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Published by Henrique Santos, 2024-01-11 16:33:24

CadernoEO-LCódigosV4_2022

CadernoEO-LCódigosV4_2022

51VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira... Disponível em http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp. Acessado em 31 de mai. 2016. Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. 9. (Efomm 2017) Nos períodos que se seguem aparecem orações sublinhadas reduzidas. A única EXCEÇÃO está na opção: a) Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. b) Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas (...) c) Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. d) Ignoram o dito de Jesus: ‘Quem preservar a sua vida perde-la-á.’ e) Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás. 10. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que apresenta ideia equivalente à da oração grifada a seguir: “O professor não proíbe, antes estimula as perguntas em aula.” a) As abelhas não apenas produzem mel e cera, mas ainda polinizam as flores. b) Os livros ensinam e divertem. c) Vestia-se bem, embora fosse pobre. d) Não aprovo nem permitirei essas coisas. e) Quis dizer mais alguma coisa e não pôde. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A resposta padrão à pergunta O que é desenvolvimento? gira em torno da aceitação de que desenvolvimento e desenvolvimento econômico são sinônimos. Para muitos, esta é, ainda hoje, uma associação óbvia e imediata: tão óbvia e tão imediata que qualquer desconfiança a propósito de sua validade soa como uma impertinência. Seja lá como for, o presente autor tem sido, a esse respeito, radicalmente impertinente, tendo sua recusa da associação reducionista entre desenvolvimento e desenvolvimento econômico sido insistentemente martelada em vários trabalhos publicados anteriormente. Por que, entretanto, valeria a pena correr os riscos de semelhante afronta à opinião corrente? Principie-se pelo esclarecimento do que seja desenvolvimento econômico. Ora, esse não se refere a outra coisa que não ao aumento da capacidade de uma sociedade produzir mais bens e de uma maneira melhor (isto é, produtos melhores produzidos mais eficientemente), de modo a satisfazer necessidades humanas. Logo, ele diz respeito, na melhor das hipóteses, a meios para se atingirem maiores qualidade de vida, justiça social etc. e não a fins. No entanto, sob a guarida de uma certa ideologia do desenvolvimento, ainda hoje hegemônica, privilegia-se, na conceituação de desenvolvimento, exatamente sua dimensão econômica, levando a que se entronize um conceito que se define antes pelos meios, mediante os quais se pode aprimorar o modelo social capitalista, do que pelos fins que, de um ponto de vista social geral, deveriam nortear e dar concretude à expressão mudança para melhor. A referida ideologia, saliente-se, encobre interesses vinculados ao verdadeiro fim, que é a perpetuação desse modelo e, nesse contexto, dos benefícios de determinados grupos ou classes. (O desafio metropolitano, 2000.) “Ora, esse não se refere a outra coisa que não ao aumento da capacidade de uma sociedade produzir mais bens e de uma maneira melhor (isto é, produtos melhores produzidos mais eficientemente), de modo a satisfazer necessidades humanas. Logo, ele diz respeito, na melhor das hipóteses, a meios para atingirem maiores qualidade de vida, justiça social etc. e não a fins.” (2o parágrafo) 1. (Santa Casa – MED Unesp 2018) No contexto em que se encontra, a conjunção destacada introduz uma oração que expressa ideia de a) finalidade. b) condição. c) conclusão. d) causa. e) explicação. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Não gosto de viajar. Mas sou inspetor das escolas de instrução primária e tenho obrigação de correr constantemente todo o país. Ando no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante. Na verdade lembro-me de alguns momentos agradáveis, de que tenho saudades, e espero encontrar outros que me deixem novas saudades. É uma instabilidade de eterna juventude, com perspectivas e horizontes sempre novos. Mas não gosto de viajar. Talvez só por ser uma obrigação e as obrigações não darem prazer. Entusiasmo-me com a beleza das paisagens, que valem como pessoas, e tive já uma grande curiosidade pelos tipos rácicos, pelos costumes, e pela diferença de mentalidade do povo de região para região. Num país tão pequeno, é estranhável tal diversidade. Porém não sou etnógrafo, nem folclorista, nem estudioso de nenhum desses aspectos e logo me desinteresso. Seja pelo que for, não gosto de viajar. Já pensei em pedir a demissão. Mas é difícil arranjar outro emprego equivalente a este nos vencimentos. Ganho dois mil escudos e tenho passe nos comboios, além das ajudas de custo. Como vivo sozinho, é suficiente para as minhas necessidades. Posso fazer algumas economias e, durante o mês de licença que o Ministério me dá todos os anos, poderia ir ao estrangeiro. Mas não vou. Não posso. Durante esse mês quero estar quieto, parado, preciso de estar o mais parado possível. Acordar todas essas trinta manhãs no meu quarto! Ver durante trinta dias seguidos a mesma rua! Ir ao mesmo café, encontrar as mesmas pessoas!... Se soubessem como é bom! Como dá uma calma interior e como as ideias adquirem continuidade e nitidez! Para pensar bem é preciso estar quieto. Talvez depois também cansasse, mas a natureza exige certa monotonia. As árvores não podem mexer-se. E os animais só por necessidade física, de alimento ou de clima, devem sair da sua região. Acerca disto tenho ideias claras e uma experiência definitiva. É até, talvez, a única coisa sobre que tenho ideias firmes e uma experiência suficiente. (Branquinho da Fonseca. O Barão, 1969. Adaptado.)


52VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. (Unifae – MED Unesp) Em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra observam que “certas conjunções coordenativas podem, no discurso, assumir variados matizes significativos de acordo com a relação que estabelecem entre os membros (palavras e orações)”. No caso da conjunção “e”, entre os sentidos apontados pelos autores, está o de “indicar uma consequência, uma conclusão”, o que se verifica na seguinte passagem do texto: a) Mas sou inspetor das escolas de instrução primária e tenho obrigação de correr constantemente todo o país. b) Ando no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante. c) Entusiasmo-me com a beleza das paisagens, que valem como pessoas, e tive já uma grande curiosidade pelos tipos rácicos, pelos costumes [...]. d) As árvores não podem mexer-se. E os animais só por necessidade física, de alimento ou de clima, devem sair da sua região. e) Talvez só por ser uma obrigação e as obrigações não darem prazer. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A Argentina tem Messi. Ele é o plano, o propósito, a ideia. Como executá-la? Isso também é coisa para Leo, ciente de que com a alviceleste lhe cabe ser meio-campista, porque a equipe não tem jogadores brilhantes no meio. Ocorre que, exceto por Di María, o ataque não tem pegada, apesar da reputação de Higuaín, Agüero – agora lesionado –, Lavezzi e Palácio. O peso de Maradona já é enorme; obrigar alguém a ser Maradona para criar e Maradona para concretizar é uma missão quase impossível até para um gênio como Messi. O ponto de partida assumido por Leo foi o eixo do campo, onde Mascherano há tempos não aparece, e onde Gago é uma sombra, nem fede nem cheira, só se dispersa. Como não há ninguém capaz de dar uma luz, a Pulga vai ao socorro e busca abrir espaços entre o funil rival. O normal seria que acabasse preso pelas emboscadas suíças, que não eram poucas. Quando conseguiu finalmente armar um chute, lá estava o formidável Benaglio [goleiro da Suíça]. (http://brasil.elpais.com/brasil) 3. O sentido da conjunção em destaque no período “Como não há ninguém capaz de dar uma luz, a Pulga vai ao socorro” também se verifica em: a) “e Maradona para concretizar é uma missão quase impossível” (1.º parágrafo) b) “Ele é o plano, o propósito, a ideia. Como executá- -la?” (1.º parágrafo) c) “Quando conseguiu finalmente armar um chute” (2.º parágrafo) d) “porque a equipe não tem jogadores brilhantes no meio.” (1.º parágrafo) e) “o ataque não tem pegada, apesar da reputação de Higuaín, Agüero” (1.º parágrafo) Leia o texto de Brian Luke Seaward para responder à QUESTÃO. Talvez o mais otimista de todos os psicólogos que fizeram contribuições à psicologia moderna seja o Dr. Abraham Maslow. Enquanto seus predecessores e contemporâneos estudaram indivíduos mentalmente doentes, perturbados e mal ajustados para formar a base de suas teorias do comportamento humano, Maslow escolheu estudar exemplos de homens e mulheres que sintetizavam os potenciais humanos, indivíduos que exibiam uma combinação especial de criatividade, amor, autoestima, confiança e independência. Apesar das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, Maslow estava convencido da existência de um lado mais luminoso do ser humano e comprometeu-se com o desenvolvimento de uma construção teórica para sustentar essa hipótese da abordagem humanística à psicologia. Diferente de outros psicólogos, que tentaram descrever como a personalidade e o comportamento são afetados pelo estresse, Maslow enfatizou, nos traços de personalidade, aquelas projeções dos recursos internos que parecem ajudar as pessoas a lidar com o estresse e atingir a saúde psicológica. (Stress, 2009. Adaptado.) “Apesar das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, Maslow estava convencido da existência de um lado mais luminoso do ser humano e comprometeu-se com o desenvolvimento de uma construção teórica para sustentar essa hipótese da abordagem humanística à psicologia.” 4. (São Camilo – MED Unesp) No contexto em que está inserido, o segmento em destaque, iniciado pela conjunção “apesar de”, tem o sentido de a) consequência. b) tempo. c) hipótese. d) concessão. e) causa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando observo minhas imagens aos 20 anos, sinto ondas de fúria. Que tenebroso processo metabólico ocorreu para transformar aquele rapazinho magro em alguém com tanta vocação para engordar? Emagreci bastante há uns dois anos. Desde então, cometo loucuras para não engordar novamente. Alguns quilinhos ganhei, não nego. Se me distraio, os tais quilinhos se multiplicam espantosamente. Impossível perdê-los mesmo que eu percorra na esteira, diariamente, a distância do Oiapoque ao Chuí. Recentemente, um amigo inquiriu: – Como faz para manter a forma? – Simples. Eu me transformei em uma experiência química! A palavra química não se refere somente aos inúmeros complementos que absorvo diariamente, de comprimidos de clorofila a própolis em drágeas. Mas às combinações alimentares nas quais mergulho, que estabelecem uma química dentro do organismo. Ultimamente eu me dedico ao suco de couve e à ração humana. A receita do suco é simples: bato duas folhas de couve no liquidificador. Engulo aquela coisa verde. E penso, como se fosse um castigo: “Quem mandou engordar? Agora sofra!”. Em seguida, tomo leite misturado com duas colheres de ração humana. Trata-se de uma mistura de cereais que, segundo se diz, oferece todos os compostos nutritivos necessários. Tem gosto de serragem.


53VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Está na moda. Todo dia conheço algum novo adepto da ração. Ou da couve. A mãe de um amigo garante ter perdido 20 quilos empanturrando-se com a dita cuja. Um primo resolveu todos os seus problemas intestinais com o suco. E por aí vai. Há quem diga que é delicioso. Sempre gosto de frisar: – Se suco de couve fosse tão bom, seria oferecido em rodízio. E alguém troca uma picanha no espeto pela ração? Faço também o regime do tipo sanguíneo. Segundo a teoria, cada tipo de sangue exige ou rejeita certos alimentos. Sou O positivo. Poderia emagrecer a cada garfada se conseguisse decorar a tabela do que devo ou não comer. Meus neurônios fervilham quando ergo um cardápio na mão. Só lembro que polvo é proibido. Ah, vida, justamente polvo, que eu adoro! Abro uma exceção. Os gordos ou propensos a acumular banhas têm uma vantagem sobre os magros. Na árdua batalha dos regimes, ganham mais condição de conhecer a alma humana. Adquirem sabedoria. Meu melhor amigo, capaz de dar a vida por mim ou de no mínimo emprestar uma grana sem juros, não resiste a comentar quando me vê: – O paletó está fechando? O mesmo que condena meus 4 quilos extras como um juiz em um tribunal, insiste em me oferecer um doce quando vou visitá- -lo. Ou um vinho. Algo que, enfim, engorde. – Ah, desculpe, não devo, estou de regime. – Imagine, só hoje! Ai de mim! Não é preciso insistir muito! Um outro amigo me trouxe ração humana feita no Pará por sua mãe, só com produtos da terra. – É a melhor que existe, aqui em São Paulo você não encontra! Para acompanhar o presente, uma caixinha de bombons. – São de cupuaçu, você vai gostar... Agradeço com uma careta. Se quer me ajudar a emagrecer, por que os bombons? Ah, traidor! Vou jantar fora com uma amiga. Digo não à sobremesa. Ela sorri, elogia minha força de vontade e escolhe meu doce predileto. Pisca, cúmplice: – Garçom, traz duas colheres? E lá vou eu! Para quem vive em regime perpétuo, não basta evitar frituras, massas e açúcar. Mas sim enfrentar um complô que visa a engordá-lo. E o pior: na primeira chance, todo mundo comentará cada centímetro na barriga! Em relação a regime, a Solidariedade é Zero! (Walcyr Carrasco. “Suco de couve e ração humana”. http://vejasp.abril.com.br.) “A palavra química não se refere somente aos inúmeros complementos que absorvo diariamente, de comprimidos de clorofila a própolis em drágeas. Mas às combinações alimentares nas quais mergulho, que estabelecem uma química dentro do organismo.” (4o parágrafo) 5. (Uninove – MED Unesp) No trecho transcrito, a conjunção “mas” adquire valor semântico a) causal. b) conclusivo. c) alternativo. d) aditivo. e) explicativo. E.O. Dissertativo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Aqueles tempos No meio da conversa, ela disse: “Eu gostava do Lacerda.” Ele ficou quieto, mas quem prestasse atenção notaria que suas pupilas chegaram a dilatar. E ele quase se engasgou com o gelo. Só quando já estavam no carro, voltando para casa, ele disse: – Que história é essa de “eu gostava do Lacerda”? – Gostava, uai. – Cicinha, nós fizemos comício contra o Lacerda. – E daí? – Eu me lembro de você gritando “Corvo! Corvo!” – Para agradar a você. Ele quase perdeu a direção do carro. Ela teve que gritar: – Almiro! Ele só conseguiu falar de novo dentro do quarto, quando ela saiu do banheiro depois de escovar os dentes e perguntou se ele tinha alimentado o gato. Ele disse: – Não muda de assunto. – Almiro, eu não entendo por que você ficou desse jeito só porque eu... – Não entende? Não entende? Você se dá conta da revelação que me fez esta noite? Do significado da sua confissão, da sua duplicidade, da sua... – Almiro, faz 40 anos! – Exatamente! Durante 40 anos vivi com uma mulher que eu não conheço. Que só fui conhecer agora. Há 40 anos durmo com uma estranha. Durmo com o inimigo! – Você quer... Mas o Almiro já tinha dado as costas. Ia dormir na sala. No dia seguinte, a filha mais velha foi convocada. Sua missão: dissuadir o pai de sair de casa e pedir o divórcio. Não tinham adiantado os argumentos da mãe, de que sua duplicidade era, na verdade, uma prova de amor, pois disfarçara sua admiração pelo Lacerda para ficar com ele, sacrificara todas as suas convicções por um casamento feliz. E era um casamento feliz. Tinham filhos maravilhosos, netos maravilhosos, uma vida organizada, um gato que os amava... Se ele quisesse, ela renunciaria à sua admiração pelo Lacerda. Se ele quisesse, iria até a janela e gritaria “Corvo! Corvo!” para o céu. “Pensa no que você vai destruir, Almiro!” Ele só pediu à filha, que era advogada, que recomendasse alguém para cuidar do divórcio. Não falava com traidores. Em casa, a filha comentou com o marido: – Coisa forte aqueles tempos, né? O marido só conhecia aqueles tempos de ouvir contar, mas concordou. Muito forte. Fonte: VERISSIMO, Luis Fernando. O melhor das Comédias da Vida Privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.


54VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 1. (Ufjf-pism 1 2017) Releia o trecho: Ele só pediu à filha, que era advogada, que recomendasse alguém para cuidar do divórcio. Não falava com traidores. a) Qual é a relação de sentido que se estabelece entre as duas frases? b) Reescreva o trecho, em uma só frase, escolhendo o conector que melhor estabeleça a relação entre elas. 2. (Uel 2017) Leia o fôlder a seguir. Com base na leitura do fôlder, responda aos itens a seguir. a) O que difere o uso dos termos sublinhados nas sentenças “Consulte sempre um médico ao perceber os sintomas” e “Os sintomas iniciais podem ser semelhantes aos da gripe”? b) Na frase “Assim como a gripe, a pneumonia pneumocócica pode ser prevenida através da vacinação”, se fosse omitida a expressão “como a gripe”, o sentido original estaria mantido? Por quê? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Italiano capta sons da natureza para criar músicas Se a quantidade de instrumentos musicais tocados por Diego Stocco não é infinita, com certeza é incontável. Para ele fazer música com uma coisa, basta que ela exista. Galhos, folhas, frutas, areia, casca de tronco de árvore, sementes, até uma abelha que passeava entre as flores participam da gravação do músico. Nas mãos do italiano, qualquer jardim vira uma orquestra. Para fazer suas composições em parceria com a natureza, vários métodos de captação são utilizados. Quase sempre, os objetos acabam se transformando em elementos de percussão. Ele posiciona microfones perto de uma árvore, por exemplo, e, após um breve teste para descobrir qual o som provocado pelos movimentos, começa a chacoalhar os galhos e batucar no tronco, como se fosse um bongô. Às vezes, pequenos microfones são acoplados aos seus dedos, fazendo com que qualquer impacto seja ampliado na hora. Mas o método mais curioso, com certeza, é o estetoscópio. Diego pluga o aparelho em um microfone e o encosta na casca da árvore. Assim que ele bate no tronco, o que se ouve é um som grave, saído diretamente das entranhas daquela planta. Quando ele termina de experimentar as sonoridades do jardim, é tudo uma questão de edição. Apesar de ter virado notícia, a ideia de utilizar elementos naturais para criar uma canção não é exatamente nova. Desde os tempos em que o homem morava em cavernas, ele já fazia músicas com os elementos ao seu redor. (...)


55VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Hermeto Pascoal, um dos músicos mais inventivos que o Brasil já viu, fazia coisa parecida desde os tempos de criança, em 1940. Ele transformava cano de mamona de jerimum em pífano (tipo de flauta) e adorava fazer música com os barulhos da lagoa perto de sua casa. (...) (Fonte:http://revistagalileu.globo.com/Revista/n/0,,EMI308179 17770,0ITALIANO+CAPTA+SONS+DA+NATUREZA+PARA +CRIAR+MUSICAS.html. Ùltimo acesso em 23 nov. 2013) 3. (G1 - cp2) Copie do 1º parágrafo do texto a oração subordinada adverbial que revela os objetivos do músico Diego Stocco, ao fazer suas experiências. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Lucas Melgaço Historicamente as cidades nunca foram locais igualmente acolhedores a todos. Elas nascem justamente do encontro e identificação entre um grupo de “iguais” interessados em se enriquecer e se defender da presença indesejada do “outro”. Os outros na cidade grega clássica eram, por exemplo, os estrangeiros e os prisioneiros de guerra. Na cidade medieval europeia, doentes como os leprosos eram os detentores dessa alcunha de “indesejáveis”. Atualmente, os imigrantes latinos nos Estados Unidos, os árabes e os negros africanos na Europa Ocidental e os nordestinos, homossexuais, negros, prostitutas, usuários de drogas, portadores de necessidades especiais, mendigos e desempregados no Brasil, são aqueles mais comumente considerados como os outros. 1 A principal mudança em relação ao passado é que, mais do que questões de raça, credo, saúde ou nacionalidade, no atual período de globalização neoliberal, tem sido a pobreza o principal atributo de diferenciação. Muitas vezes a negação do outro não se dá apenas no âmbito das falas e das ações, mas se materializa em formas urbanas voltadas a separar e afastar os indesejáveis. Um exemplo muito presente na arquitetura das casas e apartamentos brasileiros são as dependências de empregada e as entradas e elevadores de serviço. Tais formas têm a função de demarcar os espaços de circulação e presença dos empregados e de lhes assinalar sua condição de outro. Mais do que o interior das casas, porém, grandes complexos urbanísticos têm sido construídos como resposta a esse desejo de segregação. Os condomínios fechados, por exemplo, sejam horizontais ou verticais, têm no argumento da exclusividade o seu principal apelo publicitário. O ideal de felicidade vendido pelos agentes imobiliários passa pelo conceito de que é bom aquilo que pode ser usufruído de modo individual ou no máximo por um grupo de “semelhantes”. Muitas campanhas reforçam, por exemplo, o privilégio de se ter áreas verdes e praças de lazer exclusivas e sem a incômoda presença de “estranhos”. Em vez de ter de lidar com o outro em uma praça pública de esportes, prefere-se o privilégio de se ter um campo de futebol particular, mesmo que ele passe a maior parte do tempo subutilizado por falta de jogadores. Talvez seja, porém, um pouco demasiado dizer que os condomínios sejam totalmente intolerantes aos outros. Algumas dessas pessoas podem se tornar “desejáveis” quando úteis para o cumprimento de serviços pouco nobres, como a limpeza ou a vigilância. Sem faxineiros, empregadas domésticas e porteiros, funções geralmente delegadas a nordestinos, negros e pobres, seria inviável a existência dos condomínios fechados nos moldes em que foram pensados. Contudo, basta um furto dentro de um condomínio para que, de desejáveis, essas pessoas retornem à condição de indesejáveis. Na ocorrência de um crime, os primeiros suspeitos são sempre os outros, e nunca, por exemplo, um jovem morador do condomínio que faz pequenos furtos internos para manter seu vício em drogas. A mesma lógica de criminalização do outro está presente também nas recentes estratégias de monitoramento das cidades através de câmeras de vigilância. Os suspeitos ali apontados são na maior parte das vezes aqueles que se enquadram no estereótipo do “marginal”, ou seja, cujos traços físicos, modo de vestir e de se comportar não estão dentro dos modelos considerados “normais”. As câmeras também são usadas como instrumentos de repulsa dos indesejáveis, como ocorre em São Paulo, onde elas foram instaladas no entorno do Jóquei Clube com o objetivo de inibir a presença de prostitutas. O uso de instrumentos de vigilância também tem sido cada vez mais frequente em escolas brasileiras, especialmente nas privadas, muitas vezes com o curioso argumento de que são estratégias contra o chamado bullying: um tipo de violência em que um grupo de estudantes promove humilhações e violência psicológica a colegas que não se enquadram nos padrões de estética e comportamento considerados normais. O bullying é uma violência de não aceitação da diferença, ou seja, de intolerância ao outro. As câmeras, porém, por serem instrumentos que primam pela homogeneização de comportamentos, surtirão efeito contrário ao esperado, pois reforçarão a intransigência a tudo que for excêntrico. A intolerância ao outro se faz ainda mais evidente em formas urbanas que são explicitamente construídas para impedir a presença dos indesejáveis. Em diversos lugares da cidade de Campinas podem ser vistos objetos pontiagudos cuja função é a de evitar que pessoas “estranhas” se sentem e ali permaneçam. Tais arquiteturas são muito comuns em frente a estabelecimentos comerciais, mas podem também ser encontradas em lugares mais inusitados, como nas escadarias da Catedral de Campinas. Até mesmo a prefeitura da cidade, que deveria ser a principal representante do interesse público, tem o seu exemplar de arquitetura anti-indesejáveis. Na reforma de um viaduto em um bairro nobre, pedras pontiagudas foram instaladas com o intuito de afugentar moradores de rua e pedintes. Essas são, obviamente, políticas que combatem o pobre, como ser indesejável na paisagem, e não exatamente a pobreza. Esse tipo de arquitetura voltada à expulsão dos indesejáveis não é, contudo, exclusividade de Campinas, mesmo que nessa cidade a sua concentração seja incrivelmente alta. Há, assim, uma deliberada adaptação das cidades para que elas se tornem receptivas para alguns e repulsivas para os indesejáveis. Mais do que uma questão estética, porém, essas arquiteturas carregam uma profunda carga simbólica. Quando uma prefeitura chega ao ponto de construir formas urbanas para expulsar os pobres, ela revela que suas preocupações não são coletivas, mas direcionadas a servir aos interesses de uma pequena classe hegemônica. Por fim, é importante que não nos esqueçamos da forma espacial que mais claramente revela o objetivo de negar e segregar os


56VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias indesejáveis: a prisão. Independentemente do local onde tenham sido construídas, as prisões são sempre majoritariamente povoadas pelos outros, o que no caso brasileiro são, sobretudo, os pobres. Além disso, há muito, a preocupação da Justiça brasileira não é a de recuperar seus presidiários e trazer esses outros para perto dos iguais, mas sim mantê-los o maior tempo possível isolados e na eterna condição de outro. Assim como os espetos anti-indesejáveis, as prisões não resolvem os problemas estruturais e profundos da sociedade, mas se contentam em promover uma “limpeza da paisagem”, tirando da vista dos iguais a incômoda presença dos “diferentes”. Pode-se, então, concluir que a cidade de hoje, mais do que aquela do passado, nega ao outro a condição de cidadão, negação esta que tem na pobreza o seu principal argumento. E, como pôde ser visto, essa intransigência não se restringe aos atos, pois se concretiza em formas urbanas repulsivas e segregadoras. Com a existência dessas formas, as cidades passam a criar as condições para que a intolerância seja não só mantida como também reproduzida. Confirmando-se essa tendência, chegará certamente o momento em que as cidades de poucos “iguais” se tornarão insuportáveis para uma grande maioria de “outros”. Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/handler. php?section=8&edicao=56&id=709>. Acesso em: 15 de agosto 2010. 4. (Ufu) Retire do texto orações ou períodos que exemplifiquem as seguintes relações entre as proposições: a) Comparação b) Finalidade c) Condição d) Oposição e) Exemplificação Obs.: para cada relação, apresente pelo menos um exemplo. 5. (Santa Casa – MED Unesp 2018) Leia o texto de Marilena Chaui para responder à questão. Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e as opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança. Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto e de admiração, não sabemos o que pensar ou o que fazer com a novidade que vimos ou ouvimos porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, nos fazem querer saber o que não sabíamos, nos fazem querer sair do estado de insegurança ou de encantamento, nos fazem perceber nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza. Quando isso acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da verdade. (Convite à Filosofia, 2004. Adaptado.) a) “Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança.” Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período resultante, a última oração expresse uma consequência. Faça ajustes, se necessário. b) “O espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não sabemos e criam o desejo de superar a incerteza.” Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período resultante, a oração centrada no verbo “criar” expresse uma finalidade. Faça ajustes, se necessário. E.O. UERJ Exame de Qualificação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Nós, escravocratas Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. 1 Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no Brasil. Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “2 Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de qualidade. Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos escravocratas. 3 Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala. Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos, escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos. Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que foram


57VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão. A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou mais barata, e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os sem educação. Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão. Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos intelectuais e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. 4 Antes, com a proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia da abolição plena. Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos a escravidão. 5Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço. Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque continuamos escravocratas. E, ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos condenados à falta de educação. CRISTOVAM BUARQUE. Adaptado de http:// oglobo.globo.com, 30/01/2000. 1. (Uerj) Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, (ref. 3) A forma sublinhada introduz uma relação de tempo. A ela, entretanto, se associa outra relação de sentido. Essa outra relação de sentido presente na frase acima é de: a) causa b) contraste c) conclusão d) comparação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Memórias do cárcere 1 Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. 2 Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, 9 dar- -lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de 5 utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?(...) O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo convivência forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaram-se. 10Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteram-se, completam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los. (...) E aqui chego à última objeção que me impus. 13Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. 6 Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram- -se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. 7 Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...) 14Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. 3 Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: 4 conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. 18Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, 12às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, 8 desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que variássemos também, apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível. GRACILIANO RAMOS. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.


58VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. (Uerj) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. (ref.13) O fragmento acima poderia ser reescrito com a inserção de um conectivo no início do trecho sublinhado. Esse conectivo, que garantiria o mesmo sentido básico do fragmento, está indicado em: a) porque b) embora c) contudo d) portanto TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Como e porque sou romancista Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, 2 passava-se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra. Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um folguedo querido; 3 já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado. Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido. Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, 4 lia com expressão uma das páginas mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços 8 que rompiam-lhes o seio. Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e suas amigas. Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já assustado com o choro que ouvira ao entrar – 6 Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais perturbou-se: - Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente. As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus 1 remoques, não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder: 7 - Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto. Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a natureza o dotara. Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção? Não me animo a resolver esta questão psicológica, 5 mas creio que ninguém contestará a influência das primeiras impressões. JOSÉ DE ALENCAR. Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990. 1 remoque: zombaria, caçoada 3. (Uerj) Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, (ref. 6) O fragmento acima poderia ser reescrito, com o emprego de um conectivo. A reescritura que preserva o sentido original do fragmento é: a) caso nos visse a todos naquele estado de aflição. b) porém nos viu a todos naquele estado de aflição. c) quando nos viu a todos naquele estado de aflição. d) não obstante nos ver a todos naquele estado de aflição. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Ler e crescer 1 Com a inacreditável capacidade humana de ter ideias, sonhar, imaginar, observar, descobrir, constatar, enfim, refletir sobre o mundo e com isso ir crescendo, a produção textual vem se ampliando ao longo da história. As conquistas tecnológicas e a democratização da educação trazem a esse acervo uma multiplicação exponencial, que começa a afligir homens e mulheres de várias formas. Com a angústia do excesso. A inquietação com os limites da leitura. A sensação de hoje ser impossível abarcar a totalidade do conhecimento e da experiência (ingênuo sonho de outras épocas). A preocupação com a abundância da produção e a impossibilidade de seu consumo total por meio de um indivíduo. O medo da perda. A aflição de se querer hierarquizar ou organizar esse material. 3 Enfim, constatamos que a leitura cresceu, e cresceu demais. 4 Ao mesmo tempo, ainda falta muito para quanto queremos e necessitamos que ela cresça. Precisa crescer muito mais. Assim, multiplicamos campanhas de leitura e projetos de fomento do livro. Mas sabemos que, com todo o crescimento, jamais a leitura conseguirá acompanhar a expansão incontrolável e necessariamente caótica da produção dos textos, que se multiplicam ainda mais, numa infinidade de meios novos. Muda-se então o foco dos estudiosos, abandona-se o exame dos textos e da literatura, criam-se os especialistas em leitura, multiplicam-se as reflexões sobre livros e leitura, numa tentativa de ao menos entendermos o que se passa, já que é um mecanismo que recusa qualquer forma de domínio e nos fugiu ao controle completamente. Falar em domínio e controle a propósito da inquietação que assalta quem pensa nessas questões equivale a lembrar um aspecto indissociável da cultura escrita, e nem sempre trazido com clareza à consciência: o poder. Ler e escrever é sempre deter alguma forma de poder. Mesmo que nem sempre ele se exerça sob a forma do poder de mandar nos outros ou de fazer melhor e ganhar mais dinheiro (por ter mais informação e conhecer mais), ou sob a forma de guardar como um tesouro a semente do futuro ou a palavra sagrada como nos mosteiros medievais ou em confrarias religiosas, seitas secretas, confrarias de todo tipo. De qualquer forma, é uma cai-


59VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias xinha dentro da outra: o poder de compreender o texto suficientemente para perceber que nele há várias outras possibilidades de compreensão sempre significou poder – o tremendo poder de crescer e expandir os limites individuais do humano. Constatar que dominar a leitura é se apropriar de alguma forma de poder está na base de duas atitudes antagônicas dos tempos modernos. Uma, autoritária, tenta impedir que a leitura se espalhe por todos, para que não se tenha de compartilhar o poder. Outra, democrática, defende a expansão da leitura para que todos tenham acesso a essa parcela de poder. Do jeito que a alfabetização está conseguindo aumentar o número de leitores, paralelamente à expansão da produção editorial que está oferecendo material escrito em quantidades jamais imaginadas antes, e ainda com o advento de meios tecnológicos que eliminam as barreiras entre produção e consumo do material escrito, 2 tudo levaria a crer que essa questão está sendo resolvida. Será? Na verdade, creio que ela se abre sobre outras questões. Que tipo de alfabetização é esse, a que tipo de leitura tem levado, com que tipo de utilidade social? ANA MARIA MACHADO. www.dubitoergosum.xpg.com.br 4. (Uerj) Com a inacreditável capacidade humana de ter ideias, sonhar, imaginar, observar, descobrir, constatar, enfim, refletir sobre o mundo e com isso ir crescendo, a produção textual vem se ampliando ao longo da história. (ref. 1) O trecho destacado acima estabelece uma relação de sentido com o restante da frase. Essa relação de sentido pode ser definida como: a) simultaneidade b) consequência c) oposição d) causa TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Juventude e participação Inicialmente, gostaria de destacar que toda avaliação é feita a partir de uma comparação. Neste caso, essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da juventude não seja diferente do de outras faixas etárias. 1 Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. 10Existem parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e entre elas podemos igualmente identificar jovens e adultos. Logo, uma comparação entre faixas etárias não nos leva a concluir que seja baixa a participação política da juventude. Agora, em relação à outra dimensão, a comparação entre juventudes de épocas diferentes, podemos constatar diferenças que aparentemente levem algumas pessoas a afirmações do tipo “a juventude atual não está com nada”, “antigamente os jovens tinham maior consciência e atuação política”. E aqui, novamente, 11devemos analisar a questão por partes. Jovens alienados e passivos sempre existiram ao lado de jovens conscientizados e ativos politicamente. 9 Deve-se reconhecer que 5 a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, 12tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. Mas esse aumento ou diminuição é uma expressão da sociedade como um todo e não de uma determinada faixa etária. Se numa época a parcela de jovens cresce e se torna mais intensa, 6 é porque esse mesmo fenômeno se manifesta na sociedade como um todo. 2 O comportamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo. 3 A grande diferença está nos meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica 7 ou para manifestar sua postura política. Aí, sim, registramos mudanças radicais em relação a outras épocas. 4 Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comunicação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude. A minha resposta pode parecer otimista 8 e tenho plena consciência de que ela é. Os jovens da atualidade não são diferentes dos jovens de outras épocas, aceitam ou rechaçam valores, assumem ou não atitudes políticas com a mesma postura dos jovens do passado, a diferença não está no grau e sim na forma. 13Não muda o caminho, muda a forma de caminhar. LUÍS DE LA MORA. Adaptado de www.cipo.org.br 5. (Uerj) Deve-se reconhecer que a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. (ref. 9) A relação de sentido entre o fragmento grifado e o anterior, neste exemplo, poderia ser indicada pelo emprego do seguinte conectivo: a) porque b) conforme c) no entanto d) não obstante E.O. UERJ Exame Discursivo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: NOMES DO HORROR Uma reportagem de Philip Gourevitch na revista New Yorker mostra como, vinte anos depois da guerra de Ruanda, ocorrida em 1994, quando hutus assassinaram 800 mil tutsis em cem dias, ainda é difícil chegar a um consenso sobre como chamar o que aconteceu. O país discute se a melhor palavra para tanto está na língua local, na língua dos colonizadores, se basta precisão verbal (“gutsemba”, “massacrar”) ou se é preciso a redundância de um neologismo (“gutsembatsemba”, “massacrar radicalmente”) para descrever os atos de uma tragédia absoluta. Debates semelhantes acompanham qualquer trauma coletivo. Há grupos judaicos que rejeitam a expressão consagrada “ho-


60VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias locausto”, com seu caráter sacrificial, de expiação de pecados, em nome da menos ambígua “shoah” (“calamidade”, “aniquilação”). Na Turquia, ainda é tabu usar “genocídio” para a matança armênia iniciada em 1915. No Brasil, dá-se algo semelhante na luta pelo reconhecimento do que foi e é praticado contra comunidades indígenas. De qualquer forma, são batalhas pequenas dentro de uma guerra longa e difícil, de transmissão da memória para que o horror não se repita. Palavras são a primeira arma das vítimas de tentativas de extermínio, às vezes a única, e é preciso chegar a um modo eficiente – que não se resuma a slogans com vocabulário chancelado – para que elas não traiam a natureza do que se viveu. Ou seja, é preciso saber narrar. Discursos facilmente se banalizam, tornam-se solenes, sentimentais em excesso, causando o efeito contrário do que pretendem. 1 Chegar à sensibilidade do público, causando empatia, desconforto e revolta ativa, o que é objetivo de qualquer militância antiviolência, demanda não apenas reproduzir a verdade dos fatos. 2 A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, por mais pungentes* que sejam as vítimas. Como isso não é comum, o que ocorreu em 1994 continua sendo apenas um item numa lista atemporal e universal de genocídios, holocaustos, limpezas, extermínios, calamidades, aniquilações, massacres e gutsembatsembas. Michel Laub. Adaptado de Folha de São Paulo, 09/05/2014. *pungentes: comoventes 1. (Uerj) A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, por mais pungentes que sejam as vítimas. (ref. 2) Reescreva o trecho acima, substituindo o conectivo da parte sublinhada por outro de mesmo sentido e fazendo as adaptações necessárias. Em seguida, aponte o sentido estabelecido pelo conectivo empregado. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1 Durante mais de trinta anos, o bondezinho das dez e quinze, que descia do Silvestre, parava como burro ensinado em frente à casinha de José Maria, e ali encontrava, almoçado e pontual, o velho funcionário. Um dia, porém, José Maria faltou. O motorneiro batia a sirene. Os passageiros se impacientavam. Floripes correu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado na poltrona, querendo rir. – Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora! Há muito tempo o motorneiro está a dar sinal. – Diga-lhe que não preciso mais. A velha portuguesa não compreendeu. – Vá, diga que não vou... Que de hoje em diante não irei mais. A criada chegou à janela, gritou o recado. E o bondezinho desceu sem o seu mais antigo passageiro. Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o olhar. – Não sabes que estou aposentado?(...) Interrompera da noite para o dia o hábito de esperar o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o café na Avenida, e instalar-se à mesa do Ministério, sisudo e calado, até às dezessete horas. Que fazer agora? Não mais informar processos, não mais preocupar-se com o nome e a cara do futuro Ministro. Pela primeira vez fartava a vista no cenário de águas e montanhas que a bruma fundia.(...) 4 Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo arrumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha. 2 Mais do que nunca, sentiu José Maria naquela noite a solidão da casa. Não tinha amigos, não tinha mulher nem amante. E já lera todos os jornais. Havia o telefone, é verdade. Mas ninguém chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida. A máquina que apenas servia para recados ao armazém e informações do Ministério transformara-se então em instrumento de música: adquirira alma, cantava quase. De repente, sem motivo, a voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na parede do corredor a aranha de metal, 3 sempre calada. O sussurro da vida, o sangue de suas paixões passavam longe do telefone de Zé Maria... Como vencer a noite que mal começava?(...) O telefone toca. Quem será? (...) Era engano! Antes não o fosse. A quem estaria destinada aquela voz carregada de ternura? Preferia que dissesse desaforos, que o xingasse.(...) Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz da mulher de há quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se-lhe uma cidade de montanha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos –, ressurgiu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais louco e gratuito, com que uma moça pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido. Acordou com raiva de ter acordado, fechou os olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desapareceu no tempo.(...) Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo interregno* do Ministério que chegava a confundir-se com a duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe de repente da memória. O tempo contraía-se. Duília! Reviu-se na cidade natal com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que ela seguia cantando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande revelação. Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe recordavam a presença corporal da moça. Às vezes chegava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça pousada no colo dela. As colinas se transformavam em seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se comprazia na evocação.(...) Era o afloramento súbito da namorada (...). ANÍBAL MACHADO. A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. * Interregno: intervalo 2. (Uerj) No trecho transcrito a seguir há quatro orações, cujos limites estão assinalados por uma barra:


61VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Floripes serviu-lhe o jantar, / deixou tudo arrumado, / e retirou-se / para dormir no barraco da filha. (ref. 4) Reescreva esse trecho, passando a primeira oração para a voz passiva e convertendo a segunda em oração adjetiva introduzida por pronome. Em seguida, indique a classificação sintática e semântica da última oração. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O chefe da estação me olhou de cara feia, e me deu a passagem e o troco. Bateu com a prata na mesa. Se fosse falsa, estaria perdido. Guardei o cartão com ganância no bolso da calça. A estação se enchera. Um vendedor de bilhete me ofereceu um. Não desconfiava de mim. O chefe foi que me olhou com a cara fechada. Já se ouvia o apito do trem. Cheguei para o lugar onde paravam os carros de passageiros. E o barulho da máquina se aproximando. Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. Ninguém saberia. E o trem parado nos meus pés. Tomei o carro num banco do fim, meio escondido. O Padre Fileto me viu. Tirava esmolas para a obra da igreja. – Não foi para a parada? – Não senhor, vou ver o meu avô que está doente. A mesma mentira saída da boca automaticamente. Os meninos passavam vendendo tareco1 . Quis comprar um pacote, mas estava com receio. Qualquer movimento de minha parte me parecia uma denúncia. O homem do bilhete voltou outra vez me oferecendo. Num banco da minha frente estava um sujeito me olhando. Sem dúvida, passageiro do trem. E me olhando com insistência. Levantou-se e veio falar comigo: – Menino, que querem dizer estas letras? – Instituto Nossa Senhora do Carmo. – Pensei que fosse “Isto não se conhece”... Ri-me sem querer. E as outras pessoas acharam graça. Pedi a Deus que o trem partisse. Por que não partira aquele trem? Meu boné me perderia. Podia ter vindo de chapéu. Nisto vi Seu Coelho. Entrei disfarçando para a latrina do trem. E não vi mais nada. Só saí de lá quando vi pelo buraco do aparelho a terra andando. Sentei-me no mesmo lugar. Vi a cadeia, o cemitério.(...) E o Pilar chegando. O Recreio do Coronel Anísio, com a sua casa na beira da linha. E a gente já via a igreja. O trem apitava para o sinal. Passou o poste branco. Saltei do trem como se tivesse perdido o jeito de andar. Escondi-me do moleque do engenho. O trem saía deixando no ar um cheiro de carvão de pedra. Lá se ia Ricardo com os jornais para o meu avô. Faltava-me coragem para bater na porta do engenho como fugitivo. E fui andando à toa pela linha de ferro. Que diria quando chegasse no engenho? Lembrei-me então que pela linha de ferro teria que atravessar a ponte. E desviei-me para a caatinga. Pegaria mais adiante o mesmo caminho. Estava pisando em terras do meu avô. O engenho de Seu Lula mostrava o seu bueiro pequeno, com um pedaço caído. Que diabo diria no Santa Rosa, quando chegasse? Era preciso inventar uma mentira. Fiquei parado pensando um instante. Achei a mentira com a alegria de quem tivesse encontrado um roteiro certo. Sonhara que meu avô estava doente e não pudera aguentar o aperreio do sonho. E fugira. Achariam graça e tudo se acabaria em alegria. Mas cadê coragem para chegar? Já me distanciava pouco da minha gente. O bueiro do Santa Rosa estava ali perto, com a sua boca em diagonal. Subia fumaça da destilação. Com mais cinco minutos estaria lá. Era só atravessar o rio. Fiquei parado pensando. O rio dava água pelos joelhos. O gado do pastoreador passava para o outro lado. E cadê coragem para agir? E o tempo a se sumir. E a tarde caindo. A casa-grande inteira brigaria comigo. No outro dia José Ludovina tomaria o trem para me levar. E o bolo, e os gritos de Seu Maciel. Vou, não vou, como as cantigas dos sapos na lagoa. Um trem de carga apitou na linha. Tirei os sapatos, arregaçando as calças para a travessia. A porteira do cercado batia forte no mourão2 . E no silêncio da tarde, tudo aumentava de voz. (...) JOSÉ LINS DO RÊGO. Doidinho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. Vocabulário: 1 tareco - biscoito 2 mourão - estaca 3. (Uerj) Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. (1º parágrafo) No trecho acima, há duas orações subordinadas. Transcreva essas orações e classifique sintaticamente cada uma delas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Do bom uso do relativismo Hoje, pela multimídia, imagens e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para melhor conhecer, que implica abertura e diálogo, ou de distanciamento, que pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção incontornável: nosso modo de ser não é o único. Há gente que, sem deixar de ser gente, é diferente. Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil, até chegarmos aos sofisticados moradores de 1 Alphavilles, onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer. Deste fato surge, de imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir; segundo, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. 3 Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são portadores da mesma humanidade. Devemos alargar a compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma geo-sociedade una, múltipla e diferente.


62VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas são um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, autoimplicados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto. Então não há verdade absoluta? Vale o 2 everything goes de alguns pós-modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantém relação com os outros, respeitando-os em sua diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros. Bem dizia o poeta espanhol António Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no diálogo e na cordialidade, então mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar à Verdade comungada por todos. A ilusão do Ocidente é de imaginar que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo de ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua religião e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão. Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras. Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária. Por que com a verdade deveria ser diferente? LEONARDO BOFF. http://alainet.org Vocabulário: ref. 1: Alphavilles: condomínios de luxo ref. 2: everything goes: literalmente, “todas as coisas vão”; equivale à expressão “vale tudo” 4. (Uerj) Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são portadores da mesma humanidade. (ref. 3) Identifique a relação de sentido que a oração sublinhada estabelece com a parte do período que a antecede. Reescreva todo o período, substituindo o conectivo e mantendo essa mesma relação de sentido. 5. (Uerj) ENVELHECER: COM MEL OU FEL? Conheço algumas pessoas que estão envelhecendo mal. Desconfortavelmente. Com uma infelicidade crua na alma. Estão ficando velhas, mas não estão ficando sábias. Um rancor cobre-lhes a pele, a escrita e o gesto. São críticos azedos do mundo. Em vez de críticos, aliás, estão ficando cítricos, sem nenhuma doçura nas palavras. Estão amargos. Com fel nos olhos. (...) Envelhecer deveria ser como plainar. Como quem não sofre mais (tanto) com os inevitáveis atritos. Assim como a nave que sai do desgaste da atmosfera e vai entrando noutro astral, e vai silente*, e vai gastando nenhum-quase combustível, flutuando como uma caravela no mar ou uma cápsula no cosmos. Os elefantes, por exemplo, envelhecem bem. E olha que é uma tarefa enorme. Não se queixam do peso dos anos, nem da ruga do tempo e, quando percebem a hora da morte, caminham pausadamente para um certo e mesmo lugar - o cemitério dos elefantes, e aí morrem, completamente, com a grandeza existencial só aos grandes permitida. Os vinhos envelhecem melhor ainda. Ficam ali nos limites de sua garrafa, na espessura de seu sabor, na adega do prazer. E vão envelhecendo e ganhando vida, envelhecendo e sendo amados e, porque velhos, desejados. Os vinhos envelhecem densamente. E dão prazer. O problema da velhice também se dá com certos instrumentos. Não me refiro aos que enferrujam pelos cantos, mas a um envelhecimento atuante como o da faca. Nela o corte diário dos dias a vai consumindo. E, no entanto, ela continua afiadíssima, encaixando-se nas mãos da cozinheira como nenhuma faca nova. Vai ver, a natureza deveria ter feito os homens envelhecerem de modo diferente. Como as facas, digamos, por desgaste, sim, mas nunca desgastante. Seria a suave solução: a gente devia ir se gastando, se gastando, se gastando até desaparecer sem dor, como quem, caminhando contra o vento, de repente, se evaporasse. E iam perguntar: cadê fulano? E alguém diria - gastou-se, foi vivendo, vivendo e acabou. Acabou, é claro, sem nenhum gemido ou resmungo. (...) Especialistas vão dizer que envelhece mal o indivíduo que não realizou suas pulsões eróticas essenciais: aquele que deixou coagulada ou oculta uma grande parte de seus desejos. Isso é verdade. Parcial, porém. Pois não se sabe por que estranhos caminhos de sublimação há pessoas que, embora roxas de levar tanta pancada na vida, têm, contudo, um arco-íris na alma. Bilac dizia que a gente deveria aprender a envelhecer com as velhas árvores. Walt Whitman tem um poema onde vai dizendo: “Penso que podia ir viver com os animais que são tão plácidos e bastam-se a si mesmos”. Ainda agora tirei os olhos do papel e olhei a natureza em torno. Nunca vi o Sol se queixar no entardecer. Nem a Lua chorar quando amanhece. (SANT’ANNA, Affonso R. de. “Coleção melhores crônicas”. São Paulo: Global, 2003.) * silenciosa Ao problematizar a passagem para a velhice, o narrador faz referência a três diferentes elementos que, à primeira vista, seriam incompatíveis do ponto de vista semântico: elefante, vinho e faca. a) Tendo em vista a coerência do texto, aponte o papel que esses elementos desempenham na narrativa e o que eles têm em comum. b) “Os elefantes, por exemplo, envelhecem bem. E OLHA QUE é uma tarefa enorme”. Justifique o emprego da expressão destacada no fragmento citado. Substitua-a por um único conectivo que mantenha a mesma relação de sentido existente entre as duas frases e realize as alterações necessárias.


63VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, UnicampeUnifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à(s) questão(ões) a seguir. A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar- -se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la? Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a 1 lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera. Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer – mas nos 2 racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passaram a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de 3 irrisão. Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso. Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem. (Contos de aprendiz, 2012.) 1 lapidar: apedrejar. 2 raconto: relato, narrativa. 3 irrisão: zombaria. 1. (Unifesp 2019) “Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.” (5º parágrafo) Em relação ao trecho que o sucede, o trecho sublinhado expressa ideia de a) finalidade. b) causa. c) proporção. d) comparação. e) consequência. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para responder à(s) questão(ões): Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama: “Não saia casa 3 outubro abraços”. O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem. Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira: “como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha. Falou rapidamente a diversas pesso-


64VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias as, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1 , disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância. Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima. Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”, ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz. Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!” Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa. (70 historinhas, 2016.) 1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias). 2. (Unifesp 2018) “Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse.” (4º parágrafo) Em relação à oração anterior, a oração destacada exprime ideia de a) causa. b) condição. c) concessão. d) consequência. e) conclusão. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia um trecho do artigo “Reflexões sobre o tempo e a origem do Universo”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser, para responder à(s) questão(ões). Qualquer discussão sobre o tempo deve começar com uma análise de sua estrutura, que, por falta de melhor expressão, devemos chamar de “temporal”. É comum dividirmos o tempo em passado, presente e futuro. O passado é o que vem antes do presente e o futuro é o que vem depois. Já o presente é o “agora”, o instante atual. Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definirmos passado e futuro, precisamos definir o presente. Mas, segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período no seu passado e no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em nossas definições, o presente não pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não existe! A discussão acima nos leva a outra questão, a da origem do tempo. Se o tempo teve uma origem, então existiu um momento no passado em que ele passou a existir. Segundo nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam explicar a origem do Universo, esse momento especial é o momento da origem do Universo “clássico”. A expressão “clássico” é usada em contraste com “quântico”, a área da física que lida com fenômenos atômicos e subatômicos. [...] As descobertas de Einstein mudaram profundamente nossa concepção do tempo. Em sua teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia. O tempo relativístico adquire uma plasticidade definida pela realidade física à sua volta. A coisa se complica quando usamos a relatividade geral para descrever a origem do Universo. (Folha de S.Paulo, 07.06.1998.) 3. (Unifesp 2018) Em “[Einstein] mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.” (4º parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por: a) visto que. b) a menos que. c) ainda que. d) a fim de que. e) desde que.


65VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para responder à(s) questão)ões a seguir, leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. 1 Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: À procura de uma besta. – A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes característicos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis centímetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notícia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. 2 Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio continua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. 3 Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. 4 Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. 5 Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e nítido retrato da besta. 6 Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. 7 Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente – deixando de lado outras excelências de tua prosa útil – a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “notícia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. 8 Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a existir, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. 9Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa atitude crítica. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) 4. (Unesp 2017) “Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó.” (ref. 2) Em relação ao período do qual faz parte, a oração destacada exprime ideia de a) comparação. b) concessão. c) consequência. d) conclusão. e) causa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia a fábula “A raposa e o lenhador”, do escritor grego Esopo (620 a.C.?-564 a.C.?), para responder à(s) questão(ões) a seguir: Enquanto fugia de caçadores, uma raposa viu um lenhador e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu que ela entrasse em sua cabana e se ocultasse lá dentro. Não muito tempo depois, vieram os caçadores e perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma raposa passar por ali. Em voz alta ele negou tê-la visto, mas com a mão fez gestos indicando onde ela estava escondida. Entretanto, como eles não prestaram atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras. Ao constatar que eles já estavam longe, a raposa saiu em silêncio e foi indo embora. E o lenhador se pôs a repreendê-la, pois ela, salva por ele, não lhe dera nem uma palavra de gratidão. A raposa respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua mão fossem condizentes com suas palavras.” (Fábulas completas, 2013.) 5. (Unifesp 2017) “Entretanto, como eles não prestaram atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras.” Em relação à oração que a sucede, a oração destacada tem sentido de a) causa. b) conclusão. c) proporção. d) consequência. e) comparação. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio Vieira (1608-1697) para responder à(s) quest(ões). A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo


66VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer. [...] Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes? (Antônio Vieira. Essencial, 2011.) 6. (Unifesp) “Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.” (1º parágrafo) Nas duas ocorrências, o termo “para” estabelece relação de a) consequência. b) conformidade. c) proporção. d) finalidade. e) causa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor em 1962, para responder à(s) questão(ões). É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um 1 facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram 2 Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”. Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim. Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. (Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.) 1 facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada. 2 Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. 7. (Unifesp) “O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro.” (3º parágrafo) Em relação à oração que a precede, a oração destacada tem sentido de a) consequência. b) conclusão. c) alternância. d) causa. e) finalidade.


67VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Poetas e tipógrafos Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão, domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinante: um editor artesanal. Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasileiros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no quintal. O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas – 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-os aos subscritores (amigos que se comprometeram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros não querem nem saber. Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952), de GuimarãesRosa. E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor. João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu. (Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.) 8. (Unifesp) Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. O trecho pode ser reescrito, sem prejuízo de sentido ao texto, por: a) Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, tão logo sentiu sua crônica dor de cabeça, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico. b) Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, como sentia dor de cabeça crônica, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico. c) Embora fosse vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico sentindo crônica dor de cabeça. d) Por ser vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico com crônica dor de cabeça. e) Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico, mas era vítima de uma crônica dor de cabeça. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base um poema satírico do poeta português João de Deus (1830-1896). Ossos do ofício Uma vez uma besta do tesouro, Uma besta fiscal, Ia de volta para a capital, Carregada de cobre, prata e ouro; E no caminho Encontra-se com outra carregada De cevada, Que ia para o moinho. Passa-lhe logo adiante Largo espaço, Coleando arrogante E a cada passo Repicando a choquilha Que se ouvia distante. Mas salta uma quadrilha De ladrões, Como leões, E qual mais presto Se lhe agarra ao cabresto. Ela reguinga, dá uma sacada Já cuidando Que desfazia o bando; Mas, coitada! Foi tanta a bordoada, Ah! que exclamava enfim A besta oficial: — Nunca imaginei tal! Tratada assim Uma besta real!... Mas aquela que vinha atrás de mim, Por que a não tratais mal? “Minha amiga, cá vou no meu sossego, Tu tens um belo emprego! Tu sustentas-te a fava, e eu a troços! Tu lá serves el-rei, e eu um moleiro! Ossos do ofício, que o não há sem ossos.” (Campo de flores, s/d.) 9. (Unesp) Na terceira estrofe, com relação à oração principal do período de que faz parte, a oração que exclamava enfim expressa a) causa. b) consequência. c) finalidade. d) condição. e) negação.


68VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando o falante de uma língua depara um conjunto de duas palavras, intuitivamente é levado a sentir entre elas uma relação sintática, mesmo que estejam fora de um contexto mais esclarecedor. Assim, além de captar o sentido básico das duas palavras, o receptor atribui-lhes uma gramática – formas e conexões. Isso acontece porque ele traz registrada em sua mente toda a sintaxe, todos os padrões conexionais possíveis em sua língua, o que o torna capaz de reconhecê-los e identificá-los. As duas palavras não estão, para ele, apenas dispostas em ordem linear: estão organizadas em uma ordem estrutural. A diferença entre ordem estrutural e ordem linear torna-se clara se elas não coincidem, como nesta frase que um aluno criou em aula de redação, quando todos deviam compor um texto para outdoor, sobre uma fotografia da célebre cabra de Picasso: “Beba leite de cabra em pó!”. Como todos rissem, o autor da frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”. Pior a emenda do que o soneto. (Flávia de Barros Carone. Morfossintaxe, 1986. Adaptado.) 10. (Unifesp) Considere as seguintes passagens do texto: — [...] é levado a sentir entre elas uma relação sintática, mesmo que estejam fora de um contexto mais esclarecedor. — Como todos rissem, o autor da frase emendou [...]. As conjunções destacadas expressam, respectivamente, relação de a) alternância e conformidade. b) conclusão e proporção. c) concessão e causa. d) explicação e comparação. e) adição e consequência. E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) quest(ões) a seguir toma(m) por base o “Soneto LXVII” (“Considera a vantagem que os brutos fazem aos homens em obedecer a Deus”), de Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666). Quando vejo, Senhor, que às alimárias1 Da terra, da água, do ar, – peixe, ave, bruto –, Não lhe esquece jamais o alto estatuto Das leis que lhes pusestes ordinárias; E logo vejo quantas artes2 várias O homem racional, próvido3 e astuto, Põe em obrar, ingrato e resoluto, Obras que a vossas leis são tão contrárias: Ou me esquece quem sois ou quem eu era; Pois do que me mandais tanto me esqueço, Como se a vós e a mi não conhecera. Com razão logo por favor vos peço Que, pois homem tal sou, me façais fera, A ver se assi melhor vos obedeço. (A tuba de Calíope, 1988.) 1 alimária: animal irracional. 2 arte: astúcia, ardil. 3 próvido: providente, que se previne, previdente, precavido. 1. (Unesp) No primeiro verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase? No quarto verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base uma passagem do romance O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho (1914-1989). Como disse, rolava eu no capim, pronto a dar ao caso solução briosa, na hora em que o querelante apresentou aquela risada de pouco-caso e deboche: – Quá-quá-quá... Não precisou de mais nada para que o gênio dos Azeredos e demais Furtados viesse de vela solta. Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro: – São Jorge, Santo Onofre, São José! Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e lá de cima, no galho mais firme, aguardava a deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei. Diante de tão firme deliberação, o vingativo mudou o rumo da guerra. Caiu de dente no pé de pau, na parte mais afunilada, como se serrote fosse: – Raque-raque-raque. Não conversei – pronto dois tiros levantaram asa da minha garrucha. Foi o mesmo que espalhar arruaça no mato todo. Subiu asa de tudo que era bicho da noite e uma sociedade de morcegos escureceu o luar. No meio da algazarra, já de fugida, vi o lobisomem pulando coxo, de pernil avariado, língua sobressaída na boca. Na primeira gota de sangue a maldição desencantava, como é de lei e dos regulamentos dessa raça de penitentes. No raiar do dia, sujeito que fosse visto de perna trespassada, ainda ferida verde, podia contar, era o lobisomem. (O coronel e o lobisomem, 1980.) 2. (Unesp) Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo.


69VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A passagem transcrita pode ser dividida em dois segmentos: um indicando causa, o outro indicando consequência ou efeito dessa causa. Reescreva apenas o segmento que indica causa, colocando seus termos em ordem direta. 3. (Fuvest) Leia estas duas estrofes da conhecida canção “Asa-Branca”, de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira. Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João, Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação. Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação, eu te asseguro, não chores não, viu, eu voltarei, viu, meu coração. a) Indique uma palavra ou expressão que possa substituir “Qual” (primeira estrofe), sem alterar o sentido do texto. b) Na segunda estrofe, substitua a palavra “viu” por outra que cumpra a mesma função comunicativa que ela tem no texto. c) Nessas estrofes, os únicos recursos poéticos utilizados são rima e ritmo? Justifique sua resposta. 4. (Fuvest 2008) Jornalistas não deveriam fazer previsões, mas as fazem o tempo todo. Raramente se dão ao trabalho de prestar contas quando erram. Quando o fazem não é decerto com a ênfase e o destaque conferidos às poucas previsões que acertam. Marcelo Leite, “Folha de S.Paulo”. a) Reescreva o trecho “Jornalistas não deveriam fazer previsões, mas as fazem o tempo todo”, iniciando-o com “Embora os jornalistas...” b) No trecho “Quando o fazem não é decerto com a ênfase (...)”, a que ideia se refere o termo destacado? 5. (Fuvest) Muitos políticos olham com desconfiança os que se articulam com a mídia. Não compreendem que não se faz política sem a mídia. Jacques Ellul, no século passado, afirmava que um fato só se torna político pela mediação da imprensa. Se 20 índios ianomâmis são assassinados e ninguém ouve falar, o crime não se torna um fato político. Caso apareça na televisão, o que era um mistério da floresta torna-se um problema mundial. Adaptado de Fernando Gabeira, “Folha de S. Paulo”. a) Explique a distinção, explorada no texto, entre dois tipos de fatos: um, relacionado a “mistério da floresta”; outro, relacionado a “problema mundial”. b) Reescreva os dois períodos finais do texto, começando com “Se 20 índios fossem assassinados...” e fazendo as adaptações necessárias. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. D 3. E 4. D 5. A 6. A 7. E 8. C 9. C 10. D E.O. Fixação 1. A 2. A 3. D 4. E 5. B 6. E 7. E 8. B 9. D 10. E E.O. Complementar 1. C 2. A 3. D 4. D 5. D E.O. Dissertativo 1. a) A relação entre as frases apresentadas é causa. b) Ele só pediu à filha, que era advogada, que recomendasse alguém para cuidar do divórcio, pois não falava com traidores. Também podem ser empregados como conectivos: porque, uma vez que, já que, posto que, porquanto. 2. a) O termo “ao” está introduzindo uma oração subordinada adverbial reduzida temporal, podendo ser desenvolvida da seguinte forma: “Consulte sempre um médico quando perceber os sintomas.” Nesse sentido, também está indicando em qual momento ou circunstância temporal o médico sempre deverá ser consultado. Quanto ao termo “aos”, observa-se que o adjetivo “semelhantes” é regido pela preposição “a”, contraindo-se com o artigo “os”, que está substituindo o substantivo “sintomas” (flexionado no plural), evitando sua repetição (Os sintomas iniciais podem ser semelhantes aos sintomas da gripe). Assim, no primeiro caso, por se tratar de uma função conectiva (conjunção), o termo mantém-se no singular. No segundo, diante de uma função envolvendo substituição de um substantivo no plural, a preposição se contrai com um termo no plural. b) Não, porque, na frase original, há uma relação de comparação estabelecida pelo conectivo “assim como”. Nessa relação, há dois elementos em comparação: “gripe” e “pneumonia pneumocócica”. Com a omissão da expressão “como a gripe”, estabelece-se uma relação de conclusão referente somente à pneumonia. 3. Do texto depreende-se que Diego busca fazer diversos experimentos com a natureza para conseguir criar composições musicais. Sendo assim, pode-se escolher tanto a oração subordinada adverbial “para ele fazer música com uma coisa”, quanto “para fazer suas composições em parceria com a natureza”, ambas significando essa finalidade de produção musical com a natureza.


70VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 4. a) Comparação: Pode-se, então, concluir que a cidade de hoje, mais do que aquela do passado, nega ao outro a condição de cidadão, negação esta que tem na pobreza o seu principal argumento. b) Finalidade: A intolerância ao outro se faz ainda mais evidente em formas urbanas que são explicitamente construídas para impedir a presença dos indesejáveis. c) Condição: Quando uma prefeitura chega ao ponto de construir formas urbanas para expulsar os pobres, ela revela que suas preocupações não são coletivas [...]. d) Oposição: [...] ela revela que suas preocupações não são coletivas, mas direcionadas a servir aos interesses de uma pequena classe hegemônica. e) Exemplificação: Tais arquiteturas são muito comuns em frente a estabelecimentos comerciais, mas podem também ser encontradas em lugares mais inusitados, como nas escadarias da Catedral de Campinas. 5. a) Nós temos tantas dúvidas e ficamos tão cheios de perplexidade que somos tomados pela insegurança. b) O espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não sabemos para criar o desejo de superar a incerteza. E.O. UERJ Exame de Qualificação 1. A 2. A 3. C 4. D 5. A E.O. UERJ Exame Discursivo 1. Algumas respostas: • A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, embora as vítimas sejam muito pungentes. • A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, ainda que as vítimas sejam muito pungentes. • A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, mesmo que as vítimas sejam muito pungentes. Sentido: concessão. 2. Ao passar a oração principal para a voz passiva e substituir a coordenada assindética por uma subordinada adjetiva, o trecho apresentaria a seguinte configuração: o jantar foi-lhe servido por Floripes, que deixou tudo arrumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha. O trecho “para dormir no barraco da filha” constitui uma oração subordinada adverbial final, reduzida de infinitivo. 3. Trata-se das orações subordinadas: “de que chegasse uma pessoa” e “para me prender”. A primeira é substantiva completiva nominal, por ser iniciada pela conjunção subordinativa integrante “que” e servir de complemento nominal a ”impressão”, e a segunda, subordinada adverbial final reduzida de infinitivo, podendo ser desenvolvida com a introdução da locução conjuntiva subordinativa final “a fim de que”, ou “para que” com verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo (“para que me prendesse”). 4. Uma das relações e uma das respectivas reescrituras: Causa • Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros visto que todos são portadores da mesma humanidade. • Eles não podem ser pensados independentemente um dos outros já que todos são portadores da mesma humanidade. • Como todos são portadores da mesma humanidade, eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros. Explicação Eles não podem ser pensados independentemente um dos outros, pois todos são portadores da mesma humanidade. 5. a) Esses elementos agem como exemplos que comprovam o ponto de vista do narrador e funcionam como comparações em relação ao homem que envelhece mal. O que há em comum entre eles é a questão de envelhecerem sem dor, com facilidade e leveza. b) Uma das justificativas: • representa uma marca de oralidade; • estabelece relação de concessão - ou contrajunção - entre os dois enunciados por ela ligados; • indica que, apesar de o tamanho dos elefantes ser muito grande, isso não impede que eles envelheçam bem. Uma dentre as substituições: • Mesmo que seja uma tarefa enorme. • Ainda que seja uma tarefa enorme. • Embora seja uma tarefa enorme. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. C 3. C 4. B 5. A 6. D 7. D 8. B 9. B 10. C E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. No primeiro verso, “Quando vejo, Senhor, que às alimárias”, o “que” é uma conjunção integrante, cuja função é introduzir a oração subordinada substantiva objetiva direta. No quarto verso, o “que” é pronome relativo e introduz a oração adjetiva restritiva “que lhes pusestes ordinárias”. 2. O segmento que indica causa (“Tanta chispa largava o penitente”), em ordem direta, deve apresentar uma sequência lógica: sujeito, verbo e complemento: o penitente largava tanta chispa. 3. a) A palavra “qual” é uma conjunção subordinativa que estabelece relação de comparação entre o primeiro e o segundo versos da primeira estrofe e equivale a como, tal como, assim como. b) No contexto, o termo “viu” assinala a função fática da linguagem em que o emissor deseja chamar a


71VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias atenção do receptor para se certificar que existe contato entre ambos e equivale a tá? ouviu? entendeu? c) Além da rima e do ritmo marcado pelo predomínio do verso redondilho maior, o poeta usou figuras de estilo que traduzem a sua emoção: decepção, na primeira estrofe e anseio de regresso, na segunda. A comparação (“a terra ardendo/Qual fogueira de São João”), a metáfora (“Quando o verde dos teus olhos/ se espalhar na plantação”) e a metonímia (”meu coração”) revelam a preocupação do eu lírico em transmitir sentimentos de forma original e concisa, como é típico da linguagem poética. 4. a) “Embora os jornalistas não devessem fazer previsões, fazem-nas o tempo todo”. b) O pronome oblíquo “o” representa a ideia de: “prestar contas quando erram”. 5. a) Um mesmo fato pode não passar de “um mistério da floresta”, sem qualquer repercussão, se ignorado pela mídia, ou ser transformado em “um problema mundial”, se veiculado pelos meios de comunicação de massas. b) Se 20 índios ianomâmis fossem assassinados e ninguém ouvisse falar, o crime não se tornaria um fato político. Caso aparecesse na televisão, o que seria um mistério da floresta tornar-se-ia um problema mundial.


72VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia a música de Marcelo Jeneci e responda à(s) questão(ões). Dar-te-ei [...] Não te darei papéis, não te darei, esses rasgam, esses borram Não te darei discos, não, eles repetem, eles arranham Não te darei casacos, não te darei, nem essas coisas que te resguardam e que se vão Dar-te-ei finalmente os beijos meus Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus Esses embalam, esses secam, mas esses ficam. Não te darei bombons, não te darei, eles acabam, eles derretem Não te darei festas, não te darei, elas terminam, elas choram, elas se vão [...] <https://tinyurl.com/ybf22rpl> Acesso em: 10.11.2017. 1. (G1 - cps 2018) Há, nessa música, uma construção gramatical chamada de mesóclise – “dar-te-ei” – de pouco uso na linguagem escrita e quase extinto o uso na falada. Essa construção, chamada de colocação pronominal, é uma das três posições possíveis – de acordo com a gramática normativa. Baseando-se no que foi apresentado, assinale a alternativa que apresenta uma relação correta – de acordo com a gramática normativa – entre colocação pronominal e o seu uso na frase. a) Próclise – “Faça-me o favor de não atrasar para nosso encontro!” b) Ênclise – “Não te darei discos, não, eles repetem.” c) Ênclise – “Importava-se com o sucesso da prova.” d) Mesóclise – “A música? Cantá-la-rei quando souber a letra.” e) Mesóclise – “Alguém me procurou?” COLOCAÇÃO PRONOMINAL COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 1 e 27 LC AULAS 33 E 34


73VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 2. (G1 - ifsp 2017) De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e com a gramática normativa e tradicional, quanto à colocação pronominal, assinale a alternativa correta. a) Espero que Milton nunca esqueça-se de mim. b) Não me diga que Jorge faltou hoje. c) Tudo incomoda-me em você. d) Em tratando-se de informática, Lucas é o melhor. e) Foi Ronaldo quem ensinou-me matemática. 3. (G1 - col. naval 2017) Em que opção a colocação pronominal está de acordo com a modalidade padrão? a) Quando o casal chegou ao restaurante, se calou por motivos bem diferentes. b) Os pais distraí-lo-iam com novas tecnologias, embora o pediatra condenasse. c) Por que a mulher questionou-os sobre o silêncio que pairava no restaurante? d) Por favor, solicitamos que entreguem-nos os celulares antes da hora da prova. e) O homem usava a Internet, e o garçom não interrompeu-o para servir a comida. 4. (Eear 2017) Leia: Meteoro (Sorocaba) Te dei o Sol Te dei o Mar Pra ganhar seu coração Você é raio de saudade Meteoro da paixão Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar Aaaahh... Como é bom poder te amar [...] O trecho da canção de autoria de Sorocaba, que ficou famosa na voz de Luan Santana, está escrito em linguagem coloquial. Quanto ao uso dos pronomes oblíquos, marque a alternativa correta. a) Se o autor tivesse optado pelo uso do pronome de acordo com a gramática normativa, e, desse modo, tivesse realizado a colocação do pronome oblíquo após as formas verbais com que se inicia os dois versos do início da canção, seria possível interpretações diferentes das apresentadas por conta de cacofonia (união sonora de sílabas que provoca estranheza auditiva). b) O fato de o texto trazer pronomes oblíquos em vez de retos acentua a ideia de precisão ao escrever de acordo com as normas estabelecidas pela gramática normativa, pois os oblíquos, de uso mais elaborado que os retos, garantem mais legibilidade ao texto escrito ou falado. c) A opção pelo uso de pronomes oblíquos é um indício das tentativas do autor de gerar duplo sentido em seus enunciados, uma vez que nos dois primeiros versos houve ajuste preciso ao que se determina nas gramáticas de língua portuguesa. d) Os pronomes oblíquos presentes no trecho da canção visam promover elegância e estilo, uma vez que estão estritamente de acordo com o que se preconiza nas gramáticas normativas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O dono do livro Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto. Ele disse que certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto humilde de 16 anos o esperava sentado no muro. O garoto estava com um dos braços para trás, o que perturbou o escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado. Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O garoto explicou que horas antes estava na rua quando viu uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa trazia a foto do autor. O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais. Então perguntou para a moça: Esse livro é do Mia Couto? Ela respondeu: É. E o garoto mais que ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa do escritor para fazer a boa ação de devolver a obra ao verdadeiro dono. Uma história assim pode acontecer em qualquer país habitado por pessoas que ainda não estejam familiarizadas com os livros – aqui no Brasil, inclusive. De quem é o livro? A resposta não é a mesma de quando se pergunta: “Quem escreveu o livro?”. O autor é quem escreve, mas o livro é quem lê, e isso de uma forma muito mais abrangente do que o conceito de propriedade privada – comprei, é meu. O livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha sido encontrado num banco de praça. O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginas os personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as sensações provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o espanto, tudo que é transmitido pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do leitor o aprendizado. É o leitor o livro. Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do Instituto Estadual do Livro em que falo aos leitores exatamente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de fato. Não existe livro sem leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não serve para nada. Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome estampado na capa, como se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de como se dá o processo todo, possivelmente nunca entrou numa livraria, nem sabe o que é tiragem. Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar colocar as coisas em seu devido lugar, mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber. Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de uma amante da literatura, deve ter pensado ela. Assim são as histórias escritas também pela vida, interpretadas a seu modo por cada dono. Martha Medeiros. Jornal ZERO HORA – 06/11/11. Revista O Globo, 25 de novembro de 2012.


74VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 5. (Esc. Naval 2017) No trecho “[...] um garoto humilde de 16 anos o esperava sentado no muro.” (1º parágrafo), é também correta, de acordo com a norma-padrão brasileira, a colocação enclítica do pronome o. Assinale a opção em que também ocorre essa dupla possibilidade – próclise e ênclise – na colocação do pronome destacado. a) Ana me emprestou este livro. b) Não lhe emprestarei o livro de novo. c) Prefiro que me traga as publicações depois. d) Sempre o vê sozinho na frente da biblioteca. e) Em lhe chegando a vez, termino de contar a história de ontem. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Renúncia Chora de manso e no íntimo... Procura Curtir sem queixa o mal que te crucia: O mundo é sem piedade e até riria Da tua inconsolável amargura. Só a dor enobrece e é grande e é pura. Aprende a amá-la que a amarás um dia. Então ela será tua alegria, E será, ela só, tua ventura... A vida é vã como a sombra que passa... Sofre sereno e de alma sobranceira, Sem um grito sequer, tua desgraça. Encerra em ti tua tristeza inteira. E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira... BANDEIRA, Manuel. A cinza das horas. In: Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 75. 6. (G1 - ifal 2017) Nos excertos “o mal que te crucia”, “que a amarás um dia” e “pede humildemente a Deus que a faça”, os pronomes em negrito estão, adequadamente, em posição proclítica, haja vista a força atrativa exercida pelo vocábulo “que”, presente nos referidos trechos. De acordo com a norma padrão, qual das sentenças abaixo também se compõe de maneira adequada quanto à colocação do pronome átono? a) Nada mantinha-se como antes. b) Se permita sempre amar os outros. c) Trataria-se de uma nova vitória do time. d) Quando falará-se em ética na política? e) Aqui também se fazem boas ações. 7. (G1 - ifce) A colocação pronominal está INCORRETA em a) Importava-se com o sucesso do projeto. b) Quem te convidou para sair? c) Em se tratando de negócios, você precisa falar com o gerente. d) Procurar-me-iam caso precisassem de ajuda. e) Nunca esqueça-se de mim. 8. (G1 - ifal) Escolha a frase que apresenta erro de colocação pronominal. a) Arremataram-nas, num leilão online, os que deram os maiores lances. b) Se pudesse, explicaria-lhe tudo. c) Meu filho tem-se interessado pelos negócios da família. d) Ele preparou-se para a entrevista de emprego. e) Sinto-me lisonjeado pelo elogio de tão ilustre professor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Não lhe solto mais Antônio Barros e Cecéu Moreno não faça isso Deixe desse rebuliço Não mexa comigo não, viu Quero respeito comigo Já cortaram meu umbigo Não sou mais menina não, viu Você é duro, bem maduro E também muito seguro Ainda pode dar no couro E eu vou gostar Vou me apaixonar Vou cair no choro Aí o couro come E pra mostrar que tu é home Como é que um home faz Dá uma rasteira Me castiga na esteira Não me solta mais Dou-lhe uma rasteira Lhe castigo na esteira Não lhe solto mais Depois não adianta Se eu gemer Se eu gemer Se eu chorar A gente bebe água Quando sente sede Cabelo se assanha Quando o vento dá Olha moreno esse teu cheiro Se juntar com meu tempero Vai ser bom demais Dou-lhe uma rasteira Lhe castigo na esteira Não lhe solto mais Disponível em: http://www.letras.com.br/#!antonio-barros-ececeu/ nao-lhe-solto-mais. Acesso em 03/05/2016. Adaptado. 9. (Acafe) Na letra da canção de Antônio de Barros e Cecéu, um dos versos que representa uma forma não aceita pela norma padrão é:


75VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a) “Lhe castigo na esteira” b) “Você é duro, bem maduro” c) “Já cortaram meu umbigo” d) “Se juntar com o meu tempero” 10. (G1 - ifsp) Com relação à colocação pronominal e ao emprego dos pronomes, observe a tirinha abaixo. I. No primeiro quadrinho, o pronome “mim” foi utilizado de forma incorreta, no que tange à norma padrão da Língua Portuguesa e de acordo com a gramática normativa. II. No terceiro quadrinho, a frase: “Eu sei, estes momentos nos deixam sem palavras...”, para seguir a regra da colocação pronominal, deveria ter sido escrita da seguinte maneira: “Eu sei, estes momentos deixam-nos sem palavras...”. III. A frase: “Beije-me como nunca beijou alguém antes!” pode ser reescrita da seguinte maneira, sem que haja prejuízo semântico: “Beije-me como nunca beijou ninguém antes!”. É correto o que se afirma em a) II, apenas. b) II e III, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e III. e) III, apenas. E.O. Fixação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: EMBARQUE IMEDIATO Não basta passar pelos dias. Viva a partir de agora, com emoção Por Márcia de Luca Neste mundo de turbulências em que estamos vivendo, muitas vezes nos sentimos deprimidos. Em certos momentos, parece que tudo está perdido, não é mesmo? Achamos que tudo está diferente, que as pessoas estão __________. Mas aqui e agora, tome uma atitude firme em sua vida. Mude seu jeito negativo de ser, evitando que sua vida seja insignificante. Perdoe erros que você considerava imperdoáveis, troque as pessoas insubstituíveis por gente mais leve e solta. O apego aos outros está obsoleto. Nada nem ninguém é insubstituível. Aceite a decepção que outros lhe causaram para que você também seja aceito. Sim, porque todos, inclusive nós, já decepcionamos alguém. Antes de reagir por impulso, pare, respire fundo. E, só então, aja, com equilíbrio. Ame profundamente, __________ risadas gostosas, abrace, proteja pessoas queridas, faça amigos. Pule de felicidade e não tenha medo de quebrar a cara – se isso acontecer, encare com leveza. Se perder alguém nesta vida, sofra comedidamente – e vá em frente, pois tudo passa. Mas, sobretudo, não seja alguém que simplesmente passa pela vida. Viva intensamente. Abrace o mundo com a devida paixão que ele merece. Se perder, faça-o com classe, se vencer, que delícia! O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz. Aproveite cada instante dessa grande aventura. Agora mesmo, neste __________, sente-se confortavelmente na poltrona, com a coluna ereta e de olhos fechados. Faça vários ciclos de respiração profunda e sinta o ar entrando e saindo. Quando sentir seu corpo relaxado e sua mente mais calma, pense em sua nova vida, mais leve. Desta maneira você viverá mais facilmente. Fonte: Revista Gol – Linhas áreas inteligentes 1. (G1 - ifsul) A colocação pronominal em “Se perder, faça-o com classe...” justifica-se por a) questão de estilo. b) ausência de mesóclise. c) necessidade de próclise. d) obrigatoriedade de ênclise. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Laivos de memória “... e quando tiverem chegado, vitoriosamente, ao fim dessa primeira etapa, mais ainda se convencerão de que abraçaram uma carreira difícil, árdua, cheia de sacrifícios, mas útil, nobre e, sobretudo bela.” (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964) Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adolescente soube suportar com bravura. Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região serrana fluminense. A motivação que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele momento, suficientemente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara pequeno demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizontes que iam muito além das montanhas que circundam minha terra natal. Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas – e despedidas são sempre dolorosas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade. Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como integrantes de


76VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias mais uma Turma desse tradicional estabelecimento de ensino da Marinha do Brasil. Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado espaço em nossos corações, era naquele momento substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos. E o sentimento de perda, experimentado por ocasião das despedidas, provara-se equivocado: às nossas caras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família Naval, composta pelos recém-chegados companheiros; e às respectivas cidades de nascimento, como a minha bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Villegagnon em meio à sublime baía de Guanabara. Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval. Seis anos de aprendizagem científica, humanística e, sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de aulas, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida, atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais, que deixaram marcas indeléveis. Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimentos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmente distantes, em meio a saudosos devaneios. Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preliminares com a vida de bordo e as primeiras idas para o mar – a razão de ser da carreira naval. Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza! Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonhado embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa! Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, tivemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum-navegação da Marinha Brasileira. Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o primeiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Tamandaré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67. Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apresentar para servir a bordo de um navio de nossa Esquadra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de instrução como Aspirante e Guarda- -Marinha, quando as responsabilidades eram restritas a compromissos curriculares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável escritor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício. Coincide exatamente com a adolescência, primavera da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a despontar as responsabilidades, as agruras de novos cargos, o acúmulo de deveres novos”. E esses novos cargos e deveres novos, que foram se multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, deixariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integrantes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repassar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão intensamente vividos a bordo de inesquecíveis e saudosos navios... E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem aproveitados anos de embarque, de centenas de dias de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar, singrando as extensas massas líquidas que formam os grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que banham os recortados litorais, com passagens, visitas e arribadas em um sem-número de enseadas, baías, barras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis. Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova enseada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial do descobrimento”. (CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado) 2. (Esc. Naval) Assinale a opção em que o uso da ênclise se dá pelo mesmo motivo observado em: “Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família (...)” (2º parágrafo) a) Os Aspirantes sentiam-se orgulhosos de suas conquistas acadêmicas. b) Aqui, instalaram-se comodamente os atletas brasileiros, durante os Jogos Olímpicos. c) A mãe da jovem Aspirante tinha-lhe observado a importância da escolha profissional. d) Relatou-nos, com detalhes, as aventuras e desventuras de sua última viagem de barco. e) Os alunos não estavam gostando do livro, mas continuavam a lê-lo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 27Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por muito tempo. 37São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. 34Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade? 41Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. 4 Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, 6 às informações de 29alguma emissora de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito 9 várias vezes do trajeto 20que deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.


77VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 35Quando me vejo em tal situação, 19eu me lembro que 14dirigir, 45após um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestressante. 18O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não 23mais observamos os detalhes, 1 por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei em frente ao computador 44para buscar textos sobre um tema 38e, de repente, 24me dei conta de que estava em 39temas 15que em nada se relacionavam com meu tema primeiro. Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. 16Sofremos de uma tentação permanente de 43pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto. O problema é que 22alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. 5 Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza a um texto? 3 Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. 2 Elas já nasceram neste mundo de 8 profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc. 46Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. 36E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que exigem tratamento etc. 42A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos, 10brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, 21passam horas em uma única atividade de que gostam. 17Mas, nos estudos, queremos que elas prestem 26atenção no que é preciso, e não no que gostam. 28E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar. 32As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, 31boa parte desse trabalho é nosso, e não delas. 12Não basta mandarmos que elas prestem atenção: 33isso de nada as ajuda. 13O que pode ajudar, por exemplo, é 40analisarmos o contexto em que estão 7 quando precisam focar a atenção 25e organizá-lo para que seja favorável a tal exigência. 11E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo: 30o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e gradual. SAYÃO, Rosely. “Profusão de estímulos”. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 – adaptado. 3. (G1 - col. naval) Em qual opção ocorre um desvio da norma padrão da língua na colocação do pronome destacado? a) “Quando me vejo em tal situação, [...].” (ref. 35) b) “Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, [...].” (ref. 34) c) “[...] e, de repente, me dei conta de que estava [...].” (ref. 38) d) “[...] temas que em nada se relacionavam [...].” (ref. 39) e) “[...] analisarmos o contexto [...] e organizá-lo [...].” (ref. 40) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e, sobretudo, as comparar com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem. E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a primeira vez não é um rito que deixe um homem impune. Algo nele vai-se aprofundar. E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado, sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas narinas as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro, destemido e intimidado, tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para enfrentar a hidra que ondeava mil cabeças, e convertendo a arma em caneta ou lápis começou a escrever na areia um texto que não terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que um modo de se postar diante do mar, é uma forma de domar as vagas do presente convertendo-o num cristal passado. Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mostrar aos vizinhos tímidos retidos nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças de um luminoso encontro de amor com o mar. Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da pergunta. Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas a possibilidade de perguntar. Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes revelar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da noite se arrebentam na aurora do sim. Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer a primeira operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos!


78VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço. O mar é recomeço. (SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez. In:_____. Fizemos bem em resistir: crônicas selecionadas. Rio de Janeiro: Rocco,1994, p.50-52. Texto adaptado.) 4. (Esc. Naval) Em que opção o verbo destacado permite apenas o uso da próclise, de acordo com a norma padrão? a) “Me lembro dessa cena: um adolescente [...].” (1º parágrafo) b) “[...], que se assentou no banco do calçadão, [...].” (2º parágrafo) c) “[...], mas eu devo lhes revelar: [...].” (6º parágrafo) d) “Ver o mar a primeira vez, lhes digo, [...].” (7º parágrafo) e) “Ele se desfolha em ondas e não para de brotar.” (8º parágrafo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Queria evitar, mas me vejo obrigado a falar na literatura da Bruzundanga. É um capítulo dos mais delicados, para tratar do qual não me sinto completamente habilitado. Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe, entre muitas, o conhecimento de duas cousas primordiais: ideias gerais sobre literatura e compreensão fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, isto é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por muitos escritores que julguei excelentes; mas aquela em que escreviam os literatos importantes, solenes, respeitados, nunca consegui entender, porque redigem eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra muito diferente da usual, outra essa que consideram como sendo a verdadeira, a lídima, justificando isso por ter feição antiga de dous séculos ou três. Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito. Lembrei-me, porém, de que as minhas notícias daquela distante república não seriam completas, se não desse algumas informações sobre as suas letras e resolvi vencer a hesitação imediatamente, como agora venço. A Bruzundanga não podia deixar de tê-las, pois todo o povo, tribo, clã, todo o agregado humano, enfim, tem a sua literatura, e o estudo dessas literaturas muito tem contribuído para nós nos conhecermos a nós mesmos, melhor nos compreendermos e mais perfeitamente nos ligarmos em sociedade, em humanidade, afinal. Continuemos, porém, na Bruzundanga. Nela, há a literatura oral e popular de cânticos, hinos, modinhas, fábulas, etc.; mas todo esse folk-lore não tem sido coligido e escrito, de modo que, dele, pouco lhes posso comunicar. Porém, um canto popular que me foi narrado com todo o sabor da ingenuidade e dos modismos peculiares ao povo, posso reproduzir aqui, embora a reprodução não guarde mais aquele encanto de frase simples e imagens familiares das anônimas narrações das coletividades humanas. (Lima Barreto. Os Bruzundangas.) 5. (Fatec) Assinale a alternativa em que a nova colocação do pronome destacado na frase é aceita pela norma culta. a) É um capítulo dos mais delicados, para tratar do qual não sinto-me completamente habilitado. b) Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que escreve-a. c) Mas todo esse folk-lore não tem sido coligido e escrito, de modo que, dele, pouco posso comunicar-lhes. d) Porém, um canto popular que foi narrado-me. e) Me lembrei, porém, de que as minhas notícias daquela distante república não seriam completas. 6. (G1 - cps) Leia as orientações que uma empresa, preocupada com o meio ambiente, passou aos seus funcionários. • Avalie se é mesmo necessário imprimir algo que já está gravado em seu computador. • Utilize melhor as folhas, NÃO JOGUE AS FOLHAS FORA e aproveite o verso para fazer anotações e rascunhos. • Retire seu nome do ‘mailing’ de empresas que não interessam. • Leve os papéis já aproveitados para nosso posto de coleta seletiva. Assinale a alternativa em que o trecho, em destaque, está reescrito de acordo com a norma padrão da língua portuguesa. a) ... não jogue-as fora... b) ... não as jogue fora... c) ... não jogue elas fora... d) ... não jogue-lhes fora... e) ... não lhes jogue fora... TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Enquanto um misto de tragédia e pantomima se desenrola aos nossos olhos atônitos, escrevo esta coluna meio ressabiada: como estará o Brasil quando ela for publicada, isto é, em dois dias? Estamos no meio de um vendaval desconcertante: numa mistura entre público e privado como nunca se viu, correntes inimagináveis de dinheiro sem origem ou destino declarados jorram sobre nós levando embora confiança, ética e ilusões. O drama é que não somos arrastados por “forças ocultas” ou ventos inesperados. Devíamos ter sabido. Muitos sabiam e vários participaram - embora apontem o dedo uns para os outros feito meninos de colégio: “Foi ele, foi ele, eu não fiz nada, eu nem sabia de nada, ele fez muito pior”. Espetáculo deprimente, que desaloja de seu acomodamento até os mais crédulos. Se mais bem informados, poderíamos ter optado diferentemente em várias eleições - mas nos entregamos a miragens sedutoras e ideias sem fundamento. Agimos como cidadãos assim como fazemos na vida: omissos por covardia ou fragilidade, por fugir da realidade que assume tantos disfarces. Deixamos de pegar nas mãos as rédeas da nossa condição de indivíduos ou de brasileiros, e isso pode não ter volta. Fica ali feito um fantasma pérfido: anos depois, salta da fresta, mostra a língua, faz careta, ri da nossa impotência. Não dá para voltar, nem sempre há como corrigir o que se fez de errado, ou que deixou de ser feito e causou graves mazelas. (Lya Luft, É hora de agir. VEJA, 27 de julho de 2005.)


79VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias 7. (Fatec) Assinale a alternativa em que o trecho do texto, reescrito, apresenta-se de acordo com os princípios de concordância e colocação pronominal da norma culta. a) O drama é que “forças ocultas” ou ventos inesperados não o arrasta. b) Sobre nós jorra dinheiro sem origem ou destino, em correntes que não se imaginam. c) Escrevo essa coluna mais ressabiada, enquanto nossos olhos atônitos vê se desenrolar um misto de tragédia e pantomima. d) Se desaloja até os mais crédulos de seu acomodamento, graças a esse espetáculo deprimente. e) Poderia-se ter optado diferentemente, em várias eleições, se a população toda estivesse mais bem informado. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha 1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. 2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até a outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. 3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. 4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (Carta de Pero Vaz de Caminha In: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, p. 39-40.) Vocabulário: 1. “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”: associação de imagem, com a tampa de um vasilhame de couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome de “espelho” por ser feita de madeira polida. 2. “tintura preta, a modos de azulada”: é uma tintura feita com o sumo do fruto jenipapo. 3. “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do tabuleiro de xadrez. 4. “parma”: lisa como a palma da mão. 5. “chã”: terreno plano, planície. 8. (Uff) Assinale a opção em que a reformulação da frase a seguir apresenta um emprego de pronome NÃO COMPATÍVEL com o uso formal da língua: “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. (par. 4) a) E em tal maneira é graciosa que, se a quisermos aproveitar, dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem. b) E em tal maneira é graciosa que , querendo-a aproveitá-la, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. c) E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, tudo nela se dará, por causa das águas que tem. d) E em tal maneira é graciosa que, ao querer-se aproveitá-la, tudo dar-se-á nela, por bem da águas que tem. e) E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitar ela, tudo dar-se-á por bem das águas que tem. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O desaparecimento dos livros na vida cotidiana e a diminuição da leitura é preocupante quando sabemos que os livros são dispositivos fundamentais na formação subjetiva das pessoas. Nos perguntamos sobre o que os meios de comunicação fazem conosco: da televisão ao computador, dos brinquedos ao telefone celular, somos formados por objetos e aparelhos. Se em nossa época a leitura diminui vertiginosamente, ao mesmo tempo, cresce o elogio da ignorância, nossa velha conhecida. Há, nesse contexto, dois tipos de ignorância. Uma é a ignorância filosófica, aquela que em Sócrates se expunha na ironia do “sei- -que-nada-sei”. Aquele que não sabe e quer saber pode procurar os livros, esses objetos que guardam tantas informações, tantos conteúdos, que podemos esperar deles muita coisa: perguntas e, até mesmo, respostas. A outra é a ignorância prepotente, à qual alguns filósofos deram o nome de “burrice”. Pela burrice, essa forma cognitiva impotente e, contudo, muito prepotente, alguém transforma o não saber em suposto saber, a resposta pronta é transformada em verdade. Nesse caso, os livros são esquecidos. Eles são desnecessários como “meios para o saber”. Cancelada a curiosidade, como sinal de um desejo de conhecimento, os livros tornam-se inúteis. Assim, a ignorância que nos permite saber se opõe à que nos deforma por estagnação. A primeira gosta dos livros, a segunda os detesta. [...] Para aprender a perguntar, precisamos aprender a ler. Não porque o pensamento dependa da gramática ou da língua formal, mas porque ler é um tipo de experiência que nos ensina a desenvolver raciocínios, nos ensina a entender, a ouvir e a falar para compreender. Nos ensina a interpretar. Nos ajuda, portanto, a elaborar questões, a fazer perguntas. Perguntas que nos ajudam a dialogar, ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem que este outro seja, em um primeiro momento, apenas cada um de nós mesmos. Pensar, esse ato que está faltando entre nós, começa aí, muitas vezes em silêncio, quando nos dedicamos a esse gesto simples e ao mesmo tempo complexo que é ler um livro. É lamentável que as pessoas sucumbam ao clima programado da cultura em que


80VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ler é proibido. Os meios tecnológicos de comunicação são insidiosos nesse momento, pois prometem uma completude que o ato de ler um livro nunca prometeu. É que o ato da leitura nunca nos engana. Por isso, também, muitos afastam-se dele. Muitos que foram educados para não pensar, passam a não gostar do que não conhecem. Mas há quem tenha descoberto esse prazer que é o prazer de pensar a partir da experiência da linguagem – compreensão e diálogo – que sempre está ofertado em um livro. Certamente para essas pessoas, o mundo todo – e ela mesma – é algo bem diferente. (TIBURI, Márcia. Potência do pensamento: por uma filosofia política da leitura. Disponível em http://revistacult. uol.com.br – 31 jan. 2016 – com adaptações) 9. (G1 - col. naval 2016) Em “Nos ajuda, portanto, a elaborar questões [...].” há um desvio da modalidade padrão da língua na colocação do pronome destacado. Em que opção isso também ocorre? a) “[...] aquela em que Sócrates se expunha [...].” b) “[...] os livros tornam-se inúteis.” c) “[...] também, muitos afastam-se dele.” d) “[...] é um tipo de experiência que nos ensina [...].” e) “[...] o ato da leitura nunca nos engana.” 10. (G1 - col. naval 2015) Em “Dos presentes que ainda vou te dar”, a modalidade padrão da língua permite que o pronome oblíquo destacado também apareça em posição enclítica: Ainda vou dar-te. Em que opção tal fato também pode ocorrer? a) Para muitos, sucesso está atrelado a bens materiais, mas isso não me interessa. Aspiro à felicidade plena. b) Nossos pais sempre nos disseram que o melhor presente é a amizade sincera. c) Muitos amigos me ajudaram a resolver os problemas estruturais da casa que aluguei. d) Quem me dará as informações necessárias sobre o congresso que ocorrerá mês que vem? e) Eu tenho lhe falado sobre a minha trajetória de vida e os meus gostos pessoais. E.O. Complementar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A internet e a morte da imaginação Jacques Gruman “Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias. Deve ser um conluio com os dentistas.” (Nora Tausz Rónai) Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em guerra. Os perdedores acabaram condenados ao confinamento do outro lado dos espelhos, um primitivo mundo virtual em que eram obrigados a reproduzir tudo o que os vencedores faziam. A luta dos derrotados passava a ser como escapar daquela prisão. O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para criar, na década de 1940, O mundo do espelho, para mim uma das mais aterrorizantes histórias do Mandrake. Espelhos foram, aliás, protagonistas de algumas sequências cinematográficas assustadoras. Bóris Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito bem o medo que, desde crianças carregamos, de que nossos reflexos nos espelhos ganhem autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse realidade? Teríamos de conviver com nossos opostos, um estranhamento no mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o assunto também na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. Era um nonsense pouco habitual no universo previsível dos super-heróis. Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quando me deparei com uma pequena nota de jornal. Encenava-se a ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal do Rio. Suponho que a plateia, que pagou caro, estava mergulhada na história e na interpretação da orquestra e dos solistas. Não é que um cidadão saca seu iPad e passa um tempão checando os e-mails, dedinhos nervosos para cima e para baixo, com a tela iluminando a penumbra indispensável para a fruição plena do espetáculo? Como esse tipo de desrespeito está entrando na “normalidade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Uma espécie de angústia semelhante à incontinência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a ser urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no celular viraram prioridade, casos de vida ou morte. Interrompem- -se conversas para olhar telinhas e telonas, desrespeitando interlocutores. Como este tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente que conversa e olha o computador ao mesmo tempo, como aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se movimentam sem aparente coordenação. Outros participam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica (na verdade, não estão nas reuniões). Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. A vida é controlada a distância e por outros. Outro estranhamento vem da inundação de imagens, aflição que chamo de galeria dos sem imaginação. Enxurradas de fotos invadem o espaço virtual, a enorme maioria delas sem o menor significado e perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por segundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, quem sabe, no horror em estado bruto, que Cartier-Bresson1 esboçaria se esbarrasse nisso. Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, ja-


81VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias mais empilharia a coleção de sorrisinhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics. Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela Nora Rónai, que citei logo no início. Vivemos a era das aparências. Com a multiplicação das imagens, vem a obrigação de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai querer se exibir no Facebook ou nas trocas de mensagens com uma ponta de melancolia ou, pelo menos, um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige estado de êxtase permanente. Uma persona que não passa de ilusão. Criatividade não quer dizer tristeza, claro, mas certamente precisa incorporá-la como tijolo construtor da nossa personalidade. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez, que acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revelador da infinita capacidade de poesia contida na vida humana. O eixo, porém, foi sempre o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a solidão e a esperança perene de encontrar antídotos contra essa condenação”. Nada que essas maquininhas onipresentes possam registrar, elas que jamais entenderiam a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema em linha reta, que começa assim: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo ?”. A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que nova moda é fazer selfies2 depois do sexo. O casal transa, mas isso não basta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da aparência de ambos, coloca-se no Instagram e ... pronto. O mundo inteiro será testemunha de um momento íntimo, talvez o mais íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao paroxismo. É a esse mundo que pertenço? Antigamente, era costume dizer que o que não aparecia na televisão não existia. Atualizando a frase: pelo visto, o que não está na rede não existe. É a universalização do movimento apenas muscular, sem sentido, leviano, rapidamente perecível. Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman passou um bom tempo sem conseguir escrever. A inspiração não vinha. Disse ele: “A poesia é uma senhora que nos visita ou não. Convocá-la é uma impertinência inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. Quando, finalmente, a senhora chega, tudo muda, como narra o poeta: “A visita é como uma obsessão. Uma espécie de ruído junto ao ouvido. Escrevo para entender o que está acontecendo”. Não consigo imaginar uma serenidade como essa no mundo virtual. Tudo nasce e morre antes de ser completamente absorvido. Cada novidade passa a ser vital, filas se formam nas madrugadas nas portas de lojas que começam a vender modelos mais avançados de produtos eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos uma hora. O silêncio e a introspecção são guerrilheiros no habitat plugado. Estou me alistando neste exército de Brancaleone.3 1. Henri Cartier-Bresson: (França 1908- 2004), fotógrafo do século XX, considerado por muitos como o pai do fotojornalismo. 2. fazer selfies: selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, e é uma foto tirada e compartilhada na internet. Normalmente uma selfie é tirada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que possui uma câmera incorporada, com um smartphone, por exemplo. 3. O Incrível Exército de Brancaleone (em italiano: L’armata Brancaleone): é um filme italiano de 1966, do gênero comédia. Foi dirigido por Mario Monicelli. O Exército de Brancaleone é considerado um clássico italiano, que retrata os costumes da cavalaria medieval através da comédia satírica. É um filme inspirado em Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Opiniao/A-morteda-imaginacao/30783>. Acesso em: 16 ago. 2014. (Adaptado). 1. (Cefet MG) Considerando-se o que preconiza a norma padrão, o pronome oblíquo destacado pode ser usado depois do verbo apenas na passagem transcrita em: a) “A poesia é uma senhora que nos visita ou não.” b) “Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. c) “Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quando me deparei com uma pequena nota de jornal.” d) “Uma espécie de angústia semelhante à incontinência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado.” e) “Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisinhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. “(...) De uma coisa sabemos, que o homem branco 1 talvez venha a um dia descobrir: 2 o nosso Deus é o mesmo Deus. 3 Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, 4 talvez mais depressa do que as outras raças. 5 Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, 6 quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; 7 o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência. (...) 8 Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, 9 porque nós as amamos


82VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. 10Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, 11conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.” www.culturabrasil.pro.br/seattle1.htm. Acesso em 16/04/2016. 2. (G1 - epcar (Cpcar) 2017) Assinale a alternativa cuja análise está correta. a) O acento utilizado em “compreendêssemos” justifica-se por se tratar de uma palavra proparoxítona; já o utilizado em “protegíamos” justifica-se pela regra do hiato tônico. b) Os acentos graves utilizados em “causar dano à terra” e “federem à gente” justificam-se por se tratar de complementos verbais intransitivos. c) Justifica-se o uso da ênclise em “Protege-a” (ref. 10), por iniciar período; e, em “conserva-a” (ref. 11), por iniciar uma oração antecedida de vírgula. d) Em “o nosso Deus é o mesmo Deus” (ref. 2) o adjetivo “mesmo” foi utilizado no sentido de “próprio”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando a rede vira um vício Com o titulo “Preciso de ajuda”, fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: “Estou muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso é muito sério”. Logo obteve resposta de um colega de rede. “Estou na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao computador. Preciso de ajuda.” Odiálogo dá a dimensão do tormento provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: “O viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo paralelo — e completamente virtual”. Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas “útil” ou “divertida” e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria. “Como a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle”, diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da frequente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra psicóloga: “Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem”. Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de “aliviar os sentimentos negativos”, tão típicos de uma etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: “Num momento em que a própria personalidade está por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável para que eles se expressem livremente”. No perfil daquela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamento e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, meio ou fim. Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos especializados por toda parte. “Muita gente que procura ajuda ainda resiste à ideia de que essa é uma doença”, conta um psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, “Os pais não devem temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de forma útil e saudável”. Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados. Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado. 3. (G1 - col. naval) Assinale a opção em que, segundo a variedade padrão, pode ocorrer ênclise. a) “[...] como a que se revela nas histórias relatadas [...] (2°parágrafo) b) “Gradativamente, a vida social vai se extinguindo.” (2° parágrafo)


83VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) “Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema [...]” (4° parágrafo) d) “Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente [...]” (4° parágrafo) e) [...] como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida.” (4° parágrafo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: SONETO DE SEPARAÇÃO De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (Vinícius de Morais) 4. (Faap) “De repente do riso fez-se o pranto”. À colocação do pronome “se” depois do verbo fazer (fez-se) dá-se o nome de: a) próclise b) ênclise c) mesóclise d) tmese e) mesóclise imprópria TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A QUESTÃO É COMEÇAR Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, “o boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol. No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar; uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde. (MARQUES, M. O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13). 5. (Pucsp) Observe a seguinte passagem do texto: “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!” lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar você por perto, espiando o que escrevo.” Nela, o autor, utilizando o discurso direto, apresenta um diálogo imaginário entre o autor e seu leitor, introduzindo a linguagem oral no texto escrito. Por essa razão, a) os pronomes oblíquos átonos foram colocados depois do verbo. b) os pronomes oblíquos átonos são enclíticos. c) os pronomes oblíquos átonos não foram utilizados no diálogo. d) os pronomes oblíquos átonos são proclíticos. e) os pronomes oblíquos átonos são mesoclíticos. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do 1 vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente 2 ressabiada quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3 lide caseira, queixou-se do fatigante 4 ramerrão do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, can-


84VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias tarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: – É, canto às vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou: – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou: – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: – Eximinista pianista! Para uma menina com uma flor, 2009. 1. vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional. 2. ressabiado: desconfiado. 3. lide: trabalho penoso, labuta. 4. ramerrão: rotina. 1. (Unesp 2017) Observa-se no texto um desvio quanto às normas gramaticais referentes à colocação pronominal em: a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1º parágrafo) b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1º parágrafo) c) “Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal.” (2º parágrafo) d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular [...].” (2º parágrafo) e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º parágrafo) 2. (Unifesp) Analise a capa de um folder de uma campanha de trânsito. Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu respeito.”, obtém-se, em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa: a) Eu a cuido, eu respeito-lhe. b) Eu cuido dela, eu lhe respeito. c) Eu cuido dela, eu a respeito. d) Eu lhe cuido e respeito. e) Eu cuido e respeito-a. 3. (Unifesp) Se a personagem fosse enfática e dissesse: “... eu não reconheço o documento, eu não reconheço o documento...”, a oração repetida, de acordo com a norma padrão, assumiria a seguinte forma: a) eu não o reconheço. b) eu não reconheço-lhe. c) eu não reconheço ele. d) eu não lhe reconheço. e) eu não reconheço-lo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe: - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? - Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia. - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? - Macabéa. Maca - o quê? - Bea, foi ela obrigada a completar. - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. - Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo - parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei... pois é... - Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra. Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao lançado recém-lançado-namorado:


85VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor? Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo. (Clarice Lispector, A hora da estrela.) 4. (Fuvest) No trecho “mas minha mãe botou ele por promessa”, o pronome pessoal foi empregado em registro coloquial. É o que também se verifica em: a) “ - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?” b) “ - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?” c) “ - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?” d) “ - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.” e) “ - (...) pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Existe, hoje, uma percepção disseminada pela intelectualidade e por boa parte da opinião pública mundial de uma grande e acelerada mudança operando em várias dimensões da sociedade moderno-contemporânea. Não há, certamente, consenso sobre esse fenômeno, variando definições, terminologia e, sobretudo, avaliações positivas, negativas ou matizadas. De qualquer modo, há uma tendência maciça para reconhecer o caráter ampliado das mudanças econômicas e tecnológicas que afetariam, com maior ou menor impacto, todas as sociedades do planeta, justificando o termo globalização mesmo quando se critica a sua possível banalização como instrumento de conhecimento. (Gilberto Velho, Revista de Cultura Brasileira, 03/98, nº 1) 5. (Fuvest) Substituindo por pronome pessoal oblíquo o complemento de AFETARIAM, na mesma frase em que ocorre, obtém-se: a) afetá-las-iam. b) afetariam-nas. c) as afetariam. d) lhes afetariam. e) afetar-lhes-iam. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. B 3. B 4. A 5. A 6. E 7. E 8. B 9. A 10. B E.O. Fixação 1. D 2. B 3. C 4. B 5. C 6. B 7. B 8. E 9. C 10. C E.O. Complementar 1. D 2. C 3. B 4. B 5. D E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. C 3. A 4. D 5. C


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LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTRE LETRAS 4 LITERATURA


88VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. Sobre “Os Sertões”, é INCORRETO afirmar que: a) o autor, militar em sua origem, desaprova a causa dos sertanejos. b) apresenta certa dificuldade em termos de enquadramento em um único gênero literário. c) sua linguagem tende ao solene, com vocabulário erudito e tom grandiloquente. d) origina-se de reportagens para “O Estado de São Paulo”, nas quais o autor expõe fatos relacionados à Guerra de Canudos. e) Euclides da Cunha segue um esquema determinista na estrutura das três partes da obra. Texto para a próxima questão O Martírio DO ARTISTA Arte ingrata! E conquanto, em desalento, A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda, Busca exteriorizar o pensamento Que em suas fronetais células guarda! Tarda-lhe a Ideia! A inspiração lhe tarda! E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento, Como o soldado que rasgou a farda No desespero do último momento! Tenta chorar e os olhos sente enxutos! ... É como o paralítico que, à míngua Da própria voz e na que ardente o lavra Febre de em vão falar, com os dedos brutos Para falar, puxa e repuxa a língua, E não lhe vem à boca uma palavra! Augusto dos Anjos 2. Augusto dos Anjos é autor de um único livro, EU, editado pela primeira vez em 1912. OUTRAS POESIAS acrescentaram-se às edições posteriores. Considerando a produção literária desse poeta, pode-se dizer que: a) foi recebida sem restrições no meio literário de sua época, alcançando destaque na história das formas literárias brasileiras. b) revela uma militância político-ideológica que o coloca entre os principais poetas brasileiros de veio socialista. c) foi elogiada poeticamente pela crítica de sua época, entretanto não representou um sucesso de público. d) traduz a sua subjetividade pessimista em relação ao homem e ao cosmos, por meio de um vocabulário técnico-científico-poético. e) anuncia o Parnasianismo, em virtude das suas inovações técnico-científicas e de sua temática psicanalítica. E.O. Fixação 1. (Ufrgs) Leia o soneto Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos, e o poema Pneumotórax, de Manuel Bandeira. Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimarnente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Pneumotórax Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três... trinta e três... trinta e três... — Respire. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre os poemas. PRÉ-MODERNISMO COMPETÊNCIA(s) 5 e 6 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 27 E 28


89VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias ( ) Os dois poemas tratam do problema da finitude do corpo, corroído por doenças, utilizando um vocabulário técnico, pouco comum à poesia. ( ) O soneto de Augusto dos Anjos apresenta as energias do universo, que se associam para formar o “Eu”, e não conseguem evitar a decomposição do corpo. ( ) O poema de Manuel Bandeira mostra a fragilidade do corpo, encarada de forma irônica, sem o tom grave de conspiração encontrado em Augusto dos Anjos. ( ) Os dois poemas evidenciam o destino implacável da destruição do homem desde que nasce, marcado pela presença dos vermes. a) V - F - V - V. b) F - V - F - F. c) V - V - V - F. d) F - F - V - V. e) V - F - F - V. 2. (UPF) Leia as seguintes afirmações sobre três dos mais importantes autores da literatura brasileira e suas obras. I. A obra poética de Gregório de Matos é feita barrocamente de fortes contrastes: sátira irreverente versus poesia de devoção e arrependimento; poesia obscena versus poesia de amor idealizado. II. Cruz e Sousa é um romancista do período simbolista que representa e denuncia a injusta sociedade escravocrata do Brasil na sua época. III. A obra Os sertões de Euclides da Cunha constitui um dos momentos altos do pré-modernismo porque dá uma visão agudamente crítica de um Brasil ainda arcaico em linguagem dramaticamente expressiva, embora ainda distante das inovações que viriam a caracterizar a linguagem modernista. Está correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e III. c) I. d) II e III. e) III. 3. (UFRGS) A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, está dividida em três partes: A terra, O homem e A luta. Esses três elementos, no entanto, são interdependentes: a luta do homem em determinada terra. Assinale a alternativa que exemplifica essa interdependência entre as três partes do livro, nos fragmentos abaixo. a) Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas; esterilizam-se os ares urentes; empedra-se o chão, gretando, recrestado; ruge o nordeste nos ermos; e, como cilício dilacerador, a caatinga estende sobre a terra as ramagens de espinhos... b) É que nessa concorrência admirável dos povos, evolvendo todos em luta sem tréguas, na qual a seleção capitaliza atributos que a hereditariedade conserva, o mestiço é um intruso. c) Para todos os rumos e por todas as estradas e em todos os lugares, os escombros carbonizados das fazendas e dos pousos, avultavam, insulando o arraial num grande círculo isolador, de ruínas. Estava pronto o cenário para um emocionante drama da nossa história. d) (...) as caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta. Entram também de certo modo na luta. Armam-se para o combate; agridem. Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas abrem-se em trilhas multívias, para o matuto que ali nasceu e cresceu. e) O clima extremava-se em variações enormes: os dias repontavam queimosos, as noites sobrevinham frigidíssimas. 4. (PUC-RS) Leia o fragmento que segue. “A travessia foi penosamente feita. O terreno inconsistente e móvel fugia sob os passos aos caminhantes; remorava a tração das carretas absorvendo as rodas até ao meio dos raios; opunha, salteadamente, flexíveis barreiras de espinheirais, que era forçoso destramar a facão; e reduplicava, no reverberar intenso das areias, a adustão da canícula. De sorte que ao chegar à tarde, à “Serra Branca”, a tropa estava exausta. Exausta e sequiosa. Caminhara oito horas sem parar, em pleno arder do sol bravio do verão.” O fragmento pertence ao livro Os sertões, de Euclides da Cunha, que relata a Guerra de Canudos, travada no Nordeste brasileiro entre os homens liderados por Antônio Conselheiro e as tropas militares republicanas. Neste trecho da obra: I. alternam-se a linguagem coloquial e a inconformidade com a exploração do homem pelo homem. II. a complexidade vocabular e o predomínio da descrição constituem características marcantes. III. a reiteração de expressões regionais e a preocupação com a condição humana permeiam o ponto de vista do narrador. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. 5. TEXTO 1 O Morcego Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. “Vou mandar levantar outra parede...” Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?!


90VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994. TEXTO 2 O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica. CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro: Cátedra, 1988 (adaptado). Em consonância com os comentários do texto 2 acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema apresenta- -se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de a) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia. b) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro. c) representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial. d) abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano. e) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na estrutura lírica da poesia. E.O. Complementar TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES Apóstrofe à carne Quando eu pego nas carnes do meu rosto, Pressinto o fim da orgânica batalha: – Olhos que o húmus necrófago estraçalha, Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto. E o Homem – negro e heteróclito composto, Onde a alva flama psíquica trabalha, Desagrega-se e deixa na mortalha O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto! Carne, feixe de mônadas bastardas, Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas, A dardejar relampejantes brilhos, Dói-me ver, muito embora a alma te acenda, Em tua podridão a herança horrenda, Que eu tenho de deixar para os meus filhos! (Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.) 1. No soneto de Augusto dos Anjos, é evidente: a) a visão pessimista de um “eu” cindido, que desiste de conhecer-se, pelo medo de constatar o já sabido de sua condição humana transitória. b) o transcendentalismo, uma vez que o “eu” desintegrado objetiva alçar voos e romper com um projeto de vida marcado pelo pessimismo e pela tortura existencial. c) a recorrência a ideias deterministas que impulsionam o “eu” a superar seus conflitos, rompendo um ciclo que naturalmente lhe é imposto. d) a vontade de se conhecer e mudar o mundo em que se vive, o que só pode ser alcançado quando se abandona a desintegração psíquica e se parte para o equilíbrio do “eu”. e) o uso de conceitos advindos do cientificismo do século XIX, por meio dos quais o poeta mergulha no “eu”, buscando assim explorar seu ser biológico e metafísico. 2. No plano formal, o poema é marcado por: a) versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas. b) vocabulário seleto, rimas raras, aliterações. c) vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias. d) assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas. e) versos livres, rimas intercaladas, inversões sintáticas. 3. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações sobre obras de Monteiro Lobato. I. Em “Urupês”, “Cidades Mortas” e “Negrinha”, ele produz uma literatura comprometida predominantemente com os problemas socioeconômicos do Brasil. II. Em “Urupês”, ele atribui a culpa pelo atraso do Brasil ao caboclo, por ele ser acomodado e inadaptável às mudanças necessárias ao desenvolvimento. III. O título “Cidades Mortas” alude às cidadezinhas do interior de São Paulo, que perderam a sua importância econômica face à Capital. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III. E.O. Dissertativo 1. (UFF) Cacá Diegues desbrava o Brasil como os brasilianistas de outrora e mostra uma população alijada que tenta se manter entre a cultura tradicional – transmitida por seus antepassados – e a modernidade, que como um bandeirante entra nos mais longínquos rincões do Brasil. O eterno retorno e a interminável travessia resgatada, entre outros, por Euclides da Cunha emergem na obra de Diegues. O filme é uma forma contemporânea de denunciar o Brasil que conhecemos pouco. (http://www.facasper.com.br/cultura/site/ensaio. Adaptação).


91VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO I “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo é o homem permanentemente fatigado. Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. No revés o homem transfigura-se e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.” Euclides da Cunha, Os sertões. TEXTO II Caracterize os efeitos de sentido que a intertextualidade do Texto II (aspectos verbais e não verbais) apresenta com o fragmento de Os sertões (Texto I). TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO I Eu estava deitado num velho sofá amplo. 3 Lá fora, a chuva caía com redobrado rigor e ventava fortemente. A nossa casa frágil parecia que, de um momento para outro, ia ser arrasada. 1 Minha mãe ia e vinha de um quarto próximo; removia baús, arcas; cosia, futicava. Eu devaneava e ia-lhe vendo o perfil esquálido, o corpo magro, premido de trabalhos, as faces cavadas com os malares salientes, tendo pela pele parda manchas escuras, como se fossem de fumaça entranhada. 4 De quando em quando, ela lançava-me os seus olhos aveludados, redondos, passivamente bons, onde havia raias de temor ao encarar-me. Supus que adivinhava os perigos que eu tinha de passar; sofrimentos e dores que a educação e inteligência, qualidades a mais na minha frágil consistência social, haviam de atrair fatalmente. 2 Não sei que de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para me deitar aqueles olhares de amor e espanto, de piedade e orgulho. LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Rio de Janeiro; Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1989. p.26-27. TEXTO II TEIA de aranha, galho seco da roseira, quem sou? Luz calçada em alpargatas de prata rapta as flores da fronha, quem sou? Pássaro que mora na neblina destila seu canto de água limpa – longe, sozinho – me diga quem sou. ROQUETTE-PINTO, Claudia. Corola. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 67. 2. (UFF) Identifique, no discurso confessional do narrador do texto I, aspectos que apontam para a contundente crítica social que se tornou marca da ficção pré- -modernista de Lima Barreto. E.O. Enem 1. (Enem) Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti. Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação. Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios. O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito. POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005. Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais. b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional.


92VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias c) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino. d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares. e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço social. 2. (Enem) TEXTO I Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. TEXTO II Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional. SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902. Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente, como fruto da: a) manipulação e incompetência. b) ignorância e solidariedade. c) hesitação e obstinação. d) esperança e valentia. e) bravura e loucura. E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. (Unesp) Trata-se de uma obra híbrida que transita entre a literatura, a história e a ciência, ao unir a perspectiva científica, de base naturalista e evolucionista, à construção literária, marcada pelo fatalismo trágico e por uma visão romântica da natureza. Seu autor recorreu a formas de ficção, como a tragédia e a epopeia, para compreender o horror da guerra e inserir os fatos em um enredo capaz de ultrapassar a sua significação particular. (Robelrto Ventura. “Introdução”. In: Silviano Santiago (org.). Intérpretes do Brasil, vol. 1, 2000. Adaptado.) Tal comentário crítico aplica-se à obra: a) Capitães da Areia, de Jorge Amado. b) Vidas secas, de Graciliano Ramos. c) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. d) Os sertões, de Euclides da Cunha. e) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Os sertões A Serra do Mar tem um notável perfil em nossa história. A prumo sobre o Atlântico desdobra-se como a cortina de baluarte desmedido. De encontro às suas escarpas embatia, fragílima, a ânsia guerreira dos Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo o olhar em cheio para os chapadões, o forasteiro sentia-se em segurança. Estava sobre ameias intransponíveis que o punham do mesmo passo a cavaleiro do invasor e da metrópole. Transposta a montanha — arqueada como a precinta de pedra de um continente — era um isolador étnico e um isolador histórico. Anulava o apego irreprimível ao litoral, que se exercia ao norte; reduzia-o a estreita faixa de mangues e restingas, ante a qual se amorteciam todas as cobiças, e alteava, sobranceira às frotas, intangível no recesso das matas, a atração misteriosa das minas... Ainda mais — o seu relevo especial torna-a um condensador de primeira ordem, no precipitar a evaporação oceânica. Os rios que se derivam pelas suas vertentes nascem de algum modo no mar. Rolam as águas num sentido oposto à costa. Entranham-se no interior, correndo em cheio para os sertões. Dão ao forasteiro a sugestão irresistível das entradas. A terra atrai o homem; chama-o para o seio fecundo; encanta-o pelo aspecto formosíssimo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente, na correnteza dos rios. Daí o traçado eloqüentíssimo do Tietê, diretriz preponderante nesse domínio do solo. Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba, no Amazonas, e em todos os cursos d’água da borda oriental, o acesso para o interior seguia ao arrepio das correntes, ou embatia nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos planaltos, ele levava os sertanistas, sem uma remada, para o rio Grande e daí ao Paraná e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas, em Goiás, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso, no Brasil inteiro. Segundo estas linhas de menor resistência, que definem os lineamentos mais claros da expansão colonial, não se opunham, como ao norte, renteando o passo às bandeiras, a esterilidade da terra, a barreira intangível dos descampados brutos. Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física esclarece as anomalias e contrastes entre os sucessos nos dous pontos do país, sobretudo no período agudo da crise colonial, no século XVII. Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernambuco, reagia por toda a costa oriental, da Bahia ao Maranhão, e se travavam recontros memoráveis em que, solidárias, enterreiravam o inimigo comum as nossas três


93VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias raças formadoras, o sulista, absolutamente alheio àquela agitação, revelava, na rebeldia aos decretos da metrópole, completo divórcio com aqueles lutadores. Era quase um inimigo tão perigoso quanto o batavo. Um povo estranho de mestiços levantadiços, expandindo outras tendências, norteado por outros destinos, pisando, resoluto, em demanda de outros rumos, bulas e alvarás entibiadores. Volvia-se em luta aberta com a corte portuguesa, numa reação tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando o holandês e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri e Díaz Taño a Roma, apontavam-no como inimigo mais sério. De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe preparavam o governo de Nassau, em São Paulo se arquitetava o drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portugal veio alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congregando de novo os combatentes exaustos, os sulistas frisaram ainda mais esta separação de destinos, aproveitando-se do mesmo fato para estadearem a autonomia franca, no reinado de um minuto de Amador Bueno. Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua feição verdadeiramente nacional. Fora disto mal a vislumbramos nas cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, onde imperava a Companhia de Jesus com o privilégio da conquista das almas, eufemismo casuístico disfarçando o monopólio do braço indígena. (EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Edição crítica de Walnice Nogueira Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001, p. 81-82.) 1. (Unesp) O escritor se serve, no fragmento apresentado, da alternância de dois tempos verbais, conforme queira diferençar aspectos propriamente físicos, descritivos, de aspectos de ordem narrativa ou histórica. Releia o primeiro parágrafo do fragmento e identifique os dois tempos verbais que o escritor utiliza com essa finalidade. 2. (Unesp) Representante do pré-modernismo brasileiro e um dos maiores nomes de nossa literatura, Euclides da Cunha nos encanta pelo vigor e variedade de seus procedimentos de estilo. Neste sentido, um dos recursos notáveis de “Os sertões” é o das personificações na descrição de acidentes geográficos, que em seu texto parecem dotados de vontade e atitude própria, o que confere bastante dramaticidade a passagens como a apresentada. Tomando por base este comentário, releia o período que constitui o quarto parágrafo e explique o procedimento da personificação ou prosopopeia que nele ocorre. 3. (Unesp) Os escritores utilizam, por vezes, expressões que, à primeira vista, parecem exageradas, mas que carregam a intenção de tornar mais concreto um argumento para o leitor. Com base nesta observação, releia o segundo período do quinto parágrafo e demonstre que Euclides da Cunha serviu-se desse recurso ao empregar a expressão “sem uma remada”. 4. (Unesp) Um dos aspectos em que Euclides da Cunha busca alguns de seus melhores efeitos é o da adjetivação, que torna seu discurso ao mesmo tempo vário e expressivo, razão pela qual alguns o consideram, comparando-o com poetas ainda ativos em sua época, um “prosador parnasiano”. Releia com atenção o último parágrafo do texto apresentado e, a seguir, aponte três dos adjetivos que nele ocorrem. 5. (Unesp) A retomada de um mesmo vocábulo, com a mesma flexão ou com variação de flexão, denominada “poliptoto” pela retórica tradicional, é um recurso comumente usado para conferir ênfase à expressão de determinados conteúdos num período, como nesta passagem de “Os Lusíadas”: “No mar, tanta tormenta e tanto dano, / Tantas vezes a morte apercebida; / Na terra, tanta guerra, tanto engano, / Tanta necessidade aborrecida” (I, 106). Demonstre que Euclides da Cunha se serve desse recurso no terceiro período do sétimo parágrafo do texto. 6. (Unesp) Dentro das linhas de força do pré-modernismo, que levavam os escritores a uma nova e mais objetiva interpretação do país e de seus problemas, Euclides da Cunha, no último parágrafo do texto, levanta crítica à Companhia de Jesus, atribuindo-lhe, por exemplo, com ironia brotada do conhecimento histórico, a “conquista das almas”, isto é, a catequese dos indígenas brasileiros. Releia esse parágrafo e, a seguir, explique o que quer significar o autor na sequência com a expressão “monopólio do braço indígena”. Gabarito E.O. Aprendizagem 1. C 2. D E.O. Fixação 1. C 2. B 3. D 4. B 5. D E.O. Complementar 1. E 2. B 3. E E.O. Dissertativo 1. No texto de Drummond e Ziraldo, o sertanejo é ironicamente apresentado como um agitador, quando reivindica. É o aspecto não verbal (figuras esquálidas, caídas no chão, a criança “barrigudinha”, as marcas da seca no chão gretado, as mãos em desespero etc.) que enfatiza a ironia e passa a ressignificar o texto de Euclides da Cunha. Essa ironia faz uma crítica à ideologia do senso comum sobre os nordestinos de modo geral. 2. A crítica social se faz presente na descrição da casa frágil, no aspecto físico da mãe, magra e esquálida, por conta do pesado trabalho, e na referência ao descompasso entre a educação e inteligência do narrador e sua condição social.


94VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Enem 1. A 2. E E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. D E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. No que tange aos aspectos físicos, o enunciador usa o presente do indicativo, como, por exemplo: “A prumo sobre o Atlântico DESDOBRA-SE como a cortina...” No que se refere à questão histórica, o autor usa o pretérito imperfeito do indicativo, como no seguinte exemplo: “De encontro às suas escarpas EMBATIA, fragílima, a ânsia guerreira...” e “...o forasteiro SENTIA-SE em segurança.” 2. Prosopopeia é a figura de linguagem em que o escritor determina sentimentos humanos e palavras a seres inanimados. A prosopopeia é vista no quarto parágrafo, quando o autor atribui à “terra” ações que a associam à imagem de mulher: “A terra ‘atrai’ o homem; ‘chama-o’ para o seio fecundo; ‘encanta-o’ (...); ‘arrebata-o’ (...)”. 3. O trecho “sem uma remada” é uma hipérbole, uma vez que serve para sublinhar a facilidade com que os canoeiros navegavam pelo Tietê, seguindo o fluxo natural do rio, que corria naquela direção. 4. No último parágrafo, há cinco adjetivos. As possíveis respostas podem ser: “maior”, “nacional”, “espetaculosas”, “casuístico”, “indígena”. 5. O sétimo parágrafo mostra diferenças entre o projeto político dos brasileiros do norte e os do sul. Os do norte, contra o domínio holandês, colocando-se a favor dos interesses da metrópole na época da União Ibérica. Já os paulistas preocupavam-se com o desbravar das terras do sul, e se despreocupavam com os interesses da Espanha, esperançosos de que Portugal resgatasse um dia sua autonomia. Logo, o narrador retoma em vários momentos o pronome “outro” com a ideia de mostrar a diversidade de propósitos com relação à política unificadora das Cortes europeias. 6. Na classificação da “conquista das almas”, pela Companhia de Jesus, o enunciador denuncia o uso feito da catequese pelos jesuítas, em forma de eufemismo, para explorar o trabalho dos índios.


95VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias E.O. Aprendizagem 1. (UFPE) Os movimentos culturais do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX dialogavam com as mudanças que ocorriam na sociedade ocidental, com a afirmação do modo de produção capitalista e com as novas formas de pensar e de sentir o mundo. Com o modernismo e as vanguardas artísticas, houve mudanças importantes, pois: ( ) Matisse, Van Gogh e Picasso expressaram com seus quadros mudanças nas concepções estéticas da pintura. ( ) o dadaísmo procurou radicalizar nas suas propostas, criticando os valores estabelecidos, com destaque para a obra de artistas como Marcel Duchamp. ( ) o surrealismo trouxe a exploração do inconsciente, presente na pintura do espanhol Salvador Dali e na obra literária do francês André Breton. ( ) com obras que causaram impacto, houve um rompimento frente aos modelos clássicos que adotavam regras e limites para o artista. ( ) concepções literárias e musicais renovadoras, estiveram presentes nas obras de Marcel Proust, James Joyce, Debussy, Paul Éluard, Stravinsky e tantos outros. 2. (UFAM) Leia o texto abaixo, referente a uma “receita” para se fazer um poema: “Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e metas num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.” TZARA, Tristan. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p.132. Essa “teoria poética”, que tende para o mais completo anarquismo, é uma plataforma do: a) Futurismo. b) Expressionismo. c) Dadaísmo. d) Surrealismo. e) Cubismo. 3. (UFAM) A respeito do Surrealismo, um dos movimentos de vanguarda relacionados ao Modernismo brasileiro, pode-se afirmar: a) Pierre Garnier, que o sistematizou, declarava que as profundezas de nosso espírito abrigam forças capazes de superar o aparente equilíbrio da superfície. b) Sua história se confunde com a de seu líder, Marinetti, que, em 1909, lançou em Paris o manifesto do movimento. c) Teve como líder o romeno Tristan Tzara, que privilegiava a exploração do inconsciente, as narrações dos sonhos, as experiências hipnóticas. d) Tendo como referência o pintor Picasso, seus adeptos pregavam a deformação dos objetos naturais, privilegiando a subjetividade do artista. e) André Breton, que lançou o manifesto do movimento em 1924, considerava o racionalismo absoluto como algo absolutamente desprezível. 4. Enfim, um indivíduo de ideias abertas “A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a coceira. Até que, traque, ouviu o leve estalo e a chave enfim no seu encaixe percebeu que a cabeça lentamente se abria.” Marina Colasanti. Contos de Amor Rasgado. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 11. Mobilizando as concepções de gênero literário, de estilos estéticos e de efeitos de sentido na produção literária, analise os comentários seguintes referentes ao texto. I. O texto é narrativo, apresentando uma sequência de eventos, uma personagem e um narrador na terceira pessoa do discurso. II. Como indica o título da obra em que o texto está inserido, trata-se de um conto, gênero literário que exige um núcleo narrativo complexo e plural. III. O texto revela fortes tendências do Surrealismo, movimento de vanguarda do século XX, que tem por característica, entre outras, aproximar a linguagem da estrutura do sonho. IV. O texto explora a polissemia contida nos vocábulos ‘abertas’ e ‘abria’. O final do texto, no entanto, sugere uma interpretação predominantemente literal e, assim, consegue o efeito de estranhamento. TEORIA DA VANGUARDA COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 29 E 30


96VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias V. Pela sua curta dimensão e pelo teor dos fatos narrados, o texto faz parte da antologia da primeira fase do Modernismo brasileiro, quando predominaram os poemas-piada. A afirmativa é verdadeira nos itens: a) I, IV e V, apenas. b) II e IV, apenas. c) I, II e III, apenas. d) II, III e V, apenas. e) I, III e IV, apenas. 5. (Enem) O autor da tira utilizou os princípios de composição de um conhecido movimento artístico para representar a necessidade de um mesmo observador aprender a considerar, simultaneamente, diferentes pontos de vista. Adaptado de WATTERSON, Bill. Os dez anos de Calvin e Haroldo. V. 2. São Paulo. Best News, 1996. Das obras reproduzidas, todas de autoria do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela em cuja composição foi adotado um procedimento semelhante é: a) Os amantes. b) Retrato de Françoise. c) Os pobres na praia. d) Os dois saltimbancos. e) Marie-Thérèse apoiada no cotovelo. 6. Abaixo, um exercício da UnB “Alaíde (alheando-se bruscamente) – Espera, estou-me lembrando de uma coisa. Espera. Deixa eu ver! Mamãe dizendo a papai. (Apaga-se o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Pai e mãe.) Mãe – Cruz! Até pensei ter visto um vulto. – Ando tão nervosa. Também esses corredores! A alma de madame Clessi pode andar por aí... e... Pai – Perca essa mania de alma! A mulher está morta, enterrada! Mãe – Pois é... (Apaga-se o plano da memória. Luz no plano da alucinação.) Clessi – Mas o que foi? Alaíde – Nada. Coisa sem importância que eu me lembrei. (forte) Quero ser como a senhora. Usar espartilho. (doce) Acho espartilho elegante! Clessi – Mas seu marido, seu pai, sua mãe e... Lúcia? Homem (para Alaíde) - Assassina! (Apaga-se o plano da alucinação. Luz no plano da realidade. Sala de operação.) 1º médico – Pulso? 2º médico – Cento e sessenta. 1º médico – Rugina. 2º médico – Como está isso! 1º médico – Tenta-se uma osteossíntese! 3º médico – Olha aqui. 1º médico – Fios de bronze. (Pausa) 1º médico – O osso! 3º médico – Agora é ir até o fim. 1º médico –  Se não der certo, faz-se a amputação. (Rumor de ferros cirúrgicos) 1º médico – Depressa!


97VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias (Apaga-se a sala de operação. Luz no plano da alucinação.) Homem (para Alaíde, sinistro) — Assassina!” Nelson Rodrigues. Vestido de noiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004, p. 18. Tendo como referência o fragmento da obra Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, julgue os itens seguintes (certo ou errado). ( ) Nesse fragmento, verifica-se a presença do jogo teatral, no qual é possível perceber a construção, pelo autor, de situações psicológicas vertiginosas. ( ) Nesse fragmento, é possível identificar elementos expressionistas, explorados pelo emprego de recursos cênicos por meio dos quais se justapõem o passado, as aspirações futuras e a realidade implacável. ( ) Os planos de tempo apresentados nesse fragmento de Vestido de Noiva estão todos no plano do tempo em que a peça está sendo encenada, ou seja, eles correspondem ao tempo real. ( ) Foi empregada a linguagem formal tanto em “Espera. Deixa eu ver!” (no início do trecho) quanto em “Perca essa mania de alma!” (no terceiro diálogo), o que se justifica por se tratar de frases usadas em cena que envolve muita tensão emocional dos personagens em interlocução. 7. Em 1924, os surrealistas lançaram um manifesto no qual anunciaram a força do inconsciente na criação de novas percepções. Valorizavam a ausência de lógica das experiências psíquicas e oníricas, propondo novas experiências estéticas. Sobre o Surrealismo, é correto afirmar: a) Acredita que a liberação do psiquismo humano se dá por meio da sacralização da natureza. b) Baseia-se na razão, negando as oscilações do temperamento humano. c) Destaca que o fundamental, na arte, é o objeto visível em detrimento do emocionalismo subjetivo do artista. d) Concede mais valor ao livre jogo da imaginação individual do que à codificação dos ideais da sociedade ou da história. e) Busca limitar o psiquismo humano e suas manifestações, transfigurando-os em geometria a favor de uma nova ordem. 8. (ESPM) Verifique o texto: “Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das avenidas marinhas sem sol. Losangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam o verde dos montes interiores.” Esse fragmento da obra Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, revela influência de uma corrente de vanguarda europeia do Modernismo. Marque-a: a) Futurismo, pela exaltação à velocidade e à tecnologia automotiva. b) Surrealismo, pois as imagens insólitas apresentadas parecem ter sido extraídas do sonho ou do inconsciente do narrador. c) Cubismo, já que somente partes dos objetos e da paisagem são descritas, a imagem é fragmentária. d) Expressionismo, pela caricaturização, pela deformação da imagem através do exagero. e) Dadaísmo, pois o significado do texto é nenhum, já que as ideias estão misturadas ao acaso. 9. O pintor espanhol Pablo Picasso está vinculado a qual vanguarda do século XX? a) Surrealismo. b) Cubismo. c) Dadaísmo. d) Futurismo. e) Trovadorismo. 10. A ideia da desconstrução e do anti-manifesto é o que sustenta qual das vanguardas do século XX. a) Impressionismo. b) Cubismo. c) Dadaísmo. d) Futurismo. e) Surrealismo. E.O. Fixação 1. (Insper) O texto a seguir corresponde ao capítulo 92, chamado “Estelário”, das Memórias sentimentais de João Miramar, obra representativa da primeira fase da literatura modernista brasileira. Coração esperançava o esperançoso Começo claro da noite cidadania Retalhos grandes de nuvens E duas estrelas vivas Trem rolava com minha estrela Bordando a vida fabricadora Do Brás à Luz Rolah estrelava o Hotel Suíço (Oswald de Andrade) No texto, encontram-se vários traços de inovação estética, entre os quais NÃO ESTÁ: a) o emprego constante de regionalismos. b) a influência das vanguardas europeias. c) a abolição da pontuação convencional. d) a valorização dos neologismos. e) o fim das fronteiras entre prosa e poesia. 2. (UPE) As Vanguardas europeias são movimentos artísticos e culturais, com repercussão em muitas escolas literárias brasileiras. Pode-se, inclusive, afirmar que elementos constitutivos das Vanguardas estão presentes em autores e obras da estética literária modernista. Sendo assim, diante dessa afirmativa, assinale a alternativa CORRETA. a) As chamadas Vanguardas europeias foram importantes para os movimentos culturais do início do século XX. No entanto, no Brasil, há um consenso entre os estudiosos da literatura que essas Vanguardas em nada nos influenciaram.


98VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias b) O Dadaísmo, uma das chamadas Vanguardas europeias, defendia que somente a associação entre todas as tendências vanguardistas poderia resultar em avanços importantes para as artes e para a cultura de um modo geral. c) Temáticas oriundas dos estudos freudianos como fantasia, sonho, ilusão, loucura estão presentes em obras surrealistas. Nas artes plásticas, Salvador Dali (1904/1989) é um dos principais representantes dessa Vanguarda. d) Mário de Andrade e Oswald de Andrade, participantes da Semana de Arte Moderna, em muitas ocasiões, negaram a relação existente entre as Vanguardas europeias e os valores e as motivações das obras modernistas brasileiras. e) Há uma relação intensa entre Futurismo e Cubismo. Tanto uma quanto a outra têm os mesmos interesses e objetivos e em nada se diferenciam, exceto quando se relacionam com a arte literária. 3. (UCS) Leia o fragmento do Manifesto da poesia pau- -brasil, de Oswald de Andrade. Uma nova escala: A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que as torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte. ANDRADE, Oswald de. Manifesto da poesia pau-brasil. Disponível em: <http://www.tanto.com.br/manifestopaubrasil.htm>. Acesso em: 9 ago. 2013. Assinale a alternativa em que a vanguarda artística do século XX está corretamente representada por uma de suas características predominantes. a) Dadaísmo: junção aleatória de signos verbais. b) Expressionismo: representação subjetiva da alma do poeta. c) Surrealismo: representação do inconsciente em uma atmosfera de sonho. d) Futurismo: inovações tecnológicas e culturais próprias do século XX. e) Cubismo: preocupação de revelar sentidos, formas e cores a partir de vários aspectos do mesmo objeto. 4. (UEG) CÂNDIDO PORTINARI - Primeira missa no Brasil. 1947. “Enciclopédia Barsa”, 1997. ERRO DE PORTUGUÊS OSWALD DE ANDRADE Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português Disponível em: www.releituras.com/oandrade_tupi.asp. Acesso em: 3 out. 2007 Cândido Portinari e Oswald de Andrade utilizaram temas de interesse histórico e cultural no intuito de entender e dar sentido à realidade brasileira. Sobre as características estéticas do quadro e do poema, é INCORRETO afirmar: a) A ironia presente no poema reflete uma tradição popular, que, principalmente após a Independência, ridicularizou os portugueses através de piadas e anedotas. b) O título do poema também pode ser interpretado literalmente, uma vez que, propositalmente, o poeta se distancia das normas gramaticais. c) É possível perceber a influência do cubismo e dos pintores muralistas mexicanos na obra expressionista de Portinari. d) Ambos demonstram a influência do nacionalismo implementado pelo Estado Novo com o intuito de valorizar a originalidade da cultura luso-brasileira. 5. As formas plásticas nas produções africanas conduziram artistas modernos do início do século XX, como Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas denominadas vanguardas. A máscara remete à: a) preservação da proporção. b) idealização do movimento. c) estruturação assimétrica. d) sintetização das formas. e) valorização estética. 6. (FGV) Ao retornar da Europa, em 1912, entusiasmado com as ideias do _________, em especial naquilo que se refere à Arte e à Literatura, _________ passa


99VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias a preconizar que ambas devem adequar-se à era da velocidade das locomotivas, dos aeroplanos, dos automóveis, à era das máquinas, enfim, ao desenvolvimento tecnológico e que, para isso, era necessário romper com o passado, com a tradição. Mais tarde, entra em contato com outras propostas vanguardistas europeias, de que surgirão outros movimentos por ele liderados, como o Movimento __________. Preenche corretamente as lacunas a alternativa: a) Dadaísmo - Plínio Salgado - Verde-amarelo. b) Concretismo - Manuel Bandeira - Regionalista. c) Futurismo - Oswald de Andrade - Antropofágico. d) Cubismo - Ronald de Carvalho - Construtivista. e) Surrealismo - Mário de Andrade - Nativista. 7. (UEG) PICASSO - Disponível em: <www.likovna-kultura.ufzg.hr> Acesso em: 19 set. 2007. Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na [pedra. ANDRADE, C. D. de. Nosso tempo. Disponível em: www.insrolux. org/poesias/nossotempodrummond.htm (5 set. 2007). Segundo o historiador britânico Eric Hobsbawm, o período compreendido entre o início da primeira e o final da Segunda Guerra Mundial pode ser denominado de “Era da Catástrofe”, uma vez que foi marcado por guerras genocidas, regimes políticos fascistas, crises econômicas e pandemias mundiais. Algumas obras artísticas expressaram a angústia do período, como o quadro “Guernica”, pintado por Picasso em 1937, e o poema “Nosso tempo”, escrito por Drummond em 1945. Sobre a relação dessas obras com seu contexto, é INCORRETO afirmar: a) No poema de Drummond está presente uma ideologia comunista que foi bastante difundida depois da Segunda Guerra Mundial. b) Tanto o quadro como o poema expressam uma certa visão romântica de mundo, na medida em que idealizam os temas que retratam. c) O quadro de Picasso é uma denúncia das atrocidades cometidas pelas tropas alemãs na Guerra Civil Espanhola. d) Estruturalmente, o poema de Drummond, condizendo com seu estilo poético, é formado por versos livres. 8. (UFSM) “Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminé de fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte!” O trecho reflete características vanguardistas que foram reproduzidas por um período da literatura brasileira. Assinale a alternativa que associa corretamente período e vanguarda em questão. a) Parnasianismo - Expressionismo. b) Simbolismo - Decadentismo. c) Modernismo - Dadaísmo. d) Modernismo - Futurismo. e) Simbolismo - Surrealismo. 9. (UEL) Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, “O grande desastre aéreo de ontem”, com o quadro Guernica, de Pablo Picasso. “Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que Deus é o arrebol.” (LIMA, Jorge de. “Poesia”. Nossos Clássicos 26. Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.) arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol. Assinale a alternativa correta: a) Tanto o poeta quanto o pintor acalentam esperanças ingênuas quanto à superação das tragédias do cotidiano no mundo moderno. b) Ambos os artistas revelam conformismo diante dos acontecimentos trágicos, representados pelo desastre aéreo e pela guerra. c) A quebra das figuras no quadro e a enumeração rápida das figuras no poema evidenciam uma opção estética que se pauta pela harmonia figurativa na pintura e pela linearidade discursiva no texto literário. d) Em ambas as obras os artistas abdicam de uma ótica subjetiva, apresentando de maneira racional e neutra as tragédias do mundo moderno. e) Cada uma das duas obras retrata, com linguagem distinta, o assombro dos artistas diante de realidades trágicas do mundo moderno.


100VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Poética De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo A oeste é meu norte. Quero que contem Passo por passo Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: - Meu tempo é quando. (Cecília Meireles) 10. (Unirio) O poema estrutura-se numa quebra da lógica externa. Que movimento de vanguarda apresenta essa característica? a) Futurismo. d) Surrealismo. b) Dadaísmo. e) Cubismo. c) Expressionismo. E.O. Complementar 1. (UEG) [...] magro e macilento, um tanto baixo, um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos; quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia- -se logo um cheiro azedo de roupas sujas. AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. p. 17. In:< http://www.dominiopublico. gov.br> Acesso em: 21 ago. 2014 A pintura de Lasar Segall e o fragmento de Aluísio de Azevedo, embora afastados no tempo, servem-se de motivos semelhantes, e caracterizam, respectivamente, o: a) Simbolismo e o Naturalismo. b) Arcadismo e o Colonialismo. c) Expressionismo e o Realismo. d) Romantismo e o Parnasianismo. 2. (Mackenzie) No início do século XX, várias tendências estéticas surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro. Não faz parte delas o: a) Dadaísmo. b) Expressionismo. c) Futurismo. d) Cubismo. e) Determinismo. 3. (ITA) “ Não há temas poéticos. Não há épocas poéticas. O que realmente existe é o subconsciente enviando à inteligência telegramas e mais telegramas (...) A inspiração parece um telegrama cifrado, que a atividade inconsciente envia à atividade consciente, que o traduz”. Esse trecho, de importante ensaio de______, revela nítida semelhança com as propostas de um dos movimentos de vanguarda europeu,_______. a) Oswald de Andrade - o futurismo. b) Graça Aranha - o cubismo. c) Haroldo de Campos - o concretismo. d) Mário de Andrade - o surrealismo. e) Décio Pignatari - a poesia Práxis. 4. Observe as afirmações abaixo e associe os nomes das vanguardas europeias do início do século passado com suas principais características. 1. Surrealismo 2. Futurismo 3. Dadaísmo ( ) A arte representa o movimento incansável da vida urbana. ( ) Irracionalismo interpretativo . ( ) “Arte do sonho”. ( ) Quebra dos valores artísticos ligados ao zelo e à ideologia norteadora. ( ) Representação incoerente. ( ) Culto ao mundo moderno e suas representações: a máquina, a indústria, etc. ( ) Associações alucinatórias e ligação com o mundo psíquico. ( ) Destruição do passado. A sequência que preenche as lacunas corretamente é, respectivamente: a) 2 – 3 – 1 – 3 – 3 – 2 – 1 – 2. b) 2 – 1 – 1 – 3 – 1 – 2 – 1 – 2. c) 2 – 2 – 3 – 3 – 3 – 2 – 1 – 2. d) 2 – 3 – 1 – 3 – 1 – 3 – 3 – 2. e) 3 – 3 – 1 – 2 – 3 – 2 – 1 – 3.


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