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Aprendizados, desafios e grandes emoções fizeram parte de um capítulo memorável na história dessa pequena menina, que está só começando a sua jornada.

Esta publicação faz parte da coleção “Memórias da Infância”, uma recordação anual da vida dos pequenos.

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Published by Foi Assim, 2022-02-07 07:39:23

Memórias da Infância_Alice Reis_2020

Aprendizados, desafios e grandes emoções fizeram parte de um capítulo memorável na história dessa pequena menina, que está só começando a sua jornada.

Esta publicação faz parte da coleção “Memórias da Infância”, uma recordação anual da vida dos pequenos.

Keywords: biografia infantil

IONAENSPOEDROADO

2

REDAÇÃO: Barbara Reis
REVISÃO: Ana Bustamante
DESIGN GRÁFICO: Livia Shimamura
REALIZAÇÃO: Foi Assim

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4

Ao longo de sua vida, você se provou uma garotinha de muita coragem.
Assim como nos contos de fadas, os nobres valores de honestidade e
bondade são associados a pessoas de grande honra, aos heróis. Seguir
esse caminho exige valentia, porque as melhores escolhas nem sempre
são as mais fáceis; e é assim que você vive. Sua virtude e generosidade
são inabaláveis.
Você é um anjo, uma inspiração de vida, a expressão da pureza e da
bondade; é um ser humano que nunca fomos ou seremos capazes de ser.
Isso nos impulsiona a extrair o melhor de nós, a viver plenamente, a
apreciar o tempo e a amar as pessoas com toda a nossa alma.
Este livro é uma maneira de agradecer a sua doçura e dizer que sabemos
que 2020 foi difícil para todos nós, mas foi lindo também, porque
estávamos um ao lado do outro. Somos imensamente felizes por ter você
em nossas vidas, invadindo cada canto da casa, dos nossos corações...
Todas as vezes que ler estas palavras, esperamos que se recorde de quem
você é e do que representa para nós e para o mundo que a cerca.
Com amor,

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SIGNO
DE CÂNCER

6

FICHA
TÉCNICA

NOME COMPLETO

Alice XXXXX dos Reis

APELIDOS

Alicinha, Magalice

DATA DE NASCIMENTO

XX/XX/2014

ONDE NASCEU

XXXXXXXX

NOME DA MÃE

Barbara XXXXX

NOME DO PAI

Danilo XXXXX

ONDE ESTUDA

XXXXXXX

ONDE MORA

XXXXXXX

ALTURA (FIM DO ANO)

1,23m

PESO (FIM DO ANO)

23kg

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ÁGERVNOEARLEÓGICA

8

VOVÓ VOVÔ VOVÓ VOVÔ
SILVIA VANDERLEI JUJU VALTINHO

TIA TIO TIA TIO MAMÃE PAPAI
TAÍNE RICARDO REGININHA FERDS BARBARA DANILO

PRIMO PRIMO ALICE
HENRIQUINHO GU

9

ECNOTMREAVLIISCTEA

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QUAL A SUA COR PREFERIDA?

Rosa choque.

QUANTOS ANOS GOSTARIA DE TER SE PUDESSE ESCOLHER?

6 anos.

SE PUDESSE TER UM SUPERPODER, QUAL SERIA?

Viagem no tempo, porque eu queria ver como era ser bebê de novo.

PREFERE CALOR OU FRIO?

Frio.

QUAIS SEUS BRINQUEDOS MAIS QUERIDOS?

A Pipoca (cachorrinha), o Urso, a Naninha, a Morena e a Charlotte.

DO QUE MAIS GOSTA DE BRINCAR?

De boneca.

QUAIS SÃO OS SEUS AMIGOS MAIS PRÓXIMOS?

Mamãe, papai, Amelie, Joy, Letícia e Rafa.

DO QUE VOCÊ TEM MEDO?

Animais e insetos.

OCOUMPORAIIMAA?GINA A SUA CASA NO FUTURO? VIVERIA NA CIDADE, MONTANHA

Igualzinha à nossa; não mudaria nada. Viveria na cidade.

DESEJA UM DIA CASAR? TER FILHOS? TER PETS?

Não quero casar. Vou ter duas filhas. Quero ter um hamster, se for na
gaiolinha.

QUAL PROFISSÃO GOSTARIA DE TER?

Eu quero ser igual ao Leonardo Da Vinci; fazer de tudo. Quero ser
bailarina, ninja, pintora, professora...

QUAL FOI O MAIOR APRENDIZADO EM 2020 E DO QUE MAIS GOSTOU?

Aprendi a ler e escrever, e do que mais gostei foi ficar com os meus pais.

QUE CONSELHO MANDARIA PARA A ALICE DO FUTURO?

Nunca minta.

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INTRODUÇÃO

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São tantas as palavras que poderiam definir 2020... Que ano intenso! Para uma
criança que ainda estava por completar seus seis anos de idade, a explosão de
sentimentos poderia formar neologismos que jamais habitaram ou talvez nunca
habitem nossos dicionários. Nem tudo dá para ser descrito em palavras. Alice
viveu o impensável. Alice sentiu o impensável.
A história de qualquer pessoa nesse ano inesperado passa pela história do
mundo. Foi no primeiro trimestre de 2020 que milhões de brasileiros, assim
como diversas famílias em todo o planeta, isolaram-se em suas casas para se
protegerem da chegada de um vilão em comum: a pandemia do Coronavírus.
E cada pessoa viveu uma história única.

Este livro registra o testemunho da trajetória da pequena Alice em
2020, suas construções, seu dia a dia, suas memórias.

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1CTUALPOÍ

CQFOOUIMEAETSUÇSDOIOUM

Pessoas ao redor conversando, o estourar da champanhe, explosões de fogos…
Nada acordou Alice, que não conseguiu resistir ao sono antes da virada para o
novo ano. Estava lá, deitada num cantinho improvisado, participando da festa ao
seu estilo, ao lado da família e de amigos, com os olhos pregados, acariciando a
barriguinha enquanto repousava na casa do “tio” Fel.
Alice despertou num 2020 seguro. Eram férias de verão e podia fazer um pouco
de tudo de que gostava: passar temporadas nas casas dos avós, brincar no
parque, tomar sorvete, andar de bicicleta, reunir-se com amigos, esbaldar-se com
jogos e brincadeiras em casa… Foi legal à beça!

Entretanto, não via a hora de voltar para a escola e começar a tão aguardada
primeira série. Além da saudade dos amigos, poderia usar sua brilhante e cor-de-
rosa mochila de rodinhas com lancheira! Estava contando os dias - como sempre
fazia. Alice tinha essa mania de ficar esperando por algo. “Quantos dias faltam
pro meu aniversário?”, “Quando minha amiguinha Amelie volta de viagem?”, “Em
quantos minutos meus primos vão chegar?”. Constantemente fazia perguntas
desse estilo e acompanhava quase sempre um “contômetro” mental ou um
calendário pendurado em algum canto da casa.

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Felizmente, não demorou muito para fevereiro chegar e estrear seu
uniforme novinho. Estava toda cheia de si. Era veterana: olhava para os
aluninhos das turmas anteriores com aquele jeito de “já passei por isso”.
Alice gostava de se sentir mais velha e tratava as crianças como filhos.
Quem a visitava em casa saía com sacolas de presentes, adesivos de bom
comportamento e até uma coisinha para comer no caminho de volta. Alice
era do tipo que abdicava das próprias vontades para atender aos anseios
de quem gostava. O mais engraçado é que se sentia mais velha, mas na
verdade era a caçulinha da turma.

Tudo vinha do perfil adultinho dela de ser: meio mãe, meio professora.
Desde pequena sempre teve esse jeitinho. Na escola, relataram em reunião
com os pais que a Alice preferia brincar de boneca e conversar com os
adultos na hora do recreio a se aventurar nos brinquedos do pátio. Ela não
se interessava muito por brincadeiras que colocavam o corpo em risco, além
de ter uma grande noção de perigo. Madura? Consciente? Precavida?
Medrosa? O fato é que nunca tinha arranhado um joelho. Nunca tinha
subido em um móvel. Nunca tinha dado trabalho aos pais.

Aliás… Exceto uma vez! Foi ainda em fevereiro que Alice perdeu o primeiro
dentinho de leite superior. Já estava bem molinho, mas o danado custava
a cair. E foi numa pancada que ele saiu de vez! Durante uma festinha de
aniversário da colega de sala, a Bia, estava brincando no meio do salão
quando escorregou e caiu numa cena teatral. O grito de estremecer as
paredes paralisou todos os pais. “Será que é o meu filho?”, perguntaram-se
aflitos. A mãe de Alice olhou sem acreditar que a criança de cara no chão
era a dela. A roupinha toda cheia de sangue, o olhar de desespero, um
choro quase sem ar e uma janelinha que ainda não era para estar ali. Para
quem não tinha sequer arranhado o joelho, foi uma experiência
apavorante, mas passou. E até que foi legal, depois, contar para todo
mundo a “aventura” e exibir o fofíssimo sorriso vazio.

E então chegou o Carnaval! Para Alice, era uma época curiosa, de festa e
música animada. O que mais gostava era a produção: colocar fantasia era
com ela mesma! Foliou apenas na escola, porque para os pais dela,
Carnaval é mais sinônimo de feriado em casa do que curtir marchinhas. Mal
sabiam eles que haveria bastante tempo para esses momentos em família
nos meses que estariam por vir.

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A TÃO ESPERADA JANELINHA PRONTA PARA A FOLIA!

ALICE E A GRANDE AMIGA AMELIE

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As aulas continuavam a todo vapor e Alice já ensaiava rabiscar algumas palavras.
De bilhetinhos a listas de compras, havia sempre pérolas que deveriam ser
enquadradas. Também arriscava falar palavras novas, como: “ócatra” (alcatra) e
“sorftcher” (software). Os pais riam e mal tinham vontade de corrigir. Para ela, os
cavalos fazem “copotó, copotó, copotó...”. As expressões mais adoráveis de Alice,
no entanto, eram quando ela começava uma frase com “É porque…” ou quando
não entendia algo e perguntava “É o quê?”. Alice nunca foi de falar errado e o
vocabulário dela surpreendia, mas ao escrever registrou palavras que ficaram
para a história da família (e figurinhas de WhatsApp!).

Para fechar o trimestre com chave de ouro, a turminha da escola resolveu se reunir
durante um fim de semana num hotel. Foram dias inesquecíveis! Logo que
chegou, Alice se juntou à meninada numa caça às diversas lagartas que
habitavam o lugar. A aventura lhe rendeu alguns gritos estridentes, mas não
deixou de participar daquele peculiar experimento.
Lá, Alice não estava o tempo todo sob os olhos dos pais; ela passava o dia
explorando cada cantinho daquele lugar “tão imensamente enorme” com os
amigos. Tinha o parquinho, o xadrez gigante, a piscina aquecida com tobogã
(que ela nem se atrevia a experimentar), a brinquedoteca, o restaurante com
comida à vontade… Quando se deitava à noite na cama, em pouquíssimos
segundos embarcava em um sono pra lá de pesado. Também, pudera!

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Naquele momento, o primeiro caso de Coronavírus no Brasil era notícia, mas
ainda parecia algo distante e difícil de acreditar para todos. Um dos amiguinhos,
o Briand, tinha ido de avião ao hotel, porque havia se mudado para Brasília há
alguns meses. Alice ouviu a mãe dele comentando com os outros adultos sobre o
medo de entrar num aeroporto e se contaminar. Foi apenas depois de alguns
meses que ela pôde entender melhor o significado daquilo.
Num final de semana cheio de sol, Alice despediu-se dos amigos da escola e de
seus dias de liberdade, sem saber que começaria, então, um longo período de
confinamento com seus pais.

VIAGEM INESQUECÍVEL COM OS AMIGOS!

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22

2CTUALPOÍ

OACIOMNPTEENCSEÁUVEL

Segunda-feira, 16 de março de 2020: o Governo de São Paulo anuncia o
fechamento das escolas de todo o Estado a partir da semana seguinte. O
Coronavírus já era uma realidade. A manchete do jornal do dia anunciava o que
estava por vir: “Contra epidemia, Brasil tem de parar” (Folha de S. Paulo).
Para a Alice, era como um sonho se tornando realidade. Ia ficar emcasa com os
pais o dia todo! Quantas vezes pediu por isso... Naquele momento, ninguém
imaginava o que seria a quarentena nem quanto tempo duraria.

“O CORONAVÍRUS”, POR ALICE

O primeiro dia não foi exatamente o que a pequena Alice imaginou. Os pais
estavam lá, mas não com ela. Ambos na sala, sentados de frente para um
computador, falando com pessoas estranhas que apareciam na tela, teclando
alucinadamente e pedindo o tempo todo silêncio, sem muita paciência. “E quem
vai brincar comigo?”, questionava-se. Esperou o dia todo pelo momento em que
poderia finalmente ter os pais para ela.

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O dia seguinte não foi diferente. Nem os demais… Sua vida era esperar. No início
do isolamento, Alice não sabia brincar sozinha; não queria também. Pedia para
chamar a vizinha de porta, a grande amiga Amelie, para ficar com ela em casa.
Os pais explicaram que não ia poder vê-la; que não poderia ver ninguém.

Tentando compensar os longos dias de espera, os pais inventaram as brincadeiras
mais malucas à noite, depois do trabalho. Isso tornava a espera ainda mais difícil,
na verdade, porque o momento especial não podia se prolongar. E como Alice
tem mania de contar, já perguntou logo na segunda-feira quantos dias ainda
faltavam para chegar o sábado.

Finalmente, despontaram os primeiros raios de sol do fim de semana. “Vamos
brincar?”. Os pais, esgotados, foram levantando para, então, passar o dia todo ao
lado de Alice. Não, não foi bem essa a realidade. Levantaram para limpar a casa…
Sábado era agora dia de faxina, afinal, ninguém queria que a “tia Rô”, ajudante
da família, estivesse exposta ao vírus. A pandemia ensinou muito sobre empatia,
solidariedade e respeito. E, claro, também sobre tirar o pó, lavar os banheiros e
aspirar a casa aos cinco anos de idade.

Televisão, tablet e celular tornaram-se grandes amigos na eterna espera de Alice.
Logo cedo, sentava-se em frente à TV para assistir aos programas favoritos no
Netflix. E dale Chiquititas! A mamãe ainda garimpou uns programas de teatrinho
e contação de história para encher o dia, além de atividades de pintura, desenho
e outras. Também tinham os jogos eletrônicos educativos que o papai instalou no
tablet. Era legal, mas o que ela queria mesmo era brincar de boneca com a
mamãe e o papai.

A escola deu férias para os alunos na expectativa de que logo tudo voltaria ao
normal e talvez, em algumas semanas, as crianças pudessem estar nas salas
novamente. Essa ingenuidade não foi uma exclusividade das escolas. Os pais de
Alice achavam até que o aniversário dela, em junho, já seria na companhia dos
amigos. Que nada…

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NA FAXINA!

NOVOS AMIGOS DIGITAIS

APRENDENDO A BRINCAR SOZINHA

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Com as férias forçadas, a mamãe de Alice também aproveitou para tirar alguns
dias de folga. Isso era urgente! Só se ouvia “Agora não dá, preciso trabalhar.”;
“Daqui a pouquinho eu vejo, tenho que fazer o almoço”; “Tô cansada, podemos
fazer isso uma outra hora?”, “Shhhhh! Estamos em reunião”... Estava todo mundo
parecendo zumbi naquela casa, e a paciência não era a mesma de antes. Uma
pausa era bem-vinda.

Duas semanas de férias com a mamãe! Que incrível! Tinha toda uma agenda de
brincadeiras e atividades. Houve criações artísticas em massinha, experimentos
científicos, show de mágica, amarelinha, esculturas com blocos de montar, pintura
de rosto, oficina de brinquedos artesanais, fantoche, origami, chá de bonecas,
desfile de moda, teatro de sombras, shows de dança e de música, gato-mia,
corrida de aviões de papel, jogos, salão de beleza, muitas receitas e várias, várias
outras brincadeiras. Ninguém ligava mais por estar em casa 100% do tempo.

MENINAS DE FÉRIAS!

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Mãe e filha nunca tiveram um tempo assim, só as duas, ao longo dos cinco anos
de Alice. A pandemia representou muitas coisas difíceis, mas também a
oportunidade dessa ligação; um verdadeiro privilégio.
A partir daí, tudo parecia mais leve. Alice fixou na parede um calendário para os
tempos pós-férias, de forma que não esperasse tanto, mas que pudesse também
aproveitar. Estavam presentes a TV e o tablet na lista de atividades, mas havia
brincadeiras, leitura e tudo mais. Com o tempo, veio a aceitação, e a pequena já
passava horas em seu próprio universo, finalmente brincando sozinha.
Alice tinha tudo dentro de casa. Quase tudo, na verdade... Além do carinho das
pessoas queridas, também faltava o espaço ao ar livre. De vez em quando, via
amigos e familiares através das telas. Já para absorver um pouco de vitamina D,
tinha sempre o banho de sol na garagem aberta do prédio, com direito a
brincadeiras de bola, bicicleta, corda, bolinha de sabão, pega-pega…
E, de repente, tudo mudou: a escola inaugurou as videoaulas.

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BANHOS DE SOL NA GARAGEM

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EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS SHOW DE MÁGICA

ATIVIDADES SENSORIAIS AMARELINHA NA SALA

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BANDINHA MESTRE CUCA!

BRINCADEIRA DE DEDOCHES PINTURA DE ROSTO BRINQUEDOS ARTESANAIS

33

3CAPÍ

TULO

UEQMUTIRLAIBBARILSHTOASDE

As aulas online começaram. Que maravilha: atividades garantidas todas as
manhãs! De quebra, Alice ainda veria os amigos, matando um pouco a saudade
da turminha. Parecia perfeito.
No entanto, foi logo no primeiro dia que “o sonho acabou”. O modelo de aulas
online apresentou desafios em muitos sentidos para todos. Os professores tiveram
que se desdobrar para conseguir o engajamento os alunos e interagir na nova
ferramenta de trabalho, enquanto se dividiam nas suas próprias tarefas de casa.
As crianças sequer estavam alfabetizadas e precisavam entender o que eram
conceitos como “browser”, “mouse”, “homepage”, ao mesmo tempo em que
aprendiam noções básicas de português e matemática. E os pais tinham que
ajudar no sucesso dessa empreitada, dedicando-se durante o horário de trabalho
para acompanhar as aulas.
Na sala da casa de Alice não cabiam tantas vozes. Todos, ao mesmo tempo,
conectados em suas reuniões, falando e tentando prestar atenção em mais de
um assunto por vez. O agravante: é uma família de verdadeiros tagarelas! Além
da falta de estrutura, tiveram que lidar com problemas no computador,
solicitações de impressão, materiais escolares, alimentação etc.; tudo sem sair de
sua casa.

ALFABETIZAÇÃO ONLINE

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A boêmia Alice passou a despregar os olhos às sete horas da manhã.
Cambaleante durante os estudos, logo aceitou o fato de que teria que dormir
mais cedo, o que fez com que a agenda pós-expediente com os pais ficasse
ainda mais curta. As manhãs tornaram-se um desafio; todos tinham que
madrugar. Um dos pais sempre perdia um período inteiro de trabalho para
auxiliar a pequena, que se esforçava com solicitações como “acessem a lição de
casa pelo link do Google Classroom”. O que seria “link”? E “bugouplésrum”?
“Acessem?”. Estava difícil.

Havia dias em que os professores pediam para a criança buscar alguns materiais
em casa, como corda, barbante, garrafas pet, balde e objetos inusitados. Os pais
- que estavam “com um olho no gato e outro no peixe” - interrompiam uma
reunião com um cliente para irem correndo arranjar uma colher de pau,
almofadas ou coisas do tipo. Certa manhã, na aula de Educação Física, foi
solicitada uma bola que pingasse. Como ia ser isso no meio de um apartamento,
às oito horas da manhã?

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Dia após dia, o caos se tornou o chamado “novo normal”. As aulas engataram, os
pais se organizaram, os professores já pareciam mais confortáveis nos papéis de
mestres novamente. Alice, ao lado da mamãe e do papai, foi caminhando e, aos
poucos, aprendeu os números, a ler e a escrever. Que emoção essa conquista! Isso
deu a ela mais independência.
Durante os dias de quarentena com a família, a pequena Alice também teve
contato com disciplinas que iam muito além das salas de aula, tais como
“empreendedorismo”, “gestão de tempo”, “administração”, “comunicação” e
tantas outras que se tornaram um verdadeiro legado da pandemia.

Para trazer mais estabilidade ao dia a dia, Alice e mamãe prepararam uma nova
agenda de rotina com aulas, banho, horinha do sono, mas também brincadeiras.
Assim, ela já sabia o que esperar. E tinha o horário do sol também! Em apenas
uma janela da casa, durante alguns minutos, podia sentir-se o calor do amado
astro-rei. Sentadas num banco improvisado, as meninas sempre liam uma
historinha ali no cantinho de sempre, com um pouco de paz. Ela dizia
afavelmente “É a nossa horinha, né, mamãe?”. Era bom…

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AASRTOEBDREASALDIECE

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4CTUALPOÍ

CONSTRUINDO
MEMÓRIAS
AFETIVAS

A rotina ajudou bastante Alice a compreender que cada coisa tinha o seu
momento. O tempo com os pais era pouco, mas de qualidade. Isso fez com que
a família criasse laços sólidos e memórias de felicidade e amor.
A Páscoa chegou em abril com um gostinho muito doce. A caça aos ovos na casa
de Alice foi cheia de surpresas. Trajada de coelhinha, rastreou bilhetinhos
espalhados em lugares escondidos pelos cômodos, em uma verdadeira caça ao
tesouro com enigmas. Com pequenos gritos, Alice abriu uma porta secreta cheia
de balões e, finalmente, descobriu uma cesta de chocolates para se deliciar.
Comedida, como sempre, comeu apenas um bombom e deixou o restante para
depois. O ovo de Páscoa durou até o fim do ano!

Alice não acreditava nessas coisas de Coelhinho da Páscoa, Papai Noel, Fada do
Dente, porém entrava a fundo na brincadeira. Por algum motivo, isso sempre foi
apenas uma fantasia para ela. Adorava, mas diferenciava com clareza a
realidade do mundo da imaginação.
Seu ceticismo, porém, não a impedia de transitar com facilidade no universo do
faz de conta. As brincadeiras favoritas de Alice eram de mamãe-e-filhinho,
escolinha, médico etc. Durante os meses de pandemia, protagonizou ideias
incríveis. Certo dia, resolveu montar a própria barraca de limonada dentro de
casa, com venda de bolos, pães de queijo e, claro, suco de limão. No outro, criou
um mercadinho que vendia de tudo um pouco e fazia entrega delivery. Teve
também o Bistrô da Alice, com cardápio completo, mesa posta ao estilo francês,
música ambiente, decoração, cozinheiro e garçonete. Certa noite, os pais foram
convidados para uma exposição de arte no “Musée d’Alice”, com obras
espalhadas pelos cômodos. Ela sempre surpreendia.

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Uma das brincadeiras mais divertidas era “viajar” a outros países, que durava uma
semana inteira às vezes. Ela arrumava as malas dos “filhos” e aparecia toda
paramentada com óculos escuros e passaportes na mão, a caminho do
“aeroporto”. Cada momento da viagem era uma parte da brincadeira: embarque,
avião, hotel, táxi, restaurantes e visitas a pontos turísticos. Tudo era planejado. A
família viajava (na imaginação) junto com ela e ajudava a preparar os quitutes e
atrações locais, além de encenar os mais diversos papéis.
A rotina contava também com os shows artísticos: karaokê, bandinha, teatro de
fantoches, show de mágica, apresentações no escuro e muito outros, mas o mais
bonito era ver Alice dançar balé num palco improvisado em cima do puff ou
mesmo no chão da sala. Ela se preparava toda, mudava a iluminação da casa,
colocava uma música clássica e desfilava toda a sua doçura.
Foram muitas festas durante os períodos de enclausuramento. Bastava a mamãe
fazer um bolo (e foram muitos), que a Alice já preparava toda a casa. Teve a
balada dos espiões (e todos vestidos com misteriosos roupões), a festa do brega,
a festa junina, o baile real, inúmeros aniversários de “filhos”, piqueniques e até a
Noite do Outback!

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BARRACA DE COMIDINHAS RESTAURANTE DA ALICE MERCADINHO

VIAGEM A “PARIS” ARRAIÁ DOS BÃO! COSPLAY DE LEIA

FESTA DO BREGA ANIVERSÁRIO DA MORENA BAILE REAL

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DESFILE DE MODA

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