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Sacramentinos de Nossa Senhora - 90 anos de missão

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Published by Revista O Lutador, 2020-01-21 08:53:21

REVISTA O LUTADOR 3912 MAIO 2019

Sacramentinos de Nossa Senhora - 90 anos de missão

Keywords: Revista Católica,Revista O Lutador,O Lutador,Jornal O Lutador

Juventude [ “Christus vivit”: Cristo vive e quer-te vivo!

ANO XC / Nº 3912
MAIO / 2019

olut dor.org.br

Sacramentinos
de Nossa Senhora
R$9,90 90 anos de missão

[ O Papa acredita profundamente na juventude

SEIS DÉCADAS DE TRADIÇÃO E CREDIBILIDADE

Em 2019, a Rádio América alcança 64 anos de trabalho
responsável, pautado pela Evangelização, Cultura e Educação.

Toda a nossa equipe agradece o seu carinho e confiança!

americabh.com.br radioamericaam750 (31) 3209-0750 App: Rede Catedral

Síria Caixeta e Luca Bahia,
juntos no Manhã da Piedade.

Foto: Tati Motta

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O renomado chef de cozinha, Luca Bahia, ensina os segredos e
técnicas da culinária de diversos países.

Sexta-feira, às 10h, no programa CULINÁRIA
Manhã da Piedade, com apresentação
de Síria Caixeta.

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Religião [ Somos todos irmãos! Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente

ANO XC / Nº 3911 Aniversariantes
ABRIL / 2019 do mês de maio de 2019

olut dor.org.br O mês de maio é marcado pela ternura de Maria, pela
garra e pela resistência das mulheres e mães. Vai o
PREVIDÊNCIA: nosso abraço e nosso carinho a todas as mães, em
R$9,90 Direito a ter direitos! especial para aquelas que são assinantes de nossa
Revista O LUTADOR. Nosso carinho, atenção e preces
[ Um fermento evangelizador [ Indignação não é ódio para todos os assinantes que aniversariam neste mês
das flores. Deus os abençoe sempre, e que a presen-
Ó Trindade Santa, vós que sois a fonte ça do Espírito Santo seja a luz a iluminar a vida de
de toda santidade, nós vos louvamos cada um de vocês. Nosso carinho especial a todos os
por vosso servo o Pe. Júlio Maria De Lombaerde, Sacramentinos e Sacramentinas pelo dia 13 de maio,
que, assemelhando-se ao Cristo Eucarístico, festa de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.
cuidou do vosso rebanho com amor, Lembramos que, no dia 25 deste mês, será celebrada
zelo e doação. E, deixando-se guiar pelo uma missa na intenção especial de nossos assinan-
Espírito Santo, assim como a Virgem Maria, tes, também lutadores, e de seus familiares, de modo
testemunhou a ternura missionária da Igreja. especial para os doentes e acamados. O Celebrante
Concedei-me, ó Trindade Santa, pela intercessão do dia 25/04/2019 será o Pe. João Lúcio Gomes Benfi-
do Pe. Júlio Maria, a graça que vos suplico ca, SDN. Deus abençoe a todos os nossos assinantes.
[pedir a graça]. E, se for de Vossa santa vontade, [Caso seu nome não apareça na lista, entre em contato
dai que Pe. Júlio Maria alcance a honra com nosso setor de assinaturas: Fone: 0800-940-2377
E-mail: [email protected]]
dos altares, para Vossa glória
e para o bem de tantas almas. Dia 01 - ADAYLZA ALMEIDA DE PAULA / CLEIDE MARIA OLIVEIRA GOMES TAVARES / EDUARDO DE SOUZA PIRES / GABRIEL LUSTOSA
Por Cristo, Nosso Senhor Amém. ANDRADE / MANOEL FRAGA ABELHA. / Dia 02 - ABEL PEREIRA BORGES / ANA MARIA BATISTA BRINATE / DIACONO JERSO FIORIO /
ERY JOSE PESSAMILIO. Dia 03 - ANACLETO BRUNORO / CLEOMENES NUNES CUNHA / ELISA MARIA DO AMARAL / JUSSARA MARIA
SILVA/ LUCIA MARIA (COD.08410) / MARIA LUCIA DE LIMA SOARES / MARIA LUCIA MOREIRA BASTOS / MARIA LUIZA DA SILVA BENVINDO.
Dia 04 - ACACIO CARDOSO DUARTE - EMM / ALFEU CAMPOS DA SILVA / LUIZ TINEO FERNANDES / NAIR KER ALBUQUERQUE.
Dia 05 - CESAR JOSE FELIPPINI / DALMIR JANNING. / Dia 06 - ABIMAEL ASCENCAO RIBEIRO / ANTONIO RICARDO DE LIMA / CARMO
DELFINO MARTINS / CLARA MARIA COTTA / ELZA MELATO DE ARAUJO / JEANI LIMA ZANON E NELSON VALADAO TOLEDO / JOAO
BOSCO DA SILVA RAMOS / MARCELO COSTA. Dia 07 - CORA FERREIRA SILVA / GLAUCILENE DE SOUZA RODRIGUES MAGALHAES
/ HILDA MENDES VASCONCELOS / JOSE RENATO FRACALOSSI BAIS / MARIA ANTONIETA SOUZA DE A / MARIA REGINA MONDEK DA
SILVA / SARA CAMPOS RODRIGUES. Dia 08 - DERLY CIRELI LOPES / GERSINA MARIA DE FARIA E SILVA / GILSON ROBERTO BRUM
DA SILVA / INEZ BIANCARD FERNANDES / PEDRO LOPES DE LIMA / VALMIR ACCORSI - EMM. Dia 09 - CELIO WINTLER / DOMINGOS
CONRADO E PAULA MARIA LUNUES / DOMINGOS DIAS SORZE / DOUGLAS FERREIRA CALDAS / MARIA AUREA BARBOSA DE SOUZA /
PADRE GUILLERMO DANIEL MICHELETTI. Dia 10 - ANA DE OLIVEIRA SOUSA / DELFINA SOMAGLIA ALBINO / JOAO DE ARAUJO / MARIA
DE OLIVEIRA FIRME / RIKITO UTIDA / UDINE RAMIRO. Dia 11 - FRANCISCO ALBERTO DE PAULA - EMM / GERALDO ROBERTO DA SILVA /
GUSTAVO DE AZEVEDO CHAVES / MARIA HELENA RODRIGUES / MARIA IGNEZ ZAGARI RIGOLON / HELIO RIGOLON. / Dia 12 - ANGELA
MARIA PAIXAO LAGES / MARIA GORETE GOMES / MARIA TEREZA LARA / PAULO DA CUNHA. Dia 13 – DIA DOS SACRAMENTINOS
E SACRAMENTINAS DE NOSSA SENHORA - JOSE CORREIA FERRAZ. / Dia 14 – EDENIL REIS PEREIRA / FREI BENEDITO FELIX
DAS ROCHA - EMM / GIL LANGONI PENA / LAURO MARCHEZINI / MARIA SILVIA BRASIL / MARISA PEREIRA DE OLIVEIRA / PADRE MARCIO
CAMPOS DA SILVA,CSCH / RUBENS XAVIER RODRIGUES. / Dia 15 – JOAO MARTINS COTTA / MARCIO BRACARENSE DA SILVA / MARIA
APARECIDA LIMA / MARIA ISABEL DA SILVEIRA BUENO FURTADO / NESTOR DE AGUILAR SOUTO / ROSA MARIA FREITAS BRITO / SINDICATO
DOS TRABALHADORES RURAL /JOSE MANOEL DA SILVA (NENE). Dia 16 – CARLOS LIPPE / ERASMO RIBEIRO / INES PAGANELLI FERRONI
/ JOSE UBALDO BERNARDO. Dia 17 – ANTONIO MANOEL QUINTAS ALVES / NILSON VITOR DE ARAUJO / PLINIO THARCISIO DE MELO
SENRA / VERA LUCIA SAITER SPERANDIO. / Dia 18 – APARECIDA PORLAN CIOCCA / JORGE SARAIVA DE CASTRO / JOSE CAMILO NETO
/ LEON GILSON ALVIM SOARES / NEUZA DA CONCEICAO MEDEIROS LAIA / PADRE JOAO FRANCISCO DE OLIVEIRA. Dia 19 – ANA MARIA
BLANCO LOPES / MARCOS DOS SANTOS SILVA / MARIA DAS DORES DE AQUINO / NEIVA FONSECA LADEIRA / REJANE BORGES GASPAR
/ RUY FIGUEIREDO NEVES. Dia 20 – BERNARDINO ALEXANDRE DE JESUS- EMM / DALMO BORGES RAMOS / EUGENIO PACELLI BRAGA
/ GRACIETTE ALKIM BIZZOTTO / LUCIANA M. E. C. ANTONIAZZI / PADRE FERNANDO ANTONIO BEZERRA SILVA. Dia 21 - JOSE MARIA DE
OLIVEIRA / MARIA DAS GRACAS MARTINS SIQUEIRA / NIVEA MARIA VELOSO SOARES. Dia 22 – ALEXANDRE GOMES DA SILVA - EMM
/ ANGELA MARIA DE SOUZA COSTA LOPES / ANTONIO CARDOSO SOBRINHO / JOÃO S. C. DA SILVEIRA JUNIOR - EMM / LIGIA MARIA
LIMA PORTO / RITA GONCALVES DOMINGUES / RITA RENILDA GUIMARAES PROTZNER / ROSELIR RIBEIRO DA SILVA. Dia 23 - IRMA
MARIA DE FATIMA ALVES SILVEIRA / MAGDA CARVALHO LAGE / MARIA APARECIDA DE ALMEIDA SANTOS / MARIA DA LUZ PAIVA ROCHA.
Dia 24 – MARCORELIO FORTINI DE ANDRADE / MARIA DA CONCEICAO BRAGA NOGUEIRA / MONSENHOR JOSE HUGO GOULART E SILVA
/ SAULO SOARES MONTEIRO DE CARVALHO. Dia 25 – ANGELA MARIA CASTELANI. / Dia 26 – ALVARO FERREIRA DOS SANTOS / DR.
MOZART MIRANDA MENDES E MARIA CRISTINA FARIAS MENDES / MARIA CELESTE RODRIGUES REIS / NARA ESTEVES LOBATO MELO -
EMM / PADRE HOMERO HELIO DE OLIVEIRA. Dia 27 – ANTONIO MARMO ALEXANDRINI / FABIO DEHON FAGUNDES / JORGE DE OLIVEIRA
FILHO - EMM / LENITA NUNES ALVES / WILSON SARAIVA DE ARAUJO / YVONE RODRIGUES PEREIRA DOS SANTOS. Dia 28 – INES DE
SOUSA MOURA BORGES / MARCIA APARECIDA C. AGUSTO / MARIBEL ARAUJO MIRANDA / VERA LUCIA PEREIRA. Dia 29 – ALFREDO DE
MAGALHAES COSTA / ANGELA MARIA MARIM / ANTONIO MAURICIO DE ANDRADE / ISABEL COSTA SANTINI / JACKSON S. C. BORGES /
LUIZAURA JANUARIO DE OLIVEIRA FERREIRA. Dia 30 – FRANCISCO CARLOS S. NOGUEIRA / FRANCISCO ROMARIO M. TATAGIBA / JOSE
CARLOS MEIRA E SILVA / MARCIO ANTONIO TEIXEIRA / MARIA AUXILIADORA DE LIMA / MARIA RITA TOSTES CAMPOREZI / CHACARA DOS IPES.
/ MARILIA CANDIDA DA SILVA BARBOSA / NEWTON (EM MEMORIA) E WANDIRA / OMAR E CRISTINA GESUALDO. Dia 31- AFRANIO TARCISO
MARTINS / DOM LEONARDO MIRANDA PEREIRA / MARIA CELIA PINTO / MARIA DAS GRACAS CUNHA NETO / ROZA NEIRE ASSEL AMORA.

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@ [ Para replicar @ [ Nosso colaborador @ [ Solicitação
Primeiramente parabenizo a linha edi- Queridos amigos do jornal O Lutador, Já tive várias crônicas publicadas no
torial da Revista, que muito tem con- agora revista, a paz! Faz muitos anos Jornal O Lutador, mas a Revista está
tribuído para a Formação Permanen- que Frei Patrício andou escrevendo pa- de alto nível. Ficaria muito feliz se pu-
te de Agentes de Pastorais e de demais ra O Lutador. Depois andamos descui- blicassem essa nota de falecimento de
pessoas que sentem a necessidade de dados e acabamos não enviando senão uma senhora com 100 anos, aqui em
se libertarem do “cristianismo de ver- esporadicamente. Frei Patrício gosta- minha cidade.
niz”, conforme denuncia o nosso queri- ria de saber se querem que retomemos
do Papa Francisco. Gostaríamos de saber com os artigos, enviando pontualmen- NILZA AID COSTA
como replicar em nosso site algumas te uma vez por mês, ou mais vezes, en-
matérias dessa renomada Revista. Na fim, como quiserem que ele escreva. Pe- @ [ Maria Auxiliadora, Dona Dozinha, partiu...
expectativa de conseguirmos esse fei- ço perdão de minha parte pelo descui-
to (que certamente muito nos auxiliará do de lembrá-lo dos artigos. Como ago- Sem sofrimentos, sem dores. Os anjos a
na Formação Permanente e na divul- ra dispomos de mais tempo, prometo levaram. Seu rosto sereno conservou a
gação da Revista), aguardo orientação procurar ser mais fiel. Desde já nossa beleza, a leveza e a ternura como viveu.
e permissão para alimentar nosso site. gratidão e a certeza de nossas orações. Mulher alegre, decidida, justa e com mui-
Pe. Anderson Malta - Paróquia Santa Fraterno abraço, ta atitude. Morreu aos 100 anos de idade;
Efigênia dos Militares [santaefigenia- lúcida e saudável, participava da vida
[email protected]] IR. ELIZABETH dos filhos, netos e bisnetos. Recebia os
amigos, conversava, tomava uma taça
Da Redação: Da Redação: de vinho..., nunca atrasada no tempo,
Caro Pe. Anderson e demais leitores da Ir. Elizabeth, a contribuição do Frei Pa- presenciou profundas mudanças, po-
Revista O Lutador, nosso objetivo é es- trício é sempre bem vinda, ele é uma líticas, econômicas, educacionais e so-
tar a serviço da evangelização; assim bênção de Deus para a Igreja. Aguarda- ciais. Participava de tudo, aceitando as
sendo, tendo o mesmo objetivo, todo o mos com carinho o envio. Basta uma mudanças e acompanhando os aconte-
material da revista pode ser replicado, por mês, pois a edição agora é mensal. cimentos plenamente. Era crítica, mas
sem reservas. Estamos refazendo nos- Ficamos felizes com o retorno do Frei consciente, sabia discernir o joio do trigo.
so site e isso se tornará ainda mais fá- Patrício como nosso colaborador. Esta-
cil. Pedimos a gentileza de citar a fon- mos refazendo o site e ele mesmo pode- Casada com o Sr. José Delácio, tive-
te. Deus nos guie em seus caminhos. rá acompanhar melhor as suas posta- ram dois filhos, Ronaldo e Elaine. Deles
gens. Deus os abençoe sempre. vieram os netos e bisnetos. Dona Dozi-
@ [ Juventude de Matozinhos nha foi professora e diretora Escolar. Ti-
“Cristo vive e nos quer vivos!” As pa- cial e familiar; a exploração sexual, as nha dez anos quando foi criada a Paró-
lavras da recente Exortação do Papa drogas, o álcool, o suicídio, o desempre- quia São Mateus, em Faria Lemos, MG.
Francisco, dirigida a todos os jovens go... duras pedras que às vezes levam à No dia 21 de setembro de 2018, a Paróquia
do mundo, tornaram-se um “grito de morte. Jesus nos propõe um caminho completou 90 anos. Dona Dozinha lem-
paz” na primeira caminhada da juven- novo. Este era o objetivo buscado na ca- brou-se de muitos acontecimentos des-
tude na Paróquia do Senhor Bom Je- minhada. Cristo vive e deseja a vida pa- de a instalação da Paróquia, há 90 anos.
sus de Matozinhos, MG. Mais de 250 ra todo. Ele nos quer vivos, plenos, li- Sua filha Elaine escreveu seus relatos
jovens saíram em caminhada na ma- vres e radiantes. e depois foi organizado um livro com a
nhã do domingo, 7 de abril. Cerca de história da Paróquia. Dona Dozinha fez
10 km, em momentos penitenciais e A última parada da caminhada a entrega do livro ao Sr. Bispo diocesa-
de reflexão, uma oportunidade para trouxe à tona o tema das Políticas Pú- no, Dom Manoel Messias de Oliveira. No
refletir sobre a vida e a situação atual blicas para a Juventude e cobrou atitu- dia 24 de janeiro de 2019, Dona Dozinha
dos jovens. des concretas: sobretudo ouvir nossos terminou sua bonita história de vida.
jovens e atendê-los em suas angústias Cumpriu sua missão de Mãe e Mestra.
Na missa de envio, o evangelho do e necessidades. Brincadeiras, dinâmi-
5º Domingo da Quaresma convidava os cas e um teatro marcaram também o NILZA AID COSTA
jovens a se questionarem sobre as pe- encerramento deste evento. Cristo vi-
dras que os atingem hoje: a rejeição so- ve e nos quer vivos!

DIONE AFONSO

[ Expediente [ Editorial

O LUTADOR é uma publicação mensal Sacramentinos de Nossa Senhora:
do Instituto dos Missionários 90 anos de missão
Sacramentinos de Nossa Senhora
OMÊS DE MAIO SEMPRE NOS RECORDA GRANDES ALEGRIAS: é mês das
olutador flores, mês das mães, mês de Maria... E precisamos mesmo de moti-
ISSN 97719-83-42920-0 vos para nos alegrar, diante de tantos acontecimentos trágicos ocor-
ridos desde o início deste ano. Segue aqui nossa solidariedade às ví-
Fundador timas diretas e indiretas das barragens da Vale do Rio Doce; às famí-
Pe. Júlio Maria De Lombaerde lias enlutadas que tiveram filhos queimados; aos mortos à bala na
Escola em Suzano, SP; às vítimas do desabamento dos prédios no Rio
Superior Geral de Janeiro; e às vítimas de mortes violentas causadas pelos órgãos e
Pe. José Raimundo da Costa, sdn pessoas que tem a missão de proteger nossa população.
Por outro, como motivo de alegria, lembramos a honrosa figura
Diretor-Editor do Padre Júlio Maria De Lombaerde, hoje Servo de Deus, que veio para
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn o Brasil no início do século passado. De origem belga, era membro da
Congregação da Sagrada Família; depois, naturalizou-se brasileiro.
Jornalista Responsável Foi um homem extremamente dedicado a tudo o que abraçava. E, se
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P) existe algo que se pode dizer a seu respeito, sem medo de errar, é que
era um homem eclesial, profundamente ligado à Igreja. Ele “vestia
Redatores e Noticiaristas a camisa” da Igreja de seu tempo. Zeloso pela pastoral, na época en-
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn tendida na linha da “salvação das almas”, tudo fazia para o avanço
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn missionário da Igreja. Além de se desdobrar pessoalmente no aten-
Frt. Matheus R. Garbazza, sdn dimento às comunidades, na visita aos doentes e na solidariedade
Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno, aos pobres, Pe. Júlio queria que a Igreja avançasse, sempre mais, em
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini sua ação missionária.
e Dom Edson Oriolo Inspirado sempre no amor à Eucaristia e à Virgem Maria, Pe.
Júlio lia a vontade de Deus nos acontecimentos, nas urgências hu-
Colaboradores manas e pastorais. Foi assim que, imbuído de grande ardor missio-
Vários nário, tornou-se o fundador de três famílias religiosas. A primeira no
Norte do Brasil - a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de
Redação Maria - e outras duas na Zona da Mata mineira - os Sacramentinos
[email protected] e as Sacramentinas de Nossa Senhora. Seu anseio era responder aos
apelos de Deus e às necessidades do povo, alargando a força e a pre-
Correspondência sença missionária da Igreja.
Comentários sobre o conteúdo de olutador, Assim nasceu a Congregação dos Missionários Sacramenti-
sugestões e críticas: [email protected] nos de Nossa Senhora. Um pequeno grupo de missionários, religiosos
Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 / Planalto presbíteros e irmãos que, alimentando-se na espiritualidade euca-
CEP 31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil rístico-mariana, coloca-se a serviço do povo, sobretudo dos mais po-
bres e necessitados. São noventa anos de missão, tempo de celebrar as
Assinaturas e Expedição conquistas, os avanços e as vitórias da caminhada. Mas tempo tam-
Maurilson Teixeira de Oliveira bém de rever o caminho feito, corrigir eventuais desvios e, sobretu-
do, tempo de retomar o primeiro amor que nos fez nascer e o sentido
Assinaturas maior de nossa existência na Igreja e no mundo.
R$ 80,00 / Brasil - www.olutador.org.br Em termos eclesiais, somos ainda muito jovens. E por isso,
[email protected] sonhadores. Não percamos o sonho missionário do Pe. Júlio Maria,
0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas não percamos o sentido primeiro de nossa consagração religiosa,
não percamos o amor ao povo de Deus, que nos faz voltar sempre à
Outros países radicalidade do Evangelho, tão querida por Jesus: “Quem quiser se-
R$ 80,00 + Porte guir-me, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. (Mt 16,24.)
Somente assim encontraremos a alegria de estar a serviço do povo,
Edições anteriores a alegria de ser Igreja, e seremos também causa de alegria em meio
Tel.: 0800-940-2377 a tantas tragédias...
Avante, Sacramentinos de Nossa Senhora! 90 anos de missão
Site são só pra começo de conversa.]
revista.olutador.org.br
facebook.com/revistaolutador [DENILSON MARIANO

Projeto gráfico e diagramação
Valdinei do Carmo / Orgânica Editorial

Revisão
Antônio Carlos Santini

Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada – FSC®
Praça, Pe. Júlio Maria, 01 / Planalto
31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil
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de seus autores,
não expressam,
necessariamente,
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|S U M Á R I O OLUTADOR • REVISTA MENSAL • ANO XC • Nº 3912 • MAIO • 2019 •

6Sacramentinos 9 O que Suzano nos faz pensar
de Nossa 13 Cuidar de si
Senhora, 18 Maria e os dons
missionários
há 90 anos do Espírito Santo
20 “Christus vivit”: Cristo vive
12Voltamos 101º Encontro
a lutar de Música e e quer-te vivo!
no Lutador Espiritualidade
na Caminhada 22 Comunicação profunda:
uma escolha e um estilo
16 14O Papa acredita Interpretar de vida a dois
profundamente a Lei de Deus
na juventude 23 Sacramentinos
de Nossa Senhora: 90 anos

24 Construir comunidade
25 A estrada do êxodo

e a liturgia
26 O mistério da amizade
27 Histórias da Previdência

golpeada: Maria, doméstica
30 Entre o amor e a morte
31 Roteiros Pastorais
43 6º Retiro Espiritual da ADCE

Brasil em Aparecida, SP
44 Humanidade plural

e diversidade reconciliada
46 O laicato na igreja e no mundo
47 Alicerces, fundamentos e ruína
48 O calvário dos bispos

na Venezuela chavista

Capa [ Pe. Júlio Maria De Lombaerde, que iniciou uma

PE. JOSÉ RAIMUNDO DA COSTA, SDN*

Aqueda da bolsa de Nova Ior- Sacramentinos
que, em 1929, não foi o prin- de Nossa Senhora,
cipal acontecimento para a missionários
Igreja do Brasil, mas a oficia- há 90 anos
lização da fundação de uma con- Os Missionários Sacramentinos
gregação de missionários em ter- Neste contexto eclesial, social, po-
ras brasileiras, no interior de Mi- lítico e econômico nasceu a Con-
nas Gerais. Nesse, ano a pequenina gregação dos Missionários de Nos-
Manhumirim, do leste de Minas, sa Senhora do Santíssimo Sacra-
acolhia em suas terras o missioná- mento, fundada pelo Pe. Júlio Ma-
rio belga, Pe. Júlio Maria De Lom- ria De Lombaerde.
baerde, que iniciou uma história
de audácia e coragem extremada, Nascia tímida e audaciosa no
tomando a peito a organização de coração (berço) de um missio-
um grupo de religiosos autóctones nário impetuoso, que desejava
para missionar no Brasil. Foi a pri- fazer de seus religiosos gente
meira congregação religiosa bra- empolgada com a missão, com
sileira do ramo masculino. O Bra- a evangelização.
sil passava por uma fase signifi-
cativa em sua história sociopolíti- Muitas “investidas” dos missioná- de Trento e do Vaticano I. Acompa-
ca, econômica e religiosa. A Igreja rios do Pe. Júlio Maria, ao lombo dos nhou com interesse e sintonia as
desses tempos dava os primeiros animais, em estradas e caminhos sessões do Concílio Vaticano II, na
passos na sobrevida de caminhar precários, marcava a presença da década de 60 (1962-1965).
desatrelada do Estado – era o fim Igreja junto aos fiéis. A sacramenta-
do padroado. lização era acompanhada do exer- O pós-Concílio foi dramático pa-
cício da Catequese ministrada pe- ra toda a Igreja. A Congregação es-
A República leiga los padres, irmãos e seminaristas, tava nesse tempo sofrendo todas as
Com a proclamação da República, a e também pelas religiosas, as Irmãs consequências da mudança eclesial
7 de janeiro de 1890, logo se decreta Sacramentinas de Nossa Senhora. ocorrida na Igreja. Muitas saídas.
a separação entre Igreja e Estado. Muitos membros foram embora.
Isto não se deu de forma pacífica Este grupo cresceu. Inicialmente, Os que ficaram se entusiasmavam
e serena, mas sob um clima tenso os membros foram formados pelo com a nova primavera no corpo ecle-
da parte da Igreja contra o Estado próprio fundador no Seminário de sial, que fazia forte a consciência
e a sociedade constituída. As asso- Manhumirim. Mais tarde, foram de uma Igreja Povo de Deus, sem
ciações e paróquias passam a com- enviados para grandes centros de estacionar nas observâncias de um
bater a circulação de ideias anar- formação teológica nos seminá- poder hierárquico, mas na aven-
quistas, comunistas e protestan- rios de Minas Gerais: Diamanti- tura de clérigos e povo caminha-
tes através de jornais e revistas. na, Belo Horizonte e Mariana. Até rem juntos em direção à constru-
a década de 60, a Congregação ca- ção do Reino de Deus. Apesar da cri-
A partir da década de 30, o pro- minhou respirando com a Igreja a se, foi um tempo de muita eferves-
jeto desenvolvimentista e naciona- formação e influência do Concílio cência na Igreja e na Congregação.
lista de Getúlio Vargas influencia
a Igreja no sentido de valorização [6 OLUTADOR [ MAIO 2019
da identidade cultural brasileira.
A Constituição de 1934 prevê uma
colaboração entre Igreja e Estado.
Uma República leiga que não dei-
xa de ser católica e sofre ainda as
influências da Igreja. Contra a as-
censão da esquerda, a Igreja apoia
a ditadura do Estado Novo, em 1937.
São do período os Círculos Operários
Católicos, favorecidos pelo governo
para conter a influência da esquerda.

história de audácia e coragem extremada...

A partida para a Amazônia a sede e várias casas na região), a de se erigiu a Casa de Formação Pe. [▶
Em 1973, o Pe. Geraldo da Silva Araú- Congregação decidiu assumir ca- Júlio Maria, onde hoje se acolhem
jo, sdn, foi liberado pela Congrega- sas no Nordeste brasileiro. Assim, os estudantes para o Propedêutico
ção para uma experiência missio- em 1992, foi assumida a Paróquia e para a Filosofia, além de man-
nária na Amazônia. Esteve por al- de N. Sra. da Conceição na Pajuça- ter uma obra de promoção social,
gum tempo em Altamira, PA. Em ju- ra, em Maracanaú, CE. Nessa cida- o PROVIJE – casa que presta servi-
lho de1973, partiu para o Mato Gros- ço na assistência social à popula-
so. Começou os seus trabalhos por MAIO 2019 [ OLUTADOR]7 ção mais vulnerável, com inicia-
Sinop. Ele dizia: “No Norte do Ma- tivas de promoção social.
to Grosso está nascendo um Bra-
sil movo e o povo está chegando. E Em 2004, no interior do Estado,
a Igreja não pode chegar atrasado. na Diocese de Limoeiro do Norte,
Ela tem que estar lá para receber foi assumida a Paróquia de Santa
esse povo que está chegando”. De Rosa de Lima de Jaguaribara, CE.
Sinop, foi estendendo seu trabalho Depois de algum tempo, a paró-
até onde é, hoje, Alta Floresta. São quia foi entregue e os missioná-
várias as paróquias daquela região rios foram para a Diocese de Cra-
que nasceram com os Missionários teús, CE, bem no sertão cearen-
Sacramentinos: Alta Floresta, Colíder, se, onde assumiram a Paróquia
Carlinda, Nova Canaã, Paranaíta. de Santo Anastácio de Tamboril,
CE. Os missionários ficaram ali
Em 1981, a Congregação chegou até fevereiro de 2018.
ao Estado de Rondônia, quando as-
sumiu a Paróquia Nossa Senhora Em 1992, foi criada a Paróquia
de Vilhena na Rondônia (1981), fi- do Bom Pastor, desmembrada da
cando até janeiro de 1990. Paróquia do São Lourenço de Ma-
nhuaçu, MG, assumida pelos Mis-
Em 2007, os Missionários Sa- sionários Sacramentinos.
cramentinos dão mais um passo
na Amazônia, assumindo a Área Já no século XXI, os Missioná-
Missionária Tarumã, na periferia rios Sacramentinos constituíram
de Manaus, AM. No ano seguinte, a Casa de Formação e Noviciado
assumem a Paróquia de N. Sra. de São José, na cidade de Matozinhos,
Guadalupe, no bairro Flores. MG, a convite do Bispo diocesano
na época, Dom José Lima. No ano
A opção pelo Nordeste seguinte, 2004, foi assumida a Pa-
Na década de 90, estimulada pe- róquia do Senhor Bom Jesus do Ma-
las Irmãs Cordimarianas (que têm tozinhos, que mantém o santuário
e o Jubileu do Senhor Bom Jesus.

Capa [ Sacramentinos de Nossa Senhora, missionários há 90 anos...

[▶ Missão Ad gentes zação e magistério, como escrito- piegas ou fanático. Além dos temas
– Continente africano res, administradores, profissionais estritamente religiosos e doutri-
A Congregação tem-se expandido! das oficinas gráficas. Foram desta- nais, o jornal interpreta assuntos
No início do ano de 2012, com mui- que sobretudo na propaganda do o e eventos da sociedade, do mun-
ta coragem e audácia missionária, jornal O LUTADOR. Peregrinavam do, da atualidade, sob a luz do ma-
dois de seus membros foram envia- de cidade em cidade, visitando as gistério da Igreja. O LUTADOR está
dos para o continente africano pa- paróquias e famílias para propa- entre os maiores meios impressos
ra trabalhar na missão em Angola. gar o jornal e colher as assinaturas. de comunicação de cunho eclesial
Nosso fundador esteve em terras no Brasil e representa importante
africanas, no começo de sua vida Outro destaque de nossa Con- fonte de formação e informação.
religiosa. Aliás, este foi o primeiro gregação foi o trabalho realizado
impulso missionário que o levou a por alguns dos irmãos na formação Com impressos, a Congregação
consagrar toda sua vida a Deus. Com de lideranças leigas desenvolvida mantém o jornal Semente, órgão
17 anos, ele ingressou na congrega- pelo MOBON - Movimento da Boa da Pastoral Vocacional distribuído
ção dos Padres de Nossa Senhora Nova. A repercussão de seu traba- entre os jovens vocacionados e nas
d’África. Lá, não pôde permanecer lho não ficou restrita à Casa de Cur- paróquias; o boletim de circulação
devido ao seu estado de saúde. Adoe- sos, em Dom Cavati, MG, na Dio- interna intitulado “Coisa Nossa”,
ceu e teve que retornar à Europa. cese de Caratinga, mas em cursos onde o Superior Geral faz comuni-
Agora, seus filhos são enviados administrados em várias dioceses cações de ordem doutrinal-espiri-
para continuar o que, certamente, do Brasil. Através da reflexão da Pa- tual, de orientação da Vida Religio-
ele pensou e idealizou um dia. No dia lavra de Deus, de uma maneira ca- sa Consagrada. Além da comuni-
15 de janeiro de 2012, chegavam dois tequética e orante, oferece cursos cação impressa, os Missionários
padres, acompanhados pelo Superior, da Campanha da Fraternidade e do Sacramentinos têm grande atua-
para assumir a Paróquia de Santo Mês da Bíblia. Apesar do número ção nos meios eletrônicos, man-
Antônio do Kavungo, Nana Candun- reduzido, entre os irmãos há gen- tendo sites, páginas da Web e da
go, no Município de Cazombo, com te imbuída do espírito missioná- rede social.
uma extensão geográfica de aproxi- rio que reforça o sentido primeiro
madamente 26.000 km2, distante da da Vida Consagrada. Perspectivas para o futuro
sede de Lwena 530 km, quase tudo Neste momento de quase duas dé-
em estradas em chão e muito ruins. Meios de comunicação social cadas do século XXI, quando a Con-
A paróquia pertence à Diocese gregação completa 90 anos de exis-
de Lwena, que tem Dom Jesus Tir- Nossa Congregação nasceu com tência, vejo-a imersa, por inteiro,
so Blanco, SDB, como bispo dioce- a veia de escritor do Pe. Júlio Ma- na realidade eclesial missionária.
sano. Por lá trabalharam Pe. João ria. Ele sempre escreveu. Tinha Ela respira Igreja, desejosa de sem-
Lúcio Gomes Bemfica, sdn, e Pe. Re- como objetivo a catequese e a pre dar uma resposta às deman-
nato Dutra Borges, sdn. Depois, Pe. formação do povo de Deus. Ele das e apelos do mundo presente,
João Lúcio veio embora e o substi- fundou o jornal O LUTADOR pou- na realidade diocesana por onde
tuiu o Pe. Odésio Magno da Silva, co tempo depois de ter chegado atua, nas Paróquias Missionárias,
sdn. Em 2018, Pe. Renato volta e, no a Manhumirim. Em novembro de nos Meios de Comunicação Social,
mês de abril, foi o Pe. Geraldo Ma- 1928, o jornal já circulava. Além na Formação de Lideranças Leigas,
gela de Lima Mayrink, sdn. do jornal, Pe. Júlio foi um exímio no serviço da Caridade Social. Para
escritor, ocupando o primeiro lu- sobreviver e se remeter para o fu-
Os Irmãos religiosos gar dos escritores católicos mais turo, ela não poderá nunca furtar-
Desde os inícios, o Pe. Júlio Maria lidos em seu tempo. se da responsabilidade da Anima-
pensou numa congregação com- ção Vocacional e da Formação de
posta de clérigos e também de ir- O LUTADOR foi criado, com o seu quadro - os Missionários Sa-
mãos, chamados de Irmãos Coadju- objetivo de defender a fé católica cramentinos.
tores. Quando professavam os Vo- dos ataques de protestantes, espíri-
tos Religiosos, recebiam um nome tas e maçons. Sua postura foi sem- O apelo é a Missão! O funda-
religioso, diferente do de batismo. pre lutar pela causa do Reino de mento da nossa ação missionária
Eram chamados, desde então, pe- Deus, com linguagens diversas e parte de uma espiritualidade eu-
lo título de “Frei”. diferentes enfoques. Ele mantém carístico-mariana, com a missão
uma grande variedade de temas e de “visibilizar entre os homens os
Eles atuaram nas mais diversas assuntos. Católico, sim, mas não frutos da Eucaristia: partilha, fra-
funções como catequese, evangeli- ternidade, vida missionária, orga-
[8 OLUTADOR [ MAIO 2019 nização do povo”. (Const. 06).]

Igreja Hoje [ Reflexão...

DOM JAIME SPENGLER*

O que Suzano nos
faz pensar

ACULTURA contemporânea é A tragédia de Suzano requer atenção.
permeada por situações e de- Somente com o engajamento
safios que provocam uma di- de quem acredita nos valores da paz,
fusa “emergência educativa”. do respeito e do cuidado de uns
A educação dos indivíduos e sua for- para com os outros, será capaz de superar
mação nos verdadeiros ideais que a crescente cultura da violência,
sustentam e regem a convivência promovida por setores
pacífica numa sociedade democrá- da sociedade.
tica é desafio que toca quem acre-
dita na construção de um mundo superar a crescente cultura da vio- Não se responde à insanidade e
justo e fraterno. lência, promovida por setores da à estupidez com bravatas. O mo-
sociedade. mento requer bom senso e dispo-
Há o processo educacional aca- sição para contribuir na promoção
dêmico convencional. Há também De um lado, a instituição fami- de políticas públicas capazes de res-
um processo que marca a consti- liar é achincalhada por expressões ponder adequadamente às neces-
tuição do indivíduo, nem sempre ideológicas obscuras. De outro, se sidades da sociedade.]
suficientemente considerado pelo encontram as instituições de en-
ambiente acadêmico. Trata-se da sino fragilizadas de tal modo que *Arcebispo de Porto Alegre, RS,
dimensão humana das emoções, falta o mínimo necessário para que Presidente para a Comissão Episcopal
hábitos e aspirações, difícil de ser professores e educadores possam para os Ministérios Ordenados
caracterizada. levar a bom termo sua missão. e a Vida Consagrada da CNBB

A educação formal que recolhe MAIO 2019 [ OLUTADOR]9
informações contribui para o apri-
moramento cultural, desenvolven-
do valores externos e aquisitivos pa-
ra o consumo imediato. Já os desa-
fios éticos e comportamentais que
implicam as estruturas íntimas da
pessoa necessitam de abordagem
adequada. É neste âmbito que se
encontra o urgente antídoto à vio-
lência e à vulgaridade, presente em
variados setores da sociedade.

Constata-se o crescente núme-
ro de órfãos filhos de pais vivos, de
adolescentes e jovens que se auto-
mutilam, se drogam e se suicidam.
Esses números expressam situa-
ções complexas diante das quais a
sociedade não consegue responder
adequadamente.

A tragédia de Suzano requer aten-
ção. Somente com o engajamento
de quem acredita nos valores da
paz, do respeito e do cuidado de uns
para com os outros, será capaz de

RAMON DA SILVA TEIXEIRA* Igreja Hoje [ “O que é que

1º Encontro
de Música e Espiritualidade
na Caminhada
JÁ parou para refletir sobre Música, alegria e reflexão
as músicas que você escu- Com a bíblia nas mãos, violões, tam- As Escrituras Sagradas do Antigo
ta e canta durante as ce- bores, pandeiros, sanfonas, choca- e Novo Testamento são permeadas
lebrações ou missas, nos lhos, maracás, o encontro foi mar- por cânticos. Na dinâmica de can-
grupos de reflexão ou em cado por um espírito de alegria, re- tar e rezar a vida, fazer memória e
outros espaços? Pois bem, nos dias flexão e muitas emoções. Sob a as- fortalecer a luta em defesa da vida
30 e 31 de março aconteceu o 1º En- sessoria de Frei Gilvander (assessor e da esperança, o Encontro se pro-
contro de Música e Espiritualidade bíblico-teológico do Centro Ecumê- pôs a alimentar uma Espirituali-
na Caminhada, realizado em Ma- nico de Estudos Bíblicos - CEBI/MG; dade Libertadora que provoca uma
nhumirim, MG, no Colégio Santa da Comissão Pastoral da Terra (CPT/ “Igreja em saída”.
Teresinha. O evento foi organiza- MG) e das CEBs),
do por um grupo de leigos e leigas Tomando como ponto de partida
de Comunidades Eclesiais de Base compreendemos a experiência vivenciada pelos dis-
- CEBs, com apoio das Irmãs Sacra- que as músicas cípulos de Emaús, tivemos a oportu-
mentinas de Nossa Senhora. têm papel fundamental: nidade de fazer uma análise de con-
animar o povo juntura eclesial, refletindo o nosso
Reuniram-se aproximadamente de Deus e dar forças papel profético no mundo. O que se
60 pessoas de diversas paróquias para seguir adiante, canta por aí? O que se entende por
(das Dioceses de Caratinga e Itabi- fiel ao projeto música sagrada e profana? As mú-
ra/Cel. Fabriciano e da Arquidioce- de Jesus. sicas que se canta, cantam a liber-
se de Mariana). Eram Agentes de tação do povo de Deus? De que lado
Pastorais e movimentos religio- [10 OLUTADOR [ MAIO 2019 elas estão? Que histórias contam?
sos e sociais: PAB - Pastoral Afro São músicas que iluminam nosso
-Brasileira, PJ - Pastoral da Juven-
tude, PJR - Pastoral da Juventude
Rural, CPT - Comissão Pastoral da
Terra, FOMENE - Fórum Mineiro
de Entidades Negras, EFA - Esco-
las Família Agrícola, Sindicatos
de Agricultores e Agricultoras Fa-
miliares etc.

Estiveram também presentes in-
tegrantes de grupos culturais de de-
voção a Santos Reis e Nossa Senhora
do Rosário: Folia de Reis do Boné, de
Araponga, MG; Grupo Folia de Reis
Baltazar, de Luisburgo, MG e Alto
Jequitibá, MG; e a Banda de Congo
José Lúcio Rocha – da Comunidade
quilombola do Córrego do Meio, de
Paula Cândido, MG. Somou-se a es-
sas corporações o Grupo Afro Ganga
Zumba, de Ponte Nova, MG.

vocês andam conversando pelo caminho?”...

caminho de fé? Dão força e espe- ciso prestar atenção nas letras can- brotam as canções religiosas e
ranças para as lutas diárias? São tadas. Não há neutralidade, muito populares.
músicas que fazem refletir a reali- menos nas músicas. É necessá-
dade ou nos afastam dela? rio que se busque permanente- Os trabalhos de grupo realizados
mente as histórias, os contextos deram vida ao encontro, fortalecen-
Segundo Frei Gilvander, além de e as situações concretas de onde do a mística na grande plenária.
saborear a beleza da melodia, é pre- No sábado à noite, aconteceu um
MAIO 2019 [ OLUTADOR]11 momento ímpar para o encontro:
a noite cultural. Aberta à comuni-
dade, os presentes puderam cele-
brar com muita alegria o que foi fei-
to até aquele momento. Apresen-
tações dos grupos de folia, de con-
gada e do Ganga Zumba, “dança do
pilão”, cantigas de roda e cirandas
e, ainda, a entrega pública da dis-
sertação de mestrado de Guilherme
M. Conte aos mestres Tião Farinha-
da e Antônio Boi, alvo de estudo do
trabalho de pesquisa.

Destaque especial para a parti-
cipação das crianças. Com os olhi-
nhos brilhando, dançaram e se di-
vertiram com os adultos sem ter
pressa de dormir.

No domingo, o dia foi marcado
por uma missa inculturada, mo-
mento que conectou todas e todos
ao Mistério Eucarístico. A canção
“Se calarem a voz dos profetas” (Zé
Vicente) ecoou, emocionou e refor-
çou o compromisso com um “novo
jeito de ser Igreja”. Na Eucaristia, co-
mo canta Padre Zezinho, “Por um
pedaço de pão e um pouquinho de
vinho/ Deus se tornou refeição e se
fez o caminho”.

Como fruto do Encontro, dois en-
caminhamentos: 1. buscar resgatar
as músicas que alimentam a ca-
minhada, considerando também
a reflexão; 2. realizar outro encon-
tro ampliado no próximo ano, em
outra paróquia.

Para aqueles que estiveram pre-
sentes, fica na memória a pergun-
ta feita por Jesus: “O que é que vocês
andam conversando pelo caminho?”
(Lc 24, 17.) O que vocês andam conver-
sando e cantando pelo caminho?]

* Mestrando em Antropologia
pela UFRJ/UFV. Colaboraram
com o texto Maria Eliane Pereira
e Sebastião Estevão,
conhecido como “Farinhada”.

Igreja [ A volta...

MUDA O NOME, mas não muda a Voltamos a
pessoa. Sou o Frei Patrício. Ago- lutar no Lutador
ra, no Egito, me chamo Abuna
Batrik. Uma grande amizade me li- ABUNA BATRIK SCIADINI OCD – FREI PATRÍCIO SCIADINI, OCD
ga a O Lutador, desde o tempo em
que vivi em Caratinga, próximo aos va sozinha. O que devemos provar O coração do Evangelho é a ter-
Sacramentinos de Manhumirim, é a mentira e a falsidade que, para nura de Deus, sua misericórdia, que
filhos amados do povo da mata, que serem provadas, necessitam de ou- se faz carne na pessoa de Jesus. Este
sempre viu o trabalho incansável tras mentiras e novas falsidades. se torna para nós caminho, verdade
destes missionários desbravadores, e vida, para irmos ao Pai e para ser-
tendo na frente o Padre Júlio Maria, Em busca da santidade mos no meio dos irmãos luz, fermen-
um verdadeiro lutador em prol da fé, Qual é a minha proposta de luta pa- to e sal, que dá um novo sabor a um
corajoso, no estilo batalhador, que ra O LUTADOR? Não sei se o diretor mundo que perdeu o sentido da vida
nós temos perdido. Purificando um vai aceitar, mas gostaria mesmo de e corre atrás de coisas que se desfa-
pouco a linguagem, amansando as comentar a “Gaudete et Exultate”. zem como a neblina ao nascer do sol.
palavras, devemos continuar a ser O Papa Francisco, com esta Carta A santidade não é algo de passagei-
lutadores. Hoje poderíamos tradu- Apostólica, mexeu num “vespeiro”. ro, nem de extravagante, nem uma
zir esta palavra por profetas, teste- Mas isto é bom, porque nos obriga a corrida atrás de visões, mas uma vi-
munhas, animados pela força do parar para refletir sobre o essencial da simples e transparente, um livro
Espírito Santo e pelo amor à Igreja. da nossa vocação e do nosso segui- que até os analfabetos podem ler.
mento de Jesus. Sem a santidade,
Na revista O LUTADOR, não sei isto é, sem uma vida de coerência O comentário aos números da
por quantos anos, publiquei vários com o Evangelho, na imitação de “Gaudete et Exultate” pode nos aju-
artigos que não têm um valor cien- Jesus, para sermos sinais visíveis dar a descer em nós mesmos e ver
tifico, mas sim, o sentido profundo do seu amor, todo o cristianismo cai como a Igreja necessita de Santos,
da busca de Deus, do seu amor. A es- por si mesmo. Devemos nos conven- isto é, de pessoas apaixonadas por
piritualidade me apaixona. Ela me cer - e teoricamente somos conven- Deus, pelo Evangelho, e que com sua
toca em profundidade, porque estou cidos, mas não o somos na prática vida, mais do que com as palavras,
convencido de que, para sermos dis- da vida - de que o Evangelho não é são luz no candelabro, sal que dá
cípulos, missionários, anunciadores uma ideologia, que pode permitir sabor e fermento na massa. Seja-
de Jesus, devemos beber a água não pregar uma coisa e viver outra. O mos felizes de lutar juntos no LU-
do poço de Samaria, mas da água que Evangelho é só prática, e não teoria. TADOR, para redespertar em nós o
Ele mesmo nos der: “quem bebe des- desejo de sermos Santos.]
ta água, nele jorrarão rios de agua [12 OLUTADOR [ MAIO 2019
viva…” E Jesus falava de si mesmo.

Hoje bebemos de muitos riachos,
que pensamos serem rios de água
viva, mas são contaminados por
tantos detritos e sujeiras, que nos
contaminam o coração e não nos
permitem viver a vida em abundân-
cia. Ser LUTADOR não significa ser
agressivo, nem achar que temos a
verdade no bolso, mas simplesmen-
te buscar a verdade com humilda-
de, e uma vez encontrada, não ne-
gociar por nenhum motivo, mas
defendê-la não com teses teológi-
cas e filosóficas, mas com a vida.

Cheguei a uma conclusão sim-
ples, que pode ser que os meus novos
leitores não compartilhem comi-
go: é que esta verdade não precisa
ser defendida, ela se defende sozi-
nha. Nem ser provada, ela se pro-

DOM EDSON ORIOLO* Religião [ Estejamos sempre atentos...

Cuidar que nos cobra incessantemente, as
de si pessoas que nos contaminam com
OSER HUMANO, criado à ima- comentários negativos. Quem nun-
gem e semelhança do bom Os “vampiros emocionais” ca encontrou um vampiro, que ati-
Deus, é um cuidador - de si podem ser aqueles que nos re o primeiro alho.
e dos outros. Prestar assis- cansam a partir de simples
tência às pessoas nas suas necessi- conversas e ameaçam nossa Conversa e colo
dades fundamentais é responsabi- saúde mental e autoestima, O psicólogo Albert Bernstein alerta:
lidade de todos. Mas é importante as amizades tóxicas, pessoas à primeira vista, os “vampiros emo-
ter a seguinte clareza: dedicar-se ao negativas, dramáticas ou al- cionais” podem parecer encantado-
outro, solidariamente, exige, antes tamente críticas, que nunca res, mas, quando menos percebe-
de tudo, cuidar de si mesmo. Quem reconhecem seus próprios er- mos, eles já nos deixaram na pior.
oferece ajuda ao próximo deve ze- ros e sempre culpam os outros Mas é importante lembrar: onde
lar pela própria vida. E todos que se por qualquer tipo de problema; há um vampiro, tem de haver um
dedicam a gestos de solidariedade gente invasiva que não reco- pescoço disponível para esse pre-
merecem também receber cuidados. nhece o que é limite, homens dador. Estejamos sempre atentos,
e mulheres que são peritos pois os “pescoços” são pessoas que
Todo ser humano merece res- em criar confusão por onde dão conversa e colo. A conclusão é
peito, pois a vida de cada pessoa é passam, desestabilizando as que devemos ser cuidadores uns dos
sagrada. Por isso, a capacidade pa- emoções de quem está perto. outros, mas atentos com o próprio
ra o cuidado deve ser permanente- cuidado, para não nos tornarmos
mente cultivada. Isto inclui a aber- Também são “vampiros emo- presas de “vampiros emocionais”.
tura para amparar o próximo, com- cionais” os que só falam de proble-
preendendo suas perspectivas e, as- mas ou se dedicam a espalhar boa- O caminho é saber amar, a si
sim, permitindo-lhe expressar-se. tos e fofocas. São pessoas que car- e ao outro. E a Palavra de Deus, na
Mas também exige que cada pes- regam uma aura de negatividade, Primeira Carta de São Paulo aos Co-
soa cuide de si, protegendo-se das roubando a energia dos que estão ríntios, apresenta valiosas conside-
ameaças que estão ao redor de to- ao seu redor. rações sobre o amor: ele é paciente,
dos, principalmente na adoecida prestativo, não é invejoso, não se os-
sociedade atual. Todos nós que vivemos em co- tenta, não é orgulhoso, nada faz de
munidade já estivemos, de uma ma- inconveniente, não procura a rea-
“Vampiros emocionais” neira ou de outra, em contato com lização de interesses egoístas, não
Vale ter atenção especial, sobretudo, um “vampiro emocional”. É o ami- abre espaço para irritações, é livre
para não se tornar presa de “vampi- go que não para de falar de si, sem de qualquer tipo de rancor, busca
ros” que se fazem presentes em di- ser capaz de nos ouvir, ou o colega vencer a injustiça, é fiel à verdade,
ferentes lugares. O psicólogo ame- que só sabe lamentar-se. Também tudo desculpa, tudo crê, tudo espe-
ricano Albert Bernstein foi o pri- é “vampiro emocional” o superior ra, tudo suporta e jamais passará. O
meiro a forjar a expressão “vam- amor é a própria presença de Cris-
piros emocionais”, para se referir MAIO 2019 [ OLUTADOR]13 to nas relações com os outros e no
às pessoas imaturas e narcisistas cuidado pessoal.
que sugam a nossa energia vital de
várias maneiras, cansando-nos e A falta de amor nas relações é a
corroendo a nossa autoestima. Em doença de nossa época, e cria con-
seu livro, Bernstein elencou os ti- texto propício para a proliferação
pos mais comuns desses “parasi- dos “vampiros emocionais”. Dia-
tas da alma”, que sugam a energia riamente vivemos e experimenta-
emocional dos outros, provocando mos encontros. Toda vida é relacio-
exaustão mental e física. namento. Seja, pois, meta perma-
nente de cada pessoa levar a força
do amor para cada relação, único
caminho a ser seguido por quem
se propõe a cuidar de si e do outro,
tornando-se, de fato, imagem e se-
melhança de Deus-Pai, o Criador.]

* Bispo auxiliar de Belo Horizonte,
autor de vários livros.

Bíblia [ Por isso, procure a reconciliação, antes que

FREI CARLOS MESTERS, OFM

Interpretar

a Lei de

Deus
[2/3]

ESTAMOS continuando a ver como Jesus in-
terpretava e explicava a Lei de Deus. Por
cinco vezes ele repetiu a frase: “Antiga-
mente foi dito, eu, porém, lhes digo!” (Mt
5,21.27.33.38.43.) Na opinião de alguns fa-
riseus, Jesus estava acabando com a lei.
Mas era exatamente o contrário.

Mateus 5,25-26: reconciliar
Um dos pontos em que o Evangelho de Mateus mais
insiste é a reconciliação, pois nas comunidades da-
quela época havia muitas tensões entre grupos ra-
dicais com tendências diferentes, sem diálogo. Nin-
guém queria ceder diante do outro. Mateus ilumina
esta situação com palavras de Jesus sobre a reconci-
liação, que pedem acolhimento e compreensão, pois
o único pecado que Deus não consegue perdoar é a
nossa falta de perdão aos outros (cf. Mt 6,14). Por isso,
procure a reconciliação, antes que seja tarde demais!

O ideal da justiça maior
Por cinco vezes, Jesus cita um mandamento ou um cos-
tume da lei antiga: não matar (Mt 5,21), não cometer
adultério (Mt 5,27), não jurar falso (Mt 5,33), olho por
olho, dente por dente (Mt 5,38), amar o próximo e odiar
o inimigo (Mt 5,43). E por cinco vezes, ele critica a ma-
neira antiga de observar estes mandamentos e apon-

[14 OLUTADOR [ MAIO 2019

seja tarde demais!...

ta um caminho novo para atingir a normas da lei em todos os seus de- Para Jesus, a justiça não vem
justiça, o objetivo da lei (cf. Mt 5,22- talhes!” Este ensinamento gerava daquilo que eu faço para Deus ob-
26; 5, 28-32; 5,34-37; 5,39-42; 5,44-48). uma opressão legalista e trazia mui- servando a lei, mas sim, vem do que
tas angústias para as pessoas de Deus faz por mim, me acolhendo
A palavra Justiça aparece se- boa vontade, pois era muito difí- com amor, como filho ou filha. O
te vezes no Evangelho de Mateus cil alguém observar todas as nor- novo ideal que Jesus propõe é es-
(cf. Mt 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32). mas (cf. Rm 7,21-24). Por isso, Ma- te: “Ser perfeito como o Pai do céu
O ideal religioso dos judeus da épo- teus recolhe palavras de Jesus so- é perfeito!” (Mt 5,48.) Isto quer di-
ca era “ser justo diante de Deus”. bre a justiça, mostrando que ela zer: eu serei justo diante de Deus
Os fariseus ensinavam: “A pessoa deve ultrapassar a justiça dos fa- quando procuro acolher e perdoar
alcança a justiça diante de Deus riseus (cf. Mt 5,20). as pessoas da mesma maneira co-
quando chega a observar todas as mo Deus me acolhe e me perdoa
gratuitamente, apesar dos meus
❝Se o olho direito muitos defeitos e pecados.

leva você a pecar, arranque-o Mateus 5,27-28:
não cometer adultério
e jogue-o fora! É melhor perder O que pede de nós este mandamen-
to? A resposta antiga era esta: o ho-
um membro, do que o seu mem não pode dormir com a mu-
lher do outro. É o que exigia a letra do
corpo todo ser jogado mandamento. Mas Jesus vai além
da letra e diz: “Eu, porém, lhes di-
no inferno❞. go: todo aquele que olha para uma
mulher e deseja possuí-la, já co-
meteu adultério com ela no cora-
ção”. O objetivo do mandamento
é a fidelidade mútua entre o ho-
mem e a mulher que assumiram
viver juntos como casados. E es-
ta fidelidade só será completa se
os dois souberem manter a fideli-
dade mútua até no pensamento e
no desejo, e se souberem chegar a
uma total transparência entre si.

Mateus 5,29-30:
arrancar o olho e cortar a mão
Para ilustrar o que acaba de dizer,
Jesus traz uma palavra forte que
ele usou também em outra oca-
sião, quando tratava do escândalo
aos pequenos (cf. Mt 18,9 e Mc 9,47).
Ele diz: “Se o olho direito leva você
a pecar, arranque-o e jogue-o fora!
É melhor perder um membro, do
que o seu corpo todo ser jogado no
inferno”. E ele afirma o mesmo a
respeito da mão. Estas afirmações
não podem ser tomadas ao pé da le-
tra. Elas indicam a radicalidade e a
seriedade com que Jesus insiste na
observância deste mandamento.]

Fonte: cebi.org.br

MAIO 2019 [ OLUTADOR]15

PE. SEBASTIÃO SANT’ANA, SDN* Família [ "Cristo vive: é Ele a nossa esperança."...

AEXORTAÇÃO Pós-Sinodal O Papa acredita
“Christus vivit”, do Papa
Francisco, assinada dia 25 profundamente na
de março, dirigida aos jovens
e a todo povo de Deus, foi acolhida Um itinerário para o futuro da Francisco
com grande entusiasmo pela Igreja, Pastoral da Juventude propõe uma Igreja
sobretudo pela juventude. O documento, composto por no- aberta, “sem medos,
ve capítulos divididos em 299 pa- para poder escutar as
Assim começa a Exortação: “Cris- rágrafos, é dirigido aos jovens e a mudanças que pedem
to vive: é Ele a nossa esperança e todo o povo de Deus. No título da os jovens, uma Igreja
a mais bela juventude deste mun- Exortação – Christus vivit [Cristo livre daqueles que a
do! Tudo o que Ele toca torna-se jo- vive] – está contida a mensagem querem envelhecer, que
vem, fica novo, enche-se de vida. fundamental que o Santo Padre a querem ancorada no
Por isso as primeiras palavras, que quer transmitir aos jovens, ou se- passado, que a querem
quero dirigir a cada jovem cristão, ja, Cristo não pertence apenas ao
são estas: Ele vive e quer-te vivo!” passado, mas também ao presen- lenta e imóvel”.
te e ao futuro.
Com esta nova Exortação, o Pa-
pa Francisco leva à conclusão o ca- A sequência dos capítulos aju-
minho sinodal que ele mesmo ini- da a perceber a riqueza do roteiro
ciou em outubro de 2016, quando oferecido pelo Papa:
anunciou o tema da XV Assembleia
Geral Ordinária: “Os jovens, a fé e o 1“Que diz a Palavra de Deus so- Acolher, apoiar
discernimento vocacional”. bre os jovens?” e escutar a juventude
Dom Vilsom Basso, Bispo de Impe-
Jovens testemunham 2“Jesus Cristo sempre jovem” ratriz, MA, e presidente da Comis-
seu encanto pela Exortação 3“Vós sois o agora de Deus” são Episcopal Pastoral para a Juven-
Alguns líderes jovens, que acompa- 4“O grande anúncio para todos tude da Conferência Nacional dos
nharam de perto a preparação e a Bispos do Brasil - CNBB, fala sobre
realização do Sínodo (outubro 2018), os jovens” o que as Igrejas, comunidades e pa-
estão vendo na Exortação verdadeira róquias podem fazer para acolher
“carta magna” para o futuro da Pas- 5“Percursos da juventude” a mensagem do Papa e as delibera-
toral da Juventude (e P. Vocacional). 6“Jovens com raízes” ções do Sínodo dos Bispos de 2018.
7“A Pastoral dos Jovens”
Francisco declara que escreveu a 8“A vocação” Para Dom Vilson, “o desafio ago-
Exortação inspirado na riqueza das 9“O discernimento” ra é acolher, apoiar, ouvir e escutar
reflexões e diálogos do Sínodo cele- a juventude em nossas comunida-
brado no Vaticano em outubro de 2018, [16 OLUTADOR [ MAIO 2019 des. Tudo que pudermos fazer, com
levando em conta as propostas que certeza, ainda será pouco, porque
lhe pareciam mais significativas. a juventude é o hoje, o amanhã e o
futuro de nossa Igreja”.
O jovem Evanderson L. de Abreu,
de Curitiba, missionário xaveriano, Segundo o Bispo de Imperatriz,
participou em Roma da reunião pré- o apoio tem que partir, em primeiro
sinodal. Em entrevista ao Vatican News, lugar, dos bispos, dos padres e das
ao fazer a primeira leitura da Exorta- lideranças: “É preciso dedicar tem-
ção, destacou sua importância como po, atenção e apoiar todas as causas
itinerário formativo da juventude. juvenis em nossas comunidades.
É o caminho que o Papa Francisco
Já Letícia Schafer, que trabalhou e o Sínodo dos bispos nos pedem”,
como voluntária das redes sociais disse ele. O bispo reforça que o do-
durante a reunião pré-sinodal, afir-
ma: “Senti que o Papa não desiste de
nenhum jovem e acredita profun-
damente na juventude, assim como
Jesus. Esperei muito pela “Christus
Vivit” e valeu a pena”, afirma a jovem
paranaense, encantada, sobretu-
do, pelo parágrafo 132 da Exortação.

juventude O Papa concluiu a Exortação di- do e jovens ouvintes do Sínodo do
rigindo-se diretamente aos jovens: ano passado.
“Queridos jovens, ficarei feliz ven-
do-vos correr mais rápido dos que No Brasil, o IX Simpósio e a XI
os lentos e medrosos. Correi atraí- Peregrinação Nacional da Pastoral
dos por aquele Rosto tão amado, que Familiar acontecerão nos dias 25
adoramos na sagrada Eucaristia e e 26 de maio, no Santuário Nacio-
reconhecemos na carne do irmão nal de Aparecida. O tema do duplo
evento – Em Família, defendemos

cumento final do Sínodo afirma que sofre... A Igreja precisa de vos- a Vida – será aprofundado através
que todos os jovens estão no cora- so ímpeto, de vossas intuições, de das conferências e oficinas:
ção de Deus, e que é hora de a Igre- vossa fé... E quando chegardes aon-
ja torná-los parte de seu coração. de nós ainda não chegamos, ten- 1Valorização da vida e suicidolo-
de a paciência de esperar por nós”. gia - Prof. Nadja Cristiane;
Jovens, a Igreja precisa do vosso
ímpeto, vossas intuição, vossa fé Exortação será referência 2O cuidado centrado na pessoa -
A Exortação “Christus vivit” tem o em Aparecida e Sassone Prof. Alexandre Ernesto;
estilo dos encontros do Papa com a A Exortação “Christus vivit” será pon-
juventude: proximidade, franqueza, to de referência para o próximo Fó- 3Em família, defendemos a vida
simplicidade, ternura e simpatia. rum Internacional da Juventude, - Dom Ricardo Hoepers;
Francisco propõe uma Igreja aber- em Sassone di Ciampino, Itália, de
ta, “sem medos, para poder escutar 19 a 22 de junho. O evento, que terá 4A família, como vai? - Pe.
as mudanças que pedem os jovens, como tema: “Jovens em ação, em Zezinho;
uma Igreja livre daqueles que a que- uma Igreja sinodal”, reunirá jovens
rem envelhecer, que a querem an- representantes das conferências 5Desejo da vida e dignidade hu-
corada no passado, que a querem episcopais, das associações e mo- mana - Zezé Luz.
lenta e imóvel”. vimentos eclesiais de todo o mun-
A recente Exortação “Christus
MAIO 2019 [ OLUTADOR]17 vivit” e os jovens também serão
grande referência em Aparecida.]

Catequese [ O Dom...

PADRE REGINALDO MANZOTTI

Maria e os dons

do Espírito Santo

MARIA, a “bendita entre todas minho com Deus e com os irmãos.
as mulheres”, foi a primeira Esse dom produz frutos importan-
pessoa a receber a manifes- tes: faz brotar em nós a consciên-
tação do Espírito Santo em plenitu- cia da filiação divina.
de, quando abrigou em seu ventre o
Filho do Altíssimo. Depois, Ela e os Maria também foi movida por
Apóstolos, reunidos no Cenáculo, re- esse dom. Sua vida e suas atitudes
ceberam a efusão do Espírito Santo. sempre foram de amor filial para
Assim Maria, que já O possuía, te- com Deus. Esse dom também a fez
ve os dons estimulados para, junto respeitar as Sagradas Escrituras e
com os Apóstolos, formar a Igreja. guardar tudo em seu coração.

Esse acontecimento foi um der- Já o dom da Ciência traz a ver-
ramamento do Espírito Santo que dade como grande virtude. Ele tira
vem sobre nós, sobre a Igreja e a o “falso brilho”, ou seja, do apego a
sustenta. O fogo do Espírito San- coisas, da fascinação. Às vezes fi-
to incendiou o coração dos Após- camos fascinados por coisas, pela
tolos, fazendo com que eles pas- tecnologia, por carros, pela casa, pe-
sassem por uma transformação. los bens, pela paixão. Esse dom nos
mostra que nem tudo que brilha é
Ao sair do Cenáculo, [...] ouro e, acima de tudo, nos mostra
Eles sentiram aquela for- o que é brilho falso e o que é verda-
ça que veio do alto para deiro na fé. Maria teve a fé aper-
capacitá-los, para real- feiçoada por esse dom. O Canto do
mente fazer com que eles Magnificat que ela eleva a Deus mos-
fossem para o mundo e tra a sua compreensão das coisas
formassem a Igreja. criadas em relação a Ele, o Criador.

Maria é o modelo de quem acolheu No dom da Fortaleza, o Espírito
plenamente esse dom. Sua vida foi Santo vem modificar-nos e corrigir
uma resposta ao chamado do Se- nossos ímpetos, ao mesmo tempo
nhor. Docilmente, ela se fez sua em que nos faz resistentes para que
serva, deixando que o Todo-Pode- consigamos sofrer corajosamen-
roso realizasse nela o mistério da te, superando qualquer obstáculo à
encarnação do Verbo Divino. realização da vontade divina. Ma-
ria teve em plenitude o dom da For-
Acolher os dons do Espírito taleza, e o provou aos pés da cruz,
O Espírito nos concede o dom da Pie- quando resistiu à dor e ao sofri-
dade, que combate em nós o egoís- mento de ver seu Filho, inocente,
mo, que é o segundo obstáculo pa- ser morto. Ela não fraquejou, man-
ra a união com Deus. Não pode- teve-se firme e soube esperar a ma-
mos ter um coração frio e indife- drugada da Ressurreição.
rente, mas terno e devotado no ca-
Há também o dom do Conse-
lho, e é justamente o que oferece o
caminho. Quantas vezes gastamos
nossas forças para o mal? Por ve-
zes somos capazes de articular, de
usar as pessoas para destruir, usar

[18 OLUTADOR [ MAIO 2019

a força, a inteligência e a sabedoria
para o mal. Por isso a virtude aflo-
rada por esse dom é a prudência.
Maria é chamada de Mãe do Bom
Conselho por ser plena desse dom.
Ela foi à mulher da prudência, sem-
pre voltada para Deus, e não hesi-
tou em oferecer-se totalmente co-
mo a serva do Senhor.

O dom do Entendimento tam-
bém nos diz respeito e nos faz pe-
netrar nas verdades reveladas. Fa-
z-nos compreender quão sábios e
misericordiosos são os desígnios
de Deus. Maria, pelo dom da Inteli-
gência, compreendeu a sua mater-
nidade como um desígnio divino e
mergulhou nas coisas da fé como
nenhuma outra criatura humana.

Enfim, o dom da Sabedoria, que
não se aprende nos livros, mas é
derramado pelo Espírito de Deus,
que completa a inteligência. Está li-
gado à ação, e isto quer dizer que de-
vemos buscar e desejar a sabedoria.
É o dom que aperfeiçoa a caridade
e nos une ao soberano bem. Maria
é a sede da sabedoria. Esse dom a
fez compreender e aceitar o plano
de Deus em sua vida. Por meio dele,
ela soube distinguir, quase que por
instinto, as coisas divinas das coi-
sas humanas, sendo inflamada do
mais puro amor a Deus e ao próximo.

Maria também é modelo de pes-
soa que coloca Deus em primeiro
lugar e com toda disposição se co-
loca a serviço de Deus, sinal de que
trazia consigo o dom do Temor de
Deus. Por isso tem coragem de tam-
bém proclamar que Deus é a cau-
sa de esperança para o seu povo e
que Ele “vai derrubar do trono os
poderosos e elevar os humildes” (Lc
1,52-53). O Temor de Deus nos leva
a buscar uma nova sociedade ba-
seada na justiça e no direito. Por
isso, temos Maria como exemplo.
Preparemo-nos e deixemo-nos que
o fogo do Espírito nos vivifique e
aqueça a nossa alma.]

* Fundador e presidente
da Associação Evangelizar é Preciso
www.padrereginaldomanzotti.org.br

MAIO 2019 [ OLUTADOR]19

Juventude [ A ponte com os idosos é indispensável para uma juventude

FRT. DIONE AFONSO, SDN*

“Christus vivit”:
EM LORETO, Santuário da Vir- Cristo vive
gem Maria, o Papa Fran- e quer-te
cisco assina, a 25 de mar-
ço, Solenidade da Anuncia- vivo!
ção do Senhor, a Exortação
Apostólica do recente Sínodo dos a caminhar na direção do Pai. O Pa- os jovens. Papa Francisco encan-
Bispos sobre os jovens, sediado no pa reafirma que é preciso mergu- ta a todos e desperta no nosso co-
Vaticano em outubro de 2018. Dian- lhar por inteiro no ser de Jesus, e ração um desejo de nos reafirmar-
te da imagem da Virgem de Loreto, não ficar olhando debruçados da mos como protagonistas de uma
o Pontífice assinou o texto da Exor- janela. “Jesus ressuscitou e quer fa- história nova, em Jesus. O pontífi-
tação e o ofereceu a Nossa Senhora. zer-nos participantes da novidade ce nos chama a atenção para dei-
da sua ressurreição. Ele é a verda- xarmos de ser peritos em clarivi-
Dividido em nove capítulos e deira juventude dum mundo en- dência, justificando o futuro dos
299 parágrafos, o pontífice cami- velhecido, e é também a juventu- jovens como incerto e inoportuno.
nha partindo da Palavra de Deus de dum universo que espera, por “A juventude não é algo que se pos-
até atingir o tema do discernimen- entre ‘dores de parto’ (cf. Rm 8,22), sa analisar de forma abstrata. Na
to vocacional, iluminando nossas ser revestido com a sua luz e com realidade, ‘a juventude’ não exis-
ações pastorais, bem como nos apon- a sua vida. te; o que há são jovens com as suas
tando possíveis caminhos, sem- vidas concretas. No mundo atual,
pre partindo de uma atitude de es- Junto d’Ele, podemos cheio de progresso, muitas destas
cuta ativa e que valorize a pessoa. beber da verdadeira fon- vidas estão sujeitas ao sofrimento
Francisco se revela como um Papa te que mantém vivos os e à manipulação.” [CV, 71.]
jovem e para os jovens. Francisco nossos sonhos, projetos
abre o seu coração sincero e sim- e grandes ideais, lan- 4Os jovens e o primeiro anúncio
ples, “se faz jovem a fim de ganhar çando-nos no anúncio Partindo de três verdades es-
os jovens em nome do Evangelho”. da vida que vale a pe- senciais: “um Deus que é amor
Percorrendo os nove capítulos, se- na viver.” [CV, 32.] [CV, 112-117]; “Cristo nos salva” [CV,
lecionamos alguns pontos que nos 118-123]; e “Ele vive” [CV, 124-129], o
ajudam a caminhar com eles. 3Os jovens são o agora de Deus anúncio do Querigma é primordial
O marco da JMJ de 2019 foi tra- aos jovens. “Se conseguires apreciar
1Os jovens e a Palavra de Deus zer para o agora da história com o coração a beleza deste anún-
Na Bíblia encontramos belos cio e te deixares encontrar pelo Se-
exemplos de jovens que prota- [20 OLUTADOR [ MAIO 2019 nhor; se te deixares amar e salvar
gonizam a vossa história e trans- por Ele; se entrares na sua intimi-
forma a sociedade em que vivem. dade e começares a conversar com
“Jesus, o eternamente jovem, quer Cristo vivo sobre as coisas concre-
dar-nos um coração sempre jovem. tas da tua vida, esta será a gran-
Assim nos pede a Palavra de Deus:
‘purificai-vos do velho fermento,
para serdes uma nova massa’ (1Cor
5,7). Ao mesmo tempo convida-nos
a despojar-nos do ‘homem velho’
para nos revestirmos do ‘homem
novo’ (Cl 3,9.10), do homem jovem.”
[CV, 13.]

2Cristo é o eterno jovem
O Evangelho é o próprio Jesus
que, ainda jovem, ensina-nos

com raiz...

de corresponsabilidade – dos caris-
mas que o Espírito dá a cada um
dos membros (da Igreja), de acor-
do com a respetiva vocação e mis-
são”. [CV, 206.]

8A vocação
A vocação é um chamado à
santidade, à amizade, à fra-
ternidade, ao amor, à família, ao
trabalho e à consagração. Tudo
parte de um convite batismal de
querer ser algo mais para a socie-
dade. “Jesus caminha no meio de
nós, como fazia na Galileia. Passa
pelas nossas estradas, detém-Se
e fixa-nos nos olhos, sem pressa.
O seu chamado é atraente, fasci-
nante. Mas, hoje, a ansiedade e
a velocidade de tantos estímulos
que nos bombardeiam fazem com
que não haja lugar para aquele si-
lêncio interior onde se percebe o
olhar de Jesus e se ouve o seu cha-
mado.” [CV, 277.]

de experiência, será a experiência do e com todos, com o passado, pa- 9O discernimento
fundamental que sustentará a tua ra construir um futuro totalmente “Este discernimento, embora
vida cristã. Esta será também a ex- novo. A ideia é boa, mas falta-lhes inclua a razão e a prudência,
periência que poderás comunicar a referência, falta-lhes um ponto supera-as, porque trata-se de en-
a outros jovens.” [CV, 129.] de partida. E este, eles encontrarão trever o mistério daquele projeto,
na linda experiência com os idosos. único e irrepetível, que Deus tem
5Os caminhos da juventude “Proponho aos jovens irem mais para cada um […]. Está em jogo o
Sonhos, desejos, a enorme von- além dos grupos de amigos e cons- sentido da minha vida diante do
tade de experimentar, fazer ex- truírem a amizade social: buscar Pai que me conhece e ama, aque-
periências novas que vos abrem a o bem comum chama-se amizade le sentido verdadeiro para o qual
novos horizontes e vos saciam dando social. A inimizade social destrói. E posso orientar a minha existência
a sensação grata de prazer garan- uma família destrói-se pela inimi- e que ninguém conhece melhor do
tido. Essas são as grandes marcas zade. Um país destrói-se pela ini- que Ele.” [CV, 280.]
desse percurso que nossos jovens mizade. O mundo destrói-se pela
perpassam. “Cristo Vive” alerta-nos inimizade. E a inimizade maior é Para rezar e
a valorizar o discernimento nessa a guerra. E hoje vemos que o mun- discutir em grupo
etapa da vida, para que os prazeres do se está a destruir pela guerra.
não se tornem efêmeros e vazios Porque são incapazes de se sentar 1Vamos juntos estudar e refletir
de uma experiência que alimente e falar […]. Sede capazes de criar a a Exortação “Cristo Vive”?
toda a vossa vida adulta. amizade social.” [CV, 169.]
2Entre estes pontos centrais do
6Jovens com raízes 7A Pastoral dos Jovens documento, o que nos fala com
A ponte com os idosos é indis- Juntos, somos convidados a maior profundidade?]
pensável para uma juventude construir uma pastoral juve-
com raiz. Os jovens querem se au- nil sinodal. Trata-se de um ‘cami- * Religioso Sacramentino,
toafirmar construindo a sua histó- nhar juntos’, “que implica a valo- Comunicação – PUC-Minas
ria. Para isso, eles rompem com tu- rização – através dum dinamismo Contato: [email protected]

MAIO 2019 [ OLUTADOR]21

Encontro Matrimonial [ Viver a dois...

LUIZ CARLOS E MARINEI, ROGÉRIO E ZENAIDE*

Comunicação profunda: perficialidade e indiferença. E tam-
uma escolha e um estilo bém com a solidão surgem as doenças
de vida a dois emocionais, psíquicas e as drogas.

NOS ÚLTIMOS ANOS, a velocidade Contradições Amar é uma decisão
das informações que são gera- do mundo globalizado O EMM é um movimento da Igreja
das e que interligam e conectam Os novos meios de comunicação apro- Católica. Ele é uma ferramenta va-
as pessoas e o mundo deslan- ximaram a informação em todos os liosa que trabalha o relacionamen-
chou de uma forma surpreendente lugares do planeta, o que traz bene- to entre casais e também na convi-
e fantástica. O surgimento de novas fícios para todos, mas criaram bar- vência com os sacerdotes, religio-
plataformas, como a Internet e suas reiras que prejudicaram o contato sos(as), tendo na sua base o diálogo
redes sociais, a comunicação por re- das pessoas dentro de suas casas, diário a partir dos nossos sentimen-
des móveis diminuíram as barrei- pele a pele, olho no olho. tos que experimentamos. O sonho
ras e criaram a instantaneidade da do Encontro Matrimonial Mundial
difusão on-line e em tempo real. Até Estamos mais ligados às é que vivamos em harmonia e uni-
então, tudo parecia acontecer em um informações, às notícias, mas dade como casal, através deste estilo
ritmo mais lento, era mais devagar, perdemos a capacidade inte- de vida que prioriza a comunicação
a comunicação nos parecia ser mais rior de nos relacionarmos co- profunda dos sentimentos.
restrita, dava-se mais no entorno de mo pessoas plenas de sen-
nossas comunidades. timentos e reações. Estamos O casal que tem a oportunidade
perdendo esta capacidade de de fazer o retiro do Encontro Matri-
Mas veio o boom da Internet e da enxergar o que se passa no in- monial Mundial, chamado Fim De
globalização, e a comunicação parece terior do outro e de nos colocarmos Semana – FDS, tem benefícios con-
que se tornou instantânea, em tem- sideráveis em seu relacionamento
po real. Hoje, quase que numa fração no seu lugar, para percebermos na- a partir de uma técnica de comuni-
de segundo, recebemos uma infini- quele momento o que ele sente e o que cação e escuta, denominada diálo-
dade de informações, sabemos até de mais profundo quer nos revelar. go em nível de sentimentos profun-
de uma notícia em outro continente. dos. Este, como consequência, trará
O resultado de tudo isto é a deterio- efeitos positivos também para os fi-
Estamos lincados em todo tipo de ração da qualidade de vida das famí- lhos e às pessoas próximas.
informações na Internet e, sem per- lias, com o aumento do número de
cebermos, deixamos de nos infor- separações entre os casais. Os filhos e Segundo o depoimento do casal
mar, de saber o que acontece em nos- os pais, embora vivam sob o mesmo Luiz Carlos e Marinei, pertencente
sas casas, nas nossas famílias e no teto, muitas vezes convivem em su- à Diocese de Porto Alegre, RS, o Fim
nosso círculo social mais próximo. De Semana foi um divisor de águas
[22 OLUTADOR [ MAIO 2019 em seu relacionamento. Após a par-
ticipação do FDS, eles se despiram de
todos os fatores que os impediam de
se entregar um para o outro, alcan-
çando o verdadeiro sentido de que
Amar é uma Decisão. Passaram a vi-
ver os valores cristãos de amar e ser
amado, o dom da escuta, do perdão,
do autoconhecimento, a confiança
no outro, tendo uma forma de abas-
tecer o relacionamento e estreitar a
intimidade com Deus.

Você, que ainda não conhece o FDS
do Encontro Matrimonial Mundial,
está convidado a fazê-lo. Basta entrar
no site http://www.encontromatri-
monial.com.br ou através do face-
book: @encontromatrimonialmun-
dialbrasil, e você encontrará o EMM
na Diocese mais próxima à sua ca-
sa. Entre em contato e seja muuuui-
to mais feliz na sua vida matrimo-
nial, sacerdotal ou religiosa.]

* Contato: [email protected]

Família Julimariana [ Saber esperar...

PE. MARCOS ANTÔNIO A. DUARTE, SDN

Sacramentinos
de Nossa Senhora:
90 anos

OPe. Júlio Maria De Lombaerde estar profundamente ligados à Euca- de Minas Gerais, já com as bênçãos de
veio para Manhumirim, MG, ristia e à devoção mariana. Ninguém Dom Carloto Távora. De comum acor-
não só para ser cura ou vigá- acomodado, ninguém procurando vi- do com o senhor bispo, escolheu Ma-
rio desta cidade. Ele vinha rea- da mansa. A vida dos missionários, nhumirim para ser a sede da casa-
lizar um velho sonho. Os antigos de desde os tempos da primeira forma- mãe de sua congregação missionária.
nossa Congregação contam que ele ção, seria austera, sem renegar o ri-
teve um sonho durante a viagem da so, a alegria que nasce de uma vida Pe. José Herval Ferreira tem uma
Holanda para a Amazônia. Um dia, comprometida com Jesus e seu Reino. expressão que resume bem nossa his-
em pleno mar, de joelhos diante da tória fundacional: “De forma simples,
pequena imagem de Nossa Senhora A experiência de fundar uma Con- podemos dizer que nossa congrega-
de Lourdes, ouviu da Virgem Maria o gregação de religiosos missionários ção foi concebida no Norte, em Belém,
seguinte: “Eu te farei pai de uma gran- não lhe causava nenhum medo, an- PA; foi gestada no Nordeste, em Natal,
de família de missionários”. Isto se lhe gústia ou desolação. Ele sabia mui- RN, e nascida no Sudeste, em Manhu-
imprimiu na mente e no coração as to bem que a obra era de Deus, e não mirim, MG”. Aqui, temos não só três
fendas de fundador. sua. Pe. Júlio Maria lutou pela reali- espaços geográficos brasileiros expe-
zação desse projeto, mas por outro la- rimentados pelo fundador, mas sim,
Grande sonho do percebia os sinais de Deus, que lhe três marcas de um povo com suas rea-
A vida do Pe. Júlio Maria vai-se tecendo pedia esta obra. lidades em nosso DNA que nos ajudam
a partir de seus grandes sonhos de fun- a interpretar o carisma e a espiritua-
dador, pároco, catequista, missionário... Saber esperar lidade fundacional do Pe. Júlio Maria
“Os sonhos são, sim, uma forma de re- Durante 16 anos, no Norte, sobretu- para a Congregação Sacramentina.
velação divina, não somente aos pro- do em Macapá (hoje capital do Ama-
fetas e aos homens bíblicos, como Joel, pá), o Pe. Júlio acalentou seu “sonho”, E assim começava a Congrega-
Daniel e o nosso bom José, mas tam- enquanto esperava, com heroica obe- ção dos Missionários de Nossa
bém a nós, em nossos sonhos cotidia- diência, a autorização de seus supe- Senhora do Santíssimo Sacra-
nos e grandes sonhos.” (Boff, Leonardo. riores religiosos, que prudentemen- mento, a primeira congregação
São José, a personificação do Pai, p. 75.) te o puseram à prova, para se certifi- masculina fundada no Brasil.
carem se aquele “sonho” era coisa de
A partir da realidade da Igreja bra- Deus ou coisa dos homens. Quando, Seu carisma missionário é dom da-
sileira, o Pe. Júlio Maria passou a so- afinal, lhe deram a licença tão espe- do por Deus ao nosso Fundador para
nhar com a fundação de uma congre- rada, ele embarcou para o Sudeste. o serviço da Igreja. Pe. Júlio Maria re-
gação missionária masculina. Esses cebeu um dom especial de Deus: ser
missionários seriam dados à oração, Mais, uma vez, teve de esperar. Che- missionário, contagiando as pessoas
ao estudo e ao trabalho. Eles deveriam gando a Natal, RN, recebeu ordem de pela pregação da Palavra de Deus, pelo
seus superiores para ficar ainda al- senso de ser Igreja, pela defesa da vida,
gum tempo ali, trabalhando na dio- pela participação na Eucaristia e por
cese, junto com alguns companheiros seu amor filial a Nossa Senhora. É esta
de Congregação. E mais uma vez o Pe. missão que seus filhos espirituais her-
Júlio Maria obedeceu, entregou-se ao dam para exercerem na Igreja de Deus.
trabalho com a paixão missionária de
sempre. E lá ficou por quase dois anos. Louvor ao Criador, pela existência
Até que, enfim, veio a licença definitiva. de nossa Congregação, porque, afinal
de contas, são 90 anos de missão, ser-
Foi encerrando sua missão em terras viço e doação à causa do Evangelho na
potiguares e, em pouco tempo, embar- Igreja do Senhor!]
cou para o Rio de Janeiro e dali seguiu
para a diocese de Caratinga, no interior

MAIO 2019 [ OLUTADOR]23

Espiritualidade [ A união faz a força...

DOM PAULO MENDES PEIXOTO*

Construir
comunidade

TENDO em consideração o aspecto majoritário praticado pelo individua-
lismo dos últimos tempos, falar em construir uma verdadeira comuni-
dade, principalmente cristã, é um grande desafio. Existe uma superfi-
cialidade em relação à prática e vivência da Palavra de Deus. Nela está a
fonte do engajamento comunitário, porque a reflexão bíblica consegue
atrair as pessoas para uma convivência fraterna.
Na cultura moderna, a mídia constrói muita fantasia na cabeça das pesso-

as, corroborando com a falta de compromisso comunitário duradouro. Isto afeta

também a vida das comunida-

des cristãs, porque dificulta a

reflexão motivadora que vem

da orientação bíblica. As pes-

soas não têm mais tempo nem

clima disponíveis e favoráveis

para meditar e absorver a ri-

queza da convivência.

“A união faz a força.” É

uma expressão muito signifi-

cativa quando falamos de co-

munidade, onde cada membro

deve cooperar para o bem dos

demais, com objetivos comuns,

superando o espírito de com-

petição e egoísmo, que preju-

dicam a vida comunitária. Um

exemple disso está no mode-

lo de partilha como viviam as

primeiras comunidades cris-

tãs, conforme o relato bíblico (cf. At 2,44-47).

O apóstolo Paulo faz uma alusão interessante sobre o sentido da vida co-

munitária. Ele a compara com os membros do corpo humano, onde cada mem-

bro tem sua própria função, mostrando a diversidade das peças, mas todas para

uma única finalidade, que é a harmonia de todo o corpo (1Cor 12,12ss). Assim

deve ser a comunidade dos filhos de Deus, unidos, sem ciúmes.

Nesta tarefa de construir comunidades vivas, a tática de Jesus era foca-

da em suas palavras e na invocação do Espírito Santo. O povo que O escutava ti-

nha seus “olhos fixos nele” (Lc 4,20). Eram palavras provocadoras de compro-

missos comunitários e todos saíam motivados para testemunhar as realidades

de seu anúncio. Muitos foram-se agregando à vida dos discípulos, formando

comunidades.

Na vida de comunidade, as pessoas não podem fechar os olhos diante

das realidades existenciais. Os problemas devem ser enfrentados com coragem

e determinação. É inconcebível viver no anonimato, no virar as costas para os

problemas, para não enfrentar as dificuldades do cotidiano. Nessa hora é fun-

damental o exercício da solidariedade, porque a força da união resolve todos

os problemas.] *Arcebispo de Uberaba, MG

[24 OLUTADOR [ MAIO 2019

Liturgia [ Fundamentos...

FRT. MATHEUS R. GARBAZZA, SDN

A estrada
do êxodo e a

liturgia

OTEMPO PASCAL nos coloca nhar rumo à terra pro- ciente que a comunidade esteja dis-
em contato com uma das metida. O aspecto hu- posta para tal? A resposta do êxodo
páginas mais significati- manístico, não sem ra- é ainda mais profunda, assevera o
vas do Antigo Testamen- zão, é bem destacado. Cardeal Ratzinger. O homem, por si
to: a libertação do povo he- Entretanto, muitas ve- só, não é capaz de compor um culto
breu do Egito, evento fundador do re- zes deixamos escapar que agrade ao Senhor. Precisamos
lacionamento de Israel, como povo que entre as motiva- necessariamente que Ele se revele,
constituído, com o Deus libertador. ções para o êxodo es- que nos comunique como louvá-lo.
Analogamente, nós cristãos celebra- tá a liturgia, a celebração dos misté-
mos a vitória de Cristo sobre a dor e rios de Deus. No Livro do Êxodo 5,1-3, É isso que aparece em Ex 10,24-
a morte com a mesma intensidade, quando Moisés e Aarão se apresen- 29: o Faraó pretende liberar apenas
sentindo-nos todos inseridos neste tam diante do Faraó, transmitem a uma pequena parcela do povo, ou re-
profundo mistério. mensagem de Deus: é preciso que ter ao menos suas posses. Mas para
o povo vá ao deserto para “celebrar Moisés isso não é aceitável, “pois en-
Mas que fundamentos o êxodo uma festa ao Senhor”, isto é, oferecer quanto não chegarmos lá, nós nem
dá para a liturgia cristã? Que com- a ele os sacrifícios necessários. Es- sequer sabemos o que devemos ofe-
preensão de culto temos ali? Dentre ta ideia volta em Ex 7,16.26; 9,1; 10,3; recer ao Senhor” (v. 26).
as várias respostas possíveis, o Car- 12,31, entre outras passagens.
deal Joseph Ratzinger (futuro Papa Portanto, para participar bem da
Bento XVI) nos ofereceu uma valiosa Com isto, segundo raciocina o Liturgia, é essencial perceber que não
contribuição em seu precioso livro Cardeal Ratzinger, verificamos que é o ser humano quem escolhe o que
“Introdução ao Espírito da Liturgia”. a busca pela terra prometida é tam- ofertar a Deus. É Ele mesmo quem
Ali, sobretudo no primeiro capítulo, bém o anseio por um lugar onde ofe- nos ensina. Para a liturgia cristã, essa
ele indica que a narrativa do êxodo nos recer a Deus o culto que lhe agrade. realidade aparece com ainda mais in-
ajuda a compreender a relação entre A aliança que será celebrada entre o tensidade, pois não apenas o Senhor
liturgia e vida. Mais especificamente, Senhor e o povo está pautada na li- indica qual a oferta, mas – por meio
sobre o lugar da liturgia na realidade. turgia, mas parte necessariamente de seu Filho – torna-se precisamente
para a prática daquilo que é a vonta- a vítima perfeita, agradável e santa.
A festa no deserto de de Deus – sobretudo em relação
A alguns pode parecer que a litur- ao cuidado com as outras pessoas. A A consequência prática logo apa-
gia seja algo acessório, meramen- liberdade do ser humano mostra-se rece: a liturgia deve ser entendida
te decorativo na vida cristã. Que a ligada à sua capacidade de reconhe- por nós como um dom, um presen-
preocupação pelo culto seja super- cer a Deus e de ser livre para adorá te de Deus, do qual nos aproxima-
ficial, uma distração das coisas que -lo como convém. E isso tem conse- mos com todo o respeito e dignida-
são realmente importantes. Mas, na quências seríssimas para a tradição de. Nunca será um produto de nos-
narrativa da libertação do povo de posterior, perceptível de modo mui- sas mãos, uma fábrica humana, se-
Israel, não é assim. Para eles, litur- to intenso na crítica profética: des- não não passará de um “bezerro de
gia e vida estão visceralmente uni- respeitar a vida equivale a profanar ouro” (cf. Ex 32).]
das. Não é possível separar uma coi- o culto divino.
sa da outra.
Revelação e culto
Todos conhecemos bem o aspec- Mas ainda permanece de pé a per-
to social da missão de Moisés para gunta: como prestar culto a Deus?
libertar o povo. É preciso escapar da Bastará “sair para o deserto”? É sufi-
escravidão, fugir da servidão, cami-
MAIO 2019 [ OLUTADOR]25

Atualidade [ Amigos...

ANTÔNIO CARLOS SANTINI

EXISTE um mistério na amiza- O mistério da
de. Como explicar esta espé- amizade
cie de identidade entre duas
pessoas que, uma vez esta- mentou ressentimentos. Deixou go sua biblioteca, mas suas cartas
belecida, resiste ao tempo e saudades em Volta Redonda como chegavam com frequência. Inespe-
à distância? inigualável professor de História e radamente, após alguns anos, re-
Sociologia. Pensamento fulguran- gressou ao Brasil e tornou-se agen-
Alguém me diz que a amizade te, notável habilidade verbal, dei- te de pastoral no norte de Minas,
brota da admiração. “Tua me vir- xava os alunos em suspenso du- promovendo a Pastoral da Crian-
tus tibi fecit amicum.” Ao perceber a rante sua exposição. Era perma- ça entre famílias miseráveis. Um
qualidade do outro, sinto-me atraí- nente a sua disposição em ajudar câncer o levou...
do em sua direção. Pode ser verda- as pessoas. Algumas vezes, escre-
de, pois não existe amizade entre vemos artigos a quatro mãos. Já A lista seria grande. Lázaro Serni-
bandidos, meros comparsas, quan- disse adeus... zon, José Teixeira de Oliveira, Fran-
do a ausência de virtude impede çois Haab, Pe. Pedro Cenoz, Tom de
essa atração. Outro amigo inesquecível foi Minas e tantos outros que dividiram
Eugenio Tommasi. Italiano, tam- a estrada comigo, acreditando nos
Outros traduzem a amizade por bém ele dedicado à educação, pou- mesmos ideais. Nestes tempos tão
uma espécie de similitude entre as ca gente sabia que era padre e, nas ásperos, quando as casas estão cer-
pessoas, um idêntico sentir da vida, turbulências do pós-Concílio, dei- cadas de muros altos e cercas elé-
o sinfronismo semelhante àquele xara o ministério. Quando a famí- tricas, a permanência da amizade
que ocorre quando lemos um poe- lia Tommasi emigrou das terras de acena um lenço de esperança que
ma e nos identificamos com o poe- Pordenone, os fazendeiros de Pira- recorda ao coração humano a sua
ta. Chegamos a pensar: eu gostaria juí alojaram os italianos em an- necessidade de amar.
de ter escrito esta página! tigas pocilgas. Desde a infância, a
vida de Eugenio foi uma luta con- Ao recordar tantos amigos e
No fundo, amigo vem de amar. tínua contra as adversidades. Eu o avaliar a herança que eles deixa-
É a mesma raiz. O amigo nasce da vi pároco, professor, diretor de es- ram em minha vida, eu percebo
necessidade do outro, da extre- cola e gerente de recursos huma- que existe um traço comum a to-
ma pobreza do próprio eu que, na nos. De volta à Itália, deixou comi- das essas amizades: não mereço
solidão, anseia pela ponte e pe- nenhum deles...]
lo contato. E são muitas as ten- [26 OLUTADOR [ MAIO 2019
tativas falhas de fazer amigos.
Na hora difícil, muitos se ausen-
tam. “Amicus certus in re incer-
ta cernitur.”

Pessoalmente, fui premiado
pela vida. Ao completar 75 anos
e iniciar a quarta e última eta-
pa da existência, revisito o tem-
po passado e me sinto agraciado
pelos amigos que caminharam
a meu lado. Algumas amizades
nasceram do trabalho em equi-
pe, seja no campo profissional,
seja na missão evangelizadora,
seja no mundo musical. Outras
brotaram do sofrimento comum,
quando as mãos se unem diante
da mesma ameaça. Outras caí-
ram do céu como um relâmpago
em céu azul, sem que nada de ra-
cional possa explicá-las.

Um grande amigo foi Waldyr
Amaral Bedê, que eu sempre defi-
ni como um homem “cordial”. Per-
seguido, preso político, jamais ali-

Atualidade [ Reflexão...

DAVID DECCACHE

Histórias da Previdência golpeada:
Maria, doméstica

Ela trabalha desde os 14, sem direitos trabalhistas. Acorda todo dia às cinco. Mas para governo e o “mercado”,
dona Maria, com aposentadoria de um mínimo, é uma privilegiada – e receberá apenas R$ 400.

MARIA tem 65 anos de idade e tra- Contudo, a maioria dos econo- vavelmente, não vai aguentar con-
balha desde os 14 anos como mistas do Brasil considera Maria tinuar trabalhando até os 70 anos.
empregada doméstica. Ela tra- uma privilegiada, pois, ora, onde já Enfim, se a reforma estivesse va-
balhou por meio século, mas duran- se viu se aposentar tão cedo e com lendo agora, Maria se aposentaria
te a maior parte do tempo sem ne- um benefício tão alto? Além disso, com R$ 400,00. O que já era muito
nhum direito trabalhista e não pa- eles também alegam que Maria pa- difícil para ela e para os netos, fica-
gando a contribuição previdenciária. gou contribuição social por muito rá insuportável: como alimentar os
pouco tempo, apenas 15 anos. Con- netos, comprar remédios e coisas
Hoje, Maria, uma privilegiada,
segundo o Paulo Guedes, recebe um tudo esquecem o quanto Maria paga do tipo? Uma crueldade que alguns
salário mínimo de R$ 998,00, mas de tributos todo santo dia quando chamam de combates a privilégios.
paga, sem saber, aproximadamen- compra o arroz e feijão dos netos.
te, R$ 320,00 de tributos sobre tu- Por falar nisso, os patrões de
do que consome (32% de toda a sua Dado o diagnóstico de que Ma- Maria, acionistas de uma grande
renda). Enquanto isso, o milionário ria é uma privilegiada, esses eco- empresa e que têm seus lucros e di-
Joesley Batista, pagou apenas 0,3% nomistas elaboraram uma refor- videndos recebidos isentos, além
de imposto de renda em 2016 sobre ma da Previdência que, se estivesse de receberem muito dinheiro de
os mais de R$ 100 milhões que fatu- valendo hoje, faria com que Maria juros do governo brasileiro, estão
rou (quase toda a renda do Joesley é tivesse duas opções: ou tentar se bastante preocupados com o futu-
isenta de impostos no Brasil). Mas aposentar pelo BPC com R$ 400,00 ro do Brasil e torcem para a refor-
vamos voltar à história de Maria. agora ou continuar trabalhando ma da previdência ser aprovada,
até os 70 anos para completar os já que ouviram na Globo News que
Quando Maria chegou aos 50 anos 20 anos mínimos de contribuição, é necessário que os privilégios se-
de idade, conseguiu um emprego com garantindo a aposentadoria de um jam combatidos no Brasil. E eles, co-
carteira assinada e hoje, com 65 anos, salário mínimo. Mas Maria já está mo classe média alta responsável,
finalmente poderá se aposentar com com a saúde muito abalada devi- são contra os privilégios. De Maria.
1 salário mínimo, já que, com mui- do ao trabalho pesado a que se sub-
ta dificuldade, cumpriu os 15 anos meteu durante toda a vida e, pro- (Texto baseado em fatos reais,
de contribuição mínimos para de- com dados reais.)] Fonte: Outras Palavras
mandar o benefício previdenciário. MAIO 2019 [ OLUTADOR]27
Maria finalmente irá descansar e
não precisará acordar às 5 da ma-
nhã, ficar horas em um trem lotado
e depois esfregar o chão dos patrões.
Só Deus sabe como Maria aguentou
por tanto tempo uma vida tão dura.

Maria, neste ano, receberá um
salário mínimo de aposentadoria,
que será muito útil para ajudar a sua
família, pois sua filha não consegue
emprego nem vaga na creche pa-
ra as crianças. Depois da crise eco-
nômica iniciada em 2015, as coisas
ficaram muito difíceis. Quem está
segurando a barra na família é Ma-
ria que, com o pouco que ganha, ga-
rante a alimentação dos seus netos.

Crônica [ Maria

COMADRE, me arranja três ovos... Caminho
O namorado de minha filha de volta
chegou e eu vou fritar uns bis-
coitos para um café... lho que não granou... Vivia nesse Eu trançava o dia todo, desca-
catre, num canto da cozinha onde o roçava o algodão no descaroçador,
A vizinha passava pela “cerca” fogão esquentava o ninho da pobre para mim uma peça mágica, se-
do lado e entrava casa a dentro. Ela velhinha. Sua filha, a empregada mentes de lá, algodão de cá...Um
mesma ia debaixo do pé de manga da casa, era azougada. Fazia todo balaio de taquara ia enchendo sua
-polvilho e colhia os ovos. Voltava o serviço brigando com a vassou- barriga enorme de algodão bran-
pelo mesmo lugar, fritava os bis- ra, com o espanador, com as teias quinho, barbas de Papai Noel...
coitos e o casamento da filha es- de aranha, com o cisco de folhas
tava garantido... secas, com o fogo que ficava alto Eu gostava de tirar um fiapo
demais, que ficava baixo demais, do algodão para soprar e acompa-
Do outro lado, nós ficávamos com as panelas, com as tampas nhar seu voo pelo quintal fresco...
espiando o Sô João do Fole naque- das panelas... Só não brigava com Era um brinquedo encantado para
la peleja, soprando brasas para es- a mãe velha, para a qual era só ca- mim: fabricar uma nuvem branca
quentar os pedaços de ferros re- rinhos... Beleza de coração! e, com um beijo-menino, mandá-la
torcidos e fazer o reparo nas en- para o céu de mentirinha que brin-
comendas. Às vezes, para descan- Lá do poleiro, estava a outra peça cava por cima do quintal...
sar, dava o fole para sua mulher, do núcleo ruidoso da casa, a Mulata.
D. Maria do Sô João do Fole, e ela Em outro terreiro, o do Sô Auré-
abria e fechava o tal instrumento Morro de saudades daquela ma- lio e D. Orquiza, eu tinha um cava-
de sopro... As brasas brilhavam e ritaca grande, bonita, um Brasil ver- linho perfumado, cheio de estreli-
o rosto de cada um ficava cheio de de-amarelo rodando pela casa, ar- nhas brancas, um pé de sabuguei-
luz vermelha... rastando a corrente de arame que ro. Cada um de nós, filhos e meni-
nunca soube pra que servia... Ela, nos vizinhos, tinha um galho pa-
No quintal do outro lado, Do- a Maria Carlota e o Tonho Pagão ra galopar...
na Maria Cardosa e Sô Zé Cardoso faziam a casa ferver!
teciam a vidinha no tear. Eles pa- E, de lá, eu via a casa da Tia
reciam dois passarinhos, conver- - Tonho, põe o cumê da Mula- Isaura, a cozinha grande, com o
savam baixo, com voz de andori- ta na latinha! pote de água fresca. Descia do ca-
nhas... Mas eles se entendiam, por- valinho, bebia um copo grande de
que iam trabalhando, fiando, te- O Tonho punha. água e voltava pro galope...
cendo as cobertas mais bonitas de - Tonho, leva o prato de min-
Estrela. Deviam se entender com gau pra mãe! Ligeiro, senão esfria... Cada quintal tinha um encan-
a linguagem de um olhar antigo, O Tonho levava... tamento. Dona Maria do Mulato
gestos cristalizados na companhia Lá no quintal, Sô Zé e D. Maria fazia asas de anjo e eu não podia
serena que mantinham há longos viviam entre nuvens de algodão: perder aquelas maravilhas. Pe-
anos. Era um casal sem altos e bai- era uma pequena fábrica, com pe- nas brancas, de pato e de gali-
xos, uma Sagrada Família sem o Je- ças feitas de madeira lisinha e bri- nhas, lavadas e aniladas nas ba-
susinho. Só mais tarde, trouxeram lhante, de tantos anos de trabalho... cias grandes. Depois, elas iam pa-
- da roça deles, cujo nome era um
verso pra mim: Capim de Cheiro - [28 OLUTADOR [ MAIO 2019
um menino que não se enquadra-
va naquela mesmice, até no nome,
Tonho Pagão...

Ele fazia parte do outro núcleo
da casa... Um núcleo barulhento,
que vivia aos gritos esganiçados. D.
Carlota, velhinha, magrinha, outro
passarinho, depenado, tudo de uma
cor indefinida, cor de palha seca:
o colchão, o cobertor velho nos pés
de palhada; D. Carlota, a cama da
cor de sabugos velhos, esfarelen-
tos, a roupa, os cabelos, as mãos,
toda ela era um espiguinha de mi-

ra um lençol branco e o sol de ou- De quintal em quintal, cresci, HUMOR
ro ia secando, uma a uma, com fiquei moça, virei professora, ar-
um beijo quente. ranjei um BEM, virei mãe, virei vó, ERA MESMO...
virei bisavó... Estrela era uma gran- O sujeito pergunta ao advogado:
D. Maria e as filhas não tira- de fazenda, com casas aqui e ali. - Doutor, é mesmo verdade que o
vam os olhos do colchão de penas Tudo era nosso, da turma da pá- senhor está cobrando 500 pratas
molhadas... O segredo era vigiar o virada, da qual eu e meus irmãos por duas dúvidas?
ponto da secagem, senão elas voa- éramos membros efetivos...
vam e a meninada corria, voava - Exatamente. Qual é a segunda?
atrás delas... Antes que isso acon- Não havia a tal de privacidade,
tecesse, D. Maria ficava de olhos. todo mundo lavava roupa, limpa- LÁ NÃO...
Na hora certa, outro momento má- va café no pilão, areava vasilhas O médico entra para tomar um
gico para mim, ela vinha com um e punha as latinhas secando nas cafezinho. O dono do bar diz a ele:
filó enorme e, com doçura, ela dei- pontas dos poucos bambus da cerca
xava cada um de nós segurar uma velha... Ninguém se escondia, tu- - Doutor, eu estou com uma
beiradinha do cortinado para co- do era tão igual, tão singelo e pu- dorzinha chata aqui nas costas...
brir as penas... E de lá, saíam as ro. As roupas penduradas em ara- O que será?
asas de anjo mais brancas e lin- mes farpados - não havia pegado-
das que eu já vi... res - sempre me deixavam angus- - Precisa olhar... Por que você
tiada... Pareciam corpos sem alma, não chega lá no meu consultório?
Num maio qualquer, surgiu a pendurados ao vento...
novidade: uma asa de garça, intei- - Porque lá o senhor vai que-
rinha, marcou nova era na vesti- *** rer cobrar...
menta dos anjos.
Saio à porta. Todas as casas fecha- MUITO PERIGOSO
- A asa já está curtida? Não tem das, com portões eletrônicos, mu- Em Lisboa. Às três da manhã, dou-
cheiro nenhum? ros altos, cercas elétricas... tor Manoel recebe um telefone-
ma do Joaquim.
Era D. Maria do Mulato cuidando Meu belo gatinho amarelo
da qualidade das asas que vendia... perdeu uma patinha e metade - Sou eu, Manuele... Estou pre-
da orelha, em uma cerca de con- so cá na esquadra. Vê se vens me
A nós, crianças\ anjos, não nos certina da casa vizinha... Olho soltaire!
interessava saber nada sobre a pro- para um lado, olho para outro,
cedência das asas... Todo mundo doidinha pra arranjar um sorri- - E que fizeste, ó gajo?
queria uma igual. Agora, era só la- so, uma prosinha... Se passa al- - Eu? Não fiz nada!
var e anilar. Até hoje, não sei de on- guém, está pendurado em mil fios, - Então, não posso ire...
de vinham as asas de garças... De com passos seguros, olhos fixos - Mas por quê, ó pá?
algum paraíso... no celular, não sobra uma olha- - Ó Juquim, se estão a pren-
dinha pra Maria... Fico à espera deire quem nada fez, vai que me
Assim, cresci, Entre quintais e eis que surge um, com passos prendam também...
sem cercas - ou com cercas es- lentos, sem fios ligados... Aí, vêm
buracadas - sem muros, sem os abraços antigos, os “três beiji- ASSALTO LITERÁRIO
peias. Em cada um deles, desco- nhos, um pra casar”, as saudades O mascarado entra na livraria e
bria um encantamento. Sô Tavi- velhas e novas, alguma aguinha saca um 38:
nho curando cabaças com cin- lavando os olhos...
za, fazendo peças maravilho- - “A bolsa ou a vida!”
sas, cheias de recortes... As fi- Tenho pena dos meus netos: - Aqueles contos do Carlos
lhas davam o toque da pintura vão pisar outros caminhos, entre Drummond, não é?
com tintas tiradas de sementes cercas e muros...
e flores do quintal... A MULHER DO INVENTOR
Tão diferente de um caminho No meio da noite, a mulher fala
Lá no Dr. Abel, depois do jardin- que percorri até aqui! Tenho certeza carinhosamente:
zinho moderno que ele levara pa- de que, até hoje, o sinal de meus pés
ra Estrela, de cercas de ferro dese- está marcado na poeira do chão... - Edson, meu bem... você in-
nhadas e uma imagem da Virgem Marcado com a POESIA descober- ventou a lâmpada, que bom! Es-
Maria - numa gruta de pedras - ha- ta nos quintais estrelados – e que tou muito orgulhosa de você. Mas
via o abacaxizal, onde colhíamos eu espalhei pelas estradas que per- agora trate de inventar um inter-
os mais doces para Dona Sinhani- corri, para não esquecer o cami- ruptor, pois eu não consigo dor-
nha fazer delícias na cozinha. E de nho de volta...] mir com a porcaria dessa luz na
onde a gente voltava toda melada, minha cara!!!]
um abacaxi vivo... MAIO 2019 [ OLUTADOR]29

Páginas que não passam [ O homem...

OLIVIER CLÉMENT

NÃO se fala facilmente da res- Entre
surreição, assim como não o amor e a
se fala com facilidade da vi-
da, do amor, em suma, de morte
tudo o que vale realmente.
O homem se abre para a vida OLIVIER CLÉMENT [1921-2009] nasceu
Quando nós vemos as coisas, profunda. O homem está secreta- de uma família socialista e ateia. Con-
não pensamos na luz. A ressurrei- mente aberto para o invisível, as verteu-se ao cristianismo aos vinte e
ção é a luz que permite ver, o ar que gerações sabem disso, experimen- sete anos, sob a influência do teólo-
permite respirar. taram-no desde sempre. Nós dei- go russo Valdimir Lossky. Entrou pa-
xamos depauperar nossa faculda- ra a Igreja Ortodoxa e lecionou teolo-
Quanto mais avançamos na vida, de de contemplação em benefício gia no Instituto São Sérgio de Paris.
tanto mais nós vemos que a morte de nossas faculdades de trabalho Sua reflexão se fundamenta na grande
está presente em toda parte. A vida e de cálculo, de domínio racional tradição da Igreja indivisa, aliando a
está entremeada de morte. Enfim, do mundo físico. Patrística a pensadores contemporâ-
só existem duas realidades: o amor neos. Leigo, casado, publicou nume-
e a morte. Aparentemente, a morte Em Jesus Cristo, eis o que pode- rosos trabalhos, entre os quais “Fon-
sempre vence o amor. Mas se Cris- mos dizer aos homens: a morte foi tes”, “Questions sur l’Homme” e “Les
to ressuscitou, muda tudo: o amor vencida, Cristo ressuscitou, meu ir- Quatres Évangiles”.
pode vencê-la, ele é mais forte que a mão. Tu estás vivo para sempre!]
morte, como diz o Cântico dos Cânti-
cos (8,6). O mistério da ressurreição [30 OLUTADOR [ MAIO 2019
está no próprio coração dessa revi-
ravolta. É o mistério da vida, de uma
vida poderosa a tal ponto que ela re-
volve a morte, muda a sua signifi-
cação. A morte torna-se passagem,
é uma Páscoa. A morte é nossa con-
dição cotidiana, mas pelo Ressus-
citado a vida aflui em nós e tudo se
transforma em alegria, em paz pro-
funda, em possibilidade de amar.

Para o essencial, a Igreja é a tes-
temunha da ressurreição. Geração
após geração, homens e mulheres
são chamados a vivê-la. Alguns tor-
nam-se transparentes a ela: são os
santos. Existem mais cristãos ver-
dadeiros do que se imagina. Eles são
o corpo do Ressuscitado, o templo
do Espírito. Através de suas fraque-
zas, seus sofrimentos, eles mani-
festam humildemente essa gran-
de alegria da ressurreição.

Por certo, para abrir-se ao Res-
suscitado é preciso não ficar encer-
rado no mundo das aparências. No
homem, existe mais que o homem.
Para crer nisso, basta ter ouvido Mo-
zart ou contemplado um ícone ou
um vitral de Chartres. O homem é
algo bem diferente de um protozoá-
rio que se complicou. Ele é da ter-
ra, mas também é do céu. Ele tem
seu peso de terra, mas também seu
peso de infinito.

Roteiros Pastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33
Dinâmica para Grupo de Jovens 33
Catequese 34 • Homilética 36

MAIO 2019 [ OLUTADOR]31

Leitura Orante [ Uma urgência missionária...

“Tome conta
das minhas

ovelhas.”

(Jo 21,16c) com Pedro, líder da comunidade, fica clara Temos alguns católicos só “de no-
a responsabilidade de cuidar das ovelhas. me”. Aquelas pessoas batizadas, mas
Invocação à Trindade Quem ama a Jesus cuida da comunidade. que se distanciaram da vivência cristã
e Oração ao Divino Quem ama a Jesus, se torna mais missio- em comunidade; que não assumem ou
Espírito Santo nário. Nossa vida só é cristã se for mis- desconhecem a sua missão de evange-
sionária. Isso nos vem desde o batismo. lizadores; que participam das celebra-
A. Situando o texto ções, mas não assumem nenhuma ação
L.1: Depois da morte de Jesus, mesmo Cantando: Pelo batismo recebi uma mis- concreta a favor da vida, nem se enga-
sabendo de sua ressurreição, a vida dos são, / vou trabalhar para o Reino do Se- jam em nenhuma pastoral...
discípulos começa a voltar à rotina do dia nhor. / Vou anunciar o Evangelho pa-
a dia. Jesus se manifesta aos discípulos, ra os povos, / vou ser profeta, sacerdo- Nossa missão é ajudar a viver a fé
não apenas para confortá-los, mas para te, rei, pastor. cristã. É cuidar dessas ovelhas, do po-
mostrar que a missão deve fazer parte da vo de nossas comunidades. É testemu-
sua rotina diária. A vida é a mesma, mas L.3: Anunciar Jesus Cristo e o seu Reino é nhar o Evangelho no dia a dia.
agora deve ser vivida de outra forma. a nossa missão. Desde o batismo, somos
feitos missionários. Somos chamados D. O que o texto nos faz dizer a Deus
No partir o pão (sinal da Eucaristia), a ser discípulos do Senhor, e também (Preces e orações)
Jesus mostra a importância da unidade chamados para a missão. Vemos, no tex- a) Senhor, ajudai-nos a redescobrir os gru-
entre seus seguidores. Depois, aponta to bíblico, que Jesus procurou reforçar pos de reflexão e círculos bíblicos como
que o amor a Ele deve converter-se no a comunhão entre os seus discípulos. um tesouro na vida da Igreja. Rezemos:
cuidado com as pessoas. Todos: Senhor, que nosso amor a Vós se
Esse mesmo Jesus está conosco ho- converta em missão!
Vamos, com calma e atenção, ouvir je. Ele também nos alimenta pelo Pão b) Senhor, que a certeza da ressurrei-
o que o Senhor vem nos falar. da Palavra e pelo Pão da Eucaristia. Ele ção nos anime a proclamar sempre a
se faz presente quando nos reunimos Vossa Palavra. Rezemos:
B. O que o texto diz em si em seu nome (cf. Mt 18,20). Recebe- c) Senhor, que nossa vida em comuni-
Ler na Bíblia: João 21,1-17 mos de Jesus o mesmo apelo insistente dade, desperte o nosso zelo para cuida-
feito a Pedro: “Tu me amas? Cuida das do das vossas ovelhas. Rezemos:
Chave de Leitura: minhas ovelhas”. Essa insistência é si- (Outras preces espontâneas e Pai-Nosso)
1. Porque a pescaria foi tão boa? nal do nosso compromisso com a evan-
2. O que Jesus fez depois da pescaria gelização. Proclamar a Palavra é uma E. O que o texto sugere
dos discípulos? urgência missionária para todos nós. para o mundo hoje?
3. O que Jesus pede insistentemente a – O que podemos fazer para que seja-
Pedro? Cantando: É missão de todos nós, / Deus mos mais missionários?
4. O que este texto tem a dizer para nós chama eu quero ouvir a sua voz (bis).
hoje? F. Tarefa concreta
L.4: A insistência de Jesus ao pergun- Procurar saber quais as iniciativas da sua
C. O que o texto diz para nós tar a Pedro: “Tu me amas?” deixa Pe- paróquia em relação à ação missionária.
L.2: Vivemos este precioso tempo da Pás- dro meio triste (cf. Jo 21,17). Mas, o que
coa. Jesus está vivo entre nós. No texto Jesus deseja é uma resposta decidida, Encerramento
bíblico acima, Jesus busca fortalecer a acompanhada do cuidado com o povo, Pai-Nosso, Ave-Maria e pedido de bên-
comunhão entre os discípulos. Ele os com as “ovelhas”. ção a Deus.]
convida para uma refeição que, pode-
mos dizer, termina em uma verdadei- [32 OLUTADOR [ MAIO 2019
ra Eucaristia. É na comunidade que ali-
mentamos a nossa vida cristã, o nosso
seguimento a Jesus Cristo.

Aquele ambiente da pescaria nos
aponta para a missão. Jesus nos fez pes-
cadores(as) de gente. Por isso, no diálogo

Tudo em Família [ 65 – As críticas...

As críticas da vovó...

1. Coisas que acontecem Uma filha passou para uma des- to pode influenciar negativamente
Família de classe média, católicos sas comunidades evangélicas. Os na vida religiosa da criança e acabar
praticantes. Vão à missa todos os outros dois não frequentam igre- afastando-a para sempre.
domingos. Filhos batizados e cris- ja nenhuma.
mados. Desde a infância, porém, as 3. Para uma reunião
crianças ouviam a avó criticando 2. Pensando juntos de casais
continuamente os párocos. E foram Naturalmente, participar da comu- - Enquanto pais católicos, vocês cui-
diferentes párocos em curto espaço nidade eclesial deve ter razões bem dam de estender pontes de amiza-
de tempo. O primeiro era muito em- sólidas, como o valor da Palavra de de com os sacerdotes?
burrado – dizia a vovó – e mantinha Deus, a integração com os outros
as pessoas à distância. O padre que fiéis e, acima de tudo, a intimida- - Em sua família, vocês costumam
o substituiu era muito “aparecido” de com Deus. Mas é fato que a figu- valorizar a pessoa do padre? Ou exis-
e vaidoso – dizia a vovó – e fazia de ra do sacerdote exerce importante te ali o costume de criticar os padres
tudo para chamar a atenção. O ter- papel neste conjunto. E se as crian- e ministros da comunidade diante
ceiro pároco fazia homilias muito ças não aprendem a respeitar e ad- dos filhos?
longas – insistia a vovó – e gastava mirar o pároco, correm o risco de
todo o tempo fazendo crítica social debandar. - Suas crianças acompanham vocês
e política. nas atividades da paróquia?
Nossos filhos – mesmo quando
Em suma, não era outro o as- não o expressam claramente – pres- - Os pais acompanham a participa-
sunto dominante nas reuniões de tam muita atenção nas avaliações ção das crianças na catequese pa-
família: os defeitos do padre. O fa- e julgamentos feitos pelos pais e fa- roquial?]
to é que os filhos agora são adultos. miliares. Sem o perceber, um adul-

Quem ganha? — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 65

Objetivo: Levar as pessoas a refletirem como precisam umas
das outras.

Número de pessoas: Indiferente.

Material necessário: Uma bolsa ou mala com chave; um presen-
te para colocar dentro da mala (chocolate, bombom, balas...).

Como fazer: Formar dois grupos. Realizar uma espécie de gin-

cana com perguntas para os grupos responderem sobre um

determinado assunto. O grupo que mais responder, e de for-

ma correta, será o vencedor e receberá a mala do prêmio; o

outro grupo ficará em segundo lugar e receberá a chave da

mala. Os grupos deverão entrar em acordo sobre como abrir

a pasta e dividir o prêmio. Feito isto, os grupos refletem so-

bre o que entenderam da dinâmica.

Refletir: Vivemos em uma sociedade, em um mundo que é

de todos e para todos. Como temos vivenciado isso no dia a dia?

Observações: Esta dinâmica pode ser usada em reuniões

também com temas sobre machismo e feminismo ou rela-

cionadas a preconceitos e disputas.] Fonte: pjcolider.blogspot.com

MAIO 2019 [ OLUTADOR]33

Roteiros para catequese [ 3 encontros seguindo os evangelhos dos

1. d) E hoje, quem continua essa mis- 2.
Continuadores são? O Espírito
da missão e) O que é ser testemunha de Jesus? Santo
de Jesus Renova
(Ascensão Para refletir o mundo
do Senhor) Ascensão é a volta de Jesus para junto (Pentecostes)
do Pai. Jesus se encarnou, foi dan-
Objetivo: Assumir o compromisso do sua vida dia a dia, até a morte. Objetivo: Compreender a presença do
de partilhar o amor e a paz de Je- Ensinou, transfigurou-se na Res- Espírito Santo na nossa vida cristã.
sus em nossas vidas. surreição e subiu ao Pai. É a cami-
nhada libertadora de Jesus. Material: Bíblia, dominó com no-
Material: Bíblia, lenço para vendar os mes dos participantes num lado e
olhos, campainha ou latinha com Ele quer que sejamos seus con- as qualidades no outro.
pedrinhas, gravuras de pessoas se tinuadores vivos, dinâmicos e não
ajudando. de braços cruzados. Jesus volta ao 1. VER (a realidade)
Pai, mas continua conosco, dan- Dinâmica: Distribuir um cartão para
1. VER (a realidade) do-nos a força do seu Espírito. Nós cada participante. Sorteia-se quem
Dinâmica: Crianças de mãos dadas somos a Igreja de Jesus. Ele está vai começar. Em torno da mesa,
formam um circulo. “Jacó” com olhos conosco e nos dá força através dos cada um vai completando: Ex.: foi
fechados e “Raquel” com uma cam- sacramentos (lembrar do Batismo sorteado o cartão “Bondade / Már-
painha ou latinha com pedrinhas e da Eucaristia). cia”; o participante com esse cartão
no meio da roda. “Jacó” tenta pegar coloca-o na mesa. Quem tem o car-
“Raquel”, que constantemente toca As primeiras comunidades liam tão com o mesmo nome ou a mes-
a campainha ou latinha. Quando a Bíblia a partir da Ressurreição. Je- ma qualidade, continuará: Paula /
“Raquel” for pega, os dois escolhe- sus é o centro de toda a Bíblia. Bondade - Bondade / Márcia - Már-
rão os substitutos. cia / Justiça - Justiça / Júlio...
A ressurreição é o fato mais im-
Experiência de vida: Mostrar gravu- portante da vida de Jesus: é a certeza Quando terminar a rodada co-
ras de pessoas unidas, celebrando ou plena da inauguração de seu projeto. mentar: - Quais as qualidades que
ajudando-se. Falar da importância É o projeto de vida para todos. Jesus apareceram na brincadeira? Quais
de viver unidos em torno de Jesus e viveu o projeto e nos deu a missão de destas qualidades aparecem mais
de sua mensagem. Buscar exemplos continuar os seus gestos libertadores. na nossa comunidade?
vivos na comunidade. Como ela se or- Experiência de vida: O (a) Catequis-
ganiza e se ajuda (mostrar gravuras). Guardar no coração: ta pergunta: “Quem faz o que lá em
- “Jesus está conosco!” sua casa”? (Ex: comida, lavar roupa,
2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) compras, lavar louças etc...). Se, um
3. CELEBRAR dia, aquele que faz resolver não fazer
Canto: para aclamar a Palavra Oração: Em silêncio, escrever uma mais, o que acontece? (Deixar falar
Leitura: Lucas 24,46-53 oração agradecendo pela vida de Je- as crianças.) E na escola, quem faz
Vamos ler um fato contado por São sus na nossa comunidade. No fim, o quê? Se, um dia, a pessoa resolve
Lucas, acontecido após a ressurrei- cada um reza a oração que escreveu. não fazer mais, o que acontece? (Dei-
ção de Jesus. O catequista lê em voz xar falar as crianças). O mesmo com
alta. Depois, cada catequizando lê 4. AGIR (a realidade nos convoca outros ambientes: na comunidade,
um versículo. para...) na loja, na igreja, quem faz o quê?

Perguntar: Compromisso: 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus)
a) O que quer dizer “Ascensão de Je- - Escrever e enfeitar a frase: “Creio Canto de aclamação
sus”? em Jesus Cristo, o Filho de Deus e Leitura: João 20,19-23
b) Quem é o centro de toda a Bíblia? nosso Salvador!” (Colocar essa fra- Vamos, com calma e atenção, ou-
Por quê? se no quarto da sua casa). vir o que o Senhor quer nos falar.
c) Quem continuou a missão de Je- Perguntar:
sus? - Participar da missa ou culto a) Por que os discípulos estavam nu-
dominical. ma casa com as portas trancadas?

Final:
Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
Terminar o encontro com um cân-
tico alegre.]

[34 OLUTADOR [ MAIO 2019

domingos 2, 9 e 16 de junho]

b) Qual foi a saudação de Jesus aos 3. de modo mais perfeito. (Mostrar a
discípulos? A família gravura da Santíssima Trindade.)
c) O que Jesus fala ao soprar sobre eles? do Pai, Filho
Para refletir e Espírito O Pai enviou ao mundo o seu Fi-
Jesus trouxe a paz aos discípulos Santo lho Jesus para ensinar o jeito de viver
que viviam medrosos. Jesus soprou (Santíssima este amor. Tudo o que pertence ao
sobre eles. O sopro simboliza o Es- Trindade) Pai é também do Filho, e o que é do
pírito Santo que Jesus envia. Eles Pai e do Filho é também do Espírito
recebem o poder de perdoar os pe- Objetivo: Compreender que a Santís- Santo. Quando Jesus veio, comuni-
cados. Só pode haver união na co- sima Trindade mora em nós. cou tudo o que ouviu do Pai. Com seus
munidade onde há perdão. O Espíri- Material: Bíblia, bacia com água, gestos e suas palavras, Jesus reve-
to Santo forma a comunidade para flor, pão e gravura da Santíssima lou a todas as pessoas o segredo da
viverem e anunciarem a Boa Nova. Trindade. FAMÍLIA DA SANTÍSSIMA TRINDADE:
Viver o amor: este é o projeto de Deus.
Os discípulos recebem o Espírito 1. VER (a realidade)
Santo, não para si mesmos, mas pa- Dinâmica: Recortar uma flor que con- O Espírito Santo é o Espírito de
ra o serviço aos irmãos. A Igreja não tenha várias pétalas. Escrever no Jesus, que anima a comunidade e
existe em função de si mesma. Ela é miolo da flor: “Creio no Deus-Amor: conduz os cristãos no caminho da
dom do Espírito Santo ao mundo todo. Pai, Filho e Espírito Santo”. Dobrar verdade completa. Imitamos Deus
bem as pétalas da flor voltadas pa- Trindade vivendo em comunidade,
Jesus dá a paz e também o meio de ra o centro, cobrindo o miolo. (Fazer que partilha, reza e batalha por um
conservar esta paz: o poder de perdoar isso na preparação do encontro.) mundo novo. A comunidade nos ani-
os pecados. Quando não estamos em ma e nos renova.
paz, nos sentimos mal e até adoecemos. No dia do encontro, colocar a flor Guardar no coração:
A Paz verdadeira é fruto do perdão que fechada sobre a água na bacia e pe- “O Espírito da verdade vos conduzirá.”
Jesus quer nos dar através da Igreja, dir aos catequizandos que observam
pelo sacramento da Reconciliação. o que acontece. (As pétalas vão-se 3. CELEBRAR
Guardar no coração: abrindo lentamente e os participan- Oração (Preparar um pão para ser
- “Recebam o Espírito Santo!” tes leem a frase escrita no miolo.) partilhado por todos.)
Experiência de vida: Refletir com os
3. CELEBRAR participantes: Quem é o Deus-Amor? - Fazer bem devagar o Sinal da
Oração Em que oração nós invocamos o Pai, Cruz, destacando as palavras da
a) Cantar: “Vem Espírito Santo, vem, Filho e Espírito Santo? Quando re- Trindade.
/ vem iluminar. (bis) A nossa Igreja zamos esta oração? (Na família, na
vem, iluminar. / A nossa vida vem...” escola, na igreja e nas refeições.) - Silenciar e sentir a presença
b) Rezar: Um coração missionário de Deus Pai, Filho e Espírito San-
- Dai-me, Senhor, um coração mis- 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) to em nós.
sionário, que saiba sentir a realida- Canto de aclamação
de e ajudar os que sofrem. Leitura: João 16, 12-15 - Vamos agradecer à Santíssi-
Deixar ler em silêncio. Depois, o ca- ma Trindade, presente em nós, re-
- Dai-me, Senhor, um coração tequista lê com voz clara e muita zando: Glória ao Pai...
missionário que ame todas as crian- animação.
ças do mundo e lute pela vida dig- Perguntar: - Na família de Deus, sempre
na das abandonadas. a) Com quem Jesus estava falando? existe o amor, a partilha, a união.
b) Por que Jesus falou tudo para os Pelo batismo fazemos parte da fa-
- Dai-me, Senhor, um coração mis- discípulos? mília de Deus. Vamos formar uma
sionário, que tenha coragem de seguir o c) Quem os fará compreender to- corrente de partilha com esse pão:
chamado para anunciar a Palavra de Jesus. da a verdade ensinada por Jesus? partir, servir-se e passar para o ou-
Para refletir tro. (Pegar o pão e explicar.)
Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. O Pai, o Filho Jesus e o Espírito Santo
formam a SANTÍSSIMA TRINDADE. 4. AGIR (a realidade nos convoca
4. AGIR É a família de Deus, isto é, as três para...)
Compromisso pessoas: Pai, Filho e Espírito San- Compromisso
Conversar com os pais sobre o seu to. Esta é a família que vive o amor Procurar fazer sempre o Sinal da
batismo. Quando foi? Quem cele- Cruz bem feito e pensando nas pa-
brou? Quem são seus padrinhos? MAIO 2019 [ OLUTADOR]35 lavras que rezamos: “Em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Final Final
Terminar com um canto apropriado.] Encerrar o encontro com um cân-
tico animado e o abraço de paz.]

Homilética [ 9•06•2019 “Recebei o
Espírito Santo!”

(Jo 20,22)

Domingo de Leituras da Semana
Pentecostes
[dia 10: 2Cor 1,1-7; Sl 33[34], 2-9; Mt 5,1-12
[dia 11: At 11,21b-26; 13,1-3; Sl 97[98],1.2-3ab.3cd-4.5-6; Mt 10,7-13
[dia 12: 2Cor 3,4-11; Sl 98[99],5.6.7.8.9; Mt 5,17-19
[dia 13: 2Cor 3,15 – 4,1.3-6; Sl 84[85],9ab-10.11-12.13-14; Mt 5,20-26
[dia 14: 2Cor 4,7-15; Sl 115[116],10-11.15-16.17-18; Mt 5,27-32
[dia 15: 2Cor 5,14-21; Sl 102[103],1-2.3-4.8-9.11-12; Mt 5,33-37

Leituras: At 2,1-11; Sl 104[104]; bém divisões internas, vaidades, am- 3. O Espírito da missão. São João fa-
1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23 bições, orgulho, exclusões. São Paulo la da vinda do Espírito Santo, não 50
exorta seus fiéis à unidade e comu- dias depois da Páscoa, como Lucas,
1. Para todas as nações. Como a “Pás- nhão de vida. Ele nos dá o exemplo mas no próprio dia da ressurreição
coa” recordava a libertação da opres- da Trindade. de Jesus, na tarde do Domingo da
são egípcia e a “passagem” do povo de Páscoa. Os discípulos se fecharam
Deus para uma nova terra, onde cor- Existem dons diferentes, mas o numa sala, com medo das autori-
re leite e mel, também “Pentecostes” Espírito é o mesmo. Existem serviços dades judaicas que haviam matado
relembrava o dia em que Moisés, no diferentes, mas o Senhor é o mesmo. Jesus. Ressuscitado, ele entra na sa-
Monte Sinai, recebeu a Lei – 50 dias Existem diferentes modos de agir, mas la, pois não há barreiras após a res-
depois da Páscoa. O Pentecostes cris- Deus é o mesmo. Pai, Filho e Espírito surreição. Jesus é o mesmo - “mos-
tão também acontece 50 dias depois Santo vivem uma profunda unidade, trou-lhes as mãos e o lado” -, mas o
da Páscoa de Jesus. É o nascimento da na comunhão de três pessoas e um seu corpo é espiritualizado. Ele de-
Igreja. Descrevendo o Pentecostes cris- só Deus. Nenhuma divisão. Absolu- seja a paz messiânica para seus dis-
tão, Lucas quer mostrar que o Evan- ta harmonia. Perfeita comunicação. cípulos, mudando o medo deles em
gelho, graças à força do Espírito San- Infinito amor. Assim deve a comuni- alegria. Jesus repete a saudação de
to, chegou a todos os povos, alcançou dade cristã. Todos os dons do Espírito paz e envia seus discípulos em mis-
todas as línguas. Quando ele escreve, se destinam para o bem da comuni- são. O Pai enviou o Filho, assim tam-
o Evangelho realmente já se espalha- dade, para a utilidade de todos, para bém o Filho envia seus discípulos.
ra por todo o mundo. Para indicar a a edificação do Corpo de Cristo. Através dos discípulos, Jesus conti-
universalidade do anúncio evangéli- nua o projeto do Pai.
co, Lucas enumera 12 povos (vv. 9-11): o Como um corpo tem muitos mem-
número 12 simboliza totalidade. bros e não perde sua unidade e har- Quem vai garantir a missão dos
monia, assim também o corpo social discípulos? O mesmo Espírito que
Ex 19 apresenta a aliança do Si- da Igreja, que forma o corpo de Cris- garantiu a missão do Filho. Por isso
nai e a entrega da Lei entre fenôme- to. Se não há divisões na vida trinitá- Jesus sopra sobre os discípulos di-
nos da natureza. São Lucas descreve ria, também não poderá haver divi- zendo: “Recebam o Espírito Santo”. É
o Pentecostes cristão do mesmo jeito sões na vida da Igreja – Corpo de Cris- o sopro de Deus. Acontece aqui uma
(vv. 2 e 3). Ele quer mostrar que com o to. Nós fomos batizados num só Espí- nova Criação, mais perfeita que a
Pentecostes cristão está acontecen- rito para sermos um só corpo. Todos primeira acontecida no paraíso (cf.
do uma Nova Aliança, está surgindo os povos, através do batismo, se tor- Gn 2,7). Com este sopro de vida no-
o novo Povo de Deus, regido não por nam irmãos, formam uma unidade, va, surge a comunidade messiâni-
uma nova Lei, mas pelo próprio Espí- ficam fazendo parte de um só corpo, ca, guiada não através da Lei, mas
rito de Deus. a Igreja, que é o Corpo de Cristo. E to- através do próprio Espírito de Deus.
dos bebem de um só Espírito. Os discípulos estão agora capacita-
Gn 11 descreve o episódio da torre dos para serem missionários, pa-
de Babel, quando Deus confunde as [36 OLUTADOR [ MAIO 2019 ra formarem a nova comunidade
línguas para mostrar que a ambição messiânica.
e o orgulho prejudicam a comunica-
ção e a comunhão. Lá, todos falavam Como os discípulos vão formar
a mesma língua e ninguém se enten- comunidades messiânicas? Através
dia; aqui, todas as línguas diferentes do perdão. João distingue entre pe-
conseguem se entender (v. 11). Com a cado, no singular, que é participar de
linguagem do amor, a Igreja é capaz uma sociedade injusta e exploradora,
de falar a todos os povos da terra. O que exclui e mata, e pecados no plu-
que é mais importante: falar muitas ral, que são atos concretos daqueles
línguas, falar em línguas ou falar a que fizeram esta opção contra a vi-
linguagem do amor? da. Quem estiver disposto a uma no-
va opção receberá o perdão dos seus
2. Unidos em Cristo. A comunidade de pecados. Quem quiser continuar na
Corinto, rica em dons espirituais cha- injustiça e exploração permanecerá
mados carismas, experimentou tam- no pecado.]

Homilética [ 16•06•2019 “Tudo
o que o Pai possui

é meu.”

(Jo 16,15)

Domingo Leituras da Semana
da Santíssima
[dia 17: 2Cor 6,1-10; Sl 97[98],1.2-3ab.3cd-4; Mt 5,38-42
Trindade [dia 18: 2Cor 8,1-9; Sl 145[146],2.5-6.7.8-9a; Mt 5,43-48
[dia 19: 2Cor 9,6-11; Sl 111[112],1-2.3-4.9; Mt 6,1-6.16-18
[dia 20: Gn 14,18-20; Sl 109[110],1.2.3.4; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17
[dia 21: 2Cor 11,18.21b-30; Sl 33[34],2-3.4-5.6-7; Mt 6,19-23
[dia 22: 2Cor 12,1-10; Sl 33[34],8-9.10-11.12-13; Mt 6,24-34

Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Quais são os frutos da fé ou os bens 12). Assim, Jesus encarrega o Espírito
Rm 5,1-5; Jo 16,12-15 possuídos por aquele que foi justifi- Santo de interpretar o alcance de seus
cado pela fé em Cristo? São: ensinamentos ao longo da história. A
1. A Sabedoria orienta o povo. Temos função do Espírito é, portanto, condu-
aqui uma personificação literária da - a paz com Deus, ou seja, a vida zir os discípulos à verdade completa e
sabedoria. Textos semelhantes vemos vivida segundo a vontade de Deus; ao sentido profundo dos acontecimen-
em Jó 28; Br 3,9-4,4; Pr 8-9; Eclo 24; Sb 7-8 tos futuros (v. 13).
etc. O corpo do Livro dos Provérbios que - o acesso à graça de Deus, quer di-
vai do capítulo 10 ao 29 é resultado das zer, o benefício da amizade de Deus; Jesus é o caminho, verdade e vida.
experiências dos antepassados, escri- agora, podemos nos aproximar dele; Aqui, no v. 14, o Espírito Santo é cha-
tas para servirem de orientação para a mado de “Espírito da Verdade”, pois o
geração presente. Elas foram colecio- - a esperança da glória de Deus. Pai e o Filho são uma só coisa (17,11);
nadas no pós-exílio, quando o povo vi- Nosso desespero de uma vida con- cf. 10,30). Em João, o termo “verdade”
via sem a orientação de um rei. Quem denada se transformou na esperan- está associado à Aliança de amor que
deveria orientá-los agora? O bom sen- ça e um dia viver a salvação definiti- o Pai fez com seu povo, aliança que se
so, o senso da vida fruto da experiência va com Deus. torna perfeita e definitiva através da
do povo em ligação íntima com Deus. É revelação total do Pai através do Filho
essa sabedoria que iria orientar o povo. As tribulações, próprias de quem que dá sua vida por amor.
quer seguir os passos de Jesus, não le-
No nosso trecho a Sabedoria está vam ao desânimo, mas à perseveran- O Espírito da verdade é o intérprete
intimamente ligada a Deus e à Cria- ça, à fidelidade e à esperança. Agora, das palavras de Jesus e a garantia pa-
ção. Sua importância está em ser o pri- através da fé na salvação trazida por ra os discípulos da fidelidade de sua
meiro fruto da obra de Deus, estabe- Jesus, caminhamos seguros enfren- Igreja ao projeto do Pai revelado no Fi-
lecida desde a eternidade, antes que lho. Cada vez que o Espírito ajuda os
a terra começasse a existir, antes do tando com amor e garra todo tipo de cristãos a iluminarem as trevas do er-
oceano, das fontes, das montanhas problema numa esperança firme, pois ro, transformando-as em caminho de
e colinas (vv. 22-26). Outro papel im- a Trindade caminha conosco. luz, cada vez que o Espírito encoraja os
portante da sabedoria é ser o mestre cristãos a testemunharem a verdade
de obras, ou arquiteto na criação de 3. O Espírito da Verdade. Estamos den- através da Palavra, do testemunho e
todas as coisas. Ela colaborava com tro dos “Discursos de Despedida” que até mesmo do martírio; cada vez que
Deus, quando Deus fixava o céu, con- ocupam os capítulos 13-17 do Evange- o Espírito elimina divisões e provoca
densava as nuvens, fixava as fontes lho de João. É um trecho todo trinitá- a comunhão, ele está manifestando a
do oceano, punha limites para o mar rio, ou seja, fala do Pai, do Filho e do glória do Filho, na qual também o Pai
e quando assentava os fundamentos Espírito Santo. Nos discursos de des- é glorificado.
da terra (vv. 27-29). pedida, Jesus vai completando os ensi-
namentos aos seus discípulos. Ensina Há uma comunhão profunda en-
Os Padres da Igreja serviam-se deste tudo o que ouviu do Pai (cf. 15,15), mas tre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
texto para elaborar a teologia sobre o muita coisa os discípulos não conse- Um não age independentemente do
Verbo de Deus e sobre o Espírito Santo. guem captar em todo o seu alcance (v. outro. Tudo que pertence ao Pai per-
Paulo chama Jesus de poder de Deus tence também ao Filho (v. 15). O Es-
e sabedoria de Deus (1Cor 1,24). Para MAIO 2019 [ OLUTADOR]37 pírito, por sua vez, recebe aquilo que
João, Jesus é a sabedoria de Deus que também pertence ao Filho, e não fala
se fez carne (cf. Jo 1,1ss.14; Ap 3,14) pa- em seu próprio nome, mas em nome
ra conduzir os homens à plenitude de do Pai e do Filho.
vida (cf. Jo 10,10; 20,31).
Cada um é uma Pessoa distinta com
2. A fé que salva. Nossa salvação funções diversas. Aqui a comunhão é
vem pela fé em Jesus Cristo. A garan- total. Cada Pessoa é divina, mas as três
tia de nossa salvação está no amor de Pessoas são um só Deus.
Deus e no dom do espírito (v. 5), ou se-
ja, na obra da Trindade Santíssima. Nós, Igreja, somos o Corpo de Cris-
to, cada cristão é Templo do Espírito
Santo. O que dizer das divisões en-
tre nós?]

“Tome a sua cruz cada dia,

Homilética [ 23•06•2019 e siga-me.”

(Lc 9,23)

12º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum [dia 24: Is 49,1-6; Sl 138[139],1-3.13-15; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80
[dia 25: Gn 13,2.5-18; Sl 14[15],2-4ab.5; Mt 7,6.12-14
[dia 26: Gn 15,1-12.17-18; Sl 104[105],1-4.6-9; Mt 7,15-20
[dia 27: Gn 16,1-12.15-16; Sl 105[106],1-5; Mt 7,21-29
[dia 28: Ez 34,11-16; Sl 22[23],1-6; Rm 5,5b-11; Lc 15,3-7
[dia 29: Is 61,9-11; (Sl) 1Sm 2,1.4-5.6-7.8d; Lc 2,41-51

Leituras: Zc 12,10-11;13,1; Pela fé em Jesus Cristo e pelo batismo, onde realizará sua missão dando a vi-
Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24 nos tornamos filhos de Deus (v. 26) e nos da por todos nós. Jesus está bem con-
revestimos de Cristo (v. 27). A imagem da ceituado entre o povo. Mas isto não bas-
1. Lamentação sobre o Filho único. A veste mostra nossa nova identidade: ago- ta. Dos discípulos, Jesus quer mais que
segunda parte do Livro de Zacarias ocu- ra somos cristãos, isto é, identificados a uma opinião; quer uma opção definida e
pa os capítulos 9-14. Foi escrita numa Cristo – um só com ele (v. 28). Somos, por- comprometida. Em nome dos discípulos,
linguagem apocalíptica, no tempo da tanto, uma família de irmãos, onde qual- Pedro define: “Tu és o Messias de Deus”.
dominação grega, depois de Alexandre quer distinção e diferença perdeu senti-
Magno. Mostra o futuro do povo, apon- do. Esta é a grande consequência da nos- Jesus aceita esta definição, mas para
tando para o caminho de unidade e sal- sa nova identidade – a identidade cristã. levar os discípulos a uma opção de vida,
vação através da realeza de Javé e da ele vai, primeiro, proibir que eles divul-
destruição de todo tipo de idolatria. Is- Os judeus discriminavam os não ju- guem essa verdade, que para os discí-
to vai acontecer por meio de uma pro- deus. Os pagãos eram chamados de cães pulos ainda está carregada de messia-
funda purificação. pelos judeus por causa da impureza. En- nismo político e triunfalista, ligado a
tre os gálatas, os pagãos convertidos es- uma vitória definitiva de Israel sobre
Derramando sobre o povo um “espí- tavam sendo considerados cristãos de os adversários dominadores.
rito de graça e súplica’, Javé conseguirá segunda classe. Os gregos distinguiam
do povo o reconhecimento de sua sobe- as classes sociais; as mulheres estavam Em seguida, Jesus esclarece sua iden-
rania (“olharão para mim”), através do num plano inferior e os escravos eram tidade e missão. É o primeiro anúncio da
arrependimento e conversão. vistos como mercadorias. paixão (v. 22): Jesus deve sofrer, ser rejei-
tado, morto e, só depois, deve ressuscitar
Quem é o “transpassado” sobre o qual Agora tudo mudou. Agora, podemos glorioso. Jesus não se identifica com um
se chora como se fosse o filho único? perceber a força revolucionária do v. 28: Messias triunfalista, mas com o Servo
Seria o próprio Deus que se sente trans- não há mais diferença de raça, de clas- Sofredor que se oporá aos donos do di-
passado na pessoa de seu primogêni- se ou sexo. Somos um só em Jesus Cris- nheiro (anciãos), aos donos do poder (os
to? Poderia ser uma referência a um to. Somos filhos e herdeiros através do chefes dos sacerdotes) e os donos da ver-
Messias sofredor, talvez ao rei Josias batismo que nos identifica com Cristo. dade (os doutores da Lei ou escribas). Seu
(como símbolo do povo exilado), mor- ensinamento e sua prática são contrários
to na batalha de Meguido, em 622 a.C.. 3. O Filho deve sofrer. Jesus está no fim aos que dominam, discriminam, explo-
Jo 19,37 aplica esta passagem a Jesus de sua atividade na Galileia. Logo ini- ram e excluem. Por isso será perseguido
transpassado na cruz. Para outros es- ciará sua caminhada para Jerusalém, e assassinado, mas Deus o ressuscitará.
tudiosos se trata do povo de Israel que,
lamentando a idolatria que o destruía, [38 OLUTADOR [ MAIO 2019 A identidade e missão dos seguidores
se volta arrependido para Javé. de Jesus não são diferentes. Os discípu-
los se identificam com o Mestre no ser e
A purificação não se faz com um só na missão. Jesus apresenta 3 condições
gesto, mas através de um processo contí- para seus seguidores: 1) renunciar a si
nuo. Por isso o texto diz simbolicamente mesmo, ou seja, não ambicionar ser do-
que em Jerusalém haverá uma fonte pa- no do dinheiro, do poder e da verdade; 2)
ra lavar o pecado e a impureza do povo. tomar a sua cruz cada dia, o que significa
assumir a sua identidade e missão cristã
2. Revestidos de Cristo. Paulo vem mos- à semelhança do mestre, sem medo da
trando que a salvação se dá pela fé, e não perseguição e da morte; 3) seguir a Jesus.
pela Lei. A salvação é fruto de uma pro-
messa de Deus a Abraão, por ocasião da Aqui temos a síntese da identidade
Aliança. A Lei veio bem mais tarde com e do compromisso cristão. A expressão
Moisés, de modo provisório; veio como “seguir Jesus” é sinônimo de ser dis-
pedagogo que nos conduziu a Cristo. Por- cípulo. Implica “caminhar para Jeru-
tanto a Lei já cumpriu seu papel com a salém” enfrentando riscos, hostilida-
chegada de Cristo. Ela não tem mais des, perseguições e morte. O v. 24 ganha
sentido. A promessa feita a Abraão se sentido com a expressão “por causa de
realizou em Jesus Cristo. mim”. Morrer com Jesus significa tam-
bém ressuscitar com ele.]

Homilética [ 30•06•2019 “Tu és Pedro,
e sobre esta pedra
construirei minha Igreja.”

Solenidade (Mt 16,18)
de São Pedro
Leituras da Semana
e São Paulo
Apóstolos [dia 1º: Gn 18,16-33; Sl 102[103],1-4.8-11; Mt 8,18-22
[dia 2: Gn 19,15-29; Sl 25[26],2-3.9-12; Mt 8,23-27
[dia 3: Ef 2,19-22; Sl 116[117],1-2; Jo 20,24-29
[dia 4: Gn 22,1-19; Sl 114[115],1-6.8-9; Mt 9,1-8
[dia 5: Gn 23,1-4.19 – 24,1-8.62-67; Sl 105[106],1-5; Mt 9,9-13
[dia 6: Gn 27,1-5.15-29; Sl 134[135],1-6; Mt 9,14-17

Leituras: At 12,1-11; Sl 33[34]; 2Tm 4,6- 29,40). Paulo preparou sua oferta total das atitudes e não das ideias. Jesus não
8.17-18; Mt 16,13-19 com sofrimentos, abandono, dor. Ele quer uma elite de pensadores, mas um
já se vê pronto para o sacrifício de sua grupo de operários do Reino. A pergunta
1. A Páscoa de Pedro. Herodes Agripa I, vida. Sua morte é vista como uma via- é dirigida aos discípulos, mas Jesus quer
governador da Judéia e Samaria, de- gem, naturalmente, para a casa do Pai. colher duas opiniões. Primeiro a opinião
sencadeou uma perseguição contra a “Chegou o tempo da minha partida.” do povo, depois a opinião dos discípulos.
Igreja. Mandou matar à espada Tiago,
irmão de João, e vendo que isto agrada- Ele que fez tantas viagens de evange- É Pedro quem responde. Ele é visto
va aos judeus, mandou prender o após- lização, parte agora bem preparado, de como o porta-voz dos discípulos e tem
tolo. Quando passasse a Páscoa, Hero- cabeça erguida para sua última viagem. uma função de destaque em todo o Se-
des tencionava apresentá-lo diante do Não será mais uma viagem de traba- gundo Testamento. Podem conferir: Mt
povo durante a noite. lho penoso como foram as outras, mas 4,18; Mc 5,37; Lc 24,34; Jo 6,67-69; 21,15-23;
a viagem do eterno repouso: “Combati At 1,13.15; 3,1; 10,5; Gl 2,7 etc. É Jesus que
A Igreja rezava constantemente na o bom combate”. Ele se vê como aquele lhe dá o nome de Pedro para simboli-
intenção de Pedro, que revive o drama a quem Deus confiou a mensagem, que zar seu indispensável papel na funda-
de Jesus. O episódio revela uma espé- deverá ser proclamada e ouvida por to- ção e direção da Igreja.
cie de “Páscoa de Pedro”. das as nações, sem desvios ou falsifi-
cações: “Guardei a fé”. Pedro responde que Jesus é o Messias
Deus intervém. A presença do anjo e o Filho de Deus. Naquele tempo, a pala-
enche a cela de luz. O anjo toca em Pe- E não lhe faltaram a assistência e a vra Messias era mais importante, pois
dro, desperta-o e as cadeias se desa- força de Deus nos momentos de solidão todos estavam esperando o Messias pro-
marram. O anjo o manda aprontar-se e metido. A expressão Filho de Deus tinha
segui-lo. Pedro pensava que fosse uma e de abandono. Por isso, Paulo termi- para o povo uma aplicação mais ampla.
visão, mas os portões foram-se abrin- na com um hino de louvor ao Senhor Referia-se aos anjos, ao povo eleito, aos
do diante deles. O anjo desapareceu e que o chamou, transfigurou sua vida, israelitas fiéis e também ao Messias.
só aí Pedro toma consciência de que fo- acompanhou-o por toda a missão e es-
ra libertado por Deus. tá prestes a condecorá-lo: “A ele a gló- Naturalmente, para a comunidade
ria pelos séculos dos séculos! Amém!” onde surgiu o Evangelho de Mateus, o
A menção da prisão no dia dos ázi- título Filho de Deus, professado por Pe-
mos, a libertação na noite da Páscoa e 3. Quem é Jesus? A pergunta é muito im- dro, já tinha alcançado seu verdadeiro
a referência de que o Senhor enviou seu portante e válida para todos os tempos. sentido, ou seja, Jesus tem uma relação
anjo para libertar Pedro relembram de No fundo, nossa vida depende desta res- filial única com Deus. Ele partilha com
perto a libertação do Egito. O antigo Po- posta, que deve, naturalmente, brotar o Pai e o Espírito Santo a divindade. Ele é
vo de Deus, que fora libertado do Egito, a 2ª Pessoa da Santíssima Trindade. De
se torna agora Egito opressor do novo MAIO 2019 [ OLUTADOR]39 fato, Jesus diz a Pedro que o que ele aca-
Povo de Deus. O antigo rejeitou seu Filho ba de afirmar provém de uma revelação
Amado e agora persegue seus seguido- divina. Só mais tarde a Igreja vai perce-
res, mas Deus continua sendo o liber- ber a profundidade da resposta de Pedro.
tador do povo. Ele disse que estará com
a Igreja até o fim do mundo. Jesus muda o nome de Pedro. Isto
significa que ele lhe atribui a missão
2. A Paixão de Paulo. Paulo está preso. de estar à frente da Igreja de Jesus (=
Sabe que chegou a sua hora. Jesus, a minha Igreja). Essa missão de chefe da
seu tempo, disse: “Pai, chegou a hora, Igreja é hoje dada ao sucessor de Pedro,
Glorifica teu Filho, para que teu Filho te a quem chamamos de Papa. “As portas
glorifique”. (Jo 17,1.) A mesma coisa es- do inferno nunca prevalecerão contra
tá acontecendo com o grande apósto- ela.” Quer dizer que as forças que estão
lo dos gentios. É claro o paralelo entre contra o projeto de Deus não serão ca-
a paixão de Jesus e a paixão de Paulo. pazes de derrubar a Igreja. Estas forças
malignas brotam do coração do pró-
“Já fui oferecido em libação.” É o rito prio homem. Brotam de todos aqueles
de derramar o vinho, água e óleo sobre que oferecem resistência ao Evangelho,
a vítima nos sacrifícios judaicos (cf. Ex à vontade de Deus, à justiça, ao bem.]

Homilética [ 7•07•2019 “A messe é grande
e os trabalhadores

são poucos.”

(Lc 10,2)

14º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum [dia 8: Gn 28,10-22a; Sl 90[91],1-4.14-15b; Mt 9,18-26
[dia 9: Gn 32,23-33; Sl 16[17],1-3.6-7.8b; Mt 9,32-38
[dia 10: Gn 41,55-57;42,5-7a;17-24a; Sl 32[33],2-3.10-11.18-19; Mt 10,1-7
[dia 11: Gn 44,18-21.23b-29 – 45,1-5; Sl 104[105],16-21; Mt 10,7-15
[dia 12: Gn 46,1-7.28-30; Sl 36[37],3-4.18-19.27-28.39-40; Mt 10,16-23
[dia 13: Gn 49,29-32;50,15-26a; Sl 104[105],1-4.6-7; Mt 10,24-33

Leituras: Is 66,10-14c; Sl 65[66]; 2. A cruz que salva. Paulo prega a sal- 3. Cordeiros entre lobos. Estamos no
Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20 vação através da cruz de Cristo. Os ju- contexto da grande viagem para Je-
daizantes pregam uma salvação atra- rusalém, onde Jesus vai enfrentar a
1. Um Deus maternal. O 3o Isaías é o vés do rigor da Lei e da necessidade cruz da libertação. Ele vai morrer pa-
profeta da esperança e da reconstru- da circuncisão. Eles fogem da perse- ra trazer a vida para todos.
ção. O povo já voltou do exílio babilô- guição que sofre quem aceita a cruz
nico, com muita esperança de recons- de Cristo e buscam gloriar-se na car- Os discípulos são pessoas de ora-
truir Jerusalém o mais rápido possí- ne, ou seja, na circuncisão dos gála- ção: “rogai ao dono das plantações
vel. Mas o povo encontrou só escom- tas. A preocupação deles é aparecer. para mandar operários”. Quem reza
bros, miséria e fome. Começaram o acredita na gratuidade do amor de
trabalho, mas o tempo foi passando O trecho de hoje é o final da Car- Deus, isto é, que quem cuida da co-
e as dificuldades aumentando. ta, a mais brava que Paulo escreveu, lheita é Deus; a missão é um dom do
pois ele percebe o perigo da destrui- seu amor. Eles lançam a semente da
Todos nós, diante dos problemas, ção de todos os seus esforços e traba- palavra em meio aos conflitos da so-
somos vítimas do imediatismo. Que- lhos de evangelizador. Podemos des- ciedade - cordeiros no meio de lobos.
remos sarar de um dia para o outro, tacar nestes versos finais três temas: Seus métodos se distinguem do méto-
queremos resolver tudo hoje; come- a inutilidade da circuncisão, o valor do violento dos opressores – os lobos.
çou então a haver um desânimo e até salvífico da cruz de Cristo e o renas-
dúvida sobre o poder de Deus. É aqui cimento cristão como nova criatura. Uma condição essencial do missio-
que entra o profeta da esperança, lem- nário é o desprendimento: não deve
brando a força restauradora e o cari- Aderir à Lei é inutilizar a cruz de levar nada. A missão é caracterizada
nho materno do Deus libertador. Cristo. A Lei não é capaz de gerar vi- pela urgência (não devem parar), pelo
da. Ela teve sua função até a chegada anúncio da paz e da proximidade do
O profeta não olha para baixo, par- de Jesus (cf. 3,21-25). A única glória do Reino, transformando as estruturas,
tilhando o pessimismo do povo, mas cristão não está nela, mas na cruz de curando e reintegrando as pessoas. A
olha para o alto, enxergando longe Cristo. Na cruz, Cristo destrói o mal, paz significa plenitude dos bens mes-
e vislumbrando uma perspectiva de o pecado, a morte. Da cruz, Cristo faz siânicos, uma condição favorável à
transformação e glória. Ele levanta brotar a vida, a ressurreição, a no- vida de todos.
o moral do povo abatido convidando va criatura.
a todos para uma festa, partilhando Eles não devem agir visando ao lu-
a alegria de uma Jerusalém recons- Quem adere à cruz de Cristo en- cro, mas devem contentar-se com o
truída (v. 10). Jerusalém é compara- contra a paz e a misericórdia, o per- necessário (vv. 7ss). Não devem fa-
da com uma mãe cheia de vigor ama- dão dos seus pecados para viver co- zer média com os poderosos que não
mentando seus filhinhos. Assim co- mo nova criatura reerguida pela gra- querem acolher a mensagem; por is-
mo uma criança só tem alegria no ça de Deus e não abatidos pelo peso so, ao saírem, devem sacudir a poei-
colo da mãe, assim todos os filhos da Lei. A prova da honestidade, fi- ra dos pés como gesto de ruptura. O
de Sião devem regozijar-se (vv. 11-13). delidade e verdade do evangelho de julgamento fica para Deus (vv. 10-12).
Paulo está nas cicatrizes do seu cor-
Esta metáfora da mãe, onde o co- po, maltratado e torturado por cau- O regresso dos discípulos signifi-
ração materno de Deus é transferi- sa de Cristo (v. 17). ca um contínuo retorno às fontes da
do para Jerusalém, quer mostrar a evangelização. Nossos trabalhos de-
transformação que Deus fará da ci- [40 OLUTADOR [ MAIO 2019 vem sempre ser avaliados à luz do
dade, trazendo para ela o bem-estar Evangelho. Nada de triunfalismos,
e as riquezas das nações (v. 12). Deus nada de vaidade. A glória compete a
quer trazer vida e consolo para seu Cristo, cujo anúncio do Reino espan-
povo como uma mãe que amamen- ta os demônios e é superior a todas
ta e tranquiliza seu filho (v. 13). Jeru- as manifestações da morte (como o
salém vai-se transformando na ci- poder de pisar em serpentes e escor-
dade símbolo da ternura e da justi- piões). A alegria dos discípulos resi-
ça de Deus. de no fato de os nomes deles estarem
escritos no céu.]

Mensagens [ Sabedoria & Poesia “Para um coração fiel a Cristo,
basta o espetáculo

de um certo abandono
para criar uma exigência

de apostolado.”

DANIEL ROPS

[ Poema para o mês de maio

A cidade à noite

JORGE MACEDO (ANGOLA)

A festa dos reclamos luminosos
é minha.

Não gosto de coisas reais.
Todas as ilusões
me pertencem.

Sou milionário universal
da fantasia.

Gosto de passar pelas montras
e sonhar...

Sonhar sonhando,
sem cobiça,

sem pólvora, sem sangue,
sem ódio,

sem ferir o mundo.

MAIO 2019 [ OLUTADOR]41

Sfeasrtdivinaha Variedades [ Culinária & Dicas de português

Ingredientes [ Não Tropece na Língua

1kg de sardinhas limpas; ½ li- [ VIR OU VIM – ELES VÃO VIR
tro de leite; ½ copo de azeite de
oliva; 2 cebolas em rodelas; 1 - Tenho dúvidas em relação à colocação de vim e vir.
colher (sopa) de manteiga; ¼ Ex: Ele tem obrigação de vim / de vir amanhã.
copo de vinho madeira seco;
suco de ½ limão; sálvia, sal e (R.G., RIO DE JANEIRO, RJ)
molho de pimenta, a gosto.
Existem as duas formas, mas cada uma tem o seu uso específico.
Modo de fazer * VIM é o pretérito perfeito de vir na primeira pessoa do singular:

Deixar as sardinhas de mo- - Todas as vezes em que eu vim sem agasalho, fiquei resfriado.
lho no leite com sal por 2 ho- - Sempre vim à missa nesta igreja, como sabes.
ras. Escorrer o leite, enxugar - Nem parece que vim mais tarde – ainda há pouca gente no salão.
as sardinhas e temperar com
sálvia e molho de pimenta. Ar- * VIR é o nome do verbo, ou infinitivo, que pode ser usado de diversas
rumar as sardinhas num ta- maneiras: junto a outros verbos, em locuções verbais, ou mesmo so-
buleiro e regar com o azeite. zinho em frases como:
Cobrir com cebolas, fritas pre-
viamente na manteiga, mis- - Vir bem trajado ao trabalho demonstra zelo.
turadas ao vinho com limão. - Sempre soube que vir de bermudas não é proibido.
Levar ao forno até que as sar-
dinhas fiquem macias.] Entretanto, formou-se um cacoete na pronúncia do infinitivo vir, que
se transforma em “vim” principalmente quando há aproximação de
Do livro sons nasais, por exemplo: *Eles podem vim, devem vim, elas vão vim...
Mas com algum esforço e determinação é possível começar a acertar
“Cozinhando sem Mistério”, essa pronúncia (antes que ela acabe influenciando mal a escrita). Es-
ta é a orientação que podemos oferecer:
de Léa Raemy Rangel
& 1) use o infinitivo “vir” (no afirmativo ou negativo) depois da preposição:
- Ele tem a obrigação de vir cedo.
Maria Helena M. de Noronha - Os sobrinhos têm prazer em vir a nossa casa.
Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG - O ministro fez de tudo para vir ao Estado, mas teve que ficar em

Pedidos Brasília no fim de semana por causa de compromissos de última hora.
0800-940-2377 - Sem dúvida, eles têm motivos para não vir aqui.
livraria.olutador.org.br - O diretor disse que é para você vir à reunião amanhã, Dorneles.

[email protected] Mas nada de vir acompanhado de seus assessores!

2) use “vir” nas locuções verbais [verbo auxiliar + infinitivo]:
- Podem vir!
- Os alunos devem vir uniformizados, alertou a diretora do colégio.
- Não sei se os sobrinhos vão vir aqui nas próximas férias.
- Os garis têm de vir recolher o lixo desta viela todas as noites.
- Temos certeza de que agora vocês já sabem vir sozinhos.
- Eu vou vir acompanhado, posso?]

Fonte: Língua Brasil

[42 OLUTADOR [ MAIO 2019

ADCE [ Princípios do cristão...

WESLEY FIGUEIREDO*

6º Retiro Espiritual da ADCE Brasil
em Aparecida, SP

PELO sexto ano consecutivo, Dividindo a condução
a Associação de Dirigentes
Cristãos de Empresa em três momentos distintos,
– ADCE Brasil, com apoio da
Conferência Nacional dos D. Walmor provocou pro-
Bispos do Brasil – CNBB, e
a participação das ADCEs funda interioridade, abran- Como parte da programa-
regionais, promoveu o 6º Retiro
Espiritual para Empresários, gendo os seguintes temas: ção, foi realizada uma pere-
Empreendedores e Dirigentes a Fé, uma experiência ali- grinação noturna à basílica,
de empresas, no Seminário
Bom Pastor, no Santuário cerçada no amor a Jesus acompanhada por guias do
Nacional de Aparecida, no
Estado de São Paulo. O evento e na sua intimidade, e a Santuário, que explicaram
foi realizado entre os dias 29
e 31 de março. Fé como um dom, mas que detalhadamente as simbo-
deve ser alimentada cons- logias dos elementos utiliza-
O retiro teve a orienta-
ção do Arcebispo Metropoli- tantemente com a leitura dos pelo artista sacro Cláu-
tano de Belo Horizonte, Dom
Walmor Oliveira de Azeve- e o anúncio da Palavra. No dio Pastro, responsável pe-
do. Dom Orlando Brandes,
Arcebispo Metropolitano de segundo momento, os par- la decoração da basílica nas
Aparecida também partici- ticipantes, orientados por últimas décadas, até o fim
pou da sessão de abertura,
dando as boas-vindas aos D. Walmor, trabalharam as da sua vida. A Missa de en-
participantes do retiro.
caraterísticas principais da cerramento foi celebrada na
Participaram cerca de
50 empresários das regio- atitude do cristão, conforme Capela dos Apóstolos, um lo-
nais de Minas Gerais (Belo o evangelista Marcos apre- cal de acesso restrito, libera-
Horizonte e Montes Claros),
São Paulo (capital, Sorocaba senta nos três anúncios da do de forma muito especial des, cuidar das pessoas e ser-
e Santos), Rio Grande do Sul vir à sociedade”.
(Porto Alegre e Caxias do Sul), Paixão de Cristo: uma en- pelo Padre Eduardo Catalfo,
Brasília, DF, e Aracaju, SE. Durante o evento, a AD-
trega incondicional a Jesus, Reitor do Santuário Nacio- CE foi homenageada pelos
58 anos de fundação e ati-
materializada no comparti- nal de Aparecida. vidades no Brasil. No dia 29
de março, a ADCE comple-
lhamento e na experiência Para o presidente da AD- tou 58 anos de fundação no
Brasil, e para celebrar a da-
da cruz. No último momen- CE Brasil, Sérgio Cavalieri, o ta, Dona Isa Cavalieri, viú-
va de Newton Cavalieri, um
to os participantes mergu- retiro atendeu plenamente dos fundadores da ADCE no
Brasil, recebeu uma home-
lharam na exigência de ser às expectativas dos partici- nagem especial.]

solidário na missão de Je- pantes: “Foram momentos * Assessoria de Imprensa
(31) 3211-7532 / (31) 99147-8152
sus, solidário no exercício da de profunda reflexão, interio-

caridade, solidário na bus- rização e de fortalecimento

ca permanente da verdade, da fé. Saímos de Aparecida

solidário no sofrimento da abastecidos e entusiasma-

Cruz, nas diferenças, na vi- dos para seguir nossa mis-

vência da Fé e na Esperança são como empresários cris-

da salvação. tãos e, com nossas ativida-

MAIO 2019 [ OLUTADOR]43

Sociedade [ Poderíamos até afirmar que o Brasil

PE. RODRIGO FERREIRA DA COSTA, SDN

Humanidade plural
e diversidade reconciliada

VIDAS ENTRELAÇADAS. Cor- viver muitas vezes escondida nos de” do homem moderno, a razão
pos relacionados. Desejos “guetos” da família, da igreja e da como sinônimo de humanização
compartilhados. Sonhos sociedade, pois viver uma sexua- foram desmascaradas “porque os
acalentados. Amor doado. lidade diversa significa estar fora mortos sem sepultura nas guerras
Conflitos dialogados. Di- dos padrões normais da socieda- e os campos de extermínio afian-
versidade reconciliada... Ninguém de, ao ponto de muitos quererem çam a ideia de uma morte sem ama-
nasce sozinho. Ninguém cresce so- taxar a homossexualidade como nhã e tornam tragicômica a preo-
zinho. Ninguém se salva sozinho. doença, negando essa “benção es- cupação para consigo mesmo, ilu-
Ninguém é feliz sozinho. Somos to- pecial que Deus concedeu a alguns sórias a pretensão do animal ra-
dos “ossos dos ossos, carne da car- para revelar algo a respeito de Sua tionale a um lugar privilegiado no
ne do outro” (cf. Gn 2,23). Nessa tra- identidade que os heterossexuais cosmos e a capacidade de dominar
ma das relações, damo-nos conta não revelam”. (James L. Empereur.) e de integrar a totalidade do ser
de que só vivemos e sobrevivemos numa consciência”. (E. Levinas.)
se estivermos ligados, vinculados, Poderíamos elencar outras
conectados a outrem. minorias que são desres- A pluralidade não é um “defei-
peitadas e violentadas em to” de nossa humanidade. Pelo con-
O povo brasileiro tem uma his- nosso país, como os jovens trário, a beleza maior do ser huma-
tória marcada de sangue. A injus- que moram nas vilas e fa- no está na sua capacidade de ser
tiça, o preconceito, a exclusão e a velas de nossas cidades, único no mundo. Cada um de nós
negação do outro se misturam com os sem terra e sem teto, os tem um nome próprio que nos faz
a trama de nossa própria história. migrantes e tantas outras diferente de todos e, na diferen-
Por outro lado, somos um povo da expressões culturais e re- ça, igual aos demais. Como afirma
resistência, cuja fé e esperança de ligiosas que são negadas Hannah Arendt, “a pluralidade hu-
ver sua cultura e direitos repeita- em nome da “sociedade mana, condição básica da ação e
dos brilham nos rostos e não dei- dos bons costumes”. do discurso, tem o duplo aspecto da
xam que seus filhos fujam à luta. igualdade e diferença. Se não fos-
Pois, acreditamos que “negros e Pensamento totalitário sem iguais, os homens seriam in-
brancos, índios, mestiços, de to- e a cultura da intolerância capazes de compreender-se entre
dos Deus é Pai!” A cultura ocidental de matriz grega si e aos seus antepassados, ou de
formulou, ao longo de sua história, fazer planos para o futuro e prever
Pela diversidade cultural que uma forma de pensar muitas vezes as necessidades das gerações vin-
forma a brasilidade dos brasilei- totalitária, a qual tenta conceituar douras. Se não fossem diferentes,
ros, poderíamos até afirmar que o tudo e todos, reduzindo até Deus ao se cada ser humano não diferisse
Brasil é um país tolerante. Mas, na pragmatismo da razão. Com isso de todos os que existiram, existem e
verdade, não é o que assistimos no tentamos definir o ser humano a virão a existir, os homens não pre-
palco de nossa história. Desrespei- partir de sua racionalidade e o im- cisariam do discurso ou da ação
tamos a história, a fé e a vida dos pomos uma lei objetiva e universal, para se fazerem entender.[...]. No
povos indígenas; os negros foram de modo que não há espaço para as homem, a alteridade, que ele tem
e continuam sendo escravizados diferenças, para a pluralidade. Po- em comum com tudo o que existe,
por causa de uma falsa abolição rém, a autonomia do sujeito cons- e a distinção, que ele partilha com
que não aboliu a injustiça e a opres- ciente de si mesmo, a “maiorida- tudo o que vive, tornam-se singu-
são. A mulher, mesmo se emanci- laridades e a pluralidade huma-
pando, ainda é vítima de violência, [44 OLUTADOR [ MAIO 2019 na é a paradoxal pluralidade dos
discriminação e preconceito fru- seres singulares”. Por isso, a into-
tos de uma cultura machista que lerância à diversidade é uma das
tem medo de perder a sua realeza; maiores forma de violência, pois
a comunidade LGBT ainda precisa

é um país tolerante...

matamos aquilo que o outro tem A fé como desculpa para a violência profundo da alma. Neste sentido,
de melhor para oferecer ao mundo. O pior de tudo isso é quando as pes- mais do que a violência que mata,
soas ainda usam a fé como descul- que faz a guerra, que aparece na
A Declaração Universal dos Di- pa para serem intolerantes. A es- mídia; há uma violência velada,
reitos Humanos afirma “que o re- sência da religião é ligar as pessoas silenciosa, que destrói vidas, fere
conhecimento da dignidade huma- umas às outras, e todas a Deus. A fé a liberdade, discrimina, oprime,
na, inerente a todos os membros jamais pode ser usada como justi- exclui e condena as pessoas, sem
da família humana, e de seus di- ficativa para a negação do outro. A lhes dar o direito de defesa.
reitos iguais e inalienáveis consti- violência “sagrada” está intrinse-
tui o fundamento da liberdade, da camente ligada ao fundamenta- Cultura do encontro
justiça e da paz”. Deste modo, to- lismo religioso, que se caracteriza e diversidade reconciliada
do e qualquer tipo de preconceito e pelo fechamento de cada religião O Papa Francisco, desde o início do
discriminação por raça, cor, gêne- na própria autossuficiência dog- seu pontificado, tem insistido mui-
ro, nacionalidade, religião ou ou- mática, afirmando que vale ape- to na “cultura do encontro”. É im-
tro motivo é um desrespeito à dig- nas a sua verdade. Por essa razão portante notar que o encontro com
nidade humana, é crime e precisa os fundamentalistas se recusam a o outro não passa necessariamen-
ser combatido. interagir com as outras religiões, te pela via do conhecimento, mas
não admitindo a parcela de verda- pela escuta, a atenção, o cuidado,
No Brasil tem crescido ou, pe- de presente nas outras crenças re- o estar com o outro, pela compai-
lo ao menos, tem-se tornado mais ligiosas ou mesmo nas interpreta- xão, ou seja, a cultura do encontro
evidente a intolerância cultural, ções diferentes dentro da sua pró- significa não passar adiante como
sexual, religiosa e a negação das se a “miséria” do outro não dissesse
minorias. O pensamento na mo- pria religião. Por isso é próprio do nada a mim (cf. Lc 10,29-37).
fundamentalismo a intolerância, o
da é o da intolerância. Até mesmo acirramento entre grupos religiosos Segundo o Papa, “a cultura do
a escola, que é o lugar das nossas e a geração de ódio e de violência. encontro exige que estejamos dis-
primeiras experiências com o to- postos não só a dar, mas também a
do social e, por isso, deveria ser es- Essa violência legitimada pela receber dos outros”. É preciso acre-
paço do diálogo e da educação pa- fé acontece muitas vezes de forma ditar que o outro tem algo de bom
ra o respeito às diferenças e aceita- sutil, no silêncio das consciências, para mim. Que eu ainda não sei tu-
ção do outro, tem-se tornado palco obrigando muitas pessoas a vive- do, não posso tudo, não tenho tu-
de disputa ideológica que distorce rem uma vida inteira na “clandes- do. Principalmente numa socieda-
a realidade, fere a dignidade das tinidade”, revestidas com o manto de tão complexa como a nossa, na
pessoas, aumenta a violência. Por- da culpa e do medo da condenação qual muitas vezes as pessoas se cru-
que negar a complexidade da con- dos homens e de Deus. Essa é a pior zam pelas outras, mas não se en-
dição humana é tomar o partido do forma de violência, pois não ma- contram. Onde cada um se preocu-
ódio, da intolerância, da violência ta apenas o corpo, mas fere o mais pa consigo mesmo e se esquece do
e da morte. outro; olha, mas não vê; ouve, mas
MAIO 2019 [ OLUTADOR]45 não escuta; sente pena, mas não se
deixa conduzir pela compaixão...
Faz-se necessário cultivar a cultura
do encontro que acolhe o outro co-
mo outro, com sua beleza e miséria.

A cultura do encontro nos con-
vida, portanto, a vencer a “globa-
lização” da indiferença, a superar
a cultura da intolerância e da ex-
clusão, a sair da superficialidade
das relações e buscar o encontro
fecundo e verdadeiro, capaz de dar
ao outro “pelo ao menos uma go-
ta de vida”. Somente assim, com a
nossa diversidade reconciliada, va-
mos conseguir superar a violência e
criar a tão sonhada cultura da paz.]

Leigos [ Ampliar os espaços...

AGENOR BRIGHENTI

O laicato na igreja e no mundo [4

Leigos e leigas membros do povo, não da plebe

ADISTINÇÃO e a separação entre No Antigo Testamento, o termo verdadeira Igreja de Jesus, não exis-
clero e leigos surgiram na Igre- laós (povo) tem o mesmo sentido te aquele “povo” de segunda catego-
ja durante o século III e se con- corrente nos meios pagãos: de um ria, a “plebe”, um laicato separado e
solidaram no século IV. No seio do lado há o povo de Israel, o povo ju- submisso à hierarquia. Há um úni-
cristianismo, o termo “leigo” apare- deu, povo de Deus e, de outro, os sa- co gênero de cristãos – os batizados,
ce pela primeira vez na Carta de Cle- cerdotes; de um lado, há os chefes e, que conformam uma comunidade
mente de Roma aos Coríntios, escrita de outro, a massa não qualificada, de iguais, no seio de uma Igreja toda
no ano 95 d.C. Intervindo num grave o povo simples, que nos meios pa- ela ministerial (Y. Congar).
conflito entre jovens e os presbíteros gãos se chama plebe; de um lado, há
que presidiam a Igreja de Corinto, o os sacerdotes, os profetas e os reis e, A Igreja é povo, raça eleita, sa-
termo é evocado, entretanto, não pa- de outro, a massa comandada cerdócio real, nação santa, povo de
ra separar clero e leigos, mas sim-
plesmente para referir-se ao pa- pelas autoridades, autoconstituídas particular propriedade de Deus (1Pd
pel específico dos diferentes em nome de Deus. 2,9). Os cristãos não são desig-
ministérios no seio da Igreja “Entre vós, nados clero e leigos, mas todos
e sem aplicá-lo aos cristãos. não deve ser assim” (Mt 20,26) e conjuntamente como os san-
Na carta, Clemente exorta as Diferente do antigo Povo de Deus, no tos, os chamados, os eleitos, os
partes ao entendimento, lem- seio do qual havia os chefes e a ple- discípulos, irmãos e irmãs. A
brando que havia papéis dife- be, duas categorias distintas de pes- estes seguidores de Jesus, os
rentes na celebração do culto: soas, no seio do novo Povo de Deus judeus deram o nome de “sei-
“[Pois], ao sumo-sacerdo- constituído por Jesus, que é a sua ta dos galileus”, e as autorida-
te foram confiadas tarefas Igreja, todos são iguais e, portanto, des romanas, de “cristãos” (At
particulares, aos sacerdotes os dirigentes são membros do po- 11,26; 26, 28).
um lugar próprio, aos levi- vo. Cada batizado é sacerdote, pro- A ekklésia – a “assembleia”
tas certos serviços, e o leigo feta e rei, no seio de um povo todo da Igreja de Jesus, o novo Povo
liga-se pelas ordenações ex- ele sacerdotal, profético e régio. Na de Deus, é uma fraternidade di-
clusivas dos leigos”. (40,50.) ferente das existentes no mun-
[46 OLUTADOR [ MAIO 2019 do de então. Seus membros, en-
O significado do termo “leigo” xertados em Cristo pelo ba-
O termo “leigo” é um ter- tismo, unidos na “fração do
mo bíblico, do Antigo Tes- pão” e incorporados no teste-
tamento, aplicado ao povo munho e no serviço ao mun-
de Israel. Tem um significado, en- do, conformam “uma frater-
tretanto, que não se aplica ao cris- nidade de iguais”, no seio da
tianismo e não poderia ser usado
na Igreja. O termo provém da pala- qual não há mais diferença entre ju-
vra grega laós ou laikós, que signi- deu e pagão, escravo e livre, homem
fica – povo, só que entendido como e mulher (cf. Gl 3,27-28).
uma categoria de pessoas distinta
dos chefes e submissa a eles. Na reli- Ainda que nem todos exerçam
gião pagã, como também no judaís- o mesmo papel no seio da comu-
mo, os chefes não são membros do nidade, todos os batizados se con-
“povo”, pois estão acima dele; eles sideram eleitos para dar continui-
dirigem e comandam o povo. Por sua dade à obra de Jesus, que é o Reino
vez, o que se designa por “povo” não de Deus. Há diferentes ministérios,
é realmente povo, mas plebe, pois mas no seio de uma “comunidade
é uma categoria inferior e oposta a de irmãos”; há diferentes funções
uma categoria superior, a dos chefes. de seus membros, mas ao serviço
da mesma comunidade, na qual to-
dos são “irmãos”. Por isso, onde há
clericalismo, o laicato não é povo,
é plebe.]

Mundo [ Alicerces em ruínas...

WAGNER DIAS FERREIRA*

AS DÉCADAS DE 1950/60 foram Alicerces,
determinantes para o parque fundamentos
industrial brasileiro. Empresas e ruína
brasileiras se associaram a multi-
nacionais e estas vieram atuar no dendo interesses internacionais A Constituição Federal de 1988,
Brasil, passando a ditar aos gover- escusos. Conforme se vê na apro- em seu artigo primeiro, estabele-
nantes do país os seus interesses. ximação com os norte-americanos, ce os fundamentos da República.
na ruptura com os parceiros sul-a- Fundamento é base de sustenta-
Nos anos 1950, houve o lema “50 mericanos, na atitude em relação a ção. Uma casa sem fundamento ou
anos em 5”. E nos anos 1960, o golpe Israel, que coloca em risco parcerias fundação cai, não resiste às intem-
militar, que tomou o poder do pre- com povos árabes, ou seja, uma vi- péries da natureza como tempes-
sidente civil que ocupava o cargo, e sível mudança nos objetivos da po- tades. Assim vem a ruína.
passou a governar o país com decre- lítica internacional brasileira, reti-
tos. Esse golpe militar completou, rando o país da postura de lideran- Um fundamento da República é
em 31 de março de 2019, 55 anos. E ça mundial dos BRICs - Brasil, Rús- o pluralismo político. O governan-
hoje o país se encontra de novo com sia, Índia e China e África do Sul -, te que declara abertamente que irá
um governo predominantemente afastando qualquer possibilidade expurgar uma forma de pensar do
militar, dando a impressão de que o de vir o país a compor o Conselho país, parece caminhar a passos lar-
famigerado contexto quer se repetir. de Segurança da ONU. gos para a ruína, pois torna consu-
mada a violação ao fundamento da
Jânio Quadros fora eleito pre- Uma questionável opção permi- República.
sidente e, alegando forças ocultas, tiu o compartilhamento da Base de
renunciou dando lugar ao candida- Alcântara, que é um dos projetos es- As violações constantes do tex-
to que ficara em segundo lugar nas tratégicos do país no tocante a lan- to constitucional, principalmente
eleições, João Goulart. Na época, o çamento de foguetes e demarcação no tocante aos fundamentos da Re-
vice era o segundo colocado. Hoje, de uma posição do país nas ques- pública, colocam o país diante da
contexto semelhante: deposição de tões espaciais. A orientação que o tempestade sem os alicerces que
um governo com a assunção ao po- país está a tomar é inconstitucional precisa para suportar. Não é para
der do vice, que compunha a cha- e coloca o Brasil em um sério risco menos se houver ruína na Casa.]
pa eleita, distintamente de antes. de ruptura institucional.
*Advogado e membro da Comissão
No século XX, o vice-presiden- MAIO 2019 [ OLUTADOR]47 de Direitos Humanos da OAB/MG
te eleito manteve uma linha nacio-
nalista de governo. No XXI, o vice
que assumiu após a deposição mo-
dificou a direção do governo e fez
emergir no país consequências ne-
fastas de uma crise que, de fato, é
mundial e aqui foi muito agravada.

Com a ditadura militar do século
XX, focada em atender a interesses
internacionais, o país aprofundou
a miséria do povo e reprimiu as vo-
zes que denunciavam a maldade.

Até agora, o prenúncio do atual
governo indica uma perigosa devas-
tação vida do povo brasileiro com
enorme miséria, também defen-

Mundo [ À liberdade...

EM SUA EDIÇÃO DE 1º/02/2019, O calvário
o jornal “El País” publicou dos bispos na
matéria assinada por Juan Venezuela
G. Bedoya que fornece um chavista
trágico retrato da situação do epis-
copado católico na Venezuela nos vo que quer não somente liberda- neiro de 2019 é ilegítima por sua
últimos 20 anos. de e democracia, mas ser consi- origem, e abre uma porta para o
derado em sua dignidade.” Para não reconhecimento do Governo,
Em 2002, o Arcebispo Balta- o Vice-Presidente da CEV – Con- porque carece de sustentação de-
zar Porras presidia a Conferência ferência Episcopal Venezuelana, mocrática na justiça e no direito”.
Episcopal Venezuelana e era obje- “há vários anos o povo da Vene-
to de ataques e zombarias por par- zuela está pedindo uma mudan- A carta do Papa Francisco a Ni-
te de Chávez. Chávez costumava ça na orientação sociopolítica e colás Maduro confirmou a posição
expressar jocosamente suas crí- mesmo econômica. A Igreja tem da Santa Sé sobre a crise venezue-
ticas à Igreja, mas pediu socorro insistido em que o povo deve ser lana e, ao mesmo tempo, mostrou
ao Arcebispo Porras para salvar escutado. A direção política, so- que Maduro está cada vez mais
sua vida em 2002. Segundo decla- cial e econômica deve estar ao la- isolado. Mesmo sem romper os
rou o próprio cardeal, na madru- do do povo”. vínculos diplomáticos com a Ve-
gada de 12 de abril de 2002, duran- nezuela, a diplomacia da Santa Sé
te o golpe de estado, o então pre- Reunidos em 9 de janeiro, em sempre esteve ao lado dos bispos
sidente, decidido a deixar o país, sua 111ª Assembleia Geral, os bis- do país, apoiando seus esforços
pediu que o acompanhasse até a pos da Venezuela afirmaram que para restaurar a paz social, aju-
escada do avião. “a pretensão de iniciar um novo dar a população e pedir eleições
período presidencial em 10 de ja- novas e livres.]
Nomeado cardeal em 2016, pelo
Papa Francisco, ele enfrenta hoje [48 OLUTADOR [ MAIO 2019
o presidente Nicolás Maduro. Em-
bora seja de origem judaica sefar-
di, Maduro se declara cristão. Seu
jogo político consiste em atacar os
bispos para contrastá-los com sa-
cerdotes que trabalham entre os
pobres: “Nós somos os cristãos au-
tênticos. Os bispos estão apunha-
lando a Cristo”. Por seu lado, os ca-
tólicos mais conservadores esta-
riam reclamando do Papa Fran-
cisco um posicionamento mais
forte perante o chavismo.

Segundo o portal ACIPrensa
(24/02/2019), o Cardeal Baltazar
Porras criticou a violência no re-
gime de Nicolás Maduro e rezou
pelos mortos e feridos pela repres-
são do governo e de grupos para-
militares. “A violência é a arma
dos desalmados”, disse ele.

O Bispo de San Cristóbal, Mons.
Mario Moronta, dirigiu-se ao pre-
sidente Maduro para pedir-lhe que
“abra os olhos e não fique indife-
rente ao sofrimento e ao clamor
do povo”. “Escute o clamor do po-


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