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Geografia Geral e do Brasil - Livro 3 - SENE E MOREIRA
livro do budai (atual)

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Published by Sergio Gao, 2020-05-09 17:23:01

Geografia Geral e do Brasil - Livro 3

Geografia Geral e do Brasil - Livro 3 - SENE E MOREIRA
livro do budai (atual)

croquis dos arredores da escola ou do bairro onde mora e Sugest›es bibliogr‡ficas
desenhos dos problemas urbanos.
BUORO, A. et al. Violência urbana. Dilemas e desafios. São
• em grupo: troca de material pesquisado, mapeamento Paulo: Atual, 2010. (Espaço e debate.)

dos problemas urbanos e do valor do solo nas diferentes Livro paradidático que analisa a violência nas sociedades
áreas da cidade, produção de painel-síntese e relatório ocidentais, o histórico da violência no Brasil, os fatores
de observação. envolvidos com a questão e alguns números e casos, como
Forma final do trabalho: painel-síntese composto de mate- o do crime organizado.
rial iconográfico, relatório de observação, mapa de localiza-
ção e identificação dos problemas urbanos e do valor do CAPEL, H. La Cosmópolis y la ciudad. Barcelona: Ediciones del
solo nas diferentes áreas da cidade. Serbal, 2003. (La estrella polar; 41.)

Enfoques de trabalho por disciplina: Em cada um dos seis capítulos o autor analisa um aspec-
to urbano. Por exemplo, no Capítulo 1 discute a relação
• Geografia: investigação e reconhecimento da relação entre o escritor Jorge Luís Borges e a Cosmópolis; no Ca-
pítulo 5 analisa o desenvolvimento científico e a inovação
entre o valor do solo urbano e os diferentes problemas na cidade contemporânea.
enfrentados pelos moradores da cidade, mapeamento
dos fenômenos. CARLOS, A. F. A. A cidade. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
(Repensando a Geografia.)
• Arte: leitura de imagens (fotos, desenhos, etc.), produção
A autora analisa a paisagem urbana, o uso e a valorização
de material iconográfico relativo aos problemas urbanos. do solo da cidade.

• Língua Portuguesa: leitura de artigos de revistas e ______; LEMOS, A. I. G. (Org.). Dilemas urbanos: novas abor-
dagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003. (Contex-
jornais, produção de relatório descritivo do trabalho to Acadêmica.)
de campo.
Sete capítulos compostos de textos de diversos autores,
• Biologia: levantamento dos problemas de saúde causados nos quais são discutidos os seguintes temas: problemas
urbanos (segregação, conflitos, etc.), espacialidades e
nos locais onde o lixo é depositado, doenças provocadas temporalidades, cultura e cidade, o trabalho na cidade,
pela falta de acesso a serviços de saneamento básico e políticas urbanas, questões ambientais e sociais urbanas,
relacionadas à poluição do ar nas grandes cidades. o urbano no mundo da mercadoria.

Etapas do trabalho: CARNEIRO, R. de J. M. Organização da cidade: planejamento
municipal, plano diretor, urbanificação. São Paulo: Max Li-
1. Elaborar croquis do bairro onde se localiza a escola ou monad, 1998.
de algumas partes da área urbana do município, identi-
ficando, preferencialmente por meio de fotos, os pro- É uma adaptação de dissertação de mestrado que trata de
blemas urbanos. urbanismo e direito urbanístico. Analisa o direito à proprie-
dade e sua função social, as normas de desapropriação,
2. Identificar problemas equivalentes em outras partes da planejamento urbanístico e a função do plano diretor.
área urbana do município onde moram após a leitura
de jornais e revistas. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
(A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, 1.)
3. Coletar dados sobre os diferentes valores de Imposto
Predial e Territorial Urbano (IPTU) e sobre o zoneamento No Capítulo 6, “O espaço de fluxos”, o autor analisa a di-
da cidade (áreas estritamente residenciais, comerciais, nâmica das mudanças que vêm ocorrendo nas cidades
industriais, mistas, etc.). Associar as informações, bus- em função da aceleração dos fluxos em escala mundial.
cando coincidências ou divergências.
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1995. (Prin-
4. Mapear os resultados pesquisados e produzir relatório- cípios, 174.)
-síntese que mostre:
Analisa os agentes da produção do espaço urbano e os
• os problemas mais frequentes da área urbana do mu- processos e formas espaciais de centralização, descentra-
lização, mobilidade e segregação nas cidades.
nicípio onde moram;
______. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand
• a diferença de ocupação dos bairros e a relação com o Brasil, 1997.

valor do solo urbano; Aborda as redes geográficas, o espaço urbano, a região, o
espaço e a empresa e, na última parte, analisa espaço,
• a relação entre diferentes valores do solo urbano e os tempo e cultura.

problemas mais comuns às diversas áreas da cidade. Manual do Professor 349

5. Caso a escola se localize na zona rural do município e não
houver possibilidade de deslocamento até a cidade para a
realização das atividades, pode-se se fazer uma adaptação
e levantar os problemas enfrentados pela comunidade ru-
ral onde fica a escola e propor soluções para resolvê-los.

6. Apresentar o trabalho expondo o material cartográfico,
o relatório-síntese e as fotos.

DIAS, L. A. (Org.). Cidade e História: uma análise de processos MORENO, J. O futuro das cidades. São Paulo: Senac, 2002.
de urbanização e construção de cidadania. Curitiba: CRV, 2010. (Ponto Futuro 11.)

Os sete artigos dessa coletânea discutem o processo de O livro traz uma análise do histórico do desenvolvimento
urbanização em escala local e nacional e a importância urbano, do impacto das novas tecnologias no ambiente
do conhecimento do espaço urbano para o pleno exer- urbano e da reforma urbana no Brasil. Leia trecho na seção
cício da cidadania. Textos de apoio.

DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. 4. ed. SANTOS, M. A urbanização brasileira. 3. ed. São Paulo: Huci-
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. tec, 1996.

Analisa a relação entre seres humanos e o meio ambien- Analisa a evolução da população urbana, agrícola e rural,
te, as transformações decorrentes em escala local e global. as alterações provocadas no período técnico-científico, a
Trata o meio ambiente como um sistema que pode ser metropolização, a descentralização atual e as tendências
desequilibrado em consequência das ações humanas. da urbanização brasileira no fim do século XX. Leia trecho
desse livro na seção Textos de apoio.
FERREIRA, J. S. W. O mito da cidade-global: o papel da ideo-
logia na produção do espaço urbano. Petrópolis: Vozes; São ______. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos
Paulo: Ed. da Unesp; Salvador: Anpur, 2007. teóricos e metodológicos da Geografia. São Paulo: Hucitec,
1988. (Geografia: Teoria e Realidade.)
Discute a origem do conceito de cidade global e, com base
no estudo de São Paulo, analisa a manipulação ideológi- Nesse livro, o autor discute o período técnico-científico, a
ca que reduz o mundo a fluxos e mascara as desigualda- globalização e várias questões epistemológicas da Geografia.
des sociais e os problemas urbanos. Leia trecho desse livro O Capítulo 4, “Categorias tradicionais, categorias atuais”,
na seção Textos de apoio. trata da especialização produtiva, das novas relações entre
cidade e campo e da hierarquia urbana, entre outros temas.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2005. ______. Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São
Paulo. São Paulo: Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1990.
Esse livro propõe uma educação dialógica e problemati-
zadora. Como método de interpretação e intervenção na Analisa a especulação e os vazios urbanos, os transportes,
realidade propõe o desenvolvimento do tema gerador. a questão fiscal e os gastos públicos.

GOMES, P. C. da C. A condição urbana: ensaios de geopolíti- SASSEN, S. As cidades na economia global. São Paulo: Studio
ca da cidade. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. Nobel, 1998. (Megalópolis.)

Trata da relação entre o poder (ou poderes) e o território (ou Apresenta uma análise do impacto urbano da globaliza-
territórios) urbano(s), por isso tem o subtítulo “geopolítica ção, da nova economia urbana e das desigualdades nas
da cidade”, e consequentemente da relação entre cidadania cidades. Leia trecho desse livro na seção Textos de apoio.
e espaço público. No Capítulo VI, por exemplo, o autor dis-
cute o que a Geografia tem a dizer sobre essa relação. SCARLATO, F. C. Urbanização. In: ROSS, J. L. S. (Org.). Geogra-
fia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2011. (Didática, 3).
GOUVEIA, R. G. A questão metropolitana no Brasil. Rio de
Janeiro: FGV, 2005. Apresenta a urbanização como um processo histórico e
analisa a estrutura interna das cidades, os agentes eco-
Estudo sobre a urbanização e o planejamento no Brasil, o nômicos e sociais, o crescimento das cidades brasileiras,
papel dos municípios, a metropolização e as perspectivas a metropolização, etc.
da gestão metropolitana.
SERRANO, P. E. A. P. Região metropolitana e seu regime cons-
JACOBI, P. Cidade e meio ambiente: percepções e práticas em titucional. São Paulo: Verbatim, 2009.
São Paulo. São Paulo: Annablume, 1999.
Discorre sobre o Estado Federal, os municípios, as regiões
O autor analisa o contexto socioambiental da cidade de metropolitanas e seus regimes jurídicos.
São Paulo – moradia, saneamento básico, poluição do ar,
lixo – e trata dos temas cidadania e educação ambiental. SINGER, P. Economia política da urbanização. 2. ed. São Pau-
lo: Contexto, 2002.
LE GOFF, J. Por amor às cidades: conversações com Jean Le-
brun. São Paulo: Ed. da Unesp, 1998. Reunião de ensaios sobre importantes temas urbanos: a
urbanização como processo histórico capitalista, a urba-
Em uma conversa com Jean Lebrun, Le Goff retrata as ci- nização dependente e excludente na América Latina, ur-
dades medievais em suas dimensões sociais, econômicas, banização e desenvolvimento em São Paulo, planejamen-
políticas e estéticas e traça paralelos com a cidade con- to metropolitano, etc.
temporânea.
SPINK, P.; CLEMENTE, R. (Org.). 20 experiências de gestão
350 Manual do Professor pública e cidadania. Rio de Janeiro: FGV, 1999. (FGV Prática.)

Coletânea de artigos que apresenta várias experiências de urbana é formada pelas relações estabelecidas en-
ações que melhoraram significativamente a qualidade de tre as cidades de diferentes tamanhos no interior
vida da população: programas de geração de emprego e de uma rede urbana e, portanto, com variada ca-
renda, coleta seletiva de lixo, orçamento participativo, mu- pacidade de influência.
nicipalização de projetos de reforma agrária, entre outros.
b) A concepção clássica de hierarquia urbana, baseada
SPÓSITO, E. S. A vida nas cidades. São Paulo: Contexto, 1994. na noção de hierarquia militar, era muito rígida e
Trata da dinâmica urbana, da questão da moradia, do fechada. Assim, as relações dentro da rede urbana
consumo e do meio ambiente. seguiam uma hierarquia crescente: vila – cidade
local – centro regional – metrópole regional – me-
______. Redes e cidades. São Paulo: Ed. da Unesp, 2008. (Pa- trópole nacional/mundial. Na atual noção de hie-
radidáticos.) rarquia urbana, em razão dos avanços tecnológicos
nos transportes e nas telecomunicações, rompe-se
Análise teórica de temas atuais, envolvendo o papel da com essa hierarquização rígida. Desse modo, a vila
internet, sobre as cidades, as redes, as redes de cidades e ou a cidade local podem se relacionar diretamente
as cidades em redes. com a metrópole regional ou nacional. Os fluxos já
não são mais escalonados.
SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. 11. ed. São Pau-
lo: Contexto, 2001. (Repensando a Geografia.) 2 As distâncias, tanto em escala local, regional, como
mundial, são, hoje em dia, relativas em razão da mo-
Analisa o processo de urbanização sob o capitalismo e seu dernização dos sistemas de transportes e telecomuni-
vínculo com o processo de industrialização. cação e da aceleração no deslocamento de pessoas,
mercadorias, capitais e especialmente informações.
VEIGA, J. E. da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano Uma pessoa pode viver relativamente distante de um
do que se calcula. Campinas: Autores Associados, 2002. grande centro urbano e, no entanto, estar plenamente
integrada a ele, desde que tenha à disposição equipa-
O livro é composto de sessenta artigos publicados no jornal mentos e infraestrutura que permitam rápida locomo-
O Estado de S. Paulo até 2001, nos quais o autor discute as ção e comunicação. Distâncias continentais que antes
características do urbano e do rural, assim como a delimi- demoravam semanas para serem vencidas, nos dias
tação dessas duas realidades socioespaciais e principal- atuais são percorridas em poucas horas. A consequên-
mente a inadequação dos critérios para a definição de ci- cia disso é que cada vez mais pode haver uma disper-
dade no Brasil, o que faz com que nosso país seja, como são urbano-industrial, diminuindo o ritmo de cresci-
está indicado no subtítulo, “menos urbano do que se cal- mento das grandes metrópoles e megalópoles.
cula”. Leia um trecho desse livro na seção Textos de apoio.
3 Megacidade é um conceito quantitativo, define as cida-
VILLAÇA, F. Espaço intraurbano no Brasil. São Paulo: Studio des cuja população é igual ou superior a 10 milhões de
Nobel/Fapesp/Lincoln Institute, 1999. habitantes. Cidade global é um conceito qualitativo,
define as cidades com melhor infraestrutura, indepen-
Analisa o espaço urbano e regional, os processos de ex- dentemente do tamanho, que comandam os fluxos na
pansão urbana e conurbação e a segregação urbana. rede urbana mundial. Genericamente, as cidades glo-
bais têm um papel muito mais importante do que as
Comentários e respostas megacidades no atual capitalismo informacional, em
das atividades razão de seu papel de comando das redes de fluxos glo-
balizadas. Muitas cidades, além de mega, são também
Capítulo 9 globais, como é o caso de Nova York, Tóquio, Los Angeles,
São Paulo, Cidade do México, entre outras.
O espaço urbano do mundo
contemporâneo 4 As desigualdades sociais se materializam nas paisa-
gens urbanas de várias formas. Por exemplo, há segre-
Compreendendo conteúdos gação socioespacial, com as pessoas mais pobres mo-
rando em bairros da periferia, muitas vezes em
1 a) A rede urbana é composta de um conjunto de ci- loteamentos irregulares, com infraestrutura precária;
dades no espaço geográfico que se relacionam e aglomerados subnormais ao lado de edifícios moder-
estão interligadas por sistemas de transporte e nos; bairros deteriorados e perigosos próximos de
telecomunicação, pelos quais fluem mercadorias, bairros bem conservados e sossegados; pessoas mo-
pessoas, capitais, informações, etc. A hierarquia rando na rua, etc. Ao longo do capítulo, há diversas
fotos que mostram as desigualdades sociais, mas bas-
ta observar as paisagens das cidades brasileiras para
percebê-las. No entanto, isso não é exclusivo das cida-
des brasileiras, está presente em paisagens urbanas

Manual do Professor 351

de outros países em desenvolvimento e também apa- dade seja mais grave nas cidades dos países em
rece em muitas cidades dos países desenvolvidos. desenvolvimento, principalmente as grandes, como
São Paulo, ela também ocorre em outras nações.
Desenvolvendo habilidades Essa segregação aparece também em aglomera-
ções urbanas dos países desenvolvidos.
Essas atividades permitem um trabalho interdisciplinar com
Sociologia e Matemática. 6 a) A lista do GaWC é mais extensa e hierarquizada (com
as divisões alfa, beta e gama) do que a da Fundação
5 a) O grande número de pessoas vivendo em aglomera- Mori Memorial (com lista única), que consta do grá-
dos subnormais e loteamentos irregulares no muni- fico de barras. Ao comparar as dez principais cidades
cípio de São Paulo revela que boa parte da população globais do mapa com as do gráfico, o aluno deverá
da metrópole não tem acesso à moradia segura e perceber que metade delas coincide. Em ambas as
confortável, nem à infraestrutura urbana adequada classificações, as duas cidades mais importantes são
e a serviços públicos de qualidade, que se concentram Londres e Nova York, seguidas de Paris, Tóquio e Cin-
nas áreas centrais da cidade, onde também estão as gapura, que também constam das duas listas. As
melhores oportunidades de trabalho. Ou seja, os me- cidades que não coincidem são Xangai, Pequim,
lhores empregos e os bens e serviços fundamentais Sydney, Dubai e Hong Kong (fechando a lista das ci-
para a qualidade de vida das pessoas não são garan- dades alfa+ do GaWC) e Seul, Amsterdam, Berlim,
tidos de forma democrática a todos os cidadãos. Isso Viena e Frankfurt (na lista da Fundação Mori Memo-
se repete em outras grandes cidades brasileiras. Esses rial). No entanto, essas cinco cidades, entre as mais
dados confirmam os argumentos de Milton Santos, importantes da instituição japonesa, aparecem como
para quem o grau de cidadania varia de acordo com cidades alfa e alfa– na lista britânica. É importante
a localização no território da cidade. Os habitantes os alunos perceberem que isso ocorre com qualquer
da periferia, onde se localiza a maioria dos aglome- classificação: dependendo do critério adotado, os
rados subnormais e de loteamentos irregulares de elementos (no caso, as cidades globais), assim como
São Paulo (e de outras metrópoles brasileiras), levam sua ordem, podem ser ligeiramente diferentes.
uma vida mais difícil e acabam, na prática, enfren-
tando sérios déficits de cidadania. Por isso, Milton b) Sim, São Paulo (SP), que foi classificada como cidade
Santos afirma que estão “condenados duas vezes à global pelas duas instituições. Na lista do GaWC, a
pobreza”. Na periferia, as pessoas moram mal, têm capital paulista aparece como uma das 13 cidades
infraestrutura urbana pior e estão distantes dos me- globais alfa, portanto, abaixo das alfa++ e alfa+. Na
lhores empregos, que são oferecidos nas áreas cen- lista da Fundação Mori Memorial ela está entre as 40
trais (como o centro expandido de São Paulo). Como cidades globais, ocupando a 38a posição. Ou seja,
constata o texto da Prefeitura de São Paulo, isso é segundo os critérios adotados pelas duas instituições
uma condição estrutural que historicamente tem internacionais, a metrópole paulistana é uma impor-
favorecido a “reprodução da pobreza ao longo de ge- tante cidade global, embora não apareça nas primei-
rações”, ou seja, os descendentes dos mais pobres ras posições em nenhuma das duas listas.
tendem a ser pobres porque têm menos oportunida-
des de ascensão social. Capítulo 10

b) O rompimento desse círculo vicioso, dessa “condi- As cidades e a urbanização brasileira
ção estrutural” de reprodução da pobreza deve
mobilizar os cidadãos e toda a comunidade para Compreendendo conteœdos
cobrar das autoridades governamentais as solu-
ções para os problemas apresentados. No municí- 1 No Brasil, são recenseadas como população urbana to-
pio de São Paulo, por exemplo, vem sendo desen- das as pessoas residentes no perímetro urbano dos
volvido o Programa de Urbanização de Favelas municípios. Como as prefeituras, porém, aumentam
porque as comunidades locais vêm cobrando das esse perímetro para poder cobrar IPTU em vez de ITR e,
autoridades. Evidentemente, em um regime demo- assim, acabam abarcando algumas áreas rurais, a po-
crático, no qual há eleições livres, é importante pulação residente em cidades acaba sendo superesti-
conhecer os representantes que serão eleitos para mada. Como essa metodologia não considera a densi-
cargos do Executivo e do Legislativo, para que não dade demográfica, número de habitantes e presença de
se vote em políticos desonestos e descompromis- equipamentos tipicamente urbanos, muitas aglomera-
sados com a melhoria das condições de vida da ções com estrutura e modo de vida rural em pequenos
população. É importante os alunos perceberem que municípios têm seus cidadãos classificados como urba-
a segregação socioespacial que concentra os mais
pobres nas periferias distantes não é exclusividade
de países em desenvolvimento. Embora essa reali-

352 Manual do Professor

nos. Essa realidade compromete a comparação dos da- 9A
dos estatísticos de urbanização do Brasil com os de
outros países. 10 A

2 Até a década de 1930, quando efetivamente se iniciou 11 B
o processo de industrialização brasileiro, quase não
havia integração econômica entre as regiões, e a rede 12 D
urbana estruturava-se apenas em âmbito regional.
Atualmente, com a plena integração econômica do Quest›es
território nacional, a rede urbana estrutura-se por todo
o país, contando, além das metrópoles regionais, com 13 a) Nesse esquema, havia forte hierarquização entre as
duas nacionais: São Paulo e Rio de Janeiro. cidades, lembrando uma hierarquia militar. As cida-
des eram classificadas segundo sua população e as
3 No Brasil, uma região metropolitana é um “conjunto de relações econômicas, sociais e culturais eram esca-
municípios conurbados, integrados social e economica- lonadas da metrópole nacional até a vila.
mente e com problemas comuns de infraestrutura”. Nes-
sas áreas há a necessidade de criação de uma esfera b) Com os avanços tecnológicos nos meios de transpor-
administrativa que esteja acima da existente nos muni- te e telecomunicação há crescente inter-relação entre
cípios que formam a região metropolitana para adminis- todas as cidades, independentemente do tamanho,
trar os problemas comuns de infraestrutura urbana. Já rompendo com o modelo escalonado e hierarquizado
as aglomerações urbanas são constituídas por pequenas do esquema tradicional.
e médias cidades integradas, mas sem a presença de um
centro polarizador que extrapole a escala local. 14 Região metropolitana é um grande centro populacional
com uma cidade principal e cidades próximas integra-
4 Entre as várias intervenções urbanísticas que podem das funcionalmente. Curitiba, com as 29 cidades em seu
ser provocadas por alterações no Plano Diretor, desta- entorno, é um exemplo. A falta de integração no trans-
cam-se: autorização para a construção de edifícios porte coletivo, coleta de lixo, tratamento de esgoto e
altos em bairros horizontais (verticalização); alteração segurança são problemas que devem ser mencionados.
nas rotas e modos de transportes coletivos; autoriza-
ção de implantação de estabelecimentos comerciais 15 Cidade global é um conceito qualitativo – define as ci-
em bairros residenciais; estabelecimento da densida- dades com melhor infraestrutura e maior oferta de bens
de de ocupação em função do tamanho dos lotes, etc. e serviços, independentemente do tamanho, e que, por
isso, exercem mais influência e têm mais capacidade de
Desenvolvendo habilidades comando sobre os fluxos na rede urbana mundial. Se-
gundo o Globalization and World Cities Study Group and
Essa atividade possibilita um trabalho interdisciplinar com Network (GaWC), da Universidade de Loughborough
Sociologia. (Reino Unido), em 2012 havia 182 cidades globais: 45
de nível alfa, com destaque para Londres e Nova York,
5 a) Por estar localizada no interior da floresta Amazô- cidades alfa ++, seguidas por 8 cidades alfa +, com des-
nica, onde a rede urbana é bastante esparsa, Ma- taque para Tóquio e Paris, 13 cidades alfa, entre as quais
naus estende sua polarização por uma área bem está São Paulo, e 22 alfa –; a esse grupo principal se-
maior que a polarizada por Porto Alegre. guem 78 cidades de nível beta, entre as quais está o Rio
de Janeiro, e 59 de nível gama. Segundo a instituição de
b) Tanto na região polarizada por Manaus quanto na de pesquisa The Mori Memorial Foundation, sediada em
Porto Alegre encontramos metrópole, capital regio- Tóquio, em 2013 havia 40 cidades globais, com destaque
nal, centro sub-regional e centro de zona. para Londres, que encabeçava a lista, seguida por Nova
York, Paris e Tóquio. Nessa lista São Paulo aparece na 38a
Vestibulares de Norte a Sul posição.

Testes 16 A região com maior população absoluta vivendo em as-
sentamentos precários é o sul da Ásia, com destaque para
1D a Índia (em 2012 apresentava 105 milhões de pessoas
vivendo nessas condições). A região com maior população
2E relativa vivendo em assentamentos precários é a África
subsaariana, na qual diversos países têm mais de 60%
3D dos habitantes vivendo nessas condições; a pior situação
está na República Centro-Africana, onde 96% da popula-
4A ção vive em submoradias. Entre as justificativas para a
grande presença de assentamentos precários nessas
5C regiões, destacam-se o rápido êxodo rural, a falta de pla-
nejamento e de investimentos em infraestrutura urbana
6C
Manual do Professor 353
7C

8D

(como habitação e saneamento básico) e a baixa renda 4A
da maior parte da população. 5C
6E
Caiu no Enem 7E
8D
1E 9D
2E 10 A
3C

Textos de apoio

1 Cidade e democracia dos serviços públicos – ressalta-se a segurança pública –
é escassa e mal distribuída. Os altos índices de violência
É plenamente reconhecido que as condições ma- urbana nas metrópoles já estão alcançando as cidades
croestruturais do país e sua inserção internacional são médias. O enfrentamento desse passivo socioambiental-
muito positivas, desdobrando uma favorável perspec- -urbanístico se coloca, francamente, como uma das con-
tiva de desenvolvimento. Nesse processo, o sistema dições para o desenvolvimento nacional.
urbano tem papel fundamental. São as cidades gran-
des, em especial as metrópoles, o lugar privilegiado do Nosso país foi capaz de construir novo patamar
intercâmbio econômico mundial, das maiores oportu- político e econômico em pouco mais de duas décadas,
nidades ligadas ao conhecimento, à pesquisa e à ino- com ampliação dos direitos e garantias cidadãs e cres-
vação. Hoje, 85% da população do país vive em cida- cimento da economia. A incorporação econômica dos
des. [veja a seguir o artigo 4, de José Eli da Veiga, que estratos mais pobres da população se apresenta como
questiona esse dado] Doze metrópoles abarcam 45% uma possibilidade demonstrada, e não apenas como
do Brasil urbano, enquanto as duas maiores, São Paulo um desejo. Simetricamente, no âmbito urbano, essa
e Rio de Janeiro, somadas, chegam a 20% da população conquista deverá corresponder à busca pela equidade
urbana brasileira e se aproximam de 30% do produto no acesso e usufruto da cidade. Ou seja, um processo de
interno bruto nacional. políticas públicas que busque universalizar a prestação
dos serviços públicos; que reconheça as preexistências
O desenvolvimento nacional e o desenvolvimento ambientais e culturais construídas pela população;
urbano são interdependentes. Mas, na última década, que contemple o acesso à moradia adequada como um
quando o Brasil construiu 13 milhões de domicílios, 40% direito cidadão; que considere a mobilidade urbana
deles foram construídos em favelas (“assentamentos como conquista social e fator de promoção do desen-
subnormais”, na expressão do Instituto Brasileiro de volvimento; enfim, que encaminhe a cidade para a sus-
Geografia e Estatística), dos quais 88% nas metrópoles. tentabilidade ambiental e social. A questão urbana é
O cuidado com as cidades, no país, tem sido muito infe- pouco assídua no debate nacional, apesar desse quadro
rior ao necessário. Assim, ao ingressar no novo milênio, de possibilidades e carências enfrentado pelas cidades
o Brasil urbano apresenta elevado passivo ambiental. A brasileiras. Mesmo por ocasião de eleições gerais, quase
escassez de investimento no transporte coletivo de alto nada é discutido sobre a cidade, sugerindo uma baixa
rendimento e a opção pelo transporte rodoviário, sobre- conscientização da sociedade sobre as consequências
tudo o estímulo ao automóvel, leva o trânsito urbano à negativas desse alheamento para o bem-estar geral.
quase imobilidade. O setor transporte consome 26% do Mas o sistema urbano brasileiro precisa ser tratado em
total das diversas fontes de energia do país, dos quais sua dimensão estratégica para o desenvolvimento so-
96% no modo rodoviário. Nas 438 maiores cidades, 23% cioeconômico do país.
do consumo de energia no setor é com coletivos e 73%
com automóveis, segundo o relatório de 2011 da Associa- A democracia veio para ficar. As cidades precisarão
ção Nacional de Transportes Públicos. corresponder a essa dimensão política.

As águas urbanas estão poluídas, e apenas 48% dos MAGALHÃES, Sérgio. Ci•ncia Hoje. v. 49. Rio de Janeiro:
domicílios estão ligados a sistemas de esgoto. A gestão Instituto Ciência Hoje, n. 292, maio 2012. Disponível em:
das cidades recebe pouco estudo e investimento. Exem- <www.iabrj.org.br/cidade-e-democracia-novo-artigo-de-sergio-
plifica-se com o caso das cidades metropolitanas, que não magalhaes-na-revista-ciencia-hoje>. Acesso em: 22 abr. 2016.
dispõem de estatuto próprio. Nesse panorama,a prestação

2 Processos espaciais e a cidade sociais na forma de um ambiente físico construído so-
bre o espaço geográfico. Expressão de processos sociais,
Vista como uma forma de organização do espaço a cidade reflete as características da sociedade. Esta
pelo homem, a cidade pode ser considerada, de acordo
com Harvey, como a expressão concreta de processos

354 Manual do Professor

definição tem o mérito da universalidade, quer em ter- Entre processos sociais, de um lado, e organização
mos de tempo, quer de espaço, enquadrando tanto as espacial, de outro, aparece um elemento mediador, que
cidades cerimoniais da China antiga, as cidades maia viabiliza que os processos originem forma, movimento
e asteca, como o burgo medieval, a cidade colonial e a e conteúdo sobre o espaço. Este elemento viabilizador
metrópole moderna. constitui-se em um conjunto de forças que atuam ao
longo do tempo e que permitem localizações, relocaliza-
Esta última constitui-se em um produto da econo- ções e permanência das atividades e população sobre o
mia de mercado, afetada direta ou indiretamente pela espaço urbano. São os processos espaciais, responsáveis
industrialização, e da complexa sociedade estratificada imediatos pela organização espacial complexa que ca-
que emerge. Como tal, a metrópole moderna constitui- racteriza a metrópole moderna. Tais processos são pos-
-se em importante local de acumulação de capital e tos em ação pelos atores que modelam a organização do
onde as condições para a reprodução da força de tra- espaço, proprietários dos meios de produção, proprietá-
balho podem mais plenamente ser realizadas. Tais pro- rios de terras, empresas imobiliárias e de construção,
cessos sociais produzem forma, movimento e conteúdo associadas ou não ao grande capital, e o Estado, confor-
sobre o espaço urbano, originando a organização espa- me apontam, entre outros, Form, Harvey e Capel. Cada
cial da metrópole. Esta organização caracteriza-se por um destes atores tem sua própria estratégia e entre os
usos da terra extremamente diferenciados tais como três primeiros há conflitos que são, em maior ou menor
o da área central, áreas industriais e áreas residenciais grau, resolvidos pelo Estado, simultaneamente ator e ár-
diversas, e pelas interações como fluxo de capital, mi- bitro destes conflitos.
grações diárias entre local de residência e local de tra-
balho, e deslocamento de consumidores, que permitem CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas.
integrar essas diferentes partes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 121-122.

3 A organização interna das cidades: a cidade caótica

Como definir a organização interna atual das cidades grandes porque há especulação e vice-versa; há especu-
brasileiras? Quanto menor a aglomeração, menor a di- lação porque há vazios e vice-versa; porque há vazios as
versidade de sua ecologia social; quanto mais populosa e cidades são grandes. O modelo rodoviário urbano é fator
mais vasta, mais diferenciadas a atividade e a estrutura de crescimento disperso e do espraiamento da cidade.
de classes, e mais o quadro urbano é compósito, deixan- Havendo especulação, há criação mercantil da escassez
do ver melhor suas diferenciações. e o problema do acesso à terra e à habitação se acentua.
Mas o déficit de residências também leva à especulação
As cidades, e sobretudo as grandes, ocupam, de modo e os dois juntos conduzem à periferização da população
geral, vastas superfícies, entremeadas de vazios. Nessas mais pobre e, de novo, ao aumento do tamanho urbano.
cidades espraiadas, características de uma urbanização As carências em serviços alimentam a especulação, pela
corporativa, há interdependência do que podemos cha- valorização diferencial das diversas frações do território
mar de categorias espaciais relevantes desta época: ta- urbano. A organização dos transportes obedece a essa ló-
manho urbano, modelo rodoviário, carência de infraes- gica e torna ainda mais pobres os que devem viver longe
truturas, especulação fundiária e imobiliária, problemas dos centros, não apenas porque devem pagar caro seus
de transporte, extroversão e periferização da população, deslocamentos como porque os serviços e bens são mais
gerando, graças às dimensões da pobreza e seu compo- dispendiosos nas periferias. [...]
nente geográfico, um modelo específico de centro-peri-
feria. Cada qual dessas realidades sustenta e alimenta SANTOS, Milton. A urbanização brasileira.
as demais e o crescimento urbano é, também, o cresci- 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 95-96.
mento sistêmico dessas características. As cidades são

4 O Brasil é menos urbano do que se calcula quase todas as “cidades” com menos de 20 mil habitan-
tes. Será razoável que no início do século XXI se considere
Metodologia oficial de cálculo da “taxa de urba- “cidade” um aglomerado de menos de 20 mil pessoas?
nização” no país está obsoleta
Até 1938 o Brasil não teve dispositivo legal que estabe-
A vigente definição de “cidade” é obra do Estado lecesse diferença entre cidade e vila. Era costume elevar
Novo. Foi o Decreto-Lei 311, de 1938, que transformou à condição de vila, ou mesmo diretamente à condição de
em cidades todas as sedes municipais existentes, in- cidade, rústicas sedes de freguesia, a mais antiga unida-
dependentemente de suas características estruturais de territorial brasileira. E vilas e cidades surgiam até sem
e funcionais. Da noite para o dia, ínfimos povoados, ou a prévia existência de freguesias. Tanto cidades, quanto
simples vilarejos, viraram cidades por norma que con- vilas, podiam ser sedes de municípios. E os limites geo-
tinua em vigor, apesar de todas as posteriores evolu- gráficos de sua jurisdição eram demarcados pelos limites
ções institucionais. Não somente as dos períodos pós- das freguesias, desde que se tratasse de espaço com ocu-
-1946, pós-1964 e pós-1988, mas também as que estão pação consolidada. Até havia regras para que as cidades
sendo introduzidas pelo novíssimo Estatuto da Cidade. e vilas pudessem exercer suas diferentes funções, mas a
Por exemplo, ao dispensar da exigência de Plano Diretor
Manual do Professor 355

decisão de criar ou elevar uma localidade à categoria de pertençam a ecossistemas dos menos artificializados.
vila, ou de cidade, não respeitava qualquer norma. A distorção chega a tal ponto que mesmo populações
indígenas ou guardas florestais de áreas de preservação
Iniciativas estaduais de uniformização desse quadro são considerados urbanos caso suas ocas ou palhoças
territorial surgiram com a República, mas foi o Estado estejam no interior do perímetro de alguma sede mu-
Novo que estabeleceu as regras de divisão territorial que nicipal ou distrital. São inúmeros os casos de municí-
permanecem em vigor. É verdade que a partir de 1991 o pios com população irrisória e ínfima densidade de-
IBGE definiu três categorias de áreas urbanas (urbaniza- mográfica, mas com altíssima “taxa de urbanização”.
das, não urbanizadas, e urbanas-isoladas) e quatro tipos Por exemplo, municípios como Ipuã (SP), Paranapoema
de aglomerados rurais (extensão urbana, povoado, nú- (PR), Itapoá (SC), ou Minas do Leão (RS) têm menos de
cleo e outros). Todavia, em vez de abolida ou amenizada, 12 mil habitantes e menos de 35 por km2, mas “taxa de
acabou sendo fortalecida pela nova nomenclatura essa urbanização” superior a 90%. Isso para não citar muni-
rígida e vetusta convenção de que toda sede de municí- cípios como Vitória do Jarí (AP), com 8 550 habitantes,
pio é necessariamente espaço urbano, seja qual for sua 0,3 por km2, mas 80% de “urbanização”.
função, dimensão, ou situação.
Enfim, o mínimo que se pode dizer a respeito da me-
Nada disso teria muita importância se fossem poucos todologia oficial de cálculo da “taxa de urbanização” do
os casos de sedes municipais que exercem irrisória pres- Brasil é que ela é anacrônica e obsoleta. E a evolução das
são antrópica sobre ecossistemas pouco artificializados, abordagens de delimitação urbana no resto do mundo só
às vezes quase intocados. No entanto, a grande maioria confirma que o uso desse indicador deveria exigir extre-
dos municípios brasileiros tem essas características. Bas- ma cautela. Para que a configuração territorial brasileira
ta dizer que em 70% deles as densidades demográficas não permaneça tão obscura, é imprescindível construir
são inferiores a 40 hab./km2, enquanto o parâmetro da tipologias alternativas, capazes de captar a imensa diver-
OCDE para que uma localidade seja considerada urbana sidade dos municípios. Um desafio que começou a ser
é de 150 hab./km2. Por este critério, apenas 411 dos 5 507 enfrentado com muito sucesso no estudo Caracteriza-
municípios brasileiros existentes em 2 000 seriam consi- ção e Tendências da Rede Urbana do Brasil (Ipea/IBGE/
derados urbanos. Nesur-IE/Unicamp, 1999). Atualizando-se os resultados
desse trabalho, percebe-se que só estão efetivamente na
O mais bizarro, contudo, é que a vigente delimita- rede urbana menos de 60% da população brasileira (ver
ção de caráter inframunicipal dos territórios urbanos tabela). E não mais de 80%, como impõe a linha estado-
só é adotada por um pequeno punhado de países, como -novista que baliza a metodologia oficial.
El Salvador, Equador, Guatemala e República Domi-
nicana. Na excelente companhia desses quatro tigres
cucarachos, o Brasil considera urbanos os habitantes de
qualquer sede municipal, mesmo que tais localidades

Brasil: rede urbana – 1991-2000

Conforme tipologia Ipea/IBGE/Nesur-IE/Unicamp (1999)

Tipos Número de População (milhões) Variação (%)
municípios
1991 2000 1991 2000

12 aglomerações metropolitanas 200 48,5 57,4 8,9 18,4

37 aglomerações não metropolitanas 178 18,5 22,7 4,2 22,8

77 centros urbanos 77 13,2 16,1 2,9 22,0

Urbanos 455 80,2 96,3 16,1 20,0

BRASIL 5 507 146,8 169,6 22,8 15,5

VEIGA, José Eli da. Cidades imagin‡rias: o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 63-66.

5 O lugar e a produção na economia global -fábrica” nas Bahamas ou em uma residência em um bair-
ro elegante. O crescimento das indústrias da informação
À medida que se aproxima o fim do século XX, o enor- possibilitou que muitos dados sejam transmitidos instan-
me desenvolvimento das telecomunicações e a ascendência taneamente a todo o planeta. A globalização da atividade
das indústrias da informação levaram analistas e políticos econômica sugere que o lugar – sobretudo o tipo de lugar
a proclamar o fim das cidades. Estas, dizem-nos eles, devem representado pelas cidades – já não tem mais importância.
tornar-se obsoletas enquanto entidades econômicas. Com a
realocação, em grande escala, dos escritórios e fábricas em Essa afirmação, porém, é parcial. Com efeito, todas essas
áreas menos congestionadas e de custo mais baixo do que o tendências estão se desenvolvendo, mas elas representam
das grandes metrópoles, o local de trabalho, computadoriza-
do, poderá situar-se em qualquer lugar: em um “escritório-

356 Manual do Professor

apenas metade daquilo que está acontecendo. Ao lado da economia da informação. Um exame detalhado das ativi-
dispersão das atividades econômicas, bem documentada, dades, empresas, mercados e infraestrutura física envolvi-
aliás, surgiram novas formas de centralização territorial, dos na globalização e concentrados nas cidades permite-
relativas ao gerenciamento no nível dos altos escalões e ao -nos perceber o papel atualmente desempenhado por es-
controle das operações. Os mercados nacionais e globais, tas últimas em uma economia global. Assim, quando as
bem como as operações globalmente integradas, requerem telecomunicações foram introduzidas em larga escala em
lugares centrais, onde se exerça o trabalho de globalização. todas as indústrias adiantadas, na década de 1980, vimos
Além disso, as indústrias da informação necessitam de as regiões centrais, onde se concentram os negócios nas
uma vasta infraestrutura física que contenha nós estraté- grandes metrópoles, e os centros empresariais do mundo
gicos, com uma hiperconcentração de determinados meios. – Nova York, Los Angeles, Londres, Tóquio, Frankfurt, São
Finalmente, até as mais avançadas indústrias de informa- Paulo, Hong Kong e Sydney, entre outros – atingirem uma
ção possuem um processo produtivo. densidade como jamais existiu. Essa explosão da quanti-
dade de empresas estabelecidas nos centros das princi-
Uma vez que esse processo é submetido à análise, pais cidades, durante aquela década, caminha em sentido
coisas engraçadas acontecem. As secretárias fazem par- contrário daquele que se deveria esperar de acordo com
te dele, do mesmo modo que os encarregados da faxina modelos que enfatizam a dispersão territorial, o que é es-
dos prédios onde os profissionais exercem seu trabalho. pecialmente verdadeiro dado o alto custo da localização
Emerge uma configuração econômica muito diferente da- em áreas centrais.
quela sugerida pelo conceito de economia da informação,
por meio da qual recuperamos as condições materiais, os SASSEN, Saskia. As cidades na economia global.
locais de produção e a pertença a um determinado lugar São Paulo: Studio Nobel, 1998. p. 13-14. (Megalópolis.)
que também fazem parte da globalização e desta mesma

6 A cidade digital mesmo tempo em que se dá potencialmente aos compra-
dores mais oportunidades de escolha, preços mais van-
Nossa vida e nossas cidades estão sendo e serão cada tajosos e informações mais detalhadas. Ao mudar os sis-
vez mais marcadas pelo advento de redes eletrônicas temas de distribuição, a nova realidade está igualmente
como a internet. São mudanças que possivelmente darão transformando os lugares de consumo. E, ao suportar inte-
origem a um novo urbanismo, tamanho o impacto que o rações em tempo real por sistemas de telecomunicações,
mundo digital tem sobre o mundo físico. Está surgindo está produzindo e sustentando comunidades virtuais que,
novo tipo de cidade, onde se destacam certas porções apesar de dispersas, têm práticas, linguagens e culturas de
de “quarteirões inteligentes”, locais densamente ocupa- interesse comum.
dos e abundantemente interligados por uma caríssima
infraestrutura de telecomunicações digitais, segundo Quando caracteriza as cidades do século XXI como
William J. Mitchell, diretor da Escola de Arquitetura e Ur- sistemas interligados e interativos, Mitchell não se refere
banismo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) apenas aos lugares densamente conectados. “Vamos en-
e autor do visionário livro City of bits. contrar interação e conexão também na escala das rou-
pas, cômodos, construções, campi, bairros, regiões metro-
O primeiro impacto tem sido alterações na distri- politanas e infraestruturas globais.”
buição espacial das atividades econômicas e sociais. As
novas e mais flexíveis formas de produção, marketing e Mitchell lembra que as atividades suportadas por qual-
distribuição de bens e serviços acabarão por eliminar os quer cidade definem sua infraestrutura e acabam marcan-
padrões tradicionais de estabelecimento do comércio, do sua personalidade. Na Roma Antiga, a construção dos
da indústria e dos prestadores de serviço dentro da cida- aquedutos não apenas resolveu o problema do suprimento
de. Analisando a questão, Mitchell lembra que, para os da água, mas também estabeleceu o limite entre os terri-
indivíduos, isso implica mudanças de local de trabalho, tórios sanitários e os não sanitários. Quando a Revolução
transformação da qualidade e do custo de vida de deter- Industrial trouxe gás e redes de energia elétrica, as cidades
minados lugares e maior ou menor dificuldade para ter se iluminaram e puderam estender suas atividades para a
acesso aos produtos ou tarefas de que necessitam. Para noite e, depois, a madrugada. “A calefação, o encanamento
os arquitetos e planejadores, é o desafio de conceber de água quente e os dutos de ar-condicionado permitiram
novos locais para as atividades econômicas, sem des- criar centrais de energia dentro dos prédios e tornaram a
cuidar das necessidades dos cidadãos, como empregos vida urbana mais confortável.” E Alexander Graham Bell
e serviços sociais. E, para os políticos e administradores abriu o caminho para um mundo de lugares conectados.
públicos, a questão maior é como atender a demanda de
infraestrutura gerada pelas transformações. Para Stephen Graham, professor da Universidade de
Newcastle (Inglaterra), a cidade e a telemática são hoje
Os “quarteirões inteligentes” permitem que pessoas amálgamas que interagem. A cidade é a concentração físi-
e organizações atuem em lugares dispersos, mas, ao mes- ca que ajuda a superar as restrições de tempo minimizando
mo tempo, estejam interconectadas, em permanente in- as limitações de espaço. As telecomunicações, por sua vez,
teratividade, com novos, flexíveis e eficientes sistemas superam as restrições de espaço pela minimização do tem-
de produção, armazenagem e distribuição. po, interligando pontos distantes à velocidade da luz. Disso
resultaria uma vida urbana mais volátil e acelerada, mais
Isso está criando um vasto mercado virtual para o tra- incerta, mais fragmentada e mais difícil de entender. Ao
balho, os serviços e os bens, dando aos vendedores condi-
ções de atingirem potencialmente mais compradores, ao Manual do Professor 357

mesmo tempo, a economia globalizada adota as grandes mente, para a alvorada do novo mundo.” Ele não gosta,
cidades como centros de controle, sem, contudo, estancar a contudo, de ser considerado mais um tecnotriunfalista
tendência paralela de descentralização dos serviços de roti- ou profeta do ciberespaço. “Nossa tarefa é desenhar o
na para fora das metrópoles. Em função dessas mudanças, futuro que queremos, e não adivinhar seus caminhos
Graham considera que as grandes áreas urbanas são, fun- predeterminados.”
damentalmente,“centros de troca de informações”.
Com a nova realidade, o lugar já não é mais um impe-
A revolução digital nos obriga a reinventar os espa- rativo – basta que o local esteja eletronicamente interco-
ços públicos, os bairros e as cidades. As transformações, nectado. O lugar de trabalho, por exemplo, pode ser a resi-
é claro, não ocorrem de uma única vez, nem tampouco dência. Isto é, pode voltar a ser a casa, como já aconteceu
atingem todo território e mesmo toda população. Toda no passado, antes da Revolução Industrial. Essa transfor-
mudança gera conflitos e cria privilegiados, mas sobre- mação já está acontecendo em muitos lares, exigindo de
tudo excluídos, em especial no início. Com o decorrer arquitetos e decoradores novas concepções de espaço,
do tempo, as diferenças tendem a encurtar-se. Talvez ambiente e infraestrutura de serviços. Crescem também
a nova realidade incentive formas de relacionamento os serviços de entrega em domicílio, um conforto para
e outros padrões sociais que elevem nossa qualidade quem tem a casa como o centro nervoso de tudo. O que
de vida. “O resultado poderá ser prédios mistos de mo- não significa, em absoluto, que os tradicionais lugares de
radia e trabalho, bairros 24 horas, ‘vizinhos’ virtuais e trabalho, como os escritórios, por exemplo, estejam com
produção e distribuição descentralizadas”, segundo os dias contados. [...]
Mitchell. “Temos que aprender a construir ‘e-topias’,
ou seja, cidades eletrônicas, interconectadas global- MORENO, Júlio. O futuro das cidades.
São Paulo: Senac, 2002. p. 99-100. (Ponto Futuro 11.)

7 A teoria da “cidade-global” sários à cidade-global, que variam muito pouco de autor
a autor. Em uma abordagem crítica, Carvalho resume
[...] com clareza esse raciocínio:

É importante observar que a conceituação das “cida- O tipo ideal que se construiu para definir a cidade-
des-globais” se desenvolve em um período histórico (a -global partiu das características comuns observadas
partir da década de 70) em que os impactos espaciais da nas metrópoles que sofreram o impacto da globalização
“revolução da informática” e da reestruturação produti- da economia. O que foi a princípio compreendido como
va – que Harvey (1992) apresenta como a passagem do especificidade histórica vivida por algumas metrópoles
sistema de acumulação rígida do fordismo para um mo- passou a se constituir em atributo a partir do qual se
delo de acumulação flexível do pós-modernismo – são poderia designar como “global” determinadas cidades.
bastante significativos nos países industrializados. As Seria, portanto, “global” a cidade que se configurasse
cidades do Norte passaram, com o desmonte das estrutu- como “nó” ou “ponto nodal” entre economia nacional e
ras tradicionais e rígidas do espaço da produção fordista, o mercado mundial, congregando em seu território um
e com a dispersão espacial permitida pelas tecnologias grande número das principais empresas transnacio-
de comunicação, por um forte processo de desconcentra- nais, cujas atividades econômicas se concentrassem no
ção industrial, exemplarmente verificado na acelerada setor de serviços especializados e de alta tecnologia, em
degradação e abandono de outrora poderosíssimos cen- detrimento das indústrias. (CARVALHO, 2002, p. 72).
tros industriais fordistas, como, por exemplo, a cidade
norte-americana de Detroit. De maneira geral, a palavra-chave dessa interpreta-
ção é fluxo, para denominar as diferentes dinâmicas de
Apenas alguns antigos centros industriais com know- deslocamentos espaço-temporais típicas da economia
-how acumulado de mão de obra e possuidores de cen- global “flexível” e financeirizada: fluxos comerciais, de
tros de pesquisa e desenvolvimento e universidades con- passageiros, de produtos, de dinheiro, de informações,
seguem reciclar-se para o uso de novas tecnologias de de conhecimento, etc. Podemos resumir da forma que
produção (LIPIETZ). No mais, a crise de consumo e o alto segue o conjunto de atributos das cidades-globais, se-
grau de desemprego levaram muitos centros urbanos gundo a visão dos teóricos da questão. Vale notar, en-
europeus e norte-americanos à situação de estagnação tretanto, que se trata de uma relação crítica. A apre-
e rápida degradação. Assim, a matriz teórica da “cidade- sentação dessa sistematização nos servirá de base de
-global” aparece como para evidenciar um modelo “que referência para, mais adiante, fazer as considerações
deu certo”, usando o caso das cidades mais poderosas na críticas que nos parecem necessárias. Assim sendo, de-
liderança desse capitalismo “pós-reestruturação produti- fine-se que as “cidades-globais”:
va”. O discurso é o de que são justamente as “cidades-glo-
bais” aquelas que foram – e serão – capazes de superar o • São “pontos nodais” de relação entre a economia global
processo de desindustrialização e degradação comenta-
do anteriormente, o que explica o esforço verificado para e a nacional.
rotular toda grande cidade de “global”. Afinal, o “selo de
qualidade global” representaria uma garantia de sobre- • São o palco de grande volume de negócios transnacio-
vida em um cenário econômico incerto.
nais e recebem intenso fluxo de executivos a negócios
A busca por uma categorização das cidades em dife- (“turismo de negócios”).
rentes níveis de “globalidade” levou os autores de linha
teórica a estabelecer um conjunto de “atributos” neces- • Abrigam número significativo de sedes de grandes em-

358 Manual do Professor presas, preferencialmente sedes mundiais de empresas
de atuação transnacional, com ênfase nos setores finan-

ceiro, bancário, mas também “produtivo de ponta” e gístico, como limpeza e segurança de edifícios, etc.
inovadores (telecomunicações, informática, etc.).
• Usufruem de ampla e disponível infraestrutura de te-
• Abrigam bolsas de valores importantes para as transa-
lecomunicações e informática, tendendo a concentrar-
ções regionais e/ou, preferencialmente globais, receben- -se em “distritos” com grande número de edifícios de
do importante fluxo de capitais financeiros. alta tecnologia e grande conectividade com os sistemas
internacionais de comunicação.
• Apresentam uma supremacia econômica, às vezes quan-
• Concentram sedes de empresas com significativa parte
to ao número de empresas, às vezes quanto ao valor adi-
cionado das atividades terciárias, em especial aquelas de sua receita oriunda de exportações.
denominadas “de ponta” ou “avançadas”, ou seja, ativi-
dades de apoio às empresas de atuação globalizada: ser- • Apresentam importante atividade hoteleira voltada ao
viços financeiros, de contabilidade, publicidade, consul-
toria de negócios, serviços jurídicos internacionais, outros “turismo de negócios”.
serviços empresariais, telecomunicações, apoio em infor-
mática, produção de softwares, etc. • Oferecem infraestrutura para a recepção de grandes

• Concomitantemente, apresentam um declínio signifi- eventos do circuito cultural e esportivo “global”: espe-
táculos da Broadway, grandes exposições, olimpíadas,
cativo das atividades industriais fordistas, ou ao menos feiras universais, etc.
das taxas de emprego industrial.
Ou seja, como apontado por Friedmann, as cidade-
• Têm alto grau de especialização do emprego, em negó- -globais seriam o locus privilegiado para a acumulação e
a concentração de capital transnacional, na fase atual do
cios e serviços financeiros e nas atividades de serviços capitalismo financeiro globalizado.
acima citadas. Ao mesmo tempo concentram atividades
de baixa remuneração relativas a serviços de apoio lo- FERREIRA, Jão Sette Whitaker. O mito da cidade-global: o papel da
ideologia na produção do espaço urbano. Petrópolis: Vozes;
São Paulo: Ed. da Unesp; Salvador: Anpur, 2007. p. 22-24.

Unidade 5 ta, sem ideias preconcebidas, apresentando tanto os as-
pectos positivos quanto os negativos de cada modelo para,
O espaço rural e a produção a seguir, assumir posição crítica favorável ou desfavorável
agropecuária a cada um deles.

Objetivos Projeto interdisciplinar

Propiciar aos alunos que associem a diversidade dos Questão-tema: Que relações podem ser estabelecidas entre
sistemas agrícolas à heterogeneidade das condições natu- a modernização da agricultura e a concentração de terras
rais, históricas e socioeconômicas dos diversos países e re- no Brasil, nas últimas décadas?
giões do planeta. Na análise da agropecuária brasileira, os Disciplinas: Geografia, Biologia e Língua Portuguesa.
alunos deverão compreender que a atual concentração da Tempo de duração: quatro semanas (uma aula por semana,
estrutura fundiária, a espacialização dos tipos de cultivo e por disciplina).
os graus diferenciados de modernização são fruto das con- Trabalho:
dições históricas e do papel do Estado, cujas diretrizes polí-
ticas geralmente favoreceram o grande capital em detri- • individual: pesquisa de dados estatísticos (em anuários
mento das pequenas e médias propriedades.
estatísticos, revistas e jornais especializados e na internet),
Atividade complementar material iconográfico (fotos e documentários) e pesquisa
cartográfica (fontes antigas e recentes).
• Solicite aos alunos que, em grupos ou individualmente,
• em grupo: troca de materiais pesquisados, produção de
pesquisem em livros, revistas, jornais e na internet as
vantagens e desvantagens socioeconômicas e ambientais: painel-síntese e relatório de observação.
1. da agricultura orgânica; Forma final do trabalho: gráficos representando os dados
2. dos alimentos transgênicos. obtidos e painel-síntese.
Enfoques de trabalho por disciplina:
• Oriente-os a redigir um texto apresentando as conclusões
• Geografia: investigação e compreensão de como as trans-
sobre essas formas de produção.
Nessa atividade é importante que os alunos demons- formações tecnológicas no campo interferem na estrutu-
ra fundiária e na produtividade da terra no Brasil.
trem capacidade de realizar uma pesquisa de forma isen-
• Biologia: identificação do uso de insumos no campo, re-

lacionando-o aos problemas de esgotamento e conserva-
ção dos solos.

Manual do Professor 359

• Língua Portuguesa: leitura de textos e produção de texto LAMPARELLI, R. A. C.; ROCHA J. V.; BORGHI, E. Geoprocessa-
mento e agricultura de precisão. Fundamentos e aplicações.
dissertativo final. Guaíba: Agropecuária, 2001.
Etapas do trabalho:
1. Pesquisar, selecionar e interpretar dados estatísticos. Livro técnico que apresenta os parâmetros agronômicos e
2. Produzir gráficos para facilitar a compreensão dos fenô- as técnicas de levantamento (GPS, sensoriamento remoto),
processamento e análise de dados (SIG, interpolação).
menos pesquisados.
3. Pesquisar material cartográfico de diferentes períodos MARTINS, J. de S. A vida privada nas áreas de expansão da
sociedade brasileira. In: SCHWARCZ, L. M. (Org.). Contrastes
para compreender as transformações das paisagens ao da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das
longo do tempo. Letras, 1998. (História da Vida Privada no Brasil, 4.)
4. Identificar, em textos e vídeos, elementos que integram
a questão-tema. Artigo que descreve os conflitos e as mudanças no modo
5. Reconhecer no espaço geográfico os fenômenos políticos, de vida nas populações regionais (indígenas, seringueiros
sociais, econômicos e naturais ligados à questão-tema. e ribeirinhos), a chegada dos posseiros, a ação do Estado,
6. Identificar e relacionar os elementos que comprovem das grandes empresas e da Igreja na expansão das fron-
ou não a questão-tema, tais como: teiras agrícolas na Amazônia Legal.

• o uso de tecnologia e a degradação do solo; MOTTA, M. (Org.). Dicionário da terra. Rio de Janeiro: Civili-
• a relação entre produtividade e tecnologia; zação Brasileira, 2005.
• estrutura fundiária, tecnologia e desemprego;
• concentração de terras e urbanização. Dicionário que explica os diversos temas de Geografia
agrária de forma bem elaborada e aprofundada, escrito
7. Sistematizar as informações em gráficos e produzir um por especialistas acadêmicos.
texto dissertativo que responda à questão-tema.
PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo:
Sugest›es bibliogr‡ficas Brasiliense, 1993.

CARLOS, A. F. A. (Org.). Novos caminhos da Geografia. São O desenvolvimento e as crises da agricultura são analisados
Paulo: Contexto, 1999. p. 76-78. (Caminhos da Geografia.) em conjunto com outros fatores da História econômica
brasileira, nos períodos colonial, imperial e republicano.
Reunião de textos que abordam temas variados e episte-
mologia da Geografia. REIFSCHNEIDER, F. J. B. et al. Novos ângulos da história da
agricultura no Brasil. Brasília: Embrapa, 2010.
CARVALHO, J. C. M. de. O desenvolvimento da agropecuária
brasileira: da agricultura escravista ao sistema agroindus- A obra presenta um histórico da agricultura no Brasil
trial. Brasília: Embrapa-SPI, 1992. desde o início da colonização aos dias atuais; o papel da
pesquisa e do ensino, da agricultura de precisão e da
A primeira parte do livro apresenta uma retrospectiva sustentabilidade.
histórica da formação do espaço agrícola brasileiro, do
período escravocrata à formação do sistema agroindus- SANTO, B. R. do E. Os caminhos da agricultura brasileira. São
trial. A segunda parte mostra a ação do Estado no setor, Paulo: Evoluir, 2001.
do período colonial até a ditadura militar.
O autor apresenta a trajetória da agricultura brasileira da
CASTRO, I. E. de; MIRANDA, M.; EGLER, C. A. G. (Org.). Redes- colonização até os dias atuais, analisa os solos e o clima,
cobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de Janeiro: Bertrand a renda agrícola, o mercado de trabalho rural, o comércio
Brasil/Faperj, 1999. internacional, a política agrícola e as principais culturas
do país. Leia trecho desse livro na seção Textos de apoio.
Na parte III deste livro, há artigos de vários autores sobre
diversos temas ligados à Geografia agrária: configuração SCHIMIDT, B. V.; MARINHO, D. N. C.; ROSA, S. L. C. (Org.). Os as-
socioespacial, globalização, desenvolvimento sustentável sentamentos de reforma agrária no Brasil. Brasília: UnB, 1998.
e alternativas para a produção familiar. Leia trecho desse
livro na seção Textos de apoio. Reúne textos de vários autores sobre a reforma agrária.
Apresenta vários dados qualitativos e quantitativos rela-
GRAZIANO NETO, F. Questão agrária e ecologia: crítica da tivos aos assentamentos, com uma grande riqueza de
agricultura moderna. São Paulo: Brasiliense, 1986. mapas e tabelas.

Na primeira parte, apresenta um histórico da formação SILVA, J. B. da; LIMA, L. C.; ELIAS, D. (Org.). Panorama da geo-
do espaço agrícola brasileiro e, a seguir, analisa os efeitos grafia brasileira 1. São Paulo: Annablume/Anpege, 2006. p.
da modernização, da inadequação tecnológica e a questão 222-225.
da produtividade nas atividades agropecuárias. Leia tre-
cho desse livro na seção Textos de apoio. Reunião de artigos de vários especialistas sobre temas
diversos, como redes e dinâmicas territoriais, cultura, tu-
360 Manual do Professor rismo, geografia urbana, agrária e sistemas naturais.

SILVA, J. G. da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Francisco de Assis Costa; “O desenvolvimento da Ama-
Campinas: Unicamp/Instituto de Economia, 1998. zônia na visão dos produtores familiares rurais”, de Air-
ton Faleiro; “Por uma reforma agrária sustentável: a
A obra analisa a formação dos complexos agroindustriais primeira página do Gênesis a escrever”, de Jean-Pierre
no Brasil, as políticas agrícolas, o padrão de desenvolvi- Leroy.
mento e a industrialização da agricultura.
Comentários e respostas das
______. Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre: UFRGS, atividades
1999.
Capítulo 11
A obra analisa os avanços tecnológicos na agricultura
brasileira nas últimas três décadas, as perspectivas da Organização da produção
agricultura sustentável para os produtores familiares e agropecuária
apresenta um estudo de caso dos produtores de feijão na
região de Itararé, no estado de São Paulo. Compreendendo conteúdos

______; GROSSI, M. E. D. A evolução da agricultura familiar 1 A agricultura intensiva é praticada, sobretudo, nos paí-
e do agrobusiness nos anos 90. In: RATTNER, H. (Org.). Brasil ses desenvolvidos e em algumas áreas agrícolas capita-
no limiar do século XXI. São Paulo: Fapesp/Edusp, 2000. lizadas dos países em desenvolvimento. Caracteriza-se
(Estante USP – Brasil 500 anos.) pela utilização de técnicas aprimoradas no preparo do
solo, na seleção de sementes, na irrigação, na mecani-
No texto são analisadas a ampliação da desigualdade zação e utilização intensa de fertilizantes, apresentan-
entre a agricultura familiar e as agroindústrias ao longo do, portanto, elevados índices de produtividade e pe-
da década de 1990, a queda da rentabilidade, o aumento quena utilização de mão de obra.
de atividades não agrícolas e a importância das aposen- Na pecuária intensiva, o gado é de raças selecionadas e
tadorias e pensões para a sobrevivência dos pequenos geralmente criado confinado, alimentado com ração e
agricultores e suas famílias. em pastos cultivados; além disso, recebe assistência
veterinária.
SZMRECSÁNYI, T. Pequena história da agricultura no Brasil. A agricultura extensiva é praticada nas regiões pobres do
São Paulo: Contexto, 1998. p. 71-73. planeta; é, portanto, descapitalizada: não utiliza máqui-
nas nem adubos, do que decorrem a baixa produtividade
Livro paradidático que analisa a herança do sistema co- e a elevada participação da população ativa no setor.
lonial e da escravidão sobre a organização da produção A pecuária extensiva utiliza gado de raças não selecio-
agrícola no Brasil, a diversificação das culturas, a indus- nadas, alimentado com pastagens naturais, apresen-
trialização do campo e a estrutura fundiária. tando baixo rendimento.

VEIGA, J. E. da. O desenvolvimento agrícola: uma visão his- 2 Na agricultura familiar todas as decisões relativas à ad-
tórica. São Paulo: Hucitec/Edusp, 2008. ministração, aos investimentos e ao que e como produ-
zir são tomadas pelos membros de uma família. Nesse
Análise histórica da gênese do desenvolvimento da agri- tipo de agricultura predomina o trabalho realizado pe-
cultura moderna. O autor interpreta os modelos agrícolas los membros da família e, às vezes, de mão de obra
implantados em diversos países ao longo da História; contratada. Na agricultura empresarial predomina a
apresenta as causas e consequências das políticas agrí- utilização de mão de obra contratada (assalariada) e
colas, detendo-se nas questões da estrutura fundiária, desvinculada do proprietário da terra, em caráter per-
nas relações de trabalho e de produção e no papel da manente ou temporário.
reforma agrária.
3 Os agronegócios são todas as atividades envolvidas na
______. (Org.). Transgênicos: sementes da discórdia. São produção, comercialização, administração, processa-
Paulo: Senac, 2007. mento, armazenagem e outros ramos que fazem parte
da cadeia produtiva, necessários para que um produto
Reunião de artigos de vários especialistas apontando os agrícola chegue ao mercado consumidor.
riscos, controvérsias, vantagens e desvantagens do uso
de sementes transgênicas. 4 A modernização das técnicas agrícolas – mecanização,
irrigação, seleção de sementes, biotecnologia, etc. – au-
VIANA, G.; SILVA, M.; DINIZ, N. (Org.). O desafio da sustenta-
bilidade: um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Manual do Professor 361
Fundação Perseu Abramo, 2001. (Pensamento Petista.)

Coleção de artigos sobre temas diversos: globalização,
políticas públicas, questões urbanas e agrárias. Na par-
te IV, “Amazônia, agricultura familiar e reforma agrária”,
destacam-se os textos: “Desenvolvimento sustentável
na Amazônia: o papel estratégico do campesinato”, de

menta a produtividade e reduz a necessidade de mão b) Resposta do aluno. É importante destacar que as
de obra atuando diretamente na produção. Em contrapar- agressões ambientais provocam a necessidade de
tida, são gerados empregos em atividades secundárias e gastos para a recuperação do que foi degradado. Por
terciárias: operadores de máquinas; motoristas; vendedo- exemplo, o uso de agrotóxicos aumenta o lucro das
res; administradores; profissionais de limpeza, alimenta- agroindústrias, mas polui as águas de superfície e
ção, segurança, etc. Além disso, vem aumentando bastan- subterrâneas e quem arca com o gasto de seu trata-
te a densidade de atividades ligadas ao turismo, ao lazer, mento é toda a sociedade por meio do pagamento
à prática de esportes, aos transportes, à energia, etc. de impostos. O mesmo ocorre com a poluição dos rios
com o lançamento de esgoto industrial, o desmata-
5 A Revolução Verde foi um conjunto de medidas voltadas mento e outros impactos ambientais.
ao aumento da produção agrícola nos países pobres,
destacando-se a modernização das práticas agrícolas Capítulo 12
(utilização de adubos químicos, inseticidas, herbicidas,
sementes melhoradas) e a mecanização do preparo do A agropecuária no Brasil
solo, do cultivo e da colheita.
Esse modelo de produção proporcionou aumento de pro- Dialogando com as disciplinas
dutividade por área cultivada e crescimento da produção
de alimentos, mas isso ficou restrito às grandes proprie- 1 Trata-se da divisão em capitanias hereditárias, enormes
dades que possuíam terras planas que podiam ser me- lotes de terras doados pela Coroa portuguesa aos capi-
canizadas e capacidade de investimento para a compra tães donatários, com intuito de ocupação territorial, ad-
das máquinas e insumos. Em muitos países essa moder- ministração e crescimento econômico do território bra-
nização da produção, e a consequente substituição dos sileiro. Apesar de não ser considerada uma propriedade
trabalhadores por máquinas, provocou êxodo rural e privada por si só (visto que os donatários só poderiam
colaborou para o aumento dos índices de pobreza. ocupá-las e explorá-las), essa prática originou uma elite
Quanto aos impactos ambientais provocados pela subs- rural que, mais tarde, após a Lei de Terras, que condicio-
tituição de policultura por monoculturas destacam-se nava a aquisição de terras à compra, pôde legitimar sua
a maior proliferação de pragas e doenças e a contami- posse por meio da violência e do pagamento de taxas.
nação dos solos e dos recursos hídricos pelos produtos Muitos latifúndios da atualidade podem ser considerados
químicos utilizados – adubos e agrotóxicos. uma herança dessa forma de distribuição de terras.

6 Aspectos positivos: redução do uso de agrotóxicos e a 2 Trata-se dos coronéis, grandes proprietários rurais que
consequente diminuição nos custos de produção e nas estabeleciam uma relação de clientela com os trabalha-
agressões ambientais; criação de plantas resistentes a dores de suas terras. Utilizavam-se de métodos coerciti-
vírus, fungos e a insetos; desenvolvimento de varieda- vos e da prática de troca de favores para obrigar a popu-
des resistentes a secas e a solos ácidos; elevação nos lação local a votar em seus candidatos, de forma a
índices de produtividade. garantir que seus interesses políticos e econômicos con-
Aspectos negativos: falta de conclusão nos estudos so- tinuassem a ser respeitados. Seu poder vem de seu papel
bre impactos ambientais do seu cultivo em grande es- enquanto senhor de terras, sendo que muitas vezes fo-
cala e sobre os efeitos danosos à saúde humana; apa- ram adquiridas por seus antepassados como capitanias
recimento de novas substâncias que podem desenvolver hereditárias e legitimadas após a Lei de Terras.
alergias e outros sintomas; monopólio no controle das
sementes, entre outros. 3 A proposta de Reforma Agrária no Brasil surge como
resposta ao temor capitalista da possível influência da
Desenvolvendo habilidades revolução socialista de Cuba nos países latino-america-
nos. Assim, o Estatuto da Terra, que visava a redistribui-
Estas atividades possibilitam um trabalho interdisciplinar ção de terras concentradas nas mãos de grandes lati-
com Língua Portuguesa, Biologia e Sociologia. fundiários, surge como “solução democrática” à “opção
socialista”. Ou seja, trata-se de uma solução capitalista
7 Resposta do aluno. Pode-se comentar, utilizando os da- que busca apaziguar, por meios capitalistas, os anseios
dos do texto e o que foi estudado no capítulo, que os dife- socialistas de divisão igualitária da propriedade privada.
rentes sistemas apresentam vantagens e desvantagens
nos aspectos econômico, social e ambiental, destacan- Compreendendo conteœdos
do as dimensões do desenvolvimento sustentável.
1 Desde o período colonial há predomínio das grandes
8 a) O autor reconhece a importância da Revolução Verde propriedades em nossa estrutura fundiária. Mais re-
para aumentar a produção e a produtividade, mas
aponta a necessidade de reformar a produção agrí-
cola para a busca do desenvolvimento sustentável.

362 Manual do Professor

centemente, entre as décadas de 1950 e 1980, a mo- para 2600 kg/ha no mesmo período) aconteceu num
nocultura e a mecanização em grandes latifúndios ritmo muito superior ao do aumento da área culti-
foram estimuladas por sucessivos governos como mo- vada (cerca de 2 milhões de hectares em 1970 e 15
delo de desenvolvimento e crescimento econômico. milhões em 2006).
Dessa forma, até aproximadamente meados da déca-
da de 1990, época em que começou a receber mais b) Esse significativo aumento da produção e da produ-
apoio e investimento governamental, a agricultura tividade é fruto de grandes investimentos em meca-
familiar esteve relegada a segundo plano na formula- nização, irrigação, pesquisa e desenvolvimento em
ção das políticas agrícolas, resultando na transferência biotecnologia.
de pequenos proprietários e trabalhadores rurais do
campo para as cidades. 6 a) Nos Estados Unidos, onde os imigrantes podiam
optar entre se fixar nas cidades ou “ir para o Oeste”,
2 Nas últimas décadas vem ocorrendo grande redução na formou-se um setor agrícola composto de unidades
participação da PEA que se dedica às atividades agríco- familiares que tinham poder aquisitivo para ajudar
las devido a uma associação de fatores: êxodo rural, a impulsionar a produção industrial e a demanda
mecanização do cultivo e da colheita, industrialização por serviços; além disso, a disponibilidade de terras
de propriedades rurais com deslocamento da mão de criou uma relativa escassez de mão de obra que le-
obra para atividades secundárias e terciárias e instala- vou tanto os empresários urbanos quanto os agri-
ção de novos empreendimentos no campo (hotéis e cultores a buscarem aumento de produtividade
pousadas, parques temáticos, usinas hidrelétricas, etc.) associado ao desenvolvimento de novas tecnologias,
conduzindo o desenvolvimento econômico do país
3 Alguns fatores que podem colaborar para o Brasil au- como um todo.
mentar sua participação no comércio internacional de
produtos agrícolas são: grande disponibilidade de ter- b) Nesse item, pode-se enriquecer a discussão fazendo
ras agricultáveis – sobretudo no Cerrado; presença de comparações entre Estados Unidos e Brasil. Segun-
importantes centros de pesquisa, com destaque para do o texto, “[...] Nos Estados Unidos, onde as oligar-
a Embrapa; disponibilidade de tecnologia de ponta e quias escravocratas foram derrotadas militarmente,
formação de mão de obra qualificada nas universida- as elites formadas de imigrantes e descendentes
des e escolas técnicas. tinham uma clara consciência do país como uma
Entre os fatores que dificultam esse aumento vale des- nação em formação. Esta consciência se expressa
tacar: as deficiências de infraestrutura nos setores de claramente com o ‘Homestead Act’, de 1862, que
energia elétrica, transportes e armazenagem; as polí- visava garantir legalmente a abertura do Oeste para
ticas protecionistas praticadas por diversos países as levas de imigrantes que começavam a afluir em
importadores e a baixa disponibilidade de crédito e massa da Europa. É extremamente revelador notar
financiamentos. que, um pouco antes no Brasil, as elites escravocra-
tas procuravam, ao contrário, fechar a fronteira agrí-
4 Observando o gráfico da estrutura fundiária brasileira, cola através da Lei de Terras, de 1850. [...]”. No Brasil,
notamos uma enorme concentração de terras nas mãos a exclusão dos imigrantes e ex-cativos ao acesso à
de uns poucos proprietários. 49,7% dos estabelecimentos propriedade provocou, ao longo da História brasi-
ocupam apenas 2,3% da área agrícola em imóveis meno- leira, intensificação do êxodo rural em condições
res que 10 hectares, enquanto 1% dos estabelecimentos muito precárias, inchamento urbano, limitação da
ocupa 45,1% da área em imóveis de 1 000 hectares ou expansão do mercado interno de consumo e conse-
mais. Considerando que os pequenos proprietários são quentemente do volume de produção industrial,
os principais responsáveis pelo abastecimento do mer- que poderia ser incrementado com a inclusão de
cado interno, que existem numerosos trabalhadores milhões de famílias no mercado.
rurais sem terra própria para trabalhar e muitos latifún-
dios improdutivos, torna-se evidente a necessidade de c) O acesso à propriedade promove maior inserção dos
realização de uma reforma agrária que modernize a es- excluídos no mercado de trabalho e de consumo, o
trutura fundiária, as relações de trabalho e a produção que proporciona possibilidades de crescimento eco-
agrícola do país. nômico e desenvolvimento social. Por sua vez, com
aumento da produção e do consumo de mercadorias
Desenvolvendo habilidades agrícolas e industriais, há geração de empregos, au-
mento da participação dos salários na renda nacio-
Essas atividades possibilitam um trabalho interdisciplinar nal, maiores possibilidades de qualificação da mão
com História e Sociologia. de obra, aumento da produtividade, melhoria nas
condições de moradia, saúde, alimentação, educa-
5 a) Pela análise do gráfico, o aumento da produção (cer- ção e lazer, etc.
ca de 2 milhões de toneladas em 1970 e 40 milhões
em 2006) e da produtividade (cerca de 800 kg/ha Manual do Professor 363

Vestibulares de Norte a Sul b) O desenvolvimento sustentável busca a preserva-
ção ambiental, o crescimento econômico e a justi-
Testes ça social; o desafio consiste em aumentar a produ-
ção agrícola e pecuária com práticas sustentáveis,
1C evitando a erosão e a contaminação dos aquíferos,
entre outros fatores.
2D
15 Os complexos agroindustriais são as unidades agro-
3C pecuárias que possuem cadeias produtivas integradas
na busca de articular a produção, armazenagem, in-
4A dustrialização, comercialização e outras atividades.
Por exemplo, as fazendas que cultivam cana-de-açú-
5C car para produzir açúcar e álcool concentram ativida-
des primárias, secundárias e terciárias (cultivo e co-
6 Os itens 01, 02 e 04 estão corretos. lheita, processamento na usina e comercialização,
entre outros), caracterizando um complexo agroin-
7B dustrial.

8E 16 a) Os principais avanços produtivos obtidos com a re-
volução verde foram a manipulação genética das
9A plantas, o que aumentou a resistência delas a con-
dições climáticas adversas e a pragas e doenças, e
10 D grande aumento da produtividade com a utilização
de tratores e sistemas de irrigação.
11 D
b) Com a implantação das técnicas da revolução verde
12 C nos países pobres e em desenvolvimento houve con-
centração de terras e êxodo rural, entre outros fatores.
Quest›es
17 a) O consumo de agrotóxicos (fertilizantes químicos e
13 a) No Rio Grande do Sul há predomínio de mão de inseticidas) provoca aumento na produtividade agrí-
obra familiar porque desde o período colonial foi cola porque acelera o ritmo de crescimento das
incentivada a ocupação do território, principalmen- plantas e evita a ocorrência de pragas e doenças,
te na região serrana, por pequenas e médias pro- entre outros fatores, alterando o tempo da natureza.
priedades que praticam policultura voltada ao
mercado interno de consumo; nesse estado, as b) A formação de um oligopólio, ou seja, o domínio do
grandes propriedades se localizam predominante- mercado por um pequeno grupo de empresas.
mente na Campanha Gaúcha por causa do relevo
relativamente plano (coxilhas), que favorece a cria- c) Contaminação dos solos, dos aquíferos e das águas
ção de gado bovino e a agricultura mecanizada em superficiais, a possível contaminação dos trabalha-
grandes extensões. Em São Paulo há certo equilí- dores e redução da biodiversidade.
brio entre mão de obra familiar e contratados por-
que há regiões do estado onde predomina a pro- Caiu no Enem
dução mecanizada em grandes propriedades (casos
das produções de laranja, café e cana-de-açúcar, 1E
principalmente) e a produção para o mercado in-
terno em pequenas e médias propriedades, como 2B
no Vale do Ribeira, Paraíba, sudoeste do estado e
outras localidades. 3E

b) Da década de 1950 aos dias atuais houve grande 4A
aumento de área onde se pratica agricultura em-
presarial no estado de São Paulo, o que provocou 5B
substituição de produção alimentar voltada ao
mercado interno por produção de energia (álcool) 6A
e produtos de exportação (laranja, café, açúcar,
entre outros). Com isso, houve concentração de 7E
terras e substituição de mão de obra familiar por
empregados permanentes. 8B

14 a) A maior disponibilidade de alimentos nas décadas 9A
recentes está associada ao aumento da produção
e da área destinada à produção agropecuária e ao 10 A
aumento da produtividade resultante do desenvol-
vimento de novas tecnologias e ampliação dos 11 C
investimentos em insumos e irrigação, entre outros
fatores. 12 D

364 Manual do Professor 13 C

Textos de apoio

1 Redes agroindustriais triais globalizadas que associam: empresas agropecuá-
rias, fornecedores de insumos químicos e implementos
Com a difusão desse conjunto de inovações [tecnoló- mecânicos, laboratórios de pesquisa biotecnológica,
gicas] configurando novos sistemas técnicos agrícolas, a prestadores de serviços, agroindústrias, empresas de dis-
agropecuária tornou-se crescentemente dependente do tribuição comercial, empresas de pesquisa agropecuária,
processo científico-técnico de base industrial, minimi- empresas de marketing, cadeias de supermercados, em-
zando a anterior vantagem relativa representada pela presas de fast-food, etc.
produção localizada nos melhores solos, nas topografias
mais adequadas, entre outros. Além disso, aumentou a Como consequência, temos a intensificação da di-
possibilidade de aproveitamento dos solos menos férteis visão social e territorial do trabalho agrícola, das trocas
e de ocupação intensiva de territórios desprezados para intersetoriais, da especialização da produção e a forma-
tal atividade, relativizando-se as questões locacionais, ção de diferentes arranjos territoriais produtivos agríco-
antes imprescindíveis. las. Reforçam-se as determinações exógenas ao lugar de
produção, especialmente no tocante aos mercados cada
[...] vez mais longínquos e competitivos. Fato semelhante
ocorre em relação aos preços, internacionais e nacionais,
Nesse sentido, um dos principais signos do agronegó- comandados pelas principais bolsas de mercadorias do
cio e da agricultura científica no Brasil é uma crescente mundo, sobre os quais não há controle local. Da mesma
interdependência com os demais setores da economia. forma, aumentam as distâncias entre os produtores e os
A partir desta interdependência ocorrem processos fre- centros de decisão e de pesquisa.
quentes de fusão com capitais dos setores industriais,
comerciais e de serviços. Tais fusões se dão juntamente Tudo isso tem profundos impactos sobre os espaços
com o aumento de sua presença no circuito superior da agrícolas, que passam, desde então, por um processo ace-
economia (SANTOS, 1979). lerado de reorganização, mostrando-se extremamente
abertos à expansão da tecnosfera e da psicoesfera (SAN-
Outra característica da difusão do agronegócio é seu TOS, 1994, 1996, 2000). Organizam-se verdadeiros siste-
financiamento totalmente regulado pela economia de mas técnicos (de eletrificação, de armazenagem, de irri-
mercado, em razão das demandas urbanas e industriais. gação, de transportes, de telecomunicações, etc.) voltados
As relações entre os setores agrícola e industrial merecem para o objetivo de dotar o espaço agrícola de fluidez para
destaque, por propiciarem o desenvolvimento de muitos as empresas hegemônicas do setor. Isto induz à mecani-
ramos industriais, notadamente dos que fornecem insu- zação dos espaços agrícolas, e onde a atividade agrope-
mos e bens de capital para a agricultura, assim como das cuárias se dá baseada na utilização intensiva de capital,
indústrias que processam os produtos agropecuários – tecnologia e informação, é visível a expansão do meio
agroindústrias –, transformando-os em mercadorias pa- técnico-científico-informacional, revelando o dinamis-
dronizadas para o consumo de massa globalizado. mo da produção do espaço resultante da reestruturação
produtiva da agropecuária.
Tudo isto leva à multiplicação dos espaços da produ-
ção e das trocas agrícolas globalizadas, e induz os espaços Uma vez que a reestruturação produtiva da agrope-
agrícolas a inúmeras transformações, os quais se mos- cuária privilegia áreas, produtos e segmentos sociais,
tram extremamente suscetíveis de aceitação do capital tem acarretado profundos impactos sociais, territoriais e
do agronegócio. Isto se deve, em parte, ao fato de pos- ambientais, a culminar na territorialização do capital no
suírem pequena quantidade de pedaços de tempo ma- campo e na oligopolização do espaço agrário.
terializados, o que permite imediata difusão do capital
novo e possibilidade de responder mais rapidamente aos Desse modo, agrava-se a histórica concentração
interesses das empresas hegemônicas dos setores agrope- fundiária e impõe-se uma nova dinâmica ao mercado
cuário e agroindustrial. de terras, com forte intensificação do valor de troca em
detrimento do valor de uso, contrariando ainda mais
[...] as aspirações pela Reforma Agrária, que se mercantili-
zou na última década (com a substituição da desapro-
Podemos considerar um outro aspecto da reestrutu- priação pela compra da terra). Tudo isto promove deci-
ração produtiva da agropecuária brasileira, que seria um sivas transformações nas formas de trabalho agrícola,
processo de integração de capitais a partir da centraliza- no espaço agrícola e no incremento da urbanização da
ção de capitais industriais, bancários, agrários, etc., ex- sociedade e do território.
pansão de sociedades anônimas, cooperativas agrícolas,
empresas integradas verticalmente (agroindustriais ou ELIAS, Denise. Redes agroindustriais e produção do espaço
agrocomerciais), assim como a organização de conglo- urbano no Brasil agrícola. In: SILVA, José Borzacchiello da; LIMA, Luiz
merados empresariais por meio de fusões, organização
de holdings, cartéis e trustes, com atuação direta nos Cruz; ELIAS, Denise (Org.). Panorama da geografia brasileira 1. São
CAIS [complexos agroindustriais] (Delgado, 1985). Paulo: Annablume/Anpege, 2006. p. 222-225.

Desta forma, a reestruturação produtiva da agrope- Manual do Professor 365
cuária brasileira resulta na formação de redes agroindus-

2 O acesso ao meio de produção terra esse indispensável serviço de natureza pública pelo inte-
rior do país. Essa “obra” correspondeu a criar um quase
Ao longo de décadas, megapropriedades serviram senhor feudal, com direito a força militar e a faculdade
mais como reserva de valor e/ou para afirmação de po- de praticar o arbítrio. Evidentemente, essa peça na estru-
der político e econômico do que para garantir produção tura político-administrativa serviu também para garan-
e produtividade, portanto, não cumprindo a sua função tir a intocabilidade dos latifúndios.
social. Há 37 anos foi promulgada a Lei n. 4 504/64, co-
nhecida como Estatuto da Terra, que busca forçar o cum- Outros resquícios de formas atrasadas de organizar
primento desse princípio. Portanto, o problema não é o sistema produtivo ainda continuam por aí: “meiação”,
de legislação. Além disso, houve “desinteresse” durante pela qual troca-se o direito de plantio pelo pagamento de
décadas em se utilizar as terras devolutas da União para parcela da produção; e a concessão do “direito” de plantar
ceder às famílias sem terras. Enfim, por mais de um sécu- em troca de pagamento com serviço nas terras do pro-
lo, os dirigentes de nossa nação não foram capazes de dar prietário (na Idade Média, a isso se chamava “corveia”).
uma solução razoável a uma questão explosiva. Este foi o Ainda hoje, assiste-se a práticas “generosas” de grandes
caldo cultural para a ideologização da matéria. proprietários em áreas de expansão de fronteira. Cedem
parcelas de mata virgem às famílias para que desmatem,
O que fizeram outros países? Tomemos o caso dos à mão, com técnicas rudimentares à base de machado e
EUA, a maior potência capitalista. Equacionaram a fogo, plantem arroz, milho ou feijão e devolvam a gleba
questão logo no século XIX, ou seja, antes do processo com a pastagem formada. Em seguida, oferecem uma
de industrialização do país. A enorme área no meio- nova área para desmatamento. Milhares de famílias es-
-norte, compreendendo os melhores solos, conhecida tão aceitando essa parceria, por falta de alternativa de
como “corn belt”, teve uma ocupação baseada numa es- vida. A isso se dá o nome de agricultura itinerante. Por
truturação fundiária planejada. Glebas com menos de sinal, o termo é apropriado e bem expressivo, pois daí
150 acres foram vendidas a preços pouco mais que sim- pode-se esperar só o que os nômades conseguem: quase
bólicos, ao longo de uma grande faixa de terras desde o nada. Isso em pleno século XXI.
estado de Michigan até o de Arkansas. Os estados e os
municípios participaram do programa de assentamen- A administração da posse e do uso da terra era uma
to. A cada 5 km, construíram-se uma escola e uma igre- questão de poder político, além de econômico. A relação
ja. Assim, todos tinham acesso a essas duas atividades social de produção manteve as conveniências do poder
básicas de sua cultura, sem grande esforço de desloca- estabelecido até a fase da chamada “República Velha”.
mento. É verdade que, mais tarde, as glebas foram au- Contudo, a economia de mercado não convive com for-
mentando de tamanho até chegar ao tamanho médio mas pré-capitalistas de produção. A título de exemplo,
atual da ordem de 400 hectares, tendendo para a faixa tome-se o caso do Japão, segunda maior potência capita-
de 500 a 700 hectares, que é o módulo mais adequado lista do mundo. Os EUA, após derrotarem aquele país na
para lavouras de grãos com os equipamentos modernos. 2a Guerra Mundial, implantaram a reforma agrária como
uma das primeiras medidas de política econômica para
No Brasil, além de vedar o acesso a tanta terra dis- modernizar a economia nipônica.
ponível, foram criadas dificuldades adicionais. Uma de-
las foi a institucionalização da figura do “coronel”, com SANTO, Benedito Rosa do E. Os caminhos da agricultura brasileira.
poderes de polícia em jurisdição definida, substituindo a São Paulo: Evoluir, 2001. p. 95-96.
presença do Estado, que se declarava incapaz de prestar

3 Os desafios da agricultura no contexto do desenvolvimento sustentável

Pensar o desenvolvimento (rural) sustentável implica • sustentabilidade espacial ou geográfica: deve ser di-
pensar que estratégias e desafios serão utilizados para tor-
nar o progresso humano viável. Assim, o planejamento do rigida para obter uma configuração rural-urbana
desenvolvimento deve levar em conta, simultaneamente, mais equilibrada e uma melhor distribuição territo-
seis dimensões, assim constituídas, a partir das ideias de rial dos assentamentos humanos e das atividades
Sachs (1994), Flores e Nascimento (1994) e Cruz (1995): econômicas;

• sustentabilidade econômica: deve ser viabilizada através • sustentabilidade cultural: as ações devem respeitar as

de projetos e iniciativas (públicas e privadas) que pos- tradições, os costumes e as especificidades das diferen-
sam gerar uma rentabilidade econômica, tornando pos- tes sociedades;
sível a participação da população para melhorar sua
qualidade de vida; • sustentabilidade política: os enfoques do desenvolvi-

• sustentabilidade ecológica: deve ser orientada para bus- mento devem ser capazes de gerar bases consensuais e
de participação democrática, considerando os diferentes
car a harmonia e o equilíbrio com a natureza, através setores e posições ideológicas da sociedade.
de práticas que não destruam o meio ambiente;
Quanto ao espaço rural, os objetivos da sustentabili-
• sustentabilidade social: deve fazer com que os benefícios dade estão associados ao objetivo da produção agrícola.
Portanto, os desafios básicos são no sentido de aumentar
do desenvolvimento atinjam todos os membros da so- a produção e a riqueza social em dependência externa
ciedade para que possam satisfazer suas necessidades (desafio econômico); reduzir as desigualdades sociais, pro-
econômicas, sociais, políticas e culturais; porcionando uma distribuição mais equitativa dos bene-

366 Manual do Professor

fícios à população envolvida no processo (desafio social); e • por uma cooperação para satisfazer as necessidades da
manter a qualidade do meio ambiente e a preservação das
fontes de recursos energéticos e naturais para as gerações população;
futuras (desafio ecológico).
• por melhor distribuição das riquezas e otimização de
Para tornar esses desafios realidade é necessário que
um programa de desenvolvimento rural sustentável con- resultados, com o objetivo de reduzir a pobreza, eliminar
sidere o homem como centro do processo, conforme já evi- a miséria, aumentar a oferta de empregos;
denciado, assumindo uma perspectiva a longo prazo, pois
uma mudança radical do padrão tecnológico adotado não • pela segurança alimentar;
será feita de forma rápida. • pela adoção de políticas públicas que estimulem a subs-

Para “cumprir” os desafios que são impostos à gran- tituição de sistemas produtivos simplificados por siste-
de empresa rural (ou à agricultura moderna), algumas mas rotacionais diversificados;
medidas a serem tomadas são fundamentais na ruptura
com o atual padrão produtivo da Revolução Verde, “pois • pela produção de alimentos com elevada qualidade nu-
não é fácil entender como o uso de produtos químicos
que têm contaminado o ambiente, os recursos naturais e tritiva e em quantidades suficientes para atender à de-
os alimentos possa ser enquadrado no conceito de agri- manda global;
cultura sustentável” (Paschoal, 1995:12).
• pelo fortalecimento da pesquisa agropecuária.
A participação da sociedade civil no empreendimen-
to dessas medidas é de fundamental importância e deve Em síntese, um dos maiores desafios da humanidade e,
ser viabilizada no “sentido” de lutar: seguramente, o maior desafio do século XXI no processo de
desenvolvimento rural sustentável será “conciliar o atendi-
• por uma política ambiental e conservação dos recursos mento da segurança alimentar de uma população mundial
– que continuará a crescer rapidamente – com a necessidade
naturais; de conservar os recursos naturais” (Ehlers, 1995).

PESSOA, Vera Lúcia Salazar. Desenvolvimento rural sustentável:
desafios na questão ecológica, econômica e social da grande empresa

rural no Brasil. In: CASTRO, Iná Elias de; MIRANDA, Mariana; EGLER,
Cláudio A. G. (Org.). Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil/Faperj, 1999. p. 246-248.

4 Industrialização da agricultura as proporções e a intensidade que chegou a alcançar no
período em pauta. E isto se deu porque foram em boa
De 1930 a 1970 estabeleceu-se e consolidou-se no país parte as transformações na produção agropecuária que
um novo padrão de desenvolvimento, crescentemente condicionaram tanto o ritmo como o caráter da indus-
baseado nos setores urbanos e industriais da economia trialização e da urbanização no Brasil.
e cada vez mais voltado para o atendimento de um mer-
cado interno em franca expansão. Até o final da década Os principais aspectos dessas transformações foram,
de 1920, a economia brasileira fora predominantemente além da diversificação da produção analisada no capítu-
rural e correspondia grosso modo ao chamado modelo lo anterior, de um lado, a expansão da fronteira agrícola
primário-exportador, no qual o setor agropecuário cons- e, de outro, o aumento da produtividade do trabalho – ou
tituía o setor dominante. Nas décadas subsequentes à seja, das quantidades produzidas por pessoa ocupada
grande crise de 1929/30, ela evoluiu para uma economia no setor. Tal aumento é atestado pelo fato de a produ-
urbanizada e industrializada, na qual o setor agropecuá- ção agropecuária nunca ter cessado de crescer, apesar da
rio deixou de constituir o segmento dominante, cedendo continuidade e da cada vez maior intensidade das migra-
lugar aos setores industrial e de serviços, nada perdendo ções rural-urbanas, e não obstante o baixo incremento
todavia de sua importância em termos absolutos, no que numérico e, às vezes, a estagnação e até o decréscimo
se refere à geração de renda, de empregos e de divisas. [...] numérico da força de trabalho no campo. A crescente
produtividade da mão de obra empregada no setor agro-
Deixando de lado essa questão conceitual e voltando pecuário aumentou a disponibilidade dos produtos de
para o que nos interessa mais de perto, podemos consta- origem vegetal e animal por habitante, possibilitando
tar que foi no período de 1930 a 1970 que se completou a o abastecimento em níveis relativamente satisfatórios,
integração funcional dos setores agropecuário e indus- não apenas de uma população urbana cada vez mais nu-
trial da economia brasileira. Trata-se de um processo da merosa (e, em alguns casos, cada vez mais rica), mas tam-
maior importância para o desenvolvimento de ambos, bém de um crescente número de indústrias compradoras
inclusive porque acabou se dando em âmbito nacional, e transformadoras de seus produtos.
e não apenas em nível regional. Dentro desse processo, a
produção agropecuária do país teve um comportamento SZMRECSÁNYI, Tamás. Pequena história da agricultura no Brasil.
dos mais dinâmicos, sem o qual, aliás, o novo padrão de São Paulo: Contexto, 1998. p. 71-73.
desenvolvimento econômico nem teria podido assumir

5 A modernização da agricultura brasileira tuição das técnicas agrícolas tradicionalmente utilizadas
por técnicas “modernas”: o burro pelo trator, o estrume
Primeiro é necessário discutir algo sobre o conceito pelo adubo químico, a enxada pelo arado. E, quando se
de modernização. Normalmente quando se fala em mo- pretende avaliar o processo de modernização, procura-se
dernização da agricultura pensa-se apenas nas modifi-
cações ocorridas na base técnica de produção, na substi- Manual do Professor 367

analisar apenas a evolução dos índices de utilização das tes fundamentais do processo de produção. Ou, então, os
máquinas e dos vários insumos agropecuários. agricultores de subsistência dão lugar a empresas fami-
liares, que não usam trabalho assalariado, mas se rela-
Modernização, porém, significa muito mais que isso. cionam com o mercado, ou seja, produzem mercadorias.
Ao mesmo tempo que vai ocorrendo aquele progresso téc-
nico na agricultura, vai-se modificando também a organi- [...]
zação da produção, que diz respeito às relações sociais (e
não técnicas) de produção. A composição e a utilização do Qualquer processo de transformação, portanto, pode
trabalho modificam-se, intensificando-se o uso do “boia- ser ótimo para uns e um desastre para outros. E nunca
-fria” e do trabalhador volante; a forma de pagamento da vai ser diferente nas sociedades divididas em classes,
mão de obra é cada vez mais a assalariada; os pequenos principalmente naquelas onde as classes sociais têm in-
produtores, sejam proprietários, parceiros ou posseiros, teresses contraditórios e opostos, onde há classes domi-
vão sendo expropriados, dando lugar, em certas regiões, à nantes e classes dominadas.
organização da produção em moldes empresariais.
A rápida acumulação de capital da qual certos setores
Com este processo de transformação da agricultura, agrícolas e industriais se beneficiam com nossa transfor-
os chamados agricultores de subsistência – cuja princi- mação agrícola e a miséria crescente que esta tem pro-
pal determinação da produção é o consumo próprio da vocado na população de baixa renda são os dois lados da
família trabalhadora, levando ao mercado apenas o exce- moeda. É preciso tirar o véu da modernização para ver
dente da produção – vão dando lugar ao surgimento das seus verdadeiros traços.
empresas rurais, capitalistas, onde as determinações do
mercado e a racionalidade do lucro são os condicionan- GRAZIANO NETO, Francisco. Questão agrária e ecologia: crítica da
agricultura moderna. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 26-28.

6 A revolu•‹o tecnol—gica de produção. E, se continuam no sistema produtivo tra-
dicional, têm poucas chances de melhorar as condições
A revolução tecnológica está provocando transfor- de vida de seus ocupantes e de subsistir. Recentemente,
mações, embora ainda persista a essência do problema surgiu mais um desafio: oferecer produtos a comprado-
[concentração de terras e precárias relações de traba- res com exigências crescentes, seja aos industriais, seja
lho]. A lógica do sistema de produção está mudando. aos comerciantes. A apresentação do produto e suas
O ritmo de comercialização atual requer rotativida- características intrínsecas podem abrir ou fechar mer-
de mais rápida no ciclo produção-comercialização. O cados, além de condicionar a remuneração. Para tanto,
custo-oportunidade das inversões no campo concor- são necessários equipamentos e tecnologia modernos.
re, hoje, com alternativas atrativas, buscando capitais Excetuando nichos de mercado, essas novas exigências
que, no passado, tinham menos opções de aplicação. colocam mais dificuldades aos pequenos do que aos
A produtividade do trabalho no campo tornou-se uma grandes produtores. Assim, infelizmente, os pequenos
variável mais importante, de forma semelhante ao produtores que não acompanham a inovação tecnológi-
que ocorrera no meio urbano. Os custos referentes às ca são rejeitados pelo mercado e derivam para um mo-
obrigações trabalhistas praticamente inviabilizaram o delo de subsistência, com baixas produtividade e renda.
modelo antigo de grandes fazendas com elevado nú- Entretanto, suas chances de competir aumentam quan-
mero de trabalhadores e outras formas de agregados. do ingressam na trilha do associativismo e do coopera-
Tudo isso induz à utilização mais intensa do solo, de- tivismo, onde podem assimilar inovações tecnológicas
sestimula as megapropriedades e torna anacrônicos em grupo.
os latifúndios improdutivos.
[...]
Na outra extremidade, ocorre fenômeno preocu-
pante. Os pequenos estabelecimentos têm dificuldade SANTO, Benedito Rosa do E. Os caminhos da agricultura brasileira.
de incorporar novas tecnologias e equipamentos, os São Paulo: Evoluir, 2001. p. 97.
quais exigem nível de produtividade e escala mínima

Mardis Coers/Moment Mobile/Getty Images

Tratores em um campo de milho na Califórnia (Estados Unidos), em 2014.
368 Manual do Professor




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