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Coletânea das Revistas publicadas em 1863, organizada pela FEB - Federação Espírita Brasileira..
O relato das manifestações dos Espíritos; notícias relativas ao
Espiritismo e o ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível.

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Published by Evoluir, 2017-03-20 17:22:23

Revista Espírita 1863

Coletânea das Revistas publicadas em 1863, organizada pela FEB - Federação Espírita Brasileira..
O relato das manifestações dos Espíritos; notícias relativas ao
Espiritismo e o ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível.

Keywords: Revista Espírita,Allan Kardec,Fenômenos Espíritas,Notícias do Espiritismo,Ensino dos Espíritos

ABRIL DE 1863

dos que presidem ou fazem parte de grupos e sociedades espíritas,
sem falar do número não menos expressivo de adeptos
pertencentes a posições sociais, aonde só se chega pela inteligência
e pela instrução. Isto é um fato material que ninguém pode negar.
Ora, como todo efeito tem uma causa, a causa desse efeito está no
fato de o Espiritismo não parecer a toda a gente assim tão absurdo,
levando alguns a dizerem: – Infelizmente é verdade, exclamam os
adversários da doutrina; assim, não temos mais de cobrir o rosto
pela sorte da Humanidade em sua marcha para a decadência.

Resta a questão da loucura, o lobisomem de hoje, com
o auxílio do qual se procura amedrontar as populações, que quase
já não se alvoroçam, como bem se vê. Quando esse meio estiver
esgotado, certamente conceberão outro; enquanto se espera,
chamamos a atenção dos leitores para o artigo publicado no
número de fevereiro de 1863, intitulado A Loucura Espírita.

Os primeiros sintomas da epidemia de Morzine se
manifestaram em março de 1857, em duas meninas de cerca de dez
anos. No mês de novembro seguinte o número de doentes era de
vinte e sete e em 1861 atingiu a cifra máxima de cento e vinte.

Se déssemos conta dos fatos segundo o que vimos,
poderiam dizer que vimos o que quisemos ver. Aliás, chegamos no
declínio da doença e ali não ficamos o bastante para tudo observar.
Citando as observações alheias, não nos acusarão de somente ver
pelos próprios olhos.

Tomamos as observações que se seguem do relatório
cujo extrato fizemos acima:

“Essas moçoilas falam francês durante a crise com
admirável facilidade, mesmo as que, fora daí, só conhecem algumas
palavras.

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“Uma vez em crise, as jovens perdem completamente a
reserva, seja para o que for; também perdem inteiramente toda
afeição de família.

“De ordinário a resposta é pronta e fácil; dir-se-ia que
vem antes da interrogação. Esta resposta é sempre ad rem, exceto
quando quem fala responde por tolices, insultos ou uma recusa
afetada.

“Durante a crise o pulso fica calmo e, no maior furor, a
personagem tem um ar de domínio, como alguém que tivesse a
cólera sob o seu comando, sem parecer exaltada nem tomada por
um acesso de febre.

“Notamos durante as crises uma insolência
extraordinária, que ultrapassa qualquer limite, em mocinhas que,
fora desse estado, são doces e tímidas.

“Durante a crise há em todas as meninas um caráter de
impiedade permanente, levado além de todo o limite, dirigido
contra tudo o que lembra Deus, os mistérios da religião, Maria, os
santos, os sacramentos, a prece, etc.; o caráter dominante desses
momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere.

“Constatamos muito bem que essas jovens revelam
coisas que chegam de longe, bem como fatos passados de que não tinham
conhecimento; também revelaram pensamentos de várias pessoas.

“Algumas vezes anunciaram o começo, a duração e o fim das
crises, o que farão mais tarde e o que não farão.

“Sabemos que deram respostas exatas a perguntas
feitas em línguas que elas desconheciam, como alemão, latim, etc.

“No estado de crise essas jovens são dotadas de uma
força desproporcional à sua idade, pois são precisos três ou quatro
homens para conter, durante o exorcismo, meninas de dez anos.

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ABRIL DE 1863

“É de notar-se que, durante a crise, as meninas não
sofrem danos materiais, nem pelas contorções, que parecem
capazes de deslocar os membros, nem pelas quedas, nem pelas
pancadas que se dão com violência.

“Em suas respostas há sempre a distinção de várias
personagens: a filha e ele, o demônio e o danado.

“Fora da crise essas meninas não guardam nenhuma
lembrança do que disseram ou fizeram, quer a crise tenha durado
todo o dia, quer tenham feito trabalhos prolongados ou
incumbências dadas no estado de crise.
......................................................................................................................

“Para concluir, diremos:

“Que a nossa impressão é de que tudo isto é
sobrenatural, na causa e nos efeitos; e, conforme as regras da lógica
e de tudo quanto nos ensinam a teologia, a história eclesiástica e o
Evangelho,

“Declaramos que, em nossa opinião, há uma verdadeira
possessão do demônio.

“Em testemunho do que,

Assinado: ***

Morzine, 5 de outubro de 1857.

Eis como o Dr. Constant descreve as crises dos
doentes, de acordo com suas próprias observações:

“Em meio à mais completa calma, raramente à noite, de
repente sobrevêm bocejos, espreguiçamentos, alguns tremores,
pequenos solavancos de aspecto coréico nos braços; pouco a
pouco, e em curto espaço de tempo, como por efeito de descargas

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REVISTA ESPÍRITA

sucessivas, esses movimentos se tornam mais rápidos, depois mais
amplos e logo não parecem mais que um exagero dos movimentos
fisiológicos; a pupila se dilata e se contrai alternadamente e os olhos
participam dos movimentos gerais.

“Nesse momento as doentes, cujo aspecto a princípio
parecia exprimir terror, entram num estado de furor, que vai
sempre crescendo, como se a idéia que as domina produzisse dois
efeitos quase simultâneos: depressão e excitação logo depois.

“Elas batem nos móveis com força e vivacidade,
começam a falar, ou, melhor, a vociferar; o que dizem, mais ou
menos todas, quando não superexcitadas por perguntas, reduz-se a
palavras indefinidamente repetidas: ‘S... não! S... ch... gne! S...
vermelho!’ (Elas chamam vermelhos aqueles em cuja piedade não
acreditam). Algumas acrescentam juramentos.

“Se junto delas não se acha nenhum espectador
estranho; se não lhes fizerem perguntas, repetem incessantemente
a mesma coisa, sem nada acrescentar; caso contrário, respondem ao
que pergunta o espectador e mesmo aos pensamentos que lhes
atribuem, às objeções que prevêem, mas sem se afastarem da idéia
dominante, a esta referindo tudo o que elas dizem. Assim, muitas
vezes: ‘Ah! tu crês, b... descrente, que somos loucas, que apenas
sofremos da imaginação! Somos danadas, s... n... de D...! Somos os
diabos do inferno!’

“E como é sempre um diabo que fala pela sua boca, o
suposto diabo algumas vezes conta o que fazia na Terra, o que fez
depois no inferno, etc.

“Em minha presença acrescentavam invariavelmente:

“Não são os teus s... médicos que nos curarão! Nós nos
f... muito bem de teus remédios! Podes perfeitamente fazer a
menina tomar; eles a atormentarão e a farão sofrer. Mas a nós

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MAIO DE 1863

substituirão a maligna e cruel influência que desola aquela
população. O Espiritismo está chamado a prestar grandes serviços;
será o curador dos males, cuja causa antes não se conhecia e ante
as quais a Ciência continua impotente; sondará as chagas morais e
lhes prodigalizará o bálsamo reparador; tornando os homens
melhores, deles afastará os Espíritos maus atraídos pelos vícios da
Humanidade. Se todos os homens fossem bons, os Espíritos maus
se afastariam, pois saberiam da impossibilidade de os induzir ao
mal. A presença dos homens de bem os faz fugir; a dos homens
viciosos os atrai, ao passo que se dá o contrário com os Espíritos
bons. Assim, sede bons, se quiserdes ter apenas Espíritos bons ao
vosso lado.” (Médium: Sra. Costel).

Algumas Refutações

De vários pontos nos assinalam novas prédicas contra
o Espiritismo, todas no mesmo espírito daquelas de que temos
falado; e como não passam, quase sempre, de variantes do mesmo
pensamento, em termos mais ou menos escolhidos, julgamos
supérfluo fazer-lhes a análise. Limitar-nos-emos a destacar certas
passagens, acompanhando-as de algumas reflexões.

“Meus irmãos, é um cristão que fala a cristãos e, nessa
qualidade, temos o direito de nos admirarmos, vendo o Espiritismo
crescer entre nós. O que é o Espiritismo, eu vos pergunto, senão
um mosaico de horrores que só a loucura pode justificar?”

A isto nada temos a dizer, senão que todas as prédicas
feitas nesta cidade foram incapazes de deter o crescimento do
Espiritismo, como bem constata o orador; portanto, os argumentos
que lhe opõem têm menos autoridade que os seus; e, se as prédicas
emanam de Deus e o Espiritismo procede do diabo, é que este é
mais poderoso que Deus. Nada mais brutal que um fato. Ora, a
propagação do Espiritismo, em conseqüência mesma das prédicas,

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REVISTA ESPÍRITA

é um fato notório, e por certo as pessoas julgam que os argumentos
por ele dados são mais convincentes que os dos adversários. É uma
trama de horrores. Seja. Mas haveis de concordar que se esses
Espíritos viessem abraçar todas as vossas idéias, em vez de
demônios, deles faríeis santos; e, longe de condenar as evocações,
vós as encorajaríeis.

“Nosso século não respeita mais nada; nem mesmo a
cinza dos túmulos é poupada, pois insensatos ousam chamar os
mortos para conversar com eles. Infelizmente é assim. Eis até onde
chegou esse pretenso século das luzes: conversar com as almas do
outro mundo.”

Conversar com os mortos não é privilégio deste século,
já que a história de todos os povos comprova que isto tem ocorrido
em todos os tempos. A única diferença é que hoje isto é feito em
toda parte sem os acessórios supersticiosos com que outrora
cercavam as evocações, e com um sentimento mais religioso e mais
respeitoso. De duas uma: ou a coisa é possível, ou não é. Se não é,
é uma crença ilusória, tal como acreditar na fatalidade da sexta-
feira, na influência do sal derramado. Não vemos, pois, que haja
tantos horrores e que se falte com o respeito conversando com
seres que já não pertencem a este mundo. Se os mortos vêm
conversar conosco, só pode ser com a permissão de Deus, a menos
que se pretenda que venham sem essa permissão, ou contra a sua
vontade, o que implicaria que Deus não se importa com isso ou que
os evocadores são mais poderosos que Deus. Mas notai as
contradições: de um lado dizeis que só o diabo se comunica e, de
outro, que se perturbam as cinzas dos mortos, chamando-os. Se é
o diabo, não são os mortos; portanto, não são perturbados nem se
lhes falta com o respeito. Se são os mortos, então não é o diabo.
Seria preciso, ao menos, que vos pusésseis de acordo sobre este
ponto capital. Admitindo que sejam os mortos, reconhecemos que
haveria profanação em chamá-los levianamente, por razões fúteis,
sobretudo para fazer disto profissão lucrativa. Condenamos todas

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