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14 - Telecomunicações Avançadas - Volume 2

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Published by luizmoraesjapa, 2018-02-27 13:51:04

14 - Telecomunicações Avançadas - Volume 2

14 - Telecomunicações Avançadas - Volume 2

Telecomunicações Avançadas

MHz, que deveriam ser liberados até 2010. (Na WARC 2000, que ocorre em março,
será discutido como obter mais 160 MHz para perfazer 530 MHz em 2010; já se sabe
que as faixas destinadas ao IMT-2000 não serão suficientes em 2010.)

Espectro é importante não só para garantir serviços avançados, mas também para
garantir a competição, no futuro. Com 130 MHz, mal dá para que cinco teles disputem
os clientes em cada região - e só com serviço de voz. Com 240 MHz é possível
acomodar cinco teles com serviço de voz e duas teles com serviços de terceira
geração (3G).

Pode-se perguntar: ora bolas, se espectro é assim tão importante, por que os Estados
Unidos, a nação mais poderosa do mundo, só separaram 190 MHz até agora? Em
poucas palavras: os EUA estão atrasados em termos de comunicações móveis, por
questões de tecnologia, de mercado e de legislação; estando atrasados, eles usam
pouco; usando pouco, eles dão às comunicações móveis menos importância do que
elas têm.

Um dos problemas é que a faixa de 1,8 GHz já está ocupada nos EUA - por militares.
Mesmo que quisessem, não poderiam liberar essa faixa tão cedo. Esse foi um dos
motivos pelos quais, contrariando os documentos que assinou na WARC-92, os EUA
instalaram seu PCS em 1,9 GHz, enquanto a maior parte do mundo instalava o PCS
em 1,8 GHz. Outro motivo: os EUA nunca tiveram uma "Telebrás", que obrigasse as
teles a sentar-se à mesa e negociar objetivos comuns.

Como resultado, o roaming automático é raridade nos EUA (exceto entre redes GSM,
em que instaurar roaming automático é fácil). Até hoje os EUA não instalaram o
sistema "quem chama paga a conta", como no Brasil. Donos de celular, ao receber
uma ligação, pagam pela conta. Não é surpresa: a maioria das pessoas mantém o
celular desligado, para usá-lo só em emergência. Preferem receber mensagens pelo
pager e responder às mensagens pelos módicos orelhões. No fim das contas, os
celulares (tanto na faixa de 800 MHz quanto na de 1,9 GHz) são usados por apenas
30% da população norte-americana; em Portugal, país cujo PIB per capita é um terço
do norte-americano, cinco entre dez pessoas possuem celular.
Com apenas 200 MHz, dá para oferecer o serviço de voz a 60%, 70% da população.
Mas, segundo o UMTS Forum no Brasil, basta que haja 2% dos assinantes usando
dados em alta velocidade para que se esgote a disponibilidade de espectro.

Sem espectro, sem serviços, sem competição 101

Telecomunicações Avançadas

102 Sem espectro, sem serviços, sem competição

Telecomunicações Avançadas

Rede analógica ditou a
escolha da digital

Para decidir que caminho tomar, vale a pena compreender o caminho percorrido até
aqui: os motivos pelos quais a situação das comunicações móveis brasileiras está do
jeito que está.

Em 1989, a Telebrás tinha de decidir que padrão celular seria usado no Brasil. Entre
todas as opções possíveis, na ocasião, escolheu a melhor de todas: o padrão
analógico AMPS, criado e desenvolvido nos Estados Unidos. Era o mais usado, o mais
estável, o que apresentava maior benefício pelo menor custo.

Não havia boas escolhas na Europa. Cada país havia adotado um padrão analógico;
como são países pequenos, o volume de produção não era suficiente para que
competissem com um padrão difundido no imenso mercado norte-americano. Como
nos EUA, o serviço celular brasileiro passou a funcionar na faixa de 800 MHz: ao todo,
há 50 MHz nessa faixa, divididos em duas bandas, A e B. (Nos EUA, as duas bandas
somam 70 MHz.)

Mas as redes analógicas logo começaram a dar sinais de exaustão por causa do
sucesso do serviço. Já na década de 1980 as redes celulares das maiores cidades
norte-americanas estavam congestionadas. Era preciso fazer alguma coisa, e o melhor
a fazer seria transformar redes celulares analógicas em digitais - redes digitais
acomodam mais assinantes na mesma faixa do espectro.

Rede analógica ditou a escolha da digital 103

Telecomunicações Avançadas

Durante anos, a Comissão Federal de Comunicações (FCC, órgão regulador norte-
americano) discutiu com teles e fabricantes, procurando um padrão digital único que
pudesse ser usado em todo o país igualmente. Em vão. Havia muitos interesses em
jogo, ninguém queria ceder, todos apostavam que sua solução acabaria impondo-se e
que, como conseqüência, ganhariam muito mais dinheiro do que se fizessem
concessões em torno de um padrão único. Cansada de esperar, a FCC deixou que o
mercado tomasse a decisão: as teles norte-americanas decidiriam o padrão vencedor
nos processos de compra. Dois padrões impuseram-se: o D-AMPS e o cdmaOne.

Ao optar pelo celular analógico
norte-americano,

o Brasil foi obrigado
a também escolher tecnologia

digital norte-americana
e as mesmas freqüências

dos Estados Unidos -
as menos usadas no mundo.

Mais ou menos na mesma época, por iniciativa da França e da Alemanha, a União
Européia tomou duas decisões: iria instaurar redes celulares digitais, pois as
analógicas também não davam conta do recado; e esse padrão digital seria
desenvolvido por consenso, isto é, seria padronizado de tal forma que os viajantes
europeus pudessem usar seu telefone celular em qualquer um dos países do
continente. Dessa iniciativa surgiram as redes celulares do padrão GSM. Começou a
funcionar em 1992 na Europa e, já em 1993, tornou-se mundial: foi adotado pela tele
australiana Telstra.

Nos primeiros anos da década de 1990, o Brasil começou a discutir que padrão digital
deveria adotar. Tomou-se a decisão mais confortável: seria permitida a adoção de
qualquer tecnologia digital, desde que compatível com redes AMPS; a decisão foi

104 Rede analógica ditou a escolha da digital

Telecomunicações Avançadas

adotar os mesmos padrões digitais usados nos EUA, D-AMPS e cdrnaOne. O trabalho
de limpeza de espectro seria mais fácil; eles funcionavam em 800 MHz, a mesma faixa
do AMPS; sua sinalização de rede (chamada de IS-41) era exatamente a mesma do
AMPS. GSM, por sua vez, não poderia entrar aqui, principalmente porque sua
sinalização de rede (chamada de MAP) não era compatível com a rede celular
analógica - naquela época, ainda era impossível o roaming automático entre redes
GSM e redes celulares analógicas, de que a Telebrás fazia questão.

Em todo o mundo, contudo, duas coisas já estavam evidentes. Primeiro, só a
digitalização das redes celulares não seria o bastante para atender à procura por
telefones celulares. Quando um serviço via rádio chega a seu limite, só há um jeito de
crescer: usando mais freqüências. Segundo, que a comunicação móvel estaria entre
os principais recursos econômicos das sociedades industriais no início do próximo
século. Foi quando a UIT promoveu, em 1992, a Conferência Administrativa Mundial
de Radiocomunicações (WARC-92). Delegações da maioria dos países (inclusive EUA
e Brasil) assinaram as recomendações da conferência: reservar as faixas de 1,9 GHz e
2,1 GHz para o IMT-2000 (serviços móveis multimídia de terceira geração).

Contrariando as recomendações da UIT, em 1993, nos Estados Unidos, a FCC leiloou
a faixa de 1,9 GHz para teles interessadas em montar serviços PCS. O governo norte-
americano queria o dinheiro que arrecadou (US$ 13 bilhões); as teles que participaram
do leilão acabaram usando a tecnologia disponível no momento, especialmente D-
AMPS, cdmaOne e GSM, para montar redes celulares digitais comuns numa outra
faixa de freqüências e competir com as celulares tradicionais, funcionando em 800
MHz.
Em resumo: o Brasil usa 50 MHz, na faixa de 800 MHz, para o serviço celular,
montado com tecnologia norte-americana, que entrou no Brasil por decisão da

Rede analógica ditou a escolha da digital 105

Telecomunicações Avançadas

Telebrás. Agora, quer aumentar a competição, oferecendo a banda C a novos
empreendedores. Desta vez, contudo, pode tanto seguir a trilha norte-americana (1,9
GHz) quanto a européia (1,8 GHz, já difundida pelo mundo) - escolher 1,8 GHz
preservará a faixa de 1,9 GHz para o IMT-2000, conforme recomendação da UIT.

106 Rede analógica ditou a escolha da digital

Telecomunicações Avançadas

O mundo maravilhoso e
ainda restrito da Internet

Para todos aqueles que se preocupam com desigualdade social e acesso à educação,
as manchetes dos principais jornais brasileiros nas últimas semanas foram
desalentadoras. A notícia era uma só: baixos níveis de renda e de escolaridade deixam
do lado de fora da Internet 98% dos brasileiros.

As estatísticas que documentam a notícia não são poucas, nem tão pouco,
animadoras. Os números são resultados de pesquisas realizadas pelo PNAD/IBGE –
Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios/Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – quanto a faixa de renda; MEC – Ministério da Educação –, quanto ao nível
de instrução; e Ibope/Internet Brasil, no que diz respeito à pesquisa de mídia. Sem
dúvida, instituições merecedoras de nosso respeito e credibilidade.

As pesquisas mostram que a concentração de renda no País ainda é contumaz, e que
o distanciamento entre os poucos privilegiados que têm acesso à educação e
informação e os muitos que dispõem apenas da precariedade do ensino público parece
não querer encolher. Trocando em miúdos, os números dizem que 10% dos brasileiros
mais pobres ganham em média R$ 63 por mês, contra R$ 2.539 dos 10% mais ricos.
Indicam também que 67% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade têm menos
de oito anos de estudo, e que o analfabetismo, mesmo com pequeno avanço em
relação ao passado, resiste bravamente. A taxa no País é de 13%, mas no Nordeste,
onde estão os piores indicadores sociais, ela sobe para 27,5%. Os índices de
analfabetismo funcional (até quatro anos de escolaridade com domínio precário da
escrita e leitura) de pessoas com mais de 15 anos continuam elevados: 30,5% dos
brasileiros nessa faixa etária, sendo que no Nordeste a taxa sobe para 47,8% e nas
áreas rurais para 70,2%. Alguns números sinalizam pequenos avanços. Indicam, por
exemplo, que 95% das crianças entre sete e 14 anos estão na escola, uma melhora de
1,7% em relação ao índice do ano passado, e um índice muito próximo do padrão
universal. Entre jovens de 15 a 17 anos, a melhora foi de 28,1%.

O mundo maravilhoso e ainda restrito da Internet 107

Telecomunicações Avançadas

Ainda sobre a precariedade das escolas - e aqui não estamos falando do talento
humano e da abnegação de mestres e alunos, mas sim do estado físico de nossas
escolas e da ausência de equipamentos fundamentais de ensino e pesquisa –, o censo
do MEC (reúne escolas públicas e particulares) revela que apesar de alguma melhora
de infra-estrutura, entre 1997 e 1999, de um total de 196.500 escolas do ensino
fundamental, 63 mil não têm energia elétrica; menos de oito em cada 100 dispõem de
equipamentos para atividades pedagógicas; 25% têm biblioteca (contra 20% em 1997);
e somente três em cada 100 possuem acesso à Internet.

Vejamos então os dados sobre acesso à mídia eletrônica. Ainda de acordo com o
censo do MEC, apenas 6.030 (3,3%) do total de escolas de ensino fundamental
possuem acesso à rede mundial de computadores, das quais 67% são particulares. O
censo vai mais além e mostra que, no ensino médio, os números são um pouco
melhores: 22% possuem acesso à Internet (públicas e particulares).

O ministro Paulo Renato, da Educação, informa que o MEC, através do Proinfo, já
instalou 33 mil computadores nas escolas brasileiras, porém reconhece que a
presença do computador não garante, por si só, o acesso à Internet. Para uma rede
pública de cerca de 180 mil escolas de ensino fundamental e médio, 33 mil
microcomputadores não impressionam muito. A mais recente pesquisa do
Ibope/Internet Brasil, realizada em dezembro passado em nove centros urbanos
brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Distrito
Federal, Salvador, Fortaleza e Recife) mostra que o número de internautas permanece
estável em 3,3 milhões.

Os números acima são preocupantes. Igualmente preocupante me parece ser a
aparente desatenção dos provedores, operadores e todos os players que realizam
seus negócios através da rede a essa imensa parcela de brasileiros sem acesso à
Internet. Apesar de seus limitados recursos, o MEC vem, a duras penas, tentando
chegar lá. Os resultados são tão ínfimos quanto escassos são os recursos, mas o
esforço é inegável. O Ministério das Comunicações prega a universalização dos
serviços essenciais, porém a Internet ainda não é essencial. E o setor privado?

Existe preocupação em levar a esse público os meios de acesso à comunicação do
século XXI? Afinal, se não por razões mais humanitárias, este pode se tornar um
potencial segmento de consumo.

108 O mundo maravilhoso e ainda restrito da Internet

Telecomunicações Avançadas

Muito tenho ouvido e lido sobre a onipresença e onipotência da Internet, sobre a
irreversibilidade da comunicação virtual, do comércio eletrônico e da globalização dos
negócios via rede. No entanto, vejo e leio muito pouco sobre a real preocupação
daqueles que já operam ou se utilizam da rede com a universalização do acesso ao
"maravilhoso" mundo cibernético e com a capacitação de futuros usuários.

Ações isoladas, patrocinadas por uma ou outra empresa, existem, mas beneficiam um
público ainda pequeno. Incentivos fiscais em cima de impostos existentes ajudariam,
contudo a burocracia que os acompanha tira-lhes a agilidade. Novos impostos estão
fora de cogitação – já somos severamente taxados. Em vez de novos impostos e
ações isoladas, parcerias entre o setor privado – particularmente do setor das
telecomunicações – e prefeituras de regiões carentes, instituições públicas de ensino
ou projetos comunitários me parecem mais ágeis, eficientes e menos onerosos. Além
de agregar valor à imagem de seus patrocinadores, tais parcerias encurtariam
distâncias na desigualdade a que nos referimos no início deste texto e abririam um
novo mercado consumidor até agora alijado do processo. Afinal, prover educação,
além de um belo exercício de cidadania, pode ser também um ótimo negócio.

O mundo maravilhoso e ainda restrito da Internet 109



Telecomunicações Avançadas

Infra-estrutura

Os fornecedores esquentam os motores

Todos os fornecedores se preparam para disputar o mercado de sistemas (estações
radiobase, controladoras e centrais) e de aparelhos GSM. Siemens, Alcatel e Nokia,
fora do mercado brasileiro de infra- estrutura de telefonia celular, já anunciaram seus
investimentos no país, caso conquistem clientes. A chinesa Huawei também promete
brigar por espaço, especialmente se a Hutchison/Hong Kong Telekom disputar o leilão
e levar uma licença. Ericsson, Lucent, Motorola e Nortel, atuais fornecedoras da base
instalada das operadoras das bandas A e B, tão logo saiu a decisão pela faixa de
freqüência 1,8 GHz, abandonaram a posição anterior e começaram a trabalhar para
manterem o market share também na tecnologia GSM. Todos os fornecedores vão
fabricar as estações radiobase no país (vários estão em fase de conclusão do
processo de transferência de tecnologia) e vários deles prometem já entregar os
sistemas com a facilidade GPRS. "O custo incremental é praticamente zero", insistem
os fabricantes.

Quem ganha, no primeiro momento, são as operadoras, com muitas opções em termos
de soluções. Depois, o assinante, ao qual elas devem repassar a redução de preços
que a concorrência sempre patrocina, imaginam os analistas de mercado.

Em clima de confronto, a estratégia dos fabricantes vai contemplar financiamento aos
clientes. A Siemens, que prevê investir US$ 700 milhões em seu projeto GSM, vai
dedicar a fatia do leão, cerca de US$ 500 milhões, para financiá-la compra dos
sistemas pelas operadoras. A Motorola foi mais longe e anunciou uma cifra que chega
aos US$ 2 bilhões. Os demais preferem não falar em números. Mas tanto Ericsson,
como Lucent, Alcatel e Nortel dizem que vão ter recursos suficientes para bancar as
operadoras interessadas em sua rede GSM. "Tudo depende do projeto e do business
plan do cliente. Se ele for interessante para nós, vamos garantir as condições

Infra-estrutura 111

Telecomunicações Avançadas

adequadas de financiamento", afirma Alain Ferrasse-Palé, vice-presidente da divisão
celular da Alcatel para Europa e Américas.

A alemã Siemens, até aqui barrada na festa do mercado brasileiro de telefonia móvel,
tem planos ambiciosos. E age rápido. Foi a primeira a fazer uma demonstração do
sistema GSM com facilidade GPRS, no final de setembro, em evento durante o qual
revelou seus planos para o mercado brasileiro de serviços baseados no conceito SMP
(Serviço Móvel Pessoal). O diretor da divisão de informação e comunicações da
subsidiária brasileira, Aluízio Byrro, calcula que, por conta da entrada no mercado
brasileiro de telefonia celular, com equipamentos para infra-estrutura e handsets, em
dois anos, a Siemens deve dobrar o faturamento da divisão, cuja receita anual soma,
atualmente, cerca de US$ 600 milhões. A meta é vender 25% da base instalada que
vai sustentar o SMP no Brasil. Pretende fabricar os sistemas em sua fábrica de
Curitiba (PR), onde já produz centrais e rádios, num investimento pouco superior a
US$ 10 milhões, boa parte em software. Em termos de fabricação, o investimento
maior vai para a produção de handsets, que poderá ser terceirizada. Em função das
indefinições em relação ao projeto da nova Lei de Informática, que prevê incentivos
para a fabricação de produtos de informática e telecomunicações, a Siemens, até o
início do mês, não tinha definido onde fabricaria os telefones, se em Manaus ou no
Estado de São Paulo.

Dilema semelhante em relação à fabricação de handsets vivia a Alcatel, que não tinha
definido onde vai colocar a fábrica, que será própria. Mas os sistemas GSM, cuja
fabricação depende de encomendas, serão integrados em sua fábrica de São Paulo,
onde estão suas linhas de comutação e transmissão.

Durante a Futurecom 2000, realizado em outubro, em Foz do Iguaçu (PR), a Alcatel
mostrou como funciona sua rede celular GSM, com facilidade GPRS. Os visitantes
puderam enviar um e-mail com anexo de dez páginas em apenas dez segundos,
contra os sete minutos despendidos em média nas redes de primeira e segunda
geração. Segundo João d'Amato, diretor de comunicações móveis, a Alcatel não só
tem tecnologia e longa experiência GSM, como dispõe, ele assegura, de soluções com
as quais pretende brigar pela liderança do mercado mundial de telefonia 3G - as redes
UMTS (Universal Mobile Telecommunications System), que acabam de credenciá-la,
ao lado da Ericsson e da Nokia, como fornecedora mundial da Orange. Além disso, ele
lembra, ao criar a Evolium SAS, fruto de associação com a Fujitsu, a francesa reforçou
a posição tanto em infra-estrutura móvel quanto em Internet móvel. A Evolium SAS
combina a experiência da Alcatel em GSM, GPRS e EDGE, com o know-how da

112 Infra-estrutura

Telecomunicações Avançadas

Fujitsu em redes que exploram os protocolos ATM (Asynchronous Transfer Mode) e IP
(Internet Protocol).

Também a Nokia, líder mundial na fabricação de handsets, pretender entrar no
mercado de equipamentos de infra-estrutura. Depois de comprar a parte da Gradiente
na fábrica de terminais padrão CDMA (Code Division Multiple A ccess) e TDMA (Time
Division Multiple Access), em Manaus (AM), a finlandesa examina a possibilidade de
criar uma unidade especialmente para produzir sistemas padrão GSM. "Tudo vai
depender de haver escala para isso", diz a gerente de marketing da Nokia Network
para a América Latina, Yolande Pineda. "Mas não estamos preocupados, porque
temos condições de optar pela implantação da unidade em tempo recorde, se for o
caso", explica a executiva.

Infra-estrutura 113

Telecomunicações Avançadas

Outra que pretende estrear no mercado de redes GSM é a chinesa Huawei. Suas
chances se concentram basicamente na participação, no leilão, das operadoras Hong
Kong Telekom e Hutichson, suas parceiras. Jimmy Guo, gerente geral da Huawei, que
desde o ano passado mantém escritórios em Brasília, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, diz que se a empresa conquistar clientes - a Huawei não quer ser fornecedora
exclusiva de seus parceiros - vai montar uma fábrica no país, possivelmente em
Campinas, para produzir os equipamentos. Para a operação GSM no Brasil, a Huawei
reservou US$ 650 milhões (incluindo recursos para financiamento de clientes). A
Huawei responde por 18% dos 43 milhões de terminais GSM instalados na China.

114 Infra-estrutura

Telecomunicações Avançadas

Os fornecedores de sistemas CDMA e TDMA no Brasil não só vão fornecer as redes
GSM como prometem evoluir as suas redes nas outras tecnologias, especialmente na
CDMA, que já definiu os passos intermediários até a terceira geração. A Ericsson
informa que começa a vender, em meados de 2001, o 1XRTT (Radio Transmission
Technology), primeiro passo na evolução do padrão CDMA para a terceira geração,
nas freqüências de 800 MHz e 1,9 GHz. Essa versão permite duplicar a capacidade da
transmissão de dados e voz, que pode chegar a 144 Kbps. O 1XRTT, que usa a
transmissão via pacote, também é conhecido de duas outras maneiras: cdma2000 1X
ou versão 2,5G da rede CDMA. A Ericsson admite, porém, que as redes padrão TDMA
IS- 136 terão de sobreviver apenas com o CDPD (Cellular Digital Packet Data) até que
o sistema de transmissão EDGE, evolução dos padrões TDMA e GSM, esteja
comercialmente pronto, no prazo de um ano e meio a dois anos.

Mas, dos tradicionais fornecedores de sistemas padrões CDMA e TDMA, vencidos na
batalha 1,8 versus 1,9 GHz, a Lucent é a que mais rápida reação vem esboçando, a
fim de provar que está apta a oferecer produtos de tecnologia GSM. Desde junho,
todas as novas ERBs vendidas pela norte-americana no Brasil são da família Flexent,
que, com modificações mínimas, se transformam, da noite para o dia, em plataformas
para avançados serviços de telefonia móvel de terceira geração, garante o diretor de
tecnologia da subsidiária brasileira, Luiz Cláudio Rosa.

Rosa está certo de que as operadoras brasileiras que têm redes CDMA - Telesp
Celular, Telefônica Celular e Vésper, clientes da Lucent, devem passar a comprar
ERBs Flexent. O argumento é o preço, "igual ou até mais baixo", do que os das ERBs
da antiga linha Autoplex. Em julho do ano que vem, a empresa deve lançar versão
ainda mais avançada da ERB Flexent, pronta para suportar a comunicação de dados a
144 Kbps, no padrão cdma2000 1X.

Menos ruidosa, a exemplo de Ericsson e Lucent, em vez de chorar o leite derramado, a
Nortel Network prefere trabalhar para explorar as novas oportunidades de negócio que
a tecnologia GMS cria no Brasil, diz o gerente de marketing para wireless, Fioravante
Mangone. Com domínio das várias tecnologias, segundo ele, a empresa está tratando
de dotar a fábrica de Campinas de condições para gerar produtos com tecnologia
GSM. E, disposta a conquistar nichos específicos do mercado, decidiu apostar nas
soluções sob medida, oferecendo pequenas centrais, feitas para atender centros
urbanos ou shopping centers e até mesmo um cruzamento de tráfego intenso. É o

Infra-estrutura 115

Telecomunicações Avançadas

caso dos modelos da família S8000, que incorporam a tecnologia GSM e, protegidos
contra intempéries e vandalismos, são recomendados para aplicações in e outdoor.

Entre os fabricantes que aqui já se encontravam, correndo por fora, vem a norte-
americana Motorola. Juntamente com a Lucent, ela já roubou da NEC do Brasil
importante parcela do mercado brasileiro de redes CDMA. Mas quer mais: no
Futurecom2000, apresentou a plataforma para suporte ao serviço GPRS, os modelos
da linha GSM Horizon, apresentados como "os mais compactos mercados", e a família
Horizonoffice, com modelos que garantem a cobertura no interior de edifícios.
Minúsculas, com apenas 20,8 cm de altura, 31,5 cm de largura e 9,8 cm de
profundidade, essas estações radiobase podem ser conectadas a um PABX local,
permitindo que o telefone GSM funcione como um ramal no interior do prédio. A
expectativa da Motorola é de que, no futuro, grande parte da base instalada TDMA
migre para a nova solução. "Nos Estados Unidos, ainda estamos em fase de testes,
mas temos sido insistentemente pressionados pelas operadoras locais, para lançar o
produto lá até a metade de 2001”, confidência Mike Malone, gerente geral da divisão
sistemas para EDGE, da Motorola Corporation.

O gerente de desenvolvimento de negócios de infra-estrutura celular da subsidiária
brasileira da Motorola, José Geraldo de Almeida, informa que já vão longe as
negociações da empresa com operadoras da telefonia móvel aqui instaladas, com
vistas à realização, até o final do ano, de testes em campo.

116 Infra-estrutura

Telecomunicações Avançadas

Todos estão interessados

O SMP irá provocar uma grande movimentação no mercado de
telecomunicações brasileiro. Os controladores das atuais operadoras e novos
grupos estrangeiros pretendem disputar não apenas as Bandas C, D e E, mas
também migrações das Bandas A e B para o SMP, que permitirá ligações de
longa distância e aumento de banda de transmissão

As operadoras que já atuam no mercado brasileiro e um grande número de
prestadoras internacionais de serviços de telecomunicações estão se movimentando
para se candidatar às licenças do Serviço Móvel Pessoal, que serão leiloadas este
ano. As estimativas são de 5 milhões de terminais operando até 2005 e as empresas
fornecedoras de equipamentos e serviços prevêem gastos até aquele ano de US$ 10
bilhões para a implantação e consolidação das novas operadoras. Estas devem
conquistar entre 10% e 15% do mercado brasileiro de telefonia móvel até 2005.

Apesar do grande interesse demonstrado na consulta e audiência públicas
pela Anatel, um expressivo número de operadoras tem assumido uma postura discreta,
enquanto outras alardeiam o seu interesse no novo serviço móvel. As atuais
operadoras fixas estão entre as que mais se manifestaram, mas não da mesma forma.
Embratel, Intelig e Telemar já assumiram o interesse em participar desta nova
operação, enquanto a Brasil Telecom, a Telefônica, a Vésper e a GVT demonstram
maior cautela em abordar este assunto.

Já entre as operadoras celulares o tema envolve uma série de possibilidades, que vão
desde a mudança de faixa de operação até a fusão das diversas empresas hoje
existentes no mercado brasileiro.

Todos estão interessados 117

Telecomunicações Avançadas

Novos investidores estrangeiros
No entanto, a disputa certamente não se limitará a estas operadoras, em sua maioria
controladas por capitais europeus e norte-americanos. Tem sido citadas com
freqüência no mercado operadoras internacionais como a British Telecom (inglesa), a
Airtel (espanhola), a Bell-South, a Ominipoint e a GTE (norte-americanas), a
DeTeMobil Deutsche Telekom (alemã), a NTT DoCoMo (japonesa), a Vodacom (sul-
africana), a Telenor Mobil (norueguesa) e várias outras.

Quase todas assumem um posicionamento discreto, enfatizando que as regras do
SMP ainda não se encontravam totalmente definidas pela Anatel. A Portugal Telecom,
que controla a Telesp Celular, é uma das exceções. Admite o firme interesse em
adquirir licenças do SMP e o presidente da subsidiária brasileira, Eduardo Perestrelo
Correia de Matos, informou a disposição de investir US$ 3 bilhões nesta operação,
mesmo considerando que fora das grandes capitais não haverá mercado para a
operação de cinco operadoras celulares, como prevê a proposta a Anatel.

Por sua vez, o diretor técnico da NTT DoCoMo, Nakamura Yasuhisa, declarou que a
operadora japonesa não disputará as licenças de SMP por estar mais interessada nos
novos serviços de 3G, mais adequados para empresas com operação global.

Atuais operadoras fixas
Na telefonia fixa de longa distância nacional e internacional, os dois concorrentes
pretendem atuar no novo mercado. Proibida de participar da licitação da Banda C este
ano, a Embratel confirmou a disposição de disputar as Bandas D e E em 2001,
entrando em operação a partir de 2002. Segundo o presidente da Embratel
Participações, Dílio Penedo, a decisão da Anatel de vetar as privatizadas da licitação
da Banda C não prejudicará a empresa, que poderá concorrer nas Bandas D e E e tem
condições de se adequar “aos novos sistemas de forma tão rápida quanto a dos que
irão participar agora" . Ele elogiou a escolha da faixa de 1,8 GHz.

Alain Riviére diretor de Assuntos Regulatórios da Intelig considerou que a decisão foi a
melhor possível, pois não privilegiou e tampouco excluiu ninguém. Lembrou que a
decisão de participar será tomada depois de publicado o edital. A empresa defendia
que a licitação da primeira banda fosse rápida, que ela pudesse participar, que as
incubents não participassem até 2002 e que as operadoras novas pudessem ter
cobertura regional.

118 Todos estão interessados

Telecomunicações Avançadas

O presidente da Telemar, Manoel Horácio, disse que a empresa pretende disputar as
Bandas D ou E e, "se for possível, gostaríamos de ter cobertura nacional". Mesmo
operando a partir de 2002, ele não acha que a Telemar corre o risco de perder grande
fatia do mercado e aposta na sinergia existente entre as telefonias fixa e celular como
vantagem da empresa. "Vamos entrar com seis meses de desvantagem em relação à
Banda e, porém a sinergia entre as duas operações vai nos ajudar".

Fernando Xavier, presidente da Telefônica, observou que "vai ser interessante e
inovador ver tantas operadoras numa mesma área", ressaltando que "as
conseqüências, porém, são imprevisíveis". As novas regras foram bem recebidas, já
que afastam a possibilidade das antigas teles serem impedidas de ingressar no
Serviço Pessoal Móvel.

A Brasil Telecom não estaria estudando o assunto diretamente e admite que a
Telecom Itália, através da TIM Telecom Itália Mobile, é que deverá se candidatar a
estas novas bandas. A TIM no Brasil opera na Banda A em seis estados nordestinos
(TIM Nordeste) e no Paraná, Santa Catarina e Pelotas (RS), através da TIM Sul; e na
Banda B na Bahia, Sergipe e Minas Gerais, com a Maxitel.

Um dos poucos grupos nacionais com participação nas telefonias fixa e móvel, o Algar
está analisando as opções que surgem com o SMP. O vice-presidente de Operações
do grupo, Nelson Cascelli, afirmou que ainda não existe uma estratégia definida para
atuar no SMP e que apresenta boas perspectivas de crescimento, mas também
algumas dúvidas. Aguardando uma definição das normas propostas pela Anatel,
Cascelli lembrou que os investimentos nas redes para GSM deverão ser superiores
aos feitos para as redes das Bandas A e B, onde o grupo opera com a CTBC Celular e
a ATL, respectivamente, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso do Sul (algumas cidades do interior) e Rio de Janeiro e Espírito Santo (capitais
e todas as cidades interioranas). O vice-presidente do Algar comentou que o pequeno
intervalo de seis meses entre as operações da Banda C com as das Bandas D e E
tirou um pouco da atratividade da primeira, contudo valorizou as outras duas. Ele
acredita que as operadoras destas novas bandas tendam a concentrar-se nas capitais
e maiores cidades, onde existiriam condições para a competição de cinco operadoras
celulares.

Posição das operadoras celulares
As atuais operadoras celulares, que irão disputar o mercado da telefonia móvel com as
das novas bandas anunciadas pela Anatel, têm sido moderadas em seus comentários.

Todos estão interessados 119

Telecomunicações Avançadas

A proposta da Agência Reguladora prevê que as operadoras das Bandas A e B
migrem do SMC - Serviço Móvel Celular - para o SMP, o que lhes assegurariam um
aumento de banda, permitindo-lhes oferecer novos serviços para os seus clientes,
além da possibilidade de ligações de longa distância.

Desta forma, o SMP abre para estas operadoras duas possibilidades - conquistar
novos mercados conseguindo uma das licenças D ou E para uma região inteira ou
permanecer no seu mercado de Banda A ou B, mas no SMP. Uma terceira alternativa
poderia ser a fusão de operadoras celulares de uma mesma região definida para o
SMR.

Analisando os grupos que controlam as operações celulares no Brasil, nota-se que os
principais possuem operações em áreas que conflitam com a divisão feita pela Anatel
para o SMP. O grupo Telefônica está presente na Área I (RJ/ES e BA/ SE), mas
também na II (RS). A TIW e Bell Canadá estão nas Áreas I (Norte e MG) como ainda
na II (Centro-Oeste e RS). Para complementar suas operações, eles teriam que
conquistar duas licenças e não apenas uma. A Telecom Itália é a que possui três de
suas quatro operações em estados vizinhos de uma mesma área, a I, mas a quarta
delas fica na Área II (PR/SC).

Aparentemente, elas não demonstram muita preocupação com os novos competidores.
Carlos Henrique Moreira, presidente da ATL, afirmou que a entrada de novos
concorrentes poderá promover uma queda de tarifas, mas, ao mesmo tempo,
aumentará a venda das operadoras já instaladas. Disse que as novas operadoras
devem se focar nos clientes das Classes C, D e E, que preferem o sistema pré-pago
que gera pouca receita.

Roberto Peon, presidente da BCP, afirmou que "a experiência que tem nos mercados
mundiais diz que o aumento da competição aumenta o mercado, o que nos levas a ver
de forma positiva o ingresso de mais três empresas". A BCP antes chegou a defender
o adiamento da licitação da Banda C, alegando que o mercado não estava maduro.

120 Todos estão interessados

Telecomunicações Avançadas

Todos estão interessados 121



Telecomunicações Avançadas

A Consulta Pública 198 e os
impactos futuros da decisão

da Anatel

Muito além das repercussões previsíveis, a Anatel estabelece as bases para a
participação do Brasil na construção da infra-estrutura global da informação,
auxiliando o País a avançar equilibradamente no comércio exterior.

A decisão da Anatel pelo uso da faixa de 1,8 GHz para o SMP, reservando a faixa de
1,9 GHz para introdução da terceira geração da União Internacional das
Telecomunicações – UIT –, deverá no futuro ser reconhecida como um dos grandes
marcos na história da evolução das telecomunicações brasileiras, principalmente por
seguir a linha das grandes decisões do passado.

Voltando aos anos 60 e 70, e mantidas as devidas proporções, encontraremos na
decisão recente da Agência algumas similaridades surpreendentes com as decisões
de maior abrangência então tomadas pelas autoridades da área. Naquela época, a
Embratel e a Telebrás trabalhavam arduamente para interligar um conjunto
fragmentado de redes fixas entre si, e estas às comunicações fixas mundiais através
do DDI. Embora não houvesse consultas públicas naquela época, podemos nos
lembrar de acalorados debates sobre os melhores rumos a serem tomados, como foi o
caso da decisão do emprego da sinalização entre centrais telefônicas, em âmbito
nacional e internacional. Mas no calor de todas aquelas discussões, para a maioria das
pessoas – entre as quais eu me incluo –, não existia uma percepção real do alcance
de todo aquele esforço que repercutiu muito além das telecomunicações. Em verdade,
ele foi fundamental para o desenvolvimento da economia do nosso País.

Três décadas depois, a Anatel toma uma decisão muito parecida em sua natureza.
Desta vez voltada à integração das redes de comunicações móveis brasileiras com
as redes de comunicações móveis globais de segunda e terceira gerações. Com base
na experiência antes havida, parece-nos sensato aceitar que é bastante alta a

A Consulta Pública 198 e os impactos futuros da decisão da Anatel 123

Telecomunicações Avançadas

probabilidade de não estarmos, hoje, ainda preparados para reconhecer todo o
alcance da decisão tornada pelo Órgão Regulador, principalmente se considerarmos
que nos encontramos em uma época turbulenta, que deverá desaguar em uma nova
ordem econômica internacional. De qualquer modo, a decisão em favor de uma
internacionalização das comunicações móveis, numa época em que a economia cada
vez mais se globaliza, parece reunir todos os ingredientes para suportar a inserção do
Brasil num contexto econômico mais global, de maneira positiva.

Quanto às repercussões de curto e médio prazos decorrentes da decisão da Anatel,
não há mais o que discutir. Elas foram claramente identificadas no contexto de
exaustivas análises e deverão repercutir de modo favorável para o consumidor e para
o Brasil, pelo período mínimo de uma década, tempo correspondente ao cicio de vida
das redes móveis que serão implantadas nos próximos anos.

Assim sendo, procuraremos, na seqüência desta nossa avaliação, fazer uma
abordagem menos convencional a respeito do tema em pauta. Saindo de uma
interpretação da percepção prática dos usuários, avançaremos no sentido de analisar
os impactos geopolíticos da decisão e finalizaremos com uma análise da contribuição
da Agência para a construção da infra-estrutura global da informação no Brasil, a mais
espetacular de todas as redes globais do futuro.

Impactos para o usuário brasileiro
Como decorrência mais imediata da decisão da Anatel, os cidadãos brasileiros
poderão comprar os aparelhos celulares GSM – Global System for Mobile
Communications –, os grandes campeões de vendas ao redor do mundo. Mais baratos
e avançados, estes aparelhos poderão ser usados em mais de 140 países, inclusive
em mais de 5 mil cidades nos EUA, no Canadá, em toda a Europa, na Ásia e na
Oceania, como também em um número cada vez maior de países da América Latina,
aí incluídos o Chile, a Venezuela, o Paraguai, o Peru, a Bolívia, a Argentina (decisão
recente) e Cuba, entre outros.

O nível de competição planejado pela Anatel para ocorrer entre as operadoras e entre
os fabricantes terá no emprego dos produtos GSM um grande aliado. Tais produtos
estarão contribuindo não somente para o aumento da qualidade do serviço prestado,
mas, principalmente, para a redução do seu custo. E será, possivelmente, este o efeito
decisivo para que a grande massa de usuários das classes C e D possa ter acesso ao
serviço móvel, desfrutando dos seus benefícios.

124 A Consulta Pública 198 e os impactos futuros da decisão da Anatel

Telecomunicações Avançadas

Num horizonte de apenas mais alguns anos, uma significativa parcela dos cidadãos
brasileiros poderá comprar e usar, aqui no exterior, os mais modernos aparelhos
móveis da terceira geração IMT-2000/UMTS – International Mobile
Telecommunications/Universal Mobile Telecommunications System –, produzidos
mundialmente em larga escala para funcionamento na freqüência de 1,9 a 2,1 GHz.
Não serão mais os aparelhos celulares que hoje conhecemos, porém verdadeiros
computadores pessoais de bolso, continuamente conectados à Internet em alta
velocidade, que tornarão, entre outros, o antigo sonho da videocomunicação uma
realidade corriqueira. E a preços acessíveis! Com base no uso destes equipamentos,
lazer e trabalho, cada vez mais, estarão se fundindo num contexto de elevada
produtividade e de satisfação pessoal do cidadão da nova economia.

Impactos de natureza geopolítica
Através de sua decisão, a Anatel demonstrou que enxerga no alinhamento
internacional de suas comunicações móveis avançadas uma das suas grandes
prioridades. Nos trabalhos desenvolvidos a partir da Consulta Pública 198, não
encontrou nenhum motivo de natureza impeditiva que a demovesse do objetivo de
introduzir no Brasil, já no decorrer dos próximos anos, o IMT-2000.

Por isso, a decisão tomada pela Anatel sinaliza ao mundo que o País compreende
perfeitamente as correlações entre o alinhamento internacional de suas comunicações
móveis avançadas e o seu desenvolvimento econômico e social futuro. Sinaliza, ainda,
que entende que os benefícios advindos deste alinhamento internacional superam
eventuais desvantagens setoriais momentâneas ou menos amplas. E, finalmente,
deixa transparecer que o Brasil tem, com base numa maior integração internacional
das suas telecomunicações móveis, o propósito de estreitar suas relações comerciais
em nível global, e não apenas, de maneira discriminatória, com os países das
Américas.

Dessa forma, pode-se dizer que a Anatel tomou uma decisão sintonizada com a forma
de atuação brasileira no cenário internacional, a de um verdadeiro global player.

Infra-estrutura global da informação
A construção da infra-estrutura global da informação, possivelmente um dos mais
espetaculares projetos futuros, encontra-se por sua vez numa fase embrionária e
inserida no contexto de um complexo de experimentos patrocinado pelos países do
G-8. De uma maneira muito geral, reconhece-se que tal infra-estrutura deverá emergir
de um núcleo resultante da convergência das grandes redes globais: as redes fixas, as

A Consulta Pública 198 e os impactos futuros da decisão da Anatel 125

Telecomunicações Avançadas

redes móveis e a Internet. E tal convergência, a ser impulsionada mais pelas forças do
mercado do que pelas mãos dos técnicos, se dará tão mais fácil e rapidamente quanto
mais convergentes forem todas estas redes.

Se no Brasil a convergência fixo-lnternet já ocorre, a convergência fixo-móvel poderia
nunca se viabilizar, visto que as atuais redes móveis brasileiras utilizam protocolos de
sinalização desenvolvidos para a realidade norte-americana, incompatíveis com a rede
fixa que aqui segue as recomendações da UIT. Com a adoção pelo Brasil de redes
GSM, desenvolvidas para funcionarem como sendo uma “extensão” de redes fixas
seguindo as recomendações da UIT, a convergência fixo-móvel-Intemet poderá se dar
de maneira absolutamente natural nas nossas paragens. Tal facilidade de convergir
redes fixa e GSM no Brasil será ao mesmo tempo um estímulo realimentador para que
operadoras fixas e móveis se interessem em promovê-la num prazo não muito longo,
já que disto resultarão vantagens comerciais para ambas.

Num passo além, e assumida a introdução do padrão global UMTS de 3G no Brasil, a
convergência fixo-móvel-Intemet continuará assegurada, então, num patamar já bem
mais avançado. Isto porque o padrão UMTS foi desenhado para tornar-se uma
extensão natural das redes GSM, das redes fixas seguindo as recomendações da IRT
e também da Internet em seus estágios mais evoluídos (por exemplo, IPv6).

Finalmente, a convergência das redes anteriores com as redes de televisão digital
móvel e as plataformas de comunicação multimídia domésticas, interligando toda uma
miríade de equipamentos eletro-eletrônicos e de informática do cidadão do futuro,
deverá, em nosso modo de ver, ser alvo de muita atenção pela Anatel. A possibilidade
de convergência entre todas estas redes de modo internacionalmente aderente
constituirá uma das condições fundamentais para que o Brasil possa engajar-se na
construção da mais espetacular de todas as redes, a infra-estrutura global da
informação. E será ela também, muito além das próprias telecomunicações, a base
para o estabelecimento e o desenvolvimento da futura Sociedade Global da
Informação no Brasil, a ser constituída por nossos filhos e, com um pouco de sorte,
ainda mesmo por todos nós!

126 A Consulta Pública 198 e os impactos futuros da decisão da Anatel

Telecomunicações Avançadas

Os aparelhos

Os primeiros modelos chegam em junho

Por enquanto, há poucas definições entre os fornecedores de aparelhos celulares
padrão GSM. Tanto os fabricantes que já fabricam handsets no país nas tecnologias
TDMA e CDMA, como Ericsson, Motorola, Nokia, por exemplo, como os que estão fora
do mercado brasileiro de aparelhos, caso da Alcatel e da Siemens, aguardam o leilão
das licenças da banda C, para conhecer as novas operadoras e suas estratégias de
atendimento do mercado. "É impossível dizer como vamos agir sem conhecer as
regras que vão disciplinar o mercado", argumenta o gerente de marketing da Ericsson,
Aldo Moino Jr.

Mas é certo que, quando as operadoras da banda C derem a partida, provavelmente
em junho ou julho do ano que vem, já poderão contar com modelos em quantidade e
configurações capazes de atender à demanda. É o que garante o diretor de
comunicações móveis da Alcatel, João d'Amato. Ele tem certeza, também, de que os
preços, embora dependam da política das operadoras, sempre serão mais baixos do
que aqueles que hoje se praticam na venda dos modelos CDMA e TDMA, variando
entre R$ 200,00 e R$ 1.200,00.

Embora não anunciem exatamente o que vão colocar no mercado, já que sua
estratégia de fornecimento depende da estratégia a ser seguida pelas operadoras em
termos de serviços e público-alvo, os fornecedores acreditam que a demanda vai
caminhar em duas direções opostas: de um lado terminais mais baratos, para atender
o usuário que não precisa de roaming, e, de outro, terminais dual mode, dual band, e
com uma gama ampla de serviços.

A Alcatel deve trazer para o Brasil a linha One TouchTM, que inclui os modelos 500,
mais popular, e 700, high-end. Em cinco cores metálicas diferentes, ambos, diz a
fabricante, destacam-se pelo desenho compacto, leveza e facilidade de assimilação e

Os aparelhos 127

Telecomunicações Avançadas

uso das funções, inclusive navegação na Internet. O One TouchTM 500 pesa 103
gramas, vem com bateria cuja autonomia é de cinco horas de conversação e custa, na
França, 2.290 francos (R$ 588,00). O modelo One TouchTM 700 trabalha com bateria
capaz de durar quatro horas em uso e custa 2.790 francos (R$ 717,79). Esses valores
são apenas referência já que a política de preços é determinada, de fato, pela
operadora, pois compra diretamente dos fabricantes e distribui para a sua rede com o
preço que fixa. Em boa parte dos casos há subsídio.

A Nokia, que, segundo a Dataquest, divisão de pesquisa do GartnerGroup, é a
empresa que mais vende celulares de diferentes padrões no mundo, com 27,5% do
volume comercializado (veja a tabela), deve oferecer, como carro-chefe, o modelo
Nokia 2190, o mais popular, em quatro cores diferentes, vendido, em média, a
US$ 400 nos mercados europeu e asiático. Com bateria para três horas de
conversação, faz acesso à Internet, manda e envia mensagens (e-mail, fax e arquivos
de computador). Mas há, também, o Nokia 9000il, na verdade, "um computador com
funções de telefone", capaz de receber e enviar, via Intemet, mensagens de voz,
dados e imagens, encontrado por até US$ 1.000 no mercado internacional.

A Siemens ocupa a sexta posição no ranking dos fornecedores de terminais em geral.

Mas, segundo ela mesma, é a primeira em modelos GSM, com mais de 35 milhões de

unidades vendidas e pretende capitalizar essa posição no mercado brasileiro, avisa o

diretor-geral da divisão Information and Communications, Aluízio Byrro. A alemã

promete trazer os modelos Siemens S40 e S42, que devem ser produzidos no Brasil já

a partir do ano que vem. Triband, o que lhes permite operar nas faixas de 800, 1800 e

128 Os aparelhos

Telecomunicações Avançadas

1900 MHz, os dois pesam cerca de 100 gramas e, na cor metálica, oferecem todas as
funções básicas (agendas, relógio, calculadora, etc.). Mas é forte sobretudo na
transmissão de dados em conexão com a Internet, a 28,8 kbps.

A Motorola fabrica uma coleção de modelos padrão GSM. Mas deve entrar no mercado
brasileiro, inicialmente, com o Accompli A6188, anunciado como "o celular do futuro"
ou "sonho de todo executivo". Perfeito três-em-um, junta num mesmo equipamento
funções de telefone, computador de mão (handheld) e acesso rápido à Internet. Com
apenas 150 gramas, dual band (900 e 1800 MHz), tem calendário, calculadora,
dicionário e armazenagem de telefones, notas e endereços. Além disso, permite
selecionar dia e horário para o envio de mensagens - nas datas de aniversário é
possível mandar felicitações ou no caso de uma reunião importante, um lembrete para
toda a equipe. A tela do Accompli A6188 é grande e em LCD, o que facilita a leitura e
visualização gráfica. O preço médio do aparelho, na China, é de US$ 400.

A Ericsson reserva para o Brasil os modelos A2618s e R380s (900 e 1800 MHz) e
R520m (800, 900 e 1800 MHz) em cinco cores diferentes - prata, amarelo e vermelho
para o primeiro modelo; vinho para o segundo e marrom para o terceiro. O primeiro,
mais popular, na linha light, atende basicamente aplicações de short messages, tem
bateria para quatro horas de conversação, toca música e oferece pequena coleção de
jogos. O R380s, com bateria de mesma autonomia, é sob medida para profissionais de
campo, contemplando, entre outras funcionalidades, lista de contatos, calendário,
serviço de mensagens, memória de voz, sincronização com PC, comando de voz,
horário mundial, Vcard/Vcalendar. O R520m, triband, é para executivos. Com bateria
para quase oito horas de conversação, traz todas as funções do modelo R380s mais
apuradas. Mas também, entre outras funcionalidades, permite enviar dados à
velocidade de 28,8 kbps, inclusive cartões de visita, e permite a conversa em sistema
de viva-voz, de até três pessoas. A Ericsson não forneceu sequer os preços dos
produtos no mercado externo.

Os aparelhos 129



Telecomunicações Avançadas

Serviço Móvel Pessoal
Revoluciona Mercado

A Anatel, valendo-se do lançamento de nova faixa de freqüência para as
comunicações pessoais sem fio, jogou firme no tabuleiro do modelo para, num
golpe de mestre, induzir a convergência das operadoras em grandes grupos no
País

O primeiro passo foi a escolha, em 21 de junho, da
faixa de 1,8 GHz, a ser licitada, para o Serviço
Móvel Pessoal - SMP - de segunda geração (2G).
O Conselho-Diretor da Anatel escolheu esta faixa
por unanimidade, salvo o voto do presidente da
Agência, Renato Guerreiro, que optou peta
alternativa de 1,9 GHz.

Em termos simples, o SMP é o atual Serviço Móvel
Celular - SMC - hoje operado nas faixas de 800 e
900 MHz, nas Bandas A e B, transposto para uma
faixa mais alta. O segundo passo foi estabelecer o
Serviço Móvel Pessoal - SMP - com a mesma área
do Serviço de Telefonia Fixo Comutado - STFC -,
além de alterar a condução de chamadas de longa
distância nacional e internacional.

O atual SMC nasceu com a Lei Mínima e foi um
dos arietes da privatização. Dele resultaram 22
operadores, 10 áreas de exploração nas faixas de
freqüência A, para as concessionárias herdeiras
dos ativos da Telebrás; e B, para as operadoras

Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado 131

Telecomunicações Avançadas

que compraram espectro em leilão público. O regime adotado para o SMC é o de
duopólio e tarifas.

Já o SMP, estruturado petas diretrizes da Consulta Pública n." 241, de 10 de julho
deste ano, se destina a dar mais opções ao usuário licitando novas subfaixas, mas
liberando os preços (que serão vigiados) e deixando o usuário escolher,
numericamente, o operador em chamadas de Longa distância.

Segundo o relator da matéria, o conselheiro da Anatel José leite Pereira Filho, a
abertura da nova faixa em 1.8 GHz para o serviço celular visou: 1) trazer maior
competição ao atual mercado do serviço celular de segunda geração, com as Banda C,
D e E; e 2) introduzir, dentro de dois a três anos, o serviço celular de faixa Larga, de
terceira geração IMT-2000, no quadro preconizado peta UIT para a faixa de 1.912.1
GHz.

A grosso modo, a faixa de 1.8 GHz, hoje, tem disponível no mercado a tecnologia 2G
européia Global System Mobile - GSM -, espalhada pelo mundo; e o Code Division
Multíple Access - COMA - da Coréia. A faixa de 1.9 GHz é ocupada nos EUA pelo
Personal Communications System - PCS - com tecnologias CDMA e TDMA - Time
Division Multiple Access - e pelo GSM americano.

No lançamento do SMP, o Brasil divergiu das recomendações da Cite órgão da OEA
que goza da hegemonia dos EUA - e não se alinhou com os demais países da América
latina, ao optar pela faixa de 1.8 GHz e, indiretamente, o GSM europeu.

A Anatel aguardou o término da Radioconferência da UIT em Istambul (Turquia),
terminada em junho deste ano, que reforçou a faixa de 1.9 (uplink) e 2.1 (downlink)
GHz e abriu a faixa de 2.5 GHz para o IMT- 2000 de terceira geração, em faixa Larga.
O UMTS - Universal Mobile Telecommunications System - é o IMT- 2000 - International
Mobile Telecommunications - na versão W-COMA - Wideband COMA - e aguardado
para breve no Reino Unido e no Japão, com equipamentos já disponíveis em 2002.

132 Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado

Telecomunicações Avançadas

Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado 133

Telecomunicações Avançadas

O bê-á-bá da mudança

Com a licitação das novas Sub-Bandas celulares - C, D e E - e a abertura total do
mercado planejada para 2002, a Anatel está redesenhando totalmente o modelo
implantado com a privatização.

Como é o atual modelo?
São quatro concessionárias de telefonia fixa comutada - Telemar, Brasil Telecom e
Telesp, nas Regiões I, II e III; e uma de longa distância inter-regional e internacional, a
Embratel, considerada Região IV.

São quatro concessionárias-espelhos: Vésper (Regiões I e II), Global Village (III) e
Intelig (IV).

A organização do celular?
São 22 concessionárias nas Bandas A e B, operando em duopólio em dez áreas.

O modelo funcionou?
Segundo a Anatel, parcialmente. Ele implantou cerca de 19 milhões de terminais
celulares, mas se estabilizou do ponto de vista da competição.

O que pretende a Anatel?
Mudar o modelo do duopólio (duas empresas por área), de modo a aumentar a
penetração do celular junto à população. A idéia é dar cinco opções de celular ao
cliente: A, B, C, D e E. Também se quer criar empresas maiores (numa região) para se
ter grandeza de escala.

Como é a mudança do modelo?
Muda o regime do celular e ocorre a abertura total do mercado, em 2002. Isto é,
qualquer um vai poder pedir para fazer uma ligação fixa. O sem fio só ocorre via
licitação, porque envolve espectro, um bem escasso.

Como é o processo para mudar o celular?
Vai haver licitação do espectro, primeiro da Sub-Banda C e depois das D e E para
fazer SMP (Serviço Móvel Pessoal). As atuais operadoras das Bandas A e B serão
induzidas a optar do atual regime de concessão SMC (Serviço Móvel Celular) para
autorização SMP (Serviço Móvel Pessoal), que é mais flexível.

134 Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado

Telecomunicações Avançadas

As regas do jogo da licitação?
As subfaixas C, D e E serão licitadas por região - I, II e III -, num total de nove
autorizações. Pode participar da C qualquer um, menos a Telemar, Brasil Telecom,
Telesp e Embratel. Tal limitação cai para a licitação das D e E, que entram em
operação só em 2002.

Há alguma limitação no modelo?
Sim e é importante. Nenhum grupo pode deter mais de uma concessão, permissão ou
autorização para serviço móvel em uma mesma região.

Mas, um mesmo grupo poderá deter, digamos, Banda D nas Regiões I, II e III?
Sim.

Qual vai ser a estratégia de quem já está no mercado?
Manoel Horácio, da Telemar, declarou no TELEBRASILTV que vai partir para o SMP
no Brasil todo. A Telefônica, a Brasil Telecom, a Vésper e a Intelig devem ter planos
similares.

A Banda C vai trazer novos investidores ou dinheiro novo?
É provável; mas só a licitação dirá.

E as operadoras das A e B como ficam?
Quem não migrar do regime de SMC para SMP deixa de ganhar autorização para
operar ligações de longa distância e internacional e o direito de concorrer a um
pouquinho de espectro adicional. Os operadores das subfaixas A e B podem tentar
fazer fusões e parcerias para dominar uma região.

O que vai acontecer em 2002?
O mercado estará aberto. As fixas terão ou não obtido autorização para operar SMP
numa região ou em mais de uma. Todo mundo poderá operar longa distância (inter-
regional, intra-regional e internacional). As celulares terão, por sua vez, tentado obter
fusões e se ampliar. Todo mundo poderá pedir para operar um acesso fixo (inclusive a
tevê a cabo). As fixas vão querer o sem fio e as celulares, o fixo. Abertura total.

Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado 135

Telecomunicações Avançadas

E a questão das freqüências?
Vai haver licitação das subfaixas C, D e E em 1,8 GHz, que traz a reboque a tecnologia
GSM. As subfaixas A e B operam em freqüência mais baixa, de 800/900 MHz. A faixa
de 1,9 GHz fica reservada para implantação da terceira geração, IMT-2000.
Audiência Pública

A Audiência Pública sobre as diretrizes do SMP ocorreu, em 20 de junho, no Auditório
Cultural que a Agência mantém em Brasília. Foi coordenada por Amadeu de Paula
Castro Neto, Santos José Gouvêa e Francisco Eugênio, todos da Anatel. Um universo
de 260 representantes de operadoras, fornecedores, imprensa, observadores,
investidores e consultores ouviram os esclarecimentos da Agência sobre 300 questões
elaboradas por 60 entidades.

O artigo n.º 35 – que trata do ajuste de controle societário, inclusive por meio de "fusão
e de incorporação de empresas, para compatibilizar as áreas de prestação do serviço
com as Regiões I (Rj ao Amapá), II (RS ao Acre) e III (SP)", pelo número de perguntas
– foi objeto de esclarecimentos em separado, e resultou na observação da mesa de
que "cada caso deverá ser tratado como um caso”.

Na Audiência da Anatel, não se discutiram aspectos jurídicos. Foi pressuposto pela
Agência que as diretrizes n.º 241, para se tornarem públicas, já estariam corretas
perante a lei.

A licitação das Faixas C, D e E deverá ocorrer na Bolsa de Valores do Rio de janeiro,
com edital correndo ainda em agosto. O julgamento será pela melhor oferta, com
metade do pagamento feito na assinatura do termo e o restante em 12 meses. Primeiro
serão licitadas as três regiões da Banda C e as das Bandas D e E, sucessivamente.
Estima-se que os vencedores da Banda C já serão conhecidos em outubro deste ano.

A chegada da faixa de 1,8 GHz também vai mexer com o interesse de um grande
número de fornecedores aqui instalados. O mercado brasileiro de infra-estrutura SMC
tem contado como uma grande participação da Nortel e da Ericsson, dentre outras.

Em termos mundiais e para só citar os maiores, Nokia, Motorola e NEC detêm cerca
de 65% do mercado mundial de terminais, com predominância das tecnologias GSM
(56%), CDMA (12%), PDC (11%) e TDMA (10%).

136 Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado

Telecomunicações Avançadas

Na área de infra-estrutura, a Ericsson, Lucent e Nortel fabricam todos os componentes
de rede para todos os padrões (TDMA, CDMA, a 1,9 GHz; e GSM 1,8 e 1,9 GHz).
Enquanto isso, a Alcatel, Siemens e Nokia optaram em concentrar suas energias na
tecnologia GSM.

Novo modelo

A chegada do SMP vai modificar o atual modelo brasileiro das telecomunicações (veja
quadros), hoje baseado no SMC. Este modelo todos conhecem – são quatro em –
presas de Serviço Fixo Comutado (inclui Embratel para longa distância nacional e
internacional) que competem com suas espelhos. No SMC são 22 empresas, em 10
regiões, que competem em duopólio nas Bandas A (empresas oriundas do Sistema
Telebrás) e B (aquisição de espectro em leilão).

No SMC, à exceção da BCP (ganhou 47,1% do mercado), na Grande São Paulo; e
ATL (ganhou 35% do mercado), no Rio de Janeiro e Espírito Santo, as operadoras da
Banda B tiveram baixa penetração.

O SMP é o serviço móvel terrestre, de interesse coletivo, que possibilita a
comunicação entre estações móveis e destas para outras estações.

“O novo modelo não está mais interessado em fracionar os investidores em várias
áreas geográficas e sim ter grandes grupos explorando os serviços fixos e móveis no
País" – explicou à TELEBRASIL José Leite Pereira Filho, conselheiro da Anatel.

Os caminhos para o investidor serão vários. Ele pode adquirir empresas existentes,
entrar nas licitações das faixas que vão sendo abertas pela Anatel e, após 2002, pedir
autorização para explorar qualquer serviço, em qualquer região, dentro do critério de
não competir consigo próprio, no mesmo serviço e local, a fim de manter o princípio da
concorrência.

Resta tratar dos atuais operadores das Bandas A e B. Eles podem optar por
permanecer no Serviço Móvel Celular - SMC - ou migrar para o regime Serviço Móvel
Pessoal – SMP. Caso mudem de regime de exploração, poderão adquirir
onerosamente 5 MHz adicionais na Banda 1,9 GHz e vão ganhar autorizações para
Serviço Telefônico Fixo - STFC - de longa distancia nacional e internacional. Caso não
optem, a transferência do controle do SMC será daqui a cinco anos.

Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado 137

Telecomunicações Avançadas

Desse jogo de negócios resulta um quebra-cabeças a ser resolvido com pesquisa
operacional. É preciso distinguir autorização e controle. A situação mais divergente é
ter as Sub-Bandas C, D e E, em cada uma das três áreas, licitadas para grupos
distintos e novos. No cenário convergente, as subfaixas vão ter a grupos que já
operam no País e se adaptam para ganhar em todas as regiões de modo a cobrir todo
o Brasil.

Não é improvável que espanhóis (grupo Telefônica), norte-americanos (grupo
Embratel/WorldComm), italianos (grupo Brasil Telecom) e brasileiros (grupo Telemar)
disputem as Subfaixas D e E, com ênfase em sua própria região. Nas três subfaixas,
europeus (Intelig), canadenses (Vésper), empresas celulares, como BCP (Bell South),
Telesp Celular (Portugal Telecom) e ATL (Algar) podem querer ampliar sua cobertura.

138 Serviço Móvel Pessoal revoluciona mercado

Telecomunicações Avançadas

Telefonia Internet Protocol,
uma rede para a próxima
geração

Voz sobre IP, nos últimos anos, tornou-se um tema relevante devido aos avanços
tecnológicos que possibilitam a utilização de uma única rede de
telecomunicações para o transporte dos serviços de voz, vídeo e dados

Esta rede de próxima geração é baseada no protocolo IP e está sendo implantada pela
maioria das empresas operadoras e corporações. A escolha do IP tem sido motivada
principalmente pela explosão da demanda de serviços Internet. Atualmente, o
crescimento do tráfego IP é muito maior do que o de voz e de outros tipos de dados
(hoje em dia, o maior tráfego que o ATM transporta é IP).

As principais vantagens da migração para uma rede única IP estão na oferta mais
rápida de novos serviços, no gerenciamento centralizado, na padronização da infra-
estrutura e na redução dos custos de manutenção. Esta rede IP deverá fornecer a
mesma qualidade de serviço das redes atuais. Os consumidores compram serviços e
estes devem possuir uma qualidade satisfatória, independentemente da tecnologia
utilizada.

Para a viabilidade do serviço de telefonia IP, deve-se implantar redes que forneçam no
mínimo o mesmo nível de qualidade de serviço das redes atuais de voz, tanto em
relação a qualidade de voz quanto a facilidade de uso, tempo de estabelecimento de
chamadas, disponibilidade, e segurança. Nas redes IP atuais, os pacotes IP que
transportam voz são tratados do mesmo modo que qualquer outro pacote. Isto provoca
atrasos, variações no atraso e perdas levando a uma degradação na qualidade de voz.
Novos protocolos e técnicas têm surgido, assegurando a diferenciação do tráfego de
modo que os mais sensíveis ao atraso e perdas recebam tratamento preferencial em
relação aos menos sensíveis. Entre os protocolos e técnicas que apareceram

Telefonia Internet Protocol, uma rede para a próxima geração 139

Telecomunicações Avançadas

recentemente, para a garantia da qualidade de serviço nas redes IP, destacam-se o
RSVP, DiffServ e MPLS.

Desde o final dos anos 70, existem pesquisas de transmissão de sinais de voz sobre
as redes de pacotes. O emprego pelo mercado da telefonia IP iniciou-se em 1995
quando a VocalTec lançou um software para PC, que abria uma conexão entre dois
micros sobre uma rede IP. Depois disto, vários outros programas foram lançados. Em
1996, foram realizados os primeiros testes entre as redes RTPC - Rede Telefônica
Pública Comutada e IP. A Delta Three lançou, um ano depois, o primeiro serviço
telefone a telefone para uso comercial.

Atualmente, o principal motivador, entre os consumidores, para a utilização da telefonia
IP é a redução no custo das ligações nacionais e internacionais. Além disso, a telefonia
IP permite o desenvolvimento de novos serviços, principalmente devido a facilidade de
integração com a WEB. É possível, por exemplo, desenvolver serviços onde
atendentes podem orientar em tempo real os consumidores, enquanto estes navegam
pelos sites de comércio eletrônico ou jogos eletrônicos interativos online, que permitem
a conversação à distância entre os competidores.

Funcionamento
O funcionamento da telefonia IP, a partir da conexão entre dois telefones analógicos,
pode ser entendido, de uma maneira simplificada, do seguinte modo: inicialmente, os
sinais de voz analógicos são amostrados e digitalizados utilizando um PCM. A seguir,
pode ser utilizado um codec para a compressão do sinal de modo a reduzir a banda.
Também pode ser usado um detector de atividade de voz para a supressão do
silêncio, que normalmente ocorre durante uma conversação, também com o objetivo

140 Telefonia Internet Protocol, uma rede para a próxima geração

Telecomunicações Avançadas

de redução de banda. A partir deste ponto, monta-se os pacotes IP, com uma dada
quantidade do sinal de voz, sem se criar grandes pacotes, o que demandaria um longo
tempo de preenchimento, provocando atrasos maiores. Utiliza-se o UDP como
protocolo de transporte, devido a sua maior simplicidade e desempenho quando
comparado ao TCP, e o fato do UDP não retransmitir pacotes perdidos (sem utilidade
durante uma conversação em tempo real). O RTP é usado como protocolo de camada
de aplicação para a transmissão das informações de temporização e seqüenciamento.
Todas essas funções são realizadas pelos gateways, que funcionam como interface
entre a RTPC e a rede IP. Os pacotes IP, com os sinais de voz, são transmitidos
através da rede IP até um gateway, onde está localizado o ponto terminal referente ao
telefone de destino. Neste gateway, o sinal de voz é então desempacotado,
decodificado e transformado novamente em um sinal analógico.

A transição das redes de circuito (RTPC) para as redes de pacote (IP) já se iniciou.
Entretanto, a telefonia IP continua embrionária. Devido a isto, muita discussão tem
ocorrido sobre qual protocolo é melhor para efetuar essa transição. Atualmente, quatro
protocolos têm se destacado: H.323, SIP, MGCP e Megaco.

O H.323 é uma família de protocolos para a multimídia em redes sem qualidade de
serviço (redes IP). Este protocolo foi o primeiro utilizado na telefonia IP e foi
desenvolvido no International Telecommunications Union – ITU –, utilizando várias
características do protocolo H.320 das redes RDSI. Esta família de protocolos possui
protocolos para a codificação dos sinais de voz (G.7XX), vídeo (H.26X) e texto (T.12X)
e protocolos de sinalização de chamada, tais como H.225 para o estabelecimento e
H.245 para a troca de informações sobre as capacidades. Os sinais de voz e vídeo são

Telefonia Internet Protocol, uma rede para a próxima geração 141

Telecomunicações Avançadas

transportados pelo UDP e os de sinalização e texto pelo TCP. O H.323 define quatro
elementos de rede principais: terminais inteligentes, para a comunicação dos usuários;
gateways de interface entre as redes de circuitos e IP; gatekeepers de gerência,
localização dos usuários, bilhetagem e controle das chamadas; e Multipoint Control
Units – MCUs – de gerência de conferências com mais de dois usuários. O H.323
assume um modelo de clientes inteligentes e inteligência distribuída pela rede. Este
tipo de modelo facilita o desenvolvimento de novos serviços, mas dificulta o
gerenciamento centralizado e a evolução do sistema, devido à necessidade de
atualização de todos os clientes. Por ser um protocolo oriundo da rede de circuitos, é
complexo, pesado, de difícil interoperabilidade e com problemas de escalabilidade em
WANs. Por ser o mais antigo, a maioria dos sistemas implantados e disponíveis no
mercado segue este padrão. O H.323 possui grande penetração no mercado de redes
locais.

O SIP é um protocolo de controle de camada de aplicação desenvolvido pelo IETF
para o estabelecimento, modificação e término de sessões multimídia. O SIP assume
um modelo de clientes inteligentes e de uso de protocolos existentes na Internet.
Possui como elementos de rede: terminais, gateways e servidores proxy e de
redirecionamento. O SIP ainda utiliza os mesmos codecs e protocolo de transporte de
mídia do H.323, mas diferentemente deste usa prioritariamente o UDP para o
transporte da sinalização das chamadas. Como todo protocolo oriundo da WEB, é
flexível, escalável, simples e de fácil interoperabilidade. A principal vantagem do SIP
em relação aos seus concorrentes é a sua total integração com a WEB, o que facilita o
desenvolvimento de serviços integrados. O endereçamento do SIP é baseado em
URLS, o que permite a divulgação de endereços através de páginas HTML e e-mails.
Os primeiros produtos serão lançados no mercado neste semestre e, pelas previsões
dos analistas, devem despertar interesse nos provedores de serviço Internet (ISPs)
que pretendem também oferecer serviços de telefonia.

O MGCP e Megaco são protocolos que assumem um modelo de clientes burros e
inteligência centralizada na rede. Estão sendo desenvolvidos pelo IETF, sendo que o
Megaco é um desenvolvimento conjunto com ITU sob o nome de H.248. O MGCP é
um protocolo de controle entre o controlador de gateway e os gateways SS7 e de
mídia e que utiliza o UDP. Com a centralização da inteligência nos controladores de
gateway, os terminais e gateways ficam mais baratos e a gerencia do serviço
centralizada, permitindo uma tarifação mais simples. Devido a estas características, o
MGCP e Megaco têm despertado grande interesse nas operadoras e fabricantes de

142 Telefonia Internet Protocol, uma rede para a próxima geração

Telecomunicações Avançadas

equipamentos de telecomunicações. Os primeiros produtos utilizando o protocolo
MGCP foram lançados no primeiro semestre de 2000.

Telefonia Internet Protocol, uma rede para a próxima geração 143



Telecomunicações Avançadas

Que venham os contratos

A escolha da faixa de 1,8 GHz para as Bandas C, D e E reconfigurou o cenário de
fornecedores: enquanto uns perderam vantagens, outros devem vir com força
total. A maioria, por enquanto, demonstra confiança – até que os contratos
digam quem vai prevalecer

O segmento de fornecedores de infra-estrutura e terminais wireless foi um dos que
aguardou com mais ansiedade as definições da Anatel. Agora, encerrada a batalha
verbal de vários meses entre os defensores de cada uma das duas faixas de
freqüência possíveis, tanto os "vencedores" como os "perdedores" avaliam suas
possibilidades dentro de uma realidade mais complexa e aberta a um número maior de
atores. Na verdade, o que houve até agora foi apenas a preparação do cenário para
que a guerra de verdade – a dos contratos – comece.

Bloco promissor
Antes unido nos argumentos, o grupo que defendeu vigorosamente o 1,8 GHz mostra
algumas diferenças nas primeiras reações após a escolha. A Siemens, uma das
principais desenvolvedoras de terminais e redes GSM no mundo, tem mantido uma
postura mais entusiástica: confirmou suas intenções – divulgadas desde o fim do ano –
em investir fortemente no País. Cerca de R$ 30 milhões seriam gastos para construir
uma fábrica de terminais no ano que vem, provavelmente em Manaus (AM). Já a
entrada da Siemens no mercado de infra-estrutura wireless, atividade de que não
participa no Brasil por não trabalhar com os padrões CDMA e TDMA de segunda
geração, também é encarada como forte possibilidade por Mario Baumgarten,
consultor-geral de Marketing Estratégico da Siemens. Temos grande experiência em
GSM em nível mundial e nos enxergamos fabricando equipamentos no Brasil, apesar
disso depender de contratos fechados", sintetizou. Os investimentos em redes seriam
da ordem de R$ 20 milhões na adaptação da fábrica da empresa em Curitiba (PR), que
atualmente é voltada para redes de telefonia fixa. Para Baumgarten, o investimento na
fabricação de novos switches seria apenas de software, já que o hardware seria

Que venham os contratos 145

Telecomunicações Avançadas

essencialmente o mesmo. Já a parte de transporte e rádio sofreria adaptações para a
fabricação das ERBs.

Outro gigante mundial que tem a chance de se reposicionar no segmento brasileiro de
wireless no Brasil é a Alcatel. A empresa praticamente já decidiu a construção de uma
fábrica de terminais – em local ainda não definido – e aguarda contratos para começar
a atuar em redes. Neste caso, a Alcatel aproveitaria a fábrica que já tem em São
Paulo, criando uma nova linha de produção para ERBs e adaptando a parte de
comutação. Os investimentos da empresa em 2001, numa previsão que inclui infra-
estrutura, terminais e um centro de competência em wireless, são estimados em R$ 50
milhões.

“Conseguimos participação importante em muitos mercados, como a Espanha, mesmo
tendo começado tardiamente. No Brasil, nossa oportunidade é agora” – afirmou João
D'Amato, diretor de Radiocomunicações da Alcatel.

Mais cautelosa, a Nokia não dá maiores detalhes sobre seus planos. Apesar disso, é
presumível que as aspirações da empresa não sejam pequenas, dada a posição da
empresa de maior fabricante mundial de handsets e vice-líder em redes GSM. Há boas
chances que a fábrica que a empresa tem em joint-venture com a Gradiente para a
fabricação de terminais TDMA e CDMA seja adaptada para incluir produtos GSM. Já a
parte de infra-estrutura exigiria maiores recursos, com o planejamento de um complexo
industrial inteiramente novo.

“Sempre analisamos o tamanho do mercado antes de tomar decisões. Neste caso,
teremos atenção especial, uma vez que o Brasil já é o sétimo maior mercado da Nokia
em nível mundial” - adiantou Yolande Pineda, gerente de Marketing da Nokia Networks
Latin America.

Sem abalo
O bloco de fabricantes que já tinha uma infra-estrutura montada para redes CDMA e
TDMA no País, como Ericsson, Nortel, Lucent e Motorola, procurou não demonstrar
abalo diante das decisões da Anatel. Na verdade, estas empresas continuam fortes no
jogo, só que agora vão ter de conviver com uma competição mais séria. Elas contam,
basicamente, com duas possibilidades. Uma delas é continuar investindo pesadamente
no fornecimento para as Bandas A e B, que se manterão absolutas no mercado até ao
menos a metade de 2001, e mesmo depois disso deverão ser majoritárias por um bom
tempo. A outra opção é, paralelamente, investir na fabricação de equipamentos e

146 Que venham os contratos

Telecomunicações Avançadas

terminais GSM 1,8 GHZ, o que exigirá maiores esforços técnicos e financeiros do que
seria necessário se as novas licenças fossem em 1,9 GHz. Mesmo assim, tal decisão
pode se fazer necessária, uma vez que a criação do SMP abriu oportunidade para o
estabelecimento de nove novas operadoras, sendo que todos os futuros contratos
muito provavelmente serão voltados para tecnologia GSM.

De uma forma ou de outra, o bloco dos estabelecidos já flerta com o GSM no Brasil. A
mais convicta é a Ericsson, que anunciou um investimento de US$ 70 milhões. A
quantia seria aplicada na fabricação de infra-estrutura e terminais GSM, em seu
complexo industrial de São José dos Campos (SP). Outros R$ 116 milhões seriam
gastos na criação de dois centros de excelência em software em Campinas (SP),
atendendo as telefonias fixa e wireless. "A fórmulas de três licenças para cada nova
Banda dá grandes chances aos fornecedores e incentiva os investimentos", observou
Gehard Weise, presidente da Ericsson do Brasil.

Sem falar em quantias, a Lucent praticamente já confirmou suas intenções no novo
cenário. "Estamos com estudos prontos sobre o tema. Para fabricar equipamentos
GSM no Brasil, bastam-nos pequenos ajustes na linha de produção", revelou Luiz
Cláudio Rosa, diretor de Tecnologia da Lucent. Ainda mais prudente, o diretor de
Novos Negócios da Nortel, Marcelo Angione, desconsiderou as declarações das
concorrentes, questionando o tamanho do mercado.

“O que existe por aí é muito papo de marketing. Não adianta montar uma fábrica nova
se você não sabe o que e para quem vai vender” – raciocinou o executivo,
acrescentando que a Nortel poderia importar equipamentos e handsets de suas filiais
mundo afora, caso chegue à conclusão que não valha a pena produzir GSM no Brasil.

A Motorola, que também opera amplamente com equipamentos e terminais CDMA,
TDMA e GSM em nível mundial, não se pronunciou sobre o assunto ao ser procurada.
Coincidentemente, na mesma semana em que as diretrizes do SMP eram anunciadas,
a empresa divulgava dois novos contratos com a Telesp Celular, no valor total de US$
48 milhões para expansão da rede do CDMA da operadora no interior paulista. Sinais
que, apesar de não haver maiores impedimentos para que a Motorola também adote
GSM no País, a empresa ainda tem muito a lucrar com seus negócios atuais.

Orientais
Em menor evidência durante toda disputa, outras empresas , quase todas de origem
asiática, terão seus destinos no Brasil influenciados pelas definições de freqüência. A

Que venham os contratos 147

Telecomunicações Avançadas

NEC, pioneira na implantação de redes celulares no País, passa por uma fase de
reestruturação. Ela tende a participar da disputa por novos contratos, pois além de
estar se focando em outras áreas, fabrica GSM em pequena escala em termos
mundiais. Já as coreanas Samsung e Kyocera têm grandes interesses. A primeira
anunciou ampliar sua fábrica em Manaus (AM), pretendendo destinar ao GSM 10%
dos 1,5 milhões de terminais que planeja fabricar anualmente. A médio prazo, a
empresa também estuda a atuação no nicho de infra-estrutura. A Kyocera, por sua
vez, entrou no páreo ao adquirir, em janeiro, a divisão global da Qualcomrn para a
fabricação de terminais. O general manager da Kyocera Wireless Brasil, Sérgio
Haguiara, preferiu não revelar maiores planos da empresa nesta fase de absorção da
estrutura da Qualcomm, mas indicou que o foco principal deverá ser os aparelhos
CDMA.

O elemento surpresa poderá ser a chinesa Huawei, que há dois anos sonda negócios
no Brasil, mas que só agora tende a se estabelecer de maneira mais concreta. A
companhia conta com cerca de um quinto do mercado chinês de infra-estrutura GSM
(que tem quase 40 milhões de usuários) e tem presença expressiva no resto da Ásia,
principalmente no Oriente Médio. No Brasil, a Huawei anunciou investimentos de
US$ 30 milhões, a serem aplicados na construção de uma fábrica voltada para redes
fixas e wireless, que pode ser localizada em São Paulo, Espírito Santo ou no Nordeste.

“Temos grande confiança no mercado brasileiro” – afirmou Rick Zhou, gerente regional
da Huawei no Rio de janeiro.

148 Que venham os contratos

Telecomunicações Avançadas

Que venham os contratos 149


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