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Published by contato, 2023-08-02 16:31:10

Peregrinos e Forasteiros

Editora Renovada

PEREGRINOS & FORASTEIROS COMENTÁRIO BÍBLICO DA CARTA DE 1º PEDRO Hamilton Cardoso dos Santos Júnior


PEREGRINOS FORASTEIROS COMENTÁRIO BÍBLICO DA CARTA DE 1º PEDRO Formação Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada de Paiçandu - Pr Bacharel em Teologia (Seminário Presbiteriano Renovado de Cianorte) Bacharel em Teologia (UNICESUMAR) Médio em Teologia pela Escola de Educação Teológica das Assembléias de Deus - EETAD Mestre em Psicologia da Religião (ITEPAR) Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Processos (Unicesumar) Pós-Graduado em Aconselhamento Cristão Contemporãneo (FTSA) Graduado em Psicologia (SGV) Formado em Psicanálise (METROPOLITANA) Formado em Gestão de Políticas Sociais (METROPOLITANA) Formado em Gestão e Governança Corporativa (SGV) Hamilton Cardoso dos Santos Júnior Biografia Casado com Tamyris M. P. dos Santos Pai de 3 filhos Felipe Wilker, David Wilkerson e Beatriz 36 anos


Agradecimentos Como poderia começar esta obra literária sem antes registrar meus agradecimentos? Nada seria possível sem a prédica de minha realidade. Sou muito grato a Deus pelo seu imenso amor que me resgatou e me encoraja todos os dias a peregrinar firme nos propósitos do seu Reino soberano. A ele toda honra, glória e adoração. Louvo a Deus pelos pilares de minha vida: minha esposa, amiga e companheira, pastora Tamyris dos Santos; e minhas maiores riquezas neste mundo, meu verdadeiro legado, Felipe Wilker, David Wilkerson e Beatriz. Não poderia deixar de homenagear minha mãezinha, meu grande exemplo de fé inabalável, Maria Marta Pizzi; meu pai, artífice de meus valores, que me deu o privilégio de usar seu nome, Hamilton Cardoso dos Santos; minhas irmãs Kelly e Dayane, que sempre me motivaram em todos os meus projetos; meu irmão do coração que sempre sonhou comigo meus projetos, Márcio Agues. A minha amada Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil, igreja na qual nasci e sirvo ao Senhor até os dias de hoje; ao meu pastor, digníssimo presidente Advanir Alves Ferreira; e ao meu mentor (paizão), Jair da Cruz Lara, que sempre cuidou de mim e de minha família com muito amor. Em considerações finais, registro aqui meu louvor a Deus á um casal que tem entendido a sua missão no Reino de Deus, os instrumentos de Deus para que essa obra fosse publicada, Giuseppe Leggi Junior e Leila Aparecida Alves de Lima.


Prefácio É com uma imensa alegria no meu coração que apresento a vocês o meu livro Peregrinos e Forasteiros, uma receita que venho preparando, colocando ingredientes há no mínimo dez anos; um sonho que tomou cor e forma, fruto de uma de minhas ministrações que ganhou um brilho especial; resultado de muita dedicação ao sentido real e original das Escrituras Sagradas; parte de um desejo ardente de me aprofundar um pouco mais no texto que Deus ministrou de forma tão real e poderosa ao meu coração. O que era a princípio somente um sermão agora se torna um livro, um esforço quase que exaustivo para elucidar essa carta tão exuberante da Bíblia Sagrada, a 1ª Carta Universal do Apóstolo Pedro. Vamos mergulhar no primeiro capítulo, na perícope dos versos 1 a 4, e procurar ao máximo entender o que Deus deixou registrado nessa carta para nós. Vamos navegar um pouco no contexto histórico, tentar entender a linguagem original na qual foi escrita e, claro, extrair aplicações edificantes ao nosso coração. Tenho certeza de que, assim como Deus falou comigo, ele também irá falar de uma maneira poderosa ao seu coração.


Sumário Introdução ............................................................................................ pág. 09 Capítulo 1 – Pedro escreve aos peregrinos e forasteiros................. pág. 27 Capítulo 2 – Forasteiros não adotam costumes de outro país....... pág. 57 Capítulo 3 – O sofrimento de um forasteiro é passageiro.............. pág. 79 Capítulo 4 – Forasteiros sabem que a sua verdadeira casa é o céu.... pág. 91


(PEREGRINOS E FORASTEIROS – Pr Hamilton C. S. Junior) Não tem como não sentir honrado ao ser convidado a uma empolgante e enriquecedora leitura deste livro, desde suas primeiras páginas. Diante de tantos desafios da vida cristã, como aconteceu com os irmãos do primeiro século e conosco nos dias atuais, que tentam arrefecer nossa fé, fazer-nos esquecer nossa verdadeira identidade de ‘Peregrinos e Forasteiros’, o autor, Pastor Hamilton Junior, com muita ousadia, ancorado e bem fundamento por textos bíblicos, se servindo de uma bela e fiel exegese do texto áureo desta obra, Primeira Epístola de Pedro, capítulo 1:1-4, bem como outros textos por ele abordados, elucida-nos com muita ternura: a esperança, a vocação, a identidade, os embates, a verdadeira morada e a recompensa do cristão que é um peregrino, um forasteiro neste mundo. Ler este livro e observar o requintado, pujante, conteúdo em suas laudas, contextualizado com a nossa realidade, nos coloca mais perto de Deus, aquece mais as chamas da viva esperança de um dia colocarmos nossos pés no solo da eternidade, enriquece-nos de conhecimento bíblico, ajuda-nos a termos uma fé mais robusta e nos encoraja a prosseguirmos como verdadeiros Peregrinos, Forasteiros em nossa jornada. Minha oração é que, todos que tiverem o privilégio de lerem este riquíssimo conteúdo, fiquem bem certo que: “existe uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês... 1 Pedro 1:4. (texto abordado de maneira oportuna pelo Autor). Para glória Daquele que tudo fez, faz e fará por nós – Jesus. Pastor Jair da Cruz Lara


Introdução Em março de 2011, um renomado pregador brasileiro postou um vídeo no maior aplicativo de reprodução de vídeos da internet, YouTube, dizendo que “a vinda de Cristo é uma UTOPIA”. Como base para essa afirmação, ele usou a teologia de Jorge Moltmann, um teólogo alemão que ensina a Teologia da Esperança. Após alguns dias, o mesmo pregador publicou um artigo na web em que afirmava categoricamente que “Jesus Cristo não voltará” e que alguns termos bíblicos que indicam a vinda de Cristo na Bíblia Sagrada são somente incentivos para a caminhada cristã, a fim de prosseguirmos caminhando e não desanimarmos, mas que Cristo não voltará para buscar a sua igreja, que essa expressão é somente uma expressão utópica. Em setembro, seis meses depois dessa publicação, o artigo repercutiu de uma forma avassaladora, e vários pregadores, teólogos, ministros da fé se posicionaram diante dessa tal “Teologia da Esperança” refutando veementemente a afirmação. O fato chamou a atenção da mídia em geral e me levou a refletir objetivamente sobre o assunto. Peguei-me, por várias vezes, indagando-me a respeito dessa frase de efeito: Como um estudioso das Escrituras pode fazer tal declaração? Como um teólogo pode aderir a uma teologia tão esdrúxula como essa? Minha conclusão foi: preciso levar à igreja de Cristo algo que refute esse engodo de Satanás. A afirmação de que “Jesus não voltará” e de que “qualquer afirmação sobre a segunda vinda de Cristo é uma utopia” deve ser combatida! Em seguida, o Espírito Santo de Deus me inspirou e começou a trazer à minha memória um fato marcante em minha vida. Quando eu tinha 16 anos, ao chegar à empresa em que trabalhava para um dia normal de trabalho, deparei-me com um homem que estava sentado na calçada com um saco de estopa ao lado, um homem com semblante sofrido e visivelmente desolado, um peregrino neste mundo. Todos os dias no meu local de trabalho fazíamos uma oração e tomávamos um café com um saboroso pãozinho francês. Naquele dia, ao terminarmos a oração, o Espírito Santo de Deus me constrangeu colocando em meu coração compaixão pelo peregrino que estava lá fora na calçada. Com o coração contristado, dirigi-me até ele e disse: “Bom dia, como o senhor está?” Ele disse: “Tudo bem, jovem”. Logo lhe entreguei o


pão e o copo de café com leite. Então ele me disse: “Que bênção, estava mesmo com fome”. Comecei a puxar assunto perguntandolhe seu nome e mais algumas coisas. O peregrino sempre me respondia com um tom de tristeza ao falar de sua história. Após ter conquistado um pouquinho de liberdade, perguntei a ele: “Você tem família?” Com os olhos marejados, ele disse: “Eu já tive, mas, por minha desobediência a Deus, perdi tudo. Hoje a única coisa que tenho é a esperança da salvação”. Eu disse para ele: “Você já ouviu falar de Jesus?” Ele logo disse: “Muito, muitas vezes, até falei dele para as pessoas, mas não soube valorizar isso. Dei ouvidos ao inimigo e perdi tudo, perdi casa, carro, saúde, enfim, tudo. A única coisa que o inimigo não conseguiu arrancar de mim foi a certeza de que Jesus já me perdoou. Eu não tenho mais nada aqui neste mundo, somente espero a morte”. E, em lágrimas, afirmou: “Mas eu sei que um dia, quando tudo aqui acabar, eu receberei o perdão de Deus e irei morar no céu”. Eu chorei ali com ele ao ouvir: “Eu não tenho uma casa, mas sei que lá no céu eu terei. Não tenho mais amigos ou família, mas lá no céu eu viverei com o meu pai em ruas de ouro”. Ao me lembrar dessa passagem em minha vida, elucubrei: “Como um pregador renomado, conhecedor da Palavra de Deus, pode perder a esperança da salvação e cometer um erro tão grave como esse, fazendo uma afirmação tão ignorante como aquela? Como pode apostatar da fé dessa maneira e chegar a ponto de distorcer uma verdade tão clara da Bíblia? Em contraponto, aquele peregrino que conheci não tinha motivos palpáveis para crer na segunda vinda de Cristo. Um homem com tantas marcas, tantos fracassos, tantos insucessos, mantinha em seu coração pelo menos uma brasa acesa, um pequeno feixe de luz de que Jesus um dia voltaria para o buscar. Ele acreditava com toda a força de seu coração que existe, sim, um céu que nos espera; que existe, sim, vida após a morte; que um dia, sim, toda dor e todo sofrimento vão acabar e que iremos morar com Jesus em um lugar de paz e alegria. “Depois vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia mais. 2 Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus. Ela estava vestida como uma noiva enfeitada para o seu marido. 3 Então ouvi uma voz forte que vinha do trono, dizendo: Agora, a morada de Deus vai ser com


os homens. Deus habitará com eles e eles serão povos de Deus. Então, o próprio Deus estará com eles e Ele lhes será por Deus. 4 Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos e a morte já não existirá mais. Não haverá mais luto, nem choro e nem dor, porque as coisas velhas já passaram” (Ap 21.1-4). Como deve ser triste viver neste mundo sem a certeza da salvação e da vida eterna. Como deve ser doloroso viver com um vazio na alma ao pensar que o céu não existe e que só estamos neste mundo de passagem. O céu é real, foi Jesus quem afirmou isso no evangelho de João 14.1-4: “Não fiquem preocupados! Continuem confiando em Deus e continuem acreditando em mim. Na casa de meu Pai há muitos quartos. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito, pois vou preparar um lugar para vocês. Depois de ir e preparar um lugar para vocês, eu voltarei. Então levarei vocês comigo, para que possam estar onde eu estiver. Vocês sabem como chegar ao lugar para onde eu vou”. É para essa casa que estamos indo, é lá que viveremos a eternidade. Não permita que nada tire essa certeza do seu coração. Jesus está voltando e nós nos encontraremos com ele para as Bodas do Cordeiro, a qualquer momento. Pode ser muito em breve. O céu se abrirá, as trombetas tocarão e Jesus, como noivo, virá buscar a sua noiva ataviada. “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus” (1Ts 4.16). Temos que manter essa esperança viva dentro do nosso coração. Não podemos permitir que algo venha e arranque de nós a certeza de que um dia iremos morar com Jesus no céu.


Síntese do capítulo 1 da Primeira Epístola de Pedro Acredito ser necessário um olhar amplo dos assuntos principais dessa epístola de Pedro para que todos entendam o mínimo das riquezas nela contidas. É claro que não conseguiremos esgotar o assunto, em razão de sua riqueza de detalhes e complexidade, mas vamos mergulhar um pouco para abrir o nosso entendimento. A Primeira Epístola de Pedro foi escrita para encorajar os cristãos perseguidos e confusos a permanecerem unidos e firmes na fé. Para que fique mais fácil a compreensão, vamos olhar a epístola de forma panorâmica, resumindo o primeiro capítulo. De uma forma sistematizada, vamos observar algumas verdades fundamentais nessa epístola. Extrairei a verdade teológica de cada capítulo para esclarecimento: • No capítulo 1: os cristãos têm o maravilhoso privilégio de ver a grande salvação de Deus em Cristo. • No capítulo 2: o privilégio da salvação traz consigo diversas responsabilidades importantes. • No capítulo 3: os cristãos devem ser santos, amar profundamente uns aos outros e consagrarem-se à glória de Deus. • No capítulo 4: os relacionamentos dentro e fora da igreja devem ser mantidos de acordo com os padrões de Cristo, e não de acordo com os padrões do mundo. • No capítulo 5: os cristãos devem encarar o sofrimento como seguidores de Cristo, da perspectiva correta.


Mergulhando no capítulo 1 Síntese do capítulo 1 Primeira parte Saudação (1.1-2) “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas”. Pedro identificou-se como um apóstolo e a seus leitores como forasteiros no mundo. A certeza da salvação dos cristãos (1.3-12) “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas. Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar”.


Pedro louvou a Deus pelo maravilhoso privilégio de ver a salvação que Cristo trouxe para o seu povo. O apóstolo se apresentou e identificou os destinatários de sua carta. Pedro (que significa "rocha") foi o nome dado por Jesus a esse apóstolo (Mt 16.18; Jo 1.42). Seu nome hebraico provavelmente era Simeão, do qual o equivalente grego é Simão. "Cefas" (Jo 1.42; 1Co 1.12) é a transliteração da palavra aramaica para "rocha". Ele dirige sua carta aos eleitos. Pedro lembrou seus leitores da posição segura e privilegiada deles como objeto da escolha soberana, eterna e graciosa de Deus como seu povo em Jesus Cristo e por meio dele (2.9-10). O tema da eleição é desenvolvido no versículo 2. Além de eleitos, chama-os de peregrinos ou de forasteiros. Esse termo traduz uma palavra grega (“parepidemos”) que é também usada em 2.11; ela enfatiza a natureza temporária da permanência de um viajante num lugar. Como os peregrinos, os cristãos vivem no mundo, mas sua pátria real está no céu (Fp 3.20; Hb 11.13-16), e sua esperança está ancorada lá. Somos, portanto, cidadãos dos céus, da família de Deus, filhos por adoção, por meio de Jesus Cristo. A palavra “dispersão” (do grego, diáspora) era um termo técnico usado entre os gregos que falavam hebraico, usado para descrever os judeus que viviam fora da Terra Santa (Jo 7.35). Os leitores de Pedro não eram, em sua totalidade, israelitas; por isso o provável uso do termo figurativo "dispersão" para descrever todos os cristãos que ainda estavam esperando pela sua herança total nos novos céus e na nova terra. Se eram eleitos, eram, portanto, escolhidos por algum critério, e aqui no versículo 2 ele fala que isso se deu segundo a presciência de Deus. Pedro não quis dizer que Deus escolheu soberanamente alguns para salvação com base no seu conhecimento do que eles escolheriam se eles mesmos pudessem fazer isso. A presciência aqui é quanto a pessoas, não quanto aos acontecimentos; ela implica o seu amor por eles antes de todos os tempos. Veja o verbo relacionado "conhecido" em 1.20. A escolha tinha se dado de acordo com o préconhecimento de Deus Pai pela obra santificadora do Espírito (v. 2). Observe a estreita ligação entre o amor eletivo do Pai e a obra do Espírito em aplicar a redenção aos escolhidos (2Ts 2.13). De maneira mais abrangente, "santificação do Espírito" aqui inclui


todas as ações do Espírito em relação ao pecador para separá-los do pecado (ex.: regeneração e fé) e consagrá-los para o serviço de Deus, incluindo a santificação no sentido progressivo (Tt 3). Se fomos escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai e pela obra santificadora do Espírito, então, qual seria a finalidade ou o propósito? Para a obediência (v. 2). O ato inicial da obediência é a fé em Cristo (Jo 6.28-29), e o elemento fundamental de toda a obediência é a fé constante. A eleição é "para a" ou "com o objetivo da" fé (obediência), não um resultado dela (Ef 1.3-4; 2Tm 1.9). Uma vez salvo, eu não produzo a fé ou passo a gerá-la, mas sou salvo para a fé (obediência). Essa imagem do Antigo Testamento relativa à aspersão do sangue de Jesus Cristo tem diversas referências possíveis: ❖ A transferência para o eleito dos méritos e da virtude purificadora da morte de Cristo (cf. Lv 16.15-16; Hb 9.13-14). ❖ A seladura na nova aliança e a participação nos benefícios e obrigações (cf. Êx 24.3-8; 1Co 11.25). ❖ A consagração para o serviço sacerdotal (2.5,9; cf. Êx 29.21; Hb 10.19-22). A saudação de Pedro “graça e paz lhes sejam multiplicadas” (v. 2) era também uma bênção que tinha uma relevância especial para os cristãos sofredores. A graça é o amor de Deus que protege os pecadores por causa da identificação deles com Cristo. A paz é a condição objetiva de estar reconciliado com Deus por meio de Cristo (Rm 5.1-2), juntamente com tudo o que procede desse relacionamento. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5.1-2).


Segunda Parte A certeza da salvação dos cristãos (1.3-12) Pedro louvou a Deus pelo maravilhoso privilégio de ver a salvação que Cristo trouxe para o seu povo. Pedro está enfatizando que a salvação é totalmente baseada na amorosa iniciativa de Deus, que, segundo a sua misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança. Embora o verbo (regeneração) que traduz essa frase ocorra somente aqui e em 1.23 no Novo Testamento, a ideia é encontrada muitas vezes (Jo 1.12-13; 3.3-8; Tt 3.5; Tg 1.18). Nessa epístola, a esperança é um conceito importante (1.13,21; 3.5,15). Ela transmite a ideia da confiança e energia que procedem da expectativa de uma bênção futura com base em fatos e promessas. A palavra "viva" indica a vibração e o caráter vivencial dessa esperança. Pedro bendiz a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua misericórdia, nos gerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma herança incorruptível. Esse termo “herança” deriva da terminologia do Antigo Testamento que identifica a Terra Prometida como herança de Israel (Êx 32.13; Lv 20.24; Nm 26.53- 56; Dt 3.28). A terra de Canaã era um antegosto dos novos céus e da nova terra que são a herança definitiva dos cristãos. Como filhos de Deus pelo novo nascimento, os cristãos são herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo (Rm 8.16-17). Sua herança é explicada no v. 5 como completa salvação (Hb 1.14). A herança incorruptível é: • sem mácula; • imarcescível; • reservada nos céus para os que são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. O versículo 5 enfatiza tanto a prioridade da divina graça quanto a importância da ação humana que resulta de tal graça. Embora a fé seja um dom de Deus, os cristãos ainda são responsáveis por exercitarem a fé (confiança constante), na batalha espiritual (5.8-9; Ef 6.16; Fp 2.12-13). O poder da proteção de Deus é transmitido por meio de um termo militar ("guardados"), que


significa defesa vigilante de uma fortaleza. Aqui a palavra significa futura libertação completa e final do pecado e posse total da eterna glória (1.9; 4.13-14; 5.1,4). O último tempo mencionado é uma terminologia estreitamente associada com o último dia, ou os últimos dias (Hb 7). No último dia desse tempo, Cristo retornará na manifestação final de seu poder e glória. É o que estamos aguardando com grande expectativa e esperança. Essas coisas todas devem servir para nos exultar, mesmo que no presente, concorrentemente, por breve tempo, se necessário, sejamos contristados por várias provações. Embora Deus nunca tente ninguém a pecar (Tg 1.13), ele permite ou envia provações para testar e fortalecer a fé (v. 7). Essas provações acontecem para que fique comprovado que a fé que temos, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado. Essa é uma clara afirmação do propósito divino das provações que está implícito no versículo 6 (Rm 5.3-4; Tg 1.2- 4). Assim como os seres humanos usam o fogo para polir metais preciosos, Deus também faz uso das provações para distinguir a fé genuína da profissão de fé superficial e, simultaneamente, fortalecer a fé (Jó 23.10). Se a fé que temos é genuína, ela resultará em glórias a Jesus quando ele for revelado. Pedro pode estar se referindo ao louvor, glória e honra que virão para Cristo no último dia, mas provavelmente ele tinha em mente a glorificação final dos cristãos (5.1,4) para que todos vejam, na sua segunda vinda (vs. 5; 4.13; 5.1; 1Co 4.3-5). Os cristãos já desfrutam de muitas bênçãos de sua salvação, mas a posse total dela aguarda o retorno de Cristo (v. 5). Como ele ainda haverá de ser revelado em glória, no presente, mesmo não o tendo visto, nós o amamos e, apesar de não o vermos, cremos e exultamos com alegria indizível e gloriosa, pois estamos alcançando o alvo da nossa fé: a salvação de nossas almas. Alma aqui é usada como uma referência à pessoa como um todo; em 3.20 a mesma palavra grega “alma” é traduzida como “pessoas”. O alvo da nossa fé: a salvação de nossas almas (v. 9). A maioria dos profetas no Antigo Testamento falou do tempo da misericórdia de Deus depois do exílio de Israel e Judá. Eles sabiam que Deus tinha prometido não somente a restauração graciosa de Israel, mas também a inclusão misericordiosa dos gentios entre o povo de Deus (Is 2.2ss.; Is 65; Am 9.15). Os profetas


não tinham conhecimento desses acontecimentos em muitos detalhes, mas Pedro disse que eles almejavam saber mais. Os versículos 10 e 11 falam que os profetas que falaram da graça destinada a nós investigaram e examinaram as Escrituras procurando descobrir esse tempo e também as circunstâncias que apontava o Espírito de Cristo. Os profetas do Antigo Testamento sabiam que a salvação viria, mas não precisamente quando ou como. Essa frase “pelo Espírito de Cristo” aparece somente aqui e em Rm 8.9 (At 16.6-7; CI 4.6; Fp 1.19). O Espírito Santo é chamado de Espírito de Cristo porque ele é enviado por Cristo (Jo 15.26) e porque, desde o tempo da ressurreição, Cristo e o Espírito operam como uma unidade ao aplicar a redenção aos cristãos (Rm 8.10; 1Co 15.45). Naqueles profetas, o Espírito de Cristo predizia os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam àqueles sofrimentos (v. 11). Os profetas disseram e escreveram muitas coisas sobre a salvação após o exílio de Israel, coisas que seriam entendidas profundamente somente pelas gerações futuras. Os profetas desconheciam muitos dos detalhes sobre os estágios finais do reino de Deus. Aqueles que proclamavam o evangelho durante o período apostólico anunciavam como a salvação prometida pelos profetas havia chegado. Àqueles profetas foi revelado que estavam ministrando não para si próprios, mas para nós, quando falaram das coisas que agora nos foram anunciadas por meio daqueles que nos pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado do céu; coisas que até os anjos anseiam observar. Quem prega a palavra de Deus para nós prega pelo Espírito Santo enviado do céu. Isso enfatiza a origem divina da mensagem do evangelho. O mesmo Espírito que inspirou os profetas estava guiando os mensageiros do evangelho. Até mesmo os seres celestiais estão intensamente interessados na redenção final. O plano de Deus se torna conhecido a eles por meio da igreja (Ef 3.8-10). “A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a comunhão do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:8-10).


Terceira parte As implicações da salvação (1.13-3.12) Pedro tratou de diversas implicações práticas da salvação em Cristo, focalizando especialmente a necessidade da santidade e as interações piedosas entre os cristãos e com o mundo. Veremos dos versículos 1.13 a 3.12 essa certeza da salvação dos cristãos. Ao iniciar a epístola, Pedro encorajou seus leitores perseguidos com a descrição da certa e gloriosa salvação deles em Cristo. Tendo descrito a gloriosa salvação que Cristo realizou em favor deles, Pedro voltou-se para as responsabilidades dadas a todos aqueles que seguem Cristo. Sua discussão se divide em cinco partes: 1- A necessidade da santidade pessoal (1.13-16). 2- A importância da reverência (1.17-21). 3- O amor entre os cristãos (1.22-2.3). 4- Viver como um templo e sacerdócio (2.4-10). 5- Uma variedade de relacionamentos sociais (2.11-3.12). Podemos destacar como aplicação pessoal: A. A santidade pessoal (1.13-16). B. O temor reverente (1.17-21). C. O amor mútuo (1.22-2.3). D. Templo e sacerdócio (2.4-10). E. Os relacionamentos sociais (2.11-3.12). A. A santidade pessoal (1.13-16) “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”. Deus deu, e dará, tanto para o seu povo em Cristo, que eles, por sua vez, devem buscar a santidade pessoal. Deveriam eles estar


com a mente preparada e prontos para a ação. Também devem ser sóbrios e colocar toda a esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado (futuro!). “A mente preparada” literalmente significa "mantendo cingida a cintura de sua mente". A imagem é retirada da prática do Oriente Médio de reunir a longa túnica e prendê-la com cinto em preparação para a ação, deixando as pernas livres para se movimentarem com rapidez. A ênfase aqui é na preparação ativa para o esforço espiritual vigoroso e constante. As realizações anteriores de Cristo em favor de seu povo são maravilhosas, mas o que está por vir é muito mais formidável. Quando Cristo retornar, ele trará a nossa recompensa final e a nossa herança: glória eterna nos novos céus e na nova terra. É por isso que repetimos o trecho bíblico que diz para colocarmos, em função dessas coisas, toda a esperança na graça que nos será dada quando Jesus Cristo for revelado. Assim sendo, como filhos obedientes, não devemos nos deixar amoldar pelos maus desejos de outrora, quando vivíamos na ignorância. Estamos em guerra ou numa grande corrida com um grande prêmio à vista. A iniciativa graciosa de Deus leva efetivamente as pessoas a uma nova vida de fé, obediência, esperança e santidade. Assim como é santo aquele que nos chamou, devemos ser santos também em tudo o que fizermos, pois está escrito: "Sejam santos, porque eu sou santo". Do mesmo modo que Israel no Antigo Testamento foi separada por Deus das nações vizinhas para que fosse santa, assim também a igreja deve se apartar do pecado para o serviço de Deus (2.9; Lv 19.2). O padrão de santidade dos cristãos, e a motivação para isso, não é nada menos do que a absoluta perfeição do próprio Deus (v. 16; Mt 5.48; Ef 5.1). “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.48). “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5.1). B. O temor reverente (1.17-21) “E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais,


mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (1Pe 1.17-21). Pedro incentivou os seus leitores a lembrar quanto a escolha que eles haviam feito era séria ao relembrá-los do julgamento de Deus. Embora saibamos que os cristãos não serão condenados pelos seus pecados (2.24), eles serão julgados pelas suas obras e recompensados adequadamente (Rm 14.10-12; 1Co 3.12- 15). Além disso, Pedro também sabia que nem todos das igrejas a que ele se dirigia estavam exercitando a fé salvadora; ele os advertiu que poderiam ser condenados pelos seus pecados se não se arrependessem (Hb 10.26-29). Se chamamos por Pai aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, devemos nos portar com temor durante a nossa peregrinação – jornada terrena (v. 17). Peregrinação é uma palavra grega diferente daquela utilizada no versículo 1 (traduzida como "forasteiros"). A palavra “peregrinos” indica aqueles que vivem num lugar do qual não são cidadãos, realçando a condição de peregrinos dos cristãos neste mundo. A única maneira de permanecer fiel a Cristo é se desprender do amor natural pelas coisas deste mundo (1Jo 2.15). Assim, devemos nos portar com temor. Porque Deus é tanto Pai quanto juiz, os cristãos devem se aproximar dele com humildade e respeito (SI 34.11; At 9.31). Devemos ter em mente, sempre, que não foi por coisas perecíveis que fomos resgatados de nossa maneira vazia de proceder. Fomos libertos da escravidão do pecado mediante o pagamento de um preço (Rm 8.2-3; 1Co 7.23; Cl 3.13; Ef 1.7). O preço da redenção é o sangue de Cristo (v. 19). Essa maneira vazia de proceder aplicada àqueles a quem ele dirigiu primeiramente a palavra se refere ao fútil procedimento deles. A "futilidade" ou "inutilidade" da adoração do pagão é um tema frequente dos escritores bíblicos (Jr 2.5; At 14.15). Embora no Novo Testamento haja condenação das tradições judaicas que acrescentavam exigências à lei no Antigo Testamento (Mc 7.8-13; Fp 3.3-71), Pedro aqui parece ter tido como objetivo o paganismo gentio (1.14;


4.3). Se não foi por coisas perecíveis que fomos resgatados de nossa maneira vazia de proceder, como isso se deu, então? A resposta está no versículo 19. Foi pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de nós (vv. 19,20). A imagem é do sistema sacrifical do Antigo Testamento, com referência especial à Páscoa dos judeus (Êx 12.5; Lv 3.6-7; Is 53.7; Jo 1.29). Para que fosse aceitável, um sacrifício tinha que ser livre de qualquer defeito (Lv 22.20-25). A vida sem pecado de Cristo o qualificou para morrer pelos pecados dos outros (Hb 7.26-27). Cristo foi escolhido como Redentor dos eleitos na eternidade (Jo 17.24; Ap 13.8), mas revelado nestes últimos tempos em nosso favor. Os últimos tempos incluem todo o período entre a primeira e a segunda vindas de Cristo (At 2.17; Hb 1.2). A Bíblia de Estudo de Genebra recomenda leitura e reflexão de seu excelente artigo teológico "O plano das eras", em Hebreus 7. É, portanto, por meio dele (Jesus Cristo) que nós cremos em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que nossa fé e nossa esperança estejam em Deus (v. 21). Como mediador entre Deus e o homem, Cristo forneceu o único acesso a Deus (Jo 14.6). Em Cristo, o Pai é revelado (Jo 1.18). A morte redentora de Cristo abriu o caminho de acesso a Deus (3.18). C. O amor mútuo (1.22-23) “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1Pe 1.22-23). De 1.22 a 2.3, Pedro falará desse amor mútuo. Tendo sido purificado pela fé em Cristo, os leitores de Pedro precisavam manifestar a fé salvadora por meio do serviço e do amor mútuos. O verdadeiro e permanente amor dos cristãos uns pelos outros (v. 22) é possível somente porque o amor de Deus foi primeiro revelado a eles ao regenerá-los em Cristo (Jo 13.35; I Jo 4.10-12). Os cristãos devem demonstrar a mesma maneira de amar uns aos


outros que Deus e Cristo demonstram pelos cristãos e um pelo outro. Não é um simples comportamento exterior, mas um sentimento ardente e sincero, um comprometimento que é demonstrado em ações amorosas. Agora que estamos purificados pela obediência à verdade, visando ao amor fraternal e sincero, devemos nos amar sinceramente uns aos outros e de todo o coração (v. 22). Isso porque fomos regenerados, mas não de uma semente perecível, pelo contrário, imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente (v. 23). Esse versículo compara e contrasta a reprodução humana com o poder vivificador da palavra de Deus (cf. Jo 1.12-13), a qual vive e é permanente. A palavra de Deus no evangelho não se extingue, nem a salvação que ela traz. O amor sincero do cristão é possível porque os cristãos não pertencem mais ao mundo de ódio e discórdia, mas ao novo mundo de amor e união. Pedro, nos versículos 24 e 25, referiu-se a Isaías 40.6-8, uma profecia que compara a vida humana comum e passageira com a promessa de restauração após o exílio. Essa promessa ou palavra de Deus é eterna, e a nova criação que ela prediz nunca passará. Essa, diz Pedro, foi a palavra que em nós foi evangelizada, anunciada, implantada. Pedro identificou a mensagem do evangelho cristão com a profética palavra que promete a salvação final após o exílio. O evangelho anuncia as boas-novas de que o reino prometido chegou. “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina” (Is 52.7).


Pedro escreve aos peregrinos e forasteiros “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1.1). Esperança aos peregrinos e forasteiros sperança da vida eterna. Era essa esperança que Pedro queria manter viva no coração dos nossos irmãos da Ásia Menor ao escrever essa carta, por isso ele faz questão de destacar “aos irmãos da Ásia Menor, moradores da província do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Segundo alguns historiadores, a maioria desses irmãos foi convertida através do avivamento de Atos 2 e alcançada pela pregação do Apóstolo Paulo. Pedro escreveu essa carta no ano de 63 d.C. e o seu grande propósito era realmente reanimar os irmãos, motivá-los a perseverar na fé, a persistir firme no evangelho de Cristo, mesmo diante de tanta perseguição. Conforme 1Pedro 4.12-16, nossos irmãos estavam debaixo de uma ardente prova: “Meus queridos amigos, não fiquem admirados com a dura prova de aflição pela qual vocês estão passando, como se alguma coisa fora do comum estivesse acontecendo a vocês. Pelo contrário, alegrem-se por estarem tomando parte nos sofrimentos de Cristo, para que fiquem cheios de alegria quando a glória dele for revelada. Vocês serão felizes se forem insultados por serem seguidores de Cristo, porque isso quer dizer que o glorioso Espírito de Deus veio sobre vocês. Se algum de vocês tiver de sofrer, que não seja por ser assassino, ladrão, criminoso ou por se meter na vida dos outros. Mas, se alguém sofrer por ser cristão, não fique envergonhado, mas agradeça a Deus o fato de ser chamado por esse nome”. E


Perseguição era o que configurava essa ardente prova. Nossos irmãos do primeiro século estavam debaixo da escura nuvem romana, sofrendo assolações indescritíveis por amor a Cristo. Em um documento histórico do primeiro século, o jovem Plínio escreve ao imperador Trajano o que presenciava em sua época e relata que o simples fato de um seguidor de Cristo declarar por três vezes que não negava que Jesus Cristo era o seu Senhor e Deus já era suficiente para ser amarrado no meio do Coliseu e pisoteado por touros ou devorado por leões e tigres. Cristãos eram levados em massa para garantir o espetáculo e morrer de uma forma cruel e implacável na arena. A lealdade aos princípios de Cristo inevitavelmente faz com que os cristãos sejam perseguidos até certo ponto e, em certos momentos, a perseguição se torna bastante severa. Pedro, ciente de quão violenta e inflamada uma perseguição podia se tornar, os conclama, à luz da glória indubitável além da provação do sofrimento, a manter sua fé cristã apesar da imerecida repreensão, perseguição e mesmo morte. Os cristãos podem ser ‘triunfantes diante das dificuldades’. Pedro sabe disso. Ele quer que seus amigos cristãos na Ásia Menor o saibam — e o demonstrem. A fidelidade aos princípios de Cristo no meio das suas provações impetuosas os firmaria em santidade e os ajudaria a prezar sua herança futura, que é radiante com a glória visível de Cristo. Não há um esforço para negar a perseguição, mas o alvo é lembrá-los de que a perseguição suportada com paciência resulta em bem-aventurança e glória (Comentário Bíblico Beacon). Pedro lhes dá consolo e esperança aos crentes fiéis. Devemos esperar que nos ridicularize e rechace e que soframos por ser cristãos. A perseguição nos faz muito mais fortes porque desencarde nossa fé. Se dependermos dele, podemos nos enfrentar vitoriosamente à perseguição como o fez Cristo. Os cristãos ainda sofrem por suas crenças. Devêssemos


esperar perseguição, mas sem nos atemorizar. O fato de que vamos viver eternamente com Cristo deve nos dar a confiança, paciência e esperança que nos mantenha firmes até ao ser perseguidos (Comentário Bíblico Mathew Henry). Tendo em vista o momento que nossos irmãos estavam vivendo e que muitos estavam amedrontados e abandonando a fé, Pedro envia essa carta para circular nas igrejas da Ásia menor a fim de animar os irmãos para que permanecessem firmes na fé. “Neste mundo teremos aflições”, disse Jesus: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33). Temos que passar, sim, momentos difíceis. Não estamos isentos de passar por lutas, de enfrentarmos situações desgastantes por sermos cristãos. Devemos sempre nos lembrar, nesses momentos de tristeza e choro, da palavra de Deus para acalentar nosso coração. O salmista Davi escreveu no Salmo 30.5: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Essa palavra precisa estar sempre em nosso coração. Vai amanhecer, um novo dia vai chegar, Deus trará um refrigério. Nada, nenhum sofrimento será permanente. Tudo será passageiro. Essa situação, essa tristeza e essa dor vão passar. Creia nisso! Você pode orar neste momento comigo: “Deus, nosso pai, tu és o socorro bem presente nos momentos de angústia (Salmo 46.1). Eu coloco a vida do meu irmão, da minha irmã, diante de ti. Tu és o Deus do impossível (Lucas 1.37), não há nada que o Senhor não possa fazer. Entre com providência nessa situação, independentemente do que meu irmão(ã) esteja passando. Tu és o Deus soberano e sabes de todas as coisas, traga uma resposta. Só tu és Deus. Somos totalmente dependentes de ti, precisamos da tua ajuda, precisamos da tua resposta. Entregamos tudo diante de ti, em nome de Jesus. Amém”.


Veja o que Pedro diz: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pe 5:8). Estamos em guerra. Se pudesse, nosso adversário nos tragaria vivos. Ele não o faz porque temos a proteção do nosso Deus. Afinal, “Nossa esperança está no Senhor; ele é o nosso auxílio e a nossa proteção” (Sl 33.20). Pedro utiliza a figura de um leão para descrever nosso inimigo. Sabemos que o leão é um animal feroz, imponente, que causa medo e espanto. O rugido de um leão é assustador. No original grego, segundo o léxico de Strong, λέων (léon) é o termo usado para se referir ao animal, mas também ao herói mitológico bravo e poderoso. Lembro-me de um fato em minha infância quando, pela primeira vez, entrei em um zoológico; estava andando tranquilamente pelas ruas de acesso aos animais e escutei um som estrondoso “uarhuurhuuuu”. Tomei um susto e pensei: “O leão está solto e deve estar aqui pertinho”. Estranho foi saber que ele, na verdade, estava a quase 200 metros de distância em uma jaula. A ideia do texto é realmente esta: entendermos que temos um inimigo terrivelmente perigoso e traiçoeiro; e para não sermos presas fáceis, devemos estar vigilantes. Veja o que Matthew Henry diz em seu comentário sobre esse texto: Os leões atacam ao animal doente, jovem e solitário; escolhem os animais que estão sozinhos ou despreparados. Pedro nos adverte que Satanás pode nos atarefar quando enfrentamos sofrimento ou perseguição, sentindo-nos sozinhos, débeis, abandonados e afastados de outros crentes, preocupados com nossos problemas até o ponto de que esqueçamos de estar atentos ao perigo; é quando especialmente somos vulneráveis aos ataques de Satanás. No tempo de sofrimento, procure o apoio dos crentes. Mantenha os olhos em Cristo e resista ao diabo.


Você já parou para pensar por que Pedro nos manda vigiar. Essa comparação peculiar nos leva a refletir. Realmente temos um adversário sagaz e traiçoeiro, por isso o termo “vigiai”1 . “Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios; pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação” (1Ts 5:6-8). Conforme o apóstolo Paulo escreve em Romanos 13.11, cristãos maduros precisam andar vigilantes: “Vocês precisam fazer todas essas coisas porque sabem em que tempo nós estamos vivendo; chegou a hora de vocês acordarem, pois o momento de sermos salvos está mais perto agora do que quando começamos a crer”. A instrução divina através de Pedro é simples, devemos ser cautelosos, viver vigilantes, atentos, porque o nosso inimigo estará sempre esperando uma oportunidade para nos destruir. Por isso, meu querido, atenção dobrada em tudo. Estamos em guerra e nosso adversário não brinca em serviço. Busque força e sabedoria em Deus, peça ao Espírito Santo estratégia para lidar com as ciladas do inimigo para não ser tragado nem ser presa fácil. Seja forte e corajoso (Js 1.9). O leão estava em alta, as multidões iam ao Coliseu e às arenas para ver centenas de pessoas sendo estraçalhadas rotineiramente. Todos temiam o Coliseu, todos temiam os leões, todos viam constantemente essas cenas lamentáveis: homens, mulheres e crianças sendo levados para a morte para servir como espetáculo, maneira excêntrica que o Império Romano usava para demonstrar sua força e poder. Pedro usa o leão para deixar claro para os irmãos da Ásia Menor que a vida cristã exige muita cautela e vigilância. Não podemos brincar com nosso inimigo, não podemos brincar de servir a Deus, não podemos levar as coisas espirituais na brincadeira. É necessário muito cuidado. Tudo deve ser feito com temor. 1 Ρηγορεύω grēgoreúō (gray-gor-yoo’-o) metáf. Dar estrita atenção a, ser cauteloso, ativo.


“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor permanece para sempre” (Sl 111:10). Ande em submissão a Deus e lembre-se sempre desta palavra: “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tg 4:7,8). Contexto histórico dos peregrinos e forasteiros O ano vigente era 63 d.C., talvez um dos piores períodos para o povo de Deus neste mundo. O imperador da época era... Figura 1 - Nero Um homem que marcou a sua história por ser frio e calculista, sem nenhuma piedade, implacável em suas ações. Nas noites frias e sombrias de Roma, Nero se dirigia ao jardim do seu palácio, que ficava em um dos lugares mais altos da cidade, para cantarolar, um exímio cantor lírico que, com seu agudo, assombrava Nero, 13 de outubro de 54 d.C. / 9 de junho de 68 d.C.


a escura e sofrida Roma. O prazer de Nero era incendiar cristãos nos postes do seu jardim e cantar pela madrugada enquanto Roma, em silêncio, dormia. Ele usava as luzes dos nossos irmãos incendiando para induzir tormento através do brilho do fogo. O seu canto madrugada adentro causava dor e tormento a todos que o ouviam. Era esse o seu prazer e, através disso, demonstrava sua crueldade e frieza, pensando assim infligir medo e forçar todos a o respeitarem. Um ano depois de Pedro escrever essa carta, Nero ateou fogo em Roma e, para exterminar os cristãos, culpou-os pelo seu próprio crime. O incêndio gerou revolta entre o povo, fazendo com que todos odiassem os servos de Deus da época. Sua única motivação era construir uma “nova Roma” ainda mais bela, conspiração tão terrível que casou um dos maiores massacres da humanidade: mais de 6 mil cristãos foram crucificados pelas famosas ruas que levavam a Roma, crueldade tão notória que, segundo historiadores, foi necessário trazer madeiras de outras províncias para conseguir crucificar a todos. O incêndio em Roma talvez seja um dos cenários mais tristes e dolorosos do primeiro século: casas queimadas, lares destruídos, famílias desabrigadas, pessoas desesperadas sem ter para onde ir e se abrigar, um massacre recheado de dor e sofrimento; homens, mulheres jovens e crianças crucificadas de forma cruel por um tirano sem coração. Prantos, lágrimas e sofrimento descrevem o momento que viviam e estavam prestes a viver os destinatários dessa tão linda carta do nosso irmão apóstolo Pedro. Em outubro de 64 d.C., Nero iniciou uma perseguição terrível aos cristãos. Ela era mais severa na cidade de Roma, em que Nero queimou cristãos vivos a fim de iluminar seus jardins à noite. Os estudiosos acreditam que Paulo foi liberto na primavera de 64 e viajou para a Espanha (Romanos 15.28), deixando Pedro ministrando aos crentes da cidade. Paulo deve ter deixado Marcos e Silvano e empreendido a viagem à Espanha com outros companheiros, já que a menção a eles sugere que estavam em Roma com Pedro (1 Pedro 15.28-60). Em julho, Nero queimou Roma e, em outubro, iniciou a perseguição à igreja (Comentário Bíblico de Warren Wendel Wiersbe).


Uma grande multidão foi condenada não apenas pelo crime de incêndio, mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz noturna (Annales, de Tácito). Por isso Pedro começa a carta os descrevendo como forasteiros (1Pe 1.1). “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros”. Vamos destacar do texto primeiramente “eleitos”; do grego, eklektós. Definição de Strong (léxico): Selecionado, escolhido; escolhido por Deus: a) para obter salvação em Cristo; b) cristãos são chamados de “escolhidos ou eleitos” de Deus; c) o Messias é chamado “eleito”, designado por Deus para o mais exaltado ofício concebível; d) escolha, seleção, i.e., o melhor do seu tipo ou classe, excelência preeminente: aplicado a certos indivíduos cristãos. Pedro queria deixar claro que estava falando com aqueles que foram selecionados por Deus, destacados dentre uma multidão (Jo 15.16). Ele não estava falando com qualquer um, ele estava falando com eleitos de Deus, aqueles que Deus escolheu como servos para o seu reino, pessoas importantes para Deus, filhos, discípulos (do hebraico, talmidim) de Cristo, seguidores de Deus, igreja do Senhor, povo que ele mesmo descreve: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9).


Você não é qualquer um, você é tudo isso que Deus disse. Você é um escolhido de Deus. O Rei dos reis e Senhor dos senhores o escolheu. Você é um eleito de Deus, escolhido para uma grande obra neste mundo. Creia nesta palavra e não permita que ninguém desvalorize você. Não permita que ninguém menospreze você. Levante a cabeça, bata no peito e diga: “Eu sou eleito de Deus”. Acho muito interessante um amigo meu que diz ser o “queridinho de Deus”. Eu sempre digo a ele: “‘O’ queridinho, não; ‘um’ queridinho, porque tem eu também”. É muito interessante essa autoestima. Devemos mesmo nos considerar queridinhos de Deus; afinal, dentre as multidões ele nos escolheu. Você tem todos os adjetivos peculiares, por isso Deus o escolheu. Ao utilizar o termo “eleitos”, Pedro queria, sim, que os irmãos que viviam no ano 63 d.C. se sentissem importantes, estendessem o prestígio que tinham por serem os “eleitos”, escolhidos de Deus. Pedro acrescenta no versículo 2 do capítulo 1 que somos “eleitos segundo a pré-ciência de Deus”. Vamos destacar do texto o termo “segundo”. A preposição “segundo”, que significa “de acordo com”, é a palavra grega kata (κατά). A maioria dos exegetas concorda que a palavra kata nessa passagem tem o sentido de “em conformidade com”. A presciência de Deus ou seu amor eterno por nós era o padrão ou norma à luz da qual seu ato eletivo foi realizado. Por isso podemos afirmar que o verdadeiro fundamento pelo qual fomos escolhidos é o seu amor verdadeiro. Entendemos, por meio desse texto, que fomos escolhidos pelo amor divino. Como é bom saber que Deus nos escolheu por amor, como é bom sentir esse amor e saber que Ele nos amou primeiro. “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Como sugerido por M. J. Harris, Assim, a eleição é fundamentada na (kata) presciência de Deus Pai, realizada pela (en) obra santificadora do Espírito, tendo como objetivo ou conquista (eis) a obediência e a aspersão constante do sangue de Cristo.


Após o termo kata, temos a palavra “presciência”, vocábulo grego prógnōsis (prog’-no-sis), que tem o mesmo sentido de “em evidência”, ou seja, somos eleitos “de acordo com o préconhecimento de Deus Pai”. A presciência de Deus é o deleite especial ou a afeição graciosa com a qual ele nos vê. Um bom modo de explicar é o fato de ele nos amar tanto, tanto, que nos escolheu por seu amor. Não tem como ler esse texto e não se sentir amado por ele. Como é bom saber que o nosso Deus nos ama, por isso nos escolheu. Fomos escolhidos por seu amor, não porque existe qualidade em nós. Hoje o que mais vemos são pseudocristãos envolvidos com a mídia cheios de vaidade, cheios de orgulho, jugando-se “a última bolachinha do pacote”. Deus não nos escolheu por causa de nossas qualidades, ele nos escolheu por causa de seu amor, como diz o texto de Oseias: “Eu sararei a sua apostasia, eu voluntariamente os amarei; porque a minha ira se apartou deles” (Os 14.4) Isso é graça, não temos participação. Não fomos escolhidos porque Deus viu em nós adjetivos bons. Ele nos escolheu por seu amor e misericórdia. É a misericórdia do Senhor que faz com que ele não leve em consideração nossos delitos e fraquezas. “Sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22,23). Somos pecadores cheios de fraqueza, imperfeitos. Se dissermos que não temos pecado, já estamos pecando.


“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1.8-10). Como é lindo saber que o nosso Pai, mesmo sabendo dos pecados que já cometemos e, de forma onisciente, onipresente e onipotente, que pecaremos amanhã, mesmo assim, continua nos amando. Mesmo sabendo quem fomos, o que somos e o que seremos, ele nos escolheu por amor. Nunca duvide da graça perdoadora, nunca duvide do amor de Deus por você. Tenha convicção de que você é um escolhido de Deus, e ele o escolheu porque o ama. “Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 8:38-39). Olhando para as nuances das preposições gregas eklektós kata, podemos fundamentar nosso pensamento de que Deus nos ama tanto, tanto, que nos escolheu para ele. Não podemos, em hipótese alguma, nos inferiorizar e pensar que não temos nenhum atributo; muito pelo contrário, temos um Deus que tem prazer em capacitar seus escolhidos. Todos a quem Jesus escolheu nas Escrituras ele escolheu para um propósito. Nenhum dos discípulos foi escolhido de forma inútil. Por meio de todos os eleitos, Deus cumpriu seu propósito soberano. Gosto muito de ilustrar esse texto utilizando o exemplo de um jovem apaixonado que escolhe a sua amada para se casar. Ele sempre escolherá a mais bela, a mais exuberante, a que tenha mais atributos, a “melhor”, a mais perfeita, aquela que ele acredita mesmo ser capaz de lhe fazer feliz. Assim também Deus nos escolheu. Ele nos escolheu porque encontrou em nós atributos para o servirmos. Ele nos escolheu por amor, porque viu em nós valor. Somos o amor de Deus, a “noiva” (Mt 9.15; Ap 19.17), a noiva que Jesus escolheu em amor. E todos os escolhidos de Deus


na Bíblia Sagrada foram extremamente importantes para o Seu plano soberano. Todos cumpriram uma tarefa, todos realizaram uma grande missão em seus ministérios. Nunca duvide de que Deus o escolheu para um propósito. Ele o escolheu porque viu em você condições para cumprir uma grande obra para ele neste mundo. Entenda, você é chamado, é eleito, é vocacionado para uma “grande tarefa”, e Deus é quem capacita. Se você se sente incapacitado, peça a ele. O nosso Senhor é especialista em capacitar improváveis. É só olharmos para as Escrituras, então veremos que Deus escolheu homens simples, sem atributos aos olhos humanos. Temos vários exemplos de homens simples, sem condição alguma de realizar grandes feitos: • Abraão e Sara eram estéreis, e Deus disse que seriam pais de uma grande nação. Abraão é chamado de um “pai da fé”, e todos os judeus se denominam “filhos de Abraão” (Gn 12). • Jacó foi um homem cheio de fraquezas que teve a capacidade de enganar o próprio pai, mas que viveu os propósitos de Deus. Ele deixou um gigantesco legado. Se observarmos com carinho a bênção de Jacó a seus filhos, veremos a bênção de Deus sobre ele e sua descendência (Gn 49). • Moisés, um homem que não se achava capacitado, pensou que Deus havia escolhido a pessoa errada, mas Deus o capacitou, e Moisés se tornou o grande legislador de Israel (Êx 3.4). • Isaías disse: “Ai de mim que vou perecendo, porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Is 6.5). Esse homem só via nele fraquezas, mas é um dos maiores profetas bíblicos. É chamado de profeta messiânico, pois proferiu 34 profecias a respeito de Cristo que, ao se cumprirem, são citadas nos evangelhos (Is 6). • Jeremias se sentiu inseguro e despreparado diante do chamado de Deus, a ponto de dizer “sou um menino”, e Deus o levantou para profetizar e desafiar todo o sistema pecaminoso de sua época (Jr 1). • Amós foi um homem simples do campo que se tornou um grande profeta (Am 1).


• Pedro foi um homem cheio de imperfeições, impulsivo, explosivo, briguento. Jesus chega a adverti-lo para que não deixasse Satanás usar a sua boca. E ele se tornou um gigantesco ganhador de almas (Mt 16.23). • Paulo, perseguidor dos cristãos, assassino, um homem que lutou com todas as suas forças para impedir os cristãos de anunciar o evangelho, mas se tornou o apóstolo dos gentios, um missionário muito usado por Deus (At 9) Somos forasteiros? Como já vimos, a primeira carta de Pedro foi endereçada aos irmãos da Ásia Menor que foram escolhidos pelo amor divino. Pedro chama esses eleitos de forasteiros. Afinal, por que forasteiros? Primeiramente vamos definir os termos para facilitar a compreensão. “Forasteiros”, originalmente, aparece nos capítulos 1.1 e 2.11. Em 1.1, o termo é “forasteiros” (παρεπίδημος, parepídēmos). [...] alguém que vem de um país estrangeiro para uma cidade ou região para residir lá junto aos nativos; pessoa estranha, refugiado; que reside por pouco tempo no estrangeiro, forasteiro; no NT, metáf. com referência ao céu como pátria, alguém que reside por pouco tempo na terra (Strong). Já no capítulo 2.11, o termo é “peregrinos”, do grego, πάροικος (pároikos par'-oy-kos). [...] contíguo, vizinho; no NT, estranho, forasteiro, alguém que vive num lugar sem direito de cidadania; metáf.: 1) sem cidadania no reino de Deus; 2) alguém que vive na terra como um estranho, que reside na terra temporariamente; 3) de Cristãos cuja casa está no céu (Strong). Uma vez que identificamos os termos, vamos observar seu sentido histórico e cultural. Nos dois versículos em destaque, o sentido dos termos gregos para “forasteiros” é o mesmo, estrangeiros que não tinham sequer o direito de permanência no país. Eram os “estranhos visitantes” (o vocábulo grego xenoi é usado para visitante), indesejados, “forasteiros em trânsito”, não possuíam qualquer direito.


Esses forasteiros a quem Pedro endereça essa carta são os dispersos pela perseguição, espalhados pelas cidades de Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, homens e mulheres de Deus que estavam debaixo de perseguição propagando o evangelho, servos e servas de Deus peregrinando por amor a Cristo. Pedro afirma: “Vocês foram escolhidos, de acordo com a presciência de Deus Pai, como forasteiros da dispersão. No capítulo 2.11, há um alargamento do primeiro termo, e esses destinatários são chamados novamente de “forasteiros” e também de “peregrinos”. Nos versos 1 e 11, o termo utilizado no grego é parepidemoi. “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1.1). “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (2Pe 2.11). Já o termo “peregrinos” em grego é paroikos, que quer dizer “estrangeiros residentes” ou “forasteiros residentes”. Essa expressão era usada para descrever os estrangeiros que tinham adquirido o direito de residência, porém ainda não desfrutavam do direito de cidadania. Moravam, trabalhavam no país, mas não tinham plenos direitos. Em 1 Pedro 1.17 encontramos a palavra “peregrinos”, que está melhor colocada em seu contexto: “tempo de vossa peregrinação” (paroikia). “Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação” (1Pe 1.17). Παροικία paroikía (par-oy-kee'-ah); morar próximo ou com alguém; estadia por pouco tempo, habitar numa terra estranha; metáf. a vida do ser humano aqui na terra é semelhante a uma residência temporária (Strong). No capítulo 2.16, vamos encontrar uma referência que pode nos indicar o status social dos destinatários da carta de Pedro.


Podemos afirmar que eles eram servos livres, porque o termo grego eleutheroi (ἐλεύθερος – Strong eleutheros, nascidos livres) é utilizado para servos que viviam em uma situação de liberdade. Já no verso 18 é utilizado “servo”. O termo grego ali é oiketai. Os “servos” (οἰκέτης – oiketes) são servidores domésticos, servidores de uma casa (oikos, termo grego que traduzido é “casa”). Eram servos estrangeiros peregrinos que trabalhavam dentro da casa de seus senhores. O termo paroikoia, utilizado no capítulo 1.17, para-oikia, significa alguém de fora vivendo dentro da casa. Por que Pedro usa o termo "forasteiros da dispersão” e cita em seguida as cidades? “Forasteiros da dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”. Essas são cinco províncias do Império Romano que definem todo o território da Ásia Menor e cobrem um total de 175 mil quilômetros quadrados, sendo excluídas somente as províncias da Lícia, Panfília e Cilícia, que se encontram ao sul da Anatólia, entre o mar Mediterrâneo e a cadeia montanhosa de Taurus, que fecha o planalto central da península. Não é por acaso que Pedro usa a expressão “forasteiros da dispersão”, certamente ele está se referindo aos cristãos, aos servos de Deus, por isso o destaque “eleitos” de Deus que vivem dispersos na Ásia Menor. Pedro está deixando bem claro a quem escreve: aos eleitos, e não a todos os forasteiros que viviam na Ásia Menor. Ao citar “eleitos da dispersão”, ele se dirige especificamente aos cristãos da dispersão ou diáspora ou (1.17; 2,11). “O termo diáspora designa em termos geográficos e sociais como ocorria, no uso técnico da LXX, um corpus de pessoas vivendo fora da fronteira da Erets Israel (palestina)” 2 . “Os judeus disseram uns aos outros: Aonde pretende ir este homem, que não o possamos encontrar? Para onde vive o nosso povo, espalhado entre os gregos, a fim de ensiná-lo?” (Jo 7.35). “Diáspora” é o termo utilizado para todos os cristãos que tiveram que sair do seu território natal por causa da perseguição. Eles fugiam para procurar um lugar seguro e passavam a viver e pregar o evangelho no território de refúgio. Como isso, a perseguição ganhou um sentido novo. Onde um cristão chegava, anunciava o evangelho como um missionário transcultural, 2 GABARRÓN, José C. As Cartas de Pedro. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 8.


propagando o evangelho em terra desconhecida. Portanto, podemos afirmar que esses forasteiros peregrinos eram servos de Deus que estavam vivendo na Ásia Menor propagando o evangelho, homens e mulheres que estavam, sim, defendendo o evangelho de Cristo, preservando o bom testemunho de Jesus e propagando a mensagem da cruz. Mesmo debaixo de perseguição e sofrimento, morando em uma terra distante, estavam anunciando a mensagem da salvação. Se temos pregado o evangelho, se estamos anunciando a salvação aos perdidos, também somos peregrinos e forasteiros neste mundo. Afinal, nossa verdadeira pátria não é aqui, só estamos neste mundo de passagem. Enquanto estivermos aqui, temos que cumprir a nossa missão: ganhar almas para Cristo, arrancar das garras do inimigo os perdidos, anunciar as boas-novas, anunciar o evangelho da cruz, que muda e transforma. Permita-me neste momento fazer-lhe algumas perguntas bem pessoais. Você tem pregado o evangelho ao perdido? Você tem se dedicado a propagar o evangelho de Cristo? Você tem ganhado almas para o reino de Deus? Quantas pessoas você está discipulando neste momento (Mt 28.19-20)? Quantas vidas você já levou ao batismo este ano? Se você não está propagando o evangelho, você ainda não entendeu o seu propósito neste mundo. Você ainda não entendeu o sentido de ser um discípulo de Cristo. Jesus nos chamou para ser “testemunhas” dele, “pescadores” de almas. O desejo ardente do meu coração é que você, neste momento, se sinta impulsionado a ser um ganhador de almas. Peregrinos e forasteiros missionários Um peregrino ou forasteiro nunca era muito bem-visto nas sociedades greco-romanas, era sempre discriminado e detinha um número muito restrito de direitos. “Modus Vivendi” normalmente o peregrino, muito embora peregrinasse por tempo indeterminado, não tinha intenção de fixar residência nas terras de sua peregrinação. Sendo assim, mantinha vivos os seus costumes, tradições e “modus vivendi”.[LZ1][HJ2]Ele vivia na terra por necessidade, mas não pertencia àquela cultura ou civilização. Vamos compreender agora o termo “forasteiros” com base nas condições sociais dos cristãos da Ásia Menor. Já entendemos que esses cristãos tiveram que migrar, estavam em uma terra que


não lhes pertencia. Eram homens e mulheres simples com dificuldades econômicas por serem escravos (2.18). Tudo indica que a maioria vivia em zonas rurais; eram lavradores sem terra própria, diaristas, pequenos artesãos, empregados, boa parte deles sem recursos próprios, sem autonomia econômica. Formavam grande parte do proletariado rural e urbano. Segundo historiadores da Roma Antiga, os estrangeiros residentes eram “a espinha dorsal da economia” romana. Talvez seja essa a melhor maneira de traduzir o termo paroikoi, “estrangeiros residentes”, pois estão em íntima relação com oikos (casa), que sem dúvida é uma das instituições fundamentais do mundo antigo. Os laços que ligavam os membros da oikos eram de vários tipos: familiares, raciais, comerciais ou profissionais. Os paraikoi, então, eram as pessoas de fora da oikos, sem os direitos que advinham do fato de fazer parte dela. Eram os estrangeiros que, embora residentes no lugar, não chegavam a ser considerados cidadãos plenos. E mesmo vivendo em situações escassas, não deixavam de defender sua fé e propagar o evangelho de Cristo, não deixavam de falar do amor de Deus. Foram esses homens e mulheres simples que influenciaram toda a Ásia Menor. O conforto oferecido pelas cidades romanas e a estabilidade de um título de cidadão romano não compravam a cidadania e a nacionalidade desses homens e mulheres comprometidos com outra pátria e outro reino, a saber o reino dos céus. Mesmo perseguidos e muitas vezes tendo que se mudar constantemente de uma região para outra, fortalecendo, assim, sua condição de forasteiros, foram por toda a parte apregoando a poderosa mensagem do evangelho e causando certo alvoroço tanto nas autoridades como nos poderes religiosos de então. Resistiram às arenas, aos leões, às insanidades de diversos imperadores, porque sabiam com uma certeza de fé incalculável que pertenciam a outro lugar, e sabiam que, para se ter uma nacionalidade, é preciso em muitos casos abrir mão de outra. Sendo assim, preferiram ficar com a nacionalidade celeste. Você tem influenciado seu território de convívio? Tem pregado o evangelho no seu local de trabalho? Você foi chamado para ser um cristão missionário como a menina que vivia na casa de Naamã (2Rs 5.2-3):


“Ora, tropas da Síria haviam atacado Israel e levado cativa uma menina, que passou a servir a mulher de Naamã. Um dia ela disse à sua senhora: ‘Se, o meu senhor, procurasse o profeta que está em Samaria, ele o curaria da lepra’”. A Bíblia não cita o nome da menina escrava que vivia na casa do grande general do exército da Síria, Naamã, mas, ao ver que o seu senhor era leproso, ela não perdeu a oportunidade de dizer que o Deus de Israel poderia curá-lo e que ele deveria imediatamente procurar o profeta Eliseu. Essa menina cumpriu sua missão, não perdeu a oportunidade de anunciar que existe um Deus verdadeiro que pode, sim, mudar a vida das pessoas, mesmo se estiverem diante de uma enfermidade incurável aos homens, como estava o general Naamã. Essa menina foi um instrumento de Deus na vida do general; afinal, ele foi até Israel e voltou de lá curado de sua lepra. Assim como aquela menina falou a Naamã sobre o Deus todo-poderoso, nós também temos de falar do nosso Deus no ambiente em que convivemos, seja para os nossos familiares, seja para nossos companheiros de trabalho. Isto é, onde Deus nos colocou, somos missionários, e a nossa missão é anunciar o evangelho da cruz. Forme paroikos Paroikos, um estranho residente O mundo está cheio de pessoas perdidas, sem direção, e nós, como paroikos, temos uma missão: discipular, formar paroikos. Quero sucintamente instruí-lo, inspirá-lo a formar novos paroikos. Nossa missão como paroikos é... 1 – Ganhar: ganhar as almas, pregar o evangelho, anunciar o amor de Cristo aos perdidos e logo começar o segundo processo. 2 – Discipular: começar a discipular doutrinando, orientando e fazendo com que a pessoa que chegou no nosso oikos (lar) torne-se em breve um paroikos. Cuidar com amor, emprestar nossos ouvidos, nosso tempo, nossa boca, nos dedicar ao máximo para formar discípulos para o reino de Deus 3 – Consolidar: quando passamos pelo processo de consolidação, começamos, então, a preparar a pessoa que está em nosso oikos (lar) para ir e ganhar outras almas, e isso a torna um paroikos.


4 – Enviar: o último processo é levar esse irmão ou irmã a tornarse um paroikos, ou seja, enviá-lo para começar novamente. Oikos e paroikos se completam. Em nosso lar criamos estrangeiros no mundo; no mundo criamos residentes fixos em nossos oikos. Por que chamá-los de peregrinos – πάροικος (paroikos) Se estudarmos os léxicos, veremos que todos apontarão, unanimemente, para o mesmo sentido: paroikos é um adjetivo que significa “que habita ao lado ou perto, vizinho”, “vizinho habitante em casa de outrem”; de modo geral, “estranho, estrangeiro”. Nesse sentido geral, os paroikoi são estrangeiros, estranhos, pessoas que não se acham em sua própria casa ou que não possuem raízes nacionais, não comungando com a língua, os costumes, a cultura ou a filiação política, social ou religiosa do povo em cujo meio habitam. O substantivo composto par-oikos se divide em: par, que significa “para quem”, e oikos, cuja raiz é oik- e significa um lar. Oikia é a “minha casa”, o “meu lar”, com todo o seu pessoal e coisas, a “minha família e linhagem”, a minha “identidade dada”, o lugar de que faço parte e a que pertenço e onde exerço os meus direitos e responsabilidades pessoais e coletivas, as minhas obrigações. Paroikos, de modo bem simples, é um termo atribuído para quem não tem casa. Pedro utiliza esse termo para os estrangeiros, visitantes de passagem, transeuntes, imigrantes e migrantes que residiam temporariamente num lugar por diversos motivos: negócios, interesses religiosos, estudos. A posição dos paroikoi é inferior no que diz respeito aos direitos. Por que chamá-los de forasteiros – παρεπίδημος (parepídēmos) Estrangeiros (par-ep-id'-ay-mos); adj. alguém que vem de um país estrangeiro para uma cidade ou região para residir lá junto aos nativos, pessoa estranha, refugiado, que reside por pouco tempo no estrangeiro, forasteiro, no NT, metáf. com referência ao céu como pátria, alguém que reside por pouco tempo na terra (Strong). Do latim peregrinu < per, através + agru, campo. Que ou aquele que anda em peregrinação; romeiro; excursionista; estrangeiro; transitório; estranho; singular; raro; excelente; precioso (Bíblia interlinear).


Podemos afirmar, diante da extração etimológica das palavras, que peregrinos e forasteiros são cidadãos estrangeiros, homens e mulheres vivendo em um país diferente, vivendo em um lugar que não é sua terra natal, vivendo como desconhecidos em um lugar que não é seu território de origem. Você consegue se familiarizar com essas palavras? Consegue compreender a proximidade que temos com os termos? Somos peregrinos e forasteiros! Pedro, ao se dirigir aos irmãos da Ásia Menor, também se dirige a nós, afinal, a palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4.12). Esse texto, sim, é para mim e para você. Vamos navegar a partir de agora e observar com carinho características relevantes de verdadeiros cristãos peregrinos e forasteiros neste mundo. Como identificar peregrinos e forasteiros: ➢ Você precisa estar de malas prontas: todo peregrino e forasteiro está o tempo todo apto para se mudar, ele não pode ter residência fixa. ➢ Precisa estar sem bagagem; afinal, nada podemos levar desse território. ➢ De passagem comprada: garantia de que está pronto para partir a qualquer momento; e, com as passagens compradas, não haverá contratempo. ➢ Com destino certo. Quem não sabe onde vai não chega a lugar algum. ➢ Indo para a verdadeira morada: se não pertence ao lugar que está presente, precisa estar pronto para ir para sua verdadeira casa. Já está se sentindo um verdadeiro forasteiro? Está entendendo o porquê do termo “forasteiros”? Uma perspectiva bíblica, histórica e cultural sobre os termos peregrinos e forasteiros No seu significado geral, o substantivo hebraico GER se refere a qualquer pessoa que esteja residindo como forasteiro, fora de sua terra natal, e cujos direitos civis são restritos. Pode ter ou não ligações religiosas com os naturais do país em que reside. Abraão, Isaque, Jacó e seus descendentes foram mencionados como tais antes de receberem o título de propriedade legal da Terra da Promessa (Gn 15.13; 17:8; Dt 23.7).


Quando a Bíblia se refere a uma pessoa de origem não israelita em relação à comunidade israelita, a designação “residente forasteiro” se aplica às vezes a uma pessoa que se tornou prosélito ou adorador pleno de Jesus como Messias. Às vezes se refere a um colono na terra da Palestina que estava disposto a viver entre os israelitas, obedecendo às leis fundamentais do país, mas que não aceitava plenamente a adoração a Jesus como Messias. O contexto determina a que classe se aplica o termo. A Septuaginta traduz GER como prosélito (gr.: pro·sé·ly·tos) mais de 70 vezes. Alguns sugerem que, com frequência, o residente forasteiro se agregava a uma família hebreia em busca de proteção e era como que um dependente, mas, ainda assim, se diferenciava de um escravo. Vemos isso na expressão “teu residente forasteiro” (1 Pedro 5.14), que tem o mesmo sentido literário de Deuteronômio 1.16 e Levítico 22.10 “E no mesmo tempo mandei a vossos juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele” (Dt 1.16). “Também nenhum estranho comerá das coisas santas; nem o hóspede do sacerdote, nem o diarista comerá das coisas santas” (Lv 22.10) Em ambos os textos o termo utilizado é o toh·sháv, que significa “colono”. Quando o pacto da Lei foi transmitido no monte Sinai, incorporou-se nele uma legislação especial, num espírito mui amoroso, que governava o relacionamento entre o residente forasteiro e o israelita natural. Por estar o residente forasteiro em desvantagem por não ser israelita de nascença, o pacto da Lei o favorecia com consideração e proteção especiais, pois continha muitos dispositivos a favor dos fracos e vulneráveis. Com regularidade, Deus trazia à atenção dos de Israel que eles próprios conheciam as aflições enfrentadas por um residente forasteiro numa terra que não fosse dele, e, por isso, deviam demonstrar para com os residentes forasteiros o espírito generoso e protetor que não haviam usufruído (Êx 22.21; 23.9; Dt 10.18). Basicamente, o residente forasteiro, especialmente o prosélito, devia ser tratado como irmão.


“E quando o estrangeiro peregrinar convosco na vossa terra, não o oprimireis. Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19.33,34). Embora os termos do pacto da Lei permitissem que pessoas de todas as formações nacionais se tornassem membros da congregação de Israel, por aceitarem a verdadeira adoração ao Deus verdadeiro deveriam se tornar circuncisas. Havia exceções e restrições. Os egípcios e os edomitas não podiam entrar na congregação senão na terceira geração, isto é, a terceira geração que vivesse na terra de Israel (Dt 23.7-88). Os filhos ilegítimos e seus descendentes eram impedidos de entrar na congregação “até a décima geração” (Dt 23.2). Os amonitas e os moabitas eram proibidos “até a décima geração, ou por tempo indefinido. “Não lhes deves buscar a paz e a prosperidade em todos os teus dias, por tempo indefinido” (Dt 23.3-6). Todas essas restrições se aplicavam aos varões dessas nações. Além disso, nenhum varão cujas partes genitais tivessem sido mutiladas jamais poderia tornar-se membro da congregação (Dt 23.1). O residente forasteiro que se tornava adorador circunciso estava sujeito a uma só lei junto com os israelitas, isto é, tinha de obedecer a todos os termos do pacto da Lei. Alguns exemplos disso são: exigia-se que ele guardasse o sábado (Êx 20.10; 23.12) e que celebrasse a Páscoa (Nm 9.14; Êx 12.48-49), a Festividade dos Pães Não Fermentados (Êx 12:19), a Festividade das Semanas (Dt 16.10,11), a Festividade das Barracas (Dt 16.13-14) e o Dia da Expiação (Lv 16.29-30). Ele podia oferecer sacrifícios (Nm 15.14) e tinha de fazê-lo do mesmo modo prescrito para o israelita natural (Nm 15.15-16). Suas ofertas deviam ser sem defeito (Lv 22.18-20) e levadas à entrada da tenda de reunião, assim como era feito pelo israelita natural (Lv 17.8-9). Ele não podia tomar parte em nenhuma adoração falsa (Lv 20.2; Ez 14.7). Exigia-se que sangrasse a caça abatida, e seria “decepado” na morte se a comesse sem antes deixar escorrer o sangue (Lv 17.10-14). Podia obter o perdão, junto com o israelita natural, da responsabilidade comunal por pecados (Nm 15.26-29). Tinha de observar os procedimentos de purificação, por exemplo, caso se tornasse impuro por tocar num cadáver humano (Nm 19.10-11). O residente forasteiro, a quem se podia dar o cadáver de um animal que morrera por si, era evidentemente aquele que não se tornara um adorador pleno de Jeová.


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