Mato que, dando com o negro Fidélis, vai prendê-lo: “CAPITÃO – Eu te atiro, negro Eu te amarro, ladrão, Eu te acabo, cão.” Mas, ao contrário, quem vai sobre o Capitão e o amarra é o Fidélis: “CORO – Capitão de campo Veja que o mundo virou Foi ao mato pegar negro
64VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Mas o negro lhe amarrou. CAPITÃO – Sou valente afamado Como eu não pode haver Qualquer susto que me fazem Logo me ponho a correr”. (Luiz Beltrão. Comunicação e folclore. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1971.) 2. (Unesp) Quem me ver estar dançando. – Mas o negro lhe amarrou. Nos dois versos acima, do exemplo de estrofes de um bumba-meu-boi recolhidas por Sívio Romero, as formas ver e lhe caracterizam um uso popular. Se se tratasse de um discurso obediente à construção formal em Língua Portuguesa, tais formas seriam substituídas, respectivamente, por a) vir, o. b) vir, a. c) vesse, a. d) visse, te. e) vier, o. 3. (Fuvest) A única frase que segue as normas da língua escrita padrão é: a) A janela propiciava uma vista para cuja beleza muito contribuía a mata no alto do morro. b) Em pouco tempo e gratuitamente, prepare-se para a universidade que você se inscreveu. c) Apesar do rigor da disciplina, militares se mobilizam no sentido de voltar a cujos postos estavam antes de se licenciarem. d) Sem pretender passar por herói, aproveito para contar coisas as quais fui testemunha nos idos de 1968 e que hoje tanto se fala. e) Sem muito sacrifício, adotou um modo de vida a qual o permitia fazer o regime recomendado pelo médico. 4. (Fuvest) A televisão tem de ser vista ...... um prisma crítico, principalmente as telenovelas, ..... audiência é significativa. Temos de procurar saber ..... elas prendem tanto os telespectadores. Preenchem de modo correto as lacunas do texto, respectivamente, a) a nível de/ as quais a/ por que. b) sobre/ que/ porquê. c) sob/ cuja/ por que. d) em nível de/ cuja a/ porque. e) sob/ cuja a/ porque. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O OPERÁRIO NO MAR Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. 5. (Fuvest) Dentre estas propostas de substituição para diferentes trechos do texto, a única que NÃO está correta do ponto de vista da norma-padrão é: a) “Para onde vai ele, (...)?” = Aonde vai ele, (...)? b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao operário não lhe sobra tempo de perceber. c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria vergonha de chamá-lo de meu irmão. d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho vergonha e vontade de o encarar. e) “quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe um dia compreenderei-o.
65VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: MAÍRA Maíra só descobriu todo o seu poder um dia quando brincava com Micura na praia. Cada um deles tinha, levantada, uma mão cheia de vaga-lumes para alumiar, mas a luzinha era muito pouca. Maíra desenhou, assim mesmo, ali na areia da praia, uma arraia com seu ferrão e tudo. Mas naquela penumbra se distraiu pisou na arraia desenhada. Foi aquela ferroada! Compreendeu, então, que podia fazer qualquer coisa: – Sou Maíra – lembrou – sou o arroto de Deus-Pai. Ele, ambir, agora tem nome: é Mairahú, meu pai. Meu filho será Mairaíra. – Pegou então a conversar com o irmão, Micura, sobre o que podiam fazer. Maíra: - O mundo de Mairahú, meu pai, é feio e triste. Não um mundo bom para a gente viver. Podemos melhorá-lo. Micura: – Não vá o Velho se ofender! Maíra: – Pode ser. É melhor não fazer nada. Micura: – Bobagem. Alguma coisinha podemos fazer. Maíra: – Vamos, então, tomar dos que têm, o que eles têm, para dar aos que não têm. Micura saltou alegre: – Sim, vamos, primeiro o fogo. Ando com frio e com muita vontade de comer um churrasco. O fogo era do Urubu-rei que mandava na aldeia grande das gentes urubus. Eles só comiam corós de carniça tostados no borralho. Não precisavam tanto do fogo. Usavam mais era luz para ver bem a carniça e o calor para esquentar o corpo nu quando se desvestiam das penas para brincar de gente. O jeito que os gêmeos encontraram para roubar o fogo foi matar um veado grande, muito grande, deixá-lo apodrecer para criar bastante bicho-coró e, então, mandar levar uma moqueca de corós para o Urubu-rei e convidá-lo para vir à comilança. Assim fizeram. Maíra desenhou um cervo enorme, soprou para que vivesse e o matou ali mesmo. Quando estava bem podre e bichado, mandaram o passarinho que fala mais línguas, um papagaio, maracanã, atrás do Urubu-rei. Eles ficaram escondidos debaixo da carniça para agarrar o reizão bicéfalo quando ele pousasse. Assim fizeram. Quando o Urubu-rei estava bem preso, Maíra gritou: – Calma, meu rei. Não tenha medo. Só quero o fogo pro meu povinho. Todos andam com frio. Só comem o cru. Mas se armou a maior das confusões porque o Urubu- -rei começou a responder com as duas cabeças, falando ao mesmo tempo, cada qual dizendo uma coisa. Maíra não entendia nada. Aí uma cabeça do Urubu-rei virou-se para a outra e as duas caíram numa discussão cerrada. O tempo ia passando sem que Maíra soubesse o que fazer. Afinal, teve a ideia de mandar Micura agarrar o rei-falador. Levantou, então, suas duas mãos e fez de cada uma delas uma cabeça de urubu com bico e tudo e passou, assim, a conversar duro com as duas cabeças do reizão. Só deste modo conseguiu que ele mandasse trazer o fogo, mas o rei ainda quis enganar Maíra entregando fogos que queimavam pouco e não davam luz. Felizmente ali estava Micura experimentando tudo. Provava um e dizia: – Não, este não serve não; não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo de verdade. – Afinal, conseguiram o fogo verdadeiro e fizeram o trato. Maíra: - Vocês urubus vão comer carniça com fartura; o chefão de duas cabeças vai ficar com uma só, para não enganar mais ninguém, mas nesta vai usar esse diadema vermelho e branco que eu lhe dou agora. Urubu-rei: – Fiquem com o fogo vocês, mairuns. Mas façam muita carniça pra nós. (Darcy Ribeiro. Maíra.) PROMETEU ACORRENTADO Ésquilo (A cena é o pico duma montanha deserta. Chegam Poder e Vigor, que trazem preso Prometeu; segue-os, coxeando, Hefesto, carregando correntes, cravos e malho.) PODER: Eis-nos chegados a um solo longínquo da terra, caminho da Cítia, deserto ínvio. Hefesto, é mister te desincumbas das ordens enviadas por teu pai, acorrentando este celerado, com liames inquebráveis de cadeias de aço, aos rochedos de escarpas abruptas. Ele roubou uma flor que era tua, o brilho do fogo, vital em todas as artes, e deu-a de presente aos mortais; é preciso que pague aos deuses a pena desse crime, para aprender a acatar o poder real de Zeus e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade. HEFESTO: Poder e Vigor, a incumbência de Zeus para vós está terminada; nada mais vos embarga. Eu, porém, não me animo a agrilhoar à força um deus meu parente a um píncaro aberto às intempéries. Todavia, é imperioso criar essa coragem; é grave negligenciar as ordens de meu pai. (...) PODER: Basta! Para que te atardares em lástimas perdidas? Por que não abominas o deus mais odioso aos deuses, que entregou aos mortais um privilégio teu? HEFESTO: O parentesco e a amizade são forças formidáveis. PODER: Concordo, mas como se podem transgredir as ordens de teu pai? Isso não te infunde medo? HEFESTO: Tu és sempre cruel e audacioso. PODER: Lamentos não curam os teus males; não te canses à toa em lástimas ineficazes. HEFESTO: Oh! que ofício detestável! (...) HEFESTO: Podemos ir. Seus membros já estão amarrados. PODER: (a Prometeu) Abusa, agora! Furta aos deuses seus privilégios para entregá-los aos seres efêmeros! Que alívio te podem dar deste suplício os mortais? Errados andaram os deuses em te chamarem Prometeu; tu mesmo precisas de alguém que te prometa um meio de safar-te destes hábeis liames! (Retiram-se Poder, Vigor e Hefesto.)
66VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias PROMETEU: Éter divino! Ventos de asas ligeiras! Fontes dos rios! Riso imensurável das vagas marinhas! Terra, mãe universal! Globo do sol, que tudo vês! Eu vos invoco. Vede o que eu, um deus, sofro da parte dos deuses! Contemplai quão ignominiosamente estracinhado hei de sofrer pelas miríades de anos do tempo em fora! Tal é a prisão aviltante criada para mim pelo novo capitão dos bem-aventurados! Ai! Ai! Lamento os sofrimentos atuais e os vindouros, a conjeturar quando deverá despontar enfim o termo deste suplício. Mas que digo? Tenho presciência exata de todo o porvir e nenhum sofrimento imprevisto me acontecerá. Cumpre-me suportar com a maior resignação os decretos dos fados, sabendo inelutável a força do Destino. Contudo, não posso calar nem deixar de calar minha desdita. Por ter feito uma dádiva aos mortais, estou jungido a esta fatalidade, pobre de mim! Sou quem roubou, caçada no oco duma cana, a fonte do fogo, que se revelou para a Humanidade mestra de todas as artes e tesouro inestimável. Esse o pecado que resgato pregado nestas cadeias ao relento. (Teatro Grego. Seleção, introdução, notas e tradução direta do grego por Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1964.) 1. (Unesp) Muitos verbos, como é o caso de "renunciar", apresentam mais de uma regência, por vezes sem alteração relevante de significado, de modo que a realização da regência em cada frase se torna dependente da escolha estilístico-expressiva do escritor. Com base nesse fato: a) considerando que na frase "e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade" o verbo "renunciar" aparece como transitivo direto, escreva uma frase em que o mesmo verbo apareça como transitivo indireto e outra em que apareça como intransitivo; b) reescreva a seguinte frase de Micura tornando o verbo "precisar" transitivo indireto: "Não, este também não é o fogo que precisamos". 2. (Fuvest) Observe este texto, criado para propaganda de embalagens: AO FINAL DO PROCESSO DE RECICLAGEM, AQUELE LIXO DE LATA VIRA LATA DE LUXO, EMBALANDO AS BEBIDAS QUE TODO MUNDO GOSTA, DAS MARCAS QUE TODO MUNDO PODE CONFIAR. a) Reescreva, corrigindo-os, os segmentos do texto que apresentem algum desvio em relação à norma gramatical. b) Transcreva do texto um trecho em que apareça um recurso de estilo que torne a mensagem mais expressiva. Explique em que consiste esse recurso. 3. (Fuvest) I. O QUE MUDOU NA LEGISLAÇÃO ELEITORAL COMO ERA EM 89 (...) Apenas pessoas físicas podiam fazer doações (...) 'Entidades de classe ou sindicais não podiam contribuir com os partidos. (...)' ["Folha de S. Paulo", 3/12/94, 1-8] II. CONTRIBUIR 1. (...) Tomar parte em despesa comum, pagar contribuição; dar dinheiro, com outros (para determinado fim) (...) "Você não contribui para as obras da igreja?" (...) Contribuí com cem reais. Poucos paroquianos deixaram de contribuir. (...) [C. P. LUFT, Dicionário de regência verbal] a) O período destacado em I apresenta uma incorreção na regência verbal. Redija-o corretamente, com base na informação de II. b) Ainda com base em II, formule uma explicação adequada para o uso da preposição no período destacado em I. 4. (Fuvest) "Não tenho dúvidas de que a reportagem esteja à procura da verdade, mas é preciso ressalvar de que a história não pode ser escrita com base exclusivamente em documentos da polícia política." ("O Estado de São Paulo", 30/08/93) Das duas ocorrências de DE QUE, no excerto acima, uma está correta e a outra não. a) Justifique a correta. b) Corrija a incorreta, dizendo por quê. 5. (Unicamp) Os trechos que seguem mostram que certas construções típicas do português falado, consideradas incorretas pelas gramáticas normativas da língua, já estão sendo utilizadas na modalidade escrita. § Concentre sua atenção nas matérias que você tem maior dificuldade.. (Fovest, 03/01/89) § Uma casa, onde na frente funcionava um bar, foi totalmente destruída por um incêndio, na madrugada de ontem. ("O Liberal, Belém", 27/09/89) a) Transcreva as marcas típicas da linguagem oral presentes nos trechos acima. b) Reescreva-as de modo a adequá-las às exigências da gramática normativa. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. C 3. B 4. A 5. B 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C E.O. Fixação 1. E 2. E 3. E 4. D 5. D 6. E 7. D 8. A 9. A 10. B E.O. Complementar 1. B 2. C 3. E 4. C 5. B
67VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Dissertativo 1. a) Segundo o autor, “pequena hipocrisia” diz respeito aos “que se envergonham de admitir não ter lido um livro famoso”, ou seja, faz uma alusão ao comportamento de pessoas com bagagem de leitura que, por algum motivo, não tenham lido determinada obra consagrada. b) A reescrita da frase é: “e de cuja origem nos esquecêramos”. Ao empregar a forma pronominal do verbo, é obrigatória a presença da preposição “de”; já a forma verbal composta no pretérito imperfeito do Indicativo corresponde ao pretérito mais-que-perfeito do Indicativo. 2. a) “termos que, em geral, têm como foco a atitude subjetiva do autor”. b) “embora o seu mundo imaginário corresponda muito menos à realidade empírica”. 3. Segundo a norma padrão, o verbo “esquecer-se” é regido com a preposição “de”. Assim, a reescrita correta seria: Esqueci-me da minha jaqueta. 4. a) Não há quebra de paralelismo na questão. Ocorreu omissão do termo que é o núcleo do segundo elemento da comparação - o substantivo "índice" ou o pronome "o", que o substituiria. b) Possível resposta: "... índice similar ao das melhores faculdades públicas brasileiras". 5. O artista Juan Diego Miguel apresenta, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE), a exposição de suas obras que acabam de chegar ao país, intitulada (ou denominada) "Arte e Sensibilidade". E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. D 2. A 3. A 4. C 5. E E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. a) Transitivo indireto: Ele renunciou aos bens que herdara. Intransitivo: O presidente renunciou. b) Não, este também não é o fogo de que precisamos. 2. a) Bebidas DE que todo O mundo gosta, das marcas EM que todo O mundo pode confiar. b) O autor utiliza a paronomásia (jogo de palavras, aproximadas pelos sons e diferentes significados) como em LIXO e LUXO. Esse recurso é para descrever a transformação que ocorre com a lata. 3. a) Entidades de classe ou sindicais não podiam contribuir PARA os partidos. b) Confundiu-se uma preposição que expressa meio com outra que indica finalidade. 4. a) "dúvidas de que". O termo DÚVIDA rege a preposição DE. b) Mas é preciso ressalvar que a história... O verbo "ressalvar" é transitivo direto, não admitindo preposição. 5. a) "... nas matérias que você tem maior dificuldade..." "Uma casa, onde na frente funcionava..." b) ...nas matérias em que você tem... Uma casa, em cuja frente funcionava...
68VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (EEAR) Assinale a alternativa em que o emprego do acento grave, indicador de crase, está correto. a) Peça desculpas à seu mestre. b) Atribuiu o insucesso à má sorte. c) Quando a festa acabou, voltamos à casa felizes. d) Daqui à quatro meses muita coisa terá mudado. 2. (IFSUL) Quanto às regras de uso da crase, qual a única frase correta em seu emprego? a) Fiquem atentas à homens dominadores. b) Preciso estar pronta até às 13h, senão perderei o voo e todas as conexões. c) As mulheres discutiram cara a cara acerca da melhor forma de obedecer as leis. d) O endereço correto é daqui à duas quadras, à esquerda da avenida principal. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O MITO DO TEMPO REAL O descompasso entre a velocidade das máquinas e a capacidade de compreensão de seus usuários leva a um quadro de ansiedade social sem precedentes. Em blogs, redes sociais, podcasts e mensagens eletrônicas diversas todos pedem desculpas pela demora em responder às demandas de seus interlocutores, impacientes como nunca. E-mails que não sejam atendidos em algumas horas acabam encaminhados para outras redes, em um apelo público por uma resposta. No desespero por contato instantâneo, telefones chamam repetidamente em horas impróprias, mensagens de texto são trocadas madrugada adentro, conversas multiplicam-se por comunicadores instantâneos e toda ocasião – do trânsito ao banheiro, do elevador à cama, da hora do almoço ao fim de semana – parece uma lacuna propícia para se resolver uma pendência. [...] A resposta imediata a uma requisição é chamada tecnicamente de “tempo real”, mesmo que não haja nada verdadeiramente real nem humano nessa velocidade. O tempo imediato, sem pausas nem espera, em que tudo acontece num estalar de dedos é uma ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência. Pelo contrário, pode ser extremamente prejudicial. Muitos combatem a superficialidade nas relações digitais pelos motivos errados, questionando a validade dos “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter ao compará-los com seus equivalentes analógicos. O problema não está na tecnologia, mas na intensidade dispensada em cada interação. Seja qual for o meio em que ele se dê, o contato entre indivíduos demanda tempo, e nesse tempo não é só a informação pura e simples que se troca. Festas, conversas, leituras, relacionamentos, músicas e filmes de qualidade não podem ser acelerados ou resumidos a sinopses. Conversas, ao vivo ou mediadas por qualquer tecnologia, perdem boa parte de sua intensidade com a segmentação. O tempo empenhado em cada uma delas é muito valioso; não faz sentido economizá-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo humano (que talvez seja irreal, se o “outro” for provado real) é bem mais lento. Nossas vidas são marcadas tanto pela velocidade quanto pela lentidão. [...] Essa quebra da sequência histórica faz com que muitos processos pareçam herméticos ou misteriosos demais. Quando não há uma compreensão das etapas componentes de um processo, não há como intervir nelas, propondo correções, adaptações ou melhorias. Tal impotência leva a uma apatia, em que as condições impostas são aceitas por falta de alternativa. Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à procura do último aparelho eletrônico que se proponha a preencher o vazio que sentem. Incapazes de propor alternativas ou sugerir mudanças, os consumidores são estimulados pela publicidade a um gigantesco hedonismo e pragmatismo. A facilidade de acesso à abundância leva a uma passividade e a um pensamento pragmático que defende a ideia de “vamos aproveitar agora, pois quando acontecer um problema alguém terá descoberto a solução”, visível na forma com que se abordam problemas de saúde, obesidade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento de recursos e poluição ambiental. Em alta velocidade há pouco espaço para a reflexão. Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o risco de deixar para trás tudo aquilo que nos diferencia das outras espécies. (Luli Radfahrer. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/luliradfahrer/1191007-o-mito-do-tempo-real.shtml.) 3. (UTFPR) Analise o uso da crase no fragmento: “Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam CRASE COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 25, 26 e 27 LC AULAS 43 E 44
69VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias em lojas à procura do último aparelho eletrônico.” Assinale a alternativa em que o emprego da crase se justifica pelo mesmo uso que no fragmento acima. a) Ela ficou parada à espera de uma oportunidade para dar sua opinião. b) Os imigrantes sírios voltaram à terra de seus antepassados. c) Todos os funcionários do jornal foram à Lapa inaugurar a gráfica. d) Dirigia-se àquela população como seu reduto eleitoral. e) A placa indicava que era proibido virar à esquerda nesta rua. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: AÇÚCAR, O NOVO CIGARRO 1. Há um setor que vende um produto que faz mal à saúde do homem. Uma geração atrás, esse era o setor fumageiro, e o produto era o cigarro. Hoje, é o setor alimentício e o produto é o açúcar. O açúcar adicionado – não o açúcar natural que existe em frutas e legumes – está em tudo. Uma das maiores fontes são bebidas como refrigerantes, energéticos e sucos, mas um passeio pelo supermercado mostra que há açúcar adicionado a pães, iogurtes, sopas, vinhos, salsichas – na verdade, a quase todos os alimentos industrializados. 2. Esse “açúcar invisível” recebe muitos nomes. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o consumidor pode encontrar até 83 nomes diferentes para o açúcar adicionado. Sobre esse assunto, Helen Bond, nutricionista da Associação Dietética Britânica, diz: “É um marketing inteligente: palavras como ‘frutose’ fazem pensar que estamos reduzindo o açúcar adicionado, mas o fato é que estamos polvilhando açúcar branco sobre a comida.” Outros especialistas afirmam, ainda, que esse açúcar a mais é completamente desnecessário, pois, ao contrário do que a indústria alimentícia quer que acreditemos, o organismo não precisa da energia de nenhum açúcar adicionado. 3. No Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o açúcar adicionado representa 19% da ingestão total de açúcar do brasileiro. Ainda segundo o Ministério, o excesso de açúcar na dieta é fator de risco para o desenvolvimento da obesidade, embora o perigo para a saúde não seja só o desenvolvimento desse mal: há indícios que ligam o açúcar a doenças hepáticas, diabetes tipo 2, cardiopatias e cáries. Ainda assim, o setor de bebidas e alimentos continua a promover o açúcar, com muita publicidade de seus produtos açucarados. Grandes quantias também são empregadas para se opor à rotulagem mais explícita dos produtos e combater o aumento da tributação de alimentos e bebidas açucarados. 4. Os defensores da saúde pública levantam a ideia de que duas abordagens bem-sucedidas na redução do hábito de fumar são necessárias no combate ao consumo excessivo de açúcar: a educação do consumidor e a tributação. Em janeiro de 2014, o México criou um imposto de 10% sobre bebidas açucaradas, e sua venda caiuno primeiro ano. Na França, um imposto sobre refrigerantes criado em 2012 resultou no declínio gradual do consumo. A Noruega tributa alimentos e bebidas açucarados e divulga informações há muitos anos, com bons resultados. Em março deste ano, o chanceler britânico George Osborne anunciou a criação de um imposto sobre bebidas açucaradas a ser cobrado de produtores e importadores de refrigerantes. 5. Embora tenha havido algum sucesso com a tributação, o setor de alimentos e bebidas continua a fazer pressão contra informar sobre o açúcar adicionado ao consumidor – mais uma vez, exatamente como fizeram as empresas fumageiras ao combaterem as tentativas do governo de pôr nas embalagens de cigarros mensagens alertando para o perigo de fumar (medida adotada também no Brasil). Na esteira das preocupações em relação ao açúcar, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) anunciaram recentemente que estudam um acordo para reduzir a quantidade de açúcar nos alimentos processados, semelhante ao que é feito com o sal. A primeira etapa deve começar em 2017, com análise das principais fontes de açúcar na dieta dos brasileiros. ECENGARGER, William. AIKINS, Mary S. Açúcar, o novo cigarro (adaptado). Revista Seleções.Disponível em: <http://www.selecoes. com.br/acucar-o-novo-cigarro>. Acesso: 01 out. 2016. 4. (IFPE) Em relação ao uso do acento grave indicativo da crase, observe os termos destacados e analise as afirmativas a seguir. I. Em “um produto que faz mal à saúde do homem (...)” (1º parágrafo), o acento grave foi bem empregado, pois há uma palavra feminina determinada pelo artigo definido “a” e um outro termo que exige a preposição “a”. II. No trecho “são empregadas para se opor à rotulagem mais explícita (...)” (3º parágrafo), houve um equívoco no emprego do acento grave, visto que não há indicação de crase pela utilização dos termos destacados. III. Em “A Noruega tributa alimentos e bebidas açucarados e divulga informações (...)” (4º parágrafo), o acento grave indicativo da crase deveria ter sido empregado pelo fato de “Noruega” ser um substantivo próprio feminino. IV. No fragmento “imposto sobre bebidas açucaradas a ser cobrado de produtores e importadores (...)” (4º parágrafo), não foi empregado o acento grave pelo fato de sua utilização antes de verbos ser facultativa. V. Em “fazer pressão contra informar sobre o açúcar adicionado ao consumidor (...)” (5º parágrafo), se substituíssemos a expressão destacada por “as pessoas”, haveria a ocorrência da crase e o acento grave deveria ser empregado no vocábulo “as”. Estão CORRETAS apenas as afirmações constantes nos itens: a) II e III. b) I e IV. c) II e V. d) III e IV. e) I e V.
70VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ONDE MORA SUA MUITEZA? A infância é um lugar complexo. Para quem já cresceu, foi aquele espaço em que moramos quando ainda não tínhamos muita memória. Aqueles dias e noites que se sucediam sem grandes planos em um corpo que mudava diariamente. Muito grande. Muito pequeno. Muito alto. Muito baixo. Quando criança, entediada, 1 Alice seguiu um coelho até sua toca e lá se viu em um espaço totalmente novo. Um espaço onírico que reproduzia suas ansiedades e ensinava-lhe a buscar dentro de si mesma recursos que lhe permitissem seguir em frente. Tentando fazer sentido do espaço onde se encontrava, Alice foi protagonista de uma experiência fantástica de descoberta. Ela descobriu que viver não é fácil, às vezes a vida é um jogo, mas mesmo assim vale a pena. 2 Anos mais tarde, já adulta, prestes a embarcar em um casamento arranjado, com um noivo patético, Alice se deixa conduzir novamente a esse espaço que lhe é familiar, mas do qual não lembra quase nada. 3 É um lugar que fica no jardim, no buraco de uma árvore e, pasmem, onde mora um coelho de cartola e relógio! 4 É lá que ela, lembrando aos poucos de que já os conhecia, encontra velhos amigos que são rápidos em tecer críticas a seu respeito, dizendo, inclusive, que ela é a Alice “errada”. 5 Mas é a crítica do Chapeleiro Maluco que a atinge em cheio: você não é a mesma de antes, você era muito mais “muita”, 6 você perdeu sua muiteza. Lá dentro. Falta alguma coisa. De todas as coisas que Alice esqueceu de compreender desse lugar, talvez essa seja a que faça mais sentido. 7 Talvez isso explique tudo. Talvez tenha sido isso que ela fora até lá buscar. A criança que fomos ocupa um espaço dentro de nós, nesse acúmulo de experiências que é a vida. 8 É nesse espaço que guardamos os joelhos ralados, as descobertas, os medos, a alegria e a força que nos impulsiona para a frente. Há espaços mais sombrios, outros mais claros. Muitos de nós já esqueceram o caminho para esse lugar. Estamos ocupados demais com as coisas grandes para tentar encontrar uma toca de coelho que nos leve para dentro da terra. Então vivemos assim, sempre muito ocupados, sempre muito atrasados, com coisas sérias e importantes a fazer. E vagamos. 9 Vagamos pelo mundo com alguma coisa faltando. Lá dentro. É na infância que mora a nossa muiteza. E é para lá que devemos voltar para encontrá-la, sempre que essa pantomima a qual chamamos de vida adulta nos puxa e empurra forte demais. LHULLIER, Luciana. Onde mora sua muiteza? In: No coração da floresta (blog). 08 out. 2013 (adaptado). Original disponível em: <https://contesdesfee.wordpress.com/page/2/>. Acesso: 05 ago. 2016. Vocabulário: Onírico: de sonho e/ou relativo a sonho. Pantomima: representação teatral baseada na mímica (ou seja, em gestos corporais); por extensão, situação falsa, representação, ilusão, fraude. Patético: que provoca sentimento de piedade ou tristeza; indivíduo digno da piedade alheia. 5. (IFSUL) Observe esta frase retirada do texto. “É nesse espaço que guardamos os joelhos ralados, as descobertas, os medos, a alegria e a força que nos impulsiona para a frente.” (referência 8) Se a frase for reescrita, substituindo-se o trecho destacado por “É esse o espaço reservado...”, fazendo as devidas adaptações, em qual das alternativas NÃO há nenhuma incorreção quanto ao emprego da crase? a) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, as descobertas, aos medos, a alegria e a força que nos impulsiona para a frente. b) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, as descobertas, aos medos, à alegria e à força que nos impulsiona para a frente. c) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, às descobertas, aos medos, à alegria e à força que nos impulsiona para a frente. d) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, às descobertas, aos medos, a alegria e a força que nos impulsiona para a frente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O ACESSO 1 À EDUCAÇÃO É O PONTO DE PARTIDA Mozart Neves A Educação tem resultados profundos e abrangentes no desenvolvimento de uma sociedade: contribui para o crescimento econômico do país, para a promoção da igualdade e bem-estar social, e também tem impactos decisivos na vida de cada um. Um deles, por exemplo, é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita __________ alguns anos pelo economista Marcelo Neri mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasileiro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo também mostrou que quem completou o Ensino Fundamental tem 35% a mais de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número sobe para 122% na comparação com alguém que tenha o Ensino Médio e 387% com Ensino Superior. Diante disso, o direito do acesso 2 à Educação é o ponto de partida na formação de uma pessoa e, consequentemente, no desenvolvimento e prosperidade de uma nação. Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil nas duas últimas décadas4 , 5 ainda 6 há 7 importantes desafios a superarmos no que tange esse direito. Se 8 por um lado conseguimos universalizar o atendimento escolar no Ensino Fundamental, temos 9 ainda, por outro lado, 2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso corresponde ______ um país do tamanho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos) e do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos). Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam e nem trabalham, a chamada 11“geração nem-nem”, para
71VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias trazê-12los de volta __________ escola e, posteriormente, 13incluí-los no mundo do trabalho. Isso é essencial para um país que passa por um bônus demográfico que se completará, 14segundo os especialistas, em 2025. O país, para seu crescimento econômico e sua sustentabilidade, não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens. No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matriculados nesse nível de ensino. Em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE), o país precisará dobrar esse percentual nos próximos dez anos, ou seja, chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da complexidade dessa meta, esse era o percentual previsto no PNE que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que haja perda de qualidade com essa expansão – que a educação básica melhore significativamente, tanto em acesso como em qualidade, tomando como referência os atuais índices de aprendizagem escolar. O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir decisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo seu Produto Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mundial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quando o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça, não se conhece nada melhor do que a Educação. Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacaoe-o-ponto-de-partida/>. Acesso em: 20 mar. 2017 6. (IFSUL) Para atender à norma culta, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com: a) a – há – à – a. b) há – a – à – há. c) à – há – a – à. d) há – a – à – a. 7. (Fatec) Assinale a alternativa que apresenta o correto emprego da crase. a) Alguns atletas olímpicos irão à São Paulo fazer exames médicos periódicos. b) À um ano dos Jogos Olímpicos do Rio, é impossível adquirir alguns ingressos. c) Nossos atletas, à partir dessa semana, serão submetidos a novos treinamentos. d) Nenhum atleta dessa delegação pode comer o que deseja o tempo todo, à vontade. e) A homenagem à João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, resgata a nossa história olímpica. 8. (PUC-PR) Leia as sentenças e assinale o que se pede a seguir: I. Em 2014, os brasileiros, confiantes e crédulos, saíram a consumir, como se consumo fosse investimento. E o Estado agora nos convoca à pagar também suas dívidas, que não são nossas. (Veja. São Paulo: Abril, p. 23, 10 jun. 2015. Adaptado). II. Pode-se dizer que as gerações da Idade Média falam às gerações atuais por meio das grandes obras de arquitetura que exprimem a devoção e o espírito da época. (WHITNEY, W. A vida da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2010. p.17). III. À linguagem é uma expressão destinada a transmissão do pensamento. IV. O atendimento a gestantes foi suspenso ontem à tarde e a Prefeitura pouco pode fazer a curto prazo para amenizar a situação. V. Transmita a cada um dos pacientes às instruções necessárias à continuidade do tratamento. O sinal indicativo de crase está adequadamente empregado na(s) alternativa(s): a) IV somente. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) I e IV. e) II e IV. 9. (IFBA) A imagem a seguir representa um cartaz retirado de um ambiente virtual. Em relação ao uso do acento indicativo de crase, a frase presente na imagem está: Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ toda-letra/crase-parte-i/>. Acesso em: 18 set. 2015 a) correta, tal como em “Ele caminhava à passo firme”. b) incorreta, tal como em “Encontraram-se às 18 horas”. c) incorreta, tal como em “Esta é a escola à qual se referiram”. d) correta, tal como em “Fui àquela praça, mas não o encontrei”. e) incorreta, tal como em “Dirigiu-se ao local disposto à falar com o delegado”. 10. (Col. Naval) Assinale a opção na qual o acento indicativo de crase foi corretamente empregado. a) A leitura deve ser um prazer, mas muitos usam um tom irônico quando se referem à ela. b) Às pessoas que leem cabe o papel de ver o mundo de modo claro, especial e lúcido, independentemente de classe social. c) Quando os livros perdem espaço para o computador, a sociedade começa à perder oportunidades ímpares de conhecimento. d) Até à Educação pode utilizar-se dos meios cibernéticos, desde que não abandone os valores primeiros de sua estrutura. e) Quanto à Vossa Senhoria, peço que se retire agora mesmo desse tribunal para não causar maiores constrangimentos.
72VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: SOMOS TODOS ESTRANGEIROS Volta e meia, em nosso mundo redondo, colapsa o frágil convívio entre os diversos modos de ser dos seus habitantes. 1 Neste momento, vivemos uma nova rodada 2 dessas com os inúmeros refugiados, famílias fugitivas de suas guerras civis e massacres. Eles tentam entrar na mesma Europa que já expulsou seus famintos e judeus. Esses movimentos introduzem gente destoante no meio de outras culturas, estrangeiros que chegam falando atravessado, comendo, amando e rezando de outras maneiras. Os diferentes se estranham. Fui duplamente estrangeira, no Brasil por ser uruguaia, em ambos os países e nas escolas públicas por ser judia. A instrução era tentar mimetizar-se, falar com o menor sotaque possível, ficar invisível no horário do Pai Nosso diário. Certamente todos conhecem esse sentimento de sentir- -se estrangeiro, ficar de fora, de não ser tão autêntico quanto os outros, ou não ser escolhido para o que realmente importa. Na 3 infância, tudo é grande demais, amedronta e entendemos fragmentariamente, como recém-chegados. Na puberdade, perdemos a familiaridade com nossos familiares: o que antes parecia natural começa __________ soar como estrangeiro. 4 Na 5 adolescência, sentimo-nos estranhos __________ quase tudo, andamos por aí enturmados com os da mesma idade ou estilo, tendo apenas uns aos outros como cúmplices para existir. O fim desse desencontro deveria ocorrer no começo da vida adulta, quando trabalhamos, procriamos e tomamos decisões de repercussão social. Finalmente 6 deveríamos sentir-nos legítimos cidadãos da vida. 7 Porém, julgamos ser uma fraude: 8 imaginávamos que os adultos eram algo maior, mais consistente do que sentimos ser. Logo em seguida disso, já começamos a achar que perdemos o bonde da vida. O tempo nos faz estrangeiros __________ própria existência. Uma das formas mais simples de combater todo esse 9 mal-estar é encontrar outro para chamar de diferente, de inadequado. 10Quem pratica o bullying, quer seja entre alunos ou com os que têm hábitos e aparência distintos do seu, conquista momentaneamente a ilusão da legitimidade. Quem discrimina arranja no grito e na violência um lugar para si. Conviver com as diferentes cores de pele, interpretações dos gêneros, formas de amar e casar, vestimentas, religiões ou a falta delas, línguas faz com que todos sejam estrangeiros. Isso produz a mágica sensação de inclusão universal: 11se formos todos diferentes, ninguém precisa sentir-se excluído. Movimentos migratórios misturam povos, a eliminação de barreiras de casta e de preconceitos também. Já pensou que delícia se, no futuro, entendermos que na vida ninguém é nativo. 12A existência de cada um é como um barco em que fazemos um trajeto ao final do qual sempre partiremos sem as malas. Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com. br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estrangeir os/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19 out. 2015 1. (IFSUL) A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto, respectivamente, é a) a – a – à. b) à – à – a. c) a – à – a. d) à – a – à. TIRA PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: (Disponível em: <www.depositodetiras.com.br>. Acesso em out. 2015) 2. (IFSUL) A crase presente na fala do último quadrinho baseia-se na regra gramatical que prescreve utilizar crase: a) antes de substantivo concreto. b) antes de palavra feminina regida pela preposição "a". c) depois de pronome demonstrativo. d) depois de verbo transitivo direto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando a 1 economia 2 política clássica nasceu, no Reino Unido e na França, ao final do século XVIII e início do século XIX, a questão da distribuição da renda já se encontrava no centro de todas as análises. Estava claro que 3 transformações radicais entraram em curso, propelidas pelo crescimento 4 demográfico sustentado – inédito até então – e pelo início do êxodo rural e da Revolução Industrial. Quais seriam as consequências sociais dessas mudanças? Para Thomas Malthus, que 5 publicou em 1798 seu Ensaio sobre o princípio da população, não restava dúvida: a superpopulação era uma ameaça. Preocupava-se especialmente com a situação dos franceses 1 vésperas da Revolução de 1789, quando havia miséria generalizada no campo. 6 Na época, a França era 7 de longe o país mais populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com mais de 20 milhões de habitantes, enquanto o Reino Unido tinha pouco mais de 8 milhões de pessoas. A 8 popula-
73VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ção francesa se expandiu em ritmo crescente ao longo do século XVIII, aproximando-se dos 30 milhões. Tudo leva a crer que esse 9 dinamismo demográfico, desconhecido nos séculos anteriores, contribuiu para a 10estagnação dos salários no campo e para o aumento dos rendimentos associados à 11propriedade da terra, sendo, portanto, um dos fatores que levaram 2 Revolução Francesa. 12Para evitar que torvelinho 13similar vitimasse o Reino Unido, Malthus argumentou que 14toda assistência aos 15pobres deveria ser suspensa de imediato e a taxa de natalidade deveria ser severamente controlada. Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princípios de economia política e tributação, preocupava-se com a 16evolução do preço da terra. Se o crescimento da população e, 17consequentemente, da produção agrícola se prolongasse, a terra tenderia a se 18tornar escassa. De acordo com a lei da oferta e da procura, o preço do bem escasso – a terra – deveria subir de modo contínuo. No limite, 19os donos da terra receberiam uma parte cada vez mais significativa da renda nacional, e o 20restante da população, uma parte cada vez mais reduzida, 21destruindo o equilíbrio social. De fato, 22o valor da terra permaneceu alto por algum tempo, mas, ao longo de século XIX, caiu em relação 3 outras formas de riqueza, à medida que diminuía o peso da agricultura na renda das nações. 23Escrevendo nos anos de 1810, Ricardo não poderia antever a importância que o progresso tecnológico e o crescimento industrial teriam ao longo das décadas seguintes para a evolução da distribuição da renda. Adaptado de: PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p.11-13. 3. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas 1, 2 e 3, nesta ordem. a) às – à – a. b) as – à – a. c) às – à – à. d) às – a – à. e) as – a – a. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Apresentador Chris Rock fica à revelia de polêmica sobre racismo no Oscar Quando Chris Rock, 51, apresentou o Oscar pela primeira vez, em 2005, 20% dos indicados 1às categorias de atuação eram negros. Naquele ano, foram lembrados Jamie Foxx, Don Cheadle, Morgan Freeman e Sophie Okonedo. As vitórias históricas de Halle Berry e Denzel Washington em 2002 – primeira e única vez em que as estatuetas de melhor ator e atriz foram para negros – também estavam frescas na memória. Onze anos depois, a história é outra. O anúncio da volta de Rock como apresentador da 88ª edição do prêmio antecedeu o 2 anúncio dos indicados e 3 a constatação de que, pelo segundo ano consecutivo, 4 não havia negros nas categorias de atuação. 5 Muito se especulou que o comediante poderia abrir mão do cargo como forma de protesto, mas sua resposta foi um tuite apontando o Oscar como o equivalente branco do BET (Black Entertainment Television), prêmio anual dedicado a artistas negros. Agora, recai sobre ele a responsabilidade de fazer coro 6 às críticas de colegas como Spike Lee e 7 o casal Will e Jada Pinkett Smith – que não irão à 8 cerimônia em protesto –, mas só o suficiente para não espantar o público. Há pressão do canal ABC sobre Rock para reverter a queda acentuada de audiência do ano passado (15%) ainda maior entre a população negra (20%) segundo a consultora especializada Nielsen. Segundo Reginald Hudlin, um dos produtores-executivos da transmissão da cerimônia – e também negro –, o espectador deve esperar piadas sobre a controvérsia. 9 “A Academia espera que ele faça isso”, declarou ao programa de TV “Entertainment Tonight”. “Os membros estão animados com a possibilidade, porque sabem que é disso que precisam. 10Sabem que é o desejo do público.” Além de Rock, a produção do Oscar já anunciou a participação de 11 negros na cerimônia, entre eles Whoopi Goldberg, Quincy Jones e Kerry Washington. A escolha reflete os recentes esforços da Academia, anunciados pela presidente, a afro-americana Cheryl Boone Isaacs, para se diversificar. Folha de São Paulo, SP, 28/02/2016. Autora: Maria Clara Moreira. 4. (IFCE) Sobre o emprego do acento indicativo de crase, observe as afirmações a seguir. I. É possível substituir às por a na referência 1 sem prejuízo ao sentido da frase e sem transgressão às regras de emprego do acento grave. II. Transpondo a expressão às críticas (referência 6) para o singular, teríamos a impossibilidade de realização da crase, devendo, portanto, retirar o acento grave. III. Mesmo substituindo o termo cerimônia por evento, na referência 8, seríamos obrigados a manter o acento indicativo de crase. IV. Na referência 3, não ocorre crase em a constatação porque a regência do verbo anteceder está sendo utilizada como transitiva direta nesse texto, como comprova seu outro objeto direto o anúncio, na referência 2. É(são) verdadeira(s): a) I e IV. b) apenas III. c) I, II, III e IV. d) apenas I. e) I e II. 5. (IFCE) No título do texto, o uso do acento grave se justifica pela regra da crase: a) obrigatória antes de pronomes pessoais. b) obrigatória antes de nomes masculinos. c) proibida antes de verbos. d) facultativa antes de pronomes possessivos femininos. e) obrigatória nas locuções prepositivas com palavra feminina.
74VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O ANJO RAFAEL Machado de Assis Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado das mulheres e aborrecido dos credores, 1 o dr. Antero da Silva determinou um dia despedir-se deste mundo. Era pena. O dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, e podia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade é que para isso fora necessário proceder a uma completa reforma dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso herói que o defeito não estava em si, mas nos outros; cada pedido de um credor inspirava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; julgava conhecer os homens, por ter tratado até então com alguns bonecos sem consciência; pretendia conhecer as mulheres, quando apenas havia praticado com meia dúzia de regateiras do amor. O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para isso foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e entrou em casa, que era à rua da Misericórdia. Davam então quatro horas da tarde. O dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na mesa. – A viagem é longa, disse ele consigo, e eu não sei se há hotéis no caminho. Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir dormir a sesta e não o último sono. 2 O próprio criado reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. No fim dele, quando o criado lhe trouxe o café, Antero proferiu paternalmente as seguintes palavras: 3 – Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis que lá estão, são teus. Vai passar a noite fora e não voltes antes da madrugada. – Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro. – Vai. Pedro apressou-se a executar a ordem do amo. O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu um volume do Dicionário filosófico e começou a ler. Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A leitura do dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente daí a algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou o livro. Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer e agradecer ao céu. 4 O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para escrever. 5 Não tinha parentes, nem amigos a quem deixar carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer a respeito dele a sua última palavra. Travou da pena e escreveu as seguintes linhas: Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De ordinário a fuga é impossível. Mas estes animais meus semelhantes tão traiçoeiros e ferozes como os outros, tiveram a inépcia de inventar uma arma, mediante a qual um transviado facilmente lhes escapa das unhas. É justamente o que vou fazer. Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com estes três elementos reduzirei a minha vida ao nada. Não levo nem deixo saudades. Morro por estar enjoado da vida e por ter certa curiosidade da morte. Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadáver, os jornais escreverão a notícia do acontecimento, e um ou outro fará a esse respeito considerações filosóficas. Importam-me bem pouco as tais considerações. Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas linhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os rimadores de ocasião encontrarão assunto para algumas estrofes. O dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em alguns lugares a pontuação, fechou o papel em forma de carta, e pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo. Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um traço de impiedade, a bucha que meteu no cano da pistola foi uma folha do Evangelho de S. João. Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à janela, respirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas: – Até já. E saindo da janela acrescentou mentalmente: – Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui, e estou feito um punhado de pó. É bem possível que no futuro século sirva este meu invólucro para macadamizar a rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer de ser pisado por alguns pés bonitos. Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho. 6 – Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere, disse ele. 7 Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes. Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de um curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar a quem quer que fosse. Contudo, por maior que seja a tranquilidade de um homem quando resolve abandonar a vida, é-lhe sempre agradável achar um pretexto para prolongá-la um pouco mais. O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a porta. 6. (IFCE) No fragmento “Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes” (referência 7), na expressão em destaque deve-se usar crase porque
75VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) a cadeira era americana. b) o autor vê o protagonista como um astro de Hollywood. c) a mesa foi feita nos Estados Unidos. d) se subtende que o autor quer dizer à “moda” americana. e) o autor faz uma crítica à mania dos brasileiros de copiar tudo o que vem dos Estados Unidos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: OS DOIS VIAJANTES NA MACACOLÂNDIA Monteiro Lobato Dois viajantes, transviados no sertão, depois de muito andar, alcançam o reino dos macacos. Ai deles! Guardas surgem na fronteira, guardas ferozes que os prendem, que os amarram e os levam à presença de S. Majestade Simão III. El-rei examina-os detidamente, com macacal curiosidade, e em seguida os interroga: – Que tal acham isto por aqui? Um dos viajantes, diplomata de profissão, responde sem vacilar: – Acho que este reino é a oitava maravilha do mundo. Sou viajadíssimo, já andei por Seca e Meca, mas, palavra de honra! Nunca vi gente mais formosa, corte mais brilhante, nem rei de mais nobre porte do que Vossa Majestade. Simão lambeu-se todo de contentamento e disse para os guardas: – Soltem-no e deem-lhe um palácio para morar e a mais gentil donzela para esposa. E lavrem incontinenti o decreto de sua nomeação para cavaleiro da mui augusta Ordem da Banana de Ouro. Assim se fez e, enquanto o faziam, El-rei Simão, risonho ainda, dirigiu a palavra ao segundo viajante: – E você? Que acha do meu reino? Este segundo viajante era um homem neurastênico, azedo, amigo da verdade a todo o transe. Tão amigo da verdade que replicou sem demora: – O que acho? É boa! Acho o que é!… – E que é que é? – interpelou Simão, fechando o sobrecenho. – Não é nada. Uma macacalha… Macaco praqui, macaco prali, macaco no trono, macaco no pau… – Pau nele – berra furioso o rei, gesticulando como um possesso. Pau de rachar nesse miserável caluniador… E o viajante neurastênico, arrastado dali por cem munhecas, entrou numa roda de lenha que o deixou moído por uma semana. 7. (IFCE) No trecho “Guardas surgem na fronteira, guardas ferozes que os prendem, que os amarram e os levam à presença de S. Majestade Simão III”, existe crase pela mesma razão que em: a) Voltou à casa dos pais. b) O garoto deu o recado à mãe. c) Regressou à terra natal. d) Serviu o frango à cubana. e) Foi morto à bala. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: FELICIDADE CLANDESTINA Clarice Lispector Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
76VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. Com base no texto acima, responda à(s) questão(ões) a seguir. 8. (Efomm) Uma situação de crase FACULTATIVA aparece na opção: a) (...) lá estava eu à porta de sua casa (...) b) Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde (...) c) (...) perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta (...) d) Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. e) Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina (...). TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O SEQUESTRO DAS PALAVRAS Gregório Duvivier Vamos supor que toda palavra tenha uma vocação primeira. A palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da transformação e da troca, e desde pequena servia para descrever o processo de mutação de uma coisa em outra coisa que não deixou de ser, na essência, a mesma coisa – quando a coisa é trocada por outra coisa, não é mudança, é substituição. A palavra justiça, por exemplo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade (sim, foi um ménage): servia para tornar igual aquilo que tinha o direito de ser igual 5 mas não estava sendo tratado como tal. No entanto as palavras cresceram. E, assim como as pessoas, foram sendo contaminadas pelo mundo __________ sua volta. As palavras, coitadas, não sabem escolher amizade, não sabem dizer não. A liberdade, por exemplo, é dessas palavras que só dizem sim. Não nasceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a dependência, o poder, o dinheiro – mas não se espante se você vir __________ liberdade vendendo absorvente, desodorante, cartão de crédito, empréstimo de banco. A publicidade vive disso: dobrar as melhores palavras sem pagar direito de imagem. Assim, você verá as palavras ecologia e esporte juntarem-se numa só para criar o EcoSport– existe algo menos ecológico ou esportivo que um carro? Pobres palavras. Não tem advogados. Não precisam assinar termos de autorização de imagem. Estão aí, na praça, gratuitas. Nem todos aceitam que as palavras sejam sequestradas ao bel-prazer do usuário. A política é o campo de guerra onde se disputa a posse das palavras. A “ética”, filha do caráter com a moral, transita de um lado para o outro dos conflitos, assim como a Alsácia-Lorena, e não sem guerras sanguinárias. Com um revólver na cabeça,
77VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias é obrigada __________ endossar os seres mais amorais e sem caráter. A palavra mudança, que sempre andou com __________ esquerdas, foi sequestrada pelos setores mais conservadores da sociedade – que fingem querer mudar, quando o que querem é trocar(para que não se mude mais). A Justiça, coitada, foi cooptada por quem atropela direitos e desconhece a igualdade, confundindo-a o tempo todo com seu primo, o justiçamento, filho do preconceito com o ódio. Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da democracia com a mudança, está escondida num porão: emprestaram suas roupas __________ palavra golpe, que desfila por aí usando seu nome e seus documentos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, agoniza na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso lutar por elas. Texto publicado em 21 mar. 2016. Disponível em: <http://www1. folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170- o-sequestro-das-palavras.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2016. 9. (IFSUL) Para atender à norma culta, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com: a) a – à – à- as – à. b) à – a – a – as – à. c) à – a – à – às – a. d) a – à – a –às – a. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: COMPUTADORES PROVOCAM ACIDENTES DO TRABALHO? Durante muito tempo, a segurança do trabalho foi vista como um tema que se relacionava apenas ao uso de capacetes, botas, cintos de segurança e uma série de outros equipamentos de proteção individual contra acidentes. No entanto, a evolução tecnológica se fez acompanhar de novos ambientes de trabalho e de riscos profissionais a eles associados. Muitos desses novos riscos são pouco ou nada conhecidos e demandam pesquisas cujos resultados só se apresentam após a exposição prolongada dos trabalhadores a ambientes nocivos a sua saúde e integridade física. Hoje, o setor de segurança e saúde no trabalho é multidisciplinar e tem como objetivo principal a prevenção dos riscos profissionais. O conceito de acidente é compreendido por um maior número de pessoas que já identificam as doenças profissionais como consequências de acidentes do trabalho. A relação homem-máquina, que já trouxe enormes benefícios para a humanidade, também trouxe um grande número de vítimas. Entre as máquinas das novas relações profissionais, os computadores pessoais têm uma característica ímpar: nunca, na história da humanidade, uma mesma máquina esteve presente na vida profissional de um número tão grande e diversificado de trabalhadores. Diante desses fatos, muitas dúvidas têm sido levantadas sobre os riscos de acidentes no uso de computadores; entre eles, destacam-se os chamados riscos ergonômicos. A Ergonomia é uma ciência que estuda a adequação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Entre os riscos ergonômicos, aqueles que têm maior relação com o uso de computadores são: exigência de postura inadequada, utilização de mobiliário impróprio, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade. A exposição do trabalhador ao risco gera o acidente, cuja consequência, nesses casos, tem efeito mediato, ou seja, ela se apresenta ao longo do tempo por ação cumulativa desses eventos sucessivos. É como se, a cada dia de exposição ao risco, um pequeno acidente, imperceptível, estivesse ocorrendo. As consequências dos acidentes do trabalho desse tipo são as doenças profissionais ou ocupacionais. Já para os profissionais que têm o computador como instrumento de um trabalho diário, a prevenção dos riscos ergonômicos relacionados ao seu uso deverá ser motivo de atenção e interesse, observando, entretanto, que a legislação e as normas técnicas estão inseridas no contexto maior de uma avaliação completa do ambiente de trabalho. O bem-estar físico e psicológico dos trabalhadores reflete no seu desempenho profissional e é resultado de uma política global de investimento em segurança, saúde e meio ambiente. O fundamental para os usuários de computadores é saber que há procedimentos básicos para se evitar acidentes no trabalho, mesmo quando esse trabalho se concentra em uma relação homem-máquina aparentemente amigável e isenta de riscos, desenvolvida em escritórios ou mesmo em casa. MATTOS, Ricardo Pereira de. Adaptado. Disponível em: <http://www. ricardomattos.com/artigo.htm#saude>. Acesso em: 09 jun. 2016. 10. (IFPE) Na Língua Portuguesa, o acento grave indicativo da crase é utilizado para marcar a fusão da preposição a com os artigos definidos femininos a e as, com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a e as e com o “a” do pronome relativo a qual e as quais. A gramática normativa de nossa língua, no entanto, afirma que o uso desse acento é facultativo em algumas situações. Assinale a alternativa em que o referido acento também poderia ter sido utilizado, sem comprometer o sentido do trecho. a) “como se, à cada dia de exposição ao risco, um pequeno acidente, imperceptível, estivesse ocorrendo”. (4º parágrafo) b) “À relação homem-máquina, que já trouxe enormes benefícios para a humanidade, também trouxe um grande número de vítimas”. (2º parágrafo) c) “Entre os riscos ergonômicos, àqueles que têm maior relação com o uso de computadores são”. (3º parágrafo) d) “pesquisas cujos resultados só se apresentam após a exposição prolongada dos trabalhadores a ambientes nocivos à sua saúde e integridade física”. (1º parágrafo) e) “à prevenção dos riscos ergonômicos relacionados ao seu uso deverá ser motivo de atenção e interesse”. (5º parágrafo)
78VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Complementar O texto abaixo apresenta inadequações, de acordo com a norma padrão. A(s) questão(ões) a seguir analisa(m) alguns desses problemas. No caminho de Montevideo, dirigindo pela rota beira- -mar obrigatóriamente voce vai passar pelo porto de Montevideo, lá existe um mercado muito sofisticado com ótimos restaurantes. Vale [à pena] uma parada para almoçar no El Palenque, um dos melhores restaurantes do Uruguai para comer carnes, é incrivel lá dentro! Paramos para conhecer, mas não almoçamos no El Palenque dessa vez, pois estávamos com o almoço marcado na Bodega Bousa e depois a visita a vinícola. Seguimos viagem pela rota 5 em direção a Bodega Bousa (fique atento as placas, pois voce pode passar despercebido por elas). (http://cozinhachic.com/diario-de-viagemmontevideovinicolas-e-restaurantes). 1. (UTFPR) Em relação ao emprego da crase, assinale a alternativa que corrige as inadequações existentes no texto. a) à visita, a vinícola, às placas. b) à vinícola, à Bodega Bousa, as placas. c) a pena, à visita, às placas. d) a pena, à vinícola, à Bodega Bousa, às placas. e) a pena, à Bodega Bousa, as placas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: LAIVOS DE MEMÓRIA “... e quando tiverem chegado, vitoriosamente, ao fim dessa primeira etapa, mais ainda se convencerão de que abraçaram uma carreira difícil, árdua, cheia de sacrifícios, mas útil, nobre e, sobretudo bela.” (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964) Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adolescente soube suportar com bravura. Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região serrana fluminense. A motivação que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele momento, suficientemente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara pequeno demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizontes que iam muito além das montanhas que circundam minha terra natal. Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas – e despedidas são sempre dolorosas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade. Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como integrantes de mais uma Turma desse tradicional estabelecimento de ensino da Marinha do Brasil. Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado espaço em nossos corações, era naquele momento substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos. E o sentimento de perda, experimentado por ocasião das despedidas, provara-se equivocado: às nossas caras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família Naval, composta pelos recém-chegados companheiros; e às respectivas cidades de nascimento, como a minha bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Villegagnon em meio à sublime baía de Guanabara. Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval. Seis anos de aprendizagem científica, humanística e, sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de aulas, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida, atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais, que deixaram marcas indeléveis. Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimentos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmente distantes, em meio a saudosos devaneios. Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preliminares com a vida de bordo e as primeiras idas para o mar – a razão de ser da carreira naval. Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza! Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonhado embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa! Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, tivemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum- -navegação da Marinha Brasileira. Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o primeiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Tamandaré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67. Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apresentar para servir a bordo de um navio de nossa Esquadra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de instrução como Aspirante e Guarda-Marinha, quando as responsabilidades eram restritas a compromissos curriculares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável escritor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício. Coincide exatamente com a adolescência, primavera da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a
79VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias despontar as responsabilidades, as agruras de novos cargos, o acúmulo de deveres novos”. E esses novos cargos e deveres novos, que foram se multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, deixariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integrantes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repassar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão intensamente vividos a bordo de inesquecíveis e saudosos navios... E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem aproveitados anos de embarque, de centenas de dias de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar, singrando as extensas massas líquidas que formam os grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que banham os recortados litorais, com passagens, visitas e arribadas em um sem-número de enseadas, baías, barras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis. Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova enseada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial do descobrimento”. (CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado) 2. (Esc. Naval) Assinale a opção em que o uso do acento grave, indicativo de crase, é facultativo. a) “[...] novos rumos à minha vida.” (2º parágrafo) b) “[...] resistir à sedução e ao fascínio [...].” (3º parágrafo) c) “[...] às nossas caras famílias de origem [...].” (6º parágrafo) d) “[...] às respectivas cidades de nascimento [...].” (6º parágrafo) e) “[...] às vezes totalmente diversos [...].” (17º parágrafo) 3. (Acafe) Assinale a alternativa correta quanto ao acento indicador de crase. a) Em tempos de doenças transmitidas à seres humanos pelo mosquito Aedes aegypti, médicos de todo o país dirigem-se à Curitiba para estudar temas transversais relacionados a dengue, a chikungunya e ao zika. b) Convém não confundir a habitação voltada a moradia própria, mesmo que irregular, com a ação de especuladores, que, às vezes, invadem às áreas de preservação permanente e vendem até barracos prontos. c) Temos que aprender à punir com o voto todos os corruptores, da direita a esquerda, ano a ano, independentemente da cor partidária. d) Rosamaria recebeu do Juizado Militar a opção da liberdade vigiada e pôde sair da cadeia, embora a liberação tivesse fortes limitações como proibição de deixar a cidade, de chegar a casa após as 22h e de trabalhar. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: NO AEROPORTO Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, 1 não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema. Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação. Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono – e lhe apraz dormir não só 2 à noite como principalmente de dia – eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância. Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso,
80VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos. Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo. Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio. ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108. 4. (IFCE) Na referência 2, a expressão “à noite” é craseada por ser uma locução adverbial formada por uma palavra feminina. O uso do acento indicativo de crase está incorreto em: a) O homem de meia-idade usava sapatos à Luís XV. b) Acordei às sete horas da manhã. c) Meu irmão veio ontem à Fortaleza. d) Estou me referindo àquele atentado que ocorreu no Oriente Médio. e) A minha revolta é ligada à do meu país. 5. (Col. Naval) Assinale a opção INCORRETA no que se refere ao emprego do acento grave. a) Sempre que os pais atribuem à escola muitas responsabilidades, algo está errado. b) Ensinar à distância é uma tarefa árdua, mas bastante desafiadora para todos nós. c) Por motivos óbvios, todos sabem que as redações devem, sempre, ser redigidas à mão. d) Cabe à sociedade auxiliar na construção da cidadania de crianças e de jovens, em qualquer tempo. e) Se a escola entrega à população uma educação de qualidade, jovens e crianças têm um futuro promissor. E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país. Seu sentido de inovação tanto em temas como em materiais que elege é sempre de uma sensação extraordinária para o espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos rodeam e lhes da vida com uma naturalidade impressionante, encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Picasso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos. Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h. 1. (FGV) Comente o emprego do sinal indicativo de crase no trecho - Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: MEU AMIGO MARCOS O generoso e divertido companheiro de crônicas Conheci Marcos Rey há mais de vinte anos, quando sonhava tornar-me escritor. Certa vez confessei esse desejo à atriz Célia Helena, que deixou sua marca no teatro paulista. Tempos depois, ela me convidou para tentar adaptar um livro para teatro. Era O RAPTO DO GAROTO DE OURO, de Marcos. Passei noites me torturando sobre as teclas. Célia marcou um encontro entre mim e ele, pois a montagem dependia da aprovação do autor. Quando adolescente, eu ficara fascinado com MEMÓRIAS DE UM GIGOLÔ, seu livro mais conhecido. Nunca tinha visto um escritor de perto. Imaginava uma figura pomposa, em cima de um pedestal. Meu coração quase saiu pela boca quando apertei a campainha. Fui recebido por Palma, sua mulher. Um homem gordinho e simpático entrou na sala. Na época, já sofria de uma doença que lhe dificultava o movimento das mãos e dos pés. Cumprimentou-me. Sorriu. Estava tão nervoso que nem consegui dizer "boa-tarde". Gaguejei. Mas ele me tratou com o respeito que se dedica a um colega. Propôs mudanças no texto. Orientou-me. Principalmente, acreditou em mim. A peça permaneceu em cartaz dois anos. Muito do que sou hoje devo ao carinho com que me recebeu naquele dia. (WALCYR CARRASCO, PÁG. 98 - VEJA SP, 14 DE ABRIL, 1999.) 2. (FGV) Certa vez confessei esse desejo à atriz Célia Helena... Justifique o uso do sinal de crase em à, nesse trecho. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes que permitissem que o menino viesse passar as férias em casa. Estes porém, já de posse dos segredos da consciência de Eugênio, receando que as seduções do mundo o arredassem do santo propósito em que ia tão bem encaminhado, opuseram-se formalmente, e responderam-lhe, fazendo ver que aquela interrupção na idade em que se achava o menino era extremamente perigosa, e podia ter péssimas consequências, desviando-o para sempre de sua natural vocação.
81VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmente depois que seu filho andava mofino e adoentado, não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir. (Bernardo Guimarães. O Seminarista, 1995) 3. (FGV) Observe as reescritas do texto e responda conforme solicitado entre parênteses. a) Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes à permissão para que o menino viesse passar as férias em casa. / ... opuseram-se formalmente à ideia, e responderam de forma negativa inicialmente. (Justifique se os usos do acento indicativo da crase estão ou não de acordo com a norma-padrão.) b) Para um coração de mãe porém uma ausência de quatro anos já era excessiva... (Pontue o texto e justifique a pontuação realizada.) 4. (FGV) Considere as frases: I. "O rapaz estava chateado, pois chegou à moça e disse que não era mais possível continuar o namoro". II. "O rapaz estava chateado, pois chegou a moça e disse que não era mais possível continuar o namoro". a) Que interpretação se pode dar a cada uma das frases, levando em conta as expressões "à moça" e "a moça"? b) Do ponto de vista sintático, qual a função que exercem as expressões "à moça" e "a moça"? 5. (UFF) A prática da gramática não deve estar desvinculada da percepção das diferenças na produção de sentido, encaminhadas pela língua no processo de comunicação. Explique as diferentes regências do verbo "combater" e as decorrentes produções de sentido no contexto em que se inserem: "Combateremos a sombra. Com crase e sem crase." E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base um fragmento de Glória moribunda, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852). É uma visão medonha uma caveira? Não tremas de pavor, ergue-a do lodo. Foi a cabeça ardente de um poeta, Outrora à sombra dos cabelos loiros. Quando o reflexo do viver fogoso Ali dentro animava o pensamento, Esta fronte era bela. Aqui nas faces Formosa palidez cobria o rosto; Nessas órbitas — ocas, denegridas! — Como era puro seu olhar sombrio! Agora tudo é cinza. Resta apenas A caveira que a alma em si guardava, Como a concha no mar encerra a pérola, Como a caçoula a mirra incandescente. Tu outrora talvez desses-lhe um beijo; Por que repugnas levantá-la agora? Olha-a comigo! Que espaçosa fronte! Quanta vida ali dentro fermentava, Como a seiva nos ramos do arvoredo! E a sede em fogo das ideias vivas Onde está? onde foi? Essa alma errante Que um dia no viver passou cantando, Como canta na treva um vagabundo, Perdeu-se acaso no sombrio vento, Como noturna lâmpada apagou-se? E a centelha da vida, o eletrismo Que as fibras tremulantes agitava Morreu para animar futuras vidas? Sorris? eu sou um louco. As utopias, Os sonhos da ciência nada valem. A vida é um escárnio sem sentido, Comédia infame que ensanguenta o lodo. Há talvez um segredo que ela esconde; Mas esse a morte o sabe e o não revela. Os túmulos são mudos como o vácuo. Desde a primeira dor sobre um cadáver, Quando a primeira mãe entre soluços Do filho morto os membros apertava Ao ofegante seio, o peito humano Caiu tremendo interrogando o túmulo... E a terra sepulcral não respondia. (Poesias completas, 1962.) 1. (Unesp) [...] e aspiram à vida isenta de compromissos com valores do passado. Na frase apresentada, a colocação do acento grave sobre o “a” informa que: a) o “a” deve ser pronunciado com alongamento, já que se trata de dois vocábulos, um pronome átono e uma preposição, representados por uma só letra. b) o “a”, por ser pronome átono, deve ser sempre colocado após o verbo, em ênclise, e pronunciado como um monossílabo tônico. c) o verbo “aspirar”, na regência em que é empregado, solicita a preposição “a”, que se funde com o artigo feminino “a”, caracterizando uma ocorrência de crase. d) o “a”, como artigo definido, é um monossílabo átono, e o acento grave tem a finalidade de sinalizar ao leitor essa atonicidade. e) o termo “de compromissos com valores do passado” exerce a função de adjunto adverbial de “isenta”.
82VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia esta notícia científica: Há 1,5 milhão de anos, ancestrais do homem moderno deixaram pegadas quando atravessaram um campo lamacento nas proximidades do Ileret, no norte do Quênia. Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu essas marcas recentemente e mostrou que elas são muito parecidas com as do “Homo sapiens”: o arco do pé é alongado, os dedos são curtos, arqueados e alinhados. Também, o tamanho, a profundidade das pegadas e o espaçamento entre elas refletem a altura, o peso e o modo de caminhar atual. Anteriormente, houve outras descobertas arqueológicas, como, por exemplo, as feitas na Tanzânia, em 1978, que revelaram pegadas de 3,7 milhões de anos, mas com uma anatomia semelhante à de macacos. Os pesquisadores acreditam que as marcas recém-descobertas pertenceram ao “Homo erectus”. Revista FAPESP, nº 157, março de 2009. Adaptado. 2. (Fuvest) No trecho “semelhante à de macacos”, fica subentendida uma palavra já empregada na mesma frase. Um recurso linguístico desse tipo também está presente no trecho assinalado em: a) A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo às futuras gerações. b) Recorrer à exploração da miséria humana, infelizmente, está longe de ser um novo ingrediente no cardápio da tevê aberta à moda brasileira. c) Ainda há quem julgue que os recursos que a natureza oferece à humanidade são, de certo modo, inesgotáveis. d) A prática do patrimonialismo acaba nos levando à cultura da tolerância à corrupção. e) Já está provado que a concentração de poluentes em área para não fumantes é muito superior à recomendada pela OMS. 3. (Fuvest) A frase em que todos os vocábulos destacados estão corretamente empregados é: a) Descobriu-se, HÁ instantes, a verdadeira razão POR QUE a criança se recusava À frequentar a escola. b) Não se sabe, de fato, PORQUÊ o engenheiro preferiu destruir o pátio A adaptá-lo as novas normas. c) Disse-nos, já A várias semanas, que explicaria o PORQUE da decisão tomada ÀS pressas naquela reunião. d) Chegava tarde, PORQUE precisava percorrer A pé uma distância de dois À três quilômetros. e) Não prestou contas À associação de moradores, não compareceu À audiência e até hoje não disse POR QUÊ. 4. (Fuvest) A única frase que NÃO apresenta desvio em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma culta é: a) O governador insistia em afirmar que o assunto principal seria "as grandes questões nacionais", com o que discordavam líderes pefelistas. b) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros países passou despercebida. c) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação social. d) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um morador não muito consciente com a limpeza da cidade. e) O roteiro do filme oferece uma versão de como conseguimos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra, a aventura à repetição. 5. (Unifesp) (Bill Watterson. O mundo é mágico: as aventuras de Calvin & Haroldo. 2007. Adaptado.) Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas da tira. a) Por que – à – a – porquê. b) Porquê – a – a – por que. c) Por que – à – à – porque. d) Por quê – à – à – porque. e) Por quê – a – a – porque. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. B 2. B 3. A 4. E 5. C 6. D 7. D 8. E 9. E 10. B
83VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Fixação 1. A 2. B 3. A 4. A 5. E 6. D 7. B 8. D 9. B 10. D E.O. Complementar 1. D 2. A 3. D 4. C 5. B E.O. Dissertativo 1. Em: "de 03 de agosto à 02 de setembro", indicativa de datas, está pressuposta a palavra "dia", que é masculina e, portanto, não será precedida do artigo "a". Não ocorre, pois, crase e por consequência não se emprega o sinal indicativo de sua ocorrência. Já na segunda parte do enunciado, na expressão de horas (das 10 às 19h), a palavra "horas" é feminina, e o artigo que a precede está presente antes da primeira indicação (das= de+as) e também antes da segunda indicação (às= a+as). O emprego do sinal indicativo de crase é inadequado na primeira ocorrência, na indicação do dia, e é adequado na segunda, na indicação de horas. 2. O acento grave justifica-se, pois o verbo CONFESSAR exige a preposição a; e o artigo a, que acompanha o substantivo ATRIZ. 3. a) Em “Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes à permissão para que o menino viesse passar as férias em casa”, o uso do acento indicativo de crase não está de acordo com a norma-padrão, uma vez que o verbo “pedir”, em tal ocorrência, apresenta bitransitividade: seu objeto indireto é o pronome oblíquo “lhes”, em referência a “aos padres”, e o objeto direto é “a permissão”. Desse modo, não há acento indicativo de crase, posto ocorrer apenas artigo antes do substantivo “permissão”; o correto é “pedindo-lhes a permissão”. Em “... opuseram-se formalmente à ideia, e responderam de forma negativa inicialmente.”, o emprego do acento indicativo de crase está de acordo com a norma-padrão, uma vez que o verbo “opor-se” é transitivo indireto, cujo termo regido apresenta preposição “a”; considerando que o núcleo do objeto indireto é um substantivo feminino acompanhado por artigo, há ocorrência de acento indicativo de crase: “opuseram-se (...) à ideia”. b) O texto pontuado é “Para um coração de mãe, porém, uma ausência de quatro anos já era excessiva...”. A primeira vírgula é justificada pela inversão dos termos da oração: o complemento nominal “para um coração de mãe” antecede o sujeito e o predicado; já a segunda vírgula é justificada pelo emprego da conjunção “porém”, coordenada adversativa, que requer tal pontuação logo em seguida a ela. 4. a) Da primeira frase, entende-se que o autor da declaração foi o rapaz, da segunda, entende-se que foi a moça a autora da declaração. b) Na primeira frase, "à moça" funciona como adjunto adverbial do verbo "chegou", indicando a quem se dirigia o rapaz. Na segunda, "a moça" tem a função de sujeito do mesmo verbo. 5. As regências do verbo "combater" como transitivo direto e intransitivo, respectivamente, passam a ideia de: a) A "sombra" representa o termo passivo (objeto direto), ou seja, aquilo que será combatido – não haverá crase. b) A "sombra" representa o modo como será combatido, portanto tem função de adjunto adverbial de modo – haverá crase. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. C 2. E 3. E 4. E 5. D
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LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTRE LETRAS 5 LITERATURA
86VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. A descoberta “Seguimos nosso caminho por este mar de longo Até a oitava Páscoa Topamos aves E houvemos vista de terra” Pero Vaz Caminha, Oswald de Andrade. 1. O texto exemplifica a seguinte característica da poesia de Oswald de Andrade: a) uso de metáforas inusitadas e tematização do cotidiano. b) a síntese como expressão poética. c) linguagem subjetiva no registro das nossas origens heroicas. d) uniformidade métrica e rítmica em composição satírica. e) a exaltação nacionalista. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. BONDE “O transatlântico mesclado Dlendlena e esguicha luz Postretutas e famias sacolejam” Oswald de Andrade 2. Considere as seguintes afirmações. I. O texto apresenta linguagem concisa e aproveita, poeticamente, variantes linguísticas populares. II. O texto utiliza a chamada “linguagem cinematográfica” dos modernistas a serviço da recriação de cena cotidiana. III. O uso de neologismo e a regularidade métrica do texto exemplificam tendência estética do início do século XX. IV. O experimentalismo preconizado pelos poetas da Semana de 22 revela-se, por exemplo, no uso das palavras “postretutas” e “famias”, que concretizam, foneticamente, a ideia do “sacolejo”. Assinale: a) se todas estiverem corretas. b) se todas estiverem incorretas. c) se apenas I e II estiverem corretas. d) se apenas I, II e III estiverem corretas. e) se apenas I, II e IV estiverem corretas. 3. I. “Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá” II. “Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português” III. “Não bebo pinga Não bebo nada Bebo sereno da noite Orvaio da madrugada!” Sobre os três trechos, afirma-se que pertencem a um mesmo poeta brasileiro: a) da primeira geração modernista, que denuncia satiricamente mazelas brasileiras. b) que brinca com experimentos linguísticos e é receptivo às vanguardas europeias. c) que utiliza uma língua coloquial solta, com objetivos satíricos. d) que subverte a ideologia da seriedade, como está demonstrado desde a paródia do texto I. e) autor do Manifesto Antropófago, cuja frase - Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo - contradiz os valores veiculados por esses mesmos textos. 4. I. “Está fundado o desvairismo.” II. “Tupi, or not Tupi that is the question.” III. “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.” Os períodos acima expressam ideias próprias da primeira geração modernista. Seus autores são, respectivamente: a) Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de Andrade. b) Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo. MODERNISMO NO BRASIL: 1ª FASE COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 35 E 36
87VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. d) Raul Bopp, Alcântara Machado e Manuel Bandeira. e) Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Mário de Andrade. 5. ”Moça linda bem tratada, Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor Grã-fino do despudor, Esporte, ignorância e sexo, Burro como uma porta: Um coió Mulher gordaça, filó De ouro por todos os poros Burra como uma porta: Paciência Plutocrata sem consciência, Nada porta, terremoto Que a porta do pobre arromba: Uma bomba!” O texto acima é claramente representativo: a) das tendências contemporâneas modernistas. b) da primeira geração modernista. c) da segunda geração modernista. d) do parnasianismo. e) do dadaísmo. E.O. Fixação 1. “E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior orgia intelectual que a história artística do país registra.” (Mário de Andrade) Assinale a alternativa na qual aparece um fato cultural que não se encaixa no período mencionado acima. a) A exposição de trabalhos de Anita Malfatti, criticada por Monteiro Lobato. b) O Manifesto Pau-Brasil. c) As duas “dentições” da REVISTA DE ANTROPOFAGIA. d) O Verde-Amarelismo. e) A revista KLAXON. 2. (UEG) Leia o poema a seguir. VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãed´água. Pra me contar histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a contracepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Pra gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar – Lá sou amigo do rei – Terei a mulher que quero Na cama que escolherei Vou me embora pra Pasárgada. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 143. “Vou-me Embora pra Pasárgada” é um dos poemas mais conhecidos de Manuel Bandeira. Ele expressa uma complexa concepção de temporalidade, na qual o eu lírico busca evadir da realidade para “Pasárgada,” que expressaria a ideia de: a) um “paraíso perdido”, retomando as imagens e noções de pureza edênicas vigentes na época medieval. b) um socialismo utópico, propondo uma reforma social que garantisse um futuro melhor e igualitário a todos. c) uma idealização do modelo social monárquico persa, repudiando as tradições culturais brasileiras. d) uma mescla do saudosismo da infância com expectativas positivas acerca da inovação tecnológica.
88VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 3. (UEG) Leia o poema que segue. RELICÁRIO Oswald de Andrade No baile da Corte Foi o Conde d’Eu quem disse Pra Dona Benvinda Que farinha de Suruí Pinga de Parati Fumo de Baependi É comê bebê pitá e caí. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ oswald-de-andrade/relicario.php>. Acesso em: 16 ago. 2011. Em termos estéticos e históricos, respectivamente, nota-se, no poema de Oswald de Andrade, a presença de: a) linguagem formal e referência a importante figura política do Período Regencial. b) linguagem informal e alusão a um monarquista que exerceu papel de destaque na Guerra do Paraguai. c) versos brancos e alusão a um grande capitalista que alavancou o desenvolvimento da indústria nacional. d) versos polimétricos e referência a uma importante dama do Segundo Reinado. 4. SAMBINHA Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras. Afobadas braços dados depressinha Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua. As costureirinhas vão explorando perigos... Vestido é de seda. Roupa-branca é de morim. Falando conversas fiadas As duas costureirinhas passam por mim. —Você vai? —Não vou não? Parece que a rua parou pra escutá-las. Nem trilhos sapecas Jogam mais bondes um pro outro. E o Sol da tardinha de abril Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens. As nuvens são vermelhas. A tardinha cor-de-rosa. Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas... Fizeram-me peito batendo Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! Isto é... Uma era ítalo-brasileira. Outra era áfrico-brasileira. Uma era branca. Outra era preta. ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988. Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade, esse projeto revela-se, pois: a) o poema capta uma cena do cotidiano – o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras – mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade. b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas – depressinha – que, em última instância, representam um Brasil de “todas as cores”. c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do poema. d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”. e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as origens africana e italiana das mesmas. 5. (Insper) PARA FAZER UM POEMA DADAÍSTA “Pegue num jornal. Pegue numa tesoura. Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema. Recorte o artigo. Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco. Agite suavemente. Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros. Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco. O poema parecer-se-á consigo. E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.” (Tristan Tzara) A metalinguagem, presente no poema de Tristan Tzara, também é encontrada de modo mais evidente em: a) “RECEITA DE HERÓI Tome-se um homem feito de nada Como nós em tamanho natural Embeba-se-lhe a carne Lentamente De uma certeza aguda, irracional Intensa como o ódio ou como a fome. Depois perto do fim Agite-se um pendão E toque-se um clarim Serve-se morto.” FERREIRA, Reinaldo. Receita de Herói. In: GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p.185. b)
89VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) d) e) E.O. Complementar 1. (PUC-RS) Leia o poema “Elegia de agosto”, de Manuel Bandeira. “A nação elegeu-o seu Presidente Certo de que jamais ele a decepcionaria. De fato, Durante seis meses, O eleito governou com honestidade, Com desvelo, Com bravura. Mas um dia, De repente, Lhe deu a louca E ele renunciou. Renunciou sem ouvir ninguém. Renunciou sacrificando o seu país e os seus amigos. Renunciou carismaticamente, falando nos pobres e humildes que é tão difícil ajudar. Explicou: “Não nasci presidente. Nasci com a minha consciência. Quero ficar em paz com a minha consciência.” Agora vai viajar. Vai viajar longamente no exterior. Está em paz com a sua consciência. Ouviram bem? ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA E que se danem os pobres e humildes que é tão difícil ajudar.” Com base no poema, afirma-se: I. Os versos abordam uma temática prosaica, de aparente simplicidade, muito presente na totalidade da obra de Manuel Bandeira. II. Uma certa melancolia, associada ao sentimento de conformismo diante da realidade, é perceptível ao longo do poema. III. O poema apresenta um traço narrativo, trazendo, inclusive, uma fala registrada em discurso direto. IV. As marcas de oralidade e a presença de adjetivos evidenciam o lirismo exacerbado que caracteriza o sentimento de mundo do poeta. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são: a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 2.
90VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O poema de Oswald de Andrade remonta a ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem: a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais. b) forma clássica da construção poética brasileira. c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol. d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética. e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais. 3. “Só é meu O país que trago dentro da alma. Entro nele sem passaporte Como em minha casa. [...] As ruas me pertencem. Mas não há casas nas ruas, As casas foram destruídas desde a minha infância. Os seus habitantes vagueiam no espaço À procura de um lar. Só é meu O mundo que trago dentro da alma.” BANDEIRA, M. “Um poema de Chagall”. In: Estrela da vida inteira: poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993 (fragmento). A arte, em suas diversas manifestações, desperta sentimentos que atravessam fronteiras culturais. Relacionando a temática do texto com a imagem, percebe-se a ligação entre a: a) alegria e a satisfação na produção das obras modernistas. b) memória e a lembrança passadas no íntimo do enunciador. c) saudade e o refúgio encontrados pelo homem na natureza. d) lembrança e o rancor relacionados ao seu ofício original. e) exaustão e o medo impostos ao corpo de todo artista. 4. (UEG) A ONDA Manuel Bandeira “AONDA a onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda” Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 267. A interação das palavras, a composição do poema e as linhas da imagem produzem uma ilusão: a) de frescor marítimo e de correntes de ar. b) de queda de água e de distorção de objetos. c) de movimento de onda e de vibração óptica. d) de ruído do mar e de dinamismo social. E.O. Dissertativo 1. (PUC-RJ) Prólogo Dei o nome de Primeiros Cantos às poesias que agora publico, porque espero que não serão as últimas. Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, porque menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia exprimir. Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas. Foram compostas nas margens viçosas do Mondego e nos píncaros enegrecidos do Gerez – no Doiro e no Tejo – sobre as vagas do Atlântico, e nas florestas virgens da América. Escrevi-as para mim, e não para os outros; contentar-me-ei, se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o prazer de as ter composto.
91VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso, e as ideias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano – o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamento com o sentimento – o coração com o entendimento – a ideia com a paixão – cobrir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia – a Poesia grande e santa – a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir. O esforço – ainda vão – para chegar a tal resultado é sempre digno de louvor; talvez seja este o só merecimento deste volume. O Público o julgará; tanto melhor se ele o despreza, porque o Autor interessa em acabar com essa vida desgraçada, que se diz de Poeta. Rio de Janeiro, julho de 1846. DIAS, Gonçalves. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/bv000115.pdf>. Acesso em: 10 set. 2014. a) Gonçalves Dias é considerado um dos grandes poetas do Romantismo brasileiro. Destaque do texto dois aspectos da estética romântica citados pelo autor. b) Comente a noção de poesia que aparece no texto – “a Poesia grande e santa” (4º parágrafo) – comparando-a com a defendida pelos modernistas de 1922. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES MÁQUINA-DE-ESCREVER¹ B D G Z, Remintom. Pra todas as cartas da gente. Eco mecânico. De sentimentos rápidos batidos. Pressa, muita pressa. Duma feita surrupiaram a máquina de escrever do meu mano. Isso também entra na poesia Porque ele não tinha dinheiro para comprar outra. (...) 1 Manteve-se a grafia do autor, embora esteja em desacordo com as atuais normas oficiais. (ANDRADE, Mário. “Poesias completas”. 4 ed. São Paulo: Martins, 1974, p. 70-71. In: Maia, João Domingues. Literatura: textos & técnicas. São Paulo: Ática, 1995, p.170.) 2. (Ufrrj) Destaque o verso que possui palavras pertencentes ao registro coloquial e reescreva-o, substituindo essas palavras por outras pertencentes ao padrão culto da língua. 3. (Ufrrj) Explique por que o conteúdo dos três últimos versos do poema exemplifica a proposta modernista de dessacralização da arte. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. TEXTO I Quando eu tinha os meus quinze anos e traduzia na classe de grego do [Colégio] Pedro II a Ciropédia fiquei encantado com esse nome de uma cidadezinha fundada por Ciro [...] nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação de adolescente começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em Pasárgada. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!” [...] Abandonei a ideia. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Manuel Bandeira. Itinerário de Pasárgada. TEXTO II VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive ................................................... Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar O poema Vou-me embora pra Pasárgada, em sua primeira versão, tinha o subtítulo de Rondó do aporrinhado. 4. (UFF) Baseado na leitura dos Textos I e II, explique com suas próprias palavras o sentido de Pasárgada para o eu lírico no poema. 5. (UFF) No Texto II , observa-se a polarização de tempo e de espaço no desenvolvimento da temática da evasão. Nos dois versos a seguir, o verbo “ser” está empregado no presente do indicativo com valores temporais diferentes e os advérbios “lá” e “aqui” apontam valores espaciais também diferentes.
92VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Justifique o emprego do presente do indicativo e dos advérbios “lá” e “aqui”, na construção do sentido do texto. Lá sou amigo do rei (v. 2) Aqui eu não sou feliz (v.7) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Não permita Deus que eu morra Sem que ainda vote em você; Sem que, Rosa amigo, toda Quinta-feira que Deus dê, Tome chá na Academia Ao lado de vosmecê, Rosa dos seus e dos outros, Rosa da gente e do mundo, Rosa de intensa poesia De fino olor sem segundo; Rosa do Rio e da Rua, Rosa do sertão profundo (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira.) 6. (UFScar) Nesse poema, Manuel Bandeira cita, direta ou indiretamente, obras de outros autores. a) Identifique o nome de uma dessas obras e o de seu autor. b) O poema de Bandeira está escrito em versos livres? Por quê? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO São Paulo 10 de Novembro, 1924 Meu caro Carlos Drummond (...) Eu sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indiferente. Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como um romance a que darei a impassível eternidade da impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que o que falta pra certos moços de tendência modernista brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida, cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu não posso compreender um homem de gabinete e vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu estivesse nessas terras admiráveis em que vocês vivem, com que gosto, com que religião eu caminharia sempre pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo! estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o estudo e gozo da ação corporal. (...) E então parar e puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. Eles é que conservam o espírito religioso da vida e fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de religião. Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros dançando o samba. Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não. Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum. Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade. ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982, pp. 3-5. “Inúmeros são os casos de troca de correspondência entre artistas, escritores, músicos, cineastas, teatrólogos e homens comuns em nossa tradição literária. Mário de Andrade, por exemplo, foi talvez o maior de nossos missivistas. Escreveu e recebeu cartas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Tarsila do Amaral, Câmara Cascudo, Pedro Nava, Fernando Sabino, só para citar alguns. O conjunto de sua correspondência não só nos ajuda a conhecer o seu pensamento, seus valores e sua própria vida, como também entender boa parte da história e da cultura brasileira do século XX.” DINIZ, Júlio. “Cartas: narrativas do eu e do mundo” In: Leituras compartilhadas - cartas. Fascículo especial 2, ano 4. Rio de Janeiro: Leia Brasil / Petrobras, 2004, p.10. A partir da leitura do trecho da carta de Mário a Drummond e do comentário anterior, responda aos seguintes itens: 7. (PUC-RJ) Mário de Andrade, ao comentar um trecho de seu poema “Carnaval Carioca”, demonstra encanto por uma moça que, segundo ele, “dançava com religião”. Explique, com suas palavras, o que seria, na visão do autor, “dançar com religião”. São Paulo: Livraria Martins, 1980.) 8. (PUC-RJ) Texto 1 Beijei na areia os sinais de teus passos, beijei os meus braços que tu havias apertado, beijei a mão que te ultrajara num momento de loucura, e os meus próprios lábios que roçaram tua face num beijo de perdão. Que suprema delícia, meu Deus, foi para mim a dor que me causavam os meus pulsos magoados pelas tuas mãos! Como abençoei este sofrimento!... Era alguma cousa de ti, um ímpeto de tua alma, a tua cólera e indignação, que tinham ficado em minha pessoa e entravam em mim para tomar posse do que te pertencia. Pedi a Deus que tornasse indelével esse vestígio de tua ira, que me santificara como uma cousa tua! .................................................................. Quero guardar-me toda só para ti. Vem, Augusto: eu te espero. A minha vida terminou; começo agora a viver em ti. (José de Alencar. “Diva”. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. p.121.)
93VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) O texto acima é um trecho do último capítulo de “Diva”, romance de Alencar que, ao lado de “Senhora” e “Lucíola”, forma a trilogia de “perfis femininos”. Trata-se de uma carta escrita por Emília, protagonista da estória, ao jovem médico Augusto. A partir da leitura do texto, indique as características românticas presentes no fragmento, justificando com exemplos. b) “Há poesia Na dor Na flor No beija-flor No elevador (Oswald de Andrade. “Poesias reunidas”. São Paulo: Círculo do Livro, 1976, p.184.) Existe um elemento, no fragmento do poema transcrito acima, que não mantém ligação alguma com o imaginário romântico que habita o texto de Alencar. Determine esse elemento e explique, com suas próprias palavras, a importância de sua presença como símbolo de um novo momento estético na literatura brasileira. E.O. Enem 1. (Enem) CAMELÔS “Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma. Alegria das calçadas Uns falam pelos cotovelos: — “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu [acender o charuto. Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...” Outros, coitados, têm a língua atada. Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice... E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.” BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque: a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira. b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos. c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira. d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova. e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil. 2. (Enem) O TROVADOR “Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras de sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo... Cantabona! Cantabona! Dlorom... Sou um tupi tangendo um alaúde!” ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005. Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é: a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade. b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas. c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade. e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. 3. (Enem)
94VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética clássica e a revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela: a) pintura de modelos em planos irregulares. b) mulher como temática central da obra. c) cena representada por vários modelos. d) oposição entre tons claros e escuros. e) nudez explorada como objeto de arte. 4. (Enem) ESTRADA “Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar.” BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para: a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude. d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. 5. (Enem) Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas modernistas: a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais. b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional. c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática educativa. d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada à tradição acadêmica. e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES CANÇÃO DO VENTO E DA MINHA VIDA “O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo.” BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. 6. (Enem) Na estruturação do texto, destaca-se: a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de ideias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes. e) a inversão da ordem sintática das palavras. 7. (Enem) Predomina no texto a função da linguagem: a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação. b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões. c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação. d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais. e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.
95VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 8. (Enem) Antonio Rocco Os imigrantes, 1910, Pinacoteca do Estado de São Paulo. Um dia, os imigrantes aglomerados na amurada da proa chegavam à fedentina quente de um porto, num silêncio de mato e de febre amarela. Santos. – É aqui! Buenos Aires é aqui! – Tinham trocado o rótulo das bagagens, desciam em fila. Faziam suas necessidades nos trens dos animais onde iam. Jogavam-nos num pavilhão comum em São Paulo. – Buenos Aires é aqui! – Amontoados com trouxas, sanfonas e baús, num carro de bois, que pretos guiavam através do mato por estradas esburacadas, chegavam uma tarde nas senzalas donde acabava de sair o braço escravo. Formavam militarmente nas madrugadas do terreiro homens e mulheres, ante feitores de espingarda ao ombro. Oswald de Andrade. “Marco Zero II - Chão”. Rio de Janeiro: Globo, 1991. Levando-se em consideração o texto de Oswald de Andrade e a pintura de Antonio Rocco reproduzida acima, relativos à imigração europeia para o Brasil, é correto afirmar que: a) a visão da imigração presente na pintura é trágica e, no texto, otimista. b) a pintura confirma a visão do texto quanto à imigração de argentinos para o Brasil. c) os dois autores retratam dificuldades dos imigrantes na chegada ao Brasil. d) Antonio Rocco retrata de forma otimista a imigração, destacando o pioneirismo do imigrante. e) Oswaldo de Andrade mostra que a condição de vida do imigrante era melhor que a dos ex-escravos. 9. (Enem) Sobre a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte Moderna, Monteiro Lobato escreveu, em artigo intitulado Paranoia ou Mistificação: “Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada dos que veem anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica das escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...). Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & cia.” O Diário de São Paulo, dez./1917. Em qual das obras a seguir identifica-se o estilo de Anita Malfatti criticado por Monteiro Lobato no artigo? a) b) c) d) e) 10. (Enem) NAMORADOS “O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: - Antônia, ainda não me acostumei com o seu [corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. - Você não sabe quando a gente é criança e de [repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: - A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: - Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu:
96VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias - Antônia, você é engraçada! Você parece louca.” Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época: a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas. b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano. c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado. d) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época. e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo. 11. (Enem) As dimensões continentais do Brasil são objeto de reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse tema aparece no seguinte poema: “(...) Que importa que uns falem mole descansado Que os cariocas arranhem os erres na garganta Que os capixabas e paroaras escancarem as [vogais?] Que tem se o quinhentos réis meridional Vira cinco tostões do Rio pro Norte? Junto formamos este assombro de misérias e [grandezas], Brasil, nome de vegetal! (...)” (Mário de Andrade. Poesias completas. 6a ed. São Paulo: Martins Editora, 1980.) O texto poético ora reproduzido trata das diferenças brasileiras no âmbito: a) étnico e religioso. b) linguístico e econômico. c) racial e folclórico. d) histórico e geográfico. e) literário e popular. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Leia estes poemas. Texto 1 - AUTO-RETRATO “Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte, E até mesmo escrevendo crônicas Ficou cronista de província; Arquiteto falhado, músico Falhado (engoliu um dia Um piano, mas o teclado Ficou de fora); sem família, Religião ou filosofia; Mal tendo a inquietação de espírito Que vem do sobrenatural, E em matéria de profissão Um tísico* profissional.” (Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.) (*) tísico = tuberculoso Texto 2 - POEMA DE SETE FACES “Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. (....) Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é o meu coração.” (Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 53.) 12. (Enem) Esses poemas têm em comum o fato de: a) descreverem aspectos físicos dos próprios autores. b) refletirem um sentimento pessimista. c) terem a doença como tema. d) narrarem a vida dos autores desde o nascimento. e) defenderem crenças religiosas. 13. (Enem) No verso “Meu Deus, por que me abandonaste” do texto 2, Drummond retoma as palavras de Cristo, na cruz, pouco antes de morrer. Esse recurso de repetir palavras de outrem equivale a: a) emprego de termos moralizantes. b) uso de vício de linguagem pouco tolerado. c) repetição desnecessária de ideias. d) emprego estilístico da fala de outra pessoa. e) uso de uma pergunta sem resposta. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A DANÇA E A ALMA “A DANÇA? Não é movimento, súbito gesto musical. É concentração, num momento, da humana graça natural. No solo não, no éter pairamos, nele amaríamos ficar. A dança - não vento nos ramos; seiva, força, perene estar. Um estar entre céu e chão, novo domínio conquistado,
97VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias onde busque nossa paixão libertar-se por todo lado... Onde a alma possa descrever suas mais divinas parábolas sem fugir à forma do ser, por sobre o mistério das fábulas.” (Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.) 14. (Enem) A definição de dança, em linguagem de dicionário, que mais se aproxima do que está expresso no poema é: a) a mais antiga das artes, servindo como elemento de comunicação e afirmação do homem em todos os momentos de sua existência. b) a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao homem a liberação de seu espírito. c) a manifestação do ser humano, formada por uma sequência de gestos, passos e movimentos desconcertados. d) o conjunto organizado de movimentos do corpo, com ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos, cantos, emoções etc. e) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO BRASIL O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem - Sois cristão? - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu - Sim pela graça de Deus - Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval. (Oswald de Andrade) 15. (Enem) Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é: a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem. b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira. c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos. d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas. e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade. 16. (Enem) O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos a seguir. PRONOMINAIS “Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro” (ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.) “Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja reproduzir a fala dos personagens ( .. ).” (CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980.) Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos: a) condenam essa regra gramatical. b) acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra. c) criticam a presença de regras na gramática. d) afirmam que não há regras para uso de pronomes. e) relativizam essa regra gramatical. 17. “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época. POÉTICA “Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário [o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas .................................................................. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
98VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.” (BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1974.) Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta: a) critica o lirismo louco do movimento modernista. b) critica todo e qualquer lirismo na literatura. c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico. d) propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico. e) Propõe a criação de um novo lirismo. 18. “Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...) movido pelo presente mas estalando naquele cio racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e sobretudos, oh! sobretudo bastante vergonha na cara! (...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.” (Jornal “A Noite”, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminho São Paulo: Duas Cidades, 1972) No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao expressar-se numa variante de linguagem popular identificada pela(o): a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha. b) emprego da pontuação. c) repetição do adjetivo bastante. d) concordância empregada em “assim está escrito.” e) escolha de construção do tipo “precisa-se gentes.” E.O. UERJ Exame Discursivo TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. O DIREITO À LITERATURA 1 Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Vista deste modo a literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação*. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. 2 O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação ficcional está presente em cada um de nós, como anedota, história em quadrinhos, noticiário policial, canção popular. Ela se manifesta desde o devaneio no ônibus até a atenção fixada na novela de televisão ou na leitura seguida de um romance. Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. Podemos dizer que 3 a literatura é o sonho acordado das civilizações. Portanto, assim como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é 4 fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente. Cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos, as suas crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim de fortalecer em cada um a presença e atuação deles. Por isso é que nas nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Antonio Candido Adaptado de Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. * fabulação − ficção 1. (UERJ) Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, (ref. 1) O trecho acima parte de uma pressuposição que o próprio autor contesta: a de que existiria uma maneira restrita de definir a literatura. Identifique outro exemplo do primeiro parágrafo que contenha uma pressuposição e explique em que ela consiste. 2. (UERJ) O autor afirma que a literatura é fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, (ref. 4). Cite dois argumentos que ele apresenta no texto para chegar a essa conclusão. 3. (UERJ) O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. (ref. 2) a literatura é o sonho acordado das civilizações. (ref. 3) O autor emprega a palavra sonho com sentidos distintos. Indique os dois sentidos usados para a palavra sonho. Em seguida, explique a associação feita no segundo trecho entre sonho e civilizações.
99VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. TEXTO I LIRA VIII Marília, de que te queixas? De que te roubou Dirceu O sincero coração? Não te deu também o seu? E tu, Marília, primeiro Não lhe lançaste o grilhão? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? Em torno das castas pombas, Não rulam ternos pombinhos? E rulam, Marília, em vão? Não se afagam c’os biquinhos? E a prova de mais ternura Não os arrasta a paixão? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? Já viste, minha Marília, Avezinhas, que não façam Os seus ninhos no verão? Aquelas, com quem se enlaçam, Não vão cantar-lhes defronte Do mole pouso, em que estão? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? Se os peixes, Marília, geram Nos bravos mares, e rios, Tudo efeitos de Amor são. Amam os brutos impios*, A serpente venenosa, A onça, o tigre, o leão. Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? As grandes Deusas do Céu Sentem a seta tirana Da amorosa inclinação. Diana, com ser Diana, Não se abrasa, não suspira Pelo amor de Endimião? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? Desiste, Marília bela, De uma queixa sustentada Só na altiva opinião. Esta chama é inspirada Pelo Céu; pois nela assenta A nossa conservação. Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.) * aqueles que não têm piedade TEXTO II POEMAS DA NEGRA (1929) Você é tão suave, Vossos lábios suaves Vagam no meu rosto, Fecham meu olhar. Sol-posto. É a escureza suave Que vem de você, Que se dissolve em mim. Que sono... Eu imaginava Duros vossos lábios, Mas você me ensina A volta ao bem. (ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São Paulo: Livraria Martins, 1980.) 4. (UERJ) A estrofe que vai de “Eu imaginava” até “A volta ao bem”, no “Poema da Negra” de Mário de Andrade, estabelece um contraste entre as expectativas do poeta sobre a amada e a vivência concreta do contato com ela. Explique como esse contraste se evidencia: a) no emprego dos tempos verbais; b) nas funções sintáticas dos pronomes pessoais. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. (Fuvest 2017) Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar uma exposição de obras de Pablo Picasso Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que compõem o texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e
100VOLUME 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias “selvagem” sugerem que as obras do referido artista conjugam, respectivamente, a) civilização e barbárie. b) requinte e despojamento. c) modernidade e primitivismo. d) liberdade e autoritarismo. e) tradição e transgressão. 2. (Fuvest) Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos (...) Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? - Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? - Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. (Manuel Bandeira, “Libertinagem”.) No conhecido poema de Bandeira, aqui parcialmente reproduzido, a experiência do afastamento da festa de São João: a) é de ordem subjetiva e ocorre, primordialmente, no plano do sonho e da imaginação. b) reflete, em chave saudosista, o tradicionalismo que caracterizou a geração modernista de 1922. c) se dá predominantemente no plano do tempo e encaminha uma reflexão sobre a transitoriedade das coisas humanas. d) assume feição abstrata, na medida em que evita assimilar os dados da percepção sensível, registrados pela visão e pela audição. e) é figurada poeticamente segundo o princípio estético que prevê a separação nítida de prosa e poesia. 3. (Fuvest) ORAÇÃO A TERESINHA DO MENINO JESUS Perdi o jeito de sofrer. Ora essa. Não sinto mais aquele gosto cabotino da tristeza. Quero alegria! Me dá alegria, Santa Teresa! Santa Teresa não, Teresinha... Teresinha... Teresinha... Teresinha do Menino Jesus. (...) (Manuel Bandeira, “Libertinagem”) Sobre este trecho do poema, só NÃO é correto afirmar o que está em: a) Ao preferir Teresinha a Santa Teresa, o eu lírico manifesta um desejo de maior intimidade com o sagrado, traduzida, por exemplo, no diminutivo e na omissão da palavra “Santa”. b) O feitio de oração que caracteriza estes versos não é caso único em” Libertinagem” nem é raro na poesia de Bandeira. c) Embora com feitio de oração, estes versos utilizam principalmente a variedade coloquial da linguagem. d) Em “do Menino Jesus”, qualificativo de Teresinha, pode-se reconhecer um eco da predileção de Bandeira pelo tema da infância, recorrente em “Libertinagem” e no conjunto de sua poesia. e) Apesar de seu feitio de oração, estes versos manifestam intenção desrespeitosa e mesmo sacrílega em relação à religião estabelecida. 4. (Fuvest) Considere as seguintes afirmações sobre “Libertinagem”, de Manuel Bandeira: I. O livro oscila entre um fortíssimo anseio de liberdade vital e estética e a interiorização cada vez mais profunda dos vultos familiares e das imagens brasileiras. II. Por ser uma obra do início da carreira do autor, nela ainda são raras e quase imperceptíveis as contribuições técnicas e estéticas do Modernismo. III. Em vários de seus poemas, a exploração de assuntos particulares e pessoais, aparentemente limitados, resulta em concepções muito amplas, de interesse geral, que ultrapassam a esfera pessoal do poeta. Está correto APENAS o que se afirma em: a) I. d) I e III. b) II. e) II e III. c) I e II. 5. (Fuvest) A presença da temática indígena em “Macunaíma”, de Mário de Andrade, tanto participa ------- --, quanto representa uma retomada, com novos sentidos, ----------. Mantida a sequência, os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente por: a) do movimento modernista da Antropofagia / do Regionalismo da década de 30. b) do interesse modernista pela arte primitiva / do Indianismo romântico.