Assistir à tevê também é prejudicial para um bebê ou uma criança pequena: os A PRIMEIRA INFÂNCIA (0–3 ANOS)
conteúdos incompreensíveis, muitas vezes barulhentos e ofuscantes, sobrecar-
regam e podem provocar medo e dificuldades para dormir. Quando a televisão CAPÍTULO 3
é mantida ligada ‘apenas’ no plano de fundo, fica reduzido o intercâmbio verbal
com seu filho, e o contato visual também fica menos frequente. Conforme é
demonstrado por recentes resultados de estudos de pesquisadores da lingua-
gem, deixa-se de perceber os sutis sinais de comunicação da criança.
As mídias com telas excluem o contato direto com o mundo real e com
outras pessoas. Por isso, os pediatras aconselham: “Não exponham seu
filho pequeno à tela! Nem mesmo ‘passivamente’.” Até a fase final do jar-
dim de infância, as crianças aprendem tanto melhor a falar quanto mais
frequentemente têm um ambiente livre de mídias – seja sozinhas ou junto
com seus pais.
O tempo gasto com tevê, tablets e smartphones é um tempo ‘mudo’
Quando os pais estão telefonando ou entretidos num chat, na verdade estão
fisicamente presentes mas apenas cuidam ‘paralelamente’ da criança. O mes-
mo acontece quando se ocupam com um tablet ou computador. Pesquisadores
na área dos vínculos familiares alertam:
Um uso excessivo de tevê, computador, tablet e smartphone perturba o
contato entre pais e filhos. Isso pode trazer resultados prejudiciais para a
relação!
Para um vínculo seguro entre os pais e o filho, os primeiros meses e anos de
vida são especialmente importantes. Uma relação estável entre pais e filhos,
em que o contato direto com a criança não é partilhado com mídias, constitui
a base indispensável para uma vida saudável e feliz de seu filho – e um ganho
para os pais!
49
Sugestões de leitura
Bruna Stupiello
Como a radiação do celular pode prejudicar o bebê
Em https://bebemamae.com/bebe/saude-bebe/
como-r adiacao-do-celular-pode-prejudicar-o-bebe-
e-dicas-para-se-proteger
Tecmundo.com.br
Por que crianças não devem ter smartphones
e tablets antes dos 12 anos
https://www.tecmundo.com.br/celular/58445-criancas-
nao-devem-ter-smartphones-tablets-12-anos.htm
Claudia Mascarenhas Fernandes / Evelyn Eisenstein /
Eduardo Jorge Custódio da Silva
A criança de 0 a 3 anos e o mundo digital
Em https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/A_CRIANCA_
DE_0_A_3_ANOS_E_O_MUNDO_DIGITAL.pdf
50
3.3 Dicas para uma educação responsável
em relação às mídias na primeira infância
• Os momentos de intensa dedicação a • Na primeira infância, idealmente o A PRIMEIRA INFÂNCIA (0–3 ANOS)
seu filho, com muito contato físico e ambiente deveria estar livre de mídias
intimidade, são importantíssimos tan- tecnológicas. Na proximidade imediata
to para a criança como para a mãe. da criança não deveria estar nenhuma
Conceda-se esses tempos livres! tevê, nenhum computador e nenhum
smartphone.
• Períodos de calma são importan-
tes para o bebê, pois assim ele tem • Seu filho não precisa de brinquedos
momentos de folga para explorar seu com telas. A superfície lisa, sem dis
próprio corpo e investigar seu meio tinções, e o manuseio unilateral (esfre-
ambiente. gar e digitar) não estimulam suficiente-
mente o desenvolvimento do cérebro.
• As mães também precisam de perío Além disso, a radiação eletromagnéti-
dos de descanso. Por isso, acostume ca, frequentemente ass ociada a esses
seu filho desde cedo a se ocupar sozi- brinquedos, constitui uma séria amea
nho. Até uma criança pequena conse- ça para o desenvolvimento biológico
gue fazer isso; primeiro durante cinco de seu filho!
minutos, depois dez, depois quinze
minutos. O que no início talvez pareça • As ‘mídias’ mais salutares para a pri-
ser penoso representa, ao longo dos meira infância são: a fala humana diri-
anos, um ganho inestimável para os gida diretamente à criança; livros que
pais e a criança. um adulto possa ler, ou para serem
olhados em conjunto; e música tocada
ao vivo ou escutada junto.
CAPÍTULO 3
51
4 A idade pré-escolar
(4–6 anos)
Vivências do mundo real
e movimento – quanto
mais, melhor!
53 CAPÍTULO 4 A IDADE PRÉ-ESCOLAR (4–6 ANOS)
4.1 O que as crianças necessitam para
seu desenvolvimento saudável?
É importante que, por meio de experiências primárias variadas, crianças
vivenciem o que é real. Tudo isto junto promove o crescimento saudável
do cérebro e cria a base para uma aprendizagem bem-sucedida nos anos
posteriores.
• Para a estruturação dos sentidos e da integração sensório-motora, as crianças
precisam de experiências múltiplas e diretas, como fenômenos naturais,
vivências na paisagem, experiências com animais, com instrumentos etc.
• Para a formação da motricidade fina e da criatividade, é muito bom estimu-
lar para a pintura, o artesanato, a escultura etc. A repetida experiência da
criança no sentido de conseguir fazer muitas coisas sozinha contribui para
aumentar sua autoconfiança.
• O desenvolvimento cognitivo é promovido por muito movimento.
• Brincadeiras e jogos reais, em vez de virtuais, promovem a criatividade. A pos-
sibilidade de explorar ambientes ‘misteriosos’ (mas seguros) para brincar e
poder se envolver em brincadeiras criativas de representação de papéis, com
crianças da mesma idade, deveria ser oferecida regularmente.
• Um espaço controlável e uma repetição rítmica do decorrer do dia são medidas
que proporcionam segurança.
• O contato direto com outras pessoas estimula o desenvolvimento da linguagem.
• Interesse e dedicação por parte dos pais fortalece o vínculo entre pais e filho.
As crianças sentem a mensagem: “Você é importante para nós!”
• Muito contato físico com outras pessoas, especialmente com a família, estimu-
la todos os sentidos.
Foto
54
Sugestões de leitura CAPÍTULO 4 A IDADE PRÉ-ESCOLAR (4–6 ANOS)
Guilherme Blauth
Jardim das brincadeiras: uma estratégia lúdica
para a educação ecológica
Brinquedos feitos com materiais orgânicos representando
os quatro elementos da natureza.
E-book gratuito em https://criancaenatureza.org.br/acervo/
jardim-das-brincadeiras
Rita Prado Perim
No coração... a cozinha: onde tudo começou
Textos e receitas para a atividade culinária
com crianças.
Ana Lúcia Machado
A turma da floresta: uma brincadeira puxa outra
Num parque do bairro, um grupo de crianças inventa
muitas brincadeiras com o que a natureza lhes oferece.
Vide também o site www.educandotudomuda.com.br
Catherine L’Ecuyer
Educar na curiosidade: a criança como
protagonista da sua educação
Como respeitar o desenvolvimento natural infantil
mediante o despertar da curiosidade,
do instigar para o aprendizado.
Marina Pita
Brinquedos conectados e os riscos à infância
A invasão da chamada ‘Internet das coisas’
(IoT – Internet of Things) na privacidade
das crianças e das famílias.
Em https://politics.org.br/printpdf/296
55
4.2 É assim que as mídias com telas
atuam na idade pré-escolar
Todas as mídias com telas, como tevê, computador, smartphone, Game Boy etc.,
atingem apenas os olhos e ouvidos. Os outros sentidos praticamente não são
estimulados. Isto dificulta o desenvolvimento da motricidade fina, e sobretudo a
integração sensório-motora (a combinação das experiências sensoriais).
O consumo prolongado ou frequente de mídias com tela substitui o tempo que
a criança pode passar com outras pessoas, e restringe o tempo de contato dire-
to com o mundo real, analógico.
As mídias com telas reduzem o intercâmbio verbal com outras pessoas, e a
fantasia infantil se atrofia devido a imagens estranhas. No início, elas prendem
crianças inquietas diante da tela, mas depois a agitação ainda aumenta.
O tempo diante de uma tela reduz o raio de ação dos movimentos das
crianças e promove um déficit de motricidade. Por isso, sobrepeso infan-
til, danos posturais e miopia, entre outros, não são raridade. “Segundo o
estudo alemão BLIKKK mais atualizado, 70% das crianças em idade pré-
escolar usam o smartphone dos pais durante mais de meia hora por dia. O
resultado são perturbações do desenvolvimento da fala e de concentra-
ção, hiperatividade corporal, inquietação e até mesmo um comportamen-
to agressivo.” 1,13
56
Portanto: limite o tempo que as crianças passam em frente a telas. Isto CAPÍTULO 4 A IDADE PRÉ-ESCOLAR (4–6 ANOS)
vale para a tevê e computadores de todo o tipo, como tablets, smartphone,
Game Boy etc.
4.3 Dicas para uma educação responsável
em relação às mídias na época pré-escolar
Para lidar de maneira adequada, competente e criativa com as possibilidades
das mídias digitais, são necessárias capacidades mentais, não técnicas, a serem
predispostas na infância. Por este motivo, na pré-escola a prioridade deve ser
o desenvolvimento da capacidade de falar e da criatividade. Por isso são reco-
mendáveis a contação de histórias, os livros infantis e – com a devida modera-
ção – as mídias audíveis. Estabelecer um horário regular para ler para a criança,
ou a ‘história de boa noite’ contada livremente, propiciam uma alegria comum e
dão segurança à criança. Além disso, essa atividade também promove a ulterior
prontidão para a leitura.
57
• Nada de aparelhos com telas (tevê, • Cuidado com a publicidade! Os
computador, tablet etc.) no quarto das DVDs são preferíveis à tevê (pois não
crianças! contêm publicidade e as sessões são
curtas). Assim você evita muita birra
• Assistir à tevê ou a filmes deveria desgastante (“Mãe, compra isto pra
limitar-se a 10 ou 20 minutos por dia, mim!”).
mas não todos os dias, e a meia hora
uma vez por semana. • Se possível, incluir os avós ”no mes-
mo barco”! Com sua ajuda, as regras
• Caso seu filho queira ver um filme estabelecidas pelos pais podem ser
infantil, assista ao filme junto com ele. praticadas sem ou com menos estres-
Desta maneira se tem, por um lado, se. Combinações feitas com os pais de
um passatempo conjunto, e por outro crianças amigas também podem ser
lado a criança pode compartilhar ime- muito úteis.
diatamente suas questões e vivências
com você.
58
Nádia, uma mãe solteira (35 anos), contou o seguinte a respeito de seus filhos CAPÍTULO 4 A IDADE PRÉ-ESCOLAR (4–6 ANOS)
Lucas (10 anos) e Joana (5 anos):
“Com o Lucas eu introduzi a tevê como meio de
coerção: ‘Se você não arrumar seu quarto, não vai
ver seu programinha infantil!’ Isso se degenerou
totalmente. Chegou um momento em que ele não fazia
mais nada sem a ameaça de ‘privação do programa’.
Para mim, isso resultava em mais estresse do que
alívio. Foi difícil sair dessa situação, mas conseguimos.
Com a Joana, desde o início tratei de não deixar as
coisas chegarem a esse ponto.” 32
59
5 Os primeiros anos
da vida escolar
(6–9 anos)
Acompanhar e limitar o uso
de mídias com telas! E, sempre
que possível, ainda evitar!
61 CAPÍTULO 5 OS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ESCOLAR (6–9 ANOS)
5.1 As etapas do desenvolvimento durante
os primeiros anos do ensino fundamental
Saber ler e escrever é um pré-requisito para o uso das novas mídias. Se es-
pecializarmos as crianças cedo demais na aquisição de conhecimento para
usar computadores, seguindo uma suposta pretensão de modernidade,
acabaremos por torná-las incompetentes no uso das mídias. Os computa-
dores não substituíram os livros, e sim foram adicionados como comple-
mentação.
Um ponto decisivo no desenvolvimento da criança consiste na aquisição de com-
petências de natureza cultural. Agora ela sabe andar de bicicleta ou skate, está
aprendendo a nadar, compreende como usar ferramentas de forma sensata,
está aprendendo a dominar um instrumento musical e, sobretudo, a escrever,
ler e calcular. Portanto, as crianças têm mais proveito quando recebem apoio
na aprendizagem da leitura – em vez de no consumo de mídias –, como por
exemplo ao poderem conquistar, juntamente com a mãe ou o pai, o universo da
literatura infantil.
62
O círculo das relações infantis alarga-se para além da família. Especialmente as CAPÍTULO 5 OS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ESCOLAR (6–9 ANOS)
amizades com crianças da mesma idade tornam-se muito importantes. Nessas
relações surgem muitas vezes conflitos, e então as crianças precisam aprender
a compreender os outros, a ter consideração e respeito e assim por diante.
Muito importante, nesse contexto, é que os adultos sejam vivenciados como
pessoas dignas de confiança e possam ser exemplo de como lidar com contra-
riedades, raiva ou agressão.
A criança ainda não consegue avaliar com clareza suas capacidades, e por isso
se deve protegê-la de grandes erros. Mas atenção: superproteção prejudica a
autoconsciência. Erros e fracassos são uma parte necessária da vida e da apren-
dizagem. Quem, apesar dos obstáculos, consegue seguir adiante e tem sucesso,
adquire autoconfiança e aprende a se autoavaliar corretamente.
5.2 Psicólogos e pediatras descrevem
as necessidades básicas das crianças
As seguintes necessidades básicas das crianças, cujo cumprimento contribui
muitíssimo para seu desenvolvimento saudável, foram formuladas por pedia-
tras, com base em suas próprias observações. As mais importantes são34:
• Amor confiável e proteção
As crianças desejam um relacionamento estável, confiável e amoroso com seus
pais e seu entorno social. Isso inclui também confiabilidade e clareza no trans-
correr da vida diária.
• Elogio e reconhecimento
Especialmente no cotidiano escolar, as crianças precisam de um sentimento
básico positivo que reforce sua autoconfiança.
• Novas vivências adequadas ao desenvolvimento
As crianças são curiosas – querem descobrir o mundo, adquirir novas expe-
riências, pensamentos, imagens, sentimentos e, sobretudo, novas habilidades
motoras. Ao longo do seu crescimento elas precisam dominar uma série de
passos evolutivos, e para conseguir isso necessitam de experiências bem espe-
cíficas. Por exemplo:
63
Autonomia e responsabilidade
Em cada criança atua uma individualidade independente que quer se desen-
volver. Para isso ela busca e necessita de campos de exercitação onde possa
experimentar e praticar os primeiros passos para assumir responsabilidade
autônoma.
Limites e estruturas
Para o desenvolvimento da vivência saudável de sua identidade, as crianças
precisam de regras e limites claros e sensatos, os quais, pela vivência do
vínculo com seus educadores, elas possam respeitar.
• Integridade corpórea e segurança
É convicção geral e óbvia que essa necessidade básica das crianças é respeitada.
Entretanto, ainda se nota repetidamente o quanto essa necessidade básica é
menosprezada pelo mundo afora.
5.3 Dicas para uma educação responsável
em relação às mídias nos primeiros anos
do ensino fundamental
Estimule seu filho a cultivar amizades, praticar esportes e aprender a tocar
um instrumento musical! Parece surpreendente, mas é a pura verdade:
esta é a melhor prevenção contra o vício em jogos eletrônicos, o assédio
e o bullying virtuais, os conteúdos nocivos para crianças e as extorsões de
dinheiro na Internet. Uma firme ancoragem na vida, um sucesso real e um
reconhecimento autêntico protegem da busca de substituições ‘baratas’
no mundo virtual. Sempre que possível, evite o tempo em frente às telas.
• NADA de aparelhos com telas no • Claros limites de tempo: de 30 até
quarto infantil. Crianças que possuem no máximo 45 minutos por dia. No
seu próprio televisor passam diaria- entanto, seu filho não deveria ficar em
mente cerca de uma hora a mais em frente a uma tela (tevê, tablet, compu-
frente à tela do que crianças sem apa- tador) todos os dias; no máximo, cin-
relho próprio. co horas por semana (vide págs. 81 e
seguintes). É que um tempo superior
a cinco horas semanais prejudica as
habilidades de leitura e cálculo.
64
• Se possível, NADA do uso de compu- • Crianças entre 6 e 9 anos só deve- CAPÍTULO 5 OS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ESCOLAR (6–9 ANOS)
tador ou Internet. Caso isto não fun- riam movimentar-se – se é que devem
cione e seu filho venha a utilizar o com- mesmo – em espaços seguros de na
putador ou a Internet, que isso ocorra vegação, e não surfar, por exemplo,
o máximo possível com o acompanha- no Youtube, pois o portal Youtube
mento de adultos. Converse com seu também contém filmes e propagan-
filho sobre os conteúdos e o que foi das não apropriados para elas. Para
vivenciado! Desta forma você pode verificar uma lista de recomendações
favorecer a autonomia responsável de aplicativos para controle por parte
de seu filho na utilização das mídias! dos pais, veja, por exemplo, em www.
findmykids.org/blog/pt.br, o item ‘Os
• Caso nem sempre seja possível melhores aplicativos de controle paren-
acompanhar seus filhos durante a tal 2020’; outros aplicativos não lista-
utilização do computador, configure dos ali são, por exemplo, o FamiSafe
no computador, laptop ou tablet uma (https://famisafe.wondershare.com/br),
conta de usuário separada para eles, o Kaspersky Safe Kids (www.kaspersky.
com direitos limitados de uso (na con- com.br/safe-kids), o AppGuardian (www.
figuração do sistema, em ‘contas de appguardian.com.br) e muitos outros
usuários’). disponíveis. Provedores de internet e
telefonia celular, como a NET Claro, a
• Em seguida, ative o software de limite Vivo e a Tim, também oferecem recur-
de tempo (por dia da semana ou por sos de proteção para navegação segu-
semana completa) e instale o softwa- ra, os quais também estão disponíveis
re de controle parental (veja abaixo e para smartphones e tablets! Entretanto,
também o Capítulo 6.5). cuide para que os aparelhos estejam
conectados à Internet por cabo, e não
por wi-fi (vide pág. 39).
65
• Para crianças em geral, existem • Avaliações de aplicativos para crian-
alguns motores de busca específicos. ças e jovens são encontráveis em
Pode-se utilizar, por exemplo, o Safe vários sites, mas é importante obser-
Search Kids (www.safesearchkids.com), var que, quando realizadas pelos
em inglês porém efetivo para busca e próprios desenvolvedores, não são
resultados em português; e também totalmente neutras. É preciso exerci-
o Kiddle (www.kiddle.co), criado espe- tar o bom senso e a objetividade para
cialmente para crianças, oferecendo pesquisar com clareza.
um espaço de navegação restrito,
sem conteúdos inadequados, porém • Recomendações confiáveis – e de
construído em inglês, reduzindo bas- acordo com a idade da criança – po
tante os resultados em português. dem ser encontradas, por exemplo,
De qualquer modo, configure algum em www.porvir.org (buscar o item
motor de busca para crianças como ‘Aplicativos infantis devem ser usados
página inicial de seu navegador! por pais e filhos’). O site do Porvir é
voltado para inovações em educação.
• Proteja o acesso às lojas de aplicati-
vos por meio de uma senha, para que • Para conhecer a classificação indica-
seu filho não possa baixar aplicativos tiva (faixas etárias) para filmes, séries,
por conta própria. Sempre baixe você novelas, jogos eletrônicos e RPG, bem
mesmo os aplicativos, e experimente- como as recomendações e a legisla-
-os antes que seu filho brinque sozi- ção brasileira a respeito, consulte, no
nho com eles. Verifique se as autori- site do Ministério da Justiça, a área
zações exigidas pelo aplicativo vão www.justica.gov.br/seus-direitos/
espionar sua esfera particular – neste classificacao.
caso, não o instale de modo algum!
Desative sempre as atualizações auto- • A classificação internacional de
máticas, para poder verificar possíveis jogos eletrônicos segundo a idade
custos e novas autorizações antes de encontra-se no site da Coalizão Inter-
uma atualização. nacional de Classificação Etária (IARC
– International Age Rating Coalition):
www.globalratings.com. Ao acessar,
escolha o idioma de sua preferência.
66
• Nas classes escolares iniciais, lições • Na idade do ensino fundamental 1, CAPÍTULO 5 OS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ESCOLAR (6–9 ANOS)
de casa feitas em computador deve- nada de celular ou smartphone pró-
riam ser uma grande exceção. Caso prio! Caso seja necessário, que esteja
isso seja inevitável, exija calmamente restrito às funções de telefone e SMS
da escola a configuração de um am (veja o Capítulo 6.5)! O acesso à Inter-
biente de mídia supervisionado. A regra net (por exemplo, com tarifa fixa) não
fundamental é: nenhum uso de com- faz sentido inicialmente, devido aos
putador e Internet sem software de riscos.
proteção ou sem supervisão por parte
de adultos.
O casal Tobias (38 anos) e Maria (32 anos) relatam o seguinte:
“Quando Jonas começou a ter problemas para
aprender a ler, todos recomendaram: mais leituras em
voz alta, menos televisão, menos consoles de jogos e
DVDs. Agora Jonas só pode ficar diante da tela no fim
de semana. O esperado protesto não aconteceu! Bem,
as primeiras semanas foram realmente difíceis; havia
muito tédio e reclamação, mas graças às regras claras
o clima agora está bem menos tenso. E Jonas já lê
muito melhor.” 32
67
6 Da infância
à adolescência
(10–16 anos)
A caminho da
autonomia responsável
em relação às mídias
68
69 CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
6.1 O que os adolescentes necessitam
para seu desenvolvimento saudável?
A puberdade traz consigo grandes mudanças corporais e anímicas. As oscila-
ções de humor podem fazer parte da vida cotidiana. A vivência infantil desli-
ga-se de sua habitual proteção social e procura arraigar-se por si mesma no
mundo. Trata-se de um processo longo, que se estende por muitos anos. Nele
os jovens têm de dominar uma série de passos evolutivos.
Formação e estruturação de uma identidade
Talvez a tarefa mais importante seja formar e estruturar uma identidade pró-
pria. Isto inclui o desenvolvimento de uma relação positiva não só com as trans-
formações do próprio corpo, mas também com os novos irritantes sentimentos
que surgem. Acima de tudo, os jovens precisam saber responder por si pró-
prios, e de forma satisfatória, à pergunta “Quem sou eu?”. Assim como cada
criança pequena teve de aprender a andar de forma ereta, o adolescente tem
agora de encontrar na esfera da alma seu próprio ponto de vista e aprender a
reafirmá-lo na vida.
Estabelecimento de relações sociais
Outro passo importante no desenvolvimento do jovem consiste em estabele-
cer relações sociais e assumir as consequentes responsabilidades. As amizades
com jovens da mesma idade ganham cada vez mais importância.
Que sentido quero dar à minha vida?
Uma terceira tarefa no desenvolvimento dos jovens reside na questão prática
do que eles pretendem alcançar na vida, qual formação ambicionam, e, além
disso, como realizar as próprias motivações existenciais. “Qual é a motivação da
minha vida e o que eu preciso fazer para realizá-la?” – é assim que se poderia
formular essa questão fundamental da adolescência, que muitas vezes conti-
nua viva bem além dos primeiros anos da vida adulta.
Durante a adolescência, muitas vezes os jovens parecem mais maduros do
que realmente são! É especialmente a sexualidade prematura que o mun-
do das mídias e a propaganda intensificam ainda mais. Assim, é tanto mais
importante criar compensações. Trata-se de uma tarefa nada fácil para os
pais: admitir a medida saudável de independência, mas também manter a
necessária responsabilidade.
70
6.2 O significado das mídias com telas CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
Entre os 10 e os 16 anos de idade, a relação dos jovens com as mídias se modi-
fica. Eles ficam fascinados pelo mundo digital – o smartphone, o computador e a
Internet se tornam cada vez mais importantes para eles:
• Com 12 anos, aproximadamente três em cada quatro jovens estão navegan-
do sozinhos na Internet.
• Eles se envolvem cada vez mais em redes sociais (Facebook, Instagram) e
utilizam intensamente a comunicação digital (WhatsApp, entre outros).
• Agora o divertimento é buscado principalmente na Internet (jogos, filmes,
música).
Acontece que...
Crianças e jovens em desenvolvimento ainda não dispõem da maturidade
para julgar e nem da experiência de vida dos adultos. Eles ainda não estão
em condições de reconhecer e compreender métodos de comercialização
astuciosos ou textos influenciados por ideologias.
A concepção de que as crianças, enquanto “digitais natos”, saberiam lidar
melhor do que os adultos com a Internet, é errônea. Ela não reconhece o fato
importante de que as crianças, apesar de todo o conhecimento dos comandos,
não têm a capacidade de avaliar objetivamente os prós e contras das ofertas
na Internet. As recomendações para as faixas etárias (vide págs. 66 e 121) con-
tinuam sendo importantes, mas geralmente são ignoradas. Os jovens têm de
aprender a se proteger do potencial aliciante e viciador das ofertas nas mídias.
Portanto, equipar cada jovem com seu próprio aparelho acarreta problemas!
(Veja o Capítulo 7.)
71
O portal de Internet www.safekids.co.uk combinou na fórmula ‘CCCC’ (Conteú
do-Comércio-Contato-Cultura) os perigos resultantes para crianças e jovens:
• Conteúdos que colocam os jovens em risco: pornografia, fóruns de distúrbios
alimentares, exposição de violência, vídeos de mau gosto, extremismos polí-
ticos de direita ou esquerda, satanismo etc.
• Comércio: publicidade, marketing agressivo, spam, páginas de pôquer, ofer-
tas eróticas etc.
• Contato: falsos contatos, abuso sexual verbal por pedófilos, abuso real por
meio de contatos físicos induzidos etc.
• Cultura: assédio moral, download de arquivos de música, de jogos e de filmes
distribuídos ilegalmente, violação de direitos autorais etc.
Assim, para as idades entre 10 e 13 anos os autores recomendam:
• Não ter conta própria no Facebook, Instagram, WhatsApp ou outros serviços
de informação. (De acordo com as normais atuais do Facebook e do Insta-
gram, uma conta só pode ser aberta a partir dos 13 anos de idade. Veja https://
pt-br.facebook.com/legal/terms/update, item 3.1; https://help.instagram.
com/581066165581870, ‘Seus compromissos’; e https://www.whatsapp.com/
legal/?lang=pt_br#terms-of-service, ‘Termos de serviço’ > ‘Idade’). Na União
Europeia, caso o jovem tenha menos de 16 anos os pais devem dar seu con-
sentimento para ele abrir uma conta, e então assumem a obrigação legal de
supervisionar e controlar as atividades digitais do filho; já a nova Lei Geral
de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil (veja o Capítulo 8.5) prevê somente o
controle parental quanto ao uso de dados infantojuvenis por empresas (Lei
13.709, Seção III, Art. 14).
• Nenhum dispositivo móvel próprio (smartphone e tablet, entre outros).
• Nenhum aparelho próprio com tela no quarto infantil.
72
Sugestões de leitura CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
WikiHow
Como sobreviver sem um celular
https://pt.wikihow.com/Sobreviver-sem-um-Celular
Victor C. Strasburger / Barbara J. Wilson / Amy B. Jordan
Crianças, adolescentes e a mídia
O impacto das mídias no comportamento
de crianças e jovens.
Dra. Elizabeth Kilbey
Como criar filhos na era digital
Conselhos acessíveis e práticos sobre como
‘desconectar’ seu filho do dispositivo eletrônico.
Sesi-SP
Cozinha é lugar de criança
Conceitos básicos para a iniciação de crianças
e adolescentes na arte culinária.
73
6.3 Dicas para um amadurecimento
saudável na utilização de mídias
Nessa idade, crianças/jovens precisam de uma dose saudável de liberda-
de para agirem de forma independente, mas também regras claras. Não
estabeleça proibições rigorosas, e sim invista tempo em dar explicações;
não espione seus filhos. Apoie interesses próprios (não relacionados às mí-
dias); com isto você produz contrapesos ao consumo prematuro de mídias.
• Uma boa dica para famílias com computador ou smartphone de seu
filhos adolescentes: um computador filho (não antes dos 12 anos de idade,
com Internet comunitário instalado, porém o melhor é mais tarde – retar-
por exemplo, na sala. É verdade que dar o quanto possível), estabeleça
isto exige mais negociações a respeito por escrito os limites de tempo (por
de quando e quem pode usar o apa- exemplo, sete horas por semana) no
relho, mas mantém o controle sobre contexto de um ‘Contrato para uso
períodos de uso e conteúdos. de mídias’ (uma sugestão para encon-
trar modelos é digitar a palavra-chave
• Se, no entanto, seu filho utiliza sem “contrato de uso de mídias” nos moto-
supervisão o computador com Inter- res de busca na internet).
net, torna-se imprescindível a insta-
lação de um software para limitação • Além disso, você precisa ponderar
de tempo e filtragem de acesso (veja o e estabelecer acordos sobre as con-
Capítulo 6.5). Caso a conexão com a sequências no caso de as regras ou o
Internet seja feita por um roteador, os contrato não serem respeitados! Deve
limites de tempo também podem ser ficar bem claro, para seus filhos, quais
definidos por meio dele. Veja como são as penalidades aplicáveis em caso
fazer isso, por exemplo, em https:// de transgressão. Seja consequente na
famisafe.wondershare.com/br/ aplicação das medidas. Vale a pena
parental-control/parental-controls- enfrentar com serenidade os confli-
router.html tos, principalmente para evitar estres-
se e riscos de radiação e de vício.
• Instale também no smartphone um
software de limitação de funções e de • A recomendação básica é a seguin-
tempo (vide págs. 65 e 83). te: os aparelhos móveis (smartphone,
tablet) e a Internet só devem ser usados
• Assim que surgir a possibilidade com limite de tempo, minimizando-se a
da utilização da Internet no próprio radiação (veja o Capítulo 2.2).
74
• Por meio de filmes e softwares edu- ram ações sujeitas a penalidades le CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
cativos bem escolhidos e dosados, as gais estão se comportando com extre-
crianças podem receber suporte na ma irresponsabilidade perante seus
aprendizagem (veja o Capítulo 6.4). filhos.
• Esclareça seus filhos sobre os peri- • Durante a noite, os smartphones de
gos e as legislações existentes – pois vem ser mantidos fora do quarto dos
muitas vezes as crianças e os jovens filhos.
não têm consciência de eventuais
infrações cometidas ao lidarem com • O amadurecimento rumo à autono-
suas próprias fotos ou fotos alheias e mia responsável em relação às mídias,
com áudios (veja o Capítulo 8). ou seja, rumo ao uso autodetermina-
do das mídias, leva tempo.
• Explique o que crianças e jovens
não podem fazer. Adultos que tole-
Age com autonomia responsável em relação às mídias quem consegue re-
conhecer, avaliar as vantagens e riscos das mídias recentes – especialmen-
te a tentação do consumo contínuo, os riscos de vício, as noites insones,
a perda de privacidade e, consequentemente, os possíveis perigos de ma-
nipulação, bem como os riscos decorrentes da radiação – e decidir sobre a
maneira e a medida do uso das mídias. Com isso, a autonomia responsável
em relação a elas também pode significar os jovens optarem por alterna-
tivas não midiáticas – que os protejam de muitos riscos – e não utilizarem,
por exemplo, o smartphone.
75
Sugestões de leitura
David Buckingham
Crescer na era das mídias eletrônicas
Uma análise sensata entre o pânico opressivo e
o otimismo exagerado diante da ‘geração midiática’.
Juliana Abrusio
Educação digital
Recomendações sobre o uso ético, seguro e saudável
da Internet em todas as idades e profissões.
Site da Internet:
E.S.S.E. Mundo Digital – Ética, Segurança, Saúde e Educação
www.essemundodigital.com.br
Thayse de Oliveira Silva / Lebiam Tamar Gomes Silva
Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração
de adolescentes conectados às tecnologias digitais
Download em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v34n103/09.pdf
76
Cristiano Nabuco de Abreu / Evelyn Eisenstein / CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
Susana Graciela Bruno Estefenon
Vivendo esse mundo digital: impactos na saúde,
na educação e nos comportamentos sociais
Coletânea reunindo opiniões de profissionais
de diversas áreas.
José Marques de Melo / Sandra de Fátima Pereira Tosta
Mídia & Educação
Conceitos para uma mídia educativa e
uma construção da autonomia e
da consciência crítica no educando.
Valdemar W. Setzer
Os meios eletrônicos e a educação, no lar e na escola:
uma síntese de problemas e recomendações
Em www.ime.usp.br/~vwsetzer/meios-educacao-sintese.pdf
77
6.4 Dicas para uma aprendizagem
duradoura com novas mídias
Um computador próprio no quarto da criança ou do adolescente?
Quanto mais aparelhos com telas se encontram no quarto próprio, tanto
mais tempo as crianças e adolescentes os utilizam. Além disso, caso pos-
sua seu próprio aparelho, a criança ou adolescente acessará com muito
mais frequência filmes e jogos eletrônicos inadequados (a partir de 16/18
anos). Portanto: nada de aparelhos com telas nos quartos dos filhos!
Minutos de tevê Nenhum Equipamento
por dia escolar aparelho completo
11220 Meninos Meninas
990
6600
3300
0
Isto é mais fácil de dizer do que fazer. Quem ainda não ouviu: “Mas mamãe,
papai, todas as outras crianças [ou jovens] têm isso!” O que é que pode ajudar
os pais a, mesmo assim, dizer “não” de maneira calma e bem fundamentada?
A certeza de que deste modo estarão fazendo, a longo prazo, um grande favor
a seu filho. Eles o estarão protegendo de muitos perigos nas mídias: violência,
pornografia, bullying, dependência; e a criança terá mais tempo para o que, no
fundo, realmente quer: “brincar lá fora” e “se encontrar com amigos”. De acordo
com sondagens realizadas entre crianças do ensino fundamental 1 [Grundschu-
le, na Alemanha], estas ainda são suas atividades de lazer favoritas.
E se acaso crianças maiores precisarem trabalhar com um computador e Inter-
net para tarefas escolares? Ora, para isso elas não necessitam de um aparelho
próprio. Que compartilhem o ‘computador da casa’ e o desliguem quando a
tarefa estiver terminada.
78
Acaso o computador, a tevê, o celular & cia. são úteis para a aprendizagem? CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
Por um lado: A pesquisa mostra que, no caso de crianças mais velhas e de adultos, o
emprego bem dosado das mídias digitais pode dar suporte à aprendizagem. Exem-
plos: um curso digital de língua estrangeira para atualizar os conhecimentos;
um programa de treinamento para disléxicos; um filme sobre peixes oceâni-
cos de profundidade. Contudo, para um relatório geográfico sobre a Tailândia,
a ‘enciclopédia de papel’ é bem mais recomendável. Por quê? Porque, ao se
inserir esse conceito no campo de busca, o Google e outros motores de busca
conduzem muito rapidamente à página de um hotel para encontros sexuais.
Por outro lado: Quanto mais tempo crianças e jovens ficam em frente a uma tela,
pior é seu desempenho escolar. Cientistas explicam essa relação negativa princi-
palmente do seguinte modo: para conseguirem resolver problemas e aprender
de modo bem-sucedido e autônomo, as crianças necessitam ter vivências da
vida real. A tevê, o computador, o celular & cia. são como que ladrões de tempo,
e excluem o aprendizado feito com todos os sentidos. Mas também a motivação
sofre: quando alguém está acostumado demais a videoclipes rápidos, coloridos e
barulhentos, em algum momento um livro escolar se torna aborrecido e penoso.
Conclusão:
Para uma aprendizagem duradoura, as crianças precisam de apoio dos pais
sem pressão sobre desempenho; de um bom convívio na classe; de professores
que convençam, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal.
Importante, contudo, também é a proteção contra excesso de tela. Quan-
to menor é a criança, quanto mais prolongados são os períodos de utiliza-
ção e quanto mais violento é o conteúdo, maior é o dano provocado pelas
mídias com telas. Quanto melhor é feita a introdução às mídias de acordo
com a faixa etária, tanto mais a tevê, o computador, o celular & cia. podem
contribuir para a reflexão, a pesquisa e a aprendizagem.
79
Sugestões de leitura
Maryanne Wolf
O cérebro no mundo digital:
os desafios da leitura na nossa era
A neurocientista Maryanne Wolf mostra, neste livro,
os efeitos da leitura nas mídias digitais para o
cérebro leitor, principalmente dos jovens.
Lilian Bacich / Adolfo Tanzi Neto /
Fernando de Mello Trevisani (orgs.)
Ensino híbrido: personalização e
tecnologia na educação
As possibilidades de integração das
tecnologias digitais ao currículo escolar.
Paula Sibilia
Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão
Análise da evolução dos métodos pedagógicos
ao longo da história para discutir os desafios da
educação atual – informática, digital e interativa.
80
6.5 Softwares de segurança CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
e suporte técnico
De maneira geral, vale o seguinte:
• A tecnologia pode(!), dentro de certos limites, ajudar a proteger crianças
menores de conteúdos nocivos, extorsões e contatos indesejados na rede.
• Alguns mecanismos de proteção estão predefinidos em smartphones & cia., e
só precisam ser ativados. Outros podem ser simplesmente baixados e insta-
lados por meio de aplicativos.
• Porém de forma alguma a simples proteção técnica é suficiente. Os pais preci-
sam conversar com seus filhos sobre como se comportar ‘corretamente’ onli-
ne, a fim de minimizar os riscos ao máximo possível (veja os Capítulos 7 e 8).
Explicado em detalhes, isso significa: instale em seu computador domiciliar ou
tablet contas de usuário próprias para seus filhos, com direitos limitados.
A seguir estão listados alguns exemplos de software de limitação de tempo e
proteção infantil disponíveis atualmente no mercado. Se esses softwares real-
mente são bons ou não, é algo que não se pode garantir.
Ative no computador ou laptop um software de limitação de tempo (por dia da
semana e por semana inteira) para crianças e instale um software de proteção
infantil (também chamado software de filtragem).
81
Exemplos:
• Controle parental e filtro de internet Family Time: https://familytime.io/pt
• Controle parental Kaspersky: www.kaspersky.com.br/safe-kids
• Controle parental do Windows 10 – (Painel de Controle > Contas > Família e
outros usuários > Adicionar um membro da família)
Usando as palavras-chaves ‘aplicativo de controle parental’, você encontrará em
todos os mecanismos de busca outros softwares para proteção de crianças, e
inclusive testes de comparação entre as diferentes ofertas.
Tão logo venha a ocorrer o uso não supervisionado da Internet no tablet ou
smartphone próprio, instale para seus filhos menores ou adolescentes um soft
ware de limitação de funções ou de tempo e talvez com outros controles:
82
• O Google Family Link emite um relatório sobre o período de uso e também CAPÍTULO 6 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA (10–16 ANOS)
permite restringir compras na Google Play Store, rastrear a localização, ocul-
tar apps, bloquear o dispositivo e limitar o tempo de uso.
• O AppBlock precisa ser instalado apenas no celular da criança, possuindo
diversas ferramentas para bloquear chamadas, vídeos, fotos, aplicativos e
downloads.
• O Controle Parental Screen Time monitora os assuntos visualizados em sites,
redes sociais etc. e os demais conteúdos. Exibe as palavras digitadas nos
buscadores do celular, informando os pais sobre o que os filhos veem na
Internet.
Para a localização, pelos pais, dos filhos que já possuem seus próprios smart-
phones ou tablets:
• O GPS Rastreador de Famílias KidsControl informa a localização de seu filho
mesmo sem internet, mediante coordenadas predefinidas, como casa, escola
e outros locais. Oferece também um botão SOS para caso de locais perigosos.
• O Life360 permite aos pais acompanharem todo o percurso de seu filho em
tempo real, emitindo notificações sobre chegadas e partidas. Faz também
chamadas de emergência em casos de perigo.
83
7 Perigos durante
a utilização das
mídias digitais
85 CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
7.1 Estresse provocado pelas
mídias de comunicação social
O estudo JIM14 do início de 2017 evidenciou que o uso de aparelhos digitais móveis e aplicativos
de comunicação correspondentes, por parte de jovens entre 12 e 19 anos de idade, continua a
aumentar. O aplicativo WhatsApp é utilizado por 95% dos jovens, seguido pelo Instagram (51%),
Snapchat (45%) e Facebook (43%). Esses auxiliares eletrônicos estão firmemente ancorados na
comunicação social cotidiana dos jovens. O tempo de utilização é de aproximadamente 2,5 horas
por dia entre crianças de 12–13 anos, mais de 3 horas por dia entre jovens de 14–15 anos e quase
4 horas por dia entre adolescentes de 16–19 anos.
O ganho em liberdade de comunicação, em ser alcançável a qualquer hora e em qualquer
lugar, significa tanto uma bênção quanto uma maldição. É crescente a queixa dos jovens
quanto a estresse de comunicação, causado, entre outras coisas, por até 3.000 mensagens
lidas e escritas no WhatsApp por mês.15 Segundo um estudo encomendado em 2015 pelo
Instituto Estadual de Mídias [Landesmedienanstalt] da Renânia do Norte-Vestfália (Alema-
nha), 120 em cada 500 crianças e jovens entrevistados entre 8 e 14 anos de idade (ou seja,
24% do total) sentem-se estressados pela comunicação permanente por meio de serviços de
mensagens como o WhatsApp.1,13 De 500 jovens, 240 (ou seja, 48%) admitem serem distraí-
dos pelo celular, por exemplo, durante as tarefas escolares em casa.
Cada vez mais jovens sucumbem a essa ditadura da comunicação contínua, às não formula-
das e não questionadas exigências de reagirem imediatamente assim que o aparelho toca
86
– e isso começa de manhã, logo depois de se levantarem, e continua até altas CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
horas da noite. A pressão social do grupo de colegas, com o compromisso apa-
rentemente inevitável de o jovem estar sempre disponível e pronto para reagir,
significa um elevado nível de estresse da comunicação. Por outro lado, renun-
ciar a essa comunicação contínua suscita nesses jovens um sentimento de isola-
mento social e solidão. Esse novo estado de estresse é denominado FoMO, Fear
of Missing Out (medo de perder algo).
Segundo um estudo do fabricante de smartphones Nokia, os jovens utilizam
seus smartphones até 150 vezes por dia. Se diariamente têm de ser lidas e res-
pondidas 100 mensagens, uma utilização praticamente permanente dos meios
de comunicação não fica sem efeito: inevitavelmente, provoca interrupções fre-
quentes em outras atividades (em média, a cada 9-10 minutos), o que conduz a
um persistente multitasking (multitarefa).15
Influência sobre a cognição e a aprendizagem
A atividade multitarefa caracteriza-se pelo fato de se fazer continuamente e
de modo simultâneo tudo o que seja possível, o que significa uma constante
mudança de foco e leva ao assim chamado estresse de atenção. Por exemplo,
um estudante que faz suas tarefas escolares no computador perde quase dois
terços do tempo fazendo ainda outras coisas além dessas tarefas.
Em função da atividade multitarefa, o tempo que os jovens dedicam a um único
assunto diminui cada vez mais. Recentemente, a Microsoft publicou um novo
estudo mostrando que entre os anos de 2000 e 2013 o tempo contínuo de aten-
ção dos jovens diminuiu de 12 para 8 segundos. Conforme dados de pesquisa,
isto significa que o tempo contínuo de atenção de um peixinho-dourado, que é
de 9 segundos, supera em até 1 segundo o dos jovens! A diminuição do tempo
contínuo de atenção significa uma diminuição na capacidade de concentração!15
Os praticantes da multitarefa se treinam justamente para um déficit de aten-
ção.16,17 Eles têm maiores dificuldades para não se ocuparem com uma tarefa
irrelevante, ou seja, para ignorar estímulos irrelevantes do meio ambiente ou
de sua memória. O resultado é superficialidade e ineficácia em tarefas impor-
tantes, e sobretudo também na aprendizagem, pois em algum momento o cére-
bro fica exausto devido ao acúmulo de estímulos e sua capacidade receptiva se
esgota. Consequentemente, o que foi aprendido recentemente fica ancorado
apenas de forma limitada na memória de longo prazo – pois, para consolidar o
que foi aprendido, o cérebro precisa de intervalos de descanso, o que a ativida-
de multitarefa não permite.
87
• As competências linguísticas se atrofiam, bem como as habilidades táteis,
pois a superfície sem distinções de um smartphone deixa em nosso cérebro
uma impressão tátil sempre igual, sem estrutura. “Quando nós tocamos e
movimentamos algo no mundo real, isso influencia nossa capacidade ideati-
vo-cognitiva mais do que supusemos até agora.” (Martin Korte, 201418)
• Também a leitura retrocede cada vez mais. O número de não leitores entre
crianças, que nunca seguram um livro na mão, quase quadruplicou: em 2005
estava em 7%, e em 2014 já havia aumentado para 25%. O maior grupo de
não leitores (25%) encontra-se entre adolescentes de 16–17 anos, especial-
mente entre jovens com uma educação formal inferior.14
Distúrbios do estado geral
Além dos efeitos sobre a concentração e a memória, o estresse relacionado à
comunicação e à atividade multitarefa evidencia-se particularmente em estados
de inquietação, nervosismo, irritabilidade e dor de cabeça, cuja frequência tem
aumentado rapidamente nos últimos anos. Distúrbios do sono e fadiga diurna
também estão aumentando cada vez mais. Podem ser consequência do uso do
smartphone madrugada adentro. Outros distúrbios do estado geral não estão
excluídos (queixas cardíacas, medos irracionais até à depressão, entre outros),
podendo ser provocados e reforçados justamente pela radiação contínua dos
aparelhos de comunicação móvel (veja o Capítulo 2).
Influência no âmbito social
Um estudo da BITKOM [associação de empresas digitais na Alemanha] entre-
vistou em 201419 mais de 1.000 jovens para averiguar em quais situações os
celulares, os smartphones, o Facebook & cia. se tornam irritantes. As respostas
mostraram que os jovens refletem muito bem sobre a influência que o tele-
fone celular exerce em suas vidas. Um jovem escreveu: “O celular atrapalha
mais quando eu estou cansado e não quero ir dormir. Por isso eu não durmo
o suficiente.” Uma garota declarou: “Na verdade [ele influencia] em todas as
situações, porque eu estou sempre olhando para ele e, assim, perco muitíssimo
tempo.” A crítica mais frequentemente séria é que as amizades ficam amea-
çadas pelos smartphones. Uma participante comentou: “Meus amigos passam
mais tempo com seus celulares do que comigo. Nesse momento eles dão mais
importância à vida virtual do que à real, embora só a vida real gere vivências e
sentimentos dos quais nos recordaremos mais tarde.” 20
88
Beatriz acha desagradável o fato de seus amigos, quando saem juntos, CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
ficarem só se divertindo com seus telefones celulares: “De algum modo
todos ficam distraídos, e é irritante eu precisar dizer tudo três vezes por-
que ninguém mais ouve direito. Só meus avós ainda conseguem.” Eviden-
temente eles não tinham celular algum.
A tendência irrefletida a estar permanentemente online e prestes a reagir a
todo momento está mudando radicalmente a vida dos jovens e sua convivência
com outras pessoas: o celular torna-se mais importante do que o interlocutor.
O mundo digital está reprimindo cada vez mais o contato social direto. Apesar
de toda a comunicação, resulta um isolamento social. Os efeitos (colaterais)
desta ‘fuga’ para o mundo da comunicação virtual já podem ser observados
claramente:
• Está-se atrofiando a capacidade dos jovens no sentido de interpretar ade-
quadamente os sinais sociais. Isto se evidencia na falta, ou total ausência, de
um comportamento social-empático ou de um comportamento construtivo
e socialmente aceitável para lidar com conflitos em grupos de colegas. Um
estudo21 da psicóloga norte-americana Sarah Konrath verificou que, desde
1990, a capacidade empática dos estudantes universitários diminuiu em cer-
ca de 40%. O que predomina é um comportamento de comunicação egoís-
tico-narcisista, combinado com uma crescente tendência ao exibicionismo
(entre outras coisas, por meio de selfies e likes).
• Também está aumentando a falta de compromisso. Enquanto, no passado,
compromissos uma vez assumidos eram em geral respeitados, hoje em dia
o planejamento do tempo pessoal está sujeito a sempre novas negociações,
acordos e alterações. Muitas vezes, concordâncias acontecem com ressalvas.
89
• É cada vez mais raro os jovens precisarem ter alguma ideia de como preen-
cher seu tempo livre. Encontros com amigos, esporte e leitura são negligen-
ciados, pois é muito mais simples servir-se de um meio facilmente acessível e
divertido como um smartphone, um iPod ou um Xbox. Com isso a individuali-
dade e a criatividade podem atrofiar-se.
O que é importante?
Quando jovens passam muito tempo na Internet, este fato em si ainda não deve
ser motivo de preocupação, desde que contatos sociais diretos e hobbies con-
tinuem a ser cultivados e o desempenho escolar não diminua. Contudo, não
se deve subestimar o poder de atração do uso da comunicação e da diversão
digitais (veja o Capítulo 7.2).
Cada vez mais jovens sentem essa incongruência: eles não querem abrir
mão da comunicação digital, mas ficam irritados com a avalanche de
mensagens recebidas e rejeitam o impulso de responder imediatamente.
Eles não querem tornar-se escravos do ritmo de vida acelerado. A ideia
de que é urgente quando o celular toca é uma obsessão, um dilema do
qual os jovens muitas vezes não conseguem mais sair sozinhos. Os jovens
precisam aprender, entre outras coisas, a reduzir as conversas aos pontos
essenciais. Eles precisam aprender a comandar conscientemente o que
deixam entrar em suas cabeças.
90
O que você, como pai ou mãe, pode fazer? Procure conversar com seus filhos, CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
e tente estabelecer uma compensação entre as mídias e outras atividades de
lazer. Por fim, também aqui alguns meios tecnológicos – como os softwares de
limitação de tempo – ajudam a encontrar um equilíbrio adequado (veja o Capí-
tulo 6.5). Entretanto, em caso de necessidade você deve realmente procurar
ajuda profissional (veja o Capítulo 7.2).
91
Sugestões de leitura
Tania Zagury
Os novos perigos que rondam nossos filhos
Um guia para pais e professores no sentido de estabele-
cer hábitos e rotinas saudáveis para os pequenos na era
da internet.
Brenda Fucuta
Hipnotizados: o que nossos filhos fazem na Internet e o
que a Internet faz com eles
Um guia de sobrevivência para pais, educadores e demais
interessados no assunto.
Shirley Souza
Mundo real chamando
Uma reflexão sobre a inclusão digital na vida das pessoas e
o uso consciente das novas tecnologias.
92
7.2 A utilização excessiva de CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
mídias e os perigos de cair em vício
O estudo DAK ‘O vício da Internet no quarto das crianças’ [Internetsucht im Kin-
derzimmer], de 201522, atesta uma preocupante evolução, no mundo inteiro,
entre jovens e até entre crianças. Os números são alarmantes: 50% dos jovens
entre 12–17 anos já utilizam a Internet durante 2 a 3 horas por dia. No fim de
semana, o tempo aumenta em média para 4 horas. Nos sábados ou domingos,
20% dos rapazes e moças ocupam-se por mais de 6 horas com jogos eletrônicos
ou navegando na Internet.
Os riscos da crescente utilização das mídias estão cada vez mais evidentes: 22%
das crianças e jovens sentem-se inquietos, mal-humorados ou irritados quando
precisam diminuir seu consumo de Internet. Aproximadamente 5% (aproxima-
damente 120.000) já sofrem as consequências patológicas da utilização da Inter-
net, e aproximadamente 8% das crianças já apontam para um risco elevado de
desenvolver uma dependência da Internet, ou seja, gastam 8–10 horas por dia
ou mais com os jogos e, inevitavelmente, negligenciam outras atividades.
93
Estudos e enquetes sobre a dependência de Internet
entre jovens de 12 a 17 anos
50 %
surfam 2–3 horas por dia; nos
finais de semana, até 6 horas
22%
sentem-se inquietos, mal-humorados
ou irritados quando precisam
diminuir seu consumo de Internet
60%
das crianças de 9 e 10 anos só conseguem
ocupar-se no máximo por 30 minutos sem
televisão, computador ou outras mídias digitais
40%
das crianças de 13 anos apresentam dis-
túrbios de aprendizagem e concentração
Uma enquete realizada em 2015 em consultórios pediátricos no estado da Renâ-
nia do Norte-Vestfália (Alemanha) no contexto do estudo BLIKK13 sobre mídias,
realizado pelos Serviços de Controle de Drogas do Governo Federal [Drogenbe-
auftragten der Bundesregierung], revelou o seguinte: “Mais de 60% das crianças
de 9 e 10 anos só conseguem ocupar-se no máximo por meia hora sem televi-
são, computador ou outras mídias digitais; 40% das crianças com 13 anos apre-
sentam distúrbios de aprendizagem e concentração.” Além disso, muitos pais
também se queixaram de que seus filhos negligenciam outras atividades, como
a leitura de livros, em favor de jogos eletrônicos e televisão.
O médico e terapeuta especialista em mídias Bert te Wildt considera, em seu
livro Digital Junkies33 [Lixos digitais], que o smartphone é indubitavelmente um
agente criador de dependência e uma droga indutora de outros vícios: “Por
meio de mecanismos de recompensa conscientemente integrados, o usuário
fica cativado pelo aparelho e seu autocontrole é desativado.”26
94
Crianças e adolescentes tornam-se cada vez mais viciados em Internet! CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
Os pais de Max, um jovem de 16 anos, vieram para uma consulta de aconselha-
mento. Diana (35 anos) relata:
“Nós tínhamos sempre tanto orgulho do Max,
desejando sempre o melhor para ele! Como
recompensa pelas boas notas, ele ganhava novos
jogos eletrônicos. Quando, na semana passada,
ele arrombou nossa porta porque eu desliguei a
Internet, aí nós acordamos. Faz meses que Max vive
praticamente apenas em seu mundo de jogos online.
Na escola ele piorou muito, e há muito tempo desistiu
do futebol. O Kurt e o Paul também não aparecem
mais em casa. Max diz que não vê problema algum
nisso, mas nós estamos desesperados e não sabemos
mais o que fazer.” 32
No final do processo, o diagnóstico de Max foi: vício em jogos eletrônicos. No
caso de outros pais igualmente preocupados, o aconselhador especialista em
mídias pôde sugerir um abrandamento da vigilância ou continuar a ajudar com
uns poucos conselhos.
Max não é um caso isolado! O potencial vicioso das mídias digitais sobrecarrega
particularmente crianças e adolescentes: de acordo com um estudo DAK de
2016, na faixa etária de 12 a 25 anos, 5,7% (ou seja, aproximadamente 696.000
pessoas) é acometida de uma dependência de jogos eletrônicos, sendo que a
95
dependência de pessoas do sexo masculino é 8,4% maior do que a do sexo
feminino.23 Isso é confirmado por um estudo mais recente da Central Federal
de Esclarecimento em Saúde [Bundeszentrale für gesundheitliche Aufklärung –
BZgA], de fevereiro/2017 (‘A afinidade de adolescentes com drogas na República
Federal da Alemanha em 2015’, seção ‘Jogos eletrônicos e Internet’ [Die Drogenaf-
finität Jugendlicher in der Bundesrepublik Deutschland 2015, Teilband ‘Computer-
spiele und Internet’]): cerca de 270.000 jovens entre 12 e 17 anos – o que corres-
ponde a uma parcela de 5,8% – apresentam um “distúrbio relacionado a jogos
eletrônicos ou Internet”. Desde 2011, em 4 anos o número quase duplicou (de
3% para 5,3%). Enquanto os rapazes gastam a maior parte do tempo com jogos
online, as garotas usam a Internet principalmente para comunicação social. De
acordo com o estudo DAK ‘O vício de Internet no quarto das crianças’ de 2015,
3,9% das crianças de 12 a 13 anos (aprox. 65.000 crianças) já estão afetadas.
Assim, não é de surpreender que cada vez mais crianças e adolescentes necessi-
tem de tratamento. Somente no Centro Alemão para Questões de Dependência
na Infância e Adolescência [Deutsche Zentrum für Suchtfragen des Kindes- und
Jugendalters], do Hospital Universitário Hamburg-Eppendorf, já são atendidas,
entrementes, até 400 crianças e adolescentes por ano viciados em Internet.
Como usar as 24 horas do dia de maneira sensata
– Cuidado com os ladrões de tempo!
24
18 MÍDIAS COM TELAS
6
12
96
Uma em cada dez crianças usa a Internet para fugir de problemas. Os especia- CAPÍTULO 7 PERIGOS DURANTE A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS
listas calculam que, na Alemanha, até 1 milhão de pessoas já estão viciadas na
Internet.
Sinais de alarme
Muitas vezes, os primeiros sinais de excesso de utilização da Internet nem são
notados pelos próprios afetados, ou ao menos durante muito tempo não são
considerados perturbadores, porque o processo de dependência transcorre
gradualmente. Tal como em outras formas de dependência, os viciados em
Internet dependem cada vez mais do consumo de Internet para alcançar um
estado emocional satisfatório. Por isso, tentam enganar ou tranquilizar seus
familiares e outras pessoas mais próximas quanto à dimensão de seu consumo
de Internet. Os pais devem ficar atentos quando22,29:
• os períodos de utilização aumentam cada vez mais e outras atividades de
lazer são negligenciadas ou até mesmo abandonadas;
• seu filho fica diante do computador até tarde da noite, dorme nitidamente
menos e desenvolve um ritmo diurno/noturno deslocado, ou seja, está fre-
quentemente cansado durante o dia;
• ele reage de forma muito sensível a tentativas de limitação, ou seja, fica mal-
-humorado, irritado ou até com raiva quando não tem acesso a Internet/
computador ou tem de reduzir seu consumo dos mesmos;
• ele negocia veementemente sobre os horários de Internet/computador, ou
então liga secretamente o computador durante a noite;
• existem muito menos contatos sociais reais, parecendo que seu filho quer
evitar qualquer encontro pessoal, e as conversas são mais fugazes e super
ficiais;
97
• ocorrem falhas em cumprir tarefas e obrigações (por exemplo, seu filho falta
cada vez mais na escola, ou adia tarefas durante semanas);
• seu filho reage com irritação, chegando a haver brigas, quando você mencio-
na abertamente o problema (do vício).
Caso tenha passado por tais experiências, você deveria levar suas preocupa-
ções bem a sério. Os próprios afetados têm, frequentemente, muita dificulda-
de em avaliar de forma realista seu envolvimento com a Internet, e por isso
necessitam de ajuda externa. Muitas vezes, sentimentos de vergonha também
constituem, por si, uma razão para os jovens minimizarem a própria utilização
de Internet/computador.
Um autoteste para os pais quanto à dependência da Internet
Segue uma lista de perguntas para um autodiagnóstico. As perguntas foram
utilizadas por uma equipe chinesa que estava pesquisando as consequências
de um intenso uso da Internet nos cérebros de jovens (vide Diagnose Funk –
Brennpunkt de 15.11.2014 24,25).
1. Você tem a impressão de estar totalmente imerso na Internet? Lembra-se
das últimas atividades online ou está ansioso pela próxima sessão?
2. Ao usar a Internet, você sente satisfação quando pode aumentar seu tempo
com ela?
3. Você fracassou repetidamente ao tentar controlar, diminuir ou suspender
seu uso de Internet?
4. Você se sente nervoso, mal-humorado, deprimido ou sensível quanto tenta
diminuir ou suspender seu uso de Internet?
5. Você passa mais tempo na Internet do que tencionava originalmente?
6. Você já arriscou perder um relacionamento importante, uma chance de tra-
balho, uma formação profissional por causa da Internet?
7. Você mentiu para seus familiares, seu terapeuta ou outras pessoas para
esconder a verdade sobre seu uso de Internet?
8. Você usa a Internet para fugir de problemas ou amenizar estados de medo,
como por exemplo o sentimento de desamparo, culpa, temor ou depressão?
Os pesquisadores avaliam suas respostas da seguinte maneira: “Se você res-
pondeu com ‘sim’ às perguntas de 1 a 5 e no mínimo a uma das perguntas res-
tantes, você é viciado em Internet.”
98