The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.
Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by Revista O Lutador, 2020-02-08 15:05:04

REVISTA O LUTADOR 3914 - JULHO DE 2019

Sejamos mais solidários

Keywords: Revista Católica,O Lutador,REvista O Lutador,Jornal O Lutador

Religião [ Humanidade: descendentes do amor de Deus

ANO XC / Nº 3914
JULHO / 2019

olutador.org.br

Sejamos
R$9,90 mais solidários

[ Para que n’Ele nossos povos tenham vida



Patrícia Diou, Síria Caixeta
e Acir Antão nas manhãs
da TV Horizonte!

VARIEDADES

INFORMAÇÃO, DIVERSÃO E ESPIRITUALIDADE

De segunda a sexta:
Manhã da Piedade, das 10h às 11h30
Agora é com Acir Antão, das 11h30 às 12h

tvhorizonte.com.br tvhorizonteoficial (31) 3469-2549 App: Rede Catedral

Sociedade [ Rios e vidas que perderam seus cursos Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente

ANO XC / Nº 3913 Aniversariantes
JUNHO / 2019 do mês de julho de 2019

olut dor.org.br O mês de julho vem marcado pelo descanso das férias
escolares, pelo aconchego familiar, pela possibilidade de
Juntos com descansar um pouco, mas também pelo cuidado com a
R$9,90 Papa Francisco saúde. Também cognominado de “mês amarelo”, chama
a atenção para a prevenção e o cuidado com as doenças
[ Sínodo da Amazônia: bom momento para refletir hepáticas. Julho também é marcado pela cor verde. O Mi-
sobre sacramentos e cultura nistério da Saúde busca alertar para a prevenção do câncer
de cabeça e pescoço. “A pessoa prevenida vale por duas.”
Ó Trindade Santa, vós que sois a fonte
de toda santidade, nós vos louvamos Segue o nosso abraço e nosso carinho a todos os
por vosso servo o Pe. Júlio Maria De Lombaerde, aniversariantes que são assinantes ou familiares de
que, assemelhando-se ao Cristo Eucarístico, assinantes de nossa Revista O LUTADOR. Deus abençoe e
cuidou do vosso rebanho com amor, ilumine a cada um de vocês. Lembramos que, no dia 25
zelo e doação. E, deixando-se guiar pelo deste mês, será celebrada uma missa especial na inten-
Espírito Santo, assim como a Virgem Maria, ção de nossos assinantes, também lutadores, e de seus
testemunhou a ternura missionária da Igreja. familiares, de modo especial para os doentes e acama-
Concedei-me, ó Trindade Santa, pela intercessão dos. O Celebrante do dia 25/07/2019 será o Pe. João Lúcio
do Pe. Júlio Maria, a graça que vos suplico Gomes Benfica, SDN. Deus abençoe a todos os nossos
[pedir a graça]. E, se for de Vossa santa vontade, assinantes.
dai que Pe. Júlio Maria alcance a honra
[Caso seu nome não apareça na lista, entre em con-
dos altares, para Vossa glória tato com nosso setor de assinaturas: Fone: 0800-940-2377
e para o bem de tantas almas. E-mail: [email protected]]
Por Cristo, Nosso Senhor Amém.
Dia 1º - CLAUDIO ROBERTO RIBEIRO DA SILVA / NELIO MOREIRA GONCALVES. / Dia 02 - CORITHA OLIVEIRA GARIGLIO /
JOSE PEDRO HENRIQUE / JOSE ROBERTO PIRES MACHADO / ORILDO DE ALMEIDA FONTES / PAR. SAO FRANCISCO DE
ASSIS / FREI JOSE BASTOS DA SILVA / VILMA DIAS DA SILVA FREITAS. Dia 03 - ADAMO CRIVELLI / MARIA VANDA DE ARAUJO.
/ Dia 04 - AIDA RABELO / GERALDA VIEIRA DE M. GLORIA / JACKSON C COSTA/LUCELIA T MACHADO / LUIZ ANTONIO NETTO
/ MARIA DA PENHA SANTOS / PAULO JOSE VICENTE SOBRINHO. Dia 05 - JULIO GAMA BICALHO / VALDECI TAVARES DE
SOUZA. / Dia 06 - ANTONIO DA COSTA NETO / GUSTAVO PRADO DE BRITO / JOAO FRANCISCO DUARTE. Dia 07 - ANTONIA
FORTALEZA DA SILVA / DR. WEBER ARAUJO E ALZIRINHA RIBEIRO ARAUJO / MARILIA DE ALMEIDA PINTO NAZAR / VINICIO
LADEIRA RODRIGUES. Dia 08 - CARMO MIGUEL / DILCINETE DE ARAUJO RIBEIRO ALVES / JOAO PROCOPIO DAS NEVES
/ JOAQUIM GUSHIKEN / MARIA BEATRIZ GUIMARAES FENELON / PRISCILA JARA ALMADA. Dia 09 - EDESIO E MAGALY /
EDITE BARBARA DE OLIVEIRA / ELIZABETH VIEIRA / MARIA ALACOQUE A. COELHO / NATHALIA BERTO / PADRE PAULO
KOWALCZYK / RACHEL APARECIDA RODRIGUES / SERGIO EDUARDO MICHETTI FRADE / ♥ JÚLIA MARIANO RICARTE ♥.
Dia 10 - IONE DO CARMO DA SILVA GOMES / IRLANE DE SOUSA VELOSO / JERONYMO CREPALDI / JOSE LEROY SILVA
/ MARIA DA CONCEICAO SILVA RIBEIRO / MYRIAN OTAVIANO DE BARROS / PADRE WESLEY CLAY ALVES RODRIGUES.
Dia 11 - ANTONINO E ANTONINO SOUZA LIMA / ANTONIO SOUZA / CECILIA EDNA DOS SANTOS PEREIRA / CLAUDIA SAUDANHA
/ LUIZ GONZAGA MACIEL / MARIA DA PENHA MACAIRO / NEIDE MARQUES DA SILVEIRA / WALDEMAR LUCAS DOS SANTOS
- EM MEMORIA. / Dia 12 - JOAO GUALBERTO TEIXEIRA / MARIA DO CARMO PEREIRA DE ALMEIDA / MARIO NUNES FILHO /
ORLANDO TEIXEIRA CAMPOS / PADRE JOSE PEDRO LUCHI / RAIMUNDO GUALBERTO PEREIRA. Dia 13 - ANTONIO TORRES
VAZ / ELISABETH SILVA / FERNANDA MARIA MADEIRA MARTINS / FRANCISCO ANDRADE DA SILVA FRANCO / JONES CORSO
- EMM / JOSE JULIO ARENA ARENQUE / NADIR MARQUES BERNARDES. / ♥ JADE MARIANO RICARTE ♥ / Dia 14 – BALTAZAR
BRAZ DE ARAUJO / CELIA REGINA DE OLIVEIRA / DENILSON DE PINHO SILVA / ERENITA PEREIRA / HEDIO FRANCISCO
NUNES / JANES SILVA PEREIRA / JOSE FREIRE DE SOUZA / JOSINO FERREIRA FILHO / LUIZ ALBERTO MASSAROTE / PADRE
PEDRO TERRA FILHO. / Dia 15 – ALEXANDRE MARTINS DE JESUS / ANTONIO HONORIO DA SILVA / JOSE INACIO GROSSI
/ MARIA OLIMPIA FIGUEIRA INACARATO. Dia 16 – PE. CUSTODIO FRANCISCO DE SA / ROMULO DO CARMO RODRIGUES /
ROSEMEIRE VIEIRA GONCALVES. Dia 17 – CESAR BAHIA / IRMA MARIA DAS GRACAS CAVALCANTE CAMPELO / MARIA STELLA
FERREIRA KEER / OSVALDO DO AMARAL - EMM / WALDYR BASTOS. / Dia 18 – DEDALEIA MENDONCA / GABRIEL PIRES /
HELVIA ELIANE VICTOR GOUVEIA E GERALDO / JORGE EDUARDO ARAUJO CAIXETA / MARIA APARECIDA DO NASCIMENTO
PAIVA / MARIA HELENA PINHEIRO MARTINS CAIAFA / MARIA VILMA CAMPOS CANCADO / MARINA CORBELINO DOS SANTOS /
PAULO MATIAS SILVA- EMM / RAFAEL AFONSO DE ANDRADE LEITE / SANDRA MARIA LOURENCO / SANDRO ADRIANO RIBEIRO
/ WALDIR MANGILI. Dia 19 – CELSO CAETANO DE SOUZA / IRENE DE PAULA PEREIRA / MARIA ANTONIA FERREIRA CARDOSO
/ ROSANIA MARIA APARECIDA GONCALVES / SONIA MARIA RODRIGUES DE BARROS. Dia 20 – MARIA LUIZA MEDEIROS /
NADYA NANCY PRADO / PAULO ANTONIO MILISZWESKI / SERGIO CHRISTIANO BREVNES STEFANI. Dia 21 - LUIS ANTONIO
DA SILVA / RITA DE CASSIA DOS SANTOS ALVARENGA. Dia 22 – EUZENIR MARIA OLIVEIRA / GERALDO RODRIGUES DE
OLIVEIRA / JOSE MAGRI DE MENDONCA / NEUZA MARIA CARDOSO DA SILVA / PE. PAULINHO. Dia 23 - ANIBAL MARIANO DA
SILVA / LIVIA RABELLO SANGLARD DA SILVA / LUIZ CARLOS DA SILVA LESSA / MARIA ANTONIA DE CARVALHO / MARIA DE
FATIMA FERREIRA. Dia 24 – ANTONIO AUGUSTO ROMAN / CONSTANTINO FERREIRA PIRES - EMM / FRANCISCO CARLOS
AZEVEDO / JOSE ANCHIETA DE FIGUEIREDO / MARIA DO CARMO TEIXEIRA DE AMORIM / PE. ANTONIO RODRIGUES PEREIRA.
Dia 25 – ADINAMAR DANGELO PINHEIRO / ANA ADRIANA DA SILVA / ANA ISLAN BRAGA / JOSE CUNHA CAMPOS / MARILENE
DE ASSIS MARINHO / MONSENHOR PAULO DAHER / OLGA ALVARES DE MELO. / Dia 26 – ANTONIO CARLOS PAIM / JAIR M.
NEVES / JOSE TADEU DE MELO / LUCIANA RODRIGUES VALADARES / MARIA DA SILVA NASCIMENTO / VICENTE GOMES PINTO
COELHO. Dia 27 – ADEILSON SCARABELLI / APARECIDA VEIGA MACEDO / DR. JOSE ROBERTO CANOAS / ELZA MARIA VITOR
DE OLIVEIRA / MARIA LAIS VIGATTO / MARISA DE MELO MENDES / NATALIA ALVES DE PRADO. Dia 28 – FRANCILENE AP. AG.
TORRES / JONAS APARECIDO DOS REIS / LAUDELINA RIOS DIAS / WANDA LEITE FONSECA / WANDERLAN L.COUTINHO.
Dia 29 – MARCIO MIRANDA CUNHA / ODAIR CIRIACO FERNANDES - EMM / PE. ORLANDO F. BARBOSA / VILCA DE CARVALHO
BAHIA PINTO. Dia 30 – BRAZ FRANCISCO DA SILVA / CARLOS BRAHIM BAZZARELLA / HILARIO JOSE DA SILVA / HORMEZINDA
PEREIRA DE M. SANTOS / JOSE MARIA ALVARENGA / MARIA DAS GRACAS DOS SANTOS / MONICA MARIA BAIAO / SILVANA
COSTA SANTOS / VILMAR ELISEU BUZZI. Dia 31 - EDUARDO FERREIRA NASCIMENTO / HAYDEE CARVALHO ARANHA / JANIO
RICHETTI / NIZIA DE SOUZA PEREIRA MEDEIROS / SOLANGE APARECIDA BELMONTE MARTINELLI GOMES / WILLIAN ANTONIO.

no site e no facebook... Siga a Revista O Lutador pelo twitter.com/revistaolutador

Ir. Lúcia Costa, descanse em Paz!

IRMÃS SACRAMENTINAS DE NOSSA SENHORA

AOS 11 de abril de 1920, na cidade rias Leigas Sacramentinas de BH e Querida Irmã Lúcia, no seu des-
de Dores do Indaiá, Minas Gerais, animou, em nome da Congregação, canso eterno, interceda por seus fa-
nasceu Jara de Almeida Costa, fi- os demais grupos dos/as MLS de ou- miliares, amigas/os e por toda a Con-
lha de Altina de Almeida Costa e José tros municípios e estados. gregação, na celebração dos seus 90
Theodoro Costa. Como muitas de nós, anos de história.
ela teve sua infância feliz, em contato Hoje, com seus 99 anos de idade e
direto com a natureza, na zona rural. 80 anos de Vida Religiosa Consagra- Nossa eterna gratidão! Descan-
da, ela, acolhendo o último chama- se em Paz!
Mas, quando Deus toca o cora- do do Senhor em sua vida, se despe-
ção de uma pessoa, nada e ninguém diu de nós para se unir a Comunida- Belo Horizonte, MG,
têm mais poder sobre ele. Bem cedo, de celeste. Como Irmãs, temos um 3 de junho de 2019.
o coração da jovem Jara foi desperta- coração profundamente agradecido
do para a vocação religiosa. Bem no a Deus, por nos ter dado, por tantos
início, conheceu as Irmãs Vicentinas anos, a Irmã Lúcia. E reconhecemos
e, quando estava decidida em entrar todo o bem que ela fez em favor de
para a família Vicentina, eis que, em nossas Congregações Julimarianas.
abril de 1938, Padre Júlio Maria pre- O seu amor, a sua dedicação, o seu ze-
gou durante a Semana Santa, em Do- lo em manter vivo o ideal apaixonado
res do Indaiá, empolgando, com suas do Fundador pela Eucaristia e Maria,
palavras e testemunho missionário, ficam para nós como testemunho de
a juventude desta cidade. uma mulher de fé.

Padre Júlio Maria, apaixonado pe- A morte nos revela que não temos
la Vida Religiosa, conseguiu desper- vida por nós mesmos. Somos total-
tar em Jara a coragem de deixar de mente dependentes de Deus e de sua
imediato sua família e seguir para vontade. Ela faz parte da existência
Manhumirim. Em 13 de maio de 1938, de todos nós, faz parte do mistério
festa da Congregação, ela deu início da vida. Somos seres mortais. Nin-
à sua formação religiosa no Postu- guém vive para sempre neste mundo.
lantado. Um mês depois, foi admiti- Acolhendo este mistério, nos conso-
da ao Noviciado. Tendo concluído o lemos mutuamente e firmemos nos-
ano canônico, professou em 4 de ju- sa fé na Palavra de Jesus: “Eu sou a
lho de 1939 os Primeiros Votos. Segu- ressurreição e a vida... E todo aquele
ra de sua vocação, em 5 de janeiro de que vive e crê em mim, jamais mor-
1943 fez os seus Votos Perpétuos, dei- rerá”. (Jo 11,25-26.)
xou o nome civil e passou a chamar-
se Irmã Maria Lúcia Costa.

Irmã Lúcia assumiu vários servi-
ços na Congregação: Professora, Di-
retora, Conselheira Geral, Mestra de
Noviças, Superiora Geral e trabalho
pastoral em Angra dos Reis, RJ, Pinhei-
ral, RJ, e Conselheiro Lafaiete, MG. Ao
todo, residiu em dez comunidades da
Congregação. Sempre conservou um
grande amor ao Fundador, de quem
falava com emoção. Assumiu para si
o ideal eucarístico-mariano, transmi-
tido pelo Padre Júlio Maria à Congre-
gação. Com a idade avançada e saú-
de fragilizada, foi transferida para a
Comunidade Madre Beatriz no final
de 2008. Enquanto teve resistência,
acompanhou o grupo das Missioná-

[ Expediente [ Editorial

O LUTADOR é uma publicação mensal Sejamos mais solidários...
do Instituto dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora TALVEZ SEJA AINDA ARISCADO AFIRMAR, mas já dá para intuir que pade-
cemos de uma espécie de involução social no Brasil. Quando cresce o
olutador acesso ao trabalho, ao estudo, ao emprego, à saúde, à assistência so-
ISSN 97719-83-42920-0 cial e, juntamente com isso, verifica-se um aumento nos índices eco-
nômicos, então podemos afirmar que estamos em processo de evolu-
Fundador ção, de crescimento social. Quando as pessoas crescem na capacidade
Pe. Júlio Maria De Lombaerde de diálogo, no respeito às diferenças, na tolerância religiosa... quando
se dão passos para a garantia da vida e do bem estar de todos... quando
Superior Geral a justiça figura verdadeiramente acima dos interesses particulares e
Pe. José Raimundo da Costa, sdn de grupos... estamos diante de uma evolução social.
Por outro lado, quando assistimos ao crescimento da intolerân-
Diretor-Editor cia religiosa e do desprezo às minorias, quando aumentam os maus tra-
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn tos aos migrantes, aos moradores de rua e indefesos; quando crescem
as agressões e mortes de mulheres, negros e empobrecidos; quando a
Jornalista Responsável homofobia leva à violência e morte de pessoas que compõem o grupo
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P) LGBTI; quando a violência verbal, física e armada cresce por todos os
lados, decididamente estamos diante de uma involução social. Esta-
Redatores e Noticiaristas mos decrescendo socialmente...
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn Presenciamos um estágio social em decadência, em um pro-
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn cesso de regressão, uma espécie de retorno à barbárie, aos tempos em
Frt. Matheus R. Garbazza, sdn que o ser humano agia mais dominado pelo instinto e pelo uso da for-
Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno, ça que guiado pela razão. Mais orientado pelo espírito do ódio e pelo
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini rancor que guiado por uma sadia espiritualidade; mais propenso ao
e Dom Edson Oriolo enfrentamento irresponsável que ao diálogo maduro, honesto e since-
ro. Erroneamente entendendo-se como “superior aos demais”, guiado
Colaboradores por falsas verdades, é incapaz de enxergar os próprios erros e limites.
Vários Diante da situação social em que nos encontramos, não pode-
mos ficar na simples condição de vítimas, muito menos ignorar a tra-
Redação ma social em que vivemos, que nos atinge e fere não somente os prin-
[email protected] cípios cristãos, mas até o mínimo da civilidade que prevê: “meu direi-
to vai até onde começa o do outro”.
Correspondência Na qualidade de cristão e como seres humanos, somos chama-
Comentários sobre o conteúdo de olutador, dos a uma postura mais firme e convicta diante desta situação de in-
sugestões e críticas: [email protected] volução social. Não podemos deixar que sejamos levados pela “onda”
Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 / Planalto da violência, da indiferença, da intolerância. Temos de fazer jus à pes-
CEP 31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil soa de Jesus, que nos deixou um caminho a ser seguido: o caminho da
vida em abundância para todos (cf. Jo 10,10) e da certeza de que somos
Assinaturas e Expedição todos irmãos (cf. Mt 23,8). Qualquer ameaça ao outro, qualquer amea-
Maurilson Teixeira de Oliveira ça à vida humana e à vida do planeta representa um atentado à convi-
vência e um atentado ao Criador.
Assinaturas Nossa busca de Deus e nossa vivência espiritual devem condu-
R$ 80,00 / Brasil - www.olutador.org.br zir-nos, cada vez mais, a atitudes mais plenamente humanas e sadias,
[email protected] mais solidárias e responsáveis, mais harmoniosas para conosco, pa-
0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas ra com nossos semelhantes, para com a natureza e o Criador. Somos
imagem e semelhança de Deus. Que saibamos criar espaço para que
Outros países floresça em nós o que temos de melhor e mais humano. Isto nos fará
R$ 80,00 + Porte mais felizes, mais próximos de Deus e mais próximos uns dos outros.
Somos desafiados a seguir as trilhas do Evangelho, que apon-
Edições anteriores tam para a acolhida e a solidariedade. Somos chamados a pensar, re-
Tel.: 0800-940-2377 fletir, buscar e construir uma sociedade “onde caibam todos”, onde to-
dos tenham o mínimo necessário para uma vida com dignidade. Que
Site em cada gesto, atitude e decisão, sejamos um pouco mais solidários...
revista.olutador.org.br E isso é pra começo de conversa.]
facebook.com/revistaolutador
[DENILSON MARIANO
Projeto gráfico e diagramação
Valdinei do Carmo / Orgânica Editorial

Revisão
Antônio Carlos Santini

Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada – FSC®
Praça, Pe. Júlio Maria, 01 / Planalto
31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil
olutador.org.br

Telefax
[31] 3439-8000 / 3490-3100

Tiragem desta edição
3.200 exemplares
Foto de capa
facebook.com/CMDHRR

As matérias assinadas Procure por produtos
são da responsabilidade certificados FSC®
de seus autores,
não expressam,
necessariamente,
a opinião de olutador. ]

|S U M Á R I O OLUTADOR • REVISTA MENSAL • ANO XC • Nº 3914 • JULHO • 2019 •

9Humanidade: 16Missionários
descendentes da vida
do amor e da família
de Deus
18 Algumas “dicas”
6ENTREVISTA: para o uso da Bíblia
A migração na catequese
dos Venezuelanos
e a acolhida 20 Cristo vive
da Igreja e n’Ele somos
“o agora de Deus”!
14Para que
n’Ele nossos 22 O relacionamento
povos tenham na terceira idade
vida
23 70 anos
12A Igreja da Família Cordimariana
pensada em Caucaia, CE
“em rede”
24 Também os mendigos
47Batizados 48A exploração são missionários
e enviados: do trabalho
a Igreja de Cristo na Amazônia 25 Dois princípios
em missão para a formação litúrgica
no mundo
26 Mentiram para nós...
27 Violência: jogo masculino
28 Pensamento azul
30 Vicente de Paulo,

apóstolo da caridade
31 Roteiros Pastorais
43 Seminário Internacional

“Futuro do Trabalho”
44 FAKE NEWS,

a manipulação
a serviço do poder
46 A irrupção do laicato
às vésperas do Vaticano II
47 Batizados e enviados:
a Igreja de Cristo em
missão no mundo

Capa [ “São pessoas, e às vezes nós temos a dificuldade de ver a dignidade

A migração

dos Venezuelanos
e a acolhida da Igreja

OLutador: Irmã Telma, o que a Entrevista com ❯ Ir. Telma Missionária em Pacaraima-RR
levou a trabalhar com os mi-
grantes no norte do Brasil? ma situação de absoluta miséria. çaram a chegar os não indígenas.
Ir. Telma: Sou Missionária de Nossa Durante o dia ficavam nos sinais Uma caminhada de mais de 200
Senhora das Dores. Estou em Rorai- do trânsito e à noite iam para um km no asfalto e no sol, sem estru-
ma desde 2013, que é um marco do mercadão que havia em Boa Vis- tura nenhuma para que as pessoas
primeiro centenário da nossa con- ta, onde faziam suas necessidades. chegassem a Boa Vista. Uma situa-
gregação. Ao ir para lá, fomos com Tinham acesso a uma torneira de ção muito sofrida por conta do sol
os olhos mais voltados para a ju- água e por ali tentavam sobreviver. quente, pois o bioma de Roraima
ventude. Em 2015, eu era acadêmica Uma realidade difícil de ver e ficar não é um bioma que se aproxima
de Direito, e Roraima, um Estado de quieto. Chamamos a Universidade da Amazônia com grandes árvo-
uma só diocese, com várias realida- Federal e outras entidades para se- res. A vegetação é mais baixa, muito
des diferentes, o que representa um rem parceiros nossos para poder- próxima ao cerrado; então, não ha-
grande desafio. Dom Roque, então mos sentar, nos reunir e discutir via nem mesmo uma árvore para
Bispo de Roraima, em 2015 me con- sobre essa realidade e nos inteirar que esses migrantes pudessem se
vidou para assumir o CMDH – Cen- em relação a essa situação migra- esconder do sol quente. E era uma
tro de Migrações e de Direitos Hu- tória. No ano seguinte, 2016, come- caminhada de mais de 200 km.
manos da diocese. Atendendo a esse
apelo de Dom Roque, iniciamos um [6 OLUTADOR [ JULHO 2019
trabalho que, no início, era o aten-
dimento a 10 famílias por mês, na
sua maioria indígenas ou pessoas
com problemas de habitação, ten-
do pequenas propriedades no inte-
rior. Ainda neste ano começaram
a surgir os primeiros venezuela-
nos, que eram os indígenas Waral.

O Lutador: Como se deu o início des-
te trabalho?
Ir. Telma: As primeiras que começa-
ram a chegar foram as mulheres e
as crianças. Elas se alojavam nos
sinais de trânsito, pedindo esmo-
la. Começamos a acompanhar e era
muito difícil ver tanta criança nu-

dessas pessoas, de resgatar a dignidade delas...

O Lutador: Como se dava o atendi- relação ao que acontece na trama de arroz está custando 85,00 reais.
mento aos migrantes diante de si- política da Venezuela. Numa rápi- A moeda venezuelana é muito des-
tuação real na qual chegavam a Pa- da visão, como é que poderíamos valorizada. Uma inflação muito al-
caraima, RR? enxergar melhor o drama que ge- ta e a crise de abastecimento, visto
Ir. Telma: Em 2017, houve um marco ra toda essa situação? que o país não produz alimentos, a
nesse meu trabalho com a migração. Ir. Telma: Toda essa realidade é uma Venezuela só importa. Nisso, há o
Uma senhora de 60 anos morrendo luta pelo poder entre os poderosos. problema do embargo norte-ameri-
de desnutrição. Até então, eu nunca As farpas dessa luta caem nos po- cano, que dificulta a importação de
tinha visto um adulto morrendo de bres. No começo, somente nos po- alimentos. Nos últimos dias, parece
fome. Essas coisas marcam a gen- bres. Agora, até o salário mínimo que Maduro resolveu aceitar ajuda
te. A gente lida com a dor do povo não atinge o valor de uma cesta bá- humanitária que fosse levada pela
diariamente. Em 2016, nem a Polí- sica. Não é uma questão de quem Cruz Vermelha. Isso é um sinal po-
cia Federal tinha a estrutura neces- está certo ou errado. Os dois lados sitivo, pois antes de se preocupar
sária para atender a essas pessoas. estão errados, pois nada justifica com a política ou com quem gover-
No primeiro semestre de 2016, ha- o que o povo está passando. Rece- na, temos que nos preocupar com
via pessoas agendadas para atendi- bi fotos de um supermercado. Há as pessoas que são nossos irmãos,
mento em 2018. Então, juntamente poucos ingredientes lá, e um quilo independente da língua que falam,
não importa de que raça são, se es-
Às vezes temos medo do diferente. tão do lado de cá ou de lá da frontei-
São pessoas que não falam muito o português. ra, são nossos irmãos. São pessoas
Mas são pessoas que precisam ser acolhidas, e, às vezes, nós temos a dificulda-
respeitas e amadas como pessoas, de de ver a dignidade dessas pes-
são nossos irmãos e irmãos. Um gesto muito soas, de resgatar a dignidade delas.
importante é você defender o migrante,
sobretudo onde ele é mal falado. O Lutador: Quem são os migrantes
Ninguém sai da sua terra, de sua família, que chegam da Venezuela?
de sua cultura se não for obrigado a fazer Ir. Telma: A gente faz, nesse senti-
isso. Eu tenho, você tem um alicerce do umas experiências muito duras.
que nos sustenta. Essas pessoas não têm... Uma mulher me disse: “Olha, irmã,
na Venezuela eu sou uma advoga-
da. Aqui eu sou uma indigente”. É [▶
uma quebra muito forte, a pessoa
não se reconhece mais como uma
pessoa em potencial. Às vezes, o tra-
balho vai ficando duro demais para
nós também. Em meados do ano
passado (2018), eu já me sentia des-
gastada. E eu tinha sido convida-

com eles, começamos a ajudar os
migrantes fazendo um pré-atendi-
mento. Fazemos isso até hoje para
ajudar com os atendimentos. Nós,
o CMDH, a Universidade Federal,
com as irmãs Scalabrinianas e a
Pastoral Universitária, junto com a
PF, íamos fazendo esse trabalho de
preenchimento de fichas, tirando
as fotos, facilitando o processo. Hoje
são 107 instituições diferentes que
nos ajudam nesse pré-atendimento.

O Lutador: Para nós, aqui no Bra-
sil, é difícil nos posicionarmos em

JULHO 2019 [ OLUTADOR]7

Capa [[SAamcraigmraeçnãtoindoossdVeenNeozsusaelaSnenoshoeraa, amcioslshiiodnaádriaosIghreája9.0.. anos...

[▶ da pelo professor da Universidade ças nossas, hoje, nas escolas, dão gam lá estão sendo interiorizados.
Federal para realizar um trabalho uma mordida na maçã e jogam o Minas Gerais já acolheu, Rio de Ja-
numa localidade rural, numa es- resto fora. E essa criança de quatro neiro, São Paulo, Goiás... Há o pro-
cola, para poder mudar um pouco anos não sabia o que era uma maçã. grama de interiorização do governo
de foco. Fui lá para ver um pouco Então, essas coisas me provocam. em parceria com agências da ONU.
os jovens e os adolescentes de lá e Há o programa da Caritas e o Servi-
ter um respiro novo. Quando está- Esse ço dos Jesuítas, que também fazem
vamos saindo de Boa Vista, vimos trabalho esse trabalho. Às vezes temos medo
uma família que estava caminhan- veio para minha do diferente. São pessoas que não
do no acostamento, em direção de conversão, falam muito o português. Mas são
Pacaraima, RR. Paramos, acolhe- porque não há outro pessoas que precisam ser acolhi-
mos a família: pai, mãe e um filho caminho para a conversão das, respeitas e amadas como pes-
de uns quatro anos. E no caminho, do que a convivência soas, são nossos irmãos e irmãos.
fomos conversando. E eles estavam com quem não tem nada, Um gesto muito importante é vo-
na direção contrária, pois a maio- nem esperança. cê defender o migrante, sobretudo
ria vem, e eles estavam indo. E o se- onde ele é mal falado. Ninguém sai
nhor me disse: “Olha, meus paren- A gente começa a se questionar so- da sua terra, de sua família, de sua
tes estão passando fome e a gente bre as coisas menores a que a gen- cultura se não for obrigado a fazer
conseguiu muito arroz aqui e esta- te não responde como deveria, o isso. Eu tenho, você tem um alicer-
mos levando pra eles”. Eu pergun- que é tão possível. Certo dia, com ce que nos sustenta. Essas pessoas
tei a eles quanto de arroz estavam uma mulher lá no CMDH, eu dei a não têm...
levando, e ele me mostrou: ele es- ela comida e dei um sabonete, um
tava carregando dois fardos de ar- creme dental, desodorante, xam- O Lutador: Como você experimenta
roz, a esposa estava com um fardo pu, condicionador e um creme pa- Deus nessas realidades?
e a criança de quatro anos com dois ra pele. Eram sete itens. Eu nunca Ir. Telma: Eu sempre tive dificuldades
pacotes. E aquilo me impactou. Se vou esquecer isso. A mulher, de uns em identificar a Providência divina
30 e poucos anos, caiu num cho- nessas realidades. Eu fui educada
uma criança pode carregar o seu ro convulsivo. Aquela mulher me a sempre identificar um problema
fardinho de arroz, eu também posso disse que havia mais de seis meses e a buscar resolvê-lo. Eu fui educa-
carregar o meu. Essa cena me deu que ela não sabia o que era usar es- da para isso. E às vezes a gente fala
uma renovada! É muita gente na ses produtos de higiene. Eu nunca que tem que acreditar que Deus vai
rua em situação absoluta de rua. consegui me colocar no lugar dessa fazer o caminho. Que Deus provê,
mulher. Nunca consegui me ima- Deus cuida. No início do trabalho
O Lutador: Em que esse trabalho mais ginar a lavar o cabelo sem xampu, era muito assim. Até que chegou a
marcou sua vida? tomar banho sem sabonete. É al- uma proporção em que eu não ti-
Ir. Telma: Há poucos dias, eu dei uma go tão inerente para mim. E essas nha mais como dar jeito. Aí é que
maçã para uma menina de uns qua- pessoas não têm o mínimo. É esse experimentamos, de fato, a Provi-
tro anos, na rua. E ela começou a contato com o outro que transfor- dência divina. E ter de fazer essa
brincar com a fruta como se fos- ma a gente. experiência de que Deus cuida da
se uma bola. A mãe se desculpou gente... A missão é de Deus, nós so-
comigo e disse que ela não sabia o O Lutador: O seu próprio testemu- mos só instrumento. Não é por mé-
que era uma maçã. Quantas crian- nho já é um apelo. Mas, diante disso, rito, é por graça!]
que apelo você deixaria para aque-
les que se colocam num seguimen-
to a Jesus, hoje?
Ir. Telma: A primeira coisa é rezar. O
que sustenta a gente de pé é a oração
de quem está longe. Depois: mui-
tos desses venezuelanos que che-

[8 OLUTADOR [ JULHO 2019

Religião [ Neste momento da história a paixão pelo humano,
pela humanidade inteira, está em grave dificuldade...

POR ocasião do XXV aniversário de
fundação da Pontifícia Academia
para a Vida, o Papa Francisco diri-
giu uma carta ao seu Presidente,
Dom Vincenzo Paglia. Transcreve-
mos a seguir excertos do texto.
A comunidade humana
Humanidade: A comunidade humana é o sonho [▶
de Deus desde antes da criação do
descendentes mundo (cf. Ef 1,3-14). Nela o Filho
doamordeDeus eterno gerado por Deus assumiu
carne e sangue, coração e afetos. No
Em 11 de fevereiro de 2019, mistério da geração a grande famí-
foi divulgada a Carta do lia da humanidade pode encontrar-
Papa Francisco “Humana Communitas”, se a si mesma. De fato, a iniciação
sobre o tema da Comunidade Humana. familiar na fraternidade entre as
criaturas humanas pode ser consi-
JULHO 2019 [ OLUTADOR]9 derada um verdadeiro tesouro es-
condido, em vista da reorganização
comunitária das políticas sociais
e dos direitos humanos, dos quais
hoje sentimos grande necessidade.
Por isso, é preciso crescer na cons-
ciência da nossa descendência co-
mum da criação e do amor de Deus.

A fé cristã confessa a geração
do Filho como o mistério inefável
da unidade eterna de “fazer ser” e
de “amar” que está na intimidade
de Deus Uno e Trino. O renovado
anúncio desta negligenciada reve-
lação pode abrir um capítulo no-
vo na história da comunidade e da
cultura humanas, que hoje invo-
cam – como “gemendo devido às
dores do parto” (cf. Rm 8,22) – um
novo nascimento no Espírito. No
Filho Unigênito revela-se a ternura
de Deus e a sua vontade de resgate
de cada humanidade que se sente
perdida, abandonada, descartada,
condenada sem remissão. O mis-
tério do Filho eterno, que se fez um
de nós, sela de uma vez por todas
esta paixão de Deus. O mistério da
Cruz – «por nós e pela nossa salva-
ção» – e da sua Ressurreição – como
«primogénito de muitos irmãos»
(Rm 8, 29) – diz até que ponto esta
paixão de Deus está destinada à re-
denção e ao cumprimento da cria-
tura humana.

Religião [ Carta do Papa Francisco “Humana Communitas”, sobre o tema

[▶ Devemos voltar a evidenciar es- objetivo de tornar «manifesto que história da terra e dos povos. É um
ta paixão de Deus pela criatura hu- ciência e técnica, postas ao serviço alarme provocado pela pouca aten-
mana e o seu mundo. Ela foi criada da pessoa humana e dos seus di- ção concedida à grande e decisi-
por Deus à sua “imagem” – “varão reitos fundamentais, contribuem va questão da unidade da família
e mulher” a criou (cf. Gn 1,27) – co- para o bem integral do homem e humana e do seu futuro. A erosão
mo criatura espiritual e sensível, para a atuação do projeto divino desta sensibilidade, por obra dos
consciente e livre. A relação entre de salvação (cf. Gaudium et Spes, poderes mundanos da divisão e da
o homem e a mulher constitui o 35)» (João Paulo II, Vitae Myste- guerra, está a crescer globalmente,
lugar eminente no qual a criação rium, 11/02/1994, n. 3). [...] com uma velocidade muito supe-
inteira se torna interlocutora de rior a da produção dos bens. Tra-
Deus e testemunha do seu amor. Degradação do humano ta-se de uma verdadeira cultura –
Este nosso mundo é a morada ter- e paradoxo do “progresso” aliás, seria melhor dizer de uma
rena da nossa iniciação na vida, o Neste momento da história a pai- anticultura – da indiferença pela
lugar e o tempo no qual já pode- xão pelo humano, pela humani- comunidade: hostil aos homens e
mos começar a pregustar a morada dade inteira, está em grave difi- às mulheres e aliada com a prepo-
celeste à qual estamos destinados culdade. tência do dinheiro.
(cf. 2Cor 5,1), onde viveremos em
plenitude a comunhão com Deus As alegrias das relações fa- Esta emergência revela um pa-
e com todos. A família humana é miliares e da convivência so- radoxo: como pôde acontecer que,
uma comunidade de origem e de cial parecem profundamen- precisamente no momento da his-
destino, cujo êxito «está escondi- te desgastadas. A descon- tória do mundo em que os recur-
do, com Cristo, em Deus» (Cl 3,1-4). fiança recíproca dos indiví- sos económicos e tecnológicos dis-
Neste nosso tempo, a Igreja é duos e dos povos alimenta- poníveis nos permitiriam cuidar
chamada a relançar com vigor o se de uma desmedida bus- suficientemente da casa comum
humanismo da vida que promana ca do próprio interesse e de e da família humana, honrando a
desta paixão de Deus pela criatura uma competição exaspera- entrega que nos fez o próprio Deus,
humana. O compromisso a com- da, que não desdenha a vio- precisamente eles os recursos eco-
preender, promover e defender a lência. A distância entre a nómicos e tecnológicos dão origem
vida de todos os seres humanos ga- obsessão pelo próprio bem às nossas divisões mais agressi-
nha impulso deste incondicional -estar e a felicidade da hu- vas e aos nossos piores pesadelos?
amor de Deus. É a beleza e a atra- manidade partilhada parece Os povos sentem aguda e doloro-
ção do Evangelho, que não reduz aumentar: até fazer pensar samente, e muitas vezes de modo
o amor ao próximo à aplicação de que entre o indivíduo e a co- confuso, o aviltamento espiritual –
critérios de convivência económi- munidade humana já esteja poderíamos dizer o niilismo – que
ca e política nem a «algumas acen- em curso um cisma. subordina a vida a um mundo e a
tuações doutrinais ou morais, que uma sociedade súcubos deste pa-
derivam de certas opções ideológi- Na Encíclica Laudato si’ eviden- radoxo. A tendência a anestesiar
cas» (Evangelii Gaudium, 39). ciei o estado de emergência no qual esta profunda dificuldade, através
Esta paixão animou a ativi- se encontra a nossa relação com a de uma cega corrida para alcançar
dade da Pontifícia Academia pa- o gozo material, produz a melanco-
ra a Vida desde o momento da sua [10 OLUTADOR [ JULHO 2019 lia de uma vida que não encontra
instituição há vinte e cinco anos, destino à altura da sua qualidade
por parte de São João Paulo II, de espiritual. Devemos reconhecê-lo:
acordo com a sugestão do Servo os homens e as mulheres do nos-
de Deus e grande cientista Jérôme so tempo muitas vezes sentem-se
Lejeune. Ele, lucidamente convic- desmoralizados e desorientados,
to da profundidade e da rapidez sem visão.
das mudanças que decorriam no
campo biomédico, julgou oportu- Estamos todos fechados em nós
no apoiar um compromisso bem mesmos. O sistema do dinheiro e a
estruturado e orgânico sobre es- ideologia do consumo selecionam
ta frente. A Academia pôde então as nossas necessidades e manipu-
desenvolver iniciativas de estu- lam os nossos sonhos, sem qual-
do, formação e informação com o quer consideração pela beleza da
vida partilhada nem pela habita-
bilidade da casa comum.

da Comunidade Humana...

Uma escuta responsável deste horizonte humanista, tam- turais. Ou se até perdemos de vis-
O povo cristão, ao ouvir o grito dos bém no seio da Igreja. Por con- ta a sua centralidade, antepondo
sofrimentos dos povos, deve rea- seguinte, sejamos os primeiros, as ambições da nossa hegemonia
gir aos espíritos negativos que fo- questionemo-nos sinceramente: espiritual sobre o governo da cida-
mentam a divisão, a indiferença, as comunidades eclesiais hoje têm de secular, fechada em si mesma e
a hostilidade. Deve fazê-lo não só uma visão e oferecem um teste- nos seus bens, aos cuidados da co-
para si, mas por todos. E deve fazê munho à altura desta emergên- munidade local, aberta à hospita-
-lo imediatamente antes que seja cia da época presente? Estão se- lidade evangélica para com os po-
demasiado tarde. A família eclesial riamente concentradas na pai- bres e os desesperados.
dos discípulos – e de todos os hós- xão e na alegria de transmitir o
pedes que procuram nela as razões amor de Deus por os seus filhos Construir uma fraternidade universal
da esperança (cf. 1Pd 3,15) – foi se- habitarem na Terra? Ou ainda se É tempo de relançar uma nova vi-
meada na terra como «sacramen- perdem demasiado nos próprios são para um humanismo frater-
to da íntima união com Deus e da problemas e em tímidos acordos no e solidário dos indivíduos e dos
unidade de todo o gênero huma- que não superam a lógica do com- povos. Sabemos que a fé e o amor
no» (Lumen Gentium, 1). promisso mundano? necessários para esta aliança ga-
nham o seu impulso do mistério
A reabilitação da criatura de Não podemos continuar no da redenção da história em Jesus
Deus à feliz esperança do seu des- Cristo, escondido em Deus antes
tino deve tornar-se a paixão domi- caminho do erro perseguido da criação do mundo (cf. Ef 1,7-10;
nante do nosso anúncio. É urgen- 3, 9-11; Cl 1,13-14). E sabemos tam-
te que os idosos acreditem mais em tantas décadas de des- bém que a consciência e os afetos
nos seus melhores “sonhos”; e que da criatura humana não são abso-
os jovens tenham “visões” capazes construção do humanismo, lutamente impermeáveis, nem in-
de os impelir a comprometerem- sensíveis à fé e às obras desta fra-
se corajosamente na história (cf. confundido com uma ideolo- ternidade universal, semeada pe-
Gl 3,1). Uma nova perspectiva ética lo Evangelho do reino de Deus. De-
universal, atenta aos temas da cria- gia qualquer da vontade de vemos pô-la de novo em primeiro
ção e da vida humana, é o objetivo plano. Porque uma coisa é sentir-
para o qual nos devemos orientar poder. Devemos contrastar se obrigado a viver juntos, outra é
no plano cultural. apreciar a riqueza e a beleza das
uma semelhante ideologia, sementes de vida comum que de-
Não podemos continuar no ca- vem ser procuradas e cultivadas
minho do erro perseguido em tan- que se serve do apoio con- em conjunto. Uma questão é resig-
tas décadas de desconstrução do nar-se a conceber a vida como lu-
humanismo, confundido com uma victo do mercado e da téc- ta contra antagonistas que nunca
ideologia qualquer da vontade de acabam, outro é reconhecer a fa-
poder. Devemos contrastar uma nica a favor do humanismo. mília humana como sinal da vita-
semelhante ideologia, que se ser- lidade de Deus Pai e promessa de
ve do apoio convicto do mercado A diferença da vida humana um destino comum para o resga-
e da técnica a favor do humanis- te de todo o amor que, desde já, o
mo. A diferença da vida humana é é um bem absoluto, digno de mantém em vida. [...]
um bem absoluto, digno de ser eti-
camente salvaguardado, precioso ser eticamente salvaguar- O Senhor vos conceda estar pron-
para o cuidado de toda a criação. O tos para esta nova fase da missão,
escândalo é o fato de que o huma- dado, precioso para o cuida- com as lâmpadas cheias de óleo do
nismo contradiga a si mesmo, em Espírito, para iluminar o caminho
vez de se inspirar no ato do amor do de toda a criação. e guiar os vossos passos. Como são
de Deus. A Igreja em primeiro lu- belos os pés de quantos anunciam
gar deve reencontrar a beleza desta Devemos perguntar-nos seria- o amor de Deus pela vida de cada
inspiração e fazer a sua parte, com mente se fizemos o suficiente para um e de todos os que habitam a ter-
entusiasmo renovado. oferecer o nosso contributo especí- ra (cf. Is 52, 7; Rm 10, 15).]
fico como cristãos para uma visão
Tarefa difícil para a Igreja do humano capaz de apoiar a uni- VATICANO, 6 DE JANEIRO DE 2019
Estamos cientes de que encontra- dade da família dos povos nas ho-
mos dificuldades na reabertura diernas condições políticas e cul- FRANCISCO

JULHO 2019 [ OLUTADOR]11

DOM EDSON ORIOLO* Igreja [ Muitas vezes não nos damos conta de que

AIgreja pensada
“em rede”

É necessário NO exercício do mi- nosso Arcebispo, Dom Walmor Oli-
que nossas nistério episcopal co- veira de Azevedo. Sua preocupação
instituições mo Bispo auxiliar na com caminhos para a efetiva evan-
eclesiais façam Arquidiocese de Belo gelização em nosso tempo, com o
uma leitura Horizonte, encontrei olhar lúcido para a realidade que
da realidade, nesta Igreja Particu- nos cerca, é um apelo à inovação.
identificando lar uma verdadeira Nas reuniões semanais, realiza-
as razões pelas academia, uma escola privilegia- das sempre às quintas-feiras, no
quais nossas da, potencializada pela riqueza hu- contexto da construção da Catedral
potencialidades mana e dinâmica, qualidades mar- Cristo Rei, verifico que o trabalho
e oportunidades, cantes da Igreja na capital minei- “em rede” é imperativo nessa ino-
que são imensas, ra. Devo essas diferentes experiên- vação, urgente para a evangeliza-
muitas vezes cias ao convívio com as lideranças ção e reformulação das organiza-
não se efetivam cristãs - forças vivas em nossa mis- ções eclesiais.
em resultados são evangelizadora: consagrados e
para o anúncio consagradas, clero, irmãos bispos Somos membros de uma co-
do Evangelho. e, sobretudo, à orientação firme e missão multidisciplinar integra-
visionária do seu primeiro servidor, da por agentes evangelizadores,
por profissionais de vários seto-

[12 OLUTADOR [ JULHO 2019

nossa sociedade está organizada em rede...

res da Arquidiocese, da PUC Mi- não apenas para o levantamento ta de uma coordenação focada nos
nas, com dons, capacidades, for- de metas e o desenvolvimento de objetivos, no diálogo e na abertu-
mações, ideias, gerações, menta- métodos. É fundamental na inte- ra para novas ideias e direciona-
lidades diferentes que, sob a con- gração de projetos, mentalidades, mentos;
dução do arcebispo, trabalhamos propostas criativas e dinâmicas, e b) Valorização da individualidade
por um objetivo comum: manter na superação de todo medo e desâ- a serviço do projeto coletivo, bus-
em desenvolvimento o processo de nimo que possam surgir. Quando cando pessoas preparadas e com
construção da Catedral Cristo Rei e o Papa Francisco nos adverte so- expertises adequadas para as pro-
assegurar a conscientização a res- bre o medo que mata nossa alegria postas em pauta, superando o ama-
peito do sentido evangelizador des- de ser comunidade, ele espera que dorismo, que muitas vezes se es-
sa importante obra, entre as forças encontremos formas de preservar conde sob o entendimento equivo-
vivas das milhares de comunida- cado de que “democracia” é sinô-
des eclesiais. Um constante ofertar A evangelização, nimo de falta de coordenação ou
e receber, não apenas de informa- pensada em rede, de liderança;
ções, mas de conhecimento e ex- tanto nas estruturas c) Diagnóstico de potencialidades
periências, em uma rede harmô- internas da Igreja e fragilidades, sem medo de con-
nica, onde sobressaem o diálogo e quanto nas iniciativas viver com os limites que possam
o esclarecimento mútuo, em vista evangelizadoras ser identificados tanto no subjeti-
do que consideramos principal: a vo, quanto no institucional;
imediata construção da Catedral e nos diversos d) Passagem de uma análise frag-
a imediata e profunda evangeliza- ambientes sociais, mentada para uma ótica globaliza-
ção -importante recordar que to- conecta os anseios da, isto é, expandindo o campo de
da atividade, no contexto eclesial, visão para além dos problemas cir-
tem por objetivo último evangeli- e os desafios, cunstanciais, priorizando resulta-
zar, sem exceção. promovendo a conexão dos mais amplos e em longo prazo;

O trabalho “em rede” é o que nor- entre as pessoas. Muitas vezes não nos damos
teia essas importantes iniciativas, conta de que nossa sociedade está
sonho acalentado por tantas gera- a alegria de trabalhar pelo Reino, organizada em rede. As inúmeras
ções de bispos, do clero e de leigos confiantes em sua efetivação. realidades que organizam e poten-
da Igreja Particular de Belo Hori- cializam a vida quotidiana, a partir
zonte, também, todos os demais Conforme afirmei anteriormen- de nossos anseios, ainda que com
trabalhos pastorais desenvolvidos te, o trabalho em rede favorece o es- objetivos globais, se fazem na co-
nesta arquidiocese agigantada. A tabelecimento de metas com novos nexão de diversas realidades que se
evangelização, pensada em rede, objetivos inteligentes e oportunida- encontram e entrelaçam para res-
tanto nas estruturas internas da des apontadas para um foco defini- ponder às necessidades. As realida-
Igreja quanto nas iniciativas evan- do, ou seja, pensar verdadeiramen- des são interdependentes e cres-
gelizadoras nos diversos ambien- te como comunidade - que o “nós” cem no consórcio de diferenças e
tes sociais, conecta os anseios e os prevaleça sobre “eu”, sobre o indivi- paradigmas.
desafios, promovendo a conexão dualismo. Desse modo, promove-se
entre as pessoas. o desenvolvimento de responsabili- É necessário que nossas insti-
dades e expertises, em conectivida- tuições eclesiais façam uma leitu-
Se não é incomum em nossas de, multidimensionalidade, abertu- ra da realidade, identificando as
circunscrições eclesiásticas que os ra, dinamismo e descentralização. razões pelas quais nossas poten-
departamentos da própria cúria te- cialidades e oportunidades, que
nham dificuldades de se harmoni- Atuar em rede permite o surgi- são imensas, muitas vezes não
zarem em alguns momentos, em mento de articulações, conexões, se efetivam em resultados para o
razão de suas complexidades, os de- vínculos, ações complementares, anúncio do Evangelho. Descobrin-
safios são ainda maiores quando se parcerias, participação, espaços pa- do o valor de uma circunscrição
trata de realidades mais amplas, a ra análises e posicionamentos a organizada nesses moldes, fare-
exemplo das iniciativas pastorais, respeito dos serviços já prestados. mos crescer o nosso trabalho de
em contextos tão diversos, marca- Vale destacar algumas situações evangelização nas dioceses, pa-
dos pela diversidade de mentalida- que favorecem o trabalho em rede: róquias, comunidades e institui-
des, ritmos, além de tempo e espaço. a) Exercício saudável dos princípios ções eclesiais.]
de hierarquia e burocracia, em vis-
A Evangelização pensada em re- * Bispo Auxiliar da Arquidiocese
de é, assim, instrumento essencial, JULHO 2019 [ OLUTADOR]13 de Belo Horizonte, MG.

Bíblia [ Ao olhar para nossas comunidades hoje,

WILSON CABRAL & DENILSON MARIANO

ESTE ANO DE 2019, a Confe-

Nrência Nacional dos Bispos
do Brasil – CNBB nos convi-
da à leitura e ao estudo da
Primeira Carta de João, com o te-
ma: “Para que n’Ele nossos povos
tenham vida”. O lema do mês da Bí-
blia é “Nós amamos porque Deus pri-
meiro nos amou”. (1Jo 4,19.) O amor
é o resumo da Boa Nova de Jesus e,
de fato, ocupa um espaço central na
Primeira Carta de João. Para quem
se coloca no seguimento de Jesus,
ela é um convite especial para per-
manecer no amor de Deus!

Algumas informações Para que n’Ele nossos
sobre a 1ª Carta de João
povos tenham vida
Desde os tempos antigos da Igre- Mês da Bíblia 2019 [1/3
ja, o quarto Evangelho, as três Car-
tas de João e o Apocalipse foram Romano e a perseguição por par- mentos nos faz supor que, primei-
identificados como obra de João, o te dos judeus que denunciavam os ramente, ela se tratasse de uma
apóstolo de Jesus, filho de Zebedeu cristãos ao Império. Já nos anos 100 homilia, uma reflexão do autor so-
(cf. Mt 4,21). São muitas as seme- d.C., embora continuassem os de- bre os desafios vividos nas comu-
lhanças entre o quarto Evangelho safios das perseguições – o Apoca- nidades. Depois é que foram parti-
e as Cartas joaninas. Os temas da lipse nos revela isso –, começam lhadas com outras comunidades.
luz em contraposição às trevas, do a crescer os problemas internos: Por isso a 1Jo alterna algumas re-
amor, da fidelidade e da perseveran- as divisões dentro da comunida- flexões e ensinamentos sobre a vi-
ça são algumas dessas semelhan- de nasciam da incompreensão do vência das comunidades e, logo em
ças. Existem também algumas di- mistério da encarnação de Jesus. seguida, faz exortações, convites à
ferenças de estilo, mas o objetivo e Isso é que motivou o autor a escre- conversão, à mudança de vida e a
os gêneros literários do Evangelho ver essa Carta para a comunidade. assumir a missão cristã.
e das Cartas podem explicar essas
diferenças. Uma coisa é apresen- De modo diferente das outras Ao olhar para nossas comunida-
tar uma Pessoa, a Boa Nova de Je- cartas do Novo Testamento, a 1Jo des hoje, podemos encontrar mui-
sus, outra é escrever uma carta pa- não possui remetente, não tem des- ta semelhança com as comunida-
ra orientar os amigos. tinatário, nem mesmo uma sauda- des de João. Ser cristão no sécu-
ção inicial. A ausência de tais ele- lo XXI ainda é um desafio: muitos
Muitos estudiosos datam o quar-
to Evangelho em torno dos anos 90 [14 OLUTADOR [ JULHO 2019
d.C. Nesse período, as comunida-
des da Ásia Menor, nos arredores
de Éfeso, estavam ainda em for-
mação. Junto aos desafios inter-
nos para a formação das comuni-
dades, havia os desafios externos:
a perseguição por parte do Império

podemos encontrar muita semelhança com as comunidades de João...

cristãos são perseguidos, calunia- so com o projeto de Jesus. O cami- que diz. Na Bíblia, verdade e fideli-
dos e mortos por causa do Evange- nho não será fácil, mas é pela bus- dade significam a mesma coisa. A
lho. Internamente, vivemos muitas ca dessa comunhão que se chega à mentira não é somente uma pala-
divisões em nossas comunidades, alegria completa. vra ou um discurso falso, mas uma
muitas delas surgem pela incom- vida contrária aos ensinamentos
preensão do verdadeiro sentido da João resume o conteúdo da men- de Jesus. As comunidades viviam
Encarnação do Filho de Deus. Ao sagem de Jesus em uma frase: “Deus esse problema da incoerência. As
sermos batizados, nós nos coloca- é Luz e nele não há treva alguma”. pessoas diziam seguir o Deus da
mos no seguimento de Jesus, que (1Jo 1,5.) Isso quer dizer que Deus é Luz, mas viviam em meio às tre-
se fez pobre e passou a vida fazen- plenitude de beleza, de sabedoria, vas da infidelidade.
do o bem e foi fiel ao projeto de vi- poder, misericórdia e santidade.
da do Pai até à morte na cruz. Esse Mais à frente, essa afirmação se- Nas comunidades havia aqueles
Jesus ressuscitou, venceu a mor- rá completada com a segunda de- que diziam não ter pecados, enga-
te e nos convida a viver a nossa fé finição: Deus é amor. navam a si mesmos. Uma das con-
de forma concreta. dições para estar em comunhão e
A busca desta definição de Deus caminhar na Luz é se reconhecer
Para que a nossa no início da carta revela o proble- pecador e romper com o pecado (cf.
alegria seja completa ma das divisões na comunidade de 1Jo 1,8–2,2). Porém, se alguém pecar,
O quarto Evangelho começa com nós já temos um advogado junto
um prólogo, uma introdução em Essa experiência do Pai: Jesus Cristo. É d’Ele que vem
que se apresenta um resumo do a nossa completa alegria. Com Ele
que está por vir (cf. Jo 1,1-18); Tam- tem que ser estamos no caminho certo.
bém a 1Jo 1,1-4 traz esse prólogo.
Em uma frase João resume toda testemunhada, O nosso Amém no final das ce-
a sua mensagem e seu objetivo: o lebrações dá testemunho de que
desejo de comunhão entre aque- transmitida, de fato nos comprometemos com
les que partilham a mesma fé: “a o projeto de vida de Jesus?
nossa alegria”. anunciada.
Eis um apelo da Igreja do Brasil:
Na 1Jo, a experiência de Jesus As comunidades “A casa permitiu que o cristianismo
Cristo não é baseada em um conhe- primitivo se organizasse em comu-
cimento superior, como pensavam receberam essa nidades pequenas, com poucas pes-
algumas pessoas da época. João re- soas, que se conheciam e comparti-
vela que a Palavra, o Verbo, que é a mensagem e estão lhavam a mesa da refeição cotidia-
luz do mundo, estava junto do Pai na. Pela partilha da mesa com to-
desde o início (cf. Jo 1,1.4.); mas es- em comunhão com o dos os batizados se estabelecia um
sa “Palavra se fez carne e veio ha- novo estilo de vida, marcado pelo
bitar entre nós”. (Jo 1,14.) João não Filho Jesus e com Deus Pai. seguimento de Jesus Cristo. A hos-
fala de um conhecimento teórico pitalidade era aberta também a pe-
sobre Deus, fala de uma experiên- João. Só está em comunhão com cadores e pagãos.
cia, daquilo que os apóstolos ouvi- Deus quem pratica a verdade. Mui-
ram, viram, contemplaram com tos se diziam fiéis a Deus, mas na A credibilidade da comunidade
seus olhos, e suas mãos apalpa- prática viviam de outro modo. Pro- se embasava no seu testemunho de
ram... A Boa Nova consiste em co- fessavam com a boca, não testemu- comunhão, que se exprimia: na fi-
nhecer a pessoa de Jesus e se com- nhavam com a vida. Mentiam pe- delidade ao ensinamento dos após-
prometer concretamente com o seu lo modo agir, não assumindo uma tolos; na liturgia celebrada; na dia-
projeto de vida. Tocar as chagas de conduta coerente com o que é ver- conia da caridade fraterna; na mar-
Cristo na pessoa do pobre. dadeiro. tiria da fé e da esperança, compro-
metidas com a justiça do Reino de
Essa experiência tem que ser Para o povo da Bíblia, verdade é Deus; e na mistagogia da autênti-
testemunhada, transmitida, anun- algo sólido, firme. A palavra hebrai- ca vida cristã que se fazia missão,
ciada. As comunidades receberam ca para expressar verdade é AMAN, profecia e serviço.” (DGAE, 2019, n.
essa mensagem e estão em comu- e dela vem o “Amém” que usamos 82 e 83.)
nhão com o Filho Jesus e com Deus em nossas celebrações e que signi-
Pai. Essa comunhão é dom de Deus, fica: Assim seja! É isso mesmo! Es- Para aprofundamento
é Graça, mas supõe um compromis- tá certo! Firme! Deste modo, “ver- - Há coerência entre o que falamos
dadeiro” é a pessoa que cumpre o e o que fazemos nas comunidades?
Por quê?]
JULHO 2019 [ OLUTADOR]15

Família [ Voltamos para nossas comunidades de fé com esse propósito:

R CLÁUDIO RODRIGUES & MARIA DO ROSÁRIO SILVA*

Missionários daVIDA

AEXPERIÊNCIA vivenciada gratificante! Importante ressal- cial, da vida cristã e da vida eter-
na casa da Mãe Aparecida, tar que tanto a Encíclica “Lauda- na. Perguntas como: “que tipo de
no último final de sema- to Si”, sobre o cuidado da casa co- mundo nós queremos deixar pa-
na de maio, nos dias 25 e mum, quanto a Exortação Apos- ra nossos filhos?” e “que filhos
26, deixou no coração de todos nós, tólica “Amoris Laetitia”, sobre o queremos deixar para esse mun-
missionários da vida e da família, amor na família, ambas do Papa do?”, permearam todas as contri-
reunidos num feliz e alegre ajunta- Francisco, nos motivam a uma buições dos convidados especiais
mento, marcas indeléveis, só com- maior responsabilidade em fa- que nos enriqueceram com suas
preensíveis pela fé. Que maravi- vor da vida humana, da vida so- palestras e testemunhos.
lha a oportunidade de nos reunir-
mos, com representação de todos [16 OLUTADOR [ JULHO 2019
os Regionais do Brasil, encontros,
reencontros, abraços, afeto, cari-
nho, fraternidade, comunhão! Te-
mos consciência dos grandes desa-
fios a serem superados e o quanto
nossa missão é exigente, mas o nos-
so olhar e o compromisso para com
as famílias fortalecem nosso âni-
mo e disposição a seguir em fren-
te com coragem e ousadia.

Peregrinação e Simpósio
da Pastoral Familiar

A 11ª peregrinação e o 9º Simpósio
Nacional da Pastoral Familiar, rea-
lizados no Centro de Eventos Padre
Vítor Coelho de Almeida e no San-
tuário Nacional de Aparecida, foram
bem assim: recheados de reflexões
e propostas concretas de fortaleci-
mento de nossa ação missionária;
oportunidade ímpar de reafirma-
ção do valor primordial da vida e da
família, projeto do grande amor de
Deus para cada um de nós, sendo a
família o caminho para transfor-
mar a sociedade e a Igreja.

Cada palavra ali proferida, nos
mostrando e confirmando a su-
ma importância de apostarmos
cada vez mais na família e pro-
movermos a Pastoral Familiar,
em nossas Dioceses, Paróquias e
Comunidades, foi muito, muito

fazer com que a Pastoral Familiar seja cada vez mais efetiva e afetiva...

e da FAMÍLIA Não permitamos que a vida fi-
que desprezada, para que outros va-
Preservar e defender sempre a vida sábia orientação: “Fazei tudo o que lores, os que não defendemos, não
Ele vos disser!” (cf. Jo 2,5), e foi tu- entrem. Somos defensores da vida
Voltamos, sim, revigorados, mais do uma bênção. e da família!
fervorosos, pensando na importân-
cia da compaixão, da sensibilidade A reflexão feita por Dom Ricar- É importante compreender
que se deve ter no cuidado com o do Hoepers, Presidente da Comissão que um país que permite o abor-
outro, com a pessoa do outro, não Episcopal Pastoral Vida e Família, da to é um país em decadência mo-
querendo receber nada em troca; CNBB, na Missa de encerramento de ral, da mesma forma o descarte
no acompanhamento e no carinho, nossa peregrinação, fechou com cha- das pessoas idosas, deficientes - a
pois a vida vale mais que tudo. Pa- ve de ouro todo o evento, deixou-nos prática da eutanásia. Muito tris-
ra a pessoa, enquanto houver um encantados, e o sentimento que nos te! Deus não quis assim! A pessoa
sopro, há o que ser feito, por isso move é o de gratidão, e com certeza humana deve ser acolhida, valo-
o nosso pastoreio deve ser como é o que também preenche os cora- rizada e abraçada.
o manto protetor que abraça, que ções de todos os que ali estiveram.
cuida, iniciando em nossa peque- Se existe um lugar onde não vão
na igreja doméstica: a família (cf. CADA FAMÍLIA, nesse imenso nos abandonar, é na nossa famí-
DAp, 204). Precisamos acrescentar Brasil, tem seu jeitinho de lia; não nos afastemos dela, espaço
vida aos dias das pessoas, valori- ser, seus desafios, conquistas sagrado, força da Igreja e da socie-
zando-as aqui e agora. O bacana e imperfeições - perfeita, sabe- dade. Para tanto, criemos oportu-
foi ver e sentir o encantamento ali mos, só a de Nazaré, modelo a nidades de diálogo, gratidão, com-
presente, o sentimento de perten- ser divulgado e seguido, razão paixão, escuta; quem não ouve não
ça, a paixão e ardor de cada família. de nosso clamor: “Jesus, Maria consegue dialogar, o amor gera tu-
e José, nossa família vossa é!” do isso, tudo de bom, tudo de bem!
A defesa da vida, desde a con-
cepção até a morte natural, a ne- Na família se aprende a amar Para onde caminha a família?
cessidade de pensar, de educar, de É na família que se aprende a amar,
pegar uma criança e elevá-la para e o amor não deixa a gente perder Precisamos nos perguntar: “para
cima de si, temas tão sérios, mas os vínculos, a ternura; quem não onde queremos levar nossas fa-
tratados com leveza, com sereni- ama se afasta, se distancia, se per- mílias?”
dade, oportunizaram-nos uma ver- de. Quando a família se enfraquece,
dadeira festa, uma imensa alegria. a sociedade e o mundo todo enfra- A Pastoral Familiar nos ajuda
Fortalecidos em nossa fé, de mãos quecem; nós precisamos começar nas respostas, em seus três seto-
entrelaçadas, calorosas, fervorosas, lá, em nossa pedra preciosa, nossa res: Pré-Matrimonial, Pós Matri-
rezamos juntos, pois nós cristãos casa - pequena Igreja doméstica! monial e Casos Especiais; o encan-
não podemos ficar como espectado- tamento se dá quando entendemos
res das tragédias do mundo. Jesus Saímos desse belo encontro e reen- que todos precisam ser acolhidos,
nos impulsiona à oração e à ação. contro com o coração voltado para os com cuidado, com zelo, com cari-
nossos. Deixemos, então, nos interpelar: nho e amor!
Ouvir que, quando nós cuida-
mos das coisas de Deus, Deus cui- - A nossa família, como vai? Voltamos para nossas comu-
da de nossas famílias, também fez - O cuidado se faz presente em nidades de fé com esse propósito:
nosso coração pulsar mais forte! nosso meio? fazer com que a Pastoral Familiar
- Será difícil fazer nossa parte? seja cada vez mais efetiva e afetiva.
Não podemos deixar de regis- Não desanimemos, Deus pre- Coragem, ânimo! O Espírito Santo
trar aqui nosso carinho e agradeci- cisa estar acima, ser a luz que ilu- motiva-nos a evangelizar, conduz-
mento a toda a Comissão Nacional, mina nossa casa, nossas relações. nos, dá-nos o sabor pelas coisas de
que se doou para que tudo aconte- Deus, dilata nossos corações e nos
cesse segundo a vontade do Pai, na JULHO 2019 [ OLUTADOR]17 entusiasma a caminhada, pois ca-
casa da Mãe, confiantes na terna e minhar é preciso...

Já temos um compromisso agen-
dado, será uma grande alegria a sua
companhia novamente em maio
de 2020. Para você que não esteve
conosco, fica a dica!]

* Assessoria Pedagógica Nacional – INAPAF
- Instituto Nacional da Família e da Pasto-
ral Familiar.

Catequese [ Não apresentemos nunca o Deus que c

Algumas “dicas”

para o uso da Bíblia
na catequese [1

EQUIPE DE “CATEQUESE HOJE”

1Dicas de início. Sobre o uso da Bíblia
na catequese, é importante saber:
a) Respeitar a interação vida-Bíblia.
Que também a criança, o adolescen-
te aprendam a ler a Bíblia a partir
da vida e em função dela. Traba-
lhar com a Bíblia sem ligá-la com
a vida é como querer utilizar um
aparelho elétrico desligado da ele-
tricidade: não funciona! A Bíblia
brotou da vida de um povo e, pa-
ra que seja captada em seu verda-
deiro sentido, tem de estar ligada
à vida do grupo que a lê, reflete e
reza a partir dela.

O catequista precisa ter uma
boa formação bíblica para não fa-
zer uma leitura fundamentalis-
ta, ou seja, ler tudo ao pé da le-
tra. Como vimos nos encontros
anteriores, é preciso descobrir o
que o texto está dizendo, que lin-
guagem o autor utilizou para dar
seu recado.

b) Não dizer hoje o que teremos de 2Escolha “Certa manhã, um fazendeiro
desdizer amanhã. Quando o cate- dos textos bíblicos montou a cavalo e foi inspecionar
quista não sabe responder ao que Não vamos nos deter a elencar suas roças. Chegando lá, viu os pés
a criança perguntou, é bom dizer um monte de critérios. Achamos de milho todos muito bonitos, mas
que não sabe e que dará a respos- mais interessante, neste momen- ainda muito pequenos. De repen-
ta depois. to, nos prender a um critério bá- te, pôs-se a gritar com os colonos:
sico, que iluminará todos os de- ‘Como é que vocês não fazem na-
c) Sempre que possível, não só falar mais: é a questão da gradualida- da para ajudar meu milho a cres-
da Bíblia, mas dar-lhe a palavra. de. Vejamos: cer mais depressa?’ Apeou e, com

[18 OLUTADOR [ JULHO 2019

castiga. Não é a mensagem para a criança pequena...

É importante que a criança
se sinta segura com Deus,
sinta sua presença amorosa.
É importante experimentar o silêncio,
a admiração já tão natural para ela.
A criança facilmente chega a admirar e escutar Deus,
quando há alguém que a toma pela mão.

as duas mãos, começou a puxar É preciso ir devagar, não podemos Algumas notas pedagógicas
e espichar os pezinhos de milho, usar textos que ainda não estão à Para os pequenos, trata-se mais de uma
um por um. De noite, voltou para altura dos catequizandos, que são formação bíblica remota. É importan-
casa. Estava exausto! Mas comen- difíceis demais. te que a criança se sinta segura com
tava: ‘O dia foi puxado, mas valeu: 4º - às prioridades: “Tudo é bom, Deus, sinta sua presença amorosa.
ajudei o nosso milho a crescer’. No mas nem tudo é bom para todos
dia seguinte, o milharal estava to- aqui e agora”. É importante experimentar o
do ressequido. Morto.” silêncio, a admiração já tão natural
3Como fazer para ela. A criança facilmente chega
Com as pessoas humanas acon- uma catequese bíblica? a admirar e escutar Deus, quando há
tece a mesma coisa. Tudo se dá no Vamos tratar sobre como transmi- alguém que a toma pela mão. Gosta
tempo certo. E este crescimento às tir a mensagem da Bíblia. de rezar pequenos trechos dos sal-
vezes é lento. O catequista deve sa- mos com expressão corporal e gestos.
ber respeitar este ritmo, dar tem- 1. Ter bem clara a mensagem que
po ao tempo. queremos transmitir, a atitude Podemos fazê-la sentir a impor-
evangélica que queremos despertar. tância do Livro Sagrado mediante
Quando formos trabalhar com uma pequena procissão, tratando
um texto bíblico na catequese, de- 2. Levar em conta o perfil do cate- com respeito a Bíblia. Já podemos
vemos estar atentos: quizando: se é criança, jovem ou contar alguns fatos da vida de Je-
1º - ao linguajar do texto: ver se há adulto, qual sua situação de vida, sus, mas o Primeiro Testamento
palavras difíceis que precisam ser sua cultura, suas experiências. Ca- ainda não deve ser abordado. Mui-
substituídas. da grupo é diferente, como também tas vezes, são contadas às crianças
2º - à experiência de vida dos catequi- cada catequizando tem suas pró- as narrações dos primeiros capítu-
zandos: entrar em sintonia com a prias experiências. Devemos estar los do Livro de Gênesis, justamen-
situação que estão vivendo no mo- atentos e saber escutar o que eles te por serem “fantásticas”. Muitas
mento (dor, alegria, luto, festa, es- nos dizem a respeito da sua pró- vezes são apresentadas do ângu-
perança, temor...); procurar conhe- pria realidade. lo de um Deus que castiga e quer
cer o catequizando, o que ele pen- pôr fim à humanidade. Tais narra-
sa, vive, sente... A criança evolui, 3. Procurar os meios, as técnicas ções foram escritas para adultos,
passa de uma mentalidade mági- que podem proporcionar uma me- a fim de mostrar que a infidelida-
ca para outra cada vez mais con- lhor assimilação da mensagem. de à Aliança traz suas consequên-
creta, crítica, feita de curiosidade cias para a humanidade. A crian-
e indagação. A leitura bíblica tam- 4. Não pode faltar o aspecto da vi- ça ainda não chegou a essa expe-
bém terá que evoluir. vência concreta que resulta da re- riência. Pode ficar amedrontada.
3º - à sua maturidade na fé: é impor- flexão feita em grupo.
tante não esquecer que a criança, Não apresentemos nunca o Deus
o adolescente, o jovem estão num JULHO 2019 [ OLUTADOR]19 que castiga. Não é a mensagem pa-
processo de iniciação a vida de fé. ra a criança pequena. (Continua...)]

Fonte: Catequese Hoje

FRT. DIONE AFONSO, SDN* Juventude [ É preciso apontar caminhos seguros

57ª Assembleia Geral dos Bis-

Apos do Brasil foi de caráter
eletivo, na qual Dom Walmor
Oliveira de Azevedo, Arcebis-
po de Belo Horizonte, MG, foi
eleito Presidente da CNBB para o pró-
ximo quadriênio 2019-2022. Junto
com Dom Walmor, celebramos esse
tempo de graça em que as Comis-
sões Pastorais também elegeram
seus novos representantes e aqui,
na alegria do Ressuscitado, quere-
mos acolher o Bispo Referencial da
Juventude, Dom Nelson Franceli-
no Ferreira, Bispo de Valença, RJ, e
o Bispo Referencial da Comunica-
ção Social, Dom Joaquim Giovani
Mol Guimarães, Bispo Auxiliar de
Belo Horizonte, MG.

Da escuta ao discernimento

Vamos dar continuidade à caminha-

da daqueles dois jovens de Emaús

(é importante retomar o artigo da

edição anterior). Depois da grande

motivação de ir a Jerusalém a fim

de conhecer Jesus, eles experimen-

tam lá um acontecimento que os

frustra profundamente: Jesus foi
morto crucificado! E, mesmo com o
relato de algumas mulheres e com

“Christus Vivit”:acomprovaçãodeoutrosdiscípulos
que foram até o túmulo e encon- Cristo vive
traram tudo como elas contaram,
“ninguém viu Jesus” (cf. Lc 24,24).

Quantos jovens de nossas ci-
dades e bairros também não ex-

perimentam a frustração de não e n’Elesomos
encontrar, em nossas comunida-
des, Aquele a quem antes sentiram
grande desejo e alegria de ir en-
contrar? “Hoje nós, adultos – diz

o Papa –, corremos o risco de fa-
zer uma lista de desastres, de de-
feitos da juventude atual. Alguns
poderão aplaudir-nos, porque pa-

“o agora de Deus”!recemosespecialistasemencon-
trar aspectos negativos e perigos.

Mas qual seria o resultado deste Emaús, é a escuta e o discernimen- muros. É saber reconhecer possi-

comportamento? Uma distância to. Somos convidados a “encontrar bilidades onde outros só veem pe-

sempre maior, menos proximida- a pequena chama que ‘continua a rigos. Assim é o olhar de Deus Pai,

de, menos ajuda mútua.” (CV, 66.) arder nos corações entristecidos’ (cf. capaz de valorizar e nutrir a boa

E, depois da escuta e da proxi- Lc 24,32). Precisamos discernir no- semente lançada no coração dos

midade, o segundo passo, à luz de vos caminhos onde outros só veem jovens. Por isso, o coração de cada

[20 OLUTADOR [ JULHO 2019

e pautados na ética cristã e nos valores do ser humano...

jovem deve ser considerado ‘ter- vida, em conhecê-lo em todas as vidas estão sujeitas ao sofrimento
ra santa’, diante da qual nós de- suas facetas para fazer mais res- e à manipulação”. (CV, 71.)
vemos nos ‘descalçar’ para poder ponsável e mais completa sua pró-
aproximar-nos e penetrar no Mis- pria colaboração”. Semente: um caderno para jovens
tério”. (CV, 67.) Jovens, “vós sois o agora de Deus, são
O Papa Francisco nos alerta que o presente”. (CV, 64.) E isso significa
A Igreja é preciso olhar com tristeza para que vocês estão aqui, neste mundo,
tantos jovens que, diferentes dos e é agora o tempo de vocês. Não se
é chamada a discernir jovens de Emaús, não conseguem trata de viver a ideologia do carpe
O discernimento, “expresso nas pa- traçar um caminho de volta, “sem diem, de viver o momento e esque-
lavras de Maria: ‘como acontecerá ninguém que os instrua e os faça cer-se do amanhã, não. Trata-se de
isso?’, revela um processo não de acreditar na Palavra” (cf. Lc 24,25). compreender e de perceber que vo-
dúvida, sua pergunta não é uma Olhamos “com tristeza, para muitos cês estão aqui, junto de nós, pron-
falta de fé, mas expressa seu pró- jovens que vivem em contextos de tos, agora, preparados para traba-
prio desejo de descobrir todas as guerra e padecem a violência numa lhar e provocar o mundo para uma
‘surpresas’ de Deus. Nela há dispo- variedade incontável de formas: rap- mudança capaz de marcar as suas
sição em acolher todas as exigên- tos, extorsões, criminalidade orga- trajetórias de vida e de santidade.
cias do projeto de Deus sobre sua nizada, tráfico de seres humanos,
E é pensando em vocês, em seus
É o jovem que evangeliza anseios, em suas buscas, que a Re-
vista O Lutador oferece, a partir des-
e compreende o jovem. sa edição, um encarte especial: o
Caderno Semente. Organizado pelo
É o jovem que fala, Órgão da Pastoral Vocacional Sacra-
mentina, o Semente é um material
interpela e provoca o adulto. todo para vocês, criado e prepara-
do por vocês. É o jovem que evan-
É o jovem que provoca geliza e compreende o jovem. É o
jovem que fala, interpela e provo-
e questiona a Igreja. ca o adulto. É o jovem que provoca
e questiona a Igreja. Ao recebê-lo,
escravidão e exploração sexual, es- não deixe de compartilhá-lo em seu
tupros, guerra etc. Outros jovens, grupo de amigos, nas rodas de con-
por causa da sua fé, têm dificul- versas na pracinha, na escola, nos
dade em encontrar um lugar nas grupos de jovens, nos encontros de
suas sociedades e sofrem vários oração e de espiritualidade. Que o
tipos de perseguição, que vai até à Caderno Semente seja uma ferra-
morte. Numerosos são os jovens menta capaz de chegar até os seus
que, por constrangimento ou falta corações e de ajudar a discernir os
de alternativas, vivem perpetran- seus sonhos para o futuro.
do crimes e violências: crianças-
soldado, gangues armados e cri- Não se esqueçam de nos con-
minosos, tráfico de droga, terro- tar como foi a experiência do novo
rismo etc. Esta violência destro- Semente em suas mãos. Nós con-
ça muitas vidas jovens”. (CV, 72.) tamos com vocês!

É preciso apontar caminhos se- Para rezar e discutir em grupo
guros e pautados na ética cristã e - Em nossos grupos de amigos, exis-
nos valores do ser humano para que tem jovens que sofrem algumas des-
sejam eficazes não só na evangeli- sas dores que o Papa apontou? Co-
zação, mas na proteção e garantia mo nosso grupo pode contribuir pa-
de dignidade humana aos nossos ra ajudar nossos jovens a supera-
jovens. Precisamos compreender rem essas situações desumanas?]
que a juventude “não é algo que se
possa analisar de forma abstrata. * Graduando em Jornalismo pela
Na realidade, a juventude não exis- PUC-Minas / [email protected]
te; o que há são jovens com as suas
vidas concretas. No mundo atual,
cheio de progresso, muitas destas

JULHO 2019 [ OLUTADOR]21

Encontro Matrimonial [ Experiências...

O relacionamento
na terceira idade

ACÁCIO E MAGALI* – DIOCESE DE SÃO MIGUEL PAULISTA, SP

Queridos amigos da revista porque ninguém muda ninguém. to, a mais bela de todas, pois Deus
“O Lutador”, é com o senti- Eu é que tenho que mudar a mim nos tem dado o dom da vida e da sa-
mesmo. bedoria, até o presente momento.
mento de alegria como quan- Nosso relacionamento hoje é dife-
Na época em que vivemos esta rente, é mais maduro e mais tran-
do nossos netos chegam em experiência, éramos jovens quilo. Nosso caminho para a san-
com tantas inseguranças e tidade continua sendo percorrido
casa, que escrevemos para incertezas, mas o convívio com alegria e com muita esperança.
com os casais, e vivendo a
vocês a fim de compartilhar intersacramentalidade com Hoje, temos novos problemas
os sacerdotes, conseguimos e preocupações, como as doenças,
pensamentos e sentimentos transformar os valores em o esquecimento e a debilidade físi-
virtudes; mas nem todos os ca. Mas a mente, essa não, por en-
nesta fase da vida em que nos valores foram transformados quanto, continua jovem e esperan-
em virtudes, o que nos çosa de uma vida a dois melhor e
encontramos: a terceira ida- faz perceber que nosso melhor.
caminho no EMM ainda não
de e nosso relacionamento. terminou e não terminará. Magali: Tenho uma certeza absolu-
ta: amo meu marido muito mais
Mudar a vida para melhor A idade mais bela hoje do que no começo de nosso na-
Em setembro de 1990, participamos Hoje, estamos com 67 e 66 anos, en- moro e noivado. É um amor gosto-
do Fim de Semana - FDS do Encon- tramos na terceira idade e, acredi- so e tranquilo, porque ele é o nú-
tro Matrimonial Mundial, viven- mero 1 da minha vida. Continua-
do uma experiência que veio, gra- [22 OLUTADOR [ JULHO 2019 mos no EMM até hoje, comparti-
ças a Deus, mudar nossa vida pa- lhando nossas vidas com outros
ra melhor, muito melhor. casais, dando e recebendo amor.
A luta para um melhor relaciona-
Nesse FDS, experimentamos o mento continua sendo constan-
diálogo em nível de sentimentos. te através de nosso diálogo diário,
Que experiência! Quantos valores aprendido no FDS.
nos foram mostrados por aqueles
casais e pelo sacerdote, que esta- Hoje, vivemos nosso amor de
vam ali compartilhando suas vidas casal, com a consciência de que, de
conosco. A cada exemplo de vida, mãos dadas, podemos transformar
íamos identificando-nos. Foi ab- o mundo, sendo luz para outros ca-
solutamente maravilhoso! sais, incentivando-os a lutar pelo
seu relacionamento e a perceber
Aprendemos que amar não é que nosso matrimônio é sagrado,
um sentimento, mas uma decisão; uma aliança entre nós e Deus.
uma decisão que devemos tomar
todos os dias. Aprendemos que o A idade chegou. As rugas, a fal-
perdão é uma confirmação de nos- ta de cabelo ou o cabelo grisalho,
sa decisão de amar. Aprendemos a maneira de andar, denunciam
que vivemos três fases em nosso nossa idade, mas o amor... este é
relacionamento: o romance, a de- diferente. É pleno.]
silusão e o júbilo. Aprendemos que
devemos aceitar o outro como ele *E-mail: [email protected]
é e nunca querer mudar o outro, http://www.encontromatrimonial.com.br

Família Julimariana [ Carisma Cordimariano...

IR. IOLANDA LIMA DO MONTE, FCIM

70 anos da Família
Cordimariana em Caucaia, CE

“É bom agradecer ao Senhor!” (Sl 92,2)
ÉCOM este sentimento de gratidão
que os nossos corações transbor- ção e intuição profética”. E assim já Carisma
dam de alegria pela nossa pre- se foram 70 anos. Cordimariano
sença viva e atuante no amor sacri-
fical e no sacrifício amoroso, aqui na Iniciamos nossa semeadura cor- - “Ah! O seguimento a Jesus, o cami-
cidade de Caucaia, CE. dimariana pelos meios escolares atra- nhar com Maria, o viver Eucaristia!”
vés do Patronato Santa Maria, hoje
Como moradoras, pisamos em so- Patronato Pio XI, de cuja obra educa- Foi assim a nossa Madre Maria
lo caucaiense em 31 de maio de 1949, tiva temos, aqui nesta cidade, vários de Jesus, aquela que se tornou pa-
a convite do nosso grande e querido ex-alunos e ex-alunas e, quem sabe, ra todas nós a Mãe Carinhosa a pas-
amigo D. Antônio de Almeida Lus- mundo afora também. Muitas de nos- tora do Carisma Cordimariano. Se-
tosa, de saudosa memória. Quando sas Irmãs educadoras por aqui passa- gundo Frei Macapuna, ela é aquela
ele era Arcebispo de Belém, conhe- ram; entre elas citamos: Irmãs Ma- que “qual vaso de argila resistente
ceu a Congregação e a ela se afei- ria Gabriela, Benigna, Lucina, Jesus guardou, até se quebrar, o perfume
çoou. Com sua transferência para Hóstia, Maria de Loreto, Maria Cris- de Cristo, transmitindo-o com fide-
Fortaleza, desejou que sua Sede e o manda Saraiva de Oliveira, Maria de lidade, a gerações e gerações de Cor-
Noviciado se transferissem para cá. Jesus Barroso da Fonseca. dimarianas”.

No final deste ano, celebraremos
com alegria 103 anos de fundação

Daí é que nasceu o convite. E a Ma- E a Evangelização foi crescendo, Cordimariana. E aqui em Caucaia,
dre Maria de Jesus, após sérias refle- criando asas e, aos poucos, fomos além da Sede da Casa Geral, temos
xões, resolveu acolher a proposta de ainda a Casa de Formação que aco-

D. Lustosa, enchendo o seu coração atingindo outros campos missioná- lhe Aspirantes, Postulantes, Novi-
de muitas esperanças. Assim, en- ças, o Memorial Servo de Deus Júlio
cerrando o mês mariano com o co- rios através da catequese, do traba- Maria De Lombaerde (fonte de infor-
ração em festa, a Congregação Cor- lho com a juventude, casais, círcu- mação da história Cordimariana), a
dimariana armou sua tenda nesta los bíblicos etc. Memorando estas Casa de Encontros Ir. Maria do Am-

terra que alegremente nos acolheu áreas, não podemos deixar de lem- paro, não só para os Encontros da
e aqui, há 70 anos, buscamos evan- brar a presença missionária das Ir- própria Congregação, mas também
gelizar na compaixão e na miseri- mãs: Maria Gabriela, Maria Conso- para outros eventos extra-Congre-
córdia do coração de Maria. A Dom gação, a Casa Matriz que acolhe as

Lustosa devemos o carinhoso nome lata, Maria do Divino Coração e Ma- Irmãs idosas e mais fragilizadas e,
de Cordimarianas. ria da Paz, todas de saudosa memó- com o mesmo objetivo, temos ain-
ria nos corações nossos e do povo. da a Comunidade São José, hoje já
Atualizar a história uma extensão da Casa Matriz, mas

Escrevendo este artigo, lembro-me antes ponto de apoio para as Irmãs

das palavras do Prof. Chaves quando E nossa querida Madre Maria de do Patronato Pio XI.

nos afirma, lembrando os 60 anos, Jesus, que sabiamente dirigiu a Con- Agora, nestes 70 anos de cami-

que hoje transponho para os 70: “Re- gregação por 44 anos e teve a graça nhada nesta terra, agradecemos com

unimo-nos nesses setenta anos, não de permanecer em Caucaia durante alegria ao querido povo de Caucaia,

só para lembrar uma data qualquer, 35, nem todos mais à frente do Gru- que sempre nos acolheu e nos acolhe

mas para fazer memória; e fazer me- po, mas como mãe amorosa, mulher com as bênçãos da querida e amada

mória é atualizar a história, é trazer forte e corajosa. E aqui, no momento, Senhora dos Prazeres.

o ontem para o hoje, o passado para vale até recordar uma poesia de Ir. Ma- E, nesta profunda ação de gra-

o presente, o antigo ao novo. É revi- ria da Graça – FCIM: “Que sabedoria ças, rezemos com o Salmista: “Que

sitar a nossa história, é refundar o é esta, que acompanhou tua vida e te poderemos retribuir ao Senhor por

nosso carisma para nos engajarmos fez sábia, prudente, mantendo certa tudo o que ele nos tem dado?” (Sl 116
num novo tempo que exige imagina- reserva, mas agindo com ousadia?” [115],12)]

JULHO 2019 [ OLUTADOR]23

FREI PATRÍCIO SCIADINI, OCD Espiritualidade [ Exemplos...

Também os mendigos conservar e de acumular. Nus nós
nascemos, e nus voltaremos à ter-
são missionários ra, sem levar nada.
NO EGITO, não tenho a possibili-
dade de ler os jornais, não leio Oto Lovascs... Exemplo
árabe, e os outros jornais não quem é? a ser imitado
chegam com facilidade às minhas No Evangelho não está escrito que
mãos, mas agradecendo à Internet, é Segundo a notícia que li no jornal, pobres estão dispensados de aju-
possível todos os dias dar uma olha- ele é um húngaro de 52 anos. Há dar pobres, de ser solidários, mas
da nos títulos de vários jornais em mais de 21 anos que mendiga num está escrito que todos devemos re-
várias línguas. Depois não dá para lugar da Itália, cujo nome não re- partir o que temos e dar de comer
ler, porque não tenho a assinatura. cordo, e toda manhã se ajoelha no aos que têm fome, estão doentes
espaço reservado aos passantes e ou são presos... O mandamento
No dia 20 de maio de 2019, li pede esmola. Ele colocou uma ta- do amor não é dado só para al-
no jornal italiano “La Reppublica” buleta no pescoço com esta frase: gumas pessoas, mas para todos
uma notícia que me tirou o sono um quarto de euro para mim é su- os que decidem seguir Jesus. O
por vários dias. Fez-me sentir pe- ficiente. Há pessoas que doam al- exemplo de Oto deve ser imitado
quenino e ao mesmo tempo me guma coisa, outras que doam me- por todos nós. Vivemos mergu-
deu uma grande alegria. Sempre nos e outras que não doam nada, lhados no inútil e supérfluo, que
acreditei que todos, pobres e ricos, aliás o ignoram. Coisas normais nos sufoca e nos tira a alegria da
somos chamados a ajudar os que da vida. liberdade e da vida. É o momen-
têm necessidades. Há sempre por to de reagir diante de um consu-
aí pessoas mais pobres do que nós, Mas se descobriu que Oto não mismo selvagem, que cada dia é
e mais ricos do que nós. A carida- conserva o que recebe para si, mas mais selvagem e nos torna fecha-
de não é problema de quantidade, o que sobra, depois das suas peque- dos em nós mesmos.
mas de qualidade, de amor e de vi- nas e pobres despesas, ele envia pa-
da. O Evangelho de Mt 25 é para to- ra a África, para ajudar às pessoas Este mendigo ofereceu já vá-
dos, e todos devemos colocá-lo em que sofrem e têm mais necessida- rias vezes esta sua contribuição. A
prática. João da Cruz nos recorda des do que ele. Um mendigo que última vez foi de 2.200 euros, qua-
que “no entardecer da vida sere- compreendeu o sentido da solida- se nove mil reais. Uma soma con-
mos julgados no amor”... riedade, da verdadeira humanida- siderável, fruto do sacrifício. Ele
de. Podemos juntos vencer o egoís- dorme nas ruas, é a sua maneira
mo que nos domina, a ganância de de saber como ajudar quem sofre
mais do que ele. Uma criativida-
[24 OLUTADOR [ JULHO 2019 de que vem sem dúvida do Espí-
rito Santo.

“Na noite mais escura, surgem
os maiores profetas e os santos.
Todavia a corrente vivificante da
vida mística permanece invisí-
vel. Certamente, os eventos de-
cisivos da história do mundo fo-
ram essencialmente influencia-
dos por almas sobre as quais nada
se diz nos livros de história. E sa-
ber quais sejam as almas a quem
devemos agradecer os aconteci-
mentos decisivos da nossa vida
pessoal, é algo que só conhece-
remos no dia em que tudo o está
oculto for revelado.” (Gaudete et
Exsultate, 8.)

“Felizes os pobres no espírito,
porque deles é o Reino dos Céus.”
(Mt 5,3.)]

Liturgia [ Ter princípios... Essa particularidade de Israel
fica bem expressa no Sl 83[84]: “Na
FRT. MATHEUS R. GARBAZZA, SDN verdade, um só dia em vosso tempo
/ vale mais do que milhares fora de-
Dois princípios le! / Prefiro estar no limiar de vos-
sa casa / a hospedar-me na man-
para a formação litúrgica são dos pecadores!” (v. 11).

AFORMAÇÃO NA FÉ deve ser sem- to pessoal, não se pautando ape- Perceber como a liturgia se ins-
pre uma preocupação constan- nas por uma série de proibições. pira na Sagrada Escritura, sobre-
te da Igreja, desejosa de que a Certamente é uma proposta mais tudo para a celebração dos sacra-
participação dos fiéis na sagrada trabalhosa, mas sem dúvidas se- mentos, que encontram no modo
liturgia seja pautada pelo conheci- rá mais frutuosa para todos os que de ser de Jesus seu fundamento,
mento do que os ritos significam e nela se inserirem. levará pouco a pouco as pessoas a
de como se desenvolvem. Na pas- se aproximarem daquele zelo pe-
toral ordinária de nossas comuni- Liturgia e Bíblia la casa de Deus – marca do israe-
dades, esta educação deveria po- O primeiro passo é começar a des- lita piedoso.
der atingir todas as pessoas, englo- bravar a liturgia cristã a partir da
bando as várias idades e níveis de Bíblia. Conhecer as fontes bíblicas Liturgia como ato de amor
participação eclesial. Em grande da liturgia, desde o Antigo até o No- O segundo princípio, decorrente
medida, a instrução litúrgica che- vo Testamento, mostrando como a quase naturalmente do primeiro,
ga sobretudo àqueles que desem- celebração do culto divino foi con- é considerar a participação na li-
penharão ministérios: os leitores, siderada essencial para a vida do turgia como ato de amor. Isso va-
ministros da comunhão, cantores, povo de Deus. Não considerada ape- le para todos os cristãos. De modo
acólitos etc. nas como um momento isolado no especial, é importante ressaltá-lo
tempo, mas que repercute neces- com aqueles que desempenharão
Observando casos concretos, sariamente no modo de ser. A vi- seu ministério: não o fazem me-
percebemos uma questão bastan- da de divina se manifesta pouco a ramente porque falta gente ou por-
te problemática. É partir da via ne- pouco na vida do povo. que, caso contrário, serão sempre
gativa para construir o processo de os mesmos... Estes argumentos são
formação litúrgica. Isso significa JULHO 2019 [ OLUTADOR]25 insuficientes. Tudo precisa partir
que os encontros se voltam mais de uma profunda convicção de que
para uma extensa lista de “pode e celebrar o mistério de Jesus é uma
não pode”, acentuando sobretudo expressão amorosa, uma forma de
aquilo que não se deve fazer ao de- engajar-se na obra da salvação.
sempenhar um determinado ser-
viço. Nesse sentido, bastaria que O encontro pessoal com Jesus,
a pessoa soubesse bem aquilo que sobre o qual tanto se insiste no pro-
precisa evitar, conhecendo o essen- cesso de Iniciação à Vida Cristã, é
cial de sua função, e estaria tudo a fonte donde brota a participação
certo. Ora, parece que este método na sagrada liturgia. A partir desse
não corresponde ao desejo da Igre- encontro, pode-se aprofundar, sem
ja de uma participação consciente dúvida, as normas e instruções que
nos sagrados ritos. regulam a liturgia como culto pú-
blico e oficial da Igreja. Mas uma
Sem a pretensão de construir coisa precisa necessariamente pro-
um programa de formação litúrgi- ceder da outra – sob pena de fazer
ca, quero apresentar a seguir dois da celebração um peso insuportá-
princípios que considero básicos vel ou algo enfadonho.
para iniciar um processo de apro-
fundamento neste tema de vital 1Para refletir
importância para a vida da comu- Nossa comunidade promove for-
nidade de fé. A partir daqui, será mação litúrgica permanente para
possível percorrer os caminhos os que desempenham ministérios
da liturgia com convicção e gos- litúrgicos? E para todos os fiéis?

2Nossa educação para a liturgia
parte da Bíblia e da relação pes-
soal com Jesus? Ou ainda permanece
uma lista de tarefas e proibições?]

Atualidade [ Reflexões... MARIA CLARA BINGEMER

ANTÔNIO CARLOS SANTINI AGRANDE ESCRITORA, filósofa e ci-
neasta estadunidense Su-
Mentiramparanós... san Sontag sempre foi mui-
to atenta, quase obcecada,
ISSERAM para nós que a Re- Disseram para nós que os des- pelo mistério da guerra e da
contos mensais em nosso salário violência protagonizados pela es-
Dpública iria cortar pela raiz seriam a garantia da aposentado- pécie humana. Sobre isso escreveu
os privilégios da nobreza im- ria digna e de uma velhice tranqui- vários ensaios, fez trabalhos foto-
perial e o luxo da aristocra- la. Os aposentados estão fazendo gráficos e filmes em regiões como
cia dominante. O rei foi deposto, fila para ganhar uma cesta bási- Sarajevo, tornando-se uma figura
os barões exilados, e o povo con- ca da caridade alheia. icônica de intelectual comprometi-
tinua passando fome, enquanto da com os problemas de seu tempo.
os deputados depositam dólares Disseram para nós que a es-
nos paraísos fiscais. cola deveria deixar de lado coisas Em seu livro “Sobre a dor dos ou-
inúteis como a poesia e a filosofia, tros” [Regarding the pain of others],
Disseram para nós que o jugo para ensinar técnicas de trabalho. de 2004, ela explora as raízes da
dos Dez Mandamentos era opressor As máquinas e os robôs estão fa- guerra. E, a partir de um escrito de
e impedia a liberdade do homem. zendo o trabalho que não depende Virginia Woolf, reflete sobre a per-
Em lugar do Decálogo, milhares de pensar, enquanto os técnicos gunta feita à escritora inglesa por
de leis invadem a área do arbítrio se tornam mão de obra obsoleta. um homem sobre a possibilidade
humano, tornando assunto do go- de prevenir a guerra. Woolf respon-
verno a vida de família, a educa- Disseram para nós de com uma perturbadora afirma-
ção dos filhos e o parto das mães. que devíamos esperar ção: os homens fazem a guerra. A
que o bolo crescesse, maioria dos homens gosta da guer-
Disseram para nós que o ma- e a seguir ele seria partilhado ra, já que para eles há “alguma gló-
trimônio cristão era uma gaio- com os pobres. As empresas ria, alguma necessidade, alguma
la sufocante e o amor-livre viria multinacionais não abrem satisfação em lutar” que as mu-
trocar a guerra pelas flores. John do bolo e usam seus lheres, ou pelo menos a maioria
Lennon morreu e os bordéis estão lucros para coroá-lo delas não sente nem desfruta. Se-
cheios de escravos. com cerejas cor de sangue. gundo Woolf - secundada em sua
convicção por Sontag – a guerra é
Disseram para nós que, se es- Disseram para nós que o pro- um jogo de homens. A máquina de
tudássemos bastante em nossa ju- gresso viria rapidamente como re- matar tem um gênero, e é macho.
ventude, teríamos um bom salá- sultado da exploração das riquezas
rio na idade adulta. O IBGE infor- naturais. O fumo negro nos ares, o Escrevo isso tendo ainda fres-
ma friamente que o Brasil tem 13 lodo químico nos rios, as ilhas de cos no coração e na mente os ter-
milhões de desempregados. plástico nos oceanos anunciam a ríveis eventos da escola de Suza-
implosão do planeta. no, em São Paulo, quando dois jo-
Disseram para nós que um di- vens rapazes, ex-alunos da institui-
ploma universitário seria a senha Disseram para nós que, che- ção, entraram atirando para matar.
infalível para iniciar uma carrei- gando a República, todos os cida- Mataram cinco jovens estudantes,
ra brilhante. Os diplomados es- dãos seriam iguais perante a lei. além de duas educadoras e o tio de
tão vendendo pipoca na esquina e Inexplicavelmente, o favelado le- um dos assassinos. Depois se ma-
trabalhando como amanuenses. va chumbo, o indígena é expulso taram. Não havia um objetivo de-
de suas terras, o operário é espo- finido: nem vingança, nem roubo,
liado de seus direitos. nem intolerância religiosa. Não se
tratava tampouco de uma guerra
Enquanto isto, de seu trono, entre nações ou da invasão de um
o governador Pôncio Pilatos per- país por uma grande potência es-
gunta: trangeira. E neste sentido o even-
to difere daquele comentado por
- O que é a verdade?] Virginia Woolf e refletido por Su-
san Sontag. Não há nada além da
[26 OLUTADOR [ JULHO 2019 morte alheia e a própria. Apenas
o gozo de atirar e atirar para ma-
tar. Matar e morrer, esse é o jogo.

Atualidade [ Questionar é preciso...

Violência:
jogo masculino

O imaginário da violência de muito cedo são dadas armas de
é disseminado em mentes brinquedo aos meninos, incentiva-
masculinas mais que dos a brincadeiras brutas. E suas
nas femininas. brigas são violentas e machucam,
enquanto no campo das meninas
A tragédia de Suzano tem ante- Se observarmos esses tristes as atividades são mais tranquilas,
cedentes na história recente. Nos eventos, vamos encontrar neles criativas e lúdicas.
Estados Unidos, em Columbine protagonistas e atores masculinos.
(Colorado), em 1999, quando dois Meninos. Não há meninas em ne- Muito se tem questionado es-
adolescentes assassinaram 13 pes- nhum dos casos. A violência de- se tipo de educação, que reduzi-
soas, ou em Newton (Connecticut), liberada tornada matança, gesta- ria a mulher a um papel passi-
onde um jovem matou 20 crian- da em um site da Internet, onde os vo na sociedade e empurraria o
ças e seis adultos numa escola membros incentivam uns aos ou- homem em direção à violência
e à agressividade. Não se trata,
Muito se tem questionado esse tipo pois, de fazer aqui o elogio deste
de educação, que reduziria a mulher a um papel tipo de dicotomia, em que mulher
é princesa, e homem, guerreiro.
passivo na sociedade e empurraria o homem Mas sim de questionar se a for-
em direção à violência e à agressividade. mação das novas gerações não
estaria sendo reduzida em suas
infantil. No Brasil, cabe mencio- tros ao ódio e à violência, é coisa de potencialidades a um vazio deses-
nar a tragédia de Realengo (Rio de homem, de menino. Meninos que perador, formando homens vio-
Janeiro), em 2011: doze estudan- se vestem de matadores inspirados lentos que só vão encontrar mo-
tes de uma escola em Realengo, em filmes ou séries americanas e tivação em jogos perigosos e vo-
bairro localizado na Zona Oeste, descarregam suas armas sobre ou- razes. Ao mesmo tempo em que
morreram depois que um homem tros e sobre si mesmos, declarando produz mulheres insatisfeitas e
abriu fogo. O agressor, um jovem que esse é o sentido de suas vidas. frustradas, que se realizarão no
de 24 anos, era um ex-aluno da consumo e na futilidade.
escola e cometeu suicídio após o Não se quer aqui afirmar que
massacre. todos os homens são violentos e Assim como frente ao cresci-
as mulheres, pacíficas. Isso não mento exponencial da violência
Em todos os casos, o rastro dei- seria verdade. Porém, se afirma, urbana que mata milhares de jo-
xado pelas armas é de sangue, dor sim, que o jogo, o ritual, as vestes, vens do sexo masculino todo ano,
e lágrimas inconsoláveis. As mães, o instrumental da violência e da e do aumento preocupante do fe-
os familiares, os amigos, enterram guerra predominam no imaginá- minicídio, que mata mulheres pelo
as vítimas perplexos diante da bru- rio masculino muito mais do que simples fato de serem mulheres,
talidade de uma violência para a no feminino. A razão disso estaria impõe-se uma conversão. Formar
qual não se consegue encontrar ex- na forma tradicional como meni- para a paz e a convivência. Mais
plicações. nos e meninas são educados. Des- atenção aos meninos, não deixan-
do que os jogos violentos lhes de-
JULHO 2019 [ OLUTADOR]27 vorem o imaginário e o futuro. E
às meninas, para que ponham a
serviço da sociedade como um to-
do a sua profunda e visceral alian-
ça com a vida.]

Fonte: Dom Total

Crônica [ Maria

EFOI SEMPRE ASSIM: tanta be- pela rua, dando um assobio com- Foi outro dia mágico... Rimos
leza, tanta emoção achada em priiiiido de passarinho... muito tempo por causa do Aedes
encontros breves, quase es- Aegypti... Cá pra nós, eles podiam
barradelas nas esquinas, nas por- - Quem sabe, ele era um passa- bem pôr um nome tupiniquim nes-
tas da rua, em lugares inusitados... rinho de verdade, uma nuvem azul se bichinho antipático...
Migalhas jogadas ao vento, mas que que se soltou do espaço? Só sei que
caíram- todas - em meu coração. sua figura ficou pra sempre em mi- Foi nada não... Até hoje, não
E, passado tanto tempo, é com elas nhas lembranças mais bonitas... me ajeito bem com doutor, pa-
que enfeito minhas lembranças... dre e soldado... Coisas da infân-
Outro dia, apressada para a fi- cia... O soldado te prende, o dou-
Esquina de minha rua. Eu ia sioterapia, dou de testa com um ra- tor te aplica injeção, o padre te
apressada para uma comprinha paz suado, que chegou quase cor- dá uma penitência de mil Pais-
- de ultima hora - no armazém. rendo para me alcançar... Nossos... Também, tinha medo de
Deus, por causa do olho dele que
Esbarro com a mocinha alegre: - D. Branca, meu chefe quer es- via tudo, nas gretinhas, nos bu-
- A senhora é a Dona Branca? crever o nome do mosquito da den- raquinhos, no escuro... (Com Ele,
- Ei, sou eu! gue e não sabe, nem eu... Escreve já fiz as pazes... Com os outros,
- Eu sou filha do PENSAMEN- aqui pra mim... Ele precisa mandar continuo com um pé estrelado...)
TO AZUL... um ofício agora... Ninguém da Re-
- Não acredito, menina! E que- partição sabe escrever este nome... Mas vai daí...
de ele? Sumiu... - Eu dava aula no Curso de Con-
- Sumiu mesmo, Dona Bran- Quase morri de susto! tabilidade, à noite, para jovens de
ca! Ele tinha a cabecinha leve, me - Que isso, menino? Me mata diversas idades, alguns já casados,
deixou com minha madrinha... E do coração! outros já profissionais e alguns mal
azulou no mundo... - Desculpa, desculpa... Eu ia saídos do primeiro grau. Já viu, tur-
Fiquei o dia todo pensando na- na casa da senhora, te vi subin- ma diferente, ideias diferentes, a
quele hominho estranho, de roupa do e corri pra te cercar aqui na professora tinha de fazer malaba-
estranha, que rodava nas estradas, esquina... rismo para dar sua matéria...
descalço, carregando encomendas - Pelo amor de Deus, numa ho-
de uma cidade para outra... ra dessas, uma manhã tão bonita
Trazia cortes de seda para mi-
nha mãe fazer vestidos bonitos pa- Pensamento azul
ra as moças das redondezas... Ma-
mãe tinha mãos de fadas para en- e vocês pensando no bendito mos-
feitar as moças. quito... Pera aí...
Aquele nominho cor de nuvem,
Pensamento Azul, encantou minha E ia falando, enquanto tentava
infância: tinha medo daquelas rou- lembrar as letras aborrecidas fo-
pas diferentes – calças ralas, nos ra do lugar: sei que tem um Y, sei
joelhos, coisa nunca vista antes. que é em latim, credo, menino...
Um camisolão caindo pelo corpo, Não podia ser outra palavra mais
uma trouxinha pendurada numa fácil? Credo!
vara lisinha, de tão usada.
Aceitava um prato de comida, Respirei fundo, espremi a ca-
na loja de papai, palco para os mais beça e escrevi nas costas de um ta-
bizarros acontecimentos de Estre- lão de cheques que o moço me es-
la. Lá era o pouso do Pensamento tendia: AEDES AEGYPTI...
Azul, que nem cochilava, vigiando
sua trouxinha de encomendas. Os - Deus te pague! Ainda bem que
caixeiros - conhecedores de suas a senhora acode a gente em qual-
manias - mostravam-lhe um es- quer hora...
pelho enorme, onde os fregueses
experimentavam suas compras... E saiu voando, um mosquiti-
Até hoje, não sei se ele tinha hor- nho procurando uma água para-
ror ao espelho ou à figura que ele da pra descansar...
via lá dentro... Então, ele azulava
[28 OLUTADOR [ JULHO 2019

Dentre os adultos, havia um Observei bem aquele moço mo- Pois é. Eu adoro anjos. Do céu e da
aluno, claro, calado, bem organi- reno, bem posto e.... terra... Como os do céu estão longe
zado, educado, cheio das antigui- demais dos meus pobres olhos, con-
dades que hoje são peças de mu- - Lalado, você virou soldado??!!! tento-me com os da terra mesmo...
seu: Com licença, muito obrigado, Era o entregador de pães, lá em Num maio qualquer, um anjo pas-
até amanhã, por favor... desculpa... casa, quando minha turma era pe- sou em minha porta, de mãos dadas
Um brinco o meu aluno! quena e chorona. com a mãe, e falou com voz de mel:
Um dia, até combinei com ele:
Um belo dia, pense em um ado- - Lalado, não grita mais, os meninos - A senhora me dá umas rosas
lescente crisento... Perturbava a aula acordam e eu tenho de sair pra esco- pra eu levar pra coroação?
com mil risadinhas, mil bolinhas la... Vou pôr uma cestinha na janela,
de papel, mil piscadelas provocan- você chega, caladinho e põe o pão... Virei anjo, criei asas, ganhei um
tes para as colegas... Não pensei Só que o costume era antigo e, diadema e uma cestinha perfuma-
duas vezes: muitas vezes, o padeirinho gritava: da de pétalas de flores... O tempo
- Paaa-dei-rooooo!!! voltou: eu estava com 6 anos, mo-
- Menino, presta atenção à ma- A rua toda acordava e a meni- rava numa terra estrelada e ia pra
téria... Olha o exemplo de seu cole- nada abria a boca sem a mãe por igrejinha coroar Nossa Senhora...
ga... E apontei para o aluno-modelo: perto...
Rimos muito dos causos e eu Mas... Eis que chegou outro an-
- Eu, hein? Fessora, ele já é ve- nunca mais olhei o Lalado como o jo, adulto, tão inocente quanto o
lho... Já é até soldado! padeirinho... Pra mim, agora, ele é anjinho que já se fora...
soldado... pode me prender...
A sala estourou numa risada Gente do Céu! Numa paradi- - Eu também quero flor, quero
só e a cabeça da professora estou- nha encontrei-me com a dentis- flor, quero flor.
rou de susto... ta, uma amiga de sempre. Conver-
sa fiada, cor do cabelo, modelo da - Vou rezar, vou rezar, vou rezar...
Daí em diante, bem que eu tenta- blusa, comprimento da saia, esses Era o nosso Sabará, cabecinha
va, mas o aluno-soldado tirou meu embondos de mulher... de nuvem, olhos de fada: a cada
jeito de dar aula, fiquei cerimonio- Eis que aprece um homem, bar- dia se vestia de um jeito. Hoje, era
sa, me vigiando... Quase batia con- bado, cabelo de franja, um bigo- mulher de saia comprida e blusa
tinência quando chegava àquela de mais desusado, óculos escuros, decotada... Outro dia, era bebê, de
turma... uma figura... macacão, touca e chupeta...
- Ah! Doutora, foi bom encon- Naquela tarde, era um anjo de
Ainda topei com outro, na es- trar a senhora aqui! batom, lindas asas brancas e ca-
quina, que me deixou parada, de Ante nosso espanto, o brucutu misola de cetim, no meio das ca-
pés amarrados, custei a continuar abriu uma boca desse tamanho, mos- nelas. O anjo usava botinas e uma
andando: trava um dentão, mostrava outro, tiara de estrelas...
conversando, cuspinhando, querendo - Pode escolher, Sabará, pode
- Oi, Dona Branca! um diagnóstico para sua ponte fixa... escolher... O anjo tirou um canive-
- Oi! Tudo bem? A minha amiga fez o que pôde, te de dentro da camisola de cetim
- A senhora não me conhece quase se ajoelhou para ver o céu e tosou quantas flores ele quis...
mais? da boca do homem e eu, desmaia- Foi dançando com o buquê per-
da de rir, encostada no muro pra fumado nas mãos, cantando mo-
não cair....O trio se desfez, fui rin- dinhas e rezas, numa mistura que
do, trombando nos muros, rindo, só Nossa Senhora e os anjos do céu
rindo, rindo, até encontrar a porta entenderiam...
da minha casa... E ainda ouvi o ca- Fiquei olhando a rua... O Saba-
rinhoso sermãozinho do BEM, pa- rá sumiu na esquina...
ra que eu não risse desse jeito na Meu coração pegou mais essa
rua... Esse dia também ficou nas migalha de beleza e guardou-a jun-
minhas histórias e ele é lembran- to a mil outras que me fazem tão
do até hoje, com filhos e netos, fa- feliz: soldados, mosquitinhos da
zendo as encenações, verdadeiro dengue, consultas com a dentis-
teatro... Só falta o sermãozinho do ta, em plena rua, anjos e anjos...
BEM, educando anjos lá em cima... Verdade, meu caminho é de en-
cantamentos... de migalhas mági-
JULHO 2019 [ OLUTADOR]29 cas que mantêm uma menina es-
trela dentro de uma bisavó de pen-
samento azul...]

Páginas que não passam [ Missão e caridade...

DANIEL ROPS

Vicente de Paulo,
apóstolo da caridade

[30 OLUTADOR [ JULHO 2019

Roteiros Pastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33
Dinâmica para Grupo de Jovens 33
Catequese 34 • Homilética 36

JULHO 2019 [ OLUTADOR]31

“Quem Leitura Orante [ Uma urgência missionária...
me ama,
guarda minha nos envia o seu Espírito. Vamos, com Cantando: Todo grito por justiça que
palavra.” calma e atenção, ouvir o que o Se- sobe do chão. / É clamor e profecia:
nhor quer nos falar. // que Deus pronuncia para a con-
(Jo 14,23) versão. (bis)
Cantando: Fala, Senhor! Fala, Se-
Invocação à Trindade nhor! / Palavra de fraternidade. / Fa- L.4: É da Palavra de Deus que brotam
e Oração ao Divino la, Senhor! Fala, Senhor! / És luz da as diretrizes para orientar nossas
Espírito Santo humanidade. ações, dela que nascem planos de
pastoral para responder às diver-
A. Situando o texto B. O que o texto diz em si sas realidades existentes em nos-
L.1: O Evangelho de João nos apre- Ler na Bíblia: João 14,22-29. sas comunidades, paróquias, fora-
senta Jesus como a Palavra viva do nias e regiões. Não podemos nos
Pai, a Palavra que se fez carne, que se Chave de Leitura: descuidar da Palavra. Descuidar da
fez gente e habitou entre nós (cf. Jo 1. O que Jesus diz sobre a Palavra? Palavra é o mesmo que deixar Je-
1,14). Por isso a Palavra de Deus não 2. Para que Jesus promete enviar o sus de lado.
se resume a uma doutrina, a um en- Espírito Santo?
sinamento. Ela nos indica um jei- 3. Como zelamos pela escuta da Pa- Necessitamos cultivar a Palavra
to de viver. Devemos guiar a nossa lavra de Deus, hoje? de Deus em nossa oração pessoal, em
vida pela Palavra de Deus, pelo jei- nosso grupo de reflexão nas casas,
to de Jesus viver. Isso é ser cristão. C. O que o texto diz para nós em nossos cultos e eucaristia domi-
L.2: No texto acima, Jesus deixa cla- nicais. Também precisamos fazer
Não é sem motivo que Jesus nos ro que o amor a Ele se comprova pelo cursos e encontros que nos levem a
convida a guardar a Sua Palavra e guardar a sua Palavra. Ama a Deus aprofundar o conhecimento e a vi-
quem faz o que Jesus ensina. Ama a vência da Palavra de Deus. A Pala-
Deus quem vive como Jesus. É assim vra de Deus é aquela chuva mansa
que nos tornamos, de fato, morada que nos fecunda do amor de Deus e
de Deus. Quando lemos e refletimos nos leva a produzir frutos de justi-
a Palavra de Deus devemos sempre ça e solidariedade.
nos perguntar: “O que Deus espera
de mim diante de Sua Palavra?” A D. O que o texto nos faz dizer a
Palavra de Deus é sempre um con- Deus. (Preces e orações)
vite à nossa conversão. a) Senhor, ajudai-nos a colocar em
prática a vossa Palavra. Rezemos:
Em geral temos bons pregado- Todos: Senhor, que vossa Palavra
res da Palavra, pessoas que falam transforme a nossa vida.
bonito, que se tornam entendidos b) Senhor, que seguindo o exemplo
na Palavra. Mas o mais importan- de Jesus, acreditemos mais na for-
te não é falar bonito ou saber mui- ça da Palavra e dos grupos ou círcu-
to. O mais importante é colocar em los bíblicos. Rezemos:
prática, é viver a Palavra. Quem vi- c) Senhor, que nossos grupos ou cír-
ve a Palavra, ama a Deus e aprende culos bíblicos sejam mais missio-
a amar os irmãos. nários e atuantes em nossa comu-
nidade. Rezemos:
Cantando: Toda palavra de vida é
Palavra de Deus. / Toda ação de li- (Outras preces espontâneas)
berdade :// é a divindade agindo en-
tre nós. (bis) E. O que o texto sugere para o mun-
L.3: Precisamos apostar na força do, hoje?
criadora e transformadora da Pa- - O que podemos fazer para aumen-
lavra. É pela Palavra que nossa Igre- tar a força da Palavra de Deus em
ja vai se transformar em uma Igreja nossa comunidade?
da Palavra, de tal forma que todas
as nossas pastorais, grupos e mo- F. Tarefa concreta
vimentos sejam guiados pela Pala- Procurar informar-se das ativida-
vra de Deus. Que sejamos uma Igre- des e cursos de formação promovi-
ja da Palavra, aquela que se deixa dos pela paróquia e participar deles.
moldar pela Palavra. Como o barro
nas mãos do oleiro, assim a Igreja Encerramento
deve deixar-se moldar pelas mãos Pai-Nosso, Ave-Maria e pedido de
de Deus, pela força de sua Palavra. bênção a Deus.]
[32 OLUTADOR [ JULHO 2019

Tudo em Família [ 67 – Pensar juntos...

Um cantinho do lar... to, da família os cidadãos e na fa-
mília encontram a primeira escola
1. Coisas que acontecem medicina. Passados quase 30 anos, daquelas virtudes sociais, que são a
Dr. Aurélio sempre faz contato com alma da vida e do desenvolvimen-
Aurélio, 17 anos, morava com os tios seus antigos anfitriões, telefona no to da mesma sociedade.
e fazia o pré-vestibular. Com a trans- Natal e no dia dos pais.
ferência do tio para outra cidade, não Assim por força da sua natureza
tinha mais onde ficar e decidiu vol- 2. Pensando juntos e vocação, longe de fechar-se em si
tar para casa, no interior do Estado. Na Exortação apostólica “Familiaris mesma, a família abre-se às outras
Quando fazia o pedido de transferên- Consortio”, João Paulo II escreveu: famílias e à sociedade, assumindo
cia na secretaria do colégio, passou a sua tarefa social.” (FC, 42)
por ele um professor e percebeu a “As famílias cristãs, que na fé
situação. Na hora do almoço, o pro- reconhecem todos os homens co- 3. Para uma reunião de casais
fessor sugeriu à esposa que ofere- mo filhos do Pai comum dos céus, - Como você avalia as atitudes do
cessem abrigo ao jovem até a oca- irão generosamente ao encontro jovem Aurélio e da família que o
sião do vestibular. Ela concordou. dos filhos das outras famílias, sus- acolheu?
tentando-os e amando-os não co-
No dia seguinte, Aurélio recebeu mo estranhos, mas como mem- - Em sua família, já ocorreu al-
a oferta de hospitalidade e aceitou bros da única família dos filhos de guma situação semelhante? Quais
a proposta. Como a casa era peque- Deus.” (FC, 41) foram os resultados da decisão?
na, foi alojado em um quartinho no
fundo do quintal, construído como “A família possui vínculos vitais - Você já tinha pensado na “ta-
salão de cabeleireira para a esposa e orgânicos com a sociedade, por- refa social” de sua família? Este en-
do professor. que constitui o seu fundamento e sinamento da Igreja inspira a sua
alimento contínuo mediante o de- família?
Ao final do ano letivo, o jovem ver de serviço à vida: saem, de fa-
fez o vestibular e, aprovado, estudou - Em sua preparação para o ma-
trimônio, esta possibilidade estava
em seus planos?]

Enxergar as qualidades — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 67

Objetivo: Conscientizar os membros 3. Feita a redistribuição, começan-
do grupo para observar as boas qua- do pela direita do animador, um a
lidades nas outras pessoas. um lerá em voz alta a qualidade
Material: Lápis e folhas de papel. que consta na papeleta, procu-
Como fazer: O animador iniciará di- rando entre os membros do
zendo que, na vida diária, na maio- grupo a pessoa que, no en-
ria das vezes as pessoas não obser- tender do leitor, é carac-
vam as qualidades, mas os defeitos terizada com esta qua-
do próximo. Nesse instante, cada lidade. Só poderá esco-
qual terá a oportunidade de realçar lher uma pessoa entre
uma qualidade do colega. Para isso: os participantes.

1. O animador distribuirá uma fo- 4. Ao caracterizar a pes-
lha de papel para cada participante, soa, deverá dizer por
que deverá escrever nela a qualida- que tal qualidade a ca-
de que vê no colega que está à direi- racteriza. (Pode acon-
ta. (Obs.: Escrever apenas a qualida- tecer que a mesma pes-
de, não colocar nome, nem assinar.) soa seja apontada mais de
uma vez.)
2. A seguir, o animador pede que to-
dos dobrem a folha de papel para 5. Ao término do exercício, o ani-
ser recolhida, embaralhada e re- mador pede aos participantes de-
distribuída. poimentos sobre o mesmo.]

JULHO 2019 [ OLUTADOR]33

Roteiros para catequese [ 3 encontros seguindo os evangelhos dos

1. tarem a história com a ajuda do 2.
Vigiar catequista. Assunção
é fazer de Nossa
sempre o bem Perguntar: Senhora
a) Porque os discípulos deviam es-
Objetivo: Descobrir que Jesus quer tar preparados? Introdução: Numa sala bem prepara-
saúde e participação na defesa da da com uma Bíblia aberta, uma ima-
vida. b) O que Pedro pergunta a Jesus? gem de Nossa Senhora, flores, velas,
devemos receber os catequizandos
Material: Pés desenhados em papel c) O que Jesus pergunta para nós com muita alegria. Saber deles co-
e recortados, Bíblia, faixa com as hoje? mo passaram a semana.
palavras: “Jesus, Mestre tem pie-
dade de nós”. Para refletir Hoje, vivemos uma grande ale-
Jesus recomenda aos discípulos gria em nossa Igreja: o dia da Assun-
1. VER (a realidade) que fiquem sempre vigiando. As- ção de Nossa Senhora aos céus. Ao
sim como o ladrão não avisa o Pai, que abriu as portas do céu para
Dinâmica: Formar um caminho on- dia em que vem, a vinda do Se- que Maria fosse elevada em corpo e
de cada um coloca o seu pé dese- nhor acontece quando menos es- alma, cantemos nosso louvor e nos-
nhado e recortado, e comentar. peramos. É preciso estar sempre so agradecimento.
Todos os pés são iguais? prontos para acolher o Senhor.
Estes pés caminham muito ou Em nossos dias, estar vigilante 1. VER (a realidade)
pouco? é procurar sempre fazer o bem Notar a diferença
Para onde caminham? e evitar o que mau ou errado. É entre ASCENSÃO e ASSUNÇÃO:
ajudar a quem precisa, perdoar Ascensão - Jesus subiu aos céus por
Experiência de Vida: Rosinha era sempre e aprender a amar as pes- seus próprios poderes. “E o Senhor Je-
uma menina que gostava de aju- soas como Jesus as amou. Isso é sus, depois de ter-lhes falado, foi ar-
dar os outros. Cada dia ia à escola ser vigilante. rebatado aos céus e sentou-se à di-
carregando o seu irmão menor, reita de Deus.” (Mc 16,19.)
porque ele era paralítico. Rosinha Guardar no coração: Assunção - Maria subiu aos céus pe-
queria que ele aprendesse a ler e “Vocês também estejam prepa- los poderes de seu Filho Jesus Cristo.
escrever. Um dia, encontrou um rados!” “Finalmente, a Imaculada, preserva-
homem que lhe perguntou: da de toda mancha da culpa original,
3. CELEBRAR terminou o curso da vida terrestre, foi
- “Menina, por que você carre- assunta em corpo e alma, à glória ce-
ga cada dia esse menino tão pe- Oração: Pedir a Deus a graça de es- leste. Foi exaltada pelo Senhor, como
sado?” tarmos sempre vigilantes. Espon- Rainha do Universo.” (Proclamação do
taneamente colocar alguns pe- dogma da Assunção pelo Papa Pio XII.)
Rosinha respondeu: didos em comum. Após cada pe-
- “Ele não é pesado, é meu ir- dido dizer: “Senhor, ajude-nos a Experiência de vida: Maria estava
mão”. fazer o bem!” sempre pronta para servir aos ou-
Perguntar: Por que Rosinha deu tros. E você, está sempre pronto pa-
essa resposta? Será que na Bíblia 4. AGIR (a realidade nos convoca ra ajudar seu próximo?
encontramos uma resposta? para...)
Procure na sua rua, em sua casa,
2. ILUMINAR Compromisso na comunidade, os serviços nos quais
(Ensinamentos de Jesus) Combinar com os pais para você pode ajudar, assim como Maria.
visitar uma pessoa com defi-
Canto: para aclamar a Palavra ciência. Demonstre mais amor e dedica-
ção aos seus colegas, amigos e fa-
Leitura: Lucas 12, 35-48 Canto de solidariedade miliares.
- Pedir aos catequizandos para le-
rem na sua Bíblia e depois recon- Final: Rezar o Pai-Nosso e a Ave 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus)
-Maria. Terminar o encontro com Canto de aclamação
um canto alegre.] Leitura: Lucas 1,39-56
Mostrar a imagem de Maria subin-
[34 OLUTADOR [ JULHO 2019 do ao céu.

domingos 11, 18 e 25 de agosto]

Perguntar: 3. b) O que Jesus ordena ao que pra-
a) Quem são as mulheres que apare- Entrar ticam injustiça?
cem no texto? pela porta
b) Que maravilha Deus realizou em estreita c) O que acontecerá com os últi-
cada uma delas? mos?
c) Que maravilhas Deus continua rea- Objetivo: Entender que quem quer
lizando hoje? ficar com Jesus deve ser humil- d) O que Jesus espera de nós hoje?
de, reconhecer seus erros.
Para refletir Para refletir
Nosso povo tem grande devoção a Ma- Material: Bíblia, 2 galhos (um seco Jesus quer a salvação de todos,
ria sob o título de Nossa Senhora Apa- e outro verde), 2 vasos. mas é preciso entrar pela porta
recida; em outros lugares, Maria re- estreita. Ou seja, é preciso fazer
cebeu vários nomes. Vamos dizer al- 1. VER (a realidade) o bem e evitar o mal. É preciso
guns deles: Nossa Senhora de Fátima, caminhar na luz. Por isso Jesus
de Lourdes, do Rosário, de Nazaré…, Dinâmica: O (a) catequista pede a diz aos que praticam injustiças:
mas é bom saber que todas as Nossas um participante voluntário para “Afastai-vos de mim!” (Lc 13,27).
Senhoras são uma pessoa só, com vá- se retirar da sala. Depois explica
rios títulos diferentes. Embora tenha aos outros que uma das pessoas Que sejamos pessoas capazes
muitos nomes, muitas invocações, a está eletrificada. Quando o volun- de fazer o bem e de buscar sempre
mãe de Jesus é uma só. Ela é aquela que tário tocar na cabeça dele, todos a paz em casa, na escola, na rua,
acreditou que Deus é o Todo-Poderoso. darão um grito. Determina a pes- nas brincadeiras, em todo lugar.
soa e chama o voluntário para to- Jesus é da paz e quer que nós se-
A verdadeira devoção consiste em car na cabeça de todos, colocando jamos da paz e do bem.
imitá-la nesse grande amor a Deus as duas mãos e descobrir quem é
e aos mais necessitados. eletrificado. Guardar no coração: “Entrem pela
Guardar no coração: “Bem aventu- porta estreita!”
rada, aquela que acreditou!” Experiência de vida: Em círculo, no
meio um vaso com galhos secos e 3. CELEBRAR
3. CELEBRAR outro com galhos verdes. Distri-
Oração: buir tiras brancas, onde cada um Oração: Estamos no mês vocacio-
(As crianças, em círculo, colocam-se escreverá um defeito seu, e colo- nal: Rezar uma oração pelas vo-
ao redor da imagem de Nossa Senho- car no galho seco. Distribuir tiras cações.
ra e recitam o ABC de Maria.) coloridas, escrever uma virtude e
colocar no galho verde. Cantar: O Senhor me chamou a
Diz um A – Ave Maria / Diz um B – trabalhar, a messe é grande a
bondade e beleza / Diz um C – cofre da Perguntar: “Fui sincero ao es- ceifar...
graça / Diz um D – divina estrela / Diz crever meu erro, minha virtude?”
um E – esperança nossa / Diz um F – – “Por que colocamos os erros no 4. AGIR (a realidade nos convoca
fonte de amor / Diz um G – guia do po- galho seco e as virtudes no ga- para...)
vo / Diz um H – humilde flor / Diz um I – lho verde?”
imaculada / Diz um J – janela aberta / Dialogar
Diz um L – luz sempre certa / Diz um M – 2. ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) Quem reza pela paz na família
mãe dos mortais / Diz um N -nuvem de e pela paz no mundo? O que vo-
brilho / Diz um O – orai por nós / Diz Canto de aclamação cê reza?
um P – por nossos filhos / Diz um Q –
querida mãe / Diz um R – rainha da Leitura: Lucas 13,22-30. Compromisso
paz / Diz um S – socorre sempre / Diz Conversar com alguma pessoa so-
um T – todos os mortais / Diz um U – Perguntar: bre o trabalho dos missionários
um exemplo de mãe / Diz um V – vale e sobre o chamado que Deus faz
fecundo / Diz um X – “xis” dos mistérios a) Por qual porta Jesus manda en- a cada um de nós.
/ Diz um Z – Zelai o mundo! trar?
Final
Canto: “Ensina teu povo a rezar, / Ma- JULHO 2019 [ OLUTADOR]35 Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
ria, mãe de Jesus...” Terminar o encontro com um can-
to alegre.]
4. AGIR
Compromisso: Convidar os pais pa-
ra rezar um terço em família.

Final: Terminar o encontro com um
canto alegre.]

Homilética [ 18•08•2019 “Bendita és tu
entre as mulheres!”

(Lc 1,42)

Assunção de Leituras da Semana
Nossa Senhora
[dia 19: Jz 2,11-19; Sl 105[106],34-37.39-40.43ab-44; Mt 19,16-22
[dia 20: Jz 6,11-24a; Sl 84[85],9.11-14; Mt 19,23-30
[dia 21: Jz 9,6-15; Sl 20[21],2-7; Mt 20,1-16a
[dia 22: Is 9,1-6; Sl 112[113],1-8; Lc 1,26-38
[dia 23: 2Cor 10,17 – 11,2; Sl 148,1-2.11-13a.13c-14; Mt 13,44-46
[dia 24: Ap 21,9b-14; Sl 144[145],10-13ab.17-18; Jo 1,45-51

Leituras: Ap 11,19a;12,1-3 6a.10ab; 2. Ressuscitar com Cristo. A 1Cor res- Maria é vista como a Arca da Alian-
Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56 ponde a problemas e questionamen- ça, pois traz em seu seio a salvação
tos da comunidade. O capítulo 15 trata de Deus e Isabel reconhece o Salva-
1. A vitória da Igreja. Diante das per- da ressurreição, que alguns estavam dor, que irá nascer do ventre de Ma-
seguições sofridas pelas comunidades negando. E recorda o anúncio funda- ria (v. 43).
cristãs, o Apocalipse procura dar con- mental: Cristo morreu e ressuscitou.
solo, incentivo à luta e à esperança. A Esta certeza da nossa fé é testemunha- As palavras inspiradas de Isabel são
linguagem é simbólica, apenas com- da por muitos que viram o Cristo res- repetidas, há dois mil anos por milhões
preensível aos cristãos. suscitado. Se, como alguns afirmam, de lábios devotos ao rezarem a Ave-Ma-
os mortos não ressuscitam, também ria (cf. v. 48). Maria é bem-aventura-
São 4 imagens simbólicas princi- Cristo não ressuscitou e, então, é vã a da, porque acreditou nas promessas
pais: o Templo, a arca, a aliança e os nossa fé. do Senhor. Sua grandeza provém so-
sinais cósmicos, indicando que Deus bretudo de sua fé assumida.
vai comunicar-se com os homens. A Jesus é o Novo Adão (vv. 20-23). Adão
Arca, no Primeiro Testamento, trazia morreu e na sua morte todos morre- Jesus se encontra com João Batis-
as tábuas da Lei, expressão de Deus pa- ram. Jesus é o novo Adão ressuscita- ta. À saudação de Maria, este se agi-
ra o povo. Aqui, a arca pode simbolizar do, o primeiro fruto de uma nova co- ta no seio de Isabel saltando de ale-
aquela que traz em seu seio a própria lheita (= primícias). Os primeiros fru- gria, e ela se enche do Espírito San-
Palavra de Deus, com o mesmo signi- tos garantem a qualidade da colheita. to. Lucas quer mostrar a presença da
ficado da mulher do capítulo 12. Assim, se Cristo ressuscitou como pri- Boa Nova no seio de Maria. A presen-
mícias, todos nós ressuscitaremos de- ça do Salvador já alegra o coração do
A mulher, vestida de glória e prote- pois dele. Em Adão, a morte; em Cris- precursor.
gida por Deus, tem traços da eternida- to, a vida. Jesus vence todas as forças
de divina (lua sob os pés) e na cabeça e estruturas injustas e inimigas da vi- O cântico de Maria é apresentado
uma coroa de 12 estrelas. Representa da. Todos esses inimigos ele os coloca- como sua resposta à saudação de Isa-
a vitória da comunidade dos filhos de rá debaixo dos seus pés. bel. Lucas o compõe também com pa-
Deus do Primeiro e Segundo Testamen- lavras do Primeiro Testamento, prin-
to (12 tribos e 12 apóstolos). 3. Maria, arca da aliança. No Evange- cipalmente, inspirado no cântico de
lho, temos o encontro de duas futuras Ana, em 1Sm 2,1-10, como expressão
A mulher é uma imagem polivalen- mães e o encontro de duas crianças! da gratidão dos pobres – resto de Israel
te: é Eva, a mãe da humanidade, que Maria se encontra com Isabel. Quem – que aguardavam a libertação. O nú-
vai dar à luz um descendente capaz de é Maria? Quem é Isabel? Duas pessoas cleo do cântico nos mostra uma espé-
esmagar o mal (cf. Gn 3,14-15); é o po- pobres, mas agradecidas pelo dom da cie de inversão de valores.
vo de Deus do Primeiro Testamento (12 fecundidade. Isabel era estéril e Maria
estrelas); é Sião-Jerusalém, que dará não teve relações com nenhum homem. Na dimensão religiosa Deus destrói
à luz o Messias; é Maria mãe de Jesus; Deus se manifesta nos pobres trazen- a autossuficiência humana (dispersa
é a comunidade-Igreja, mãe dos cris- do-lhes a riqueza da vida. As palavras os soberbos de coração). Na dimensão
tãos. A tradição da Igreja aplicou Ap 12 de Isabel são inspiradas em textos do política, Deus derruba os poderosos
a Maria, que é a Nova Eva, figura da Primeiro Testamento. de seus tronos e eleva os humildes,
humanidade, figura da Igreja gerado- refazendo as relações de opressão
ra de cristãos. Assunta ao céu, ela an- - Jz 5,24: “Seja bendita entre as mu- em relações de fraternidade. Na di-
tecipa na glória de Jesus o futuro vito- lheres, Jael”. mensão social, Deus despede os ri-
rioso de cada cristão. cos de mãos vazias e enche de bens
- Jt 13,18: “Tu és bendita, ó filha, pelo os famintos, transformando as re-
O dragão é a personificação do mal, Deus altíssimo, mas que todas as mu- lações de exploração em relações de
é o poder totalitário dos impérios per- lheres da terra”. partilha.
seguidores da Igreja. O Filho é Jesus
que, com sua ressurreição (= foi leva- - Dt 28,1.4: “Bendito seja o fruto do É a misericórdia de Deus chegan-
do para junto de Deus e do seu trono) teu ventre”. do à vida de todos os descendentes de
se tornou o vencedor do dragão, do pe- Abraão, que conservaram seu temor
cado, do mal e da morte. - 2Sm 6,9: “Como entrará a Arca do ao Deus sempre fiel às suas promes-
Senhor em minha casa?” sas salvíficas.]

[36 OLUTADOR [ JULHO 2019

Homilética [ 25•08•2019 “Fazei todo esforço possível
para entrar
pela porta estreita.”

Leituras da Semana (Lc 13,24)

21º Domingo [dia 26: 1Ts 1,1-5.8b-10: Sl 149,1-6a.9b; Mt 23,13-22
do Tempo [dia 27: 1Ts 2,1-8; Sl 138[139],1-6; Mt 23,23-26
Comum [dia 28: 1Ts 2,9-13; Sl 138[139],7-12ab; Mt 23,27-32
[dia 29: Jr 1,17-19; Sl 70[71],1-4a.5-6ab.15ab.17; Mc 6,17-29
[dia 30: 1Ts 4,1-8; Sl 96[97],1.2b.5-6.10-12; Mt 25,1-13
[dia 31: 1Ts 4,9-11; Sl 97[98],1,7-9; Mt 25,14-30

Leituras: Is 66,18-21; Sl 116[117]; filho não entende na hora, mas o so- bém esforço nosso. Em que consiste
Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30 frimento-correção produz depois seus nosso esforço? A resposta aparece no
efeitos (v. 11). Deus não quer que desa- v. 27, mas antes Jesus esclarece com a
1. Um encontro universal. O Dêutero nimemos, quando repreendidos pela parábola da porta fechada.
-Isaías (Is 40-50), com sua promessa repressão-sofrimento (v. 5), pois o Se-
de retorno do Exílio Babilônico e re- nhor corrige a quem ele ama e castiga Esta parábola vai esclarecer a ten-
construção rápida do país, trazendo (educa) a quem ele aceita como filho. tativa frustrada de todos aqueles que
de novo a glória perdida, não se reali- não conseguiram entrar. Trata-se da
zou a contento. Os repatriados ainda A segunda explicação, nos vv. 12-13, porta do banquete messiânico. Depois
vivem tempos difíceis; a comunidade foca na linha da solidariedade cristã. de certo tempo da chegada dos convi-
está em decadência. A função do Tri- Aliás, não é esta a explicação do sofri- dados, o anfitrião se levanta e fecha a
to-Isaías (55-66) é levantar o moral do mento tirada da cruz de Cristo? Ele so- porta. Todos os que chegarem atrasa-
povo, reativando a esperança da re- freu e morreu em nosso lugar. “Mãos dos baterão à porta, mas serão igno-
construção nacional. Nosso texto rom- enfraquecidas e joelhos vacilantes” lem- rados. E ali desfilarão os arrazoados
pe as fronteiras de um nacionalismo bram a situação de prostração da co- daqueles que hoje tranquilizam suas
mesquinho e sua esperança alcança munidade. O revigoramento dos cris- consciências com narcóticos de uma
dimensões universais. tãos, apesar do sofrimento-solidarie- pseudorreligião de ritos vazios e esté-
dade, vai reforçar quem vacila na ação reis, sem compromisso com a solida-
O anúncio é messiânico com perspec- (mãos enfraquecidas), na estabilidade riedade a justiça.
tivas escatológicas. Nesse tempo, Deus (joelhos vacilantes) e na caminhada
mesmo virá reunindo todos os povos da fé (pés). A solidariedade cristã é um Não bastam o legalismo farisaico,
e línguas. Todos virão para admirar a meio eficaz de cura para os aleijados o ritualismo cristão, missas, retiros,
glória de Deus, ou seja, a salvação que na caminhada da fé. Você tem supor- orações, movimentos religiosos. Tu-
ele traz. Este encontro universal para tado o sofrimento à luz da fé? do isso só tem sentido se for acompa-
contemplar a glória de Javé começa- nhado do esforço da prática da justiça
rá com um sinal. Todos os sobreviven- 3. São poucos os que se salvam? Antes (v. 22), aqui e agora, enquanto é tempo.
tes se tornarão missionários e serão da pergunta do v. 23, temos dois dados
enviados a todas as nações do mun- importantes no v. 22. O primeiro é a in- Pouco adianta aos judeus serem fi-
do, que nunca viram a glória de Javé. dicação de Lucas que Jesus atravessa lhos de Abraão, se não querem com-
cidades e povoados ensinando. Isto já prometer-se com Jesus a caminho de
A enumeração das nações relem- afirma a universalidade da salvação Jerusalém. O mesmo se pode dizer de
bra Gn 10 com a lista de povos após de Jesus, que não pertence de direito a nós, cristãos, se nossas práticas reli-
o dilúvio. As barreiras nacionalistas um povo. O segundo dado é que Jesus giosas são estéreis, sem o engajamen-
são superadas. Acontecerá o inverso prosseguia seu caminho para Jerusa- to prático na luta pela justiça (porta es-
da torre de Babel, quando os povos fo- lém (cf. 9,51; 17,11; 19,28). Ali, Jesus en- treita). A mesa do banquete será ocu-
ram dispersos. Agora todos se reuni- contrará oposições, violência e morte. pada por aqueles que nunca ouviram
rão na montanha santa de Jerusalém. É a porta estreita dos que vão entrar no falar de Deus, mas vivem praticando
Reino. Porta do enfrentamento com os a justiça.
2. O sofrimento que educa. A comuni- poderes opressores e contrários à vida,
dade enfrenta dificuldades, sofrimen- porta da luta pela fraternidade e justiça. O v. 30 pode ser assim entendi-
tos. Testemunhar Jesus significa subir do: os pagãos, considerados os últi-
o Calvário com ele. No capítulo 11, o au- “São poucos os que se salvam?” (v. mos, serão os primeiros; os judeus,
tor enumerou longa lista dos que per- 23.) A esta pergunta teórica e inútil, Je- considerados os primeiros, serão os
severaram e foram aprovados através sus dá uma resposta prática e funda- últimos. Os cristãos só de missa se-
da sua fé. O texto traz duas explicações mental. A porta da salvação é estreita, rão considerados os últimos; os de
para o sofrimento cristão. Deus educa muitos vão tentar, mas não vão conse- fora da comunidade, mas que pra-
através do sofrimento. guir entrar. O importante é fazer todo o ticam a justiça, serão considerados
esforço possível para entrar. A salvação os primeiros.
A primeira explicação vem com a não é apenas dom de Deus, mas tam-
pedagogia que o pai aplica ao filho. O Talvez coubesse aqui uma pergun-
JULHO 2019 [ OLUTADOR]37 ta final: em que está consistindo nos-
sa vivência cristã?]

Homilética [ 1•09•2019 “Convida os pobres,
os aleijados, os coxos,

os cegos.”

Leituras da Semana (Lc 14,13)

22º Domingo [dia 29: 1Jo 4,7-16; Sl 33[34],2-11; Jo 11,19-27
do Tempo [dia 30: Ex 33,7-11; 34,5b-9.28; Sl 102[103],6-13; Mt 13,36-43
Comum [dia 31: Ex 34,29-35; Sl 98[99],5- 7.9; Mt 13,44-46
[dia 1º: Ex 40,16-21.34-38; Sl 83[84],3.4.5.6a.8a.11; Mt 13,47-53
[dia 2: Lv 23,1.4-11.15-16.27.34b-37; Sl 80[81],3-6ab.10-11ab; Mt 13,54-58
[dia 3: Lv 25,1.8-17; Sl 66[67],2-3.5.7-8; Mt 14,1-12

Leituras: Eclo 3,19-21.30-31; Sl 66[67]; lhedor, mas terrível e aterrorizante. Jesus, então, lhes propõe uma pa-
Hb 12, 18-19-22-24a; Lc 14,1.7-14 O povo até pedia que Deus parasse rábola, onde ensina que ao ser convi-
de lhe falar, pois lhe causava medo. dado para uma festa de casamento a
1. Só Deus é poderoso. O texto é do Li- gente não deve escolher os primeiros
vro do Eclesiástico ou Sirácida (em Mas a Nova Aliança acontece de lugares. Com a vaidade, a gente corre o
hebraico, Jesus Ben Sirac), uma tra- modo diferente. O povo vai experimen- risco de ser humilhado ao chegar um
dução grega feita pelo neto do autor, tar um Deus próximo, amigo, solidá- convidado mais importante, e ter que
por volta do ano 132 a.C. A Palestina rio, íntimo. A Nova Aliança é selada ceder o lugar para ele. É bom escolher,
estava sob o domínio da Síria, e os através da morte e ressurreição de Je- humildemente, o último lugar, pois
dominadores queriam a todo o custo sus. Seu sangue é mais eloquente que assim o que nos convidou pode dizer:
impor a cultura, a religião e os costu- o sangue de Abel (v. 24), é mais impor- “Amigo, sobe mais para cima”. Assim,
mes gregos. Muitos se entusiasma- tante e traz mais resultado. Ele expia nós seremos honrados diante de todos.
vam com a novidade, sem perceber os nossos pecados, nos reconcilia com
o perigo da destruição da identidade Deus e nos faz mais próximos dele. No v. 11, Jesus conclui: “Pois todo
cultural e religiosa do povo. aquele que se exalta será humilha-
Na Antiga Aliança, o povo se apro- do, e quem se humilha será exalta-
O Livro do Eclesiástico reage a este ximava do Monte Sinai no deserto. do”. Nada mais claro! Jesus ensinava
imperialismo cultural. Procura insis- Na Nova Aliança, o povo se aproxima a humildade. Ele realmente é man-
tir na fidelidade às tradições do povo do Monte Sinai da cidade do Deus vi- so e humilde de coração e, quando
de Deus e sua identidade própria. Fala vo, da Jerusalém celeste. O céu desce ele se pôs à mesa com seus discípu-
dos deveres para com os pais (vv. 1-16), até a terra na pessoa de Jesus, o Fi- los, lavou os pés de todos e depois os
a humildade (vv. 17-25); medita sobre lho de Deus. Ao contrário da Antiga serviu. Jesus veio para servir, e não
o orgulho (vv. 26-29) e termina com Aliança, estamos num ambiente de para ser servido. Um modo humilde
dois versículos sobre a caridade (30-31). festa na presença dos anjos e santos de ser é a novidade de Jesus.
(v. 23). Essa novidade não é uma por-
Percebemos uma clara contrapo- ta para o descompromisso, mas uma Nos vv. 12 a 14, Jesus se dirige dire-
sição entre a atitude orgulhosa dos chamada à responsabilidade humil- tamente a quem o convidou. Ele tinha
dominadores e a atitude sadia e hu- de e servidora a exemplo do nosso percebido que os convidados eram gen-
milde dos dominados. Só aos humil- mediador Jesus Cristo. te importante. Então, Jesus diz ao seu
des Deus revela seus mistérios (v. 19). anfitrião que, da próxima vez, ele deve
Grande e poderoso é só o Senhor. Fa- 3. O último lugar. O v. 1 do Evangelho convidar quem não o pode recompen-
zer-se pequeno, sentir-se frágil, im- nos dá o ambiente do texto. É sábado. sar com outro convite. Deve convidar
potente e humilde é atitude correta Para os judeus, é um dia especial, co- os pobres, entrevados, coxos e cegos.
do ser humano. Uma atitude funda- mo o nosso domingo. No sábado, os Uma vez que estes não podem pagar-
mental o fiel reconhecer a grande- judeus celebravam a vida, que é um lhe, a recompensa ficará por conta
za de Deus e nele confiar. Os versí- dom de Deus para todo o mundo, po- de Deus, na ressurreição dos mortos.
culos finais mostram o valor da es- bres e ricos, sãos e deficientes.
mola para o perdão dos pecados e a O Reino não é troca de favores,
retribuição dos favores para encon- Jesus entra na casa de um fari- mas gratuidade absoluta, por isso
trar apoio nos momentos de queda. seu importante, portanto, na casa de Jesus propõe uma inversão de valo-
gente rica. Está para começar o ban- res. Não é isso que lemos no Magni-
2. Um Deus próximo. Em Hb 12, per- quete. Depois de curar um enfermo, ficat (Lc 1,51-53), como também na
cebemos a contraposição entre a An- mostrando que a vida é mais impor- parábola do rico e do pobre Lázaro
tiga e a Nova Aliança. A antiga foi da- tante que a lei (do sábado), Jesus ob- (Lc 16,19-31)?
da no monte Sinai, através do fogo, serva os convidados e percebe que os
nuvens, trevas, tempestades e som convidados eram pouco modestos. “Quem se exalta será humilha-
de trombeta. O ambiente não era aco- Vaidosamente, escolhiam os primei- do e quem se humilha será exalta-
ros lugares (v. 7). do”. No dia do julgamento isto fica-
rá claro, para surpresa de todos nós.]
[38 OLUTADOR [ JULHO 2019

Homilética [ 8•09•2019 “Se não renunciar
a tudo o que tem,

não pode ser
meu discípulo.”

Leituras da Semana (Lc 14,33)

23º Domingo [dia 9: Cl 1,24 – 2,3; Sl 61[62],6-7.9; Lc 6,6-11
do Tempo
Comum [dia 10: Cl 2,6-15; Sl 144[145],1-2.8-11; Lc 6,12-19

[dia 11: Cl 3,1-11; Sl 144[145],2-3.10-13ab; Lc 6,20-26

[dia 12: Cl 3,12-17; Sl 150,1-6; Lc 6,27-38

[dia 13: 1Tm 1,1-2.12-14; Sl 15[16],1-2a.5.7-8.11; Lc 6,39-42

[dia 14: Nm 21,4b-9 ou Fl 2,6-11; Sl 77[78],1-2.3438; Jo 3,13-17

Leituras: Sb 9,13-19; Sl 89[90]; Fm 9b- 2. Livres para fazer o bem. Esta carti- nitiva, supõe desapego, exige cora-
10.12-17; Lc 14,25-33 nha é algo de fantástico. Trata da de- gem, exige fé.
volução a Filêmon do seu escravo fu-
1. Salvos pela Sabedoria. Na capital gitivo Onésimo, convertido por Paulo As condições para seguir Jesus são
cultural do helenismo, como incul- na prisão. Paulo tem autoridade pa- basicamente três: primeira, o desape-
turar a fé judaica sem abandonar o ra mandar, mas prefere pedir. Quem go afetivo. Para seguir Jesus, para ser
essencial da riqueza religiosa do ju- pede é uma pessoa idosa, prisionei- seu discípulo, é preciso colocá-lo em
daísmo? É claro, o mundo grego tem ra de Cristo (v. 9). O que Paulo pede? primeiro lugar. É preciso amá-lo mais
também valores que podem ser assi- A libertação de Onésimo? Não. Pelo que todos os parentes. É preciso até
milados. É preciso repensar a fé com menos não o faz de modo explícito. mesmo renunciar à própria vida (v. 6).
seriedade e fidelidade.
Paulo não proclama a libertação Segunda, a disponibilidade pa-
Sb 9,1-18 é uma prece, onde se pe- dos escravos. O mundo não estava so- ra a cruz. “Cruz” simboliza todo o ti-
de a sabedoria. Diante do endeusa- ciologicamente preparado para isto. po de sacrifício para levar em frente
mento da filosofia grega, o autor pede A economia era baseada na mão de o projeto de Jesus. Caminhar atrás
insistentemente a Deus a “sabedoria obra dos escravos. Mas Paulo lança os de Jesus com a cruz às costas signi-
que se assenta contigo no teu trono” fundamentos da libertação ou, pelo fica a coragem de subir o Calvário e
(v. 4). Só com esta sabedoria se pode menos, mina as bases do estatuto da dar a vida a exemplo de Jesus (v. 27).
enfrentar a realidade, e aprender o escravidão. Paulo pede acolhida cari-
que é agradável a Deus. dosa e amável, pois considera Onési- Terceira, a renúncia total (v. 23).
mo como seu próprio coração (v. 12). Se a primeira condição foi a renun-
O autor critica a filosofia endeu- cia dos bens, vê-se que aquele que nos
sada que pretendia dar resposta pa- Paulo está preso por causa do deu tudo pede tudo. Um exemplo de
ra tudo. Na verdade, os desígnios de Evangelho. Filêmon poderia muito entrega total vê-se em Paulo que, de-
Deus são insondáveis aos homens, bem estar servindo a Paulo na prisão, pois que descobriu Jesus, considerou
suas intenções são impenetráveis mas não pode fazê-lo; então Onési- tudo o mais como esterco (Fl 3,7-8).
(v. 13). Por outro lado, “nossas re- mo seria um ótimo substituto (12).
flexões são precárias”. Não conhe- Mas Paulo vai mandá-lo de volta, Não se pode seguir a Jesus sem
cemos bem nem mesmo o que está pois não quer nada forçado. Certa- uma decisão firme. Jesus pede para
ao nosso alcance, como investigar, mente Filêmon terá Onésimo agora os discípulos ponderarem antes de
então, as coisas do céu (v. 16)? Tudo para sempre (v. 15) não mais como tomarem uma decisão irreversível.
seria realmente impossível se Deus escravo, mas como irmão. Ele tam- Para ilustrar isso, Jesus conta duas
não enviasse do alto o seu espírito, bém será querido de Filêmon como pequenas parábolas. Provavelmen-
sua sabedoria. É só assim que po- homem e como cristão (v. 16). O v. 17 te, ele reflete desânimos e deserções
demos chegar ao conhecimento da é um xeque-mate: “Se, pois, me tens de alguns na caminhada ou pelo me-
vontade de Deus. como companheiro, recebe-o como nos adverte contra isso.
se fosse a mim mesmo”.
A sabedoria se identifica primei- Na primeira, a construção de uma
ramente com a lei, que ensina o que 3. Renúncia que liberta. “Grandes torre. Quem não calcular direitinho os
agrada a Deus e conduz o homem à multidões acompanhavam Jesus.” gastos, não vai conseguir terminar e será
salvação (v. 18). Mas, colocando a sa- Para onde? Desde 9,51, Jesus tinha caçoado pelos que passarem. Na segun-
bedoria em paralelo com o Santo Es- tomado a resolução de caminhar pa- da, o cálculo de guerra. Quem só tem dez
pírito (v. 17), o autor relembra Jr 31,31 ra Jerusalém para entregar sua vi- soldados não vai entrando numa guer-
e Ez 36,26-29: na Nova Aliança um es- da por nós. Aqueles que o acompa- ra contra quem tem o dobro. Antes ele
pírito novo nos ajudará a reconhecer nhavam vão aos poucos tomando vai calcular bem se consegue dar conta.
e cumprir a vontade de Deus. Assim consciência de que essa caminha- Se acha que não dá, vai procurar a paz.
a sabedoria se identifica com o pró- da é sem retorno, é decisiva e defi-
prio Espírito de Deus. Tudo isso é bom para dizer que se-
JULHO 2019 [ OLUTADOR]39 guir a Jesus supõe decisão firme renún-
cia total e coragem de correr o risco.
Você se acha no seguimento de Jesus?]

Homilética [ 15•09•2019 “Era preciso festejar
e alegrar-nos,
24º Domingo Leituras da Semana
do Tempo porque este teu irmão
Comum [dia 16: 1Tm 2,1-8; Sl 27[28],2.7-9; Lc 7,1-10 estava morto
[dia 17: 1Tm 3,1-13; Sl 100[101],1-3ab.5.6; Lc 7,11-17
[dia 18: 1Tm 3,14-16; Sl 110[111],1-6; Lc 7,31-35 e tornou a viver.”
[dia 19: 1Tm 4,12-16; Sl 110[111],7-10; Lc 7,36-50
[dia 20: 1Tm 6,2c-12; Sl 48[49],6-10.17-20; Lc 8,1-3 (Lc 15,32)
[dia 21: Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19],2-5; Mt 9,9-13

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50[51]; perseguidor e violento. Fiel mesmo é tante. Pecar é distanciar-se da casa
1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32 só Jesus, mas a sua graça transbor- do Pai com experiências desligadas
dou no coração de Paulo. O importan- da fonte do amor e da vida. Mas ele
1. O apelo à misericórdia. Depois que te é abrir o coração e acolher a pala- acaba “na lama”, cuidando de por-
o povo adorou o bezerro de ouro, Deus vra fiel de Jesus: “Cristo Jesus veio cos, animal imundo para os judeus.
se inflamou de ira, não reconheceu ao mundo para salvar os pecadores, Reconhece na miséria absoluta que
Israel como seu povo e decidiu exter- dos quais eu sou o primeiro” (v. 15). na casa do Pai até os empregados ti-
miná-lo. Deus propõe tirar das costas nham de tudo. Ensaia sua confissão e
de Moisés o peso de libertar um povo Paulo não quer se comunicar co- decide voltar. Sua esperança é de ser
que não sabe valorizar a liberdade, mo modelo de perfeição para os lí- ao menos um empregado. O impor-
mas prefere continuar na escravidão. deres que se afastaram da santidade tante para ele é o pão, que não falta
Moisés seria um novo Abraão, pois (v. 6), mas apresenta-se como aque- na casa do pai.
Deus faria dele uma grande nação. la pessoa que se deixou moldar por
Deus. Jesus foi tremendamente pa- Mas o Pai o aguardava ansioso (v.
Moisés recusa a proposta de Deus. ciente para com ele e, graças à sua 20). Vendo-o, enche-se de compaixão,
Como ficariam as promessas feitas a abertura, ele encontrou misericórdia corre ao seu encontro e o restabele-
Abraão, Isaac e Jacó? Através de um (v. 16). Aqui, sim, está o exemplo de ce na família com toda a dignidade
diálogo muito humano, ficamos co- Paulo. Ele é exemplo da misericórdia de filho: o beijo é o sinal do perdão;
nhecendo a grandeza e dignidade de de Cristo para quem crê. a veste festiva é para um hóspede
Moisés, como também a bondade e de honra; a entrega do anel é a res-
a misericórdia de Deus. Ao invés de 3. Um Deus que é Pai. O capítulo 15 tituição de todos os direitos e pode-
contar com o arrependimento do ho- é o coração do Evangelho de Lucas. res na família; os sapatos eram luxo
mem, é o próprio Deus que se arre- São três parábolas de misericórdia de homens livres, que escravos não
pende, coloca o perdão à frente e dei- ou dos três perdidos: a ovelha per- usavam. Na casa voltou a alegria:
xa viver o seu povo. dida, a dracma perdida, o filho per- “Vamos fazer um banquete. Porque
dido. Esta parábola do Filho Pródigo este teu irmão estava morto e tor-
Como vai nossa fidelidade ao pro- deve ser chamada de parábola dos nou a viver, estava perdido e foi en-
jeto de vida deste Deus tão humano dois filhos e, melhor ainda, parábo- contrado”.
e misericordioso? la do Pai misericordioso.
Já o filho mais velho tem todas
2. Deus me fez misericórdia. Paulo A introdução é de fundamental im- as qualidades, mas não é capaz de
deixa Timóteo em Éfeso e agora lhe portância. De um lado, Jesus e os pe- acolher o irmão que volta, nem quer
escreve diante das filosofias e dou- cadores. Quem são eles? São pessoas partilhar da alegria do coração do Pai
trinas erradas, que estão aparecendo que tinham conduta imoral (adúlte- que insiste com amor e ternura para
na comunidade, diante dos conflitos ros, mentirosos, prostitutas) ou exer- que ele entre para a festa. Gabando-
e arrogâncias das lideranças. O tex- ciam profissões consideradas deso- se de sua conduta justa e irrepreen-
to de hoje começa com uma ação de nestas ou imorais, (cobradores de sível, chega a criticar a atitude do Pai.
graças (v. 12) e termina com um hi- impostos, pastores, tropeiros, cur- A parábola termina com o Pai justifi-
no de louvor (v. 17). tidores). Do outro lado, os que criti- cando a sua conduta misericordiosa.
cavam a misericórdia de Jesus: fari-
Qual é o motivo da ação de graças? seus, doutores da lei, representando O filho mais novo são todos os pe-
É o chamado de Cristo Jesus. Ele con- a classe dominante e se consideran- cadores com quem Jesus faz a festa.
fia no pecador. Ele não nos chama do justos. Jesus conta as parábolas O filho mais velho são os fariseus e
para o ministério porque somos san- para perceberem que ele age com a doutores da lei que se consideram jus-
tos, mas confia em nós por causa de atitude do Pai. tos, mas são incapazes de acolher os
sua própria bondade, misericórdia e irmãos marginalizados e ainda cri-
gratuidade. Foi assim que aconteceu O filho pede sua parte da herança ticavam a atitude de Jesus.
com Paulo que, antes, era blasfemo, ao pai e depois parte para bem dis-
E você? Qual a sua postura?]
[40 OLUTADOR [ JULHO 2019

Mensagens [ Sabedoria & Poesia

“A característica do herege, isto é, daquele que tem uma opinião particular,
é agarrar-se aos seus próprios pensamentos; e a do católico, quer dizer, do universal

é preferir aos seus sentimentos o sentir comum de toda a Igreja.”

BOSSUET

[ Poema para o mês de julho

O bicho

MANUEL BANDEIRA

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,

Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

(Do livro “Estrela da Vida Inteira”)

JULHO 2019 [ OLUTADOR]41

Variedades [ Culinária & Dicas de português

[ Não Tropece na Língua

[ FORMAS VERBAIS OXÍTONAS DEVEM SER ACENTUADAS

Fmorlhadonedgleeoicterceomme - Alguns verbos, ao receberem o pro- - Dê um jeito de fazê-la melhor,
Ingredientes nome em ênclise, com o hífen, rece- torná-la mais útil.
bem acento na última sílaba, sendo
1 frango grande; 1 cebola ralada; 1 que não eram acentuados quando - Não gostaríamos de lê-lo uma
pimentão vermelho ralado; ½ co- desacompanhados do pronome (ex. segunda vez – há outros livros à es-
lher (café) de gengibre em pó; 1 co- chamá-lo, vê-lo). Gostaria de saber pera.
lher (chá) de sementes trituradas quando colocar acento no verbo que
de coentro; ½ kg de tomates, sem recebe ênclise. - Vou apanhá-los em um minuto.
pele e sem sementes; alguns rami-
nhos de cheiro-verde; 3 dentes de (CELSO LUIZ BINI FERNANDES, SÃO PAULO, SP) Se não se acentuasse o verbo em
alho socados com sal; ½ copo de vi- prepará-las, por exemplo, ele seria
nho branco; óleo pra fritar; 1 colher Começamos com os dois verbos lido como paroxítono: prePAra-las,
(sobremesa) de açafrão em pó; 1 la- mencionados pelo consulente: sa- que equivale a preparas+as. Essa com-
ta de creme de leite; ½ colher (café) bemos que “chamá-lo” e “vê-lo” se posição poderia ser usada numa si-
formam de chamar + o e ver + o. Ao tuação assim: “Tu mesma fizeste as
de cravo-da-índia em pó. receber em ênclise os pronomes áto- codornas? Estão deliciosas. Prepara
nos O, OS, A, AS (os únicos que come- -las muito bem.” Não importa que
Modo de fazer çam por vogal), o infinitivo perde o nenhum brasileiro se expresse des-
R, que se transforma em L, unindo- se modo. O fato é que as normas or-
Temperar o frango, partido, com se ao pronome. Vale isso para todas tográficas não podem ser aplicadas
uma vinha feita com o alho soca- as conjugações: amar + o = amá-lo; somente quando nos convêm.
do, o sal, o vinho e o cravo. Deixar vender + a = vendê-la; distribuir + os
por 2 horas nessa vinha. Enxugar o = distribuí-los; ferir + as = feri-las; O mesmo tipo de acentuação va-
frango e fritar em óleo quente, até pôr + a = pô-la. mos encontrar em formas verbais
ficar dourado. Depois de frito, reti- com dois hifens. Também neste ca-
rar metade da gordura e lavar no- Deve-se notar que, no caso dos so cada segmento da palavra deve
vamente a panela ao fogo, juntan- verbos da 1ª e 2ª conjugação – termi- ser considerado isoladamente, ra-
do os demais ingredientes, menos nados em ar e er mais PÔR e seus zão pela qual é possível encontrar
o creme de leite. Refogar até que os derivados –, a forma verbal sem o R dois acentos gráficos no mesmo vo-
tomates se desmanchem. Juntar a continua sendo oxítona, só que ago- cábulo, como vemos a seguir:
vinha em que o frango ficou de mo- ra se tornou um vocábulo oxítono
lho e deixar ferver um pouco. Adi- (ou monossílabo tônico) terminado - Dê-se-lhe o purgante imedia-
cionar o creme de leite e mexer até em a, e, o, motivo pelo qual deve ser tamente.
formar um molho grosso.] acentuado, assim como se acentua
“babá, nenê, está, você, dá, dê, pó”. - Amá-la-ei para sempre.
Do livro - Fá-lo-ás por mim?
A regra é simples e clara: acen- - Vê-los-á em breve – a senhora
“Cozinhando sem Mistério”, tuam-se as palavras oxítonas e os pode confiar.
monossílabos tônicos terminados - Repô-lo-ei na estante.
de Léa Raemy Rangel em a, e e o. Em relação ao acento - Magoá-la-íamos caso não a
& gráfico, deve-se levar em conta so- convidássemos.
mente o verbo na hora de aplicar a - Devolvê-los-emos assim que ti-
Maria Helena M. de Noronha regra, ignorando o pronome átono vermos as notas fiscais.
Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG que vem depois do hífen: - Pô-lo-íamos na tua mão ago-
ra, se tivéssemos todo esse dinheiro.
Pedidos - É preciso reformar as institui-
0800-940-2377 ções e prepará-las para as novas ge- No tocante à 3ª conjugação, ca-
livraria.olutador.org.br rações. be lembrar que só recebem acento
[email protected] agudo as formas verbais oxítonas
- E este livro? – pô-lo na estan- em que o “i” forma sílaba sozinho:
te, por obséquio. distribuí-lo, construí-la, incluí-las,
reconstituí-los. Compare com: pu-
- A ideia é deselitizar a praça e ni-lo, extingui-lo, dissuadi-la, se-
devolvê-la ao povo. gui-las, defini-los.]

- O hino? Vou compô-lo para as Fonte: Língua Brasil
próximas efemérides.

[42 OLUTADOR [ JULHO 2019

WESLEY FIGUEIREDO* ADCE [ Compromissos...

Seminário REALIZADO no Centro como formação profissio-
Universitário FEI, Cam- nal, formação contínua e
pus São Paulo, com em especial atenção ao
Internacional presençade60par- desenvolvimento huma-
ticipantes do mundo aca- no integral.
dêmico e empresarial, na
sexta-feira (17/05), em São Estiveram presentes o
Paulo, o Seminário Inter- presidente da Uniapac in-
“Futuro do nacional “Futuro do Tra- ternacional, Rolando Me-
balho” foi promovido pela deiros; Luiz Bameule, pre-
Uniapac ADCE, e com espe- sidente da Uniapac LA; Sér-
cial apoio da reitoria e do gio Cavalieri presidente da
Trabalho” departamentodeComuni- ADCE-Brasil; Gigi Cavalieri,
cação e Marketing da FEI. presidente da ADCE-SP; Sér-
Ocorreram debates so- gio Frade, presidente ADCE
bre os papéis da academia -MG; presidentes e associa-
e dos empresários na for- dos das demais regionais
mação e desenvolvimento das ADCEs no Brasil, o as-
sessor espiritual da ADCE
das novas gerações e a res- -SP, Padre Valdeir Goulart;
acadêmicos e alunos da FEI,
Através de um grande ponsabilidade social em- IFUC, ANEC, e convidados.
presarial frente aos desa-
e contínuo esforço, acreditamos fios do futuro do trabalho, O Seminário, na sua aber-
tura, contou com a partici-
que é possível inspirar que abrirão caminhos para pação de Monsenhor Bruno
a colaboração entre o mun- -Marie Duffé, secretário do
e ser exemplo de cooperação, do acadêmico e empresa- Dicastério para o Serviço do
rial cristão, com base num Desenvolvimento Humano
diálogo e confiança para o mundo. diálogo frutífero em áreas Integral do Vaticano, para
realizar o lançamento da
5ª edição do livro “Vocação
do Líder Empresarial. Uma
reflexão”, co-editado pela
UNIAPAC-ADCE Brasil, e de
Dom Luis Carlos Dias, Bis-
po Auxiliar da Arquidiocese
na região Episcopal Belém,
que na ocasião represen-
tou o Cardeal Odilo Sche-
rer, Arcebispo metropoli-
tano de São Paulo.

Através de um grande
e contínuo esforço, acredi-
tamos que é possível inspi-
rar e ser exemplo de coope-
ração, diálogo e confiança
para o mundo, se formar-
mos jovens para construí-
rem uma sociedade susten-
tável onde o principal seja
o Ser, e fortalecer a nobre
vocação do Líder Empresa-
rial através dos Princípios
e Valores Éticos Cristãos.]

* Assessoria de Imprensa

JULHO 2019 [ OLUTADOR]43

FAKE NEWS, a manipulaç

Sociedade [... PE. RODRIGO FERREIRA DA COSTA, SDN* seus próprios limites e buscar cor-
rigi-los, se comprazem em buscar
FOFOCA, mentira, difamação, algum desvio no outro e espalhar de de poder, ter e gozar, que, em úl-
contratestemunho, manipu- o veneno da fofoca. tima instância, nos torna vítimas
lação... Estes “ruídos” que tra- de um embuste muito mais trágico
vam e dificultam a comuni- O Código de Direito Canônico do que cada uma das suas mani-
cação sempre estiveram presen- (nº 220) assegura a todos o direi- festações: o embuste do mal, que
tes nas relações humanas. Como to à boa fama: “a ninguém é lícito se move de falsidade em falsidade
diz o ditado popular, “quem conta lesar ilegitimamente a boa fama para nos roubar a liberdade do co-
um conto aumenta um ponto”. Po- de que alguém goza”. A Constitui- ração.” Neste sentido, precisamos
rém, o que assistimos em nossos ção Federal (art. 5º) também esta- ir mais a fundo na discussão acer-
tempos é uma onda de desinfor- belece que “são invioláveis a inti- ca das responsabilidades de quem
mação. As notícias falsas, as cha- midade, a vida privada, a honra produz e propaga tais mentiras, pois
madas fake news, que estão liga- e a imagem das pessoas, assegu- elas têm objetivos muito claros co-
das, na maioria das vezes à sede rando o direito à indenização pe- mo influenciar opções políticas e
de poder, vão muito além das fo- lo dano material ou moral decor- favorecer lucros econômicos.
focas entre vizinhos, pois, a partir rente de sua violação”. Portanto, a
de informações infundadas ou ba- difamação, a notícia falsa, é um De que as fake news causam um
seadas em dados inexistentes ou crime perante o Direito Canônico, dando irreparável para a comuni-
distorcidos, elas visam a enganar bem como no direito civil. cação e para o cidadão de bem, pen-
e manipular o destinatário, inci- so que ninguém tem dúvida. Po-
tando, muitas vezes, ao ódio e fo- Porém, como responsabilizar rém, nosso grande desafio é como
mentando conflitos. as pessoas que produzem as falsas reconhecê-las, como discernir en-
notícias e ou compartilham tais de- tre a verdadeira e a falsa notícia,
Como nos alerta o Papa Francis- sinformações, se muitas vezes não se a cada instante uma enxurra-
co, “as notícias falsas são um sinal se sabe nem a sua origem? Será que da de informação cai sobre nossas
de intolerância e de atitudes hiper- em nome da liberdade de expres- cabeças. “Não é tarefa fácil, porque
sensíveis e levam apenas à propa- são podemos aceitar tais crimes? a desinformação se baseia muitas
gação da arrogância e do ódio. Es- Esta é uma discussão aberta que vezes sobre discursos variegados,
se é o resultado da mentira”. Nu- ainda precisamos aprofundar no deliberadamente evasivos e sub-
ma sociedade digital como a nossa, debate, pois “nenhuma desinfor-
em que num clique se pode espa- mação é inofensiva; pelo contrá-
lhar uma notícia para milhares de rio, fiar-se daquilo que é falso pro-
pessoas, faz-se necessário refletir duz consequências nefastas. Mes-
sobre os efeitos das chamadas fa- mo uma distorção da verdade apa-
ke news, bem como a responsabi- rentemente leve pode ter efeitos
lidade de quem as produz ou mes- perigosos”. (Papa Francisco.)
mo de quem propaga tais mentiras.
Fake news e a sede do poder
Não julgueis para Na sua mensagem para o 52º Dia
não serdes julgados Mundial das Comunicações Sociais
Jesus já alertava os seus discípu- (24/01/18), o Papa Francisco dizia que
los para a tentação de querermos o que está por trás das chamadas
ser “juízes” do outro. “Não julgueis, fake news é a sede do poder. “As fake
e não sereis julgados. Pois com o news tornam-se frequentemente
mesmo julgamento com que jul- virais, ou seja, propagam-se com
gardes os outros sereis julgados; e grande rapidez e de forma dificil-
a mesma medida que usardes pa- mente controlável, não tanto pe-
ra os outros servirá para vós. Por la lógica de partilha que caracte-
que observas o cisco no olho do teu riza os meios de comunicação so-
irmão e não reparas na trave que cial, como sobretudo pelo fascínio
está no teu próprio olho?” (Mt 7,1- que detêm sobre a avidez insaciá-
3.) Jesus chama de hipócritas aque- vel que facilmente se acende no ser
les que, ao invés de olhar para os humano. As próprias motivações
econômicas e oportunistas da de-
sinformação têm a sua raiz na se-

[44 OLUTADOR [ JULHO 2019

ação a serviço do poder

tilmente enganadores, valendo- ção é o ponto em que decidimos se às paixões e aos prazeres triviais e,
se por vezes de mecanismos refi- amamos o mundo o bastante pa- por culpa dos seus vícios, torna-se
nados.” (Papa Francisco.) Por isso, ra assumirmos a responsabilidade como uma besta; e tudo isso deri-
precisamos ter um cuidado espe- por ele”. Educar, pois, para a verda- va do mentir contínuo aos outros
cial quando lemos alguma infor- de é o que possibilitará às pessoas e a si mesmo.” (Dostoievskij. Os Ir-
mação, buscando saber as fontes discernir, avaliar e ponderar de- mãos Karamazov, II, 2.)
e os autores de tais notícias. E um sejos e inclinações. Sem reflexão,
discernimento ainda maior, para sem criticidade, seremos levados Como cristãos, seguidores (as)
não sermos divulgadores incons- facilmente pelo sensacionalismo do Mestre de Nazaré, somos cha-
cientes de desinformação. das massas que manipulam e en- mados a ser anunciadores da Boa
ganam, porque “uma pessoa que Notícia da verdade e da vida, res-
Educar para a verdade não pensa é como um sonâmbu- ponsabilizando-nos por um “jorna-
A epidemia de informações frag- lo” (Hannah Arendt). Logo, o que lismo da paz”, e não do ódio; abra-
mentadas, a preguiça intelectual percebemos em nossa sociedade é çando a bandeira do diálogo que
e a renúncia ao exercício do pen- uma multidão de sonâmbulos que gera comunhão, e não da polariza-
sar têm colaborado para que as fal- não são capazes de discernir se tal ção que fomenta violência e morte;
sas notícias ganhem sempre mais informação é verdadeira ou falsa comprometendo-nos com uma co-
e se deixam enganar facilmente municação que gera proximidade,
com tais fake news. encontro, informação, e não com-
pactuando com as falsas notícias
Anunciar a Boa Notícia de Jesus que confundem, enganam e ma-
O Evangelho de Jesus é uma Boa nipulam as pessoas.
Notícia que liberta, gera vida e sal-
vação. A mentira escraviza, enga- Que o Espírito Santo nos dê luci-
na e gera morte. “Quem mente a si dez e discernimento para não ser-
mesmo e escuta as próprias men- mos enganados pelas “serpentes”
tiras, chega ao ponto de já não po- (cf. Gn 3,1-7) modernas, chamadas
der distinguir a verdade dentro de fake news, pois elas podem nos con-
si mesmo nem ao seu redor, e as- duzir ao descrédito na palavra do
sim começa a deixar de ter estima outro ou até mesmo à morte da ver-
de si mesmo e dos outros. Depois, dade. Isso significaria uma catás-
dado que já não tem estima de nin- trofe na comunicação humana.]
guém, cessa também de amar, e en-
tão, na falta de amor, para se sen- * Pe. Rodrigo, SDN é licenciado em Filosofia,
tir ocupado e distrair, abandona-se bacharel em Teologia, com especialização
em formação para Seminários e Casa de
Formação. Mora atualmente na paróquia
São Bernardo em Belo Horizonte, MG.

força. O filósofo Blaise Pascal já di-
zia que “o conhecimento das par-
tes depende do conhecimento do
todo, e o conhecimento do todo de-
pende do conhecimento das par-
tes”. É preciso educar de maneira
integral e transversal. Educar não
apenas para a aquisição de conhe-
cimentos, competências e habilida-
des, certamente necessários, mas
educar para a verdade, para o amor
ao mundo, pois “uma cabeça bem-
feita vale mais do que uma cabeça
cheia” (Montaigne).

A educação é o antídoto mais
radical para o vírus da falsidade e
da cultura da desinformação. Como
afirma Hannah Arendt, “a educa-

JULHO 2019 [ OLUTADOR]45

PE. AGENOR BRIGHENTI Leigos [ Cooperação...

EM BUSCA DA EMANCIPAÇÃO A irrupção
DO LAICATO do laicato

Uma primeira iniciativa de às vésperas
emancipação do laicato deu- do Vaticano II [6
se na segunda metade do Da colaboração à cooperação hierárquico, ele vai falar de “coope-
século XIX, com o Catolicismo So- dos leigos com o clero ração”, de uma “delegação de poder”,
cial, um movimento que promoveu Os leigos e leigas da Ação Católica, o que confere ao apostolado do lai-
a inserção dos cristãos na socieda- enviados a “cristianizar os ambien- cato um caráter “público e oficial”.
de, através de obras de assistência e tes”, passam a receber um “man- Com isso, embora o Papa frise que “o
promoção humana. Frente à situa- dato” da hierarquia, pois se com- apostolado dos leigos não significa
ção precária da classe trabalhado- preende que sua missão é de “parti- o acesso à hierarquia e ao poder na
ra, fruto do capitalismo selvagem cipação” no “apostolado hierárqui- Igreja”, entretanto, na medida em
nascente, surgiram escolas católi- co” da Igreja. Justifica o Papa Pio XI que o clero não mais preside a Ação
cas, círculos operários e associações que “só a Igreja recebeu o mandato Católica, mas apenas a acompanha
de caridade como a de São Vicente e a missão de intervir no mundo” como “assistente eclesiástico”, se re-
de Paula. O movimento culminou e, por isso, “a hierarquia católica é conhece que os leigos não só “per-
com a publicação da primeira en- a única autorizada a dar manda- tencem” à Igreja, como “são” Igreja.
cíclica social pelo Papa Leão XIII – a tos e diretrizes”.
Rerum Novarum - em 1891. A superação
O Catolicismo Social tinha o Anos mais tarde, o Papa Pio XII do binômio clero-leigos
apoio de alguns bispos e presbíte- dará um passo a mais na emanci- É a partir da década de 1950 que a
ros, mas, em grande medida, foi um pação do laicato. Em lugar de “par- teologia do laicato vai dar um sal-
movimento de leigos, em especial ticipação” dos leigos no ministério
de operários da indústria nascente.
Entretanto, embora fosse portador [46 OLUTADOR [ JULHO 2019
de uma forte crítica social, o movi-
mento não fazia nenhum questio-
namento à configuração da Igreja
em duas classes de cristãos – cle-
ro e leigos.
Na sequência do Catolicismo
Social, uma segunda iniciativa im-
portante que também iria contri-
buir com a emancipação do laica-
to foi o movimento da Ação Cató-
lica. Ele começou no pontificado
de Pio X como “Ação Católica ge-
ral”, atrelada à mentalidade de
cristandade, restrita ao âmbito da
piedade e da paróquia, assim co-
mo submissa ao clero. A segun-
da fase é inaugurada com a cria-
ção da “Ação Católica especiali-
zada” pelo padre belga J. Cardijn,
no pontificado de Pio XI. O movi-
mento não mais estará confina-
do ao interior da Igreja, mas in-
serido nos diferentes “meios es-
pecíficos de vida” dos jovens – os
meios operário, estudantil e agrá-
rio. Agora, os jovens são enviados
para fora da Igreja, a “cristianizar
os ambientes”, para além do espa-
ço religioso.

Missão [ Em missão no mundo...

to qualitativo, rompendo com o bi- PE. FABRIZIO MERONI, PIME*
nômio clero-leigos e contribuindo
para a configuração da Igreja na Batizados e enviados:
perspectiva de um novo binômio – a Igreja de Cristo
comunidade-ministérios. O avan-
ço deveu-se muito aos jovens da em missão no mundo
Ação Católica, ou seja, à militân- DEPOIS de ampla consulta junto
cia dos próprios leigos. Por ocasião às Igrejas locais, foi publicado rie de temas importantes, evidencia-
do II Congresso Mundial da Ação o Guia para o Mês Missionário dos pelas Igrejas locais e por nossos
Católica, o Papa Pio XII afirmaria Extraordinário Outubro/2019, Diretórios Nacionais POM, para a for-
em seu discurso que o movimen- com o tema “Batizados e enviados: a mação e a animação pastoral para a
to “tem o mandato da hierarquia, Igreja de Cristo em missão no mundo”. missão. Sem a pretensão de elaborar
mas o clero não tem o monopólio É este um instrumento nascido em uma teologia exaustiva ou propostas
do apostolado livre”. clima “sinodal” para servir às Igrejas completas, esses textos contêm ideias
locais em suas necessidades de for- e sugestões para encontros de forma-
Na década de 1960, os ques- mação e animação missionária, e pa- ção sobre a missão.
tionamentos dos leigos ra preparar e viver o Mês Missioná-
da Ação Católica desem- rio Extraordinário desejado pelo Papa Convidamos a todos a uma leitu-
bocariam num confronto Francisco por ocasião do centenário de ra integral e contextualizada dos con-
com o clero, em especial promulgação da Carta apostólica Ma- teúdos proféticos sobre a missão ad
com os bispos, gerando ximum Illud, de Bento XV [30/11/1919]. gentes da Carta apostólica Maximum
uma profunda crise no Illud. Além disso, para nosso empenho
movimento e sua poste- As partes que compõem este Guia de oração, reflexão e formação mis-
rior dissolução. Entretan- correspondem às dimensões espirituais sionária, sugere-se fazer referência
to, sua contribuição não indicadas pelo Santo Padre Francisco também a outros textos do magisté-
estava perdida, pois seus ao escolher este Mês Missionário Ex- rio, como: Lumen Gentium, Ad Gentes,
frutos seriam acolhidos traordinário: o encontro pessoal com Nostra Aetate, Gaudium et Spes, Evan-
Jesus Cristo vivo na Igreja, o testemu- gelii Nuntiandi, Redemptoris Missio,
pelo Concílio Vaticano II. nho de santos e mártires da missão, a Diálogo e Anúncio, Deus Caritas Est,
formação catequética para a missão Evangelii Gaudium, além do Catecis-
Muito da nova teologia do laica- e a caridade missionária. mo da Igreja Católica e do Compêndio
to, gestada pelas práticas dos pró- da Doutrina Social da Igreja.
prios leigos e leigas, estava recolhi- A primeira parte – “Encontro com
da nas obras pioneiras do teólogo Jesus Cristo” – oferece meditações es- Depois de ter avaliado e aprovado
Y. Congar e do fundador da JOC, J. pirituais de caráter missionário sobre os conteúdos, a CEP e as POM sentem-
Cardijn. Ambos participariam do leituras bíblicas da Santa Missa diária se felizes de propor os textos ali pu-
Concílio e fariam ecoar na aula con- dos 31 dias do mês de outubro de 2019. blicados para a atenção de quem irá
ciliar a voz do movimento leigo: a Pode-se fazer uso delas para a celebra- servir-se deles para a preparação e a
identidade e missão do laicato não ção da Santa Missa ou para qualquer implementação do Mês Missionário
são derivadas da hierarquia, pois momento de oração e de formação. Extraordinário Outubro/2019. Trata-
se fundam no sacramento do ba- se de um Guia escrito a várias mãos
tismo, de onde brotam todos os mi- A segunda parte – “As testemu- (não de um só autor), e composto gra-
nistérios na Igreja, dado que o Povo nhas da missão” – envolve mulhe- ças a um permanente trabalho de sele-
de Deus é todo ele um povo proféti- res e homens, santos e mártires, ca- ção, análise e discernimento por par-
co, sacerdotal e régio. Por isso, não nonizados ou não, que várias Igrejas te do Grupo de Trabalho Outubro/2019.
há duas classes de cristãos - clero locais do mundo inteiro nos sugeri- Qualquer pessoa pode utilizar-se de-
-leigos –, mas um único gênero de ram e apresentaram como modelos le integral ou parcialmente, ou ainda
fiéis, que conforma “uma Igreja to- e intercessores na fé e na missão. Ca- segundo as circunstâncias eclesiais e
da ela ministerial”.] da um se sinta livre para contatar os as necessidades locais.
Diretórios Nacionais POM dos países
de referência das testemunhas aqui Para maiores aprofundamentos,
apresentadas para receberem mais indicamos também os seguintes sites
informações, indicações bibliográfi- da Internet, onde poderão encontrar
cas e sugestões. material disponível: www.october2019.
va , www.fides.org , www.ppoomm.va
A terceira parte – “Considerações
sobre a missão” – apresenta uma sé- *Diretor da Agencia
FIDES e da revista OMNIS TERRA

JULHO 2019 [ OLUTADOR]47

Mundo [ A consequência da economia nos séculos XIX e XX...

A exploração doMICHEL CARLOS DA SILVA*
trabalho na Amazônia
AEXPLORAÇÃO SE REPETE EM CUL- comércio na época e à concentração Segundo Norma Bentes, “o ca-
TURAS E TEMPOS DIFERENTES de riquezas em Manaus e Belém. pitalismo migrou para buscar am-
pliar suas chances de rentabilida-
No século XIX, o Estado do Grão Na cidade de Tefé, localizada no de, apropriando-se das oportunida-
-Pará e o Rio Negro não faziam parte Amazonas, há um cemitério judai- des geradas pelo Estado e pelos bai-
do país, eram subordinados direta- co que nos ajuda a entender a classe xos salários que pagaria à mão de
mente a Portugal, e a realidade da dominante da época, suas lápides obra” (Bentes, 2014). O polo indus-
época era a extrema pobreza. Nes- eram feitas de mármore italiano. trial de Manaus é de montagem de
sa época ocorreu uma revolta popu- Quando acabou o ciclo da borracha, produtos eletrodomésticos, a mão
lar daqueles que viviam tanto nas de obra especializada é vinda de fo-
margens do rio quanto nas mar- os judeus foram embora. Os judeus ra. Não há uma tecnologia que be-
gens da sociedade. Os cabanos, co- eram de Portugal e Espanha. As ati- neficie o produto do extrativismo,
mo eram conhecidos, foram mas- vidades extrativistas não geram um como pescados e açaí.
sacrados. Tratava-se de pessoas que grande valor de capital, pois o es-
viviam em cabanas, índios, escra- quema não é de indústria; então, Não há inovação nos produtos
vos e seus descendentes, agriculto- até hoje o açaí, por exemplo, é ven- nativos da região. Então, o produ-
res e portugueses pobres. dido nos comércios no saquinho. to colhido não gera agremiação de
O extrativismo não permite uma valor para o povo.
A repressão à cabanagem mar- agremiação de valor.
tirizou muitos povos e bloqueou a A consequência da economia
organização social. Também nesse Zona Franca: industrialização!? nos séculos XIX e XX, que corres-
século acontecia, no interior da flo- No final da década de 50 e início dos ponde ao período do ciclo da borra-
resta amazônica, o extrativismo da anos 60, o Estado do Amazonas pas- cha e implantação da Zona Franca,
borracha (1850-1920), a mão de obra sa por uma mudança em sua orga- é a concentração populacional nas
era de povos vindos da Região Nordes- nização econômica: o empreendi- cidades de Manaus e Belém. Tudo
te. Com o discurso de melhores con- mento que conhecemos pelo nome é muito concentrado nessas capi-
dições econômicas, eram simples- de Zona Franca trouxe para o Esta- tais, a riqueza da borracha não ge-
mente largados no meio da floresta e do a implantação de um sistema rou uma distribuição de renda en-
obrigados a trabalhar em condições de industrialização inédita no ter- tre as classes. A crise da borracha
precárias. O seringalista é o nome da- ritório. A consolidação desse novo joga o Estado do Amazonas em uma
do para o patrão “dono” do seringal. sistema tem, por volta de 1967, sua nova crise, que foi gerada pelo tráfi-
Tudo tinha que ser comprado nos ar- ampliação que resulta em um pro- co das sementes de seringueira pe-
mazéns que pertenciam ao Senhor cesso de incentivo fiscal que teria lo inglês Henry Wickham, planta-
do Seringal. Dessa maneira aconte- a validade de 30 anos. Isto resultou das na Ásia, o que gerou uma con-
cia um ciclo de dependência finan- em diversas facilidades para atrair corrência desleal para a borracha
ceira que jamais era quebrado, pois indústrias para região tendo por ba- brasileira e levou a economia bor-
quanto mais o seringueiro trabalhava, se o discurso de vazio demográfico. racheira a uma enorme crise.
tanto mais ele devia ao seringalista.
[48 OLUTADOR [ JULHO 2019 A estrutura da macroeconomia é
O espaço do seringal era orga- de ciclos longos de crise e breves in-
nizado por trilhas. O seringal eram tervalos de lucros, quando fizeram
plantas nativas no meio da floresta. pequenos grupos privilegiados, que
O seringueiro tinha que andar horas se tornaram elites, e deixaram gran-
e horas no meio da mata por trilhas de parte da população na pobreza.
para recolher o látex. O trabalhador Assim é visível o contraste de desi-
da borracha era levado à exaustão gualdade social no solo amazônico.]
pelo excesso de trabalho. O ciclo da
borracha levou ao revigoramento do * Postulante sacramentino residente
na Área Missionária Tarumã – Manaus, AM


Click to View FlipBook Version