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Published by Revista O Lutador, 2020-01-21 09:00:02

REVISTA O LUTADOR 3913 JUNHO DE 2019

Juntos com o Papa Francisco

Keywords: Revista O Lutador,O lutador,Revista católica,Jornal o lutador,periódico católico

Sociedade [ Rios e vidas que perderam seus cursos

ANO XC / Nº 3913
JUNHO / 2019

olut dor.org.br

Juntos com
R$9,90 Papa Francisco

[ Sínodo da Amazônia: bom momento para refletir
sobre sacramentos e cultura

#11anosFaçoParte

PARTICIPE DA PROMOÇÃO DE
ANIVERSÁRIO DA FAÇO PARTE

1 é um número solitário, mas, quando se
soma a mais 1, pode multiplicar as chances

de transformar a vida de outras pessoas.

Por isso, em comemoração aos 11 anos da
Faço Parte, convide amigos ou familiares
para participarem da Faço Parte. Assim
que a pessoa indicada fizer a primeira
doação, vocês dois serão presenteados
com uma vela de Nossa Senhora da

Piedade contendo uma surpresa.

PARA INDICAR ALGUÉM,

LIGUE 3319 6111 OU VISITE
WWW.FACOPARTE.COM.BR

Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente

Juventude [ “Christus vivit”: Cristo vive e quer-te vivo! Aniversariantes
do mês de junho de 2019
ANO XC / Nº 3912
MAIO / 2019 O mês de junho vem marcado pelo amor do
Coração de Jesus e pelo encanto do amor entre
olut dor.org.br as pessoas enamoradas. Não esqueçamos que
o Reino se concretiza no amor a Deus e aos ir-
Sacramentinos mãos, sobretudo aos mais necessitados. Segue
de Nossa Senhora o nosso abraço e nosso carinho a todos os ani-
R$9,90 90 anos de missão versariantes que são assinantes ou familiares
de assinantes de nossa Revista O LUTADOR.
[ O Papa acredita profundamente na juventude Deus abençoe e ilumine a cada um de vocês.
Lembramos que, no dia 25 deste mês, será cele-
Ó Trindade Santa, vós que sois a fonte brada uma missa especial na intenção de nos-
de toda santidade, nós vos louvamos sos assinantes, também lutadores, e de seus
por vosso servo o Pe. Júlio Maria De Lombaerde, familiares, de modo especial para os doentes e
que, assemelhando-se ao Cristo Eucarístico, acamados. O celebrante do dia 25/06/2019 será o
cuidou do vosso rebanho com amor, Pe. João Lúcio Gomes Benfica, SDN. Deus aben-
zelo e doação. E, deixando-se guiar pelo çoe a todos os nossos assinantes. [Caso seu nome
Espírito Santo, assim como a Virgem Maria, não apareça na lista, entre em contato com nosso se-
testemunhou a ternura missionária da Igreja. tor de assinaturas: Fone: 0800-940-2377
Concedei-me, ó Trindade Santa, pela intercessão E-mail: [email protected]]
do Pe. Júlio Maria, a graça que vos suplico
[pedir a graça]. E, se for de Vossa santa vontade, Dia 01 – ALMERINDA MARIA DA SILVA CARVALHO / PAR. SÃO MANOEL DE MUTUM / DIACONO ADHEMAR FARIA / DR.VALFRIDO ANTONIO
dai que Pe. Júlio Maria alcance a honra PEREIRA / JOAO PAULO DELESPOSTE / ROBERTO GOMES CAVALCANTE / TARCISO CIRINO DO AMARAL. / Dia 02 – DAVID FUMYO
GONCALVES / FRANCISCA HONORIO PAIVA CRUZ / JENOVEVA AMON BARCELOS / JOSE ANTONIO DE OLIVEIRA / LUIZA ROSA BISAGGIO
dos altares, para Vossa glória / NELSON CAPELLI / OSMAR FERRAZ DE OLIVEIRA / OVIMAR DIAS / PADRE JOSE DE OLIVEIRA DA SILVA / PADRE NELSON DENDENA.
e para o bem de tantas almas. Dia 03 – ILANA FRANCA COTRIM SANGLARD / OTAVIO ROSADO DE OLIVEIRA / ROSA MARIA CHERMOUTH / SONIA REGINA NOGUEIRA
Por Cristo, Nosso Senhor Amém. SILVA / TEREZINHA DO CARMO VON ATZINGEN REZENDE. / Dia 04 – ANTONIO MARIA CLARET / CARLOS ARDEL COLOMBO / HEITOR
MARIO MACEDO LOPES / JOSE DOS REIS MACHADO / MARIA CONCEICAO ALVES / NAECIO SERGIO DE PAULO / ODONI BORGHI NETO
/ SONIA MARIA LEMOS DE MELO TANNER / ZELIA ALVARENGA PINHAL. Dia 05 – APARECIDA GILMA DE PAULA / JOSE DE PINHO BARROSO
/ JOSE NEWTON ALVES DE SOUZA / MARIA ILENILDE MARTINS MEDEIROS / SILVANA PIANTINO JACINTHO MARQUES. / Dia 06 – ADELIA
MARIA DE OLIVEIRA GONÇALVES AZEVEDO / JOAO BATISTA IVO E COMPANHIA LTDA. / MARIA PEREIRA BARCELOS / MARLENE MARTA
LEAO / NILZA EDUARDO SAAD / PADRE LUIZ DE OLIVEIRA CAMPOS / ZELIA DE FATIMA ALVES. Dia 07 – DENILSON APARECIDO ALVES
DE OLIVEIRA / MARIA DO SOCORRO HUBNER PECHARA / MARIA PRAZERES LEITAO LINS / SAULO DE MORAES. Dia 08 – JULIO MARIA
DO AMARAL / PAROQUIA SAO SEBASTIAO / NUBIA CLEIDE BEZERRA NOGUEIRA. Dia 09 – DELFINO CARMELO FERRAREZ / ELENICE
DE SOUZA TUELHER / FELICIO ORTEGA / IRMAS APOSTOLAS DO SAGRADO CORACAO DE JESUS / JOSE WYLLIAM S. MENEZES- EMM /
MARIA DAS GRACAS BUSTAMANTE. Dia 10 – FRANCISCA BONFIM / INES ROSA VIANA DE OLIVEIRA / TELMA DA CONCEICAO CUNHA SILVA.
Dia 11 – GHISLAINE MARIA GONCALVES S.CANTINI / ILCELIA FERREIRA DE ANDRADE / JOSE ANTONIO SOLA / JOSE GOMES DA SILVA.
/ Dia 12 – ANTONIO TARCISO FRACARO / EROMYR RUIZ / HELIO PINHEIRO DA CUNHA / LUIZ ANTONIO CARLOS DA SILVA / LUIZ CELSO
GOMES / MARIA DA PIEDADE DE LIMA JUNIOR / MARIA DE LOURDES ANDRADE NASCIMENTO / MARIA EMILIA DIAS TEIXEIRA / PAULO
FINAMORE. Dia 13 – ANTONIO LOPES / FERNANDO HORTA DE SALES RODRIGUES / IZIDORO ANTONIO PESCININI / MARIA ANTONIA
LAGES FRANCA DE LIMA / MARIA DO CARMO LAGES FRANÇA CORONADO. / Dia 14 – ANTONIO VIANA DA SILVA / DR. OTONI MOREIRA
GOMES / GERALDO MAGELA COSTA FERREIRA / GIANE MARIA MOREIRA ARRUDA / IRINEU RIBEIRO DOS SANTOS / JOSE LOURDES
ODEBRECHT / MARIA DO PERPETUO SOCORRO SOUZA FREITAS / RAUL SIQUEIRA DO AMARAL. / Dia 15 – ALMERINDA TOLEDO RIBEIRO
/ BENEDITO TEIXEIRA / LUIZ EIMAR DOS SANTOS / MARIA DO CARMO DE FREITAS. Dia 16 – GERALDO XAVIER CORGOZINHO / IRENY
AMARAL FONSECA DE BRITO / JOAO FRANCISCO PESTANO / JOAO MAGALHAES DE SOUZA / JUNIA ANDRADE CARNEIRO / MONSENHOR
ANTONIO ORDONES LEMOS / RICARDO APARECIDO CONESSA / VICENTE DE SOUZA FONTES. Dia 17 – DENISE MARIANO DA SILVA
/ GUIDO RODRIGUES PEREIRA / JOSE DIVINO DA FONSECA / MARIO SERGIO DE O. VICENTE- EMM / PADRE JOAO JESUINO MARQUES
/ RITA MARGARETTE BERTON VEDAN. / Dia 18 – MARIA HELENA CARNEIRO CATUNDA / MARIA INGEBORG PAULITSCH. Dia 19 – LUIZ
EDUARDO BURANELLO / PAULO CELSO DE SOUSA. Dia 20 – CARLOS RUBENS ROCHA LESSA / LUCIA ELENA TINOCO B. CARNEIRO
/ LUIZ GONZAGA LARA RESENDE / LUIZ ZEMINIAN / MARIA DE LOURDES ELEUTERIO P. AZEREDO / MARIA DO SOCORRO VIEIRA PAIVA
/ MARIA SILVERIA COSTA ROCHA / MIRIAM DOLORES MOSER BONINI. Dia 21 – FERNANDO ANTONIO FREITAS SILVA / HELIO MELLO
/ JOSE VALDO JUNIOR / LUIZ VICOSO DA SILVA / MARIA ADELINA PARENTE LINS FELIX / MARIA TEREZINHA GOMES PINTO / PADRE
ARDUINO ANTONELLO / PADRE CHARLES DOUGLAS LOPES ROCHA / ROSA ORDALIA GONTIJO / VERA LUCIA CORDEIRO DA CONCEICAO
/ WALKIRIA MONTEIRO. Dia 22 – CIRA MARIA SILVA DE PAULA / GERALDO ALVES DE CARVALHO / JOAO SENA / LUZIA CLARA DE JESUS
/ MARIA ALCINA LOBATO LA ROCCA / NANCY SIMAO DA MATTA. Dia 23 – MARIA AUXILIADORA NUNES. Dia 24 – JULIA TEIXEIRA PINTO /
MARIA SCHNEIDER / ROSANGELA APARECIDA BARBOSA DE L.SENSIATE. Dia 25 – AMILTON E DORINHA / ELIAS VIEIRA SOUZA / JOSE
ANTONINO BAIA BORGES / MARIA DO CARMO RODRIGUES / MARIA FRAGA ROLIM CARNAÚBA / PAULO NATALE PENATTI / SINVAL SOARES
DA SILVA / TARCISO TORRES PIMENTA. / Dia 26 – MARIA APARECIDA JAVARONI ANTONINI / MARIA IMACULADA LEMOS MIGUEL / MARIA
SALETE SEBER / ORDALIA XAVIER DE MINAS / ROSANGELA APARECIDA DA SILVA. Dia 27 – ARGEMIRO JOAO RAZERA / JOSE ADALBERTO
COELHO / JOSE MARIA LOPES DA SILVA. Dia 28 – IRMA MARIA ZELIA DE LIMA / IVANILDO ZUCCOLOTTO / PEDRO BARBIERI / PEDRO
CLAUDIO LONZETTI / ROGERIA RODRIGUES DOS SANTOS. Dia 29 – PEDRO PEREIRA DOS SANTOS. Dia 30 – ARNALDO SEBASTIAO
DA SILVA / GRAZIELLA PRADO / JOSE PEDRO DA SILVA FILHO / MAGDA SIMOES ROCHA CARVALHO / MARIA IONE BARREIRA COSTA DE
OLIVEIRA / PADRE ROBERTO CARLOS VILELA.

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@ ] Carta de São Clemente @ ] A Pátria pede socorro
Sou assinante desta conceituada re-
vista O LUTADOR, pertenço a Paró- IAGO NANTES DA CRUZ CARVALHO*
quia São José (Timóteo, MG) , sou da
pastoral do Batismo. Sobre a maté-
ria “o Laicato na igreja e no mundo”,
fala-se de uma Encíclica do Papa São
Clemente, e eu gostaria de adquirir
este documento, e não o encontrei
na Internet e demais lojas ou livra-
rias. Seria possível passar alguma
informação como adquiri-la? Agra-
deço antecipadamente, votos de es-
tima e considerações.

JOSÉ SÉRVULO

Da redação: OPOVO BRASILEIRO, tão alegre, ca- humildes ficam abandonados à pró-
Caro Sérvulo, o pdf desta Carta de São rismático e acolhedor, neste ano pria sorte. O poder público nem sem-
Clemente, escrita no ano 95, pode de 2019 se encontra em luto por tan- pre cumpre o seu papel de garantir
ser baixado no seguinte endereço tos desastres. O sorriso se esvai em proteção e amparo a quem precisa,
da Internet. Boa leitura. https:// meio ao pranto que parece não ter e não raro desvia recursos públicos
sumateologica.files.wordpress. fim... e o desespero parece querer em função dos próprios interesses,
com/2010/02/clemente_romano_ roubar até a esperança... a fim de adquirir ainda mais po-
cartas_aos_corintios.pdf der. A política, quando exercida da
Nas manchetes de jornais e na forma ética, tem um grande poder
@ ] Jesus foi feito homem televisão, o desastre da Barragem de transformação social, de garan-
Li o artigo do Sr. Antonio Carlos San- de Brumadinho deixa estampado tia do bem-estar da população, e de
tini, intitulado “Maria, a boa Mãe”, que o capital prevalece sobre a vi- melhorias nas condições de mor-
na edição da Revista O Lutador de da humana. E não se pode esque- dia, trabalho, segurança e seguri-
março / 2019, e o considerei exce- cer que lhe antecede o desastre da dade social, entre outros.
lente, não apenas pela clareza na barragem de Mariana. Além disso,
exposição como pelo originalíssi- as fortes chuvas no Rio de Janeiro Para isso é preciso uma educa-
mo conteúdo. Li e gostei demais. As e em São Paulo deixaram muitos ção que prepare as pessoas para o
situações vividas por Nossa Senho- mortos; os assassinatos na Escola devido exercício da cidadania. Sa-
ra e seu Filho Jesus, embora fruto Estadual Raul Brasil, em Suzano, SP, ber escolher com critério, com res-
da imaginação, são vivências espe- denunciam como uma busca pes- ponsabilidade e ética aqueles que
radas no relacionamento de mãe e soal de reconhecimento é capaz de nos representam no poder público.
filho, porque, afinal, Jesus foi feito levar jovens a matar outros... Várias Somente uma política séria e res-
homem, menos no pecado. Aliás, situações no Brasil e no mundo es- ponsável pode nos ajudar a superar
expressão que o prezado autor ci- palhando dor e sofrimento. tantas situações de dor e sofrimen-
tou no decorrer de seu texto. O seu to. – “Socorro!” - grita nossa Pátria.
trabalho me sensibilizou fortemen- Nossa Pátria amada sangra. Em
te, porque humanizou duas figuras meio a tanta dor, os mais pobres e * Estudante da UniFACIG – Manhuaçu, MG
de minha profunda devoção, cons-
tantemente presentes ao longo dos
meus 96 anos de vida.

FERNANDO GUILHERME MARTINS

- Membro há 60 anos

do Movimento das Equipes

de Nossa Senhora – Santos, SP.

[ Expediente [ Editorial

O LUTADOR é uma publicação mensal Juntos com o Papa Francisco
do Instituto dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora QUEM TEM UM POUCO DE SENSIBILIDADE EVANGÉLICA, amor aos po-
bres e certa compreensão da história da Igreja, percebe sem dificul-
olutador dades o esforço que o Papa Francisco vem fazendo à frente da Igreja.
ISSN 97719-83-42920-0 Há nele o desejo sincero para que a Igreja se modele mais pelo mo-
do de ser de Jesus, tal como Ele se revela nos Evangelhos. Uma Igreja
Fundador mais próxima do povo, uma Igreja samaritana, solidária aos sofre-
Pe. Júlio Maria De Lombaerde dores. Como abundantemente aparece nas falas e documentos do
Papa Francisco, uma Igreja “em saída” missionária.
Superior Geral Em síntese, uma Igreja que retorne às suas raízes evangéli-
Pe. José Raimundo da Costa, SDN cas, aquela Igreja dos primeiros cristãos, em seu tempo mais “pu-
ro”. Aquela Igreja anterior a seu “casamento” com as forças do poder
Diretor-Editor no Império Romano, que a fez perder muitos traços da sua identida-
Ir. Denilson Mariano da Silva, SDN de primeira e que levou a desdobramentos que a afastaram do fres-
cor do Evangelho e de seu amor primeiro: os pobres e necessitados.
Jornalista Responsável A América Latina deu passos nessa direção com a “recepção
Pe. Sebastião Sant’Ana, SDN (MG086063P) criativa” do Vaticano II, mantendo a fidelidade à Tradição primeira
da Igreja, deu passos concretos de volta às fontes bíblicas, patrísti-
Redatores e Noticiaristas cas, litúrgicas... e a Igreja recuperou muitos de seus traços originá-
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, SDN rios na sensibilidade com a dor do povo e com o projeto do Reino de
Pe. Sebastião Sant’Ana, SDN “vida em abundância para todos” (cf. Jo 10,10).
Frt. Matheus R. Garbazza, SDN Porém, tanto o Concílio Vaticano II como as Conferências do
Frei Patrício Sciadini, OCD, Frei Vanildo Zugno, Episcopado Latino-Americano têm enfrentado situações de oposição
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini da parte de quem cristalizou a Tradição em um momento da histó-
e Dom Edson Oriolo ria e sucumbe em um tradicionalismo, não raro inescrupuloso, que
de maneira até desonesta investe contra o pontificado de Francisco,
Colaboradores que outra coisa não faz senão tentar conduzir a Igreja nas linhas do
Vários Concílio, para que seja mais próxima do Evangelho de Jesus.
O Papa Francisco procura avançar caminhando com a Igreja,
Redação na busca do diálogo, e quer que os bispos, as conferências episcopais
[email protected] caminhem juntas, num sinal sincero de maturidade na fé e de cor-
responsabilidade no exercício do magistério eclesial. Uma Igreja ca-
Correspondência paz de olhar de frente para os desafios do mundo atual e a eles res-
Comentários sobre o conteúdo de olutador, ponder na fidelidade ao Evangelho.
sugestões e críticas: [email protected] Recordando a palavra do Pe. Agenor Brighenti, “o Papa Francis-
Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 / Planalto co precisa de nós”. Precisa que os leigos, os padres, os bispos, os teó-
CEP 31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil logos deem sustentação e abracem, a nível local, as propostas desta
Igreja samaritana em saída missionária. Neste sentido, que a nova
Assinaturas e Expedição presidência da CNBB, recém-eleita em Aparecida, durante a 57ª As-
Maurilson Teixeira de Oliveira sembleia dos bispos, recupere ainda mais a sua veia profética e pos-
sa ser sensível às realidades do povo. E, se a realidade é outra e outros
Assinaturas são os desafios e os contextos sociais, que a CNBB e todos nós saiba-
R$ 80,00 / Brasil - www.olutador.org.br mos “sentir com a Igreja”, saibamos dar passos para operar uma se-
[email protected] gunda recepção do Concílio Vaticano II na América Latina, e que seja
0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas igualmente criativa como a recepção em Medellín...
Caminhemos juntos com o Papa Francisco. E isso é pra come-
Outros países ço de conversa..]
R$ 80,00 + Porte
[DENILSON MARIANO
Edições anteriores
Tel.: 0800-940-2377

Site
revista.olutador.org.br
facebook.com/revistaolutador

Projeto gráfico e diagramação
Valdinei do Carmo / Orgânica Editorial
Revisão
Antônio Carlos Santini

Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada – FSC®
Praça, Pe. Júlio Maria, 01 / Planalto
31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil
olutador.org.br

Telefax
[31] 3439-8000 / 3490-3100

Tiragem desta edição
4.200 exemplares
Foto de capa
Victor Hugo Barros
- CNBB Nacional

As matérias assinadas P r o cu r e p o r p r o d u t o s
são da responsabilidade certificados FSC®
de seus autores,
não expressam,
necessariamente,
a opinião de olutador. ]

|S U M Á R I O OLUTADOR • REVISTA MENSAL • ANO XC • Nº 3913 • JUNHO • 2019 •

6Assembleia
dos Bispos
aponta rumos
para a Igreja
no Brasil

8Mensagem 10Papa 12 Sínodo da Amazônia:
da CNBB Francisco: bom momento para refletir
ao povo amor sobre sacramentos e cultura
brasileiro e valentia
18 A igreja queimada
14Interpretar 20 “Christus Vivit”: Cristo vive
a Lei
de Deus e nos dá um coração
sempre jovem!
16Na família 22 Apesar de tudo
e na comunidade, 23 Irmãs Sacramentinas
os jovens são o de Nossa Senhora
“agora de Deus” 90 anos de história
24 Ações humanas
25 Liturgia, ambiente da fé
26 Quando o amor
vence o inferno...
27 O povo na fila
28 Crônica
30 O dom inestimável
31 Roteiros Pastorais
43 ADCE Minas Gerais
anuncia recondução
da Diretoria Executiva
para mandato 2019/2021
44 Rios e vidas que perderam
seus cursos
46 O surgimento de cristãos
de segunda categoria
47 Igreja terá um novo
beato brasileiro
48 Crescem os católicos
no mundo

Capa [ “O Brasil que queremos emergirá do comprometimento de todos os brasileiros

PE. SEBASTIÃO SANT`ANA SILVA, SDN Assembleia
dos Bispos
OTEMA central da 57ª As- aponta rumos
sembleia Geral dos Bis- para a Igreja
pos do Brasil, em Apare-
cida, SP, (1º a 10/05/19), foi no Brasil
a aprovação das Diretri-
zes Gerais da Ação Evangelizado-
ra da Igreja no Brasil - DGAE para
o quadriênio 2019–2023. As novas
Diretrizes, aprovadas no dia 4 de
maio, pedem aos cristãos que, ten-
do feito a experiência do encon-
tro com Cristo, sejam testemunhas
da alegria e formem, na comple-
xa e desafiadora realidade urba-
na, verdadeiras comunidades ecle-
siais missionárias.

A partir das Diretrizes e ten-
do em vista a realização de suas
propostas, foi eleita a nova presi-
dência da CNBB e das Comissões
Episcopais das diversas pastorais.
Outros assuntos de grande inte-
resse compuseram a pauta da 57ª
Assembleia.

Novas Diretrizes sugerem
a casa com quatro pilares
“As Diretrizes para a Ação Evange-
lizadora da Igreja no Brasil não são
um plano, mas sim uma inspiração
para o trabalho evangelizador da
Igreja” – informou Dom José Beli-
sário, Arcebispo de São Luís, MA, e
coordenador da comissão de reda-
ção do texto das novas Diretrizes.

As Diretrizes têm em vista a
formação de comunidades ecle-
siais missionárias. Que estas co-
munidades tenham “um jeito de
ser, uma postura que lembre, evo-
que a ideia de uma casa que acolhe,
que é espaço de ternura e de mi-
sericórdia” – observa o Pe. Manoel

de Oliveira, membro da comissão
redatora. “A casa é sustentada por
quatro pilares:

a. o pilar da Palavra de Deus e a
iniciação à vida cristã;

b. o pilar do Pão que sustenta a
casa pela Liturgia e espiritualidade;

c. o pilar da Caridade que sus-
tenta pelo acolhimento fraterno e

[6 OLUTADOR [ JUNHO 2019

com os valores que têm o Evangelho como fonte da vida, da justiça e do amor”...

o cuidado com os mais frágeis, ex- “O Brasil que queremos emer- to de 2018, junto com o Pe. José
cluídos e invisíveis; girá do comprometimento de to- Eduardo (Dioc. de Osasco), defen-
dos os brasileiros com os valores deram a posição da Igreja Católi-
d. o pilar da Missão, consequên- que têm o Evangelho como fonte ca em relação ao aborto, na Au-
cia da experiência profunda com da vida, da justiça e do amor”, lem- diência Pública, convocada pela
Deus vivida em comunidade” – co- braram nossos bispos. ministra Rosa Weber e realizada
mentou ele. no Supremo Tribunal Federal (cf.
Nova edição set/2018, na matéria Somos
Duas mensagens presidência da CNBB a Igreja do SIM à Vida, parte dessa
da CNBB ao povo brasileiro e das Comissões Episcopais corajosa defesa).
A primeira Mensagem foi por oca- Na penúltima Coletiva da Impren-
sião do 1º de maio, Dia do Traba- sa, 9 de maio, a presidência que ter- Em Aparecida, dias 25 e 26 de
lhador, assinada pelos três bispos minou seu mandato fez o desta- maio, por ocasião do IX Simpósio e
da presidência que concluíram o que do trabalho realizado no últi- XI Peregrinação Nacional das Fa-
mandato. mo quadriênio e se despediu do ser- mílias, muitos dos leitores tive-
viço prestado à CNBB. ram a oportunidade de conhecê
Uma segunda Mensagem, di- -lo. Foi um dos principais confe-
vulgada em 7 de maio, em nome de Nós, povo de Deus, agradece- rencistas.
todos os bispos do Brasil, chamou mos ao cardeal Sérgio da Rocha
(presidente), a Dom Murilo Krie- Os
❝As Diretrizes ger (vice-presidente) e a Dom Leo- presidentes
para a Ação nardo Steiner (secretário-geral) pe- das demais
Evangelizadora lo grande e diversificado trabalho Comissões Episcopais
da Igreja pautado pela Palavra de Deus e pe- Além de Dom Ricardo Hoepers,
no Brasil não la Doutrina Social da Igreja, numa foram eleitos os bispos para a
são um plano, profunda comunhão com o Papa presidência e respectivas Co-
mas sim uma Francisco. missões:
inspiração
para o trabalho Dom Walmor de Oliveira Azeve- Dom João Francisco Salm, Bispo
evangelizador do (presidente), Dom Jaime Spen- de Tubarão, SC, para a Comissão
da Igreja.❞ gler e Dom Mário Antônio (vice-pre- Episcopal para os Ministérios Or-
sidentes) e Dom Joel Portela (se- denados e Vida Consagrada; Dom
a atenção para os graves proble- cretário-geral) foram eleitos pa- Giovane Pereira de Melo, Bispo de
mas vividos pela população do país. ra a nova presidência. Continua- Tocantinópolis, TO, para o Laica-
rão esse desafiador e necessário to; Dom Odelir José Magri, Cha-
Sobre as necessárias reformas trabalho no próximo quadriênio pecó, SC, Ação Missionária e Coo-
política, tributária e da Previdên- (2019–2023). peração Eclesial; Dom José Antô-
cia, os bispos afirmaram que elas nio Peruzzo, Curitiba, PR, Anima-
só se legitimam se feitas em vista Para eles pedimos a luz e a for- ção Bíblico-Catequética; Dom Pe-
do bem comum e com participação ça do Espírito Santo para que exer- dro Carlos Cipolini, Santo André,
popular, de forma a atender, em çam com coragem e alegria a mis- SP, Doutrina da Fé; Dom Edmar
primeiro lugar, os pobres. são que a Igreja no Brasil lhes pe- Peron, Paranaguá, PR, Liturgia;
de, sendo o rosto da misericórdia Dom Manoel João Francisco, Cor-
de Deus para com todos, especial- nélio Procópio, PR, Ecumenismo e
mente os pobres. Diálogo Inter-Religioso; Dom Jo-
sé Valdeci Santos Mendes, Brejo,
Novo MA, Ação Social Transformado-
presidente ra; Dom João Justino de Medei-
da Comissão Episcopal ros Silva, Belo Horizonte, Cultu-
Vida e Família ra e Educação; Dom Nelson Fran-
Os agentes da Pastoral Familiar celino, Valença, RJ, Juventude; e
estão agradecidos pela eleição de Dom Joaquim Giovani Mol, Belo
Dom Ricardo Hoepers, Bispo de Rio Horizonte, Comunicação.
Grande, RS, para presidir a Comis-
são Episcopal Vida e Família no Que Maria interceda por nos-
próximo quadriênio. Trata-se do sos bispos e sua missão em nos-
bispo jovem que, em 6 de agos- sa Igreja.]

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]7

Capa [ Sacramentinos deCNaopsas[aASsesnehmorbale, miaidssoisonBáisrpioosshaáp9o0ntaanrousm... os para

MENSAGEM DA CNBB AO POVO

OEpiscopado brasileiro, reu- alegrai-vos!’ (Fl 4,4) (cf. Papa Fran- cia de Puebla (1979). Nesse contexto
nido em sua 57ª Assembleia cisco, Exortação Apostólica Gaude- e inspirados na Campanha da Fra-
Geral, de 1º a 10 de maio, em te et Exultate, 122). ternidade deste ano, urge reafirmar
Aparecida, SP, emitiu uma a necessidade de políticas públicas
Mensagem ao povo brasileiro. “No mundo tereis aflições, que assegurem a participação, a ci-
mas tende coragem! dadania e o bem comum. Cuidado
“Eis que faço novas Eu venci o mundo.” (Jo 16,33) especial merece a educação, grave-
todas as coisas.” (Ap 21,5) Longe de nos alienar, a alegria e a es- mente ameaçada com corte de ver-
Suplicando a assistência do Espírito perança pascais abrem nossos olhos bas, retirada de disciplinas neces-
Santo, na comunhão e na unidade, para enxergarmos, com o olhar do sárias à formação humana e des-
nós, Bispos do Brasil, reunidos na Ressuscitado, os sinais de morte consideração da importância das
57ª Assembleia Geral da Conferência que ameaçam os filhos e filhas de pesquisas.
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, Deus, especialmente, os mais vulne-
no Santuário Nacional, em Apare- ráveis. Estas situações são um ape- A corrupção, classificada pelo Pa-
cida, SP, de 1º a 10 de maio de 2019, lo a que não nos conformemos com pa Francisco como um “câncer so-
dirigimos nossa mensagem ao po- este mundo, mas o transformemos cial” profundamente radicado em
vo brasileiro, tomados pela ternu- (cf. Rm 12,2), empenhando nossas inúmeras estruturas do país, é uma
ra de pastores que amam e cuidam forças na superação do que se opõe das causas da pobreza e da exclu-
do rebanho. Desejamos que as ale- ao Reino de justiça e de paz inaugu- são social na medida em que des-
grias pascais, vividas tão intensa- rado por Jesus. via recursos que poderiam se desti-
mente neste tempo, renovem, no nar ao investimento na educação,
coração e na mente de todos, a fé A crise ética, política, econômica na saúde e na assistência social, ca-
em Jesus Cristo Crucificado-Ressus- e cultural tem-se aprofundado cada minho de superação da atual crise.
citado, razão de nossa esperança e vez mais no Brasil. A opção por um A eficácia do combate à corrupção
certeza de nossa vitória sobre tudo liberalismo exacerbado e perverso, passa também por uma mudança
que nos aflige. que desidrata o Estado quase ao pon- de mentalidade que leve a pessoa
to de eliminá-lo, ignorando as po- compreender que seu valor não es-
“Eis que estou líticas sociais de vital importância tá no ter, mas no ser, e que sua vi-
convosco todos os dias, para a maioria da população, favo- da se mede não por sua capacida-
até o fim dos tempos.” (Mt 28,20) rece o aumento das desigualdades e de de consumir, mas de partilhar.
Enche-nos de esperançosa alegria a concentração de renda em níveis
constatar o esforço de nossas comu- intoleráveis, tornando os ricos mais O crescente desemprego, outra
nidades e inúmeras pessoas de boa ricos à custa dos pobres cada vez chaga social, ao ultrapassar o pata-
vontade em testemunhar o Evange- mais pobres, conforme já lembra- mar de 13 milhões de brasileiros, so-
lho de Jesus Cristo, comprometidas va o Papa João Paulo II na Conferên- mados aos 28 milhões de subutili-
com a vivência do amor, a prática zados, segundo dados do IBGE, mos-
da justiça e o serviço aos que mais [8 OLUTADOR [ JUNHO 2019
necessitam. São incontáveis os si-
nais do Reino de Deus entre nós a
partir da ação solidária e fraterna,
muitas vezes anônima, dos que con-
somem sua vida na transformação
da sociedade e na construção da ci-
vilização do amor. Por essa razão,
a esperança e a alegria, frutos da
ressurreição de Cristo, hão de ser a
identidade de todos os cristãos. Afi-
nal, quando deixamos que o Senhor
nos tire de nossa comodidade e mu-
de a nossa vida, podemos cumprir o
que ordena São Paulo: ‘Alegrai-vos
sempre no Senhor! De novo o digo:

a Igreja no Brasil...

BRASILEIRO de fazer isso a um destes mais pe- tam o exercício da democracia par-
queninos, foi a mim que o deixas- ticipativa como os Conselhos pari-
tes de fazer”. (Mt 25,45.) É grave a tários devem ser incentivadas e va-
ameaça aos direitos dos povos in- lorizadas e não extintas como esta-
belece o decreto 9.759/2019.
dígenas assegurados na Constitui-
“Buscai em primeiro lugar
tra que as medidas tomadas para ção de 1988. O poder político e eco- o Reino de Deus e sua justiça.” (Mt 6,33)
combatê-lo, até agora, foram inefi- nômico não pode sobrepor-se a es- O Brasil que queremos emergirá do
cazes. Além disto, é necessário pre- ses direitos sob o risco de violação comprometimento de todos os bra-
servar os direitos dos trabalhadores da Constituição. sileiros com os valores que têm o
e trabalhadoras. O desenvolvimento Evangelho como fonte da vida, da
que se busca tem, no trabalho dig- A mercantilização das terras in- justiça e do amor. Queremos uma
no, um caminho seguro desde que dígenas e quilombolas nasce do de- sociedade cujo desenvolvimento pro-
se respeite a primazia da pessoa so- sejo desenfreado de quem ambicio- mova a democracia, preze conjun-
bre o mercado e do trabalho sobre na acumular riquezas. Nesse con- tamente a liberdade e a igualdade,
o capital, como ensina a Doutrina texto, tanto as atividades minera- respeite as diferenças, incentive a
Social da Igreja. Assim, “a dignida- doras e madeireiras quanto o agro- participação dos jovens, valorize os
de de cada pessoa humana e o bem negócio precisam rever seus con- idosos, ame e sirva os pobres e ex-
comum são questões que deveriam ceitos de progresso, crescimento e cluídos, acolha os migrantes, pro-
desenvolvimento. mova e defenda a vida em todas as
suas formas e expressões, incluído o
estruturar toda a política econômi- respeito à natureza, na perspectiva
de uma ecologia humana e integral.
ca, mas às vezes parecem somente Uma economia
apêndices adicionados de fora pa- As novas Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil,
ra completar um discurso político que coloca o lucro que aprovamos nesta 57ª Assembleia
sem perspectivas nem programas acima da pessoa, da CNBB, e o Sínodo para a Pan-Ama-
de verdadeiro desenvolvimento in- que produz exclusão zônia, a se realizar em Roma, em ou-
tegral”. (Papa Francisco, Evangelii e desigualdade social, tubro deste ano, ajudem no compro-
Gaudium, 203.) é uma economia misso que todos temos com a cons-
que mata, trução de uma sociedade desenvol-
A violência também atinge ní- como nos alerta vida, justa e fraterna. Lembramos
veis insuportáveis. Aos nossos ou- que “o desenvolvimento tem neces-
vidos de pastores chega o choro das sidade de cristãos com os braços le-
mães que enterram seus filhos jo- vantados para Deus em atitude de
vens assassinados, das famílias que oração, cristãos movidos pela cons-
ciência de que o amor cheio de ver-
perdem seus entes queridos e de to- o Papa Francisco dade – caritas in veritate - , do qual
das as vítimas de um sistema que procede o desenvolvimento autên-
instrumentaliza e desumaniza as (cf. EG 53). tico, não o produzimos nós, mas nos
é dado”. (Bento XVI, Caritas in Veri-
pessoas, dominadas pela indiferen- tate, 79.) O caminho é longo e exi-
gente, contudo não nos esqueçamos
ça. O feminicídio, o submundo das São emblemático exemplo disso os de que “Deus nos dá a força de lutar
e sofrer por amor do bem comum,
prisões e a criminalização daqueles crimes ocorridos em Mariana e Bru- porque Ele é o nosso Tudo, a nossa
esperança maior”. (Bento XVI, Ca-
que defendem os direitos humanos madinho com o rompimento das ritas in Veritate, 78.)

reclamam vigorosas ações em favor barragens de rejeitos de minérios. A Virgem Maria, mãe do Ressus-
citado, nos alcance a perseveran-
da vida e da dignidade humana. O As necessárias reformas políti- ça no caminho do amor, da justi-
ça e da paz.]
verdadeiro discípulo de Jesus terá ca, tributária e da previdência só se
APARECIDA, SP,
sempre no amor, no diálogo e na legitimam se feitas em vista do bem
7 DE MAIO DE 2019
reconciliação a via eficaz para res- comum e com participação popular
Fonte: CNBB
ponder à violência e à falta de segu- de forma a atender, em primeiro lu-

rança, inspirado no mandamento gar, os pobres, “juízes da vida demo-

“Não matarás”, e não em projetos crática de uma nação” (Exigências

que flexibilizem a posse e o porte éticas da ordem democrática, CNBB,

de armas. nº 72). Nenhuma reforma será etica-

Precisamos ser uma nação de mente aceitável se lesar os mais po-

irmãos e irmãs, eliminando qual- bres. Daí a importância de se cons-

quer tipo de discriminação, precon- tituírem em autênticas sentinelas

ceito e ódio. Somos responsáveis do povo as Igrejas, os movimentos

uns pelos outros. Assim, quando sociais, as organizações populares

os povos originários não são res- e demais instituições e grupos com-

peitados em seus direitos e costu- prometidos com a defesa dos direitos

mes, neles o Cristo é desrespeita- humanos e do Estado Democrático

do: “Todas as vezes que deixastes de Direito. Instâncias que possibili-

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]9

Igreja Hoje [ As palavras e os gestos do Papa Francisco têm incomodado

PE. RODRIGO FERREIRA DA COSTA, SDN* Papa
Francisco:
PALAVRA QUE INCOMODA. amor e valentia
Gestos que “desorbitam”.
Vida profética. Testemu- perança de um novo céu e de uma pada com a questão ecológica e em
nho evangélico. Coragem nova terra. Sua formação jesuítica saída... Essa nova agenda sacudiu
para mudar, sair, avançar. o fez o homem do discernimento. as estruturas da Igreja, pois é um
O Papa Francisco, com seus gestos e Por isso, ao tratar das questões mais convite a “sair da própria comodi-
palavras, tem-se demonstrado um complexas da vida da Igreja, ele tem dade e ter a coragem de alcançar
verdadeiro profeta do nosso tempo. preferido o prudente discernimen- todas as periferias que precisam da
Um homem vindo do “fim do mun- to que leva em conta cada realida- luz do Evangelho”. (EG, 20.)
do” (como ele mesmo disse no dia de na sua particularidade e contex-
de sua eleição para a Igreja de Ro- to, abrindo mão das condenações Sair da comodidade. Abando-
ma), com o sorriso aberto e a ousa- universais que não veem a pessoa nar as “estruturas caducas” que já
dia de um jovem ancião, tem sido na sua inteireza e circunstâncias. não servem mais para a evange-
para a Igreja e para o mundo uma lização. Fazer com que a pastoral
voz profética que denuncia o mal das Outro gesto profético de Fran- ordinária em todas as instâncias
guerras e das armas, toma a ban- cisco foi o de escolher morar na ca- seja mais comunicativa e aberta,
deira do cuidado com a nossa ca- sa Santa Marta, abdicando da so- que coloque os agentes pastorais em
sa comum, que exige da Igreja uma lidão do palácio papal para ficar atitude constante de “saída”... Eis o
atitude de constante saída, traba- mais próximo das pessoas; conti- grande desafio lançado por Fran-
lha incansavelmente pela paz que nuou usando os sapatos pretos; pe- cisco para toda a Igreja. Porém, o
é fruto da justiça, do respeito às di- diu para ser chamado de “Francis- próprio Papa reconhece que, para
ferenças e do reconhecimento com co” e, com este nome, trouxe para a cumprir essa nova agenda evan-
o outro como nosso irmão e irmã. Igreja uma nova agenda: uma Igre- gelizadora, a Igreja precisa aban-
ja próxima, ao lado dos pobres e re- donar o “cômodo critério pastoral:
Contudo, o Papa Francisco, co- fugiados, misericordiosa, preocu- ‘fez-se sempre assim’” (cf. EG, 33).
mo todos os verdadeiros profetas,
têm encontrado resistências, sofri- [10 OLUTADOR [ JUNHO 2019
do críticas e perseguições de gru-
pos ou pessoas que preferem “agir
como peritos em diagnósticos apo-
calípticos ou juízes sombrios que
se comprazem em detectar qual-
quer perigo ou desvio, a serem men-
sageiros alegres de propostas al-
tas, guardiães do bem e da beleza
que resplandecem numa vida fiel
ao Evangelho” (cf. Papa Francisco,
Evangelii Gaudium, 168).

Francisco:
um Papa latino-americano
Quando foi anunciado que o Car-
deal Bergoglio era o novo Bispo de
Roma, todos perguntavam perple-
xos: “quem é este homem?”, “donde
ele veio?” O Papa Francisco é latino
-americano! Não só de nascimento,
mas também no seu modo de ser
Igreja. Ele bebeu nas fontes da ex-
periência viva de uma Igreja pro-
fética, que fez opção pelos pobres,
uma Igreja comprometida com a
justiça social, que denuncia o peca-
do da exclusão, que vive um “eterno
martírio” sem perder, porém, a es-

muita gente fora e dentro da Igreja...

Pois “assim se gera a maior amea- senhor. Para o discípulo, basta ser ma quando olharmos para as pri-
ça, que é ‘o pragmatismo cinzen- como o seu mestre, e para o servo, meiras comunidades cristãs des-
to da vida cotidiana da Igreja, na ser como o seu senhor. Se ao do- critas nos Atos dos Apóstolos (11,19-
qual aparentemente tudo procede no da casa chamaram de Beelze- 26): no momento em que a persegui-
dentro da normalidade, mas na bu, quanto mais ao pessoal da ca- ção se desencadeia, também se de-
realidade a fé vai-se deteriorando sa!” (Mt 10,24-25.) sencadeia a missão da Igreja. Neste
na mesquinhez’. Desenvolve-se a sentido, podemos dizer que as per-
psicologia do túmulo, que pouco a Quiçá, já percebendo a reação seguições sofridas pelo Papa Fran-
pouco transforma os cristãos em dos “inimigos da cruz de Cristo” (cf. cisco, além de fazerem parte da vi-
múmias de museu”. (EG, 83.) Talvez Fl 3,18) que se escondem por detrás va da Igreja, pois a “barca de Pedro”
isso explique em parte as críticas de aparências de religiosidade e até sempre foi agitada pelas tempes-
sofridas pelo Papa Francisco, pois mesmo de amor à Igreja, para bus- tades e ventos contrários, confir-
“há cristãos que parecem ter esco- car, em vez da glória de Deus, a gló- mam o seu profetismo e a sua mis-
lhido viver uma eterna Quaresma ria humana e o bem-estar pessoal sionariedade.
sem Páscoa”. (EG, 6.) (cf. EG, 93), o Papa Francisco afirma:
O grande teólogo do século XX,
O profeta incomoda “prefiro uma Igreja aciden- Karl Rahner, já terminando sua car-
As palavras e os gestos do Papa Fran- tada, ferida e enlameada reira, disse que gostaria de “ter mais
cisco têm incomodado muita gen- por ter saído pelas estra- amor e valentia”. Duas palavras que
te fora e dentro da Igreja. Não que o das, a uma Igreja enfer- resumem o ministério de Francis-
Papa tenha trazido grandes novida- ma pelo seu fechamento co como Bispo de Roma: amor e va-
des em seu discurso, mas o seu jeito e pela comodidade de se lentia. Um Papa humilde, humano,
acolhedor, próximo, pobre, humilde agarrar às próprias segu- misericordioso, pobre com os po-
e alegre que procura “viver o Evan- ranças”. bres, porém ousado e corajoso, que
gelho sem glosa”, acaba por denun- não se deixa abater pelas críticas,
ciar aqueles (as) que querem “ser (EG, 49.) nem se cala por causa do barulho
cristãos, mantendo uma prudente dos acomodados no poder. Como
distância das chagas do Senhor. Mas E Francisco se inclui nessa Igre- dizia Dom Pedro Casaldáliga, “não
Jesus quer que toquemos a miséria ja que sai e que se fere na missão. te defendas. Depõe todas as armas.
humana, que toquemos a carne so- Aceita tranquilamente que te inter-
fredora dos outros”. (EG, 270.) Perce- Deste modo, poderíamos repetir pretem mal, ou que não te agrade-
be-se que a perseguição sofrida por com Francisco: preferimos um Pa- çam, ou que te ignoram. Este con-
Francisco é reflexo do seu profetis- pa acidentado, ferido e enlameado selho, tão compensador e tão difí-
mo e de sua fidelidade ao Evangelho. por ter saído pelas estradas, a um cil, somente sabem vivê-lo os que
Papa enfermo pelo seu fechamen- são livres na humildade e na paz”.
O próprio Jesus alertou aos seus to e a comodidade de se agarrar às
discípulos acerca dos perigos da próprias seguranças. Pois, a exem- Francisco é este homem livre
missão. Pois os verdadeiros profe- plo do pobrezinho de Assis que, na na humildade e na paz, por isso tem
tas nem sempre são aceitos por não busca de “restaurar” a Igreja, foi pe- sido para Igreja e para mundo um
se calarem diante da injustiça dos dir ao Papa da época a benção para sinal de esperança, uma voz que
poderosos que fere e mata a vida. “viver plenamente o Evangelho de grita no deserto da indiferença e
Mas Jesus chama de bem-aventu- Jesus Cristo”, o que o nosso Fran- da autorreferencialidade, e que nos
rados os perseguidos por causa do cisco tem feito e pedido não é ou- convida a uma nova etapa evange-
Evangelho: “Felizes sois vós, quan- tra coisa a não ser viver e anunciar lizadora marcada pela Alegria do
do vos injuriarem e perseguirem e, o Evangelho de Jesus sem muitas Evangelho (cf. EG, 1).]
mentindo, disserem todo mal contra explicações e justificativas.
vós por causa de mim. Alegrai-vos * Pe. Rodrigo, SDN é licenciado
e exultai, porque é grande a vossa A Igreja avança em Filosofia, bacharel em Teologia,
recompensa nos céus. Pois foi des- em meio às perseguições com especialização em formação
te modo que perseguiram os profe- Santo Agostinho dizia que a “Igreja para Seminários e Casa de Formação.
tas que vieram antes de vós”. (Mt avança em sua peregrinação atra- Mora atualmente na paróquia
5,11-12.) Por isso, Ele gostava sem- vés das perseguições do mundo e as São Bernardo em Belo Horizonte, MG
pre de repetir: não tenham medo! consolações de Deus”. Isso se confir-
Pois “o discípulo não está acima do
mestre, nem o servo acima do seu JUNHO 2019 [ OLUTADOR]11

Igreja Hoje [ O gigante redator
de construir pontes

Sínodo da Amazônia:

bom momento para refletir
sobre sacramentos
e cultura
T R AV I S K N O L L*
ca no tocante ao significado do sa- sobre o significado do sacramento,
OSÍNODO sobre a Amazônia cramento da Eucaristia. considerado central na fé cotidia-
tem gerado polêmicas no na dos católicos. Por um lado, es-
campo político por causa Pode-se usar hóstia tudiosos mais flexíveis, como o je-
das pautas que parecem que não seja de trigo? suíta Pe. Francisco Taborda, da FA-
chocar-se com as priori- A possibilidade de substituir o tri- JE-BH, argumenta que fatores cli-
go pela mandioca (ou macaxeira), máticos fazem com que o uso do
dades do atual governo nos temas na preparação da hóstia, tem ge- trigo diminua a frequência do sa-
rado uma polêmica internacional cramento, pois a hóstia se deteriora
do meio ambiente e da preservação
[12 OLUTADOR [ JUNHO 2019
das matas e áreas de reservas. Mas

o Sínodo pode gerar outra polêmi-

do jornal O Lutador, Pe. Paschoal Rangel, em 1988, falou da necessidade
conectando países apesar de sua história e formação...

devido à grande umidade na época houvesse teólogos e sacerdotes pe- ventura Kloppenburg, que em 1961
da chuva. Como o tema é em parte dindo a investigação do Papa Fran- tinha enfatizado os aspetos de ido-
teologia e ecologia, faz sentido es- cisco por heresia no seu diálogo com latria no Candomblé, procurasse
sa reflexão. Para ele, o importante outras religiões e culturas, tanto enfatizar as possibilidades de apro-
é que seja pão, o ingrediente (trigo quanto pela sua chamada para um ximação entre cristianismo e Um-
ou mandioca) é acidental, portan- tratamento mais suave para os di- banda em 1968. O gigante redator
to, de menor importância. vorciados, homossexuais, bissexuais do jornal O Lutador, Pe. Paschoal
e transexuais. Rangel, em 1988, falou da necessi-
Outros, como cardeal Raymond dade de construir pontes conectan-
Burke (EUA) e Athanasius Schneider, Mas uma só citação de Tomás do países apesar de sua “história e
O.R.C. (Cazaquistão), falaram para de Aquino, por mais importante formação... realidade política, so-
a agência LifeSite que tal proposta que seja, não basta para concluir cial, econômica e geográfica tão di-
mudaria a essência do sacramen- um estudo profundo do tema, es- ferente” e “procurar uma resposta
to e implicaria criar uma “nova re- pecialmente em tempos tão dife- a esta problemática na teoria e na
ligião”. Estes, invocando a autori- rentes. As razões pelas quais Aqui- prática”. (Evangelização da Cultura,
dade de Santo Tomás de Aquino – no apoiou o uso de trigo e rejeitou o 30/10 e 5/11/1988, 2). Apesar de ser
e segundo o Papa Leão XIII o “apoio uso de outros ingredientes tem a ver um grande e conhecido crítico da
singular” da tradição católica (cf. com o significado de cada um dos Teologia da Libertação clássica tor-
Aeterni Patris, 17) - falam não só da outros ingredientes na época (por nada famosa no Brasil, ele apoiou a
essencialidade do pão como espé- exemplo: por serem duros, repre- “libertação cultural”, na qual o “có-
cie, mas do trigo como ingrediente sentavam a Lei antiga etc.), alguns digo evangélico” poderia “combi-
com igual importância. Mais ain- dos quais não são mais relevantes. nar-se e articular-se com códigos
da, porque Jesus usou trigo tanto de uma cultura determinada”, até
na instituição da Última Ceia quan- A questão da cultura até foi através da “nova linguagem ritual
to na referência à sua morte: “Se o abordada nos anos 1970 e 1980, e moral”, sempre que for combina-
grão de trigo não morrer...” (cf. Jo quando Paulo VI, respondendo da com “um árduo e prolongado
12,24; 1Cor 11,23-27. Summa Teolo- aos pedidos dos bispos afri- trabalho” de adaptar a cultura ao
gica, pergunta 74, Art. 3). canos, abordou o tema. De- Evangelho também. (Para começo
pois de ter apoiado o cresci- de conversa: Cultura e Evangeliza-
Essa divisão entre manter a in- mento de escritores e pensa- ção, Ibid.2).
terpretação tomística da fé e buscar dores africanos na sua carta
inovações pastorais não se detém Africae Terrarum (1967), con- Será que hostia de mandioca
na questão dos sacramentos, pois vocou uma reunião de bispos não é mais Eucaristia? Ou os fato-
afeta a prática cristã em outros as- - um sínodo não muito dife- res climáticos justificam o uso de
pectos do nosso dia a dia religioso. rente do de hoje - em 1974. um material mais durável? Até que
É um debate que provém das pri- ponto reconhecer o que há em co-
meiras sessões do próprio Concílio Depois, emitiu um documento, mum entre cristãos e pessoas de ou-
Vaticano II, quando o franciscano e a Evangelii nuntiandi (1975), escla- tras religiões e civilizações (no caso
perito do Concílio Frei Boaventura recendo a relação entre cultura e da Amazônia, os povos indígenas)
Kloppenburg criticou os padres con- Evangelho. O Papa notou a “ruptu- seria uma negação das nossas di-
ciliares, “obsessionados pela orto- ra” inevitável entre alguns traços ferenças? Ou, por outro lado, seria
doxia na doutrina, sempre ansiosos culturais e a mensagem do Evange- uma oportunidade para aprofun-
por denunciar e condenar erros”; lho. Depois advertiu para o fato de darmos mais o nosso verdadeiro
“contra a reforma da missa... con- que a “edificação do reino não pode sentido de ser cristãos? Eu não te-
tra a comunhão sob duas espécies... deixar de servir-se de elementos da nho as respostas immediatas a es-
contra a adaptação da Liturgia às civilização e das culturas humanas” tas perguntas, mas é mister que o
várias culturas... contra a ação co- (EN, 20.) E condenou “situações de debate sobre a Eucaristia receba a
legial dos Bispos também fora do neocolonialismo econômico e cul- devida atenção e seja tratado com
Concilio Ecumênico e fora do âmbito tural, por vezes tão cruel como o ve- seriedade no Sínodo da Amazônia,
da própria diocese, contra a promo- lho colonialismo político”. (EN, 30.) pois esta questão não implica ape-
ção dos leigos na base do sacerdócio nas a hóstia em si, mas está no ei-
universal e dos possíveis carismas Estes posicionamentos fizeram xo mesmo da fé católica.]
do Espírito Santo”. (Concílio Vati- com que teólogos como Frei Boa-
cano II, Vol. III Segunda sessão, 9.) * Doutorando em história pela Duke Univer-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]13 sity – EUA. Concentração na área da Histó-
Hoje, olhando esta lista de ca- ria da Igreja, Cultura e Política.
racterísticas, não é de admirar que

FREI CARLOS MESTERS, OFM Bíblia [ Observamos a Lei, não para merecer a

Interpretar
JESUS NOS AJUDA a interpretar e ex- Da Leeui dse
plicar a Lei de Deus. Por cinco vezes
ele repetiu a frase: “Antigamente
foi dito, eu, porém, lhes digo!” (Mt
5,21.27.33.38.43.) Na opinião de alguns
fariseus, Jesus estava acabando com
a lei. Mas era exatamente o contrário.

Mateus 5,31-32: a questão do divórcio
Ao homem era permitido dar uma certidão de divórcio
para a mulher. Jesus dirá no Sermão da Comunidade

que Moisés o permitiu por causa da dureza do coração [3/3]
do povo (cf. Mt 19,8). “Eu, porém, lhes digo: todo aquele
que se divorcia de sua mulher, a não ser por causa de
fornicação, faz com que ela se torne adúltera; e quem

se casa com a mulher divorciada, comete adultério”.

Muita discussão já foi feita em torno deste as-

sunto. Baseando-se nesta afirmação de Jesus, a Igre-

ja oriental permite o divórcio no caso de “fornicação”,

isto é, de infidelidade. Outros dizem que, aqui, a pa-

lavra fornicação traduz um termo aramaico ou he-

braico “zenuth”, que indicava um casamento dentro

de um grau parentesco proibido. Não seria um casa-

mento válido.

Qualquer que seja a interpretação correta des-

ta palavra, o que importa é ver o objetivo e o sentido

geral das afirmações de Jesus na nova leitura que ele

faz dos Dez Mandamentos. Jesus aponta um ideal que

deve estar sempre diante dos meus olhos. O ideal úl-

timo é este: “ser perfeito como o pai de céu é perfei-

to”. (Mt 5,48.) Este ideal vale para todos os manda-

mentos revistos por Jesus. Na releitura do manda-

mento “não cometer adultério“, este ideal se traduz

na total e radical transparência e honestidade entre

marido e mulher. Ninguém nunca vai poder dizer:

“Sou perfeito como o Pai do céu é perfeito”. Estare-

mos sempre abaixo da medida. Nunca vamos poder

merecer o prêmio pela nossa observância que sem-

pre será abaixo da medida. O que importa é manter-

[14 OLUTADOR [ JUNHO 2019

salvação, mas para agradecer de coração...

❝Ninguém Mateus 5,34-36:
nunca vai poder dizer: mas eu digo:
não jurar nunca
“Sou perfeito como Jesus quer sanar esta deficiência.
o Pai do céu é perfeito”. Não basta “não jurar falso”. Ele vai
mais além e afirma: “Eu, porém,
Estaremos lhes digo: não jurem de modo al-
sempre abaixo gum; nem pelo Céu, porque é o tro-
no de Deus; nem pela terra, por-
da medida. ❞ que é o suporte onde ele apoia os
pés; nem por Jerusalém, porque é
se na caminhada, manter o ideal cumprir os seus juramentos pa- a cidade do grande Rei. Não jure
diante dos olhos, sempre! ra com o Senhor (cf. Nm 30,2). Na nem mesmo pela sua própria ca-
oração dos salmos, se diz que só beça, porque você não pode fazer
Mas ao mesmo tempo, como Je- pode subir a montanha de Javé e um só fio de cabelo ficar branco
sus, devemos saber aceitar as pes- chegar no lugar santo “aquele que ou preto”. Faziam juramento pelo
soas com a mesma misericórdia tem mãos inocentes e coração puro, céu, pela terra, pela cidade de Je-
com que ele aceitava as pessoas e que não confia nos ídolos, nem faz rusalém, pela própria cabeça. Je-
as orientava para o ideal. Por isso, juramento para enganar” (Sl 24,4). sus mostra que tudo isto é remédio
certas exigências jurídicas da Igreja O mesmo é dito em vários outros que não cura a doença da falta de
hoje, como não permitir a comunhão lugares do AT (Ecl 5,3-4), pois de- transparência no relacionamen-
a pessoas que vivem em segundas ve-se poder confiar nas palavras to entre as pessoas. Qual é a solu-
núpcias, parecem mais com os fari- do outro. ção que ele propõe?
seus do que com a atitude de Jesus.
Ninguém aplica ao pé da letra a ex- Para favorecer esta confiança Mateus 5,37:
plicação do mandamento “não ma- mútua, a tradição tinha inventa- o sim seja sim,
tar”, onde Jesus diz que todo aque- do a ajuda do juramento. Para dar e o não seja não
le que chama seu irmão de idiota força à sua palavra, a pessoa jura- A solução que Jesus propõe é esta:
merece o fogo da geena (cf. Mt 5,22). va por alguém ou por algo que era “Diga apenas ‘sim’, quando é ‘sim’;
Pois, neste caso, todos já teríamos maior do que ela e que poderia vir e ‘não’, quando é ‘não’. O que você
viagem garantida até lá e ninguém a castigá-la caso ela não cumpris- disser além disso, vem do Malig-
se salvaria. Por que a doutrina nos- se o que prometeu. E assim é até no”. Ele propõe a total e radical ho-
sa usa medidas diferentes no caso hoje. Tanto na Igreja como na so- nestidade. Nada mais do que isto.
do quinto e do nono mandamento? ciedade, há momentos e ocasiões Aqui, novamente, aqui somos con-
em que se exigem juramentos so- frontados com um objetivo que fi-
Mateus 5,33: lenes das pessoas. No fundo, o ju- cará sempre na nossa frente e que
foi dito aos antigos: não jurar falso ramento é a expressão da convic- nunca chegaremos a cumprir to-
A lei do AT dizia: “não jurar falso”. ção de que nunca se pode confiar talmente. É outra expressão do no-
E acrescentava que a pessoa deve inteiramente na palavra do outro. vo ideal de justiça que Jesus pro-
põe: “ser perfeito como o Pai celes-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]15 te é perfeito”. (Mt 5,48.)

Jesus elimina pela raiz qualquer
tentativa de eu criar em mim a con-
vicção de que me salvo pela minha
observância da lei. Ninguém pode-
rá merecer a graça de Deus. Já não
seria graça. Observamos a Lei, não
para merecer a salvação, mas pa-
ra agradecer de coração a imensa
bondade gratuita de Deus que nos
acolhe, perdoa e salva sem mereci-
mento algum da nossa parte.]

Fonte: cebi.org.br

Família [ Esperança e alegria...

RUI SARAIVA — PORTO, PORTUGAL

Na família e
na comunidade,

os jovens são o

“agora de Deus”

“Christus Vivit”: o Papa Francisco pede

aos jovens que colaborem com a comunidade

“VÓS SOIS O AGO- em esperança e alegria.
RA DE DEUS”, afir-
ma o Santo Pa- Refere ainda que “outros jovens, frequentemente causa de incom-
dre no capítulo por causa da sua fé, têm dificulda- preensão e alheamento da Igreja”,
III da Exortação, de em encontrar um lugar nas suas pois é sentida como um espaço de
interpelando a Igreja a abandonar sociedades e sofrem vários tipos de julgamento e condenação.
“esquemas rígidos” e a abrir-se “à perseguição, que vai até à morte”.
escuta pronta e atenta dos jovens”. Francisco assinala ainda os jovens O Santo Padre refere na sua
É este o método que o Papa propõe que são levados para o mundo do Exortação os progressos da ciên-
para criar empatia com os jovens. crime, da violência, da droga e do cia e das tecnologias biomédicas,
Um modo de relação que “permite terrorismo. em particular o desenvolvimen-
que os jovens deem a sua colabo- to das neurociências, assinalan-
ração à comunidade, ajudando-a “Não podemos ser uma Igreja que do, contudo, que estas “levantam
a individuar novas sensibilidades não chora à vista destes dramas dos questões antropológicas e éticas”.
e a colocar-se perguntas inéditas”. seus filhos jovens” – escreve o Papa. “Podem levar-nos a esquecer que
“Não devemos jamais habituar-nos a vida é um dom, que somos seres
Jovens dum mundo em crise a isto, porque quem não sabe cho- criados e limitados, podendo fa-
Na reunião de outubro de 2018, os rar, não é mãe. Queremos chorar cilmente ser instrumentalizados
Padres Sinodais assinalaram, com para que a própria sociedade seja por quem detém o poder tecnoló-
tristeza, que “muitos jovens vivem mais mãe, a fim de que, em vez de gico” – escreve o Papa.
em contextos de guerra e padecem matar, aprenda a dar à luz, de modo
a violência numa variedade incon- que seja promessa de vida” – decla- O ambiente digital
tável de formas: raptos, extorsões, ra o Santo Padre na sua Exortação. Francisco dedica especial atenção,
criminalidade organizada, tráfico no capítulo III da sua Exortação, ao
de seres humanos, escravidão e ex- Desejos, feridas e buscas ambiente digital no qual vive ho-
ploração sexual” – recorda o Papa “Os jovens reconhecem que o corpo je mergulhada a humanidade. Ca-
no seu texto. e a sexualidade são essenciais para racteriza e esclarece. Pondera e re-
a sua vida e para o crescimento da flete: “em muitos países, a web e as
sua identidade” – escreve o Papa, redes sociais já constituem um lu-
recordando que “a moral sexual é gar indispensável para se alcançar

[16 OLUTADOR [ JUNHO 2019

e envolver os jovens nas próprias que vivem situações de “pobreza deixando de salientar a sua “mons-
iniciativas e atividades pastorais” extrema”. truosidade” quando estes são fei-
– escreve o Papa sobre o ambiente tos por pessoas “da Igreja”.
digital, não deixando de lembrar “Os jovens que migram experi-
aspectos muito negativos como a mentam a separação do seu contex- Francisco aponta, em particu-
dark web, o cyberbullying e a difu- to de origem e, muitas vezes, tam- lar, o problema do clericalismo: “O
são de pornografia na web. bém um desenraizamento cultural clericalismo é uma tentação per-
e religioso” – diz o Santo Padre. “A manente dos sacerdotes, que in-
Em particular, Francisco re- fratura tem a ver também com as terpretam o ministério recebido
corda o documento do pré-Síno- comunidades de origem, que per- mais como um poder a ser exerci-
do, preparado por mais de 300 jo- dem os elementos mais vigorosos do do que como um serviço gratui-
vens de todo o mundo, que indi- e empreendedores, e com as famí- to e generoso a oferecer; e isto leva
ca o seguinte: “Os espaços digitais lias, particularmente quando migra a julgar que se pertence a um gru-
não nos deixam ver a vulnerabi- um ou ambos os progenitores, dei- po que possui todas as respostas e
lidade do outro e dificultam a re- xando os filhos no país de origem”. já não precisa de escutar e apren-
flexão pessoal. Problemas como a Para o Papa “a Igreja tem um papel der mais nada” – escreve o Papa.
pornografia distorcem a percepção importante como referência para os
que o jovem tem da sexualidade jovens destas famílias divididas”. O Santo Padre afirma ainda
humana. A tecnologia usada des- que o “clericalismo expõe as pes-
ta maneira cria uma realidade pa- Contudo, segundo Francisco, soas consagradas ao risco de per-
ralela ilusória que ignora a digni- é preciso também refletir derem o respeito pelo valor sagrado
dade humana”. O Papa lembra no sobre as migrações, não e inalienável de cada pessoa e da
seu texto que é importante que os esquecendo que são elas sua liberdade”. Francisco conside-
jovens “consigam passar do con- histórias de “encontro entre ra que “este momento sombrio” po-
tacto virtual a uma comunicação pessoas e entre culturas”. derá vir a ser uma “oportunidade”
boa e saudável”. Um encontro que é uma para uma “reforma” histórica que
“oportunidade de enrique- permita “purificação e mudança” e
Os migrantes como cimento e desenvolvimento uma “renovada juventude” à Igreja.
paradigma do nosso tempo humano integral de todos” –
O Santo Padre, na sua Exortação, afirma o Papa, que lança um Há um caminho de saída
volta a lembrar o problema das mi- apelo: “Peço especialmente Para o Papa, há um caminho de
grações, revelando que a preocupa- aos jovens que não caiam nas saída para os jovens e para a Igre-
ção da Igreja volta-se para “aqueles redes de quem os quer contrapor ja. Não obstante o risco de o mun-
que fogem da guerra, da violência, a outros jovens que chegam do digital nos fechar em nós pró-
da perseguição política ou religio- aos seus países, fazendo-os prios, o Santo Padre lembra a ca-
sa, dos desastres naturais”. Espe- ver como sujeitos perigosos pacidade criativa dos jovens.
cial atenção do Papa para aqueles e como se não tivessem a
mesma dignidade inalienável “Não deixes que te roubem a
de todo o ser humano” – declara esperança e a alegria” – escreve
Francisco na sua Exortação Francisco, afirmando que “ser jo-
aos jovens. vem não significa apenas procu-
rar prazeres transitórios e suces-
Acabar com todas sos superficiais. Para a juventude
as formas de abuso desempenhar a finalidade que lhe
O Papa faz uma referência aos abu- cabe no curso da vida, deve ser um
sos sexuais contra menores, não tempo de doação generosa, de ofer-
ta sincera, de sacrifícios que cus-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]17 tam, mas tornam-nos fecundos”.

Os jovens são o “agora de Deus”,
afirma Francisco no cap. III da sua
Exortação Apostólica “Cristo Vive”,
pedindo que a Igreja se abra à es-
cuta dos jovens, criando com eles
relação e permitindo, assim, que
os jovens deem a sua colaboração
à comunidade.]

Fonte: V tic n News

Catequese [ Condolência...

A igreja queimada

VÍCTOR CODINA veis a outras questões sociais..., ropa de hoje, uma Europa de gran-
aparecem algumas questões fun- de bem-estar econômico, mas ao
AINDA estamos chocados e damentais. mesmo tempo mantendo grandes
emocionados com o ter- diferenças sociais; uma Europa com
rível incêndio de Notre A igreja de Notre Dame queima- um passado colonial e um presen-
Dame, em Paris, sím- da simboliza um tipo de sociedade te que fecha portos e portas para o
bolo da arte, da cultura, e de Igreja medieval francesa e de imigrante e vende armas para paí-
da história e da fé cris- uma Europa com profundas raízes ses em guerra, armas que matam
tã da França e da Euro- cristãs que já desapareceram. Hoje crianças; uma Europa responsável
pa, um fogo devorador que teve um a situação mudou radicalmente: a pela mudança climática, mas que
eco global. Era impressionante ver França é agora um país de missão e não age com firmeza para defen-
a torre cair enquanto o povo pari- a Europa Ocidental vive um rápido der a terra etc.
siense contemplava horrorizado a processo de secularização, excultu-
catedral em chamas, alguns cho- ração da fé cristã, pluralismo reli- Reconstruir Notre Dame, em par-
rando, outros ajoelhados, rezando gioso, indiferença, agnosticismo e te, é adequado porque todo senti-
e cantando. um ateísmo pós-moderno. mento cultural e religioso necessi-
ta de símbolos concretos e visíveis
A reação de condolência e so- Reconstruir a igreja ou a fé? de transcendência, mas não pode-
lidariedade global e o interesse Reconstruir Notre Dame não re- mos esquecer que a Igreja não é for-
em sua reconstrução são muito presenta um problema puramen- mada por templos de pedra, mas
compreensíveis. Porém, além das te arquitetônico, mas nos obriga a pelas pedras vivas das comunida-
questões técnicas de arquitetura e nos perguntar se queremos ape- des cristãs seguidoras de Jesus de
as críticas dos setores populares, nas reconstruir um monumento Nazaré, que é o único e verdadeiro
vendo que grandes fortunas rapi- do passado medieval da Igreja de templo de Deus. A nova Notre Dame
damente fizeram grandes doações, Cristandade do segundo milênio, não deveria se reduzir a converter-
enquanto eles têm sido insensí- ou se, nesta ocasião, é necessário se em um histórico museu de arte
que os cristãos nos interroguemos e de cultura para os turistas de to-
sobre o sentido da fé cristã na Eu- do o mundo.

[18 OLUTADOR [ JUNHO 2019

E a imagem de Notre Dame em A igreja Semana Trágica parece nova para
chamas me fez pensar e me trou- de Notre Dame ele, um canto das catacumbas dos
xe à lembrança outras igrejas in- queimada simboliza primeiros cristãos. Ele acha que a
cendiadas em tempos de persegui- um tipo de sociedade missa deve ser sempre assim: por-
ção ou revolução política e social. e de Igreja medieval ta aberta para os pobres, os oprimi-
Concretamente, eu me lembrei das francesa e de dos, os desesperados, os odiados,
reflexões de Joan Maragall dian- uma Europa com para aqueles a quem foi fundada
te da igreja queimada durante a profundas raízes a Igreja, e não uma igreja fechada,
semana trágica em Barcelona, no cristãs que já nem “enriquecida por dentro, am-
ano de 1909. Sem querer entrar nas desapareceram. Hoje parada pelos ricos e poderosos que
causas e implicações sociopolíti- a situação mudou vêm para adormecer seu coração
cas da Semana Trágica (cf. Pregó, radicalmente: a na paz das trevas”.
Suplemento de verano de 2009), França é agora um
eu gostaria de trazer presente al- país de missão e a O fogo purificou a Igreja
gumas intuições do artigo de Ma- Europa Ocidental vive O fogo purificou a Igreja, restau-
ragall que ainda hoje me parecem um rápido processo rou o Cristo em sua casa. Entran-
atuais. de secularização, do nesta igreja queimada, pode-se
exculturação da fé encontrar a Cristo, que é verdade
Nunca tive uma missa cristã, pluralismo e vida. Não é necessário reedificá
como aquela religioso, indiferença, -la, nem colocar portas bem forra-
Quando o poeta e crente vai a uma agnosticismo e das de ferro, nem pedir a proteção
igreja incendiada e queimada no um ateísmo do Estado...
domingo, provavelmente do bairro pós-moderno.
de Gracia, ele escreve: “Eu nunca ti- É preciso ler todo o artigo de Ma-
nha ouvido uma missa como aque- os altares destruídos, ausentes, so- ragall, que recebeu os parabéns e
la. A nave da igreja descoberta, as bretudo o grande vazio negro onde a aprovação do Dr. Torres y Bages,
paredes queimadas e descascadas, estava o altar principal, o chão in- Bispo de Vic, que o exortou a não fi-
visível sob a poeira dos escombros, car em silêncio.
nenhum banco para sentar, e todos
em pé ou de joelhos diante de uma Não se pode fazer um paralelis-
mesa de madeira com um crucifi- mo fácil entre Notre Dame queima-
xo em cima, e uma torrente de sol da e a igreja queimada na Semana
que vem através do buraco no co- trágica em Barcelona, porém é vá-
fre, com uma multidão de moscas lida a intuição de Maragall, intui-
dançando na luz crua que ilumina- ção de não reconstruir a igreja an-
va toda a igreja e fazia parecer que terior, mas aproveitar a oportuni-
ouvíamos a Missa em plena rua”. dade não para restaurar a Igreja,
mas para reformá-la.
Para Maragall, aquela missa
depois da violência anticlerical da A Igreja Europeia deve purifi-
car-se e pedir perdão por seus peca-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]19 dos: cruzadas, inquisição, colonia-
lismo, patriarcalismo e clericalis-
mo, divisão entre cristãos, abusos
sexuais, aliança com os ricos etc.,
e converter-se na Igreja do Evange-
lho, na Igreja de Jesus de Nazaré, na
Igreja do povo de Deus e na Igreja
comunidade do Vaticano II, a Igre-
ja de Francisco: uma Igreja pobre
e com os pobres, em saída, hospi-
tal de campanha, alegre e pascal,
misericordiosa, que cuida da ter-
ra e comunica a todos a alegria do
Evangelho. (Trad. DMS)]

Fonte: cristi nismeijustici .net

Juventude [ Nossas comunidades têm assumido

FRT. DIONE AFONSO, SDN* “Christus Vivit”:

“CRISTO VIVE: é Ele a nossa Cristo vive
esperança e a mais bela e nos dá um
juventude deste mundo! coração
Tudo o que toca torna-se jovem, fi- a segui-lo. É preciso parar e ouvir.
ca novo, enche-se de vida. Por is- Parar e nos aproximar. Hoje, pare-
so as primeiras palavras que que-
ro dirigir a cada jovem cristão são semprece que essa proximidade está cada
estas: Ele vive e quer-te vivo!” (CV, vez mais escassa entre nós. “Quan- jovem!
1.) Com essas palavras o Papa Fran- tos de nós – afirma o Papa – já não
cisco inicia a sua Exortação Pós-Si- são jovens e precisam de ocasiões
nodal dirigida a todos os jovens do em que tenham próxima a voz e
mundo. Queremos aproveitar este o estímulo dos jovens. A proximi-
espaço em nossa Revista O Lutador
para publicar uma sequência de re- dade cria as condições para que a
flexões ligadas a esta Carta do Papa
Francisco para toda a Igreja. Igreja seja espaço de diálogo e tes-

Escuta e proximidade temunho de fraternidade que fas-
Nos quatro primeiros números, o
Papa já deixa traçado o caminho cina.” (CV, 38.)
que deseja percorrer nessa Exorta-
ção. A reflexão acerca dos jovens é As barreiras que ensurdecem pressas, os dois jovens devem ter
dirigida também a todo o povo de ido com um sorriso no rosto; eles,
Deus e aos pastores, porque “a re-
flexão sobre os jovens diz respei- Se não temos conseguido ouvir, há de fato, iriam conhecer Aquele de
to a eles, mas nos interpela a to-
dos nós”. (CV, 4.) A Exortação pós- algo que tapa, então, os nossos ou- quem ouviam falar: Jesus. O que
sinodal não se preocupou apenas
em trazer a lume os temas que o Sí- vidos. A subida de Emaús para Je- será que Ele tem a nos dizer? O que
nodo de 2018 levantou, mas o pon-
tífice deu ao documente um cará- rusalém provavelmente foi feita às será que vamos ouvir d’Ele? Como
ter mais abrangente e provocati-
vo, partindo da Palavra de Deus até [20 OLUTADOR [ JUNHO 2019
chegar ao tema do discernimento
e da vocação.

Vemos na caminhada dos dis-
cípulos de Emaús uma caminha-
da marcada pela decepção e tris-
teza. Os dois jovens foram a Jeru-
salém para ouvir aquele tal de “Je-
sus” falar às multidões. Imagine-
mos o quanto aqueles rapazes não
tinham ouvido falar de Jesus: seu
carinho e sua atenção para com to-
do o povo. E eles foram, “o chamado
à fé é um caminho coerente de vida
cristã ou de especial consagração é
um irromper discreto, mas forte,
de Deus na vida de um jovem, pa-
ra lhe oferecer o dom de seu amor”.

Essa saída dos dois jovens de
Emaús para Jerusalém é um cha-
mado de Deus. Deus é quem toma
a iniciativa, é Ele que nos chama

a postura de escuta atenta aos nossos jovens?

Ele é? Esse é o momento da escuta e de cristã; a dificuldade de a Igreja tivados de Emaús – de suas casas,
da proximidade. Lembramos tam- dar razão das suas posições dou- cidades, bairros, periferias – e so-
bém o encontro do anjo com Maria: trinais e éticas perante a socieda- bem animados, alegres e motiva-
“Não temas Maria, [...] conceberás de atual.” (CV, 40.) dos para chegarem a Jerusalém e
um filho, o darás à luz e o chama- se encontrarem com Jesus –, che-
rás Jesus”. (Lc 1,30-31.) Por uma Igreja jovem gam a nossas igrejas, capelas, co-
A Igreja é jovem e sempre o será, munidades, encontros, eventos, ce-
No Sínodo, os bispos se depara- muitos de nossos jovens revelam lebrações para ouvir o que nossos
ram com uma situação preocupan- uma fé verdadeira e fundada em pastores têm a dizer, e que possam
te: “um número de jovens alega que Jesus Cristo. São os jovens que têm neles encontrar ouvidos atentos a
a Igreja não os representa e não os a coragem de cobrar da Igreja uma escutar seus anseios.
ouve; aliás, alguns sentem-se irri- atitude de maior “escuta e que não
tados e a enxergam como uma pre- passe o tempo todo a assumir a ati- É preciso deixar para trás “a ten-
sença importuna”. Muitos fiéis, en- tude de condenar sempre o mundo dência de fornecer aos nossos jo-
tre eles grande número de jovens, e as pessoas”. Nossos jovens “não vens respostas pré-fabricadas e re-
percorrem animados e motivados desejam uma Igreja calada e tímida, ceitas prontas, sem deixar que as
“rumo à Jerusalém”, quer dizer, in- mas tampouco desejam que esteja perguntas juvenis na sua novidade
do à comunidade, ao grupo de jo- sempre em guerra por dois ou três somem à nossa experiência e, as-
vens, à participação da missa... bus- assuntos que a obcecam”. (CV, 41.) sim, revelem o que nossos jovens
cando ouvir o que Jesus tem a lhes interpelam a nós. Quando a Igreja
dizer, no entanto, quantos não re- O Papa afirma que, se nossas co- abandona esquemas rígidos e se
tornam decepcionados por não te- munidades ainda desejam que os abre à escuta pronta e atenta dos
rem encontrado o que buscavam. jovens voltem a crer nela, a buscar jovens, ela permite que os jovens
nela a verdade do Evangelho, pre- deem a sua colaboração à comu-
“Muitas vezes este pedido não cisam “recuperar a humildade de nidade”. (CV, 65.)
nasce dum desprezo acrítico e im- simplesmente ouvir, reconhecer”
pulsivo, mas mergulha as raízes e, até mesmo, aprender a viver o Para rezar e discutir em grupo
mesmo em razões sérias e respei- jeito jovem de ser. “Uma Igreja na - Nossas comunidades têm assu-
táveis: os escândalos sexuais e eco- defensiva, que perde a humildade, mido a postura de escuta atenta aos
nômicos; a falta de preparação dos que deixa de escutar, que não per- nossos jovens?
ministros ordenados, que não sa- mite ser questionada, perde a ju- Ou ela ainda cai na tentação de for-
bem reconhecer de maneira ade- ventude e transforma-se num mu- necer receitas prontas às suas an-
quada a sensibilidade dos jovens; seu.” Como poderá uma Igreja as- gústias?
pouco cuidado na preparação da ho- sim receber os sonhos dos jovens?
milia e na apresentação da Palavra * Religioso Sacramentino.
de Deus; o papel passivo atribuído Que saibamos acolher e nos apro- Graduando em Comunicação
aos jovens no seio da comunida- ximar destes jovens que saem mo- na PUC-Minas. [email protected]

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]21

PE. JACOB, MSF Encontro Matrimonial [ Compreender...

PARA NÓS, mediados por 21 sé- Apesar de
culos entre o anúncio da Eu- tudo
caristia e da realidade dos Vamos fazer
judeus dessa época, torna- um exercício le que os vossos pais comeram”,
se um tanto difícil a compreensão de sinceridade: isso porque, “eles morreram”. (Jo
mais exata e ampla de tudo o que, nós, cristãos 6,58.) Pelo contrário, “aquele que
então, estava acontecendo. do século XXI, come este Pão viverá para sem-
acreditamos pre”. (Jo 6,58.)
É mais que compreensível a rea- nesta pregação
ção dos ouvintes do Nazareno quan- Para os judeus essa linguagem
do Ele proclamava: “Eu sou o Pão da de Jesus? era realmente dura demais. Sua
Vida” (Jo 6,48), bem como: “Quem co- cultura lhes proibia comerem car-
mer desse Pão viverá eternamente” O Mestre, com toda a convic- ne ensanguentada, bem como be-
(Jo 6,51), e ainda por cima: “E o Pão ção, nos assegura: “Este é o Pão berem sangue. Imaginemos como
que eu darei é a minha carne da- que desceu do céu”. E, para confir- deve ter soado aos seus ouvidos
da para a vida do mundo” (Jo 6,51). mar, prossegue: “Não é como aque- essa pregação do Nazareno. Eles
Não foi por nada que eles reagiram: estavam acostumados a escutar
“Como é que Ele pode dar a Sua car- [22 OLUTADOR [ JUNHO 2019 essa norma desde sua mais ten-
ne a comer?” (Jo 6,52.) ra infância.

O interessante é que Jesus per- Vamos fazer um exercício de sin-
siste: “Em verdade, em verdade vos ceridade: nós, cristãos do século XXI,
digo, se não comerdes a carne do Fi- acreditamos nesta pregação de Je-
lho do Homem e não beberdes o Seu sus? Quem sabe, usamos algumas
sangue, não tereis a vida em vós”. artimanhas para amaciar tudo o
(Jo 6,53.) Pelo contrário, o Mestre que o Mestre falou.
confirma: “Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue tem a - Jesus Amado, vem em nos-
Vida Eterna, e eu o ressuscitarei no so auxílio para que, do anúncio à
último dia”. (Jo 6,54.) Isto porque “a aceitação, e desta para a vivência
minha carne é verdadeira comida de todo o teu ensinamento, possa-
e o meu sangue, verdadeira bebi- mos contar sempre com uma ati-
da”. (Jo 6,55.) tude humilde e confiante.]

Jesus insiste na importância de
não apenas aceitarmos essa reali-
dade, embora difícil de ser acolhi-
da, como o foi para os seus ouvin-
tes de então: “Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue perma-
nece em mim e eu nele”. (Jo 6,56.)

Essa permanência é definiti-
va. Eis porque o Nazareno assegu-
ra sem pestanejar: “Quem come a
minha carne e bebe o meu sangue
tem a Vida Eterna, e eu o ressusci-
tarei no último dia”. (Jo 6,54.)

Se aceitarmos, como devería-
mos fazê-lo, que a Eucaristia nos
une realmente a Jesus, então se evi-
dencia que a Ressurreição será uma
consequência natural desse proces-
so eucaristizante. Não é por nada
que Jesus assegura: “Como o Pai,
que vive, me enviou, e eu vivo por
causa do Pai, assim o que me come
viverá por causa de mim”. (Jo 6,57.)

Família Julimariana [ Compartilhando o amor...

IR. SOLANGE PEREIRA BARROS, SDN (Org.)

Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora

90 anos de história

Caminhando na esperança ra nós tornou-se realidade porque o universo e, juntas, fazem a expe-
A experiência espiritual da espe- acolhemos o seu chamado, sonha- riência do mistério do próprio Deus.
rança é o dom de trazermos o fu- mos nossa resposta e entregamos O amor entre as pessoas é o lugar
turo para o presente. Quando ex- a vida, na fidelidade ao nosso Sim. onde Deus se manifesta. O amor é o
pressamos esperança no que ain- sacramento universal da manifes-
da não alcançamos, antecipamos Padre Júlio Maria e Madre Bea- tação de Deus e da maior experiência
algo de bom que irá acontecer co- triz, escolhidos e enviados, se tor- d’Ele que os seres humanos fazem.
nosco. Confiança nos faz esperar naram sonhadores do Reino, cons-
ativamente! “Esperança é a palavra trutores de sonhos, como Jesus... E Caminhando na Esperança, cons-
que Deus escreve na testa de cada nasceu a Congregação Sacramen- truindo Sonhos, compartilhando
ser humano.” (Soren Kierkegaard.) tina... O sonho de Jesus, assumido Amor, faz parte da logomarca dos
pelos Fundadores, foi entregue a 90 anos de história Congregacional
Para Rubem Alves, a esperança nós, Irmãs Sacramentinas: viver a das Irmãs Sacramentinas de Nossa
é o oposto do otimismo. Otimismo espiritualidade missionária-euca- Senhora. Nestes 90 anos de história,
é quando, sendo primavera do lado rístico-mariana, no Amor e Sacrifí- sustentadas pela graça divina, vive-
de fora, é também primavera do la- cio, construir a comunhão, ser “um mos a nossa vocação, buscando ser
do de dentro. Esperança é quando, só coração, uma só alma”. resposta aos apelos de Deus. Foram
sendo seca absoluta do lado de fora, inúmeros os sinais de sua presen-
continuam as fontes a borbulhar Compartilhando amor ça, manifestados nesta caminhada
dentro do coração. Otimismo é ale- O amor é uma força que move. “O histórica! Temos muito a agradecer!
gria “por causa de”, coisa humana, amor é forte como a morte... Suas
natural. Esperança é alegria “apesar centelhas são centelhas de fogo, Padre Júlio Maria e Madre Ma-
de”, coisa divina. O otimismo tem uma chama divina.” (Ct 8,6.) Já ria Beatriz, em seu tempo, olharam
suas raízes no tempo. A esperan- que o amor é “uma faísca de Javé”, para o futuro com esperança. So-
ça tem suas raízes na eternidade. o próprio Deus parece necessitar mos também motivadas pelo teste-
do amor humano como de um es- munho deixado por nossos Funda-
Paulo Freire insistia que não se pelho em que ele próprio veja a sua dores a olhar para a Congregação,
pode confundir esperança do ver- imagem. Na experiência do amor para cada Irmã, para a missão que
bo “esperançar” com esperança do humano, as pessoas se revelam a assumimos na Igreja, sempre com
verbo “esperar”. Esperançar é se le- si mesmas, revelam um ao outro esperança. O que Padre Júlio Maria
vantar, é ir atrás; esperançar é cons- e Madre Beatriz nos diriam hoje?]
truir e não desistir. Esperançar é le- JUNHO 2019 [ OLUTADOR]23
var adiante, esperançar é juntar-se
com outros para fazer de outro mo-
do. Considerando tudo isso e a his-
tória da nossa Congregação, ao lon-
go destes 90 anos, concluímos que
a esperança alimenta a fé, move os
nossos passos, gesta o nosso futuro.

Construindo sonhos
“No princípio Deus criou o céu e a
terra.” Toda a Criação é o sonho de
Deus construído, tornado realidade.
“Façamos o homem à nossa ima-
gem e semelhança.” (Gn 1,26-27.) O
texto repete a imagem três vezes:
Ser imagem e semelhança de Deus!
Não foi assim a nossa experiência
vocacional?! O sonho de Deus pa-

DOM PAULO MENDES PEIXOTO* Espiritualidade [ Aprender...

AVIDA é processo de constru- vida, naquele que, em Jesus Cris- A irresponsabilidade nas ações
ção, porque ninguém nasce to, foi capaz de morrer como uma humanas pode causar consequên-
pronto. É a história trabalhada semente e nascer para a eterni- cias desastrosas. Grande parte dos
com critérios de humaniza- dade. É o humano que, em suas acidentes é causada por falhas hu-
ção, de evidência dos direitos e de- ações, consegue atingir a perfei- manas. Não investem o suficien-
veres, inerentes à pessoa humana. ção total e conquista a vitória da te para evitar catástrofes, como as
A capacidade para decidir define o vida no meio de variados cenários de Mariana e Brumadinho. Signi-
formato de vida dos indivíduos, fonte de morte. Só Deus é capaz de trans- fica que muita coisa de destruição
de satisfação ou de sofrimento. Os formar a morte das pessoas em vi- acontece porque as ações são carac-
critérios não podem ser apenas ra- da feliz para sempre. terizadas como desumanas, sem
cionais, mas fundamentados tam- sentido cristão do cuidado com o
bém numa dimensão sobrenatural. É fundamental próximo.
entender o aspecto
As ações humanas não se res- e a realidade da vida humana, Cada pessoa deve fazer uma
tringem simplesmente a palavras, autocrítica de seus atos. Há sem-
discursos e motivações infunda- de suas ações, pre a capacidade de mudança de
das. Elas vêm de dentro da pessoa para que o humano vida, de agir diferentemente, ca-
e têm identificação com seu pró- nalizando as próprias ações para
prio ser, sua identidade, e se ex- se torne divino. construir o bem, progredir sem-
teriorizam na prática concreta do pre mais e evitar a mediocridade.
bem construído. Normalmente a Existe um destino universal para Assim a pessoa se define a partir
pessoa é fruto do tipo de semente toda a Criação, que é chegar à plena de seus atos e relacionamentos,
que foi plantada e regada. Até di- realização da vida, mas não se con- constrói seu processo de vida e faz
zem que se conhece a árvore a par- segue isso praticando atos de des- encontro consigo mesmo, com os
tir do tipo de seus frutos. truição e disseminação da pessoa outros e com Deus.]
humana. Quem maquina e provo-
O que dá verdadeiro sentido pa- ca morte deverá enfrentar o julga- *Arcebispo de Uberaba, MG
mento final de Deus.
Açõesra a vida humana é a fé no Deus da
humanas

[24 OLUTADOR [ JUNHO 2019

Liturgia [ A Palavra...

FRT. MATHEUS R. GARBAZZA, SDN

ÉAGRADÁVEL degustar a narra- Liturgia,
tiva dos discípulos de Emaús ambiente da fé
no Evangelho de Lucas. Quem
de nós nunca se colocou no
lugar de um dos dois caminhantes
que tiveram Jesus como companhei-
ro, partilhando com ele a estrada,
a palavra e o pão? Do ponto de vis-
ta litúrgico, a cena da ceia (cf. Lc
24,29-33) é bastante emblemática.
Percebemos por ela que a explica-
ção das Escrituras forma um pano
de fundo insubstituível. Entretan-
to, os olhos se abrem durante a ceia
– quando todas as explicações ces-
sam. É partindo o pão abençoado que
o Mistério se desvela diante de nós.

Na celebração litúrgica aconte-
ce o mesmo. A catequese, conheci-
mento da Bíblia e da doutrina, é a
base de fé que permite o acesso à
participação sacramental. Sem isso
o coração não “arde”. Mas na litur-
gia tudo acontece por meio de ges-
tos e símbolos, isto é, ritualmente.

Pedagogia litúrgica a Deus, está impregnado dele em de da comunidade, evitando a todo
O teólogo Romano Guardini [1885- cada um dos mais simples elemen- custo os “ruídos celebrativos” que
1968], em sua obra-prima “O Espírito tos que compõem o todo: um gesto, denunciam a falta de harmonia.
da Liturgia”, considera com muito uma veste, um símbolo, uma ve-
cuidado essa realidade. Relembra que la, um hino, um som, um cheiro... Nesse sentido, precisamos valo-
a liturgia deve formar um profundo rizar sempre os ritos como elemen-
e propício “ambiente de fé”, que pos- É assim que podemos, então, tos salvíficos, como diz a Constitui-
sa fornecer as condições ideais pa- conceber uma pedagogia litúrgica. ção Sacrosanctum Concilium (nº 2).
ra que o cristão, participando dela, É como a de Jesus: há o momento Tudo o que compõe a celebração é
possa se aproximar cada vez mais de certo de conversar, de explicar, nar- importante e deve nos abrir à ante-
Deus. Contemplação do Mistério e rar, instruir. E há o tempo de silen- cipação daquela liturgia celeste que
impulso de fidelidade à práxis de Je- ciar, de sentar-se desinteressada- um dia viveremos diante do Cordei-
sus se unem no mesmo ato de culto. mente ao redor da mesa, saborear o ro, como diz a mesma Constituição
momento sem pressa de ir embora (nº 8). Mesmo aquilo que a princípio
Isso significa que a liturgia não ou sem a preocupação de dar con- parece secundário, menos impor-
é, em sentido estrito, didática. Não ta de um conteúdo. Naturalmen- tante ou detalhe, possui seu valor e
é confeccionada de forma a ensinar te, a partir disso, os olhos se abrem sua importância. Pensar o lado es-
lições, mandamentos, doutrinas. e a vida ganha um novo colorido. tético da liturgia liga-se diretamen-
O ano litúrgico não se pensa a mo- te a isso, lembrando que “a beleza
do de ementa acadêmica, mas de Consequências práticas não é um fator decorativo da ação
um grande espaço a partir do qual Que significa esta consciência da litúrgica, mas seu elemento cons-
se possa contemplar com proximi- liturgia como um “ambiente de fé”? titutivo, enquanto atributo do pró-
dade os eventos centrais da histó- Primeiramente que cada uma de nos- prio Deus e da sua revelação”. (Ben-
ria da salvação. sas celebrações deve ser preparada to XVI, Sacramentum Caritatis, 35.)
de forma a conduzir os participan-
A alma, na liturgia, não reco- tes a uma profunda experiência que Numa palavra, deixemos as ex-
nhece seu Senhor por simples trans- seja prazerosa, agradável, sensível. plicações para a catequese. Narre-
missão de conhecimentos, mas por- Pensar cada detalhe, na fidelidade à mos menos o que acontece na litur-
que aquele recorte do tempo-espa- tradição e de acordo com a realida- gia, e vivamos mais dentro desse ex-
ço que é a celebração pertence todo pressivo e intenso ambiente de fé.]
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]25

Atualidade [ Mais profundo está o Cristo à sua espera...

ANTÔNIO CARLOS SANTINI olha para a colega, fixa o olhar no sespero. Ele só pode cair em Deus,
padre-professor e declara: e Deus jamais desespera”.
CLAUDE RAULT, futuro Bispo do
Saara, na Argélia, lecionava – Muito bem! Se eu estiver no Não foi outra a experiência de
em um colégio para meninas. Céu e você no inferno, prometo que Dimas, o criminoso crucificado ao
Certo dia, na saída das au- eu irei descer ao inferno para te pro- lado de Jesus. Bastou um pedido:
las, quatro garotas árabes invadem curar! “Lembra-te de mim!” E foi ele, o la-
seu escritório com uma proposta: drão, o primeiro a roubar o Paraíso,
Claude Rault comenta: “Uma fechado desde Gênesis 3.
– Senhor, queríamos pedir-lhe pequena história, até parece insig-
uma coisa... nificante, mas está cheia de senti- Por incrível que possa parecer,
do para mim. Muito além de nos- muitos cristãos vivem toda a sua
O padre pensou que se tratas- sos dogmatismos, de nossas afir- vida sem descobrir este traço fun-
se de algo ligado aos assuntos das mações tranquilizantes, existe o damental da mensagem evangéli-
aulas e se prontificou. Amor! E só isto pode salvar o mun- ca: o amor supera tudo. A Boa Nova
do. Toda a mensagem do Evange- não foi anunciada para dividir os
Num ímpeto, a mais ousada lho está aí”. homens em fracos e fortes, san-
olha para ele e para as colegas, di- tos e pecadores, salvos e condena-
zendo em tom imperativo: O bispo católico do Saara argeli- dos. O maior dos mandamentos só
no cita Paul Evdokimov, teólogo or- fala de amor. Um amor que se es-
– Ashad, senhor! todoxo, que diz: “Por mais profundo tende aos dois eixos das relações
Em árabe, isto significava que que seja o inferno onde os homens humanas: amar a Deus, amar ao
o padre devia fazer a profissão de já se encontrem, ainda mais pro- próximo.
fé islâmica, tornar-se muçulma- fundo está o Cristo à sua espera. O
no. Ele, calmamente respondeu que que ele pede ao homem, não é a vir- E neste sentido, certamente,
respeitava os muçulmanos e o Islã, tude, o moralismo, a obediência ce- há muitos cristãos não batizados
mas já tinha feito uma opção pelo ga, mas um grito de confiança e de em todos os quadrantes do plane-
caminho de Jesus. amor lá no fundo de seu inferno. ta, misturados a outras crenças e
Despeitada, a garota fulminou: O homem jamais deve cair no de- outros credos...]
– Então, irás para o inferno!
Imediatamente, Nadjia, uma
das quatro meninas, se adianta,

o amQuoarnvdeonce
o inferno...

[26 OLUTADOR [ JUNHO 2019

Atualidade [ Reflexão...

CARLOS SCHEID NA FILA

ACENA DA FOTO ocorreu em
Curitiba, mas se repete em
todo o país. Ao anúncio de
vagas em novo empreendi-
mento, acorrem milhares
de desempregados. A fila se estende
como uma lagarta humana, dando
voltas pelos quarteirões. Homens
e mulheres, jovens e velhos, mães
com crianças no colo. É o cartão
-postal de uma nação com quase 13
milhões de desempregados.

Em 26 de março, noticia “O Glo-
bo”, “cerca de 15 mil pessoas forma-
ram uma fila em busca de uma vaga
de trabalho no centro de São Paulo,
no Mutirão do Emprego organizado

O POVO
pela Prefeitura e pelo Sindicato dos O homem na fila denuncia o sis- Eles continuam na fila. Seis ho-
Comerciários. Estão sendo ofere- tema que não lhe permite ganhar ras ou mais em pé. Muitos chega-
cidos seis mil postos de trabalho o pão da família. A mulher na fila ram de madrugada para conquis-
em diversos segmentos como te- acalenta uma esperança do mes- tar um lugar à frente. Alguns con-
lemarketing, operador de caixa e mo jeito que acalentou seus filhos seguirão a vaga sonhada. A maioria
atendente de loja. Pelo menos 30 no berço. Eles sabem que estão à não atenderá às exigências sempre
empresas participam da iniciativa”. margem, mas não perdem a espe- crescentes. Boa parte acaba desis-
rança de entrar... tindo. Os moradores de rua com-
São todos pobres. Rico não en- provam o fato.
tra em fila. Estão juntos, enfilei- As pessoas na fila deviam ser ir-
rados, reunidos pela necessidade, mãs, mas são competidoras. O sis- A mesma matéria do jornal cons-
essa entidade eminentemente de- tema as perverte desta maneira. O tata que “na região metropolitana
mocrática que acompanha a socie- sistema joga uns contra os outros, de São Paulo, 1,7 milhão de pessoas
dade humana ao longo da história. fecha os punhos, fecha as portas, estão desempregadas, segundo a
Entre eles, jovens que não conse- fecha os corações. pesquisa de Emprego e Desempre-
guem entrar no mundo do traba- go da Fundação Seade e Dieese. No
lho e idosos que já foram excreta- Nos centros de decisão, onde país, são mais de 12 milhões de de-
dos pelo mesmo mundo. são traçadas as políticas econômi- sempregados. Ainda de acordo com
cas e sociais, o assunto em ques- o Dieese, a taxa de desemprego to-
Que será que eles pensam en- tão é como ganhar mais dinhei- tal na Região Metropolitana de São
quanto esperam a fila andar? Ale- ro com o mínimo de empregados. Paulo subiu de 15,3% em janeiro pa-
gram-se por aqueles que conseguem Como fazê-los trabalhar mais, por ra 15,5% em fevereiro”.
a vaga? Ou torcem pelo insucesso mais tempo, com o mínimo de
do vizinho da frente: menos um? Ao gastos e de direitos. Como tro- Os homens na fila do emprego
mesmo tempo, outros desempre- cá-los por máquinas, esses fun- são os mesmos que passaram pela
gados veem na fila a oportunida- cionários de metal que não fa- fila dos eleitores. Ninguém se es-
de de ganhar uns trocados: - “Olha zem greve e se contentam com pante se, um dia, eles se cansarem
a água! Olha a água!” um pouco de graxa. de votar...]

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]27

Crônica [ Maria

Show
na Lua

HORA de agradecer a fartura
Que a boa terra lhes deu.
Chuva macia, sol bastante
Grande presente dos céus.
Primeiro, alma ajoelhada
Nos ladrilhos da igrejinha,
Lábios dizendo antigas palavras
De uma Ave-Maria.

Procissão de velas
Iluminando os caminhos,
Cânticos sobre os telhados
Do encantado lugarzinho.
Depois...
Outro jeito de rezar:
Junho reza cantando...
Junho reza dançando.
Junho reza poetando.

Deus sabe entender... Quando a terra está em festa - Olha a cobra no caminho!
Alegria é prece, Para agradecer uma bênção, - É mentira, é mentira!
Canto é reza, O céu abre as cortinas, - Balancê, balancê!
Dança é devoção Os anjos tomam lugar - Caminho da roça...
Amizade é ladainha Em poltronas de nuvens - Anarriê, anarriê!
Nascida no coração. Iluminadas pelo luar. - Olha a chuva no caminho!
- É mentira, é mentira, é mentira!
Jair do Quinzinho Alguém acende as estrelas, - Balancê, anarriê...
Já pôs fogo na fogueira, Alguém enche a lua de luz,
Tem batata-doce assada, Tiram o telhado da terra, Santo Antônio, Santo Antônio,
Mandioca e amendoim, O povo vai todo pra rua, Arranja um Bem para mim.
Tem melado com cará Assistir o belo show Amarra um Bem no meu peito,
E garapa pra esquentá... Na grande tela da lua. Com raminhos de alecrim!

Sô Onofre oferece as prendas, Babados dançam quadrilha, São Pedro, não fica bravo,
Para o povo arrematar, Aos gritos do Zé Barão, Porque na Terra é assim,
Frango-cheio, milho verde, Jogam o chapéu pra cima, Sei que o senhor é idoso,
Quitandas, pernil assado, - Viva, Viva São João!!! Não tem muita paciência
Tigelas de canjica, pamonhas... Com as rezas diferentes
- Quem vai levar? [28 OLUTADOR [ JUNHO 2019 Inventadas pelo povo.
- Quem vai levar?
- Dou-lhe uma, dou-lhe duas,
Dou-lhe três...
A prenda é aqui pro freguês...

Nosso Senhor entende, Até junho, minha gente, HUMOR
A Virgem Maria também, Venham de novo cantar,
Fica bonzinho, São Pedro, Terá novo show na lua, REAÇÃO IMEDIATA
Abra a porta do céu pra nós, Venham dançar na rua, - Acabaram de assaltar o boteco da
Amém. De Estrela do Indaiá. esquina!

A madrugada traz o sol, *** - E você não fez nada?
Fabricando no horizonte, - Fiz, sim... Eu gritei para o la-
Belas nuvens cor-de-rosa: E... se alguém achar um coração drão: “Leva o caderno do fiado!”
Está chegando a aurora, perdido em alguma saia godê, em
É hora de ir embora!!! algum babado de vestido de chita, FILOSOFIA POPULAR
ou rezando na igrejinha, guarde-o - Valorize as pessoas que ficam com
Cada um pega o caminho, para mim.... você em dia de tempestade, porque em
É hora de descansar! Ele é meu...] dia de sol qualquer praia fica cheia.
O céu fecha a cortina,
Os anjos já vão dormir JUNHO 2019 [ OLUTADOR]29 - Aos olhos de Deus, somos todos
iguais. Então, você também é feio...

- Quando cheguei aos 25, tro-
quei o bar pela farmácia. Só man-
tive o Engov.

- Chega um dia em que a gente
perde aquele que nos acompanha-
va a cada passo. Meu chinelo arre-
bentou...

- Estou nesta vida de passagem,
mas nada me impede de passar des-
filando...

- O feijão tá tão caro, mas tão
caro, que andar com casca de feijão
no dente não é mais vergonha... já
é ostentação!

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA
- Quando você fez a primeira tatua-
gem?

- Aos 7 anos.
- Quem fez?
- Foi mamãe...
- E o que dizia?
- Havaianas. 35-36...

COLHEITA IMPRÓPRIA
No hospício, dois papagaios do di-
retor, um vermelho e outro verde,
fogem do poleiro e se instalam no
galho de uma goiabeira, no pátio.
Solícito, um dos internos sobe na
árvore e traz o papagaio vermelho.
O diretor agradece:

- Muito bem, obrigado. Agora
traga o outro, por favor...

- É melhor esperar, doutor! – res-
ponde o maluco. Aquele lá ainda não
está maduro...

EFRÉM DE NISÍBIA Páginas que não passam [ Ser suficiente...

O DOM
inestimável
O
NO DESERTO, nosso Senhor mul- eram doces na boca, mas o dom de milagre
tiplicou o pão, e em Caná ele seu corpo e de seu sangue é útil ao não foi
mudou a água em vinho. As- espírito. Ele nos atraiu com coisas à medida
sim ele habituou a boca do agradáveis ao paladar, a fim de nos de seu poder,
povo a seu pão e seu vinho dirigir para o que vivifica as almas. mas da fome
até o dia em que lhe daria seu cor- Escondeu a doçura no vinho que dos famintos...
po e seu sangue. Fez com que pro- ele fez para indicar aos convivas o
vassem de um pão e de um vinho magnífico tesouro que está oculto do pela fome de milhares de pes-
transitórios para excitar neles o de- em seu sangue vivificante.
sejo de seu corpo e de seu sangue soas, o milagre a ultrapassou em
vivificantes. Num piscar de olhos, nosso Se-
nhor multiplicou um pouco de pão. sete cestos.
Ele deu-lhes liberalmente essas Da pequena quantidade de pão nas-
coisas miúdas para que eles soubes- ceu a multidão de pães. Os pedaços Em todos os artífices, o poder é
sem que o dom supremo seria gra- frutificaram por sua bênção. Assim
tuito, embora de inestimável valor. o Senhor demonstrou a seus discí- inferior ao desejo dos clientes. Eles
Se eles podiam pagar o preço do pão pulos o vigor penetrante de sua pa-
e do vinho, não poderiam pagar seu lavra, e a rapidez com que ele ou- não podem fazer tudo o que lhes
corpo e seu sangue. torgava seus dons a todos aqueles
que dela se beneficiavam. pedem os clientes. Mas com Deus,
Não somente ele nos cumulou
gratuitamente de seus dons, mas Ele não multiplicou o pão o tan- ao contrário, as realizações sem-
ainda nos paparicou afetuosamente. to que teria podido fazer, mas na
É que ele nos deu essas coisas miú- medida suficiente para os convivas. pre ultrapassam os desejos.
das gratuitamente para nos atrair, O milagre não foi à medida de seu
a fim de que fôssemos e recebêsse- poder, mas da fome dos famintos. Saciados no deserto, tal como
mos gratuitamente esta coisa tão De fato, se o milagre fosse à me-
grande que é a Ceia. Os pequenos pe- dida de seu poder, seria impossí- os israelitas com a oração de Moi-
daços de pão e o vinho que ele deu vel calcular seu resultado. Medi-
sés, eles descobriram um profeta se-
[30 OLUTADOR [ JUNHO 2019
melhante a Moisés. Também como

este, ele caminhou sobre as águas

do mar (Mc 6,49) e, da mesma for-

ma, apareceu na nuvem (Mc 9,7).

(Comentário do Diatessaron,
SC 121.)]

EFRÉM DE NISÍBIA [ca. 306-373 d.C.] nasceu
na Alta Mesopotâmia. Tornou-se monge da
Igreja Siríaca e depois, como diácono, ensi-
nou na grande escola teológica de Nisíbia.
Diante da perseguição persa, a escola foi
transferida para Edessa, onde Efrém per-
maneceu até a morte. Músico e poeta, ele
compôs numerosos hinos para sua Igreja,
bem como um comentário ao Diatessaron –
uma fusão dos 4 evangelhos composta por
Taciano em fins do Séc. II.

Roteiros Pastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33
Dinâmica para Grupo de Jovens 33
Catequese 34 • Homilética 36

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]31

Leitura Orante [ Uma urgência missionária...

“Amem-se 2. Qual a disposição de Pedro no se- Igreja acredita em uma maior parti-
uns aos guimento a Jesus? cipação de todos. Ela aposta no fun-
outros...” cionamento dos Conselhos de co-
3. O que Jesus responde a Pedro? munidade. Tanto nos Conselhos de
(Jo 21,16c) Pastoral como nos Conselhos Ad-
4. O que este texto tem a nos dizer, ministrativos. É nossa missão co-
Invocação à Trindade hoje? laborar para o bom funcionamen-
e Oração ao Divino to dos conselhos, participar ativa-
Espírito Santo C. O que o texto diz para nós mente deles. E, onde não existem,
L.2: No texto bíblico acima, Jesus bus- ou deixaram de funcionar, é preciso
A. Situando o texto ca fortalecer a comunhão entre os que sejam retomados e se tornem
L.1: Os primeiros cristãos já viviam discípulos. Ele os convida para uma verdadeiros canais de comunhão e
a experiência da ressurreição do Se- refeição que, podemos dizer, termi- participação na vida de comunida-
nhor. A ressurreição joga uma no- na em uma verdadeira Eucaristia. É de. Os conselhos ajudam a oxigenar
va luz sobre os acontecimentos. As- na comunidade que alimentamos a toda a vida da comunidade, favo-
sim, os fatos acontecidos durante a nossa vida cristã, o nosso seguimen- recem o serviço de evangelização.
convivência com Jesus ganham o to a Jesus Cristo. Aquele ambiente da Nossos grupos de reflexão da Bíblia
seu verdadeiro significado. A cruz, pescaria nos aponta para a missão. são um caminho para renovar to-
que era a pior condenação impos- da a nossa comunidade.
ta a uma pessoa, torna-se lugar da Jesus nos fez pescadores(as) de
glorificação. A Lei antiga foi supe- gente. Por isso, no diálogo com Pe- D. O que o texto nos faz dizer a Deus
rada por um mandamento novo. O dro, líder da comunidade, fica cla- (preces e orações)
seguimento a Jesus não está livre de ra a responsabilidade de cuidar das
falhas ou de limitações, mesmo da ovelhas. Quem ama a Jesus cuida a) Senhor, ensinai-nos a viver o man-
parte de seus discípulos mais próxi- da comunidade. Quem ama a Jesus damento do amor na nossa vida fami-
mos. Vamos, com calma e atenção, torna-se mais missionário. Nossa liar, comunitária e social. Rezemos:
ouvir o que o Senhor vem nos falar. vida só é cristã se for missionária.
Isso nos vem desde o batismo. Todos: Senhor, ensinai-nos a amar
Cantando: Palavra de Salvação, / so- de verdade!
mente o céu tem pra dar. / Por is- Cantando: Pelo batismo recebi uma
so, meu coração, / se abre para es- missão, / vou trabalhar para o Reino b) Senhor, que a reflexão da Palavra
cutar. (bis) do Senhor. / Vou anunciar o Evan- nos faça cada vez mais missioná-
gelho para os povos, / vou ser pro- rios. Rezemos:
B. O que o texto diz em si feta, sacerdote, rei, pastor.
Ler na Bíblia: João 13,31-35. c) Senhor, que tenhamos em nós a
Chave de Leitura: L.3: A renovação da nossa vida de mesma disposição de Pedro em vos
1. Qual o mandamento novo deixa- comunidade é uma urgência para seguir e anunciar a Palavra. Rezemos:
do por Jesus? todos nós. Não podemos cair na ro- (Outras preces espontâneas)
tina ou achar que basta ir à missa
para ser cristão. A vida em comu- E. O que o texto sugere
nidade se baseia na celebração da para o mundo, hoje
fé em comum, mas sobretudo no - O que podemos fazer para melho-
cumprimento do mandamento no- rar o funcionamento dos Conselhos
vo do amor. pastoral e administrativo em nos-
sa paróquia?
Jesus quer que aprendamos a
viver como irmãos, na Igreja e na F. Tarefa concreta
sociedade. Amar é ser solidário, ser Procurar saber o funcionamento
próximo, sobretudo dos mais sofri- dos conselhos pastorais em nossa
dos e necessitados. comunidade e paróquia.

Cantando: Eis-me aqui, Senhor! / Eis- Encerramento
me aqui, Senhor... Pai-Nosso, Ave-Maria e pedido de
bênção a Deus.]
L.4: Como sinal e expressão desta re-
novação da vida de comunidade, a

[32 OLUTADOR [ JUNHO 2019

Tudo em Família [ 66 – Pensar juntos...

Olhar para trás...

1. Coisas que acontecem Reclama de não ter roupas “de sair”, A imagem bíblica serve bem pa-
Estela e Mauro viveram os primei- de não irem a festas, de não fazerem ra ilustrar a situação do casal: tem-
ros anos do casamento em ótima si- turismo. Basta que o marido entre perada com o sal da amargura, a re-
tuação financeira. Dinheiro de so- em casa para ela recomeçar com as lação do casal perde sua vitalida-
bra, ela gastava seu tempo entre sa- queixas e palavras amargas. Mau- de e se encaminha para o desastre.
lões de beleza, festinhas e viagens. ro sofre com isso e sempre procura
Filhos eram apenas um projeto pa- retardar a volta para casa. O prog- 3. Para uma reunião de casais
ra o futuro. nóstico não é bom... - Você tem o costume de se lamentar
pelas “coisas perdidas” do passado?
Quando faliu a empresa onde 2. Pensando juntos Ou aceita essas perdas e procura en-
Mauro era diretor, as coisas muda- No livro do Gênesis (19,24-26), lemos carar o presente com realismo?
ram. Tiveram de deixar o aparta- a história de Ló, sobrinho de Abraão,
mento de luxo e mudar-se para a a quem Deus salvou da destruição de - Você se ressente com as queixas
periferia. Desempregado por qua- Sodoma e Gomorra. Para salvar-se, de seu cônjuge?
se dois anos, as contas se acumu- Ló precisou abandonar o lugar onde Sofre com isso?
laram. Só não passaram fome por- vivia juntamente com sua família, Que tipo de queixa ele/ela costuma
que o irmão dele acudiu. romper os laços com a cidade e dei- repetir?
xar tudo para trás. Durante a fuga,
Agora, enfim, ele conseguiu um porém, sua mulher, presa ao pas- - Quais são suas expectativas em re-
trabalho de gerente em um pequeno sado, insatisfeita com deixar a vi- lação ao futuro da família?
mercado e as coisas vão melhoran- da que viviam, olhou para trás e se Como tem trabalhado para reali-
do. Depois de um ano, já pagaram as transformou em uma estátua de sal. zá-las?]
dívidas, mas Estela vive falando so-
bre o “tempo bom” de antigamente.

O júri — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 66

Escolha um assunto desafiante que costume gerar posições bem
diferentes, como questões religiosas, políticas e sociais.

Divida o grupo em duas equipes: uma representa a posição a fa-
vor, a outra representa a posição contrária. Por exemplo: a pena
de morte. Um grupo reúne os argumentos favoráveis; outro gru-
po, os argumentos contrários à pena.

Peça que as pessoas, nesse momento, esqueçam suas opiniões
pessoais e apenas defendam seu lado (a favor ou contra o tema
escolhido) com todos os argumentos que puderem.

A dinâmica visa a trabalhar a convivência com diferenças e a diver-
gência de opiniões, além de avaliar a capacidade argumentativa.

Faça uma avaliação do processo com o grupo e como cada um
cresceu com a dinâmica.]

Fonte: PJ

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]33

Roteiros para catequese [ 3 encontros seguindo os evangelhos dos

1. 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) 2.
A vivência Canto: para aclamar a Palavra O que
do amor Leitura: Lucas 10, 25-37 é mais
é sinal Pedir aos catequizandos para lerem importante
do Reino na sua Bíblia e depois recontar a na sua vida?
história com a ajuda do catequista.
Objetivo: Ajudar a perceber que o Objetivo: Descobrir que o mais im-
amor de Jesus Cristo é totalmen- Perguntar: portante na vida é viver o projeto de
te gratuito. a) O que precisamos fazer para her- Jesus.
dar a vida eterna? Material: Bíblia, canudinho para ca-
Material: Bíblia, figuras que ilustrem b) Quem é o próximo na história da criança, imagem de Jesus.
o amor entre as pessoas. que Jesus contou?
c) O que fez aquele que teve com- 1. VER (a realidade)
1. VER (a realidade) paixão do homem ferido? Dinâmica: Cada criança recebe um
Dinâmica: a) O catequista acolhe as d) Hoje, quem pratica a misericórdia? canudinho. As crianças serão divi-
crianças com a saudação: “A paz de Para refletir didas em dois grupos que se colo-
Jesus Cristo esteja com vocês”. As O doutor da lei, de quem se fala no carão em fila. Diante de cada fila, a
crianças respondem: “O Reino de início deste Evangelho, foi uma pes- uma distância de mais ou menos 5
Deus chegou para nós”. soa que veio a Jesus para colocar metros, marque um círculo no chão.
obstáculos no caminho de Jesus.
b) Comentar: Onde está Jesus Cristo, Mas Jesus mostra que quem pra- Ao dar o sinal, o primeiro da fila
aí está o Reino de Deus. Ele é bom, é tica o amor não leva em conta bar- vai, coloca seu canudinho dentro do
justo, é misericordioso... E nós, que reiras de raça, de religião, de nação círculo, volta e toca no segundo da
nos chamamos Maria Cristo, João ou de classe social. O amor miseri- fila e vai para o final da fila. O que foi
Cristo, Luiz Cristo... o que fazemos? cordioso vê a pessoa. É sensível às tocado vai, deixa seu canudinho den-
Agimos como o Cristo? necessidades da pessoa, quer a sua tro do círculo, volta e toca o seguin-
vida. A misericórdia leva a pessoa te. E assim, todos vão deixando seu
c) Analisar e refletir o canto: a sair de si, deixar o seu egoísmo e canudinho indo para o final da fila.
1. Seu nome é Jesus Cristo e passa fo- ir ao encontro do outro.
me / E grita pela boca dos famintos Quando chegar novamente a vez
/ E a gente quando vê passa adian- Com a história do samaritano, do primeiro, este vai ao círculo, pe-
te /Às vezes, pra chegar depressa à Jesus mostra como ser próximo do ga todos os canudinhos e volta, en-
igreja. / Seu nome é Jesus Cristo e outro. O samaritano tem a expe- tregando um canudinho para cada
está sem casa / e dorme pelas bei- riência de ser marginalizado. Ele se colega. Nesse momento formarão
ras das calçadas / e a gente, quan- compadeceu e expressou a sua com- no chão uma figura geométrica com
do vê, aperta o passo / e diz que ele paixão em gestos de solidariedade. os canudinhos de cada um.
dormiu embriagado. / Entre nós es- Guardar no coração: “Vai e faze o
tá e não o conhecemos / Entre nós mesmo!” Conversar sobre a dinâmica e
está e nós o desprezamos. refletir que só foi possível montar a
3. CELEBRAR figura geométrica com a colabora-
Experiência de vida Oração: Fazer silêncio e rezar pelas ção de todos. Precisamos aprender
Contar a história: Dona Margarida pessoas conhecidas da comunida- a dar nossa parcela de contribuição.
agiu como “Margarida Cristo” para de que passam fome, estão doen- Se tirarmos um canudinho, faltará
o seu esposo Manoel. Eles viviam tes, não conhecem Jesus, são mar- aquele “pedaço”.
financeiramente bem com o prós- ginalizadas, desempregadas, anal-
pero comércio de arroz em Cuiabá. fabetas, sem casa... Experiência de vida
O esposo a deixou sem nada. Gas- Convidar as crianças a dialogarem
tou o que possuía em bebidas, jogo 4. AGIR (a realidade nos convoca sobre os serviços da comunidade.
e farras. Por fim adoeceu de cân- para...) Falar sobre a alegria de servir a Deus
cer e ficou morrendo “à míngua”, Compromisso na comunidade, destacar que os lei-
passando mil e uma privações. Do- Combinar com os pais como aju- gos têm compromissos particulares:
na Margarida soube da triste situa- dar uma pessoa necessitada. Dar são pessoas que trabalham, são ca-
ção do esposo ingrato. Procurou-o um abraço de despedida aos cole- sados, mães, e continuam prestan-
e cuidou dele com muito carinho gas e à catequista, dizendo um para do serviços voluntários na comuni-
até a morte. o outro: “Seja bom para com todos!” dade e nas pastorais.

Final: 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus)
Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Canto de aclamação
Terminar o encontro com um can- Leitura: Lucas 10,38-42
to alegre.]

[34 OLUTADOR [ JUNHO 2019

domingos 14, 21 e 28 de julho]

O (a) catequista lê o texto dando ên- 3. Para refletir
fase, lendo com boa pontuação. Aprendendo Jesus rezava e, como mestre, en-
a rezar sina os discípulos a rezar. O Pai-
Perguntar: com Jesus Nosso traz o espírito e o conteúdo
a) Em casa de quem Jesus foi recebido? fundamental de toda oração cristã.
b) Como se chamavam as duas irmãs? Objetivo: Ajudar a descobrir que a O Pai-Nosso cria relação filial com
c) O que fez Marta? E Maria? vida do cristão se alimenta da ora- Deus e apresenta pedidos impor-
d) O que Marta falou para Jesus? ção que Jesus nos ensinou. tantes: (mostrar as faixas)
e) O que Jesus respondeu?
Material: Bíblia, recortes de revistas - Que o pai seja reconhecido e ama-
Para refletir ou jornais com figuras humanas. do por todos.
Os cristãos devem preocupar-se em Pai-Nosso, escrevendo os 7 pedidos
realizar as atividades, mas também em faixas. - Que sua justiça e amor se mani-
em abrir o coração para escutar Je- festem.
sus na oração. É preciso fazer as coi- 1. VER (a realidade)
sas de modo novo. A Palavra de Je- - Que nos dê vida plena a cada dia.
sus nos orienta o quê e como fazer. Dinâmica: É necessário um núme-
Deus nos pediu que entremos em co- ro par de participantes. Cada figu- - Que nos perdoe como nós repar-
munhão com Ele e com o seu proje- ra é dividida em duas partes e cada timos o perdão.
to de vida. As ações saem como fru- criança recebe uma parte da figura.
tos deste contato com Deus. Ninguém deve mostrar a sua figu- - Que nunca nos abandone no ca-
ra antes do jogo. Dado o sinal para minho.
Assim, o que é mais importante? o início do jogo, cada qual procura
Escutar a palavra ou realizar ativida- localizar a parte que está faltando - Que seu Reino cresça no meio do
des? O importante é viver a espiritua- para a figura. Podem comentar so- povo.
lidade, estar em sintonia com Cristo bre a figura.
na oração e no serviço à comunidade. - Que nos dê força para vencer as
Experiência de Vida tentações.
O trabalho voluntário sem fi- Todos nós queremos ser pessoas
nalidades interesseiras é o gesto de com dignidade. A vida do cristão Guardar no coração: “Quando rezar-
amor na participação do projeto de alimenta-se pela oração. Pergun- des dizei: ‘Pai Nosso!’”
Jesus. Recebemos muitos dons de tar às crianças quando e como elas
Deus. Prestar serviços à comunida- rezam em casa. (Deixar as crianças 3. CELEBRAR
de é uma manifestação de agrade- falarem.) Com quem elas rezam?
cimento a Deus. Por que rezam? Oração: De mãos dadas, devagar,
entendendo cada frase, rezar o Pai-
Guardar no coração: “Maria escolheu 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) Nosso.
a melhor parte.”
Canto de aclamação Cantar: Eu quero ter um coração bo-
3. CELEBRAR nito igual ao de Jesus.
Oração: Fazer um círculo, colocar no Leitura: Lucas 11,1-13
centro a Bíblia aberta e uma imagem 4. AGIR (a realidade nos convoca
de Jesus. Fazer alguns momentos Perguntar: para...)
de silêncio para escutar Jesus. De- a) O que um dos discípulos pergun-
pois, cada um expressa um agrade- tou a Jesus? Dialogar: Quem reza antes das re-
cimento. feições? O quê você reza?
b) O que Jesus respondeu?
Canto: “Eis-me aqui, Senhor! (bis) Compromisso
Pra fazer tua vontade, pra viver do c) Por que o amigo vai dar pão para A partir de hoje, convide seu pai, sua
teu amor...” (bis) o amigo que insiste? mãe e seus irmãos para rezarem an-
tes das refeições principais do dia.
4. AGIR d) Por que Jesus ensina que é para
Compromisso pedir o que se deseja? Final
Procurar fazer uma visita ao Santís- Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
simo e, onde não houver, tirar um JUNHO 2019 [ OLUTADOR]35 Terminar o encontro com um can-
tempo para rezar um pouco na ca- to alegre.]
pela da comunidade.

Final
Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
Terminar o encontro com um can-
to alegre.]

Homilética [ 14•07•2019 “Vai e faze
a mesma coisa.”

(Lc 10,37)

15º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum dia 15: Ex 1,8-14.22; Sl 123[124],1-8; Mt 10,34 – 11,1
dia 16: Zc 2,14-17; Cânt. Lc 1,46-55; Mt 12,46-50
dia 17: Ex 3,1-6.9-12; Sl 102[103],1-4.6-7; Mt 11,25-27
dia 18: Ex 3,13-20; Sl 104[105],1.5.8-9.24-25.26-27; Mt 11,28-30
dia 19: Ex 11,10-12.14; Sl 115[116B],12-13.15-18; Mt 12,1-8
dia 20: Ex 12,37-42; Sl 135[136],1.23-24.10-15; Mt 12,14-21

Leituras: Dt 30,10-14; Sl 68[69]; dos homens, o primogênito, o Filho prática, onde o importante é o outro
Cl 1,15-20; Lc 10,25-37 anterior a tudo. Nele tudo foi criado. a quem devo amar e servir, e não eu
Ele é a origem e a finalidade de todas mesmo. E a pergunta fica assim: Que
1. A Lei no coração. Os homens têm as criaturas. atitude prática me torna próximo da
belos projetos, mas são egoístas, aca- pessoa que encontro?
bam em privilégios para uns poucos Cabeça do Corpo que é a Igreja, Cris-
e opressão para a maioria. O projeto to é o princípio da humanidade nova. A atitude dos ladrões é desrespeito-
de Deus, ao contrário, pretende trazer O projeto de Deus falido em Adão al- sa, desonesta, gananciosa. Os ladrões
vida para todos. O coração de Deus só cança plena realização em Jesus Cris- de ontem e de hoje, ladrões de cor ou
experimentará alegria, quando todos to, que através da sua morte e ressur- de colarinho branco, comportam-se
os homens viverem na solidarieda- reição funda uma humanidade nova. como o funil ganancioso, e o seu le-
de, justiça e paz. Isto nos fala o Deu- Ele tem a primazia em tudo, porque ma é: “o que é teu é meu”.
teronômio. Deus quis nele habitar. Jesus é a ple-
nitude de Deus no meio dos homens, Os encarregados do Templo (sa-
Qual é a condição para isto? Con- o projeto acabado que Deus tinha para cerdotes e levitas) também são es-
versão total a Deus e obediência aos o homem. Por meio de Jesus, através pecialistas, mas em religião, em ri-
mandamentos e estatutos escritos no do seu sangue na cruz, Deus se recon- tos. Sua preocupação não é com o
livro do Deuteronômio (v. 10). Estes cilia com os homens estabelecendo a outro, a pessoa, a vida, mas com a
não são normas frias, mas a síntese paz. A humanidade reconciliada, esta religião, o Templo, os ritos, o culto.
das experiências vitais da vida. Por- humanidade nova, recriada em Cris- Concentram sua atenção em torno
tanto, seguir a lei para o Deuteronô- to, é a Igreja da qual Cristo é a cabeça. dos Templos e dos cultos sem vida,
mio é buscar a vida. Os vv. 11 a 14 que- e a parábola lhes mostra que Deus
rem mostrar a facilidade e a proxi- 3. Vai e faze o mesmo! A atitude do não está mais no Templo, mas na
midade da Lei. especialista em leis é mal intencio- pessoa dos excluídos e dos margina-
nada, para tentar Jesus, e visa ao seu lizados. Eles possuem valores apa-
É difícil subir aos céus e atraves- próprio benefício: “Mestre, que devo rentes e querem defendê-los mes-
sar o mar, mas a Lei não está lá em fazer para receber em herança a vi- mo em detrimento da vida. Seu le-
cima no céu, nem do outro lado do da eterna?” Como ele é um especia- ma é: “o que é meu é meu”.
mar. Ela está bem perto do homem, lista em leis, Jesus pergunta o que diz
dentro do seu próprio coração, lá den- a Lei. Ele responde: amar a Deus e ao Já o Samaritano não é especia-
tro da própria consciência. Coração, próximo. Jesus aprova sua resposta e lista em nada. Não carrega pergun-
para o semita, é a sede da consciên- diz: “Faça isso e viverá”. tas teóricas, mas procura na prática
cia. Quem quiser colocá-la em práti- estar mais próximo de quem preci-
ca, portanto, não tem desculpas, pois Para possuir a vida eterna, não é sa. A parábola insinua que o assalta-
obedecer à lei é obedecer ao que há de preciso muita teoria nem ser especia- do e moribundo era um judeu (inimi-
mais profundo no coração humano lista em nada: a única especialidade go dos samaritanos), mas o samari-
– seu anseio de justiça, sua busca de que a lei exige e em que Jesus insiste é tano está preocupado com a vida em
vida para todos. a prática do amor. Como o especialista perigo, e não com rixas e picuinhas.
não quer saber da prática, ele teoriza Sua atitude é de compaixão, atitude
2. Reconciliados em Cristo. Diante mais uma vez com a pergunta: “Quem divina que, no Evangelho de Lucas, é
de tantos mediadores impostos pe- é o meu próximo?” Jesus responde in- reservada apenas ao Pai (cf. 15,20) e a
los cultos pagãos e outros, como seres diretamente com uma parábola em Jesus (cf. 7,13).
angélicos, soberanias, principados, e que ele transforma a pergunta do es-
outras forças cósmicas, o autor apre- pecialista numa pergunta altruísta e A parábola enumera as diversas
senta o único mediador entre Deus e práticas do samaritano. Ele toma to-
os homens: Jesus, o Filho amado. Este [36 OLUTADOR [ JUNHO 2019 das as atitudes necessárias para curar
hino é uma exaltação à soberania de e salvar o seu próximo, até passa a
Cristo sobre tudo e sobre todos. Cris- noite com ele. Além disso, deixa um
to é apresentado como a plenitude do dinheiro a mais com o hospedeiro e
humano e do divino, origem e fim de diz que, na volta, pagaria se preci-
todas as coisas. sasse de alguns cuidados especiais.
Ele é o homem da solidariedade e da
O homem é imagem e semelhan- partilha.
ça de Deus, e esta imagem chega à
perfeição em Jesus Cristo. Ele é a vi- O bom samaritano é a autobio-
sibilidade do próprio Deus no meio grafia de Jesus. Seu lema é: “o que é
meu é teu”. Jesus não quer sacrifícios,
mas misericórdia.]

Homilética [ 21•07•2019 “Uma só coisa
é necessária.”

(Lc 10,42)

16º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum dia 22: Ct 3,1-4a; Sl 62[63],2-6.8-9; Jo 20,1-2.11-18
dia 23: Ex 14,21 – 15,1; (Sl) Ex 15,8-10.12-17; Mt 12,46-50
dia 24: Ex 16,1-5.9-15; Sl 77[78],18-19.23-28; Mt 13,1-9
dia 25: 2Cor 4,7-15; Sl 125[126],1-6; Mt 20,20-28
dia 26: Eclo 44,1.10-15; Sl 131[132],11.13-14.17-18; Mt 13,16-17
dia 27: Ex 24,3-8; Sl 49[50],1-2.5-6.14-15; Mt 13,24-30

Leituras: Gn 18,1-10a; Sl 14[15]; Paulo se torna ministro da Igreja o Deus da vida (Gn 18,1-10a), mas seu
Cl 1,24-28; Lc 10,38-42 desde que Deus lhe confiou a missão ativismo, as preocupações exageradas
de anunciar o mistério da presença a impediram de acolher e aprofundar
1. A visita de Deus. É importante aco- de Cristo na comunidade. Em 1,23, o projeto de vida que Jesus trazia com
lher bem as pessoas. No texto, quem ele diz expressamente que se tor- sua vida. Abraão parece ter antecipa-
aparece a Abraão? É o próprio Deus nou ministro do Evangelho. Paulo do Marta e Maria, soube ouvir, servir,
(18,1), são três homens (18,2) ou anjos é ministro da Igreja, do Evangelho, contemplar e agir, e por isso recebeu
(19,1)? Com quem Abraão está falan- de Cristo, da Palavra. Estamos per- o dom da vida na pessoa de seu filho.
do: com três pessoas (vv. 4.5.9), uma cebendo que há uma identificação
só (vv. 3.10) ou o próprio Deus (v. 13)? destas realidades. Maria, certamente era a compa-
Através desta ambiguidade textual, nheira de Marta nos afazeres domés-
o autor ensina que quem acolhe pes- O que deve fazer o ministro da Pa- ticos, senão esta não perderia tempo a
soas está acolhendo a Deus que dá vi- lavra? À imitação de Paulo, ele deve insistir com Jesus para liberar Maria.
da, e que os anjos são mensageiros de alegrar-se no sofrimento em favor Curioso! Quem ficaria com o hóspe-
Deus, ou expressão do próprio Deus. da Igreja, anunciar o Cristo, aconse- de? Não seria um desrespeito deixá-lo
Aliás, faz parte da mística semita a lhar, ensinar, trabalhar pela perfei- sozinho? Maria não chamou Marta,
boa hospitalidade. ção do irmão, acreditar na força de pois quem faria o trabalho? Egoísmo
Cristo que age nele, não desanimar de Marta? Preguiça de Maria? Jesus
O texto sublinha a vigilância e a diante das dificuldades, mas inves- valoriza a escolha de Maria e achou
disponibilidade de Abraão. Ao invés tir na edificação do Corpo de Cristo exagerada a escolha de Marta.
de estar deitado, acomodado, cochi- que é a Igreja.
lando à sombra, Abraão está sentado, Isto significa que precisamos rezar
atento aos acontecimentos. Não é hora 3. A visita de Jesus. Estamos em Betâ- mais e trabalhar menos? Viver de con-
de visitas, mas Deus não marca hora, nia. Lázaro está ausente, talvez Lucas templação e não de serviço? Podería-
nem aparece vestido de glória. Abraão queira salientar a importância da mu- mos viver sem o trabalho? Poderíamos
é profundamente cordial e acolhedor lher na vida ativa (trabalho de Marta) viver só de reza? Não é o próprio Jesus
e logo percebe que aquela visita era de e litúrgica (Maria atenta à palavra de que insiste tanto em dar o exemplo de
Deus. Chama os três de “Senhor” e se Jesus) da Igreja. No tempo de Jesus, servir? “Eu não vim para ser servido,
coloca como servo. Apesar do calor do a mulher era marginalizada até pe- mas para servir.” A parábola anterior
sol ele corre de um lado para o outro, la religião, não podia estudar a Lei, ao nosso texto não frisa a prática da
movimenta a esposa e o criado e ofe- nem participar oficialmente do culto. misericórdia? Veja 10,28: “faça isso e
rece o que há de melhor aos visitantes. viverá”; v. 37: “vá e faça a mesma coisa”.
O texto mostra que Marta acolhe
A promessa de Deus está para acon- Jesus, mas não tem tempo de acolher Creio que o contexto nos ensina
tecer (vv. 9-10). E nada para Deus é im- o dom que ele traz, seu projeto de vida. a importância da contemplação e da
possível. Deus promete que retornará Ela se parece com Abraão, que acolheu ação, do rezar e do trabalhar. Lucas dis-
dentro de um ano, e Sara já terá um filho. tingue, entre Marta e Maria, o que de-
Quem acolhe o outro, acolhe o próprio JUNHO 2019 [ OLUTADOR]37 ve estar unido e dosado em cada cris-
Deus; quem acolhe Deus, acolhe a vida. tão, como esteve na atitude de Abraão.
Devemos ouvir a Palavra e a colocar
2. Edificar a Igreja. Em 1,18 vimos uma em prática. As duas atitudes devem
afirmação forte: Ele - Jesus Cristo - é andar juntas em cada cristão.
também a cabeça do corpo, que é a
Igreja. Aqui, volta-se ao mesmo tema. Aqueles que se dedicam demais ao
A Igreja é o Corpo de Cristo. Assim, é trabalho, pastoral ou não, estes devem
preciso que cada cristão (não apenas parar no dia do Senhor - o Domingo -
os agentes de pastoral) assuma um para, sentados aos pés de Jesus, louvar e
compromisso particular com a comu- agradecer, avaliar e se abastecer de no-
nidade-Igreja. Cristo fez tudo por nós vo. Aqueles que rezam muito não devem
e por isso tem o direito de pedir tudo tardar em colocar em prática o projeto
de nós para a edificação do seu Cor- de Jesus. Jesus não parou para ser servi-
po. Nossas virtudes e trabalhos edifi- do, ele veio até nós para entregar o dom
cam o Corpo de Cristo, nossos vícios, da vida. De fato, ele está a caminho de
pecados e omissões, destroem o cor- Jerusalém onde seu projeto de vida pa-
po de Cristo. ra todos ia realizar-se através da cruz.

Marta e Maria estão vivas den-
tro de você?]

Homilética [ 28•07•2019 “Pai,
santificado seja

o teu nome.”

Leituras da Semana (Lc 11,2)

17º Domingo dia 29: 1Jo 4,7-16; Sl 33[34],2-11; Jo 11,19-27
do Tempo dia 30: Ex 33,7-11; 34,5b-9.28; Sl 102[103],6-13; Mt 13,36-43
Comum dia 31: Ex 34,29-35; Sl 98[99],5- 7.9; Mt 13,44-46
dia 1º: Ex 40,16-21.34-38; Sl 83[84],3.4.5.6a.8a.11; Mt 13,47-53
dia 2: Lv 23,1.4-11.15-16.27.34b-37; Sl 80[81],3-6ab.10-11ab; Mt 13,54-58
dia 3: Lv 25,1.8-17; Sl 66[67],2-3.5.7-8; Mt 14,1-12

Leituras: Gn 18,20-32; 2. A vida em Cristo. Fora da comu- e mostra como síntese da vida cristã
Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13 nidade, a influência de vãs filosofias um relacionamento novo com o Pai
pagãs atribuía a forças intermediá- e com os irmãos.
1. Em favor do povo. Abraão é apre- rias o mesmo valor de Jesus Cristo,
sentado como modelo de oração como se Jesus fosse um entre tantos Primeiro, Jesus mostra o relacio-
que brota de um relacionamento mediadores entre Deus e os homens. namento com o Pai: “Pai, santifica-
íntimo com Deus, relacionamen- Do lado de dentro, era a imposição da do seja o teu nome. Venha o teu Rei-
to aberto, confiante, e ao mesmo Lei por parte dos cristãos judaizan- no”. O Nome expressa a identidade
tempo franco, sincero, mas pro- tes, como se a Lei tivesse poder sal- da pessoa. Deus é para nós um Deus
fundamente humilde. Abraão re- vífico. Mas a porta de entrada para de amor, um Deus que é Pai; mais
conhece a grandeza do ser de Deus, a religião da liberdade é o batismo. ainda, um Deus que é papai, paizi-
o tamanho do seu coração justo e A religião é fundamentada não na nho, Pai querido. Jesus nos mostra
misericordioso, como também, da Lei, mas na graça, no amor de Cris- um Deus íntimo de nós. Ele é santo
sua parte, reconhece a pequenez to. O batismo cristão é morte para o e quer ser o Pai de uma família uni-
do seu ser; ele tem consciência de pecado e ressurreição para uma vida da, fraterna e solidária. É neste Rei-
que é pó e cinza (v. 27). nova. Nós estamos mortos pelo pe- no que Deus quer reinar.
cado, mas Deus nos concedeu a vida
O v. 20 insinua que o pecado de juntamente com Cristo. Em seguida, Jesus mostra como
Sodoma e Gomorra é a injustiça. Em deve ser o relacionamento entre os fi-
19,5, percebemos que a injustiça no O que Cristo fez por nós? Jesus fez lhos: “Dá-nos a cada dia o pão de ama-
campo social destrói e perverte o re- o que a Lei não tinha capacidade de nhã”. Este pão de amanhã é aquele
lacionamento entre as pessoas, con- fazer. A Lei apenas apontava trans- dom de Deus que preenche a vida do
duzindo-as às aberrações de todos os gressões. Jesus, ao contrário, perdoou homem em todos os sentidos. A ca-
tipos. Deus está disposto a destruir as as nossas faltas. Contra nós havia um da dia, quer salientar que os bens da
cidades de Sodoma e Gomorra. Abraão título de dívida. Jesus anulou esta dí- Criação pertencem a todos. Devemos
intercede questionando a justiça de vida, pregou este título na cruz, fazen- ter confiança de que este pão não vai
Deus. Deus iria destruir o justo jun- do-o desaparecer. Tudo que devíamos faltar na mesa de ninguém, se sou-
tamente com o injusto? Deus é capaz a Deus foi pago por Jesus Cristo, e a bermos partilhar a vida abundante
de salvar a cidade toda por causa de Lei que nos fazia devedores perdeu o que Deus deu para todos.
alguns justos. sentido. Vivemos agora não uma re-
ligião de méritos, mas a gratuidade O perdão que Deus nos dá está con-
Abraão conseguiria obter de do amor de Deus em Cristo. dicionado, de um modo muito claro,
Deus a salvação da cidade através ao perdão que damos aos outros. O úl-
de apenas 10 justos. Em sua oração 3. Perdoai as nossas dívidas. Esta- timo pedido: “Não nos deixeis cair em
de intercessão, conseguiu do cora- mos diante de uma catequese sobre tentação”. É muito mais sério do que
ção misericordioso de Deus abai- a oração. Lucas quer ensinar a ora- parece. No fundo, significa: não nos
xar o número de 50 para 10. Mas por ção ao povo convertido do paganis- deixeis perder a fé. Essa é a grande e
que parou? Abraão quis descobrir o mo, que não estava habituado a re- perigosa tentação para a comunida-
tamanho da misericórdia de Deus, zar ao Pai misericordioso. Ele usa os de cristã, que vive num mundo pagão
mas pôs limites à misericórdia do ensinamentos de Jesus de um mo- e injusto estruturalmente, mais vol-
Onipotente. do adequado à sua comunidade, por tado para os ídolos e caricaturas de
isso sua catequese sobre a oração é Deus do que para o verdadeiro Deus.
Ele não sabia que Deus procura- diferente da de Mateus.
va por um único justo para justificar Os vv. 5-13 querem fundamen-
a salvação da cidade dos homens. Is- Jesus não pretende nos ensinar tar a confiança na oração. A confian-
to os profetas vão intuir (cf. Jr 5,1; Ez uma oração, mas sobretudo um no- ça deve ser total. A gente deve rezar
22,30). Mas só um homem consegui- vo modo de rezar. Os mestres daque- com a certeza de ser atendido e in-
rá reunir a justiça e agradar o cora- le tempo (como João Batista) ensi- sistir sem achar que está amolando.
ção misericordioso de Deus: seu Fi- navam a seus discípulos uma ora- Nenhum amigo entre nós nega o que
lho, Jesus Cristo (Jo 3,16-17). Através ção como síntese dos seus ensina- pedimos. Ainda temos uma novida-
desse único justo, Deus salva a hu- mentos. Jesus vai na mesma linha de: o Pai do céu nos dá muito mais do
manidade inteira. que pedimos, ele nos dá o dom total,
[38 OLUTADOR [ JUNHO 2019 o Espírito Santo.]

Homilética [ 4•08•2019 “Tomai cuidado contra
todo o tipo de ganância!”

(Lc 12,15)

18º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum dia 5: Nm 11,4b-15; Sl 80[81],12-17; Mt 14,13-21
dia 6: Dn 7,9-10.13-14; Sl 96[97],1-2.5-6.9; Lc 9,28b-36
dia 7: Nm 13,1-2.25; 14,1.26-30.34-35; Sl 105[106],6-7a.13-14.21-23; Mt 15,21-28
dia 8: Nm 20,1-13; Sl 94[95],1-2.6-7.8-9; Mt 16,13-23
dia 9: Dt 4,32-40; Sl 76[77],12.16.21; Mt 16,24-28
dia 10: 2Cor 9,6-10; Sl 111[112],1-2.5-9; Jo 12,24-26

Leituras: Ecl 1,2;2,21-23; Sl 89[90]; tra o pecado; a cabeça (o Cristo) já es- O que está por trás do texto? Uma
Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21 tá no céu. Assim a vida do cristão está ideia do que está por trás do texto aju-
escondida em Cristo com Deus (v. 3). da a entender a posição de Jesus. No
1. Tudo é vaidade. A Palestina do Séc. tempo de Jesus havia duas propostas
III a.C. vivia dominada e explorada Quando é que a vida do cristão vai de sociedade, ou dois modelos econô-
pelo império grego e o povo era obri- aparecer? A vida do cristão é Cristo. Só micos. O do campo e o da cidade. O do
gado a pagar pesados impostos, usu- quando Cristo se manifestar na pa- campo se fundamentava na partilha,
fruindo pouco do fruto do seu traba- rusia a vida do cristão vai aparecer através da solidariedade, da troca de
lho. O autor faz uma análise crítica junto com Cristo na glória (v. 4). Nós produtos etc. Isso impedia que os en-
e realista desta situação opressora somos, na terra, como a semente, já dividados caíssem na desgraça e ti-
que parece destruir o futuro do povo. temos tudo, mas só nos será revela- vessem que emigrar para a cidade,
A vida do povo, na realidade, estava da toda a beleza da novidade cristã, tornando-se mendigos ou bandidos.
insuportável, por isso o autor acha com toda a riqueza da ressurreição
que tudo é “vaidade”. e da glória, quando do encontro com O modelo econômico da cidade,
Cristo, quando Cristo se manifestar ao contrário, é fundamentado na ga-
A palavra “vaidade” não traduz totalmente em nós e no mundo. nância, no acúmulo, na lei do mais
tudo o que o termo hebraico “hebel” forte. Isso, naturalmente, é fonte de
pode significar. Significa vaidade, fu- 3. Rico para Deus. Jesus não quer ser exclusão e marginalidade, gera men-
gacidade, ilusão, mais precisamente, árbitro da partilha de bens entre ir- dicância, violência, roubo etc.
sopro, hálito, fumaça. Ele quer dizer mãos (v. 14). No v. 15, Jesus deixa entre-
que tudo é como uma bolha de sabão: ver que, realmente, o pedido do v. 14: Sem dúvida, o texto de hoje refle-
bonita, reluzente, mas não dura na- te uma situação do modelo econômi-
da, não serve para nada. Assim é a “Mestre, dize a meu irmão que reparta co da cidade e não do campo, refle-
vida do povo, quando é explorado na comigo a herança”, supõe um caso de te a ganância e a exploração, não a
sua força de trabalho. ganância, de egoísmo, de apropriação partilha. Jesus toma posição em fa-
indevida dos bens do pai por parte de vor da partilha, não da cobiça, mas
Mas, diante desta análise realista, um irmão em detrimento do outro. sem se colocar como árbitro entre os
o autor nos deixa uma mensagem: a contendentes. A posição de Jesus es-
felicidade neste mundo é poder usu- De fato, Jesus fala de ganância, tá clara na sua exortação (v. 15) e na
fruir plenamente dos frutos do tra- de cupidez, de abundância e apro- parábola que contou (vv. 16-21). Jesus
balho, pois esse é o dom que Deus dá veita para exortar a uma precaução é contra qualquer cobiça, pois a co-
para todos (cf. vv. 24ss). O Novo Tes- cuidadosa sobre os bens materiais, biça não garante a vida de ninguém.
tamento dá um passo em frente, não pois eles não asseguram a vida do
colocando a felicidade do homem nes- homem. Além disso, Jesus explica A parábola traz o monólogo de
te mundo. Convida-nos à partilha e sua posição através de uma parábo- um homem rico, ganancioso e egoís-
a sermos ricos para Deus. la sobre o fim inesperado de um ri- ta, cujo ideal de vida é apenas comer,
co ganancioso e egoísta que só pen- beber e desfrutar (v. 19; cf. Ecl 2,24;
2. Como a semente. O autor da Car- sava em acumular para si. O v. 21 vai 3,13; 8,15). Este homem não pensa nos
ta aos Colossenses considera o cris- arrematar tudo, dizendo que quem seus empregados, não pensa nos po-
tão como um homem já ressuscitado. ajunta tesouros para si e não é rico bres; é profundamente ganancioso
Todo aquele que foi batizado recebe para Deus, tem a trágica sorte desse e egoísta. Jesus o chama de insen-
a circuncisão de Cristo, que consis- rico ganancioso e seus bens ficam sato, afirmando sua morte naquela
te em ser sepultado com ele no ba- para outrem. mesma noite.
tismo e em ressuscitar com ele pe-
la fé no poder de Deus, que o ressus- JUNHO 2019 [ OLUTADOR]39 Isso significa que acumular bens
citou da morte (cf. 2,12). Assim, pelo não garante a vida. O importante é
batismo já fomos ressuscitados com ser rico para Deus, através da justi-
Cristo. O cristão deve aspirar, dese- ça, da partilha e solidariedade para
jar e procurar as coisas do alto, não com o próximo, pois “quem se com-
as da terra (v. 1). padece do pobre empresta a Deus”
(cf. Pr 19,17; Eclo 29,8-13). Eclo 29,12 diz
Enquanto corpo de Cristo, os cris- expressamente: “Dê esmola daquilo
tãos ainda lutam neste mundo pela que você tem nos celeiros, e ela o li-
justiça, pela paz, contra os vícios, con- vrará de qualquer desgraça”.]

Homilética [ 11•08•2019 “Não tenhais medo,
pequenino rebanho.”

(Lc 12,32)

19º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum dia 12: Dt 10,12-22; Sl 147[147B],12-15.19-20; Mt 17,22-27
dia 13: Dt 31,1-8; (Sl) Dt 32,3-4a.7.8.9.12; Mt 18,1-5.10.12-14
dia 14: Dt 34,1-12; Sl 65[66],1-3a.5.16-17; Mt 18,15-20
dia 15: Js 3,7-10a.11.13-17; Sl 113A[114],1-6; Mt 18,21 – 19,1
dia 16: Js 24,1-13; Sl 135[136],1-3.16-18.21-22.24; Mt 19,3-12
dia 17: Js 24,14-29; Sl 15[16],1-2a.5.7-8.11; Mt 19,13-15

Leituras: Sb 18,6-9; Sl 32[33]; e nos reanimamos na nossa caminha- se esvazia aqui na terra. Quem coloca
Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48 da, pois se eles foram firmes e perseve- seu tesouro no céu, coloca lá também
rantes nas provações através da fé, por seu coração. O importante aqui é li-
1. Deus libertador. No livro da Sabe- que também nós não o podemos ser? bertar-se do espírito de posse e abrir
doria, escrito por volta de 50 a.C., a o coração para a partilha.
preocupação básica do autor é sal- Eles são os santos que nos prece-
var a identidade cultural e religiosa deram na mesma caminhada, nos- “Rins cingidos” significam a atitude
do seu povo ameaçado pela civiliza- sos modelos e heróis na fé. O capítu- de alerta e prontidão para o trabalho.
ção grega com seu culto ao corpo e à lo 11 nos apresenta Abel, Henoc, Noé, A túnica longa atrapalhava os movi-
inteligência. O autor procura refor- Abraão e Sara, Isaac, Jacó, José, Moisés mentos, então, era preciso levantá-la e
çar a fé e ativar a esperança do povo, etc. Todos foram aprovados pela fé. amarrá-la na altura dos rins. “Lâmpa-
relembrando o patrimônio históri- das acesas” é uma expressão de igual
co e religioso dos seus antepassados. O texto começa dizendo o que é a significado, pois, na emergência, não
fé: “a fé é a certeza daquilo que ainda há tempo para correr e providenciar
Ele ensinava a verdadeira sabe- se espera, a demonstração de reali- pavio, óleo, acender a lâmpada etc.
doria que conduz a uma vida justa dades que não se veem”. Isto signi-
e à felicidade. À sabedoria humana fica que a pessoa que tem fé já pos- O resto do texto é uma ilustração
dos gregos, nosso autor contrapõe sui, já conhece, já vive, de certo mo- sobre a vigilância e pode ser dividida
a sabedoria que vem de Deus, sa- do, aquilo que ela espera. em três parábolas.
bedoria que é praticamente iden-
tificada com a justiça. Nosso tre- Nós, através dos sacramentos e a) A parábola do servo que espe-
cho enfatiza a ação da sabedoria da nossa vivência de fraternidade, rava a volta do seu patrão (vv. 36-38).
na história do povo de Deus, cujo justiça e amor, já vivemos a presen- Este patrão é diferente, pode chegar
episódio central é a libertação da ça misericordiosa e amorosa de Deus a qualquer momento e bater à porta.
opressão egípcia. em nosso meio, já começamos a an- O servo tem que estar atento e prepa-
tecipar o futuro. rado; só assim ele será feliz. Este pa-
É assim que, no capítulo 18, te- trão, que chega e serve, ao invés de
mos trevas para os egípcios e luz para 3. O verdadeiro tesouro. O Evange- ser servido, só pode ser Jesus.
os hebreus, morte dos primogênitos lho fala sobre o abandono nas mãos
dos egípcios e libertação e vida para do Pai e sobre a busca fundamental, b) Em que hora da noite vai chegar
os hebreus. O pecado egípcio é trata- ou seja, a busca do Reino de Deus. O o ladrão? (vv. 39-41). Ninguém sabe.
do com severidade, o pecado dos fi- pequeno rebanho não deve se inti- Jesus vai chegar como o ladrão, ou se-
lhos de Israel é tratado com bondade. midar diante dos conflitos e perse- ja, sem avisar. Por isso, o cristão deve
guições dessa sociedade gananciosa, estar sempre preparado e vigilante.
O v. 9 é uma referência à ceia pas- interesseira e egoísta.
cal, celebrada no segredo do lar, ten- À pergunta de Pedro, se a parábola é
do como sacerdote o pai da família. Afinal, o Reino é um dom gratui- para eles, os dirigentes, ou para todos, Je-
Era um memorial que unia todos os to do Pai e ele no-lo dá com prazer e sus responde com uma terceira parábola.
israelitas, que se tornavam solidários alegria. Entesoura para o céu quem
nos bens da promessa como também c) Parábola do servo fiel e pru-
nos riscos dos perigos. [40 OLUTADOR [ JUNHO 2019 dente (vv. 42-44). O patrão viajou e
deixou um servo para tomar conta
2. Modelos de fé. Este capítulo 11 apre- de tudo. Se ele for fiel, sóbrio e vigi-
senta um elenco de modelos de fé, ti- lante e não abusar da confiança, se-
rado da história do povo eleito. Eles rá recompensado, do contrário será
são vistos como santos, como luz na punido. O patrão é um só, e cada um
caminhada do povo de Deus. Nos mo- de nós recebe um dever de servir, e
mentos difíceis nos lembramos deles não direitos e poderes.

Deus vai exigir mais de quem tem
mais consciência de seu serviço, ou
seja, daquele a quem foi dado mais.]

Mensagens [ Poesia & Sabedoria

[ Poema para o mês de junho

Chama

ANDERSON BRAGA HORTA

Que somos nós? Que sopro o quanto somos
nos infundiu? E quem nos denomina?
De que abismos e incógnitas os pomos
Tu és e eu sou? De que impossível mina

brotam do ser os impensáveis tomos?
De que não-ser nasce a luciferina

treva que um dia fui, que todos fomos?
E quem tal treva amolda e a translumina?

Que seremos ao fim desta jornada
cujo parto em olvido se derrama?
– o que éramos? – o caos, a noite, o nada?

E, se algo deste dédalo perdura,
que restará de nós além da chama
que nos incende a carne e a transfigura?

Do livro “Antologia Pessoal”,
Ed. Thesaurus, Brasília,
2001

❝Por que a Igreja
se opõe ao desemprego?
Porque o homem tem laços
que o prendem a Deus, ao próximo
e à natureza, sendo esta última

a base da civilização.
O homem sem trabalho sente
de um modo ou de outro que lhe é
recusada a cidadania no exército
avançado da civilização e negada
a união com seus companheiros
de trabalho que, com seu labor,
conquistaram o direito ao lazer.❞

(MONS. FULTON J. SHEEN
– IN “O PROBLEMA DA LIBERDADE”)

JUNHO 2019 [ OLUTADOR]41

Variedades [ Culinária & Dicas de português

[ Não Tropece na Língua

[ FUI EU QUE FIZ O JANTAR

àPmaillamneitsoa - Como é correto dizer: Fui eu que fiz correta também uma terceira for-
o jantar ou Fui eu quem fez o jantar? ma, qual seja, a frase com “quem” e
Ingredientes o verbo concordando com o sujeito
FERNANDA BUZZINI, SÃO PAULO, SP antecedente, por exemplo: “Fui eu
1 lata de palmito; 2 ovos; 100g quem fiz, fomos nós quem fizemos”.
de muzzarela; farinha de ros- - Gostaria de esclarecer uma dúvi- Discordo. E acredito que deva ter ha-
ca, o suficiente; sal e pimen- da quanto ao emprego do “que” e vido algum lapso por aí, pois nun-
ta-do-reino, a gosto; óleo, pa- do “quem” em concordância com ca ouvi brasileiros falarem assim.
ra fritar. os verbos ser e fazer. Exemplo: Foi
ela que fez ou Foi ela quem fez. Fui Nesse ponto, prefiro ficar com
Modo de fazer eu quem fiz ou Fui eu quem fez. Foi Napoleão Mendes de Almeida, que
eu que fiz ou Foi eu quem fiz. diz textualmente: “Quando tem por
Cortar o palmito, em tiras, ao antecedente um pronome pessoal
comprido. Passar as tiras nos FERNANDO AUGUSTO L. DUTRA, PALMAS, TO reto, o ‘que’ pode vir substituído por
ovos batidos e temperados e, ‘quem’, o que nos obriga [grifo meu]
depois, na farinha de rosca. Há duas boas maneiras a levar o verbo para a terceira pessoa
Fritar as fatias com bastante de construir esse tipo de frase: do singular: Somos nós quem paga –
óleo quente. Arrumá-las num Sou eu quem vai – Fui eu quem abriu
pirex e cobrir com queijo. Le- 1Usa-se QUE e o verbo concorda esta polêmica – Eu e V. Exa. somos
var ao forno para derreter o com o sujeito antecedente: quem vende – És tu quem favorece
queijo.] - Fui eu que fiz e paguei a aposta. a minha resolução” (Dicionário de
- Foi ela que me acusou. Questões Vernáculas, 1981, p. 256).
Do livro - Foi José que se matriculou, e não
seu irmão. Por fim, é bom observar que em
“Cozinhando sem Mistério”, - Foi você que prometeu e não cum- qualquer dos casos o verbo ser que
priu. Ou foi o governo federal? inicia a oração faz a concordância
de Léa Raemy Rangel - Fomos nós que aguentamos a onda. com o sujeito a quem ele se refere. É
& - Foram eles que atrasaram a obra. por isso que às vezes se usa FUI [con-
- Foram apenas as meninas que se corda com eu] e às vezes FOI [con-
Maria Helena M. de Noronha machucaram. corda com ele/ela/você], assim co-
Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG mo se usa FOMOS e FORAM respec-
2Usa-se QUEM e o verbo fica tivamente para a primeira e a ter-
Pedidos na terceira pessoa do singular: ceira pessoa do plural.
0800-940-2377 - Fui eu quem fez e pagou a aposta.
livraria.olutador.org.br - Foi ela quem me acusou. Naturalmente, o mesmo tipo de
- Foi José quem se matriculou, e não frase pode ser empregado no tem-
[email protected] seu irmão. po presente ou no futuro, como ve-
- Foi você quem prometeu e não cum- mos abaixo:
priu. Ou foi o governo federal?
- Fomos nós quem aguentou a onda. - Hoje sou eu que pago.
- Foram eles quem atrasou a obra. - Hoje sou eu quem paga.
- Foram apenas as meninas quem - É ela que sempre me aborrece.
se machucou. - É José quem se diz bem-suce-
dido, e não o irmão.
Considero as primeiras frases - Somos nós quem aguenta a onda.
melhores, mais agradáveis ao ou- - Somos nós dois que temos de
vido. Talvez por isso sejam mais co- resolver o impasse.
muns do que as segundas, princi- - São eles que costumam atra-
palmente quando o sujeito está no sar as obras.
plural. Isto é, “foram elas que se ma- - Em geral são as meninas que
chucaram” soa melhor do que “fo- se ferem.
ram elas quem se machucou”. - É você quem receberá o prêmio,
pode ter certeza.
Existem alguns livros dedicados - Sou eu que darei a festa.
a ensinar português que afirmam ser
Fonte: Língu Br sil
[42 OLUTADOR [ JUNHO 2019

WESLEY FIGUEIREDO* ADCE [ Compromisso e responsabilidade...

AASSOCIAÇÃO de Di- Sérgio Bagno, Sérgio Mendes, Maria Flávia Maximo, Sérgio Frade, Geraldo Moura Tavares e Átila de Sá
rigentes Cristãos de
Empresa - ADCE Mi- ADCE Minas Gerais
nas Gerais - anun- anuncia recondução
ciou a recondução de seus da Diretoria Executiva
diretores para o mandato
que se inicia no dia 5 de para mandato
abril de 2019 e termina em 2019/2021
25 de abril de 2021. Após de-
liberações de pauta no últi- “Vamos reassumir a entidade para ção social. Desejamos continuar
mo dia 4 de abril, com vo- mais um mandato até o final de estimulando a gestão empresarial
tação na Assembleia Geral 2021, com o compromisso e a res- baseada no pensamento social
Ordinária, foram aprova- ponsabilidade de fazer com que a cristão – de ética, solidariedade,
dos por unanimidade os ADCE Minas esteja permanente- justiça, verdade e bem comum – e
nomes que vão compor a mente presente na sociedade, fo- no fortalecimento dos valores que
Diretoria Executiva e Con- mentando a humanização das re- embasam o bom funcionamento
selho Fiscal da entidade. lações nas empresas, comunidades das nossas empresas, famílias e da
e família, através de seus dirigen- sociedade”, ressaltou o presidente
O empresário Sérgio tes como veículos de transforma- da entidade, Sérgio Frade.
Frade, da Solutions Gestão
de Seguros, foi mantido na presas seguradoras, como te é diretor-presidente da é presidente da ADCE Mi-
presidência, e a advogada a Chubb do Brasil, Itaú Se- Solutions Gestão de Segu- nas Gerais.]
Maria Flávia Cardoso Máxi- guros, Bemge Seguradora e ros, empresa que fundou
mo com a vice-presidência. Unibanco-AIG; atualmen- em abril de 2001. Desde 2014 * Assessoria de Imprensa
Na diretoria, permanecem
empresários como Geraldo JUNHO 2019 [ OLUTADOR]43 ( ) - /( ) -
Luiz de Moura Tavares, fun-
dador do Escritório de Ad-
vocacia Moura Tavares. As-
sumem para um primeiro
mandato, o engenheiro Sér-
gio Bezerra Mendes, o eco-
nomista Sérgio Leal Bagno e
o administrador Átila Silva
de Sá. No Conselho Fiscal,
permanecem o empresário
e engenheiro, Sérgio Soares
Cavalieri, o advogado Feli-
pe Palhares Guerra Lages.
Os suplentes são o empre-
sário Alfredo Noronha e o
advogado Valdomiro Men-
des Pereira.

O presidente reeleito,
Sérgio Frade, é natural de
Belo Horizonte, casado com
Denise, pai de Pedro Hen-
rique e Ana Carolina. Atua
há 37 anos na área de segu-
ros. É graduado em Ciên-
cias Contábeis, com pós-
graduação em Marketing,
iniciou sua carreira profis-
sional na Açominas (hoje
Gerdau), passou por em-

Sociedade [ Que esse crime, com o custo de tantas

POR MARCIA HIROTA E MALU RIBEIRO*

UMA PAISAGEM DEVASTADA mesmo complexo minerário. Mais Enquanto escrevemos esse ar-
e sem vida, tingida por de 14 milhões de metros cúbicos de tigo, o número de mortos é cres-
tons de marrom. Uma rejeito contaminado desceram pe- cente e centenas de pessoas conti-
enorme ferida no meio lo vale, atingindo a comunidade lo- nuam desaparecidas. A cada dia que
do vale do Rio Paraope- cal, parte do centro administrativo passa, as chances de haver sobrevi-
ba e do córrego do Fei- e refeitório da empresa, e depois se ventes são mínimas, só aumenta
jão, aberta pelo rastro de destrui- arrastou por uma área grande e por o número de pessoas diretamente
ção dos rejeitos contaminados. Tu- municípios banhados pelo Rio Pa- impactadas com essa devastação.
do envolto por um silêncio fúnebre raopeba, em Minas Gerais.
que, com alguma frequência, é in- SOS Mata Atlântica
terrompido por sons de helicópte- Em volume, a quantidade é me- A equipe da SOS Mata Atlântica che-
ros das equipes de resgate ou de te- nor do que o desastre ambiental gou a Brumadinho no dia 26 de ja-
levisão. Às vezes, por uma brisa de de Mariana, que afetou a Bacia do neiro para acompanhar de perto e
esperança e solidariedade – ou ape- Rio Doce, há três anos. Rememo- organizar uma expedição pelo Rio
nas pelo sol escaldante que nos de- rando os fatos, podemos dizer que Paraopeba, que teve início dia 31 de
volve à dura realidade. Por ali, gen- tudo na verdade começou ali – ou janeiro. Estamos investigando os
te, rios e vidas que perderam seus ali poderia ter sido evitado. Mas, impactos destes rejeitos e seu po-
cursos, suas histórias e o futuro. desta vez, o dano foi ainda mais tencial de alcance a outras regiões.
Um novo pesadelo. Mais uma tra- grave em vítimas e vidas. Trata- Nossos técnicos, em parceria com o
gédia anunciada no Brasil. se, portanto, de um novo primei- Laboratório de Poluição Hídrica da
ro e vergonhoso lugar no ranking Universidade de São Caetano do Sul,
Início do horror de maiores tragédias brasileiras, analisarão a qualidade da água do
Esse cenário de horror teve início e que pode vir a se tornar o pior rio e os impactos do desastre na ve-
na tarde do dia 25 de janeiro com o desastre humano provocado por getação e nas comunidades locais
rompimento da barragem do córre- exploração de minério no mun- por 356 km, de Brumadinho ao re-
go do Feijão, da Vale, em Brumadi- do nos últimos 30 anos, de acordo servatório de Três Marias, em Fe-
nho, seguida por outra localizada no com a Agência de Meio Ambiente lixlândia, MG.
das Nações Unidas.

[44 OLUTADOR [ JUNHO 2019

vidas e danos irreparáveis, seja punido com rigor. É isso que a sociedade espera...

Até agora, nossos dados compro- gular para boa, segundo dados do que órgãos reguladores fiscalizem
vam o que tem preocupado a socie- Comitê de Bacias da região. A no- imediatamente todas as barragens,
dade: o Rio Paraopeba está morto. va situação ambiental agrava o ris- com ênfase para as que apresen-
Nos primeiros pontos analisados, co de escassez hídrica na região, já tam risco de “dano potencial” à vida
no que chamamos de “marco ze- que o rejeito de minério – com gran- humana, é uma iniciativa correta
ro” da tragédia – 100 metros antes de concentração de rejeito, ferro e nesse sentido, mas que já deveria
do rejeito encontrar o Paraopeba –, metais pesados – asfixia os rios, ter ocorrido antes, desde Mariana.
a situação era ruim. Alguns quilô- deixando-os completamente sem
metros depois, chegando a Mário oxigênio e com elevada turbidez. É imprescindível que o governo
Campos, a água parecia um tijolo brasileiro aja de forma preventiva
líquido. Na maioria dos pontos ela Ações imediatas para que não tenhamos novos de-
estava com qualidade péssima. A Cabe ressaltar que muitas barra- sastres como esse. A partir daqui,
turbidez da água em muitos locais gens no Brasil estão localizadas pró- qualquer atividade econômica de
analisados ficou entre 50 e 100 ve- ximas das áreas de cabeceiras de grande porte e de alto risco precisa
zes mais do que o indicado pela le- rios e o potencial de danos é altís- ter planos de contingência efetivos
gislação para água doce superficial simo. O risco iminente do rompi- e passar por rigoroso controle, mo-
(rios e mananciais). Já a oxigenação mento afeta bacias hidrográficas nitoramento, fiscalização e identi-
chegou a zero em muitos pontos. inteiras – e ameaça a vida de pes- ficação dos seus responsáveis. Até
empreendimentos menores devem
Ainda não sabemos até onde o soas, cidades, áreas produtivas e ter uma análise de risco bem elabo-
rejeito contaminado irá, mas já po- serviços ambientais essenciais pa- rada, uma vez que qualquer ativi-
demos afirmar que está passando ra a população. dade gera impacto ambiental, se-
as duas primeiras membranas de ja qual for seu tamanho.
contenção instaladas pela Vale. A di- Além do urgente e prioritário
ferença da turbidez entre um ponto socorro às vítimas, e de imediatas Outro motivo de preocupação é
antes e outro depois das barreiras iniciativas para recuperação e com- a intenção dos governos, de alguns
foi de aproximadamente 50%, con- pensação dos danos ambientais, é parlamentares e de setores econô-
forme medição nos últimos dias. necessária a punição dos responsá-
Sendo assim, o rejeito contamina- veis e a abertura de processos con- micos de flexibilizar a le-
do já está a mais de 90 km de sua tra a administração da Vale e a exi- gislação e os processos de
origem e já é encontrado na cida- gência de indenizações justas da licenciamento ambiental.
de de Pará de Minas. Continuare- empresa. Porém, lembramos que O Brasil não pode afrouxar
mos nossa expedição para saber a Samarco, que tem a Vale entre suas leis, mas sim, fazer
dos reais impactos desta tragédia. suas acionistas, ainda não pagou com que sejam cumpridas
os R$ 350 milhões que deve ao Iba- de forma célere. O Estado deve quali-
A Bacia Hidrográfica do Rio Pa- ma em multas por conta do rom- ficar seus mecanismos reguladores
raopeba alimenta a Bacia do Rio São pimento da barragem em Maria- e de governança, ter estrutura ade-
Francisco e é um dos principais ma- na, e até agora ninguém foi conde- quada e profissionais para atender
nanciais de abastecimento da Região nado. O processo na Justiça sequer às demandas com agilidade, além
Metropolitana de Belo Horizonte. A foi julgado. de planos de prevenção, emergên-
qualidade da água do Rio Paraope- cias e contingências capazes de mi-
ba antes da tragédia variava de re- A recomendação do gabinete de tigar desastres como esse.
crise criado pelo governo federal de Por fim, deve-se ampliar a res-
ponsabilidade das empresas atuan-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]45 tes no país, que precisam assumir,
de forma definitiva, seu compromis-
so com políticas socioambientais.
É alarmante acontecer um desas-
tre como esse depois de Mariana.
Que esse crime, com o custo de
tantas vidas e danos irreparáveis,
seja punido com rigor. É isso que a
sociedade espera.]

*Marcia Hirota e Malu Ribeiro são,
respectivamente, diretora-executiva
e especialista em Água
da Fundação SOS Mata Atlântica.

PE. AGENOR BRIGHENTI Leigos [ Ampliar os espaços...

O surgimento de cristãos de
segunda categoria [5
NOS PRIMÓRDIOS DA IGREJA, an-
tes do surgimento do termo clero passa a vestir-se diferente, co- é uma sociedade desigual, a saber,
“laós/leigo”, já havia o termo piando os trajes da nobreza, sobre- uma sociedade que comporta duas
klerós, mas não para desig- tudo na liturgia. A exemplo da categorias de pessoas, os pastores
nar os ministros ordenados e, sim, religião pagã ou e o rebanho; os que ocupam um lu-
os cristãos levados ao martírio. No judaica, a liturgia gar na hierarquia e a multidão dos
início do séc. III, quando se passa a se clericaliza, fiéis. Estas categorias são de tal for-
atribuir o termo laós/leigos aos fiéis passando a ser ma distintas entre si, que somen-
não-ordenados, é quando também celebrada somente pelo te nos pastores residem o direito e
se passa a designar os fiéis ordena- “sacerdote”, o ministro a autoridade necessários para pro-
dos de klerós/clero. Aos poucos, as ordenado, de costas pa- mover e dirigir todos os membros
duas categorias de cristãos não só ra o povo, num presbi- para o fim da sociedade. Quanto à
vão se distinguir entre si, como pra- tério separado da na- multidão, ela não tem outro dever
ticamente também se separar. O cle- ve do templo, de onde que deixar-se conduzir e seguir seus
ro passará a monopolizar todas as os leigos assistem. A co- pastores como rebanho dócil”.
iniciativas na comunidade eclesial, munhão passa a ser dada
fazendo dos leigos destinatários ou na boca e recebida de joe- É uma estranha eclesiologia, sem
objetos da ação da Igreja. Estes, an- lhos, sem acesso ao cálice. base nas Escrituras e na tradição da
tes sujeitos que elegiam até os bis- Igreja primitiva. O modo de ser Igre-
pos, já não têm mais poder de deci- Uma estranha ja das origens só seria resgata com
são e são enquadrados dentro dos concepção de Igreja a “volta às fontes” do Concílio Vati-
parâmetros da “plebe” na religião No século XII, a Igreja or- cano II, preparado por diversos mo-
judaica e pagã, classe iletrada e in- ganizada no binômio clero vimentos de renovação, entre eles,
ferior. Fora da classe dos ordenados, -leigos há quase um milênio, será o movimento do laicato.]
que são “a” Igreja, estão os monges regulamentada canonicamente. O
nos conventos e os leigos no mundo. decreto de Graciano, monge camal-
dulense, reza que a Igreja está or-
Radicalização das diferenças ganizada em dois gêneros de cris-
No século IV, com a passagem do tãos: um, constituído pelos clérigos,
cristianismo de religião persegui- está ligado ao serviço divino e de-
da a religião protegida pelo Impé- dicado à contemplação e à oração,
rio, a distinção e separação dos fiéis assim como se abstém de toda as
em duas classes de cristãos já es- agitações das realidades munda-
tará consolidada. Com o desapare- nas; o outro, o gênero dos cristãos
cimento do catecumenato, substi- ao qual pertencem os leigos, está
tuído por uma deficiente cateque- permitido ter bens temporais, ca-
se, os leigos vão justificar sua fa- sar-se, cultivar a terra, depositar
ma de iletrados. Haverá uma mo- oferendas nos altares e pagar o dí-
nopolização por parte do clero não zimo. Poderão salvar-se, à condi-
só da ação da Igreja, como dos pró- ção de evitarem os vícios e se com-
prios ministérios até então confe- portarem bem.
ridos aos leigos e leigas, desapare-
cendo inclusive o diaconato. No início do séc. XX, o Papa Pio
X, em sua encíclica Vehementer, de
Mesmo com parecer contrário 1906, também justifica uma Igreja
de alguns sínodos, pouco a pouco o organizada segundo o binômio cle-
ro-leigos: “por sua essência, a Igreja

[46 OLUTADOR [ JUNHO 2019

Missão [ Reconhecimento...

PE. DONIZETTI TAVARES DE LIMA

Padre Donizetti espalhou por

Igreja terá um Tambaú diversas obras sociais,
dentre as quais a fundação do asi-
lo São Vicente de Paulo e da Asso-
ciação de Proteção à Maternidade
e Infância de Tambaú. Criou tam-
novo beato bémaCongregaçãoMariana,aIr-
mandade das Filhas de Maria e o
Círculo Operário Tambauense.

brasileiro

NAAUDIÊNCIA ao prefeito da curso primário e foi aprendendo os eFraesi DSaamntiaãsoMdiessBõoezszano
Congregação das Causas rudimentos da música. Aos 15 anos
dos Santos, Cardeal Angelo de idade foi matriculado no curso Francisco também reconheceu as
Becciu, no sábado 6 de abril, preparatório do antigo Seminário virtudes heroicas do Servo de Deus
o Papa Francisco reconhe- Episcopal de São Paulo e, depois de Frei Damião de Bozzano, no século
ceu o milagre por intercessão do Ve- três anos, cursou o colégio em So- Pio Giannotti, sacerdote professo da
nerável Servo de Deus Pe. Donizetti rocaba, voltando em 1900 para o Se- Ordem dos Frades Menores Capu-
Tavares de Lima, que será beatifi- minário. No dia 12 de julho de 1908, chinhos. Ele agora torna-se Vene-
cado, e as virtudes heroicas do Ser- foi ordenado sacerdote em Pouso rável. O frade capuchinho nasceu
vo de Deus Frei Damião de Bozzano. Alegre, MG. em Bozzano, na Itália, em 5 de no-
vembro de 1898, e morreu em Re-
O sacerdote diocesano brasileiro Foi pároco em Pouso Alegre, Ja- cife, no Brasil, em 31 maio de 1997.
nasceu em 3 de janeiro de 1882, em guariúna, Vargem Grande do Sul e
Cássia, MG. Filho de Tristão Tava- Tambaú, SP, aonde chegou no dia Frei Damião chegou ao Brasil
res de Lima e de Francisca Cândi- 12 de junho de 1926. em 1931 e radicou-se em Recife. De-
da Tavares de Lima, teve 8 irmãos. dicou-se às populações mais pobres
Quando Donizetti tinha quatro anos Trabalhou por 35 anos em Tam- do país e às Santas Missões duran-
de idade, sua família mudou-se pa- baú até o dia 16 de junho de 1961, te os seus 66 anos de vida religiosa.
ra a cidade de Franca, SP onde fez o quando faleceu aos 79 anos de idade
por complicações cardíacas. As Santas Missões eram um tem-
po forte de graça e conversão. A ci-
JUNHO 2019 [ OLUTADOR]47 dade parava para ouvir e celebrar
a Palavra de Deus proclamada por
Frei Damião. Durante a semana da
Missão havia encontros específicos
com homens, mulheres, jovens, ca-
tequeses para as crianças, visitas
aos doentes e encarcerados.

A Missão começava geralmen-
te na segunda-feira e encerrava-se
no domingo com a procissão dos
motoristas e a bênção dos automó-
veis pela manhã, e à noite, o grande
sermão com os últimos conselhos
do missionário.] Fonte princip l: V tic n News

Mundo [ Fiéis à Igreja... O crescimento
verificado
foi de 1,1%
nos cinco
continentes,
em relação
ao ano anterior.]

CRESCEM por exemplo, enquanto os fiéis es-
os católicos tão reduzidos a 24,7% da popula-
ção da América do Norte, chegam
no mundo a 84,6% nas Antilhas e a 86,6% na
O ANUÁRIO PONTIFÍCIO DE 2019 APONTA América do Sul.

PARA O AUMENTO DE FIÉIS Certos países se destacam pelo
afastamento de fiéis, como a Fran-
OS NOVOS DADOS trazidos ao NA IGREJA CATÓLICA ça, onde o percentual de católicos
público no dia 7 de março pelo que participam da missa domini-
Anuário Pontifício de 2019 se A DISTRIBUIÇÃO DOS FIÉIS cal oscila entre 2 e 3%.
PELOS CINCO CONTINENTES É ESTA
Sacerdotes e diáconos
AMÉRICAS 48,5% Os números dos Anuários apontam
para um pequeno decréscimo no nú-
referem ao levantamento realiza- EUROPA 21,8% mero de sacerdotes – de 414.969 para
do em 2017. Na ocasião, os fiéis ba- ÁFRICA 17,8% 414.582 -, enquanto cresce o total de
tizados na Igreja somavam 17,7% da bispos, diáconos permanentes, mis-
população mundial. O crescimento ÁSIA 11,1% sionários leigos, agentes de pasto-
verificado foi de 1,1% nos cinco conti- OCEANIA 0,8% ral e catequistas. Este cotejo parece
indicar que certas atividades antes
nentes, em relação ao ano anterior. A TAXA DE CRESCIMENTO realizadas por presbíteros vão sen-
do assumidas por leigos. O número
Do total da população planetá- POR CONTINENTE É A SEGUINTE de seminaristas também mostra
leve redução: de 116.160 para 115.328.
ria – 7 bilhões e 408 milhões de pes- ÁFRICA 2,5%
soas – os católicos batizados che- ÁSIA 1,5% No período coberto pela pesquisa,
gam a 1.313.000.000. Os dados cons- foram criadas 4 novas Sedes episco-
tam de duas publicações do Escri- AMÉRICA 0,96% pais, uma diocese foi elevada a sede
tório Central de Estatística da San- EUROPA 0,1% metropolitana, 4 Exarcados Apos-
tólicos a Eparquias e 1 Administra-
ta Sé: o Anuário Pontifício 2019 e o Nota-se grande variação na pre- ção Apostólica a Diocese.]

Annuarium Statisticum Ecclesiae, sença católica conforme a região

editados pela Tipografia Vaticana. de cada continente. Nas Américas,

[48 OLUTADOR [ JUNHO 2019


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