101VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Leia a seguinte passagem do conto “A sociedade”: O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ardel e trouxe Teresa Rita do escritório para o terraço. O Lancia passou como quem não quer. Quase parando. A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino. Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Pouco antes do número 259-C já sabe: uiiiiiauiiiiia! (Antônio de Alcântara Machado,”Brás, Bexiga e Barra Funda”, em “Novelas Paulistanas”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, p. 25). 1. No trecho acima, a linguagem e as imagens apontam para a influência das vanguardas no primeiro momento modernista. Selecione dois exemplos e comente-os. 2. O título refere-se a mais de uma sociedade presente no conto. Quais são elas? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “Conta-se que, diariamente, na hora de adormecer, Saint-Pol- -Roux mandava colocar sobre a porta de sua mansão de Camaret um aviso onde se lia: O POETA TRABALHA.” (Fragmento Manifesto do Surrealismo) 3. (Unirio) Com base nas concepções surrealistas, estabeleça a relação entre as ideias do texto e uma característica do movimento. 4. (FGV – Direito – SP) (Cildo Meireles, Zero Dólar (1978-84), lito offset sobre papel) Com a série “Zero Dólar”, o artista plástico brasileiro Cildo Meireles apropria-se de um sistema de representação, o dinheiro, utilizando-o dentro do sistema da arte. De que movimento artístico tal operação é característica? 5. Tendo em vista o título da obra e o período em que foi concebida, identifique o(s) objeto(s) da crítica realizada pelo artista nesse trabalho, justificando sua resposta. 6. O caráter crítico desse trabalho indica uma função para a arte que vai além da questão estética. Qual é essa função que pode ser observada em “Zero Dólar”? 7. (FGV) Tarsila do Amaral, A Negra (1923), óleo sobre tela “A Negra”, realizada por Tarsila, em Paris, utiliza técnicas dos movimentos de vanguarda da capital francesa, como o impressionismo e o cubismo, que questionaram o realismo até então mais usual entre a produção artística e propuseram uma forma mais livre de retratar o mundo. A imagem em primeiro plano em “A Negra” é bastante diferente do fundo da pintura, ou seja, da imagem em segundo plano. Observando a imagem, aponte e justifique essas diferenças dos dois planos. 8. (FGV) Marcel Duchamp, Roda de Bicicleta (1917), ready-made “Roda de Bicicleta” (1917) faz parte da série de “ready- -mades” construídos por Marcel Duchamp e introduz, na história da arte, uma nova maneira de produção artística. Indique, a partir da reprodução da obra acima, quais são os elementos inovadores utilizados por Duchamp e explique por que esse trabalho é considero uma obra de arte. 9. (Unirio) METADE PÁSSARO A mulher do fim do mundo Dá de comer às roseiras, Dá de beber às estátuas, Dá de sonhar aos poetas. A mulher do fim do mundo Chama a luz com um assobio. Faz a virgem virar pedra, Cura a tempestade, Desvia o curso dos sonhos. Escreve cartas ao rio, Me puxa do sono eterno Para os seus braços que cantam. (Murilo Mendes) a) Cite o movimento de vanguarda a que o texto acima pode ser associado. b) No texto, o autor desestrutura o senso e instaura o contrassenso. Teça um breve comentário que justifique a afirmativa acima.
102VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 10. (FGV) “Retirantes”, do paulista Candido Portinari, é expressão da arte moderna que rompeu com a forma de representação do século XIX e reflete a visão do artista sobre a migração, fenômeno já presente no Brasil dos anos 40 do século XX. Observe atentamente a reprodução da obra a seguir, mobilize seus conhecimentos sobre ela e redija um texto argumentativo de, no máximo, 13 linhas, analisando o posicionamento do autor sobre a questão da migração; indicando, no mínimo, dois elementos presentes na obra que comprovem tal posicionamento, e justificando a escolha; explicando, à luz dos elementos presentes na obra, por que ela pode ser considerada “arte moderna”. E.O. Enem 1. (Enem) O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas artísticas europeias do início do século XX. René Magritte, pintor belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas produções. Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é o(a): a) justaposição de elementos díspares, observada na imagem do homem no espelho. b) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem olhando sempre para frente. c) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de planos visuais. d) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem do homem. e) procedimento de colagem, identificado no reflexo do livro no espelho. 2. (Enem 2ª aplicação) TEXTO I TEXTO II A existência dos homens criadores modernos é muito mais condensada e mais complicada do que a das pessoas dos séculos precedentes. A coisa representada, por imagem, fica menos fixa, o objeto em si mesmo se expõe menos do que antes. Uma paisagem rasgada por um automóvel, ou por um trem, perde em valor descritivo, mas ganha em valor sintético. O homem moderno registra cem vezes mais impressões do que o artista do século XVIII. LEGÉR, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989. A vanguarda europeia, evidenciada pela obra e pelo texto, expressa os ideais e a estética do: a) Cubismo, que questionava o uso da perspectiva por meio da fragmentação geométrica. b) Expressionismo alemão, que criticava a arte acadêmica, usando a deformação das figuras. c) Dadaísmo, que rejeitava a instituição artística, propondo a antiarte. d) Futurismo, que propunha uma nova estética, baseada nos valores da vida moderna. e) Neoplasticismo, que buscava o equilíbrio plástico, com utilização da direção horizontal e vertical. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. (Unifesp) Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” publicado por Filippo Tommaso Marinetti (1876- 1944) no ano de 1909. Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; a vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros sob suas luas elétricas; as estações glutonas co-
103VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias medoras de serpentes que fumam; as usinas suspensas nas nuvens pelos barbantes de suas fumaças; os navios aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos, como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta. (Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.) Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes versos, extraídos da produção poética de Fernando Pessoa (1888-1935): a) Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. b) Ontem à tarde um homem das cidades Falava à porta da estalagem. Falava comigo também. Falava da justiça e da luta para haver justiça E dos operários que sofrem, E do trabalho constante, e dos que têm fome, E dos ricos, que só têm costas para isso. E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos E sorriu com agrado, julgando que eu sentia O ódio que ele sentia, e a compaixão Que ele dizia que sentia. c) Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos [em nada, Pagãos inocentes da decadência. d) Levando a bordo El-Rei dom Sebastião, E erguendo, como um nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ao sol aziago Erma, e entre choros de ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais. A que ilha indescoberta Aportou? Voltará da sorte incerta Que teve? e) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas, Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! 2. (Unesp) Leia um trecho do “Manifesto do Surrealismo”, publicado por André Breton em 1924. Surrealismo: Automatismo psíquico por meio do qual alguém se propõe a exprimir o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de controle exercido pela razão, fora de qualquer preocupação estética ou moral. O Surrealismo assenta-se na crença da realidade superior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, na onipotência do sonho, no jogo desinteressado do pensamento. (Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e Modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.) Tendo em vista as considerações de André Breton, assinale a alternativa cujos versos revelam influência do Surrealismo. a) O mar soprava sinos os sinos secavam as flores as flores eram cabeças de santos. Minha memória cheia de palavras meus pensamentos procurando fantasmas meus pesadelos atrasados de muitas noites. (João Cabral de Melo Neto, “Noturno”, em Pedra do sono.) b) Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé. Comprida história que não acaba mais. (Carlos Drummond de Andrade, “Infância”, em Alguma poesia.) c) Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. (Manuel Bandeira, “Momento num café”, em Estrela da manhã.) d) Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. (Carlos Drummond de Andrade, “Elegia 1938”, em Sentimento do mundo.) e) – Bem me diziam que a terra se faz mais branda e macia quanto mais do litoral a viagem se aproxima. Agora afinal cheguei nessa terra que diziam. Como ela é uma terra doce para os pés e para a vista. (João Cabral de Melo Neto, “O retirante chega à Zona da Mata”, em Morte e vida severina.)
104VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 3. (Unifesp) O mundo dessa pintura, como o dos sonhos, é ao mesmo tempo familiar e desconhecido: familiar, em razão do estilo minuciosamente realista, que permite ao espectador o reconhecimento de uma figura ou de um objeto pintados; desconhecido, por causa da estranheza dos contextos em que eles aparecem, como num sonho. (Fiona Bradley. Surrealismo, 2001. Adaptado.) O comentário da historiadora de arte aplica-se à pintura reproduzida em: a) b) c) d) e) E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Idealismo e Realismo Eu sou pois associado a estes dois movimentos, e se ainda ignoro o que seja a ideia nova, sei pouco mais ou menos o que chamam aí a escola realista. Creio que em Portugal e no Brasil se chama realismo, termo já velho em 1840, ao movimento artístico que em França e em Inglaterra é conhecido por "naturalismo" ou "arte experimental". Aceitemos, porém, realismo, como a alcunha familiar e amiga pela qual o Brasil e Portugal conhecem uma certa fase na evolução da arte. (...) Não – perdoem-me – não há escola realista. Escola é a imitação sistemática dos processos dum mestre. Pressupõe uma origem individual, uma retórica ou uma maneira consagrada. Ora o naturalismo não nasceu da estética peculiar dum artista; é um movimento geral da arte, num certo momento da sua evolução. A sua maneira não está consagrada, porque cada temperamento individual tem a sua maneira própria: Daudet é tão diferente de
105VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Flaubert, como Zola é diferente de Dickens. Dizer "escola realista" é tão grotesco como dizer "escola republicana". O naturalismo é a forma científica que toma a arte, como a república é a forma política que toma a democracia, como o positivismo é a forma experimental que toma a filosofia. Tudo isto se prende e se reduz a esta fórmula geral: que fora da observação dos factos e da experiência dos fenômenos, o espírito não pode obter nenhuma soma de verdade. Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo das paixões a priori; hoje, analisa-se a posteriori, por processos tão exactos como os da própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis que a constituição do espírito duma donzela, que há no mundo uma fenomenalidade única, que a lei que rege os movimentos dos mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de observar. O verdadeiro autor do naturalismo não é pois Zola - é Claude Bernard. A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações inatas... (Eça de Queirós. "Cartas Inéditas de Fradique Mendes". In: Obras de Eça de Queirós.) Prefácio Interessantíssimo 24 Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora consciente (Rafael das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Brás Cubas), ora inconscientemente (a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa. 25 Nossos sentidos são frágeis. A percepção das coisas exteriores é fraca, prejudicada por mil véus, provenientes das nossas taras físicas e morais: doenças, preconceitos, indisposições, antipatias, ignorâncias, hereditariedade, circunstâncias de tempo, de lugar, etc... Só idealmente podemos conceber os objetos como os atos na sua inteireza bela ou feia. A arte que, mesmo tirando os seus temas do mundo objetivo, desenvolve-se em comparações afastadas, exageradas, sem exatidão aparente, ou indica os objetos, como um universal, sem delimitação qualifcativa nenhuma, tem o poder e nos conduzir a essa idealização livre, musical. Esta idealização livre, subjetiva, permite criar todo um ambiente de realidades ideais onde sentimentos, seres e coisas, belezas e defeitos se apresentam na sua plenitude heroica, que ultrapassa a defeituosa percepção dos sentidos. Não sei que futurismo pode existir em quem quase perfilha a concepção estética de Fichte. Fujamos da natureza! Só assim a arte não se ressentirá da ridícula fraqueza da fotografia... colorida. (Mário de Andrade. "Pauliceia Desvairada". In: Poesias completas. 1987.) 1. (Unesp) No fragmento transcrito do "Prefácio Interessantíssimo", Mário de Andrade aborda, como Eça de Queirós, a questão da composição literária pelo escritor. Depois de reler ambos os textos, a) demonstre que a frase de Mário de Andrade que começa em "Esta idealização livre..." defende para a composição literária e artística uma postura teórica diferente da de Eça de Queirós; b) explique o caráter "convencional, transitório" atribuído por Mário de Andrade no início de seu texto ao "belo da arte". Gabarito E.O. Aprendizagem 1. V-V- V- V-V 2. C 3. E 4. E 5. E 6. C-C-E-E 7. D 8. E 9. B 10. C E.O. Fixação 1. A 2. C 3. D 4. D 5. D 6. C 7. B 8. D 9. E 10. D E.O. Complementar 1. C 2. E 3. D 4. A E.O. Dissertativo 1. As propostas vanguardistas do primeiro modernismo evidenciam-se pela linguagem construída pela justaposição de períodos curtos, sem conectivos, com imagens rápidas, alusivas, como fotogramas de um filme, a lembrar as “ousadias” e a construção cubista e metonímica de Oswald de Andrade, nas “Memórias Sentimentais de João Miramar”. A presença do cotidiano, de elementos da civilização material do início do século XX e a sintaxe peculiar são a materialização, no texto, de algumas propostas da “fase heroica” do Modernismo. 2. A sociedade paulistana dos anos de 1920 surge como pano de fundo das ações narradas no conto. Nela vemos que o texto alude a um tipo de sociedade que se configura a partir da ideia do casamento de Adriano e Teresa Rita e da relação comercial realizada entre seus pais. 3. O surrealismo tem como uma das características a projeção do inconsciente. Logo, ao dormir, o inconsciente aflora através do discurso onírico, é por isso que o poeta afirma que trabalha enquanto dorme. 4. O movimento de vanguarda que tem como proposta a apropriação de algo representativo do sistema social transformado em sistema de arte é o Dadaísmo. Tal procedimento pode ser associado ao ready made. Esse conceito foi desenvolvido pelo artista francês Marcel Duchamp e designa qualquer objeto manufaturado de consumo popular tratado como objeto de arte por opção do artista, como é o caso do dinheiro de Cildo Meireles. 5. A obra conceitual do artista plástico Cildo Meireles se relaciona com fatos políticos e sociais do Brasil das décadas de 1970 e 1980. A série “Zero Dólar” sugere uma crítica a um modelo
106VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias de subserviência brasileira à cultura estadunidense, amplamente incorporada ao cotidiano de nosso país. A obra também questiona o valor exagerado do dólar, uma metonímia do poder dos Estados Unidos, atribuindo a essa moeda um valor nulo. Além disso, há no quadro uma imagem do Tio Sam apontando para o observador, de modo a intimidá-lo. Em outra perspectiva, “Zero Dólar” sugere uma crítica ao exagerado valor monetário que algumas obras de arte adquiriram ao longo do tempo, passando a representar um investimento qualquer como um aplicação financeira, por exemplo. 6. “Zero Dólar” propõe uma crítica ao “american way of life” e ao poderio econômico estadunidense. Ampliar as funções da arte para além da fruição estética foi um dos objetivos das vanguardas europeias desenvolvidas nas primeiras décadas do século XX. 7. Por meio de obras como “A Negra” (1923), Tarsila do Amaral expressou, nas artes plásticas, pressupostos importantes do movimento Antropófago. No quadro, Tarsila se utiliza de técnicas do Cubismo, ao mesmo tempo em que dialoga com o primitivismo brasileiro. No primeiro plano, a pintora apresenta uma figura disforme, composta de maneira muito simples, com lábios carnudos e um só peito aparente. No segundo plano, há faixas de linhas retangulares pintadas em cores escuras que contrastam com as cores da “personagem” em primeiro plano. 8. Por meio desse “ready-made”, Duchamp intenciona provocar quem contempla a sua obra. Para o artista, uma obra de arte não tem como função primordial representar o Belo. Ele desloca elementos de seus contextos originais (a roda e o banco, nesse caso) de modo a questionar o próprio conceito de arte. Desse modo, produz arte porque instiga o espectador a rever suas noções de beleza e de estética. 9. a) Surrealismo. b) A falta de lógica apresentada em cada verso, na relação dos verbos com os substantivos. Exemplo: 20 . v, 30 . v, 60 . v, etc. 10. Cândido Portinari procurou utilizar em suas obras elementos populares ligados à cultura nacional de maneira estilizada. A partir de 1930, o artista privilegiou a focalização de figuras ligadas às camadas menos favorecidas da sociedade. O quadro “Retirantes” foi pintado em 1944 e exemplifica essa tendência porque nele Portinari retrata figuras miseráveis que eram obrigadas a se deslocar para sobreviver. No quadro, as figuras dos retirantes aparecem em primeiro plano. Assim como outros artistas da década de 1930, Portinari procurou utilizar sua obra para revelar um país desconhecido do homem urbano letrado. As figuras cadavéricas são mostradas por ele em tons escuros, cinzas, em meio a carcaças de animais e de urubus que sobrevoam de maneira dramática a cena. Em consonância com a tendência expressionista, Portinari exagera na deformação das “personagens” e as retrata de maneira a provocar o espectador. Essa busca em provocar no espectador alguma sensação que o mobilize para refletir sobre aquilo que retrata em sua pintura, aproxima Portinari de muitas das propostas modernistas. E.O. Enem 1. A 2. D E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. E 2. A 3. C E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. a) A criação literária, para Mário de Andrade, é "subjetiva", baseada em "idealização livre" do autor. Eça de Queirós, ao contrário, defende uma postura objetiva, em que a criação artística é fruto da observação e da análise, e não da fantasia. b) Para Mário de Andrade, o belo artístico é histórico. Por isso, seria uma "questão de moda". Assim sendo, a beleza artística é transitória, por mudar com o tempo, e arbitrária, por não obedecer a princípios necessários, já que estes seriam diferentes em cada época.
107VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. Leia o poema Prece, de Fernando Pessoa: “Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silêncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mão do vento pode erguê-la ainda. Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –, Com que a chama do esforço se remoça, E outra vez conquistaremos a Distância – Do mar ou outra, mas que seja nossa!” (Fernando Pessoa. Mensagem, 1995.) Extraído do livro Mensagem, o poema pode ser considerado nacionalista, na medida em que o eu lírico: a) apresenta Portugal como uma nação decadente, que não faz jus ao seu passado de heroísmo e glórias. b) inspira-se no passado de heroísmo do povo português que, no presente, já não acredita na sua história. c) busca reviver o sonho de uma da nação grandiosa, cantando um Portugal almejado por seus feitos gloriosos. d) reconhece o desejo de o povo português glorificar seus heróis, o que não foi possível até o seu presente. e) descreve o Portugal de seu tempo como uma nação gloriosa e marcada por histórias de heroísmo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO I “Ao longo do sereno Tejo, suave e brando, Num vale de altas árvores sombrio, Estava o triste Almeno Suspiros espalhando Ao vento, e doces lágrimas ao rio.” (Luís de Camões, Ao longo do sereno.) TEXTO II “Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, so aqueste ramo destas auelanas e quen for louçana, como nós, louçanas, se amigo amar, so aqueste ramo destas auelanas uerrá baylar.” (Aires Nunes. In Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.) TEXTO III “Tão cedo passa tudo quanto passa! morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.” (Fernando Pessoa, Obra poética.) TEXTO IV “Os privilégios que os Reis Não podem dar, pode Amor, Que faz qualquer amador Livre das humanas leis. Mortes e guerras cruéis, Ferro, frio, fogo e neve, Tudo sofre quem o serve.” (Luís de Camões, Obra completa.) TEXTO V “As minhas grandes saudades São do que nunca enlacei. Ai, como eu tenho saudades Dos sonhos que não sonhei!...” (Mário de Sá Carneiro, Poesias.) 2. Assinale a alternativa que contém textos de autoria de poetas do Modernismo português. a) I e V. d) III e V. b) II e III. e) IV e V. c) III e IV. 3. (Mackenzie) O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou conta de Portugal em meio às crises do primeiro período republicano, responsável por Mensagem, obra que retomou a formação de sua pátria, a identificação com o mar, o sonho de um império grande e forte foi: a) Alberto Caeiro. b) Ricardo Reis. c) Mário de Sá-Carneiro. d) Fernando Pessoa, ele-mesmo. e) Álvaro de Campos. MODERNISMO PORTUGUÊS I COMPETÊNCIA(s) 5 e 6 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 31 E 32
108VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 4. (Mackenzie) “Nunca a alheia vontade, inda que grata, Cumpras por própria. Manda no que fazes, Nem de ti mesmo servo. Ninguém te dá quem és. Nada te mude. Teu íntimo destino involuntário Cumpre alto. Sê teu filho.” (Fernando Pessoa) Assinale a alternativa correta. a) A métrica desses versos possui o papel de ajudar a construir o significado de desestabilização emocional subjacente a todo o poema. b) “A alheia vontade”, sujeito sintático de “nunca cumpras”, aponta para o que deve ser evitado na busca da própria soberania. c) A relação “eu/tu” estabelece-se num tom de orientação construído pela predominância dos verbos no imperativo. d) A organização do poema, em versos decassílabos e hexassílabos, constrói um ritmo irregular, impróprio para veicular verdades acabadas. e) Os dois últimos versos questionam a fatalidade e subvertem o individualismo proposto desde o início. 5. “Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te. Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora.” (PESSOA, Fernando. CANCIONEIRO. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976, pp. 140/141) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do poema acima transcrito. a) Depreende-se da leitura do poema, um conflito intenso do autor que não consegue entender se é feliz ou não mediante as lágrimas que lhe brotam aos olhos. b) No texto, a presença da “música” atua como interlocutor do eu lírico para a construção do poema, em que o tempo cronológico cede lugar ao tempo interior. c) “Pobre velha música!”, de Fernando Pessoa do Modernismo português, faz parte da expressão poética que se consolidou no início do segundo decênio do século XX. d) Ainda sobre o poema, é possível dizer que a consciência do Tempo e da própria vivência permite ao eu lírico resgatar seu passado distante. e) O jogo temporal, marcado sobretudo por advérbios e tempos verbais, encontra sua síntese no paradoxo do último verso do poema. 6. (Uespi) Mário de Sá-Carneiro, ao lado de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Tomás de Almeida, entre outros, fundaram em 1915, em Portugal, a revista Orpheu. Além de ser uma revista de princípios estetizantes e esotéricos, qual outro traço programático se pode reconhecer nesta revista? a) Os colaboradores da revista Orpheu perseguiam uma poesia realista e de cunho social. b) A busca por uma poesia científica terminou por caracterizar toda a produção poética da geração Orpheu. c) Há visivelmente nesta geração influências do humanismo e do racionalismo renascentista. d) A poesia veiculada pela revista Orpheu é alucinada, chocante e irreverente. e) A geração Orpheu exalta o progresso de Portugal e defende apaixonadamente o seu regime monárquico. 7. (Ufrgs) Leia o poema abaixo, presente em Mensagem, de Fernando Pessoa. Noite A nau de um deles tinha-se perdido No mar indefinido. O segundo pediu licença ao Rei De, na fé e na lei Da descoberta, ir em procura Do irmão no mar sem fim e a névoa escura. Tempo foi. Nem primeiro nem segundo Volveu do fim profundo Do mar ignoto à pátria por quem dera O enigma que fizera. Então o terceiro a El-Rei rogou Licença de os buscar, e El-Rei negou. Como a um cativo, o ouvem a passar Os servos do solar. E, quando o veem, veem a figura Da febre e da amargura, Com fixos olhos rasos de ânsia Fitando a proibida azul distância. Senhor, os dois irmãos do nosso Nome – O Poder e o Renome – Ambos se foram pelo mar da idade À tua eternidade; E com eles de nós se foi O que faz a alma poder ser de herói. Queremos ir buscá-los, desta vil Nossa prisão servil: É a busca de quem somos, na distância De nós; e, em febre de ânsia, A Deus as mãos alçamos. Mas Deus não dá licença que partamos. Considere as seguintes afirmações sobre o poema e suas relações com o livro Mensagem. I. As três primeiras estrofes estão relacionadas a um episódio real: a história dos irmãos Gaspar e Miguel Corte Real que desapareceram em expedições marítimas, no início do século XVI, para desespero do terceiro irmão, Vasco, que queria procurá-los, mas não obteve a autorização do rei.
109VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias II. O sujeito lírico, na quarta e na quinta estrofes, assume a primeira pessoa do plural, sugerindo que o drama individual dos irmãos pode representar um problema coletivo: a perda de poder e renome de Portugal, perda esta já associada à difícil situação do país no início do século XX, momento da escritura do poema. III. O diagnóstico das perdas de Portugal está ausente em outros poemas de Mensagem, por exemplo, Mar português, Autopsicografia e Nevoeiro, que apresentam a visão eufórica e confiante do sujeito lírico em relação ao futuro de Portugal. Quais estão corretas? a) Apenas I. d) Apenas II e III. b) Apenas II. e) I, II e III. c) Apenas I e II. 8. (Mackenzie) Afirma-se que o mais antigo texto poético de que se tem conhecimento, em língua portuguesa, é a “Cantiga da Ribeirinha”, marco inicial do Trovadorismo em Portugal. Para chegar até Fernando Pessoa, a poesia portuguesa evoluiu muito, por meio de vários autores. Assinale a alternativa em que aparecem, na ordem cronológica, três poetas portugueses que se encaixam entre os dois pontos acima citados. a) Camões - Bocage - Antero de Quental. b) Fernão Lopes - Gil Vicente - Almada Negreiros. c) D. Dinis - Mário de Sá-Caneiro - Camilo Pessanha. d) Antero de Quental - Gil Vicente - Fernão Lopes. e) Bocage - Gil Vicente - Camões. E.O. Fixação 1. “Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê!” PESSOA, Fernando. Poemas escolhidos. São Paulo: Globo, 1997. Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente. Com base no texto e na temática do poema Isto, conclui-se que o autor: a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto. b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais. c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta. d) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz do poeta. e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico. 2. (UFJF) Uma estrofe famosa do poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa, é: “O POETA é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.” A partir dela, e pensando na obra do poeta como um todo, é CORRETO afirmar: a) Fernando Pessoa, com a proposta do fingimento poético, rompe com o confessionalismo romântico. b) Somente Álvaro de Campos pode ser representante do fingimento poético, pois é um poeta futurista. c) O fingimento poético não está presente na obra de Alberto Caeiro, pois ele é um pastor simples e sincero. d) A única parte da obra pessoana que escapa do fingimento são os poemas de Fernando Pessoa ele- -mesmo. e) Ricardo Reis, como poeta clássico, não pode ser estudado pelo fingimento modernista. 3. (Mackenzie) “Graças a Deus que estou doido! Que tudo quanto dei me voltou em lixo, E, como cuspo atirado ao vento, Me dispersou pela cara livre! Que tudo quanto fui me atou aos pés, Com a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma! Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta E me faz vomitar sem eu ter comido nada!” O trecho anterior faz parte da obra de um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Assinale a alternativa em que aparece outro trecho do mesmo heterônimo. a) Vi sempre o mundo independentemente de mim. Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas, Mas isso era outro mundo. Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja. Acima de tudo o mundo externo! Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim. b) Tudo o que é sério pouco nos importe, O grave pouco pese, O natural impulso dos instintos Que ceda ao inútil gozo (sob a sombra tranquila do arvoredo) De jogar um bom jogo.
110VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) O deus Pã não morreu, Cada campo que mostra Aos sorrisos de Apolo Os peitos nus de Ceres – Cedo ou tarde vereis Por lá aparecer O deus Pã, o imortal. d) Da mais alta janela da minha casa Com um lenço branco digo adeus Aos meus versos que partem para a humanidade E não estou alegre nem triste. Este é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos Porque não posso fazer o contrário Como a flor não pode esconder a cor, Nem o rio esconder que corre, Nem a árvore esconder que dá fruto. e) Não me importo com as rimas. Raras vezes Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me Porque me falta a simplicidade divina De ser todo só o meu exterior. 4. (Mackenzie) “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma. E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo, E viu-se a terra inteira, de repente, Surgir, redonda, do azul profundo. Quem te sagrou creou-te portuguez. Do mar e nós em ti nos deu signal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!” O texto anterior faz parte: a) do “Cancioneiro Geral”, de Garcia de Resende, no qual se encontra boa parte da produção poética medieval portuguesa. b) de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, obra que enaltece o povo português e seus extraordinários feitos marítimos. c) de “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que, com tom visionário e nacionalista, se refere às grandes navegações e à recuperação do passado português. d) de um auto vicentino, o qual critica a sociedade portuguesa de sua época, em tom pessimista e desiludido. e) de um poema de Bocage, pois evidencia os aspectos pré-românticos, que são a principal característica de sua obra poética. 5. De quem é a expressão “O poeta é um fingidor”? a) Garcia de Resende. b) Airas Nunes. c) Camilo Castelo Branco. d) Fernando Pessoa. e) Mário de Sá Carneiro. 6. (Ufrgs) Assinale a alternativa correta a respeito da vida e da obra do poeta português Fernando Pessoa. a) Pessoa foi um dos líderes da revista de literatura Orpheu, juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Eça de Queiroz. b) A criação da revista de literatura Orpheu identifica Pessoa como um dos fundadores do Modernismo português. c) Pessoa foi responsável pelo espírito derrotista, em que Portugal estava mergulhado no final do século XIX. d) Os heterônimos de Pessoa, tais como Álvaro de Campos e Ricardo Reis, podem ser vistos como pseudônimos, utilizados pelo poeta para burlar a censura. e) A criação de heterônimos é uma prática comum aos poetas colaboradores da revista Orpheu. E.O. Complementar TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES “Seria o fogo em minha casa? Correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida? Sempre que esta ideia, antigamente, simplesmente me ocorrera, um pavor enorme me fazia estarrecer. E agora reparei de repente, não sei já se com pasmo ou sem pasmo, não sei dizer se com pavor ou não, que me não importaria que ardessem. Que fonte – que fonte secreta mas tão minha – se me havia secado na alma?” Fernando Pessoa: Barão de Teive: a educação do insólito. 1. As reflexões do autor se identificam melhor com o seguinte posicionamento: a) Normalmente, a gente não para para pensar sobre a vida, porque ela nunca muda, e, quando alguma coisa muda, sempre sabemos quando ocorreu e o que ocasionou a alteração, visto que somos nós mesmos os agentes conscientes de tudo que se altera em nós. b) De repente, a gente para para pensar na vida, vê que tudo mudou, que não conseguimos mais concordar com nossas antigas opiniões, mas, se nos perguntarem, sempre sabemos explicar tudo sobre tais mudanças. c) Sem precisar de muitas explicações, o pensamento da gente começa a se fixar nas mudanças que alteram nossa vida, porque alteram nossa opinião sobre as coisas, e o melhor disso tudo é que somos sempre atentos a cada passo diferente e, por isso, somos capazes de dar explicações sobre os diversos aspectos em que as coisas mudaram. d) Todos os dias, a vida mostra com mais verdade que a gente nunca foi capaz de mudar qualquer opinião ou sentimento a respeito das coisas que nos são caras. e) Um belo momento na vida, a gente para para refletir e percebe que as coisas, mesmo as mais profundas das nossas particularidades, sempre mudam, embora nunca possamos voltar no tempo para contemplar o momento exato em que isso ocorreu, bem como nem sempre sabemos explicar as causas de tais mudanças.
111VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. O esquema frasal do texto, como se pode observar, é formado por duas interrogações sucedidas por duas declarações sucedidas por uma interrogação. Desse esquema, obtém-se uma estrutura em que se pode delimitar a) introdução (nas duas interrogações iniciais), desenvolvimento (nas declarações), conclusão (na interrogação final). b) introdução (na primeira interrogação), desenvolvimento (na segunda interrogação), conclusão (na interrogação final). c) introdução (nas duas interrogações iniciais), desenvolvimento (na primeira declaração), conclusão (na segunda declaração juntamente com a interrogação final). d) introdução (nas duas interrogações iniciais juntamente com a primeira declaração), desenvolvimento (na segunda declaração), conclusão (na interrogação final). e) introdução (na primeira interrogação), desenvolvimento (na segunda interrogação juntamente com as declarações), conclusão (na interrogação final). 3. As interrogações iniciais permitem, sem comprometer o sentido textual, a seguinte leitura ou compreensão: a) Quando o fogo fosse em minha casa, correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida. b) Se o fogo fosse em minha casa, correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida. c) Porque o fogo seria em minha casa, correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida. d) Mesmo que o fogo fosse em minha casa, correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida. e) Seria tanto fogo em minha casa, que correriam risco de arder todos os meus manuscritos, toda a expressão de toda a minha vida. 4. As interrogações, como autoquestionamento, e o emprego da primeira pessoa do singular, de verbos no futuro do pretérito, elaborando hipóteses, são marcas textuais referentes a) a uma busca de testar a eficiência do canal de comunicação, medindo o nível do contato no ambiente comunicativo, e caracterizam a função fática da linguagem. b) ao apelo à atenção ou tentativa de persuasão dirigida ao decodificador da mensagem, e caracterizam a função conativa ou apelativa da linguagem. c) à emotividade ou à expressividade do enunciador da mensagem, e caracterizam a função emotiva ou expressiva da linguagem. d) à conceituação, à referência e à informação objetiva do elemento temático da mensagem, e caracterizam a função referencial da linguagem. e) a uma explicação, definição e análise dos elementos do código da mensagem, e caracterizam a função metalinguística da linguagem. 5. A sequência do texto permite a seguinte compreensão em torno da ideia-problema que lhe é central: a) Antes de tudo, expõem-se as explicações que justificam o problema; depois, vêm as considerações sobre os rumos do problema; por fim, é apresentada uma possibilidade de problema. E a síntese da sequência deste texto é: exposição do problema (introdução); definição do problema (desenvolvimento); hipótese sobre o problema (conclusão). b) Antes de tudo, é apresentado o problema imaginário, seguido de sua circunstância; depois, vêm as explicações que justificam o problema; por fim, são tecidas considerações sobre os rumos do problema. E a síntese da sequência deste texto é: hipótese do problema (introdução); justificativas do problema (desenvolvimento); fechamento do problema (conclusão). c) Antes de tudo, é apresentada uma indagação decorrente das reflexões sobre o problema; depois, vêm as considerações sobre o problema; por fim, é revelada a circunstância e o problema propriamente dito. E a síntese da sequência deste texto é: decorrências do problema (introdução); análise do problema (desenvolvimento), apresentação circunstancial do problema (conclusão). d) Antes de tudo, é apresentada a circunstância em que o problema é gerado e qual é o problema gerado; depois, vêm as considerações sobre o problema a partir de suas relações com o tempo; por fim, é apresentada uma indagação decorrente das reflexões sobre o problema. E a síntese da sequência deste texto é: apresentação do problema (introdução); análise do problema (desenvolvimento); consequência das alterações do problema (conclusão). e) Antes de tudo, são apresentadas as mudanças de estado referentes ao problema; depois, vem a circunstância em que é gerado e qual é o problema; por fim, a busca da causa das alterações do problema. E a síntese da sequência deste texto é: estados do problema (introdução); apresentação do problema (desenvolvimento); causas do problema (conclusão). E.O. Dissertativo TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES “PSICOGRAFIA”, DE ANA CRISTINA CESAR: “Também eu saio à revelia e procuro uma síntese nas demoras cato obsessões com fria têmpera e digo do coração: não soube e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena e vivo como quem despede a raiva de ter visto” “AUTOPSICOGRAFIA”, DE FERNANDO PESSOA. “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
112VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só as que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração.” Vocabulário: comboio: trem de ferro. calhas de roda: trilhos sobre os quais corre o trem de ferro. Na segunda estrofe do poema de Fernando Pessoa, há um jogo de sentido estabelecido entre os pronomes “ele” e “eles”. 1. (UFSCar) A quem se refere cada um desses pronomes? 2. (UFSCar) Como se pode entender a dor, referida nesta estrofe, em relação a “ele” e “eles”? E.O. UERJ Exame Discursivo 1. (UERJ) Mestre “Mestre, são 1 plácidas Todas as horas Que nós perdemos, Se no perdê-las, Qual numa jarra, Nós pomos flores. Não há tristezas Nem alegrias Na nossa vida. Assim saibamos, Sábios 2 incautos, Não a viver, Mas decorrê-la, Tranquilos, plácidos, Tendo as crianças Por nossas mestras, E os olhos cheios De Natureza... À beira-rio, À beira-estrada, 3 Conforme calha, Sempre no mesmo Leve descanso De estar vivendo. O tempo passa, Não nos diz nada. Envelhecemos. Saibamos, quase Maliciosos, Sentir-nos ir. Não vale a pena Fazer um gesto. Não se resiste Ao deus atroz Que os próprios filhos Devora sempre. Colhamos flores. Molhemos leves As nossas mãos Nos rios calmos, Para aprendermos Calma também. Girassóis sempre Fitando o sol, Da vida iremos Tranquilos, tendo Nem o remorso De ter vivido.” RICARDO REIS. Pessoa, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999. (1) plácidas – calmas (2) incautos – desprevenidos (3) conforme calha – conforme seja Na 1ª estrofe do poema, para construir o sentido geral do texto, o poeta faz uma referência à expressão perder tempo, dando-lhe, entretanto, outro sentido, diferente do usual. Explique o sentido usual da expressão perder tempo e apresente, também, o sentido que essa mesma expressão assume no poema. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Um dos maiores benefícios que o movimento moderno nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a literatura brasileira. Alegre quer dizer saudável, viva, consciente de sua força, satisfeita com seu destino. Até então no Brasil a preocupação de todo escritor era parecer grave e severo. O riso era proibido. A pena molhava-se no tinteiro da tristeza e do pessimismo. O papel servia de lenço. De tal forma que os livros espremidos só derramavam lágrimas. Se alguma ideia caía vinha num pingo delas. A literatura nacional não passava de uma queixa gemebunda. Por isso mesmo o segundo tranco da reação foi mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura brasileira mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do motivo quando inevitável. Rindo como um moleque. (Antonio de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.) 1. (Unifesp) ................................... salva-se desse caos por via do racionalismo excitado ao máximo, ato compensatório para a mesma sensação de "estrangeiro aqui como em toda a parte". E é esse racionalismo, atenuador da sensibilidade em abandono e doentiamente enovelada, que o leva a tentar a busca do suporte que Sá-Carneiro não encontrava. Partindo do "Nada que é Tudo", ........................... procura reconstruir o mundo em busca do Absoluto que existiria através ou acima do relativo. A reconstrução implicava em multiplicar-se em quantas criaturas habitam e habitaram a Terra, ou, antes, era preciso ser tudo e todos para destruir o que em cada um é inalienável relativismo biológico, mental etc. (Massaud Moisés, "Presença da literatura portuguesa" - Modernismo.) Mantida a sequência, a alternativa que indica o preenchimento correto das lacunas supridas pelo pontilhado é: a) Antero de Quental - Almada Negreiros. b) Almada Negreiros - Almada Negreiros. c) Fernando Pessoa - Fernando Pessoa. d) Almada Negreiros - Fernando Pessoa. e) Miguel Torga - José Régio. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: ESQUECIMENTO Esse de quem eu era e era meu, Que foi um sonho e foi realidade, Que me vestiu a alma de saudade, Para sempre de mim desapareceu. Tudo em redor então escureceu, E foi longínqua toda a claridade! Ceguei... tateio sombras... que ansiedade! Apalpo cinzas porque tudo ardeu! Descem em mim poentes de Novembro... A sombra dos meus olhos, a escurecer... Veste de roxo e negro os crisântemos... E desse que era meu já me não lembro... Ah! a doce agonia de esquecer A lembrar doidamente o que esquecemos...! Florbela Espanca
113VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. (Unifesp) Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de: a) Hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor. b) Metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa amada. c) Eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele decorrentes. d) Metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer. e) Paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a cabo. 3. (Unifesp) O esquecimento descrito pelo eu lírico: a) Decorre do seu sentimento de perda e de saudade. b) É fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a realidade. c) Torna-o ciente de que sua agonia está por findar. d) Traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade. e) Mostra o amor como intenso e indesejável. 4. (Fuvest) “Louco, sim porque quis grandeza Qual a sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que há.” “Sperai! Caí no areal e na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa Em sonhos que são Deus”. “Mestre de Paz, ergue teu gládio ungido; Excalibur do Fim em jeito tal Que sua luz ao mundo dividido Revele o Santo Gral!“ Estas três citações de Fernando Pessoa pertencem à mesma obra e referem-se à mesma personagem histórica de Portugal cujo mito, como se vê, o poeta associa à figura lendária do rei Artur. Assinalar a alternativa em que, ao título da obra, segue-se o da personagem histórica que virou mito e alimentou o sonho do quinto império: a) “Cancioneiro” - D. Dinis. b) “Mensagem” - D. Sebastião. c) “O guardador de rebanhos” - Pe. Vieira. d) “Cancioneiro” - D. João I, o mestre de Avis. e) “Mensagem” - D. Dinis. 5. (Unesp) Leia o fragmento textual de Fernando Pessoa e assinale a alternativa CORRETA. “A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa interpretação objetivada duma impressão subjetiva. Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação subjetiva de uma impressão objetiva, e da filosofia, que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada de uma impressão objetiva. A ciência procura as leis particulares das cousas – isto é, aquelas leis que regem os assuntos ou objetos que pertencem àquele tipo de cousas que se estão observando. A ciência é uma subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de determinado número de fenômenos. A ciência é uma cousa real e, dentro dos seus limites, certa, por que é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é, assim, um equilíbrio.” (PESSOA, F. Trecho de “A Obra de Arte: Critérios a que Obedece”. em: OBRAS EM PROSA. vol. único, Rio de Janeiro, Aguilar, 1974, p. 127) a) A subjetividade impressiva do artista é resultante de uma interpretação objetiva que conduz à obra de arte. b) Muitas vezes, a ciência busca leis particulares das coisas e por isso as torna subjetivas, valendo como verdadeiras. c) Ao caráter ilusório da Arte contrapõe-se a realidade da Ciência, e nisso, segundo o texto reside o equilíbrio das coisas. d) A arte obedece a três critérios fundamentais: impressão, interpretação e busca de objetividade; enquanto a ciência obedece aos seguintes: seleção, observação e análise dos fenômenos. e) Os limites do método científico não interferem no caráter real da ciência que é sempre certa, equilibrada e reveladora da subjetividade das coisas e dos seres. 6. (Unicamp) Leia o poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa. MAR PORTUGUÊZ Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. (Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/fpesso03.html.) No poema, a apóstrofe, uma figura de linguagem, indica que o enunciador: a) convoca o mar a refletir sobre a história das navegações portuguesas. b) apresenta o mar como responsável pelo sofrimento do povo português. c) revela ao mar sua crítica às ações portuguesas no período das navegações. d) projeta no mar sua tristeza com as consequências das conquistas de Portugal. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO I Ao longo do sereno Tejo, suave e brando, Num vale de altas árvores sombrio, Estava o triste Almeno Suspiros espalhando Ao vento, e doces lágrimas ao rio. (Luís de Camões, Ao longo do sereno.)
114VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO II Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, so aqueste ramo destas auelanas e quen for louçana, como nós, louçanas, se amigo amar, so aqueste ramo destas auelanas uerrá baylar. (Aires Nunes. In: Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.) TEXTO III Tão cedo passa tudo quanto passa! morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada. (Fernando Pessoa, Obra poética.) TEXTO IV Os privilégios que os Reis Não podem dar, pode Amor, Que faz qualquer amador Livre das humanas leis. mortes e guerras cruéis, Ferro, frio, fogo e neve, Tudo sofre quem o serve. (Luís de Camões, Obra completa.) TEXTO V As minhas grandes saudades São do que nunca enlacei. Ai, como eu tenho saudades Dos sonhos que não sonhei!...) (Mário de Sá Carneiro, Poesias.) 7. (Unifesp) A alternativa que indica textos de épocas literárias diferentes, mas de métrica uniforme e idêntica, é: a) I e II. d) III e IV. b) II e III. e) IV e V. c) II e V. E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES Considere o seguinte texto, para atender ao que se pede: “O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser – pois tal é a natureza humana – vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação.” Da literatura europeia, Fernando Pessoa. 1. (Fuvest) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior”. 2. (Fuvest) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO 1 Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. (Fernando Pessoa. Mar Português.Obra poética, 1960. Adaptado.) 3. (Unesp) Aponte o verso em que, claramente, o eu- -poemático se manifesta como coletivo, e indique a forma pronominal que identifica o destinatário dessa voz coletiva; 4. (Unesp) A quem especificamente se dirige essa voz coletiva, e por meio de que recurso sintático o faz? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO CRÔNICA DA VIDA QUE PASSA Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem
115VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias vida íntima: tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz. E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos. (FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.) 5. (Unesp) Considerando que os dicionários apontam diversas acepções para “obscuridade”, nem todas limitadas ao plano sensorial, verifique atentamente os empregos dessa palavra que Fernando Pessoa faz no terceiro parágrafo de sua crônica e, em seguida, identifique a acepção mobilizada pelo autor. 6. (Fuvest) “Epitáfio de Bartolomeu Dias Jaz aqui, na pequena praia extrema, O Capitão do Fim, Dobrado o Assombro, O mar é o mesmo: já ninguém o tema! Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.” “Mensagem”, de Fernando Pessoa, é uma obra dividida em três partes: Brasão, Mar Português e O Encoberto. a) A que parte da obra pertence o poema transcrito? b) Que dados do poema permitem enquadrá-lo nessa parte? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO CRÔNICA DA VIDA QUE PASSA Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz. E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos. (FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de auto-interpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.) 7. (Unesp) Explique, com base no texto como um todo, a imagem empregada por Pessoa no segundo parágrafo: “tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica”. 8. (Unicamp) O poema abaixo pertence ao “Cancioneiro” de Fernando Pessoa. Ah, quanta vez, na hora suave Em que me esqueço, Vejo passar um voo de ave E me entristeço! Por que é ligeiro, leve, certo No ar de amavio? Por que vai sob o céu aberto Sem um desvio? Por que ter asas simboliza A liberdade Que a vida nega e a alma precisa? Sei que me invade Um horror de me ter que cobre Como uma cheia Meu coração, e entorna sobre Minh’alma alheia Um desejo, não de ser ave, Mas de poder Ter não sei quê do voo suave Dentro em meu ser. * Amavio: feitiço, encanto (Fernando Pessoa, “Obra Poética”. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p.138.)
116VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) Identifique o recurso linguístico que representa a ave tanto no plano sonoro quanto no imagético. b) Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e a liberdade? c) Interprete o fato de que as três interrogações (do verso 5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma única e longa frase. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ALEX: Creio que o que a Leila falou e o que nós estávamos discutindo antes sugerem duas conclusões relevantes. A primeira é a de que o bem-estar não é necessariamente função da satisfação de um número maior de desejos ou preferências (para usar o termo caro aos economistas). E a segunda é a de que as pessoas não sabem ao certo o que desejam e, o mais grave, elas podem estar sistematicamente equivocadas acerca do que poderia torná-las mais felizes. Se isso é verdade, então o indivíduo não seria invariavelmente o melhor árbitro daquilo que é melhor para si, e isso mesmo do ponto de vista estreito do seu bem estar subjetivo. Adam Smith, pelo que o Melo mostrou, não discordaria. Considere por exemplo, para efeito de raciocínio, duas situações hipotéticas: A e B. Na situação A: Bentinho deseja que Capitu seja fiel, ela é fiel, mas ele acredita que ela não seja. E na situação B: Bentinho deseja que Capitu seja fiel, ela não é, mas ele acredita que ela seja. Em A, o desejo de Bentinho está sendo objetivamente satisfeito, mas ele não é feliz - é o inferno dos tolos. Ao passo que em B o seu desejo não está sendo satisfeito, mas ele é feliz - é o paraíso dos tolos. A percepção nem sempre é o fato; mas isso em nada desabona o fato da percepção. No ardiloso tabuleiro da busca da felicidade, o fato da percepção com frequência vira o jogo. O que é preferível, A ou B? MELO: Desculpe, Alex, mas não resisto. Vocês conhecem a definição de felicidade dada por Jonathan Swift? Ela é “a posse perpétua da condição de estar bem enganado; o estado pacífico e sereno de ser um tolo entre canalhas”. Pobre Bentinho... (Eduardo Giannetti, Felicidade) 9. (Unesp) Leia o seguinte poema de Fernando Pessoa: Quase anônima sorris E o sol doura o teu cabelo. Por que é que, pra ser feliz, É preciso não sabê-lo? a) O que é que não se precisa saber para ser feliz, segundo o poema? b) O que, no nível temático, há de comum entre esse poema e o texto inicial de Giannetti sobre a felicidade? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO MAR PORTUGUEZ Fernando Pessoa Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão resaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, Mas nelle é que espelhou o céu. (“Mensagem”, 1934 In: PESSOA, Fernando. OBRA POÉTICA, Rio de Janeiro: Aguilar, 1972, p. 82.) 10. (Unesp) A vocação náutica dos portugueses e os grandes descobrimentos do passado tornaram o tema do mar bastante frequente na Literatura Portuguesa de todos os tempos. Fernando Pessoa, em MAR PORTUGUEZ, focaliza o custo que a aventura marítima representou em termos de vidas humanas e sofrimentos ao povo de seu país. Releia com atenção o poema pautado e, a seguir, a) identifique o recurso estilístico por meio do qual, ao operar escolhas nos planos gráfico e morfológico do discurso, o escritor sugere que a aventura náutica portuguesa refere-se ao passado longínquo; b) justifique sua resposta, apresentando dois exemplos dessa mudança empreendida na forma escrita. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. D 3. D 4. C 5. A 6. D 7. C 8. A E.O. Fixação 1. E 2. A 3. A 4. C 5. D 6. B E.O. Complementar 1. E 2. A 3. B 4. C 5. D E.O. Dissertativo 1. Os pronomes “ele” e “eles” referem-se, respectivamente, a poeta e aos leitores do poema, “os que leem”. 2. A dor para o poeta é, paradoxalmente, fingida e sentida (“que chega a fingir que é dor” / “A dor que deveras sente”). Já os leitores concebem outras dores ao ler o texto; eles têm experiência inusitada, ampliam os horizontes ao fruir o texto. E.O. UERJ Exame Discursivo 1. Na linguagem usual, a expressão “perder tempo” tem sentido negativo, sugerindo ações inúteis, ou seja, desenvolver atividades sem proveito algum. No poema, a mesma expressão é vista de maneira positiva, no sentido de vivenciar melhor o tempo que se tem ou aceitar a passagem natural do tempo.
117VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. C 2. E 3. A 4. B 5. D 6. A 7. E E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. Na frase, o autor considera que, em primeiro lugar, o ser humano busca reconhecimento de seus feitos pelo outro, evidenciando sua vaidade. Posteriormente, ele se volta para si e reconhece seus atos, gerando, ou não, oorgulho, preocupando-se então consigo. 2. O homem prefere ser elogiado, valorizado, enaltecido etc. por aquilo que não é a ser menosprezado, desvalorizado, desestimado etc. por aquilo que é. 3. O verso “Por te cruzarmos, quantas mães choraram” apresenta a voz de todos os portugueses ao usar o verbo “cruzar” na primeira pessoa do plural. Dirigindo-se ao mar português, o eu do poema interpela o mar sobre a conquista portuguesa ao utilizar a forma pronominal “te”, que instaura uma interpelação direta, na qual predomina o questionamento direto do eu lírico ao mar. 4. A voz do poema dirige-se ao mar, utilizando para isso os vocativos: “ó mar salgado” e “ó mar”. 5. O substantivo “obscuridade” foi empregado por Fernando Pessoa com o sentido de ausência de celebridade, condição de uma pessoa que é desconhecida, ignorada. Dois trechos da crônica confirmam essa acepção: em “Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio”, e “obscuridade” retoma o sentido de “desconhecido”; em “Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade”, o verbo “reverter” estabelece o pressuposto de que “obscuridade” tem sentido oposto ao de ser “conhecido”. 6. a) A passagem se refere à parte “Mar Português”. b) Nessa parte, Fernando Pessoa trata das grandes navegações. 7. A imagem empregada por Pessoa – das “paredes de vidro” – constitui uma metáfora, pois, da mesma forma como os “homens célebres” estão expostos a todos os olhares, a transparência do “vidro” impede o isolamento daqueles que estão dentro de um ambiente cujas “paredes” são feitas desse material. Portanto, as pessoas famosas não têm “vida íntima”, pois “sua vida doméstica” passa a ser de interesse de todos. 8. a) Há uma forte aliteração da consoante “V” (“vejo passar um voo de ave”). Ocorre uma rima com a palavra “suave”. b) A tristeza surge da consciência de que a liberdade é algo inalcançável pelo eu-lírico. c) As interrogações nos versos 5 a 11 são relacionadas às questões que o eu lírico propõe a si mesmo quando, diante do voo da ave, cultiva ideias de liberdade e, ao mesmo tempo, a tristeza pela certeza de sua condição de não poder voar. 9. a) É necessário não saber que se é feliz, ou seja, a felicidade depende da inconsciência de quem é feliz relativamente a seu estado de felicidade. b) Nos dois textos – Giannetti e Fernando Pessoa – o tema é a relação entre a felicidade e a consciência, seja a consciência (verdadeira ou falsa) dos fatos de que depende a felicidade (Giannetti), seja a consciência (ou inconsciência) da própria felicidade (Fernando Pessoa). 10. a) No plano gráfico: portuguez, lagrimas, resaram, abysmo, nelle. Morfologicamente percebemos o emprego de verbos no pretérito perfeito. b) “choraram”, “resaram”, “valeu”: verbos no pretérito perfeito. “abysmo”, “nelle”: formas gráficas em desacordo com o sistema atual.
118VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. Leia o poema a seguir, de Alberto Caeiro, e indique a alternativa que estabelece conexão entre o poeta e o texto: “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar...” a) Médico e estudioso da cultura clássica,desenvolve em seus poemas temas mitológicos, em composições denominadas odes. b) Poeta bucólico, vive em contato direto com a natureza; daí sua lógica ser a mesma da ordem natural. c) Como engenheiro do século XX e poeta futurista, os temas de sua obra estão voltados para as fábricas, a energia elétrica, as máquinas e a velocidade. d) Apresenta um conceito direto das coisas, um objetivismo absoluto, apesar de a sensação não se manifestar em seus poemas. e) Cultor do paganismo, foi mestre apenas de Fernando Pessoa e manteve-se distanciado dos demais heterônimos. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. A CRIANÇA QUE PENSA EM FADAS “A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em algum ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.” 2. Nos versos, fica evidente o perfil do heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, pois ele: a) entende que o homem está atrelado a uma visão subjetiva da existência. b) volta-se para o mundo sensível que o rodeia como forma de conceber a existência. c) concebe a existência como apreensão dos elementos místicos e indefinidos. d) não acredita que a existência possa ser definida em termos de objetividade. e) busca na metafísica a base de uma concepção da existência subjetiva. 3. O teólogo Leonardo Boff, em entrevista à revista “Filosofia”, diz: “Eu me lembro agora, sábado, de um menino de oito anos, que veio e me disse: ‘Vô, por que as coisas existem?’ A filosofia começa com isso. Respondi que elas existem porque existem. E aí até citei um poeta, Angelus Silesius: ‘A flor floresce por florescer / Não pergunta se a olham / E sorri pro universo. A rosa é sem porquê.’ E ele disse: ‘E eu? O que eu faço aqui nesse mundo?’ Oito anos de idade e já colocou as questões da metafísica fundamentais.” (Filosofia - ciência & vida, Ano 1, n0 . 05.) No poema de Caeiro, o ponto de vista de Silesius, com o qual concorda Boff, é: a) confirmado, pois o eu lírico entende que a existência está ligada a um deus. b) negado, pois o eu lírico entende que se deve evitar o questionamento da metafísica. c) negado, pois o eu lírico entende que a existência é uma grande falta de razão. d) confirmado, pois o eu lírico entende que o existir por si só já basta. e) negado, pois o eu lírico entende que não se apreende a realidade senão por intermédio de um deus. 4. “Noite de S. João para além do muro do meu quintal. Do lado de cá, eu sem noite de S. João. Porque há S. João onde o festejam. Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite, Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos. E um grito casual de quem não sabe que eu existo.” (“Poesia”, Alberto Caeiro.) Considerando-se este poema no contexto das tendências dominantes da poesia de Caeiro, pode-se afirmar que, neste texto, o afastamento da festa de São João é vivido pelo eu lírico como: a) oportunidade de manifestar seu desapreço pelas festividades que mesclam indevidamente o sagrado e o profano. b) ânsia de integração em uma sociedade que o rejeita por causa de sua excentricidade e estranheza. c) uma ocasião de criticar a persistência de costumes tradicionais, remanescentes no Portugal do Modernismo. MODERNISMO PORTUGUÊS II COMPETÊNCIA(s) 5 e 6 HABILIDADE(s) 15 e 16 LC AULAS 33 E 34
119VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias d) frustração, uma vez que não experimenta as emoções profundas nem as reflexões filosóficas que tanto aprecia. e) reconhecimento de que só tem realidade efetiva o que corresponde à experiência dos próprios sentidos. 5. Uma das características da obra de Álvaro de Campos é: a) a crença de que o homem complicou demais a sua relação com o mundo por causa da metafísica, das teorias filosófico-científicas e das religiões. b) uma poesia de inspiração neoclássica, acreditando que a vida se resume a breves momentos. c) a temática futurista, ressaltando as fábricas, os estaleiros, as máquinas e a velocidade. d) a poesia saudosista-nacionalista, retomando a formação de Portugal e sua identificação com o mar. e) a ideia de que o mundo se baseia no real-sensível, isto é, em tudo aquilo que existe e se percebe através dos sentidos. 6. “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio quecorre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pelaminha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que veem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.” O poema anterior, do heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, integra o livro O Guardador de Rebanhos. Indique a alternativa que NEGA a adequada leitura do poema em questão: a) O elemento fundamental do poema é a busca da objetividade, sintetizada no verso: “Quem está ao pé dele está só ao pé dele”. b) O poema propõe um contraste a partir do mesmo motivo e opõe um sentido geral a um sentido particular. c) O texto sugere um conceito de beleza que implica proximidade e posse e, por isso, valoriza o que é humilde, ignorado e despretensioso. d) O rio que provoca a real sensação de se estar à beira de um rio é o Tejo, que guarda a “memória das naus”, marca do passado grandioso do país. e) O poema se fundamenta numa argumentação dialética em que o conjunto das justificativas deixa clara a posição do poeta. 7. Considerando os poemas de O Guardador de Rebanhos, que integram a obra poética de Alberto Caeiro, é correto afirmar que nela: a) o entendimento do mundo e a interpretação da realidade resultam do extremo racionalismo do eu lírico. b) a sensação do mundo e a radical opção pela natureza se fazem presentes aí mais claramente, ao mesmo tempo que se dá a negação radical das metafísicas e das transcendências. c) o conhecimento direto das coisas e do mundo advém fundamentalmente da razão e mostra-se desvinculado da sensação. d) o conceito de paganismo, presente na obra, define-se por uma postura anticristã e pela negação do conhecimento do mundo sensível. e) o contato com a natureza e o conceito direto das coisas impedem, na obra, a existência de uma lógica igual à da ordem natural. 8. A afirmação de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, “Sou o Descobridor da Natureza / Sou o Argonauta das sensações verdadeiras”, disseminou-se, ao longo de seus poemas, em expansões exemplificadoras da relação do poeta com a natureza e as coisas. Indique a alternativa que não reflete tal relação: a) “Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol. E a pensar muitas coisas cheias de calor.” b) “(Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as coisas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina)”. c) “Não desejei senão estar ao sol ou à chuva – Ao sol quando havia sol E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra coisa)...” d) “Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.” e) “Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço, Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos, Porque o digo como as minhas palavras o dizem.”
120VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 9. “Aquela senhora tem um piano Que é agradável mas não é o correr dos rios Nem o murmúrio que as árvores fazem... Para que é preciso ter um piano? O melhor é ter ouvidos E amar a Natureza.” Sobre o poema acima apresentado, de Alberto Caeiro, é INCORRETO dizer que a) compara contrastivamente um símbolo de cultura e a própria natureza. b) revela a opção do poeta pelo mundo natural, pois os sons da natureza são superiormente mais agradáveis. c) deixa clara a concepção de que a natureza é o maior dado do objetivismo absoluto. d) reforça a ideia de que a natureza e as produções humanas estão sempre impregnadas de história e sugestões metafísicas. e) nega que o som do piano seja desagradável mas considera-o inferior aos sons dos rios e das árvores. 10. Um dos temas de Alberto Caeiro é refletir sobre o ato de escrever. O poeta, ao referir-se à produção de seus versos, sugere que há uma premência em mostrá- -los como algo que não pode ser ocultado, semelhantemente ao que ocorre com elementos da natureza. Confirma inteiramente essa relação de semelhança o trecho: a) “Isto sinto e isto escrevo Perfeitamente sabedor e sem que não veja Que são cinco horas do amanhecer E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça Por cima do muro do horizonte, Ainda assim já se lhe veem as pontas dos dedos Agarrando o cimo do muro Do horizonte cheio de montes baixos.” b) “E não estou alegre nem triste. Esse é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos Porque não posso fazer o contrário Como a flor não pode esconder a cor, Nem o rio esconder que corre, Nem a árvore esconder que dá fruto.” c) “Procuro dizer o que sinto Sem pensar em que o sinto. Procuro encostar as palavras à ideia E não precisar dum corredor Do pensamento para as palavras.” d) “E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem, Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.” e) “Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos. Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas. Mas é que as pedras não são poetas, são pedras; E as plantas são plantas só, e não pensadores” E.O. Fixação 1. “Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz.” No poema, de Alberto Caeiro, a) a visão de mundo não se confunde com a sensação de mundo. b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente racional. c) o conhecimento da natureza e do mundo é obtido por meio dos sentidos. d) o entendimento da realidade resulta do exagerado racionalismo do eu lírico. e) os termos “rebanho” e “pensamentos” se distanciam por força da metáfora. 2. (FGV) Este poema integra a obra poética de Fernando Pessoa. Seu autor é um homem simples, que viveu em contato direto com a Natureza; é o poeta do real sensível. Para ele, as coisas são como são, pois pensa com os sentidos. Pode-se dizer que, assim, manifesta uma forma de pensar apenas diferente e não ausência de reflexão. É autor dos versos: “(.........................................) Que pensará isto de aquilo? Nada pensa nada. Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem? Se ela a tiver, que a tenha... Que me importa isso a mim? Se eu pensasse nessas coisas, Deixaria de ver as árvores e as plantas E deixaria de ver a Terra, Para ver só os meus pensamentos... Entristecia e ficava às escuras. E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.” Trata-se de: a) Alberto Caeiro. b) Ricardo Reis. c) Bernardo Soares. d) Fernando Pessoa, ele mesmo. e) Álvaro de Campos. 3. (Ufrgs) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto a seguir, na ordem em que aparecem:
121VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Ao concretizar o projeto de um poeta múltiplo, Fernando Pessoa cria ............ com diferentes.........., entre os quais Ricardo Reis e Álvaro de Campos, com obras de tendência, respectivamente,.......... e ......... . a) pseudônimos - imagens - clássica - simbolista. b) heterônimos - linguagens - neoclássica - modernista. c) pseudônimos - estilos - simbolista - modernista. d) heterônimos - temáticas - romântica - futurista. e) heterônimos - visões de mundo - surrealista - vanguardista. 4. “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer Porque sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura...” (Alberto Caeiro) A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente, a) pelo alcance de cada cultura. b) pela capacidade visual do observador. c) pelo senso de humor de cada um. d) pela idade do observador. e) pela altura do ponto de observação. 5. (UFU) Compare as seguintes estrofes: “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.” (Enlacemos as mãos.) “(...) Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes.” (Ricardo Reis/Fernando Pessoa) “Enquanto pasta alegre o manso gado, Minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia natureza.” (Tomás Antônio Gonzaga) Marque a afirmativa INCORRETA. a) Ricardo Reis e Tomás Antônio Gonzaga são considerados neoclássicos porque resgatam elementos da tradição literária greco-romana. Uma das características do neoclassicismo é tomar a natureza como modelo, procedimento observado nos versos destes poetas. b) Os poetas sentam-se e meditam à beira do rio e à sombra do cedro. Ricardo Reis e Tomás A. Gonzaga valem-se desses elementos, rio e cedro, como imagens comparativas do fluir incessante da vida. c) Ricardo Reis trabalha com a consciência da efemeridade da vida: tudo é breve. Dessa consciência, surge a necessidade de se aproveitar o tempo presente (carpe diem), convite que o poeta faz à amada. d) Aproveitar o tempo, para Ricardo Reis, é simplesmente viver, deixar a vida decorrer, sem nada desejar, como se percebe no verso “Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.” 6. (Ufrgs) Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao processo heteronímico de Fernando Pessoa. a) Alberto Caeiro, poeta de pouca cultura literária e científica, dá muito valor às coisas concretas e recusa a metafísica. b) Ricardo Reis é o poeta da temática e linguagem clássicas, sendo sua obra repleta de temas como o paganismo, o destino e a morte. c) Álvaro de Campos é o poeta da temática futurista, vive a euforia, mas também a melancolia da modernidade. d) Fernando Pessoa traz em sua poesia a temática da dor, do ceticismo, do idealismo, da melancolia e do tédio. e) Bernardo Soares, o semi-heterônimo, é, a exemplo de Ricardo Reis, um poeta neoclássico preocupado com a brevidade da vida. 7. (Ufrgs) “Passa uma borboleta por diante de mim E pela primeira vez no Universo eu reparo Que as borboletas não têm cor nem movimento, Assim como as flores não têm perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, No movimento da borboleta o movimento é que se move. O perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta E a flor é apenas flor.” A leitura do texto nos permite concluir que Fernando Pessoa fala pela voz de: a) Ricardo Reis, por remeter a temas e formas da poética clássica. b) Alberto Caeiro, pelo tratamento simples da natureza com a qual se sente intimamente ligado. c) Álvaro de Campos, que representa o mundo moderno e a vanguarda futurista. d) Pessoa, ele mesmo, por expressar traços marcantes da poesia do século XX. e) Bernardo Soares, por adotar uma atitude intimista. 8. (Ufrgs) Quanto à criação dos heterônimos de Fernando Pessoa, considere as seguintes afirmações.
122VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias I. Alberto Caeiro, autor de O Guardador de Rebanhos, é o poeta integrado à natureza. II. Os heterônimos, marca da obra pessoana, caracterizam-se por adotarem estilos diferentes. III. Ricardo Reis, autor de odes de modelo clássico, distingue-se pela temática urbana de seus poemas. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas I e III. e) I, II e III. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que veem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.” (Fernando Pessoa) 9. (FAAP) O tema deste poema pode ser o prêmio da tranquilidade que este verso resume bem: a) O Tejo tem grandes navios. b) Pelo Tejo vai-se para o mundo. c) O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. d) O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. e) O Tejo desce de Espanha. 10. (FAAP) Fernando Pessoa, o maior poeta de seu tempo e um dos grandes nomes da Literatura Portuguesa, está ligado ao: a) romantismo. b) realismo. c) parnasianismo. d) simbolismo. e) modernismo. E.O. Complementar 1. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações sobre os poemas de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. I. No poema em que “vê” Jesus (Num meio-dia de fim de primavera/ tive um sonho como uma fotografia./ Vi Jesus Cristo descer à terra.), o eu lírico saúda Jesus na condição de menino travesso, mas obediente, que cuida das cabras do rebanho e convive carinhosamente com a Virgem Maria. II. No poema cujos primeiros versos são O meu olhar azul como o céu/ É calmo como a água ao sol./ É assim, azul e calmo,/ Porque não interroga nem se espanta..., a expressão direta, muito ritmada mas sem rimas nem métrica fixa, está a serviço da enunciação da natureza imanente e das sensações também diretas que ela desperta no poeta. III. No poema cujos primeiros versos são O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/ Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, o poeta estabelece o contraste entre a fama e a história do rio Tejo e a irrelevância do rio provinciano, que é amado; no entanto, por ter às suas margens a aldeia medieval habitada há gerações pela família de Caeiro. Quais estão corretas? a) Apenas II. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 2. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações sobre a poesia de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. I. Em Todas as Cartas de Amor São, o eu lírico recusa-se a escrever porque prefere sonhar a viver. II. No Poema em Linha Reta, a trajetória do indivíduo é descrita como sendo vinculada a fracassos e vilezas, o que provoca seu cansaço e sua revolta. III. Em Aniversário, o eu lírico, acreditando ter recuperado a perfeição do passado, renega os familiares mortos. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 3. (PUC-SP) Leia o poema a seguir, de Alberto Caeiro, e indique a alternativa que estabelece conexão entre o poeta e o texto. “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar...”
123VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) Médico e estudioso da cultura clássica, desenvolve em seus poemas temas mitológicos, em composições denominadas odes. b) Poeta bucólico, vive em contato direto com a natureza; daí sua lógica ser a mesma da ordem natural. c) Como engenheiro do século XX e poeta futurista, os temas de sua obra estão voltados para as fábricas, a energia elétrica, as máquinas e a velocidade. d) Apresenta um conceito direto das coisas, um objetivismo absoluto, apesar de a sensação não se manifestar em seus poemas. e) Cultor do paganismo, foi mestre apenas de Fernando Pessoa e manteve-se distanciado dos demais heterônimos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO INSTRUÇÃO: O poema de Alberto Caeiro é base para responder às questões a seguir. “A CRIANÇA QUE PENSA EM FADAS” “A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em algum ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.” 4. (PUC-SP) A afirmação de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, “Sou o Descobridor da Natureza / Sou o Argonauta das sensações verdadeiras”, disseminou-se, ao longo de seus poemas, em expansões exemplificadoras da relação do poeta com a natureza e as coisas. Indique a alternativa que não reflete tal relação. a) “Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol. E a pensar muitas coisas cheias de calor.” b) “(Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as coisas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina)”. c) “Não desejei senão estar ao sol ou à chuva - Ao sol quando havia sol E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra coisa)...” d) “Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.” e) “Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço, Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos, Porque o digo como as minhas palavras o dizem.” E.O. Dissertativo 1. (UFSCar) “O luar através dos altos ramos, Dizem os poetas todos que ele é mais Que o luar através dos altos ramos. Mas para mim, que não sei o que penso, O que o luar através dos altos ramos É, além de ser O luar através dos altos ramos, É não ser mais Que o luar através dos altos ramos.” (Fernando Pessoa, “Obra Poética”.) “As bolas de sabão que esta criança Se entretém a largar de uma palhinha São translucidamente uma filosofia toda. Claras, inúteis e passageiras como a Natureza, Amigas dos olhos como as cousas, São aquilo que são Com uma precisão redondinha e aérea, E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa, Pretende que elas são mais do que parecem ser. (...)” (“Obra Poética”, Fernando Pessoa.) Ambos os poemas são atribuídos a Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. a) O que caracteriza esse heterônimo? b) O que há de comum nesses dois poemas em termos de estilo? Justifique a sua resposta. 2. “As sensações que a meu pesar concebo.” O que significa a expressão A MEU PESAR? E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: INSTRUÇÃO: O poema de Alberto Caeiro é base para responder às questões a seguir. A CRIANÇA QUE PENSA EM FADAS A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em algum ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. 1. (Fuvest) Entre os seguintes versos de Alberto Caeiro, aqueles que, tomados em si mesmos, expressam ponto de vista frontalmente contrário a orientação dominante que se manifesta em A ROSA DO POVO, de Carlos Drummond de Andrade, são os que estão em:
124VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) “Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: / O valor está ali, nos meus versos.” b) “Eu nunca daria um passo para alterar / Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.” c) “Como o campo é grande e o amor pequeno! / Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as árvores se despem.” d) “Quando a erva crescer em cima da minha sepultura, / seja esse o sinal para me esquecerem de todo.” e) “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada / E que os pés dos pobres me estivessem pisando...” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. “Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do céu, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão profundamente Jacinto, que eu o senti, no silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio. Depois, muito gravemente: - Tu dizes que na Natureza não há pensamento... - Outra vez! Olha que maçada! Eu... - Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, desgraçados, não podemos suprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que ele se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realizam, aspirando a certezas que nunca se atingem!... E é o que aconselham estas colinas e estas árvores à nossa alma, que vela e se agita – que viva na paz de um sonho vago e nada apeteça, nada tema, contra nada se insurja, e deixe o mundo rolar, não esperando dele senão um rumor de harmonia, que a embale e lhe favoreça o dormir dentro da mão de Deus. Hem, não te parece, Zé Fernandes? - Talvez. Mas é necessário então viver num mosteiro, com o temperamento de S. Bruno, ou ter cento e quarenta contos de renda e o desplante de certos Jacintos...” Eça de Queirós, A cidade e as serras. 2. (Fuvest) Entre os seguintes fragmentos do excerto, aquele que, tomado isoladamente, mais se coaduna com as ideias expressas na poesia de Alberto Caeiro é o que está em a) “toda essa adorável paz do céu, realmente celestial”. b) “cada folhinha conservava uma quietação contemplativa”. c) “na Natureza não há pensamento”. d) “dormir dentro da mão de Deus”. e) “é necessário então viver num mosteiro”. E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. (Unicamp) No poema a seguir, Alberto Caeiro compara o trabalho do poeta com o do carpinteiro: XXXVI “E há poetas que são artistas E trabalham nos seus versos Como um carpinteiro nas tábuas! Que triste não saber florir! Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro E ver se está bem, e tirar se não está! ... Quando a única casa artística é a Terra toda Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma. Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira, E olho para as flores e sorrio... Não sei se elas me compreendem Nem se eu as compreendo a elas, Mas sei que a verdade está nelas e em mim E na nossa comum divindade De nos deixarmos ir e viver pela Terra E levar ao colo pelas Estações contentes E deixar que o vento cante para adormecermos E não termos sonhos no nosso sono.” (Poemas completos de Alberto Caeiro, em Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 156.) a) Por que tal comparação é feita? Por que ela é rejeitada pelo eu lírico na segunda estrofe do poema? b) Identifique duas características próprias da visão de mundo de Alberto Caeiro presentes na terceira estrofe. Justifique sua resposta. 2. (Fuvest) Sou o Descobridor da Natureza. Sou o Argonauta* das sensações verdadeiras. Trago ao Universo um novo Universo Porque trago ao Universo ele-próprio. “Poesia”, Alberto Caeiro. *Argonauta: tripulante lendário da nau mitológica Argo; por extensão, navegador ousado. Nos versos acima, Alberto Caeiro define-se a si mesmo de um modo que tanto indica sua semelhança como sua diferença em relação a um tipo de personagem de grande importância na História de Portugal. a) Em sua definição de si mesmo, a que tipo de personagem da História portuguesa assemelha-se o poeta? Explique brevemente. b) Considerados no contexto geral da poesia de Alberto Caeiro, que diferença esses versos assinalam entre o poeta e o referido tipo de personagem histórica de Portugal? Explique sucintamente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O poema a seguir pertence a O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
125VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.” (Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983, p. 142.) 3. (Unicamp) a) Explique a oposição estabelecida entre a aldeia e a cidade. b) De que maneira o uso do verso livre reforça essa oposição? 4. (Unicamp) Os versos a seguir pertencem a O guardador de rebanhos: “O que nós vemos das coisas são as coisas. Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra? Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos Se ver e ouvir são ver e ouvir? O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê, E nem pensar quando se vê Nem ver quando se pensa. Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender E uma sequestração na liberdade daquele convento De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras [eternas E as flores as penitentes convictas de um só dia, Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas Nem as flores senão flores, Sendo por isso que Ihes chamamos estrelas e flores.” (Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos, em Fernando Pessoa, Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p.151-152.) a) Um dos principais recursos retóricos empregados na poesia de Alberto Caeiro é a tautologia. Identifique um exemplo desse recurso e explique como se relaciona com a visão de mundo de Alberto Caeiro. b) Qual o sentido da metáfora empregada entre parênteses? c) Explique o sentido do paradoxo presente no 30 . verso da 3ª estrofe. 5. (Fuvest) Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro: “Ponham na minha sepultura Aqui jaz, sem cruz, Alberto Caeiro Que foi buscar os deuses... Se os deuses vivem ou não isso é convosco. A mim deixei que me recebessem.” a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa que o poeta rejeita e aquela com que tem maior afinidade. Explique sucintamente. b) Relacione a referência a “deuses” (plural), no poema, com o seguinte verso, extraído de outro poema de Alberto Caeiro: “A natureza é partes sem um todo”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Soneto de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos “Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo. O ar que respiro, este licor que bebo, Pertencem ao meu modo de existir, E eu nunca sei como hei de concluir As sensações que a meu pesar concebo. Nem nunca, propriamente reparei, Se na verdade sinto o que sinto. Eu Serei tal qual pareço em mim? Serei Tal qual me julgo verdadeiramente? Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu, Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.” (Fernando Pessoa, Obra poética, Rio de Janeiro, Cia. J. Aguilar Ed., 1974, p. 301) 6. (Fuvest) Nos tercetos, o poeta volta às sensações recebidas. a) Ele tem consciência daquilo que sente? Explique. b) O que significa, no contexto, “sou um pouco ateu”? 7. (Unicamp) “Cruz na porta da tabacaria! Quem morreu? O próprio Alves? Dou Ao diabo o bem estar que trazia. Desde ontem a cidade mudou. Quem era? Ora, era quem eu via. Todos os dias o via. Estou Agora sem essa monotonia. Desde ontem a cidade mudou. Ele era o dono da tabacaria. Um ponto de referência de quem sou. Eu passava ali de noite e de dia. Desde ontem a cidade mudou. Meu coração tem pouca alegria, E isto diz que é morte aquilo onde estou. Horror fechado da tabacaria! Desde ontem a cidade mudou. Mas ao menos a ele alguém o via. Ele era fixo, eu, o que vou. Se morrer, não falto, e ninguém diria: Desde ontem a cidade mudou.” (”Poesias”, Álvaro de Campos.)
126VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) Identifique duas marcas formais que, no poema acima, contribuem para criar a ideia de monotonia. b) Do ponto de vista do “eu lírico”, que fato quebra essa monotonia? c) Qual a consequência, para o “eu lírico”, da quebra dessa monotonia? Justifique sua resposta. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. D 2. B 3. D 4.0 E 5. C 6. D 7. B 8. E 9. D 10. B E.O. Fixação 1. C 2. A 3. B 4. A 5. B 6. E 7. B 8. C 9. C 10. E E.O. Complementar 1. A 2. B 3. D 4. E E.O. Dissertativo 1. a) Alberto Caeiro representa o “camponês sábio”, o “Guardador de Rebanhos”; o poeta que se insurge contra a poesia, contra tudo o que certa tradição consagrou como poético (a rima, a métrica, a linguagem figurada, as metáforas). É um pensador que se expressa em versos e que propõe uma “filosofia” contra a especulação filosófica, contra a abstração, contra a metafísica e contra o misticismo. b) Depreende-se, nos dois textos, o despojamento a que já nos referimos na resposta ao quesito anterior. Em Caeiro, a simplicidade da “forma” é também “conteúdo”, intenção, programa. Por isso realiza uma poesia intencionalmente prosaica, com o livre andamento da prosa, enfática, redundante, com os recursos retóricos de quem visa a convencer e não a encantar ou a comover, mesmo que, muitas vezes, encante exatamente pela simplicidade. É a linguagem de um camponês inculto. 2. A expressão “A meu pesar” pode significar “apesar de mim” ou “pesarosamente”. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. C E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. a) Para demonstrar que existem poetas que escrevem seus versos se valendo da razão e do cálculo como um carpinteiro, a segunda estrofe rejeita o trabalho poético, ou seja, a poesia que se pode comparar à carpintaria - a poesia premeditada, “trabalhada”, que não é expressão direta e simples da realidade. b) Caeiro mostra um pensamento que nega o pensamento, uma filosofia antifilosófica, que rejeita o “vício” de interpor o pensamento entre as coisas e a sua pura percepção: “O essencial é saber ver, / Saber ver sem estar a pensar”. Para o poeta, só pelos sentidos é que se entra em contato com a verdade. 2. a) Alberto Caeiro compara-se ao navegador dos séculos XV e XVI, época das grandes navegações, representado por Vasco da Gama, por exemplo, imortalizado como herói em Os Lusíadas (1572), de Camões. b) O poeta quer revelar “sensações verdadeiras” e tem o objetivo de trazer “ao Universo ele-próprio”. Considerando o contexto geral da poesia de Caeiro, vê-se claramente a diferença entre o navegador – que vai descobrir o mundo e o “poeta” que busca revelar sua realidade próxima. Exemplo disso são os primeiros versos do poema VII de “O Guardador de Rebanhos”: “Da minha aldeia vejo tudo quanto da terra se pode ver no Universo... / Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer / Porque eu sou do tamanho do que vejo”. 3. a) A aldeia é caracterizada como “tão grande como outra terra qualquer”, de onde é possível ver “quanto da terra se pode ver no Universo...”. Já a cidade seria responsável por tornar a vida muito menor, um lugar em que tudo nos torna pequenos, pois nos dificulta a possibilidade de ver. b) O verso livre confirma a ideia de valorização da pequena aldeia em detrimento das grandes cidades. Além disso, o verso livre contribui para reforçar a noção de amplitude que se opõe à de limitação característica do verso metrificado. 4. a) “O que nós vemos das coisas são as coisas”, “Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos / Se ver e ouvir são ver e ouvir?” (Nesta última frase, típica de Caeiro, se encontra a forma mais simples de afirmação tautológica: A é A.). Caeiro pensa em versos e constrói uma poesia intencionalmente antipoética ou oposta ao que a tradição consagrou como poesia (métrica, rima, musicalidade, metáforas, imagens sugestivas...). Por isso, vale-se do que se denomina “estilo humilde”, simples, intencionalmente despojado, que corresponderia à naturalidade das coisas e das sensações. b) A expressão metafórica “alma vestida”, no início da terceira estrofe, pode ser entendida como uma alusão às máscaras e aos artifícios, à bagagem cultural, que se impõem à alma humana e impedem-na de “desnudar- -se” e mergulhar na natureza, de fruir diretamente as virtualidades das coisas, das sensações que elas provocam, sem a mediação da consciência e da cultura.
127VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) A “aprendizagem de desaprender” é um paradoxo que traduz o desejo de afastamento das “amarras” culturais, filosóficas, metafísicas, estéticas etc. que condicionam nossa sensibilidade e compreensão do mundo, recuperando, da infância, a ingenuidade e a alegria de quem descobre e se encanta. 5. a) Ao pedir que o sepultem “sem cruz”, Alberto Caeiro explicita sua rejeição ao Cristianismo. Ao dizer, na sequência, que “foi buscar os deuses”, mostra uma recusa ao monoteísmo e uma aceitação implícita ao paganismo. b) A palavra “deuses” mostra a recusa de Caeiro à noção de um princípio unitário, abstrato, antecedente. Vai nessa mesma direção o sentido do verso “A natureza é partes sem um todo”. O que interessa a Caeiro são as coisas em si, concretas e singulares, as flores, as árvores, os rios, e não o conceito generalizante que as engloba sob o nome de “natureza”. 6. a) Não, pois eles não têm certeza nem mesmo do seu próprio ser. b) Expressa o ceticismo do eu lírico, que duvida das sensações e de si mesmo. 7. a) A repetição do verso final de cada estrofe “Desde ontem a cidade mudou” e a estrofação regular trazem ao poema a ideia de monotonia, já que esses dois procedimentos sugerem repetição, regularidade, sensações próprias daquilo que é monótono. b) A morte de Alves quebra a monotonia do lugar onde se encontra o eu lírico, pois há uma mudança no ambiente monótono, sendo que a padaria e a ausência de seu dono vêm para fazer-lhe perceber a vida monótona que leva. c) Ao quebrar a monotonia de sua vida com o episódio da morte de Alves, o eu lírico toma consciência de sua transitoriedade (“Ele era fixo, eu, o que vou”) e de sua solidão (“Se morrer, não falto”).
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