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Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação - Dr. John Preston

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Published by carlosfreitaskk, 2018-06-28 12:58:54

Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação

Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação - Dr. John Preston

Di. l o h n Preiton
VENÇA A

U M CiUIA P A R A A RECUPERAÇÃO

V

JOHN PRESTON, PsyD.

Vença a Depressão

Tradução de
JOSÉ LUIZ MEURER

RECORD

EDITORA RECORD

Título original norte-americano
YOU CAN BEAT DEPRESSION

Copyright © 1989 by John Preston
Publicado mediante acordo com Impact Publishers.

Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil
adquiridos pela

DISTRIBUIDORA RECORD D E SERVIÇOS D E IMPRENSA S.A.
Rua Argentina 171 20921 — Rio de Janeiro, R J — Tel.: 580-3668
que se reserva a propriedade literária desta tradução
Impresso no Brasil
PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL
Caixa Postal 23.052 — Rio de Janeiro, R J — 20922

Agradecimentos

Desejo manifestar meu reconhecimento aos esforços pio-
neiros los doutores Albert Ellis, Aaron Beck, John Rush e
David Jurns. Suas descobertas e inovações ensejaram novas
esperanças para pessoas que sofrem de depressão.

Cl arlie Ruff e Laurie Zenobia contribuíram de maneira
import mte para a preparação dos esboços e do texto em sua
forma :'inal. Meu editor, dr. Robert Alberti, ofereceu-me nu-
merosas e úteis sugestões. Reconheço profundamente o auxílio
que me prestaram.

Agradecimentos especiais a dois bons amigos e colegas:
dr. Der nis McCracken e dra. Bonnie Preston (minha esposa).
Eles me fortaleceram com estímulo, apoio e amor.

Pott* fim, desejo manifestar enorme gratidão a meus pa-
cientes J que me ensinaram a sobreviver e crescer.

— John Preston, Psy.D.

NOTA DO AUTOR

As doses recomendadas dos medicamentos antidepressivos lis-
tados neste livro estão em acordo com o melhor de meus
conhecimentos e são corretas. No entanto, não se pretende que elas
sirvam de orientação única para se prescrever tais medicamentos.
Os médicos deverão, por favor, consultar a bula do medicamento
apresentada pelo fabricante ou o Physician's Desk Reference para
tomarem conhecimento de quaisquer modificações no esquema de
dosagens ou das contra-indicações.

Com a finalidade de proteger a privacidade e o caráter confi-
dencial dos depoimentos referidos no texto, todos os nomes de
pacientes e todos os casos mencionados neste livro foram cuidadosa-
mente dissimulados.

NOTA DO EDITOR AMERICANO

Este livro tem por objetivo dar informações exatas e autoriza-
das no que concerne ao assunto de que trata. É comercializado sob
o entendimento de que o editor não está interessado em prestar ser-
viços psicológicos, médicos, nem outros serviços profissionais. No
caso de necessitar de assistência especializada ou orientação de um
profissional, o leitor deve recorrer aos serviços de um profissional
competente.

Dedicatória

A meus pais,
e Conrad Preston

t

Vença a Depressão

Alçada ano milhões de pessoas em todo o mundo são afe-
tadas por um mal que interfere em suas vidas e pode até levá-
las ao suicídio. Tolhidas pelo cansaço e a apatia, elas se tor-
nam cegas para qualquer possibilidade de cura. Em Vença a
Deprei são, o Dr. John Preston analisa, numa abordagem clara
e objeliva, as causas, os sintomas e as diversas formas de tra-
tamento deste mal, destacando o valor e as limitações da auto-
ajuda.

Com sólida base científica e eficiência comprovada, os
métodos expostos pelo autor se dividem em duas categorias:
tratamento especializado e abordagens baseadas na auto-ajuda.
É possível se obter um controle da depressão baseado em téc-
nicas de auto-ajuda, mas há casos em que se faz necessário
um acompanhamento profissional, o que não exclui a im-
portância de tais técnicas, que também servem de apoio a
qualquer tipo de tratamento. Este livro vai ensiná-lo a iden-
tificar los limites da auto-ajuda e decidir quando procurar o
auxílio) de um profissional.

Ao aplicar os ensinamentos aqui descritos, você conse-
guirá restaurar seu poder pessoal, aumentando a autoconfiança
e a autè-estima e desenvolvendo recursos interiores que lhe per-
mitirão afastar de uma vez por todas o fantasma da depressão.

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PARA UMA VIDA MELHOR — Joseph Murphy
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VIVER SEM TENSÃO — Joseph Murphy
VIVER SEM OBESIDADE — Dr. Flávio Rotman
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TENHA UM DIA PERFEITO — Norman Vincent Peale

0

Sumário

Introdução 13

PARTE IJM: COMO COMPREENDER A DEPRESSÃO

1. O Que É Depressão? 17
2. Nem Todas as Depressões São Semelhantes 22

Como Compreender os Sintomas de 28
Depressão 36
Reconheça Você Mesmo e Controle a sua 42
Recuperação 51
5, O Que Causa Depressão? — História 59
Pessoal

6. O Que Causa Depressão? Acontecimentos
Usuais
O Que Causa Depressão? — Fatores
Biológicos

PARTE J)OIS: O Q U E VOCÊ PODE FAZER PARA VENCER
A DEPRESSÃO?

8. Escolha do Tratamento 69
9 Respostas Sadias e Respostas Destrutivas
73
Diante do Sofrimento Emocional 79
87
10. Você Pode Ajudar-se? 102
11. Modifique o seu Pensamento Negativo
12. Outras Técnicas de Auto-Ajuda 114
13. Psicoterapia e Outros Tratamentos 126
140
Profissionais 145
14. Medicamentos para Depressão
15 A Depressão É um Problema da Família
16 Há Esperança!

Referências 149

índice 153



Introdução

A depressão é um sofrimento.
E m estado incapacitante que afeta milhões de pessoas a ca-

da ano; causa enorme sofrimento emocional, interfere no dia-a-
dia das )essoas e das famílias, prejudica o trabalho, aumenta o ris-
co de d )ença somática, e em certos casos pode mesmo levar ao
suicídic. Entretanto, conforme demonstro neste livro, a depres-
são é un f problema com muitaspossibilidades de tratamento. É de
se lamei itar o fato de que a maioria das pessoas deprimidas não
são trat idas e não têm conhecimento da ajuda que podem obter.

Ui|i dos aspectos mais dolorosos da depressão é o sen-
timento de desamparo e impotência que acomete, muitas vezes,
a pesso i deprimida. Tal sentimento pode traduzir-se na con-
vicção de que não há saída, de que você é incapaz de superar
os prof mdos sentimentos de desespero e impotência. Amigos
dedicac os podem tentar animar dizendo, "as coisas vão me-
lhorar... Olhe o lado bom das coisas..." Na maioria dos casos,
tais palavras de encorajamento de pouco servem para desfa-
zer o clima de tristeza e pessimismo. Uma verdadeira
perspec tiva de esperança só pode abrir-se quando você des-
cobre n aneiras de vencer a depressão que façam sentido e que
a sua experiência comprove serem eficientes.

Ne ste livro, apresento a você, de modo sucinto e fácil de en-
tender, i liversas abordagens para o tratamento da depressão em
adultos e em adolescentes próximos da idade adulta. Todos estes
método J possuem sólida base científica e eficiência comprovada.
As idéia s a serem expostas incluem-se em duas categorias amplas:
Tratami nto especializado e abordagens baseadas na auto-ajuda.

13

Muitas das pessoas que apresentam depressão necessitam de e po-
dem significativamente beneficiar-se com um tratamento propor-
cionado por um profissional da área de saúde mental. Mas há
muitas coisas que você pode fazer para obter, por si mesmo, con-
trole sobre a própria depressão. E essa abordagem, baseada na
auto-ajuda, pode trazer benefícios adicionais:

• Você poderá observar, em tempo relativamente curto,
resultados positivos, pois as técnicas de auto-ajuda aqui des-
critas são extremamente eficazes; há amplas pesquisas para
mostrar que elas funcionam.

• Você poderá vir a ter um sentimento único de orgulho,
satisfação e poder ao se ver capaz de fazer algumas coisas, ao
constatar que faz diferença, ao perceber, no seu íntimo, que
você pode controlar a situação e tem capacidade para combater
sentimentos de depressão. A restauração do sentimento de po-
der pessoal e o aumento da autoconfiança e da auto-estima
são componentes importantes para você superar a depressão.

• Essas técnicas de auto-ajuda também podem ser de
muita utilidade para pessoas que estão envolvidas em trata-
mento prescrito por profissional.

• Como vantagem adicional, depois de ter aprendido a
desenvolver certas aptidões específicas para reduzir a depressão,
você terá adquirido também recursos que lhe permitirão afas-
tar a volta da depressão.

A auto-ajuda não substitui, naturalmente, o tratamento
efetuado por um profissional. Aplique o entendimento e as
idéias que este livro lhe oferece, mas assegure-se de recorrer
à ajuda de um profissional, caso necessite. Os capítulos 4 e
13 lhe darão subsídios para você decidir.

Compreendo que, para muitas das pessoas que sofrem de depres-
são, até mesmo a idéia de ler um livro pode parecer uma tarefa di-
fícil. Desejo facilitar este processo. Para tanto, procurei escrever
um livro sucinto e de fácil entendimento. O primeiro capítulo
aborda a questão "O que é depressão?" Os capítulos subsequentes
mostram como se pode superar o problema e quando se deve pro-
curar ajuda de um tratamento em nível profissional.

Espero sinceramente que este livro seja útil para você.

14

Parte Um
Como Compreender a

Depressão

tf



1

O Que É Depressão?

Se você está deprimido, é provável que já tenha tentado mui-
tas coisas para se sentir melhor. A depressão é difícil de debelar.
Tantas vezes uma pessoa deprimida procura afastar os sen-
timentais desagradáveis, o cansaço, a apatia, a desesperança,
tantas Vezes se sente frustrada e impotente.

Nd departamento de psiquiatria de um grande centro mé-
dico da Costa Oeste dos Estados Unidos, instituí uma clínica
de tratábento da depressão; ali as pessoas passam a conhecer
o que é depressão, suas causas, como superá-la, e de que modo
o tratamento especializado pode ajudar. Nos três primeiros
anos, aproximadamente 2.500 pessoas compareceram às nos-
sas prelições sobre manejo da depressão. Conversei com muitas
dessas pessoas depois de elas terem participado dessas con-
ferências e realizei extensas entrevistas de acompanhamento.
Verificamos que essas preleções oferecem considerável ajuda
e esperança para pessoas deprimidas.

Alguns dos comentários mais comuns, apresentados por
pacientes após terem assistido às preleções:

"Ag(\ra entendo o que éque tem acontecido comigo. Pen-
sei qèe eu estava enlouquecendo. Eu queria que alguém
me ttyesse explicado antes o que é depressão.99

17

"Pelaprimeira vez em muitos anos eu tenho um sentimento
de esperança ...Parece-me que agora existe algo específico
que eu posso fazer para diminuir a minha depressão."

"As técnicas de ajuda fazem sentido para mim.99

Uma senhora que assistiu à conferência duas vezes de-
clarou:

"Eu não acreditava que houvesse alguma coisa capaz de
me ajudar. Estava descrente e me sentia sem esperanças.
Mas depois da última conferência tentei as técnicas de
auto-ajuda, e elasfuncionam. Voltei aqui para obter nova
injeção de ânimo, de modo que possa evitarficar depri-
mida novamente.99

Enquanto preparava as conferências e ao escrever este livro,
eu me apercebi de que as pessoas em estado de depressão pre-
cisam de recomendações e técnicas muito específicas —
abordagens que sejam compreensíveis, de fácil entendimento
e eficazes. Atendendo a sugestões de numerosos pacientes
meus, escrevi este livro para compartilhar com você as idéias
desenvolvidas naquelas preleções. Creio que o livro ajudará
você a encontrar soluções práticas e eficazes para superar seu
problema. Penso que um bom passo inicial seja o de consi-
derarmos o que realmente é "depressão".

É verdade que todo ser humano, em algumas passagens
de sua vida, experimenta, em grau importante, sentimentos
de tristeza, pesar, desilusão e desespero. Toda pessoa se pre-
ocupa com algumas situações; preocupa-se com sua família,
seus amigos, seu trabalho, seus animais de estimação. Quando
perdemos um ser amado, quando um casamento se desfaz, ou
quando perdemos o emprego, é normal nos sentirmos tristes
e ansiosos. Desilusões ou tragédias nos atingem o coração,
numa ou noutra ocasião. Se você se sente pesaroso por ter so-
frido uma perda, saiba que isto é tão humano quanto sangrar
ao sofrer um corte. É comum as pessoas, quando enfrentam
acontecimentos dolorosos em suas vidas, dizerem que se sen-

18

tem ieprimidas"... Mas é importante notar que sentir-se
"triste' ou "tristonho" não significa necessariamente sentir-
se dep imido

A depressão, do ponto de vista clínico, difere da tristeza
norma em cinco aspectos básicos:

A depressão produz sofrimento mais intenso.
A depressão tem duração mais prolongada.
A depressão prejudica o desempenho normal do indi-
víduo 10 seu dia-a-dia.
A depressão é uma emoção destrutiva (diferente do pe-
sar, que acompanha o sofrimento, mas é uma experiência
emocional que leva à cura).
A depressão é tipicamente algo mais do que apenas um
sentimento doloroso. A depressão representa uma síndrome
(conjunto de sintomas) que, em muitos casos, envolve pro-
blemas na interação social, no comportamento, no pensamento
e no funcionamento biológico.

As depressões sob forma clínica plenamente desenvolvidas não
são rar as. Uma em cada cinco pessoas passa por uma depres-
são cli; úcamente grave em alguma época da vida. Em uma
dentre quinze pessoas, a depressão é tão severa que exige hos-
pitalização. O índice de suicídios em indivíduos que sofrem
depresi ões clinicamente importantes e repetidas é de aproxi-
madamente 15%. E m alguns tipos de depressão ocorrem al-
terações hormonais que podem interferir profundamente no
funcionamento do sistema imunológico. O resultado é que a
pessoa passa a ter menos condições para repelir a doença e
apresenta maior risco de ter problemas de saúde.

Embora tais estatísticas possam parecer sombrias, há dois
pontos lositivos que eu desejo destacar. Primeiro, se você está
deprim do, você não está sozinho. São muitas as situações em
que as lessoas se encontram enormemente sós no seu sofri-
mento. A depressão é uma condição humana muitíssimo
comum. No entanto, tal como ocorre em relação a outras
preocupações e problemas emocionais, muitas pessoas sentem
inibição ou vergonha de revelar que estão ou estiveram de-

primid s. Muitas vezes, há um estigma ligado a esse estado.

19

É extremamente lamentável que seja assim. Mas basta dizer
que a depressão é muito comum e atinge algum indivíduo em
praticamente todas as famílias.

O segundo ponto positivo é que existe ajuda e esperança.
A depressão é um dos estados emocionais mais passíveis de
tratamento. Este livro ajudará você a compreender melhor a
depressão, dará algumas orientações para ajudar você a to-
mar decisões quanto ao tratamento, ensinar-lhe-á algumas
técnicas eficientes de combate à depressão e discutirá sobre
tratamento especializado.

"Eu me Sinto Deprimido"

É comum as pessoas perceberem aquele aspecto de uma
doença somática que dói mais ou causa mais problemas. Es-
ses são os sintomas que elas relatam aos médicos. O mesmo
se passa nos casos de depressão. Quando alguém diz "eu me
sinto deprimido", isto pode significar muitas coisas diferen-
tes. Estas são algumas formas frequentes pelas quais as pessoas
experimentam depressão:

• Tristeza, desespero, sentimento de perda, vazio, sen-
timento de nostalgia (estes são os tipos de sentimentos que as
pessoas têm quando morre um ente querido);

• Apatia, indiferença, motivação escassa ou nenhuma,
cansaço;

• Incapacidade de sentir ânimo ou prazer, perda do pra-
zer de viver;

• Maior sensibilidade à crítica ou à rejeição; maior sus-
cetibilidade;

• Baixa auto-estima, falta de confiança em si mesmo, sen-
timentos de inadequação;

• Irritabilidade, propensão aos sentimentos de frustração
e raiva;

• Sentimentos de culpa, auto-acusação, ódio a si próprio;
• Sentimentos de desesperança e/ou impotência diante
da vida.

20

Embota estes problemas caracterizem os aspectos mais co-
muns pa depressão, eles representam somente alguns dos
muito* sintomas que ocorrem. A depressão é uma condição
complèxa, e muitas pessoas apresentam uma combinação de
sinton as, não somente um sentimento de desprazer.

N d capítulo a seguir, veremos os tipos mais comuns de
depressão. Tipos de depressão diferentes exigem tipos de tra-
tamen o diferentes. Ao ler este capítulo a seguir, por favor
fique i ensando no seu próprio caso e preste atenção naqueles
sinton; as ou problemas que você experimenta. Conhecendo-
os, \o :è terá maior facilidade de chegar a conclusões sobre
quais i ipos de tratamento poderão ajudá-lo.

21

2

Nem Todas as Depressões
São Semelhantes

São muitas as formas pelas quais a depressão afeta as pessoas.
Os sintomas, muitas vezes, são enigmáticos e preocupantes.
Muitas das pessoas deprimidas pensam estar enlouquecendo
ou pensam ter uma doença orgânica grave (mesmo quando seus
médicos não encontram nenhuma evidência de doença física).
Se você compreender a natureza do seu problema, muito pro-
vavelmente você se sentirá menos assustado e menos confuso.
E você terá condições de tomar decisões mais fundamentadas
com relação ao tratamento. Nem todas as depressões são se-
melhantes, e os tratamentos variam.

É conveniente dividir as depressões clínicas em três sub-
tipos: depressão psicológica (reações emocionais a perdas e
desilusões), depressão biológica (depressões que, sob muitos
aspectos, são doenças clínicas verdadeiras), e o tipo misto
(mistura de reações emocionais e físicas).

Depressões Psicológicas. As depressões psicológicas po-
dem ser definidas de duas maneiras. Primeira, essas depressões
psicológicas são desencadeadas por acontecimentos psicológi-

22

cos ou emocionais. Por exemplo, o marido de uma mulher
anuncia que vai se divorciar dela, e, em reação a este acon-
tecimen o, a mulher entra em depressão. Ela consegue entender
seus pré prios sentimentos, porque lhe é compreensível que ela
se sinta triste em resposta à ruptura do seu casamento. Neste
exemple, houve um acontecimento angustioso, doloroso, es-
pecífico (divórcio). No entanto, existem muitos outros fatores
desenca< cantes de depressão mais obscuros ou indefinidos. Por
exemple, o homem casado que percebe estar ocorrendo no seu
casamei to um gradual distanciamento afetivo. Percebe que
sua espe sa está mais distante, menos afetuosa. Trata-se de um
aconteci nento que não é súbito, e mesmo assim representa uma
perda. (orno tão frequentemente acontece em tais casos, esse
homem 3ode perceber que algo está faltando no seu relacio-
nament< , e esta preocupação pode deflagrar uma depressão.
Como s(! vê, o fator desencadeante psicológico ou emocional
pode sei súbito e evidente, ou pode ser gradual e insidioso.
Mas há uma modificação na situação de vida — relaciona-
mento, 1 ipo de vida, emprego — que atua como fator desen-
cadeante.

A si ígunda característica de uma depressão psicológica é
que os si itomas são exclusivamente psicológicos/emocionais.
Nas depi essões psicológicas puras o funcionamento biológico
encontn -se relativamente inalterado.

Figura 2-A

SINTOMAS PSICOLÓGICOS DE DEPRESSÃO

Tristeza e desespero
Auto-estima baixa
Apatia. Falta de motivação
Problemas de relacionamento
Sentimentos de culpa
Pensamentos negativos (distorções cognitivas)
Idéias de suicídio

23

O caso a seguir serve para exemplificar a depressão psi-

cológica. Mike vinha investindo todas as suas esperanças numa

promoção no seu emprego, depois de dois anos de trabalho.

Trabalhara arduamente, e achava que estava se saindo bem.

No mês anterior, surgira a vaga para promoção, mas quem

recebeu o cargo foi um outro funcionário — um que estava

na empresa há apenas seis meses. Foi um desapontamento

enorme para Mike ser preterido. Nas últimas semanas, tem-

se sentido preocupado, com sentimentos de inferioridade e

baixa auto-estima. É frequente ele falar de si para si mesmo:

"Nunca irei conseguir uma promoção. É evidente que eu sim-

plesmente não estou à altura." Como parte de sua reação a

esse acontecimento, Mike vem progressivamente retraindo-se

da vida. Tem recusado convites para sair para jantar. À noite,

prefere ir para casa, beber alguma coisa e ir dormir, simples-

mente. Na maior parte do tempo, sente-se triste e sem

motivação. Vez por outra, vêm-lhe à mente fugazes idéias de

suicídio. '

Mike não apresentou modificações importantes em seu

sono, apetite ou na vida sexual. Entretanto, vem experimen-

tando sentimentos de tristeza cada vez mais intensos, sua auto-

estima está cada vez mais baixa, e evita os contatos sociais.

Sua reação emocional ocorreu em resposta a um aconteci-

mento de sua vida e é característica de uma depressão

psicológica.

Depressões Biológicas. Uma segunda categoria importante
é a depressão biológica, desencadeada mais propriamente por
algum tipo de acontecimento a nível orgânico (fisiológico), no
interior do organismo, do que uma resposta a modificações de
vida ou experiências pessoais dolorosas. É por isso que as de-
pressões biológicas surgem aparentemente sem causa e tomam
de surpresa o próprio indivíduo. "Não consigo entender por que
me sinto tão mal... As coisas andavam bem, na minha vida...
Não dá para entendei?' Além dos sintomas psicológicos ou emo-
cionais, há frequentemente uma série de sintomas físicos, cau-
sados por disfunções químicas nos sistemas nervoso e hormo-
nal (mais informações sobre isto, nos capítulos 7 e 14).

24

Figura 2-B

SINTOMAS FÍSICOS DE DEPRESSÃO

• Distúrbios do sono
• Distúrbios do apetite
• Perda do interesse sexual
• Cansaço e perda de energia
• Incapacidade de experimentar prazer (anedonia)
• História de antecedentes familiares de depressão,

suicídio, distúrbios de alimentação ou alcoolismo
• Crises de pânico

Joel é um técnico de laboratório, 52 anos de idade, ca-
sado, i ai de dois filhos, ambos já adultos. É um homem
estimac o; consideram-no um homem trabalhador. Há um mês,
sem nenhum motivo aparente, Joel começou a sentir algumas
modificações relevantes em sua rotina. Embora normalmente
bastanb: sociável, começou a sentir-se pouco à vontade no meio
de pess< >as. Disse à esposa não saber por que isso estava acon-
tecendd, e que preferia cancelar os compromissos sociais do
casal. ( 'Não sei por que, mas simplesmente não tenho dis-
posição para isso.") No trabalho, deu para perceber que
andava mais retraído e especialmente calado. Algumas pes-
soas lho perguntaram se ele estava doente. Ele disse: "Ora,
mais ou menos."

Ao mesmo tempo, houve algumas mudanças no seu fun-
cionamento fisiológico. Começou a notar que a comida
simplestnente não lhe apetecia como antes, e seu apetite su-
miu. Nás últimas três semanas, perdeu dois quilos de seu peso
corporal. Além disso, passou a acordar às 4h da madrugada,
não coriseguindo conciliar o sono novamente. Esse padrão de
sono m o era o habitual no nosso homem.

Po • fim, Joel foi consultar o médico da família. Falou
ao méd co: "Não me sinto no meu normal... Sinto-me um
tanto triste, mas não sei por quê. Não está acontecendo ne-

25

nhum problema na minha vida... Tudo vai bem. Menos eu.
Sinto-me cansado o tempo todo, e não quero estar perto de
ninguém."

Este é um quadro que sugere a presença de uma depres-
são biológica pura. Surgiu sem nenhuma causa visível. Não
houve acontecimentos angustiantes nem modificações de vida
identificáveis. Também faz parte deste quadro o desenvolvi-
mento gradual de sintomas biológicos.

Depressões Psicológicas com Sintomas Biológicos [Tipo
Misto]. Este grupo abrange um número muito grande de pes-
soas que sofrem de depressão clinicamente comprovada. A
depressão de tipo misto tem um fator desencadeante psicoló-
gico, mas, nesses casos, a pessoa experimenta sintomas
emocionais e físicos, simultaneamente.

Figura 2-C

SINTOMAS ADICIONAIS QUE PODEM APARECER NAS DEPRESSÕES
SIMULTANEAMENTE PSICOLÓGICAS E BIOLÓGICAS

• Dificuldade de concentração e dificuldade com a memória recente
• Hipocondria: excessiva preocupação com a saúde pessoal
• Abuso de álcool/drogas.
• Exagerada sensibilidade emocional (inclusive raiva e irritabilidade)
• Acentuadas oscilações do estado de ânimo
• Qualquer um ou todos os sintomas listados entre os sintomas de

depressão psicológica e/ou de depressão biológica

Eva, uma mulher de 32 anos de idade, casada, recente-
mente foi informada de que seu marido, de 34 anos de idade,
está com câncer. Desde que teve essa notícia, há duas sema-
nas, ela tem tido períodos de intensa tristeza e crises de choro,
frequentemente pensa na doença do marido, tem receio de vir
a ficar só, no caso de ele falecer. Também se vê atormentada
por sentimentos de culpa e de auto-acusação. Sente-se culpada

26

por hav( T sempre contado com o marido para tudo nestes úl-
timos ai os. Além desses sintomas emocionais, ela tem tido
acentuai a perda de desejo sexual, e tem o que ela mesma qua-
lifica co no um "sono terrível", acordando uma dúzia de ve-
zes a cida noite. As reações de depressão em Eva são
evidente nente de tipo misto. Ela reage, com isso, a um acon-
tecimento significativo e doloroso, e uma parte dessa reação
se comp5e de sintomas biológicos.

A impoi tância de se fazer a distinção entre os três tipos de
depressão tem relação com o tratamento. Existem evidências
convincx ntes de que as pessoas que sofrem de depressão de
tipo bio ógico e misto provavelmente respondem melhor ao
tratamer to com antidepressivos (cerca de 75 a 80% dos pa-
cientes portadores de depressão biológica e mista, diagnos-
ticados c orretamente, tratados com antidepressivos apresen-
tam umí boa resposta clínica).

Se v Dcê tem uma depressão biológica pura você pode pre-
cisar son lente de tratamento medicamentoso e apoio. Mas se
você tem uma depressão do tipo misto, você pode obter bons
resultados com os medicamentos ou precisar de um tratamento
medicanientoso e de outros tipos de tratamento, como acon-
selhamento individual ou psicoterapia e/ou as técnicas de auto-
ajuda esquematizadas neste livro. Por fim, se você se enqua-
dra na de scrição de uma depressão psicológica pura, o seu caso,
de modo geral, não constitui indicação para tratamentos com
medicaçí o antidepressiva (embora também haja algumas ex-
ceções a esse caso). As pessoas que apresentam depressão
psicológi :a podem obter melhoras notáveis com certos tipos
de psicoterapia e com as técnicas de ajuda esquematizadas neste
livro.

Corrjo, porém, você haverá de saber se você realmente está
com "depressão"? E como saber, em caso afirmativo, qual
o tipo de depressão? E o que é mais importante, o que você
pode faz ír? Continue com esta leitura.

27

3

Como Compreender os
Sintomas de Depressão

O capítulo precedente apresentou uma visão geral dos sinto-
mas das depressões psicológica, biológica e de tipo misto.
Passaremos agora a examinar com mais detalhes esses sinto-
mas. Este capítulo deverá ajudar você a se compreender melhor
e a entender qualquer um desses sintomas que você talvez es-
teja experimentando. Compreendendo a natureza dos seus
problemas, você terá melhores condições de fazer uma boa es-
colha quanto a um possível tratamento.

Sintomas Psicológicos de Depressão

• Tristeza e Desespero. Em muitos casos, estes são os sin-
tomas de depressão que mais causam sofrimento e são os mais
evidentes. Outros relatos podem incluir sentimentos de vazio,
desilusão, melancolia, incapacidade e nostalgia. Sensação de
peso — especialmente na boca do estômago — e "dor de ca-
beça" verdadeira constituem aspectos físicos desse sentimento.

28

Baixa Auto-Estima. Abrange sentimentos de desvalo-
rizaçãc de si mesmo, incapacidade, falta de autoconfiança,
ódio cmtra si mesmo. "Não posso aguentar", "Não sou
bom"j e "Nunca faço nada direito" são exemplos de monó-
logo er i tais pessoas deprimidas e com baixa auto-estima. Essas
pessoa;, em muitos casos, cresceram sentindo-se insatisfeitas
consigo mesmas, incapazes de agradar a seus pais ou a seus
profes* ores. Frequentemente falharam nos estudos, nos rela-
cionai!] entos, nos esportes e no trabalho. Quase sempre acham
que os outros têm mais valor que elas, e geralmente cedem
às opií iões e à orientação dos outros. Em certo número de
casos, i ísses sentimentos são temporários — talvez tenham re-
lação c 3m perda de emprego ou problemas de relacionamento
— ma\ com muita frequência constituem um peso por toda
a vida

Apatia. Falta de motivação para fazer as coisas, retrai-
mento ocial, diminuição do nível de atividade e/ou restrição
das atiiidades em geral. Este sintoma, por si mesmo, pode le-
var a problemas mais graves, numa espécie de ciclo vicioso
depressivo. Por exemplo, se você se sente apático, talvez você
chegue à conclusão de que "não adianta, simplesmente não
tenho Gontade de sair e estar com as pessoas". Mas se você
deixa <^e participar de atividades sociais ou recreativas, a sua

minará por se tornar cada vez mais vazia de ativida-
des agifedáveis e válidas. Uma vida relativamente desprovida
de prazer, segundo acreditam alguns pesquisadores, é impor-
tante CÍ usa de depressão (veja Lewinsohn e Graf, 1973, na lista
das "ré ferências", no final deste livro). Também a diminuição
das atividades por si só provoca mudanças físicas, como can-
saço e | Drisão-de-ventre, que causam desconforto adicional.

. °roblemas de Relacionamento. Pessoas deprimidas fre-
quentei nente apresentam especial suscetibilidade à crítica ou
à rejeiç io. Podem ter sentimentos de desconforto e inadequa-
ção qu indo estão com outras pessoas, ou sentem uma exa-
cerbaçí o do sentimento de solidão. Pessoas deprimidas
provavelmente não se sentem bem naquelas situações em que

29

deveriam ser mais afirmativas (por exemplo, podem ter difi-
culdade de manter-se por seu próprio esforço, emitir suas
opiniões, sentimentos ou crenças, pedir ajuda ou apoio a ou-
trem, ou dizer não). Muitas pessoas têm esses problemas
quando não estão deprimidas. Mas eles se acentuam durante
a depressão. Também há outras pessoas que se sentem rela-
tivamente à vontade com os outros na maior parte do tempo,
e notam essas dificuldades somente quando deprimidas. Um
homem deprimido me disse: "Geralmente me sinto bem quan-
do converso com os outros, mas ultimamente perdi a confiança
em mim mesmo. Fico preocupado quando encontro alguém,
me sinto inibido de falar o que eu realmente penso ou sinto.
Sinto como se houvesse algo de errado comigo."

• Sentimentos de Culpa. É normal e adequado ter sen-
timentos de pesar ou remorso quando se comete um erro ou
quando, sem querer, se fere alguém. No entanto, conforme
assinalou o dr. David Burns, a culpa é um sentimento que con-
tém não apenas pesar ou remorso mas também a idéia de que
"sou uma pessoa m á " (Burns, 1980, pp. 178-204). É esta idéia
de maldade dentro de si próprio que torna a culpa uma emoção
dolorosa e destrutiva.

• Pensamentos Negativos. Esta denominação "distorções
cognitivas" é utilizada por psicólogos para designar uma ten-
dência a pensar de modo negativo e pessimista. (Cognições são
pensamentos e percepções.) Distorções ou erros no pensar e
no perceber ocorrem em quase todos os tipos de depressão.
À medida que uma pessoa vai se sentindo deprimida, seus pen-
samentos e percepções tornam-se extremamente negativos e
pessimistas. Essas distorções não apenas são um sintoma de
depressão como também são uma importante causa de depres-
são, e provavelmente são o mais poderoso fator a prolongar
e intensificar a depressão. No capítulo 11 passarei a expor com
mais detalhes este assunto das distorções cognitivas.

• Ideias de Suicídio. Idéias de suicídio são muito comuns
na depressão. Ainda que muitas das pessoas que pensam em

30

se matar] não cheguem realmente a cometer suicídio, mesmo
assim é preciso sempre levar a sério as idéias de suicídio. Na
maioria ias vezes, as idéias de suicídio são consequência de
uma visí o do futuro, encarado com excessivo pessimismo e
um sentimento de desesperança.

SintomasBiológicos de Depressão

Os intomas descritos a seguir manifestam-se por causa
deiimpoijtantes modificações bioquímicas que ocorrem nos sis-
temas nervoso e hormonal (veja capítulo 7 e capítulo 14, onde
se encon tram mais detalhes). A presença de um ou mais des-
ses sintcrnas deve servir de sinal de que há uma disfunção
biológic que é responsável por pelo menos uma parte dos
seus sintomas

• L istúrbios do Sono. Pode ocorrer uma série de alte-
rações n ) ciclo natural do sono. A dificuldade de conciliar o
sono (in iônia inicial) é um frequente sintoma de estresse em
geral. Al é mesmo situações de estresse pouco importantes po-
dem cau ;ar muitas das dificuldades de adormecer. Calcula-se
que, nui i dado tempo, 50% das pessoas apresentam alguma
dificuldí de de conciliar o sono. No entanto, há diversos pro-
blemas d ? adormecer que são mais propriamente característicos
de deprdssão e refletem uma disfunção naquela parte do cé-
rebro que regula os ciclos do sono. Os distúrbios do sono
relacion; idos com a depressão incluem: despertar prematura-
mente: c espertar duas ou mais horas antes da hora em que
normaln lente você acordaria e não conseguir mais conciliar
o sono. Insónia média: acordar frequentemente durante a
noite, mas geralmente conseguindo conciliar o sono de novo.
Muitas i ezes, o resultado é que você pode ter dormido, mas
você sen :e como se não tivesse dormido. No dia seguinte, você
se sente i ixausto. Hipersonia: é o dormir em excesso. Sono de-
ficiente: às vezes, você pode dormir oito ou mais horas, mas
durante d dia se sente cansado e exausto. Um efeito que a de-
pressão >ode causar é o de reduzir a quantidade de tempo que

31

u u o p v o J U U J I^IAV k v mv ^ i o w u i w o viv p u u i v w i v n i l u i i i u v i u u v p i v j -

você passa em sono profundo, tipo de sono que comumente
restaura a pessoa emocional e fisicamente.

• Distúrbios do AnPtitP FYrpQçivn a n m p n t n r\r\ o r ^ t í t o

são. Deve-se assinalar que alguns problemas de natureza clínica
podem causar sintomas similares e que todo indivíduo que apre-
senta sintomas de pânico deve ser examinado por um médico,
primeiramente, para que se possa excluir outros problemas de
natureza orgânica.

Outros Sintomas de Depressão Psicológica, Biológica e de
Tipo Misto

• Dificuldade de Concentração e Deficiências de Me-
mória Recente [Facilidade de Esquecer], Muitas pessoas que
vêm a exame em serviços de saúde mental receiam ser pos-
suidoras de tumor cerebral ou doença de Alzheimer. Em muitos
desses casos, trata-se de uma propensão ao esquecimento e de
dificuldade de concentração, por causa da depressão. Depres-
são e estresse constituem as causas mais frequentes de
problemas de memória e dificuldade de concentração. Mas
também existem outras doenças que podem causar estes sin-
tomas. No caso de eles se manifestarem, procure garantir-se
através de exame realizado por um médico.

• Hipocondria. Uma das mais comuns causas de hipo-
condria (excessiva preocupação com a própria saúde quando
há provas, em exame físico, de que não há nenhuma doença
orgânica) é uma depressão subjacente e frequentemente não-
identificada.

• Abuso de Drogas/Álcool. Em muitos casos, o consumo
abusivo de drogas e/ou álcool representa uma tentativa de ate-
nuar o sofrimento provocado pela depressão. O uso excessivo
de álcool também pode, por si mesmo, causar depressões gra-
ves.

• Sensibilidade Emocional Excessiva. Uma incontrolá-
vel e intensa irrupção de sentimentos (por exemplo, crise de
choro, irritabilidade etc.) em resposta a frustrações de pouca

• (Oscilações de Humor Acentuadas. Por vezes as pessoas
sofrem intensas oscilações do estado de ânimo, passando da
depres* ão à euforia exagerada (denominada, muitas vezes, ma-
nia ou hipomania). Essas oscilações de humor podem estar
associa das a um tipo de depressão biológica chamada "doença
bipolai condição anteriormente chamada de "doença
maníaco-depressiva". Em pacientes diagnosticados correta-
mente, muitos desses casos podem ter um tratamento eficaz
com u$i medicamento específico: o lítio (veja o capítulo 7).
É importante determinar o tipo de depressão que você tem,
de moi lo que se possa tomar uma decisão acertada com re-
lação í o tratamento. Um número muito grande de pessoas
sofre ce depressão grave e não recebe tratamento. Há tam-
bém uin número muito grande de pessoas que são tratadas,
mas de maneira inadequada (veja capítulo 13). Penso que é
import ante você compreender o máximo possível a respeito
de depi essão, entender os problemas que você enfrenta e pro-
curar i isistir para receber o tratamento adequado. Este é um
direito seu.

35

4

Reconheça Você Mesmo
e Controle a sua Recuperação

Agora que você conhece os sintomas de depressão, convém
completar a lista de verificação para autodiagnóstico, apre-
sentada nas páginas 37-40.

A lista de verificação pode ser utilizada com três finali-
dades: (1) ajudar você a determinar que grau de depressão você
apresenta; (2) você mesmo poder verificar a sua possível ne-
cessidade de tratamento medicamentoso; e o que é o mais
importante; (3) oferecer meios de você acompanhar modifi-
cações de comportamento ao longo do tempo. Na maioria dos
casos, à medida que uma pessoa começa a recuperar-se da de-
pressão, ocorrem modificações positivas nos sintomas, porém
estes importantes sinais de melhora podem passar desperce-
bidos à pessoa deprimida. Amigos do paciente, seus familiares
e seus terapeutas, em muitos casos, conseguem observar si-
nais de recuperação muito antes de a pessoa deprimida per-
ceber essas modificações. Isto ocorre provavelmente porque
nas fases iniciais da recuperação ainda há no deprimido uma
tendência a ver-se e ao mundo de uma forma muito negativa.
O uso desta lista de verificação pode ser de utilidade.

36

Si san tem apresentado uma depressão acentuada e tem
estado em tratamento por quatro semanas. Ela preencheu esta
lista de verificação no decorrer da primeira consulta. Quando
eu a ea aminei pela quarta vez, ela declarou: "Ainda me sinto
deprin ida... As coisas não melhoram." Entretanto, pelo que
me pa eceu, ela deu a impressão de estar muito menos de-
primida, mais vivaz e espontânea, com mais vitalidade. Ainda
estava bastante triste, mas havia mudanças que apareciam ex-
teriorn ente. Solicitei-lhe que preenchesse a lista de verificação
novam ente; e, quando a completou, nós comparamos o re-
sultado obtido no decorrer da primeira consulta. Havia
modifi cações positivas no que concerne a sono, nível de ener-
gia e cc ntrole emocional. Quando ela confrontou as duas listas,
disse:6 'Bem, observando com atenção vejo que as coisas estão
melhoi es. De alguma forma eu ainda me sinto na fossa, mas
já houve modificações."

El se tipo de resposta ocorre com frequência. Convém você
usar e* ta lista de verificação para acompanhar sua melhora.
No cas o de Susan, este exercício ajudou-a a ver que ela estava
tendo algumas melhoras significativas, o que serviu para au-
mentai o sentimento de esperança. A restauração de um
sentim mto de esperança é, por si mesma, um poderoso an-
tídoto contra os sentimentos de pessimismo e depressão.

In sisto em que você preencha a lista de verificação agora
e, pan monitorar as suas modificações, no fim de cada se-
mana ( urante as fases iniciais da sua recuperação da depressão.

LISTA DE AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO

I Fu icionamento Biológico Pontos

A. Problemas de Sono 0
1. Sem problemas de sono 1
2. Problemas de sono ocasionais 37

3. Despertar frequentemente durante a 2
noite ou despertar prematuro na ma- 3
drugada
a. 1 a 3 vezes no decorrer da última 0
semana
b. 4 ou mais vezes no decorrer da úl- 1
tima semana
3
B . Problemas de Apetite
1. Sem alterações no apetite 0
2. Alguma alteração (para mais ou para 1
menos) no apetite, mas sem aumento 2
ou perda de peso 3
3. Alteração importante do apetite (para 0
mais ou para menos) com aumento ou 1
perda de peso (2,5kg mais ou menos, 2
no decorrer do último mês) 3

C. Cansaço 0
1. Cansaço diurno pouco perceptível ou
não-perceptível
2. Cansaço ou exaustão durante o dia
a. ocasionalmente
b. 1-3 dias no decorrer da última se-
mana
c. 4 ou mais dias no decorrer da úl-
tima semana

D. Interesse Sexual
1. Nenhuma alteração no interesse sexual
2. Diminuição do interesse sexual
a. leve
b. moderada
c. sem interesse sexual

E . Anedonia
1. Apesar de períodos de tristeza, sou ca-
paz de sentir satisfação ou prazer em
algumas ocasiões

38

Diminuição da capacidade de aprovei- 1
tar a vida 2
a. leve 3
b. moderada
c. absolutamente nenhuma satisfação ()

na vida

T O T A L DE PONTOS: FUNCIONAMENTO
BIOLÓdlCO

II. Sinto nas Emocionais/Psicológicos Pontos

A. Tristeza e Desespero 0
. Ausência de tristeza acentuada 1
. Tristeza ocasional 2
Períodos de tristeza intensa 3
Tristeza intensa quase diariamente

B. A\ito-Estima 0
Sinto-me confiante e bem comigo 1
mesmo 2
Dúvidas sobre a própria capacidade, 3
às vezes
Sentimento frequente de inadequação,
inferioridade ou falta de autoconfiança
Sinto-me completamente sem valor na
maior parte do tempo

C. Abatia e Motivação 0
Facilmente me sinto motivado e entu- 1
siasmado com as coisas 2
Às vezes sinto dificuldade de começar 3
projetos, trabalhos etc.
Frequentemente me sinto sem motivação
ou apático
É quase impossível dar início a proje-
tos, trabalhos etc.

39

D. Pensamento Negativo/Pessimismo 0
1. Penso de um modo relativamente posi- 1
tivo na minha vida e em meu futuro 2
2. Às vezes me sinto pessimista 3
3. Frequentemente me sinto pessimista
4. O mundo parece-me extremamente ne- 1
gativo; o futuro, desprovido de espe- 2
ranças
3
E . Controle Emocional ()
1. Quando tenho sentimentos desagradá-
veis, estes podem causar sofrimento,
mas não me dominam por inteiro
2. Às vezes me sinto dominado por
emoções íntimas
3. Frequentemente me sinto dominado
por sentimentos íntimos ou absoluta-
mente não vivencio sentimentos ínti-
mos

TOTAL DE PONTOS: SINTOMAS
EMOCIONAIS/PSICOLÓGICOS

Como Calcular o Seu Número de Pontos e Interpretar os
Resultados

Vamos dar uma olhada nos resultados. Você pode fazer
a contagem de seu total de pontos para o item"Funcionamento
Biológico" e para o item "Sintomas Emocionais/Psicológicos"
da lista de verificação. Para calcular o total de pontos, some
os pontos correspondentes a cada resposta e escreva o total
de pontos no espaço entre colchetes no final de cada item.

Funcionamento Biológico. Resposta 2 ou 3 em qualquer um
dos itens A - E podem indicar que o seu funcionamento bio-

40

lógico 1 DÍ afetado pela depressão e que pode estar indicado
um trat; imento medicamentoso com antidepressivos (especial-
mente se houver algum escore de 3). Sendo este o seu caso,
será im )ortante ter uma consulta com um psiquiatra, com o
seu méc ico particular ou com um terapeuta da área de saúde
mental, com vistas a um tratamento médico. Se todos os to-
tais de i ontos derem valores de 0 a 1, é bem provável que não
estejam indicados medicamentos antidepressivos. Interpreta-
ção do total de pontos: 0-5, Depressão Biológica Branda;
6-10, Depressão Biológica Moderada; 11-15, Depressão Bio-
lógica Grave.

Sintorm is Emocionais/Psicológicos. Resposta de 2 ou 3 em
quaisqi er itens indicam depressão psicológica. Interpretação
do totai de pontos: 0-5, Sintomas Psicológicos Brandos; 6-10,
Sintom is Psicológicos Moderados; 11-15, Sintomas Psicoló-
gicos Graves. Um total de pontos elevado no item Biológicos
e simul aneamente no item Emocionais/Psicológicos é indi-
cativo < e uma depressão de tipo misto. Conforme foi ante-
riormer te mencionado, essas reações depressivas frequente-
mente podem melhorar com uso de medicamentos.

Por favo r, continue a preencher esta breve lista de verificação
ao fim de cada semana, para você poder acompanhar o seu
progresso

Nos próximos capítulos, examinaremos as causas da de-
pressão. A Parte 2 deste livro ajudará você a descobrir o que
você pode fazer para superar a depressão e, caso seja neces-
sário eácontrar ajuda profissional.

41

5

O Que Causa Depressão?
— História Pessoal

"Devo estar enlouquecendo. O que há comigo? Sinto-me tão
mal. Não consigo pensar, não tenho ânimo, nem motivação.
Por que estou me sentindo tão mal?"

O sofrimento causado pela depressão muitas vezes é in-
tensificado por um sentimento de confusão e perplexidade. Em
certos casos, pode ser muito difícil compreender por que você
se sente deprimido. Conforme disse um de meus pacientes:
"Naturalmente que me sinto deprimido. Minha esposa me
abandonou, estou sozinho, a minha vida toda está transtor-
nada. As pessoas sentem-se deprimidas quando passam por
um divórcio. Não é mesmo?"

É verdade, mas muitas vezes as causas permanecem ocul-
tas ou são obscuras. Em muitos casos as pessoas acham que
a depressão veio sem nenhuma causa aparente. Uma das razões
pelas quais é importante compreender o que causa a depres-
são é que, ao se compreender a causa, também se pode tomar
decisões mais acertadas quanto ao tratamento. Assim como
é verdade que nem toda dor de garganta cede aos antibióti-
cos, assim também, de uma forma parecida, nem todas as

42

depressões melhoram com um mesmo tratamento. Depois que
você sab e com certeza que você tem uma infecção de garganta
por estr< iptococos, você então sabe também que o tratamento
mais inc içado é com antibióticos. Assim também é preciso sa-
ber o qi e causa a sua depressão para poder decidir sobre as
formas le tratamento mais eficientes.

Um outro motivo para se descobrir as causas da sua de-
pressão i que o entendimento das causas pode ajudar muito
a compn íender a depressão, certamente algo complexo. Se você
compree ide o porquê, certamente diminui o sentimento de con-
fusão e mistério que cercam a depressão. Esse entendimento
também iode aumentar as suas possibilidades de recuperação.

Nes e capítulo, pretendo expor sucintamente algumas das
principai s causas da depressão. Naturalmente convém que você
tenha en mente o fato de que, em muitos casos, é uma com-
binação le fatores que termina por produzir a depressão. (Este
capítulo procura enfatizar o modo como a história pessoal con-
tribui pa *a a depressão. Os capítulos subsequentes abordarão
os acontecimentos atuais e os fatores biológicos.

Experiên das dos Primeiros Anos de Vida

Van os supor, a título de exemplo, que duas pessoas vão
disputar uma corrida em que devem correr, com os pés des-
calços, numa área de estacionamento revestida de cascalho.
Mas tam lém suponhamos que um dos corredores já tem bo-
lhas nos >és antes mesmo de iniciada a corrida. A corrida pode
ser peno* a para ambos os corredores, mas aquele com lesões
preexiste ites nos pés haverá de sentir muito mais dor. Assim
também ! ;e tem verificado que uma série de experiências pes-
soais que ocorreram no início da vida e provocaram danos
emocionas podem criar condições para que haja um risco
muito ira ior de depressão quando o indivíduo chegar à vida
adulta. C srtamente que, se uma pessoa vivência acontecimen-
tos dolor isos nos primeiros anos de vida, isto não quer dizer
que ela ii evitavelmente sofrerá de depressão em épocas sub-
sequentes . Sabe-se, porém, que certas experiências aumentam

43

em muito a vulnerabilidade à depressão. Essas circunstâncias
do início da vida, conforme descritas nas páginas a seguir, aju-
dam a explicar por que, quando duas pessoas são expostas
exatamente à mesma situação de sofrimento, uma pessoa pode
sentir angústia mas supera o problema, enquanto que outra
se torna deprimida.

• Situações de Perda no Início da Vida. Crianças de tenra
idade são especialmente sensíveis à perda de um ser amado.
Faz parte do desenvolvimento normal de uma criança ela es-
tabelecer intensos laços afetivos especialmente com seus pais.
Um pai ou uma mãe pode vir a faltar por morte, divórcio ou
separação do casal, por empregos que exigem que o pai ou
a mãe se ausentem por períodos de tempo prolongados, ou
por doença grave que exija longos períodos de hospitalização.
Muitos pais ou mães "ausentes" podem na realidade estar pre-
sentes, mas emocionalmente distantes ou não-participantes.
Um pai ou mãe muito enfermo, acamado, por exemplo, pode
amar o seu filho, e mesmo assim pode estar muito pouco dis-
ponível emocionalmente. Crianças que foram criadas por pais
deprimidos frequentemente passarão a ser adultos deprimi-
dos. Esse pai ou mãe pode ter amado ternamente o seu filho,
mas a depressão, de um modo poderoso, tirou do pai ou mãe
a vitalidade e a capacidade de se envolver significativamente
com a criança.

Existem casos em que a criança é indesejada e rejeitada,
ou casos em que certas circunstâncias de família extremamente
dolorosas resultam em dureza e rejeição por parte dos pais.
Filhos de pais alcoolistas comumente vivenciam privação afe-
tiva em grau muito importante. Em muitos casos, o abuso
prolongado de álcool tem um efeito devastador sobre os pais,
podendo prejudicar a capacidade básica dos pais de criar la-
ços profundos com os seus filhos. Muitos dos adultos que são
filhos de alcoolistas sofrem os efeitos dessa falta de envolvi-
mento emocional, no início da vida, com seus pais.

Como se vê, de muitas maneiras uma criança pode ex-
perimentar um sentimento de profunda perda nos primeiros
anos de sua vida. É frequente essas perdas terem como resul-

44

tado trê problemas principais que podem continuar pela vida
adulta:

Dij\culdade de intimidade. Estar ligada a pai e mãe e de-
pois perper esse pai ou essa mãe pode fazer com que a criança
passe a ler enorme cautela em se aproximar novamente, em
termos fetivos, de uma pessoa. Uma criança assim pode ter
intiman ente um grande anseio de proximidade afetiva, mas
tambérr abriga profundos temores de rejeição e perda e por
isso nur ca se permite sentir verdadeira proximidade emocio-
nal Est sentimento íntimo de anseio de amor e isolamento
emocio al pode aumentar a probabilidade de depressão.

Ad^ústia e temor. A criança precisa dos pais para ad-
quinr um sentimento de segurança e firmeza interior básicas
diante c o imundo. Situações de perda frequentemente causam
na cnalça um sentimento de grande insegurança e temor.

Trfteza profunda e pesar. É notável como o temor à in-
timidad Í , a insegurança ou a tristeza podem continuar no mais
íntimo le uma pessoa anos e anos depois de um aconteci-
mento lptuoso. Crianças assim apresentam um risco muito alto
de desei volver reações intensas a perdas que venham a viven-
ciar nuiia época subsequente da vida. Quando isso acontece,
a situaç io de perda ocorrida nos dias atuais termina tocando
em feridas profundas e não cicatrizadas do passado. Talvez
seja dif cil compreender por que uma pessoa reage com tanta
intenssiicdade a uma perda, mas dá para compreender se se con-
sideram essas experiências ocorridas na infância,

Li da é uma mulher de 27 anos de idade, solteira; mos-
trou-se nuito envergonhada ao me contar que passou a sentir-
se deprjmida desde que lhe morreu o gato de estimação, Cal-
lie, há 3 semanas. " E u me sinto uma idiota. As pessoas sentem
tristeza quando lhe morre um animal de estimação, mas eu
passei a me sentir arrasada desde que Calhe morreu." Os ami-
gos dei; i não conseguiam entender como a morte de um gato
pôde câusar sentimentos tão intensos e profundos. Ao con-
versar qom Linda, o motivo tornou-se visível. Quando ela era
pequenh a mãe tornou-se doente mental; teve repetidas in-
ternaçc es no decorrer da infância de Linda. O pai aparen-
tementi se mostrou tão sem condições ou tão sem vontade de

45

enfrentar a tarefa de criar Linda e seus dois irmãozinhos, que
resolveu interná-los numa instituição para crianças (Linda di-
zia que era um orfanato) durante alguns meses, cada vez que
a mãe ficava internada. "Na primeira vez que papai veio nos
visitar, eu chorei tanto que ele se sentiu incomodado, e ele fa-
lou que não conseguia suportar me ver chorar tanto. Por isso
ele nunca veio me visitar!" Linda aprendeu então a não cho-
rar nunca, mesmo quando sentia intensa tristeza, pelo temor
de perturbar o pai. Sentia ela uma tristeza enorme naqueles
tempos de "orfanato", mas aprendeu a ocultar seus senti-
mentos íntimos. Posteriormente, como adolescente e como
jovem adulta, sentia tanto receio de se ligar afetivamente a
alguém, que se mantinha à distância e raramente marcava al-
gum encontro. Mas a sua íntima necessidade de amor e
proximidade afetiva não desapareceram. E era em relação ao
seu gato Callie que ela se permitia expressar sentimentos ter-
nos e maternais. A morte do gato fez com que ela ao mesmo
tempo reagisse à perda do animal de estimação e rememorasse
sentimentos terrivelmente dolorosos, sepultados dentro dela
desde a infância. Para Linda, foi importante conseguir com-
preender os motivos de sua reação intensa. Depois de algumas
sessões de psicoterapia e muita discussão sobre as experiên-
cias de sua infância, ela comentou comigo: "Os meus
sentimentos agora são mais inteligíveis para mim. Ainda dói
muito, mas agora parece que os sentimentos não são tão es-
quisitos ou anormais. Compreendo por que isto me fez sofrer
tanto."

Felizmente nem todas as situações de perda ocorridas no
início da vida determinarão inevitavelmente que a pessoa passe
a ter depressão na vida adulta. Dois importantes fatores po-
dem ajudar a criança a superar o sofrimento causado por uma
perda: primeiro, a disponibilidade emocional de pelo menos
um adulto. Não é raro que outro adulto, pai ou mãe, ou então
uma avó ou uma tia possam constituir aquela diferença de-
cisiva para uma criança que perdeu o pai ou a mãe. Segundo,
é muito importante ajudar a criança a superar o luto e o pesar
da perda. Se o pai de Linda estivesse disponível, se ele tivesse
mantido os filhos em casa, ou, pelo menos, se ele tivesse dei-

46

xado que íla chorasse, a vida dessa menina teria sido diferente,
Transmit ndo-se à criança esta mensagem: "é difícil mesmo;
não há n al em chorar", podendo-se admitir que se chore e
se sinta c sofrimento junto com a criança, pode-se evitar o
aparecimento de feridas emocionais que podem durar a vida
toda.

• Ai mosfera de Dureza Constante. Todos os pais, vez por
outra, pejdem a paciência; todos os pais ocasionalmente são
insensív todos os pais cometem erros que machucam seus
filhos W as erros ocasionais não deixam feridas fundas. Na
realidade muitos especialistas em desenvolvimento infantil
acreditan que basta proporcionar um clima emocional "sufi-
cientemei itebom", e a criança se desenvolve e cresce; "sufici-
entement *bom" seria um clima afetivo em que a maioria das
experiências tenham um peso maior que as ruins. Afinal, nin-
guém é ijerfeito!

Com rastando com isto, porém, existe a atmosfera per-
manenteitiente carregada de dureza e severidade que se
encontra em tantos lares. Às vezes, fazem parte deste qua-
dro os nfcus-tratos físicos, mas basicamente eu estou me re-
ferindo atitude destrutiva que se expressa em relação à
criança: Você não vale nada, não gosto de você, você é bur-
ro e não icrve pra nada." Faz pouco tempo, vi numa loja de
verduras um pai dar safanões no filho, ao mesmo tempo em
que dizia " Você não passa de um merda." Para o menino,
essa era 1 ima mensagem profundamente danosa, humilhante
e desum nizadora. Uma mensagem que termina minando a
dignidade básica da criança como pessoa. Se essas coisas acon-
tecem dia após dia, tais mensagens deixam marcas. A criança,
quase inj ariavelmente, passa a acreditar que a mensagem —
vinda de uma das mais importantes pessoas em sua vida —
é verdadqira Crianças assim terminam crescendo com um sen-
timento>ce<dignidade pessoal comprometido. Quando adultos,
falhas ilsmo que pequenas ou pequenos reveses tocam nessa
crença ím erior dolorosa. Como disse um paciente meu: "Sim,
écomo caiando eu fazia algo errado no meu trabalho e o meu
patrão me dava uma bronca, eu pensava, ele tem razão, eu

47

não valho nada. Eu nunca prestei para nada, nunca vou valer
nada."

Fracassos, desapontamentos e reveses são aspectos ine-
vitáveis da vida adulta. Mesmo nas melhores circunstâncias,
a vida frequentemente é dura. Crescer numa atmosfera emo-
cionalmente áspera aumenta o sofrimento de subsequentes
desilusões e deixa uma duradoura marca no espírito da criança.

• Falta de Apoio para o Crescimento. A criança precisa
de proteção e de cuidados, mas também precisa de encoraja-
mento para crescer. Em toda pessoa há o inerente impulso
interior e a necessidade de se tornar um adulto, tornar-se al-
guém, ter opinião, empreender ações, afirmar-se, deixar marca
neste mundo. Às vezes, os pais não apoiam o crescimento. Há
uma série de maneiras pelas quais isto pode acontecer. Pri-
meiro, há pais que precisam permanecer grudados nos seus
filhos bebés. Têm dificuldade de largar a intimidade e o afeto
que uma criança pode proporcionar. Quando a criança de tenra
idade começa a revelar suas próprias tendências, respondendo
a um desejo inato e interior de, por si mesma, se lançar ao
mundo, o pai ou a mãe podem sentir-se ofendidos, incomo-
dados ou rejeitados. Uma das formas de sabotar o crescimento
e a autonomia é um pai ou mãe continuarem a perceber o fi-
lho como um ser sempre desamparado e fazerem tudo para
o filho. Para um pai ou mãe com essa atitude, pode ser difícil
ver a criança cometer um erro. Por exemplo, se a criança está
começando a andar, o pai ou mãe podem sentir o impulso de
"socorrê-la" cada vez que esta vai cair. Pode parecer então
que o resultado é a criança ser protegida de se machucar. Mas
num nível mais profundo a mensagem que se passa à criança
é a seguinte: "Vejo que você é inepta. Não penso que você
consiga fazer isto por si mesma. Não tenho confiança na sua
capacidade, por isso vou proteger você e vou fazer as coisas
para você." Com frequência, os pais subestimam quão pro-
fundamente isto exerce efeitos na criança. No caso de esse
padrão de atitudes continuar, o resultado será a criança cres-
cer acreditando que: " E u não consigo fazer as coisas. Não
tenho confiança em mim mesmo." Isto pode causar perma-

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nenteme nte insegurança e temor de tentar coisas novas. Pessoas
assim podem crescer precisando de constante ajuda dos ou-
tros, acreditando que "não consigo fazer isto por mim
mesmo". Quando adulto, a dor de perder o cônjuge ou um
dos pais pode tornar-se muito intensa se, intimamente, a pes-
soa acredita que "sem ele não consigo levar a vida". Nessas
condições, fazem parte da reação não somente a tristeza nor-
mal diante da perda mas também uma acentuada falta de
confiança em si mesma.

Un segundo obstáculo ao crescimento ocorre quando uma
criança pomeça a fazer as coisas de modo independente e os
pais rea ?em tachando o comportamento da criança de ridí-
culo ou humilhando-a. Um de meus pacientes contou que
se lembfava de como fez um aviãozinho de brinquedo utili-
zando de uns pedaços de madeira e alguns pregos. Queria
fazer trabalhos em madeira, como o pai. Pegou o produto aca-
bado de seu trabalho para mostrá-lo ao pai, mas o pai se pôs
a zombar do menino e, erguendo o brinquedo para que os ami-
gos o i|sem, fez um comentário humilhante e sarcástico. " E u
me sent; tão humilhado, que nunca mais tentei fazer coisa al-
guma. Os pais precisam dar apoio a esses primeiros impulsos
em direção à autonomia e à expressão pessoal.

Há certas famílias em que as crianças são submetidas a
exigências perfeccionistas. Uma criança pode dar o melhor de
si para lazer algo, mas "não está bom o bastante". Uma nota
boa recebe do pai o comentário: "Por que você nunca tira no-
tas excelentes? Nesse caso, a criança procura sua auto-expres-
são, mas a mensagem que lhe dão é assim: " O seu trabalho
não é s ficientemente bom." Essas mensagens calam fundo
e formafri o núcleo de subsequentes sentimentos de baixa auto-
estima

Par i as pessoas que, quando crianças, experimentam essa
falta de apoio para crescer, as experiências pessoais em fases
subseqilentes da vida (especialmente os fracassos) vão reati-
var entfmentos dolorosos do passado. Crianças que se criam
obtendo adequado apoio desenvolvem um sentimento interno
básico de segurança e autoconfiança. Fracassos posteriores po-
dem doer, mas não são devastadores.

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• Maus-tratos e investidas sexuais contra crianças. Cos-
tuma ser profundo o trauma provocado por abuso sexual e
maus-tratos físicos. Quando ocorrem tais situações de maus-
tratos e violência sexual, especialmente quando os causado-
res são os pais, a criança é traumatizada de uma série de
maneiras. Para obter um sentimento de estabilidade, confiança
e segurança, a criança conta com os pais. Muitos pesquisa-
dores da questão dos maus-tratos infligidos a crianças con-
cordam na opinião de que um dos efeitos na criança que é ata-
cada sexualmente por um dos pais é um enorme desgaste dos
sentimentos básicos de segurança e confiabilidade. Também
se sabe que muitas, quando não todas as vítimas de maus-
tratos — especialmente quando se trata de violência sexual —
sentem-se culpadas pelo ocorrido; em certo nível, acreditam
que "foi culpa minha, sou ruim, sujo, indesejável". Também
nesses casos este tipo de experiência deixa marcas profundas
no sentimento de valor pessoal do indivíduos.

É evidente que há uma série de experiências nos primei-
ros anos de vida do indivíduo que têm importantíssimas
consequências para o desenvolvimento e o ajustamento sub-
sequentes. As crianças, em sua maioria, não conseguem
simplesmente "superar ou esquecer" essas dolorosas experi-
ências dos anos de infância. Quando se preparam para assumir
suas responsabilidades de adultos, já possuem profundas e do-
lorosas feridas a superar.

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O Que Causa Depressão?
— Acontecimentos Usuais

Os trai mas sofridos nos primeiros anos da infância certa-
mente z umentam as probabilidades de uma pessoa vir a sofrer
de depi essão. No entanto, também se sabe que a depressão
pode sc brevir mesmo que não tenha havido esses fatores de
risco pr ídisponentes. Ninguém é imune à depressão. Esta atinge
pessoas de todas as faixas etárias, e tem pouca relação com
classe s ocial, grau de inteligência ou de êxito na vida. Em-
bora al çumas depressões biológicas se manifestem sem causa
aparenl e, a maioria das depressões constitui uma reação a mu-
danças> na vida da pessoa. Nem todas essas mudanças na vida
resultam em depressão, é evidente, mas há uma série de fa-
tores i^tressantes comuns que podem dar início a uma
depres saico .

Fatorei Recentes Desencadeantes de Depressão

*erdas Interpessoais. Provavelmente o principal fator
desenc deante de depressão, a perda de um ente querido, pode

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originar-se numa série de acontecimentos como morte, sepa-
ração conjugal e divórcio, filhos que vão morar longe dos pais,
rejeição por parte de namorado ou amante. Essas situações
de perda constituem ocorrências não raras na vida das pes-
soas. Nos Estados Unidos, a cada ano aproximadamente são
consumados 1 milhão de divórcios, 8 milhões de pessoas per-
dem um ente querido em razão de falecimento, e 800 mil ficam
viúvos ou viúvas (Osterweis M., et al. 1984). É frequente pes-
soas se separarem dos amigos ou namorados por precisarem
assumir um novo emprego, e milhões de relacionamentos com
parentes e amigos são destruídos devido a conflitos.

Quase sempre as situações de perda resultam em senti-
mentos lutuosos de pesar —uma vivência de sofrimento, mas
que termina levando à recuperação emocional, na maioria das
pessoas. Mas também há uns 10 a 15% de casos nos quais as
pessoas que sofreram perdas importantes passam a apresen-
tar uma depressão clinicamente diagnosticável.

Um dentre os muitos conceitos erróneos a respeito do
"pesar ou luto normal" é a expectativa de que a pessoa deve
"superar" uma morte ou um divórcio em alguns meses. Es-
tudos sobre situações de perda emocional mostram que o
período de luto normal é, em muitos casos, bem mais longo
do que muita gente pensa. Convém lembrar que no processo
de luto há três fases:

Fase 1: Choque inicial, que pode ter como sintomas em-
botamento afetivo, sentimentos de pesar intensos, ou uma
oscilação entre sofrimento emocional e embotamento. — Fase
2: Período de luto propriamente dito, durante o qual há fre-
quentes períodos de intensa tristeza e a pessoa pode sentir que
" a vida está totalmente diferente". (Este período de luto nor-
mal, ao contrário do que as pessoas acreditam, é longo —
geralmente dois anos, em caso de morte de pai ou mãe; qua-
tro anos, em casos de separação do casal ou divórcio; quatro
a seis anos, em caso de morte do cônjuge; e oito a dez anos
em caso de morte de um filho. Naturalmente, esses períodos
podem variar muito de uma pessoa para outra.) — Fase 3:
Resignação final. Mesmo no caso de "resignação", o indi-
víduo enlutado não "supera" o luto. Na realidade, a maioria

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