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Published by , 2017-10-30 15:22:30

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www.revistadbo.com.br

FORÇA

NOS OSSOS,
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Perrone a administrava, nos auxiliando desde o início da Vallée, o ADE VALLÉE, obtivemos resultados satisfatórios
do Confinamento, sempre comprometida com a com ganhos importantes para os animais. Hoje o protocolo de
produção eficiente de animais saudáveis. terminação da propriedade é, Exceller (endectocida a base de
doramectina), Poli-Star (vacina anti-clostridial com botulismo) e a
Temos uma parceria enraizada na tradição nova ADE VALLÉE (suplemento vitamínico). Reforço que a utilização
e confiança de anos de trabalho em conjunto, mas de produtos de qualidade, mais a assistência técnica prestada pela
também na inovação de soluções e de superação de equipe da Vallée a campo tem sido fundamental para assegurar
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Nossos Assuntos

Como vencer o desafio da www.revistadbo.com.br
eficiência em pequenas áreas
Publicação mensal da
T amanho não é documento, DBO Editores Associados Ltda.
diz a chamada da reportagem Diretores
de capa, mas o desafio de ser Daniel Bilk Costa
eficiente e lucrativo fazendo Demétrio Costa
pecuária sem muita terra Odemar Costa

não é pequeno. Tomando Redação
Diretor Responsável
como base propriedades com áreas de até Demétrio Costa
Editor Executivo
600 hectares no Brasil Central e menores Moacir de Souza José
Editora Assistente
que isso no Sudeste e Sul, consultores Maristela Franco
Repórteres
ouvidos pelo repórter Ariosto Mesquita Fernando Yassu, Marina Salles,
Mônica Costa e Renato Villela
apontam o que consideram essencial para a Colaboradores
Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina
viabilidade da pecuária de corte, desde ser Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani,
Mariane Crespolini, Niza Souza, Rogério
Demétrio Costa tope em tecnologia a estar muito atento às Goulart, Sérgio De Zen e Tatiana Souto.
oportunidades, além de foco muito definido,
como só recria ou recria e engorda. Bons Arte
Editor
exemplos disso Ariosto trouxe da Estância Edgar Pera
Editoração
Bacuri, de São José dos Quatro Marcos, no Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim
Coordenação Gráfica
MT, que consegue rentabilidade de soja, ou Walter Simões

seja, cerca de R$ 1.000 por hectare/ano, com menos de comercial/Marketing
Gerente: Rosana Minante
300 ha de pasto; e da Fazenda Ledacara, de Selvíria, MS, Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas
Executivos de Contas: Andrea Canal,
com lucratividade equivalente em sistema de recria, numa José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida
Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta
área produtiva de 555 ha. Vale conferir as estratégias de
Circulação e Assinaturas
cada uma e outras alternativas levantadas na reportagem, Gerente: Edna Aguiar

como a do cooperativismo que se tem revelado boa no Tiragem e circulação auditadas pelo

Paraná. Impressão e Acabamento
Log&Print Gráfica e Logística S.A.
No dia a dia do mercado, a recuperação forte na
DBO Editores Associados Ltda.
cotação da arroba em agosto não avançou em setembro Rua Dona Germaine Burchard, 229
Perdizes, São Paulo, SP 05002-900
e a visão dos analistas se dirige para 2019, quando se Tel.: 11 3879-7099

espera a reversão sustentável do ciclo pecuário. Para Para assinar, ligue 0800 11 06 18,
de segunda a sexta, horário comercial.
quem se dedica à cria, a recomendação é de que vale a Ou acesse www.assinedbo.com.br

pena o esforço de preservar o plantel de matrizes para Para anunciar, ligue
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usufruir da valorização dos bezerros que irão nascer no ou [email protected]

ano que vem.

Com o título “João K, o embaixador da integração”,

a seção Prosa Quente traz a entrevista com João

Klutskouski que vale, ao mesmo tempo, como uma

homenagem a este respeitado pesquisador da Embrapa,

considerado um dos pais da Integração Lavoura-Pecuária.

O primeiro programa que desenvolveu nesta direção

foi o Sistema Barreirão, lançado em 1983, consórcio de

lavoura e capim que barateava a reforma de pastagens

Apps degradadas e base para outros sistemas na mesma linha,

Para ver a tão difundidos na integração. Na entrevista, João K

diz que hoje a Embrapa toda trabalha com integração,
edição digital, envolvendo mais de 200 pesquisadores, prevendo que a
baixe os
exploração em sistemas integrados chegue a 20 milhões
aplicativos
de hectares nos próximos três a quatro anos.
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Arames Belgo: uma marca da Belgo Bekaert Arames

Sumário

Prosa Quente Integração 54 Reportagem de capa

12 João K fala da integração e da 70 Boi mostra seu valor Pequenas só
no tamanho
importância dela para a pecuária no reino do arroz Fazendas com área
reduzida mostram
Mercado 74 ILPF impulsiona produção elevada eficiência
e rentabilidade
24 Coluna do Cepea – Cria, de carne no MT
Edição: Edgar Pera
desafios e oportunidades. Instalações Arte final: Edson Alves
Foto: Ariosto Mesquita (portão de entrada
26 Em “voo de galinha”, mercado 80 Suplemento determina da fazenda ledacara, em Selvíria, MS)

fica estável em setembro. tamanho do cocho 108 C oluna do Ortolani –

28 Bezerro sobe mais de 10% Seleção Neospora, o protozoário
assassino.
no Mato Grosso do Sul 84 O Canchim São Tomé
Manejo
30 Coluna do Rogério – A alta faz ver para crer 110 “Materneiro” bem treinado

da arroba, sob três ângulos. Genética e reduz índice de mortalidade
Reprodução
Cadeia em Pauta Leilões
90 Balanço da Asbia mostra 116 Mercado volta a registrar
32 Com suspensão temporária
recuo na venda de sêmen baixas históricas
de compras, JBS dá susto em
produtores. 92 Bólus-termômetro é nova

Eventos ferramenta na detecção do cio

46 Aos 10 anos, Interconf muda de Nutrição

nome a local de realização. 98 Embrapa vai lançar sal

50 No encontro da Scot, debate sobre mineral com indutor de cio

a baixa utilização da inseminação. 102 Ração extrusada combina

Pastagens praticidade e eficiência

64 Planejamento forrageiro, arma Saúde Animal

contra a emissão de gases. 104 Calendário ajuda a combater

68 Embrapa lança cultivar mais melhor doenças reprodutivas

produtiva de azevém

Seções

8 DBO on line 34 Cadeia em Pauta notas 122 Empresas e Produtos
10 Do Leitor 88 Raças em Notícia 130 Sabor da Carne
20 Giro Rápido 120 Eventos/Agenda

6 DBO outubro 2017



DBOonline por taldbo.com.br Coloque o portaldbo.com.br entre os seus favoritos

Para acesso aos destaques desta página, digite as primeiras e mantenha-se diariamente atualizado sobre as
palavras de cada chamada na busca do Portal DBO. cotações e as notícias mais relevantes da pecuária
de corte, pecuária leiteira e agricultura.

Entrevistas Dia a dia Alta pressão melhora a
do boi gordo qualidade da carne.
Presidente da Asbia prevê crescimento nas vendas de sêmen
em 2017. Em entrevista ao editor Moacir José, Sérgio Saud Acompanhe no Pesquisadores
diz que a retração nas vendas do segmento de corte no Portal DBO as da Embrapa
primeiro semestre deverá ser compensada no segundo. Além cotações diárias Agroindústria de
disso, há boa reação no mercado da genética para leite. do boi gordo nas Alimentos apontam
principais praças como promissora a
No Rally, a pecuária mostra sua cara. pecuárias por meio tecnologia da alta
Maurício Palma Nogueira, coordenador do Rally da da análise de Sidnei pressão hidrostática
Pecuária e entrevistado da seção Prosa Quente da DBO Maschio, tirada do para melhorar a
de setembro, destaca o papel da expedição do Rally na programa Terraviva maciez da carne e a vida útil de produtos
identificação das tendências da pecuária. Para ele, o derivados com mínimas alterações de
crescimento do confinamento é e será sempre, no Brasil, DBO na TV. características nutricionais e de sabor.
reflexo da melhora da produtividade da pecuária a pasto. O processo é feito com a colocação dos
produtos embalados em plástico numa
“A lei é frouxa em relação à qualidade de sementes de câmara fechada hermeticamente e
forrageiras”, diz executivo. Em entrevista a Thuany Coelho, completada com líquido, que através de
Álvaro Peixoto, diretor geral da Barenbrug, diz que a bombas e intensificadores tem sua pressão
legislação ainda permite a venda de material com baixo grau elevada até o nível desejado. Ou seja, a maciez
de pureza, cabendo em parte às empresas conscientizar os da carne que não for conseguida pela pressão
pecuaristas sobre a importância em investir em sementes de da seleção genética poderá ser obtida com essa
melhor qualidade. outra alta pressão.

DEZ notícias a um clique

1. RS avalia retirar vacina contra 4. Exportações de carne em alta em 2017. De Documento editado pelo Conselho Federal
de Medicina Veterinária entrou em vigor em
aftosa em 2019. Estado solicitará janeiro a agosto, país exportou 5,5% a mais do setembro e traz mudanças em relação a
auditoria ao Mapa para mudar status que no mesmo período do ano passado. bem-estar animal e proíbe indicações de
sanitário antes do prazo estipulado estabelecimentos comerciais.
no Plano Nacional de Erradicação da 5. Angus prospecta negócios na Alemanha.
Febre Aftosa. 9. Como a recuperação de pastagens
Associação marcou preseça na feira de Anuga
2. Mapa publica edital de concurso. visando aumentar exportações de carne pode ajudar o meio ambiente? Estudo do
certificada. Observatório ABC mostra que recuperar
Serão contratados 300 médicos 15 milhões de hectares degradados pode
veterinários para atuarem como 6. Turquia puxa vendas de gado vivo. País foi reduzir as emissões em 40,2 milhões
auditores fiscais agropecuários. de toneladas de CO2 equivalente ao ano.
destino de quase um terço das 55 mil cabeças
3. Anffa volta a criticar o Mapa. embarcadas em agosto. 10. Ferramenta calcula custos de

Sindicato dos auditores fiscais 7. Pecuária bovina cresceu em 2016, diz IBGE. produção do confinamento. Modelo
agropecuários reitera que não foi desenvolvido na USP é gratuito; universidade
consultado em relação à reforma Total do rebanho passa de 218 milhões de também fornece indicador mensal de custos
administrativa do sistema de cabeças, com 34,4% no Centro-Oeste. para a atividade com base em SP e GO.
sanidade.
8. Veterinários têm novo código de ética.

8 DBO outubro 2017



Do leitor

Brincos em bovinos propriedade os furos são feitos uma semana Combate às moscas
após a liberação da mãe e bezerro para
Lendo reportagem “Colar de mãe”, na outro piquete. Gostaria de saber se posso usar, para
pág. 114 da DBO de setembro sobre a combater a mosca-dos-estábulos,
colocação de plaquinha de identificação Embriões de TE o mesmo tratamento proposto para
em bovinos, gostaria de saber o seguinte: a mosca-dos-chifres, publicado na
tempos atrás comprei um furador de Tenho notado que produtos provenientes reportagem sobre o assunto, na edição
orelhas para proceder exatamente como de transferência de embriões são diferentes de julho último, à página 78.
a reportagem orienta. Furava a orelha de em relação a crescimento, produção, tipo
bezerros recém-nascidos ou no máximo de padrão, etc. Mas minha dúvida é se eles Mário Campos
após dez dias de nascidos. Cerca de 20 não deveriam ser idênticos ou pelo menos São Francisco de Paula, MG
dias depois colocava o brinco. Ocorre que similares, partindo-se do princípio de que
após uns sete dias o furo já estava fechado. os embriões foram coletados de uma vaca O pesquisador Thadeu Barros, da
Com isso, acabei voltando ao método escolhida a dedo, excelente doadora de Embrapa Gado de Corte, responde:
tradicional: colocava o brinco tão logo embriões. Temos nos assustado bastante “Apesar de a mosca-dos-chifres e a
tivesse oportunidade, pois trabalho com com produtos de TE e fertilização in vitro mosca-dos-estábulos serem hematófagas
poucas vacas. Vendo o bezerro citado na (FIV) em gado de corte tanto nacional e pertencerem à mesma família
reportagem, notei que ele não tem o furo quanto importado. Não tem importado (Muscidae), são espécies que possuem
feito na orelha. Daí não entendi bem como a fazenda ou a linhagem – vários características biológicas e ecológicas bem
se faz esse procedimento. Então, gostaria produtos mostravam grande diferença distintas. Portanto, medidas de controle
de saber como fazer o furo e evitar que o na padronização. recomendadas para o controle de uma
mesmo se feche antes da cicatrização. espécie não seriam adequadas à outra.
Willy Groot
Wilson Ferreira Holambra, SP N.R.: DBO publicou, na edição de maio
Paraíso do Tocantins, TO de 2017, reportagem sobre a eficácia
O médico veterinário Pietro Baruselli de um método de controle no combate à
O zootecnista Adriano Gomes Pascoa responde: mosca-dos-estábulos.
responde: Tentando responder, sabemos que
normalmente os bovinos ovulam apenas Correções
Ainda não existem estudos específicos sobre um folículo por ciclo estral. Entretanto,
o tempo que o furo fecha em bovinos. O quando uma vaca recebe um tratamento Por um erro de digitação, foi publicado
que se sabe é que em algumas raças, como com hormônio FSH para promover uma um número errado na reportagem de
os cruzamentos com Angus, o furo acaba superovulação, ocorre o recrutamento capa da edição de setembro (“Sem
fechando mais rápido do que no caso do de vários folículos presentes nos ovários. interrupção”, Especial de Genética e
Nelore. Outra observação é que furos feitos Esses folículos, que fisiologicamente não Reprodução), que está na página 60,
no primeiro dia de nascimento fecham ovulariam, possuem também um ovócito no bloco do intertítulo “Sem problema
mais rápido do que os feitos a partir do de qualidade, que, após a fertilização, é com a mão de obra”. O rebanho total da
segundo dia, quando a cartilagem já está capaz de produzir um embrião que gera Fazenda Periquitos no ano de 2009 era de
mais resistente. Além disso, os alicates um bezerro semelhante ao da monta 14.000 animais e não de 40.000.
furadores têm de estar bem afiados e com natural ou inseminação artificial. Vários Já na seção “Cadeia em Pauta”,
as almofadas em bom estado, para que a estudos científicos foram realizados em nota da página 42 sobre o frigorífico
colabagem (quando a pele dos dois lados todo o mundo e não foram detectadas Frigol, o município onde está a sede
da orelha gruda uma na outra) seja eficaz. alterações nas progênies que pudessem da empresa está errado: o correto é
O uso de pomada cicatrizante também comprometer a utilização da técnica de Lençóis Paulista, não Agudos, como
diminui o risco de o furo fechar. O animal transferência de embriões. saiu publicado.
na foto não tem a orelha furada, pois nessa

10 DBO outubro 2017

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Prosa Quente

João K,

o embaixador
da integração

O jovem Quem conhece João Kluthcouski (o João K) logo Salvo pelo gongo
Klutskouski percebe que ele é movido a entusiasmo. Um
aos 14 anos, combustível que pode queimar rápido, mas Acontece que João também fizera vestibular
na formatura que reacende na mesma velocidade, quando encontra para agronomia na Universidade de Pelotas, RS,
do colégio meio adequado; e contagia quem está por perto, faz as cujo resultado nem havia conferido, porque queria
agrícola, em pessoas acreditarem que tudo é possível. Dono de gestos ser veterinário. Seu irmão mais velho descobriu que
1964. largos, voz de arauto e tiradas engraçadas, João K, 67 ele tinha passado, conseguiu que fosse matriculado
anos, é um comunicador nato. Recentemente agraciado mesmo fora do prazo e o colocou no ônibus para
pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) Pelotas. “Deus sabe o que faz, a veterinária não era
com o prêmio Norman Borlaug, por sua contribuição meu caminho. Eu não tinha dinheiro, por isso alguns
à agricultura tropical, ele é velho conhecido de DBO. colegas me deixaram dormir em um colchãozinho,
Frequenta nossas páginas desde os anos 90, quando no chão do quarto onde moravam. Como retribuição
começou a forjar sistemas de integração e difundi-los pela ajuda, eu ia comprar pão para eles. Vendo minha
Brasil afora. Poucos pesquisadores são tão respeitados situação, o português da padaria me olhou e falou:
(e admirados) por produtores de todo o Brasil (andam ‘Filho, quando você tiver fome, vem aqui que te dou
pão; um dia, quando puder, você me paga’. Nunca vou
até lhe pedindo autógrafos...). João também transita esquecer isso”, relembra João K, emocionado, sem
facilmente entre os trabalhadores do campo, conter as lágrimas.
partilhando da mesma simplicidade, com sua
camisa polo, seu rosto afogueado pelo sol e suas Um ano após se formar, em 1973, ele passou no
inseparáveis sandálias de couro. processo de seleção da Embrapa (então recém-criada)
Agrônomo de formação, ele tem vasta e foi trabalhar na unidade de Cruz das Almas, BA,
lista de serviços prestados ao agronegócio. hoje Embrapa Mandioca e Fruticultura. Em 1975,
Pode ser chamado, sem medo, de um dos pais da a instituição o enviou para fazer pós-graduação nos
Estados Unidos, junto com outros pesquisadores.
integração lavoura-pecuária no Brasil ou talvez seu “Fomos primeiro para Buffalo, no Estado de Nova
“padrinho” mais fiel. Como pesquisador da Embrapa, York, para aprender inglês. A professora falava
desenvolveu quatro sistemas de ILP (o Barreirão, o Santa ‘first of all’ (em primeiro lugar), eu entendia festival
Fé, o Santa Brígida e o Vacaria), mas, quando jovem, (risos)”. João fez mestrado na Universidade do
sonhava com outra profissão: veterinária. “Sou o caçula Mississipi, em fertilidade de solo. De volta ao Brasil, em
de seis irmãos. Meus pais eram filhos de imigrantes 1976, foi trabalhar no Centro Nacional de Arroz-Feijão
poloneses e ucranianos. Trabalhavam duro no sítio onde (CNPAF), em Goiânia, GO, onde ajudou a desenvolver
morávamos, em Apucarana, PR, cidade onde nasci, o Sistema Barreirão. Em 1985, tornou-se consultor de
em 1950. Não tínhamos dinheiro, mas havia fartura a órgãos governamentais; voltou ao CNPAF em 1990
de frutas, verdura. Tive uma infância extraordinária. e, em 1998, fez doutorado em fitotecnia, na Escola
Eu entregava leite a cavalo, cuidava das galinhas, dos Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Dois
gansos. Quando terminei o colégio agrícola, fui para anos depois, desenvolveu o Sistema Santa Fé e não
Curitiba fazer cursinho para o vestibular de veterinária. parou mais. Hoje, atua como difusor de tecnologias
Dois irmãos meus, que nem estavam estudando, da Embrapa Cerrados, viajando pelo Brasil todo como
decidiram fazer o mesmo. Adivinha quem passou? Eles. “embaixador” da integração lavoura-pecuária. A
Quando chegaram de cabeça pintada, eu desabei no entrevista a seguir, concedida aos jornalistas
choro. Entrei no ônibus em Curitiba chorando e cheguei Moacir José e Maristela Franco, é também uma
em Apucarana chorando”, relembra. homenagem a esse pesquisador genial.

12 DBO outubro 2017

Com pelo menos quatro sistemas de ILP no currículo, o pesquisador da
Embrapa diz que sem a braquiária não há salvação para os solos arenosos

Maristela - Como surgiram os sistemas de integração la- [foi objeto de reportagem do Anuário DBO quando Com os
voura-pecuária da Embrapa? Conta pra gente um pouquinho já completava 10 anos no campo, em 1994]. jornalistas
dessa história. Maristela
João K - Em 1981/82, eu trabalhava com fertilidade do Maristela - E você nunca mais parou de casar capim com Franco e
solo e participei de um trabalho com aração invertida culturas graníferas. Como surgiu o Sistema Santa Fé? Moacir José,
[conduzido à época pelo Centro Nacional de Pesquisa João K - Após ficar cinco anos fora da Embrapa, pri- no estúdio
Arroz-Feijão (CNPAF), em parceria com o Centro de meiro como assessor da Codevasp (Companhia de De- da DBO.
Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica senvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parna-
para o Desenvolvimento(Cirad), da França]. O que íba) e depois como diretor do Departamento Nacional
era essa aração invertida? Em vez do preparo conven- de Obras Contra a Seca, eu voltei para a pesquisa. Um
cional, que formava o chamado pé-de-grade, causava dia fui visitar a Fazenda Santa Fé, em Santa Helena de
erosão, deixava a cultura do arroz de sequeiro sujei- Goiás, do produtor Ricardo Merola, que produzia fei-
ta aos veranicos, principal causa de perda da lavoura, jão irrigado e estava tendo problemas com uma doen-
nós usávamos o arado de aiveca, que corta a uma pro- ça terrível de solo, chamada mofo branco. Intrometido
fundidade de até 55 cm, apenas virando (invertendo) que sou, disse a ele: “Merola, me deixa tentar sufo-
o perfil do solo, sem desestruturá-lo, o que permitia a car esse fungo com palha de braquiária, assim ele não
incorporação da matéria orgânica, a descompactação emerge do solo”. Consegui um hectare para o expe-
do solo e a infiltração de água da chuva. O arroz, agra- rimento, onde plantei milho com capim (como no sis-
decido, respondia com alta produção. tema Barreirão), mas sem usar aiveca, pois o solo era
corrigido e podíamos fazer plantio direto. Montei vá-
Isso virou manchete, capa de revista. Em uma se- rios tratamentos, para fins comparativos, e o resultado
mana, recebemos mais de 11.000 cartas. Os produto- foi fantástico: nenhum efeito negativo sobre a produ-
res começaram a nos procurar para adotar a tecnolo- tividade do milho.
gia e resolver outros problemas. Foi nessa época que
o Vasco Rodrigues da Cunha, de Cromínea, GO, me O Merola plantou cerca de 100 hectares com o San-
pediu para fazer lavoura de arroz com aração invertida ta Fé para controlar o mofo branco nas áreas de pivô
em uma área de pastagem degradada onde ele queria e, assim, viabilizar novos cultivos de feijão. Um dia
plantar café. O objetivo era acabar com a braquiária, o Tarcísio Cobucci, à época também pesquisador do
muito difícil de controlar, mas o resultado foi oposto. Centro Nacional de Pesquisa Arroz-Feijão (CNPAF),
O arroz deu uma produtividade fantástica, mas a bra- levou o pessoal da Basf à fazenda para mostrar nosso
quiária voltou com tudo. O Vasco falou: “João, que- trabalho e eles decidiram firmar parceria com a Em-
bramos”, e eu pensei: “Quebramos a cara” (risos). brapa, para transformar o Sistema Santa Fé em uma
tecnologia nacional. Investiram US$ 250.000 no pro-
Moacir - Não tinha a opção de dessecar esse capim?
João K - Não, na época nós não tínhamos os herbici-
das que temos hoje para fazer a dessecação do ca-
pim. A forma de abaixar o pasto era a boca do boi, ou
então usando grade. O Vasco colocou um monte de
gado lá pra acabar com a braquiária, mas não conse-
guiu, porque ela estava adubada. Sem querer, eu ha-
via descoberto uma alternativa barata para reformar
pastagens degradadas. Dessa propriedade, fui para
uma fazenda vizinha, a Barreirão, de Augusto Zacha-
rias Gontijo, de Piracanjuba, GO, onde a equipe da
Embrapa montou mais de 60 experimentos para pes-
quisar o comportamento do consórcio e medir seus
resultados. Esse trabalho culminou no lançamento do
Sistema Barreirão, em 1983. Ele foi o embrião de to-
dos os outros sistemas de consórcio que tivemos de-
pois no País e que ajudaram a viabilizar a integração
lavoura-pecuária em larga escala. O Barreirão foi um
sucesso. A indústria do arado de aiveca passou a ter
três turnos de fabricação. O sistema virou uma febre

outubro 2017 DBO 13

Prosa Quente

Com a economista Lídia Yokoyama, em reportagem de Os pesquisadores João K e Tarcício Cobucci com
DBO sobre Sistema Barreirão, em 1994. Ricardo Merola (à dir.) mostrando o Sistema Santa Fé.

O Santa jeto, que foi testado em várias partes do Brasil. O que Moacir - Você disse símbolo mundial. Onde mais se usa o
Fé já é é o Santa Fé? É um sistema de consórcio para solos sistema Santa Fé?
praticado em corrigidos. Qual o objetivo dele? Produzir palha para João  K - Na África, na América do Sul praticamente
10 milhões o plantio direto, pra cobrir o solo, e comida para o boi inteira, no cinturão tropical do globo. Todas essas tec-
de ha” na entressafra. A DBO, por meio da Maristela, foi o nologias que nós desenvolvemos são para os trópicos.
primeiro veículo de comunicação do Brasil a apresen- Por isso, os países de clima temperado ficam de orelha
tar o sistema e agradeço muito a vocês por isso. em pé: enquanto nós fazemos três safras a cada 12 me-
ses na mesma área, eles fazem uma.
Maristela - Fizemos nossa reportagem de capa sobre o
Santa Fé em 2000. Como está o sistema hoje, João? Ainda Maristela - Quantos sistemas de consórcio para integração
é muito usado? lavoura-pecuária a Embrapa já validou até agora?
João K - Temos 12 milhões de hectares com integração João K - Acho que sete: Barreirão, Santa Fé, Santa Brí-
gida, Vacaria, Santa Ana, São Mateus e São Francisco.
no Brasil e vamos chegar a 20 milhões nos próximos Fomos os primeiros a escrever um livro sobre a im-
três ou quatro anos. Acredito que o Santa Fé seja portância da palhada de braquiária no plantio direto.
praticado em pelo menos 10 milhões de hectares.
É o consórcio mais popular do País. Tem Santa Maristela - Qual o papel do capim nesses consórcios?
Fé com milho, sorgo, milheto, girassol e até com João K- Acho que foi o John Landers, pioneiro no de-
soja. No começo, plantávamos a braquiária mis- senvolvimento do sistema de plantio direto na palha
turada com o adubo, cerca de 4 a 6 cm abaixo da (SPDP), quem disse em uma publicação: braquiária é
mais do que pasto. Essa frase eu uso sempre. A braqui-
semente do milho, para evitar que ela atingisse a po- ária é formadora de palha, alimento para o boi, fonte
sição da espiga, prejudicando a produção e a colheita de fósforo, inimiga de fungos causadores de doenças
dos grãos. Hoje, não se faz mais isso. A braquiária é e controladora das plantas daninhas, porque não admi-
distribuída a lanço; na sequência, planta-se a cultura te competição. Com seu sistema radicular profundo e
granífera e a própria plantadeira enterra as sementes da agressivo, ela ajuda a recuperar o solo, cria o que eu
forrageira. Nascem as duas juntas, mas, para dar uma chamo de “avenidas de água”. A braquiária é uma fá-
vantagem ao milho, antecipamos a adubação nitrogena- brica de água, que, ao invés de escorrer, se infiltra com
da. Assim, ele cresce rápido e sombreia o capim. facilidade nos canais criados pelo capim. Na região de
Rancharia, SP, onde foi desenvolvido o Sistema Vaca-
Por sorte, nos primeiros 40 dias de vida, a braquiária ria, vi áreas com declive de 8% sem nenhuma curva de
desenvolve mais seu sistema radicular do que sua par- nível e sem erosão, por causa da braquiária.
te aérea. É um casamento perfeito. Se o produtor come-
ter algum erro na adoção do sistema e o capim crescer Moacir - E eram solos arenosos...
demais nessa fase inicial, basta aplicar uma subdose de João K - Sim, essa é a maior revolução que está ocor-
graminicida. Foram criados mecanismos para garantir a rendo no País.
produtividade de grãos. O Sistema Santa Fé introduziu
definitivamente o capim na rotação de culturas, resolveu Maristela - Você já me disse que a braquiária é a salvação
o problema da oferta de palha para o plantio direto, se desses solos arenosos, pois viabiliza a lavoura. Sem bra-
tornou um símbolo mundial de integração. Antes dele, quiária não dá?
era obrigatório semear milho no limpo e colher no limpo. João K - Sem braquiária, esquece os solos arenosos para
Nós passamos a semeá-lo no limpo e colhê-lo no “sujo”, produção agrícola. É preciso cobri-los, por causa das al-
que é o capim. Isso mudou a visão dos produtores, das
universidades. Muita gente dizia: “Esse João K é louco”.
Quebrou-se um paradigma.

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Detalhe do zendo sobressemeadura de avião] – e colocássemos
Sistema nessas pastagens cinco garrotes por hectare, teríamos
Santa Brígida 115 milhões de animais em palhadas. Trata-se de um
desenvolvido número utópico, mas que demonstra o potencial des-
por João: se belo país chamado Brasil. Os agricultores têm tudo
consórcio de para fazer integração, mas precisamos encontrar alter-
milho (aqui nativas para que o pecuarista aprenda a fazer lavoura.
já colhido) Como ele aprende? Arrendando áreas, fazendo parce-
com capim e rias com os “lavoureiros”.
guandu anão.
Moacir - Esse é o melhor caminho?
tas temperaturas, e incorporar-lhes matéria orgânica, para João K - Sim. Já conversei com pecuaristas que arren-
que retenham água. Somente com capim se consegue daram áreas e eles me falaram assim: “agora já sei fa-
isso. Estima-se que 50 milhões de ha de pastagens de- zer lavoura; se o arrendamento não der mais certo,
gradadas no País estejam em solos arenosos, começando compro meu maquinário e faço sozinho”.
pelo oeste da Bahia, MS. Somente em São Paulo são 9,5
milhões de ha, nessa faixa oeste que vai da divisa com Maristela - Mas, e os agricultores, João, porque não fazem
Minas até Rancharia, Marília, Lins. Tudo aquilo lá é are- mais integração?
noso, degradado. Ninguém acreditava ser possível plan- João K - Porque estão acostumados a fazer soja-milho, so-
tar soja nessa região, mas a braquiária viabilizou isso. ja-milho, e o preço das commodities tem estado tão atra-
tivo que eles pensam: “Pra que mexer com boi?”. A pe-
Moacir - Na série de reportagens de DBO sobre a saga do cuária exige cercas, cochos, bebedouros, tecnologia (não
pecuarista Carlos Viacava como integrador iniciante [na Fa- basta colocar o boi e deixar lá). Hoje, muitos agricultores
zenda Campina, em Presidente Venceslau, cujos solos tam- paulistas e paranaenses plantam capim junto com milho-
bém são arenosos], você disse que o pecuarista, depois que -safrinha, para produzir palha, e deixam a área vazia. In-
começa a fazer integração, não para mais. Qual é o principal felizmente, não se deram conta de quanto podem ganhar
desafio de quem está começando? produzindo carne, por causa da conjuntura complicada.
João K - O primeiro desafio é tomar a decisão. É preci- A reposição até pouco tempo atrás estava muito difícil,
so estar disposto a começar – pequeno, mas pensando o bezerro muito caro, a semente de capim, um absurdo.
grande. O segundo desafio é o domínio das técnicas de São empecilhos que tornam as mudanças mais lentas. Há
cultivo. Faltam extensionistas no Brasil. A Cocamar, por 11 anos fazemos integração na Santa Brígida, por exem-
exemplo, contratou mais de 20 técnicos somente para plo, e somente dois vizinhos aderiram ao sistema. Nosso
orientar os produtores interessados em fazer integração homem do campo é tremendamente resistente a mudan-
nos solos arenosos do Arenito Caiuá, no noroeste do Pa- ças. Não estamos falando de uma cultivar salvadora, mas
raná. Não temos isso em outras regiões. O terceiro de- de um sistema, que exige, acima de tudo, consultoria.
safio é que o pecuarista brasileiro é igual a São Tomé:
tem de ver para crer. Chega, às vezes, a ser tecnofóbico Maristela - Voltando ao projeto do Viacava que acompanha-
[avesso à tecnologia]. O quarto desafio é que ele não mos por dois anos. No começo foi muito difícil, ele perdeu
tem máquinas, galpões, implementos e conhecimento muita soja, porque não tinha matéria orgânica no solo e os
agronômico. Como vai plantar soja de um dia para outro? veranicos são frequentes. Você acha que os produtores ain-
da têm medo de fazer integração nessa região arenosa?
Maristela - Por isso é mais fácil o agricultor fazer integração João K - Veja bem, Maristela, você acompanhou esse pro-
do que o pecuarista? Você já me disse que, se os “lavourei- cesso e deve lembrar que, em uma área de 100 ha, muito
ros” aderissem de fato à ILP a produção de carne do Brasil arenosa, a soja sofreu degola, cozinhou, por falta de pa-
aumentaria substancialmente. lha, mas na sequência, plantamos milheto para silagem e
João K - Sim, porque eles já têm a estrutura necessá- depois capim. As arrobas produzidas nessa área na seca
ria para plantar capim, falta o boi, conhecimento so- pagaram os custos, não ficamos no vermelho. Hoje, há
bre o animal, estrutura de cercas e água. Estima-se domínio sobre os solos arenosos. O pessoal já acredita, já
que 23 milhões de hectares cultivados no Brasil ainda tem muitos adeptos da soja na região de Presidente Pru-
não fazem segunda safra. Imagine se fizéssemos plan- dente, Presidente Venceslau, Rancharia. Eu somaria ali
tio aéreo de capim sobre soja nessa área enorme – o uns 80 produtores, alguns já fazendo integração.
“mombaça nela” [título da reportagem de DBO sobre
o Sistema São Francisco, que possibilita formar pas- Maristela - João, todos esses sistemas foram desenvolvidos
tagens de safrinha na fase de maturação da soja, fa- mais no campo do que no laboratório. Você sempre foi um
misto de pesquisador e extensionista. Acha que a pesquisa
deveria estar mais próxima do produtor?
João K - Sim. Para propor um projeto de pesquisa, é
preciso estar próximo da natureza e da realidade do

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gional. Quem mais usa o ABC é o Paraná, São Paulo,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e talvez Goiás. O
Nordeste fica de fora, porque não tem ninguém que
sabe lidar com o ABC. Os gerentes de banco do Bra-
sil, quando alguém chega perguntando pelo programa,
dizem: “o que é isso?” Não foram treinados para aten-
der essa linha. Poucas pessoas no Brasil sabem elabo-
rar um projeto nessa área.

Ninguém produtor, que não está na internet. Se o produtor che- Moacir - O Nordeste seria beneficiado pela integração? Que
acreditava gar pra mim e disser – “isso aqui não vou usar” – eu culturas você empregaria lá?
ser possível paro. É no campo que a gente tem as boas ideias. Por João K - A integração é a grande solução para o Nordes-
plantar soja exemplo: a tentativa de controlar o mofo branco deu te. Já está forte no Maranhão, no Piauí, no oeste baiano.
na areia, origem ao Sistema Santa Fé. É assim que funciona na Está começando no Recôncavo e nos tabuleiros costei-
mas a natureza. Tem parte da pesquisa que precisa ser feita ros de Sergipe, onde chove tanto quanto em São Paulo
braquiária em laboratório, pesquisa de base, para explicar, por ou Goiás. Só que começa em maio, ao invés de outubro.
viabilizou exemplo, porque o milho consorcia bem com a braqui- Lá dá soja, milho, feijão, sorgo, milheto, girassol, que
isso” ária. Os fisiologistas fizeram toda uma análise de cres- é altamente tolerante ao deficit hídrico. Temos N op-
cimento das duas espécies para entender isso. Hoje a ções. Se manejarmos aquele ambiente com palha e con-
equipe de integração no Brasil passa de 200 pesqui- servarmos a água que Deus manda, o Nordeste vai ser
sadores. A Embrapa toda está trabalhando com inte- um celeiro. A Embrapa Semiárido, em Petrolina, traba-
gração, em todas as regiões. Agora, tem uma lacuna lha bastante com integração, mas ainda sem cacarejar...
grande entre aqueles que atuam em áreas como bioge-
nética, transgenia, que estão lá no céu, e os caras que Maristela - Tá faltando cacarejar? (risos)
vão para o campo. Devido ao atual sistema de avalia- João K - Sim, falar, divulgar, o que vocês fazem tão bri-
ção, com base em publicações e outros critérios, a pes- lhantemente. Eu trouxe meio avião de nordestinos para
soa não precisa sujar o sapato. visitar a fazenda do Viacava. Esses caras compraram
toda a semente de guandu daqui e levaram pra lá. O
Sistema Santa Brígida está migrando para o Nordeste.
O Paulo Herrmann, da Rede de Fomento, diz que o pro-
cesso de adoção da ILP obedece à curva do “S”. Gostei
dessa frase. A adoção começa lenta, tem um momento
de agressividade, outro de consolidação, outro de agres-
sividade e depois estaciona em cima. Estamos entrando
na primeira curva do “S”, com 12 milhões de hectares,
imagina quando nós completarmos essa curva.

Maristela - Os cortes de recursos do governo têm atingido Maristela - João, você costuma dizer que o Brasil agropecu-
muito a pesquisa?
João K - Sim, todo mundo reclama. A equipe de trans- ário passou por várias revoluções. Pode explicar isso?
ferência de tecnologias é pequena, a equipe de fitotec-
nistas que vai ao campo é pequena, o recurso é bem João K - Posso. Isso é lindo, merecia pelo menos cinco
regrado. Mas nós tivemos a sorte, eu e as equipes com
as quais trabalhei, de sempre contar com o apoio da prêmios Nobel. Até o início da década de 70, o Brasil
iniciativa privada. A integração é uma solução tão boa
que cinco grandes empresas criaram a Rede de Fo- era importador de alimentos. Não tínhamos comida su-
mento, junto com a Embrapa, destinando R$ 500.000/
ano para desenvolvimento de projetos. ficiente para por na mesa para nossos filhos. Eu tomava

Moacir - O Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Car- leite da Aliança para o Progresso mandado pelos Esta-
bono), que tem por meta recuperar 15 milhões de pastagens
degradadas até 2020, também poderia ajudar, mas um levan- dos Unidos, na época dos Kennedy. Sem ordem crono-
tamento do Alexandre Mendonça de Barros, da Consultoria
MB Agro, de SP, diz que somente 20% da verba destinada ao lógica, a primeira grande revolução foi o domínio dos
programa foi liberada. Como você avalia isso?
João K - Não tenho acompanhado essa questão da li- Cerrados, por meio da correção da acidez e da tropica-
beração de recursos, mas sei que já existem centenas
de contratos assinados. Percebo uma concentração re- lização da soja, que é uma planta de clima temperado.

Dois pesquisadores brasileiros chamados Romeu Afon-

so de Souza Kiihl e Irineu Alcides Bays introduziram

na soja o gene da juvenilidade, retardando seu período

de florescimento e permitindo que ela produzisse bem

nessa região. A segunda revolução foi o plantio dire-

to, que começou com Herbert Bartz, no norte do Para-

ná. A terceira foi o zebu, a quarta a braquiária, a quinta

a safrinha e a sexta a integração lavoura-pecuária, que

é mistura de tudo isso. Essa é a revolução que está em

curso e nos promete grandes conquistas. n

18 DBO outubro 2017



Giro Rápido

Fiscais federais criticam Censo busca os números do agronegócio
reforma na Defesa
Agropecuária Começou no dia 1 de outubro o novo 2007 e 2017 mudaram muito. E o cen-
censo agropecuário que vai levantar os so vai exatamente atrás desses dados.
O Sindicato Nacional dos dados da cadeia de produção agropecu- Os números servirão para os governan-
Auditores Fiscais Federais ária. O último censo foi realizado em tes planejar os investimentos em infra-
Agropecuários (Anffa Sindical) 2007 e foi nesse período que o setor re- estrutura que podem eliminar gargalos
tem se mobilizado contra proposta gistrou um grande avanço no uso de tec- logísticos – rodovias, ferrovias e portos
de mudança no sistema de Defesa nologia de produção e na produção e a – e vai ajudar as agroindústrias a plane-
Agropecuária apresentada em conquista do mercado externo, tornan- jarem seus novos investimentos (arma-
meados de setembro por uma do o País um grande player no merca- zens e fábricas). O Censo Agropecuário
consultoria contratada pelo vai medir a produção física e econômica
Ministério da Agricultura. O foco da do mundial de (valor bruto de produção), mão-de-obra
mudança está na Secretaria de Defesa soja (grãos e empregada, área de produção, agricultu-
Agropecuária (SDA) e, segundo farelo), açu- ras empresarial e familiar, ás áreas usa-
o sindicato, abre a possibilidade car, café, fran- das para a produção, maquinários, cré-
de terceirização da fiscalização go, carne bo- dito e retorno econômico. O resultado
agropecuária. A Anffa Sindical relata, vina e couro parcial deve ser divulgado em maio de
em nota, que a consultoria contratada bovino. Por- 2018. O IBGE estima que os 26 mil re-
pelo ministério não conversou tanto, os nú- censeadores visitarão 5 milhões de pro-
com nenhum auditor fiscal federal meros do agro priedades rurais.
agropecuário. brasileiro entre

“No grupo que a Pasta montou João Martins é reeleito na CNA
para acompanhar o trabalho também
não há nenhum representante da O presidente da Confederação de Agri- de Dilma Rousseff (PT)
carreira”, criticou o presidente do cultura e Pecuária do Brasil (CNA), João e, posteriormente, para
sindicato, Maurício Porto. “Não Martins, foi reeleito no dia 19 de setem- ser ministra da Agricul-
houve transparência”, definiu. bro para um novo mandato, com duração tura. Em 2015, assumiu
Outra crítica é que o diagnóstico de quatro anos, até 2021. Conforme nota da definitivamente o posto.
apresentado pela consultoria conta CNA, ele concorreu em chapa única e obte- Martins reforçou que um
com percepções limitadas, seletivas ve o apoio das 27 Federações de Agricultura dos desafios da nova di-
e generalistas sobre a carreira e o dos Estados do Brasil e do Distrito Federal. retoria será “incentivar a
trabalho da Secretaria de Defesa Martins chegou à primeira vice-presidência contribuição sindical voluntária”. “Nossa ati-
Agropecuária. “A apresentação da CNA em 2012, com a então presidente vidade precisa, como nunca, de uma CNA
traz percepções direcionadas a um e atual senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). forte, organizada, preparada para os novos
fim preconcebido e preconceituoso Acabou assumindo interinamente o princi- tempos”, disse, lembrando da recente deci-
contra as atividades desenvolvidas pal posto da entidade em 2014, com as licen- são do Congresso Nacional, de abolir a con-
pelos fiscais. Chega a dizer que ças da senadora para a campanha à reeleição tribuição sindical na reforma trabalhista.
o atual modelo de gestão de
defesa agropecuária do Brasil não ABCZ rão onde estão os compradores para seus
garante a prevenção e o controle produtos”, destaca o diretor da Associação
fito e zoossanitário, o que é Aplicativos atualizados Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ),
um absurdo completo”, afirma Rivaldo Machado Borges Júnior, que é
Porto. Para ele, o que está claro O portal Pró-Genética online e o apli- responsável pelo Pró-Genética Online.
é o objetivo da consultoria em cativo de celular ABCZ Móbile foram atu-
justificar a terceirização da Defesa alizados com um novo módulo, que vai Atualmente, são 65 vendedores ca-
Agropecuária. “Mas o diagnóstico possibilitar que produtores rurais cadas- dastrados de todas as regiões brasileiras.
não aborda temas importantes, como trem suas intenções de compra de touros Estão à venda, pelo aplicativo 350 touros.
o fato de que vários países do mundo PO com Registro Genealógico Definitivo Os interessados em adquirir os animais
não permitem fiscalização de produto (RGD). O objetivo da equipe responsável podem pesquisar por região e raças. Com
de origem animal por profissional que pela atualização do programa é aproximar a implantação do novo módulo, o inverso
não seja servidor oficial”, emendou. compradores e extensionistas da Emater também estará disponível, sem custo para
de vendedores de reprodutores melhora- o associado vender os touros pelo portal.
dores. “Com essa ferramenta, a negocia-
ção ficará ainda mais fácil. Uma via de mão
dupla, onde vendedores também descobri-

20 DBO outubro 2017

Sebastião Guedes na Câmara Infopec Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Setorial da Carne
Estimativa de margem operacional* por cabeça em um giro (média 2010 – 2016)
Por decisão do ministro
da Agricultura, Blairo Ma- Fonte: Cepea, Celeres, Scot Consultoria, FNP, Rabobank2017
ggi, o novo presidente da *Considerando custos com boi magro, milho, farelo de soja e manutenção de pastagems
Câmara Setorial da Carne
Bovina é Sebastião Costa Grãos impulsionarão intensificação
Guedes. Ele substitui Luiz
Claudio Paranhos, que pe- Nos próximos dez anos, a produção brasileira de confinamento. Atualmente, de acordo com o banco,
diu afastamento em mar- carne bovina crescerá em torno de 2% ao ano, em 30% da produção de carne bovina no Brasil apresen-
ço. De lá para cá, o cargo média, alavancada pelo processo de intensificação ta algum grau de intensificação, percentual que sal-
ficou vago e Guedes planeja agora retomar do uso de suplementos nutricionais (proteicos e ener- tará para 45% em 2026. Nesse cenário, os animais
os trabalhos rapidamente. Entre as priori- géticos) e/ou rações. É o que prevê o relatório de serão terminados mais rapidamente e com carcaças
dades, está somar esforços para a retira- setembro divulgado pelo Rabobank, instituição finan- mais pesadas. Esse conjunto de fatores elevará a
da da vacina contra febre aftosa, processo ceira de origem holandesa focada no agronegócio. O eficiência da pecuária brasileira, tornando-a mais
que deve ser concluído, em nível nacional, pasto continuará sendo a fonte principal de alimento competitiva. Entre os sistemas adotados, o Rabobank
em 2023. Junto com o ministério, ele pre- nas fazendas, mas diferentes estratégias de intensi- destaca o uso da integração lavoura-pecuária, mo-
tende agir para alterar o calendário da va- ficação serão utilizadas: suplementação estratégica, delo com potencial para apresentar o maior retorno
cinação de forma a evitar riscos de abor- integração lavoura-pecuária, semiconfinamento e financeiro (veja gráfico).
tos na IATF; exigir rapidez na melhoria da
vacina e assegurar recursos para a Defe- Mundo: dinâmica do consumo de carne bovina
sa Sanitária Animal. Atualmente, Guedes
também é vice-presidente de Relações In- Maiores EUA Consumo mundial em 2016: Fonte: USDA / Elaboração: Wedekin Consultores
ternacionais do Conselho Nacional de Pe- Brasil UE 58,7 milhões de toneladas
cuária de Corte (CNPC) e presidente do Participação no
Grupo Interamericano para Erradicação consumo mundial TOP 10 = 79%
da Febre Aftosa (Giefa).
(2016) China
Esalq-USP é a
5ª melhor universidade Rússia México Argentina Índia 8% 10% 12%
agrária do mundo Paquistão

Pelo terceiro ano consecutivo, a Es- -8% -6% -4% -2% 0% 2% 4% 6%
cola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, da Universidade de São Pau- Velozes
lo (Esalq-USP), ficou em quinto lugar
no ranking internacional do jornal U.S. Crescimento médio anual de consumo (2011-2016)
News and World Report, que elenca as
melhores faculdades de ciências agrárias China já tem 3º maior consumo de carne bovina
do mundo. Ao todo, 200 instituições fo-
ram avaliadas e a mais bem classificada Em cinco anos (2011 a 2016), a China se tor- indica se as populações dos 10 países analisados
foi a Universidade de Wageningen, na nou o terceiro maior consumidor de carne bovina do estão comendo mais ou menos carne. Os três gran-
Holanda, seguida pela Universidade da mundo, com crescimento anual de 3%. Se aproximou des líderes tradicionais do consumo (EUA, União
Califórnia, nos Estados Unidos, e da Uni- bastante da segunda colocada, a União Europeia, e Europeia e Brasil) estão cravados no eixo, com retra-
versidade Agrícola da China e Universi- superou o Brasil. Na figura, o eixo vertical mostra a ção ou crescimento muito pequeno. Rússia e México
dade de Cornell, Nova Iorque, EUAPara participação (market share) dos países top 10 no apresentam queda de 2% a 4%, os países asiáticos
o diretor da Esalq, Luís Gustavo Nussio, consumo mundial de carne bovina, estimado em 58,7 (China, Paquistão e Índia) seguem em crescimento
figurar entre as cinco melhores escolas milhões de toneladas em 2016. Quanto maior e mais anual de 2 a 3% e a Turquia segue a todo vapor, com
do setor é motivo de orgulho e motivação alta é a bola, maior a participação do país no mer- aumento de 8% a 9% no consumo. Os dados são do
para continuar formando profissionais re- cado. Os Estados Unidos, por exemplo, representam USDA, Departamento de Agricultura dos Estados, e a
conhecidos no mercado. “São os egressos mais de 20% do consumo global. O eixo horizontal figura da Wedekin Consultores.
que constroem a nossa imagem, aliados
ao desenvolvimento de pesquisas inova-
doras e à transferência do conhecimento
para o bem público”, afirma.

outubro 2017 DBO 21

Master LP

A maior concentração de resultados do
mercado está a seu alcance de novo.

Master LP é um endectocida seguro para o
rebanho que elimina e controla os parasitas
internos e externos com fácil aplicação.
Alcance melhores resultados com 4% de
Ivermectina, a maior concentração do
mercado, exclusividade Ourofino.

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Coluna do Cepea

Cria, desafios e oportunidades.

A pós baixas no preço do bezerro, o abate de fême- firmam quais fêmeas não estão prenhes e as enviam para
as segue em alta neste ano. No primeiro trimestre abate, na intenção de liberar áreas de pastagem e melho-
de 2017, as vacas e novilhas representaram 45% rar o fluxo de caixa. Assim, a participação das matrizes no

da participação total de animais que foram ao gancho, terceiro e quarto trimestres se reduz, ajudando a sustentar

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística os preços do boi no período da entressafra.

Sergio De Zen (IBGE). No segundo trimestre, a quantidade de matrizes A confirmação do maior abate de fêmeas neste mo-
Professor doutor da abatidas atingiu 43%, de acordo com os valores mais re- mento, por sua vez, tende a diminuir a oferta de bezerros
Esalq (Escola Superior centes, referentes a setembro. Os índices de 2017 repre- a partir de 2018, com maior intensidade para 2019. Como
de Agricultura Luiz sentam os maiores percentuais de fêmeas no abate total se observa no gráfico abaixo, existe uma sazonalidade na
de Queiroz), da USP
(Universidade de São
Paulo), e pesquisador de bovinos desde 2015. Este é um momento de desafio, participação das fêmeas no abate total, relacionada, prin-
responsável pela área visto que, com a queda nos preços do bezerro, o criador cipalmente, aos preços do bezerro. O conceito na teoria
de pecuária do Cepea precisa vender fêmeas para gerar fluxo de caixa. Pode ser, econômica é que o produtor rural, sendo um agente ra-
(Centro de Estudos porém, um momento de grande oportunidade. Criadores cional, é tomador de preço e reage a ele na sua estratégia
Avançados em que planejarem a produção e puderem investir nas ma- de produção. Nesse sentido, quando os preços do bezer-
Economia Aplicada), trizes, mesmo com o atual cenário de incerteza, podem ro sobem, o produtor tende a abater menos fêmeas, como
da Esalq/USP obter bons resultados em 2019 e 2020. pôde ser visto em 2015, quando o preço do bezerro foi re-

A maior participação de fêmeas no abate total ocorre corde, e o abate de fêmeas muito menor ante o observado

geralmente em anos de queda no preço do bezerro, cená- em 2014. Quando os preços do bezerro estão em queda,

rio verificado em 2017. Considerando-se as médias re- como é o caso de 2017, o criador se desanima e, conse-

ais de setembro de 2015 (R$ 1.351,50) e de 2016 (R$ quentemente, há maior abate de fêmeas.

1.246,27) e a da parcial deste mês (até o dia 25), de R$

1.168,78, o indicador do bezerro Esalq/BM&FBovespa Desinvestimentos

(Mato Grosso do Sul, Nelore de 8 a 12 meses) é 13,52% É difícil prever o futuro, especialmente no curto pra-

mais baixo do que o de 2015 e 6,22% do que o de 2016. zo. Mas em meio a tantos choques e crises na bovinocul-

Se considerada a média do ano, de janeiro a setembro, tura de corte, existe uma oportunidade em 2017. Em pe-

a queda é de 23,29% no comparativo com 2015 e de ríodos como este, especialmente quando os preços estão

Mariane Crespolini 15,34%, com 2016 – os dados foram atualizados pelo mais baixos do que em anos anteriores, os produtores ten-
Mestre e doutoranda
em economia pela IGP-DI de agosto de 2017. dem a reduzir investimentos e se sentem desanimados.
Unicamp (Universidade Considerando-se a série histórica do IBGE, iniciada Com as quedas no preço do bezerro, os criadores tam-
Estadual de Campinas) bém reduzem a suplementação mineral, bem como outros
e pesquisadora em 1997, a participação das fêmeas no abate total é sem- investimentos nas fêmeas reprodutoras. Adicionalmente,
do Cepea pre maior no primeiro trimestre e, na sequência, no se- todos os choques ocorridos na cadeia em 2017 reforçam
gundo trimestre. O que ocorre é que, após o período de

reprodução, nos primeiros meses do ano, pecuaristas con- esse cenário de incertezas e desinvestimentos. Isso gera

uma oportunidade que só será concretizada no

Movimento inversamente proporcional futuro, quando a produção se reduzir e os pre-
ços subirem. Entender o fenômeno descrito e

55 INDICADOR DO BEZERRO ESALQ/BM&FBOVESPA – MATO GROSSO DO SUL – VALORES REAIS 1.800 ilustrado neste artigo é perceber tal oportuni-
dade, que tem de ser “plantada” em 2017. Os
50 PARTICIPAÇÃO DAS FÊMEAS NO ABATE TOTAL 1.600 investimentos de agora resultarão no bezerro
desmamado em 2019.
45 49% 48% 49% 1.400
47% 46% 46% 47% 46% Observando-se, novamente, os dados do
40 45% 45% gráfico, fica evidente que o número de fême-
37% 1.200 as com possibilidade de emprenhar se reduz
Percentual a partir deste ano. Apesar da dificuldade de se
R$/Bezerro35 preverem os efeitos disso para 2018, o total de
42% 43% 42% bezerros disponíveis para comercialização em
30 2019/2020 deve ser menor do que o observa-
38% 40% 41% 1.000 do em 2016/2017, considerando os nove meses

35% 36% 36% 800
600
32% 33% 32% 33% 33% 32% 400
30%

27% 200

25 0 de gestação, somados ao período de amamen-
tação. Assim, ao criador cabe ver os desafios de
fev.00
fev.01 2017 como uma oportunidade a partir de 2019.
fev.02
fev.03
fev.04
fev.05
fev.06
fev.07
fev.08
fev.09
fev.10
fev.11
fev.12
fev.13
fev.14
fev.15
fev.16
fev.17

Obs: deflacionados para agosto/2017 – Fontes: Cepea e IBGE. Para 2018, o cenário segue incerto. n

24 DBO outubro 2017



Mercado

Voo de galinha: boi fica essa definição sobre o mercado, podemos dizer que o be-
estável em setembro. zerro está em liquidação”, sentencia o analista Hyberville
Neto, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Ele apre-
Após a explosão mensal de preço em agosto, sentou a palestra “Reposição estratégica para os novos
arroba estaciona ao redor dos R$ 140. cenários”, durante o evento Encontro de Criadores, reali-
zado no início de outubro, em Ribeirão Preto, SP.
Denis Cardoso
Segundo Neto, em termos nominais (descontando-
Depois do surpreendente disparo de preço em -se a inflação), entre janeiro de 2016 e setembro de 2017
agosto, quando a arroba subiu quase 15% em os preços do bezerro e do boi magro recuaram 22% e
um único mês, a poeira baixou em setembro e o 17%, respectivamente, em São Paulo, enquanto o valor
valor do boi gordo ficou estável. O indicador Boi Gor- real da arroba do boi gordo teve decréscimo de apenas
do Esalq/B3 fechou o mês passado a R$ 142,76 (valor 6,6% no mesmo período. “Para o recriador, a relação
médio, à vista), em São Paulo, ante o preço final de R$ de troca atual é uma das mais favoráveis dos últimos
142,96 do mês anterior, de acordo com dados do Centro quatro anos”, destaca o analista Alex Lopes, também da
de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). equipe de consultores da Scot.
No acumulado de 2017, o mesmo indicador apresentou
desvalorização nominal de 4,5% em relação ao preço da Lopes diz que a compra de gado hoje mira a reação do
arroba registrado no último dia útil de dezembro do ano mercado a partir de 2019, quando se espera uma reversão
passado, de R$ 149,46. sustentável do atual ciclo de baixa da pecuária, que já dura
dois anos. Na avaliação de Hyberville Neto, não só o re-
No entanto, mesmo diante de uma arroba bem aquém criador/invernista ganhará lá na frente, ao investir agora na
do valor considerado satisfatório pelo recriador/invernis- formação de estoques de arrobas na propriedade. A despei-
ta, analistas de mercado observam que este é o momen- to da atual situação difícil para quem atua exclusivamente
to ideal para investir na formação de estoques de arro- na atividade, os criadores que conseguirem preservar o seu
bas “baratas” na fazenda. Ou seja, com a aproximação do plantel de fêmeas nas fazendas terão ótimas oportunidades
período das águas, chegou a hora de o pecuarista plane- no momento da virada dos preços para o viés de alta. “O
jar a estratégia de compras, visando aproveitar os baixos preço do boi gordo não vai se recuperar sozinho; a reposi-
custos da reposição. “Embora o criador não aceite muito ção tende a acompanhar essa alta”, ressalta Neto.

Indicador Boi Gordo fica estável em setembro na praça paulista Dados divulgados no início de outubro pelo Instituto
Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) corro-
Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa boram as análises da Scot. Com a recente chegada das chu-
vas no Mato Grosso, os pecuaristas intensificaram a procu-
Especificações 29/09/2017 31/08/2017 ra por animais de reposição, animados pelo maior poder de
compra da população, informa o Imea. Em setembro últi-
Preço à vista 142,76 R$ 142,96 mo, segundo o instituto, a relação de troca boi gordo/be-
zerro alcançou seu maior patamar em um ano, ficando em
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a 1,99, número 6,3% maior em relação a setembro de 2016,
quando era possível comprar 1,87 bezerro. “Isso ocorreu
liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa. com a maior desvalorização no preço do bezerro, que no
período de setembro/2016 a setembro/2017 caiu 6,9%, en-
Preço do bezerro do MS tem elevação de 5% em setembro quanto a arroba recuou 1%”, compara o Imea.

Datas de levantamento do Cepea Custos em baixa

Especificações 31/8/2017 31/8/2017 Também no início de outubro, o Imea divulgou os
Preço à vista por cabeça dados de custos de produção da bovinocultura de cor-
Peso médio/kg 1.184,20 1.122,59 te, referentes aos sistemas de cria, recria/engorda e ci-
Preço por kg clo completo, durante o segundo trimestre do ano. Nos
Preço por arroba 195,53 206,44 três sistemas, houve queda nos custos de produção em
relação ao primeiro trimestre/2017 - a maior baixa foi
Fonte: Cepea/Esalq/USP 6,05 5,44 observada no sistema de recria/engorda, que cedeu 2%
no comparativo trimestral. De modo geral, a maior par-
181,69 163,13 te dos insumos barateou, com destaque para os itens de
maior peso na planilha, ou seja, a aquisição de animais
Preço futuro do boi aponta arroba do boi a R$ 142,50 em e a suplementação, que, no comparativo dos trimestres,
tiveram queda, e a abundante oferta de grãos.
dezembro próximo
Já no curtíssimo prazo, em outubro, espera-se uma
Mês para a liquidação dos contratos na BM&FBovespa maior pressão baixista para os preços do boi gordo,
diante da elevação de oferta este mês de animais de con-
Data dos jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez finamento, oriundos do segundo giro de engorda. n

pregões

30/7/2017 - - - - - - 124,20 130,30 132,60 134,75 134,83 135,01

31/8/2017 - - - - - - - 141,66 143,90 142,55 140,25 143,63

29/9/2017 - - - - - - - - 142,03 142,20 141,00 142,50

Fonte: BM&FBovespa.

26 DBO outubro 2017



Mercado

Bezerro sobe da Scot, lembrou que, embora os criadores tenham que con-
mais de 10% no viver, em 2018, com mais um ano ruim para atividade, a boa
MS em setembro notícia é que “se espera um mercado novamente aquecido a
partir de 2019”. “Até lá, a crise de consumo de carne bovina
Recentes altas são pontuais, dizem deve ter sido resolvida e o abate de fêmeas terá enxugado a
analistas, que preveem reversão do ciclo oferta de animais no mercado, o que dará forças para novas
de baixa somente a partir de 2019. altas”, prevê Lopes. No mesmo evento, o analista Gustavo
Aguiar, outro especialista em mercado da Scot, frisou que
“hoje é preciso estar com as atenções voltadas para o merca-
do de 2019, que remunerará os investimentos feitos em 2017
e 2018”. Nesse sentido, enfatiza Alex Lopes, “quem desin-
vestir agora na atividade pode não ter bezerros em volume e
qualidade suficientes para aproveitar um período de alta no
momento da comercialização desses animais”.

Denis Cardoso Altas generalizadas

Enquanto o preço médio do boi gordo estacionou na Em setembro, todas as categorias de reposição subiram
casa dos R$ 140/@ em outubro, com estagnação so-
bre o valor médio de agosto, as cotações dos animais de preço, em todas as praças de comercialização, segundo a
de reposição subiram fortemente no mês passado, um mo-
vimento atípico para a atual fase do mercado da cria, que pesquisa mensal realizada pela Scot. Considerando a variação
ainda passa pelo período de baixa do ciclo pecuário, acentu-
ado pela forte elevação dos abates de matrizes no primeiro média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em
semestre deste ano.
14 praças pecuárias do Brasil, o mercado avançou quase 4%
No Mato Grosso do Sul, o berço da atividade de cria no
País, o valor médio do bezerro desmamado disparou 10,7% no mês passado em relação ao valor médio de agosto.
em setembro, para R$ 1.067,50, ante o valor médio verifica-
do em agosto (R$ 964), segundo levantamento da Scot Con- As altas mais expressivas foram registradas nos Esta-
sultoria, de Bebedouro (SP). Ainda nessa praça de comer-
cialização, o Indicador Bezerro Esalq/B3 (animal Nelore, de dos de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Na praça paulis-
8 a 12 meses) atingiu R$ 1.184,20 no fim do último mês,
o que significou acréscimo de 5,5% na comparação com o ta, o bezerro desmamado (6@) teve acréscimo de 8% em
valor de fechamento de agosto, de R$ 1.122,59, de acordo
com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia setembro, para R$ 1.062,50, ante o valor de agosto. A alta
Aplicada (Cepea).
mensal do garrote (9,5@) foi de 7,3%, atingindo R$ 1.420.
No entanto, embora o animal de 6@ tenha superado no-
vamente a casa dos R$ 1.000 em setembro, as oscilações de O valor médio do boi magro (12@) subiu 4,5% no mês pas-
alta dessa categoria registradas nos últimos dois meses são
pontuais, e refletem a própria recuperação recente do merca- sado, para R$ 1.732,50, enquanto a novilha (8,5@) apresen-
do do boi gordo. “O mercado de reposição já vinha acompa-
nhando a alta do boi desde agosto e apenas esticou essa traje- tou aumento de 3,6%, fechando a R$ 1.108,75.
tória também para setembro”, avalia Hyberville Neto, analista
da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, para quem o cenário No Mato Grosso do Sul, além das altas do bezerro já
da reposição “continua o mesmo”, ou seja, com previsão de
continuidade do “viés de baixa até pelo menos 2018”. mencionadas no primeiro parágrafo do texto, o garrote teve

Neto participou de um ciclo de palestras sobre o merca- forte acréscimo mensal de 9,4%, atingindo o valor médio de
do pecuário durante o Encontro de Criadores, evento da Scot
Consultoria, realizado no início de outubro, em Ribeirão Pre- R$ 1.364. Nessa mesma praça, o boi magro subiu 6,1%, fi-
to, SP. Na ocasião, Alex Lopes, também do time de analistas
cando a R$ 1.618, em média. O valor médio da novilha teve

elevação parecida, de 6,3%, para R$ 1.040.

Ainda no Centro-Oeste, Goiás também apresentou forte

alta mensal do bezerro de 6@, que atingiu R$ 1.067,50 em

setembro, acréscimo de 7%. O garrote e o boi magro regis-

traram o mesmo percentual de aumento, de 3%, atingindo

R$ 1.457,50 e R$ 1.725, respectivamente. A novilha subiu

1,5%, para R$ 1.080.

No Mato Grosso, os aumentos dos animais de reposi-

ção foram mais amenos em setembro. Entre todas as ca-

tegorias, a maior alta mensal foi da novilha, de 5%, para

R$ 1.040. No Estado do Tocantins, em setembro, as maio-

res altas ocorreram com o bezerro e o garrote, de 3% e

5,5%, respectivamente, para R$ 1.000 e R$ 1.410. Na

Bahia, a maior alta mensal foi verificada no bezerro de 6@:

de 3,3%, para R$ 997,50. n

nnn nnn nnn nnn

R$ 1.184,20 R$ 1.420 R$ 1.725 R$ 1.040

Preço do bezerro desmamado, Valor médio do garrote, em Cotação do boi magro Preço da novilha no
no Mato Grosso do Sul, em São Paulo, no mês passado; em Goiás, em setembro; Mato Grosso, em setembro;
setembro; alta de quase 11% elevação de 7,3% em relação valorização de 3% acréscimo de 5% sobre
na comparação com agosto. ao mês anterior. frente a agosto. o mês anterior.

nnn nnn nnn nnn

28 DBO outubro 2017



Fora da Porteira Rogério Goulart

A alta do boi, sob três ângulos.

V ocê escolhe a forma como anda pela fazenda suficiente? Já, quando olhamos para a Figura 2, podemos
para vistoriá-la, certo? Pode ser a pé, a cavalo, de
moto ou quadriciclo, ou de carro... Para alguns, enxergar em vermelho o que ocorreu na Figura 1 e mais
de avião ou, hoje em dia, há a opção do drone. Cada ma-
neira de realizar a tarefa resulta, porém, em informações alguma coisa. “Poxa, Rogério, essa alta aí, que parecia ba-
diferentes, conforme o meio utilizado. Vamos, então, li-
mitar a situação a três categorias. Duas são mais comuns cana, na realidade não é nada mais do que uma pequena
e uma terceira, mais moderna. Quando queremos dar uma
rodada na fazenda, podemos fazer isso a cavalo, de carro correção da queda de 2016 para cá?”
e também visualizá-la por meio de um drone.
Administrador de Exato, caro leitor. Podemos ficar animados com o que
empresas, pecuarista De dentro do carro, provavelmente poucas coisas con-
e editor do informativo seguem ser vistas em detalhes. O carro traz mais a sensa- ocorreu recentemente, mas, levando o foco para um pou-
semanal “Carta ção de como a coisa está sendo tocada. Conseguimos ver
Pecuária”, de uma lasca quebrada, uma erosão, mais adiante um cupim co mais longe, a situação nos deixa preocupados. A arro-
Dourados, MS. teimando em se erguer no meio do capim e o estado ge-
ral dos animais. Já quando estamos encilhados, a cavalo, ba tem que subir um pouco mais para recuperar preço.
a visão é outra. Dá para observar as coisas mais do alto
e consequentemente mais longe. Na cadência do animal, Será que sobe? Aí colocamos sobre a mesa a Figura 3,
temos mais tempo para observar detalhes. Muitos, na ver-
dade. Desconheço quem não saia com pelo menos dez que pega ainda mais cotações, e vê o mercado mais alto e
anotações de coisas a fazer após uma cavalgada dessas.
longe, como um drone. Observe as duas anotações das fi-
A partir do drone, você também vê tudo mais lon-
ge, mas sob outra perspectiva, do alto. Consegue obser- guras anteriores e como elas se inserem no ciclo pecuário.
var falhas na formação do capim, o traçado que o gado
faz para beber água e as imperfeições de forma contínua. O que aconteceu já ocorreu antes, em 2006, 2009, 2012
Além disso, conecta a área e todos os seus pastos em pra-
ticamente uma única imagem. De longe, parece que toda e 2017. Ou seja, o mercado não só sobe. Ele tem seus
a fazenda está de alguma forma interligada. É revelador.
momentos de queda também. Mas, quando essas quedas
Fiz essa comparação para mostrar que a gente tam-
bém pode enxergar o mercado em que nosso negócio está ocorrem, isso é importante. E pode acreditar: o recuo de
inserido de três formas, caro leitor. E cada uma delas re-
sulta em informações diferentes. Podemos olhar para o preços da arroba este ano foi um dos piores da história.
boi, a vaca, o bezerro, a novilha, o touro. Aqui, mostro
o exemplo dos preços do boi gordo. Observe a Figura 1. A alta veio a reboque em seguida. Como também ocor-
Ela mostra o que aconteceu com os preços do Indicador
Cepea, base São Paulo, nos últimos meses. A principal in- reu em 2007/2008 e entre 2013 e 2016. Uma boa notícia.
formação é a de que tivemos uma alta até o fim de agosto.
Que legal. Agora, porém, o mercado sentiu a alta e tentou Gosto de enxergar o mercado dessas três formas. Você
brecá-la, para recuperar o fôlego. Mas essa informação é
tem como agir nos três gráficos. Os meses mais recentes

lhe informam sobre a janela de compra e a venda de gado

no dia-a-dia. Os anos mais recentes informam a tendên-

cia de preços um pouco mais longa. Já o ciclo pecuário dá

uma visão que suaviza as oscilações do cotidiano e ofere-

ce o mais importante: o “norte” da atividade. Para mim,

com o piso nos preços de 2017 e, agora, com essa aparen-

te retomada, os números me dizem que voltamos a inves-

tir na atividade. Quando você se deparar com conversas

de preços que tratam do que aconteceu ontem ou antes de

ontem no mercado, levante o alerta. O foco não pode ser

100% no curto prazo.

Pense sobre essas três visões da mesma forma com

que percorre a fazenda. Se andar só a cavalo está incom-

pleto. Só de carro, também, assim como só o drone. Há

oportunidades enormes de enxergar um pouco mais lon-

ge e o que escrevi aqui é só o aperitivo e um esforço para

abrir seu apetite e buscar mais informações. n

Fig. 1 – Preços no curto prazo Fig. 2 – Preços no médio prazo Fig. 3 – Preços no longo prazo

30 DBO outubro 2017

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Cadeia em Pauta

JBS dá susto em produtores

Empresa suspendeu abates por quatro dias em setembro,
mas se esforça para superar crise provocada pela rescisão
da colaboração premiada de seus executivos

mercialização. A companhia já havia tomado a deci-
são de paralisar abates em março, quando a Operação
Carne Fraca deflagrou grande crise no setor e suspen-
são das importações por vários países. Na ocasião, a
JBS alegou a necessidade de gerenciar estoques para
justamente não “derreter” os preços da carne no ata-
cado. Dessa vez, teria agido de forma diferente, o que
aumentou o nível de desconfiança dos fornecedores.
Procurada por DBO, a companhia não quis se pronun-
ciar sobre o assunto. As compras foram retomadas nos
dias 18 e 19 de setembro.

Uma das plantas da JBS no Mato Grosso, Impacto moderado
Estado que sentiu mais a paralisação
Apesar das dificuldades que vem enfrentando, a
Maristela Franco JBS tem conseguido preservar sua estrutura de aba-
[email protected] te no País, que ainda é gigantesca. Em 2015, a com-
panhia controlava mais de 50 frigoríficos, agora man-
Agigante JBS deu um susto nos pecuaristas, em tém 36 funcionando, em 10 Estados brasileiros. Várias
setembro. Parou de comprar bois por quatro a unidades arrendadas foram devolvidas e outras parali-
cinco dias, dependendo da região, e paralisou sadas, seja em função de uma necessária "reengenha-
seus abates por pelo menos três dias, segundo infor- ria operacional" (quando o abate é ajustado à oferta
maram fontes do setor à DBO. A medida gerou grande de boi), seja por questões administrativas, mas o gru-
apreensão e foi um dos principais assuntos discutidos po ainda tem peso enorme no setor. Seus movimentos
na Internconf, Conferência Internacional de Pecuaris- afetam diretamente o mercado, mas essa paralisação
tas, realizada nos dias 18 e 19 de setembro, em Goiânia. de setembro não chegou a desestabilizar os preços.
Questionou-se, principalmente, se a paralisação denun- "Tivemos uma queda pequena, pois as exportações
ciava maior fragilidade da empresa ou se representa- estão fluindo bem e nos encontramos em um período
va apenas uma "parada técnica", frente às turbulências de entressafra. Quando a arroba começou a cair forte,
causadas pela prisão de seu presidente, Wesley Batista, após as delações, em maio, estávamos ainda na safra",
no dia 13 de setembro, em decorrência da Operação lembrou Alberto Pessina, presidente da Assocon, As-
Tendão de Aquiles, que investiga operações irregulares sociação Nacional de Pecuária Intensiva.
no sistema financeiro. O cargo ficou vago até a noite do
dia 16, quando foi assumido por José Batista Sobrinho No Mato Grosso, o susto foi maior, pois a JBS
(o Zé Mineiro), por decisão do conselho administrativo. detém 50% da capacidade de abate do Estado, com
17 unidades distribuídas pelas principais regiões
Segundo analistas, essa situação excepcional justi- produtoras, das quais apenas 11 estão funcionando.
ficaria medidas excepcionais, porém causou estranhe- Há tempos, esse cenário incomoda os produtores. A
za o fato de a companhia ter suspendido os abates ao suspensão de 100% das compras de gado por cinco
mesmo tempo em que vendia carne a preços mais bai- dias em setembro fez aumentar a intranquilidade e
xos no mercado. O quilo do produto desossado estava também gerou transtornos. Como as distâncias são
a R$ 9,80 no período e, segundo eles, a JBS começou muito grandes, alguns pecuaristas tiveram de bus-
a vender por R$ 9, o que indicaria dificuldade de co- car comprador bem longe de casa. Além disso, o
aumento de oferta derrubou os preços, que demo-
raram alguns dias para voltar ao patamar anterior.
“Qualquer diminuição na capacidade de abate em
um Estado que tem o maior rebanho do Brasil gera
impacto. Espero que a atual crise da JBS se resol-
va o mais rápido possível, para o bem de todos, mas
também estamos estudando alternativas”, informa

32 DBO outubro 2017

Luciano Vacari, diretor-executivo da Acrimat, As- Comportamento da arroba em função das crises de 2017
sociação dos Criadores de Mato G­ rosso.
Valores em reais/@; Carne Fraca: 17/3/2017; Delação: 16/5/2017; Atualizado até 22.8.17.
A entidade encomendou à Fundação Dom Cabral, Fonte: Cepea-B3; Elaboração: Wedekin Consultores
de Minas Gerais, um plano de negócios para uma unida-
de frigorífica com capacidade para abater 500 cabeças/ o fechamento desta edição. Se o negócio for fechado,
dia, que poderia ser arrendada dentre as muitas parali- a empresa passará de sete para 14 plantas em opera-
sadas no Estado. O plano inclui custos, receitas varia- ção no Brasil, o que deverá elevar sua capacidade de
das, governança profissional e possibilidade de expor- abate para 300.000 cabeças/mês até 2017. O Minerva
tação. “A Fundação Dom Cabral prometeu nos entregar também se mobilizou para aproveitar o período de pre-
esse estudo em 70 dias. Quando ele estiver pronto, será ços baixos do boi para a indústria, reabrindo a planta
apresentado em várias regiões do Mato Grosso. Se al- de Mirassol d'Oeste, no Mato Grosso, que estava pa-
gum produtor ou grupo de produtores se interessar pela rada desde 2015. O Frigol informa que deverá aumen-
montagem da indústria, vamos apoiá-los”, salientou tar seus abates em 17%. Até o final do ano, estará ope-
Vacari. Seja em função das plantas fechadas ou de di- rando com 100% de sua capacidade instalada, visando
ficuldades conjunturais, a JBS estaria abatendo apenas ao processamento de 48.000 cabeças/mês. Frigoríficos
30.000 bovinos no MT, quando tem capacidade insta- pequenos também aproveitaram a onda favorável e es-
lada para 50.000, afirma-se no mercado. tão abatendo em ritmo mais acelerado, pois muitos pe-
cuaristas passaram a integrar sua lista de fornecedores,
Movimentação dos concorrentes especialmente para garantir pagamento à vista, modali-
Enquanto o líder do setor busca superar dificulda- dade comercial que somente agora a JBS voltou a pra-
ticar, esporadicamente, em algumas localidades. n
des, os concorrentes aproveitam o momento de preços
atrativos do boi (para a indústria) e expandem sua ca-
pacidade de abate. A Marfrig, por exemplo, reativou
cinco unidades que estavam paradas: Nova Xavanti-
na, no sudeste do Mato Grosso; Pirinópolis, próximo
a Goiânia, GO; Paranaíba, no nordeste do Mato Gros-
so do Sul; Ji-Paraná, em Rondônia, e Alegrete, no Rio
Grande do Sul. A empresa também estaria negocian-
do o arrendamento de mais dois frigoríficos no Mato
Grosso, um no município de Monte Verde, com ca-
pacidade para abate de 1.500 cabeças/dia, e outro em
Pontes e Lacerda, para processamento de 1.000 bovi-
nos/dia. As unidades pertenciam à Arantes Alimentos,
que entrou em recuperação judicial em 2009, e esta-
vam sendo operadas pela JBS.

As negociações, segundo a assessoria de impren-
sa da Marfrig, ainda não haviam sido concluídas até

Prova de resistência por R$ 15 bilhões; a Alpargatas, por R$ do negociar a termoelétrica Âmbar, por
3,5 bilhões; as participações na Vigor e R$ 800 milhões; a empresa de higiene e
A resiliência (capacidade de resis- Itambé, ambas processadoras de lácte- limpeza Flora, por R$ 400 milhões, e o
tência) da JBS continuará sendo testada os, por R$ 4,9 bilhões e a JBS Mercosul, Banco Original. Tudo isso para preservar
nos próximos meses. Ainda pairam in- por R$ 1 bilhão. Antes disso, a JBS havia seu principal negócio: a JBS, que fatu-
certezas sobre a manutenção do acor- vendido a Five Rivers, empresa de confi- rou R$ 170 bilhões em 2016. Neste ano,
do de leniência da empresa, fechado namento nos Estados Unidos, por US$ 40 ela está perdendo dinheiro e teve de re-
com o Ministério Público (MP) antes da milhões. Em setembro, a Pilgrim’s, que negociar dívidas de curto prazo com os
rescisão da deleção premiada dos exe- pertence à JBS USA, incorporou a Moy bancos (R$ 8 bilhões com vencimento
cutivos Joesley Batista e Ricardo Saud, Parks, empresa de carne de frango do previsto para 2017), mas ainda é uma
mas a companhia continua dando segui- Reino Unido, por US$ 1 bilhão. empresa forte, que tem tudo para sobre-
mento ao chamado plano de desinvesti- viver à tempestade em curso, agravada
mento (venda de ativos) para reequilibrar O mercado estima que a holding, já pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista
suas contas e pagar a multa de R$ 10,3 reduzida à metade do seu tamanho, teria de Inquérito) no Congresso, que inves-
bilhões estabelecida pelo MP. Até o mo- arrecadado mais de R$ 24,5 bilhões com tiga sua relação com o BNDES (Banco
mento, teriam sido vendidas cinco em- venda de ativos. Ainda estaria tentan- ­Nacional de Desenvolvimento Econômi-
presas – a indústria de celulose Eldorado, co e Social).

outubro 2017 DBO 33

Cadeia em Pauta

Projeto “Carne de Zebu” é dados zootécnicos dos animais, feitos por Pecuaristas reunidos
lançado em Figueirão, MS técnicos da Associação. Cada um é em Figueirão durante a
pesado na desmama e ao sobreano. apresentação do projeto
Fincado no norte do Mato Grosso do Posteriormente, todos passam por uma
Sul, região tida como referência em avaliação de carcaça por ultrassonografia. já recebia consultas de pecuaristas
produção de bezerros nelore de Ao final, equipes da ABCZ dispostos a fazer parte do projeto. As
qualidade, o pequeno município de acompanharão os abates para medir o modalidades de participação são:
Figueirão, com seus pouco mais de 3 mil resultado em nível de qualidade investidor de genética (quem fornecerá o
habitantes, foi palco do lançamento final da carne. material genético) e rebanho comercial
nacional do projeto Carne de Zebu, de gado de corte (responsável pelo
idealizado pela Associação Brasileira dos O presidente da ABCZ, recebimento da genética e avaliação das
Criadores de Zebu (ABCZ). A cerimônia Arnaldo Manuel de Souza progênies dos touros inscritos). Os
aconteceu no dia 30 de setembro e fez Machado Borges, foi o interessados devem entrar em contato
parte da programação de aniversário da encarregado da apresentação do com o departamento técnico da
cidade, que completou 14 anos de projeto. Ele justificou iniciar a Associação pelo fone 34-3319-3900.
emancipação. faze experimental pela 3R em função do
histórico da fazenda: “É uma propriedade
A ideia da ABCZ é mostrar e levar que preza por qualidade e que defende a
para a pecuária comercial a eficiência raça nelore há anos”, disse. O pecuarista
genética dos touros PO (puros de origem) Rubens Catenacci é reconhecido como
de raças zebuínas na produção de carne. um dos mais eficientes produtores de
A primeira experiência começa a ser bezerro nelore do Brasil. Dentre suas
tocada em uma fazenda do município façanhas está a constante desmama de
sul-mato-grossense: a 3R, do pecuarista animais com peso aproximado ou
Rubens Catenacci. A fase atual é de superior a 300 kg. Logo após o
acompanhamento e levantamento de lançamento oficial do projeto, a ABCZ

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34 DBO outubro 2017

ARENAS,
A EVOLUÇÃO DA

GENÉTICA

A WV Leilões sente orgulho em ter participado do Leilão Arenas que aconteceu no
dia 16 de setembro no Club Med Lake Paradise. Reconhecida nos leilões de cavalos, a
WV Leilões agora também está presente no crescimento dessa raça fantástica, o Senepol.
O nosso obrigado a todos que fizeram parte do exclusivo mundo Arenas!

www.wvleiloes.com.br Tel.: (18) 3551-9696

Cadeia em Pauta

Brasil volta a exportar Maggi afirmou que a expectativa é de contam com apenas 1,65 m em cada
carne termoprocessada que o embargo seja suspenso em andar, o que faz com que os animais
para os EUA outubro, após avaliação de um fiquem muito apertados e batam a
documento que responde às questões cabeça no teto quando o caminhão passa
Cinco frigoríficos brasileiros da missão norte-americana que visitou por vias irregulares”, diz o deputado. Do
obtiveram autorização do Serviço de o País no primeiro semestre deste ano. lado dos fabricantes de veículos, a
Segurança e Inspeção de Alimentos do principal queixa é a de que não há
Departamento de Agricultura dos Transporte de maneira de reduzir ainda mais a altura
Estados Unidos (USDA) para voltar a gado vivo na pauta do chassi ou dos pneus para ganhar
exportar carne termoprocessada para da Câmara espaço interno nas carrocerias. “Nesse
os norte-americanos. O anúncio foi imbróglio, perdem o pecuarista, o
feito em 27 de setembro pelo Projeto de lei 6.392/16, em discussão na frigorífico e o consumidor, por causa das
Ministério da Agricultura brasileiro, Câmara dos Deputados, quer aumentar lesões nos bovinos”, ressalta o deputado.
que informou que as plantas em de 4,4 para 4,7 metros a altura de Após as discussões, o Departamento
questão foram embargadas caminhões de dois andares que Nacional de Trânsito (Denatran)
preventivamente pelo governo federal transportam gado. A proposta do levantou como preocupação a
por causa de problemas como o deputado Zé Silva (SD-MG), autor do viabilidade de os veículos circularem
rompimento de embalagens. Os projeto, é uma demanda da Associação nas rodovias em função de pontes,
produtos processados termicamente dos Caminhoneiros de Iturama, passarelas e viadutos. Zé Silva e as
representam a maior parte da município do Triângulo Mineiro. transportadoras alegaram que hoje
exportação de carne brasileira para os Segundo o deputado, os motoristas caminhões tipo cegonha, que
EUA. Sobre as exportações de carne in chegavam a cortar a parte superior das transportam automóveis, têm 4,95 m de
natura, suspensas após o episódio em carretas para não serem multados por altura, o que não os impede de rodar
que foram encontrados abscessos em maus-tratos aos bovinos em postos da pelo País. O projeto ainda precisa passar
um dos carregamentos enviados aos Polícia Rodoviária. “Hoje os caminhões por análise do Senado e da Presidência
Estados Unidos, o ministro Blairo da República para ser aprovado.

36 DBO outubro 2017



Cadeia em Pauta

Planta da BRF em Mineiros, GO, será reabilitada. IMA faz recadastramento
de pecuaristas
A BRF poderá voltar a exportar seus consequentemente, o reinício das
produtos a partir do frigorífico instalado exportações. O Instituto Mineiro de Agropecuária
em Mineiros, GO, informou o Ministério A unidade estava impedida de realizar (IMA) iniciou em 16 de setembro uma
da Agricultura, em 20 de setembro. Já a vendas externas desde a Operação Carne campanha de recadastramento dos
BRF informou, em nota, que espera Fraca, da Polícia Federal, deflagrada em criadores de bovinos, bubalinos,
receber nos próximos meses missões 17 de março deste ano. A unidade goiana caprinos, ovinos e equídeos. O
comerciais de fora do Brasil para conduzir produz cerca de 7 toneladas de alimentos recadastramento é obrigatório e deverá
vistorias técnicas que precedem o por mês e emprega aproximadamente ser feito até 29 de dezembro, informou o
processo de habilitação da planta e, 2.000 pessoas. instituto. Para se recadastrar, o criador
deverá comparecer a uma unidade do
Argentina libera carne bovina in natura do Brasil IMA e apresentar original e cópia dos
documentos pessoais e de comprovante
A Argentina reabriu seu mercado à Mundial de Saúde Animal (OIE) um de endereço. O criador que não o fizer
carne bovina in natura do Brasil após caso suspeito de EEB (encefalopatia estará impedido de transitar com seus
cinco anos de negociações, informou espongiforme bovina), conhecida animais dentro e fora de Minas Gerais, o
o secretário de Relações como doença da vaca louca. Para o que o impedirá, inclusive, de vender
Internacionais do Agronegócio do secretário a decisão da Argentina animais do seu plantel ou participar de
Ministério da Agricultura, Odilson deve ter efeito direto nas eventos agropecuários. Conforme o
Luiz Ribeiro e Silva. As exportações negociações em andamento entre o IMA, a medida tem também o objetivo
da proteína estavam embargadas pelo Mercosul e a União Europeia para de regularizar os dados dos criadores
país vizinho desde 2012, quando o estabelecer um acordo de livre junto ao instituto, tendo em vista que
Brasil notificou à Organização comércio. muitos produtores deixaram a atividade
ou venderam seu rebanho e não fizeram
a devida comunicação.

38 DBO outubro 2017



Cadeia em Pauta

Frigol abre escritório Plano ABC, mais barato na expansão do sistema de plantio direto, em
na Rússia mas pouco contratado. reforma de pastagens, adesão aos sistemas
integrados, uso de tecnologias para tratamento
O Frigol, um dos maiores frigoríficos do País, Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio de dejetos animais e reflorestamento.
comunicou em setembro a abertura de Vargas por meio de seu projeto Observatório
escritório em Moscou, como parte do seu ABC, que visa engajar a sociedade no debate Mataboi encerra
projeto de aumento da presença global e sobre a produção sustentável, mostra que são recuperação judicial
aproximação com mercados-alvo de grande menores do que se imaginava os custos de
potencial para as carnes brasileiras. Esse implementar as metas do Plano para a Após seis anos, o frigorífico Mataboi,
projeto foi iniciado em novembro de 2016, com Consolidação de uma Economia de Baixa desde fins de 2014 sob o comando da
a abertura de uma base em Dubai, nos Emissão de Carbono na Agricultura (Plano JBJ Agropecuária, que assumiu uma
Emirados Árabes Unidos. ABC) até 2020. De acordo com o dívida de R$ 480 milhões, encerrou em
Entre janeiro e agosto de 2017, a Rússia levantamento, o valor necessário para setembro o seu projeto de recuperação
comprou mais de US$ 830 milhões de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens judicial. De acordo com diretor
carnes bovina e suína do Brasil. gira em torno de R$ 26,7 bilhões a R$ 31,3 presidente do Mataboi, José Augusto de
“Ampliamos nossa presença no mercado bilhões, valor bem abaixo do apresentado pelo Carvalho Júnior, o processo de
internacional para respaldar o plano de governo federal quando ele lançou o plano, de recuperação da empresa tomou força em
crescimento das exportações de carnes, R$ 43,9 bilhões. A questão é saber se o ritmo função das novas estratégias adotadas e
especialmente bovina. Investimos R$ 12 de adesão ao Programa ABC, linha de crédito da aplicação de esforços concentrados.
milhões em infraestrutura para abate e específica para a iniciativa, permitirá cumprir a Ele credita ao empresário José Batista
processamento de bovinos e duplicação da meta no prazo. Do total ofertado para o Júnior, o “Júnior Friboi”, a ousadia de
capacidade de abate de suínos. programa na safra 2016/2017, foram ter adquirido a empresa, em situação
Além disso, já solicitamos autorização para contratados pelos produtores rurais 63% pré-falimentar, fazendo aportes de
exportação de carne suína e a Rússia é o maior (R$ 1,81 bilhão), enquanto na safra anterior o capital e imprimindo uma
comprador dessa proteína do Brasil”, informa percentual havia sido de 68%, de uma oferta de profissionalização da gestão da Mataboi.
Dorival Jr., gerente comercial do Frigol. R$ 2,05 bilhões. Os recursos podem ser usados

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40 DBO outubro 2017



Cadeia em Pauta

Gaúchos modernizam pecuária

O site Observatório Gaúcho da Carne é o objetivo é formar um grande banco de dados
primeiro projeto de uma série de iniciativas para um estudo de inteligência da pecuária
anunciadas pela Secretaria da Agricultura, do Estado. O próximo passo será a criação
Pecuária e Irrigação (Seapi) do Rio Grande da Agência Gaúcha da Carne, em mais uma
do Sul, para assegurar a evolução do tentativa de organizar o setor de carne bovina
processo de rastreabilidade e a criação de um no Rio Grande do Sul. De acordo com
selo da carne gaúcha. Prevista para ser Ernani Polo, secretário da Seapi, com estes
lançada no primeiro trimestre de 2018, a projetos o setor terá condições de adotar
plataforma vai agrupar informações como medidas de longo, médio e curto prazos.
dados de abate (origem, destino, ano, mês e “Só assim poderemos pensar, para um
forma de abate), sanidade, exportação e futuro, no selo da carne gaúcha, agregando
circulação de animais, entre outros. O maior valor à pecuária de corte regional.”

De volta ao termo mercados externos, a companhia precisa
de bois confinados, com padrão
Após vários meses sem comprar boi a específico, cuja captação fica mais fácil
termo a preço fixo, alguns frigoríficos por meio de contratos a termo.
voltaram a fechar esse tipo de contrato, “Estamos fechando alguns negócios
embora em escala bem inferior à com clientes específicos”, informou
praticada anteriormente. Uma dessas Fabiano Tito Rosa, gerente de compra
empresas é o Minerva, que destina entre de gado do Minerva.
70% e 80% de sua produção à
exportação. Para atender determinados

Setembro em chamas

O mês de setembro de 2017 entra para a Mato Grosso, que mesmo com o
história como o período com maior período proibitivo para queimadas
número de focos de incêndio desde 1999, continua registrando novos pontos de
quando o Inpe (Instituto Nacional de incêndio a toda hora; Mato Grosso do Sul
Pesquisas Espaciais) começou a registrar que registrou 2.595 focos até o dia 22 e
tais ocorrências. Foram registrados Tocantins, onde já foram detectados 9.109
105.000 focos, a maioria na Amazônia, e pontos de calor. Um incêndio no Parque
o ano de 2017 já é considerado o Nacional do Araguaia já destruiu 70% de
segundo com mais pontos de calor, no sua área. Segundo Alberto Setzer,
período de janeiro a setembro. Os pesquisador do Inpe, dois fatores explicam
Estados mais afetados foram: Pará, com o aumento dos pontos de queimadas: a
mais de 22.000 focos, quase cinco vezes estiagem prolongada em boa parte dos
mais que no mesmo mês do ano passado; Estados e a ausência de fiscalização.

42 DBO outubro 2017

76 BILHÕES DE REAIS AO ANO

ESTE É O TAMANHO DO IMPACTO NA ECONOMIA*, MAS NOSSA RESPONSABILIDADE É AINDA MAIOR.

Os Auditores Fiscais Federais Agropecuários têm a missão de garantir a qualidade máxima em todo
o processo de produção agropecuária nacional. Sua atuação impacta não apenas os alimentos que
fazem bem à saúde das pessoas, mas também toda a cadeia produtiva do Agronegócio, que garante
a força da economia do país, assegurando empregos, renda e exportações. Valorizar o trabalho dos
Auditores Fiscais Federais Agropecuários é promover a segurança alimentar, com mais qualidade de
vida para os brasileiros.

Saiba mais sobre esta carreira, acesse: www.anffasindical.org.br

*Fonte: FGV – Fundação Getulio Vargas





Eventos

Interconf completa 10 anos

Um dos eventos mais importantes do País na área de pecuária
completa uma década com mudanças substanciais

conf refletem esse cenário e também a necessidade, se-
gundo Pessina, de maior aproximação com os produtores,
que tradicionalmente já participam da feira Goiás Genéti-
ca e se sentem em casa no parque de exposições.

Maristela Franco Foco no mercado

Evento deste Maristela Franco O primeiro dia de palestras da conferência se con-
ano foi no centrou, principalmente, nas análises de mercado, tanto
Parque de de Goiânia, GO externo quanto interno, tarefa inicialmente assumida por
Exposições Zeina Latif, da XP Investimentos, de SP, que fez um ba-
Pedro Ludovico [email protected] lanço do cenário econômico. Segundo ela, tudo indica
que a economia mundial esteja iniciando um novo ciclo
Mudanças Com histórico respeitável – centenas de palestras, de alta. No Brasil, a produção industrial, que caiu dra-
visam maior bastidores agitados e debates memoráveis, como maticamente, se deslocando da onda de crescimento dos
aproximação o dos frigoríficos em 2009, mediado pelo jorna- demais países emergentes, ensaia uma recuperação, mas
com os lista Paulo Henrique Amorim, quando a JBS anunciou a vai demorar para que isso se reflita no PIB (produto in-
produtores, que compra do Bertin – a Interconf, atual Conferência Inter- terno bruto). “Se o País crescer 3% ao ano, vamos levar
já frequentavam a nacional de Pecuaristas, completou 10 anos, nos dias 18 cinco anos para recuperar a renda per capita pré-crise.
Goiás Genética” e 19 de setembro, com mudanças substanciais. Trocou A queda na inflação, que costumo comparar à febre de
Alberto Pessina, um paciente, indica que a economia está se recuperando.
presidente da o Oliveira’s Place, na região sul de Goiânia, GO, re- Não é simplesmente reflexo da recessão”, disse Latif. Se-
Assocon. cinto que ocupou por nove anos, pelo Parque de gundo ela, espera-se redução ainda maior dos juros (para
Exposições Pedro Ludovido Teixeira, partilhando patamares de 7% a 8%), aumento no consumo, melhoria
uma estrutura móvel com a feira Goiás Genética, na confiança dos empresários e queda no desemprego.
realizada na sequência (dias 20 a 23), pela Asso-
ciação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ). O O pior já teria passado no mercado de crédito. Com
evento também ficou mais compacto, com ligação a queda na inadimplência e nos pedidos de recuperação
judicial, a oferta de dinheiro aumentou. O grande desafio
direta entre a área de palestras e os stands das em- será controlar o déficit fiscal, sem o qual o País terá apenas
presas. A mudança parece não ter afugentado o público, uma recuperação passageira, “um voo de galinha”, ressal-
que, segundo os organizadores, foi de 1.100 pessoas. tou Latif. “Será necessário um esforço fiscal de 5,8% do
PIB para equilibrar as contas públicas”, alertou. Isso exi-
“Estamos estudando esse novo formato, que pode girá, segundo a analista, uma reforma da previdência, que,
ou não ser mantido no próximo ano”, informou Alberto mantidas as regras atuais, consumiria 70% do orçamento
Pessina, presidente da Assocon, Associação Nacional de da União. A melhoria na produtividade no trabalho e nas
Pecuária Intensiva, entidade promotora da conferência. empresas seria outro grande desafio do País. “A partir de
Quando a Interconf foi realizada pela primeira vez, em meados da década de 70, o crescimento da população ati-
2008, a Assocon (à época representante apenas de con- va em relação à inativa minimizou o impacto da baixa
finadores), tinha três anos de vida e navegava em con- produtividade, mas esse ‘bônus demográfico’ deverá se
juntura bem diferente da atual. A crise provocada pelos esgotar a partir de 2030. Será necessário melhorar o am-
sucessivos golpes desferidos à pecuária em 2017 – Ope- biente de negócios e qualificar a mão de obra”, alertou.
ração Carne Fraca, delações da JBS e posterior rescisão
do acordo de colaboração premiada da empresa – abalou Com análise mais focada no agronegócio, o econo-
o mercado e encolheu patrocínios. As mudanças na Inter- mista Ivan Wedekin lembrou que o setor é responsável
por 24% do PIB, 47% das exportações e 37% dos em-
pregos do País. “Acabamos de colher uma safra recorde
(239 milhões de toneladas, 52 milhões a mais do que no
ano anterior), o que resultou em deflação no preço dos ali-
mentos no mercado interno. O agronegócio gera saldo de
US$ 69 bilhões em exportações, valor próximo do défi-
cit da China, nosso maior cliente. Os chineses importam
soja e nosso agro se transforma”, disse Wedekin. O con-

46 DBO outubro 2017

Faça chuva A chuva não é mais motivo de dor de cabeça com a nutrição
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Eventos

tos fatores imponderáveis. “Foi um dos anos mais desa-

fiadores da história da pecuária, com quedas abrutas no

preço da arroba”, salientou Albuquerque.

“O pecuarista aguentou muito desaforo neste ano:

estoque de boi magro caro, mercado futuro em baixa e

uma revoada de cisnes negros”, completou Perrone, re-

Divulgação Interconf ferindo-se à Operação Carne Fraca, aos escândalos po-

líticos e ao embargo americano à carne brasileira. Du-

Área destinada rante o evento, mais um cisne negro sobrevoava o setor
a empresas:
– a paralização dos abates pela JBS (veja reportagem à
mais compacta
neste ano. página 32) – , mas os analistas não previam efeito tão

grande sobre a arroba, porque o episódio ocorreu duran-

te a entressafra do boi. Outro susto foi a alta inesperada

sumo mundial já chegou a 58,7 milhões de t/ano e a Chi- no preço dos animais de reposição, classificada como
na é o terceiro maior importador mundial desse produto.
“Os australianos fizeram um estudo para entender o cres- especulativa. “Sejam cautelosos”, recomendou Albu-
cimento das exportações brasileiras entre 2000 e 2014,
constatando que ela se deve, em 37%, ao menor custo em querque, “boi magro a R$ 150/@ é um preço normal
do boi; em 55%, ao maior acesso a mercados e, em ape-
nas 8%, ao aumento na renda dos importadores”, expli- para Goiás neste momento; mais que isso, não se paga.
cou o economista.
E busquem proteção de risco no mercado futuro”.
Como fica a arroba
Wedekin anunciou ainda aos pecuaristas uma boa O bloco de palestras técnicas incluiu temas como con-

notícia: “não teremos forte pressão sobre os custos da trole de invasoras, pneumonia em confinamentos, técni-
pecuária no próximo ano”, por causa do grande esto-
que de grãos (quase 20 milhões de t de milho no Bra- ca de manejo “nada nas mãos” (objeto de reportagem
sil), energia mais barata, aumento na oferta de crédito e
preços dos insumos sob relativo controle. Isso, segundo de capa de DBO, em julho), seleção genética e balanças
ele, pode minimizar o efeito da queda nos preços da ar-
roba. No debate que se seguiu às palestras da manhã, o para pesagem voluntária de animais confinados. Proble-
confinador André Perrone e os analistas Rodrigo Albu-
querque, da NF2R, de GO, e Leandro Bovo, da Radar mas técnicos, como o rompimento de um cabo de energia,
Investimentos, disseram que já esperavam preços me-
nores do que os de 2016, mas não contavam com tan- atrapalharam um pouco a programação, que apresentou

alguns furos. O evento foi encerrado, no dia 19, com as

palestras da advogada Samanta Pineda, sobre legislação

ambiental, e do ex-professor da Unicamp, Pedro de Felí-

cio, sobre qualidade de carne. “É difícil falar em qualida-

de no Brasil, quando a indústria frigorífica exporta prin-

cipalmente cortes do tipo commodity para Hong Kong,

China e Egito, faturando US$ 3,8 bilhões entre janeiro e

agosto deste ano. Não se ofendam, mas, se fosse nos Es-

tados Unidos, boa parte da carne que produzimos seria

moída. É preciso mudar isso”, alertou. n

Estrangeiros de olho no Brasil Maristela Franco

A Interconf recebeu, neste ano, a vi- Paulo; as Fazenda Conforto, de Alexandre Executivos da JBS Austrália, Richard
sita de 13 produtores e executivos de fri- Negrão, e a Fazenda Colorado, da JBJ, em Nichols e James Palfreeman (à dir.).
goríficos da África do Sul e Austrália, que Goiás, além de universidades e empresas
vieram ao País conhecer nossa pecuária, de suplementação mineral. Phibro e cicerone do grupo, a pecuária da
a convite da empresa de aditivos Phibro. África do Sul é bem diferente. Os animais
“Queríamos entender como o Brasil con- Palfreeman explicou à DBO que a são abatidos com no máximo 16 meses e
segue tamanha competitividade no mer- Austrália não produz apenas carne de alta 480 kg de peso vivo. Segundo os visitan-
cado de carne commodity”, salientou Ja- qualidade, como muitos pensam. Na par- tes, uma palavra define o Brasil: oportuni-
mes Palfreeman, diretor de confinamento te sul da costa leste, onde se concentra dade – pela fatura de terras, água, mão de
da JBS Austrália, que também fez uma a pecuária do país, o rebanho é predomi- obra, gado, capacidade instalada de abate
palestra na Interconf sobre o sistema de nantemente Angus e a produção dirigida e potencial de ganhos produtivos.
engorda de seu País, sistemas de certifica- (conforme a demanda do cliente); na parte
ção e organização institucional da cadeia central, trabalha-se mais com cruzamen-
produtiva australianas. O grupo permane- to e, na parte norte, com zebu (Brahman).
ceu 12 dias no Brasil, visitando a fábrica “Pelo menos 20% dos animais de nossos
de virginiamicina da Phibro, a Usina Vale confinamentos são exportados para os Es-
do Rosário, o Confinamento Monte Alegre tados Unidos, para produção de hambúr-
e um frigorífico do Minerva, todos em São guer”, explicou o executivo. Segundo Dani-
lo Grandine, diretor global de marketing da

48 DBO outubro 2017



Evento

BELA MAGRELA mando como base a relação de 1 touro para 25 matrizes,
com uma taxa anual de reposição de 20%.
Especialistas reunidos no Encontro dos Encontros, da
Scot Consultoria: evento atraiu cerca de 1.500 pessoas. Baruselli participou, juntamente com outros espe-
cialistas do setor, de um debate sobre genética e repro-
IATF avança, dução de bovinos no Encontro dos Encontros (Criado-
mas reprodução res/Adubação e Pastagens/Pecuária Leiteira), evento
ainda tem baixa da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, ocorrido de 2
eficiência. a 5 de outubro, em Ribeirão Preto, com um público de
1.500 pessoas.
Especialistas em genética debatem soluções e
gargalos para aumentar a precocidade, fertilidade O professor da USP continuou sua exposição dizen-
e produtividade do rebanho brasileiro. do que apesar de somente 10% do plantel de vacas ser
atualmente inseminado no País, a técnica apresentou
Denis Cardoso crescimento em 15 anos – basta ver a quantidade de
de Ribeirão Preto, SP doses de sêmen comercializadas no período, que sal-
tou de 7 milhões em 2002 para 11,7 milhões em 2016
Em 15 anos, tempo em que a inseminação artifi- (corte e leite), de acordo com a Associação Brasileira
cial em tempo fixo (IATF) passou a ser adotada de Inseminação Artificial (Asbia). Esse crescimento foi
no Brasil, houve significativos avanços nas áreas motivado sobretudo pela IATF, que passou de 1% das
de reprodução de bovinos, resultando em consideráveis inseminações, há 15 anos, para 85% das inseminações
ganhos de eficiência em fazendas de gado de corte. Mas realizadas no ano passado.
o consenso entre especialistas do setor de genética é de
que esta e outras técnicas de reprodução de bovinos, Ainda segundo Baruselli, no ano passado foram co-
facilmente disponíveis, ainda estão longe de alcançar mercializados 8 milhões de doses de sêmen bovino de
seu verdadeiro potencial nas fazendas do País. Segundo gado de corte no Brasil, com a produção de 3,2 milhões
o professor Pietro Baruselli, da Faculdade de Medicina de bezerros de inseminação por ano, considerando uma
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo taxa de 40% de nascimentos. Isso representa uma ofer-
(FMVZ-USP), 90% das matrizes brasileiras ainda são ta anual de 1,6 milhão de machos e 1,6 milhão de fê-
cobertas por touros (monta natural), sendo que apenas meas. São abatidos cerca de 40 milhões de animais por
50.000, ou 8% de um universo de 600.000 reproduto- ano, sendo 60% de machos (ou 24 milhões de cabeças)
res que são repostos anualmente no rebanho, possuem e 40% de fêmeas (16 milhões de cabeças). “Infelizmen-
algum tipo de avaliação genética – hoje, estima-se um te, dentro dessa realidade, a inseminação artificial con-
plantel de touros ao redor de 3 milhões de cabeças, to- tribuiu somente com 6% do total dos abates dos machos
no Brasil no ano passado”, diz Baruselli. No caso da re-
posição, o uso da tecnologia de inseminação represen-
tou somente 11% dos abates das fêmeas em 2016.

Foco no uso de genética

“Mesmo dentro do pequeno universo dos criadores
que hoje utilizam tecnologias reprodutivas, há pecua-
ristas – e não são poucos – errando feio a mão no uso
da genética”, alertou o professor José Bento Ferraz, da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da
USP (FZEA/USP), também presente ao debate.

Bento diz ser contrário ao modelo de escolha de
reprodutores baseado unicamente nos conceitos de
percentil determinados para touros avaliados em pro-
gramas de melhoramento genético. Também rejeita os
chamados “índices totais” de classificação das Dife-
renças Esperadas de Progênie (DEPs) de reprodutores,
que igualmente são analisados em projetos de seleção.
“Um touro tope 0,1%, ou seja, considerado excelen-
te no universo de touros de um programa de melho-
ramento, pode se mostrar totalmente inadequado para
o sistema de produção de uma determinada fazenda”,
observa Ferraz. Segundo ele, é preciso ter foco no uso
da genética que resultará em ganhos efetivos ao pe-
cuarista. “Olhar unicamente para um índice geral que
reúne um mundaréu de características genéticas, na
minha opinião, significa, na verdade, não olhar para

50 DBO outubro 2017


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