CRESCER
SAUDAVELMENTE
NO MUNDO DAS
MÍDIAS DIGITAIS
Um guia de orientação para pais, professores
e todos os demais responsáveis por crianças e jovens
CRESCER
SAUDAVELMENTE
NO MUNDO DAS
MÍDIAS DIGITAIS
Um guia de orientação para pais, professores
e todos os demais responsáveis por crianças e jovens
3ª edição
1
Título do original:
Gesund Aufwachsen in der digitalen Medienwelt
© Diagnose-Funk e.V., Stuttgart (Alemanha)
3. ed. 2019 – diagnose:media – ISBN 978-3-9820585-0-4
Contribuições para o conteúdo original:
Dra. Michaela Glöckler, médica pediatra
Dr. Hedwin Hübner, pedagogo especialista em mídias
Stefan Feinauer, advogado
Media Protect e.V. – Familien starken im digitaler Zeitalter
Redação final: Dr. Klaus Scheler, pedagogo em Física
Design gráfico: Designgruppe Koop, Rückholz (Alemanha)
Tradução do texto original: Raul Guerreiro
Cotejo e revisão: Sonia Setzer e Jacira Cardoso
Adaptações para a edição brasileira (sugestões de leitura, seleção
fotográfica, links de internet e itens de legislação): Jacira Cardoso
Direitos desta edição reservados a: Produção editorial no Brasil:
Comunidade de Cristãos no Brasil Ad Verbum Editorial, São Paulo
Av. Vereador José Diniz, 3037 Tels. (11) 3807-4681 | 5522-4681
04303-002 São Paulo – SP www.ad-verbum-editorial.com.br
Tel. (11) 97439-4925 [email protected]
www.comunidade-de-cristaos.org.br 1ª edição: maio/2020 | 2ª edição: junho/2020
[email protected] 3ª edição — fevereiro/2021
ISBN 978-65-990519-1-3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Crescer saudavelmente no mundo das mídias digitais : um guia de orientação para
pais, professores e demais responsáveis por crianças e jovens / [Michaela
Glöckler, Hedwin Hübner, Stefan Feinauer ; redação final Klaus Scheler ; tradução
do texto original Raul Guerreiro ; adaptações para a edição brasileira Jacira
Cardoso]. – São Paulo : Ad Verbum Editorial, 2020.
Título original: Gesund Aufwachsen in der digitalen Medienwelt
Bibliografia.
ISBN 978-65-990519-1-3
1. Adolescentes – Desenvolvimento 2. Crianças – Desenvolvimento 3. Internet –
Medidas de segurança 4. Internet e adolescentes 5. Internet e crianças 6. Internet e
educação 7. Mídia digital – Aspectos psicológicos 8. Mídia digital – Aspectos sociais
9. Tecnologia e crianças I. Glöckler, Michaela. II. Hübner, Hedwin. III. Feinauer, Stefan.
IV. Scheler, Klaus. V. Cardoso, Jacira.
20-35611 CDD-370
Índices para catálogo sistemático:
1. Mídias digitais : Crianças e jovens : Educação 370
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
Nota preliminar
A organização alemã diagnose:media [editora original deste livro] é uma ini-
ciativa para a promoção de uma competente e autodeterminada utilização das
mídias digitais por crianças e jovens – oferecendo apoio a pais, professores e
filhos ou alunos afetados e incentivando uma cooperação entre especialistas e
instituições da área.
Os novos meios digitais das tecnologias de informação e comunicação (TIC) –
como smartphones, tablets, notebooks, consoles de jogos eletrônicos etc. – ocu-
pam um espaço cada vez maior na vida de nossas crianças e jovens. Ao mesmo
tempo, pais e educadores observam uma sobrecarga dos jovens causada por
esses novos meios de comunicação.
Numerosos estudos científicos e observações de especialistas demonstram que
o contato com as novas mídias digitais envolve sérios riscos para o desenvolvi-
mento e a saúde de crianças e jovens. Uma convivência competente e autode-
terminada com essas mídias só pode se desenvolver caso os necessários está-
gios de desenvolvimento biológico e psicossocial, nas diferentes fases da vida
dos jovens, tenham sido cumpridos adequadamente.
O objetivo deste livro é, por um lado, fornecer esclarecimentos acerca dos peri-
gos e riscos das novas mídias. Isto inclui o comportamento nas comunicações,
o potencial de dependência e vício, a proteção da esfera pessoal, páginas da
Internet prejudiciais às crianças e jovens, questões de responsabilidade legal e
problemas de saúde causados pela exposição contínua à radiação eletromag-
nética pelo uso de aparelhos celulares. Por outro lado, são indicadas medidas
de proteção e possibilidades de procedimento para evitar perigos ou poder
enfrentá-los adequadamente.
Este guia oferece uma perspectiva pedagógica que permite encontrar um ade-
quado equilíbrio entre, de um lado, as necessidades das crianças e jovens e, de
outro, as restrições que se fazem necessárias como medidas preventivas para
evitar perigos.
www.diagnose-media.org
3
Sumário
Prefácio____________________________________________________________________________________________ 6
1. _ Por que este guia de orientação?_________________________________________________________ 8
1.1 A educação para o uso das mídias deve guiar-se pelo
desenvolvimento da criança | 10
1.2 Fortalecer em nossas crianças a experiência do mundo real, analógico! |16
1.3 Como nós, enquanto pais, podemos orientar? | 24
2. _ Proteger as crianças das radiações dos celulares – desde o início!
_ O que se deveria considerar seriamente neste sentido______________________________ 28
2.1 Efeitos biológicos das radiações dos aparelhos celulares | 30
2.2 Medidas preventivas e recomendações | 36
3. _ A primeira infância (0–3 anos)
_ Sem mídias com telas nem brinquedos que emitem radiações!____________________ 42
3.1 O que crianças bem pequenas necessitam para seu desenvolvimento saudável? | 44
3.2 Nas crianças pequenas as mídias com telas atuam diferentemente | 47
3.3 Dicas para uma educação responsável em relação às mídias
na primeira infância | 51
4. _ A idade pré-escolar (4–6 anos)
_ Vivências do mundo real e movimento – quanto mais, melhor!____________________ 52
4.1 O que as crianças necessitam para seu desenvolvimento saudável? | 54
4.2 É assim que as mídias com telas atuam na época pré-escolar | 56
4.3 Dicas para uma educação responsável em relação às mídias na época pré-escolar | 57
5. _ Os primeiros anos da vida escolar (6–9 anos)
_ Acompanhar e limitar o uso de mídias com telas!____________________________________ 60
5.1 As etapas do desenvolvimento durante os primeiros anos do ensino fundamental | 62
5.2 Psicólogos e pediatras descrevem as necessidades básicas das crianças | 63
4
5.3 Dicas para uma educação responsável em relação às mídias SUMÁRIO
nos primeiros anos do ensino fundamental | 64
6. _ Da infância à adolescência (10–16 anos)
_ A caminho da autonomia responsável em relação às mídias_________ 68
6.1 O que os adolescentes necessitam para seu
desenvolvimento saudável? | 70
6.2 O significado das mídias com telas | 71
6.3 Dicas para um amadurecimento saudável na utilização de mídias | 74
6.4 Dicas para uma aprendizagem duradoura com novas mídias | 78
6.5 Softwares de segurança e suporte técnico | 81
7. _ Perigos durante a utilização das mídias digitais________________________ 84
7.1 Estresse provocado pelas mídias de comunicação social | 86
7.2 A utilização excessiva de mídias e os perigos de cair em vício | 93
7.3 A utilização imprudente de informações pessoais | 104
7.4 Assédio moral virtual e perseguições na Internet | 114
7.5 Páginas na Internet que colocam jovens em risco | 117
8. _ A Internet e o Direito – Informações para os pais______________________124
8.1 Direito à autodeterminação informativa | 126
8.2 O direito penal no tocante à Internet e ao Estatuto
da Criança e do Adolescente |128
8.3 Direitos autorais | 129
8.4 Contratos de compra e responsabilidade na Internet | 131
8.5 Obrigações legais dos pais, a exemplo do WhatsApp | 133
Notas – Bibliografia – Créditos fotográficos__________________________________136
Parceiros/apoiadores____________________________________________________________147
Posfácio à edição brasileira____________________________________________________151
5
Prefácio
Quase não se passa um dia sem que leiamos ou ouçamos notícias sobre o tema
da digitalização. Prevê-se que, ao longo dos próximos 20 anos, 60% a 70% das
atuais profissões poderão ser substituídas por dispositivos eletrônicos e robôs.
Assim, não admira que muitos pais pensem: “É nesse mundo que nossas crian-
ças vão crescer; por que elas não deveriam ser confrontadas e acostumadas
com essa tecnologia desde cedo, segundo o ditado ‘A prática faz o mestre’, e
ainda mais que as recomendações oficiais da política educacional apontam exa-
tamente nessa direção?”
Nesse caso, porém, deixa-se de considerar que uma tecnologia operada pela
consciência humana também influencia fortemente o desenvolvimento desta
última. Para adolescentes mais velhos e adultos isto não é um problema, des-
de que seus cérebros tenham conseguido desenvolver-se de forma saudável
no mundo analógico; porém o é para crianças e jovens em desenvolvimento,
nos quais esse processo ainda não foi suficientemente concluído. É por isso,
também, que vêm surgindo cada vez mais vozes alertadoras, especialmente do
ponto de vista da ciência, da medicina e da psicologia do desenvolvimento.
Em muitos estudos e com base em grandes metanálises, resultados de pesqui-
sas salientam os perigos e efeitos colaterais de uma digitalização precoce na
educação infantil e no ensino fundamental: perturbações no desenvolvimento
do lobo frontal do córtex cerebral e, consequentemente, na correlata capacida-
de autônoma de raciocínio e de controle; prejuízos na postura corporal e nos
olhos, perda de empatia, deficiências na capacidade de expressão linguística,
dependência de redes sociais, ameaça de vício – sem falar nos ainda pouco
observados efeitos colaterais da radiação eletromagnética sobre o sistema ner-
voso, que reage muito mais sensivelmente durante a infância e adolescência do
que mais tarde.
Cabe também considerar que proeminentes figuras da tecnologia da informa-
ção (TI), como Steve Jobs e Jeff Bezos, negaram a seus filhos o acesso precoce a
smartphones e tudo o mais. Segundo estatísticas, os filhos de acadêmicos pas-
sam muito menos tempo em frente a uma tela em comparação com os filhos
do restante da população. Além disso, neurologistas do desenvolvimento como
o Prof. [Gerald] Hüther e especialistas em economia como Andrew McAfee,
diretor de negócios digitais do Massachusetts Institute of Technology (MIT) em
6
Cambridge, MA (EUA), concordam unanimemente que o mundo de amanhã, PREFÁCIO
determinado pela tecnologia da informação, necessita sobretudo de criativida-
de, competência social e capacidades de pensar e agir de modo empreendedor.
Pois bem, o superempresário chinês Jack Ma, que fundou o Alibaba, o concor-
rente asiático da Amazon, resumiu isso com as seguintes palavras, durante o
Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça: em vez de acumular conhecimen-
tos, o que qualquer computador tem à disposição mais rapidamente, as escolas
deveriam ensinar “valores, confiança, atividade pensante autônoma, trabalho
em equipe” e dar mais espaço para disciplinas criativas como arte, cultura, músi-
ca e esporte. Contudo, essas competências criativas e empreendedoras têm sua
base de desenvolvimento no mundo real, analógico, e não no mundo digital!
Este é o paradoxo que temos de enfrentar: as habilidades sociais, a criatividade
e o pensar inovador necessitam, para seu desenvolvimento, do contato direto
com pessoas e do diálogo aberto com quem pensa diferente, e não do compu-
tador! O que é preciso fazer, então?
Saber de tudo isso ainda não ajuda a lidar com a vida familiar cotidiana, em
que o smartphone não só se tornou um companheiro indispensável, mas muitas
vezes também um ponto de discórdias. Aqui são necessárias indicações claras
e dicas práticas sobre como acompanhar crianças e jovens, em suas respectivas
idades, de modo a evitar os possíveis danos. Este guia foi criado com essa inten-
ção. Ele mostra o que as crianças e os adolescentes necessitam para ingressar
de maneira saudável na era das mídias.
Para tal, muitos profissionais e organizações ladearam os autores – especialis-
tas em mídias e pedagogos –, como bem mostra a lista de apoiadores e patro-
cinadores deste guia. O que os une é o amor pelas crianças e jovens em desen-
volvimento e a grande responsabilidade que nós temos perante eles. Nossa
esperança é possibilitar um desenvolvimento sadio ao maior número possível
de crianças e jovens, para que possam enfrentar seu futuro digital de forma
competente e estejam aptos para as exigências impostas por suas vidas.
Dra. Michaela Glöckler
Dornach, setembro de 2018
7
1 Por que este
guia de orientação?
8
9 CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
1.1 A educação para o uso das mídias deve
guiar-se pelo desenvolvimento da criança
“Em geral as crianças sabem o que querem,
mas muitas vezes ainda não sabem o que precisam.”
Jesper Juul, terapeuta familiar dinamarquês
Você conhece isto?
Quando as crianças são pequenas: A tevê ou o tablet estão ligados, e imediata-
mente nossos filhos ficam fascinados e tranquilos.
Nós podemos:
cuidar do nosso trabalho,
respirar fundo e relaxar,
fazer viagens mais longas de carro com a família, sem estresse,
e finalmente não somos mais continuamente aborrecidos com desejos e
necessidades das crianças...
Quando as crianças estão maiores: Só querem saber do celular!
“Você pode me ajudar um pouco na cozinha?” – “Agora não dá!”
“Quando, afinal, você vai fazer suas lições de casa?” – “Mais tarde!”
“Você ainda está acordado? Já passou das 11 horas!” – “E daí?”
“Você não consegue comer sem o celular na mão?” – “O quê?”
Mas talvez você também conheça o seguinte:
A criança consegue brincar durante muito tempo com coisas (do mundo ana-
lógico*) – vide imagem;
ela consegue construir seu próprio mundo de fantasia e inventar criativa-
mente algo novo;
ela se mostra sociável e se dá bem com outras crianças – é capaz de atuar em
grupo.
Mais tarde, quando adultas, as crianças deverão ser capazes de lidar de forma
competente e madura com a tecnologia digital e com as mídias “ainda mais
modernas” então existentes. Esta é a questão deste guia – e naturalmente a de
todos nós: os pais. Mas como alcançar este objetivo? E será que isto é possível,
já que as crianças entram o mais cedo possível em contato com mídias digitais
* Neste guia é empregado o conceito ‘analógico’ no sentido de contínuo, estável ou sem graduações,
em contraposição ao conceito ‘digital’ no sentido de discreto (descontínuo), instável ou graduado.
10
e aprendem a explorar suas possibilidades, conforme se exige cada vez mais CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
atualmente?
Este guia procura dar a você uma orientação para a discussão de tais assuntos.
Neste sentido, parte da seguinte questão preponderante:
O que crianças e jovens necessitam para seu desenvolvimento saudável?
Estudos mostram que um desenvolvimento (cerebral) saudável é a melhor
garantia para que crianças consigam utilizar mais tarde, na adolescência e na
idade adulta, as mídias digitais de maneira competente e responsável. Surge
então a pergunta: será que as mídias digitais podem promover um desenvolvi-
mento cerebral saudável, ou acaso demonstram ser, nesse sentido, obstrutivas
ou até mesmo prejudiciais?
Educadores, pediatras e especialistas em mídias alertam
Hoje nós sabemos: especialmente nos primeiros anos de vida, as mídias com
telas desempenham um papel nefasto, pois, quanto mais frequentemente são
utilizadas, maior é seu efeito inibidor do desenvolvimento (v. Capítulos 2, 3 e 4).
Já crianças de tenra idade mostram rapidamente, nesses casos, os primeiros
sinais de um comportamento quase vicioso. Além disso, podem surgir facilmen-
te perturbações no desenvolvimento cerebral, com consequências fatais.
Conforme é evidenciado pelo recente estudo BLIKK [Bewältigung / Lernverhalten
/ Intelligenz / Kompetenz / Kommunikation – Domínio / Postura na aprendizagem
/ Inteligência / Competência / Comunicação] de 20171, também crianças mais
11
velhas, que passam cada vez mais tempo em frente a aparelhos com telas, cor-
rem riscos: o consumo frequente de mídias pode provocar inibição no desen-
volvimento da fala, déficit de atenção, distúrbios de concentração e do sono,
hiperatividade, agressividade e até distúrbios de leitura e ortografia.
Só a partir dos doze anos as crianças conseguem utilizar as mídias com
telas – introduzidas gradual e moderadamente – de uma forma cada vez
mais autodeterminada e adequada.
Se existem sensatas limitações de idade para se dirigir veículo, fumar e consu-
mir álcool, hoje em dia existem muitos argumentos para que isso também valha
especialmente para a utilização de mídias digitais em rede!
O que dizem a psicologia do desenvolvimento e a neurobiologia?
A psicologia do desenvolvimento e a neurobiologia têm pesquisado, desde há
muito tempo, as condições necessárias para um desenvolvimento cerebral sau-
dável das crianças: os sentidos da criança, e principalmente o cérebro, desen-
volvem-se tanto melhor quanto mais os anos da infância são suficientemente
preenchidos com atividade física – caminhar, trepar, dar cambalhotas, equilibrar
e muitas outras –, quanto mais intensamente a criança consegue interagir com
12
coisas analógicas de seu ambiente natural, com pessoas em redor, animais e CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
plantas. A maturação e a crescente diferenciação das redes neuronais no córtex
cerebral é um processo que dura mais de duas décadas: trata-se de aprender
a escrever, a calcular e a ler, o que por sua vez possibilita a aquisição de novos
conteúdos de memória e realizações mentais mais diferenciadas.
Em cada fase da vida a criança deve, para um desenvolvimento saudável do
cérebro, percorrer caminhos evolutivos característicos e desenvolver capacida-
des correspondentes; isto será exposto em detalhes nos próximos capítulos. A
questão decisiva em cada fase do desenvolvimento é se a criança, com base em
sua maturidade interior, está à altura das exigências associadas às sedutoras
possibilidades de utilização das mídias, sem que isso provoque distúrbios ou
até mesmo danos.
Por isso, a educação para o uso das mídias deveria orientar-se pelo desen-
volvimento das crianças e jovens!
Com relação à infância, isto significa (v. Capítulo 1.2):
“ ‘Uma infância sem computador é a melhor entrada na
era digital!’ Esta tese de Gerald Lembke e Ingo Leipner2
não é nenhum paradoxo: quem reduz a influência das
mídias digitais nas crianças, permitindo que elas tenham
bastante movimento e alegria em contato com
a natureza e com coisas analógicas,
estimula (!) seu desenvolvimento cerebral,
pois jovens e adultos vão precisar, mais
tarde, de habilidades cognitivas elevadas
para superar os desafios digitais.”
Gertraud Teuchert-Noodt, Ein Bauherr
beginnt auch nicht mit dem Dach3
13
A utilização precoce de mídias é míope e arriscada
Uma utilização a mais precoce possível das mídias no seio da família e na escola
é, portanto, míope, altamente arriscada e contraproducente, pois não se baseia
em conhecimentos das ciências pedagógica e neurobiológica. A opinião ampla-
mente difundida segundo a qual “Quem não aproxima bem cedo seu filho das
mídias está obstruindo seu futuro” é um erro catastrófico.
Essa opinião acompanha, sem nenhum senso crítico, as exigências e interesses
mercadológicos das empresas do setor das comunicações, que pleiteiam o uso
precoce das mídias com conceitos de progresso e os fazem prevalecer com a
ajuda de lobbies junto aos ministérios: “Inflamam-se esperanças ilimitadas para
que produtos digitais permeiem nossa vida cotidiana.” 2
Parece paradoxal, mas o conhecimento científico diz:
Um consumo excessivamente precoce de mídias dificulta o desenvolvi-
mento justamente das competências essenciais que, mais tarde, são utili-
zadas para o domínio responsável das mídias digitais.
14
Sugestões de leitura CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
Angela Baptista e Julieta Jerusalinsky (orgs.)
Intoxicações eletrônicas: o sujeito na era
das relações virtuais
As transformações discursivas e subjetivas
produzidas na era digital.
Entrevista com Gertraud Teuchert-Noodt (em inglês):
Digital media are a great danger for our brain
Em http://visionsblog.info/en/2017/05/20/digital-media-
great-danger-brain. Trad. do artigo original em
alemão publicado em Umwelt-Medizin-Gesellschaft, 30 (3):
28–32, 2017.
Marisa Vorraber Costa (org.)
Educação na cultura da mídia e do consumo
Coletânea que contempla as variadas formas como
educamos e somos educados em meio às pedagogias
da cultura do nosso tempo.
15
1.2 Fortalecer em nossas crianças a
experiência do mundo real, analógico!
Como pais, nós desejamos que nossos filhos aprendam a lidar com mídias
analógicas e digitais de forma competente e consciente dos riscos. No entanto,
quais passos evolutivos uma pessoa já deve ter dado para conseguir lidar de
forma autodeterminada e independente com dispositivos digitais?
E o que nós, pais, podemos fazer para não ‘semear’ nos pequenos algo que mais
tarde não gostaríamos de ‘colher’ em nossos jovens? (Vide págs. 10, 93 ss.)
Lidar bem com o mundo real, analógico, é fundamental
para lidar bem com o mundo virtual
As novas mídias com telas não surgem no lugar da tevê ou dos vídeos na vida
das crianças, e sim como complemento, aumentando ainda mais o tempo que
elas passam diante da tela. Isto conduz a uma crescente repressão de expe
riências no mundo real, ou seja, o mundo virtual substitui cada vez mais o mun-
do real.
Porém é no mundo real que as crianças têm de realizar seus passos evolutivos
corpóreos e anímicos: isto inclui o desenvolvimento da linguagem, a formação
da motricidade grossa e fina, a apuração de todos os sentidos, a exploração e
descoberta de coisas e processos no mundo real, a aprendizagem de regras da
convivência social e muitas coisas mais. Via de regra, portanto, vale o seguinte:
quando uma criança não tem mais tempo suficiente para seus passos evoluti-
vos biologicamente necessários no mundo real, o uso das mídias se transforma
rapidamente num problema.
Um exemplo: caso seu filho tenha pouco contato com outras crianças, median-
te o qual ele aprenda, por exemplo, a perceber e levar em conta necessidades
alheias, podem surgir déficits no desenvolvimento social, como por exemplo
falta de empatia.
Por outro lado, caso seu filho se sinta repetidamente rejeitado na convivência
com outras crianças, não se sentindo considerado em suas necessidades, a inte-
ração com amigos virtuais por meio do Facebook, do WhatsApp & cia. pode ser
vivenciada como um substituto aparentemente valioso. Isso pode significar que
o consumo de mídias irá aumentar.
16
Ou, caso seu filho raramente consiga empreender ou experimentar algo com CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
amigos ou com os próprios pais, existe o grande perigo de ele tentar realizar
seus desejos por meio de jogos eletrônicos de ação ou jogos de interpretação
de papéis [RPG, sigla em inglês para role-playing games] no computador ou no
tablet. Em última análise, trata-se de tentativas ineficazes e não sadias da crian-
ça para satisfazer suas necessidades e superar seus passos de desenvolvimen-
to. É que o uso das mídias pode, nesse caso, tornar-se rapidamente um proble-
ma, ou seja: o consumo de mídias sai do controle.
Esse comportamento ainda é reforçado pelo potencial de dependência, intrín-
seco à frequente utilização de mídias digitais com telas. Em primeiro lugar, as
crianças devem desempenhar-se corporal e animicamente no mundo real, que
sempre continuará a ser o principal mundo determinante da vida.
Hoje nós sabemos: só tendo dominado bem os passos evolutivos neces-
sários, biologicamente, nas diversas fases da vida, é que a criança pode
desenvolver a capacidade para lidar de forma competente e sensata com
as mídias.
O que é importante?
Antes de mais nada, é importante oferecer às crianças diferentes possibilida-
des de experimentar seus sentidos, movimentar seu corpo, explorar a nature-
za, comunicar-se com seus semelhantes – ou seja, ‘conquistar’ o mundo real.
Caso seu filho possua um hobby – por exemplo, gosta de jogar futebol ou está
aprendendo a tocar um instrumento, ou gosta de fazer trabalhos manuais ou
construir coisas –, então um smartphone não é tão importante, pois durante
esses períodos não é usado ou, no máximo, o é como um recurso (por exemplo,
17
para tirar fotos). Isso cria um contrapeso para o mundo virtual e protege seu
filho de maneira natural contra seus riscos. Por isso, é importante que os pais
tentem entusiasmar seus filhos para realizar atividades plenas de sentido no
mundo real. Esta é a melhor base para o desenvolvimento da responsabilidade
em relação às mídias na juventude.
Em contrapartida, uma utilização cada vez mais precoce de mídias digitais impe-
de exatamente aquilo que as crianças devem aprender e que nós, enquanto
pais, desejamos. Por conseguinte, em primeiro lugar deve-se proteger as crian-
ças do mundo digital em vez de colocá-las em contato com ele desde tenra
idade. Bill Gates, o fundador da Microsoft, e outros grandes empresários do
ramo da tecnologia de informação já haviam reconhecido isso claramente: seus
filhos só receberam um smartphone aos 14 anos de idade. Vide www.nytimes.
com/2014/09/11/fashion/steve-jobs-apple-was-a-low-tech-parent.html?_r=0
e www.weforum.org/agenda/2017/10/why-gates-and-jobs-shielded-their-kids-
from-tech
Na lida com mídias, regras e acordos são benéficos
e decisivos para crianças e pais
Muitas observações e estudos científicos demonstram o seguinte: quando os
pais aceitam sem restrições o uso de mídias por seus filhos, não o limitando
e nem o estruturando ativamente, devem contar com significativos riscos no
comportamento e na saúde de seus filhos menores e jovens. Isto sobrecarrega
e enfraquece a família, e também toda a sociedade (v. Capítulos 3 e 7); pois a
capacidade de autoestabelecer limites e conseguir adiar a satisfação de neces-
18
sidades ainda está em formação no jovem. Por isso, estabelecer limites e fazer CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
acordos são medidas de proteção necessárias para seus filhos.
Especialmente no caso de crianças pequenas, os pais não deveriam possibilitar
ou permitir a utilização de mídias. O ideal seria que crianças pudessem cres-
cer até os 12 anos sem smartphone, tablet ou computador. Primeiramente, elas
deveriam desenvolver suas competências em relação à vida real, analógica.
No entanto, não há dúvida de que não podemos manter as mídias digitais afas-
tadas de nossas crianças e jovens, e de que estes não podem ser deixados sozi-
nhos sob as influências e as alterações que elas provocam. Por meio das mídias,
e sobretudo por meio dos amigos, as crianças estão permanentemente expos-
tas às tentações das telas digitais. Caso você decida comprar um smartphone ou
tablet para seu filho, sérios riscos para ele deverão ser considerados.
Você estará agindo com plena responsabilidade ao proteger seu filho o melhor
possível estabelecendo logo, entre outras coisas, limites claros, ou seja: estipu-
lando regras claras sobre se, e durante quanto tempo por dia, o computador, o
tablet e o smartphone pode ser usado (para mais detalhes, v. Capítulos 4.3, 5.3
e 6.3). Isto exige de você uma boa compreensão do nível de desenvolvimento
de seu filho e muita habilidade na educação. Mas, como será explicado mais
detalhadamente no Capítulo 1.3, também depende de seu exemplo.
“Estabelecer limites significa, em essência,
assumir uma postura. Significa ter um
ponto de vista bem claro e defendê-
lo, sendo amorosamente consequente,
louvando e encorajando, em contínuo
debate consigo próprio e com os filhos.”
Katharina Saalfrank, The Super Nanny4
19
Muitas vezes os limites são estabelecidos tarde demais
Tentar estabelecer limites quando o consumo de Internet pela criança já ficou
fora de controle, e o tempo de ocupação com as mídias já ultrapassou uma
medida razoável, leva inevitavelmente a discussões difíceis com a criança, e
também não garante que você consiga se impor e a criança controle seu con-
sumo de Internet.
Muitos pedagogos concordam: crianças querem (na hora certa!) limites
e regras. Elas desejam clareza, e querem saber em que pé estão. Limites
conferem às crianças estrutura, estabilidade e segurança, mas também
exigem debates. A falta de limites, ao contrário, torna as crianças insegu-
ras e volúveis. Mesmo as crianças menores necessitam de limites, e até
mesmo um bebê compreende, pelas reações dos pais, as regras subjacen-
tes (v. sugestões de leitura na pág. 23).
Encontrar limites: não existe receita infalível
É tarefa dos pais refletir sobre o que é importante para eles, quais limites fazem
sentido e como aplicá-los. Quando crianças compreendem desde cedo o que é
permitido e o que não é, mais tarde haverá menos discussões e tudo será mais
óbvio. No entanto, os limites podem mostrar-se inadequados na convivência,
e por isso sempre têm de ser reconsiderados, até mesmo porque as crianças
crescem.
Estabelecer limites é um processo que depende da idade da criança, de-
vendo-se levar em consideração, antes de tudo, o que ela preponderan-
temente necessita em seu desenvolvimento atual, além de atender aos
próprios desejos da criança.
Dessa maneira as crianças desenvolverão muito melhor uma utilização auto-
determinada e saudável das mídias digitais, ficando bastante protegidas contra
seus riscos.
20
O que recomendam os especialistas? A regra 3-6-9-12 CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
O psicólogo francês Serge Tisseron formulou, para as faixas etárias de 0 a 3
anos, de 3 a 6 anos, de 6 a 9 anos, de 9 a 12 anos e de 12 anos em diante,
passos evolutivos típicos e as correspondentes recomendações para o uso das
mídias, a serem adotadas pelos pais como primeira orientação. [Isto deu origem
à denominação ‘regra 3-6-9-12’.] (Vide www.3-6-9-12.org – em francês.)
O presente guia segue em muitos pontos as recomenda-
ções de Tisseron. Entre outras coisas: até à idade de 12
anos, são exclusivamente os pais que devem determi-
nar as regras a serem observadas para o uso das mídias.
Acordos em conjunto com a criança só devem ser esta-
belecidos mais tarde.
Serge Tisseron
21
Limites e regras constituem um acordo
O ideal, especialmente para crianças até os 12 anos, seria crescer inteiramente
sem mídias digitais e, com isto, sem riscos. Esta diretriz é claramente apoiada
por estudos científicos, mas muito pouco considerada pela política.
Se você não conseguir resistir pelo mais longo tempo possível à tendência atual,
com sua pressão social sobre as famílias, pode ser que tenha de ceder parcial-
mente e decidir-se a estabelecer um acordo.
Nesse sentido, todas as recomendações para a utilização de mídias, neste
guia, são a expressão de um meio-termo talvez razoável e pretendem ser
uma ajuda de emergência. Todavia, é evidente: do ponto de vista científi-
co, elas não protegem contra os riscos para a saúde e o desenvolvimento
biológico de seu filho!
22
Sugestões de leitura CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
Sharon Thomas, psicóloga: “Dar um celular para
uma criança de 5 anos é um crime.”
Em https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/
noticia/2018/08/dar-um-celular-para-uma-crianca-
de-5-anos-e-um-crime.html
(Foto: divulgação)
Tania Zagury
Limites sem trauma: construindo cidadãos
Para pais do século XXI: como, quando e por que
dizer “não” aos filhos.
Robert Langis
Saber dizer não às crianças
Soluções práticas para facilitar a missão dos pais
na lida cotidiana com os filhos.
23
1.3 Como nós, enquanto pais,
podemos orientar?
“Não adianta educar as crianças – elas imitam
tudo o que nós fazemos!”
Autor desconhecido
O exemplo vem dos pais
Os pais são os modelos para seus filhos. Mediante o que demonstram a eles, os
pais moldam seu comportamento, suas atitudes e sentimentos. Seu exemplo
molda seus filhos mais do que todas as outras medidas educacionais: por isso, o
exemplo tanto pode apoiar decisivamente o desenvolvimento saudável de seus
filhos quanto dificultá-lo (Saalfrank, 20064).
Por isso, é importante que justamente você, como pai ou mãe, não esteja cons-
tantemente absorto no uso do smartphone ou da Internet, tendo, consequente-
mente, cada vez menos tempo para seus filhos.
Quando estiver com seu filho, trate de dedicar toda a sua atenção a ele
(v. imagem). Nesse momento, um smartphone ou tablet perturba! Quanto
mais você falar com seu filho e também se comunicar de forma não verbal
com ele, melhor será o desenvolvimento de seu linguajar, de seu pensar e
sentir. Durante as refeições em comum à mesa, qualquer aparelho digital
deveria ser tabu para todos os membros da família.
Os pais podem facilmente ter uma ideia de seu próprio comportamento com as
mídias. Existem aplicativos para registrar e evidenciar o comportamento duran-
te o uso do smartphone, como por exemplo: SPACE – Rompa com o vício do tele-
fone (p/ Android) e SPACE – Break phone addiction (p/ IOS), ambos – e outros
similares – disponíveis nas respectivas lojas de aplicativos.
24
Os pais são companheiros e apoiadores CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
Seja não apenas um modelo a ser seguido. Interesse-se também pelo que seus
filhos estão fazendo diante da tela: por exemplo, pelos jogos com os quais eles
se ocupam. Dedique algum tempo a descobrir e experimentar junto com eles
as ofertas nas mídias. Então você poderá conversar sobre o que encontraram,
complementando e explicando o que seus filhos ainda não entendem.
Isto pode ter um efeito muito positivo na relação entre pais e filhos. Conversas
são oportunidades para oferecer às crianças e jovens suas próprias avaliações
sobre a qualidade e o conteúdo do que foi vivenciado.
Os adolescentes precisam de apoio. Os pais podem contribuir, por exemplo,
provendo uma compensação no mundo real (por exemplo, mediante atividades
conjuntas) ou discutindo questões básicas com eles: – Que importância, real-
mente, os smartphones & cia. têm na vida? Como seria uma vida sem a disponi-
bilidade de um smartphone ou tablet, ou se eles não fossem utilizados (constan-
temente)? O que faríamos então? Podemos tentar isso durante algum tempo?
25
Sugestões de leitura
Catherine Price
Celular: como dar um tempo
O plano de 30 dias para acabar com a ansiedade
e retomar a sua vida.
Alena Sofronova
7 Coisas que observei ao ficar
sem Internet por uma semana
Em https://incrivel.club/inspiracao-historias/7-coisas-que-
observei-ao-ficar-sem-internet-por-uma-semana-566010
Amanda Santoro
Minha experiência antropológica e surreal de ficar 29 dias sem celular
Em https://medium.com/@amandasantoro/minha-experiência-antropológica-
e-surreal-de-ficar-29-dias-sem-celular-4578fcfa894b
Cris Poli
Pais admiráveis educam pelo exemplo
A máxima “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”
não funciona quando o assunto é criação de filhos.
26
Os pais são administradores das mídias CAPÍTULO 1 POR QUE ESTE GUIA DE ORIENTAÇÃO?
Os pais deveriam estar informados acerca das diferentes possibilidades tecno-
lógicas dos aparelhos digitais (smartphones, tablets, roteadores, computadores
etc.). Ainda mais importante, porém, é a questão: será que esses aparelhos são
realmente adequados para crianças? Então, o que fazer? Se os aparelhos já esti-
verem sendo utilizados, é muito importante, entre outras coisas, considerar o
local onde guardá-los (nunca no quarto infantil), manter ativada a opção de
controle para pais ou os programas de proteção para jovens (v. Capítulo 6.5),
caso você pretenda evitar riscos para seu filho.
Atualmente é conhecido um grande número de riscos associados à utilização
das mídias digitais (v. Capítulos 2 e 7). Por isso, é necessário conversar com seus
filhos sobre esses riscos e sobre como evitá-los.
Para consultar as informações sobre as normas legais de proteção da infân-
cia e da juventude, consulte o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em
https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crianca-e-
do-adolescente-lei-8069-90. Seu artigo 5º diz o seguinte:
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de ne-
gligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, pu-
nido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.” Cabe, aqui, atentar aos termos “negligência” e
“omissão”, aplicáveis à permissão irrestrita para o uso das mídias digitais.
Os capítulos 7 e 8 apresentam outras disposições legais.
Foto
27
2 Proteger as crianças
das radiações
dos celulares
Desde o início!
O que se deveria considerar
seriamente neste sentido
29 CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
2.1 Efeitos biológicos das radiações
dos aparelhos celulares
Mais de 40 anos de intensa pesquisa demonstraram que mesmo cargas de
radiação abaixo dos valores-limites estão associadas a riscos consideráveis para
a saúde humana, bem como para a saúde dos animais e das plantas.
Danos para a saúde devido às radiações de aparelhos celulares
Os riscos para a saúde associados à exposição à radiação de aparelhos celulares
são frequentemente subestimados, ou até mesmo ignorados. Estudos científi-
cos demonstram, cada vez mais claramente, que especialmente uma exposição
contínua à radiação abaixo dos valores-limites, algo a que muitas pessoas estão
expostas devido ao constante aumento de utilização de aparelhos celulares (por
exemplo, wi-fi, bluetooth, UMTS, entre outros) é uma importante fonte de riscos
para a saúde. Em que medida esses riscos já se tornaram uma realidade é algo
já confirmado pelas estatísticas anuais dos seguros de saúde.5,6
Especialmente em crianças e jovens, os riscos comportamentais associa-
dos a smartphones & cia. ainda são reforçados negativamente pelos riscos
à saúde, derivados das radiações dos aparelhos celulares. Como resulta-
do, hoje em dia o desempenho das crianças na escola já está mostrando
sinais de diminuição.
30
Alertas em todo o mundo, e até da indústria de aparelhos celulares CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
Faz anos que os apelos internacionais de médicos, associações científicas, médi-
cas e ambientais, a Agência Europeia do Meio Ambiente, o Conselho da Europa,
o Parlamento Europeu e muitas outras instituições em todo o mundo alertam
para os riscos à saúde provocados pelas radiações de aparelhos celulares, e
exigem, por exemplo, uma redução dos níveis de radiação e enérgicas medidas
de proteção para crianças e jovens. Também o Departamento Federal de Prote-
ção Contra Radiações [Bundesamt für Strahlenschutz], na Alemanha, confirma
por meio de suas recomendações que um risco à saúde não pode ser excluído7:
• Prefira uma conexão com cabo, sempre que for possível renunciar a uma tec-
nologia sem fio.
• Evite a instalação de pontos de acesso a wi-fi na proximidade imediata de
locais onde pessoas permanecem constantemente, como por exemplo no
local de trabalho.
Entrementes, a própria indústria já vem emitindo alertas:
Todos os fabricantes de smartphones salientam, em suas instruções de se-
gurança, que os dispositivos terminais devem ser mantidos a uma distân-
cia mínima do corpo do usuário para que os valores-limites legais válidos
para as radiações de micro-ondas não sejam excedidos.
Por exemplo, no caso do smartphone Samsung Galaxy S10, o manual de instru-
ções recomenda uma distância de pelo menos 15 milímetros do corpo; tal qual
o do iPhone 10, sugere usar fones de ouvido e acessórios similares.
Destacamos aqui, em relação a qualquer marca ou modelo, especialmente a
necessidade de manter distância do abdome de mulheres grávidas (a carga de
radiação atinge o feto) e do abdome de rapazes (a radiação atinge os testículos).
O manual de instruções do roteador Speedport, usado pela Telekom alemã,
também contém o seguinte aviso de segurança: “As antenas integradas em seu
Speedport transmitem e recebem sinais radioelétricos, como por exemplo para
o funcionamento de seu wi-fi. Evite colocar seu Speedport nas imediações de
dormitórios, quartos de crianças e salas de estar, para manter a exposição à
radiação de campos eletromagnéticos o mais baixa possível.”
Em muitos países (França, Bélgica, Israel e Índia, entre outros) essas advertên-
cias já deram origem a várias orientações legais, destinadas à proteção das
crianças (v. iniciativas e links relacionados na pág. 40).
31
Efeitos de curto prazo
Em muitas crianças e adolescentes, os efeitos biológicos de curto prazo causa-
dos pela radiação de telefones celulares se evidenciam por:
• dor de cabeça (crescente e persistente), fadiga e exaustão, perturbações do
sono (dificuldades para adormecer);
• sensibilidade, irritabilidade, nervosismo, tendências depressivas;
• distúrbios de memória, distúrbios de concentração, tonturas, zumbidos nos
ouvidos;
• transtornos de aprendizagem e comportamento;
• distúrbios cardiovasculares (taquicardia), e às vezes também distúrbios audi-
tivos e visuais.
Os efeitos (denominados ‘síndrome de micro-ondas’) são comprovados por
numerosos estudos. Por exemplo, um estudo realizado em Munique, em 2008,
apurou que 9% dos menores que participaram – o equivalente a 1 milhão de
crianças e jovens na Alemanha – se sentem afetados pelas radiações dos tele-
fones celulares. Em 2016, um estudo da Seguradora de Saúde Empresarial
Verkehrsbau Union [Betriebskrankenkasse Verkehrsbau Union – BKK VBU] de
monstrou que quase 74% de todos os alunos da 7ª série sofrem regularmente
de dor de cabeça. Um metaestudo mais recente evidenciou que as dores de
cabeça aumentam significativamente com a duração ou a frequência do uso de
aparelhos celulares.10
Em muitos casos, os sintomas desaparecem após uma fase de recuperação
(pelo menos 2 horas sem exposição à radiação), mas muitas vezes apenas
quando a exposição à radiação é permanentemente interrompida.
32
Crianças têm uma necessidade maior de proteção, já que a radiação penetra CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
muito mais profundamente em suas cabeças do que nas dos adultos (v. figuras
abaixo9).
O cérebro infantil recebe uma carga até 3 vezes maior do que o cérebro de
um adulto, e os ossos até 10 vezes mais. Como o sistema nervoso e o sistema
imunitário das crianças ainda não estão totalmente desenvolvidos, esse desen-
volvimento pode ser facilmente perturbado.
Absorção da radiação na área da cabeça, de acordo com a idade
5 anos 10 anos adultos
Eleva-se especialmente o risco de distúrbios do comportamento. Isto foi con-
firmado, entre outros estudos, pelos resultados de um estudo da Organização
Mundial de Saúde (Divan et al.10) envolvendo 29 mil crianças. Essas crianças,
que foram expostas a radiações de aparelhos celulares (incluindo-se babás ele-
trônicas sem fio) enquanto ainda estavam no útero materno e/ou durante a
infância (até aos 7 anos de idade), desenvolveram, com frequência significativa-
mente maior, distúrbios de comportamento, entre outros o TDAH (Transtorno
do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Esta é uma clara indicação para as
causas do dramático aumento do número de crianças hiperativas e crianças
com problemas comportamentais em todo o mundo.
O risco de distúrbios comportamentais era nitidamente elevado (cerca de 80%)
quando, durante a gravidez, as mães usavam regularmente o telefone celular
ou ficavam nas proximidades de fontes de radiação, e quando seus filhos tele-
fonavam usando um aparelho celular antes dos 7 anos de idade. É que a radia-
ção penetra por alguns centímetros no corpo, podendo perturbar sensivelmen-
te o desenvolvimento do feto ou da criança.
33
Aumento do TDAH em % por grupo etário
Relativa alteração dos afetados pelo
diagnóstico de transtorno de atenção
e hiperatividade na respectiva idade.
Índice: 2006 = 100
9–11 até todos os
anos 19 anos grupos
mais velhos
Fonte: Relatório Médico BARMER GEK de 2013
Em 2011
Em 2006 472.000 meninos e
337.000 meninos e 149.000 meninas
105.000 meninas estavam afetados
estavam afetados
O Relatório Médico Barmer GEK de 20136 mostra que já há muito tempo o risco
de distúrbios comportamentais causados pela radiação de aparelhos celulares
tem afetado a infância. No espaço de 5 anos após a introdução do smartphone,
houve um dramático aumento de 42% de casos de TDAH em crianças e jovens
de até 19 anos de idade (v. gráfico acima). Além disso, há indicações de que o
risco de abortos espontâneos e deformidades aumentou.
34
Efeitos de longo prazo CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
Os efeitos biológicos de longo prazo consistem, entre outros, num maior risco
de câncer, em efeitos negativos sobre os espermatozoides e a fertilidade, bem
como em perturbações neurológicas. Hoje já se sabe que crianças e jovens que
começam a utilizar um telefone celular antes dos 20 anos de idade correm um
risco bem maior de desenvolver um tumor cerebral maligno mais tarde na vida.
Quanto mais nova é a criança, e quanto mais longo é o tempo em que ela usa um
telefone celular, tanto mais elevado é o risco (até 5 vezes maior) de ela desen-
volver um tumor (Environmental Working Group 2009, Hardell 2009, 201110).
Desde a introdução dos aparelhos celulares na Alemanha, em 1993, o núme-
ro de crianças (de até 15 anos de idade) que anualmente adoecem de câncer
aumenta continuamente (em aprox. 25% em 20 anos – Instituto Robert Koch,
2013). Em outros países, esse desenvolvimento se mostra ainda mais dramático.
Os adoecimentos por câncer em crianças e jovens com menos de 20 anos de
idade têm um período de latência muito mais curto (cerca de 15–20 anos) do
que em adultos, nos quais esse tempo pode estender-se por até 40 anos. Por-
tanto, o risco aumentado de crianças e jovens desenvolverem um câncer devido
à radiação de aparelhos celulares pode ter consequências fatais na fase media-
na de suas vidas.
Informações mais detalhadas sobre a radiação de celulares e seus efeitos
podem ser encontradas em: https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-
-e-no-ambiente/radiacoes/radiacoes-nao-ionizantes – https://www.ecycle.com.
br/6158-radiacao-do-celular-perigos-para-saude.html – https://sbbn.org.br/
radiacao-de-telefones-celulares-pode-causar-cancer – http://brmtbrasil.com/
artigo/radiacao-do-celular
35
2.2 Medidas preventivas e recomendações
Durante a gravidez • Utilize apenas roteadores que pos-
• Evite completamente usar seu celu- sam desligar o wi-fi. Evite o mais fre-
lar/smartphone ou outros dispositivos quentemente possível um wi-fi na resi-
móveis, como telefones DECT [Digital dência. Se necessário, ligue-o apenas
Enhanced Cordless Telecommunications para tarefas específicas e durante
– Telecomunicação dig ital sem fio pouco tempo. Não disponibilize seu
aprimorada] para linha fixa ou dispo- roteador para terceiros, pois ele emite
sitivos baseados em wi-fi. constantemente radiação eletromag-
nética!
• Se possível, substitua seu celular/
smartphone por um telefone com fio • Mantenha distância de fontes de
(se possível, com um auscultador de radiação como roteadores ou hotspots
baixa radiação eletromagnética, ba wi-fi, bem como de pessoas que este-
seado em cristais piezelétricos, encon- jam usando celulares / smartphones /
trável na Internet em sites de venda tablets etc., e, se for o caso, solicite-
internacional, buscando-se os termos -lhes alterarem seus aparelhos para o
piezotelefon, piezo-telefon, telefon pie- modo avião.
zo. Se não for possível evitar o uso do
celular/smartphone, ative-o somente
para comunicações imprescindíveis e
mantenha-o em modo avião (todas as
radiações ficam desativadas).
36
Após o parto • Nunca coloque um celular ligado no CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
• Evite, na medida do possível, usar o carrinho do bebê.
celular/smartphone nas proximidades
de seu bebê! Faça chamadas curtas e • Se for inevitável, mantenha o celu-
utilize o modo viva-voz. Desligue seu lar ou telefone DECT [sem fio] afasta-
celular/smartphone o mais frequente- do de outras pessoas, especialmente
mente possível. crianças.
• Não utilize telefones DECT [sem fio] • Informe seus vizinhos a esse respei-
e conexões via wi-fi. Use alternativas to, ou também os responsáveis pelos
livres de radiação, como telefones jardins de infância e escolas, para que
com fio, computadores e tablets com minimizem a exposição das crianças à
cabos. radiação eletromagnética.
• Como babá eletrônica, use apenas
aparelhos que atendam aos requi-
sitos biológico-ambientais, ou seja,
não utilize dispositivos com o padrão
DECT [sem fio].
37
Crianças, jovens e adultos
Em 2016 a Associação dos Médicos de Viena emitiu as seguintes recomenda-
ções, que também são apoiadas por muitas outras organizações. Vide em www.
aekwien.at – palavra de busca no site: Handyregeln. [Nos resultados, escolher a
versão em português: Plakat 10 Medizinische Handy-Regeln (Portugiesisch).]
• Regra básica: Telefonar o mínimo o tecido mamário, a função cardíaca e
possível e fazer ligações as mais bre- os pulmões). Quando o aparelho não
ves possíveis com celular/smartpho- estiver em uso, mantenha-o afastado
ne! Minimize sua exposição pessoal à do corpo, como por exemplo na bolsa
radiação! ou na mochila. Utilize capas de celular
com proteção contra radiação.
• Crianças menores de 8 anos não
deveriam usar celulares/smartphones • A distância é sua melhor amiga! –
ou telefones sem fio. Crianças entre 8 Se possível, nunca faça as chamadas
e 16 anos só deveriam usar celulares/ aproximando o celular/smartphone do
smartphones em caso de emergência. ouvido! Utilize a função viva-voz, ou
então fones de ouvido. No pior dos
• Em casa e no trabalho, você deve- casos, mantenha o aparelho o mais
ria fazer chamadas usando um tele- afastado possível da cabeça, ou utili-
fone fixo e surfar na Internet apenas ze capas para celulares com proteção
com conexão via cabo, pois o acesso à contra radiação.
Internet com um cabo LAN não emite
radiações, é rápido e seguro. Procure • Fique frequentemente offline e ative
sempre evitar telefones DECT [sem o modo avião sempre que possível.
fio], pontos de acesso wi-fi, pen-drives Por exemplo, para funções como ouvir
e roteadores domésticos LTE [Long música, fotografar, despertador, cal-
Term Evolution – Evolução a longo culadora ou jogos offline, nem sempre
prazo], em box ou cubo, que emitam é preciso uma ligação com a Internet!
radiação continuamente! Se a cone-
xão wi-fi for indispensável, desligue-a • Menos aplicativos significa menos ra
o mais frequentemente possível. Ela diação. Minimize o número de aplica-
significa uma sobrecarga para a saú- tivos e desative os serviços em segun-
de, e ao longo do tempo lhe será pre- do plano, geralmente desnecessários,
judicial. de seu smartphone. A desativação dos
‘serviços móveis’ ou do ‘modo rede
• Não leve o celular/smartphone liga- de dados’ transforma o smartphone
do junto ao corpo, nem no bolso da quase em um celular tipo ‘antigo’:
calça (pois isto influencia mais tarde a você ainda pode receber chamadas,
fertilidade), nem no bolso sobre o pei- mas evitará muitas radiações desne-
to (entre outras coisas, isto prejudica cessárias decorrentes do tráfego de
38
dados de segundo plano dos aplicati- • Ao comprar um celular, verifique CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
vos! Depois de reativar os aplicativos, na ficha técnica do modelo se o valor
você deveria sempre aguardar uns SAR é o mais baixo possível, qual é a
5 minutos antes de usar o aparelho capacidade OTG (On The Go) e se o
novamente e manter-se afastado do modelo tem conexão para uma ante-
smartphone, porque todos os aplica- na externa! A função OTG permite-lhe,
tivos recarregam simultaneamente por meio de um cabo USB OTG (bus-
dados faltantes, o que pode provocar que-o na Internet com a palavra-cha-
uma carga de radiação mais elevada. ve ‘adaptador de rede USB-OTG’), um
adaptador USB-Ethernet e um cabo
• Evite fazer chamadas com o telefo- de rede, trocar dados entre seu smart-
ne celular em locais com má recep- phone ou tablet com a Internet através
ção (subsolos, elevadores, ônibus, de seu roteador, e assim evitar o wi-fi!
trens etc.). Nessas situações o celular
aumenta a potência de transmissão.
Se a qualidade da recepção for fraca,
utilize um fone de ouvido ou, se possí-
vel, a função viva-voz!
39
Comportamento no veículo • Enquanto se dirige automóvel, vigo-
• Em veículos (automóvel, ônibus, ra uma absoluta proibição de enviar
trem), não utilizar aparelhos com radia- mensagens eletrônicas ou navegar na
ção ativa, e especialmente não fazer Internet, pois a distração provoca risco
chamadas telefônicas – pois sem uma pessoal e coloca em risco outras pes-
antena externa a radiação no veículo soas envolvidas no trânsito!
é maior. Além disso, a pessoa se dis-
trai e molesta outros passageiros no
transporte público!
Iniciativa de competência: A Iniciativa de Competência Para a Proteção do Ser
Humano, do Meio Ambiente e da Democracia [Kompetenzinitiative zum Schutz
von Mensch, Umwelt und Demokratie] é uma associação alemã formada por
cidadãos, cientistas, médicos e engenheiros – entre outros –, atuando no âmbito
nacional e internacional. Examina o status da investigação científica e edita-a
em livretos e séries, de forma compreensível ao público em geral. Vide https://
kompetenzinitiative.com/wp-content/uploads/2019/10/Abschlussbericht_engl.
pdf (relatório em inglês).
Diagnose-Funk: A Diagnose-Funk é uma organização independente, sem fins
lucrativos, para proteção do ambiente e do consumidor, com sede na Suíça e
na Alemanha. Ocupa-se com os problemas da utilização de telefones celula-
res, edita publicações informativas de ampla compreensão, fornece sínteses de
estudos e se engaja em prol de um abrangente esclarecimento da população.
Vide www.emfdata.org/en (base de dados em inglês).
Veja além disso, em português: https://www.pensamentoverde.com.br/meio-
-ambiente/danos-causados-poluicao-eletromagnetica-meio-ambiente – e ainda:
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/44375
40
Sugestões de leitura CAPÍTULO 2 PROTEGER AS CRIANÇAS DAS RADIAÇÕES DOS CELULARES
Organização Mundial de Saúde
Campos eletromagnéticos e saúde pública
https://www.who.int/peh-emf/publications/facts/fs322_
ELF_fields_portuguese.pdf
Sua dieta e saúde (site)
Ondas eletromagnéticas:
saiba como elas afetam sua saúde
https://suadietaesaude.com.br/ondas-eletromagneticas-
saiba-como-elas-afetam-a-sua-saude
41
3 A primeira infância
(0–3 anos)
Sem mídias com telas nem brinquedos
que emitem radiações!
43 CAPÍTULO 3 A PRIMEIRA INFÂNCIA (0–3 ANOS)
3.1 O que crianças pequenas necessitam
para seu desenvolvimento saudável?
Para toda a vida posterior, é decisivo que as crianças aprendam a ser criati-
vas e ter fantasia. Portanto, o ambiente real de uma criança deveria propor-
cionar uma variedade de estímulos que desafiassem a imaginação, pois é
desta que emana, na juventude, o pensamento autônomo lógico-abstrato.
Tudo o que poupa a criança de fazer um esforço interior para desenvolver suas
próprias imagens da fantasia deveria ser excluído de seu ambiente. Isso vale
especialmente para filmes e jogos eletrônicos, que não desafiam a vontade cria-
tiva da própria criança.
Para um desenvolvimento saudável, a criança precisa de um ambiente que a
estimule de diversas maneiras. Em primeiro lugar, e acima de tudo, o ambiente
deve incentivar a movimentação e desafiar a destreza dos movimentos de agar-
rar. O espaço vital infantil saudável é, sobretudo, um espaço para movimento,
um espaço que ajude a criança a desenvolver com a maior habilidade possível
sua motricidade grossa e fina.
Para poder desenvolver os órgãos sensoriais de maneira saudável, a criança
necessita experimentar diretamente o mundo real, analógico. Assim, é de gran-
de ajuda sair para a natureza o mais frequentemente possível justamente com
crianças pequenas, para que elas possam vivenciar intensamente as plantas e
os animais com suas transformações ao longo do ano e integrar isso em suas
brincadeiras.
44
A criança precisa ter, em sua proximidade, pessoas de referência fixas que A PRIMEIRA INFÂNCIA (0–3 ANOS)
falem bastante com ela – pessoas com quem ela possa conversar, pessoas que
lhe narrem contos de fadas, lendas e histórias. O importante, sobretudo, é que CAPÍTULO 3
a comunicação com a criança seja feita por pessoas reais. Ouvir histórias grava-
das por meio de aparelhos de áudio não faz sentido nessa idade.
Para o cultivo de um bom vínculo entre pais e filhos, é de muita ajuda estabele-
cer na rotina diária um horário fixo em que o pai ou a mãe façam algo junto com
a criança. Não importa tanto a duração desse momento, e sim a intensidade, a
qualidade da atividade conjunta. Um bom vínculo é a base segura para a criança
poder explorar ativamente seu ambiente.
O casal Tina (30 anos) e Bernardo (32 anos) relata o seguinte:
“Quando nosso caçula (6 meses) está acordado, isso
significa para nós um período sem telas. Nenhum
computador, nenhum smartphone ficam ligados, e nós
ainda cobrimos a televisão com um pano. Um bom
efeito colateral: os dois filhos maiores (5 e 8 anos)
assistem menos à tevê do que antes, valendo assim
o provérbio: “Longe dos olhos, longe da mente.” Eles
aprenderam muito bem a se ocuparem sozinhos e
não precisam de diversão permanente oferecida pelas
babás televisivas.” 32
45
6. Capacidade seletivaQuando os pais têm em mente os passos evolutivos essencialmente necessá-
rios durante o crescimento de seu filho, podem reconhecer e compreender
mais facilmente por que e quais limites são sensatos e necessários na utiliza-
ção das mídias digitais pelas crianças. Um aspecto fundamental é a “integra-
ção sensório-motora” conforme descrita neste capítulo. Ela constitui uma base
sólida e necessária para uma posterior autonomia responsável em relação às
mídias. As fases 2 a 6, até se alcançar essa autonomia responsável em relação às
mídias (ver figura abaixo), são desenvolvidas nas faixas etárias subsequentes.
Cada fase tem sua própria justificativa e não deve ser ignorada. Caso contrário,
o desenvolvimento de seu filho ficará consideravelmente ameaçado e poderá
sofrer danos.
5. Reflexão crítica
4. Capacidade receptiva
3. Capacidade produtiva
2. Capacidades comunicativas
1. Integração sensório-motora
As fases evolutivas da criança rumo à autonomia responsável
em relação às mídias (em Paula Bleckmann, Medienmündig11)
46
3.2 Nas crianças pequenas as mídias A PRIMEIRA INFÂNCIA (0–3 ANOS)
com telas atuam diferentemente
CAPÍTULO 3
Até para crianças bem pequenas há uma oferta crescente de brinquedos ele-
trônicos. Trata-se de brinquedos convencionais com um tablet integrado, ou
bonecas e bichinhos de pelúcia com smartphone ou babá eletrônica embutidos.
Os brinquedos eletrônicos têm a finalidade de condicionar
crianças pequenas para o mundo de amanhã
Essa crescente evolução no sentido de oferecer mídias com telas para crianças
(na mais tenra idade) está habilmente combinado com a mensagem capciosa
de que é importante oferecer mídias digitais às crianças e aos jovens o mais
cedo possível – já desde a primeira infância –, a fim de habituá-los oportuna-
mente às mídias digitais e prepará-los para o mundo digital.
Essa mensagem convidativa é cada vez mais aceita por muitos pais em todo o
mundo (na Alemanha12, são cerca de 35%): o tempo que crianças nos primeiros
anos de vida passam diante da tela de tablets e smartphones aumenta de forma
proporcionalmente rápida (nos EUA, até 90 minutos por dia entre crianças com
menos de 2 anos de idade). [No Brasil, 71% das crianças citam tablet ou celular
como seu brinquedo preferido. Fonte: Canal Gloob/Globosat, pesquisa 2019.] O
que significa isto para uma criança?
47
Por que as mídias com telas prejudicam crianças pequenas
Para os adultos, as mídias constituem uma janela para o mundo. Para as crian-
ças isto é diferente: quanto menor a criança, maior é o dano potencial. Quanto
mais prolongado o tempo diante da tela, mais intensos podem ser os prejuízos
para o desenvolvimento. Qual é a razão disso?
Para o amadurecimento e o crescimento do cérebro são necessárias experiên-
cias sensoriais variadas: ver, ouvir, degustar, cheirar, tatear e sentir, perceber
a ação da gravidade, o próprio movimento e muito mais. Um recém-nascido
precisa entre 6 e 8 anos para desenvolver amplamente seus próprios sentidos.
O uso precoce de mídias digitais interativas, com telas, oferece aos senti-
dos uma experiência sensorial apenas bidimensional – portanto, limitada
– sobre uma superfície lisa, sempre igual. Geralmente os comandos estão
associados a uma falta de experiência motora do corpo inteiro.
Para o desenvolvimento infantil, essa experiência sensorial unilateral e nada
exigente significa em grande parte tempo perdido, pois o prazer do movimento
não é provocado. Isso dificulta o desenvolvimento cerebral saudável. (Gertraud
Teuchert-Noodt, 2017 – veja sugestão de leitura na pág. 15.)
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