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Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação - Dr. John Preston

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Published by carlosfreitaskk, 2018-06-28 12:58:54

Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação

Vença a Depressão - Um Guia para a Recuperação - Dr. John Preston

Data de início:
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- 7 Positivamente, o pior dia
da minha vida

Como isso pode ajudar? Vejamos um exemplo.
106

Dai iel é professor numa faculdade, tem 42 anos de idade,
tem tidc sintomas depressivos que lhe causam sofrimento e
lhe tiran i as energias, há um mês. Quando conversei com ele
a prime ra vez, ele me disse: "Todos os dias eu me sinto
paralisai o com a depressão. Não tenho disposição nenhuma,
não tenl o motivação, não me sinto feliz." Na semana que se
seguiu, ile preencheu uma folha de pontuação do humor,
diarianu nte, e a trouxe consigo na consulta seguinte (veja a

figura 1] -B). Olhando a folha, ele comentou: "Houve alguns
dias em < ue me senti muito deprimido; mas agora, repassando
a semani |, vejo que houve alguns dias que não foram terríveis,
e na mai :>r parte do tempo eu não estive no fundo do poço."
De duas maneiras esta folha trouxe-lhe benefícios: primeira,
ajudou-c a lembrar com mais exatidão e realismo o modo como
ele se se itiu. Logo Daniel compreendeu que sua depressão,
embora ertamente fosse uma experiência dolorosa, não era
algo que estivesse 100% presente na sua vida. Ao reconhecer
este asp( cto, Daniel se sentiu mais esperançoso e passou a
sentir-se não tão impotente; segunda, ele conseguiu utilizar-
se da foi ia durante um período de dois meses para controlar
a recupe ação da depressão. Depois de 8 semanas de trata-
mento, He disse: "Tenho notado que, gradualmente, nestas
últimas í emanas, um número cada vez maior dos meus dias
tem sido bom. Ainda posso me sentir desanimado ou ter um
dia chatc mas há nitidamente uma tendência positiva. Estou
me senti ido muito melhor.

Écc nveniente adotar algum tipo de recurso para medir a
mudança e a recuperação. A lista de verificação da depressão
(capítulo 4) ajuda muito para esse fim; pode ser utilizada toda
semana cài de duas em duas semanas, para averiguar as melhoras.
Já a folhi de pontuação diária do humor oferece meios de você
ter uma 1íitura mais frequente — e mais fácil — das mudanças
que ocon em no seu estado emocional. Conforme foi referido por
Daniel, a recuperação da depressão não significa que em algumas
ocasiões não haja dias ruins. A maioria das pessoas não
deprimid is tem ocasionalmente dias em que se sente com humor
triste ou iesanimado. Mas o que se busca na recuperação é a
progressi ^a predominância de dias bons sobre dias ruins.

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Mantenha-se Ativo e Evite o "Ciclo da Apatia"

Quando experimentam sentimentos de pesar ou depressão,
as pessoas comumente reagem retraindo-se dos contatos
externos. Indivíduos em estado de luto ou depressão, muitas
vezes, limitam suas atividades sociais e de lazer, retraem-se dos
contatos benéficos com os outros, e trancam-se fisicamente.
Provavelmente essa reação corresponde, em parte, a um desejo
natural de estar sozinho com sua dor. A pessoa deprimida,
em muitos desses casos, sente dificuldade ou se sente
incomodada de estar na companhia de outras pessoas em
períodos de sofrimento emocional. Algum grau de retraimento
é apropriado e normal, se bem que um retraimento acentuado
ou prolongado pode criar condições para o surgimento de
muitos problemas que tendem a piorar a depressão. Sob muitos
aspectos, o retraimento dos contatos sociais e a inatividade
quase sempre tornam, realmente, a depressão ainda piorc Com
frequência tenho observado uma sequência de eventos que eu
chamo de "ciclo de apatia". Se você começa a evitar as pessoas,
elas reagirão evitando você. Os amigos e os seus familiares
podem começar a pensar: "Ele quer mesmo que o deixem em
paz." O resultado pode ser o isolamento social cada vez maior.
As pessoas, em sua maioria, querem intimamente e precisam
de apoio e contato com outras pessoas. E o isolamento social
pode aumentar os sentimentos de estranhamento, tristeza e
solidão. Um segundo resultado é que o retraimento e a inati-
vidade deixam a pessoa cada vez mais afastada das experiências
positivas.

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A l >uns psicólogos acreditam que a depressão é causada
realmeite por uma diminuição da quantidade de experiências
de vida agradáveis (Lewinsohn e Graf, 1973). Nas fases ini-
ciais da|depressão, a pessoa começa a se retrair da vida, talvez
contin a trabalhar ou realize outras tarefas necessárias, mas
progressivamente deixa que a vida se torne vazia de ativida-
des agrpdáveis e significativas. À medida que isso continua a
ocorrer a pessoa deprimida começa a sentir uma crescente sen-
sação c evazio na sua vida. Por fim, a inatividade física pode
causar Droblemas físicos. A atividade física é necessária para
estimulfer o aparelho digestivo; uma inatividade acentuada re-

contribui para diminuir a motilidade gástrica e termina
causanfo constipação (problema muito comum na depressão).
Enquanto que nas pessoas não deprimidas algum grau de ina-
tividad \ e repouso resulta em aumento das energias e revi-
talizaç o, nas pessoas deprimidas ocorre o efeito contrário,
O sono em excesso e a inatividade só fazem intensificar a sen-
sação c e ci ansaço. Conforme disse um de meus pacientes: " É
como \ eu estivesse atravessando uma crise de falta de ener-
gia."

Em muitos casos, o ciclo da apatia é deflagrado por uma
opmiac ou uma conclusão. Existem três conclusões que pri-
mordiimente podem pôr em marcha esse processo.

(As pessoas não querem estar comigoÀs vezes, in-
felizmáite, essa opinião é verdadeira. É frequente as pessoas
acharei n difícil saber o que dizer a uma pessoa que atravessa
uma d( pressão. Mas a conclusão pode não corresponder ple-
namenl s aos fatos; pode tratar-se de uma distorção da cognição
— pod 5 ser também uma conclusão que corresponde às ex-
pectati 'as da própria pessoa deprimida. Se ela acredita que
os outi 3S não desejam a companhia dela, resta-lhe a decisão
fácil dr ficar em casa e evitar os contatos.

"Se eu estiver na companhia dos outros, não terei nada
para dker. Serei muito chato.99 Muitas das pessoas deprimi-
das acl am que não têm muito a oferecer. Uma pessoa cuja
capaci< ade de ser espirituosa ou participar de uma conversa

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animada se encontra comprometida pela depressão pode ter
a expectativa de que os outros notarão essa dificuldade e não
gostarão da sua companhia.

• "Eu me sinto cansado." Na maioria dos casos, a ina-
tividade e o retraimento que ocorrem na depressão resultam
de acentuada fadiga e baixo grau de energia. A pessoa pode
até saber intelectualmente que manter-se ativo para realizar
tarefas ou participar de uma atividade satisfatória ajuda a me-
lhorar o estado de ânimo. Mas há um momento crítico em que
a pessoa toma a decisão de ou passar à ação ou retrair-se. Nesse
momento, a pessoa, percebendo a falta de energia e o can-
saço, começa a pensar: "Estou cansado demais." Um de meus
pacientes, Dale, descreveu bem essa situação: "Nos sábados
de manhã, quando não tenho de ir para o trabalho eu me le-
vanto. No íntimo eu sei que me sentiria melhor se eu pudesse
fazer algo como limpar a minha casa, ou cortar a grama ou
sair para visitar um amigo. Mas eu me sinto mesmo muito
exausto, moído. Sem energias. Simplesmente me deixo cair no
sofá e penso: 'Que droga' e termino vagando entediado den-
tro de casa o dia todo. No sábado à noite, começo a pensar
que perdi o dia inteiro, e me sinto ainda pior.

É muito importante você se mobilizar e se manter em ati-
vidade. Mas talvez seja fácil de dizer e difícil de fazer.
Dificilmente eu poderia enfatizar demais o fato de que a de-
pressão pode roubar à pessoa o seu sentimento de motivação,
entusiasmo e energia vital. Muitas vezes, o cansaço profundo
é muito mais do que um estado da mente, é um sintoma físico
verdadeiro. Assim sendo, como é que a pessoa deprimida pode
mobilizar-se?

A primeira coisa importante que você deve ter em mente
é não ficar esperando até que você se "sinta"motivado a fa-
zer alguma coisa. Se você ficar esperando até se sentir
motivado, conforme diz o dr. David Burns (1980), você tal-
vez fique esperando por longo tempo. A maioria das pessoas
acha que, se conseguirem iniciar uma ação, os seus próprios
movimentos resultam num incremento das suas energias. O
problema, de certo modo, é dar o passo inicial, isto é, vencer

110

o entimfnto inicial de inércia. Há um momento crítico ou um
ponto d( decisão quando talvez você pense que "as pessoas
não quefem a minha companhia", "não serei capaz de rea-
lizar nadí ç ã o vai ser bom", ou "estou muito cansado",
Se você passar a acreditar nesses seus pensamentos, você pode
ficar eniçdado no seu imobilismo.

O i ajuda muito nesse momento crítico é você dizer
a si ísnio: " Vou fazer isto agora!" Pode ser de grande ajuda
se você \ screver estas palavras num cartão e, em momentos
de apati ou falta de motivação, você pegar o cartão e ler es-
sas pai; ifras. Lembre-se de que "não tenho que me sentir
motivadí ; basta eu me mexer, e vai melhorar". Até mesmo
a simple; providência de você sair e dar uma ou duas voltas
caminhando em torno de sua casa pode melhorar sua vitali-
dadee dai lhe aquele estímulo de energia suficiente para ajudar
você a se pôr em atividade.

Construc um Sistema de Apoio

Um; outra iniciativa benéfica que você pode tomar con-
siste em >rovidenciar a ajuda de uma pessoa amiga ou de um
parente, Deve ser uma pessoa em quem você confia. Você po-
deriaL dize Tenho andado deprimido ultimamente e uma das
formar cfmo a depressão me atinge é que tenho estado retraí-
do dos cfntatos. Não tenho saído, não tenho feito nada. Sei
que se eu me forçar a sair e a fazer as coisas no fim de se-
mana, m e sentirei melhor. Mas preciso da sua ajuda." Um
bom plan ) consiste em você se decidir por uma atividade, por
exemplo dar um passeio de carro fora da cidade, ou ir ao ci-
nema Diga ao amigo: "Sei que, assim que eu realmente puder
sair de casa, me sentirei melhor, então quero combinar uma
passadin ia aí no sábado de manhã, por volta das dez. Você
não terá de fazer nada nem precisará ir a nenhum lugar co-
migo. Sé gostaria de dar uma chegadinha aí por um minuto
e dar um a palavrinha com você." Depois que se comprome-
teu comfesteplano, você provavelmente sentirá algum grau
de obrigfção para com o seu amigo ou parente. Isto ajuda.

111

Muitos de meus pacientes me disseram: "Se eu sei que o meu
amigo está à minha espera, isto ajuda a me dar aquele em-
purrão para eu sair. E depois que me visto e estou no carro,
começa a ficar mais fácil sair."

Nas primeiras vezes em que se força a realizar certas ati-
vidades, talvez ache difícil — talvez não ache muita graça nas
coisas ou não fique satisfeito. Mas tenha em mente que manter-
se ativo é uma força poderosa que pode diminuir os sentimen-
tos de depressão. Dale, o homem que mencionei anteriormente,
assumiu o compromisso de fazer algo de produtivo ou diver-
tido a cada sábado e pelo menos na noite de um dia por semana.
Verificou que isto se tornava mais fácil quando fazia planos para
estar com uma pessoa amiga. "O compromisso assumido tor-
nava mais difícil eu desistir!' Depois de algumas semanas, ele
me falou: "Agora, quando o dia chega ao fim, eu o passo em
revista e penso: realmente consegui fazer certas coisas; ou eu
parti para a ação, e isto fez diferença. Eu me sinto melhor co-
migo. Em vez de ficar esperando que algo aconteça, esperando
para me sentir melhor, agora sei que fiz algo e me sinto melhor.
Sinto que vou retomando o controle da minha vida!' As ener-
gias e o impulso que se obtêm ao participar de atividades agra-
dáveis é uma poderosa força para superar a depressão.

Quando Devo Consultar um Profissional de Saúde Mental?

Tem sido demonstrado que as técnicas principais de au-
totratamento esquematizadas acima proporcionam grande aju-
da a muitas pessoas. No entanto, há situações e ocasiões em
que essas técnicas não são suficientes. Se você está tendo al-
gum dos problemas que serão listados a seguir, consulte um
terapeuta da área de saúde mental (psiquiatra, psicólogo, orien-
tador de família, ou assistente social) assim que for possível.
Você talvez precise de apenas uma consulta e/ou avaliação,
mas não deixe de consultar.

• Permanente sentimento de desespero ou tristeza, sem
momentos de alívio, em que você possa sentir prazer em algo.

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jrave ruptura nos seus relacionamentos pessoais.
capacidade de trabalhar,

déias de suicídio persistentes e intensas, ou se você já
fez planos para se matar.

• \intomas biológicos de depressão, por exemplo, im-
portant \ distúrbio de sono ou perda de peso. (Veja os capítulos
1, 7 e

desesperança ou apatia profundas.

Algum* s pessoas podem sentir tal grau de desesperança ou apa-
tia, que lhes é difícil começar a utilizar as técnicas e estratégias
de auto ajuda. Em nossa clínica, muitas pessoas começam pelo
tratam* nto individual. À medida que começam a apresentar
certa xt dução nos sintomas depressivos, passam a adotar as
técnica cognitivas, descritas nos capítulos 10 e 11. Algumas
pessoas acham que é benéfico tratarem-se com um terapeuta
ou pass arem a um grupo de tratamento à medida que come-
çam a u sar essas técnicas. O tratamento individual ambulatorial
da depi essão geralmente implica consultas semanais com um
terapeuta. Mesmo que você esteja em tratamento, você pro-
vavelm mte achará que as técnicas cognitivas lhe darão meios
e estrat ^gias a serem usadas entre as sessões e podem facilitar
uma re :uperação mais rápida da depressão.

Se você está deprimido, você precisa e merece toda a ajuda
que pui er obter. Trabalhe com as técnicas de auto-ajuda des-
critas r este livro e busque auxílio de um profissional que lhe
dê apoio adicional, se você precisar. Sobre isto, você encon-
tra ma|s no capítulo a seguir.

113

13

Psicoterapia e
Outros Tratamentos

Profissionais

"Que tipos de ajuda profissional existem, e como posso me
decidir?"

Basicamente há quatro tipos de tratamento que se mos-
traram valiosos no tratamento da depressão: tratamento me-
dicamentoso psiquiátrico, psicoterapia (ou aconselhamento),
terapia do comportamento, e terapia cognitiva.

• Medicamentos. Quando a depressão resulta em deter-
minados sintomas biológicos, isto é sinal de que o problema,
em parte, envolve uma disfunção bioquímica. Você pode lem-
brar-se de que, pelo que leu no capítulo 2, certos sintomas fí-
sicos são especialmente significativos: distúrbios do sono;
distúrbios do apetite; perda de desejo sexual; cansaço e diminui-
ção das energias; incapacidade de experimentar prazer (anedo-
nia); história familiar de depressão, suicídio, distúrbios da ali-
mentação, ou alcoolismo; e crises de pânico.

Ultimamente se têm feito progressos importantes no en-

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tendim mto da biologia da depressão. Psiquiatras e médicos
de fam lia estão atualmente mais bem equipados para tratar
a depr* ssão, porque dispõem de uma série de novos medica-
mentos antidepressivos. Se você está tendo um ou mais dos
sintom is biológicos de depressão assinalados anteriormente
(e disci tidos nos capítulos 2 e 7), seria recomendável consul-
tar um psiquiatra ou dirigir-se a um hospital onde haja a
possibi idade de tratamento medicamentoso psiquiátrico. (O
psiquia ;ra é um médico com experiência em tratamento de do-
enças e nocionais, que inclui psicofarmacologia — tratamento
medica uentoso.) Uma outra opção é você consultar o seu mé-
dico de família ou médico clínico. Muitos médicos de família
têm exj eriência para tratar a depressão com medicamentos an-
tideprej ísivos. (Alguns não têm essa experiência. Procure ter
a certeí a de que o seu médico emprega o tempo necessário pura
fazer u na avaliação meticulosa do seu caso.) Leia também no
capítulo 14 uma discussão completa do tratamento medica-
mentos D da depressão biológica.

• °sicoterapia (às vezes denominada "terapia pela con-
versaç* o"). Em muitos casos, pode trazer grandes benefícios
no tratí mento da depressão. De modo geral, nos Estados Uni-
dos, eáse tratamento é proporcionado por psiquiatras, psi-
cólogoí, assistentes sociais e orientadores de família. (Nos Es-
tados L nidos há também um certo número de clérigos treinados
em ori( ntação pastoral que podem prestar alguma ajuda.) De
que m^ do a psicoterapia pode ajudar? E m primeiro lugar e
acima i e tudo, na psicoterapia há uma relação de confiança
e apoie entre o paciente e o terapeuta. Em muitos dos casos,
as pessi >as deprimidas se sentem extremamente sós e distantes
dos oul ros. O sentimento de apoio, a vinculação e atenção no
relacioi lamento bipessoal podem ajudar você a atravessar épo-
cas mú to difíceis. Mas o apoio é somente um dos aspectos
do tratí tmento, que pode ajudar. No decorrer da psicoterapia
a pesso a tem condições de se conhecer melhor e descobrir em
sua vid i certos padrões de funcionamento que, com frequên-
cia, polem vir a expô-lo novamente à depressão.

Br mda é uma mulher solteira, de 26 anos de idade, que

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menciona sofrer de sentimentos de depressão recorrentes. Es-
ses sentimentos, em sua maioria, têm sido despertados, repe-
tidas vezes, por desilusões em seus relacionamentos. Ela sente,
no seu íntimo, uma grande necessidade de ser amada por um
homem e dele receber atenção. No entanto, nos três últimos
relacionamentos, ela resolveu envolver-se com homens que
apresentavam desemprego crónico e problemas com bebidas
alcoólicas. Em cada uma dessas situações ela começa o rela-
cionamento sentindo-se otimista, mas logo após alguns meses
constata que ela própria está afundando financeiramente na
tentativa de apoiá-lo e obtendo pouco ou nada daquilo que
ela precisava obter. Em dois desses casos, terminou sendo mal-
tratada pelo namorado, e sucessivamente cada um desses
relacionamentos terminou em sensação de perda e desapon-
tamento. Nas suas sessões de psicoterapia, Brenda chegou a
compreender que uma das necessidades importantes e inten-
sas que ela sente no seu íntimo é a de ser amada, e que, em
cada relacionamento, a esperança dela foi a de "salvar" o ho-
mem "que está na pior" e assim ela sentir-se recompensada
com esse amor e essa gratidão. Ela agora compreende que a
sua escolha de um homem estava fadada ao fracasso desde
o começo, porque cada um dos seus homens era extremamente
egoísta e basicamente incapaz de expressar um verdadeiro dar-
e-receber num relacionamento. Esse entendimento tem sido
muito importante para Brenda, porque pode ajudá-la a fazer
escolhas melhores no seus relacionamentos no futuro e pode
agir como poderoso fator para evitar depressões futuras.

É frequente as pessoas experimentarem acontecimentos
dolorosos em suas vidas, mas lidam com o sofrimento sepul-
tando os sentimentos. O marido de Karen morreu subitamente,
há 18 meses. Ela achou que havia enfrentado bem essa si-
tuação. " É claro que fiquei triste, mas mais ou menos eu
superei o problema em alguns meses." Ela entrou em trata-
mento apresentando uma depressão severa e não sabia por que
estava deprimida. Durante as primeiras semanas de psicote-
rapia, à medida que essa mulher de 32 anos de idade falava
de sua vida, ela passou a perceber cada vez mais o enorme so-
frimento em seu interior. Conscientemente ela acreditava ter

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supera io a morte do marido, mas o sentimento de pesar,
quandi > bloqueado, frequentemente se transforma em depres-
são. A s coisas mais importantes que aconteceram a Karen
durant í o tratamento foram que ela passou a perceber a con-
tinuida ie dos seus sentimentos de pesar pela perda e se permitiu
abrir-s Í e passar pelo processo de luto. Depois de 8 semanas
de trat; mento ela me disse: "Agora sei que tranquei muita tris-
teza d* ntro de mim e me sinto melhor agora. Mas não estou
deprin ida." Seus sintomas depressivos mais graves cederam.
O entd idimento das ocultas causas de sentimentos depressi-
vos é i im importante resultado na psicoterapia.

U j n último e importante benefício da psicoterapia é que,
quandj > você estiver se sentindo muito desesperançado e de-
sanim^ do, o terapeuta pode transmitir a você um sentimento
de esp< rança realista. O terapeuta pode ajudar você a avaliar
as esccj lhas e opções de um modo realista. Enquanto amigos
ou par mtes bem-intencionados podem lhe transmitir a men-
sagem ie que "você não devia estar se sentindo tão mal", ou
que vo :ê deveria dar um jeito de esquecer o problema, os psi-
cotera leutas entendem o que é a depressão e compreendem
que n ã ) há como você simplesmente "esquecer" o problema.
Com ei te entendimento os psicoterapeutas podem ajudar você
a enfrc ntar de modo realista os seus sentimentos e lidar com
tais sei timentos de uma forma que não envolve críticas nem
julgam entos.

Ti rapia Comportamental. Inclui uma série de procedi-
mento! que podem ajudar a combater a depressão, especial-
mente juando a depressão pode ser atribuída a circunstâncias
especia is de vida. Os terapeutas do comportamento freqúen-
tement t empregam procedimentos originários da psicoterapia
ou da erapia cognitiva, mas seus recursos técnicos específi-
cos enf itizam técnicas como terapia pela atividade, treinamento
da auti )-afirmação, dessensibilização sintomática, monitora-
mento do comportamento, e diversos sistemas para recom-
pensar etapas alcançadas na superação de sentimentos depres-
sivos.

objetivos e os métodos do terapeuta do comporta-

117

mento ou behaviorista visam a fazer com que o paciente volte
a se movimentar. Visto que um importante sintoma na pes-
soa deprimida é provavelmente a inibição da atividade — ficar
em casa, evitar outras pessoas, não tomar parte em contatos
sociais normais, não realizar as tarefas diárias, não conseguir
fazer nada "só por divertimento" — pode-se então nesses ca-
sos prescrever a terapia pela atividade. Atividades simples —
como ir fazer compras no verdureiro ou andar em torno do
quarteirão — podem ser um ponto de partida, e num plano
que gradualmente exija maior envolvimento com outras pes-
soas — por exemplo, ir à igreja, a uma conferência ou a um
outro evento público onde não haja excesso de público. Essas
atividades não requerem muita participação ativa, mas po-
dem ajudar a pessoa a perceber que ela pode obter da vida
alguma pequena medida de satisfação. E essa percepção ofe-
rece motivação para realizações cada vez maiores e atividades
que exijam mais, reconstruindo gradualmente a capacidade de
obter satisfação e de se sentir feliz novamente. (Essa técnica
de terapia do comportamento é realmente uma aplicação su-
pervisionada e sistemática da técnica de auto-ajuda "mante-
nha-se ativo", discutida no capítulo 12.)

O treinamento da auto-afirmação é um procedimento
comportamental que pode melhorar a capacidade da pessoa
de estar com outras pessoas e de ela obter mais da vida. Fran-
cine tinha estado em depressão, com melhoras e pioras, durante
cerca de dois anos, principalmente porque ela se havia dei-
xado usar como "capacho sexual" por todo sujeito que tivesse
vontade ou a forçasse a ceder. Ela parecia mesmo não ser ca-
paz de dizer não. Quando afinal procurou ajuda de um
psicólogo de comportamento, ambos chegaram à conclusão
de que ela precisava estabelecer limites, precisava parar de dei-
xar que os outros levassem vantagem à custa dela, e começar
a reconquistar o respeito por si mesma. Aos 36 anos de idade,
Francine não era ainda tão velha que não pudesse aprender
alguns "truques novos". O terapeuta ensinou-lhe formas de
ela se afirmar e se impor nas situações da vida diária — de-
volver mercadoria defeituosa, pedir um favor, governar-se por
si mesma — e ajudou-a a aplicar essas mesmas aptidões em

118

situaçõe ainda mais difíceis — lidar com um supervisor in-
justo no trabalho, dizer não a alguém que a convidasse para
sair algumas semanas de terapia, Francine começa a re-
conhece que ela tem realmente direitos, que ela pode se
encarregbr de cuidar de sua vida (dentro de limites), e que ela,
afinal, i ão é uma pessoa sem valor,

Outros recursos, entre as dúzias de meios de que o tera-
peuta cJmportamental dispõe, incluem a dessensibilização
sistemát ca — técnica destinada a reduzir a ansiedade do in-
divíduo colocando-o em contato gradual com as situações
temidas — e a monitorização do comportamento — uma ve-
rificação das atividades diárias, similar à "folha de pontuação
do hum descrita no capítulo 12. Os terapeutas do com-
portame|ito acreditam que a maneira mais eficiente de lidar
com a naioria das dificuldades emocionais consiste em
enfrentá las frontalmente, tratando cada queixa do indivíduo
diretamiite em vez de procurar as "causas subjacentes",
Tem-se erificado que as técnicas comportamentais são efi-
cazes nutia ampla gama de problemas, inclusive na depressão,
e podem ser apropriadas para a sua situação.

• T7erapia Cognitiva pode ser recomendada por um psi-
coterape ita individualmente, ou pode ser feita sob a forma
de terapç de grupo, ou pode ser utilizada como uma técnica
de auto juda. A terapia cognitiva como abordagem de tipo
auto-aj u la foi descrita detalhadamente nos capítulos 10 e 11.

Você PTÍ cisa de Tratamento? Você Qaer Tratamento?

Agoia que você sabe alguma coisa mais a respeito do que
esperar c os diversos tratamentos profissionais para a depres-
são, voe* talvez se pergunte: "Mas eu realmente preciso desse
tipo de juda?"

Par; você ter uma resposta com base na sua própria ava-
liação da situação, sugiro que reveja o capítulo 4 e a "Lista
de Verifi :ação da Depressão". Se o total de pontos em Fun-
cíonamei to Biológico ou em Sintomas Emocionais/Psicoló-
gicos sitiam você na categoria "grave", devo instar para que

119

você entre em contato com um profissional, logo que lhe seja
possível. Se o seu total de pontos indicar níveis de depressão
"moderados" convém você considerar seriamente a possibi-
lidade de tratamento. Um total de pontos indicando "branda"
não tem tanta urgência, mas o fato de que você está preo-
cupado o suficiente para ler este livro diz algo a respeito da
sua situação. Não deixe que o sentimento de desesperança ou
desamparo impeça você de tomar uma providência capaz de
modificar a sua vida.

Se você achar que a psicoterapia pode ajudá-lo, será uma
boa idéia marcar consulta com um terapeuta, para uma en-
trevista inicial.

Como Escolher um Terapeuta

Escolher o terapeuta certo é muito importante, e até che-
gar a essa escolha, há quatro etapas principais:

• Fale com o seu médico de família, ou com amigos ou
outras pessoas esclarecidas que possam ter contato com o meio
profissional ligado a essa área, e anote os nomes de dois ou
três terapeutas de sua localidade. Na maioria das cidades
mesmo pequenas dos Estados Unidos há um bom número de
terapeutas com aptidão comprovada. É importante que você
vá a um terapeuta que seja bem recomendado.

• Verifique se o terapeuta trata casos de depressão e quais
são as credenciais desse profissional (veja "Tipos de Terapeu-
tas em Saúde Mental", mais adiante). Ainda que a maioria
dos terapeutas trate pessoas que sofrem de depressão, nem to-
dos eles são especializados neste tipo de tratamento. Por
exemplo, alguns terapeutas ajudam principalmente pessoas que
têm problemas conjugais, ou então tratam casos de alcoolismo.
Ao conversar com um terapeuta, não há mal em você indagar
especificamente da experiência dele com tratamento de depres-
são. Isto é tanto mais importante se você acha que poderia
estar indicando tratamento medicamentoso; psicoterapeutas

120

que nap clinicam em condições médicas não podem prescre-
ver metlicamentos, e alguns não entendem plenamente de ou
não acfeditam em tratamento medicamentoso da depressão,
Nos Es ados Unidos, muitos psicoterapeutas não-médicos têm
vincula; ão com hospitais ou clínicas em que o tratamento me-
dicamenitoso está disponível, ou têm uma relação de trabalho
com ur 1 médico e podem fazer o encaminhamento para esse
tipo de tratamento, caso seja necessário. Se você tem apre-
sentadc ou sentido sintomas biológicos de depressão e se você
se disp< e a considerar a conveniência de um tratamento com
antidefjjressivos, recomenda-se que pergunte aos prováveis te-

rapeut4s quanto à experiência deles e à opinião deles a respeito

de atimento medicamentoso da depressão,

Qi ero destacar o fato de que, infelizmente, há alguns te-
rapeuta sque se opõem tenazmente ao tratamento medicamen-
toso daldepressão, a despeito de recentes pesquisas convincentes
mostrando que, em muitos casos, esse tratamento tem grande
eficáci Certamente que em muitos tipos de depressão o tra-
tament >medicamentoso não se faz necessário, e também não
émau 1 mbrar a preocupação quanto ao uso desnecessário de
medicamentos. Mesmo assim, seria muito lamentável se você
estivess í tendo uma depressão biológica e não tivesse acesso
a um tratamento medicamentoso apropriado. O resultado po-
deria ser provavelmente um prolongado período de sofrimento.

)epois que você averiguar que o terapeuta realmente

trata de messão, e depois que se sentiu satisfeito com as suas
credenc ais, a terceira etapa consiste em dar um telefonema
e falar s 3bre o motivo principal de você estar agora procurando
tratam^nto. Evidentemente que é impossível explicar, por in-
teiro, e m um ou dois minutos, as circunstâncias da sua vida,
mas a principal razão para você dizer algo de si, ao telefone,
é que as sim pode perceber como o terapeuta responde a você.
O pnm íiro contato com o terapeuta é importante; já é pos-
sível ter algumas primeiras impressões. É frequente as pessoas
se sentii em angustiadas ao marcarem uma entrevista. A maio-
ria dos terapeutas compreende isto, e usa este primeiro con-
tato pa] a ajudar você a ficar mais à vontade e lhe dizer algo

121

a respeito do trabalho deles (por exemplo, qual a frequência
das sessões, os honorários, suas especialidades etc.). Um dos
meus principais objetivos, ao falar com pacientes potenciais,
antes mesmo da primeira entrevista, é o de eu ajudá-los a se
sentirem mais à vontade quanto à decisão de virem à consulta
comigo e de expressar minha intenção de trabalhar junto com
eles.

Se você se sente relutante em marcar uma consulta, é bom
simplesmente telefonar para um terapeuta e conversar por uns
minutos e possivelmente compartilhar com ele as suas apre-
ensões quanto a uma consulta. No caso de você, ainda assim,
se sentir hesitante, tenha em mente que, ao ir consultar um
terapeuta, de certo modo está contratando o terapeuta para
que ele ajude você de uma forma profissional. Se por alguma
razão não se sentir à vontade com o terapeuta, você não tem
que retornar a ele. E m qualquer momento você é quem de-
cide o que fazer.

• A quarta etapa no seu processo de escolha é a sua ava-
liação do terapeuta e do processo da terapia em geral, após
a sessão inicial. Depois de falar ao terapeuta durante a sessão
inicial, você muito provavelmente estará em condições de jul-
gar por si mesmo se essa abordagem lhe parece boa. As coisas
importantes a se levar em conta na primeira sessão: " O te-
rapeuta parece que me entende?" e "Tenho um sentimento
de esperança em relação a este tipo de tratamento?" Nenhum
tipo de tratamento pode resolver a depressão imediatamente,
levará algum tempo, e será necessário esforço da sua parte;
mas, se as suas respostas às duas questões forem "sim", então
há motivos para você acreditar que o trabalho com esse te-
rapeuta pode ser benéfico.

Tipos de Terapeutas de Saúde Mental, nos Estados Unidos

• Psiquiatra (médico). O psiquiatra é um médico que re-
cebeu um treinamento especializado em tratamento de pro-
blemas emocionais, inclusive tratamentos medicamentosos e

122

psicológ icos. (É possível que um médico pratique a psiquia-
tria sem ter treinamento especializado, embora poucos façam
isso. Na turalmente é adequado que você indague a respeito
do treim mento e das experiências prévias do profissional, para
saber se éles se coadunam com o seu caso.) A maioria dos psi-
quiatras (norte-americanos) trata a depressão e outros dis-
túrbios mocionais com medicamentos. Alguns psiquiatras
também fazem psicoterapia, terapia comportamental, ou te-
rapia ofenitiva. Nos Estados Unidos há o "Board Certifica-
tion" u m título conferido pela sociedade científica compe-
tente ao psiquiatras especialmente bem preparados.

Êçpecialistas Não-Médicos. Esses profissionais tratam
problembs emocionais utilizando-se de diversas técnicas psi-
cológica não-medicamentosas (por exemplo, psicoterapia,
terapia cognitiva, terapia comportamental). Muitos psicotera-
peutas nao--médicos têm experiência em diagnóstico psiquiá-
tricô e podeem fazer encaminhamento para tratamento medi-

nentoko. Eles não prescrevem medicamentos, porém em al-
guns estilos norte-americanos há algumas raras exceções quan-
to a istc Entre os especialistas não-médicos:

• psicólogos. Nos Estados Unidos são profissionais com
grau de < outorado em psicologia (Ph.D., Psy.D., Ed.D.), têm
três ou c uatro anos de treinamento pós-graduação em méto-
dos psio úógicos e, na maioria dos estados norte-americanos,
são autc rizados a exercer clínica psicológica. Também pos-
suem tre inamento especializado na aplicação e interpretação
de testes psicológicos. A titulação mais avançada para um psi-
cólogo i orte-americano é a de "Diplomate" do American
Board o Examiners in Professional Psychology.

Ppsistentes Sociais Clínicos. Geralmente possuem trei-
namentc em grau de mestrado (M.S.W.), têm considerável
expenêniia supervisionada (frequentemente em instituições mé-
dicas, eiibora possam não trabalhar em ambiente médico) e
geralmei te recebem o registro profissional no seu respectivo
estado.

• Terapeutas Conselheiros de Família, Criança e Conju-
gal. Algi ins estados conferem habilitação de conselheiros ou

123

orientadores de família, criança e conjugal ou de terapeutas
nessas mesmas áreas. Esses profissionais geralmente possuem,
no mínimo, mestrado em counseling (orientação, aconselha-
mento) (M.A. ou M.S.), geralmente com especialização em
tratamento de casais e problemas de famílias ou problemas
de crianças e adolescentes.

• Conselheiros Religiosos. Alguns clérigos receberam trei-
namento em aconselhamento e podem dispensar terapia de
apoio aos membros da sua igreja ou a outras pessoas que de-
sejam um terapeuta que aborde questões emocionais e
espirituais simultaneamente.

Uma Nota Final

Mike veio ter uma consulta comigo, faz um mês. Estava
com grave depressão, quadro que vinha já desde um ano atrás,
após um tumultuado divórcio. Ele me disse: "Comecei a te-
lefonar para um terapeuta há seis meses. E u sabia que eu estava
em dificuldades, mas, quando peguei no telefone, me senti ner-
voso. Estava com receio de telefonar e então pensei: 'Ora, tudo
vai melhorar, vou superar isto por mim mesmo.' E recolo-
quei o telefone no gancho. Isto aconteceu quatro ou cinco
vezes. E u sentia medo demais e vergonha demais para tele-
fonar. E u queria ter telefonado para o senhor há seis meses.
Minha vida tem estado uma desgraça, eu sei que preciso de
ajuda." É muito comum, e muito normal, a pessoa sentir-se
apreensiva em relação a dar um primeiro telefonema.

Muitas pessoas pensam: "Ora, mas eu não estou tão mal as-
sim", ou então: "Vai pensar que estou exagerando, ou sentindo
pena de mim mesmo." Ninguém quer sentir-se um tolo, ou
envergonhado. Mas os terapeutas sabem que a depressão faz
sofrer e pode destruir vidas. A esses profissionais compete le-
var a sério você e sua depressão. A depressão tem o mau
costume de se arrastar por longo tempo, e o seu sofrimento
se prolonga se você não obtém o tratamento de que necessita.
Se você sabe que está realmente deprimido, dê o telefonema,

124

procur Í tratamento! Em muitos casos, depois de uma con-
versa e três minutos ao telefone, a pessoa pode ter uma
sensaçí o de alívio ao verificar que conseguiu dar esse primeiro
passo. \ ação é o melhor dos antídotos para sentimentos de
impotê ícia ou desesperança. Telefonar é uma ação simples que
você p >de empreender para se ajudar.

125

14

Medicamentos para
Depressão

Os medicamentos antidepressivos possuem comprovada eficá-
cia no tratamento das depressões biológicas e das depressões de
tipo misto com alguns sintomas biológicos. A grande maioria
das pessoas que apresentam depressão biológica pode obter me-
lhoras com o emprego de medicamentos antidepressivos. No
entanto, há muita desinformação e equívocos quanto ao uso des-
ses medicamentos. Eu gostaria de lhe explicar de que modo esses
medicamentos funcionam no tratamento da depressão e expor
um tanto detalhadamente esse tipo de tratamento.

Os medicamentos antidepressivos constituem uma classe
de medicamentos específica e peculiar. Não são tranquilizan-
tes, embora infelizmente se suponha, com frequência, que eles
sejam da mesma categoria do Valium ou do Librium (que são
tranquilizantes menores). Os antidepressivos são, do ponto de
vista químico, bastante diferentes e possuem uma ação muito
diferente daquela dos tranquilizantes. Diferentemente de al-
guns tranquilizantes, os antidepressivos não causam depen-
dência. Os antidepressivos não são euforizantes. Na verdade,
eles, em certo grau, atenuam a intensidade do sofrimento emo-

126

cional e feliminam muitos dos sintomas depressivos biológi-
cos, com D os distúrbios do sono. Embora os antidepressivos
possam i aduzir a anedonia e restaurar a capacidade de experi-
mentar i razer, eles absolutamente não produzem sentimen-
tos de fc icidade.

Mui|as pessoas relutam em tomar medicamentos, dizen-
do: 'Não quero depender de uma muleta química." O ál-
cool e a uns tipos de tranquilizantes proporcionam um re-
laxamenlo ou euforia temporários. De certo modo, essas
substânc as são "muletas", porque, quando os efeitos se
esgotam não há modificação duradoura — o indivíduo vol-
ta ao estfedo de antes. Mas não é isto que acontece com os
antidep r< ssivos. Num sentido real, os medicamentos antide-
pressivos produzem modificações duradouras porque devolvem
a certas >artes do sistema nervoso um estado de funciona-
mento n; tural e normal.

Os efeitos benéficos dos antidepressivos ocorrem basica-
mente pc rque esses medicamentos restauram as células ner-
vosas coírigindo-lhes o mau funcionamento e restabelecendo
o estado iiormal. Restaurada sua atividade normal, essas cé-
lulas en osas começam a reassumir o seu funcionamento sa-
dio, e os intomas depressivos biológicos desaparecem. (O des-
taque " Depressão e o Seu Cérebro" dá mais detalhes a
respeito o modo como as células nervosas cerebrais funcio-
name 3|no ocorrem disfunções dessas células no decorrer da
depressa ou de um episódio depressivo.)

A DEPRESSÃO E O SEU CÉREBRO

Na proflndidade da parte central do cérebro humano há uma série
de estrJturas específicas, como o hipotálamo e o sistema límbico,
que formam o "cérebro emocionai". Essas estruturas cerebrais de-
sempenlam importantes papéis na regulação de uma série de funções
orgânic|: e emocionais, inclusive apetite, cicios do sono e interesse
sexual, incluem também os centros do prazer e os centros da dor,
que atuam no controle dos sentimentos e na expressão das emoções.
Quando: D seu cérebro emocionai está funcionando em condições nor-
mais, vç cê é capaz de ter um bom sono á noite, sentir-se restaurado

127

e repousado, ter interesse sexual normal e apetite, e você não se sente
inundado de sentimentos intensos. Por outras palavras, você se sente
" n o r m a l " . Já nas depressões biológicas essas áreas do cérebro pas-
sam a apresentar uma disfunção e podem produzir uma série de
sintomas importantes.

Quando ocorre a situação de sofrimento emocional de um di-
vórcio ou separação conjugal, falecimento de um ente querido, perda
de emprego, ou alguma outra situação difícil, o quadro pode gra-
dualmente complicar-se no caso de você começar a experimentar
adicionalmente sintomas de depressão biológica. A tarefa de separar
o sofrimento emocional pode parecer ainda mais difícil e frustrante
se você não consegue dormir, se você se sente exausto, e/ou se você
perde a capacidade de ter prazer na sua vida.

De que modo ocorre essa disfunção biológica? As diversas es-
truturas que compõem o "cérebro emocional", para que funcionem
normalmente, precisam serativadas ou "ligadas". Para usarmos uma
analogia simples, digamos que você quer ligar o seu aparelho de
televisão, mas a tomada mais próxima está a três metros de distância,
então você usa duas extensões de um metro e meio e, ao interligar
essas extensões uma na outra e no aparelho de televisão, este pode
ser ligado. As diversas estruturas do cérebro emocionai precisam ser
energizadas de maneira parecida. Isto se faz através de uma série de
células nervosas cujas extremidades se conectam, um tanto à se-
melhança de extensões numa fiação elétrica.

Qs impulsos etétricos deslocam-se ao longo de cada célula ner-
vosa até chegarem à extremidade do nervo. Mas as duas células
nervosas não se conectam como o fazem as extensões elétricas.

As células, na verdade, encontram-se separadas por um peque-
nino espaço, chamado "sinapse". Para que o impulso elétrico passe
de uma célula para a seguinte, um tipo de estimulação deve atra-
vessar a sinapse. Isto se faz quimicamente. Pequenos recipientes
chamados "vesículas" são ativados pelo impulso elétrico na célula
" A " e migram até a extremidade da célula, expelindo uma substância
neuroquímica especializada dentro do espaço da sinapse (veja
"Alterações da Célula Nervosa", na seção 4 da figura 14-A). Esse men-
sageiro químico viaja através da sinapse e se liga à superfície da célula
" B " . Quando uma quantidade suficiente dessa substância neuroquí-
mica se liga à célula " B " , esta se ativa, tendo início um outro im-
pulso elétrico. Esse impulso elétrico então é conduzido ao longo dessa
outra célula que termina ativando as estruturas do cérebro emocional.

Nas depressões biológicas ocorrem dois problemas. O primeiro
problema é o que se denomina "recaptação". Por algum motivo, que
ainda não foi desvendado, a célula começa a funcionar mal. Logo

128

129

no momento em que a substância neuroquímica é liberada na sinapse,
a substância é rapidamente reabsorvida na célula " A " . Quando isto
ocorre, pouca ou nenhuma substância neuroquímica fica disponível
para ativar a célula " B " . O segundo problema é que há modificações
que ocorrem na superfície da célula " B " que tornam a célula muito
menos sensível. O resultado é que então, mesmo estando disponível
uma grande quantidade de substância neuroquímica, a célula " B "
pode tornar-se tão insensível, que se torna quase impossível ativá-la.
Estes dois problemas têm, ambos, resultados similares; de certo modo,
é como desconectar as extensões. O cérebro emocional começa a
interromper o seu trabalho, e é quando aparecem sintomas de de-
pressão biológica.

Não sendo tratada, essa disfunção biológica geralmente não dura
para sempre. Em pesquisas com pessoas deprimidas não tratadas,
verifiçou-se que podem ocorrer uma reversão espontânea desse pro-
cesso e o retorno ao funcionamento normal. Em gerai, essa norma-
lização pode ocorrer num período de três a dezoito meses. No en-
tanto, é evidente que um período de tempo assim longo é muito tempo
para se ficar sofrendo com a depressão. Felizmente se pode, com
medicamentos antidepressivos adequados, tratar com êxito essas dis-
funções biológicas.

130

Oi efeitos dos medicamentos antidepressivos infelizmente
não se nstalam tão rapidamente. Na maioria dos casos, uma
pessoa que comece a tratar-se com um medicamento antide-
pressiv) leva de 10 a 21 dias para começar a notar alguma
melhor a de seus sintomas. Leva tempo simplesmente porque
é esse c tempo necessário para que se inicie a reversão da dis-
função biológica. Embora alguns medicamentos antidepres-
sivos te íham conjuntamente algum efeito sedativo e assim aju-
dem a i lebelar um acentuado problema de insónia durante os
primeii os dias de tratamento, a resolução final do problema
da inso aia pode levar algumas semanas. De modo geral, tem-
se cons tatado que os medicamentos antidepressivos apresen-
tam gr mde eficácia em 75 a 80% dos casos diagnosticados
correta iiente. Esse tratamento pode ajudar consideravelmen-
te a mplhorar uma série de sintomas depressivos desagra-
dáveis

O Que Esperar

É impe rtante que, em relação ao tratamento medicamentoso,
as expe :tativas fiquem num nível racional. A resposta que real-
mente acorre diante de um medicamento varia muito de um
caso p* ra outro, mas o caso de Jerry H . é um exemplo típico.

Je ry é um homem de 41 anos de idade, casado há 13 anos.
Nos úl imos três anos, Jerry e sua esposa têm tido enormes
problei ias conjugais. No mês passado, sua esposa pediu divór-
cio e se separou dele. A separação foi muito dolorosa para ele;
sente f; Jta da esposa. Nos quatro meses depois que ela o dei-
xou, Je ry passou a ter os sintomas assinalados na figura 14-B.

Je ry consultou um psiquiatra, que lhe prescreveu um an-
tidepr^ ssivo. O médico lhe recomendou iniciar com a medica-
ção na noite desse dia da consulta, um comprimido de 50mg
ao deit; ir. No dia seguinte, o paciente se sentiu muito cansado,
sonolei ito e cambaleante; telefonou para o médico. O médico
então r mdou o medicamento, passando para um remédio me-
nos sec ativo; também nesse caso a prescrição era, para a dose
inicial, um comprimido de 50mg ao deitar. Quando se viu que

131

o novo medicamento não produzia efeitos colaterais, Jerry re-
cebeu instruções para aumentar a dose a cada quatro dias para
chegar a uma dose na faixa terapêutica. No 12? dia Jerrv es-

ocasional; não era, porém, algo que o deixasse arrasado. Ou-
tros sintomas depressivos tinham desaparecido. Jerry, natu-
ralmente, queria parar de tomar a medicação. Mas seu tera-
peuta sugeriu-lhe continuar a tomar o remédio durante mais
3 a 4 meses. As pesquisas têm indicado que, se as pessoas que
estiveram tomando medicamentos resolvem suspendê-los as-
sim que os sintomas desaparecem — ainda que elas estejam
plenamente recuperadas — há um risco de recaída bastante
alto. A maioria dos psiquiatras costuma recomendar a con-
tinuação do tratamento durante mais 3 a 4 meses para diminuir
ainda mais as possibilidades de recaída.

Se Um Medicamento Realmente Causa Efeitos Colaterais, É Pos-
sível Mudar para Um Outro Que Não Me Traga Esses
Problemas?

Quase todos os tipos de medicamentos podem causar efei-
tos colaterais em alguns indivíduos. (Os efeitos colaterais mais
frequentes dos antidepressivos estão listados na figura 14-C.)
Alguns efeitos colaterais são realmente de pouquíssima im-
portância e desaparecem dentro de poucas semanas. Mas, no
caso de você haver apresentado efeitos colaterais, é muito im-
portante que entre imediatamente em contato com o seu te-
rapeuta. Muito frequentemente pessoas muito deprimidas que
precisam de tratamento concluem da seguinte maneira: "Este
medicamento não me serve... não vou tomar remédios." E in-
terrompem a medicação. É muito raro não se poder obter um
medicamento que tenha pouco ou nenhum efeito colateral; mas
essa escolha de medicamentos certos talvez precise estar su-
jeita a tentativas com alguns diferentes medicamentos. Pessoas
que estão sendo tratadas com o medicamento certo não se sen-
tem sonolentas ou "dopadas", e de fato não experimentam
mais efeitos colaterais do que uma pessoa que toma vitami-
nas. Não deixe que uma experiência desagradável com um
medicamento impeça você de receber a ajuda que você me-
rece. Indiscutivelmente você tem o direito de conversar com
o seu médico sobre Qualquer problema de efeitos colaterais.

O Que, contece Quando Os Medicamentos Não Funcionam?

Em alguns casos, os medicamentos não funcionam. A l -
guns do motivos mais comuns pelos quais isso acontece são:

1. Aspêssoas são tratadas, frequentemente, com doses muito
pequena ?. De maneira geral, você deve tomar medicamentos
nas dose 5 situadas dentro da faixa terapêutica (veja figura 14-
C). Quai e sempre o psiquiatra prescreve um antidepressivo em
dose ini( ial bastante baixa, dose que depois é aumentada gra-
dualmer te. Procede desse modo porque os aumentos graduais
das dose s podem ajudar o organismo do paciente a adaptar-
se e frec úentemente evitam os efeitos colaterais.

2. Muií s pessoas não prosseguem com o tratamento medi-
camento o pelo tempo suficiente. Não é raro encontrar alguém
que tomfu um antidepressivo durante 1 semana e concluiu que
"Isto está funcionando!" — porque não compreendeu
que gera|mente leva 2 a 3 semanas para que os resultados po-
sitivos cfmecem a produzir-se. A pessoa, assim, interrompe
a medic ção antes de esta poder agir com eficiência.

3. Pessc as deprimidas são tratadas, muitas vezes, com tran-
qúilizan ?s Os tranquilizantes não curam depressão; às vezes,
pioram lia . (Veja a figura 14-D, onde você encontra uma lista
dos tranquilizantes que se prescrevem comumente.)

4. O antidepressivo escolhido pode não ser eficaz. Há três clas-
ses princ ipais de antidepressivos que diferem quimicamente
(tricíclia >s serotonérgicos, tricíclicos não adrenérgicos, e ini-
bidores < a monoamina-oxidase). Cada uma dessas classes de
medicair ento afeta um determinado conjunto de células ner-
vosas no cérebro. Se uma pessoa não reage a uma determinada
classe de antidepressivos, o psiquiatra muda para uma outra
classe, d ferente, que, provavelmente, então, será eficaz. In-
felizmeii |e, é bem difícil saber de antemão qual classe é mais
acertado prescrever. No Instituto Nacional de Saúde Mental
do goverpo norte-americano, e em outros centros de pesquisa,

135

atualmente são feitas investigações para desenvolver provas
de laboratório que, em futuro próximo, poderão permitir aos
psiquiatras determinar, de início, qual o medicamento a ser
prescrito.

5. A depressão pode ser puramente psicológica. Tal como men-
cionado anteriormente, a maioria dos casos de depressão
psicológica não se beneficia com os medicamentos antidepres-
sivos. Há algumas exceções a essa afirmação; e, em certos
casos, o psiquiatra pode fazer uma tentativa com antidepres-
sivos em pessoas portadoras de depressão psicológica.

Os medicamentos antidepressivos não tratam todos os as-
pectos da depressão clínica. Na grande maioria das depressões
diagnosticadas corretamente, esses medicamentos apresentam
uma eficiência notável. Os medicamentos não são muletas, são
antes uma intervenção médica que corrige uma disfunção bio-
química e restabelece o funcionamento fisiológico normal.
Conforme disse recentemente um de meus pacientes: "Como
o senhor sabe, eu estava muito descrente quanto a tomar es-
ses medicamentos. E u queria enfrentar essa depressão por
minha própria conta. Agora sei que tenho tido de enfrentar
a maioria dos meus problemas por mim mesmo. Mas tam-
bém sei que havia em parte um problema físico na minha
pessoa. O medicamento ajudou muito."

As doses recomendadas dos medicamentos antidepressivos listados
nas duas páginas seguintes são apresentadas precisamente de acordo com
os padrões atuais, e segundo o melhor entendimento do autor. Queremos
deixar patente, porém, que essas doses não se prestam a servir de guia
para prescrição dos medicamentos. Os médicos deverão verificar as in-
formações contidas na bula do medicamento ou no manual de prescrições
autorizado, para se certificarem de quaisquer modificações do esquema
de dosagem ou das contra-indicações.

136

MEDICAMENTOS AN

Nomes

Genérico Comercial

Imipramina Trofanil
Antitrintilina Trvntanol-I im
Nortriptilina Motivai
Maprotilina Ludiomil
Trazodona Triticum

Inibidores da MAO2

Tranilcipromina Parnate
Perfenazina Mutabon

1 Efeitos ACH (efeitos colaterais anticolinérgicos)
e visão turva.
inibidores da monoamina-oxidase: categoria esp
dicamentoso e a um especial esquema de dieta.

^4

Figura 14-C

NTIDEPRESSIVOS MAIS CONHECIDOS

Faixas de Doses Efeitos ACH1
Terapêuticas Sedação
brandos
mhitrol 150-300 mg branda intensos
150-300 mg intensa brandos
75-100 mg branda
150-300 mg branda 1 cUUilUUo
150-400 mg branda
ausentes

20-30 mg reduzida ausentes
45-90 mg reduzida ausentes

), que compreendem: boca seca, constipação, dificuldade de micção

pecial de medicamentos. Exigem estrita obediência ao esquema me-
.

00

TRANQUIL

Nomes: Tranquilizantes

\JCI n/ócri rIiLnfUr\ / " V i mo rc tal

Clordiazepóxido Librium

Diazepam Valium, Dienpax
Oxazepam Clizepina
Clorazepato Tranxilene
Lorazepam Lorax

1 Sedativos: medicamentos utilizados no tratame
Tipo de tranquilizante que constitui eficaz trata
tratar certos tipos de depressão. É o único tranq
pressivas.

Figura 14-D

LIZANTES MENORES

Nomes: Sedativos1

Genérico Comercial

Flura7Pnam DalmaHorn
T1 eI UrInCaJ&z.VeJUpCaII m1 1 Ll /eUvl la1nl UxUoUl I 1 1
Triazolam Helcion

Nome: Medicamento antipânico

Alprazolan Frontal2

ento da insónia.
amento de intensas crises de pânico e pode ser utilizado para
quilizante que comprovadamente possui propriedades antide-

Breves i (otas Sobre Tratamento Medicamentoso da Doença
Bipolar

Coliforme dissemos no capítulo 7, existe uma subclasse
especial le depressão que se conhece pelo nome de doença bi-
polar. E >ta doença caracteriza-se por intensas oscilações do
estado d t ânimo (depressão e euforia). A doença bipolar fre-
quentenflente é tratada por médicos com um medicamento
chamad lítio — habitualmente administrado sob a forma de
comprirn|idos ou cápsulas de carbono de lítio. O lítio é uma
substância que estabiliza o humor e reduz as acentuadas os-
cilações lo estado de ânimo e, em muitos casos, pode evitar
a recaíd; . (Quando não tratados, os pacientes com doença bi-
polar gelalmente experimentam muitos episódios debilitantes
de depre >são e mania. O lítio tem grande eficácia para redu-
zir ou mfsmo eliminar essas oscilações de humor. Na maioria
dos caso s em que as pessoas são tratadas com lítio, o medi-
camento é tomado por um período de tempo muito longo; em
certos CZ aSOS, vida toda. O motivo de esse tratamento ser as-
sim pro mgado é que o lítio pode ajudar a evitar as reinci-
dências a doença; o medicamento pode ser utilizado como
um tipo le tratamento preventivo. Entre os efeitos colaterais
comuns >e incluem distúrbios gastrintestinais e aumento da
sede.

O lí io é usado também conjuntamente com medicamen-
tos antiqepressivos em algumas pessoas que mostram insa-
tisfatóri resposta aos antidepressivos isoladamente,

A cfscussão do tratamento médico da doença bipolar
situa-se lém dos objetivos deste livro. No entanto, conforme
ficou dit< no capítulo 7, se você achar que pode estar sofrendo
dessa dolnça, recomenda-se que consulte um profissional de
saúde nu ntal. Talvez queira também obter um exemplar do
livro Mopd Swings, de Ronald Fiere, M.D., Bantam Books,
(1975)

139

15

A Depressão É um
Problema da Família

Quando alguém está deprimido, frequentemente toda a fa-
mília também sofre as consequências. Este capítulo aborda
algumas das questões comuns que se apresentam às pessoas
deprimidas e às suas famílias.

"Nós Damos Atenção E Queremos Ajudar"

Muitas vezes, a primeira reação a uma depressão é os amigos
e familiares acorrerem para perto da pessoa deprimida, expressa-
rem sua atenção e tentarem ajudar. Depois de se haver conversado
com milhares de pessoas deprimidas, fica-se com a certeza de que
alguns tipos de ajuda proporcionam enorme apoio, ao passo que
outros tipos realmente pioram as coisas. É muito normal e natu-
ral as pessoas dizerem: "Tudo isso vai melhorar" ou então "Não
está tão ruim assim". Esses comentários podem refletir boas inten-
ções, mas são opiniões que não ajudam. Quase sempre a pessoa
deprimida acha que "esses aí realmente não entendem" ou "como
é que podem saber? Isto é terrível, sim!"

140

Al çumas afirmações assim, à primeira vista, parecem pro-

porcior ar apoio, mas encerram uma crítica oculta: "Você não
deveria sentir-se tão aflito", "Você deveria superar isto agora",

"Você não deveria deixar que isto atingisse tanto você." A

mensagfem subentendida é: "Você está errado... Você não está

superaádo bem a situação... Você devia ser capaz de esquecer

isto. focê pode identificar nesse "discurso da obrigação"

comentjários que não ajudam. Se as pessoas fossem capazes

de simj lesmente esquecer uma depressão que sentem, elas a

esqueceriam E tais comentários frequentemente resultam

numa cfminuição da auto-estima, o que piora a depressão. Re-

centem mte uma paciente minha disse: "Eles têm razão... Eu

não devia ficar tão aflita. Só pode ser uma deficiência que eu

tenho.' Ela se sentiu pior.

O problema é que até mesmo pessoas afetuosas e aten-

ciosas reqiientemente ignoram o que é o processo de luto e

pesar n )rmais. Por exemplo, embora comumente se suponha

que 3 é tempo suficiente para uma pessoa se recuperar

da mor e do cônjuge, as pesquisas mostram que, na realidade,

é normàl a pessoa continuar a ter períodos de intensa tristeza

durante 2 a 3 anos após a perda de um ente querido. Muitas

pessoa simplesmente não entendem que é normal e faz parte

da adaptação a pessoa enlutada sentir e expressar dor e so-

frimenio em consequência de uma perda, e que as feridas de

nature4a emocional não saram tão rapidamente assim.

Por Qie A Pessoa Se Retrai?

Vi a pessoa deprimida pode desejar, às vezes, estar só,
mas, de modo geral, o isolamento prolongado não é benéfico.-
E , às VÍ zes, quando a pessoa deprimida pode estar precisando
de onfcto com os outros, aí os amigos e os familiares, mui-
tas ve , se distanciam. Por que isto? Principalmente porque,
por varias razões, é difícil estar em companhia de alguém que
se enco atra deprimido. Quase sempre é muito doloroso ex-
perimei itar os sentimentos de pesar e melancolia de alguém.
Essas e noções podem tocar em sentimentos parecidos, den-

141

tro de nós mesmos. Além disso, com frequência as pessoas
não encontram palavras, não sabem o que dizer, e temem ma-
goar não intencionalmente os seus amigos. Pode ser muito
frustrante fazer companhia a uma pessoa que tem estado de-
primida há longo tempo. A frustração e a culpa podem causar
irritabilidade, aumentando a distância num relacionamento.
O cônjuge e outros entes queridos podem afastar-se, e a pes-
soa deprimida sente-se ainda mais só quando os familiares não
compreendem a depressão.

Aaron Kennedy é um homem de negócios, 41 anos de
idade, cuja esposa tem tido repetidos e graves problemas de
depressão nos últimos 5 anos. Ele veio consultar-me para fa-
lar sobre os seus sentimentos em relação à depressão da sua
esposa:

" E u amo sinceramente minha esposa. Temos tido uma
vida conjunta boa. E eu sinto muita pena dela quando ela se
sente deprimida. Mas agora estou mesmo ficando cansado
disso. Continuo tentando apoiá-la. E u digo a ela que eu a amo
e que as coisas vão melhorar, mas ela continua parecendo tão
deprimida. Às vezes, eu procuro fazer com que ela simples-
mente esqueça, que venha em minha companhia num passeio
de carro pelo interior. Ela se sente tão cansada e não quer sair,
e aí eu fico muito irritado com ela. Sinto vontade de dizer 'Qual
é o seu problema? Por que você não tenta mesmo superar isso?'
Mas eu me sinto culpado, porque sei que ela não consegue."

O Que A Família Pode Fazer?

Um passo importante consiste em os parentes do depri-
mido conseguirem informações sobre depressão. Embora as
pessoas deprimidas possam fazer muitas coisas para se aju-
darem, nenhuma delas é capaz de simplesmente se livrar da
depressão esquecendo-a. Depressão é um tempo de paralisia
emocional. Os familiares e os amigos, em muitos casos, acre-
ditam que a pessoa deprimida poderia se ajudar a si própria,
"era só ela querer". Essa idéia não corresponde à realidade.
Se os familiares entenderem como pode ser difícil romper o

142

cerco daldepressão, terão também maior facilidade de aceitar
e tolerar a depressão.

Um i segunda coisa que ajuda é mostrar aceitação para
com os s mtimentos da pessoa deprimida. Faça com que a pes-
soa saiba que "sei que você está sofrendo", mas não tente fazer
com qu< a pessoa fale de seus sentimentos penosos. Não é
adequad) nem sadio você assumir a responsabilidade de ten-
tar curai a depressão de alguém. Um amigo ou um familiar
certamei te podem dar apoio, atenção e encorajamento, mas
é uma Qk rga enorme achar que "eu preciso animar essa pes-
soa". E sa é uma tarefa extremamente difícil, e "animar"
raramen e ajuda a pessoa que está em depressão. Um de meus
pacientei que perdeu o filho num acidente de carro, recen-
temente bae disse:

"Fii [uei muito cansado com todas essas pessoas tentando
me anim ar. Mas um dia desses um de meus amigos me disse
uma cois a que me ajudou mais que qualquer outra coisa. Ele
falou: 'S^m, sei que isto está acabando com você. Sinto muito.

de você, Sam. Quero que saiba que estou aqui, se
você prefcisar de mim.' Pareceu-me que ele realmente com-
preendei . "

Vej mos o que isto significa. O amigo de Sam não disse
a este o ue Sam "deveria sentir". Ao contrário, o amigo re-
conhecei francamente os sentimentos de Sam. Depois, ele disse
a Sam c )mo ele se sentia ao ver o amigo Sam nesse sofri-
mento. E por fim disse "estou aqui, se você precisar de mim".
Este últii ao ponto é importante. Tempo de depressão é tempo
de enorn e solidão, e o deprimido obtém grande ajuda quando
mantém contato com outras pessoas.

Em esumo, uma mensagem adequada de atenção e apoio
poderia er assim: "Sei que você está sofrendo. Para mim é
importai te saber como você se sente. Estou à sua disposição.

Mas o reasseguramento pode não ser suficiente. Se um
seu arnij o ou um ente querido ficou imobilizado por apatia,
cansaço < desesperança, é muito importante estimulá-lo no sen-
tido de i ue consulte um profissional de saúde mental ou o
médico < a família.

Por fim, você pode ajudar um seu parente deprimido se

143

você cuida de si mesmo. Você tem necessidades e sentimentos
que não devem ser negligenciados. Você age bem se se per-
mite alguma diversão, ainda que a pessoa deprimida não con-
siga tê-la. Você precisa também aprender a reconhecer os seus
próprios sentimentos de frustração, irritação e desespero; caso
contrário, também ficará inundado de problemas. No seu tra-
tamento, Aaron Kennedy passou a perceber cada vez mais as
suas frustrações em relação à sua esposa deprimida. Ela re-
almente havia percebido nele o ressentimento, e de fato ela
se sentiu melhor quando ele, afinal, foi sincero com ela. É be-
néfico ser franco em relação a tais sentimentos e evitar pôr
a culpa na outra pessoa. Pode ser benéfico para todos os mem-
bros da família falarem em conjunto com o terapeuta a respeito
do modo como se sentem. A sua capacidade de dar apoio pode
continuar somente na medida em que você atender a algumas
de suas próprias necessidades e sentimentos.

Os familiares de uma pessoa deprimida, especialmente
aqueles que convivem com ela, inevitavelmente desempenham
algum papel numa depressão. Um interesse e preocupação sen-
satos em relação aos sentimentos da pessoa deprimida, estar
à disposição quando necessário, e evitar a atitude não realista
de querer "animar" o deprimido, tudo isto pode constituir
uma ajuda verdadeira.

144

16

Há Esperança!

Quandc uma pessoa está deprimida, é muito comum ela se
sentir d ísencorajada e desesperançada.

Ao longo deste livro procurei expor as técnicas de auto-
ajuda e também o tratamento profissional. Para a grande
maioria ios adultos deprimidos, essas técnicas têm muito êxito,
Mas qu indo você se sente apático ou desmotivado, é difícil
se decid r e começar a se ajudar. Se você esperar para sentir-
se moti\|ado para então partir para a ação, talvez fique mesmo
esperando um tempo demasiado. Empreenda alguma ação ago-
ra, ies|no que não sinta disposição ou motivação.

Se rocê se sente deprimido, é importante que você ou co-
mecea tilizar as estratégias de auto-ajuda, ou então telefone
e marqi e uma consulta com um terapeuta. Sei que, às vezes,
esta previdência é de execução muito difícil. Realmente, to-
mar um i iniciativa — simplesmente fazer algo — pode parecer
uma tarifa impossível. Talvez você, como primeiro passo, ache
mais confiar suas dificuldades a um amigo ou parente,
Você pejderia dizer mais ou menos assim: "Venho me sentindo
deprimi io. Sei que tenho de fazer algo quanto a isto, mas es-
tou tendo dificuldade de tomar alguma iniciativa. Preciso da
sua aju a." Você então pode pedir ao amigo ou parente al-

145

guma ajuda ou encorajamento. Essa pessoa, de certo modo,
poderia manter você no caminho da recuperação verificando
se você realmente está tomando certas providências, como te-
lefonar e marcar uma consulta com um terapeuta ou começar
a usar algumas técnicas cognitivas de uso diário. O apoio pro-
porcionado por um amigo pode ser exatamente aquilo que é
mais necessário para ajudar você a tomar a primeira provi-
dência, certamente difícil. Telefone para alguém do seu rela-
cionamento! É de extrema valia você manter contato com ou-
tras pessoas quando você se sente deprimido.

Um de meus pacientes recentemente me disse: "Venho
me sentindo muito deprimido já há meses. Fiquei a pensar que
eu não devia me sentir tão deprimido e que eu devia simples-
mente esquecer essa dificuldade. Até já me senti melhor, mas
a melhora não durou muito e venho me sentindo cada vez pior.
Não sei por que esperei tanto para obter tratamento. O que
afinal mudou as coisas foi que contei meu problema à minha
melhor amiga. Ela me ouviu, depois falou: 'Procure obter al-
guma ajuda.' Agora, eu gostaria de ter vindo consultá-lo bem
antes."

Dizer "eu não devia estar me sentindo tão mal" rara-
mente ajuda. Ou você realmente se sente deprimido ou não.
O ponto importante é telefonar para marcar uma consulta,
ou iniciar um tratamento, ou tentar um trabalho de auto-ajuda,
ou empreender alguma atividade para você sair da depressão.
Passar à ação é fundamental, decisivo. Ainda que nenhuma
medida terapêutica isoladamente possa imediatamente pôr fim
à depressão, tomar essa primeira providência pode fazer com
que você se sinta um pouco menos desamparado. A ação é
um antídoto para sentimentos de impotência.

Espero que, ao longo deste livro, uma mensagem tenha ficado
clara. Todos nós somos seres humanos, e é humano sofrer-
mos quando vivenciamos uma perda ou desilusão. A vida às
vezes é difícil, outras vezes é trágica. Felizmente, porém, há
maneiras de se lidar com o sofrimento emocional, sentir pe-
sar pelas perdas, e obter a cura. Mesmo diante de uma situação
que pareça ser de desespero insuportável você tem condições

146

de venc er a depressão e de se recuperar — de se tornar capaz
de se si íntir vivo novamente.

Portanto, mexa-se, faça algo por você!

Desejo que você esteja bem!



Referências/
índice



REFERÊNCIAS

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OUTROS LIVROS RECOMENDADOS

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Cognitive Therapy of Depression, The Guilford Press,
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Butler, . E . (1981) Talking to Yourself: Learning to Com-
mun cate With the Most Important Person In Your Life,
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ople, Avon Books, Nova York.
Stearns, A . K . (1984) Living Through Personal Crisis, Ballan-
tine Books, Nova York.

152

índice

A D
Abuso c álcool, 34 Depressão endógena, 63-64
Abuso (le drogas, 34 Depressão psicológica, 22-24
Alteraçc es hormonais, 62 Depressões biológicas, 24-26
Anedon a, 32 Depressões do tipo misto,
Apatia, 20, 29, 108
Assisteiies sociais, 123 26-27
Atividacje das células nervosas, Desesperança, 70
Diagnóstico (autodiagnóstico),
127, 29
Auto-af rmação, 30, 118 36
Auto-es ima, 20, 29, 55-56 Diário de atividades, 102, 103
Discurso da obrigação, 90, 94
B Disfunção neuroquímica, 64-65
Beck, PiT., 79, 87, 92 Distorções cognitivas, 87-101
Burns, i. D., 30, 81, 84, 87, 92 Distúrbios do apetite, 32
Distúrbios do sono, 31
C Doença afetiva sazonal, 64
Cansaçc, 20, 32 Doença bipolar, 35, 64, 139
Caractei ísticas da depressão, Doença física, 56-57, 62
Doenças e depressão, 56, 63
18, 2 Drogas que podem causar
Concentração, 34
Crises d s pânico, 33-34 depressão, 60-61
Culpa, : 0 Duveneck, M. J . , 56
Cura en ocional, 76-78
Efeitos colaterais (de
antidepressivos), 134

153

Efeitos colaterais de Lista de verificação da
medicamentos, 133-134 depressão, 37-40

Esperança, 145-146 Lítio, 35, 139
Estratégias de superação de Luto (veja "pesar")

dificuldades, para famílias, M
142-144 Maus-tratos contra crianças,
Estresse, 57
47-48, 50
F Medicamentos antidepressivos,
Família, efeitos da depressão,
126-132, 137
sobre a, 140-142 Memória, 34
Fiere, R., 64 Molestar (crianças
Folha de pontuação do
sexualmente), 50
humor, 104, 107 Motivação, 20, 29

GN

Graf, M., 29, 109 Nível de atividade, 108-111, 117

H O
Hipocondria, 34
Hipotálamo, 59-60, 127 Orientadores religiosos, 124
História familiar de depressão, Oscilações de humor, 35

33 P
I Pensamento negativo, 30, 75,
Idéias de suicídio, 30
Impulso sexual, 27, 32 80, 87
Incidência da depressão, 17-19 Pensamento tudo-ou-nada,
Intimidade, 45
88, 94
K Pensamentos automáticos,

Kushner, H. S., 54 92-96, 99
Perdas, 44-45, 51-55
L Perdas existenciais, 53-55
Lewinsohn, P. M., 29, 109 Personalização, 89, 94
154 Pesar, 45-46, 52
Prazer, perda do (anedonia),

32


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