Evento
nada”, enfatiza. Com ele concordou o médico veteri- nham hoje com 14 meses, resultando no primeiro parto
nário Leonardo Souza, sócio diretor da Qualitas Me-
lhoramento Genético, empresa com sede em Goiânia e aos 24 meses. No Brasil, o índice médio de idade ao par-
responsável pelo programa Nelore Qualitas. “Por to supera os 40 meses. Outros dois índices ruins da pecu-
mais bem classificado que esteja em programas
de melhoramento, um determinado touro nun- ária brasileira são a baixa taxa de desmama, ao redor de
ca será capaz de resolver o problema de todas
as fazendas brasileiras”, afirma. Nesse senti- 65%, e o baixo peso ao desmame, em torno de 160 kg.
do, observa Souza, antes de mais nada, o pe-
cuarista precisa “conhecer o próprio sistema Nas contas de Baruselli, uma vaca por hectare,
de produção e sua real necessidade do ponto de
com bezerro de 160 kg e com 65% de taxa de desma-
vista genético”. A partir disso, é fundamental, diz
ele, que também se saiba o tipo de trabalho de quem me, resulta em faturamento de R$ 500 por ano, en-
produz e está ofertando essa genética no mercado.
quanto um arrendamento de cana oferece atualmen-
Ainda é pouco
Apesar dos avanços da IATF, o professor Baruselli,da te em torno de R$ 1.500/hectare/ano. “Ou seja, essa
FMVZ-USP, acrescenta que o Brasil ainda tem um dos pecuária de baixa produtividade não é sustentável”,
piores índices do mundo em produção de bezerro, de
apenas “0,6 animal por vaca/ano, diz ele, citando dados afirma o professor da USP, que sugere o uso de tec-
do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea/Esalq-USP). Outro dado que demonstra a baixa nologias reprodutivas como saída para resolver a atual
produtividade da pecuária brasileira, relata o professor, é
Somente 8% o índice ligado à idade à primeira cria. Em vários países ineficiência da cria.
dos reprodutores de pecuária no mundo, afirma o professor da USP, mais
repostos uma vez citando os números do Cepea, novilhas empre- Nos cálculos de Baruselli, atualmente, o Brasil
anualmente
no rebanho apresenta uma produção anual de bezerros ao redor
possuem algum
tipo de avaliação de 50 milhões de cabeças. Vendido ao preço de R$
genética”
Pietro Baruselli, 5,50 o quilo, o faturamento com a venda da safra al-
professor da
FMVZ-USP cança ao redor de R$ 40 bilhões/ano. Porém, conti-
nua, se uma fazenda conseguir elevar a sua taxa de
desmame para 80% e o peso ao desmame para 180
kg, “índices perfeitamente possíveis de serem alcan-
çados com as tecnologias disponíveis atualmente”, o
faturamento sobe para R$ 63 bilhões por ano, um au-
mento de 57%, sem que seja necessário aumentar o
rebanho de matrizes. n
52 DBO outubro 2017
Capa
Tamanho
não é documento
Fazendas com áreas inferiores a 600 ha, consideradas pequenas
para a pecuária do Brasil Central, demonstram eficiência no uso dos
recursos produtivos, com elevada rentabilidade.
Dá para ganhar ariosto mesquita Parâmetros necessários
dinheiro, desde
que se aprenda de São José dos Quatro Marcos, MT, e Selvíria, MS. Produção de carne acima de 12@/ha/ano, capaci-
a ser tope em dade de suporte nos pastos superior a 1,5 UA/ha, ga-
tecnologia” nho de peso médio diário (GMD) do gado acima de 450
Alcides Torres, gramas e um custo de produção da arroba nunca su-
da Scot Como diz o ditado popular, nem sempre quem é perior a 60% do valor da arroba comercializada. Estes
Consultoria grande tem capacidade nem quem é pequeno são os indicadores tomados como referências principais
deve ser previamente julgado como não a tendo. pelo Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Intte-
Nem sempre a No caso da pecuária, o recado que está por trás do gra) – uma espécie de franquia de consultoria originada
fazenda mais ditado também é válido. Quem tem área peque- da empresa Terra Desenvolvimento Agropecuário, com
produtiva é a na pode muito bem ser eficiente na atividade, o sede em Maringá, PR –, para que uma propriedade pe-
mais rentável”, que, a cada dia, se mostra mais necessário. quena possa almejar eficiência na atividade.
André Aguiar, O conceito de pequeno não é uma unanimi-
da Boviplan dade. Consultorias ouvidas por DBO expres- Segundo Rodrigo Patussi Nascimento, gestor do
saram essa divergência: pode ser determinada Inttegra, outra especialidade que os gestores de fazen-
pelo tamanho da área, pelo tamanho do rebanho, das com esses indicadores devem cultivar é a capaci-
pela capacidade de entrega do que se propõe a pro- dade de produzir alimento de sobra. “O aumento da lo-
duzir, pela proporção entre o que tem de estrutura e o tação deve estar ligado à disponibilidade de forragem,
que fatura.... que deve incluir uma boa estratégia para a entressafra”,
diz ele, citando como exemplo a reserva de uma área
Para facilitar as coisas, DBO optou pela escala físi- para confinamento, que deve ser utilizada pon tual e ha-
ca como sendo o parâmetro para classificar o pecuarista bilmente, para atender situações circunstanciais provo-
como pequeno, médio ou grande. Alcides Torres Júnior, cadas por agentes externos como clima (secas) e merca-
o Scot, proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, do (insumos extremamente baratos).
SP, lembra que o último Censo Agropecuário do IBGE,
de 2006, aponta que 2,5 milhões de propriedades com Ele considera a cria, em seu modelo tradicional,
bovinos possuíam até 500 ha de área produtiva. Isso re- como o sistema de produção pecuário mais complexo
para ser adotado em uma propriedade com disponibili-
presenta quase 95% do total com bovinos (ou seja, ape- dade de área limitada: “Exige lotes diversificados, com
nas 5% estavam nas mãos de médios e grandes). diferentes categorias e necessidades distintas. Numa
André Aguiar, engenheiro agrônomo e sócio emergência, haveria grande dificuldade para reduzir a
da Boviplan, de Piracicaba, SP, ressalta que “a lotação. Não é impossível, mas desafiador”, define.
partir do tamanho, fica mais fácil avaliar todas
as variáveis”. A consultoria adota como parâ- A Inttegra presta serviço atualmente a 263 proprie-
metro de pequena propriedade de bovinocultu- dades no Brasil e 22 no Paraguai, somando 888.000 ha
ra de corte área produtiva de até 600 hectares de área produtiva e um rebanho de pouco mais de um
para o Centro-Oeste e de até 1.000 ha para os Es- milhão de cabeças. Levantamento feito com exclusivi-
dade para DBO revela que deste total de fazendas, 39
tados do Norte. As duas regiões, juntas, detêm apro- têm área produtiva de até 500 ha, sendo 27 em siste-
ximadamente 55% do rebanho bovino brasileiro, esti- ma de recria-engorda. A maioria (22) não possui con-
mado em 212,3 milhões de cabeças (IBGE 2016). finamento e está voltada para a produção comercial de
carne (35). Este grupo de fazendas apresenta um lucro
Em outras regiões, como a Sudeste e a Sul, os limi- líquido médio (chamado de resultado gerencial global)
tes para uma propriedade ser considerada pequena são de R$ 341/ha/ano, obtido em uma área de pastagem
mais reduzidos. No Paraná, por exemplo, a Cooperativa
Maria Macia (de Campo Mourão, região Oeste) consi-
dera este teto em 300 ha.
54 DBO outubro 2017
(média) de 259 ha com uma produção global de 17,84 Para ganhar força e competitividade, Torres sugere Lotação e
@/ha/ano e um GMD global de 494 gramas. que pecuaristas desse porte se organizem em torno de forragem têm
núcleos regionais de produção ou em cooperativas. “No de caminhar
Para André Aguiar, da Boviplan, a propriedade efi- Paraná, onde ainda existe um esforço de extensão rural juntas”
ciente, independentemente do tamanho, é aquela que por parte da Emater (Empresa de Assistência Técni- Rodrigo
atinge o ponto de equilíbrio entre produtividade e ren- ca Rural), as cooperativas de produtores de carne Patussi,
tabilidade, com tendência a manter ascendente a curva funcionam muito bem, algumas reunindo mi- do Inttegra
dos dois. “Nem sempre a fazenda mais produtiva é a croprodutores, cada um com seus 50 a 80 hec-
mais rentável”, diz o sócio consultor da Boviplan, que tares de área disponível na propriedade”, lem- Sucessores e
presta serviço a 32 fazendas de pecuária (19 no Brasil e bra (veja mais sobre o Paraná na página 56) investidores
12 na Bolívia), que representam uma área produtiva de ocuparão
83.000 ha e um rebanho em torno de 105.000 cabeças. “Risco de extinção” esses pequenos
espaços.
Aguiar destaca que a gestão de procedimentos ge- Professor do Departamento de Zootecnia da São os novos
ralmente é menos complicada para as propriedades de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR- pecuaristas”
pecuária consideradas pequenas. “No entanto, para se- GS) e coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas Júlio Barcellos,
rem bem-sucedidas, elas têm de estar abertas a opor- de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da UFGRS
tunidades e não devem se fixar num sistema único de (NESPro), Júlio Otávio Jardim Barcellos lembra que,
produção”, recomenda o consultor, apontando como nesses casos, a diferenciação de produtos – para aten-
exemplo a Fazenda Ledacara, de Selvíria, MS, um dos der a nichos de mercado – garante a sobrevivência de
três clientes da Boviplan com área produtiva de até 600 quem tem menor escala de produção. “Nela, é possível
ha, que deixou o ciclo completo para se dedicar à recria- um maior controle de procedimentos ligados ao bem-
-engorda e este ano concentrou o trabalho mais na re- -estar, ao que se convencionou chamar de ‘atividade
cria e menos na engorda, sempre mantendo uma eleva- limpa’ e à sustentabilidade”, diz ele, apontando o sis-
da rentabilidade (veja reportagem à página 60). tema de recria-engorda como o que apresenta melhores
possibilidades.
Trata-se de privilegiar a rápida tomada de decisões,
algo que se tornou prerrogativa para a sobrevivência de Fora desse perfil e com dependência exclusiva da
muitos pecuaristas, especialmente em anos de incerte- renda da pecuária, o professor se mostra bastante pes-
zas e de margens apertadas, como este 2017. simista: “A produção em escala limitada, em pequenas
propriedades, cujo dono busca se manter exclusivamen-
Localização também conta te da bovinocultura de corte, está com seus dias conta-
dos.” O motivo: a incapacidade delas de competir
Alcides Torres, da Scot Consultoria, pondera que, com as grandes empresas na aquisição de tecno-
no mercado agropecuário, a produção de alimentos a logias que levem ao aumento da produtividade,
baixo custo só é viável em grande escala, sejam eles o que exige grande quantidade de capital. “O
soja, milho, trigo, arroz ou carne bovina. Nesse sen- desaparecimento desse pessoal é uma questão
tido, ele tenderia a sugerir a produtores detentores de de tempo”, prevê.
áreas pequenas que partissem para outras atividades,
mais compatíveis com essa realidade, como horticul- Barcellos acredita, no entanto, que a pecu-
tura, fruticultura ou pecuária leiteira. Mas ressalva: ária de corte em pequenas áreas continuará exis-
“Se a propriedade estiver localizada numa região onde tindo, mas sob a gestão do que ele chama de “novos
o forte é a bovinocultura de corte, ela poderá tranqui- pecuaristas” – aqueles marcados pela aura de investido-
lamente apostar na atividade, desde que aprenda a ser res, como os profissionais que já trabalham com outras
tope em tecnologia”. atividades e que têm vínculos com o meio rural. “Se-
riam exatamente os que, por sucessão familiar ou por
Este imperativo, segundo ele, vem da necessida- investimento no negócio, compartilham parte do seu
de de se intensificar ao máximo o sistema produtivo. tempo com a fazenda”, esclarece.
Neste sentido, classifica a informação como primeiro
e essencial insumo. “Uma propriedade de até 600 ha O professor da UFRGS também concorda que a
produtivos no Brasil Central consegue gerar renda no escala física em hectares não determina, por si só, o
mesmo patamar que um trabalhador urbano de clas- resultado de produção em uma propriedade. Diver-
se média consegue. Dinheiro público para financiar os sos fatores como qualidade de solo, região, logísti-
ajustes necessários existe. O mais complexo é o aces- ca, acesso à tecnologia e mercado devem ser con-
so ao conhecimento. As informações técnicas estão siderados. “Uma área de 500 hectares com solos de
disponíveis, mas só isso não basta. Carecemos de me- boa qualidade e que tenha condições de passar por
canismos de difusão”, observa o consultor, lembrando uma intensificação, poderá ter uma escala de produ-
o sucateamento pelo qual passaram as empresas públi- ção superior a uma fazenda de 5.000 hectares dentro
cas de extensão rural nas últimas décadas. “Este papel de uma região como o Pantanal do Mato Grosso do
está hoje praticamente a cargo das empresas fabrican- Sul”, exemplifica.
tes de insumos”, completa.
outubro 2017 DBO 55
Capa
Cooperativismo, uma das saídas.
Agrupar-se numa cooperativa, de res que têm área de até 300 ha, de um minerais e de 5% em medicamentos.
preferência que participe ou esteja em- total de 170 pecuaristas e abate mensal Na compra de lonas, brincos, calcário
penhada em conseguir fazer parte de médio de 1.300 cabeças. Segundo o ve- e sementes, varia de 5% a 30%”, revela
um programa de carne de qualidade. terinário Paulo Emílio Prohmann, diretor- Prohmann.
Essa é uma das estratégias possíveis -secretário da cooperativa, há fazendas
para pecuaristas de pequenas áreas. até menores, de 170 ha, mas também Na comercialização, cita o exemplo
Um bom exemplo vem da Cooperativa aquelas com até 3.000 ha. “A média fica recente, do início da segunda quinzena
Maria Macia, de Campo Mourão, re- em 700 ha de área produtiva”, informa de setembro: “Nosso produtor recebeu
gião noroeste do Paraná. Desde 2005, ele, apontando os 300 ha como parâme- R$ 153 à vista, pela arroba do macho,
como uma aliança de produtores, e a tro para ser considerado pequeno. enquanto que o mercado da região não
partir de 2008, como cooperativa, seu pagava mais do que R$ 145”. Para ter
foco é a produção de carnes conside- Ele enumera três grandes vantagens direto à bonificação, é necessário que o
radas especiais, oferecendo ao merca- para esses associados, no que diz res- pecuarista entregue o animal dentro das
do 24 cortes, entre populares (patinho, peito a reunir condições para uma me- características específicas de tipificação
picanha, alcatra, etc.) e gourmet (t-bo- lhor produtividade: compra de insumos de carcaça. Dentre elas, fêmeas com
ne, prime rib, etc.). mais baratos, assessoria técnica e co- peso acima de 400 kg, machos acima
mercialização a preços acima dos de de 480 kg (ambos com idade de até 24
Boa parte dela vem de um contin- mercado. “Conseguimos descontos de meses), além de cobertura de gordura
gente de aproximadamente 20 produto- até 30% na aquisição de suplementos mínima de 5 mm.
Para indústria, tamanho não interessa.
No longínquo município de Rolim do Minerva Foods, esse pequeno recolher os bois em mais de uma pro-
de Moura, no leste de Rondônia, dis- terminador costuma apresentar al- priedade, até formar uma carga de 18
tante 483 km da capital, Porto Velho, gum tipo de problema, como docu- animais”, conta, considerando peque-
produtores com minúsculas áreas en- mentação incompleta, por exemplo. no quem entrega até 400 cabeças/ano
tre dois a cinco hectares são forne- Mas isso não significa que a porta para o frigorífico.
cedores de gado para abate. “São os da empresa estará fechada para ele.
chamados “chacareiros”, que vendem “O tamanho da propriedade não limi- Questionado sobre quanto percen-
de três a quatro animais, eventualmen- ta nosso negócio. Existem soluções tualmente esse grupo representaria
te, para os frigoríficos. para tudo, mesmo que a quantidade para o negócio do Minerva, Fabiano diz
de animais seja ínfima. Muitas vezes tratar-se de “informação estratégica”.
Para Fabiano Ribeiro Tito Rosa, tenho de mobilizar um caminhão para Procurado, o frigorífico Marfrig alegou
gerente executivo de compra de gado não poder atender à reportagem.
Equipe deve ser enxuta e generalista
Contratação de tratorista, capa- medidas que possam reduzir os cus- pequenas, Gomes também considera
taz, campeiro, gerente geral, gestor de tos de produção. “A equipe de trabalho a recria como atividade mais adequa-
compras, inseminador, serviços gerais deve ser bem enxuta, bem capacitada da para os pequenos, desde que haja
e motoristas definitivamente não deve e generalista. Se o sistema adotado for uma oferta forrageira abundante para
constar da agenda de uma pequena fa- o de recria e engorda, com um rebanho aproveitar o melhor momento do animal
zenda voltada para a bovinocultura de entre 600 e 900 cabeças por exemplo, em eficiência de ganho de peso: “Não
corte. O alerta é do zootecnista Rodrigo duas ou três pessoas são suficientes”, se pode perder de vista que o recurso
Gomes, pesquisador nas áreas de nutri- diz ele. Ou seja, a relação razoável é de em potencial é o pasto e que a recria é
ção e alimentação animal da Embrapa 1 funcionário para cada 300 cabeças. a fase mais propícia para se fazer arro-
Gado de Corte, de Campo Grande, MS, bas em quantidade e a um custo bem
para quem o produtor deve focar em Ainda que não descarte a possibili- barato”.
dade de se trabalhar com cria em áreas
56 DBO outubro 2017
DE PRODUTOR
PARA
PRODUTOR
VENDA DIRETA DE TOUROS
ANGUS DA GERAÇÃO 2015
SELEÇÃO FOCADA NO CRUZAMENTO ANGUS X NELORE
TOUROS DISPONÍVEIS MAIS INFORMAÇÕES
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- FSL ITATINGA - ITATINGA/SP
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- FSL GOIÁS - GOIANÉSIA/GO [email protected]
- FSL SUL - MONTENEGRO/RS
www.fslangusitu.com.br
Capa
No MT, lucratividade Fotos: Ariosto mesquita acabou concluindo inadequado para o tamanho da área.
de soja em área de Hoje, a propriedade tem “lucratividade de soja”, como faz
272 ha. questão de observar o veterinário e consultor Juliano Dal-
canale.
Eficiente manejo de pasto, controle
contábil e estratégia de compra e venda Nos últimos anos o ganho líquido médio da Bacuri fe-
garantem recria altamente rentável. chou em patamares de dar inveja: R$ 1.046 em 2014; R$
848 em 2015 e R$ 998 em 2016. A leve variação ocorreu
Garrotes de 20 em função de causas estratégicas e climáticas, justifica Zi-
meses e 11,5@ mermann, que lança mão de sua qualificação profissio-
nal para ter a fazenda “nas mãos”. “Em 2015 a estiagem
em pasto de veio forte e, na medida em que ela se prolongava, eu tive
braquiarão de diminuir a carga animal. Quando a chuva chegou, não
na Estância havia gado para ocupar as pastagens. Mas em 2016 toma-
Bacuri, em mos mais cuidado: minhas compras começaram ainda em
São José do setembro, em plena seca”, informa.
Quatro Marcos, “Urbano de raízes rurais”, como se autodefine, Zi-
MT: venda mermann é paranaense e está no Mato Grosso desde
garantida. 1972, quando chegou (aos quatro anos de idade) com sua
No detalhe, família. Segundo ele, a fazenda lhe garante um terço de
sua renda, exigindo apenas 15% de seu tempo total de
identificação trabalho. Os outros dois terços saem da empresa de con-
do piquete. tabilidade que ele mantém na vizinha cidade de Mirassol
D´Oeste, que fica a apenas 20 km da fazenda e onde ele
MT T omando como base as referências das consultorias reside. A proximidade permite a ele acompanhar, com de-
citadas no bloco anterior, a Estância Bacuri se en- talhes, como tudo está funcionando na fazenda. Avesso a
São José dos caixaria como pequena propriedade até em terras cavalos, comprou um quadriciclo, sobre o qual percorre
Quatro Marcos paranaenses. Localizada no município de São José dos os pastos, confere o abastecimento de água e vistoria os
Quatro Marcos, no sudoeste do Mato Grosso (distante 318 lotes de animais. Tem a gestão e a tecnologia como priori-
Cuiabá km da capital, Cuiabá), conta com uma área produtiva de dades, contando com apenas um funcionário contratado,
272 ha, de um total de 319 ha, tamanho que a isenta da o gerente Adenilson Costa, o diarista José Luiz da Costa,
obrigatoriedade de recuperar área de reserva legal, pois que cuida da manutenção de cercas e da estrutura geral,
tem menos do que quatro módulos fiscais. e dois colaboradores – o corretor Cláudio Buzati Vieira,
responsável pela compra de animais, e o consultor técni-
Desde 2012, trabalha exclusivamente com recria, de- co Juliano Dalcanale.
pois de 10 anos focados na engorda a pasto, sistema de
produção que o proprietário, o contador Luiz Zimermann, Manejo de pasto
nnn A associação de um bom manejo de pasto – diver-
sificado e incrementado por uma adubação leve – e um
Ficha da Estância Bacuri esquema de compra e venda de animais bem ajustado à
capacidade de lotação dos pastos tem sido a receita da
Localização: São José dos Quatro Marcos, MT propriedade para atingir o excelente faturamento dos úl-
(318 km da capital, Cuiabá) timos anos.
Área total: 319 ha
Área produtiva: 272 ha A pequena área não foi empecilho para a Bacuri tra-
Atividade atual: recria balhar com cinco tipos de forrageiras, três delas com os
Rebanho médio: 850 cabeças (estimativa 2017) produtivos panicuns massai, zuri e tanzânia, que ocupam
Rentabilidade: R$ 998/ha/ano (2016) 119 ha da área rotacionada. No pastejo contínuo, as bra-
quiárias marandu (“braquiarão”) e piatã. “Esta diversifi-
cação tem um papel importante na variação de lotação.
Quando há uma superprodução nos rotacionados, deixa-
mos as braquiárias com lotação mais baixa. Assim, elas
acumulam massa. Isso serve para evitar problemas no ro-
dízio dos pastos mais produtivos, caso ocorra algum ve-
ranico em novembro, dezembro ou janeiro. Se isso ocor-
rer, as braquiárias entram em cena, funcionando como
pasto pulmão, uma reserva estratégica de forragem”, ex-
plica Dalcanale.
58 DBO outubro 2017
O contador Luiz Zimermann: proximidade da Zimermann e sua equipe: atrás, o consultor
fazenda, que ele inspeciona, de quadriciclo. Juliano Dalcanale (esq.) e o gerente
Adenilson Costa; na frente, o diarista José
Luiz da Costa (esq.) e o responsável pelas
compras, Cláudio Vieira.
O objetivo de produzir a maior quantidade de massa que estejam próximos, para economizar no frete. “Bus- Bezerros de
possível sem afetar a qualidade do solo (que recebe leve 10 meses
adubação periódica) proporcionou também experiência camos fidelizar o bom produtor para sempre comprar em pasto
numa área de 30 ha onde foram plantados, em consór- consorciado
cio, os capins zuri (80%) e massai (20%). “A ideia é ter dele”, explica Zimermann. A ideia é que o animal fique com os
uma espécie rasteira que cubra mais a superfície (mas- panicuns zuri
sai) junto com um capim de corte alto e produtivo, mas o mínimo de tempo possível na fazenda, no máximo 11 e massai: alta
que deixa algumas falhas (zuri). Dessa forma, tenho produção de
mais comida e proteção do solo”, diz o consultor, sem meses. Isto porque a Bacuri não comercializa gado ma- massa e solo
saber precisar o quanto a mais esse consórcio produz protegido.
em relação aos cultivos solteiros. “Mas é um procedi- gro; só garrotes com peso entre 11 e 11,5@. “Os com-
mento que já tem cinco anos e vem nos agradando”,
conta Dalcanale, que além da Bacuri atende mais 10 fa- pradores normalmente ainda fazem uma recria a pasto,
zendas do sudoeste do MT.
para levá-los até umas 14@, antes de irem para o confi-
O manejo de pasto tem como alicerce estratégico
usufruir de comida quando a oferta é grande e baixar a namento”, informa.
lotação quando o capim começa a rarear. Segundo o con-
sultor, no pico do período das águas (janeiro e fevereiro), Neste ano, entre março e agosto, a Bacuri comercia-
a capacidade máxima de suporte da fazenda atinge 1.200
animais, o que, numa área de 272 ha, significa lotação lizou 611 garrotes pelo preço médio de R$ 1.625, valor
de 4,5 cabeças por hectare (ou 2,6 UA/ha). A capacidade
mínima, no pico da seca (agosto e setembro) fica em 400 que equivale a R$ 147/@, bem superior aos R$ 121/@
cabeças (0,9 UA/ha).
que ele receberia caso entregasse seus animais com 14@.
Em função disso, não há como dissociar os perío-
dos de compra e venda de animais da disponibilidade de “É isso que o confinador me pagaria”, argumenta, refe-
pasto. Assim, a reposição deve começar no final da seca,
concentrando-se logo após as primeiras chuvas. A ven- rindo-se à cotação do boi gordo, em meados de agosto,
da, por sua vez, deve ser diluída nos primeiros meses se-
cos (abril/maio/junho), quando a disponibilidade de pas- na praça de Cuiabá.
to geralmente começa a decair.
Os indicadores obtidos pela propriedade são sig-
Para obter bons desempenhos das forrageiras, optou-
-se por um “nível de adubação leve” (não é feita todos os nificativos. Por exemplo: em 2016, foram produzidas,
anos), na casa dos 200 kg/ha de amônio fosfatado (MAP,
que carrega 11% de nitrogênio e 52% de fósforo) e 150 14,3@/ha/ano, quatro vezes mais do que as 3,4@/ha/
kg/ha de ureia. “Assim, evitamos custos desnecessários,
uma vez que o manejo eficiente de pastos vem nos garan- ano da média da pecuária do Estado, de acordo com da-
tindo resultados crescentes”, justifica.
dos (de 2012) do Instituto Mato-Grossense de Econo-
Compra e venda
mia Agrícola (Imea). Os indicadores da propriedade lhe
Na parte de comercialização do gado, a Bacuri pro-
cura comprar bezerros Nelore desmamados, com peso valeram o prêmio “Sistema Famato em Campo”, por
acima de 180 kg, de um rol de vendedores conhecidos,
estar entre sete propriedades consideradas referência na
pecuária do Mato Grosso. n
Pouca oscilação no lucro
Indicadores 2014 2015 2016
9.397
@ vendidas 5.647 10.044 3.575
3.875
@ compradas 4.318 7.860 14,3
@ produzidas 3.789 3.081 89
@ produzidas/ha 13,9 11,3 159
Custo da @ produzida 1 57 89 617.979
Valor médio 132 163 346.697
da @ comercializada 1
271.281
Receita produzida 1 502.536 504.886 998
Despesa de custeio/ 218.118 274.292
284.418 230.594
investimento 1
Lucro líquido 1
Lucro ha/ano 1 1.046 848
Fonte: Juliano Dalcanale/Luiz Zimermann. 1 Valores em reais.
outubro 2017 DBO 59
Capa
No MS, sistema ponto de vez por outra socorrer financeiramente os
de produção ditado outros negócios da companhia: empreendimentos em
pelo mercado. construção civil e imóveis de aluguel.
Movida por oportunidades, fazenda Para chegar a esse ponto, os proprietários – os
obtém lucros na casa de R$ 1.000/ha/ano irmãos Leuane, Daniel, Carlos e Rafael Garcia Re-
em 555 ha de área produtiva. zende, cujas sílabas iniciais dão nome à fazenda –
tiveram de tomar a decisão de imprimir uma gestão
Novilhas Nelore em área de braquiária xaraés, uma profissional na atividade, uma vez que aqueles R$
das três cultivares manejadas em sistema de pastejo 100/ha não seriam suficientes para bancar a sobre-
rotacionado da Fazenda Ledacara, em Selvíria, MS. vivência dos quatro sócios. As outras opções eram
vender a fazenda ou arrendá-la para o plantio de eu-
Num ponto oposto a São José dos Quatro Mar- calipto, uma vez que na região (Três Lagoas) atuam
cos, distante 900 km, está o município de Sel- duas das maiores indústrias de celulose do Brasil, a
víria, no leste do Mato Grosso do Sul, onde Fibria e a Eldorado.
outra propriedade mostra que é possível fazer uma pe-
cuária de corte eficiente em reduzida extensão de terras. No mesmo ano de 2010 contrataram o adminis-
A Fazenda Ledacara fechou 2016 com o invejável lucro trador Rodrigo Silva e, em 2012, os serviços da con-
R$ 985/ha/ano, quase dez vezes maior do que obteve sultoria paulista Boviplan, de Piracicaba. A primei-
em 2010. Isso, numa área produtiva de 555 ha. Mais: ra medida foi deixar o ciclo completo e partir para o
a propriedade tornou-se o carro chefe dos negócios da sistema de recria-engorda. “Para conseguir parte do
empresa – a Ledacara Empreendimentos, Construções dinheiro vendemos quase todo o gado da fazenda –
e Agropecuária Ltda., com sede em Maringá, PR–, a 1.339 cabeças, parte lotada aqui e parte num arren-
damento de 1.212 ha. Estávamos tomando prejuízo e
MS Selvíria nnn por isso decidimos retirar o gado para a reforma, li-
berando espaço e fazendo caixa. Entregamos o arren-
Campo Ficha da Fazenda Ledacara damento, vendemos os animais e chegamos ao final
Grande de 2012 com 74 cabeças. Também conseguimos, no
Localização: Selvíria, MS (410 km da capital, Campo Grande) final de 2013, R$ 948 mil do programa ABC (Agri-
Área total: 647 ha cultura de Baixo Carbono) do Governo Federal com
Área produtiva: 555 ha juros de 5,5%/ano”, lembra o administrador.
Atividade atual: recria
Rebanho médio: 1.330 cabeças (estimativa 2017) A fazenda foi totalmente redesenhada: partiu para
Rentabilidade: R$ 985/ha/ano (2016) o pastejo rotacionado, na maior parte de sua área, ins-
talando 12 módulos com piquetes, sistema hidráulico
que abastece cada ponto da propriedade e uma rede
de carreadores para facilitar o trânsito de animais. Ga-
nhou também um confinamento com capacidade está-
tica para 500 animais. Em 2014 e 2015, recebeu mais
R$ 315 mil do programa governamental (ainda tem
mais 5 parcelas a receber, de R$ 64 mil cada), inves-
tindo, no total, R$ 1,8 milhão.
Diversificação
Optou-se também por uma diversificação de for-
rageiras, antes limitadas à braquiária decumbens e
ao braquiarão, além de uso pontual de uma varie-
dade mais antiga do xaraés, com folha mais curta
e crescimento inferior à utilizada na reforma. Nas
áreas intensivas (rotacionadas) são 252 ha de capim
xaraés, 143 ha de piatã e 88 ha de marandu. Exis-
tem ainda 41 ha de pasto extensivo com braquiária
decumbens e mais 31 ha de semi-intensivo com um
mix de variedades.
Entre 2013 e 2014, a fazenda já contava com pas-
tos vigorosos, mas só tinha 105 cabeças (69 bois, 26
vacas, 10 novilhas, além de 15 vacas leiteiras). Ca-
bia mais. Depois de avaliar o mercado e fazer “mui-
tas contas” junto com os técnicos da Boviplan, Silva
60 DBO outubro 2017
Capa
O encarregado
Alexsandro ajudou a
comprar mais vacas
paridas.
O administrador Rodrigo Silva:
do ciclo completo para a recria-
engorda e, atualmente, só recria.
Pasto de substituiu a compra de bezerros pela aquisição de 721 para os bois magros (R$ 173/@), para um valor da
xaraés em vacas paridas. Três meses depois, desmamou os be-
agosto, zerros, segurando os machos e vendendo as fêmeas, e arroba do boi gordo cotada à época, em R$ 139). “Foi
aguardando manteve as vacas no pasto. Com boa oferta de forra-
a entrada gem, de ótima qualidade, um mês depois elas já esta- um ano de bons negócios e de baixo custo. Não com-
de animais: vam gordas e foram enviadas para o abate.
reserva prei milho, farelo ou ração. Também não adubei. Tra-
estratégica. Outras mudanças
Em 2015, a leitura de mercado fez o administrador balhamos com o residual de adubação e as forragei-
da Ledacara tomar nova postura. “Estudando o índi- ras responderam bem. Com isso, nosso lucro bateu
ce de preços da região, que me é enviado diariamen-
te pela consultoria, montei um gráfico do ágio do boi na casa de R$ 1.100/ha/ano”, revela o gestor, acres-
magro em relação ao boi gordo. Isso me ajudou a de-
cidir em não confinar. Resolvemos vender quase tudo. centando que usou parte do dinheiro em caixa para
Ficaram apenas vacas paridas que chegaram prenhas,
fêmeas remanescentes do início da reforma dos pastos cobrir necessidades de outros negócios da empresa.
e bezerrinhos”, conta Rodrigo Silva.
Em 2016, Silva e o encarregado geral da fazenda,
Em apenas duas semanas do mês de abril, foram
vendidos 667 animais, que geraram uma entrada de Alexsandro (Sandro) Roberto dos Santos (um dos cin-
mais de R$ 1,4 milhão. De acordo com as planilhas
daquele ano, o ágio obtido sobre o valor da arroba de co funcionários da propriedade) saíram novamente em
boi gordo ficou em 49% para os bezerros (vendidos a
R$ 202/@), 42% para os garrotes (R$ 197/@) e 25% busca de vacas paridas. Compraram perto de 1.000 ca-
beças e repetiram a estratégia de 2015. O ano fechou
com mais de meio milhão de reais em caixa, um lucro
de R$ 985/ha. “Produzimos 420 kg/ha, o equivalente a
28@/ha”, pontua o administrador.
Em 2017, diante das turbulências causadas pelas
operações da Polícia Federal e pela delação dos só-
cios da JBS, a fazenda tirou o pé do acelerador. “Re-
solvemos dispor de parte do estoque para reforçar o
caixa. Entendemos que não é o momento de se ar-
riscar, pois a chance de errar é grande”, justifica Ro-
drigo. Assim, no fim de agosto, em pleno período de
Redução no preço da @ teve pouco impacto seca, a Ledacara contava com 1.086 animais nos pi-
Indicadores 2014 2015 2016 quetes, lotação próxima de 1,5 UA/ha, no aguardo de
@ vendidas 41.984 26.920 30.610 melhores preços.
@ compradas 4.837 8.038 25.511 Os bons resultados da fazenda já renderam a rea-
@ produzidas 20.157 12.408 15.331 lização de dois dias de campo (julho/2015 e novem-
@ produzidas/ha 36,3 22,3 27,6 bro/2016), em parceria com a Boviplan. Rodrigo
Custo da @ produzida 1 108 133 99
Valor médio da @ comercializada 1 121 169 Silva garante que “pegou a mão do negócio” e hoje
Receita produzida 1 2.614.229 2.265.982 148
Despesa de custeio/investimento 1 2.614.229 2.265.982 2.065.795 mantém um olho dentro da fazenda e outro fora da
Lucro líquido 1 435.392 611.594 2.065.795
Lucro ha/ano 1 784 1.101 porteira: “Dessa forma, o negócio dá resultado. Por
547.076
Fonte: Rodrigo Silva. 1 Valores em reais. 985 isso, valorizo o trabalho da consultoria e o da minha
equipe de campo: eles entenderam bem a necessida-
de de atuarmos de forma diferente. Assim, continua-
mos pequenos em tamanho, mas nos tornamos gran-
des em eficiência”. n
62 DBO outubro 2017
Pastagens
Planejamento, arma contra
o efeito estufa.
Simpósio da Esalq apresenta ferramentas para reduzir
prejuízos com mudanças climáticas
MÔNICA COSTA na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq/USP), que teve como tema os desafios e as
de Piracicaba, SP oportunidades das mudanças climáticas e seus efeitos
[email protected] sobre pastagens (Veja na página 66).
A inda há muita descrença sobre os efeitos Segundo Braga, na região central do País, o pe-
das mudanças climáticas na agropecuária. ríodo de estiagem é de aproximadamente 150 dias,
Por isso o pecuarista não tem se preocupado sendo que a produção de forragem nos pastos cai a
em adotar medidas que possam reduzir os efeitos do níveis próximos de zero entre maio/junho. Somente a
aquecimento global sobre sua produção, diz o zoo- partir de setembro/outubro, com a volta das chuvas,
tecnista Gustavo José Braga, especialista em Ciên- as gramíneas começam a rebrotar. Em sua exposi-
cia Animal e Pastagem e pesquisador da Embrapa ção, porém, o pesquisador apresentou mudanças que
Cerrados, de Brasília, DF. O que ele acha um erro, já vêm ocorrendo neste cenário. Exibindo uma série
diante dos riscos que se começa a correr. “Uma das histórica da estação meteorológica da Embrapa Cer-
possibilidades das mudanças climáticas, por exem- rados em Planaltina, município no entorno de Brasí-
plo, é o seu efeito sobre o prolongamento do período lia, comprovou a redução de cerca de 250 milímetros
de estiagem”, diz Braga, que defendeu, em evento por ano na precipitação pluviométrica, que representa
em Piracicaba, SP, investimentos maiores no plane- cerca de 15% menos ante a média atual de 1.500 mm.
jamento forrageiro, para que amenizar os efeitos do Além disso, detectou-se aumento anual de 1o Celsius
clima e garantir que a demanda da propriedade seja na temperatura máxima desde meados da década de
atendida. O pesquisador participou do 28º Simpósio 1980 – ou seja, os anos estão ficando mais secos e
sobre Manejo da Pastagem, dias 5 e 6 de setembro, quentes, concluiu o pesquisador. “Para as pastagens,
Planejamento para melhor aproveitamento da pastagem
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Marandu x BRS Piatã Pastejo diferido
Basilik x BRS Paiaguás Pastejo diferido
Mombaça,Tanzânia e BRS Sem uso
Sem uso
Zuri x Xaraés
Massai
Andropógon Planaltina Sem uso Sem uso
Pasto consorciado
Sem uso
estilosante Campo Grande Capineira
Capim elefante e Silagem
cana-de açúcar
Milho e sorgo
Milheto
Fonte: Gustavo Braga. Adaptado por DBO
Pastejo Crescimento Florescimento Plantio
64 DBO outubro 2017
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Pastagens
fotos: Arquivo DBO
...Já a Paiaguás, mais precoce, é candidata a maior Andropógon, de florescimento tardio, deve ser
uso durante períodos secos. usado preponderantemente nas águas...
menos chuvas resultam em uma diminuição impor- O pasto como solução
tante na produção de massa verde. A situação é ainda
mais deletéria quando ocorre sob a forma de prolon- A decisão de abordar os efeitos das mudanças
gamento da estação seca e/ou aumento da ocorrência
de veranicos em plena estação chuvosa”, explicou. climáticas sobre as pastagens no simpósio na Esalq
Braga acrescentou que a situação exige medidas foi estrategicamente pensada. Para o zootecnista
ou práticas de adaptação para evitar limitações à ati-
vidade. Aí é que entra o planejamento forrageiro, Carlos Guilherme Silveira Pedreira, professor as-
especialmente para aquele produtor que intensifica
sociado do Departamento de Zootecnia da Esalq e
a pastagem por meio de aumentos em taxa de
lotação. O esquema de planejamento apre- coordenador do simpósio, o tema é relevante para
sentado à plateia, formada essencialmente
por pesquisadores e estudantes, foi desen- a pecuária, que está “sob um holofote negativo”.
volvido com base nas condições climáticas
de Planaltina, mas pode servir de referência “De um lado, é acusada pela sociedade de ser res-
para regiões com condições climáticas seme-
lhantes. O pesquisador explicou o potencial de ponsável pelo aquecimento global; de outro, essas
cada forragem de acordo com o mês de plantio e mesmas mudanças climáticas obrigam o produtor a
floração e incluiu algumas alternativas de uso para
forrageiras anuais (próprias para silagem e feno, por fazer adequações no uso da terra”, explica.
exemplo). “Os limites de uso para plantio, pastejo,
diferimento e colheita das diferentes forrageiras de- Para ele, conhecer a pastagem é ferramenta im-
correm do clima local e de características das for-
rageiras associadas ao florescimento (precoce ou portante para o pecuarista enfrentar as mudanças
tardio).”
climáticas. “Já sabemos que forrageiras mal colhi-
Assim, as cultivares forrageiras de florescimento
precoce, como a BRS Paiaguás, que mantêm o valor das ou de má qualidade aumentam a emissão de ga-
nutritivo mais alto e possuem menor risco de acama-
mento, são candidatas ao diferimento das pastagens, ses de efeito estufa. Temos que apostar em medidas
na seca. Por outro lado, as forrageiras de florescimento
tardio, como os capins Mombaça, Xaraés e Andropó- de mitigação”, recomenda.
gon, devem ser usadas preponderantemente durante a
estação das águas. No sistema proposto por Braga, o A agrônoma Cacilda Borges do Valle, pesquisa-
Andropógon gayanus CV Planaltina e o capim Mas-
sai cumprem um papel importante na composição dora da Embrapa Gado de Corte, em Campo Gran-
das forrageiras porque rebrotam mais rapidamente do
Em breve, os que as braquiárias no início das chuvas. “Em regiões de, MS, também enfatizou a importância do manejo
modelos de do Centro-Oeste (centro-norte de Goiás) onde se tem
previsão serão observado a morte da braquiária por causa de longos adequado das forrageiras. “Os pecuaristas precisam
ferramentas para períodos de seca, o Andropógon tem maior chance de
financiamento sobrevivência”, (veja tabela na página 64). aprender, por exemplo, a usar a régua de manejo
da atividade”
Carlos Pedreira para manter a altura adequada da planta e evitar o
Zootecnista e
professor da sub ou sobrepastejo. Esta também é uma forma de
Esalq
respeitar o solo de acordo com o clima”, afirmou.
O também agrônomo Luís Gustavo Barioni,
pesquisador da Embrapa Informática Agropecuá-
ria, de Campinas, SP, estabeleceu uma relação en-
tre a intensificação sustentável da produção animal
em pastagens e o consumo de carne bovina e asse-
gurou que a intensificação reduz as emissões de
gases de efeito estufa. “Nossos estudos apontam
que o aumento da demanda por carne bovina esti-
mula investimentos em sistemas de intensificação,
aumentando a taxa de lotação e a captura de gás
carbônico da atmosfera.”
Todas as palestras apresentadas durante o 28º
Simpósio foram compiladas e os detalhes e mapas
estão disponíveis em anais que podem ser adquiri-
dos pelo email [email protected]. n
66 DBO outubro 2017
Pastagens
Embrapa lança Fotos: Paulo Lanzetta
azevém ideal
para ILP Segundo Andréa Mittelmann, o
capim também serve à produção de
Material é 5% mais produtivo e de
ciclo 20 dias mais curto do que o de seu silagem pré-secada ou feno.
antecessor, o azevém ponteio.
estiver sendo colhida, o azevém estará brotando”, explica
a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora,
MG) – hoje lotada na Embrapa Clima Temperado (Pelo-
Ariosto Mesquita, tas, RS) – Andréa Mittelmann.
de Campo Grande, MS Com o Integração, o estabelecimento da pastagem
Uma forrageira de inverno de alta produtividade, ocorre em até 50 dias “desde que bem manejada”, obser-
própria para o clima temperado da Região Sul
(com boas perspectivas como pasto de altitude va Mittelmann, melhorista líder deste trabalho que reuniu
também no Sudeste) e indicada para sistemas de produ-
ção de carne e leite. Este é o Azevém Integração, apresen- mais sete pesquisadores e “dezenas de apoiadores”. Este
tado pela Embrapa durante a 40ª edição da Expointer, em
Esteio, RS (26.08 a 03.09 de 2017), e que deve chegar ao manejo, segundo ela, passa principalmente por uma boa
mercado até o início de 2018 para plantio a partir de abril,
na safra de inverno. No momento, o cultivo foca a produ- adubação de base (no momento do plantio) e aplicação de
ção de sementes. A expectativa é de que a primeira leva
ofereça aproximadamente 25 toneladas. O capim, como o nitrogênio no início do perfilhamento.
próprio nome indica, apresenta características para ado-
ção em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). Apesar de possibilidades de desempenho variado em
O material, segundo os pesquisadores envolvidos em função de região, clima e acompanhamento a campo, a
seu desenvolvimento (que levou 15 anos de trabalho), é
5% mais produtivo e de ciclo 20 dias mais curto do que Embrapa sugere sua semeadura no mês de abril para que
o seu antecessor, o Azevém Ponteio, lançado em 2007 e
até então a única gramínea deste gênero botânico conce- possa ser utilizado a partir de junho com aproveitamento
bida pela Embrapa. Segundo a empresa, o Ponteio é res-
ponsável hoje por 60% da produção nacional de sementes intenso até setembro. A produção de sementes geralmen-
de azevém.
te ocorre a partir de outubro. Como é tolerante ao aca-
A adaptabilidade ao ciclo dos sistemas integrados é
um dos seus atributos mais significativos. “Na ILP, as se- mamento, a colheita destas sementes pode ser feita me-
mentes desta forrageira caem no solo antes do plantio da
lavoura de verão. Em função de uma característica pró- canicamente. Também é possível usar o capim para a
pria, passam por uma espécie de adormecimento com du-
ração aproximada de quatro meses. Ao final deste perío- produção de silagem pré-secada (processo que reduz a
do se tornam viáveis. Assim, quando a soja, por exemplo,
umidade da forrageira pela exposição ao sol, após o corte,
por até seis horas) ou feno.
Nos estudos da Embrapa, a produtividade do Integra-
ção foi comparada, nos anos de 2006 e 2014, com três ou-
tros azevéns: Ponteio, Comum (hoje com impedimentos
de plantio) e o LE 284 (normalmente cultivado no Uru-
guai). A avaliação de valor de cultivo e uso (VCU), exi-
gida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento (Mapa), foi feita em áreas de quatro municípios
distintos: Ponta Grossa (PR), Bagé (RS), Passo Fundo
(RS) e Capão do Leão RS. Em quase todas as compara-
ções (exceção de Bagé, em 2006) o Integração superou os
demais (veja quadro) em produtividade (produção de ma-
téria seca em quilos por hectare).
O Azevém Integração foi desenvolvido a partir de
Produtividade de azevém (MS/kg/ha) em seis ambientes uma seleção massal (com base em uma população ori-
Local Ano BRS/Integ. BRS Ponteio Comum LE 284 ginal e distinção por fenótipo) seguida por avaliações em
C. do Leão 2006 4.225 3.764 3.648 3.518 diversos ambientes e testes para registro e proteção da
Ponta Grossa 2006 7.326 6.731 6.907 6.382 cultivar. Este trabalho foi capitaneado pelas unidades da
Embrapa Gado de Leite e Clima Temperado com a cola-
Bagé 2006 5.571 5.971 6.203 6.233 boração das bases Pecuária Sul (Bagé, RS) e Trigo (Passo
Passo Fundo 2006 9.568 9.068 7.960 7.451 Fundo, RS) e parcerias da Universidade Federal do Rio
C. do Leão 2014 5.773 5.490 - 4.318 Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Pelo-
Ponta Grossa 2014 10.400 9.454 - 6.600 tas (UFPEL) e Associação Sul-Brasileira para o Fomento
e a Pesquisa de Forrageiras (Sulpasto). n
68 DBO outubro 2017
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Integração lavoura-pecuária impulsiona ganho de carne por hectare
e renda com a cultura do cereal nas terras baixas do Rio Grande do Sul
Área de PauloMarsiaj ção (veja tabela na pág. seguinte), onde o cultivo de ar-
cultivo roz “retorna” para a mesma área em um, dois ou quatro
de arroz Renato Villela anos, sendo intercalado pelo cultivo de espécies de verão
cedida para de Cristal, RS (soja, milho e capim sudão) e inverno (azevém com trevo
experimento branco, trevo persa e cornichão). Por segurança estatísti-
de ILPF na [email protected] ca, cada tratamento é dividido em três áreas (repetições).
Fazenda O pastejo é contínuo, mas a lotação, variável. O objetivo
Corticeiras. Oarroz e o boi são companheiros de longa data nas é manter o azevém sempre com 15 cm, considerada a al-
terras baixas da metade sul do Rio Grande do Sul. tura ideal da forrageira para o melhor desempenho ani-
A parceria, forjada nos terrenos inundáveis da re- mal, além de fornecer cobertura vegetal (palhada) para o
gião, alterna o cultivo irrigado do cereal no verão com plantio direto da cultura de verão. O porte da forrageira é
o pastejo do gado, que aproveita a soca da cultura ou as mantido por meio de animais “reguladores”, bezerros de
forrageiras cultivadas no inverno, em especial o azevém. desmama Angus e Devon que são inseridos ou retirados
Essa dobradinha, no entanto, dá sinais de esgotamento da do sistema de acordo com a necessidade. Pelo menos três
forma como tem sido conduzida, pois segue um mode- animais – chamados de “testes” – sempre permanecem
lo extensivo, no qual a pecuária entra de improviso, sem em cada tratamento, para avaliação do ganho de peso. O
adubação ou manejo de pastagem. A falta de planejamen- trabalho é coordenado pelo professor Paulo César de Fac-
to, além do resultado aquém do que o sistema é capaz de cio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do
produzir, pode prejudicar a cultura agrícola seguinte, por Sul (UFRGS), e nasceu de uma parceria entre a universi-
ocasionar problemas de compactação do solo. Mas um dade, a Embrapa Pecuária Sul, o Instituto Rio-Grandense
trabalho de pesquisa multidisciplinar pretende mudar essa do Arroz (Irga), a Integrar Gestão e Inovação Agropecuá-
realidade. A proposta é mostrar ao produtor que a inte- ria, e o Serviço de Inteligência em Agronegócio (SIA). O
gração lavoura-pecuária (ILP), feita nos moldes preco- projeto tem várias linhas de pesquisa e conta com a par-
nizados, aliada à diversificação de culturas e ao manejo ticipação de inúmeros estudantes (graduação, mestrado,
correto do solo, pode trazer maiores ganhos de carne por doutorado e pós-doutorado), além de pesquisadores das
hectare e mais lucro com o arroz, seja pelo aumento de instituições parceiras.
produtividade – já comprovado –, seja pela redução nos
custos de produção, em razão da menor necessidade de Vencendo a desconfiança
uso de herbicidas e adubo.
A despeito de historicamente estar presente nas ter-
Iniciado em 2013, o projeto Sistemas Integrados de ras baixas, o boi sempre foi visto de forma desconfia-
Produção Agropecuária em Terras Baixas (SIPAtb) está da por aquelas bandas. “Há uma crença de que a pecu-
sendo conduzido na Fazenda Corticeiras, no município ária nas áreas de arroz não aprensenta bons resultados,
de Cristal, Sul do Rio Grande do Sul, a 160 Km de Porto por causa dos terrenos alagadiços”, conta o agrônomo
Alegre. Numa área experimental de 18 hectares, cedida Paulo Marsiaj Oliveira Neto, mestrando em Zootec-
pela propriedade, são simulados cinco sistemas de produ- nia pela UFRGS, um dos pesquisadores do projeto. O
que também ajuda a explicar por que a atividade nun-
ca foi conduzida da forma como deveria é o receio de
que comprometa a produção arrozeira. “Muitos produ-
tores enxergam o boi como vilão, porque acreditam que
o pisoteio compactará o solo, prejudicando a cultura
do arroz”, afirma. Segundo Carlos Nabinger, professor
da universidade gaúcha, a compactação, de fato, pode
ocorrer em áreas de difícil drenagem, como é o caso das
terras baixas, mas o problema é facilmente contornável.
“Basta ajustar a carga animal de modo a controlar a in-
tensidade do pastejo”, afirma. A altura adequada da es-
pécie forrageira permite que a planta tenha área residual
de folhas suficiente para captar energia solar e transfor-
mar em novas folhas e raízes. “O sistema de raízes bem
70 DBO outubro 2017
desenvolvido auxilia no controle da compactação.” PauloMarsiaj O pesquisador
No que diz respeito à produtividade de carne por hec- Paulo Marsiaj
e a estudante
tare, os resultados da primeira fase do projeto, concluída Débora
este ano (2013-2016/2017), mostram que nas áreas de in- Machado:
tegração nas quais há maior diversificação de culturas os entusiastas
resultados de produtividade agrícola e pecuária são me- do sistema
lhores. No Tratamento 2, onde é feito somente o mono- integrado de
cultivo de arroz irrigado em plantio direto com azevém produção.
no inverno sob pastejo, o ganho de peso médio diário de-
cresce no período, de 0,67 quilo em 2013 para 0,45 kg ares de pesquisadora, acompanhou, com o colega Pau-
em 2016. O mesmo acontece com o ganho por área, que lo Marsiaj, a reportagem de DBO pelos campos experi-
despenca de 348,27 kg para 101,35 kg de peso vivo/hec- mentais da fazenda.
tare em igual intervalo. Ao se introduzir uma nova cultu-
ra agrícola na integração – arroz num verão e soja no ou- O ganho na produção de grãos que a pesquisa tem
tro, por exemplo, intercalando com o azevém no inverno comprovado até aqui é, sem dúvida, o que mais cha-
(T3), a curva se inverte, muito em função da janela maior ma a atenção dos arrozeiros O experimento, no entanto,
de pastejo por causa da oleoginosa (Veja quadro). Nesse quer ir além e mostrar aos produtores que é possível re-
modelo de ILP, que tem sido o mais utilizado pelos produ- duzir o custo de produção do cereal com a ILP. O pro-
tores da região e é conhecido como “pingue-pongue”, o fessor Carlos Nabinger explica que a introdução do boi
ganho de peso médio diário salta de 0,72 kg para 0,99 kg. ou outra cultura pode ajudar a controlar invasoras como
O ganho por área, a despeito do recuo inicial – de 423,5 o capim-arroz ou canevão (Echinochloa spp) e o arroz-
kg de peso vivo/ha em 2013 para 130,17 kg de peso vivo/ -vermelho (Oryza sativa L.), considerado atualmente a
ha em 2014 –, também apresenta tendência de crescimen- principal planta invasora da lavoura arrozeira irrigada.
to, fechando o primeiro ciclo de produção no ano passado “Ao serem consumidas pelos animais, essas espécies
com 201,93 kg de peso vivo/ha. (veja tabela). produzirão menos sementes, de modo que a cada ciclo
o banco de sementes nas áreas de cultivo tende a dimi-
Mais arroz, menos herbicida. nuir, assim como sua presença. Com isso, espera-se que
o gasto com herbicida para controle dessas pragas seja
A eficiência da ILP nas terras baixas também pode ser menor com o passar dos anos”, explica.
comprovada pelo aumento da produtividade de grãos.
Os resultados indicam ganhos em produtividade varian- Adubação do sistema
do de 0,5 t/ha até 1,7 t/ha no sistema integrado, com Após o término da primeira fase do experimento com
plantio direto, culturas intercaladas e azevém pastejado
no inverno. Quando comparado ao sistema tradicional a colheita do arroz e a instalação das pastagens de inver-
de cultivo de arroz, em monocultura e sob preparo con- no, em abril deste ano, teve início o segundo ciclo do pro-
vencional do solo (T1), a diferença é imensa. A produti- tocolo SIPAtb, que vai de 2017 a 2020/2021. O arranjo
vidade do arroz no sistema T3, na safra 2014/2015, por dos diferentes sistemas será mantido, no entanto está pre-
exemplo, superou este último em 2,6 t/ha, o que eviden- vista uma mudança bastante significativa e inovadora no
cia o benefício da adoção de práticas como o plantio di- que diz respeito ao manejo de adubação das culturas. Em
reto e a rotação de culturas, neste caso a soja. “Quanto vez de adubar as culturas separadamente em duas etapas –
mais diversidade maior a segurança na produção agrí- forrageira de verão e inverno –, a operação será feita uma
cola e pecuária. Em áreas em que se intensifica a ro- única vez. A novidade: o adubo será lançado na pastagem,
tação das culturas, se consegue produzir mais grãos e e não na cultura agrícola, como rege o modelo tradicional
mais carne”, diz Débora Rubin Machado, graduanda da ILP. “Quando falamos isso para o produtor, ele come
em Zootecnia na UFRGS. A jovem estudante, já com
Ganho médio diário (kg/dia/animal) Ganho por hectare (kg de pv/ha)
Ano/Tratamento T2 T3 T4 T5 Média Ano/Tratamento T2 T3 T4 T5 Média
0,66 373,55
2013 0,67 0,72 0,61 0,64 0,61 2013 348,27 423,5 351,04 371,39 165,10
0,66 192,33
2014 1,06 0,43 0,40 0,54 0,74 2014 136,5 130,17 144,05 249,71 219,22
2015 0,71 0,79 0,67 0,49 2015 127,47 166,92 212,75 262,18
2016 0,45 0,99 - 0,78 2016 101,35 201,93 * 354,38
Média 178,39 230,63 235,94 309,41
Média 0,72 0,73 0,56 0,61
T2: monocultivo de arroz irrigado, em plantio direto com azevém no inverno sob pastejo. T3: rotação arroz-soja em plantio direto, com azevém no inverno
sob pastejo. T4: rotação arroz-capim sudão-milho-soja em plantio direto, com azevém + trevo branco (trevo persa) no inverno sob pastejo. T5: arroz em
plantio direto em rotação com campo nativo melhorado acrescido de azevém + trevo branco (trevo persa) + cornichão. *Não houve pastejo neste período.
Obs: No tratamento T1, sem animais, foi medida somente a produtividade de arroz/ha
outubro 2017 DBO 71
Integração
la, a operação torna-se muito mais rápida, pois elimina-
-se todo o trabalho de transporte e deposição de adubo
no implemento. “Isso permite que o produtor aproveite
melhor a janela de plantio.” Outra vantagem é a garan-
tia da adubação do pasto, já que o produtor muitas ve-
zes negligencia esse cuidado na ILP, reservando à for-
rageira somente o “adubo residual” da cultura agrícola
anterior. “A planta bem nutrida, além de assegurar uma
taxa de lotação mais alta, ajuda a evitar problemas de
compactação”, diz. O professor acredita que a estraté-
gia não trará prejuízo para a produção de grãos na safra
Apenas a seguinte, uma vez que o animal atuará como um reci-
pastagem
será adubada as unhas. Acha que não vai dar certo”, diz o pesquisador clador de nutrientes para a cultura posterior. “É o que
na segunda Paulo Marsiaj, relatando o estranhamento da proposta.
fase do nos permite falar não mais em adubação da cultura, mas
experimento Segundo o professor Carlos Nabinger, concentrar a
adubação na pastagem é uma estratégia que trará uma do sistema.” Segundo Nabinger, a expectativa é que o
série de benefícios. O primeiro ganho é operacional.
Ao ir a campo com a semeadora-adubadora contendo experimento traga essas respostas nos próximos anos.
apenas sementes para a implantação da cultura agríco-
“Com os resultados em mãos, teremos condições de
fazer recomendações com base científica para auxiliar
ainda mais o produtor”, diz. n
Soja garante mais dias de pastejo para o gado
O ganho maior em produtividade de Paulo Marsiaj. Além disso, a entrada dos mente do azevém, que não sobrevive no
carne por hectare ao se introduzir a soja animais no azevém costuma ser mais rá- terreno encharcado. Segundo Marsiaj, os
no sistema integrado de produção se pida quando a pastagem é precedida pela arrozeiros adotam essa estratégia na es-
deve principalmente à janela mais esten- soja. Além de a cultura produzir menos perança de que os grãos de arroz possam
dida quando o arroz é rotacionado com palha do que o arroz, as áreas nas quais o “encher” mais encurtando o prazo até a
a oleoginosa. Enquanto o arroz deve ser cereal é cultivado costumam estar prontas colheita, o que é um equívoco. “Não faz
plantado preferencialmente até a última para a introdução da pastagem mais tar- diferença alguma no enchimento do grão.
semana de setembro, a semente de soja diamente. É que os produtores costumam O produtor pode retirar a lamina de água
pode ser jogada na terra da terceira sema- esvaziar os talhões de arroz – parar de ir- das áreas com 30 dias de antecedência
na de outubro até a primeira quinzena de rigar e deixá-los secar – faltando apenas sem prejuízo à cultura, de modo a colher o
novembro. “Em média, são 15 a 20 dias uma semana para a colheita. Daí é preciso arroz no seco, sem prejudicar o estabele-
a mais de pastejo”, afirma o pesquisador esperar algumas semanas para jogar a se- cimento da pastagem posterior.”
72 DBO outubro 2017
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Integração
Fotos: Embrapa Agrossilvipastoril em julho de 2015, seguiu pelos próximos dois anos. Na
primeira avaliação, que compreende o biênio 2015/2016,
a produtividade na ILPF, que conta com linhas simples de
eucalipto a cada 37 metros, já mostrou sua superioridade.
O resultado indicou 30,9 @/ha, contra 24,3 @/ha da ILP
e 18,7 @/ha da pecuária tradicional, sem qualquer tipo de
integração (veja quadro). Nos quatro tratamentos, os ani-
mais receberam suplementação proteica correspondente a
0,1% do peso vivo. A pastagem, por sua vez, foi adubada
com 50 kg de NPK/ha.
Vista aérea do campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril Salto com tecnologia
ILPF impulsiona A partir do ano passado, a suplementação alimentar
produção de dobrou (0,2% do peso vivo), assim como a adubação (100
carne no MT kg de NPK/ha). O aporte maior de tecnologia refletiu con-
sideravelmente nos sistemas de produção. Numa primei-
Pesquisa mostra que o modelo de integração ra olhadela para os números, chama a atenção o acrésci-
mo de produtividade na área exclusiva de pastagem, que
aumenta em até dez vezes a produção média em pulou dos 18,7 @/ha para 30,1@/ha, na avaliação reali-
zada entre julho de 2016 e julho deste ano. “Isso mostra
arrobas/ha no Estado. que a pecuária tradicional, quando bem feita, traz resulta-
dos extraordinários”, diz Bruno Pedreira, pesquisador da
Renato Villela Embrapa Agrossilvipastoril e um dos coordenadores do
[email protected] trabalho. No caso da ILPF, o salto também foi grande. A
produtividade de carne atingiu 40,6 @/ha, montante 30%
AIntegração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é o superior às 30 @ de média produzidas nos demais siste-
sistema de produção que garante os maiores ga- mas de integração.
nhos em arroba por hectare. Essa é a conclusão de
uma pesquisa que comparou quatro modelos produtivos: Outro dado que não passa despercebido é o da pro-
pecuária tradicional, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e dutividade de carne na ILP, que ficou muito aquém do
Integração Pecuária-Floresta (IPF), além da própria ILPF. esperado e igualou-se, nessa segunda fase, ao resultado
O estudo mostrou que o modelo de produção que contem- obtido no sistema exclusivo de pecuária, com 30,1@/ha.
pla o componente arbóreo pode alcançar, com um peque- Talvez você estranhe este número. Os pesquisadores tam-
no incremento de adubação da pastagem e baixos níveis bém estranharam. “Havia uma expectativa de produtivi-
de suplementação proteica, mais de 40 arrobas/ha/ano, o dade muito maior na Integração Lavoura-Pecuária, mas
que representa uma produtividade dez vezes superior à que não se concretizou”, diz Pedreira. Segundo o pesqui-
média do Estado do Mato Grosso, que é de 4 arrobas/ha/ sador, essa área sofreu com a cigarrinha nos primeiros
ano. O trabalho foi conduzido pela Embrapa Agrossilvi- meses deste ano. O ataque da praga, explica, foi mais sen-
pastoril em parceria com a Associação dos Criadores de
Mato Grosso (Acrimat), que financiou parte dos custos Produtividade* dos sistemas de integração
do experimento, e Associação dos Criadores do Norte de
Mato-Grosso (Acrinorte), que cedeu os animais. Pecuária 18,7 @/ha1 30,1 @/ha2
IPF 19,6 @/ha1 30,5 @/ha2
A pesquisa ocupou uma área de 72 ha, localizada no ILP 24,3 @/ha1 30,1 @/ha2
campo experimental da instituição, em Sinop, MT. Na ILPF 30,9 @/ha1 40,6 @/ha2
porção onde a agricultura é parte da integração, foram cul-
tivados soja e milho safrinha de 2013 a 2015, quando en- Entradas de insumos
tão a pecuária foi introduzida com pastagem de braquia-
rão (brachiaria brizantha cv Marandu). O pastejo, iniciado Suplementação proteinada 0,1% de peso 0,2% de peso
vivo/dia vivo/dia
Adubação (kg NPK/ha) 50 100
*Média Brasil – 6@/ha; Média Mato Grosso – 4@ha
Ano 1 (2015/2016)1 / Ano 2 (2016/2017)2
Acúmulo de forragem (kg.ha-1.ano-1)
Ano 1 Ano 2 Diferença
(2015/2016) (2016/2017) entre os anos
Pecuária 13.410 20.940 56%
IPF 14.880 20.176 36%
ILP 21.520 22.082 3%
ILPF 21.430 25.055 17%
74 DBO outubro 2017
Integração
tido do que nas demais glebas. Pedreira diz não ser possí- de peso médio diário crescer aproximadamente 100 g
vel afirmar com exatidão o porquê da predileção do inseto
ao piquete da ILP – a área será acompanhada mais de per- por animal nos quatro sistemas avaliados. Não houve,
to nos próximos anos -, mas cita como contraponto a alta
produtividade na ILPF. “Quanto mais componentes tiver entretanto, diferença estatística no ganho de peso en-
um sistema produtivo, mais equilibrado ele será, inclusive
com a presença de outros insetos que podem promover o tre eles, variando de 678 g a 777 g por dia. O que con-
controle biológico de pragas”, afirma.
tribuiu para o aumento de produtividade na ILPF foi a
Ganho por área
A maior disponibilidade de forragem aliada ao au- maior capacidade de lotação do sistema, de 3,47 UA/ha
mento da suplementação no segundo ano fez o ganho (média anual), contra 3 UA/ha da IPF, 2,78 UA/ha da
pecuária e 2,66 UA/ha da ILP. “A ILPF traz maior ci-
clagem de nutrientes, melhoria do microclima, menor
perda de água, dentre outras vantagens que favorecem a
produção de forragem e, consequentemente, da taxa de
lotação”, explica.
A despeito de o estudo comprovar a eficiência dos
sistemas de integração em produzir mais carne por hec-
tare, há um ganho que não está estampado nos núme-
ros. É o que Pedreira chama de “poder de decisão”. Ao
Produtividade diversificar as atividades econômicas, a integração per-
em área de
mite que a fazenda atue de modo diferente no merca-
ILPF é de 40@/
ha/ano. do, sem ficar refém de um único produto. “Se o preço
do milho não está bom, por exemplo, o produtor pode
optar por não vender nem estocar o grão, mas engordar
bois no confinamento, agregando valor à sua produção.
É dessa forma que muitos agricultores vão para a pecuá-
ria”, afirma. A pesquisa foi prorrogada até 2019. Os da-
dos econômicos do estudo já foram gerados e serão ava-
liados em breve, segundo o pesquisador. n
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76 DBO outubro 2017
Instalações
Suplemento determina
tamanho do cocho
Dimensionamento da área depende não apenas da categoria
animal, mas do tipo de alimento a ser fornecido.
Júlio Barcellos, renato villela do se utilizam misturas de maior consumo (0,05%
coordenador [email protected] a 0,1%)”, afirma o professor Júlio Otávio Jardim
do Nespro. Barcellos, coordenador do Nespro.
“Dimensiona- Um dos aspectos mais importantes da suple-
mento está mentação a pasto refere-se à área de co- De acordo com o professor, a falta de recursos ou
subestimado” cho, que deve ser dimensionada levando- até mesmo a dificuldade em encontrar fornecedores
-se em conta não apenas a categoria animal, mas especializados, fazem com que o produtor improvi-
também o tipo de suplemento a ser fornecido. Na se, utilizando cochos precários ou subdimensiona-
dos. Além disso, muitas vezes esses comedouros são
prática, entretanto, pouca gente se atenta a isso. colocados em locais inapropriados no piquete (veja
O Núcleo de Estudos em Sistemas de Pro- quadro na página seguinte), ou ainda com área de
dução de Bovinos de Corte e Cadeia Pro- acesso inferior ao número de animais do lote. “Plane-
dutiva (Nespro), grupo de pesquisa filiado jar e corrigir esses problemas antes de iniciar um pro-
à Universidade Federal do Rio Grande grama de suplementação é vital para tornar a tecno-
do Sul (UFRGS), tem conduzido traba- logia viável”, garante. Outro ponto negligenciado diz
delhosuspnleemsseantdaiçrãeoçãom,ineesrpaelci_allminehnatebnraancáareea respeito a uma prática bastante frequente no campo:
o hábito de colocar os cochos, em especial aqueles
misturas múltiplas. A conclusão é preocupan- destinados à suplementação com o uso de concentra-
te: o espaçamento recomendado para suplementa- dos, em paralelo com a cerca do piquete. “A medida
ção mineral comumente adotado nas fazendas está pode ser útil quando a distribuição do suplemento é
totalmente subestimado. Ou seja, o comprimento mecanizada, fazendo com que o trânsito do veículo
linear de cocho, em centímetros/cabeça, é menor seja feito pelo corredor. No entanto, exige o dobro
do que deveria ser. “O resultado é que o consumo do comprimento linear do cocho, pois os animais
de sal mineral torna-se irregular e não produz os consomem a suplementação apenas de um lado. Nem
efeitos produtivos esperados, especialmente quan- sempre o produtor se atenta a essa questão”, afirma.
Fotos: júlio barcellos
De acordo com o tipo de suplementação, é recomendada Fio de arame que corre entre os mourões impede
uma metragem diferente para cada cocho. a passagem dos animais e preserva a estrutura
80 DBO outubro 2017
Instalações
Comprimento do cocho de acordo com o tipo de suplemento m4P0aer0nadkamgçiã_sotéu_rdaecs o5mnscúimldte/icpraalabnsed,çoap,uomer neqaxuneaimmntpaollopa,adraualtrdoeicedotea-
de alto grão preconizam-se 60 cm/cabeça (veja
Tipo de alimento Área linear de t_taesobecclaáatl)ec.guNoloroiadcsaa_sáorbeedazadesreurocposle,cmnhooevnditelahvçaeãsos, evpraafcreaaistdoaidfaeurpletaanrs--
cocho - cm/cabeça* tir da categoria de maior porte.
Suplementação mineral - linha branca 2 Assim, para um suplemento à base de sal pro-
teinado, num lote de 100 vacas, por exemplo, serão
Suplementação mineral - misturas múltiplas 5 necessários 5 m lineares (100 x 0,05 m), sendo um
(energéticos, proteinados) cocho onde os animais comem de um lado só, ou 2,5
m se o acesso for por ambos os lados. Caso sejam
Resíduos de grãos e seus farelos - fornecimento diário 50 bezerros (considerando peso médio de 200 kg) esse
comprimento seria suficiente para suplementar o do-
Resíduos de grãos e seus farelos - sistema de 10 bro de animais. Numa fazenda especializada em re-
cria, por exemplo, onde o rebanho é composto desde
autoconsumo bezerros à desmama até bois magros, a recomenda-
ção é calcular o dimensionamento utilizando a me-
Volumosos (feno, silagem, tortas) 60 tade da área preconizada para um animal adulto. “É
para evitar gastos excessivos com o superdimensio-
Dieta concentrada - alto grão 60 namento dos cochos”, ensina Barcellos. O professor
lembra, contudo, que o investimento em cocho tem
*considerando que a chegada dos animais é por apenas um lado do cocho. FONTE: Nespro um retorno sobre o valor investido em, no máximo,
três anos. “Portanto é melhor pecar pelo excesso do
Ao longo dos últimos 15 anos em que se de- que pela falta.”
bruça sobre o tema, o Nespro reuniu dados de
GPS, imagens obtidas por meio de vídeocâmera,
observações do comportamento e contagem do
número de animais que acessam o cocho diaria-
mente. O esforço, que culminou no diagnóstico
do problema a campo, também permitiu propor
uma solução. Com as informações em mãos, os
pesquisadores estipularam o dimensionamento
mais adequado para cada tipo de suplementação.
Atenção à localização Largura também conta
A largura e a profundidade do cocho são tão im-
Além de dimensionar o co- portantes quanto o seu comprimento linear. Além
cho de acordo com o tipo de de determinar a capacidade de abastecimento do
suplemento e a categoria ani- comedouro, essas duas medidas interferem direta-
mal, o produtor deve se preo- mente na possibilidade de os animais consumirem
cupar com a escolha do local a suplementação em ambos os lados. Quando se di-
onde o comedouro será alo- mensiona o cocho com livre acesso pelas laterais,
cado. É preciso considerar o imagina-se que cada metro linear permita o dobro
tipo de solo, dando preferên- de animais, pois o consumo se dá pelos dois lados.
cia àqueles bem drenados que Não é bem assim. “Sobre esse ponto reside um gra-
não favoreçam a formação de ve equívoco da maioria das suplementações. Para
atoleiros ou erosão em decor- que os animais consumam frente a frente é preciso
rência do trânsito dos veículos que a base do cocho tenha, no mínimo, 40 cm de
Solo mal drenado favorece que abastecem o cocho de largura”, afirma.
a formação de lama suplemento ou pelo próprio pi- Desse modo, para um lote de 100 novilhas
soteio dos animais. Se isso não suplementadas com farelo de algodão, cuja re-
for possível, convém que o modelo do cocho a ser utilizado tenha uma comendação é de 50 cm/cabeça, o cocho deve
estrutura que facilite o seu deslocamento. É importante também consi- ter 25 m (100 m x 0,50/2) de comprimento, pois
derar a facilidade de acesso, evitando locais que demandem grandes os animais acessam pelos dois lados. Se, no en-
deslocamentos. “A alocação dos cochos deve favorecer o pastejo, ob- tanto, essa medida for inferior, o que é muito co-
viamente respeitando a logística de distribuição do suplemento e até mum nos cochos com formato em “V”, esse cál-
mesmo seu armazenamento”, afirma Júlio Barcellos, coordenador do culo não serve, pois o espaço que falta na largura
Nespro. A orientação é outro aspecto a ser considerado. A disposição deve ser compensado pelo comprimento. “Nesse
deve ser no sentido contrário aos ventos e chuvas predominantes na caso, consideramos que a medida deve ser cor-
região. No caso de comedouros com acesso às duas laterais, há uma respondente a 70% do comprimento linear de um
particularidade a se observar. Para evitar que os animais danifiquem casoocicmàhsoa,dauocaesdsislmaadteeonraspiiosonr_aumfmiecnaltraoiado_dascóos.ce”hgoNuionctoeemxfeoamrcmpelaso-:
a estrutura, ao passarem de um lado para o outro, recomenda-se co-
locar um fio de arame ou cabo de aço no centro do comedouro, no
sentido longitudinal. 100 novilhas x 0,5 m (área de cocho linear) x 0,7
(70%) = 35 m de cocho. n
82 DBO outubro 2017
Seleção
Produção de touros para uso em seleção e cruzamento Foram adquiridas de 10 em 10 novilhas em fazen-
industrial gira em torno de 300 animais/ano das nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato
Grosso do Sul e Paraná para o ínício dos trabalhos. Já
Canchim São Tomé no ano seguinte, os acasalamentos passaram a contar
faz ver para crer com a assessoria do técnico Maury Dorta Júnior, eta-
pa fundamental na estruturação do plantel, hoje cons-
Investimento em sistema integrado de produção tituído de 1.400 animais, dos quais 1.000 fêmeas, 600
delas em reprodução. O time de matrizes gera cerca de
garante superioridade genética no sudoeste goiano 300 touros comerciais por safra, além da produção de
reprodutores de central, nicho de mercado em que a
Carolina Rodrigues Fazenda São Tomé vem se inserindo nos últimos anos.
O primeiro touro contratado na história da fazenda foi
Alexandre Cruvinel tem a pecuária no sangue. Dom MN São Tomé, animal que começou a produzir
Seu pai sempre atuou na área, mas foi há sêmen aos 13 meses de idade e conquistou o também
nove anos que, juntos, descobriram o Can- o grande campeonato durante a Exposição Nacional
chim. Uma história recente recheada de títulos em do Canchim, realizada em Rio Verde, em 2014. Atual-
exposições agropecuárias, campeonatos em provas de mente, são quatro touros em centrais de inseminação.
desempenho e, mais recentemente, a exportação de
10 novilhas prenhes para Abu Dhabi, capital dos Emi- Sem almoço de graça
rados Árabes. O segredo do sucesso, eles atribuem a
três fatores: bom manejo, boa nutrição e a raça certa. Para que a produção de touros seja uma ativida-
de econômica viável na Fazenda São Tomé, a família
Dourivan Cruvinel começou a criar Canchim por um Cruvinel faz do rebanho de fêmeas uma fábrica efi-
acaso do destino. Era início de monta e ele precisava de ciente de tourinhos. Elas seguem o mesmo rigor de
dois touros para o repasse da vacada Nelore inseminada seleção dos machos, que começa nas avaliações dos
com Angus, Simental e Limousin para garantir a conti- técnicos credenciados na associação aos seis meses
nuidade da heterose no cruzamento industrial, atividade de idade - quando passam pelo primeiro descarte - e
que levava há 30 anos na Fazenda São Tomé, em Rio termina no sobreano quando são avaliados também os
Verde, GO. O resultado da escolha, lembra ele, foi uma critérios reprodutivos.
bezerrada “bruta” que chegou à desmama com vantagem
de 20 a 30 quilos em relação aos demais. O desempenho Os protocolos de IATF (inseminação artificial em
satisfatório o levou a buscar informações na Associação tempo fixo) são aplicados aos 14 e15 meses de idade,
Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN) e indi- quando as novilhas são expostas aos touros. As que
cações de planteis que pudessem servir de base genética não emprenham até os 20 meses de idade, idade limi-
para o ínicio de trabalho com o gado puro. “Gostei tan- te de acordo com o período de monta, são automati-
to dos bezerros, que decidi abandonar o cruzamento para camente descartadas. O rigor da seleção é alicerçado
me tornar selecionador”, lembra Dourivan. por um eficiente sistema de manejo nutricional. “Tra-
tamos bem o gado. Damos condições para que ele ex-
presse potencial reprodutivo. Se não emprenhou até
o fim da estação é porque não deve estar na linha de
frente da produção”, diz Alexandre.
A Fazenda São Tomé está inserida no sistema de
produção integrado de vegetais e animais. Adota o
sistema de plantio direto e a integração-lavoura-pe-
cuária (ILP) em uma área útil de 1.200 hectares, dos
quais 300 ha de pasto e 800 ha de agricultura. Todo
o processo resulta na produção da silagem utilizada
“sem economia” na suplementação dos animais, algo
que começa desde cedo na propriedade.
A São Tomé adota crep-feeding nos bezerros,
aporte que segue após a desmama na proporção de 1
Kg de ração para 100 Kg de peso vivo. O objetivo da
boa nutrição é garantir o desenvolvimento dos ani-
mais na fase reprodutiva, o que vem ocorrendo ano
a ano. Na última avaliação aos 18 meses (sobreano)
alguns animais pesaram 550 Kg. Fator adicional dos
bons índices de desempenho são as condições de pas-
to em que os animais são recriados. Além da soja e
do milho safrinha, a propriedade se dedica também
à suinocultura, atividade que permite a utilização de
84 DBO outubro 2017
Seleção
Dourivan e Alexandre Cruvinel: pai e filho Fêmeas seguem o mesmo rigor de seleção dos
conduzem projeto de seleção há nove anos. machos: bom desempenho e eficiência reprodutiva
nnn dejetos como adubo de pastagem. A taxa de lotação dos diferenciais do projeto é a intensificação e os in-
Taxa de atual é de 6 UA/hectare, número quase cinco vezes vestimentos em genética”, diz Maury Júnior.
lotação é de superior à média nacional, em torno de 1,5 unidades
animal hectare. Geração de “craques”
6 UA/ha
Foco na máxima eficiência Em 2016, a propriedade teve dois touros classifica-
na Fazenda O sistema de intensificação tem gerado benefícios dos como elite e superiores na principal prova de de-
São Tomé sempenho da raça, a Prova Canchim de Avaliação de
diretos na estação reprodutiva. Atualmente, a taxa de Desempenho (PCAD), conduzida pela ABCCan e su-
nnn prenhez beira 90% na monta. Além do cuidado exces- pervisionada pela Embrapa Gado de Corte, que avalia
sivo na seleção das matrizes e das novilhas que farão 200 animais de 15 principais criatórios do País. Eles
a reposição do plantel, são utilizados no serviço ape- são avaliados em 11 características ligadas ao ganho de
nas touros superiores nas avaliações genéticas do Ge- peso, precocidade sexual, rendimento frigorífico e aca-
neplus, equilibrados para características de desempe- bamento, além de aspectos morfológicos inerentes à
nho e conformação frigorífica. raça. Entre as ferramentas utilizadas na avaliação está
a ultrassonografia de carcaça para melhor estimar ca-
“O que define como será a próxima safra são os racterísticas ligadas ao rendimento, acabamento frigo-
touros que o criador vai utilizar e quanto vai utilizar de rífico e qualidade de carne (AOL, EG e MAR).
cada um”, observa Maury Júnior. Os animais devem
ter conformação frigorífica 4 ou 5 à desmama e ao so- Os dois garrotes classificados pela São Tomé foram
breano - nota que classifica bom estado corporal: nem contratados pela CRV Lagoa. Cristiano Leal, gerente
carcaça de mais, nem carcaça de menos. Um dos maio- de produto de corte europeu da empresa, e responsável
res atributos do Canchim está na composição de um pelas contratações, observa: “O touro Canchim é uma
gado de porte médio e tipo compacto, características opção interessante para produtores que buscam a utili-
impressas pela Embrapa na criação da raça na década zação das fêmeas F1 meio-sangue britânicas, já que ele
de 1950, a partir do cruzamento do Nelore e Charolês. permite aumentar o volume de IATF, elevando o de-
sempenho produtivo e o fator adaptação”, diz.
Cuidado adicional está no uso linhagens diferentes
para que haja variabilidade genética nos acasalamentos Satisfeito com o desempenho da tourada, Alexan-
dirigidos. Hoje, 60% das fêmeas são inseminadas com dre Cruvinel diz que a abertura das centrais à genética
touros provados e o restante com touros jovens “pesca- Canchim reflete o longo trajeto percorrido na seleção.
dos” do programa de avaliação de touros jovens e das “O produtor deve se associar às ferramentas que ajudem
provas de desempenho da Embrapa. Ao todo, são uti- a fazer um diagnóstico do rebanho. O PCAD é hoje a
lizados cinco tourinhos jovens a cada safra. “Usamos, principal referência e para a escolha os criadores que
mas com parcimônia”, brinca Alexandre Cruvinel, que desejam compor rebanho ou adquirir genética para me-
também investe na compra de animais de terceiros. lhorar seu rebanho. Para nós, um termômetro e tanto.”
“Eu faço genética, então devo estar atento ao que meus Um dos animais ranqueados no PCAD foi também clas-
companheiros produzem também”. sificado ao teste de progênie do Geneplus, o programa
de avaliação genética da Embrapa Gado de Corte. Fan-
O criatório investe na genética de terceiros, de olho tástico 912 MN da São Tomé foi ranqueado na categoria
no que possa agregar ao plantel. No último ano, além Elite Ouro, pontuação máxima da prova. Além do “pelo
de animais de produção própria foram utilizados na va- zero” e da alta capacidade para ganho de peso, o animal
cada sêmen de touros da Fazenda dos Ipes, de Raphael é destaque também nas avaliações para marmoreio. n
de Freitas, e Canchim da Ilma, de Adriano Lopes. “Um
86 DBO outubro 2017
Raças
Sindi sempre acima de 58%, são características
dos animais da raça”, afirma Castilho.
Rendimento
acima da média Segundo o criador, a iniciativa tem es-
timulado investimentos neste tipo de cru-
Para comprovar que o cruzamento da Carcaça de animais 1/2 sangue zamento. “Temos observado o aumento no
raça Sindi com Nelore resulta em melho- volume de sêmen sindi comercializado e
ria no rendimento de carcaça, o criador esperamos em breve contar com uma par-
Adaldio Castilho promoveu, na segunda ticipação maior destes animais meio san-
quinzena de setembro, a 10ª edição do aba- gue para atender o mercado”, estima. Este
te técnico de seus animais. “Todos os anos ano a prova zootécnica foi realizada na
submeto meu rebanho de animais cruza- planta do Minerva, em José Bonifácio, SP,
dos a esta avaliação técnica, mas cada onde 24 animais meio sangue Sindi x Ne-
vez faço em um frigorífico para provar lore, que ficaram confinados por 102 dias
que os elevados rendimentos de carcaça, e apresentaram 59% de rendimento de car-
caça em jejum e cobertura de gordura uni-
forme em 80% do lote.
Brahman Angus
Parceria com Senar valoriza manejo sanitário Raça promove
“Beef Week”
AAssociação dos Criadores de Brahman A primeira turma a receber capacitação foi
do Brasil (ACBB) formou uma parceria formada pelos 16 tratadores que trabalha- Cortes bovinos da raça Angus serão
com o Serviço Nacional de Aprendizagem ram durante a exposição. O mini-curso de 8 servidos em pratos preparados por restau-
Rural (Senar) de Minas Gerais para a oferta horas abordou temas como o uso correto de rantes participantes da 2a edição do Beef
de cursos gratuitos de manejo sanitário para equipamentos e protocolos de sanidade do Week São Paulo entre 11 e 19 de novem-
todos os criadores da raça no País. O convê- gado, dentre eles a forma indicada de aplica- bro, na capital paulista.
nio foi assinado no dia 28 de setembro du- ção da vacina contra a febre aftosa, a esteri-
rante a Expobrahman 2017, realizada entre lização de agulhas e administração de medi- O projeto, parceria entre a Asso-
os dias 25 de setembro e 1o de outubro, no camentos. Eles ainda aprenderam na prática ciação dos Criadores de Angus e a Ter-
Parque Fernando Costa, em Uberaba, MG. como preparar e aplicar a vacina no animal. ra Viva, foi lançado no dia 4 de outu-
bro no Open Kitchen, em São Paulo,
Senepol Produção, Bem-estar, Ambiência, Quali- com a presença de Fábio Medeiros,
dade de Carne e Economia e Mercado. Po- gerente do Programa Carne Angus
Raça premia pesquisa dem ser inscritos trabalhos publicados a Certificada e, Carla Tucílio, do Terra
e divulgação partir de 2015. Não serão aceitas revisões Eventos. “Vislumbramos uma oportu-
ou monografias. A pré-inscrição pode ser nidade de conversar com os consumi-
A Associação Brasileira dos Criadores feita até o dia 18 de abril de 2018 e a ver- dores e apresentar as características e
de Bovino Senepol (ABCB Senepol) vai são final do trabalho deverá ser enviada até o processo de produção da carne An-
premiar cientistas e jornalistas que tenham o dia 10 de julho de 2018. Já para o Prêmio gus”, afirma.
contribuído para a divulgação da raça no de Jornalismo poderão concorrer reporta-
País. O Prêmio ABCB Senepol de Pesqui- gens que abordem o tema “Contribuição Os consumidores receberão um kit
sa Científica & Inovação é destinado a pes- da raça Senepol para a inovação e o desen- sobre a procedência e marca dos cortes.
quisadores das áreas de Genética e Melho- volvimento da bovinocultura no Brasil”. “Queremos envolver toda a cadeia de
ramento, Sanidade, Nutrição, Fisiologia, forma integrada reforçando as alianças
entre o produtor, frigorífico e os pontos
de venda”, finaliza Medeiros.
88 DBO outubro 2017
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Inseminação
Tropeço cândalos de corrupção revelados na delação premiada
no primeiro dos sócios da JBS, Joesley e Wesley Batista. Além
semestre desses fatores, o mercado de inseminação artificial já
vinha sofrendo lentamente os reflexos da crise econô-
Venda de sêmen de corte recua 3,4% mica brasileira, que em 2016 derrubou drasticamente
no período, mas esboça reação, diz Asbia. o consumo interno de carne bovina, interferindo ne-
gativamente nos negócios de toda a cadeia pecuária.
Denis Cardoso
“Foram tantos problemas, ocorridos quase que de
Acomercialização brasileira de sêmen de gado uma vez só, que esperávamos um comportamento do
de corte caiu 3,4% no primeiro semestre des- mercado de sêmen de corte ainda mais desanimador
te ano, na comparação com igual período de ao longo do primeiro semestre”, relata o presidente da
2016, seguindo a tendência de desaceleração verifi- Asbia, para quem a queda de “apenas” 3% no período
cada no ano passado, quando o setor registrou queda representou um certo “alívio”. Foram comercializa-
anual de 3%, freando um longo e vigoroso ciclo de dos 2,57 milhões de doses de sêmen de bovinos de
quase uma década de crescimento. “Nessa primeira corte de janeiro a junho, ante o montante de 2,66 mi-
metade do ano, os elos mais importantes da cadeia lhões de doses do primeiro semestre do ano passado.
da carne, incluindo as próprias centrais de genética e
os pecuaristas, tiraram o pé dos investimentos, pois No setor leiteiro, diante da recuperação nos preços
ninguém sabia o que aconteceria dali para a frente”, da matéria-prima, houve um expressivo aumento nas
justificou o médico veterinário Sérgio de Brito Prieto vendas de sêmen no período em questão, atingindo
Saud, presidente da Associação Brasileira de Insemi- 2,11 milhões de doses, 25% acima do volume de igual
nação Artificial (Asbia), entidade responsável pelo intervalo do ano passado (1,69 milhão de doses). Na
“Relatório Asbia Index – 1º Semestre de 2017”. somatória das vendas internas de sêmen de corte e
leite, o mercado cresceu 7,6% no primeiro semestre,
Saud se refere ao conjunto de fatores negativos para 4,68 milhões de doses, ante 4,35 milhões de do-
que atingiram a pecuária nacional ao longo da pri- ses observados nos seis primeiros meses de 2016.
meira metade do ano, a lembrar: forte redução nos
valores da arroba do boi gordo, tanto no mercado físi- Do lado da produção/estoques de sêmen pelas cen-
co quanto futuro; a Operação Carne Fraca, da Política trais, também houve desaceleração dos investimentos
Federal, (que investiga fraudes na fiscalização de ali- no primeiro semestre. Foi importado 8,2% mais sê-
mentos); o retorno da cobrança do Funrural e os es- men (entre leite e corte) no período, totalizando 2,98
milhões de doses (ante 2,75 milhões no primeiro se-
Desta vez, leite foi melhor que o corte mestre de 2016), resultado atribuído em grande parte
à recuperação do setor leiteiro. Em contrapartida, a
Comercialização no mercado interno* produção total interna de sêmen recuou 10,5% no pe-
ríodo, para 2,93 milhões de doses, ante 3,28 milhões
2017 2016 Variação 17/16 do ano passado, demonstrando, em grande parte, o
pessimismo inicial das centrais em relação ao com-
Corte 2.572.611 2.662.547 -3,4% portamento do mercado doméstico de corte.
Leite 2.112.896 1.692.396 24,8% Reversão de expectativa
Total 7,6%
4.685.507 4.354.943 Segundo Sérgio Saud, que também é diretor exe-
cutivo da CRI Genética, de São Carlos, SP, neste se-
Exportações gundo semestre o mercado de sêmen de corte “virou o
jogo”, influenciado sobretudo pela forte recuperação
Corte e leite 162.871 101.554 60,4% no preço do boi gordo, fator que animou novamente o
pecuarista a investir em tecnologias, como a compra
Prestação de serviços de sêmen para o incremento de IATF (inseminação
artificial em tempo fixo) nesta próxima estação de
Corte e leite 1.059.954 671.215 57,9% monta (2017/2018).
Total do mercado de sêmen no Brasil “Em parte, esse avanço da arroba foi puxado pelo
próprio comportamento da JBS, que, para recuperar
Corte e leite 5.908.332 5.127.712 15,2% credibilidade no mercado, voltou a aceitar do pecua-
rista pagamentos à vista (no período em que estourou
*Dados do primeiro semestre. Fonte: Index Asbia a deleção premiada dos irmãos Batista, o frigorífico
passou somente a comprar boi a prazo, com 30 dias
de espera para o acerto financeiro)”, avalia Saud.
Ainda segundo ele, houve uma surpreendente reto-
mada no preço do boi, que saiu de um patamar de
R$ 120/@, no primeiro semestre, para algo em torno
90 DBO outubro 2017
de R$ 140/@. “Os mais otimistas previam uma arroba As dez principais raças mais comercializadas
na casa dos R$ 130, no máximo, R$ 135.” no mercado de inseminação artificial*
No entendimento do presidente da Asbia, é bem Raças 2016
provável que o mercado de sêmen de corte feche 2017 Aberdeen Angus 3.695.011
com estabilidade ou até mesmo um pouco acima do Nelore 2.098.161
resultado de 2016. “Com certeza, as perdas do pri- Nelore Ceip 537.526
meiro semestre serão absorvidas neste atual período Red Angus 312.476
do ano, pois o mercado para o corte encontra-se bas- Brangus 272.159
tante aquecido”, garante Saud, acrescentando que, Nelore mocho 227.196
tradicionalmente, a maior parte dos negócios anuais Braford 210.859
envolvendo raças de corte (cerca de dois terços do to- Hereford mocho 128.232
tal vendido anualmente) ocorre ao longo do segundo Senepol 113.372
semestre, período marcado pelo início da estação de Tabapuã
monta nas regiões pecuárias do País, a partir de outu- 78.120
bro/novembro. No ano passado, as vendas no setor de
corte atingiram 8 milhões de doses, abaixo dos quase Fonte: *número de doses de sêmen em 2016.
8,3 milhões de doses registradas em 2016. Fonte: Idex Asbia
Outros segmentos genética superior, inseridos em diversos programas
de melhoramento das mais importantes raças de
Os destaques no primeiro semestre do ano fica- corte. Nesse sentido, diz ele, há uma procura cres-
ram para os setores exportação e de prestação de cente de criadores e/ou programas de seleção pelas
serviços. Na área de exportações, os negócios ainda centrais prestadoras de serviço, com objetivo úni-
são irrisórios, se comparados ao total de doses co- co de coletar sêmen de touros jovens, selecionados
mercializado no mercado interno, mas o segmento para participar de testes de progênies. Além disso,
tem mostrado forte aceleração, sobretudo na área de informa Grubisich, muitos dos reprodutores adqui-
corte, informa o presidente da Asbia. “No primeiro ridos em leilões promovidos por importantes cria-
semestre, pela primeira vez, os embarques de sêmen tórios do País são destinados aos piquetes das
de raças de corte superaram os do leite”, compara centrais prestadoras.
ele, que atribui esse crescimento ao maior interesse
da Bolívia e do Paraguai pela genética zebuína bra- Forte domínio do Angus Série de
sileira. No período, exportaram-se 88.000 doses de fatores
sêmen de corte e 74.000 de leite, resultando em ven- A Asbia também divulgou o relatório negativos no
das totais de 162.800, elevação de 60% sobre 2016 de mercado de sêmen contendo o detalha- corte e alta
(101.500 doses). mento de dados individuais por raça (de no preço do
leite e corte) referentes ao ano passado. No leite refletiram
Também chama a atenção no relatório semestral corte, o Aberdeen Angus continuou soberano resultados do
da Asbia o forte crescimento do setor de prestação de na frente do ranking de vendas anuais, com 3,69 mercado de
serviços, que consiste na terceirização do processo milhões de doses negociadas, seguido pelo Nelo- sêmen no
de coleta e processamento de sêmen. No período de re, com 2,09 milhões de doses (veja tabela). No 1º semestre
janeiro a junho deste ano, esse segmento foi respon- período de 2010 a 2016, o Angus de pelagem preta do ano, avalia
sável pela produção de 1,06 milhão de doses de sê- registrou significativo avanço de 214%. No entan- Sérgio Saud,
men (incluindo leite e corte), 58% acima das 671.200 to, embora tenha mantido com folga a liderança no da Asbia.
doses registradas no primeiro semestre de 2016. ranking por raças em 2016, a venda de sêmen do
Segundo Bruno Grubisich, diretor de Marketing da Aberdeen recuou 5% na comparação com 2015.
Asbia e diretor-presidente da Seleon Biotecnologia, Por sua vez, nesse mesmo intervalo de compara-
de Itatinga (SP), um conjunto de motivos levou ao ção, houve expansão de 5% utilização de sêmen
incremento do segmento de prestação de serviços na de Nelore. “Muitas fazendas voltaram a investir na
primeira metade do ano. Um deles, diz Grubisich, é inseminação com Nelore por causa da necessidade
a própria crise econômica, que fez muitos pecuaris- de repor o plantel de matrizes, em falta nas fazen-
tas deixarem de procurar os catálogos de touros das das depois do avanço do cruzamento industrial e,
centrais de comercialização para investir na coleta de consequentemente, da maior produção de fêmeas
seus próprios reprodutores da fazenda. “É uma ma- meio-sangue”, explica Saud.
neira que o pecuarista tem de reduzir custos sem ne-
cessidade de abrir mão do uso de tecnologia, no caso Ainda segundo o presidente da Asbia, há uma ten-
a IATF”, avalia Grubisich. dência de crescimento do uso de touros Nelore com
Ceip (Certificado Especial de Identificação e Produ-
Outro fator que faz com que cresça o interesse ção), em detrimento do Nelore PO (Puro de Origem).
de pecuaristas pelos serviços terceirizados de co- No ano passado, foram comercializadas 537.500 do-
leta, segundo o diretor de Marketing da Asbia, é ses de sêmen de Nelore Ceip, um acréscimo de 10%
a disponibilidade cada vez maior de animais com sobre o resultado do ano anterior (488.000 doses). n
outubro 2017 DBO 91
Tecnologia
Previsão de UFMS, sob a orientação do pesquisador Pedro Paulo
Pires, da Embrapa.
Realizado no início deste ano, o experimento
cio e parto à foi feito com 56 vacas Nelore, cujas temperaturas,
para identificação do cio, foram monitoradas por
dois dias, mais precisamente no intervalo entre o
moda hi-tech oitavo dia (D8) e o décimo dia (D10) da realização
dos implantes hormonais de progesterona nos ani-
mais. Enquanto Rech fazia a triagem dos animais
que não haviam expressado o cio de acordo com
Medições de temperatura feitas com bólus- o bólus, Nathália aplicava um indutor de ovulação
nessas fêmeas. “Quando a vaca não expressava o
termômetros podem auxiliar o produtor a cio, eu aplicava nela o GnRH, que é o hormônio
liberador de gonadotrofina, um indutor da ovulação.
aumentar seu ganho sem investir em mão de obra Porque a questão é que, se a vaca não expressou
o cio, há grandes chances de ela não ovular e, se
ela não ovula, não emprenha”, explica Nathália. O
papel do bólus, nesse sentido, foi indicar em quais
animais valia a pena aplicar o hormônio, que custa
em torno de R$ 60 o frasco e rende em torno de 20
aplicações. Com essa intervenção, as matrizes que
não expressavam cio podiam ser inseminadas. Após
duas IATFs, a taxa de prenhez no experimento foi
de 82%. A pesquisa não teve grupo controle.
Como explica a médica veterinária da UFMS, o
intuito da medição é captar um padrão que se repete
nas matrizes bovinas: um aumento de temperatu-
ra de 0,4°C quando estão prestes a entrar no cio.
No período de um dia, segundo ela, a temperatura
dos bovinos costuma variar na casa 1,3°C, sendo a
característica da alteração provocada pelo cio uma
elevação considerada abrupta, que acontece num
espaço de tempo de uma a duas horas. “O que o
software que recebe as informações do bólus faz é
Bólus-termômetro desenvolvido pela Embrapa tem captar esse padrão e emitir um alerta, que mostra
vantagens em relação a modelo importado que a vaca ainda tem pela frente, em média, 12 ho-
ras de cio”, explica.
Além de identificar o cio, o bólus pode ser usa-
Marina Salles do para predizer o parto dos bovinos, permitindo
[email protected] que vacas que dão à luz a bezerros grandes demais
Pecuaristas que fazem inseminação artifi- ou produzidos por fertilização in vitro (FIV) sejam
cial em tempo fixo (IATF) e querem au- assistidas e, assim, se evite perdas no nascimento.
mentar a taxa de prenhez sem contratar No caso da pesquisa em parceria entre a Embrapa e
a UFMS, a técnica será avaliada no final deste ano,
mais mão de obra, poderão dispor em breve quando forem computados os dados dos nascimen-
de bólus-termômetros nacionais, desenvolvi- tos dos bezerros cujas mães foram inseminadas. A
dos pela Embrapa. Em forma de cápsula, o expectativa é de que o alerta com a predição do par-
aparelho, introduzido no corpo das vacas com to chegue dois dias antes de o bezerro nascer.
o auxílio de uma pistola de pressão, é capaz
de identificar, mediante alterações específicas na Produção nacional
temperatura corporal, reconhecidas por um software O aparelho usado nos experimentos foi fabricado
Com o bólus, o acessível ao produtor, se o animal está no cio. Pes- nos Estados Unidos. Ele é introduzido por via esofá-
produtor pode quisadores da Universidade Federal de Mato Grosso gica nos animais e fica alojado no rúmen. De lá, mede
aumentar a do Sul (UFMS) e da Embrapa Gado de Corte (Cam- a temperatura corporal da vaca de uma em uma hora,
prenhez na IATF” po Grande, MS) fizeram um estudo sobre o uso do tendo capacidade de gravar até 12 marcações. A bate-
Nathália Anache, equipamento, conduzido em parte como trabalho de ria tem durabilidade de dois anos. Passado esse perío-
da UFMS mestrado da médica veterinária Nathália Anache e do do, o equipamento não precisa ser removido do corpo
cientista da computação Fernando Rech, ambos da do animal e permanece no rúmen até o abate.
92 DBO outubro 2017
Tecnologia
Quando introduzido por via esofágica no corpo R$ 6 (o norte-americano custa o equivalente a R$ A pecuária de
do animal, o bólus se aloja no rúmen 30), mas ainda não temos empresas interessadas em precisão veio
fabricar o produto”, diz o pesquisador. também para
O pesquisador Pedro Paulo Pires, afirma que, automatizar os
no Brasil, o bólus-termômetro ainda não é muito Diferentemente do importado, o bólus-termô- processos no
usado, mas que a tecnologia tem potencial para ser metro da Embrapa foi feito para ser colocado no campo”
adotada em escala. O modelo da Embrapa, feito de umbigo dos animais, mesmo adultos, e faz re- Pedro Paulo Pires,
resina de mamona e recoberto por material plástico ferência à temperatura retal, o que, segundo da Embrapa
inerte e biocompatível, já foi patenteado. Só não foi Pires, traz duas vantagens em relação ao apa-
adotado no experimento, segundo Pires, por falta de relho usado no experimento. A primeira é que
tempo hábil para produzir a quantidade necessária a temperatura retal é referência para uma série
de aparelhos antes do início da pesquisa. “Esse bó- de análises clínicas na medicina veterinária. A
lus pode chegar ao mercado custando, em média, segunda é que oscila menos do que a do rúmen,
já que não varia por conta do consumo de pasto
ou água gelada, por exemplo. “Hoje, o bólus que im-
portamos dos Estados Unidos nos obriga a desprezar
picos de temperatura que sabemos ser resultado de fa-
tores externos, o que medindo a temperatura retal não
será necessário”, diz.
Outra vantagem do aparelho brasileiro é que ele
não conta com bateria e dura a vida toda do animal.
A transferência dos dados se dá pela aproximação
da vaca do campo magnético da antena de transmis-
são, que gera a energia necessária para o aparelho
funcionar. O ponto nevrálgico é a distância: o ani-
mal precisa estar a uma distância de um metro e
meio da antena para os dados serem captados. n
94 DBO outubro 2017
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Genética
Boliviana Asocebu firma convênio com a ABCZ
A Asociación Boliviana de Criadores de Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos,
Cebú (Asocebu) e a Associação Brasileira de tocado pela associação brasileira. Para o presidente
Criadores de Zebu (ABCZ) firmaram convênio da ABCZ, Arnaldo Manuel de Souza Machado
de transferência de tecnologia genética de Borges, a Bolívia tem um importante rebanho
zebuínos no dia 22 de setembro, durante a 42ª zebuíno nos quesitos qualidade, genética, fenótipo e
Feira Internacional de Santa Cruz (ExpoCruz), em produtividade. Para o presidente da Asocebu, Erwin
Santa Cruz de La Sierra, no país andino. O acordo Rek, o PMGZ Internacional deverá agregar mais
oficializou o início da versão internacional do produtividade ao rebanho da Bolívia.
Megaoperação na Rússia
A In Vitro Brasil (IVB), empresa de biotecnologia já foram diagnosticadas, e a taxa de concepção
focada em produção de embriões bovinos por está acima de 43%. O projeto teve início em 2015
fertilização in vitro (FIV), está trabalhando em uma e naquele ano foram produzidos 11.000 embriões
megaoperação de transferência de embriões batizada e no ano seguinte, outros 10.000. A empresa
de “Projeto Rússia”. Na empreitada mais recente, contratante é uma agroindústria russa, com operação
concluída no dia 23 de setembro, foram coletados verticalizada que vai desde a cria dos animais,
61.260 oócitos a partir de 3.462 doadoras para a passando pelo confinamento, abate e dessosa até
transferência de 20.000 embriões Angus em 60 o varejo no mercado russo. Também exporta a
dias. Segundo técnicos da IVB, 15.000 receptoras proteina vermelha para outros países da Europa.
96 DBO outubro 2017
Nutrição
Mais prenhez e redução
da idade à 1ª cria
Tecnologia desenvolvida pela Embrapa Pantanal e testada
tanto em novilhas quanto em vacas multíparas prevê a
inclusão de progesterona em blocos de sal proteinado.
Fotos: Eriklis Nogueira dim, situada nas imediações de Campo Grande. O
objetivo era mensurar até que ponto o consumo
Segundo os pesquisadores, o uso da progesterona oral destas estruturas no cocho pode substituir a in-
integrado à suplementação resultou num aumento superior serção intravaginal do indutor e a suplementação
a 20% na condição de puberdade no início das estações deste produto em sal farelado com vantagens, so-
bretudo, na redução e simplificação das operações
Ariosto Mesquita de manejo. Analisando o desempenho das fême-
de Campo Grande, MS as, os pesquisadores comprovaram a antecipa-
ção da puberdade em novilhas e um aumento da
Quatro experimentos conduzidos por pesqui- taxa de prenhez em vacas multíparas submetidas
sadores da Embrapa Pantanl entre 2014 e à avaliação. “Todo o conceito de suplementação
2017 testaram indutor de cio (MGA – aceta- com MGA nos blocos foi desenhado na tentativa
to de melengestrol, conhecido como progesterona de simplificar o manejo. Colocando o material
oral) integrado a blocos de sal proteinado. Três de- no cocho, evitamos os trabalhos de montagem da
les foram realizados com novilhas na Fazenda São estrutura de aplicação, condução dos animais ao
Bento, no Pantanal da Nhecolândia, em Corumbá, mangueiro, introdução do indutor e de retorno dos
MS. O quarto, com vacas multíparas, foi dividido animais aos pastos”, explica o pesquisador da Em-
entre a Fazenda Nhumirim, no Pantanal do Abo- brapa Pantanal (Corumbá, MS) Eriklis Nogueira,
bral, também em Corumbá, e a Fazenda Bom Jar- líder do trabalho. Segundo ele, os experimentos na
Fazenda São Bento envolveram apenas novilhas.
O trabalho foi concentrado entre 2014 e 2016 ao
longo das estações de monta, com uso de MGA
em blocos nos meses de outubro. “Observamos,
no geral, que o uso da progesterona oral integrado
à suplementação sólida levou a um aumento su-
perior a 20% na condição de puberdade no início
das estações. Neste mesmo tempo, o aumento de
prenhez foi de aproximadamente 6%. Nesta cate-
goria animal, os experimentos não se utilizaram
de inseminação artificial em tempo fixo (IATF).
As fêmeas passaram por monta natural ou foram
inseminadas após observação de cio”, explica.
No primeiro estudo, em monta natural, já foi
possível avaliar a indução de puberdade e a taxa de
prenhez. Um lote de 412 novilhas, com idade entre
22 e 24 meses, foi dividido em quatro grupos de
tratamento: Bloco MGA (consumindo o suplemen-
to sólido com a progesterona), Controle (consumo
do bloco sem MGA), Implante P4 (aplicação in-
travaginal) e Proteico MGA (progesterona em su-
plemento farelado). O Bloco MGA obteve 59,8%
de prenhez no início da estação, 17,5% acima do
segundo grupo de melhor desempenho (Contro-
le, com 42,3%). Esta avaliação foi feita através
de exames ultrassonográficos para diagnóstico de
gestação ao final dos primeiros 30 dias pós monta.
98 DBO outubro 2017
Com relação às vacas multíparas, o MGA em
blocos foi oferecido após a IATF. Neste caso, foram
testados dois períodos de suplementação. Além de
uma ligeira antecipação da concepção no início da
estação (58,4% com MGA aplicado entre 6 e 18
dias pós IATF contra 56,4% no MGA fornecido
entre 13 a 18 dias pós IATF), foi observada uma
elevação considerável na taxa de prenhez (57,4%
no consumo de MGA contra 48,5% no grupo que
consumiu o bloco proteico sem o MGA).
Origem e necessidades Dois blocos de 25 kg atendem 25 animais Juliana Correa
ao longo de seis dias, sem a necessidade de espera que
A tecnologia teve origem a partir de dois pro- reabastecimento do cocho, considerando a tecnologia
jetos de pesquisa na Embrapa: “Soluções em bio- consumo médio de 350 gramas/animal/dia. reduza o ciclo
tecnologias reprodutivas para os novos sistemas produtivo
de produção do Brasil” e “Inovações para a cria no em um milhão de bezerros/ano. “O acesso difícil
Pantanal e Cerrado visando à produção de novilho e as grandes extensões das propriedades no
precoce”. O uso do bloco de sal proteinado com bioma fazem com que o abastecimento diá-
progesterona em alguns protocolos de reprodução rio de cochos seja uma tarefa muito com-
bovina, além das vantagens de estímulo à precoci- plexa”, comenta a também pesquisadora
dade e elevação do índice de prenhez, prevê tam- da Embrapa Pantanal, Juliana Correa.
bém menor custo graças ao consumo via oral (em Segundo cálculos da equipe, dois blocos
relação ao processo de inserção intravaginal do de 25 kg atendem 25 animais ao longo de
indutor de cio). Por enquanto esta diferença ain- seis dias, sem a necessidade de reabasteci-
da não foi mensurada – de acordo com Nogueira, mento do cocho, considerando um consumo
uma tese de mestrado neste sentido está em desen- médio de 350 gramas/animal/dia.
volvolvimento na Universidade Estadual Paulista
(UNESP), campus de Jaboticabal. A expectativa de Juliana é de que a tecnologia
do MGA em blocos, aliada a outras ferramentas,
A expectativa da Embrapa Pantanal é de que possa ajudar a reduzir o ciclo produtivo dentro
o MGA em blocos de suplementos resista melhor do Pantanal: “Hoje, as fêmeas pantaneiras ficam
aos fatores climáticos e permita um consumo mais prenhas, em média, aos três anos de idade. Caso a
regular. Conforme os pesquisadores, a progestero-
na em pó misturada a suplementos farelados tem
reduzida utilização na bovinocultura devido a in-
gestão variável e inconstante e baixa resistência às
intempéries climáticas.
A tecnologia também atende as demandas da
pecuária intensiva em áreas de planalto, de acesso
mais fácil a pastos e instalações, porém é mais efi-
caz em áreas extensivas e, principalmente, no Pan-
tanal, considerado um dos principais berçários da
pecuária brasileira, com produção anual estimada
Rápido perfil do Pantanal nas partes mais altas. Estas últimas, de
acordo com os pesquisadores da empre-
O bioma ocupa uma planície tempo- estimativa da Embrapa, o rebanho bovino sa, possuem capacidade de suporte três
rariamente inundável no estados de Mato de Corumbá soma 1,6 milhão de cabeças vezes superior aos pastos sujeitos a ala-
Grosso e Mato Grosso do Sul de 138,2 (15 vezes superior ao número de pesso- gamentos anuais.
mil quilômetros quadrados, equivalente as, hoje ao redor de 110 mil habitantes),
a 13,8 milhões de hectares (área superior representando 43% de toda a população A estimativa da Embrapa relacionada
à de Pernambuco e Alagoas, juntos). De bovina pantaneira, calculada em 3,8 mi- à produção de bezerros se aproxima dos
acordo com estudo recente, só o municí- lhões de cabeças. valores não oficiais relatados por entida-
pio de Corumbá, MS, detém 64,9 mil km2 des de classe (sindicatos e associação
(três vezes a área de Sergipe), 95% dos O Pantanal abriga dois sistemas dis- de produtores da região) que apontam
quais na planície pantaneira. Segundo tintos de produção de gado de corte: um total de dois milhões de vacas e gera-
cria nas áreas de planície e terminação ção anual de aproximadamente 1 milhão
de bezerros.
outubro 2017 DBO 99
Nutrição
Desempenho comparativo de taxa de prenhez em causa dela, mas sim pelo meio onde ela vive não
diferentes aplicações de indutor de cio
oferecer uma adequada nutrição. Por isso a tecnifi-
% de prenhez no % de prenhez ao cação deve ser feita com equilíbrio”, observa.
Tratamento Número de início da estação final da estação Indagada sobre o controle da ingestão a campo,
MGA em blocos3 de monta1 de monta2
novilhas Juliana admite que é complexo. “Não temos como
59,8 75,5
102 garantir que cada animal consumirá o bloco em
Controle4 volume adequado ou em quantidades idênticas. A
104 42,3 70,8 nossa certeza vem dos resultados dos experimen-
Implante P45 108 37 64,5 tos. Não nos preocupamos pontualmente se uma
Proteico MGA6 vaca consumiu mais ou menos. O que importa é o
98 34,7 72,9 resultado coletivo”, salienta. Um ponto não ava-
(1) 30 dias após monta, (2) 90 dias após monta, (3) consumo de blocos de suplementos com progesterona, (4) consumo liado remete à ação de agentes externos e comuns
de blocos de suplementos sem progesterona, (5) inserção intravaginal de indutor de cio, (6) consumo de MGA em suple-
mento farelado. (*) Adaptado e resumido a partir de original da Embrapa (Experimento 1 – MGA – indução puberdade e dentro do bioma. “Não analisamos, por exemplo,
prenhez – Fazenda São Bento – Pantanal do Abobral – Corumbá, MS)
a interferência de eventual consumo do bloco pela
fauna silvestre pantaneira”, afirma a pesquisado-
ra. Na formulação da peça nutricional e indutora
de cio, a Embrapa recomenda o uso do MGA na
gente consiga reduzir este período para 24 meses, ordem de 2,28 gramas/animal/dia. A previsão da
já teríamos um avanço e tanto. Isso vale também
para a idade à primeira cria, hoje beirando a casa empresa é de que ainda este ano sejam finalizados
de quatro anos. Gostaríamos muito de ter fêmeas
parindo aos dois anos de idade, mas o Pantanal é os detalhes burocráticos e oficiais para produção
um ambiente restritivo. É comum, por exemplo, a
ocorrência da Síndrome da Vaca Falhada, quando e comercialização em escala do MGA em blocos,
a fêmea deixa de parir ao longo de um ano, não por
que deve ficar a cargo de estabelecimento espe-
2_gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 29/09/2017 17:09:50
cializado e devidamente licenciado. A publicação
dos artigos científicos relacionados aos experi-
mentos está prevista para 2018. n
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