Caro aluno O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores universidades do Brasil. Ao elaborar o seu Sistema de Ensino, o Hexag Medicina considerou como principal diferencial em relação aos concorrentes sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. Você está recebendo o livro Estudo Orientado. Com o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios: Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixação da matéria dada em aula. Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio, buscando a consolidação do aprendizado. Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade. Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais vestibulares do Brasil. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando o aluno para esse tipo de exame. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das universidades públicas de São Paulo. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase das universidades públicas de São Paulo Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj. Uerj (exame discursivo): exercícios dissertativos que possibilitam a consolidação do aprendizado para o vestibular da Uerj. Visando a um melhor planejamento dos seus estudos, os livros de Estudo Orientado receberão o encarte Guia de Códigos Hierárquicos, que mostra, com prático e rápido manuseio, a que conteúdo do livro teórico corresponde cada questão. Esse formato vai auxiliá-lo a diagnosticar em quais assuntos você encontra mais dificuldade. Essa é uma inovação do material didático. Sempre moderno e completo, trata-se de um grande aliado para seu sucesso nos vestibulares. Bons estudos!
SUMÁRIO ENTRE LETRAS GRAMÁTICA 3 AULAS 27 E 28: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS ADJETIVAS 4 AULAS 29 E 30: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS 28 AULAS 31 E 32: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS 40 AULAS 33 E 34: COLOCAÇÃO PRONOMINAL 72 LITERATURA 87 AULAS 27 E 28: PRÉ-MODERNISMO 88 AULAS 29 E 30: TEORIA DA VANGUARDA 95 AULAS 31 E 32: MODERNISMO PORTUGUÊS I 107 AULAS 33 E 34: MODERNISMO PORTUGUÊS II 118
LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTRE LETRAS 4 GRAMÁTICA
4 VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que apresenta ideia equivalente à da oração a seguir: “O professor não proíbe, antes estimula as perguntas em aula.” a) As abelhas não apenas produzem mel e cera, mas ainda polinizam as flores. b) Os livros ensinam e divertem. c) Vestia-se bem, embora fosse pobre. d) Não aprovo nem permitirei essas coisas. e) Quis dizer mais alguma coisa e não pôde. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO POESIA AINDA VIAJA PELAS ÁGUAS DO MUNDO 1 Acordei pensando em rios – que dão sempre um toque feminino a qualquer cidade – e me dizendo que o único possível defeito do Rio de Janeiro é não ter um rio. Pior ainda, é de ter sufocado o seu rio, exatamente o rio chamado Carioca, do vale das Laranjeiras. 2 Esse rio, hoje secreto, que corre como um malfeitor debaixo de ruas, ninguém, nenhum poeta o cantou melhor e mais ternamente do que Alceu Amoroso Lima. 3 Nascido à beira do Carioca quando o Carioca ainda se fazia ver e ouvir na maior parte do seu breve curso, Alceu parece ter guardado a vida inteira o rumor do rio no ouvido. Ele nasceu ali, na Chácara da Casa Azul. 4 Quando o Rio completou 400 anos, em 1965, Alceu escreveu para Aparência do Rio de Janeiro, de Gastão Cruls, então reeditado pelo José Olympio, um artigo que é um verdadeiro poema em prosa, chamado “O Nosso Carioca”. 5 Começa assim: “Muito antes de existir o Rio de Janeiro, hoje quatrocentão, existia o rio Carioca. Aquele ficou sendo rio por engano. O Carioca, esse já o era, havia séculos. Talvez por isso a contradança das coisas humanas fez do que não era rio um Rio para sempre, e do que o era de fato, ao nascer o outro, uma reles galeria de águas pluviais, quando o falso rio completa o seu quarto centenário. ‘Das Caboclas’ era também seu nome”. 6 “ ‘Carioca’, que nos dizem significar casa de branco, e outros, com mais probabilidade, casa de pedra, foi o nome dado em virtude do depósito de pipas de água fresca (...) para a aguada das caravelas e dos bergantins. ‘Das Caboclas’ por outros motivos, menos aquáticos que afrodíticos. O rio acompanhava, descoberto, o vale das Laranjeiras, desde a encosta do Corcovado até o Flamengo”. 7 No meio de sua deliciosa evocação, em que diz que cada casa do vale, como a sua, tinha sua ponte sobre o rio, e que cada ponte parecia estar sempre sendo atravessada por meninas em flor, Alceu, numa breve e certeira observação do grande crítico literário que era, põe o humilde Carioca a fluir entre os grandes rios clássicos e eternos. 8 Pessoalmente, só vi o Carioca à luz do sol uma vez, por ocasião das terríveis chuvaradas do ano de 1967. 9 A tromba d’água que descia do Corcovado foi tão persistente e se infiltrou pelo solo tão caudalosa que começou de repente a fraturar o próprio leito da rua das Laranjeiras, que afinal se rachou em duas partes. Acho que foi esta a única vez que o rejeitado Carioca teve fúria de grande rio. 10 Eu não conheço o assunto mas arriscaria o palpite de que nenhum país do mundo contém mais água doce do que o Brasil. Temos rios descomunais. Só que em geral vadios, desocupados. 11 Ao contrário do que fizeram a Europa, os Estados Unidos, a antiga União Soviética, que comunicaram e intercomunicaram seus rios, montando um tapete rolante de gente e de riquezas, aqui deixamos os rios na vagabundagem. 12 Em termos de literatura, quem quiser sentir o que a operosidade dos europeus tem feito para pôr os rios a trabalhar para os homens, basta ler Simenon. Os canais, diques e eclusas estão tão presentes em seus livros quanto os desesperados e os criminosos. São romances em que a humanidade sofre e envereda pelos caminhos errados, mas as barcaças e navios não se enganam nunca. 13 Os rios têm leito, rumo, juízo. Os homens que continuem cometendo seus desvarios que eles, ainda que subindo e descendo de nível quando necessário, deslizam no maior sossego pelas águas ensinadas. 14 Enquanto isso nós, no Brasil, olhamos com tédio as correias de transmissão de poderosos rios a rolarem vazias entre estradas esburacadas e arquejantes de caminhões. 15 Só no Brasil o transporte mais caro, o de caminhões, é muito maior que o de vias férreas e fluviais. Com exceção do rio Tietê, que é praticamente do tamanho do Reno e que pelo jeito acaba ficando tão navegável e próspero quanto o Reno. Obcecado com o interior de São Paulo, o Tietê corre de costas para o mar, para percorrer todo o Estado e acabar no Paraná, na bacia do rio da Prata. 16 O Paraná e o Tietê já estão quase prontos para entrar num romance de Simenon, com seus canais artificiais e suas eclusas, e os navios abarrotados de calcário, de soja, de milho, álcool de cana. 17 De qualquer forma ainda estamos, no Brasil, longe dos meus sonhos, que são de um país ativíssimo mas silencioso. Desde que li, já faz muito tempo, uma monografia sobre hidrovias e a interligação de nossas bacias hidrográficas, fiquei escravo da miragem. PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS ADJETIVAS COMPETÊNCIA(s) 1, 6 e 8 HABILIDADE(s) 1, 18 e 27 LC AULAS 27 E 28
5VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 18 A ideia da monografia, escrita por gente do ramo, do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, era nada mais nada menos que a ligação pelas águas de Belém do Pará a Buenos Aires. Um mapa todo aquoso mostrava uma grande hidrovia artificial na altura de Cáceres, em Mato Grosso, no rio Paraguai, e mais umas barragens e eclusas nas bacias do Prata e do Amazonas. 19 Pronto! Estava completa a ligação de Belém com Buenos Aires, à bagatela de uns nove mil quilômetros de imponderável mas indestrutível estrada. Se o Brasil, do tempo em que eu li a monografia para cá, tivesse gasto menos dinheiro em quarteladas, Transamazônicas e Angras, teríamos atado para sempre esse nó de águas amazônicas e platinas. 20 Para um romance nesse cenário, Simenon não dava mais. Seria preciso convocar o Rosa. (Antonio Callado - In FOLHA DE SÃO PAULO. 09/04/1994.) 2. (Unirio) Em todas as opções a seguir há uma oração subordinada adjetiva, EXCETO em: a) esse rio, hoje secreto, que corre como um malfeitor debaixo de ruas. (parágrafo 2.) b) ...então reeditado pela josé olympio, um artigo que é um verdadeiro poema em prosa. (parágrafo 4.) c) ...diz que cada casa do vale, como a sua, tinha sua ponte sobre o rio... (parágrafo 7.) d) a tromba d’água que descia do corcovado... (parágrafo 9.) e) com exceção do rio tietê, que é praticamente do tamanho do reno... (parágrafo 15.) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: BUSCANDO A EXCELÊNCIA Lya Luft Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistentemente. Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual. As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito [...] Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. [...] Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que a escola é também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos. Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou desatinadas, [...] se delineia com grande inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e esperança. (Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado). 3. (G1 - Ifsp) [...] se delineia (...) a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral (...). O uso combinado dos termos destacados produz o sentido de a) contrariedade. b) temporalidade. c) causalidade. d) exceção. e) adição. 4. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que está destacada uma oração coordenada explicativa. a) Peço que te cales. b) O homem é um animal que pensa. c) Ele não esperava que a mãe o perdoasse. d) Leve-a até o táxi, que ela precisa ir agora. e) É necessário que estudes. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO QUARTO DE DESPEJO “O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro” 2 de maio de 1958 Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo. ...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção. Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operarios. ...Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12. Passei o dia catando papel. A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar. Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o José Carlos. A intimação era para ele. O José Carlos tem 9 anos. 3 de maio ...Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer. 6 de maio De manhã não fui buscar agua. Mandei o João carregar. Eu estava contente. Recebi outra intimação. Eu estava inspirada e os
6 VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias versos eram bonitos e eu esqueci de ir na Delegacia. Era 11 horas quando eu recordei do convite do ilustre tenente da 12ª Delegacia. ...o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la. Estão construindo um circo aqui na Rua Araguaia, Circo Theatro Nilo. 9 de maio Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que estou sonhando. 10 de maio Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação. (...) O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades. (...) O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo e nas crianças. 11 de maio Dia das mães. O céu está azul e branco. Parece que até a natureza quer homenagear as mães que atualmente se sentem infeliz por não realizar os desejos de seus filhos. (...) O sol vai galgando. Hoje não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 cruzeiros. Disse-me que era para a Vera ir no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro para comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 cruzeiros.(...) Ontem eu ganhei metade da cabeça de um porco no frigorifico. Comemos a carne e guardei os ossos para ferver. E com o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome. Quando eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar. (...) Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas. O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar pelas paredes. É assim que os favelados matam mosquitos. 13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões os negros eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. (...) Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. (...) Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim: “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer sopa para os meninos. Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina” (...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou a pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetáculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome! (DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo. Adaptado) 5. (Epcar (Afa)) Assinale a alternativa abaixo em que os períodos NÃO apresentam relação de causa e consequência entre si. a) “O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar pelas paredes.” b) “Quando eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar.” c) “Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas.” d) “A chuva passou um pouco. Vou sair.” 6. (G1 - IFSP) Conjunções são palavras que ligam orações independentes; elas podem apresentar ideias conclusivas, alternadas, explicativas, dependendo do contexto e conjunção utilizada. Observe a oração abaixo: Joana estudou o ano inteiro, logo foi bem nas provas finais. Assinale a alternativa cuja conjunção destacada apresenta a mesma função da conjunção destacada na oração. a) Ele não respondeu às minhas cartas nem me telefonou. b) A mulher chamou o táxi, porém não foi ouvida. c) Tudo foi executado conforme planejamos. d) Você me ajudou muito; terá, pois, minha eterna gratidão. e) Viajarei mesmo que meus pais não autorizem. 7. (EEAR) Leia: I. Todos os brasileiros que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira devem gastar longas horas de estudo e dedicação. II. Todos os brasileiros, que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira, devem gastar longas horas de estudo e dedicação. Marque a alternativa correta. a) A frase I possibilita a conclusão de que todos os brasileiros, indiscriminadamente, desejam ingressar na Força Aérea Brasileira. b) As frases I e II estão em desconformidade com as normas gramaticais vigentes em relação às Orações Subordinadas Adjetivas. c) A frase I, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, não apresenta vírgulas. Esse fato está em conformidade com as normas gramaticais vigentes. d) A frase II, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, apresenta vírgulas. Esse fato está em conformidade com as normas gramaticais vigentes.
7VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A PIPOCA Rubem Alves A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento. As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do candomblé... A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista do tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas! E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa − voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! − e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante. Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. “Morre e transforma-te!” − dizia Goethe. Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extraordinário professor-pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira... Disponível em http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp. Acessado em 31 de mai. 2016. Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.
8 VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 8. (Efomm) Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. POR ISSO tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. O termo destacado nessa passagem exprime ideia de: a) condição. b) conclusão. c) oposição. d) causalidade. e) comparação. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 9. (G1 - Cftrj) No último quadrinho da tirinha, lemos a seguinte fala “Mas o computador é campeão: destrói uma vida inteira com a velocidade do pensamento”. Se, em vez de dois pontos, houvesse um conectivo ligando as duas orações, dentre as opções a seguir, a única que cumpre tal papel com coerência é: a) visto que. b) portanto. c) no entanto. d) conforme. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Poesia não são rimas mas letras que choram. Poesia não são formas, são gritos que se escrevem. Poesia não é imaginada, é o lamento da madrugada. (ECO, Umberto) 10. (G1 - IFAL) Em relação aos versos “Poesia não são formas,” (3º verso) “são gritos que se escrevem.” (4º verso), pode-se inferir uma relação sintático-semântica de: a) adição. b) adversidade. c) alternância. d) explicação. e) causalidade. E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Mas quando todas as luzes da península se apagaram ao mesmo tempo, apagón lhe chamaram depois em Espanha, negrum numa aldeia portuguesa ainda inventora de palavras, quando quinhentos e oitenta e um mil quilómetros quadrados de terras se tornaram invisíveis na face do mundo, então não houve mais dúvidas, o fim de tudo chegara. Valeu a extinção total das luzes não ter durado mais do que quinze minutos, até que se completaram as conexões de emergência que punham em acção os recursos energéticos próprios, nesta altura do ano escassos, pleno verão, Agosto pleno, seca, míngua das albufeiras, escassez das centrais térmicas, as nucleares malditas, mas foi verdadeiramente o pandemónio peninsular, os diabos à solta, o medo frio, o aquelarre, um terramoto não teria sido pior em efeitos morais. Era noite, o princípio dela, quando a maioria das pessoas já recolheram a casa, estão uns sentados a olhar a televisão, nas cozinhas as mulheres preparam o jantar, um pai mais paciente ensina, incerto, o problema de aritmética, parece que a felicidade não é muita, mas logo se viu quanto afinal valia, este pavor, esta escuridão de breu, este borrão de tinta caído sobre a Ibéria, Não nos retires a luz, Senhor, faz que ela volte, e eu te prometo que até ao fim da minha vida não te farei outro pedido, isto diziam os pecadores arrependidos, que sempre exageram. (SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p.35-36.) 1. (UEL) Sobre o emprego de conectivos no texto, considere as afirmativas a seguir. I. No trecho “[...] até que se completaram as conexões de emergência [...]”, a expressão em destaque expressa noção temporal e pode ser substituída por “quando”. II. No trecho “[...] isto diziam os pecadores arrependidos, que sempre exageram”, o pronome relativo “que” inicia oração que acrescenta uma característica ao termo antecedente.
9VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias III. Em “ [...] e eu te prometo que até o fim da minha vida [...]” o conectivo “e” equivale a “mas”, iniciando uma oração coordenada adversativa. IV. O uso do conectivo “mas” em “[...] parece que a felicidade não é muita, mas logo se viu quanto afinal valia” expressa oposição, portanto introduz uma oração coordenada adversativa. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e III são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO EMOÇÕES NA MONTANHA-RUSSA (FRAGMENTO) Uma das sensações mais intensas e perturbadoras 1 que se pode experimentar, neste nosso mundo atual, é um passeio na montanha-russa. Só não é nem um pouco recomendável para quem tenha problemas com os nervos ou com o coração, nem para aqueles com o sistema digestivo sensível. A própria decisão de entrar na brincadeira já requer alguma coragem, a gente sabe 2 que a emoção pode ser forte até demais e 3 que podem decorrer consequências imprevisíveis. Entra quem quer ou quem se atreve, mas sabe-se também 4 que muita gente entra forçada por amigos e pessoas queridas, meio que contra a vontade, pressionada pela vergonha de manifestar sentimentos de prudência ou o puro medo. Mas, uma vez que se entra, 5 que se aperta a trava de segurança e a geringonça se põe em movimento, a situação se torna irremediável. Bate um frio na barriga, o corpo endurece, as mãos cravam nas alças do banco, a respiração se torna cada vez mais difícil e forçada, o coração descompassa, um calor estranho arde no rosto e nas orelhas, ondas de arrepio descem do pescoço pela espinha abaixo. Nicolau Sevcenko: A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. 2. (G1 - IFCE) Em relação ao objeto a que se refere, uma oração adjetiva restritiva atribui a esse objeto uma característica, de modo a torná-lo específico entre semelhantes, a torná-lo um ser em particular; individualiza-o, por fim, pois condiciona seu sentido apenas ao contexto referenciado. Essa propriedade relacional é o que se observa na oração a) “que a emoção pode ser forte” (ref. 2). b) “que podem decorrer consequências imprevisíveis” (ref. 3). c) “que muita gente entra forçada por amigos e pessoas queridas” (ref. 4). d) “que se pode experimentar” (ref. 1). e) “que se aperta a trava” (ref. 5). TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO CAPÍTULO II Como os homens daquela terra principiaram a tratar conosco, das suas casas e de alguns peixes que ali há, muito diversos dos nossos. Naquele mesmo dia, que era no oitavário da Páscoa, a 26 de abril, determinou o capitão-mor de ouvir missa, e assim mandou armar uma tenda naquela praia, e debaixo dela um altar, e toda a gente da armada assistiu tanto à missa como à pregação, 1 juntamente com muitos dos naturais, que bailavam e tangiam nos seus instrumentos; logo que se acabou, voltamos aos navios, e aqueles homens entravam no mar até aos peitos, cantando e fazendo muitas festas e folias. Depois de jantar tornou a terra o capitão-mor, e a gente da armada para espairecer com eles, e achamos neste lugar um rio de água doce. Pela volta da tarde tornamos às naus e no dia seguinte determinou-se fazer aguada e tomar lenhas, 2 pelo que fomos todos a terra e os naturais vieram conosco para ajudar-nos. 3 Alguns dos nossos caminharam até uma povoação onde eles habitavam, coisa de três milhas distante do mar, 4 e trouxeram de lá papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão de ali que usam, e algum arroz, dando-lhe os da armada cascáveis e folhas de papel em troca do que recebiam. Estivemos neste lugar cinco ou seis dias; os homens, como já dissemos, são baços, e andam nus sem vergonha, têm os seus cabelos grandes e a barba pelada; as pálpebras e sobrancelhas são pintadas de branco, negro, azul ou vermelho; trazem o beiço de baixo furado e metem-lhe um osso grande como um prego; outros trazem uma pedra azul ou verde e assobiam pelos ditos buracos; as mulheres andam igualmente nuas, são bem feitas de corpo e trazem os cabelos compridos. As suas casas são de madeira, cobertas de folhas e ramos de árvores, com muitas colunas de pau pelo meio e entre elas e as paredes pregam redes de algodão, nas quais pode estar um homem, e de [baixo] cada uma destas redes fazem um fogo, de modo que numa só casa pode haver quarenta ou cinqüenta leitos armados a modo de teares. OLIVIERI, Antonio Carlos e VILLA, Marco Antonio. Cronistas do descobrimento. São Paulo: Editora Ática, 1999, pp. 30 e 31. 3. (Udesc) Analise as proposições em relação à obra Cronistas do descobrimento, Olivieri, Antonio Carlos e Villa, Marco Antonio e ao texto. I. A leitura do período “Alguns dos nossos caminharam até uma povoação onde eles habitavam, coisa de três milhas distante do mar, e trouxeram de lá papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão de ali que usam, e algum arroz, dando-lhe os da armada cascáveis e folhas de papel em troca do que recebiam” (referência 3) leva o leitor a inferir um momento de escambo. II. Nos sintagmas “juntamente com muitos dos naturais” (referência 1) e “pelo que fomos todos a terra e os naturais vieram conosco para ajudar-nos” (referência 2) a palavra destacada refere-se aos habitantes nativos da terra recém-descoberta. III. Eliminando-se a vírgula de “e trouxeram de lá papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão de ali que usam” (referência 4) o sentido original do período ainda permanece o mesmo, e a segunda oração passa a ser classificada como oração subordinada adjetiva explicativa. VI. O texto descritivo caracteriza-se pela exposição de detalhes significativos levantados pelo autor a partir de percepção sensorial e de imaginação criadora. No texto, a predominância de adjetivos também o caracterizam como descritivo.
10VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. b) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. e) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Para responder o que é pedido, leia o texto, constituído de parte de uma entrevista concedida pela educadora Priscila Monteiro ao Diário na Escola. DIÁRIO NA ESCOLA - A matemática no ensino infantil pode ajudar a desenvolver o conceito de cidadania nas crianças? PRISCILA - O que considero mais importante para o conceito de cidadania é a utilização da matemática para desenvolver o potencial argumentativo dos alunos. Para isso, a disciplina não pode ser vista só como uma ciência exata e absoluta do dois mais dois dá quatro. Os professores precisam provocar as crianças para que elas saibam argumentar e consolidar um conhecimento. DIÁRIO NA ESCOLA - Pode exemplificar? PRISCILA - Quando o aluno do ensino infantil tem de anotar uma determinada quantidade de coisas, desenha pauzinhos, risca palitinhos. O educador quer que ele use o numeral 5, pois é mais econômico; porém, para a criança é mais coerente usar cinco marcas do que um número só. Isso tem uma lógica grande: como cinco coisas podem ser representadas por um número apenas? Para que a criança evolua, a atividade deve criar um problema para o seu registro. O professor pode pedir que ela registre 105 coisas. 1 As marcas, palitinhos, pauzinhos, não são eficientes nesse caso, pois seriam muitos. Um número é mais rápido. É interessante que isso aconteça para que professores e crianças discutam e argumentem. Essa argumentação é a grande formação de cidadania: pensar e refletir para validar respostas e conhecimentos, não apenas pedir que o aluno aceite. Nós decoramos a propriedade que diz que a ordem dos fatores não altera o produto. Mas esse conhecimento é sem valor se não for a conclusão de algo que se construiu, que levou o aluno a entender que dois multiplicado por três é a mesma coisa que três multiplicado por dois. Essa é a conclusão de um conhecimento construído por outro que não deve ser ensinada nem aceita como um conhecimento pronto. Alunos e professores devem ter argumentos para respaldar os caminhos da matemática. Esse exercício é fundamental para formar cidadãos que saibam questionar fatos, determinações, deveres e que saibam argumentar sobre seus direitos. Diário do Grande ABC, 14.11.03, p. 3 (adaptado). 4. (UFSM) Em “As marcas, palitinhos, pauzinhos, não são eficientes nesse caso, pois seriam muitos” (ref. 1), a segunda oração justifica a primeira. Se a questão da EFICIÊNCIA das marcas, palitinhos, pauzinhos fosse redigida em forma de oração adjetiva e o fato de SEREM MUITOS em forma de oração principal, o período seria: a) As marcas, palitinhos, pauzinhos, que não são eficientes nesse caso, seriam muitos. b) Não seriam eficientes, nesse caso, as muitas marcas, palitinhos, pauzinhos. c) Seriam muitos, nesse caso, as marcas, palitinhos, pauzinhos. d) As marcas, palitinhos, pauzinhos, que seriam muitos, não seriam eficientes nesse caso. e) Seriam muitos as marcas, palitinhos, pauzinhos; logo, não seriam eficientes. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 5. (G1 - CPS) Em “Recicla-me ou te devoro”, há a presença de duas orações que estabelecem entre si uma relação de: a) adição. d) explicação. b) alternância. e) oposição. c) conclusão. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Leia o trecho do texto Empatia, de Martha Medeiros, e responda à(s) questão(ões). EMPATIA As pessoas se preocupam em ser simpáticas, mas pouco se esforçam para ser empáticas, e algumas talvez nem saibam direito o que o termo significa. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreendê-lo emocionalmente. Podemos até não sintonizar com alguém, mas nada impede que entendamos as razões pelas quais ele se comporta de determinado jeito, o que o faz sofrer, os direitos que ele tem. Nada impede? Foi força de expressão. O narcisismo*, por exemplo, impede a empatia. A pessoa é tão autofocada, que para ela só existem dois tipos de gente: os seus iguais e o resto, sendo que o resto não merece um segundo olhar. Narciso acha feio o que não é espelho. Ele se retroalimenta de aplausos, elogios e concordâncias, e assim vai erguendo uma parede que o blinda contra qualquer sentimento que não lhe diga respeito. Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes se voltem para essa agressão gravíssima. Se pisarem no pé do outro, é porque o outro fez por merecer. <http://tinyurl.com/jg7o8tk > Acesso em: 06.09.2016. Adaptado. * O termo narcisismo provém do mito grego de Narciso, e denota admiração exagerada pela própria imagem.
11VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 6. (G1 - CPS) Releia as sentenças do texto. - Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes se voltem para essa agressão gravíssima. - Se pisarem no pé do outro, é porque o outro fez por merecer. A autora não utilizou nenhum elemento coesivo para interligar ambas as sentenças. Se um revisor decidisse unir esses dois períodos e inserir o período resultante novamente no texto, preservando o sentido original pretendido pela autora, ele deveria utilizar o(s) elemento(s) coesivo(s) a) “que”. b) “não só”. c) “porque”. d) “no entanto”. e) “como também”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “As cidades são os espaços físicos onde as inovações sociais são mais visíveis. São também campos férteis para se buscar inovações por contas das demandas diárias da confusão urbana. É do caos, ou do temor do caos, que as soluções se tornam imprescindíveis. Daí que as melhores ideias sempre emergem organicamente das comunidades. Na Grécia antiga, o centro da cidade era chamado de ágora – um lugar para assembleias, para o encontro dos cidadãos, para a troca de ideias e também para o escambo de mercadorias. Nas smart cities de hoje, as ágoras mudaram de configuração. Elas agora são virtuais e os seus oradores são ‘twitters’ e outras manifestações nas redes sociais como Facebook, Instagram, grupos de What’s App, e uma gama de aplicativos novos que surgem todos os dias. A cidade funciona e se relaciona em dois níveis: virtual e material. As duas interfaces se comunicam e se completam. A forma da ágora mudou, mas o princípio continua o mesmo: novas e boas ideias surgem dos encontros no espaço público.” por Adriana Campelo Disponível em: http://www.genteemercado.com.br/cidade-sustentavelmuitas-faces-de-uma-mesma-expressao-2/ Acesso em 02/08/2015. 7. (G1 - IFBA) Em “A forma da ágora mudou, MAS o princípio continua o mesmo: novas e boas ideias surgem dos encontros no espaço público”, o termo em destaque pode ser substituído sem prejuízo ao sentido por: a) pois. b) porém. c) por isso. d) portanto. e) inclusive. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 20 DE NOVEMBRO – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Em 20 de Novembro comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. Foi nesse dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi dos Palmares. Este foi a liderança mais conhecida do chamado Quilombo dos Palmares, que se localizava na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. A fama e o símbolo de resistência e força contra a escravidão mostrados pelos palmarinos fizeram com que a data da morte de Zumbi fosse escolhida pelo movimento negro brasileiro para representar o Dia da Consciência Negra. A data foi estabelecida pela Lei 12.519/2011. Outro motivo para a escolha dessa data foi o fato de que no Brasil o fim da escravidão é comemorado em 13 de maio. Nesse dia, no ano de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea que abolia a escravidão no Brasil. 1 Porém, comemorar o fim da escravidão em uma data em que uma pessoa branca e pertencente à família real portuguesa, a principal responsável pela escravidão no Brasil, assinou uma lei pondo fim ao cativeiro faz parecer que a abolição foi feita pelos próprios escravistas. Fez com que a abolição fosse apresentada como um favor dos brancos aos negros. A escolha do dia 20 de Novembro serviu, dessa forma, para manter viva a lembrança de que o fim da escravidão foi conseguido pelos próprios escravos, que em nenhum momento durante o período colonial e imperial deixaram de lutar contra a escravidão. Os quilombos não deixaram de existir 2 quando Palmares foi destruído sob o comando do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. Vários outros quilombos foram formados nos duzentos anos após o fim de Palmares. Mesmo nos anos finais da escravidão a ocorrência de fugas em massa de escravos das fazendas, a ocupação de terras e a realização de rebeliões foram muito importantes para que a Lei Áurea fosse assinada. A abolição não representou também o fim dos problemas sociais para os escravos libertados.3 O racismo e a resistência à inclusão dos negros na sociedade brasileira após a abolição foram 4 também um motivo para se escolher o 20 de Novembro como data para se lembrar dessa situação. 5 A resistência dos afrodescendentes não se fez apenas no confronto direto contra os senhores e forças militares, ela também ocorreu no aspecto religioso e cultural, como no candomblé, na capoeira e na música. Relembrar essas características culturais é uma forma de mostrar a importância dos africanos e de seus descendentes na formação social do Brasil. PINTO, Tales. 20 de Novembro – dia da Consciência Negra. Disponível em: http://escolakids.uol.com.br/20-de-novembrodia-da-consciência-negra. Acesso em: 02/09/2016 8. (G1 – IFBA) Avalie as seguintes assertivas: I. A palavra “Porém” (ref. 1) indica que há um contraste entre o período por ela iniciado e o período que a antecede. II. Se a palavra “quando” (ref. 2) for substituída pela palavra: pois, não haverá alteração de sentido. III. A palavra “também” (ref. 4) indica a inclusão de elementos a uma ideia. A(s) assertiva(s) verdadeiras(s) está(ão) indicada(s) na alternativa: a) Apenas I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) I, II e III.
12VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: SONETO DE SEPARAÇÃO De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (Vinícius de Morais) 9. (Faap) A primeira estrofe compõe-se de quatro orações. A última delas (E das mãos espalmadas fez-se o espanto) chama-se: a) coordenada b) adjetiva restritiva c) principal d) subordinada e) adjetiva explicativa 10. (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina) Famosos em suas áreas de atuação, René Descartes e Fernando Pessoa expressaram questões humanas profundas com essas frases. Comparando-as, é CORRETO chegar à conclusão de que “Penso, logo existo”. (René Descartes) “Duvido, portanto penso”. (Fernando Pessoa) a) Pessoa faz uma paráfrase do texto original de Descartes. b) Descartes argumenta que existir é a causa lógica de pensar. c) os dois autores usam conectivos diferentes com a mesma carga semântica. d) há uma relação de metonímia nos sentidos de ambas as frases. e) as duas frases diferenciam-se apenas pelo sentido do conectivo. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “De repente chegou o dia dos meus setenta anos. Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte anos (trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: duvidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da menina que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do Gordo e Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena dos dois, a mãe ficava furiosa.) A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora, porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em lugar de prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e quietude seriam rompidas mais uma vez. Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os professores e divertia a turma: apenas porque não queria ser diferente, queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e novelinhas açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionante. (E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.) O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração, eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos. Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita gente com oitenta ainda está ativo e presente. Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difícil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.” LUFT, 2014, p.104-105 1. (UEMG) Leia atentamente a oração destacada no período a seguir: “(...) pois ainda escutava em mim as risadas da menina que queria correr nas lajes do pátio (...)” Assinale a alternativa em que a oração em destaque e sublinhada apresenta a mesma classificação sintática da destacada acima. a) “A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora (...)” b) “(...) e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, canetas, borracha (...)” c) “(...) não queria que soubessem que ela (...)” d) “Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal (...)” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Viagens, cofres mágicos com promessas sonhadoras, não mais 5 revelareis 6 vossos tesouros intactos! Hoje, quando ilhas polinésias afogadas em concreto se transformam em porta-aviões ancorados nos mares do Sul, quando as favelas corroem a África, quando a aviação 9 avilta a floresta americana antes mesmo de poder 7 destruir-lhe a virgindade, de que modo poderia a pretensa 10evasão da viagem conseguir outra coisa que não 14confrontar-nos 15com as formas mais miseráveis de nossa existência histórica? 18Ainda 22assim, compreendo a paixão, a loucura, o equívoco das narrativas de viagem. Elas 16criam a ilusão daquilo 1 que não existe mais, mas 2 que ainda deveria existir. Trariam nossos modernos Mar-
13VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias cos Polos, das mesmas terras distantes, desta vez em forma de fotografias e relatos, as especiarias morais 3 de que nossa sociedade experimenta uma necessidade aguda ao se sentir 11soçobrar no tédio? É assim que me identifico, viajante procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e de destroços. 19Então, 26INSIDIOSAMENTE, a ilusão começa a tecer suas armadilhas. Gostaria de ter vivido no tempo das verdadeiras viagens, quando um espetáculo ainda não estragado, contaminado e maldito se oferecia em todo o seu esplendor. 20Uma vez 12encetado, o jogo de conjecturas não tem mais fim: quando se deveria visitar a Índia, em que época o estudo dos selvagens brasileiros poderia levar a conhecê-los na forma menos alterada? Teria sido melhor chegar ao Rio no século XVIII? Cada década para 23trás 29permite 27SALVAR um costume, 28GANHAR uma festa, 17PARTILHAR uma crença suplementar. 21Mas conheço bem demais os textos do passado para não saber que, me privando de um século, renuncio a perguntas dignas de enriquecer minha reflexão. E eis, diante de mim, o círculo intransponível: quanto menos as culturas tinham condições de se comunicar entre si, menos também os emissários 8 respectivos eram capazes de perceber a riqueza e o significado da diversidade. No final das contas, sou prisioneiro de uma 32alternativa: 30ORA viajante antigo, confrontado com um prodigioso espetáculo do qual quase tudo lhe escapava 24— ainda pior, inspirava troça ou desprezo 25—, 31ORA viajante moderno, correndo atrás dos vestígios de uma realidade desaparecida. Nessas duas situações, sou perdedor, pois eu, que me lamento diante das sombras, talvez seja impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste instante, mas 4 para cuja observação, meu grau de humanidade ainda 13carece da sensibilidade necessária. 33Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou. Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44. 2. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações acerca de expressões e trechos do texto. I. O emprego do advérbio insidiosamente (ref. 26) enfatiza o caráter enganador das ilusões a que se refere o texto naquela passagem. II. Os segmentos iniciados pelas formas verbais “salvar” (ref. 27) “ganhar” (ref. 28) e “partilhar” (ref. 17) são complementos do verbo “permite” (ref. 29). III. O emprego de ora ... ora (refs. 30 e 31) está relacionado ao sentido da palavra alternativa (ref. 32). Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Véspera de um dos muitos feriados em 2009 e a insana tarefa de mover-se de um bairro a outro em São Paulo para uma reunião de trabalho. Claro 11que a cidade já tinha travado no meio da tarde. De táxi, pagaria uma fortuna para ficar parada e chegar atrasada, 6 pois até as vias alternativas que os taxistas conhecem estavam entupidas. De ônibus, nem o corredor funcionaria, tomado pela fila dos 1 mastodônticos veículos. Uma dádiva: eu não estava de carro. Com as pernas livres dos pedais do automóvel e um sapato baixo, nada como viver a liberdade de andar a pé. Carro já foi sinônimo de liberdade, mas não contava com o congestionamento. Liberdade de verdade é trafegar entre os carros, e mesmo sem apostar corrida, observar que o automóvel na rua anda à mesma velocidade média que você na calçada. É quase como 2 flanar. Sei, como motorista, 12que o mais irritante do trânsito é quando o pedestre naturalmente te ultrapassa. Enquanto você, no carro, gasta dinheiro para encher o ar de poluentes, esquentar o planeta e chegar atrasado às reuniões. E ainda há quem pegue congestionamento para andar de esteira na academia de ginástica. Do Itaim ao Jardim Paulista, meia horinha de caminhada. Deu para ver que a Avenida Nove de Julho está cheia de mudas crescidas de pau-brasil. E mais uma 3porção de cenas 13que só andando a pé se pode observar. Até chegar ao compromisso pontualmente. Claro 14que há pedras no meio do caminho dos pedestres, e muitas. 7 Já foram inclusive objeto de teses acadêmicas. Uma delas, Andar a pé: um modo de transporte para a cidade de São Paulo, de Maria Ermelina Brosch Malatesta, sustenta que, 8 apesar de ser a saída mais utilizada pela população nas atuais condições de esgotamento dos sistemas de mobilidade, o modo de transporte a pé é tratado de forma inadequada pelos responsáveis por administrar e planejar o município. As maiores reclamações de quem usa o mais simples e barato meio de locomoção são os “obstáculos” que aparecem pelo caminho: bancas de camelôs, bancas de jornal, lixeira, postes. Além das calçadas estreitas, com buracos, degraus, desníveis. E o estacionamento de veículos nas calçadas, mais a entrada e a saída em guias rebaixadas, aponta o estudo. Sem falar nas estatísticas: atropelamentos correspondem a 14% dos acidentes de trânsito. Se o acidente envolve vítimas fatais, o percentual sobe para nada menos 15que 50% – o que atesta a falta de investimento público no transporte a pé. Na Região Metropolitana de São Paulo, as viagens a pé, com extensão mínima de 500 metros, correspondem a 34% do total de viagens. Percentual parecido com o de Londres, de 33%. Somadas aos 32% das viagens realizadas por transporte coletivo, que são iniciadas e concluídas por uma viagem a pé, perfazem o total de 66% das viagens! Um número bem 4 desproporcional ao espaço destinado aos pedestres e ao investimento público destinado a eles, especialmente em uma cidade como São Paulo, onde o transporte individual motorizado tem a 5primazia. A locomoção a pé acontece tanto nos locais de maior densidade – caso da área central, com registro de dois milhões de viagens a pé por dia –, como nas regiões mais distantes, onde são maiores as deficiências de transporte motorizado e o perfil de renda é menor. A maior parte das pessoas que andam a pé tem poder aquisitivo mais baixo. Elas buscam alternativas para enfrentar a condução cara, desconfortável ou lotada, o ponto de ônibus ou estação distantes, a demora para a condução passar e a viagem demorada.
14VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 9 Já em bairros nobres, como Moema, Itaim e Jardins, por exemplo, é fácil ver carrões que saem das garagens para ir de uma esquina a outra e disputar improváveis vagas de estacionamento. A ideia é manter-se fechado em shoppings, boutiques, clubes, academias de ginástica, escolas, escritórios,10 porque o ambiente lá fora – o nosso meio ambiente urbano – dizem que é muito perigoso. (Amália Safatle. http://terramagazine.terra.com.br, 15/07/2009. Adaptado.) 3. (ITA) A palavra QUE remete a um antecedente em: a) Claro que a cidade já tinha travado no meio da tarde. (ref. 11) b) Sei, como motorista, que o mais irritante do trânsito é quando o pedestre naturalmente te ultrapassa. (ref. 12) c) E mais uma porção de cenas que só andando a pé se pode observar. (ref. 13) d) Claro que há pedras no meio do caminho dos pedestres, e muitas. (ref. 14) e) [...] o percentual sobe para nada menos que 50%. (ref. 15) 4. (G1 - IFCE) Observe as orações destacadas e assinale a alternativa que apresenta incorreta classificação quanto ao tipo de oração. a) Não deixe de estudar, pois isso se tornará um prejuízo. (Oração coordenada explicativa) b) Ela ia de um lado a outro da sala e parecia inquieta demais. (Oração coordenada aditiva) c) O Brasil é um país extremamente rico; grande parte de seu povo, todavia, vive em condição miserável. (Oração coordenada adversativa) d) Nossos atletas não jogaram muito bem, nem conseguiram vencer o campeonato. (Oração coordenada conclusiva) e) Ele demonstrou ser extremamente teimoso e irritadiço; não tem, pois, condição de trabalhar com o público. (Oração coordenada conclusiva) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A CRISE DO FUTEBOL BRASILEIRO Por Oliver Seitz* Quando Getúlio Vargas idealizou a Copa de 50, a ideia era mostrar ao mundo pós-guerra a força da nova potência mundial chamada Brasil. Não deu certo. A seleção perdeu, o Brasil não era tudo aquilo que se achava, e tudo continuou na mesma. Em 2007, quando Lula idealizou a Copa de 2014, a ideia era mostrar ao mundo em crise a força da nova potência mundial chamada Brasil. Não deu certo. A seleção perdeu, o Brasil não era tudo aquilo que se achava, e tudo continuou na mesma. 1 Esqueça os 7 a 1. O futebol brasileiro está em crise desde 1950. Isso porque foi mais ou menos nessa época que assumimos para nós mesmos que somos o país do futebol. 2 A pátria de chuteiras. E, como nunca conseguimos de fato satisfazer essa expectativa, entramos em crise. 3 Os problemas que são atribuídos ao futebol de hoje pouco variam dos problemas que começaram a ser atribuídos a ele a partir da metade do século passado: dificuldade em segurar jogadores no país, dificuldade de pagar salário, dificuldade na manutenção dos estádios, dificuldade em conter a violência, dificuldade, dificuldade, dificuldade. A estabilidade dessas dificuldades impressiona. Elas são tão estáveis ao longo do tempo que talvez não devessem nem ser mais conhecidas como dificuldades, mas sim como características. Somos, por exemplo, um país que não vai a jogos de futebol tanto assim. Nos grandes jogos, nos decisivos, claro que vamos. Nesses todo mundo quer ir. Mas nos pequenos, onde a força da relação do torcedor com o clube é realmente colocada à prova, nem tanto. Assim como as dificuldades, a média de público do Campeonato Brasileiro também é surpreendentemente estável. Desde o seu começo, flertamos com as 15 mil pessoas por jogo. Às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos. Mas sempre por aí. A média de 1967 a 2014? 14.937. A média nos últimos 10 anos? 15.259. A média em 2015 até o momento? 14.762. Isso em si já derruba muitos dos argumentos da decadência do futebol brasileiro, tão alardeados após o 7 a 1. Afinal, se os estádios não eram mais cheios antigamente, isso quer dizer que os estádios vazios não são um sinal de crise. Se em quase 50 anos a média é de 15 mil pessoas, por que acreditar que todo estádio novo tem que ser para 45 mil pessoas? E o que leva a acreditar que um estádio com capacidade 3 vezes maior que a demanda histórica se paga? Obviamente, os estádios estão vazios e abandonados. Mas isso não é crise. É viver uma ilusão irracional. Um sonho inalcançável. Estádios vazios reduzem a demanda e geram maiores custos de manutenção, reduzindo significativamente a capacidade dos proprietários em manter outros compromissos. E ainda que 4 as receitas dos clubes tenham crescido significativamente nas últimas décadas, elas não conseguem acompanhar 5 a bola de neve de pendências financeiras acumuladas desde o dia em que alguém nos cunhou com o terrível fardo de acharmos que somos o país do futebol. Gastamos mais do que podemos porque achamos que podemos muito. Assim, os estádios 6 ficam às moscas, os salários dos jogadores – com valores tão irreais quanto a capacidade das arenas – invariavelmente atrasam e o número de processos trabalhistas inevitavelmente cresce. A bola de neve só aumenta. A solução para desenvolver o futebol brasileiro não é simples. Nem rápida. Mas existe. Passa pela necessidade de um choque coletivo de realidade que se propague pelo governo, clubes, federações, associações e atletas. Todos necessitam compreender o seu verdadeiro posicionamento dentro da indústria e o papel que precisam desempenhar para que o futebol brasileiro se torne, pela primeira vez, uma operação minimamente viável e possa crescer ao invés de ficar parado no tempo. Enquanto não aceitarmos que o que vivemos não é uma fase ruim, mas sim que o nosso futebol é um mercado de somente 15 mil pessoas por jogo e não essa ilusão megalomaníaca que um dia inventamos, ou inventaram, para nós mesmos, jamais sairemos do lugar. Continuaremos a acreditar que estamos passando por uma surpreendentemente estável crise, mas que no fundo é apenas a nossa verdadeira pequena e limitada realidade. *Oliver Seitz é PhD em Indústria do Futebol pela Universidade de Liverpool e Professor da University College of Football Business de Londres. (BLOG DO JUCA KFOURI. 7 de julho de 2015. Disponível em: http:// blogdojuca.uol.com.br/2015/07/a-crise-do-fubebol-brasileiro/)
15VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 5. (G1 - CFTRJ) Observe o trecho abaixo, extraído do texto: “Esqueça os 7 a 1. O futebol brasileiro está em crise desde 1950.” (referência 1) Embora os dois períodos acima não estejam ligados por um conectivo, é possível estabelecer uma relação de sentido entre eles. O conectivo que expressa essa relação é: a) contudo b) embora c) porque d) portanto E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Considere os textos de Aníbal Machado e Cecília Meireles para responder às questões. TEXTO 1 O GRANDE CLANDESTINO (Aníbal Machado) Eu me distraio muito com a passagem do tempo. Chego às vezes a dormir. O tempo então aproveita e passa escondido. Mas com que velocidade! Basta ver o estado das coisas depois que desperto: quase todas fora do lugar, ou desaparecidas; outras com uma prole imensa; O que é preciso é nunca dormir, e ficar vigilante, para obrigá-lo ao menos a disfarçar a evidência de suas metamorfoses. (...) Contudo, não se deve ligar demasiada importância ao tempo. Ele corre de qualquer maneira. É até possível que não exista. Seu propósito evidente é envelhecer o mundo. Mas a resposta do mundo é renascer sempre para o tempo. TEXTO 2 O TEMPO E OS RELÓGIOS (Cecília Meireles) Creia-se ou não, todo mundo sente que o tempo passa. Não precisamos olhar para o espelho nem para nenhum relógio: o tempo está em nosso coração, e ouve-se; o tempo está em nosso pensamento, e lembra-se. “Vou matando o tempo, enquanto o tempo não me mata” - respondia-me na Índia um grande homem amigo meu, cada vez que perguntava como ia passando. (...) Em todo caso, esses são os tempos grandes. O tempo pequeno é o dos nossos relógios. 1. (Ufscar) Muitos recursos linguísticos garantem ao texto a sua coesão e expressividade. a) No texto de Aníbal Machado, os termos “mas” (3º verso) e “contudo” (6º verso) têm a mesma função coesiva e expressiva? Justifique a sua resposta. b) No trecho do texto 2 “Não precisamos olhar para o espelho nem para nenhum relógio: o tempo está em nosso coração, e ouve-se...”, os dois pontos poderiam ser substituídos por um conectivo para ligar as orações. Reescreva o trecho, explicitando esse elemento de ligação das orações. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A IDENTIDADE E A DIFERENÇA: O PODER DE DEFINIR A identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. (...) A identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Isso significa que sua definição - discursiva e linguística - está sujeita a vetores de força, a relações de poder. Elas não são simplesmente definidas; elas são impostas. Não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; são disputadas. Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos sociais simetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes. Podemos dizer que onde existe diferenciação - ou seja, identidade e diferença – aí está presente o poder. A diferenciação é o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas. Há, entretanto, uma série de outros processos que traduzem essa diferenciação ou que com ela guardam uma estreita relação. São outras tantas marcas da presença do poder: incluir/excluir (“estes pertencem, aqueles não”); demarcar fronteiras (“nós” e “eles”); classificar (“bons e maus”; “puros e impuros”; “desenvolvidos e primitivos”; “racionais e irracionais”); normalizar (“nós somos normais; eles são anormais”). A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer “o que somos” significa também dizer “o que não somos”. A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído. Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre “nós” e “eles”. Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder. (...)Os pronomes “nós” e “eles” não são, aqui, simples
16VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias categorias gramaticais, mas evidentes indicadores de posições- -de-sujeito fortemente marcadas por relações de poder: dividir o mundo social entre “nós” e “eles” significa classificar. O processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser entendido como um ato de significação pelo qual dividimos e ordenamos o mundo social em grupos, em classes. A identidade e a diferença estão estreitamente relacionadas às formas pelas quais a sociedade produz e utiliza classificações. As classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade. Isto é, as classes nas quais o mundo social é dividido não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o privilégio de classificar significa também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados. A mais importante forma de classificação é aquela que se estrutura em torno de oposições binárias, isto é, em torno de duas classes polarizadas. O filósofo francês Jacques Derrida analisou detalhadamente esse processo. Para ele, as oposições binárias não expressam uma simples divisão do mundo em duas classes simétricas: em uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa. “Nós” e “eles”, por exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. As relações de identidade e diferença ordenam-se, todas, em torno de oposições binárias: masculino/ feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual. Questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam. Fixar uma determinada identidade como a norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença. Normalizar significa eleger - arbitrariamente – uma identidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa. A identidade normal é “natural”, desejável, única. A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a identidade. Paradoxalmente, são as outras identidades que são marcadas como tais. Numa sociedade em que impera a supremacia branca, por exemplo, “ser branco” não é considerado uma identidade étnica ou racial. Num mundo governado pela hegemonia cultural estadunidense, “étnica” é a música ou a comida dos outros países. É a sexualidade homossexual que é “sexualizada”, não a heterossexual. A força homogeneizadora da identidade normal é diretamente proporcional à sua invisibilidade. Na medida em que é uma operação de diferenciação, de produção de diferença, o anormal é inteiramente constitutivo do normal. Assim como a definição da identidade depende da diferença, a definição do normal depende da definição do anormal. Aquilo que é deixado de fora é sempre parte da definição e da constituição do “dentro”. A definição daquilo que é considerado aceitável, desejável, natural é inteiramente dependente da definição daquilo que é considerado abjeto, rejeitável, antinatural. A identidade hegemônica é permanentemente assombrada pelo seu Outro, sem cuja existência ela não faria sentido. Como sabemos desde o início, a diferença é parte ativa da formação da identidade. SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-75. http://ead.ucs.br/orientador/turmaA/Acervo/web_F/ web_H/file.2007-09-10.5492799236.pdf 2. (UFJF) Releia o trecho: “A identidade e a diferença estão, POIS, em estreita conexão com relações de poder”. (2° parágrafo) a) Explique o trecho acima, tomando como base o termo destacado. b) Reescreva o trecho, substituindo o termo destacado por um outro marcador discursivo que mantenha a relação sintático-semântica por ele estabelecida. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Muitos anos mais tarde, Ana Terra costumava sentar-se na frente de sua casa para pensar no passado. E no pensamento como que ouvia o vento de outros tempos e sentia o tempo passar, escutava vozes, via caras e lembrava-se de coisas... O ano de 81 trouxera um acontecimento triste para o velho Maneco: Horácio deixara a fazenda, a contragosto do pai, e fora para o Rio Pardo, onde se casara com a filha dum tanoeiro e se estabelecera com uma pequena venda. Em compensação nesse mesmo ano Antônio casou-se com Eulália Moura, filha dum colono açoriano dos arredores do Rio Pardo, e trouxe a mulher para a estância, indo ambos viver num puxado que tinham feito no rancho. Em 85 uma nuvem de gafanhotos desceu sobre a lavoura deitando a perder toda a colheita. Em 86, quando Pedrinho se aproximava dos oito anos, uma peste atacou o gado e um raio matou um dos escravos. Foi em 86 mesmo ou no ano seguinte que nasceu Rosa, a primeira filha de Antônio e Eulália? Bom. A verdade era que a criança tinha nascido pouco mais de um ano após o casamento. Dona Henriqueta cortara-lhe o cordão umbilical com a mesma tesoura de podar com que separara Pedrinho da mãe. E era assim que o tempo se arrastava, o sol nascia e se sumia, a lua passava por todas as fases, as estações iam e vinham, deixando sua marca nas árvores, na terra, nas coisas e nas pessoas. E havia períodos em que Ana perdia a conta dos dias. Mas entre as cenas que nunca mais lhe saíram da memória estavam as da tarde em que dona Henriqueta fora para a cama com uma dor aguda no lado direito, ficara se retorcendo durante horas, vomitando tudo o que engolia, gemendo e suando de frio. Érico Veríssimo. O tempo e o Vento, “O Continente”, 1956. 3. (FGV) No primeiro parágrafo do texto, o narrador afirma que Ana Terra “... sentia o tempo passar, escutava vozes, via caras e lembrava-se de coisas...” a) Como se organiza no texto a ideia de passagem do tempo? Como isso está relacionado à percepção que a personagem tem da sua vida? b) Há duas perspectivas temporais bastante marcadas no texto, com o emprego de verbos no pretérito imperfeito e no pretérito mais-que-perfeito. Explique a relação de sentido que há entre elas no texto.
17VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Pensar no envelhecimento é algo que costuma incomodar a maior parte das pessoas. Herdamos das gerações passadas a ideia de que a idade inexoravelmente sinaliza o fim de uma vida produtiva plena e que o melhor a fazer é aceitar a decadência física, almejando contar com o conforto proporcionado por uma boa aposentadoria. Mas o mundo mudou. Hoje, uma nova geração descobre que, se tomar decisões sábias na juventude, pode tornar o tempo futuro uma genuína etapa da vida e, mais do que isso, uma fase áurea da nossa existência. Estudos demográficos apontam que as gerações nascidas desde a década de 60 podem contar com, pelo menos, mais 20 anos em sua expectativa de vida. Na verdade, se recuarmos um pouco mais, vamos constatar que esse bônus de longevidade é maior ainda. No início do século 20, mais ou menos na mesma época em que a aposentadoria foi criada, a expectativa de vida ao nascer do brasileiro era, em média, de 33 anos. Hoje estamos quase chegando aos 80. Em pouco mais de 100 anos o bônus de longevidade foi de quase 50 anos! Você S/A – Previdência, setembro de 2016. 4. (FGV) No texto, a frase “Mas o mundo mudou.” (1º parágrafo) relaciona diferentes informações da argumentação do autor. a) Que tipo de oração coordenada o autor empregou? Que sentido ela estabelece no texto? b) Qual é o ponto de vista do autor sobre o assunto de que trata e que tipo de argumento ele usa para sustentá-lo? 5. (UFU) Saul Zuratas tinha uma mancha roxo-escura, vinho avinagrado, que lhe cobria todo o lado direito da cara, e uns cabelos vermelhos e despenteados como as cerdas de um escovão. A mancha não respeitava a orelha nem os lábios nem o nariz, aos quais também marcava com um inchaço venoso. Era o rapaz mais feio do mundo (1); mas simpático e boa gente (2). LLOSA, Vargas. O falador. Tradução de Remy Gorga, filho. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1988, p. 11 (fragmento). Com base nos trechos em destaque, faça o que se pede. a) Identifique e explique a relação de sentido estabelecida entre as proposições (1) e (2). b) Construa três outros períodos em que as proposições mantenham a mesma relação de sentido veiculada pelo autor. E.O. UERJ Exame de Qualificação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redação do O Globo, foi o bastante para não os amar, nem os imitar. 1 São em geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, 9 só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele. É esse o meu propósito, o meu único propósito. Não nego que para isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mãos, tenho os autores que mais amo. (...) 5 Confesso que os leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes romancistas o segredo de fazer. 6 Mas não é a ambição literária que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas pálidas Recordações. Com elas, queria modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-los a pensar de outro modo, a não se encherem de hostilidade e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento mostrar que são legítimos e, se não merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferença. 7 Entretanto, quantas dores, quantas angústias! 2 Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um médico mezinheiro, 10repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse falar neste livro – que espanto! que sarcasmo! que crítica desanimadora não fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais a ninguém, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto: 3 – Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã! De forma que não tenho por onde aferir se as minhas Recordações preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literária está prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E não é só isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em que 11me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... 12Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela, unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não posso absolutamente. De manhã, ao almoço, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, só penso nela. À noite, quando todos em casa se vão recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la pública, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinião nacional. 13Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil que a refaça e que diga o que não pude nem soube dizer. (...) 8 Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri e pensei não o sei narrar. 4 Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.
18VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 1. (UERJ) Na descrição de sua situação e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adição. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adição está em: a) repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (ref. 10) b) me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... (ref. 11) c) Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela, (ref. 12) d) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil (ref. 13) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO SOBRE A ORIGEM DA POESIA A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, 1 a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. 4 Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras? 2 Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado. Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), 5 não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica. 3 Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta). 6 No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7 A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (...) Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. 8 Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade. ARNALDO ANTUNES. www.arnaldoantunes.com.br 2. (UERJ) A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (ref.7) O vocábulo destacado estabelece uma relação de sentido com o que está enunciado antes. Essa relação de sentido pode ser definida como: a) explicação b) finalidade c) conformidade d) simultaneidade TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O CORPO Acrobata enredado Em clausura de pele Sem nenhuma ruptura Para onde me leva Sua estrutura? Doce máquina Com engrenagem de músculos Suspiro e rangido O espaço devora Seu movimento (Braços e pernas sem explosão) Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva. ARMANDO FREITAS FILHO http://geocities.yahoo.com.br/jerusalem_ 3/armandofreitasfilho.html
19VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 3. (UERJ) “Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva.” A ausência de pontuação nessa última estrofe do poema pode nos levar a diferentes leituras do texto. A única interpretação incoerente desse trecho é apresentada em: a) Engenho de febre e de sono, e lembrança que arma e desarma minha morte em armadura de treva. b) Engenho de febre, de sono e de lembrança, a qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. c) Engenho de febre, de sono e de lembrança, o qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. d) Engenho de febre, engenho que é sono e lembrança, e que arma e desarma minha morte em armadura de treva. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL (fragmento) Lançado por Oswald de Andrade, no CORREIO DA MANHÃ, em 18 de março de 1924. 1 Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação do dicionário oral das Escolas de Belas-Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotógrafo. 2 Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu piano de manivela, o piano de patas. A Playela. E a ironia eslava compôs para a Playela. Stravinski. 3 A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas. 4 Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia o poeta parnasiano. (...) 5 Nossa época anuncia a volta ao sentido puro. 6 Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz. 7 A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente. (apud TELES, Gilberto M. Vanguarda Europeia e Modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1977.) 4. (UERJ) “Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiana.” (par. 1) Nesse trecho a opção pelo emprego do travessão evita a utilização explícita de um conectivo entre as duas orações. Mantidos o sentido original e a coerência textual, o autor poderia ter optado pelo uso da seguinte conjunção: a) pois b) quando c) entretanto d) se bem que E.O. UERJ Exame Discursivo 1. (UERJ) A pergunta da personagem Mafalda, no segundo quadrinho, inicia-se com a palavra “então”, que estabelece uma relação de sentido com a situação anterior. Identifique a relação de sentido estabelecida e reescreva a pergunta, substituindo o vocábulo “então” por outro conectivo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O ENCONTRO MARCADO Eduardo e a vida sadia. Seu Marciano tornou-se sócio do clube, o filho praticava natação. – Por que você não joga basquete? – sugeria Letícia. – Natação é tão sem graça... – Porque natação não depende de ninguém, só de mim. Em seis meses era o melhor nadador de sua categoria, e ameaçava já o recorde dos adultos. Uma espécie diferente de emoção – a de poder contar consigo mesmo, e de se saber, numa competição, antecipadamente vencedor. Os entendidos sacudiam a cabeça, admirados: – Quem diria, esse menino...
20VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 1 Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de natação, a que ninguém o obrigava, uma disputa em que parecia empenhar o destino, fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, em que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma. Dia de competição. As luzes da piscina acesas, as arquibancadas cheias. Ambiente de expectativa, medo, alegria, excitação. Alto- -falantes comandando ordens, convocando nadadores, apostas, previsões, torcida, gritaria. Nada da paz quase bucólica da piscina nos dias de treino – o rigor e a monotonia dos exercícios, de manhã e de tarde, o longo, lento e meticuloso esforço durante meses e meses, para ganhar décimos de segundo na luta contra o cronômetro. Refugiado no vestiário, enrolado em cobertor, Eduardo aguardava o momento de sua prova, ouvindo, lá fora, os aplausos da multidão. Logo chegaria a sua vez. Chico, o roupeiro, aparecia para dar-lhe a notícia da competição. – Estamos ganhando. Daqui a pouco é você. (...) 2 Sua emoção se traduzia em longos bocejos, o medo era quase náusea, a expectativa era uma ilusória, persistente e irresistível vontade de urinar. A multidão voltava a aplaudir, lá fora. – “Daqui a pouco é você”. Nunca saía do vestiário antes da hora de nadar. – Quanto está a água hoje? – perguntava ao roupeiro. Era o único nadador que não interrompia os treinos no inverno, sozinho, a água gelada, a piscina fechada aos sócios. (...) Nadar era difícil, ficava cada vez mais difícil... Onde quer que surgisse um recordista, logo surgia outro para abaixar-lhe o recorde. (...) – Marciano, a sua vez! – vinham lhe avisar. 3 Nada a fazer. Ali estava ele, pronto para o sacrifício, convocado como um condenado para a execução. Ia seguindo em direção à mesa dos juízes, para assinar a súmula, sem olhar para os lados. Sentia que todos os olhos o seguiam, ouvia vagamente os aplausos, procurava ignorar tudo, concentrar-se. Vontade de dormir, de desistir, fugir, sair correndo, esquecer aquele suplício. Medo. Os outros também se sentiriam assim, fragilizados pela emoção, sucumbidos pela espera? Munira-se de alguns minutos de descanso e solidão, curtidos em agonia no vestiário – era a sua reserva. Ali fora, os nervos se esbandalhariam ante o que o aguardava – que viesse imediatamente. – Mostra a essa gente, Eduardo. – É pra valer! – Capricha, menino. – Está bem, está bem... Deslumbrado pela luz dos refletores, desprotegido e nu, ia caminhando para o sacrifício. Fernando Sabino O encontro marcado. Rio de Janeiro: Record, 2012. 2. (UERJ) Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de natação, a que ninguém o obrigava, uma disputa em que parecia empenhar o destino, fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, em que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma. (ref. 1) Reescreva as duas orações subordinadas adjetivas sublinhadas, fazendo uso da expressão “a qual”, de acordo com a norma-padrão. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O SILÊNCIO EXPECTANTE E A VOZ INESPERADA Na penumbra da sala do laboratório, uniforme e absolutamente fechada, Isolada do som e da luz, isolada do tempo e do espaço, Procedia-se à investigação memorável. Procurava-se descobrir o espaço completo e geral Onde se pudesse definir a pulsação originária; Pulsação que seria a substância de todas as vibrações, Desde as que iluminam as estrelas Cefeides Até as que comovem o coração humano, As que marcam, domesticamente, o tempo civil nos relógios E as que passam ondulando nas cordas dos violoncelos; Pulsação que fosse o sangue de futuros nascimentos e de novas cosmogonias1 . Dela viria a angústia da matéria dispersa em meio às nebulosas E que ainda não pôde se converter em estrelas, Viria a angústia das almas inascidas que, com o frio, e o medo de não nascer, Se abrigam no ventre das mulheres. Naquele ambiente inerte e indeterminado Reinava um silêncio liso e sinistro: Um silêncio que fora a consequência de rumores especiais e preciosos, Um silêncio-fronteira de ruídos apagados em macios de paina e de veludo. Temia-se, porém, a inversão do tempo ou o pânico da luz, Temia-se, sim, temia-se alcançar a essência do milagre... Foi então que uma onda ligeira, perdida e vagabunda, Uma onda que rondava, que rondava na sombra do jardim, Entrou sorrateira, inesperadamente, Por uma fresta imperceptível no rádio: Era uma voz de mulher cantando nas Antilhas. (CARDOZO, Joaquim. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.) 1 cosmogonia - ciência que trata da origem e evolução do universo 3. (UERJ) “E as que passam ondulando nas cordas dos violoncelos;” (verso 10) “Era uma voz de mulher cantando nas Antilhas.” (verso 26) Reescreva estes versos substituindo o primeiro gerúndio por um adjetivo e o segundo por uma oração adjetiva, utilizando formas cognatas nas duas substituições. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO I Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho. Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe;
21VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa. (...) Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi que não nos entendíamos. João Nogueira queria o romance em língua de Camões, com períodos formados de trás para diante. Calculem. Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu- -me a cara. (...) Afastei-o da combinação e concentrei as minhas eperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, periodista de boa índole e que escreve o que lhe mandam. Trabalhamos alguns dias. (...) A princípio tudo correu bem, não houve entre nós nenhuma divergência. A conversa era longa, mas cada um prestava atenção às próprias palavras, sem ligar importância ao que o outro dizia. Eu por mim, entusiasmado com o assunto, esquecia constantemente a natureza de Gondim e chegava a considerá-lo uma espécie de folha de papel destinada a receber as ideias confusas que me fervilhavam na cabeça. O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me dois capítulos datilografados, tão cheios de besteiras que me zanguei: – Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma! Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala. – Não pode? perguntei com assombro. E por quê? Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode. – Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia. (RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo: Martins, 1969.) TEXTO II LEITURA E ESCRITA COMO EXPERIÊNCIA - O AVESSO Quando penso na leitura como experiência (na escola, na sala de aula ou fora delas), refiro-me a momentos em que fazemos comentários sobre livros ou revistas que lemos, trocando, negando, elogiando ou criticando, contando mesmo. Enfim, situações em que – tal como uma viagem, uma aventura – fale-se de livros e de histórias, contos, poemas ou personagens, compartilhando sentimentos e reflexões, plantando no ouvinte a coisa narrada, criando um solo comum de interlocutores, uma comunidade, uma coletividade. O que faz da leitura uma experiência é entrar nessa corrente em que a leitura é partilhada e, tanto quem lê, quanto quem propiciou a leitura ao escrever, aprendem, crescem, são desafiados. Defendo a leitura da literatura, da poesia, de textos que têm dimensão artística, não por erudição. Não é o acúmulo de informação sobre clássicos, sobre gêneros ou sobre estilos, escolas ou correntes literárias que torna a leitura uma experiência, mas sim o modo de realização dessa leitura: se é capaz de engendrar uma reflexão para além do seu momento em que acontece; se é capaz de ajudar a compreender a história vivida antes e sistematizada ou contada nos livros. (KRAMER, Sônia. In: ZACCUR, Edwiges (org.). A magia da linguagem. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE, 1999.) 4. (UERJ) Defendo a leitura da literatura, da poesia, de textos que têm dimensão artística, NÃO POR ERUDIÇÃO. (texto II) a) Embora o trecho destacado não se inicie por conectivo, seria possível acrescentar-lhe conjunção, preservando a relação de sentido com o conjunto da frase. Aponte duas conjunções diferentes que, no mesmo contexto, poderiam introduzir o trecho em destaque. Indique também o tipo de relação de sentido que estas conjunções estabelecem na frase. b) De acordo com a argumentação desenvolvida pela autora, justifique a presença da forma negativa no trecho destacado. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A ILUSÃO DA NEUTRALIDADE DA CIÊNCIA Como a ciência se caracteriza pela separação e pela distinção entre o sujeito do conhecimento e o objeto; como a ciência se caracteriza por retirar dos objetos do conhecimento os elementos subjetivos; como os procedimentos científicos de observação, experimentação e interpretação procuram alcançar o objeto real ou o objeto construído como modelo aproximado do real; e, enfim, como os resultados obtidos por uma ciência não dependem da boa ou má vontade do cientista nem de suas paixões, estamos convencidos de que a ciência é neutra ou imparcial. Diz à razão o que as coisas são em si mesmas. Desinteressadamente. Essa imagem da neutralidade científica é ilusória. Quando o cientista escolhe uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas. (...) O racismo (por exemplo) não é apenas uma ideologia social e política. É também uma teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis conseguidos com a biologia, a psicologia, a sociologia. É uma certa maneira de construir tais dados, de sorte a transformar diferenças étnicas e culturais em diferenças biológicas naturais imutáveis e separar os seres humanos em superiores e inferiores, dando aos primeiros justificativas para explorar, dominar e mesmo exterminar os segundos. (Adaptado de CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Rio de Janeiro: Ática, 1995.) 5. (UERJ) “O racismo não é apenas uma ideologia social e política. É também uma teoria que se pretende científica,” O trecho acima contém dois períodos que, embora sejam sintaticamente independentes, estão unidos por uma certa relação de sentido.
22VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Utilizando conectivos, reescreva este trecho em um só período composto por orações coordenadas, de modo que a relação de sentido seja mantida. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO INSTRUÇÃO: As questões seguintes são relacionadas a uma passagem bíblica e a um trecho da canção Cálice, realizada em 1973, por Chico Buarque (1944 -) e Gilberto Gil (1942 -). TEXTO BÍBLICO Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22) (In: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995) TRECHO DE CANÇÃO Pai, afasta de mim esse cálice! Pai, afasta de mim esse cálice! Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue. Como beber dessa bebida amarga, Tragar a dor, engolir a labuta, Mesmo calada a boca, resta o peito, Silêncio na cidade não se escuta. De que me vale ser filho da santa, Melhor seria ser filho da outra, Outra realidade menos morta, Tanta mentira, tanta força bruta. ...................................................... (In: www.uol.com.br/chicobuarque/) 1. (Unifesp) A frase “Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” contém dois conectivos adversativos. O conectivo MAS estabelece coesão entre a oração “a tua [vontade] seja feita” e a oração “não [seja feita] a minha vontade”. O conectivo CONTUDO estabelece coesão entre a) a oração implícita “[se não queres]” e a oração “não [seja feita] a minha vontade”. b) a oração “se queres” e a oração “não [seja feita] a minha vontade”. c) a oração “afasta de mim este cálice!” e a oração “a tua [vontade] seja feita”. d) a oração implícita “[se não queres]” e a oração “a tua [vontade] seja feita”. e) a oração “a tua [vontade] seja feita” e a oração “não [seja feita] a minha vontade”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minh’alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: e o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. (Camões, ed. A. J. da Costa Pimpão) 2. (Fuvest) A conjunção MAS, que aparece no início do primeiro terceto, é usada para a) apresentar uma síntese das ideias contidas nos quartetos, que funcionam como tese e antítese. b) opor à satisfação expressa nos quartetos a insatisfação trazida por uma ideia incompleta e pelo conformismo. c) substituir o conectivo E, assumindo valor aditivo, já que não há oposição entre os quartetos e os tercetos. d) iniciar um pensamento conclusivo, podendo ser substituído pelo conectivo PORTANTO. e) introduzir uma ressalva em relação às ideias que foram expressas nos quartetos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Por causa do assassinato do caminhoneiro Pascoal de Oliveira, o Nego, pelo – também caminhoneiro – japonês Kababe Massame, após uma discussão, em 31 de julho de 1946, a população de Osvaldo Cruz (SP), que já estava com os nervos à flor da pele em virtude de dois atentados da Shindô-Renmei* na cidade, saiu às ruas e invadiu casas, disposta a maltratar “impiedosamente”, na palavra do historiador local José Alvarenga, qualquer japonês que encontrasse pela frente. O linchamento dos japoneses só foi totalmente controlado com a intervenção de um destacamento do Exército, vindo de Tupã, chamado pelo médico Oswaldo Nunes, um herói daquele dia totalmente atípico na história de Osvaldo Cruz e das cidades brasileiras. Com o final da Segunda Guerra Mundial, o eclipse do Estado Novo e o desmantelamento da Shindô-Renmei, inicia-se um ciclo de emudecimento, de ambos os lados, sobre as quatro décadas de intolerância vividas pelos japoneses. Do lado local, foi sedimentando- se no mundo das letras a ideia do país como um “paraíso racial”. Do lado dos imigrantes, as segundas e terceiras gerações de filhos de japoneses se concentraram, a partir da década de 1950, na construção da sua ascensão social. A história foi sendo esquecida, junto com o idioma e os hábitos culturais de seus pais e avós. (Matinas Suzuki Jr. Folha de S.Paulo, 20.04.2008. Adaptado.) * Shindô-Renmei foi uma organização nacionalista, que surgiu no Brasil após o término da Segunda Guerra Mun-
23VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias dial, formada por japoneses que não acreditavam na derrota do Japão na guerra. Possuía alguns membros mais fanáticos que cometiam atentados, tendo matado e ferido diversos cidadãos nipo-brasileiros. 3. (Unifesp) No texto, as orações (...) que já estava com os nervos à flor da pele em virtude de dois atentados da Shindô-Renmei na cidade (...) e (...) que contrasse pela frente (...) são exemplos, respectivamente, de oração subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva restritiva, porque: a) a primeira limita o sentido do termo antecedente (a população de Osvaldo Cruz), enquanto a segunda explica o sentido do termo antecedente (qualquer japonês). b) a pausa, antes e depois da primeira oração, revela seu caráter de restrição e precisão do sentido do termo antecedente, tal como se dá com a segunda oração. c) na primeira, a oração é indispensável para precisar o sentido da anterior, enquanto, na segunda, a oração pode ser eliminada. d) a primeira explica o sentido do termo antecedente (a população de Osvaldo Cruz), enquanto a segunda limita o sentido do termo antecedente (qualquer japonês). e) o sentido do termo “qualquer japonês”, explicado na segunda oração, é determinante para a compreensão da primeira. E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: SONETO Os teus olhos gentis, encantadores, Tua loira madeixa delicada, Tua boca por Vênus invejada, Onde habitam mil cândidos amores: Os teus braços, prisão dos amadores, Os teus globos de neve congelada, Serão tornados breve a cinza!... a nada!... Aos teus amantes causarão horrores!... Céus! e hei-de eu amar uma beleza, Que à cinza reduzida brevemente Há-de servir de horror à Natureza!... Ah! mandai-me uma luz resplandecente, Que minha alma ilumine, e com pureza Só ame um Deus, que vive eternamente. (José da Natividade Saldanha. Poemas oferecidos aos amantes do Brasil. 1822.) SONETO Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. Em seus lábios que os meus lábios osculam Micro-organismos fúnebres pululam Numa fermentação gorda de cidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra A uma só lei biológica vinculam, E a marcha das moléculas regulam, Com a invariabilidade da clepsidra!... Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Roída toda de bichos, como os queijos Sobre a mesa de orgíacos festins!... Amo meu Pai na atômica desordem Entre as bocas necrófagas que o mordem E a terra infecta que lhe cobre os rins! (Augusto dos Anjos. Eu. 1935.) IDEALISMO E REALISMO Eu sou pois associado a estes dois movimentos, e se ainda ignoro o que seja a ideia nova, sei pouco mais ou menos o que chamam aí a escola realista. Creio que em Portugal e no Brasil se chama realismo, termo já velho em 1840, ao movimento artístico que em França e em Inglaterra é conhecido por “naturalismo” ou “arte experimental”. Aceitemos, porém, realismo, como a alcunha familiar e amiga pela qual o Brasil e Portugal conhecem uma certa fase na evolução da arte. (...) Não – perdoem-me – não há escola realista. Escola é a imitação sistemática dos processos dum mestre. Pressupõe uma origem individual, uma retórica ou uma maneira consagrada. Ora o naturalismo não nasceu da estética peculiar dum artista; é um movimento geral da arte, num certo momento da sua evolução. A sua maneira não está consagrada, porque cada temperamento individual tem a sua maneira própria: Daudet é tão diferente de Flaubert, como Zola é diferente de Dickens. Dizer “escola realista” é tão grotesco como dizer “escola republicana”. O naturalismo é a forma científica que toma a arte, como a república é a forma política que toma a democracia, como o positivismo é a forma experimental que toma a filosofia. Tudo isto se prende e se reduz a esta fórmula geral: que fora da observação dos factos e da experiência dos fenômenos, o espírito não pode obter nenhuma soma de verdade. Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo das paixões a priori; hoje, analisa-se a posteriori, por processos tão exactos como os da própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis que a constituição do espírito duma donzela, que há no mundo uma fenomenalidade única, que a lei que rege os movimentos dos mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de observar. O verdadeiro autor do naturalismo não é pois Zola – é Claude Bernard. A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações inatas... (Eça de Queirós. “Cartas Inéditas de Fradique Mendes”. In: Obras de Eça de Queirós.) PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora consciente (Rafael das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Brás Cubas), ora inconscientemente (a grande maioria) foram deformadores da natureza.
24VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa. Nossos sentidos são frágeis. A percepção das coisas exteriores é fraca, prejudicada por mil véus, provenientes das nossas taras físicas e morais: doenças, preconceitos, indisposições, antipatias, ignorâncias, hereditariedade, circunstâncias de tempo, de lugar, etc... Só idealmente podemos conceber os objetos como os atos na sua inteireza bela ou feia. A arte que, mesmo tirando os seus temas do mundo objetivo, desenvolve-se em comparações afastadas, exageradas, sem exatidão aparente, ou indica os objetos, como um universal, sem delimitação qualificativa nenhuma, tem o poder de nos conduzir a essa idealização livre, musical. Esta idealização livre, subjetiva, permite criar todo um ambiente de realidades ideais onde sentimentos, seres e coisas, belezas e defeitos se apresentam na sua plenitude heroica, que ultrapassa a defeituosa percepção dos sentidos. Não sei que futurismo pode existir em quem quase perfilha a concepção estética de Fichte. Fujamos da natureza! Só assim a arte não se ressentirá da ridícula fraqueza da fotografia... colorida. (Mário de Andrade. “Pauliceia Desvairada”. In: Poesias completas. 1987.) 1. (Unesp) Os processos de coordenação e de subordinação, quando surgem de modo recorrente ao longo de um mesmo período, podem produzir sequências bastante simétricas, que facilitam não apenas a compreensão, mas também o reconhecimento da própria estrutura sintática adotada. Releia o último período do segundo parágrafo do fragmento de Eça de Queirós e, a seguir, a) indique o substantivo que, repetido simetricamente ao longo do período, apresenta sempre a mesma função sintática nas orações em que se insere; b) fazendo as eliminações de conectivos que julgar necessárias e alterando a pontuação, transforme esse período composto por coordenação e subordinação em três períodos compostos por subordinação também simétricos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. 2. (Unesp) Na estrofe mencionada ocorrem cinco orações introduzidas por QUE. A análise demonstra que três dessas orações têm uma classificação sintática; outras duas, outra. Aponte essas duas classificações sintáticas das orações introduzidas por QUE. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A Rodolfo Leite Ribeiro (...) Noto nas poesias tuas, que o Vassourense tem publicado, muita naturalidade e cor local, além da nitidez do estilo e correção da forma. Sentes e conheces o que cantas, são aprazivelmente brasileiros os assuntos, que escolhes. Um pedaço de nossa bela natureza esplêndida palpita sempre em cada estrofe tua, com todo o vigor das tintas que aproveitas. No “Samba” que me dedicas, por exemplo, nenhuma particularidade falta dessa nossa dança macabra, movimento, graça e verdade ressaltam de cada um dos quatorze versos, que constituem o soneto. / Como eu invejo isso, eu devastado completamente pelos prejuízos dessa escola a que chamam parnasiana, cujos produtos aleijados e raquíticos apresentam todos os sintomas da decadência e parecem condenados, de nascença, à morte e ao olvido! Dessa literatura que importamos de Paris, diretamente, ou com escala por Lisboa, literatura tão falsa, postiça e alheia da nossa índole, o que breve resultará, pressinto-o, é uma triste e lamentável esterilidade. Eu sou talvez uma das vítimas desse mal, que vai grassando entre nós. Não me atrevo, pois, a censurar ninguém; lastimo profundamente a todos! / É preciso erguer-se mais o sentimento de nacionalidade artística e literária, desdenhando-se menos o que é pátrio, nativo e nosso; e os poetas e escritores devem cooperar nessa grande obra de restauração. Não achas? Canta um poeta, entre nós, um Partenon de Atenas, que nunca viu; outro os costumes de um Japão a que nunca foi... Nenhum, porém, se lembrara de cantar a Praia do Flamengo, como o fizeste, e qualquer julgaria indigno de um soneto o Samba, que ecoa melancolicamente na solidão das nossas fazendas, à noite. / Entretanto, este e outros assuntos vivem na tradição de nossos costumes, e é por desprezá-los assim que não temos um poeta verdadeiramente nacional. / Qualquer assunto, por mais chilro e corriqueiro que pareça ser, pode deixar de sê-lo, quando um raio do gênio o doure e inflame. / Tu me soubeste dar uma prova desse asserto. Teus formosos versos é que hão de ficar, porque eles estão alumiados pela imensa luz da verdade. Essa rota que me apontas é que eu deveria ter seguido, e que, infelizmente, deixei de seguir. O sol do futuro vai romper justamente da banda para onde caminhas, e não da banda por onde nós outros temos errado até hoje. / Continua, meu Rodolfo. Mais alguns sonetos no mesmo gênero; e terás um livro que, por si só, valerá mais que toda a biblioteca de parnasianos. Onde, nestes, a pitoresca simplicidade, a saudável frescura, a verdadeira poesia de teus versos?! (Raimundo Correia. Correspondência. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961.) Todos Cantam sua Terra... (1929) [...] Acha Tristão de Ataíde que a literatura brasileira moderna, apesar de tudo, enxergou qualquer cousa às claras. Pois que deu fé que estava em erro. Que se esquecera do Brasil, que se expressava numa língua que não era a fala do povo, que enveredara por terras de Europa e lá se perdera, com o mundo do Velho Mundo. Trabalho deu a esse movimento literário atual, a que chamam de moderno, trazer a literatura brasileira ao ritmo da nacionalidade, isto é, integrá-la com as nossas realidades reais. Mais ou menos isso falou o grande crítico. Assim como falou do novo erro em que caiu esta literatura atual criando um convencionalismo modernista, uma brasilidade forçada, quase tão errada, quanto a sua imbrasilidade. Em tudo isso está certo Tristão. Houve de fato ausência de Brasil nos antigos, hoje parece que há Brasil de propósito nos modernos. Porque nós não poderíamos com sinceridade achar Brasil no índio que Alencar isolou do negro, cedendo-lhe as qualidades lusas, batalhando por um abolicionismo literário do índio que nos dá a impressão de que
25VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias o escravo daqueles tempos não era o preto, era o autóctone. O mesmo se deu com Gonçalves Dias em que o índio entrou com o vestuário de penas pequeno e escasso demais para disfarçar o que havia de Herculano no escritor. [...] Da mesma forma que os nossos primeiros literatos cantaram a terra, os nossos poetas e escritores de hoje querem expressar o Brasil numa campanha literária de “custe o que custar”. Surgiram no começo verdadeiros manifestos, verdadeiras paródias ao Casimiro e ao Gonçalves Dias: “Todos dizem a sua terra, também vou dizer a minha”. E do Norte, do Sul, do sertão, do brejo, de todo o país brotaram grupos, programas, proclamações modernistas brasileiras, umas ridículas à beça. Ninguém melhor compreendeu, adivinhou mesmo, previu o que se ia dar, botando o preto no branco, num estudo apenso ao meu primeiro livro de poesia em 1927, do que o meu amigo José Lins do Rego. (...) Dois anos depois é o mesmo protesto de Tristão de Ataíde: “esse modernismo intencional não vale nada!” Entretanto nós precisamos achar a nossa expressão que é o mesmo que nos acharmos. E parece que o primeiro passo para o achamento é procurar trazer o homem brasileiro à sua realidade étnica, política e religiosa. [...] No seio deste Modernismo já se opera uma reação anti-ANTISINTAXE, anti-ANTIGRAMATICAL em oposição ao desleixo que surgiu em alguns escritos, no começo. Nós não temos um passado literário comprido (como têm os italianos, para citar só um povo), que nos endosse qualquer mudança no presente, pela volta a ele, renascimento dele, pela volta de sua expressão estilística ou substancial. A nossa tradição estilística, de galho deu, na terra boa em que se plantando dá tudo, apenas garranchos. (Jorge de Lima. Ensaios. In: Poesias completas - v. 4. Rio de Janeiro: José Aguilar/MEC, 1974.) 3. (Unesp) As orações subordinadas adjetivas se identificam por se referirem, como os adjetivos, a um substantivo antecedente, integrando-se, deste modo, ao sintagma nominal de que tal substantivo constitui o núcleo. De posse desta informação, a) indique as duas orações adjetivas que aparecem no período seguinte do texto de Raimundo Correia e identifique o sintagma nominal a que se integram: “Canta um poeta, entre nós, um Partenon de Atenas, que nunca viu; outro os costumes de um Japão a que nunca foi.” b) aponte dois termos de orações desse período que estejam ocultos, isto é, não expressos na superfície da oração, embora implícitos em sua estrutura. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO INTRODUÇÃO: As questões seguintes tomam por base o poema A E I O U, do simbolista Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) e um fragmento do conto UMA HISTÓRIA DE MIL ANOS, do escritor, editor e polemista Monteiro Lobato (1882-1948). A E I O U Manhã de primavera. Quem não pensa Em doce amor, e quem não amará? Começa a vida. A luz do céu é imensa... A adolescência é toda sonhos. A. O luar erra nas almas. Continua O mesmo sonho e oiro, a mesma fé. Olhos que vemos sob a luz da lua... A mocidade é toda lírios. E. Descamba o sol nas púrpuras do ocaso. As rosas morrem. Como é triste aqui! O fado incerto, os vendavais do acaso... Marulha o pranto pelas faces. I. A noite tomba. O outono chega. As flores Penderam murchas. Tudo, tudo é pó. Não mais beijos de amor, não mais amores... Ó sons de sinos a finados! O. Abre-se a cova. Lutulenta e lenta, A morte vem. Consoladora és tu! Sudários rotos na mansão poeirenta... Crânios e tíbias de defunto. U. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. p. 506. UMA HISTÓRIA DE MIL ANOS - HU... HU... É como nos invios da mata soluça a juriti. Dois HUS - um que sobe, outro que desce. O destino do u!... Veludo verde-negro transmutado em som - voz das tristezas sombrias. Os aborígines, maravilhosos denominadores das coisas, possuíam o senso impressionista da onomatopeia. URUTÁU, URÚ, URUTÚ, INAMBÚ - que sons definirão melhor essas criaturinhas solitárias, amigas da penumbra e dos recessos? A juriti, pombinha eternamente magoada, é toda US. Não canta, geme em U - geme um gemido aveludado, lilás, sonorização dolente da saudade. O caçador passarinheiro sabe como ela morre sem luta ao mínimo ferimento. Morre em U... Já o sanhaço é todo AS. Ferido, debate-se, desfere bicadas, pia lancinante. A juriti apaga-se como chama de algodão. Frágil torrão de vida, extingue-se como se extingue a vida do torrão de açúcar aos simples contacto da água. Um U que se funde. In: LOBATO, Monteiro. NEGRINHA. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1959, p. 135. 4. (Unesp) Os efeitos estilísticos dos textos literários são muitas vezes obtidos pela adoção de procedimentos bastante simples. É característica, no poema de Alphonsus de Guimaraens, a insistência em períodos simples, bem como a repetição de vocábulos no conto de Lobato. Releia os textos e, a seguir, a) transcreva e classifique a única oração subordinada que aparece no poema de Alphonsus de Guimaraens; b) indique a classe de palavra em que se enquadra “u”, no último período do texto de Monteiro Lobato, e justifique sua resposta com base no contexto.
26VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 5. (Fuvest - adaptado) I. Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado... II. Uma surpresa: tão bom, aquele livro! III. Nenhum aborrecimento na leitura. Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases acima, articule-as num único período. Empregue os verbos e os nexos oracionais necessários à clareza, à coesão e à coerência desse período. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. E 2. C 3. E 4. D 5. C 6. D 7. C 8. B 9. A 10. B E.O. Fixação 1. D 2. D 3. B 4. A 5. B 6. D 7. B 8. C 9. D 10. C E.O. Complementar 1. A 2. E 3. C 4. D 5. C E.O. Dissertativo 1. a) MAS está mais como recurso expressivo: “E com que velocidade!” O CONTUDO exprime ideia de oposição. b) “Não precisamos olhar para o espelho nem para nenhum relógio, pois o tempo está em nosso coração, e ouve-se...” 2. a) O autor conclui que o poder hegemônico estabelece os padrões sociais e identifica os grupos, conferindo-lhes valores positivos ou negativos a partir da sua perspectiva particular. b) A identidade e a diferença estão, portanto (assim, dessa forma), em estreita conexão com relações de poder. 3. a) O texto é organizado por meio de orações coordenadas, indicando a fugacidade dos pensamentos tal qual o vento. A percepção sobre o tempo ocorre por meio de fragmentos das passagens marcantes, as quais se imortalizaram principalmente pelo sentimento de tristeza. b) Os verbos conjugados no pretérito imperfeito apontam para ações de efeito durativo no passado; já os verbos conjugados no pretérito mais-que-perfeito estão relacionados às memórias mais antigas, exatamente as que ocorreram anteriormente às indicadas pelos verbos no pretérito imperfeito. 4. a) A oração coordenada empregada pelo autor foi adversativa. Seu sentido é marcar a adversidade entre dois posicionamentos: no passado, havia preocupação com a velhice, fase marcada pelo “fim de uma vida produtiva plena”, cuja única possibilidade era “aceitar a decadência física”; no presente, pensa-se que, de acordo com comportamentos sábios durante a juventude, a velhice se tornará “uma fase áurea da nossa existência”. b) A respeito da longevidade do brasileiro, o autor se posiciona de modo favorável, argumentando prioritariamente que decisões conscientes, tomadas durante a juventude, interferem positivamente na existência futura, garantindo-lhe qualidade. 5. a) A relação de sentido entre as orações é de adversidade. A oração coordenada assindética (“Era o rapaz mais feio do mundo”) apresenta contraste em relação à segunda (“mas [era] simpático e boa gente”), portanto é classificada como oração coordenada sindética adversativa. b) Era um cachorro muito bagunceiro, mas muito amado. Era um ambiente muito simples, mas acolhedor. Era um professor enérgico, mas querido pelos alunos. E.O. UERJ Exame de Qualificação 1. D 2. A 3. A 4. A E.O. UERJ Exame Discursivo 1. A fala de Mafalda, no segundo quadro, expressa a conclusão de que, devido aos inúmeros e variados afazeres de cada um, a brincadeira deve ser rápida, pois a vida moderna assim o exige. A pergunta poderia ser formulada com outras conjunções coordenativas conclusivas (“Logo”, “Por isso”, “Portanto”): Portanto, acho que só dá tempo de brincar de guerra nuclear, não é? 2. As orações sublinhadas ficariam da seguinte maneira: 1. (...) fazer de simples prova de natação, à qual ninguém o obrigava(...) 2. (...) uma disputa na qual parecia empenhar o destino(...) 3. Uma dentre as possibilidades: • E as que passam ondulantes nas cordas dos violoncelos; • E as que passam ondeantes nas cordas dos violoncelos; Uma dentre as possibilidades: • Era uma voz de mulher que cantava nas Antilhas. • Era uma voz de mulher a cantar nas Antilhas. 4. a) - Mas, porém - Sentido de oposição b) A autora valoriza o ato de ler como experiência ou vivência. 5. Um dentre os períodos: • O racismo não é apenas uma ideologia social e política, mas também uma teoria que se pretende científica. • O racismo é não só uma ideologia social e política, mas ainda uma teoria que se pretende científica.
27VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. A 2. E 3. D E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. a) O substantivo é forma (que funciona sintaticamente como núcleo do predicativo do sujeito e é retomado pelo pronome relativo “que”, na expressão “é a forma ... que”). b) O naturalismo é a forma científica que toma a arte. A república é a forma política que toma a democracia. O positivismo é a forma experimental que toma a filosofia. 2. Ao analisar sintaticamente as orações introduzidas por QUE, classificam-se como orações subordinadas adjetivas restritivas as seguintes ocorrências: “que fizeram”, “que tiveram”, “que a Musa antiga canta”. Em tais casos, QUE é um pronome relativo, estabelecendo o valor de adjetivo ao termo a que as orações fazem referência: “navegações”, “fama” e “o”, respectivamente. As outras duas ocorrências são introduzidas por conjunções coordenativas explicativas, a saber: “Que eu canto o peito ilustre Lusitano”, “Que outro valor mais alto se alevanta”. Trata-se de orações coordenadas sindéticas explicativas, uma vez que explicam a oração a que se referem (sendo cada uma delas marcada pela ocorrência de verbo no imperativo, respectivamente “Cessem” e “Cesse”). 3. a) A primeira oração subordinada adjetiva é: “que nunca viu” (tem como sintagma nominal que antecede o pronome relativo “Partenon de Atenas”; núcleo: Partenon). A segunda oração subordinada adjetiva é: “a que nunca foi” (o sintagma nominal que antecede o pronome relativo é “Japão”, que também é o núcleo). b) Tem-se zeugma na omissão de dois termos: “canta” e “poeta”. 4. a) Na frase, “olhos QUE VEMOS SOB A LUZ DA LUA”, tem-se oração subordinada adjetiva restritiva. b) Em “Um U se funde” tem-se o U acompanhado do artigo indefinido, o que o torna um substantivo. 5. Desespero meu: leitura obrigatória de livro, no entanto foi uma surpresa, pois era muito bom aquele livro, cuja leitura não causou nenhum aborrecimento.
28VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (Eear 2019) Marque a alternativa que apresenta correta classificação da oração apresentada. a) O professor verificou se as alternativas estavam em ordem. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa) b) Lembre-se de que tudo não passou de um engano. (Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal) c) O sargento indagou de quem era aquela identidade. (Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta) d) Seu medo era que ele fosse reprovado no concurso. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa) 2. (Eear 2019) Assinale a alternativa em que a oração em destaque é subordinada substantiva objetiva indireta. a) Aqui ninguém se opõe a que se conheça o sistema. b) Seu medo era que morresse na data da festa. c) Nunca se sabe quem está contra nós. d) Perguntei-lhe quando voltaria. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O homem deve reencontrar o Paraíso... Rubem Alves Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na enorme teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um pedaço. Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham, compraram um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades. Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes necessários para se navegar. Puseram-se então a estudar cada um aquilo que teria de fazer no barco: manutenção do casco, instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia, as velas, as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor, o radar, o rádio, as ligações elétricas, os mares, os mapas... Disse cero o poeta: Navegar é preciso, a ciência da navegação é saber preciso, exige aparelhos, números e medições. Barcos se fazem com precisão, astronomia se aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de navegação não informam mais ou menos. Assim, eles se tornaram cientistas, especialistas, cada um na sua – juntos para navegar. Chegou então o momento de grande decisão – para onde navegar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos fiordes da Noruega, um outro queria conhecer os exóticos mares e praias das ilhas do Pacífico, e houve mesmo quem quisesse navegar nas rotas de Colombo. E foi então que compreenderam que, quando o assunto era a escolha do destino, as ciências que conheciam para nada serviam. De nada valiam, tabelas, gráficos, estatísticas. Os computadores, coitados, chamados a dar seu palpite, ficaram em silêncio. Os computadores não têm preferências – falta-lhes essa sutil capacidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados sobre o porto de sua escolha, disseram que não entendiam a pergunta, que não lhes importava para onde se estava indo. Se os barcos se fazem com ciência, a navegação faz-se com sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, especialista em saber como as coisas funcionam, tudo ignora sobre o coração humano. É preciso sonhar para se decidir sobre o destino da navegação. Mas o coração humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciência, é coisa preciosa. Disse certo poeta: Viver não é preciso. Primeiro vem o impreciso desejo. Primeiro vem o impreciso desejo de navegar. Só depois vem a precisa ciência de navegar. Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens na mente dos poetas. Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E pois com a nau no mar/ assestamos a quilho contra as vagas... Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona/ parece-nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande mar / multiplicada em suas malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra não descoberta, no mar mais distante. Que as vossas velas não se cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar! Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou a nossa civilização a uma galera que navega pelos mares. Nos porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior. A cada novo dia recebem novos, mais perfeitos. O ritmo da remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre o porto do destino, respondem os remadores: O porto não nos importa. O que importada é a velocidade com que navegamos. C Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civilização por meio duma imagem plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de para onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter ideia do para onde. Em relação à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na linguagem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção. Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas são inatingíveis... ora!/ não é um motivo para não querê-las... Que tristes os caminho, se não fora/ A mágica presença das estrelas! Karl Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS COMPETÊNCIA(s) 1, 6 e 8 HABILIDADE(s) 1, 18 e 27 LC AULAS 29 E 30
29VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias década de 1920 diagnosticava a doença da nossa civilização: Não temos consciência de direções, não escolhemos direções. Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino. Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determinadas pelo pragmatismo da tecnologia (o importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber como funciona), são: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema concreto em particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos o eco intimista: não preciso de me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo. Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da navegação, sem que os estudantes sejam levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se dedica com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro. Dizem que seu dever é produzir conhecimento. Se forem bem- -sucedidas, suas pesquisas serão publicadas em revistas internacionais. Quando se lhes pergunta: Para onde seu barco está navegando?, eles respondem: Isso não é científico. Os sonhos não são objetos de conhecimento científico. E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. Não posso pensar a missão das escolas, começando com as crianças e continuando com os cientistas, como outra que não a da realização do dito poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso. É necessário ensinar os precisos saberes da navegação enquanto ciência. Mas é necessário apontar com imprecisos sinais para os destinos da navegação: A terra dos filhos dos meus filhos, no mar distante... Na verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens sonham com navegar. Depois aprendem a ciência da navegação. É inútil ensinar a ciência da navegação a quem mora nas montanhas. O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O universo tem um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é o jardim, lugar de felicidade, prazeres e alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um brilho chamado progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em direção ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a direção. E é assim que as florestas são destruídas, os rios se transformam em esgotos de fezes e veneno, o ar se enche de gases, os campos se cobrem de lixo – e tudo ficou feio e triste. Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do ensino – psicologias e quinquilharias – e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso. Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. 3. (Efomm 2018) Ao se analisar sintaticamente a oração sublinhada, cometeu-se um erro, que aparece na alternativa. a) É necessário ensinar os precisos saberes da navegação enquanto ciência. (predicativo) b) Chegou então o momento da grande decisão – para onde navegar. (aposto) c) ‘Navegar é preciso. Viver não é preciso’. (sujeito) d) É inútil ensinar a ciência da navegação a quem mora nas montanhas... (objeto indireto) e) (...) compraram um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades. (complemento nominal) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia. Alguns perguntariam “Por quê?”. E eu pergunto: “Por que não?” O que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%. A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada. O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia. A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores. Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar.
30VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança. O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade. A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito. com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil. com.br/noruega-como-modelo-de-reabilitacao-decriminosos/. Acessado em 17 de março de 2017. 4. (Espcex (Aman) 2018) No período, “Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia”, as duas orações destacadas são subordinadas reduzidas de infinitivo e classificam-se, respectivamente, como a) substantiva apositiva e substantiva subjetiva. b) adverbial final e substantiva subjetiva. c) adverbial final e substantiva completiva nominal. d) substantiva objetiva indireta e adverbial consecutiva. e) adverbial consecutiva e substantiva apositiva. 5. (Espcex (Aman) 2018) Assinale a alternativa em que a oração sublinhada é subordinada substantiva predicativa: a) A comida é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno. b) Ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade. c) Se o indivíduo não comprovar que está totalmente reabilitado, a pena será prorrogada. d) A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao brasileiro é que ele é pautado na reabilitação. e) Uma sinistra cultura de que bandido bom é bandido morto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Limites da manipulação genética Nos últimos anos, a possibilidade de manipulação genética de seres humanos se tornou tecnicamente real, o que levou à publicação de vários manifestos da comunidade científica internacional contra o uso da técnica em embriões, óvulos e espermatozoides humanos. 1 Não aceitamos alterações genéticas que possam ser transmitidas às próximas gerações. Apesar disso, cientistas chineses publicaram um trabalho descrevendo a criação de embriões humanos geneticamente modificados! 2 Abrimos a Caixa de Pandora? Ainda não. Os pesquisadores chineses só testaram o quão segura a técnica é de fato em embriões humanos – afinal, se um dia pudéssemos, por exemplo, corrigir a mutação no gene do câncer de mama, interromperíamos a herança genética familiar e os filhos não correriam o risco de herdar a doença. Se temos algo a ganhar com a técnica, não vale a pena testá-la? 3 Sim, mas existe uma linha muito tênue entre ousadia e irresponsabilidade, e o desenvolvimento científico não pode cruzá-la. Assim, para ficar do lado de cá dessa fronteira, foram usados embriões defeituosos de fertilização in vitro. 4 Neles foram injetadas pequenas moléculas construídas para consertar um gene que, quando “mutado”, causa uma forma grave de anemia. Dos 54 embriões analisados, somente quatro tinham o gene corrigido... Além disso, eles também tinham alterações genéticas em outros locais não planejados do genoma – 5 ou seja, a tal molécula muitas vezes erra o seu alvo... 6 Em resumo, o trabalho demonstrou que a técnica de edição de genoma é ineficiente e insegura para se utilizar em embriões humanos – exatamente o que 7 a comunidade científica previa e questionava, com o objetivo de que esse procedimento não fosse feito em embriões humanos. 8 O que não significa que as pesquisas nesse sentido devam ser interrompidas. Se tivéssemos proibido as pesquisas em transplante cardíaco em 1968, quando 80% dos pacientes transplantados morriam, 9 nunca teríamos tornado esse procedimento uma realidade que hoje em dia salva muitas vidas. 10Cientistas seguirão aprimorando a técnica para torná-la mais eficiente e segura. Porém, essas pesquisas devem ser conduzidas de forma absolutamente ética – aliás, todas as pesquisas devem ser conduzidas assim; mas, quando envolvem embriões humanos, mais ainda. E enquanto nós, cientistas, resolvemos os aspectos técnicos, conclamamos legistas, psicólogos, sociólogos e a população em geral para discutir as vantagens e os riscos de usar a tecnologia de edição do genoma em seres humanos. Para pesquisar ou para evitar doenças como câncer e Alzheimer? Sim. 11E para que o bebê nasça com olhos azuis, mais inteligente, mais alto? Não. Em que situações permitiremos sua aplicação? 12Um cenário que, há 15 anos, era ficção científica agora é tão real que devemos discuti-lo urgentemente. No Brasil, já estamos precavidos: a Lei de Biossegurança de 2005 proíbe “engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano”. Talvez um dia tenhamos que rever o texto 13para considerar casos específicos em que essa engenharia genética possa ser feita. Mas, por enquanto, estamos protegidos – que orgulho! PEREIRA, L. O Globo. Opinião. 12 maio 2015. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/opiniao/limites-da-manipulacaogenetica-16125529>. Acesso em: 20 jun. 2017. Adaptado. 6. (Fmp 2018) No trecho do texto “O que não significa que as pesquisas nesse sentido devam ser interrompidas.” (ref. 8), a palavra destacada exerce a mesma função textual que em: a) “para considerar casos específicos em que essa engenharia genética possa ser feita.” (ref. 13) b) “Um cenário que, há 15 anos, era ficção científica agora é tão real que devemos discuti-lo urgentemente.” (ref. 12)
31VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) “Em resumo, o trabalho demonstrou que a técnica de edição de genoma é ineficiente e insegura” (ref. 6). d) “nunca teríamos tornado esse procedimento uma realidade que hoje em dia salva muitas vidas.” (ref. 9) e) “E para que o bebê nasça com olhos azuis, mais inteligente, mais alto?” (ref. 11) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Envelhecer Arnaldo Antunes 1 A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer Não quero morrer pois quero ver Como será que deve ser envelhecer Eu quero é viver pra ver qual é E dizer venha pra o que vai acontecer 2 Eu quero que o tapete voe No meio da sala de estar 3 Eu quero que a panela de pressão pressione E que a pia comece a pingar 4 Eu quero que a sirene soe E me faça levantar do sofá 5 Eu quero pôr Rita Pavone No ringtone do meu celular 6 Eu quero estar no meio do ciclone Pra poder aproveitar E quando eu esquecer meu próprio nome Que me chamem de velho gagá 7 Pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr Disponível em https://www.vagalume.com.br/ arnaldoantunes/envelhecer.html. Acesso: 22/9/17. 7. (Uece 2018) No enunciado “Eu quero que o tapete voe“ (referência 2), tem-se a) uma estrutura sintática e semântica semelhante à do enunciado “Eu quero estar no meio do ciclone” (referência 6), o qual apresenta, na ordem, uma oração principal, outra subordinada substantiva reduzida, expressando a ideia de que, mesmo na velhice, é possível ainda querer realizar e aproveitar certas atividades. b) uma estrutura sintática formada por uma primeira oração, chamada de principal, e por uma outra, denominada de oração subordinada substantiva, que serve como sujeito da primeira, para ser transmitida a ideia sobre quem o enunciador está falando. c) uma estrutura sintática formada por uma oração principal e por uma outra oração subordinada substantiva, a qual funciona como complemento direto da primeira oração, para o enunciador enfatizar o objeto do seu querer e, assim, mostrar sua vivacidade. d) uma estrutura sintática diferente da dos enunciados “Eu quero que a panela de pressão pressione” (referência 3) e “Eu quero que a sirene soe” (referência 4), que apresentam uma oração principal seguida de uma oração subordinada objetiva direta, em que se mostra a possiblidade de o desejo do enunciador se realizar. 8. (Espcex (Aman) 2017) Em “A velha disse-lhe que descansasse”, do conto Noite de Almirante, de Machado de Assis, a oração grifada é uma subordinada a) substantiva objetiva indireta. b) adverbial final. c) adverbial conformativa. d) adjetiva restritiva. e) substantiva objetiva direta. 9. (G1 - ifce) No período “É importante que ele não falte à reunião”, a oração sublinhada é a) subordinada substantiva objetiva direta. b) subordinada substantiva objetiva indireta. c) subordinada substantiva subjetiva. d) coordenada assindética. e) subordinada substantiva predicativa. 10. (Espcex (Aman)) No período “Ninguém sabe como ela aceitará a proposta”, a oração grifada é uma subordinada a) adverbial comparativa. b) substantiva completiva nominal. c) substantiva objetiva direta. d) adverbial modal. e) adverbial causal. E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o fragmento do romance O Cabeleira, abaixo, e responda à(s) questão(ões) a seguir. O Cabeleira entretanto atravessava matos, riachos e tabuleiros por novos caminhos que, infatigável e ousado, ia abrindo, em direitura ao lugar do seu nascimento. Sentia-se atraído para esse lugar por uma saudade infinda, por uma confiança enganosa e fatal. Parecia-lhe que ninguém, nem a justiça dos homens nem a de Deus, na qual desde os mais verdes anos o tinham ensinado a
32VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias não acreditar, teriam poder para arrancá-lo desses sombrios e protetores esconderijos, dessas grutas insondáveis, perpetuamente abertas às onças e a ele, perpetuamente fechadas ao restante dos animais e dos homens que não se animavam a transpor-lhes o escuro limiar com receio de ficarem sepultados para sempre em tão medonhos sarcófagos. Tendo-se afastado do pé da mata onde haviam sido vencidos e capturados em seus redutos os outros malfeitores, descreveu uma oblíqua de cerca de uma légua no rumo do ocidente e desceu depois a uma distância donde pudesse ter debaixo das vistas o Tapacurá, que lhe servia de guia através do sertão. (TÁVORA, F. O Cabeleira. São Paulo: Martin Claret, 2003. p. 133.) 1. (Uel) No trecho “com receio de ficarem sepultados para sempre em tão medonhos sarcófagos”, há uma oração reduzida a) subordinada adverbial final. b) subordinada adverbial temporal. c) subordinada substantiva objetiva indireta. d) subordinada substantiva completiva nominal. e) subordinada substantiva predicativa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O anjo Rafael Machado de Assis Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado das mulheres e aborrecido dos credores, 1 o dr. Antero da Silva determinou um dia despedir-se deste mundo. Era pena. O dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, e podia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade é que para isso fora necessário proceder a uma completa reforma dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso herói que o defeito não estava em si, mas nos outros; cada pedido de um credor inspirava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; julgava conhecer os homens, por ter tratado até então com alguns bonecos sem consciência; pretendia conhecer as mulheres, quando apenas havia praticado com meia dúzia de regateiras do amor. O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para isso foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e entrou em casa, que era à rua da Misericórdia. Davam então quatro horas da tarde. O dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na mesa. – A viagem é longa, disse ele consigo, e eu não sei se há hotéis no caminho. Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir dormir a sesta e não o último sono. 2 O próprio criado reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. No fim dele, quando o criado lhe trouxe o café, Antero proferiu paternalmente as seguintes palavras: 3 – Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis que lá estão, são teus. Vai passar a noite fora e não voltes antes da madrugada. – Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro. – Vai. Pedro apressou-se a executar a ordem do amo. O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu um volume do Dicionário filosófico e começou a ler. Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A leitura do dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente daí a algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou o livro. Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer e agradecer ao céu. 4 O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para escrever. 5 Não tinha parentes, nem amigos a quem deixar carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer a respeito dele a sua última palavra. Travou da pena e escreveu as seguintes linhas: Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De ordinário a fuga é impossível. Mas estes animais meus semelhantes tão traiçoeiros e ferozes como os outros, tiveram a inépcia de inventar uma arma, mediante a qual um transviado facilmente lhes escapa das unhas. É justamente o que vou fazer. Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com estes três elementos reduzirei a minha vida ao nada. Não levo nem deixo saudades. Morro por estar enjoado da vida e por ter certa curiosidade da morte. Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadáver, os jornais escreverão a notícia do acontecimento, e um ou outro fará a esse respeito considerações filosóficas. Importam-me bem pouco as tais considerações. Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas linhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os rimadores de ocasião encontrarão assunto para algumas estrofes. O dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em alguns lugares a pontuação, fechou o papel em forma de carta, e pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo. Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um traço de impiedade, a bucha que meteu no cano da pistola foi uma folha do Evangelho de S. João. Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à janela, respirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas: – Até já. E saindo da janela acrescentou mentalmente: – Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui, e estou feito um punhado de pó. É bem possível que no futuro século sirva este meu invólucro para macadamizar a rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer de ser pisado por alguns pés bonitos. Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho. 6 – Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere, disse ele. 7 Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes. Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de um curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar a quem quer que fosse. Contudo, por maior que seja a tranquilidade de um homem quando resolve
33VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias abandonar a vida, é-lhe sempre agradável achar um pretexto para prolongá-la um pouco mais. O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a porta. 2. (G1 - ifce) A oração sublinhada em “O próprio criado reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca” (referência 2) é a) subordinada substantiva objetiva indireta. b) subordinada substantiva objetiva direta. c) subordinada substantiva apositiva. d) subordinada explicativa. e) coordenada sindética alternativa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1 José Leal fez uma reportagem na Ilha das Flores, onde ficam os imigrantes logo que chegam. E falou dos equívocos de nossa política imigratória. 2 As pessoas que ele encontrou não eram agricultores e técnicos, gente capaz de ser útil. Viu músicos profissionais, bailarinas austríacas, cabeleireiras lituanas. Paul Balt toca acordeão, Ivan Donef faz coquetéis, Galar Bedrich é vendedor, Serof Nedko é ex-oficial, Luigi Tonizo é jogador de futebol, Ibolya Pohl é costureira. Tudo 15gente para o asfalto, “para entulhar as grandes cidades”, como diz o repórter. 6 O repórter tem razão. 3 Mas eu peço licença para ficar imaginando uma porção de coisas vagas, ao olhar essas belas fotografias que ilustram a reportagem. Essa linda costureirinha morena de Badajoz, essa Ingeborg que faz fotografias e essa Irgard que não faz coisa alguma, esse Stefan Cromick cuja única experiência na vida parece ter sido vender bombons 11– não, essa gente não vai aumentar a produção de batatinhas e quiabos nem 16plantar cidades no Brasil Central. 7 É insensato importar gente assim. Mas o destino das pessoas e dos países também é, muitas vezes, insensato: principalmente da gente nova e países novos. 8 A humanidade não vive apenas de carne, alface e motores. Quem eram os pais de Einstein, eu pergunto; e se o jovem Chaplin quisesse hoje entrar no Brasil acaso poderia? Ninguém sabe que destino terão no Brasil essas mulheres louras, esses homens de profissões vagas. Eles estão procurando alguma coisa12: emigraram. Trazem pelo menos o patrimônio de sua inquietação e de seu 17apetite de vida. 9 Muitos se perderão, sem futuro, na vagabundagem inconsequente das cidades; uma mulher dessas talvez se suicide melancolicamente dentro de alguns anos, em algum quarto de pensão. Mas é preciso de tudo para 18fazer um mundo; e cada pessoa humana é um mistério de heranças e de taras. Acaso importamos o pintor Portinari, o arquiteto Niemeyer, o físico Lattes? E os construtores de nossa indústria, como vieram eles ou seus pais? Quem pergunta hoje, 10e que interessa saber, se esses homens ou seus pais ou seus avós vieram para o Brasil como agricultores, comerciantes, barbeiros ou capitalistas, aventureiros ou vendedores de gravata? Sem o tráfico de escravos não teríamos tido Machado de Assis, e Carlos Drummond seria impossível sem uma gota de sangue (ou uísque) escocês nas veias, 4 e quem nos garante que uma legislação exemplar de imigração não teria feito Roberto Burle Marx nascer uruguaio, Vila Lobos mexicano, ou Pancetti chileno, o general Rondon canadense ou Noel Rosa em Moçambique? Sejamos humildes diante da pessoa humana: 5 o grande homem do Brasil de amanhã pode descender de um clandestino que neste momento está saltando assustado na praça Mauá13, e não sabe aonde ir, nem o que fazer. Façamos uma política de imigração sábia, perfeita, materialista14; mas deixemos uma pequena margem aos inúteis e aos vagabundos, às aventureiras e aos tontos porque dentro de algum deles, como sorte grande da fantástica 19loteria humana, pode vir a nossa redenção e a nossa glória. (BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963) 3. (Ita) Assinale a opção em que o termo grifado é conjunção integrante. a) José Leal fez uma reportagem na Ilha das Flores, onde ficam os imigrantes logo que chegam. (ref. 1) b) As pessoas que ele encontrou não eram agricultores e técnicos, gente capaz de ser útil. (ref. 2) c) Mas eu peço licença para ficar imaginando uma porção de coisas vagas, ao olhar essas belas fotografias que ilustram a reportagem. (ref. 3) d) [...] e quem nos garante que uma legislação exemplar de imigração não teria feito Roberto Burle Marx nascer uruguaio, [...] (ref. 4) e) [...] o grande homem do Brasil de amanhã pode descender de um clandestino que neste momento está saltando assustado na praça Mauá, [...] (ref. 5) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de opinião, qual seria o problema fundamental do Brasil, a maioria indica a precariedade da educação. Os entrevistados costumam apontar que o sistema educacional brasileiro não é capaz de preparar os jovens para a compreensão de textos simples, elaboração de cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento elementar de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais. [...] Certa vez, participava de uma reunião de pais e professores em uma escola privada brasileira de destaque e notei que muitos pais expressavam o desejo de ter bons professores, salas de aula com poucos alunos, mas não se sentiam responsáveis para participarem ativamente das atividades educacionais, inclusive custeando os seus serviços. Se os pais não conseguiam entender que esta aritmética não fecha e que a sua aspiração estaria no campo do milagre, parece difícil que consigam transmitir aos seus filhos o mínimo de educação. Para eles, a educação dos filhos não se baseia no aprendizado dos exemplos dados pelos pais. Que esta educação seja prioritária e ajude a resolver outros problemas de uma sociedade como a brasileira parece lógico. No entanto, não se pode pensar que a sua deficiência depende somente das autoridades. Ela começa com os próprios pais, que não podem simplesmente terceirizar essa responsabilidade. Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja convencida de que todos precisam contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que partilhem desta convicção e não estejam pensando somente nos seus benefícios pessoais. Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se tornando disponíveis no Brasil, nota-se que muitos estão se convencendo de que eles ajudam na sua ascensão social, mesmo sendo precários. O número daqueles
34VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias que trabalham para obter o seu sustento e para ajudar a família, e ao mesmo tempo se dispões a fazer um sacrifício adicional frequentando cursos até noturnos, parece estar aumentando. A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão está em alta. É tratada como prioridade tanto no governo como em instituições representativas das empresas. O mercado observa a carência de pessoal qualificado para elevar a eficiência do trabalho. Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras penas, a sua distribuição de renda. Mas, para que este processo de melhoria do bem-estar da população seja sustentável, há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que permita, também, o aumento da parcela da renda destinada à poupança, que vai sustentar os investimentos indispensáveis. A população que deseja melhores serviços das autoridades precisa ter a consciência de que uma boa educação, não necessariamente formal, é fundamental para atender melhor as suas aspirações. (YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em http://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemasda-educacao-no-brasil-657.html - Com adaptações) 4. (G1 - col. naval) Assinale a opção na qual o termo em destaque inicia uma oração subordinada substantiva. a) “A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão está em alta.” (7° §) b) “Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras penas, a sua distribuição [...].“ (8° §) c) “Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se tornando disponíveis [...].“ (6° §) d) “[...] há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que permita, também, o aumento [...].” (8° §) e) “Para que haja urna mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja convencida [...].“ (5° §) 5. (Espcex (Aman)) Em “Não sei, sequer, se me viste...”, a alternativa que classifica corretamente a palavra em destaque é a) conjunção subordinativa condicional. b) conjunção substantiva subjetiva. c) conjunção subordinativa temporal. d) conjunção coordenativa explicativa. e) conjunção subordinativa integrante. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Servidores da Funai morreram ao tentar contato com índios isolados na Amazônia A imensidão do Brasil revela que existem regiões que não foram desbravadas e que mantêm até hoje povos que habitavam o solo nacional, antes da chegada das caravelas de Pedro Álvares Cabral. 1Na Terra Indígena Vale do Javari, na fronteira do Brasil com o Peru e Colômbia, por exemplo, existem entre 2 mil e 3 mil índios que nunca tiveram contato com homens de outras etnias. O vale tem 8,5 milhões de hectares, sendo considerado o maior mosaico visual de referências indígenas isoladas do mundo. Nos últimos 15 anos, nove servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) morreram tentando contato com tribos isoladas na região. Atualmente, a luta que ocorre diariamente é para preservar o direito dos índios de permanecer no isolamento. A região tem mais de dez mil índios contatados e 16 referências de índios isolados, sendo nove confirmadas. Segundo o coordenador regional da Funai, Bruno Pereira, a política de acabar com os contatos com grupos isolados partiu da experiência de indigenistas, funaianos e sertanistas, que, ao longo de 120 anos de indigenismo de Estado, comprovaram que a aproximação era feita sem o cuidado devido e somente os índios se prejudicavam. O principal dano eram as doenças contagiosas, que quase levaram etnias à extinção, como aconteceu com os Matis, também chamados de Matsés, etnia reduzida a menos da metade, em apenas dois anos. O último grupo contatado foi da etnia Korubo, em 2003. Atualmente, o grupo de Korubos tem 29 índios. Conhecidos como caceteiros da Amazônia, eles mataram alguns madeireiros que invadiram a mata, em busca de madeira, e que queriam expulsar os índios do próprio território. Três índios Korubos morreram no confronto, o que fez com que eles se aproximassem de algumas comunidades na região de Atalaia do Norte, a 1.138 quilômetros de Manaus. A Funai foi acionada para tentar acabar com o confronto. (www.acritica.uol.com.br. Adaptado.) 6. (Uea) Uma das funções da partícula que é a de conjunção integrante, podendo, por exemplo, introduzir uma oração com valor de objeto direto. Das cinco ocorrências do que, no primeiro parágrafo, a única que tem essa característica é a do trecho a) que não foram desbravadas. b) que existem regiões. c) que mantêm até hoje povos. d) que nunca tiveram contato. e) que habitavam o solo nacional. 7. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa correta quanto à classificação sintática das orações grifadas abaixo, respectivamente. — Acredita-se que a banana faz bem à saúde. — Ofereceram a viagem a quem venceu o concurso. — Impediram o fiscal de que recebesse a propina combinada. — Os patrocinadores tinham a convicção de que os lucros seriam compensadores. a) subjetiva – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal b) subjetiva – objetiva indireta – completiva nominal – completiva nominal c) adjetiva – completiva nominal – objetiva indireta – objetiva indireta d) objetiva direta – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal e) subjetiva - completiva nominal - objetiva indireta - objetiva indireta
35VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A presidente Dilma ou a presidenta Dilma? Laércio Lutibergue Essa é a pergunta que mais temos recebido nos últimos dias por e-mail, pelas redes sociais (Twitter e Facebook) e mesmo pessoalmente. Há uma explicação para isso(I): a eleição da primeira mulher à Presidência da República, Dilma Rousseff. Já falamos deste assunto aqui(II), mas diante do acontecimento do domingo 31 de outubro e da avalanche de perguntas somos obrigados a retomá-lo. Gramaticalmente as duas formas estão corretas. Ou seja, pode ser “a presidente Dilma” e “a presidenta Dilma”. Neste momento, com base nas ocorrências na imprensa, inclusive no Jornal do Commercio, sem dúvida “a presidente” é a mais comum. E, se olharmos para o passado da língua, é a mais lógica. Palavras que vieram do particípio presente do latim, normalmente terminadas em -ante, -ente e -inte, são invariáveis. O que identifica o gênero delas é o artigo ou outro determinante: o/a amante, o/a gerente, meu/minha presidente. A língua, contudo, nem sempre é lógica. Muitas vezes ela foge do controle e revela uma face inventiva indiferente às regras. Isso ocorreu, por exemplo, com “comediante”, que ganhou o feminino “comedianta”; com “infante”, que ganhou “infanta”; com “parente”, que ganhou “parenta”; e com “presidente”, que ganhou “presidenta”. Certamente o extralinguístico atuou na formação desses femininos. A versão feminina de um nome de cargo destaca com mais força a presença da mulher na sociedade. Os mais velhos devem se lembrar do que ocorreu com a indiana Indira Gandhi. Começaram chamando-a de “o primeiro-ministro Indira Gandhi”; depois, passaram para “a primeiro-ministro”; e terminaram em “a primeira-ministra”. E hoje alguém tem dúvida de que uma mulher é “primeira-ministra”? A favor de “presidenta” existe também o aspecto legal. A Lei Federal nº 2.749/56 diz que o emprego oficial de nome designativo de cargo público deve, quanto ao gênero, se ajustar ao sexo do funcionário. Ou seja, segundo a lei, os cargos, “se forem genericamente variáveis”, devem assumir “feição masculina ou feminina”. Por tudo isso(III), defendemos a adoção do feminino “a presidenta”. Apesar de neste momento a maioria, pelo que mostra a imprensa, preferir “a presidente”. Intuímos, porém, que ocorrerá no Brasil o mesmo(IV) que sucedeu com dois vizinhos nossos. Na Argentina, Cristina Kirchner começou sendo chamada de “la presidente” e hoje é “la presidenta”. O mesmo ocorreu com Michelle Bachelet, no Chile, que(V) terminou o mandato como “la presidenta”. O tempo dirá se nossa intuição estava certa. (Texto publicado na coluna “Com todas as letras”, Jornal do Commercio do Recife, em 10/11/2010) 8. (G1 - ifpe) No que concerne ao valor semântico e à função sintática dos conectivos do texto, marque a alternativa incorreta. a) A conjunção integrante “se” (primeira linha do terceiro parágrafo) indica uma condição, uma hipótese para se defender o uso do termo presidenta. b) A conjunção adversativa “contudo” (primeira linha do quarto parágrafo) nega a visão de que a estrutura da língua é alicerçada apenas na lógica. c) A partícula explicativa “ou seja” (terceira linha do sexto parágrafo) introduz uma sequência sinônima ao período anterior. d) A conjunção concessiva “apesar” (primeira linha do sétimo parágrafo) introduz uma ideia oposta à da frase anterior, porém de menor valor argumentativo. e) A conjunção integrante “se” (penúltima linha do sétimo parágrafo) atribui um valor hipotético quanto ao uso do termo “presidenta” pela imprensa brasileira. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Como prevenir a violência dos adolescentes “(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos infracionais graves contra a vida. Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o futuro do país e do mundo. A construção da paz e a prevenção da violência dependem de como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas ou desestruturadas (...)” “(...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...)” “(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência. A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 municípios do país. O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a
36VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a contribuição dessa enorme rede de solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” “(...) A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação fundamental e de nível médio, que devem valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a prática da solidariedade humana. As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território nacional. (...)” “(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados e com tratamento multiprofissional, que urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã. (...)” Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.) 9. (G1 - ifal) No período: “Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação...” (9º parágrafo), temos, respectivamente. a) uma relação de coordenação, com orações coordenadas assindética e sindética, respectivamente. b) uma relação de subordinação, com orações coordenadas. c) orações subordinadas, sendo uma principal e outra subordinada substantiva. d) orações subordinadas substantivas completivas nominais. e) orações subordinadas, sendo uma principal, outra subordinada adverbial. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO 1 Araçatuba promove semana contra violência da mulher Quebrando o Silêncio - Semana de Conscientização contra a Violência Doméstica irá acontecer pela quarta vez em Araçatuba. A ação é um projeto da Adra (Agência de Desenvolvimento de Recursos Assistenciais),órgão oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Neste ano, a semana irá ocorrer em parceria com a Secretaria Municipal de Segurança, Câmara Municipal e Delegacia de Defesa da Mulher. As atividades serão realizadas nos dias 13, 14 e 15, das 9h as 17h, no calçadão da Marechal. Disponível em www.folhadaregiao.com.br em 11/10/2010 TEXTO 2 Em 20 de novembro de 1959, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos da Criança, com a intenção de garantir à criança uma infância feliz. O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069, art. 4º, esclarece que os direitos infantis precisam ser recordados todos os dias como o direito à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária. Disponível em www.oecumene.radiovaticana.org em12/10/2010. TEXTO 3 Violência em maternidades revela problemas na saúde pública Uma pesquisa apresentada à Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) revela que grávidas em trabalho de parto sofrem diversos maus tratos e desrespeitos por parte dos profissionais de saúde nas maternidades públicas. Segundo a análise, esse tipo de violência, além de apontar para os problemas estruturais da saúde pública, revela a “erosão” da qualidade ética das interações entre profissionais e pacientes, a banalização do sofrimento e uma cultura institucional marcada por estereótipos de classe e gênero. Disponível em www.correiodobrasil.com.br (Ano XI – nº 3937) em 12/10/2010 10. (G1 - ifal) A respeito do conectivo que, em: “... esclareceu que os direitos infantis precisam ser recordados...”(texto 2), podemos dizer que o termo em evidência é classificado como: a) pronome relativo e introduz uma oração subordinada adjetiva. b) pronome relativo e introduz oração subordinada substantiva. c) conjunção integrante e encabeça oração subordinada adverbial. d) conjunção integrante e encabeça oração subordinada substantiva. e) conjunção explicativa e introduz oração coordenada. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O Outro Marido 14Era conferente da Alfândega – mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. 9 Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem. Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). 3 Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. 10Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de Dona Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que Dona Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.
37VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 1 Ao aparecerem nele as primeiras dores, Dona Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia 6 comprazer-se em estar doente. 11Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a Dona Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral com certo orgulho de estar assim tão afetado. – Quando você ficar bom... – Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida. Para Dona Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma de Padre Eustáquio, que vela por nós. 2 Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito 12quando ele anunciou que ia internar-se no hospital Gaffré e Guinle. – Você não sentirá falta de nada – assegurou-lhe Santos. – Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro. Hospital não é prisão. – Vou visitar você todo domingo, quer? – É melhor não ir. Eu descanso, você descansa, cada qual no seu canto. Ela também achou melhor, e nunca foi lá. Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. 4 Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora. – Pelo rádio – explicou Santos. Um dia, ela se sentiu tão nova, apesar do tempo e das separações fundamentais, que imaginou uma alteração: por que ele não ficava até o dia seguinte, só essa vez? – 5 É tarde – respondeu Santos. E ela não entendeu se ele se referia à hora ou a toda a vida passada sem compreensão. É certo que vagamente o compreendia agora, e recebia dele mais que a mesada: uma hora de companhia por mês. Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. 13Dona Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço. Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva? – Sou eu a viúva – disse Dona Laurinha, espantada. O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, Dona Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na Ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado. E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, 7 a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível. – Desculpe, foi engano. 8 A pessoa a que me refiro não é esta – disse Dona Laurinha, despedindo- se. (Carlos Drummond de Andrade) 1. (Espcex (Aman)) Considere as palavras destacadas no período a seguir: “Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no hospital Gaffré e Guinle...” (ref.2) Elas introduzem, respectivamente, orações a) subordinada adjetiva restritiva e subordinada substantiva objetiva direta. b) subordinada adjetiva explicativa e subordinada substantiva subjetiva. c) subordinada adverbial causal e subordinada adjetiva explicativa. d) subordinada substantiva subjetiva e subordinada adverbial consecutiva. e) subordinada adjetiva restritiva e subordinada substantiva completiva nominal. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO DE NACIONALIDADE Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir- -se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitos trabalharão para ela até perfazê-la de todo. (Machado de Assis, Crítica. Texto adaptado.) 2. (Fatec) Observe que a oração em destaque neste período exerce a função de objeto direto: Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam VESTIR-SE COM AS CORES DO PAÍS. Encontra-se oração com essa mesma função sintática na alternativa: a) Esta outra independência não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura. b) Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. c) Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração. d) Não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. e) As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga.
38VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para responder o que é pedido, leia o texto, constituído de parte de uma entrevista concedida pela educadora Priscila Monteiro ao Diário na Escola. DIÁRIO NA ESCOLA - A matemática no ensino infantil pode ajudar a desenvolver o conceito de cidadania nas crianças? PRISCILA - O que considero mais importante para o conceito de cidadania é a utilização da matemática para desenvolver o potencial argumentativo dos alunos. Para isso, a disciplina não pode ser vista só como uma ciência exata e absoluta do dois mais dois dá quatro. Os professores precisam provocar as crianças para que elas saibam argumentar e consolidar um conhecimento. DIÁRIO NA ESCOLA - Pode exemplificar? PRISCILA - Quando o aluno do ensino infantil tem de anotar uma determinada quantidade de coisas, desenha pauzinhos, risca palitinhos. O educador quer que ele use o numeral 5, pois é mais econômico; porém, para a criança é mais coerente usar cinco marcas do que um número só. Isso tem uma lógica grande: como cinco coisas podem ser representadas por um número apenas? Para que a criança evolua, a atividade deve criar um problema para o seu registro. O professor pode pedir que ela registre 105 coisas. 1 As marcas, palitinhos, pauzinhos, não são eficientes nesse caso, pois seriam muitos. Um número é mais rápido. 2 É interessante que isso aconteça para que professores e crianças discutam e argumentem. Essa argumentação é a grande formação de cidadania: pensar e refletir para validar respostas e conhecimentos, não apenas pedir que o aluno aceite. 3 Nós decoramos a propriedade que diz que a ordem dos fatores não altera o produto. Mas esse conhecimento é sem valor se não for a conclusão de algo que se construiu, que levou o aluno a entender que dois multiplicado por três é a mesma coisa que três multiplicado por dois. Essa é a conclusão de um conhecimento construído por outro que não deve ser ensinada e nem aceita como um conhecimento pronto. Alunos e professores devem ter argumentos para respaldar os caminhos da matemática. Esse exercício é fundamental para formar cidadãos que saibam questionar fatos, determinações, deveres e que saibam argumentar sobre seus direitos. Diário do Grande ABC, 14.11.03, p. 3 (adaptado) 3. (Ufsm) Observe a relação entre a primeira e a segunda oração do período: “É interessante QUE ISSO ACONTEÇA para que professores e crianças discutam e argumentem” (ref. 2) Em qual dos períodos a seguir a oração iniciada pelo conetivo “que” apresenta, em relação à oração principal, função sintática idêntica à destacada no exemplo? a) Esse exercício forma crianças que sabem questionar. b) O professor pediu que ele registrasse muitas coisas. c) É conveniente que a criança aprenda a raciocinar. d) Diz-se que a decoreba não tem valor. e) A professora quer somente isto: que os alunos raciocinem. Leia o texto de Edward Said para responder à questão. Em meados da década de 1960, pouco antes de a oposição à Guerra do Vietnã se tornar muito comentada e difundida, fui procurado, na Universidade de Colúmbia, por um estudante de graduação de aparência mais velha, que me pediu que o admitisse num seminário com vagas limitadas. Parte de seus argumentos residia no fato de que era um veterano de guerra, tendo servido na força aérea. Enquanto conversávamos, tive um estranho vislumbre acerca da mentalidade do profissional – nesse caso, um piloto experiente −, cujo vocabulário usado em seu trabalho poderia ser descrito como “jargão interno”. Nunca vou esquecer meu choque quando, ao responder à minha pergunta insistente “O que é que você realmente fazia na força aérea?”, ele disse: “Aquisição do alvo”. Demorei mais alguns minutos para perceber que ele era um bombardeiro, cujo trabalho, claro, era bombardear. Mas ele revestia isso de uma linguagem profissional que, de certa maneira, excluía e mistificava as indagações mais diretas de alguém fora do ramo. Eu o aceitei no seminário – talvez pensando que podia mantê-lo sob meu olhar e, como incentivo adicional, persuadi-lo a abandonar o espantoso jargão. “Aquisição do alvo”, tenha dó! (Representações do intelectual, 2005.) “Tendo em conta o caráter desigual da geografia de acesso à Internet no mundo, é discutível até que ponto a visão de McLuhan encontra amparo na realidade.” 4. (UNIVAG - MED UNESP 2016) No período em que se insere, a oração destacada é uma subordinada com função de a) objeto direto. b) sujeito. c) predicativo do sujeito. d) complemento nominal. e) objeto indireto. Leia o texto de Renan Truffi para responder à questão. Sem qualquer aviso ou pedido de permissão, o Facebook, maior rede social ativa hoje, decidiu manipular o conteúdo visto por cerca de 700 mil usuários durante uma semana. Em uma espécie de experiência científica, a empresa expôs as pessoas selecionadas a diferentes mensagens e analisou suas reações. O experimento foi feito em 2012, quando a companhia de Mark Zuckerberg quis analisar se o conteúdo gerado pelos amigos de alguém poderia levá-los a deixar de usar a rede social. Para isso, examinou 3 milhões de postagens com mais de 120 milhões de palavras. O conteúdo foi, então, classificado em duas categorias: “positivo” e “negativo”. Depois disso, por meio de um algoritmo, um conjunto de regras que define o que uma pessoa vai ver ao acessar a rede, a empresa expôs as publicações “positivas” apenas para uma parcela das pessoas, e as “negativas” para o restante. Na prática, isso quer dizer que, durante o período, as pessoas do grupo “positivo” só tinham acesso a textos que o Facebook considerou positivos. Mensagens tidas como negativas foram omitidas. Os responsáveis pelo estudo descobriram depois de sete dias que os destinatários de mensagens “positivas” tinham comportamento emocional similar. Já o grupo que leu somente as postagens “negativas” publicou textos, ou compartilhou assuntos, com palavras negativas.
39VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias “Esses resultados indicam que as emoções expressas pelos outros no Facebook podem influenciar nossas próprias emoções, constituindo evidência experimental de contágio massivo de larga escala através das redes sociais”, explica o texto do estudo. O estudo, no entanto, recebeu críticas que recaem sobre o fato de o Facebook não ter consultado ou informado os usuários selecionados de que eles participariam de um experimento.A rede social defende-se afirmando que toda pessoa que faz um perfil deveria saber que essa possibilidade existe, dada a política de uso de dados do Facebook descrita no momento da inscrição. (Carta Capital, 07.07.2014. Adaptado.) “Os responsáveis pelo estudo descobriram depois de sete dias que os destinatários de mensagens ‘positivas’ tinham comportamento emocional similar.” (4.o parágrafo) 5. Em relação à oração do verbo “descobriram”, o segmento destacado tem função de a) adjunto adnominal. b) sujeito. c) objeto direto. d) objeto indireto. e) adjunto adverbial. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. D 2. A 3. A 4. B 5. D 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C E.O. Fixação 1. D 2. A 3. D 4. B 5. E 6. B 7. A 8. A 9. C 10. D E.O. Complementar 1. A 2. D 3. C 4. B 5. C
40VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A fronteira da cultura Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades da Universidade Eduardo Mondlane. Os meus colegas professores queixavam- -se da progressiva falta de preparação dos estudantes. Eu notava algo que, para mim, era ainda mais grave: uma cada vez maior distanciação desses jovens em relação ao seu próprio país. 1 Quando eles saíam de 2 Maputo em 3 trabalhos de campo, esses jovens comportavam-se como se estivessem emigrando para um universo estranho e adverso. Eles não sabiam as línguas, desconheciam os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo. Alguns sofriam dos mesmos fantasmas dos exploradores coloniais: as feras, as cobras, os monstros invisíveis. Aquelas zonas rurais eram, afinal, o espaço onde viveram os seus avós, e todos os seus antepassados. Mas eles não se reconheciam como herdeiros desse patrimônio. O país deles era outro. Pior ainda: eles não gostavam desta outra nação. E ainda mais grave: sentiam vergonha de a ela estarem ligados. A verdade é simples: esses jovens estão mais à vontade dentro de um videoclipe de Michael Jackson do que no quintal de um camponês moçambicano. O que se passa, e isso parece inevitável, é que estamos criando cidadanias diversas dentro de 4 Moçambique. E existem várias categorias: há os urbanos, moradores da cidade alta, esses que foram mais vezes a 5 Nelspruit que aos arredores da sua própria cidade. Depois, há uns que moram na periferia, os da chamada cidade baixa. E há ainda os rurais, os que são uma espécie de imagem desfocada do retrato nacional. 6 Essa gente parece condenada a não ter rosto e falar pela voz de outros. Texto de Mia Couto adaptado do livro Pensatempos (Lisboa: Caminho, 2005). 2 – Maputo: capital de Moçambique. 3 – trabalhos de campo: trabalho de pesquisa realizado fora da universidade. 4 – Moçambique: país africano. 5 – Nelspruit: cidade turística da África do Sul. 1. (G1 - cp2 2019) Releia o seguinte trecho do texto: “Quando eles saíam de Maputo em trabalhos de campo, esses jovens comportavam-se como se estivessem emigrando para um universo estranho e adverso. Eles não sabiam as línguas, desconheciam os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo.” (ref. 1) Uma reescrita coerente com a relação mantida entre os dois períodos do trecho destacado pode ser encontrada em a) [...] à medida que eles não sabiam as línguas, desconheciam os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo. b) [...] apesar de eles não saberem as línguas, desconhecerem os códigos culturais, sentirem-se deslocados e com saudades de Maputo. c) [...] uma vez que eles não sabiam as línguas, desconheciam os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo. d) [...] caso eles não soubessem as línguas, desconhecessem os códigos culturais, sentissem-se deslocados e com saudades de Maputo. 2. (Upf 2018) Tem gente que não entendeu a campanha de camisinha com Pabllo Vittar “1 Para que usar camisinha 2 se a Pabllo não engravida?” é o tom de diversos comentários nas redes sociais do novo clipe de Pabllo Vittar no Youtube. No vídeo de “Corpo Sensual”, a cantora drag queen aparece dançando e seduzindo Mateus Carrillo, até que entram em um carro e Pabllo pega uma camisinha. Feito em parceria com o Ministério da Saúde, o vídeo foi pensado para lembrar o público da importância do uso do preservativo quando o clima esquenta. No entanto, nem todos os internautas entenderam a mensagem. (UOL. 08/09/2017. Disponível em: https://estilo.uol. com.br/comportamento/noticias/redacao/2017/09/08/ tem-gente-que-nao-entendeu-a-campanha-de-camisinha-compablo-vittar.htm. Adaptado. Acesso em: 9 set. 2017) A apropriada relação entre diferentes partes de um texto é garantida pela coesão textual. Analisando os trechos “Para que usar camisinha” (referência 1) e “se a Pabllo não engravida” (referência 2), verifica-se que a segunda oração estabelece com a primeira uma relação de PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS COMPETÊNCIA(s) 1, 6 e 8 HABILIDADE(s) 1, 18 e 27 LC AULAS 31 E 32
41VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) causa, uma vez que uma das causas de uma gravidez pode ser a nãoutilização de preservativos. b) oposição, visto que, no texto, fica inferida uma oposição entre as concepções de homem e mulher no que, biologicamente, diz respeito à capacidade de engravidar. c) finalidade, uma vez que, na concepção dos internautas que se manifestaram, o uso da camisinha tem a contracepção como finalidade exclusiva. d) condição, porque a biologia feminina é condição para a gravidez e, portanto, para esse grupo específico de internautas, o uso da camisinha na relação sugerida no clipe justifica o questionamento sobre essa escolha. e) concessão, uma vez que é possível inferir, pelo contexto, que o uso da camisinha seria uma exigência para o consentimento de uma relação íntima. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Você sabe o que é Nudge? O ganhador do prêmio Nobel de economia em 2017 foi o americano de 72 anos Richard Thaler. O prêmio foi o reconhecimento de seus trabalhos no campo de finanças comportamentais, analisando aspectos irracionais de nossas decisões. Esse não foi o primeiro prêmio concedido a essa área de pesquisa econômica. Em 2002, Daniel Kahneman ganhou o prêmio por seu trabalho sobre nossos julgamentos e decisões sob incerteza. O reconhecimento dessa área demonstra a importância de entendermos como nossas decisões podem ser influenciadas por vieses comportamentais e como podemos melhorar essas decisões para não cairmos em nossas próprias armadilhas. O termo nudge, batizado por Thaler, é explicado em seu livro “Nudge: O Empurrão para a Escolha Certa”, em coautoria com Cass Sunstein. Nudge é uma pequena mudança na forma de decisão que nos faz agir para nosso próprio benefício. Os autores argumentam que naturalmente sucumbimos às tentações de curto prazo e acabamos falhando em seguir nosso planejamento de longo prazo que poderia nos levar à independência financeira ou a uma saudável aposentadoria. Entretanto, uma mudança na forma como tomamos a decisão pode nos levar a seguir pelo caminho mais favorável. Por exemplo, foi no campo da aposentadoria e a partir da utilização de sua teoria de incentivo que fez com que o volume de contratação de planos de aposentadora mais que dobrasse entre 2012 e 2016 no Reino Unido. Em vez de deixar que o cidadão decida pela contratação do plano de aposentadoria privado, o governo mudou o processo de decisão, de forma que o empregado fosse automaticamente registrado em um plano e, caso não quisesse, o empregado deveria requisitar formalmente o seu desligamento do plano. Em seu livro, ele também mostra como uma atitude simples pode fazer com que consumidores economizem juros no cartão de crédito. A fatura de cartão de crédito usualmente apresenta o valor mínimo a se pagar e isso acaba levando ao incentivo de pagar apenas esse mínimo. Uma forma simples para economizar seria colocar a fatura inteira em débito automático. Assim, a tendência seria de se pagar o valor inteiro e o consumidor teria que ter trabalho para pagar menos. Com relação a como o investimento é realizado nos planos de previdência, Thaler credita o conservadorismo dos investidores não à decisão racional de se investir para o longo prazo, mas na forma como as instituições oferecem os produtos. Como o investimento para a aposentadoria é, por definição, para o longo prazo, o investidor racional deveria ter uma alocação de maior risco. Entretanto, as instituições acabam oferecendo primeiro os produtos mais conservadores para se protegerem da volatilidade de curto prazo dos produtos mais arriscados, e acabam levando os investidores a não tomarem a melhor decisão. Ao contrário dessa atitude, ele argumenta que as empresas patrocinadoras e instituições, seguindo sua teoria, deveriam oferecer primeiro o produto de maior risco e o investidor deveria formalmente fazer a escolha pelo mais conservador se fosse sua opção. VIRIATO, Michael. Disponível em: <http://degraoemgrao. blogfolha.uol.com.br/2017/10/10/voce- sabe-o-quee-nudge/>. Acesso em: 11 out. 2017. Adaptado. 3. (G1 - ifpe 2018) Observe o seguinte trecho: “Como o investimento para a aposentadoria é, por definição, para o longo prazo, o investidor racional deveria ter uma alocação de maior risco.” (6º parágrafo) As relações sintático-semânticas estabelecidas nesse trecho ficam preservadas em: a) Embora o investimento para a aposentadoria seja, por definição, para o longo prazo, o investidor racional deve ter uma alocação de maior risco. b) Nem o investimento para a aposentadoria é, por definição, para o longo prazo, nem o investidor racional deve ter uma alocação de maior risco. c) Se o investimento para a aposentadoria fosse, por definição, para o longo prazo, o investidor racional deveria ter uma alocação de maior risco. d) O investimento para a aposentadoria é, por definição, para o longo prazo, mas o investidor racional deve ter uma alocação de maior risco. e) Já que o investimento para a aposentadoria é, por definição, para o longo prazo, o investidor racional deveria ter uma alocação de maior risco. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto a seguir e responda à(s) questão(ões). O promotor de justiça Alexandre Couto Joppert foi afastado temporariamente da banca examinadora de um concurso para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e será alvo de uma investigação da própria Promotoria. Examinador de Direito Penal, durante uma prova oral, ele narrou um caso hipotético de estupro coletivo e disse que o criminoso que praticou a conjunção carnal “ficou com a melhor parte, dependendo da vítima”. A prova é aberta ao público e algumas pessoas gravaram a afirmação do promotor. “Um (criminoso) segura, outro aponta a arma, outro guarnece a porta da casa, outro mantém a conjunção – ficou com a melhor parte, dependendo da vítima – mantém a conjunção carnal e o outro fica com o carro ligado pra assegurar a fuga”, narrou o promotor. Divulgada em redes sociais, a afirmação causou revolta. Muitas pessoas acusam o promotor de difundir a cultura do estupro. Em nota, o procurador-geral de Justiça
42VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias do Estado do Rio de Janeiro, Marfan Martins Vieira, informou ter instaurado inquérito para apurar a conduta do promotor, além de afastá-lo da banca examinadora “até a conclusão da apuração dos fatos”. Autor de livros jurídicos, Joppert atua na Assessoria de Atribuição Originária em Matéria Criminal do Ministério Público, setor subordinado à Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Institucionais e Judiciais. O promotor divulgou nota em que afirma ter sido mal interpretado, já que se referia ao ponto de vista do criminoso. “Ao me referir ao fato do executor do ato sexual coercitivo ter ficado com a melhor parte”, estava tratando da “opinião hipotética do próprio praticante daquele odioso crime contra a dignidade sexual”. Adaptado de: GRELLET, F. Polêmica sobre estupro afasta promotor. Folha de Londrina. 24 jun. 2016. Geral. p. 7. 4. (Uel 2017) Com base na análise do período “O promotor divulgou nota em que afirma ter sido mal interpretado, já que se referia ao ponto de vista do criminoso”, assinale a alternativa correta. a) A última oração apresenta elipse do sujeito “promotor”, para evidenciar a ideia de consequência em relação à oração anterior. b) Para expressar a ideia de adição implícita no período, é necessário o acréscimo da conjunção “e” antes da expressão “já que”. c) O período apresenta uso inadequado da locução “já que” para expressar a ideia explicativa contida nele. d) A expressão “já que” pode ser substituída por “visto que” sem alterar a ideia de causa indicada pela última oração. e) O uso da expressão “já que” apresenta noção temporal de simultaneidade na relação entre as duas orações. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Cineclube em SP realiza feira de trocas mensalmente 1 No último domingo (7), a associação Cineclube Socioambiental Crisantempo, localizada na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo, realizou uma feira em que os moradores puderam trocar objetos entre si. 2 A iniciativa busca incentivar o consumo 3 consciente e levar para o espaço o conceito de economia solidária. 4 A feira de trocas acontece uma vez por mês, sempre aos domingos. O grupo aconselha levar livros, roupas, CDs, DVDs, aparelhos eletrônicos, brinquedos, objetos de decoração, objetos em geral que estejam em bom estado. Segundo os organizadores, o objetivo é “promover um espaço de reflexão sobre o consumo, trocar diversos tipos de objetos, saberes e sabores”. Por isso, também podem ser levados alimentos e plantas, além de “serviços e saberes”. Tudo para a troca de ideias e divulgação de utilidades. O evento funciona da seguinte maneira: 5 cada um coloca seus bens num local e utiliza uma etiqueta com seu nome. Após a organização dos espaços pessoais, os participantes circulam para conhecer os espaços dos outros e 6 num determinado momento (ao tocar do sino) começam as trocas. 7 O espaço também promove o desapego através da doação. Há uma área destinada apenas para doar objetos às instituições que necessitam. Para finalizar, acontece um lanche 8 compartilhado com alimentos levados pelos próprios participantes. 9 Uma 10experiência colaborativa agradável, que questiona o 11individualismo imposto nas grandes cidades. Fonte: http://cicIovivo.com.br/noticia/cinecIube-em-sp-realizafeira¬-de-trocas-mensaImente/. Acesso em 03/10/2016. 5. (G1 - cp2 2017) Releia o trecho a seguir, destacado do texto: “(...) num determinado momento (ao tocar o sino) começam as trocas.” (referência 6) Em relação ao elemento sublinhado nesse trecho, é possível afirmar que a preposição “a” introduz uma oração adverbial reduzida com valor de a) tempo. b) causa. c) finalidade. d) consequência. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no 1 comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são. 2 Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir. 3 “Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até o fim no mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito de mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Polos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações. A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos. Fernando Pessoa. In: Soares, B. Livro do Desassossego. Vol. II. Lisboa: Ática, 1982. p. 387. Com adaptações. Vocabulário: 1 Comboio: trem 3 Citação do autor escocês Carlyle sobre a estrada de Entepfuhl, que começa e termina dentro de uma mesma cidade. 6. (G1 - cp2 2017) “Se imagino, vejo.” (referência 2) No que se refere ao conectivo sublinhado, pode-se dizer que exprime uma relação de a) condição e pode ser substituído por caso com alteração de tempo verbal da oração subordinada. b) condição e pode ser substituído por caso sem necessidade de alteração no tempo verbal da oração subordinada. c) conclusão e pode ser substituído por portanto com alteração do tempo verbal da oração subordinada. d) conclusão e pode ser substituído por portanto sem necessidade de alteração no tempo verbal da oração subordinada.
43VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: É preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei 1 ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer2 , 3 e o Brasil que designa um povo, uma 4 nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil” com b minúsculo é apenas um objeto sem vida5 , pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de 6 se reproduzir como sistema. 7 Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. Estamos interessados em responder esta pergunta: afinal de contas, o que faz o brasil, BRASIL? Note-se que se trata de uma pergunta relacional que, tal como faz a própria sociedade brasileira, quer juntar e não dividir. Queremos, 8 isto sim, descobrir como é que eles se ligam entre 9 si10; como é que cada um depende do outro; e 11como os dois formam uma realidade única que existe concretamente naquilo que chamamos de “12pátria”. 13Se a condição humana determina que todos os homens devem comer, dormir, trabalhar, reproduzir-se e rezar, essa determinação não chega ao ponto de especificar também qual comida ingerir, de que modo produzir e para quantos deuses 14ou espíritos rezar. É precisamente aqui, nessa espécie de zona indeterminada, mas necessária, que nascem as diferenças e, nelas, os estilos, os modos de ser e estar; os “15jeitos” de cada grupo humano. 16Trata-se, sempre, da questão de identidade. Como se constrói uma identidade social? Como um povo se transforma em Brasil? 17A pergunta, 18na sua discreta singeleza, permite descobrir algo muito importante. É que, no meio de uma multidão de experiências dadas a todos os homens e sociedades, algumas necessárias à própria sobrevivência – como comer, dormir, morrer, reproduzir-se etc. – outras acidentais ou históricas –, 19o Brasil ter sido descoberto por portugueses e não por chineses, a geografia do Brasil ter certas características, falarmos 20português e não 21francês, a família real ter se transferido para o Brasil no início do século XIX etc. –, cada sociedade (e cada ser humano) apenas se utiliza de um número limitado de “22coisas” (e de experiências) 23para se construir como algo único. 24Nessa perspectiva, a chave para entender a 25sociedade brasileira é uma 26chave dupla. 27E, 28para mim, a capacidade relacional — do antigo com o moderno – tipifica e singulariza a sociedade brasileira. Será preciso, 29portanto, discutir o Brasil como uma 30moeda. Como algo que tem dois lados. 31E mais: como uma realidade que nos tem 32iludido, precisamente porque 33nunca lhe propusemos esta questão relacional e reveladora: afinal de contas, como se ligam as duas faces de uma mesma moeda? O que faz o 34brasil, 35Brasil? Adaptado de: DAMATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? A questão da identidade. In:_____. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 9-17. 7. (Ufrgs 2017) Assinale a alternativa que apresenta, no texto, os sentidos, contextualmente adequados, para os nexos Mas (ref. 7), para (ref. 23) e portanto (ref. 29), nesta ordem. a) contraste – finalidade – explicação b) concessão – conformidade – conclusão c) concessão – finalidade – explicação d) condição – conformidade – finalidade e) contraste – finalidade – conclusão TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto de Carlos Ranulfo Melo para responder à(s) questão(ões) a seguir. Corrupção eleitoral As democracias contemporâneas são arranjos representativos. A representação foi a “solução encontrada” para um dilema. Tão logo firmado o princípio da igualdade política entre os indivíduos, regimes políticos baseados na tradição, na origem de classe ou na condição de status perderam a legitimidade. Por outro lado, o tamanho das sociedades e a complexidade cada vez maior das questões em discussão – demandando acesso a informações, disponibilidade de tempo e condições de negociação – tornaram proibitiva a ideia de que todos participassem das decisões a serem coletivizadas. A escolha de um corpo de representantes em eleições livres, justas e periódicas – e que incluam a todo o eleitorado adulto – passou a ser algo que, sem esgotar a noção contemporânea de democracia, firmou-se como sua pedra angular. Ao se dirigirem às urnas os cidadãos reafirmam sua condição de igualdade perante um ato fundamental do Estado. Ao organizar as eleições e transformar os votos em postos executivos e/ou legislativos, o aparato institucional das democracias permite que, em maior ou menor grau, os mais diversos interesses, opiniões e valores sejam vocalizados no curso do processo decisório. Tal processo, no entanto, pode apresentar problemas que ameacem corromper o corpo político constituído, comprometendo sua legitimidade e diminuindo sua capacidade de oferecer à coletividade os resultados esperados. A corrupção eleitoral ou a reiterada incidência de fenômenos capazes de desvirtuar o processo de constituição de um corpo de representantes sempre significou um problema para as democracias. A condição para que seu enfrentamento se tornasse possível foi a constituição de uma Justiça Eleitoral dotada de autonomia face aos poderes político e econômico, com recursos suficientes para organizar e poderes necessários para regulamentar os processos eleitorais. Mas mesmo as democracias consolidadas não conseguiram impedir de forma cabal que determinados interesses pudessem, utilizando os recursos que tivessem à mão, obter vantagens diferenciadas em função de sua participação nas eleições. Corrupção, 2008. Adaptado. 8. (Famerp 2017) “Tão logo firmado o princípio da igualdade política entre os indivíduos, regimes políticos baseados na tradição, na origem de classe ou na condição de status perderam a legitimidade.” (1º parágrafo) No período em que está inserida, a oração destacada expressa ideia de: a) finalidade. b) condição. c) tempo. d) consequência. e) causa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Ygor não tinha muito dinheiro pra ir à casa de Marcelle, não poderia pegar duas conduções. Teria que seguir uma longa peregrinação, afinal a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. [...] Dentro do ônibus, tentava achar um lugar onde pudesse acomodar seus pés tamanho 42 sem pisar nos alheios. Riu indignada-
44VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias mente ao ver, num ponto, um abrigo com um anúncio que dizia: “CIDADANIA É USAR O TRANSPORTE DE MASSA: DÊ PREFERÊNCIA AO ÔNIBUS”. Após um enjoativo fluxo de para e anda, para e anda que durou uma hora e quinze minutos, enfim o ônibus seguia sem grandes interrupções, e inclusive já se aproximava do destino de Ygor. DENISSON, Ari. Contos Periféricos. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2016. p. 31. 9. (G1 - ifal 2017) No segundo período do primeiro parágrafo, a palavra “afinal”, que significa “por fim, enfim, finalmente”, gera uma incoerência na relação de sentido entre as orações. Considerando que, entre ambas as orações, se estabelece uma relação de causa e consequência, assinale a única alternativa em cujo período a coerência textual foi restabelecida. a) Teria que seguir uma longa peregrinação, todavia a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. b) Teria que seguir uma longa peregrinação, no entanto a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. c) Teria que seguir uma longa peregrinação, uma vez que a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. d) Teria que seguir uma longa peregrinação, porém a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. e) Teria que seguir uma longa peregrinação, sempre que a S... não disponibilizava ônibus praquelas bandas. 10. (Acafe) Considerando o termo destacado na frase e a relação de sentido explicitada entre parênteses, TODAS as alternativas estão corretas, EXCETO a: a) À medida que o tempo ia passando, cada vez mais o grupo se dispersava e o ânimo da torcida baixava. (relação de proporcionalidade) b) Não escaparia de uma condenação com base no Código Penal por homicídio qualificado caso o crime tivesse ocorrido um dia depois, já aos 18 anos. (relação de condição) c) Dirigia em tamanha velocidade que, a qualquer momento, poderia envolver-se em grave acidente. (relação de consequência) d) Parece incrível, mas a verdade é uma só: tudo, tudo aconteceu como tinha sido planejado. (relação de causa e consequência) E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O BOM HUMOR FAZ BEM PARA SAÚDE O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem Por Fábio Peixoto “Procure ver o lado bom das coisas ruins.” Essa frase poderia estar 1 em qualquer livro de auto-ajuda ou parecer um conselho bobo de um mestre de artes marciais 2 saído de algum filme ruim. Mas, segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver bem. (...) 3 O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem. Ele depende de fatores físicos e culturais e varia de acordo com a personalidade e a formação de cada um. Mas, mesmo sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma visão otimista do mundo. “Um indivíduo bem-humorado sofre menos porque produz mais endorfina, um hormônio que relaxa”, diz o clínico geral Antônio Carlos Lopes, da Universidade Federal de São Paulo. Mais do que isso: a endorfina aumenta a tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais bem-humorado você está, maior o seu bem-estar e, consequentemente, mais bem-humorado você fica. 4 Eis aqui um círculo virtuoso, que Lopes prefere chamar de “feedback positivo”. A endorfina também controla a pressão sanguínea, melhora o sono e o desempenho sexual. (Agora você se interessou, né?) Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o corpo já seriam suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz. Novamente Lopes explica por quê: “O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o que provoca a liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa palpitação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de cabeça, dificuldades na digestão e irritabilidade”. A vítima acaba maltratando os outros porque não está bem, sente-se culpada e fica com um humor pior ainda. Essa situação pode ser desencadeada por pequenas tragédias cotidianas – como um trabalho inacabado ou uma conta para pagar -, que só são trágicas porque as encaramos desse modo. Evidentemente, nem sempre dá para achar graça em tudo. Há situações em que a tristeza é inevitável – e é bom que seja assim. “Você precisa de tristeza e de alegria para ter um convívio social adequado”, diz o psiquiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clínicas de São Paulo. 5 “A alegria favorece a integração e a tristeza propicia a introspecção e o amadurecimento.” Temos de saber lidar com a flutuação entre esses estágios, que é necessária e faz parte da natureza humana. O humor pode variar da depressão (o extremo da tristeza) até a mania (o máximo da euforia). Esses dois estados são manifestações de doenças e devem ser tratados com a ajuda de psiquiatras e remédios que regulam a produção de substâncias no cérebro. Uma em cada quatro pessoas tem, durante a vida, pelo menos um caso de depressão que mereceria tratamento psiquiátrico. 6 Enquanto as consequências deletérias do mau humor são estudadas há décadas, não faz muito tempo que a comunidade científica passou a pesquisar os efeitos benéficos do bom humor. O interesse no assunto surgiu há vinte anos, quando o editor norte-americano Norman Cousins publicou o livro Anatomia de uma Doença, contando um impressionante caso de cura pelo riso. 7 Nos anos 60, ele contraiu uma doença degenerativa que ataca a coluna vertebral, chamada espondilite ancilosa, e sua chance de sobreviver era de apenas uma em quinhentas. Em vez de ficar no hospital esperando para virar estatística, ele resolveu sair e se hospedar num hotel das redondezas, com autorização dos médicos. Sob os atentos olhos de uma enfermeira, com quase todo o corpo paralisado, Cousins reunia os amigos para assistir a programas de “pegadinhas” e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi se recuperando até poder voltar a viver e a trabalhar normalmente. Cousins morreu em 1990, aos 75 anos.
45VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Se Cousins saiu do hospital em busca do humor, hoje há muitos profissionais de saúde que defendem a entrada das risadas no dia a dia dos pacientes internados. Uma boa gargalhada é um método ótimo de relaxamento muscular. Isso ocorre porque os músculos não envolvidos no riso tendem a se soltar – está aí a explicação para quando as pernas ficam bambas de tanto rir ou para quando a bexiga se esvazia inadvertidamente depois daquela piada genial. Quando a risada acaba, o que surge é uma calmaria geral. Além disso, se é certo que a tristeza abala o sistema imunológico, sabe-se também que a endorfina, liberada durante o riso, melhora a circulação e a eficácia das defesas do organismo. A alegria também aumenta a capacidade de resistir à dor, graças também à endorfina. Evidências como essa fundamentam o trabalho dos Doutores da Alegria, que já visitaram 170.000 crianças em hospitais. As invasões de quartos e UTIs feitas por 25 atores vestidos de “palhaços-médicos” não apenas aceleram a recuperação das crianças, mas motivam os médicos e os pais. A psicóloga Morgana Masetti acompanha os Doutores há sete anos. “É evidente que o trabalho diminui a medicação para os pacientes”, diz ela. O princípio que torna os Doutores da Alegria engraçados tem a ver com a flexibilidade de pensamento defendida pelos especialistas em humor – aquela ideia de ver as coisas pelo lado bom. “O clown não segue a lógica à qual estamos acostumados”, diz Morgana. “Ele pode passar por um balcão de enfermagem e pedir uma pizza ou multar as macas por excesso de velocidade.” Para se tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa 8 num curioso teste de autoconhecimento: reconhece o que há de ridículo em si mesmo e ri disso. “Um clown não tem medo de errar – pelo contrário, ele se diverte com isso”, diz Morgana. Nem é preciso mencionar quanto mais de saúde haveria no mundo se todos aprendêssemos a fazer o mesmo. (super.abril.com.br/saúde/bom-humor-faz-bem-saude-441550. shtml - acesso em 11 de abril de 2015, às 11h.) 1. (G1 - epcar (Cpcar)) Observando os trechos a seguir, assinale aquele que apresenta uma correta análise sintática da oração adverbial sublinhada. a) “Mas, segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver bem. (Adverbial Conformativa) b) “Mas, mesmo sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma visão otimista do mundo...” (Adverbial Consecutiva) c) “Para se tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num curioso teste de autoconhecimento:...” (Adverbial Causal) d) “Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o corpo...” (Adverbial Condicional) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O EGOÍSMO GREGÁRIO COMO PRINCÍPIO DO REBANHO PÓS-MODERNO Estamos numa época de promoção do egoísmo, de produção de egos tanto mais cegos ou cegados que não percebem o quanto podem hoje ser recrutados em conjuntos massificados. Em outras palavras, vemos egos, isto é, pessoas que se creem iguais e que, na realidade, passaram a ficar sob o controle do que se deve bem chamar “o rebanho”. Viver em rebanho fingindo ser livre nada mais mostra que uma relação consigo catastroficamente alienada, uma vez que supõe ter erigido como regra de vida uma relação mentirosa consigo mesmo. E, a partir daí, com os outros. Assim, mentimos despudoradamente aos outros, àqueles que vivem fora das democracias liberais, quando lhes dizemos que acabamos – com algumas maquininhas à guisa de presentes ou de armas nas mãos em caso de recusa – de lhes trazer a liberdade individual; na realidade, visamos, antes de tudo, fazer com que entrem no grande rebanho dos consumidores. Mas qual é, perguntarão, a necessidade dessa mentira? Por que precisamos fazer crer que somos livres quando vivemos em rebanho? E por que precisamos fazer outros crerem que são livres quando vamos colocá-los em rebanho? A resposta é simples. É preciso que cada um vá livremente na direção das mercadorias que o bom sistema de produção capitalista fabrica para ele. Digo bem “livremente” pois, forçado, resistiria. Ao passo que livre, pode consentir em querer o que lhe dizem que deve querer enquanto cidadão livre. A obrigação permanente de consumir deve, portanto, ser redobrada por um discurso incessante de liberdade, de uma falsa liberdade, é claro, entendida como permissão para fazer “tudo o que se quer”. Esse duplo discurso é exatamente o das democracias liberais, descambem para a direita ou para a esquerda. É pelo egoísmo que se devem agarrar os indivíduos para arrebanhá-los, 1pois é o meio mais econômico e racional de ampliar sempre mais as bases do consumo de um conjunto de pessoas permanentemente levadas para necessidades reais ou, quase sempre, supostas. DUFOUR, Dany-Robert. O divino mercado: a revolução cultural liberal. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 2008. p. 23-24. (Adaptado). 2. (Ueg) O conectivo “pois” (2º parágrafo, referência 1) expressa no texto um sentido a) explicativo b) concessivo c) condicional d) proporcional TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto a seguir para responder à(s) questão(ões). SOMOS TODOS ESTRANGEIROS Volta e meia, em nosso mundo redondo, colapsa o frágil convívio entre os diversos modos de ser dos seus habitantes. 1 Neste momento, vivemos uma nova rodada 2 dessas com os inúmeros refugiados, famílias fugitivas de suas guerras civis e massacres. Eles tentam entrar na mesma Europa que já expulsou seus famintos e judeus. Esses movimentos introduzem gente destoante no meio de outras culturas, estrangeiros que chegam falando atravessado, comendo, amando e rezando de outras maneiras. Os diferentes se estranham. Fui duplamente estrangeira, no Brasil por ser uruguaia, em ambos os países e nas escolas públicas por ser judia. A instrução era tentar mimetizar-se, falar com o menor sotaque possível, ficar invisível no horário do Pai Nosso diário. Certamente todos conhecem esse sentimento de sentir-se estran-
46VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias geiro, ficar de fora, de não ser tão autêntico quanto os outros, ou não ser escolhido para o que realmente importa. Na 3 infância, tudo é grande demais, amedronta e entendemos fragmentariamente, como recém-chegados. Na puberdade, perdemos a familiaridade com nossos familiares: o que antes parecia natural começa __________ soar como estrangeiro. 4 Na 5 adolescência, sentimo-nos estranhos __________ quase tudo, andamos por aí enturmados com os da mesma idade ou estilo, tendo apenas uns aos outros como cúmplices para existir. O fim desse desencontro deveria ocorrer no começo da vida adulta, quando trabalhamos, procriamos e tomamos decisões de repercussão social. Finalmente 6 deveríamos sentir-nos legítimos cidadãos da vida. 7 Porém, julgamos ser uma fraude: 8 imaginávamos que os adultos eram algo maior, mais consistente do que sentimos ser. Logo em seguida disso, já começamos a achar que perdemos o bonde da vida. O tempo nos faz estrangeiros __________ própria existência. Uma das formas mais simples de combater todo esse 9 mal-estar é encontrar outro para chamar de diferente, de inadequado. 10Quem pratica o bullying, quer seja entre alunos ou com os que têm hábitos e aparência distintos do seu, conquista momentaneamente a ilusão da legitimidade. Quem discrimina arranja no grito e na violência um lugar para si. Conviver com as diferentes cores de pele, interpretações dos gêneros, formas de amar e casar, vestimentas, religiões ou a falta delas, línguas faz com que todos sejam estrangeiros. Isso produz a mágica sensação de inclusão universal: 11se formos todos diferentes, ninguém precisa sentir-se excluído. Movimentos migratórios misturam povos, a eliminação de barreiras de casta e de preconceitos também. Já pensou que delícia se, no futuro, entendermos que na vida ninguém é nativo. 12A existência de cada um é como um barco em que fazemos um trajeto ao final do qual sempre partiremos sem as malas. Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com. br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estrangeir os/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19 out. 2015 3. (G1 - ifsul) As conjunções porém (ref. 7) e se (ref.11) estabelecem, respectivamente, relações de a) condição e oposição. b) concessão e oposição. c) oposição e concessão. d) oposição e condição. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O Segundo Sol (Cássia Eller) Quando o segundo sol chegar Para realinhar as órbitas dos planetas Derrubando com assombro exemplar O que os astrônomos diriam Se tratar de um outro cometa Não digo que não me surpreendi Antes que eu visse você disse E eu não pude acreditar Mas você pode ter certeza De que seu telefone irá tocar Em sua nova casa Que abriga agora a trilha Incluída nessa minha conversão Eu só queria te contar Que eu fui lá fora E vi dois sóis num dia E a vida que ardia sem explicação Explicação, não tem explicação Explicação, não Não tem explicação Explicação, não tem Não tem explicação Explicação, não tem Explicação, não tem Não tem Disponível em: http://letras.mus.br/cassia-eller/12570/. Acesso em: 19.09.2015. 4. (G1 - ifba) Na primeira estrofe da letra de música “O Segundo Sol”, há duas conjunções subordinativas que, respectivamente, dão ideia de: a) causa e modo. b) tempo e modo. c) tempo e causa. d) modo e finalidade. e) tempo e finalidade. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A ilusão das redes sociais Dulce Critelli É indiscutível o importante papel que as redes sociais desempenham hoje nos rumos de nossa vida política e privada. São indiscutíveis também os avanços que introduziram nas comunicações, favorecendo o reencontro e a aproximação entre as pessoas e, se forem redes profissionais, facilitando a visibilidade e a circulação de pessoas e produtos no mercado de trabalho. Temos sido testemunhas, e também alvo, do seu poder de convocação e mobilização, assim como da sua eficiência em estabelecer interesses comuns rapidamente, a ponto de atuarem como disparadoras das várias manifestações e movimentos populares em todo o mundo atual. As redes sociais provocam mudanças de fundo no modo como as nossas relações ocorrem, intervindo significativamente no nosso comportamento social e político. Isso merece a nossa atenção, pois acredito que uma característica das redes sociais é, por mais contraditório que pareça, a implantação do isolamento como padrão para as relações humanas. Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, ser populares, estar ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de tudo. Isso é uma verdade, mas também uma ilusão, porque essas conexões são superficiais e instáveis. Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos são voláteis e atrelados a interesses momentâneos.
47VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O outro parece importar, mas de fato não importa. Importam apenas a própria posição e a autoexposição. Daí a constante informação sobre as viagens, os pensamentos, as emoções, as atividades de alguém. É preciso estar em cena e sempre. Há nisso um evidente desenvolvimento do narcisismo e, consequentemente, do reforço do distanciamento entre as pessoas. Essas tendências das redes sociais – a virtualidade, o distanciamento, a superficialidade, a superfluidade do ser humano, a exposição narcísica, a ilusão de intimidade e popularidade, a “falação” e a “avidez de novidades”… – constituem o padrão de isolamento das relações pessoais. E quanto mais isolados, mais ficamos à mercê de controles e manipulações. Cada vez mais ameaçados na autoria do nosso destino pessoal e político. (http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/a-ilusao-das-redes-sociais>. Acesso em 10/05/2016. Texto adaptado) 5. (G1 - ifal) Nos enunciados abaixo, as orações destacadas estabelecem uma relação semântica específica na associação com as orações a que se ligam. Indique a alternativa cuja informação entre parênteses contém um erro no tocante a essa relação. a) “Isso merece a nossa atenção, pois acredito” (explicação) b) “quanto mais isolados, mais ficamos à mercê de controles e manipulações” (adição) c) “O outro parece importar, mas de fato não importa” (adversidade) d) “uma característica das redes sociais é, por mais contraditório que pareça, a implantação do isolamento como padrão para as relações humanas” (concessão) e) “Ao participar das redes sociais acreditamos” (tempo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Sobre o mar e o navio Na guerra naval, existem ainda algumas peculiaridades que merecem ser abordadas. Uma delas diz respeito ao cenário das batalhas: o mar. Diferente, em linhas gerais, dos teatros de operações terrestres, o mar não tem limites, não tem fronteiras definidas, a não ser nas proximidades dos litorais, nos estreitos, nas baías e enseadas. Em uma batalha em mar aberto, certamente, poderão ser empregadas manobras táticas diversas dos engajamentos efetuados em área marítima restrita. Nelas, as forças navais podem se valer das características geográficas locais, como fez o comandante naval grego Temístocles, em 480 a.C. ao atrair as forças persas para a baía de Salamina, onde pôde proteger os flancos de sua formatura, evitando o envolvimento pela força naval numericamente superior dos invasores persas. As condições meteorológicas são outros fatores que também afetam, muitas vezes de forma drástica, as operações nos teatros marítimos. O mar grosso, os vendavais, ou mesmo as longas calmarias, especialmente na era da vela, são responsáveis por grandes transtornos ao governo dos navios, dificultando fainas e manobras e, não poucas vezes, interferindo nos resultados das ações navais ou mesmo impedindo o engajamento. É oportuno relembrar que o vento e a força do mar destruíram as esquadras persa (490 a.C.), mongol (1281) e a incrível Armada Espanhola (1588), salvando respectivamente a Grécia, o Japão (que denominou de kamikaze o vento divino salvador) e a Inglaterra daqueles invasores vindos do mar. O cenário marítimo também é o responsável pela causa mortis da maioria dos tripulantes dos navios afundados nas batalhas navais, cujas baixas por afogamento são certamente mais numerosas do que as causadas pelos ferimentos dos impactos dos projéteis, dos estilhaços e dos abalroamentos. Em maio de 1941, o cruzador de batalha britânico HMS Hood, atingido pelo fogo da artilharia do Bismarck, afundou, em poucos minutos, levando para o fundo cerca de tripulantes, dos quais apenas três sobreviveram. Aliás, o instante do afundamento de um navio é um momento crucial para a sobrevivência daqueles tripulantes que conseguem saltar ou são jogados ao mar, pois o efeito da sucção pode arrastar para o fundo os tripulantes que estiverem nas proximidades do navio no momento da submersão. Por sua vez, os náufragos podem permanecer dias, semanas, em suas balsas à deriva, em um mar batido pela ação dos ventos, continuamente borrifadas pelas águas salgadas, sofrendo o calor tropical escaldante ou o frio intenso das altas latitudes, como nos mares Ártico, do Norte ou Báltico, cujas baixas temperaturas dos tempos invernais limitam cabalmente o tempo de permanência n’água dos náufragos, tornando fundamental para a sua sobrevivência a rapidez do socorro prestado. O navio também é um engenho de guerra singular. Ao mesmo tempo morada e local de trabalho do marinheiro, graças à sua mobilidade, tem a capacidade de conduzir homens e armas até o cenário da guerra. Plataforma bélica plena e integral, engaja batalhas, sofre derrotas, naufraga ou conquista vitórias, tornando-se quase sempre objeto inesquecível da história de sua marinha e país. (CESAR, William Carmo. Sobre o mar e o navio. In: __________. Uma história das Guerras Navais: o desenvolvimento tecnológico das belonaves e o emprego do Poder Naval ao longo dos tempos. Rio de Janeiro: FEMAR, 2013. p. 396-398) 6. (Esc. Naval) Assinale a opção em que a oração subordinada reduzida está corretamente classificada. a) “[...] ao atrair as forças persas para a baía de Salamina [...]” (3º parágrafo) – subordinada adverbial final b) “[...] dificultando fainas e manobras e, não poucas vezes, [...]” (4º parágrafo) – subordinada substantiva subjetiva c) “[...] atingido pelo fogo da artilharia do Bismarck [...]” (5º parágrafo) – subordinada adjetiva restritiva d) “[...] sofrendo o calor tropical escaldante ou o frio intenso [...]” (6º parágrafo) – subordinada adverbial causal e) “[...] de conduzir homens e armas até o cenário da guerra.” (7º parágrafo) – subordinada substantiva completiva nominal TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O homem deve reencontrar o Paraíso... Rubem Alves Era uma família grande, todos amigos. Viviam como todos nós: moscas presas na enorme teia de aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha que é a vida da cidade. Todos os dias a aranha lhes arrancava um pedaço. Ficaram cansados. Resolveram mudar de vida: um sonho louco: navegar! Um barco, o mar, o céu, as estrelas, os horizontes sem fim: liberdade. Venderam o que tinham, compraram um barco capaz de atravessar mares e sobreviver tempestades.
48VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Mas para navegar não basta sonhar. É preciso saber. São muitos os saberes necessários para se navegar. Puseram-se então a estudar cada um aquilo que teria de fazer no barco: manutenção do casco, instrumentos de navegação, astronomia, meteorologia, as velas, as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o leme, os parafusos, o motor, o radar, o rádio, as ligações elétricas, os mares, os mapas... Disse cero o poeta: Navegar é preciso, a ciência da navegação é saber preciso, exige aparelhos, números e medições. Barcos se fazem com precisão, astronomia se aprende com o rigor da geometria, velas se fazem com saberes exatos sobre tecidos, cordas e ventos, instrumentos de navegação não informam mais ou menos. Assim, eles se tornaram cientistas, especialistas, cada um na sua – juntos para navegar. Chegou então o momento de grande decisão – para onde navegar. Um sugeria as geleiras do sul do Chile, outro os canais dos fiordes da Noruega, um outro queria conhecer os exóticos mares e praias das ilhas do Pacífico, e houve mesmo quem quisesse navegar nas rotas de Colombo. E foi então que compreenderam que, quando o assunto era a escolha do destino, as ciências que conheciam para nada serviam. De nada valiam, tabelas, gráficos, estatísticas. Os computadores, coitados, chamados a dar seu palpite, ficaram em silêncio. Os computadores não têm preferências – falta-lhes essa sutil capacidade de gostar, que é a essência da vida humana. Perguntados sobre o porto de sua escolha, disseram que não entendiam a pergunta, que não lhes importava para onde se estava indo. Se os barcos se fazem com ciência, a navegação faz-se com sonhos. Infelizmente a ciência, utilíssima, especialista em saber como as coisas funcionam, tudo ignora sobre o coração humano. É preciso sonhar para se decidir sobre o destino da navegação. Mas o coração humano, lugar dos sonhos, ao contrário da ciência, é coisa preciosa. Disse certo poeta: Viver não é preciso. Primeiro vem o impreciso desejo. Primeiro vem o impreciso desejo de navegar. Só depois vem a precisa ciência de navegar. Naus e navegação têm sido uma das mais poderosas imagens na mente dos poetas. Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E pois com a nau no mar/ assestamos a quilho contra as vagas... Cecília Meireles: Foi, desde sempre, o mar! A solidez da terra, monótona/ parece-nos fraca ilusão! Queremos a ilusão do grande mar / multiplicada em suas malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de vossos filhos, terra não descoberta, no mar mais distante. Que as vossas velas não se cansem de procurar esta terra! O nosso leme nos conduz para a terra dos nossos filhos... Viver é navegar no grande mar! Não só os poetas: C. Wright Mills, um sociólogo sábio, comparou a nossa civilização a uma galera que navega pelos mares. Nos porões estão os remadores. Remam com precisão cada vez maior. A cada novo dia recebem novos, mais perfeitos. O ritmo da remadas acelera. Sabem tudo sobre a ciência do remar. A galera navega cada vez mais rápido. Mas, perguntados sobre o porto do destino, respondem os remadores: O porto não nos importa. O que importada é a velocidade com que navegamos. C Wright Mills usou esta metáfora para descrever a nossa civilização por meio duma imagem plástica: multiplicam-se os meios técnicos e científicos ao nosso dispor, que fazem com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas; mas não temos ideia alguma de para onde navegamos. Para onde? Somente um navegador louco ou perdido navegaria sem ter ideia do para onde. Em relação à vida da sociedade, ela contém a busca de uma utopia. Utopia, na linguagem comum, é usada como sonho impossível de ser realizado. Mas não é isso. Utopia é um ponto inatingível que indica uma direção. Mário Quintana explicou a utopia com um verso: Se as coisas são inatingíveis... ora!/ não é um motivo para não querê-las... Que tristes os caminho, se não fora/ A mágica presença das estrelas! Karl Mannheim, outro sociólogo sábio que poucos leem, já na década de 1920 diagnosticava a doença da nossa civilização: Não temos consciência de direções, não escolhemos direções. Faltam-nos estrelas que nos indiquem o destino. Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são feitas, determinadas pelo pragmatismo da tecnologia (o importante é produzir o objeto) e pelo objetivismo da ciência (o importante é saber como funciona), são: Como posso fazer tal coisa? Como posso resolver este problema concreto em particular? E conclui: E em todas essas perguntas sentimos o eco intimista: não preciso de me preocupar com o todo, ele tomará conta de si mesmo. Em nossas escolas é isso que se ensina: a precisa ciência da navegação, sem que os estudantes sejam levados a sonhar com as estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas universidades, essa doença assume a forma de peste epidêmica: cada especialista se dedica com paixão e competência, a fazer pesquisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua vela, seu mastro. Dizem que seu dever é produzir conhecimento. Se forem bem- -sucedidas, suas pesquisas serão publicadas em revistas internacionais. Quando se lhes pergunta: Para onde seu barco está navegando?, eles respondem: Isso não é científico. Os sonhos não são objetos de conhecimento científico. E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. Não posso pensar a missão das escolas, começando com as crianças e continuando com os cientistas, como outra que não a da realização do dito poeta: Navegar é preciso. Viver não é preciso. É necessário ensinar os precisos saberes da navegação enquanto ciência. Mas é necessário apontar com imprecisos sinais para os destinos da navegação: A terra dos filhos dos meus filhos, no mar distante... Na verdade, a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os homens sonham com navegar. Depois aprendem a ciência da navegação. É inútil ensinar a ciência da navegação a quem mora nas montanhas. O meu sonho para a educação foi dito por Bachelard: O universo tem um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. O paraíso é o jardim, lugar de felicidade, prazeres e alegrias para os homens e mulheres. Mas há um pesadelo que me atormenta: o deserto. Houve um momento em que se viu, por entre as estrelas, um brilho chamado progresso. Está na bandeira nacional... E, quilha contra as vagas, a galera navega em direção ao progresso, a uma velocidade cada vez maior, e ninguém questiona a direção. E é assim que as florestas são destruídas, os rios se transformam em esgotos de fezes e veneno, o ar se enche de gases, os campos se cobrem de lixo – e tudo ficou feio e triste. Sugiro aos educadores que pensem menos nas tecnologias do ensino – psicologias e quinquilharias – e tratem de sonhar, com os seus alunos, sonhos de um Paraíso. Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.
49VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 7. (Efomm 2018) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, por conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. Nesse período, a oração sublinhada teria seu sentido alterado com a mudança de conectivo na alternativa a) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, em razão de conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. b) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, em função de conhecerem mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. c) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, em vista de conhecerem os mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. d) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, visto conhecerem os mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. e) E assim ficam os homens comuns abandonados por aqueles que, em virtude de conhecerem os mares e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia. Alguns perguntariam “Por quê?”. E eu pergunto: “Por que não?” O que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%. A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada. O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia. A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores. Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar. A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança. O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade. A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito. com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil. com.br/noruega-como-modelo-de-reabilitacao-decriminosos/. Acessado em 17 de março de 2017. 8. (Espcex (Aman) 2018) No período, “Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia”, as duas orações destacadas são subordinadas reduzidas de infinitivo e classificam-se, respectivamente, como a) substantiva apositiva e substantiva subjetiva. b) adverbial final e substantiva subjetiva. c) adverbial final e substantiva completiva nominal. d) substantiva objetiva indireta e adverbial consecutiva. e) adverbial consecutiva e substantiva apositiva.
50VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A PIPOCA Rubem Alves A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento. As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do candomblé... A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista do tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas! E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa − voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! − e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante. Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. “Morre e transforma-te!” − dizia Goethe. Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extraordinário professor-pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que