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Published by contato, 2023-08-02 16:31:10

Peregrinos e Forasteiros

Editora Renovada

“Não comereis nenhum animal morto; ao estrangeiro, que está dentro das tuas portas, o darás a comer, ou o venderás ao estranho, porquanto és povo santo ao Senhor teu Deus. Não cozerás o cabrito com leite da sua mãe” (Dt 14.21) Judicialmente, garantia-se justiça imparcial ao residente forasteiro nos julgamentos que envolvessem um israelita natural (Dt 1.16-17). Não se devia defraudá-lo nem o submeter a um julgamento pervertido (Dt 24:14, 17). Lançavam-se maldições sobre aqueles que praticassem injustiça para com os residentes forasteiros (Dt 27:19). As cidades de refúgio para o homicida desintencional estavam disponíveis para o residente forasteiro e para o colono, bem como para o israelita natural. “Serão por refúgio estas seis cidades para os filhos de Israel, e para o estrangeiro, e para o que se hospedar no meio deles, para que ali se acolha aquele que matar a alguém por engano” (Nm 35.15). “Estas são as cidades que foram designadas para todos os filhos de Israel, e para o estrangeiro que habitasse entre eles, para que se acolhesse a elas todo aquele que por engano matasse alguma pessoa, para que não morresse às mãos do vingador do sangue, até se apresentar diante da congregação” (Js 20.9). Os residentes forasteiros, não possuindo nenhuma herança de terra, podiam ser comerciantes ou trabalhadores contratados. Alguns eram escravos (Lv 25.44-46). Havia a possibilidade de se tornarem abastados (Lv 25.47; Dt 28.43). Em geral, porém, a Lei os classificava entre os pobres e delineava arranjos para protegê-los e sustentá-los. O residente forasteiro podia compartilhar dos dízimos fornecidos a cada terceiro ano (Dt 14.28, 29; 26.12). As respigas do campo e do vinhedo deviam ser deixadas para ele (Lv 19.9, 10; 23.22; Dt 24.19-21). Nos anos sabáticos, podia receber os benefícios do que crescesse por si só (Lv 25.6). Obtinha proteção igual à de um israelita natural, como trabalhador contratado. Um israelita pobre talvez se vendesse a um abastado residente forasteiro, caso em que o israelita devia ser tratado com bondade, como um trabalhador contratado, e podia ser resgatado a qualquer tempo por si mesmo, por um parente próximo, ou, no máximo, era libertado no sétimo ano de seu serviço ou no jubileu.


“Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Como diarista, como peregrino estará contigo; até ao ano do jubileu te servirá; então sairá do teu serviço, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais. Porque são meus servos, que tirei da terra do Egito; não serão vendidos como se vendem os escravos. Não te assenhorearás dele com rigor, mas do teu Deus terás temor. E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas famílias que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão. E possuí-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros. E se o estrangeiro ou peregrino que está contigo alcançar riqueza, e teu irmão, que está com ele, empobrecer, e vender-se ao estrangeiro ou peregrino que está contigo, ou a alguém da família do estrangeiro, depois que se houver vendido, haverá resgate para ele; um de seus irmãos o poderá resgatar; Ou seu tio, ou o filho de seu tio o poderá resgatar; ou um dos seus parentes, da sua família, o poderá resgatar; ou, se alcançar riqueza, se resgatará a si mesmo. E acertará com aquele que o comprou, desde o ano que se vendeu a ele até ao ano do jubileu, e o preço da sua venda será conforme o número dos anos; conforme os dias de um diarista estará com ele. Se ainda faltarem muitos anos, conforme a eles restituirá, para seu resgate, parte do dinheiro pelo qual foi vendido, E se ainda restarem poucos anos até ao ano do jubileu, então fará contas com ele; segundo os seus anos restituirá o seu resgate. Como diarista, de ano em ano, estará com ele; não se assenhoreará sobre ele com rigor diante dos teus olhos. E, se desta sorte não se resgatar, sairá no ano do jubileu, ele e seus filhos com ele. Porque os filhos de Israel me são servos; meus servos são eles, que tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 25.39-55).


“Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça” (Êx 21.2). “Quando teu irmão hebreu ou irmã hebreia se vender a ti, seis anos te servirá, mas no sétimo ano o deixarás ir livre” (Dt 15.12). No período dos reis, os residentes forasteiros continuaram a desfrutar de relações favoráveis. Na época da construção do templo em Jerusalém, tiraram-se dentre eles muitos trabalhadores para essa construção (1Cr 22.2; 2Cr 2.17, 18). Quando o rei Asa tomou medidas para restaurar a verdadeira adoração em Judá, residentes forasteiros de toda a Terra da Promessa se congregaram em Jerusalém junto com os israelitas naturais para concluir um pacto especial, com o objetivo de buscarem a Jeová de todo o coração e de toda a alma (2Cr 15.8-14). Depois de purificar o templo, o rei Ezequias proclamou uma celebração da Páscoa em Jerusalém, no segundo mês. Enviou o convite por todo o Israel, convite este que muitos residentes forasteiros aceitaram. “E alegraram-se, toda a congregação de Judá, e os sacerdotes, e os levitas, toda a congregação de todos os que vieram de Israel, como também os estrangeiros que vieram da terra de Israel e os que habitavam em Judá” (2Cr 30.25). Após o restabelecimento do restante dos israelitas do exílio babilônico, encontramos de novo os residentes forasteiros junto com eles, associados na adoração verdadeira no templo, constituídos em grupos tais como os netineus (que significa “os dados”), escravos, cantores e cantoras profissionais, e os filhos dos servos de Salomão. Os netineus incluíam os gibeonitas, os quais tinham sido designados por Josué para servir de forma permanente no templo (Ed 7.7, 24; 8.17-20; Js 9.22-27). Até a última menção que se faz deles, tais residentes forasteiros eram adeptos inseparáveis da verdadeira adoração de Jeová, servindo junto com o restante dos fiéis israelitas naturais que voltaram da Babilônia (Ne 21). No período pós-exílio, os profetas de Jeová reiteraram os princípios do pacto da Lei que salvaguardavam os direitos do residente forasteiro. “E não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão” (Zc 7.10).


“E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 3.5). O profeta Ezequiel predisse um tempo em que o residente forasteiro receberia uma herança na terra da mesma forma que um natural entre os filhos de Israel (Ez 47.21-23). Após a vinda de Jesus Cristo, as boas-novas do reino foram pregadas a judeus e a prosélitos, e estes podiam, em pé de igualdade, tornar-se membros da congregação cristã. Então, no tempo de Cornélio, um gentio incircunciso e sua família foram aceitos por Jeová, recebendo dons do espírito (At 10). Daí em diante, assim que gentios incircuncisos aceitassem a Cristo, eram admitidos na congregação cristã, onde não há “nem grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, estrangeiro, cita, escravo, homem livre, mas Cristo é todas as coisas e em todos” (Cl 3.11; Gl 3.28). Apocalipse 7.2-8 descreve o Israel espiritual como constituído de 12 tribos de 12 mil membros cada uma. Os versículos de 9 a 17 mencionam uma grande multidão que nenhum homem podia contar, pessoas de todas as nações, tribos, povos e línguas, que saúdam o entronizado rei e seu cordeiro e recebem o favor e a proteção de Deus. O colono Colono era um habitante de uma terra, ou país, que não a sua. A palavra hebraica para colono (toh·sháv) deriva da raiz verbal ya·sháv, que significa “morar” (Gn 20.15). Evidentemente, alguns dos colonos em Israel tornaram-se prosélitos; outros se dispunham a morar junto aos israelitas e a obedecer às leis fundamentais da terra, mas não se tornaram adoradores de Jeová como os prosélitos circuncisos. O colono se diferençava do estrangeiro, que em geral era alguém em trânsito e ao qual só se estendia a hospitalidade geralmente demonstrada para com os hóspedes no Oriente. O colono que fosse morador incircunciso da terra não comia a Páscoa nem qualquer coisa sagrada (Êx 12.45; Lv 22.10). Derivava benefícios, junto com os residentes forasteiros e os


pobres, durante o ano sabático e o ano do jubileu, podendo participar do que a terra produzisse (Lv 25.6, 12). Ele ou sua prole podiam ser comprados como escravos pelos israelitas e legados como herança permanente, sem direito a resgate ou ao benefício do livramento no jubileu (Lv 25.45, 46) Por outro lado, um israelita talvez se vendesse como escravo a um colono ou aos membros da família do colono, conservando o direito de resgate a qualquer tempo, bem como o de livramento no seu sétimo ano de servidão ou no jubileu. “E se o estrangeiro ou peregrino que está contigo alcançar riqueza, e teu irmão, que está com ele, empobrecer, e vender-se ao estrangeiro ou peregrino que está contigo, ou a alguém da família do estrangeiro, Depois que se houver vendido, haverá resgate para ele; um de seus irmãos o poderá resgatar; Ou seu tio, ou o filho de seu tio o poderá resgatar; ou um dos seus parentes, da sua família, o poderá resgatar; ou, se alcançar riqueza, se resgatará a si mesmo. E acertará com aquele que o comprou, desde o ano que se vendeu a ele até ao ano do jubileu, e o preço da sua venda será conforme o número dos anos; conforme os dias de um diarista estará com ele. Se ainda faltarem muitos anos, conforme a eles restituirá, para seu resgate, parte do dinheiro pelo qual foi vendido, E se ainda restarem poucos anos até ao ano do jubileu, então fará contas com ele; segundo os seus anos restituirá o seu resgate. Como diarista, de ano em ano, estará com ele; não se assenhoreará sobre ele com rigor diante dos teus olhos. E, se desta sorte não se resgatar, sairá no ano do jubileu, ele e seus filhos com ele” (Lv 25.47-54; cf. Êx 21.2; Dt 15.12) Ao passo que somente os israelitas naturais tinham posse hereditária da terra, Jeová era o verdadeiro dono dela e podia colocá-los na terra ou retirá-los dela, conforme servisse a seu propósito. Quanto à venda de terras, ele disse: “De modo que a terra não deve ser vendida em perpetuidade, porque a terra é minha. Pois, do meu ponto de vista, sois residentes forasteiros e colonos” (Lv 25.23).


O estranho A palavra hebraica para “estranho” (zar) provém da raiz zur, que significa “alhear-se; tornar-se alienado” (Sl 78.30; 69.8), de modo que significa basicamente “alguém que se distancia ou que se retira”. Considerar pessoas como estranhas tinha a ver com assuntos pertinentes à família arônica e à tribo de Levi, e dizia respeito tanto ao israelita natural como ao residente forasteiro, bem como a todas as demais pessoas. As funções sacerdotais foram atribuídas, pela Lei, à família de Arão (Êx 28.1-3), e outros assuntos do templo foram confiados à tribo de Levi em geral (Nm 1.49, 50, 53). Todas as demais pessoas, incluindo os israelitas naturais das 12 tribos não levíticas, eram, em determinados assuntos, comparadas a estranhos com respeito à tribo levítica. Segundo o contexto, “estranho”, na maioria das ocorrências no Pentateuco, refere-se a qualquer pessoa que não pertencia à família de Arão, ou que não pertencia à tribo de Levi, pois os privilégios e os deveres sacerdotais ou ministeriais não lhe haviam sido confiados. O estranho (não aronita) não podia comer do sacrifício de investidura (Êx 29.33), nem ser ungido com o óleo de santa unção (Êx 30.33), nem comer nada que fosse sagrado (Lv 22.10). Um estranho, não aronita, não podia cuidar de quaisquer deveres sacerdotais (Nm 3.10; 16:40; 18.7). Um estranho, não levita, isto é, mesmo alguém de qualquer das outras 12 tribos, não podia se aproximar do tabernáculo para erguê-lo ou para qualquer outra finalidade que não fosse a sua vinda para oferecer sacrifícios ou para achegar-se aos sacerdotes na porta da tenda de reunião (Lv 4.24,27- 29). A filha de um sacerdote que se casasse com um estranho, não aronita, não podia comer da contribuição das coisas sagradas, tampouco podia seu marido “estranho” (Lv 22.12, 13). A palavra “estranho” também se aplicava àqueles que se desviassem do que estava em harmonia com a Lei, estando, desse modo, alienados de Jeová. Assim, a prostituta é mencionada como “mulher estranha” (Pv 5.17; 7.5). Tanto os adoradores de deuses falsos como as próprias deidades são chamados de “estranhos” (Jr 2.25;3.13).


Estranhos, no sentido de pessoas com as quais não se está familiarizado, ou estrangeiros, são também mencionados nas Escrituras Hebraicas (1Rs 3.18; Jó 19.15). Princípios cristãos a respeito de estranhos Nas Escrituras Gregas Cristãs, o amor aos estranhos (gr.: xé·nos) é fortemente enfatizado como qualidade que o cristão precisa exercer. O apóstolo Paulo disse: “Não vos esqueçais da hospitalidade [gr.: fi·lo·xe·ní·as, “afeição a estranhos”], porque por meio dela alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb 13.2). Jesus mostrou que considera a hospitalidade demonstrada a seus irmãos, estranhos ou desconhecidos que talvez sejam na ocasião, como tendo sido demonstrada a ele (Mt 25.34-46). O apóstolo João escreveu elogiando Gaio por suas boas obras para com homens cristãos, estranhos a Gaio, enviados para visitar a congregação da qual ele era membro, e censurou Diótrefes, que não lhes mostrava respeito (3Jo 5.10; 1Tm 5.10). Os cristãos são chamados de “forasteiros” e de “residentes temporários” no sentido de que não fazem parte deste mundo (Jo 15.19; 1Pe 1.1). São forasteiros no sentido de que não se ajustam às práticas do mundo hostil a Deus (1Pe 2.11). Os das nações gentias, outrora “estranhos aos pactos da promessa”, sem esperança e “sem Deus no mundo”, por intermédio de Cristo não são mais estranhos e residentes forasteiros, mas “concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2.11, 12, 19). As “outras ovelhas”, que Jesus disse que ajuntaria em “um só rebanho”, assumem igualmente uma posição separada do mundo, com o favor de Deus e a esperança de vida (Jo 10.16; Mt 25.33, 34, 46). Aquele que procura reunir a si seguidores religiosos é chamado por Cristo de “ladrão” e “estranho”, alguém perigoso para as “ovelhas” de Cristo, e é considerado falso pastor. As verdadeiras “ovelhas” de Jesus não atenderão à voz de um falso pastor, assim como os fiéis israelitas mantinham-se separados do estrangeiro que defendesse deuses estranhos (Jo 10.1, 5).


Forasteiros não adotam costumes de outro país “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pe 1:2). Forasteiros não adotam o sistema deste mundo edro está escrevendo aos irmãos peregrinos e forasteiros neste mundo, por isso vamos analisar a partir de agora algumas características desses forasteiros. Esses irmãos estavam vivendo na Ásia Menor, mas não eram daquela região. Esse lindo paradoxo utilizado por Pedro nos leva a refletir diretamente a respeito de quem verdadeiramente somos. Forasteiros estão em uma terra distante, não pertencem àquela terra, nem seus costumes originais são os costumes daquela terra. Um estrangeiro é reconhecido facilmente quando não está em sua terra, pelo seu comportamento, pela forma de se vestir, de se alimentar, de falar etc. Seus hábitos refletem a sua formação natal. Logo, ele não pode viver como um nativo e muito menos negar suas origens, suas tradições. Como peregrinos, também devemos entender que estamos neste mundo, mas não somos deste mundo, por isso a palavra do Senhor é bem clara ao dizer: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus” (1Jo 2.15-17). P


Estamos neste mundo, mas não podemos amar este mundo. Não somos daqui. Os costumes deste mundo não podem ser os nossos costumes. A cultura deste mundo não pode ser a nossa cultura. O que é comum para este mundo não pode ser comum para nós, peregrinos e forasteiros. Pedro afirma em 1.2 que somos forasteiros, fomos eleitos em santificação para uma vida de obediência. “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência”. O termo santificação no texto original, segundo o Léxico Strong, é ἁγιασμός hagiasmós, que significa uma vida de consagração, purificação, o efeito da consagração, santificação de coração e vida. É lindo demais o que o apóstolo Pedro está nos dizendo, fomos eleitos para santificação. Esse termo está declarando diretamente como devemos viver. Fomos escolhidos por Deus para viver separados deste mundo e em santidade, sem contaminação, separados das práticas mundanas e pecaminosas, separados das podridões que nos contaminam e nos distanciam de Deus. Além de sermos escolhidos para viver em santificação de coração, também fomos eleitos para viver em obediência. O termo que Pedro usa é ὑπακοή (hypakoḗ), que, segundo Strong, significa obediência, complacência, submissão, obediência em resposta aos conselhos de alguém, obediência demonstrada na observação dos princípios do cristianismo. Pedro está falando de obediência aos conselhos de Deus, submissão aos princípios do cristianismo. A palavra grega hypakoe é citada por Pedro sete vezes nessa primeira epístola. O interesse de Pedro é bem claro: inculcar na cabeça dos forasteiros que a vida cristã exige abstinência dos costumes mundanos, exige obediência aos princípios divinos. Não devemos obedecer ao sistema deste mundo, devemos obedecer somente ao nosso soberano Deus e Senhor Jesus Cristo. Pedro entendia que os forasteiros da Ásia Menor estavam vivendo debaixo de aflição. Ele sabia que a perseguição era iminente. Mesmo diante desse quadro tão triste, ele afirma em 1.15- 16: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’".


Para Pedro, sofrimento não é pressuposto para declínio espiritual, nada justifica uma vida distante de Deus, nada justifica uma vida de escravidão no pecado. Ele sabia que estava difícil, sabia que os irmãos estavam sofrendo, mas exorta-os a viverem em santidade. Não somos deste mundo, por isso somos santos3 . O que Pedro está afirmando é que somos santificados por Deus, chamados para viver em santidade. Fomos eleitos para viver em santidade. Temos um Deus santo (Lv 19.20; 1Pe 1.16), e esse Deus santo quer que sejamos santos como ele. Temos, sim, de viver em santidade, separados deste mundo (Sl 1.1). Não podemos utilizar o sofrimento como muleta para viver uma vida de pecado. Se procurarmos, sempre encontraremos um subterfúgio, uma desculpa para nosso pecado de estimação. O que precisamos é ser sinceros diante de Deus e viver uma vida de santidade, sem flertarmos com este mundo, uma vida pura, reta e íntegra diante de Deus. Foi esse o pedido de Davi ao reconhecer o seu pecado no salmo 51.10: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito de retidão”. Não podemos nos esconder de Deus. Diante de Deus não conseguimos fingir ou interpretar, ele sabe quem somos. O salmista, no salmo 139.1-5, diz: “Senhor, tu me sondas e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão”. Ele sabe quem somos, sabe dos nossos pensamentos, sabe dos nossos sentimentos e intenções. Diante dele estamos como Adão no Éden, nus, descobertos, sem máscara. Dele não tem como se esconder. Você já ouviu a expressão “jeitinho brasileiro”? Então, nós nos acostumamos a encontrar jeitinho para tudo, só não existe jeitinho diante de Deus. Diante dele somos o que somos. Não adianta “jogar a sujeira para debaixo do tapete”. Deus tudo vê. 3 Do grego, ἅγιος hágios (hag'-ee-os), de hagos; uma coisa grande, sublime; algo muito santo; algo santificado (Strong).


Existe um provérbio popular antigo que diz: “O que fazemos quando estamos sozinhos revela verdadeiramente quem somos”. Isso me lembra uma certa feita em que eu estava com Tamyris e as crianças em um elevador e comecei a fazer algumas graças quando, de repente, o Felipe, meu primogênito, me mostrou a câmera atrás de mim. Ficou ainda pior quando passei pela recepção e vi que o vigilante tinha as imagens em seu monitor. Você teria coragem de fazer em público tudo o que você faz quando está sozinho? Podemos nos esconder do mundo, porém nunca nos esconderemos de Deus. Na verdade, é ignorância de nossa parte tentar se esconder de Deus. Ele não quer isso de nós; pelo contrário, tudo o que ele quer é o nosso arrependimento. Por isso a palavra do Senhor é tão clara em Romanos 12.1-2: “Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele”. Como esse texto de Paulo é lindo! Além de nos ensinar a forma de prestarmos nosso culto a Deus, também nos ensina que não podemos viver como este mundo vive. Ou seja, somos peregrinos aqui, e peregrinos só estão neste mundo, não vivem conforme os costumes deste mundo. Não vivemos conforme o mundo vive, vivemos em arrependimento. Por isso Paulo fala sobre uma mudança completa da mente, cujo termo grego é μεταμορφόω4 . Essa é a melhor expressão para traduzir por “arrependimento”, uma mudança de mente, uma mudança radical de comportamento. É isto que o nosso Senhor espera de verdadeiros forasteiros: uma conversão, arrependimento de coração, mudança de vida completa. Você já se arrependeu de coração? 4 metamorphóō (met-am-or-fo'-o), mudar de forma, transformar, transfigurar, a aparência de Cristo foi mudada e resplandecia com brilho divino sobre o monte da transfiguração (Strong).


Não podemos nos esquecer de que Pedro era judeu, e se existe um povo neste mundo que sempre preservou sua cultura, que sempre preservou suas tradições, independentemente de onde vive, é o povo judeu. Além de ser a nação com as tradições mais antigas deste planeta, também ama suas tradições e não as negocia. Somos peregrinos, temos tradições, não podemos negociá-las, não podemos negociar nossos princípios. Pedro, sendo judeu, sabia muito bem quanto um judeu lutava pelas suas tradições, quanto um judeu defendia sua crença, afinal, ele viu Jesus combater os doutores da lei durante todo o seu ministério. O próprio Pedro discutiu com Paulo sobre os costumes judaizantes. Pedro desejava manter a circuncisão, e Paulo era contra (Gl 2.11-21). Para Paulo, a circuncisão não deveria ser imposta aos cristãos novos convertidos. Pedro, como judeu, sabia o que era preservar suas tradições e defendê-las. Ao utilizar os termos “peregrinos” e “forasteiros” ele está falando sobre a verdadeira identidade de um cristão, sobre seus verdadeiros princípios, os princípios divinos. Forasteiro ou nativo? Normalmente o peregrino, muito embora peregrinasse por um tempo indeterminado, não tinha intenção de fixar residência nas terras de sua peregrinação. Sendo assim, mantinha vivos os seus costumes, tradições e modus vivendi. Pedro se refere aos cristãos da Dispersão como um xenos, um estranho que era tratado muitas vezes com xenofobia, porque normalmente um xenos se negava a adorar a César com uma divindade, negava participar das festas pagãs do império, enfim, não comungava das praticas nativas. [LZ3] Os forasteiros tinham crenças peculiares, como a crença na ressurreição dos mortos. Afirmavam que Cristo, o seu Deus e Messias, de fato ressuscitou dentre os mortos, sendo isso escândalo para os judeus e loucura para os gregos. A comunidade dos forasteiros cristãos era diferente daquela sociedade cheia de tabus e divisões, pois um escravo poderia ser pastor, presbítero, quem sabe até um bispo, e as mulheres eram cooperadoras ativas. Em Cristo, as distinções de cor, etnia e posições sociais desapareciam, e Cristo era tudo em todos. Enfim, os cristãos viviam em meio à sociedade, mas não a incorporava, não aceitavam as imposições de Roma, nem mesmo seus hábitos condenados pela Bíblia Sagrada.


Será que hoje também adotamos essa postura como comunidade cristã vivendo em meio à sociedade? Qual tem sido a nossa conduta? Os tempos mudaram? Algumas pessoas podem ser confundidas? O amor a Deus e a sua palavra estão acabando? A fé está se sincretizando? Será que muitos estão abrindo mão da sua identidade cristã? Será que os costumes mundanos estão seduzindo o povo de Deus? Misturar-se com o mundo ou não deve ser uma decisão pessoal, ou seja, eu decido quem serei, um forasteiro ou um nativo. Tenho certeza de que ainda existem muitos que não sentem prazer na vida de nativo, ainda existem muitos forasteiros que não se misturam, que não se vendem, que não se corrompem. Há muitos ainda vivendo o clássico da nossa hinologia: “Sou forasteiro aqui, em terra estranha estou, do reino lá do céu embaixador eu sou...” Tenho certeza de que ainda existem muitos que não se dobraram diante da estátua do rei (Dn 3.16-39) como Misael, Azarias e Ananias, que não comerão as comidas consagradas, que não aceitarão os costumes pecaminosos dos nativos, mas que honrarão a Deus mesmo que seja preciso ir para a fornalha de fogo, alimentar-se de forma extremamente restrita ou até mesmo ir para a cova dos leões. Aconteça o que acontecer, somos forasteiros e não podemos abrir mão da nossa identidade. Não somos nem podemos nos parecer com os nativos. Pedro um forasteiro (biografia) Vamos olhar agora um pouquinho para o autor dessa epístola. Sabemos que o nome Pedro significa pedra, Kephas significa pedra da cabeça. Pedro era filho de Jonas, por isso seu sobrenome era Barjonas, e irmão de André. Morava em Betsaida (casa do peixe), uma pequena vila ao leste de Genesaré, onde havia um braço do Jordão. Era galileu (Mc 14.70), casado (Mt 8.14), pescador (Mt 4.18) e um homem muito temperamental. Eu gosto muito de comparar Pedro antes de sua conversão e Pedro convertido. É notório que o Pedro dos evangelhos é completamente diferente do Pedro após o encontro com Cristo. O “tu me amas?” de Jesus (Jo 21.15-22) transformou completamente a vida desse homem. Antes ele era impulsivo, irritado, orgulhoso. Há exemplos disso, como quando foi usado pelo inimigo (Mt 16-


22-23), quando demonstrou não ter humildade por não querer que Jesus lavasse seus pés (Jo 13), quando declarou fidelidade a Cristo, mas fracassou e o negou (Mc 14.29-31). Tinha a carne fraca, dormiu no Getsêmani em um momento tão crítico, em que Jesus precisava tanto dele (Mc 14.33). Foi violento, quis fazer justiça com as próprias mãos e cortou a orelha do soldado Malco (Jo 18.10). Até negou Jesus por três vezes (Lc 22.55-62). Convertido, confessou amor publicamente a Cristo (Jo 21), recebeu o chamado para pastorear e se tornar um “pescador de homens”; um grande líder, encarregado de grandes decisões (At 1.15); e um grande pregador (At 2.14-40). Em uma pregação, ganhou para Cristo “quase três mil almas”. Foi usado por Deus para curar um aleijado (At 3). Em sua segunda pregação, quase cinco mil se converteram (At 4.1-26). Tinha a autoridade divina, e, através dele, a justiça de Deus se manifestou (At 5). Ficou feliz por sofrer fisicamente por Cristo (At 5.12-42). Evangelizou Samaria, foi o “avivalista” de Samaria (Atos 8.14). Levou o batismo nas águas e no Espírito Santo para os gentios (At 10). Foi preso, mas o anjo o libertou (At 12). Foi pastor da igreja de Jerusalém. Foi para Roma sabendo que iria sofrer perseguição. Obedeceu a Deus (Jo 21.18). Segundo os historiadores, tornou-se mártir e morreu de cabeça para baixo em 67 d.C. em Roma. Escreveu duas epístolas e ajudou João Marcos, seu filho na fé, a escrever o Evangelho de Marcos (1Pe 5.13). Se houve jeito para Pedro, há jeito para você. Basta você se arrepender, basta você entender que tudo neste mundo é passageiro e que não vale a pena trocar Deus pelas porcarias deste mundo. Não vale a pena trocar Deus pelas alegrias passageiras deste mundo. Provérbios 14.13 diz: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. A verdadeira alegria, a verdadeira paz que nós tanto precisamos não está nas drogas deste mundo, não está nas coisas passageiras desta terra. Só Deus tem a alegria, a paz, a felicidade que nós verdadeiramente precisamos. Por isso, entregue sua vida a Cristo e deixe que ele o conduza por caminhos de paz (Is 9.6). Você é um forasteiro neste mundo, só está aqui de passagem. Não adote os costumes deste país. Não viva conforme os costumes deste mundo. Não se venda a esse sistema pecaminoso. Não se entregue aos prazeres deste mundo.


Nunca se esqueça de que você está aqui só de passagem. O seu verdadeiro lugar, a sua verdadeira casa não é aqui. A sua verdadeira família, o seu verdadeiro povo não é deste mundo, você é um cidadão celestial. Nosso Jesus não muda, a palavra de Deus nunca mudará. Os mesmos princípios que ele estabeleceu em sua palavra prevalecerão para sempre. Portanto, viva uma vida de obediência, não se venda a este mundo. Forasteiros são o sal e a luz neste mundo Não é sem motivo que Pedro se refere aos cristãos da dispersão como peregrinos e forasteiros. O cristão passou a ser visto como um xenos, um estrangeiro no mundo de sua época, objeto de desconfiança e, muitas vezes, xenofobia. Ele se negava a adorar César como se este fosse uma divindade. Negava-se a participar das festas e banquetes em homenagem aos deuses do império[LZ4]. Hoje infelizmente os cristãos estão perdendo a sua identidade. Como diz um pastor amigo meu, existem muitos “cristãos 007”, ninguém sabe que eles são cristãos. Os seus costumes e as suas atitudes são tão iguais aos dos ímpios, que eles passam despercebidos. Cristãos vivendo em meio à sociedade com as mesmas práticas dos ímpios, fazendo as mesmas coisas, falando de modo igual, vestindo-se da mesma forma, comportando-se de maneira igual. Não podemos nos esquecer de que Jesus nos ordenou a ser luz e sal nesta terra. "Vocês são o sal da terra. Mas, se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5.13-14). Jesus nos chamou para ser diferentes, não podemos passar despercebidos. Ainda temos que chegar à vendinha perto de casa e as pessoas dizerem: “Aquele ali é um verdadeiro servo de Deus”. Temos de brilhar em meio às trevas, trazer tempero a um mundo completamente insípido. Champlin, em seu comentário bíblico, explica que o sal tinha o seu valor especial na cultura judaica. Dava-se a ele grande


apreço, pois, além de servir para dar sabor e conservar os alimentos, era usado em diversas cerimônias religiosas (Lv 2.13; Nm 18.19). Quando não era puro, caso frequente na antiguidade, podia perder o seu sabor. Jesus está destacando o valor dos servos de Deus e deixando bem claro seu papel fundamental em uma sociedade tão carente de bons exemplos. Devemos trazer sabor a este mundo, ser a referência que as pessoas precisam. Em seu comentário bíblico sobre Mateus 5.13-16, John Wesley escreve: Com o objetivo de explicar e reforçar completamente essas importantes palavras, [...] eu vou me esforçar para mostrar que o Cristianismo é essencialmente uma religião social; e que torná-lo uma religião solitária é de fato destruí-lo. Por Cristianismo, eu quero dizer aquele método de adoração a Deus, que está aqui revelado ao homem, através de Jesus Cristo. Quando eu digo que ele é essencialmente uma religião social, eu não quero dizer apenas que ele não subsistiria assim tão bem, mas que ele não subsistiria, afinal, sem a sociedade – sem viver e conversar com outros homens. E, em mostrando isto, eu devo confinar a mim mesmo aquelas considerações que irão se erguer do mesmo discurso diante de nós. Mas, se for assim mostrado, então, sem dúvida, tornar isto uma religião solitária é destruí-la. Não que devamos, de maneira alguma, condenar a solidão e o retiro, misturados, com a sociedade. Isto não é apenas permitido, mas conveniente; mais ainda, isto é necessário, como as experiências mostram diariamente a todos que tanto já são quanto os que desejam ser cristãos verdadeiros. Dificilmente, pode ser que nós passemos um dia inteiro, em um intercurso continuado com homens, sem sofrermos perda em nossas almas; e, em alguma medida, afligirmos o Espírito Santo de Deus. Nós temos necessidade diariamente de nos retirarmos do mundo, pelo menos de manhã e à noite, para conversarmos com Deus, para comungarmos mais livremente com nosso Pai, que está em secreto. Nem,


de fato, pode um homem de experiência condenar mesmo as mais longas épocas de retiro religioso, de modo que eles não implicam alguma negligência do emprego mundano, onde a providência de Deus tem nos colocado. Ainda assim, tal retiro não deve ocupar todo o nosso tempo; isto iria destruir, e não trazer progresso à verdadeira religião. Já que aquela religião, descrita por nosso Senhor nas palavras precedentes não pode subsistir sem a sociedade; sem nosso viver e conversar com outros homens. Fica evidente nisso que diversas das mais essenciais ramificações dela não terão lugar se nós não tivermos um intercurso com o mundo. Não existe disposição, por exemplo, que seja mais essencial ao Cristianismo do que a humildade. Agora, até porque ela implica resignação para com Deus e paciência na dor e sofrimento, ela pode subsistir no deserto, em uma cela hermética, na total solidão. Ainda assim, como ela implica (o que não é menos necessariamente feito) indulgência, gentileza e longanimidade, ela não pode possivelmente ter uma existência; ela não teria lugar debaixo dos céus sem um intercurso com outros homens. De maneira que, tentar tornar isso uma virtude solitária é destruí-la da face da terra. Um outro ramo necessário do verdadeiro Cristianismo é a pacificação; ou fazer o bem. Que isso é igualmente essencial, com alguma das outras partes da religião de Jesus Cristo, não pode existir argumento mais forte para evidenciar (e, por essa razão, é absurdo eleger algum outro) do que aquele que está aqui inserido, no plano original, no qual Jesus tem estabelecido os fundamentos de sua religião. Por conseguinte, colocar de lado isso é o mesmo que ousar insultar a autoridade de nosso Grande Mestre; assim como colocar aparte a misericórdia, a pureza de coração ou qualquer outro ramo de sua instituição. Mas isso é aparentemente colocado de lado por todos que nos chamam ao deserto, que recomendam a inteira solidão, tanto aos bebês, aos jovens, quanto aos adultos em Cristo. Pode algum homem afirmar que um cristão solitário (assim


chamado, embora seja pouco menos do que uma contradição, em termos) possa ser um homem misericordioso – ou seja, alguém que aproveita todas as oportunidades para fazer o bem a todos os homens? O que pode ser mais claro do que um cristão, sem a sociedade, sem nosso viver e conversar com outros homens, este ramo fundamental da religião de Jesus Cristo não pode possivelmente subsistir?[LZ5] 'Mas, será oportuno, contudo', alguém poderia naturalmente perguntar, 'conversar apenas com homens bons, apenas com aqueles que nós sabemos serem mansos e misericordiosos, santos de coração e santos na vida? Não é conveniente refrearmo-nos de alguma conversa ou intercurso com homens de caráter oposto, homens que não obedecem, talvez, nem acreditem, no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo?'. O conselho de Paulo aos cristãos, em Corinto, pode parecer favorecer isto: 'Já por carta vos tenho escrito que vos associeis com os que se prostituem' (1Co 5:9). E certamente não é aconselhável estar, assim, em companhia deles, ou quaisquer outros trabalhadores da iniquidade, como ter alguma familiaridade particular ou alguma amizade estreita com eles. Contrair ou continuar uma intimidade com alguns como esses não é expediente para um cristão. Isso necessariamente o exporia a uma abundância de perigos e armadilhas, em que ele não poderia ter esperança razoável de livramento. Mas o apóstolo não nos proíbe de ter algum intercurso, afinal; mesmo com os homens que não conhecem a Deus! 'Porque, para isto', diz ele, 'nós precisaríamos sair do mundo!'; o que ele nunca poderia aconselhálos a fazer. Mas ele anexa: 'Se algum homem que seja chamado de irmão', que professe a si mesmo como um cristão, 'for um adúltero, um avarento, um idólatra, um maldizente, um bêbado, um extorquido' (1Co 5:11). ‘Eu agora tenho escrito a vocês para não estarem em companhia deles; com estes, não comam'. Isso deve necessariamente implicar que nós devemos romper toda a familiaridade, toda a


intimidade de conhecimento com esses. 'Todavia, não o tenhais', diz o apóstolo, em outro lugar, 'como um inimigo, mas admoestai-o como irmão' (2Ts 3:15), mostrando claramente que, mesmo em tal caso como esse, nós não devemos renunciar toda amizade com ele. De modo que aqui não é aconselhável separar-se totalmente, até mesmo do homem pecaminoso. Sim. Essas mesmas palavras nos ensinam a fazer completamente ao contrário. Mais do que isso, as palavras de nosso Senhor estão longe de nos direcionar a romper todo o comércio com o mundo, o que, sem ele, de acordo com sua consideração de Cristianismo, nós não podemos ser cristãos, afinal. Seria fácil mostrar que alguns intercursos, mesmo com os homens descrentes e impuros, são absolutamente necessários, com o objetivo de uma completa aplicação de cada temperamento que ele tem descrito como caminho para o reino, e que são indispensavelmente necessários para o completo exercício da pobreza de espírito, do murmurar e de qualquer outra disposição que tenha um lugar aqui, na religião genuína de Jesus Cristo. Sim. Eles são necessários para a própria existência de diversos deles: daquela mansidão, por exemplo, que, em vez de exigir 'olho por olho, dente por dente', 'não resiste ao mal', mas faz com que, preferivelmente, quando lhe baterem 'na face direita, seja-lhe dada a outra, também'; daquela misericórdia por meio da qual nós amamos nossos inimigos, abençoamos a quem nos pragueja, fazemos o bem a todos que nos odeiam e oramos por aqueles que maliciosamente nos usam e nos perseguem; daquele enredamento do amor e todos os temperamentos santos que são exercitados no sofrer por causa da retidão. Agora, todos esses, é claro, não teriam existência não tivéssemos intercurso com algum deles, a não ser com os cristãos reais. Realmente, se fosse possível nos separar totalmente dos pecadores, não estaríamos vivendo o que Jesus nos recomendou. "Vocês" somos nós, cristãos. “Vocês” que são humildes, sérios e mansos de coração; “vocês” que têm fome de justiça, que amam a


Deus e ao próximo; que fazem o bem a todos e, no entanto, sofrem o mal; enfim, o sal da terra. É da própria natureza divina que temperemos o mundo que está à nossa volta. É próprio da natureza de Cristo trazer sabor, é natural contagiarmos o contexto em que estamos. Essa é a razão pela qual a providência de Deus tem nos misturado a este mundo, para que, através de nós, as pessoas que não conhecem a Deus conheçam a graça salvadora. Para que diminua a corrupção, a maldade, a falta de amor ao próximo. Para que exista pelo menos um pedacinho de luz em meio às trevas. Para que possamos mais diligentemente trabalhar para temperar tudo que pudermos. Com o temperamento santo e divino, nosso Senhor prossegue mostrando o estado desesperado daqueles que o conhecem, afirmando que, se não cumprirmos o nosso papel, não existe propósito. “Se o sal for insípido, com o que há de se salgar? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado por homens”. Se nós, que conhecemos a palavra de Deus e somos conscientes de nosso propósito, não obedecermos ao Senhor e formos exemplo de luz para essa sociedade, quem o será? Fomos “eleitos” para trazer sabor e ser luz, esse é o nosso propósito. “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca” (Jo 15.5-6). Não é possível ser um cristão autêntico e passar despercebido. Isso nosso Senhor deixa claro, além de toda contradição, por dupla comparação: somos a luz do mundo? Uma cidade situada em cima de uma colina não poderá ser oculta. "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus" (Mt 5.14-16).


Temos de brilhar com nosso temperamento (tempero) e ações, temos de brilhar tão forte como o sol do meio-dia. Não podemos ser uma “luzinha” fraca no fim do túnel, nem ser “comida de hospital”, fraquinha de tempero para quem está debilitado. Temos de refletir a santidade de Deus e ofuscar os olhos do mundo. O amor que sentimos pelos perdidos não pode ser ocultado. Se amamos só no discurso, ninguém ouvirá a verdade ou se sentirá amado. Não tem como demonstrar amor ao perdido por osmose. O perdido precisa de atenção, de gestos de carinho, de demonstrações verdadeiras de amizade e companheirismo. Somos muito bons como igreja em discursar sobre amor, utilizamos nomenclaturas belas, dizemo-nos missionários, fazemos boas exposições sobre os textos bíblicos falando de amor ao próximo, expomos exemplos de missionários que estão lutando pela bandeira do evangelho no mundo, mas a verdade é uma só: em geral, temos só um belo discurso gospel de “amor ao próximo”. Não é possível amar somente de forma intelectual, ou seja, simplesmente estar convencido de que as pessoas precisam de amor. Esse convencimento tem de me levar a agir e viver a piedade na prática. Se o mundo está pobre de amor, eu sou um forasteiro neste mundo, fui chamado para fazer a diferença, e fazer a diferença aqui é amar ao próximo verdadeiramente, é doar-se em tempo integral, doar meu tempo, meu ouvido, minhas mãos e meus pés para o próximo, para que o ele conheça o amor de Cristo, conheça a Deus. O meu brilho e tempero precisam estampar o amor de Cristo. Não podemos fugir dos homens. Não temos por que esconder o nosso amor pelos perdidos. Temos o Pai, e o amor do Pai está dentro de nós. O amor não pode se ocultar mais do que a luz. Quanto mais ele brilha publicamente, mais pessoas olharão para Deus. Quanto mais tarefas de amor praticarmos, mais cumpriremos nossa missão. Não tem como esconder uma cidade no monte. Se estamos escondidos, é porque não temos brilho nem sabor. É verdade que os homens amam a escuridão. É verdade que o caminho do pecado é muito mais fácil, mas não podemos nos esquecer de que eles estão nas trevas, e por mais que aparentemente estejam bem, aproveitando e curtindo o pecado, sua alma está em trevas, estão vazios, sem luz e sem sabor. Só entenderão como é bom ter a luz de Cristo guiando a sua vida, só saberão como é bom ter Jesus, paz e verdadeira alegria, se brilharmos a ponto de os incomodar para saírem de sua situação de perversidade.


Não podemos nos esquecer de que Jesus brilhou em sua estadia neste mundo. Ele é o nosso maior exemplo. Pedro brilhou levando milhares de almas a conhecer a Cristo. Paulo brilhou levando a palavra de Deus aos gentios. Exemplos verdadeiros não nos faltam, o que temos de fazer é entender que somos forasteiros e sair do nosso conforto, do nosso comodismo, e imediatamente resplandecer a luz de Cristo entre os nossos amigos e familiares. Devemos salgar tanto este mundo a ponto de todos ao nosso redor saírem correndo em busca da água da vida. Precisamos causar sede nas pessoas. Quantos neste momento estão morrendo de sede? Água é vida, sem água ninguém consegue viver. A fonte de água viva é Jesus, só ele pode matar a sede mundo em sequidão, só Jesus pode trazer vida a esses lares desertos, inférteis, sem paz, sem alegria, sem amor. E somos nós, os forasteiros neste mundo, peregrinos eleitos de Deus, os designados por Ele para matar a sede desse povo e levar-lhe a verdadeira água da vida. “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna” (Jo 4.4). John Wesley, em seu comentário de Mateus, escreve: Quer eles estejam finalmente condenados ou salvos, você é expressamente ordenado a alimentar o faminto e a vestir o desnudo. Se você puder fazê-lo, e não o fizer, no que quer que eles se tornem, você irá direto para o fogo eterno! Embora seja Deus unicamente quem muda os corações, ainda assim, Ele geralmente o faz através do homem. Essa é a parte que nos cabe fazer, em tudo o que ele nos coloca tão diligentemente, como se nós pudéssemos mudá-los por nós mesmos, e, então, deixarmos o que for acontecer a ele. Deus, em respeito às orações deles, edificou seus filhos, um por um, com todo bom dom: nutrindo e fortalecendo todo o 'corpo, para que, com isso, todas as juntas sejam supridas'. De maneira que 'o olho não possa dizer para a mão: eu não preciso de ti'; não; nem mesmo 'a cabeça aos pés: eu não tenho necessidade


de você'. Por fim, como vocês podem afirmar que essas pessoas, diante de vocês, são cães ou porcos? Não os julguem, até que vocês tenham tentado. 'Quanto tu sabes, ó homem, a não ser que tu podes ganhar um irmão'? A não ser que tu podes, debaixo de Deus, salvar sua alma da morte? Quando ele rejeitar teu amor e blasfemar das boas palavras, então, será hora de entregá-lo aos cuidados de Deus. Com toda a nossa força e tudo o que temos, vamos lutar para que ser luz e sal. Vamos fazer a diferença. Vamos fazer a nossa parte. Deus nos escolheu como peregrinos e forasteiros para brilhar e salgar este mundo. Forasteiro, permita que o mundo veja a luz em você Permita que a sua luz brilhe, por meio de sua mansidão de coração, sua gentileza, sua humildade de sabedoria, sua preocupação séria e ponderada com respeito às coisas da eternidade, sua tristeza pelos pecados e misérias dos homens, seu sincero desejo de santidade universal, sua completa felicidade em Deus, sua disposição terna para com toda a humanidade e seu ardoroso amor para com seu supremo Benfeitor. Não se esforce para esconder essa luz, por meio da qual Deus tem iluminado sua alma, mas permita que ela brilhe diante de homens, diante de todos com quem você está, em todo teor de sua conversação. Que ela brilhe ainda mais eminentemente em suas ações, em você fazer todo o bem possível a todos os homens, no seu sofrer por causa da retidão, enquanto você “se regozija e está excessivamente feliz, sabendo que grande é o seu galardão nos céus”. Permita, assim, que a sua luz brilhe diante de homens, de modo que eles possam ver as boas obras. Que seja seu desejo não a esconder, não colocar a luz debaixo do alqueire. Que seja a sua tarefa colocá-la “sobre um castiçal, para que possa iluminar a todos que estão na casa”. Apenas atente para não buscar o seu próprio mérito nisso, para não desejar alguma honra para si mesmo. Mas que seja seu único objetivo que todos aqueles que vejam suas boas obras possam glorificar seu Pai que está nos céus.


Seja esse seu objetivo final em todas as coisas. Com essa visão, seja claro, aberto, sem disfarces. Permita que o seu amor seja sem dissimulação: por que você esconderia um amor justo e desinteressado? Que a malícia não seja encontrada em sua boca. Permita que suas palavras sejam a pintura genuína do seu coração. Que não haja escuridão ou segredos em suas conversas e nenhum disfarce em seu comportamento. Deixe isso para aqueles que têm outros objetivos em vista, objetivos que não suportam a luz. Seja natural e simples para com toda a humanidade, para que todos vejam a graça de Deus que está em você. E, embora alguns venham a endurecer o próprio coração, ainda assim, outros levarão ao conhecimento que você tem estado com Jesus, e, ao retornarem para eles mesmos “para o grande bispo da alma deles, glorifiquem o seu Pai que está nos céus”. Com esse único objetivo, que os homens possam glorificar a Deus em você e seguir em nome Dele, no poder de Sua força. Não se envergonhe mesmo que fique só, que seja nos caminhos de Deus. Permita que a luz que está em seu coração brilhe em todas as boas obras: as de devoção e as de misericórdia. E, com o objetivo de ampliar a sua habilidade em fazer o bem, renuncie a todas as superficialidades. Corte fora toda despesa desnecessária em comida, móveis e vestuário. Seja bom mordomo de todo dom de Deus, mesmo desses seus dons menores. Elimine todos os gastos desnecessários de tempo, todos os empreendimentos supérfluos e inúteis, e “o que quer que suas mãos encontrem para fazer, que faça com toda a sua força”. Na palavra, seja cheio de fé e amor. Faça o bem, sofra o mal. E, nisso, seja “firme, imutável”, sim, “sempre abundando nas obras de Deus, visto que você sabe que o seu trabalho não será em vão no Senhor”. Vamos seguir em frente desbravando o evangelho, honrando ao nosso Senhor, com nossos olhos fixos nele. Que nada tire a nossa atenção e que o nome do nosso Senhor seja exaltado através de nós. Estamos neste mundo, não pertencemos a ele. Fomos chamados para fazer a diferença e, como peregrinos e forasteiros, vamos brilhar, vamos levar sabor a este mundo. Que o mundo olhe para nós e ofusque os olhos. Vamos fazer com que sintam sede e busquem desesperadamente a Jesus, que é a fonte de água viva. Estamos neste mundo, não somos deste mundo. Somos sal e luz em meio às trevas!


Peregrinos sem preconceito Em grego, paroikos kai parapidemous – “Estranhos residentes e forasteiros em trânsito”. “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia...” (1Pe 1.1) Os paroikoi, aos quais é destinada a primeira carta de Pedro, eram pessoas externas à sociedade da Ásia Menor. Essa "falta de casa", como o próprio nome indica, acabava por ser o que lhes concedia identidade. Aqui entra a pessoalidade como algo específico desse grupo e que torna possível o individual, pois cada um pode ser testemunha. Uma linha interpretativa do termo etimológico afirma que pode se referir a uma aplicação preconceituosa ou uma tentativa de demonstrar que se tratava de pessoas inferiorizadas; afinal, o próprio Pedro faz questão de destacar que Jesus também foi rejeitado. “À medida que se aproximam dele, a pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1Pe 2:4). Por ter citado Jesus como rejeitado, podemos afirmar que Pedro está abordando o tema da rejeição. Se Jesus foi rejeitado, esnobado, sofreu preconceito e foi desvalorizado, nunca estaremos isentos disso. Rejeição era algo normal e corriqueiro para os seguidores de Cristo. A realidade do sofrimento da própria rejeição era algo presente nos paroikoi, devido às perseguições, ao seu estado marginal e obviamente no que se refere ao pecado. Cristo aparece para os cristãos como modelo (1Pe 4.1), e esse sofrimento é apresentado paradoxalmente como uma experiência de graça e de salvação (1Pe 1.6-9). Esses sofrimentos eram vividos na expectativa de glória (1Pe 1.11 e 4.13). Em verdade, o sofrimento descrito e proposto na primeira carta de Pedro é a realidade que concede coesão aos paroikoi, pois orientando o seu sofrimento para o Senhor, este concedia-lhes força e coesão. O Espírito Santo servese dessas realidades conflituosas e ofensivas para nos irmanar. Imagine a condição social, educacional, emocional e acima de tudo espiritual desses irmãos. Que interessante pensarmos sobre:


▪ eleitos de Deus ▪ peregrinos ▪ dispersos São termos tanto sociológicos quanto teológicos. Nós precisamos como igreja ampliar nossa visão para paroikos e oikos (paroikos-estrangeiros; oikos-casa, fora de casa, igreja). Como já dissemos, o termo paroikos quer dizer “peregrinos” ou “estranhos residentes”. Paroikos no sentido geral implica segregação social, alienação cultural e certo grau de restrição pessoal, sem direitos civis ou nacionais. E oikos quer dizer lar. O povo a quem Pedro se refere nessa carta era forasteiro desterrado devido à diáspora, estava distante de seu lar, mas não distante de Deus. Apesar de hoje estarmos em nosso demos (distrito, país) e em nossa polis (cidade), somos estrangeiros, já não pertencemos mais a esta cosmópolis (visão global e territorial), não temos mais os direitos naturais, humanos. Somos agora cidadãos dos céus, estrangeiros em nossa própria terra, visitantes em nossa própria casa. Oh igreja amada, que linda mensagem vemos aqui! Temos uma nova identidade, temos uma nova cidade, temos uma nova nacionalidade. Portanto, sobra-nos o desafeto de estarmos em uma terra xenofóbica, uma terra mesquinha, uma terra medíocre, cheia de preconceitos, pois os interesses desses povos são extremamente pessoais. Quando somos filhos de Deus, perdemos os direitos eleitorais, pois agora somos príncipes do reino dos céus. Aqui não temos sequer crédito, não confiam em nós. Na nossa terra, porém, somos príncipes e princesas. O que implica tudo isso? Ao observarmos o paroikos, percebemos que a primeira coisa que nos acontece é a segregação social. Sob um ponto de vista sociorreligioso, somos excluídos, e ai de nós se não fosse assim. Devemos sempre ser excluídos do mundo, ser excluídos do nosso rol de amigos. Apesar de isso ser triste, temos a palavra de Cristo que nos diz que, ainda assim, seremos bem aventurados (Sl 1). Alienação cultural Um exemplo de “alienação cultural” é o mundo e sua cultura. Seu modernismo não deve interessar aos príncipes e princesas do reino da luz. O Pai das luzes quer que sejamos luzeiros. Um exemplo claro em nosso país é o festival de moda Fashion Week,


que dita a moda para o Brasil. Pessoas se aglomeram para ver as modelos apresentando as tendências, um mercado valoroso que movimenta 1,2 bilhão de dólares em empregos diretos e indiretos. Tudo isso tem seu valor e sua serventia, mas não podemos ser conduzidos como os demais. As tendências de moda apresentadas nesse festival não podem e não devem determinar como devemos nos vestir ou nos comportar. Nossas roupas não devem ser determinadas pelos estilistas deste mundo, e sim pelo nosso amigo Espírito Santo. Elas não precisam estar na moda, precisam estar do agrado de Deus, mesmo se isso nos causar rejeição. Se alguém nos disser que devemos nos vestir de forma sensual, sabemos que não podemos, porque feriremos os princípios da palavra de Deus. Se isso fizer com que o mundo nos rejeite, glória a Deus por isso. Nossa consciência estará tranquila diante de Deus. Lembro-me de um atendimento pastoral que realizei em que uma serva de Deus disse estar sendo perseguida em seu trabalho por causa de seu comportamento. Ela era atendente em uma grande empresa, e uma das exigências para atuar em sua função era utilizar roupas sensuais. Minha orientação foi bem simples: “Não se venda, não permita que ninguém diga como você deve se vestir se isso infringir a palavra de Deus. Honre a Deus acima de qualquer ordem superior no seu trabalho, e Deus a honrará”. Para resumir, Deus a honrou pela posição firme que ela teve diante do superior do seu setor. Ela foi removida para outro setor para desempenhar uma função ainda melhor e com maior remuneração. É claro que isso não é regra, mas está aí um exemplo claro de que vale a pena honrar a Deus. Pode chamar de alienação cultural, pode chamar de extremismo religioso. Nosso compromisso é com Deus. Devemos agradá-lo em tudo, e somente a Ele obedecer cegamente. Se isso nos custar isolamento social? Pode acontecer, mas algumas verdades precisam ser pontuadas. Se não servimos para aquele ambiente, é porque temos que nos mudar, estamos sobrando. Em vez de nos isolarmos, devemos procurar um ambiente em que caibamos. Restrição pessoal Às vezes temos sonhos, desejos e não podemos cumprilos, e por quê? Por causa da nossa restrição. Nossos amigos bebem,


fumam, usam drogas, e nós temos a nossa restrição pessoal. Por quê? Simples: é que a monarquia não se mistura com a plebe. Você faz parte dos monarcas do reino dos céus (2Co 6.3-10). Parece ser interessante fazer parte do oikos, não é mesmo? Porque é nosso lar é nossa família e é precisamente isso que precisamos transformar, nosso paroikos em um oikos. Estamos nesta terra como peregrinos, talvez sem direitos, talvez segregados, alienados e restritos. Mesmo assim, podemos converter um lugarzinho especial em nosso oikos. Minha mensagem é para que permaneçamos unidos, em uma unidade espiritual neste paroikos. Podemos transformá-lo em um oikos. Essa é nossa função como Igreja, como irmãos e principalmente como amigos. Devemos criar em nosso ambiente de igreja um lugar onde todos possam se sentir bem, sem preconceito, com sentimentos puros e bíblicos. Nossa (oikos) casa e nossa igreja (oikos) precisam ser lugares aconchegantes, onde todos possam ser recebidos. Se temos um bom comportamento bíblico, por que não tornar esse ambiente receptivo e acolhedor? Todos que vierem até nós devem ser bem recebidos e sentir o amor de Cristo. Se o ambiente mundano é hostil, nossas casas e igrejas precisam ser o lugar onde todos encontram paz. Encha neste momento o seu coração de alegria, aumente sua autoestima. Você é especial para Deus. Ele não gosta de dividir você como os perdidos pecadores. Você vai encontrar, com certeza, um oikos acolhedor no qual se sentirá bem. Residentes ou estrangeiros? Como já dissemos, paroikos significa “estrangeiros”. Mas será que somos residentes ou estrangeiros? Será que estamos vivendo aqui temporalmente ou todos os nossos objetivos são para a eternidade? Pensemos sobre isso. Paroikos é a visão temporal do cristão. Os cristãos cuja visão é celestial estão se preparando para ir morar nos céus. Estamos com certeza de passagem. Nosso tempo é curto aqui na terra. Temos um outro alvo, nosso alvo é Cristo. Vamos refletir sobre quais visões temos: Uma visão temporal: implica que o homem pode mudar de visão. Visão temporária ou visão temporal é passageira. O paroikos vive o momento presente, mas, com o alvo, nossa visão deve estar estabelecida.


Uma visão não alienada: quantas vezes um paroikos é tido como um alienado, como uma pessoa que não sabe o que quer, nem sabe para onde vai ou de onde veio? Ele é estrangeiro, vive da forma que vive, não sabe de onde veio nem para onde vai. É teimoso, não quer mudança e não aceita que ninguém diga o que ele precisa mudar. Uma visão espiritual: o paroikos espiritual vive com vistas aos céus. Não é governado por nenhum sistema deste mundo, obedece à voz de Deus e à sua palavra. Um paroikos não pode viver mudando de foco, nossos olhos devem estar voltados para Jesus e para sua palavra. Nenhuma situação ou circunstância poderá tirar o nosso foco. O residente vive confortavelmente na sua casa, sua visão é 100% temporal. Ele só faz o que todos fazem, sente-se confortável em sua maneira de viver. Para o residente alienado, tudo está muito bem, obrigado. Não quer mudança, não enxerga que precisa mudar e que precisa ser uma pessoa melhor. Já o paroikos tem princípios, tem um foco, tem um alvo, não abre mão dos seus princípios, é determinado e nada além de Deus pode lhe dizer o que fazer. Vive em busca de ser uma pessoa melhor. É ensinável, sempre está procurando na palavra de Deus a melhor maneira para viver e sempre está corrigindo sua conduta diante de Deus. Em qual perfil você se enquadra melhor? ❖ Relativo ❖ Confuso ❖ Turrão ❖ Tempestuoso ❖ Teimoso ❖ Complicado ❖ Receptível ❖ Ensinável ❖ Tranquilo ❖ Flexível ❖ Acessível ❖ Maleável


O sofrimento de um forasteiro é passageiro “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1:3). É natural um forasteiro sofrer odos os cristãos do primeiro século estavam debaixo de perseguição. Pedro sabe que está escrevendo para um povo assombrado, um povo amedrontado, um povo perseguido. Se observarmos o que Pedro diz em 1.6-12, vamos perceber essa realidade. “Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado. Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesar de não o verem agora, creem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa, pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das suas almas. Foi a respeito dessa salvação que os profetas que falaram da graça destinada a vocês investigaram e examinaram, procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava o Espírito de Cristo que neles estava, quando lhes predisse os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam àqueles sofrimentos. A eles foi revelado que estavam ministrando, não para si próprios, mas para vocês, quando falaram das coisas que agora lhes foram anunciadas por meio daqueles que lhes pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado do céu; coisas que até os anjos anseiam observar” (1Pe 1:6-12). T


Vamos destacar nesse texto somente as palavras que representam o estado emocional dos forasteiros: “entristecidos”, “provação”, “refinado no fogo”, “sofrimentos”, ou seja, tristes, provados, testados, sofrendo. O apóstolo Pedro, ao escrever, tinha consciência de que todos estavam tristes, debaixo de provação, sendo testados com muito sofrimento. Isso ele faz questão de deixar bem claro. Mas em nenhum momento, hermeneuticamente dizendo, Pedro demonstra clemência. A ideia não é citar o sofrimento por dó, e sim por fazer questão de pontuar e reconhecer o estado emocional dos irmãos da Ásia Menor. Afinal, ele está escrevendo para cristãos forasteiros neste mundo. A ideia de Pedro não é demonstrar pena, dó, muito pelo contrário, é motivá-los a permanecer firmes na presença de Deus e a voltar o foco para a mais pura verdade sobre o cristianismo: enquanto estivermos neste mundo, teremos aflições. Foi Jesus quem garantiu isso: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33). Enquanto estivermos neste mundo, teremos, sim, que sofrer aflições, passaremos por lutas, iremos nos entristecer. Agora, em momento algum, devemos pensar que Jesus não está nos vendo, o que precisamos entender é que ele está vendo nossas aflições e sabe das nossas dores, lágrimas e preocupações. A expressão “refinados pelo fogo” nos dá a entender que, muitas vezes, o sofrimento não passa de um teste. Para que o ouro seja puro e chegue ao ápice de pureza e beleza, ele precisa passar pelo fogo e ser muito bem apurado para ser valorizado. Os testes e as provações não são para nos desmotivar, nos fazer desistir, nos levar ao desespero. Só podemos ser aprovados se passarmos pela prova. Só poderemos dizer que somos vencedores se lutarmos. Não existe nenhum guerreiro condecorado que nunca batalhou, que nunca lutou uma guerra. Todos os guerreiros honrados só recebiam o reconhecimento após ter em seu currículo grandes vitórias. As grandes conquistas não vieram de graça nem por acaso. O que não devemos fazer é desistir. Por isso, entenda: ➢ Nenhuma luta dura para sempre, todas são passageiras. ➢ Você não está sozinho nessa guerra. ➢ Confie em Deus, ele não vai deixar você lutar sozinho. ➢ Não abaixe a guarda, tudo vai passar.


É natural termos decepções neste mundo. Não deveria ser assim, mas infelizmente é. Os seres humanos são ingratos, as pessoas ferem, decepcionam, às vezes nos decepcionamos com nós mesmos, mas o que Pedro queria que todos entendessem é que todo sofrimento deste mundo é passageiro, tudo terá um ponto final. Por isso, não devemos desistir. Repita sempre para si mesmo: “Desistir, jamais”. Desistência é atitude de covarde. Por que desistir? Aconteça o que acontecer, venha o que vier, seguiremos firmes rumo ao alvo da nossa soberana vocação. Temos que dizer como Paulo: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.14). Tenho uma verdade que carrego em meu peito: como um combatente guerreiro, posso até ser atingido, posso até estar ferido, mas desistir de lutar, jamais. Talvez você esteja lendo estas páginas e se sentindo fraco, talvez já tenha pensado em tirar a própria vida. Eu quero lhe dizer que existe um Deus no céu que está olhando por você, e este livro não chegou até você por acaso. As coisas não fugiram do controle; afinal, tudo está sob o controle de Deus. Entenda, isso VAI PASSAR. Peça neste momento forças para Deus, peça socorro celestial e não duvide, ele estará aí juntinho de você diante dessa luta. Vamos orar: “Deus, neste momento, eu apresento diante de ti esse teu filho. Senhor, fortaleça-o neste momento, renove as suas forças, renove a sua fé. Levanta, Senhor, esse guerreiro. Arranca todos os pensamentos maus, todos os sentimentos ruins, limpa toda dor, toda mágoa, toda angústia, pelo poder do Teu nome. Repreende todo pensamento suicida, toda seta diabólica, em nome de Jesus. Enche de paz esse coração. Enche, Senhor, de ânimo teu filho, em nome de Jesus. Amém!” Temos um Deus poderoso para nos ajudar independentemente das circunstâncias. Veja que lindo Pedro diz: Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis (1Pe 3.14). Pedro sabia que o povo estava com medo da morte, mas ele diz que essa perseguição era para os bem-aventurados, ou seja, era motivo de alegria; afinal, todo esse sofrimento era por amor a


Cristo, então valia a pena. Para Pedro, sofrimento não era sinônimo de autopiedade, e sim de alegria. Sofrer por amor a Cristo, para o apóstolo, era privilégio. O sofrimento de um forasteiro nunca será maior do que o de Cristo Em 1.2, Pedro cita a “aspersão do seu sangue”. A palavra “aspersão”, no original grego, é ῥαντισμός – rhantismós (hran-tismos'), com o sentido literal de “borrifar”, “derramar”. O que Pedro está querendo dizer é que somos eleitos como forasteiros neste mundo e por nós Jesus derramou o seu sangue. Não somente nesse texto, mas o tempo todo o autor dessa carta faz menção ao sangue de Jesus derramado na cruz do Calvário. “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1Pe 2.24). Pedro faz questão, o tempo todo nessa carta, de lembrar os irmãos do sofrimento de Cristo na cruz. No texto acima, ele cita o madeiro e as feridas de Cristo. O maior exemplo de sofrer pelo propósito é o do nosso Jesus. Cristo, sim, sofreu. Nunca na história da humanidade existiu um homem tão íntegro, bondoso e amoroso como Jesus, nem tudo isso o poupou do sofrimento. Jesus foi maltratado. Se olharmos para os últimos três dias antes da crucificação, teremos uma noção do que é sofrer. A Palavra do Senhor nos diz que ele chamou seus discípulos mais íntimos para orar: Pedro, Tiago e João. Ninguém melhor que Pedro para descrever a dor de Jesus; afinal, ele foi testemunha ocular. No Getsêmani, Jesus suou gotas de sangue. Segundo especialistas da área da saúde, Jesus sofreu de hematidrose, uma doença rara descrita por sangramento espontâneo através da pele íntegra no momento em que o sangue eclode as quatro camadas da pele, como se fosse exprimido por uma pressão externa absurda. A causa pode ser estresse, exercícios, ansiedade ou dor emocional aguda. Pedro estava com Jesus no Getsêmani (Lc 22.44), ele viu a aflição do nosso Salvador. Tão grande foi a dor do nosso Mestre que ele suou gotas de sangue. Foi nesse mesmo lugar e momento que Jesus fez oração: “Pai, se puder, afasta de mim este cálice”.


O nosso Mestre estava tão aflito que pediu ao Pai para aliviar a sua dor. Porém, consciente de que a sua missão ainda não havia chegado ao fim, prosseguiu: “Todavia não faça a minha, mas a sua vontade”. Certamente como Deus, Jesus começou a antever o que passaria, viu toda a humilhação e sofrimento que passaria a partir de então, mas não desistiu, foi até o fim. No momento em que Pedro estava com Jesus no Getsêmani, os soldados romanos chegaram, e Pedro, pensando poder defender Jesus, sacou a espada e cortou a orelha do soldado Malco (Jo 18.10-11). Nesse momento, Jesus pegou a orelha do soldado e de uma forma milagrosa a recolocou no lugar. Em seguida, ele disse: “Se eu não quisesse ir para cruz, pediria ao meu Pai e ele enviaria milhares de anjos para me livrar”. A verdade nesse texto é bem clara: Jesus não foi levado para a cruz, ele se entregou para ser crucificado. Ele veio ao mundo consciente de que sua missão era essa morrer na cruz para que, através da aspersão do seu sangue, todos nós fôssemos perdoados. Observe o que Pedro diz: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados” (1Pe 4.12-14). Olhando para esse texto, entendemos claramente que temos que permanecer firmes e seguir a Cristo com alegria mesmo diante das aflições. No verso 14, Pedro diz que devemos nos alegrar por sermos vituperados (ὀνειδίζω – oneidízō, que significa reprovados, censurados). Pedro está descrevendo o que realmente temos de passar e, ao passarmos por isso, vivemos as mesmas coisas que Cristo viveu neste mundo. Pedro apresenta o tempo todo nessa epístola a realidade sobre a vida de Cristo neste mundo, deixando claro que Jesus sofreu, passou por provas e aflições, e todos nós também deveríamos passar por “ardentes provas”. Diante da aflição, o que verdadeiramente precisamos fazer é olhar para Cristo, nosso salvador, que, mesmo debaixo de aflição, dor e sofrimento, permaneceu firme em seu propósito e cumpriu sua missão.


Jesus não abandonou a missão. Sofreu como ovelha muda (Is 53), mas completou sua missão. Não abandonou a Deus. Sofreu, foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia, para nos dar o direito da salvação e da vida eterna. Ressuscitou como vencedor para nos deixar seu grande exemplo. Fomos comprados pelo sangue de Jesus (1Pe 1.2). Pedro é um exemplo a ser seguido; afinal, ele mesmo negou a Cristo temendo morrer (Lc 22.54-70). Os evangelhos narram o momento em que Pedro nega a Jesus por três vezes dizendo: “Não o conheço”. Diante do desafio da morte, o próprio Pedro recuou, acovardou-se dizendo não conhecer e nunca ter andando com Jesus. Agora Pedro é o instrumento de Deus para levar ânimo à igreja de Cristo dispersa na Ásia Menor. Ele os motiva a prosseguir e não desanimar, deixando claro quanto Jesus sofreu e não negou a fé, não abandonou a missão. Pedro está diretamente se retratando e demonstrando sua transformação. Essa verdade estava bem resolvida em seu coração. Para Pedro, o exemplo de Cristo foi tão real ao resistir a todo o sofrimento e se entregar na cruz, que, segundo os Pais da Igreja do século primeiro, o apóstolo foi crucificado em Roma, em 68 d. C., e que, no momento de sua crucificação, pediu para ser crucificado de cabeça para baixo para não ser comparado ao seu Mestre. Grande exemplo de perseverança, superação e submissão Pedro nos deixou. Não somente escreveu para motivar os cristãos para que, mesmo diante da morte, não negassem Jesus, ele mesmo foi o exemplo ao ser martirizado. Sofreu o que foi necessário, mas não negou a Cristo, não virou as costas para Deus. Entregou a sua própria vida por amor a Cristo e nos deixou o seu grande exemplo. Passe o que passar, venha o que vier, meu amado irmão, permaneça firme na presença do Senhor. Somos forasteiros, não pertencemos a este mundo, e temos de viver com a certeza de que este mundo um dia terá fim, e todos nos encontraremos diante do nosso Senhor para prestar contas do que fizemos com nossa missão. Tomara que todos nos apresentemos como vencedores (Ap 3.21). Vamos seguir firmes, olhando para Jesus até o dia da nossa morte. Jesus sofreu verdadeiramente o chicote, a coroa de espinhos, os cravos nas mãos e nos pés, foi zombado, escarnecido, cuspido e nos deixou um grande exemplo de perseverança. Esse exemplo tão lindo, ao olharmos para Cristo, é a nossa motivação para seguirmos firmes na fé. Ele sofreu, padeceu, morreu, mas venceu para nos fazer vencedores.


“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro.Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8:32-39). Jesus se entregou na cruz por amor, sofreu e morreu para nos tornar mais que vencedores. Que palavra linda! Deixe essa verdade entrar em seu coração. Vale a pena servir a Cristo. Vale a pena viver o evangelho da verdade. Vale a pena ser um peregrino e forasteiro neste mundo. Os forasteiros passaram a ser participantes do sofrimento de Cristo simplesmente por serem suas testemunhas Pedro foi testemunha do sofrimento de Cristo? Objeta-se que Pedro não pôde honestamente ter-se chamado a si mesmo uma testemunha dos sofrimentos de Cristo porque, depois da detenção no jardim, todos os discípulos abandonaram Jesus e fugiram (Mt 26.56). Além do discípulo amado, nenhum outro discípulo foi testemunha da cruz (Jo 19.26-27). Testemunha da ressurreição pôde certamente ter-se chamado Pedro a si mesmo. Na verdade, uma das funções do apóstolo era ser testemunha da ressurreição (At 1.22), mas não era testemunha da cruz. Em um sentido, isso é inegável. Não obstante, Pedro não está afirmando ter sido testemunha da crucificação, mas sim dos sofrimentos de Cristo.


E certamente ele viu Cristo sofrer. Viu-o sofrer a consequência do contínuo rechaço pelos homens, os dilaceradores momentos da última ceia, a agonia no horto e aquele instante em que ele, o próprio Pedro, depois de ter negado Jesus, viu que este se voltava para ele e o olhava (Lc 22.61). Bem, pode dizer-se que, naquele olhar, depois da negação, reuniam-se todos os sofrimentos de um coração quebrantado. É uma crítica prosaica, insensível e pedestre a que nega a Pedro o direito de afirmar que tinha sido testemunha dos sofrimentos de Cristo. Os cristãos eram perseguidos somente por levar o nome de Jesus. Eram considerados criminosos simplesmente por confessar Cristo. Eram levados perante os tribunais não por alguma falta ou delito, mas simplesmente por serem cristãos. A primeira carta de Pedro fala a respeito de ser vituperado pelo nome de Cristo (1Pe 4.14), fala dos sofrimentos do cristão (1Pe 4.16). Tendo isso em conta, aduz-se que essa etapa da perseguição não foi alcançada até depois do ano 100 d.C. Alega-se que, desde cedo na História da Igreja, os seguidores de Cristo eram castigados e perseguidos como malfeitores, como os perseguiu Nero, acusando-os de terem incendiado Roma; que desde cedo os cristãos eram acusados de conduzir-se de forma criminosa e que até muito mais tarde não foram passíveis de castigo e perseguição sem outro motivo senão o de serem seguidores de Cristo. Não há dúvida de que essa era a lei pelos idos do ano 112 d.C. Nessa época, Plínio era governador da Bitínia e amigo pessoal do imperador Trajano. Tinha, de algum modo, a habilidade de transferir todas suas dificuldades ao imperador para que este as solucionasse. Em Bitínia, também havia o “problema” dos cristãos. Plínio sabia muito bem que aqueles eram cidadãos inofensivos e respeitosos da lei e que suas práticas não tinham relação alguma com atos criminosos. Eles mesmos lhe diziam que "costumavam reunir-se em determinado dia, antes do amanhecer, para cantar um hino a Cristo como Deus, e que se tinham comprometido mediante juramento, não para cometer crimes, e sim para não cometer roubo, nem furto, nem adultério, nem quebrantar sua palavra dada e para não negar nenhum depósito quando lhes era demandado". Plínio aceitava tudo isso; mas, quando eram levados perante sua presença, os fazia uma só pergunta. "Perguntei-lhes se eram cristãos. Àqueles que assim o confessaram, voltei-lhes a perguntar pela segunda e terceira vez, ameaçando-os com castigo. Aos que persistiram, ordenei que fossem levados para a execução." O único crime daquelas gentes era ser cristãos.


A resposta de Trajano foi que aquele era o proceder correto e que qualquer que negasse ser cristão e assim o demonstrasse, oferecendo sacrifício aos deuses, devia ser posto em liberdade imediatamente. Dessa correspondência surge nitidamente que estava circulando uma copiosa informação adversa aos cristãos e que o imperador determinou que nenhuma carta anônima de informação tinha que ser aceita nem tomada em conta (Plínio, Cartas 96 e 97). Podemos deduzir que essa etapa da perseguição não começa até o tempo de Trajano e que dado que 1Pedro implica uma situação em que o simples fato de ser seguidor de Cristo é um crime, essa epístola tem que ser, pelo menos, de época tão avançada como a que corresponde ao imperador Trajano. Barclay, em seu comentário bíblico sobre a Primeira Epístola de Pedro, nos dá um esclarecimento de como se desenvolveu a perseguição e o motivo pelo qual o Império Romano perseguiu nossos irmãos: 1. Sob o sistema romano, as religiões estavam divididas em duas classes. Existiam as religiones licitae, quer dizer religiões permitidas, que eram reconhecidas pelo Estado e para as quais estava aberta a todos a possibilidade de praticá-las e apoiá-las. Por outro lado, existiam as religiones illicitae, ou seja, as que eram proibidas pelo Estado e cuja prática era ilegal para todos. Se alguém as praticava, seu processamento era imediato e era uma questão policial. Qualquer que praticasse uma religio illicita era considerado tão criminoso como um bandido ou um assassino. Imediatamente se convertia num proscrito e automaticamente estava sob condenação. Deve notarse que a tolerância romana era muito ampla e que qualquer religião que não afetasse a moralidade pública ou a ordem civil podia ter a segurança de ser permitida. Os romanos não se caracterizavam por ser perseguidores, antes pelo contrário, eram instintivamente tolerantes. 2. O judaísmo era uma religio licita. No começo, como é natural, os romanos não conheciam a diferença entre judaísmo e cristianismo. Este último, pelo que entendiam, era simplesmente uma seita do judaísmo e, se havia tensão e hostilidade entre eles, isso era uma


rixa religiosa particular que não incumbia ao governo romano. Devido a isto, no começo o cristianismo não correu perigo de perseguição. Desfrutava da mesma liberdade de culto que o judaísmo, era considerado como uma religio licita, uma religião permitida. 3. As medidas tomadas por Nero mudaram por completo o estado de coisas. Não importa como tenha começado – e muito provavelmente começou por causa da deliberada ação dos judeus – o governo romano descobriu que o judaísmo e o cristianismo eram muito distintos. É verdade que Nero primeiro perseguiu os cristãos não por serem cristãos, mas sim porque os acusava de ter incendiado Roma. Mas o fato é que o governo tinha descoberto que o cristianismo era uma religião independente. 4. A consequência foi imediata e inevitável. O cristianismo foi imediatamente classificado como religio illicita, religião proibida e imediatamente, ipso facto, todo cristão ficou fora da lei, convertido num criminoso, e isto não porque tivesse cometido algum crime, mas simplesmente por ser cristão. Mediante o historiador romano Suetônio, recebemos evidência direta de que isso foi precisamente o que aconteceu. Suetônio oferece uma espécie de lista de reformas legislativas empreendidas por Nero: Durante seu reinado, muitos abusos foram severamente castigados e reprimidos, e foram promulgadas não poucas leis novas; estabeleceu-se um limite aos gastos; os banquetes públicos foram reduzidos a uma distribuição de mantimentos; proibiu-se a venda nos botequins de toda classe de viandas cozidas, com exceção dos legumes (enquanto que anteriormente toda classe de guloseimas eram expostas ali para sua venda). Impôs-se castigo aos cristãos, uma classe de homens entregues a uma nova e daninha superstição. Acabou-se com as diversões dos condutores de carros que, com base numa prolongada imunidade, pretendiam o direito de brincar de correr por toda parte e divertir-se extorquindo e roubando o povo. Os atores de pantomima e seus sequazes foram expulsos da cidade.


Citamos integralmente essa passagem porque é uma prova de que, no tempo de Nero, o castigo aos cristãos se tinha tornado mais ou menos um simples procedimento policial. É muito evidente que não é necessário aguardar até o tempo de Trajano para que o simples fato de ser seguidor de Cristo fosse considerado como um crime. Em qualquer tempo posterior a Nero, toda pessoa era passível de castigo e até de morte simplesmente por levar o nome de cristão. Isso não significa que a perseguição fosse constante, contínua e coerente. Mas o que significa é que qualquer cristão estava exposto a ser executado em qualquer momento, e isso como um simples procedimento policial. Em determinada região, o seguidor de Cristo podia viver a metade de sua vida, ou até toda ela, em paz; enquanto que em outra região podiam produzir-se estalos de perseguição a cada poucos meses. Isso dependia principalmente de dois fatores: (1) do próprio governador, quem podia eximir os cristãos de toda moléstia ou, pelo contrário, podia pôr em movimento a lei contra eles; (2) dos informantes. Talvez o governador não desejasse agir contra os cristãos, mas se lhe fosse apresentada alguma denúncia contra eles, tinha que proceder. Havia ocasiões em que as turbas iam à rua desejosas de sangue, tempos em que abundavam as denúncias e os cristãos eram massacrados para a diversão dos romanos. Se pudéssemos comparar coisas pequenas com coisas grandes, poderíamos dizer que a posição legal dos cristãos e a atitude da lei romana daquela época assemelhavam-se com a situação que prevalece hoje em muitas partes do mundo moderno. Quer dizer, há certos regulamentos e disposições legais que não são cumpridos de maneira uniforme e constante. Por exemplo, há disposições que proíbem estacionar um carro na rua a noite inteira sem ter alguma luz acesa. Entretanto, regras desse tipo frequentemente são passadas por alto durante longo tempo. Mas se as autoridades policiais decidem iniciar uma operação contra tais infratores ou se isso terminar por converter-se em tema de murmurações sobre o descumprimento da lei, ou se alguém apresenta uma queixa ou formula uma denúncia, então a lei entra em vigor e o castigo ou as sanções correspondentes são aplicados.


Algo assim era a condição dos cristãos no Império. Tecnicamente estavam fora da lei, ainda que de fato bem pudesse ser que não se tomasse nenhuma ação legal contra eles. Não obstante, uma espécie de espada de Dâmocles estava sempre pendente sobre os seguidores de Cristo. Ninguém sabia quando poderia aparecer uma denúncia contra eles; ninguém sabia quando um governador podia tomar medidas repressivas contra eles. Todo cristão estava em permanente perigo de ser morto a qualquer momento. E deve ser claramente entendido que tal estado de coisas prevaleceu constantemente a partir das medidas repressivas tomadas por Nero. Até aquele tempo, as autoridades romanas não tinham advertido que o cristianismo era uma nova religião. Depois disso, souberam e, desde então, automaticamente, o cristão se tornou um proscrito. Fica evidente que o cristianismo no primeiro século viveu tempos tenebrosos. O mais incrível, ao sabermos desses relatos históricos e de tamanha crueldade, é que toda a perseguição romana, tudo o que foi feito de ruim não foi suficiente, o Império Romano não conseguiu parar a igreja do Senhor. Esses fatos históricos nos enchem de orgulho, saber que nossos irmãos peregrinos e forasteiros resistiram até a morte, mas não negaram a cruz de Cristo, testemunharam Cristo mesmo que isso lhes custasse a vida. Graças a Deus, porque essa semente do evangelho plantada por homens e mulheres corajosos brotou, e aqui estamos dando continuidade a esse legado. Como é lindo termos os cristãos do primeiro século como mártires, guerreiros que, mesmo morrendo no campo de batalha, não deixaram de testemunhar e anunciar o evangelho da salvação. Que tenhamos a mesma ousadia, que sejamos corajosos tanto quanto eles. Que os desafios dos nossos dias não consigam nos parar, mas que a cada dor, a cada decepção, estejamos mais pujantes para exaltar o nome do Senhor e salvador Jesus Cristo. Que esses corajosos heróis do primeiro século nos sirvam de exemplo e que os sigamos como referência de amor a Deus. Somos peregrinos e forasteiros e não devemos recuar por nada. Aconteça o que acontecer, venha o que vier, vamos seguir como testemunhas de Cristo. Por cada dor, por cada sofrimento, devemos fazer a nossa parte.


Forasteiros sabem que a sua verdadeira casa é o céu “Para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês” (1Pe 1:4). Forasteiros neste mundo são “filhos herdeiros” nfim chegamos ao versículo de número 4. A partir de agora iremos descrever a mais linda característica de um forasteiro neste mundo. Como já definimos, um forasteiro não tem parada e vive distante do seu verdadeiro lar. Pedro está construindo essa narrativa desde o versículo 1. A partir do momento que aceitamos Jesus Cristo como salvador, podemos ser chamados de forasteiros. Esse prólogo de Pedro no versículo 4 nos remete a uma verdade linda, e isso fica muito claro quando ele utiliza o termo “herança”. Já entendemos nos versículos anteriores que somos “eleitos”, agora precisamos entender que somos herdeiros. Κληρονομία klēronomía (klay-ron-om-ee'-ah) – herança, propriedade recebida (ou a ser recebida) por herança; o que é dado para alguém como uma posse; a eterna bemaventurança do reino consumado de Deus esperada após a volta visível de Cristo; a parte que um indivíduo terá na eterna bem-aventurança (Strong). Acredito que essa definição de Strong como “a eterna bemaventurança do reino consumado de Deus após a volta visível de Cristo” nada mais é que o arrebatamento na segunda vinda de Cristo. O que Strong está querendo nos dizer é que essa herança é o verdadeiro direito do filho de herdar o céu, pois através de Cristo nos tornamos filhos. E


“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). “Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4.7) “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no seu nome” (1Jo 1.12). “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque o não conhece a ele” (1Jo 3.1). “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus” (Rm 8.14). Não somos órfãos, temos um pai. Não somos desabrigados, temos um lar. Somos herdeiros, temos por herança o direito de filhos à casa do pai. Tudo o que é do pai, por direito, é nosso. Foi isso que o “Primogênito” disse: “Vou para o pai preparar um lugar para vocês” (Jo 14.3). Como humanos, cheios de falhas, muitas vezes não sabemos com quem reclamar ou com quem abrir nosso coração. Nunca podemos nos esquecer de que temos um Pai, a quem sempre devemos recorrer. Em vez de reclamar com quem não pode nos ajudar, devemos procurar o nosso Pai em oração, contar-lhe nossas dificuldades e pedir ajuda. Foi isso que Jesus nos ensinou quando orou dizendo: “Pai nosso que estás nos céus” (Mt 6.7-15). Por mais que não saibamos como pedir, o Espírito ajuda em nossas fraquezas, porque não sabemos pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Temos o Espírito Santo de Deus, que intercede por nós diante do Pai. Tudo o que devemos fazer é falar com o Pai. Diante do nosso Pai, não é necessário formalidade, não é necessário protocolo, somos filhos e temos acesso direto a ele. Do seu jeito, como puder, tenha liberdade de falar com o Pai, abrir o seu coração e contar-lhe tudo o que você está sentindo. Afinal, um pai nunca virará as costas para um filho.


“Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei” (Jr 29.12). “E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei" (Jo 14.13,14). "Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Mt 7.7). É a palavra do Senhor que está dizendo, temos um pai, basta pedir, basta falar com ele. Pedro, ao afirmar que somos herdeiros, diz que essa herança é incorruptível, incontaminável, não perecerá, jamais a perderemos, está reservada e preservada para o grande dia que nos encontrarmos com nosso Salvador. O tempo, as aflições, as situações ou as circunstâncias não arrancarão de nós o direito de filhos herdeiros. Champlin, em seu comentário sobre 1Pedro 1.4, diz: Herança: termo que no AT refere-se especialmente à Canaã, a terra prometida ao povo de Deus; no NT, é aplicado à salvação que Deus outorga aos que nele confiam e que constitui o fundamento da esperança cristã, tema que sobressai nesta carta. Champlin está coberto de razão. Somos forasteiros neste mundo, não somos daqui, vivemos neste mundo, mas não pertencemos a ele. Temos uma casa, uma verdadeira morada, o céu, a terra prometida, e essa “esperança está viva” dentro do nosso coração. Nada a corromperá ou maculará. Nada esfriará essa chama verdadeira em nosso coração, de que em breve Jesus, nosso salvador, virá nos buscar e subiremos para morar com ele no céu. É lindo o que Barclay nos diz em seu comentário bíblico sobre a 1Pedro 1.4: Através de Cristo, o cristão entrou em possessão de uma grande herança, em grego kleronomia. Aqui temos uma palavra com uma prodigiosa história. Este vocábulo é usado regularmente no Antigo


Testamento grego para referir-se à herança de Canaã, a Terra Prometida. Várias vezes o Antigo Testamento refere-se à terra que Deus deu a seu povo como herança para a possuíres (Dt 15:4; Dt 19:10). A palavra “herança”, para nós, tem o significado de receber algo no futuro póstumo a nossos familiares, mas o sentido bíblico é outro; afinal, o termo original significa algo estável e seguro. Segundo historiadores, para os judeus, a grande herança, a grande possessão firme e determinada, o grande legado era a terra prometida. O sentido que Pedro atribui ao texto esclarece que essa herança é ainda maior que para os judeus. Pedro usa três grandes palavras para afirmar essa verdade, elencando três grandes figuras no pano de fundo de cada uma delas para descrever a herança cristã. É "incorruptível”: o termo grego aqui é afthartos, e o significado dessa palavra é incorruptível e imperecível, mas, além disso, segundo Strong (léxico) pode significar “não assolada por nenhum exército inimigo”. Conhecemos a história e sabemos que muitas vezes Israel foi atacada e destruída por inimigos. O que Pedro está afirmando é que estamos assegurados, ninguém tirará de nós a paz e a segurança da vida eterna. “Sem mácula”: segundo o léxico Strong, a palavra grega é amiantos, e o verbo correspondente do qual se deriva o adjetivo miainein, que significa corromper, contaminar, com malvada impureza. Para um judeu, ver a palavra miainein era algo muito significante, pois eles haviam sofrido na pele as consequências de ter se contaminado com outros deuses (Jr 2:7, Jr 2:23; Jr 3:2, Ez 20:43). Eles tinham as marcas da impureza da idolatria. É “imarcescível”: essa palavra, em grego, segundo Strong, é amarantos, usada pelos judeus quando uma flor murchava. O que Pedro está afirmando é que nossa herança nunca irá murchar, nem mudar com nenhuma estação. Só o nosso Deus pode nos garantir algo tão belo e significativo como o direito a essa herança. O salmista já havia dito: “Senhor tu és a porção da minha herança” (Sl 16.5). “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele” (Lm 3.24).


Peregrinos e forasteiros são herdeiros por direito John MacArthur, em seu comentário sobre a primeira epístola de Pedro, define herdeiros de uma forma histórica: A palavra-chave de toda esta passagem é herança, que é riqueza que passou para baixo, ou um legado que se recebe como um membro de uma família. O conceito tem raízes no Antigo Testamento [...]. Na verdade, a mesma raiz grega (klēronomia) [...] é usada na Septuaginta para falar das parcelas de Canaã atribuídas por Deus para cada tribo em Israel, exceto Levi (Nm 18.20-24 ; 32.6-13). Em Números 26.54- 56, a forma verbal aparece em 53 e 55. Em 34.2, é usada para toda a Terra Prometida como herança coletiva de Israel [...]. A palavra também é usada inúmeras vezes para outros tipos de herança (por exemplo, a herança individual das filhas de Zelofeade (Nm 27.7-11). Klēronomia é, muitas vezes, traduzida como "posse" em traduções para o inglês do Antigo Testamento. Essa explicação de MacArthur esclarece muito o termo citado por Pedro. Essa herança não se refere à herança que se possui somente no fim da vida de um ente querido, e sim à herança que se adquire por ser filho no momento da repartição dos bens recebidos diante da conquista. Na divisão da terra prometida, cada filho de Jacó recebeu a sua parte da herança, logo essa herança é o que recebo pelo direito de ser filho, ou seja, sou participante de todos os benefícios do reino simplesmente por ser filho de Deus. A herança do seguidor de Cristo, o pleno gozo de Deus, está aguardando-o no céu. E sobre isso Pedro tem duas grandes coisas a dizer. A primeira é que, em nossa viagem através deste mundo rumo à eternidade, somos guardados pelo poder de Deus mediante a fé. A palavra que Pedro usa em grego é frourein, um termo militar. Significa que nossa vida está guarnecida por Deus, que Ele age como a sentinela de todos os nossos dias. O homem que tem fé nunca duvida, mesmo que não possa ver que Deus monta guarda entre as sombras para proteger os seus. Não é que


Deus nos salve dos problemas e das aflições da vida, mas nos capacita a enfrentá-los, a suportá-los, a vencê-los e a seguir adiante. Segundo Barclay em seu comentário bíblico de 1 Pedro, “A salvação final, a libertação última será revelada no último tempo”. Sabemos que o Novo Testamento fala frequentemente do último dia, ou dos últimos dias, ou do último tempo. Como pano de fundo, temos a ideia judia do tempo. Os judeus dividiam o tempo em duas idades. Havia a idade presente, a qual era totalmente má e estava sob o absoluto domínio do mal, e a idade vindoura, que seria a idade áurea de Deus. Em meio a essas duas idades, elevava-se o Dia do Senhor, durante o qual o mundo seria destruído e reconstruído, e viria o juízo. A esse tempo intermediário os judeus chamavam "os últimos dias" ou "o último tempo". Mais singelo será dizer que, quando o Novo Testamento fala dos últimos dias, refere-se a quando o tempo e o mundo, tal como os conhecemos hoje, terão fim. Devemos lembrar sempre que não nos é concedido saber quando chegará esse momento, nem o que então sucederá. Vamos refletir um pouco agora no que o Novo Testamento fala sobre o fim dos tempos. ❖ Os cristãos criam estar vivendo já nesses últimos dias. "Já é o último tempo", diz João aos seus leitores (1Jo 2.18). O autor de Hebreus fala da plenitude da revelação que em Cristo alcançou os homens nestes últimos dias (Hb 1.2). Tal como o viam os primitivos cristãos, Deus tinha invadido o tempo, e o fim se estava apressando. ❖ Os últimos tempos teriam que ser tempos de derramamento do Espírito de Deus sobre os homens (At 2.17). Os primitivos cristãos também viram o cumprimento disso no Pentecostes e na igreja cheia do Espírito. ❖ Era convicção generalizada entre os primitivos cristãos que, antes do fim, as potências do mal fariam uma espécie de último assalto e, então, surgiria toda classe de mestres falsos e mentirosos (2Tm 3.1; 1Jo 2.18; Jd 1.18, Jo 6.11, 40, 44, 54). ❖ Inevitavelmente seria um tempo em que se exerceriam o juízo e a justiça divinos, e os inimigos de Deus encontrariam sua justa condenação e castigo (Lc 10.16, Jo 12:48).


Acredito serem essas as ideias do Novo Testamento a respeito dos últimos tempos. Para nós, paroikos neste mundo, palavras de conforto, mas para aqueles que ainda não entregaram a vida a Cristo, palavras perturbadoras. Se você ainda não entregou sua vida a Cristo, não perca mais tempo, estamos vivendo os últimos tempos, em breve nosso Senhor virá nos buscar, as trombetas tocarão, o céu se abrirá e o noivo, Jesus, virá buscar a sua noiva, a Igreja. Examine se você ainda não é salvo, no verdadeiro significado da palavra, como diz Charles Bigg em seu comentário: No Novo Testamento, os vocábulos sozein, salvar, e soteria, salvação, têm quatro esferas de significados distintos, mas intrinsecamente relacionados. 1 - Descrevem a libertação de um perigo (Mt 8.25). 2 - Descrevem a libertação de uma enfermidade (Mt 9.21). 3 - Descrevem a libertação da condenação de Deus (Mt 10.23; Mt 24.13). 4 - Descrevem a libertação da enfermidade e do poder do pecado (Mt 1.21). A salvação é algo multifacético. Nela há libertação do perigo, da enfermidade, da condenação e do pecado. E isto, e nada menos que isto, é o que o cristão pode esperar confiantemente no final. Por isso, se você ainda não está salvo do perigo do fogo eterno, se não está curado por Cristo, não está livre da justiça divina, não está liberto de uma vida de pecado, corra para os braços de Jesus, porque ainda dá tempo. Em breve isso não será mais possível, o mundo estará um caos. O céu é para os forasteiros Olha que lindo o que Pedro diz: “Por isso, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.13). Esperemos na graça que veio a nós através da revelação de Jesus Cristo. Que verdade esplêndida das Escrituras! Temos, pela


graça, o direito à salvação, não merecíamos, mas o amor de Cristo nos alcançou e, através da graça, temos direito à salvação e à vida eterna. Não estamos condenados ao inferno, a graça nos alcançou. Somos livres e podemos crer que moraremos no céu. “E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (1Pe 1.21). “Esperança em Deus”. O céu é a nossa verdadeira esperança, esperança real de que um dia toda dor e todo sofrimento passarão. Um dia todas as aflições deste mundo acabarão. “Antes, santificai a Cristo como Senhor em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). “Esperança que há em vós”. Temos que estar o tempo todo aptos para responder a qualquer um sobre a verdadeira esperança que está em nosso coração, a esperança viva de que um dia Jesus virá nos buscar e iremos para o céu viver em paz. “E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração” (1Pe 4.7). “Está próximo o fim de todas as coisas”. Glória a Deus por essa afirmação! Com essa palavra, devemos dormir e acordar todos os dias da nossa vida. Nada pode arrancar essa verdade do nosso coração, de que a cada dia que passa estamos ainda mais próximos de nos encontrar com Jesus, nosso salvador. Maranata! Ora vem, Senhor Jesus! (1Co 16.22). Essa deve ser a nossa oração diária, devemos dormir e acordar com essa verdade queimando em nosso coração. O fim está próximo. Jesus está vindo me buscar. Em breve irei vê-lo. Em breve irei me encontrar com Ele. “Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1Pe 4.13).


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